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PQN - A REVISTA DA COMUNICAÇÃO MARÇO/2009 NÚMERO 11 ANO V PARA O ALTO E AVANTE! O que parecia impossível começa agora a fazer parte de todas as grandes redações brasileiras. No céu em busca de notícias, os repórteres aéreos são a mais nova sensação do jornalismo cidadão. O que antes eram somente boletins sobre o trânsito passou a pautar matérias importantes, principalmente no dia a dia das metrópoles. TÔ BLOGADO EMPRESAS USAM E ABUSAM DOS BLOGS COMO IMPORTANTES FERRAMENTAS DE MARKETING. POLÍTICOS ATÉ QUE PONTO A COMUNICAÇÃO DITA O RUMO PARA O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS VENCEDORES DA ÚLTIMA ELEIÇÃO. SAMBA NO PÉ EM 2009 A DESREGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO FOI TEMA DE VÁRIOS SAMBAS-ENREDO EM TODO O PAÍS . Montagem_pqn11.indd 1 3/4/2009 20:06:44

Revista PQN Edição Nº 11

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Matéria Repórter Aéreo - primeira capa do jornalista Roberto Caiafa - abril de 2009, Revista PQN

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PARA O ALTO E AVANTE!O que parecia impossível começa agora a fazer parte de todas as grandes redações

brasileiras. No céu em busca de notícias, os repórteres aéreos são a mais nova sensação do jornalismo cidadão. O que antes eram somente boletins sobre o trânsito passou a pautar matérias importantes, principalmente no dia a dia das metrópoles.

TÔ BLOGADOEMPRESAS USAM E ABUSAM DOS BLOGS COMOIMPORTANTES FERRAMENTAS DE MARKETING.

POLÍTICOSATÉ QUE PONTO A COMUNICAÇÃO DITA O RUMO PARA O TRABALHO DOS PROFISSIONAIS VENCEDORES DA ÚLTIMA ELEIÇÃO.

SAMBA NO PÉEM 2009 A DESREGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃOFOI TEMA DE VÁRIOS SAMBAS-ENREDO EMTODO O PAÍS .

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PQN Cidadão - 8

José Aloise - 9

PQN Digital - 18

Márcio Reis - 24

Acontece em Sorocaba - 25

Robson Abreu - 26

Entrevista - 48

Fabiana Moreira - 54

PQN Empresarial - 56

Nordeste - 58

Calçadão - 59

PQN RP - 60

Pipoca Literária - 61

Fora Nosso - 62

Jornalistas mostraram que o dilema da profissão dá samba e caíram na folia.

Muitos comunicadores começaram o ano com o pé na política. Mas será que a Co-municação será usada em suas gestões?

Empresa inteligente tem blog corporativo. O que antes era modismo hoje faz partedas ferramentas de marketing.

Na terra e agora no ar. Jornalistas conquistam mais este espaço na competitiva luta pela audiência. As principais emissoras de rádio e TV descobriram o novo filão e estão investindo pesado no Repórter Aéreo. Não há pauta definida e todos os assuntos vão acontecendo ao vivo. Em alguns casos eles até pautam a redação quando a informação serve para as editorias de Polícia e Cidades. Lá do alto é mais fácil verificar o que está acontecendo na cidade do que ficar horas e horas dentro de uma redação. O investimento é alto, porém as emissoras se mostram satisfeitas com os resultados obtidos. Mas existem repórteres que se recusam a voar no minúsculo helicóptero projetado para executar o serviço diariamente. Outros já adoram o que fazem e se mostram realizados com a nova função.

CAPA: Simone Crisóstomo - Repórter Aéreo da Band News FM e Rádio Extra, em Belo HorizonteFoto: Roberto Caiafa

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Se existe um jardim mais bonito que os famosos Jardins Suspensos da Babilônia é porque você ainda não conhece Himeji-jo no Japão. Tudo foi projetado milimetricamente e o resultado é de dar inveja, uma tranquilidade quase celestial.

Se você pensa que o aparelho de celular serve apenas para fazer chamadas está completamente enganado. Hoje ele também pode ser considerado um isqueiro hi tech. Isso mesmo!

