138

revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

  • Upload
    vomien

  • View
    245

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 2: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 3: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do PortoVol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006ISSN 1645-0523Dep. Legal 161033/01

DirectorJorge Olímpio Bento (Universidade do Porto)

EditorAntónio Teixeira Marques (Universidade do Porto)

Conselho editorial [Editorial Board]Adroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul, Brasil)António Prista (Universidade Pedagógica, Moçambique)Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia, Alemanha)Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina, Bélgica)Go Tani (Universidade São Paulo, Brasil)Ian Franks (Universidade de British Columbia, Canadá)João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa, Portugal)Jorge Mota (Universidade do Porto, Portugal)José Alberto Duarte (Universidade do Porto, Portugal)José Maia (Universidade do Porto, Portugal)Michael Sagiv (Instituto Wingate, Israel)Neville Owen (Universidade de Queensland, Austrália)Rafael Martín Acero (Universidade da Corunha, Espanha)Robert Brustad (Universidade de Northern Colorado, USA)Robert M. Malina (Universidade Estadual de Tarleton, USA)

Comissão de Publicação [Publication Committee]Amândio Graça (Universidade do Porto, Portugal)António Manuel Fonseca (Universidade do Porto, Portugal)Eunice Lebre (Universidade do Porto, Portugal)João Paulo Vilas Boas (Universidade do Porto, Portugal)José Pedro Sarmento (Universidade do Porto, Portugal)Júlio Garganta (Universidade do Porto, Portugal)Maria Adília Silva (Universidade do Porto, Portugal)Olga Vasconcelos (Universidade do Porto, Portugal)Ovídio Costa (Universidade do Porto, Portugal)Rui Garcia (Universidade do Porto, Portugal)

Design gráfico e paginação Armando Vilas BoasImpressão e acabamento Multitema

Assinatura Anual Portugal e Europa: 37,50 Euros Brasil e PALOP: 45 Euros, outros países: 52,50 EurosPreço deste número Portugal e Europa: 15 Euros Brasil e PALOP: 15 Euros, outros países: 20 Euros

Tiragem 500 exemplaresCopyright A reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitida com autorização escrita do Director.

Endereço para correspondênciaRevista Portuguesa de Ciências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 Porto · PortugalTel: +351–225074700; Fax: +351–225500689www.fcdef.up.pt – [email protected]

Consultores [Consulting Editors]Alberto Amadio (Universidade São Paulo)Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro)Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas)Anthony Sargeant (Universidade de Manchester)Antônio Carlos Guimarães† (Universidade Federal Rio Grande Sul)António da Paula Brito (Universidade Técnica Lisboa)António Roberto da Rocha Santos (Univ. Federal Pernambuco)Carlos Balbinotti (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Carlos Carvalho (Instituto Superior da Maia)Carlos Neto (Universidade Técnica Lisboa)Cláudio Gil Araújo (Universidade Federal Rio Janeiro)Dartagnan P. Guedes (Universidade Estadual Londrina)Duarte Freitas (Universidade da Madeira)Eduardo Kokubun (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)Francisco Alves (Universidade Técnica de Lisboa)Francisco Camiña Fernandez (Universidade da Corunha)Francisco Carreiro da Costa (Universidade Técnica Lisboa)Francisco Martins Silva (Universidade Federal Paraíba)Glória Balagué (Universidade Chicago)Gustavo Pires (Universidade Técnica Lisboa)Hans-Joachim Appell (Universidade Desporto Colónia)Helena Santa Clara (Universidade Técnica Lisboa)Hugo Lovisolo (Universidade Gama Filho)Isabel Fragoso (Universidade Técnica de Lisboa)Jaime Sampaio (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Jean Francis Gréhaigne (Universidade de Besançon)Jens Bangsbo (Universidade de Copenhaga)João Barreiros (Universidade Técnica de Lisboa)José A. Barela (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)José Alves (Escola Superior de Desporto de Rio Maior)José Luis Soidán (Universidade de Vigo)José Manuel Constantino (Universidade Lusófona)José Vasconcelos Raposo (Univ. Trás-os-Montes Alto Douro)Juarez Nascimento (Universidade Federal Santa Catarina)Jürgen Weineck (Universidade Erlangen)Lamartine Pereira da Costa (Universidade Gama Filho)Lilian Teresa Bucken Gobbi (Univ. Estadual Paulista, Rio Claro)Luiz Cláudio Stanganelli (Universidade Estadual de Londrina)Luís Sardinha (Universidade Técnica Lisboa)Manoel Costa (Universidade de Pernambuco)Manuel João Coelho e Silva (Universidade de Coimbra)Manuel Patrício (Universidade de Évora)Manuela Hasse (Universidade Técnica de Lisboa)Marco Túlio de Mello (Universidade Federal de São Paulo)Margarida Espanha (Universidade Técnica de Lisboa)Margarida Matos (Universidade Técnica de Lisboa)Maria José Mosquera González (INEF Galiza)Markus Nahas (Universidade Federal Santa Catarina)Mauricio Murad (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Pablo Greco (Universidade Federal de Minas Gerais)Paula Mota (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Paulo Farinatti (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Paulo Machado (Universidade Minho)Pedro Sarmento (Universidade Técnica de Lisboa)Ricardo Petersen (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Sidónio Serpa (Universidade Técnica Lisboa)Silvana Göllner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Valdir Barbanti (Universidade São Paulo)Víctor Matsudo (CELAFISCS)Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa)Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança)Wojtek Chodzko-Zajko (Universidade Illinois Urbana-Champaign)

A Revista Portuguesa de Ciências do Desporto está indexada na plataforma SciELO Portugal - Scientific Electronic Library Online(http://www.scielo.oces.mctes.pt), no SPORTDiscus e no Directório e no Catálogo Latindex – Sistema regional de informação em linha

para revistas científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal

Page 4: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006

ISSN 1645-0523, Dep. Legal 161033/01

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS]

7 Características cinemáticas da pedalada em ciclistascompetitivos de diferentes modalidadesPedaling Kinematics Characteristics of Competitive Cyclists of Different DisciplinesFelipe Carpes, Frederico Dagnese, Rodrigo Bini,Fernando Diefenthaeler, Mateus Rossato, Carlos Mota, Antônio C. S. Guimarães

15 Efeito da cadência de pedalada sobre a relação entre o limiar anaeróbio e máxima fase estável delactato em indivíduos ativos do sexo masculinoEffects of Pedaling Cadence on the Relationship Between AnaerobicThreshold and Maximal Lactate Steady State in Active Male Individuals VDA Ruas, TR Figueira, F Caputo, DF Barbeitos, BS Denadai

21 Indicadores de regulação autonômica cardíaca em repouso e durante exercício progressivo.Aplicação do limiar de variabilidade da freqüência cardíacaIndexes of Autonomic Cardiac Regulation in Rest and DuringProgressive Exercise. Application of the Heart Rate Variability ThresholdLenise Fronchetti, Fábio Nakamura, César Aguiar, Fernando Oliveira

29 Efeitos bioquímicos da suplementação de carboidratos após uma competição simulada de Short Duathlon TerrestreBiochemical Effects of Carbohydrates Supplementation in a Simulated Short Land Duathlon CompetitionRenata Mamus, M. Gisele Santos

38 Tradução e validação do SAQ (Sports AttitudesQuestionnaire) para jovens praticantes desportivosportugueses com idades entre os 13 e os 16 anosTranslation and Validation of the Sports Attitudes Questionnaire (SAQ) Applied to Young Portuguese Athletes Aged 13 to 16 YearsCarlos E. Gonçalves, Manuel J. Coelho e Silva,Nikos Chatzisarantis, Martin J. Lee, Jaume Cruz

50 Efeitos do intervalo pós-conhecimento de resultadosna aquisição do arremesso da BochaEffects of Results’ Post-Knowledge Interval in the Acquisition of the Bocce Throw

Márcio M. Vieira, Fernando C. M. Ennes,Guilherme M. Lage, Leandro R. Palhares, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

55 Análise da carreira desportiva de atletas das regiõessul e sudeste do Brasil. Estudo dos resultados des-portivos nas etapas de formaçãoThe Importance of Sport Results During the Long-Term’s AthleteDevelopment. A Study with High Level Brazilian AthletesCristina Cafruni, António Marques, Adroaldo Gaya

65 O valor do atleta com deficiência. Estudo centrado na análise de um periódico portuguêsThe Value of the Athlete with Disability. An Analysis through a Portuguese Daily NewspaperAna L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

ARTIGOS DE REVISÃO [REVIEWS]

81 Crescimento somático na população africana emidade escolar. Estado actual do conhecimentoSomatic Growth in African Children and Youth. Current KnowledgeSílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha, Leonardo Nhantumbo, António Prista

94 Alterações no funcionamento do sistema de controlepostural de idosos. Uso da informação visualChanges in Elderly Postural Control System Functioning. Use of Visual InformationPaulo Freitas Júnior, José A. Barela

106 A pesquisa com EEG aplicada à área de aprendizagem motoraEEG and Motor Learning ResearchCaroline Luft, Alexandro Andrade

ENSAIO [ESSAY]

119 A vitalidade da lusofoniaMário Assis Ferreira Fernandes

IN MEMORIAM

127 Prof. Dr. Oded Bar-Or

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional Ciência,Tecnologia, Inovação do Quadro

Comunitário de Apoio III

Page 5: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Nota editorialCelebrações e evocações

Jorge Bento

Este número da RPCD surge numa conjuntura dematizes muito variados. Uns mais animosos e outrosmenos estimulantes.

1. Entre os primeiros emerge a circunstância daFaculdade de Desporto celebrar trinta anos de umaexistência enquanto instituição de formação supe-rior e universitária. É certo que somente em 1986assumiu, por inteiro e com grande ambição e dina-mismo, o normal funcionamento de uma Escolacom dimensão universitária, mas não podem seresquecidos os anos anteriores, porquanto nelescresceram o inconformismo e o sonho que geraramuma nova era. Em 1992 tem início o primeiro curso de mestrado(Desporto de Crianças e Jovens), seguindo-se em1995 um segundo curso (Treino de AltoRendimento Desportivo). Hoje são sete os cursosde mestrado oferecidos pela Faculdade.Da trajectória percorrida, em praticamente 20 anos,falam os números. Até ao momento foram concluí-dos positivamente 108 doutoramentos, a saber: 65cidadãos de Portugal, 40 do Brasil, 2 deMoçambique e 1 de Itália. Por sua vez o número demestrados concluídos perfaz 730: 643 cidadãos dePortugal, 70 do Brasil, 10 de Moçambique, 3 deAngola, 1 de Cabo Verde, 1 da Guiné-Bissau, 1 deS. Tomé e Príncipe e 1 de Espanha.O número de estudantes da Faculdade é actualmen-te de 1180: 774 de licenciatura, 324 de mestrado e85 de doutoramento. É importante destacar que,nos cursos de mestrado e doutoramento, 68 estu-dantes são provenientes do Brasil, 2 deMoçambique, 1 de Cabo Verde, 1 da Espanha, 1 doPeru e 1 da Tailândia.

2. Como corolário de uma orientação assumida abinitio e de decisões recentemente tomadas peloscompetentes órgãos da Universidade do Porto, aEscola passou, a ter, a partir do dia 19 de Janeiro docorrente ano, uma nova designação oficial: Faculdadede Desporto. As razões da alteração já foram elucida-das na nota editorial do Vol.5, Nº. 2, Maio–Agostode 2005.Com este passo a Faculdade quis reforçar ainda maisa sua ligação inequívoca ao domínio plural e vastoque dá pelo nome de desporto. É a esta luz que deveser entendido o acordo celebrado com o ComitéOlímpico de Portugal, no sentido de associar estaprestigiada instituição ao patrocínio da RPCD.Esta associação tem um elevado valor simbólico e realnão apenas para a Faculdade e a Revista, mas sobretu-do para o desporto português e o seu rumo. Trata-sede ultrapassar barreiras atávicas dificultadoras da apro-ximação, do entendimento e convergência de esforçosentre as pessoas e organizações que têm o desportocomo objecto da sua missão e paixão. Por isso é comenorme alegria e grau de expectativas e também comnão menor sentido de responsabilidade que encaramosesta parceria e as portas que com ela se abrem.Com efeito, à medida que o Estado cede às pressõese tentações neoliberais e vai destruindo, pouco apouco, as suas funções de serviço público, é necessá-rio construir alternativas. Ora é este cenário que seprefigura cada vez mais diante dos nossos olhos,nomeadamente no sector desportivo. Estão assimcriadas as condições para que uma instituição plenade credibilidade e potencialidades, como é o caso doCOP, tenha de alargar o seu tradicional raio de acçãoe ocupar-se de assuntos (p. ex., apoio à reflexão einvestigação, detecção e fomento de talentos) que

Page 6: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

não faziam parte da ementa das suas atribuições.Enfim, face ao panorama actual e à antevisão dofuturo, o COP é hoje chamado a rever e estender asua missão para tarefas que vão deixando de sercumpridas pelos Serviços Públicos. Se o não fizer, odesporto português conhecerá dias sombrios.

3. Na celebração dos 30 anos da Faculdade integra-se, com toda a propriedade, a outorga do título deDoutor Honoris Causa aos Professores EckhardMeinberg e Hans-Joachim Appell, da DeutscheSporthochschule Köln. Trata-se de duas personalida-des, com créditos firmados no estudo, reflexão einvestigação na área das Ciências do Desporto, quetêm desenvolvido, nos últimos 20 anos, uma intensae frutífera cooperação com vários docentes daFaculdade. À orientação seguida pela Escola e à obrapor ela produzida não são estranhos os nomes des-tes ilustres académicos.Assim é com inteiro jus que ficam associados a umacomemoração plenamente justificada. Do mesmomodo se aprecia o facto do Professor AlbertoAmaral, antigo Reitor da Universidade do Porto, sero patrono de ambos os actos de doutoramento. A elemuito deve a Faculdade; em hora de exaltação nãopode ficar silenciada a gratidão.

4. No ano de 2006 vão realizar-se dois congressosque muito dizem à RPCD e à Faculdade deDesporto. O primeiro é o Congresso Mundial deBiomechanics and Medicine in Swimming. O evento vaiter lugar nesta Faculdade, entre 21 e 24 de Junho.O segundo é o XI Congresso de Ciências doDesporto e de Educação Física dos Países de Língua

Portuguesa, consagrado ao tema Renovação eConsolidação. A sua organização está entregue à pres-tigiada Escola de Educação Física e Esporte daUniversidade de São Paulo, no período de 6 a 9 deSetembro.Os investigadores do desporto, da comunidade lusó-fona, têm assim duas excelentes oportunidades nãoapenas para apresentação dos seus trabalhos, mastambém para se juntarem em profícuas jornadas dereflexão e de permuta de ideias.Um outro motivo de satisfação reside no facto de serealizarem em Macau, na segunda semana deOutubro, os Jogos da Lusofonia em sete modalidadesdesportivas. O certame acontece em resultado deuma decisão da ACOLOP – Associação dos ComitésOlímpicos de Língua Oficial Portuguesa e conta coma adesão de todos os países lusófonos.

5. A última nota tem um registo de tristeza e dememória. Um registo que ultimamente tem sido tei-moso a invadir a nossa vida.Desta vez as palavras de dor e saudade curvam-seperante a memória do Professor Oded Bar-Or. Daobra do insigne e respeitado mestre falam os testemu-nhos insertos nas páginas desta Revista. Queremossomente trazer à lembrança a honra que tivemos emrecebê-lo na Faculdade de Desporto, durante quatrodias, por ocasião do 22nd Pediatric Work PhysiologyMeeting, efectuado em 15-18 de Setembro de 2003. Naaltura foi alvo de uma homenagem pelos seus pares.Da sua estadia retemos na lembrança a satisfação, asimplicidade e humildade que são apanágio dos gran-des arquétipos da ciência e da vida. O seu nome temum lugar superior na nossa consideração.

Page 7: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

ARTIGOS DEINVESTIGAÇÃO

[RESEARCH PAPERS]

Page 8: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 9: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–14 7

Características cinemáticas da pedalada em ciclistas competitivos de diferentes modalidades

Felipe Carpes1

Frederico Dagnese1

Rodrigo Bini2

Fernando Diefenthaeler2

Mateus Rossato1

Carlos B. Mota2

Antônio C. S. Guimarães2

1 Universidade Federal de Santa MariaLaboratório de BiomecânicaBrasil

2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Laboratório de Pesquisa do ExercícioPorto AlegreBrasil

RESUMO

O objetivo deste estudo foi comparar a cinemática de pedaladaem ciclistas de duas modalidades diferentes (estrada e moun-tain-bike). A aquisição dos dados foi feita usando o sistema PeakMotus, sendo analisado o comportamento angular da coxa, joe-lho e tornozelo enquanto os ciclistas pedalaram em intensidaderelativa ao segundo limiar ventilatório. Os resultados foramanalisados estatisticamente com teste t de Student a cada 30º dopé-de-vela, não mostrando diferenças entre as modalidades.Entretanto, a cinemática do tornozelo apresentou grande varia-bilidade. A característica encontrada para o tornozelo possivel-mente seja um fator decisivo para diferenças na técnica depedalada entre os ciclistas destas duas modalidades, em relaçãoà aplicação das forças no pedal.

Palavras-chave: ciclismo de estrada, ciclismo mountain-bike, cinemática.

ABSTRACT

Pedaling Kinematics Characteristics of Competitive Cyclists ofDifferent Disciplines

The purpose of this study was to compare the pedaling kinematics ofcyclists of two different disciplines (road and mountain-bike). Data col-lection and analysis were accomplished using the Peak Motus System,and the angular kinematics behavior for the thigh, knee and ankle wereanalyzed while the cyclists pedaled in relative intensity to the secondventilatory threshold. The results were statistically compared byStudent’s t-test to every 30° of crank, showing no statistically differ-ences among the cycling disciplines. However, the ankle kinematics pre-sented high variability. This characteristic found for the ankle may be adecisive factor related to the differences in the pedaling techniqueamong cyclists of these two disciplines.

Key Words: road cycling, mountain-bike cycling, kinematics.

Page 10: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–148

INTRODUÇÃOO ciclismo é um esporte com características biome-cânicas bem conhecidas. No entanto, ainda existemmuitas dúvidas em relação à técnica de pedalada esua repercussão sobre variáveis biomecânicas dodesempenho do ciclista.Em busca de soluções para algumas destas dúvidas,diversos protocolos de avaliação biomecânica dapedalada são utilizados (4, 10, 13). Com base nacinemetria, alguns modelos para análise do movi-mento em duas ou três dimensões têm sido desen-volvidos, com o propósito de explicar as característi-cas mecânicas do movimento cíclico realizado pelosmembros inferiores durante a pedalada (1, 8, 12).Tais análises se tornam, ainda, mais completas quan-do se têm associados à cinemetria outros métodosde medição, como a dinamometria. Com isso, res-postas a diferentes estímulos são registradas e anali-sadas de acordo com um objetivo. No esporte derendimento os objetivos destas análises estão comu-mente relacionados com a maximização do desempe-nho, como reportado por Diefenthaeler (6), que ava-liou ciclistas de estrada alterando-se a posição doselim em 1 cm (horizontal e verticalmente, nas duasdireções), observando que as alterações na cinemáti-ca sagital do membro inferior foram pequenas eocorreram fundamentalmente na articulação do tor-nozelo. Nesta avaliação, também as forças no pedalapresentaram alterações, quando modificada a posi-ção do selim. A interface pé-pedal é o ponto firme decontato para a propulsão no ciclismo, e a posição dotornozelo pode afetar significativamente a transmis-são da força gerada pelos músculos do membro infe-rior para o pé-de-vela (11), podendo o movimentodo tornozelo ser influenciado, também, por mudan-ças na carga de trabalho (7, 11).Comparando-se a técnica de pedalada em ciclistas dediferentes modalidades através da aplicação de forçano pedal, percebe-se que ciclistas mountain-bike(MTB) apresentam uma mecânica de pedalada maisuniforme (picos de força semelhantes) e, consequen-temente, uma técnica de pedalada melhor do queoutros ciclistas, quando avaliados em laboratório.Isto pode, em parte, ser explicado pela maior exposi-ção dos ciclistas MTB a subidas, que exigem umaconstante produção de força (2, 3). Além do referidoestudo, pouco se sabe sobre as características de

diferentes modalidades do ciclismo, sendo que geral-mente os estudos avaliam uma modalidade e genera-lizam os resultados para as demais. Desse modo,este estudo buscou comparar a cinemática angulardo membro inferior de ciclistas das modalidadesestrada e MTB.

METODOLOGIAPara a comparação da cinemática angular de ciclistasde diferentes modalidades foram avaliados 8 ciclistasde nível estadual (Rio Grande do Sul) e nacional(Brasil), sendo que 4 eram ciclistas de estrada e 4eram ciclistas de MTB, todos possuindo experiênciaem competições (mais de 7 anos).Devido às diferentes localidades de treinamento dosciclistas, as avaliações foram realizadas em duasfases. Na primeira, foram avaliados os ciclistas deestrada, junto ao Laboratório de Pesquisa doExercício da Universidade Federal do Rio Grande doSul, onde os mesmos tiveram suas bicicletas acopla-das a um ciclossimulador Cateye modelo CS1000(Cateye Co., Osaka, Japan). Na segunda fase, as ava-liações foram desenvolvidas no Laboratório deBiomecânica da Universidade Federal de SantaMaria, onde foram avaliados os ciclistas de MTB.Estes pedalaram em um cicloergômetro SRM TrainingSystems, modelo científico (SRM Science, Welldorf,Germany) que permite o ajuste de sua geometria, afim de apresentar a mesma geometria da bicicleta decada ciclista avaliado.A carga utilizada para a coleta de dados com todosos ciclistas foi correspondente ao 2° limiar ventilató-rio individual, determinado a partir do consumomáximo de oxigênio. Este foi determinado sempreno dia prévio à avaliação cinemática, através de umprotocolo de rampa (carga de 100 W iniciais comincrementos de 25 W a cada minuto e cadência depedalada mantida entre 70 e 100 rpm) até exaustãovoluntária máxima.No dia seguinte, após aquecimento prévio de 10minutos, os ciclistas foram filmados enquanto peda-lavam em cadência preferida. Para a determinaçãodos ângulos articulares de interesse, a coleta dosdados foi feita através de cinemetria, com uso davideografia bidimensional para a aquisição das ima-gens, que foi realizada com uma câmera (Peak HSC-180) operando em taxa de amostragem de 180 Hz. A

Felipe Carpes, Frederico Dagnese, Rodrigo Bini, Fernando Diefenthaeler, Mateus Rossato, Carlos B. Mota, Antônio C. S. Guimarães

Page 11: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–14 9

câmera foi posicionada perpendicularmente ao planode movimento, a uma distância de aproximadamente4 m, permitindo a aquisição de imagens adequadaspara o cálculo das variáveis cinemáticas no planosagital do hemicorpo direito, ao longo de 10 ciclosconsecutivos de pedalada.Para a filmagem da pedalada foram fixados marcado-res reflexivos em pontos anatômicos de referência notrocânter maior, epicôndilo lateral, maléolo lateral,IV metatarso, calcâneo, centro de rotação do pedal ecentro de rotação do pé-de-vela. Os marcadoresreflexivos do calcâneo e IV metatarso foram fixadossobre a sapatilha dos ciclistas, imediatamente sobreo ponto anatômico de referência. Foram analisadosos ângulos do quadril (ângulo absoluto da coxa emrelação ao eixo horizontal), do joelho (ângulo relati-vo interno entre a coxa e a perna), e do tornozelo(ângulo relativo entre o segmento perna e o segmen-to pé), conforme ilustra a figura 1. A posição do pé-de-vela também foi determinada com o auxílio dacinemetria. A digitalização das imagens, através doreconhecimento automático dos marcadores reflexi-vos de referência, e os cálculos de todas as variáveiscinemáticas selecionadas foram feitos por meio doSistema Peak Motus (Peak Performance Technologies,Englewood, USA).

Figura 1: Ilustração dos ângulosarticulares calculados.

As coordenadas espaciais obtidas para os pontos dereferência foram submetidas à filtragem (filtroButterworth de 4ª ordem, com freqüência de corte de6 Hz) e utilizadas para o cálculo dos ângulos articula-res. Posteriormente, os dados angulares foram exporta-dos para o software Origin Professional 6.0 (Microcal Inc.,USA), onde foram analisados de acordo com a posiçãoangular do pé-de-vela e apresentados graficamente. Adiscussão dos resultados foi desenvolvida em função decada quadrante do ciclo de pedalada (figura 2).

Figura 2: Quadrantes do ciclo depedalada (0° - 180° fase de propulsão;180° - 360° fase de recuperação).

A análise estatística envolveu a comparação entre osgrupos, utilizando-se o teste t de Student para amos-tras independentes, comparando as variáveis angula-res entre as duas modalidades a cada 30° do ciclo depedalada, separadamente, por meio do pacote esta-tístico Statistica 5.1 (Statsoft, Inc, USA), com umnível de significância igual a 0,05. O coeficiente devariação apresenta a razão entre o desvio-padrão e amédia para o ângulo articular ao longo do ciclo depedalada e foi utilizado para indicar a variabilidadedos dados.

RESULTADOSNa tabela 1 estão apresentadas as variáveis descriti-vas do comportamento angular da coxa. Não foramobservadas diferenças estatisticamente significativasentre os ciclistas de estrada e MTB avaliados.

Tabela 1: Variáveis angulares da coxa para os ciclistas de estrada e de MTB,expressos em média (desvio-padrão) e coeficiente de variação (%) de 10

ciclos de pedalada.

Ângulo da coxa Estrada Mountain-bikeFlexão (°) 17 (4) 23 (3)

Extensão (°) 61 (2) 61 (3)

Amplitude de movimento (°) 44 (5) 38 (5)

Coeficiente de variação (%) 10 9

Na figura 3 é apresentado o comportamento angularda coxa, ao longo do ciclo de pedalada, para o grupode ciclistas de estrada e de MTB. De acordo com osresultados apresentados para o coeficiente de varia-ção (tabela 1), percebe-se que os grupos apresenta-ram homogeneidade, o que se refletiu no gráfico,onde um padrão semelhante foi observado paratodos os ciclistas.

Avaliação cinemática da pedalada

Page 12: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–1410

Figura 3: Comportamento angular da coxa dos ciclistas de estrada e MTB.

Ainda em relação ao comportamento angular obser-vado para a coxa nos ciclistas avaliados, as figuras 4e 5 ilustram os resultados individuais de cada ciclis-ta da amostra, das modalidades estrada e MTB, res-pectivamente.

Figura 4: Comportamento angular da coxa de cada ciclista de estrada avaliado.

Figura 5: Comportamento angular da coxa de cada ciclista MTB avaliado.

Tanto os ciclistas de estrada quanto os de MTB apre-sentaram, em média, o mesmo grau de extensão dacoxa, no entanto, os ciclistas de MTB apresentaramuma menor flexão, que acarretou uma menor amplitu-de de movimento. Para o comportamento angular dojoelho, não foram encontradas diferenças entre os ci-clistas de estrada e MTB. Novamente os ciclistas apre-sentaram resultados muito semelhantes (tabela 2).

Tabela 2: Variáveis angulares do joelho para os ciclistas de estrada e de MTB,expressos em média (desvio-padrão) e coeficiente de variação (%) de 10

ciclos de pedalada.

Ângulo do joelho Estrada Mountain BikeMínimo (°) 69 (3) 69 (3)Máximo (°) 140 (4) 142 (9)Amplitude (°) 70 (3) 72 (8)Coeficiente de variação (%) 3 5

Na figura 6 é apresentado o comportamento angulardo joelho ao longo do ciclo do pé-de-vela, em média,para o grupo de estrada e de MTB. Nas figuras 7 e 8,os padrões individuais do comportamento angulardo joelho são apresentados para os ciclistas de estra-da e de MTB, respectivamente.

Figura 6: Comportamento angular do joelho de ciclistas de estrada e MTB.

Felipe Carpes, Frederico Dagnese, Rodrigo Bini, Fernando Diefenthaeler, Mateus Rossato, Carlos B. Mota, Antônio C. S. Guimarães

Page 13: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–14 11

Figura 7: Comportamento angular do joelho de cada ciclista de estrada avaliado.

Figura 8: Comportamento angular do joelho de cada ciclista MTB avaliado.

O padrão angular do joelho foi similar ao da coxa. Amáxima extensão, em ambas as modalidades, ocor-reu antes dos 180° (a partir da metade do segundoquadrante). Para ambas as modalidades, a máximaflexão ocorreu um pouco antes dos 360° (a partir dametade do quarto quadrante). Novamente umaamplitude de movimento um pouco maior foi repor-tada para os ciclistas MTB.Na articulação do tornozelo não foram observadasdiferenças estatisticamente significativas, o que podeter ocorrido devido ao grande coeficiente de variaçãoobservado nos dois grupos. De acordo com o apresen-tado na tabela 3, o coeficiente de variação foi muitoalto (maior que 70%), indicando que a movimentaçãodo tornozelo foi muito específica para cada ciclista.

Tabela 3: Variáveis angulares do tornozelo para ciclistas de estrada e deMTB, expressos em média (desvio-padrão) e coeficiente de variação (%) de

10 ciclos de pedalada.

Ângulo do tornozelo Estrada Mountain BikeMínimo (°) -8 (4) -3 (12)Máximo (°) 8 (18) 11 (9)Amplitude (°) 16 (14) 14 (5)Coeficiente de variação (%) 77 76

Na figura 9 é ilustrado o comportamento angular dotornozelo, em ambos os grupos, ao longo do ciclo dopé-de-vela. A variabilidade entre os ciclistas foitamanha que forçou a apresentação dos gráficos comescalas individuais para cada ciclista, a fim de mos-trar de forma mais clara o comportamento observa-do (figuras 10 e 11).

Figura 9: Comportamento angular do tornozelo de ciclistas de estrada e MTB.

Figura 10: Comportamento angular do joelho de cada ciclista de estrada avaliado.

Avaliação cinemática da pedalada

Page 14: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–1412

Figura 11: Comportamento angular do tornozelo de cada ciclista de MTB avaliado.

A análise da movimentação da articulação do torno-zelo dos ciclistas avaliados permite verificar umaspecto interessante: foi nesta articulação que ocor-reram as maiores alterações angulares ao longo dociclo do pé-de-vela e onde as mesmas se apresenta-ram de modo mais proeminente, devido à grandevariabilidade observada. Os ciclistas de estrada apre-sentaram maior flexão dorsal, enquanto que osciclistas de MTB apresentaram maior flexão plantar.Em ambos os grupos, a maior flexão dorsal ocorreuligeiramente antes dos 90° do ciclo do pé-de-vela,sendo observado um padrão semelhante até aos 180°do pé-de-vela. Na fase de recuperação da pedalada(de 180° a 360° do ciclo do pé-de-vela), algumasdivergências, ainda que pequenas, foram observadas.

DISCUSSÃOO comportamento diferenciado das variáveis avalia-das reforça a validade de uma discussão individuali-zada e focada em cada uma delas.O comportamento angular da coxa foi semelhante nasduas modalidades. Logo após o início do ciclo do pé-de-vela, a articulação do quadril apresenta sua máxi-ma extensão, próximo aos 180° do pé-de-vela, retor-nando a flexão no ponto morto superior, início dociclo. O fato da máxima extensão do quadril ter ocor-rido após os 180° na modalidade MTB deve-se, prova-velmente, a uma regulagem do selim um pouco maisà frente ou um pouco mais baixo, o que é uma das

características do posicionamento nesta modalidade.Um selim ajustado de acordo com a regulagem pro-posta por Burke e Pruitt (5), dificulta o posiciona-mento comumente utilizado por atletas de MTBquando competindo em trajetos irregulares e comdescidas (onde os ciclistas tomam uma posição desuspensão do corpo sem contato com o selim, e simligeiramente atrás e abaixo do mesmo), visando umamelhor estabilidade na bicicleta. Esta estratégia podefazer com que, na posição de referência (6), o posi-cionamento do membro inferior esteja suscetível auma maior sobrecarga, principalmente na articulaçãopatelo-femoral (5, 7, 8). Na modalidade estrada, umajuste estanque, de acordo com o proposto pela lite-ratura (5) e aliado às características individuais, épossível, pois raramente o ciclista de estrada modifi-ca seu posicionamento na bicicleta ao longo de umaprova. Novamente o padrão de movimento da articu-lação do tornozelo pode ter contribuído para quemenores variações angulares fossem obtidas, quandoem comparação com a modalidade de MTB.Observa-se que o joelho dos ciclistas não apresentaextensão completa durante a pedalada, característicaque está ligada à capacidade de produção de força emfunção do ângulo de inserção muscular e minimiza-ção da compressão patelar (5). De acordo comPierson-Carey e colaboradores (11), durante a peda-lada, a máxima flexão plantar ocorrerá no final dafase de potência (180° do ciclo do pé-de-vela) e amáxima flexão dorsal ocorrerá no fim da fase de recu-peração (360° do ciclo do pé-de-vela). Neste estudo,isso nem sempre foi observado, entretanto, ciclistasde estrada apresentaram uma maior flexão dorsal,enquanto que ciclistas de MTB apresentaram umamaior flexão plantar durante o ciclo de pedalada.Infere-se que esta característica possa ser um dosfatores que explique as diferenças encontradas naaplicação de força nos pedais entre diferentes moda-lidades (2, 3), principalmente quando se leva emconsideração que o movimento do tornozelo é umaimportante condição mecânica para permitir maioraplicação de força resultante no pedal, em particularna fase de propulsão da pedalada. Indicando tambémque os ciclistas podem otimizar o desempenho napedalada usando estratégias de movimentação dotornozelo (11), justamente por esta ser a articulaçãocom maior liberdade de movimento em relação às

Felipe Carpes, Frederico Dagnese, Rodrigo Bini, Fernando Diefenthaeler, Mateus Rossato, Carlos B. Mota, Antônio C. S. Guimarães

Page 15: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–14 13

outras do membro inferior durante a pedalada.Os ciclistas de MTB parecem sustentar o maiortempo possível uma posição de flexão plantar do tor-nozelo, buscando com isso manter a ação de “puxar”o pedal na recuperação. Já nos ciclistas de estrada, aposição do tornozelo no início do ciclo pareceinfluenciar uma maior ação dos extensores da coxa,com o objetivo de antecipar a ação destes e empurraro pedal para a frente, pouco antes do ponto mortosuperior, a fim de otimizar a força, de acordo com aposição do tornozelo. Com essa análise ficariasubentendido que os atletas encontram em seusmúsculos extensores um maior aproveitamento desuas características potenciais. As característicasangulares observadas para ambas as modalidadespodem estar condicionadas a fatores externos, comoa geometria do quadro da bicicleta, o qual no ciclis-mo MTB é menor, bem como ao trajeto em umacompetição e à intensidade de esforço (9).O comportamento diferenciado entre os ciclistas,para a articulação do tornozelo, indica que mesmoatletas de nível competitivo semelhante, como osindivíduos deste estudo, possuem estratégias mus-culares diferenciadas, as quais podem implicar emdiferenças na sua técnica de pedalada, principalmen-te a aplicação de força nos pedais. Uma importanteobservação a se fazer é que ciclistas MTB realizamgrande parte de seus treinamentos utilizando bicicle-tas de estrada, e essa transição de uma geometria dequadro para a outra deveria ser melhor avaliada, poispode exercer influência na técnica de pedalada.

CONCLUSÕESAtravés de uma análise cinemática comparativa entreas modalidades de estrada e MTB, pode-se notarque, para as articulações do quadril e joelho, opadrão de movimento é muito semelhante entre asduas modalidades avaliadas, apresentando tambémpequena variabilidade entre os ciclistas avaliados.Por outro lado, a articulação do tornozelo, ainda queo comportamento angular não tenha diferido estatis-ticamente entre as modalidades, apresentou peculia-ridades para cada modalidade e, também, uma gran-de variabilidade entre os ciclistas, podendo o padrãode movimentação do tornozelo ser um fator determi-nante das diferenças na técnica de pedalada nasmodalidades avaliadas.

Com isso, infere-se que diferentes estratégias mus-culares podem ser observadas entre as modalidades,bem como entre ciclistas de uma mesma modalida-de, sugerindo que este tipo de comparação seja feitoconsiderando a atividade muscular durante a pedala-da, a fim de prover mais informações para explicaras diferenças na técnica de pedalada observadasentre as modalidades e permitir o uso de treinamen-tos específicos.

AGRADECIMENTOSGostaríamos de dedicar este trabalho ao grande mes-tre, Professor Antônio Carlos Stringhini Guimarães,por todos os ensinamentos e exemplos deixados. OProfessor Guimarães faleceu nos dias prévios à sub-missão deste artigo, deixando saudade, lembrança eprincipalmente orgulho de tê-lo tido como professor,colega e, acima de tudo, amigo.

CORRESPONDÊNCIAFelipe Pivetta CarpesUniversidade Federal de Santa MariaCentro de Educação Física e DesportosLaboratório de Biomecânica, Prédio 51, sala 1007Faixa de Camobi, km 997105-900, Santa Maria – RS [email protected]

Avaliação cinemática da pedalada

Page 16: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 7–1414

REFERÊNCIAS1. Bailey MP, Maillardet FJ, Messenger N (2003). Kinematics

of cycling in relation to anterior knee pain and patellartendonitis. J Sports Sci 12:649-657.

2. Broker JP (2003) Cycling Biomechanics: Road andMountain. In Burke ER (Ed.) High Tech Cycling.Champaign, Il.: Humans Kinetics, 119-146.

3. Broker JP, Crawley JD, Coughlin KD (2002) Pedalingmechanics differences across cycling disciplines: observa-tions over 10 years of testing. Med Sci Sports Exerc 34(5),supplement 1, S90.

4. Broker JP, Gregor RJ (1996) Cycling Biomechanics. InBurke ER (Ed.) High Tech Cycling. Champaign, Il.: HumanKinetics, 145-165.

5. Burke ER, Pruitt AL (2003) Body positioning for cycling.In Burke ER (Ed.) High Tech Cycling. Champaign, Il.:Humans Kinetics, 69-92.

6. Diefenthaeler F (2004) Avaliação dos efeitos da posição doselim na técnica de pedalada de ciclistas: estudo de casos.Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do RioGrande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

7. Ericson MO, Nisell R, Nemeth G (1988) Joint motions ofthe lower limb during ergometer cycling. J Orthop SportsPhys Therapy 9:273-278.

8. Gregersen CS, Hull ML (2003) Non-driving intersegmen-tal knee moments in cycling computed using a model thatincludes three-dimensional kinematics of the shank/footand the effect of simplifying assumptions. J Biomech36:803-813.

9. Impellizzeri F, Sassi A, Rodriguez-Alonso M, Mognoni P,Marcora S (2002) Exercise intensity during off-roadcycling competitions. Med Sci Sports Exerc 34(11):1808-1813.

10. Lafortune MA, Cavanagh PR (1983). Effectiveness andefficiency during bicycle riding. In Matsui & Kobashi K(Ed.) Biomechanics VIII-B. Champaign, Il: Human Kinetics,928-936.

11. Pierson-Carey CD, Brown DA, Dairaghi CA (1997).Changes in resultant pedal reaction forces due to ankleimmobilization during pedaling. J App Biomech 13(3):334-346.

12. Ruby P, Hull ML, Hawkins D (1992). Three dimensionalknee loading during seated cycling. J Biomech 25:41-53.

13. Sanderson DJ (1991). The influence of cadence and poweroutput on the biomechanics of force application duringsteady-state cycling in competitive and recreationalcyclists. J Sport Sci 9: 191-203.

Felipe Carpes, Frederico Dagnese, Rodrigo Bini, Fernando Diefenthaeler, Mateus Rossato, Carlos B. Mota, Antônio C. S. Guimarães

Page 17: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 15–20 15

Efeito da cadência de pedalada sobre a relação entre o limiaranaeróbio e máxima fase estável de lactato em indivíduos ativosdo sexo masculino

VDA RuasTR FigueiraF CaputoDF BarbeitosBS Denadai

Universidade Estadual PaulistaLaboratório de Avaliação da PerformanceRio Claro – SPBrasil

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a influência da cadência depedalada na validade do limiar anaeróbio (LAn) em predizer acarga correspondente à máxima fase estável de lactato(MLSScarga), durante o exercício realizado no cicloergômetro.Vinte e oito indivíduos, fisicamente ativos, do sexo masculino(21,7 + 3,5 anos, 72,7 + 10,1 kg, 177,0 + 4,5 cm) realizaramem uma bicicleta de frenagem mecânica um teste incrementalmáximo, para determinar o LAn e de 2 a 4 testes de cargaconstante, para determinar a MLSScarga. Os testes foram realiza-dos nas cadências de 50, 60, 70 e 100 rpm. O LAn foi determi-nado como sendo a carga correspondente a 3,5 mM de lactatosanguíneo. A MLSScarga foi definida como a maior carga na quala concentração de lactato sanguíneo não aumentou mais doque 1,0 mM entre o 10º e o 30º minuto do teste de carga cons-tante. Não houve diferença significante entre a MLSScarga (50rpm = 187,1 + 26,7; 60 rpm = 182,8 + 31,0; 70 rpm = 180,2+ 24,5 e; 100 rpm = 154,5 + 24,8 Watts) e o LAn (50 rpm =189,8 + 31,5; 60 rpm = 175,2 + 37,8; 70 rpm = 187,2 + 28,0e; 100 rpm = 142,9 + 23,9 Watts) em nenhuma das cadênciasanalisadas. Com exceção da cadência de 100 rpm (r = 0,59; p> 0,05), o LAn foi significantemente correlacionado com aMLSScarga (50 rpm - r = 0,80; 60 rpm - r = 0,96; 70 rpm - r =0,81). Pode concluir-se que, nas cadências de pedalada habi-tualmente utilizadas (50-70 rpm) em testes incrementais paraavaliação de indivíduos sedentários, o LAn apresenta uma boavalidade em predizer a MLSScarga.

Palavras-chave: capacidade aeróbia, cicloergômetro, freqüênciade pedalada.

ABSTRACT

Effects of Pedaling Cadence on the Relationship BetweenAnaerobic Threshold and Maximal Lactate Steady State inActive Male Individuals

The aim of the present study was to analyse the influence of pedalingcadence on the validity of anaerobic threshold (AT) to estimate theexercise workload corresponding to the maximal lactate steady state(MLSSworkload) during cycle ergometer. Twenty-eight active male(21.7 + 3.5 yr, 72.7 + 10.1 kg, 177.0 + 4.5 cm) performed oneincremental maximal-load test to determine AT and two to four con-stant submaximal load tests on a mechanically braked cycle ergometerto determine MLSSworkload. The tests were performed at pedalcadences of 50, 60, 70 and 100 rpm. AT was determined as the work-load corresponding to 3.5 mM of blood lactate. The MLSSworkloadwas defined as the highest workload at which blood lactate concentra-tion did not increase by more than 1.0 mM between minutes 10 and30 of the constant workload. There was no significant differencebetween MLSSworkload (50 rpm = 187.1 + 26.7; 60 rpm = 182.8+ 31.0; 70 rpm = 180.2 + 24.5 and; 100 rpm = 154.5 + 24.8Watts) and AT (50 rpm = 189.8 + 31.5; 60 rpm = 175.2 + 37.8;70 rpm = 187.2 + 28.0 and; 100 rpm = 142.9 + 23.9 Watts).With exception of cadence at 100 rpm (r = 0.59; p > 0.05), AT wassignificantly correlated with MLSSworkload (50 rpm - r = 0.80; 60rpm - r = 0.96; 70 rpm - r = 0.81). We conclude that at cadencesmore frequently performed in incremental tests (50 – 70 rpm), AT pre-sented good validity to estimate MLSSworkload in sedentary individu-als.

Key Words: aerobic capacity, cycle ergometer, pedaling frequency.

Page 18: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 15–2016

INTRODUÇÃOA máxima fase estável de lactato (MLSS) é a maiorconcentração de lactato sanguíneo ([Lac]sang) quepode ser mantida em fase estável, durante o exercí-cio prolongado de carga constante (3). A MLSS temsido utilizada para identificar, de modo individualiza-do, a concentração de lactato e carga constante cor-respondente (MLSScarga), acima das quais a taxa deliberação de lactato para o sangue excede sua taxa deremoção deste compartimento. Entre as principaisaplicações da identificação da MLSScarga temos a ava-liação dos efeitos de um programa de treinamentoaeróbio, a prescrição da intensidade deste treina-mento e a categorização dos diferentes domínios daintensidade do exercício (i.e.: moderado, pesado ousevero) (6). Entretanto, a determinação da MLSScarga

requer que o indivíduo realize de 4 a 5 testes decarga constante, preferencialmente em diferentesdias, com aproximadamente 30 min de duração. Esteprocedimento aumenta os custos operacionais dolaboratório, e pode, também, interferir na rotina detreinamento do atleta.Em função disto, alguns estudos têm tentado identi-ficar indiretamente a MLSScarga, durante um únicoexercício incremental. Heck et al. (10) verificaramem um grupo heterogêneo (corredores de endurance eindivíduos ativos) que a carga obtida durante umteste incremental correspondente a 4 mM (LAn) éválida para determinar indiretamente a MLSScarga

durante a corrida. Mais recentemente, Denadai et al.(7) verificaram que o LAn é válido para estimar aMLSScarga em cicloergômetro, independentemente doestado de treinamento aeróbio dos indivíduos.Muitos estudos têm verificado que a cadência depedalada altera a resposta metabólica ao exercício,tanto para a mesma carga absoluta (Watts) ou relati-va de esforço (%VO2max) (5). O VO2 e a [Lac]sang

são mais elevadas em cadências maiores (5). Orecrutamento das fibras musculares e o fluxo sanguí-neo intra-muscular também são dependentes dacadência de pedalada (1, 13). As cadências mais bai-xas (50 – 60 rpm) parecem recrutar mais as fibrasdo tipo II, enquanto as cadências mais altas (90-100rpm) parecem aumentar o fluxo sanguíneo, parauma mesma carga absoluta de exercício (1, 13).Confirmando estas influências, Woolford et al. (14)verificaram que o limiar anaeróbio individual

(segundo ponto de inflexão da curva lactato vs.intensidade) é dependente da cadência de pedalada.Deste modo, é possível hipotetizar que a cadência depedalada pode influenciar a validade do LAn paraestimar a MLSScarga. Assim, o objetivo deste estudofoi analisar a influência da cadência de pedaladasobre a validade do LAn em predizer a MLSScarga

durante o exercício realizado no cicloergômetro.

MATERIAL E MÉTODOSSujeitosParticiparam voluntariamente neste estudo 28 sujei-tos activos, do sexo masculino (21,7 + 3,5 anos, 72,7+ 10,1 kg, 177,0 + 4,5 cm), não envolvidos em qual-quer programa de treino físico. Os sujeitos foraminformados sobre os procedimentos do experimentoe suas implicações, tendo assinado um termo de con-sentimento para a participação no estudo. O protoco-lo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa dainstituição onde o experimento foi realizado.

Procedimentos experimentaisCada voluntário realizou um teste incremental ondefoi determinado o LAn, e 2 a 4 testes de carga cons-tante para determinar a MLSScarga em uma bicicletade frenagem mecânica (Monark, Brasil). Cada umdestes testes foi realizado com a rotação do pedalmantida constante a 50, 60, 70 ou 100 rpm. O inter-valo entre os testes foi de no mínimo 48 horas, como protocolo todo durando de 10-15 dias. Os sujeitosnão realizaram qualquer esforço intenso nas 48horas que antecederam cada teste. Em relação a cadavoluntário, os testes foram realizados no mesmolocal e horário do dia (+ 2 horas).

Teste incrementalOs voluntários foram submetidos a um teste contí-nuo e incremental, com carga inicial entre 70 e 100W e incrementos de 25 - 35 W a cada três minutos,até à exaustão voluntária. A freqüência cardíaca (FC)foi anotada no final de cada patamar de carga e asamostras de sangue foram coletadas nos 20 segun-dos finais de cada estágio. O LAn foi determinadopor interpolação linear, utilizando a concentraçãofixa de 3,5 mM de lactato sanguíneo (10). Foi utili-zada esta concentração e não 4 mM, em função daduração dos estágios (3 min) do teste incremental.

VDA Ruas, TR Figueira, F Caputo, DF Barbeitos, BS Denadai

Page 19: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 15–20 17

Testes de carga constantePrimeiramente, os sujeitos foram submetidos àintensidade do LAn por trinta minutos ou até aexaustão. Se, durante o primeiro teste de carga cons-tante, observou-se fase-estável ou decréscimo da[Lac]sang, os indivíduos realizaram, em diferentesdias, testes de carga constante em intensidades3–7% superiores às do teste anterior. Quando, noprimeiro teste de carga constante, a [Lac]sang nãoapresentou fase-estável ou os indivíduos não con-cluíram os 30 min de exercício, foram realizados, emdiferentes dias, testes de carga constante em intensi-dades 3–7% inferiores à do teste anterior. Nestestestes foram coletadas a FC e amostras de sangue dolóbulo da orelha, a cada 5 minutos, para análise dolactato sanguíneo. A MLSScarga foi definida comosendo a maior carga na qual a [Lac]sang não aumen-tou mais do que 1,0 mM entre o 10º e o 30º minutodo teste de carga constante (10). A MLSS foi calcula-da como a média da [Lac]sang obtida no 10º e no 30ºminuto da MLSScarga (7).

Determinação do lactato sanguíneo e da freqüência cardíacaForam coletados 25 µl de sangue arterializado dolóbulo da orelha, sem hiperemia, para a determina-ção do lactato sangüíneo. O sangue foi imediata-

mente transferido para microtubulos de polietilenocom tampa tipo Eppendorff de 1,5 µl, contendo 50ml de NaF 1% e este foi armazenado em gelo. Aanálise do lactato foi realizada através de um anali-sador eletroquímico (YSL 2300 STAT). A FC foimonitorada através de um frequencímetro (Polar X– Trainer plus).

Análise estatísticaOs dados estão expressos como média + DP. Dentrode cada cadência de pedalada, os valores de MLSScarga

e LAn foram comparados pelo teste t pareado. Oteste de correlação de Pearson foi utilizado para ana-lisar a relação entre MLSScarga e LAn. Em adição, cal-culou-se também o nível de concordância entreMLSScarga e LAn (2). Em todos os testes o nível designificância foi mantido em 5%.

RESULTADOSOs valores da MLSS, MLSScarga e LAn obtidos emcada cadência estão expressos na Tabela 1. Nãohouve diferença significante entre a MLSScarga e oLAn em nenhuma das cadências analisadas. Comexceção da cadência de 100 rpm (r = 0,59; p >0,05), o LAn foi significantemente correlacionadocom a MLSScarga (50 rpm – r = 0,80; 60 rpm- r=0,96; 70 rpm – r = 0,81).

Máxima fase estável de lactato e cadência de pedalada

Tabela 1: Valores médios ± DP da carga e da frequência cardíaca (FC) correspondentes à máxima fase estável de lactato (MLSScarga), limiar anaeróbio (LAn) e concentração de lactato na MLSScarga (MLSS), obtidos nas diferentes cadências de pedalada.

Page 20: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 15–2018

Na Figura 1 estão apresentados os limites de concor-dância entre o LAn e a MLSScarga para cada uma dascadências analisadas. Os limites de concordânciaentre o LAn e a MLSScarga verificados em 50 rpm [-2,7 (18,0) W)], 60 rpm [7,5 (12) W] e 70 rpm [-7,0(16) W], mostram uma baixa variabilidade intra-individual, sugerindo uma boa validade do LAn paraestimar a MLSScarga. Por outro lado, os limites deconcordância encontrados a 100 rpm [11,6 (21) W],sugerem uma menor validade do LAn para estimar aMLSScarga.

DISCUSSÃOPara o nosso conhecimento, este foi o primeiro estu-do que analisou a influência da cadência de pedaladasobre a validade do LAn em predizer a MLSScarga

durante o exercício realizado no cicloergômetro.Nosso principal resultado foi que a relação e a con-cordância entre o LAn e a MLSScarga não é alteradanas cadências de pedalada habitualmente utilizadas(50-70 rpm) em testes incrementais para avaliaçãode indivíduos sedentários. Muitos estudos têm mos-trado que a [Lac]sang aumenta em função do incre-

VDA Ruas, TR Figueira, F Caputo, DF Barbeitos, BS Denadai

Figura 1: Diagrama de Bland-Altman comparando a carga correspondente à máxima fase estável de lactato (MLSScarga) e ao limiaranaeróbio (LAn), nas diferentes cadências de pedalada. A linha sólida na horizontal representa a média da diferença entre

MLSScarga e LAn. As linhas pontilhadas representam o limite de confiança de 95% entre as duas variáveis e reflete a amplitude (W)na qual pode ser esperado que uma variável pode diferir da outra, para um dado valor individual.

Page 21: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 15–20 19

mento da cadência, para uma dada carga absoluta(watts) ou relativa (%VO2max) de exercício (1, 5). Noentanto, os mecanismos responsáveis por tais altera-ções ainda não são completamente conhecidos. Acadência de pedalada parece alterar o padrão derecrutamento das unidades motoras (1).Informações obtidas através da taxa de depleção deglicogênio muscular, sugerem maior recrutamentodas fibras tipo II a 50 rpm, em relação a 100 rpm(1). Entretanto, cadências mais baixas determinamvalores menores de [Lac]sang do que cadências maisaltas, para uma dada carga absoluta (14). Esta rela-ção entre recrutamento das fibras musculares e[Lac]sang pode parecer paradoxal. Entretanto, acadência de pedalada parece influenciar a resposta delactato, modificando a demanda energética (eficiên-cia mecânica), que é maior nas cadências mais altas.A relação entre VO2 e [Lac]sang é independente dacadência de pedalada, com ambos aumentando emfunção do incremento da cadência (5), indicandoque [Lac]sang é fortemente dependente do gastoenergético. Chavarren e Calbet (5) verificaram, tam-bém, que a FC para um dado VO2, durante o exercí-cio de carga constante, é independente da cadênciaempregada. Além disso, Denadai et al. (8) verifica-ram que a relação entre FC e [Lac]sang durante oexercício incremental ou de carga constante(MLSScarga) é independente da cadência (50 x 100rpm). Estes resultados também foram observados nopresente estudo, pois a FC correspondente ao LAn ea MLSScarga são bem semelhantes entre as cadências. O uso de uma determinada concentração fixa de lac-tato sanguíneo (3,5 ou 4,0 mM para estágios de 3 e 5min, respectivamente), obtida durante o teste incre-mental (LAn) para determinar indiretamente aMLSScarga (10), tem sido criticado por diferentesautores (12, 15). Entretanto, muito poucos laborató-rios têm comparado o LAn com a MLSScarga determi-nada de modo direto e independente, particularmen-te em cicloergômetro. Em um estudo recente,Denadai et al. (7) verificaram que a validade do LAnpara estimar a MLSScarga em cicloergômetro é inde-pendente do estado de treinamento aeróbio (seden-tários x treinados). Os resultados do presente estudoampliam e confirmam parte dos dados citados ante-riormente. Deve-se salientar que a cadência poderiater influenciado a validade do LAn, principalmente

quando se considera a duração do estágio no exercí-cio incremental (3 min). Cadências de pedaladasmais elevadas favorecem o fluxo intramuscular (13),o que poderia acelerar o transporte de lactato entre ocompartimento de produção (musculatura ativa) e ocompartimento de análise (sangue arterial) (9). Isto,em potencial, elevaria precocemente a concentraçãode lactato para um valor mais próximo daquele que,em tese (3,5 mM), indicaria a MLSScarga no testeincremental com estágio de 3 minutos. No entanto, afalta de validade do LAn a 100 rpm foi em função damaior variabilidade e não porque ele subestimou aMLSScarga determinada na mesma cadência.Adicionalmente, a MLSScarga seria menos influenciadapor estas alterações, já que sua determinação é reali-zada durante o exercício de maior duração (30 min)e com carga constante. O estado de treinamentoaeróbio (4, 7) e as características histoquímicas(MCT 1 e 4, tipo de fibra e enzimas aeróbias) dafibra muscular (11) parecem não influenciar a MLSSdurante o ciclismo. Do mesmo modo, verificamos emnosso estudo que a MLSS parece não ser modificadapela cadência de pedalada, embora a MLSScarga dimi-nua com aumento da cadência (8).

