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Material da CUFA-RS referente ao Projeto Papo Reto 2013 - novembro
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Inaugurada no dia 3 de setembro, a República Junto atende 24 usuários em tempo integral. O intuito é proporcionar serviços que ofereçam proteção, apoio e moradia subsidiada a grupos de pessoas entre 18 e 59 anos em estado de abandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados e sem condições de moradia.
Distribuído em espaços escolares e instituições de ensino desde 2009, o livro O Escudeiro da Luz em: Os Zumbis da Pedra é uma ferramenta importante e pertinente na luta contra as drogas. Por meio de uma linguagem simples aborda assuntos delicados de forma natural, provocando a reflexão dos leitores quanto às formas de abordagem e educação necessárias para a conscientização e prevenção ao uso de drogas.
Criada a partir de uma brincadeira em uma cesta de lixo, a Liga Internacional de Basquete de Rua (LIIBRA) é o maior evento de cultura de rua da América Latina. São dez anos de basquete embalado com o break, os MC’s e o hip hop, que compõem o espírito do torneio. Realizada em diversos estados do Brasil, a atração conecta esporte e música, estimulando a criatividade dos jogadores e explorando suas habilidades físicas.
Com o objetivo promover a integração das comunidades por meio do esporte, a CUFA-RS criou o Torneio Bola Comunitária. O projeto consta em um torneio de futebol entre jovens de 15 a 17 anos, todos moradores de comunidades da região metropolitana. A intenção também é de levar debates e serviços para estes locais, garantindo novas oportunidades para os jovens que as integram e dando visibilidade aos talentos esportivos.
Projetos
Papo Reto |02| novembro
03
Acesse o nosso site: www.cufars.org.br
@CufaRS_
Cufa-RS
CufaRS
O que vem por aí
p.6
Entrevista com o mestreConheça a história de Rosa Lang, a professora/pintora que está se despedindo das aulas na EMEM Emílio Meyer
MV BillO rapper e fundador da CUFA encerrou as atividades do Projeto Papo Reto Porto Alegre com um show no Gasômetro
A equipe da CUFA fez um levantamento que aponta uma grande proximidade entre os jovens e as drogas
Matéria Especial
PerfilJovem narra as dificuldades para superar as drogas. Ele tem planos de estudar psicologia para ajudar outras pessoas
Expediente
Manoel Soares/Coordenador da CUFA-RSIvanete Pereira/Coordenadora InstitucionalLisandra Félix/Coordenadora do Papo RetoDinora Rodrigues/Coordenadora AdministrativaMariana Soares/Coordenadora de ComunicaçãoDanilo Santos/Coordenador de AudiovisualPaulo Daniel Santos/Pres. Conselho Estadual CUFA-RS
Alexandre Bertolazi/FotografiaAiran Albino/Diagramação e RevisãoEduardo Bertuol/Reportagem, Foto e RevisãoIgor Grossmann/Reportagem e FotoBianca Oliveira/ReportagemCarolina Reck/Reportagem
Papo Reto |04| novembro
p.11
p.30p.8
Em um primeiro momento, executei oficinas de
fotografia nas escolas, e em 2008/2009 participei do
projeto PPV (Programa de Prevenção a Violência) em 12
cidades do estado do Rio Grande do Sul.
Em 2010, integrei a equipe de coordenação do
projeto Criança Esperança no morro Santa Tereza, onde
se encontrava na época a base da CUFA. Esse projeto
alcançava jovens da comunidade por meio de aulas de
teatro e de audiovisual, com o objetivo de gravar um
curta-metragem, idealizado pelos jovens e totalmente
produzido por eles.
A partir do ano de 2010, passei a fazer parte da
equipe de palestrantes da CUFA, juntamente com Manoel
Soares e Ivanete Pereira, desenvolvendo palestras em
diversas cidades nas associações de moradores, feiras
do livro e em escolas locais.
Já em 2011, em consequência de uma parceria
com o Instituto OI Futuro, pude voltar a fazer oficinas
de fotografia em 14 cidades do estado, projeto esse
que era executado nas escolas. Ainda nesse mesmo
ano a instituição desenvolveu uma iniciativa chamada
“Circuito Papo Reto”, a primeira cidade a receber e
novo formato de trabalho social foi Canoas.
Seguindo esse mesmo modelo, em 2012 o projeto
Papo Reto foi inserido nas escolas do município de Porto
Alegre, acrescentamos oficinas de teatro e intervenções
nas comunidades. No final de 2012, em paralelo com o
Projeto Papo Reto, a CUFA lançou o primeiro Torneio de
Futebol composto por 32 comunidades periféricas do
Rio Grande do Sul, nesse projeto também pude integrar
a coordenação. A CUFA entendendo o tamanho da
repercussão dentro do estado viu que necessitava de
um representante que pudesse falar pela instituição em
veículos de comunicação, e a partir desse momento
assumi essa função.
Atualmente, no ano de 2013, o projeto Papo Reto
tomou outra proporção. A CUFA começou a fazer bem
mais que levar oficinas para as escolas. A CUFA executou
também um seminário que dá formação exclusiva para
os professores da rede municipal de Porto Alegre.
Nessa nova roupagem, eu assumi o papel de mestre de
cerimônia desses seminários juntamente com as oficinas
de desenhos em três escolas e as palestras.
Atualmente eu tenho 21 anos, tenho formação de
Audiovisual pela CUFA-RS, e, na área do desenho,
tenho formação pelo estúdio Dínamo.
E como desenhista ilustrei o livro “Escudeiro da Luz
em Os Zumbis da Pedra”, que foi escrito pelo Manoel
Soares, coordenador da CUFA-RS e jornalista da RBS TV
e Marco Cena, capista e presidente da editora Besouro
Box. Nos dois últimos anos essa publicação tem sido
usada como ferramenta de prevenção dentro das
escolas da rede municipal de Porto Alegre.
Alexandre Bertolazi/FotografiaAiran Albino/Diagramação e RevisãoEduardo Bertuol/Reportagem, Foto e RevisãoIgor Grossmann/Reportagem e FotoBianca Oliveira/ReportagemCarolina Reck/Reportagem
05
Especial
Daniel foi mestre de cerimônia nos seminários em 2013
Multiplicador
Arquivo Pessoal | Daniel Santos
por Paulo Daniel SantosPresidente do Conselho Estadual CUFA-RS
MV Bill
Papo Reto |06| novembro
Para selar o final de mais um ano de trabalho e prevenção, o rapper MV Bill veio a Porto Alegre para o show de encerramento do Projeto Circuito Papo Reto Porto Alegre 2013. A apresentação aconteceu no dia 23 de outubro na Usina do Gasômetro. Cerca de 400 pessoas curtiram as músicas do rapper, e da sua irmã, Kmila CDD. Para completar, o grupo Latitude fez uma participação especial. Além disso, o evento foi transmitido ao vivo pela TVCOM.
Eduardo Bertuol | CUFA
Eduardo Bertuol | CUFA
Eduardo Bertuol | CUFA
Eduardo Bertuol | CUFA
Eduardo Bertuol | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
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Eduardo Bertuol | CUFAAlexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA Alexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
Alexandre Bertolazi | CUFA
Papo Reto |08| novembro
Há 18 anos como professora na Escola Municipal de
Ensino Médio (EMEM) Emílio Meyer, Rosa Maria Accorsi
Lang está se aposentando. Formada em artes visuais
pelo Departamento de Artes da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela lecionou durante
um quarto de século. “Não pensava em ser professora.
Queria ser artista”, revela Rosa. Ela conta que fez o
concurso pra secretaria municipal de educação “meio
por acaso”. “Comecei a trabalhar em sala de aula e
gostei”, diz.
INÍCIO
Rosa iniciou como professora de artes (desenho e
pintura) na escola Larry José Ribeiro Alves, no bairro
Restinga. Após breve passagem, foi transferida para
o colégio Gabriel Obino, em Teresópolis. Lá, foi
convidada para substituir uma professora na EMEM
Emílio Meyer e passou a trabalhar nas duas, já que a
Emílio tinha aulas apenas no turno da noite. “Eu adorei.
E os alunos passaram a reinvindicar aulas também no
período da tarde”. Quando iniciaram as aulas pela
tarde, Rosa passou a lecionar em tempo integral na
escola onde irá se aposentar.
