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Nº10 Dezembro 2016 | Mensal www.revistarua.pt REVISTA Para consulta no local É NATAL!

Revista Rua nº10

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É NATAL!

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02 Observar

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Observar

14| CÓDIGO POSTALGarfe, Aldeia Presépio

16| PASSEIO PÚBLICO20 minutos com Salvador Martinha

18| TALENTOJoão Sousa

Saber

32| NATAL DOS 8 AOS 80

Apreciar

53| ATELIER PARA CRIANÇAS Oficinas de Natal

56| INSTAGRAM Ana Cláudia Silva está na Rua

58| ENTREVISTAS Cristina Branco Smartini

62| MINHOTOS PELOMUNDOAmérico da Silva, Viena

Desfrutar

66| RÉVEILLON MINHOTO

68| COZINHARNatal a dois

72| MIMAR & ARRASAR

Opinião

04| HOLOFOTEParticiparEduardo Madureira Lopes

06| PALAVRASUm bule de chá no pé do cozinheiroPaulo Brandão

08| MINHO CICLÁVELBebé a bordoRosinha Silva

20| HISTÓRIAS DA RUADe dentro de nósLiliana Trigueiros

46| AVENIDA DA LIBERDADETema do AnoLuís Tarroso GomesRui Marado Moreira

50| A CIVILIZAÇÃO DO ESPECTÁCULOAutópsia da iraCátia Faísco

54| MÚSICA2016, o ano das bodas de prataJosé Manuel Gomes

80| HUMORBrullying de CarvalhoRui Leite Gonçalves

26TEMA DE CAPAÉ Natal! Os rostos são tomados pelos sorrisos, a alma pela alegria e há mais solidariedade entre nós.

43REVISÃO DO ANOAno de 2016 visto à lupa

36ENTREVISTABernardo Reis, Provedor da Casa da Misericórdia de Braga

ORIENTA-TE

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02 Observar

D ezembro é um mês pródigo em celebrações e numa época de incertezas temos a felicidade de poder confirmar que a RUA chega ao final do ano de boa saúde. É época de Natal e os nossos corações deixam-se conta-giar pela alegria, pelas luzes e pelo ambiente mágico que nos circunda.

Somos também tocados por este sentimento tão propício à solidariedade. “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz” é uma operação da Cáritas Portuguesa. Até janeiro de 2017, podem adquirir uma vela pelo valor simbólico de 1€, o que ajudará a apoiar pessoas e famílias em situação de pobreza. Em 2016, 65% das verbas angariadas re-verterão para o apoio à Acção Social da Cáritas Arquidiocesana de Braga. Os restantes 35% serão aplicados no apoio às famílias vulneráveis, refugiadas na Grécia. As velas podem ser adquiridas nos seguintes locais: Lojas Pingo Doce, Cáritas Diocesanas, Pa-róquias (aderentes) e Escolas (aderentes).

Nesta edição dirigimos a nossa atenção para a celebração da habitualmente de-nominada festa da família e porque consideramos os nossos leitores, assinantes, anunciantes, colaboradores e parceiros parte da nossa família alargada trazemos uma análise de tudo o que o Natal tem para vos oferecer na região. Presépio de Priscos, Nicolinas, Bananeiro, Portanheiro, Presépios de Garfe, entre outros, são alguns dos destaques. Explicamos lendas e até nos divertimos com algumas inovações que se vão fazendo. Esta é a altura de sorrir, de refrescar energias e de relembrar memórias, por isso, nesta que é a última edição do ano 2016 da RUA, fizemo-lo com o apoio da Casa do Professor. Podemos afirmar que todo o Natal coube nesta edição dando a conhecer até celebrações de outras religiões como o Hanukkah. Também entrevistamos Bernar-do Reis, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga, que aos 82 anos continua a sonhar servir os outros. Ainda tivemos tempo de vos trazer uma entrevista com o humorista Salvador Martinha e outra com a cantora Cristina Branco.

No final do ano, juntamo-nos àqueles que nos são mais próximos, respirando pro-fundamente após um árduo ano de trabalho intenso. O ano de 2016 foi escaldante, o mais quente de sempre. Fomos campeões da Europa de Futebol, os incêndios marca-ram o Verão, tivemos um novo Presidente da República. Se este ano foi uma época de transições, incógnitas e dúvidas, o ano de 2017 talvez venha dar respostas às questões que mais nos afligem: vêm aí eleições. Mas antes que o ano acabe deixámos uma re-visão de 2016 com os principais acontecimentos do ano e sugestões para a passagem de ano. Deixámos um desafio e convite para nos enviarem os vossos desejos para 2017 — podem comentar na nossa página do facebook (facebook.com/revistarua.pt).

Para concluir, encerramos o ano certos de termos cumprido o nosso papel em levar informações confiáveis e de importância. Encerramos este editorial, desejando a todos os nossos leitores, parceiros e colaboradores um Feliz Natal e uma passagem de ano plena de felicidade, na esperança de que 2017 seja ainda melhor!

Boas Festas!

EDITORIAL

Feliz Natal! Feliz Ano Novo!

Diretor/EditorLuís LeiteRua dos Capelistas, nº304º Andar Sala S4700-307 Braga

Diretora adjuntaSofia Moleiro

ColaboradoresNuno SampaioAdriana CastroSofia MoleiroSofia PeresClaúdia SilMaria Inês NetoBeatriz GomesMargarida RamosRafaela Pinto

OpiniãoLuís Tarroso GomesRui MoreiraLiliana TrigueirosRui Leite GonçalvesJosé Manuel GomesIlídio MarquesCátia FaíscoJoão Palharaes

Direção de Arte/Editora LifestyleCarolina Campos

ArteJoana Ribeiro

CapaShutterstock

Redaçã[email protected] dos Capelistas, nº304º Andar Sala S4700-307 Braga

Departamento ComercialPara questões relacionadas com marketing e publicidade:[email protected] 928 181

ComercialRosa SampaioAngélica Noversa

Departamento FinanceiroInês Chaves

Departamento JurídicoLuís Sepúlveda Cantanhede,Rui Marado Moreira - Advogados [email protected]

ProtocolosUniversidade Católica - Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais de Braga;Braga Ciclável;RUM - Rádio Universitária do Minho;Soy Niño, Sou criança.

ImpressãoLIDERGRAFARTES GRÁFICAS, S.A.Rua do Galhano, n.º 154480-089 Vila do CondeTiragem 5000Periodicidade Mensal

PropriedadeBrito&Roby, LdaRua Dom Frei Caetano BrandãoNº154 4700-031 Braga

Contribuinte513 669 868N. DL 405636/16N. ERC 126 818

O estatuto editorial pode ser consultado em www.revistarua.pt/Info/Estatuto-Editorial

Os artigos de opinião são de exclusiva responsabilidade dos seus autores.

A utilização do acordo ortográfico é da exclusiva responsabilidade dos autores.

Luís LeiteEm poucas palavras não caibo em rótulos. Director Editorial da Revista Rua. Andei à Boleia na Academia RTP. A possibilidade do impossível fascina-me. Perfeccionista.

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04 Opinião

É difícil encontrar neste fim de Novembro um mó-dico de entusiasmo em qualquer reflexão sobre o estado do mundo. Os noticiários não aligeiram os dramas. A longa via-sacra contempla a guerra na Síria, o terrorismo planetário, o êxodo de re-fugiados, o enfraquecimento do projecto europeu e a ameaça de desagregação da União Europeia, os sarilhos que se perspectivam com o novo Pre-sidente dos Estados Unidos da América. Em cada

lugar, há demasiados abismos a dividir as pessoas. A ruptura evidencia o que o Papa Francisco designa por “vírus da polarização”. A confiança esbate-se, o cinismo agrava-se, as democracias degradam-se. E, portanto, multiplicam-se os apelos para reconstruir as bases da vida em comum.

Talvez o melhor seja começar essa tarefa a nível local. Numa escala mais reduzida, será mais fácil encontrar os modos certos de restaurar a confiança. O empreendimento é vasto, demorado e minucioso. Requer persistência. Como a relva, que, para medrar, deve, regularmente, ser aparada, adubada e tratada, removendo as ervas daninhas e o mais que a ameace, a democracia precisa de ser cuidada permanentemente. O orçamento participativo é, para usar um termo da mesma conhecida metáfora, um adubo. É uma ideia virtuosa que convoca os cidadãos para um envolvimento mais activo na vida política. Não é, evidente-mente, o único, nem, aliás, o principal instrumento para resolver a totalidade dos males de que as sociedades padecem, mas a sua utilidade é hoje assaz rele-vante para o aprofundamento da democracia.

O Orçamento Participativo da Câmara Municipal de Braga – considerado como uma das cinco melhores práticas nacionais de participação por um júri in-dependente que integrou, entre outros, o Observatório Internacional da Demo-cracia Participativa (com a singular importância simbólica de ter sido representa-do pela Prefeitura de Porto Alegre, no Brasil, onde surgiu o primeiro orçamento participativo) e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra – é e será, em grande e decisiva medida, aquilo que os cidadãos quiserem que ele seja.

O modelo de funcionamento tem sido ajustado em função de sugestões sus-ceptíveis de propiciar um maior envolvimento dos cidadãos e uma maior re-presentatividade dos projectos a executar. As propostas têm beneficiado, muitas vezes, de um trabalho prévio de auscultação de carências, a benefício de uma

HOLOFOTE

maior mobilização. Os votantes têm sido em cada vez maior número. Os projec-tos já inaugurados espalham-se pelo concelho e vieram concretizar aspirações variadas: a edificação do Planetário – Casa da Ciência de Braga, em Gualtar; a requalificação de um moinho de água, em S. Pedro e S. Mamede de Este; a construção de um parque de merendas, em Aveleda; e o restauro do órgão de tubos da Igreja de S. Victor (inaugurado com um concerto memorável realizado no âmbito de um Festival de Órgão), para apenas lembrar quatro exemplos.

Muito há ainda a fazer, claro. Há sempre muito a fazer. Há uma lógica de efeitos perversos que é preciso evitar. Há afinações que têm de ser feitas para aumentar e qualificar a participação. Há, afinal, que não perder de vista que a participação será tanto melhor, quanto melhores forem os projectos que sirvam para qualificar Braga e possam ser usufruídos pela generalidade dos bracaren-ses, incluindo os mais vulneráveis.

Também no âmbito do Orçamento Participativo Escolar, há abundantes afa-zeres pela frente. Estimular um maior envolvimento dos alunos do concelho na elaboração de propostas é um deles. Para tal, é necessário que as escolas saibam encontrar espaços e momentos para fomentar a participação das crianças e dos jovens. A formação política dos mais novos beneficiará com este trabalho, com o qual também lucrarão as escolas e a cidade. A qualidade da vida em comum e o futuro da democracia dependem do que hoje se fizer nos estabelecimentos de ensino. Um dia-a-dia melhor para os bracarenses depende de uma cidadania mais activa, imaginativa, esclarecida e crítica.

Participar"O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO É, PARA USAR UM TERMO DA MESMA CONHECIDA METÁFORA, UM ADUBO. É UMA IDEIA VIRTUOSA QUE CONVOCA OS CIDADÃOS PARA UM ENVOLVIMENTO MAIS ACTIVO NA VIDA POLÍTICA."

Eduardo Jorge Madureira LopesCoordenador do Orçamento Participativo de Braga

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05Observar

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06 Opinião

E daqui a pouco, 2017. A Capela Imaculada do Seminário Interior, em Braga, é um projeto depurado e que as composições da Christina Vantzou tornaram, por momentos, icónico. O concerto aconteceu no âmbito do Semibreve de Outubro e foi, para mim, uma das melhores experiências de 2016. Música e fé em tempo de balanço. A serenidade, a luz, o toque do ci-mento, a bravura da madeira, um edifício zen

que lembra o norte da Europa mas que fica na rua de São Domingos.

. As sereias são todas humanas. O rabo de peixe é uma extensão do coração, para libertar escama a escama quando estão apaixonadas. Por isso devemos escolher um escafandro feito de peixes pequenos e leves crustá-ceos. Sem diversão a água toma conta dos nossos pulmões e as sereias morrem de fome. Talvez seja por isso que há tão poucas.

. O elogio do impulso. Sem impulso não haveria cultura nem civilização. Mas também sem ele não haveria guerras. Prescindir do impulso de escre-ver é como prescindir de nos lermos. Uma novela. O homem e a mulher são feitos de impulsos biólogos. 49 anos não chegam para aprender a ler e a escrever. Rimbaud desistiu cedo mas Pessoa até no leito de morte ditou uma bela frase. Pena Rimbaud não estivesse lá para a fotografar.

. Pedimos e esperamos 20 minutos. Vieram dizer-nos que não haveria mais o que comer, pois um bule de chá havia ferido o pé da cozinheira. Prontifiquei-me a substitui-la, que sabia cozinhar e que era criativo e tinha sal na cozinha. A ambulância chegou e logo de seguida a polícia. Na mão

PALAVRAS

dos maqueiros a maca e na maca a senhora cozinheira de pé ligado e ligei-ramente vermelha de rosto; na mão do agente fardado um pesado bule escuro. O crime, o chá de maçã e canela que nunca chegamos a provar. Não há refeições perfeitas.

. Eu, gordo, ao lado do meu amigo Cruzeiro Seixas. Nunca mais o vi depois dessa data (8 de Março de 2013). Ou talvez o tenha visto meses depois, no Museu da Indústria Têxtil. Não me lembro. Muitos filmes como o que agora estreia lhe poderão fazer justiça. Falo de “As Cartas do Rei Artur”, de Cláudia Rita Oliveira. Do amor por Cesariny, incondicional, do amor pela vida e pela solidão (estive em sua casa por duas vezes e sei do que falo). Ser criador! Poucos entendem os criadores, os fazedores de coisas belas ou horrendas e de como deprimem se o corpo ou a cabeça os aprisiona. A idade, com ela a surdez e a cegueira, é tão implacável como não ter amigos ou amantes. Mas isso não importa quando estamos todos no mesmo labirinto.

Um bule de chá no pé do cozinheiro“A CAPELA IMACULADA DO SEMINÁRIO INTERIOR, EM BRAGA, É UM PROJETO DEPURADO E QUE AS COMPOSIÇÕES DA CHRISTINA VANTZOU TORNARAM, POR MOMENTOS, ICÓNICO”.

Paulo BrandãoDirector artístico do Theatro Circo.

Frame do filme “O Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante dela”, de Peter Greenaway

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07Observar

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MINHO CICLÁVEL

Bebé a Bordo?

C onduzir na nossa cidade cada vez mais é uma aventura! Mesmo não havendo filas gigantes, que provocam stress,

aumentam a poluição e derretem a paciência, como em cidades maiores, os condutores de Braga são verdadeiros pilotos! Desde ultrapassagens em cima de curvas, linhas contínuas, excesso de velocidade (fazem de qualquer via uma autêntica auto-estrada), a fracos acessos e fraco policiamento!

Como condutora (automobilista e ciclista) que sou, fiz bastantes quilómetros em cidades com tradição de ciclismo urbano, como Copenhaga e Amesterdão e concluo que circular de bicicleta na nossa cidade não é propriamente uma actividade segura e agradável!

Actualmente, como esposa de um ciclista assíduo, ainda por cima grávida, não consigo sentir-me descansada, sabendo que ele partilha as vias com condutores de máquinas que, apenas com um retrovisor poderão magoá-lo, ou outro tipo de consequências de maior gravidade! Cada vez que ele sai de bicicleta, mal confirma que saiu do trabalho e que vai a caminho de casa, verifico o minuto a que ele saiu, oiço o ponteiro dos segundos a passar e fico apreensiva a ver as luzes dos automóveis na cidade, das janelas de nossa casa. Tento procurar as luzes da bicicleta dele, o que é praticamente impossível, imaginando que está a chegar são e salvo! Passam-se os segundos, formando minutos e ele não chega, pego no telemóvel e envio uma mensagem e… recebo resposta: “Estou na garagem! Acabei de chegar!”. Parece que tudo pára nesse momento!

Porque é que temos que passar por isto? Pedir-lhe que pare de andar de bicicleta será uma maldade! Mais ninguém sofre o mesmo? A culpa não é dos peões, dos ciclistas que conservam a cidade, que respeitam os outros, mas sim de quem desrespeita, de quem governa e não defende as pessoas, não defende a cidade. Pedalar ou caminhar em segurança é um direito de todos!

BASTA DE ATROPELAMENTOS E ACIDENTES!