ISQUEIRO HI TECH

PAZ PARA TODOS OS ESPÍRITOS

Há cinco anos no mercado mineiro, o suplemento Eu Acredito!, do jornal Hoje em Dia, comemora o sucesso na divulgação de notícias de responsabilidade social. Destaque para a idealizadora do projeto, a jornalista Valéria Flores.

ACREDITANDO EMUM IDEAL

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PARA O ALTO E AVANTE!Quem acha que vida de repórter é só ‘correr atrás da notícia’, co-mete ledo engano. Hoje, vida de repórter é também ‘voar atrás da notícia’. A briga pela audiência saiu da terra e agora, pelos céus, bus-ca o melhor ângulo da reportagem para atrair ouvintes e telespec-tadores. A função de Repórter Aéreo tem se mostrado uma impor-tante ferramenta nesta guerra da comunicação de massa. Voando por toda a cidade, ele dá as notícias em primeira mão - seja no rádio ou nos boletins da TV - sobre como anda o trânsito ou mesmo acidentes graves. Esse tipo de reportagem está despertando cada vez mais a atenção das grandes emissoras, que estão investindo pesado na estratégia. Mas nada é tão fácil quanto parece!

ROBERTO CAIAFA

CAPACAPA

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Após o fim da Guerra do Vietnã, em 1975, existia nos Estados Unidos uma verdadeira massa de pilotos

desmobilizados e sem trabalho. Em Los Angeles, na Califórnia, a experiência com reportagem aérea para emissoras de rá-dio já era uma realidade há décadas, mas somente em meados dos anos 70 é que surgiram as primeiras coberturas aéreas para as emissoras de TV. Usando a expe-riência dos pilotos desempregados aliada às equipes completas de jornalismo, o conceito se estabeleceu nos EUA. E como todo mundo sempre copia as boas idéias, o repórter aéreo chegou ao Brasil.

Na década de 70 não existiam no país equipamentos e pilotos homologados ou uma doutrina de uso de helicópteros em transmissões de TV, ainda mais ao vivo. Foi a obstinação do jornalista Hamilton Alves da Rocha, o Comandante Hamilton, que mudou essa história. Piloto recém-formado, ele iniciou a carreira na metade dos anos 80. Antes de ser repórter aéreo, trabalhou em produtoras de vídeo e cine-ma, mas só em 1989 ingressou na TV. Na

época, diz ele, tudo era muito difícil. A TV trabalhava com material descartável, não tinha preocupação com a plasticidade e com a beleza da imagem. No final da déca-da de 80, voar num helicóptero era muito caro e não justificava o uso. Com muito custo, Hamilton conseguiu mudar esse quadro, tendo como referência o traba-lho que os norte-americanos faziam com suas aeronaves. “Fiz várias viagens a Los Angeles para ver como tudo funcionava. Aos poucos, fui vencendo o preconceito e entrando cada vez mais nos programas de TV”, lembra ele.

Mas, como tudo que é novidade deixa as pessoas desconfiadas, veio a desconfiança e as repreensões de órgãos oficiais, como a Aeronáutica. Os equipamentos eram im-provisados, pois não havia nada parecido em uso no Brasil. Assim, multas e puni-ções eram rotina. Aos poucos, porém, o Comandante Hamilton mostrou que o uso do helicóptero na TV brasileira era um novo serviço que emergia, e não uma forma marginal de usar a aeronave, como alguns pensavam.

Seguindo a mesma trilha do comandante estava o jornalista Geraldo Nunes, da Rá-dio Eldorado FM, em São Paulo. Com re-corde mundial homologado pelo Guinness Book como o repórter aéreo em ativida-de que mais voou no mundo, ele também é um profissional de destaque. Em seu ex-tenso currículo, já protagonizou cenas que entraram para a história do jornalismo, como a cobertura do enterro de Ayrton Senna, em 1994 e o surpreendente se-questro da filha de Sílvio Santos, em 2001.