SUPERVISÃO
Após nove anos como professora na Emílio Meyer,
Rosa decidiu que era hora de ir além. Fez uma
especialização em supervisão escolar na Faculdade
Porto-Alegrense (Fapa) mas nunca deixou de ensinar.
“Jamais quis abandonar a sala de aula, pois é onde
acontecem as maiores realizações”, conta. Ela exalta a
estrutura da escola, que dispõe de uma sala adaptada
para cada forma de arte trabalhada: música, cerâmica,
teatro e, é claro, desenho. Já são nove anos de Rosa
Entrevista com o mestrepor Igor Grossmann
Educação e desafio são sinônimos
Fotos: Igor Grossmann | CUFA-RS
09
na supervisão da escola, sendo os seis últimos como
supervisora de ensino médio.
DESAFIOS
Ela conta que o maior desafio que encarou nos seus
25 anos como professora é ir evoluindo conforme as
gerações foram passando. “É preciso se modificar,
adequar-se e evoluir. A vida é muito dinâmica e
precisamos acompanhar as mudanças”, diz. Rosa conta
que sua grande paixão é o prazer de ensinar. “No início
do ano, vejo eles falando que não sabem pintar, que
não vão conseguir, mas na Mostra em dezembro eles
apresentam trabalhos fantásticos”, conta sorridente.
Ela afirma que ensinar é algo mágico, mas também
traz apredizagens como tolerância e paciência.
OFICINA DE PINTURA
Um dia, pensando em como poderia tornar a sua
profissão e arte mais próximas das pessoas, Rosa -
que é pintora - percebeu que a maioria dos cursos
de pintura disponíveis no mercado são caros. Então,
há cerca de quatro anos decidiu oferecer uma oficina
aberta à comunidade na escola Emílio Meyer. Com
foco na pintura à óleo, o grupo se desenvolve e gera
trabalhos incríveis (ver fotos). Seus alunos possuem uma
média de idade de 50 anos, porém alguns chegam
perto dos 80. “Na oficina, as pessoas ficam durante
anos estudando e se aperfeiçoando, e isso gera um
entrosamento legal no grupo”, fala.
APOSENTADORIA
2013 foi o último ano de Rosa Maria como
professora. Pelo menos remunerada. É que ela pretende
seguir trabalhando com o grupo da oficina de pintura
à óleo, só que agora como parceira-voluntária da
escola. Foram os próprios alunos que pediram para
Rosa continuar. “No fim do ano, fizemos um churrasco
de confraternização na minha casa. Percebi o trabalho
de professor é um ato de convivência, por isso muitos
ficam tristes quando se aposentam, pois perdem isto”,
reflete. Ela conta que uma colega passou o último
semestre lhe aconselhando a praticar o desapego,
enquanto uma ex-diretora lhe dizia que “o Emílio
Meyer é uma paixão para toda vida”. Rosa concorda
com tudo, mas diz não se arrepender de se aposentar.
DICAS
Antes de se retirar das salas de aulas e aproveitar
a aposentadoria no litoral catarinense, onde já está
montando seu novo ateliê para se dedicar à pintura
com o mar servindo de inspiração, Rosa deixa algumas
dicas para aqueles que iniciam ou pretendem ser
professores. “Primeiro de tudo: tem que gostar muito.
Depois, é necessário ser flexível, estar sempre aberto,
estudar bastante, se atualizar e aceitar certas coisas que
não se pode mudar”, atesta. E sempre estar preparado
para vencer as barreiras que aparecem pela frente.
“Educação e desafio são sinônimos”, completa. O
filósofo grego Sócrates, se vivo fosse, concordaria com
Rosa pois, há mais de dois mil anos, ele já dizia que
uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.
A Emílio Meyer monta uma mostra com os trabalhos dos alunos
Lisandra Félix Coordenadora-Executiva Papo Reto
Penso que o primeiro espaço educacional da criança
é a sua casa, recebendo as orientações dos pais para
quando inciarem a trajetória de formação escolar
a criança tenha um senso de obediência, seja um
adolescente educado, jovem participativo e adulto
consciente dos seus direitos e deveres.
A minha primeira infância na década de setenta
foi toda na região leste no morro da cruz e meus pais
sempre deram exemplo como pessoas trabalhadoras
e honestas e se sacrificaram para que eu estudasse
e me empenhava para não desapontá-los e na
primeira oportunidade minha mãe com sua sabedoria
e sensibilidade me inscreveu com 7 anos nas aulas
de Ballet Clássico na escola, e hoje posso dizer que
a disciplina e senso de responsabilidade que vivenciei
nestas nas aulas foram essenciais para minha vida
pessoal e profissional, nem passei perto de colocar
sapatilhas de ponta, mas aprendi que o que realmente
importa é a vontade de superar desafios todos os dias
para atingir uma meta.
Atualmente as crianças e jovens de qualquer
classe social estão sem limites por causa que os
pais não conseguem dar atenção, brincar, dialogar
e também repreender quando necessário, criando
um abismo na relação com os filhos, transferindo
consciente ou inconscientemente para os professores a
responsabilidade de educar seus filhos.
Outro aspecto importante que merece destaque é que
as famílias especialmente dos moradores das periferias
não são mais nucleares, sendo a mãe a grande gestora
de todos os problemas familiares, provocando uma
vulnerabilidade emocional na família, neste contexto
estão todas as interferências externas que podem
influenciar um jovem nas suas escolhas que pode ser
um programa de televisão que motiva a gurizada a ter
coisas caras da moda que não pode comprar, os apelos
violentos à disposição na redes sociais, acrescentado
as conversas com os “amigos” que já estão trilhando
um caminho minado e querem levar todos para o
mundo do crime e das drogas, somado a dificuldade
dos pais que não conseguem lidar com suas próprias
frustrações e acabam descontando no filho que por sua
vez desconta no professor se transformando naquele
aluno violento ou então completamente desligado.
Vejo que cada vez mais precisamos dar atenção à
família que está doente que agoniza pedindo socorro e
sua forma de expressar muitas vezes é se afundando na
drogadição, no crime, na depressão, no alcoolismo e
cabe a nós educadores sociais criarmos estratégias para
decodificarmos os sinais que estão aí escancarados e
cada vez mais trabalharmos com a prevenção através
de tecnologias sociais que venham de encontro com as
necessidades das famílias.
Papo Reto |10| novembro
Palavra
Precisamos daratenção à família
Alexandre Bertolazi | CUFA-RS
A Central Única das Favelas preza, acima de tudo, o
indivíduo na condição de protagonista para fazer o bem ao
outro e a si mesmo. Acreditamos que o próprio ser humano
quer evoluir, mas, muitas vezes, ele não tem portas de acesso
à evolução tão sonhada pelas pessoas. As nossas ações
querem que o indivíduo se olhe no espelho e se enxergue
como esse agente transformador da sua realidade e da
realidade a sua volta. Um agente transformador e, acima
de tudo, multiplicador das ações e projetos da CUFA.
A instituição lida com a prevenção às drogas. Trabalhamos
nas comunidades dentro das escolas, com alunos e
professores, levando o assunto para dentro do ambiente
escolar. A CUFA acredita que o ensino e a conscientização
deve começar desde cedo e da melhor maneira possível: a
prevenção.
Para termos uma ideia de como os estudantes enxergam
as drogas, o crime e a questão da internação, resolvemos
realizar um levantamento. Entre os dias 2 e 30 de outubro
de 2013 fomos em 16 escolas da rede municipal de ensino
para fazer essa coleta de dados. Crianças de 10 a 16 anos
responderam 10 perguntas.
O nosso objetivo é saber como os jovens lidam com a
questão da drogadição e qual o conhecimento deles sobre os
diferentes tipos de droga. Além disso, o levantamento serve
como base de dados para uma pesquisa ainda maior e mais
abrangente, que pode ser feita por institutos especializados
no ramo. Confira na página a seguir o resultado desse
trabalho.
Impacto
100% dos alunos conhecem algum
tipo de droga
87% conhece alguém que já
se envolveu com drogas
22% já experimentaram
drogas
45% já teve um parente preso
por Mariana Soares
11
Papo Reto |12| novembro
987
6
5
43
2
1 DROGASCem alunos responderam as questões do
levantamento. Destes, 54% são do sexo feminino e 46%
do sexo masculino. A primeira pergunta diz respeito
ao conhecimento de drogas – “Você já ouviu falar em
drogas?“. As respostas mostraram que 100% delas
responderam “sim”. Isso mostra que o tema está no
cotidiano dos jovens.
