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1 — RPCD 17 (S2.A)
2017/S2AREVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO
ÍNDICE
Apresentação
António Manuel Fonseca
Triagem de escoliose
em escolares de 10 a 12
anos de idade
José Carlos Tatmatsu-Rocha, Adaneuda Silva
Britto, Francisca de Fatima dos Anjos, Marliane
Aline da Silva Magalhães, Tiago Lopes Farias,
Daisy de Araujo Vilela
Disciplina e bullying em alunos
do ensino fundamental
Tatiana Lima Boletini, Cristina Carvalho de Melo,
Camila Cristina F Bicalho, Franco Noce
O licenciamento compulsório
de patentes de medicamentos
Elton Dias Xavier, Sheile Nayara Ferreira
Percepção da saúde
e dor em idosos
em unidades de saúde
Daisy de Araújo Vilela, Isadora Prado de Araújo
Vilela, Jose Carlos Tatmatsu Rocha, Danielle
I B Tatmatsu, Marina Prado de Araújo Vilela,
Rafael Pedroza C Marques
11
13
22
34
54
65
78
92
Avaliação do perfil
de nipo-brasileiros através
de análise subjetiva
e numérica
Alexandre Magno dos Santos,
Andréa Damasceno Rocha, Hideo Suzuki,
Aguinaldo Silva Garcez Segundo, Maurício
Almeida Cardoso, Isabella Simões Holz,
Leopoldino Capelozza Filho
Alterações na função
da musculatura escapular
em indivíduos com diagnóstico
de Síndrome do Impacto
Giovanna Mendes Amaral, Silvia Murta Peixoto,
Hellen Veloso Rocha Marinho, Marco Túlio
S dos Anjos, Sérgio Teixeira Fonseca
Efeitos da kinesio taping
no índice do arco plantar
em pés normais e planos:
um estudo piloto
Maikon Gleibyson R dos Santos,
José Roberto de Souza Junior, Ingredy Paula
M Garcia, Helen Cristian Marques Tomaz,
Thiago Vilela Lemos, Humberto de Sousa
Fontoura, João Paulo C Matheus
2017/S2AREVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO
The relative age effect
in olympic swimmers
Renato Melo Ferreira, Emerson Filipino
Coelho, Adelita Vieira de Morais, Francisco
Zacaron Werneck, Guilherme Tucher,
Ana Luiza Rocha Lisboa
Características motivacionais
de corredores de diferentes
provas do atletismo
Marcus Vinicius da Silva, Josária Ferraz Amaral,
Renato Miranda
Níveis de ansiedade pré-competitiva
e eficiência técnica e tática
de uma equipe adulta de futsal
feminino participante dos jogos
de minas gerais – 2015
Geraldo Magela Durães, Bruna Santos Durães,
Jean Claude Lafetá, Maria de Fatima de Matos
Maia, Alexandre Caribé
Depressão e dança de salão:
fatores de influência em idosos
Cristina Carvalho de Melo, Tatiana Lima Boletini,
Israel Teoldo da Costa, Agnes Vasconcelos
Arreguy, Franco Noce
Influência da presença
ou da ausência de jogos
nas percepções de fadiga
de atletas profissionais
de voleibol durante
uma temporada competitiva
Francine Caetano de Andrade Nogueira,
Bernardo Miloski, Maurício Gattá Bara Filho,
Lelio Moura Lourenço
Transtorno dismórfico
corporal, insatisfação corporal
e influência sociocultural
em mulheres frequentadoras
de academias de ginástica
que realizaram cirurgia
plástica estética
Fernanda Dias Coelho, Pedro Henrique
B de Carvalho, Santiago Tavares Paes,
Tassiana Aparecida Hudsson,
Maria Elisa Caputo Ferreira
104
115
127
141
152
161
Pablo Greco (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS)
Paula Mota (UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO)
Paulo Farinatti (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO)
Paulo Machado (UNIVERSIDADE MINHO)
Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Ricardo Petersen (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)
Sidónio Serpa (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Silvana Göllner (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)
Valdir Barbanti (UNIVERSIDADE SÃO PAULO)
Víctor da Fonseca (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Víctor Lopes (INSTITUTO POLITÉCNICO BRAGANÇA)
Víctor Matsudo (CELAFISCS)
Wojtek Chodzko-Zajko (UNIVERS. ILLINOIS URBANA-CHAMPAIGN)
FICHA TÉCNICA DA RPCD
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto [ISSN 1645-0523]
DESIGN E PAGINAÇÃO
Rui Mendonça
COLABORAÇÃO Bruno LisboaNoémia Guarda
FOTOGRAFIA NA CAPA
José Pedro Martins
© A REPRODUÇÃO DE ARTIGOS, GRÁFICOS
OU FOTOGRAFIAS DA REVISTA SÓ É PERMITIDA
COM AUTORIZAÇÃO ESCRITA DO DIRECTOR.
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 91 4200.450 Porto — Portugal Tel: +351—225074700; Fax: +351—225500689 www.fade.up.pt [email protected]
PREÇO DO NÚMERO AVULSO
Preço único para qualquer país: 20€
A Revista Portuguesa de Ciências do Desportoestá representada na plataforma SciELO Portugal
— Scientific Electronic Library Online [site], no SPORTDiscus e no Directório e no Catálogo Latindex — Sistema regional de informação em linha para revistas científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal.
CORPO EDITORIAL DA RPCD
CONSELHO EDITORIAL Adroaldo Gaya (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE SUL, BRASIL) António Prista (UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA, MOÇAMBIQUE)
Eckhard Meinberg (UNIVERSIDADE DESPORTO COLÓNIA, ALEMANHA)
Gaston Beunen (UNIVERSIDADE CATÓLICA LOVAINA, BÉLGICA)
Go Tani (UNIVERSIDADE SÃO PAULO, BRASIL)
Ian Franks (UNIVERSIDADE DE BRITISH COLUMBIA, CANADÁ)
João Abrantes (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA, PORTUGAL)
Jorge Mota (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Alberto Duarte (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Michael Sagiv (INSTITUTO WINGATE, ISRAEL)
Neville Owen (UNIVERSIDADE DE QUEENSLAND, AUSTRÁLIA)
Rafael Martín Acero (UNIVERSIDADE DA CORUNHA, ESPANHA)
Robert Brustad (UNIVERSIDADE DE NORTHERN COLORADO, USA)
Robert M. Malina (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE TARLETON, USA)
EDITOR CHEFE António Manuel Fonseca (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
EDITORES ASSOCIADOS Amândio Graça (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
António Ascensão (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
João Paulo Vilas Boas (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Oliveira (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
José Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Júlio Garganta (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Olga Vasconcelos (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Rui Garcia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
CONSULTORES Alberto Amadio (UNIVERSIDADE SÃO PAULO)
Alfredo Faria Júnior (UNIVERSIDADE ESTADO RIO JANEIRO)
Almir Liberato Silva (UNIVERSIDADE DO AMAZONAS)
Anthony Sargeant (UNIVERSIDADE DE MANCHESTER)
António José Silva (UNIVERSIDADE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO)
António Roberto da Rocha Santos (UNIV. FEDERAL PERNAMBUCO)
Carlos Balbinotti (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)
Carlos Carvalho (INSTITUTO SUPERIOR DA MAIA)
Carlos Neto (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Cláudio Gil Araújo (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO JANEIRO)
Dartagnan P. Guedes (UNIVERSIDADE ESTADUAL LONDRINA)
Duarte Freitas (UNIVERSIDADE DA MADEIRA)
Eduardo Kokubun (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)
Eunice Lebre (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
Francisco Alves (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Francisco Camiña Fernandez (UNIVERSIDADE DA CORUNHA)
Francisco Carreiro da Costa (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Francisco Martins Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL PARAÍBA)
Glória Balagué (UNIVERSIDADE CHICAGO)
Gustavo Pires (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Hans-Joachim Appell (UNIVERSIDADE DESPORTO COLÓNIA)
Helena Santa Clara (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Hugo Lovisolo (UNIVERSIDADE GAMA FILHO)
Isabel Fragoso (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Jaime Sampaio (UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO)
Jean Francis Gréhaigne (UNIVERSIDADE DE BESANÇON)
Jens Bangsbo (UNIVERSIDADE DE COPENHAGA)
João Barreiros (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
José A. Barela (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)
José Alves (ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR)
José Luis Soidán (UNIVERSIDADE DE VIGO)
José Manuel Constantino (UNIVERSIDADE LUSÓFONA)
José Vasconcelos Raposo (UNIV. TRÁS-OS-MONTES ALTO DOURO)
Juarez Nascimento (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA)
Jürgen Weineck (UNIVERSIDADE ERLANGEN)
Lamartine Pereira da Costa (UNIVERSIDADE GAMA FILHO)
Lilian Teresa Bucken Gobbi (UNIV. ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)
Luis Mochizuki (UNIVERSIDADE SÃO PAULO)
Luís Sardinha (UNIVERSIDADE TÉCNICA LISBOA)
Luiz Cláudio Stanganelli (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)
Manoel Costa (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO)
Manuel João Coelho e Silva (UNIVERSIDADE DE COIMBRA)
Manuel Patrício (UNIVERSIDADE DE ÉVORA)
Manuela Hasse (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Marco Túlio de Mello (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO)
Margarida Espanha (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Margarida Matos (UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA)
Maria José Mosquera González (INEF GALIZA)
Markus Nahas (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA)
Mauricio Murad (UNIVERS. ESTADO RIO DE JANEIRO E UNIVERSO)
Ovídio Costa (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)
A RPCD TEM O APOIO DA FCT
PROGRAMA OPERACIONAL CIÊNCIA,
TECNOLOGIA, INOVAÇÃO DO QUADRO
COMUNITÁRIO DE APOIO III
NORMAS DE PUBLICAÇÃO NA RPCD
TIPOS DE PUBLICAÇÃOINVESTIGAÇÃO ORIGINAL
RPCD publica artigos originais relativos a todas as áreas das ciências do desporto;
REVISÕES DA INVESTIGAÇÃO
A RPCD publica artigos de síntese da literatura que contribuam para a generalização do conhecimento em ciências do desporto. Artigos de meta-análise e revisões críticas de literatura são dois possíveis modelos de publicação. Porém, este tipo de publicação só estará aberto a especialistas convidados pela RPCD.
COMENTÁRIOS
Comentários sobre artigos originais e sobre revisões da investigação são, não só publicáveis, como são francamente encorajados pelo corpo editorial;
ESTUDOS DE CASO
A RPCD publica estudos de caso que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto. O controlo rigoroso da metodologia é aqui um parâmetro determinante.
ENSAIOS
A RPCD convidará especialistas a escreverem ensaios, ou seja, reflexões profundas sobre determinados temas, sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde à argumentação científica, filosófica ou de outra natureza se adiciona uma forte componente literária.
REVISÕES DE PUBLICAÇÕES
A RPCD tem uma secção onde são apresentadas revisões de obras ou artigos publicados e que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto.
REGRAS GERAIS DE PUBLICAÇÃOOs artigos submetidos à RPCD deverão conter dados originais, teóricos ou experimentais, na área das ciências do desporto. A parte substancial do artigo não deverá ter sido publicada em mais nenhum local. Se parte do artigo foi já apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimentos.Os artigos submetidos à RPCD serão, numa primeira fase, avaliados pelo editor-chefe e terão como critérios iniciais de aceitação: normas de publicação, relação do tópico tratado com as ciências do desporto e mérito científico. Depois desta análise, o artigo, se for considerado previamente aceite, será avaliado por 2 “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação de um e a rejeição de outro obrigará a uma 3ª consulta.
PREPARAÇÃO DOS MANUSCRITOSASPECTOS GERAIS
Cada artigo deverá ser acompanhado por uma carta de rosto que deverá conter: — Título do artigo e nomes dos autores; — Declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.
FORMATO:
— Os manuscritos deverão ser escritos em papel A4 com 3 cm de margem, letra 12 com duplo espaço e não exceder 20 páginas;
— As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1.
DIMENSÕES E ESTILO: — Os artigos deverão ser o mais sucintos possível; A especulação deverá ser apenas utilizada quando os dados o permitem e a literatura não confirma; — Os artigos serão rejeitados quando escritos em português ou inglês de fraca qualidade linguística;
— As abreviaturas deverão ser as referidas internacionalmente.
PÁGINA DE TÍTULO:
— A página de título deverá conter a seguinte informação:
— Especificação do tipo de trabalho (cf. Tipos de publicação); — Título conciso mas suficientemente informativo; — Nomes dos autores, com a primeira e a inicial média (não incluir graus académicos)— “Running head” concisa não excedendo os 45 caracteres;
— Nome e local da instituição onde o trabalho foi realizado;
— Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada, incluindo endereço de e-mail.
PÁGINA DE RESUMO:
— Resumo deverá ser informativo e não deverá referir-se ao texto do artigo; — Se o artigo for em português o resumo deverá ser feito em português e em inglês — Deve incluir os resultados mais importantes que suportem as conclusões do trabalho; — Deverão ser incluídas 3 a 6 palavras-chave; — Não deverão ser utilizadas abreviaturas; — O resumo não deverá exceder as 200 palavras.
INTRODUÇÃO:
— Deverá ser suficientemente compreensível, explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento; — A revisão da literatura não deverá ser exaustiva.
MATERIAL E MÉTODOS:
— Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores;
— Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fidelidade; — Quando utilizados humanos deverá ser indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia de 1975);
— Quando utilizados animais deverão ser utilizados todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a uma comissão de ética; — Todas as drogas e químicos utilizados deverão ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos, dosagem e dosagem; — A confidencialidade dos sujeitos deverá ser estritamente mantida; — Os métodos estatísticos utilizados deverão ser cuidadosamente referidos.
RESULTADOS:
— Os resultados deverão apenas conter os dados que sejam relevantes para a discussão; — Os resultados só deverão aparecer uma vez no texto: ou em quadro ou em figura; — O texto só deverá servir para relevar os dados mais relevantes e nunca duplicar informação;
— A relevância dos resultados deverá ser suficientemente expressa;
— Unidades, quantidades e fórmulas deverão ser utilizados pelo Sistema Internacional (SI units). — Todas as medidas deverão ser referidas em unidades métricas.
DISCUSSÃO:
— Os dados novos e os aspectos mais importantes do estudo deverão ser relevados de forma clara e concisa; — Não deverão ser repetidos os resultados já apresentados;
— A relevância dos dados deverá ser referida e a comparação com outros estudos deverá ser estimulada;
— As especulações não suportadas pelos métodos estatísticos não deverão ser evitadas; — Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações;
— A discussão deverá ser completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo.
AGRADECIMENTOS:
— Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado publicamente deverá aqui ser referido o facto; — Qualquer apoio financeiro deverá ser referido.
REFERÊNCIAS
— As referências deverão ser citadas no texto por número e compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente; — Os nomes das revistas deverão ser abreviados conforme normas internacionais (ex: Index Medicus); — Todos os autores deverão ser nomeados (não utilizar et al.) — Apenas artigos ou obras em situação de “in press” poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”; — Utilização de um número elevado de resumos ou de artigos não “peer-reviewed” erá uma condição de não aceitação;
EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS:
ARTIGO DE REVISTA
1 Pincivero DM, Lephart SM, Karunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. Int J Sports Med 18: 113-117 LIVRO COMPLETO Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London: Academic Press Inc. Ltd. CAPÍTULO DE UM LIVRO Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURAS
— Figuras e ilustrações deverão ser utilizadas quando auxiliam na melhor compreensão do texto;
— As figuras deverão ser numeradas em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto;
— As figuras deverão ser impressas em folhas separadas daquelas contendo o corpo de texto do manuscrito. No ficheiro informático em processador de texto, as figuras deverão também ser colocadas separadas do corpo de texto nas
páginas finais do manuscrito e apenas uma única figura por página;
— As figuras e ilustrações deverão ser submetidas com excelente qualidade gráfico, a preto e branco e coma qualidade necessária para serem reproduzidas ou reduzidas nas suas dimensões;
— As fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser evitadas.QUADROS
— Os quadros deverão ser utilizados para apresentar os principais resultados da investigação.
— Deverão ser acompanhados de um título curto; — Os quadros deverão ser apresentados com as mesmas regras das referidas para as legendas e figuras;
— Uma nota de rodapé do quadro deverá ser utilizada para explicar as abreviaturas utilizadas no quadro.
SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS— A submissão de artigos para à RPCD poderá ser efectuada por via postal, através do envio de 1 exemplar do manuscrito em versão impressa em papel, acompanhada de versão gravada em suporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo o artigo em processador de texto Microsoft Word (*.doc).
— Os artigos poderão igualmente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheiro contendo o manuscrito em processador de texto Microsoft Word (*.doc) e a declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.
ENDEREÇOS PARA ENVIO
DE ARTIGOS
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa,Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: [email protected]
PUBLICATION NORMS
WORKING MATERIALS (MANUSCRIPTS)ORIGINAL INVESTIGATION
The PJSS publishes original papers related to all areas of Sport Sciences.
REVIEWS OF THE LITERATURE
(STATE OF THE ART PAPERS): State of the art papers or critical literature reviews are published if, and only if, they contribute to the generalization of knowledge. Meta-analytic papers or general reviews are possible modes from contributing authors. This type of publication is open only to invited authors.
COMMENTARIES: Commentaries about published papers or literature reviews are highly recommended by the editorial board and accepted.
CASE STUDIES: Highly relevant case studies are favoured by the editorial board if they contribute to specific knowledge within the framework of Sport Sciences research. The meticulous control of research methodology is a fundamental issue in terms of paper acceptance.
ESSAYS: The PJSS shall invite highly regarded specialists to write essays or careful and deep thinking about several themes of the sport sciences mainly related to philosophy and/or strong argumentation in sociology or psychology.
BOOK REVIEWS: the PJSS has a section for book reviews.
GENERAL PUBLICATION RULES: all papers submitted to the PJSS are obliged to have original data, theoretical or experimental, within the realm of Sport Sciences. It is mandatory that the submitted paper has not yet been published elsewhere. If a minor part of the paper was previously published, it has to be stated explicitly in the acknowledgments section.
All papers are first evaluated by the editor in chief, and shall have as initial criteria for acceptance the following: fulfilment of all norms, clear relationship to Sport Sciences, and scientific merit. After this first screening, and if the paper is firstly accepted, two independent referees shall evaluate its content in a
“double blind” fashion. A third referee shall be considered if the previous two are not in agreement about the quality of the paper.After the referees receive the manuscripts, it is hoped that their reviews are posted to the editor in chief in no longer than a month.
MANUSCRIPT PREPARATION GENERAL ASPECTS:
The first page of the manuscript has to contain: — Title and author(s) name(s) — Declaration that the paper has never been published
FORMAT:
— All manuscripts are to be typed in A4 paper, with margins of 3 cm, using Times New Roman style size 12 with double space, and having no more than 20 pages in length. — Pages are to be numbered sequentially, with the title page as n.1.
SIZE AND STYLE:
— Papers are to be written in a very precise and clear language. No place is allowed for speculation without the boundaries of available data. — If manuscripts are highly confused and written in a very poor Portuguese or English they are immediately rejected by the editor in chief. — All abbreviations are to be used according to international rules of the specific field.
TITLE PAGE:
— Title page has to contain the following information:
— Specification of type of manuscript (but see working materials-manuscripts). — Brief and highly informative title. — Author(s) name(s) with first and middle
names (do not write academic degrees) — Running head with no more than 45 letters. — Name and place of the academic institutions.
— Name, address, Fax number and email of the person to whom the proof is to be sent.
ABSTRACT PAGE:
— The abstract has to be very precise and contain no more than 200 words, including objectives, design, main results and conclusions. It has to be intelligible without reference to the rest of the paper. — Portuguese and English abstracts are mandatory.
— Include 3 to 6 key words. — Do not use abbreviations.
INTRODUCTION:
— Has to be highly comprehensible, stating clearly the purpose(s) of the manuscript, and presenting the importance of the work.
— Literature review included is not expected to be exhaustive.
MATERIAL AND METHODS:
— Include all necessary information for the replication of the work without any further information from authors. — All applied methods are expected to be reliable and highly adjusted to the problem.
— If humans are to be used as sampling units in experimental or non-experimental research it is expected that all procedures follow Helsinki Declaration of Human Rights related to research. — When using animals all ethical principals related to animal experimentation are to be respected, and when possible submitted to an ethical committee.
— All drugs and chemicals used are to be designated by their general names, active principles and dosage. — Confidentiality of subjects is to be maintained. — All statistical methods used are to be precisely and carefully stated.
RESULTS:
— Do provide only relevant results that are useful for discussion.
— Results appear only once in Tables
or Figures. — Do not duplicate information, and present only the most relevant results.
— Importance of main results is to be explicitly stated. — Units, quantities and formulas are to be expressed according to the International System (SI units). — Use only metric units.
DISCUSSION:
— New information coming from data analysis should be presented clearly. — Do no repeat results.
— Data relevancy should be compared to existing information from previous research. — Do not speculate, otherwise carefully supported, in a way, by insights from your data analysis. — Final discussion should be summarized in its major points.
ACKNOWLEDGEMENTS:
— If the paper has been partly presented elsewhere, do provide such information. — Any financial support should be mentioned.
REFERENCES:
— Cited references are to be numbered in the text, and alphabetically listed. — Journals´ names are to be cited according to general abbreviations (ex: Index Medicus). — Please write the names of all authors (do not use et al.).
— Only published or “in press” papers should be cited. Very rarely are accepted “non published data”.
— If non-reviewed papers are cited may cause the rejection of the paper.
EXAMPLES:
PEER-REVIEW PAPER
1 Pincivero DM, Lephart SM, Kurunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. In J Sports Med 18:113-117COMPLETE BOOK Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London:Academic Press Inc. Ltd.
BOOK CHAPTER Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURES
— Figures and illustrations should be used only for a better understanding of the main text. — Use sequence arabic numbers for all Figures.
— Each Figure is to be presented in a separated sheet with a short and precise title. — In the back of each Figure do provide information regarding the author and title of the paper. Use a pencil to write this information.
— All Figures and illustrations should have excellent graphic quality I black and white.
— Avoid photos from equipments and human subjects.TABLES — Tables should be utilized to present relevant numerical data information. — Each table should have a very precise and short title. — Tables should be presented within the same rules as Legends and Figures. — Tables´ footnotes should be used only to describe abbreviations used.
MANUSCRIPT SUBMISSION The manuscript submission could be made by post sending one hard copy of the article together with an electronic version [Microsoft Word (*.doc)] on CD-ROM or DVD. Manuscripts could also be submitted via e-mail attaching an electronic file version [Microsoft Word (*.doc)] together with the declaration that the paper has never been previously published.
ADDRESS FOR MANUSCRIPT SUBMISSION
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: [email protected]
Apresentação
O presente número da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto (RPCD) (i.e., o RPCD
17/S2A), bem como os três seguintes (i.e., o RPCD 17/S3A; o RPCD 17/S4A; e o RPCD 17/S5A),
é constituído integralmente por comunicaçõe submetidas e aprovadas para inclusão no
programa científico do 3º Encontro Internacional de Pesquisadores em Esporte, Saúde,
Psicologia e Bem-Estar (EIPSE), realizado entre os dias 12 e 15 de outubro de 2016, em
Montes Claros (Minas Gerais, Brasil).
Nesse sentido, e a exemplo do verificado em relação ao número suplementar da RPCD
dedicado à publicação de todos os resumos das comunicações submetidas e aprovadas
para inclusão no programa científico daquele congresso (i.e., RPCD 16/S3R) entendemos
ser oportuno e apropriado transcrever parte da mensagem de apresentação disponível na
respectiva página electrónica, particularmente quando se refere que este Encontro:
tem por objetivo proporcionar um formato onde se discutem os mesmos problemas tal como estudados por diferentes áreas científicas. Promovendo o diálogo e a partilha de ideias, perspectivas e experiências, pretendemos que os participantes possam contribuir para o avanço da ciência identificando problemas comuns e assim construírem projetos de pesquisa em que as diferentes áreas se complementem. Desta forma os participantes darão início a um processo que tem por objetivo consolidar uma linguagem científica de forma multidisciplinar e traduzida no desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa, que se pretendem de caráter internacional.
AAntónio Manuel Fonseca 1
1 Editor chefe da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto
11 — RPCD 17 (S2.A): 11-12
01Triagem de escoliose
em escolares de 10 a 12
anos de idade
PALAVRAS CHAVE:
Postura. Curvaturas da coluna vertebral.
Desenvolvimento infantil. Puberdade.
Coluna vertebral.
RESUMO
A Escoliose gera anormalidades estéticas, dor, complicações cardiopulmonares e neuro-
musculares. Objetivo: identificar a ocorrência de escoliose em estudantes de escolas pú-
blicas e privadas no município de Parnaíba-Piauí. Para tanto, avaliaram-se 87 alunos de
duas escolas públicas e duas privadas na cidade de Parnaíba-Piauí. Para a análise postural,
utilizamos simetrógrafo e teste de Adams. Quanto à presença de escoliose, os meninos
apresentaram uma frequência maior (41.46%) do que as meninas (34.8%), porém não es-
tatisticamente significativa (p > .05). Entretanto, a presença da escoliose foi significativa-
mente maior nos alunos das escolas privadas (p < .05) do que nas públicas e em 62.07%
do total de alunos observamos um padrão de normalidade das curvaturas anatômicas. A
curvatura da escoliose foi identificada em 37.93%, dos alunos avaliados, sendo que 49%
destes apresentaram desnível à esquerda e 51% à direita. Neste estudo observou-se a
escoliose em mais de um quarto da população estudada, sendo mais afetada a popula-
ção masculina de escolas privadas. Este trabalho possibilita conhecer dados posturais da
região nordeste do Brasil, bem como gerar uma reflexão que, através de pouca instru-
mentação e baixo custo, é possível realizar a prevenção de desvios posturais nas escolas,
evitando-se o desenvolvimento de curvaturas patológicas antes da adolescência.
AUTORES:
José Carlos Tatmatsu-Rocha 1
Adaneuda Silva Britto 2
Francisca de F dos Anjos 2
Marliane Aline S Magalhães 2
Tiago Lopes Farias 2
Daisy de Araujo Vilela 3
1 Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Ceará – UFC, Fortaleza, Ce – Brasil
2 Universidade Federal do Piauí / Campus de Parnaíba/UFPI. Parnaíba, Pi-Brasil
3 Universidade Federal de Goias; Campus Jatai,UFG, Go-Brasil
Correspondência: José Carlos Tatmatsu-Rocha. Departamento de Fisioterapia da Universidade
Federal do Ceará – UFC, Fortaleza, Ce – Brasil. ([email protected])
Com a realização deste evento procuramos salvaguardar o princípio de que a ciência e o saber são bens Universais. Promover a troca de experiências com o objetivo de se de-senvolver projetos transfronteiriços é também uma forma de incentivar as boas práticas científicas tal como estas se podem corporizar na internacionalização da produtividade científica que até agora tem sido realizada em contextos isolados e em que a prioridade, graças ao isolamento dos investigadores, tende a traduzir-se na excessiva preocupação em acrescentar linhas ao curriculum vitae de cada investigador.
Partilhamos da opinião que é urgente encontrar estratégias que permitam o desenvol-vimento de uma nova cultura de prática científica, traduzida em formas de partilha di-ferentes daquela que atualmente dispomos e que impõe limites à operacionalização da criatividade científica. Neste sentido e certos que este é um primeiro passo na longa ca-minhada que se adivinha na construção de comunidades internacionais de pesquisadores em que diferentes áreas científicas se predispõem a procurar soluções para os problemas comuns e que despertam a curiosidade dos seus membros.
Complementarmente, convirá sublinhar que a RPCD tem vindo a constituir-se, desde o seu
início, como um veículo privilegiado de divulgação em língua portuguesa do conhecimento
gerado por académicos e investigadores da área das ciências do desporto e afins em dife-
rentes partes do mundo, nomeadamente nos países de expressão portuguesa.
Assim sendo, a resposta da RPCD à solicitação da Comissão Organizadora do EIPSE para
publicar um determinado número de comunicações aprovadas pela respectiva comissão
científica para serem apresentadas na terceira edição deste importante evento científico
foi naturalmente positiva, salvaguardado que fosse um conjunto de critérios que assegu-
rasse a qualidade e o mérito do conteúdo a publicar.
Em conformidade, e na linha do verificado em situações anteriores similares, a RPCD e
a Comissão Organizadora do EIPSE definiram um conjunto de critérios a respeitar para a
revisão e avaliação cegas dos trabalhos submetidos para publicação, os quais serviram de
base ao trabalho posteriormente desenvolvido pelos peritos convidados para esse efeito
pela Comissão Organizadora do EIPSE.
Conforme anteriormente referido, o presente número é um dos quatros números espe-
ciais que a RPCD destinou para a publicação das comunicações selecionadas para esse
efeito pela Comissão Organizadora do EIPSE. Esperamos que a sua leitura se constitua
como uma experiência útil e agradável para todos que a isso se decidirem...
13 — RPCD 17 (S2.A): 13-21
15 — RPCD 17 (S2.A)
Scoliosis screening
in children 10 to 12 years old
ABSTRACT
Scoliosis generates aesthetic abnormalities, pain, cardiopulmonary and
neuromuscular complications. Objective: To identify the occurrence of
scoliosis in students from public and private schools in Parnaiba City
(Brazil). We evaluated 87 prepubertal students from two public and two
private schools. For postural analysis, we use symmetrograph and Ad-
ams test. Boys had a higher rate about presence of scoliosis (41.46%)
when compared with girls (34.8%), but the difference was not statisti-
cally significant (p > .05). However, the presence of scoliosis was sig-
nificantly higher in students from private (p < .05) than public schools;
62.07% of the students observed posessed a normal range of anatomi-
cal curvatures. The curvature of scoliosis was identified in 37.93% of
the evaluated students, and 49% presented left unevenness and 51%
to right. In this study, scoliosis was found in more than a quarter of the
population studie; the male population of private schools was more af-
fected. This work enables to know postural data in northeastern Brazil,
as well as generate a reflection that, through little instrumentation and
low cost, it is possible to prevent postural deviations in schools, prevent-
ing the development of pathological curvatures before adolescence.
KEY-WORDS:
Posture. Spinal curvatures.
Child development. Puberty. Spine.
INTRODUÇÃO
A infância e a adolescência são os períodos de maior importância para o desenvolvimento
musculo-esquelético, pois nessas fases existem fatores intrínsecos e extrínsecos que po-
dem predispor o desenvolvimento de deformidades posturais em decorrência de hábitos
incorretos, resultando em prejuízos significativos aos escolares, particularmente às estru-
turas que compõem a coluna vertebral (Martelli & Traebert, 2006; Zapater, Silveira, Vitta,
Padovani, & Silva, 2004).
Os desalinhamentos posturais são consequência de vários fatores, incluindo a má postu-
ra, a condução inadequada de objetos, tensões, obesidade, condições físicas nas quais o
indivíduo vive, bem como por fatores emocionais, socioeconômicos ou ainda alterações
decorrentes do crescimento e desenvolvimento humano (Penha, João, Casarotto, Amino, &
Penteado, 2005; Scartoni, 2008).
Dentre os desvios posturais mais comuns destaca-se a escoliose, patologia que acomete
mais comumente o sexo feminino e é mais frequente dos nove aos treze anos de idade, ou
seja, no período em que há o estirão de crescimento. Nesta fase, os alunos apresentam pa-
drões inadequados de postura ao sentar, carregar mochilas e até mesmo da marcha. A per-
manência na posição sentada por até seis horas nas escolas, com pequenos intervalos em
pé, pode acarretar esse desequilíbrio postural (Ferriani, Cano, Candido, & Kanchina, 2006).
A alteração postural supracitada é definida pela Scoliosis Research Society (2016) como
um desvio da coluna vertebral no plano frontal superior a 10°, associado ou não a alteração
rotacional, sendo caracterizada por modificação tridimensional incluindo curvatura lateral
no plano frontal, rotação lateral no plano transversal e retificação no plano sagital (Salate,
Aroni, & Ferreira, 2003). Conforme sua etiologia, pode ser classificada em estrutural e não
estrutural. A primeira pode ser idiopática (sem causa aparente), neuromuscular e oste-
opática. Já a segunda pode ser o resultado de assimetria de membros inferiores, espasmo
ou dor muscular da coluna vertebral por compressão de raiz nervosa ou outra lesão na
coluna e, ainda, pelos maus hábitos posturais (Bonorino, da Silva Borin, & da Silva, 2008).
A detecção precoce da escoliose pode resultar na prevenção de anormalidades estéticas,
dor, complicações cardiopulmonares e neuromusculares (Salate et al.. 2003). O diagnós-
tico precoce na infância e adolescência permite uma intervenção eficiente, principalmente
porque nestas fases o sistema musculo-esquelético é complacente e os protocolos de ex-
ercícios e uso de órteses são efetivos para estacionar a progressão da deformidade, e,
deste modo, dispensar a necessidade de cirurgias (Braccialli & Vilarta, 2000; Ferreira, Sug-
uikawa, Pachioni, Fregonesi, & Camargo, 2009; Santos et al., 2009).
A idade escolar é considerada a fase ideal para recuperação de alterações da coluna de
maneira mais eficaz (Pereira, 2016). Nessa faixa etária faz-se necessário um trabalho que
englobe prevenção e educação, possibilitando a aquisição de hábitos posturais adequados
e abolição de posições viciosas, a fim de que se proporcione uma melhor qualidade de vida
01
17 — RPCD 17 (S2.A)
durante o crescimento, desenvolvimento e vida adulta (Braccialli & Vilarta, 2000; Kavalco,
2000). O objetivo deste estudo foi identificar a ocorrência de escoliose em estudantes de
escolas públicas e privadas em um município do Nordeste Brasileiro.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa observacional, de corte transversal, realizada com estudantes
de ambos os sexos que frequentavam a 7ª série do ensino fundamental da rede pública e
privada na cidade de Parnaíba, Piauí, no ano de 2010. Naquele ano, o município de Parnaíba
possuía uma população total de 145.705, sendo 36.564 o total de alunos matriculados e,
destes, 9719 do ensino fundamental entre 7-14 anos A amostra de conveniência envolveu
um universo de 87 alunos. O tamanho da amostra deveu-se ao fato de terem sido avaliados
todos os alunos que devolveram os Termos assinados pelos pais ou responsáveis.
AMOSTRA
Três escolas públicas e três privadas do Município de Parnaíba – Piauí foram inicialmente
contactadas. Posteriormente, foi realizado um sorteio aleatório para escolha de duas es-
colas públicas e duas privadas para a avaliação postural dos alunos matriculados nestas
escolas. Os Termos de Consentimento Livre Esclarecido foram enviados aos pais ou res-
ponsáveis dos escolares; estes termos elucidavam o trabalho proposto e solicitavam a
assinatura dos mesmos concordando ou não com a participação do filho na pesquisa bem
como garantidos o anonimato e confidencialidade dos dados.
Foram excluídos do estudo os escolares que não apresentaram seu Termo de Consen-
timento Livre Esclarecido devidamente preenchida pelo responsável e/ ou que haviam
realizado qualquer intervenção fisioterapêutica prévia, bem como meninas que tivessem
atingindo a menarca. Este trabalho foi aprovado pelo CONEP sob número 184503.
INSTRUMENTOS
Para a análise utilizou-se fita métrica, lápis dermatográfico, balança com escada ergométri-
ca, um simetógrafo e uma ficha de avaliação postural contendo os principais pontos anatômi-
cos de referência para análise postural, metodologia empregada por outros autores (Penha
et al., 2005). Para realizar o processo avaliativo, as crianças foram posicionadas em frente ao
simetógrafo, primeiramente em vista anterior, onde foram analisados os pontos correspond-
entes a essa vista; em seguida foram observadas na vista posterior e lateral, para verificar se
havia ou não presença de novas alterações não percebidas anteriormente ou para confirmar
as já observadas. O teste de Adams era realizado após a análise pelo simetógrafo, a fim de
confirmar os achados encontrados quanto à escoliose ou não.
PROCEDIMENTOS
Os avaliadores foram treinados por duas semanas com intuito de padronização do método
de avaliação postural e minimização de erros entre avaliadores, tendo os membros sido di-ção de erros entre avaliadores, tendo os membros sido di- de erros entre avaliadores, tendo os membros sido di-
vididos em equipes de dois; cada uma delas ficou responsável por um determinado número
de escolas e de crianças a serem avaliadas.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para calcular o tamanho da amostra, foi utilizada uma prevalência média dos desfechos
(desvios posturais do tronco) de 20%, com intervalo de confiança de 95% (IC = 95%), poder
de 80% e erro padrão de 3%. Nesse cálculo, utilizou-se o software estatístico Epi-Info 6.0
(Atlanta, USA). A análise estatística realizada foi exploratória e descritiva, com análise dos
dados realizada utilizando-se o software SPSS versão 18.0 for Windows. O teste utilizado
para verificação da variação de frequências e do grau de associação entre as variáveis foi
o Qui-Quadrado. Consideramos o valor de p < .05.
RESULTADOS
O total de alunos com 10 a 12 anos avaliados foi de 87 crianças de ambos os sexos, 79.3%
originários de escolas privadas e 20.7% de unidades públicas, sendo que, do total da amostra
colhida nesse estudo, 52.8% foram do sexo feminino e 47.2% do masculino. Verificou-se que
61.1% dos analisados das escolas públicas pertenciam ao sexo masculino e 39.9% ao femini-
no e que 43.5% dos alunos das privadas pertenciam ao sexo masculino e 56.5% ao feminino.
Na análise da ocorrência de escoliose pelo número total de alunos, tendo como variá-
veis dependentes a idade, sexo e escolaridade, observou-se diferença estatisticamente
significativa (p = .00; p = .01; p = .01) entre os grupos. O sexo masculino apresentou uma
frequência maior (41.46%) do que o sexo feminino (34.8%) quanto à presença de escoliose.
Entretanto, essa diferença não foi significativa (p > .05).
QUADRO 1. Resultados da comparação das variáveis idade, gênero e presença de curvatura escoliótica em escolas públicas. Parnaíba, Piauí.
ESCOLIOSE TORÁCICA
Esquerda Direita Ausente ou Normal
Idade
10 anos 0% 40% 60%
11 anos 12.5% 0% 87.5%
12 anos 40% 40% 20%
01
19 — RPCD 17 (S2.A)
No quadro II observa-se um número de desvios à esquerda somente nas idades de 11 e
12 anos. Observou-se que a presença de escoliose foi significativa nos alunos das escolas
privadas (X2 = 4.18; gl =1; p < .05), diferentemente do que ocorreu nos alunos das escolas
públicas, onde não houve significância estatística da variável presença de escoliose (X2 =
0.88; gl = 1; p > .05).
QUADRO 2. Resultados da comparação das variáveis idade, gênero e presença de curvatura escoliótica em escolas privadas. Parnaíba, Pi.
ESCOLIOSE TORÁCICASEXO
MASCULINO FEMININO
Idade 10 anos - -
A esquerda Idade11 anos 60% 40%
12 anos 37.50% 62.50%
A direita Idade
10 anos 33.34% 66.66%
11 anos 50% 50%
12 anos 50% 50%
Ausente ou normal Idade
10 anos 75% 25%
11 anos 58.34% 41.66%
12 anos 30.76% 69.24%
DISCUSSÃO
Neste estudo identificou-se a presença de escoliose em 37.93% dos alunos, sendo esta
incidência de escoliose semelhante em relação aos sexos na faixa etária de 12 anos. Pode-
se atribuir a maior incidência desse desvio postural em escolares desta idade pelo fato de
estarem passando pelo chamado “estirão de crescimento”, em que as estruturas ósseas
tendem a ter um crescimento exponencial, ou ainda ao transporte incorreto do material es-
colar, seja por mochilas carregadas em um ombro só ou mochilas com rodas com posicion-
amento da alça em relação ao quadril inadequado (Ramprasad, Alias, & Raghuveer, 2010).
Outros fatores que poderiam influenciar na maior incidência escoliótica seriam o peso ex-
cessivo das mochilas e o uso equivocado do mobiliário escolar (e.g., ausência de apoio para
pés e sentar-se lateralmente nas cadeiras). Em estudo realizado por Figueirôa e Pereira
(2016) com crianças e adolescentes de 9 a 14 anos matriculados em uma escola municipal
do distrito sanitário Cabula-Beirú na cidade de Salvador, Bahia, foi constatado que 23.1% dos
avaliados transportavam a mochila escolar com peso superior a 10% do peso corporal. Além
disso, o uso incorreto da mecânica corporal e do estilo de vida cada vez mais voltado para
hábitos sedentários contribuem para esses achados clínicos. Os padrões adequados e inad-
equados de postura e movimento começam a ser determinados na infância, são praticados
na adolescência e logo se tornam habituais (Santos et al., 2009). A má ergonomia escolar
pode estar associada a padrões posturais inadequados, uma vez que o aluno procura um
maior conforto, contribuindo para a manutenção de posturas erradas (Gonçalves, 2015).
Constatamos que 39% (7) dos escolares de escolas públicas apresentavam algum des-
vio e 37.6% (26) dos 69 de escolas privadas. Logo, observamos uma maior ocorrência na
rede pública de ensino, talvez pelo tamanho da amostra; contudo uma afirmação mais
categórica sobre este assunto extrapola os limites deste estudo.
Em um estudo realizado por Santos et al. (2009) em 247 escolares de sete a doze anos em
uma escola pública de São Paulo, constatou-se a prevalência de escoliose de 15.7%, resultado
semelhante ao estudo realizado por Espírito Santo, Guimarães e Galera (2011) que, em sua
primeira avaliação, encontrou 12.3% de escoliose em escolares utilizando o teste de Adams.
Ferriani et al. (2006) analisaram os distúrbios posturais em 378 escolares de seis aos quatorze
anos e detectaram, através do teste de Adams, 23.5% de escoliose nestes alunos. Penha et al.
(2005) avaliaram a postura de 132 crianças na faixa etária de 7 a 10 anos de idade, todas do
sexo feminino, e constataram que 48% destas, com dez anos, apresentaram escoliose.
Um estudo recente de Pereira et al. (2016) realizado em 143 escolares (13.26 ± 1.52
anos), 40 meninos e 103 meninas, com o objetivo de verificar a prevalência de casos sus-
peitos de escoliose e sua associação com peso do material escolar em alunos de uma
escola pública do município de Jequié – BA mostrou que, para este grupo de escolares,
a prevalência de casos suspeitos de escoliose é maior no sexo feminino, no grupo etário
mais velho e nos indivíduos com peso do material escolar inadequado. Já em outro estudo
com 966 portugueses de 10-16 anos não se encontrou correlação do peso das mochilas
e hábitos posturais inadequados com o aparecimento de escoliose (Rocha, Rodrigues, &
Farias, 2011). Na pesquisa de Sedrez, da Rosa, Noll, da Silva Medeiros e Candotti (2015),
que avaliaram 59 indivíduos entre 7 e 18 anos, 28 apresentaram escoliose associada à
prática de esporte competitivo de grande volume e ao tempo de sono superior a 10 horas.
Carneiro et al. (2016) avaliaram (n = 23) alunos, utilizando o mesmo método avaliativo usado
neste trabalho, o simetógrafo, cujos indivíduos se dispõe na posição ortostática em vistas: ante-
rior, lateral e posterior. Encontraram 69.6% de escoliose, 30.5% de hipercifose e 17.4% de hiper-
lordose, demonstrando que 86.9% dos avaliados apresentam algum tipo de desvio postural, ten-
do a escoliose como predomínio. Quando comparado os sexos, 72.2% das mulheres e todos os
homens apresentaram algum desvio, possivelmente em decorrência de maus hábitos posturais.