CONCLUSÃOCom base em nossos resultados, podemos concluirque a validade do LAn para a predição da MLSScarga,nas cadências mais comumente empregadas (50 – 70rpm), não é influenciada pela cadência de pedalada,durante o ciclismo, em indivíduos ativos. Sugere-se arealização de mais estudos que possam analisar estainfluência em outras cadências (p. ex., 80, 90) e/ouem indivíduos com diferentes níveis de treinamentono ciclismo.

CORRESPONDÊNCIABenedito S. Denadai Laboratório de Avaliação da Performance Humana IB - UNESPAv. 24 A, 1515 - Bela Vista13506-900 Rio Claro - SP BRASIL [email protected]

Máxima fase estável de lactato e cadência de pedalada

Page 22: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 15–2020

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Ahlquist LE, Basset Jr DR, Sufit R, Nagle FJ, Thomas DP

(1992). The effect of pedaling frequency on glycogendepletion rates in type I and type II quadriceps musclefibers during submaximal cycling exercise. Eur J ApplPhysiol 65: 360-364.

2. Bland JM, Altman DG (1986). Statistical methods forassessing agreement between two methods of clinical mea-surement. Lancet 1: 307-310.

3. Beneke R (2003). Methodological aspects of maximal lac-tate steady state-implications for performance testing. EurJ Appl Physiol 89: 95-99.

4. Beneke R, Hutler M, Leithauser RM (2000). Maximal lac-tate steady state independent of performance. Med SciSports Exerc 32: 1135-1139.

5. Chavarren J, Calbet J (1999). Cycling efficiency and peda-ling frequency in road cyclists. Eur J Appl Physiol 80: 555-563.

6. Denadai BS, Caputo F (2003). Efeitos do treinamentosobre a cinética do consumo de oxigênio durante o exercí-cio realizado nos diferentes domínios de intensidade deesforço. Motriz 9: 1-7.

7. Denadai BS, Figueira TR, Favaro ORP, Gonçalves M(2004). Effect of the aerobic capacity on the validity of theanaerobic threshold for determination of the maximal lac-tate steady state in cycling. Braz J Med Biol Res 37: 1551-1556.

8. Denadai BS, Ruas VDA, Figueira TR (In press). Efeito dacadência de pedalada sobre as respostas metabólica e car-diovascular durante o exercício incremental e de cargaconstante em indivíduos ativos. Rev Bras Med Esporte.

9. Gladden L (2000). Muscle as a consumer of lactate. MedSci Sports Exerc 32: 764-771.

10. Heck H, Mader A, Hess G, Mucke S, Muller R, HollmannW (1985). Justification of the 4 mmol/l lactate threshold.Int J Sports Med 6: 117-130.

11. Loekkegaard J, Pedersen PK, Juel C, Sjoegaard G (2001).Individual variations in maximal lactate steady state andtheir relationship with muscle buffering capacity and lacta-te transporters. Med Sci Sports Exerc 33: S330.

12. Stegmann H, Kindermann W, Schnabel A (1981). LactateKinetics and individual anaerobic threshold. Int J SportsMed 2: 160-165.

13. Takaishi T, Yasuda Y, Ono T, Moritani T (1996). Optimalpedaling rate estimated from neuromuscular fatigue forcyclists. Med Sci Sports Exerc 28: 1492-1497.

14. Woolford S, Withers R, Craig N, Bourdon P, Stanef T,McKenzie I (1999). Effect of pedal cadence on the accumu-lated oxygen deficit, maximal aerobic power and blood lac-tate transition thresholds of high-performance juniorendurance cyclists. Eur J Appl Physiol 80: 285-291.

15. Van Schuylenbergh R, Eynde BV, Hespel P (2004).Prediction of sprint triathlon performance from laboratorytests. Eur J Appl Physiol 91: 94-99.

VDA Ruas, TR Figueira, F Caputo, DF Barbeitos, BS Denadai

Page 23: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–28 21

Indicadores de regulação autonômica cardíaca em repouso e durante exercício progressivo. Aplicação do limiar de variabilidade da freqüência cardíaca

Lenise Fronchetti1,2,3

Fábio Nakamura2,3

César Aguiar2

Fernando Oliveira1

1 Universidade Estadual de Santa CatarinaLaboratório de Pesquisa Morfo-FuncionalBrasil

2 Universidade Estadual de LondrinaCentro de Educação Física e DesportosBrasil

3 Universidade Estadual de LondrinaGrupo de Estudo das Adaptações Fisiológicas aoTreinamentoBrasil

RESUMO

O presente estudo se propôs verificar o grau de associaçãoentre a freqüência cardíaca de repouso (FCRep), diferentes índi-ces de variabilidade da freqüência cardíaca (FC) em repouso e aintensidade de esforço referente ao limiar de variabilidade daFC. Vinte homens (21,3 ± 2,6 anos) iniciaram o protocolo doteste com um período de repouso sentado no cicloergômetro,em seguida realizaram um teste progressivo (14,6 W/minuto)até a exaustão. O limiar de variabilidade foi identificado na pri-meira carga inferior a 3 ms na curva de decréscimo da variabili-dade da FC. A FC e sua variabilidade foram registradas utili-zando-se um cardiofreqüencímetro Polar®. Para associação des-sas variáveis (Spearman Rank) foi considerado p<0,05. As corre-lações entre os diversos índices de variabilidade foram signifi-cantes (r≥ 0,80). A FCRep apresentou associação significativa enegativa com os índices de variabilidade e com a intensidadeno limiar de variabilidade da FC (r ≥ -0,63). A intensidade nolimiar mostrou estreita relação com os índices: SD1 (r = 0,51),SD2 (r = 0,46), RMSSD (r = 0,48), pNN50 (r = 0,55), HF (r= 0,50) e LF/HF (r = -0,56). Nossos achados indicam que ele-vada atividade vagal de repouso pode postergar o aumento dapredominância simpática em exercício progressivo.

Palavras-chave: freqüência cardíaca de repouso, variabilidade dafreqüência cardíaca, domínio do tempo e freqüência, limiar devariabilidade da freqüência cardíaca, capacidade aeróbia.

ABSTRACT

Indexes of Autonomic Cardiac Regulation in Rest and DuringProgressive Exercise. Application of the Heart Rate VariabilityThreshold.

This study aimed to verify the degree of association between the restingheart rate (HRRest), different resting heart rate variability indexesand the exercise intensity related to the heart rate threshold variability.Twenty men (21,3 ± 2,6 years old) began the test protocol with aresting period sitting on a cycle ergometer and then were submitted to aprogressive test (14,6W/minute) until exhaustion. In the first load, thethreshold variability was identified as lower than 3 ms in the decreas-ing variability HR curve. The HR and the variability were registeredwith a Polar® heart rate device. Spearman Rank (r) correlation wasused to calculate the associations among these variables (p<0,05). Thecorrelations between various variability indexes were statistically sig-nificant with r≥ 0,80. The HRRest showed a significant and a negativeassociation with the variability indexes and with the threshold vari-ability intensity (r ≥ -0,63). On the other hand, the threshold vari-ability intensity showed a close relationship with the following indexes:SD1 (r = 0,51), SD2 (r = 0,46), RMSSD (r = 0,48), pNN50 (r =0,55), HF (r = 0,50) e LF/HF (r = -0,56). These results showed thatan elevate resting vagal activity can postpone the increase of the pre-dominance of the sympathetic system during progressive exercises.

Key Words: rest heart rate, heart rate variability, time and frequencydomain, heart rate variability threshold, aerobic capacity.

Page 24: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–2822

INTRODUÇÃOOs valores de freqüência cardíaca em repouso(FCRep) são comumente utilizados como referênciade condição funcional do organismo, influenciandoinclusive na determinação de faixas de intensidadede exercício, de acordo com alguns modelos vigentes(15). Em geral, baixos valores de FCRep refletem umaboa condição funcional, enquanto que altos valoresestariam aparentemente relacionados com distúrbiosfisiológicos e predisposição para a ocorrência dedoenças cardiovasculares (13, 17, 22).Por sua vez, a variabilidade da freqüência cardíaca(VFC) é um parâmetro de avaliação da funcionalida-de neurocardíaca, já que a modulação autonômica,por meio dos ramos simpáticos e parassimpáticosque agem sobre o coração, influencia de forma diretae diferencial as oscilações nessa variável (28). Amensuração da VFC, por várias técnicas, tambémpermite diagnosticar indivíduos com riscos paraenfermidades cardiovasculares. Assim, diversos estu-dos têm utilizado a análise da VFC, por meio daquantificação das flutuações dos intervalos R-R,como meio não invasivo de estimar o tônus simpáti-co e parassimpático sobre o nodo sinoatrial, sobdiversas condições fisiológicas, sobretudo no exercí-cio agudo e em diversas fases de treinamento,incluindo estágios de overtraining (2, 10, 12, 24, 29).A magnitude das flutuações da FC pode ser indicado-ra de disfunção autonômica cardíaca (3), sendo que aredução na FC em repouso (FCRep) e o aumento daatividade vagal estão normalmente associados a umamelhora no nível de aptidão física relacionada àsaúde (1, 9). Sugere-se que a estimulação vagal apre-senta um efeito protetor sobre a vulnerabilidade elé-trica ventricular, ao contrário, uma baixa atividadeparassimpática estaria correlacionada ao desenvolvi-mento de arritmias letais (26). Desse modo, a análisedo perfil autonômico cardíaco representa um elemen-to importante para a estratificação de risco de preva-lência de algumas doenças cardíacas.Normalmente, dois métodos são utilizados paraquantificação da VFC: um refere-se ao domínio detempo, o qual emprega ou índices extraídos direta-mente das variações temporais dos intervalos R-Rem milissegundos (SD, RMSSD, SD1, SD2), ou per-centuais de medidas absolutas de intervalos R-Racumulados acima de um valor de referência

(pNN50). O outro tipo de análise, no domínio dafreqüência, define e separa, por análise espectral, asdiferentes intensidades de sinais a diferentes fre-qüências, observadas nas variações do sinal eletro-cardiográfico (HF e LF) (Quadro 1) (11, 25, 28).Lima e Kiss (18), utilizando o índice SD1 da plota-gem de Poincaré, apresentaram a possibilidade deidentificação de um limiar de VFC (LiVFC), corres-pondente à carga associada ao valor inferior a 3 msna curva de decréscimo da VFC em função da inten-sidade em teste incremental (Figura 1). Nessemesmo estudo, os autores compararam o LiVFCcom o limiar de lactato e verificaram que ambos sãoidentificados em cargas similares de esforço (r =0,76). Resultados semelhantes foram encontradospor Bruneto et al. (8), comparando e correlacionan-do o LiVFC com o limiar ventilatório (r = 0,66).Assim, o LiVFC estaria associado à transição entreintensidade de esforço com predominante influênciavagal no controle da FC, para intensidades sob pre-dominância simpática (18, 31).Dessa forma, o LiVFC pode ser considerado umindicador da capacidade aeróbia e, assim, ser utiliza-do como parâmetro fisiológico para prescrição deexercício e treinamento físico (18, 21).

Figura 1 – VFC durante exercício progressivo e identificação do LiVFC.

Considerando que o estado do balanço entre as ativi-dades simpática e parassimpática sobre o coraçãoreveste-se de importante significado funcional, e quea FCRep, os índices de VFC de repouso e a intensida-de no LiVFC são indicadores da modulação autonô-mica, o objetivo do presente estudo foi verificar o

Lenise Fronchetti, Fábio Nakamura, César Aguiar, Fernando Oliveira

Page 25: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–28 23

grau de associação entre essas variáveis. A hipóteseera a de que diferentes índices de VFC de repousopoderiam predizer a retirada vagal em exercício,demarcada a partir do LiVFC.

METODOLOGIAAmostraVinte homens jovens (21,3 ± 2,6 anos; 72,9 ± 10,2kg; e 178,5 ± 6,0 cm), aparentemente saudáveis,não-atletas e não praticantes de exercícios físicosforam convidados a participar do estudo, com con-sentimento informado obtido conforme a Declaraçãode Helsinki (4).

Material Foi utilizado um cicloergômetro de frenagem mecâ-nica Monark® e um cardiofreqüencímetro Polar®

modelo S810i que permite o registro da VFC (23,30). A análise da VFC e o cálculo da FC média decada estágio, foram realizados por meio do softwarePolar Precision Performance®.

Protocolo do teste incrementalOs indivíduos foram instruídos a não ingerirembebidas alcoólicas e produtos com cafeína, além denão praticarem exercícios físicos nas 24 h anteceden-tes ao teste.Ao chegarem no local do teste, os participantes pas-saram por uma anamnese, na qual havia algumasperguntas sobre o estado de saúde e informaçõespessoais, com o intuito de detectar possíveis contra-indicações à participação no estudo. Após esse pro-cedimento-padrão, os sujeitos foram posicionadosno cicloergomêtro e permaneceram por três minutosem repouso, acomodados sentados sobre o assentodo cicloergômetro, a fim de a FC alcançar valoresestáveis próximos aos de repouso absoluto. Emseguida, iniciava-se o teste de esforço progressivomáximo em cicloergômetro sem carga, com incre-mentos de 14,6 W a cada minuto (60 rpm), até àexaustão voluntária ou à incapacidade de manuten-ção da rotação requerida (18).A partir dos dados de FC, obtidos batimento-a-bati-mento, foi possível determinar a FC, em bpm, e aVFC de repouso, por meio dos seguintes índices deanálise no domínio do tempo: SD, SD1, SD2,RMSSD e pNN50; e no domínio da freqüência: LF,

HF e LF/HF (ver definições no Quadro 1), assimcomo identificar o LiVFC, que correspondeu à pri-meira carga onde a média dos intervalos R-R,expressa por meio do índice SD1 da plotagem dePoincaré (30), foi inferior a 3 (ms) (18).

Quadro 1: Índices de medida da VFC no domínio do tempo e da freqüência utilizados no estudo.

Índice Unidade DefiniçãoSD ms Desvio padrão de todos os intervalos R-R.RMSSD ms Raiz quadrada da média das diferenças

sucessivas ao quadrado, entre R-R adja-centes.

pNN50 % Percentagem das diferenças sucessivasentre os intervalos R-R que são > 50 ms.

SD1 ms Desvio padrão dos intervalos R-R instantâ-neos.

SD2 ms Desvio padrão dos intervalos R-R analisa-dos em longo prazo.

HF Hz ou ms2 Componente espectral de alta freqüência(0,15 – 0,4 Hz).

LF Hz ou ms2 Componente espectral de baixa freqüência(0,04 – 0,15 Hz).

LF/HF % Relação entre os componentes LF e HF

Fontes: Grupi (11), Lima e Kiss (18).

Tratamento estatísticoNa análise de distribuição dos dados foi mostradoque algumas variáveis estudadas não apresentavamdistribuição normal, identificada através do testeShapiro-Wilk (5). Portanto, foi aplicado o teste nãoparamétrico de Spearman Rank para correlacionar aFCRep, os índices de VFC e a intensidade no LiVFC(PLiVFC) (p < 0,05). Os tratamentos foram proces-sados no software SPSS® 11.0.

RESULTADOSA estatística descritiva das variáveis analisadas nesteestudo está apresentada na tabela 1.

Parâmetros de variabilidade da freqüência cardíaca

Page 26: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–2824

Tabela 1: Valores médios e desvio-padrão das variáveis avaliadas durante o repouso e o exercício.

Variáveis Valores*RepousoFCRep (bpm) 80 ± 13SD (ms) 77,9 ± 26,4SD1 (ms) 49,4 ± 18,7SD2 (ms) 110,5 ± 34,5RMSSD (ms) 47,4 ± 24,0pNN50 (%) 11,0 ± 8,0LF (ms2) 2941,5 ± 1639,8HF (ms2) 887,1 ± 923,2LF/HF (%) 700,9 ± 464,6ExercícioPLiVFC (W) 109,3 ± 29,3Potência de Pico (W) 227,3 ± 30,0Potência Relativa (%) 48,3 ± 11,3FC no LIVFC (bpm) 130 ± 9

*Valores expressos em Média ± DP.

Nas tabelas 2 e 3 estão expressas as variáveis corre-lacionadas pelo teste de Spearman Rank. Verificou-seque, de forma geral, os índices que expressam a VFCno domínio do tempo apresentaram correlações sig-nificantes entre si e com os componentes da análiseespectral (HF, LF e LF/HF), da mesma forma estesúltimos apresentaram significante grau de associaçãoentre si.

Tabela 2: Coeficiente de correlação entre os parâmetros de VFC no domínio do tempo e freqüência.

SD SD1 SD2 RMSSD pNN50 LF HFLF/HFSD1 0,91* –SD2 0,99* 0,92* –RMSSD 0,95* 0,95* 0,95* –pNN50 0,92* 0,93* 0,92* 0,96* –LF 0,86* 0,78* 0,86* 0,84* 0,84* –HF 0,92* 0,92* 0,92* 0,97* 0,96* 0,80* –LF/HF -0,67* -0,78* -0,69* -0,77* -0,79* -0,43 -0,82* –

*Grau de associação significante entre as variáveis (p < 0,05).

Tabela 3: Coeficiente de correlação entre os parâmetros de VFC no domíniodo tempo e da freqüência com a freqüência cardíaca de repouso, a freqüên-

cia cardíaca no LiVFC e a potência no LiVFC.

FCRep FCLiVFC PLiVFCSD -0,78* 0,15 0,42SD1 -0,89* 0,12 0,51*SD2 -0,81* 0,15 0,46*RMSSD -0,84* 0,19 0,48*pNN50 -0,84* 0,20 0,55*LF -0,71* 0,02 0,41HF -0,81* 0,31 0,50*LF/HF 0,76* -0,37 -0,56*FCRep – -0,45 -0,63*FCLiVFC – – 0,34

*Grau de associação significante entre as variáveis (p < 0,05).

A FCRep apresentou correlação significativa e inversatanto com os índices de VFC no domínio do tempo,quanto com os índices no domínio da freqüência, e,ainda, com a PLiVFC. Entretanto, com o LF/HF arelação foi positiva. Além disso, observou-se que aintensidade de esforço no LiVFC apresentou valoresde correlação moderados, mas significantes (excetoSD e LF), com os diferentes índices de VFC. A figura2 ilustra essas correlações.

Lenise Fronchetti, Fábio Nakamura, César Aguiar, Fernando Oliveira

Page 27: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–28 25

Figura 2: Gráficos de dispersão representativos da relação entre - a: SD1 vs PLiVFC; b: HF vs PLiVFC; c: FCRep vs PLiVFC; d: FCRep vs HF. O valor de “r”

corresponde ao coeficiente de correlação de Spearman (* p < 0,05).

DISCUSSÃOAs medidas no domínio do tempo e da freqüênciaexpressam o mesmo fenômeno de variação de bati-mentos cardíacos adjacentes, sob diferentes trata-mentos formais dos dados experimentais. Assim,algumas associações entre os índices que traduzem aVFC têm sido demonstradas (6, 25, 30). Contudo,este estudo descreve, pela primeira vez, associaçõesdessas variáveis no indivíduo em repouso com umindicador de limiar de transição fisiológica durante oexercício.A literatura reporta que os índices SD, SDANN (des-vio-padrão da média dos intervalos R-R, medida emsegmentos de 5 minutos) e SDNNi (média dos des-vios-padrão dos intervalos R-R, medida em segmen-tos de 5 minutos) traduzem a variabilidade global erefletem a atividade parassimpática e simpática. Aopasso que o pNN50 e o RMSSD, por considerarem

diferenças entre os intervalos R-R adjacentes, quanti-ficam variações rápidas da FC e, consequentemente,refletem predominância do tônus vagal (16, 25, 28).Dessa forma, os achados do presente estudo corro-boram os da literatura (6, 25, 30), ao verificar que oSD apresenta forte associação com os índices deVFC no domínio do tempo (SD1: r = 0,91; SD2: r =0,99; RMSSD: r = 0,95) e da freqüência (LF: r =0,86; HF: r = 0,92; LF/HF: r = -0,67). No entanto, oSD não apresenta correlação significativa com aPLiVFC. Vale ressaltar que o LiVFC pode demarcarum período de transição da retirada vagal para umapredominância simpática no controle da FC.Portanto, parece que os índices que expressam açãocom predominância de um componente de modula-ção autonômica - parassimpático (pNN50, RMSSD,SD1 e HF) - apresentam uma maior correlação coma intensidade alcançada no LiVFC (r = 0,55; r =0,48; r = 0,51 e r = 0,50 , respectivamente).Desse modo, pode-se inferir que indivíduos queapresentam elevados valores dos índices pNN50,RMSSD, SD1 e HF em condição de repouso tendema alcançar o LiVFC em intensidades de exercíciomaiores, refletindo numa ação mais prolongada daatividade parassimpática durante o exercício progres-sivo e, por conseguinte, tendem a apresentar melhoraptidão aeróbia. Esses achados são, em parte, confirmados porMourot et al. (20). Segundo os autores, atletas deendurance que apresentavam sintomas clínicos deovertraining manifestaram menores valores em repou-so na posição supino de HF e SD1, e maiores valoresde LF/HF do que os treinados sem overtraining, asse-melhando-se aos indivíduos controle sedentários. Adispersão dos dados individuais na plotagem dePoincaré permitiu a discriminação dos sujeitos nasdiferentes condições de treinamento, sendo os pon-tos mais dispersos no estado treinado do que emovertraining e na situação controle. Ou seja, os indi-cadores de menor tônus parassimpático em repousopredispõem os indivíduos a menores níveis dedesempenho físico. No presente estudo, a PLiVFC (109,3 ± 29,3 W) foiidentificada em potência similar ao reportado porLima e Kiss (18) (110,5 ± 18,5. W), e ligeiramentesuperior à encontrada por Nakamura et al. (21) (89,1± 28.7 W), em amostras semelhantes. Os percentuais

Parâmetros de variabilidade da freqüência cardíaca

Page 28: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–2826

relativos à carga máxima de ocorrência do LiVFCencontrados nestes estudos se assemelham aos dosestudos citados (48%, 49% e 46%, respectivamente).Trabalhos recentes têm abordado as adaptações crô-nicas da regulação autonômica cardíaca ao treina-mento. Nakamura et al. (21), investigaram, emcicloergômetro, as modificações no LiVFC após trêssemanas de treinamento aeróbio, verificando que aVFC (analisada por meio do índice SD1), tanto emrepouso quanto em cargas de trabalho submáximo,parece sofrer alterações em resposta ao treinamentofísico, apontando para um maior tônus vagal. Logo,as adaptações autonômicas decorrentes dessa inter-venção propiciaram uma melhora na VFC de repou-so (de 37 ± 13 ms para 46 ± 17 ms), na FCRep (de89 ± 13 bpm para 83 ± 9 bpm) e na intensidade deesforço associada ao LiVFC (pré-treinamento: 89,1± 28,7 W / 46% ; pós-treinamento: 123,1 ± 32,9 W/ 60%; em valores absolutos e relativos, respectiva-mente). Desse modo, esses resultados contribuírampara evidenciar elementos a favor da validade doLiVFC como indicador de capacidade aeróbia.Nossos achados parecem reforçar este enunciado, aoverificar grau de associação significante entre dife-rentes índices de VFC de repouso e a PLiVFC, suge-rindo que a magnitude da atividade vagal cardíaca derepouso estaria relacionada a uma retirada vagal tar-dia durante o exercício físico, sendo o LiVFC identi-ficado em maior intensidade de esforço.Nossos resultados sugerem, também, que uma baixaFCRep se relaciona com elevada VFC de repouso (r ≥-0,71), do mesmo modo que corresponde a umamaior PLiVFC (r = -0,63), indicando, novamente,que a alta atividade vagal em repouso resulta em umefeito prolongado do tônus parassimpático durante arealização do exercício físico progressivo. Por outrolado, verificou-se que os valores de FCRep foramsuperiores aos comumente encontrados na literatu-ra, devido, provavelmente, às diferenças metodológi-cas empregadas. Em geral, uma medida representati-va da FCRep é obtida durante o período de sono oulogo após acordar (14), sendo que indivíduos saudá-veis e não atletas, avaliados na posição supino, apre-sentam valores de FCRep numa faixa de 65 a 75 bpm(7, 19). Entretanto, outros estudos mostram valoresem torno de 75 bpm, quando esta variável foi men-

surada na posição sentado (2, 27). Yamamoto et al.(32) também utilizaram a metodologia de medida daFCRep com os indivíduos sentados no cicloergôme-tro. No entanto, estes permaneceram 20 minutos emrepouso, o que pode ter proporcionado uma dimi-nuição mais acentuada da FCRep (68 ± 3 bpm).Outros estudos mostram que a FCRep e a FC submáxi-ma são modificadas em resposta ao treinamento físico(15, 21, 29), sendo que a redução pode ser creditadatanto às adaptações na regulação intrínseca de despo-larização do miocárdio, quanto às adaptações namodulação autonômica cardíaca (32). Desse modo,nossos resultados corroboram os da literatura e verifi-cam, pela primeira vez, a associação entre diversosíndices de VFC e a FC em repouso e o LiVFC, susten-tando o modelo tradicionalmente aceito. Neste contexto, Yamamoto et al. (32), durante umprograma de treinamento aeróbio, verificaram, ini-cialmente, uma concomitante redução da FCRep eaumento dos índices de modulação parassimpática.Porém, a partir do 28º dia de treinamento, a reduçãoda FCRep ocorreu sem o aumento da VFC. Essesachados confirmam a associação inversa entre essasvariáveis encontrada no presente estudo, no entanto,sugerem que as modificações autonômicas contri-buem, parcialmente, para a diminuição da FCRep.

Esta dissociação parece estar na dependência da con-tinuação das alterações cardíacas, como o volume ediâmetro diastólico ventricular esquerdo e estabiliza-ção das modificações na regulação autonómica, apóso primeiro mês de treinamento (42 dias).Em síntese, nossos resultados evidenciam que indi-víduos que apresentam, simultaneamente, valoresbaixos de FCRep e elevados de VFC de repouso, ten-dem a alcançar o LiVFC em intensidades de esforçomaior, indicando que uma alta atividade vagal derepouso, além de sugerir uma boa condição da fun-ção cardiovascular, parece também estar relacionadaà capacidade aeróbia. Além disso, os índices SD1,SD2, RMSSD, pNN50, HF e LF/HF em repouso,apresentam significante associação com a variávelindicadora de aptidão aeróbia, representada peloLiVFC. Desse modo, parece que a partir das variá-veis de repouso e exercício que foram analisadas, épossível fazer inferências quanto à regulação autonô-mica cardíaca e à capacidade aeróbia dos sujeitos.

Lenise Fronchetti, Fábio Nakamura, César Aguiar, Fernando Oliveira

Page 29: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–28 27

CORRESPONDÊNCIALenise FronchettiDesembargador Sálvio Gonzaga, 126/402 88080-020 – CoqueirosFlorianópolis – [email protected]

REFERÊNCIAS1. Almeida MB, Araújo CGS (2003). Effects of aerobic trai-

ning on heart rate. Rev Bra Med Esp 9 (2): 104 – 112.2. Alonso DO, Forjaz CLM, Rezende LO, Braga AMFW,

Barreto ACP, Negrão CE, Randon MUPB (1998).Comportamento da freqüência cardíaca e da sua variabili-dade durante as diferentes fases do exercício físico pro-gressivo máximo. Arq Bras Cardiol 71(6): 787 – 792.

3. Appel ML, Berger RD, Saul JP, Smith JM, Cohen RJ (1989).Beat to beat variability in cardiovascular variables: noise ormusic? J Am Coll Cardiol 14: 1139 – 1148.

4. Associação Médica Mundial: Declaração de Helsinki V.1996. Disponível em: <http:/ www.bioetica.ufrgs.br/hel-sin5.htm>. Acesso em 15 abril 2005.

5. Barros MVG, Reis RS (2003). Análise de dados em atividadefísica e saúde. Londrina: Midiograf.

6. Brennan M, Palaniswami M, Kamen P (2002). Poincaréplot interpretation using a physiological model of HRVbased on a network of oscillators. Am J Physiol Heart CircPhysiol 283: H1873 – H1886.

7. Brooks GA, Fahey TO (1984). Exercise Physiology: HumanBionergetics and its Aplications. New York: John Wiley andSons.

8. Brunetto BC, Nakamura FY, Hirai DM, Roseguini BT,Brunetto AF (2004). Comparação do limiar de variabilida-de de freqüência cardíaca com o limiar ventilatório emindivíduo adultos saudáveis. In XXVII Simpósio Internacionalde Ciências do Esporte. Edição Especial da Revista Brasileira deCiência e Movimento. São Caetano do Sul: Celafiscs, 40.

9. Dixon EM, Kamath MV, McCartney N, Fallen EL (1992).Neural regulation of heart rate variability in enduranceathletes and sedentary controls. Cardiovasc Res 26: 713 –719.

10. Gall B, Parkhouse W, Goodman D (2004). Heart rate varia-bility of recently concussed athletes at rest and exercise.Med Sci Sports Exerc 36(8):1269 – 1274.

11. Grupi CJ (1998). Variabilidade da Freqüência Cardíaca.Jornal Diagnósticos & Cardiologia. 1. ed. fev./mar./abr. 1998.Disponível em: <http:/www.cardios.com.br/jornal-02/tese.htm>. Acesso em: 21 março 2005.

12. Hautala A (2004). Effect of physical exercise on autonomicregulation of heart rate. Academic Dissertation (Faculty ofMedicine) - University of Oulu, Finland.

13. Jeukendrup A, Van Diemen A (1998). Heart rate monito-ring during training and competition in cyclists. J Sports Sci16: S91 – S99.

14. Jeukendrup A, Hesselink MKC, Snyder AC, Kuipers H,Keiser HA (1992). Physiological changes in male competi-tive cyclists after two weeks of intensified training. Int JSports Med 13: 534 – 541.

15. Karvonen MJ, Kentala E, Mustala O (1957). The effects oftraining on heart rate: a longitudinal study. Ann Med ExpBiol Fenn 35 (3):307 – 315.

16. Kautzner J, Hnatkova K (1995). Correspondence of diffe-rents methods for heart rate variability measurement. InMalik M, Camm AJ (ed.) Heart Rate Variability. New York:Futura, 119 – 126.

17. Kenney WL (1985). Parasympathetic control of restingheart rate: relationship to aerobic power. Med Sci SportsExerc 17: 451 – 455.

18. Lima JRP, Kiss MAPDA (1999). Limiar de variabilidade dafreqüência cardíaca. Rev Bras Ativ Fis Saúde 4 (1): 29 – 38.

Parâmetros de variabilidade da freqüência cardíaca

Page 30: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 21–2828

19. Melanson EL (2000). Resting heart rate variability in menvarying in habitual physical activity. Med Sci Sports Exerc 32(11): 1894 – 1901.

20. Mourot L, Bouhaddi M, Perrey S, Cappelle S, Henriet MT,Wolf JP, Rouillon JD, Regnard J (2004). Decrease in heartrate variability with overtraining: assessment by thePoincaré plot analysis. Clin Physiol Funct Imaging 24: 10 –18.

21. Nakamura FY, Aguiar CA, Fronchetti L, Aguiar AF, Perroutde Lima JR (No prelo). Alteração do limiar de variabilida-de da freqüência cardíaca após treinamento aeróbio decurto prazo. Motriz (UNESP).

22. Palatini P (1999). Need for a revision of the normal limitsof resting heart rate. J Hypertens 33: 622 – 625.

23. Peltola K, Hannula M, Held T, Kinnunen H, Nissilä S,Laukkanen R, Marti B (2000). Validity of polar fitness testbased on heart rate variability in assessing VO2max intrained individuals. (Abstract). In Proc. 5th Annual Congressof ECSS. Jyväskylä, Finland, 565.

24. Pichot V, Busso T, Roche F, Garet M, Costes F, DuverneyD, Lacour JR, Barthe´Le´My JC (2002). Autonomic adap-tations to intensive and overload training periods: a labo-ratory study. Med Sci Sports Exerc 34 (10): 1660 – 1666.

25. Rassi A Jr (2000). Compreendendo melhor as medidas deanálise da variabilidade da freqüência cardíaca. JornalDiagnósticos & Cardiologia. 20. ed., abr/mai/jun. 2000.Disponível em: <http: /www.cardios.com.br/jornal-20/métodos%20diagnosticos.htm>. Acesso em: 17 março2005.

26. Reis AF, Bastos BG, Mesquita BT, Romêo Fº LJM, NóbregaACL (1998). Disfunção parassimpática, variabilidade dafrequência cardíaca e estimulação colinérgica após infartoagudo do miocárdio. Arq Bras Cardiol 70(3): 193 – 199.

27. Roecker K, Niess AM, Horstmann T, Striegel H, Mayer F,Dickhuth HH (2002). Heart rate prescriptions from per-formance and anthropometrical characteristics. Med SciSports Exerc 34 (5): 881 – 887.

28. Task Force of the European Society of Cardiology and theNorth American Society of Pacing and Electrophysiology:Heart rate variability (1996). Standards of measurement,physiological interpretation, and clinical use. Circulation93: 1043 – 1065.

29. Tulppo MP, Hautala AJ, Mäkikallio TH, Laukkanen RT,Nissilä S, Hughson RL, Huikuri HV (2003). Effects ofaerobic training on heart rate dynamics in sedentary sub-jects. J Appl Physiol 95: 364 – 372.

30. Tulppo MP, Mäkikallio TH, Takala T, Seppänen T, HuikuriH (1996). Quantitative Beat-To-Beat Analysis Of HeartRate Dynamics During Exercise. Am J Physiol 271: H244 –252.

31. Tulppo MP, Mäkikallio TH, Seppänen T, Laukkanen RT,Huikuri HV (1998). Vagal modulation of heart rate duringexercise: effects of age and physical fitness. AmericanJournal of Physiology (Heart Circ. Physiol.) 274(2): H424-H429.

32. Yamamoto K, Miyachi M, Saitoh T, Yoshioka A, Onodera S(2001). Effects of endurance training on resting and post-exercise cardiac autonomic control. Med Sci Sports Exerc 33(9): 1496 – 1502.

Lenise Fronchetti, Fábio Nakamura, César Aguiar, Fernando Oliveira

Page 31: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–37 29

Efeitos bioquímicos da suplementação de carboidratos após uma competição simulada de Short Duathlon Terrestre

Renata MamusM. Gisele Santos

Universidade Federal do ParanáCuritibaBrasil

RESUMO

A proposta do presente estudo foi investigar os efeitos bioquí-micos da suplementação de carboidratos em uma competiçãosimulada de short duathlon terrestre. A amostra foi constituídade quatorze duatletas, aos quais foram dados suplementos deuma bebida com carboidrato em uma solução a 6% de malto-dextrina (g1), placebo (g2) e solução a 6% de glicose (g3), emtrês momentos distintos da competição simulada: 30 minutosantes da prova (500ml), a cada 15 minutos durante essa com-petição (200ml) e imediatamente após o término desta(300ml). Amostras de sangue foram coletadas em dois momen-tos - antes e imediatamente após o final da competição - paraanálise da glicemia, lactato, insulina e cortisol. Verificaram-sediferenças significativas, em relação aos níveis de glicemiaentre g1 e g2, na fase pós-competição. Quando analisado o lac-tato, também se verificou uma diferença significativa em g1 eg2 na fase durante a competição. Da mesma forma, foramobservadas diferenças significativas nas concentrações de corti-sol durante a competição (g1) e pós-competição (g2). A con-clusão desse estudo, baseada nos dados obtidos das amostrassanguíneas, foi que a suplementação de maltodextrina forneceindicativos bioquímicos que favorecem sua utilização em com-petições como o short duathlon terrestre.

Palavras-chave: carboidratos, competição, glicose, lactato, insulina, cortisol.

ABSTRACT

Biochemical Effects of Carbohydrates Supplementation in a Simulated Short Land Duathlon Competition

This study aimed to investigate the biochemical effects of carbohydratessupplementation in a simulated short land duathlon competition.Sample size consisted of 14 athletes that ingested supplements of a 6%maltodextrin solution (G1), placebo (G2), and a 6% glucose solution(G3), in three different moments of the simulated competition: 30 minbefore de competition (500ml), every 15 min during the competition(200ml), and immediately after the end of the competition (300ml).Blood sampling was obtained during two stages of the competition -before and immediately after the end - to blood glucose, lactate, insulinand cortisol analyses. We found significant differences at glucose con-centrations between G1 and G2 after competition. When lactate con-centrations were analysed, it was also found a significant difference inG1 and G2 during the competition, as well, in the cortisol concentra-tions during the competition (G1) and after competition (G2). We con-clude that the maltodextrin supplementation provides biochemical evi-dence that favors its ingestion in simulated short land duathlon compe-tition.

Key Words: carbohydrates, competition, glucose, lactate, insulin, cortisol.

Page 32: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–3730

INTRODUÇÃOO uso de manipulações dietéticas e o consumo denutrientes com propósitos de aumento da perfor-mance por parte dos atletas são uma prática milenar.Esse é um fato compreensível quando se considera oambiente altamente competitivo em que vivem osatletas, juntamente com o grau de motivação paravencer (1).A prática da suplementação, em nosso século, pas-sou a receber o status de “cientificamente embasa-da”, o que pode ser facilmente percebido com avariedade e quantidade de estudos científicos (2).Essa prática é um fenômeno que cresce a cada dia(3), devido principalmente à preocupação dos atletasquanto à melhora da saúde e performance física, tor-nando a relação entre dieta alimentar e desempenhofísico fator preponderante para o bom desempenhodesses competidores.Apesar das evidências de que o uso de suplementosnutricionais é cada vez maior, seja com o intuito dehipertrofia, eliminar excesso de gordura corporal ouaumentar a performance, muitas questões sobre oconsumo adequado de suplementos ainda precisamser discutidas. As recomendações de dietas alimenta-res para atletas, assim como a suplementação denutrientes, sempre estiveram em discussão, tendoem vista as características específicas de cada ativi-dade física (4). Observa-se, há algum tempo, que muitos estudostêm investigado os fatores que podem influenciar asuplementação de carboidratos, como o tempo (5,6), frequência (1), conteúdo do suplemento (8, 6,11) e tipos de suplemento (1, 9, 10).Porém, quando se discute acerca da realização deexercícios de longa duração, sabe-se que um dossubstratos degradado e utilizado é o carboidrato, oqual é armazenado na forma de glicogênio (12), ouseja, a forma polimérica de armazenamento da glico-se (13). A glicose, por sua vez, exerce um papelimportante, pelo fato de servir como combustívelprimário (glicogênio) para a performance do múscu-lo, principalmente durante exercícios intensos (14).Dessa forma, recomenda-se a ingestão de carboidratospara atletas que realizam competições com duraçãoigual ou superior a 1 hora, devido à sua rápida meta-bolização (15) e por serem digeridos e absorvidosmais rapidamente que as proteínas ou lipídios (16). Como os carboidratos são considerados o principal

combustível durante o exercício de alta intensidade,aqueles atletas que treinam intensamente ou compe-tem em dias seguidos e não consomem carboidratosde forma adequada, apresentam diminuição diária doglicogênio muscular, o que acarreta uma diminuiçãoda performance física (17).Porém, tratando-se de atletas, ressaltam os autoresacima, que esses padrões alimentares se modificam,considerando como uma recomendação ideal as dietascom alto teor de carboidratos complexos e baixo teorde gordura, evidenciando que a ingestão alimentar dosatletas possui necessidades nutricionais diferentes. Quando analisa-se esportes de longa duração como oduathlon, que exige uma demanda energética elevadadevido à combinação de duas modalidades esportivas(ciclismo e corrida), verifica-se a escassez na litera-tura de pesquisas sobre suplementação de carboidra-tos que envolvam esse esporte como um todo.Além disso, muitas dessas pesquisas relatam algunsresultados diferentes com protocolos similares,inviabilizando ainda mais a escolha certa do protoco-lo a ser utilizado durante a competição.Dessa forma, atletas e treinadores envolvidos sentemdificuldade no momento da escolha do suplementoideal, visto que a maioria dos estudos investigam asmodalidades esportivas separadamente, o que tornainviável escolher o tipo de carboidrato, tempo deingestão e frequência ideal para esse esporte, que,além de solicitar grupos musculares diferentes, tam-bém possui necessidades específicas, de acordo coma realização de cada modalidade que o compõe.Considerando essas evidências, julgamos necessárioe importante o desenvolvimento de um estudo queenvolva a suplementação de carboidratos no esporteduathlon, para que assim se possa facilitar (atravésdos resultados obtidos) o treinamento desses atle-tas, em função da escolha de um protocolo ideal deingestão de soluções à base de carboidratos.Analisar os efeitos bioquímicos da suplementação decarboidratos, após uma competição simulada de shortduathlon terrestre foi, assim, o objetivo deste estudo.

METODOLOGIAAtletas de centros de treinamento das modalidadesesportivas de duathlon foram convidados a participardo estudo, através de uma notificação oficial (docu-mento escrito), na qual receberam todas as informa-ções necessárias.

Renata Mamus, M. Gisele Santos

Page 33: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–37 31

Todos os atletas que concordaram em participar doestudo foram informados sobre a proposta da inves-tigação, e assinaram um termo de consentimentoque foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFPR. Apresente investigação enquadra-se no que se designacomo um experimento duplo-cego. Os atletas realizaram as duas modalidades esportivasque compõem o short duathlon terrestre - corrida (5Km), ciclismo (20 Km) e corrida (2,5 Km) - duranteuma competição simulada e receberam suplementoslíquidos com carboidratos e com placebo, antes,durante e após a competição. Amostras de sangueforam coletadas antes e após a competição, para aná-lise dos níveis de glicemia, lactato, insulina e cortisol.A competição teve uma duração média de 1h 15min.

AmostraA seleção da amostra foi feita em regime de volunta-riado, tendo a constituição dos grupos sido estabele-cida de acordo com o VO2 máximo de cada atleta.Participaram do estudo um total de 14 duatletas dosexo masculino, na faixa etária de 17 a 35 anos, par-ticipantes de centros de treinamento de Curitiba/Pr.

Instrumentos e procedimentosTeste de consumo máximo de O2: para realizar a distri-buição dos atletas dentro dos diferentes grupos, foirealizado, na semana da competição simulada, oteste de consumo máximo de oxigênio direto atravésdo protocolo de Bruce para esteira, uma vez que aamostra foi constituída de sujeitos regularmente ati-vos, com predominância de participação em modali-dades de corrida. O protocolo de Bruce tem a duração de 8 a 18 minu-tos, de acordo com o condicionamento físico de cadasujeito. Cada estágio dura 3 minutos, no qual a velo-cidade e inclinação da esteira mudam ao mesmotempo (18). A esteira utilizada para o teste foi da marca ECAFIX(EG700X).O teste de consumo máximo foi realizado em circui-to aberto, tendo a análise dos gases sido feita deforma direta, utilizando-se o analisador de gases damarca PARVO MEDICS (MMS 2400) e o softwarePARVO MEDICS TRUE MAX 2400.

Suplementação: os atletas foram divididos em trêsgrupos: Grupo 1 (G1), Grupo 2 (G2) e Grupo 3(G3). Os respectivos grupos receberam suplementa-

ção de maltodextrina (G1) da marca D. N. A.(design nutrição avançada); placebo (G2) elaboradoatravés de Suco Clight sabor abacaxi; e D-glicoseAnidra (G3) da Labsynth Produtos. Foram adiciona-dos 0,25 g/l de suco clight sabor abacaxi nos suple-mentos de maltodextrina e glicose para dar saboraos mesmos.Os respectivos suplementos foram ingeridos em trêsmomentos distintos da competição simulada. No primeiro momento, a suplementação foi ingerida30 minutos antes da competição, numa concentraçãoa 6% de carboidratos (30g/CHO/500ml).No segundo momento, a suplementação foi ingeridaa cada 15 minutos durante a competição, numa con-centração a 6% de carboidratos (12g/CHO/200 ml).No terceiro momento, a suplementação foi ingeridaimediatamente após a competição, numa concentra-ção a 6% (18g/CHO/300ml).

Exames laboratoriais: Todas as análises bioquímicasforam realizadas no Serviço de Análises Clínicas doHospital de Clínicas da Universidade Federal doParaná (SAC/UFPR). As amostras de sangue foramobtidas através de coleta a vácuo, na veia antecubitalde cada duatleta, em dois momentos da competiçãosimulada, que ocorreram antes e imediatamenteapós o término da prova, após a ingestão do suple-mento (± 2h 11).Cada amostra de sangue foi separada em dois tubos:um contendo fluoreto (4ml), para análise de glicosee lactato; e outro (8ml) contendo gel separador paraanálise de insulina e cortisol.Os procedimentos operacionais para análise bioquí-mica de cada uma das amostras citadas foram, osseguintes:Determinação da glicemia: A concentração de glicosecirculante foi realizada pelo método GlicoseHexoquinase II (GLU H II) através do Kit GlicoseHexoquinase II e reativos ADVIA 1650 (Bayer).Determinação do lactato sérico: Determinado por métodoenzimático colorimétrico, segundo Engle & Jones (19). Determinação da insulina sérica e cortisol: A insulina foideterminada pelo método ImunoensaioImunométrico. A análise da insulina foi realizada em equipamentode automação IMMULITE 2000, onde os reagentesnecessários para a reação de quimiluminiscência jáficam acondicionados sob refrigeração no interior doequipamento, permanentemente.

Efeitos bioquímicos na performance

Page 34: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–3732

Tratamento dos dadosO programa STATISTICA for Windows (1999), versão5.5, foi utilizado para análise dos dados. As variáveisforam analisadas através do teste não-paramétricoFriedman, o qual buscou identificar se houve dife-renças significativas entre as diferentes fases de ummesmo grupo. O teste Kruskal-Wallis também foiutilizado, com a finalidade de identificar se houvediferenças significativas entre os diferentes grupos.Com a finalidade de complementar a análise dos tes-tes de Friedman e Kruskal-Walis, foi utilizado umteste de comparações múltiplas, para identificaronde ocorreram tais diferenças sifgnificativas. Para efeitos estatísticos, o nível de significância foiestabelecido em p<0,05.

RESULTADOSA tabela 1 apresenta os valores descritivos das carac-terísticas físicas dos duatletas que participaram doestudo.

Tabela 1: Valores médios e desvios-padrão do VO2 máx (ml.Kg-1.min-1).

Atletas (n=14) VO2 máx.G1 62,14 ± 7,83G2 62,14 ± 6,86G3 64,41 ± 4,36

Na tabela 2, observa-se a descrição dos valores obti-dos dos exames laboratoriais realizados em G1, G2 eG3 em cada fase da competição.

Tabela 2: Valores médios e desvios-padrão dos exames laboratoriais realizados em cada fase da competição.

G1 = grupo maltodextrina; G2 = grupo placebo; G3 = grupo glicose. Unidadesde Medida: Glicemia, mmol/l; Insulina, µUI/ml; Lactato, mmol/l; Cortisol,µg/Dl.

* Diferença significativa entre as fases do mesmo grupo; p< 0,05; † Diferença significativa entre grupos diferentes; p< 0,05.

Não foi possível analisar a fase pós-competição do G3, devido à ocorrência de amostras hemolisadas e mortalidade experimental.

De acordo com a tabela 2, verifica-se que o G1 apre-sentou uma diferença significativa (p=0,00674) nasconcentrações de glicemia entre a fase antes e pós-competição, indicando um aumento dos níveis deglicose sanguínea durante o decorrer da competição.O G2 apresentou uma diminuição significativa(p=0,04980) nos níveis de glicemia em relação àfase pós-competição. Quando comparou-se os gru-pos G1 e G2, quanto aos níveis de glicemia, encon-trou-se uma diferença significativa (p=0,0086) nafase pós-competição.Embora se tenha verificado uma elevação dos níveisdesse hormônio ao final da competição no G1 (X =15,1 µUI/ml), nenhuma diferença significativa foiobservada.Com relação às concentrações de lactato, pode-seobservar, de acordo com a tabela 2, que, tanto para oG1 como para G2, foram encontradas diferenças sig-nificativas na fase pós-competição (G1, p=0,00832;G2, p=0,015). Porém, quando comparou-se os níveisdo lactato entre os grupos (G1, G2 e G3), nãoforam encontradas diferenças significativas emnenhuma das fases da competição. Observou-se uma diferença significativa(p=0,04078) nas concentrações de cortisol no G1 nafase pós-competição, verificando-se uma diminuiçãonos níveis desse hormônio.Em relação às concentrações de cortisol no G2, verifi-cou-se uma diferença significativa (p=0,015) na faseapós a competição, demonstrando uma elevação nasconcentrações desse hormônio ao final da competição.Quando analisados os três grupos (G1, G2 e G3),nenhuma diferença significativa foi observada nosníveis de cortisol.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOSConcentrações da glicemia e insulina.Dados deste estudo indicam que, quando os duatle-tas ingeriram maltodextrina (G1), houve um aumen-to significativo nos níveis de glicemia no decorrer dacompetição, quando comparado com G2 (placebo).O G2 apresentou uma queda nos níveis de glicemia,demonstrando uma diferença significativa na fasepós-competição. Essa diferença significativa nos níveis de glicemia,entre o G1 e G2 na competição, é usualmente obser-vada em estudos (20, 21, 22, 23, 24, 25 e 26). Esse

Renata Mamus, M. Gisele Santos

Page 35: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–37 33

resultado mais elevado nos níveis de glicemia no G1após a competição, deve-se principalmente à combi-nação da ingestão de CHO (maltodextrina) antes edurante a competição, a qual exerce um efeito adi-cional sobre a performance física, quando comparadocom uma situação em que o CHO é ingerido,somente, em uma única fase da competição (27). Um dos efeitos adicionais observados da ingestão deCHO (maltodextrina) nas fases da competição, refere-se à elevação dos níveis de glicemia, como observadono resultado obtido pelo G1. Essa elevação é impres-cindível para a performance física, pois altas concen-trações de glicose favorecem a síntese de glicogêniomuscular, e uma diminuição nessas concentraçõespode levar à fadiga durante a competição (28). Essa eficácia da ingestão de CHO para aumentar asíntese de glicogênio pode ser explicada de duas for-mas: primeiro, por uma maior disponibilidade dosubstrato, através do aumento da concentração deglicose sanguínea, como verificado no G1; e segun-do, pelo aumento da concentração da insulina sistê-mica, considerada como um potencial ativador dasíntese de glicogênio, que também pode ser verifica-do em G1, embora nenhuma diferença significativatenha sido encontrada. Tem sido demonstrado que o aumento da glicose cir-culante, através da ingestão de CHO (maltodextri-na), atenua injúrias como a hipoglicemia e produçãoda glicose hepática (29). Verifica-se, também, que a suplementação de CHO(maltodextrina) produz um aumento nos estoquesde glicogênio muscular, permitindo que a competi-ção se prolongue ou que a performance seja melho-rada, mediante o retardo do início da fadiga. Esteatraso da fadiga deve-se, principalmente, à prevençãodo declínio da concentração da glicose sanguínea, aqual facilita proporções elevadas da oxidação deCHO durante os estágios finais da competição (23).Com relação ao aumento da glicemia na fase pós-competição do G1, quando comparado com o G2,verifica-se que esse resultado corrobora os de outrosestudos (28, 29, 30), que demonstraram que osníveis da glicemia são mais elevados após a ingestãode um suplemento à base de maltodextrina, quandocomparado com outros tipos de CHO e placebo.Esse resultado é demonstrado tanto imediatamenteapós a competição, como verificado nos dados obti-

dos dessa investigação, como também aos 40, 60 e,até, 100 minutos do período de recuperação (28, 30,31). Em outro estudo realizado com maratonistas,os níveis de glicemia após a competição foram signi-ficativamente diferentes entre os grupos que ingeri-ram CHO (maltodextrina) e placebo, indicando umnível mais elevado dessa concentração no gruposuplementado com CHO (22). Da mesma forma,obtiveram os mesmos resultados imediatamenteapós a competição (24).Principalmente na fase após a competição, a ingestãode CHO é essencial para a reposição dos estoques deglicogênio, visto que nesse período há uma maiorpermeabilidade da membrana muscular para a glico-se, o que favorece a síntese do glicogênio (28).Outro resultado observado, na presente investigação,em relação aos níveis glicêmicos foi que, quandocomparou-se o G1 e G3, nenhuma diferença signifi-cativa foi encontrada nas fases antes e durante acompetição. Resultados contrários são demonstradosem outros estudos (32, 33), os quais relataram que,quando diferentes grupos ingeriram soluções à basede maltodextrina e glicose antes e durante a compe-tição, os níveis de glicemia apresentaram-se maiselevados no grupo que ingeriu glicose. De acordocom a tabela 2, verifica-se um nível glicêmico seme-lhante nas fases antes e durante a competição, entreos respectivos grupos.Possivelmente, uma diferença significativa entre oG1 e o G3 poderia ter sido encontrada se a análisebioquímica da fase pós-competição no G3 tivessesido realizada, o que não foi possível devido a ocor-rência de amostras hemolisadas e mortalidadeexperimental.Observa-se, em geral, que a ingestão de soluções àbase de glicose, durante um evento competitivo,resulta numa elevação rápida dos níveis de glicemia,o que favorece um aumento na utilização de CHOcomo combustível energético. Consequentemente,desenvolve-se a hipoglicemia e aumenta a taxa deutilização de glicogênio, resultando numa aceleraçãodo início da exaustão.Outros estudos têm demonstrado que a ingestão àbase de polímeros de glicose (maltodextrina) nacompetição, reduziu a taxa de fadiga nos últimos 30minutos de competição, devido principalmente àmanutenção dos níveis elevados de glicemia (6, 34).

Efeitos bioquímicos na performance

Page 36: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–3734

O que corrobora os níveis elevados da glicemiaobservados no G1, fornecendo indicativos que bene-ficiam a performance na competição.Quando comparou-se as respostas da insulina entreos grupos (G1, G2, G3), nenhuma diferença signifi-cativa foi obtida. Estudos relataram uma hiperinsulinemia significati-va quando ingerido glicose, comparado com a inges-tão de maltodextrina (35). Como pode ser observadona tabela 2, os níveis de insulina mantiveram-sesemelhantes entre o G1 e G3. Porém, houve uma elevação nas concentrações deinsulina no G1, revelando um aumento progressivodo início ao fim da competição (X=9,8 – 12,0 - 15,1µUI/ml), e uma diminuição no G2 (X=11,3 – 6,5 -6,8 µUI/ml), embora nenhuma diferença significati-va tenha sido observada em ambos os grupos. Da mesma forma, outros estudos também relataramque nenhuma diferença significativa foi observada nacompetição, quando comparados diferentes trata-mentos com CHO (maltodextrina) e placebo (21, 29,36), o que corrobora os resultados encontrados nopresente estudo.A importância de se manter níveis mais elevados dainsulina durante a competição, deve-se ao fato deque a insulina aumenta a captação da glicose sanguí-nea para o músculo e, principalmente no períodopós-competição, essa captação da glicose pelo mús-culo fica mais sensível à insulina, o que facilita a res-síntese dos estoques de glicogênio muscular .Verifica-se que, em algumas situações, quando oCHO (maltodextrina e glicose) é ingerido durante asfases da competição, as concentrações de insulinaplasmática são tipicamente mantidas aos níveis derepouso ou, em alguns casos, aumentadas (37).Em geral, as concentrações de insulina tendem adiminuir durante a competição, o que se relacionacom dois fatores: a) primeiramente, com as altera-ções induzidas pela competição na quantidade detransportadores da glicose na membrana, b) e, tam-bém, com o grande aumento do fluxo sanguíneo aomúsculo durante a competição, uma vez que a libera-ção da glicose é produto do fluxo sanguíneo muscu-lar e da concentração de glicose no sangue. Portanto,durante a competição, mais glicose e insulina sãoliberadas do que durante o repouso e, como os mús-culos utilizam a glicose numa maior velocidade, é

criado um gradiente para a difusão facilitada (17). Porém, quando há ingestão de CHO (maltodextrina),consequentemente, haverá uma maior disponibilida-de de glicose sanguínea e, dessa forma, as concentra-ções plasmáticas de insulina tendem a elevar, paraaumentar a captação de glicose pelo músculo (38), oque pode ser observado no G1. A prática de ingerir CHO (maltodextrina) antes edurante a competição, aumenta os níveis de insulinaque podem ser mantidos durante todo o decorrer dacompetição (39).De outro lado, observa-se uma diminuição nos resul-tados das concentrações de insulina do G2, o queleva a uma mobilização da glicose dos estoques hepá-ticos, uso de gordura como energia e gliconeogênese(39), indicando, dessa forma, a necessidade do corpode manter a concentração ideal de glicose sanguínea,em virtude de uma possível hipoglicemia (16).