QUAL VOCÊ CONHECE?Essa questão pedia para os alunos citarem quais
drogas eles já ouviram falar. Eles podiam escrever mais
de um tipo. A maconha foi citada por 70% dos alunos.
O crack, por 52% e a cocaína por 29%. Depois, em
menos escala, apareceram loló (5%), ecstasy (2%), oxi
(2%), cigarro (1%) e heroína (1%). Vale ressaltar que
apenas um jovem apontou o cigarro como droga.
FAMÍLIAA terceira pergunta abrange os familiares dos jovens.
“Alguém da sua família já se envolveu com drogas?”.
54% dos alunos responderam que sim o que mostra o
alcance indireto das drogas na vida destes jovens.
AMIGOS E CONHECIDOSQuarta pergunta: “Você conhece alguém que já se
envolveu com drogas?” Assim como a anterior, essa
surpreendeu ainda mais. 87% dos alunos responderam
“sim”, que sabe de alguma pessoa que já tenha
experimentado algum tipo de entorpecente. Já 13%
responderam “não”, que não conhecem ninguém que
tenha usado drogas.
E VOCÊ?Como essa pergunta era pessoal, os alunos tinham
a opção não responder, porém, todos eles assinalaram
uma alternativa para a questão “Você já experimentou
algum tipo de droga?”. 22% afirmou que sim, que já
havia usado algum tipo de droga.
13
10
987
6 INTERNAÇÃOA próxima pergunta trata de internação. Procuramos
saber se os jovens conhecem pessoas que já foram
internadas para se tratar de algum vício. A questão
era “Você conhece alguém que já foi internado?”. O
resultado foi que 40% dos jovens responderam que
“sim”, que conhecem alguém. Já 60% dos entrevistados
disseram que “não”, não conhecem nenhuma pessoa
que foi internada em razão do vício.
PRISÃOA questão carcerária também esteve presente no
levantamento. A pergunta “Alguém da sua família já foi
preso?” apontou 45% dos alunos afirmando que sim e
55% assinalaram a opção não. Outro ponto tratado foi
a violência.
MORTEA oitava pergunta diz respeito à morte: “Você já viu
alguém morto?”. Com as alternativas pré-estabelecidas,
os jovens podiam marcar “sim” ou “não”. Como
resultado, 63% dos alunos responderam que já tinham
visto alguém sem vida. E os outros 37% negaram,
dizendo que nunca viram uma pessoa morta.
PAISA pergunta de número nove aponta a questão da
proximidade familiar. “Como é o seu relacionamento
com os seus pais”. Os alunos tinham três opções de
resposta: “bom”, “regular” e “ruim”. Destes, 83%
consideraram que o relacionamento com os pais é bom,
17% acham que é “regular” e nenhum acredita que tem
um relacionamento ruim com os pais.
DIÁLOGOA última questão do levantamento fala sobre o
diálogo entre os alunos e seus pais. Com a pergunta
“Você já conversou com seus pais ou responsáveis
sobre esse tema?”. O resultado foi que 66% dos alunos
disseram que sim, que já trataram do assunto com os
parentes. Já 34% dos jovens responderam que nunca
discutiram o tema das drogas com os pais.
Papo Reto |14| novembro
Mural do Professor
Aqui é o espaço onde o professor pode dar a sua opinião sobre o Circuito Papo Reto. Nos seminários, os docentes tem um espaço para preencher avaliando as palestras. Essa é a hora de se expressar e mostrar como é válida essa troca de experiência. E de que maneira essa iniciativa mudou a sua forma de pensar.
Importante para conhecer a rede de apoio no município e que podem ajudar na relação com as famílias.
Legal poder ter contato maior/mais profundo com a realidade
social.
Uma das melhores
partes do seminário
devido aos professores
escutarem as histórias
de vida. Pura realidade
a verdade que o mundo
não quer aceitar.
Muito bom. Bem objetivo apresentando e pontuando questões centrais que podem nos ajudar na sala de aula.
Bom para relembrar questões como a necessidade de vínculos para atingir a criança ou o adolescente, assim como o uso de elementos
como funk e hip hop para essa aproximação.
Discussão interessante sobre as questões de leis sobre drogas, ineficiência das mesmas, recuperação e prevenção.
Adorei! Papo direto, super claro, esclarecedor
Volume de informações muito bom, articulação bem feita entre as áreas da educação e da assistência social.
Excelente abordagem quanto a ações multidisciplinares em rede na atenção, cuidando alunos em risco.
Uma boa abordagem, ampla, sobre os recursos sociais a que podemos recorrer no caso de problemas com alunos em situação de vulnerabilidade.
Temática muito interessante e que traz à tona a importância da prevenção que engloba muitas ações que não estão sendo oferecidas pelo estado e a sociedade.
A palestra foi ótima, esclarecendo os aspectos jurídicos em relação às drogas. Foi didático e objetivo. A reflexão sobre a sistema prisional foi ótima.
15
escolasolução
Em Porto Alegre, a iniciativa de prevenção ao crack nas escolas foi pioneira. Abrangendo os alunos de 51 escolas municipais da capital, a CUFA-RS realiza desde 2012 o Projeto Circuito Papo Reto Porto Alegre, projeto em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre através da Secretaria Municipal de Saúde e Educação e que neste ano ganhou outro parceiro importante: o Hospital Divina Providência. Em 2013 o objetivo é superar em 30% o número de atendimentos dos ano passado, através das ações realizadas nos pátios e salas de aula, com palestras, oficinas e atividades culturais inspiradas na ferramenta de prevenção “O Escudeiro da Luz em os Zumbis da Pedra“. Nesta edição, destacamos as seguintes escolas:
Papo Reto |16| novembro
Victor Issler por Carolina Reck
“A educação é um direito e um dever”. A frase
estampada em meio às artes em grafite está no muro
frontal da EMEF Vitor Issler. Com cerca de 1.500 alunos
e 25 anos de história, disponibiliza em turnos inversos
atividades como oficina de teatro, dança, futebol,
rádio, grêmio estudantil e robótica. Conta também
com o programa Mais Educação, do Governo Federal,
o Cidade Escola e acontecimentos como a exposição
anual dos trabalhos realizados pelos alunos.
ESCOLA COMO ALAVANCA
“A sociedade só se transforma quando a escola for
a alavanca”, assegura a diretora Sandra Hass. Para ela
a rotina equilibrada desenvolve habilidades sociais nos
alunos. “Escola não tem que desenvolver habilidades
necessárias apenas para o ensino e aprendizagem,
mas para o desenvolvimento do ser humano completo,
capaz de encarar a realidade”, elucida. Além disso, a
Issler se propõe a estabelecer elos com a comunidade.
“Buscamos para monitores as pessoas da comunidade
também, ex-alunos, pais... Tentamos a proximidade”,
explica a professora Luciene Borba Sobotyk, mentora
do projeto de robótica.
ROBÓTICA
Implantado pela Prefeitura de Porto Alegre, a
robótica tem seis anos de existência e garantiu aos
alunos a oportunidade de participação em eventos
como a Olimpíada Brasileira de Robótica, a First Lego
League (FLL), em que ganharam dois prêmios de mentor
de equipe. “Trabalho em equipe é fundamental. Se
sucesso aconteceu é graças a todos. Procuro trabalhar
a questão de que estamos aqui para dar o melhor e
aproveitar tudo que é possível”, resume Luciene.
PAPO RETO
A participação da CUFA RS na escola se dá por
meio da oficina de teatro. Trabalhando a prevenção
às drogas, a oficina conta com exercícios variados, que
juntamente com ensaios levam à apresentação de uma
peça final. “No começo perguntei o que era respeito
para os alunos. A partir disso montamos um mural.
Toda aula conversamos sobre a questão do respeito,
civilidade, a não violência. Temos que aprender a
trabalhar juntos e levar através dessa peça, que é um
símbolo, a mensagem para os pequenos de que não
devem usar drogas”, esclarece Aloísio.
Os cerca de 1.500 alunos podem participar de oficinas de teatro, dança, futebol, rádio, grêmio estudantil e robótica
Carolina Reck | CUFA-RS
17
A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)
Wenceslau Fontoura abriga cerca de 900 alunos,
divididos nos três turnos. Desde 1996 educando
no bairro Rubem Berta, na zona norte da Capital, a
escola chegou a ser incendiada neste ano. Mas, com
a ajuda da comunidade e do poder público, as salas
atingidas foram recuperadas e entregues aos alunos
em tempo de não prejudicar as atividades letivas. A
CUFA participou da “Muvuca de Reconstrução”, evento
solidário que ocorreu em frente à escola.