"ROLETA RUSSA" À MODA DE BRAGA

Opinião

POR Rosinha Silva

GRÁVIDAS PODEM ANDAR DE BICICLETA? Sim, mas com precauções a tomar: evitar percursos acidentados e arriscados, nunca andar só e parar no terceiro trimestre. Atenção: as grávidas primeiramente deverão confirmar com o médico que as acompanha!

POSSO FAZER DESLOCAÇÕES DE BICICLETA COM O BEBÉ?Sim, a partir dos 9 meses, já existem cadeiras compatíveis e homologadas para tal! Para além de saudável para a mãe, em condições favoráveis e confortáveis (sem trânsito, sem mau tempo, etc.), a criança desfrutará de algo novo e terá experiências únicas e até poderão ajudar a desenvolver o prazer de andar de bicicleta no futuro!

Agenda a pedal11 de Dezembro5º Passeio BTT Caminhada Solidária de Natal, em Guimarães, organizado pela ACMinho

Sem pedal: Guimarães promove “Corrida pelo Património” nos 15 anos da classificação da UNESCO. Largo do Toural é o local de partida e chegada de um evento desportivo e cultural que inclui passagens por monumentos emblemáticos de Guimarães. Corrida realiza-se em Guimarães no próximo dia 13 de dezembro, pelas 21 horas.

18 de DezembroPasseio da Feira Artes,Ofícios e Sabores de Vimioso, organizado pela AC Bragança

1,5 metros

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10 Observar

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Observar

Nicolinas - GuimarãesFOTOGRAFIA Joana Meneses

ObservarO QUE PASSA. O QUE FICA. O QUE MARCA.

+RADAR

Especial Orçamentos Municipais 2017

BITAITESQue grande Trumpalhada!

CÓDIGO POSTALGarfe, aldeia presépio

PASSEIO PÚBLICOSalvador Martinha

TALENTOJoão Sousa

HISTÓRIAS DA RUALiliana Trigueiros

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12 Observar

RADAR

Os nossos amigos americanos decidiram

dar-nos um prenda de Natal antecipada e eleger o senhor do cabelo esquisito para ocupar nos próximos quatro anos a Casa Branca. Foi com choque e consternação que a Europa e o Mundo acordou com a notícia. Logo apareceram teóricos e comentadores, logo se fizeram programas e análises, logo que especulou sobre os motivos desta eleição

surpreendente… mas pela negativa. Devo dizer que entendo que este acontecimento

tem uma de duas possíveis leituras evidentes. Ou os Americanos quiseram dar um sinal em nome da maior parte da população do planeta de que estão fartos de políticos da treta e que se o brasileiros elegem o Tiririca deputado, eles também podem eleger um louco Presidente. Ou então a escolha era mesmo entre duas pessoas tão más e equivalentes que na roleta saiu o magnata. Certo é que o acontecimento é grave, não pelo que o homem vai fazer (porque naturalmente ele também não vai governar) mas pelo que significa. A política é, de um modo geral, um local mal povoado, onde todos os interesses se jogam menos os das populações. A verdade é que se governa para tudo menos para as pessoas. Isto acontece aqui e ali, da direita à esquerda de uma forma assustadoramente transversal. E isto deveria levar-nos a uma reflexão bem mais profunda sobre a natureza e atribuição do poder. No nosso cantinho os melhores não estão de facto na política…e como sabemos isso? Fácil…tentem encontrar um número significativo de políticos que tenham carreira ou provas dadas na vida a sério, a privada, ou que pelo menos o tenham antes de exercerem os cargos públicos. Há aqui uma espécie de perversidade no sistema que dita que o caminho é quase do berço e tem um rota certa. Das bases da Jota para as lideranças da Jota, da Jota para o Partido e do Partido para o poder. Assim temos políticos que não cumprem o desígnio elementar para o qual a política existe… servir as pessoas, aportando algo de bom e útil. Não, ao invés disso temos esquemáticos e especialistas em golpes e golpezinhos, políticos de carreira que nada têm a aportar ao serviço das pessoas, até porque, o princípio é o oposto…eles é que se “aportam” na política. Há honrosas exceções, embora estejam em franca minoria. Quanto a Trump, não é nada disto… parece-me que é mesmo por puro capricho! Vamos ver onde vai parar esta Trumpalhada toda.

Alfredo BastilhasQuem é? Posso ser eu, podes ser tu, o vizinho ou uma pessoa com quem te cruzas na rua. Podemos ser todos, pode não ser ninguém.

QUE GRANDE TRUMPALHADA!BitaitesRADAR

NÚMEROSOrçamentos Municipais 2017Os Municípios melhoram contas, a receita aumentou e a despesa caiu revela o Anuário Financeiro dos Municípios elaborado pela Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC). O prognóstico é mais favorável mas recomenda-se cautela. No distrito de Braga é o concelho de Esposende que lidera a lista do melhor desempenho financeiro.

Festas de Natal são uma “farsa”"Estamos perto do Natal: haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios… mas é uma farsa. O mundo continua a fazer as guerras. Não escolheu o caminho da paz".O Papa falava no dia em que foi instalado na praça de São Pedro, em Roma, um grande pinheiro para as festividades de Natal.

'TOU BARADO

Famalicão 85,9 milhões de euros

Viana do Castelo90 milhões de euros

Guimarães105 milhões de euros

Braga 101 milhões de eurosO município de Braga conta com um orçamento de 101,3 milhões de euros. São mais 2,5 milhões de euros que o ano anterior.

Póvoa de Lanhoso16 milhões e 800 mil euros

Em 2017 baixa o IMI para as famílias Povoenses. No Ambiente refere-se o investimento no

alargamento da rede de água e saneamento, tendo candidatado ao POSEUR cerca de

4 milhões e 300 mil euros, envolvendo 14 freguesias. O Desenvolvimento económico

também é apontado como um dos eixos principais de intervenção.

Para o próximo ano, o Orçamento da autarquia vimaranense será de 105 milhões de euros. O valor total inclui as comparticipações comunitárias para a concretização de projectos municipais.

Para 2017 Famalicão conta com 85,9 milhões de euros, sensivelmente mais

sete milhões do que o valor inscrito no orçamento para o corrente ano, equivalendo a um aumento de 10%.

Com os fundos comunitários Viana aumenta o seu orçamento em 10 milhões de euros. Nos 90 milhões

de euros incluem-se 74 milhões de orçamento da Câmara e 16 milhões de

euros dos Serviços Municipalizados de Saneamento Básico.

Esposende até 38 milhões de euros

Com uma dotação de 22 milhões de euros a autarquia espera acrescentar

em Abril os cerca de 3,5 a 4 milhões de euros do superavit das contas de 2016. A estes valores poderão acrescentar-se também receitas

provenientes do quadro comunitário “Portugal 2020” superiores a 12

milhões de euros, a executar quase na totalidade em 2017.

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14 Observar

D os quatro evangelistas canónicos foi S. Lucas quem mais destacou o natal de Jesus. E, mesmo assim, não gastou mais que umas poucas linhas para descrever o episódio sobre o qual, nos dois últimos milénios, tão grande núme-ro de artistas se debruçou, transformando o nascimento

de Deus Menino numa das mais belas e significativas representações bíblicas.Rezam os cronistas que o presépio, como hoje nos surge, foi engenhado

por S. Francisco de Assis, em 1223, embora se conheçam representações do nascimento e da adoração dos Magos desde pelo menos o século IV. Com o Renascimento o tema foi-se tornando cada vez mais apelativo para pintores e escultores e a paixão pelo presépio foi de tal modo cultivada que, aos poucos, tomou lugar em todas as casas do mundo cristão.

É de um pequeno presépio que tínhamos em casa, montado dentro de uma caixa de vidro e composto por dezenas de figuras minúsculas, mas de uma beleza plástica invulgar, que ainda hoje me recordo quando mentalmente regresso aos natais da minha infância.

Foi certamente para recordar tempos de idêntica magia que, há quinze anos atrás, um sacerdote sonhador, Pe. Luís Peixoto Fernandes, lançou a ideia de na sua paróquia, Garfe, concelho da Póvoa de Lanhoso, os vizinhos de cada lugar construírem em espaço público um presépio. Queria que os presépios fizessem regressar cada um dos seus paroquianos à mensagem primitiva: a um tempo de paz e de fraternidade entre os homens, recordando-lhes que Jesus nasceu na maior pobreza e que Natal, se comemora esse nascimento, não pode ser sinónimo de esbanjamento e despesismo.

A pequena aldeia respondeu afirmativamente, e nesse primeiro ano poucos foram os lugares que não construíram o seu presépio.

CÓDIGO POSTAL

GarfeALDEIA PRESÉPIO ABENÇOADA

PELO PAPA FRANCISCO"O PRESÉPIO, COMO HOJE NOS SURGE, FOI

ENGENHADO POR S. FRANCISCO DE ASSIS, EM 1223"

Estes conquistaram boas vontades, foram divulgados ao mundo pela comunicação social, a mensagem passou de boca em boca e Garfe tornou-se, desde então e por altura do Natal, local de passagem obrigatória para milhares de pessoas, idas das mais diversas terras de Portugal.

Este ano serão dezanove os presépios, pequenos ou grandes, montados um pouco por toda a freguesia que se transforma, ela própria, num presépio, tantas as pessoas que correm a ver de perto o Menino Deus. Mas este Natal será especial. É que, tendo chegado ao conhecimento do Papa Francisco “a generosidade com que a comunidade paroquial de Garfe abraçou o compromisso natalício de reproduzir nos diversos pontos da terra o nascimento do Filho de Deus…”, epigrafou Sua Santidade às gentes da aldeia que “onde nasce Deus, floresce a misericórdia”, lançando sobre toda aquela comunidade a sua Bênção Apostólica.

José Abílio CoelhoHistoriador e ficcionista, é licenciado e doutorando em história pela Universidade do Minho. Autor de mais de duas dezenas de publicações, é coordenador do arquivo histórico da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso e diretor do Museu dos Bombeiros Voluntários do mesmo concelho.

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PASSEIO PÚBLICO

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Salvador Martinha:

TEXTO Luís Leite

A corrida a Marte já começou. Considerarias um bom sítio para viver?Agora com o Trump é de equacionar.

Podes fazer uma lista do tipo … és um tipo anti-quê?Sou anti-tudo aquilo que represente tentar ser aquilo que não se é.

Estiveste há pouco tempo em Guimarães. Achas que o público no Norte é muito diferente?Informado, culto e exigente. Gosta da energia no máximo. O público do norte não gosta das coisas pela metade.

Já disseste que tentas que as pessoas se riam do início ao fim dos espectáculos. Não tens receio de provocar uma coisinha má a alguém?Era curriculum: o espectáculo é tão fixe que uma senhora morreu a rir. Curtia.

Dizes que nunca salvaste ninguém. Se tivesses a oportunidade de não salvar uma pessoa, quem seria?De não salvar? Salvaria sempre. Não sou de não salvar. Excepto documentos do word — às vezes esqueço-me.

Já disseste que te querias reformar aos quarenta. Então, está quase… O que te falta concretizar na tua futura curta carreira?Juntar dinheiro para comprar uma casa.

O teu solo anterior, disponibilizaste-o no Netflix. Este também vai seguir o mesmo caminho?Espero gravá-lo em Outubro de 2017. Ainda não sei qual o seu destino mas a Netflix é uma possibilidade.

S alvador Martinha regressa aos espectáculos de stand up comedy, agora com o 'Tipo Anti-Herói'. Depois de passar por Guimarães, o

humorista vem ao Theatro Circo, dia 22, com o objectivo de salvar a humanidade e falhar redondamente. A produtora Hype volta a trazer mais um humorista conceituado a Braga e nós agradecemos, desta vez até poderemos ser salvos.

Vens a Braga apresentar o espetáculo Tipo Anti-Herói. O teu objectivo é "salvar a humanidade e falhar redondamente”. Isso é difícil de concretizar?Eu vou tentar falhar mas não prometo. Pode ser que sem querer salve alguém. Pode acontecer durante o espectáculo. Sobretudo a raparigas giras com tops transparentes e com mais de 50k do instagram (normalmente quer dizer que são boas).

Como explicarias este espetáculo a alguém que não conhece o teu trabalho?Honesto, original e sem merdas.

Qual é o teu super poder?Transformar coisas tristes em coisas para rir. E o meu tempo livre.

Se não fosses humorista, o que serias?Lateral esquerdo de uma equipa da terceira divisão e speaker do mesmo clube quando não fosse convocado.

Como consegues ir além do óbvio no teu humor?Fugindo ao óbvio. O óbvio é uma espécie de pacman. Tens de estar a sempre a fugir.

Vais estar em Braga dia 21. Não queres ficar mais uns dias para veres a tradição do Bananeiro? Por mim, mal acabe o espectáculo pode começar o bananeiro. Vamos encarar o meu espectáculo como arranque do bananeiro.

Sabias que temos outro Salvador em Braga?O Presidente? Mas ele é António antes. Se fosse DJ poderia ser Tó Salvador.

Podemos fazer uma revisão do ano 2016?Táxi ou Uber?Uber.

Marcelo Rebelo de Sousa ou Guterres?Marcelo.

Jogos Olímpicos ou Europeu de Futebol?Europeu. SOMOS CAMPEÕES, C****!

A figura do ano: Pedro Dias ou Maria Leal?Os dois na bimby velocidade 2.

Websummit ou Incêndios?Um incêndio no Websummit.

HONESTO, ORIGINAL E SEM MERDAS

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TALENTO

“CONQUISTADOR”

João Sousa é o talento do ano 2016

TEXTO Maria Inês Neto

N ascido em Guimarães, recebe muitas vezes a alcunha de “O Conquistador” e aos 27 anos, João Sousa conquista o 29º lugar no ranking tornando-se o melhor tenista portu-guês de sempre. Começou a jogar aos 7 anos com o seu pai no “Clube de Ténis de Guimarães”. Aos 14 anos de-

cide seguir a carreira profissional de ténis. Muda-se para Barcelona, para a Federação Catalã de ténis e um ano mais tarde entra para a Academia BTT (Barcelona Total Tennis) onde continua até hoje com o apoio do seu treina-dor, Frederico Marques. Foi o primeiro tenista português com o estatuto de cabeça-de-série no US Open em 2014.

Quando é que descobriu o seu gosto pelo ténis?Comecei a jogar ténis aos 7 anos, por influência do meu Pai que me levava com ele para o Clube de Ténis de Guimarães. O que me levou a seguir a carreira de tenista profissional foi a paixão pelo ténis, pela sua complexidade (importância das vertentes física, mental, tática, técnica) e pelo gosto pela competição. É dentro do campo de ténis que me sinto bem!

Decide mudar-se para Barcelona quando tinha 15 anos. De onde surge a coragem de deixar para trás a família, os amigos e a sua cidade e de que forma a “sorte” poderá ter sido uma boa companheira?A coragem surge da vontade de perseguir um sonho e da necessidade de o fazer onde estavam reunidas as melhores condições para que esse sonho se concretizasse. Não acredito na “sorte”, penso que a “sorte” é resultado do trabalho, persistência e dedicação.

Sente que nasceu para o ténis? Alguma vez imaginou alcançar o sucesso que tem hoje?Não acredito que alguém tenha nascido para praticar algum desporto. Cada pessoa tem as suas aptidões físicas, técnicas, mentais, genéticas... Depois é o trabalho e dedicação a um desporto/profissão que leva uma pessoa a atingir resultados. Quanto maior for essa dedicação, esse esforço, o espírito de sacri-fício e a entrega, maior a probabilidade de se alcançar os melhores resultados.

US Open, Wimbledon, Australian Open e Roland Garros: qual foi o pre-ferido, independentemente dos resultados que obteve, e porquê?O torneio que gosto mais é o Australian Open devido a todo o enquadramen-to e ambiente. É algo único, o público vibra como nenhum e é ótimo jogar lá.

Chegou ao 29º lugar no ranking, o que faz de si o melhor tenista por-tuguês de sempre. Sente que o seu sucesso contribuiu também para o sucesso do ténis em Portugal?Atingi a minha melhor classificação de sempre (#28 ATP), estive todo o ano dentro do Top 40 ATP (excepto no mês de Novembro). Passei duas rondas no Open da Austrália, no Open dos EUA e em Wimbledon (onde pela primeira vez ganhei um jogo no quadro principal), atingi os ¼ final do masters de Madrid...

