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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA PARAÍBA

Revista Principia N 13

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Revista do IFPB - produção de professores, técnicos e alunos, não apenas do IFPB

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOSECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA PARAÍBA

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2 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

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3PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

PRINCIPIAÓrgão Oficial de Divulgação Científica e Tecnológica do CEFET-PB

Diretor-GeralJosé Rômulo Gondim de OliveiraDiretora da Unidade - Sede

Ivanilda Matias GentleDiretora da UNED - Cajazeiras

Maria de Fátima Vieira CartaxoDiretor de Ensino

Jeferson Mack Souza de OliveiraDiretor de Relações Empresariais e Comunitárias

Adriano Augusto de SouzaGerente de Pesquisa e Projetos Institucionais

Francisco Antonio de França Neto

CONSELHO EDITORIALEditor Presidente:

M.Sc. Mônica Maria Montenegro de Oliveira

Editores Membros:M.Sc. Carlos Alberto Fernandes de Oliveira

M.Sc. Claudiana Maria da Silva LealDr. Fausto Veras Maranhão Aires

Drª Francilda Araújo InácioDr. Jefferson Costa e SilvaDr. Jimmy de Almeida Léllis

Dr. Kennedy Flávio Meira de LucenaDr. Neilor Cesar dos Santos

Dr. Umberto Gomes da Silva Júnior

SecretáriasAntonia Rossi Witt

Maria Lúcia Ribeiro da Silva MartinsNaibel Borba de Farias Tavares

Comunicação e DivulgaçãoFábio Santos

Jornalista ResponsávelFilipe Francelino de Souza (DRT/PB 1051)

Revisão de LinguagemEliane Martins Santos de Moura

Maria do Socorro Burity Dialectaquiz

Digitação, Diagramação e Design GráficoEldno César Mendes Pires

Francisco Antonio Borges de MouraWandilson de Souza SilvaZaqueu Alves de Sousa

Documentação e NormalizaçãoBeatriz Alves de Sousa

Marileuza Fernandes Correia de Lima

ReproduçãoCoordenação de Comunicação e Reprodução Gráfica – CEFET/PB

Corpo Revisor/Consultor ad hocProfessores Doutores e Doutorandos – CEFET/PB

CORRESPONDÊNCIA - PRINCIPIACentro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba

Conselho Editorial – Gerência de Pesquisa e Projetos Institucionais (GEPPI)Av. 1.º de Maio, 720 – Jaguaribe - 58.015-430 - João Pessoa/PB

Fone: (83) 3208-3032 - Fax: (83) 3208-3088Site: www.cefetpb.edu.br/principiaE-mail: [email protected]

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EDITORIAL

“Por trás de cada número há um mistério a ser desvendado, uma verdade a ser investigada,uma lição a ser apreendida”.

13! Número cabalístico ou apenas um dos elementos seqüenciais dos algarismos arábicos?

Popularmente este número tanto representa o azar como também, paradoxalmente, a sorte e a bonan-

ça. No tarô, a carta 13 é representada pelo esqueleto – que é a figura da morte –, mas deve ser entendido como

a força vital que nunca morre, apenas muda de forma.

Já na numerologia é o símbolo da transformação.

Para nós, neste momento, o aprofundamento deste tema (numerologia) não é tão pertinente. O impor-

tante para o CEFET-PB é que esta é a quantidade de edições da nossa Revista Principia – o que a torna quase

uma adolescente – contribuindo para aumentar cada vez mais nossa responsabilidade e nosso compromisso

perante a comunidade científica e acadêmica, tanto local como nacionalmente.

E, de fato, nestes quatro anos da nossa gestão, transformamos o CEFET-PB. Deixamos, definitiva-

mente, de ser Escola Técnica Federal para sermos o Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba –

Instituição de Ensino Superior, portanto, alicerçada no tripé: Ensino, Pesquisa e Extensão.

Além da edição impressa, já estamos disponibilizando a Principia em nosso Portal, possibilitando,

assim, o acesso da mesma a um grande universo de pessoas que fazem uso da rede mundial de comunicação.

Nesta Edição, estamos publicando 12 artigos, dos quais, faz-se necessário ressaltar que, a maioria é de

autores de outras Instituições, o que demonstra o valor que a nossa revista tem alcançado no cenário acadêmi-

co nacional, ratificado pela conquista, em 2005, do conceito “A” no Qualis da CAPES, nas áreas de Engenha-

rias III e Educação.

O objetivo é, mais uma vez, corroborar com o esforço do CEFET-PB em proporcionar maiores espa-

ços para o pensamento crítico/criativo de professores, alunos e colaboradores, oferecendo, democraticamente,

a oportunidade de divulgação da produção científica e tecnológica no meio acadêmico.

Eis, então, mais um número da Revista Principia em nossa gestão e, com este, a certeza de que haverá

novas edições nos anos vindouros, pois trata-se de um projeto institucional e, como tal, atravessará o tempo e

as pessoas. Todavia, as idéias permanecerão e oxalá possamos ter contribuído para mais um tijolo na constru-

ção desta Instituição quase centenária.

Saudações Educacionais

José Rômulo Gondim de Oliveira

Diretor-Geral do CEFETPB

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Catalogação na fonte – Conselho Editorial

PRINCIPIA.

Ano 10, n. 13, 2006. – João Pessoa: Órgão de divulgação

científica e tecnológica do CEFET-PB, 2006.

92 p. il. - quadrimestral

ISSN 1517-0306

1. Educação Tecnológica – Periódico – Paraíba.

CDU 375.3(05)(813.3)

Os trabalhos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade de seus autores.

As opiniões neles emitidas não representam, necessariamente, o ponto de vista

do Conselho Editorial e/ou da Instituição.

É permitida a reprodução parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte.

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SUMÁRIO

• Sistema de Cooperativismo na ParaíbaAniuska Almeida Nepomuceno ................................................................................................................ 09

• Auto-avaliação Institucional Orientada à Melhoria da Ação Educacional: o caso do CEFET-RNDante Henrique Moura............................................................................................................................. 15

• Germinação de essências Florestas em Substratos Fertilizados com Matéria Orgânica ................ 27Hugo Orlando C. Guerra, Humberto Silva, Amanda M. A. de Lucena, Fabiana X. Costa

• Aplicação de Aulas Baseadas na Aprendizagem Significativa no Ensino de CiênciasIsabelle da Costa Wanderley, Marcio Frazão Chaves .............................................................................. 34

• Estudo Comparativo de Códigos Paralelos em Fortran, C e Java na Análise de uma Antena Monopolo Utilizando Técnica Numérica de FDTD

Josivaldo de S. Araújo, Carlos Leonidas de S.S. Sobrinho, Rodrigo M. S. Oliveira,Carlos Renato L. Francês ......................................................................................................................... 39

• Sistema Simulador Escalonamento de Processos em Sistemas OperacionaisMaxwell Anderson Ielpo do Amaral, Estevam Pessoa do Nascimento Santiago,Josemary Marcionila Freire dos Santos ................................................................................................... 45

• A Organização Macrodiscursiva no Gênero Textual Abstract em Língua Inglesa: Um estudo de casoMarcus de Souza Araújo .......................................................................................................................... 49

• As interfaces da organização do trabalho com o estresse ocupacional: um estudo de casoMaria Luiza da Costa Santos Juliana da Costa Santos ............................................................................ 55

• Modelos Neurais para Dispositivos Ativos Semicondutores de GaAs nas Faixas de Microondas/ÓpticaPaulo Henrique da Fonseca Silva, Márcio G. Passos e Humberto C. C. Fernandes ................................ 66

• As Fontes Alternativas de Energia no CEFET/SCPaulo Roberto Weigmann, Alejandro Eduardo Navarro, Ingrid Carolini Cezário, Leandro Walter Pazeto,Rafael Luiz da Silva, Reginaldo Steinbach .............................................................................................. 76

• Estudo Cinético das Transições Estruturais Lamelar ® Hexagonal e Hexagonal® Amorfo,em Amostras de SílicaRobson Fernandes de Farias .................................................................................................................... 82

• Pressão Osmótica: Abordagem Quantitativa para um Conhecido ExperimentoRobson Fernandes de Farias, Cícero W. B. Bezerra, Luciana S. Carvalho, Rivalx S. Braga,Pedro de Jesus N. S. Filho ....................................................................................................................... 85

Obsevação : As normas e informações para submissão de trabalhos constam no final da revista.Modelo de Artigo para Publicação na Revista Principia do CEFET-PB ................................................. 87

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Sistema de Cooperativismo na Paraíba

Aniuska Almeida Nepomuceno1

CEFET-PBE-mail: [email protected]

Resumo:O Cooperativismo é dotado de princípios de elevada nobreza e valor humano, os quais são capazesde criar uma dimensão superior de administração das atividades econômicas governamentais, e empresariais,com o firme propósito de consolidar benefícios sociais e autônomos, aos participantes dos atos cooperados esuas relações técnicas e comerciais. No Brasil há um grande aumento de cooperativas em todas as regiões,mostrando assim, que a doutrina do cooperativismo está cada vez mais sendo incorporada pelos trabalhado-res. Com o número crescente de cooperativas em todo o mundo, este artigo tem como objetivo conhecer eestudar o movimento cooperativista no mundo capitalista.

Palavras Chave: Cooperativismo 1, Cooperação 2, Organização3

1. Introdução

A idéia da estimulação do crescimentoorganizacional, a partir do envolvimento conscientedos seus membros, surgiu em tempos remotos, servin-do de base para diversas soluções. Na época da Revo-lução Industrial, na cidade de Rochdale, na Inglaterra,foi instalada uma organização que proporcionava aosenvolvidos a participação nas atividades gerenciais,organizacionais e no lucro obtido através da coopera-ção. Assim nasceu o Cooperativismo. Esse sistema foitransmitido para todo o mundo, com os seus princípios,suas virtudes e sua forma de trabalhar em conjunto.

O sistema cooperativista tem sido disseminado atra-vés da organização dos trabalhadores em cooperati-vas; esse tipo de organização está sendo utilizado namaioria dos países desenvolvidos ou em desenvolvi-mento. O sistema cooperativista, no Brasil, teve umagrande aceitação pelos trabalhadores, levando a pers-pectiva de um crescente avanço, com o surgimento decooperativas por todas as regiões.

A cooperativa é uma sociedade civil, constituída apartir da Lei 5764/71, assumindo assim caráter em-presarial, possuindo patrimônio comum para prestarserviço aos associados, de acordo com o ramo deatuação e de seus objetivos. Desde 1971, o Estadotem sido um incentivador de cooperativas em todoo território nacional. No Nordeste, principalmentena Paraíba, as cooperativas recebem um grande in-centivo dos órgãos governamentais para sua cria-ção e manutenção, como forma de apoiar e desen-volver o campo.

A primeira cooperativa do estado da Paraíba foifundada em 1923, em Bananeiras, no ramo de crédito.Hoje a grande maioria se encontra no ramo daAgropecuária, pois está ligada à estratégia governa-mental de oferecer condições sócio-econômicas aostrabalhadores rurais.

O sistema cooperativista possui uma característicapeculiar, que é o envolvimento dos associados em suasatividades, razão por que se remete a uma maior refle-xão sobre o comprometimento, não como uma carac-terística única, mas interligada ao sistemaorganizacional num mercado competitivo e mutável.

2. Sistema de Cooperativismo: historicidade e baseconceitual

As primeiras idéias de cooperativismo surgiram naInglaterra em 1834. A indústria de lã prosperava, ostrabalhadores reivindicavam melhoria das condiçõesde trabalho e salário. Um pequeno grupo de tecelões,não tendo conseguido dos patrões o que consideravajusto, reuniu-se para encontrar uma maneira de me-lhorar sua precária situação econômica.

Depois de muita discussão, o grupo de trabalhado-res resolveu criar os próprios meios de ação, medianteauxílio mútuo, concretizado por um armazém coope-rativo, para cuja abertura foi elaborado um projeto eas bases da sociedade, o qual recebeu o nome de“Rochdale Society of Equitable Pioneers” (Sociedadedos Probos Pioneiros de Rochdale). Durante um ano,28 tecelões economizaram para conseguir o capital queseria aplicado socialmente. E em 21 de dezembro de1844, em Rochdale, inaugura-se o armazém coopera-tivo, com capital de 28 libras.1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

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O estatuto da Sociedade dos Probos Pioneiros deRochdale continha princípios a respeito da estrutura edo funcionamento da cooperativa de consumo. Com-pletados dez anos, passaram a constituir os fundamen-tos da cooperativa de consumo.

A ética e a organização de trabalho proposta pelostecelões ingleses somaram-se a outras idéias progres-sistas e humanistas. Em 1886, durante o II Congressodas Cooperativas de Consumo, realizado em Lyon, naFrança, houve a aprovação, junto aos participantes(associados, trabalhadores, professores e estudantes)das “doze virtudes” da doutrina cooperativista, asquais, por sua atualidade, merecem ser conhecidas(FLORÃO, 1995).

- Viver melhor, através da solução coletiva dosproblemas;

- Pagar a dinheiro: este sadio hábito evita oendividamento que gera a dependência;

- Poupar sem sofrimento: a satisfação das ne-cessidades dos cooperantes deve serprioritária. Isso é importante para a definiçãodo que pode ser feito com as sobras;

- Suprimir os parasitas: afastar osatravessadores na compra e na venda de pro-dutos e serviços;

- Combater o alcoolismo: viver de maneira sa-dia, evitando os vícios e enfrentando a reali-dade com coragem;

- Integrar as mulheres às questões sociais, res-saltando a importância da participação femi-nina;

- Educar economicamente o povo: a educaçãoé uma ferramenta para o desenvolvimento dohomem;

- Facilitar a todos o acesso à propriedade: é es-sencial unir esforços para conquistar os mei-os de produção;

- Reconstituir uma propriedade coletiva para teracesso à propriedade; o passo inicial é inves-tir em um patrimônio coletivo;

- Estabelecer o justo preço: o trabalho tem deser remunerado, e os preços definidos semintenções especuladoras;

- Eliminar o lucro capitalista: o objetivo da pro-dução é a satisfação das necessidades huma-nas;

- Abolir os conflitos: as disputas diminuem pelofato de que o associado é dono e usuário dacooperativa.

Percebe-se que, já na constituição da cooperativade Rochdale, em 1844, seus pioneiros estabeleceramprincípios básicos criados na forma de metas a serembuscadas. Esses princípios acabaram sendo definidos

como “Princípios do Cooperativismo”, orientandoa prática em todo o mundo. Após sucessivos congres-sos da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), osprincípios originais foram reformulados e aperfeiçoa-dos, tendo sido revisados, pela última vez, em 1995.Atualmente, de acordo com a ACI, o sistemacooperativista apregoa os seguintes princípios:

- Adesão voluntária e livreAs cooperativas são organizações abertas à parti-

cipação de todos, independentemente de sexo, raça,classe social, opção política ou religiosa. Para par-ticipar, a pessoa deve conhecer e decidir se tem condi-ções de cumprir os acordos estabelecidos pela maioria.

- Gestão democráticaOs cooperados, reunidos em assembléia, discutem

e votam os objetivos e metas do trabalho conjunto,bem como elegem os representantes que irão adminis-trar a sociedade. Cada associado representa um voto,não importando se alguns detenham mais cotas do queoutros.

- Participação econômica dos membrosTodos contribuem igualmente para formação do

capital da cooperativa, o qual é controlado democrati-camente. Se a cooperativa é bem administrada e ob-tém uma receita maior que as despesas, esses rendi-mentos serão divididos entre sócios até o limite dovalor da contribuição de cada um. O restante poderáser destinado para investimento na própria cooperati-va ou para outras aplicações, sempre de acordo com adecisão tomada na assembléia.

- Autonomia e independênciaAs cooperativas são organizações autônomas, con-

troladas pelos seus membros. Se firmarem acordos comoutras organizações, incluindo instituições públicas,ou recorrerem ao capital externo, devem fazê-lo emcondições que assegurem o controle democrático pe-los membros e mantenham a autonomia das coopera-tivas.

- Educação, formação e informaçãoAs cooperativas promovem a educação e a forma-

ção do seu quadro social e dos trabalhadores de formaque estes possam contribuir para o desenvolvimentotécnico, gerencial, cultural e econômico. É objetivopermanente da cooperativa destinar ações e recursospara formar seus associados, capacitando-os para aprática cooperativista e para o uso de equipamentos etécnicas do processo administrativo e gerencial.

- Interesse pela comunidadeAs cooperativas trabalham para o bem-estar das

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suas comunidades, através de políticas aprovadas pe-los membros, além da execução de programas sócio-culturais, que podem ser realizados em parceria comas iniciativas pública e privada.

Muito se fala em cooperativismo, cooperação, masgeralmente fica a indagação sobre seu real significa-do: Essas palavras seriam sinônimas uma da outra, oupossuem significados diferentes?

Etimologicamente, cooperação vem do verbo la-tim Cooperari, de Cum e oprerari, que significa ope-rar juntamente com alguém; representa a prestação deauxílio para um fim comum. Do ponto de vista socio-lógico, cooperação é uma forma de integração formalsocial e pode ser entendida como ação conjugada emque pessoas se unem, de forma formal ou informal-mente, para alcançar o mesmo objetivo (PINHO,1980). Cooperativismo é um sistema que visa à reno-vação social através da cooperação.

Pinho (1977) define o cooperativismo como ummovimento que tem por objetivo a promoção de umsistema de produção, repartição e consumo, fundamen-tado na dupla qualidade de associado-usuário-empre-gado.

Para conceituar cooperativismo, Padilha (1966, p.132) relata o tema no sentido de uma doutrina:

...econômica, que tem em si a possibilidade deconsagrar os princípios fundamentais da liberdadehumana, intervém na ordem econômica, em defesa dointeresse de agrupamentos organizados, para propor-cionar a cada um de seus participantes o melhor resul-tado de sua atividade econômica pessoal.

Este trabalho parte da compreensão docooperativismo como uma forma pela qual os traba-lhadores podem exercer a cooperação sócio-econômica, visando ao bem-estar comum, já que, nomundo capitalista atual, torna-se mais difícil uma as-sociação democrática, porque o individualismo é cadavez mais crescente, e o sistema cooperativista vemdespertando o interesse maior dos trabalhadores comoum caminho a ser seguido.

Schneider (1994), citado por O’Lucena (2000),explica que a visão cooperativista constituída comodoutrina se fundamenta nos valores da solidariedade eda igualdade. Contudo, a doutrina cooperativista de-veria unicamente servir de parâmetro para a orienta-ção do que deve ser realizado para que uma organiza-ção possa ser chamada de cooperativa, e nunca, comoalgo que deve ser seguido impositivamente.

2.1 O sistema de cooperativismo no Brasil

As raízes do cooperativismo no Brasil surgiram nofinal do Século XIX, em um momento de transforma-ções, com a Proclamação da República, com a entra-da, no Brasil, das idéias de grandes pensadores mun-

diais e a busca de solução para as sérias questões soci-ais da época. Esses pensamentos foram trazidos atra-vés dos imigrantes europeus que, para não permane-cerem isolados economicamente nem socialmente,trouxeram as experiências vividas do cooperativismopara sua região.

Ainda que haja divergências a respeito, o que setem de mais provável é que as primeiras cooperativasfundadas no Brasil foram as de consumo dos funcio-nários públicos de Ouro Preto/MG, em 1889, a de con-sumo dos funcionários da Companhia Telefônica deLimeira/SP, em 1891, e a de consumo dos militares,no Rio de Janeiro /RJ, em 1894. Em seguida, surgiu acooperativa de crédito de Nova Petrópolis /RS, em1902, e a de produção agropecuária, no Rio Grandedo Sul / RS, em 1906.

No Brasil, pode-se dizer que existem duas faces docooperativismo: a horizontal e a vertical. Na fase ho-rizontal, as cooperativas são desarticuladas entre si etêm pouca influência do estado; na fase vertical, háuma maior intervenção do Estado, e as cooperativasestão organizadas em graus hierárquicos, ou seja, ascooperativas singulares estão ligadas às Federações,que estão ligadas às Confederações.

O Sistema Brasileiro do Cooperativismo é orienta-do pela Lei Nº 5.764/71, que permite a vinte ou maispessoas físicas constituírem uma cooperativa singularem qualquer ramo de atividade humana, sendo consi-derada como uma cooperativa de primeiro grau.

Três ou mais cooperativas singulares podem for-mar uma central ou federação e cooperativas, consi-deradas de segundo grau. Três ou mais centrais ou fe-derações podem constituir uma confederação, consi-derada de terceiro grau.

Todas as cooperativas singulares, centrais ou fede-rações e confederações têm direito a um voto na elei-ção dos conselhos da Organização das Cooperativasdo Estado (OCE) no qual se localizam. Cada OCEparticipa, com um voto, das eleições da Organizaçãodas Cooperativas Brasileiras (OCB).

Cabe destacar a importância das entidades que com-põem a representação do sistema cooperativista, daseguinte forma:

- Aliança Cooperativa Internacional (ACI)As cooperativas estão organizadas internacionalmen-te, e a entidade que coordena o movimento é a ACI,sediada em Genebra, Suíça. Essa associação não go-vernamental e independente congrega, representa epresta apoio às cooperativas e suas organizações (OCBe OCE’S) e tem como objetivo a integração, a autono-mia e o desenvolvimento do cooperativismo.

- Organização das Cooperativas das Américas(OCA): No âmbito do continente americano,

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essa articulação é feita pela OCA, com sedeem Bogotá, Colômbia, e integra as represen-tações de vinte países.

- Organização das Cooperativas Brasileiras(OCB): Sociedade Civil, responsável pelaintegração e representação de todas as coope-rativas existentes no Brasil.

- Organização das Cooperativas do Estado(OCE): Em cada Estado, o DF conta com umaOCE, que é responsável pelo cooperativismona sua área de ação. As OCEs integram a OCB.

- Departamento de Cooperativismo(DENACOOP): É o órgão federal, ligado àSecretaria de Desenvolvimento Rural, ao Mi-nistério da Agricultura, através do qual o Go-verno federal apóia o sistema CooperativistaBrasileiro.

Conforme o quadro 1, existem 27 (vinte e sete)representações das organizações das cooperativas doEstado e estão vinculadas à organização das coopera-tivas do Brasil, fazendo com que estas sejam repre-sentadas em nível internacional na OCI.

Quadro 1: Representação do sistemacooperativista

FONTE: elaborado a partir da OCB -2003

No Brasil, de acordo com a OCB, existem cer-ca de 7.000 cooperativas, administradas para aproxi-madamente quatro milhões de cooperados, formadasem função de diversas necessidades e com atuação emdiferentes campos da atividade humana, dentre os quaisdestacam-se: o agropecuário, o consumo, o crédito, oeducacional, o especial, o habitacional, a infra-estru-tura, o mineral, a produção, a saúde, o trabalho, o tu-rismo e o lazer.

Como se pode constatar no quadro 2, o ramoque possui mais cooperativas em atuação no Brasil é ode Trabalho, com 2. 024 ( duas mil e vinte e quatro)cooperativas e 311.856 (trezentos e onze mil,oitocentos e cinqüenta e seis) cooperados. O segundoramo mais evidenciado está na área agropecuária, com1.519 cooperativas espalhadas pelo território brasileiro,contendo em seu quadro de associados 940.482. No

entanto, mesmo se percebendo a existência de maiscooperativas de Trabalho, em relação à CooperativaAgropecuária, é visto que há uma diferença deaproximadamente 500.000 cooperados entre os dois ramos,contribuindo, então, para que as cooperativas agrícolassejam as que mais detenham associados. Em contrapartida,no turismo e no lazer, de acordo com a OCB, há menoscooperados e cooperativas em todo o Brasil.

Quadro 2: Cooperativas por ramosde atuação no Brasil

FONTE: OCB - Posição em dezembro de 2003

Como se pode constatar no quadro 2, o ramo quepossui mais cooperativas em atuação no Brasil é o deTrabalho, com 2. 024 ( duas mil e vinte e quatro) coo-perativas e 311.856 (trezentos e onze mil, oitocentos ecinqüenta e seis) cooperados. O segundo ramo maisevidenciado está na área agropecuária, com 1.519 co-operativas espalhadas pelo território brasileiro, con-tendo em seu quadro de associados 940.482. No en-tanto, mesmo se percebendo a existência de mais coo-perativas de Trabalho, em relação à CooperativaAgropecuária, é visto que há uma diferença de aproxi-madamente 500.000 cooperados entre os dois ramos,contribuindo, então, para que as cooperativas agríco-las sejam as que mais detenham associados. Emcontrapartida, no turismo e no lazer, de acordo com a OCB,há menos cooperados e cooperativas em todo o Brasil.

2.2 Relevância do cooperativismo na região eno Estado

De acordo com dados fornecidos pela OCB (2003),na quantidade de cooperativas e cooperados existen-tes por região, consta que o Sudeste e o Nordeste pos-suem mais cooperativas, enquanto a região Sul e aSudeste são as que mais têm cooperados. O quadro 3mostra a dicotomia desse cenário.

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Quadro 3: Cooperativas e cooperados por região

FONTE: OCB – Posição em dezembro de 2003

De acordo com o quadro 4, verifica-se que os Esta-dos onde existem mais cooperativas são: Rio Grandedo Sul (747), Minas Gerais ( 805) , São Paulo (1. 000)e Rio de Janeiro(1.201). O Estado do Tocantins, com31 cooperativas, e Roraima, com 28, estão com o maisbaixo índice do Brasil.

Quadro 4: Cooperativas por Estados

No que se refere aos cooperados, por região, osdois maiores Estados a possuírem maior número deassociados são: São Paulo, com 2.271.147, e o Estadodo Rio Grande do Sul, com 713.950, desfazendo-se,assim, a mística de que, havendo mais cooperativas,

haverá mais associados, pois o Rio de Janeiro possuicerca de 454 cooperativas a mais do que o Estado doRio Grande do Sul, e este possui, em comparação aoRio de Janeiro, mais de 500.000 cooperados por todoo seu território.Na Paraíba, a primeira cooperativa foi fundada em1923, em Bananeiras, no ramo de Crédito; depois dedez anos (1932), foi criada, em Pilar, outra cooperati-va, com incentivo do Estado e do Decreto – Lei de1932, que garantia a sua legitimidade. Com o passardas décadas e a disseminação da ideologiacooperativista, observou-se o crescimento das coope-rativas no Estado.

Para a Organização das Cooperativas do Estado daParaíba (OCEPB), a cooperativa é “uma sociedade depessoas, de natureza civil, unidas pela cooperação eajuda mútua, gerida de forma democrática eparticipativa, com objetivos econômicos e sociais co-muns e cujos aspectos legais e doutrinários são distin-tos de outras sociedades” (OCEPB 1993, p. 15), cita-do por O’Lucena, (2000, p. 20).

Em conformidade com o quadro 5, pode-se obser-var o crescente aumento das cooperativas em todos osramos, entre os anos de 1988 a 2002, que passou de111 para 153, um aumento de 42 cooperativas. Tam-bém é possível se destacar o aumento das cooperati-vas de Crédito, Saúde, Trabalho, Transporte e Produ-ção.

Quadro 5: Cooperativas existentes na Paraíba

FONTE: Dados fornecidos pela OCE-Pb (2002).

No ano de 2002, das 153 cooperativas catalogadasno Estado da Paraíba, 60 eram agrícolas. Desse total,18 encontram-se paralisadas (30%) e, em funcionamen-to, há 42 (70%) das cooperativas. Como se observa, éum índice alto de cooperativas agrícolas paralisadas noEstado, conforme o quadro 6. No entanto, cabe desta-car o papel que representa essa atividade para o equilí-brio da receita no Estado e para a geração de emprego(70% de cooperativas em pleno funcionamento).

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Quadro 6: Situação das cooperativas agropecuáriasna Paraíba em 2002

FONTE: Dados fornecidos pela OCE-Pb (2002)

Acredita-se que, mesmo as cooperativas não apre-sentando um saldo positivo, ainda continuam receben-do ajuda financeira e técnica dos organismos gover-namentais e não – governamentais.Na Paraíba, a cooperativa é um modelo de organiza-ção incentivada por programas políticos de desenvol-vimento do campo, e a ideologia e os princípioscooperativistas é que fazem com que esse modelo sejatão propagado como uma alternativa para o desenvol-vimento, embora, no dia-a-dia, na maioria dos casos,esses princípios não sejam colocados em prática.

Percebe-se que existe um forte interesse na manu-tenção do cooperativismo como solução alternativa deemprego e renda. É nesse sentido que entra a impor-tante colaboração das incubadoras de empresas.

3. conclusão

Pelo exposto, pode-se concluir que a ineficiênciado modelo cooperativista não é um problema de or-dem econômica, mas estrutural, portanto o fato, dereceber recursos financeiros para se reerguer não temsido de muita utilidade para sua manutenção de formasatisfatória.

Porém, existem alguns fatores que afetam o desem-penho e a permanência das cooperativas no mercadoglobalizado e competitivo. Dentro desta realidade, ocomprometimento dos associados e a participação dosmesmos nas atividades com a cooperativa é um fatordecisivo para que ela possa obter melhores resulta-dos, alcançando os seus objetivos.

O Cooperativismo demonstra que há umestreitamento na dimensão social e econômica da vidaem comunidade, e que é possível gerar desenvolvi-mento econômico sem exclusão, desemprego, concen-tração de renda e fome.

Na Paraíba, a cooperativa é um modelo de organi-zação incentivada por programas políticos de desen-volvimento, e é a ideologia, juntamente com os prin-cípios cooperativistas que fazem com que este mode-lo seja tão propagado como uma alternativa para odesenvolvimento, embora que, no dia-a-dia, na maio-ria dos casos, estes princípios não sejam colocadosem prática.

4. Referências

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Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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Auto-avaliação Institucional Orientada à Melhoriada Ação Educacional: o caso do CEFET-RN

Dante Henrique Moura 1

CEFET -RNE-mail: [email protected]

Resumo: Nas instituições educacionais brasileiras, e particularmente nas de educação profissional - EP,ainda não se consolidou a cultura da avaliação institucional. Além disso, as experiências em curso tendem aprivilegiar a busca por resultados em detrimento da análise dos processos internos e da função que essasinstituições desempenham na sociedade. Assim, o artigo tem o objetivo de relatar uma pesquisa realizada noCEFET-RN voltada para a sua auto-avaliação. Dentre as conclusões, destaca-se a constatação de que oCEFET-RN, após a reforma da EP, vem perdendo sua identidade como excelente agência formadora de técni-cos de nível médio e ainda não conseguiu criar a nova imagem pretendida: a de um centro universitáriotecnológico que além da formar técnicos de nível médio, atua nos cursos superiores de tecnologia e desenvol-ve pesquisa aplicada e atividades de extensão.

Palavras Chave: educação profissional; auto-avaliação; responsabilidade social

1. Introdução

Nas instituições educacionais brasileiras e, parti-cularmente nas de educação profissional - EP, aindanão se implantou definitivamente a cultura da avalia-ção institucional. E, ainda mais, as experiências ten-dem a privilegiar a busca obsessiva por resultados emdetrimento da análise mais profunda dos processos eda função que essas instituições desempenham na so-ciedade. Apesar de essa ser uma visão generalizada,neste trabalho nos circunscrevemos apenas à esferapública, mais especificamente, às escolas técnicas eagrotécnicas federais e aos centros federais de educa-ção tecnológica, domínio em que atuamos.

Esse quadro vem se alterando ao longo dos últi-mos anos, principalmente, na educação superior pú-blica, onde o Programa de Avaliação Institucional dasUniversidades Brasileiras - PAIUB, nascido nos anos1993/1994, se encarregou de promover uma discus-são mais profunda sobre avaliação institucional. En-tretanto, não abrangeu a maioria das instituições fede-rais de EP, pois não pertencia à educação superior, fatoque só ocorreu definitivamente a partir do Decreto n0

5.225/2004. Atualmente, no âmbito da educação su-perior, o Sistema Nacional de Avaliação da EducaçãoSuperior – SINAES, aprovado pela Lei n0 10.861/2004,está sendo implantado e também abrange todos osCEFETs.

Com relação ao SINAES ressaltamos que apresenta

algumas mudanças importantes em relação ao PAIUB.Algumas delas apontam na direção da prevalência dedados estatísticos em relação aos aspectos maisqualitativos da avaliação, o quê, em princípio, podesinalizar a intenção política de construir rankings dasIFES via avaliação institucional.

No que tange às ofertas dos cursos técnicos de ní-vel médio, a então Secretaria de Educação Média eTecnológica - SEMTEC tentou implantar o Sistemade Avaliação Institucional – SAI a partir de 1996/1997no âmbito das escolas técnicas, agrotécnicas e CEFETs,entretanto, não obteve êxito, abandonando a idéia porvárias razões - algumas explicadas ao longo deste texto.