REALIDADE DAS DROGAS
Para a orientadora educacional Marlise Zarpelon,
é bastante importante o trabalho desenvolvido pela
CUFA, visto que a comunidade em que está inserida
a escola vive a realidade das drogas, do tráfico e
da violência, segundo ela. “Esse trabalho tem que
continuar, se expandir e ser mais abrangente. Aqui
a realidade é difícil, e trabalhar a prevenção ao uso
de drogas com os alunos é importante por isso, para
que eles tenham uma vida plena pela frente”, conta a
orientadora.
OUTROS PROJETOS
Na Wenceslau Fontoura, todo sábado é dia de
Escola Aberta, onde todos da comunidade são bem-
vindos para desenvolver atividades esportivas no local.
Além disso, os alunos podem usufruir de oficinas de
judô, karatê e dança - fora os esportes. A educadora
Marlise busca desenvolver monitorias também, como
na biblioteca e na hora do recreio, com brincadeiras
no pátio. Ela agora busca tornar monitores os alunos
que desenvolveram as atividades teatrais na oficina
da CUFA. “É importante, eles vão poder ajudar
no desenvolvimento de colegas com necessidades
especiais”, finaliza.
Wenceslau Fontourapor Igor Grossmann
Mesmo depois do incêndio, alunos se mobilizaram para recuperar o tempo perdido e correr atrás de um bom resultado
Igor Grossmann | CUFA-RS
Papo Reto |18| novembro
Pepita de Leão por Igor Grossmann
No bairro Passos das Pedras, na zona norte de Porto
Alegre, a Escola Municipal de Ensino Fundamental
Pepita de Leão educa gerações de alunos há 53 anos.
A instituição atende cerca de 550 estudantes. Muitos
são netos de ex-alunos, conta o diretor João Willy
Schmidt Cerski.
TRADIÇÃO EM PROJETOS
Na Pepita de Leão, historicamente há projetos extra-
curriculares. “Uma larga tradição”, como define o
diretor João. O grupo de dança existe há 15 anos e o
coral há 12. João entende que a escola muitas vezes
é vista como um ambiente chato para os alunos e que
cabem aos professores tentar torná-la mais atraente
aos olhos dos jovens. Por isso as atividades fora do
horário de aula.
TEMPLO SAGRADO
A CUFA RS desenvolve oficina de desenho na
EMEF Pepita de Leão. Para o diretor João, “este
trabalho enriquece a escola e os alunos com novas
ideias e propostas”. Ele percebe o colégio como
um tempo sagrado, onde os professores têm uma
missão civilizatória ao centralizar debates e permitir a
transmissão de conhecimento.
MEDIANDO CONFLITOS
Além da oficina da CUFA, há projetos como
Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU),
que trabalha ecologia e sustentabilidade, robótica,
esportes, orquestra de flauta, entre outros. A escola
também se preocupa com a mediação de conflitos.
“Aqui não toleramos violência”, relata o diretor.
PAPO RETO
Para João, o seu trabalho consiste em melhorar o
desempenho escolar e manter os jovens estudando.
“Muitos aqui estão em situação de vulnerabilidade
familiar, material e social. Se um aluno pratica esporte
e não evade, já é uma vitória”, afirma o diretor. Ele
entende que se um estudante abandona a escola, este
aluno está a um passo de se envolver com drogas e até
com o tráfico.
João ainda destaca o seminário Circuito Papo
Reto promovido pela CUFA RS para os professores da
rede municipal. “É uma oportunidade de municiar os
educadores para tratar este tema de maneira horizontal
em sala de aula”, afirma.
Na escola Pepita de Leão a CUFA desenvolve oficina de desenho com os alunos oferecendo novas ideias e propostas
Igor Grossmann | CUFA-RS
19
Timbaúva
A escola Timbaúva já existe a 12 anos sendo muito
conhecida e admirada por todos no bairro. Ao chegar,
já se pode notar tamanha organização. Rodrigo
e Douglas os professores de teatro da Cufa RS
apresentaram a Aleteia que é supervisora do 1º ciclo e
a Juliana Selau, que tem acompanhado o trabalho da
Cufa na escola.Aleteia relatou como tem funcionado
a pareceria da instituição e como tem influenciado na
mudança de cada aluno.
OFICINA
O professor Rodrigo iniciou a sua oficina com a
primeira turma no centro da sala, fazendo uma roda
com uma breve conversa como de costume. Após o
dialogo, começou a primeira atividade com Douglas
no comando do radio e Rodrigo no comando da turma
era hora de trabalhar. A primeira atividade era referente
a concentração. Com todos sentados no chãoao som
da musica tiveram que passar a bola um para o outro
em silencio.
PAPO RETO
“A chegada da Cufa tem sido bastante positiva, pois
eu tenho visto os professores acreditarem nos alunos e
era disso que eles estavam precisando, de alguém que
mostrasse que eles tem talentos e que bastava apenas
acreditarem em si mesmos” relata Aleteia.
SATISFAÇÃO
Os dois oficineiros da CUFA falam sobre a
experiência em dar aulas de teatro na escola. “Para
nós é uma satisfação ver um sorriso no rosto do aluno
e ouvir que eles gostam de nossas aulas”, conta o
oficineiro Douglas Castro. “Fico feliz quando vejo que
meu trabalho está dando certo, quando vejo cada
aluno atuando percebo que nada tem sido em vão”,
fala Rodrigo Reis.
ALUNOS ESPECIAIS
Os alunos que participam das atividades são da
turma do reforço escolar (alunos que tem dificuldades
em acompanhar algumas matérias). Para Juliana, a
oficina tem sido importante. “Mesmo sendo alunos
de reforço, quando eles chegam na oficina de teatro
eu consigo perceber uma grande mudança, não só
no comportamento mais também na evolução e na
capacidade de aprender e decorar os textos” relata
Juliana.
PROFESSORES DE PARABÉNS
Ela ainda conta que os professores estão de parabéns
pois raramente faltam e nunca chegaram atrasados. A
Cufa chegou na escola em agosto desse ano fazendo
assim uma grande diferença. “A chegada da Cufa foi o
ponto certo, era o que faltava para a nossa escola estar
completa. Eu não tenho que reclamar. O projeto está
aprovado. Acho que poderia ter mais aulas na semana
já que os alunos gostam tanto”, diz Juliana.
por Bianca Oliveira
Os alunos que fazem as oficinas são da turma de reforço
Bianca Oliveira | CUFA-RS
Papo Reto |20| novembro
Décio Martins Costa
Completando o 50º aniversário neste ano, a EMEF
Décio Martins Costa apresenta alguns problemas de
infraestrutura. Na manhã chuvosa de segunda-feira,
as goteiras no corredores e na sala de aula mostravam
que o prédio já sentia o peso da idade. Apesar disso,
as comemorações de aniversário são realizadas com
atividades que buscam resgatar a história da escola.
OFICINAS
Na sala da direção, a professora e a atual diretora
do local, Clarice Menegaz Mezzomo, destaca que
apesar deste ano as atividades serem mais voltadas à
escola, o local possui outros projetos no cronograma
dos alunos. “No contra-turno dos estudantes nós
temos o Laboratório de Aprendizagem e a parceria
com a Fundação de Educação e Cultura do Sport
Club Internacional, o FECI, que atende 50 crianças no
turno da manhã e 50 na tarde”, destaca a diretora.
Ela também afirma que os oficineiros da instituição
costumam trabalhar com a música e o esporte. “Temos
bastante torneios, mas quando temos atividades fora é
a música que marca o exercício. Além disso, possuímos
uma oficina musical realizada pela nossa professora
que atende o coral”, ressalta Clarice. A escola ainda
conta projeto como o Laboratório de Inteligência do
Meio Ambiente, Grêmio Estudantil e Rádio Escolar.