Foi um ano de consolidação e de boas prestações nos grandes torneios. Penso que é muito importante para os jovens e fãs do ténis verem um português a jogar com os melhores do Mundo. Os media dão mais atenção à modalidade, o que atrai mais fãs e leva a um maior desenvolvimento da modalidade.

Recebe várias vezes a alcunha de “O Conquistador” e é também muito acarinhado por todos em Guimarães. Sente esse reconhecimento sem-pre que cá volta? Sim, adoro a minha cidade, sou Vitoriano de alma e coração e sou extrema-mente bem recebido e acarinhado em Guimarães. É em Portugal e em Gui-marães que tenho as minhas raízes e a minha família. O meu coração está cá mas também já um pouco em Barcelona devido aos meus amigos e à minha namorada que é de Barcelona.

Se tivesse de escolher o momento mais especial da sua carreira até ago-ra, qual seria? Talvez tenha sido a primeira vitória numa final dum torneio ATP, em Kuala Lumpur em 2013, pois mostrou que podia ganhar a qualquer um e que tinha o meu espaço na elite do ténis mundial.

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20 Opinião

A bro a caixa. Volto ao primeiro dia com um bilhete de cinema. Depois dessa noite encontro muitos outros flashes: pétalas, palavras minhas tuas ou de outros que roubámos, músicas, nós em diferentes tons. Viajo nos dias em que corria para ti. Noutros em que te tentava encontrar em pequenos apon-tamentos do meu dia. Noutros em que

te amava naquilo que escrevia para ti e que sabia que nunca lerias. Noutros quando te via e sentia no teu olhar, ainda que por um segundo, aquele primeiro abraço. Em cada um destes recortes de nós sinto de novo uma conversa, um beijo como se soubessemos que seria o último, uma ausência antecipada, um viver de um amor quase num fôlego e que, julgavamos, sem tempo.

Esta caixa tem o peso de todo o meu amor por ti – tem a minha espera, tem a minha dedicação, tem a minha certeza ainda que vivida durante muito tempo na maior solidão, tem o meu sonho, tem-te.

Esta caixa tem todos os momentos em que fechei muito os olhos numa tentativa vã de cristalizar todos os instantes em que percebi que eras tu. Esta caixa tem poemas, livros, chás, framboesas, bolachas, tem quero-te e amo-te em loop. Tem todos os planos e promessas.

Agora percebo que o meu amor por ti é também esta caixa. É um pas-sado que revi e revi tentando adivinhar-te. Um passado que é o que me faz continuar a correr para nós e o que me aprisiona em medos. Andei de-masiados dias a cobrir o que tinha saudade, uma falta insuportável e pelo caminho acabei por rever o que mais temia.

Guardei a caixa. Sei que a tenho e lá encontro-me a partir de nós. Quantas caixas guardamos? Quantos Nós existem dentro daquilo que

somos ou que ambicionamos encontrar?

HISTÓRIAS DA RUA

Talvez para muitos de nós as relações sejam isto – uma forma de nos vermos a partir do outro connosco. Às vezes num cenário idílico. Noutras com aquilo que efetivamente temos e partilhamos. Talvez vivamos nesta dua-lidade: a caixa e aquilo que encontramos fora dela. Em alguns momentos reencontramo-nos a partir da mesma pessoa, num vai e vem. Outras vezes procuramos em mil caras, em mil conversas, em mil relações e nunca encon-tramos exatamente o nosso rosto - falta sempre algum ponto. Continuamos numa busca incessante, chega o cansaço e, na verdade, sempre soubemos que esse tempo, esse sonho nunca voltariam seja com a mesma pessoa seja com todas as outras em que tentamos resgatar aquele instante.

De dentro de Nós“QUANTAS CAIXAS GUARDAMOS? QUANTOS NÓS EXISTEM DENTRO DAQUILO QUE SOMOS OU QUE AMBICIONAMOS ENCONTRAR?”

Liliana TrigueirosFujo de consultórios e de diagnósticos. Entro e conto histórias da Rua. Psicó[email protected]

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SaberUM OLHAR MAIS DEMORADO PARA COMPREENDER.

+TEMA DE CAPA

Volta ao Natal nas tradições

MEMÓRIAS DE NATALNatal dos 8 aos 80

ENTREVISTABernardo Reis

BRINCAR & EDUCAROlhares e sentires

sem idade

REVISÃO DO ANO2016, um ano escaldante

AVENIDA DA LIBERDADELuís Tarroso GomesRui Marado Moreira

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24 Saber

É NATAL! OS ROSTOS SÃO TOMADOS PELOS SORRISOS, A ALMA PELA ALEGRIA E HÁ MAIS SOLIDARIEDADE ENTRE NÓS. NESTA ÉPOCA NATALÍCIA FOMOS À PROCURA DAS

TRADIÇÕES — ANTIGAS E NOVAS —, ESCREVEMOS AO PAI NATAL E DEMOS VIDA A ANTIGAS MEMÓRIAS. DESVENDAMOS ALGUMAS CURIOSIDADES E AINDA TENTAMOS

DECIFRAR CIENTIFICAMENTE PORQUE SOMOS MAIS FELIZES NESTA QUADRA. TEXTO Adriana Castro, Sofia Peres, Maria Inês Neto, Rafaela Pinto, Luís Leite

TEMA DE CAPA

NATALVolta ao

nas tradições

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O Natal é considerado de grande importância no Ocidente, porque marca o ano 1 da nossa história. Antigamente, o Natal era comemorado em várias datas diferentes, porque não se sabia com certeza a data do nascimento de Jesus. Na Roma Antiga, o 25 de dezembro era a data em que os romanos comemoravam o início do inverno. Foi apenas no século IV que esse dia ficou estabelecido como data oficial de comemoração. As antigas comemorações de Natal costumavam durar até 12 dias, porque foi o tempo que durou a viagem dos três reis Magos até à cidade de Belém para entregarem os seus presentes (ouro, mirra e incenso) ao menino Jesus. Atualmente, as pessoas costumam montar as árvores e outras decorações no início de dezembro e desmontá-las até 12 dias após o Natal.

Ruas de Guimarães vão ser iluminadas com 1,5 milhões de LEDs neste Natal

SUPORTES E ELEMENTOS DECORATIVOS SÃO ILUMINADOS COM TECNOLOGIA LED, EXCETO ÁRVORE DE NATAL E ALAMEDA DE SÃO DÂMASO. LUZES NATALÍCIAS ILUMINAM CIDADE ATÉ 08 DE JANEIRO DE 2017.

Duas dezenas de ruas, duas entradas da cidade, três edifícios de Guimarães e uma árvore de Natal gigante vão ser iluminadas este ano por 1,5 milhões de LEDs (baixo consumo), na maioria de cor branco quente. Outra novidade introduzida pela Câmara Municipal de Guimarães é a nova decoração na Igreja de Santos Passos, cujo efeito luminoso simulará estalactites de gelo, típicas do cenário da época de Natal. Nas ruas, o vermelho e o branco quente, equivalente a uma tonalidade dourada, são as cores predominantes no projeto das iluminações da cidade, conjugada com pormenores decorativos a realçar a atmosfera natalícia. Um pórtico com 9 metros de altura, com um gigante gorro de Pai Natal, apoiado na aresta de uma estrela, dará as boas-vindas aos automobilistas à saída da autoestrada na entrada da cidade em Silvares, enquanto em Urgezes a rotunda será iluminada com LEDs de cor branco quente, proporcionando uma mancha de luz visualmente mais presente e consistente.

Afinal, o que é o Natal?

Antes do Pai Natal houve São Nicolau. A tradição de São

Nicolau tem origem num bispo que viveu no século IV na Turquia. Esse bispo ficou co-

nhecido por deixar prendas, ao colocar moedas nos sapatos que eram deixados à porta das casas, e por aju-

dar os mais pobres. No imaginário antigo, São Nicolau era visto a pairar, num grande cavalo branco, sobre

os telhados, procurando descobrir que crian-ças se portavam mal e as que se portavam bem. Neste sentido, São Nicolau surgia em formas muito semelhantes à do lendário Odin, uma divindade pré-cristã dos po-vos germânicos do norte da Europa.

São Nicolau terá morrido num 6 de dezembro, e essa data foi durante

muitos séculos celebrada na Eu-ropa medieval, mas hoje já só na

Holanda é que se mantém a tra-dição de ser um dia de troca

de presentes.

A verdadeira história do Pai Natal

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26 Saber

TEMA DE CAPA

Traz as bananas que eu levo o Moscatel

O NATAL DENTRO DO NOSSO CÉREBRO

Espírito de Natal, estás aí?POR Sofia Moleiro

U ma equipa de neurologistas dinamarqueses procurou saber onde se localiza o espírito de Natal no cérebro

humano. Os resultados são curiosos e mostram que há de facto uma rede neuronal envolvida neste sentimento de alegria e nostalgia que nos invade durante a época natalícia.

Foram criados dois grupos, um composto por pessoas que habitualmente celebram o Natal e o outro por pessoas que não celebram o Natal. Ambos foram expostos a imagens relacionadas com esta época, intercaladas com outras, enquanto os submetiam a uma ressonância magnética.

Os resultados mostram uma reação às imagens denotando-se um circuito nas áreas corticais, incluindo o lobo parietal, córtex pré-motor e o córtex somatossensorial. O interessante é que o lobo parietal tem vindo a ser associado a uma sensação de espiritualidade e transcendência. O córtex pré-motor, por seu lado, tem vindo a ser associado à partilha de experiências com outros indivíduos através da mímica dos seus comportamentos, por exemplo, o que sucede durante a ceia de Natal. Há também cada vez mais evidências que relacionam o córtex somatossensorial com o reconhecimento de emoções faciais e a recolha de informações faciais importantes.

A hipótese colocada é que estas áreas, em conjunto, podem constituir uma rede neuronal correlacionada com o espírito de Natal no cérebro humano.

No entanto, os autores alertam que ainda há muito por explorar e que o estudo não distingue se a activação observada é específica do Natal ou o resultado de uma combinação de alegria, festividade e emoções nostálgicas em geral.

Será que vai chegar o dia em que a estimulação de determinadas áreas do cérebro irá gerar um “espírito de Natal” instantâneo?

Horas antes da consoada, a Rua do Souto, mais precisamente na loja “Casa das Bananas” em Braga, enche-se de milhares de pessoas para mais uma noite de convívio. Tudo começou há mais de 30 anos quando o filho do dono da loja Casa das Bananas, Jorge Rio, juntou pela altura do Natal, os antigos amigos do liceu para beberem um copo de Mosca-tel acompanhado de uma banana. Aquilo que parecia ser um encontro de amigos, passou a ser uma das tradições mais vivida pelos bracaren-ses. No dia 24 de dezembro, famílias e amigos brindam a mais um Na-tal. A noite onde muitos só se encontram uma vez no ano é também a oportunidade para desejar àqueles que nos são próximos um Feliz Natal.

Se gostas mais de Porto, tens o Portanheiro em Barcelos

Portanheiro? Sim, em Barcelos. As bananas também estão lá mas aqui o que se bebe é vinho do Porto. Nos cafés e estabelecimento de Barcelos já é habitual oferecer uma fatia de bolo rei e um cálice de vinho do Porto mas agora chega o Portanheiro. Este ano, espera-se que o Portanteiro vá encher de alegria os barcelenses. Pedro Nunes e Vasco Horta contaram à RUA que tudo começou com um simples convívio entre amigos antes da ceia de natal. “Sabíamos que existiam grupos que faziam uma espé-cie de rally das tascas nesse dia mas achámos que assim o pessoal jun-tava-se mais facilmente”, explica Vasco Horta e Costa. Ainda nos explica o nome do evento: “Somos 6 apaixonados pelo belo portinho, a banana é só para alimentar!”. Pedro Nunes acrescenta: “Se outras cidades têm os seus próprios eventos, nós também achamos que os barcelenses po-diam reunir-se e desfrutar da companhia dos amigos e beber uns copos e confraternizar”. As expectativas passam pelo desejo de ver o Porta-nheiro crescer para que possam criar, de alguma maneira, um evento de beneficência para ajudar pessoas com dificul-dades: “Se este ano correr bem pode ser que nos próximos anos essa ideia se consiga realizar”, afirma Pedro Nunes. Todos os portanheiros estão convidados a apa-recer dia 24 no Jardim Velho De Barce-los... antes da consoada, claro!

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NICOLINAS em guimarãesCaixas ao sol e peles a esticar, a cidade berço prepara-se para acolher os festejos mais esperados pelos vimaranenses: as Nicolinas, uma tradição única em Portugal.

PinheiroO dia 29 de novembro marca o início das Festas Nicolinas. Velhos e Novos Nicolinos inundam as ruas da cidade e, a um só toque, fazem-se ouvir ao longo de um cortejo. Engane-se quem pensa que o tocar das caixas e bombos só começa à meia-noite, hora que marca o início do cortejo. Grupos de amigos juntam-se para a “Ceia Nicolina” nos mais variados restaurantes típicos da cidade e a ementa já está escolhida: caldo verde, rojões com grelos, papas de sarrabulho e bebe-se vinho verde da região (branco ou tinto). E claro, castanhas assadas!

Jantar terminado e caixas na mão, é hora de reunir junto ao Campo de S. Mamede para dar início ao cortejo. Liderado pela figura máxima da Comissão de Festas, o Chefe de Bombos conduz todo o cortejo com a sua mítica “boneca”, usada para marcar o ritmo dos bombos. O momento mais esperado é o erguer de um grande mastro (o Pinheiro), no Largo de S. Gualter, já no fim da noite. Não se sabe por quantos mais anos o sentimento continuará o mesmo mas uma coisa é certa: “enquanto houver mundo, há-de soar o grito Nicolino.”

MaçãzinhasAs “Maçãzinhas” acontecem no dia de S. Nicolau, a 6 de Dezembro. É uma homenagem às raparigas vimaranenses. Logo pela manhã começam os preparativos. Os rapazes preparam os seus carros alegóricos nas Oficinas de S. José, colocam as fitas nas suas lanças e arranjam um Escudeiro que os acompanhe. Essas fitas podem ser de várias cores, sendo que cada cor tem um significado diferente e nelas levam dizeres e mensagens escritas. As meninas cosem camélias brancas às capas pretas dos estudantes e colocam-nas nas suas varandas. O cortejo arranca às 15h00 e por esta altura a cidade já se encontra cheia de apaixonados e curiosos que aguardam ansiosamente pelo momento de clara inspiração romântica. Os membros da Comissão de Festas das Nicolinas lideram o cortejo, vestidos a rigor com a típica capa e batina e atrás seguem-se os restantes estudantes nos seus carros alegóricos. A principal peculiaridade das “Maçazinhas” deve-se ao modo como os estudantes preservam o efeito do romantismo bem típico de tempos passados e o sentimento que é recuperado por quem participa naquele que é um momento mágico.

PregãoO pregão realiza-se a 5 de Dezembro e consiste na declamação de um texto satírico-retórico da autoria de Novos e Velhos Nicolinos sendo recitado pelo “Pregoeiro”, nomeado de entre os 10 elementos da Comisão de Festas. O Pregoeiro é escolhido por ser aquele que tenha uma voz mais pujante, revelar dotes de declamação e uma boa dicção bem como uma pose condigna. O “Pregão a S. Nicolau” é um momento de exaltação da cidade de Guimarães bem como um elogio ao padroeiro dos estudantes. O Pregão é recitado em cinco pontos da cidade sendo o ponto mais popular a Câmara Municipal onde é então declamado pela primeira vez. Depois segue-se o cortejo que acompanha o trajeto entre os vários pontos sendo marcado pelo “Toque do Pregão”.

É também um dia muito importante para aquele que tenha a suprema honra de ser escolhido para representar a Comissão e declamar à cidade em versos e em prosa os eventos ocorridos nesse ano. “Que se ouça por aí, no mundo inteiro: festa há muita, por toda a parte, mas como esta? Nem no mundo, nem em Marte!”

RoubalheirasDesde balizas, vasos, bancos de jardim ou mesmo sinais de trânsito fora do lugar indicam que foi uma noite de “Roubalheiras”. Tal como o nome indica, as “Roubalheiras” celebram-se tradicionalmente em data não revelada em que os estudantes espalham-se sorrateiramente pela noite dentro e “roubam” tudo o que puderem. Mudam as mais variadas coisas de lugar, pegam em objetos caricatos e juntam tudo no Largo do Toural. Atualmente, as “Roubalheiras” realizam-se discretamente durante a semana Nicolina, e apesar de a data ser incerta para a população vimaranense, o aviso prévio às forças de segurança permite identificar com anúncios próprios todas as casas ou lojas “assaltadas”. Isto permite que não hajam furtos inesperados.