Assim sendo, nosso objetivo central é relatar umapesquisa voltada para a auto-avaliação do CEFET-RN2

onde destacaremos a metodologia adotada e as con-clusões alcançadas, assim como as ações que se estãodesencadeando como fruto desse processo. Com isso,objetivamos estimular a discussão nas instituições deEP e demais centros educacionais, sobre esse tema, nabusca da consolidação de uma cultura da avaliaçãovoltada para a melhoria dos processos educacionais e,conseqüentemente, para a ampliação da responsabili-dade social dessas instituições, que têm a função soci-al estreitamente vinculada ao mundo do trabalho, masque não podem submeter suas ações a esse, tendo em

2 MOURA, D. H. La Autoevaluación como Instrumento de Mejora deCalidad: un Estudio de Caso (El Centro Federal de EducaçãoTecnológica do Rio Grande do Norte / CEFET - RN / Brasil). 2003.516 f. Tese (Doutorado em educação) – Faculdade Educação da Universi-dade Complutense de Madrid. Madri, 2003.1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

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vista que ao invés de formarem “trabalhadores quali-ficados” devem buscar a formação integral de cida-dãos críticos, reflexivos, competentes técnicas e poli-ticamente, e comprometidos eticamente com as trans-formações sociais voltadas para a construção de umasociedade mais justa e igualitária.

Para alcançar os objetivos previstos, dividimos otexto em quatro seções. Nesta primeira, esclarecemosseus objetivos e apresentamos as partes que o consti-tuem. Em seguida, discutimos a concepção e o signifi-cado da avaliação institucional nas instituiçõeseducativas e, particularmente, nas de EP. Depois, apre-sentamos o modelo de auto-avaliação contextualizadae contrastada praticado no CEFET-RN e a metodologiaadotada. Na quarta seção, discorremos sobre as prin-cipais conclusões alcançadas, além de discutirmos ospróximos passos a serem seguidos.

2. Concepção e significado da avaliação de umainstituição de EP

Avaliação interna, externa, auto-avaliação eheteroavaliação.

O termo avaliação externa está associado a proces-sos que ocorrem a partir de um patrocinador externo,geralmente alguma instância governamental com oobjetivo de alterar a imagem, construir rankings outomar decisões, entre outras possibilidades, sobre: pro-gramas sociais; uma instituição específica; ou um con-junto delas (SOBRINHO, 1995; SIMONS, 1999; en-tre outros). No âmbito das instituições públicas de EP,um caso típico e já mencionado foi o SAI - Sistema deAvaliação Institucional, o qual foi desativado, entreoutros aspectos, porque foi concebido de forma queos agentes internos de cada instituição objeto de ava-liação tinham o exclusivo papel de prestar informa-ções à SEMTEC/MEC, a qual era responsável peloprocessamento, análise e decisões sobre a rede e cadainstituição avaliada.

Diante dessa realidade o sistema foi amplamenterejeitado por não fazer sentido para as instituições jáque no lugar de estar orientado à melhoria delas, tinhaimplícito um caráter de punição/premiação, pois visa-va à construção de rankings e, em conseqüência, adefinição da matriz orçamentária da rede.

Afortunadamente, o SAI não teve vida longa, maso saldo foi muito negativo. Em primeiro lugar porqueos gastos públicos realizados com equipamentos emgeral e computadores e periféricos de informática emparticular, além de horas de consultoria, passagensaéreas e diárias foram muito elevados. Some-se a issoa própria energia perdida pelas instituições na tentati-va de implantá-lo ou ao na busca de estratégias paranão atender ao que ele preceituava. Em segundo lu-gar, porque ao invés de contribuir para a criação de

uma cultura avaliativa na rede, acabou produzindo oefeito contrário, afastando ainda mais as instituiçõesda avaliação institucional.

Por outro lado, os processos de avaliação interna,normalmente, são de iniciativa da própria organiza-ção e perseguem outras finalidades, como a detecçãode pontos fortes e debilidades dos processos e dos pro-gramas institucionais com o fim de aperfeiçoá-los.Neste caso, uma das possibilidades é aheteroavaliação interna que é patrocinada por umsetor em direção a outros ou a toda organização, si-tuação em que, geralmente, a iniciativa parte dos ní-veis mais elevados da hierarquia em direção aos demenor status hierárquico.

Outra possibilidade de avaliação interna que surgecomo alternativa democrática e participativa é a auto-avaliação – uma resposta crítica às duas posturas an-teriormente apresentadas. Consiste em desenvolver umprocesso participativo, no qual, a partir de iniciativada própria instituição e de seus distintos atores, de-senvolve-se a avaliação de alguns setores. Evidente-mente, nesses processos, os próprios patrocinadoresse confundem com a audiência/informantes, ou seja,cada unidade administrativa ou acadêmica se auto-avalia. Quando isso se estende ao contextoinstitucional, produz-se a auto-avaliação institucional(SANTOS GUERRA, 1993; RISTOFF, 1995; eSIMONS, 1999).

Infelizmente, esse tipo de avaliação padece de umagrande dificuldade. Trata-se da possibilidade e, maisque isso, a probabilidade do desenvolvimento de pro-cessos endógenos, nos quais se perde a finalidade ori-ginal (melhoria dos processos e programasinstitucionais), convertendo-se numa forma de trans-ferir todas as responsabilidades e culpabilidades rela-tivas às deficiências da instituição aos agentes exter-nos, geralmente às instâncias de governo, no caso dasorganizações públicas (um verdadeiro muro delamentações).

Desse contexto, e como resposta ao anteriormentemencionado, emerge a auto-avaliação contextualizadaà realidade de cada instituição e contrastada por agen-tes externos como linha de pesquisa adotada neste tra-balho (SANTOS GUERRA, 1993; RISTOFF, 1995;SOBRINHO, 1995; DOMÍNGUEZ, 1999; e SIMONS,1999). A contextualização cumpre a função de parti-cularizar o caso, pois é cada coletivo, cada grupo es-pecífico que conhece com mais profundidade sua pró-pria realidade. O contraste com os agentes externostem múltiplas finalidades. Ressaltamos a de evitar osprocessos endógenos aos quais nos referimos previa-mente; a de estabelecer um diálogo social com os seg-mentos sociais implicados na problemática educativa;e a de garantir a qualidade técnica do processo.

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3. A pesquisa auto-evaluativa contextualizada econtrastada do CEFET-RN

O contexto da EP e do CEFET-RN.

Esse contexto é muito desafiador, pois o ritmo dosavanços tecnológicos e transformações sociais nãoparam como fruto da busca desenfreada por produtostecnológicos que “precisam alimentar o mercado parafortalecer a economia”, segundo a apologiahegemônica ao modelo neoliberal de sociedade e àglobalização dos mercados, vigentes em nossos dias3 .Isso implica, para o CEFET-RN e outras instituiçõesde EP, o risco de que os conhecimentos decorrentesdos processos formativos proporcionados pela Insti-tuição possam tornar-se obsoletos em pouco tempo,dependendo de como se concebam e estruturem as dis-tintas ofertas.

Dessa forma, o CEFET-RN precisa organizar seucurrículo, principalmente nos cursos técnicos4 , a par-tir de uma sólida base de conhecimentos científicos etecnológicos próprios da etapa final da educação bási-ca e da respectiva formação profissional, a fim de ga-rantir uma formação que proporcione aos estudantesas condições para uma efetiva participação social,política, cultural e no mundo do trabalho e que, umavez nele, possam enfrentar as mudanças decorrentesde novos avanços tecnológicos.

Outro aspecto fundamental é a obrigaçãoinstitucional de interatuar com o entorno e, em conse-qüência, conhecê-lo profundamente a fim de que maisdo que satisfazer às suas demandas, possa contribuirpara transformações, nesse mesmo entorno, orienta-das aos interesses coletivos inerentes a cada realidadeconcreta, sem perder de vista suas inter-relações como local, o regional e o mundial.

Ainda cabe destacar que o CEFET-RN atravessanos últimos anos um amplo processo de reconversãoem seu campo de atuação. Até 1997, a Instituição sóoferecia, praticamente, cursos técnicos de nível mé-dio. Enquanto isso, na época da coleta de dados(MOURA, 2003) já oferecia, além dos cursos técni-cos, o ensino médio, os níveis básico e tecnológico da

EP5 , além de estar projetando dois cursos de licencia-tura, os quais já foram implantados.

A conceitualização do processo de auto-avaliaçãocontextualizada e contrastada.

Em Moura (2003), assumimos e agora ratificamoso conceito de avaliação de instituições educativas comosendo um processo de investigação auto-avaliativacontextualizada e contrastada, composto por quatrofases inter-relacionadas (inicial, processual, final edemorada). Assim, deve produzir diálogo entre os dis-tintos participantes internos e entre a Instituição e asociedade. Também deve promover a compreensão darealidade educativa em geral e a de um centro em par-ticular. E, finalmente, deve estar orientado à melhoriada qualidade educacional desses centros.

Como o CEFET-RN atua, principalmente, na EP, oque pressupõe uma estreita relação com o mundo dotrabalho, enfatizaremos dois dos aspectos acima men-cionados. A compreensão do termo diálogo social(CABELLO, 1998) e o significado da expressãomelhoria da qualidade educativa de um centroeducativo.

O diálogo social está orientado a envolver os agen-tes internos, trabalhadores, empresários, associaçõescomunitárias e de classe, políticos, ONG, etc. e, tam-bém, campos científicos afins, à educação como a Fi-losofia, a Psicologia, a Sociologia, a Economia e ou-tros envolvidos com a problemática educativa. Evi-dentemente, essa pode ser considerada uma visão utó-pica, mas diante de um problema complexo como o daEP, não podemos procurar respostas que reduzam suasreais dimensões.

À falta desse diálogo, permanecerá a situação atualna qual prevalecem os interesses do ator mais privile-giado – o econômico. Esse diálogo pode ser estabele-cido a partir da abertura dos centros de EP, com oobjetivo de descobrir as reais demandas educativas dasociedade. Esse processo, desenvolvido através de umametodologia participativa (SOBRINHO, 1995;RISTOFF, 1995; DOMÍNGUEZ, 1999; y GAIRÍN,1999) envolverá os docentes e técnicos do centro naproblemática do entorno, ao tempo em que esse se in-corporará à realidade do centro.

Ao combinar o diálogo social com as possibilida-des concretas que têm os docentes e dirigentes de in-fluenciar na concepção educacional praticada em cadainstituição, se contribuirá para a consecução de resul-

3 Em função de não ser o objetivo fundamental do trabalho, nãoaprofundaremos a análise sobre o neoliberalismo. Para isso, sugerimos verANDERSON (1996); FRIGOTTO (1999); e BURBULES e TORRES (2004).4 Durante a coleta de dados e até a conclusão da pesquisa em dezembro de2003, essa era uma situação de difícil solução, já que o Decreto nº 2.208/97impedia a integração entre os currículos do ensino médio/técnico Entretanto,em 2004, a Instituição estudava outras formas de minimizar a separaçãomédio/técnico à medida que acompanhava o trâmite do que seria o Decreton? 5.154/2004. Assim, logo que entrou em vigor esse instrumento legal oCEFET-RN redirecionou suas atividades para a (re)construção do currículointegrado, que já vigora em 2005.

5 O Decreto nº 5.154/2004, entre outros aspectos, alterou a denominaçãodos cursos da EP, os quais passaram a denominar-se: EP técnica de nívelmédio; EP tecnológica de graduação e de pós-graduação; e formação ini-cial e continuada de trabalhadores. Apesar disso, como à época da coletade dados a denominação era distinta, em alguns casos, optamos por man-ter a nomenclatura de então: níveis básico, técnico e tecnológico da EP.

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tados significativos, sendo necessário sair do enfoqueque culpabiliza, exclusivamente, as Reformas e Con-tra-reformas e a seus efeitos: rigidez das normas, ins-tabilidade nas políticas, crise econômica nos investi-mentos educacionais, [...] aos educadores e educado-ras ainda lhes resta o controle de importantes condi-ções internas aos processos educacionais; condiçõessólidas, que repercutem diretamente sobre elementoscomo método, avaliação, conteúdo, qualidade dos pro-cessos e dos resultados [...] (CABELLO, 1998:27).

Para a autora a aproximação e o diálogo com oentorno não implica em deixar que empresários, tra-balhadores ou quaisquer outros atores sociais definama concepção de educação praticada nos centros. Aocontrário, a idéia é que através dele seja possível co-nhecer mais profundamente os pontos de vista e osinteresses do entorno e, então, elaborar propostaseducativas que possam atender às suas necessidadesmais profundas. Isso significa que se pode, e se deve,ir além do atendimento às demandas aparentes e ime-diatas. É necessário antecipar-se a essas demandas eatuar na direção de contribuir para mudanças sociaissignificativas orientadas às necessidades coletivas.

O segundo aspecto que merece maior precisão é aconcepção de melhoria da qualidade educativa de umcentro. Para falar sobre isso é fundamental ter claroque as instituições de EP, principalmente as públicas,e o CEFET-RN em particular, além dos problemascrônicos de financiamento6 , enfrentam outros trêsgrandes desafios.

Um deles está relacionado com as discrepânciasde oportunidades e de níveis e perfis de conhecimen-tos prévios dos distintos grupos destinatários que acor-rem a esses centros. Uma Instituição como o CEFET-RN, por exemplo, atua nos seguintes cursos: ensinomédio; cursos técnicos, integrados ao ensino médio esubseqüentes; cursos superiores de tecnologia; licen-ciaturas; e na formação inicial e continuada de traba-lhadores, de forma que tem alunos de todas as idadese procedência sócio-econômica-educativa e cultural.

O segundo é a demanda do mundo do trabalho porindivíduos cada vez mais qualificados profissional-mente e capazes de gerar soluções e estratégias paraenfrentar para novos problemas; que tenham iniciati-va e sejam criativos, entre outras característicasrequeridas.

Dessa forma, embora a Instituição não oriente seusprocessos educacionais pelas necessidades exclusivasdo mundo do trabalho, não pode perder de vista essadimensão sob pena de tornar-se disfuncional e,

portanto, dispensável para a sociedade.O terceiro repto é a responsabilidade social com os

egressos e a sociedade em geral, representada tantopela capacidade de (re)inserção sociolaboral de longaduração proporcionada pelas ofertas, como pela capa-cidade desenvolvida pelos egressos no sentido de atuarcomo agentes promotores de mudanças sociais embenefício dos interesses sociais e coletivos.

Diante do exposto, assumimos neste trabalho queorientar a auto-avaliação à melhoria da qualidadeeducativa do CEFET-RN é o mesmo que orientá-la aoenfrentamento a esses desafios.

As dimensões da investigação auto-avaliativa.

Ao começar um processo avaliativo devemos ela-borar e responder um conjunto de perguntas relacio-nadas com as dimensões ou elementos da avaliação.Embora não haja consenso sobre essas perguntas-cha-ve, as diferenças não são significativas(DOMÍNGUEZ, 1999; SOBRINHO, 1995; RISTOFF,1995, entre outros). Em geral, podemos considerar asseguintes perguntas prévias: A quem avaliar? Paraquem avaliar? O quê avaliar? Como avaliar? Quemdeve avaliar? Com que se vai avaliar? Quando avali-ar? Para que avaliar?

Elaborar e respondê-las resulta em optar por umadeterminada concepção de avaliação, ou seja, signifi-ca planejá-la. Isso demanda a tomada de decisões so-bre metodologias, técnicas e instrumentos e a opçãopor una política de avaliação, a qual pode ser dirigidaà verificação de resultados ou à qualidade formal epolítica dos processos. Também significa, persuadir-se por processos que privilegiem o aumento de opor-tunidades educativas públicas, gratuitas e de boa qua-lidade aos grupos menos favorecidos, ou incrementara eficácia daquelas destinadas aos já incluídos, entreoutras. Em seguida, apresentamos as escolhas destetrabalho (Tabela 1).

6 Não nos aprofundaremos sobre o tema financiamento, por não ser objetocentral neste momento. Entretanto, esse é um dos maiores desafios para aas áreas sociais do país e, em conseqüência para a EP. Por outro lado, ofinanciamento do CEFET-RN está bastante discutido em Moura (2003).

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Pergunta Dimensão RespostasO quê? Objeto Contexto, objetivos, planos,

estruturas, processos deformação, processos de

gestão, etc.A quem? Pessoal Alunos, professores, equipe

dirigente, sistema relacional,etc..

Paraquem?

Patrocinador A equipe de direção, osalunos, os professores e a

comunidade.Como? Metodologia Mista: quantitativa e

qualitativa, com predomínioqualitativo

Estudo de casoCom que? Técnicas e

InstrumentosEntrevistas semi-

estruturadas, questionários eanálise documental

Quem? Audiência A equipe de direção,professores, técnico-

administrativos, alunos eagentes externos

(Auto-avaliação contrastadae contextualizada).

Quando? Momento ouFase

Inicial, processual, final edemorada.

Para que? Finalidade Inovação e mudançaorientadas à melhoria daqualidade educativa do

Centro.

Tabela 1 - Dimensões da avaliação

Fonte: Moura (2003), a partir de Domínguez (1999)

Sobre a Tabela 1 esclarecemos que, relativamenteà primeira pergunta, as respostas apresentadas aindaprecisam ser desdobradas, ou seja, temos que definircategorias (ou critérios)7 relacionados com contexto,objetivos, planos e/ou outros elementos relacionadoscom o objeto de avaliação. Oportunamente apresenta-remos a estratégia utilizada para definir tais categorias.

O planejamento da investigação de campo.

A noção de investigação avaliativa orientada àmelhoria da qualidade educativa de instituições edu-cacionais permite-nos projetar dois processos que ocor-rem ao mesmo tempo (DOMÍNGUEZ, 1999): a pró-pria pesquisa auto-avaliativa e o desenvolvimento doplano de gestão. São dois processos inter-relaciona-dos que constituem um macro-processo (Figura 1).Algo importante a ressaltar nessa Figura é o caráterinfinito inerente aos planos de gestão e de avaliaçãoinstitucional, representado pela espiral que se repeteindefinidamente.

7 Utilizaremos ao longo do texto o termo categoria

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20 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Figura 1 – Pesquisa auto-avaliativae plano institucional de gestão

2. Elaboração doprograma deintervenção

1. Avaliação inicialdiagnóstica: estado daquestão sobre o centro(critérios e indicadores)

Inovação e mudança orientada à melhoria daqualidade educativa

Inovação doplano degestão

Processo doPlano estratégico

de gestão

Processo de pesquisaavaliativa

3. Aplicação

6. Avaliação doimpacto daformação

4. Avaliação processualformativa.

5. Avaliação somativade contraste.

Fonte: Moura (2003), a partir de Domínguez (1999)

Para concluir o planejamento da auto-avaliaçãofalta-nos definir os critérios relacionados com o quêavaliar. Na busca dessas respostas analisamos(MOURA, 2003) distintos modelos de avaliação decentros educativos (SANTOS GUERRA, 1995; SO-BRINHO, 1995 e 2000; RISTOFF, 1995;DOMÍNGUEZ, 1999; e GAIRÍN, 1999) e constata-mos que, independentemente das questõesepistemológicas de cada um, existe um fio condutorrelacionado com o objeto da investigação.

Os modelos visitados consideram os elementos di-nâmicos da instituição, como os processos de relaçãocom o entorno, de gestão, de formação e de avaliação.Naturalmente, cada um pode atribuir mais ou menosimportância a uns ou outros aspectos, além de distin-tas denominações, mas esses elementos estão semprepresentes. Além disso, temos que considerar os ele-mentos estruturais comuns a todas as organizaçõescomo o contexto onde estão localizadas, objetivos eplanos, estruturas, sistema relacional e o conhecimen-to que produz e transmite (MOURA, 2003).

Assim, a combinação entre os elementos estrutu-rais e dinâmicos em um sistema de coordenadas (Ta-bela 2) resulta numa boa referência para orientar aconstrução de categorias relativas ao que avaliar.

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21PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

CategoriasTabela 2 - Possíveis esferas de investigação do funcionamento e desenvolvimento de uma instituição educativa

Fonte: Moura (2003), a partir de Domínguez (1999)

Utilizando a Tabela 2 como roteiro e fazendo umaprofunda reflexão e estudos de documentosinstitucionais, construímos as categorias que orienta-ram o processo de auto-avaliação.

Para isso, cruzamos cada elemento estrutural comtodos os elementos dinâmicos, produzindo as catego-rias da auto-avaliação, ou seja, definindo o quê avali-aríamos.

Essas categorias não foram totalmente construídaspreviamente à investigação de campo. Na verdade,após a primeira varredura na Tabela 2, identificamoscerca de 80 categorias e com elas partimos para o cam-po. Durante o processo teórico-prático de confrontodas categorias planejadas com os dados reais emer-gentes do processo investigativo, as categorias inici-ais foram sendo alteradas através de um processointerativo. Em seguida, apresentamos o conjunto fi-nal de categorias, geradas a partir da Tabela 2.

• Aspectos contextuais e características versus Pro-cessos de relação com o entorno:

1) Demanda do entorno pelas ofertas educacio-nais; 2) Imagem institucional; 3) Estudos do mercadode trabalho nas áreas de atuação do CEFET-RN.

• Aspectos contextuais e características versus Pro-cessos Aspectos de gestão:

4) Debilidades resultantes da reforma da EPe do PROEP8 e outras debilidades; 5) Fortalezasresultantes da reforma da EP e do PROEP e ou-tras fortalezas.

• Aspectos contextuais e características versus Pro-cessos de formação:

6) Implicações da reforma da EP e do PROEP so-bre a oferta educacional do CEFET-RN; 7) Gruposdestinatários prioritários.• Aspectos contextuais e características versus Pro-

cessos de avaliação:8) A socialização dos resultados dos processos

institucionais de avaliação; 9) Influência da avaliação

na retro-alimentação da ação dos atores internos e nofuncionamento institucional; 10) Relações entre ava-liação e mudança institucional.

• Objetos e planos versus Processos de relação como entorno:

10) As relações com o entorno e o projetoinstitucional: a influência das transformações sociais,da reforma da EP e do PROEP.

• Objetos e planos versus Processos de gestãoFinanciamento e função social; 13) Elaboração e

acompanhamento do planejamento institucional; 14)Coerência entre os planos e os objetivos; 15) Plano deInformatização.

• Objetos e planos versus Processos de formação:16) Planos de estudos: elaboração e socialização;

17) O ensino médio; 18) O nível básico da EP / CursosSINE; 19) O nível técnico da EP; 20) O níveltecnológico da EP; 21) O uso das TIC na configuraçãoe implementação das ofertas; 22) (Re) inserçãosociolaboral e acompanhamento dos egressos; 23) Pla-no de capacitação e formação dos dirigentes, dos do-centes e técnico-administrativos: elaboração, participa-ção e retorno para a Instituição e para os profissionais.

• Objetos e planos versus Processos de avaliação:24) Plano de avaliação; 25) Avaliação do desen-

volvimento do plano de gestão.

• Estruturas versus Processos de relação com o entorno:26) O Conselho Diretor: constituição e participa-

ção do entorno; 27) a FUNCERN9 : objetivos e rela-ções com o CEFET-RN.

• Estruturas versus Processos de gestão:28) Adequação da estrutura aos objetivos do Cen-

tro; 29) Perfil profissional correspondente aos distin-tos níveis da estrutura; 30) Coordenação entre osórgãos da estrutura.

8 Programa de Expansão da EP 9 Fundação de Apoio ao CEFET-RN

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22 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

• Estruturas versus Processos de formação:31) As gerências educacionais (departamentos aca-

dêmicos): funções e coordenação das atividades comas demais gerências, órgãos de apoio e diretorias; 32)O trabalho dos estudantes; 33) O trabalho docente; 34)O trabalho da equipe pedagógica; 35) As reuniões pe-dagógicas - RP: temas protagonistas; 36) Influênciada estrutura no desenvolvimento de ações multi einterdisciplinares.

• Estruturas versus Processos de avaliação:36) Mecanismos de avaliação e auto-avaliação.

• Sistema relacional versus processos de relação como entorno:

37) Fluxos de comunicação; 39) Conflitoscom o entorno; 40) A cultura de se inter-relacio-nar com o entorno e sua influência no climainstitucional.

• Sistema relacional versus processos de gestão:41) Comunicação entre os órgãos que tomam as

decisões e os que não participam do processo decisório;42) Participação na tomada de decisão e conseqüênci-as dessas; 43) Clima: influência do contexto interno eexterno; 44) Incentivo a uma cultura participativa ecolaborativa.

• Sistema relacional versus processos de formação:45) Inter-relações entre a equipe dirigente, profes-

sores, técnico-administrativos e alunos (valores, res-peito e confiança mútua).

• Sistema relacional versus processos de avaliação:46) Avaliação da interação entre os alunos, profes-

sores, técnico-administrativos e dirigentes; 47) Auto-avaliação dos professores e técnico-administrativossobre sua própria participação profissional no Centro;48) Cultura de avaliação e auto-avaliação.

• Conhecimento versus processos de relação com oentorno:

49) Produção e transferência do conhecimento apartir da interação com o entorno.

• Conhecimento versus processos de gestão:50) Incentivo da gestão às atividades de pesquisa e

extensão.

• Conhecimento versus processos de formação:51) Planos de pesquisa e extensão e de transferên-

cia do conhecimento produzido ao entorno e à socie-dade em geral.

• Conhecimento versus processos de avaliação:52) Avaliação do Impacto da formação na melhoria

da qualidade de vida dos egressos e do entornoinstitucional.

4. A pesquisa de campo: coleta e análise dos dados.

Metodologicamente, optamos por um modelo mis-to, quantitativo e qualitativo, com predomínio quali-tativo (Tabela 2). Adotamos três técnicas de coleta dedados: entrevistas semi-estruturadas; aplicação dequestionários e revisão documental10 (GOETZ yLECOMPTE, 1988; e PÉREZ SERRANO, 1994). Ten-do em vista a opção pelo predomínio qualitativo, asentrevistas se constituíram na principal fonte de infor-mação da pesquisa. Na Figura 2 representamos o per-curso metodológico da investigação.

Na Tabela 3 apresentamos a composição dos 12grupos de informantes previamente definidos e opercentual que os sujeitos de cada um deles represen-ta relativamente ao respectivo universo, tendo comoreferência os dados institucionais de 2001.

10 A consulta a documentos foi utilizada para a coleta e para a análise de dados

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23PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Tabela 3 – Grupos de informantes: composição e percentual sobre cada universo

Fonte: Moura (2003)

Figura 2 – Percurso metodológico do processo de pesquisa auto-avaliativa da funcionamento institucional do CEFET-RN

Fonte: Moura (2003)

11 Na verdade, em uma linguagem mais adequada à esfera educacional, osgerentes são chefes de departamentos acadêmicos ou administrativos.Entretanto, a legislação específica dos CEFETs estabeleceu essa termino-logia esdrúxula ao campo educativo.

Sobre a Tabela 3 explicamos que os dados referen-tes aos técnico-administrativos e alunos do nível bási-co não foram utilizados na análise, pois a participaçãototal deles não alcançou os 10% dos respectivos uni-versos. Isso não gerou problemas, porque a informa-ção proporcionada pelos outros 10 grupos foi sufici-ente para os fins da pesquisa.

Coletados os dados, desenvolvemos vários proces-sos intermediários de interpretação e análise antes derealizar a triangulação entre as contribuições dos dis-tintos grupos. Assim, previamente, transformamos os

dados dos questionários e das entrevistas na visão decada um dos grupos com relação às 52 categorias.

Antes de analisar entrevistas, as transcrevemos, poistodas foram gravadas, mediante autorização dos in-formantes (GOETZ e LECOMPTE, 1988; e SIMONS,1999). Feito isso, efetuamos a primeira ordenaçãotemática - agrupamento das contribuições de cada gru-po com relação às categorias estabelecidas. Em segui-da, procedemos à segunda ordenação temática na qualconstruímos a visão de cada grupo relativamente a cadacategoria. Esse material foi a principal fonte de infor-mações para a triangulação entre os grupos de infor-mantes, o qual foi complementado pelos questionári-os e análise documental.

Grupos de informantes Entrevistados Respondentesdos

questionários

Total desujeitos

Universoinstitucional

% douniverso

Diretores 05 - 05 05 100Gerentes1 08 - 08 08 100Docentes 09 36 45 281 16,01Técnico-administrativos 03 05 08 201 4,00Agentes externos 10 - - - -Outros chefes de hierarquiainferior a dos gerentes

- 09 09 38 23,68

Alunos do ensino médio - 180 180 1.776 10,13Alunos do nível básico da EP - 50 50 12.227 0,41Alunos do nível técnico da - 320 320 3.186 10,04Alunos do nível tecnológico da EP - 55 55 525 10,48

Gerentes11

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Acerca dos dados oriundos dos questionários, oprocedimento foi semelhante ao das entrevistas, demodo que também construímos a visão de cada gruporelativamente às categorias de auto-avaliação.

Depois, realizamos a triangulação, contrastando asvisões de todos os grupos que responderam aos ques-tionários e os entrevistados, além da análise documen-tal. Esta última, utilizada para complementar eaprofundar a análise de algumas categorias cujas con-tribuições provenientes das outras fontes não foramsuficiente para construir um indicador confiável rela-tivo à categoria abordada.

Dessa maneira, a triangulação correspondeu à fasefinal da análise dos dados e funcionou como um ope-rador que transformou a visão dos grupos de infor-mantes, classificadas de acordo com as 52 categorias,em indicadores institucionais, ou seja, a partir de cadacategoria construímos um indicador através datriangulação.

Finalmente, a partir da síntese dos indicadores ela-boramos as conclusões da pesquisa e respectivas pro-postas de melhora (MOURA, 2003).

4. Conclusões

Para os fins deste trabalho resumimos as conclu-sões em três grandes eixos temáticos, apesar de que,ao finalizar a pesquisa, em dezembro de 200312 , ex-traímos muito mais conclusões sobre o CEFET-RN doque as aqui tratadas.

O primeiro eixo diz respeito à postura institucionalfrente às demandas da sociedade e do mundo do tra-balho em particular. Sobre isso, concluímos que a Ins-tituição se conduz mais por reação às ações do entor-no do que em função de um planejamento prévio, ela-borado a partir de seus objetivos, fins e prioridades.Além disso, concluímos que isso ocorre porque oCEFET-RN e seus agentes não compreendem total-mente a sociedade onde estão inseridos, nem sabemutilizar adequadamente os meios disponíveis paramelhorar essas relações por falta de capacitação/deci-são política de fazê-lo. Apesar disso, também apreen-demos que é muito boa a infra-estrutura e que parte dopessoal está capacitado/capacitando-se e motivado pararealizar essa função.

O segundo relaciona-se com a redução do financi-amento público que resulta numa situação problema:a manutenção e, inclusive, a tentativa de ampliar afunção social do CEFRET-RN versus a necessidadede buscar estratégias de complementação orçamentá-ria através da interação com o entorno. Nesta esfera aconclusão fundamental é que o CEFET-RN e o gover-no federal estão de acordo em que a Instituição deve

ampliar a sua interação com o entorno e a sociedadeem geral. Entretanto, para o CEFET-RN essa interaçãodeve estar pautada pela ampliação de sua função soci-al, enquanto para a administração federal o foco deveser o aumento da capacidade institucional deautofinanciamento13 .

O terceiro eixo trata da identidade institucional.Nesse terreno concluímos que a Instituição estava dei-xando de ser referência como excelente escola forma-dora de técnicos de nível médio face à reforma da EPe do PROEP, principalmente, à separação do ensinotécnico/médio estabelecida pelo Decreto n0 2.208/97,além de outros aspectos mencionados nas conclusõesanteriores. Ademais, ainda concluímos que a aspira-ção institucional aponta na direção de consolidar-secomo um centro de referência em EP com perfil e atri-buições bem mais ambiciosas, ou seja, consolidar-se eser reconhecida como um centro que além do ensinotécnico atua na educação superior, através dos cursossuperiores de tecnologia; no nível básico da EP; napesquisa aplicada e na extensão. Apesar desse desejoinstitucional, firme em todos os segmentos internos,os próprios informantes reconheceram que essa novaidentidade não estava sendo criada e que, portanto, asociedade ainda não percebera as mudanças que oCEFET-RN atravessava. Além disso, constatamos algoainda mais preocupante. Parte da própria equipe dedireção, naquele momento, ainda não havia percebidoa profundidade e as implicações das mudanças queestavam em marcha.