Para Nunes, a carreira de repórter aéreo começou por acaso: ele entrou como substituto de outro colega e nunca mais parou. “Eu sonhava em voar e, mesmo sen-do uma tarefa cheia de riscos e desafios, topei a parada”, brinca. Quanto aos riscos da atividade, ele afirma que voar pelo céu paulista é um grande desafio, especial-mente na capital, São Paulo, com seus 13 milhões de habitantes e cerca de cinco milhões de automóveis, sem falar nos cerca de 500 novos emplacamentos de veículos por dia no Detran. Mas não

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é só de trânsito que vive um repórter aé-reo, o lado cidadão também é muito forte. Exemplo disso, lembra Nunes, foi a cober-tura da queda do Fokker 100 da TAM, em 1996. “Estávamos ao vivo e fomos direto para o local do acidente, nas imediações do Aeroporto de Congonhas, em São Pau-lo. Passamos as primeiras informações e ajudamos a monitorar os corredores es-peciais de acesso para ambulâncias e os bombeiros”, recorda.

No Rio de Janeiro, o serviço de repórter aéreo foi implantado em 1988, na Rádio JB (Jornal do Brasil). Na época, a aeronave usada era também um Robinson R-22 e de-pois um Hughes 300. Segundo o repórter aéreo Genilson Araújo, o primeiro jorna-lista a fazer este tipo de reportagem foi Carlos Couto, seguido de Nicolau Marani-ni e Douglas de Felice. Araújo assumiu so-mente em 1989 e continua na função até hoje, contabilizando mais de 12 mil horas voadas. “Sobrevoar a Cidade Maravilhosa, suas praias, a entrada da baía da Guana-bara, a ponte Rio - Niterói, o Cristo Re-dentor e o Pão de Açúcar são presentes que recebo diariamente em meu local de trabalho – o helicóptero”, diz o repórter.

Em 20 anos de atividade, ele pôde acom-panhar o crescimento urbano e desorde-nado do Rio, principalmente a expansão das favelas e o caos do trânsito. Além disso, afirma Araújo, existem setores do espaço aéreo carioca que não podem ser sobrevoados, tal o poder de fogo dos tra-ficantes de drogas, que aumentou muito nos últimos 15 anos. “Aí você percebe o tamanho das nossas dificuldades; o vôo no

rio mudou muito por conta destes fatores”, observa.

Para José Luiz Da-tena, apresentador do programa Brasil Urgente, da Band, a reportagem aé-rea brasileira tem a mesma importância que o serviço nos EUA, onde tudo co-meçou. Ele afirma que o repórter aé-reo é um serviço es-pecializado com refle-xos no bem-estar da população, pois soma forças ao trabalho das Polícias, dos Bom-beiros, Defesa Civil e muitos outros envol-vidos. Em alguns casos, por já estar sobre a ocorrência, o repórter ajuda a orientar ou-tros profissionais, minimizando o

tempo de chegada de um resgate ou so-corro. “Este profissional tem uma enorme responsabilidade social”, avalia Datena.

A atividade de repórter aéreo também mexeu com o mercado de profissionais de aviação em todo o Brasil, especificamente de asas rotativas. Quem afirma é o diretor de segurança de voo da Associação Brasi-leira de Pilotos de Helicópteros (ABRAPHE), Comandante Hoel Tadeu de Carvalho. Se-gundo ele, somente o Estado de São Paulo possui atualmente 465 helicópteros regis-trados e muitos estão voando em outras praças. A demanda por pilotos qualificados em asas rotativas, informa Carvalho, cres-ceu muito nos últimos cinco anos. As pró-prias empresas do segmento de imagens e transmissões aéreas desenvolveram dou-trinas próprias de operação, já que o voo jornalístico se reveste de características peculiares, como a constante realização de voos pairados, ou seja, quando a aeronave

Fotos: Divulgação

Comandante Hamilton: tudo o que é novo as pessoas têm a tendência de não aceitar e acre-ditar, mas pouco a pouco passaram a confiar na reportagem aérea

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fica imóvel no ar, sobre o local do fato que está sendo coberto e deslocamentos so-bre áreas densamente povoadas.