Fotografia: Joana Meneses

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TEMA DE CAPA

Presépio de Priscos“ALDEIA DOS JUDEUS” É UMA DAS GRANDES NOVIDADES DA EDIÇÃO 2016

Com a chegada do Natal, Priscos torna-se pelo décimo primeiro ano consecutivo um ponto de interesse a visitar por causa do maior presépio ao vivo de toda a Europa.

O objetivo é reviver o que seria o ambiente na época em que Jesus nasceu. Por isso, os cerca de 30.000 m² e os 90 cenários fazem com que os visitantes recuem no tempo. São mais de 800 figurantes que mostram a vida e o quotidiano da época. Ferreiros, sapateiros, lenhadores, padeiros e muitas outras profissões estão representadas no presépio. Os visitantes não se limitam a observar. São convidados a saborear alimentos daquela altura como "pão de César”, “hidromel”, “posca”, "água-pé", "café no pote" e o famoso pudim “Abade de Priscos”. Este é também um projeto de reinserção social. Durante o ano, os paroquianos são auxiliados por reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga na construção dos cenários e têm o objectivo de que tudo fique o mais próximo possível da realidade.

Este ano, o presépio ficará marcado pela visita do representante do Papa, o cardeal D. Lorenzo Baldisseri que irá inaugurar, no dia 18 de dezembro, uma novidade: a "Aldeia dos Judeus". É um monumento dedicado ao Ano Santo da Misericórdia que a Igreja celebrou até 20 de novembro. Este ano são esperadas mais pessoas, principalmente de Espanha: “O número de grupos que nos têm contactado aumentou, principalmente galegos, o que é bom para a internacionalização do Presépio”, revela o Padre João Torres.

O Presépio ao Vivo de Priscos, o “maior” do género na Europa, vai poder ser visitado gratuitamente de 18 de dezembro a 22 de janeiro de 2017. Se os visitantes não quiserem aguardar na fila, podem entrar sem estar sujeitos ao tempo de espera, mediante a quantia de 5 euros.

As Corridas de São Silvestre

A primeira corrida de São Silvestre da história nasceu

em São Paulo, no Brasil, no último dia do ano de 1925 e foi organizada pelo jornalista

Cásper Líbero que se inspirou numa corrida noturna realizada em França, na qual os corredores carregavam

tochas. A Corrida de São Silvestre recebeu esse nome em homenagem ao santo do dia. A região minhota assiste e

participa nesta época à realização de diversas provas de atle-tismo de São Silvestre. São poucas as que seguem a tradição de acontecer no último dia do ano. Em Braga será dia 30 de dezembro. Há São Silvestre

noutras cidades como em Vila Nova de Famalicão (dia 23), Monção, Via-

na do Castelo, Guimarães, entre outras. Não deixes a tradição

por cumprir!

INTENÇÕES DE CONSUMO DOS PORTUGUESES NO NATAL

As finanças do Pai Natal Em 2016 verifica-se uma ligeira tendência para diminuir o gasto em compras de Natal face ao ano anterior, segundo o Observatório Cetelem*.

211€ é o gasto previsto em presentes de Natal (em 2015 era de 241€). 25% tencionam poupar neste Natal, oferecendo presentes apenas à família mais próxima. 24% dos consumidores portugueses planeiam pagar as despesas inerentes à época com cartão de crédito. No ano passado, apenas 18% tinha intenção de usar este meio de pagamento e, em 2014, não ia além dos 11%, de acordo com o Observatório Cetelem. o valor médio que planeiam gastar com o cartão de crédito diminuiu pela primeira vez desde 2012. 1% afirma que gastará mais de mil euros, 1% afirma que vai gastar até 99 euros.

*O estudo foi desenvolvido em colaboração com a Nielsen e contou com 600

testemunhos de Portugal Continental.

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Hanukkah: a 25 de Kislev, o festival das luzesPOR Cláudia Sil

K islev, palavra cuja raiz significa “esperança”, é o nome do terceiro mês do ano judaico, calendário lunissolar, isto é, onde os meses

são determinados pelo aparecimento de uma nova lua corrigindo-se ao ano solar pela introdução, a cada ciclo de sete anos, de dois anos de 13 meses. As grandes festas judaicas estão associadas a festas de colheitas dos chamados sete frutos de Israel: cevada, trigo, tâmaras, romã, figos, uvas e, já no inverno, as azeitonas. É precisamente pela altura do solstício de inverno que se comemora Hannukah, também conhecido por festival das luzes, directamente associado ao uso do azeite para acender as luzes dos candelabros. A palavra hannukah significa “dedicação”.

A história relata Hannukah como o dia em que os Macabeus (palavra de origem grega que significa martelos) que eram os judeus, venceram, contra todas as probabilidades, as investidas do rei grego Antíoco IV e repuseram a ordem no profanado Templo de Jerusalém onde tinha sido proibida a prática do judaísmo no ano de 167 ACE e introduzido o culto a Zeus, deus do Olimpo. A vitória foi um milagre.

A menorah, ou candelabro judaico de sete braços, só podia ser acesa no Templo com azeite produzido por um Cohen (sacerdote) e demorava oito dias a ser produzido. Quando os judeus retornaram ao templo, vandalizado, verificaram que restava um pouco de azeite que apenas permitiria acender a menorah por um dia. Mesmo assim acenderam-na e aconteceu que o azeite manteve as luzes durante os oito dias necessários até se produzir novo azeite. Diz-se que aconteceu um novo milagre e desde então se comemora o festival das luzes. É o mês dos milagres. Todos os judeus acendem, à vista de todos, até nas ruas das cidades, as Hannukiah, candelabros com oito braços, um por cada dia do milagre, e mais um braço auxiliar onde se vai buscar a luz para acender as outras. Todos os dias se acende uma luz adicional. Quanto mais luz se partilha, mais luz há, menor é a escuridão.

A mística judaica acrescenta uma explicação ainda mais profunda. Neste mês, de escuridão, de dias muito curtos, a Torah (bíblia judaica) fala, como em nenhum outro período, de sonhos. Relata nove sonhos, tantos quantos os braços da Hannukiah. Adicionalmente à curta duração dos dias acontece uma lua nova, no 30º dia de Kislev, onde a Lua desaparece o que faz com que esta festa ocorra no dia com menos luz de todos os do ano. A vigésima quinta palavra da Torah é “luz”. O vigésimo quinto lugar onde descansam os hebreus em fuga pelo deserto é Hashmonah, onde viviam os Macabeus.

Nesta festa, que por vezes coincide (e não é uma coincidência!) com o 25 de Dezembro, comem-se sonhos (sufganyot) e joga-se ao peão ou “rapa” cujas letras, no original hebraico significam “o milagre aconteceu lá". Em Israel, pois claro.

Há sempre luz, até na maior das trevas. Feliz Hannukah do ano de 5777!

O cantar das doze badaladas Já é tradição, na noite de 24 para 25 de dezembro, ser celebrada uma missa à meia noite que assinala o nascimento de Cristo. A missa do galo, como é assim chamada, começou a ser celebrada no século V, mas a Igreja Católica só adotou a data a partir de 330 d.C.

A missa do galo é realizada pela Vossa Santidade - o Papa, na cidade de Roma, em Itália, porque é o dia do solstício do inverno romano. Nesse dia do nascimento do sol, os pagãos festejavam o natal do Deus-Sol e, por isso, os romanos passaram a celebrar, no dia 25, a festa da posse do Deus-Imperador. Reza a lenda que o seu nome deve-se ao facto de ter sido nessa noite a única vez que um galo cantou à meia-noite.

4ª Edição e Edição Especial de Natal do Guimarães MarketOs dias 26 de Novembro e 17 e 18 de Dezembro marcam o seu regresso com a 4ª Edição e a Edição Especial de Natal, terminando assim o ano com um espaço ideal para compras de qualidade num ambiente descontraído e para todas as idades. Com entrada gratuita, vai poder visitar o Guimarães Market, entre as 11h e às 19 horas e envolver-se nas atividades que vão acontecer. Cônjuge diversão com conhecimento, usufrua de música e de atividades para os mais pequenos.

Parada de Natal em BragaA Parada de Natal foi uma das novidades do programa de animação ‘Braga é Natal’ do ano passado. Este ano o mundo da Disney vai desfilar pelas ruas da cidade.

SUGESTÕES de Natal

As Corridas de São Silvestre

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TEMA DE CAPA

Fortaleza de Chocolate6 a 11 de dezembroA Fortaleza de Chocolate adoçará o Natal. Uma oportunidade para deliciar-se com as cascatas, os fondues, os crepes doces e salgados, os waffles, os brigadeiros, as trufas, os bombons, os torrões, as espetadas de fruta, as bombocas, a ginja e tantas outros produtos em que o chocolate é a marca dominante.

Duendelândia3 a 11 de dezembroA Duendelândia é a oportunidade para os mais pequenos desfrutarem de um mundo mágico, com a Casa do Pai Natal, o percurso Duendaventura com arborismo suspenso, o Bosque Encantado, as pinturas faciais, a modelagem de balões, os atelier's de manualidades, a carta ao Pai Natal e a oferta de rebuçados.

Pista de Gelo1 de dezembro a 8 de janeiroPela primeira vez Valença vai proporcionar uma pista de gelo artificial, no Jardim Municipal, entre 1 de dezembro e 9 de janeiro. A pista permitirá a permanência de dezenas de patinadores em simultâneo.

Valença Cidade Presépio1 de dezembro a 8 de janeiroA maior exposição de presépios do país desenvolve-se por toda a cidade com instalações originais e pelas montras dos comércios, envolvendo toda a comunidade.

Compras de Natal3 de dezembro a 6 de janeiroAs Compras de Natal com Prémios são um convite a conhecer a oferta do comércio tradicional de Valença, habilitando a cheques compra nos comércios aderentes.

TEMA DE CAPA

Comboio de Natal 3 de dezembro a 6 de janeiroO comboio turístico percorrerá os centros históricos de Valença e Tui dando a conhecer os principais encantos patrimoniais da Eurocidade e toda animação programa para esta quadra.

Concertos de Natal 17 e 18 de dezembroTrês concertos marcam o fim de semana de 17 e 18 de dezembro com música alusiva à época.

Festa dos Reis 5 e 8 de janeiroA programação encerrará com a Festa dos Reis, com transmissão do “Somos Portugal” da TVI, em 8 de janeiro. Em 5 de janeiro decorrerá a tradicional Cavalgata Internacional de Reis da Eurocidade Valença Tui, com saída dos Bombeiros de Valença, às 16h00.

para visitar Valença este Natal8MOTIVOS

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O Natal dos 10 aos 80O NATAL EM DUAS PERSPECTIVAS: AS MEMÓRIAS DAS RESIDENTES DO LAR CASA DO PROFESSOR E A VISÃO DO NATAL PELOS OLHOS DE MIGUEL SOUSA, 10 ANOS.

L embro-me tão bem dos meus natais…A família toda reunida… uma alegria constante!Ainda antes dos afazeres do grande dia, o presépio e a árvore de

natal tinham que estar minuciosamente prontos.O presépio era muito real, as figuras eram de barro, fazíamos caminhos

com terra e forrávamos uma estrela com prata branca com uma cauda, para colocarmos no ponto mais alto do presépio. As principais figuras do presépio eram o S. José, Maria, o Menino Jesus, a vaquinha e o burro. Havia outros figu-rantes, como os pastores com cajados e muitos carneirinhos. Além disso, uma coisa que gostávamos muito de fazer era ir ao monte buscar grandes placas de musgo para fazer o presépio cobrindo-o todo. Todo este trabalho era muito educativo e construído com alma, fé e alegria.

A árvore de Natal era mágica, era como se tivesse uma espécie de vari-nha de condão que punha toda a gente a trabalhar naquele espírito envol-vente. O pinheiro não era artificial, era natural e havia uns chocolatinhos com desenhos que colocávamos em toda a árvore e que, de vez em quan-do, íamos “pescando” discretamente sem ninguém ver, deixando apenas o papel sem o delicioso conteúdo. Além disso, havia as chamadas “trenas”, umas fitas coloridas que harmoniosamente enfeitavam a árvore. Algumas vezes até colocávamos neve artificial para embelezar ainda mais aquele cenário natalício.

Na véspera de Natal era sempre uma agitação na cozinha e entre a con-feção de doces típicos, como as rabanadas e aletria, não podia faltar na mesa, o famoso bacalhau e as batatas cozidas. Havia também a tradição cristã de ir à Missa do Galo que começava à meia-noite da véspera de natal e onde se faziam longas filas para beijar o pé do Menino Jesus.

As prendas de natal eram abertas na manhã do dia 25 de dezembro e acreditávamos que era mesmo o Menino Jesus que delicadamente as orga-nizava e distribuía por cada uma das casas. Não havia cartas ao Pai Natal, nem tão pouco se falava dele, apenas nos diziam que o Menino Jesus trazia o que podia, que era quase sempre pouco.

As memórias são assim guardadas com muito carinho e saudade, de todos os momentos passados naqueles maravilhosos natais, onde no fim de contas, o mais importante era a união, o convívio e a alegria de ver toda a família reunida. Assim nos seja permitido viver muitos mais natais e que a memória de outrora seja a realidade de hoje, permitindo a todos estar junto dos seus. Feliz Natal!

Residentes do Lar Casa do Professor

M uitas crianças acham que o Natal só serve para receber presen-tes. Na minha opinião, essas crianças não aproveitam o Na-tal ao máximo, porque se esquecem da família, dos amigos e,

principalmente, de Jesus. Quem me dera que todas a crianças (os adultos também) pensassem mais no significado do Natal, particularmente nos dias do Advento.Quando chego à quadra natalícia, costumo viver esses dias intensamente, sobretudo durante o tempo em que estou na aldeia dos meus avós, mater-nos ou paternos. E é assim que desejo continuar a passar o Natal, porque se sente a presença da família de forma diferente…Vou dar o exemplo de como são os dias de véspera e de Natal nos meus avós maternos (casa dos meus tios), onde costumamos chegar durante a tarde do dia 24 de dezembro. Até à hora da Ceia de Natal, eu e a minha família aproveitamos para conversar com os primos, tios e avós.Ao jantar, saboreamos a boa comida, embora não seja apreciador de baca-lhau, mas há muitas outras coisas, sobretudo sobremesas. No final, conti-nuamos a conversar, a ver televisão, a jogar… sempre aconchegados pelo calor do fogão de sala, à espera da meia-noite, hora de abrir os presentes. É ver a confusão de papéis de embrulho, os sorrisos e as surpresas… comigo nem tanto, porque costumo receber o que pedi – quem dera que pudesse ser assim com todas as pessoas! No outro dia, quer dizer, naquele, é o dia de Natal. A festa continua até à noite, sempre rodeados de muita alegria, em família, que é para mim o mais importante e o que mais desejo para todos.

Miguel Sousa(10 anos)

Memórias de Natal Desejos de Natal

* Um especial agradecimento à Casa do Professor pela colaboração

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H á cerca de um ano, o Palácio do Raio — um dos edifícios mais emblemáticos desenhados pelo arquitecto André Soares — foi devolvido à cidade bracarense pela Santa Casa da Misericórdia tendo até recebido o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana. Com um investimento superior a 6 milhões de euros, irá nascer uma nova unidade hoteleira que criará 40 postos de trabalho. Conversámos com

Bernardo Reis, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga (SCMB), sobre o futuro, a solidariedade e os seus sonhos.

Inaugurado há cerca de um ano, o Palácio do Raio é hoje motivo de orgulho para a Santa Casa da Misericórdia de Braga? O Palácio do Raio e o Centro Interpretativo das Memórias das Misericórdias de Braga tem sido uma referência e tem tido uma série de actividades e uma apetência para ser visitada. A entrada é gratuita até atingirmos o objectivo de 47.000 visitantes em 5 anos e desde 28 de Dezembro de 2015 já temos 28.000 visitantes. O Palácio do Raio estava integrado dentro do Hospital de São Mar-cos, o qual foi fundado pelo Arcebispo e Senhor de Braga D. Diogo de Sousa em 1508 e foi administrado pela Câmara Municipal entre 1508 e 1559. A

“Sonho voltar a dar vida a todo este complexo”DEDICOU TODA A SUA VIDA ÀS CAUSAS SOCIAIS E, AOS 82 ANOS, BERNARDO REIS AINDA SONHA. O PROVEDOR DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DIZ QUE DESEJA DAR VIDA AO COMPLEXO DO ANTIGO HOSPITAL DE SÃO MARCOS. DEPOIS DA REGENERAÇÃO DO PALÁCIO DO RAIO SERÁ A VEZ DE NASCER O HOTEL VILA GALÉ BRAGA.