Ainda com relação a essa questão, apreendemosque contribuíram para consolidar esse cenário, a redu-ção do financiamento público imposto pela adminis-tração federal em decorrência da aplicação da políticaneoliberal, as dificuldades internas da própria admi-nistração do Centro, e a inadequação do perfil de par-te do pessoal docente e técnico-administrativo frenteàs demandas da nova realidade institucional.

Apesar dessas dificuldades, a pesquisa informa ogrande potencial do CEFET-RN para enfrentar a situ-ação. Os informantes esclarecem que a Instituição con-ta com muitos servidores capacitado/capacitando-separa atuar nessa nova realidade. Que também dispõede infra-estrutura física de qualidade, além de largaexperiência na EP, o que lhe permite avançar em ou-tros níveis desse segmento, através de um planejamentoadequado e sem se afastar da luta pela recomposiçãoorçamentária institucional visando à implantação depolíticas educacionais acordes com as reais necessi-dades da classe trabalhadora.

A partir das conclusões propusemos estratégias paraenfrentar o desafio de construir uma nova identidade

12 A íntegra do trabalho está em disponível em http://www.cefetrn.br/academico/projeto_pedagogico/Projeto_Pedagogico.pdf

13 Neste ponto cabe destacar que chegamos a essa conclusão a partir daanálise de dados que foram coletados entre outubro e dezembro de 2001,portanto durante o governo FHC.

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institucional (MOURA, 2003) visando levar à práticaa idéia do centro federal que oferece o ensino médio14 ,os três níveis da EP e que realiza a pesquisa aplicadavinculada aos processos educacionais, assim comoatividades de extensão, orientada pela noção de itine-rários formativos verticais.

Para materializar essa idéia, sugerimos à direçãodo Centro que iniciasse um processo de construçãocoletiva de um novo projeto político-pedagógico como fim de integrar todas as suas ofertas educacionaisem um conjunto sistêmico, consistente, coerente e in-tencionado de atividades acadêmicas, orientadas,indissociavelmente, as do ensino, pesquisa e exten-são, as quais deveriam ocorrer em um ambiente deconstante interação com o mundo do trabalho e a soci-edade (MOURA, 2003).

Aceita a proposta, começamos uma nova fase doprocesso integrado do plano de gestão e de pesquisaauto-avaliativa do funcionamento do CEFET-RN15 , aqual se desenvolve através de investigação–ação naperspectiva da construção coletiva. Essa fase iniciou-se em 2004 e durante aquele ano as atividades coletivasnos permitiram acordar que a nova identidadeinstitucional contemplaria:

• EP técnica de nível médio nas formas integra-da e subseqüente;

• EP tecnológica de graduação e pós-graduação;• Formação inicial e continuada de trabalhadores;• Formação de professores (Licenciaturas).

Naquele momento todos os planos não foi possívelredimensionar todos planos de cursos das ofertas edu-cacionais acima especificadas, de modo que nos con-centramos nos princípios, fundamentos, concepções ediretrizes gerais para todo o currículo, além dos pla-nos dos novos cursos técnicos de nível médio integra-dos, que voltaram a fazer parte da realidade acadêmi-ca institucional após sete anos em que foram proibi-dos por força da legislação vigente.

Dessa forma, em 2005, estamos construindo os pla-nos dos cursos superiores de tecnologia e das licenci-aturas, de forma que em futuros relatos trataremos dorespectivo processo.

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14 Na verdade, com relação ao ensino médio, a idéia recorrente ao longoda pesquisa (MOURA, 2203) é a de que o CEFET-RN só deveria continu-ar oferecendo esse curso em função da proibição legal de oferecer o técni-co integrados com o ensino médio.15 Nesse ínterim, houve eleições para a direção geral do CEFET-RN e eufui convidado para ocupar a direção de ensino do Centro e, em decorrên-cia disso, coordenar o processo de (re)construção do mesmo projeto polí-tico pedagógico do CEFET-RN.

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26 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

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Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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27PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

GERMINAÇÃO DE ESSÊNCIAS FLORESTAIS EMSUBSTRATOS FERTILIZADOS COM MATÉRIA

ORGÂNICA

Amanda Micheline Amador de LucenaDEAg/CCT/UFPb. Rua Aprígio Veloso, 882 – Bodocongó, Campina Grande - PB

e-mail: [email protected]

Fabiana Xavier CostaDEAg/CCT/UFPb. Rua Aprígio Veloso, 882 – Bodocongó, Campina Grande - PB

e-mail: [email protected].

Humberto SilvaCentro de Ciências Biológicas e da Saúde. Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande -PB

Hugo Orlando Carvallo Guerra1

DEAg/CCT/UFPb. Rua Aprígio Veloso, 882 – Bodocongó, Campina Grande-PBe-mail: [email protected]

Resumo: A utilização da matéria orgânica para germinação e produção de mudas de essências florestais éuma prática corriqueira, entretanto, as fontes e as dosagens adequadas a cada espécie ainda não estãoesclarecidas. Visando dar alguma resposta a essas dúvidas um trabalho foi conduzido sob condições de viveiropara avaliar a germinação de cinco essências florestais (Cássia, Framboyant, Leucena, Sabiá e Tambor)semeadas em substratos constituídos por dois solos de diferentes texturas (solo arenoso e solo argiloso) ediferentes doses de matéria orgânica (esterco de gado, esterco de galinha e esterco de minhoca). Os resulta-dos permitiram concluir que, em geral, a maior germinação foi obtida quando se utilizou o substrato constitu-ído por solo arenoso + esterco de minhoca.

Palavras-chave: Essências florestais, Germinação, Esterco de animais

1. Introdução

Na agricultura moderna, a semente é insumo dosmais importantes e constitui-se no fator primeiro dosucesso ou fracasso da produção, pois ela contém to-das as potencialidades produtivas da planta (Popinigis,1977). A germinação da semente consiste na retoma-da do processo de desenvolvimento do embrião e, con-seqüente, saída da plântula do interior da semente.Numa primeira fase da germinação, a plântula nutre-se de reservas contidas na própria semente; esgotadasestas, a plântula, numa segunda fase já possui pêlosradiculares e parênquima clorofiliano nas folhas po-dendo retirar do solo água e os minerais necessáriosao seu desenvolvimento (Carvalho & Naragawa, 1980).

Os solos naturalmente férteis devem ser os preferi-dos para o semeio das sementes, entretanto, torna-secada vez mais difícil encontrá-los havendo assim anecessidade de fertilizá-los artificialmente. A aduba-

ção orgânica do solo consiste na aplicação de resíduosorgânicos, desde os de constituição mais rica, como oesterco de animais; os de constituição média como ascamas dos estábulos ou cocheiras e resíduos de cultu-ras até os de constituição mais pobre, como as varre-duras, lixos, capins e serragem de madeira (Kiehl,1985). Berton (1999) indica que a minhoca é a maiorprodutora biológica de húmus, transformando toda amatéria orgânica no mais rico adubo existente. Segun-do Malavolta (1981), o esterco de galinha é cinco ve-zes mais rico do que o estrume de gado.

A crescente escassez de produtos florestais estádeterminando uma maior preocupação por parte dosagricultores e cooperativas de produção de lenha, car-vão, moirões, madeira, com o reflorestamento de áre-as ecologicamente depredadas. Em função disso, tem-se observado maior interesse por parte dos agriculto-res e viveiristas em técnicas e manejo adequado desementes. Atualmente, os fertilizantes orgânicos es-tão sendo bastante utilizados pelos viveiristas, não sópor atenderem as necessidades dos vegetais, bem como1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

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por serem de baixo custo e, sobretudo, por não serempoluentes e, assim, contribuir para preservação do meioambiente. Com fundamentos normativos cada vez maisconsistentes e com a adoção pela sociedade dos prin-cípios da sustentabilidade ambiental em suas práticasagrícolas, contribui-se para formação das bases neces-sárias que o Brasil necessita para desenvolver umaagricultura mais econômica, conservar seusecossistemas naturais, elevar a qualidade dos vegetais,bem como a qualidade de vida da população (BRA-SIL, 1999). Contudo, a carência de estudos na regiãotem limitado o aumento na produção e qualidade dasmudas, pois estudos que indiquem quais as dosagense as fontes de adubos orgânicos mais adequados paragerminação e adaptação de mudas de essências flores-tais para se obter mudas de alta qualidade técnica emelhor adaptação às condições de cada região, sãopraticamente inexistentes. Baseado nesses fatos é queo presente trabalho tem como objetivo principal ava-liar, sob condições de viveiro, o comportamentogerminativo das 05 essências florestais semeadas emsubstratos com diferentes fontes e doses de matériaorgânica.

2. Materiais e Metodologia

Os testes de germinação normais foram conduzi-dos no Laboratório de Armazenamento eProcessamento de Produtos Agrícolas do Departamen-to de Engenharia Agrícola da UFPB em Campina Gran-de – PB, seguindo recomendações técnicas das Re-gras para Análise de Sementes - RAS, (Brasil, 1992).Os testes de germinação, ao nível de campo, foramfeitos nas dependências do viveiro de produção demudas da Prefeitura Municipal de Campina Grande-PB.

Amostras do solo foram coletadas e levadas à Em-presa Brasileira de Pesquisa Agropecuárias (Embrapa-Algodão) em Campina Grande-PB onde foram sub-metidas à análise com respeito a sua granulometria epropriedades químicas. Os solos apresentaram textu-ra arenosa (80,2% de areia) e argilosa (43,0% de argi-la). Os resultados da análise química realizada sãoapresentados na Tabela 1. De acordo com os padrõesda Embrapa/CNPA ambos os solos apresentaram umpH médio podendo ser classificados como solos mo-deradamente ácidos com teores de matéria orgânicabaixos. Todavia, os níveis de cálcio e magnésio no soloarenoso, apresentaram-se em níveis médios; já no soloargiloso o cálcio encontra-se em nível baixo e omagnésio em nível alto. Por sua vez, o potássio, tam-bém, se apresentou num nível baixo (EMATER, 1979).

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As sementes utilizadas no experimento foram aCássia (Cassia siamea), a Framboyant (Dolonix re-gia) a Leucena (Leucaena leucocephala), a sabiá (Mi-mosa caesalpiniafolia) e a Tambor ou Tamboril(Enterolobium cotortosilicum) adquiridas junto ao Ins-tituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), locali-zado na Mata do Amém no Município de Cabedelo-PB. Aqui as sementes estavam armazenadas a uma tem-peratura entre 13 e 17ºC e a uma umidade relativa de60%. As espécies de Cássia, Framboyant; Leucena eTamboril foram coletadas em 1998 e as sementes deSabiá em 1997. O critério de escolha das referidas es-pécies baseou-se no fato das mesmas serem as maisutilizadas no reflorestamento e arborização do Estadoda Paraíba.

As 5 espécies florestais foram semeadas emsubstratos colocados em sacos de polietileno de corpreta com aproximadamente 11 cm de largura e 16 cmde comprimento, perfurados lateralmente para facili-tar a drenagem do excesso de água. As sementes fo-ram colocadas nos sacos, no mesmo dia, nos seus de-vidos tratamentos.

Todos os solos e adubos orgânicos foram adquiri-dos no próprio viveiro em que foi desenvolvida a pes-quisa, exceto o esterco de galinha, o qual foi adquiri-do na Granja são Luiz em Lagoa Seca, município deCampina Grande-PB. Depois de preparados os trata-mentos os substratos foram colocados nos recipientes(sacos) e irrigados antes da realização do semeio domaterial propagativo.

Para quebrar a dormência das sementes e garantira germinação das mesmas, cada uma das espécies, comexceção das sementes de sabiá, foram postas em umrecipiente de alumínio perfurado no seu interior parafacilitar o escoamento da água. Este recipiente perfu-rado foi imerso num caldeirão com água fervendo a100ºC. Tal procedimento foi repetido por três vezes,de modo que entre a ascensão e a imersão do recipien-te na água fervendo, deu-se um intervalo de 3 segun-dos. Na espécie de sabiá todas as sementes foram co-locadas num caldeirão com água a 100ºC, durante 60segundos e, logo após, foram colocadas em uma pe-neira para eliminar o excesso da água. Após a quebra

da dormência, todas as sementes foram submetidas àsecagem. Para isso, foram colocadas em peneiras elevadas à sombra, onde permaneceram durante 06 ho-ras. Após a semeadura, fez-se uma leve irrigação emtodos os tratamentos, deixando o solo próximo de suacapacidade de campo (7,12% no solo arenoso e 23,65%no argiloso).

Todas as espécies utilizadas foram testadas em 14substratos diferentes, de acordo com a tabela 2, cons-tituindo cada um desses um tratamento, repetido 06vezes.

TABELA 1 - Análise química dos solos utilizados como substratos.

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Solo ArenosoSolo ArgilosoSolo Arenoso + esterco de gado na proporção 1:1Solo Arenoso + esterco de gado na proporção 2:1Solo Arenoso + esterco de galinha na proporção 1:1Solo Arenoso + esterco de galinha na proporção 2:1Solo Arenoso + esterco de minhoca na proporção 1:1Solo Arenoso + esterco de minhoca na proporção 2:1Solo Argiloso + esterco de gado na proporção 1:1Solo Argiloso + esterco de gado na proporção 2:1Solo Argiloso + esterco de galinha na proporção 1:1Solo Argiloso + esterco de galinha na proporção 2:1Solo Argiloso + esterco de minhoca na proporção 1:1

1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12.13.14. Solo Argiloso + esterco de minhoca na proporção 2:1

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31PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Observação: Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si

A Tabela 5 mostra os resultados das análisesde variância (ANOVA) relativa a germinação das cin-co espécies florestais utilizadas. Observa-se o efeitosignificativo ao nível de 1% de probabilidade com re-lação à germinação de sementes da referida espéciepara os diferentes substratos estudados.

Os resultados apresentados na Tabela 4,efetivamente, mostram que houve uma grande varia-ção na germinação das sementes de acordo com os tra-tamentos utilizados. Analisando a média geral (médiade todos os tratamentos) para cada espécie, observa-seque, com exceção das espécies Framboyant e Leucena,as essências florestais apresentaram índices de germi-nação inferiores a aqueles obtidos no laboratório e apre-sentados na Tabela 3. Isto pode ser explicado pelo ex-posto por Popinigis (1977) que diz que a germinação épropiciada sob condições de laboratório.

** significativo ao nível de 1% de probabilidade

TABELA 4. Germinação das sementes (%) para as cinco espécies utilizadas.

TABELA 5. - Resumo das análises de variância.

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32 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Análises da Tabela 4 permite observar, também,que com exceção da espécie Tambor, os maiores índi-ces de germinação (percentagem de germinação) fo-ram obtidos nos substratos constituídos unicamentepor solo (tratamentos 1 e 2) e naqueles constituídospor solo mais esterco de gado e de minhoca (trata-mentos 3, 4, 7, 8, 9, 10, 13 e 14). As menores germi-nações foram encontradas sempre que o substrato foiconstituído por esterco de galinha (tratamentos 5, 6,11 e 12) qualquer que tenha sido a proporção solo/esterco utilizada.

A maior germinação observada nos substratos cons-tituídos por solos arenosos (tratamentos 1, 3, 4, 7 e 8)deve-se, provavelmente, a menor dificuldade que aplântula deve ter encontrado para romper a superfí-cie do solo durante o processo de germinação. Comoo solo era periodicamente irrigado, os solos argilososdevem ter criado uma crosta relativamente imperme-ável na superfície, devido à dispersão da argila pelaágua de irrigação. Isso não teria acontecido nos solosarenosos facilitando assim a emergência das plântulas.O aumento da germinação observada quando se adi-cionou esterco de gado ou de minhoca ao substrato,mostra o efeito favorável do adubo orgânico na ger-minação, especialmente do esterco de minhoca. O efei-to favorável do estrumo de minhoca, considerado comoo adubo orgânico mais rico existente já havia sidoconfirmado por vários autores (Kiehel, 1985; Berton,1999).

Por outro lado, embora o estrume de galinha sejaum produto bastante rico e muito utilizado na agricul-tura, a baixa germinação observada quando este adu-bo foi utilizado no substrato, independente da texturado solo, deve-se aparentemente a que a dose aplicadano presente estudo foi muito alta. Na Granja SantaLúcia a proporção utilizada entre solo e esterco degalinha é normalmente de 10: 1. No presente experi-mento utilizou-se uma proporção de 1:1 nos tratamen-tos 5 e 11 e 2:1 nos tratamentos 6 e 12. A continua-ção do presente trabalho, apresentada em outra publi-cação (Lucena e Carvallo, 2003) permitiu observarque o estrume de galinha favoreceu muito mais o de-senvolvimento da plântula que a germinação das se-mentes.

Na espécie Tambor a maior germinação (aproxi-madamente 39%) foi encontrada quando a sementefoi colocada nos substratos constituídos por solo are-noso + esterco de galinha na proporção 1:1 (tratamento5) e por solo argiloso + esterco de minhoca na propor-ção 2:1 (tratamento 14). Observou-se, no entanto, queo tratamento constituído por esterco de galinha so-mente permitiu a germinação 30 dias após o semeio,

originando assim mudas pequenas e de reduzido vi-gor. As mudas no substrato de solo argiloso + estercode minhoca foram mais altas e vigorosas que as obti-das no solo arenoso + esterco de galinha, mostrandoassim novamente o efeito favorável do esterco de mi-nhoca.

4. ConclusõesNas condições em que o estudo foi conduzido pode-

se concluir que:1.- Os maiores percentuais de germinação das se-

mentes no laboratório foram conseguidos pelas espé-cies Tambor (60%), seguida da Leucena (50%) eFramboyant (50%).

2.- Para as essências florestais Framboyant, Cássia,Sabiá e Leucena, os maiores percentuais de germina-ção foram obtidos quando se utilizou no viveiro, osubstrato contendo solo arenoso + esterco de minhoca.

3.-. Embora o substrato composto por solo areno-so + esterco de galinha, propiciou o maior índice degerminação nas sementes do Tambor, as mudas obti-das foram de menor tamanho e vigor.

4.- O substrato constituído com esterco de gali-nha produz nas essências florestais estudadas a me-nor germinação.

5.- A continuação do presente trabalho permitiuobservar que o estrume de galinha favoreceu muitomais o desenvolvimento da plântula que a germinaçãodas sementes.

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RAPÔSO, H. As três adubações. 3º edição, S.I.A –807, Rio de Janeiro, 1967, p.49 - 65.

STEEL, Robert G. D., TORRIE, James H., Principlesand Procedures of Statistics, Mcgraw-Hill BookCompany, INC. 1960.

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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34 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Aplicação de Aulas Baseadas na AprendizagemSignificativa no Ensino de Ciências

Isabelle da Costa Wanderley 1

Marcio Frazão ChavesUniversidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Exatas e da NaturezaDepartamento de Sistemática e Ecologia

Campus I, Cidade Universitária,CEP 58059-900 João Pessoa, Paraíba, Brasil.

Telefone: (83) 3216-7593; E-mail: [email protected]

Resumo: O aprendizado das Ciências Biológicas tem sido objeto de esforço de muitos pesquisadores. A cons-trução de idéias contextualizadas e o aproveitamento dos conhecimentos prévios dos alunos propiciam a com-preensão dos múltiplos conhecimentos que se interpenetram e conformam determinados fenômenos, facilitan-do o processo de ensino-aprendizagem. No trabalho foram aplicadas aulas baseadas na aprendizagem signifi-cativa em turmas de 6ª e 7ª séries do ensino fundamental. O desempenho dos alunos após as aulas foi medidopelo IDA. Todas as turmas apresentaram bons rendimentos e melhoria/adição de conteúdos nos seus conheci-mentos anteriores.

Palavras chave: Ciências, ensino fundamental, construtivismo, aprendizagem significativa.

1. Introdução

Uma grande parte dos documentos atuais so-bre a reforma da educação em ciência, evidenciam queos alunos se tornem competentes na utilização da in-formação para construir novos conhecimentos(BEREITER, 1994, p.22).

O aprendizado das Ciências Biológicas tem sidoobjeto de esforço de muitos pesquisadores. Da décadade 50 até os dias atuais várias correntes marcaram oseu ensino, desde aquelas que controlam o aprendiza-do do aluno eliminando ou introduzindo conhecimen-tos às que objetivam o crescimento do aluno com basena vivência dos conteúdos (KRASILCHIK, 2004, p.16).

A tendência atual, em todos os níveis de ensino, éanalisar a realidade segmentada, sem desenvolver acompreensão dos múltiplos conhecimentos que seinterpenetram e conformam determinados fenômenos.A superação desde tipo de ensino pode ser construídaenvolta a uma perspectiva interdisciplinar e pelacontextualização dos conhecimentos, buscando darsignificado ao conhecimento escolar e incentivar oraciocínio e a capacidade de aprender (BRASIL, 1999,p.47).

Segundo Pereira (2002, p.27), no contexto daaprendizagem significativa, que leva em conta a his-tória dos significados, que o sujeito atribui ao novo

conhecimento, é possível fazer uma ligação dos com-ponentes afetivo-motivacionais aos cognitivo-emo-cionais, ou seja, fazer uma ponte de ligação entre asmotivações e interesses do educando com asatividades teórico-práticas a serem desenvolvidas nasala de aula.

As posturas inerentes às tendências que relevam aconstrução do saber pressupõem o aproveitamento doacervo de idéias dos alunos e o seu envolvimento ematividades que promovam o aprendizado. A aplicaçãoda aprendizagem significativa não implica permane-cer apenas no nível de conhecimento que é dado pelocontexto mais imediato, nem muito menos pelo sensocomum, mas visa a gerar a capacidade de compreen-der e intervir na realidade, numa perspectiva autônomae desalienante (BRASIL, 1999, p.50).

O objetivo maior do trabalho foi realizar atividadesexperimentais, com alunos do ensino de Ciências, afim de introduzir novos conhecimentos biológicos deforma significativa.

2. Metodologia

O trabalho foi realizado em turmas de 6ª (A e B) e7ª (A e B) séries do ensino fundamental de Ciências,em uma escola particular da cidade de João Pessoa.Foram escolhidos os temas “Relações evolutivas entrepeixes, anfíbios e répteis” e “Sistema endócrino”, paraa 6ª e 7ª séries, respectivamente. O primeiro tema servede introdução ao ensino dos animais vertebrados. Já o1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

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35PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

segundo tema foi escolhido devido a sua complexidadee a freqüente dificuldade dos alunos frente a ele. Antesdas aulas, foram realizados pré- testes para averificação do nível de conhecimentos dos alunosacerca dos temas propostos. Em seguida, as aulas foramministradas. Mais adiante, foram aplicados os pós-testes, idênticos aos pré-testes. Na avaliação dos testesforam atribuídas notas de 0 (zero) a 10 (dez). A partirdestas notas, foi calculado o Índice de Aprendizagem(IDA) de cada aluno, o qual é a diferença entre as notasdos pré e pós-testes.

3. Aplicação

6ª série – Relação evolutiva entre peixes, anfíbiose répteis

Foram analisados 45 alunos (21 pertencentes a 6ªA, 24 a 6ª B) através do seguinte teste:

1. Como você diferenciaria peixes, anfíbios e rép-teis? Você observa alguma relação entre esses animais?

2. Em quais desses animais você reconhece o pro-cesso de metamorfose?

3. Por que os anfíbios são animais que dependem daágua?

4. Cite exemplos de peixes, anfíbios e répteis quevocê conhece.

Após responder ao teste, houve uma discussão so-bre as características típicas de cada grupo de animais.Com isso foi elaborado um quadro, seguindo o mode-lo do Quadro (1), no qual foi possível se comparar emo modo de vida e caracteres morfológicos estudados.

Em seguida, foi elaborado um esquema sim-plificado, no qual foi possível visualizarem-se as adap-tações de cada grupo, enquadrando-os no contexto dasaída da água e conquista do ambiente terrestre.

7ª série – O sistema endócrinoForam analisados 35 alunos (17 da 7ª A e 18 da 7ª

B) através do seguinte teste:1. O que você entende por sistema endócrino?2. Como você definiria hormônio?3. Você já ouviu falar em doenças causadas por

problemas na produção de hormônios pelo nosso cor-po? Quais?

4. Como os hormônios agem no nosso organismo?Nesta atividade foi feita uma analogia entre o sis-

tema endócrino e a central telefônica de uma cidade,através da Fig. (1) e do texto Como Amanda se comu-nica?

Quadro 1. Comparação dos caracteres dos grupos estudados

Page 36: Revista Principia N 13

36 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Telefone de casa

Central do bairro

Central da cidade

Satélites!

Fios!

Telefone de Amanda

Figura 1. Esquema utilizado na analogia do sistema de telefonia de uma cidade e o sistema endócrino.

Como Amanda se comunica?“Amanda tem um celular e precisa de falar urgen-

temente com a sua mãe, que está em casa. Para queisso aconteça, Amanda precisa de teclar o número dotelefone da sua casa em seu celular para realizar a cha-mada, então Amanda comanda esta ação. Depois depassar pelos satélites, a ligação de Amanda chega atéa central telefônica geral da cidade onde mora, a par-tir daí, através dos fios, sua ligação chega até a cen-tral telefônica do seu bairro. Os fios, mais uma vez,conduzirão a ligação de Amanda até a sua casa, fa-zendo o seu telefone tocar. Amanda finalmente podefalar com a sua mãe!”

A analogia foi feita comparando o celular deAmanda com o hipotálamo, que faz a ligação do siste-ma nervoso com o sistema endócrino. Os satélites se-riam as fibras nervosas que comandam essa ligação.A central da cidade faria o papel da hipófise, a qual éa glândula mestre do nosso organismo por controlarvárias outras glândulas, que por sua vez estão repre-sentadas pela central do bairro. A “glândula centraldo bairro”, comandada pela hipófise manda mensa-gens para ativar ou desativar a liberação de substânci-as por seu respectivo órgão de ação, este representadopelo telefone da casa de Amanda. Os fios fazem o papeldos vasos sanguíneos, pelos quais são transportadosos mensageiros químicos.

4. Resultados e discussão

Na atividade proposta para a 6ª série foi possívelinserir os alunos num cenário hipotético evolutivo,através dos caracteres estudados durante a aula. Osalunos tiveram a oportunidade de comparar os dife-rentes organismos associados aos seus respectivoshabitats, entendendo um pouco da teoria evolutiva,através das adaptações. Desta forma, o conhecimentodos alunos foi ampliado a uma visão que vai além da

simples morfologia desses animais, podendo assim,ser vista alguma interação entre eles.

Na 7ª série obtivemos um resultado muito interes-sante em cima de um tema visto pela maioria dos alu-nos como “decorativo”. Por utilizarem o sistema detelefonia rotineiramente, houve relativa facilidade nacompreensão do funcionamento do sistema endócrino,sobre o qual os alunos observaram uma interligaçãodas suas unidades (glândulas) através dos fios (siste-ma circulatório).

As Figuras 2 e 3 mostram as médias dos pré e pós-testes da 6ª (A e B) e 7ª (A e B), respectivamente. Pode-se constatar a adição imediata de novos conhecimen-tos aos conhecimentos prévios dos alunos (avaliadosnos pré-testes).

Nas turmas de 6ª série verificamos que as médiasde conhecimento sobre o assunto passaram de 3,64 e4,91, respectivamente nas turmas A e B, para 6,61 e8,03, Figura (2). Na 7ª série as médias cresceram de4,32 e 4,75, respectivamente nas turmas A e B, para7,17 e 8,08, Figura (3).

O Índice de Aprendizagem (IDA) de todas as tur-mas podem ser vistos na Figura (4). O IDA da 6ª sérieA foi de 2,87, enquanto da 6ª B, 3,17, tendo a segundaturma um melhor rendimento nas atividades, com umadiferença de 0,30 pontos. As turmas de 7ª série apre-sentaram o IDA de 2,85 e 3,33 para as turmas A e B,respectivamente. Sendo a diferença entre eles de 0,48pontos, um pouco mais significativa que as diferençasapresentadas pelas turmas de 6ª série.

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37PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

0

2

4

6

8

10

Mpre Mpos

6ª A

6ª B

Figura 2. Médias dos pré (Mpre) e pós-testes(Mpos) das 6ª séries (A e B).

0

2

4

6

8

10

Mpre Mpos

7º A

7º B

Figura 3. Médias dos pré (Mpre) e pós-testes(Mpos) das 7ª séries (A e B)

2,6

2,8

3

3,2

3,4

6ª A 6ª B 7ª A 7ª B

IDA

IDA

Figura 4. Índice de Aprendizagem (IDA) dasturmas avaliadas (6ªA e B; 7ªA e B).

Segundo Soncini e Castilho Jr (1991, p.55), a com-preensão de um conceito se baseia na integração entrea metodologia e a técnica ou atividade empregada paratal fim. Contudo, de acordo com Weissmann (1998,p.32), não há proposta didática inovadora e eventual-mente bem sucedida que possa superar a falta de co-nhecimento do professor. Assim, metodologias criati-vas sozinhas não são poderão ser responsáveis pelamelhoria da aprendizagem.

Os construtivistas indicam abordagens para o es-tímulo da construção de conhecimento no ensino deciências. Dentre eles, a aprendizagem-ensino pode terresultados bastante positivos através do uso dos ma-pas conceituais, segundo Jegede et al. (1990, p.956),Okebukola; Jegede (1988, p.495) e Ruiz-Primo;Shavelson (1996, p.573). A Figura (1) enquadra-se nascaracterísticas chave de um mapa conceitual, uma vez

que apresenta propriedades gráficas que representamconceitos, através das analogias. E comprovadamenteauxiliou os alunos na compreensão das hierarquias dosistema endócrino.

Para Bruner (1961), a capacidade de descobrir algonovo é condição necessária ao ato de aprender. Destaforma, a partir das aulas descritas neste trabalho, pu-demos verificar na prática o entusiasmo dos alunosem conseguirem adaptar a teoria a algo mais palpável,e vivenciar um momento de curiosidade e estímulo àformulação de questionamentos sobre os temas abor-dados.

5. Conclusão

Educar não se limita a repassar informações oumostrar apenas um caminho, que muitas vezes é aque-le que o professor considera “mais correto”. Educar éajudar o sujeito a tomar consciência de si mesmo, dosoutros e da sociedade. O desenvolvimento da constru-ção de significados facilita a aprendizagem, o desen-volvimento pessoal, social e cultural, colabora para umaboa saúde mental, prepara um estado interior fértil efacilita os processos de socialização e comunicação.

6. Referências

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secreta-ria de Educação Média e Tecnológica. ParâmetrosCurriculares Nacionais. Ensino Médio. Parte III -Ciências da Natureza, Matemática e suasTecnologias. 1v. Brasília: MEC/SEMT, 1999.

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BRUNER, J. S. The act of discovery. Harvard Edu-cational Review. v. 31, p. 21-32, 1961.JEGEDE, O. J.; ALAIYEMBOLA, F. F.;OKEBUKOLA, P. A. The effect of concept mappingon student’s anxiety and achievement in biology. Jour-nal of Research in Science Teaching. v. 27, n. 10, p.951-960, 1990.

KRASILCHIK, M. Prática de Ensino em Biologia.4 ed. São Paulo: EDUSP, 2004. 197p.

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PEREIRA, M. L. O ensino de Ciências através doLúdico, uma metodologia experimental. 1.ed. JoãoPessoa: Editora Universitária, 2002. 145p.

Page 38: Revista Principia N 13

38 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

RUIZ-PRIMO, M. A.; SHAVELSON, R. J. Problemsand issues in the use of concept maps in scienceassessment. Journal of Research in ScienceTeaching. v. 33, n. 6, p. 569-600, 1996

SONCINI, M.I. E CASTILHO JR., M. Biologia. 1.ed.SãoPaulo: Cortez Editora, 1991. 179p.

WEISSMANN, H. O que ensinam os professores quan-do ensinam ciências naturais e o que dizem quererensinar. In: Weissmann, H (org) Didática das ciênci-as naturais: contribuições e reflexões. 1.ed. PortoAlegre: Editora Artmed, 1998. 244p.

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de intei-ra responsabilidade dos autores. As opiniões nele emi-tidas não representam, necessariamente, pontos de vistada Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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39PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Estudo Comparativo de Códigos Paralelos em Fortran,C e Java na Análise de uma Antena Monopolo,

Utilizando Técnica Numérica de FDTD

Josivaldo de S. Araújo1

Universidade Federal do Pará (UFPA), DEEC/LANE, CEP: 66075-90, Belém-PA.Universidade da Amazônia (UNAMA), CCEET, CEP: 66060-902, Belém-PA

[email protected]

Carlos Leônidas de S.S. Sobrinho; Rodrigo M. S. Oliveira; Carlos Renato L. FrancêsUniversidade Federal do Pará (UFPA), DEEC/LANE, CEP: 66075-90, Belém-PA.