A avaliação postural de escolares colabora para programas intervencionais e educativos,
possibilitando assim uma adequada saúde escolar e evitando patologias futuras na coluna
vertebral, podendo contribuir para melhorar o rendimento do aluno e paea promover o seu
bem-estar físico e emocional (Martelli & Traebert, 2006; Santos et al., 2009).
01
Os desvios posturais são capazes de levar a compensações patológicas (escoliose, hi-
percifose, hiperlordose lombar), apresentando grande incidência em alunos do ensino fun-
damental (Santos et al., 2009). Os distúrbios posturais têm sido apontados como problema
de saúde pública, pois se observa a significativa incidência dos mesmos em crianças de
todo o mundo, sendo as causas mais comuns uma postura errônea durante as aulas, o uso
incorreto de mochila escolar, a utilização de calçados inadequados, o sedentarismo e a
obesidade (Penha et aL., 2005).
As maiores dificuldades encontradas nesse estudo e que podem gerar um viés de nossos
resultados foram a quantidade de termos de consentimento assinados e o número redu-
zido de pais nos encontros proporcionados entre eles e o grupo pesquisador, o que gerou
perdas de 30% do total de alunos inicialmente contatados. Nas escolas públicas, além
dos fatores supramencionados, ocorreu uma greve de professores no período da pesquisa,
prejudicando a comunicação entre alunos e pesquisadores.
CONCLUSÕES
Em nossa pesquisa houve diferença estatisticamente significante entre escolas, com maior
ocorrência dos desvios nas escolas privadas. Entretanto, ao confrontarmos os resultados
quanto ao sexo e a variável escoliose, não existiram diferenças entre os grupos.
Nesse contexto, são necessários mais estudos que fomentem dados a respeito das prin-
cipais alterações anatômicas e seus desvios em escolares, principalmente diferenças en-
tre regiões, que são fundamentais para a formação de um banco de dados que possibilite
traçar um panorama nacional dessas alterações, podendo servir como instrumento para
políticas públicas.
REFERÊNCIAS
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01
Disciplina e bullying
em alunos do ensino
fundamental
PALAVRAS CHAVE:
Aluno. Bullying. Disciplina.
Comportamento agressivo.
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi verificar a relação entre disciplina e o comportamento
agressivo “bullying” de alunos do ensino fundamental, de ambos os sexos, de escolas públi-
cas e privadas da cidade de Belo Horizonte. Foram avaliados 235 estudantes entre 10 e 17
anos e 18 professores das mesmas escolas. Os instrumentos utilizados foram o Questioná-
rio de Comportamento Agressivo Dirigido aos Alunos e o Questionário Sobre o Conceito de
Disciplina Dirigido aos Professores e aos Alunos. O tratamento estatístico foi realizado pelo
pacote SPSS e Excel através de análise descritiva. Os resultados mostraram que o compor-
tamento agressivo mais comum na visão dos alunos é o verbal e indireto, os lugares onde
mais ocorrem são em sala de aula com o professor ausente e no pátio da escola. Alunos
com menor escolaridade se identificam mais claramente como vítimas e os de maior esco- vítimas e os de maior esco-maior esco-
laridade como agressores. Conclui-se que a relação professor-aluno é o melhor caminho
para se alcançar a disciplina, enquanto que a punição é a medida menos eficiente.
AUTORES:
Tatiana Lima Boletini
Cristina Carvalho de Melo
Camila Cristina F Bicalho
Franco Noce
02Discipline in relation of verification and bullying
in the elementary school students
ABSTRACT
The aim of the study was to investigate the relationship between discipline
and aggressive behavior “bullying” of elementary school students of both
sexes in public and private schools in the city of Belo Horizonte. We evalu-
ated 235 students between 10 and 17 years and 18 teachers from the same
schools. The instruments used were the Behavior Questionnaire Aggressive
Aimed at Students and the Questionnaire About Discipline Concept Aimed at
Teachers and Students. Statistical analysis was performed using SPSS and
Excel package through descriptive analysis. The results showed the most
common aggressive behavior on the student view is verbal and indirect, the
places where they most occur are in the classroom with the absent teacher
and in the school yard; additionally, students with less years of schooling
identify themselves more clearly as victims and students with more years of
education are identified as aggressors. As for the discipline, it is concluded
that the teacher-student relationship is the most important strategy and
that punishment is not the best way to discipline.
KEY-WORDS:
Student. Bullying. Discipline.
Aggressive behavior.
Correspondência: Tatiana Lima Boletini. ([email protected])
23 — RPCD 17 (S2.A): 22-33
25 — RPCD 17 (S2.A)
INTRODUÇÃO
A escola é um dos principais ambientes de formação do indivíduo. Nela são desenvolvidas
a socialização, a promoção da cidadania, e a formação de atitudes e opiniões que podem
contribuir com o desenvolvimento ou prejudicar a formação. Esse ambiente é um local privi-
legiado para refletir sobre diversas questões que ocorrem na sociedade envolvendo os di-
versos atores, como pais, alunos e professores (Marriel, Assis, Avanci & Oliveira, 2006).
Dentre as questões mais pertinentes no desenvolvimento dos jovens na escola e suas
repercussões na sociedade estão os comportamentos agressivos e os incidentes disci-
plinares. O comportamento agressivo, de acordo com Seixas (2005), conceitua-se como
um fenômeno que abrange toda uma variedade de comportamentos de maus-tratos entre
estudantes, podendo estas ações ser de caráter físico, verbal, psicológico e social.
Para Fante e Pedra (2008), o bullying é uma das formas de violência mais desafiadoras
para a escola e esta expressão, na visão de Wynne e Joo (2011), é empregada para explicar
um fenômeno relacional caracterizado pelo comportamento agressivo, cruel, intencional
e repetitivo, ocorrendo de forma repulsiva e intimidadora contra uma mesma pessoa ou
grupo, principalmente nos períodos da infância e adolescência. O bullying pode ser clas-
sificado como: a) físico e direto, como agressões físicas, ocorridas mais frequentemente
no ensino fundamental I (Seixas, 2012); b) verbal e direto, incluindo os menosprezos e
insultos em público, ou ressaltar um defeito físico e/ ou de ações de outro aluno (Martins,
2015; Seixas, 2005); c) psicológico e indireto, com ações encaminhadas de forma a diminuir
a autoestima do indivíduo e a aumentar sua sensação de insegurança e temor, como por
exemplo, através de boatos (Avilés, 2002); d) social e indireto, como o isolamento de um
indivíduo e/ ou não permitir que o mesmo participe de um respectivo grupo por ser alvo de
rumores desagradáveis ou simplesmente pelo fato de alguns alunos não falarem com este
aluno (Seixas, 2005) e, por fim, e) virtual, em que se insulta, discrimina, difama, humilha,
e/ ou ofende por meio da internet e/ou aparelho celular (Silva, Dascanio, & do Valle, 2016).
O levantamento realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à In-
fância e Adolescência (ABRAPIA), em 2002, envolvendo 5875 estudantes de 5ª a 8ª séries,
de 11 escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40.5% desses alunos
admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16.9%
vítimas, 10.9% vítimas agressivas e 12.7% agressores. O bullying ocorre, principalmente,
entre crianças de 10 a 15 anos; porém, não está restrito nem a essa faixa etária nem ao am-
biente escolar. No ambiente escolar, foi detectado ainda nessa pesquisa que os meninos es-
tão envolvidos com o bullying de forma muito mais frequente, tanto como agressores quanto
como vítimas. Entre as meninas, embora com menor frequência, o bullying também ocorre e
se caracteriza, principalmente, como prática da difamação e exclusão.
Conforme apresentado por Noce, Foureaux, Melo, Costa e Costa (2011), a disciplina é um
conjunto de regras e obrigações, pode vir acompanhada de sanções, e é construída a partir
de uma base de confiança mútua. Segundo Antunes (2002), “a disciplina é o conjunto de
mecanismos e estratégias que permitem criar um clima educacional em sala de aula, em-
bora alguns professores prefiram considerá-la como a estratégia da calma, da tranquilidade
e do controle para poder ensinar”. Na escola, a disciplina é um elemento essencial para o
desenvolvimento de qualquer atividade, seja ela individual ou em grupo (Boarini, 2013).
A falta de respeito dos alunos com os professores e a defasagem disciplinar em sala de
aula têm contribuído para a omissão de casos de bullying (Barros, Botelho, Santana, & Ol-
iveira, 2015). Esta omissão não se dá, frequentemente, por negligência, mas por ausência
de preparo profissional e falta de informação sobre como atuar na resolução do problema
(Bandeira & Hutz, 2012).
Dessa maneira, observa-se uma relação entre disciplina e o comportamento agressivo
(Lopes Neto, 2005), neste caso o bullying. Os relacionamentos interpessoais positivos es-
tabelecem uma relação direta com o desenvolvimento acadêmico, sendo a aceitação pelos
companheiros fundamental para o desenvolvimento da saúde de crianças e adolescentes,
aprimorando suas habilidades sociais e fortalecendo a sua capacidade de reação diante de
situações de tensão (Lopes Neto, 2005).
Atualmente, comportamentos agressivos dentro da escola por parte de alunos são um
dos maiores motivos de preocupação para professores, pais, a comunidade e, principal-ão para professores, pais, a comunidade e, principal-a comunidade e, principal-
mente, para os próprios alunos (Martins, 2015). Segundo Oliveira, Costa e Oliveira (2014),
situações de violência na escola são bastante frequentes, sendo que este tipo de compor-
tamento pode causar sérias consequências e efeitos negativos para o desenvolvimento e
para a saúde mental dos jovens envolvidos. Devido a este número crescente de agressões
verbais, físicas, sociais e psicológicas entre alunos, dentro e fora da escola, e a pouca
exploração na literatura existente da relação entre disciplina e comportamento agressivo
(bullying) na escola, o objetivo deste estudo foi verificar a ocorrência de comportamento
agressivo – bullying – e o conceito de disciplina por parte dos alunos e professores de 5º a
8º anos do ensino fundamental de escolas públicas e particulares.
MÉTODO
AMOSTRA
Utilizando uma amostra de conveniência, participaram do estudo 235 alunos (115 do sexo
masculino) com idades entre 11 e 17 anos, do 5º ao 8º ano do ensino fundamental de duas
escolas da cidade de Belo Horizonte, uma pública e outra privada. Também fizeram parte
da amostra 18 professores das escolas pesquisadas.
02
27 — RPCD 17 (S2.A)
INSTRUMENTOS
Foram utilizados dois instrumentos para avaliar o comportamento agressivo e a disciplina,
ambos compostos por uma ficha de dados pessoais para caracterização da amostra.
Para caracterização do comportamento agressivo foi aplicado o instrumento adaptado
de Ortega, Mora-Merchán e Mora (1995) por Avilés (2002), composto por 12 questões de
múltipla escolha que avaliaram os tipos de bullying, os lugares e a freqüência de ocorrên-
cia. Este instrumento distingue as vítimas, os agressores, as vítimas agressivas e os alunos
com nenhum envolvimento, além do motivo que levam os alunos a se tornarem agressores,
quem costuma parar os comportamentos agressivos e as possíveis soluções para que se
diminuam estes comportamentos na escola.
O instrumento sobre disciplina utilizado foi o questionário Q Des – Adaptado, de Brito
(1993), “versão conceito de disciplina”. Este instrumento verificou o conceito de disciplina
por parte dos alunos de educação física de escolas públicas e particulares e professores
das mesmas instituições. O Questionário Q Des – Adaptado consta de 25 diferentes medi-
das, as quais o professor e os alunos avaliam numa escala de afirmativas de cinco valores,
sendo: (-2) Discordo Totalmente (DT); (-1) Discordo (D); (0) Não tenho opinião (NTO); (+1)
Concordo (C);(+2) Concordo Totalmente (CT).
PROCEDIMENTOS
Para a realização da pesquisa, foi solicitada uma autorização à direção das escolas. Os
dados foram coletados nas escolas no horário de aula, em salas de aula onde somente
permaneceram os alunos que participaram da pesquisa.
Em todas as coletas o instrumento foi explicado pelo pesquisador, que forneceu auxílio
aos professores e aos alunos em caso de dúvida.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para verificar o perfil da amostra e analisar os dados do “comportamento agressivo” e da
“disciplina” foi utilizada estatística descritiva, de acordo com a natureza de cada variável
(paramétrica ou não paramétrica).
CUIDADOS ÉTICOS
Este estudo, de caráter voluntário e anônimo, foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro
Universitário de Belo Horizonte – Uni-BH protocolo nº 055/05, tendo respeitado todas as
normas estabelecidas pelo Conselho Nacional em Saúde (196/96) envolvendo pesquisas
com seres humanos.
RESULTADOS
PERFIL DA AMOSTRA
Verifica-se que, do total da amostra dos alunos (N = 235), observa-se uma participação
homogênea quanto ao caráter escolar público (51%) e ao caráter escolar particular
(49%). Observa-se ainda que houve um equilíbrio na distribuição da amostra do estudo
quanto ao sexo dos participantes, tanto na escola pública quanto privada (QUADRO I).
QUADRO 1. Distribuição da amostra em relação ao caráter escolar e ao gênero.
AMOSTRA GÉNERO
NÚMERO DE ALUNOS MASCULINO FEMININO
Tota
l
Públ
ica
Part
icul
ar
Tota
l
Públ
ica
Part
icul
ar
Tota
l
Públ
ica
Part
icul
ar
N 235 119 116 115 53 62 120 66 54
% 100% 51% 49% 49% 46% 54% 51% 55% 45%
Em relação à série escolar e ao caráter da instituição de ensino, pode-se observar também
uma homogeneidade na distribuição da amostra (QUADRO II).
QUADRO 2. Distribuição da amostra em relação ao caráter e a série escolar
ESCOLARIDADE
5ª 6ª 7ª 8ª
Tota
l
Públ
ica
Part
icul
ar
Tota
l
Públ
ica
Part
icul
ar
Tota
l
Públ
ica
Part
icul
ar
Tota
l
Públ
ica
Part
icul
ar
N 61 30 31 58 30 28 59 29 30 57 30 27
% 26% 13% 13% 25% 13% 12% 25% 12% 13% 24% 13% 11%
No grupo dos professores investigados (N = 18), apresenta-se uma predominância dos
que trabalham em escolas públicas (n = 10), sendo que mais da metade (n = 10) são do
gênero feminino.
A questão mais assinalada pela maior parte das turmas se refere ao tipo de bullying
classificado como verbal e direto. Já o tipo de bullying denominado como social e indireto
foi detectado em maior porcentagem na turma do 8ª ano particular (FIGURA 1).
02
29 — RPCD 17 (S2.A)
FIGURA 1. Ocorrências mais frequentes dos tipos de bullying nas escolas
Em todas as turmas pesquisadas, a maior parte dos alunos relata que poucas vezes têm
ocorrido casos de comportamento agressivo (bullying) na escola. Uma porcentagem menor
relata que estes comportamentos ocorrem muitas vezes e quase todos os dias (FIGURA 2).
FIGURA 2. Frequência de bullying na escola durante o ano.
Pode-se observar na figura 3 que a maioria dos alunos relataram nunca terem sido vítimas
de comportamento agressivo (bullying).
FIGURA 3. Frequência em que os alunos se encontram como vítimas de bullying.
FIGURA 3. Frequência em que os alunos se encontram como vítimas de bullying.
Grande parte dos alunos relata que os lugares em que ocorrem com maior frequência
comportamentos agressivos (bullying) são em sala de aula, com o professor ausente, e no
pátio da escola (FIGURA 4).
FIGURA 4. Lugares em que ocorrem com maior frequência os comportamentos agressivos(bullying).
Verifica-se na figura 5 que, na visão da maior parte das turmas, quem costuma parar os
comportamentos agressivos são os professores e os colegas. Destaca-se ainda um per-
centual significativo de alunos que relatam que ninguém para estes comportamentos
agressivos na escola.
FIGURA 5. Quem costuma parar os comportamentos agressivos.
A figura 6 demonstra que, na opinião dos alunos, os comportamentos agressivos diminui-
riam se os professores fizessem algo. Um percentual menor, mas ainda significativo, relata
que as agressões diminuiriam com intervenções familiares e dos colegas.
02
31 — RPCD 17 (S2.A)
FIGURA 6. Soluções, na visão dos alunos, para diminuição dos comportamentos agressivos.
Na visão dos alunos, os conceitos de disciplina mais acentuados, tanto da escola particular
como pública, foram: (#10) “a principal função da disciplina nas aulas é atuar na formação
moral do aluno” e (#24) “disciplina é básica para se obter bons resultados”. Observa-se
também que o conceito (#17) “quanto mais distante for a relação entre professor e aluno,
melhor para a disciplina do grupo” foi o que as turmas mais discordaram, tanto pública
quanto a particular.
Ao se comparar os conceitos de disciplina na visão dos professores (FIGURA 8), detectou-
-se divergências de opiniões em conceitos como (#13) “a forma de disciplina a ser adotada
deve ser flexível em relação ao cumprimento das normas”. Na visão dos professores de
escolas particulares há certa concordância, mas os professores de escolas públicas dis-
cordam da mesma. Destaca-se também que os professores de escolas particulares discor-
dam do conceito (#19) “punições são válidas para disciplinar os alunos”.
DISCUSSÃO
No estudo atual, a questão mais assinalada pela maior parte das turmas se refere ao tipo
de bullying classificado como verbal e direto, resultado confirmado por outro estudos re-
alizado por Silva et al. (2016), no qual adolescentes classificaram o tipo de bullying mais
prevalente o verbal.
Em relação a ocorrência de bullying nas escolas, a maior parte dos alunos relata que
poucas vezes têm ocorrido casos de comportamento agressivo na escola, como demons-
trado na figura 2, sendo que em estudos realizados por Melim e Pereira (2013) verificou-se
que a frequência do bullying é mais elevada entre os alunos mais novos e que estes enfren-
tam um bullying mais direto e físico do que os seus colegas mais velhos.
A figura 3 revela que a maioria dos alunos relatam nunca terem sido vítimas de comporta-
mento agressivo. Em contrapartida, da Silva e Fauston (2013) realizaram um estudo com es-
tudantes universitários e a maior parte relatou ter sido vítima de comportamento agressivo
e sofrido com alguma forma de violência durante a escolarização na infância e adolescência.
Grande parte dos alunos relata que os lugares em que ocorrem com maior frequência
comportamentos agressivos são em sala de aula, com o professor ausente, e no pátio da es-
cola (FIGURA 4). Santos e Kienen (2014) também verificaram que as ocorrências de bullying
em sala de aula são onde o fenômeno mais ocorre. Já da Silva e Fauston (2013) destacam o
recreio como o local onde ocorrem grande parte dos comportamentos agressivos.
Os resultados do presente estudo demonstraram que, na visão da maior parte das tur-
mas, quem costuma parar os comportamentos agressivos são os professores e os colegas.
Os mesmos resultados foram encontrados por Santos e Kienen (2014) e Santos, Perkoski
e Kienen (2015), os quais identificaram que as ações destacadas por professores e alunos
se focavam em remediar ou punir ocorrências de bullying.
Na visão dos alunos, os comportamentos agressivos diminuiriam se os professores fi-
zessem algo. Teixeira, Salinet, Estabile, Mezzaroba e Soares (2015) e Weimer e Moreira
(2014) relataram, em seus estudos, que alunos tendem a contar com a ajuda dos profes-
sores com o objetivo de amenizar os comportamentos agressivos.
Ao se compararem os conceitos de disciplina na visão dos professores detectaram-se di-
vergências de opiniões em conceitos como “a forma de disciplina a ser adotada deve ser fle-
xível em relação ao cumprimento das normas”. Na visão dos professores de escolas particu-
lares há certa concordância, mas os professores de escolas públicas discordam da mesma.
Tiba (2006) e Lima (2012) definem disciplina como a qualidade que faz o ser humano cum-
prir suas propostas, mesmo sem ser cobrado por alguém, pois sabe que a responsabilidade
é sua; ou seja, o professor deve motivar o aluno e nunca medir forças com eles.
Destaca-se também que os professores de escolas particulares discordam do conceito “pu-
nições são válidas para disciplinar os alunos”. Castro e Santos (2015) verificaram que as ati-
tudes dos professores podem contribuir para melhoria no contexto de ensino-aprendizagem.
Diante disso, o professor necessita refletir e propor soluções conjuntas com os alunos para
se obter bons resultados. Esses achados corroboram com o presente estudo, no qual os con-
ceitos de disciplina mais acentuados na visão dos alunos, em concordância tanto da escola
particular como pública, foram (#10) “a principal função da disciplina nas aulas é atuar na
formação moral do aluno” e conceito (#24) “disciplina é básica para se obter bons resultados”.
A discordância mais acentuada, tanto para os alunos da escola pública quanto a par-
ticular, sobre o conceito de disciplina foi (#17) “quanto mais distante for a relação entre
professor e aluno, melhor para a disciplina do grupo”. Este aspecto é confirmado por Tiba
(2006), que diz que “...um dos grandes geradores de indisciplina está em um professor im-
por seu poder sobre os alunos, e estes não lhe reconhecerem a autoridade”.
02
CONCLUSÃO
Conclui-se que a disciplina deve ser construída e trabalhada através do respeito mútuo entre
os próprios alunos e entre alunos e professores, podendo assim diminuir os comportamentos
agressivos entre alunos nas escolas. O tipo de comportamento agressivo – bullying – mais
praticados nas escolas, na visão dos alunos da escola pública e particular, é o verbal e indire-
to. Pode-se observar também que a literatura existente sobre a temática reforça que alunos
com anos de escolaridade mais baixos se identificam mais claramente como vítimas e alunos
com anos de escolaridade mais elevados se identificam como agressores. As vítimas relata-
ram que são agredidos porque são fracos e os agressores justificam as agressões realizadas
como uma resposta às agressões sofridas, o que os classificam como vítimas agressivas.
Observou-se que os lugares onde mais ocorrem comportamentos agressivos são em
sala de aula, com o professor ausente, e no pátio da escola, e que estes alunos vítimas
recorrem aos colegas e professores para que os ajudem a cessar as agressões sofridas.
Na opinião dos mesmos, os comportamentos agressivos diminuiriam se houvesse inter-
venções dos professores, dos familiares e dos colegas.
Em relação ao conceito de disciplina aceito pelos alunos observou-se que o conceito
“quanto mais distante for a relação entre professor aluno, melhor para a disciplina dos
alunos” e o conceito “punições são válidas para disciplina os alunos” foram aquelas com
que os alunos mais discordaram. Isto atribui ao professor mais uma responsabilidade, a
de compreender seus alunos, respeitando suas diferenças e favorecendo a criação de um
ambiente escolar realmente propício para o amadurecimento saudável.
Este trabalho buscou investigar e ampliar conhecimentos, bem como reforçar a impor-
tância do papel amplo do professor na formação do aluno. Como proposta para estudos
futuros, sugere-se verificar o impacto da frequência dos episódios de bullying nas crianças
e adolescentes (a médio e longo prazo) e analisar a frequência e características destes epi-
sódios após a realização de um programa de intervenção disciplinar. Além disso, espera-se
que este trabalho possa contribuir para a reflexão por parte da escola, direção e professo-
res, a respeito da importância de ações de intervenção neste processo.
REFERÊNCIAS
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02
O licenciamento
compulsório de patentes
de medicamentos
PALAVRAS CHAVE:
Licenciamento compulsório. Patentes.
Medicamentos. Direito à saúde.
Políticas públicas.
RESUMO
O presente trabalho busca fazer uma análise acerca da colisão entre o direito de proprie-
dade, expressado aqui na proteção dada às patentes de medicamentos, e o direito à saúde,
em especial no tocante à continuidade de políticas públicas de fornecimento de medica-
mentos. Indaga-se também se, nesse contexto, o licenciamento compulsório, flexibilida-
de prevista no Acordo TRIPS e na LPI, seria o instrumento adequado para efetivação de
políticas públicas e se sua utilização traria benefícios para a saúde da população que o
utiliza. Primeiramente, discorre-se sobre o direito à saúde no ordenamento jurídico brasi-
leiro, traçando seu histórico, sua previsão constitucional e infraconstitucional, bem como
seu regime jurídico-constitucional e alguns apontamentos básicos acerca da assistência
farmacêutica. Posteriormente, traçam-se linhas básicas acerca do sistema de patentes, da
proteção dada às patentes de medicamentos e sobre o instituto do licenciamento compul-
sório. Por fim, discute-se o conflito instaurado entre o direito à saúde e o direito de proprie-
dade. Ademais, com base no caso dos antirretrovirais no Brasil, analisa-se a possibilidade
de uso do licenciamento compulsório como forma de efetivação do direito à saúde.
AUTORES:
Elton Dias Xavier 1
Sheile Nayara Ferreira
1 Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Minas Gerais, Brasil
03The compulsory licensing
of medicinal patents
ABSTRACT
The present work makes a review about the collision between the right to
property, expressed here in the protection given to medicines’ patents, and
the right to health, especially with regard to the continuity of public poli-
cies of drug supplying. It also questions, in this context, if the compulsory
licensing, flexibility provided in the TRIPS Agreement and in the IPL, would
be the appropriate instrument for effective public policy and if its use would
benefit the health of the population that uses it. First, talks over the right to
health in the Brazilian legal system, tracing its historical, its constitutional
and legal prevision, as well as its juridical constitutional system and some
notes about the basic pharmaceutical care. Subsequently, it delineates the
basic lines about the patent system, the protection given to medicines’ pat-
ents, and the institute of compulsory licensing. Finally, it discusses the con-
flict established between the right to health and the right to property. More-
over, based on the case of antiretrovirals in Brazil, it analyzes the possibility
of using compulsory licensing as a way of ensuring the right to health.
KEY-WORDS:
Compulsory licensing. Patents. Medicines.
Right to health. Public policies.
Correspondência: Elton Dias Xavier. Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES),
Minas Gerais, Brasil ([email protected])
35 — RPCD 17 (S2.A): 34-53
37 — RPCD 17 (S2.A)
INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988) apresenta, como
Direito Fundamental social e como um dos componentes da seguridade social, o Direito à
Saúde. Tal Direito se configura como de suma importância por estar umbilicalmente atre-
lado ao Direito à Vida e à própria dignidade humana. Com efeito, o conceito de vida digna
pressupõe o gozo de pleno estado de saúde.
Nesse contexto, os medicamentos se mostram como elementos de importância ímpar
para garantia do Direito à Saúde. Suas patentes, como forma de garantir novos investimen-
tos em pesquisa, tecnologia e formulação de novos fármacos, além de divulgação das in-
formações obtidas com os produtos já existentes, são protegidas internacionalmente pelo
Acordo Sobre Aspectos de Direito da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio
(TRIPS) – em inglês, Agreement on Trade-Related Aspects of Intelellectual Property Ri-
ghts – e nacionalmente, pela Lei 9.279, de 14 de maio de 1996, denominada Lei de Proprie-
dade Industrial (LPI).
A proteção dada às patentes confere ao seu titular o direito de exclusividade sobre o
invento pelo prazo de vinte anos, após o qual a patente cai em domínio público e pode ser
explorada por terceiros.
No entanto, essa exclusividade, por vezes, faz com os detentores das patentes de medi-
camentos confiram altos preços aos seus inventos, impedindo a aquisição de produtos por
particulares e países que os distribuem à população por meio de políticas públicas.
Desse modo, instaura-se um conflito entre o direito à saúde da população, visto aqui
como o fornecimento de medicamentos pelo Estado, e o direito de propriedade, exposto
aqui na proteção dada às patentes.
Seguindo esses apontamentos, o primeiro item se dispõe a tratar sobre o Direito à Saúde
no Brasil e o fornecimento de medicamentos pelo Estado. Já o segundo tópico diz respeito
à proteção das patentes de medicamentos e ao instituto do licenciamento compulsório.
Por fim, no terceiro e último ponto, analisa-se o Direito à Saúde versus a proteção dada
às patentes, bem como o licenciamento compulsório e o caso dos antirretrovirais.
Nesse contexto, o trabalho em tela possui como objetivo principal analisar, no caso da
colisão entre o Direito à Vida e o Direito de Propriedade, qual desses direitos deve prevale-
cer no caso concreto, bem como demonstrar as consequências do licenciamento para as
políticas públicas de saúde, como base na análise do caso dos antirretrovirais.
O DIREITO À SAÚDE NO BRASIL E O FORNECIMENTO
DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO
O DIREITO À SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Não condiz com os estudos atuais se falar em um conceito único e universal de saúde,
pois a sua concepção envolve aspectos físicos, sociais, espirituais e mentais, gerando as
chamadas representações de saúde, que variam conforme cada realidade social e cada
vivência individual.
No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em sua constituição, adota a con-
cepção de saúde como equilíbrio, conceituando-a como “[. . .] o estado de completo bem-
-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doenças ou enfermidades.”. Esse
conceito de saúde elaborado pela OMS é o adotado pela CRFB/1988.
E como se vê a seguir
[. . .] A noção preconizada pela OMS superou a concepção de saúde como mera inexistên-cia de doenças e trouxe uma visão mais ampla deste direito, associada à ideia de quali-dade de vida, e que engloba uma série de prestações positivas por parte do Estado que extrapolam aspectos estritamente curativos (Xavier & Brandi, 2010, P. 41).
O Direito à Saúde se encontra inserido na CRFB/1988 tanto no rol dos direitos fundamentais
sociais, insculpido no art. 6.º, como no capítulo destinado à ordem social, sendo um dos
elementos que compõem o tripé da Seguridade. Ademais, possui ele uma estreita ligação
com o Direito à Vida e com o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, chegando-se a
apontar que, mesmo se o Direito à Saúde não fosse previsto de forma expressa na Consti-
tuição brasileira, seria reconhecido como Direito Fundamental implícito.
A CRFB/1988, ao tratar da Saúde, a consagra, em seu artigo 196, como um “direito de
todos” e “dever do Estado”, além de estabelecer que sua garantia se perfaz “mediante
políticas públicas sociais e econômicas” visando a “redução do risco de doença e de outros
agravos” bem como o “acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promo-
ção, proteção e recuperação.”. E, no art. 197, por sua vez, reconhece as ações e serviços de
saúde como de relevância pública.
A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO BRASIL E A POLÍTICA PÚBLICA
DE FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS ANTIRRETROVIRAIS
Como pontuado alhures, o Direito à Saúde consiste tanto no dever de proteção da saúde,
como no direito a prestações. E, conforme aponta o art. 196 da CRFB/1988, o Direito à
Saúde é direito de todos e, em contrapartida, dever do Estado, devendo ser realizado “me-
diante políticas públicas sociais e econômicas.”.
03
39 — RPCD 17 (S2.A)
Nesse sentido, o acesso a medicamentos se mostra como uma das facetas, um dos com-
ponentes do Direito à Saúde, a ser garantido mediante políticas públicas sociais e econô-
micas, no caso em tela, por meio da assistência farmacêutica.
A assistência farmacêutica pode ser conceituada como um
Conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde individual e co-letiva, tendo os medicamentos como insumos essenciais e visando à viabilização do aces-so aos mesmos, assim como de seu uso racional. Envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanha-mento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, Ministério da Saúde, 2009).
A Lei 8.080/1990, em seu artigo 6.º, inciso IV, inclui no campo de atuação do Sistema Único
de Saúde (SUS) a execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive farma-
cêutica. Essa política pública, denominada de Política Nacional de Medicamentos (PNM) foi
regulamentada pela Portaria 3.916, de 30 de outubro de 1998.
Para o presente estudo, é importante destacar que, afora a Política Nacional de Medi-
camentos, existem programas de distribuição de medicamentos na rede pública que são
voltados para segmentos específicos, como é o caso do programa DST/AIDS.
A Lei 9.313, de 13 de novembro de 1996, tornou compulsória a distribuição gratuita de
medicamentos aos portadores do vírus da Síndrome da Imunodeficiência adquirida (AIDS),
através da rede pública de saúde. Essa Lei foi a instituidora do Programa Nacional DST/
AIDS no âmbito do SUS.
A AIDS é uma doença sexualmente transmissível causada pelo Vírus da Imunodeficiên-
cia Humana (HIV). Esse vírus ataca as células de defesa do organismo, tornando o corpo
mais suscetível ao surgimento de doenças 1.
Os medicamentos utilizados no tratamento da AIDS, constantes dos chamados “coque-
téis antiaids”, são chamados de “antirretrovirais”, e visam impedir a multiplicação do vírus
HIV no organismo, ajudando a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico 2.
O Brasil foi o primeiro país de renda média a adotar um programa universal de for-
necimento de antirretrovirais. Segundo dados do Ministério da Saúde, de dezembro de
2012, trezentas e treze mil pessoas recebem regularmente os remédios para tratar da
doença. Atualmente, são distribuídos gratuitamente pelo programa 21 tipos de medi-
camentos antirretrovirais 3.
No entanto, a distribuição gratuita dos medicamentos integrantes dos coquetéis antiaids
demanda custos do governo que, por vezes, se mostram demasiados caros diante das po-
líticas de preços altos adotadas pelos laboratórios farmacêuticos, impactando sobrema-
neira os cofres públicos. Assim, os preços abusivos adotados pelo mercado farmacêutico
internacional podem prejudicar a política de distribuição destes medicamentos, deman-
dando medidas para garantir a continuação do fornecimento.
O Brasil adotou duas estratégias para garantir a implementação e execução da política
pública de fornecimento de medicamentos antirretrovirais: produção local de antirretro-
virais não sujeitos às leis referentes à propriedade industrial e pressão aos laboratórios
farmacêuticos para redução dos preços desses medicamentos, com ameaça de licencia-
mento compulsório (Sousa, 2012, P. 37).
Todavia, o licenciamento compulsório de patentes é considerado como medida extrema,
pois se mostra como uma limitação da proteção dada às patentes no cenário internacional
e no ordenamento jurídico brasileiro. E, como se verá adiante, a proteção dada às patentes
farmacêuticas pode ser considerada como de suma importância para o cenário econômico
mundial e para o próprio desenvolvimento das indústrias farmacêuticas.
A PROTEÇÃO ÀS PATENTES DE MEDICAMENTOS E O INSTITUTO
DO LICENCIAMENTO COMPULSÓRIO
O SISTEMA DE PATENTES
A propriedade intelectual está ligada às invenções da mente humana e objetiva garantir
que o inventor tenha exclusividade sobre suas criações, recompensando-o pela criação e
lhe concedendo o direito de explorá-la.
O Direito de Propriedade Intelectual engloba os Direitos Autorais e conexos, e o Direito
de Propriedade Industrial.
A propriedade industrial pode ser concebida como
[. . .] o ramo da Propriedade Intelectual que trata das criações intelectuais voltadas para as atividades de indústria, comércio e prestação de serviços e engloba a proteção das in-venções, desenhos, marcas, indicações geográficas, estendendo-se ainda à proteção das relações concorrenciais (IDS, 2013, p. 9).
Os Direitos de Propriedade são protegidos na CRFB/1988 em seu art. 5.º, inciso XXII. O
inciso XXIX do mesmo artigo da Carta da República, por sua vez, traz insculpida proteção
aos inventos industriais, limitando-os ao interesse social e ao desenvolvimento tecnológico
e econômico do país.
03
1 Disponível em: <www.aids.gov.br>. Acesso em: 20 ago. 2013.2 Idem.3 Idem.
41 — RPCD 17 (S2.A)
Já a LPI trata dos direitos relativos à propriedade industrial e estabelece, em seu artigo
2.º, que a proteção dos direitos concernentes à propriedade industrial engloba a concessão
de patentes de invenção e modelo de utilidade, de registro de desenho industrial, de registro
de marca, a repressão às falsas indicações geográficas e à concorrência desleal.
No âmbito internacional, instrumento normativo de destaque de proteção de paten-
tes é o Acordo TRIPS, que surgiu no contexto da Rodada Uruguaia do Acordo Geral
Sobre Tarifas e Comércio (GATT), na década de 90, e que foi promulgado no Brasil pelo
Decreto 1.355, de dezembro de 1994 (Chaves, 2006, p. 17).
Pela patente, é conferido ao seu detentor, “[. . .] o direito de impedir terceiros, sem o seu
consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar com esses propósitos:
produto objeto de patente e processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado.”
(Benetti, 2007, p. 208).
A patente
Pode ser definida como um título de propriedade concebido pelo Estado, que assegura ao seu titular exclusividade temporária para a exploração de uma determinada invenção. Ou seja, depois que o tempo de proteção da patente se encerra, a invenção protegida cai no domínio público e todos passam a poder explorá-la. A contrapartida desta concessão feita pelo Estado é que todo o conhecimento envolvido no desenvolvimento e produção da invenção deverá ser revelado para a sociedade. Trata-se, em princípio, de uma relação de troca (Chaves, 2006, p. 8).
São duas as espécies de patentes, de produtos e de processo, sendo estas últimas as re-
lativas à proteção do caminho percorrido para a produção de um determinado produto.
O art. 8.º da LPI e o § 1.º do art. 27 do Acordo TRIPS explicitam os requisitos que uma inven-
ção deve possuir para ser patenteada: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Isto
é, o invento não pode ter tido prévia divulgação, deve ser fruto do intelecto humano, represen-
tando algo inovador, e deve ter a possibilidade de ser utilizado ou produzido em indústria.
A patente possui um prazo de vigência de vinte anos, ao fim do qual cai em domínio pú-
blico, e, assim, poderá ser explorada economicamente por terceiros. No caso de patentes
farmacêuticas, com sua extinção, o medicamento pode ser registrado como genérico.
PROTEÇÃO DAS PATENTES DE MEDICAMENTOS
As patentes de medicamentos, objeto de estudo deste trabalho, nem sempre foram prote-
gidas pelas legislações brasileiras.
Reportando ao histórico de proteção das patentes farmacêuticas no Brasil, verifica-se
que sua proteção, com o Decreto-Lei 7.903/1945, se restringia apenas às patentes do pro-
cesso, não abrangendo as patentes de produtos farmacêuticos.
A Lei 5.772, de 21 de dezembro de 1971, por sua vez, aboliu do cenário brasileiro qual-
quer proteção às patentes de medicamentos.
Essa postura do país se alterou com a assinatura, em 1993, do tratado TRIPS, e sua
promulgação em 1994, já que, após a assinatura do TRIPS, todos os países integrantes da
Organização Mundial do Comércio (OMC) tiveram de reconhecer a patente para a invenção
de um produto ou para o meio de obter esse produto, abarcando, aqui, os medicamentos.
Em 1996, em razão da pressão do Governo dos Estados Unidos, especialmente com vis-
tas a uma proteção de patentes farmacêuticas, foi criada no Brasil a já citada Lei 9.279, de
14 de maio de 1996 (LPI).
Há que se destacar que, em que pese ser um acordo voltado para questões referentes
ao comércio de propriedade sobre novos produtos, o TRIPS também contém dispositivos
voltados para a saúde, com flexibilização do sistema de patentes em casos específicos.
Destarte, o Acordo TRIPS possui algumas flexibilidades que podem ser usadas pelos
países para proteção da saúde pública de seus nacionais. Uma delas é a da licença com-
pulsória, prevista em seu artigo 31.
FLEXIBILIZAÇÃO DA PROTEÇÃO DADA ÀS PATENTES:
O INSTITUTO DO LICENCIAMENTO COMPULSÓRIO
Existem dois tipos de licenças para exploração das patentes A primeira delas, mais utili-
zada, é a licença voluntária, “[. . .] que permite que o titular da patente ou o depositante do
pedido licencie terceiros a fabricar e comercializar o produto ou processo.” (Benetti, 2007,
p. 208). Essa licença para fabricação ou comercialização do produto para terceiros ocorre
mediante o pagamento royalties, numa livre negociação entre as partes.
O segundo tipo de licença existente é a licença compulsória ou licenciamento compulsório,
chamada coloquialmente de “quebra de patente”, pela qual se busca evitar abusos do exercício
do direito de exploração exclusiva da patente. A licença compulsória retira o caráter de exclu-
sividade da exploração da patente, permitindo que se usufrua da patente sem o consentimento
do detentor. No entanto, ressalte-se, o detentor da patente ainda permanece com o direito ao
pagamento de royalties pela utilização de seu invento, mesmo que em valor reduzido.
Tanto o acordo TRIPS (artigo 31), quanto a LPI (artigos 68 a 74) autorizam a utilização
do licenciamento compulsório, sendo que o TRIPS utiliza a expressão “outro uso sem au-
torização do titular” dos direitos objeto da patente para se referir à licença compulsória.
Vários países já se utilizaram do licenciamento compulsório em face de patentes de medica-
mentos, seja para combater práticas anticompetitivas, seja como estratégia para a redução de
preços de medicamentos, como Canadá, Estados Unidos, Itália, Malásia, Moçambique e Tailândia.
A LPI brasileira autoriza a utilização do licenciamento compulsório no caso de insuficiên-
cia de exploração, exercício abusivo, abuso do poder econômico, dependência de patentes
e interesse público ou emergência nacional.
O Decreto 3.201, de 6 de outubro de 1999, com alterações pelo Decreto 4.830, de 4 de
setembro de 2003, regula a concessão do licenciamento compulsório previsto no art. 71
03
43 — RPCD 17 (S2.A)
da LPI, isto é, licença compulsória para atender à emergência nacional e interesse público.
Emergência nacional seria o iminente perigo, mesmo que apenas em parte do território
nacional. Já os fatos de interesse público seriam aqueles relacionados, por exemplo, à
saúde pública, à nutrição, à defesa do meio ambiente, e aqueles de importância vital para o
desenvolvimento tecnológico ou socioeconômico do país (art. 2.º do Decreto 3.201/1999).
O ato do Poder Executivo que declarar o interesse público ou a emergência nacional é de
competência do Ministro de Estado responsável pela matéria e causa (art. 3.º do Decreto
3.201/99). Antes de se conceder a licença, deve ser verificado se o titular da patente ou seu
licenciado estão impossibilitados de atender à situação. Se confirmada a impossibilidade,
será concedida de ofício, pelo Poder Público, a licença compulsória (art. 4.º).
O ato de concessão de licença compulsória deve conter certas condições, conforme o
art. 5.º do Decreto em estudo: prazo de vigência da licença e possibilidade de prorrogação,
além da remuneração do titular.
No tocante à exploração da patente licenciada, o Decreto 3.201, de 6 de outubro de 1999,
determina que ela pode ser explorada diretamente pela União ou por terceiros devidamente
contratados ou conveniados, sendo impedida, em todo caso, a reprodução do objeto da paten-
te para outros fins. O Decreto também dá a possibilidade de, no caso de não se conseguir re-
produzir o objeto da patente para atendimento a situações de emergência nacional ou interes-
se público, tanto por terceiro quanto pela União, se realizar a importação do produto (art. 10).
E, conforme o art. 12 do Decreto, sendo atendida a emergência nacional ou o interesse
público, a licença compulsória deve ser extinta pela autoridade competente, respeitados
os termos do acordo com o licenciado.
Assim, estudados os aspectos básicos, tanto do Direito à Saúde e da assistência farma-
cêutica, como do sistema de patentes, verifica-se a possibilidade de uma análise acerca do
suposto conflito instaurado entre o Direito à Saúde e o Direito de Propriedade, e da utiliza-
ção do licenciamento compulsório de patentes.