ENTREVISTA

TEXTO E FOTOGRAFIA Luís Leite

VILA GALÉ BRAGA VAI REABILITAR COMPLEXO DO ANTIGO HOSPITAL DE SÃO MARCOS, DESOCUPADO DESDE 2011

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despesas. Vamos também reservar dois andares dirigidos para as demências. Estamos à espera de ter fundos para lhe dar seguimento, uma vez que o investimento é relativamente avultado, na ordem dos seis/sete milhões. Fica--nos apenas o antigo Bloco Operatório que se encontra também em negocia-ções. Embora não tenha surgido nenhuma proposta concreta temos alguns contactos para um eventual aluguer.

O edifício do antigo Hospital S. Marcos irá sofrer alterações ou há a preocupação de manter uma reabilitação responsável?O edifício voltado para o Largo Carlos Amarante tem de se conservar quer por dentro quer por fora, os outros não. Primeiro, os edifícios já não estão adequados às novas directivas de segurança. Nas fachadas não podemos me-xer mas no interior terá de se fazer o necessário.

Já referiu que considera a reabilitação dos centros urbanos “um impe-rativo moral e ético”. Porquê?Durante seis anos, entre 2010 e 2015, a minha responsabilidade na Direção Nacional da União das Misericórdias era precisamente o Património Cultural. Eu dava apoio à reabilitação do património a nível nacional e sempre gostei imenso da regeneração e da recuperação. Eu acho que se construiu excessi-vamente, principalmente aqui na cidade de Braga, construção de prédios em excesso, poucas zonas verdes. Por outro lado, devia-se pensar em regenerar os edifícios do centro histórico. Não só as fachadas mas também o interior. Inclusivé ceder rendas para trazer jovens e jovens empreendedores para o centro para desenvolver o comércio local conservador porque está tudo a correr para os centros comerciais e o comércio tradicional está a ser desca-racterizado. Eu acho que o doutor Ricardo Rio [Presidente da Câmara de Braga] está a seguir uma boa política em relação à regeneração e pelo que tenho visto, a vida no centro histórico tem aumentado substancialmente.

ISTO ESTAVA NUM ESTADO ABSOLUTAMENTE CAÓTICO, O ESTADO ENTREGOU ISTO NUM

ESTADO ABSOLUTAMENTE CAÓTICO. RECUPERÁMOS TUDO QUE HAVIA PARA RECUPERAR.

partir de 1559, o Beato Bartolomeu dos Mártires entregou a administração do hospital à Santa Casa da Misericórdia de Braga, a qual a administrou até 1974. Em 1974/75 foi intervencionado pelo Estado como consequência do movimento de Abril passando a ser administrado pelo Ministério da Saúde. Em 31 de Maio de 2011 os serviços hospitalares de São Marcos foram trans-feridos para o novo Hospital Distrital de Braga, numa parceria público-pri-vada, deixando a Misericórdia de receber rendas deste complexo, pois ficou completamente desocupado. A saída do Hospital de Braga das instalações da Misericórdia para novas instalações gerou um problema grave: a instituição precisou de encontrar solução para os 6 edifícios que constituem o complexo edificado do Hospital de São Marcos, cuja área construtiva é de 47.177 m2, em cerca de 16.000 m2 de área. Uma das primeiras unidades que consegui-mos recuperar foi o Palácio do Raio que estava também integrado dentro do complexo hospitalar de São Marcos. As obras começaram em 2015 e o Palá-cio do Raio foi inaugurado a 28 de Dezembro de 2015 pelo então ministro da Cultura, João Soares. O Palácio do Raio é um edifício emblemático dentro do barroco rococó, quer na fachada, que é considerada monumento imóvel de interesse público, assim como a escadaria, e enquadra-se dentro de um con-junto de edifícios em Braga do grande arquitecto bracarense André Soares.

O Palácio do Raio venceu o Prémio SOS Azulejo e também o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana…Ficámos realmente satisfeitos. Primeiro, o Prémio SOS Azulejo é instituído pela Polícia Judiciária (que tem um serviço para controle dos azulejos a nível nacional), o que significa que este Palácio tem características muito especiais ligadas ao período barroco. Em relação à reabilitação, isto estava num estado absolutamente caótico, o Estado entregou isto num estado absolutamente caótico. Recuperámos tudo que havia para recuperar, desde o azulejo, os te-tos, o escaiolado… recuperámos tudo o que era possível e na sequência disso foi-nos atribuído o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana que recebemos na Sala D. Luís do Palácio da Ajuda.

A Santa Casa da Misericórdia de Braga e o Grupo Vila Galé apresenta-ram o projeto de um novo hotel que vai surgir no complexo do antigo hospital de S. Marcos…O hotel resultará do aproveitamento de três edifícios do antigo complexo hospitalar, nomeadamente o edifício onde está a Igreja de S. Marcos e a Far-mácia, o bloco de Pediatria e o do Centro de Reabilitação Ortopédica. No pavilhão sul, por trás do bloco operatório, cujo projeto está concluído e aprovado pela Câmara de Braga, há um projecto direcionado para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Também vamos utilizá-lo para centralizar as nossas cozinhas no sentido de criar sinergias e reduzir

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Quais são os desafios mais difíceis que lhe são colocados pelo tempo presente na gestão da Misericórdia?Temos actividades que são grandes e temos de procurar receitas uma vez que as que recebemos do Estado são na ordem dos 30%. Nós acolhemos dentro das 14 obras da Misericórdia pessoas com fracos recursos financeiros e temos de procurar receitas. A Farmácia da Misericórdia, que é hoje considerada uma das melhores farmácias de Braga, é um dos pontos que mais nos está a ajudar para conseguir suportar as despesas.

Como sabe, a maior actividade da SCMB era na área da saúde com o Hospital de S. Marcos, que entretanto foi intervencionado pelo Estado. A partir daí tivemos de construir outra vez e partimos para o apoio às crianças e aos idosos. Actualmente, a Santa Casa tem uma grande actividade com 3 lares, o centro de dia e o apoio domiciliário, tem ainda 2 creches e também 2 cantinas sociais. Em parceria com Câmara de Braga, Santo Adrião e a Cáritas temos o Eixo 3, 1 GIP (Gabinete de Inserção Profissional), um SAS (Serviço de Acção Social). Ainda temos duas igrejas com missas diárias e em todos os lares temos as capelas. Na parte cultural temos uma revista anual, promove-mos exposições, conferências, concertos e criamos também um grupo coral. A SCMB integra as Solenidades da Quaresma e da Semana Santa e organiza a procissão do Senhor “Ecce Homo”, a qual é de nossa inteira responsabilida-de. A Semana Santa atingiu um grande prestígio e é muito importante para nós. Calcula-se que nesses dias venham à cidade cerca de 150.000 pessoas. Estamos a trabalhar no intuito de fazer uma candidatura a Património Ima-terial da Unesco.

Por outro lado, a Santa Casa, devido à sua projecção na cidade, faz parte do Conselho de Desenvolvimento e Sustentabilidade do Hospital Distrital de Braga, faz parte do Conselho Cultural da Câmara da Cidade de Braga, faz parte do Conselho de Reabilitação e Regeneração da Câmara Municipal de Braga, faz parte do Conselho Domus Fraternitas.

O doutor Bernardo tem 82 anos e dedicou toda a sua vida às questões sociais.Sim. Primeiro de tudo fui um dos primeiros hidrogeólogos portugueses. Tra-balhei entre 58/60 no ministério que se chamava das Obras Públicas, na divi-são da Urbanização e Saneamento. Eu estava instalado no Porto e dava apoio a todas as câmaras do norte na pesquisa e captação de água. A partir de março de 1960 parti para Angola onde fui trabalhar na área de [prospecção de] diamantes. Mantive-me em Angola até 3 de dezembro de 1977, a tra-balhar na Companhia de Diamantes de Angola, tendo sido o último Director Geral e administrador da Companhia de Angola. Depois regressei a Portugal, e como o remanescente da Companhia de Angola foi intervencionado pelo Estado formou-se depois a Sociedade Portuguesa de Empreendimentos S.A, em Lisboa, da qual passei a fazer parte, e trabalhei lá até 2003.

Mas há uma particularidade na minha vida: fui presidente da Juventude Católica do Liceu, fiz parte do Orfeão, fiz parte das direcções da Congregação de S. Luís, fiz parte da Associação Académica de Coimbra e da Assembleia Magna com o professor Mota Pinto. No exterior de Portugal, sempre tra-balhei junto das missões católicas, dando-lhes bastante apoio uma vez que a companhia tinha bastantes possibilidades financeiras. Sempre gostei de trabalhar na área social. Noutros sítios onde passei, quer na Venezuela, quer na Colômbia e em diversos países de África, tive sempre a particularidade de me dedicar à área social. Quando me reformei, podia ter seguido a área da consultadoria — ganhando muito dinheiro na área dos diamantes — mas optei pela área social onde estou a trabalhar desde 1999 sem qualquer remu-neração. Estive à frente do Conselho Fiscal da Cooperativa de Barcelos, que é a maior cooperativa a nível nacional, durante 9 anos. Trabalhei no Projecto Homem, nos Invisuais da Póvoa de Lanhoso, na APPACDM…

O que o motiva a estar ligado à área social, desde sempre?Talvez porque a minha família… todos os irmãos do lado da minha mãe eram famílias muito numerosas e isso levou-me a trabalhar, a pensar e ajudar muito os outros. Eu entendo que o melhor que pode ter uma empresa são os recursos humanos. Por outro lado, defendo a filosofia de que uma empresa

— como faz a Primavera aqui em Braga — tem de ter um carácter social. Como trabalhei grande parte da minha vida com ingleses sou de uma forma geral muito pragmático. Por isso, tenho uma grande apetência por realizar. Tenho 82 anos e ainda trabalho 8 a 10 horas por dia e sinto-me feliz. Portan-to, é o espírito de uma família grande em que temos de nos inter-ajudar. É uma maneira de ser minha, ponho em primeiro lugar o Ser Humano e o que posso fazer pelos outros.

Aos 82 anos, que outros sonhos ainda tem?O meu sonho era terminar a minha vida na Misericórdia. Mas só irei ficar aqui enquanto sentir que estou bem e em condições intelectuais e físicas capazes. Sonho voltar a dar vida a todo este complexo. Quando sair que-ro deixar isto completamente com vida, isto é um sonho meu que é muito importante. Por outro lado, sonho que as Misericórdias, a nível nacional, continuem a fazer aquele trabalho que têm feito porque se não fossem as Misericórdias, as IPSS e as Mutualistas, Portugal teria passado por momentos muito difíceis. Também tenho outro sonho, gostaria que alguns hospitais das Misericórdias voltassem às Misericórdias porque trabalham melhor, com hu-manismo e solidariedade e a um valor muito mais baixo que o sector público. Como sabe, há já três que regressaram, que é Fafe, Mealhada e Serpa.

Se tivesse tempo — como tenho uma experiência de vida muito grande a nível mundial — gostaria de deixar as minhas memórias. Não por vaidade mas porque são memórias muito importantes que se passaram na minha vida, quer de natureza social, quer de natureza empresarial. Porque há factos muito importantes que se passaram em Angola e que podem contribuir para a história de Angola e também de Portugal pós-independência. Não deixarei de me dedicar ao próximo, com todo o carinho, com todo o amor, que sem-pre foi o meu lema. Mas servir e não servir-se.

O que espera de 2017?Espero que Portugal venha a ter um crescimento económico e principalmente na área empresarial um crescimento com sustentabilidade. Ao mesmo tem-po que o empreendedorismo aumenta, também gostaria que aumentasse o emprego. Muitas vezes, diz-se que as pessoas fogem de Portugal. Eu também fui obrigado a sair de Portugal em 1960. Não é fugir, é procurar melhor. É na-tural que depois também voltem. Então, gostaria que muitas das pessoas que estão lá fora, com grande capacidade, voltassem a Portugal. Seria uma mais valia para o país. Temos hoje potencialidades enormes. As nossas comunida-des espalhadas por todos os cantos do mundo são referências. Gostaria que houvesse dentro da área social um maior apoio do Governo, tendo em atenção que as Misericórdias não são empresas. Por outro lado, é necessário que as instituições de solidariedade tenham empresas de economia social para gerar recursos que vão permitir dar assistência às pessoas que não têm dinheiro.

TEMOS ACTIVIDADES QUE SÃO GRANDES E TEMOS DE PROCURAR RECEITAS UMA VEZ QUE AS RECEITAS QUE

RECEBEMOS DO ESTADO SÃO NA ORDEM DOS 30%.

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38 Opinião

BRINCAR & EDUCAR

N este Natal seria interessante refletir sobre a forma como estamos a perceber a felici-dade, especialmente, junto das crianças. Será que o privilégio de sentir a sua satis-fação e alegria limita-se a exercícios me-cânicos e ilimitados de gastar e comprar?

Posse de objetos, brinquedos, tablets, roupas novas tem-se convertido no sonho ou “pesadelo” de mais de um, uma car-

reira frenética contra o tempo, a saúde e a favor dos grandes mercados que tentam orientar-nos no como, para quê e o significado de quem tem mais… Deixa-nos doentes e cria em nós necessidades pelo último lançamento, o mais inovador, a marca mais famosa tratando de fazer que todos andemos, brilhemos e desejemos do mesmo modo e em bandadas, corramos direta-mente aos centros comerciais para adquirir bens e assim poder ser alguém. Será que todas estas coisas podem ter a força de substituir uma boa relação de amizade, uma partilha, a fraternidade como valor e o afeto que uma criança gostaria de sentir?

Das inúmeras opiniões oferecidas pelas crianças da escola EB1 de Ponte de Lima sobre o que mais desfrutam, uma grande maioria, quase 100%, responderam “uma brincadeira entre amigos, uma visita a um parque com mães, pais, tias, avós, padrinhos, professores, diretores de escola, trepar às árvores, observar pássaros e animais bonitos, ver as cores das folhas”.

Quando as crianças recebem motivações que estimulam o seu deslum-bramento e experimentam oportunidades para descobrir o ar livre, crescem com outra sensibilidade. Junto à diversidade natural podem observar a multiplicidade de formas existentes de serem felizes.

O Natal também é momento de partilhar com pessoas de culturas, paí-ses e idiomas diferentes. Quando uma criança recebe esse mimo, também oferecemos a possibilidade de a convidar a ser uma pessoa mais aberta a outras culturas. Muitos países são formados por pessoas vindas de todas as latitudes. Procurar absorver essa presença humana e diversa no mundo

é uma riqueza que nestas datas ajudam-nos a compreender o melhor de cada pessoa e com essas vivências ampliar a perceção, o sentimento e o pensamento.

Quisemos, neste especial momento de encontro, partilhar a experiên-cia especial que representou sentir lentamente a aparição da mais recente super lua. Foi um acontecimento que merecia a atenção, a paciência e a contemplação de todos nós. Será que tivemos tempo para observar a sua beleza? Ver a lua surgir no horizonte foi uma escola de amor à vida. Afinal ela é responsável pelo equilíbrio de fenómenos naturais que permitem que o Planeta Terra siga seu curso.

O surgimento de uma super lua, num cenário natural, mereceu duas horas da nossa contemplação. Contagiemos o valor desta época, com epi-sódios de encontros, de solidariedade, de cooperação. Os detalhes são presentes. Seu valor depende dos olhos de quem os vê, do contexto e da companhia com quem partilhamos essa “lua” dp nosso quotidiano. Quando mais a contemplas e partilhas, maior ela fica. Que a poesia inunde estes dias..

Sabedorias de Estatura…olhares e sentires sem idadeNO NATAL… O QUE MAIS DESEJARIAM AS CRIANÇAS?