[email protected], [email protected], [email protected]

Resumo - As técnicas numéricas são ferramentas extremamente poderosas utilizadas na solução de diversosproblemas, pois são capazes de manipular grandes quantidades de dados, com complicadas geometrias, quesão tão comuns na prática de simulações empregadas nas engenharias. Com a computação paralela, os resul-tados podem ser obtidos de forma mais rápida, uma vez que permite executá-las em um pequeno intervalo detempo. Este trabalho realiza um estudo comparativo de códigos paralelos nas linguagens Fortran, C e Javaem um cluster Beowulf com biblioteca MPI utilizando a técnica numérica de FDTD para simular a propaga-ção de ondas eletromagnéticas em 2-D emitidas por uma antena monopolo simples.

Palavras-Chave – Técnicas Numéricas, FDTD, Antena Monopolo Simples, Cluster.

Abstract - Numerical Techniques are powerful tools for solving various problems, because they can handlevery different and complicated structures, which are common in engineering. With the aid of parallel comput-ing, results can be obtained in shorter periods. This work analyzes the performance of FDTD software writtenin C, FORTRAN and Java and ran in a Beowulf cluster with MPI. The numerical technique FDTD was used tosimulate the electromagnetic scattering in 2-D. The wave is transmitted by a simple monopole antenna.

Keywords – Numerical Technical, FDTD, Simple Monopole Antenna, Cluster.

1. Introdução

Muitos cientistas e engenheiros utilizam diversastécnicas para solucionar problemas contínuos ou decampo. Estas técnicas podem ser experimentais, ana-líticas ou numéricas [1].

As experimentais são caras, consomem tempo, àsvezes são perigosas e geralmente não possuem muitaflexibilidade na variação de parâmetros. As analíticaspodem ser utilizadas por somente uma limitada classede problemas, pois muitas situações reais resultam emsistemas não-lineares e envolvem complexas formas eprocessos. Já as numéricas são simplificações analíti-cas, pois funções de métodos numéricos podem redu-zir uma expressão matemática mais elevada às opera-ções aritméticas mais básicas.

Na década de 40, com os computadores digitaisveio a explosão no uso e desenvolvimento de técnicasnuméricas [2], as quais são um veículo eficiente utiliza-do nas mais variadas áreas do conhecimento em simula-ções como, condições climáticas, propagação de ondaseletromagnéticas, aterramentos em descargas elétricas [3].

Com a necessidade de se obter respostas cada vezmais rápidas e melhorar, com isso, o desempenho naexecução dos métodos numéricos, que exigem, em al-guns casos, uma grande quantidade de memória, mui-tos pesquisadores têm se preocupado em desenvolverarquiteturas paralelas cada vez mais eficientes. Con-tudo, muitas delas, com o aumento da velocidade dosprocessadores acabam por esbarrar, além do custo, nolimite da capacidade tecnológica para a obtenção decircuitos rápidos [4]. Uma das soluções mais utiliza-das nos últimos anos, tanto no meio acadêmico quan-to no meio comercial são os COW (Cluster OfWorkstations) ou máquinas agregadas, devido à suagrande capacidade de processamento e baixo custo.Entre as variações existentes de COW, o de alto de-sempenho, também conhecido como Beowulf, é em-pregado em grande escala com o objetivo de executargrandes tarefas no menor tempo possível e com umcusto bastante reduzido de hardware, ou seja, uma so-lução computacional mais viável financeiramente e tãoeficiente quanto os chamados supercomputadores [5].

No entanto, para que a computação executada emum cluster Beowulf seja bem sucedida é necessárioconsiderar quatro distintas, mas inter-relacionadas1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

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40 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

áreas que são [6]: estrutura de sistemas de hardware,onde todos os aspectos dos componentes físicos datopologia determinam a organização global do siste-ma; recursos administrativos e gerência de processos,são os softwares que viabilizam todas as fases de ope-ração e manutenção das ferramentas do sistema, ouseja, instalação, configuração e inicialização, além daadministração e gerência das tarefas, pelo statusmonitoramento, falhas, diagnósticos e manutenção;bibliotecas de programação e ferramentas paralelasdeterminam o paradigma de como o usuário irá coor-denar os recursos de computação paralela para a exe-cução simultânea e cooperada dos programas. Duasbibliotecas de comunicação se destacam no meio aca-dêmico por apresentarem suporte às linguagens de pro-gramação: Fortran, C e Java; MPI [7] e PVM [8]. Alémdas bibliotecas, pode-se conseguir a paralelização deprogramas através de compiladores paralelizantes,como o HPF [9], linguagens paralelas, etc. Finalmen-te, domínio e resultados de algoritmos paralelos pro-vêm o modelo e o caminho para organizar uma aplica-ção para explorar um paralelismo intrínseco e obterum ganho efetivo de desempenho, além de validar osresultados gerados pelos códigos paralelos [4].

Outra tecnologia que vem ganhando espaço na áreade computação paralela é a tecnologia em grids [10],que utiliza a idéia de computadores independentes eamplamente dispersos como plataforma de execuçãode aplicações paralelas, permitindo compartilhamentode seus serviços e recursos.

Este trabalho apresenta um estudo de desempe-nho, tendo em vista códigos paralelos, utilizando lin-guagens como Fortran, C e Java juntamente com a bi-blioteca de passagem de mensagem MPI em um clusterBeowulf. Para o estudo foram utilizados métodos nu-méricos, em particular, o denominado de FDTD (TheFinite Differences in the Time Domain) [11]. Estemétodo é muito utilizado para simular a propagaçãode ondas eletromagnéticas em ambientes indoor eoutdoor, sendo por isso necessário uma grande quan-tidade de memória e um longo tempo de processamentopara realizá-lo.

A avaliação de desempenho será demonstrada atra-vés do speedup e dos tempos de processamento de cadasituação, verificando assim, as limitações e as vanta-gens na utilização paralela de cada linguagem.

2. Método FDTD

O método das diferenças finitas no domínio dotempo (FDTD) foi introduzido por Kane Yee em 1966[11] e representa uma forma simples e eficiente desolucionar as equações de Maxwell quando escritasna forma diferencial nos domínios temporal e espaci-al. Na proposta de Yee, as componentes do campoelétrico e magnético são intercaladas no espaço e no

tempo, de tal maneira que haja reciprocidade entre elas,como mostradas na Figura 1. Dessa forma, o métodogera um número finito de conjuntos formados por umaquantidade finita de pontos a cada interação. Intuiti-vamente, isso é algo semelhante ao que ocorre na pro-dução de vídeos digitais, onde cada quadro do filmecontém um conjunto finito de pontos amostrados daimagem real e cada quadro corresponde a um instantediscreto do processo [12].

Desde a primeira utilização do método FDTD naanálise de antenas simples, antena monopolo cilíndri-ca e antena cônica [13], até os dias de hoje, houveuma grande evolução de técnicas numéricas e osurgimento de novas gerações de computadores quepermitiram que o método FDTD pudesse ser utilizadona análise de estruturas complexas. Dentre as técnicasnuméricas podemos citar: As condições de contornoabsorvente, Perfectly Matched Layer ou PML, pro-posta inicialmente por Berenger [14], e o algoritmoFDTD em coordenadas não ortogonais [15].

Ez1 Ez2 Ez3

Er1 Er2 Er3

Hφ1 Hφ2 Hφ3

Figura 1. Célula de Yee em 2-Dem Coordenadas Cilíndricas

No entanto, apesar da facilidade na utilização e detodo o poder computacional proporcionado pelo mé-todo, têm-se dois grandes desafios a serem superados:a grande quantidade de memória requerida, que emalguns casos, a execução seqüencial torná-se imprati-cável e o longo tempo de processamento. Para superaresses desafios e evitar o estrangulamento da simula-ção, a solução utilizada foi a implementação paralelado código FDTD em um cluster do tipo Beowulf.

2.1 Antena Monopolo Simples

A antena monopolo é empregada em diversos se-guimentos como celulares, carros, rádios e etc. A Fi-gura 2 apresenta a geometria através de um plano-imagem a partir de uma linha de transmissão coaxial.Todos os condutores são considerados perfeitos. Oscampos eletromagnéticos são independentes da co-ordenada cilíndrica φ, e as equações de Maxwell po-dem ser expressas como dois conjuntos independen-tes: Um que envolve somente as componentes E

r, E

z,

Hφ, modo TM ou modo magnético transverso; e umque envolve somente as componentes Eφ, Hr

, Hz, modo

TE ou modo elétrico transverso. Como a excitação daantena é feita através de uma linha coaxial, somente

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( ) ( )0.5 0.5

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SU BDOM ÍNIO IV

1

600

400

SUBDOMÍNIO V SUBDOMÍNIO VI

Page 42: Revista Principia N 13

E rro! Ind icad o r não definido .

M aste r : 2 pro c e ssa d ore s A tlh o n X P 1 8 00 + , 2 G B d e m e m ó r iaD D R AM , 2 d is co s ID E ATA 1 3 3 d e 6 0 G B , 1 pla cac o nt ro la d o ra R A ID ATA 1 3 3 , 1 p lac a d e re d e G ig a b it1 0 /10 0 /1 00 0 e 1 p la ca d e re d e Fa st E the rn e t 1 0 /1 0 0 .

Slaves: 1 processador Atlhon XP 1800+, 1,5 GB dememória DDRAM, 1 disco IDE ATA 133 de 60 GB e1 placa de rede Fast Ethernet 10/100.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

1.1

1.0

0.9

0.8

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

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-0.2

Vo

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e(V

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0102030405060708090

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(min

)

1 2 3 4

N° de Processadores

Tempos de Processamento

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43PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Observa-se, nos gráficos 7 e 8, que a linguagem Cobteve o melhor resultado para este caso, sendo queno caso serial o tempo obtido por esta linguagem che-gou a quase 1/3 do tempo serial do código executadoem Fortran.

Figura 8. Speedup das linguagens edomínios utilizados.

Os resultados obtidos com a utilização das três lin-guagens além de serem os mesmos apresentados naFigura 6, também se apresentaram compatíveis com oda Figura 10, onde se pode observar a propagação daonda para 1200 iterações, em 8 máquinas.

6. Conclusão

O principal objetivo deste trabalho foi realizar umestudo comparativo na utilização de códigos paralelosutilizando diferentes linguagens de programação –Fortran, C e Java – que podem ser suportadas pelabiblioteca de passagem de mensagem MPI em umcluster Beowulf. O código utilizado foi de uma antenamonopolo simples aplicando o método das diferençasfinitas no domínio do tempo (FDTD). A intenção foiavaliar qual das linguagens utilizadas tem um melhorcomportamento e com isso, uma melhor resposta paraser utilizada com processamento paralelo utilizando ométodo numérico em estudo.

Observou-se que a linguagem C teve um melhorcomportamento e com isso, um tempo de resposta maiscurto quando comparada às outras linguagens, para ocaso em estudo. Isso devido a própria estrutura da lin-guagem, bem como à implementação de um compila-dor em C (gcc) mais eficiente que os utilizados emFortran (g77) e Java (javac). Certamente o fato de oFortran ter apresentado um desempenho inferior emcomparação ao C é o fato de o compilador g77 ser umfrontend do compilador gcc, ou seja, o código Fortrané primeiramente convertido em C e depois propria-mente compilado [17].

A troca de informações por pacote mostrou-se bas-tante eficiente, já que reduz o número de chamadas àporta de comunicação. Certamente a utilização de com-pressão dos dados do pacote daria uma ganho aindasuperior implementado na linguagem C.

Figura 10. Propagação da antena monopolo cilíndricapara 1200 iterações em 8 máquinas.

7. Referências

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Figura 9. Tempos da Linguagem Fortran Utilizando enão-Utilizando a Função MPI_PACK.

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44 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

[8] http://netlib.org/pvm3[9] Koelbel, Charles H. et al, “The High Perfor-mance Fortran Handbook”, 1994.[10] Foster, I. & Kesselman C., “The Grid: Blue-print for Future Computing Infrastructure, 1999.[11] K.S. Yee, “Numerical solution of initial bound-ary value problems involving Maxwell’s equationsin isotropic media,”IEEE Trans. Antennas Propagat.,vol. AP-14, pp. 302-307, May 1966.[12] Oliveira, Rodrigo M.S., “Método FDTDAplicado na Análise da Propagação Eletromagnéticaem Ambientes Indoor e Outdoor”, Trabalho deConclusão de Curso, UFPA/DEEC, Belém-Pará, 12/02/2003.[13] Maloney, J. G. S. Smith, and W. R. Scott, Jr., “Accurate computation of the radiation from simpleantennas using the finite-difference time-domainmethod,” IEEE Trans. Antennas and Proparation,Vol.38, 1990, pp.1059-1068[14] Berenger, J.P., “A perfectly matched layer forthe absorption of electromagnetic waves,”J. Compu-tational Phisics, vol. 114, 1994, pp. 185-200.[15] Lee J.F., and Mittra R., “Finite difference timedomain algorithm for non-orthogonal grids,” TechinalRep. Eletromagnetic Communication Lab.,Departament of Eletrical and Computer Engineering,University of Illinois at Urbana-Champaign, 1991.[16] Araújo, J.S., Sobrinho, C.L.S.S., Santos, R.O.,Rocha, J.M., Guedes, L.A., Kawasaki, R.Y., “Análisede Antenas em 2-D Utilizando o Método dasDiferenças Finitas no Domínio do Tempo comProcessamento Paralelo e MPI”, INATEL, Volume 06,Número 01, Junho de 2003.[17] www.gnu.org/software/fortran

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seu autor. As opiniões nele emiti-das não representam, necessariamente, pontos de vis-ta da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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45PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Sistema Simulador Escalonamento de Processosem Sistemas Operacionais

Maxwell Anderson Ielpo do Amaral 1

Associação Paraibana de Ensino Renovado – ASPERAv. Prof. Joaquim Francisco Veloso Galvão,

nº 1860 - Bairro dos Estados - João Pessoa, PB, BrasilFone: (83) 2106-9500

E-mail: [email protected]

Estevam Pessoa do Nascimento SantiagoAssociação Paraibana de Ensino Renovado – ASPER

E-mail: [email protected]

Josemary Marcionila Freire dos SantosDepartamento de Estatística - UFPB

Universidade Federal da Paraíba - UFPBJoão Pessoa, Brasil, Fone (83) 3216-7075

E-mail: [email protected]

Resumo: O presente trabalho descreve um simulador de Escalonamento de Processos de um sistema operacionalmultitarefa moderno que foi projetado inicialmente para avaliação acadêmica semestral. Posteriormente,com a evolução do projeto, acabou se tornando uma ferramenta para a ministração de aulas de Gerenciamentode Processadores, contribuindo para formação profissional do corpo discente de forma visível, prática erápida. Fundamenta-se em estudos teóricos e pesquisas realizadas em sala de aula em um curso de Ciência daComputação, discorrendo inicialmente a uma introdução da definição dos escalonadores e seus critérios deescalonamento. Também descreve os objetivos do projeto e o funcionamento do simulador. Ao fim apresenta-mos de maneira concisa os resultados obtidos em uma simulação de execução de processos em um escalonamentotipo FIFO (First In, First Out).

Palavras Chave: simuladores, escalonadores, processos, sistemas operacionais, gerenciamento.

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

1. Introdução

Os computadores modernos possuem uma carac-terística interessante ao aspecto dos usuários comunsque é aquela de onde se percebe que vários aplicativosestão sendo executados simultaneamente. Na verda-de, os aplicativos, ou processos do sistema operacional,somente podem ser exclusivamente executados por vezem sistemas computacionais que possuem um únicoprocessador ou UCP. Os escalonadores permitem quevários processos sejam executados concorrentementepelo uso de um único processador, trazendo váriosbenefícios aos usuários e melhorando ainteroperabilidade em sistemas.

O escalonamento de processos em um sistemaoperacional possui diversas funções, como: “mantero processador ocupado a maior parte do tempo, ba-lancear o uso da UCP entre os processos, privilegiar a

execução de aplicações críticas, maximizar o throughputdo sistema e oferecer tempos de respostas razoáveis parausuários interativos” (TANENBAUM, 2003)

O escalonador é uma rotina do sistema operacionalque tem por função implementar os critérios da políti-ca de escalonamento. Os principais critérios que de-vem ser considerados em uma política deescalonamento são aqueles que visam a uma maiorutilização da UCP, maior número de processos execu-tados em um determinado intervalo de tempo, umamelhor redução do tempo de espera dos processos nafila de pronto, menor tempo de turnaround, que é otempo total que um processo permanece em um siste-ma desde a sua criação até que entre em estado detérmino, e um menor tempo dentre uma requisição aosistema ou à aplicação e o instante em que a resposta éexibida na tela, etc.

Este simulador foi criado com o objetivo de de-monstrar interativamente como os processos são

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46 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

escalonados em um sistema, donde poderá ser esco-lhido o tipo de escalonamento a ser simulado. Os da-dos de entrada para os processos, como o tempo deUCP, a prioridade e o timeslice ou fatia de tempo, seforem os casos, podem ser obtidos com entrada de in-formações feita pelo usuário, ou o simuladordisponibilizará estes dados automaticamente.

Durante a simulação, poderemos observar os pro-cessos percorrendo as filas de pronto e de espera, sen-do processados no estado de execução, até chegaremao seu término. Em tempo real, também poderemosobservar o preenchimento do gráfico que demonstra ouso dos processos pela UCP de acordo com um ins-tante de tempo. Este simulador é ideal para submetera teste os conhecimentos adquiridos no estudo doGerenciamento dos Processadores e facilitar aministração das aulas feitas pelos professores de Ci-ência da Computação e outros cursos.

2. Objetivos

• Geral

Desenvolver um sistema informatizado simuladorde escalonamento de processos em sistemasoperacionais multitarefa.

• Específicos

1. Identificar as principais características dosprocessos e dos processadores;

2. Conhecer os principais escalonadores de pro-cessos implementados pelos projetistas de sistemasoperacionais modernos;

3. Criar algoritmos que permitam simular osescalonadores mais utilizados pelos projetistas e ava-liados pelos principais pesquisadores da área;

4. Projetar e desenvolver o simulador com o in-tuito de verificar resultados de escalonamentos apli-cados a uma determinada quantidade e tipos de pro-cessos diferentes sobre UCP’s com freqüências varia-das de operação;

5. Verificar a performance e o melhor tempo deresposta dos processamentos escalonados em umaUCP;

6. Fornecer à comunidade acadêmica uma vali-osa ferramenta para uma perfeita compreensão de umconteúdo tão teórico e de difícil entendimento.

3. Metodologia e Funcionamento

O sistema foi criado com base nos estudos e pes-quisas realizados por autores consagrados na área,como Tanenbaum (2003), e por Maia et al (2002).

Poderá também ser utilizado principalmente pelo cor-po docente das áreas de disciplinas correlatas aoGerenciamento de Processadores dos mais diversoscursos de nível superior de outras faculdades, comoCiência da Computação, Engenharia da Computação,Sistemas de Informação e semelhantes.

Este simulador utiliza dados fictícios ou reais deprocessos de um sistema operacional e tem como en-trada os dados referentes aos tempos de UCP, que de-finem quanto tempo o processo permanecerá no siste-ma operacional desde a sua criação até entrar em esta-do de término de execução. Na verdade, um processoque possui código de execução definido nunca poderáter tempo de UCP pré-determinado em um sistemaoperacional multitarefa, como era possível em siste-mas monotarefas, como o MS-DOS®, cujos progra-mas possuíam código medível e curto. Paraexemplificar, os códigos Assembler permitiam calcu-lar quantos ciclos de processamento eram necessáriospara se conhecer quando um programa terminaria suaexecução. O tempo de UCP é na realidade pós-deter-minado e pode ser conhecido por meio de um softwaresimples. É impossível prever o instante de tempo doseu término devido às diferentes arquiteturas de com-putadores existentes e à imensa quantidade de códigoem baixo nível dos programas compilados. Por estemotivo, este tempo é introduzido no simulador paraemular processos escalonados, a fim de obter dadosestatísticos e fazer comparações. Outro dado de entra-da é a definição de uma prioridade de execução paracada processo. Com uso dos escalonamentos feitos porprioridades, é possível fazer com que o computadorrealize mais rapidamente as tarefas mais essenciais oude missão crítica, como os processos computacionaisutilizados em sistemas de telemedicina e embarcados.Outro dado de entrada para este simulador é a atribui-ção de um timeslice ou fatia de tempo, que permiteum processador interromper a execução de um pro-cesso, colocá-lo no fim de uma fila de processos emestado de pronto e executar outro processo que se en-contra no início desta fila. Este dado é importante paraeste tipo de escalonamento, chamado de escalonamentocircular, e evita o problema do starvation, isto é, aespera indefinida de um processo por uma oportuni-dade de ser executado pela UCP.

Todos esses dados de entrada podem ser preenchi-dos manualmente pelos usuários ou automaticamentepelo sistema simulador para testes com um númerobem maior de processos escalonados. Em um sistemaoperacional servidor, como o Windows 2003 Serverpor exemplo, são executados uma média de 90 pro-cessos para uma empresa de pequeno porte que forne-ce serviços de banco de dados. Neste simulador serãoaceitos até, no máximo, 255 processos.

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Após a inserção destes dados e a escolha do tipo deescalonamento a ser simulado, poderemos tambémoptar pelo valor de freqüência ou ciclos deprocessamento de uma UCP. Em tempo de execuçãoeste parâmetro pode ser modificado.

Quando iniciamos a simulação, observamos os pro-cessos saindo do estado de pronto e entrando em esta-do de execução, uma após o outro, podendo, posteri-ormente, entrar em estado de pronto por causa dotimeslice, em estado de espera por causa de requisi-ções feitas pelo processo ao usuário ou ao próprio sis-tema, ou entrar definitivamente em estado de término.Esta entrada e saída de processos de seus estados ébem visualizada na lista das filas de tipo FIFO do si-mulador, podendo ser pausada ou colocada em umafreqüência baixíssima, para permitir melhorvisualização do andamento da simulação.

Durante a simulação também poderemos obser-var um gráfico de processos em função do tempo,processado em tempo real, que demonstra o uso dosprocessos pela UCP de acordo com um instante detempo.

No simulador, poderemos optar por escalonamentosdo tipo FIFO, Circulares, por Prioridades e Circular

Nome doProcesso

Tempo UCP pré-determinado

P0 258 msP1 688 msP2 872 msP3 956 msP4 250 ms

por Prioridades. Os resultados são bem diferenciadosquando utilizamos tipos de escalonamentos diferentese permite escolhermos o melhor escalonamento paraprojetos de sistemas operacionais com fins específi-cos e/ou excepcionais, como aqueles citados anterior-mente.

4. Exemplificação

Para uma pequena exemplificação, numa simula-ção de cinco processos quaisquer criados no instantede tempo 0 (zero) ms, utilizamos como entrada paraum escalonamento do tipo FIFO, dados aleatórios,como mostrados na Tab. (1):

Tabela 1. Fila de Pronto

Figura (1) processo x instante de tempo

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48 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Numa freqüência de 20 Hz, simulamos a concor-rência destes processos no uso de um únicoprocessador. Esse acesso concorrente traz a vantagemde múltiplos processos serem executados “ao mesmotempo”. Na Figura (1), podemos ter uma idéia clarada forma como os processos concorrem no uso da UCPem função do instante de tempo decorrido.

Vinte hertz é uma freqüência de processamentobaixíssima se comparada com os sistemascomputacionais atuais, que operam em até 3.2 GHz2 .Como foi dito anteriormente, devido à alta velocidadedestes processadores temos aquela impressão de quetodos os aplicativos funcionam ao mesmo tempo. Aprincipal desvantagem da concorrência de processosé que um programa poderá demorar mais a chegar aum estado de término se compararmos os resultadoscom processos em execução nos sistemas monotarefas.

Tabela 2. Estado de Término

Se compararmos o tempo de UCP da Tab. (1) como tempo de turnaround da Tab. (2) em cada processo,iremos visivelmente enxergar esta diferenciação. Po-deríamos utilizar o tempo de UCP da primeira tabelacomo tempo total de execução para cada processo emum ambiente MS-DOS®, um iniciando a sua execuçãoapós o término do outro. Também poderíamos utilizar otempo de turnaround da segunda tabela como se fosseum tempo de UCP para cada processo em um ambientemultitarefa, como os sistemas Windows NT® ou o UNIX.Na Tabela (3), vemos o instante de tempo em que oprocesso terminou definitivamente a sua execução.

Tabela 3. Instante em que os processos entraram emestado de término

Apesar de o processo P4 ter o menor tempo de UCP,250 ms, nesta simulação foi o processo que teve omaior atraso para entrar em estado de término, comovisto na Tab. (3), devido às requisições feitas pelosoutros processos a UCP, de acordo com o critério deordenação FIFO inicial da fila de criação.

5. Conclusão

O presente trabalho versou sobre os escalonamentosde processos em sistemas operacionais e apresentouum projeto concluído de um simulador deescalonamento de processos.

Sugere-se ao corpo docente o uso de simuladores afim de elucidar conceitos teóricos apresentados emsalas de aulas e fazer com que os alunos absorvamcom facilidade e interesse a disciplina.

6. Referências

MACHADO, F. B; MAIA, L. P. Arquitetura deSistemas Operacionais. 3ª ed. LTC. 2002.

TANEMBAUM, Andrew. Sistemas OperacionaisModernos. 2ª ed. Prentice-Hall. 2003

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seu autor. As opiniões nele emiti-das não representam, necessariamente, pontos de vis-ta da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

2 Até o desenvolvimento deste artigo em janeiro de 2006.

Nome doProcesso

Instante de Tempo deTérmino

P0 452 msP1 1.227 msP2 2.176 msP3 3.176 msP4 3.429 ms

Total: 3.429 ms

Nome doProcesso

Tempo deTurnaround

P0 452 msP1 775 msP2 949 msP3 1.000 msP4 253 ms

Total: 3.429 ms

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49PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

A Organização Macrodiscursiva no Gênero TextualAbstract em Língua Inglesa: Um estudo de caso

Marcus de Souza Araújo1

(FEAPA / UFPA)E-mail: [email protected]

Resumo: O objetivo do presente trabalho é apresentar a análise da organização macrodiscursiva de seteabstracts escritos em inglês. O corpus foi coletado dos Anais da VII Jornada de Estudos Lingüísticos e Literá-rios da Universidade Federal do Pará. A análise apresentada apóia-se nos construtos teóricos de gênero deBakhtin ([1952-3] 2003) e Swales (1993). Os resultados mostram um padrão variável de movimentos da orga-nização textual desses abstracts.

Palavras Chave: organização macrodiscursiva; abstracts; gênero

Abstract:The aim of the present paper is to present the analysis of macrodiscursive organization of sevenabstracts written in English. The corpus was collected from “Anais da VII Jornada de Estudos Lingüísticose Literários” from the Federal University of Para. The framework adopted for this paper finds support inthe concept of genre proposed by Bakhtin ([1952-3] 2003) and Swales (1993). The results show a variablepattern of moves of textual organization from these abstracts.

Key -Words: macrodiscursive organization; abstracts; genre

1. Introdução

Abstract é um gênero acadêmico escrito por umacomunidade científica com a finalidade de resumir asinformações, de forma sucinta e objetiva, tanto demonografia, dissertação, tese ou artigo, quanto de tex-tos submetidos a conferências. Trata-se de um rele-vante instrumento de trabalho para o leitor-pesquisa-dor, “permitindo um contato rápido e eficaz com o teordo volume crescente de novas publicações” (Graetzapud Motta-Roth & Hendges, 1998:125).

O presente trabalho tem por objetivo analisar a or-ganização macrodiscursiva (Araújo, 2001) de resumoscientíficos (abstracts) em duas disciplinas acadêmi-cas – Lingüística e Literatura – publicados nos Anaisda VII Jornada de Estudos Lingüísticos e Literáriosde Pós-Graduação da Universidade Federal do Pará.Trata-se de abstracts presentes em artigos científicospublicados nesses Anais.

Apresentaremos, primeiramente, as posições teó-ricas de Bakhtin ([1952-53] 2003) e de Swales (1993)quanto ao conceito de gênero, bem como a definiçãode comunidade discursiva (Swales, op. cit.). Em se-guida, enfocaremos a organização estrutural dosabstracts analisados a partir do modelo produzido porBittencourt (Motta-Roth & Hendges, 1998: 128), que

foi adaptado do modelo que Swales desenvolveu paraa introdução de artigos científicos em inglês denomi-nado CARS (Create a Research Space).

2. Pressupostos Teóricos

Este estudo tem como respaldo teórico duas posi-ções conceituais acerca do conceito de gênero: o con-ceito de gênero segundo Bakhtin ([1952-3] 2003) esegundo Swales (1993)2 .

2.1. O conceito de gênero segundo Bakhtin

De acordo com Bakhtin ([1952-3] 2003), os gêne-ros são tipos de enunciados relativamente estáveis,formas padrão de estruturar nossa comunicação ver-bal. Os diferentes gêneros admitem uma série de os-cilações, de maneira que não são totalmente fixos;todavia, não se constituem em uma instabilidade ab-soluta, já que, então, isso impediria o acesso a elespelo interlocutor, obstaculizando sua compreensão.Sem eles, a comunicação seria caótica.

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

2 Apesar dos trabalhos de Swales estarem concentrados no campo de tex-tos acadêmicos e de proporem uma abordagem sócio-retórica, será rele-vante, no entanto, apresentar a visão do discurso bakhtiniano, como umamaneira de estabelecer um diálogo entre as duas perspectivas teórico-epistemológicas.

Page 50: Revista Principia N 13

50 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Os gêneros são muito heterogêneos e variam se-gundo as circunstâncias, a posição social e o relacio-namento dos parceiros em uma dada esfera de comu-nicação discursiva. Em um extremo, encontram-se osgêneros muito estáveis e normativos, que são aquelesque requerem um estilo mais formal, como poderiaser um artigo acadêmico ou uma resenha. No outro,estão os gêneros mais livres e criativos, normalmentecaracterizados por um estilo mais familiar, como seriao caso de uma carta ou bilhete a um amigo ou umaconversa espontânea entre amigos. Dependendo dogênero que um locutor vai escolher para realizar umtipo de enunciado, as formas lingüísticas usadas serãoumas ou outras, já que os gêneros também delimitama escolha das mesmas.

Desta maneira, o conceito de gênero em Bakhtinencontra-se no entremeio entre repetição e mudança,já que por um lado, por meio do gênero, o interlocutorexpressa sua subjetividade (o gênero a escolher, esco-lhas léxico-gramaticais), porém sempre dentro dos li-mites que lhe são determinados, e dos quais não podefugir sem provocar deslocamentos de sentido/”reacentuações” na comunicação.

2.2. O conceito de gênero segundo Swales

O autor (1993:58) define gênero como uma classede eventos comunicativos caracterizados por propósi-tos comunicativos compartilhados e reconhecidos pe-los membros da comunidade discursiva em que se in-serem e que constituem os princípios básicos do gêne-ro. Estas propriedades do gênero dão forma à estrutu-ra esquemática do discurso e influenciam e/ou limi-tam a escolha de conteúdo e estilo pela comunidadediscursiva. Os gêneros, sendo tipos recorrentes deeventos sociais, resultantes da longa experiência e usodentro da comunidade, passam a adquirir existênciaprópria e, portanto, convencionalizados pelas suas for-mas e significados sociais.

Swales associa, também, em uma abordagem sócio-retórica, gênero a um grupo particular de usuários oqual denomina comunidade discursiva. Para determinarum grupo de indivíduos como uma comunidadediscursiva, o autor (1993: 24-27) propõe seis critérios.Para ele, uma comunidade discursiva:

! possui um conjunto perceptível de objetivos quepodem ser formulados publicamente eexplicitamente e, também, estabelecidos, notodo ou em parte, pelos membros;

! possui mecanismos de intercomunicação entre seusmembros;

! usa mecanismos de participação com uma sériede propósitos para prover o incremento da in-formação e do ‘feedback’; para canalizar a ino-vação; para manter os sistemas de crenças e devalores da comunidade; e para aumentar seuespaço profissional;

! utiliza uma seleção crescente de gêneros no al-cance de seu conjunto de objetivos e na práticade seus mecanismos participativos;

! já adquiriu e ainda continua buscando uma ter-minologia específica; e

! possui uma estrutura hierárquica explícita ou im-plícita que orienta os processos de admissão ede progresso dentro dela.