O DIREITO À SAÚDE VERSUS A PROTEÇÃO DADA ÀS PATENTES:
O LICENCIAMENTO COMPULSÓRIO DE MEDICAMENTOS
E O CASO DOS ANTIRRETROVIRAIS
O CONFLITO ENTRE O DIREITO À SAÚDE (ACESSO A MEDICAMENTOS)
E O DIREITO DE PROPRIEDADE (PROTEÇÃO DAS PATENTES)
No que tange, especificamente, à proteção dada às patentes de medicamentos, vê-se que
essa espécie de patente é de suma importância para a indústria farmacêutica, que utiliza
a inovação como principal estratégia para promover a competição e conquistar o mercado
(Chaves & Oliveira, 2007, p. 15).
Todavia, o sistema de patentes acaba por gerar um grande impasse: de um lado, ele be-
neficia a criação de novos inventos, desenvolvimento e incentiva o investimento de novos
recursos; no entanto, esse mesmo sistema, quando se trata especificamente de patentes
de medicamentos, cria problemas na área da saúde que, se sopesados com os ganhos so-
ciais advindos das patentes, acaba por se sobrepor a estes.
É que, sendo os medicamentos insumos necessários para um bom estado de saúde,
considerada aqui a noção de saúde como equilíbrio físico, mental e espiritual, conforme
propugnado pela OMS, não há que se falar em saúde do indivíduo e da sociedade sem o
acesso aos medicamentos.
Medicamentos salvam vidas e melhoram as condições de vida das populações. Quando utilizados adequadamente, são considerados como uma das estratégias terapêuticas de maior custo-efetividade, possibilitando que intervenções mais onerosas para o sistema de saúde sejam evitadas (OMS, 1993; Maclsaac et al, 1994; Pepe & Osório-de-Castro, 2000). Adicionalmente, eles promovem a credibilidade dos serviços e das ações de saúde (MSH, 1997) (Chaves & Oliveira, 2007, p. 20).
Ademais, o Direito à Vida, considerado como o Direito Fundamental mais importante (não
absoluto, já que os Direitos Fundamentais se caracterizam pela relatividade, não excluindo
uns aos outros) por se constituir como pressuposto de usufruto de todos os outros direitos,
agregado a um dos princípios fundamentais do ordenamento jurídico brasileiro, o da dig-
nidade da pessoa humana, gera a noção de que o Direito à Vida deve ser considerado não
apenas como o direito à existência, mas de se existir e usufruir de uma vida digna.
Ao mesmo tempo em que a patente confere ao seu titular uma espécie de recompensa
por todo o trabalho e gastos despendidos no processo de criação de seu invento, as paten-
tes também lhe conferem a prerrogativa de estabelecer ao seu produto o preço que bem
lhe aprouver. E, com relação aos medicamentos, preços altos e abusivos colocados por
detentores das patentes acabam por impedir o acesso aos medicamentos pela população,
seja porque limitam a compra por parte das pessoas naturais, particulares, seja porque
impedem que os Estados adquiram os remédios essenciais para implementar suas políti-
cas públicas de saúde, na medida em que impactam e superam as verbas orçamentárias
destinadas a esse campo.
No fundo, trata-se de um conflito envolvendo o Direito à Saúde e o Direito de Propriedade.
E, tratando-se de conflito envolvendo Direitos Fundamentais, os quais possuem natureza
principiológica, necessária se faz uma ponderação de valores, com a prevalência de algum
princípio concorrente, resolvendo-se tal impasse na dimensão do peso, pois os princípios,
ao contrário das regras, não excluem uns aos outros.
Razão porque,
03
45 — RPCD 17 (S2.A)
[. . .] o conflito entre princípios leva a solução distinta das regras. É que os princípios coe-xistem, e não se excluem como as regras. Assim, os princípios, por encerrarem mandados de otimização, permitem o balanceamento de valores e interesses, conforme seu peso e a ponderação de outros princípios eventualmente conflitantes.Os princípios não obedecem, portanto, à lógica do tudo ou nada. Destarte, se em determi-nado caso concreto, algo é permitido por um princípio mas negado por outro, um deles deve recuar, sem que se declare inválido o outro, resolvendo o conflito na dimensão do valor e não da validade.Desse modo, é possível, em um determinado caso, não se aplicar certo princípio, mas sim outro conflitante, o que não significa que o primeiro perdeu a validade, já que os princípios, mesmo quando em conflito, podem coexistir. Outro modo de solucionar conflitos entre princípios se dá pela ponderação de interesses, priorizando-se, em um determinado caso, um princípio em detrimento do outro (Carvalho, 2009, pp. 648-649).
Dessa forma, o conflito verificado aqui entre o Direito à Saúde da população e a proteção
da propriedade (das patentes) das indústrias farmacêuticas deve ser resolvido conside-
rando-se os valores relativos a cada caso e as implicações advindas. Deve-se buscar uma
solução que, sem excluir qualquer desses direitos, baseie-se em um juízo de ponderação.
As patentes, como todos os outros aspectos atinentes ao Direito de Propriedade, devem
respeitar o interesse social e a função social da propriedade. A própria CRFB/1988, ao tratar
dos Direitos de Propriedade Intelectual, determina que eles devem atender ao interesse so-
cial e ao desenvolvimento tecnológico e econômico do país (CRFB/1988, art. 5.º, inciso XIX).
A finalidade precípua da patente é conferir ao seu detentor direito de exclusividade sobre
sua exploração como forma de recompensá-lo e como forma de incentivar novas pesqui-
sas. Em troca, o dono da patente deve tornar públicas as descobertas referentes à sua
criação e cuidar para que seja produzida e comercializada.
No caso de patentes de medicamentos, quando os próprios medicamentos existentes
no mercado se mostram inacessíveis pelo consumidor pelos seus altos preços, seja para
sua aquisição, em caráter particular, seja para aquisição pelo Governo para repasse não
oneroso à população, mostra-se incongruente incentivar novas pesquisas e produção de
novos medicamentos se a grande maioria da população não tem acesso nem àqueles que
já se encontram no mercado.
Ademais, um dos pressupostos para que a patente atenda à sua função social é a possi-
bilidade de o produto ser utilizado por outrem. Um medicamento que não pode ser utilizado
pela maioria dos seus possíveis pacientes, não por questões próprias de fabricação ou uso,
mas por questões financeiras, não está atendendo ao fim para o qual foi criado, que deveria
ser o de se prestar ao tratamento dos indivíduos na luta contra determinada doença.
O que ocorre na prática é que as patentes farmacêuticas acabam sendo tratadas de
forma semelhante às outras patentes, com o objetivo de atender aos interesses eco-
nômicos do próprio mercado e de seu criador quando, na realidade, são uma forma de
patente que se difere de todas as outras por estar ligada, diretamente, tanto ao estado
de saúde do ser humano como ser individualmente considerado, quanto à saúde pública
de toda uma população.
Com efeito, partindo-se do pressuposto de que os medicamentos garantem o Direito à
Saúde dos indivíduos, e que este garante o próprio Direito à Vida, não se pode aceitar que
interesses de cunho econômico se sobreponham ao Direito à Vida.
Conforme aponta Sarlet (2004),
[. . .] Não nos esqueçamos de que a mesma Constituição que consagrou o direito à saúde estabeleceu – evidenciando, assim, o lugar de destaque outorgado ao direito à vida – uma vedação praticamente absoluta (salvo em caso de guerra regulamente declarada) no sentido da aplicação da pena de morte (art. 5.º, inc. XLVII, alínea a). Cumpre relem-brar, mais uma vez, que a denegação dos serviços essenciais de saúde acaba – como sói acontecer – por se equiparar à aplicação de uma pena de morte para alguém cujo único crime foi o de não ter condições de obter com seus próprios recursos o atendimento necessário, tudo isto, habitualmente sem qualquer processo e, na maioria das vezes, sem possibilidade de defesa, isto sem falar na virtual ausência de responsabilização dos algozes, abrigados pelo anonimato dos poderes públicos (p. 322).
O detentor da patente deve, sim, auferir lucros de seu invento, mas esse lucro deve ser
justo e os preços dos medicamentos não devem ser tão exorbitantes a ponto de restringir
demasiadamente a sua aquisição.
É lógico que numa colisão envolvendo Direitos Fundamentais toda solução que se dê
deve levar em consideração as peculiaridades de cada caso concreto. Mas, em específico
no caso das patentes de medicamentos, a melhor solução a que se chega é aquela que pri-
vilegia o Direito à Saúde e condiciona o Direito de Propriedade à correspondente efetivação.
Não se trata de uma exclusão do Direito de Propriedade, mas do seu condicionamento
ao atendimento de sua função social, no caso em tela, à concretização do Direito à Saúde,
pressuposto do Direito à Vida.
E, para concretização do Direito à Saúde no contexto da proteção patentária, o licencia-
mento compulsório se mostra como um dos instrumentos de maior efetividade. Nesse sen-
tido, a “[. . .] licença compulsória pode ser utilizada para permitir que terceiros produzam
o medicamento de forma a prover o mercado mais rapidamente ou torná-lo mais acessível
ao público.” (Mercer, 2006, p. 196).
O LICENCIAMENTO COMPULSÓRIO DOS MEDICAMENTOS ANTIRRETROVIRAIS NO BRASIL
A primeira ameaça de licenciamento compulsório no país se deu com o medicamento
antirretroviral denominado Nelfinavir, comercializado com o nome de Viracept, do labo-
ratório suíço Roche.
No ano de 2001, após negociações infrutíferas com o laboratório produtor do fármaco,
foi emitida a declaração de interesse público desse medicamento.
03
47 — RPCD 17 (S2.A)
Contudo, foi firmado um acordo com o detentor da patente, pelo qual o preço do medica-
mento foi reduzido em 40%, preservando os interesses da política estatal contra a AIDS e
fazendo o Governo brasileiro desistir do licenciamento 4.
Em 24 de junho de 2005, é expedida pelo Ministério da Saúde do Brasil a Portaria 985,
que declarou como de interesse público, baseando-se na sustentabilidade do programa
nacional antiaids, medicamentos originados da associação dos princípios ativos Lopinavir
e Ritonavir (Kaletra). O Governo concedeu o prazo de dez dias para que o Laboratório re-
duzisse o preço do medicamento, sob ameaça de licenciamento compulsório do remédio 5.
Mais uma vez as negociações findaram de forma favorável para o país, tendo por resul-
tado um acordo que reduzia 46% do valor pago pelo Brasil pelo medicamento 6.
O primeiro caso efetivo de licenciamento compulsório no Brasil ocorreu com o medica-
mento Efavirenz, medicamento importado mais utilizado no tratamento da AIDS e distri-
buído gratuitamente pelo SUS 7.
Em 2006 se iniciaram as negociações entre o Brasil e o laboratório Merck Sharp & Doh-
me, detentor da patente do Efavirenz. A insatisfação do Brasil podia ser visualizada no alto
preço embutido ao medicamento e no fato de o Laboratório vender o mesmo medicamento
por preço muito inferior a países com igual nível de desenvolvimento.
A Merck sugeriu a redução insuficiente de dois por cento no preço do medicamento.
Após a declaração de interesse público do medicamento, ocorrida em 25 de abril de 2007,
a empresa ofereceu redução de 30% no valor do Efavirenz 8.
No entanto, devido à inflexibilidade da detentora da patente do Efavirenz em atender ao
interesse público declarado, decidiu-se pela decretação da licença compulsória do medica-
mento, fundamentando-se no risco ao equilíbrio econômico e financeiro nacional da saúde.
Em sete de maio de 2007 a licença compulsória do Efavirenz foi decretada, por interesse
público e fins de uso público não comercial do Programa Nacional de DST/AIDS, pelo De-
creto 6.108, tendo sido estabelecido o prazo de cinco anos, prorrogáveis por igual período.
O Decreto estabeleceu, em seu art. 2.º, a remuneração ao detentor da patente do Efa-
virenz em 1,5% sobre o custo do medicamento produzido pelo Ministério da Saúde.
Em sete de abril de 2012, às vésperas do vencimento da licença compulsória do Efavi-
renz, o prazo do licenciamento deste fármaco foi estendido por mais cinco anos.
O Efavirenz começou a ser produzido no Brasil (apresentação de 600mg) em 2008, pelo
laboratório Farmanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz. A produção, desde 2011, supre
toda a demanda nacional do Efavirenz 600mg, sendo que cerca de 103 mil pessoas utili-
zam esse medicamento regularmente 9.
Hoje, as principais empresas de produção farmacêutica no Brasil são a Cristália, a La-
fefe, Nortec Química e Fiocruz/Farmanguinhos, sendo que, no tocante à produção de do-
ses prontas de medicamentos antirretrovirais, os laboratórios Cristália, Lafefe e Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz)/Farmanguinhos, dariam conta, por ora, de suprir as necessidades
do Brasil (Fortunak & Antunes, 2006, p. 7).
O LICENCIAMENTO COMPULSÓRIO DE MEDICAMENTOS
E A EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
Conforme explicitado, pode-se perceber como o licenciamento compulsório reflete de ma-
neira positiva na concretização de políticas públicas de saúde.
Vê-se que o licenciamento compulsório possui, em síntese, duas consequências básicas:
num primeiro momento, após a decretação do interesse público do medicamento, força
a realização de negociações, incentivando a diminuição dos preços dos produtos. Em um
segundo momento, que se verifica após a decretação do licenciamento em si, frustradas
as negociações, o medicamento passa a poder ser produzido pelo país, para subsistência
local, bem como a poder ser importado de outros países.
No caso do Brasil, em especial, as ameaças de licenciamento compulsório dos medica-
mentos Nelfinavir e Kaletra surtiram efeitos positivos, pois possibilitaram grande redução
no preço dos medicamentos.
Outro ponto importante é que o licenciamento, além de funcionar como um instrumento
de coibição de preços abusivos, já que força, ao menos, negociações para redução dos
preços, pode influenciar também nas estratégias de mercado de outras empresas. Como
exemplo, tem-se o licenciamento do medicamento Kaletra, na Tailândia, que foi suficiente
para fazer com que o laboratório Abbott reduzisse o preço do medicamento para países em
desenvolvimento como o Brasil.
Logo após a emissão da licença compulsória na Tailândia, no final de 2006 e início de 2007, a empresa estadunidense Abbott apresentou uma proposta voluntária de redução do preço da nova versão termoestável do medicamento Lopinavir/ritonavir para países em desenvolvi-mento, o que incluiu o Brasil. O custo do tratamento por paciente/ano da versão de cápsula--gel do lopinavir/ritonavir (comercializado pela marca Kaletra) no Brasil é de US$1.380,00. A oferta do Abbott para a nova versão foi de US$1.000,00 por paciente/ano. Para os países menos desenvolvidos, o preço é de US$500,00 por paciente/ano (Chaves, 2007, p. 7).
03
4 Disponível em: www.aids.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2013.5 Idem.6 Idem.7 Em 2007, segundo o Ministério da Saúde, o Efavirenz era consumido por 38% dos pacientes em
tratamento com antirretrovirais no país, ou seja, 70.000 pessoas.8 Informações retiradas do site: www.deolhonaspatentes.org.br. Acesso em: 15/07/2013, às 19h.
9 Dados retirados do site: http://www.canal.fiocruz.br/destaque/index.php?id=540. Acesso em:
28/08/2013, às 12h.
49 — RPCD 17 (S2.A)
Já o licenciamento do Efavirenz, medicamento antirretroviral mais utilizado pelos porta-
dores de AIDS no Brasil, possibilitou grande economia para os cofres públicos brasileiros.
Primeiro, porque permitiu a fabricação do genérico pelo laboratório brasileiro Farmangui-
nhos, ligado à Fiocruz. Como já apontado, a Farmanguinhos hoje consegue suprir toda a
demanda pelo Efavirenz no país, na forma do Efavirenz 600mg. Segundo, porque tornou
possível a importação de seu genérico, da Índia, a preço muito menor ao adotado pelo
Laboratório fabricante do medicamento de referência.
Com efeito, o licenciamento do Efavirenz não se mostrou prejudicial para o desenvol-
vimento tecnológico do país, na medida em que as empresas farmacêuticas continuaram
comercializando seus produtos com o Brasil e investindo em pesquisa e desenvolvimento
de fármacos para países de todo o mundo. Ao contrário, a licença do Efavirenz possibilitou
o aperfeiçoamento dos laboratórios nacionais, que agora já possuem capacidade para pro-
dução de outros genéricos, em especial o Laboratório Farmanguinhos.
Por fim, outro ponto muito discutido quando se trata de licenciamento compulsório é o
medo de que a utilização do licenciamento prejudique os investimentos em pesquisas e
congelem a produção de novos fármacos. A esse respeito, há a seguinte explicação:
[. . .] um estudo realizado pelos Estados Unidos buscou verificar se o licenciamento com-pulsório de seis patentes de medicamentos, cujas detentoras eram empresas nacionais, geraram uma diminuição do investimento em tecnologia por parte dessas empresas na área licenciada. [. . . .] Os resultados mostram o contrário, que as empresas continuaram a fazer pedidos de patentes após a emissão das referidas licenças em patamares se-melhantes aos anos anteriores. Uma empresa, inclusive, chamada “Marion Merrell Dow”, apresentou um aumento considerável do número de depósitos nos anos subseqüentes ao licenciamento (Chaves, 2007, p. 14).
Devido ao caráter de universalidade de SUS, que deve garantir a todos o acesso à assistên-
cia farmacêutica, além da grande onda de demandas judiciais pleiteando o fornecimento
de medicamentos, a licença compulsória pode se mostrar como uma grande aliada do Go-
verno brasileiro para garantia da saúde pública e cumprimento do mandamento constitu-
cional de prestação da saúde.
Desde que atendidos os requisitos para sua concessão, o licenciamento compulsório é
medida válida e que deve ser utilizada quando estiverem em jogo o Direito à Saúde da cole-
tividade e a continuação de políticas públicas de saúde. O licenciamento é medida prevista
pela LPI e também pelo Acordo TRIPS. Não é uma medida infringente da proteção inter-
nacional de patentes, vez que prevista no próprio Acordo que as protege. Tal medida só é
mal vista no cenário internacional porque vai contra o interesse dos grandes laboratórios
farmacêuticos transnacionais e de seus países sede.
Interessante citar, inclusive, que várias Resoluções das Assembleias Mundiais de Saúde
(encontros anuais de Ministros da Saúde dos países membros da OMC) apontam para a ne-
cessidade de proteção da saúde frente às patentes, e aconselham o uso do licenciamento
compulsório. Dentre elas, pode-se destacar a Resolução WHA 57.14, de 2004, que sugere que
os Estados, membros da OMS, adaptem suas legislações nacionais para uso efetivo das fle-
xibilidades do Acordo TRIPS e considerem o disposto na Declaração de Doha da OMC durante
as negociações e assinaturas de Tratados; e a Resolução WHA 56.30, de 2003, que aconselha
os países em desenvolvimento a utilizarem as flexibilidades do Acordo TRIPS quando se tra-
tar de medicamentos para HIV/AIDS (Chaves, 2007, pp. 36-37).
Assim, o licenciamento compulsório se mostra como instrumento de efetivação do Di-
reito à Saúde.
Em síntese, quando a proteção às patentes de medicamentos se mostrar prejudicial para
a instituição ou continuação de políticas públicas de saúde, o Direito de Propriedade deve
ceder para dar lugar ao Direito à Saúde. Nesse caso, há uma verdadeira eficácia horizontal
do Direito à Saúde, na medida em que os Laboratórios, comparados aqui ao poder público
em questão de força contratual, devem obedecer ao Direito à Saúde da população, garan-
tindo medicamentos com preços adequados e que possam se prestar ao fim para o qual
foram produzidos, qual seja, o de curar ou aliviar os males que afligem os indivíduos.
Meros interesses econômicos não podem se sobrepor ao Direito à Vida, já que este é
condição de fruição de todos os demais Direitos Fundamentais. Daí o seu caráter de pre-
ponderância quando em conflito com os outros Direitos Fundamentais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Direito à Saúde, como restou demonstrado, além de se configurar como Direito Humano
Fundamental e componente do tripé da Seguridade Social, tem uma ligação íntima com o
Direito à Vida, sendo elemento do conceito de vida digna.
Uma das facetas do Direito à Saúde é a assistência farmacêutica prestada pelo Estado que,
no caso dos antirretrovirais, é universal, abarcando todos os indivíduos que deles necessitam
e todos os medicamentos aptos a serem utilizados para tratamento da AIDS, conforme Lei
9.313/1996. No entanto, esses medicamentos fornecidos gratuitamente pelo Estado aos por-
tadores da AIDS são de custo extremamente elevado, devido, em parte, à proteção dada às pa-
tentes de medicamentos, o que vem colocando em risco a continuação dessa política pública.
O Brasil é um dos Estados signatários do Acordo TRIPS, que traça os padrões mínimos de
proteção das patentes. Segundo tal acordo, e também conforme dispõe a LPI brasileira, o de-
tentor da patente possui direito de exclusividade sobre seu invento pelo prazo de vinte anos.
Essa exclusividade se mostra como um dos fatores que eleva o preço dos medicamen-
tos, na medida em que confere ao detentor da patente a prerrogativa de colocar o preço
que bem o aprouver em seu produto.
03
51 — RPCD 17 (S2.A)
Todavia, tem-se que essa proteção se mostra importante para o desenvolvimento tecno-
lógico da indústria farmacêutica, gerando novos investimentos em pesquisa de desenvol-
vimento de novos fármacos.
Desse modo, instaura-se um conflito de natureza principiológica entre o Direito à Saúde (for-
necimento de medicamentos pelo Estado) e o Direito de Propriedade (proteção das patentes).
Por meio de uma análise entre os dois princípios, buscando-se uma solução pautada em
um juízo de valores que tente preservar ao máximo a essência dos dois Direitos Funda-
mentais, não se excluindo totalmente um ou outro, pode-se concluir que, na maior parte
dos casos, o Direito à Propriedade deve ceder para dar lugar ao Direito à Saúde, na medida
em que este se liga intimamente do Direito à Vida, condição de fruição de todos os demais
Direitos, e ao próprio Princípio da Dignidade Humana. E não se pode permitir, pois não se
mostra coerente, que interesses econômicos se sobreponham ao Direito à Vida.
A própria CRFB/1988 condiciona os direitos de propriedade e os direitos de propriedade
intelectual, incluídas aqui as patentes, ao atendimento da função social, com vistas a con-
tribuir para o desenvolvimento econômico e tecnológico do país.
E, um medicamento que não pode ser utilizado pelos seus possíveis usuários, por possuir
um preço elevado, não está atendendo ao fim para o qual foi criado e nem à sua função
social, que deveria ser o de atender aos indivíduos que sofrem de determinada doença.
As patentes farmacêuticas não podem receber o mesmo tratamento dado às patentes de
outros produtos, pois são peculiares na medida em que se ligam à saúde do ser individual-
mente considerado e à própria saúde pública de determinado Estado.
O detentor da patente tem o direito de auferir lucros com o seu invento. Mas, em se tra-
tando de patentes farmacêuticas, esse lucro deve ser justo e o preço aplicado ao medica-
mento não pode ser exorbitante a ponto de restringir de forma demasiada a sua aquisição,
pelo papel que ocupam os medicamentos no Direito à Saúde dos sujeitos.
Desse modo, a melhor solução a que se chega para o conflito apontado é aquela que
privilegia o Direito à Saúde e condiciona o Direito de Propriedade à sua efetivação.
E, analisando-se o instituto do licenciamento compulsório e a licença realizada pelo Bra-
sil, no caso do medicamento Efavirenz, verificou-se que a licença compulsória pode ser
considerada como instrumento de efetivação do Direito à Saúde na medida em que permite
a continuação de políticas públicas e limita as prerrogativas conferidas aos donos das pa-
tentes de medicamentos.
Também se deve ressaltar que a mera declaração de interesse público para o licencia-
mento compulsório já se mostra de grande valia para o fornecimento de medicamentos, na
medida em que força os Laboratórios a abrirem negociações dos preços de seus fármacos,
culminando com reduções benéficas para o orçamento estatal, como já ocorreu no Brasil,
com o Kaletra e com o Nelfinavir.
03Por fim, salienta-se que o licenciamento compulsório não só é medida legal, pois pre-
vista no Acordo TRIPS e na LPI, como aconselhada pela própria OMS, para ser usada na
defesa da saúde pública do país e da continuação de políticas públicas de fornecimento de
medicamentos, como forma de coibir abusos praticados pelos detentores das patentes.
Desse modo, vê-se que, quando a proteção das patentes farmacêuticas se mostrar pre-
judicial para políticas públicas de fornecimento de medicamentos, o Direito de Propriedade
deve ceder e se condicionar à efetivação do Direito à Saúde. E o licenciamento compul-
sório se mostra como meio adequado para essa efetivação, na medida em que controla
as prerrogativas conferidas aos Laboratórios farmacêuticos pela proteção das patentes,
garantindo a continuação e efetivação de políticas públicas de saúde, e um maior acesso
da população aos medicamentos postos no mercado.
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03
Percepção da saúde
e dor em idosos
em unidades de saúde
PALAVRAS CHAVE:
Qualidade de vida. Envelhecimento.
Limitação da mobilidade.
RESUMO
A auto percepção em saúde é uma variável utilizada devido à sua associação com mor-
talidade, morbidade e uso de serviço médico. O objetivo do estudo foi descrever o perfil
sociodemográfico, auto percepção de saúde e a intensidade da dor em idosos nas unidades
básicas de saúde. A amostra foi composta por 300 idosos usuários do Sistema Único de
Saúde de um município de médio porte na região centro oeste do Brasil e foram aplicados o
Questionário de Qualidade de Vida –SF-36 e o Inventário Breve de Dor (BPI). Foi analisada
a distribuição das variáveis categóricas e as possíveis associações com aplicação do teste
qui-quadrado. A intensidade da dor foi predominantemente ausente ou leve. A percepção
da saúde foi considerada como muito boa; em comparação com o ano anterior, os idosos
consideraram que estava quase a mesma. A presença da dor no dia da avaliação não inter-
feriu na percepção de saúde dos idosos. Entendemos, após o estudo, que para um envelhe-
cimento saudável faz-se necessária a interação entre saúde física e mental, independência
na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica; todos estes
itens devem estar intimamente ligados.
AUTORES:
Daisy de Araújo Vilela
Isadora Prado de Araújo Vilela
Jose Carlos Tatmatsu Rocha
Danielle I B Tatmatsu
Marina Prado de Araújo Vilela
Rafael Pedroza C Marques
04Perception of health and pain
in elderly health units
ABSTRACT
In health, self-perception is a variable analized due to its association with
mortality, morbidity and the use of medical services. The aim of the study
was to describe the sociodemographic profile, self perceived health and the
intensity of pain in elderly engaged in reference health units. The sample
consisted of 300 elderly users of the Unified Health System in Brazil who
filled out the Quality of Life Questionnaire – SF-36 and the Brief Pain In-
ventory (BPI). The distribution of the categorical variables and its possible
associations were analyzed with application of the chi-square test. Pain
intensity was predominantly absent or mild. The perception of health was
very good; in comparison with the year before, the elderly considered their
health was about the same. The presence of pain did not affect the per-
ceived health of the elderly. After the study, we believe that, for a healthy
aging, the interaction between physical and mental health, independence in
daily life, social integration, family support and economic independence are
necessary; all these items should be closely linked.
KEY-WORDS:
Quality of life. Aging. Mobility limitation.
Correspondência: Daisy de Araujo Vilela. Universidade Federal de Goiás Regional Jatai (UFG REJ).
55 — RPCD 17 (S2.A): 54-64
57 — RPCD 17 (S2.A)
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo multifatorial (Santos, Andrade, & Bueno, 2009). O aumen-
to do número de anos de vida precisa ser acompanhado pela melhoria ou manutenção da
saúde e qualidade de vida (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2009). O envelhecimento
acelerado produz necessidades e demandas sociais que requerem respostas políticas ade-
quadas do Estado e da sociedade (Kuchemann, 2012).
Para ter saúde, é necessário o equilíbrio entre a condição física, mental e social (Mazo,
2008). Ausência de doenças não é garantia de boa saúde, é preciso que o idoso associe com
uma boa condição física a sua percepção da mesma (Barros, Zanchetta, Moura, & Malta
2006). As pessoas que relatam a sua saúde como sendo pobre apresentam maior risco
de mortalidade em comparação com aquelas que relatam ter uma saúde excelente (Paim,
Travassos, Almeida, Bahia, & Macinko, 2011).
Com o avançar da idade, o aumento da prevalência de dor crônica e fragilidade (Maciel
& Araújo, 2014), tornaos idosos mais propensos a apresentar várias patologias crônicas
de saúde, como a fragilidade e declínio de funções (Celich & Galon, 2009). A dor é um dos
principais fatores que limitam o idoso a manter seu cotidiano de maneira normal, impac-
tando negativamente sua qualidade de vida, prejudicando, de algum modo, a realização das
atividades de vida diária, bem como restringindo a convivência social e comprometendo o
estado funcional, o que pode conduzir ao isolamento (Dellaroza et al., 2013).
No Brasil observa-se alta prevalência de dor crônica nos indivíduos acima de 60 anos,
principalmente as dores musculoesqueléticas (Gagliese & Melzack, 2013); 14% da dor crô-
nica está relacionada às articulações e ao sistema musculoesquelético (Cunha & Mayrink,
2011). Embora a dor não apareça como fator direto de dependência e morte, alguns es-
tudos comprovaram a interferência da dor em aspectos da vida e relacionaram-na com
limitações funcionais (Gagliese & Melzack, 2013).
A auto percepção em saúde é denominada como auto avaliação em saúde, avaliação
em saúde ou saúde percebida. É uma variável não utilizada na clínica, mas muito utili-
zada em trabalhos devido à sua forte associação com mortalidade, morbidade e uso de
serviço médico (Blazer, 2008). Mais recentemente, tem sido utilizada como importante in-
dicador de bem estar individual e coletivo (Dachs & Santos, 2006; Neri, 2008; OMS, 2007),
recomendado pela OMS (Marin-Leon, Oliveira, Barros, Dalgalarrondo, & Botega, 2007) para
verificar a saúde das populações, tendo-se tornado preditor de morbidade (Bernard et al.,
1997), incapacidade (Shirom, Toker, Berliner, Shapira, & Melamed, 2008), depressão (Dachs
& Santos, 2006), inatividade (Ilder & Benyamini, 1997) e mortalidade (Borim, Barros, & Neri,
2012; Sargent-Cox, Anstey, & Luszcz, 2010) especialmente entre idosos (Agostinho, Olivei-
ra, Pinto, Balardin, & Harzheim 2010). Baseia-se em critérios subjetivos e objetivos, sendo
influenciada por fatores como sexo, idade, classe social e presença de doenças crônicas
(Cheng, Fung, & Chan, 2007).
É essencial entender como a pessoa percebe sua saúde, pois o seu comportamento é
condicionado pela percepção e pela importância dada a esta (Theme-Filha, Szwarcwald,
& Souza Junior, 2008). Portadores de doenças crônicas não se percebem doentes, prin-
cipalmente por não apresentarem sintomas (Agostinho et al., 2010). Um estudo, que ava-
liou a percepção de saúde evidenciou que homens percebem menos sua saúde como ruim
quando comparado às mulheres, o que afeta a utilização dos serviços de saúde por esses
usuários (Caetano, 2012).
O objetivo do estudo foi descrever o perfil sociodemográfico, intensidade da dor e auto-
percepção de saúde de idosos em unidades de saúde de referência de uma cidade de médio
porte da região centro oeste do Brasil.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado no período
de setembro de 2013 a janeiro de 2014. O local do estudo foi em unidades de saúde em Jatai (GO).
AMOSTRA
A população alvo foi constituída por idosos que frequentaram as unidades de saúde de
referência para atendimento, no período da coleta de dados. Para inclusão na amostra
de conveniência, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: a idade igual ou
maior que 60 anos e menor ou igual a 75 anos. Os participantes foram abordados nas
unidades de saúde (US), onde buscavam participar de ações promovidas e para busca de
consultas médicas.
Para cálculo da amostra foi considerado que, no ano de 2012, segundo registros da Se-
cretaria Municipal de Saúde, o município tinha 1200 idosos registrados no Programa do
Idoso, em atendimento nas quatro Unidades de Saúde de referência.
Com um erro amostral de 5%, com nível de confiança de 95%, que resultou em uma
amostra de duzentos e noventa e dois idosos (n = 292), aos quais foram acrescentados 3%
para possíveis perdas, totalizando 300 idosos. Conseguiu-se recrutar com sucesso 300
idosos e não houve perdas e exclusões, considerando-se a amostra necessária atendida.
A pesquisa obteve parecer favorável do Comitê de Ética e Pesquisa – CEP da UFG (proto-
colo nº 376.875/ 2013). Todos os participantes da pesquisa que concordaram em partici-
par do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido
INSTRUMENTOS
Para viabilizar os objetivos propostos, utilizamos um questionário sociodemográfico, o In-
ventário Resumido de Dor (Brief Pain Inventory – BPI), e duas questões sobre percepção
da saúde do Questionário de Vida SF-36. O questionário sociodemográfico foi adaptado
04
59 — RPCD 17 (S2.A)
pela pesquisadora e era composto de várias perguntas, para este estudo utilizamos as
questões referentes ao nome, idade, sexo, escolaridade e arranjo social.
A escolha do Inventário Resumido de Dor (BPI), validado no Brasil, foi fundamentada nas
características e objetivos propostos pela escala, fácil de aplicar, exigindo um curto período
de tempo para responder e sendo fácil entendimento para os pacientes: pode ser auto ad-
ministrado para alfabetizados, analfabetos ou com pouca alfabetização, tornando-se rápido
e simples; constitui um método genérico prático de medição e avaliação da dor numa pers-
pectiva multidimensional; além da dor e gravidade, retrata a percepção da dor e sua interfe-
rência com a vida diária (Cleeland, 2009); e quantifica a intensidade da dor e a incapacidade,
associada nas atividades habituais (Gambaro, Santos, Thé, Castro, & Cendoroglo, 2009). Para
este estudo, consideramos apenas a intensidade da dor, um dos itens do instrumento.
Consideramos para avaliar a percepção de saúde, duas perguntas: 1) Em geral você diria
que sua saúde é (Dellaroza, Pimenta, Lebrão, & Duarte, 2008): onde as respostas foram li-
das e o(a) idoso(a) tinha cinco opções de resposta: “excelente”, “muito boa”, “boa”, “ruim”,”
muito ruim”; estudo semelhante ao de Alves e Rodrigues (2005). A segunda pergunta: 2)
Comparada há um ano atrás, como você se classificaria sua saúde em geral agora? onde as
respostas foram lidas e o(a) idoso(a) tinha cinco opções de resposta: “Muito melhor”, “um
pouco melhor”, “quase a mesma”, “um pouco pior”,” muito pior”; incluída neste estudo. Esta
segunda pergunta faz parte de um questionário de qualidade de vida (SF-36) e no referido
instrumento avalia a percepção da saúde. Na análise foi realizada a dicotomização na vari-
ável (questão 1) em Muito Boa (excelente e muito boa) e Boa (boa).
PROCEDIMENTOS
Abordamos os idosos nas unidades de saúde de referência para seu atendimento, antes
das atividades de promoção à saúde, e verificamos os critérios de elegibilidade e recruta-
mos os mesmos para participarem do estudo. A coleta foi realizada por uma equipe trei-
nada e com supervisão da pesquisadora responsável, sendo que o tempo necessário para
aplicação dos instrumentos variou de 30-45 minutos. O ambiente foi organizado de forma
a permitir a privacidade da entrevista, utilizando-se espaço mais reservado.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram registrados em planilha eletrônica (Excel-Microsof Office), para aplicação
posterior do programa SPSS versão 18.0, e analisados mediante procedimentos de estatís-
tica descritiva. As variáveis quantitativas foram apresentadas com os seus valores médios,
desvio padrão, mediana e intervalo de confiança. A comparação de médias foi feita utili-
zando os testes não paramétricos Kruskal Wallis, Mann Whitney-U, Exato de Fisher quando
aplicáveis. A análise de distribuição das variáveis categóricas e as possíveis associações
foram analisadas com aplicação do teste Qui-quadrado, consideramos p ≤ .05.
RESULTADOS
Encontramos 171 (57.0 %) idosos na US-1; 34 (11.3 %) na US-2; 83 (27.7 %) na US-3 e 12
(4%) na US-4, totalizando 300 idosos entrevistados. A média de idade dos homens foi mais
alta que a das mulheres, as mulheres 66.7 anos (± 5.45) e os homens 68.6 anos (±6.12),
sendo a diferença estatisticamente significativa (p* = .028) (QUADRO 1).
QUADRO 1. Média da idade, desvio padrão, mediana, intervalo de confiança, valor de p,
dos idosos Unidades de saúde de referência, Jataí (GO), Set 2013-Jan 2014.
IDADE MÉDIA DP MEDIANA IC P*
Homens 68.6 ±6.12 72.0 60 – 75 .028
Mulheres 66.7 ±5.45 66.0 59 – 75
Total 67.1 ±5.56 66.0 59 – 75
p* Teste de Mann-Whitney U
O nível de escolaridade predominante foi do ensino fundamental (completo e incom-
pleto), sendo que a proporção de mulheres com o nível de formação de segundo grau e
superior é maior que a dos homens. No arranjo social, há distribuição equitativa entre os
idosos com e sem companheiro, comparando-se homens e mulheres (QUADRO 2).
QUADRO 2. Distribuição dos idosos por faixa etária, escolaridade, ter companheiro, segundo sexo. Unidades de saúde de referência, Jataí (GO), Set 2013-Jan 2014.
VARIAVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS
SEXO
MASCULINO FEMININO
N % N % P*
Faixa etária (n = 300) .013
60 – 65 anos 21 36.8 104 42.8
65 – 70 anos 7 12.3 62 25.5
70 – 75 anos 29 50.9 77 31.7
Escolaridade (n = 296) ≤ .001
analfabeto 5 8.8 35 14.6
sabe ler e escrever 19 33.3 33 13.8
fundamental (primário + ginásio) 23 40.4 107 44.8
segundo grau - - 50 20.9
superior (e pós graduação) 10 17.5 14 5.9
Companheiro (n = 300) .768
sim 25 43.9 114 46.9
não 32 56.1 129 53.1
p* qui-quadrado
04
61 — RPCD 17 (S2.A)
Em relação a intensidade da dor, tivemos, em relação a última semana: intensidade da
pior dor, apresentou a mediana de 5.0, sendo a média significativamente maior na faixa
etária de 65-69 anos (p = .036) ; intensidade da dor moderada, verificou-se mediana de
dois e a média com distribuição semelhante entre os sexos e as faixas etárias (QUADRO 3).
QUADRO 3. Média, desvio padrão, mediana e intervalo de confiança da intensidade da maior dor referida pelos idosos na última semana, por sexo e faixa etária. Unidades de saúde de referência, Jataí (GO), Set 2013-Jan 2014
INTENSIDADE DA DOR PIOR DOR (0-10)
Sexo Média – DP Mediana (IC) p
feminino 4.8 ±3.8 5.0 (4.4 – 5.3) .676*
masculino 4.6 ±3.5 5.0 (3.7 – 5.5)
Faixa etária (anos)
60 – 64 4.6 ±3.7 5.0 (3.9 – 5.2) .036**
65 – 69 5.8 ±3.9 5.0 (4.9 – 6.7)
70 – 75 4.4 ±3.7 5.0 (3.7 – 5.1)
Total 4.8 ±3.7 5.0 (4.4 – 5.2)
p* Teste Mann-Whitney –U – p** Teste Kruskal-Wallis
Para a dor de menor intensidade, a mediana variou entre 2 e 3, sem diferença significati-
va entre os sexos e a faixa etária. No momento da entrevista, a intensidade da dor foi predo-
minantemente ausente ou leve, sem diferença significativa para os sexos e faixas etárias.
Na análise da percepção da saúde, a maior parte de homens e mulheres, independente da
faixa etária, consideraram a saúde como muito boa. Em comparação com há um ano, conside-
ram que a saúde está quase na mesma, destacando-se uma proporção expressiva de idosos
que percebem a saúde como melhor ou muito melhor em relação ao ano anterior (QUADRO 4).
QUADRO 4. Auto percepção de saúde atual dos idosos e comparada há um ano atrás. Unidades de saúde de referência, Jataí (GO), Set 2013-Jan 2014
SEXO
PERCEPÇÃO DE SAÚDE ACTUAL
Excelente Muito Boa Boa Ruim Muito Ruim TOTAL p*
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) N (%)
Masculino 4(7.0) 37(64.9) 16(28.0) 0(0.0) 0(0.0) 57(100.0) 0.482
Feminino 28(11.5) 160(66.0) 55(22.6) 0(0.0) 0(0.0) 243(100.0)
SEXO
PERCEPÇÃO DE SAÚDE COMPARADA HÁ UM ANO
Muito melhor
Um pouco melhor
Quase a mesma
Um pouco pior Muito pior
Masculino 10(17.5) 9 (15.7) 37(64.9) 1(1.7) 0(0.0) 57(100.0) 0.472
Feminino 25(10.2) 44(18.1) 171(70.3) 3(1.2) 0(0.0) 243(100.0)
p* qui quadrado
A presença da dor no dia da avaliação não interferiu na percepção de saúde dos ido-
sos atendidos nas unidades de saúde de referencia. E para as variáveis sexo e faixas
etárias os resultados apresentaram distribuição semelhante, de percepção de saúde
muito boa.
DISCUSSÃO
A predominância do sexo feminino assemelha-se a outros estudos que obtiveram número
maior de mulheres em relação aos homens (IBGE, 2010; Rodrigues & Neri, 2012). A média
de idade é semelhante ao estudo de Rocha (2013), sendo esse resultado justificado por
Santos, Andrade e Bueno (2009), quando dizem que existem idosos com idades entre 60
e 79 anos na própria população brasileira como um todo, ainda que, segundo dados do
Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), o grupo de idosos longevos
tem aumentando nos últimos anos. Na escolaridade, a prevalência do ensino fundamental
incompleto é explicada pelo fato de a escolaridade da época da infância desses idosos não
ser prioritária (Rodrigues & Neri, 2012).
Para Celich (2009), a dor em idosos se torna um problema de saúde pública, que necessita
de diagnóstico, mensuração e avaliação a fim de ser devidamente tratada pelos profissio-
nais, de forma a minimizar as morbidades e melhorar a qualidade de vida dos idosos. Para
isso, requer estratégia para avaliação precisa e tratamento adequado, mas os instrumentos
de avaliação e mensuração raramente são usados para monitorar essa realidade. Muito em-
bora todos os instrumentos apresentem limitações nas populações em que são avaliados e
refinados, torna-se imperativo o uso dos mesmos para o controle adequado da dor.
A dor crônica no envelhecimento, junto com as doenças crônicas e degenerativas, mui-
tas vezes está presente, sendo responsável pela limitação funcional nos idosos (Dellaroza
et al., 2013). Neste estudo, a severidade da maior dor foi leve (± 3,9) e não interferiu nas
atividades, com distribuição semelhante para os sexos e faixas etárias. Sabe-se que, para
um envelhecimento saudável, a interação entre saúde física e mental, independência na
vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica devem estar
intimamente ligados (Dias, Carvalho, & Araújo, 2013).