Grécia Rodríguez Comunicadora Social / Master Euromime Media e Educação

Leonardo de Albuquerque Educador Ambiental /Master Desenho Urbano

Estudantes de Doutoramento em Estudos da Criança / Sociologia da InfânciaInstituto de Educação / U MinhoCoordenadores da Associação “Soy Niño, Sou Criança”[email protected]

Fotografias: Associação “Soy Niño, Sou Criança”

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FOMOS CAMPEÕES DA EUROPA DE FUTEBOL. AS OLIMPÍADAS FICARAM AQUÉM DO ESPERADO. INCÊNDIOS TOMARAM CONTA DO PAÍS DESTRUINDO GRANDES ÁREAS FLORESTAIS. A TEMPERATURA

SUBIU TAMBÉM NA POLÍTICA, A GERINGONÇA TOMOU FORMA, ERGUEU-SE UM NOVO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. HOUVE TAMBÉM DEBATES E POLÉMICAS A NÍVEL REGIONAL, A NÍVEL SOCIAL... O ANO

DE 2016 FOI ESCALDANTE, O MAIS QUENTE DE SEMPRE, E AQUI FICAM OS MOMENTOS MAIS MARCANTES.

2016 um ano escaldante

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42 Observar

JAN

FEV

MARBOWIE

O mundo é apanhado de surpresa com a morte de David Bowie, mítico

músico inglês.

PADRE E IRMÃ ACUSADOS DE ESCRAVATURA Arquidiocese de Braga nomea novo padre para a fraternidade missionária cristo jovem, depois de os antigos responsáveis pelo convento terem sido acusados de escravidão.

AUSTRIA SUSPENDE SCHENGENA Áustria suspendeu temporariamente o acordo de Schengen e reforçou os controlos de fronteira.

VÍTOR DE SOUSA DETIDO POR IN-DÍCIOS DE CORRUPÇÃOVítor de Sousa, ex-vice presidente da Câmara de Braga no mandato de Mesquita Machado, é detido por indícios de corrupção. Quatro dias depois foi posto em liberdade, mediante o pagamento de uma caução de 100 mil euros.

CURTA METRAGEM PORTUGUESA GANHA URSO DE OURO EM BERLIM Balada de um batráquio, da realizadora portu-guesa Leonor Teles, ganhou o urso de ouro para melhor curta metragem no festival de cinema de Berlim.

POLÉMICA COM CARTAZ DO BEO Bloco de Esquerda decidiu lançar uma imagem que usa o exemplo de Jesus Cristo para celebrar a aprovação da lei que permite a adoção por casais do mesmo sexo. O “Jesus também tinha dois pais” gera críticas e paródias.

CASAIS DO MESMO SEXO JÁ PODEM ADOPTARAdoção por casais do mesmo sexo e alter-ações à lei da IVG publicadas em Diário da República.

É LANÇADA A PRIMEIRA EDIÇÃO IMPRESA DA REVISTA RUA

TOMADA DE POSSE DO NOVO PRESIDENTE DA REPÚBLICAMarcelo Rebelo de Sousa toma posse como Presidente de República de Portugal, sucedendo a Cavaco Silva.

RAPTO DE EMPRESÁRIO EM BRAGAJoão Paulo Fernandes, de 42 anos, é raptado junto à garagem da sua casa. Estava acompanhado da filha de oito anos que assistiu a tudo. O empresário foi agredido e obrigado a entrar numa viatura por dois homens encapuzados.

NOMEAÇÃO DE LULA DA SILVA SUSPENSALula da Silva é empossado ministro da Casa Civil mas a sua nomeação é imediatamente suspensa por um juiz.

OBAMA PISA SOLO CUBANOO Presidente norte-americano, Barack Obama, tornou-se o primeiro Presidente dos Estados Unidos a visitar Cuba nos últimos 88 anos.

TERRORISTA DE PARIS É CAPTURADOAo fim de quatro meses de fuga, o terrorista Salah Abdeslam, envolvido nos ataques de Paris, foi capturado vivo, a cerca de 500 metros da casa onde cresceu, em Molenbeek, na Bélgica.

ATENTADOS EM BRUXELASBruxelas acorda com atentados terroristas no metro e no aeroporto. Causa dezenas de mortos e de feridos.

VOO DESVIADO PARA REECONTRAR EX-MULHERHomem, de nacionalidade egípcia, desviou o voo com 81 passageiros até ao aeroporto de Larnaca, no Chipre. Libertou a maior parte dos reféns e exigiu falar com a ex-mulher cipriota.

Marcelo Rebelo de Sousa vence as Presidenciais 2016, tornando-se no vigésimo Presidente de Portugal.

"EL CHAPO" Narco traficante apanhado pela polícia mexicana.

PRESIDENCIAIS

POLÉMICA EM BRAGA COM S. GERALDOÉ anunciada a recuperação do edifício do antigo cinema São Geraldo, que será transformado num espaço comercial que contará com lojas, restaurantes e um hotel. Nos dias seguintes cria-se a plataforma ‘S. Geraldo Cultural’, constituída por agentes culturais, que promove debates públicos sobre o futuro do equipamento, rejeitando a proposta e defendendo uma função cultural para o edifício. O assunto marca a agenda noticiosa na região nos meses seguintes.

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43Saber

JOÃO SOARES DEMITE-SEO ministro da Cultura, João Soares, apresenta demissão das suas funções, invocando razões de solidariedade com o executivo.

IMPEACHMENT NO BRASILA Câmara dos Deputados do Brasil vota pelo impeachment de Dilma Rouseff.

MESQUITA CONSTITUÍDO ARGUIDOMesquita Machado, ex-presidente da Câmara de Braga foi constituído arguido no “Caso das Convertidas”, processo ligado à expropriação de vários edifícios da cidade em prol da sua filha e genro.

VIANA VENCE PRÉMIO GEOCONSERVAÇÃOViana do Castelo recebeu Prémio Geoconservação 2016. O prémio

MULHER ATIRA-SE DE UMA PONTE COM O FILHO DE SEIS ANOS AO COLO Uma mulher atirou-se de uma ponte, em Barcelos, com o filho de seis anos ao colo. A mãe foi resgatada mas o filho acabou por morrer, tendo o seu corpo sido resgatado da água no dia seguinte.

FERNANDO PIMENTA CAMPEÃO DA EUROPA Canoista vence, em K1 1000, nos Europeus de Canoagem em Moscovo.

BREXITOs eleitores britânicos decidi-ram que o Reino Unido deve sair a União Europeia, depois de o Brexit ter conquistado 51,9% dos votos no referendo.

ALFA PENDULAR CHEGA A GUIMARÃESAcontece a primeira viagem da nova ligação do serviço Alfa Pendular entre Lisboa e Guimarães. O tempo de viagem tem cerca de 3 horas e 50 minutos.

BENFICA É TRI-CAMPEÃOBenfica alcança feito que não conseguia desde 1976/77.

SCBRAGA GANHA A TAÇA DE PORTUGALSC Braga levanta a Taça de Portugal 50 anos depois da sua primeira vitória na competição.

TAMILA BATE RECORDETamila Holub bate recorde nos 800m livres de natação e garante mínimos olímpicos.

ABR JUN

MAI

foi entregue pelo trabalho do "Geoparque Litoral Viana do Castelo” durante a iniciativa Semana da Terra e no Dia Mundial da Terra e Dia Nacional do Património Geológico.

MORRE O CANTOR PRINCEAcontece a morte inesperada do cantor Prince, aos 57 anos.

ABC É CAMPEÃO DE ANDEBOLO ABC sagra-se campeão nacional de andebol, depois de vencer o Benfica por 32-30, após prolongamento, no quinto e último jogo da final, disputado no pavilhão Flávio Sá Leite, em Braga.

CASO MATEUS REGRESSADez anos depois de ter sido desprovido à Segunda Liga, o Tribunal Administrativo de Lisboa reabre as portas ao Gil Vicente para o regresso ao principal campeonato do futebol português.

12.800 “ESCRAVOS MODERNOS”Portugal tem um total estimado de 12.800 “escravos modernos” numa população de quase 10,4 milhões de habitantes, segundo o relatório da fundação australiana Walk Free.

SUB-17 SAGRA-SE CAMPEÃO EUROPEU DE FUTEBOL13 anos depois do último título na categoria, Portugal sagrou-se campeão europeu de sub-17 com um triunfo diante da Espanha, na marcação de grandes penalidades.

TURISMO NA REGIÃO DO NORTE BATE RECORDE DE CRESCIMENTO

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VERÃO QUENTEO mês de agosto foi marcado por incêndios em vários pontos do país. A área ardida em 2016 é três vezes superior à média dos últimos dez anos. O ano de 2016 apresenta, desde 2006, o quarto valor mais baixo em número de ocorrências e o valor mais elevado de área ardida. Os dados da ANPC indicam que 9 de agosto foi o dia em que foi registado o maior número de incêndios (380) e ocorreram na sua

CAMPEÃ MUNDIAL DE KICKOXINGA famalicense Sofia Oliveira sagra-se, na Irlanda, campeã mundial de juniores de Kickboxing, na categoria -60 kgs.

QUATRO MORTOS EM ACIDENTE DO COMBOIO VIGO-PORTOUm comboio de passageiros, que fazia o trajeto Vigo-Porto, descarrilou junto à estação de O Porriño, na região da Galiza. O acidente ferroviário foi provocado por excesso de velocidade.

MARCELO CONDECORA PARALÍMPICOSMedalhados nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, Abílio Valente, António Marques, Cristina Gonçalves, Fernando Ferreira, José Carlos Macedo, Luis Gonçalves, Manuel Mendes e Roberto Mateus,

POLÉMICA DOS CONTRATOS DE ASSOCIAÇÃOO Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga declarou a suspensão provisória da norma do Ministério da Educação que limitava as matrículas dos alunos à freguesia da escola, na sequência de uma providência cautelar interposta por um colégio com contrato de associação.

ATENTADO EM FRANÇAUm camião embate propositadamente na multidão presente na celebração do Dia da Bastilha, em Nice.

ATLETISMO COM VÁRIAS CONQUISTASAna Dulce Félix vence a medalha de prata por Portugal nos 10.000 metros do Campeonato da Europa

SET

JUL

maioria (123) no distrito do Porto, seguido de Braga (50), Aveiro (45), Viana do Castelo (33) e Viseu (32).

INCÊNDIOS COM MÃO CRIMINOSAO Comandante Operacional de Agrupamento Distrital do Norte, Paulo Esteves, afirma, em Viana do Castelo, que 35% dos incêndios florestais que fustigaram o Alto Minho deflagraram à noite e “têm mão humana”.

OLÍMPICOS DESILUDEMPortugal despede-se do Rio com muitos diplomas e uma só medalha: o bronze da judoca Telma Monteiro.

DILMA ROUSSEFF DESTITUÍDADilma Rousseff foi destituída do cargo de Presidente da República brasileira com 61 votos contra 20.

recebem o Grau de Comendador da Ordem de Mérito.

ANDREIA NORTON PÕE PORTUGAL NO EUROPortugal qualificou-se para o Europeu 2017 de futebol feminino pela primeira vez na sua história. Um golo de Andreia Norton, do Sporting Clube de Braga, carimbou a qualificação que é histórica para a seleção feminina.

de Atletismo de Amesterdão. Sara Moreira sagrou-se campeã da Europa na meia-maratona nos Europeus de Atletismo de Amesterdão. Jéssica Augusto termina em 3º lugar, conquistando o bronze para Portugal.Patrícia Mamona é consagrada como campeã europeia em Triplo Salto com a marca de 14.58m, novo recorde nacional da especialidade. Tsanko Arnaudov, búlgaro naturalizado português, conquista a medalha de bronze no lançamento de peso.

TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO NA TURQUIA

PORTUGAL É CAMPEÃO EUROPEU DE FUTEBOLPortugal sagra-se campeão da Europa de futebol pela primeira vez na sua história, ao bater na final a anfitriã França por 1-0, após prolongamento, em encontro dis-putado no Stade de France, em Saint-Denis. A vitória foi alcançada com um golo de Éder ao minuto 109.

AGO

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45Saber

OUT

NOV BRAGA ABRIU AO PÚBLICO CASA DA CIÊNCIAO edifício foi construído depois de a ORION – agora membro associado da rede de centros Ciência Viva – apresentar uma candidatura ao Orçamento Participativo Braga 2016.

DOMINGOS BRAGANÇA DEFENDE COM-BOIO URBANO PARA LIGAR CIDADES DA REGIÃODomingos Bragança, presidente da CMG, defen-deu a solução de um comboio urbano eléctrico que ligue as cidades da região.

GERÊS RECEBE CAPEONATO MUNDIAL DE TRAIL RUNNINGO Campeonato do Mundo de trail running de 2016 diputou-se no Parque Nacional Peneda-Gerês. A prova teve chegada em Arcos de Valdevez, um percurso de 85 quilómetros de trilhos dos concelhos de Terras de Bouro, Montalegre, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, num percurso de 4.500 metros.

NOVA ACADEMIA SC BRAGA ENVOLTA EM POLÉMICAA construção da nova academia de futebol do SCB está envolta em polémica, escreveu o Público na sua edição de 25 de Outubro. A oposição acusa a Câmara de deixar o projeto erguer-se sem a licença adequada. A autarquia diz que não há ilegalidades.

TRUMP VENCE ELEIÇÕES AMERICANASDonald Trump é eleito Presidente dos Estados Unidos. O candidato republicano ultrapassou a fasquia dos 270 votos do colégio eleitoral, necessários para vencer as eleições. O sucessor de Obama vai tomar posse a 20 de janeiro de 2017, numa cerimónia pública junto ao edifício do Capitólio, em Washington.

RECORDE DE MORTES NO MEDITERRÂNEOONU regista recorde de 3.800 mortes no Mediterrâneo este ano. Pelo menos 3.800 pessoas morreram ao tentar atravessar o Mediterrâneo em 2016, o número mais alto alguma vez registado, anunciou o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).

CAMPANHA DA CIM DO CÁVADO PRE-MIADA EM FESTIVAL INTERNACIONAL O conjunto de filmes sobre os municípios da CIM do Cávado venceu o prémio de Melhor Filme da Região Porto e Norte de Portugal no festival internacional que premeia talentos de cinema associado ao turismo.

ANTÓNIO GUTERRES ACLAMADO SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDASO antigo primeiro-ministro português é o novo secretário-geral da ONU. A assem-bleia-geral ratificou a escolha feita pelo Con-selho de Segurança em 5 de outubro. António Guterres assume liderança das Nações Unidas por um mandato de cinco anos.

DEZ

TAXISTAS PROTESTAM CONTRA UBERCentenas de taxistas protestaram numa marcha lenta contra a legalização da Uber. O líder dos taxistas, acusa o Governo de incapacidade de resolver o problema.

ORÇAMENTO DE ESTADOA Comissão Europeia (CE) aprova o Orçamento de Estado 2017 português e anuncia que não vai congelar os fundos estruturais a Portugal por causa do défice excessivo em 2015.

MORRE FIDEL CASTRO AOS 90 ANOSO anúncio foi feito por Raúl Castro, presidente de Cuba, em direto na televisão estatal.

A partir de 1 de dezembro, RTP3 e RTP Memória juntam-se à TDT.

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46 Opinião

O ano não começou nada bem. Em feve-reiro um projeto imobiliário propunha destruir o cineteatro S. Geraldo. A po-pulação mobilizou-se e a Câmara foi apanhada de surpresa. Mas não perdeu tempo e tomou de imediato medidas: marcou uma reunião com os cidadãos contestatários - que incluía a ASPA, a Jo-vemcoop e a BragaMais - a quem pediu

apoio; prontificou-se a estar nos debates; avisou o proprietário da nova inten-ção do Município. Quando o assunto foi levado pela Oposição à Assembleia Municipal, o Presidente não hesitou em pedir desculpa: a Câmara não tinha agido bem ao menosprezar, de início, a importância deste teatro. Na linha do que sempre defenderam quando estavam na Oposição a Mesquita Machado, o velho S. Geraldo não ia juntar-se à longa lista de edifícios destruídos.

Na impossibilidade de adquirir, a solução, construída com os cidadãos contestatários, passou por arrendar. No Pé Alado (antiga Escola Profis-sional) já está instalada a Junta de S. Lázaro, até se arranjar um espaço definitivo. No caso do S. Geraldo o processo está atrasado: decorrem as candidaturas para os agentes culturais de todo o País apresentarem propos-tas de dinamização. O vencedor gere o espaço; a Câmara entra com uma recuperação low cost (“roubando” 2/3 ao orçamento da Noite Branca de 2017); os empresários exploram o bar e o restaurante; o Theatro Circo dá apoio técnico. Não será neste mandato, mas haverá na próxima década um Quarteirão das Artes!