Concentrações do lactato séricoForam encontradas diferenças significativas nas con-centrações de lactato no G1 e G2 na fase após a com-petição (G1 = 5,2; G2 = 6,1). Para ambas as condi-ções, os níveis de lactato aumentaram no decorrer dacompetição e diminuíram na fase pós-competição,demonstrando um nível mais baixo para G1.Observa-se, em outros estudos, diferenças significa-tivas entre grupos que ingeriram maltodextrina eplacebo, em que as concentrações de lactato forammais elevadas durante a competição no grupo suple-mentado com maltodextrina. No presente estudo,pode-se observar um aumento da concentração delactato durante a competição, embora nenhuma dife-rença significativa tenha sido encontrada quandocomparado o grupo suplementado com maltodextri-na com o grupo placebo (40, 41).O lactato pode contabilizar até 50% da síntese do gli-cogênio hepático em atletas. Isto se deve, principal-mente, ao fato de que o lactato é um produto dadesintegração do CHO (glicose e glicogênio), dessaforma, pode ser transformado novamente em qualquerum desses compostos no fígado e nos músculos (16).Com relação ao aumento nos níveis de lactato san-guíneo durante a competição, observado no G1 e G2do presente estudo, verifica-se que esse aumento cor-robora os resultados de outros estudos realizadoscom suplementação de CHO (maltodextrina e glico-

Renata Mamus, M. Gisele Santos

Page 37: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–37 35

se) com soluções a 6% (2, 28, 36, 43). Verifica-se queesse acúmulo de lactato no sangue depende do equi-líbrio entre a produção de lactato pelo músculo ematividade e sua remoção pelo fígado ou por outrostecidos. Ou seja, à medida que a intensidade da com-petição aumenta, o lactato sanguíneo pode aumentar,em razão de uma aceleração da produção de lactatoou de uma redução da taxa de remoção pelo fígadoou por outros tecidos. Da mesma forma que, à medi-da que a intensidade da competição aumenta, o fluxosanguíneo aos músculos não-ativos, aos rins, ao fíga-do e ao trato gastrointestinal diminui, reduzindo ataxa de remoção de lactato (17).Outro resultado obtido neste estudo foi que, quandocomparou-se os três grupos (G1, G2 e G3) nas fasespré e durante a competição, nenhuma diferença sig-nificativa foi encontrada.

Concentrações do cortisolVerifica-se que, no presente estudo, as concentraçõesdo cortisol apresentaram diferenças significativas noG1 e G2 na fase após a competição. Embora se tenha verificado, no presente estudo, queos níveis de cortisol tiveram uma elevação durante acompetição nos três grupos (G1, G2 e G3), obser-vou-se que somente no G1 esses níveis apresenta-ram uma diminuição ao final da competição. O cortisol é um hormônio glicoregulador que, nor-malmente, aumenta durante os últimos estágios dacompetição, quando os níveis de carboidrato endóge-no diminuem significativamente (44).No presente estudo, a competição foi realizada numaintensidade média de 79% do VO2 máx. Observa-seque a secreção de cortisol aumenta de acordo com aintensidade da competição, pois verifica-se que,durante uma competição intensa (acima de 60% VO2

max.), a taxa de secreção desse hormônio pelo cór-tex adrenal demonstra ser superior à sua taxa deremoção (16).As concentrações de cortisol aumentam significativa-mente durante a competição prolongada, demons-trando elevações dramáticas em estados de hipogli-cemia (39).No entanto, com a ingestão de CHO (maltodextrinae glicose) o aumento do cortisol pode ser atenuado,quando comparado com a ingestão de placebo (31,43). Esse resultado corrobora a diminuição nos níveis

de cortisol observada no G1, confirmando o fato deque a ingestão de maltodextrina ameniza o aumentodos níveis do hormônio cortisol após uma competi-ção intensa, quando comparado com o grupo placebo.Esses níveis mais baixos do cortisol pós-competiçãoe após a suplementação com maltodextrina, devem-se aos níveis mais altos de glicose plasmática, comoobservado no G1.Foi observada uma queda na concentração de corti-sol após a competição de ciclismo e corrida, quandoos atletas ingeriram soluções com maltodextrina(31) e verificaram que, após competição de ciclismo(85% VO2 máx.) com ingestão de maltodextrina(6%), as concentrações de cortisol foram significati-vamente mais baixas imediatamente pós-competição,quando comparado com grupo que ingeriu placebo. Quando comparou-se os grupos G1, G2 e G3,nenhuma diferença significativa foi observada entreas fases antes e durante a competição na presenteinvestigação (29). A ausência de diferença significa-tiva entre os grupos G1, G2 e G3 verificada nesseestudo, pode ser explicada pelo fato de que as dife-renças significativas geralmente encontradas emrelação ao hormônio cortisol, quando comparadosgrupos que ingeriram diferentes tipos de CHO ouplacebo, são apresentadas na fase pós-competição, oque não foi possível analisar nesta investigação,devido a algumas amostras hemolisadas e mortalida-de experimental durante a competição.

CONCLUSÕESDe acordo com os resultados obtidos nessa investi-gação, pode-se chegar às seguintes conclusões:A suplementação realizada com maltodextrina (G1)forneceu indicativos que podem beneficiar a perfor-mance durante a competição de short duathlon terres-tre, baseados na elevação dos níveis glicêmicos e dainsulina e na diminuição dos níveis de lactato e corti-sol (H1). Estes efeitos bioquímicos durante a compe-tição são importantes para a melhora do rendimentofísico, uma vez que diminuem a depleção do glicogê-nio no músculo e fígado, aumentam a captação deglicose e oxidação no músculo e cérebro, evitando-seuma possível fadiga no decorrer da competição. O benefício da suplementação de maltodextrina podeser explicado, principalmente, pela manutenção deníveis altos de glicemia, o que evita conseqüentes

Efeitos bioquímicos na performance

Page 38: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–3736

injúrias como a hipoglicemia. Além disso, uma maiordisponibilidade do substrato (glicogênio) para a reali-zação do trabalho muscular também é fornecida comessa ingestão, evitando-se, assim, a fadiga muscular emelhorando a performance de resistência. Dessa forma, pode-se concluir que a ingestão de suple-mentos com solução a 6% de maltodextrina, duranteas fases de competição do short duathlon terrestre, oca-siona alterações significativas nas concentrações plas-máticas de glicose, lactato e cortisol plasmático, consi-derados os principais efeitos bioquímicos que podemretardar a fadiga durante a competição.Esses achados corroboram os resultados préviosobtidos em estudos realizados com ciclistas, marato-nistas e triatletas, que confirmam os benefícios dasuplementação de maltodextrina nas fases de compe-tição, mediante indicativos bioquímicos, o que tornao presente estudo apto à aplicação na rotina de trei-namento e competição de duatletas. No entanto, sugere-se que outros estudos sejam rea-lizados com a finalidade de investigar outros efeitosbioquímicos da suplementação de diferentes tipos decarboidratos no short duathlon terrestre.

CORRESPONDÊNCIAMaria Gisele dos SantosRua Brigadeiro Franco, 1909, Apto 90380420 – 200 Curitiba, [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Burke L.M., Collier G.R., Hargreaves M. (1993) Muscle

glycogen storage after prolonged exercise: effect of theglycemic index of carbohydrates feedings. J Appl Physiol 75:1019-1023.

2. Grandjean A.C.(1997) Diets of elite athletes: has the disci-pline of sports nutrition made in impact? Int J Sport Nutr127: 874S.

3. Bacurau R.F. (2001). Nutrição e Suplementação Esportiva. 2ªed., São Paulo: Phorte Editora.

4. Correia M.I.T.D.(1996). Nutrição, Esporte e Saúde. BeloHorizonte: Health.

5. Levenhagen D.K., Gresham J.D., Carlson M.G., Maron D.J.(1969) Post-exercise nutrient intake timing in humans iscritical to recovery of leg glucose and protein homeostasis.Am J Physiol Endocrinol Metab 280: E982-E993.

6. Ivy J.L., Katz A.L., Cutler C.L., Sherman W.M., Coyle, E.F.(1988). Muscle glycogen synthesis after exercise: effect oftime of carbohydrate ingestion. J Appl Physiol 64: 1480-1485.

7. Doyle J.A., Sherman W.M., Strauss R.L (1993). Effects ofeccentric and concentric exercise on muscle glycogenreplenishment. J Appl Physiol 74: 1848-1855.

8. Bloom P.C.S, Hostmark A.T., Vaage O., Kardel K.R.,Maehlum S. (1987). Effect of different post-exercise sugardiets on the rate of muscle glycogen synthesis. Med SciSports Exerc 19: 491-496.

9. Piehl A.K., Soderlund K., Hultman E. (2000). Muscleglycogen resynthesis rate in humans after supplementationof drinks containing carbohydrates with low and highmolecular masses. Eur J Appl Physiol 81: 346-35.

10. Van Loon L.J.C, Saris W.H.S, Kruijshoop M., WagenmakersA.J.M (2000). Maximizing post-exercise muscle glycogensynthesis: carbohydrate supplementation and the applica-tion of amino acid and protein hydrolysate mixtures. Am JClin Nutr 72: 106-111.

11. Ivy J.L. (1998). Glycogen resynthesis after exercise: effect ofcarbohydrate intake. Int J Sports Med 19, Suppl: 142-146.

12. Hultman E. (1999). Physiological role of muscle glycogenin man, with special reference to exercise. CirculationResearch 20-21 (suppl. I): I99-I114.

13. Nelson D.L., Cox M.M. (2000). Lehninger Principles ofBiochemistry. 3ª ed.. New York: Worth.

14. Wolinsky I., Hickson J.J.F. (1996). Nutrição no exercício e noesporte. 2ª ed.. São Paulo: Roca.

15. Jacobs K.A, Sherman W.M. (1999). The efficacy of car-bohydrate supplementation and chronic high-carbohydratediets for improving endurance performance. Int J SportNutr 9(1): 92-115.

16. Mcardle W.D., Katch F.I., Katch V.L. (2003). Fisiologia doExercício – Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 5 ed. Riode Janeiro: Guanabara Koogan.

17. Wilmore J.H., Costill D.L. (2001). Fisiologia do Esporte e doExercício. São Paulo: Manole.

18. American College of Sport Medicine (2000). ACSM’s guide-lines for exercise testing and prescription. 6. ed. Philadelphia:Lippincott Williams & Wilkins.

20. Coyle E.F., Coogan A.R., Hemmert M.K., Ivy J.L. (1986)Muscle glycogen utilization during prolonged strenuousexercise when fed carbohydrate. J Appl Physiol 61: 165-172.

21. Febbraio M.A., Chiu A., Angus D.J., Arkinstall M.J.,Hawley J.A. (2000). Effects of carbohydrate ingestion befo-re and during exercise on glucose kinetics and performan-ce. J Appl Physiol 89: 2220-2226.

Renata Mamus, M. Gisele Santos

Page 39: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 29–37 37

22. Nieman D.C.S.L., Nehlsen-Cannarella L., Fagoaga O.R.,Henson D.A., Utter A., Davis J.M., Williams F.,Butterworth D.E. (2003). Influence of mode and carbohy-drate on the cytokine response to heavy exertion. Med SciSports Exerc 30: 671-678.

23) Andrews J.L, Sedlock D.A., Flynn M.G., Navalta J.W.(2003). Carbohydrate loading and supplementation inendurance-trained women runners. J Appl Physiol 95: 584-590.

24. Anslie P.N., Campbell I.T., Frayn K.N., HumphreysS.M.(2003). Physiological, metabolic, and performanceimplications of a prolonged hill walk: influence of energyintake. J Appl Physiol 94: 1075-1083.

25. Borsheim E, Cree G., Tipton K.D., Elliott T.A., AarslandA., Wolfe, R. (2003). Effect of carbohydrate intake on netmuscle protein synthesis during recovery from resistanceexercise. J Appl Physiol 96: 674–678.

26. Volek J. S. (2004). Influence of Nutrition on Responses toResistance Training. Med Sci Sports Exerc 36 (4): 689–698.

27. Widrick J.J., Costill D.L., Fink W.J., Hickey M.S. (1993).Carbohydrate feedings and exercise performance: effect ofinitial muscle glycogen concentration. J Appl Physiol 74(6):2998-3005.

28. Bowtell J.L., Gelly K., Jackman M.L., Patel A. (2000) Effectof different carbohydrate drinks on whole body carbohy-drate storage after exhaustive exercise. J Appl Physiol 88:1529-1536.

29. Angus D.J., Febbraio M.A., Lasini D., Hargreaves M.(2001). Effect of carbohydrate ingestion on glucose kine-tics during exercise in the heat. J Appl Physiol 90: 601-605.

30. Koch A.J., Potteiger J.A., Chan M.A., Benedict S.H., Frey B.(2001) Minimal influence of CHO ingestion on the immu-ne responses following acute resistance exercise. Int J SportNutr 11(2).

31. Grenn K.J., Croaker S.J., Rowbottom D.G. (2003).Carbohydrate supplementation and exercise induced chan-ges in T-lymphocyte function. J Appl Physiol 95:1216–1223.

32. Anderson G.H., Catherine N.L.A., Woodend D.M.,Wolever T.M.S. (2002). Inverse association between theeffect of carbohydrate on blood glucose and subsequenteshort-term food intake in young men. Am J Clin Nutr76(50): 1023-1030.

33. Coogan A.R., Coyle E.F. (1987). Reversal of fatigue duringprolonged exercise by carbohydrate infusion or ingestion. JAppl Physiol 63(6): 2388-2395.

34. MacLaren D.P.M., Close G.L. (2000). Effect of carbohydra-te supplementation on simulated exercise of rugby leaguereferees. Ergonomics 43(10): 1528-1537.

35. Costill D.L., Coyle E., Dalsky G., Evans W., Fink W.J.,Hoopes, D. (1977). Effects of elevated plasma FFA andinsulin on muscle glycogen usage during exercise. J ApplPhysiol 43: 695.

36. Ivy J.L., Goforth H.W., Damon B.M. (2002). Early post-exer-cise muscle glycogen recovery is enhanced with a carbohy-drate-protein supplement. J Appl Physiol 93: 1337-1344.

37. Davis J.M., Brown A.S. (2002). Carbohydrates, Hormonesand Endurance Performance. Sports Science Exchange 14(1): 1-4.

38. Volek J.S. (2004). Influence of Nutrition on Responses toResistance Training. Med Sci Sports Exerc 36 (4): 689–696.

39. Garret W.E., Kirkendall D.T. (2000). Exercise and SportScience. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

40. Walker J.L., Heigenhauser G.J.F., Hultman E., Spriet L.L.(2000). Dietary carbohydrate, muscle glycogen content,and endurance performance in well-trained women. J ApplPhysiol 88: 2151-2158.

41. Lancha Jr A.H. (2002). Nutrição e metabolismo aplicados à ati-vidade motora. São Paulo: Atheneu.

42. Fairchild T.J., Fletcher S., Steele P., Goodman C. (2003).Rapid carbohydrate loading after a short bout of nearmaximal-intensity exercise. Med Sci Sports Exerc 34:980-986.

43. Utter A.C., Kang J., Robertson R.J., Nieman D.C. (2004).Effect of carbohydrate ingestion on ratings of perceivedexertion during a marathon. Med Sci Sports Exerc 34(11):1779-1784.

44. Smilios I., Pilianidis T., Karamouzis M., Tokmakidis P.(2003). Hormonal responses after various resistance exer-cise protocols. Med Sci Sports Exerc 35(4): 644-654.

Efeitos bioquímicos na performance

Page 40: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–4938

Tradução e validação do SAQ (Sports Attitudes Questionnaire)para jovens praticantes desportivos portugueses com idadesentre os 13 e os 16 anos

Carlos E. Gonçalves1

Manuel J. Coelho e Silva1

Nikos Chatzisarantis2

Martin J Lee3

Jaume Cruz4

1 Universidade de CoimbraFaculdade de Ciências do Desporto e Educação FísicaPortugal

2 University of ExeterUnited Kingdom

3 University of ExeterSchool of EducationUnited Kingdom

4 Universitat Autònoma de BarcelonaFacultad de PsicologiaEspanha

RESUMO

O presente trabalho procura contribuir para a avaliação dopapel educativo do desporto infanto-juvenil organizado. Depoisde proceder à tradução do Sports Attitudes Questionnaire (SAQ),o inventário foi aplicado a duas amostras independentes deatletas com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos.Com base nos resultados de 511 sujeitos (247 rapazes e 264raparigas), a análise factorial exploratória identificou quatrodimensões. A análise factorial confirmatória evidenciou o ajus-tamento do modelo de quatro factores aos dados obtidos numaamostra de 482 sujeitos (248 masculinos e 234 femininos). Emresumo, a versão portuguesa do questionário de atitudes faceao desporto parece apta a ser utilizada em futuras pesquisas.

Palavras-chave: atitudes, validade, análise factorial confirmatória.

ABSTRACT

Translation and Validation of the Sports Attitudes Questionnaire(SAQ) Applied to Young Portuguese Athletes Aged 13 to 16Years

This study examines the assessment of the educational role of youthorganized sports. After obtaining the Portuguese version of the SportsAttitudes Questionnaire (SAQ), the inventory was applied on twosamples of 13- to 16-years-old athletes. Based on 511 subjects (247boys, 264 girls) exploratory factor analysis identified four dimensions.In addition, confirmatory factory analysis showed the consistencybetween the 4-factor model and the data collected from 482 subjects(248 males, 234 females). In summary, the Portuguese version of SAQsuggested to be a reasonable instrument for future research.

Key Words: attitudes, validity, confirmatory factor analysis.

Page 41: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–49 39

INTRODUÇÃOA prática desportiva das crianças e jovens é fomenta-da e incentivada devido às suas virtudes formativas –carácter, disciplina, vontade, de “preparação para avida” e pró-sociais. Assistimos nas últimas décadas aum vertiginoso aumento da oferta desportiva paraidades cada vez mais baixas, chegando-se à actualsituação em que a participação em actividades des-portivas representa a maior fatia de ocupação detempo livre, não lectivo, entre as crianças e os ado-lescentes [6, 27].No âmbito do que chamamos “desporto organiza-do”, com praticantes regularmente inscritos emfederação desportiva ou escolar e estando, ou não,orientado para o rendimento, é aceite que é a correc-ta organização e orientação das actividades quedetermina o efeito pedagógico positivo da participa-ção das crianças e jovens. Todavia, outros estudossugerem que o impacto da prática desportiva nosjovens pode não ser gerador de convicções e atitudespró-sociais [8, 16].Medir e avaliar as atitudes dos jovens face ao des-porto tem sido uma preocupação dos investigadores,em especial a partir da última metade da década de90 do século XX [28, 34]. O problema reside não sóna dificuldade de encontrar instrumentos adequadosao objecto de estudo, como em estabelecer umenquadramento conceptual que torne evidente aexpressão de condutas que os jovens praticantes jul-gam como as mais adequadas às situações desporti-vas e permitam, ao mesmo tempo, a intervenção dosagentes de ensino.As teorias sócio-cognitivas e estruturalista têm pro-curado criar um quadro teórico que viabilize a inves-tigação do modo como o raciocínio moral se forma ese transforma em condutas observáveis [34]. Asinvestigações produzidas permitiram entrever a com-plexidade dos processos cognitivos e sociais que, nosdiversos contextos, vão determinar as decisõesmorais de crianças e jovens.No campo específico do desporto, entende-se que ocomportamento dos atletas se deveria pautar pelorespeito pelo Desportivismo (sportspersonship ou fairplay), conceito que englobaria um conjunto de “boaspráticas”, que confeririam um carácter educativo aotreino e à competição. Cruz et al. [7] afirmam que o

Desportivismo se compõe de: respeito pelas regras epelos adversários; igualdade de condições entre osintervenientes; renúncia à vitória a todo o custo; dig-nidade nas vitórias e nas derrotas; “dar o melhor desi mesmo”.Para responder à questão de avaliação do construtoDesportivismo, Vallerand et al. [33] propõem aMultidimensional Sportspersonship Orientations Scale -MSOS-25. O instrumento baseia-se nas cinco dimen-sões do Desportivismo, propostas por Vallerand et al.[32]: empenhamento na participação; respeito pelasconvenções sociais; respeito pelas regras e pelosárbitros; respeito pelo adversário; abordagem negati-va do desportivismo. Cada dimensão é representadapor cinco itens.Na mesma linha, mas partindo da sua própria defini-ção de fairplay, Boixadós & Cruz [1] desenvolvemum instrumento de medida, a Escala d’Actituds de FairPlay (EAF/C), composta por 22 itens e destinada amedir as atitudes dos atletas face à sua prática des-portiva. Num estudo com futebolistas federados,com idades entre os 13 e os 19 anos, foram identifi-cados três factores: ganhar; jogo duro; espírito do jogo edivertimento.Por seu lado, e respondendo a uma solicitação doConselho da Europa e do Sports Council do ReinoUnido, que visava o estudo da ética na prática des-portiva infanto-juvenil, Lee [17] coordenou umapesquisa que deveria conduzir à elaboração de ques-tionários de valores e atitudes, direccionados para odesporto de jovens. O modelo adoptado [17, 19, 35] para estudar e ava-liar as premissas morais individuais que determinamas decisões, parte do princípio que as atitudes sãocontingentes à situação dada e informam sobre ocomportamento que o atleta assumiria face a umpotencial conflito moral [23]. Neste sentido, as ati-tudes representariam, para o atleta, a avaliação afec-tiva e instrumental da conduta a adoptar [25, 4]. Partindo da identificação de atitudes efectuada porum grupo de peritos, Lee [17] elaborou o SportsAttitudes Questionnaire (SAQ), de 26 itens, que foiaplicado a uma amostra de 1391 atletas, dos 12 aos16 anos, rapazes e raparigas, praticantes dos despor-tos mais populares no Reino Unido. O questionáriocompreende quatro escalas: Batota, Anti-desportivismo,

Tradução do Sport Attitudes Questionnaire

Page 42: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–4940

Vitória a todo o preço e A vitória não é o mais importante.Em estudo posterior, Lee et al. [19] modificam oSAQ de modo a que duas sub-escalas do MSOS-25proposto por Vallerand et al. [33] - empenhamento naparticipação, respeito pelas convenções sociais – substi-tuam as escalas A vitória não é o mais importante eVitória a todo o preço da versão original. Os itens doquestionário são reduzidos para 23, resultandonuma proposta de modelo de quatro factores, sendodois considerados socialmente positivos(Empenhamento e Convenção) e dois socialmente nega-tivos (Batota e Anti-desportivismo). O instrumento éaplicado a uma amostra de 549 atletas, dos 13 aos16 anos, rapazes e raparigas, praticantes dos despor-tos mais populares no Reino Unido [19, 35]. Nesteestudo, a consistência interna do modelo de quatrofactores revela-se elevada; o coeficiente do alfa-de-cronbach para o Empenho foi .68, para a Convenção .82,para a Batota .81 e para o Anti-desportivismo .84.O Sports Attitudes Questionnaire foi aplicado a amos-tras de idades e de composição de demografia des-portiva similares à população-alvo do presente estu-do (dos 13 aos 16 anos, que, para além de atravessaro período da adolescência, corresponde igualmente àetapa de especialização na maioria das modalidadesdesportivas) e a sua validade psicométrica foi verifi-cada no Reino Unido [19]. Do mesmo modo, omodelo de quatro dimensões, sendo duas considera-das socialmente positivas e duas consideradas social-mente negativas, para além de demonstrar sólidaconsistência interna, está em consonância concep-tual com os instrumentos propostos por Vallerand[33] ou Boixadós & Cruz [1]. O presente estudo pretende produzir a versão portu-guesa do instrumento do Sports AttitudesQuestionnaire (SAQp), validando a sua estrutura mul-tidimensional para atletas portugueses com idadescompreendidas entre os 13 e os 16 anos.

METODOLOGIATradução do questionário Sports Attitudes QuestionnaireCom o objectivo de tornar o instrumento de pesqui-sa a utilizar linguística e conceptualmente acessível àpopulação-alvo, foram seguidos um certo número deprocedimentos:

a) Constituição de um painel de cinco peritos comformação avançada em ciências do desporto, leitoreshabituais de bibliografia científica em língua inglesa,com experiência de missões de estudo e ensino noestrangeiro e/ou frequência de congressos científicosem língua inglesa com apresentação de comunicações.b) Constituição de um painel de cinco licenciadosem línguas e literatura inglesa ou títulos correlatos ecom especialização em técnicas de tradução.c) Análise do trabalho efectuado pelos dois painéisde peritos, escolhendo o item candidato à escalafinal. Esta tarefa foi efectuada por um doutorado emCiências do Desporto, bolseiro por um semestre emuniversidade dos Estados Unidos da América e porum elemento do Instituto do Desporto de Portugal,licenciado em Educação Física, com vasta experiên-cia na tradução de artigos para a revista TreinoDesportivo.As várias fases de confrontação de alternativas detradução, que filtram todos os itens e a experiênciados peritos, tanto no domínio da língua inglesa,como nas ciências do desporto, nomeadamente notreino de jovens, garantiram uma correcta adequaçãodo questionário à capacidade de compreensão dosdestinatários. Os curricula dos tradutores e dos espe-cialistas em ciências do desporto são apresentadosna Tabela 1.O Sports Attitudes Questionnaire (SAQ) [17], de 23itens, é introduzido por um breve texto: “Here aresome things that some young athletes have said about theway they play sport. Please read each one and circle one ofthe numbers beside it to show how much you agree or disa-gree with it”. A escala de respostas varia entre 1 e 5:1, I strongly disagree with the statement, 2, I disagree withthe statement but not strongly, 3, I neither agree nor disa-gree with the statement, 4, I agree with the statement butnot strongly, 5, I strongly agree with the statement.Os itens do questionário são: (1) I go to every practice,(2) Sometimes I waste time to unsettle the opposition, (3)I would cheat if I thought it would help me win, (4) I con-gratulate the opposition after I have lost, (5) If other peo-ple are cheating, I think I can do, (6) I always try my best,(7) It is not against the rules to “psyche” people out so itis OK to do, (8) I shake hands with the opposition’s coach,(9) I cheat if I can get away with it, (10) I sometimes try

Carlos E. Gonçalves, Manuel J. Coelho e Silva, Nikos Chatzisarantis, Martin J. Lee, Jaume Cruz

Page 43: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–49 41

to “wind up” the opposition, (11) I am always thinkingabout how to improve, (12) I congratulate the oppositionfor a good play or performance, (13) Sometimes I have tocheat, (14) I think I can unsettle my opponents as long asI don’t break the rules, (15) I make an effort even if I amcertain of losing, (16) It is OK to cheat if nobody knows,(17) I shake hands with the opposition-win or lose, (18) IfI don’t want another person to do well, then I put them offa bit, (19) Sometimes I cheat to gain an advantage, (20)It’s a good idea to upset your opponents, (21) I don’t giveup after mistakes, (22) I congratulate the opposition afterI have won, (23) I try to get officials to rule in my favoureven when they shouldn’t.

A Tabela 2 apresenta a solução final de itens em lín-gua portuguesa, apurada pelo painel final de peritos.Oito dos vinte e três itens da versão final do questio-nário foram propostos pelo painel final de peritos.Apenas um item é exclusivamente proveniente daproposta feita pelo painel de tradutores e onzeoutros itens resultam da tradução efectuada pelosespecialistas em ciências do desporto. Existem trêsafirmações que são simultaneamente sugeridas pelosespecialistas e tradutores.

Tradução do Sport Attitudes Questionnaire

Tabela 1: Notas curriculares dos elementos que participaram na tradução dos questionários.

Page 44: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–4942

AmostraLee et al. [19] conduziram tanto a análise factorialexploratória (AFE), como a AFC nos seus estudos.No entanto, dado que se trata de um estudo trans-cultural (uma vez que o SAQp ainda não fora aplica-do a amostras portuguesas), foi decidido usar a AFEe a AFC com base em amostras independentes.Trata-se de uma estratégia comum para a especifica-ção de modelos, em que a AFE demonstra a sua uti-lidade, quando conjugada com a AFC [36].Para a análise factorial exploratória foi efectuadauma primeira colecção de dados sobre uma amostrade 511 sujeitos dos 13 aos 16 anos (15.0±1.0 anos),

247 rapazes e 264 raparigas, 271 praticantes de des-porto escolar e 240 atletas federados, 275 pratican-tes de modalidades individuais (atletismo, badmin-ton, ginástica, judo, natação, ténis, ténis de mesa) e236 de modalidades colectivas (andebol, basquete-bol, futebol, voleibol). Para a análise factorial confirmatória foram inquiri-dos 482 praticantes com idades compreendidas entreos 13 e os 16 anos de idade (14.3±0.9), 248 rapa-zes, 234 raparigas, sendo 167 escolares e 315 prati-cantes de desporto federado, num total de 222 atle-tas de modalidades individuais (atletismo, badmin-

Carlos E. Gonçalves, Manuel J. Coelho e Silva, Nikos Chatzisarantis, Martin J. Lee, Jaume Cruz

Tabela 2: Proposta final da versão portuguesa do questionário de atitudes face ao desporto (SAQp).

P (peritos), T (tradutores), PF (painel final).

Page 45: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–49 43

ton, canoagem, judo, ginástica, natação, remo, ténisde mesa) e 260 de modalidades colectivas (andebol,basquetebol, futebol e voleibol). Note-se que estaamostra é independente da utilizada na análise facto-rial exploratória.A obtenção das amostras seguiu o princípio de com-binar em proporções semelhantes atletas de despor-to federado e de desporto escolar, de modalidadesindividuais e de modalidades de equipa, de rapazes ede raparigas, tendo-se optado sempre pela inclusãode mais do que um núcleo/clube por cada grupo demodalidade/sexo.A aplicação dos questionários aos alunos das escolasfoi precedida pela celebração de um protocolo com aDirecção Regional de Educação do Centro. Os proce-dimentos de recolha de dados foram registados naComissão Nacional de Protecção de Dados, queautorizou a sua aplicação depois de verificar as con-dições de recolha e manuseamento. Os questionáriosforam preenchidos antes ou após treinos ou compe-tições, na presença de um investigador.

Tratamento estatísticoA análise factorial pode ser conduzida no modoexploratório ou no modo confirmatório. No primeirotipo de análise, procura-se descrever e sintetizar osdados agrupando as variáveis que se encontram cor-relacionadas entre si. As variáveis podem ou não tersido seleccionadas na expectativa de encontrar umaestrutura latente já conhecida. A técnica procura res-ponder às seguintes questões: (a) Quantos factoresestão incluídos num conjunto inicial de variáveis? (b) Queinterpretação para os factores? (c) Que porções da variân-cia são explicadas por cada uma das dimensões? A extrac-ção de factores foi efectuada após rotação varimax.Considerámos o valor crítico de ≥ 0.40 de carga fac-torial para incluir uma variável num determinadofactor [21]. Para a AFE foi utilizado o programaSPSS, versão12.0.A análise factorial confirmatória limita-se a rejeitarou aceitar um modelo de agregação das variáveisaprioristicamente estabelecido. A técnica testa oajustamento entre os dados e o modelo teórico [10,22, 24, 29]. A existência de pesquisas anteriores per-

mitiu aplicar esta técnica. De facto, Lee et al. [19]conduziram tanto a AFE, como a AFC nos seus estu-dos. Na AFC, foi usado o método de estimativamaximum likelihood (ML). É desejável que o Satorra-Bentler Scaled qui-quadra-do seja não significativo [14, 25]. Contudo, a esta-tística do qui-quadrado mostra-se sensível ao efeitoda dimensão amostral, pelo que não dispensa aobservação de outros indicadores complementaresda bondade de ajustamento. Nessa medida, algunsautores [25], depois de terem encontrado um qui-quadrado significativo, recorrem aos índices RCFI,NNFI, RMSEA e SRMR. Noutro estudo [9], depoisde obterem um qui-quadrado significativo, optarampelos índices GFI, NNFI, CFI e RMSEA. A propósi-to da escolha dos índices, Tabachnik & Fidell [30]escrevem “the issue of which indices to report is amatter of personal preference, and perhaps, thepreference of the journal editor”, acrescentandoainda “often multiple indices are reported, and ifthe results of the fit indices are inconsistent, themodel should probably be re-examined”. No pre-sente estudo, apoiar-nos-emos nas estatísticas pro-videnciadas pelo pacote EQS, versão 5.7, a saber:RCFI (com um valor de corte >.95), NNFI (comum valor de corte >.95), RMSEA (com um valor decorte <.06), SRMR (com um valor de corte <.08),GFI (com um valor de corte >.90) e CFI (com umvalor de corte >.95).

RESULTADOSAnálise factorial exploratóriaA extracção de factores foi precedida pelo teste deBartlett, que mostrou a adequação da técnica à solu-ção inicial de 23 itens [χ2

(253)=5386.020, p≤ .01]. Aanálise foi realizada com recurso à rotação varimax eum nível de inclusão de factor loadings ≥ 0.40, valorde corte recomendado por Pedhazur [21], mostrandouma estrutura de quatro dimensões, sem itens ambí-guos. A solução final de quatro factores explica 58%da variância. É ainda de notar que todos os factorescompreendem mais do que dois itens.

Tradução do Sport Attitudes Questionnaire

Page 46: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–4944

Tabela 3: Análise de componentes principais do “Sport Attitudes Questionaire” (SAQ). Comunalidades e cargas factoriais dos itens após rotação varimax (n=511).

que posso perturbar os adversários desde que nãoviole as regras”), item 10 (“por vezes tento enganaros adversários”), item 7 (“como não é contra asregras pressionar psicologicamente os adversários,posso fazê-lo”), item 18 (“se não quiser que alguémjogue bem, tento perturbá-lo um pouco”), item 20(“é uma boa ideia irritar os meus adversários”), item2 (“às vezes perco tempo a perturbar os adversá-rios”), e item 23 (“tento que os árbitros decidam ameu favor, mesmo que não seja verdade”). Estadimensão explica 17% de variância.

Carlos E. Gonçalves, Manuel J. Coelho e Silva, Nikos Chatzisarantis, Martin J. Lee, Jaume Cruz

O primeiro factor (F1) pode ser interpretado comoBatota e explica 19% da variância. Nele têm cargasuperior a 0.40 os itens 16 (“não há problema emfazer batota se ninguém notar”), 19 (“por vezes façobatota para obter vantagem”), 13 (“por vezes é preci-so fazer batota”), 3 (“era capaz de fazer batota seisso me ajudasse a vencer”), 9 (“faço batota se nin-guém der por isso”), 5 (“se os outros fazem batota,penso que também o posso fazer”).O segundo factor (F2) pode ser designado Anti-des-portivismo e resulta da agregação do item 14 (“penso

Page 47: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–49 45

O factor (F3) designado Convenção é marcado pelositens 22 (“depois de ganhar, cumprimento os meusadversários”), 17 (“seja qual for o resultado, cumpri-mento os meus adversários”), 4 (“cumprimento osadversários após uma derrota”) 8 (“cumprimento otreinador adversário”) e 12 (“felicito os adversáriospor um bom jogo ou por um bom desempenho”).Esta dimensão explica 12% da variância.

O quarto e último dos factores (F4) explica 11% davariância e parece corresponder ao domínio Empenha-mento. Os itens com carga factorial acima do valor decorte estabelecido são 15 (“esforço-me sempre,mesmo que saiba que vou perder”), 11 (“estou semprea pensar em como posso melhorar”), 21 (“não desistomesmo depois de ter cometido erros”), 6 (“dou sem-pre o meu melhor”) e 1 (“vou a todos os treinos”).

Tradução do Sport Attitudes Questionnaire

Como se pode ver na Tabela 4, os coeficientes deconsistência interna (quadrado do coeficiente decorrelação múltipla entre os itens da componenteprincipal e os scores da componente em que os itenssão incluídos) são sempre superiores a .67, valorque pode ser considerado aceitável. Atendendo aospotenciais benefícios que poderiam resultar namelhoria das propriedades psicométricas do ques-tionário, decidimos investigar se os valores de alfa-de-cronbach poderiam ser aumentados a partir da eli-minação de um item. De acordo com os resultados

igualmente apresentados na Tabela 4, a subtracçãode itens não acarretaria ganhos nos coeficientes deconsistência interna.A análise das Tabelas 4 e 5 mostra que a soluçãoencontrada para o presente estudo pode ser conside-rada como bastante satisfatória, uma vez que, paracada uma das dimensões, existem sempre 2 ou 3itens comuns aos dois estudos. Mais, não existenenhum item que esteja numa das pesquisas agrega-do a uma componente principal e no outro estudoapareça como marcador de uma dimensão diferente.

Tabela 4: Cargas factoriais e coeficientes de consistência interna prevendo quatro itens em cada uma das componentes.

Page 48: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–4946

Tabela 5: Cargas factoriais após análise factorial exploratória no estudo de Lee et al. (2002).

Análise factorial confirmatóriaA partir da Tabela 4 e em concordância com as indica-ções dos autores da versão original do questionário deatitudes dos jovens face à prática desportiva, assumi-mos a existência de quatro factores (cheating, games-manship, convention, commitment). Foram escolhidos ositens apresentados na Tabela 6 como variáveis candi-datas a serem marcadoras de cada um dos factores.Os resultados da análise factorial confirmatória rela-tivos ao ajustamento global do modelo mostram umcoeficiente de Mardia-Based Kappa=0.31 e um valorde Satorra Bentler Scaled χ2

(98)=122.2, significativopara p<.005, RCFI=.99; NNFI=.98; RMSEA=.03(CI 90%=.02-.04); SRMR=.04; GFI=.96; CFI=.98.Estes dados mostram a adequação dos vários indica-dores para considerar o modelo de quatro factoresajustado aos dados do presente estudo.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕESDe uma forma sumária, podemos afirmar que a tradu-ção dos 23 itens do Sports Attitudes Questionnaire(SAQ) não colocou problemas semanticamente irreso-lúveis, tendo sido possível obter uma solução maiseconómica de quatro dimensões. Os factores encon-trados pela análise factorial exploratória possuem umaessência de conteúdo parcialmente semelhante à solu-ção do estudo inicial desenvolvido no Reino Unidopor Lee et al. [19]. Não foram encontrados itens pro-blemáticos, com carga factorial em mais do que um

Carlos E. Gonçalves, Manuel J. Coelho e Silva, Nikos Chatzisarantis, Martin J. Lee, Jaume Cruz

Os resultados apresentados na Tabela 5 referem-se aoestudo desenvolvido por Lee et al. [19] com o objecti-vo de testar um modelo teórico da influência da estru-tura de valores sobre as atitudes face à prática despor-tiva. A referida pesquisa foi desenvolvida numa amos-tra de 549 rapazes e raparigas ingleses praticantes dedesporto organizado e competitivo. A análise de con-teúdo dos itens que aparecem na Tabela 4 e não cons-tam da Tabela 5, sugere que a agregação encontrada nopresente estudo é adequada, ou seja:— Na primeira componente, Batota, consta o item“Por vezes faço batota para obter vantagem”, nãoincluído na pesquisa de Lee et al. [19];— A segunda componente, Anti-desportivismo, é com-posta pelos itens “É uma boa ideia irritar os adversá-rios” e “Tento que os árbitros decidam a meu favor,mesmo que não seja verdade”, que não entravam nasolução de Lee et al. [19], apresentada na Tabela 5;— Os itens “Seja qual for o resultado, cumprimentoos meus adversários” e “Cumprimento o treinadoradversário” entram na terceira componente principaldo nosso estudo, interpretada como Convenção. Estasduas expressões não tinham sido incluídas no estudooriginal com jovens ingleses;— O quarto domínio, interpretado como Empenho,contém dois itens que tinham escapado à estruturafactorial proposta por Lee et al. [19]: “Estou semprea pensar em como melhorar” e “Esforço-me sempre,mesmo que saiba que vou perder”.

Page 49: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–49 47

factor. Comparativamente ao estudo de Lee et al. [19]a presente solução oferece a vantagem de possuir coe-ficientes de consistência interna mais elevados e aindade apresentar cada um dos factores marcado por 4itens. Adicionalmente, a análise factorial confirmató-ria demonstra a bondade de ajustamento do modelode quatro dimensões de quatro itens cada.A validade do questionário para a realidade do des-porto infanto-juvenil em Portugal surge confirmadaatravés do presente estudo, viabilizando a sua aplica-ção, em conjunto com outros instrumentos, eminvestigações mais abrangentes. O estudo das atitu-des, será sempre informativamente pobre, quandolevado a cabo isoladamente [15].A integração do estudo das atitudes num modelo maiscompreensivo dos efeitos do treino e da competiçãosobre os jovens participantes, implica o recurso aoutros construtos [2]. Do mesmo modo, o estudo dasvariáveis ecológicas (outros significantes, ambiente declube ou escola, ambiente da equipa), com recurso aoutros instrumentos e métodos, surge como uma viapromissora para conhecer a realidade e intervir na prá-tica, tal como é sugerido nos estudos de Brustad et al.[3], Guivernau & Duda [13] e Torregosa et al. [31].

AGRADECIMENTOSA investigação foi subsidiada pelo Programa de ApoioFinanceiro à Investigação no Desporto (PAFID), doInstituto de Desporto de Portugal, Nº 223/2004. Aaplicação dos questionários aos alunos das escolassó foi possível através do protocolo celebrado com aDirecção Regional de Educação do Centro. Os auto-res agradecem a colaboração do Doutor José CarlosLeitão (UTAD) na revisão da versão inicial do pre-sente artigo.

CORRESPONDÊNCIACarlos Eduardo GonçalvesFaculdade de Ciências do Desporto e Educação FísicaUniversidade de CoimbraEstádio Universitário – Pavilhão III3040-156 [email protected]

Tradução do Sport Attitudes Questionnaire

Tabela 6: Parâmetros item-factor (ρ) e erro de medida (ε) na estrutura de 4 dimensões do SAQ (Sports Attitudes Questionnaire) testada pela análise factorial confirmatória.

Page 50: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–4948

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Boixadós M, Cruz J (1995). Construction of a fairplay atti-

tude scale in soccer. In R. Vanfraeehem-Raway & Y.Vanden Auweele (Eds.) Proceedings of the IX EuropeanCongress on Sport Psychology. Brussels: Belgian Federation ofSport Psychology, 4-11.

2. Boixadós M, Cruz J, Torregrosa M, Valiente L (2004).Relationships among motivational climate, satisfaction,perceived ability, and fair play attitudes in young soccerplayers. Journal of Applied Sport Psychology 16: 301-317.

3. Brustad R, Babkes M, Smith A (2001). Youth in sport.Psychological considerations. In R.N. Singer, H.A.Hausenblas, & C.M. Janelle (Eds.) Handbook of SportPsychology. New York: Wiley, 604-635.

4. Chantal Y, Robin P, Vernat J-P, Bernache-Assolant I(2005). Motivation, sportspersonship, and athleticaggression: a mediational analysis. Psychology of Sport andExercise 6: 233-249.

5. Coelho e Silva M, Ribeiro L, Barros F, Figueiredo A,Gonçalves CE (2004). Abandono da Prática de BasquetebolCompetitivo e Organizado. Manuscrito submetido para publi-cação.

6. Cruz J, Boixadós M, Torregrosa M, Valiente L, Villamarin F(2001). Values, socio-moral attitudes and achievementgoals among youth team sports participants in Spain. In A.Papaioannou, M. Goudas, Y. Theodorakis (Eds.) In theDawn of the Millenium: 10th World Congress of SportPsychology. Skiathos: Christodoulidi Publications, 195-197.

7. Cruz J, Boixadós M, Valiente L, Torregrosa M (2001). Sepierde el “fairplay” y la deportividad en el deporte en edadescolar? Apunts: Educación Física y Deportes 64: 6-16.

8. Cruz J, Boixadós M, Valiente L, Torregrosa M, Mimbrero J(1996). Existe un deporte educativo?: papel de las compe-ticiones deportivas en el proceso de socialización del niño.Revista de Psicologia del Deporte 9-10: 111-132.

9. Fernandes H, Vasconcelos Raposo J (2004). A teoria daauto-determinação no contexto desportivo. Horizonte 19,114: dossier.

10. Fonseca AM (1999). Atribuições em contexto de activida-de física ou desportiva – perspectivas, relações e implica-ções. Tese de doutoramento. Faculdade de Ciências doDesporto e de Educação Física, Universidade do Porto.

11. Gonçalves CE (2004). Desporto infanto-juvenil e educaçãomoral -situação, constrangimentos e perspectivas. TreinoDesportivo Especial 6: 68-74.

12. Gonçalves CE, Coelho e Silva M (2004). Contemporarytrends and issues in youth sports in Portugal. In M Coelhoe Silva & RM Malina (Eds.) Children and Youth in OrganizedSports. Coimbra: Imprensa da Universidade.

13. Guivernau M, Duda J (2002). Moral atmosphere and athle-tic aggressive tendencies in young soccer players. Journalof Moral Education 31 (1): 67-85.

14. Hu L, Bentler P (1999). Cutoff criteria for fit indexes incovariance structure analysis. Conventional criteria versusnew alternatives. Structural Equation Modeling 6: 1-55.

15. Kavussanu M, Ntoumanis N (2003). Participation in sportand moral functioning: does ego orientation mediate their re-lationship? Journal of Sport & Exercise Psychology 25: 501-518.

16. Keech M, Mcfee G (2000). Locating issues and values insport and leisure cultures. In M. Keech, G. Mcfee (Eds.)Issues and values in sport and leisure cultures. Oxford: Meyer &Meyer Sport, 1-24.

17. Lee MJ (1996). Young people, sport and ethics: an exami-nation of fair play in youth sport. Technical report to theResearch Unit of the Sports Council. Londres.

18. Lee M, Whitehead J, Balchin N (2000). The measurementof values in youth sport: development of the youth sportvalues questionnaire. Journal of Sport and Exercise Psychology22: 307-326.

19. Lee MJ, Whitehead J, Ntoumanis N, Hatzigeorgiadis A(2002). The effect of values, achievement goals and percei-ved ability on moral attitudes in youth sport. TechnicalReport to the Economic and Social Research Council.

20. Lemyre PN, Roberts G, Ommundsen Y (2002).Achievement goal orientations, perceived ability, andsportspersonship in youth soccer. Journal of Applied SportPsychology 14: 120-136.

21. Pedhazur EL (1982). Multiple regression in behaviouralresearch – explanation and prediction. Fort Worth: Holt,Rinehart & Winston.

22. Peiró C, Sanchís JM (2004). Las PropriedadesPsicométricas de la Versión Inicial del Cuestionario deOrientación a la Tarea Y al Ego (TEOSQ) Adaptado a laEducación Física en su Traducción al Castellano. Revista dePsicologia del Deporte 13 (1): 26-40.

23. Prat M, Soler S (2003). Actitudes, Valores y Normas en laEducación Física y el Deporte. Barcelona: INDE.

24. Reinboth M, Duda J (2004). The motivational climate, per-ceived ability, and athlete’s psychological and physicalwell-being. The Sport Psychologist 18: 237-251.

25. Reinboth M, Duda J, Ntoumanis N (2004). Dimensions ofcoaching behavior, need satisfaction, and the psychologicaland physical welfare of young athletes. Motivation andEmotion 28 (3): 297-313.

26. Rhodes R, Courneya K (2005) Threshold assessment ofattitude, subjective norm, and perceived behavioral controlfor predicting exercise intention and behavior. Psychology ofSport and Exercise 6: 349-361.

27. Seefeldt V, Clark M (2002) The continuing evolution inyouth sports: what does the future hold? In F. Smoll & R.Smith (Eds.) Children and Youth in Sport: a BiopsychosocialPerspective. Dubuque: Kendall/Hunt.

28. Shields D, Bredemeier B, Power F (2002). Character deve-lopment and children’s sport. In F. Smoll & R. Smith(Eds.) Children and Youth in Sport: a BiopsychosocialPerspective. Dubuque: Kendall/Hunt, 537-563.

29. Standage M, Treasure D, Duda J, Prusak K (2003). Validity,Reliability, and invariance of the Situational MotivationScale (SIMS) across diverse physical activity contexts.Journal of Sport & Exercise Psychology 25: 19-43.

30. Tabachnick BG, Fidell LS (2001). Using multivariate statistics(Fourth edition). Boston: Allyn & Bacon.

31. Torregrosa M, Figueroa J, Garcia-Mas A, Sousa C, VilchesD, Villamarin F, Cruz J (2005). La relación entre las fami-lias (padres y madres) y el compromiso deportivo de fut-bolistas cadetes. Comunicação ao Congresso Sul-americano dePsicologia do Desporto. Montevideu.

32. Vallerand R, Deshaies P, Cuerrier JP, Brière N, Pelletier L(1996). Toward a Multidimensional Definition ofSportsmanship. Journal of Applied Sport Psychology 8: 89-101.

33. Vallerand R, Briere N, Blanchard C, Provencher P (1997).Development and validation of the multidimensionalsportspersonship orientations scale. Journal of Sport andExercise Psychology 16: 126-140.

Carlos E. Gonçalves, Manuel J. Coelho e Silva, Nikos Chatzisarantis, Martin J. Lee, Jaume Cruz

Page 51: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 38–49 49

34. Weiss M, Smith A (2002). Moral development in sport andphysical activity: theory, research, and intervention. In T.Horn (Ed.) Advances in Sport Psychology. Champaign, Il.:Human Kinetics, 243-280.

35. Whitehead J, Lee M, Hatzigeorgiadis (2003). Goal orienta-tions as mediators for the personal value system. Journalof Sport Sciences 21: 4.

36. Williams J, Jerome G, Kenow L, Rogers T, Sartain T,Darland G (2003). Factor structure of the coaching beha-vior questionnaire and its relationship to athlete variables.The Sport Psychologist 17: 16-34.

Tradução do Sport Attitudes Questionnaire

Page 52: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 50–5450

Efeitos do intervalo pós-conhecimento de resultados na aquisição do arremesso da Bocha

Márcio M. Vieira1,3,4

Fernando C. M. Ennes1,4

Guilherme M. Lage1,2,5

Leandro R. Palhares1

Herbert Ugrinowitsch1

Rodolfo N. Benda1

1 Universidade Federal de Minas GeraisEscola de Educação Física, Fisioterapia e TerapiaOcupacional, Grupo de Estudos em Desenvolvimento eAprendizagem Motora, Belo Horizonte, Brasil

2 Universidade Fumec, Brasil3 Centro Universitário de Belo Horizonte, Brasil4 Universidade Estácio de Sá, Brasil5 Faculdades Unidas do Norte de Minas Gerais, Brasil

RESUMO

Com o objetivo de verificar os efeitos do intervalo após o for-necimento do conhecimento de resultados na aquisição doarremesso da bocha, trinta e seis universitários foram separa-dos, formando três grupos: sem intervalo pós-conhecimento deresultados, intervalo de 5 segundos de pós-conhecimento deresultados e intervalo de 10 segundos de pós-conhecimento deresultados. A tarefa consistiu em arremessar uma bola em dire-ção a um alvo circular posicionado no chão, com o objetivo deatingir um círculo no centro do alvo, que recebia a pontuação6. A cada 10 cm do círculo central, uma nova área foi delimita-da e decrescia em um ponto recebendo a área mais externa apontuação 1. O experimento foi dividido em fase de aquisição(120 tentativas a 6,5 m de distância) e testes de Transferência 1(10 tentativas sem conhecimento de resultados), Transferência2 e 3 (10 tentativas cada sem conhecimento de resultados a 7,5m). Não foram observadas diferenças estatísticas na análise damédia do escore e do coeficiente de variação, não caracterizan-do efeito do intervalo pós-CR sobre a aprendizagem de habili-dades motoras na condição utilizada.

Palavras-chave: aprendizagem motora, feedback, conhecimento deresultados.

ABSTRACT

Effects of Results’ Post-Knowledge Interval in the Acquisition of the Bocce Throw

Aiming to verify the post-knowledge of results interval effects in theacquisition of the bocce throw, thirty-six college students of both sexeswere separated in three groups: no post- knowledge of results interval,5-seconds post- knowledge of results interval and 10-seconds post-knowledge of results interval. The task consisted of throwing a balltowards a circular target positioned in the floor aiming to reach a circlein the center of the target, which received score 6. A new area wasdemarcated at each 10 cm of the central circle and decreased in onepoint receiving score 1 in the more external area. The experiment wasdivided in acquisition phase (120 trials at 6.5 m distance) and trans-fer test 1 (10 trials without knowledge of results at the same dis-tance), transfer tests 2 and 3 (10 trials each one without knowledge ofresults at 7.5 m distance). Statistical differences were not observed inmean scores and coefficient of variation, that didn’t determine theeffect of the post-knowledge of results interval on learning motor skillsin the condition used.

Key Words: motor learning, feedback, knowledge of results.

Page 53: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 50–54 51

INTRODUÇÃOA manipulação da informação do conhecimento deresultado (CR), quanto ao aspecto temporal, produztrês intervalos: pré-conhecimento de resultado,intervalo entre o término da tarefa e a apresentaçãodo conhecimento de resultados (12); pós-conheci-mento de resultado, intervalo de tempo entre a apre-sentação do conhecimento de resultados e a próximatentativa (10); e o intervalo inter-tentativas, quesepara uma resposta da tentativa seguinte (10).A dificuldade de se isolar os intervalos do conheci-mento de resultados tem produzido evidências con-traditórias quanto ao efeito das variáveis que se rela-cionam ao seu tempo de apresentação (9, 13, 14).Por exemplo, quando se mantém constante o inter-valo pré-conhecimento de resultado e se manipula ointervalo pós-conhecimento de resultado tem-seduas variáveis de influência (9), pois se altera ointervalo inter-tentativas. Essa característica dotempo de apresentação do conhecimento de resulta-do constitui uma limitação metodológica.Bilodeau e Bilodeau (3) sugeriram que intervalosinter-tentativas mais longos ocasionavam decrésci-mo na aprendizagem. No entanto, estudos com uti-lização de testes de transferência em seus desenhosexperimentais mostraram que o aumento do inter-valo inter-tentativas ocasionou uma melhoria naperformance (9). Ao se estudar o intervalo inter-tentativas, verificou-se que o intervalo pós-conheci-mento de resultado é a única variável a interferir nodesempenho (2).O intervalo pré-conhecimento de resultados tem opapel de fortalecer o feedback intrínseco (informaçãorecebida de fontes internas como a audição, proprio-cepção, visão e outros), pois oferece ao indivíduotempo para analisar a tentativa executada (12). Nointervalo pós-conhecimento de resultado é concedi-do ao sujeito um período de tempo para que oconhecimento de resultado seja processado, a fim defacilitar a performance subseqüente (4). Nesse inter-valo, são comparados o feedback intrínseco e o conhe-cimento de resultado. No geral, os resultados têmmostrado que o intervalo pós-conhecimento deresultado é determinante para aquisição de habilida-des (8, 9, 15), podendo afetar a performance deforma mais efetiva que o intervalo pré-conhecimentode resultado. A duração do intervalo pós-conheci-

mento de resultado depende da complexidade datarefa, da natureza do feedback e da questão dademanda de cognição (9, 2). Sobre a demanda decognição, se os intervalos forem curtos não propor-cionam tempo suficiente para analisar o conheci-mento de resultado e planejar a nova tentativa, e selongos podem causar o esquecimento dos pontos-chave da habilidade (15), o que sugere um pontointermediário na extensão desses intervalos. Os intervalos estudados variam desde 1 segundo(15) até 1 hora (3), sendo que 5, 6 e 10 segundossão aqueles que apresentam melhores desempenhos(5, 6, 8, 15). Apesar das crianças precisarem demaiores intervalos que adultos para alcançar amesma performance, Gallagher e Thomas (4) suge-riram que não fosse maior que 12 segundos.Todavia, outros fatores podem interferir nesse inter-valo, o que impede que seu tempo seja estabelecidocom precisão.Em sua maioria, os estudos sobre o intervalo pós-conhecimento de resultado apresentaram apenasfase de aquisição, e indicaram que intervalos maislongos, maiores que 5 segundos, produzirammelhores efeitos sobre a performance (3, 8, 15),quando comparados a intervalos mais curtos (13,14). Segundo Travlos e Pratt (14), o número deestudos com teste de retenção em seu desenhoexperimental é reduzido e, desses, apenas Magill (6)encontrou diferenças nos efeitos da variação dosintervalos entre curtos (5 segundos) e longos (20segundos), o que dificulta uma análise mais profun-da do efeito do intervalo pós-conhecimento deresultado. Some-se a essa inconsistência nos resul-tados a própria dificuldade em assumir um intervalode tempo preciso, passível de generalização semuma devida consideração às características da tarefae da natureza do feedback (7).Apesar de Magill (7) apresentar evidências que ofeedback aumentado, informação recebida de fontesexternas (9), pode ser suprimido, mesmo se tratan-do de tarefas presentes em situações com maiorcomplexidade que as tarefas de laboratório, Becker(1) ressalta que o uso de tarefas de maior complexi-dade parece ser o componente necessário para evi-denciar a real influência do efeito da variação dointervalo pós-conhecimento de resultados sobre aaquisição de habilidades motoras.