As diferenças de gênero e idade, na percepção da saúde, são importantes determinantes
do comportamento em relação à procura por atendimento de saúde, sendo que a percep-
ção de um estado de saúde ruim acarreta um maior uso dos serviços de saúde entre os
idosos (Borges & Seidl, 2012; IBGE, 2009). O resultado deste estudo é semelhante ao de
Hartmann (2008), onde a maior parte dos participantes relatou a sua saúde como boa ou
regular. Todavia, contraria outra pesquisa que encontrou nos idosos uma auto avaliação
negativa da percepção da saúde (Pagotto, Bachion, & Silveira, 2013).
04
CONCLUSÕES
O idoso, nas unidades de saúde de referência, teve o predomínio de mulheres na faixa
etária entre 60 a 64 anos, com formação escolar de ensino fundamental completo/ incom-
pleto (p* ≤ .001); as mulheres apresentaram escolaridade mais alta do que os homens,
caracterizada pelo ensino de segundo grau e superior. Na última semana, a dor ocorreu em
quase metade dos idosos (49.3% dos atendidos); a mediana da pior dor foi 5.0, sem diferen-
ça na média da intensidade entre os sexos. A intensidade da maior dor foi na faixa etária de
65 a 69 anos A dor de baixa intensidade interferiu pouco na vida dos idosos, independente
do sexo e faixas etárias.
Quanto à percepção da saúde, nos idosos que frequentaram as unidades de referência a
percepção de saúde muito boa, sem diferença para os sexos e faixas etárias. Comparada
há um ano, a saúde é percebida como quase a mesma, sem diferença entre os sexos e
faixas etárias.
Destacamos a importância da realização de novas pesquisas, e a fragilidade do estudo
transversal; nesta estrutura os dados são coletados em um único "momento", não existin-
do um período de acompanhamento dos idosos. Espera-se que seja subsídio para futuras
investigações, incentivando práticas profissionais votadas aos idosos e, possivelmente,
contribuindo para políticas sociais e educacionais do envelhecimento.
AGRADECIMENTOS
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Saúde Fac. de Medicina–UFG
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Avaliação do perfil
de nipo-brasileiros
através de análise
subjetiva e numérica
PALAVRAS CHAVE:
Ortodontia. Facial. Estética.
RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar uma população de Nipo-Brasileiros (Xantodermas)
nos conceitos subjetivos de estética facial em esteticamente agradável, aceitável e de-
sagradável e a sua percepção em diferentes grupos de avaliadores; adicionalmente, nos
Nipo-Brasileiros considerados agradáveis, objetivou-se realizar uma análise facial numéri-
ca do perfil. O presente trabalho avaliou uma amostra de indivíduos Nipo-Brasileiros com
equilíbrio musculo-facial, representado pelo selamento labial passivo, ausência de trata-
mento ortodôntico ou cirurgia facial prévia. A amostra foi constituída de 82 indivíduos (42
mulheres e 40 homens), avaliados por cinco grupos: ortodontistas leucodermas, ortodon-
tista Nipo-Brasileiros e cirurgiões buco-maxilo-faciais com relação à agradabilidade facial.
Para verificar a concordância entre os examinadores foi utilizado o coeficiente de concor-
dância de Kendall. Na comparação entre os grupos foi utilizado o teste do qui-quadrado e o
teste de proporções, com nível de significância de 5% (p < .05). A maioria dos indivíduos foi
considerado esteticamente aceitável. Nos indivíduos esteticamente desagradáveis, o nariz
e o queixo foram as estruturas que mais impactaram suas faces. Quando comparados com
os leucodermas, os nipo-brasileiros apresentam uma maior protrusão do lábio superior e
inferior. A convexidade facial foi menor nos nipo-brasileiros. O excesso do terço inferior em
relação ao terço médio da face foi maior nos brasileiros leucodermas.
AUTORES:
Alexandre Magno dos Santos 1
Andréa Damasceno Rocha 1
Hideo Suzuki 2
Aguinaldo Silva G Segundo 2
Maurício Almeida Cardoso 3
Isabella Simões Holz 4
Leopoldino Capelozza Filho 3
1 Área Ortodontia, U. Sagrado Coração,Bauru, S. Paulo (Brasil)
2 Dep. Ortodontia, C Pesquisa e Pós-Grad.,São Leopoldo Mandic, S. Paulo (Brasil)
3 Dep. Ortodontia, C Pesquisa e Pós-Grad.,U Sagrado Coração, Bauru, S. Paulo
4 Hospital Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, Universidade S. Paulo (Brasil)
05
Correspondência: Andréa Damasceno Rocha. Área de Ortodontia, Universidade do Sagrado Coração,
Bauru, São Paulo (Brasil). ([email protected])
65 — RPCD 17 (S2.A): 65-77
67 — RPCD 17 (S2.A)
Evaluation of the Japanese Brazilian profiles
through subjective and numerical analysis
ABSTRACT
This study aimed to evaluate a population of Japanese-Brazilians (Xantho-
derm) on the subjective concepts of facial aesthetic – aesthetically pleas-
ing, acceptable and unpleasant –, considering the perception of different
groups of evaluators; in Japanese-Brazilians which were considered pleas-
ant, a numerical facial analysis of this profile was performed. This study
evaluated a sample of Japanese-Brazilian individuals with balanced facial
muscle structure, represented by passive lip seal, and with no orthodontic
treatment or prior facial surgery. The sample consisted of 82 subjects (42
women and 40 men), evaluated by five groups: caucasians orthodontists,
Japanese-Brazilian orthodontists and oral and maxillofacial surgeons re-
garding facial attractiveness. To verify the agreement between examiners,
the Kendall coefficient was used. And for the comparison between groups,
the chi-square test and the proportions test with a significance level of 5%
(p < .05) were conducted. Most individuals were considered aesthetically
acceptable. In aesthetically displeasing individuals, the nose and chin were
the structures that most impacted their faces. When compared to Caucasian,
Japanese-Brazilians had a greater protrusion of the upper and lower lip. The
facial convexity was lower in Japanese-Brazilians. The excess of the lower
third of the average third of the face was higher in caucasian Brazilians.
KEY-WORDS:
Orthodontics. Facial. Aesthetics.
05INTRODUÇÃO
A análise facial tem sido um recurso diagnóstico valorizado desde os primórdios da orto-
dontia. Vários autores (Angle, 1907; Cox & Van der Linden, 1971; Wuerpel, 1937) tentaram
estabelecer padrões de normalidade na direção das quais os pacientes ortodônticos deve-
riam ser tratados. Essa preocupação da ortodontia está em concordância com a expectativa
do paciente, cuja principal motivação, na maioria dos casos, para o tratamento ortodôntico
é a melhora estética. O diagnóstico em ortodontia baseia-se na análise facial, oclusal, de
modelos e cefalométrica. A análise facial deve ser feita levando-se em conta a observação
da morfologia da face do paciente, assim podemos notar a existência ou não de assimetrias,
de selamento labial, compressão labial e discrepâncias entre as bases ósseas.
Capelozza Filho (2004) estabeleceu que o ortodontista deve estar atento aos conceitos
de beleza facial e às predileções vigentes, para que as ações técnicas no terço inferior da
face e no sorriso respeitem os critérios técnicos e as limitações que contribuem, dentro do
possível, para a satisfação do paciente. Para isso, este autor desenvolveu um sistema de
classificação baseado na morfologia facial. Os indivíduos podem ser classificados como
padrão I, II, III, face longa ou face curta. Nesta classificação, o padrão I é identificado
pela normalidade facial, a má oclusão quando presente é apenas dentária não associada a
qualquer discrepância esquelética sagital ou vertical. Os padrões II e III são caracteriza-
dos pela presença de degrau sagital respectivamente positivo e negativo entre a maxila e
a mandíbula. Nos padrões face longa e curta, a discrepância é vertical.
Segundo Reis et al. (2006a), a análise facial subjetiva permite o estudo da avaliação
estética realizada rotineiramente pela sociedade. Por meio dessa análise, classificamos os
indivíduos, de acordo com a agradabilidade estética, em esteticamente agradável (notas
de 7 a 9), esteticamente aceitável (notas de 4 a 6) e esteticamente desagradável (notas
de 1 a 3). A diversidade étnica e consequentemente a variedade de características faciais
é muito frequente na nossa especialidade, e a necessidade de estudar a individualidade
de cada grupo étnico se faz cada dia mais relevante. Esta análise foi considerada ainda
importante por Rehme et al. (2014) que realizaram uma revisão sistemática de artigos pu-
blicados entre 1960 e 2010 e reafirmaram sobre a importância da mesma no diagnóstico
ortodôntico, principalmente pelos fatores psicológico e social envolvidos.
Xantoderma é uma classificação que se refere originalmente apenas à cor da pele, sendo
esta amarela. Porém, em ortodontia, os xantodermas são indivíduos oriundos de países do
leste da Ásia, principalmente Japão, China e Coréia (Santos et al., 2010).
O objetivo deste trabalho foi avaliar indivíduos nipo-brasileiros segundo a agradabilidade
facial e, nos nipo-brasileiros considerados agradáveis, realizar uma análise facial numéri-
ca do perfil.
69 — RPCD 17 (S2.A)
mandibular maior, largura e comprimento do nariz maior em relação aos caucasianos. Uma
última comparação se encontrou na vista frontal, no sentido latero-lateral, onde os Japo-
neses apresentaram uma maior largura da face.
Scavone Júnior et al. (2006) analisaram fotografias de Nipo-Brasileiros com oclusão
normal e faces equilibradas com o objetivo de estabelecer normas para análise de perfil
de Nipo-Brasileiros e compará-los com os leucodermas americanos. Foi constatado que
os Nipo-Brasileiros apresentam a glabela posicionada mais anteriormente, menor proje-
ção nasal e lábios mais protruídos e ângulo naso labial mais obtuso (isso pode ser devido
a uma base do nariz mais superiormente inclinada). Os valores normativos obtidos para
Nipo-Brasileiros não devem ser estritamente interpretados como regras ou objetivos do
tratamento, mas, sim, como guias ou bases para comparação. Considerando, além de va-
lores normativos para étnica, as opiniões dos pacientes Japoneses e suas percepções de
beleza para estabelecer planos de tratamento individualizados.
Bronfman et al. (2014) compararam cefalometrias de jovens leucodermas (40 indivídu-
os), xantodermas (31 indivíduos) e Nipo-Brasileiros (32 indivíduos) com oclusão normal
e bom perfil facial. Com relação aos incisivos superiores e inferiores foi constatado que
esses se apresentaram mais protruídos e inclinidados na amostra xantoderma e de Nipo-
-Brasileiros (em menor grau) quando comparadas aos leucodermas. Também observou-se
através da análise da profundidade facial (PoOr.NPog), que indivíduos xantodermas pos-
suem o mento mais retruído que os leucodermas e estes mais retruídos que os mestiços.
Ao que compete as relações estéticas, foi verificado que o lábio inferior do grupo xantoder-
ma e de nipo-brasileiros estava mais protruído que o do grupo de leucodermas.
MATERIAIS E MÉTODO
Caracteriza-se como um estudo transversal com abordagem quali-quantitativa. Esta pes-
quisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Pesquisas Odontológi-
cas São Leopoldo Mandic sob o número 838.545 em 29/09/2014.
Todos os participantes da amostra assinaram o Termo de Consentimento Livre e Es-
clarecido que explicou os objetivos e procedimentos a serem utilizados na pesquisa bem
como autorização das imagens em trabalhos científicos.
AMOSTRA
A amostra foi constituída por 82 indivíduos Nipo-Brasileiros (xantodermas), 40 homens e 42
mulheres obtida através de fotografias realizadas nas cidades de Maringá-PR e São Paulo-
-SP. Os indivíduos participantes da amostra apresentavam idade variando entre 18 e 35 anos.
05ANÁLISE FACIAL SUBJETIVA E NUMÉRICA
Wuerpel (1937), estudando o equilíbrio e a harmonia facial, enfatizou a importância de uma
abordagem individualizada em relação aos aspectos faciais do paciente. Portanto, a face
humana deve ser estudada com muito critério sob todos os ângulos, e o ortodontista deve
fazer o possível para em primeiro lugar, favorecer o aspecto facial do paciente, em segundo,
preserva-lhes as características étnicas e, por último, obter sua satisfação profissional.
A análise do perfil tegumentar em telerradiografias laterais onde o tecido mole é medi-
do diretamente na telerradiografia foi proposta por Burstone (1958). A amostra tinha 40
adultos jovens, com faces agradáveis, selecionados por três artistas do Instituto Herron
de Artes, em Indianápolis (EUA). O autor observou que as faces agradáveis possuíam me-
didas que variavam em um desvio padrão. No entanto, se todas as medidas tivessem uma
variação uniforme, o perfil facial ainda seria harmonioso.
No ano de 1996, Suguino et al., por meio de revisão de literatura, determinaram alguns
parâmetros para análise facial. Esses devem ser avaliados na posição natural da cabeça,
na qual o indivíduo é instruído a se sentar em posição ereta, olhando para frente, na linha
do horizonte. Na vista frontal a face deve ser examinada para avaliação da simetria direita
e esquerda, traçando-se uma linha vertical verdadeira (plano sagital mediano), dividindo-
-se a face em duas partes semelhantes. Também na vista frontal são avaliados a pro-
porção dos terços faciais, a largura nasal, a posição dos lábios, o comprimento e grau de
exposição dos incisivos. Na visão de perfil são avaliados a convexidade facial, espessura do
lábio superior e do lábio inferior, ângulo nasolabial, projeção nasal, linha queixo pescoço,
sulco mento-labial e a posição do mento.
CARACTERÍSTICAS FACIAIS E CEFALOMÉTRICAS DE XANTODERMAS
Engel e Spolter (1981) realizaram um estudo longitudinal com o intuito de obter valores
de normalidade para os indivíduos Japoneses. A amostra foi constituída por 72 indivíduos
japoneses, com idade entre 6 a 18 anos, não apresentando tratamento ortodôntico an-
terior e os indivíduos da amostra não tiveram nenhum critério de seleção relacionado à
presença de oclusão normal, porém, nenhum indivíduo apresentava maloclusões severas.
Os valores de 50 medidas foram obtidos nos 72 indivíduos da amostra, sendo mensuradas
aos 8, 12 e 16 anos, com o intuito de observar o crescimento, desenvolvimento e valores
de normalidade dependendo da idade. Os valores foram obtidos e analisados, obtendo os
valores de normalidade para cada medida pesquisada dos indivíduos Japoneses. Desta
forma, puderam comparar com os valores de normalidade em caucasianos e foram obser-
vadas algumas diferenças entre as raças. Uma das descobertas mais marcantes foi que os
japoneses apresentaram uma maior protrusão dentária em comparação aos caucasianos.
Os resultados também comprovaram um maior padrão de crescimento vertical presen-
te nos Japoneses. Os Japoneses apresentaram comprimento facial maior, comprimento
71 — RPCD 17 (S2.A)
Os critérios de inclusão utilizados foram: homens e mulheres com idade entre 18 e 35
anos, Nipo-Brasileiros, com presença de um adequado equilíbrio muscular facial (repre-
sentado pelo selamento labial passivo, ausência de tratamento ortodôntico ou cirurgia fa-
cial prévia) e pretensamente padrão I.
INSTRUMENTOS
Para a obtenção das fotografias da face dos participantes desta pesquisa foram neces-
sários uma máquina Nikon Coolpix D80 (Nikon, Tokyo, Japão), lente 18-105 mm (Nikon,
Tokyo, Japão), cadeira fixa, e tripé (Líder, Belo Horizonte, Brasil).
PROCEDIMENTOS
Foram tiradas fotografias da face em norma lateral. Na padronização das mesmas foi utili-
zada uma cadeira fixa para o posicionamento do paciente. A câmera fotográfica foi apoiada
em um tripé com regulagem de altura e inclinação a 1.8 m de distância. A variação de altu-
ra de um indivíduo ao outro causado pelo uso da cadeira fixa foi ajustado com a regulagem
do tripé, mantendo sempre o plano bipupilar paralelo ao solo. A altura sofreu um ajuste
que variou de 1.1 a 1.5 m.
Imagens de perfil facial direito foram obtidas para cada indivíduo, posicionado lateralmen-
te olhando para o espelho a sua frente, sentado em uma cadeira, orientado a permanecer
na PNC (posição natural da cabeça), com os dentes em oclusão e com os lábios relaxados.
FIGURA 1. Pacientes posicionados em PNC.
MÉTODO DE CLASSIFICAÇÃO DAS IMAGENS PELA ANÁLISE SUBJETIVA DA FACE
A classificação das fotos seguiu o padrão descrito por Reis et al. (2006a). A amostra foi avalia-
da por um total de 35 examinadores que foram separados em cinco grupos: OL– ortodontistas
leucodermas, OX– ortodontistas xantodermas, LL– leigos leucodermas, LX– leigos xantoder-
mas e CBM– cirurgiões buco-maxilo-facial (leucodermas, 1 Nipo-Brasileiro).
Foi solicitado, aos avaliadores que, após avaliarem as fotos por 30 segundos, atribuíssem no-
tas de 1 a 9 ao perfil de acordo com os seguintes critérios: (a) notas 7, 8, 9: esteticamente agra-
dável; (b) notas 4, 5, 6: esteticamente aceitável; e (c) notas 1, 2, 3: esteticamente desagradável.
Nas fotografias com notas de 1 a 3, deveriam mencionar o fator que os desagradava no perfil.
ANÁLISE FACIAL NUMÉRICA DO PERFIL
Nos indivíduos classificados como esteticamente agradáveis foram feitas demarcação de
pontos tegumentares e realizada uma análise facial numérica do perfil, utilizando as seguin-
tes grandezas: (a) ângulo nasolabial (Cm.Sn.Ls) – ângulo formado pela base do nariz e pelo
lábio superior; (b) ângulo do sulco mentolabial (Li.Lm.Pg’) – ângulo formado entre o lábio
inferior e a projeção anterior do mento; (c) ângulo interlabial (Sn.Ls.Li.Lm) – ângulo formado
entre os lábios superior e inferior e que determina o grau de protrusão labial; (d) ângulo de
convexidade facial total (G.Pr.Pg’) – ângulo formado pela intersecção das linhas glabela-
-ponta do nariz e ponta do nariz-pogônio tecido mole; (e) ângulo do terço inferior da face (Sn.
Gn’.C) – ângulo formado entre as linhas subnasal-gnátio mole e gnátio-tecido mole cervical;
(f) ângulo da convexidade facial (G.Sn.Pg’) – suplemento do ângulo formado pela intersec-
ção das linhas glabela-subnasal e subnasal-pogônio tecido mole; (g) proporção entre a al-
tura facial anterior média e a altura facial anterior inferior (AFAM/AFAI) – proporção entre as
distâncias glabela-subnasal e subnasal-mentoniano mole, projetadas na linha vertical ver-
dadeira; e (h) proporção do terço inferior da face – proporção entre as distâncias subnasal-
-estômio e estômio– mentoniano mole projetadas na linha vertical verdadeira.
FIGURA 2. Análise Facial Numérica do Perfil
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram descritos por meio de tabelas e gráficos utilizando-se de frequência absoluta
(n) e relativa (%).
Para verificar a concordância dentro de cada categoria de examinador foi utilizado o coeficien-
te de concordância de Kendall.
Para comparação entre as cinco categorias de examinadores quanto à classificação em cada
grau de agradabilidade foi utilizado o teste do qui-quadrado e o teste de proporções.
No que diz respeito a comparação entre análise facial numérica dos leucodermas e xantoder-
mas foi utilizado o teste t de Student para cada variável. Em todos os testes foi adotado nível de
significância de 5% (p < .05).
Todos os procedimentos estatísticos foram executados no programa Statistic versão 12
(StatSoft Inc., Tulsa, EUA).
05
73 — RPCD 17 (S2.A)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A face humana deve ser estudada com muito critério sob todos os ângulos, e o ortodontista
deve fazer o possível para favorecer o aspecto facial do paciente, preserva-lhes as ca-
racterísticas étnicas e obter sua satisfação profissional (Bronfman et al., 2014; Capelozza
Filho, 2004; Denize et al., 2014; Reche et al., 2002; Wuerpel, 1937).
O quadro 1 mostra que houve concordância na percepção dos ortodontistas leucoder-
mas (OL), ortodontistas xantodermas (OX), leigos leucodermas (LL), leigos xantodermas
(LX) e cirurgiões-buco-maxilo-faciais (CBM).
QUADRO 1. Coeficiente de concordância de Kendall (W) entre os examinadores dentro de cada categoria (Concordância inter-examinadores).
CATEGORIA W P
OL 0.29 p < .001*
OX 0.26 p < .001*
LL 0.22 p < .001*
LX 0.13 p < .001*
CBM 0.26 p < .001*
No presente trabalho, dos 82 indivíduos da pesquisa, 65% foram classificados como es-
teticamente aceitáveis, 21% como esteticamente desagradáveis e 14% como esteticamen-
te agradáveis, considerando todos os avaliadores, já na avaliação dos leigos xantodermas,
86.6% dos indivíduos foram considerados esteticamente aceitáveis, 8% desagradáveis e
5.4% agradáveis, estes resultados obtidos são semelhantes aos resultados obtidos no tra-
balho feito por Reis et al. (2006a), onde 89% dos indivíduos leucodermas foram considera-
dos esteticamente aceitáveis, 8% desagradáveis e 3% agradáveis.
GRÁFICO 1. Classificação total da amostra por todos os avaliadores
Os cirurgiões buco-maxilo-faciais foram os mais rigorosos na avaliação, quando com-
parados aos outros avaliadores, 32.3% dos pacientes foram considerados desagradáveis.
Este resultado já era esperado, pois os cirurgiões avaliam os pacientes pela perspectiva
de resultado que sua especialidade pode oferecer, possibilitando através da cirurgia or-
tognática que o paciente mude de padrão facial. Isto foi confirmado pelos ortodontistas
xantodermas, que são influenciados também pela possibilidade de tratamento e foi a se-
gunda categoria a encontrar mais pacientes desagradáveis, 29.5% dos indivíduos (QUADRO
2). Nos trabalhos de Almeida et al. (2013) e Ferrari Junior et al. (2015), os cirurgiões en-
volvidos com o tratamento de fissurados foram os menos rigorosos, seguidos dos leigos
e dos cirurgiões sem experiência em tratamento de fissurados. Neste trabalho, os leigos
xantodermas foram os menos rigorosos na avaliação, sendo que 8.0% dos pacientes foram
considerados desagradáveis.
QUADRO 2. Comparação entre as classificações de cada categoria de examinador
CATEGORIA DESAGRADÁVEL ACEITÁVEL AGRADÁVEL
OL 13.3% a 69.7% a 17% ac
OX 29.5% b 48.5% b 22% a
LL 21.3% c 62.9% c 15.8% ac
LX 8% d 86.6% d 5.4% b
CBM 32.3% b 55.5% bc 12.2% c
p < .001* < .001* < .001*
É importante salientar que, neste trabalho, a face esteticamente agradável foi restrita a
poucos indivíduos da amostra – 14%. Este resultado também foi obtido no trabalho feito
com leucodermas por Reis et al. (2006a), onde indivíduos esteticamente agradáveis foram
a minoria, 3% da amostra. Somente indivíduos do gênero feminino foram considerados
esteticamente agradáveis, concordando com o trabalho de Reis et al. (2006a).
FIGURA 3. Pacientes considerados agradáveis pela maioria dos avaliadores.
05
75 — RPCD 17 (S2.A)
A pesquisa procurou identificar as estruturas faciais associadas à aparência estética de-
sagradável estimulando os avaliadores a justificarem quando o indivíduo era classificado
como desagradável. O queixo e o nariz foram a estruturas que mais contribuíram para que
os indivíduos fossem considerados desagradáveis, concordando com os resultados obtidos
com o estudo realizado em leucodermas por Reis et al. (2006a).
Nos indivíduos classificados como esteticamente desagradáveis, o tratamento deve ter
como objetivo oferecer a estes a possibilidade de um incremento estético na pirâmide de
agradabilidade, sendo muitas das vezes indicada cirurgia ortognática (Capelozza Filho,
2004; Reis et al., 2006a).
Os pacientes esteticamente aceitáveis são a maioria e o plano de tratamento dos mes-
mos devem ser feitos com a premissa de melhora da estética.
Para o ângulo nasolabial o valor médio obtido por Reis et al. (2006) foi de 108.13°, valor
semelhante ao valor encontrado neste trabalho, que foi de 107.33° (QUADRO 3). Este valor
sugere uma maior protrusão labial superior, quando comparado ao padrão de normalidade
Norte-Americano, que é de 112°, resultado também encontrado nos trabalhos de Miyaijima
e Tizuka (1996) e Shindoi et al. (2013).
Para o ângulo do sulco mentolabial o valor médio obtido por Reis et al. (2006b) foi de
132.37°; no presente trabalho, o valor médio obtido foi de 133.67°. Este valor foi significa-
tivamente maior que os 124° sugeridos como padrão para leucodermas, indicando uma
menor projeção do lábio inferior ou do mento para xantodermas portadores de equilíbrio
facial (QUADRO 3).
QUADRO 3. Valores obtidos da análise facial numérica do perfil de xantodermas. Média dos valores de xantodermas.
ÂN
GU
LO
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SO-L
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DA
FA
CE
Indivíduo 1 106° 143° 126° 7° 149° 102° 1.06 0.51
Indivíduo 42 111° 128° 124° 6° 153° 96° 1.12 0.48
Indivíduo 55 105° 130° 104° 8° 151° 102° 1.25 0.42
Média dos Xantodermas
107.33° 133.67° 118° 7° 151° 100° 1.14 0.47
DP dos Xantodermas
3.21 8.14 12.17 1.00 2.00 3.46 0.10 0.05
Para o ângulo interlabial, o valor médio obtido por Reis et al. (2006b) foi de 135.35° enquanto
no nosso trabalho o valor médio foi de 118°. Este valor sugere uma maior protrusão dos lábios
superior e inferior dos xantodermas em relação aos leucodermas padrão I, resultado também
encontrado nos trabalhos de Okuyama e Martins (1997) e Miyajima e Tizuka (1996).
O ângulo da convexidade facial apresentou média de 12.32° no trabalho feito por Reis et
al. (2006b). Neste trabalho, o valor médio obtido foi de 7°, indicando uma menor convexida-
de do perfil dos xantodermas quando comparados aos leucodermas padrão I.
Para o ângulo de convexidade facial total, o valor médio obtido por Reis et al. (2006b) foi
de 137.85°. Neste trabalho, o valor médio obtido foi de 151°, confirmando a menor convexi-
dade dos indivíduos xantodermas.
O ângulo do terço inferior da face permite avaliar a protrusão do mento em relação ao
terço médio da face. Para este ângulo, o valor médio obtido por Reis et al. (2006b) foi de
103.41°; no presente trabalho, o valor médio obtido foi de 100°, sugerindo uma maior pro-
trusão do mento nos indivíduos xantodermas.
A proporção AFAM/AFAI permite comparar as alturas dos terços médio e inferior da face
(QUADRO 3). É consenso na literatura ortodôntica que a harmonia e o equilíbrio do perfil
facial estão associados a um comprimento semelhante desses terços, resultando em um
valor de 1 ± 0.08 para essa proporção. Neste trabalho, o valor médio obtido foi de 1.14,
demonstrando um equilíbrio do perfil facial. Já o valor obtido por Reis et al. (2006b) foi de
0.93, denotando uma tendência dos Brasileiros leucodermas apresentarem um excesso do
terço inferior em relação ao terço médio da face.
A proporção do terço inferior da face avalia o comprimento do lábio superior em relação
aos comprimentos somados do lábio inferior e do mento, sendo que o padrão de normali-
dade descrito na literatura é 0.5. A proporção do terço inferior da face foi 0.47, valor seme-
lhante ao encontrado por Reis et al. (2006b) em leucodermas Brasileiros, que foi de 0.45.
A análise facial subjetiva como rotina na atividade clínica que a classificação estética
do paciente é mais um instrumento diagnóstico, que tem sua importância aumentada por
ser o parâmetro pelo qual o paciente e as pessoas com as quais ele convive vão avaliar
os resultados do tratamento. Portanto, a análise do tecido mole facial deve ser elemento
fundamental para o diagnóstico ortodôntico bem sucedido. O ideal seria adequar uma pro-
posta de exame facial à cefalometria convencional, o que viria enriquecer a qualidade do
diagnóstico e facilitar o plano de tratamento (Almeida et al., 2013; Ferrari Junior et al., 2015;
Morihisa & Maltagliati., 2009; Reche et al., 2002; Reis et al., 2006b).
O presente trabalho trará auxílio para futuros planejamentos e tratamentos ortodônti-
cos no que se refere a padrão facial e racial xantoderma. Irá criar uma amostra fidedigna
de pacientes xantodermas padrão I para futuras pesquisas, estabelecendo características
faciais e morfológicas de um grupo étnico que vem crescendo no Brasil.
05
CONCLUSÕES
A partir dos resultados deste estudo pôde-se concluir que a maioria dos avaliadores consi-
derou os indivíduos aceitáveis, sendo que a avaliação dos leigos xantodermas encontrou a
maior porcentagem de indivíduos esteticamente aceitáveis.
Nos pacientes esteticamente desagradáveis, o nariz, lábio e o queixo foram as estruturas
que mais impactaram as notas.
Foi possível observar que a análise facial subjetiva é mais um instrumento auxiliar no
diagnóstico. Este método valoriza o parâmetro pelo qual o paciente e as pessoas com as
quais ele convive vão avaliar sua face pré e pós-tratamento.
Os valores médios dos indivíduos Nipo-Brasileiros (xantodermas) agradáveis foram: ângu-
lo naso-labial de 107.33º, ângulo mento labial de 133.67º, ângulo interlabial de 118º, ângulo
da convexidade facial de 7º, ângulo da convexidade total de 151º, ângulo do terço inferior da
face de 100º, proporção AFAM/ AFAI de 1.14 e proporção do terço inferior da face de 0.47.
Quando comparados aos indivíduos leucodermas Brasileiros, os indivíduos xantodermas
apresentaram ângulo nasolabial e mentolabial semelhantes, maior protrusão labial, e me-
nor convexidade facial. O excesso do terço inferior em relação ao terço médio da face foi
maior nos brasileiros leucodermas e a proporção do terço inferior da face foi semelhante.
05REFERÊNCIAS
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79 — RPCD 17 (S2.A)
Alterações na função
da musculatura escapular
em indivíduos com diagnóstico
de Síndrome do Impacto
PALAVRAS CHAVE:
Lesões. Articulação do ombro.
Reabilitação. Síndrome do impacto.
Musculatura escapular.
RESUMO
A síndrome do impacto é uma alteração dinâmica do complexo do ombro. Alterações mus-
culares, como fraqueza dos músculos serrátil anterior e músculo trapézio inferior e au-
mento da resistência ao alongamento do músculo peitoral menor, têm sido relacionadas a
essa patologia. O objetivo deste estudo foi comparar o desempenho capturado por testes
clínicos de alguns músculos da cintura escapular entre indivíduos com e sem síndrome
do impacto. Foram comparados dois grupos, um grupo com síndrome do impacto (n = 8) e
outro sem histórias de desordens no ombro (n = 8), pareados por sexo e faixa etária. Os pa-
râmetros relacionados ao comportamento muscular foram avaliados utilizando um dina-
mômetro manual. Análises de variância foram utilizadas para a análise dos dados. O grupo
com síndrome do impacto gerou, nos testes realizados, significativamente menor força no
músculo serrátil anterior, menor momento no músculo trapézio inferior e menor resistên-
cia ao alongamento no músculo peitoral menor. Os resultados apontam para a importância
de se trabalhar a musculatura escapular, principalmente os músculos serrátil anterior e
trapézio inferior nos programas de reabilitação e prevenção da síndrome do impacto.
AUTORES:
Giovanna Mendes Amaral
Silvia Murta Peixoto
Hellen Veloso Rocha Marinho
Marco Túlio S dos Anjos
Sérgio Teixeira Fonseca
Function alterations of scapular
muscles in individuals diagnosed
with Impingement Syndrome
ABSTRACT
The impingement syndrome is a dynamic impairment of the shoulder girdle.
Muscles dysfunctions like decreased force in the muscle anterior serratus,
as well as decreased lower trapezius moment and increased stretching re-
sistance in the pectorallis minus muscle have been related to the impinge-
ment syndrome. The aim of the present study was to compare force and mo-
ment generated during clinical tests for some scapular muscles in subjects
with and without impingement syndrome. Two groups were compared, one
group with diagnosis of impingement syndrome (n = 8) and another without
shoulder pain history (n = 8). The two groups were pared by sex and age.
A hand-held dynamometer was used to assess the muscles parameters.
Analyses of variance were used for group comparisons. The impingement
syndrome group presented significantly lower serratus anterior force val-
ues, lower inferior trapezius moment values and lower pectorallis minus
stretching resistance values. The results point to the importance of assess-
ing and strengthening scapular muscles during prevention and rehabilita-
tion programs for individuals with impingement syndrome
KEY-WORDS:
Injuries. Shoulder joint. Rehabilitation.
Impingement syndrome. Scapular muscles.
06
Correspondência: Giovanna Mendes Amaral. ([email protected])
79 — RPCD 17 (S2.A): 78-91
81 — RPCD 17 (S2.A)
INTRODUÇÃO
A síndrome do impacto subacromial, apontada como a afecção mais comum da articula-
ção do ombro (Lukasiewicz, McClure, Michener, Pratt, & Sennett, 1999; Michener, McClure &
Karduna, 2003; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999), é o resultado da compressão mecânica do
manguito rotador e da bursa subacromial contra a superfície ântero-inferior do acrômio e
ligamento coracoacromial, especialmente durante a elevação do braço (abdução ou flexão)
(Corso, 1995; Hébert, Moffet, McFadyen, & Dionne, 2002; Ludewig & Cook, 2000; Lukasiewicz
et al, 1999; Michener, McClure & Karduna, 2003; Prescher, 2000). Essa afecção tem sido rela-
cionada a uma diminuição da inclinação posterior e da rotação superior da escápula duran-
te movimentos que envolvem elevação do braço (Graichen et al., 2001; Hébert et al., 2002;
Ludewig & Cook, 2000; Lukasiewicz et al., 1999; Michener et al., 2003; Paine & Voight, 1993).
Para que estes movimentos (inclinação posterior e rotação superior) ocorram, é necessário
que os músculos trapézio e serrátil anterior atuem sinergicamente (Inman, Saunders & Ab-
bott, 1944; Corso, 1995; Culham & Peat, 1993; Ludewig & Cook, 2000; Magarey & Jones, 2003;
Mottram, 1997; Michener et al., 2003; Paine & Voight, 1993; Schenkman & Cartaya, 1987; Sch-
mitt & Snyder-Mackler, 1999; Warner, Michelli, Arslanian, Kennedy & Kennedy, 1992). O mús-
culo trapézio através da ação conjunta de suas porções superior e inferior, é responsável
pela adução e rotação superior da escápula durante elevação do braço (Sahrmann, 2002).
A fase de maior sobrecarga durante a elevação do braço é a fase onde ocorre maior rota-
ção escapular (80º a 140º) (Culham & Peat, 1993). É esperado que o braço de alavanca da
porção inferior do trapézio encontre-se aumentado nessa amplitude, e que esse músculo se
torne mais ativo nesse período para auxiliar o trapézio superior e o serrátil anterior na rota-
ção superior da escápula (Culham & Peat, 1993). Por outro lado, em suas ações isoladas, a
porção superior do músculo trapézio é capaz de realizar a elevação da escápula enquanto
a porção inferior causa a sua depressão (Sahrmann, 2002). A ineficiência da porção inferior
em contrabalançar a ação da porção superior permite a elevação da escápula sobre o tórax
e diminui sua inclinação posterior durante a movimentação do braço (Babyar,1996; Ludewig
& Cook, 2000; Sahrmann, 2002), permitindo que a cabeça do úmero vá de encontro ao acrô-
mio nesta posição, gerando impacto entre os dois seguimentos e lesão das estruturas no
espaço subacromial. Já o músculo serrátil anterior, atua principalmente nas amplitudes
médias da elevação do braço (60º a 150º), auxiliando na rotação superior e protração da
escápula, este músculo tem ainda a função de manter o contato da escápula com o gra-
dil costal, podendo ainda estar relacionado à inclinação posterior (Magarey & Jones, 2003;
Mottram, 1997; Schenkman & Cartaya, 1987; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999). Sendo assim,
uma diminuição na sua capacidade de geração de força pode resultar em diminuição da ro-
tação superior e inclinação posterior da escápula (Ludewig & Cook, 2000; Sahrmann, 2002;
Schmitt & Snyder-Mackler, 1999), movimentos que são essenciais para a manutenção do
espaço subacromial durante a elevação do braço.
Uma vez que os músculos serrátil anterior e trapézio inferior estão envolvidos em fun-
ções dinâmicas ao longo de amplitudes muito variáveis, é necessário que sua relação
comprimento tensão seja considerada (Sahrmann, 2002). Essa musculatura é recrutada
durante toda a amplitude de movimento, mas é nas maiores amplitudes de elevação do
braço que a demanda sobre o complexo do ombro aumenta, exigindo maior estabilidade da
articulação escapulotorácica e maior atividade muscular (Paine & Voight, 1993).
Outro músculo que pode interferir na movimentação da escápula é o peitoral menor
(Mottram, 1997; Paine & Voight, 1993; Sahrmann, 2002; Wang, McClure, Pratt & Nobilini,
1999;). O encurtamento deste músculo pode levar a um tracionamento anterior da es-
cápula, alterando sua postura (Diveta, Walker, & Skibinski, 1990; Mottram, 1997; Sahrmann,
2002; Wang et al, 1999). Durante os movimentos do braço, esse músculo pode também
apresentar maior rigidez passiva (ou seja, uma maior resistência ao alongamento), limitan-
do a rotação superior, depressão, adução e inclinação posterior da escápula (Babyar,1996;
Sahrmann, 2002; Wang et al, 1999).
Apesar dessas alterações musculares serem constantemente discutidas, poucos estu-
dos têm proposto métodos de avaliação clínica confiáveis que permitam caracterizar as
alterações na capacidade de geração de força do serrátil anterior e trapézio inferior (Lu-
dewig & Cook, 2000) e propriedades passivas musculares (aumento da resistência ao alon-
gamento) do peitoral menor na presença da síndrome do impacto. O conhecimento dessas
relações é de fundamental importância para a implementação de programas de prevenção
e reabilitação eficazes, uma vez que a alteração na função destes músculos pode levar
dificultar a reabilitação, levar ao surgimento de novas lesões e a recidivas dos sintomas.
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a capacidade de testes clínicos desta mus-
culatura em demonstrar diferenças em indivíduos com e sem o diagnóstico de síndrome do
impacto. Como hipóteses do estudo esperava-se encontrar, nos sujeitos com diagnóstico
de síndrome do impacto, menores valores de força do músculo serrátil anterior, principal-
mente na posição encurtada; menores valores de momento gerado pelo músculo trapézio
inferior, principalmente na posição alongada e maior resistência ao alongamento do mús-
culo peitoral menor quando avaliados clinicamente com uso de um dinamômetro manual.
MÉTODO
AMOSTRA
Foram selecionados oito indivíduos com diagnóstico clínico compatível com síndrome do
impacto (tendinopatia do manguito rotador e/ou bursite subacromial) e oito indivíduos
sem história de dor ou disfunção no ombro, pareados por sexo, faixa etária, dominância
e membro avaliado. Cada grupo foi composto de 4 mulheres e 4 homens. Idade média
48.63 ± 12.29 anos para o grupo controle e 48.90 ± 12.29 para o grupo com a síndrome
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83 — RPCD 17 (S2.A)
(p = .9681). Todos os sujeitos eram destros e foi avaliado o membro direito em 6 sujeitos
e o membro esquerdo em 2 sujeitos de cada grupo. O teste t não revelou diferenças sig-
nificativas para as variáveis antropométricas entre os grupos. A média de altura foi 1.67
± 0.09 metros para o grupo controle e 1.65 ± 0.07 metros para o grupo com a síndrome
(p = .6845) e a média de massa corporal foi de 71.90 ± 16.80 Kg para o grupo controle e
68.88 ± 12.25 para o grupo com a síndrome (p = .6894).
Os diagnósticos de síndrome do impacto foram baseados em testes clínicos específicos e
análise por imagem (ressonância magnética). Não foram incluídos sujeitos que receberam
tratamento fisioterapêutico por mais de oito semanas, uma vez que esse tempo é o mínimo
necessário para promover alterações morfológicas capazes de alterar os parâmetros de
força muscular. Os indivíduos participaram voluntariamente do estudo. Após a avaliação
médica, todos os participantes foram informados sobre a natureza do estudo e assinaram
termo de consentimento para participação. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética
da universidade sob parecer n. ETIC 225/05.
INSTRUMENTOS
Para avaliação dos parâmetros relacionados a força e momento dos músculos testados
foi utilizado um dinamômetro manual (Microfet 2, Hoggan Health Industries Inc) capaz
de registrar valores de força de 1 – 100 lb (0.45 – 45.0kgf). O mostrador digital registra
com uma sensibilidade de 0.1 lb (0.045 kgf) o pico de força realizado durante o teste. Os
testes utilizados apresentaram confiabilidade teste-reteste (ICC) maior que .75, ou seja, de
moderada a alta (Portney & Watkins, 2000). Sendo que o teste de força do músculo serrátil
anterior apresentou ICC de .96 para a posição neutra, .92 para a posição alongada e .76
para a posição encurtada. Para o teste de resistência ao alongamento do músculo peitoral
menor foi encontrado ICC igual a .92 e para o teste de momento do músculo trapézio in-
ferior o ICC foi de .78 para a amplitude de 120º, .93 para a amplitude de 135º e .80 para a
amplitude de 150º.
Durante o teste de trapézio inferior foi utilizado um goniômetro (Carci, Ind. e Com. de Apar.
Cirur. e Ortop. LTDA, São Paulo, Brasil) para garantir o posicionamento do braço e uma fita
métrica de 1.5 m de comprimento total com escala de 1 mm para medir a distância perpendi-
cular entre o ponto de aplicação do dinamômetro manual e o ponto de rotação da articulação
onde atua o músculo testado, determinando seu braço de alavanca. Essa medida foi utilizada
para calcular o momento gerado pelo músculo na célula de carga do dinamômetro.
PROCEDIMENTOS
A coleta de dados foi realizada em ambiente clínico por um único examinador, com os sujei-
tos trajando roupas que não limitassem a realização dos testes. Cada um dos testes foram
realizados três vezes consecutivas (em cada uma das posições) e os valores máximos para
cada repetição foram registrados em formulário próprio. Os testes foram realizados na
sequência em que são descritos a seguir.
Testes musculares
Força do músculo serrátil anterior
Com os sujeitos sentados em uma cadeira e com o ombro fletido anteriormente a 90º e
rodado externamente, foi aplicada uma resistência com o dinamômetro manual posicio-
nado à frente do punho cerrado, essa posição de teste está de acordo com o proposto por
Sahrmann (2002). Foram consideradas três variáveis: (a) a força que os sujeitos foram
capazes de resistir em posição neutra (operacionalizado como a posição escolhida pelo
sujeito como “confortável”); (b) a força de resistência dos indivíduos com o ombro ante-
riorizado (operacionalizado como a protração escapular máxima que o indivíduo pudesse
realizar ativamente) e (c) a força de resistência dos indivíduos com o ombro posteriorizado
(operacionalizado como a posição de retração escapular máxima que o sujeito pudesse re-
alizar ativamente). A escolha de três posições de teste se deveu ao fato de que o músculo,
quando testado isometricamente, pode apresentar resultados diferentes do mesmo teste
se testado em diferentes amplitudes, uma vez que a tensão que um músculo é capaz de
gerar modifica-se de acordo com a variação de seu comprimento (Sahrmann, 2002).