Em 2016, o gabinete da presidência também deu que falar. Em cima da mesa estava uma proposta de 76.000€ para a remodelação geral. A Oposição não se calou. A JSD e a JP exigiram explicações. O bom senso prevaleceu. Os 76.000€ foram divididos em 10 projetos de 7.600€. Cinco deles foram para recuperação de habitações sociais. Outros quatro para re-parações em escolas. E o gabinete afinal renovou-se com uns meros 7.600€!

Em junho, nova polémica pela mão da oposição PS-CDU: as obras da Aca-

demia do Sporting de Braga estavam sem licença. No mesmo dia, o Presi-dente da Câmara afirmou que a doação dos terrenos já tinha sido generosa e ameaçou o Sporting de Braga com a anulação imediata da doação. Foi o que bastou para o próprio SCB parar a obra. Perante a curiosidade imparável do Diário e do Correio do Minho, o presidente disse: “temos de ser todos iguais perante a Lei - não faço mais do que defender o interesse público”.

Na mobilidade, o ano foi de mudança embora por causa de uma tragé-dia. O atropelamento mortal de um ciclista em agosto fez a cidade abrir os olhos. Com apoio de Pontevedra, a Câmara removeu no mês seguinte todas as passagens aéreas e a circular/rodovia passou a ser Zona 30 km/h. E, apesar dos protestos iniciais dos condutores, a fluidez do trânsito com-pensou largamente a velocidade lenta. Por solidariedade com a família do ciclista, o Presidente e todos os Vereadores passaram a deslocar-se de bi-cicleta para o trabalho todas as segundas-feiras. A reação foi inesperada: dezenas de funcionários municipais também alinharam! Só quando a Braga Ciclável se pôs a fazer contas, é que se percebeu que a Câmara de Braga era já a instituição do País com mais ciclistas regulares!

Há muitos anos que Braga não mudava tanto! Claro que nem tudo foi perfeito: mantém-se um excesso de protagonismo nos jornais do Executivo. Mas a verdade é que o Mesquitismo parece enterrado!

2016: um ano de profunda renovação em Braga, finalmente!"O ANO NÃO COMEÇOU NADA BEM. EM FEVEREIRO UM PROJETO IMOBILIÁRIO PROPUNHA DESTRUIR O CINETEATRO S. GERALDO. A POPULAÇÃO MOBILIZOU-SE E A CÂMARA FOI APANHADA DE SURPRESA."

Luís Tarroso GomesO advogado que gosta de pensar e planear cidades - e não se conforma. projectaravenidas.wordpress.com

AVENIDA DA LIBERDADETema do ano

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47Opinião

O ano que agora acaba pode ser anali-sado como uma paródia da conhecida saga de filmes “Regresso ao Futuro”. Paródia porque, inversamente ao enre-do da trilogia cinematográfica, no ano que agora acaba os nossos governantes decidiram montar uma geringonça que mexe no presente para recolocar tudo como estava no passado.

Quase nada escapou às reversões apressadas que marcaram o ano de 2016: foram os salários da função pública, as 35 horas, as privatizações e muitas outras marcas da passagem da troika pelo nosso país e da estratégia que, bem ou mal, foi delineada, negociada e aplicada com os parceiros in-ternacionais que nos tiraram da bancarrota. Revertemos o que podíamos e o que não podíamos e tudo indica que o caminho é para continuar.

A estratégia é simpática para uma enorme franja de eleitores, os que sofreram os efeitos do chamado ajustamento, mas também para clientelas definidas, como as que beneficiam da descida do IVA da restauração. Cri-ou-se assim uma ilusão de regresso à riqueza semelhante à que já sentimos no passado. Há um país da rua, dos sindicatos da função pública e em geral dos telejornais que, à semelhança do que sucedeu em 2009 e 2010, interi-orizou que tudo voltou ao sítio.

O ambiente é genericamente simpático para com o governo, como se vê pela forma entusiástica como comemorámos os números do crescimento no último trimestre. Um extraterrestre que aterrasse no Terreiro do Paço em Novembro de 2016 teria dificuldade em perceber que o motivo de tanta comemoração não se prende com o crescimento (números de cabeça) de 2,6% prometido no plano Centeno, nem com o de 1,9% da versão original do acordo de governo, nem como os 1,7% que eram promessa da PaF, nem com os 1,6% da versão OE 2016. Nada disso: o dito extraterrestre con-stataria com perplexidade que a opinião publicada no nosso país festeja o facto de não ser impossível que Portugal cresça a… 1.4% ao ano.

A reposição de despesas originou, afinal, um crescimento anémico, al-imentado naturalmente pelo regresso da actividade da refinaria da Galp e artificialmente por exportações de F16. E por propaganda, muita pro-paganda, com o silêncio cúmplice das corporações. Nas autarquias, com eleições à porta e novo QREN, duplicam as festas e regressam as obras de regime, bem como as reacções alérgicas ao exercício do escrutínio público.

Entretanto, a taxa de juro a 10 anos aproxima-se perigosamente dos 4%. Os problemas da banca estão debaixo do tapete, a despesa reposta à pressa agrava os problemas estruturais, o investimento público congelou. A eu-ropa e o mundo, como nós, entregam-se aos populistas e a trovadores dos amanhãs que cantam. Os “senadores da república” falam de “um mundo de incertezas” exibindo ufanamente as maiores certezas do mundo. Não nos iludamos: o diabo anda mesmo à solta, mas agimos como se ele não nos tivesse já aparecido antes.

Se há lição que possa tirar-se dos filmes do Regresso ao Futuro ela é a de que, por mais que viajemos no tempo, os problemas que nos são colo-cados reconduzem-se a dois tipos: como interagir com presente (ou com o passado) sem dar cabo do futuro e como arranjar forma de regressar ao conforto do lar com a missão cumprida. 2016 mostra que, quando a lição não interessa, aprendemos muito devagar.

Regresso ao futuro“NOW, IF MY CALCULATIONS ARE CORRECT, WHEN THIS BABY HITS 88 MILES AN HOUR, YOU'RE GOING TO SEE SOME SERIOUS SHIT!” - DR. EMMET BROWN, BACK TO THE FUTURE

Rui Marado MoreiraCidadão. Advogado. Liberal. Apaixonado. Livre. Desporto favorito: "mandar vir".Ódio de estimação: o poder do Estado;

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FOTOGRAFIA Luís Leite

ApreciarCULTURA. MÚSICA. ESPETÁCULO E OUTRAS PLATEIAS.

+BEST OF

As melhores séries e concertos do ano

A CIVILIZAÇÃO DO ESPECTÁCULO

Cátia Faísco

CINEMAJoão Palhares

ATELIER PARA CRIANÇASOficinas de Natal

INSTAGRAMAna Cláudia Silva

está na rua

ENTREVISTACristina Branco

ENTREVISTASmartini

MINHOTOS PELO MUNDOAmérico da Silva, Viena

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50 Apreciar

BEST OF

Os balanços são sempre difíceis de fazer. Penso na quantidade de assuntos acerca dos quais não falei, em todos os espectáculos

que, por algum motivo, falhei, em todas as pessoas com quem não me consegui cruzar, em todas as peças que continuam em cima da minha secretária, à espera de viagens de comboio para ser lidas. Digo-me, vezes sem conta, que no próximo ano farei tudo diferente. Eu e, creio, mais de metade das pessoas que estiverem a ler esta crónica.

Ao olhar para estes doze meses de 2016, em termos artísticos, há uma palavra que sobressai. Não é uma palavra meiga, mas com todos os cortes e recortes, não esperaria que fosse. Este foi o ano da ira. O ano em que, no meio artístico, vi mais faces a contorcer-se de raiva, de indignação, de oposição, de fúria. Um dos episódios foi partilhado convosco, os outros ficaram na minha cabeça, em fila, exactamente como no supermercado, à espera de serem registados, processados e arrumados. Desta longa autópsia, sim, porque acabam todos por morrer, fico com a sensação de que vivo num país de artistas irados, que preferem expelir a sua bílis em espaços públicos do que lutar para alterar aquilo que os fez ficar assim. Dir-me-ão, alguns, que foi o “sistema” que os alterou, porque se o “sistema” funcionasse, eles seriam pessoas mais afáveis. Dir-me-ão, outros, que é necessário mostrar o desagrado. Não retiro a razão a qualquer um dos argumentos, porque há validade em todos eles.

Portanto, vamos a exemplos (muito) inspirados na vida real: ele/a escreve peças e ninguém quer representá-las. Obviamente, o problema não está nele/a, nos temas que escolhe ou mesmo, na forma como escreve. O mal está em todos os encenadores que preferem recorrer a outros textos que não os seus. E, todos os dias, diz isto em frente ao espelho e vai fervendo, fervendo, fervendo, até que um dia, num evento público, dispara em todas as direcções, não sabendo muito bem se é a publicidade que quer, se é o reconhecimento ou, simplesmente, despejar a ira que tem acumulada. Fala-se da palavra compadrio, de injustiça criativa, de falta de conhecimento do que se faz neste país, da obrigação generalizada de escolher exclusivamente autores portugueses. Será? E se obrigarmos também as rádios a passar apenas música portuguesa? E se obrigarmos os cinemas a exibir unicamente filmes portugueses? E se obrigarmos as galerias a expor somente obras de artistas portugueses?

Vejo na nova geração, na dos meus alunos, a esperança de encontrar alternativas, de formular pensamentos mais construtivos e menos destrutivos, de se encontrarem em vez de virarem costas uns aos outros, de firmarem compromissos e partilha de ideias, de se apoiarem e criarem em conjunto. Não é uma concepção utópica, é a realidade de todos os dias. Falar acerca do que significa ser artista, não implica somente providenciar as ferramentas, mas fazê-los reflectir acerca da forma como percepcionam o mundo onde vão estar inseridos. Acredito que a mudança começa aqui. Conto-lhes, invariavelmente, os exemplos que vou presenciando e digo-lhes para se livrarem de algum dia serem assim. Eles riem-se, sorriem. E eu vejo-a outra vez, a esperança de ser tudo só um pouco diferente.

NOTA: Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

AUTÓPSIA DA IRA.NOVEMBRO DE 2016

A Civilização do Espectáculo

POR Cátia Faísco

POR Joana Ribeiro

Para rir e para chorar:

as melhores séries de 2016O ANO ESTÁ A ACABAR E DEIXAMOS AQUI A

NOSSA ESCOLHA DAS MELHORES SÉRIES DE 2016. A TENDÊNCIA APONTA PARA MENOS

EPISÓDIOS POR TEMPORADA.

Stranger Things

Mr Robot

Atlanta House of Cards

Game of Thrones

Transparent

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52 Apreciar

É óbvio o apontamento a fazer sobre 2016 para a história da música e para todos os melómanos: nenhum dos dois estavam preparados para o que viria. Bowie nos primeiros dias do ano, Leonard Cohen nos mais recentes, Dylan e o Nobel da Literatura. Blackstar, You Want It Darker e um disco de versões (com standards populariza-

dos por Frank Sinatra). Cash habitou-nos muito mal (bem, leia-se) às despedidas. Loretta Lynn, oito dezenas de primaveras, uma década depois do último trabalho, canta-nos “Who’s gonna miss me when i’m gone” em Full Circle e diz “lay me down” a Willie Nelson, outras oito dezenas deste lado. O ano do império dos fados da despedida, comandado por um Leonard Cohen mais exposto como nunca o pensaríamos ver, mais entregue como não imaginaríamos. É o disco no tempo e o tempo no disco. Ámen. Paralelamente aos discos em comunhão com o tempo, os concertos com o espaço (e o tempo) vão tomando lugar. 2016 demarca-se também por reavivar da prática (saudável) dos concertos em locais atípicos. A simbiose do som com o espaço, a multiplicidade resultante. Christina Vantzou com a Harawi Ensemble, na Capela Imaculada do Seminário Menor, em Braga, durante o festival SEMIBREVE, Lula Pena na Rua da Calçada de uma outrora desconhecida aldeia de Cem Soldos, durante o festival Bons Sons, Tomar, ou Filho da Mãe numa torre medieval do séc. XII, no ciclo de música Pássaro, em Vila Marim, Vila Real, para quarenta pessoas. Atipicidades fora, descobrir como Silvia Pérez Cruz faz brilhar mais ainda uma sala de espetáculos, inclusive com expoentes máximos do lustro como o Theatro Circo.

2017 está à porta com, para bons e menos bons momentos, 2016 a indicar-nos que a carruagem não parará por aqui. Chuck Berry, aos 90, trará o primeiro disco em mais de três décadas. Antes disso, Loretta Lynn, no Natal, deixa no sapato um disco temático, 50 anos depois de Country Christmas. De Dylan, é de esperar que não se pronuncie sobre não se pronunciar. No. Bel. Disco(s) do ano 2016.

C hega o fim do ano e chega também o fim dos anos setenta, fim simplesmente temporal e ditado pelos nossos calendários

mas que acaba por coincidir ainda com o fim da “Nova Hollywood” que temos acompanhado durante estes meses. Em 1977, o falhanço comercial daquele que deve ser o melhor filme de William Friedkin, Sorcerer (ofuscado pelo sucesso retumbante da grande alienação espacial de George Lucas, Star Wars), onde se voltava a arriscar tudo e a pôr tudo em causa, parecia já anunciar esse fim. As lutas constantes de Sam Peckinpah com produtores para fazer valer os seus belos poemas outonais desta última e turbulenta década também já o anteviam. The Last Waltz estrearia no ano seguinte. Em 1979, ouvia-se Jim Morrison a cantar “This is the End” no princípio de Apocalypse Now. Iam morrendo os grandes realizadores da Velha Hollywood, que podiam já não filmar (alguns) mas que eram os grandes heróis, ídolos e pilares desta geração (e que às vezes iam dando uma ideia ou uma mão em guiões): Jacques Tourneur, Howard Hawks, Charles Chaplin (1977), Nicholas Ray (1979), Alfred Hitchcock, Raoul Walsh (1980), Allan Dwan (1981), Henry King (1982)...

Estes anos difíceis foram também os mais difíceis da vida de Martin Scorsese, desfeito pelo falhanço de New York, New York nas bilheteiras. Teve que ser chamado (e literalmente salvo) pelo amigo Robert De Niro para fazer Raging Bull, que pode não ter sido um sucesso mas que funcionou como uma catarse para Scorsese, que se recomporia nos anos seguintes. Em três anos e em quatro frentes falhavam ainda vários projectos pessoais que mantinham vivo o “meio” de que fala hoje James Gray. O cinema com alguma escala e alcance e que depende dessa escala e desse alcance para contar a sua história, porque como disse Gray que dizia Truffaut, “o cinema é parte verdade, parte espectáculo”. Entre 1980 e 1982, Heaven's Gate de Michael Cimino, Blow Out de Brian De Palma, They All Laughed de Peter Bogdanovich e One From the Heart de Francis Ford Coppola não vingam nas bilheteiras pelas mais variadas razões e o “meio” começa a desaparecer ao ponto de, nos nossos dias, ser virtualmente impossível arriscar o que se arriscava nestes anos. Sem razão, talvez, porque nem nesses tempos, nem agora, nem nunca se soube se algo era comercial sem o arriscar lançar às feras e ao mundo. Ainda não há equações para o sucesso.

*O Lucky Star – Cineclube de Braga exibe, então, nas Terças-Feiras e numa Sexta-Feira de Dezembro, A New Leaf de Elaine May (dia 6), The Last Waltz (dia 9, com a presença de Luís Miguel Oliveira e Adolfo Luxúria Canibal), The Deer Hunter de Michael Cimino (dia 13) e It's a Wonderful Life de Frank Capra (dia 20, antecedido pela apresentação de João Bénard da Costa gravada para a série No Meu Cinema), pequeno desvio para celebrar o Natal.

OS ANOS 70 EM HOLLYWOOD (IV)*

Cinema

POR João Palhares

POR Ilídio Marques

A inevitabilidade do momento

Sobre o autorJornalista, programador e promotor cultural natural de Barcelos..

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53Apreciar

DURANTE O MÊS DE DEZEMBRO, O THEATRO CIRCO, EM BRAGA, ABRE AS PORTAS AOS MAIS

NOVOS. AS OFICINAS DE NATAL DESAFIAM AS CRIANÇAS A DESENVOLVER ALGUMAS TÉCNICAS ARTÍSTICAS TENDO SEMPRE O

TEATRO COMO INSPIRAÇÃO.TEXTO Luís Leite

NATAL NO THEATRO CIRCO?

Claro!