No entanto, todas as manobras são fei-tas seguindo rígidas normas de seguran-ça ditadas pela Aeronáutica. Mas o gran-de problema dos helicópteros na capital paulista são as constantes reclamações de populares com relação ao ruído causado pelos aparelhos. “Há uma luta travada por organizações de moradores para reduzir o número de helipontos homologados na área urbana, o que poderá restringir a quantidade de aeronaves liberadas para voar sobre a cidade”, aponta o comandan-te Hoel. Mas avanços como o inédito sis-tema de corredores aéreos especiais para helicópteros, único no mundo, aumentou consideravelmente a segurança de opera-ção, o que se comprova pelo baixíssimo número de acidentes.

BRIGA PELA AUDIÊNCIA COMEÇA CEDO

Como os tempos são outros, em algumas das principais capitais do Brasil emissoras de rádio e TV brigam cada vez mais pela audiência em seus boletins especiais. E nada melhor que oferecer um diferencial aos ouvintes e telespectadores: foi seguin-do este conceito que a função de repórter aéreo começou a ressurgir em várias re-dações. Hoje, até o repórter aéreo pauta matérias na redação, já que ele está nas ruas, ou melhor, no céu, mais cedo e mais

rápido que a reportagem convencional. Nem sempre é o mesmo profissional que sai a voar em busca de notícias. Existem redações em que aquele que chega pri-meiro ao trabalho é o que pega a pauta aérea; em outros, já existem os repórteres fixos, como a carioca Simone Crisóstomo, repórter das rádios Band News FM e Ex-tra, em Belo Horizonte.

Simone sobrevoa a capital mineira desde 2008, de segunda a sexta-feira e transmite direto de um pequeno helicóptero ama-relo, modelo Robinson R-22, informações sobre o trânsito da Região Metropolita-na de Belo Horizonte, além de acidentes, rotas alternativas e até mesmo prestando ajuda em situações de risco. Com entradas coordenadas a partir das oito da manhã, em voos de trinta minutos em média, a repórter alterna seus boletins entre as rádios, abrangendo ouvintes de diferentes perfis. “Na Extra, o público jovem permite certa liberdade, posso brincar um pouco com as informações. Já na Band News, o perfil é mais contido, focado na informa-ção. É gratificante saber que nosso tra-balho lá em cima pode fazer a diferença para muitas pessoas logo no início do dia. Creio que ajudamos o lado psicológico dos cidadãos”, observa a repórter. Todas as manhãs, na Band, é feita uma breve pau-ta, após a apuração do radioescuta. Em cima da rota prevista é que se ordenam as entradas das notícias. “A Simone tem total liberdade para montar ou modificar as pautas, de acordo com o que o voo for apresentando. Não raro, fatos inusitados

obrigam até a um replanejamento da rota de voo. É algo muito dinâmico, tudo pode mudar em vinte minutos”, afirma Maressa Souza, coordenadora da Band News.

Para um perfeito trabalho, avaliam os re-pórteres aéreos, a interação entre piloto e jornalista é fundamental. O texto tem que sair na hora, é muito dinâmico e, à medida que as informações são reunidas, o repór-ter tem que planejar sua próxima entrada, coordenando o áudio ou a imagem com o piloto. Nesses casos, é ele o diretor de imagem. O piloto deve estar atento o tempo todo, pois ele tem que pilotar a aeronave de forma segura, possibilitando as melhores imagens do trânsito durante o percurso. Simone conta que, antes da decolagem, faz-se uma apuração com as polícias Rodoviária e Militar, além de ór-gãos de trânsito, bombeiros e outros en-volvidos com a malha viária urbana. “Além de estarmos focados no trânsito, devemos tomar cuidado com as condições do tem-po e também vigiar o espaço aéreo à nos-sa volta”, lembra.

Para Geraldo Nunes o dia também come-ça bem cedo. Ele acorda às três e meia da manhã e logo um carro da rádio paulista Eldorado FM vem buscá-lo para apresen-tar o programa ‘De Olho na Cidade’, que vai ao ar das cinco às seis da matina. “Leio meus e-mails e sigo para o helicóptero. Embarco às 7h30, sobrevoo São Paulo até as 9h15 e, na parte da tarde, das 17h30 às 18h30”, informa Nunes. Em feriadões são comuns os voos noturnos e prolongados.