Resistência ao alongamento do músculo peitoral menor
Os sujeitos foram instruídos a deitarem em supino sobre uma maca. Com uma das mãos,
o examinador aplicou uma força sobre o esterno enquanto com a outra mão (na qual esta-
va posicionado o dinamômetro manual) era aplicada uma força em direção póstero-lateral
sobre a borda anterior do acrômio, até que esse fosse de encontro à maca (Sahrmann, 2002). O
dinamômetro foi utilizado para a mensuração da força de resistência ao movimento passivo
da escápula, o que definimos como resistência ao alongamento dessa musculatura.
Momento do músculo trapézio inferior
Com os sujeitos deitados em prono e braço aduzido, foi utilizado um goniômetro para a deter-
minação de três amplitudes de abdução do ombro, 120º, 135º e 150º. O fulcro do goniômetro
foi colocado sobre a porção mais posterior e proeminente do acrômio e a haste fixa posicio-
nada paralela ao braço dos sujeitos para o posicionamento do ombro nas três amplitudes
de abdução (Sahrmann, 2002). O braço de alavanca deste músculo foi definido como sendo a
distância entre o ângulo inferior da escápula e o processo estilóide do rádio com o braço po-
sicionado a 135º e foi medido utilizando a fita métrica. Com o ombro abduzido na amplitude
determinada e rodado externamente, o dinamômetro manual foi posicionado na região fle-
xora do punho. Os sujeitos foram instruídos a resistir ao máximo à força aplicada, mantendo
abdução de ombro (força exercida na direção de abdução e extensão de ombro), depressão
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e adução escapulares. Devido a seu posicionamento, o trapézio inferior gera um momento
rotacional superior sobre a escápula; o qual contribui para a abdução do ombro; quando o
sujeito é solicitado a manter adução e depressão escapulares sua atuação é potencializada e
esse músculo passa a ser o principal responsável pela manutenção da posição, possibilitan-
do assim que a medida do momento gerado possa ser utilizada como uma representação do
desempenho do músculo trapézio inferior.
Redução dos dados
As médias aritméticas dos três valores de força gerados pelo dinamômetro para cada teste
em libras foram convertidas em Newtons e normalizadas pela massa corporal de cada
sujeito em Kg. Os valores finais foram multiplicados por 100. As normalizações por mas-
sa corporal dos valores de momento e força foram efetuadas para permitir comparações
mais adequadas entre grupos, reduzindo a variabilidade da medida e aumentando o poder
estatístico do estudo. Este procedimento é bem estabelecido na literatura. No caso do tra-
pézio inferior, os valores de força normalizados pela massa ainda foram multiplicados pela
medida do braço de alavanca em metros. Como esse músculo produz movimentos rotató-
rios na articulação do ombro é necessária a realização desse procedimento para o cálculo
do momento muscular gerado em cada posição do teste.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
O teste de normalidade de Shapiro-Wilk demonstrou distribuição normal para todas as va-
riáveis em estudo. Considerando isto, para avaliação das diferenças entre as médias dos 2
grupos na variável resistência ao alongamento do músculo peitoral menor foi realizado um
teste t de Student para amostras independentes. Duas ANOVAs 2x3 com os fatores GRUPO
(paciente e controle) e POSIÇÃO (3 diferentes posições/angulações) foram utilizadas. Uma
para a variável força do músculo serrátil anterior e a outra para a variável momento do
músculo trapézio inferior (em três posições). Nas variáveis que apresentaram diferenças
significativas para o fator interação Grupo x Posição, foram realizados 3 contrastes pré-
-planejados. As análises foram realizadas considerando nível de significância em p < .1. A
utilização de um maior nível de significância em estudos com amostras pequenas tem o
objetivo de minimizar possíveis erros de interpretação de resultados (erro tipo II) (Holt,
Butcher, & Fonseca, 2000; Ottenbacher et al., 1986). Como foram realizados três contrastes
pré-planejados, para a interação Grupo x Posição foi considerado um p < .03 após correção
de Bonferoni para comparações múltiplas.
RESULTADOS
A análise de variância para a variável força do músculo serrátil anterior demonstrou não
existir diferença significativa para o fator grupo (F = 2.701; p = .1225). Houve diferença
significativa para o fator posição (F = 9.632; p = .0007) e para o fator de interação posição
x grupo (F = 2.804; p = .0776). Para a variável momento do músculo trapézio inferior, a
análise de variância demonstrou diferença significativa para o fator grupo (F = 6.466; p
= .0234), para o fator posição (F = 6.710; p = .0042) e para o fator de interação posição x
grupo (F = 3.063; p = .0627).
A análise de contrastes para o fator de interação (posição “versus” grupo) revelou dife-
renças significativas entre os dois grupos em todas as posições para os valores de força
normalizada do músculo serrátil anterior e para os valores de momento normalizado do
músculo trapézio inferior. Além disso, o teste t de Student demonstrou haver diferença
significativa entre grupos para a variável resistência ao alongamento de peitoral menor.
Os valores de médias e desvios padrão para todas as variáveis em ambos os grupos são
apresentados no quadro 1, assim como seus valores-p.
QUADRO 1. Médias e desvios padrões das variáveis testadas em cada um dos grupos
VARIÁVEISGRUPO SEM SI
(N = 8)GRUPO COM SI
(N = 8)
Média (dp) Média (dp) valor-p
Rigidez do peitoral menor (N/Kg) 135.73 (21.19) 102.64 (26.09) .0001
Força do serrátil anterior (N/Kg)
Posição neutra 215.22 (34.87) 164.83 (45.39) .0001
Posição alongada 202.86 (44.74) 171.26 (58.63) .0012
Posição encurtada 175.89 (29.90) 154.40 (46.81) .0206
Momento do trapézio inferior (N.m/Kg)
120º 56.26 (8.99) 48.35 (13.61) .0045
135º 50.88 (7.46) 42.94 (7.50) .0044
150º 54.10 (7.59) 38.41 (8.93) .0001
SI: diagnóstico de síndrome do impacto. n: tamanho da amostra. (dp): desvio padrão
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DISCUSSÃO
SERRÁTIL ANTERIOR
Os resultados deste estudo indicaram que o grupo com a síndrome do impacto apresentou
valores significativamente menores no teste clínico de força de serrátil anterior, nas três
posições testadas (neutra, alongada, encurtada), do que o grupo sem o diagnóstico. Além
disso, quando comparada a força desse músculo nas três posições, foram observados va-
lores significativamente menores na posição encurtada, ou seja, na posição em que ele se
encontra durante as maiores amplitudes de elevação do braço. O serrátil anterior é um dos
principais músculos estabilizadores da escápula durante os movimentos do ombro (Corso,
1995; Culham & Peat, 1993; Inman, Saunders & Abbott, 1944; Ludewig & Cook, 2000; Maga-
rey & Jones, 2003; Michener et al., 2003; Mottram, 1997; Paine & Voight, 1993; Schenkman &
Cartaya, 1987; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999; Warner et al., 1992), atuando principalmen-
te em amplitudes maiores e auxiliando na rotação superior e abdução da escápula. Esse
músculo é responsável também por manter o contato da escápula com o gradil costal e
auxiliar na sua inclinação posterior (Corso, 1995; Culham & Peat, 1993; Magarey & Jones,
2003; Michener et al., 2003; Mottram, 1997; Paine & Voight, 1993; Schenkman & Cartaya,
1987; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999). Em sujeitos que apresentam diagnóstico de síndro-
me do impacto, essa rotação superior encontra-se diminuída o que pode estar relacionado
a uma diminuição da capacidade de geração de força desse músculo (Ludewig & Cook,
2000; Sahrmann, 2002; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999). Os resultados apontam para a
importância da avaliação da força muscular do serrátil anterior nas três posições (neutra,
alongada, encurtada) em sujeitos com esse diagnóstico. Não é possível determinar, contu-
do, se as alterações no desempenho desse músculo são consequência ou causa da insta-
bilidade dinâmica da escápula nesses sujeitos, para tanto seria necessária a realização de
estudos longitudinais. Durante as abordagens terapêuticas, deve ser dada atenção ao seu
fortalecimento em diferentes amplitudes de movimento, dando ênfase ao seu desempenho
nas maiores amplitudes, uma vez que, essa é a posição de menor capacidade de geração
de força do músculo e maior demanda de estabilização escapular. O ganho de força e a
atuação dinâmica dessa musculatura em amplitudes extremas de elevação do braço deve
ser considerado tanto em programas de prevenção quanto em programas de reabilitação
de alterações do complexo articular do ombro, para que sejam garantidas a estabilidade e
integridade articular e a manutenção do ganho funcional.
PEITORAL MENOR
Neste estudo os valores de resistência ao alongamento do músculo peitoral menor foram
significativamente menores no grupo diagnosticado com a síndrome do impacto. Era es-
perado que, em sujeitos com síndrome do impacto, esse músculo estivesse encurtado,
apresentando maior resistência ao alongamento e diminuindo assim, a inclinação posterior
da escápula durante os movimentos de elevação do braço (Babyar,1996; Graichen et al.,
2001; Sahrmann, 2002; Wang et al., 1999). Os resultados contradizem a literatura, já que
o encurtamento do peitoral menor tem sido relacionado às alterações na postura e movi-
mentação da escápula (Babyar, 1996; Diveta et al., 1990; Mottram, 1997; Sahrmann, 2002;
Wang et al., 1999) e, consequentemente, às afecções do complexo do ombro. Além disso, o
alongamento do músculo peitoral menor tem sido constantemente incluído nos programas
de reabilitação desse complexo articular. Esses resultados, contudo podem estar relacio-
nados a limitações do próprio estudo. Apesar de muitos dos sujeitos com a síndrome do
impacto apresentarem-se em tratamento fisioterapêutico (menos de oito semanas), não
foi controlado, durante a coleta de dados, o programa de reabilitação, o que impossibilitou
determinar se foram realizados ou não exercícios de alongamento desse músculo. Dessa
forma, os menores valores apresentados por esses sujeitos (com síndrome do impacto)
podem representar o efeito dos exercícios de alongamento realizados. Por outro lado,
durante o teste, para promover o alongamento muscular, foi aplicada uma força sobre a
região anterior do acrômio o que pode ter levado a exacerbação dos sintomas dolorosos
nessa região levando o paciente a realizar uma retração ativa da escápula na tentativa de
diminuir a pressão do dinamômetro e, consequentemente, a dor. Outra possibilidade é que
durante a movimentação passiva da escápula possa ocorrer atividade excêntrica na mus-
culatura para desacelerar o movimento, como não foi controlada a atividade eletromio-
gráfica do músculo peitoral menor durante o teste, não foi possível determinar ao certo se
foi mensurada a sua resistência ao alongamento ou a sua força excêntrica, força essa que
pode estar diminuída devido ao processo doloroso. Desta forma, novos estudos que con-
trolem a atividade eletromiográfica dos voluntários devem ser realizados para determinar
se as diferenças encontradas no presente estudo estão associadas à síndrome do impacto.
TRAPÉZIO INFERIOR
Nesse estudo, os valores da variável momento do músculo trapézio inferior foram signifi-
cativamente menores no grupo com síndrome do impacto em todas as amplitudes testadas
(120º, 135º, 150º). Quando comparado o momento do músculo trapézio inferior nas três
amplitudes, observou-se um valor significativamente maior na amplitude de 120º, sendo
que entre as amplitudes de 135º e 150º não foi encontrada diferença significativa. Esses
resultados indicam que o músculo trapézio inferior apresenta uma menor capacidade de
geração de momento e, por consequência, menor capacidade de estabilização da escápula
nas maiores amplitudes de elevação do braço, ou seja, amplitudes em que se encontra
alongado. É relatado que o trapézio inferior está diretamente envolvido com a rotação su-
perior e inclinação posterior da escápula durante movimentos de elevação do braço (Ba-
byar, 1996; Ludewig & Cook, 2000; Sahrmann, 2002; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999). Em
sujeitos com síndrome do impacto, os movimentos de rotação superior e inclinação pos-
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terior da escápula encontram-se diminuídos, principalmente nas maiores amplitudes dos
movimentos de elevação do braço, o que poderia estar relacionado a uma diminuição dos
valores de momento dessa musculatura (Babyar, 1996; Ludewig & Cook, 2000; Sahrmann,
2002; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999). Foi observado, também, que, apesar das limitações
funcionais e dinâmicas apresentadas por alguns dos pacientes testados, em amplitudes
extremas dos movimentos de elevação do braço na posição de prono (ou seja, sem a atu-
ação da gravidade) e levados passivamente a posição de teste, todos os indivíduos foram
capazes de alcançar as amplitudes desejadas. Esse fato aponta a importância da muscula-
tura e das alterações dinâmicas nessa patologia e seu impacto sobre a limitação funcional.
Novamente, não é possível determinar se os resultados encontrados são consequência
ou causa da instabilidade dinâmica da escápula em sujeitos com a síndrome do impac-
to. Estudos prospectivos seriam necessários para avaliação da direção dessa relação de
causalidade. Dessa forma, baseando-se nos resultados, durante o processo de reabilita-
ção de pacientes com a síndrome do impacto, deve-se avaliar a capacidade de geração de
momento e fortalecer o músculo trapézio inferior em toda a amplitude do movimento de
elevação do braço. Isto deve ser considerado tanto em programas de prevenção quanto
de reabilitação. Os programas de reabilitação não devem levar em consideração apenas
o fortalecimento dessa musculatura em amplitudes pré-definidas, mas sim sua atuação
dinâmica em toda amplitude de movimento, principalmente naquelas que representam a
maior demanda para essa musculatura, ou seja, nas maiores amplitudes dos movimentos
de elevação do braço.
Um parâmetro que pode apresentar influência sobre padrões de movimento é a pre-
sença e intensidade de dor (Svensson, Miles, McKay & Ridding, 2003; Svensson, Wang, Ses-
sle, & Arendt-Nielsen, 2004; Sterling, Jull, & Wright, 2001; Wang, Arima, Arendt-Nielsen, &
Svensson, 2000). Apesar de nenhum dos participantes do estudo ter relatado dor durante
os testes, alterações de padrões de movimento e postura são geralmente presentes em
sujeitos com dor musculoesquelética. Vários estudos têm demonstrado que, na presença
de dor muscular ou articular o comportamento muscular é alterado (Svensson et al, 2003;
Svensson et al, 2004; Sterling et al., 2001) e vários modelos teóricos, como o modelo do
ciclo vicioso e o modelo de adaptação à dor têm sido propostos para estabelecer relação
entre dor e alterações de controle motor (Sterling et al., 2001). Pesquisas recentes com
pacientes com dor crônica têm demonstrado quadros bem mais complexos, com altera-
ções de padrões de recrutamento e ativação muscular, além de alterações na resistência
a fadiga (Sterling et al., 2001). Nesses pacientes as alterações são relacionadas principal-
mente a manutenção de estabilidade e controle articular (Sterling et al., 2001). Apesar de
vários estudos terem demonstrado que inibição muscular pode ocorrer como resultado de
dor induzida (dor aguda) (Sterling et al., 2001; Svensson et al., 2003; Svensson et al., 2004;),
se levarmos em conta a característica de cronicidade dos sintomas nessa patologia le-
vando à persistência dessa inibição, a capacidade de geração de força dessa musculatura
poderá ser bastante afetada. Para estabelecer os reais efeitos da dor sobre os parâmetros
de comportamento muscular nessa patologia seriam necessários estudos longitudinais
que controlassem parâmetros intensidade e duração de dor. Apesar disso, a realização de
fortalecimento muscular pode ser incluída nos planos de tratamento visando manutenção
ou ganho de força (Struyf et al., 2013).
Neste estudo, foram comparadas as medidas de força do músculo serrátil anterior, de
momento do músculo trapézio inferior e de resistência ao alongamento do músculo pei-
toral menor em dois grupos. Em relação aos valores encontrados, não podemos afirmar
que correspondam a essas musculaturas isoladamente, uma vez que, durante a movi-
mentação do complexo articular do ombro, a musculatura escapular age sinergicamente
(Babyar,1996; Ludewig & Cook, 2000; Magarey & Jones, 2003; Mottram, 1997; Schenkman
& Cartaya, 1987; Schmitt & Snyder-Mackler, 1999; Wang et al., 1999; Warner et al., 1992),
mas sim à força gerada durante movimentos geralmente utilizados para realização de tes-
tes clínicos em que esses músculos representam os motores primários (Sahrmann, 2002).
Apesar das limitações, os testes utilizados neste estudo apresentaram valores de I.C.C.
entre .76 e .93, demonstrando boa confiabilidade teste-reteste (Portney & Watkins, 2000).
Este estudo indicou que alterações na capacidade de geração de força dos músculos
serrátil anterior e trapézio inferior durante a realização de testes clínicos em indivíduos
com a síndrome do impacto podem ocorrer e merecem atenção no momento da avaliação.
Dessa forma, a detecção de fraquezas nestes músculos pode auxiliar o tratamento da sín-
drome do impacto. Como variações entre indivíduos podem ocorrer, a elaboração de planos
de tratamento baseados apenas no diagnóstico patológico não é satisfatória e avaliações
criteriosas e individualizadas devem ser implementadas (Struyf et al, 2013).
CONCLUSÕES
Este estudo avaliou as diferenças detectadas por testes clínicos no desempenho dos múscu-
los serrátil anterior e trapézio inferior e na resistência ao alongamento do músculo peitoral
menor em indivíduos com e sem o diagnóstico de síndrome do impacto subacromial. Foram
encontrados menores valores para todas as variáveis testadas no grupo com a síndrome.
Essas alterações podem estar relacionadas à alterações nos padrões de movimento durante
a elevação do braço. Os resultados indicam a presença de alterações da musculatura esca-
pular em sujeitos com esse diagnóstico e apontam para a importância de se avaliar o desem-
penho desses músculos durante programas de prevenção e reabilitação dessa patologia.
06
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06
Efeitos da kinesio taping
no índice do arco plantar
em pés normais e planos:
Um estudo piloto
PALAVRAS CHAVE:
Pé plano. Pé. Recurso fisioterapêutico.
RESUMO
O pé humano precisa ter postura adequada para que não ocorram sobrecargas teciduais. O
estudo tem objetivo de analisar os efeitos da Kinesio Taping sobre o índice do arco em pés
planos comparados aos normais. Foi efetuado um estudo piloto com 12 participantes. Para
realização do estudo foi considerado cada pé individualmente: pés normais e pés planos.
Utilizou-se baropodometria combinada com o software AutoCAD para avaliação da postura
do arco plantar, antes e 24 horas após a aplicação da KTT. Para análise dos dados, foram
realizadas medidas da tendência central e estatística inferencial com Shapiro-Wilk, teste
T Student, Wilcoxon e Mann-Whitney. Medidas consideradas significativas quando p < .05.
O grupo com pés planos apresentou redução do índice (p = .036) após bandagem, no gru-
po com pé normal não ocorreu alteração (p = .9). A comparação entre grupos confirmou
diferença inicial quanto à altura do arco (p = .01) e após a aplicação da bandagem houve
diferença no índice do arco (p = .01). A bandagem com baixa tensão no arco longitudinal
medial foi capaz de modificar o índice do arco em pés planos, e não em pés normais.
Effects of kinesio taping on the plantar
arch in normal and flat feet: a pilot study
ABSTRACT
The human foot must have proper posture to prevent any tissue overloads.
The objective of this study is to analyze the effects of Kinesio Taping on the
plantar arches on normal and flat feet. A pilot study, with a sample num-
ber of 12 subjects was developed. That were considered individually by feet
posture: normal feet and flat feet. An electric podobarometer and AutoCAD
software were used to evaluate the arch index, before and 24 hours after
the Kinesio Taping application. Data analyze was done with Shapiro-Wilk,
T-student test, Wilcoxon and Mann-Whitney. The measurements were con-
sidered significant when p < .05. The group with flat feet showed a reduc-
tion in the arch (p = .036) after Kinesio Taping, and the group with normal
feet didn’t present any alterations (p = .9). The comparison between the two
groups confirmed the initial difference of the height of the arch (p=0,01) and
after the Kinesio Taping application, it was shown that the arch had changed
(p = .01). The Kinesio Taping with low tension along the medial longitudinal
arch was capable of modifying the arch in flat feet, but not in normal feet.
KEY-WORDS:
Flat feet. Normal feet.
Physical therapy techniques.
07AUTORES:
Maikon Gleibyson R dos Santos
José Roberto de Souza Junior
Ingredy Paula M Garcia
Helen Cristian Marques Tomaz
Thiago Vilela Lemos
Humberto de Sousa Fontoura
João Paulo C Matheus
Correspondência: Humberto de Sousa Fontoura. ([email protected])
93 — RPCD 17 (S2.A): 92-103
95 — RPCD 17 (S2.A)
INTRODUÇÃO
O pé humano é uma estrutura complexa e precisa suprir diferentes demandas durante a
marcha como ter flexibilidade para se adaptar a diferentes superfícies e absorver certa
quantidade de força que é transmitida através do pé. As estruturas do tornozelo e pé tam-
bém precisam funcionar como uma alavanca rígida para suportar e exercer força contra o
solo durante o primeiro e o último contato com o solo da fase de apoio da marcha (Dawe &
Davis, 2011; McKeon, Hertel, Bramble, & Davis, 2014).
A origem dessas características únicas do pé aponta uma adaptação ao estilo de correr
por longas distâncias, uma das demandas necessárias para a evolução humana, pois o ser
humano leva desvantagem em velocidade comparada a outras espécies “quadrúpedes”
(Bramble & Lieberman, 2004).
Ao suportar o peso em uma única perna o pé precisa ser razoavelmente móvel e capaz
de se acomodar a diferentes superfícies (McKeon et al., 2014). As principais estruturas
funcionais no pé que proporcionam essa versatilidade são os arcos longitudinais medial e
lateral (Dawe & Davis, 2011), sendo que vem sendo comprovado a ausência de arcos trans-
versais durante a fase de apoio da marcha (Daentzer, Wülker, & Zimmermann, 1997; Kanatli,
Yetkin, & Bolukbasi, 2003; Luger, Nissan, Karpf, Steinberg, & Dekel, 1999).
Os componentes necessários para manutenção da estabilidade e flexibilidade do pé es-
tão sendo recentemente descritos como o foot core system, composto por três subsiste-
mas: passivo (conformação em cúpula dos ossos, fáscia plantar e ligamentos), ativo (mús-
culos intrínsecos e extrínsecos) e neural (receptores sensoriais de músculos, ligamentos e
cutâneos) (McKeon et al., 2014; McKeon & Fourchet, 2015).
Dentro desse sistema, podemos destacar o arco longitudinal medial (ALM) que sinaliza
através da modificação em sua estrutura a presença de algum distúrbio no sistema de
estabilização do pé (Kido et al., 2013; Van Boerum & Sangeorzan, 2003).
Podemos identificar e classificar o tipo de pé a partir de cálculos que estimam a altura
do ALM, utilizando para isso, calculo de índices a partir de áreas da impressão plantar
(Wong, Weil, & de Boer, 2012). Quando pensamos em falhas nos subsistemas ativo e neural,
citados a cima, presenciamos a ocorrência de um desabamento do arco por falta de estabi-
lização neuromuscular (McKeon et al., 2014; McKeon & Fourchet, 2015).
O pé pronado e o pé plano, causados pelo desabamento do arco, vêm sendo relaciona-
dos ao aumento do risco de lesão por estresse excessivo de forma geral (Levinger et al.,
2010), com a síndrome do estresse tibial medial (Hösl, Böhm, Multerer, & Döderlein, 2014;
Neal et al., 2014), dor no pé (Di Caprio, Buda, Mosca, Calabro, & Giannini, 2010; Menz, Dufour,
Riskowski, Hillstrom, & Hannan, 2013), lesão do ligamento cruzado anterior por não contato
(Hewett et al., 2005; Rath, Walker, Cox, & Stearne, 2015), síndrome patelofemoral (Myer et
al., 2010) e lesões não específicas nos membros inferiores (Willems, Witvrouw, De Cock, &
De Clercq, 2007).
As consequências geradas por alterações no pé, podem, portanto, gerar diversos prejuízos
para saúde daqueles que apresentam esse tipo de alteração. O custo relacionado a saúde tam-
bém é afetado, sendo que pesquisadores que acompanharam 688 sujeitos com pés planos
por 31 meses, e verificaram um aumento significativo do custo com saúde daqueles sujeitos
(Teyhen et al., 2013). Considerando a relevância desse tipo de alteração, vem sendo pesquisa-
do diversas intervenções a fim de corrigir as alterações no pé, como exercícios terapêuticos
(McKeon & Fourchet, 2015; Wallden, 2015), palmilhas (Novick & Kelley, 1990; Selby-Silverstein,
Hillstrom, & Palisano, 2001), e bandagens (Aguilar, Abián-Vicén, Halstead, & Gijon-Nogueron,
2015; Luque-Suarez, 2014; Rodrigues et al., 2014). Dessas, a bandagem elástica também conhe-
cida como Kinesio Taping (KTT) ou bandagem neuromuscular, pode ser um ótimo recurso, pois
é descrita como capaz de causar por meio da estimulação sensorial da pele uma resposta de
ativação muscular (Christou, 2004; Martínez-Gramage, Merino-Ramirez, Amer-Cuenca, & Lisón,
2014). Outra vantagem da utilização deste recurso é a possibilidade de manutenção do estímu-
lo mesmo após a sessão de tratamento sem limitar as atividades funcionais.
Considerando a carência na literatura de estudos que avaliem os efeitos da bandagem
elástica sobre a postura do pé, o objetivo do estudo é analisar os efeitos de uma aplicação
de bandagem elástica para estimular sensorialmente a área medial do pé, sobre o índice
do arco em pés planos comparados aos normais.
MÉTODO
A pesquisa consistiu em um estudo piloto.
PARTICIPANTES
Estudo composto por uma amostra de 12 indivíduos de ambos os sexos e foi considerado
cada pé individualmente para o estudo. Para a inclusão no estudo os sujeitos deveriam ter
idade entre 18 e 30 anos e apresentar pelo menos um dos pés classificados como plano ou
normal de acordo com o índice do arco avaliado.
Os critérios de exclusão foram: ter feito recentemente ou ainda fazer tratamento com banda-
gens no ALM; ter doenças cutâneas ou malignas e infecções bacterianas no local a ser aplicada a
bandagem; histórico de lesões musculoesqueléticas e/ou neurológicas que possam afetar a dis-
tribuição de peso; e apresentar queixa de dor ou qualquer sinal de lesão durante as avaliações.
Antes da realização de qualquer procedimento, o estudo foi submetido e aprovado em
comitê de ética com o protocolo de nº 083/2015 e respeita as normas internacionais de
experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia de 1975). A entrevista inicial
e coleta de dados foram realizadas na Universidade Estadual de Goiás, onde os sujeitos
foram convidados a participar da pesquisa, esclarecidos dos riscos, benefícios e quanto à
desistência da participação no trabalho a qualquer momento que desejassem.INSTRUMEN-
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97 — RPCD 17 (S2.A)
TOS E PROCEDIMENTOS
Para obtenção da pressão plantar foi utilizado baropodometria da plataforma FootWork-
-Arkipelago®. Para estimar a altura do ALM, índice do arco, foi utilizado o AutoCAD versão
2005, para o qual a pressão plantar foi importada após obtenção da imagem na baropodo- após obtenção da imagem na baropodo-
metria. No programa, foi traçada uma reta vertical (L), do segundo metatarso até o centro
do calcâneo. Em seguida, L foi dividida em três partes iguais: retro pé, médio pé e ante pé
(Figura 1). Com cada região do pé delimitada, foi calculada a área individual dessas regi-
ões; a área do médio pé foi dividida pela somatória da área total do pé (antepé + mediopé +
retropé), obtendo assim o índice do arco (Ribeiro, 2010).
FIGURA 1. Obtenção do índice do arco. Fonte: dados da pesquisa.
Valores encontrados entre 0.22 e 0.25 caracterizaram o pé normal, <0.21 pé cavo e >0.26
pé plano (Cavanagh & Rodgers, 1987). Com isso, obedecendo aos critérios de inclusão, fo-
ram selecionados os indivíduos com pelo menos um pé plano (índice >0.26) e/ou pé normal
(índice entre 0.22 e 0.25). Formou-se, assim, dois grupos com nove pés cada, o GP (grupo
de pés planos) e o GN (grupo de pés normais). Foi considerado cada pé individualmente, e
em cada grupo três pés foram excluídos, por não serem normais ou planos.
A bandagem elástica utilizada foi da marca Kinesio Tex Tape (KTT), aplicada medialmen-
te ao longo da face plantar, com tensão do papel (paper off) de 10%. Foi colocada partindo
do calcâneo à cabeça do primeiro metatarso, com o objetivo de proporcionar estímulo sen-
sorial no local de aplicação. A bandagem foi aplicada em ambos os grupos e permaneceu
no indivíduo por 24 horas. A bandagem foi utilizada com baixa tensão para não causar
efeitos mecânicos em decorrência da força elástica da bandagem.
A referida bandagem tinha largura de 5 cm com corte em I, e o comprimento variou em
cada sujeito, de acordo com distância entre calcâneo e cabeça do primeiro metatarso. Os
indivíduos foram reavaliados na plataforma de baropodometria após 24 horas e retiravam
a bandagem após a avaliação (ver Figura 1, fluxograma).
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para análise de dados, realizaram-se medidas da tendência central, por meio da média e
desvio padrão. Em seguida foi realizada estatística inferencial, sendo as variáveis tratadas
com teste normalidade Shapiro-Wilk e teste T Student pareado ou independente para os
dados paramétricos. Já para os dados não paramétricos foi utilizado o teste de Wilcoxon
(amostras relacionadas) ou Mann-Whitney (amostras independentes).
As medidas foram consideradas significativas quando p < .05, tendo sido utilizado o SPSS
(Statistical Package for The Social Sciences), versão 18.0.0, para as análises estatísticas.
FIGURA 2. Fluxograma da pesquisa
RESULTADOS
A descrição da amostra está exposta no quadro 1, a seguir, na qual observamos idade,
altura, peso, IMC (índice de massa corporal) e frequência dos sexos do grupo com pé plano
(GP) e do grupo com o pé normal (GN) em média, desvio padrão (DP) e percentil.
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QUADRO 1. Caracterização da amostra (GP e GN). Média/Desvio Padrão e porcentagem.
GP
Idade (anos) Peso (Kg) Altura (m) IMC (Kg/m²) Sexo
24.17±4.1 76.2±15.3 1.70±0.053* 26.1±4.9 Masc. 33%, Fem. 67%
GN
Idade (anos) Peso (Kg) Altura (m) IMC (Kg/m²) Sexo
21.5±1.5 61±6.5 1.66±0.058* 22.17±1.6 Masc. 28,6%, Fem. 71,4%
*Diferença entre GP e GN; Dados para p<0.05.
As variáveis citadas tiveram distribuição normal em ambos os grupos. Os grupos foram
pareados e submetidos ao teste T Student pareado, constatando diferença estatisticamen-
te significativa entre a variável altura do GP com o GN (p = .043) e não constatando diferen-
ça entre idade, peso ou IMC.
Com relação ao sexo, foi observado similaridade entre os grupos na proporção de
homens e mulheres por meio dos valores percentuais (GP – 33% homens e 67% mulheres;
GN – 28.6% homens e 71.4% mulheres).
Podemos observar no quadro 2 uma redução significativa do R no momento pós-aplicação
do GP (p = .036). Tal redução do índice significa que o ALM sofreu elevação. Entretanto, essa
elevação do arco não foi suficiente para alcançar os valores de normalidade (0.22-0.25),
permanecendo dentro da faixa de classificação de pés planos.
QUADRO 2. Índice do arco (R), antes e após aplicação da KTT no GP e GN.
ANTES APÓS
GP MÉDIA/DP 0.27*†±0.01 0.26*†±0.01
IC 95% 0.26-0.28 0.25-0.27
GN MÉDIA/DP 0.23†±0.01 0.22†±0.02
IC 95% 0.22-0.23 0.20-0.24
*Diferença entre antes e após KT; †Diferença entre os grupos; Dados para p<0.05.
Quando o GN foi analisado, não se observou a mesma redução de R (p = .9), mostrando
que apenas o GP sofreu mudança na altura do ALM após a aplicação da bandagem. Nota-se
ainda que no GN o valor de R se manteve dentro dos padrões de normalidade (0.22 a 0.25)
na condição pré e pós-aplicação.
Após a comparação dos valores de R nos dois momentos, foi realizada comparação in-
tergrupo, com propósito de confirmar a diferença da altura do ALM nos pés planos e nor-
mais, pré e pós-aplicação.
No momento de pré-aplicação podemos visualizar a diferença entre as médias (p =
.001), com GP apresentando maior média (ALM rebaixado) e o GN com menor (ALM com
altura normal). No momento pós-aplicação, observamos uma aproximação do valor de
R dos grupos, demonstrando a redução do índice no GP, porém os valores permanecem
diferentes (p = .001).
DISCUSSÃO
O presente estudo busca comparar a reação de pés normais e planos após a aplicação de
uma bandagem com baixa tensão sobre a pele. A diferença encontrada entre o momento
pré e pós-aplicação da bandagem somente no grupo de pés planos sugere que os pés
com alteração cinesiológica sofreram modificação em sua postura, o que não foi verifi-
cado no outro conjunto.
Confirmando essa ideia, percebemos que alguns estudos não encontraram alteração na
pressão plantar de indivíduos saudáveis (Pérez Soriano et al., 2010; Pérez-Sorianoa, Lucas-
-Cuevasa, Aparicio-Aparicioa, & Llana-Bellocha, 2014). Contudo, tais trabalhos não descre-
veram o perfil plantar da amostra e realizaram aplicação da bandagem sobre os músculos
tríceps sural e fibulares, os quais não têm relação direta sobre o arco longitudinal medial,
principal estrutura avaliada no nosso estudo.
Todavia, recente ensaio clínico randomizado controlado e duplo cego que avaliou a postura
do pé antes e após a aplicação de bandagem elástica e placebo não constatou diferença
significativa intergrupo ou intragrupo (Luque-Suarez et al, 2014). Neste estudo foi realizado
correção funcional com bandagem elástica somente no retropé, e pesquisas recentes de-
monstram a importância de se avaliar o alinhamento e estabilização do antepé e mediopé
respectivamente (McKeon et al., 2014; McKeon & Fourchet, 2015; Monaghan et al., 2013)
Em um estudo piloto que utilizou uma aplicação de bandagem similar à do presente estu-
do, bem como método de análise de movimento 3D para avaliação da marcha, não foi cons-
tatada diferença no contato plantar entre as condições com e sem bandagem, a não ser
pequenas alterações nos contatos inicial e final da marcha (Chong et al., 2015). Porém, tal
análise tem como limitação o poder estatístico que provém de um único sujeito estudado.
De forma oposta, outro estudo com objetivo de avaliar o efeito de uma bandagem elásti-
ca com tensão e outra sem tensão (placebo) sobre a postura do pé após uma corrida curta
observou melhora do score da postura do pé em ambos os grupos, porém no grupo com
tensão a correção foi maior. Na avaliação da pressão plantar, o grupo sem tensão obteve
melhores resultados quando comparado ao conjunto com tensão (Aguilar et al., 2015)
No citado trabalho, foi verificada a pressão plantar em três regiões do pé (antepé, me-
diopé e retropé); entretanto, essa coleta foi apenas realizada nos contatos inicial e final da
marcha, perdendo fases importantes da marcha, como a resposta à carga e apoio médio.
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101 — RPCD 17 (S2.A)
Além disso, a técnica utilizada como placebo no estudo, bandagem sem tensão, pode
ter causado efeitos sobre receptores de pele, promovendo respostas neuromusculares no
grupo placebo maiores do que o grupo tratamento. Mostra-se essa uma explicação plau-
sível para a bandagem sem tensão causar maior alteração na pressão plantar do que a
bandagem com tensão. Assim, nosso estudo mostra como uma aplicação de bandagem
com baixa tensão pode influenciar a pressão plantar em pés planos.
Não obstante, outra pesquisa avaliou a pressão plantar em seis subáreas do pé em indi-áreas do pé em indi- do pé em indi-
víduos com síndrome do estresse tibial medial, e foi constatado que a bandagem elástica
reduz a frequência de carga plantar medial nesses pacientes. Tal situação pode ser bené-
fica para uma potencial redução da pronação excessiva e redução das forças lesivas em
pessoas acometidas pela síndrome (Griebert, Needle, McConnell, & Kaminski, 2014).
Ressalta-se que esse estudo comparou os indivíduos com síndrome do estresse tibial
medial (n = 20) com um grupo não afetado (n = 20), e não observaram redução da car-
ga plantar medial (força lesiva) após a utilização da bandagem nos sujeitos não afetados
(Griebert et al., 2014). Isso aponta para a possibilidade de que a intervenção com banda-
gem elástica vem tendo resultados melhores em população acometida por alguma disfun-
ção, seja cinesiológica ou cinesiopatológica.
Advertimos a respeito da carência de pesquisas relacionadas aos efeitos da bandagem
elástica sobre a pressão plantar e para o fato de não ter sido encontrada, até então, a com-
paração dos resultados obtidos após a aplicação de uma bandagem para estímulo senso-
rial entre os pés plano e normal. Tal quadro resulta, por conseguinte, numa dificuldade de
discutir resultados não relatados na literatura até o presente.
O método de análise utilizado neste estudo apresenta bons índices de confiabilidade e
concordância: coeficiente de correlação intraclasse = .990 (IC: .976 – .996) e índice de
Kappa = .923 (IC: .755 – 1.00) (Wong et al., 2012). Contudo, não foram encontrados valo-
res de sensibilidade e especificidade para o método utilizado, assim como para os outros
descritos na literatura, mostrando uma importante área de futuras pesquisas.
No nosso estudo foi realizada a avaliação estática da pressão plantar com o propósito
de reduzir a complexidade e tempo demandados durante as avaliações do estudo, além
de possibilitar a verificação de efeitos iniciais proporcionados pelo taping. Assim, sugeri-
mos a realização de estudos similares com avaliação dinâmica da pressão plantar, posto
que as alterações estáticas podem não se correlacionar totalmente com alterações di-
nâmicas da pressão plantar (Merolli & Uccioli, 2005). Outra limitação do estudo consiste
em não realizar avaliação do momento imediatamente após a aplicação da bandagem e
após 48 e 72 horas.
O objetivo do estudo é analisar os efeitos de uma aplicação de bandagem elástica para
estimular sensorialmente a área medial do pé, sobre o índice do arco em pés planos com-
parados aos normais.
Dessa forma, o uso da bandagem elástica, também conhecida como Kinesio Taping, com
baixa tensão na área medial do pé foi capaz de modificar o índice do arco em pés planos e
não em normais. Há a possibilidade de que a ausência de alteração nos pés normais tenha
ocorrido pelo fato de que a aplicação da técnica por 24 horas possibilite observar apenas
os efeitos agudos sobre o arco plantar, porém, considerando as limitações do estudo, não
foi possível elucidar os efeitos agudos ou tardios da aplicação da bandagem.
Sugerimos, portanto, a realização de novos estudos que busquem valores de acurácia
diagnóstica para maior precisão na identificação dos tipos de pés, assim como trabalhos
similares, com amostras expressivas, avaliação dinâmica e avaliação aguda e tardia da
aplicação da bandagem.
AGRADECIMENTOS
Ao nosso orientador, pelo empenho dedicado à elaboração deste trabalho e a todos que
direta ou indiretamente fizeram parte e contribuíram para elaboração do trabalho.
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REFERÊNCIAS
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105 — RPCD 17 (S2.A)
The relative age effect
in olympic swimmers
KEY-WORDS:
Swimming. Relative age effect.
Athletes. Olympic Games. London.
ABSTRACT
The aim of this study was to investigate the relative age effect (RAE) on swimmers in the
Olympics 2012 by analyzing the differences between continents, genders and the achieve-
ment of medals. Nine hundred and seventy-eight athletes (507 men and 471 women) were
stratified based on their birthdate. In quartile distribution, there was a higher percentage
of athletes born on the 1st and 3rd quartiles. As regards gender distribution, the RAE was
observed on females (χ² = 12.304, df = 3, p = .01) but not on males (χ² = 1.426, df = 3, p
= .70). Regarding the analysis of RAE according to performance and continent, there was
no significant relationship between the quarter of birth and winning medals; additionally,
the Asian continent was the only one where the RAE was identified. We concluded that the
RAE was present on swimmers from London 2012. Furthermore, it was representative in
women, was not related to winning medals and was found only in the Asian continent.
AUTHORS:
Renato Melo Ferreira 1
Emerson Filipino Coelho 1
Adelita Vieira de Morais 2
Francisco Zacaron Werneck 1
Guilherme Tucher 3
Ana Luiza Rocha Lisboa 1
1 Laboratório de Estudos e Pesquisas do Exercício e Esporte, Centro Desportivo da Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil
2 Programa de Pós-Graduação em Educação Física UFJF/UFV, Brasil
3 Instituto Federal do Sudeste de Minas, Minas Gerais, Brasil
Efeito da idade relativa
em nadadores olímpicos
RESUMO
O objetivo foi investigar o efeito da idade relativa (EIR) em nadadores nos
Jogos Olímpicos de 2012, analisando as diferenças entre os continentes,
sexos e a relação com a conquista ou não de medalhas. Novecentos e
setenta e oito atletas (507 homens e 471 mulheres) foram estratificados
a partir do seu quartil de nascimento. Na distribuição dos quartis, foi
observado um maior percentual de atletas nascidos no 1º e 3º quartil. Já
na distribuição por sexo, o EIR foi verificado para feminino (χ2 = 12.304;
gl = 3; p = .01), mas não para o masculino (χ2 = 1.426; gl = 3; p = .70).
Quanto à análise do efeito da idade relativa pelo desempenho e por con-
tinente, nào houve relação significativa entre o quartil de nascimento
e a conquista de medalha e o continente asiático foi o único em que foi
verificado o efeito da idade relativa, respectivamente. Concluiu-se que
o efeito da idade relativa está presente em nadadores de Londres 2012.
Além disso foi representativo em relação às mulheres, não está rela-
cionado à conquista de medalhas olímpicas e está presente apenas no
continente asiático.
PALAVRAS CHAVE:
Natação. Efeito da idade relativa. Atletas.
Jogos Olímpicos. Londres.
Corresponding Author: Renato Melo Ferreira. Laboratório de Estudos e Pesquisas do Exercício e Esporte,
Centro Desportivo da Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil. ([email protected]).
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107 — RPCD 17 (S2.A)
INTRODUCTION
During the process of growth and development, young people with the same chronologi-
cal age may differ in maturity, especially considering aspects related to sports, such as
strength and speed (Helsen, Starkes, & Winckel, 2000). In sport, it has been observed that
these differences cause a direct impact on the selection process of athletes, where ath-
letes born in the early months of the year are selected and trained, while those born in the
second half of the year are exempted from teams (Baker & Logan, 2007; Delorme, Boiché,
& Raspaud, 2010; Figueiredo, Gonçalves, Coelho, & Malina, 2009; Malina, Bouchard, & Bar-Or,
2004; Moraes, Penna, Ferreira, Costa, & Matos, 2009; Musch & Grondin, 2001; Sherar, Baxter-
Jones, Faulkner, & Russel, 2007). Thus, there is the chronological age, which is the age
determined by the difference between a set date and the individual’s day of birth; while
the biological age corresponds to the age determined by the level of maturation of many
organs within the human being (Tourinho Filho, & Tourinho, 1998). According to Gallahue
and Ozmun (2001), chronological age refers to the total number of years, months and days
lived, while the biological age refers to the state of maturation.