A partir dos conceitos de gênero e de comunidadediscursiva, Swales elabora o modelo analítico de pes-quisa denominado CARS3 (Create a Research Space)a partir do qual analisa as introduções de artigos depesquisa em inglês:

3 “Swales utiliza os termos movimentos (move) e passo (step) para anali-sar o gênero, ou seja, os movimentos são os blocos discursivos obrigatóri-os, que se organizam de acordo com a função retórica a ser desempenha-da. Estes, por sua vez, são divididos em passos, que podem ser opcionais.”(VIAN JR., 1997:57)

Movimento 1: Estabelecimento do território• Passo 1 – Estabelecer a importância do

estudo e/ou• Passo 2 – Fazer generalização(ôes)

quanto ao tema pesquisado e/ou• Passo 3 – Revisar a literatura perti-

nente

Movimento 2: Estabelecimento do Nicho• Passo 1A – Contra Argumentar e/ou• Passo 1B – Indicar Lacuna ou• Passo 1C – Provocar questionamento

ou• Passo 1D – Continuar a tradição

Movimento 3: Ocupação do Nicho• Passo 1A – Delinear objetivos ou• Passo 1B – Apresentar a pesquisa• Passo 2 – Apresentar os principais re-

sultadosPasso 3 – Indicar a estrutura do artigo

Quadro 1: Modelo CARS proposto por Swales (1993:141)

Page 51: Revista Principia N 13

51PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Segundo Swales (apud Ramos, 2004:04), “umaabordagem centrada em gêneros propicia viabilidadepara a compreensão da imensa variedade de eventoscomunicativos que ocorrem na comunidade acadêmi-ca, de pesquisa e de negócios”.

Esse autor apresenta, assim, preocupações peda-gógicas com alunos falantes de inglês como línguaestrangeira em contextos profissionais e acadêmicos,pois deseja que esses alunos sejam tão proficientes nocampo profissional-acadêmico quanto falantes nati-vos de língua inglesa.

3. Análise e interpretação dos dados

3.1. A organização macrodiscursiva

Abstract é uma importante ferramenta de estudono “domínio acadêmico-científico” (Gomes-Santos,2004:40), por meio do qual o pesquisador apresentaobjetivamente seu trabalho de pesquisa científica parauma determinada comunidade discursiva (Swales,1993). Além disso, destaca informações que podeminfluenciar e estimular a consulta do texto completo.

Quanto à estrutura, o abstract pode constituir-sebasicamente de quatro partes constitutivas (Corte &Fischer, 2000:51):

(a) apresentação do problema/objetivo da pesquisa;

(b) descrição da metodologia;

(c) apresentação e discussão dos resultados; e

(d) apresentação da(s) conclusão(ões) maisimportante(s) – avaliação do(s) resultado(s).

E mais, recentemente, Bittencourt (apud Motta-Roth & Hendges, 1998:128) propõe um modelo deorganização macrodiscursiva para o gênero abstractconforme indicado na figura 2:

Esta é uma proposta adaptada do modelo CARSde Swales (op. cit.) que apresenta uma maior “regula-ridade sócio-comunicativa” (Araújo, 2001:428) parao estudo de abstract no discurso científico, “podendodar conta mais apropriadamente de uma possível vari-ação de prototipicalidade entre os exemplares do gê-nero” (Motta-Roth & Hendges, 1998:128).

3.2. Análise do corpus

Através da análise realizada, temos na seguinte ta-bela uma visão geral dos movimentos retóricos demaior freqüência, baseada no número de ocorrênciasnos abstracts selecionados.

Nº Movimentaçãoretórica

Lingüística Literatura

01 Situar aPesquisa

6 1

02 Apresentar aPesquisa

6 4

03 Descrever aMetodologia

- 1

04 Resumir osResultados

2 -

05 Discutir a Pesquisa

- -

Quadro 3: Resultado da análise

Figura 2: modelo de organização macrodiscursivapara o gênero abstract

Movimento 1 Situar A Pesquisa

• Sub-movimento 1A – Estabelecer conhe-cimento atual na área ou

• Sub-movimento 1B – Citar pesquisas pré-vias ou

• Sub-movimento 1C – Estender pesquisasprévias

• Sub-movimento 2 – Estabelecer o problema

Movimento 2 Apresentar A Pesquisa

• Sub-movimento 1A – Indicar as principaiscaracterísticas ou

• Sub-movimento 1B – Apresentar os prin-cipais objetivos e/ou

• Sub-movimento 2 – Levantar hipóteses

Movimento 3 Descrever A Metodologia

Movimento 4 Sumarizar Os Resultados

Movimento 5 Discutir A Pesquisa

• Sub-movimento 1 – Elaborar conclusões

• Sub-movimento 2 – Oferecer recomendações

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52 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Como se pode observar, há uma maior freqüênciado movimento 2 (Apresentar a pesquisa) em ambosos abstracts das áreas acadêmicas selecionados, alémdo movimento 1 (Situar a Pesquisa). Vejamos algunsexemplos:

(1) In the funcionalist approach of the language,the grammatical items are not concept how indepen-dent entities. They used to be analyzed as reference toa socio cognitive parameters, i.e. mental processes ofthe reality, social and cultural interaction and pro-poses of the speech event. (situar a pesquisa).

(2) First, as an ESP teacher, she briefly describesa study based on immediate needs for reading profi-ciency of computer sciences students. Next, she ex-plores a few facets of autonomous learning and nar-rates an experiment which she is presently undertak-ing that seeks to naturally insert this type of learningin her pedagogical practice. (apresentar a pesquisa).

O movimento 1 aparece em maior recorrência ape-nas nos abstracts de Lingüística. Esses dados indicam,neste corpus, que há uma recorrência do movimentoinicial, em que o pesquisador tem a preocupação defornecer ao leitor uma maior visualização de sua pes-quisa, já que há “um caráter optativo para os movi-mentos iniciais e finais em abstracts” (Motta-Roth &Hendges, 1998:131). E com menor freqüência, apare-cem os movimentos 3 (Descrever a metodologia) e 4(Resumir os resultados). Observemos alguns deles:

(3) So the analyses of the novel by Marques deCarvalho, Hortênsia, written post seventy decades ofthe XIX Century is the referencial of the discussionabout the representation of the Negro in literature.(descrever a metodologia).

(4) This study shows a great occurrence of casualutterances linked to textual gender. In particular whenthe speaker is more engaged with interactional situa-tion. (sumarizar os resultados).

Assim, percebemos que os movimentos 1 e 2 sãoos mais consistentes na organização macrodiscursivado gênero abstract desse corpus, o que determina aforma e o estilo do pesquisador para atender a suaaudiência.

4. Considerações Finais

A contribuição do estudo dos gêneros textuais éampla dependendo do enfoque que se deseja atribuira esse estudo. Neste trabalho, apresentamos a organi-zação macrodiscursiva dos abstracts de artigos cien-

tíficos, na medida em que se busca esclarecer a rela-ção entre si dos propósitos comunicativos comparti-lhados pela comunidade discursiva.

A partir dos dados analisados no quadro 3, perce-bemos uma maior ocorrência dos movimentos 1 e 2,pois contextualizar e apresentar a pesquisa, respecti-vamente, são formas que o escritor encontra para jus-tificar com maior detalhe a atividade científica paraseu público-alvo, além de serem os movimentos re-lacionados à interlocução entre o escritor e sua audi-ência.

Isso se deve provavelmente ao fato de que os de-mais movimentos (descrever a metodologia, resumiros resultados e discutir a pesquisa) não são tão rele-vantes para este gênero textual na comunidadediscursiva em questão (considerando aqui o corpusdesta pesquisa). Esses movimentos seriam, portanto,explicitados com detalhes no próprio artigo.

Esses dados indicam que existe uma maiorfreqüência por determinada organizaçãomacrodiscursiva, tanto em termos de seqüência e ocor-rência quanto de número de movimentos. Essaflexibilização da organização textual do gêneroabstract reflete o propósito comunicativo comparti-lhado pelos produtores de abstract de Lingüística eLiteratura que manifestam suas convenções e regrasde acordo com sua audiência (público-alvo) e contex-to de situação e de cultura.

O propósito comunicativo, materializadolingüisticamente nos abstracts, é, entre outros fatores,“auxiliar na seleção de leituras” (França et al, 2004) eapresentar informações sucintas de um artigo. Odistanciamento em relação ao modelo pré-estabeleci-do (aqui fala-se da forma canônica apresentada ante-riormente por Corte & Fischer, 2000) para a elabora-ção de abstract é inteiramente realizada pela comuni-dade discursiva (aqui, especificadamente, a acadêmi-ca relativa ao corpus analisado) e motivada pelas“idiossincrasias das disciplinas” (Motta-Roth &Hendges, 2001:132). Isso indica as oscilações que ogênero abstract admite em uma determinada comuni-dade discursiva.

Um dos aspectos das oscilações é o próprio gêne-ro artigo que é precedido pelo gênero abstract. A nor-ma sugere um número específico de palavras, consti-tuindo um texto de parágrafo único com informaçõessignificativas e sucintas para o público-alvo.Segundo as amostras selecionadas, o propósito comu-nicativo dos abstracts de Lingüística e Literatura serealizam através de movimentos nem sempre presen-tes na forma canônica de organização textual dessegênero, o que equivale dizer que esse gênero textualpode variar em relação a sua macro-estrutura, depen-dendo dos objetivos e/ou competência lingüística dopesquisador para com sua audiência.

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Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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1. Introdução

Atualmente, o estresse, processo de adaptação hu-mana às exigências do ambiente, tem apresentado umaconotação negativa – distress - nos diferentes ambien-tes de trabalho, onde o indivíduo está mais sujeito aerros e acidentes, e que conseqüentemente tem a suaprodutividade, capacidade de trabalho e qualidade devida prejudicados (FIORI, 1997). Neste sentido, esteartigo pretende esclarecer de que forma as condiçõesde trabalho dos operadores de uma central telefônicasão consideradas fontes desencadeadoras do estresseocupacional, buscando relacionar a organização do tra-balho, caracterizada por promover monotonia,repetitividade e fadiga com o desencadeamento dodistress. Logo, exige-se a aplicabilidade dos conheci-mentos da ergonomia com a finalidade de apontar al-ternativas que reduzam os sacrifícios inúteis impostosaos trabalhadores, assim como criar ambientes de tra-balho mais cooperativos e motivadores. Portanto, esteestudo se reveste de significativa relevância, uma vez

As interfaces da organização do trabalho com oestresse ocupacional: um estudo de caso

Juliana da Costa SantosCentro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ

BR 230, Km 22, Água Fria, João Pessoa – PB. Telefone: (083) 21069200E-mail: [email protected]

Maria Luiza da Costa Santos1

Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba – CEFET/PBAvenida 1º de maio, 720, Jaguaribe, João Pessoa – PB. Telefone: (083) 32083000

E-mail: [email protected]

Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar a relação entre a organização do trabalho de uma centraltelefônica com o estresse ocupacional. Para tanto, buscou delinear o perfil das operadoras, identificar osfatores causais do estresse ocupacional, investigar seus sinais e sintomas, relacioná-lo com as condiçõesfísicas e organizacionais existentes no ambiente de trabalho, e sugerir métodos para a sua prevenção. Para asua realização, inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico abordando o estresse ocupacional eas condições de trabalho. Posteriormente, foram realizadas entrevistas individuais, com a aplicação da técni-ca de observação direta e de um formulário que abordou questões relacionadas com atividade profissional,organização do trabalho, condições ambientais, posturas exercidas durante o trabalho e sintomas de estresse.Mediante os resultados obtidos, foi possível constatar que existem deficiências ergonômicas e organizacionaise presença de sinais e sintomas da patologia em estudo. Logo, percebeu-se que os pesquisados estão expostosa alguns fatores desencadeantes do estresse ocupacional, seja devido à carga física direta e/ou carga físicaindireta. Torna-se então necessário que o posto de trabalho esteja ergonomicamente adequado para a execu-ção de atividade, assim como esteja localizado em um ambiente reservado e que haja estratégias organizacionaisque valorizem o capital humano.

Palavras Chave: condições de trabalho; estresse ocupacional; telefonista.

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

que oportuniza a conscientização quanto aos meiosnecessários a sua prevenção e tratamento no meio aca-dêmico e científico das diversas áreas do conhecimentohumano.

Na sociedade moderna, os trabalhadores são cons-tantemente desafiados a se adaptarem às novastecnologias na tentativa de se manterem atualizadosperante um mercado cada vez mais restritivo e com-petitivo. Desta forma, o avanço tecnológico, o aumen-to da competitividade, a pressão de consumo, a buscada qualidade, a ameaça de perda do emprego e outrasdificuldades do cotidiano, tornam cada vez mais a vidados trabalhadores repleta de incertezas. Diante dessassituações, o ser humano encontra-se envolvido em umprocesso complexo e dinâmico que afeta suas condi-ções somáticas, seus processos cognitivos e emocio-nais (MOURA, 2003). As reações orgânicas e psíqui-cas de adaptações, apresentadas pelo homem, quandoé exposto a qualquer estímulo, são consideradas comoestresse, sendo este definido pela Organização Mun-dial de Saúde (OMS) como “a doença do século 20”(LIMONGI, 1997; PINHEIRO; ESTARQUE, 2000).

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Assim, como o homem sofre influências das ame-aças externas de várias origens, inclusive da própriapercepção em relação a elas, a vulnerabilidade pesso-al e a capacidade de adaptação são também considera-das importantes para a ocorrência e a gravidade doprocesso de estresse, dependendo assim tanto da per-sonalidade do indivíduo como do seu estado de saúdenaquele momento (PINHEIRO; ESTARQUE, 2000).Pode-se considerar que o estresse é um somatório dasrespostas do organismo para lidar com fatoresestressores. Os resultados de tais reações estão relaci-onados com o modo de reagir do indivíduo, depen-dendo do seu equilíbrio mental, físico e emocional.

Estudos apontados por Fiori (1997) e Masci (1997)a respeito do estresse ocupacional revelam a intençãode analisar o número de pedidos de indenização detrabalhadores por estresse mental em decorrência doelevado número de funcionários em atividades em queo trabalho é mais mental que manual, devido à nature-za repetitiva da tarefa, à tendência a buscar indenizaçãopor danos mentais e físicos e à receptividade dos tri-bunais a esses casos. A tendência para investigar e re-lacionar o estresse com os aspectos organizacionais édecorrente do fato do ser humano passar a sua maiorparte do seu tempo no ambiente de trabalho, e os fato-res, que o compõe, têm uma grande influência na suasatisfação e na qualidade de vida no trabalho.

A realização de toda e qualquer atividade de tra-balho envolve a compreensão da interação einterdependência de pelo menos três aspectos: o físi-co, o cognitivo e o emocional, que através da análiseda síndrome neurótica das telefonistas, estudos reali-zados por Le Guillant em 1956, foi possível constatarque as exigências do trabalho podem desenvolvercefaléias, zumbidos, assobios assim como pensamen-tos obsessivos com relação ao trabalho, como a repe-tição de fragmentos estereotipados de discursos, alémde alterações no sono e no humor (AÑEZ, DAVID;LOBO, 2005; AUBERT, 1996).

2. Referencial Teórico

Conforme o que foi exposto anteriormente, esteitem tem a finalidade de proporcionar uma compreen-são geral sobre o estresse ocupacional, a saúde do tra-balhador e as condições de trabalho, respectivamente.

2.1 Estresse no trabalho

O estresse ocupacional é o produto da relação en-tre o indivíduo e o seu ambiente de trabalho, em queas exigências desta ultrapassam as habilidades do tra-balhador para enfrentá-las, acarretando no desgaste doorganismo que interfere na sua produtividade(SIQUEIRA, 1995).

Segundo Grandjean (1998, p. 165), o estresse detrabalho pode ser definido como “o estado emocional,causado por uma discrepância entre o grau de exigên-cia do trabalho e os recursos disponíveis para gerenciá-lo”. Tornando-se um fenômeno subjetivo que depen-de da compreensão individual da incapacidade degerenciar as exigências do trabalho.

De acordo com, Iida (1992), França e Rodrigues(1999) e Grandjean (1998), os fatores estressores re-lacionados ao trabalho podem ser decorrentes de:

- Desenho do trabalho: elevada carga de traba-lho, ausências de pausas, turnos ou horas do trabalholongos; não uso das habilidades dos trabalhadores,baixa autonomia na realização das atividades.

- Estilo gerencial: excesso de pressão, chefias rí-gidas e autoritárias, falta de participação dos trabalha-dores na tomada de decisões, falta de comunicação naorganização e falta de política favorável à vida famili-ar.

- Relações interpessoais: ambientes pouco soci-ais, falta de apoio de colegas e supervisores, conflitoscom colegas e superiores.

- Papeis do trabalho: expectativas de trabalho maldefinidas ou impossíveis de atingir, excesso de res-ponsabilidade, excessos de funções.

- Preocupações com a carreira: insegurança detrabalho e falta de oportunidade para o crescimentopessoal, promoções ou ascensões.

- Condições ambientais: condições desagradáveise perigosas, presença de ruído, problemasergonômicos, enclausuramento, condições pobres doambiente (luz, qualidade do ar, temperatura).

- Carga qualitativa inferior às possibilidades(underload): atividades pouco estimulantes ou desafi-adoras, que não exigem criatividade, monótonas erepetitivas.

Fazer (1983 apud LADEIRA, 1995) ressalta tam-bém que o calor, o barulho e as condições físicas epsicossociais intoleráveis atuam como estímulos ca-pazes de provocar o estresse nos trabalhadores poden-do gerar insatisfação no trabalho e diminuição na suaperformance e produtividade.

Percebe-se, portanto, que todos esses fatores deriscos influenciam o processo social e o funcionamentopsicológico de uma forma bastante complexa e ines-perada, podendo produzir respostas ao estresse queaumentam o potencial para o adoecimento. Essas res-postas podem ser classificadas em emocionais(irritabilidade, angústia, insatisfação no trabalho), fi-siológicas (aumento da pressão arterial, da freqüênciacardíaca e respiratória, da tensão muscular) ecomportamentais (absenteísmo, uso indevido da for-ça, drogas, bebidas alcoólicas) (BRIDI, 1997; MONN,1996 apud MOURA, 2003).

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Em ambientes de telefonia, o ruído corresponde aum sério problema e suas fontes podem ser decorren-tes de equipamentos, telefones, tráfego próximo e pes-soas falando. Logo, os resultados negativos dos efei-tos do ruído incluem: sentimentos negativos; diminui-ção das habilidades cognitivas, incluindo fadigacognitiva e prejuízos de memória, compreensão redu-zida em tarefas complexas; diminuição na persistên-cia em tarefas; aumento da estimulação fisiológica eaumento da insatisfação no trabalho (BRIDI, 1997).

Esta relação saúde versus trabalho, a qual as tele-fonistas estão expostas, foi objeto de estudo de LeGuillant e Bégoin que perceberam que estas profissi-onais, quando expostas a condições de trabalho peno-sas: ritmo de trabalho intenso, forte exigência de “ren-dimento”, mecanização dos atos, monotonia entre ou-tros elementos capazes de modificar sua capacidadede adaptação, eram acometidas pela “síndrome neuro-se das telefonistas” ou “síndrome geral da fadiga ner-vosa”, caracterizada por nervosismo intenso, insôniatotal, diminuição acentuada das possibilidades inte-lectuais com repercussão sobre o estado geral do indi-víduo. Além do que, estas profissionais se sentiamacuadas, pressionadas e vigiadas, situação esta quecontribuía para o desencadeamento da desorganiza-ção da personalidade do indivíduo (AUBERT, 1996).

De acordo com uma pesquisa publicada na Grã-Bretanha, o estresse está sendo mais intenso entre afaixa etária de 35 a 44 anos. Este problema aumentaainda mais entre pessoas que permanecem no mesmoemprego por muito tempo, sendo os profissionais deenfermagem e magistério considerados como os maisestressados (ALMEIDA, 2003).

Para as organizações, os custos do estresse estãodiretamente relacionados com os seus aspectoseconômicos, uma vez que a presença de fadiga, ansie-dade, insatisfação e baixa motivação determinam umcerto impacto na produtividade e no número de aci-dentes de trabalho (LADEIRA, 1995). Estudos de-monstraram que o custo direto e indireto, devido aosacidentes de trabalho decorrentes dos altos níveis deestresse, está estimado em 200 a 300 bilhões de dóla-res por ano. Tal situação é reforçada ainda pelo fatode que os dias de trabalho perdidos por questões desaúde relacionadas ao estresse aumentaram de 37 mi-lhões por ano na década de 80 para 230 milhões porano na década de 90 (FIORI, 1997; MASCI, 1997).

2.2 Ergonomia e saúde do trabalhador.

A palavra ergonomia é de origem grega: “erg” -trabalho e “nomos” - leis, ou seja, leis que regem otrabalho, sendo um estudo científico do ser humanorelacionado com o seu ambiente de trabalho, buscan-do a elaboração de projetos que possuem o objetivo

de diminuir ao máximo o esforço do trabalhador nomanuseio do instrumento de trabalho (CARVALHO;NASCIMENTO, 1997).

De acordo com Deliberato (2002), a definição deergonomia mais encontrada na literatura é a apresen-tada por Wisner (1987) que atribui ao termo ergonomiao significado de um conjunto de conhecimentos cien-tíficos relativos ao homem e necessário à concepçãode instrumentos, máquinas e dispositivos que possamser usados com conforto, segurança e eficiência. As-sim, baseada nestas três últimas características, aergonomia se estrutura nos conhecimentos científicossobre o homem para que a partir deles possa criar oumodificar equipamentos ou posto de trabalho.

Atualmente, a definição mais utilizada é a empre-gada pela Associação Internacional de Ergonomia(IEA) que conceitua ergonomia como “uma disciplinacientífica relacionada ao entendimento das interaçõesentre os seres humanos e outros elementos ou siste-mas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e mé-todos a projetos a fim de otimizar o bem-estar huma-no e o desempenho global do sistema” (ABERGO,2005, p.1).

Desta forma, percebe-se que a ergonomia estudaos diversos aspectos do comportamento humano noambiente de trabalho, assim como outros fatores quesão considerados importantes para o projeto e a orga-nização de sistemas de trabalho. Esses fatores são: ohomem com suas características físicas, fisiológicas epsicológicas; a máquina: que corresponde aos recur-sos que o homem usa no seu trabalho, como equipa-mentos, ferramentas, mobiliários e instalações; o am-biente: que envolve temperatura, ruídos, vibrações,iluminação e outros; a informação: refere-se à comu-nicação existente entre os elementos de um sistema; aorganização: é a conjugação dos elementos citados nosistema produtivo e envolve aspectos como horários,turnos de trabalho e formação de equipes; as conseqü-ências do trabalho: envolve questões de controle comoinspeção de tarefas, estudo dos erros e acidentes e ogasto energético como a fadiga e o estresse (IIDA,1992).

Para a ergonomia, o ambiente de trabalho repre-senta um conjunto de fatores interligados que agemsobre a qualidade de vida dos trabalhadores como tam-bém no resultado final do trabalho. Desta forma, oestudo ergonômico do posto de trabalho tem comoobjetivo minimizar as exigências biomecânicas ecognitivas, pois um ambiente de trabalho mal projeta-do pode resultar em posturas inadequadas, predispon-do o trabalhador às lesões. Mas, além do ambiente fí-sico, deve-se ter conhecimento detalhado da atividadedesenvolvida para cumprir as tarefas (ALMEIDA;BARRETO, 1998).

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3. Metodologia

O presente estudo corresponde a uma pesquisa delógica descritiva e exploratória, já que de acordo comVergara (2003, p. 47) “a pesquisa descritiva expõecaracterísticas de determinada população ou de deter-minado fenômeno” e a investigação exploratória temcomo principal objetivo tornar algo inteligível justifi-cando os motivos. Quanto aos meios de investigação,este trabalho é caracterizado como estudo de caso, poisse limita a um determinado grupo de pessoas: opera-dores da central telefônica. Assim, o trabalho preten-de associar a realidade das condições de trabalho dosoperadores de uma central telefônica com a literaturadirecionada a estresse ocupacional, possibilitando umamaior visão acerca do assunto apresentado.

O universo da pesquisa foi composto por funcio-nários da central telefônica do Centro Federal de Edu-cação Tecnológica da Paraíba – CEFET/PB, perfazen-do um total de três operadoras. Este universo foi defi-nido pelo critério de aceitação dos trabalhadores e foiconstituído da seguinte maneira: indicação de um gru-po de foco que estivesse relacionado ao tema da pes-quisa, e que estivesse exposto aos fatoresdesencadeantes do estresse ocupacional.

Para a coleta dos dados, foram utilizadas as se-guintes técnicas: formulário, entrevistas e observaçãodireta. O uso de várias fontes de informação, denomi-nadas por Triviños (1987) como técnica datriangulação, teve a finalidade de abranger a máximaamplitude na descrição, explicação e compreensão dofoco em estudo. O formulário foi aplicado a cada tele-fonista no próprio ambiente de trabalho através da téc-nica de entrevista, que segundo Vergara (2003),corresponde a um procedimento no qual uma pessoafaz perguntas a alguém, que oralmente, lhe responde.O formulário foi caracterizado por perguntas abertase fechadas, sendo dividido em cinco partes: (a)atividade profissional e organização do trabalho, (b)avaliação das condições ambientais, (c) posturas du-rante o trabalho, (d) saúde geral, (e) sintomas de estresse,e sua elaboração foi baseada a partir de informaçõesoferecidas pelos autores: Deliberato (2000), Oliveira(1991), Goldberg (1996) e Marilda Lipp (2005).

Durante a aplicação do formulário, foi permitidatambém a observação direta da realização dasatividades laborais das pesquisadas. As anotações daobservação direta foram registradas em um diário decampo composto por partes que apresentavam as vari-áveis das categorias selecionadas para o estudo e seusrespectivos indicadores. Foi também reservado umespaço para anotações das observações não previstase eventuais.

Para a realização deste trabalho junto às operado-ras da central telefônica do CEFET-PB, foi necessário

procurar o responsável pela central de atendimento, afim de obter a autorização para a realização da pesqui-sa. Posteriormente, foi assinado um termo de consen-timento livre e esclarecido pelas operadoras.

Os dados coletados foram tratados de forma qua-litativa e quantitativa, com vista a responder os indi-cadores, contidos no formulário, quanto à exposiçãodas operadoras de uma central telefônica aos fatorescausais do estresse no ambiente de trabalho e quanto àsaúde geral e os sintomas apresentados. Tanto a abor-dagem qualitativa como quantitativa, através e medi-das estatísticas descritivas (freqüência, média efreqüência relativa), enfatizaram os fatoresdesencadeadores de estresse ocupacional, e os seussintomas. É importante ressaltar que apenas o item,que diz respeito à saúde geral dos pesquisados, fezuso exclusivo da abordagem qualitativa.

4. Resultados e Discussão

Neste tópico, as informações obtidas na pesquisasão apresentadas e discutidas a partir da literatura quesubsidiaram o estudo.

4.1 Caracterização da atividade real de telefonista

De acordo com o Ministério de Trabalho e doEmprego, os trabalhadores dessas ocupações têm vín-culo de trabalho assalariado, com carteira assinada,atuando predominantemente, em empresas de saúde,serviços sociais, correios e telecomunicações. Traba-lham com supervisão, em ambientes fechados,revezamento de turnos, com compromisso de mantersigilo. O trabalho é exercido sob pressão e exposto àruído intenso, levando a situação de estresse, estandoassim os trabalhadores sujeitos a lesões buço-maxi-lar-auditivas e por esforços repetitivos. A transferên-cia de funções de telefonistas para sistemasautomatizados de mensagens, bem como a migraçãopara outras ocupações, como telemarketing, tende adiminuir o emprego nessa ocupação (BRASIL, 2003).

Segundo Grandjean (1998), o operador demonitores torna-se membro do sistema homem-máqui-na, em que está ligado a grandes intervalos de tempocom posturas forçadas do corpo, que, do ponto de vis-ta ergonômico, são trabalho muscular estático em quea irrigação e os processos de regeneração estão dimi-nuídos.

As telefonistas manejam uma mesa telefônica ouuma seção da mesma, movimentando chaves, inter-ruptores ou outros dispositivos para estabelecer co-municações internas, locais ou interurbanas. Operamequipamentos, atendem, transferem, cadastram e com-pletam chamadas telefônicas locais, nacionais e inter-nacionais, comunicando-se formalmente em portugu-

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ês e/ou línguas estrangeiras, como também auxiliam ocliente, fornecendo informações e prestando serviçosgerais. Podem ainda treinar funcionários e avaliar aqualidade de atendimento do operador, identificandopontos de melhoria (BRASIL, 2003).

De forma resumida, o trabalho das telefonistascorresponde em: atender a ligação, identificar-se ecumprimentar o usuário, escutar a solicitação, digitara informação solicitada, acionar o equipamento paratransmitir a informação e registrar a duração da cha-mada num formulário apropriado (GOMES; LIMA,1999).

4.2 Caracterização dos sujeitos

O universo da pesquisa foi composto por três fun-cionários da central telefônica do CEFET-PB, sendotodos estes do sexo feminino.

A faixa etária destas funcionárias delimita-se a 33,3%com a idade entre 20-29 anos, e 66,7% com a idade entre30-39 anos, sendo a idade mínima de 24 anos e a idademáxima de 38 anos, conforme o gráfico 1.

Gráfico 1: Distribuição por faixa etária

Observou-se também que 66.7% das funcionáriasapresentam, nesta função, um tempo de trabalho quevaria entre 1-10 anos, enquanto que 33,3% apresentamentre 11-20 anos, conforme observado no gráfico 2.

33,3%

66,7%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

20-29 anos

30-39 anos

33,3%

66,7%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

1-10 anos

11-20 anos

Gráfico 2: Tempo de trabalho

Percebe-se, portanto, que as operadoras estão hámuito tempo expostas aos fatores estressantes relaci-onados tanto ao ambiente de trabalho assim como aosfatores decorrentes da própria atividade. Assim, todasas alterações físicas e químicas, usadas pelo organis-mo como estratégia de adaptação frente ao agenteestressor, são mantidas inadequadamente por longotempo. Logo, esta situação pode levar ao estressecrônico, tornando o organismo mais susceptível àsinfecções e patologias físicas e/ou mentais(ANTUNES; LULA; TONANI, 2004).

4.3 Avaliação da atividade profissional e organiza-ção do trabalho

De acordo com a observação realizada, a atividadebásica desenvolvida pelas operadoras desta centraltelefônica corresponde a efetuar e atender ligações ex-ternas e internas da empresa através de um só equipa-mento de telecomunicação, que está colocado em umamesa com formato retangular e cujos comandos sãooperacionalizados por sinais sonoros ou visuais. Paraa realização da atividade, as operadoras, que já utili-zam headphone, realizam constantemente movimen-tos de extensão e flexão dos dedos no acionamentodos comandos, para efetuar as ligações telefônicas so-licitadas pelos usuários.

O sistema de telefonia do Centro Federal de Educa-ção Tecnológica da Paraíba – CEFET/PB funciona emtrês turnos, assim distribuído: o turno da manhã ficasob a responsabilidade de uma operadora, sendo o ho-rário de trabalho das 7:00 às 12:00 horas. Para o turnoda tarde, uma funcionária responde às necessidades detrabalho haja vista que seu expediente é das 12:00 às17:00. Da mesma forma funciona o turno da noite, comuma funcionária no horário de expediente das 17:00 às22:00 horas. Assim, cada funcionária tem uma cargahorária de cinco horas diárias, de segunda a sexta.

Mediante os resultados obtidos através dos instru-mentos de pesquisa, foi constatado que não existempausas no trabalho, entretanto elas têm a possibilida-de de sair do seu posto de trabalho quando acometi-das por necessidades fisiológicas. Também foi verifi-cado que não existe a prática de horas extras, comexceção de situações movidas por justa causa que sereferem às situações com atestado médico e que sãogarantidas pela lei trabalhista.

No que se refere à autonomia na execução dasatividades, 66,7% das telefonistas relataram não pos-sui-la. De acordo com MontoroRosh (1996 apudMONTORO, 1998), a atividade de telefonista é consi-derada como uma das funções sujeitas ao estresse, umavez que o estresse ocupacional é mais freqüente quandohá muitas responsabilidades, mas poucas possibilidadesnos processos de tomada de decisão e de controle.

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Essas informações atestam que, além da práticacontínua de movimentos repetitivos que as telefonis-tas estão submetidas, existe insatisfação salarial. En-tretanto, constatou-se que em relação à pressão da che-fia, 66,7% das pesquisadas afirmaram não existir, as-sim como 66,7% também relataram que existe insatis-fação em relação à atividade executada e que aatividade é considerada monótona. A monotonia, con-forme Iida (1992), é considerada como um fatorestressante, decorrente da insatisfação com o traba-lho, principalmente, nas organizações onde o ritmo detrabalho é constante.