A IMPORTÂNCIA DE PREVENIR
Neste ano, Clarice relata o comprometimento
não apenas dos alunos, mas do oficineiro Rodrigo
nas aulas de teatro. “Por trabalhar em contra-turno,
as crianças se adaptaram melhor. Além disso, o
Rodrigo costuma chegar com antecedência e mostra
compromisso com as atividades realizadas”, conta a
diretora. Ela também destaca que o tema prevenção
faz muitos pais não deixarem os alunos participarem
da oficina. “Embora a prevenção seja algo importante,
os pais acham desnecessário falar disso cedo. Tivemos
alguns familiares que mandaram de volta o livro, pois
não queriam que os filhos lessem aquilo”, relata.
A PROBLEMÁTICA DAS DROGAS
Professora a mais de 30 anos, Clarice avalia
negativamente a reação dos pais quanto ao livro. “Na
nossa região possuímos um problema sério em relação
às drogas e a prevenção é algo muito importante”,
afirma. Ela conta que a escola já apresentou este
problema entre os estudantes. “Já tivemos alguns
alunos que pegamos com droga dentro da escola e
encaminhamos para o DECA, mas infelizmente não
conseguimos resgatar nenhum deles”, revela. “Eles
tentam trazer para dentro da escola, alguns trazem e a
gente leva um tempo até descobrir. Possuímos também
alunos que a gente sabe que usam, pois já chegam
de manhã demonstrando isso”, conta. “A questão da
droga é o pior problema que nós temos”, completa a
diretora.
PAPO RETO
Há 9 anos na direção, Clarice avalia positivamente
o Projeto Papo Reto, que vem sendo realizado desde
o ano passado. “As atividades oferecidas pela CUFA
são muito legais, hoje temos pela escola o grafiti com
nome Papo Reto e figuras realizadas no ano passado”,
conta. “A gente costuma ver paredes riscadas, mas o
mais legal de ver é que o grafiti feito não possui um
risco em cima, ninguém riscou”, completa a diretora
que trabalha há 23 anos na escola.
por Eduardo Bertuol
Nem todos alunos puderam participar do Projeto Papo Reto
Eduardo Bertuol | CUFA-RS
21
Grande Oriente
Com uma página do Facebook com frequentes
atualizações, a EMEF Grande Oriente do Rio Grande
do Sul traz inúmeros projetos para manter o aluno com
educacional integral. Com a parceria da prefeitura, a
instituição possui programas como o Cidade Escola,
Vivências com Música, além do Projeto Caminhando
Para a Paz, que engloba rádio web, o teatro e oficinas
de vídeo. A professora e coordenadora do Cidade
Escola, Alessandra Felício, destaca a aceitação das
crianças. “Os estudantes costumam abraçar os
projetos idealizados dentro da escola, eles participam
com frequência. Nos finais de semana é que existem
demandadas”, conta.
PROJETOS EM PROL DA EDUCAÇÃO
O local também possui parceria com o Programa
Mais Educação e o Escola Aberta, do qual pessoas da
comunidade realizam oficinas em turno integral nos
sábados. Nelas são realizadas atividades de artesanato,
hip-hop, karatê, capoeira e futsal. “Desta forma, não
apenas os alunos, mas toda a comunidade conhece
a escola e começa a abraçar a ideia da educação”,
revela Alessandra.
PAPO RETO
A coordenadora Alessandra avalia o Projeto Papo
Reto como um programa muito bem aceito entre os
alunos e os professores. “O trabalho realizado é
excepcional, pois trabalha com o tema da prevenção
utilizando diversos fatores importantes na formação de
uma criança, como a leitura com o livro O Escudeiro
da Luz, o desenho com as aulas de grafitti do ano
passado, e a atuação com as oficinas de teatro”, conta.
MÚSICA CONTRA AS DROGAS
Na sala de computação, o oficineiro Gilmar Colares
conta com aproximadamente sete alunas agitadas e
dispostas a ensaiar as cenas. No ritmo do rap, elas
decoram a música composta pelo oficineiro e que faz
referência a prevenção às drogas. Além de treinar a
coreagrafia de “Thriller”, música de Michael Jackson, e
ensaiar as cenas do livro O Escudeiro da Luz.
ATENÇÃO AO COMPORTAMENTO
A diretora da escola, Elaine Gregory, revela que o
Papo Reto é importante, pois a instituição se encontra
em uma região de risco. Ela conta que este ano a
escola está começando a ter problemas durante o
período noturno. “Em relação as drogas, na parte da
noite ocorre mais, mas já pegamos alguns alunos no
dia com maconha”, revela a diretora. Preocupados, o
local solicitou um intensivo da guarda municipal no
período da noite, principalmente nos recreios e com
algumas regras.
CONFLITOS NO ENTORNO
O entorno da escola também mostra ser perigoso
para os estudantes do local. Segundo a diretora Elaine,
uma briga entre traficantes no núcleo da comunidade
e os tiroteios são frequentes. “Por causa disso, muitos
alunos têm pedido para sair mais cedo das aulas,
pois estipularam o toque de recolher depois das dez
horas da noite”, conta Elaine. A escola tem acionado a
Brigada Militar quando possível, afirma a diretora que
conta que o seminário Papo Reto tem colaborado para
os professores entenderem mais os alunos e o mundo
em que vive a comunidade em que eles moram.
por Eduardo Bertuol
O livro do Escudeiro da Luz é bastante trabalhado nas oficinas
Eduardo Bertuol | CUFA-RS
n
Papo Reto |22| novembro
Ildo Meneghetti por Bianca Oliveira
A EMEF Governador Ildo Meneghetti localiza-se na
Vila Nova Santa Rosa, Bairro Rubem Berta. A escola
conta com espaços diferenciado para o estudo como
laboratório de informática e de aprendizado, além
de ma biblioteca com diversas obras que agregam
conhecimento dos alunos.
BEM VINDOS
Era segunda-feira, dia de aula de teatro da oficina
do Projeto Papo Reto da CUFA RS. Do pátio da escola,
indo em direção às salas, foi possível perceber o quanto
a CUFA é bem-vinda. A professora Maria Bernadete
prova esse fato e diz que o convênio com a instituição
tem sido ótimo para o aprendizado dos alunos. “Abrir
a minha turma para a CUFA foi a melhor coisa que eu
poderia ter feito. Essa parceria tem dado certo desde o
ano passado”, fala.
HORA DA VERDADE
Os alunos estavam montando suas apresentações
para a última aula. Já era reta final, correria para todos
os lados, ensaio daqui e dali para se fechar um grande
espetáculo. “Estamos na reta final agora é a hora de
fazer tudo acontecer.” conta o oficineiro Douglas.
TURMA CHEIA
A turma é muito grande e tem bastante alunos, a
ponto de ter que dividi-los em dois grupos. Mesmo
assim, a oficneira do Projeto Papo Reto Carolina
de Oliveira confia em seus alunos e no ensino de
qualidade que é possível ter nas duas turmas. “Eles têm
se superado muito. Eu acredito que estão prontos para
a apresentação final”, relata Carol.
QUASE NO FIM
O tempo estava passando, os ensaios chegando ao
fim, era hora de partir e deixar como tema de casa os
ensaios para que tudo ocorra bem na apresentação
final.
Alunos da oficina de teatro do Projeto Papo Reto atentos nas últimas orientações dos oficineiros Carolina e Douglas
Bianca Oliveira | CUFA-RS
23
Jean Piagetpor Igor Grossmann
Há 21 anos educando no bairro Rubem Berta, na zona
norte de Porto Alegre, a Escola Municipal de Ensino
Fundamental (EMEF) Jean Piaget, conta hoje com 750
alunos nos três turnos: manhã, tarde e noite. Além do
ensino fundamental, educação de jovens e adultos (EJA)
preenche a grade escolar da instituição. O nome do
colégio homenageia um pensador e educador suíço que
propunha uma nova filosofia na educação e criticava o
método tradicional de ensino, onde o professor dita e o
aluno copia e repete.
ENVOLVIMENTO E INTEGRAÇÃO
Para a supervisora do segundo e terceiro ciclos da
instituição de ensino, Vera Lúcia Santiago, a CUFA se
insere neste contexto de uma abordagem diferenciada.
“O projeto Papo Reto, com a oficina de teatro, é
produtivo e interessante. O resultado é muito bom, os
alunos se envolvem. Isto ajuda no desenvolvimento e
integração do grupo”, relata.