As the year of birth is used as a criterion for dividing the categories in sports, young people
born in the early months of the year can be benefited in sports performance, since they
have greater chronological age and therefore, having a higher probability of being in more
advanced stages of biological maturity. It may have advantages in anthropometric aspects,
conditional capacity, cognitive knowledge and psychological capacity (Carli, Lughetti, Ré, &
Bohme, 2009). Musch and Grondin (2001), when performing a literature review, identified
that the athletes born closest to the year of selection often have the advantage of being
bigger, stronger and faster compared to those who were born later in most sports analyzed
by studies, creating a bias in the distribution of birth dates of youth selected.
Within this context, there is the variable relative age effect (RAE), known as the possible ad-
vantage that the athletes born closer to the beginning of the selection year have in relation
to their peers born later (Vaeyens, Philippaerts, & Malina, 2005; Vincent & Glamser, 2006).
The birth quartile considers the division of the year into four parts, the first quartile rep-
resents the months of January to March, the second quartile from April to June, the 3rd
quartile from July to September and the fourth and last quartile from October to Decem-
ber. Several studies on different modalities that evaluated the categorization of dates of
births of the athletes were able to conclude that the distribution of dates of birth is not
homogeneous overall (Baker & Logan, 2007; Cobley, Baker, Wattie, & Mckenna, 2009; Musch
& Grondin, 2001; Sherar et al., 2007; Vaeyens et al., 2005).
The RAE has been extensively studied in several countries (Musch & Grondin, 2001; Carli
et al., 2009; Vaeyens et al., 2005; Cobley et al., 2009; Penna et al., 2010). This phenomenon
is especially significant in sports where performance is dependent on strength and power
and those where body size is decisive. Sherar et al. (2007) suggest that the date of birth
might be able to predict the sporting talent in certain modalities. Other studies show that
athletes born in the last two quartiles abandon the sport significantly more than those born
in the first two quartiles of the year, due to the low perceived competence and absence of
immediate success (Delorme et al., 2010; Figueiredo et al., 2009; Musch & Grondin, 2001).
Some studies indicate that the RAE is not restricted only to basic categories, but it is pre-
sent at different levels of performance and increases progressively with the level of excel-
lence, including the Olympic level (Cobley et al., 2009; Costa et al., 2009; Raschner, Muller, &
Hildebrandt, 2012). When analyzing team sports such as baseball, basketball, hockey and
football, for example, the RAE is present on high-performance and international competi-
tions (Costa et al., 2009; Cotê, Macdonald, & Albernethy, 2006; Mujika et al., 2009; Tompson,
Barnsley, & Stebelsky, 2001; Vincent & Glamser, 2006;).
When considering individual sports, the Olympics are the focus of any athlete who seeks
high yield; the major individual sports featured in the Olympic program are the Athletics,
Swimming and Fight.
The RAE has been investigated with fight athletes, both in taekwondo (Albuquerque et al.,
2012) and in judo (Albuquerque et al., 2013) and the RAE has not been identified. When
considering specifically this phenomenon in swimming, no study has investigated this ef-
fect on Olympic level athletes. The only work identified was developed by Ryan (1989),
who identified the RAE is also present on the categories of 8 to 12 in swimming. Thus, it is
important to establish the existence of RAE on high performance swimmers participating
in the Olympic Games.
Based on these data, this study aims at investigating the relative age effect on Olympic
swimmers who participated in the London 2012 Olympic Games by analyzing the possible
differences among continents, between sexes and verifying the relationship with winning
Olympic medals.
METHODS
SAMPLE
Nine hundred and seventy-eight athletes swimmers, 507 male and 471 female, who par-
ticipated in the London Olympics 2012 participated in this study. This work followed the
same ethical adopted by national (Carli et al., 2009; Penna & Moraes, 2010) and interna-
tional (Albuquerque et al., 2013; Costa et al., 2009) works.
PROCEDURES
Following the methodology used in previous studies (Penna & Moraes, 2010; Cotê et al.,
2006; Albuquerque et al., 2012), data on athletes such as gender, country of origin and date
of birth were obtained directly from the official site of the London 2012 Olympic Games
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109 — RPCD 17 (S2.A)
(http://www.london2012.com/swimming/athletes/). To analyze the relationship between
the birth quartile and yield, the athletes who won medals were considered with higher
yield than those non-medalists.
The month of birth of each athlete was categorized into quartiles. It was considered the
annual calendar from January 1st to December 31st. The 1st quartile was composed of
the months January, February and March; the 2nd quartile, April, May and June, 3rd quar-
tile, July, August and September; and the 4th quartile, October, November and December.
Countries were grouped according to their geographic location in five continents: Amer-
ica. Africa, Asia, Europe and Oceania. Data were tabulated in a spreadsheet for later sta-
tistical analysis.
STATISTICAL ANALYSIS
The chi-square test (χ2) was used for testing the relative age effect by comparing the ex-
pected and observed distribution in quartiles of birth of the six athletes. According to a
previous study (Albuquerque et al., 2012), the expected values were calculated assuming
equal distribution of births in each quartile of the year. To test the association between
variables were used cross-tables. All tests were performed using SPSS 19.0 for Windows
program at 5% significance.
RESULTS
Descriptive data on age, height and body mass of athletes are shown in Table 1 below.
TABLE 1. General characteristics of swimmers participating in the London 2012 Olympic Games.
MALE (N=507) FEMALE (N=471) ALL (N=978)
Age (years) 24.0 ± 3.8 22.2 ± 3.8 23.1 ± 3.9
Weight (kg) 79.6 ± 8.5 63.0 ± 7.0 71.5 ± 11.4
Height (m) 1.86 ± 0.08 1.73 ± 0.07 1.79 ± 0.10
The results of the distribution of birth dates (quartiles) of all the athletes are shown in
Figure 1; statistically significant differences were observed in the distribution of quartiles
of birth (χ2 = 9.542, df = 3, p = 0.02). In paired comparison between quartiles, significant
differences were observed between quartiles 1 vs. 4 (χ2 = 8.076, df = 1, p = 0.004) and 3 vs.
4 (χ 2 = 6.450, df = 1, p = 0.01), with higher percentage of athletes born in quartiles 1 and
3, compared to quartile 4.
FIGURE 1. Distribution of quartiles of birth of the swimmers who competed in the Olympic Games
in London 2012 (n = 978). (*Significant difference 1st Q vs 4th Q, p = .004, 3rd Q vs. 4th Q, p = .01).
Table 2 shows the values of χ2 test for the distribution of birth dates of athletes by gen-
der. The relative age effect was observed on female athletes (χ2 = 12.304, df = 3, p = 0.01)
but not on male ones (χ2 = 1.426, df = 3, p = 0.70). In females, there was highest percent-
age of athletes born in quartiles 1 and 3, compared to quartile 4. Regarding yield, no asso-
ciation between quartile of birth of the athletes and Olympic medal winning was observed
(χ2 = 1.174; df = 3; p = 0.76).
TABLE 2. Evaluation of the quartiles of birth of the swimmers in the London 2012 Olympic Games by gender using
1ST QUARTILE
2ND QUARTILE
3RD QUARTILE
4TH QUARTILE
X2 (P)
n (%) n (%) n (%) n (%)
Male 127 (25.0) 127 (25.0) 136 (26.8) 117 (23.2) 1.426 (0.70)
Female 142 (30.1)* 113 (24.0) 126 (26.8)* 90 (19.1) 12.304 (0.01)
Note: * Significant difference 1st Q vs 4th Q, p = .004, 3 vs. 4th Q, p = .01).
In the analysis by continent, the relative age effect was observed only on the Asian
continent (χ2 = 9.695, df = 3, p = 0.02), with greater representation of athletes born on
1st and 2nd quartiles compared to the 4th quartile – Figure 2. In other continents, no sig-
nificant difference was observed in the percentage distribution of the quartiles of birth
of Olympic swimmers.
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111 — RPCD 17 (S2.A)
FIGURE 2. Distribution of quartiles of birth of the swimmers who competed in the Olympic Games in London in 2012 by continent (n = 978). (* Significant difference to Asia: 1st Q vs 4th Q, p = .002; 2nd Q vs 4th Q, p = .04).
DISCUSSION
The aim of the present study was to investigate the relative age effect on Olympic swim-
mers who participated in the London 2012 Olympic Games, analyzing the possible dif-
ferences between continents, between sexes and to verify the relationship with winning
Olympic medals. The results indicated that the RAE is present in this modality, but is only
statistically significant in female athletes and athletes from the Asian continent, and it has
no relationship with winning Olympic medals.
The results of this study corroborate those found in the literature that point the RAE on
various modalities, especially those where the physical component plays a decisive role
on the yield and the most practiced and popular modalities (Tourinho Filho, & Tourinho,
1998; Vaeyens et al., 2005; Cobley et al., 2009; Penna & Moraes, 2010; Delorme & Raspaud,
2009). Studies indicate that the RAE is not restricted to base categories, but it is present
at different levels of excellence, including the Olympic level. The study of Raschner et al.
(2012) noted the RAE on the Youth Olympic Games in 2012, whose authors found that the
relative age had a highly significant influence on the participation of young athletes in vari-
ous sports in this competition.
In the present study, concerning to distribution of the athletes by continent, the RAE
was evidenced only in Asia, with most athletes born on 1st and 2nd quartiles. In the other
continents, there was no significant difference in the distribution of quartiles of birth of
swimmer athletes. One factor that may explain the presence of the RAE in Asia is due to
the early start in sports in some modalities. According to Fairbank and Goldman (2009),
sport policy in China, for example, develops the sport initiation at around age 6 years, when
children spend living in a boarding school in Beijing with military methodology, learning 9
Olympic sports. Regarding gender, the RAE is well characterized in female athletes, where-
as in males the results are inconsistent. There are studies that found the RAE on female
athletes (Delorme & Raspaud, 2009), while others do not (Edgar & O’Donoghue, 2005; Medic,
Young, Starkes, Weir, & Grove, 2009). In a study conducted with Swiss female athletes of
football, there was RAE on the youth categorioes up to 14 years, but not on the elite teams
(Roman & Fuchslocher, 2011). This fact can be characterized due to selection processes
usually occur at an age when women have reached puberty, so that the differences in bio-
logical maturation are smaller (Helsen et al., 2005).
Studies suggest that the RAE depends on the context of the sport, being more evident
in those whose strength and power are the key factors (Cobley et al., 2009; Raschner et
al., 2012). Since initiation of swimming still happens in childhood, ranging from age 3 to 7
years (Tubino, 1979), knowledge of the relative age effect becomes even more important.
The greater participation of athletes born in the first quartile may be related to the selec-
tion process of athletes, those born closest to the beginning of the selection year may have
physical advantages over those born later; this is because, with the age group, young peo-
ple born in the first months of the year have higher chances to be in more advanced stages
of biological maturation, therefore having greater chance of being selected to participate
in the training process (Musch & Grondin, 2001; Carli et al., 2009).
Despite differences in chronological ages less than 12 months having little relevance in
adults, they can be important during childhood and adolescence in individuals with rapid
rates of growth and development. Those born in the beginning of the selection year of age
groups often have an advantage over their peers by being larger, stronger and faster (Musch
& Grondin, 2001; Sherar et al., 2007). Within this context, they have more chances to con-
tinue in the sport and develop their tactical and technical capabilities, resulting in greater
perceived competence and therefore, greater intrinsic motivation (Musch & Grondin, 2001).
Younger and lower biological age athletes may be considered less talented in the pro-
cess of training and development and as a consequence, abandon the trainings and compe-
titions due to the low perceived competence and lack of success (Musch & Grondin, 2001;
Gustafsson, Kenttä, Hassmén, & Lundqvist, 2007; Helsen, Starkes, & Van Winckel, 1998). In
soccer players, it was found that those who reached the elite level were bigger, stronger,
faster and more skilled than those who left the modality (Figueiredo et al., 2009). However,
the date of birth cannot be used alone to indicate a tendency to discriminate younger ath-
letes or players with lower biological age in talent identification, because those of the third
or fourth quartiles may have early maturation and being larger than those in the first and
second quartiles (Carli et al., 2009). In addition, other factors may affect the selection of
athletes (Cotê et al., 2006).
08
The emphasis on the physical aspects related to sports performance for selection of
athletes and grouping on age categories that last about two years are the aspects mainly
responsible for RAE (Vaeyens et al., 2005). There are suggestions and strategies to try to
reduce the RAE, including: setting quotas for each year of birth within each age group of
two years (Raschner et al., 2012), constant changing in the date of beginning of the se-
lection year (Helsen et al., 2000) creation of other levels of tournament (gold, silver and
bronze series for the same category) (Carli et al., 2009), awareness of coaches to lower
valuation of the physical aspects in the selection of athletes and preparation of programs
that offer more vacancies at different levels of practice avoiding premature exclusion of
talents (Wattie, Cobley, & Baker, 2008). This study had as main limitation of not evaluating
the time of competitive practice of these athletes, a factor that can interfere with the per-
formance of these athletes.
CONCLUSION
Thus, it was concluded that RAE is accounted for swimmers of London 2012, furthermore,
it was representative in women, it is not related to conquer of medals and can be found
only in Asian continent. The knowledge of this effect on the part of coaches is of paramount
importance for possible talents are not early excluded, since the physical advantages may
be temporary. Further studies are needed on swimming because of the shortage of studies
aiming at investigating the possible RAE on functional abilities related to swimming perfor-
mance in the youth and high-yield categories.
ACKNOWLEDGMENT
The authors thank the Federal University of Ouro Preto for the financial support.
REFERÊNCIAS
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09Características motivacionais
de corredores de diferentes
provas do atletismo
PALAVRAS CHAVE:
Psicologia do esporte.
Autodeterminação. Corridas.
RESUMO
O objectivo do presente estudo foi comparar as características motivacionais dos corredo-
res do atletismo, levando em consideração a especialidade de prova, o tipo de motivação
e o género. A amostra foi constituída por 40 atletas (24 do sexo masculino) de alto ren-
dimento do atletismo, divididos em grupos de acordo com a especialidade: oito velocistas
(20.38 ± 2.88 anos), 10 meio fundistas (25.91 ± 6.79 anos), 14 fundistas (30.46 ± 7.46
anos), e oito ultramaratonistas (36.13 ± 7.41 anos). Para investigar as características mo-
tivacionais foi utilizado o Sport Motivation Scale (SMS), validado para a língua portuguesa
(SMS-BR). A motivação dos corredores das diferentes modalidades foi similar, à exceção da
subescala de motivação extrínseca identificada que foi maior nos ultramaratonistas, quan-
do comparados aos corredores meio fundistas (p= .029). Em todos os grupos, os valores
de motivação intrínseca total apresentaram valores ligeiramente superiores à motivação
extrínseca; contudo, apenas no grupo de fundistas foi constatada diferença estatística (p=
.004). Os resultados sugerem características motivacionais dos corredores de diferentes
provas do atletismo são bem similares. Além disso, corredores de fundo possuem maior
motivação intrínseca do que extrínseca.
AUTORES:
Marcus Vinicius da Silva 1
Josária Ferraz Amaral 1
Renato Miranda 1
1 Universidade Federal de Juiz de Fora – Minas Gerais, Brasil.
Correspondência: Josária Ferraz Amaral. Universidade Federal de Juiz de Fora –Minas Gerais, Brasil
115 — RPCD 17 (S2.A): 115-126
117 — RPCD 17 (S2.A)
Motivational characteristics of runners
of differences races of track and field
ABSTRACT
The aim of this study was compare the motivational characteristics of track
and field runners, taking into account the modality, the type of motivation
and gender. The sample consisted of 40 high performance track and field
athletes (24 male), divided into groups according to their specialty: eight
sprinters (20.38 ± 2.88 years), 10 middle distance runners (25.91 ± 6.79
years), 14 distance runners (30.46 ± 7.46 years), and eight ultramara-
thonists (36.13 ± 7.41 years). To investigate the motivational features we
used the Sport Motivation Scale (SMS), validated for the Portuguese lan-
guage (SMS-BR). The motivation of the runners of the different modalities
was similar, except for the identified extrinsic motivation subscale, which
was higher in ultramarathonists when compared to middle distance run-
ners (p= .029). In all groups, the overall intrinsic motivation values showed
slightly higher values in extrinsic motivation; however, only the distance
runners group showed a statistical difference (p= .004). The results sug-
gest that the motivational characteristics of runners of different track and
field modalities are very similar. In addition, long-distance runners have
higher intrinsic motivation that extrinsic motivation.
KEY-WORDS:
Sport psychology. Self-determination.
Running.
09INTRODUÇÃO
O atletismo é um desporto composto por diversas modalidades baseadas nos movimentos
naturais do ser humano, como correr, saltar e lançar. As provas que possuem um maior
número de praticantes, devido a sua naturalidade, são as corridas. Essas provas são sub-ão sub-sub-
dividas de acordo com a sua distância em corridas de velocidade, corridas de meio fundo,
corridas de fundo e corridas de ultrafundo. Essas diferentes distâncias as tornam distintas
entre si, tanto no que diz respeito aos aspetos fisiológicos quanto aos psicológicos (Buceta,
López de la Llave, Pérez-Lantada, Vallejo, & Delpino, 2002). Porém, independentemente do
tipo de prova, a participação contínua no processo de treino e competição dessas modali-
dades demanda uma elevada capacidade psicofísica dos atletas.
Os motivos que levam os atletas a se manterem treinando e competindo têm sido alvo
de muitas pesquisas da psicologia do desporto (Alonso, Lucas, & Izquierdo, 2007; Miranda
& Bara Filho, 2008). Nesse contexto, o desenvolvimento de novos métodos para aumentar
os níveis de motivação tem se destacado, dada a sua importância para o aprimoramento da
capacidade psicológica dos atletas (Coimbra et al., 2008, 2013). A motivação é caracteri-
zada como os factores pessoais e ambientais que impulsionam os atletas à participação e
rendimento nos desportos (Deci & Ryan, 1985). Além disso, a motivação pode ser subdivida
em intrínseca e/ou extrinsecamente motivada ou amotivada (Deci & Ryan, 1985).
A motivação intrínseca é caracterizada como a mais autodeterminada, na qual o indiví-
duo realiza a actividade pelo prazer que ela proporciona (Brière, Vallerand, Blais, & Pelletier,
1995; Vallerand, 1997). Por outro lado, a motivação extrínseca está relacionada ao direcio-
namento do comportamento para fatores externos, como ganhar competições e prêmios
e obter reconhecimento dos técnicos e familiares (Coimbra et al, 2013). Já a amotivação
está ligada à desesperança com a prática daquele desporto, não despertando no indivíduo
motivos para continuar a praticar (Deci & Ryan, 1985). Sendo assim, segundo Ryan, Fre-
derick, Lepes, Rubio, e Sheldon (1997) conhecer os motivos que levam o sujeito a praticar
um determinado desporto aumentam as possibilidades de adesão no programa de treino,
fazendo com que ele se mantenha engajado na modalidade.
No que se refere ao atletismo, a investigação das características motivacionais tem
sido realizada apenas nos atletas das provas de resistência (Balbinotti et al., 2015; Buce-
ta et al., 2002; Krouse, Ransdell, Lucas, & Pritchard, 2011; Sanchez, Izquierdo, & Gonzalez,
2009; Vega, Rivera, & Ruiz, 2011; Zabala, Rueda, & Rodriguez, 2009), não sendo conhecida
a motivação de corredores de provas de velocidade. Além disso, não foram encontrados
trabalhos com propósito de comparar as características motivacionais de corredores de
diferentes especialidades do atletismo. Dado o exposto, o presente estudo teve como ob-
jectivo comparar as características motivacionais dos corredores do atletismo, levando em
consideração a especialidade de prova e o tipo de motivação.
119 — RPCD 17 (S2.A)
MÉTODO
AMOSTRA
A amostra foi não probabilística e intencional, sendo constituída por 40 atletas de alto
rendimento do atletismo (25 do sexo masculino), divididos em grupos de acordo com a es-
pecialidade, velocistas (VE), meio fundistas (MF), fundistas (FD) e ultramaratonistas (UM).
O grupo VE foi composto por atletas especialistas em provas rasas e/ou com barreiras com
distâncias igual ou inferior a 400m. Foram considerados para o grupo MF especialistas em
provas rasas com distância compreendida entre 800m e 3000m e para o grupo FD, aqueles
que competem em distâncias compreendidas entre 5000m e 42195m (maratona). Já o
grupo UM foi composto por atletas especialistas em ultrafundo (provas acima de 42195m).
Todos os voluntários eram federados e possuíam nível competitivo no âmbito nacional e/
ou internacional.
Foram excluídos do estudo os atletas que realizavam menos de seis sessões de treino por
semana, aqueles lesionados ou em processo de recuperação, os que não competiram nos
últimos 12 meses e os que possuíam período inferior há três anos de prática. A pesquisa
foi realizada após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
normas éticas exigidas pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil, protocolo CEP/UFJF 2544.284.2011, parecer n.°303.
INSTRUMENTOS
Com o objectivo de conhecer o tempo de prática, o número de sessões de exercício físico
por semana, o nível competitivo e a especialidade do atleta, foi aplicado um questionário
geral. Para investigar as características motivacionais dos atletas foi aplicado o Sport Mo-
tivation Scale (SMS) (Brière et al., 1995, Pelletier et al., 1995) validado para a língua portu-
guesa (Bara Filho et al., 2010), a qual passou a ser denominada por Escala de Motivação
Esportiva (SMS-BR). A mesma é composta por 28 itens precedido do enunciado: “Por que
você prática esporte?”, ao qual se responde com uma escala tipo Likert de 7 pontos, que
variam de “não corresponde em nada” a “corresponde exatamente”.
PROCEDIMENTOS
Os atletas foram esclarecidos sobre os propósitos da pesquisa e instrumento que seria
utilizado e após concordarem em participar, assinaram o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido. Logo em seguida, os atletas responderam ao questionário geral e a escala de
motivação desportiva SMS-BR. A coleta dos dados foi realizada em um ambiente livre de
ruídos que pudessem influenciar a concentração do voluntário.
09ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para verificar a normalidade da distribuição dos dados, utilizou-se o teste de Shapiro-
-Wilk. Empregou-se estatística descritiva por meio de médias e desvio-padrão para todas
as variáveis analisadas. A fidedignidade do instrumento (SMS-BR) foi avaliada por meio da
consistência interna (método alfa de Cronbach). Com o objectivo de comparar os grupos
masculino e feminino, foi empregado o teste t de student para as variáveis que apresenta-
ram distribuição normal, e o teste Mann-Whitney para as variáveis não paramétricas. Para
verificar as possíveis diferenças relacionadas à especialidade do atletismo com as subesca-
las analisadas do SMS-BR e as motivações intrínsecas e extrínsecas intragrupo, utilizou-se
a análise de variância com os testes ANOVA One-way, seguida do post hoc de Tukey para
as variáveis que apresentaram distribuição normal e Kruskal-Wallis para as variáveis que
violaram essa condição. Foi realizado o cálculo do tamanho do efeito para a subescala de
motivação intrínseca para atingir o objetivo e para motivação intrínseca e extrínseca intra-
grupo, por meio da fórmula do d de Cohen para verificar a magnitude do efeito da diferença,
respectivamente, entre as especialidades e motivações. Como classificação foi adotado:
.20 ≤ d < .50 = pequeno; .50 ≤ d < .80 = médio; d ≥ .80 = grande (Cohen, 1988). O nível de
significância adotado foi p < .05. Para a análise dos dados foi utilizado o software Statistical
Package for Social Sciences (SPSS, versão 15.0). O nível de significância adotado foi p < .05.
RESULTADOS
Os dados referentes ao sexo, idade, nível competitivo dos voluntários, bem como as in-
formações das sessões de treino realizadas nos últimos dois anos pelos atletas, foram
reportados no quadro 1.
QUADRO 1. Caracterização demográfica da amostra
ESPECIALIDADES
Velocista (n = 8) Meio Fundista(n = 10)
Fundista(n = 14)
Ultra-Maratonista (n = 8)
Idade (anos) 20.38±2.88 25.91±6.79 30.46±7.46 36.13±7.41
Sexo (M/F) 5/3 8/2 8/6 4/4
Nível (Nac./Int.) 5/3 8/2 8/6 4/4
Nº treinos por semana 6.13±0.35 7.09±1.51 7.08±1.85 7.50±0.53
Duração da sessão (min) 93.75±7.44 108.18±27.14 106.15±15.57 136.25±30.21
NOTA: n. número de voluntários; M. masculino; F. feminino;
Nac. nacional; Int. Internacional; Nº. número; min. minutos.
121 — RPCD 17 (S2.A)
A consistência interna dos dados do SMS-BR deste estudo, assim como os valores en-
contrados em outras pesquisas foi reportada no quadro 2. Neste estudo, os valores de
alfa foram próximos ou superiores a .70, o que indica boa consistência interna (Netemeyer,
Bearden, & Sharma, 2003).
QUADRO 2. Índice alfa de Cronbach para as subescalas do SMS-BR
em diversas pesquisas e no presente estudo
PESQUISASÍNDICE ALPHA DE CRONBACH POR SUBESCALAS
MI_C MI_EE MI_AO ME_ID ME_IN ME_RE AM
Presente estudo Atletismo .67 .74 .68 .66 .74 .79 .76
Pelletier et al. (1995)Atletas Universitários .80 .74 .80 .63 .74 .77 .75
Alonso et al. (2007)Diversos desportos .79 .75 .78 .74 .73 .79 .74
Costa et al. (2010)Futebol .76 .57 .71 .67 .67 .65 .62
Bara Filho et al. (2010)Diversos desportos .81 .77 .80 .78 .75 .74 .70
Nota: MI_C. motivação intrínseca para conhecer; MI_AO. motivação intrínseca para atingir objectivos; MI_EE. motivação intrínseca para experiências estimulantes; ME_RE. motivação extrínseca regulada externa; ME_IN. motivação extrínseca introjetada; ME_ID. motivação extrínseca identificada; AM. Amotivação.
O quadro 3 apresenta as comparações das subescalas de motivação entre as especiali-ões das subescalas de motivação entre as especiali-das subescalas de motivação entre as especiali-
dades dos atletas avaliados. Não foram observadas diferenças entre os grupos nas subes-
calas de motivação, à exceção do grupo de corredores MF apresentou menor motivação ex-
trínseca identificada quando comparado ao grupo de UM (p= .029) com tamanho de efeito
“grande” (Cohen, 1998) (d = .91). O grupo FD demonstrou valores superiores da motivação
intrínseca para atingir objetivos em relação às demais especialidades, no entanto essa
diferença não foi significativa (p= .077). O tamanho do efeito entre os grupo de fundista
e meio fundistas, velocistas e ultramaratonistas foi, respectivamente, “grande” (d= .97),
“médio” (d= .66) e “pequeno” (d= .45) (Cohen, 1998).
QUADRO 3. Comparações das subescalas do SMS-BR entre as especialidades dos corredores.
ESPECIALIDADES
p ValorVELOCISTA
(n = 8)MEIO FUNDISTA
(n = 10)FUNDISTA
(n = 14)
ULTRA-MARATONISTA
(n = 8)
MI_C 5.53 ± 0.88 5.41 ± 1.59 5.56 ± 1.25 5.88 ± 0.85 .875
MI_AO 5.53 ± 1.10 5.18 ± 1.18 6.17 ± 0.86 5.69 ± 1.29 .077
MI_EE 6.28 ± 0.51 6.11 ± 0.86 6.38 ± 0.59 6.28 ± 0.81 .925
ME_ID 5.25 ± 0.95 4.84 ± 1.23 * 5.84 ± 1.04 6.28 ± 0.69 .029
ME_IN 5.06 ± 1.36 5.25 ± 0.86 5.54 ± 1.18 5.50 ± 1.38 .925
ME_RE 4.81 ± 1.32 4.77 ± 1.33 4.19 ± 1.54 4.56 ± 1.43 .890
AM 1.91 ± 0.81 1.89 ± 0.90 1.65 ± 0.90 1.81 ± 0.66 .496
MI 17.34 ± 2.20 16.70 ± 3.33 18.12 ± 1.91 17.84 ± 2.55 .891
ME 15.13 ± 3.16 14.86 ± 2.65 15.21 ± 2.92 16.34 ± 2.29 .612
Nota: Nível de significância p<0,05, Média ± desvio-padrão, *vs ultramaratonistas, MI. motivação intrínseca; MI_C. motivação intrínseca para conhecer; MI_AO. motivação intrínseca para atingir objectivo; MI_EE. motivação intrínseca para experiências estimulantes; ME. motivação extrínseca; ME_RE. motivação extrínseca regulada externa; ME_IN. motivação extrínseca introjetada; ME_ID. motivação extrínseca identificada; AM. Amotivação.
A figura 1 apresenta a comparação entre a motivação extrínseca e intrínseca intragru-
po de cada especialidade. Apenas o grupo de corredores de fundo apresentou de forma
significativa a motivação intrínseca maior do que a motivação extrínseca (p= .0004) com
tamanho de efeito “grande” (Cohen, 1998) (d = 1.20). Todos os demais grupos demonstra-
ram valores superiores de motivação intrínseca, no entanto essas diferenças não foram
significativas. O tamanho do efeito nesses grupos foram médios, velocistas (d= .65), meio
fundistas (d= .61) e ultramaratonistas (d= .62) (Cohen, 1998).
FIGURA 1. Comparação da motivação intrínseca e extrínseca intragrupo.Nota: MI. motivação intrínseca; ME. motivação extrínseca. * motivação extrínseca vs motivação extrínseca (p= .0004).
09
123 — RPCD 17 (S2.A)
DISCUSSÃO
O presente estudo comparou as características motivacionais em corredores do atletismo de
alto rendimento, que competem em níveis nacionais e internacionais, especialistas em dife-
rentes provas. As motivações dos corredores das diferentes especialidades foram similares,
à exceção da subescala de motivação extrínseca identificada, que evidenciou diferença entre
os corredores meio fundistas e ultramaratonistas, sendo superior no segundo grupo. Entre
as provas de resistência do Atletismo, o processo de preparação e competição dos atletas
meios fundistas e ultramaratonistas são os mais distintos do ponto de vista psicofisiológico.
Os ultramaratonistas treinam elevadas horas por sessão quando comparado aos corredores
de meio fundo, esse alto volume de treino durante várias sessões semanais impõe uma ele-
vada carga psicológica (Krouse et al., 2011). Essa demanda psíquica pode explicar os eleva-
dos índices de motivação extrínseca identificada, que é caracterizada pelo julgamento que o
atleta faz sobre a importância da modalidade para o seu crescimento pessoal (Pelletier et al,
1995). De fato, pesquisas realizadas com corredores de ultramaratona verificaram que eles
se motivam nessa modalidade para sustentarem sua identidade e se sentirem vivos (Coiceiro
& Costa, 2010; Krouse et al., 2011) e que para o seu crescimento espiritual, vale a pena o risco
extremo visando buscar do limite físico e mental (Coiceiro & Costa, 2010).
A motivação intrínseca para atingir objetivos é caracterizada pelo sentimento de prazer
que o indivíduo possui em buscar desenvolver novas habilidades e atingir metas na mo-
dalidade que pratica (Pelletier et al, 1995). Neste estudo, o grupo de corredores de fundo
apresentou valores superiores dessa motivação, embora não significativos, ao se compa-
rar com os grupos de meio fundistas, velocistas e ultramaratonistas. No entanto, o tama-
nho do efeito foi grande entre os fundistas e meio fundistas, médio entre os fundistas e
velocistas e pequeno entre fundistas e ultramaratonistas. As características psicológicas
apresentadas pelos atletas talvez possam ser influenciadas pelas distintas características
do treino e competição dessas modalidades.
O processo de preparação e competição de corredores fundistas e meio-fundistas envol-
vem tempos de duração bem similares, contudo as intensidades de treino são bem diferen-
tes (Martin & Coe, 2001). Os corredores de fundo treinam cerca de 70-85% do volume de
treino em intensidade de leve a moderada, já os corredores de meio fundo realizam cerca
de 40-60% do volume de treino em altas intensidades (Martin & Coe, 2001). Dessa forma, as
provas com elevado volume de treino numa sessão, impõe uma carga psicológica diferente,
podendo fazer com que os mesmos se motivem de forma diferente ao se comparar com
outras modalidades que demandam volumes inferiores, explicando assim a tendência dos
fundistas apresentarem maior motivação intrínseca para atingir objetivos quando compara-
do aos atletas de meio fundo. Quando comparado o grupo de fundistas com os velocistas, o
primeiro parecia apresentar maior motivação intrínseca para atingir objetivos. Dessa forma,
os longos volumes de treino requerem maior mobilização psicofísica para atingir as metas
pré-estabelecidas. De fato, algumas pesquisas (Balbinotti et al., 2015; Sanchez et al., 2009)
com corredores de fundo treinados, evidenciaram que esses atletas se mobilizam para su-
perarem seus limites psicofísicos por meio da participação de corridas, e que os mesmos
possuem maior motivação quando os treinos proporcionam desafios, desenvolvendo dessa
forma suas capacidades físicas. Já o processo de treino dos corredores de fundo é muito
similar ao dos ultramaratonistas, grande parte do volume de treino é realizado entre 60-80%
da capacidade aeróbica máxima desses atletas, em sessões com alto volume.
Ao analisarmos a motivação intrínseca e extrínseca total, que compreende a soma das
médias das subescalas referentes a cada tipo de motivação, foi constatado que todos os
grupos apresentaram valores ligeiramente superiores de motivação intrínseca com va-
lor significativo apenas no grupo de fundistas. Os corredores de fundo do atletismo são
submetidos a treinos exaustivos, que demandam alta capacidade psicofisiológica. Dessa
forma, os mesmos dependem muito do componente intrínseco para se manterem empe-
nhados nas várias sessões de treino durante longas temporadas. De fato, Hemery (1991)
ao investigar os motivos pelos quais atletas de alto rendimento do Atletismo participavam
de competições, observou maior motivação intrínseca quando comparada à extrínseca. De
modo similar Mallet e Hanrahan (2004), Krous, Ransdell, Lucas e Pritchard. (2011) e Zaar
e Balbinotti (2011), ao investigarem os corredores de resistência, também revelaram que
os atletas eram mais motivados pelas metas e realizações pessoais do que por incentivos
financeiros, um componente da motivação extrínseca.
A motivação intrínseca dos corredores de velocidade, meio fundo e ultramaratona não se
mostraram superiores a extrínseca, contudo, o tamanho do efeito apresentado foi médio.
Estudos apontam que ambas as motivações são importantes no processo de treino e com-
petição (Gonzalez et al., 2011; Martin & Coe, 2001; Miranda & Bara Filho, 2008). Assim, os
atletas não podem depender unicamente de fatores internos para se manterem motivados
a treinar durante toda a temporada. A motivação extrínseca exerce um importante papel
nos mecanismos motivacionais dos atletas de alto rendimento. Nesse nível competitivo,
diversos são os componentes extrínsecos que envolvem a participação em competições,
tais como: premiações em espécie, bolsas de estudo, cachês para quebra de recordes,
contratos publicitários, pressão familiar e do treinador, entre outros (Miranda & Bara Filho,
2008). Contudo, se a motivação do atleta for demasiadamente direcionada para os compo-
nentes extrínsecos, o mesmo pode não conseguir se manter engajado no programa treino,
explicando assim valores superiores de motivação intrínseca.
Amorose e Horn (2000) investigaram as relações entre as motivações extrínsecas e in-
trínsecas em atletas universitários de futebol americano, verificaram que os jogadores que
a recebiam bolsa de estudo possuíam menor envolvimento com a modalidade do que os
atletas que não a recebiam. Sendo assim, a motivação extrínseca auxilia de forma positiva
o envolvimento do atleta na tarefa (Miranda & Bara Filho, 2008), no entanto, ela precisa
09
ser valorizada e utilizada corretamente por treinadores e agentes envolvidos no desporto
de rendimento (Hollemback & Amorose, 2005).
Além das demandas psicofísicas exigidas por cada especialidade em seu processo de
treino e competição, as capacidades psicológicas individuais podem diferir entre os atletas
da diferentes provas. No presente estudo não foram mensuradas outras características
psicológicas dos atletas, como por exemplo, concentração, estresse e ansiedade, o que tal-
vez influenciasse os níveis de motivação dos atletas. Dessa forma futuros estudos devem
investigar se as diversas características psíquicas individuais influenciam a motivação do
atleta em determinada modalidade. Adicionalmente, fazem-se necessários mais estudos
com indivíduos desse nível competitivo, tendo em vista que são escassas as pesquisas que
investigaram as capacidades psicológicas no Atletismo.
Espera-se, com este estudo, que treinadores e profissionais ligados ao desporto compe-
titivo preocupem com as questões relacionadas às motivações dos atletas. Adicionalmen-
te os profissionais devem estipular estratégias e intervenções no dia a dia de treino para
que a motivação intrínseca seja sempre mantida.
CONCLUSÕES
Com base nos achados, podemos concluir que as características motivacionais dos corredo-
res de diferentes provas do Atletismo são bem similares, à exceção da motivação extrínse-
ca identificada, que foi maior nos ultramaratonistas quando comparado aos meio fundistas.
Além disso, corredores de fundo possuem maior motivação intrínseca quando comparada
com a extrínseca, diferença essa não observada nos atletas das outras especialidades.
09REFERÊNCIAS
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10Níveis de ansiedade
pré-competitiva e eficiência
técnica e tática de uma equipe
adulta de futsal feminino
participante dos jogos
de Minas Gerais – 2015
PALAVRAS CHAVE:
Futsal. Técnica. Tática.
Ansiedade.
RESUMO
Atletas de futsal feminino vivenciam diversas reações, como a ansiedade e o estresse em
competições. Assim, o estudo pretendeu verificar os níveis de ansiedade pré-competitiva
das atletas que disputam os Jogos de Minas Gerais – 2015 – e a correlação deles com a
eficiência técnica e tática das mesmas. Este estudo é delineado como descritivo explo-
ratório, com análise quali-quantitativa e corte transversal. Participaram desta pesquisa
13 atletas da equipe do Montes Claros Tênis Clube que disputaram a etapa regional dos
Jogos de Minas Gerais – 2015. Em todas as atletas foram avaliados os níveis de ansiedade-
-estado e ansiedade-traço e seus desempenhos técnico e tático nas partidas. Na análise
dos dados, recorreu-se à estatística descritiva, ao teste Shapiro Wilks e à análise corre-
lacional de Pearson, com nível de significância de 5%. Como resultado, constatou-se que
as atletas apresentaram baixo níveis de ansiedade-estado (CSAI-2) e níveis moderados de
ansiedade-traço (SCATE). Portanto, pode-se inferir que, apesar de alguns erros técnicos
das jogadoras, os mesmos não podem ser influenciados pela ansiedade, não havendo uma
correlação entre a ansiedade e as ações técnicas. Em relação à participação/ experiência
com a ansiedade, observou-se neste estudo que a participação apresentou resultado sig-
nificativo. Dessa forma, quanto maior a participação, maior o nível de ansiedade entre as
atletas. Por fim, quanto à análise tática, as equips, no geral, jogam de forma simples, com
poucas ou nenhumas variações de sistemas, padrões de jogo e jogadas ensaiadas.
AUTORES:
Geraldo Magela Durães 1
Bruna Santos Durães 1
Jean Claude Lafetá 1
Maria de Fátima de M Maia 1
Alexandre Caribé 1
1 Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Minas Gerais (Brasil)
Correspondência: Geraldo Magela Durães. Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES),
Minas Gerais (Brasil). ([email protected])
127 — RPCD 17 (S2.A): 127-140
129 — RPCD 17 (S2.A)
Precompetitive anxiety levels
and technical and tactical efficiency
of an adult female futsal team participant
of Minas Gerais games – 2015
ABSTRACT
Female futsal athletes experience different reactions, such as anxiety and
stress in competitions. Thus, the present study aimed to verify the pre-com-
petitive anxiety levels of athletes competing for Minas Gerais Games – 2015
– and their correlation with their technical and tactical efficiency. This stu-
dy is designed as exploratory descriptive, with qualitative and quantitative
analysis, and cross-sectional. The study gathered 13 athletes from Montes
Claros Tênis Clube team, which competed in the regional stage of Minas
Gerais Games – 2015. All athletes were evaluated regarding their levels of
state and trait anxiety, and their technical and tactical performances in the
matches. In the data analysis, we used descriptive statistics, the Shapiro
Wilk test and Pearson correlational analysis, with 5% of significance level.
The result showed low levels of state anxiety (CSAI-2) and moderate trait
anxiety (SCATE). Therefore, it can be inferred that, in spite of some technical
errors, the players were not influenced by anxiety and there was not a cor-
relation between anxiety and technical actions. Regarding the participation/
experience with anxiety, the participation showed a significant result. Thus,
the higher the participation the higher levels of anxiety among athletes. Fi-
nally, as regards the tactical analysis, teams generally play simply, with few
or no variation systems, game standards and set pieces.
KEY-WORDS:
Futsal. Technique. Tactic. Anxiety.
INTRODUÇÃO
Entre as diversas atividades presentes nas escolinhas de esportes coletivos, brincadeiras
e aulas de educação física, o futsal se destaca pela preferência de vários alunos. É um
esporte que apresenta um grande número de participantes em competições municipais,
regionais, estaduais e internacionais. Além disso, tem despertado também o interesse do
público feminino, que vem gerando cada vez mais atletas, mostrando semelhanças nas
qualidades técnicas e táticas, e com isso atraindo investimentos em treinamentos e cam-
peonatos, inclusive nos Jogos de Minas Gerais.
Os Jogos de Minas Gerais é uma competição desenvolvida pela Secretaria de Estado de
Esportes – SEESP – com a participação das prefeituras e Federações Esportivas do Estado.
Tem como objetivo fomentar a prática do esporte de alto rendimento nos municípios e ins-
tituições de Minas Gerais, a descoberta de novos atletas, a integração esportiva e melho-
raria da gestão esportiva, além de contribuir para o potencial econômico, social e turístico
das regiões (Jogos de Minas Gerais, 2015).
Nesse sentido, é visível nos Jogos de Minas a grande competitividade entre as equipes,
que buscam nos treinamentos um melhor desempenho individual e coletivo, a criação de
metas com o intuito de classificação para as etapas finais das competições e consequen-
temente a conquista de títulos.
Nessa perspectiva, a busca por títulos torna o futsal cada ano mais competitivo, exigindo
mais dos atletas, aumentando a cobrança dos técnicos e dirigentes, ocasionando assim a
ansiedade na busca por conquistas, prestígio e reconhecimento. Os atletas, muitas vezes,
criam mecanismos de parâmetros comparativos e criam rivalidades, desafios e objetivos
competitivos a serem alcançados, gerando reações emocionais, podendo atrapalhar no
seu desempenho técnico e tático dentro de quadra.