Buonfiglio e colaboradores (1987) apud Gomes eLima (1999) afirmam que durante as horas de traba-lho, as atividades são apenas mecanismos quase tãoautomáticos quanto aos mecanismos dotados de voz ede movimentos precisos, sujeitos ao controle humanoe ao controle da máquina. Já Assunção (1995) e Go-mes e Lima (1999) enfatizam que a duração da jorna-da de trabalho deve ser compatível com o ritmo docorpo, já que a exposição prolongada aos movimentosrepetitivos dificulta a capacidade do corpo humano emse recompor. Ressaltam os autores que as pausas sãonecessárias para evitar a sobrecarga músculo-esquelética e a fadiga mental, uma vez que as atividadesrepetitivas exigem o intenso uso dos sentidos, no casoaudição e atenção.

Atenta-se para o fato de que a atividade de telefo-nista corresponde a um trabalho padronizado, exces-sivamente controlado e repetitivo. Como apresentadoe enfatizado por Wells (2000), o termo repetitivo podeser empregado para descrever a freqüência das açõese a monotonia de um trabalho; para descrever um tra-balho manual rápido aparentemente com pouco des-canso entre os movimentos; e pode ser ainda qualifi-cado por medidas como ciclos de períodos de traba-lho. A repetitividade das ações tem seus efeitos acen-tuados na medida em que impossibilitam as operado-ras de expressarem comportamentos espontâneos.Como ressaltado por Dejours (1992, p.101), “é obri-gatório que, de algum modo, a telefonista reprima suasintenções, suas iniciativas, sua linguagem, em outraspalavras sua personalidade”.

Outro aspecto revelado pelas telefonistas foi a fal-ta de comunicação dentro da organização, que dificul-ta a realização de suas tarefas, uma vez que elas nãotêm acesso às informações. As pesquisadas afirmaramtambém que elas desempenham, além das funções detelefonista, a função de recepcionista, e isto sobrecar-rega no desempenho com qualidade da função. Con-forme França e Rodrigues (1999), esta situação podeser considerada como conflito de papéis, uma vez queo profissional tem que desempenhar mais de um papelem uma mesma situação.

Desta forma, considera-se a falta de comunicaçãoe excesso de trabalho como situações estressantes, pois

promove o desenvolvimento de ansiedade, diminui-ção da satisfação do trabalho e comprometimento dasrelações com pessoas de outros departamentos.

4.4 Avaliação das condições ambientais

De um modo em geral, as operadoras afirmaramque existe ruído no ambiente de trabalho. O barulho éproveniente do próprio posto de trabalho, decorrenteda própria atividade e do barulho do ar-condicionado,e também do ambiente externo, uma vez que próximoà central de telefonia, há uma cafeteria e uma bombad´água. Estes fatores tornam ainda mais estressante odesempenho da atividade já que dificulta a concentra-ção das operadoras. Percebe-se desta forma que o ruí-do interfere na carga de trabalho destas telefonistasdevido tanto à falta de tratamento acústico no ambien-te de trabalho, quanto a grande concentração de pes-soas no setor ao lado, que passa a ser um elementoperturbador na execução da atividade.

Grandjean (1998) afirma que os trabalhos intelec-tuais que exigem concentração mental ou atividadesnas quais a compreensão da conversa é importante,pertencem às “profissões sensíveis ao ruído”. Logo, apresença de ruídos no ambiente de trabalho pode cau-sar perturbações da concentração, sensações deincômodos e estresse, uma vez que o ruído pode terefeito físico e/ ou psicológico (BALLONE, 2001;DUL; WEERDMEESTER, 1995; GRANDJEAN,1998). Esse fator foi apontado pelas pesquisadas. Alémdo que, como apontado por Santos e colaboradores(1999), o nível de ruído interfere na compreensão dasolicitação do cliente e conseqüentemente na qualida-de do atendimento, que através do diálogo pode iden-tificar o grau de organização interna da empresa.

Em relação ao fator iluminação, todas as telefonis-tas afirmaram que a iluminação é confortável para aexecução da atividade. A iluminação deste local de tra-balho é proveniente de dois focos de luz artificial eesta situação é favorecida pelo fato de que o ambientede trabalho é delimitado, não por paredes, mas simpor vidros que permitem, de certa forma, a presençade luz natural durante o dia.

A Norma Regulamentadora 17, item 5.3, que versasobre ergonomia, determina que em todos os locais detrabalho deve haver iluminação adequada, natural ouartificial, geral ou suplementar, apropriada à naturezado trabalho (NASCIMENTO; MORAES, 2000).

Quanto à temperatura, foi constatado que 100% dasfuncionárias a consideram adequada, pois há uso cons-tante de um ar-condicionado, além do que há um ven-tilador, que não está em uso, mas apresenta-se em boaconservação.

A temperatura do posto de trabalho deve serrelacionada com a atividade executada, uma vez que ocalor excessivo tem efeito sobre a produtividade do

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empregado, causando cansaço, sonolência, reduzindoa atenção e aumentando as possibilidades de falhas(CARVALHO; NASCIMENTO, 1997;GRANDJEAN, 1998).

Baseando-se na NR 17.5, as condições ambientaisde trabalho devem ser adequadas às característicaspsicofisiológicas dos trabalhadores e a natureza do tra-balho a ser executado (NASCIMENTO; MORAES,2000). Quando essa norma não é cumprida podemocorrer lesões corporais do tipo contratura muscular elesões psíquicas como insatisfação no trabalho. Essassituações são apontadas por Assunção (1995), quandoo ambiente de trabalho é barulhento, mal iluminado ecom desconforto térmico.

4.5 Avaliação das posturas adotadas na execuçãoda atividade

A postura corporal adotada pelas funcionárias estádiretamente relacionada com a atividade executada ecom o ambiente de trabalho: coluna levementeencurvada para frente, pés apoiados no chão, mem-bros superiores apoiados sobre a mesa, sendo os coto-velos e os antebraços áreas de maior pressão.

Nascimento e Moraes (2000) definiram a posturaideal como aquela que envolve quantidade mínima deesforço e sobrecarga, conduzindo a um melhor rendi-mento do corpo. Assim, a postura passa a ser um ele-mento importante para a análise das tarefas, já quepode estar relacionada a uma série de mecanismos le-sivos (WELLS, 2000).

Em relação às posturas corporais foram analisadosquatro itens. Em relação à postura fixa, 66,7% das en-trevistadas afirmaram manter a postura, enquanto que33,3% não mantêm postura fixa. Já em relação à práti-ca de movimentos de torções do tronco, 66,7% reali-zam. O terceiro item avaliado foi a flexão tronco napostura sentada, 66,7% realizam às vezes, como op-ção de realizar alternância de postura, e 33,3% relatouque realmente realiza este tipo de postura para execu-

tar a atividade. Finalmente, no que diz respeito à flexãocervical, constatou-se que 33,3% realizam, 33,3% nãorealizam esta postura e 33,3% só realizam às vezes nodecorrer da tarefa.

De acordo com Santos e colaboradores (1999), amá postura é adotada em decorrência dos mobiliáriosexistentes, isto é, as mesas não são reguláveis e inade-quadas ao uso de sistemas informatizados; as cadeirassão reguláveis, mas nem sempre são reguladas devidoà falta de conhecimento dos usuários; e não existe cons-ciência postural, sendo comum ver pessoas sentadasincorretamente.

Wells (2000) e Nascimento e Moraes (2000) afir-mam que a postura sentada associada aos trabalhosinformatizados geralmente exigem uma maior perma-nência do corpo na postura estática, há movimentosrepetitivos e maior período de tempo para a realiza-ção, podendo resultar em fadiga, dores/distúrbios mus-culares, alterações posturais e/ou circulatórias. Estasituação pode ser exemplificada pelo ato de trabalharcom os braços sem apoio, em frente ao corpo, provo-cando carga estática nos tecidos da região escapular/cervical, que poderá agravar ou provocar qualquer dis-túrbio no ombro/pescoço.

Grandjean (1998) ressalta ainda que durante a jor-nada de trabalho, o operador do setor deteleinformações torna-se parcialmente membro do sis-tema homem-máquina, que está ligado a longos espa-ços de tempo com postura forçada do corpo, sendoeste termo, do ponto de vista da ergonomia, um traba-lho estático da musculatura, durante o qual a irrigaçãoe assim também os processos de regeneração estão di-minuídos.

4.6 Avaliação da saúde geral

Segundo os dados colhidos através do formulário depesquisa, constatou-se que as telefonistas da central deatendimento do CEFET-PB apresentam comprometimen-to de sua saúde física e mental, conforme o quadro 1.

QUADRO 1: Comprometimento da saúde física e/ou mental das telefonistas

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Estas informações demonstram que o estresseocupacional compromete o ser humano em todos osseus aspectos, afetando a forma de pensar das pessoase comprometendo a capacidade de pensar com clarezae objetividade. Além de comprometer a relação fami-liar do indivíduo e o seu desempenho de outrasatividades. Portanto, as pessoas estressadas podemparecer menos capazes ou mais fracas do que são naverdade, além de achar que a sua situação é muito piordo que realmente é.

Añez, David e Lobo (2005) afirmam que para arealização de qualquer atividade laboral, é necessárioque haja uma interação e interdependência dos aspec-tos: físico, cognitivo e emocional. Aspectos estes queestão desestruturados quando relacionados com aatividade de telefonista, uma vez que elas ultrapassamseus limites para atender as exigências do trabalho,desencadeando sintomas psicológicos e físicos.

4.7 Avaliação dos sinais e sintomas do estressede trabalho

Segundo os dados coletados por meio do formulá-rio, referentes aos sintomas de estresse, constatou-seque todas as telefonistas apresentam sinais e sintomasde estresse. Assim, de acordo com as respostas daspesquisadas, os sinais e sintomas do estresse foramclassificados em 4 categorias: sintomas físicos, sinto-mas emocionais, sintomas cognitivos e sintomascomportamentais.

Em relação aos sintomas físicos, constatou-se que66,7% das entrevistas apresentavam a boca seca, can-saço, tontura e insônia; 100% tensão muscular; e 33,3%possuíam respiração ofegante, conforme o gráfico 3.No que tange aos sintomas cognitivos, percebeu-se que33,3% apresentam esquecimento, cansaço mental emaior probabilidade para erros e acidentes; e 66,7%tinham perda do humor.

Gráfico 3: Sintomas físicos

È possível constatar uma grande interdependênciaentre os sintomas físicos e os sintomas cognitivos, uma

100%

33,3%

66,7%

0%

10%

20%

30%

40%

50%60%

70%

80%

90%

100%

Boca seca, cansaço,tontura e insôniaTensão muscular

respiração ofegante

vez que existe um ciclo vicioso, que permite que oestresse físico desencadeie o estresse psicológico evice-versa.

Conforme Santos (2004), os distúrbios do sonoem trabalhadores geralmente estão associados compreocupações referentes à realização de alguma tare-fa, pressão da chefia ou até mesmo a imagem cons-tante da empresa. Conseqüentemente, a noite do tra-balhador torna-se sofredora, destituída de paz, como reviver da empresa em todas as suas dimensões.Assim, quando o sono não é realizadosatisfatoriamente, surgem riscos à saúde do indiví-duo que podem ser de curto ou longo prazo (QUALI-DADE de vida, 2004).- Riscos em curto prazo: cansaço e sonolência du-rante o dia, irritabilidade, alterações repentinas dehumor, perda da memória de fatos recentes, compro-metimento da criatividade, redução da capacidade deplanejar e executar, lentidão do raciocínio e dificulda-de de concentração.- Riscos em longo prazo: falta de vigor físico, en-velhecimento precoce, diminuição do tônus muscular,comprometimento do sistema imunológico, tendênciaa desenvolver obesidade, diabetes, doençascardiovasculares e gastrintestinais, e perda crônica damemória.

No que diz respeito aos sintomas emocionais,100% das pesquisadas apresentaram angústia e 66,7%irritabilidade. Finalmente, em relação aos sintomascomportamentais, verificou-se que 66,7% apresenta-ram mudanças de apetite. Mas, também foi possívelperceber sintomas referentes ao relacionamento, comodesconfiança, correspondendo a 33,3%.

De acordo com Santos (2004), a irritabilidade notrabalho corresponde a uma das formas de desgastepsíquico, decorrente da fadiga do ambiente laboral,que geralmente repercute no lar, dificultando o relaci-onamento familiar. Esta fadiga é denominada de “fa-diga psíquica” que se refere a um estado de perturba-ção nervosa, um esgotamento com possibilidades detranstornos mentais e presença de indisposição geralcom sensação permanente de cansaço irrecuperável emum curto período de tempo.

Percebe-se que estes profissionais estão expostosa fatores estressores que abrangem o aspecto físico,psicológico e cognitivo, isto porque que toda e qual-quer atividade de trabalho possui pelo menos três as-pectos: o físico, o cognitivo e o emocional, que estãomuito ligados e que a sobrecarga de qualquer um de-les promove uma sobrecarga dos outros dois. Entre-tanto, é importante ressaltar que fator vulnerabilidadepessoal deve ser considerado, pois as pessoas reagemde formas diferentes quando expostas aos mesmos fa-tores estressores.

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5. Conclusão

O estresse ocupacional é considerado pela Organi-zação Mundial de Saúde (OMS) como a doença doséculo XX, correspondendo, portanto, a uma falha doprocesso de adaptação humana, desenvolvida devidoàs alterações dos fatores organizacionais, ergonômicose biológicos que, associadamente, podem resultar emdiversos sinais e sintomas. Nesse sentido, em decor-rência da complexidade desse processo, torna-se difí-cil diagnosticá-la sem que haja uma completa avalia-ção do posto de trabalho e da atividade ocupacionalexecutada. Além do que, torna-se também importanteaveriguar as atividades não-ocupacionais com oobjetivo de detectar as suas potencialidades no desen-volvimento dessa patologia.

Como o objetivo desta pesquisa foi verificar ascondições de trabalho que podem desencadear oestresse ocupacional nas operadoras da centraltelefônica do CEFET-PB, através do formulário pró-prio elaborado pela pesquisadora a partir da literatura,foi possível constatar que o desenvolvimento da pato-logia em estudo esteve relacionado com os fatoresocupacionais que envolveram, principalmente, arepetitividade da tarefa executada, insatisfação na re-alização da tarefa, ausência de pausas no trabalho.

Foi registrada ainda a presença de ruídos internose externos, como fator ergonômico inapropriado.Quanto aos fatores bio-psicossocias, foi constatada asusceptibilidade, inerente aos seres humanos, para odesenvolvimento da fadiga, monotonia e a insatisfa-ção salarial. Cabe ressaltar que todos esses fatores fo-ram destacados pelos autores apontados no referencialteórico, e que aqueles podem interferir na saúde, se-gurança e no conforto do trabalhador.

Foi possível concluir que as funcionárias estão ex-postas a alguns fatores desencadeantes do estresseocupacional, uma vez que a atividade executada é en-carada como uma situação laboral de risco, seja pelacarga física direta (manutenção da mesma postura porlongos períodos etc), seja pela carga física indireta,decorrente da somatização da ansiedade e do estressedo cotidiano. É importante registrar que estes fatoresdesencadeiam o estresse físico e/ ou mental que inter-ferem, diretamente, na produtividade e qualidade datarefa executada, e na qualidade de vida das funcioná-rias.

Os dados analisados na pesquisa permitiram rea-firmar a importância para o aprofundamento do co-nhecimento da patologia estresse ocupacional, a qual,direta ou indiretamente, tem feito parte do cotidianoda vida de muitos trabalhadores. Essa afirmativa sefundamenta na constatação de que o ser humano estáem processo de constante adaptação às novastecnologias, buscando assim atualizar-se perante um

mercado, cada vez mais, restritivo e competitivo comoforma de garantir a sua sobrevivência.

O estudo permitiu, ainda, oferecer recomenda-ções quanto à necessidade de organizar um postode trabalho ergonomicamente adequado para a exe-cução de atividade de operação em centraltelefônica. Assim, torna-se importante frisar queseria mais apropriado que o posto de trabalho des-sas operadoras estivesse localizado em um ambi-ente mais reservado, permitindo um melhor desem-penho dos funcionários, sem que haja sobrecargafísica e/ou mental. Além do que, estratégiasorganizacionais podem ser utilizadas com a finali-dade de promover o enriquecimento de cargo,correção de fatores físicos no ambiente e aplicaruma gestão efetiva dos fatores interpessoais.Concluindo, sugere-se a realização de estudos fu-

turos voltados a acompanhar as modificações propos-tas pelo presente estudo como, também, a realizaçãode estudos sobre essa patologia em relação a outrospostos de trabalho.

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Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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66 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Modelos Neurais para Dispositivos Ativos Semicondutoresde GaAs nas Faixas de Microondas/Óptica

Paulo Henrique da Fonseca Silva1

CEFET–PB/GTEMA – Av. 1º de Maio, 720 JaguaribeCEP: 58015-430 – João Pessoa, PB, Brasil

E-mail: [email protected]

Márcio G. Passos e Humberto C. C. FernandesUFRN/TECFOTON – Campus Universitário

CEP: 59072-970 – Natal, RN, BrasilE-mail: [email protected] e [email protected]

Resumo: Neste artigo descrevem-se os conceitos básicos para a elaboração de modelos de dispositivos ativossemicondutores de arseneto de gálio (GaAs), usados em sistemas de comunicação em operação nas faixas defreqüências de microondas/óptica, através de redes neurais artificiais sem realimentação (FNN’s − feedforwardneural networks). O enfoque é voltado para a computação realizada por uma FNN: processamento de sinais eaprendizado supervisionado através de algoritmos de treinamento fundamentados no método do gradiente. Apartir de uma nomenclatura uniforme, a formulação matemática desta metodologia se aplica a qualquer FNNestática. São apresentadas algumas contribuições nesta área, bem como aplicações das FNN’s como modelospara transistores de microondas e amplificadores ópticos. Os resultados obtidos demonstram a eficiênciacomputacional e a capacidade de generalização dos modelos neurais propostos.

Palavras Chave: redes neurais sem realimentação, dispositivos ativos, modelos neurais.

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

1. Introdução

A expansão mundial do mercado de produtos e ser-viços de telecomunicações observada nas últimas dé-cadas devido, por exemplo ao advento da Internet e datelefonia celular, só foi possível graças ao avançotecnológico dos sistemas de comunicação. No estágiotecnológico atual, tornou-se comum o uso de ferra-mentas computacionais sofisticadas para projeto, aná-lise e simulação dos dispositivos e circuitos compo-nentes de um sistema de comunicação. A tecnologiaatravés de redes neurais artificiais (ANN’s – ArtificialNeural Networks) é uma das ferramentas de Inteligên-cia Computacional, que também tem contribuído parao desenvolvimento nesta área. Os modelos neurais paradispositivos de microondas/ópticos avançaram rapi-damente no que se refere à aproximação, simulação eotimização de parâmetros físicos, elétricos e ópticos(ZHANG, GUPTA, 2000).

Na elaboração dos modelos neurais propostos, umaFNN é treinada com dados precisos (medidos ou si-mulados), que representam uma parte conhecida daregião de operação de um dispositivo. Após a fase detreinamento, a rede FNN deve ser capaz de generali-

zar nesta região de operação. Desta forma, obtém-se omodelo neural para o dispositivo em questão, que podeser então incorporado, com suas vantagenscomputacionais, a um programa de CAD (ComputerAided Design), por exemplo, para a simulação de cir-cuitos não lineares.

Em geral, os modelos neurais associam a precisãodos simuladores eletromagnéticos (modelos físicos/métodos numéricos de onda completa) e a eficiênciacomputacional, que é uma característica dos modelosempíricos, (SILVA, 2002).

Em particular, este artigo reúne os procedimentosutilizados para o projeto de uma FNN estática. Na se-ção 2 são apresentados alguns conceitos básicos sobreredes neurais. As seções 3 e 4 são devotadas à formu-lação da metodologia através das redes neurais MLP(multilayer perceptrons) e RBF (radial basisfunctions), respectivamente. A seção 5 descreve a apli-cação de redes FNN’s como modelos para dispositi-vos ativos semicondutores de GaAs: transistores demicroondas e amplificadores ópticos. Os modelos pro-postos através de redes modulares SFNN (samplefucntion neural network) também são descritos. Osresultados decorrentes da simulação computacional dosmodelos neurais elaborados são apresentados na se-ção 6. Enfim, na seção 7 constam as conclusões sobreos resultados obtidos.

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2. Conceitos Básicos

- Redes Neurais ArtificiaisUma rede neural artificial (rede neural, ou simples-

mente rede) é uma máquina que pode ser construídacom componentes eletrônicos ou simulada em com-putadores digitais. A unidade básica de processamentode informação de uma rede neural é o neurônio artifi-cial (neurônio ou simplesmente nó). Cada neurôniopossui um conjunto de conexões de entrada. Na confi-guração de uma rede neural os neurônios são reunidosem camadas, constituindo um processador de sinaisparalelo e totalmente distribuído.

Uma característica importante de uma rede neuralé a sua natureza adaptativa. Esta propriedade é atribu-ída às conexões entre os neurônios da rede. A cadaconexão está associado um peso (amplitude, ouparâmetro livre). Este peso amplifica, atenua, e/oumuda um sinal de informação pré-sináptico - na entra-da de uma conexão. Durante o processo de aprendiza-do, quando a rede é ativada com exemplos de treina-mento, seus pesos (ou parâmetros livres) são ajusta-dos de acordo com uma estratégia de aprendizado.

Estas características de uma ANN são responsá-veis não só por sua capacidade de aprendizado a partir

de exemplos, mas principalmente, por sua habilidadepara generalizar respostas, quando ativada com novosexemplos - uma propriedade muito difícil de se obter,a partir de ferramentas de computação convencional.

Devido a sua natureza paralela, uma rede neuralrealiza o processamento de sinais de informação emalta velocidade; além disso, são tolerantes a falhas deseus elementos individuais de processamento.

As redes neurais possuem uma vocação natural paraarmazenar o conhecimento experimental, tornando-odisponível para uso futuro. Seu funcionamento é se-melhante ao do cérebro humano em dois aspectos: i)o conhecimento é adquirido pela rede neural por umprocesso de aprendizado; ii) as amplitudes das cone-xões entre os neurônios artificiais são utilizadas paraarmazenar o conhecimento, (HAYKIN, 1994, p. 2).

De um modo geral, o projeto de uma rede neuralconsiste em três elementos principais: configuração -como a rede neural é organizada em camadas e comoestas estão conectadas; aprendizado - como a infor-mação é armazenada na rede; evocação - como a in-formação armazenada é recuperada da rede.

- Representação do ConhecimentoEm funcionamento, uma rede neural está inserida emum ambiente, do qual são obtidos os sinais de infor-mação (exemplos) que ativam a rede, Fig. (1). Nestecontexto, o conhecimento se refere à informação ar-mazenada ou um modelo utilizado, por uma pessoa oumáquina para interpretar, predizer, e responder apro-priadamente ao ambiente exterior.

Figura 1. Ambiente de funcionamento de uma rede neural.

O problema de representação do conhecimentoconsiste na solução das seguintes questões, (HAYKIN,1994, p. 22): Qual é a informação conhecida a priorisobre o estado do ambiente? Como esta informaçãopode ser codificada e utilizada?

A tarefa principal de uma rede neural é justamenteo aprendizado de um modelo do ambiente, no qual elaestá inserida, bem como manter este modelo consis-tente em ambiente real.

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68 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Em qualquer aplicação os dados obtidos formamum conjunto de exemplos, que são usados durante otreinamento. Estes exemplos de treinamento devem serrepresentativos do ambiente - problema de aprendiza-do submetido à rede neural. Os exemplos ‘falam porsi’ – nenhuma informação adicional é necessária parao treinamento da rede.

Cada exemplo de treinamento consiste de um parde vetores de sinais de entrada/respostas desejadas. Oconjunto de dados de treinamento é definido por:

Em que cada iteração n corresponde ao instante deapresentação de um exemplo; N indica o número totalde exemplos. Convém ressaltar que os dados de trei-namento são normalizados.

- Aprendizado Supervisionado

Na simulação computacional do processo de apren-dizado supervisionado de correção do erro, a adapta-ção dos pesos de uma rede neural é feita por umalgoritmo de treinamento. O sinal erro (a diferençaentre a resposta desejada e a saída da rede) é obtidoatravés da ativação da rede neural. É como se a redeestivesse na presença de um ‘professor’, que forne-cesse os exemplos de treinamento, Fig. (2). O objeti-vo deste método é a minimização do sinal erro.

Figura 2. Representação do processo deaprendizado supervisionado.

−−−−− Modelo Não-Linear de um Neurônio Artificial

O modelo de neurônio mais usado atualmente é operceptron de Rosenblatt (1958), cuja operação é baseadano modelo não-linear de um neurônio artificial propostopor McCulloch-Pitts (1943). Neste modelo, um neurônio

é constituído por um conjunto de conexões e um elementode processamento, que inclui um somador e uma funçãoativação linear ou não-linear, Fig. (3).

Em conjunto, o somador e os pesos efetuam umacombinação linear dos sinais de entrada do neurônio

iy , cujo resultado corresponde ao nível de atividadeinterna ou potencial de ativação, Eq. (2). Por suavez, o sinal de saída do neurônio, , é a resposta dafunção ativação a este potencial, Eq. (3).

∑=

=Ni

iijij )n(y)n(w)n(a

0

(2)

( ))n(a)n(y jjj ϕ= (3)

em que corresponde ao potencial de po-larização do neurônio.

Figura. 3 Modelo não-linear de um neurônio.

−−−−− Redes Neurais sem Realimentação

Na configuração de uma FNN os neurônios artifi-ciais são reunidos em camadas. Cada neurônio de umacamada está conectado a todos os neurônios da camadaanterior, conforme a configuração ilustrada na Fig. (4).A propagação dos sinais ocorre no sentido direto: dacamada de entrada para a camada de saída, passandoatravés das camadas ocultas da rede FNN.

Figura 4. Configuração de uma rede neural sem realimen-tação com quatro camadas.

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69PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

A camada de entrada de uma FNN é composta deneurônios sensores, que captam os sinais de entradado ambiente adequando-os ao processamento na redeneural. A computação realizada na camada de entradaé simbolizada por ii yx → . Os neurônios ocultos sãoconsiderados unidades associativas, responsáveis pelarepresentação das características presentes nos sinaisde entrada. Os neurônios de saída, por sua vez, geramos sinais de saída da rede.

3. Metodologia Através de Redes MLP’s

Esta seção descreve o tipo mais usado de FNN: arede neural MLP, com apenas uma camada oculta, cujaconfiguração é ilustrada na Fig. (5). A rede MLP temsuas raízes no perceptron de Rosenblatt (1958). Des-crita pela primeira vez por Werbos (1974), despertoubastante interesse da comunidade científica a partirdos estudos reportados por Rumelhart et al, (1986).Este e outros trabalhos publicados, em meados da dé-cada de 1980, representaram um marco para o avançoatual das redes neurais.

- Computação no Sentido DiretoEm termos matemáticos, o processamento de si-

nais realizado pela rede MLP, Fig. (5), é descrito atra-vés das seguintes expressões de computação no senti-do direto, Eq. (4)-(7).

Em que

jiw

é o peso da conexão entre os neurôniosi e j;

kjw

é o peso da conexão entre os neurônios j e k; denotam os sinais de saída de cada

neurônio nas camadas de entrada, oculta e de saída,respectivamente; e correspondem às funçõesativação, respectivamente, nas camadas oculta e desaída.

Os neurônios ocultos da rede MLP são definidoscom uma função ativação sigmóide. No modelo pro-posto, a camada de saída é linear e para a camadaoculta define-se a função logística como funçãoativação não linear, Eq. (8).

Figura 5. Rede MLP com uma camada oculta

−−−−− Medidas de Desempenho de TreinamentoAs medidas de desempenho de treinamento são

definidas como uma função quadrática do sinal erro.No jargão das redes neurais, estas medidas recebemvárias denominações, tais como: função erro, funçãoobjetivo ou custo, superfície de erro, etc.

Define-se o sinal erro para o k-ésimo neurônio dacamada saída da rede MLP através da Eq. (9).

A partir da informação do sinal erro, obtém-se oerro médio quadrático instantâneo, Eq. (10). Estamedida de desempenho leva em conta o sinal erro decada neurônio na camada de saída da rede.

Outra medida muito utilizada é o erro médioquadrático (MSE - mean square error), cujo cálculoleva em conta a apresentação do conjunto de treina-mento completo, Eq. (11).

Em que t é o índice que indica o número de épocasde treinamento. Uma época corresponde ao tempo ne-cessário para a apresentação de todos os exemplos detreinamento à rede neural.

Page 70: Revista Principia N 13

70 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

−−−−− Algoritmo Backpropagation (BP)O algoritmo backpropagation é uma aplicação par-

ticular do método do gradiente para a otimização dospesos da rede MLP. Neste método, a informação dovetor gradiente da função erro, , indica adireção de pesquisa no espaço de pesos. O gradienteem relação a um peso qualquer da rede, , é defi-nido na Eq. (12):

Especificamente, os pesos são ajustados no senti-do oposto ao do vetor gradiente da função erro. A adap-tação é efetuada de forma iterativa através da seguin-te relação recursiva:

em que, é a taxa de aprendizado, uma cons-tante que regula os valores de ajuste dos pesos.

A solução da Eq. (13) aplicada ao MLP resulta nasseguintes relações recursivas para ajuste dos pesos,Eq. (14)-(15),

em que, e indicam as derivadas de primeiraordem das funções ativação do MLP.

Inicialmente, atribuem-se valores aleatórios aospesos, dentro de uma faixa pré-estabelecida, que ser-vem como ponto de partida para o treinamento com oalgoritmo BP.

4. Metodologia Através de Redes RBF’s

− Rede RBF GaussianaUma rede neural de funções de base radiais con-

siste em uma camada de entrada, uma camada ocultade funções RBF’s, e uma camada de saída linear. Aconfiguração ilustrada na Fig. (6), com apenas um nóde saída é a mais simples para uma rede RBF. As rela-ções de computação no sentido direto, Eq. (16)-(18),descrevem o processamento de sinais na rede RBFGaussiana.

Figura 6. Rede RBF com um neurônio de saída

em que, é o vetor de centros e é a ‘largura’ daj-ésima função RBF Gaussiana.

A estratégia de seleção supervisionada dos centrosé a mais usada para o treinamento de uma rede RBF.Nesta estratégia, os parâmetros livres da rede (cen-tros, larguras e pesos) são ajustados através de um pro-cesso de aprendizado supervisionado de correção doerro, (LOWE, 1989). O objetivo é a minimização dafunção erro definida na Eq. (11). Através do métododo gradiente, obtêm-se as seguintes relações recursivaspara a otimização dos parâmetros livres da rede RBF,Eq. (19)-(21).

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71PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

− Rede de Funções SampleA rede de funções sample (SFNN − sample

functions neural network) é uma contribuição ori-ginal, que tem sido aplicada com sucesso na área deengenharia de microondas, (SILVA, 2002). Sua con-figuração é idêntica a da rede RBF, Fig. (6). A esco-lha da função ativação do tipo sample,

para os neurônios ocultos daSFNN teve motivação nas aplicações desta função parareconstrução de sinais. O processamento de sinaisnuma SFNN é descrito através da seguinte computa-ção no sentido direto, Eq. (22)-(24).

Com a aplicação do método do gradiente, resultamas seguintes relações recursivas para a otimização dosparâmetros livres da rede SFNN, Eq. (25)-(27).

5. Modelo Neural Proposto

Um programa de CAD para simulação de circui-tos de microondas/ópticos incorpora vários modelosde dispositivos ativos não lineares. Durante a simula-ção, estes modelos são avaliados de uma formarepetitiva. Por isso, simuladores de circuitos, como oSPICE, usado para análise transitória ou como o MBH(método do balanço harmônico), usado para análiseem regime permanente, requerem modelos de dispo-sitivos eficientes e precisos.

Contudo, eficiência computacional e precisão nãoandam juntas nos modelos convencionais. Por exem-plo, os modelos empíricos, formulados em termos deexpressões analíticas conhecidas, são eficientes, masgeralmente suas respostas são apenas aproximadas.

Por outro lado, os modelos EM’s (eletromagnéticos),que levam em conta a física dos dispositivos, recaemem métodos numéricos precisos, mas com elevadocusto computacional.