Pós-conhecimento de resultados e aquisição motora

Page 54: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 50–5452

Assim, este estudo tem como objetivo verificar ainfluência do intervalo pós-conhecimento de resulta-do na aquisição de uma tarefa complexa em situaçãoreal de ensino-aprendizagem.

MATERIAIS E MÉTODOParticiparam do estudo 36 universitários voluntáriosde ambos os sexos, com idade média de 24,83 +3,94 anos. Utilizou-se como tarefa o arremesso dabocha, um jogo de origem européia que utiliza umabola de material sintético e maciço com peso entre1400 e 1700 gramas e diâmetro de 10 a 12 centíme-tros, a qual é chamada de bocha e dá nome ao jogo.Na tarefa em questão o “bolim” (bola de menor cir-cunferência que é utilizada como alvo no jogo) foitrocado por um alvo circular com seis círculos queaumentavam em 10 cm de raio. Esses círculos forampontuados de forma decrescente do círculo central(valor 6) ao mais externo (valor 1). O alvo aindacontinha duas retas que se cruzavam formando umX, e assim dividindo o alvo em quatro áreas triangu-lares, à frente, atrás, à esquerda e à direita e tinhamo papel de informar a direção do erro. O conheci-mento de resultado utilizado foi descritivo, sendoem magnitude e direção, respectivamente. Os sujei-tos foram divididos aleatoriamente em três grupos(n=12): sem pós-conhecimento de resultado (SI), 5segundos de pós-conhecimento de resultado (I5) e10 segundos de intervalo pós-conhecimento deresultado (I10). Na fase de aquisição, os sujeitospraticaram 120 tentativas posicionados a 6,5 metrosda extremidade do alvo e, após 3 minutos, foi reali-zado o Teste de Transferência 1, com 10 tentativas.Em seguida foi aplicado o Teste de Transferência 2,com o arremesso sendo realizado a 7,5 metros dedistância da extremidade do alvo. O Teste deTransferência 3 foi aplicado após 10 minutos do tér-mino do Teste de Transferência 1, também com 10tentativas. Não foi fornecido conhecimento de resul-tado nos testes. Na realização de cada arremesso,uma cortina posicionada a um metro do sujeito eraabaixada assim que a bola a ultrapassava, impedindoa visão do resultado do arremesso. O presente estudo foi submetido ao comitê de éticada Universidade Federal de Minas Gerais e aprovadosob o parecer numero 158/03.

RESULTADOSEm relação à média do escore, os grupos experimen-tais apresentaram desempenho semelhante na fasede aquisição e nos testes (Tabela 1). Observou-semanutenção do desempenho no Teste deTransferência 1 e queda no desempenho nos Testesde Transferência 2 e 3.

Tabela 1: Média do escore e coeficiente de variação dos grupos experimen-tais, em blocos de 10 tentativas, para a fase de aquisição e testes.

Uma ANOVA two-way (3 grupos x 12 blocos de ten-tativas) com medidas repetidas no último fator foiconduzida para a análise da fase de aquisição. Nãofoi encontrada diferença entre grupos (F2,33=1,09,p=0,347) ou na interação entre grupos e blocos detentativas (F22,363=0,71, p=0,834). No entanto,observou-se diferença entre blocos de tentativas (F11,

22=7, 15, p<0,001) e o teste de Tukey indicou dife-renças significantes (p<0,05) do 1º para o 6º, 7º, 8º,10º, 11º e 12º blocos de tentativas; do 2º bloco parao 7º, 10º e 11º blocos de tentativas; e do 3º blocopara o 11º bloco de tentativas. Outra ANOVA two-

Márcio M. Vieira, Fernando C. M. Ennes, Guilherme M. Lage, Leandro R. Palhares, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

Page 55: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 50–54 53

way (3 grupos x 4 blocos) com medidas repetidas noúltimo fator foi realizada para o último bloco da fasede aquisição e os testes. Os resultados não mostra-ram diferença no fator grupos (F2, 33=1, 31,p=0,283) e na interação entre grupos e blocos detentativas (F6, 99= 0,99, p=0,432). Observou-se dife-rença entre blocos de tentativas (F3, 6= 10,29,p=0,01). O teste de Tukey indicou queda do desem-penho entre o último bloco de tentativas da fase deaquisição para os Testes de Transferência 2(p<0,001) e Transferência 3 (p<0,001), e do Testede Transferência 1 com os Testes de Transferência 2(p<0,01) e Transferência 3 (p<0,01). Foi utilizado o coeficiente de variação como medidade variabilidade. Uma ANOVA two-way (3 grupos x12 blocos de tentativas) com medidas repetidas noúltimo fator foi conduzida na fase de aquisição. Nãofoi encontrada diferença nos resultados no fator gru-pos (F2,33= 1,34, p=0,27), entre blocos de tentativas(F11, 22= 1,02, p=0,46) e na interação entre grupos eblocos (F22,363= 1,48, p=0,08). Uma outra ANOVAtwo-way (3 grupos x 4 blocos de tentativas) commedidas repetidas no último fator foi realizada entreo último bloco da aquisição e os testes, a qual nãoencontrou diferença no fator grupos (F2,33=0,8,p=0,46), entre blocos de tentativas (F2,66=0,07,p=0,93) e na interação entre grupos e blocos de ten-tativas (F4,66=0,89, p=0,48) (tabela 1).

DISCUSSÃO E CONCLUSÕESOs resultados encontrados corroboram as conclusõesde Bilodeau e Bilodeau (3), Simmons e Snyder (11)e Godinho e Mendes (5), de que não houve efeitopositivo do aumento do intervalo pós-conhecimentode resultado na aquisição de habilidades motoras.Todavia, o arremesso da bocha, como outras tarefasdo mundo real, apresenta algumas particularidades.Dentre essas, o intervalo de tempo entre o términoda execução do lançamento e o momento em que abola pára. Esse tempo representa um intervalo ante-rior ao próprio pré-conhecimento de resultado. Otempo do intervalo pré-conhecimento de resultadofoi controlado, todavia o tempo que a bola demoravaa parar poderia também levar a um fortalecimentodo feedback intrínseco, o que diminuiria a necessida-de do intervalo pós-conhecimento de resultado. Essefenômeno pode ter levado os grupos a desempenhos

semelhantes (12). É importante considerar, ainda,que o desempenho parece ter sido influenciado poruma questão metodológica, relacionada à baixa pre-cisão de informação das tentativas nulas. Quando atentativa não recebia pontuação, não houve referên-cia da distância em relação ao alvo, ou seja, o escorezero não permitia diferenciar um arremesso maispróximo de outro mais distante.Becker (1) relaciona o aumento da complexidade datarefa como um dos fatores para melhor evidenciar ainfluência do intervalo pós-conhecimento de resulta-do. No presente estudo, a complexidade da tarefaestá sendo analisada ao comparar o arremesso dabocha com tarefas tradicionais de laboratório, queenvolvem menor número de graus de liberdade.Mesmo o arremesso da bocha, sendo consideradouma tarefa mais complexa que as utilizadas tradicio-nalmente em laboratório, não foi suficiente para con-firmar a sugestão de Becker (1). Em suma, a influên-cia do intervalo pós-conhecimento de resultados naaquisição do arremesso da bocha não foi confirmada,o que leva a sugerir novos estudos com medidasmais precisas, de modo a aumentar a precisão dainformação. Por exemplo, o erro absoluto medidoem centímetros e a escolha de tarefas nas quais sepossa isolar os intervalos de tempo mais claramente,como arremessos e chutes com características dehabilidades balísticas, nos quais o objeto impulsio-nado chega rapidamente ao seu destino.

CORRESPONDÊNCIAMárcio M. VieiraRua São João 772 A, Água Branca32371-100 Contagem, Minas GeraisBRASIL [email protected]

Pós-conhecimento de resultados e aquisição motora

Page 56: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 50–5454

REFERÊNCIAS 1. Becker P.W. (2000). Are simple line-length estimation

tasks productive for examining temporal locus of knowled-ge of results? Perceptual and Motor Skills 91: 801-802.

2. Becker P.W., Mussina C.M. & Persons R.W. (1963).Intertrial interval delay of knowledge of results, and motorperformance. Perceptual and Motor Skills 17: 559-563.

3. Bilodeau E.A. & Bilodeau I.M. (1958) Variable frequencyknowledge of results and the learning of a sample skill.Journal of Experimental Psychology 55: 379-383.

4. Gallagher J.D. & Thomas J.R. (1980) Effects of varyingpost-KR intervals upon children’s motor performance.Journal of Motor Behavior 12: 41-56.

5. Godinho M. & Mendes R. (1996) Aprendizagem Motora:informação de retorno sobre o resultado. Lisboa: Edições FMH.

6. Magill R.A. (1988) Activity during the post-knowledge ofresult interval can benefit motor skill learning. In O.G.Meijer & K. Roth (Eds.) Complex Motor Behavior: ‘The’motor-action controversy. Amsterdam: Elsevier, 231- 246.

7. Magill R.A. (1994) The influence of augmented feedbackon skill learning depends on characteristics of the skill andthe learner. Quest 46: 314-327.

8. Ramella R.J. (1983) Processing, knowledge of results, anda multi-dimensional task. Perceptual and Motor Skills 57: 43-48.

9. Salmoni A.W., Schimdt R.A. & Walter C.B. (1984)Knowledge of results and motor learning: a review and cri-tical reappraisal. Psychological Bulletin 95: 355-386.

10. Schimdt R.A. (1988) Motor control and learning: a behavioralemphasys. (2nd ed.) Champaign, Il: Human Kinetics.

11. Simmons R.W. & Snyder R.J. (1983) Variation of temporallocus of knowledge of results: effects on motor performan-ce of a simple task. Perceptual and Motor Skills 56: 399-404.

12. Swinnen S.P., Schimdt R.A., Nicholson D.E. & ShapiroD.C. (1990). Information feedback for skill acquisition:instantaneous knowledge results degrades learning. Journalof Experimental Psychology: Learning, Memory and Cognition16: 706-716.

13. Travlos A.K. (1999) Re-examining the temporal locus ofknowledge of results (KR): A self-paced approach to lear-ning. Perceptual and Motor Skills 89: 1073-1087.

14. Travlos A.K. & Pratt J. (1995). The temporal locus of kno-wledge of results: a meta-analytic review. Perceptual andMotor Skills 80:3-14.

15. Weinberg D.R., Guy D.E. & Tupper R.W. (1964).Variations of post feedback interval in simple motor lear-ning. Journal of Experimental Psychology 67: 98-99.

Márcio M. Vieira, Fernando C. M. Ennes, Guilherme M. Lage, Leandro R. Palhares, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

Page 57: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–64 55

Análise da carreira desportiva de atletas das regiões sul e sudeste do Brasil. Estudo dos resultados desportivos nas etapas de formação

Cristina Cafruni1

António Marques2

Adroaldo Gaya3

1 Faculdades Integradas FacvestCurso de Educação FísicaLages, SCBrasil

2 Universidade do PortoFaculdade de DesportoPortugal

3 Universidade Federal do Rio Grande do SulEscola Superior de Educação FísicaPorto AlegreBrasil

RESUMO

A exigência de resultados elevados em desportistas em proces-so de formação tem sido amplamente questionada na literatura.De acordo com os especialistas, os resultados só devem servalorizados na última das três etapas do período de formação.Com efeito, a utilização de estratégias tendo em vista a obten-ção de resultados nas fases iniciais prejudicaria a obtenção deresultados elevados na etapa de alto rendimento. Neste senti-do, o objetivo principal deste estudo foi verificar se atletas queatingiram resultados elevados no desporto de alto nível já apre-sentavam resultados relevantes durante os períodos de forma-ção. A amostra foi constituída por 165 atletas de alto nível, dasregiões sul e sudeste do Brasil, que faziam desporto em seismodalidades - ginástica olímpica, ginástica rítmica, natação,tênis, voleibol e futsal. A informação sobre os resultados obti-dos durante as três etapas da formação desportiva propostaspor Platonov, foi recolhida através de consultas às federações eda aplicação de um questionário aos atletas. O estudo permitiuconcluir que: a) os atletas demonstraram um baixo percentual(27,5%) de altos resultados na primeira etapa, um percentualacima do esperado (67,3%) na segunda etapa, e um elevadopercentual (87,3%) na terceira etapa; b) a comparação entre asmodalidades revelou diferenças significativas (p<0,05) na pri-meira e na segunda etapas, todavia, na terceira etapa, os resul-tados indicaram grande relevância em todos os desportos.

Palavras-chave: treino, competição, crianças e jovens, resultadosdesportivos, treinamento a longo prazo.

ABSTRACT

The Importance of Sport Results During the Long-Term’s AthleteDevelopment. A Study with High Level Brazilian Athletes

The demand for high performances in young athletes is broadly ques-tioned in literature. According to training experts, results should beunderstood as relevant only during the last stage of the long-term’sathlete development. The use of strategies focused on results during theinitial stages of the long-term’s athlete development may reduce thepossibilities of achieving good results during the advanced stages ofhigh level sport. Therefore, the main purpose of this study was to veri-fy, retrospectively, if high level athletes did present relevant results dur-ing the initial phases of training and competition. Sample size consist-ed of 165 high-level Brazilian athletes of Olympic gymnastics, rhyth-mic gymnastics, swimming, tennis, volleyball, and indoor soccer.Information concerning the results during the three phases of the long-term’s athlete development was obtained by consulting sport federa-tions documents and through a questionnaire. We concluded that a)athletes showed a low percentage (27,5%) of relevant results duringthe first stage of their training process, higher than hypothesized per-centage (67,3%) during the second stage, and an highest percentage(87,3%) during the third stage; b) comparison between sports revealedsignificant differences (p<0,05) during the first and the second stages;c) during the third stage, competitive results presented high relevancefor all sports.

Key Words: training, competition, children and youth, sports results,long-term’s athlete development.

Page 58: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–6456

INTRODUÇÃOÉ consensual a idéia de que a carreira dos atletasdeve ser fruto de um planejamento extremamenteminucioso, onde os resultados absolutos estão noápice dos objetivos (25, 26, 39). As questões ineren-tes a este planejamento estão diretamente relaciona-das ao percurso do jovem atleta e envolvem, entreoutros fatores, o treinamento e as competições. Umerro nesta preparação pode refletir-se posteriormen-te nos resultados obtidos pelos atletas (30).O período entre a iniciação desportiva e o desportode alto rendimento é designado pela teoria do treina-mento desportivo como um período de formação,onde se procura desenvolver bases que permitam aosatletas alcançar, futuramente, os tão esperados resul-tados. A chamada “Preparação Desportiva a LongoPrazo” (PDLP), explorada por diversos autores, temcomo objetivos principais promover a elevação pro-gressiva das exigências do treinamento, de maneira aobter uma melhora constante da capacidade de ren-dimento, e obter a máxima eficiência em uma deter-minada idade (44).Nos modelos de PDLP estudados, são estabelecidasvárias etapas de treinamento, cada qual com objeti-vos pré-definidos. Com alguma variação em relaçãoao número de etapas (43), a maioria dos autores (3,6, 15, 19, 26, 31, 32, 37, 47) estabelece esta divisãoem três fases precedentes ao alto rendimento. Paracada etapa, é determinada uma margem de idade quevaria conforme o desporto e o sexo. Na abordagemda PDLP a preocupação com a obtenção de altosresultados (AR) só deve iniciar-se na última fase daformação desportiva, a terceira etapa, e culmina nafase do alto rendimento (6, 15, 26, 32, 37, 44, 47).No entanto, muitas vezes estas orientações aparen-tam ser contraditórias com a prática.Freqüentemente, tem-se assistido a um tratamentode iguais proporções: pequenos atletas são treinadospara campeonatos mirins e infantis como se depen-dessem destas vitórias para o sucesso futuro. E,muitas vezes, se faz dos jovens campeões um prog-nóstico para repetir o sucesso na categoria adulta,quando não menos de uma década os separa desta.Esta sobrevalorização dos resultados dos jovens atle-tas faz-nos questionar a sua validade (38). Se osmodelos de preparação deixam explícito que resulta-dos significativos só devem surgir a partir da catego-ria imediatamente anterior ao alto rendimento, seráque existe algum sentido deles ocorrerem antes?

A preocupação em evitar-se os AR prematuros nosjovens ocorre devido às conseqüências que estespodem trazer à carreira do atleta. Por serem geral-mente fruto de uma preparação forçada (25, 47), osAR adquiridos pelos atletas no período de formaçãosão objeto de duas críticas principais: a primeira, é apossibilidade de provocarem um esgotamento preco-ce das reservas de adaptação do jovem atleta (7, 37)e, a segunda, relaciona-se com a ausência do traba-lho de base essencial para se obterem resultados dealto nível na idade adulta, devido à orientação exclu-siva para as vitórias durante o processo de formação(11, 34, 28, 45). São duas situações indesejáveis, porpossibilitarem ora uma estabilização dos resultadosantes das categorias adultas (47), ora uma carreiradesportiva reduzida (4).Na abordagem deste tema, observamos que poucosestudos evidenciam a associação entre os elevadosgraus de exigência precoce e as influências que estespodem provocar na carreira dos atletas. Um exemploé a pesquisa de Barynina e Vaitsekhovskii (4), ondese demonstra que os nadadores que se especializarammais cedo permaneceram um tempo menor no des-porto de alto rendimento. Na investigação de Paes(36) somente 25% de uma amostra de basquetebolis-tas de elite (n=27) iniciaram antes dos 12 anos deidade, indicando, obviamente, que antes desta faixaetária os atletas não obtiveram resultados em compe-tições. Um estudo de caso sobre a trajetória de umtalento desportivo demonstrou que o progresso doatleta foi gradativo, sem recordes em categorias infe-riores (43). Na pesquisa de Brito et al. (8), emboraainda em andamento, evidencia-se que apenas umreduzido número de atletas que se destacaram emcategorias inferiores no atletismo conseguiu reprodu-zir os mesmos resultados na categoria sênior.Contudo, a literatura desportiva ainda necessita dedados empíricos que nos permitam uma maior com-preensão do problema, de maneira a dar aos resulta-dos a importância que eles merecem. Faz-se necessá-rio uma maior reflexão sobre o direcionamento dotreinamento de crianças e jovens que participam deprogramas no desporto de rendimento, uma vez quea orientação adequada é determinante para se atingiro desporto de alto rendimento.O objetivo principal desta investigação foi verificarse os atletas dos desportos estudados, nomeadamen-te ginástica olímpica, ginástica rítmica, natação,tênis, voleibol e futsal apresentaram AR enquanto

Cristina Cafruni, António Marques, Adroaldo Gaya

Page 59: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–64 57

pertenciam às categorias iniciais de formação des-portiva. Em um segundo momento, objetivou-se: a)observar as manifestações dos AR por modalidadeem cada etapa da PDLP; b) analisar a manifestaçãodos resultados, inferindo a partir de que momentoeles podem auxiliar no prognóstico da carreira dosatletas. Este estudo contempla os atletas do sul esudeste do Brasil, por constituirem regiões deexpressividade no desporto nacional.

MATERIAL E MÉTODOSAmostraA amostra do presente estudo foi constituída por165 atletas das regiões sul e sudeste do Brasil. Sãotodos desportistas que se destacaram nas competi-ções nacionais mais importantes entre os anos de1998 e 2002. Com o cuidado de não incluir na amos-tra atletas que ainda não fizessem parte do últimoestágio de preparação desportiva, adotou-se o limitemínimo de idade (LMI) estabelecido por Platonov(37) na última fase de preparação, a etapa de realiza-ção dos máximos resultados. A distribuição dos atletas por modalidade foi aseguinte: Ginástica Olímpica n=17; GinásticaRítmica n=10; Natação n=69; Tênis n=16; Voleiboln=40 e Futsal n=13. Cabe salientar que 62% daamostra foi composta por atletas de seleção nacio-nal, caracterizando desportistas de nível elevado.

Definição de critérios para determinar os altos resultados (AR) nas etapas de formaçãoConforme o objetivo principal deste estudo, foinecessário estabelecer critérios que permitissem con-siderar os resultados mais significativos nas catego-rias de formação de cada desporto, a fim de identifi-car os atletas que obtiveram altos rendimentos. Paraeste fim, foram consultados cinco treinadores de cadamodalidade, que satisfizessem a condição de partici-par e vivenciar, juntamente com seus atletas, os cam-peonatos estaduais e nacionais. A estes treinadoresperguntámos quais os resultados que permitem dife-renciar os jovens atletas, permitindo-lhes ocupar umaposição de destaque no meio desportivo. Em outraspalavras, buscámos aqueles resultados que se dife-renciam da média e que, de certa maneira, obrigam aque os atletas sejam sujeitos a um treino intensivo,com objetivo de alcançar determinada colocação. Deacordo com os pareceres dos peritos, e utilizando o

método de validação por consenso, foi possível esta-belecer os critérios descritos no quadro 1.

Quadro 1: Critérios adotados para a definição de altos resultados desportivos nas etapas de formação.

Desporto CritérioGinástica Olímpica Até a 6ª colocação no Campeonato

Brasileiro Infantil, Infanto-Juvenil e Juvenil.Ginástica Rítmica Até a 6ª colocação no Campeonato

Brasileiro Infantil, Infanto-Juvenil e Juvenil.Natação Até a 8ª colocação no Campeonato

Brasileiro Infantil, Juvenil e Júnior. Tênis Até a 10ª colocação no Ranking Brasileiro

Infanto-Juvenil.Voleibol Campeonatos estaduais: até a 3ª colocação

e/ou Convocações para seleções estaduaise nacionais.

Futsal Campeonatos estaduais: até a 3ª colocaçãoe/ou Convocações para seleções estaduaise nacionais.

A diferenciação dos critérios entre as modalidadesdeve-se à heterogeneidade dos desportos, uma vezque cada um possui uma diferente realidade comrelação aos campeonatos infanto-juvenis. Podemosobservar que em algumas categorias de alguns des-portos, por exemplo, não existem muitas equipesparticipando dos campeonatos, o que torna relativa-mente fácil se manter no topo das colocações. Poreste motivo, os treinadores da Natação, GinásticaOlímpica e Ginástica Rítmica utilizaram-se de crité-rios referenciados a campeonatos nacionais. Já ostreinadores do Voleibol e do Futsal alargaram os cri-térios, abrangendo também as três primeiras coloca-ções em campeonatos estaduais, por entenderemque estes campeonatos são de um nível elevado nosestados os quais pertencem os atletas da amostra.

Delimitação das idades entre as etapas da PDLPPara a comparação entre os AR durante as etapas daPDLP utilizámos o modelo de Platonov (37). Comoesta proposta não apresentou as modalidadesVoleibol e Tênis, para o primeiro utilizaram-se asmesmas idades do Handebol, e para o segundo ado-tou-se o modelo de Bompa (6) (Quadro 2). O proce-dimento consistiu em verificar se os atletas, quandoestavam na faixa etária de cada etapa, atingiram ocritério pré-estabelecido que representa AR.

Os resultados desportivos nas etapas de formação

Page 60: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–6458

Quadro 2: Delimitação das idades entre as etapas da PDLP. Adaptado de Platonov (1994) e Bompa (2000).

Desporto 1ª etapa 2ª etapa 3ª etapaGinástica Olímpica (fem./masc.) 6-8 /8-10 anos 9-10/11-13 anos 11-13/14-15 anosGinástica Rítmica (fem.) 6-8 anos 9-10 anos 11-13 anosNatação (fem./masc.) 8-11/9-13 anos 12-14/14-16 anos 15-16/17-18 anosTênis (fem./masc.) 6-11/6-12 anos 12-14/13-15 anos 15-17/16-18 anosVoleibol (fem./masc.) 11-14/12-15 anos 15-16/16-18 anos 17-19/19-20 anosFutsal (masc.) 11-15 anos 16-18 anos 19-20 anos

Coleta de dadosOs dados que se referem aos resultados dos atletasde Ginástica Olímpica, Ginástica Rítmica, Natação eTênis foram obtidos com ajuda das respectivas fede-rações e confederações. Através da análise de docu-mentos oficiais dos campeonatos, foi possível verifi-car as colocações dos atletas.Como os critérios para os AR do Voleibol e doFutsal implicavam em informações sobre os campeo-natos estaduais e, portanto, percorrer todo o Brasil,uma vez que os atletas pertenciam a diferentes esta-dos, recorreu-se a outro procedimento. Foi elaboradoum questionário com o objetivo de verificar os resul-tados dos atletas ao longo de suas carreiras e aplica-do aos jogadores durante a Superliga deVoleibol/2001 e a Liga Futsal/2002. Para a elabora-ção deste instrumento utilizou-se o método de vali-dação por consenso entre os especialistas, abrangen-do um professor universitário com título de doutor edois treinadores do desporto específico.

Procedimentos estatísticosPara a análise dos AR nas três etapas recorreu-se aosprocedimentos da Estatística Descritiva, através daporcentagem de AR em cada etapa da PDLP. O testedo Qui-Quadrado foi utilizado para verificar se ocomportamento dos resultados entre as modalidadesfoi diferente do demonstrado na amostra total. Oprograma estatístico utilizado foi o SPSS 9.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃOPercentagem de altos resultados (AR) no conjunto dasmodalidades desportivas1 durante as três primeiras eta-pas da PDLP

Cristina Cafruni, António Marques, Adroaldo Gaya

Na Figura 1 observa-se que apenas 27,5% dos atletasapresentaram AR enquanto pertenciam à primeiraetapa de preparação, contra 67,3% na segunda etapae 87,3% na terceira etapa.

Figura 1: Percentagem de altos resultados nas modalidades desportivas durante as etapas da PDLP.

A primeira observação que nos cabe, em relação aosaltos resultados (AR) dos desportistas durante operíodo de formação, é verificada através da dinâmicaascendente durante as três etapas da preparação des-portiva. Neste sentido, confirma-se um dos principaisobjetivos da PDLP, referido por Weineck (44) e Harre(16), que está resumido na elevação progressiva dasexigências do treino, de maneira a obter-se umamelhora constante da capacidade de performance.Martin (31) diz que a estrutura da PDLP deve conterum programa de treino em perspectiva para crianças ejovens, com base na aquisição gradual dos elementosda modalidade praticada. O peso dos resultados nas

Page 61: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–64 59

três primeiras etapas da PDLP parece seguir o princí-pio da especialização crescente, ao tornar-se mais rele-vante quando se aproxima do alto nível desportivo.O fato de que apenas 27,5% dos atletas apresenta-ram altos resultados durante a primeira etapa daPDLP parece demonstrar que a maioria dos despor-tistas foi orientada de acordo com os objetivos quenorteiam esta fase e que, portanto, excluem a exi-gência da obtenção de resultados (6, 11, 31, 32, 47).Durante este período a preocupação deve orientar-separa as tarefas que dizem respeito à formação dosatletas (26), sendo esta subordinada ao treinamentomultilateral (31), que não cria condições para o apa-recimento de êxitos imediatos (33). A presente pesquisa encontrou semelhanças com osachados de Paes (36), onde somente 25% dos atle-tas da elite do basquetebol brasileiro iniciaram aprática competitiva antes dos 12 anos de idade,embora a pesquisa do autor não tenha se detido àquantificação dos resultados destes atletas. Tambémestá de acordo com estudo de Nagorni (apud Bompa(6), onde os atletas bem sucedidos em categoriasadultas não demonstraram ser campeões nacionaisquando menores. No entanto, o grupo de atletas que apresentou altosresultados já na primeira etapa da PDLP atingiu oalto nível posteriormente, contrariando a idéia deque os AR no início do treinamento dos jovens pos-sam impedir os altos rendimentos na idade adulta. Éprovável que estes atletas constituam exceções jáprevistas por Platonov (37). Também cabe mencio-nar que as possíveis diferenças maturacionais apre-sentadas pelos atletas podem refletir-se nos resulta-dos obtidos (22). Contudo, não possuímos dadossubstanciais que permitam uma análise mais apro-fundada sobre os mesmos. Quando nos deparamos com os AR durante a segun-da etapa da PDLP, representada por 67,3% dos atle-tas, consideramos os valores altos em contraste comos objetivos indicados pela PDLP relativos a estafase. O conteúdo desta etapa é direcionado para odesenvolvimento dos fundamentos básicos da moda-lidade, e mesmo que este conduza a um aumento dapreparação especial, ele não deve ainda ser signifi-cante para produzir AR (5, 26, 37, 47). Destacamos,ainda, que a atividade competitiva neste período

deve ter um caráter auxiliar e apresentar um progra-ma simplificado (15, 47). No entanto, sabemos queos critérios adotados para a definição de AR nestaetapa incluem as primeiras colocações em campeo-natos brasileiros e, em alguns casos, estaduais. Estescritérios, por incluírem campeonatos altamente dis-putados e de bom nível, exigem que o atleta sejaorientado para os regulamentos impostos pelo siste-ma de competições. Em outras palavras, dificilmenteo atleta obterá AR se não for exclusivamente prepa-rado para tal, sugerindo que a preparação dos atletasna segunda etapa da PDLP foi predominantementeorientada para a obtenção de AR.A última etapa da PDLP demonstrou que os atletasapresentaram um elevado percentual de AR, repre-sentado por 87,3% da amostra. Este período daPDLP é marcado por uma especialização aprofunda-da, em que o treinamento visa o rendimento emuma atividade competitiva (5, 26, 37). Nestemomento são definidas as orientações referentes àsposições ou provas do atleta, e as competições seaproximam ao número das ocorridas durante a últi-ma etapa (32, 47). Com base nestes princípios,podemos concluir que a maioria dos atletas não sedistanciou dos objetivos, ao demonstrarem AR nestafase. Outro fator que pode explicar a forte presençade AR neste período, é a existência da zona dos pri-meiros altos êxitos (15, 38), que pode ser definidacomo o momento em que alguns resultados come-çam a surgir, mesmo que estes não correspondamaos melhores resultados da carreira do atleta.Ao analisarmos os AR, no sentido de determinar seeles podem significar um prognóstico para o altonível, podemos conduzir algumas conclusões.Alguns autores referem que muitos atletas adultosnão foram campeões quando crianças e jovens (1, 6,11, 15), o que foi amplamente comprovado nesteestudo em relação à primeira etapa da PDLP, onde72,5% dos desportistas não apresentaram AR.Muitos autores (6, 15, 24, 26, 27, 35, 41) relatamque os resultados de crianças e jovens não sãogarantia de futuros êxitos. Contudo, poucas pesqui-sas mencionam o momento a partir do qual os resul-tados dos jovens atletas podem constituir um instru-mento relevante para auxiliar na questão do prog-nóstico. Em alguns casos verificou-se uma alta corre-

Os resultados desportivos nas etapas de formação

Page 62: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–6460

lação apenas dois anos antes dos resultados absolu-tos (13), ou na categoria anterior ao alto rendimento(18). Outra situação demonstrou que a proximidadecom a categoria adulta aumenta a presença de resul-tados (7). Concluímos que a presente pesquisaapresentou semelhanças com as referências, ao indi-car que 87,3% dos atletas obtiveram AR na terceiraetapa da PDLP, portanto, alguns anos antes da etapado alto rendimento. Em resumo, podemos dizer queos AR apresentados pelos atletas do nosso estudo,durante a terceira etapa da PDLP, constituem uminstrumento importante no auxílio ao prognósticopara o alto nível. Por outro lado, os AR na primeiraetapa da PDLP não demonstraram ser relevantes emrelação à questão do prognóstico.

Percentagem de altos resultados por desporto durante a primeira etapa da PDLP A Figura 2 aponta que o Tênis foi o desporto queapresentou o maior percentual de vencedores(68,8%) durante a primeira etapa, seguido doVoleibol (32,5%) e da Natação (20,3%). Os atletasde Futsal não demonstraram ser vencedores nestaetapa. Salientamos que, nesta fase, a GinásticaOlímpica e a Ginástica Rítmica não realizam cam-peonatos nacionais, e por este motivo não são reali-zadas comparações destes desportos.

*(diferenças significativas)

Figura 2: Percentagem de altos resultados nas modalidades desportivas durante a primeira etapa da PDLP.

O teste do Qui-Quadrado revelou que a Natação, oFutsal e o Tênis apresentaram diferenças significati-vas (p< 0,05) em relação à amostra total, que englo-ba o comportamento dos resultados entre todas asmodalidades. Entretanto, este comportamento naNatação e no Futsal não demonstrou uma alteração,prevalecendo os desportistas que não apresentaramAR. Apenas sua magnitude superou a da amostratotal, ou seja, foram encontrados maiores valorespercentuais de atletas que não apresentaram AR.O baixo percentual de AR na Natação (20,3%) indi-ca que a maioria dos atletas foi orientada de acordocom os princípios deste período de preparação pro-postos por Makarenko (23) e Wilke e Madsen (46),em que os objetivos principais valorizam a multilate-ralidade, a motivação para o desporto e o desenvolvi-mento das técnicas de nado. Além disso, nestemomento as competições têm lugar como instru-mento de controle. Os dados da natação sugeremque a preocupação nesta etapa não foi a obtenção deAR, e demonstram concordar com a posição de evi-tar os altos rendimentos durante a infância, sob orisco de provocar uma futura estagnação e, por con-seqüência, o abandono do desporto (21, 46).Os dados relativos ao Futsal são curiosos quandocomparados aos do outro desporto coletivo destapesquisa, o Voleibol, que obteve 32,5% de AR e nãoapresentou diferenças significativas em relação àamostra total. Um fator que talvez explique estadiferença, é que no Voleibol a necessidade de orien-tar os jogadores para posições específicas é maismarcante do que no Futsal, onde é mais comum apresença de jogadores polivalentes (17, 42).Contudo, o desenvolvimento desta especificidadedeve ocorrer entre o final desta etapa e o início daseguinte. Analisando a realidade competitiva doFutsal e do Voleibol, esperar-se-ia valores inversos.Enquanto os campeonatos estaduais de Voleibol (14)ocorrem com a idade mínima de 13 anos, no Futsaleles acontecem aos 7 (SP) e 11 anos (RS). Com 68,8% de AR, o tênis apresentou diferença sig-nificativa (p < 0,05) em relação à amostra total,salientando uma mudança no comportamento dosAR, sendo, portanto, a única modalidade desta etapacom predominância de atletas que apresentaram AR.Estes altos valores estão em contraposição com as

Cristina Cafruni, António Marques, Adroaldo Gaya

Page 63: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–64 61

indicações de Cayer e Lamarche (10), pois referemque neste período a preocupação deve estar voltadapara a aprendizagem de golpes e a consistência dejogo. Enquanto os autores (op. cit.) salientam, nestafase inicial, a participação em campeonatos internos,na escola ou no clube, a maioria dos tenistas daamostra já estava classificada entre os dez melhoresdo ranking nacional. Segundo Lüdorf (20), é forte ainfluência do tênis profissional existente entre ospais e crianças praticantes. É possível que estainfluência exerça uma cobrança interessante em rela-ção aos campeonatos desde cedo, não proporcionan-do outra opção senão orientar a vencer.

Percentagem de altos resultados por desporto durante a segunda etapa da PDLPA Figura 3 mostra que o Voleibol e o Futsal foram asúnicas modalidades que apresentaram diferenças sig-nificativas (p<0,05) em relação à amostra total.Nesta etapa, em que a maioria dos atletas destacou-se, apresentando AR (67,3%), o Futsal diferiu dosdemais desportos, ao demonstrar predominância dejovens que não apresentaram AR (84,6%).

*(diferença significativa)

Figura 3: Percentagem de altos resultados nas modalidades desportivas durante a segunda etapa da PDLP.

Os altos percentuais obtidos pelo Voleibol demons-traram uma proximidade muito grande com a tercei-ra etapa. Em outras palavras, a relevância dos ARpara esta modalidade na segunda e terceira etapasrevelou-se similar, discordando da ocorrência de umamelhora gradual do treinamento (31) e, por conse-qüência, da performance.

No voleibol a segunda etapa da PDLP coincide como início da especialização nas posições (9) e com aprimeira “categoria de base” das seleções nacionais,a infanto-juvenil (12). As categorias de base sãoacompanhadas pela Confederação Brasileira deVoleibol, visto que possivelmente farão a sucessãodas equipes adultas. É provável que estes fatoresinfluenciem, já nesta etapa, na orientação para osaltos rendimentos.O período referente à segunda etapa da PDLP dotênis é considerado por Cayer e Lamarche (10) umafase de transição, com ênfase no treinamento multi-lateral e na participação em competições regionais.Discordando, portanto, do alto percentual de AR(87,5%) encontrado neste desporto.Os dados relativos aos AR da Ginástica Olímpica eGinástica Rítmica Desportiva surgem pela primeiravez nesta etapa, pois os campeonatos nacionais sóocorrem a partir desta. Encontramos valores percen-tuais semelhantes (47,1% para a GO e 50% para aGRD), confirmando a proximidade das característi-cas do treinamento e regime de competições dasduas modalidades. Os autores concordam com asbaixas idades no início do treinamento da ginástica(40), mas em nenhum momento mencionam aimportância de se obter AR nesta etapa. A participa-ção nas competições é enfatizada como forma deexperiência (3, 40), discordando, portanto, de apro-ximadamente metade dos atletas da amostra destasmodalidades.Embora os percentuais dos desportos em geraltenham sido considerados relativamente altos, foipossível observar, nesta etapa, uma maior consistên-cia do comportamento dos AR, uma vez que o Futsale o Voleibol foram as únicas modalidades que apre-sentaram diferenças significativas em relação ao con-junto das modalidades.

Percentagem de altos resultados por desporto durante a terceira etapa da PDLPNa terceira etapa de preparação dos desportistas,aquela que antecede o nível do alto rendimento,verificamos que não houve diferenças significativasno comportamento dos AR entre as modalidades e aamostra total (Figura 4).

Os resultados desportivos nas etapas de formação

Page 64: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–6462

Figura 4: Percentagem de altos resultados nas modalidades desportivas durante a terceira etapa da PDLP.

Nesta etapa, encontramos todas as modalidades comvalores percentuais de AR superiores ou próximos dafaixa dos 70%. Consideramos que estes altos valoresestão de acordo com a previsão da literatura, que refe-re somente nesta fase da PDLP um aumento expressi-vo do treino específico e da orientação para a estrutu-ra do alto rendimento (6, 15, 26, 31, 32, 37, 44, 47). As diretrizes da literatura especializada mencionam,nesta fase, a forte presença dos campeonatos, sejamestes nacionais ou internacionais. É um período dedefinição das provas específicas ou de revelação deposições (no caso das modalidades coletivas) (10,12, 23, 40).

CONCLUSÕES A presença de AR na carreira dos 165 atletas dasregiões sul e sudeste do Brasil revelou uma maiorimportância na medida em que estes se aproxima-ram da categoria adulta. Os dados que se referem àprimeira etapa (27,5% de AR) e à terceira etapa(87,3% de AR) da PDLP confirmaram as afirmaçõesda literatura a respeito de quando devem manifestar-se os resultados no desporto de crianças e jovens. Opercentual encontrado na segunda etapa, por umlado – em relação à progressão dos AR ao longo dasetapas - está de acordo com a literatura. Porém,parece que os valores (67,3%) apresentam-se altosdemais para os objetivos desta fase. O comportamento dos AR entre as modalidades reve-la uma semelhança entre elas, sem diferenças signifi-cativas (p<0,05), apenas na terceira etapa da PDLP.Nas duas primeiras etapas, as modalidades revelaramum comportamento diverso em relação aos AR.

A última etapa da PDLP parece constituir um impor-tante instrumento no auxílio ao prognóstico de altosrendimentos nas categorias adultas. O mesmo nãopode se afirmar em relação à primeira etapa daPDLP, pois a maioria dos atletas da amostra (72,5%) não apresentou AR neste período.Uma alternativa para estudos posteriores seria a rea-lização de registros diretos da performance ao longodas etapas, com amostras mais extensas de cada des-porto, o que permitirá uma comparação mais precisa.

NOTA(1) Ginástica Olímpica e a Ginástica Rítmica não participaramda análise referente à 1ª etapa, devido à ausência de campeona-tos de caráter nacional neste período.

AGRADECIMENTOSO resumo do presente artigo foi publicado nosseguintes anais:— 16º Congresso Brasileiro de Medicina do Esporte,2003, Costão do Santinho (Revista Brasileira deMedicina do Esporte. São Paulo: Redprint, 2003. v.9.p.4).— 10º Congresso de Ciências do Desporto e deEducação Física dos Países de Língua Portuguesa(Revista Portuguesa de Ciências do Desporto(2004). Porto: Faculdade de Ciências do Desporto ede Educação Física, v.4, p.218.)

CORRESPONDÊNCIACristina CafruniRua Marquês do Pombal, 917 ap. 20190540-001 Porto Alegre - RS BRASIL [email protected]

Cristina Cafruni, António Marques, Adroaldo Gaya

Page 65: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–64 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Anderson D, Magill R (1996). Critical Periods as Optimal

Readiness for Learning Sports Skills. In Smoll F, Smith R.Children and youth in sport. A biopsychosocial perspective.McGraw-Hill, 57-71.

2. Araújo C (1998). O treino dos jovens ginastas. HorizonteXV(85): 1-12.

3. Barbanti V (1997). Teoria e prática do treinamento esportivo.São Paulo: Edgard Blücher.

4. Barynina I, Vaitsekhovskii SM (1992). The afthermath ofearly sports specialization for highly qualified swimmers.Fitness and Sports Review International 27(4):132-134.

5. Bompa T (1999). Periodization. Theory and Methodology ofTraining. 4.ed. Champaign, IL: Human Kinetics.

6. Bompa T (2000). Total Training for Young Champions.Champaign, IL: Human Kinetics.

7. Brito N, Fonseca A, Rolim R (2004). Os melhores atletasnos escalões de formação serão igualmente os melhoresatletas no escalão sénior? Análise centrada nos rankingsfemininos das diferentes disciplinas do Atletismo ao longodas últimas duas décadas em Portugal. Revista Portuguesa deCiências do Desporto 4(1):17-28.

8. Cafruni C (2003). Análise da Carreira Desportiva deAtletas Brasileiros. Estudo da relação entre o processo deformação e o rendimento desportivo. Dissertação deMestrado. Faculdade de Ciências do Desporto e deEducação Física. Universidade do Porto, Portugal.

9. Cardinal C (2001). Treinamento técnico-tático. In Filho C,Aquino EJV (2001). Voleibol: curso de treinadores nível II.Porto Alegre: Confederação Brasileira de Voleibol.

10. Cayer L, Lamarche P (1989). Modelo de desarrollo especi-fico para el tenis. VI Simposium para entrenadores de laFederación Internacional de Tenis. Madrid: Escuela Nacionalde Maestria de Tenis, 44-105.

11. Coelho O (2000). Pode a passada ser maior que a perna?In Garganta J (ed.) Horizontes e órbitas no treino dos jogos des-portivos. Faculdade de Ciências do Desporto e de EducaçãoFísica. Universidade do Porto, Portugal, 145-154.

12. Costa PMNC (1998). Formação das seleções básicas no voleibolbrasileiro. Brasília: Instituto Nacional do Desenvolvimentodo Desporto.

13. Durand M (1987). L´enfant et le sport. Paris: PressesUniversitaires de France.

14. Federação Gaúcha de Voleibol (2002). Regulamento de 2002.Porto Alegre.

15. Filin VP (1996). Desporto Juvenil: Teoria e Metodologia.Londrina: CID.

16. Harre D (1982). Principles of Sports Training. Introduction tothe theory and Methods of Training. Berlin: Sportverlag.

17. Júnior NB (1998). A ciência do esporte aplicada ao futsal. Riode Janeiro: Sprint.

18. Kobjakov JUP (1994). Sur la possibilité de prognostiquerles résultats sportifs et certain des indices morphologiquesdes jeunes gymnastes. In Ganzin M. Gymnastique artistiqueet G.R.S. Comunications scientifiques et techniques d´expertsétrangers. Paris: INSEP, 69-76.

19. Lima T (1988). A formação desportiva dos jovens.Horizonte 25:21-26.

20. Lüdorf SMA (1999). Tênis para crianças: uma abordagemcientífico-pedagógica. Kinesis 21: 207-222.

21. Maglischo EW (1990). Nadar más rapido. Tratado completo denatación. 2.ed. Barcelona: Hispano Europea.

22. Maia J (2000). Exigências precoces de alto rendimentodesportivo nos jogos desportivos. In Garganta J (ed.)Horizontes e órbitas no treino dos jogos desportivos.Universidade do Porto, Faculdade de Ciências do Desportoe de Educação Física,133-143.

23. Makarenko LP (2001). Natação: seleção de talentos e iniciaçãodesportiva. Porto Alegre: Artmed.

24. Malina RM (1986). Readiness for Competitive Sport. InWeiss M, Gould D Sport for Children and Youths. The 1984Olympic Scientific Congress Proceedings. Champaign, Illinois:Human Kinetics Publishers X: 45-50.

25. Marques A (1991). A Especialização Precoce na PreparaçãoDesportiva. Treino Desportivo 19: 9-15.

26. Marques A (1993). A periodização do treino em crianças ejovens. Resultados de um estudo nos centros experimen-tais de treino da Faculdade de Ciências do Desporto e deEducação Física da Universidade do Porto. In Marques A,Bento J (eds.) As Ciências do Desporto e a Prática Desportiva.Universidade do Porto, Faculdade de Ciências do Desportoe de Educação Física, 243-257.

27. Marques A (1999). Crianças e Adolescentes Atletas: entrea Escola e os Centros de Treino ... entre os Centros deTreino e a Escola! In CEFD (Ed.) Treino de Jovens. Lisboa:IND, 17-30.

28. Marques A (2000). Sobre as Questões da Qualidade noTreino dos Mais Jovens. In Silva FM (Org.) Produção doConhecimento no Treinamento Desportivo. Pluralidade eDiversidade. João Pessoa: UFPB, 51-59.

29. Martin D, Klaus C, Klaus L (2001). Manual de Metodologíadel Entrenamiento Deportivo. Barcelona: Paidotribo.

30. Martin D, Krug J, Reib M, Rost K (1997). L´Evoluzionedel Sistema di Allenamento e di Gara nello Sport di Verticee Conseguenze per il Ciclo Olimpico 1996-2000.SdS/Rivista di Cultura Sportiva 37:16-25.

31. Martin D (1999). Capacidade de Performance eDesenvolvimento no Desporto de Jovens. In CEFD (Ed.).Treino de Jovens. Lisboa: IND, 37-59.

32. Matvéiev L (1991). Fundamentos do Treino Desportivo. Lisboa:Livros Horizonte.

33. Mesquita, I (1997). Pedagogia do treino. A formação em jogosdesportivos coletivos. Lisboa: Livros Horizonte.

34. Nadori L (1990). Especialización y talento. Problemaspedagógicos de la especialización y de la promoción deltalento en el deporte. Stadium 141:41-46.

35. Pereira JG (1999). Treinar jovens: benefícios ou risco? InCEFD (Ed.). Treino de Jovens, Lisboa: IND, 65-69.

36. Paes RR (1997). Aprendizagem e Competição Precoce. O Casodo Basquetebol. 3.ed. Campinas: UNICAMP.

37. Platonov V (1994). I Principi della Preparazione a LungoTermine. SdS/Rivista di Cultura Sportiva 30: 2-10.

38. Platonov V (2004). Das langfristige trainingssystem endetnicht mit dem Erreichen des Leistungshöhepunkts!Leistungssport 34: 18-22.

39. Rolim R. (2004). O treino de resistência com crianças ejovens. In Gaya A, Marques A, Tani, G Desporto para crian-ças e jovens. Razões e Finalidades. Porto Alegre: Editora daUFRGS, 429-457.

40. Smoleuskiy V, Gaverdouskiy V (1997). Tratado general degimnasia artística deportiva. Barcelona: Paidotribo.

41. Sobral F (1994). Desporto Infanto-Juvenil: Prontidão e Talento.Lisboa: Livros Horizonte.

Os resultados desportivos nas etapas de formação

Page 66: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 55–6464

42. Souza PRC (1999). Proposta de avaliação e metodologiapara o desenvolvimento do conhecimento tático em espor-tes coletivos: o exemplo do futsal. In I Premio Indesp deLiteratura Esportiva. Brasília: Indesp, 1: 289-340.

43. Vieira LF, Vieira JLL, Krebs RJ (1999). A trajetória dedesenvolvimento de um talento esportivo: estudo de caso.Kinesis 21: 47-55.

44. Weineck J (1999). Treinamento Ideal. 9ª ed. São Paulo:Manole.

45. Wiersma L (2000). Risks and Benefits of Youth SportSpecialization: Perspectives and Recommendations. PedExerc Sci 12:13-22.

46. Wilke K, Madsen O (1990). El entrenamiento del nadadorjuvenil. Buenos Aires: Stadium.

47. Zakharov A (1992). Ciência do Treinamento Desportivo. Riode Janeiro: Grupo Palestra Sport.

Cristina Cafruni, António Marques, Adroaldo Gaya

Page 67: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–77 65

O valor do atleta com deficiência. Estudo centrado na análise de um periódico português

Ana L. Pereira1

M. Adília Silva1

Olga Pereira2

1 Universidade do PortoFaculdade de DesportoPortugal

2 Colégio Didálvi Cooperativa de EnsinoBarcelosPortugal

RESUMO

A prática de desporto por pessoas com deficiência tem vindo adesenvolver-se significativamente. Prova disso são os JogosParalímpicos, que representam o símbolo máximo do desportopara estas pessoas. Contudo, apesar desta evolução, estas com-petições parecem não ter uma cobertura relevante por partedos mass media, parecendo reconhecer-se pouco valor ao atletaparalímpico. Através da análise de conteúdo a um jornal diárioportuguês, nos anos de 1996 e 2000, anos dos JogosParalímpicos de Atlanta e de Sydney, procurámos perceber qualo valor do atleta com deficiência e se ao longo desses anos exis-tiram alterações nesse valor. A categorização inerente à análisede conteúdo realizou-se a priori e a posteriori, surgindo um siste-ma categorial constituído pelas categorias (i) nacionalismo, (ii)atleta com deficiência, (iii) prova, (iv) apoio ao atleta e (v)público. A análise de imprensa efectuada revelou um aumentosignificativo no número de notícias, parecendo demonstraruma mudança de atitude da sociedade face ao atleta com defi-ciência. Porém, este não é valorizado sob o ponto de vista esté-tico, mas sim em relação aos resultados obtidos. Na realidade,o resultado e o recorde parecem assumir uma grande importân-cia, podendo afirmar-se que o desporto para pessoas com defi-ciência se encontra enquadrado na lógica do desporto moderno,esperando-se que o atleta incorpore o homem sem limites.

Palavras-chave: atleta com deficiência, Jogos Paralímpicos,imprensa.

ABSTRACT

The Value of the Athlete with Disability.An Analysis through a Portuguese Daily Newspaper

The practice of sports for disabled people has increased significantly.Paralympics Games (its maximum symbol) are a sound evidence. Inspite of this, these competitions did not have enough mass media cover-age, what suggests a neglect of the actual importance of paralympicmovement and their representatives. Using content analysis, aPortuguese daily newspaper of the years 1996 and 2000, coveringAtlanta and Sydney Paralympics Games, we investigated the valueplaced on athletes with disability as well as if there has been any sig-nificant change in the way society views them. A priori and a posteri-ori content analysis pointed out the presence of five categories, namely:(i) nationalism, (ii) athlete with disability, (iii) competition, (iv) ath-lete’s support and (v) public. There has been a significant improvementin the number of reports, which might demonstrate a different attitudein relation to these athletes. However, they are not valued aesthetically,but mainly through their accomplishment. Accomplishment and recordsseem to get an outstanding importance, suggesting that this kind ofsport fits into the logic of modern sport, where the athlete is expectedto incorporate a man without limits.

Key Words: athlete with disability, Paralympics Games, press.

Page 68: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–7766

INTRODUÇÃOA prática de desporto por pessoas com deficiência é,há muito, uma realidade, tendo o desporto adaptadoevoluído de forma acentuada nos últimos tempos.De facto, o desporto para pessoas com deficiênciatem vindo a desenvolver-se quantitativa e qualitati-vamente tendo, actualmente, um alcance muito paraalém da terapia, como é o caso do rendimento. Aprova disso mesmo é a existência dos JogosParalímpicos (JP), que representam o símbolo máxi-mo do desporto para pessoas com deficiência e quejá partilham a mesma organização dos JogosOlímpicos (JO). Com 45 anos de história, os JP são considerados osegundo maior evento desportivo a seguir aos JO,pelo número de dias de competição, pelo número demodalidades desportivas que envolve, pelo númerode países presentes e, também, por se revelarem aexpressão de espectáculo de alta qualidade com asingularidade de atrair espectadores, mass media epatrocinadores(8). Com efeito, temos que reconhecerque há um trajecto muito estimulante, mas não isen-to de escolhos, entre os primeiros Jogos de StokeMandeville, realizados sob a inspiração de LudwigGuttmann, em Julho de 1948, e os XII JP, levados acabo em Atenas, no ano de 2004. Entre os atletasamadores do Hospital de Stoke Mandeville e os atle-tas semi-profissionais e profissionais que competi-ram na Grécia há, para além das diferenças nítidasdo reconhecimento público, a evidência de que adeficiência não é a parte que determina, única eexclusivamente, a pessoa portadora de uma deficiên-cia(9). Contudo, e apesar de toda esta evolução, ascompetições (nacionais e internacionais) para pes-soas com deficiência acontecem, frequentemente,quase na ausência total de público e sem a devidadivulgação por parte da comunicação social, parecen-do não haver interesse em relatar os seus feitos, porvezes admiráveis(21). Na perspectiva de Brittain(6),esta falta de cobertura dos JP está implicada noparco reconhecimento das capacidades dos atletascom deficiência. Ao falharem a cobertura destesjogos, os mass media, efectivamente, reforçam a men-sagem de que o desporto adaptado, mesmo ao nívelde competições internacionais, não é interessante enão merece atenção(6).