ABORDAGEM ADEQUADA
A Jean Piaget também enfrenta problemas
relacionados com as drogas. Por isso, ressalta Vera,
o trabalho dessenvolvido pela CUFA, de prevenir o
uso de drogas, se torna ainda mais importante. “O
que acontece na comunidade acaba respingando na
escola. Buscamos promover atividades saudáveis para
evitar que o jovem se envolva com coisas que não são
as ideais”, diz. “O Papo Reto nos auxilia nessa missão,
que já que aborda este tema de maneira apropriada,
de um jeito que talvez a escola sozinha não conseguisse
fazer”, completa.
Diretora e professores acreditam que o trabalho desenvolvido pela Cufa, de prevenir o uso de drogas, é importante
Igor Grossmann | CUFA-RS
Papo Reto |24| novembro
por Carolina ReckJoão Antônio Satte
Com 1200 alunos, a escola João Antônio Satte atende
aos bairros Parque dos Maias, Rubem Berta, Sarandi e
proximidades. O espaço escolar também garante vagas
para alunos que provém da cidade de Alvorada. Entre
oficinas de esporte, leitura e escrita, Laboratório de
Aprendizagem e Cidade Escola, tem como diferencial
a iniciativa de um grupo de professores: o grupo de
teatro. Mesclando ao figurino e facetas caricaturizadas
a literatura e alfabetização, o grupo busca entreter e
incentivar os alunos culturalmente.
ALUNOS SÃO PLATEIA PARA O APRENDIZADO
“O que pensamos foi em dar um presente para
os alunos. Em geral eles não têm um momento para
assistir esse movimento mágico de dar vida aos
personagens. Vendo nossas peças eles têm postura de
plateia. Apreciam, participam e interagem”, ressalta a
professora Sandra Rejane Claro do Santos, responsável
pela projeto. Inicialmente poucos educadores se
engajaram na causa, com o tempo foram necessários
novos papéis para os interpretes que surgiam,
formando um grupo com 12 integrantes. As peças e
danças são apresentadas em datas relevantes, como
o dia da consciência negra e das crianças. Além do
potencial para entreter e até mesmo conscientizar os
alunos, o teatro ajudou professores a se relacionarem e
tornarem o espaço em que convivem mais harmônico.
“Integrou muito os professores, nos divertimos muito”,
ilustra Sandra.
EMBARQUE NA HISTÓRIA
“Essa interação entre professores é muito importante.
O grupo cria vínculos bons, fortes com o teatro”, alega
a coordenadora pedagógica do 1º e 2º ciclos da
escola, Helenara de Oliveira. A reação dos jovens ao
prestigiarem apresentações como “ A Dona Baratinha”
é de diversão e despertar para o senso crítico. “Os
pequenos embarcam muito na história. Esses dias,
um dos meninos perguntou para a professora se ela
era a dona baratinha. Ao ouvir que sim, disse que
ela chorava muito bem, mas que sabia que era tudo
atuação”, informa Helenara.
OUTROS PROJETOS
A escola também oferece oficinas como a de
esportes e de literatura, que ocorrem no turno inverso,
duas vezes por semana. No caso da segunda, os alunos
leem textos específicos, produzem conteúdo em aula e
realizam tarefas em casa. “É um período a mais dentro
da escola, em que desenvolvem a questão da oralidade,
de se colocar no lugar do outro, se posicionar, ficarem
mais educados”, resume a coordenadora.
PAPO RETO
Na oficina de teatro do Projeto Papo Reto, da CUFA
RS, a vez de atuar foi dos alunos. Trabalhando a temática
da prevenção ao uso de drogas, a oficineira Melissa
Dornelles desenvolveu um rádio. Os cinco alunos que
fizeram a intervenção cultural representavam diferente
estações, e surpreenderam alunos de quatro turmas
com notícias, anúncios e músicas.
Melissa procura realizar atividades que cativam a turma
Carolina Reck | CUFA-RS
25
Lauro Rodrigues
“Pequenas coisas constroem a relação da escola
com a comunidade”, pronuncia o diretor da EMEF
Lauro Rodrigues, Silvio Luís Capaverde, ao explicar
a influência do arquiteto Antoni Gaudí nos muros
da Lauro. A escola localizada no bairro Jardim Ingá,
atende a moradores de sete bairros da região. Com
700 alunos, busca em atividades extracurriculares
preencher lacunas na educação.
MÚSICALIDADE, BANDA E RÁDIO
Para aqueles que apreciam a música, disponibiliza
a banda e uma rádio. A reunião da Rádio Escolar
ocorre uma vez por semana, na manhã, e neste espaço
diferentes estilos musicais são difundidos. Outro dos
projetos com diferencial é o xadrez, incluso como
modalidade dos jogos escolares que ocorrem em
agosto. Há também o projeto de educação ambiental,
em que um terreno baldio foi apropriado para a
criação de um bosque. Os alunos com dificuldades
em sala de aula recebem auxílio de projetos como a
brinquedoteca, o Laboratório de Aprendizagem e Sala
de Integração e Recursos (SIR).
INTEGRANDO RECURSOS
O novo projeto da escola, que iniciou as atividades
neste ano, é a Sala de Integração e Recursos (SIR). O
espaço é para jovens com necessidades especiais e
dificuldades em sala de aula. Trabalhando com a lógica,
desafios, jogos e produção de textos, ocorre em turno
inverso e atende as necessidades individuais de cada
aluno. “Isso envolve também problemas familiares,
sociais e a história de vida de cada um”, reitera a
orientadora educacional e educadora especial Simone
Moraes, responsável pela iniciativa. Efetivamente 23
alunos participam, do 1º ao 9º ano. “É um trabalho
de formiguinha. São pequenos progressos que para as
crianças são imensos”, informa a professora.
LABORATÓRIOS ENVOLVENTES
No caso da brinquedoteca, o diretor afirma que vai
além de entretenimento. Existente há dez anos, envolve
o acompanhamento de pedagogos e jovens do jardim
ao 5º ano. “A hora de brincar é reveladora. As vezes
um aluno não quer falar de seus problemas, se formos
fazer uma leitura de seu modo de agir brincando
podemos identificar isso”, consta Silvio. No contra
turno também ocorrem atividades do Laboratório
de Aprendizagem, que trabalha com a superação
de dificuldades de crianças a partir de atividades
de informática, consciência corporal, auto-estima,
linguagem oral, escrita e leitura. As aulas são feitas
com seis grupos, que têm em média quatro alunos
cada.
PAPO RETO
Em agosto deste ano se iniciaram as oficinas de
teatro do Papo Reto na Lauro Rodrigues. O momento
é proporcionado pelo oficineiro Gildo Carvalho.
Juntamente com os alunos, o profissional está
montando uma peça baseada na história do “Escudeiro
de Luz em Os Zumbis da Pedra”, e cerca de 22 alunos
participam. “A oficina é muito importante pela questão
da comunicação que gera com eles. Aborda questões
relevantes de forma lúdica; o bullyng, o preconceito,
o gênero. A ferramenta teatro é fundamental na
educação das crianças”, expõe o oficineiro. De acordo
com Carvalho a oficina também trabalha com a
liberdade dos jovens, seus medos e timidez.
por Carolina Reck
Alunos aprendem e se divertem nas aulas de teatro
Carolina Reck | CUFA-RS
Papo Reto |26| novembro
Liberato Salzano por Igor Grossmann
No bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, a Escola
Municipal de Educação Básica (EMEB) Dr. Liberato
Salzano Vieira da Cunha forma gerações de estudantes.
A instituição, que fará 60 anos em 2014, é uma das
poucas que oferece ensino completo na Capital. Nela,
há educação infantil, ensinos fundamental e médio,
além de ensino técnico profissionalizante e educação
de jovens e adultos (EJA). 1.600 alunos estudam no
local.
AMOR PELA ESCOLA
A vice-diretora do turno da noite é um exemplo de
alunos que completaram sua formação na Liberato.
Dinara Bittencourt se formou na escola e, 13 anos
depois, voltou para lecionar. O pai, o irmão e o
marido de Dinara também estudaram neste colégio.
“Tenho muito amor pela Liberato. Quando voltei como
professore, fiquei encantada por trabalhar ao lado
daqueles que me deram aula. Eles me acolheram
muito bem. Digo para os alunos estudarem bastante
para alcançarem seus sonhos”, relata com um sorriso
nos lábios.