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Geraldo: a carreira de repórter aéreo começou por acaso, substituindo um

colega de trabalho

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Normalmente Nunes utiliza rotas espe-ciais para helicópteros e, como se trata de um serviço específico e de utilidade pú-blica, ele também faz voos fora das rotas. A aeronave utilizada é um R-22 que custa em média US$ 200 mil e tem um custo de hora/voo de R$ 750,00. Já na TV, a equipe voa cerca de 50 a 70 horas por mês sem horário pré-determinado. Para as rotas, o critério é o mesmo adotado na cobertu-ra radiofônica. A aeronave utilizada é um Robinson R-44 Newscopter ENG, que custa cerca de US$ 900 mil.

O piloto que trabalha com Genilson Araújo, o Comandante Ricardo Malaguti, da Helinews, empresa carioca de Serviço Aéreo Especializado (SAE), com foco em aeroreportagem e aerocinematografia, afirma que a audiência é sempre muito alta em dias de chuva forte. O ouvinte quer saber quais são as melhores opções para fugir do trânsito e dos alagamentos, mui-to comuns no verão. Na TV o interesse é pelas imagens, no ao vivo, de como anda a situação naquele momento, principalmen-te quando são mostrados pessoas ilhadas, carros sendo levados pela enxurrada e desmoronamentos. Ele lembra algumas notícias marcantes, como o incêndio no Aeroporto Santos Dumont e as chuvas de verão de 1996, que praticamente pararam o Rio de Janeiro. “Naquele dia voamos cerca de sete horas”, conta Malaguti.

ENTROSAMENTO É ESSENCIAL

De acordo com o repórter aéreo Genil-son Araújo, o entrosamento é uma ferra-menta importante para que cada um – pi-loto e repórter – realize seu trabalho com segurança e eficácia. Ele afirma que o re-pórter deve conhecer um pouco dos pro-cedimentos operacionais do equipamento e as regras aeronáuticas. O objetivo é sa-ber quais os limites que o piloto tem para atender as solicitações do jornalista. Por sua vez, o piloto deve entender que, para o repórter, o atrativo visual e a importância do fato em si contribuirão para o interesse jornalístico, tanto na TV quanto no rádio.

Segundo José Luiz Datena, a parceria entre ele e o Comandante Hamilton tem garan-tido boa interação e pontos no ibope. O trabalho de repórter aéreo, afirma, é muito dinâmico; em uma cidade com 22 milhões de habitantes e centenas de fatos aconte-cendo, não é possível pautar nada anteci-padamente. Para o comandante tudo isso só é devido a muita concentração e dis-ciplina, priorizando a segurança do voo, a navegação e instrumentos do helicóptero, além da fonia aeronáutica, que é a comu-nicação com outros helicópteros e órgãos de controle. “Só após checar tudo é que posso falar com o Datena e o pessoal da programação da Band. Depois que a turma do radioescuta informa as ocorrências à

coordenação do programa e por último, os profissionais da central técnica, que cui-dam do sinal de recepção do helicóptero, em microondas”, informa o Comandante Hamilton.

Datena não poupa elogios ao colega de programa e afirma que ele é um excelente piloto, além de grande jornalista. “Ele pilo-ta, atua, informa, interage ao vivo e sempre consegue a melhor imagem, o melhor ân-gulo. A experiência como piloto e o faro jornalístico dele sempre me impressiona-ram. Estamos há mais de seis anos juntos e posso garantir que a habilidade do Ha-milton é ímpar. Quando estamos ao vivo, a interação é muito natural, tamanha a cum-plicidade que temos. E olha que ele tem de pilotar a aeronave, fazer a fonia, receber informações do estúdio da Band e ainda atender às minhas solicitações”, confiden-cia o apresentador. E basta que o Coman-dante Hamilton decole para que comece o serviço de radioescuta e a seleção das ocorrências que entrarão no programa. O Brasil Urgente mantém um monitor no estúdio para acompanhar a localização do jornalista e da equipe e para coordenar as entradas ao vivo.