Numa sociedade tão influenciada pelos mass mediacomo a contemporânea ocidental, a imprensa podeexercer um enorme impacto no nosso conhecimento,atitudes e políticas públicas no que diz respeito avariados assuntos. Esta influência pode aumentar oconhecimento e promover consciência social acercada deficiência. Todavia, pode igualmente divulgarinformação errada e reforçar estereótiposnegativos(17). Tendo em conta que as mensagens daimprensa parecem ser o produto e o reflexo da grandemaioria dos sistemas sociais, bem como das suas for-mas de pensar e agir(5, 7, 13), podemos, eventualmente,considerar que tanto a fraca adesão, como a poucamediatização sofram uma influência mútua, revelan-do uma desvalorização do atleta paralímpico. Nestecontexto, apesar do desporto paralímpico despertaremoção, espectáculo, beleza, esforço e vontade desuperação(2), é de questionar o tipo de valores que asociedade atribui aos atletas com deficiência e seesses mesmos valores terão sofrido alterações aolongo das últimas décadas. Na realidade, pode afir-mar-se que os maiores obstáculos para as pessoascom deficiência não são as suas limitações intelec-tuais ou físicas, mas as atitudes da sociedade em rela-ção à deficiência e a sua contínua discriminação(26).Face ao exposto, os objectivos deste estudo foram:(i) saber qual o valor do atleta com deficiência,difundido pela imprensa, na sociedade portuguesa e(ii) verificar se houve alterações nesse valor e quais.Para tal, efectuou-se uma análise de imprensa atra-vés da qual se pretendeu conhecer a informaçãoexistente nos jornais, bem como compreender aforma como essa informação é tratada.Efectivamente, parece não haver dúvidas quanto aofacto de que os mass media são importantes na mode-lação da noção do mundo para além da nossa expe-riência directa do mesmo(10), uma vez que se consti-tuem num dos grandes agentes de socialização. Istoé, são também agentes de promoção e inculcaçãodos valores, normas e condutas vigentes em cadasociedade.Quando nos reportamos aos valores, tomamos comoreferência Patrício(23), para quem os mesmos repre-sentam os desejos despertados pelas coisas. Ainda deacordo com o mesmo autor, são várias as ordens devalores, nomeadamente, a vital, a prática, a hedonís-tica, a estética, a lógica, a ética e a religiosa, sendo

Ana L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

Page 69: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–77 67

que a cada momento da história e a cada espaçosocial corresponderá uma diferente hierarquia axioló-gica nestas ordens de valores. Por conseguinte, pode-mos desde já avançar com a ideia de que na socieda-de ocidental contemporânea impera a relatividade, apluralidade e a diversidade em todos os campos deacção humana(15), resultando numa verdadeira labili-dade axiológica. Não obstante, apesar desta diversi-dade, parece ainda verificar-se uma atitude generali-zada de quase rejeição face ao diferente, materializan-do-se este fenómeno principalmente na discrimina-ção de grupos minoritários e/ou diferentes(22).

METODOLOGIAA primeira operação a realizar para alcançar osobjectivos propostos foi seleccionar o corpus de estu-do que, tal como referido, se direccionou para osmeios de comunicação social, uma vez que estesparecem exercer uma poderosa influência sobre aspessoas(24), reforçando algumas normas e atitudes jáexistentes(25, 26). No entanto, e porque os meios decomunicação social representam uma área muitoampla, surgiu a necessidade de seleccionar, entre osque apresentam maior impacto - rádio, televisão eimprensa -, aquele que fosse mais viável sob o pontode vista da operacionalidade. Por conseguinte, anossa opção recaiu sobre a imprensa, dado que esteórgão de informação possui uma vasta quantidade detemas passíveis de serem arquivados e preservadosao longo do tempo por cópias, ou outras formas, tor-nando-se mais fácil e acessível a sua consulta(12).Neste sentido, seleccionámos um periódico diáriocom base nos seguintes critérios: (i) um periódicodiário generalista e (ii) um periódico diário com umnúmero de tiragens de impacto significativo a nívelnacional. Assim, respeitando os critérios definidos, anossa escolha incidiu sobre o “Jornal de Notícias”. Tendo em conta o tipo de informação a analisar, sub-metemos o corpus de estudo ao processo analíticodenominado de análise de conteúdo, de acordo comos princípios enunciados por Bardin(3), Vala(29),Grawitz(16) e Silverman(27).Quanto ao período de análise, seleccionou-se os JPcomo o momento oportuno para efectuar pesquisa,dada a sua grandiosidade e importância social e porser considerado o maior evento desportivo para aelite dos atletas com deficiência e o segundo maior

logo a seguir aos JO(11). Os períodos de observaçãoforam escolhidos de acordo com a data do eventodesportivo, ou seja, seleccionando a semana de ocor-rência do evento e abrangendo as duas semanas pre-cedentes e subsequentes ao mesmo. Este períodomais alargado permitir-nos-ia perceber, através dapresença/ausência(3), a importância dada pelaimprensa ao evento. Por conseguinte, no que concer-ne aos JP em Atlanta, que decorreram entre os dias15 e 25 de Agosto de 1996, o período de observaçãofoi estabelecido entre os dias 1 de Agosto e 8 deSetembro. Relativamente aos JP de Sydney, realiza-dos entre 19 e 29 de Outubro de 2000, o período deobservação decorreu entre os dias 3 de Outubro e 12de Novembro. Assim sendo, o corpus de estudo éconstituído por todos os artigos relacionados com osJP nos anos de 1996 e 2000, datas correspondentesaos Jogos de Atlanta e Sydney. Pese embora nãofaçam parte do corpus os jornais sem notícias relati-vas aos eventos, esse foi um aspecto consideradoaquando da análise.Seguidamente, procedeu-se à leitura flutuante do cor-pus de estudo, assumindo a análise de conteúdo assuas duas funções, ou seja, a confirmatória e a heu-rística. Assim, com base na revisão bibliográfica, rea-lizou-se parte da categorização - a priori - e após umaexploração mais aprofundada do corpus, efectuou-se arestante categorização - a posteriori. Após definido osistema categorial, o qual é constituído pelas catego-rias (i) nacionalismo, (ii) atleta com deficiência, (iii)prova, (iv) apoio ao atleta e (v) público, buscaram-seas unidades de registo e de contexto que sugerissemas categorias criadas.Finalmente, no que diz respeito à unidade enumera-ção, optou-se pela análise da presença/ausência e dafrequência. De facto e de acordo com Bardin(3), asimples presença ou ausência de determinada unida-de pode ser significativa, funcionando como umindicador. Adicionalmente, uma determinada unida-de poderá ser tão mais importante quanto maior é asua frequência.

Justificação das categoriasNacionalismo - A pertinência desta categoria funda-menta-se no facto de se pretender estudar o atletanum contexto internacional, nomeadamente o para-límpico, permitindo, consequentemente, compreen-

O valor do atleta com deficiência

Page 70: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–7768

der o modo como a imprensa se reporta ao atletacom deficiência em termos de identificação nacional.Com efeito, o termo nacionalismo está directamenterelacionado com o patriotismo, ou seja, com a prefe-rência pelo que é próprio da nação a que se perten-ce(1). Na realidade, tendo em conta que vivemos naera da globalização, processo a partir do qual sedenota uma tendência para escamotear a preponde-rância do Estado-Nação face ao mundo global, é pro-vável um efeito da importância acrescida na instânciacultural e nacional nas sociedades industrializadas.Assim sendo, consideramos fundamental perscrutarse, também no âmbito dos paralímpicos, é evidenteesse efeito acrescido da instância cultural nacional.Atleta com deficiência - A forma como a informação,relativamente ao atleta com deficiência, é tratadapoderá ser um importante indicador do valor queeste assume perante a sociedade. Acrescente-se,ainda, que dentro desta categoria surgem como sub-categorias o perfil do atleta, bem como a descriçãoda sua condição física. No que concerne ao perfil doatleta, a classificação desportiva dos atletas com defi-ciência torna-se relevante, dado que é a partir destaque os atletas competem em igualdade de circuns-tâncias. Para além disso, pretendeu-se saber se otipo de deficiência condiciona, ou não, o modo comoa notícia é desenvolvida.Prova - As modalidades desportivas para pessoascom deficiência são todo o conjunto de experiênciasdesportivas modificadas ou especialmente concebi-das para estes indivíduos(7). Será a partir desta alte-ração, com base na qualificação desportiva aliada àclassificação dos atletas, que se pretende garantirque os JP reflictam e promovam a qualidade e a uni-versalidade(8). Não obstante, esta poderá ser umaforma de retirar alguma espectacularidade às provas,já que promove o aumento do seu número e torna opróprio evento mais moroso do que eventualmenteseria de esperar de um espectáculo.

Fazem parte desta categoria cinco subcategorias: clas-sificações/resultados, recordes, prospecções/expecta-tivas, programa e descrição da prova.Apoio ao atleta - Com esta categoria procurou-seapreender se as notícias abordam assuntos tão diver-sos, como questões relacionadas com as dificuldadesno acesso e desenvolvimento da prática, ou as pró-prias condições in loco da comitiva portuguesa. Comefeito, havendo apoio institucional, associativo-des-portivo e mesmo social, percebe-se a existência davalorização do atleta com deficiência(17). Neste senti-do, esta categoria tem como subcategorias o apoioinstitucional, o apoio desportivo e o apoio social.Público - O público é uma categoria fundamental, umavez que poderá evidenciar o maior, o menor ou até oinexistente interesse da parte da sociedade pelo des-porto para pessoas com deficiência. De facto, a refe-rência a uma maior ou menor afluência aos jogos eoutras situações relacionadas com os atletas portugue-ses será um indicador do interesse pelos JP. Isto por-que, pese embora os eventos desportivos para pessoascom deficiência possam despertar o espectáculo(2),acontecem normalmente na ausência de público, pro-vavelmente por falta de emoção e de identificação(21).

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSA apresentação e discussão dos resultados encontra-se estruturada em três partes: na primeira, é efectua-da uma análise centrada no número de notícias e nasua respectiva localização; na segunda, analisa-se otipo de fotografias; finalmente, na terceira, são dis-cutidas as diferentes categorias criadas. Todos osquadros apresentados terão em conta os três temposconsiderados neste trabalho, ou seja, antes, durantee após os JP de Atlanta e de Sydney. Assim sendo, o quadro 1 mostra a frequência denotícias nesses três tempos, de acordo com trêszonas do jornal, nomeadamente a capa principal, acapa de suplemento desportivo e o corpo do jornal.

Ana L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

Quadro 1: Frequência de notícias acerca dos Jogos Paralímpicos e a sua respectiva localização (capa principal, capa de suplemento desportivo e corpo do jornal)

Page 71: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–77 69

Ao observarmos o quadro 1, verificamos a presençade notícias em ambos os anos, durante e após oevento, no entanto, apenas em 2000 se verificou apresença de notícias antes do evento. Esta diferençaparece ser um indicador acerca da maior importânciaatribuída ao evento em 2000, uma vez que é dadamaior importância pela imprensa a um fenómeno deacordo com a sua proximidade(7). Esta alteração, aonível da imprensa, poderá indiciar uma mudança dosinteresses do público-alvo, dado que os meios decomunicação social tentam ir ao encontro dos inte-resses e curiosidades do mesmo, acabando poractuar como um espelho da sociedade(7). Por outrolado, esta alteração poderá sugerir uma mudança namentalidade patente, já que os meios de comunica-ção social podem exercer uma poderosa influênciasobre as pessoas(6). No entanto, é de referir que,embora surjam notícias após o evento em ambos osanos - 3 e 4 dias respectivamente -, observa-se queos JO são noticiados até cerca de duas semanas apóso seu encerramento(25). Quanto à localização das notícias, é possível consta-tar a ausência, em 1996, de notícias na capa princi-pal, embora se tenha evidenciado a respectiva pre-sença na capa de suplemento desportivo e respectivocorpo do jornal. No ano de 2000, a presença é visívelem todas as partes do jornal, inclusivamente na capaprincipal do jornal (n=1). Esta presença refere-se auma medalha alcançada por um atleta português namodalidade de Boccia. Por conseguinte, pensamosque estes resultados poderão ser uma evidência damaior vontade, por parte da imprensa, em conduziro público a ler as notícias relativas aos JP, na medidaem que a decisão do leitor em ler, ou não, um artigopoderá ter a ver com a apresentação do mesmo(25).Adicionalmente, os números expressos neste quadroindicam-nos uma maior quantidade total de informa-ção existente em 2000 (n=34), nos três momentosde observação, comparativamente com o ano de

1996 (n=6). Assim sendo, esta diferença parecerevelar que o jornal pretende, em 2000, manter opúblico informado sobre esta competição e, nessecaso, as circunstâncias poderão ter mudado desde1996, altura em que a comunicação social parecianão efectuar a devida divulgação destas competi-ções(21). Com efeito, além de escassa, a divulgaçãode assuntos sobre o paralimpismo só tende a aconte-cer em períodos muito próximos à data do evento,parecendo corroborar a ideia de que os media não seencontram sensibilizados para o fenómeno(7). Para além do referido, constatou-se uma presença,quase diária, de uma referência aos JP de Sydney nacapa de suplemento desportivo que conduzia a umanotícia mais extensa e pormenorizada acerca doevento, não se tendo o mesmo verificado nos deAtlanta. Se o jornal apresenta mais informação sobreo evento em 2000 então é porque, presumivelmente,a sociedade também se interessa mais pelo mesmo,o que sugere uma mudança na atitude da mesma.Por outro lado, apesar de se constatar que a áreaatribuída a estes destaques, nomeadamente na capaprincipal e no suplemento, é reduzida, também o énoutras modalidades desportivas que não o futebolprofissional. Outro aspecto que deve ser salientado é o facto deem 2000 existir um espaço (geralmente uma página)dedicado ao tema JP, enquanto que em 1996 as notí-cias surgiam pelo meio do jornal e, frequentemente,escamoteadas por um título, como por exemplo:“Fernanda Ribeiro aquece para recorde”. Um título queem nada sugere a existência de qualquer referênciaaos atletas paralímpicos. Desta forma, parece estarainda mais evidenciada a evolução ocorrida entre1996 e 2000, já que neste ano as notícias reportam-se directa e explicitamente aos paralímpicos. Quanto às fotografias existentes, o quadro 2 mostraa sua ausência/presença e a sua frequência.

O valor do atleta com deficiência

Quadro 2: Ausência/presença e frequência de fotografias acerca dos Jogos Paralímpicos.

Page 72: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–7770

Ao analisarmos o quadro 2, verifica-se que em 1996só surgem fotografias após o evento (n=1), enquan-to que no ano de 2000 existem fotografias antes(n=2), durante (n=12) e após o evento (n=1), per-fazendo um total de quinze fotografias. Assimsendo, este aumento parece contrariar Castro eGarcia(21), quando defendem que ninguém ousamostrar o que socialmente é diferente. Não obstan-te, e porque existem deficiências que ao nível daaparência física parecem impressionar mais do queoutras, analisaram-se em quais deficiências se cen-travam as fotografias encontradas. Os resultadosestão registados no quadro 3.

Quadro 3: Tipo de deficiência observada nas fotografias.

Neste quadro é possível verificar a existência de umtotal de oito fotografias de atletas cegos, duas deatletas em cadeira de rodas, duas de atletas comparalisia cerebral e uma de um atleta amputado. Estes resultados diferem de outros estudos seme-lhantes(25, 28), nos quais predominam fotografias deatletas em cadeira de rodas. Em nosso entender, arazão pela qual a maioria das fotografias é de atletascegos poderá estar relacionada com o facto destadeficiência ser a menos perceptível ao nível fotográfi-co. Isto é, o atleta cego é o que mais se assemelha aoatleta dito normal, não causando, por isso, umimpacto tão forte como a fotografia de um atleta emcadeira de rodas ou com paralisia cerebral. Com efei-to, a presença visível da deficiência é crucial paraidentificar alguém como sendo realmente uma pes-soa com deficiência(28). Porém, a frequência referidapode estar associada ao facto da maior parte dasvitórias conquistadas em Sydney corresponderem aestes atletas, sendo, por esse motivo, natural que aimprensa retrate os vencedores, em particular osportugueses. Para além disso, surgem fotografias dos

atletas com paralisia cerebral, vencedores nas provassingulares de Boccia (BC3), cuja classe inclui os atle-tas com a deficiência mais severa e a fisicamentemais visível. Para a análise do conteúdo das fotografias constaramdois pontos essenciais: o atleta em prova (fotografiatipo activo) e o atleta fora da competição (fotografiado tipo não activo). O resultado desta análise encon-tra-se no quadro 4.

Quadro 4: Representação fotográfica de atletas em poses tipo activo e tipo passivo.

Observa-se que em 1996 existe apenas uma fotogra-fia do tipo passivo, cujo conteúdo se reporta à chega-da ao aeroporto dos atletas, o que parece indicaralguma negação da imagem da pessoa com deficiên-cia, conforme é defendido por vários autores(6, 17, 21).No que diz respeito a 2000, de um total de quinzefotografias contabilizadas, dez correspondem a foto-grafias do tipo activo, enquanto cinco são do tipopassivo. Estes dados parecem contrariar os deThomas e Smith(28), já que a maioria das fotografiasdo seu estudo se remetem ao tipo passivo, contra-pondo a habitual associação entre a pessoa com defi-ciência e passividade. À excepção de uma fotografia de um atleta amputa-do, todas as outras fotografias que focam o atleta emprova são de atletas cegos. Quanto às fotografias rela-tivas às vitórias dos atletas de Boccia (paralisia cere-bral) e de uma atleta da Natação (amputada), repor-tam-se a momentos fora da prova (tipo passivo). Ouseja, em ambos os casos quando se encontravam nopódio e escondendo a sua deficiência. A reforçar estaideia, a única fotografia do tipo activo do Boccia apre-senta os atletas de costas, não permitindo, por isso,ver os mesmos. Neste contexto, parecem fazer senti-do as ilações retiradas em estudos anteriores(18, 25, 28),nos quais os atletas mais retratados são, geralmente,os em cadeira de rodas, fotografados da cintura paracima, de forma a que não seja tão perceptível a suadeficiência. Esta é, talvez, a maior evidência de que a

Ana L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

Page 73: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–77 71

nossa sociedade ainda não está sensibilizada paraaceitar a imagem da pessoa com deficiência. Talvez aimprensa não mostre porque o público não aprecia,funcionando, deste modo, como um indicador do quea sociedade quer ou não quer ver. Assim sendo, aoesconder-se a deficiência podemos considerar queexiste alguma tendência em aproximar os atletas comdeficiência aos ditos normais através da imagem, reti-rando-lhes parte da sua identidade. Eventualmentesem intenção, a imprensa poderá estar a potenciaruma aparente rejeição já existente, parecendo existiruma tentativa de se assemelhar a imagem deste atletacom o dito normal. No que concerne às categorias criadas e anterior-mente referidas, a análise começa peloNacionalismo. Para esta categoria, e através das uni-dades encontradas, verificamos que, embora maisevidente em 1996, em ambos os anos “o atletaPortuguês…” está perfeitamente identificado. De talmodo que, por vezes, embora de forma metafórica, oatleta deixa de ser pessoa, passando a encarnar opróprio país, pois “Portugal conquistou…”, ou“Portugal assegurou…”. Adicionalmente, esta identifi-cação surge no âmbito da vitória, até porque o des-porto se assume como um ritual simbólico de lutasintermináveis entre grupos, entre nações(21). Defacto, a linguagem da imprensa invade-nos diaria-mente com frases de cariz bélico, exaltando a vitóriados nossos e humilhando a derrota dos outros(21).Nesse sentido, é de aceitar que em ambos os anos setenha dado destaque às vitórias do país, uma vez

que as mesmas enaltecem e elevam o que é nosso,face aos outros. No entanto, em 2000, este naciona-lismo também acontece no âmbito de algumas der-rotas, pois alguém “… eliminou Portugal da prova…”,ao contrário de 1996, cujas notícias apenas identifi-cam Portugal com as vitórias, o ranking e o númerode medalhas obtidas. Na realidade, os dados donosso estudo parecem demonstrar uma grandeimportância atribuída ao sucesso nacional, sendoque as principais diferenças entre os dois anos senotam em relação à maior importância atribuída em1996 à vitória nacional em detrimento do atleta, pois“Portugal obteve…”. Em 2000, apesar desse naciona-lismo estar presente, ao noticiar-se que “o atleta JoséFirmino deu ontem a Portugal…”, assume-se a sua vitó-ria como a de todos os portugueses, mas enaltece-sea pessoa humana que a alcançou. O mesmo é discu-tido por Schantz e Gilbert(25), estando os nossosdados relativos a 1996 de acordo com a descriçãoacerca do tratamento de informação para os JP deAtlanta, efectuada pelos autores. Adicionalmente, osdados obtidos relativamente a Sydney 2000 estão emconsonância com os de Thomas e Smith(28), poistambém no seu estudo é realçado este nacionalismo,mas centrado no mérito do atleta. Desta forma, veri-ficamos que o sentimento nacionalista, enaltecido naimprensa portuguesa, não foi exclusivo, uma vez quetal é reportado noutros estudos(25, 28).O quadro 5 refere-se à frequência e presença/ausên-cia de referências às subcategorias que constituem acategoria designada de Atleta com Deficiência.

O valor do atleta com deficiência

Quadro 5: Ausência/presença e frequência de referências às subcategorias Perfil do Atleta e Condição Física na categoria Atleta com Deficiência.

Ao analisarmos o quadro 5 verificamos a ausência,em 1996, de referências a qualquer uma das subcate-gorias consideradas nos espaços temporais escolhi-dos, corroborando a análise da categoria anterior, ouseja, um manifesto desinteresse pelo atleta, dando-seprimazia ao resultado por ele alcançado, quando

positivo. No entanto, em 2000 constata-se a presençadesta categoria, evidenciada pelas duas subcategorias- Perfil do Atleta e Condição Física. No que concerne ao Perfil do Atleta, observa-se a suapresença apenas durante os JP (n=11). Esta subcate-goria dispõe de informação acerca do atleta, tal como

Page 74: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–7772

a sua naturalidade, data de nascimento, nome eainda o seu percurso desportivo. É possível que asunidades para esta subcategoria surjam somentedurante o evento, uma vez que a mesma foca os atle-tas vencedores. Apesar desta subcategoria apenas sereportar a esses atletas, denota-se já a intencionali-dade, por parte da imprensa, em dá-los a conhecerum pouco mais, tornando o significado daquela vitó-ria mais compreensível para o leitor.Adicionalmente, esta informação não se centraexclusivamente na deficiência, destacando, igual-mente, os resultados mais importantes. Desta forma,os nossos dados pareceram contrariar os de váriosestudos(25, 28), uma vez que o atleta é descrito deforma similar aos atletas ditos normais e, inclusive,associado a figuras belas, como é o caso da nadadoraSusana Barroso comparada a uma “sereia de prata”.Neste contexto, parece consubstanciar-se uma dascaracterísticas marcantes do nosso tempo, a centrali-

zação na pessoa(14). Para além disso, como estainformação se reporta aos atletas vencedores, poderásignificar uma incorporação do princípio do rendi-mento - característica marcante do desporto moder-no - no desporto para pessoas com deficiência.Em relação à subcategoria Condição Física constata-mos, em 2000, a sua presença antes (n=14) edurante (n=7) os JP e uma ausência após os mes-mos. Na realidade, a presença da condição física dosatletas ao longo dos momentos referidos faz sentido,uma vez que o resultado da prova depende damesma, o que revela, consequentemente, umaimportância atribuída ao resultado. Para além disso,parece ser inequívoca a intenção, por parte daimprensa, em fornecer informação acrescentada acer-ca da condição física do atleta. No quadro 6 expõe-se a frequência e a ausência/pre-sença das referências às subcategorias da categoriaProva.

Ana L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

Quadro 6: Ausência/presença e frequência de referências às subcategorias Classificações/Resultados, Recordes, Prospecções/Expectativas, Programa da Competição e Descrição da Prova na categoria Prova.

No que diz respeito à subcategoria Classificações/Resultados, tanto em 1996 como em 2000, verifica-seuma presença durante (n=11/n=68) e após(n=6/n=6) os mesmos. O grande número de referên-cias em 2000 parece indiciar elevada centralizaçãosobre o resultado. De qualquer forma, em ambos osanos, é esta subcategoria que apresenta maior núme-ro de referências, o que mais uma vez reforça a ideiade que o desporto para pessoas com deficiência teráincorporado a lógica do desporto moderno(21), no qualo resultado assume uma grande importância.Efectivamente, quando nos debruçamos sobre o con-

teúdo das notícias, os resultados obtidos pelos atle-tas, bem como os recordes alcançados, demonstramisso mesmo. Assim, em 1996, as notícias relativa aosresultados, apesar de referirem o nome do atleta, cen-tram-se exclusivamente nas medalhas, tal como éilustrado nos exemplos seguintes: “… Carlos Amaralconquista bronze em Atlanta” ou “Portugal conquistou,ontem, duas medalhas de ouro e uma de prata…”. Em2000, apesar das notícias focarem as medalhas, tam-bém salientam vitórias sem medalhas, conforme sedemonstra no excerto seguinte: “Portugal começouontem da melhor forma a participação nos Jogos

Page 75: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–77 73

Paralímpicos de Sydney 2000, vencendo o Brasil…”. Dão,ainda, destaque a algumas derrotas “… um dia de der-rotas… equipa de Futebol perdeu (0-3) com a Ucrânia…”,sem que se esqueça que o atleta “Carlos AmaralFerreira… alcançou o 2º lugar”. Na realidade, constata-se que em 2000, qualquer que seja o resultado, este édivulgado, demonstrando uma valorização quer daprova, quer dos atletas. Com efeito, ao tomarmos emconsideração registos como “Fátima Matos bem sucedi-da… apesar de quarta da sua série, conseguiu um dosmelhores tempos”, percebe-se que, pese embora o resul-tado não tenha sido uma vitória, terá sido uma boaprova. Ou seja, embora o atleta não tenha alcançadoum título, não deixa de se enaltecer a sua boa presta-ção, dado que se procura atenuar a derrota e valorizara pessoa que a protagonizou. Apesar desta pretensavalorização, na perspectiva de Shell e Duncan(26), estarepresenta uma certa condescendência, já que quandoas notícias se reportam a atletas sem deficiência, osmesmos são criticados pelas suas falhas. No que concerne à subcategoria Recordes denota-se,em 1996, a sua presença apenas durante os JP(n=1), enquanto que em 2000, apesar dos registosacontecerem somente durante o evento, o número éclaramente superior (n=12), algo que poderá serexplicado pelo facto do número de recordes em 1996ter sido inferior ao de 2000. Reitera-se, portanto, aanalogia entre o desporto para pessoas com deficiên-cia e o desporto de alto rendimento dos atletas ditosnormais. Os exemplos seguintes ilustram issomesmo: “... ouro conquistado por Gabriel Potra, que esta-beleceu um novo recorde paralímpico…”; “quarteto portu-guês estabeleceu novo máximo nos 4x400 metros”; “anadadora Susana Barroso… bateu o recorde nacional quelhe pertencia…”. Em relação à subcategoria Prospecções/Expectativas,em 1996 nota-se ausência antes do evento e presen-ça durante e após o mesmo. Já no ano de 2000,observamos a presença antes e durante os jogos e asua ausência após os mesmos. Esta presença, emambos os anos, durante o evento justifica-se por siprópria, já que é de aceitar que existam expectativase prospecções em redor das provas. No entanto, em2000 estes números foram superiores, apresentandoesta subcategoria um total de trinta e oito unidades,das quais três se verificam antes do evento e trinta ecinco durante o mesmo, corroborando, assim, a

maior importância atribuída ao fenómeno em 2000.Não obstante, é provável que os resultados obtidospelos atletas em Atlanta possam ter influenciadomaiores expectativas em torno dos Jogos de Sydney,na medida em que a existência de informação ante-rior sobre um facto permite valorizar, ou não, omesmo(25). É, ainda, de salientar que as notícias de2000 surgiam com maior intensidade, ou seja, nãosó o número é superior, como também e, principal-mente, o conteúdo é mais explícito, pois “… a equipalusa vai entrar para ganhar…” ou, ainda, a referênciaaos atletas que “… abrem boas perspectivas para o seuprimeiro teste em solo australiano…”. Adicionalmente,nota-se um optimismo gerado em redor do eventoquando se afirma que “… as expectativas são as melho-res havendo mesmo a possibilidade de superar as marcas deAtlanta” e, assim sendo, as mesmas são projectadasnum sentido mais generalizado, difundindo-se sobretodos os atletas. Deste modo, parece estar patentemaior relevância ao evento e também ao atleta comdeficiência no ano 2000, uma vez que também severifica uma maior deposição de esperanças da parteda nação (visível no jornal). Ao constatarmos a exis-tência de expectativas relativamente ao desportopara pessoas com deficiência, anteriormente só veri-ficadas para o desporto de alto rendimento, quemovimenta maiores interesses económicos(19), apu-ramos uma cada vez maior semelhança entre ambos.Outra subcategoria considerada foi o Programa daCompetição que, conforme se observa, só está pre-sente em 2000 (n=11). Esta subcategoria estáausente antes e após os mesmos, pois o objectivodeste tipo de notícia é informar a data e a hora dasprovas. Por conseguinte, parece manifestar-se umaintenção de manter o público informado, bem comopermitir ao leitor saber quais as provas em quePortugal ou os atletas portugueses participavam.Neste contexto, a ausência verificada em 1996 reve-la-se pouco positiva, já que não se revela essamesma tendência.Finalmente, no que concerne à Descrição da Prova,com ausência no ano de 1996, mas presente em2000 (n=19), quase sempre se descrevem as provascom alusão aos atletas envolvidos, denotando-se umcerto cuidado para cada atleta e reforçando a inten-cionalidade em manter o público informado. Emborase faça sentir um determinado nacionalismo, ou seja,

O valor do atleta com deficiência

Page 76: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–7774

um destaque para a equipa e representação portu-guesa, quando se afirma que “… a selecção Portuguesademonstrou já algum entrosamento entre os jogadores…”,nota-se, igualmente, a referência ao atleta individual.De facto, “durante a prova o atleta Gabriel Potra… nãoteve a vida facilitada… mas conseguiu ser melhor do que ochinês…”, o que vem confirmar o salientado na cate-goria Atleta com Deficiência. Ou seja, uma (aparen-te) maior centralização na pessoa humana, nestecaso do atleta protagonista da prova.De um modo geral, os resultados de 1996 e de 2000parecem ter contrariado os de Schantz e Gilbert(25),uma vez que estes autores verificaram que o tipo decobertura efectuada pela imprensa não era especifi-camente desportiva, reportando-se, sim, a escânda-

los e problemas que, na opinião dos autores, seprendem com objectivos comerciais.Contrariamente, os nossos dados centram-se, emambos os anos, na divulgação dos resultados, embo-ra em 1996 esta divulgação ocorra especialmente emrelação aos bons resultados.A indicação da deficiência do atleta surge como com-plemento informativo, dada a classificação específicautilizada para a realização de provas a nível do des-porto para pessoas com deficiência. É ainda de acres-centar que a informação em 2000 permite não só dara conhecer os resultados, como também reconhecero valor da performance destes atletas, uma vez quefrequentemente estas notícias são muito descritivase minuciosas.

Ana L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

Quanto à categoria Apoio ao Atleta, e ao observar-mos o quadro 7, constatamos que, em 1996, a subca-tegoria Dados Políticos/Federação está presentedurante (n=2) e após (n=2) os JP. Em 2000, encon-tra-se presente nos três tempos analisados. A presen-ça antes do evento, em 2000, reporta-se a uma recep-ção feita à delegação portuguesa pelo Primeiro-Ministro, com o intuito de lhes desejar boa sorteantes da sua partida para os JP, o que poderá revelaruma maior atenção dada a estes atletas nesse ano.Em ambos os anos, estas referências remetem-se,maioritariamente, a mensagens das entidades gover-namentais a felicitar os atletas pelas suas vitórias,mas encontramos, igualmente, a presença de referên-cias a apoios monetários garantidos pelo Estado.Finalmente, a subcategoria Direitos/Discriminaçãoestá sempre ausente nos Jogos de Atlanta (1996),enquanto que em 2000 encontra-se presente apenasantes. O que se observa é que a imprensa tornouvisível algumas dificuldades sentidas pelos atletas,

nomeadamente o caso de Lenine Cunha cuja “… des-locação à Austrália valeu a não renovação do contrato detrabalho…”, mostrando, portanto, que a imprensapode assumir um papel preponderante na mudançade atitudes(6, 7, 17), designadamente em relação à pes-soa com deficiência. Por outro lado, este meio decomunicação social poderá estar a passar a imagemde que a pessoa/atleta com deficiência é uma vítimae que passa por muitas dificuldades, reforçando aideia de que ocupa uma posição excluída na nossasociedade(20). Não obstante, é de salientar que, tam-bém ao nível de certas modalidades para atletas semdeficiência, parece existir alguma discriminação,inclusive da parte da comunicação social(4, 7). A categoria Apoio ao Atleta encontra-se visível emambos os anos, uma vez que Atlanta 1996 marcou oinício de um novo ciclo do desporto para pessoascom deficiência em Portugal. Efectivamente, terá sidoneste ano que, pela primeira vez, a delegação para-límpica recebeu apoio financeiro substancial da parte

Quadro 7: Ausência/presença e frequência de referências às subcategorias Dados Políticos/Federação e Direitos/Discriminação na categoria Apoio ao Atleta.

Page 77: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–77 75

do Governo(11). Na realidade, esta tendência pareceter evoluído num sentido positivo, já que em Sydneyo apoio sentido foi maior, não só a nível financeiro,como também ao nível social, pois são mais numero-sas as referências a felicitações e presença de entida-des governamentais no local dos JP. Tal não se teráverificado em 1996, pressupondo, consequentemen-te, que este evento tem vindo a assumir maior

importância ao longo dos últimos anos.Relativamente à categoria Público, cuja frequência eausência/presença se encontram representadas noquadro 8, verifica-se que, tanto em 1996 como em2000, ela está presente durante e após o evento.Contudo, quando analisamos a frequência de notí-cias, dentro desta mesma categoria, verificamos dife-renças entre os dois anos em análise.

O valor do atleta com deficiência

Quadro 8: Ausência/presença e frequência de referências à categoria Público.

São três as referências em 1996: uma durante o even-to e duas após o mesmo; enquanto que em 2000 seencontram dez durante o evento e uma após omesmo, num total de onze referências. O que verifi-camos foi que, tanto em 1996 como em 2000, é visí-vel um reduzido número de referências nesta catego-ria, algo mais evidente no ano de Atlanta, talvez pelabaixa adesão do público. Pensamos que a diferençaentre os dois anos se prende com o facto de se terverificado, em 2000, um apoio muito forte por parteda comunidade portuguesa presente na Austrália aolongo dos jogos dado que “em todos os recintos onde sedisputavam provas dos portugueses, podiam encontrar-sevárias bandeiras verdes e encarnadas e ouvir-se o grito deincentivo “força Portugal!”. Com efeito, esse apoio éevidente nas notícias, pois “Paulo Ramos realçou o apoiodos portugueses ao longo do percurso, tendo um deles corri-do com a dupla cerca de 500 metros…”, referindo-se,inclusivamente, que algumas provas terão proporcio-nado “… um belo espectáculo às pessoas que encheram asbancadas do Indoor Sports Centre”. No entanto, em1996, as unidades referem-se ao público de umaforma geral, ou seja, “… realizou-se… perante cerca de50.000 espectadores a cerimónia de encerramento” e, alémdisso, parecem reflectir a baixa adesão sentida duran-te este evento, já que “… a competição dos paralímpicosteve o seu início debaixo de uma compensadora presença depúblico nos estádios…”. Atente-se à palavra compensa-dora. Em nosso entender esta é, provavelmente, umatentativa camuflada de afirmar que tendo em contaque eram os paralímpicos… até esteve muita gente.

Desta forma, parece fazer sentido o reduzido númeroencontrado em 1996, uma vez que os atletas comdeficiência são, frequentemente, considerados comoatletas de segunda classe(26). Por causa desta noção,os feitos de muitos atletas com deficiência ficam pornoticiar a um público que espera pela apresentaçãodo desporto por parte dos mass media(26).O que se observou, relativamente a este facto, foi quea única referência relativa ao número de espectadoresem 1996 se reporta à cerimónia de encerramento,enquanto que em 2000 se constatou que “o jogo dispu-tado no centro de futebol do Parque Olímpico da Baía daHomebush, foi assistido por cerca de três mil pessoas…”. Defacto, em Sydney, e como já referido, verificou-se apresença de público português nos Jogos, não setendo notado o mesmo em 1996, o que poderá even-tualmente dar-nos indicações acerca de uma possívelvalorização do atleta com deficiência. Não podemos,porém, esquecer que este público, apesar de ser por-tuguês, vive num contexto diferente do de Portugal, oque poderá ter influenciado os resultados obtidos.

CONCLUSÃOA análise de imprensa efectuada revela, em primeirolugar, um aumento significativo no número de notí-cias entre 1996 e 2000, parecendo demonstrar umamudança de atitude da sociedade face ao atleta comdeficiência. Esta alteração poderá corresponder a umamaior valorização do mesmo. Isto é, tendo em contaum aumento de informação e descrição das provas,podemos afirmar que, embora ainda muito distante,

Page 78: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–7776

se tenta uma aproximação ao modelo do atleta ditonormal. De facto, ao contrário do ano de 1996, em2000 as notícias referem-se explicitamente aos atletasparalímpicos, revelando que estes são notícia e mere-cem o devido destaque. No que diz respeito às foto-grafias, podemos afirmar que quanto menos visívelfor a deficiência, maior a probabilidade da notícia serilustrada com uma fotografia do atleta. Deste modo,parece que a sociedade ainda não é capaz de conce-ber, num atleta, a condição de pessoa com a deficiên-cia que lhe está inerente. É de considerar, por conse-guinte, que a pessoa com deficiência não é valorizadasob o ponto de vista estético. O atleta parece, sim,ser tanto mais valorizado quanto melhores forem osresultados obtidos. De facto, é notória a exaltação davitória do atleta em ambos os anos, identificando-acomo a de todos os portugueses, manifestando umavalorização positiva do atleta nacional. Na realidade,o resultado e o recorde parecem assumir uma impor-tância tal que se pode afirmar que o desporto parapessoas com deficiência se encontra enquadrado coma lógica do desporto moderno, esperando-se que oatleta incorpore o homem sem limites, algo tambémvisível nas prospecções e expectativas geradas emtorno das suas provas. Finalmente, cabe-nos dizer que as conclusões apre-sentadas são fruto de uma discussão fortemente cen-tralizada nos nossos resultados e não tanto no con-fronto com a literatura mais específica, dada a suaescassez. Destarte, esta reduzida produção de conhe-cimento na área da actividade física adaptada pareceir ao encontro da realidade social por nós estudada ediscutida.

CORRESPONDÊNCIAMaria Adília SilvaFaculdade de Desporto Universidade do Porto R. Dr. Plácido Costa, 914200-450 [email protected]

Ana L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

Page 79: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 65–77 77

REFERÊNCIAS1. A.A. (1999). Dicionário de Língua Portuguesa. Porto: Porto

Editora (8ª ed.)2. António B (1993). Olimpíadas/Paralimpíadas. Minusval -

Revista del Servicio Social de Minusválidos Ano XX (82): 98-100

3. Bardin L (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 704. Borcila A (2000). Nationalizing the Olympics around and

away from ‘vulnerable’ bodies of women. The NBC covera-ge of the 1996 Olympics and some moments after. Journalof Sport & Social Issues 24 (2): 118-147

5. Bourdieu P (1997). Sobre a televisão seguido de A influência dojornalismo e os Jogos Olímpicos. Rio de Janeiro: Jorge ZaharEditor

6. Brittain I (2004). Perceptions of disability and their impactupon involvement in sport for people with disabilities atall levels. Journal of Sport & Social Issues 28 (4): 429-452

7. Calvo A (2001). Desporto para Deficientes e Media -Análise evolutiva do tratamento mediático dos JogosParalímpicos em quatro periódicos nacionais(1988/1992/1996). Dissertação de Mestrado. Porto:Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,Universidade do Porto

8. Carvalho J (1999). Preparação da Missão Paralímpica deSydney 2000. Estoril: Associação Nacional de Desportopara a Deficiência Mental

9. Dias B (2001). Direitos humanos, cidadania e deficiência.In Dias J (ed.) Cidadania e deficiência. Évora: AssociaçãoPós-Pólio de Portugal, 21-38

10. Erbring L, Goldenberg E (1980). Front-page news and realworld cues: a new look at agenda-setting by the media.American Journal of Political Science 24 (1): 16-49

11. Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes(1996). Desporto para deficientes a nível mundial. FPDD-Informação (10): 5

12. Gaillard P (1971). O Jornalismo. Mem Martins: PublicaçõesEuropa-América

13. Gamson W, Croteau D, Hoynes W, Sasson T (1992).Media Images and the social construction of reality. Ann.Rev. Sociol. 18: 373-393

14. Garcia R (2000). Desporto para pessoas com deficiência -uma perspectiva ética. In Lemos K (Ed.) Temas Actuais V.Educação Física e Esportes. Belo Horizonte: EditoraHealth, 83-92

15. Gervilla E (1993). Postmodernidad y educación. Valores y cultu-ra de los jovenes. Madrid: Dykinson

16. Grawitz M (1993). Méthodes des sciences sociales. Paris:Éditions Dalloz

17. Keller C, Hallahan D, McShane E, Crowley E, BlandfordB (1990). The coverage of persons with disabilities inamerican newspapers. The Journal of Special Education 24(3): 271-282

18. Maas K, Hasbrook C (2001). Media promotion of the para-digm Citizen/Golfer: an analysis of Golf magazines’ repre-sentations of disability, gender, and age. Sociology of SportJournal (18): 21-36

19. Manha J (1989). Jornalismo (dito) desportivo. A especiali-zação contra a especulação. In Direcção Geral dosDesportos (Ed.) Seminário Desporto e Comunicação Social,Desporto e Sociedade. Lisboa: Ministério da Educação, 37-44

20. Moura e Castro J (1996). O deficiente e o desporto. RevistaHorizonte 74 (13): 26-30

21. Moura e Castro J, Garcia R (1998). O desporto, a perfor-mance e a estética do corpo diferente. In Marques A, PristaA, Faria Júnior A (Eds.) Educação Física: Contexto e Inovação- Actas do V Congresso de Educação Física e Ciências do Desportodos Países de Língua Portuguesa. Maputo: FCDEF-UP, FCDEF-UPM, 203-213

22. Neiva J (1997). Igualdad y Diversidad: el respecto-recono-cimiento del otro. Un valor fundamental. In M. Patrício(Ed.) A escola cultural e os valores. II Congresso da Associaçãoda Educação Pluridimensional e da Escola Cultural (AEPEC).Porto: Porto Editora, 189-207

23. Patrício M (1993). Lições de Axiologia Educacional. Lisboa:Universidade Aberta

24. Sanmartín M (1995). Valores sociales y deporte - La actividadfísica y el deporte como transmisores de valores sociales y persona-les. Madrid: Gymnos, Editorial Deportiva, S.L.

25. Schantz O, Gilbert K (2001). An Ideal Misconstructed:Newspaper Coverage of the Atlanta Paralympic Games inFrance and Germany. Sociology of Sport Journal 18 (1): 69-94

26. Shell L, Duncan M (1999). A content analysis of CBS’scoverage of the 1996 Paralympic Games. Adapted PhysicalActivity Quartely 16: 27-47

27. Silverman D (2000). Analysing talk and text. In Lincoln Y(Ed.) Handbook of qualitative research. California: SagePublications, Inc, 821-834

28. Thomas N, Smith A (2003). Preoccupied with able-bodied-ness? An analysis of the british media coverage of 2000Paralympic Games. Adapted Physical Activity Quartely 20:166-181

29. Vala J (1986). A análise de conteúdo. In Madureira Pinto J(Ed.) Metodologia das Ciências Sociais. Porto: EdiçõesAfrontamento, 101-128.

O valor do atleta com deficiência

Page 80: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 81: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

ARTIGOS DEREVISÃO

[REVIEWS]

Page 82: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 83: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–93 81

Crescimento somático na população africana em idade escolar.Estado actual do conhecimento

Sílvio Saranga1

José Maia2

Jorge Rocha3

Leonardo Nhantumbo1

António Prista1,4

1 Universidade Pedagógica, Faculdade de Ciências deEducação Física e Desporto, Maputo, Moçambique

2 Universidade do Porto, Faculdade de Desporto, Portugal3 Universidade do Porto, Faculdade de Ciências e IPATIMUP, Portugal

4 Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Medicina,Maputo, Moçambique

RESUMO

O desenvolvimento da investigação científica em torno do cres-cimento somático das populações tem-se justificado não sópela sua utilidade no âmbito da saúde pública e desenvolvi-mento humano, mas também pelo contributo que presta a dife-rentes domínios da ciência, como sejam a auxologia, a antropo-logia, a epidemiologia e a nutrição, entre outros. Por se encon-trar associado aos estudos das populações afectadas por condi-ções higiénico-nutricionais adversas, o continente africanoencontra particular interesse no seu desenvolvimento e aplica-ção. A presente revisão da literatura, ao tentar estabelecer oestado do conhecimento actual, pretende auxiliar os pesquisa-dores de populações africanas em idade escolar. A partir daconsulta de bases disponíveis, foram seleccionados todos osartigos que versassem estudos realizados em África, com sujei-tos em idade escolar e referindo diferentes aspectos do seucrescimento somático. Os estudos revistos revelam uma preo-cupação centrada em torno do significado antropobiológico docrescimento infanto-juvenil, nomeadamente na influência dascondições sócio-económicas no crescimento, sobretudo a partirde um enfoque diferencialista de meios e estratos sócio-econó-micos distintos. Um outro aspecto de relevo reside no usogeneralizado de normas internacionais para avaliar-estimar oestado nutricional, bem como a validade dos pontos de corteusualmente utilizados. Finalmente, sugere-se abordagens maisamplas e diversificadas no entendimento da enorme variabilida-de populacional. A epidemiologia genética, ou a genética depopulações podem ser enfoques altamente promissores.

Palavras-chave: crescimento, crianças e jovens, África, saúdepública, epidemiologia.

ABSTRACT

Somatic Growth in African Children and Youth. Current Knowledge

Scientific research in somatic growth has been justified by its utility inpublic health and human development as well as its major contributionto such fields as auxology, anthropology, epidemiology and nutrition.Since growth deficiencies are associated with adverse hygienic-nutri-tional conditions, the development and application of knowledge pro-vided from auxology is increasing in Africa. The present literaturereview has been conducted in order to face the need of a systematisationof the few publications about growth in school aged populations ofAfrica. All the papers cited in available library databases which referto studies within this framework of research with school aged Africanpopulations have been included. The study of the bio-anthropologicalmeaning of child growth, namely the socio-economic influence, seems tobe the main concern. Another issue is the interpretation and validity ofusing international norms and cut-offs to classify nutritional status.The review also suggests that, facing some of the methodological andsubstantive limitations of such research and the recent developmentwithin the broad field of genetics, new approaches will come out in thenear future to solve some of the must relevant research problems.

Key Words: growth, children and youth, Africa, public health, epidemiology.

Page 84: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–9382

INTRODUÇÃO: ÂMBITO, RELEVÂNCIA E ENQUADRAMENTOA literatura de cariz antropo-auxológico tem eviden-ciado, com muita frequência, o papel relevante doestudo do crescimento somático em populações des-favorecidas no âmbito da saúde pública, das avalia-ções nutricionais e do desenvolvimento pessoal. Ainfância e a pré-adolescência são considerados perío-dos sensíveis na vida do ser humano, pelo que ainformação circunstanciada e altamente detalhada docrescimento infantil é considerada como um excelen-te indicador de saúde, ao permitir o estabelecimentode padrões de vigilância do desenvolvimento dacriança. Daqui que facilitem o diagnóstico do estadosanitário de populações com propósitos de interven-ções adequadas ao nível das comunidades. Os factores negativos que interfiram precocementeno processo de crescimento, tais como o hipotiroidis-mo ou a desnutrição, podem ter consequências alongo prazo (22). Uma análise adequada do cresci-mento permite despistar estes factores, identificarsituações em que seja necessária intervenção clínica,bem como avaliar o seu sucesso. Para além destedomínio, em que se pode reduzir substancialmentediferentes aspectos da morbilidade infantil, a presta-ção de cuidados médicos baseados na monitorizaçãodo crescimento tem como objectivo estabelecer ascondições ambientais que permitam à criança expres-sar o seu potencial genético de desenvolvimento.Nos últimos 20 anos, um conjunto variado de estu-dos centrados em diferentes “lugares” de pesquisa(antropológico, auxológico, epidemiológico, clínico enutricional) tem apontado, de forma clara, o fossoenorme que separa os resultados de crescimento edesenvolvimento individual e colectivo dos paísesdesenvolvidos, produto de condições sócio-económi-cas altamente favoráveis, dos que ocorrem nos paí-ses em desenvolvimento. Nestes últimos, as criseseconómicas, de carácter mais ou menos cíclico, con-duziram a um agravamento substancial do estadonutricional e da saúde das populações, com fortesprejuízos da sua capacidade de produzir trabalho efruir de uma vida activa e plena (45). Daqui que nãoseja surpreendente que o atraso no crescimentosomático e desenvolvimento psicomotor das criançasdos países em desenvolvimento, com especial desta-que para os da África Sub-Sahariana, seja estabeleci-do nos primeiros dois ou três anos de vida (1, 19,42). Este facto está geralmente associado a uma

Sílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha, Leonardo Nhantumbo, António Prista

fraca vigilância pediátrica nestes países devido, entreoutros factores, à falta de pessoal técnico e clínicoqualificado e a um serviço de saúde deficiente.Olhando para a imensidão territorial e para a grandevariabilidade das populações africanas, sobretudo noestrato etário mais jovem, pode afirmar-se, com algu-ma propriedade, que há relativamente poucos estu-dos acerca do crescimento e desenvolvimento daspopulações pertencentes à região Sub-Sahariana, par-ticularmente em subgrupos populacionais rurais.Esta lacuna reclama uma atenção única, se nos con-centrarmos na enorme riqueza informacional queestas regiões têm, e que são de grande preciosidadepara a interpretação da variabilidade humana e suasimplicações nos domínios da medicina, da educação eda qualidade de vida das populações. Devido à suaextraordinária diversidade étnica, geográfica e sócio-cultural, a que se associam manifestas assimetriasnos ritmos de desenvolvimento económico, as popu-lações africanas podem ser vistas como experiênciasnaturais em que é possível analisar e ponderar ainfluência dos diferentes factores que afectam ospadrões de crescimento e desenvolvimento humanos. Um olhar pela literatura sobre o crescimento edesenvolvimento em África mostra que há um déficeconsiderável de estudos centrados nas zonas ruraisque, juntamente com outras áreas não urbanizadas,concentram mais de 50% da população africana. Nasua maioria, os trabalhos de pesquisa têm sido reali-zados no âmbito da avaliação do estado nutricional,recorrendo a indicadores antropométricos. Por outrolado, as abordagens têm sido essencialmente realiza-das com crianças menores de 5 anos, dada a elevadataxa de mortalidade nesta faixa etária. De há algunsanos para cá, começa a notar-se uma tímida, masemergente, preocupação no estudo da criança emidade escolar, incluindo as diversas fases pubertárias,de que são exemplo os trabalhos realizados porDavies et al. (11), Sellen (42) e Gillett e Tobias (14)na Tanzânia, Cameron et al. (6), Henneberg e Low(18) e Monyeke et al. (28) na África do Sul, Pawloski(32) no Mali, Zverev e Gondwe (54) no Malawi, e,finalmente, em Moçambique por Martins (24), Prista(33, 34, 37), Muria (29), Saranga (41) e Prista et al.(35, 36, 39). Neste trabalho é apresentada uma revisão bibliográfi-ca dos estudos de crescimento realizados em paísesda África Sub-Sahariana em populações com idadeescolar (Quadro 1).

Page 85: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–93 83

Crescimento em crianças e jovens africanos

Quadro 1: Estudos de crescimento somático de crianças em idade escolar realizados nos países africanos a Sul do Sahara.

Page 86: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–9384

Sílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha, Leonardo Nhantumbo, António Prista

Page 87: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–93 85

Crescimento em crianças e jovens africanos

Page 88: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–9386

A fim de sistematizar os principais tópicos aborda-dos nestas pesquisas, a apresentação será divididaem duas áreas temáticas fundamentais: 1) significa-do regional e nacional dos padrões de crescimento edesenvolvimento, suas associações com indicadoresde saúde e comparações com dados de referênciainternacional; 2) comparações entre os padrõesobservados em populações rurais e urbanas e emdiferentes grupos sócio-económicos. É objectivo do presente documento a descrição dostrabalhos publicados sobre estudos com populaçõeslocais africanas, a sistematização dos principais pro-blemas e resultados, bem como a tentativa de pers-pectivar os eixos principais de desenvolvimento dainvestigação futura.