Neste contexto, as redes neurais surgiram comoferramentas numéricas alternativas e bastante atrati-vas. A precisão de um modelo neural se equipara a deum modelo físico, enquanto que, sua eficiênciacomputacional é tão boa quanto a de um modeloempírico.

Os modelos neurais propostos neste artigo encon-tram aplicações para dispositivos não lineares de duasportas, em operação nas faixas de microondas/óptica.Um dispositivo susceptível a este tipo de modelagempossui uma característica em particular: sua respostaou sinal de saída depende de um sinal de entrada e deum sinal de controle. Admite-se que a resposta nãolinear seja ditada principalmente pelo sinal de entra-da, sendo sua magnitude regulada pelo sinal de con-trole, Fig. (7). Em particular são consideradas aplica-ções para transistores de microondas e amplificadoresópticos.

Os dados de treinamento de um dado dispositivosão obtidos a partir de suas curvas características. Es-tes dados são fornecidos pelo fabricante do dispositi-vo ou obtidos através de métodos numéricos precisos.As curvas características delimitam a região de opera-ção do dispositivo entre os valores mínimo e máximodos sinais de entrada e de controle. Esta região de ope-ração é chamada de região de interesse, Fig. (7).

Na aplicação das FNN’s como modelos de dispo-sitivos, além da interpolação dos dados de treinamen-to, espera-se que o modelo neural forneça respostasprecisas para toda região de interesse, mesmo onde setem pouco ou nenhum conhecimento sobre o funcio-namento do dispositivo.

Figura 7. Região de interesse

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72 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Neste sentido, alguns aspectos como a escolha dosdados de treinamento, do número de neurônios ocul-tos e do algoritmo de treinamento a ser utilizado, in-fluenciam a capacidade de generalização do modeloneural resultante.

Uma rede MLP com uma camada oculta, treinadacom o algoritmo BP, é a metodologia mais utilizadana elaboração de um modelo neural. Contudo, paradispositivos de microondas/ópticos esta metodologianem sempre é suficiente. Ela falha devido a limita-ções do algoritmo BP, principalmente quanto à con-vergência, que, além de não ser garantida, é bastantelenta. Outro problema encontrado é a escolha adequa-da do número de neurônios da camada oculta do MLP,que tanto influencia a convergência do algoritmo BP,quanto a capacidade de generalização da rede.

Para contornar estes problemas, propôs-se um mo-delo, neural através de uma rede modular SFNN, com-posta de duas redes especialistas e de uma rede de sa-ída, Fig. (8). As saídas das redes especialistas são apli-cadas às entradas da rede de saída, que fornecem aresposta deste modelo neural.

As redes especialistas são treinadas a partir das cur-vas características de valor inicial e de valor final dosinal de controle, que delimitam a região de operaçãodo dispositivo, Fig. (7). Para o treinamento da rede desaída, o conjunto de treinamento completo é utilizado.

Esta configuração de rede modular visa à divisãode um problema de aprendizado dado em problemasmenores e mais simples de serem resolvidos. Assim,ao invés de se utilizar apenas uma SFNN para mapeartoda a região de interesse, esta tarefa é dividida entreas três SFNN’s da rede modular.

Figura 8. Configuração da rede modular SFNN

O uso da rede modular SFNN traz alguns benefíci-os interessantes tais como: redução do número deneurônios ocultos para as redes especialistas, pois cadauma precisa aproximar apenas uma curva característi-ca; melhor capacidade de generalização da rede desaída, uma vez que, as redes especialistas lhes forne-cem informação adicional, através de duas entradasextras. O preço pago é a necessidade de se treinar trêsSFNN’s para apenas um modelo neural.

O algoritmo resilient propagation (RPROP), pro-posto inicialmente para o treinamento de redes MLP’s(RIEDMILLER; BRAUN, 1993) foi adaptado para otreinamento das redes SFNN’s. O RPROP é robustoquanto à escolha dos parâmetros de treinamento e ace-lera o treinamento das redes SFNN’s. Estas duas van-tagens facilitou também a escolha, através de tentati-va e erro, do número adequado de neurônios ocultospara cada SFNN.

6. Aplicações

- Transistores GaAs MESFET’sOs transistores de microondas do tipo GaAs

MESFET (Metal Semiconductor Field Effect Transis-tor) são dispositivos complexos internamente. Os mo-delos empíricos/analíticos são incapazes de descrevê-los de forma precisa e sob todas as condições. Simula-ções precisas só são possíveis através do uso de ummodelo físico/método numérico (SILVA et al., 2001).

Nesta seção, propõe-se a aplicação de uma redeMLP como modelo de um transistor do tipo GaAsMESFET. O MLP utilizado possui 3 nós de entrada,uma camada oculta com 10 neurônios e um neurôniode saída linear. Para o treinamento com o algoritmoRPROP foram utilizados 33 exemplos para represen-tar a característica deste transistor.

Na Figura (9), é feita uma comparação entre as res-postas do modelo neural MLP e de outros modelosempíricos, com os resultados do modelo físico/EM deanálise em 2-D (SILVA et al, 2002). Verifica-se que omodelo neural MLP apresenta a melhor aproximaçãopara os dados de análise 2-D.

Figura 9. Curvas características de um transistor demicroondas GaAs MESFET

No teste da capacidade de generalização do mode-lo MLP, simulou-se a resposta transitória do circuitode entrada de uma porta lógica com dois transistoresGaAs MESFET, Fig. (10). Para tanto se utilizou o

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73PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

circuito não linear equivalente proposto por Curtice(1980). Os resultados obtidos nesta análise transitóriademonstraram a validade do modelo MLP. A Figura(11) apresenta as respostas para uma entrada pulsadanuma taxa de 1 Gbit/s. A tensão de saída do circuitoporta lógica, obtida a partir do modelo deSCHICHMAN; HODGES (1968), incorporado ao si-mulador SPICE2, apresenta erros no tempo de subida,no ganho e no atraso de propagação. Para o modelo deCurtice (1980), os resultados são razoáveis para ummodelo empírico. O modelo MLP é o que melhor apro-xima a resposta transitória do modelo preciso de aná-lise numérica em 2-D.

Figura 10. Circuito porta lógica e circuito equivalentepara o GaAs MESFET

A eficiência computacional de cada um dos mode-los simulados foi medida em função do número deiterações do método de Newton-Raphson, usado naanálise transitória do circuito porta lógica. Os resulta-dos obtidos são mostrados na Fig. (12). Neste estudocomparativo, verificou-se que, o custo computacionaldo modelo MLP é inferior ao do modelo de Curtice, e,ligeiramente superior ao do modelo de Schichman-Hodges.

Figura 11. Respostas pulsadas a 1,0 Gbit/s

Fig. 12 Custo computacional dos modelos

- Amplificadores Ópticos

Com o advento das comunicações por fibrasópticas, as aplicações do laser aumentaram tambémnesta área. Os amplificadores ópticos com lasersemicondutor são usados, por exemplo, como ampli-ficadores de linha, pré-amplificadores, amplificado-res de banda-estreita com sintonia elétrica.

Nas aplicações em estações repetidoras, os ampli-ficadores ópticos possibilitam links extensos de co-municação por fibra, que são inviáveis sem a recupe-ração dos sinais transmitidos. Antes do advento des-tes amplificadores, os sinais chegavam aos repetidores,onde eram convertidos em sinais elétricos, restaura-dos, sincronizados e retransmitidos. Todo este proces-so é eliminado com o uso dos amplificadores ópticos(IIZUKA, 2002).

O coeficiente de ganho de um amplificador a lasersemicondutor, , é uma função do nível de energiados fótons, h í, bem como, da concentração de porta-dores injetados, . Nesta aplicação, um modelo atra-vés da rede modular SFNN deve realizar o mapeamento

. Os dados precisos para o treinamentoe teste foram obtidos a partir de soluções das equa-ções integrais que regem o funcionamento destes am-plificadores, (SALEH; TEICH, 1991, p. 613).

- Amplificador Laser de GaAsNa elaboração do modelo para o amplificador de

GaAs, as SFNN’s da rede modular foram treinadasseparadamente. As informações relevantes para o trei-namento estão contidas na Tab. (1). A simulação dosmodelos foi realizada em um microcomputador pes-soal Celeron 566 MHz com 80 Mb de memória. Obvi-amente, o tempo total de treinamento cresce com otamanho do conjunto de treinamento.

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Tabela 1. Informações de treinamento da rede modularSFNN para o amplificador de GaAs.

Os resultados de simulação para o coeficiente deganho do amplificador de GaAs, ilustrados na Fig. (13),indicam boa concordância entre a resposta do modeloatravés da rede modular SFNN e o método de cálculoconvencional. Para verificação da capacidade de ge-neralização, este modelo neural foi utilizado para esti-mar os valores de pico do coeficiente de ganho, em ter-mos da concentração de portadores injetados. A estima-tiva obtida, Fig. (14), indica uma boa aproximação paraa resposta precisa do modelo de equações integrais.

Figura 13. Resposta da rede modular SFNN – amplificadorlaser semicondutor de GaAs.

- Amplificador Laser de InGaAsP

Na elaboração do modelo do amplificador deInGaAsP, as redes SFNN’s também foram treinadas

de forma separada e as informações relevantes para otreinamento estão contidas na Tab. (2).

Para o amplificador InGaAsP, os resultados de tes-te, Fig. (15), demonstraram que a resposta do modeloneural está em excelente concordância com o modelofísico preciso, com generalização para as curvas deteste.

Figura 14. Valor de pico do coeficiente de ganho

Tabela 2. Informações de treinamento da rede modu-lar SFNN para o amplificador de InGaAsP.

Figura 15. Resposta da rede modular SFNN - amplifica-dor laser semicondutor de InGaAsP.

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75PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

8. Referências

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RUMELHART, D. E., HINTON, G. E., WILLIAMS,R. J. Learning Internal Representations by ErrorBackpropagation. Parallel Distributed Processing,

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SALEH, B. E. A., TEICH, M. C. Fundamentals ofPhotonics. John Wiley and Sons, INC., 1991. cap. 16,p. 592-643.

SCHICHMAN, H., HODGES, D. A. Modeling andSimulation of Insulated-Gate Field-Effect TransistorSwitching Circuits. IEEE J. Solid-State Circuits, v.3, p. 285-289, 1968.

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Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

7. Conclusões

Neste artigo, formulou-se uma metodologia paraa elaboração de modelos neurais através de FNN’spara dispositivos ativos de GaAs. A proposta da redemodular SFNN foi uma contribuição que, aplicadacomo modelo neural, apresentou uma maior capaci-dade de generalização. Algumas vantagens destametodologia incluem eficiência computacional e re-duzida ocupação de memória. Os resultados obtidosdemonstraram que as FNN’s são eficientes e preci-sas nas aplicações como modelos neurais. A versati-lidade destes modelos possibilita a aplicação destametodologia a uma ampla classe de dispositivos demicroondas/ópticos.

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76 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

As Fontes Alternativas de Energia no CEFET/SC

Profº Paulo Roberto Weigmann 1

Alejandro Eduardo NavarroIngrid Carolini CezárioLeandro Walter Pazeto

Rafael Luiz da SilvaReginaldo Steinbach

Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa CatarinaAv. Mauro Ramos 950 – Florianópolis – SC

[email protected][email protected]

[email protected]@gmail.com

[email protected]@gmail.com

Resumo: O setor de oferta de energia tem dado sinais de consonância com a temática da redução de emissõesde gases que causam efeito o estufa. A produção de energia elétrica a partir das fontes de energia renovável sãoelementos relevantes, a complementar, entre outras, por medidas ativas de promoção da utilização racional deenergia nos setores consumidores. Iniciativas previstas em matéria de fomento da co-geração e da micro-gera-ção, quer a nível comunitário ou a nível nacional, poderão dar contribuições relevantes no que se refere àdiminuição da emissão de gases, decorrentes do aumento de eficiência na transformação da energia. No entanto,será necessário reforçar o papel das concessionárias de transporte e distribuição de eletricidade e gás na promo-ção do uso eficiente da energia. O CEFET/SC sendo referencia de ensino de qualidade e preocupando-se comeste contexto que se forma em nossa sociedade, teve a iniciativa de realizar em seu campus de Florianópolis umamplo programa de utilização de energias renováveis, para estudar as mesmas e também disponibilizar para acomunidade informações sobre estas tecnologias que serão o futuro da geração de energia.

Palavras-chave — energia alternativa, fontes renováveis, cenário, conservação de energia

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

1. Introdução

Motivados pela contextualização dos cenários quese formam à nossa volta e utilizando dos conhecimen-tos adquiridos na unidade de estudos de Sistemas deEnergia, do Curso Superior de Tecnologia em Siste-mas Digitais do CEFET/SC, este artigo apresenta umestudo das fontes de energias renováveis e suas for-mas de geração.

Os projetos de pesquisa de fontes alternativas deenergia renováveis do CEFET/SC possibilitam não sóa comunidade acadêmica, mas a toda a sociedadecatarinense uma oportunidade de conhecer e utilizarestas novas fontes de energia alternativas.

No CEFET/SC Unidade de Florianópolis já se temacesso à iluminação publica através de energia solarfotovoltáica, aquecimento solar deágua, bombeamento de água com energia solar, e jáem fase de implantação, a instalação de duas turbinaseólicas com aerogeradores.

Neste artigo serão abordadas as tecnologias degeração de energia, através de célula a combustível,energia solar, biomassa, energia eólica, bem como ce-nário nacional e catarinense para a utilização das fon-tes de energias alternativas.

2. Célula a combustível

Uma célula a combustível é uma célulaeletroquímica, basicamente uma bateria em que é con-sumido um combustível e é liberada energia.

Consideremos uma bateria em que os reagentessejam alimentados continuamente, e esses reagentestípicos sejam o oxigênio e o hidrogênio. O hidrogênioé fornecido do lado do anodo e o oxigênio no lado docatodo. As baterias comuns têm que ser recarregadasde tempos em tempos porque os reagentes esgotam-se. As células combustíveis estacionárias não portá-teis, pelo contrário, não necessitam de seremrecarregadas, uma vez que os reagentes são forneci-dos continuadamente.

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As células combustíveis têm a vantagem de ser al-tamente eficientes e pouco poluentes. Podem ser utili-zadas como sistemas de emergência, em zonas ondenão existe rede elétrica, em aparelhos portáteis e veí-culos.

2.1 Funcionamento

Célula a Combustível (Fuel Cell) é uma tecnologiaque utiliza a combinação química entre oxigênio ehidrogênio para gerar energia elétrica, energia térmi-ca (calor) - e água. As diferentes tecnologias de célulaa combustível têm basicamente o mesmo princípio.São compostas por dois eletrodos porosos: o ânodo(terminal negativo) e o cátodo (terminal positivo), cadaum revestido num dos lados por uma camada decatalisador de platina ou níquelhttp://www.celulaacombustivel.com.br/cac/componentes/niquel.htm, e separados por um eletrólito (materialimpermeável que permite movimento aos íons positi-vos – prótons - entre os eletrodos). Dentro da célula acombustível os componentes exercem as seguintesfunções:ÂnodoO terminal negativo - ânodo - tem canais de fluxo quedistribuem o gás hidrogênio sobre a superfície docatalisador.CatalisadorUma fina camada de catalisador recobre o eletrólitoou membrana. O catalisador é um metal, normalmen-te platina ou níquel, que acelera as reações químicasentre o oxigênio e o hidrogênio.Membrana ou EletrólitoAlgumas células utilizam eletrólitos líquidos e outrassólidas, como as membranas plásticas de troca deprótons para conduzirem cargas positivas, os prótons.Somente as cargas positivas atravessam o eletrólito,os elétrons não.CátodoO terminal negativo - ânodo - tem canais de fluxo quedistribuem o gás hidrogênio sobre a superfície docatalisador, e remove a água produzida durante areação.

2.2 Desenvolvimento

No Brasil, as principais tecnologias em estudo sãoPEMFC (Célula a Combustível tipo MembranaCondutora de Prótons) e SOFC (Células a Combustí-vel de Óxidos Sólidos). O governo tem apoiado o de-senvolvimento destas tecnologias através da criaçãoem 2002 do Programa Brasileiro de Sistemas de Célu-la a Combustível (ProCaC), uma iniciativa do Minis-tério de Ciência e Tecnologia (MCT) coordenado peloCentro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do

próprio ministério. O programa tem como objetivoincentivar um conjunto articulado de projetos de pes-quisa, desenvolvimento e informações em diferentesáreas de atuação para desenvolver tecnologia nacio-nal de células a combustível. Também diversas insti-tuições como concessionárias de energia, institutos depesquisa, universidades tem apresentado trabalhos re-ferentes a pesquisa de células a combustível.

2.3 Aplicações

As células a combustível tem demonstrado grandepotencial, principalmente em aplicações portáteis comotelefones moveis, laptops, palmtops. Também em pe-quenas aplicações de geração estacionária, indústriaautomobilística em vários locais do planeta, comprojetos de transporte coletivo e individual.

2.4 Principais benefícios sociais

• Redução da emissão de poluentes no ar e me-lhora na qualidade da saúde respiratória, es-pecialmente em áreas urbanas que já apresen-tam problemas de baixa qualidade do ar, comoa cidade de São Paulo;

• Redução da emissão de gases causadores doefeito estufa;

• Crescimento econômico, desenvolvimento ecriação de empregos;

• Redução da sobrecarga nas linhas de transmis-são, possibilitando direcionar os investimen-tos para outras áreas, como a geração distri-buída, melhorando a eficiência energética;

• Aumento da segurança de energia;• Diminuição da quantidade de baterias conven-

cionais e nocivas ao meio ambiente jogadasem aterros sanitários.

• Redução de prejuízos na agricultura atravésda redução da chuva ácida e níveis de con-centrações de ozônio próximos à superfície;as células a combustível não emitem pratica-mente poluentes;

• Redução da poluição sonora, pois as CaCs nãotêm partes móveis e operam silenciosamente.Assim, a poluição sonora causada pelo trânsi-to irá diminuir, bem como o conforto das pes-soas que trabalham em locais onde normal-mente se utiliza motores a diesel – extrema-mente barulhentos - para produzir eletricidade.

• Redução da contaminação do lençol freático,a partir dos automóveis. Hoje praticamentetodos os veículos utilizam óleo para lubrifica-ção dos motores, ocorrendo muitos vazamen-tos que contaminam a superfície e provocam

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acidentes nas estradas. As células a combustí-vel não utilizam óleo para manutenção.

• Redução da emissão de partículas na atmos-fera, como cinzas da fumaça.

3. Panorama da energia eólica

A energia dos ventos é uma abundante fonte deenergia renovável, limpa e disponível em todos os lu-gares. A utilização desta fonte energética para a gera-ção de eletricidade, em escala comercial, teve iníciohá pouco mais de 30 anos e, através, de conhecimen-tos da indústria aeronáutica os equipamentos para ge-ração eólica evoluíram rapidamente em termos de idéi-as e conceitos preliminares para produtos de altatecnologia. O grande impulso para o desenvolvimentodessa e de outras fontes de energia alternativa foi acrise mundial do petróleo na década de 70, fazendocom que paises europeus e os estados unidos procu-rassem diminuir sua dependência ao petróleo e car-vão. Atualmente, a indústria de turbinas eólicas vemacumulando crescimentos anuais acima de 30% emovimentando cerca de 2 bilhões de dólares em ven-das por ano.

Existem, atualmente, mais de 30.000 turbinaseólicas de grande porte em operação no mundo, comcapacidade instalada da ordem de 13.500 MW. Até oano de 2030 planeja-se que esta capacidade ultrapas-se os 30.000 MW.

A União Européia tem por meta até 2030, a exem-plo do que já fazem hoje, países como a Dinamarca ea Alemanha, gerar 10% de toda a eletricidade de for-ma eólica.

No Brasil, embora o aproveitamento dos recursoseólicos tenha sido feito tradicionalmente com a utili-zação de cata-ventos multipás para bombeamentod’água, algumas medidas precisas de vento, realiza-das recentemente em diversos pontos do território na-cional, indicam a existência de um imenso potencialeólico ainda não explorado.

Estado do Ceará foi um dos primeiros locais a rea-lizar um programa de levantamento do potencial eólico,através de medidas de vento com modernosanemógrafos computadorizados. Entretanto, não foiapenas na costa do Nordeste que áreas de grande po-tencial eólico foram identificadas. Em Minas Gerais,por exemplo, uma central eólica está em funcionamen-to, desde 1994.

No Brasil a capacidade instalada é de 20,3 MW,com turbinas eólicas de médio e grande porteconectadas à rede elétrica. Além disso, existem deze-nas de turbinas eólicas de pequeno porte funcionandoem locais isolados da rede convencional para aplica-ções diversas - bombeamento, carregamento de bate-rias, telecomunicações e eletrificação rural.

3.1 Custos da energia eólica

Considerando o grande potencial eólico existenteno Brasil, confirmado através de medidas de ventoprecisas realizadas recentemente, é possível produzireletricidade a custos competitivos com centraistermoelétricas, nucleares e hidroelétricas. Análises dosrecursos eólicos medidos em vários locais do Brasilmostram a possibilidade de geração elétrica com cus-tos da ordem de US$ 70 - US$ 80 por MWh.

De acordo com estudos da ELETROBRÁS, o cus-to da energia elétrica gerada através de novas usinashidroelétricas construídas na região amazônica serábem mais alto que os custos das usinas implantadasaté hoje. Quase 70% dos projetos possíveis deverãoter custos de geração maiores do que a energia geradapor turbinas eólicas. Outra vantagem das centraiseólicas em relação às usinas hidroelétricas é que qua-se toda a área ocupada pela central eólica pode serutilizada (para agricultura, pecuária, etc.) ou preser-vada como habitat natural.

A energia eólica poderá também resolver o grandedilema do uso da água do Rio São Francisco no Nor-deste (água para gerar eletricidade versus água parairrigação). Grandes projetos de irrigação às margensdo rio e/ou envolvendo a transposição das águas dorio para outras áreas podem causar um grande impac-to no volume de água dos reservatórios das usinashidrelétricas e, conseqüentemente, prejudicar o forne-cimento de energia para a região. Entretanto, obser-vando o gráfico abaixo, percebe-se que as maioresvelocidades de vento no nordeste do Brasil ocorremjustamente quando o fluxo de água do Rio São Fran-cisco é mínimo. Logo, as centrais eólicas instaladasno nordeste poderão produzir grandes quantidades deenergia elétrica evitando que se tenha que utilizar aágua do rio São Francisco.

Figura 1 - Comparação entre o fluxo de água do Rio SãoFrancisco e o regime de vento no nordeste do Brasil.

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79PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

3.2 Potencial eólico no Brasil

No Brasil, assim como em várias partes do mun-do, quase não existem dados de vento com qualidadepara uma avaliação do potencial eólico. Os primeirosanemógrafos computadorizados e sensores especiaispara energia eólica foram instalados no Ceará e emFernando de Noronha/Pernambuco apenas no iníciodos anos 90. Os bons resultados obtidos com aquelasmedições favoreceram a determinação precisa do po-tencial eólico daqueles locais e a instalação de turbi-nas eólicas.

Vários estados brasileiros seguiram os passos deCeará e Pernambuco e iniciaram programas de levan-tamento de dados de vento. Hoje existem mais de 100anemógrafos computadorizados espalhados por vári-os estados brasileiros.

As análises dos dados de vento de vários locais noNordeste confirmaram as características dos ventoscomerciais (trade-winds) existentes na região: veloci-dades médias de vento altas, pouca variação nasdireções do vento e pouca turbulência durante todo oano. Além disso, foram observados fatores de formade Weibull (da distribuição estatística de Weibull), k,maiores que 3 - valores considerados muito altos quan-do comparados com os ventos registrados na Europae Estados Unidos.

Dada a importância da caracterização dos recur-sos eólicos da região Nordeste, o Centro Brasileiro deEnergia Eólica - CBEE, com o apoio da Agência Na-cional de Energia Elétrica - ANEEL e do Ministériode Ciência e Tecnologia - MCT lançou, em 1998, aprimeira versão do Atlas Eólico do Nordeste do Bra-sil (WANEB - Wind Atlas for the Northeast of Brazil)com o objetivo principal de desenvolver modelos at-mosféricos, analisar dados de ventos e elaborar ma-pas eólicos confiáveis para a região. Um mapa de ven-tos preliminar do Brasil gerado a partir de simulaçõescomputacionais com modelos atmosféricos é mostra-do na figura 2.

Figura 2 -Mapa de ventos do Brasil. Resultados prelimi-nares do CBEE

Em 1999, a companhia paranaense de energia,COPEL, publicou o mapa do potencial eólico do esta-do do Paraná. Foram utilizados dados de vento de cer-ca de vinte estações anemométricas para simulaçõesem modelo atmosférico de microescala com apresen-tação gráfica em ferramenta GIS.

Também em 1999, o CBEE passou a utilizar omodelo atmosférico de mesoescala MM5 para elabo-rar a segunda versão do Atlas Eólico do Nordeste(WANEB 2) e realizar o Atlas Eólico Nacional. Estenovo projeto envolve a coleta e processamento de da-dos de vento de boa qualidade medidos em estaçõesterrenas e na atmosfera (sondas, satélites).

Baseado no WANEB 2 (ainda não publicado) oCBEE estima que o potencial eólico existente no Nor-deste é de 6.000MW.

4. Energia biomassa

O termo biomassa em sua concepção mais amplainclui toda a matéria viva existente num instante detempo na Terra. A biomassa energética também sedefine como o conjunto da matéria orgânica, de ori-gem vegetal ou animal, incluindo os materiais proce-dentes de sua transformação natural ou artificial

Qualquer tipo de biomassa tem em comum com oresto o fato de provir, em última instância, dafotossíntese vegetal.Através da fotossíntese, as plan-tas capturam energia do sol e transformam em energiaquímica.

Esta energia pode ser convertida em várias formasde energia: eletricidade, combustível ou calor. As fon-tes orgânicas que são usadas para produzir energiasusando este processo são chamadas de biomassa. In-cluí-se também nesta classificação os efluentes agro-pecuários, agro-industriais e urbanos.

5. O que é a energia solar ?

A energia solar como o próprio nome já diz, é umaenergia que vem do sol, irradiada continuamente. Parase ter uma idéia, em apenas um segundo o sol produzmais energia (internamente) que toda energia usadapela humanidade desde o começo dos tempos. Pode-se exprimir esta imensa grandeza energética é tomarcomo parâmetro, que a energia que a terra recebe porano vinda do sol, representa mais que 15000 vezes oconsumo mundial anual de energéticos.

Apenas uma pequena parte da energia irradiada pelosol no espaço chega até a terra, correspondendo a umaparte em dois bilhões. Ainda assim, é uma quantidadeenorme que vale ressaltar, por exemplo, que um únicodia de insolação nos Estados Unidos, equivale a todaenergia consumida na América em um ano e meio.

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De onde vem toda esta energia? Ela vem de dentrodo próprio sol, que como outras estrelas, é uma gran-de bola de gás feita basicamente de Hidrogênio e Hé-lio. O sol gera energia em seu núcleo por um processoconhecido como fusão nuclear. Durante a fusão, ocor-rem temperaturas e pressões extremamente altas quefazem o átomo de Hidrogênio ter seu núcleo fundidoou combinado. Quatro núcleos de Hidrogênio fundem-se tornando um átomo de Hélio. Mas o peso atômicodo Hélio é menor que os 4 núcleos combinados na suaformação, fazendo então que a matéria perdida sejaemitida para o espaço na forma de radiação.

O sol fornece energia que pode ser aproveitadabasicamente por três tipos de processos que são: 1)Térmico; 2) Fotovoltaico; e 3) Químico.

A captação natural de energia solar produz-se naatmosfera, nos oceanos e nas plantas da Terra. Porexemplo, as interações entre a energia solar, os ocea-nos e a atmosfera produzem ventos, os quais são utili-zados para mover em moinhos. Através da fotossíntese,a energia solar fornece energia aos vegetais que po-dem ser usados como combustíveis (biomassa). Emsíntese, toda a energia captada na Terra provém diretaou indiretamente do SOL.

6. Cenário brasileiro e catarinense

O Brasil ocupa hoje, no cenário energético mundi-al, uma posição bastante significativa. Segundo as es-tatísticas da Agência Internacional de Energia (AIE) opaís é o 10º produtor mundial de eletricidade e o 4ºprodutor mundial de hidro-eletricidade. Como umgrande país produtor, o Brasil também é um grandeconsumidor, sendo esta a origem do problema: o con-sumo.

Uma alternativa que o país ainda não deu a impor-tância devida é a utilização de recursos energéticosrenováveis para a produção de energia elétrica, comoa biomassa, a energia eólica e a energia fotovoltaica.Certamente, estas fontes de energia não são soluçõesfáceis de serem implantadas.

Entretanto, no Brasil, essas novas formas de ener-gia ganham impulso frente aos novos desafios para osetor energético. Estas aparecem como solução paracomplementar as energias convencionais e responderem forma ecologicamente correta às demandas de po-pulações mais distantes sem acesso à energia.

O cenário energético brasileiro dispõe, atualmente,de: 71 PCHs, sendo destas 11 em Santa Catarina; 20usinas de Biomassa; 52 usinas Eólicas, sendo 4 emSanta Catarina. Os investimentos em energia alterna-tiva no Brasil são possíveis graças aos recursos natu-rais disponíveis em larga escala e por benefícios como

a ampliação do desenvolvimento sócio-econômico lo-cal. Segundo dados do Balanço Energético Nacional -edição 2003, no Brasil, 41% da matriz energética sãorenováveis (baseada em hidroeletricidade e biomassa),enquanto a média mundial é de 14%, sendo apenas6% nos países desenvolvidos.

Diante da necessidade de suprir esta nova deman-da, o governo federal criou o Programa de Incentivoàs Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa),colocando em pauta o novo modelo do setor elétrico eo papel das energias alternativas no País.

O PROINFA, instituído pela Lei nº 10.438, de 26de abril de 2002 e revisado pela Lei nº 10.762, de 11de novembro de 2003, tem como objetivo a diversifi-cação da matriz energética brasileira e a busca porsoluções de cunho regional com a utilização de fontesrenováveis de energia, mediante o aproveitamentoeconômico dos insumos disponíveis e das tecnologiasaplicáveis, a partir do aumento da participação da ener-gia elétrica produzida com base naquelas fontes, noSistema Elétrico Interligado Nacional - SIN.O Programa promoverá a implantação de 3.300 MWde capacidade, em instalações de produção com iníciode funcionamento previsto para até 30 de dezembrode 2006, sendo assegurada, pela Centrais ElétricasBrasileiras S.A - ELETROBRÁS, a compra da ener-gia a ser produzida, no período de 20 anos, dos empre-endedores que preencherem todos os requisitos dehabilitação descritos nos Guias e tiverem seus projetosselecionados de acordo com os procedimentos da Lei10.438/02.

Além de ser visto como um importante instrumentopara a diversificação da matriz energética do país, oProinfa quer garantir maior confiabilidade e seguran-ça ao abastecimento, principalmente após a crise dosetor e o racionamento de 2001. A proposta governa-mental assegura a participação de um maior númerode estados no Programa, incentivando a indústria na-cional.

A contratação inicial é para geração de 3.300 MWde energia, sendo 1.100 MW de cada fonte, com pre-visão de investimentos na ordem de R$ 8,6 bilhões. Alinha de crédito, através do BNDES, prevê financia-mento de até 70% do investimento, sendo o restanteproveniente de investidores privados com capital pró-prio. A Eletrobrás, no contrato de compra de energiade longo prazo, assegurará ao empreendedor uma re-ceita mínima de 70% da energia contratada durante operíodo de financiamento e proteção integral quantoaos riscos de exposição do mercado de curto prazo. Onúmero de empresas que se apresentaram para partici-par do programa foi maior que o esperado pelo gover-no. Foram apresentados projetos envolvendo geração

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81PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

de 6,6 mil MW, o dobro de energia solicitado pelaEletrobrás (3.300 MW). Aqueles que tiverem licençaambiental antiga vão ter prioridade. Os empreendimen-tos devem entrar em funcionamento a partir de dezem-bro de 2006.