FORMAÇÃO SEM EVASÃO
Para a diretora Cleusa Maria Leite, o fato de a
instituição proporcionar uma formação básica completa
diminui a evasão, principalmente após o aluno concluir
o ensino fundamental. “O estudante tem a opção de
continuar aqui e cursar o ensino médio. Diferente de
escolas que oferecem só o fundamental, aqui o jovem
pode continuar com a sua turma até o fim da vida
escolar”, argumenta.
PAPO RETO
A Cufa/RS está presente na escola pelo segundo
ano consecutivo. A diretora Cleusa imaginava
que seria um projeto passageiro, mas se disse
surpreendidapela retorno dos alunos. “Em 2012, foi
trabalho o livro Escudeiro da Luz. Então, neste ano, os
estudantes já conheciam o tema, se impressionaram
mas se interessaram bastante. É um projeto muito
interessante”, conta.
VIDA PLENA
Com foco na prevenção às drogas, a oficina de
teatro comandada pelo educador da Cufa, Gil Colares,
trabalha o texto do livro Escudeiro da Luz com os
jovens. Para a diretora Cleusa, é importante abordar
esta temática, visto que no durante a sua gestão ela
perdeu quatro alunos envolvidos com drogadição.
Gil e suas alunas depois de mais um dia de ensaio para a apresentação final onde o foco é o combate às drogas
Igor Grossmann | CUFA-RS
27
Migrantes
A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)
Migrantes deve seu nome às pessoas que migraram
para a região onde hoje está a Vila Dique, próximo
ao aeroporto internacional Salgado Filho. Ali se
estabeleceram famílias que vieram do interior do Rio
Grande do Sul e Paraná, segundo conta a diretora
Milene d’Avila Eugênio, que desde 1996 integra o
corpo docente do colégio. A construção da escola
se deu a partir do anseio desses migrantes e ele se
realizou em 1992.
REMOÇÃO
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Migrantes
atende cerca de 160 alunos. Em 2012, eram 400. A
redução no número de estudantes se dá porque parte
da população que habitava a comunidade foi removida
pela prefeitura para que se pudesse ampliar a pista
do aeroporto. A solução encontrada pela Secretaria
Municipal de Educação para não fechar a escola foi
promover o turno integral.
TURNO INTEGRAL
Agora os alunos chegam às 7h e ficam no colégio
até as 17h. Neste tempo, são servidas cinco refeições:
café da manhã, lanche, almoço, café da tarde e janta.
A Cufa/RS está presente na escola neste ano com
oficina de teatro. “Essa atividade prende a atenção dos
alunos”, relata a diretora Milene. Para ela, as atividades
precisam ser criativas para seduzir os alunos. “Não
pode ser algo maçante”, sentencia.
DESISTIR JAMAIS
Para Milene, a escola muitas vezes assume papeis
que não são seus, como saúde e família. Ela conta que
já perdeu vários alunos para os vícios das drogas e
expõe a sua visão de como este problema deve ser
enfrentado. “É preciso falar claramente e nunca desistir
do jovem”, finaliza.
por Igor Grossmann
Os alunos chegam às 7h e ficam na escola até às 17h. Neste tempo, eles participam de diferentes atividades extra-classe
Igor Grossmann | CUFA-RS
Papo Reto |28| novembro
Antônio Giúdice por Eduardo Bertuol
Situada no bairro Humaitá, a EMEF Vereador Antônio
Giúdice possui destaque por ter bons resultados no
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Cálculo criado pelo Inep/MEC que busca representar
a qualidade da educação a partir da observação de
dois aspectos: o fluxo (progressão ao longo dos anos)
e o desenvolvimento dos alunos (aprendizado). A
escola possui uns dos melhores índices das instituições
municipais de Porto Alegre. O professor e coordenador
de projetos da escola, José Antônio Meister, ressalta
que por apresentar bons resultados, o local não possui
as oficinas realizadas pelo Programa Mais Educação.
“É bom termos este destaque como instituição, mas
acredito que projetos de incentivo a educação nunca
são demasiados”.
PROJETOS CONTRA INCONSTÂNCIA
O local possui muitos projetos para ajudar no
aprendizado e evolução do aluno. “Possuímos oficinas
com aulas de tênis, laboratório de aprendizagem,
laboratório de meio ambiente, além das parcerias
com a Fundação de Educação e Cultura Sport Club
Internacional, o FECI, e a CUFA”, relata Meister. Há
18 anos na escola e há 30 como professor de ciências
sociais, Meister conta que a aceitação dos alunos é
variável, mas no geral possui uma boa ocupação
das vagas. “Como todo estudante, eles costumam
ser bastante inconstantes e querem toda hora ter um
projeto novo com algo diferente. Eles estão todo hora
buscando alguma coisa nova”, relata Meister.
COMPROMISSO COM OFICINAS
A maior dificuldade verificada pela escola é a
fidelização do aluno com as oficinas oferecidas.
“Geralmente, o aluno começa dentro de um projeto
e depois busca outro, faz esse outro mais um tempo e
procura outro. Desta forma, ocorre uma rotatividade
dos estudantes nas oficinas”, conta. “O aluno possui
essa dificuldade de perceber que o projeto precisa ter
continuidade e por se trabalhar no contra turno das
aulas, eles acreditam que este processo é algo mais
livre, como se não tivesse compromisso, e algumas
vezes acabam prejudicando as oficinas”, acrescenta
Meister.
PAPO RETO
“O projeto é muito bom, os professores que fizeram a
formação só elogiaram e afirmaram ser bem completa
com uma avaliação super positiva”, conta Meister sobre
o a opinião dos educadores sobre o projeto Papo Reto.
“Quanto aos alunos, a dificuldade nossa foi chamá-
los para participar em uma segunda-feira de manhã”,
revela. As oficinas ministradas por Robson Machado
para os estudantes contam com atividades para
descontrair. Os poucos alunos se divertem e apresentam
ao oficineiro suas propostas do trabalho que gostariam
de realizar. Com base no livro “O Escudeiro da Luz
em O s Zumbis da Pedra”, Robson debate as questões
apresentados na obra com os estudantes participantes.
COMUNIDADE LIGADA À ESCOLA
Questionado sobre a violência na escola, o professor
Meister afirma que como qualquer outro lugar isso existe.
“Mas as próprias famílias possuem um controle do que
ocorre, pois a escola é muito ligada à comunidade e
poucos alunos vêm de fora dela”, acrescenta. Meister
fala que o problema do tráfico existe, mas não é um
problema que afeta os alunos.
A opinião dos alunos influencia as atividades da oficina
Eduardo Bertuol | CUFA-RS
29
Chico Mendes
Localizada no bairro Mário Quintana, a Escola
Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Chico Mendes
procura adquirir o máximo de projetos educacionais
para os alunos da escola e manter o turno integral. A
professora Kátia Leitune, responsável pela organização
dos programas do local, apresenta uma pequena
cartilha com a maioria dos projetos da escola. A
seleção dos projetos ocorre por meio de votação. Este
ano o destaque ficou para a dança folclórica gaúcha. A
escola ainda conta com projetos de rádio, robótica e o
LIAU (Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano).
PROJETOS DESENVOLVEM HABILIDADES
Além disso, o local possui convênio com o Projeto
Social Futebol Clube (PSFC) junto da Secretaria
Municipal de Esporte (SME). “É um convênio firmado
com a Secretaria, oferecendo atividades de futebol
fora do espaço da escola”, explica Kátia. O Social
Futebol Clube conta com 16 ex-jogadores de futebol
profissional que trabalham com crianças entre sete
e 15 anos em nove campos de futebol da periferia e
bairros mais pobres da cidade. Os ex-atletas, reunidos
em uma cooperativa, além de ensinar futebol para
os garotos, realizam oficinas, palestras e cursos.
A escola ainda possui o projeto de Laboratório de
Aprendizagem, espaço destinado a auxiliar os alunos
com dificuldades na aprendizagem e para potencializar
suas habilidades.
OFICINAS ENVOLVEM ALUNOS
Kátia lembra que a aceitação dos projetos por parte
dos alunos é boa, mas alguns problemas familiares
acabam afastando alguns deles. “A gente possui
muitos estudantes realizando as oficinas, mas não
conseguimos manter um grupo fixo, pois, por exemplo,
uma mãe consegue um emprego em algum lugar
e daí quem tem que ficar cuidando dos irmãos é o
nosso aluno e assim acaba se afastando do projeto”,
conta. A professora lembra de alunos que depois das
oficinas começaram a faltar menos nas aulas. “Os
projetos modificam para melhor os alunos, além de
se interessarem mais nas aulas, eles mostram uma
resposta positiva no conhecimento e aprendizagem”,
relata Kátia.