VARIAÇÃO REGIONAL DOS PADRÕES DE CRESCIMENTOE SUAS RELAÇÕES COM DADOS DE REFERÊNCIAINTERNACIONAISA altura e o peso são dois dos indicadores antropo-métricos de maior relevância na elucidação do estadonutricional, assumindo-se, geralmente, que desviosnegativos do desenvolvimento estaturo-ponderal deuma criança traduzem deficiência nutricional (33,34, 36). Estes desvios, denominados de stunting(baixa estatura em relação à idade, ou atraso navelocidade de crescimento linear) e wasting (baixopeso em relação à estatura ou atraso na velocidadede crescimento ponderal), estão bem documentadosem países em desenvolvimento (25, 43, 52). A quali-dade de um critério de diagnóstico baseado na defi-nição de um limite de normalidade pode ser avaliadapela sua sensibilidade e especificidade. A sensibilida-de é uma medida do poder de identificação de casospatológicos. Será tanto mais alta quanto menor apercentagem de falsos negativos. A especificidadequantifica a fiabilidade na identificação de casos nor-mais e será tanto mais alta quanto menor a percen-tagem de falsos positivos. Se, por exemplo, procurar-mos aumentar a sensibilidade através de uma deslo-cação do limite de normalidade para o percentil 10,haverá uma redução da especificidade. Se o limite denormalidade for menor que o percentil 3, verificar-se-á o inverso. Normalmente, entende-se por desvioda taxa normal a perda da posição percentílica comtrajectórias para canais percentílicos abaixo do per-

centil 5. O limite inferior do canal geralmente admi-tido no âmbito da pediatria clínica é o percentil 3. A Organização Mundial de Saúde recomenda o usode normas dos Centros Nacionais de Estatísticas deSaúde, com destaque para as oriundas de estudosrealizados com crianças americanas (49), quando sepretende obter uma base de contraste em estudoscomparativos independentes de populações e de sub-grupos populacionais (49). Contudo, esta sugestão eprática têm sido objecto de várias críticas (36, 39).Um dos principais constrangimentos nas práticaspediátricas é a ambiguidade na definição dos parâ-metros do crescimento normal. A ausência de umadefinição precisa e inequívoca de stunting e wastingimpede a identificação clara das crianças em risco. A incapacidade para detectar estes fenómenos temfortes implicações no diagnóstico de certas doenças,visto que estes desvios são, na sua essência, diferen-tes e têm significados clínicos distintos. Este pro-blema tem sido objecto de inúmeros debates, sobre-tudo no que respeita à utilidade relativa do uso denormas internacionais ou nacionais. Actualmenteparece haver um consenso, mais ou menos generali-zado, relativamente à vantagem da utilização denormas nacionais, isto é, normas provenientes deamostras da população em análise, constituídas porindivíduos com estado de saúde óptimo e nãoexpostas a constrangimentos sérios ou agressõesambientais. No entanto, a ausência deste tipo denormas na maior parte dos países tem levado a umamaior utilização dos padrões de referência interna-cionais actualmente disponíveis. Segundo Tanner(44), as normas internacionais são válidas paracrianças de diversos grupos sócio-económicos, peloque as estaturas e pesos que se encontrem dentrodos canais percentílicos das tabelas de referênciapodem ser consideradas normais. A grande controvérsia, no que se refere a compara-ções inter-populacionais usando estas referências,resulta, por um lado, do facto de haver uma grandevariabilidade étnica nas populações e, por outro, dosgrupos de referência serem geralmente de origemeuropeia e de classes sociais e ambientes específicos.Embora seja consensual que as normas de referênciadevam ser determinadas a partir de populações sau-davelmente nutridas e apresentando estados clínicos

Sílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha, Leonardo Nhantumbo, António Prista

Page 89: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–93 87

normalizados, considera-se que os desvios destasnormas podem não indicar necessariamente situa-ções patológicas. Assim, salientando a importânciada variabilidade étnico-regional como fruto de umainteracção genética e ambiental natural, a UniãoInternacional de Ciências Nutricionais propunha, em1971, que o uso de valores de referência locais per-mitiria uma mais fácil identificação da posição dosujeito, tendo em conta as condições específicas doseu ambiente, incluindo a nutrição e os serviços desaúde (15, 17, 23, 30, 46). Neste contexto, as tabe-las padronizadas a partir de outras populaçõesdevem ser, no entender de alguns autores, designa-das como referências e não como normas (50, 7).A adopção de normas locais apresenta, contudo,constrangimentos importantes. Em primeiro lugar, ofacto da sua construção ser muito onerosa, exigirgrandes amostras e a formação de técnicos locaiscom elevados níveis de proficiência tornar a sua exe-cução muito difícil. Em segundo lugar, a elevada pre-valência das mais variadas doenças e sequelas decondições higiénico-nutricionais adversas dificulta adefinição de critérios seguros de inclusão e exclusão.Face a estas dificuldades de construção de normaslocais, tem sido considerado que as normas de refe-rência universais, apesar das suas limitações, consti-tuem o meio disponível mais apropriado para o des-piste dos atrasos nos índices de crescimento daspopulações (16). Esta opção é apoiada pela observa-ção de que as crianças dos grupos sócio-económicosmais prósperos de diferentes populações apresentammenor disparidade de crescimento linear do quesubgrupos da mesma população pertencentes a dife-rentes estratos sócio-económicos (17). Tal padrãoparece indicar que as diferenças ambientais intra-populacionais se sobrepõem às possíveis diferençasgenéticas inter-populacionais (26).Pelo contrário, outros autores sustentam que a dife-renciação genética pode ter implicações significativasnos padrões de crescimento dos diversos grupos étni-cos, explicando, por exemplo, as diferenças observa-das entre europeus e asiáticos (15, 40, 12). Noentender destes autores, o uso de normas de referên-cia exteriores à população em estudo pode conduzir ainterpretações enviesadas das implicações dos resul-tados, devido à falta de indicadores sensíveis e fiáveis

do atraso no crescimento, como a morbilidade e mor-talidade (1, 19). A importância destes indicadoresreside no facto de poderem servir de caracterizadoresda população, para além de facilitarem a comparaçãocom populações de países desenvolvidos. Para aspopulações africanas ainda não há ferramentas basea-das em evidências empíricas para medir a morbilida-de, devido, entre outras coisas, a carências estrutu-rais e formais dos serviços de saúde.Dois trabalhos recentes nesta matéria foram realiza-dos em Moçambique (36, 39). Em dois momentosdiferentes, os autores avaliaram a relevância biológi-ca dos critérios antropométricos de avaliação doestado nutricional adoptados pela OMS (52) empopulações de idade escolar de ambos os sexos. Apesquisa consistiu, essencialmente, na divisão deduas grandes amostras em grupos nutricionais deacordo com a classificação da OMS, e na comparaçãodas mesmas em termos clínicos, de performancemotora e actividade física habitual, assumindo queum estado nutricional deficiente se reflectiria neces-sariamente, e negativamente, nas variáveis em estu-do. Desta investigação resultou a conclusão que osvalores de corte para definir sujeitos com subnutri-ção (wasted e stunted) não apresentavam validade,dado que as poucas diferenças encontradas eramexplicadas apenas pelas diferenças em tamanho cor-poral, o que conduziu à discussão acerca dos efeitose significado alométrico da estatura. Por outro lado,foi sugerida validade para os critérios de definição deobesidade, já que se observaram diferenças significa-tivas entre os classificados de obesos e os restantesgrupos nutricionais. Apesar de pesquisar populaçõesde idade pré-escolar, van Loon (46) demonstrou queo uso de critérios desajustados poderá induzir erroscom implicações humanas de impacto negativo. Porexemplo, a sobre-classificação de prevalência de mal-nutrição pode levar ao abandono de estratégias efi-cientes, por causa das estimativas de custos operati-vos que poderiam ser realizados se o número de fal-sos positivos não fosse tão elevado. Parece ser deconcluir, daqui, a urgência do desenvolvimento e afi-namento de instrumentos simples e altamente fiá-veis, de validade biológica comprovada para classifi-car, com elevado rigor e segurança, diferentes esta-dos nutricionais.

Crescimento em crianças e jovens africanos

Page 90: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–9388

COMPARAÇÕES ENTRE OS PADRÕES OBSERVADOS EMPOPULAÇÕES RURAIS E URBANAS E EM DIFERENTESGRUPOS SÓCIO-ECONÓMICOS. Cameron (4, 5), baseando-se em dados longitudinaisde crianças sul-africanas de áreas rurais, demonstrouque os seus padrões de crescimento se encontravammuito abaixo do percentil 50 até ao período da ado-lescência. No entanto, após o salto pubertário, osvalores atingidos não se encontravam muito longedos padrões dos jovens americanos e britânicos. Omesmo autor (5), num estudo de revisão, comparouos valores de crescimento (altura e peso) e consta-tou que havia diferenças significativas entre rapari-gas sul-africanas de áreas urbanas e rurais. Refereque crianças de nível sócio-económico elevado seencontram muito próximo do percentil 50 das nor-mas da OMS. Por outro lado, observou que criançasrurais e urbanas de nível sócio-económico elevadodemonstram melhores índices de crescimento doque crianças urbanas de nível socioeconómico maisbaixo. Numa pesquisa posterior, Cameron (4) obser-vou uma menor velocidade de crescimento, seguidade um longo período de crescimento que vai atéaproximadamente aos vinte anos. Para autores como Eveleth e Tanner (13), Bogin (3)e Meredith (27), crianças de estatuto socioeconómi-co elevado que vivem em meio urbano são, de formageral, mais altas, mais pesadas e com uma maiorpercentagem de gordura corporal, devido ao facto domeio em que vivem estar muitas vezes associado aum estatuto socioeconómico elevado. Contudo, é dereferir que crianças urbanas de estatuto socioeconó-mico médio são, com algumas raras excepções, bai-xas e têm um estatuto nutricional inferior ao dascrianças de populações rurais. Pawloski (31) investigou o crescimento de raparigasrurais e urbanas do Mali. Observou um atraso estatu-ro-ponderal quando comparou os seus valores comraparigas americanas de referência. No que se refere aoíndice de massa corporal, os resultados não revelarama presença de desnutrição proteica. Raparigas malianasde áreas rurais, contrastadas com as de áreas urbanas,apresentam baixo peso e menor estatura e, consequen-temente, um índice de massa corporal inferior. Henneberg e Louw (18) realizaram um estudo deno-minado Cross-sectional survey of growth of urban andrural cape coloured schoolchildren: anthropometry and

functional tests, envolvendo dois grupos de criançasurbanas e rurais, com o máximo de contraste no quese refere ao estatuto sócio-económico na África doSul. Os dados foram recolhidos entre os anos 1986 e1988, numa amostra de 1974 crianças urbanas doestatuto sócioeconómico elevado (906 rapazes e1068 raparigas), com idades compreendidas entre os5 e 20 anos; numa outra amostra de 1774 criançasrurais de estatuto socioeconómico baixo (834 rapa-zes e 940 raparigas), as idades estavam compreendi-das entre os 5 e 19 anos. Tomaram como indicadoresdo padrão de crescimento a altura, o peso, o compri-mento dos membros, perímetros do braço e da coxa.Verificou-se que, em média, as crianças do meiorural se encontram abaixo das crianças do meiourbano nos indicadores altura e peso. Quanto à com-posição corporal, as crianças urbanas encontram-seacima das normas de referência americana. Pawloski (32), a partir de uma pesquisa efectuadanuma amostra de 1045 raparigas do Mali com idadescompreendidas entre os 10-17 anos, levantou asseguintes hipóteses de trabalho: 1) as raparigas exi-bem menores valores de crescimento, quando com-paradas com outras bem nutridas; 2) as raparigas deáreas rurais exibem baixos valores estaturais, quan-do comparadas com raparigas malianas de áreasurbanas; 3) as raparigas que não frequentam a escolasão também mais baixas do que as que frequentam aescola; e 4) ganhos compensatórios são evidentesnas adolescentes. Os resultados revelaram um fracocrescimento e desenvolvimento em adolescentes dosexo feminino no Mali e uma menor estatura e peso,quando comparadas com raparigas da populaçãoamericana. Estudos realizados por autores comoWagstaff et al. (48), Chaning-Pearce e Solomon (8)sugerem que o evidente atraso no crescimento edesenvolvimento é devido a uma combinação de fac-tores, dos quais se destacam: os alimentos combaixo valor nutritivo, o alto dispêndio energético nasactividades diárias e a fraca qualidade dos cuidadosprimários de saúde. As adolescentes seguem rara-mente um padrão standard de crescimento, devido adiferentes timings biológicos e à expressão diferencia-da do crescimento na puberdade. Recentemente, Monyeki et al. (28) conduziram umestudo transversal com o objectivo de conhecer oestado nutricional e de crescimento de crianças sul

Sílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha, Leonardo Nhantumbo, António Prista

Page 91: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–93 89

africanas usando como indicadores as rácios de altu-ra-pela-idade, peso-pela-idade e índice de massa cor-poral de crianças de 3 a 10 anos de idade. A amostra,de uma aldeia rural a norte da África do Sul, foi cons-tituída por 1335 crianças (684 rapazes, 651 rapari-gas). Os resultados sugerem uma alta prevalência destunting, que vai dos 10%, aos 7 anos, para mais de30%, aos 10 anos de idade. A sobreposição dos resul-tados deste estudo às normas de referência identifi-cou um atraso nos níveis de crescimento das criançasdesta amostra, provavelmente devido às condiçõesstressantes em que vivem. No entanto, é de referirque, se a condição de stunting durante a infância forpermanente, pode conduzir a uma perda de capacida-de para produzir trabalho quando estes indivíduosforem adultos. Investigações realizadas por Wagstaffet al. (48) e Chaning-Pearce e Solomon (8) monstra-ram que, em média, crianças negras do bairro doSoweto, arredores de Joanesburgo, tinham valoresmais baixos na estatura e peso, quando comparadascom os seus pares de origem europeia ou com asnormas americanas usadas como referência pelaOMS, apesar de aparentemente gozarem dos aspectospositivos da vida urbana, como provisão nutricional efácil acesso aos cuidados primários de saúde.Do ponto de vista social, o estatuto socioeconómico,a dimensão das famílias e o envolvimento socialparecem ser causas que interferem no processo decrescimento, para além das componentes étnica ouracial e climática. Num estudo transversal compopulações de países em desenvolvimento, Victora(47) observou que os resultados das rácios antropo-métricas diferiam em várias regiões do planeta.Constatou, por exemplo, que crianças e jovens depaíses da América Latina apresentavam prevalênciasmuito elevadas de stunting e baixas no que se referea wasting, enquanto que nos países asiáticos haviauma alta prevalência, tanto de stunding como de was-ting. O mesmo autor não atribui um papel de relevoaos factores genéticos, referindo que estes padrõesde resultados podiam ser atribuídos a diferenças nascondições socioeconómicas daqueles países. O mais provável é que todas as crianças dos diversosgrupos étnicos apresentem um potencial genéticopara o crescimento linear bastante similar quando ascondições ambientais são óptimas. A constatação davariabilidade étnica no crescimento encontra suporte

em estudos realizados por autores como Habicht etal. (17), Graitcer e Gentry (16), Martorell (25), OMS(53), Keller (20), Kow et al. (21). Na perspectiva deBeaton et al. (1) as diferenças socioeconómicasintra-populacionais estão na origem das diferençasna velocidade de crescimento estatural, devido prin-cipalmente a circunstâncias ambientais e não a dife-renças étnicas no potencial de crescimento, pelomenos até aos cinco anos. Na Tanzânia, Davies et al. (11) realizaram um estu-do longitudinal denominado Physical growth and deve-lopment of urban and rural East African children.Acompanharam, durante sete anos, uma amostra de340 rapazes e 314 raparigas de áreas urbanas e 248rapazes e 136 raparigas de áreas rurais. As idadesestudadas estavam compreendidas entre os 7-16anos. Pretendiam analisar o crescimento estatural, opeso e a composição corporal de crianças Bantu dazona austral de África. Não foi encontrada qualquerdiferença significativa entre os dois grupos, quer nosexo masculino quer no feminino, no que se refereaos padrões da estatura, peso, pregas de adiposidadesubcutânea e perímetro braquial. Quando sobrepuse-ram os valores destas crianças e jovens aos das nor-mas da OMS, os resultados mostraram que as crian-ças da África Austral eram baixas e magras em rela-ção a crianças europeias, mas o momento em queocorre a idade do pico de velocidade em altura epeso é aproximadamente o mesmo. Corlett (9), num projecto denominado Growth ofurban school children in Botswana estudou um total de721 crianças com idades compreendidas entre os 6 eos 15 anos, pretendendo descrever o estatuto decrescimento das crianças de Gaborone, capital doBotswana. Dos resultados, pode-se concluir querapazes e raparigas, em todas as idades, têm altura epeso abaixo do percentil 50 das normas de referênciabritânicas e americanas, e abaixo do percentil 10 daOMS. No que se refere aos valores do peso em fun-ção da estatura, constatou-se uma frequência reduzi-da de crianças nos percentis mais baixos da distri-buição destas variáveis somáticas. Neste mesmoindicador, é notório um padrão de desenvolvimentosemelhante ao registado em outros estudos compopulações africanas. No que se refere ao perímetrobraquial, ao sobreporem os resultados obtidos nasnormas britânicas, as diferenças observadas ficaram

Crescimento em crianças e jovens africanos

Page 92: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–9390

a dever-se à menor estatura e peso das criançastswanas e a diferenças no tempo de crescimento.Diferenças semelhantes são também observadasentre crianças tswanas e outros subgrupos popula-cionais africanos. Embora o primeiro trabalho conhecido seja do anode 1968 (24), tendo como indicadores a estatura e opeso das crianças das escolas da cidade de LourençoMarques (actual Maputo), é nos últimos quinze anosque emerge de modo substancial e continuado umavaga de publicações sobre a populações moçambica-nas de idade escolar (29, 34, 35, 37, 39, 41). O estudo de Martins (24) conclui a existência deuma associação da taxa de crescimento às condiçõessócio-económicas, muitas vezes confundidas com ofactor raça. Depois de um interregno de 26 anos,durante o qual nada foi publicado de importanteneste domínio, foi realizado na cidade de Maputo umtrabalho integrado num estudo sobre a Influência daactividade física e dos factores sócio-económicos sobre ascomponentes da estrutura do valor físico relacionado a saúde(33). Com uma amostra de 593 indivíduos (277rapazes e 316 raparigas), de idades compreendidasentre os 8 e 15 anos, foi possível constatar que osindicadores somáticos da população de Maputo eraminferiores às normas internacionais, reflectindo, pro-vavelmente, um atraso maturacional provocado porcondições higiénico-nutricionais adversas. Este pro-jecto de pesquisa trouxe, comparativamente ao de1968, um conjunto de informações adicionais, devidoao facto de a comparação entre estatutos socioeconó-micos, vulgo “ricos” e “pobres”, se ter realizado entrecrianças e jovens da mesma origem étnica, separadospor condições de vida diferentes e apenas por umageração. Verificou-se uma elevada prevalência de stun-ting e wasting e questionou-se a validade dos critériosantropométricos adoptados para avaliar o estadonutricional conducente a esta situação, e que jáforam anteriormente referenciados. Esta investigaçãogerou novas hipóteses de trabalho e inventariou umnovo conjunto de problemas que, desde então, têmvindo a ser continuamente realizados através devários estudos centrados em diferentes regiões dacidade de Maputo. Na generalidade têm evidenciadouma grande associação entre as condições sócio-ambientais, crescimento somático, maturação bioló-gica e composição corporal (29, 41).

Utilizando uma amostra de 2156 crianças e jovensdos 8 aos 18 anos de idade (1016 rapazes, 1140raparigas), Saranga et al. (41), avaliaram a variaçãono crescimento somático das crianças e jovens dacidade de Maputo entre os anos de 1992 e 1999.Tendo como objectivo verificar em que medida asgrandes alterações das condições sócio-ambientaisverificadas em Maputo naquele período de tempo,resultantes da passagem de uma situação de guerrageneralizada para uma situação de paz e crescimentoeconómico, se repercutiam no crescimento somático,os autores salientaram que: 1) as crianças estudadasem 1999, depois da guerra, apresentam maior esta-tura, peso e percentagem de gordura corporal, quan-do comparadas com as do estudo de 1994; 2) oaumento do peso das crianças estudadas em 1999deveu-se a um incremento substancial da gorduracorporal, e que 3) as diferenças socioeconómicas,quando expressas em função do indicador altura, seagudizavam (41).

CONCLUSÕESEm síntese, apesar da relativa escassez de estudos decrescimento e desenvolvimento em populações africa-nas, a pesquisa disponível sugere claramente que,embora as trajectórias de crescimento na maioria dasamostras estudadas sejam semelhantes às encontradasnas normas internacionais, as médias de altura sãoconsistentemente mais baixas, situando-se no percen-til 5 aos cinco anos, decrescendo até a adolescência,devido a uma diminuição da velocidade de crescimen-to, e seguindo, posteriormente, uma recanalização. Osganhos compensatórios durante o salto pubertário ser-vem para recuperar perdas de crescimento da infância.No entanto, o grau de reposição das insuficiências develocidades de crescimento estaturo-ponderais dainfância ainda não é totalmente conhecido. Os trabalhos mostram uma alta prevalência de stun-ting e atraso no crescimento de crianças rurais naÁfrica Sub-Sahariana em relação aos seus pares dasáreas urbanas. Porém, nem sempre o ambiente urba-no resulta numa melhoria de crescimento estatural.As elevadas taxas de urbanização nestes países, como consequente aumento de áreas urbanas, resultamem grandes “comunidades urbanas informais” nasquais, por vezes, o estado de crescimento é inferiorao das crianças das comunidades rurais.

Sílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha, Leonardo Nhantumbo, António Prista

Page 93: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–93 91

Embora nos estudos consultados tenha havido apreocupação de desenvolver padrões locais de refe-rência para o peso, altura e índices antropométricos,emerge a necessidade de resolver a polémica queadvém do uso de normas de referência internacionalna estimativa e predição de malnutrição em criançasdos países africanos.Não obstante a importância da pesquisa realizada,bem como a riqueza e extensão da sua informação, ainvestigação no domínio do crescimento em Áfricacarece de continuidade, na medida em que, paraalém da avaliação da consistência dos resultados, osavanços científicos permitirão ampliar a abrangênciados estudos em domínios até aqui não explorados.Por exemplo, há a considerar que a maior parte dostrabalhos se resume a regiões extremamente demar-cadas, não se podendo, por isso, generalizar os seusresultados face a uma população supostamentemuito diversificada em termos ambientais, genéti-cos, étnicos e sócio-económicos. Neste contexto, éimportante que futuros estudos possam vir a preen-cher estas lacunas, nomeadamente através da exten-são da cobertura territorial respeitando a orografia, eabrindo-se a incursões na epidemiologia genética edo ensaio da construção de normas do padrão decrescimento.

CORRESPONDÊNCIASílvio Pedro José SarangaUniversidade PedagógicaFaculdade de Ciências de Educação Física e DesportoCaixa Postal 2107 Maputo, Moç[email protected]

Crescimento em crianças e jovens africanos

Page 94: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–9392

BIBLIOGRAFIA1. Beaton GH, Kelly A, Kevany J, Martorell R, Mason J

(1990). Appropriate uses of indices in children. ACC/SCNnutrition policy discussion paper Nº 7. Geneva: UnitedNations.

2. Bénéfice E (1992). Physical activity and anthropometricand functional characteristics of mild malnourishedSenegalese children. Ann. Trop. Pediatr. 12: 55-66.

3. Bogin B (1988). Rural-to-urban migration. In C.C.G.Mascie-Taylor and GW Lasker (eds) Biological aspects ofhuman migration. Cambridge: Cambridge University Press,90-129.

4. Cameron N, Kgamphe JS, Leschner KF e Farrant PJ(1992). Urban rural differences in the growth of SouthAfrican black children. Ann. Hum. Biol. 19:23-33.

5. Cameron N (1991). Human growth, nutrition and healthstatus in sub-saharan Africa. Yrbk. Phys. Anthropol. 34:211-50.

6. Cameron N (1992). The monitoring of growth and nutri-tional status in South Africa. Am. J. Biol. 4: 223-234.

7. Cameron N (1997). Growth and health in a developingcountry: the South African Experience 1984-1994. In D. F.Roberts, P. Rudan and T. Skaric Croatian AnthropologicalSociety, 131-56.

8. Chaning-Pearce SM, Solomon L (1986). A longitudinalstudy of the growth of black and white Johannesburgschool children. South African Medical Journal 70: 743-746.

9. Corlett JT (1986). Growth of urban school children inBotswana. Ann. Hum. Biol. 13: 73-82.

10. Cortinovis I, Vella V, Ndiku N, Miliani S (1997). Weight,height and arm circumference of children under 5 in thedistrict of Mbarara, south-west Uganda. Ann. Hum. Biol. 6:557-568.

11. Davies CTM, Mbelwa D, and Dores C (1974). Physicalgrowth and development of urban and rural East African,aged 7-16. Ann. Hum. Biol. 2: 3-12.

12. Davies DP (1988). The importance of genetic influenceson growth in early childhood with particular reference tochildren of Asiatic origin. In J. C. Waterlow (ed.) LinearGrowth Retardation in Less Developed Countries. NestléNutrition Workshop Series. Vol. 14: 75-90. New York:Raven Press.

13. Eveleth PB, Tanner JM (1991) Worldwide Variation in HumanGrowth. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press.

14. Gillett RM, Tobias PV (2002). Human growth in SouthernZambia: A first study of Tonga children predating theKariba Dam (1957-1958). Am J Hum Biol 14, 50-60.

15. Goldstein H, Tanner JM (1980). Ecological considerationsin the creation and the use of child growth standards.Lancet 15, 582-585.

16. Graitcer PL, Gentry EM (1981). Measuring children: Onereference for all. The Lancet 2: 297-299.

17. Habicht JP, Martorell R, Yarbrough C, Malina RM andKlein RE (1974). Height and weight standards of pres-chool children. The Lancet 6: 611-614.

18. Henneberg M and Louw GJ (1998). Cross-sectional surveygrowth of urban and rural “Cape Coloured”Schoolchildren: Anthropometry and functional tests. Am. J.Hum. Biol. 10: 73-85.

19. Huttly SRA, Victora CG, Barros FC, Teixeira AM andVaughan JP (1991). The timing of nutritional status deter-mination: implications for interventions and growth moni-toring. Eur. J. Clin. Nutr. 45: 85-95.

20. Keller W (1988). The epidemiology of stunting. In J. C.Waterlow (ed.) Linear growth retardation in less developedcountries. Nestlé Nutrition Workshop Series, Vol. 14: 17-38. New York: Raven Press.

21. Kow F, Geissler C, and Blasubramaniam E (1991). Areinternational anthropometric standards appropriate fordevoloping countries? J Trop Pediatr 37: 37-44.

22. Lajarraga H (2002). Growth in infancy and childhood: Apediatric approach. In N. Cameron (ed.) Human Growth andDevelopment. New York: Academic Press, 21-44.

23. Malina R (1983). Socio-cultural influences of physicalactivity and performance. Bulletin de la Societé Belged´Anthropologie et de Préhistorie 94:155-76.

24. Martins DM (1968). Dynamics of child growth and deve-lopment in Mozambique. Thesis presented for PhD. atUniversity of Coimbra, Portugal.

25. Martorell R, Fernando M, Ricardo C (1988). Poverty andstature in children. In: JC Waterlow (ed.) Linear GrowthRetardation in Less Developed Countries. Nestlé NutritionWorkshop Séries, Vol. 14: 57-71. New York: Raven Press.

26. Martorell R, Khan LK., Schroeder DG (1994). Reversibilityof stunting epidemiological findings in children from deve-loping countries. Euro J. Clin. Nutr. 48 (Supp. 1): S45-S57.

27. Meredith HV (1979). Comparative findings on body sizeof children and youths living at urban centers and in ruralareas. Growth 43: 95-104.

28. Monyeki KD, Camelo N, and Getz B (2000). Growth andnutritional status of rural South African children 3-10years old: The Ellisras growth study. Am. J. Hum. Biol. 12:42-49.

29. Muria AJ (1998). Efeito das condições sócio-económicas,maturação e do crescimento somático na aptidão física decrianças e jovens da cidade de Maputo de ambos os sexoscom idades compreendidas entre os 8 aos 11 anos.Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências doDesporto e de Educação Física, Universidade do Porto,Portugal.

30. Nkiama E (1993). Croissance, maturation osseuse et per-formance physique des enfants scolarisés zairois de Bumiaagés de 6 a 20 ans. Tese de doutoramento, UniversidadeCatólica de Lovaina, Bélgica.

31. Pawloski LR (2002). Growth and development of adoles-cent girls from the Segou region of Mali (West Africa).Am. J. Phys. Antr. 117: 364-372.

32. Pawloski LR (2003). Mixed-longitudinal analysis ofgrowth data from Malian adolescent girls: Evidence forcompensatory gain? Am. J. Hum. Biol. 15: 178-186.

33. Prista A (1994). Influência da actividade física e dos facto-res sócio-económicos sobre as componentes da estruturado valor físico relacionado com a saúde. Estudo em crian-ças e jovens moçambicanas. Dissertação de Doutoramento.Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,Universidade do Porto, Portugal.

34. Prista A (1995). Crescimento, actividade física e aptidãofísica em países não industrializados: abordagem biocultu-ral em crianças e jovens de Moçambique. Revista Ágon 2:85-101 (Universidade de Coimbra).

35. Prista A (1998). Nutritional status, physical fitness andphysical activity in children and youth in Maputo(Mozambique). In Parizkova J and Hills AP (eds.) Physicalfitness and nutrition during Growth. Medicine and SportScience Reviews, 33: 94-104. Basel: Karger.

Sílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha, Leonardo Nhantumbo, António Prista

Page 95: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 81–93 93

36. Prista A, Marques AT and Maia JAR (1997). Relationshipbetween physical activity, socioeconomic status and physi-cal fitness of 8-15 year old youth from Mozambique.American Journal of Human Biology 9(4):449-457.

37. Prista A, Maia JAR, Marques AT (1998). Sexual dimor-phism in physical fitness. A multivariate study. Medicineand Science in Sports and Exercise 5:S155.

38. Prista A, Maia J, Saranga S, Marques A, (2002). Saúde,crescimento e desenvolvimento: Um estudo epidemiológico emcrianças e jovens de Moçambique. Porto e Maputo: Faculdadede Ciências do Desporto e de Educação Física,Universidade do Porto; Faculdade de Ciências de EducaçãoFísica e Desporto, Universidade Pedagógica deMoçambique.

39. Prista A, Maia JA, Damasceno A, Beunen G (2003).Anthropometric indicators of nutritional status implica-tions for fitness, activity, and health in school-age childrenand adolescents from Maputo, Mozambique. AmericanJournal of Clinical Nutrition 77 (4): 952-9.

40. Roberts DF (1985). Genetic and nutritional adaptation. InK. Blaxter and J. C. Waterlow (eds.) Nutritional Adaptationin Man. London: John Libby, 45-60.

41. Saranga (2001). Variação de curta duração no crescimentosomático e aptidão física de crianças e jovens da cidade deMaputo, Moçambique. Influência das alterações sócio-eco-nómicas. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciênciasdo Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto,Portugal.

42. Sellen DW (1999). Growth patterns among seminomadicpastoralists (Datoga) of Tanzânia. Am. J. Phys Anthropol.109: 187-209.

43. Spurr GB (1988). Body size, physical work capacity andproductivity in hard work: Is bigger better? In J.C.Waterlow (ed) Linear Growth Retardation in Less DevelopedCountries. Nestle Nutrition Workshop Series, Vol. 114:215-24. New York: Raven Press.

44. Tanner J (1986). Normal growth and technique of growthassessment. Clin Endoc Metab 15(3): 411-451.

45. UNICEF (1994). The state of the Worlds Children 1994.Oxford: Oxford University Press.

46. van Loon H, Saverys V, Vuylsteke JP, and Eeckels R,(1986). Local versus universal growth standards: Theeffect of using NCHS as universal reference. Ann. Hum.Biol 13: 347-357.

47. Victora CG (1992). The association between wasting andstunding: In international perspective. J. Nutr. 122: 1105-1110.

48. Wagstaff L, Reinach SG, Richardson BD, Mkhasibe C, andDe Vries G (1987). Anthropometrically determined nutri-tional status and the school performance of black urbanprimary schoolchildren. Hum. Nutr. Clinic. Nutr. 41C: 277-286.

49. Waterlow JC, Buzina R, Keller W, Lane JM, Nichaman MZ,and Tanner JM (1977). The presentation and use of heightand weight data for comparing the nutritional status ofgroups of children under the age of 10 years. Bulletin ofWorth Health Organization 54: 489-498.

50. Waterlow J (1984). Current issues in nutritional assesse-ment by antropometry. In J Borzec and B Schurch (eds.)Malnutrition Behavior: Critical assessemnt and key issues.Lausanne: Nestlé Foundation.

51. World Health Organization (1983). Measuring change innutritional status. Guidelines for the assessing the nutritionalimpact of supplementary feeding programmes for vulnerablegroups. Geneve: WHO.

52. World Health Organization (1995). Physical status: The useand interpretation of anthropometry. Report of a WHO ExpertCommittee. WHO Technical Report Séries, 854. Geneve:World Health Organization.

53. WHO Working Group (1986). Use and interpretation ofanthropometric indicators of nutritional status. Bulletin ofthe World Health Organization 64: 929-941.

54. Zverev Y, Gondwe M (2001). Growth of urban school chil-dren in Malawi. Ann Hu Biol 4(28): 384-394.

Crescimento em crianças e jovens africanos

Page 96: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–10594

Alterações no funcionamento do sistema de controle postural de idosos. Uso da informação visual

Paulo Freitas JúniorJosé A. Barela

Universidade Estadual Paulista Departamento de Educação FísicaInstituto de BiociênciasLaboratório para Estudos do MovimentoRio ClaroBrasil

RESUMO

Com o avanço da idade, os seres humanos apresentam altera-ções no controle postural. Tais alterações têm sido considera-das ocorrer em função da diminuição da capacidade dos siste-mas sensoriais em fornecer informações e do sistema motor emproduzir ações motoras adequadas para manter o corpo equili-brado e em uma posição desejada. Estas alterações levariam auma diminuição no desempenho do sistema de controle postu-ral e estariam associadas ao aumento da incidência de quedasem idosos. Todavia, essa relação entre alterações sensoriais emotoras e a diminuição no desempenho do sistema de controlepostural ainda não é bem compreendida. E, mais importante,os maiores problemas para o funcionamento do sistema decontrole postural poderiam não estar associados a alteraçõesem cada um desses sistemas, mas sim, poderiam estar relacio-nados a alterações no relacionamento entre informação senso-rial e ação motora, que ocorrem em idosos. Assim, este traba-lho de revisão visa apresentar e discutir os principais aspectosdo controle postural, com ênfase no relacionamento entreinformação visual e ação motora, e como estes aspectos podemauxiliar o entendimento das alterações observadas no controlepostural em idosos.

Palavras-chave: controle postural, equilíbrio, envelhecimento,acoplamento percepção-ação, idosos, sala móvel.

ABSTRACT

Changes in Elderly Postural Control System Functioning. Use of Visual Information

Aging process has led human beings to exhibit changes in postural con-trol. Such changes have been considered to occur due to problems in thesensory systems to provide information about body position on space,and also to problems in the motor system to produce adequate andcoordinate muscle activation to maintain the body in a desirable posi-tion. These changes would lead elderly people to decline their perform-ance in postural control and would be associated to the increase of inci-dence in falls of this population. However, this relationship betweensensory and motor changes, and the decrease of the performance in pos-tural control is poorly understood; more important, functioning prob-lems of the postural control system would not be related to changes oneach one of these systems. It could be related with changes in the rela-tionship between sensory information and motor action in elderly peo-ple during the maintenance of the upright stance. Thus, the purposes ofthis paper are to present and to argue main aspects related to posturalcontrol, with emphasis in the relationship between visual informationand motor action, and how these aspects can help us to understand thechanges observed in the postural control in elderly people.

Key Words: postural control, equilibrium, aging, perception-actioncoupling, elderly, moving room.

Page 97: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105 95

INTRODUÇÃOO aumento da expectativa de vida e o conseqüentecrescimento no número de pessoas que ultrapassa abarreira dos 60 anos de idade são fenômenos popu-lacionais que vêm ocorrendo, há algum tempo, emuma grande parcela dos países desenvolvidos. NoBrasil, a porcentagem de pessoas idosas, relativa aototal da população, também vem crescendo, deforma rápida, desde o início da década de 60 doséculo passado. Por exemplo, a proporção de indiví-duos que ultrapassam os 60 anos de idade saltou de25%, no início do século XX, para cerca de 70%, nofinal deste mesmo século [8]. Concomitantementeao aumento do número de pessoas com mais de 60anos, tem aumentado a preocupação com o bem-estar geral, com a manutenção de um estilo de vidaindependente e autônomo, enfim, tem aumentado apreocupação com a manutenção e/ou busca de umamelhor qualidade de vida desta população. Um dos maiores problemas enfrentados pelos idososé o aumento da incidência de quedas ocorridas nestapopulação. A ocorrência de quedas é, nos diasatuais, um dos principais fatores de mortalidade emorbidade em idosos, principalmente em função desuas conseqüências (i.e. fraturas, imobilizações,perda de mobilidade, dependência para realização deatividades da vida diária, entre outras) [34]. Destemodo, entender quais os fatores que levam aoaumento do número de quedas em idosos tem des-pertado interesse de muitos pesquisadores da áreade estudo do movimento humano.Muitos estudiosos têm sugerido que o aumento donúmero de quedas em idosos estaria relacionado àsalterações ocorridas no sistema de controle postural,principalmente nos sistemas sensoriais e motor [25,34, 49, 54]. Embora esta relação seja coerente, nãofoi verificada uma relação direta entre alteraçõesestruturais e funcionais nesses sistemas e diminui-ção no desempenho do sistema de controle posturale, também, entre tais alterações e o aumento nonúmero de quedas em pessoas idosas consideradassaudáveis. A partir disso, algumas questões podemser levantadas a respeito das características do con-trole postural em idosos: Qual (is) seria(m) a(s)causa(s) da diminuição no desempenho do sistemade controle postural em idosos? As alterações estru-turais e funcionais que ocorrem nos canais senso-

riais e no sistema motor com o avanço da idadeseriam as principais responsáveis pela diminuição nodesempenho do sistema de controle postural?Poderiam existir outros fatores que também colabo-rariam para esta diminuição?Baseado nestas questões, o objetivo deste trabalhode revisão é apresentar e discutir os principais aspec-tos relacionados ao controle postural, com ênfase norelacionamento entre informação sensorial e açãomotora, e como estes aspectos podem auxiliar noentendimento das alterações observadas no controlepostural de pessoas idosas.

CONTROLE POSTURALDe modo geral, o termo “postura” representa o posi-cionamento dos segmentos corporais, uns em relaçãoaos outros, e da orientação destes segmentos noespaço [18]. Ainda, este termo abrange vários aspec-tos relacionados à biomecânica e ao controle motor,tais como: o controle da posição do centro de massa1

(CM) do corpo e sua relação com os limites da basede suporte; a estabilização do corpo durante a realiza-ção de movimentos voluntários; e a manutenção dossegmentos corporais em uma orientação específicacom relação aos outros segmentos, ao ambiente, ou aambos [25]. Assim, pode-se definir controle posturalcomo sendo os processos pelos quais o sistema ner-voso central (SNC) gera padrões de atividade muscu-lar necessários para regular a relação entre o CM docorpo e a base de suporte [36]. De acordo com Horak e Macpherson [25], o controlepostural possui dois objetivos comportamentais: oequilíbrio postural e a orientação postural. O equilíbriopostural está relacionado ao controle da relaçãoentre forças externas (i.e. força gravitacional), queagem sobre o corpo, e forças internas (torques arti-culares), que são produzidas pelo corpo. Este con-trole se faz necessário, pois, as forças que atuam nocorpo e/ou são produzidas pelo corpo agem acele-rando-o e, conseqüentemente, fazendo com que estealtere seu alinhamento e se afaste da posição deseja-da ou da posição considerada de maior estabilidade.Desta forma, o equilíbrio corporal é alcançado quan-do todas as forças que agem neste corpo, tantoexternas como internas, estão controladas, o quepermite que o corpo permaneça em uma posiçãodesejada (equilíbrio estático) ou que se mova de

Ciclo percepção-ação e o controle postural em idosos

Page 98: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–10596

uma maneira controlada (equilíbrio dinâmico). Já aorientação postural está relacionada ao posiciona-mento e ao alinhamento dos segmentos corporaisuns em relação aos outros e em relação ao ambiente.Este posicionamento e alinhamento são alcançadospor meio de ações coordenadas dos vários gruposmusculares responsáveis pela manutenção da relaçãoestabelecida entre os segmentos corporais e da rela-ção do conjunto destes segmentos, ou do corpocomo um todo, com o ambiente.Nos últimos anos tem aumentado o interesse ementender como o ser humano mantém seu equilíbrioe orientação posturais. Segundo Horak e Macpherson[25], até algum tempo atrás, o controle postural eravisto como resultado de respostas reflexas e hierar-quicamente organizadas, desencadeadas por canaissensoriais independentes (i.e. reflexos de estiramen-to). Atualmente, o controle postural é visto como oresultado de um relacionamento complexo e dinâmi-co entre o sistema sensorial, constituído pelos siste-mas visual, vestibular e somatossensorial, e o sistemamotor [1, 2, 25, 47]. A partir desta visão, é importan-te conhecer como cada um destes sistemas auxilia amanutenção do equilíbrio e orientação posturais ecomo tais sistemas se relacionam.Com relação ao sistema motor, pode-se afirmar queele é responsável por gerar atividade muscular apro-priada para a busca e/ou manutenção do equilíbriocorporal e de uma orientação corporal desejada. Mascomo a atividade muscular apropriada é geradadurante a manutenção da postura ereta?Basicamente, a atividade muscular tônica dos mús-culos antigravitacionais associada à rigidez interseg-mentar gerada pelos componentes passivos dos mús-culos (tecido conectivo elástico) e articulações (cáp-sula articular e ligamentos) auxiliam, de modoimportante, a manutenção do alinhamento corporaldurante a manutenção da postura ereta [25].Entretanto, o corpo humano, por ser mantido eretodentro de uma base de suporte relativamente peque-na e por ter o CM do corpo posicionado a uma alturaconsiderável, é um sistema eminentemente instável.Esta instabilidade é comprovada pelas oscilações cor-porais apresentadas pelos seres humanos e pelabusca constante de uma posição de equilíbrio duran-te a manutenção da postura ereta. Deste modo, paraque o corpo alcance ou se mantenha em uma posi-

ção de equilíbrio e em uma orientação corporal dese-jada é necessário um controle ativo, por parte do sis-tema de controle postural, da intensidade e duraçãoda atividade dos vários grupos musculares responsá-veis pelo controle postural [25, 37]. Este controleativo dos músculos é realizado com base nos estímu-los sensoriais captados continuamente durante amanutenção da postura ereta [1, 25].Estes estímulos são captados principalmente pelossistemas vestibular, somatossensorial e visual [25,38, 56], são enviados ao SNC e integrados no siste-ma de controle postural. O sistema vestibularbaseia-se em estímulos provenientes do aparato ves-tibular, localizado na orelha interna, para fornecerinformações ao sistema de controle postural sobre aorientação da cabeça em relação à atuação da forçagravitacional, por meio das informações de acelera-ção linear e angular da cabeça. O sistema somatos-sensorial baseia-se em informações de diversos sen-sores espalhados por todo corpo (i.e. fusos muscula-res, órgãos tendinosos de Golgi, receptores articula-res e cutâneos, etc.), para fornecer um conjunto deinformações sobre: (a) a posição e a velocidade detodos os segmentos corporais, em relação aos outrossegmentos e em relação ao ambiente, (b) o compri-mento muscular e (c) o contato com objetos exter-nos, incluindo o contato com a superfície de suporte[25, 38, 56]. O sistema visual utiliza-se de estímulosvisuais para fornecer informações do ambiente e dadireção e velocidade dos movimentos corporais emrelação ao ambiente [38], além de diferenciar o queé auto-movimento, ou movimento do próprio corpo,do que é movimento de um objeto no ambiente[16]. Sua eficácia para o controle postural depende,basicamente, da eficiência deste sistema em detectar,por meio de alterações no fluxo óptico, movimentoscorporais relativos a um determinado ambiente [41]. Apesar de cada um dos sistemas fornecer diferentestipos de informação para o sistema de controle pos-tural, a ação individual de cada um deles não é sufi-ciente para obter informações acuradas da posiçãodo CM do corpo no espaço. Para que o sistema decontrole postural obtenha tal informação, os estímu-los sensoriais, provenientes dos sistemas visual, ves-tibular e somatossensorial, devem ser integrados nosistema de controle postural, a fim de proporcionaruma acurada representação da posição e dos movi-

Paulo Freitas Júnior, José A. Barela

Page 99: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105 97

mentos do CM e, deste modo, proporcionar um con-trole postural efetivo e flexível [25, 26, 40].No processo de integração sensorial, as informaçõessensoriais são integradas pelo sistema de controlepostural e pesos (valor de importância) são dados acada uma destas informações, para tornar o controlepostural um processo mais flexível, em função dasconstantes mudanças na relação do indivíduo com oambiente [40]. Em situações normais, as informa-ções sensoriais são redundantes, ou seja, forneceminformações que são coincidentes espacial e tempo-ralmente ao sistema de controle postural. Tal redun-dância causa um “enriquecimento” da informaçãosobre o equilíbrio e a orientação corporal que facilitao funcionamento do sistema de controle postural.Entretanto, este enriquecimento não é resultado dasoma de todas as informações sensoriais disponíveis.O sistema de controle postural, de forma dinâmica,atribui um peso ou valor de importância a cada tipode informação sensorial que depende, basicamente,do contexto onde a tarefa postural está sendo execu-tada [27]. Por exemplo, quando uma pessoa perma-nece em postura ereta em um ambiente com poucaou nenhuma iluminação há uma diminuição do pesodado à informação visual e um aumento do pesodado às informações somatossensoriais e vestibula-res para a indicação da posição e velocidade de des-locamento do CM do corpo. Similarmente, quandouma pessoa está posicionada sobre uma superfícieinstável ou deformável, que dificulta a utilização dainformação somatossensorial oriunda do tornozelo,ocorre uma diminuição do peso dado a esta informa-ção e aumento do peso dado às demais.Em suma, durante o processo de integração dasinformações sensoriais, o sistema de controle postu-ral deve receber as informações sensoriais disponí-veis e, de forma dinâmica, selecionar as informaçõessensoriais mais relevantes dentro de um determina-do contexto, fornecendo pesos diferentes a estasinformações durante a manutenção da postura ereta,com o objetivo de gerar uma informação mais preci-sa do posicionamento dos segmentos corporais e doCM do corpo no espaço [25, 40]. Entretanto, em muitos casos onde o sistema de con-trole postural não consegue, de forma apropriada,captar e integrar as informações sensoriais disponí-veis e gerar respostas motoras adequadas, podem

ocorrer desequilíbrios e, em alguns casos, quedas.Com o avanço da idade tem sido observado umaumento na incidência de quedas e tem sido sugeri-do que as causas para este aumento seriam, princi-palmente, alterações estruturais e funcionais queocorrem nos sistemas sensoriais e motor em funçãodo processo de envelhecimento. Contudo, como alte-rações ocorrem em todos os sistemas (sensoriais emotor), é difícil definir quais destas alterações são asprincipais responsáveis pela perda da estabilidadepostural em idosos. Deste modo, definir o que cau-saria a perda de estabilidade postural em idososseria importante para estabelecer medidas preventi-vas e de intervenção. Assim, o próximo tópico bus-cou verificar se há associação entre as mudanças nossistemas sensoriais e motor e as mudanças no con-trole postural em função do envelhecimento.

CONTROLE POSTURAL EM IDOSOSHá um consenso que os idosos diminuem sua capa-cidade de controle postural. Alguns estudos têmapontado que os idosos apresentam alterações com-portamentais durante a manutenção da posturaereta. Por exemplo, tem sido verificado freqüente-mente que os idosos oscilam mais que os adultosjovens, tanto de olhos abertos, quanto de olhosfechados [6, 7, 9, 21, 24, 26, 35, 39, 50]. Em geral,os estudiosos sugerem que o aumento nas oscilaçõescorporais em idosos seria considerado um indício dealterações no sistema de controle postural. Apesar de existirem outras evidências que indicamuma diminuição no desempenho do sistema de con-trole postural em idosos, os motivos desta diminui-ção, até o momento, não foram totalmente esclareci-dos. Tem sido sugerido que as causas da diminuiçãono desempenho do controle postural em idosos esta-riam associadas às alterações estruturais e funcionaisnos sistemas sensoriais e motor e a problemas naintegração das informações sensoriais [26, 58].Entretanto, não temos conhecimento de estudos quetenham verificado os efeitos diretos destas alteraçõesno desempenho do sistema de controle postural.Deste modo, ainda não se sabe quais destas altera-ções estariam em maior ou em menor proporçãoinfluenciando a diminuição da capacidade de contro-le postural desta população. O que se pode sugerir éque as alterações estruturais e funcionais nos siste-

Ciclo percepção-ação e o controle postural em idosos

Page 100: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–10598

mas sensoriais ocorridas em função do envelheci-mento não seriam tão dramáticas, a ponto de alterarsignificativamente o comportamento do sistema decontrole postural. Segundo Wolfson e colaboradores[57], as diferenças observadas entre idosos e adultosdurante a manutenção da postura ereta, em um pri-meiro momento, não seriam causadas pelas altera-ções estruturais dos sistemas sensoriais que ocorremem função do processo natural de envelhecimento,mas estariam associadas a alterações patológicas emum ou mais destes sistemas. Apenas em idades maisavançadas é que estas diferenças poderiam ser impu-tadas às alterações sensoriais causadas pelo processode envelhecimento, em função destas alteraçõesserem mais dramáticas em idades mais avançadas.Além das alterações sensoriais, o processo de enve-lhecimento também causa mudanças estruturais efuncionais no sistema neuromuscular [22, 52, 59].Estas mudanças estruturais provocam, basicamente,uma diminuição dos níveis de força e um aumento notempo para a produção de força máxima com o avan-ço da idade [21, 22, 52, 59]. Além de sofrerem umaredução no nível de força, os idosos apresentam umaredução na elasticidade do tecido conectivo muscular.A diminuição da capacidade elástica do músculo,somada às mudanças estruturais e funcionais das arti-culações sinoviais, pode levar os idosos a apresentarmenor grau de flexibilidade e, conseqüentemente,menor amplitude de movimento articular [53]. Mas, qual a quantidade de força e amplitude demovimento articular necessárias para a manutençãoda postura ereta? Gu e colaboradores [20] observa-ram que o valor máximo de torque articular do tor-nozelo gerado por idosos durante perturbações doequilíbrio foi maior que o torque gerado pelos adul-tos, ficando ao redor de 20 N.m em média. Aindasegundo Gu e colaboradores [20], este valor é muitoinferior ao valor de torque máximo do tornozelo queos idosos podem produzir. Com estes resultados,estes autores concluíram que se os idosos apresen-tam dificuldades em controlar a postura, esta dificul-dade não está relacionada à produção de torque arti-cular e, conseqüentemente, à força muscular. Domesmo modo, Maki e McIlroy [36] também sugeri-ram que a magnitude de força muscular requeridapara manutenção da postura ereta e para desenca-dear uma passada após uma perturbação ao equilí-

brio é muito menor que a capacidade dos idosos emgerar força, ou seja, mesmo com a diminuição nacapacidade de gerar força, os idosos conseguemgerar força muscular suficiente para manterem-seem postura ereta, e mesmo para responder a pertur-bações utilizando outras estratégias de controle. Apartir destes resultados poder-se-ia sugerir que acapacidade de gerar força muscular não afetaria sig-nificativamente o controle postural de idosos.Com relação à amplitude de movimento articular,pode-se afirmar que a amplitude de movimento nasarticulações do tornozelo, joelho e quadril necessáriapara a manutenção da postura ereta é mínima. Parase ter uma idéia, durante a manutenção da posturaereta, os deslocamentos angulares do tornozelo, joe-lho e quadril não ultrapassam 4 graus [17]. Destemodo, a redução na amplitude de movimento nasarticulações do tornozelo, joelho e quadril tambémnão seria um fator determinante para o controle pos-tural em idosos. Além das alterações sensoriais e motoras verificadascom o avanço da idade, alterações no sistema nervo-so, tais como: a diminuição na velocidade de trans-missão do impulso nervoso nos neurônios sensoriaise motores [12, 44]; a perda significativa de neurô-nios, de dendritos e redução no número de ramifica-ções nervosas que prejudicam a comunicação entreas células nervosas; a diminuição do metabolismocerebral; a redução da perfusão cerebral e alteraçãono metabolismo dos neurotransmissores [36], pode-riam estar interferindo no desempenho do sistemade controle postural. A diminuição na velocidade detransmissão do impulso nervoso pelas vias aferentese eferentes pode afetar consideravelmente o sistemade controle postural, principalmente em situações deperturbação, onde o tempo necessário para desenca-dear uma resposta postural é imprescindível para osucesso da recuperação do equilíbrio. Como se já não fosse suficiente a diminuição navelocidade de transmissão do impulso nervoso pelasvias aferentes e eferentes, os idosos enfrentam maisum problema para o controle efetivo da postura,principalmente após perturbações. Este problemaseria o aumento no tempo necessário para o proces-samento da informação e para o início da respostamotora. Comportamentalmente, segundo Spirduso[48], os idosos apresentam um maior tempo de rea-

Paulo Freitas Júnior, José A. Barela

Page 101: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105 99

ção (TR) comparado ao dos adultos e este tempo dereação tem um aumento muito maior quando a tare-fa envolve um maior processamento de informação(TR de escolha e TR discriminativo). A partir disto,podemos questionar se tais alterações não estariaminfluenciando o modo com o qual o sistema de con-trole postural utilizaria as informações sensoriaispara produzir atividade postural apropriada. Assim,será que a alteração no relacionamento entre infor-mação sensorial e ação motora seria a principalcausa de mudança na performance do controle pos-tural de idosos? Para tentar responder a esta ques-tão, devemos entender, primeiramente, como ocorreeste relacionamento.

RELACIONAMENTO ENTRE INFORMAÇÃO SENSORIAL E AÇÃO MOTORA PARA O CONTROLE POSTURALComo foi anteriormente salientado, atualmente, ocontrole postural é visto como sendo resultado deuma relação complexa e dinâmica entre as informa-ções sensoriais e as ações musculares. Entretanto,pouco se sabe sobre como este relacionamento acon-tece, pois, grande parte dos estudos, preocupadosem entender os processos e mecanismos envolvidosno controle postural, assumem a captação do estí-mulo e a integração das informações sensoriais (per-cepção), e as ações musculares (ação) como duasentidades separadas ou não diretamente relaciona-das. Na atual visão de sistema de controle postural[e.g., 1, 25] a principal premissa é que não se podeestudar a ação sem considerar a percepção e vice-versa. Ambas estão intimamente ligadas e, destemodo, são indissociáveis. [e.g., 19].Assim, acima de tudo, o desempenho do sistema decontrole postural depende de um relacionamentocoerente e estável entre informação sensorial e açãomotora. Este relacionamento pode ser interpretadocomo resultado de uma dependência mútua entre oque é percebido e a ação motora executada [45], ouseja, a informação sensorial influencia as açõesmotoras executadas e, simultaneamente, a execuçãodestas ações motoras altera o fluxo de informaçãosensorial disponível. Por exemplo, durante a manu-tenção da postura ereta, quando uma oscilação paraa frente é detectada pelos sistemas sensoriais, essainformação é utilizada para que os músculos poste-riores dos membros inferiores e tronco sejam ativa-

dos e esta oscilação seja revertida. Juntamente com aativação dos músculos posteriores, outras informa-ções sensoriais são disponíveis. Tais informaçõesestariam indicando uma diminuição da velocidadedas oscilações corporais para a frente até ao momen-to da reversão da direção da oscilação. Após a rever-são da direção da oscilação, o corpo é trazido paratrás, pela ação dos músculos posteriores, até aomomento em que os sistemas sensoriais detectamum excesso de oscilação corporal para trás. Quandoisto ocorre, os músculos anteriores são ativados e omesmo processo é repetido. Portanto, nas situaçõesem que esta dependência mútua entre informaçãosensorial e ação motora é repetida ou manifestada deforma regular, o padrão ou ciclo percepção-ação éformado [2, 45]. Este padrão ou ciclo percepção-ação emerge do aco-plamento entre o que é percebido (informação sen-sorial) e a ação motora executada. O sistema decontrole postural busca manter a estabilidade e acoerência deste relacionamento, para que este siste-ma esteja apto a enfrentar os vários tipos de pertur-bação ao qual este é continuamente exposto [46].A coerência e a estabilidade deste relacionamentosão construídas e refinadas por meio da experiênciae da prática de determinada posição corporal [5].Um dos modos de verificar este relacionamento éfornecer um estímulo sensorial contínuo e verificaro relacionamento temporal e espacial entre o estí-mulo sensorial e a ação motora. Isto pode serinvestigado utilizando tanto o paradigma da salamóvel, que manipula a informação visual [p. ex. 4,10, 11, 42], quanto o paradigma da barra de toqueou do toque leve, que manipula a informação soma-tossensorial [e.g. 3, 28, 29].No paradigma experimental da sala móvel, o partici-pante permanece em postura ereta dentro de umasala (cenário visual real ou virtual) que é movimen-tada de forma independente ao piso no qual o parti-cipante está posicionado. Esta movimentação docenário visual causa alterações no fluxo óptico dosparticipantes posicionados dentro deste ambiente.Como conseqüência da alteração do fluxo óptico, osparticipantes apresentam ajustes posturais relaciona-dos ao movimento do estímulo visual [31, 33]. Afigura 1 apresenta uma representação gráfica dasituação experimental denominada de Sala Móvel.

Ciclo percepção-ação e o controle postural em idosos

Page 102: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105100

Figura 1: Representação esquemáticade uma sala móvel real com destaquespara o posicionamento de um partici-pante na posição em pé, para as dire-ções de movimento da sala e para oservo-motor que gera os movimentos.