A produção de 3,3 mil MW dobrará a participa-ção na matriz de energia elétrica brasileira das fonteseólica, biomassa e PCH, que atualmente respondempor 3,1% do total produzido e, em 2006, podem che-gar a 6%. Apesar de alternativa, a energia solar nãoestá contemplada no programa. Isto porque a energiasolar é aplicada a sistemas de pequeno porte, em co-munidades isoladas, e o Proinfa é destinado atecnologias mais desenvolvidas, com possibilidade demanter unidades de maior porte, o que não é o caso daenergia solar. Diante desse cenário, as fontes alterna-tivas de energia como eólica, solar e biomassa são vis-tas com bons olhos. Além de causarem impactos subs-tancialmente menores, ainda evitam a emissão de to-neladas de gás carbônico na atmosfera. O debate so-bre os impactos causados pela dependência de com-bustíveis fósseis contribui para o interesse mundial porsoluções sustentáveis por meio da geração de energiaoriunda de fontes limpas e renováveis.

7. Conclusões

O panorama das energias renováveis no Brasil épromissor e para algumas tecnologias já está consoli-dado. O uso de fontes como a biomassa, do bagaço dacana, dejetos animais, já vem sendo utilizado com su-cesso, porém há problemas práticos a serem supera-dos. O uso de células combustíveis por consumidoresserá possível em futuro próximo, os projetos atuaistêm que ser orientados de forma correta. A energiaeólica, em fase de estudo em muitos locais do país,tem demonstrado potencial de parque de geração, po-rém seus impactos devem ser levados em conta pois,interferem não somente na questão ambiental comona poluição visual e sonora.

É no sentido de melhorar o entendimento sobreestas novas tecnologias, e, também, de torná-lasdisponíves a um número, cada vez, maior de pessoas,que o CEFET/SC continuara investindo na pesquisa eno desenvolvimento de soluções para uma melhor qua-lidade de vida da população. O Projeto sendo o princí-pio de um programa mais amplo, tem como efeitomultiplicador a disseminação dos conceitos de racio-nalização e uso eficiente da energia para as institui-ções de ensino tecnológico de SC.

Portanto, a sua disseminação nas instituições deensino, deve promover uma elevação significativa daqualidade de vida de forma global, responsável e combaixo custo.

8. Referências

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MARQUES, MILTON. HADDAD, JAMIL. Con-servação de energia – eficiência energética de insta-lações e equipamentos – ITAJUBÁ, MG.

DE GOUVELHO, HAMILTON MOSS; DA SILVA,PATRÍCIA DE CASTRO; DUTRA, RICARDO MAR-QUES. Centro de Pesquisas de Energia Elétrica. Cen-tro de Referência para Energia Solar e Eólica Sergiode Salvo Brito. Coletânea de Artigos: Energias So-lar e Eólica. Rio de Janeiro: CRSESB, 2003.

WEIGMANN, PAULO ROBERTO. Programa deConservação de Energia e Eficiência Energética noCEFET/SC. In: SIMPÓSIO DE GERENCIAMENTOAMBIENTAL NA INDÚSTRIA NISAM – CICLO DECONFERÊNCIAS SOBRE POLÍTICA E GESTÃOAMBIENTAL, V., 2002, São Paulo.

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIAELÉTRICA.Atlas de Energia Elétrica do Brasil/Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília:ANEEL, 2002.

CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIAELÉTRICA. Centro de Referência para Energia So-lar e Eólica Sergio de Salvo Brito. Grupo de Trabalhode Energia Solar. Manual de Engenharia para Sis-temas Fotovoltaicos. Rio de Janeiro: CRESESB,1999.

Conservação de Energia. Eficiência Energética deInstalações e equipamentos. Programa Nacional deConservação de Energia Elétrica. Itajubá/MG: FUPAI,2001.

www.eolica.com.br

www.cefetsc.edu.br/cice

www.ambientebrasil.com.br

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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82 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Estudo Cinético das Transições EstruturaisLamelar → Hexagonal e Hexagonal→ Amorfo, em

Amostras de Sílica

Robson Fernandes de Farias1

Universidade Federal do Rio Grande do Nortee-mail: [email protected]

Resumo: Utilizando-se o método não-isotérmico de Coats-Redefern, os parâmetros cinéticos associados àstransições estruturais: lamelar-hexagonal e hexagonal-amorfo em amostras de sílica são calculados, median-te o uso de dados termogravimétricos. A sílica lamelar exibe, em sua curva TG, três etapas de perda de massa,cujas energias de ativação associadas são, respectivamente: 95, 110 e 166 kJ mol-1. O primeiro valor deenergia encontra-se associada à transição lamelar-hexagonal e o último à transição hexagonal-amorfo, con-forme constatado analisando-se os difratogramas de raios-x das amostras calcinadas.

Palavras Chaves: Sílica lamelar, sílica hexagonal, cinética, termogravimetria.

Abstract: By using the non-isothermal Coats Redefern method, the kinetic parameters associated with thelamellar to hexagonal and hexagonal to amorphous structural transitions for lamellar silica samples werecalculated through thermogravimetric data. The lamellar silica exhibits three mass loss steps with associatedactivation energy values of 95, 110 and 166 kJ mol-1, respectively. The first and the last of these mass loss areassociated with the lamellar → hexagonal and hexagonal → amorphous transitions, respectively, as verifiedby X-ray diffraction data.

Keywords: lamellar silica, hexagonal silica, cinetic, thermogravimetric data

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

1. Introdução

Utilizando-se diaminas neutras e alcóxidos de silí-cios ou de metais de transição como precursores, amos-tras lamelares ou hexagonais de sílica [1,2] ou óxidosmistos [3] podem ser obtidas. Por sua vez, os óxidoslamelares ou hexagonais obtidos, pela chamada rotada diamina neutra possuem a capacidade de coorde-nar íons metálicos em solução [2,4,5], sendo que, me-diante a adição de metais de transição [2,4,5] ou pelareação no estado sólido com KBr [6], pode-se exercernotáveis efeitos sobre a estrutura e estabilidade térmi-ca dos materiais obtidos.

Dependendo das condições de síntese, sobretudo aquantidade de água no meio reacional [7], bem comomediante variação do pH do meio reacional [8], o hí-brido inorgânico-orgânico obtido pode apresentar es-trutura lamelar ou hexagonal. Além disso, quandoaquecidas, provocando-se a saída das moléculasmodeladoras, os materiais lamelares obtidos passamsucessivamente, pelas transições estruturais lamelar→ hexagonal, e hexagonal → amorfo, conforme

constatado analisando-se os difratogramas de raios-Xde amostras calcinadas [2,4,5].

Por outro lado, a termogravimetria tem se mostra-do como técnica confiável para o estudo de materiaisamorfos [9] ou lamelares [10,11], observando-se cor-relações lineares entre a energia de ativação calculadapara o processo de termodegradação não-isotérmica,e as entalpias para os processos de troca iônica ou in-tercalação de moléculas orgânicas, em matrizeslamelares de fosfato de titânio [11].

O presente trabalho tem por objetivo calcular, uti-lizando-se dados obtidos por termogravimetria não-isotérmica, as energias de ativação envolvidas nas tran-sições lamelar → hexagonal e hexagonal → amorfoem amostras lamelares de sílica, tendo em vista aspotencialidades de utilização de sólidos porosos he-xagonais, tal como em catálise heterogênea [12].

2. Experimental

As amostras lamelares de sílica foram sintetizadasconforme anteriormente descrito [2-6]: 10,0 mmol dediaminododecano (DAD), foram dissolvidos em 0,5

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100

50

100

150

200

250

Inte

nsi

ty/a

.u.

2 θ /degrees

0 200 400 600 800 1000

50

60

70

80

90

100

Wei

gh

t/%

Temperature /°C

DTG

TG

etapa Ea/kJ mol-1 n A ? t/°C

1ª 95 2 6,4 x 1011 65-171

2ª 110 3 1,8 x 1011 171-360

3ª 166 2 8,3 x 1010 381-601

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84 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

O aumento progressivo no valor de Ea, à medida

que moléculas de diamina são retiradas do substrato,certamente é bastante coerente, uma vez que torna-seprogressivamente mais difícil retirar-se as moléculas“template”, em função de transformações estruturaiscada vez mais drásticas. Assim, torna-se coerente queo valor de E

a seja maior para a transição hexagonal →

amorfo, uma vez que, nesta última etapa do processode termodegradação, são retiradas do interior da ma-triz híbrida as últimas moléculas da diamina, condu-zindo a um colapso total da estrutura. Tal fato é con-firmado pela análise da curva DSC [2,4,5], a qual apre-senta um grande pico endotérmico entre 350-600°C,correspondendo a um valor de 1,8kJ g-1, enquanto que,na faixa de 100-350°C, apenas dois pequenos picosendotérmicos são observados.

Como consequência do raciocínio anteriormenteexposto, fica claro que, caso o processo determodegradação fosse reversível, ou seja, se fossepossível iniciar-se com uma matriz amorfa, termina-do-se com uma matriz lamelar, as transições lamelar→ hexagonal e hexagonal → amorfo seriamexotérmicas. Assim, o fator entálpico é o determinantena formação da estrutura lamelar, uma vez que, doponto de vista entrópico, uma matriz de sílica estrutu-ralmente desordenada, com as moléculas de diaminalivres, no estado gasoso, é a configuraçãotermodinamicamente mais estável.

5. Referências

Farias, R.F.de & Airoldi, C. 2000. Quím. Nova, 23, 88.

Farias, R.F. de. 1999. An. Assoc. Bras. Quím., 48, 112.

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Coats, A.W. & Redfern, P. 1964. Nature, 68, 201.

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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85PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Pressão Osmótica: Abordagem Quantitativa paraum Conhecido Experimento

Robson Fernandes de Farias1

Universidade Federal do Rio Grande do Nortee-mail: [email protected]

Cícero W. B. Bezerra

Luciana S. Carvalho

Rivalx S. Braga

Pedro de Jesus N. S. FilhoUniversidade Federal do Maranhão

Resumo: É apresentada e discutida uma abordagem quantitativa para um conhecido experimento sobre pres-são osmótica utilizando-se cenouras. Um sistema experimental simples, constituído por um capilar de vidro,soluções de sacarose e cenouras em cujo interior produziu-se cavidades com diferentes diâmetros internospermite calcular, em cada caso, o valor da pressão osmótica. Mostra-se que existe uma relação de linearidadeentre os valores de pressão osmótica e o diâmetro interno da cavidade produzida na cenoura

Palavras Chave: pressão osmótica, solução, sacarose.

Abstract: Is presented and discussed a quantitative approach for the well known experiment about osmoticpressure involving the use of carrots. By using a glass capillary and sucrose solutions, and producing differentinner diameters in different carrots, the osmotic pressure values can be calculated. Is shown that there is alinear relation ship between the inner diameter of the carrot and the final osmotic pressure values.

Keywords: osmotic pressure, solutions, sucrose

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

1. Introdução

Entre as propriedades físicas de um solventeafetadas pela presença de um soluto, está a tendênciaespontânea desse solvente de passar através de umamembrana. Este fenômeno foi observado pela primei-ra vez por Abbé J.A. Nollet em 1748, e foi denomina-do de osmose, a partir da palavra grega para “empur-rar” por René J.H. Dutrochet, o qual realizou inúme-ros experimentos sobre o assunto [1]. Foi Dutrochetquem identificou, por exemplo, a relação linear entrea pressão no interior da membrana e a concentraçãoda solução, antes mesmo do desenvolvimento da mem-brana semi-permeável por Traube em 1867. Contudo,foi Van´t Hoff quem primeiramente apresentou umestudo teórico sobre o assunto [1].

O fenômeno da osmose, ocasionado pela chamadapressão osmótica, desempenha um papel fundamental

na manutenção da vida. Foi recentemente demonstra-do que uma solução hipertônica, rica em cloreto desódio, diminui lesões do choque hemorrágico, atuandoainda sobre o sistema imunológico [2].

Grande parte dos professores do ensino médio quei-xam-se, não sem razão, da falta de recursos materiaispara a realização de aulas práticas. Em função disso,muito se tem investido no desenvolvimento de experi-mentos que se utilizem de material alternativo, de bai-xo custo e de fácil aquisição.

No ensino da físico-química, é bem conhecido oexperimento sobre pressão osmótica, no qual mergu-lha-se uma cenoura numa solução contendo algumcomposto iônico ou molecular. Dependendo da con-centração de sais na cenoura e na solução, aquela pode“inchar” (pressão osmótica na solução maior do quenas células vegetais, fazendo com que estas absorvamágua), ou “murchar” (pressão osmótica intracelularmaior do que na solução, fazendo com que as células

Page 86: Revista Principia N 13

86 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

do vegetal percam água). Contudo, via-de-regra, ape-nas os aspectos qualitativos desse experimento sãoexplorados, o que reduz em muito sua potencialidadedidático-pedagógica. No presente trabalho apresenta-se uma abordagem quantitativa para este conhecidoexperimento.

2. Parte experimental

As partes internas de quatro diferentes cenourasforam cortadas, formando-se assim, em cada caso, um“cilindro”, no interior do vegetal. Escolheram-se qua-tro valores de diâmetro para o orifício produzido: 0,5,0,6, 0,9 e 1,2 cm. Em seguida os “buracos” foram pre-enchidos com soluções aquosas de sacarose (foramutilizadas duas concentrações: 30% e 40%). O “bura-co” era então fechado com uma “tampa” feita com aprópria cenoura. Em seguida um capilar de vidro, gra-duado em centímetros (a graduação é feita manual-mente, utilizando-se régua e uma caneta pararetroprojetor), era introduzido através da “tampa”, atéatingir a superfície da solução (ver esquema na Figura1). A altura do líquido no capilar (∆h = h

final – h

inicial),

foi medida após um intervalo de 3 h.

Figura 1. Pressão osmótica como função do diâme-tro interno da cenoura.

Como pode ser comprovado analisando-se os da-dos da Tabela, os maiores valores de P foram obtidospara as soluções mais concentradas (40%),consequência de uma diminuição da pressão de vaporda solução, ao aumentar-se sua concentração, fazendoaumentar a diferença entre sua pressão de vapor e apressão de vapor da água contida no interior das célu-las vegetais, o que ocasionou uma maior liberação delíquidos por parte do vegetal, ou seja, um maior valorpara Dh. Além disso, existe uma relação de linearidadeentre os valores de P e o diâmetro interno f da cavida-de feita na cenoura, conforme pode ser visto na Figura2. O fato de P aumentar com a diminuição de f é um

0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4

2

3

4

5

6

7

8

9

Π

Diâmetro interno/cm

fato bastante coerente, visto que quanto menor o diâ-metro da cavidade, maior a quantidade de tecido ve-getal a liberar seu conteúdo aquoso e, conseqüente-mente, maior o valor de ∆h.

Figura 2. Representação esquemática das três principaisetapas de preparação da cenoura para o experimento.

4. Conclusão

A qualidade dos resultados obtidos demonstra atotal viabilidade de uma abordagem quantitativa doexperimento envolvendo o uso de tecido vegetal parailustrar o fenômeno da pressão osmótica.

5. Comentários finais e sugestões

Como acreditamos ter sido demonstrado ao longodo artigo, a investigação quantitativa efetuada possi-bilita um melhor e maior desenvolvimento das habili-dades do aluno, em termos de raciocínio científico,possibilitando a realização de mini-projetos, os quaisdedicar-se-iam ao aprofundamento do experimentorealizado, monitorando-se os efeitos de fatores taiscomo concentração da solução, natureza do soluto(eletrólito ou não eletrólito), temperatura e tipo devegetal utilizado, sobre a pressão osmótica.

7. Referências

A.J. Ihde, The Development of Modern Chemistry;Dover, New York (1984).

M. Piveta, Pesquisa Fapesp, 78, 36 (2002).

P.W. Atkins, Physical Chemistry; Oxford UniversityPress, Oxford (1994).

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

"cenoura" “cenoura” com cavidade cilíndrica e “tampa”

“cenoura” preenchida com solução e já com o capilar de vidro

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87PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Modelo de Artigo para Publicação na RevistaPrincipia do CEFET PB

Nome do Primeiro Autor1

Nome da instituição e endereço para correspondênciae-mail

Nome do Segundo AutorNome da instituição e endereço para correspondência

e-mail

Resumo: A proposta deste modelo de artigo é servir de base para normas de publicação na Revista Principia doCEFET PB. Os artigos submetidos à Revista Principia podem ser elaborados em Português, Inglês ou Espa-nhol, e devem ser produtos de pesquisa nas áreas afins do CEFET PB..

Palavras Chave: palavra chave1, palavra chave 2, palavra chave 3, palavra chave 4, palavra chave 5

1 Autor a quem toda correspondência deverá ser endereçada.

1. Introdução

A proposta da revista Principia é a de publicaçãode artigos de caráter teórico ou aplicado, de pesquisascientíficas e tecnológicas nas áreas de estudo, desen-volvidas pelo CEFETPB.

Será dada preferência para publicação de trabalhosque se apresentem em forma de artigos e resenhas.Relatos de experiência, ensaios bem fundamentados,artigos de revisão, livros, cartas ao(s) editor(es), po-derão, também, ser considerados.

Artigos, anteriormente, publicados em congressos ouconferências aceitos para publicação nesta revista, deveráconstar o evento como nota de roda pé na página do título.

A decisão de aceite para publicação é baseada narecomendação de no mínimo dois pareceristas e, senecessário, um membro do conselho editorial. Apenasos trabalhos aprovados serão encaminhados para pu-blicação. O(s) autor(es) deve(em) manter seu arquivopara eventuais modificações sugeridas pelos reviso-res, visto que os originais e disquetes enviados nãoserão devolvidos. Os trabalhos aceitos serão publica-dos integralmente na revista PRINCIPIA edisponibilizados na home page da instituição.

A título de direitos autorais o(s) autor(es)receberá(ão) 02 (dois) exemplares da revista em quefor publicado o trabalho.

Nomenclatura

A = area, m2

c = calor especifico, J/(kg K), parâmetro defini-do pela Eq. (10), adimesional

D = diâmetro, mf = coeficiente de atrito, adimensionalh =coeficiente médio de transferência de calor,

W/(m2 K)m = massa, kg

= fluxo de massa, kg/sn = número de dados, adimensionalQ = transferência de calor, WR

k= resistência térmica da parede, (m2 K)/W

Re = número de Reynolds do fluxo de ar, númerode Reynolds, adimensional

T = temperatura absoluta, Kt = espessura do tubo, m

Símbolos gregos

∆P = queda de pressão, Pa∆T

log= diferença média logarítimica da temperatura,

K= ângulo entra as seções adjacentes, grau= densidade, kg/m3

Índices

a relativo ao arb relativo à vigam relativo ao motors relativo à saídarelativo ao deslocamento horizontalrelativo ao deslocamento verticalrelativo ao deslocamento angular

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88 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

2. Submissão

Manuscritos e correspondências deverão ser envi-ados a um dos editores.

Profa. M.Sc. Mônica Maria Montenegro de Oli-veira (Presidente do Conselho Editorial);

Prof. Dr. Jimmy de Almeida Lellis (Membro);Prof. M.Sc. José Ferreira Pio (Membro);Prof. Dr. Kennedy Flávio Meira de Lucena (Membro);Prof. Dr. Neilor Cesar dos Santos (Membro);Prof. Dr. Paulo de Tarso Costa Henriques (Membro);Prof. Dr. Humberto Gomes da Silva Júnior (Membro);Conselho Editorial, Gerência de Pesquisa e Projetos

Institucionais – CEFET-PBAv. 1º de Maio, 720 - Jaguaribe CEP: 58.015-430 -

João Pessoa, PB, Brasil. Fone: (0xx83) 208 3032.E-mail: [email protected].

Três cópias do artigo são requeridas. Uma (01) sócópia deverá ser enviada com a identificação dos au-tores (não esquecer de destacar o autor para corres-pondência). As outras duas (02) não deverão conter osnomes dos autores. Os autores deverão enviar umacópia do artigo em disquete, zip drive ou CD Rom. Énecessário que a cópia eletrônica contenha todas asfiguras, tabelas e equações matemáticas que apareçamno artigo.

Todas as informações anteriores deverão ser envi-adas ao setor de protocolo do CEFETPB.

Todos os artigos deverão ser submetidos àapresiação e preparados de acordo com o modeloPRINCIPIA.DOC, que pode ser obtido na páginahttp://www.cefetpb.edu.br/principia . O não acordocom as normas deste modelo resultará na imediatadesconsideração do artigo para publicação.

3. Edição do texto

O texto poderá ser editado utilizando-se oprocessador de texto Word for Windows. A fonte de-verá ser Times New Roman, tamanho 11 para os títu-los dos itens, sub-itens e para o texto. Não deverão existirno texto palavras em negrito, ou sublinhadas para des-tacar em segmentos do texto; use apenas itálico.

O espaçamento será: Duplo entre itens e sub-itens.Simples no corpo do texto. Cuide para usar apenas umespaço entre uma palavra e outra.

Não faça referências a páginas internas do própriotrabalho e evite o uso de palavras como “abaixo”, “aci-ma” ou “seguinte” para se referir a tabelas, quadrosou figuras. Numere as tabelas e use os números parafazer as referências.

O parágrafo deverá ter 0,5 cm.O formato do papel deverá ser A4, orientação re-

trato, com margens de 2 cm. Um máximo de 20 pági-nas não numeradas, incluindo tabelas e figuras.

Os itens e sub-itens deverão ser alinhados à esquer-da e, apenas, a primeira letra maiúscula e em negrito.

4. Composição seqüencial do artigo

As grandezas deverão ser expressas no SI (SistemaInternacional) e a terminologia científica (incluindo anomenclatura e os símbolos gregos) deverão seguir asconvenções internacionais de cada área em questão.

Título em negrito com no máximo 15 palavras, emque apenas a primeira letra da primeira palavra devaser maiúscula. Fonte Time New Roman 22, justificada.

Nome dos autores por extenso, e somente a pri-meira letra do nome e do sobrenome devem ser mai-úsculas. Fonte Time New Roman 12 em negrito. Logoabaixo, endereço institucional, incluindo telefone e e-mail, fonte Time New Roman 8. Os autores perten-centes a uma mesma instituição devem serreferenciados com um único endereço. Colocar refe-rência de nota no final do último sobrenome do autor aquem toda correspondência deverá ser encaminhada.

O resumo não deverá ter mais que 200 palavras,descrevendo os objetivos, metodologia usada e as prin-cipais conclusões. Não deverá conter fórmulas e de-duções matemáticas.

As palavras-chave deverão ser no mínimo três e nomáximo cinco.

Todos os símbolos deverão ser definidos no texto.Uma seção definida como nomenclatura deverá ser in-cluída com a lista e suas definições em ordem alfabética,os símbolos gregos usados e os índices dos símbolos.Cada símbolo deverá estar dimensionalmente definidono SI com unidades mencionadas. Grupos adimensionaise coeficientes devem ser definidos e indicados.

A introdução deverá conter informaçõesdirecionadas a todos os leitores da revista, e não só aespecialistas da área. Esta deverá descrever o estadoda arte do problema, sua relevância, resultados signi-ficativos, conclusões a partir de trabalhos anteriores eos objetivos do presente trabalho.

Materiais e métodos (metodologia).Resultados e discussões quando houver.Conclusão(ões). A(s) mesma(s) deverá(ão) ser

escrita(s) baseando-se nos objetivos da pesquisa.Agradecimentos quando houver.Referências bibliográficas.

Responsabilidade de autoria.

5. Equações matemáticas

As equações deverão ser indicadas em linhas sepa-radas do texto e iniciando-se em um novo parágrafo.

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89PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Quando necessário usar toda a extensão da largura dapágina para edição da mesma

As equações devem ser numeradas seqüencialmentee identificadas por números arábicos entre parêntesesalinhados à direita. Usar a indicação de letra maiúscula.

A referência à equação deverá ser feita, quando nocorpo do texto da seguinte forma: (... substituindo-sea Eq. (1) na Eq. (2) tem-se a seguinte expressão: ...).Quando no início da frase a mesma deverá serreferenciada da seguinte forma: (A Equação (1) deve-rá estabelecer a relação...)

6. Figuras e tabelas

As figuras e tabelas deverão ser referenciadas emordem consecutiva e identificadas por números arábi-cos. As figuras e sua legenda em negrito devem sercentralizadas.

As referências às figuras e tabelas seguem o mes-mo padrão das equações, referenciadas por Fig. (1) nocorpo do texto ou por Figura (1) quando usada no iní-cio de uma sentença. As anotações e numerações de-vem ter tamanhos compatíveis com o da fonte usadano texto, e todas as unidades devem ser expressas nosistema S.I. (métrico). As figuras devem ser coloca-das o mais próximo possível de sua primeira citaçãono texto. Deixe uma linha em branco entre as figuras eo texto.

As figuras que apresentam dados técnicos de re-sultados deverão apresentar um contorno sobre todosos quatro lados, com escala indicada em todos os la-dos.

As legendas para os símbolos usados nas figurasdeverão ser colocados dentro da mesma, assim comotambém a identificação de cada curva. Os contornosdeverão ser legíveis o suficiente para evitar qualquerdúvida.

Figura 1. Coeficientes de correlação das Wavelets

As figuras que apresentam dados técnicos de resul-tados deverão apresentar um contorno sobre todos osquatro lados, com escala indicada em todos os lados.

Todas as figuras e tabelas, de preferência, deverãoestar em preto e branco. Figuras coloridas e fotografi-as de alta qualidade podem ser incluídas no trabalho.Para reduzir o tamanho do arquivo e preservar a reso-lução gráfica, converta os arquivos das imagens parao formato GIFF (para figuras com até 16 cores) oupara o formato JPEG (alta densidade de cores), antesde inseri-los no trabalho.

As tabelas devem ser centralizadas. Elas são refe-ridas por Tab. (1) no meio da frase, ou por Tabela (1)quando usada no início de uma sentença. Sua legendaé centralizada e em negrito e localizada imediatamen-te acima da tabela.

Anotações e valores numéricos nela incluídos de-vem ter tamanhos compatíveis com o da fonte usadono texto do trabalho, e todas as unidades devem serexpressas no sistema S.I. (métrico). As unidades sãoincluídas apenas nas primeiras linha/coluna, confor-me for apropriado. As tabelas devem ser colocadastão perto quanto possível de sua primeira citação notexto. Deixe uma linha simples em branco entre atabela, seu título e o texto. O estilo de borda da tabe-la é livre.

Tabela 1. Resultados experimentais para as propriedades de flexão dos materiais MAT1 and MAT2.Valores médios de obtidos em 20 ensaios.

Propriedades do compósito MAT1 MAT2Resistência à Flexão (MPa) 209 ± 10 180 ± 15Módulo de Flexão (GPa) 57.0 ± 2.8 18.0 ± 1.3Deflexão máxima (mm) 2.15 ± 1.90 6.40 ± 0.25

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90 PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

As legendas das figuras e das tabelas não devemexceder 3 linhas. A segunda e a terceira linhas têmrecuos, como mostrado na legenda da Tab. (1).

7. Referências

As referências deverão ser citadas no texto peloúltimo nome do(s) autor(es), ano de publicação, vo-lume, tomo ou seção, se houver e a(s) página(s).

Quando o(s) autor(es) estiver no corpo do texto agrafia deve ser em minúsculo, e quando estiver entreparênteses deve ser em maiúsculo.

Exemplos:Quando a citação possuir apenas um autor: ...de

acordo com a literatura (FOLEGATTI, 1997, p. 72),no caso de ser feita no corpo do texto. Folegatti (1997,v.21, p.35) estabeleceu que... no caso de ser feita noinício do parágrafo.

Quando a citação possuir dois autores:(FRIZZONE; SAAD, 2004, v. 12, p. 12), ouFRIZZONE; SAAD (2004, v. 12, p.12).

Quando possuir mais de dois autores: (BOTRELet al., 2004, v. 32, p. 56) ou Botrel et al. (2004, v. 32,p. 56).

Para citações do mesmo autor com publicações emdatas diferentes, e na mesma seqüência, deve-se se-parar as datas por vírgula, (CRUZ, 1998, 1999, 2000).

Como regra geral consultar a norma da ABNTNBR 10520 – Informação e documentação - Citaçõesem documentos - Apresentação.

As referências bibliográficas deverão ser listadasem ordem alfabética de autor e título para todo tipode documento consultado. Como regras gerais na apre-sentação das referências bibliográficas considerar:

A partir da segunda linha os dados são colocadosdebaixo da terceira letra da entrada;

Os vários conjuntos de elementos da referênciabibliográfica devem ser separados entre si por “pon-to”, seguindo de um espaço;

Utilizar letras maiúsculas para: sobrenome(s) prin-cipal do(s) autor(es); nomes de entidades coletivasque são autoras; primeira palavra da referência quan-do a entrada é pelo título; títulos de eventos (Con-gressos, Encontros, etc).

Como regra geral consultar a norma da ABNTNBR 6023 – Informação e documentação - Referên-cias - Elaboração.

Artigos de revistas

PEREIRA, G. M.; SOARES, A. A.; ALVES, A. R.;RAMOS, M. M.; MARTINEZ, M. A. ModeloComputacional para Simulação das Perdas de Águapor Evaporação na Irrigação por Aspersão. Engenha-ria Agrícola. Jaboticabal, v. 16, n. 3, p. 11-26, 1997.

SPARROW, E. M. Forced Convection Heat Transferin a Duct having Spanwise-Periodic Rectangular Pro-tuberances. Numerical Heat Transfer. New York, v.3,p. 149-167, 1980.

GONÇALVES, L. M. G.; CESAR JUNIOR, R. M.Robótica, Sistemas Sensorial e Motos: principais ten-dências e direções. Revista de Informática Teóricae Aplicada, Porto Alegre, v.9, n.2, p. 7-36, out. 2002.

SOVIERO, P. A. O.; LAVAGNA, L. G. M. A Numeri-cal Model for Thin Airfoils in Unsteady Motion.RBCM- J. of the Brazilian Soc. Mechanical Sci-ences, v. 19, n. 3, p. 332-340, 1997.

Livros

NÃÃS, I. de A. Princípios de Conforto Térmico naprodução animal. 1.ed. São Paulo: Ícone Editora Ltda,1989. 183 p.

COIMBRA, A. L. Lessons of Continuum Mechan-ics. Edgard Blücher Editora, São Paulo, 1978. 428 p.

Capítulo de livros

ALMEIDA, F. de A. C.; MATOS, V. P.; CASTRO, J.R. de; DUTRA, A. S. Avaliação da Qualidade Conser-vação de Sementes a Nível de Produtor. In: HARA,T.; ALMEIDA, F. de A. C.; CAVALCANTI MATA,M. E. R. M. (eds.). Armazenamento de Grãos e Se-mentes nas Propriedades Rurais. Campina Grande:UFOB/SBEA, 1997. cap. 3, p. 133-188.

Trabalhos apresentados em congressos (Anais, Resu-mos, Proceedings, Disquetes, CD Rom)

BORDALO, S.N.; FERZIGER, J.H.; KLINE, S.J. TheDevelopment of Zonal Models for Turbulence. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIAMECÂNICA, 10., Rio de Janeiro. Anais... Rio deJaneiro:ABCM, 1989. p. 41-44.

WEISS, A.; SANTOS, S.; BACK, N.; FORCELLINI,F. Diagnóstico da Mecanização Agrícola Existente nasMicrobacias da Região do Tijuca da Madre. In: CON-GRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍ-COLA, 25., 1996, Bauru. Resumos... Bauru: SBEA,1996. p. 130.

No caso de disquetes ou CD Rom o título da publi-cação continuará sendo Anais, Resumos ouProceedings, mas o número de páginas será substituidopelas palavras Disquetes ou CD Rom.

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91PRINCIPIA, João Pessoa, n.13, Abril 2006

Dissertações e teses

DANTAS NETO, J. Modelos de Decisão paraOtimização do Padrão de Cultivo em ÁreasIrrigadas, Baseados nas Funções de Resposta daCultura à Água. 1996. 125 f. Tese (Doutorado emEngenharia Agrícola) – Departamento de EngenhariaAgrícola, UNESP, Botucatu.

MENEGHETTI, E. A. Uma Proposta de Uso daArquitetura Trace como um Sistema de Detecçãode Intrusão. 2002. 105 f. Dissertação ( Mestrado emCiência da Computação ) – Instituto de Informática,UFRGS, Porto Alegre.

WWW (World Wide Web) e FTP (File Transfer Pro-tocol)

LISBOA FILHO, J.; IOCHPE, C.; BORGES, K.Reutilização de Esquemas de Bancos de Dados emAplicações de Gestão Urbana. IP – Informática Pú-blica, Belo Horizonte, v.4, n.1, p.105-119, June 2002.Disponível em: < http://www.ip.pbh.gov.br/ip0401.html >. Acesso em: set. 2002.

Responsabilidade de autoria

As informações contidas neste artigo são de inteiraresponsabilidade de seus autores. As opiniões neleemitidas não representam, necessariamente, pontos devista da Instituição e/ou do Conselho Editorial.

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