Silva, Lima, Ribeiro, Costa e Hernandez (2015, P. 3) afirmam que “a ansiedade é das variá-
veis mais estudadas na psicologia do esporte devido ao grande efeito que pode ter sobre o
desempenho dos atletas”. Esclarecendo a ideia, Damázio (1997) cita que atletas que apre-
sentam níveis elevados de ansiedade tendem a não ter uma boa performance ao se depa-
rarem com alguma situação estressante, diferente daqueles que apresentam baixos níveis
de ansiedade. De acordo com Frischnecht (1990), a ansiedade é um dos limitantes mais co-
muns para um bom desempenho. Em casos extremos, suas consequências chegam a per-
turbar a concentração, diminuindo o campo de atenção e levando à performance reduzida.
Silva et al. (2015, P. 4) salientam que a ansiedade pode ser classificada como traço e estado:
“ansiedade-traço se refere às diferenças relativamente estáveis entre os indivíduos, que fa-
zem parte da personalidade dos mesmos”; a ansiedade-traço é uma tendência ou disposição
mais ou menos permanente em que as pessoas tendem a perceber os eventos como física
e psicologicamente ameaçadores, embora objetivamente não o sejam. A ansiedade-estado
é “uma emoção transitória, marcada por sentimentos de apreensão e aumento da atividade
10
131 — RPCD 17 (S2.A)
do sistema nervoso autônomo” (Silva et al. 2015, p. 4). Esse tipo de ansiedade pode levar o
indivíduo a apresentar os seguintes sinais: sudorese, aumento do ritmo cardíaco, elevação da
pressão arterial, respiração mais rápida e profunda, tensão muscular, distúrbios gastrointes-
tinais, náuseas, vômitos, dificuldade de concentração, entre outros.
Quanto às atletas de futsal feminino, as mesmas participam de campeonatos competitivos
e vivenciam diversas reações, como a ansiedade e o estresse. As equipes fazem treinamentos
intensificados, em busca de resultados positivos, mas muitas vezes esses treinos são voltados
apenas para a tática, a técnica, a preparação física e estratégias abordadas durante as partidas,
ficando de lado a preparação psicológica para elas lidarem com suas reações. Considerando
o equilíbrio durante os jogos, assim como as imprevisibilidade e elevada instabilidade, deve-se
analisar, além dos aspectos tático, técnico e físico, as diversas reações dos atletas, como a
ansiedade, fator que pode fazer a diferença no desempenho e resultado final nas competições.
Tratando-se de ansiedade no futsal, há uma escassez de estudos com as mulheres. Esse
tipo de emoção pode influenciar no desempenho de uma equipe, sendo por isso importan-
te desenvolver mais estudos nessa temática. Nesse sentido, o estudo teve como objetivo
avaliar os níveis de ansiedade e sua relação com a eficiência técnica e tática em atletas de
futsal feminino da categoria adulto participante dos Jogos de Minas Gerais – JIMI/2015.
MÉTODO
O presente estudo se caracterizou como uma pesquisa descritiva exploratória, com análise
quali-quantitativa e de corte transversal.
AMOSTRA
A amostra foi intencional, de maneira não probabilística, constituída por 13 atletas da equi-
pe adulta de futsal feminino do Montes Claros Tênis Clube – MCTC, relacionadas para as
cinco partidas da etapa regional dos Jogos de Minas Gerais – JIMI/2015.
Os participantes da pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido,
onde foram mencionados todos os assuntos referentes aos questionários, análise técnica e
tática, objetivo do estudo e atestando aceitar participar, sendo garantido o anonimato e con-
fidencialidade dos envolvidos conforme a Resolução 466/ 2012 do CNS. O projeto da pesquisa
foi encaminhado e aprovado pelo comitê de ética sob o número do parecer 1.293.656.
INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados para mensurar os níveis de ansiedade foram os questionários CSAI-
2 (Competitive State Anxiety Inventory-2) e o SCAT (Sport Competition Trait Anxiety Test).
Para avaliar a eficiência técnica e a eficiência tática das atletas, recorreu-se ao programa de
análise Video Observer (Smart Coach) e à observação das ações dos jogos, respectivamente.
O CSAI-2 é um protocolo com o objetivo de examinar a ansiedade-estado pré-competiti-
va, analisando o nível de ansiedade do atleta minutos antes da competição. É dividido em
ansiedade cognitiva, somática e autoconfiança. A avaliação é composta por nove questões,
com respostas em escalas: nem um pouco (1), um pouco (2), moderadamente (3) e muito
(4) (Weinberg & Gould, 2001).
Da mesma forma, o SCAT constitui uma ferramenta para avaliar a ansiedade-traço em
competições esportivas. O teste é composto por seis questões e suas respostas são: quase
nunca (1), às vezes (2) e frequentemente (3) (Weinberg & Gould, 2001).
Para classificar o nível de ansiedade das atletas, foi realizada a soma dos resultados das
questões em cada questionário e, logo após, calculou-se a média dos resultados das cinco
partidas, onde o CSAI-2 se projetou da seguinte forma: baixo, entre 9 e 18 pontos; médio,
entre 18 e 27 pontos; e alto, entre 27 e 39 pontos. Por outro lado, o SCAT teve como crité-
rios: baixo, entre 6 e 10 pontos; médio, entre 10 e 14 pontos; e alto, entre 14 e 18 pontos
(Bocchini, Morimoto, Rezende, Cavinato, & Luz, 2008).
PROCEDIMENTOS
Como procedimentos preliminares, todas as atletas foram informadas dos objetivos da
investigação e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, sendo garanti-
dos o anonimato e a confidencialidade. O questionário CSAI-2 foi aplicado às atletas cinco
minutos antes do início de cada partida. Por outro lado, o SCAT foi preenchido somente no
primeiro jogo, assim que as jogadoras chegaram ao ginásio. Os scouts foram realizados
através do software Smart Coach/ Video Observer e interpretados após a competição, com
análise das filmagens obtidas das partidas.
O scout é usado para analisar a eficiência técnica e tática, registrando as informações
e análise de jogo. O Video Observer é um sistema de análise de desempenho no esporte
com gestão de dados e emissão de relatórios informatizados. Através desse instrumento
foram registradas algumas ações das atletas durante as partidas: remates (chutes), gols,
finalizações falhadas, finalizações defendidas, passes errados, assistências, cartões ama-
relos e cartões vermelhos. Logo em seguida foi realizada a soma de cada ação técnica das
atletas individualmente nas cinco partidas, sendo avaliado o desempenho das mesmas.
O aspecto tático foi interpretado através da observação das filmagens das atletas na par-
ticipação defensiva, na ofensiva e em contra-ataques, sendo de forma individual dentro de
uma concepção coletiva.
Nessa perspectiva, Belei, Gimeniz-Paschoal, Nascimento e Matsumoto (2008) afirmam que
a filmagem possibilita rever posteriormente de forma detalhada ações e comportamentos,
com uma análise mais fidedigna das observações realizadas sobre um fenômeno ou prática.
10
133 — RPCD 17 (S2.A)
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram tratados estatisticamente através do programa SPSS 20.0 for Windows.
Foram utilizadas as técnicas da estatística descritiva, que possibilitaram caracterizar a
amostra estudada em função das variáveis selecionadas: média, desvio-padrão, amplitu-
de e frequências. Para averiguar a distribuição da normalidade da amostra foi utilizado
o teste Shapiro Wilks.
Como as variáveis da amostra encontravam-se distribuídas dentro da normalidade (p > .05),
utilizou-se a análise correlacional de Pearson no intuito de verificar a associação entre o nível
de ansiedade e a eficiência técnica, com nível de significância de 5%. Por outro lado, a efici-
ência tática foi interpretada de forma qualitativa, através da observação das videogravações.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 13 atletas femininas da equipe adulta do Montes Claros Tê-
nis Clube durante a competição do JIMI 2015, sendo duas goleiras (15.4%) e 11 jogado-
ras de linha (84.6%), podendo a comissão técnica utilizar até 14 atletas em cada partida.
Com relação ao perfil antropométrico, as jogadoras apresentaram um peso com média
de 59.30 kg (± 10.45) e estatura com média de 1.63 m (± 4.71), sendo consideradas, as-
sim, dentro do padrão aceitável para a modalidade no naipe feminino. Em outro aspecto,
observou-se que as mesmas eram experientes, pois praticavam a modalidade com uma
média de 10.38 anos (± 4.99).
QUADRO 1. Posição das atletas
POSIÇÃO FREQUÊNCIA PERCENTUAL
Goleira 2 15.4
Fixo 3 23.1
Ala 7 53.8
Pivô 1 7.7
Total 13 100.0
Fonte: dados do estudo
Com relação à eficiência técnica, evidenciou-se que as atletas apresentaram uma media
de finalizações de 11.61 remates (± 12.04), com o mínimo de zero (referente às goleiras)
e máximo de 35 (atletas de linha). A análise individual revelou um baixo número de fina-
lizações, podendo ser atribuída à pequena participação de grande parte das atletas, onde
somente em duas partidas todas jogaram. No entanto, nos demais jogos o técnico fez pou-
cas substituições, utilizando apenas seis ou sete das 13 relacionadas para a partida. Em
relação à finalização total nos confrontos, a equipe apresentou uma média de 30.2 remates
por jogo, considerado um bom índice para o futsal.
Tratando-se dos gols, as atletas alcançaram uma média de 1.69 (± 2.52), com o mínimo
de zero e máximo de oito gols. De forma geral, houve uma média baixa de gols nas partidas,
o que pode ter sido influenciada pela quantidade mínima de substituições realizadas pelo
técnico, mas que estão relacionadas diretamente às características individuais, tais como
alto poder de marcação, armação e assistência. No entanto, as jogadoras não finalizavam
as jogadas com precisão ou não participavam tanto das mesmas no quesito ofensivo. O bai-
xo índice de gols pode também ser atribuído ao nível da equipe adversária ou organização
tática e estratégica adotada pela mesma.
No que se refere às finalizações defendidas e falhadas, as atletas apresentaram uma
média de 3.46 (± 3.40) defesas, com mínimo de zero (goleiras e uma jogadora de linha) e
máximo de 11 (demais jogadoras de linha). Já as finalizações malsucedidas, as investiga-
das obtiveram uma média de 6.53 (± 7.27), com mínimo de zero (goleiras) e máximo de 20
(atletas de linha). Assim, evidenciou-se um baixo número de finalizações defendidas e um
maior índice de remates falhados, aproximando-se do dobro de finalizações.
Com relação aos passes errados, as atletas obtiveram uma média de 12.0 (± 11.86)
falhas. Assim, fica evidenciado que as jogadoras não apresentaram muitos erros nesse
fundamento, porém, quanto aos passes errados no geral da equipe, elas alcançaram vá-
rios erros, com média de 31.2 por jogo. Essa característica pode ser atribuída à falta de
entrosamento da equipe, sendo que na maioria dos jogos o técnico utilizou poucas atletas
e, quando necessitava realizar substituições, as jogadoras apresentavam certa dificuldade
em entender as estratégias, principalmente pela falta de movimentação, não criando linha
de passe, o que constitui ação importante na execução do fundamento. Além disso, outro
fator relevante se deve ao tipo de marcação realizada pela equipe adversária.
Na análise de assistências, alcançaram uma média de 1.38 (± 1.85), caracterizando-se
um número reduzido de passes para remates com gol, que pode ser atribuída à pequena
quantidade de gols da equipe ou erro do adversário, como, por exemplo, um passe errado,
má interceptação, passando a posse de bola para a outra equipe, que aproveita e converte
em gol, não sendo computado como assistência.
Em relação aos cartões recebidos, foi evidenciada uma média de 0.15 (± 0.37) cartões
amarelos, com apenas duas atletas advertidas e não houve nenhum registro de cartão ver-
melho. Portanto, observou-se um índice muito baixo de cartões, podendo ser influenciado
pelo pequeno número de faltas, disciplina das atletas, onde as mesmas preocupavam-se
em realizar um bom jogo, sem deixar fatores externos (torcida) e arbitragem influenciar
em seu desempenho, principalmente na concentração e ansiedade.
10
135 — RPCD 17 (S2.A)
A participação das atletas na competição foi considerável, com média de 8.07 (± 1.55),
computados a partir da soma nos cincos jogos, obedecendo à escala de: 0 – não foi para
o jogo, 1 – foi, mas não jogou; e 2 – foi e jogou. Todas as jogadoras foram relacionadas na
maioria das partidas (mínimo em quatro), porém somente três jogaram todos os jogos.
Dessa forma, verificou-se que o técnico optou por poucas substituições, podendo ser atri-
buída à discrepância na equipe em relação ao entrosamento e níveis técnico e tático.
QUADRO 2. Análise correlacional entre ansiedade e ações técnicas
SCATE CSAI – 2
Variáveis N p r p r
Finalizações 13 .990 – .004 .889 .043
Gols 13 .260 .337 .348 .284
Defendidos 13 .414 .248 .416 .247
Falhados 13 .408 – .183 .944 – .022
Assistências 13 .790 .082 .643 .142
*p < 0,05
Os níveis de ansiedade das atletas durante a competição foram analisados pelos instru-
mentos CSAI-2 e SCAT. Nesse contexto, foram evidenciados baixos índices de ansiedade-
-estado (CSAI-2), com média de 15.65 (± 4.16). No entanto, a ansiedade-traço (SCAT) obte-
ve índices considerados moderados, com média de 11.61 (± 1.60).
Nessa mesma perspectiva, buscou-se avaliar a associação entre os níveis de ansiedade
e a eficiência técnica. Com os resultados, ficou evidenciado que não existiu uma correlação
significativa (p < .05) entre a ansiedade (SCAT e CSAI-2) e desempenho nas ações técnicas
(finalizações, gols defendidos, gols falhados, passes errados e assistências). Da mesma
forma, não foi verificada uma associação entre os níveis de ansiedade com a idade e expe-
riência na modalidade. Entretanto, existiu uma correlação positiva moderada (N = 13; r =
.59) entre a ansiedade (CSAI-2) e a participação nos jogos.
QUADRO 3. Análise correlacional entre ansiedade e Participação/ Experiência/ Idade
SCATE CSAI – 2
Variáveis n p r p R
Participação 13 .713 .113 .034* .589
Experiência 13 .566 .176 .615 - .154
Idade 13 .840 - .062 .093 - .485
*p < 0,05
A eficiência tática foi analisada de forma qualitativa através da observação (Video Observer)
das cinco partidas realizadas pela equipe do Montes Claros Tênis Clube e seus adversários
durante a competição. Para preservar o nome real das equipes, adotou-se as seguintes deno-
minações: Equipe “A”, Equipe “B”, Equipe “C”, Equipe “D” e Equipe “E”, seguindo a ordem dos
jogos, sendo três da fase classificatória e dois das eliminatórias (semifinal e final).
No primeiro jogo do JIMI/2015 (MCTC 1x0 Equipe “A”), a equipe adversária mostrou-se
determinada e com boa marcação individual na linha dois (meia pressão), com atletas de
boa qualidade técnica, mas sem muita organização tática ofensiva, dependendo da reto-
mada de bola no campo de ataque para finalizar o gol do MCTC.
Com relação ao ataque, a Equipe “A” usou o sistema de jogo 3x1, bastante tradicional e
usado nas equipes brasileiras, jogando com a fixa, duas alas e uma pivô, tentando sempre
utilizar as tabelas com a jogadora de frente (pivô), fato facilitado pela marcação do MCTC
de meia quadra ou na linha 3.
No que se refere às jogadas ensaiadas (manobras) da Equipe “A”, foram observadas apenas
as jogadas de tiro lateral e tiro de canto com a execução de um passe e finalização direta ao gol,
ação que levou perigo a esta área do MCTC durante o jogo, mas que não chegou a se concretizar.
Na análise tática também foi observado que a Equipe “B” é inferior tecnicamente e ta-
ticamente se comparada à do Montes Claros Tênis Clube (MCTC 10x0 Equipe “B”), sendo
que a mesma utilizou pouca ou nenhuma ação tática, como o bloqueio, troca de posições,
tabela, cobertura, dobra e ajuda.
A Equipe B demonstrou não possuir jogadas ensaiadas. Elas posicionavam no sistema
2x2 ou 3x1, com pouca movimentação e, consequentemente, grande número de passes
errados e baixa posse de bola. Em relação à defesa, realizavam marcação meia quadra e
individual e, apesar de ser o sistema defensivo que proporciona o contra-ataque, as atletas
não exploravam essa possibilidade.
No terceiro jogo (MCTC 5x2 Equipe “C”), a equipe adversária apresentou-se com uma
melhor movimentação que as equipes anteriores, com a troca de posição entre as atletas,
característica do rodízio “troca de ala com pivô”. Com relação às qualidades técnicas, ob-
servou-se que a equipe tem jogadoras mais habilidosas e experientes, causando um maior
contratempo ao MCTC.
Nas jogadas ensaiadas, a Equipe C também demonstrou ter apenas manobras de tiro
lateral e de canto, onde existe a possibilidade de maior organização das atletas no posi-
cionamento e execução da mesma. As jogadas de 1x1 (um contra um) também são carac-
terísticas dessa equipe, pois, com a presença das atletas habilidosas, esse tipo de lance é
bastante produtivo.
No quarto jogo (MCTC 3x0 Equipe “D”), ocorreu o início da etapa eliminatória, onde as
atletas tiveram um adversário já conhecido e inferior à Equipe “C”. A equipe era composta
por atletas experientes, porém com pouca habilidade. Durante o ataque, utilizavam o sis-
10
137 — RPCD 17 (S2.A)
tema 3x1, possuindo poucas jogadas ensaiadas, com execução somente no tiro lateral e
de canto, explorando a boa finalização de uma de suas atletas, que é referência também
no pivô, utilizando-se bastante da ligação direta (defesa-ataque), com a mesma fazendo a
proteção, esperando as alas chegarem ou efetuando o giro e finalizando.
Com relação à defesa, as adversárias (Equipe D) utilizavam pouca cobertura, dobra ou
ajuda, deixando muitos espaços para realizar jogadas ofensivas e de finalização. A marca-
ção era realizada na meia quadra ou na linha 3 e individual.
Na última participação na etapa regional dos Jogos de Minas Gerais – 2015 (MCTC 5x3
Equipe “E”), o MCTC enfrentou um time com o mesmo nível técnico, tático e físico de suas
atletas. Portanto, o confronto manteve-se equilibrado durante toda a partida. A equipe
adversária, diferente das demais, apresentava organização tática tanto na parte defensiva
quanto na ofensiva, além de possuir atletas experientes, habilidosas e com várias quali-
dades técnicas. Com relação ao ataque, eram bem organizadas e possuíam algumas joga-
das ensaiadas, utilizando-se do sistema 3x1, com variação do padrão de jogo. Além disso,
demonstraram ser um time de grande movimentação, já que finalizavam bem de longa
distância, além de realizar jogadas individuais (dribles).
DISCUSSÃO
O futsal feminino vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil e no mundo. No Brasil, a
modalidade entre as mulheres possui grande semelhança com relação à técnica, à tática
e aos formatos de competições comparados ao masculino, tendo a Taça Brasil e o Campe-
onato Brasileiro de Seleções, além de em todos os anos, desde 2005, ser realizada a Liga
Futsal Feminina (Confederação Brasileira de Futsal [CBFS], 2009).
A busca por conquistas nos Jogos de Minas Gerais por atletas do sexo feminino vem cres-
cendo de forma marcante, no qual são realizados vários jogos competitivos, com equipes de
alto rendimento e que apresentam grande potencial tático, técnico e físico, principalmente
na terceira fase. O futsal é um esporte dinâmico, coletivo e complexo, o qual requer muita
habilidade, velocidade de reação e atenção de todos os participantes, sendo que a maioria
dos jogos é equilibrada, podendo ser decididos faltando segundos para seu término.
A equipe adulta feminina de futsal do MCTC que participou do JIMI/2015 era composta
por 13 atletas, sendo duas goleiras e 11 jogadoras de linha. Elas apresentavam um perfil an-
tropométrico considerado aceitável e grande experiência na modalidade esportiva praticada.
Nessa perspectiva, deve-se salientar que a experiência no futsal constitui um impor-
tante fator que interfere em seus desempenhos técnico, tático e psicológico (ansiedade).
Conforme de Rose Júnior (1997), Samulski (2002) e Barreto (2003), quanto maior o nível
de experiência menor será seu nível de ansiedade e, consequentemente, melhor será seu
desempenho. Weinberg e Gould (2001) afirmam que o excesso de ansiedade atrapalha no
desempenho, ocorrendo um grande dispêndio de energia, dificultando na concentração,
coordenação e análises de jogadas.
Com relação à eficiência técnica, a equipe apresentou um bom índice de finalizações du-
rante a competição, apesar de não ocorrer pela maioria em decorrência das poucas substi-
tuições realizadas pelo treinador. Foi evidenciada uma média pequena de gols por partida e
de finalizações defendidas, assim como uma média maior de remates falhados.
Apesar do relevante número de finalizações, a maioria desses remates ocorreu fora da
meta do gol, o que pode ser influenciado pela precipitação na conclusão das jogadas ou nú-
mero reduzido de treino técnico, enfatizando mais a parte tática. Segundo Barbanti (2003),
o treinamento é uma repetição ordenada, no qual se visa à melhoria do rendimento e das
habilidades, sendo determinada pelo um equilíbrio nas condições técnica, na motivação, na
tática e nas características psicológicas do atleta.
Considerando esse equilíbrio durante as competições, as imprevisibilidades e a elevada
instabilidade durante as partidas, deve-se analisar, além dos aspectos tático, técnico e
físico, as diversas reações dos atletas, como a ansiedade, fator que pode fazer a diferença
no desempenho e resultado final nas competições.
Berté Júnior (2004) conceitua a ansiedade como um estado anormal de inquietação mo-
tivado por uma circunstância ameaçadora relacionada à personalidade da pessoa. De acor-
do com Cruz (1996, p. 79), a “ansiedade no rendimento desportivo apresenta-se como um
processo relacional e um sistema de variáveis e processos psicológicos interdependentes,
de natureza cognitiva e motivacional, experimentada em contextos desportivos”.
A ansiedade é uma situação psíquica que proporciona diversas reações em atletas nas
competições esportivas, podendo reduzir seu desempenho nas partidas. Neste estudo, a
amostra apresentou baixos índices de ansiedade-estado (CSAI-2) e níveis moderados de
ansiedade-traço (SCAT). Além disso, não foi evidenciada uma associação estatisticamente
significativa entre a ansiedade (SCAT e CSAI-2) e a eficiência técnica, idade e experiência
na modalidade. No entanto, observou-se uma correlação entre a ansiedade (CSAI-2) e a
participação nos jogos.
Esses resultados contrariam os estudos publicados na literatura, pois várias pesquisas
realizadas com desportistas apresentam níveis elevados de ansiedade como influência no
desempenho. Gomes et al. (2010) avaliou em atletas de voleibol o nível de ansiedade e de-
sempenho pré-competitivo (treinos) e competitivo (jogos). Com os resultados, verificou-se
que a ansiedade foi maior nas partidas da fase preparatória, interferindo na atuação das
jogadoras, onde a equipe perdeu dois jogos e perdeu a invencibilidade.
Salles, Oliveira, Barroso e Pacheco (2015) realizaram um estudo para verificar o nível de
ansiedade-traço (SCAT) de 65 atletas universitários de esportes coletivos (futsal, handebol e
voleibol). Os resultados evidenciaram um perfil de “média ansiedade-traço”, com média 20.1
± 3.52 pontos. Não houve associação significativa do nível de ansiedade dos atletas com o
10
139 — RPCD 17 (S2.A)
sexo, com a modalidade praticada ou com a classificação final da equipe na competição, em-
bora tenha se verificado que o sexo feminino apresentou níveis de ansiedade mais elevados.
Santos, Pedrozo e Perondi (2016) avaliaram o nível de ansiedade-traço (SCAT) e ansie-
dade-estado (CSAI-2) nas fases preparatória e pré-competição em atletas de futsal do
município de Xavantina (SC). 19 jogadoras participaram deste estudo, sendo 11 do sexo
masculino e oito do sexo feminino. Os resultados não demonstraram diferenças signifi-
cativas nos índices de ansiedade-estado entre a fase preparatória e a pré-competitiva. No
entanto, atletas do sexo feminino obtiveram maior nível de ansiedade traço e ansiedade-
-estado do que o sexo masculino.
Os resultados obtidos nesta investigação podem ter sido influenciados pela experiência
na modalidade esportiva, onde todas possuíam um tempo significativo de prática do futsal e
já participaram várias vezes da mesma competição (Jogos de Minas Gerais), além de outros
fatores como a idade, a personalidade e por jogarem em casa, com a torcida a seu favor.
Moraes, Lôbo e Lima (2002) fizeram em seus estudos uma comparação entre a ansie-
dade-estado, a ansiedade-traço e a autoconfiança em atletas de cinco modalidades espor-
tivas, dentre elas o futsal. Separados em experientes e inexperientes, foi revelado que os
atletas mais experientes têm um índice mais elevado de autoconfiança, relativamente ao
grupo menos experiente.
Da mesma forma, Fernandes, Nunes, Raposo, e Fernandes (2014) avaliaram as corre-
lações inter-escalas entre a ansiedade-estado (CSAI-2R) e sua relação com a experiência
competitiva, bem como o efeito da experiência competitiva na ansiedade e na autocon-
fiança em diferentes tipos de modalidades. Participaram desta investigação 267 atletas
(196 do sexo masculino e 71 do sexo feminino), com idades entre os 18 e 40 anos. Com os
resultados, os autores observaram que a experiência competitiva exerce um elevado efeito
multivariado significativo sobre as dimensões da ansiedade competitiva. Praticantes de
modalidades tanto individuais quanto coletivas, com baixa experiência competitiva, apre-
sentaram maior predisposição a níveis inferiores de intensidade de autoconfiança.
Moraes (1990) preconiza que existe uma relação entre ansiedade e desempenho e que
os mesmos podem alterar de acordo com várias situações, tais como a complexidade da
tarefa, tipo de esporte, personalidade do atleta, a torcida e o ambiente. Com relação à tor-
cida, Fernandes e Nunes (2006) citam que atletas que disputam competições fora de casa
tendem a ter maiores níveis de ansiedade pré-competitiva.
Moutinho (2015) salienta achados de Martens (1982), baseando-se numa concepção
multidimensional da ansiedade, e afirma que a autoconfiança se correlaciona negativa-
mente com a ansiedade cognitiva e somática. Dessa forma, sempre que os valores dessas
duas componentes da ansiedade aumentam, os valores do terceiro componente – a auto-
confiança – diminuem. Sendo assim, se o atleta tem menos autoconfiança, a tendência é
que o seu desempenho seja menor.
Referente à discriminação de um resultado de uma partida de futsal, Miloski, Pinho, Frei-
tas, Marcelino e Arruda (2014) salientam que as ações técnico-táticas de desarme refe-
rentes ao sistema de defesa de determinada equipe de futsal podem indicar o resultado
da partida, bem como para a importância do sistema de ataque no que diz respeito a uma
melhor organização do ataque e, consequentemente, uma menor possibilidade de sofrer
desarmes. É importante ressaltar que a capacidade de desarmar a atleta no futsal depen-
de da ansiedade no momento exato da abordagem, ou seja, quanto mais ansioso maior a
probabilidade de cometer erros e faltas e consequentemente sofrer os gols.
Quanto aos sistemas táticos utilizados durante as partidas com relação às equipes ad-
versárias do Montes Claros Tênis Clube, observou-se que a maioria delas jogou no sistema
3x1, que é um sistema tradicional brasileiro, ficando o sistema 2x2, de acordo com Silva
(2014), mais utilizados nos jogos escolares, por ser de mais fácil assimilação e com movi-
mentações simplificadas.
CONCLUSÕES
Diante da análise dos resultados obtidos conclui-se que as atletas da equipe de futsal do
Montes Claros Tênis Clube possuem um baixo índice de ansiedade-estado (CSAI-2) e um
nível moderado de ansiedade-traço (SCAT), não demonstrando existir correlação da ansie-
dade com a eficiência técnica. No entanto, observou-se uma associação entre o nível de
ansiedade e a participação nas partidas.
Na análise da eficiência tática, as equipes adversárias apresentaram poucos sistemas
ofensivos e defensivos e pequena quantidade de jogadas ensaiadas. Além disso, a maioria
utiliza o sistema de ataque 3x1, marcação meia quadra e marcação individual. Portanto,
evidenciou-se que as equipes jogam de forma simples, com poucas variações de sistemas
e padrões de jogo.
Mesmo que não sejam constatados níveis elevados de ansiedade nas atletas, é relevante
investigar e trabalhar esse componente na equipe, sendo que a mesma pode variar de com-
petição para competição e nível da equipe adversária. Todo planejamento e treinamento deve
ser realizado visando às exigências do futsal moderno para se obter resultados satisfatórios.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos ao VIDEO OBSERVER através do Professor Júlio César Resende, por ter
concedido a licença do programa e ter se colocado à disposição para esclarecimentos, cola-
borando também na coleta de dados.
10
REFERÊNCIAS
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Depressão e dança
de salão: Fatores
de influência em idosos
PALAVRAS CHAVE:
Idosos. Depressão. Dança.
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi verificar os fatores que influenciam a incidência de de-
pressão em um grupo de idosos praticantes de dança. A investigação se tornou relevante
devido à expressividade da população idosa no contexto brasileiro e por acreditar-se que
a identificação destes fatores pode auxiliar o combate, tratamento e prevenção desta en-
fermidade. A amostra compôs-se de 51 idosos com idade média de 66.33 anos (± 6,89),
de ambos os gêneros e que praticavam dança de salão. A fim de verificar a incidência
de depressão nos participantes aplicou-se o Inventário de Beck e como instrumento in-
vestigativo das capacidades cognitivas fez-se uso do questionário Mini-Mental, do qual os
escores considerados baixos seriam utilizados como critério de exclusão. A análise dos
dados identificou significância da influência das variáveis: ser profissionalmente ativo; ter
passado por uma situação trágica e apresentar alguma doença associada na incidência de
depressão. Estes dados evidenciam a necessidade de maiores investigações sobre como
evitar tais influências.
AUTORES:
Cristina Carvalho de Melo
Tatiana Lima Boletini
Israel Teoldo da Costa
Agnes Vasconcelos Arreguy
Franco Noce
Correspondência: Cristina Carvalho de Melo. ([email protected])
11
141 — RPCD 17 (S2.A): 141-151
143 — RPCD 17 (S2.A)
Factors which influence depression
in ballroom dancing elderly practitioners
ABSTRACT
The aim of this study was to analyze the factors that influence the incidence
of depression in a group of ballroom dancing elderly practitioners. The re-
search is relevant due to the expressivity of the elderly population within
the Brazilian context and to the belief that the identification of such factors
can help fight, treat and prevent this disease. The sample comprised 51 el-
derly with a mean age of 66.33 years old (± 6.89), from both genders and
who practiced ballroom dancing. Aiming to verify the incidence of depres-
sion within the practitioners, the Beck Depression Inventory was used, and
as a research tool for cognitive capacities, the Mini-Mental questionnaire
was applied, from which lower scores would be considered as exclusion cri-
teria. Data analysis identified the significant influence of the following vari-
ables: being professionally active; having experienced a tragic situation and
presenting any disease related to the incidence of depression. This results
highlight the need for further investigation on how to avoid such influences.
KEY-WORDS:
Elderly. Depression. Dancing.
INTRODUÇÃO
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ([IBGE], 2013), o Brasil
evidencia um crescente aumento na população idosa e, como consequência, ocorrem mu-
danças no perfil epidemiológico. A diminuição da taxa de natalidade somada às políticas
públicas adotadas influenciam esta mudança demográfica, sendo que a segunda ainda fa-
vorece a incidência da longevidade.
A depressão é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo, devido à sua alta
morbidade e mortalidade (Laks, Ribeiro, Pompeu, Ferreira, & Deslandes, 2007). Em menos
de quarenta anos, as enfermidades próprias das faixas etárias mais avançadas, se torna-
ram mais expressivas, o que provocou relevantes alterações nos indicadores de morbi-
mortalidade. Assim, a associação do envelhecimento com a perda das capacidades físicas,
mentais e sociais se tornou comum (Carmo, Barratelo, & Silva, 2003; Rabelo & Neri, 2005).
A depressão é um dos principais problemas de saúde pública caracterizada por uma redu-
ção crônica do humor e da capacidade de experimentar sensações prazerosas (Stella et al.,
2013). Outro estudo da mesma autora, realizado em 2002 (Stella, Gobbi, Corazza, & Costa,
2002), reforça que a depressão é uma das enfermidades que acomete com frequência os
idosos e é caracterizada como uma síndrome de causa multifatorial. Defende ainda que esta
doença aumenta o risco de morbidade clínica e de mortalidade e que alguns aspectos enfren-
tados por esta faixa etária, como isolamento social, luto, abandono e doenças incapacitantes
podem gerar perda da qualidade de vida e propiciar a ocorrência de depressão.
Stella, Gobbi, Corazza e Costa (2002) e Justo e Calil (2006) reforçam que a depressão
realmente é comum em idosos e acrescentam que esta pode se manifestar de formas di-
ferentes em homens e mulheres, como por exemplo no âmbito biológico, onde os aspectos
hormonais e suas consequências chamam atenção. Barzotto, Breschigliari e Maciel (2002)
defendem ainda que esta doença compromete as áreas física, mental e social, pois a consi-
deram como um transtorno afetivo que altera a área psíquica global do indivíduo, mudando
sua maneira de valorizar a vida.
Preocupados com a apresentação desta doença em idosos e com as consequências que
esta gera para a saúde dos indivíduos, estudiosos buscam instrumentos que ajudem na
prevenção e no combate da depressão, além de intervenções que visem melhora da saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2007), a saúde pode ser definida como “situa-
ção de perfeito bem estar físico, mental e social”.
Estudos como os de Matsudo (2002), Macedo et al. (2003), Guimarães e Caldas (2006),
Pitanga (2002), Teoldo, Samulski, Noce e Costa (2003), e Headrick et al. (2011) corrobo-
ram no que diz respeito aos efeitos positivos da atividade física e/ ou exercícios físicos na
melhora da saúde de indivíduos, pois afirmam que a prática de atividades trabalha com
os aspectos físico, mental e social. Interessante ressaltar que os três primeiros estudos
11
145 — RPCD 17 (S2.A)
foram voltados para a terceira idade. O uso do exercício físico como alternativa não farma-
cológica é de fato importante coadjuvante no tratamento da depressão, particularmente
em idosos, por promover o alívio de sintomas desagradáveis, mudanças de atitudes e mo-
dificação dos estilos de vida pouco saudáveis, o que contribui em muito com a melhoria da
qualidade de vida da população (Mello et al., 2014).
Enquanto prática de atividade física, a dança trabalha com autonomia, independência,
movimentação e percepção do corpo, noção espacial, autoestima e autoimagem, além de
buscar a diminuição do estresse e proporcionar a socialização e a comunicação dos pra-
ticantes (Leal & Haas, 2006; Neri, 1993). No campo da saúde, a dança de salão tem sido
compreendida, por profissionais de educação física e demais da área, como veículo de pro-
moção da qualidade de vida dos indivíduos (Araújo, 2010).
A prática da dança ainda permite que homens e mulheres aprendam de forma lúdica e
prazerosa a utilizar seu corpo para se comunicarem e através de suas expressões corporais
evidenciarem as sensações e as interpretações do que vivem (Leal & Haas, 2006). A i n d a
de acordo com Leal e Haas (2006), além da dança ser um dos exercícios mais procurados
pela terceira idade, sua prática é suficiente para trabalhar os aspectos sociais, físicos e
mentais de um indivíduo. Fatores estes, diretamente afetados pela depressão. Para Araújo
(2010) “dançar é mais que gasto calórico e a saúde é mais que ausência de doença”. Para o
autor, a dança de salão, por ser um instrumento importante na integração de pessoas pode
ser indicada como uma forma de terapia e, ainda, por movimentar o corpo, está diretamente
relacionada à parte fisiológica do indivíduo, e estimula a oxigenação do cérebro.
Para encontrar a forma mais adequada de prevenção e combate da depressão, é impor-
tante identificar quais fatores influenciam a incidência desta enfermidade, para que assim
se possa evitar e/ou minimizar a ocorrência dos mesmos. Alguns estudos sugerem que a
idade, o nível de escolaridade, o papel sociofamiliar desempenhado pelo indivíduo, assim
como estado civil estão associados aos sintomas depressivos (Justo & Calil, 2006).
Desta forma, após identificar incidência de depressão em um grupo de idosos pratican-
tes de dança de salão, o presente estudo objetiva verificar quais fatores influenciam a
depressão neste grupo.
MÉTODO
AMOSTRA
Participaram deste estudo de caso de forma voluntária, 51 idosos, sendo 32 mulheres e 19
homens; a idade da amostra variou entre 53 e 85 anos com média de 66.33 anos (± 6.89);
76.4% dos sujeitos possuíam escolaridade superior a sete anos. Os indivíduos praticavam
dança de salão duas vezes na semana em média há 17.16 anos (± 16.46) e apenas 23.5%
destes permanecem profissionalmente ativos.
Por se tratar de um método transversal, foi utilizada como critério de exclusão a apre-
sentação de limitações cognitivas observadas através do escore fornecido pela aplicação
do Mini-Mental (Brucki, Nitrini, Caramelli, Bertolucci & Okamoto, 2003). Vide pontos de corte
na Análise Estatística.
INSTRUMENTOS
Para avaliação subjetiva de depressão, foi utilizado o Inventário de Beck (Beck, Ward, Men-
delson, Mock & Erbaugh, 1961) que é composto por 21 afirmativas referentes a sentimentos
pessoais. O voluntário deveria identificar a opção que mais se assemelhasse a forma como
se sentia na semana anterior a da realização da pesquisa (Gorestein & Andrade, 1998).
Já o questionário Mini-Mental foi utilizado para verificar a capacidade cognitiva dos indi-
víduos. Este é composto por dados pessoais, perguntas que avaliam a orientação temporal
e espacial, a memória imediata e a capacidade realizar raciocínio lógico. Os escores variam
de 0 a 30 pontos (Almeida & Crocco, 2000).
PROCEDIMENTOS
Como primeiro passo, solicitou-se ao responsável do projeto de dança de salão autoriza-
ção prévia para a realização da pesquisa. Esta se deu através da assinatura da Carta de
Ciência, apresentada ao Comitê de Ética em Pesquisas da Universidade Federal de Ouro
Preto com CEP Nº. 001/2012. Em um segundo momento, houve a abordagem direta com os
voluntários durante as atividades desenvolvidas.
Foi informado aos participantes, individualmente, o objetivo do estudo e explicado de
forma verbal, como este se daria. Garantindo-lhes o anonimato e expondo que poderiam
abandonar a pesquisa a qualquer momento. Os indivíduos que concordavam participar, as-
sinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, respondiam o Mini-Mental e logo
em seguida o questionário de Beck.
Os instrumentos foram conduzidos pelos pesquisadores de forma oral. A fim de mini-
mizar possíveis problemas com a compreensão por parte dos idosos, as perguntas eram
lidas quantas vezes estes achassem necessárias e para a formulação das respostas não
havia tempo pré-determinado. O que evitava a existência de pressão sobre os mesmos.
Contudo, na intenção de impedir interferências dos aplicadores sobre as respostas dos
participantes, antes do início da coleta de dados, todos foram instruídos e preparados a
realizar leitura clara e impessoal. E se ainda assim algum participante não conseguisse
responder a algum dos instrumentos, seus dados seriam excluídos da amostra, o que não
se fez necessário nesta pesquisa.
11
147 — RPCD 17 (S2.A)
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Inicialmente, os dados foram inseridos no programa SPSS, versão 19. Para as variáveis
qualitativas existentes no Inventário de Beck e suas respectivas respostas, foram criados
códigos e em seguida verificou-se suas distribuições. Nas correlações de algumas variáveis
descritas posteriormente nos resultados, adotou-se como nível de significância (p≤0,05).
Através do teste Kolmogorov-Smirnov avaliou-se os valores de normalidade do escore
de depressão e do Mini-Mental. A atribuição de escores neste último instrumento se deu de
acordo com os pontos de corte determinados pela escolaridade sugeridos por Caramelli e
Nitrini (2000), que agregam os seguintes valores para cada grupo: analfabetos (18 pontos),
1-3 anos de escolaridade (21 pontos), 4-7 anos (24 pontos) e mais de 7 anos (26 pontos).
RESULTADOS
Após analisar os valores de normalidade das variáveis; escore de depressão e do Mini-Mental
com o teste de Kolmogorov-Smirnov, foi possível observar que os dados assumiram distribui-
ção não-paramétrica para o mini-mental (p = .000) e paramétrica para depressão (p = .113).
O Gráfico 1 descreve a pontuação atingida pelos idosos na aplicação do questionário
Mini-Mental no qual se pode ressaltar que 39 dos 51 indivíduos atingiram valores maiores
ou iguais a 26 pontos e que os escores apresentados pela amostra neste instrumento per-
mitem dizer que nenhum dos avaliados foi considerado com baixa capacidade cognitiva,
sendo todos aptos então a continuar na pesquisa.
GRÁFICO 1. Escore do mini-mental dos idosos praticantes de dança (N=51)
Em sequência observa-se quadro que relaciona os valores atingidos no Mini-Mental com o
nível de escolaridade da amostra, onde 76.4% desta possuem escolaridade superior a 7 anos.
QUADRO 1. Distribuição de pontos no Mini-Mental de acordo com a escolaridade
SCORE MINIMENTAL (PTS) FUNDAMENTAL FUNDAMENTAL MÉDIO SUPERIOR TOTAL
22 2 0 0 0 2
23 1 0 0 0 1
24 8 0 0 0 8
25 1 0 0 0 1
26 0 2 0 0 2
27 0 0 6 2 8
28 0 2 5 1 8
29 0 1 8 5 14
30 0 0 5 2 7
Total 12 5 24 10 51
No Quadro 2 é possível visualizar a distribuição dos 51 indivíduos quanto aos níveis de
depressão, sendo que 60.8% apresentaram algum grau da enfermidade.
QUADRO 2. Níveis de depressão de idosos praticantes de dança (N=51)
DEPRESSÃO %
Normal 39,2
Leve 47,1
Leve a Moderada 7,8
Moderada a Severa 5,9
Após análise dos dados do Inventário de Beck, percebeu-se que as variáveis profissio-
nalmente ativo, ter passado por alguma situação trágica, como por exemplo, perda de pa-
rente próximo, e apresentar alguma doença associada, evidenciaram significância.
QUADRO 3. Fatores que influenciam a incidência de depressão – Inventário de Beck ** Diferença significante p≤0,05
GRUPO SUB-GRUPO ESCORE N VALOR DE P
GêneroMasculino 12 19 0,124
Feminino 10 32
Profissionalmente ativosim 8,5 12 0,01
não 12,5 39
11
149 — RPCD 17 (S2.A)
Renda
< de 5 salários min. 10,77 30 0,424
Entre 6 e 10 sal. min. 11,23 13
> de 10 salários min. 13,13 8
Mora com
sozinho 10,18 17 0,669
filhos 12 17
cônjuge 11,42 12
outros 12 5
Situação trágica**sim 12,24 37 0,09
não 8,64 14
Alguém na família com depressãosim 12,63 16 0,141
não 10,63 35
Doença atual**sim 12,57 23 0,05
não 10,18 28
Estado civil
solteiro 10,8 10 0,443
casado 10,87 15
viúvo 12,8 15
divorciado 10,09 11
DISCUSSÃO
Corroborando com Almeida e Crocco (2000) e Caramelli e Nitrini (2000), esta pesquisa ob-
servou que os indivíduos com maiores escores no Mini-Mental possuíam escolaridade supe-
rior a sete anos, o que reafirma a influência do nível da escolaridade na capacidade cognitiva.