A explicação para o efeito da manipulação visual e odesencadeamento de conseqüente oscilação corporalcorrespondente é que quando os participantes sãosubmetidos aos movimentos de um cenário visual,eles procuram minimizar as alterações da imagemdesse cenário projetado na retina, pois, é desse modoque o sistema de controle postural procura manter arelação entre a informação visual e o posicionamentocorporal durante a manutenção da postura ereta emambiente estacionário. Assim, quando o cenáriovisual é movimentado, os indivíduos produzem osci-lações corporais correspondentes ao movimento docenário visual para manter o quadro de referênciaestabelecido, o qual implica na manutenção da esta-bilidade do cenário visual projetado na retina. Os primeiros estudos utilizando o paradigma experi-mental da sala móvel buscaram verificar o papeldesempenhado pelo sistema visual no controle pos-tural frente ao estímulo visual apresentado. O objeti-vo principal destes estudos era verificar se o estímu-lo visual fornecido pelo deslocamento da sala móveldesencadearia oscilações corporais em resposta aeste estímulo. Em todas as faixas etárias, desdebebês recém-nascidos [30], passando por crianças[32, 55] e adultos [33, 34], até em pessoas idosas[49, 54], os estímulos visuais desencadearam res-postas posturais coerentes e na mesma direção doestímulo. Também, por meio de movimentos contí-nuos de uma sala móvel, o relacionamento espacial etemporal entre informação sensorial e ação motoraespecífica ao controle postural pôde ser verificado. Afigura 2 apresenta séries temporais dos deslocamen-tos da sala móvel nas freqüências de 0,2, 0,5 e 0,8Hz e os correspondentes deslocamentos do centro depressão2 (CP) de um adulto jovem durante a situa-ção experimental da sala móvel.

Figura 2: Deslocamento da sala móvel (linha fina) e do CP (linha grossa) na direção antero-posterior nas freqüências de 0,2 (painel superior),

0,5 (painel central) e 0,8 (painel inferior) Hz.

Estudos para verificar como informação sensorial eação motora estão relacionadas, utilizando para issoo paradigma da sala móvel, começaram a ser realiza-dos a partir do final da década de 80 e início da déca-da de 90, do século passado [10, 11, 51]. Dijkstra ecolaboradores [10] foram dos primeiros a analisarcomo ocorre e quais os fatores que interferem noacoplamento entre informação sensorial e ação moto-ra. Utilizando uma sala móvel “virtual”, que simulavamovimentos do ambiente de forma tridimensional,estes autores verificaram que o sistema de controlepostural acopla de forma coerente e estável as oscila-ções corporais ao estímulo visual e que o sistema decontrole postural, de forma adaptativa, altera dinami-camente seus parâmetros em função das mudançasnas características do estímulo visual, buscando man-ter este acoplamento coerente e estável.O segundo passo para entender como ocorre o rela-cionamento entre informação sensorial e ação moto-ra veio com o estudo de Dijkstra e colaboradores[11]. Estes autores verificaram que, quando os indi-víduos foram submetidos a alterações na freqüênciado estímulo, o sistema de controle postural conse-guiu igualar a freqüência natural de oscilação destesistema à freqüência do estímulo visual e, ainda,conseguiu manter um acoplamento coerente e umrelacionamento temporal estável entre informaçãovisual e as oscilações corporais. Estes resultadostambém indicaram a ocorrência de adaptação do sis-tema de controle postural às características da infor-mação visual, já que a oscilação corporal gerada pela

Paulo Freitas Júnior, José A. Barela

Page 103: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105 101

estimulação óptica levou a ajustes na parte nãovisual do sistema de controle postural (vestibular,somatossensorial e motora). Tais ajustes fizeramcom que o sistema de controle postural respondesseda mesma forma ao estímulo visual, em função destesistema ajustar sua freqüência de oscilação à fre-qüência do estímulo visual, alterando assim a fre-qüência natural de oscilação deste sistema. De formageral, os resultados destes estudos indicam que osistema de controle postural acopla a informaçãosensorial e, ainda, altera os parâmetros de seu fun-cionamento às características do estímulo sensorial.Apesar do desvendamento desse processo de funcio-namento do sistema de controle postural estar ape-nas no início, pode-se questionar se essas caracterís-ticas de funcionamento são também observadas emidosos e se o relacionamento entre informação senso-rial e ação motora ou o acoplamento percepção-açãoem idosos é semelhante ao observado em adultos.

RELACIONAMENTO ENTRE INFORMAÇÃO SENSORIAL E AÇÃO MOTORA EM IDOSOSTendo em vista que tanto o sistema motor quanto ossistemas sensoriais vão tendo a capacidade funcionalalterada com o envelhecimento, o relacionamentoentre informação sensorial e ação motora poderiatambém ser alterado com o avanço da idade.Entretanto, poucos são os estudos que diretamentetiveram como objetivo verificar como ocorre esterelacionamento em idosos. Utilizando uma sala móvel, Wade e colaboradores[54] verificaram que idosos respondem com maioroscilação corporal às modificações do fluxo óptico,oscilando mais quando submetidos aos movimentosda sala, quando comparados aos adultos. Segundoestes autores, os idosos oscilam mais quando sub-metidos aos movimentos do cenário visual devido avários fatores, onde se destaca a diminuição da capa-cidade do sistema somatossensorial e vestibular emdetectar movimentos corporais. Isto levaria os idososa necessitar mais das informações visuais para ocontrole da postura. Por esta razão, suas oscilaçõescorporais seriam maiores quando estes fossem sub-metidos à manipulação dos estímulos visuais gera-dos pelo movimento contínuo do cenário visual.Ainda, segundo esses autores, o sistema de controlepostural não teria “confiança” em utilizar as infor-

mações dos outros sistemas sensoriais em virtudedos déficits apresentados pelos mesmos. Do mesmomodo, Sundermier e colaboradores [49] verificaramque idosos, quando submetidos a movimentos dis-cretos de uma sala móvel, ora para a frente, ora paratrás, também apresentavam maior deslocamento doCP quando comparados aos adultos jovens. Nestes dois estudos citados acima, a sala móvel foiutilizada apenas como um instrumento que forneciaum estímulo visual com o objetivo de se verificaruma resposta motora. Não houve a preocupação porparte destes autores em entender como ocorre orelacionamento entre informação visual e oscilaçãocorporal. O interesse em entender como se dá esterelacionamento entre percepção e ação em idosos érecente. Ferraz e colaboradores [14] verificaram queo acoplamento entre informação somatossensorial eações posturais ocorrem de forma diferente em ido-sos e adultos. Por outro lado, utilizando o paradigmada sala móvel, Polastri e colaboradores [42] nãoencontraram diferenças na força e na estabilidade doacoplamento entre idosos e adultos. Entretanto, umaspecto interessante neste último estudo foi que,devido à amplitude de deslocamento da sala móvelter sido grande, os adultos conseguiram discriminaro movimento da sala móvel, enquanto que os idososnão foram capazes de perceber que a sala estavasendo movimentada. Estes autores concluíram queos idosos teriam uma dificuldade maior em discrimi-nar que o estímulo visual era conflitante, por meiode comparação com as outras informações senso-riais. Isto nos permite sugerir que os idosos teriammaior dificuldade em discriminar conflitos sensoriaise esta dificuldade estaria associada a problemas emintegrar e comparar as informações sensoriais.Recentemente, Prioli e colaboradores [43] observa-ram que, durante a manutenção da postura ereta den-tro de uma sala móvel movimentada continuamente ecom uma amplitude de movimento que não permitiuque os participantes discriminassem qualquer movi-mento da sala, idosos praticantes e não praticantes deatividade física regular tiveram um acoplamento per-cepção-ação mais forte que adultos jovens. Estesresultados surpreenderam os autores, pois eles espe-ravam que o acoplamento entre informação visual eoscilação postural diminuiria com o avanço da idade.Segundo estes autores, a explicação para este fato

Ciclo percepção-ação e o controle postural em idosos

Page 104: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105102

estaria na instabilidade inerente do sistema de con-trole postural de pessoas idosas. Para eles, os idososjá apresentam alterações no sistema de controle pos-tural que os deixam mais instáveis. Este fato pode serconstatado nos estudos que apontam que os idosososcilam mais que adultos jovens durante a manuten-ção da postura ereta [6, 7, 21, 24, 39]. Assim, segundo Prioli e colaboradores [43], os ido-sos, por terem um controle postural menos estável,quando submetidos a um ambiente onde uma moda-lidade de informação sensorial é mais destacada, nãoconseguem identificar e resolver o conflito sensoriale, deste modo, se deixam influenciar pela informaçãosensorial que está sendo manipulada, acoplando aesta informação mais fortemente e dando um pesomaior a esta informação. Por outro lado, os adultosjovens conseguem, por meio de uma integração sen-sorial mais efetiva, minimizar os efeitos provocadospela estimulação sensorial, diminuindo o peso dado àinformação manipulada, o que resulta em uma dimi-nuição da influência das oscilações da sala móvel nasações do sistema de controle postural e, consequen-temente, numa diminuição da força do acoplamentoentre informação visual e oscilação postural.Mas o que torna os idosos menos estáveis durante amanutenção da postura ereta? Como citámos ante-riormente, alterações estruturais e funcionais ocor-rem em todos os canais sensoriais e também no sis-tema motor, todavia, estas alterações, provavelmente,não são significativas para alterar o comportamentodo sistema de controle postural [57]. Se as alteraçõesestruturais e funcionais dos sistemas sensoriais emotor não tornam o sistema de controle posturalmenos estável, o que provoca tal instabilidade? A causa provável da instabilidade do sistema decontrole postural em idosos é a alteração no rela-cionamento entre informação sensorial e açãomotora, representada pela dificuldade que os ido-sos apresentam em integrar as informações senso-riais, identificar as informações mais relevantes,dando pesos adequados a cada uma das informa-ções de acordo com o contexto, e selecionar a res-posta postural mais adequada para manter o corpoequilibrado e na posição desejada [43]. Em suma, os problemas enfrentados por idososdurante o controle postural estariam associados aalterações no relacionamento entre informação sen-

sorial e ação motora. Mais especificamente, o proble-ma dos idosos seria integrar as informações senso-riais, utilizando as mais relevantes para determinadocontexto, e usar estas informações para, de formarápida e eficaz, gerar ações motoras necessárias paraa manutenção do equilíbrio e orientação posturais. Mas, como as alterações no relacionamento entreinformação sensorial e ação motora poderiam expli-car o aumento da incidência de quedas em idosos?Antes de tudo devemos observar em quais situaçõesos idosos comumente caem. Segundo Lord e colabo-radores [34], a maioria das quedas em idosos ocorreem situações nas quais o equilíbrio postural é desa-fiado ou perturbado, muitas vezes, em situações emque os idosos estão realizando suas atividades davida diária. Mais importante, entretanto, é que,quando estas situações ocorrem, os idosos têm queproduzir uma resposta motora rápida e precisa, a fimde recuperar o equilíbrio postural. O problema,neste caso, é decidir qual resposta deve ser produzi-da. O primeiro passo é discriminar corretamente oque está ocorrendo. Isso só é possível por meio douso das informações sensoriais disponíveis e da inte-gração destas para uma precisa interpretação dasituação. Entretanto, os idosos têm dificuldades,conforme apresentado anteriormente, justamente emconseguir uma correta e precisa discriminação dasituação de forma rápida. Assim, tendo em vista queos idosos necessitam de um tempo maior para dis-criminar e responder apropriadamente à situação deperturbação ao equilíbrio, quedas podem ocorrercom uma maior freqüência nesta população.Essa situação pode ser exemplificada em condiçõesnas quais idosos, durante o andar, escorregam outropeçam em algum objeto. Nestas situações, os ido-sos necessitam, primeiramente, detectar este aconte-cimento, por meio das informações sensoriais dispo-níveis, integrar tais informações, selecionar a melhorresposta para aquela situação baseada nas informa-ções recebidas e desencadear respostas posturaisrápidas e adequadas, para que o equilíbrio corporalseja restabelecido, evitando assim uma queda emi-nente. Contudo, os idosos têm dificuldade e levammais tempo para captar, transmitir e integrar asinformações sensoriais no sistema de controle postu-ral, têm problemas em utilizar a informação ou asinformações mais relevantes para aquele contexto

Paulo Freitas Júnior, José A. Barela

Page 105: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105 103

específico [15] e necessitam de mais tempo paradesencadear as respostas posturais [15, 43]. Comisso, é muito mais difícil para os idosos minimizaros efeitos das perturbações que são impostos aoequilíbrio, e essa seria a principal razão para oaumento da incidência de quedas nesta população.A partir disto, cabe aos estudiosos do movimentohumano buscar estratégias de prevenção e de inter-venção que visem melhorar este relacionamentoentre informação sensorial e ação motora em ido-sos e, consequentemente, diminuir a incidência dequedas nesta população especifica. Uma das possí-veis ações seria a prática regular de atividade físicaque ameniza a dificuldade de discriminação senso-rial e possibilita a produção de respostas posturaisapropriadas [43]. Entretanto, muito ainda necessitaser investigado e entendido sobre quais as razõesdestas alterações com o avanço da idade e quais osefeitos de atividades físicas no funcionamento docontrole postural.

CONSIDERAÇÕES FINAISA manutenção do funcionamento efetivo do sistemade controle postural possibilita ao idoso, dentreoutras coisas, manter sua independência na realiza-ção de atividades motora básicas e das atividades davida diária. Descobrir o que leva os idosos a dimi-nuir a sua capacidade de controle postural tem sidoo objetivo maior de grande parte dos estudiososdesta área. Hoje em dia, o controle postural é vistocomo sendo o resultado de um relacionamento com-plexo e dinâmico entre percepção e ação. Neste sen-tido, alterações no funcionamento do sistema decontrole postural em idosos estariam associadas,principalmente, a problemas no relacionamentoentre informação sensorial e ação motora. Nesterelacionamento estariam inclusas a integração dasinformações sensoriais, a tomada de decisão sobrequal a melhor estratégia motora a ser utilizada paramanter ou buscar a estabilidade e orientação postu-rais e a utilização de tais informações para a escolhada melhor estratégia motora a ser adotada na buscados objetivos comportamentais do controle postural.A partir desta proposta, é preciso investigar maisdetalhadamente este relacionamento, entendendotodos estes processos, e entendendo o que muda emfunção do envelhecimento.

Todavia, esta visão de controle postural ainda neces-sita de muitos outros estudos que busquem enten-der o relacionamento complexo e dinâmico entre asinformações sensoriais e as ações motoras. Nãobasta entender os processos associados à captação eao registro dos diferentes tipos de informação senso-rial e nem como o sistema muscular gera seuspadrões de ativação muscular. Mais importante, apartir deste momento, é entender como as informa-ções sensoriais são utilizadas para a geração de açãomotora e como tais ações motoras provocam mudan-ças no fluxo de informações recebidas pelos sereshumanos, compreendendo como este ciclo percep-ção-ação ocorre durante a realização de movimentose durante o controle postural.

NOTAS1 Centro de massa de um corpo é o ponto no qual toda a massado corpo está equilibrada e onde se encontra a resultante detodas as forças que agem sobre o corpo [25, 56].2 Centro de pressão é o ponto de aplicação da força verticalresultante agindo sobre a superfície de suporte. Representa oresultado das ações do sistema de controle postural e da forçada gravidade [12].

CORRESPONDÊNCIAJosé Angelo BarelaLaboratório para Estudos do MovimentoUniversidade Estadual Paulista - IBDepartamento de Educação FísicaAv. 24 a, 1515 13506-900 Rio Claro, SP BRASIL [email protected]

Ciclo percepção-ação e o controle postural em idosos

Page 106: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105104

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Barela JA (1997). Development of postural control: the

coupling between somatosensory information and bodysway. Tese (Doctor of Philosophy) - College Park,University of Maryland, Maryland.

2. Barela JA (2000). Estratégias de controle em movimentoscomplexos: Ciclo percepção-ação no controle postural. RevPaul Educ Fís 13: 79-88

3. Barela JA, Jeka JJ, Clark JE (2003). Postural control in chil-dren: Coupling to dynamic somatosensory information.Exp Brain Res 150: 434-442

4. Barela JA, Godoi D, Freitas Júnior PB, Polastri PF (2000).Visual information and body sway coupling in infantsduring sitting acquisition. Inf Behav Dev 23: 285-297

5. Barela JA, Polastri PF, Freitas Júnior PB, Godoi D (2003).Efeito da exposição visual no acoplamento entre informa-ção visual e controle postural em bebês. Rev Paul Educ Fís17: 16-31

6. Blaszczyk JW, Hansen PD, Lowe DL (1993). Postural swayand perception of the upright stance stability borders.Perception 22: 1333-1341

7. Blaszczyk JW, Lowe DL, Hansen PD (1994). Ranges ofpostural stability and their changes in the elderly. GaitPosture 2: 11-17

8. Chaimowicz, F (1997). A saúde dos idosos brasileiros àsvésperas do século XXI: problemas, projeções e alternati-vas. Rev Saúde Pública 31: 184-200

9. Collins JJ, De Luca CJ, Burrows A, Lipsitz LA (1995). Age-related changes in open-loop and closed-loop postural con-trol mechanisms. Exp Brain Res 104: 480-492

10. Dijkstra TMH, Schöner G, Gielen CCAM (1994). Temporalstability of the action-perception cycle for postural controlin a moving visual environment. Exp Brain Res 97: 477-486

11. Dijkstra TMH, Schöner G, Giese MA, Gielen CCAM(1994). Frequency dependence of the action-perceptioncycle for postural control in a moving visual environment:relative phase dynamics. Biol Cybern 71: 489-501

12. Dorfman LJ, Bosley MD (1979). Age-related changes inperipheral and central nerve conduction in man. Neurology29: 38-44

13. Duarte MD, Zatsiorsky VM (2002). Effects of body leanand visual information on the equilibrium maintenanceduring stance. Exp Brain Res 146: 60-69

14. Ferraz MA, Barela JA, Pellegrini AM (2001). Acoplamentosensório-motor no controle postural de indivíduos idososfisicamente ativos e sedentários. Motriz 7: 99-105

15. Freitas Júnior PB (2003). Características comportamentaisdo controle postural de jovens, adultos e idosos.Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista,Rio Claro, São Paulo, Brasil.

16. Freitas Júnior PB, Barela, JA (2004). Postural Control as afunction of self- and object-motion perception. NeurosciLett 369: 64-68.

17. Gatev P, Thomas S, Kepple T, Hallett M (1999).Feedforward ankle strategy of balance during quiet stancein adults. J. Physiol (Lond.) 514: 915-928

18. Ghez C (1991). Posture. In Kandel ER, Schwartz JH,Jessel TM (ed.) Principles of Neural Science. Norwalk:Appleton & Longe, 3a ed., 596-608.

19. Gibson JJ (1979). The ecological approach to visual perception.Boston: Houghton Mifflin Company.

20. Gu MJ, Schultz AB, Shepard NT, Alexander NB (1996).

Postural control in young and elderly adults when stanceis perturbed: Dynamics. J Biomech 29: 319-329

21. Hageman PA, Leibowitz JM, Blanke D (1995). Age andgender effects on postural control measures. Arch Phys MedRehabil 76: 961-965

22. Häkkinen K, Pastinen U-M, Karsikas R, Linnamo V(1995). Neuromuscular performance in voluntary bilateraland unilateral contraction and during electrical stimulationin men at different ages. Eur J Appl Physiol 70: 518-527

23. Häkkinen K, Häkkinen A (1991). Muscle cross-sectionalarea, force production and relaxation characteristics inwomen at different ages. Eur J Appl Physiol 62: 410-414

24. Hay L, Bard C, Fleury M, Teasdale N (1996). Availabilityof visual and proprioceptive afferent messages and postu-ral control in elderly adults. Exp Brain Res 108:129-139

25. Horak FB, Macpherson JM (1996). Postural orientationand equilibrium. In Rowell LB, Sherpherd JT (ed.).Handbook of physiology: a critical, comprehensive presentation ofphysiological knowledge and concepts. New York: OxfordAmerican Physiological Society, 255-292.

26. Horak FB, Shupert CL, Mirka A (1989). Components ofpostural dyscontrol in elderly: A review. Neurobiol Aging 10:727-738

27. Jeka JJ, Oie K, Kiemel KS (2000). Multisensory informa-tion for human postural control: Integrating touch andvision. Exp Brain Res 134: 107-125

28. Jeka JJ, Oie K, Schöner G, Dijkstra T, Henson E (1998).Position and velocity coupling of postural sway to somato-sensory drive. J Neurophysiol 79: 1661-1674

29. Jeka JJ, Schöner G, Dijkstra T, Ribeiro P, Lackner JR(1997). Coupling of fingertip somatosensory informationto head and body sway. Exp Brain Res 113: 475-483

30. Jouen F (1988). Visual-proprioceptive control of posture innewborn infants. In Amblard B, Berthoz A, Clarac F (ed.).Posture and gait: development, adaptation and modulation. Paris:Elsevier, 13-22.

31. Lee DN, Aronson E (1974). Visual proprioceptive controlof standing in human infants. Percept Psychophys 15: 529-532

32. Lee DN, Lishman JR (1975). Visual proprioceptive controlof stance. J Hum Mov Stud 1: 87-95

33. Lishman JR, Lee DN (1973) The autonomy of visualkinaesthesis. Perception 2: 287-294

34. Lord SR, Sherrington C, Menz HB (2001). Falls in older peo-ple: Risk factors and strategies for prevention. Cambridge:Cambridge University Press.

35. Maki BE, Holliday PJ, Fernie GR (1990). Aging and postu-ral control: A comparison of spontaneous- and induced-sway balance tests. J Am Geriatr Soc 38: 1-9

36. Maki BE, McIlroy WE (1996). Postural control in the olderadult. Clin Geriatr Med 12: 635-658

37. Morasso PG, Schieppati M (1999). Can Muscle StiffnessAlone Stabilize Upright Standing? J. Neurophysiol 83:1622–1626

38. Nashner LM (1981). Analysis of stance posture inhumans. In Towe AL, Luschei ES (ed.). Handbook ofBehavioral Neurology vol. 5. New York: Plenum, 527-565.

39. Newell KM, Slobounov SM, Slobounova BS, MolenaarPCM (1997) Short-term non-stationarity and the develop-ment of postural control. Gait Posture 6: 56-62

40. Oie KS, Kiemel T, Jeka JJ (2002). Multisensory fusion:

Paulo Freitas Júnior, José A. Barela

Page 107: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 94–105 105

simultaneous re-weighting of vision and touch for controlof human posture. Cog Brain Res 14: 164-176

41. Paulus WM, Straube A, Krafczyk S, Brandt T (1989).Differential effects of retinal target displacement, changingsize, and disparity in control of anterior posterior and late-ral body sway. Exp Brain Res 78: 243-252.

42. Polastri PF, Barela AMF, Barela, JA (2001). Controle postu-ral em idosos: relacionamento entre informação visual eoscilação corporal. In IX Congresso Brasileiro de BiomecânicaAnais 2: 132-137

43. Prioli AC, Freitas Júnior PB, Barela JA (in press). Physicalactivity and postural control in elderly: Coupling betweenvisual information and body sway. Gerontology.

44. Rivner MH, Swift TR, Malik K (2001). Influence of ageand height on nerve conduction. Muscle Nerve 24: 1134-1141

45. Schöner G (1991). Dynamic theory of action-perceptionpatterns: the “moving room” paradigm. Biol Cybern 64:455-462

46. Schöner G, Dijkstra TMH, Jeka JJ (1998). Action-percep-tion patterns emerge from coupling and adaptation. EcolPsychol 10: 323-346

47. Shumway-Cook A, Woollacott MH (2002). Controle Motor –Teoria e Aplicações Práticas. Barueri: Editora Manole.

48. Spirduso WW (1995) Physical dimensions of aging.Champaign: Human Kinetics.

49. Sundermier L, Woollacott MH, Jensen J, Moore S (1996).Postural sensitivity to visual flow in aging adults with andwithout balance problems. J Gerontol 51: M45-M53

50. Teasdale N, Stelmach GE, Breunig A, Meeuwsen HJ(1991). Age differences in visual sensory integration. ExpBrain Res 85: 691-696

51. Van Asten WNJC, Gielen CCAM, Denier Van Der Gon JJ(1988). Postural adjustments induced by simulatedmotion of differently structured environments. Exp BrainRes 73: 371-383

52. Vandervoort AA (1992). Effects of ageing on human neu-romuscular function: Implications for exercise. Can J SportSci 17: 178-184

53. Vandervoort AA, Chesworth BM, Cunninghan DA,Paterson DH, Rechnitzer PA, Koval JJ (1992). Age and SexEffects on mobility of human ankle. J Gerontol 47: M17-M21

54. Wade M, Lindquist R, Taylor J, Treat-Jacobson D (1995).Optical flow, spatial orientation, and the control of posturein the elderly. Psychol Sci 50: 51-58

55. Wann JP, Mon-Williams M, Rushton K (1998). Posturalcontrol and co-ordination disorders: The swinging roomrevisited. Hum Mov Sci 17: 491-513

56. Winter DA (1995). Human balance and posture controlduring standing and walking. Gait Posture, 3: 193-214

57. Wolfson L, Whipple MA, Derbin CA, Amerman RN,Murphy BS, Tobin JN, Nashner LM (1992). A dynamicposturography study of balance in health elderly. Neurology42: 2069-2075

58. Woollacott MH, Shumway-Cook A, Nashner LM (1986).Aging and posture control changes in sensory organizationand muscular coordination. Int J Aging Hum Dev 23: 97-114

59. Young A, Skelton DA (1994). Applied physiology ofstrength and power in old age. Int J Sports Med 15: 149-151.

Ciclo percepção-ação e o controle postural em idosos

Page 108: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115106

A pesquisa com EEG aplicada à área de aprendizagem motora

Caroline LuftAlexandro Andrade

Universidade do Estado de Santa CatarinaLaboratório de Psicologia do Esporte e do ExercícioFlorianópolisBrasil

RESUMO

O eletroencefalograma (EEG) é o registro da atividade elétricano córtex cerebral que corresponde ao fluxo de informaçõesprocessado pelo córtex em suas atividades. O movimentoenvolve uma série de processos cognitivos específicos e aaprendizagem de um gesto passa por fases cognitivas que apre-sentam suas próprias características no encéfalo. O objetivodeste estudo foi realizar uma análise dos estudos com EEGdentro da pesquisa em aprendizagem motora, suas aplicações epossibilidades de estudos empíricos, visando colaborar com ocrescimento desta área na Educação Física. Os principais estu-dos revisados indicam que a aprendizagem motora provocauma mudança na ativação cortical na área pré-motora e motorado cérebro, ou seja, existe um aumento da atividade alfa (lentae rítmica entre 8-12 Hz) nessas áreas, indicando que o gesto foiautomatizado. Desta forma, a aprendizagem está relacionada aum menor esforço e maior eficiência neural, principalmente, naárea pré-motora, pois esta é responsável pelo planejamentomotor. Concluiu-se que o EEG pode ser uma excelente alterna-tiva de pesquisa em aprendizagem motora, enriquecendo aindamais os estudos nesta área, pela investigação mais direta dosprocessos cognitivos fundamentais envolvidos na habilidademotora e no seu aprendizado.

Palavras-chave: eletroencefalograma, aprendizagem motora,movimento, córtex cerebral.

ABSTRACT

EEG and Motor Learning Research.

The Electroencephalogram (EEG) is the record of the cortex electricalactivity that corresponds to the flow of information processed by thecortex during its activities. Physical movement involves specific cogniti-ve processes and motor learning goes through by different phases andshows different characteristics in encephalon. The purpose of this paperwas to review studies using EEG within the field of Motor Learningresearch, its applications and empirical possibilities. The main articlesreviewed in this study, point out that motor learning causes a changein the cortical activation in the pre-motor and motor areas, i. e., thealpha activity increases in these areas, indicating that the movementwas learned. This way, motor learning is related to less effort and moreneural efficiency mainly in the pre-motor cortex because this area is res-ponsible for motor planning. Reviewing main results in empirical stu-dies, we conclude that EEG may be an excellent tool in motor learningresearch, adding something more to this field studies by the directinvestigation of the cognitive processes involved in motor ability and inits learning.

Key Words: electroencephalogram, motor learning, movement, brain cortex.

Page 109: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115 107

INTRODUÇÃOA atividade elétrica do cérebro, resultante da comu-nicação eletroquímica entre seus neurônios, corres-ponde ao fluxo de informações e acontece emregiões distintas em função da atividade executada.Por exemplo, estados de alerta, sonolência e sonoprofundo apresentam diferentes características noencéfalo (2, 21). O aprendizado é um conjunto de processos que pro-voca mudanças relativamente permanentes na capa-cidade de resposta (2, 9). A aprendizagem motoraresulta em mudança, principalmente no comporta-mento motor. Por esta razão, é normalmente avalia-da mediante a observação da performance em repeti-das tarefas motoras no período de retenção. Porém,todo o aprendizado motor, resulta em mudanças naatividade neural em diferentes regiões do cérebro,principalmente nas áreas anteriores relativas à pro-gramação do movimento (7). Estudos como os de Harris e Harris, Starkes eWrisberg, citados por Haufler et. al. (14), sugeriramque o estilo de processamento de informação nocérebro (especialmente nos lobos frontais e tempo-rais) de um atleta profissional apresenta maior efi-ciência, efetividade e menos esforço mental, quandocomparado ao de novatos.Existem muitos instrumentos de investigação da ati-vidade neural no cérebro, como Topografia porEmissão de Positrons (PET), Representação funcionalpor Ressonância Magnética (RfRM) e Imagem Óptica(IO) (5). Na pesquisa em Aprendizagem Motora, oEletroencefalograma (EEG) vem sendo o mais utili-zado, pois além de ser um instrumento mais baratodo que aqueles acima citados (23), pode registrar aatividade elétrica e as suas mudanças no cérebro,durante a execução de uma tarefa motora complexaou durante o próprio exercício, com uma resoluçãotemporal maior que a de outros instrumentos (10,26). Embora o EEG apresente estas vantagens emrelação aos outros instrumentos, existem dois fatoreslimitantes - de origem técnica e sociológica - do seumaior desenvolvimento e aplicação na mensuração dofuncionamento cognitivo. A limitação técnica diz res-peito à insuficiência de detalhes espaciais para identi-ficar as estruturas e funções relacionadas à atividadeelétrica, que podem ser visualizados com ressonânciae outros métodos de neuroimagem. A limitação

sociológica diz respeito ao fato de o EEG ter vindo aser mais utilizado na área clínica, com fins diagnósti-cos, por médicos sem interesse em estudar o funcio-namento cognitivo, enquanto na pesquisa é utilizadopor professores de psicologia e seus estudantes, semambições clínicas, deixando a pesquisa um pouco dis-tante da sua aplicação. O EEG é o registro da atividade elétrica cerebral, emdiferentes regiões do córtex, realizado através de ele-trodos posicionados em regiões específicas no escal-po (2, 21).A atividade rítmica no córtex é caracterizada por suafreqüência, que é a taxa na qual uma onda se repetedentro de 1 segundo, por isso é medida em hertz(ciclos por segundo) ou Hz (2). As freqüências maiscomuns são: delta (< 4 Hz), teta (4–7 Hz), alfa (8-13 Hz) e beta (>13 Hz) (21). Podem ser encontra-dos valores diferentes, mas aproximados, em algunsestudos e também pode ser encontrada uma defini-ção diferente que separa em ritmo alfa baixo (9 Hz)e alfa alto (10-11 Hz) (14). É importante saber essasdefinições básicas, porque diferentes freqüências, emregiões distintas, estão associadas com diferentescomportamentos.As regiões a partir das quais os eletrodos são organi-zados no EEG são conhecidas por denominaçõesabreviadas. A letra inicial corresponde à região - pré-frontal (Fp), frontal (F), temporal (T), central (C),parietal (P) e occipital (O) - e o número ao hemisfé-rio (ímpares: esquerdo, pares: direito). Quando aregião vier seguida da letra z é a área média daregião, por exemplo: Fz, Cz, Pz e Oz. Cada estudo apresenta algumas particularidadesmetodológicas de investigação do EEG de uma tarefaespecífica. O EEG tem muitos canais e permite mui-tas montagens e derivações diferentes.Normalmente, o objetivo de cada estudo define amontagem, a derivação e a freqüência a ser analisa-da. A maioria dos estudos investiga o EEG pela fre-qüência espectral (delta, teta, alfa, beta), emboraexistam formas mais específicas de investigação.Uma delas é pela mensuração dos macropotenciaiscerebrais relacionados ao movimento (MCRMs) (7). Os MCRMs são investigados por EEG (Fpz, Fz, Cz,P3 e P4) coletados simultaneamente com eletromio-grafia (EMG) e separam cada fase cognitiva do gestomotor em períodos. O primeiro período é o pré-

Pesquisa com EEG em aprendizagem motora

Page 110: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115108

motor, que precede a performance motora. É caracte-rizado por um potencial negativo (deflexão paracima) que inicia 600-1200 ms antes da atividademuscular e é denominado Bereitschaftspotential (BP).Esse período corresponde à programação cognitivado movimento.O segundo período inicia com a contração musculare continua até 80 ms após o pico do EMG e é cha-mado de período sensório-motor. Este é caracteriza-do por um pico negativo no potencial do córtexmotor com uma latência de aproximadamente 100ms (N100). O próximo período é identificado comoperíodo de finalização motora, caracterizado por umpico positivo, com latência de 200 ms (P200). E oúltimo período é o pós-motor, caracterizado pelaocorrência de grande positividade com uma latênciade 350-650 ms, conhecida como positividade de per-formance da habilidade (PPH) (7).Os MCRMs mais estudados são os BP e PPH, poisneles são encontradas as principais diferenças entrenovatos e profissionais, indicando que a aprendiza-gem motora altera principalmente a forma como omovimento é programado e também o feedback cere-bral após o ato motor (7).O período de latência de 300 ms nas regiões fron-tais, centrais e parietais, conhecido como P300, tam-bém é utilizado em pesquisas em aprendizagemmotora. O P300 reflete o tempo de reação (TR) cere-bral a um estímulo ambiental. Ele pode variar emamplitude e tempo (de 0 a 300 ms) e, também, serdependente do interesse pessoal pelo estímulo espe-cífico. Além de possibilitar uma medida direta doTR, o P300 pode, também, servir como um indicati-vo do grau de atenção do indivíduo, sendo útil empesquisas em crianças com déficit de atenção porhiperatividade (DAH) (12).O nível de atenção aos estímulos está diretamenterelacionado com a aprendizagem motora. A aprendi-zagem também depende diretamente da memória,especialmente da de curto prazo (MCP), conhecidatambém como memória de trabalho (25). Em umestudo com neurofeedback (técnica que permite aoindivíduo controlar a própria atividade cerebral), foisugerida a associação positiva entre atividade teta ememória de trabalho e, também, entre atividade doritmo sensoriomotor (RSM), processamento da aten-ção e MCP.

Baseados em pesquisas que demonstraram que aMCP utiliza o córtex posterior de associação, envolvi-do no armazenamento de informação sensorial, e ocórtex pré-frontal, que atualiza essa informação,Vernon e colaboradores (27) propuseram que essasduas regiões seriam conectadas pela atividade teta (4-7 Hz). O treinamento da atividade teta se denominaTeta neurofeedback e tem o objetivo de melhorar a MCP.Neste mesmo estudo (27) foi sugerido que a ativida-de do RSM estaria diretamente relacionada com oprocessamento da atenção e que o treinamentodesse ritmo facilitaria o aprendizado. O RSM é carac-terizado por uma atividade rítmica nas regiões cen-trais (equivalentes às áreas sensório-motoras docérebro) com uma freqüência entre 12-15 Hz. O apa-recimento da atividade RSM está diretamente rela-cionado a melhores níveis de processamento deatenção e de MCP.Considerando que o EEG é pouco pesquisado naEducação Física no Brasil (ver periódicos nacio-nais), especialmente em Psicologia do Esporte eAprendizagem Motora, e a possibilidade de investi-gação direta dos processos cognitivos envolvidosno gesto motor por meio do EEG, este estudo bus-cou fazer uma análise dos estudos sobre aprendi-zagem motora e EEG, como forma de embasar eestimular a realização de novos estudos empíricossobre esse tópico.

REVISÃO DA LITERATURAOs neurônios se comunicam de forma rápida e precisa,percorrendo longos trajetos. Mecanismos elétricos equímicos tornam possível a integração sináptica neu-ral, permitindo que um neurônio forme mais de milsinapses e receba mais de 10 mil conexões (1, 16).O sistema nervoso central é dividido em duas partesprincipais: encéfalo e medula espinhal. O encéfaloestá anatomicamente dividido em 3 partes: córtex,tronco encefálico e cerebelo (1, 16).As áreas corticais individuais (sensorial, motora ecognitiva) são distinguidas pelas suas conexões deentrada e saída. Embora sejam diferentes, ambas asáreas são distribuídas da mesma maneira, organiza-das em colunas verticais. A principal origem dospotenciais de EEG é a atividade elétrica das célulaspiramidais, que têm como característica a projeçãode seus axônios para outras áreas do cérebro e para

Caroline Luft, Alexandro Andrade

Page 111: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115 109

a medula espinhal. Essas células são neurônios exci-tatórios, possuem axônios contralaterais que se pro-jetam localmente e o seu principal neurotransmissoré o glutamato (18).O uso do EEG nas pesquisas em Aprendizagem

Motora pode ser enriquecedor, pois os processoscognitivos têm grande importância no aprendizadode uma habilidade e são constantemente menciona-dos em livros e estudos, porém, normalmente inferi-dos por meio de observação de comportamento enão investigados diretamente. Aprendizado pode ser definido como um conjuntode processos associados com a prática ou experiên-cia, que resulta em mudanças permanentes na capa-cidade de resposta (25). A Aprendizagem Motora estuda a mudança no com-portamento motor decorrente da aquisição de umanova habilidade motora, que apresenta três caracte-rísticas: a forma como o movimento é organizado, aimportância relativa dos elementos motores e cogni-tivos e o nível de previsibilidade ambiental envolven-do performance e habilidade. A abordagem maisapropriada para classificar habilidade motora é a deconsiderar o grau com o qual os elementos cogniti-vos e motores contribuem para o alcance da metacom êxito. Por essa razão algumas vezes as habilida-des motoras são chamadas de psicomotoras ou per-ceptomotoras (25).Os aspectos cognitivos são essenciais na aquisição ena execução de novas habilidades motoras, por issosão fundamentais na Aprendizagem Motora. O cére-bro é responsável por processos cognitivos queenvolvem planejamento (córtex pré-frontal), organi-zação da seqüência (pré-motor) e envio das açõesespecíficas dos movimentos a serem executados(córtex motor). Outras áreas do cérebro tambémparticipam do movimento, enviando mensagens,dosando a força, agilidade, fornecendo feedbacksvisuais, tácteis e auditivos, ajustando constantemen-te o movimento (16). O planejamento e o aprendizado de uma habilidademotora provocam mudanças na atividade do cérebro,principalmente na sincronização dos impulsos neu-rais. A onda alfa, que é inversamente proporcional àativação, está associada com uma maior sincronia emenor esforço neural, conseqüentemente, relaciona-da com melhor desempenho motor (13, 14).

A relação entre aprendizagem motora e cogniçãovem sendo alvo de muitos estudos. As mudançasdecorrentes do aprendizado, e durante o mesmo, sãonormalmente mensuradas pela observação compor-tamental, avaliando a performance do indivíduodurante tarefas específicas, que são testadas subse-qüentemente (período de retenção), constatandodesta maneira se houve aprendizado (4). Além da observação de comportamento, existemoutras maneiras de investigar os processos cogniti-vos fundamentais no gesto motor. Uma delas é autilização do EEG. O registro dos potenciais elétri-cos do cérebro associado com a execução de tarefasmotoras específicas é um método útil para entenderas funções corticais relacionadas à performance demovimentos voluntários (7).Com o objetivo de investigar as mudanças neurofi-siológicas associadas com o desenvolvimento deestratégias cognitivas e visuomotoras, Smith et al.(26) analisaram o EEG de dois grupos experimentaisdiferentes: o primeiro composto por 8 indivíduosdurante duas tarefas diferentes de MCP (verbal eespacial) que requeriam um ajustamento constante,e o segundo com 6 indivíduos durante um jogo devideo-game que continha um difícil componentevisuo-motor. Os resultados demonstraram que a ati-vidade alfa está diretamente relacionada com melhorperformance motora, e que a sua localização noencéfalo aumenta em regiões específicas, dependen-do da atividade realizada. A assimetria da atividadealfa também foi significativa neste estudo, indicandomaior atividade alfa no hemisfério direito. A ativida-de alfa pode ser considerada um indício de aprendi-zado, uma vez que ela foi relacionada com atençãofocalizada e com o desenvolvimento de estratégiascognitivas e visuomotoras eficientes.Haufler et al. (14) realizaram um estudo no qualcompararam a atividade do cérebro de atiradoresnovatos com o de profissionais durante a execuçãode uma prova de tiro (40 tiros), de uma tarefa dereconhecimento de palavras e de uma tarefa espacial.Constataram que a atividade eletroencefalográficadurante o tiro era significativamente menor (maioratividade alfa) nos profissionais do que nos novatos.Ao demonstrar pior performance, os novatos tam-bém apresentaram maior esforço mental e menorsincronia neural, especificamente nos lobos frontais,

Pesquisa com EEG em aprendizagem motora

Page 112: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115110

temporais e parietais. A atividade teta nos profissio-nais também foi significativamente maior durante aprova de tiro, o que indica que o nível de atençãodeles era maior do que o dos novatos, pois esta ondaestá associada com o processamento da atenção.Nas outras tarefas não houve diferença significativana atividade cerebral entre novatos e profissionais,sugerindo que o treinamento específico da habilida-de resulta numa sincronia neural específica para ahabilidade treinada.Outra diferença funcional no cérebro, decorrente daaprendizagem, é a transferência da atividade neural.Durante a aquisição de uma nova informação, a ati-vidade do cérebro é predominantemente maior nohemisfério direito e, depois do aprendizado, passa aser maior no esquerdo; por essa razão, a atividadeassimétrica pode também evidenciar a aprendiza-gem, ou não, de uma habilidade motora (11).Etnier et al. (4) realizaram um estudo onde foi com-parado o EEG de dois grupos, antes e depois daaquisição de uma nova habilidade motora. Um gruporealizou o pré-teste e treinou a habilidade (GE)durante o dia de aquisição, enquanto o outro fez opré-teste, porém só executou a tarefa no outro diadurante o pós-teste (GC). O resultado encontradofoi que a performance do GE aumentou significativa-mente mais do que a do GC, bem como a atividadealfa no córtex. Não foram encontradas diferençassignificativas entre a atividade nos hemisférios direi-to e esquerdo, sugerindo que o aprendizado estámais relacionado à atividade alfa do que com a ativa-ção assimétrica do cérebro. Hatfield et al. (13) realizaram um estudo de revisão,reunindo grande quantidade de estudos empíricossobre aprendizagem motora e EEG. Foi verificadoque a maioria dos estudos revisados indicaram que aaprendizagem motora resulta em aumento da ativi-dade alfa (redução da ativação) nas regiões frontais,pré-frontais e temporais. Em relação à assimetriacortical, os estudos encontraram uma diminuição daatividade elétrica cortical no hemisfério direito, emrelação ao esquerdo, nas regiões frontais, parietais etemporais, o que indica diferença significativa naassimetria antes e depois da aprendizagem. No estu-do de Haufler et al. (14) foi verificado o aumento daatividade alfa (redução da ativação), especialmenteno lobo temporal esquerdo.

O motivo pelo qual não se encontrou diferença sig-nificativa na assimetria cerebral no estudo de Etnieret al. (4) pode ter sido o de que a atividade eletroen-cefalográfica foi comparada apenas entre o hemisfé-rio direito e esquerdo, não sendo consideradas dife-renças entre as regiões dos hemisférios. Haufler etal. (14) compararam a atividade entre F3 – F4, T3 –T4, P3 – P4, O1 – O2, e verificaram diferenças signi-ficativas na assimetria entre novatos e proficientesna tarefa de tiro, indicando que há diferenças,porém, elas não devem ser comparadas somente pelamensuração da atividade total dos hemisférios direi-to e esquerdo, e sim por diferentes regiões de ambosos lados (ex. assimetria frontal, temporal, parietal eoccipital). O estudo de Debaere et al. (3), que investigou aaprendizagem de uma tarefa bimanual, por meio deressonância magnética, revelou diminuição da ativa-ção no córtex, especialmente nas regiões corticaisfrontais do hemisfério direito (córtex dorsolateralpré-frontal, área pré-motora) e parietais de ambos oslados. Foram verificados aumentos na atividade naárea motora primária, giro temporal superior, córtexmotor cingulado, área pré-motora esquerda, entreoutras áreas subcorticais.Hatfield et al. (13) em seu estudo de revisão, suge-rem que a aprendizagem provoca uma “economia deesforço”, que aumenta a eficiência, ativando mais asáreas diretamente envolvidas com as demandas datarefa e reduzindo a ativação das áreas que não sãoessenciais na sua realização, aumentando a eficiên-cia. A teoria de Goldberg (11) apenas coloca que ohemisfério direito é responsável pelo processamentode estímulos novos, enquanto o esquerdo trabalhacom informações assimiladas. Observando destaforma, cada região, em cada hemisfério, pode ter umpadrão assimétrico diferente, em decorrência daaprendizagem.O aumento da atividade rítmica no córtex, resultanteda aprendizagem, pode ser verificado tanto internaquanto externamente. Pode-se verificar a presença deum determinado ritmo quando o movimento é auto-matizado, sendo esse ritmo diferente em cada indiví-duo (24). Sakai et al. (2004) realizaram uma revisãosobre os estudos de ritmos internos da aprendizagemde habilidades motoras complexas com diferentesinstrumentos de mensuração da atividade cerebral.

Caroline Luft, Alexandro Andrade

Page 113: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115 111

Os estudos com PET indicaram que o movimento éaprendido em segmentos, sendo que a aprendizagemresulta na automatização de segmentos cada vezmaiores. O córtex pré-frontal é responsável por sele-cionar os segmentos, colocando um após o outro.Portanto, quanto maior o tamanho do segmento,menor a demanda cognitiva. Essa sincronia neuralresultante da aprendizagem seria a responsável pelosurgimento do ritmo neural. Quanto maior a apren-dizagem, menor a demanda cognitiva, pois cada seg-mento é maior, conseqüentemente maior o ritmoneural (pode ser associado à atividade alfa).Fattapposta et al. (7) realizaram um estudo sobrecomo o tempo de prática influencia no aprendizadode uma nova habilidade motora. Investigaram osmacropotenciais cerebrais relacionados ao movimen-to (MCRMs), entre eles: bereitschaftspotential (BP)que reflete os processos cerebrais referentes à pro-gramação do movimento e a positividade da perfor-mance da habilidade (PPH), que reflete os processoscerebrais de controle no resultado da atividademotora. A amostra foi constituída de 8 profissionaisde tiro e 8 sujeitos sem prática de nenhum esporte.Foram executadas 4 sessões de 25 tentativas, sendoque a tarefa motora foi o tiro. Os resultadosdemonstraram diferenças significativas no BP rela-cionadas à performance, sendo que os profissionaisapresentaram menor amplitude (o que está associa-do a menor esforço de programação de movimento),enquanto que os novatos demonstraram maioramplitude, que aumentava no decorrer das sessões,juntamente com uma melhora da performance. Esses resultados indicam que a BP entre novatos eprofissionais difere, dependentemente do nível deaprendizado, sugerindo que durante a aquisição dahabilidade a amplitude de BP aumenta relativamenteao nível de programação e atenção nos detalhes, eque, depois da automatização, a BP diminui, indican-do menor esforço mental e o direcionamento daatenção apenas aos detalhes relevantes.Existe a necessidade de mais estudos que comparem aatividade entre regiões e hemisférios cerebrais, quedividam e comparem as regiões utilizando os mesmoscritérios (regiões, freqüências, análise estatística) como intuito de possibilitar uma melhor compreensão decomo o aprendizado influencia a atividade neural,bem como de permitir comparações confiáveis.

Além dos processos neurais referentes ao planeja-mento e automatização do movimento, a memóriatambém é uma variável cognitiva fundamental naaprendizagem motora. A memória pode ser definidacomo a “capacidade do indivíduo de reter e utilizar ainformação de várias maneiras por vários períodosde tempo” (25, p. 96). Ela pode ser conceituadatambém como “a armazenagem de material resultan-te das atividades dos vários estágios de processa-mento de informação” (p.96). Existem três sistemasdistintos de memória envolvidos no processamentoda informação, que resultam na produção de movi-mento: armazenamento sensorial de curto prazo(ASCP), memória de curto prazo (MCP) e memóriade longo prazo (MLP). A MCP também é conhecidacomo memória de trabalho (25). Vernon et al. (27) realizaram um estudo com a utili-zação de neurofeedback (técnica onde o indivíduoaprende como influenciar a atividade elétrica do seucérebro, mediante um feedback constante que lhe éfornecido) relacionado a MCP. A pesquisa estavabaseada na evidência, apontada por outros estudos(9, 15), de que a atividade teta (4-7 Hz) está asso-ciada positivamente com a MCP. A hipótese paraesta relação é que o córtex de associação posterior(envolvido na retenção de informação sensorial) e ocórtex pré-frontal (responsável por atualizar essainformação) seriam conectados pela atividade teta. Neste mesmo estudo (27) foi investigada a relaçãoda supressão da atividade do ritmo sensoriomotor(RSM) (12-15 Hz) com o processamento da atenção.Os resultados encontrados foram que o grupo quetreinou o RSM neurofeedback melhorou a atenção etambém a MCP, enquanto que o grupo que treinouapenas a atividade teta não apresentou diferençassignificativas. Sugeriu-se então que a memória detrabalho está mais associada com a atenção (relacio-nada ao RSM) do que com a atividade teta.Outro estudo (15) investigou o neurofeedback do RSMem 530 crianças e adultos com problemas de atenção.Após 20 sessões de tratamento (RSM neurofeedback) onível de atenção melhorou significativamente, bemcomo o tempo de reação e o controle da impulsivida-de. Este estudo propôs que o RSM está ligado direta-mente aos níveis de atenção e sugeriu que o seu trei-namento pode também, por este motivo, auxiliar naaprendizagem, principalmente de crianças com déficitde atenção por hiperatividade (DAH).

Pesquisa com EEG em aprendizagem motora

Page 114: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115112

Em outra investigação (17) foi pesquisado o com-portamento de diferentes freqüências no cérebro de21 indivíduos dentro de um simulador de direçãoem quatro situações: o simulador parado com omotor desligado no momento de largada (VCO),andando com o motor ligado a 45 mph (sem interfe-rência do sujeito experimental) (VC45), andando a90 mph (VC90) e dirigindo, ou seja, controlando osimulador (controle motor - CM). Os resultadosdemonstraram que, durante as tarefas visuais (VC0,VC45 e VC90), houve supressão bilateral da ativida-de 11-15 Hz localizada no córtex temporo-parietal,enquanto que os movimentos corporais produziramuma supressão similar no córtex somatosensorialmédio. Esse resultado indica que a atividade motoraestá associada com uma supressão da atividadeRSM, o que sugere a interferência do movimentonos componentes perceptuais e integrativos do pro-cessamento de informação. McEvoy e Smith (20) testaram a confiabilidade de 4freqüências de EEG durante a execução de uma tare-fa motora de tempo de reação (TR) e de uma tarefade MCP em diferentes níveis de dificuldade. As qua-tro ondas testadas foram: atividade teta frontalmédia (Fmθ), teta posterior, alfa baixa, alfa alta, comfreqüências e localização de respectivamente: 4-7 Hzem Fz, 4-7 Hz em Pz, média 9,5 Hz em Pz e Cz emédia 11 Hz em Pz e Cz. Os resultados indicaramque quanto maior o nível de dificuldade, maior aFmθ (atividade teta na região frontal média) emenor a atividade alfa. No entanto, a atividade tetaposterior não apresentou diferença relativa à realiza-ção das tarefas. Através da análise estatística foiconstatado alto nível de confiabilidade entre osresultados de EEG e as tarefas executadas, indicandoque estas quatro freqüências de EEG são confiáveispara estudos de tarefas psicomotoras e de MCP.Outra variável de EEG muito utilizada em pesquisasem aprendizagem motora é o P300. O P300 refere-seao período de tempo entre 0 e 300 ms onde há umalatência entre o estímulo e a reação no cérebro naregião sensório-motora. O P300 serve para indicar otempo de reação no cérebro. O P300 é muito usadopara medir a atenção e a sua amplitude tambémvaria de acordo com o estímulo e com a necessidade,ou não, de resposta (12).

O P300 também pode ser utilizado como um indica-tivo de atenção a um estímulo auto-relevante (12).Este estímulo auto-relevante, no estudo citado ante-riormente (12), foram palavras que tinham relaçãocom a vida do indivíduo, como nome dos pais, cida-de natal, telefone, etc. Foi comparado o P300 parapalavras neutras e relevantes. Os resultados indica-ram que o P300 era maior em amplitude e menorem tempo de reação quando a palavra apresentadaera relevante na vida do indivíduo. Este estudo indi-cou que os níveis de atenção aos estímulos externosvariam de acordo com o valor atribuído ou com ograu de familiaridade a eles, sugerindo que a relaçãosubjetiva do indivíduo-estímulo é importante naatenção e na reação ao mesmo.

DISCUSSÃOOs estudos (26, 13, 14) demonstraram que quantomaior a atividade alfa, maior a sincronia neural,menor o esforço mental e, conseqüentemente,melhor o desempenho. A atividade alfa é importantenas pesquisas em aprendizagem motora porque podeindicar se houve ou não aprendizado. Também foiencontrado que a atividade alfa aparece especifica-mente para a habilidade aprendida, pois outro estu-do (14) demonstrou que profissionais e novatos nãoapresentaram diferença na atividade cortical durantea realização de tarefas com as quais não estavamfamiliarizados.A assimetria da atividade alfa também sugeriu, nestesestudos, que hemisférios e regiões diferentes estãorelacionadas ao aprendizado motor. A teoria deGoldberg (11) diz que o aprendizado acontece assime-tricamente, sendo que, durante este processo, ohemisfério direito é mais ativo e, depois de concretiza-do, o esquerdo é que apresenta maior atividade no res-gate da tarefa aprendida. Ou seja, depois do aprendiza-do, o hemisfério esquerdo apresenta maior ativação.Essa teoria não foi confirmada pelo estudo de Etnieret al. (4), pois neste não foi encontrada diferença sig-nificativa na assimetria cerebral depois da aprendiza-gem. Porém, deve-se considerar que este estudo (4)analisou a assimetria total do cérebro e não em dife-rentes regiões do mesmo. Outros estudos (13, 14,26) encontraram diferenças na assimetria em diferen-tes regiões relacionadas ao aprendizado. No primeiro(14), o lobo parietal direito mostrou maior atividade

Caroline Luft, Alexandro Andrade

Page 115: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115 113

alfa em relação ao esquerdo (nos profissionais) e,considerando que quanto maior a atividade alfa,menor a ativação cerebral, o lobo parietal esquerdoestava mais ativo nos profissionais, confirmando ateoria de Goldberg (11). O outro estudo (26) tam-bém encontrou maior ativação no lobo esquerdo, emcomparação com o direito (indicado pela atividadealfa), em regiões específicas requeridas pelas tarefaspropostas no estudo. Ambos os estudos sugeriramque o EEG é válido para mensurar o aprendizadomotor e estudar diferentes estratégias cognitivasenvolvidas no processo. A teoria de Goldberg (11)pode ser complementada pela idéia de Hatfield et al.(2004) que relatam que o aprendizado é um processoespecífico para cada habilidade, sendo que as estrutu-ras que não são diretamente responsáveis pela execu-ção da atividade têm a sua atividade reduzida com aprática, provocando uma economia de energia, dire-cionando-a para as áreas mais importantes na execu-ção da tarefa. Desta forma, a assimetria, da direitapara a esquerda, aconteceria principalmente nas áreasdiretamente envolvidas com a tarefa. A principal diferença relativa ao aprendizado de umahabilidade foi com relação ao planejamento motor. Aexecução do movimento passa por 3 fases: planeja-mento cognitivo (córtex pré-motor), organização eenvio das seqüências (córtex motor) (16). O estudode Fattapposta et al. (7) demonstrou com osMCRMs que a amplitude do BP (macropotencialrelacionado à programação do movimento) é menorem profissionais do que em novatos durante umatarefa de tiro, indicando também menor esforço neu-ral e maior concentração apenas em sinais relevantesdo ambiente.O resultado deste estudo (7), embora tenha usadoum método diferente, pode ser relacionado com oanterior (14). Ambos os estudos compararam a ativi-dade neural durante a execução de uma prova de tirode novatos e profissionais. Porém, Haufler et al. (14)analisaram a atividade pela freqüência alfa eFattapposta et al. (7) pelos MCRMs. Mas, ambosencontraram resultados similares, que associammenor esforço neural nos profissionais, seja ele indi-cado pela maior atividade alfa ou por menor ampli-tude do BP. Estes estudos demonstram que a princi-pal mudança promovida pelo aprendizado está naprogramação do movimento.