ACIDENTES ACONTECEM

Quando ainda voava no céu do Rio de Ja-neiro, Simone Crisóstomo, das rádios Band

Fotos: Roberto Caiafa

Simone e Parra: entrosamento profissional na busca de melhores reportagens na capital mineira

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News e Extra, enfrentou alguns momen-tos tensos. Quando sobrevoava a Enseada de Botafogo com um Jet Ranger, um urubu colidiu com a aeronave. “Sequer vimos de onde ele veio, ainda bem que só ele levou a pior”, lembra ela. Em outro voo, Simone estava ao vivo e o piloto passou mal, vo-mitando no colo dela, já que estavam lado a lado. “A vida de um repórter aéreo nem sempre é muito glamourosa, mas Deus foi gentil e conseguimos pousar em seguran-ça. Esse piloto foi um dos melhores com quem já voei, tanto que hoje ele faz voos off-shore para a Petrobras”, acrescenta a repórter.

Com o comandante Hamilton, mais de 20 anos de carreira, a história não seria di-ferente. Já aconteceu quase tudo, como a parada da turbina do Bell Jet Ranger, avalia-

do em US$800 mil; a quebra da haste do rotor de cauda de um R-22; e uma linha de pipa enrolada no rotor de cauda, o que provocou o pouso quase sem controle dos pedais. Em outra situação, o repórter que voava com ele enroscou o fio do microfo-ne na manete do AS 350 Esquilo, avaliado em US$ 2 milhões, obrigando-o a pousar, quase sem potência, em uma área grama-da. Em todos os casos, avalia o comandan-te, houve pelo menos uma pequena falha humana. “Graça a Deus sempre tive muita sorte. Com rapidez e calma sempre consegui sair das panes sem quebrar a aeronave ou ferir pes-soas”, observa.

Em se tratando de acidentes pes-

soais, um dos mais inusitados foi o regis-trado em 2005, quando o Robinson R-22 em que voava o repórter Geraldo Nunes teve uma pane de motor, perdendo potên-cia e fazendo com que o piloto lançasse o helicóptero na pista da Marginal Pinheiros, em São Paulo. A aeronave se arrastou por mais de 30 metros e foi parar debaixo da Ponte Eusébio Matoso. Portador de parali-sia infantil, Nunes e o piloto saíram ilesos. Segundo ele, o piloto acertou em cheio ao descer na pista, esbarrando somente em um carro e, em seguida, tombando a ae-ronave, que se arrastou até a ponte.

SISTEMA DIGITAL

Com a chegada da TV digital ao Brasil, no-vas demandas surgiram no trabalho de re-pórter aéreo e, consequentemente, novas

Globocop: a aeronave mais conhecida da reportagem aérea no

Brasil é sinônimo de qualidade e profissionalismo

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tecnologias, equipamentos e outros desa-fios profissionais. Adaptar um helicóptero para transmissões de TV exigiu peças muito mais sofisticadas e caras do que as usadas no rádio e TV convencionais. Atualmente, grande parte dos helicópteros utilizados já possui o novo sistema de transmissão.

Segundo o Comandante Hamilton, repórter aéreo da Band, a TV de alta definição exige câmeras de qualidade muito mais apuradas que as convencionais, e, de certa forma, todo o trabalho de imagem teve que ser reaprendido. O requisito técnico da apare-lhagem digital é muito grande e diferente do analógico. A resolução das imagens gera-das exigiu novos parâmetros de pilotagem, pois a HDTV não perdoa, mostra a imagem real com todas as suas nuances.

Emissoras como Rede TV, Record, RBS TV, Rede Globo, Band News, entre outras, já adaptaram suas aeronaves e atualmente operam com o novo HDTV. O modelo TV mais utilizado é o R-44 Newscopter ENG (Electronic News Gate) que já vem de fábri-

ca pronto. A aeronave é equipada com um sistema de microondas, analógica ou digital, para recepção e transmissão de áudio e vídeo, guiado por um sistema de GPS que sempre direciona a antena para a estação receptora da emissora de TV.

FERRAMENTAS DE OFÍCIO

O modelo Robinson R-22 é um pequeno helicóptero capaz de levar duas pessoas, piloto e repórter. Este é o mais popular para o trabalho, pois alia economia de operação e manutenção com o porte ide-al para transportar uma equipe enxuta e magra devido ao pouco espaço interno. Debaixo do banco do repórter ficam os rádios do link de terra e outro para fazer a escuta da transmissão. O piloto e o repór-ter dispõem de ampla área envidraçada, com total visibilidade para frente e para baixo. Além disso, um rádio stand-by ser-ve de back-up em caso de pane do prin-cipal. Leve e impulsionado por um motor Lycoming confiável e barato de manter, a aeronave conquistou uma legião de fãs

mundo afora, tornando-se o mais vendido helicóptero a pistão para diversas funções, que vão da versão policial até a inspeção de cabos de transmissão de torres de energia elétrica.