PAPO RETO
Ainda com registros do projeto Papo Reto realizado
com a grafitagem no ano passado, desta vez é a sala
de multimídia da EMEF Chico Mendes que recebe as
oficinas de teatro dos oficineiros Robson Machado e
Carolina Mattos. Lá, os alunos tiveram a liberdade
de montar um roteiro próprio baseado na obra “O
Escudeiro da Luz em Os Zumbis da Pedra”. Após lerem
o livro, os estudantes debateram entre si a melhor
forma de representar. Os ensaios, ainda tímidos,
eram casualmente parados pelos próprios estudantes
quando entendiam que podiam melhorar as cenas.
“Além de aprenderem a contracenar, é importante eles
interpretarem e utilizarem nas suas vidas o recado que
o livro quer passar”, destaca Carolina.
por Eduardo Bertuol
Os oficineiros Carol e Robson com as alunas de teatro
Eduardo Bertuol | CUFA-RS
Papo Reto |30| novembro
Lucas Santos tem 23 anos. Aos doze, ele começou a
fumar cigarro com alguns colegas mais velhos. Logo,
começou a usar maconha. Com 14 anos, passou a
abusar do álcool e a cannabis não era mais suficiente,
segundo suas palavras. Aos 15, lhe oferecem cocaína,
para que pudesse beber e curtir mais. “Era milagroso.
Eu bebia sem cair”, relata. “O jovem busca a loucura
suprema, e esse não é o caminho da felicidade, por
mais que se pense na hora que é”, reflete hoje. Certo
dia, Lucas foi comprar maconha e não tinha. Só havia
crack. Foi o primeiro passo no rumo tortuoso da pedra.
“Senti muito prazer, mas essa sensação tem um custo,
uma dor. São apenas alguns segundos. Tu nunca mais
vais sentir aquilo. Aí inicia a busca do prazer inexistente”,
fala com a propriedade de quem já experimentou o
prazer fictício e a dor verdadeira causados pelo uso de
drogas.
CRACK
Formado pela combinação de pasta de cocaína com
bicarbonato de sódio, o crack é chamado assim devido
ao som que produz ao ser queimado. Ao fumar, a
droga é rapidamente absorvida pelos pulmões. Em
menos de dez segundos, a substância é bombeada pelo
coração através das veias e chega até o cérebro. Então,
a concentração da dopamina – hormônio responsável
pela sensação de prazer humano – dispara. Ela, por sua
vez, ativa o sistema de recompensa cerebral. A sensação
é descrita como semelhante a um orgasmo. Porém, em
menos de cinco minutos a ilusão se vai e o que resta é
vazio. A mente, dominada pelo encantamento do gozo
súbito, automaticamente pede mais.
CAMINHO TORTUOSO
Entre os 15 e os 17 anos de idade, Lucas percorreu
o caminho tortuoso trilhado pela maioria dos usuários
de crack. Ele cursava o ensino fundamental à noite em
uma escola estadual que fica na sua rua, no bairro
Guarujá, zona sul de Porto Alegre. Seu pai trabalhava
no período noturno, como guarda municipal. Sua mãe
estava doente, em tratamento contra a hepatite C. “Eu
não tinha amor nenhum, só queria a droga”, confessa.
Lucas relata que passou por momentos críticos, como
quando teve uma arma apontada para a sua cabeça
por um traficante que não queria mais lhe vender, pois
ele não tinha mais dinheiro e já não era mais horário
do comércio de entorpecentes naquele local. Ou
quando foi buscar crack e se viu em meio a um tiroteio.
RECUPERAÇÃO
Com 17 anos, Lucas trabalhava com um advogado
amigo do seu pai. Um dia, seu chefe efetuou a venda
de um imóvel e recebeu uma grande quantia em
dinheiro vivo. “Passei a maquinar como iria roubar
parte do valor”, conta. Passada uma semana, Lucas
pegou escondido cerca de 10 mil reais. “Durou 15
dias”, relata e explica que gastou tudo com drogas,
A volta por cima da ilusãotexto e foto: Igor Grossmann
Perfil
Lucas conta como foram os passos para conseguir ficar limpo
““
31
amigos e mulheres. “Não comprei nada pra mim, pois
não podia chegar em casa com coisas novas, pois meus
pais iriam desconfiar”. Porém, quem desconfiou foi seu
chefe, que comunicou ao pai de Lucas. Indignado,
seu pai registrou a ocorrência em uma delegacia. O
delegado de plantão, consternado com a situação,
deu duas opções ao garoto: ser recolhido à Fase
(Fundação de Atendimento Socioeducativo) ou buscar
um tratamento para a dependência química. O jovem
ficou com a segunda opção.
REINSERÇÃO
Lucas passou onze meses em uma fazenda no
município de Viamão. Lá, ele seguiu os doze passos
do tratamento dos Alcoólicos
Anônimos e os outros doze dos
Narcóticos Anônimos. Além disso,
havia rodízio de tarefas entre os
moradores-pacientes, como capinar
o pátio, cuidar dos animais, faxinar
a casa e cozinhar. Maria Lenira Santos, mãe de Lucas,
diz que ele amadureceu muito após o tratamento. E
conta que se agarrou em um tripé para se recuperar:
família, trabalho e espiritualidade. Lucas é médium
na Umbanda e não tem vergonha em contar pelo que
passou, pois espera poder auxiliar outros dependentes
a se recuperarem. “Não existe ex-drogado. O que se
tem são dependentes químicos em recuperação”, diz
ele, que, nesses anos “limpo”, nunca teve uma recaída.
Questionado sobre sua maior motivação para parar se
usar drogas, ele confessa. “Não tive vontade de parar.
Queria me esconder. Iria pra fazenda e quando saísse,
iria voltar pra rua.”
MÃE
Maria Lenira, mãe de Lucas, conta que foi muito
difícil para ela, pois estava tratando de uma doença
séria, a hepatite C. Ela diz que nunca pensou em desistir
do seu primogênito. “Fui muito guerreira. Eu dizia pra
ele que eu estava lutando contra a minha doença e
queria ver ele lutando contra a dele”, relata. Há dois
anos, ela conseguiu controlar a hepatite e hoje leva
uma vida normal, enquanto Lucas está há seis anos
longe das drogas. Ambos sentem-se vencedores. Há
um ditado que diz que ser mãe é padecer no paraíso.
Maria Lenira concorda. Ela jamais desistiu de ajudar
o seu filho. “No dia que meu marido levou meu filho
para a fazenda, foi junto uma parte de mim. Eu ia todas
as sextas-feiras nas reuniões do Amor Exigente. Hoje,
estou pensando em ir novamente para auxiliar mães
que estão passando pelo que passei e que certamente
necessitam de apoio”, diz.
ESCOLA
Na escola, Lucas repetiu algumas séries do ensino
fundamental, o que levou ele a concluir esta fase
escolar no EJA (educação de jovens
e adultos). Ele conseguiu o diploma
poucos meses antes de ir para a
fazenda terapêutica. Ao sair, foi
cursar o ensino médio regular, aonde
chegou a se tornar presidente do
grêmio estudantil. No entanto, Lucas cursou somente
até o segundo ano. “A pessoa que já usou drogas e se
encontra limpo tem uma rapidez de raciocínio diferente
e dinâmica. Não conseguia ficar preso em uma sala
de aula”, explica. Ele pretende finalizar o terceiro ano
para então cursar uma faculdade.
FUTURO
Lucas sabe o que quer. Desde que saiu da fazenda,
ele lê muito sobre psicologia e mente humana,
principalmente textos que abordam a relação com as
drogas. Ele quer ingressar na universidade para cursar
psicologia e ajudar outras pessoas a lidarem com seus
problemas. Hoje, ele trabalha em uma empresa que
presta serviços à Caixa Econômica Federal. Lucas faz
suporte técnico de maneira remota aos computadores
do banco em todo o Estado. Ele sabe que jamais será
curado de sua doença. “É algo genético”, fala. “Dizem
que a maconha é a porta de entrada para as drogas.
Não é. Para mim, o álcool foi o começo de tudo”,
reflete. E conclui dizendo que o trabalho de prevenção
deve ser realizado contra as drogas e em favor da vida.
Não existe ex-drogado. O que se tem são
dependentes químicos em recuperação