Entretanto, o que mais interessou a este estudo foi o nível de depressão em idosos que
praticam dança. Este fato se torna relevante devido à confirmação de estudos como os
de Guimarães e Caldas (2006) e Stella et al. (2002), onde a prática de atividade física é
uma “alternativa não-farmacológica” do tratamento desse transtorno. Essa afirmativa é
reforçada por Witter, Buriti, Silva, Nogueira e Gama (2013), onde define que a dança é uma
atividade que desperta emoções positivas, prazer e socialização, que são aspectos funda-
mentais a serem estimulados em um indivíduo acometido pela depressão.
Contudo, a detecção de níveis de depressão (Figura 3) em idosos que praticam a dan-
ça demonstra a necessidade de reflexão sobre esta doença como uma síndrome de causas
multifatoriais, o que incita a investigação de quais são os possíveis fatores associados à inci-
dência desta e quais auxiliam na prevenção ou combate. Como exposto por Araújo (2010), a
prática de exercícios regulares, além de contribuir para a melhoria de aspectos fisiológicos,
produz benefícios psicológicos, tais como: melhor sensação de bem-estar, humor e autoesti-
ma, redução da ansiedade, tensão e depressão. Já para Cunha et al. (2008), num estudo com
idosos praticantes de dança de salão, foi evidenciado que esta atividade promove modifica-
ções no comportamento e estado físico, fisiológico e emocional dos praticantes, promovendo
autoconhecimento, atitudes de confiança diante da vida e também (re)socialização, sendo
desta forma a dança de salão uma estratégia em potencial para ser aplicada por profissio-
nais da área da saúde visando a promoção de atitudes positivas diante da vida.
A fim de responder a estes questionamentos é que estudos como o de Stella et al. (2002)
citam as enfermidades crônicas e incapacitantes; as frustrações; perdas progressivas rela-
cionadas aos familiares, aos laços afetivos e a capacidade de trabalhar; o isolamento social;
a impossibilidade de reabsorção do mercado de trabalho e a diminuição dos recursos finan-
ceiros como fatores comprometedores da qualidade de vida dos idosos que os predispõem
ao desenvolvimento da depressão. Já Bocalini (2007) reforça que diversos fatores influen-
ciam a qualidade de vida dos indivíduos, incluindo-se aspectos mais objetivos (condição de
saúde, salário, moradia) e aspectos mais subjetivos (humor, autoestima, autoimagem).
O estudo de Trentini et al. (2005) apresenta, ainda, que os idosos tendem a expressar sua
depressão através de percepções somáticas. No entanto, como observado na figura 4, para
a amostra participante do presente estudo, apenas as variáveis; estar profissionalmente
ativo (p = .01); ter passado por situação trágica (p = .009) e apresentar alguma doença
associada (p = .05), evidenciaram influência significativa no índice de depressão.
Isto permite inferir que para cada grupo ou indivíduo será possível encontrar diferentes
fatores determinantes da apresentação de depressão, porém estes influenciadores per-
manecem no conjunto de elementos relacionados aos aspectos físicos, mentais e sociais
dos sujeitos, o que corrobora com a literatura consultada.
CONCLUSÕES
Apesar da dança trabalhar os aspectos físicos, mentais e sociais dos idosos, verificou-se neste
estudo que, para a amostra participante, o fato de praticar a dança não impediu a identificação
de níveis de depressão. Enquanto alguns estudos indicam o comprometimento funcional como
um fator de risco para o aparecimento de sintomas depressivos em idosos, outras evidencias
suportam a ideia de que tais sintomas possam predizer a perda da funcionalidade.
A identificação das variáveis: “estar profissionalmente ativo”; “ter passado por situação
trágica” e “apresentar alguma doença associada” foram fatores que influenciaram a inci-
dência de depressão desta amostra. Esta informação permite que futuros estudos tracem
diferentes estratégias para entender este mecanismo e elaborar propostas para combatê-
-los e/ ou amenizá-los.
11
REFERÊNCIAS
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11
Influência da presença
ou da ausência de jogos
nas percepções de fadiga
de atletas profissionais
de voleibol durante
uma temporada competitiva
PALAVRAS CHAVE:
Percepção subjetiva. Fadiga.
Voleibol.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi descrever as percepções de fadiga de atletas profissionais de
voleibol durante semanas com presença ou ausência de jogos de uma temporada com-
petitiva. Participaram do estudo 12 atletas do sexo masculino integrantes de uma equipe
profissional de voleibol. Foi aplicado o Questionário de Bem-Estar (QBE), todo primeiro e úl-
timo dia das semanas de treinamento, durante a temporada competitiva. Os resultados de-
monstram que houve diferenças significativas entre os níveis iniciais e finais de bem-estar
nas semanas com ausência de jogos, exceto em três semanas, nas quais os escores foram
estatisticamente semelhantes. Da mesma forma, os resultados apresentaram diferenças
entre os escores iniciais e finais, com exceção da escala qualidade do sono. Em relação às
semanas com presença de jogos, foram encontradas diferenças entre os níveis iniciais e
finais de bem-estar somente em quatro semanas e as variáveis fadiga, qualidade do sono e
dor muscular geral apresentaram diferenças entre os escores iniciais e finais. Concluímos
que a presença ou ausência de jogos durante a semana influenciou a maneira na qual os
atletas iniciavam e terminavam seus treinamentos, afetando a qualidade do sono, o nível
de estresse e o humor dos atletas.
AUTOR:
Francine C A Nogueira,
Bernardo Miloski
Maurício Gattá Bara Filho
Lelio Moura Lourenço
Correspondência: Maurício Gattás Bara Filho. ([email protected])
Influence of the presence or absence
of games in athletes volleyball professionals
fatigue perceptions during a competitive season
ABSTRACT
The aim of this study was to describe professionals volleyball athletes fatigue
perceptions across different weeks, considering the presence or absence of
competitive games. The study included 12 male professional volleyball ath-
letes. The Well-Being Questionnaire (WBQ) was applied every first and last
day of the training week, during all competitive season. The results showed
there were significant differences between initial and final levels of well be-
ing in the weeks without games, except in three weeks, in which the scores
were statistically similar. Likewise, the results showed differences between
the initial and final scores of well-being, except for the scale of sleep quality.
Regarding the weeks with games, there were differences between the initial
and final levels of well being in four weeks and the variables fatigue, sleep
quality and general muscle pain showed differences between the initial and
final scores. We could conclude that the presence or absence of games dur-
ing the week affected the way athletes started and finished their trainings,
affecting athletes’ sleep quality, stress level and humour.
KEY-WORDS:
Perception subjective. Fatigue. Volleyball.
12
153 — RPCD 17 (S2.A): 152-160
155 — RPCD 17 (S2.A)
INTRODUÇÃO
O voleibol é um esporte de alta demanda neuromuscular e de característica intermitente
em que os atletas realizam esforços de curta duração e altas intensidades intercaladas
com períodos de baixa intensidade (Lidor & Ziv, 2010; Sheppard, Gabbett & Stanganelli,
2009). Os treinamentos deste envolvem diferentes elementos como aspectos técnicos e
táticos que são realizados coletivamente, dificultando o controle individual da carga de
treinos e da recuperação, podendo levar os atletas a treinarem abaixo ou acima da inten-
sidade planejada (Milanez et al. 2011). Atletas somente poderão atingir seu rendimento
máximo e evitar as adaptações negativas do treinamento se otimizarem o equilíbrio entre
a carga e a recuperação necessária (Kenttá & Hassmén, 1998).
Nas últimas décadas, muita atenção é dada às aplicações das cargas, mas poucas pes-
quisas têm investigado os processos de recuperação. Segundo Kellmann (2010), a recu-
peração é um processo complexo, contínuo, intra e inter individual de vários níveis (fisio-
lógico, psicológico, social, sociocultural e ambiental) que ocorre ao longo do tempo com o
objetivo de restabelecer a capacidade funcional do organismo. O processo de recuperação
está intimamente ligado a situações condicionais (qualidade do sono, interação com cole-
gas de equipe, etc.) e depende do tipo e da duração do evento estressante. Esse processo
é concluído no momento em que o estado psicológico e balanço homeostático são alcan-
çados (Kellmann, 2010). Farto (2010) afirma que a recuperação psicofisiológica é parte es-
sencial dos treinos e cita que o conteúdo das sessões de recuperação deve estar presente
no planejamento da temporada. Portanto, é necessário um sistema de monitoramento da
recuperação que possa ser incorporado diariamente às sessões e que possibilite avaliar
individualmente e de maneira longitudinal os atletas, permitindo rápido acesso às informa-
ções sobre as variações no estado de recuperação.
Estudos demonstraram que os indicadores psicológicos são mais sensíveis e consisten-
tes do que os indicadores fisiológicos (Kellmann, 2001; Kenttá & Hassmén, 1998), além de
indicar rapidamente o estado que o atleta se encontra (Costa & Samulski, 2005). Instru-
mentos como registros diários do treinamento, Escala de Qualidade Total de Recuperação
(TQR) (Kenttá & Hassmén, 1998) e o Questionário de Estresse e Recuperação para Atletas
(RESTQ-Sport) (Kellmann, 2001) têm sido utilizados. Mais recentemente, McLean, Coutts,
Kelly, McGuigan e Cormack (2010) utilizaram o Questionário de Bem-Estar (QBE) para ava-
liar a percepção subjetiva de fadiga em atletas de rúgbi e encontraram resultados positivos
em relação à utilização desta escala. No entanto, ainda há uma carência de estudos que
utilizam o QBE para monitorar esportes de alto nível competitivo, tal como o voleibol pro-
fissional, fato que indica a necessidade de mais pesquisas com esta ferramenta. Baseados
no estudo de McLean et al. (2010), hipotetizamos que os atletas apresentarão maiores
percepções de fadiga nas semanas com jogos, devido à sobrecarga competitiva.
Sendo assim, o presente estudo objetivou descrever as percepções de fadiga de atletas
profissionais de voleibol durante semanas com presença ou ausência de jogos de uma tem-
porada competitiva, além de analisar as variáveis integrantes deste processo.
MÉTODO
AMOSTRA
Participaram do estudo 12 atletas do sexo masculino, com média de idade de 23.50 ± 3.39
anos, massa corporal 88.17 ± 11.35 kg, estatura 190.42 ± 10.75 cm e percentual de gor-
dura 12.50 ± 3.41% (Jackson & Pollock 1985). Os procedimentos do estudo respeitaram as
normas internacionais de experimentação com humanos conforme a Declaração de Hel-
sinque, sendo aprovado pelo Comitê de Ética com Pesquisa em Humanos da Universidade
Federal de Juiz de Fora sob o parecer nº 278/2010. Os atletas assinaram um termo de
consentimento autorizando a coleta e a divulgação dos dados. Como critério de inclusão,
os jogadores deveriam estar em processo de treinamento e participando das competições.
INSTRUMENTOS
A antropometria (massa corporal, estatura e dobras cutâneas) foi realizada de acordo com
as padronizações determinadas pela International Society for the Advancement of Kinan-
thropometry (1991). Os participantes foram pesados utilizando uma balança eletrônica
de precisão de 0.1 kg (Filizola, modelo de ID 1500, São Paulo, Brasil). A estatura foi men-
surada usando um estadiômetro portátil com precisão de 0.1 cm (Welmy, modelo W200/
5, Santa Bárbara d’Oeste, Brasil). As dobras cutâneas foram medidas em quatro locais do
corpo (i.e., subescapular, ilíacas supra, tríceps e perna) usando um adipômetro com preci-
são de 0,1 mm (Sanny, modelo clássico Científico, São Bernardo do Campo – Brasil). O per-
centual de gordura foi calculado de acordo com o proposto por Jackson e Pollock (1985).
Para avaliar os sentimentos subjetivos de fadiga foi aplicado o QBE (McLellan, Lovell,
& Gass, 2010), um questionário psicológico no qual avalia fadiga, qualidade do sono, dor
muscular geral, humor e níveis de estresse em escalas de 1 (piores valores) à 5 (melhores
valores) pontos, acompanhado de um descritor específico do item avaliado. O Somatório
total de todas as escalas gera um valor que é considerado Bem-Estar Total. Os atletas
respondiam a escala no primeiro e último dia de treinamento ou partida na semana. Essa
escala mostrou-se sensível aos efeitos do treinamento/competição em estudos prévios
(Al Haddad, Parouty & Buchheit, 2012; Buchheit et al. 2013; Johnston et al. 2013; McLellan,
Lovell & Gass, 2011).
12
157 — RPCD 17 (S2.A)
PROCEDIMENTOS
Os atletas se apresentaram para o início da temporada após o período das férias. Para
avaliar o efeito do treinamento no estado de estresse e recuperação dos jogadores, foi
aplicado o Questionário de Bem Estar (QBE) (McLellan et al. 2011), todo primeiro e último
dia das semanas de treinamento da temporada, independente da presença ou ausência de
jogos. Optou-se por aplicar o QBE no início e final das semanas pela praticidade do instru-
mento, proporcionando informações relevantes a respeito de como os atletas iniciavam e
terminavam as semanas de treinamento baseado em suas percepções de fadiga.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise descritiva é apresentada como média ± desvio-padrão. Depois de testada a nor-
malidade dos dados por meio do teste de Shapiro-Wilk, foi verificada diferenças entre os
escores iniciais e finais do QBE em todas as semanas com ausência e presença de jogos
utilizando a ANOVA para medidas repetidas com post-hoc de Tukey quando necessário. To-
dos os dados foram analisados através do software Statistica (v.8.0, StatSoft®, Tulsa, Ok),
considerando um nível de significância de 5 % (* p < .05).
RESULTADOS
A figura 1 mostra os valores médios gerais nos escores do questionário de bem-estar dos
atletas nas 13 semanas com ausência de jogos, bem como os valores médios de cada
variável do questionário (Anexo 1). Percebe-se que houve diferenças significativas (* p <
.05) entre os níveis iniciais e finais de bem-estar em quase todas as semanas da temporada
com exceção de três semanas, nas quais os escores foram estatisticamente semelhantes.
Da mesma forma, todas as variáveis apresentaram diferenças entre os escores iniciais e
finais, com exceção da escala qualidade do sono.
FIGURA 1. Escores médios gerais dos atletas nas semanas da temporada com ausência de jogos e valores médios de cada variável. *Diferenças significativas entre o valor inicial e o final do QBE (* p < .05).
Podem-se observar, na figura 2, os valores médios gerais nos escores do questionário
de bem-estar dos atletas nas 16 semanas com presença de jogos, bem como os valores
médios de cada variável do questionário (Anexo 2). Percebe-se que houve diferenças sig-
nificativas (* p < .05) entre os níveis iniciais e finais de bem-estar apenas nas semanas
2, 3, 8 e 14. Da mesma forma, as escalas fadiga, qualidade do sono e dor muscular geral
apresentaram diferenças entre os escores iniciais e finais do QBE.
FIGURA 2. Escores médios gerais dos atletas nas semanas da temporada com presença de jogos e valores médios de cada variável. *Diferenças significativas entre o valor inicial e o final do QBE (* p < .05).
Ao comparar os escores médios gerais das semanas com ausência ou presença de jogos,
observa-se que no primeiro a recuperação dos atletas foi prejudicada, pois grande parte
apresentou diferença entre os valores inicias e finais de bem estar. Quando comparado as
variáveis, nota-se que a semana sem jogos afetou a fadiga, dor muscular geral, nível de
estresse e o humor dos atletas. Já na semana com jogos, as variáveis fadiga, qualidade
do sono e dor muscular apresentaram diferença significativa nos escores iniciais e finais.
DISCUSSÃO
Este estudo teve como objetivo descrever os níveis de recuperação de atletas profissionais
de voleibol durante uma temporada competitiva, além de analisar tais percepções nas se-
manas com ausência e presença de jogos, através do Questionário de Bem-Estar. Após a
descrição, os principais achados indicaram que a presença ou ausência de jogos durante a
semana influenciou a maneira na qual os atletas iniciavam e terminavam seus treinamen-
tos, em relação às variáveis qualidade do sono, nível de estresse e humor. No entanto, os
jogadores terminaram as semanas de maneira semelhante, independente da presença ou
ausência de jogos, em relação às variáveis fadiga e dor muscular. No estudo de McLean
et al. (2010), os autores sugeriram que devido à sobrecarga competitiva, os atletas apre-
sentariam menores escores de bem estar nas semanas com presença de jogos, o que não
12
159 — RPCD 17 (S2.A)
foi confirmado pelos resultados. Nossos achados demonstram a efetividade e o equilíbrio
entre a carga de treinamento e sua resposta no organismo, pois nas semanas com pre-
sença de jogos competitivos, houve melhora dos escores de recuperação, o que é de suma
importância para a busca do melhor desempenho.
Os resultados da presente pesquisa também apontaram efeitos positivos na aplicação
de treinamentos e recuperações adequados, já que foram encontrados convenientes valo-
res nas escalas do QBE. O equilíbrio entre carga de treinamento e a recuperação é sugerido
na literatura como fator fundamental para ocasionar adaptações positivas de treinamento
(Borresen & Lambert 2009; Nakamura, Moreira, & Aoki, 2010). Porém, assim como aconte-
ceu neste estudo, a estratégia de intensificar as cargas em períodos que antecedem uma
competição é frequentemente utilizada com o intuito de atingir bons níveis de desempenho
em atletas (Coutts, Reaburn, Piva, & Murphy, 2007; Coutts & Reaburn, 2008). Essa estra-
tégia pode estar relacionada à fadiga, acompanhado de queda temporária do desempe-
nho (Coutts & Reaburn, 2008; Coutts et al. 2007), aumento do risco de lesões (Gabbett &
Jenkins, 2011) e maior dano à saúde dos atletas (Moreira et al. 2013). Este aumento de
carga nas semanas que antecedem a competição pôde ser observado nas semanas de
treinamento com a ausência de jogos.
O QBE se mostrou sensível para monitorar fadiga após partidas de rúgbi (Johnston et al.
2013; McLellan et al., 2011). No entanto, esse questionário não foi previamente utilizado
para auxiliar no monitoramento da fadiga em atletas de voleibol, dificultando comparar
os resultados. Todavia, é interessante observar que todas as variáveis do questionário são
sensíveis à presença ou ausência dos jogos nas semanas. Corroborando com isso, no estu-
do de Buchheit et al. (2013) a QBE demonstrou ser uma ferramenta sensível às oscilações
da carga de treinamento durante período preparatório em jogadores de futebol. A ausência
de diferença entre as semanas com e sem jogos nas variáveis fadiga e dor muscular geral é
um fato que comprova a resposta do organismo aos estímulos dados durante as semanas,
suficientes para alterar as percepções de bem-estar dos atletas. O QBE demonstrou ser
uma ferramenta importante no monitoramento da recuperação ao longo da temporada,
seja em semanas com ausência ou com presença de jogos. Sendo assim se coloca como
opção de ferramenta de baixo custo e fácil aplicação para realizar o monitoramento con-
tínuo do atleta.
Em suma, os valores encontrados nas escalas do QBE em todas as semanas da tempo-
rada sugerem que os atletas apresentaram níveis adequados de estresse e recuperação
e indicaram a eficácia deste questionário para monitorar as percepções de bem-estar dos
atletas. A presença o ausência de jogos não influenciou as variáveis fadiga e dor muscular,
porém em semanas sem jogos, devidas à aplicação de cargas mais altas de treino, houve
redução significativa da QBE, influenciando a maneira como os atletas iniciavam a semana
seguinte. No entanto, é necessário que variáveis fisiológicas e de rendimento sejam aliadas
a estas análises para confirmar os dados encontrados. Sugere-se, portanto, que futuras
pesquisas repitam a aplicação do QBE aliado a estas outras variáveis, a fim de confirmar os
resultados encontrados.
CONCLUSÕES
Os achados deste estudo indicaram que a presença ou ausência de jogos durante a se-
mana influenciou a maneira na qual os atletas iniciavam e terminavam seus treinamentos,
afetando a qualidade do sono, o nível de estresse e o humor dos atletas. Dessa forma o
fator da ausência ou presença de jogos deve ser levado em consideraçãoo no momento de
definição da periodização pelos treinadores e preparadores físicos. A QBE demonstrou ser
uma ferramenta importante, de baixo custo e de fácil aplicação para o monitoramento da
recuperação ao longo da temporada, tanto em semanas com e sem jogos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos atletas de voleibol participantes deste estudo.
FONTES DE FINANCIAMENTO
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
12
REFERÊNCIAS
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Transtorno dismórfico corporal,
insatisfação corporal
e influência sociocultural
em mulheres frequentadoras
de academias de ginástica
que realizaram cirurgia
plástica estética
PALAVRAS CHAVE:
Cirurgia plástica. Ginástica,
Insatisfação corporal.
RESUMO
O Brasil encontra-se em primeiro lugar do ranking mundial de realização de cirurgias plás-
ticas. Estudos na literatura científica apontam níveis elevados de insatisfação com o cor-
po, influência sociocultural e presença de traços de transtorno dismórfico corporal (TDC)
em pacientes de cirurgias plásticas. O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre
o número de cirurgias plásticas, influência sociocultural e insatisfação corporal com os
sintomas de TDC. Participaram deste estudo 88 mulheres com idade média de 34 (± 10.0)
anos. Os instrumentos utilizados foram o Body Shape Questionnaire (insatisfação corpo-
ral), o Body Dysmorphic Disorder Examination (TDC) e o Sociocultural Attitudes Towards
Appearance Questionnaire –3 (influência sociocultural). Os resultados não demonstraram
relação entre o número de cirurgias plásticas e influência sociocultural com o TDC. Entre-
tanto, identificou-se relação entre os traços de TDC e a insatisfação corporal. Verificou-se
que quanto mais insatisfeitas com seus corpos, mais presente os traços de TDC no grupo
avaliado. Dessa forma, observa-se a necessidade de consultas psiquiátricas no período
pré-operatório a fim verificar a presença de psicopatologias em pacientes de cirurgias
plásticas. Ademais, são escassos os estudos envolvendo a população brasileira.
AUTORES:
Fernanda Dias Coelho 1
Pedro Henrique B de Carvalho 2
Santiago Tavares Paes 1
Tassiana Aparecida Hudsson 1
Maria Elisa Caputo Ferreira 1
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil
1 Universidade Federal de Juiz de Fora — campus Governador Valadares, Minas Gerais, Brasil
Correspondência: Fernanda Dias Coelho. Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.
13
161 — RPCD 17 (S2.A): 161-171
163 — RPCD 17 (S2.A)
Body dysmorphic disorder, body dissatisfaction
and sociocultural influence on frequenters
women gyms who underwent plastic surgery
ABSTRACT
Brazil is in first place in the world ranking of performing plastic surgery.
Studies in the literature show high levels of body dissatisfaction, sociocul-
tural influences and presence of body dysmorphic disorder (BDD) in patients
of plastic surgery. The present study aimed to investigate the relationship
between the number of plastic surgeries, sociocultural influences and body
dissatisfaction with the symptoms of BDD. Eighty-eight women with a mean
age of 34 (± 10.0) years took part of this study. The instruments used were
the Body Shape Questionnaire (body dissatisfaction), Body Dysmorphic Dis-
order Examination (BDD) and Sociocultural Attitudes Towards Appearance
Questionnaire-3 (sociocultural influences). The results showed no relation-
ship between the number of plastic surgery and sociocultural influences
with the BDD. However, it identified relationship between the features of BDD
and body dissatisfaction. It was found that the more dissatisfied with their bod-
ies, more present is the BDD traits in the group evaluated. Thus, there is
the need for psychiatric consultation in the preoperative period to verify the
presence of psychopathology in patients of plastic surgery. Moreover, there
are few studies involving the Brazilian population.
KEY-WORDS:
Surgery Plastic. Gymnastics. Body Dissatisfaction.
INTRODUÇÃO
Segundo a pesquisa conduzida pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery
([ISAPS], 2015), o Brasil encontra-se em primeiro lugar no ranking mundial de realiza-
ções de cirurgias plásticas estéticas. De acordo com o levantamento, 12.9% das cirurgias
plásticas foram realizadas por brasileiros, sendo que 87.2% do público é essencialmente
constituído por mulheres (ISAPS, 2015).
A imagem corporal vem sendo considerada o tema central para entendimento sobre
as características psicológicas dos pacientes desse procedimento. Dessa forma, Schilder
(1999) define imagem corporal como a projeção mental que temos do tamanho e da forma
do nosso corpo, e ainda, os sentimentos sobre essas características e as partes consti-
tuintes desse. Do ponto de vista dos pacientes, a insatisfação corporal é o principal motivo
para a realização de cirurgias plásticas (Sarwer, Crerand, & Magee, 2011). Esse dado pode
ser explicado pelo fato da aparência corporal ser um dos fatores mais respeitáveis para a
manutenção da autoestima dos indivíduos que se submetem a esse tipo de cirurgia.
Níveis mais elevados de insatisfação corporal estão associados ao desenvolvimento de
psicopatologias, como o transtorno dismórfico corporal (TDC) (Jorge et al., 2008; Lambrou,
Veale, & Wilson, 2012; Pavan et al., 2008). De acordo com o Diagnostic and Statistical Manu-
al of Mental Disorders – 5 (American Psychiatric Association, 2013), o TDC é definido como
um distúrbio mental no qual o indivíduo enxerga um defeito imaginário na sua aparência
ou parte do corpo. Sendo comumente identificado em pacientes da área de psiquiatria,
dermatologia e cirurgias plásticas (Sarwer et al., 2011). Para esses sujeitos, a alternativa
mais eficaz para ficarem livres dos problemas relacionados à aparência, é a realização de
cirurgias plásticas (Phillips, Grant, Siniscalchi, & Albertini, 2001). Entretanto, para esses
pacientes o procedimento pode não ser o tratamento mais adequado.
Estudos realizados nos EUA com sujeitos que já realizaram alguma cirurgia plástica es-
tética demonstraram que de 5% a 15% apresentam traços de TDC (Phillips et al., 2001).
Na Europa, 9.1% dos indivíduos que já realizaram algum procedimento estético possuem
características do TDC e, no Brasil, 14% que já passaram por algum tratamento dermatoló-
gico possuem traços de TDC (Conrado, 2009). Esses são dados preocupantes, uma vez que
a cirurgia plástica estética tem sido questionada quanto a sua capacidade de melhora dos
sinais e sintomas de pacientes com TDC (Phillips et al., 2001).
Outro aspecto relevante aponta a influência sociocultural como um dos preditores signi-
ficativos para a tomada de decisão de realizar a cirurgia plástica estética (Callaghan, Lopez,
Wong, Northcross, & Anderson, 2011; Swami, Chamorro-Premuzic, Bridges, & Furnham, 2009).
Corroborando, Markey e Markey (2010) concluíram que indivíduos que ficam mais tempo
expostos às mensagens midiáticas relacionadas à estética e cirurgias plásticas estão mais
propensos a desenvolver o interesse por tal procedimento. Nabi (2009), explica que a proli-
13
165 — RPCD 17 (S2.A)
feração de programas como estes são responsáveis pela comparação social e internalização
do corpo tido como ideal, levando ao desenvolvimento da insatisfação corporal.
Diante do atual número de cirurgias plásticas realizadas no Brasil, a escassez de estu-
dos nacionais e os achados na literatura internacional sobre o perfil dos pacientes desse
procedimento, tornou-se relevante o desenvolvimento desse estudo. Os achados da pre-
sente pesquisa poderão auxiliar os profissionais de diversas áreas que lidam com esse
público, visto limitado número de publicações com amostras brasileiras. Dessa maneira,
objetivou-se avaliar a relação entre o número de cirurgias plásticas, influência sociocultu-
ral e insatisfação corporal com os sintomas de TDC em mulheres submetidas à cirurgias
plásticas estéticas.
MÉTODO
A presente pesquisa possui característica transversal, exploratória e comparativa (25). A
técnica utilizada para a realização foi “bola de neve” (snowball technic). Este método é ca-
racterizado pela seleção em um grupo aleatório de participantes e que, após fazerem parte
da pesquisa, indicam outros indivíduos que pertencem à mesma população-alvo. Portanto,
foram incluídas todas as pessoas indicadas e que decidiram participar voluntariamente
após contato. O critério de não inclusão foi adotado para mulheres que possuíam idade
superior a 50 anos e inferior a 18, e ainda, aquelas que haviam feito cirurgia plástica de
caráter reparador.
AMOSTRA
Fizeram parte da amostra 88 mulheres com média de idade 34.43 ± 10.00 anos, submeti-
das a cirurgias plásticas de caráter estético da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.
A execução da pesquisa está de acordo com as normas da Portaria 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde, e encontra-se aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Hu-
manos da Universidade Federal de Juiz de Fora sob o parecer n°254/ 2011. As voluntárias
que optaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclareci-
do e posteriormente responderam aos instrumentos de pesquisa. Foi informado à todas as
participantes sobre o anonimato da participação da pesquisa, bem como que as voluntárias
poderiam abandonar o estudo à qualquer momento.
INSTRUMENTOS
Os dados antropométricos (massa corporal e estatura) foram coletados por intermédio de
um estadiômetro e balança da marca Welmy®. Estes dados foram utilizados para o cálculo
do índice de massa corporal (IMC), dado pela massa corporal (em quilogramas) dividida
pela estatura (em metros) elevada ao quadrado (Organização Mundial de Saúde [OMS],
2011). Para classificação quanto estado nutricional das participantes adotou-se o proto-
colo da OMS (2011). A idade das participantes foi autorreferida.
Os instrumentos utilizados para a pesquisa foram o Body Shape Questionnaire (BSQ) (Di
Pietro, & Silveira, 2009), o Body Dysmorphic Disorder Examination (BDDE) (Jorge et al.,
2008) e o Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire-3 (SATAQ-3) (Amaral,
Ribeiro, Conti, Ferreira, & Ferreira, 2013).
O BSQ é um instrumento validado para indivíduos adultos, constituído por 34 questões
nas quais o indivíduo aponta com que frequência vivenciou os fatos apresentados em cada
alternativa nas últimas quatro semanas. O somatório das questões é obtido por meio de es-
cala na forma Likert de pontos, variando entre 1 (nunca) e 6 (sempre). Os indivíduos podem
ser classificados quanto aos seguintes níveis de insatisfação com o corpo: menor ou igual
a 110 pontos, nenhuma insatisfação corporal; entre 110 e 138 pontos, leve insatisfação;
entre 138 e 167, moderada insatisfação; e acima de 168 pontos, grave insatisfação. O valor
de alfa de Cronbach encontrado em sua validação foi de .97.
O BDDE trata-se de um questionário de autorrelato validado para a população brasileira
de mulheres submetidas à cirurgias plásticas (Jorge et al., 2008). Por meio do instrumen-
to é possível verificar o nível de preocupação com a forma ou partes do corpo que são
indicadores da presença de traços de TDC. Este é composto por 34 questões (abertas e
fechadas). Para as questões fechadas, as respostas são organizadas em uma escala na
forma Likert de pontos, variando de zero a seis. O escore final é calculado pela soma das
respostas para todos os itens (exceto a questão 1, que é aberta, e as questões 2, 22, 33 e
34, que são respondidas pelo pesquisador), chegando a 168 pontos. Os autores determi-
nam que escores superiores a 66 pontos refletem a presença de traços de TDC (Jorge et
al., 2008). O valor de consistência interna encontrado por intermédio do alfa Cronbach no
estudo de validação foi de .89.
O SATAQ-3, adaptado transculturalmente e validado psicometricamente para a popula-
ção brasileira, busca avaliar a influência sociocultural sobre a imagem corporal (Amaral
et al., 2013). Composto por 30 questões fechadas, o instrumento é constituído por quatro
subescalas: informação, pressões, internalização geral, internalização atlética. A interpre-
tação dos resultados é feita por meio de uma escala na forma Likert de pontos, variando
entre 1 (nunca) e 5 (sempre). O escore total é calculado pela soma das respostas. A pon-
tuação pode variar entre 30 a 150 pontos. Maior pontuação representa maior influência
dos aspectos socioculturais na imagem corporal do indivíduo. Para a presente amostra foi
encontrado o valor de alfa de Cronbach de .91.
13
167 — RPCD 17 (S2.A)
PROCEDIMENTOS
Inicialmente foi agendado um horário com as participantes para a aplicação dos questio-
nários, assim como a coleta dos dados antropométricos e idade. A pesquisa foi realizada
em uma sala de avaliação física de uma academia de ginástica da zona sul na cidade de
Juiz de Fora, Minas Gerais. Os instrumentos eram constituídos por um cabeçalho contendo
orientações escritas. Esses foram entregues aos sujeitos da pesquisa, que receberam então
orientações verbais sobre seu preenchimento não havendo limite de tempo para finalizá-lo.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Utilizaram-se medidas de tendência central (média e desvio padrão) para descrever as
variáveis da investigação. Conduziu-se o teste Kolmogorov Smirnov para analisar a distri-
buição dos escores da BDDE. Em razão de sua distribuição normal, foram utilizadas téc-
nicas paramétricas. Utilizou-se a regressão hierárquica para analisar a relação entre o
número de cirurgias, influência sociocultural (SATAQ-3) e insatisfação corporal (BSQ) com
os sintomas de TDC. Neste sentido, o “número de cirurgias” (variável dummy) foi inserido
no primeiro bloco, os escores do SATAQ-3 no segundo e os escores do BSQ foi inserido no
terceiro bloco. Salienta-se que o IMC foi controlado nesta análise em função de ser consi-
derado variável confundidora. Os dados foram tratados no software SPSS 21.0, adotando-
-se significância de 5%.
RESULTADOS
As médias de idade e IMC das voluntárias foram 34.34 ± 10.00 e 23.41 ± 3.01, respecti-
vamente. A média do BSQ apontou que as voluntárias encontram-se livres de insatisfação
corporal, apesar do escore máximo apontar elevada insatisfação (161 pontos). As médias
de SATAQ-3 (89.98 ± 9.72) e BDDE (35.20 ± 19.98) não permitem classificar os indivíduos
em virtude dos instrumentos não apresentarem ponto de corte (QUADRO 1).
QUADRO 1. Análise descritiva das variáveis
VARIÁVEL MÉDIA (DP) MÁXIMO MÍNIMO
Idade (anos) 34.43 (10.00) 61 19
IMC (kg/m²) 23.41 (3.01) 32.19 18.37
BSQ 85.80 (12.08) 161 34
SATAQ-3 89.98 (9.72) 131 51
BDDE 35.20 (19.98) 96 0
Nota: DP = Desvio Padrão IMC= Índice de Massa Corporal, BSQ = Body Shape Questionnaire, SATAQ-3 = Sociocultural Towards Attitudes Questionnaire-3, BDDE= Body Dysmorphic Disorder Examination.
Concernente ao modelo de regressão hierárquica, os achados não indicaram relação do nú-
mero de cirurgias com os sintomas de TDC (F(1, 87) = 0.07, R² = .001, p = .93). Do mesmo modo,
os resultados não demonstraram relação entre a influência sociocultural (SATAQ-3) e os sin-
tomas de TDC (F(2, 86) = 1.62, R² = .04, p = .20). Vale destacar, no entanto, que a insatisfação
corporal, inserida no último bloco, apontou relação estatisticamente significante com os sin-
tomas de TDC (F(3, 85) = 15.22, R² = .35, p = .01), explicando 35% de sua variância, conforme
demonstrado no quadro 2. Destaca-se, ainda, que os achados do modelo de regressão não
indicaram colinearidade entre o IMC e os sintomas de TDC (F(1, 87) = 1.80, p = .19).
QUADRO 2. Modelo de regressão hierárquica utilizando os sintomas de TDC como variável critério em mulheres que realizaram cirurgia plástica
VARIÁVEL BLOCO BETA F R² *P
NC 1 .02 .07 .001 .93
SATAQ-3 2 .19 1,62 .04 .20
BSQ 3 .57 15,22 .35 .01
Nota. NC = Número de cirurgias, SATAQ-3 = Sociocultural Towards Attitudes Questionnaire-3, BSQ = Body Shape Questionnaire.* p < .05
DISCUSSÃO
A presente pesquisa teve como objetivo verificar a relação entre o número de cirurgias plás-
ticas, influência sociocultural e insatisfação corporal com os traços de TDC em um grupo de
mulheres submetidas à cirurgias plásticas na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.
São desconhecidas pesquisas avaliando as possíveis diferenças quanto à presença de
traços de TDC entre mulheres que realizaram uma ou mais cirurgias plásticas (Coelho, Car-
valho, Paes, & Ferreira, no prelo). Em contrapartida, alguns estudos na literatura interna-
cional têm apontado que a influência da mídia é capaz de desencadear elevados níveis de
insatisfação e preocupação com o corpo ou suas partes fazendo com que esses indivíduos
se submetam a um maior número de procedimentos cirúrgicos com a finalidade de altera-
rem a região que provoca incômodo, característica principal de pacientes de TDC (Adams,
2010; Sarwer, 2011). Os dados obtidos apontaram que o número de procedimentos cirúr-
gicos não possui associação quanto à presença de traços de TDC na amostra em questão.
Corroborando, Mulkens et al. (2011) encontraram baixos escores do BDDE em um grupo de
mulheres submetidas à cirurgia em questão. Um fator a ser destacado que pode explicar
os resultados encontrados no presente estudo está relacionado ao fato da cirurgia plástica
ser capaz de proporcionar melhoras quanto aos aspectos da imagem corporal, autoestima
13
169 — RPCD 17 (S2.A)
e diminuição de problemas psicopatológicos nos pacientes (Adams, 2010). Logo, o proce-
dimento cirúrgico pode ter contribuído para amenizar os traços de TDC na medida em que
os indivíduos os realizaram e diminuíam seus níveis de insatisfação corporal.
Os aspectos socioculturais tornaram-se importantes influenciadores de aspectos sociais
ligados ao corpo por meio da difusão de padrões de beleza, atuando como disseminadores
do corpo ideal e levando alguns indivíduos a desenvolverem distúrbios de imagem e interes-
ses pela cirurgia plástica (Conghlin et al., 2012). Dessa forma, sabe-se que a mídia é vista
como a principal fonte de informação para o público de cirurgia plástica quanto ao fato de
obter informações sobre beleza e atratividade física a ponto de desenvolver elevados níveis
de insatisfação com o corpo chegando a desencadear o TDC (Ribeiro, Silva, & Kruse, 2009).
Para a presente amostra, os escores do SATAQ-3, não apresentaram correlação entre
a influência sociocultural e a presença de traços de TDC. No entanto, alguns estudos en-
contraram relação entre influência da mídia e presença TDC em indivíduos submetidos à
cirurgias plásticas estéticas (Conghlin et al., 2012). Ratificando, Solvi et al. (2009) expli-
cam a influência sociocultural sobre esses indivíduos, afirmando serem os fatores prin-
cipais que incidem sobre a tomada de decisão para a realização da cirurgia, como: infor-
mações passadas pela mídia, situação econômica, testemunho de indivíduos que já foram
submetidos a este procedimento e opinião do parceiro afetivo.
A avaliação de aspectos psicológicos, característica de distúrbios de imagem corporal
e de transtornos alimentares parecem de especial importância para a detecção de sinais
e sintomas de TDC em candidatos à cirurgia plástica. Nesse sentido, observou-se relação
entre os níveis de insatisfação corporal e os sintomas ou traços de TDC. Dessa maneira,
quanto maior os níveis de insatisfação com o corpo, maiores os escores do BDDE, indicando
presença de traços de TDC. Dessa maneira, destaca-se que uma das principais caracte-
rísticas de indivíduos que sofrem de TDC são elevados índices de insatisfação corporal
conforme já explicitado na literatura (Sarwer et al., 2011).
Pesquisas que acompanharam os níveis de satisfação corporal de indivíduos com TDC nos
períodos pré e pós-operatórios verificaram que não houve melhoria quanto a este aspecto da
imagem corporal (Adams, 2010; Conghlin et al., 2012). Dessa maneira, a presente amostra
apresenta sintomas que vão de encontro às características de indivíduos que sofrem desse
transtorno de imagem. Da mesma forma, Mulkens et al. (2011) reportaram que 86% de sua
amostra ficou satisfeita com o resultado do procedimento na região alterada. Entretanto, 21
a 59% desses indivíduos apresentaram escores elevados de insatisfação corporal e presença
de psicopatologias em comparação a população em geral, mesmo após a cirurgia.
Paralelamente, Sarwer (2002) afirma que a maioria dos indivíduos que pretendem realizar
cirurgias plásticas relata insatisfação com a imagem corporal. Por conta disso, sugere-se
que sujeitos que apresentem níveis elevados de insatisfação com o corpo ou TDC, devem ser
encaminhados a um psiquiatra ao invés de recorrer a uma nova cirurgia (Sarwer, 2011). Des-
sa forma, conforme destaca Conrado (2009), existe a necessidade de uma consulta psiqui-
átrica nos períodos anteriores ao da cirurgia plásticas a fim identificar a presença de sinto-
mas de TDC e encaminhar o paciente para o tratamento adequado. Cuidado similar deve ser
tomado no período pós-operatório, e no seguimento (follow-up) do paciente, de forma que
possa ser verificado o real benefício psicossocial adquirido pela realização do procedimento.
Acredita-se que a presente pesquisa tenha demonstrado resultados interessantes e iné-
ditos na literatura nacional. Entretanto, algumas limitações devem ser destacadas. Primei-
ramente, não houve controle das variáveis como o grau de escolaridade e nível socioeconô-
mico. Segundo Alvarenga, Dunker, Philippi, e Scagliusi (2010), o ideal de beleza se aplica
incisivamente a indivíduos de estratos econômicos mais privilegiados. Outro aspecto im-
portante que poderia influenciar nos resultados seria a aplicação dos instrumentos nos
períodos pré e pós-operatórios. Além disso, alguns dos instrumentos utilizados não foram
validados e adaptados transculturalmente para adultas brasileiras, população avaliada no
presente estudo. Entretanto, ressalva-se que atualmente existam poucos instrumentos
validados que mensurem a insatisfação corporal em mulheres adultas brasileiras subme-
tidas à cirurgia plástica.
Assim sendo, acredita-se que o controle dessas variáveis poderiam proporcionar uma
avaliação mais fidedigna a respeito das variáveis. Por fim, estima-se que esse seja o pri-
meiro estudo no Brasil analisando a relação entre o número de cirurgias plásticas, influên-
cia sociocultural e insatisfação corporal com os sintomas e/ou traços de TDC.
CONCLUSÕES
Os resultados da presente investigação permitiram concluir que não existiu relação quanto
ao número de cirurgias plásticas e traços de TDC para amostra em questão. Ou seja, apesar
de terem realizado uma ou mais cirurgias, os níveis de preocupação com partes ou forma
do corpo foi similar entre os grupos. Além disso, verificou-se que a influência sociocultural
não possui relação com TDC. Entretanto, constatou-se que os níveis de insatisfação com o
corpo relacionam-se com os sintomas de TDC, explicando 35% da sua variância.
Diante da complexidade do tema, verifica-se a necessidade da realização de estudos
futuros investigando amostras com esse perfil envolvendo controle de variáveis como pe-
ríodo pré e pós-operatório, nível socioeconômico e grau de escolaridade.
AGRADECIMENTOS
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa conce-
dida à primeira autora para a execução da presente pesquisa.
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REFERÊNCIAS
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