Segundo o Comandante Parra, piloto de Simone Crisóstomo, das rádios Band News e Extra, de Belo Horizonte, o mo-delo é muito versátil. A pequena área de rotor e baixo peso permitem voos tran-quilos, sem alarmar ou perturbar os mo-radores com muito barulho ou vento. Já a pilotagem requer atenção total, pois seus comandos são mecânicos e bem duros e a aeronave é bem arisca. O motor a pistão reduz custos, além de disponibilizar boa assistência técnica.

Atualmente, o mais potente e espaçoso é o modelo Robinson R-44, com capacidade para quatro pessoas. O posto do opera-dor das câmeras mais parece um grande vídeo game com um super manete. Seus controles especiais permitem ao cine-grafista abrir ou fechar a imagem, execu-

Detalhe da câmera de vídeo gi-roestabilizada montada no nariz da aeronave

Manete de comandos das câmeras de vídeo, operadas pelo cinegrafista

Vista dos monitores de ví-deo do piloto e cinegrafis-ta, usados para visualizar a transmissão

Panorâmica da aeronave Robinson R-22, um dos mais usados no serviço de repórter aéreo

Divulgação Divulgação Divulgação Roberto Caiafa

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tar zooms e manter o foco durante uma veloz perseguição policial, por exemplo. A câmera opera em elevação e giro sobre o próprio eixo, e possui conjunto óptico poderoso, montado no nariz do helicóp-tero. Além disso, a aeronave possui moni-tores digitais especiais protegidos contra reflexos do sol, o que permite ao piloto e ao operador da câmera visualizar o que está sendo filmado e manter o link com a emissora. Os fones de ouvido são prepa-rados para dividir a conversa interna entre tripulantes do áudio de rádio com os ór-gãos aéreos, o que requer concentração e treinamento. Além destes, os helicópteros AS-350 Es-quilo, fabricados pela Helibrás, em Itajubá,

Minas Gerais, são outra boa opção. É uma aeronave mais cara por ser maior e mais potente. Possui motor turbinado, coman-dos hidráulicos assistidos e maior capa-cidade de carga e passageiros. O modelo pode ser equipado com todos os arranjos do R-44 ENG TV.

Com mais de vinte anos de experiência na operação de helicópteros para fins jorna-lísticos, a Rede Globo, primeiro no Rio de Janeiro, e depois em São Paulo, iniciou suas operações com modelos Esquilo Newscop-ter. Foi daí que surgiu o nome GloboCop, que acabou sendo padronizado para to-das as aeronaves da casa. Os helicópte-ros adotaram um padrão cinza-prata e o logo Globocop nas laterais, ao lado da

logomarca da emissora. No Rio, o Esquilo prefixo PT-HLU faz a cobertura diária para os jornalísticos e também para os grandes eventos como carnaval, réveillon, eventos esportivos e megashows. O helicóptero é equipado com a câmera giro estabilizada (analógica) e câmeras internas para repór-ter, piloto e observador/tripulante extra. Já em São Paulo, a aeronave prefixo PT-HND faz o mesmo trabalho, além de ser deslocada eventualmente para coberturas especiais no litoral (Guarujá) e interior do Estado.