Outra variável importante na aprendizagem motora éa memória, especialmente a de curto prazo (MCP).Alguns estudos (27, 15, 17) investigaram variáveisrelacionadas à MCP. O primeiro (27) demonstrouque a MCP está mais associada à atividade do RSMdo que a atividade teta na região frontal. Na outrainvestigação (15) foi demonstrado que o treinamen-to da atividade do RSM melhora significativamenteos níveis de atenção, indicando que o RSM tem rela-ção direta com a atenção. E o terceiro estudo (17)demonstrou que durante uma tarefa motora há umasupressão da RSM, indicando que o movimentodiminui os níveis de atenção. O tempo de reação também é uma variável impor-tante para a aprendizagem motora e está relacionadotambém com os níveis de atenção. Foi demonstrado(12) que o tempo de reação pode ser medido direta-mente através do P300. O tempo que o cérebrodemora a reagir e a magnitude (amplitude) da rea-ção não dependem apenas da natureza do estímulo,mas também do significado individual atribuído aoestímulo. Esse estudo (12) demonstrou que a histó-ria pessoal influencia nas respostas ao mesmo estí-mulo, fazendo com que o cérebro reaja mais e maisrápido a coisas que se associam com a sua vida. O maior problema na utilização do EEG é a dificul-dade em associar os eventos elétricos corticais àsestruturas, e a incapacidade de verificar a atividadedas estruturas subcorticais na aprendizagem domovimento. Um estudo realizado com PET (19)verificou a importância do cerebelo no aprendizadomotor implícito, atividade esta que não poderia serverificada com EEG. Nos estudos de revisão (6, 13) os resultados aponta-ram que a atividade cortical encontrada em investi-gações com EEG concordam com os achados porPET (6, 19), ressonância (3) e por mensurações ele-trofisiológicas de atividade autônoma (22). Todosestes estudos apontam uma redução na atividadecortical decorrente da aprendizagem.

CONCLUSÃOPode-se concluir, com base nos estudos revisados,que a aprendizagem motora altera principalmente aatividade de programação motora e o feedback neuralapós o movimento. Além da alteração dos MCRMs,foi demonstrado que a investigação das freqüências

Pesquisa com EEG em aprendizagem motora

Page 116: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115114

de EEG é confiável para o estudo da aprendizagemmotora (14, 17, 20). A investigação do P300 (12) levou à conclusão deque o significado do estímulo é essencial na respostacerebral, pois demonstrou que palavras com signifi-cado pessoal apresentavam um P300 com maioramplitude e menor tempo de reação, ressaltandodessa forma a importância da subjetividade do sujei-to na resposta. Uma das áreas de interesse dos pes-quisadores deste estudo é a amplitude do P300 rela-cionada a estímulos mais significantes comparadosaqueles não-significantes para o indivíduo. O signifi-cado do ambiente e dos estímulos que o compõemsão fundamentais no estudo de uma psicologia quevise investigar o sujeito no processo de vivência doesporte, pois o movimento sempre tem uma finalida-de, surgindo normalmente após uma avaliação subje-tiva de significado (8). Os estudos aqui revisados demonstraram que o EEGé uma boa alternativa para a pesquisa em aprendiza-gem motora e que permite a compreensão dos pro-cessos cognitivos envolvidos na aquisição de umanova habilidade, bem como na execução proficientede tarefas motoras. O EEG permite também atuar ecompreender melhor o aprendizado em diferentessituações e indivíduos e apresenta alto nível de con-fiabilidade (27).

Caroline Luft, Alexandro Andrade

CORRESPONDÊNCIAAlexandro AndradeUDESC/CEFIDLaboratório de Psicologia do Esporte e do ExercícioRua Pascoal Simone n°358Florianópolis SC [email protected]

Page 117: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 106–115 115

Pesquisa com EEG em aprendizagem motora

REFERÊNCIAS 1. Bear MC, Barry W, Paradiso MA (2001). Neuroscience:

Exploring The Brain. 2 Ed. Maryland: Lippincott Williams &Wilkins.

2. Cantor DS (1999). An Overview of Quantitative EEG andits Applications to Neurofeedback. In: Evans JR, AbarbanelA. Introduction to Quantitative EEG and Neurofeedback.Copyright: Academic Press.

3. Debaere, F, Wenderoth, N, Sunaert, S, Hecke, PV, Swinnen,SP (2004). Changes in brain activation of a new bimanualcoordination task. Neuropsychologia 42: 855-867.

4. Etnier JL, Whitwer SS, Landers DM, Petruzzello SJ, SalazarW (1996). Changes in Eletroencephalographic ActivityAssociated with Learning a Novel Motor Task. ResearchQuarterly for Exercise and Sport 67(3): 272-279.

5. Fabiani M, Gratton G, Corbalis PM (1996). Noninvasivenear infrared optical imaging of human brain function withsubsecond temporal resolution. Journal of Biomedical Optics1: 387-398.

6. Fadiga, L, Craighero, L (2004). Electrophysiology of actionrepresentation. Journal of Clinical Neurophysiology 21 (3):157-169.

7. Fattaposta F, Amabile G, Cordishi, MV, Venanzio D, Di FotiA, Pierelli F, Alessio CD, Pigozzi F, Parisi A, Morrocutti C(1996). Long-term pratice effects on a new skilled motorlearning: an ekectrophysiological study.Electroencephalography and clinical Neurophysiology 99: 495-507.

8. Feijó, Olavo G (1998). Psicologia para o Esporte. 2 ed. Rio deJaneiro: Shape Ed.

9. Gevins A, Smith ME, Mcevoy L, Yu D (1997). High resolu-tion EEG mapping of cortical activation related to workingmemory: effects of task difficulty, type of processing andpratice. Cerebral Cortex 7: 374-385.

10. Gevins, A (1998). The future of electroencephalography inassessing neurocognitive functioning. ElectroencephalographyClinical Neurophysiology 106 (2): 165-172.

11. Goldberg, E (2002). O cérebro executivo: Lobos Frontais e aMente Civilizada. Rio de Janeiro: Ed. Imago.

12. Gray HM, Ambady N, Lowenthal WT, Deldin P (2003).P300 as an index of attention to self-relevant stimuli.Journal of Experimental Social Psychology. Academic Press (Inpress).

13. Hatfield BD, Haufler AJ, Hung TM, Spalding TW (2004).Electroencephalographic Studies of Skilled PsychomotorPerformance. Journal of Clinical Neurophysiology 21 (3): 144-156.

14. Haufler AJ, Spalding DL, Santa Maria DL, Hatfield BD(2000). Neuro-Cognitive activity during a self-pacedvisuospatial task: comparative EEG profiles in marksmenand novice shooters. Biological Psychology 53: 131-160.

15. Kaiser DA, Othmer S (1997). Efficacy of SMR-BetaNeurofeedback for Attentional Processes. Inc. Encino CA.EEG Spectrum. November.

16. Kolb B, Whishaw IQ (2002). Neurociência do Comportamento.Barueri: Editora Manole Ltda.

17. Mann CA, Sterman M, Barry K, David A (1996).Supression of EEG rhythmic frequencies during somato-motor and visuo-motor behavior. International Journal ofPsychophysiology 23: 1-7.

18. Martin, JH (1991). The Collective Electrical Behavior ofCortical Neurons: The Eletroencephalogram and the

Mechanisms of Epilepsy. In: Kandel ER, Schartz JH, JessellTM Principles of Neural Science. 3 ed. Connecticut: Appleton& Lange.

19. Matsumura M, Sadato N, Kochiyama T, Nakamura S, NaitoE, Matsunami K, Kawashima R, Fukuta H, Yonekura Y(2004). Role of cerebellum in implicit motor skill learning:a PET study. Brain Research Bulletin 63: 471-483.

20. Mcevoy LK, Gevins A (2000). Test-Retest Reliability ofCognitive EEG. Clinical Neurophysiology 111: 457-463.

21. Montenegro MA, Cendes F, Guerreiro, M, Guerreiro, CA(2001). EEG na prática clínica. São Paulo: Lemos Editorial.

22. Oishi K, Maeshima T (2004). Autonomic nervous systemactivities during motor imagery in elite athletes. J ClinNeurophysiol 21(3): 170-179.

23. Ross P. (2003). Leitores da Mente. Scientific American. Brasil17: 66-68.

24. Sakai K, Hikosaka O, Nakamura K (2004). Emergence ofrhythm during motor learning. Trends in Cognitive Sciences 8(12): 547-553.

25. Schmidt RA, Wrisberg CA (2001). Aprendizagem ePerformance Motora: Uma abordagem da aprendizagembaseada no problema. 2 ed. Porto Alegre: Artmed EditoraLtda.

26. Smith ME, Mcevoy LK. Gevins A (1999).Neurophysiological indices of strategy development andskill acquisition. Cognitive Brain Research 7: 389-404.

27. Vernon D, Egner T, Cooper N, Compton T, Neilands C,Sheri A, Gruzelier J (2003). The effect of training distinctneurofeedback protocols on aspects of cognitive performan-ce. International Journal of Psychophysiology 47: 75-85.

Page 118: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 119: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

ENSAIO

[ESSAY]

Page 120: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 121: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 119–123 119

A vitalidade da lusofonia*

Mário Assis Ferreira Fernandes Presidente da Sociedade Estoril SolPortugal

1. O conceito de lusofonia vive, paredes-meias, comum misto de desafio que a todos envolve e umanebulosa que o tempo não tem conseguido até hojedesfazer, apesar dos passos importantes que já foramdados no sentido de dar conteúdo - e uma estruturasustentável - a esse modo de estar e de nos relacio-narmos, sejamos portugueses, brasileiros, africanos,macaenses ou timorenses.Como tantas vezes acontece, entre o sonho e a per-cepção realista das coisas, a distância pode ser muitosuperior ao estimado. É a distância que vai entre autopia e a convicção de que não há objectivos impos-síveis, desde que haja alma para os dinamizar e impor.Não me reconheço, à partida, entre aqueles que duvi-dam e, muito menos, me identifico com outros quemantêm um persistente espírito crítico, sem nuncaadiantarem uma ideia ou proporem alternativas.Creio, mesmo, que é preferível errar, ou rever pressu-postos que se revelaram menos correctos, do queadoptar como modo de vida - ou de estilo - o imobilis-mo, a indefinição, o adiamento da coragem para ousar.

2. Ora, a lusofonia, na sua imensa representaçãosimbólica, tanto pode significar um discurso de cir-cunstância próprio de um ritual de cerimónia, comoum consistente projecto em nome do qual nos deve-remos unir para ultrapassar dificuldades naturais,

enquanto embrião de um conjunto de comunidades,entre si iguais, independentemente da sua dimensãoou credo, e com um trago comum imperecível - aLíngua Portuguesa -, com as diferenças próprias dacriatividade de quem a utiliza como forma superiorde comunicação.Não basta, contudo, citar Pessoa e a sua célebre frase“A minha Pátria é a Língua Portuguesa” para consoli-dar o entendimento relacional de uma comunidadealargada luso-falante.A Língua Portuguesa é veicular de, pelo menos, oitoculturas e, por consequência, património comum deoutros tantos Estados, cobrindo uma área de 8% dasterras habitadas do nosso planeta; é, para alémdisso, a língua oficial da União Europeia, da OEA eda UNESCO, mercê da força representativa de maisde 200 milhões de falantes. Pertence a Portugal e apovos suficientemente diferenciados, repartidos porvários continentes, matizando a mesma Língua coma construção original das suas identidades, culturaise territoriais, nesse arquipélago de comunidadesreferenciadas pela matriz portuguesa, onde cabemeuropeus, africanos, asiáticos e, evidentemente, osfalantes do Brasil, além dos emigrantes lusófonosrepartidos pelo mundo.Com essa expansão, a Língua Portuguesa enrique-ceu-se e ganhou uma nova expressividade no respei-

*Conferência de abertura do X Congresso das Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa, Universidade do Porto, Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Setembro de 2004.

Page 122: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 119–123120

to à sua diversidade. Neste mosaico da lusofonia,assistimos ao recriar do idioma e, dessa incorpora-ção, resultou uma miríade de vocábulos novos, aliásjá consagrados em registo de dicionário. Vivemos,nesse aspecto, uma outra revolução.

3. Mas subsistem - e é intelectualmente forçosoreconhecê-lo - contradições insanáveis: vemos asliteraturas luso-afro-brasileiras figurarem entre asmais representativas no universo intelectual do pla-neta, sendo, por paradoxo, o numero de analfabetosem Portugal e no Brasil significativo e, em África,superior a 50 por cento.Daqui resulta que a Língua Portuguesa dispõe de umelevado potencial - decorrente do peso político eeconómico que lhe confere a expressão territorial e ovolume demográfico dos povos que a utilizam comoinstrumento de comunicação - mas esteja aindalonge de chegar a todos, como ferramenta não exclu-sivamente relacional mas, igualmente, cultural.É, por isso, que se torna inevitável e recorrente quedela falemos, antes que se consiga progredir em qual-quer outro domínio da lusofonia. Quem duvida que aaposta na Língua Portuguesa, como ferramenta de cul-tura - ou “língua de cultura” - poderá ser um investi-mento tão poderoso e inteligente quanto rentável ?Há quem entenda a lusofonia na óptica de umadupla dinâmica cultural: projecta cada uma das cul-turas nacionais e comunitárias no espaço alargado dalusofonia e projecta a cultura em português nomundo, através daquilo a que se convencionou cha-mar, com propriedade, as múltiplas pertenças dos paí-ses e comunidades lusófonas nas áreas geoculturaisem que se situam.Lembremos que a difusão universal do português,operada desde os séculos XV e XVI ao serviço daexpansão territorial e de um ideário político, veio aconquistar uma identidade própria, tanto no modelode evangelização cristã como nas formas relacionaisde comércio.Dir-se-ia que nada disto é inovador nem particular-mente original, o que, aliás, é rigorosamente verda-de. Mas poderia eu, diante de um auditório formadopor ilustres académicos - e ao ser-me concedido oprivilégio desta intervenção na sessão inauguraldeste X Congresso - poderia eu, dizia, tentar contor-nar o que é incontornável, ou seja, esse cimento fun-

damental da lusofonia que é a Língua Portuguesa?Recorro a uma síntese que não me pertence, masque considero especialmente feliz: o que está emcausa não é ser europeu e lusófono, mas, sim, sereuropeu enquanto lusófono e ser lusófono enquantoeuropeu.É, pois, em português que nos entendemos.E que fazemos nós para substantivar, para além dasemoções e dos sentimentos, a grande comunidadelusófona?

4. Constituída em Lisboa em 1996, a Comunidadedos Países de Língua Portuguesa (CPLP) tinha entreos seus objectivos fundadores:— a concertação político-diplomática entre os seusEstados membros;— a cooperação em domínios tão importantes comoos da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa,agricultura, administração pública, comunicações,justiça, segurança pública, cultura, comunicaçãosocial e desporto;— a materialização de projectos de promoção e difu-são da Língua Portuguesa.E regia-se por alguns princípios estruturais, entre osquais se inscreviam, logicamente, a igualdade sobe-rana dos Estados Membros, a não ingerência nosassuntos internos de cada Estado e o respeito pelasua identidade nacional e integridade territorial.Ou seja, a CPLP assumia-se como uma poliarquia,enquanto associação entre Estados com objectivosafins, visando a concertação política e macro-econó-mica e a cooperação para o desenvolvimento empre-sarial, além das vertentes culturais e sociais.Volvida quase uma década sobre este projecto funda-dor - em relação ao qual existiam, e subsistem, legíti-mas expectativas de criar um verdadeiro “fórum” lusó-fono -, que arquitectura conceptual foi possível criar?Ou melhor, dito doutro modo:— que bases foram estabelecidas para uma genuínainteracção entre os Estados Membros?— em que terrenos se coloca hoje a lusofonia?— e que sensibilidade desperta entre os povos falan-tes de português?Por entre o cepticismo de alguns e a benevolência deoutros, é de crer que avançámos menos do que seriaexpectável e que a CPLP tem oscilado entre pólosopostos: o pólo das euforias que postula, no limite, a

Mário Assis Ferreira Fernandes

Page 123: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 119–123 121

agregação de comunidades de outros falantes naqualidade de observadores, tal como a Galiza - ecumpre recordar que o galego tem na sua raiz a lín-gua portuguesa - ou ainda Malaca, - onde persisteuma expressiva comunidade que usa um dialectopróprio, o “papiá cristão” ou “cristang”, com as suasorigens no português falado pelos descobridores por-tugueses dos séculos XV e XVI; e, em pólo oposto, adesconfiança de alguns Estados, designadamenteafricanos, que temem o regresso, por essa via, dainfluência da antiga potencia colonizadora.Mas o que se preconiza, com tranquila neutralidadee sem nostalgias passadistas, é a chamada “políticados círculos concêntricos”, destinada a prefiguraressa ideia tão “pessoana”, na qual as fronteiras geo-gráficas seriam idealmente substituídas por umespaço muito mais vasto, imperando a razão e acomunhão de uma língua.Não será despiciendo recordar que, numa lista de dezlínguas, o português ocupa o sétimo lugar entre asmais faladas, em concorrência - permitam-me a liber-dade de expressão - com o chinês, o inglês, o hindu, oespanhol, o russo ou o árabe. E, a seguir ao portu-guês, ainda aparecem o francês, o bengali e o japonês.É preciso recuar aos séculos XVI e XVII para redes-cobrir o idioma português com uma importânciaequivalente à do inglês, que funciona hoje como lín-gua de comunicação universal. Pois bem: a LínguaPortuguesa chegou a ser falada - e há historiadoresque fundamentadamente o evocam - como línguaoficial na Corte do Reino do Sião, ou seja, aTailândia dos nossos dias.Lógico será, portanto, que nos caiba um papel demediadores de sensibilidades num espaço plural epolicêntrico de povos, de culturas e de Estados,embora outros vejam melhor o Brasil - pela suaexpressão demográfica - a ocupar essa plataforma .Diz-nos, a propósito, Adriano Moreira, que a identi-dade linguística e cultural representa uma força quenão está ao dispor de muitos grupos de Estados. Equando essa força não existe, alguns Estados procu-ram criá-la, enquanto outros tentam expropriá-la.E, a confirmar a tese, é forçoso reconhecer que a ins-tabilidade reinante em alguns dos Estados membrosnão tem favorecido essa identidade, nem o diálogoneste universo lusófono, nem, sequer, a acção operati-va e concertada no sentido de dar corpo às principaisaspirações dos visionários dessa grande comunidade.

5. Poderei parecer-vos, nesta altura, algo céptico ou,no mínimo, pouco sensibilizado pelos progressos -que os houve! - no decurso destes anos em que oconceito lusófono se foi instalando, apesar das mui-tas vicissitudes que atrasaram, ou enviesaram, a suadesejável trajectória.De facto, não fora a grandeza da utopia, e talvez alusofonia não revelasse a vitalidade que tem sido oantídoto para múltiplas contrariedades, geradoras deescusados imobilismos.Ainda na recente cimeira da CPLP, realizada em SãoTomé, se disse que a Comunidade deve abandonaruma certa timidez e assumir um postura mais agres-siva a nível internacional, porquanto a evolução jáalcançada, a nível da concertação político-diplomáti-ca, reclama dela uma intervenção mais pujante edeterminada.E sendo inquestionável que essa intervenção passa,necessariamente, pelo plano cultural, não menosinquestionável é a necessidade de ela abranger, tam-bém, a economia, a saúde, e tantas outras áreas deactuação estratégica susceptíveis de cobrirem déficesde cooperação - e de afirmação.Aliás, não será já um sinal de vitalidade a criação, porexemplo, de um conselho empresarial da CPLP, tor-nando os espaços económicos sob tutela dos EstadosMembros mais atractivos para os investidores ?E não será um outro sinal positivo a definição de umestatuto de cidadão lusófono, associado à ideia daaplicação de um regime geral de circulação dos cida-dãos dos países membros no espaço da CPLP ?Enquanto gestor, não duvido das vantagens de umConselho Empresarial actuante e dinâmico, encami-nhando oportunidades para investidores disponíveise interessados; e, enquanto português e cidadãoeuropeu, estou certo que a livre circulação de cida-dãos, irmanados pela mesma língua, no espaçocomunitário lusófono, poderá e deverá ser incentiva-da, no pressuposto de que tal não signifique umautilização abusiva e desvirtuadora desse direito.A descontinuidade geográfica, velho argumento como qual se têm esmorecido muitas vontades, não podeconstituir álibi para não impulsionar as potencialida-des económicas que se abrem no campo empresarial.Não imagino a Comunidade dos Países de LínguaPortuguesa como uma réplica da “Commonwealth”,nem na sua filosofia, nem na sua prática, mas con-

ENSAIO

Page 124: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 119–123122

cordo com autores que escrevem e sustentam quenão se deseja a homogeneização, mas, tão-somente,a tomada de consciência progressiva da multiplicida-de de elos que unem os oito países falantes de por-tuguês, nas tradições históricas e culturais, na reli-gião, num certo estilo de relacionamento humano,na diferença e no contraste com outros povos dediferentes fonias.Na verdade, a lusofonia está em construção e háquem deseje construí-la e quem, ao contrário, lheseja hostil.Entre os primeiros, estão aqueles que valorizam a ins-titucionalização de um campo de permutas culturais,afectivas e económicas, como veículo de viabilizaçãodo futuro, sem receio de serem interpretados comofautores de uma qualquer intenção meta-histórica.Entre os segundos, estão os cépticos militantes, ostemerosos da própria sombra.Para os primeiros, zelosos obreiros na construção dalusofonia, cumpre citar essa noção singular de que éautor Celso Cunha: “Essa república do portuguêsnão tem uma capital demarcada. Não está emLisboa, nem em Coimbra; não está em Brasília, nemno Rio de Janeiro. A capital da língua portuguesaestá onde estiver o meridiano da cultura”.Poderíamos acrescentar a esse meridiano um outro,o da economia. E um terceiro, menos falado, mascada vez mais presente: o do desporto.

6. Porque, de facto, foi o desporto que, aindarecentemente, durante o “Euro 2004”, mobilizou omundo lusófono à volta do comportamento daSelecção portuguesa de futebol, treinada por umbrasileiro. E são lusófonos muitos atletas que setêm afirmado nos areópagos internacionais de altacompetição.É em tal contexto que creio fazer todo o sentidoneste congresso formatar um projecto que lance asbases de um projecto consistente que poderia serbaptizado como “Jogos da Lusofonia”. A ideia não énova, bem o sei. Mas a recente e galvanizante expe-riência que todos vivemos com o “Euro 2004” e,subsequentemente, com os “Jogos Olímpicos”,trouxe a primeiro plano a urgência de nos unirmostambém no desporto, seja este de âmbito universi-tário ou, em termos mais envolventes, de toda asociedade civil.

Quem poderá esquecer o exemplo de um lusófonofamoso, Eusébio, ao sofrer na bancada pelas cores daSelecção Nacional? E quantos milhares, ou milhões,de lusófonos o acompanharam nessa emoção espon-tânea, independentemente da nacionalidade ou corda pele, beneficiando da instantaneidade da informa-ção que hoje tem uma expressão globalizada?São, sem dúvida, os afectos e essa incorpórea relaçãosentimental que nos irmana com brasileiros, africa-nos, asiáticos. E são, seguramente, as emanações deuma consciência subliminar a inspirar esse espíritoda Lusofonia que não despertou apenas agora com oepifenómeno do Euro 2004 e a entusiástica recupe-ração dos símbolos nacionais. De facto, não hámuito tempo, afinal, descobriu-se que a LínguaPortuguesa permanecera escondida, mas viva, naslonjuras de Timor Leste e, aí, num ambiente da maisabsoluta privação e de feroz perseguição a tudo oque parecesse evocativo dos símbolos portugueses.Permitam-me, todavia, que regresse ao desporto - jáque é num Congresso de Ciências do Desporto queestamos - e a essa ideia que pressinto com condiçõespara vingar, que é a de nos juntarmos regularmente,com uma periodicidade a definir, rumo a uma con-gregação de esforços em torno desse projecto dos“Jogos da Lusofonia”.É uma área a que não pertenço, voltado como estou,desde há muitos anos, para o Direito, as Finanças e aGestão, e com uma actividade repartida por Portugal epelo Brasil, país-irmão que generosamente me aco-lheu a seguir a 1975 e no qual vivi até 1983, ondecriei e cimentei amizades que muito prezo.Não me sinto, por isso, habilitado a propor umroteiro ou a tentar, sequer, sistematizar um projectocom um desenho minimamente consistente e depu-rado. Mas, olhando em redor, não duvido de queneste Congresso sobejam os especialistas capazes deestruturar e viabilizar um evento com semelhantescaracterísticas.Por mim, não duvido de que um empreendimentocom tal dimensão e ambições seria um decisivoponto de encontro e de confluência entre falanteslusófonos, estreitando fraternalmente os laços quecontribuem para que sejamos uma comunidade sin-gular. E, por mais ambicioso que pareça, não vejoque devamos ter complexos em relação a qualquer

Mário Assis Ferreira Fernandes

Page 125: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 119–123 123

projecto que vise alargar fronteiras, sejam elas eco-nómicas ou desportivas, aproveitando esse imensoespaço de oportunidades que nos oferece o Brasil, aÁfrica lusófona ou Timor.Prova disso é o projecto anunciado, em Agosto, pelarecém-criada Associação dos Comités Olímpicos deLíngua Portuguesa, de realizar em Macau, já em2006, os primeiros Jogos envolvendo os países deexpressão lusófona, cujo programa desportivo inclui-rá seis modalidades, do atletismo ao futsal.Na perspectiva dos organizadores é importante paraMacau continuar a manter relações de amizade edesenvolver intercâmbios com todos os países e ter-ritórios de língua oficial portuguesa. De facto, a inte-gração de Macau no universo desportivo lusófonorepresenta, também, não apenas uma adesão à“família olímpica”, como um elo de ligação com aChina que, em 2008, recebe as próximasOlimpíadas.A realização já assegurada deste evento demonstra,afinal, na nossa óptica, que está dado o primeiropasso para consagrar, com este modelo, ou outro quevenha a revelar-se consensual, aquilo que antevemoscomo os “Jogos da Lusofonia”, a realizar com umadesejável e necessária periodicidade.Vejo, por isso, a iniciativa dos Jogos da Associaçãodos Comités Olímpicos como um excelente e auspi-cioso “exercício de aquecimento” que deverá serseguido com o major interesse por todos os queacreditam, como é o meu caso, na consolidação doideal da lusofonia.Ideal esse que, em outras vertentes, já assinala umasignificativa evolução: na verdade, e já no plano daeconomia, quem poderia prever que o investimentoportuguês viesse a possuir a expressão que hoje des-fruta no Brasil, intervindo em tão diversificados eimportantes sectores da sua economia?E quem ousaria, também, prognosticar que se inver-teria o fluxo da emigração, trazendo até nós dezenasde milhares de brasileiros que escolheram Portugalpara residir e contribuir com o seu trabalho para odesenvolvimento da economia portuguesa?É assim que a lusofonia ganha densidade e conteu-do. E é assim que a lusofonia evolui das fluidas fron-teiras de um Ideal para os terrenos firmes de umaRealidade tangível!

7. Senhores congressistas: ser lusófono não é umaprerrogativa natural dos falantes de língua portugue-sa, pois é necessário - e mesmo urgente - aprender asê-lo. A lusofonia é hoje um modo de conviver.Aprender a ser lusófono constitui, pois, uma atitudefundamental nesse “fórum” multilateral privilegiadoque é a comunidade de Língua Portuguesa.E essa atitude pedagógica é tão indispensável quantourgente, pois, tal como anteriormente referi, a luso-fonia é, simultaneamente, um desafio e uma nebulo-sa, por vezes tingida de nostalgias.Na última Cimeira da CPLP em São Tomé defendeu-se, nas conclusões, que é imperioso avançar-se naimplementação do estatuto de cidadão lusófono, eque é necessário ultrapassar uma certa timidez paraassumir uma atitude “mais agressiva”.Não nos faltam condições, se não falecer a vontade.E essa, - está bem à vista, - também não nos faltará.O Portugal europeu - membro de corpo inteiro daUnião Europeia agora alargada a 25 Estados mem-bros - jamais poderá dispensar a sua vocação lusófo-na. Esse é o seu espaço vocacional, onde todos nosentendemos na mesma língua, como pilar decisivoda grande comunidade que nos cabe aprofundar,mobilizando as novas gerações - incluindo os luso-descendentes - para que a CPLP, fundada há oitoanos, cumpra, cada vez melhor, o seu destino.Neste X Congresso das Ciências do Desporto dosPaíses de Língua Portuguesa poderemos reflectirmais amplamente sobre as oportunidades que secolocam a uma comunidade alargada no domínio daeducação e do intercâmbio entre diferentes patama-res de experiências neste domínio.Mas se é verdade que na Cultura, como na Economiae no Desporto estamos a criar novos canais decomunicação de partilha de ideias e de permuta deconhecimentos, tal significa que a vitalidade da luso-fonia fica, desde já, assegurada.Mobilizar mais de 200 milhões de falantes lusófonosem torno de objectivos comuns, na compreensão dassuas identidades e no respeito às suas idiossincrasiasé, talvez, o mais formidável desafio que se nos colo-ca neste dealbar do século XXI.Saibamos agarrar esse destino. E ser garantes do seuêxito !

ENSAIO

Page 126: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 127: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

IN MEMORIAM

PROF. DR. ODED BAR-OR

Page 128: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 129: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 127–130 127

With the death of Oded, the pediatric exercise sci-ence community lost one of its founding and mostimportant contributors – and of course, a goodfriend. Oded’s contributions are well documentedin his numerous publications and there is no needfor reiteration. His insights, questions and researchinto many domains of childhood and adolescence inthe context of physical activity, sport, obesity andtemperature regulation, among others, have openednew vistas for the present and subsequent genera-tions of sport scientists. What will be missed is hispersonal touch – pleasant personality, sly sense ofhumor, work ethic, kindness, and constant focus onyouth, i.e., the next generation.The unfortunate inevitability of death influencesindividuals differently. I am no exception. For agood part of our careers, Oded and I participated inmany meetings. Given our interests in children andadolescents, we often ended up on the same pro-grams. We were colleagues due to our mutual inter-ests in youth. Over time, collegiality grew into

friendship – in other words, colleagues becamefriends! I believe we reached this point during a oneor two hour stroll around the walls of Dubrovnikwhen we were there for a meeting in 1988. Duringthis stroll - taking in the history of this beautifulwalled city - our conversations roamed from churchhistory, architecture, family background, amongother topics. I recall Oded asking me where Ilearned so much about the Catholic Church, specifi-cally the saints. Of course, I referred to myparochial school education in a Polish neighborhoodof Brooklyn. In response, Oded noted his own fami-ly history in Poland prior to migrating to Israel. Wehad a lot more in common than ever anticipated.Our friendship blossomed over the years since thisfortuitous stroll. Oded will be missed by many but he will not be for-gotten.

Robert M. Malina, PhD, FACSM

In memoriam Prof. Dr. Oded Bar-Or

In Memoriam Dr. Oded Bar-Or

Page 130: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 127–130128

It is with the deepest regret that I and my colleaguesof the faculty of Kinesiology and RehabilitationSciences of the KULeuven learned that our esteemedcolleague and dear friend Prof Dr Oded Bar-Orpassed away on the evening of December 8, 2005.Of course, a number of us, already knew about hisillness but we all have hoped that he would havebeen among us for a much longer time.I learned to know Oded through the meetings of theEuropean Paediatric Work Physiology Group. Hewas an active member of that group and after ProfDr Joseph Rutenfranz passed away Oded became oneof the leaders. Later on, I learned to know Odedbetter through a number of InternationalOrganization in which Dr Bar-Or always played amajor and leading role.I will remember Oded as a dear friend, with a great

personality and as one of the best scholars over thelast decades in the field of paediatric exercise sci-ence. He was a prime mover and leader in manyorganizations and through his publications and lec-tures that he delivered worldwide he inspired a greatnumber of young scientists.It has been my honour and pleasure to work underhis guidance and leadership in a number of scientificorganizations and for a couple of scientific mono-graphs that he edited.His substantial impact on paediatric exercise sci-ence, his scientific contributions, leadership and per-sonality will long be appreciated and fondly remem-bered by all those who have known him.

Prof Dr Em Gaston BeunenLeuven, January 23 2006

In memoriam Prof. Dr. Oded Bar-Or

In Memoriam Prof Dr Oded Bar-Or

Page 131: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 127–130 129

Nas últimas imagens do filme O ÚLTIMO SAMU-RAI, há uma troca de palavras entre o “artista” e oimperador. Pergunta o imperador: diz-me como mor-reu o meu mestre. A resposta não se fez esperar:prefiro falar-te do modo como viveu.Este PEDAÇO DE CONVERSA, que é de grandeimportância acerca do modo como nos referimosaqueles que já não partilham connosco o mundo dasformas, mas sim DOS NOMES E DOS SENTIDOSMAIS ÍNTIMOS, é para mim muito importante.Precisamente porque gostaria de escrever algumaslinhas, e muito breves, sobre um amigo da nossaFaculdade, um dos maiores investigadores do mundoacerca do exercício em idades pediátricas, uma vozsempre escutada, e com muita atenção, em qualquerlugar – o PROF. ODED BAR-OR.Guardo com especial carinho a participação numcongresso na África do Sul em 1995, por ter tidograndes companheiros nesta aventura (o ManuelAntónio, o António Prista e o LeonardoNhantumbo). Entre investigadores prestigiados devárias partes do globo, contava-se o Prof. Oded Bar-Or. Numa das noites, em plena savana, e junto auma fogueira que não se extinguiu, tive a honra deconversar longamente com o Prof. Oded Bar-Orsobre a sua e a minha vida, acerca da sua formaçãoenquanto médico em Israel, e como investigador nosEUA e Canadá. Falou-me de muita coisa, sobretudodo modo como se deve estar na vida académica, dasvárias maneiras como deveríamos responder aosdesafios que nos colocam, mas acima de tudo acercada atitude a ter com a investigação com crianças ejovens. Das etapas que tal atitude consignam, sobre-tudo da utilidade do trabalho, uma espécie de “apos-tolado” à volta das crianças. Sempre ao seu serviço,

sempre uma voz a defender os seus interesses.Sempre presente e disponível.Também em 1995 tive a honra de participar na orga-nização, na FCDEF, de um seminário internacionalque contou com a presença de vários amigos danossa escola: os Profs. Gaston Beunen, AlbrechtClaessens, Martine Thomis, António Prista, SieuveMonteiro e Jorge Sequeiros. Também estava presenteo Prof. Oded Bar-Or. Foi a primeira vez que veio aoPorto. Rapidamente se enamorou das suas gentes edesta cidade. Bem mais importante foi a sua disponi-bilidade em estar ao nosso lado. E sempre assim foi.Esteve connosco cerca de uma semana. Mais uma veztive a honra de o acompanhar, de partilhar a sua pre-sença, a sua atenção e interesse relativamente a tudoque se fazia na FCDEF. Sobre os seus docentes,alguns dos quais se tornariam, também, seus amigos.Em 2003 realizamos no Porto o Pediatric WorkPhysiology honrando a sua presença. Uma festa emtorno do seu nome. Com a presença de alguns dosmais destacados investigadores do mundo e seusamigos (Professores Claude Bouchard, RobertMalina, Gaston Beunen, Cameron Blimkie, ThomasRowland, entre outros). Nessa semana de Setembrovivemos numa festa contínua de ciência e de grandeamizade. De descoberta e de exposição da amizadeforte dos nortenhos e dos amigos da FCDEF.Prestamos-lhe, à nossa maneira, uma homenagem. OProf. Oded Bar-Or passou a ser da nossa família.Ficou encantado, comovido. Penso que o seu cora-ção, e o da sua esposa, passaram a ter um espaçoportuense. Que não conseguiram apagar.Em 2005 recebi a notícia que já não se encontravamais entre aqueles que convencionalmente designa-mos por “mundo dos vivos”. Não é verdade. Se o

In memoriam Prof. Dr. Oded Bar-Or

Page 132: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Rev Port Cien Desp 6(1) 127–130130

Prof. Oded Bar-Or fosse exclusivamente o seu corpofísico tal seria verdade. Mas não é. Este queridoamigo e Professor está também na nossa escola sem-pre que nos lembrarmos dele, sempre que invocar-mos o seu nome, sempre que tivermos à mão umdos seus escritos, sempre que pensarmos em crian-ças e exercício, sempre que pensarmos neste queridoamigo que também faz parte do “corpo docente” daFCDEF.Gosto muito de um livro de poesia do grande poetasul-americano Amado Nervo, cujo título é precisa-mente “Plenitude”. Nele escreve acerca da morte.Alguns dos seus versos rezam assim:

Choras os teus mortosCom tanta intensidadeQue até parece que és eterno.

Não morreram!Partiram antes.

Deixa que ao menosRepousem nos verdes campos da Paz,Os seus pés de tanto andarem.

Não sei se conseguiremos preencher o seu espaço,tal era a sua grandeza. Fazes-nos muita falta, queridoamigo. Mas também sei, que o facto inelutável desta“ausência” nos torna mais vigilantes, disponíveis eresponsáveis para segurarmos o facho que firme-mente tiveste na mão.

José António Ribeiro MaiaFaculdade de Desporto da Universidade do PortoPortugal

In memoriam Prof. Dr. Oded Bar-Or

Page 133: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Tipos de publicação

Investigação originalA RPCD publica artigos origi-nais relativos a todas as áreasdas ciências do desporto.

Revisões da investigaçãoA RPCD publica artigos desíntese da literaturaque contribuam para a gene-ralização do conhecimentoem ciências do desporto.Artigos de meta-análise erevisões críticas de literaturasão dois possíveismodelos de publicação.Porém, este tipo de publica-ção só estará aberto aespecialistas convidadospela RPCD.

ComentáriosComentários sobre artigosoriginais e sobre revisões dainvestigação são, não sópublicáveis, como são fran-camente encorajados pelocorpo editorial.

Estudos de casoA RPCD publica estudos decaso que sejam consideradosrelevantes para as ciências dodesporto. O controlo rigoro-so da metodologia é aqui umparâmetro determinante.

EnsaiosA RPCD convidará especia-listas a escreverem ensaios,ou seja, reflexões profundassobre determinados temas,sínteses de múltiplas abor-dagens próprias, onde àargumentação científica, filo-sófica ou de outra naturezase adiciona uma forte com-ponente literária.

Revisões de publicaçõesA RPCD tem uma secçãoonde são apresentadas revi-sões de obras ou artigospublicados e que sejam con-siderados relevantes para asciências do desporto.

Regras gerais de publicação

Os artigos submetidos àRPCD deverão conter dadosoriginais, teóricos ou experi-mentais, na área das ciênciasdo desporto. A parte subs-tancial do artigo não deveráter sido publicada em maisnenhum local. Se parte doartigo foi já apresentadapublicamente deverá serfeita referência a esse factona secção deAgradecimentos.Os artigos submetidos àRPCD serão, numa primeirafase, avaliados pelos edito-res-chefe e terão como crité-rios iniciais de aceitação:normas de publicação, rela-ção do tópico tratado comas ciências do desporto emérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, sefor considerado previamenteaceite, será avaliado por 2“referees” independentes esob a forma de análise“duplamente cega”. A acei-tação de um e a rejeição deoutro obrigará a uma 3ªconsulta.

Preparação dos manuscritos

Aspectos geraisCada artigo deverá seracompanhado por umacarta de rosto que deveráconter:

– Título do artigo e nomesdos autores;

– Declaração de que o artigonunca foi previamentepublicado;

Formato– Os manuscritos deverão

ser escritos em papel A4com 3 cm de margem, letra12 e com duplo espaço enão exceder 20 páginas;

– As páginas deverão sernumeradas sequencialmen-te, sendo a página de títuloa nº1;

– É obrigatória a entrega de4 cópias;

– Uma das cópias deverá seroriginal onde deverá incluiras ilustrações também ori-ginais;

Dimensões e estilo– Os artigos deverão ser o

mais sucintos possível; Aespeculação deverá ser ape-nas utilizada quando osdados o permitem e a lite-ratura não confirma;

– Os artigos serão rejeitadosquando escritos em portu-guês ou inglês de fracaqualidade linguística;

– As abreviaturas deverãoser as referidas internacio-nalmente;

Página de títuloA página de título deveráconter a seguinte informação:

– Especificação do tipo detrabalho (cf. Tipos depublicação);

– Título conciso mas sufi-cientemente informativo;

– Nomes dos autores, com aprimeira e a inicial média(não incluir graus acadé-micos)

– “Running head” concisanão excedendo os 45 carac-teres;

– Nome e local da institui-ção onde o trabalho foirealizado;

– Nome e morada do autorpara onde toda a corres-pondência deverá serenviada;

Página de resumo– Resumo deverá ser infor-

mativo e não deverá refe-rir-se ao texto do artigo;

– Se o artigo for em portu-guês o resumo deverá serfeito em português e eminglês;

– Deve incluir os resultadosmais importantes quesuportem as conclusões dotrabalho;Deverão ser incluídas 3 a 6palavras-chave;

– Não deverão ser utilizadasabreviaturas;

– O resumo não deverá exce-der as 200 palavras;

Introdução– Deverá ser suficientemente

compreensível, explicitan-do claramente o objectivodo trabalho e relevando aimportância do estudo faceao estado actual do conhe-cimento;

– A revisão da literatura nãodeverá ser exaustiva;

Material e métodos– Nesta secção deverá ser

incluída toda a informaçãoque permite aos leitoresrealizarem um trabalho coma mesma metodologia semcontactarem os autores;

– Os métodos deverão serajustados ao objectivo doestudo; deverão ser replicá-veis e com elevado grau defidelidade;

– Quando utilizados huma-nos deverá ser indicadoque os procedimentos uti-lizados respeitam as nor-

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

Page 134: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

mas internacionais deexperimentação comhumanos (Declaração deHelsínquia de 1975);

– Quando utilizados animaisdeverão ser utilizadostodos os princípios éticosde experimentação animale, se possível, deverão sersubmetidos a uma comis-são de ética;

– Todas as drogas e químicosutilizados deverão serdesignados pelos nomesgenéricos, princípios acti-vos, dosagem e dosagem;

– A confidencialidade dossujeitos deverá ser estrita-mente mantida;

– Os métodos estatísticosutilizados deverão ser cui-dadosamente referidos;

Resultados– Os resultados deverão ape-

nas conter os dados quesejam relevantes para adiscussão;

– Os resultados só deverãoaparecer uma vez notexto: ou em quadro ouem figura;

– O texto só deverá servirpara relevar os dados maisrelevantes e nunca duplicarinformação;

– A relevância dos resultadosdeverá ser suficientementeexpressa;

– Unidades, quantidades efórmulas deverão ser utili-zados pelo SistemaInternacional (SI units).

– Todas as medidas deverãoser referidas em unidadesmétricas;

Discussão– Os dados novos e os

aspectos mais importantesdo estudo deverão ser rele-vados de forma clara econcisa;

– Não deverão ser repetidosos resultados já apresen-tados;

– A relevância dos dadosdeverá ser referida e a com-paração com outros estu-dos deverá ser estimulada;

– As especulações nãosuportadas pelos métodosestatísticos não deverão serevitadas;

– Sempre que possível, deve-rão ser incluídas recomen-dações;

– A discussão deverá sercompletada com um pará-grafo final onde são realça-das as principais conclu-sões do estudo;

AgradecimentosSe o artigo tiver sido par-cialmente apresentadopublicamente deverá aquiser referido o facto;Qualquer apoio financeirodeverá ser referido;

Referências– As referências deverão ser

citadas no texto por núme-ro e compiladas alfabetica-mente e ordenadas nume-ricamente;

– Os nomes das revistasdeverão ser abreviadosconforme normas interna-cionais (ex: IndexMedicus);

– Todos os autores deverãoser nomeados (não utilizaret al.)

– Apenas artigos ou obrasem situação de “in press”poderão ser citados. Dadosnão publicados deverão serutilizados só em casosexcepcionais sendo assina-lados como “dados nãopublicados”;

– Utilização de um númeroelevado de resumos ou deartigos não “peer-revie-wed” será uma condição denão aceitação;

Exemplos de referênciasARTIGO DE REVISTA

1 Pincivero DM, LephartSM, Karunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. Int JSports Med 18: 113-117

LIVRO COMPLETO

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London: AcademicPress Inc. Ltd.

CAPÍTULO DE UM LIVRO

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURAS

Figuras e ilustrações deve-rão ser utilizadas quandoauxiliam na melhor com-preensão do texto;As figuras deverão sernumeradas em numeraçãoárabe na sequência em queaparecem no texto;Cada figura deverá serimpressa numa folha sepa-rada com uma legendacurta e concisa;Cada folha deverá ter naparte posterior a identifica-ção do autor, título do arti-go. Estas informaçõesdeverão ser escritas a lápise de forma suave;As figuras e ilustraçõesdeverão ser submetidascom excelente qualidadegráfico, a preto e branco ecom a qualidade necessáriapara serem reproduzidasou reduzidas nas suasdimensões;As fotos de equipamentoou sujeitos deverão ser evi-tadas;

Endereço para envio de artigos

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal

QUADROS

Os quadros deverão serutilizados para apresentaros principais resultados dainvestigação.Deverão ser acompanhadosde um título curto;Os quadros deverão serapresentados com as mes-mas regras das referidaspara as legendas e figuras;Uma nota de rodapé doquadro deverá ser utilizadapara explicar as abreviatu-ras utilizadas no quadro.

Page 135: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Working materials (manuscripts)

Original investigationThe PJSS publishes originalpapers related to all areas ofSport Sciences.

Reviews of the literature (state of the art papers)State of the art papers orcritical literature reviews arepublished if, and only if,they contribute to the gener-alization of knowledge.Meta-analytic papers or gen-eral reviews are possiblemodes from contributingauthors. This type of publi-cation is open only to invit-ed authors.

CommentariesCommentaries about pub-lished papers or literaturereviews are highly recom-mended by the editorialboard and accepted.

Case studiesHighly relevant case studiesare favoured by the editorialboard if they contribute tospecific knowledge withinthe framework of SportSciences research. Themeticulous control ofresearch methodology is afundamental issue in termsof paper acceptance.

EssaysThe PJSS shall invite highlyregarded specialists to writeessays or careful and deepthinking about severalthemes of the sport sciencesmainly related to philosophyand/or strong argumentationin sociology or psychology.

Book reviewsThe PJSS has a section forbook reviews.

General publication rules

All papers submitted to thePJSS are obliged to haveoriginal data, theoretical orexperimental, within therealm of Sport Sciences. It ismandatory that the submit-ted paper has not yet beenpublished elsewhere. If aminor part of the paper waspreviously published, it hasto be stated explicitly in theacknowledgments section.All papers are first evaluatedby the editor in chief, andshall have as initial criteriafor acceptance the following:fulfilment of all norms, clearrelationship to SportSciences, and scientificmerit. After this first screen-ing, and if the paper is firstlyaccepted, two independentreferees shall evaluate itscontent in a “double blind”fashion. A third referee shallbe considered if the previoustwo are not in agreementabout the quality of thepaper.After the referees receive themanuscripts, it is hoped thattheir reviews are posted tothe editor in chief in nolonger than a month.

Manuscript preparation

General aspectsThe first page of the manu-script has to contain:

– Title and author(s)name(s)

– Declaration that the paperhas never been published

Format– All manuscripts are to be

typed in A4 paper, withmargins of 3 cm, usingTimes New Roman stylesize 12 with double space,and having no more than20 pages in length.

– Pages are to be numberedsequentially, with the titlepage as n.1.

– It is mandatory to send 4copies;

– One of the copies is theoriginal that has to haveoriginal illustrations.

Size and style– Papers are to be written in

a very precise and clearlanguage. No place isallowed for speculationwithout the boundaries ofavailable data.

– If manuscripts are highlyconfused and written in avery poor Portuguese orEnglish they are immedi-ately rejected by the editorin chief.

– All abbreviations are to beused according to interna-tional rules of the specificfield.

Title page– Title page has to contain

the following information:– Specification of type of

manuscript (but see work-ing materials-manu-scripts).

– Brief and highly informa-tive title.

– Author(s) name(s) withfirst and middle names (donot write academic degrees)

– Running head with nomore than 45 letters.

– Name and place of the aca-demic institutions.

– Name, address, Fax num-ber and email of the per-son to whom the proof isto be sent.

Abstract page– The abstract has to be very

precise and contain nomore than 200 words,including objectives,design, main results andconclusions. It has to beintelligible without refer-ence to the rest of thepaper.

– Portuguese and Englishabstracts are mandatory.

– Include 3 to 6 key words.– Do not use abbreviations.

Introduction– Has to be highly compre-

hensible, stating clearly thepurpose(s) of the manu-script, and presenting theimportance of the work.

– Literature review includedis not expected to beexhaustive.

Material and methods– Include all necessary infor-

mation for the replicationof the work without anyfurther information fromauthors.

– All applied methods areexpected to be reliable andhighly adjusted to theproblem.

– If humans are to be usedas sampling units in exper-imental or non-experimen-tal research it is expectedthat all procedures followHelsinki Declaration ofHuman Rights related toresearch.

– When using animals allethical principals related toanimal experimentation areto be respected, and when

Portuguese Journal of Sport Sciences

PUBLICATION NORMS

Page 136: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

possible submitted to anethical committee.

– All drugs and chemicalsused are to be designatedby their general names,active principles anddosage.

– Confidentiality of subjectsis to be maintained.

– All statistical methodsused are to be preciselyand carefully stated.

Results– Do provide only relevant

results that are useful fordiscussion.

– Results appear only oncein Tables or Figures.

– Do not duplicate informa-tion, and present only themost relevant results.

– Importance of main resultsis to be explicitly stated.

– Units, quantities and for-mulas are to be expressedaccording to theInternational System (SIunits).

– Use only metric units.

Discussion– New information coming

from data analysis shouldbe presented clearly.

– Do no repeat results.– Data relevancy should be

compared to existing infor-mation from previousresearch.

– Do not speculate, other-wise carefully supported,in a way, by insights fromyour data analysis.

– Final discussion should besummarized in its majorpoints.

Acknowledgements– If the paper has been part-

ly presented elsewhere, doprovide such information.

– Any financial supportshould be mentioned.

References– Cited references are to be

numbered in the text, andalphabetically listed.

– Journals´ names are to becited according to generalabbreviations (ex: IndexMedicus).

– Please write the names ofall authors (do not use etal.).

– Only published or “inpress” papers should becited. Very rarely areaccepted “non publisheddata”.

– If non-reviewed papers arecited may cause the rejec-tion of the paper.

ExamplesPEER-REVIEW PAPER

1 Pincivero DM, LephartSM, Kurunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. In JSports Med 18:113-117

COMPLETE BOOK

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London:AcademicPress Inc. Ltd.

BOOK CHAPTER

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURES

Figures and illustrationsshould be used only for abetter understanding of themain text.Use sequence arabic num-bers for all Figures.Each Figure is to be pre-sented in a separated sheetwith a short and precisetitle.

In the back of each Figuredo provide informationregarding the author andtitle of the paper. Use apencil to write this infor-mation.All Figures and illustra-tions should have excellentgraphic quality I black andwhite.Avoid photos from equip-ments and human subjects.

TABLES

Tables should be utilizedto present relevant numeri-cal data information.Each table should have avery precise and short title.Tables should be presentedwithin the same rules asLegends and Figures.Tables´ footnotes shouldbe used only to describeabbreviations used.

General address of thePortuguese Journal of SportSciences

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal

Page 137: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,
Page 138: revista portuguesa de ciências do desporto · Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006 ISSN 1645-0523,

Publicação quadrimestralVol. 6, Nº 1, Janeiro·Abril 2006ISSN 1645–0523Dep. Legal 161033/01

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO[RESEARCH PAPERS]

Características cinemáticas da pedalada emciclistas competitivos de diferentes modalidadesPedaling Kinematics Characteristics of Competitive Cyclists of Different DisciplinesFelipe Carpes, Frederico Dagnese, Rodrigo Bini,Fernando Diefenthaeler, Mateus Rossato,Carlos Mota, Antônio C. S. Guimarães

Efeito da cadência de pedalada sobre a relação entre olimiar anaeróbio e máxima fase estável de lactato emindivíduos ativos do sexo masculinoEffects of Pedaling Cadence on the Relationship Between AnaerobicThreshold and Maximal Lactate Steady State in Active Male IndividualsVDA Ruas, TR Figueira, F Caputo, DF Barbeitos,BS Denadai

Indicadores de regulação autonômica cardíaca emrepouso e durante exercício progressivo. Aplicação dolimiar de variabilidade da freqüência cardíacaIndexes of Autonomic Cardiac Regulation in Rest and During Progressive Exercise.Application of the Heart Rate Variability ThresholdLenise Fronchetti, Fábio Nakamura, César Aguiar,Fernando Oliveira

Efeitos bioquímicos da suplementação de carboidratos apósuma competição simulada de Short Duathlon TerrestreBiochemical Effects of Carbohydrates Supplementationin a Simulated Short Land Duathlon CompetitionRenata Mamus, M. Gisele Santos

Tradução e validação do SAQ (Sports Attitudes Questionnaire)para jovens praticantes desportivos portugueses com idadesentre os 13 e os 16 anosTranslation and Validation of the Sports Attitudes Questionnaire(SAQ) Applied to Young Portuguese Athletes Aged 13 to 16 YearsCarlos E. Gonçalves, Manuel J. Coelho e Silva,Nikos Chatzisarantis, Martin J. Lee, Jaume Cruz

Efeitos do intervalo pós-conhecimento deresultados na aquisição do arremesso da BochaEffects of Results’ Post-Knowledge Interval in the Acquisition of the Bocce Throw

Márcio M. Vieira, Fernando C. M. Ennes,Guilherme M. Lage, Leandro R. Palhares,Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda

Análise da carreira desportiva de atletas das regiõessul e sudeste do Brasil. Estudo dos resultadosdesportivos nas etapas de formaçãoThe Importance of Sport Results During the Long-Term’sAthlete Development. A Study with High Level Brazilian AthletesCristina Cafruni, António Marques, Adroaldo Gaya

O valor do atleta com deficiência.Estudo centrado na análise de um periódico portuguêsThe Value of the Athlete with Disability.An Analysis through a Portuguese Daily NewspaperAna L. Pereira, M. Adília Silva, Olga Pereira

ARTIGOS DE REVISÃO[REVIEWS]

Crescimento somático na população africanaem idade escolar. Estado actual do conhecimentoSomatic Growth in African Children and Youth. Current KnowledgeSílvio Saranga, José Maia, Jorge Rocha,Leonardo Nhantumbo, António Prista

Alterações no funcionamento do sistema de controlepostural de idosos. Uso da informação visualChanges in Elderly Postural Control System Functioning. Use of Visual InformationPaulo Freitas Júnior, José A. Barela

A pesquisa com EEG aplicada à área de aprendizagem motoraEEG and Motor Learning ResearchCaroline Luft, Alexandro Andrade

ENSAIO[ESSAY]

A vitalidade da lusofoniaMário Assis Ferreira Fernandes

IN MEMORIAM

Prof. Dr. Oded Bar-Or

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional

Ciência, Tecnologia, Inovaçãodo Quadro Comunitário

de Apoio III.