Em Belo Horizonte, o Globocop prefixo PP-MAT é um modelo R-44 Newscopter, anteriormente baseado no Campo de Marte, em São Paulo, e atualmente no han-gar nº 4 do Aeroporto da Pampulha. O pi-loto, Comandante Marco Antônio Martini, informa que a equipe decola antes do no-ticiário entrar no ar, por exemplo, ao final da manhã. Quem cuida das imagens é o ci-

Divulgação

Roberto CaiafaEquipe: o repórter Genilson Araújo ladeado pelos pilotos Aécio e Ricardo Malaguti. O bom entro-samento e novas tecnologia têm garantido um trabalho de qualidade no céu do Rio de Janeiro

Maressa: a audiência dobrou na Band News FM após a entrada do serviço da repórter aérea

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Fotos: Roberto Caiafa

negrafista Benjamim Fridman, produzindo o que a redação precisa. Como as câmeras atuais possuem lentes com zoom podero-so, não é necessário voar baixo para obter as imagens, tornando o voo mais seguro. “Mesmo com toda segurança, alguns re-pórteres demonstraram medo ao saber que iriam voar. Mas nada que um pouco de conversa não tenha resolvido. Na maioria das vezes, o voo é feito sem o repórter a bordo, e as imagens são cobertas pela fala do apresentador, direto do estúdio”, informa o comandante. Além das três ca-pitais do sudeste, a Rede Globo mantém aeronaves para uso jornalístico por meio de fretamento em Recife (Bell Jet Ranger 206B PT-HPL), que faz a cobertura daquela parte da região nordeste. Em outras cida-des, somente sob demanda.

Já a Rede Record de São Paulo utiliza uma aeronave Esquilo, conhecida como “Águia Dourada”, prefixo PT-YRE e baseada no

Campo de Marte. O helicóptero, na cor dourada, está equipado com o mesmo tipo de sistema analógico do Globocop

PATROCÍNIO É IMPORTANTE

Em algumas emissoras, como a Band News FM, o patrocínio de empresas foi fundamental para viabilizar a reportagem aérea, pois o custo hora/voo é muito alto, em média R$ 700,00. Segundo Maressa Souza, coordenadora da emissora em BH, a rádio manteve uma estratégia definida para trazer o serviço de repórter aéreo. Segundo ela, a intenção era disponibilizar um serviço diferenciado aos ouvintes nas principais capitais. Como o trânsito da capital mineira cresceu muito, avalia, a de-manda se tornou enorme e o esquema de câmeras de vigilância das operadoras de tráfego e relatórios de agentes de trânsito mostrou-se insuficiente para permitir uma informação mais completa e abrangen-te. Com a entrada do repórter aéreo na programação da Band News, a interativi-dade entre os ouvintes mais que dobrou. “O público participa ativamente enviando e-mails, sugere rotas alternativas e até agradece a ajuda que ‘veio do céu’. Para os ouvintes não basta falar da existência do problema, tem de oferecer soluções”, observa a coordenadora.

Maressa informa que própria Simone Cri-sóstomo realizou a captação dos patro-cinadores, além de ajudar na escolha da aeronave, do piloto e do local de hangara-gem do helicóptero. A repercussão entre os profissionais de imprensa foi imediata e muito positiva. “O produto nos foi en-tregue já formatado e pronto para ir ao ar. O retorno em termos de audiência já é

percebido e descobrimos que o repórter aéreo funciona como um chamariz para atrair e fidelizar o ouvinte, diz.

Na capital mineira, a reportagem aérea da Band News conta com o apoio da Fon Fon Pneus, tradicional revenda dos produtos Goodyear, e da Marítima Seguros, uma das grandes empresas no segmento. Segun-do Wilson Navarro, um dos diretores da Fon Fon, 90% do custo do projeto recai sobre a aeronave e, deste percentual, 60% são para manutenção. O restante é para custos operativos como combustível, lu-brificantes, salário do piloto e despesas ad-ministrativas. Os 10% restantes represen-tam o custo da renumeração do repórter aéreo. O helicóptero, grafado com a logo da empresa, utiliza o hangar da Helimed, empresa de resgate aeromédico.

Na Marítima Seguros, a união de forças com as duas rádios – Band News e Extra FM – se consolidou como um marco im-portante na empresa. Com o apoio, afirma Marcelo Araújo Braz, diretor de produção, a seguradora obteve maior visibilidade da marca, levando ao público-alvo um serviço de utilidade pública. “O apoio ao repórter aéreo só vem confirmar nosso compro-misso com os motoristas e a população de Belo Horizonte”, conclui Braz.

Wilson: a empresa custeia as despesas do aero-nave e viu na iniciativa uma bom marketing

Marcelo: comprometimento com os motoristas

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