O Theatro Circo apresenta um programa dirigido às crianças para esta época natalícia. Organizado pela A Casa ao Lado, as Oficinas de Natal são o resultado das bem sucedidas Oficinas de Verão. “O nosso principal objetivo é que eles interpretem os espaços do próprio teatro mas com um ponto de vista com-

pletamente diferente e que eles próprios sintam o desafio de criar e inventar” explica Joana Brito, mentora do centro artístico da “A Casa ao Lado”. Este natal os sorrisos natalícios podem muito bem passar pelo Theatro Circo para que esta quadra seja ainda mais divertida. “Nas Oficinas vamos tentar que eles vejam o Theatro de forma mais, mais romântica, mais natalícia, com mais de luz e cor”, diz Joana Brito.

ATELIER PARA CRIANÇAS

PROGRAMA

O LUSTRE20 dezembro, terça, 10h00Tendo como base o lustre da Sala de Espetáculos do Theatro Circo, vamos "recriar" a sua imagem numa peça decorativa de Natal a partir de materiais do dia a dia.

MAQUETE DO THEATRO22 dezembro, quinta, 10h00Realização de maquete tridimensional de um espaço do Theatro Circo com materiais como k-line, balsa e tecidos. Após a construção do "espaço", vamos decorá-lo dentro do espírito natalício!

ILUSTRAÇÃO27 de dezembro, terça, 10h00Vamos ilustrar o livro "Noite de Natal", de Sophia de Mello Breyner, com aguarelas personalizadas.

CALENDÁRIO 201729 de dezembro, quinta-feiraTendo como base pormenores do Salão Nobre do Theatro Circo, vamos criar em madeira um calendário de parede do ano de 2017 com ilustrações desses pormenores, através do desenho, pintura e colagem.

OFICINAS DE NATALLocal Theatro CircoHorários 10h-12h / 14h-17hPreços cada oficina - 10 € | 4 oficinas - 30 €Público-alvo crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos Número máximo de participantes 12Inscrições e informações Bilheteira do Theatro Circo, 253 203 800 ou [email protected]

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54 Opinião

2016 começa a queimar os últimos cartuchos e começa o habitual período de reflexão e bal-anço sobre o ano que está agora a terminar. Sem dúvida que este foi um ano de muitas e boas edições mas impera sempre no nosso ín-timo uma espécie de melancolia/necessidade de relembrar o passado, sobretudo, aquelas datas importantes e torná-las comemorativas. 2016 foi o ano da comemoração dos 25 anos do

lançamento dum incrível punhado de discos. Mas interessa perguntar: que discos lançados este ano serão recordados daqui a 25 anos?

A realidade e a situação em que nos encontramos hoje é absurdamente diferente de 1991, um dos melhores anos da história no que à música diz respeito. No espaço de 4/5 meses foram lançados alguns dos discos do sé-culo; todos naquele ano. A título de curiosidade: Nervermind de Nirvana; Screamadelica de Primal Scream; Achtung Baby de U2; Dangerous de Mi-chael Jackson; Ten de Pearl Jam; Blood Sugar Sex Magic de Red Hot Chili Peppers; Black álbum de Metallica; Use you Illusion de Guns ’N’ Roses; Blue Lines de Massive Atack; Out of Time de R.E.M.; entre outros certamente tão importantes e que não estou a mencionar aqui. Mas o que difere 1991 de 2016?

A forma como consumimos informação - seja ela qual for - e percepcio-namos a arte não podia ser mais diferente hoje do que era antes. É tudo muito mais fugaz e a periodicidade daquilo que é novidade é igual à dum fósforo a queimar. O facto de haver hoje este monstro imprescindível nas nossas vidas, chamado Internet, e que nos permite ver e ouvir algo quando queremos faz com que se perca a magia de estarmos pregados à televisão ou à rádio para vermos um videoclipe passar ou ouvir uma música nova que gostamos. Está tudo à distância dum clique, é tudo garantido, é tudo fácil. O que vimos acontecer em 1991, e que nos fez comemorar as bodas de prata neste ano, a acontecer neste contexto actual, nesta realidade, não teria certamente o mesmo impacto e importância histórica que teve há 25 anos atrás, e ainda bem!

MÚSICA

É difícil dizer se em 2041, daqui a 25 anos, se recordará algum trabalho discográfico deste ano. Foi, ainda assim, um ano muito importante sobretu-do num plano interno, nacional, com novos valores a surgirem, outros a confirmarem predicados já anunciados e de novos lançamentos dos novos “cânones” nacionais. É incrível ver um ano com discos ao nível dos últimos de Sensible Soccers, Capitão Fausto, PAUS e You Can’t Win Charlie Brown ou ver a confirmação de outros como Bruno Pernadas e os dois fantásticos discos editados neste ano. Novos talentos e reais talentos, esses também, marcam presença neste ano, com o primeiro longa-duração de bandas como Toulouse, Ditch Days, GALGO, Paraguaii, Cave Story, entre tantos outros de norte a sul do país. Vivem-se bons tempos por cá.

Para finalizar, dizer que foi um ano recheado de bons concertos em Por-tugal com óbvio destaque para o regresso de Radiohead, Arcade Fire, Tame Impala, LCD Soundsystem e AC/DC a Portugal. Os maiores passam todos por cá e isso é bom de ver. E para finalizar mesmo, quero acreditar que um dia, nalgum lugar, nalgum tempo, ainda iremos ver David Bowie, Prince ou Leonard Cohen.

Venha daí 2017!

2016, o ano das bodas de prataINTERESSA PERGUNTAR: QUE DISCOS LANÇADOS ESTE ANO SERÃO RECORDADOS DAQUI A 25 ANOS?

José Manuel GomesSigno escorpião, sei informática na ótica do utilizador, programador do espaço cultural Banhos Velhos, e sou um eterno amante da música, do cinema e do sozinho em casa.

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55Observar

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56 Apreciar

eu não entendo nada de técnica fotográfica porque nunca estudei fotografia – mas em termos de “como conversar com o objeto fotografado”, ou seja, a ligação que criamos seja qual for o objeto. Esta ligação, seja com os retratos, seja com as paisagens, acaba por ter algo de mim – seja um lado emo-cional ou afetivo. O que pretendo sempre, em cada fotogra-fia, é captar aquele momento porque todos os momentos fotográficos são um complemento à minha memória.

Quando te visitamos pela primeira vez temos a sensação de estares presente, de nos deixares escolher qualquer momento da tua vida. Esse é o teu caminho de ser feliz?Este caminho é como um rio porque tem uma nascente: começa com retratos aos amigos. Acaba por ter afluentes: passamos a ter paisagens, a ter música, a ter nuvens… Feliz-mente não sei onde vai desaguar. O este caminho ambíguo: é ter os amigos por perto, é criar pequenos momentos, mas também é ter os meus momentos solitários. Se as pessoas se identificam com esses momentos da minha vida, fico muito contente, mas a verdade é que não tenho a noção de nada. Se puder proporcionar um caminho feliz a alguém através da fotografia, então acho que isso é o ponto alto deste ‘caminho’.

Um palco, uma banda, uma cidade, tu a fotografar. Qual seria a tua escolha?Um barco (porque qualquer coisa pode ser um palco); os Tinariwen ou, novamente, os Sean Riley & The Slowriders em Ponta Delgada.

A música, os músicos, os palcos estão muito presentes no teu instagram. És tu que procuras a música ou é a música que te encontra?Acho que é um pouco das duas coisas.

Quase como toda a gente, ouço música desde que me co-nheço e via imensos telediscos. Após a faculdade, entrei no mundo das webzines a escrever sobre música. No caso da fotografia talvez tenha sido a música a reencontrar-me (começou em Coimbra, depois parei, e recomeço, curiosa-mente, em Braga). Quando o Cícero foi ao Theatro Circo, propus a uma webzine fotografar o ensaio de som (porque apetecia-me experimentar fotografar o lado dos bastidores à qual estou habituada) e a resposta foi positiva. Como correu bem, acabou por surgir a ideia de fotografar outro ensaio de som. Se por um lado sou eu que procuro que concer-tos quero fotografar, pelo desafio que é fotografar concertos em analógico, por outro lado também já há quem me diga: ”tens de ir ver estes tipos ao vivo e tirares-lhes umas fotos”.

Os teus sítios são contornos solitários que contrastam com uma energia deliciosamente fora de uma moda so-cial. É o teu mundo no mundo dos outros?Para mim, existe uma distância entre ser fotografado e ser o fotógrafo. Eu cresci fora de tudo isso – sempre fui a ob-servadora; sempre gostei de chegar a um lugar / local, pa-rar e observar. A dada altura aceitei ser fotografada por um amigo e foi com essa sessão que aprendi muito de ‘como fotografar’ – não em termos técnicos porque, honestamente,

INSTAGRAM

O SOM DE UM PASSOANA CLÁUDIA SILVA ESTÁ NA RUA

TEXTO Nuno Sampaio FOTOGRAFIA @caminhosdeserfeliz

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57Observar

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58 Apreciar

ENTREVISTA

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59Apreciar

O seu novo trabalho conta com temas originais de autores como Filho da Mãe e André Henriques (Linda Martini), Cachupa Psicadélica, Mário Laginha e António Lobo Antunes. Um disco de novas abordagens, de novos compositores de várias latitudes da música portuguesa,

mas também como Peixe e Nuno Prata (Ornatos Violeta), Pedro da Silva Martins e Luís Martins (Deolinda), Jorge Cruz (Diabo na Cruz), Luís Severo (Cão da Morte), um fado tradicional (com texto de Amália), e textos de Ana Bacalhau (Deolinda) e Kalaf (Buraka Som Sistema).

Após 20 anos de carreira há ainda alturas em que se sente “Menina”? Serei sempre menina na medida em que, se deixar de o ser, deixarei de saber brincar, de saber encarar a vida com graça, com humor. Seria perder o brilho! E quem é esta “Menina” que dá nome ao seu novo disco?Menina são todas as mulheres e todos os que amam as mulheres na dife-rença e na semelhança. Pode contar-nos o sonho que deu origem ao nome do novo álbum?Sonhei com um quadro famoso de Diego Velasquez, um importante retra-tista do período barroco em Espanha, importante ao ponto de ser estudado também por nós, nas nossas faculdades. Quando estava na faculdade, tive que fazer um trabalho para Teoria da Imagem e da Representação sobre o seu quadro mais famoso, Las Niñas. Foi um trabalho intenso em que revi-sitei e percorri aquela pintura até à exaustão, por vezes até sentir que eu própria fazia parte daquela representação. Quando estava recentemente em pré-produção deste novo trabalho e imersa nos textos e nas imagens que me ocorriam a cada etapa, a cada nova letra que chegava, sonhei com a dita tela de Velasquez, talvez porque o nome menina já estava implícito, tudo isto no território dos sonhos, e foi essa a minha interpretação. Quando acordei, o novo disco tinha ganho título! Com este novo álbum quis romper com os cânones que a definiam. Porquê?Os meus cânones foram sempre os de alguém que tem parâmetros flexíveis o suficiente para incluir tudo o que lhe dê prazer! Provavelmente de todas as cantoras ou fadistas, eu serei das menos canónicas. A liberdade de poder arriscar vem do seu lado de menina?Sempre arrisquei, desde o primeiro disco. Esse chamava-se Murmúrios e além dos inéditos acrescia Sérgio Godinho e José Afonso; mais tarde, com Ulisses, chegava a vez de cantar Joni Mitchell, “A case of you” ou “Alfonsina y el mar”. Menina vem nesta linhagem, é uma consequência natural do

meu crescimento enquanto cantora, gosto de sair da zona de conforto e procurar outros territórios que tragam frescura ao meu discurso. Os autores que fazem parte deste disco, a grande maioria deles vêm da música independente, da música indie portuguesa. Em que ponto se identificaram os diversos estilos?Digamos que o traço de união mais notório é a linha dramática presente na tonalidade menor comum ao Fado. Isso deu muita força ao meu discurso também, acreditar que aquela ideia de “bad boy/girl” era um antepassado do fado, ou um progressista, uma espécie de parente afastado. As letras contam histórias de várias mulheres diferentes. Qual delas é a Cristina Branco?Serei todas ou nenhuma, conforme o dia e o mood! Ainda a tratam por menina?Sempre e adoro quando acontece. Acho carinhoso e tão português! Como surgiram as “meninas” de cada música de deste álbum?São fruto da experiência de cada um dos autores. Podia ser eu ou alguém próximo deles...uma mãe, uma irmã ou amante. Existiu um texto unifica-dor que partiu de mim para “vender” a ideia do que queria construir, mas foram eles que “as” idealizaram! O que espera do concerto no Theatro Circo, uma sala com mais de um século de vida?Espero sentir, as pessoas, a aura do lugar e não espero nada ainda assim. Somos nós que criamos o momento que queremos viver e sei que eu, os músicos e o público que nos virá visitar nos vamos divertir e comungar de um bom momento, porque a música é isso também! O fado continua sempre presente?Sempre e para sempre, estou em crer. É o meu território, porto de abrigo e fé mais antiga, não se foge dele depois que se instala. Pelo contrário: parto dele, do Fado, para o que vier, sem medo, que é uma palavra que procuro banir da minha vida. O que espera de 2017 e quais foram os momento mais marcantes de 2016?Este meu ano de 2016 foi obviamente marcado pela realização deste novo trabalho. Para 2017 espero levar este disco a muita gente, acima de tudo porque acredito que a música tem um super poder de unir as pessoas e se a minha música contribuir modestamente para esse efeito, tenho o ano e a vida ganha!

CRISTINA BRANCO o que a menina faz, faz bem

AINDA A TRATAM POR MENINA E ADORA QUANDO ACONTECE: “ACHO CARINHOSO E TÃO PORTUGUÊS!”. MENINA, O SEU NOVO ÁLBUM, LEVOU-A A EXPLORAR

SONORIDADES LONGE DA SUA ZONA DE CONFORTO EXPERIMENTANDO NOVAS ABORDAGENS E COLABORAÇÕES.

TEXTO Luís Leite

Cristina Branco traz “Menina” ao Theatro Circo dia 7 de Dezembro.

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60 Apreciar

SMARTINIO ROCK ESTÁ DE VOLTA

COM “LIQUID PEACE” CONVERSAMOS COM OS SMARTINI NO DIA DO LANÇAMENTO DO SEU NOVO

ÁLBUM “LIQUID PEACE”, NO BAR PRÍNCIPE PARQUE NAS TAIPAS. HOUVE TAMBÉM ESPECTÁCULO NO R DE MÚSICA — CONCERTOS COM TRANSMISSÃO EM DIRETO

PROMOVIDOS PELA REVISTA RUA EM PARCERIA COM A RUM.

O novo trabalho de originais dos Smartini, “Liquid Pea-ce”, foi gravado “quase como se fosse ao vivo”. A banda oriunda de Caldas das Taipas, demonstra uma continui-dade de um som autêntico, conjugando-se de diferentes estilos musicais, inerentes a cada elemento da banda. O

EP, o seu segundo trabalho, surgiu a partir do momento em que uma forte necessidade interior voltava a fazer entrar a música nas suas vidas.

Lançaram um disco bem recebido em 2007 e estão de regresso com “Liquid Peace”. Porquê só agora?João Paulo Duarte (JP): O momento alto de uma banda é actuar num con-certo e estávamos com muita vontade de voltar a tocar.Patrício Ferreira (PF): O ano passado tivemos um convite para fazer um tributo a Lou Reed e penso que isso foi um rastilho que nos motivou para tra-balhar com mais objectivos. Também porque o panorama da música voltou a direcionar-se para a mesma onda daquilo que nós fazemos. Sentimos que era o momento de apresentar um trabalho que consideramos estar maduro.

A independência com que nascem novos projectos musicais é que traz esta inovação e diferença?Lourenço Mendes (LM): Os Linda Martini tiveram uma ascensão muito grande e são um grande exemplo. Felizmente, hoje em dia temos uma banda assim que mantém aquele som sónico e que consegue arrastar muita muita gente. É graças a bandas como eles que conseguimos inserir-nos no mercado.JP: Como os Mão Morta que sempre foram uma referência para a música independente. Nunca perderam o rumo.

“Liquid Peace” é um Ep com quatro temas que não tem pausas para respirar. Tem mais rock?JP: Não tem mais rock. Reparámos que no nosso primeiro trabalho — que foi um álbum muito bem produzido — não transmitia o poder e energia que temos ao vivo. Neste novo trabalho quisemos ser mais fiéis àquilo que somos em palco.

A forma como se compõe é hoje em dia diferente?PF: Fomos ensaiando e foi aparecendo um riff, uma linha de baixo ou de um

ritmo e o esqueleto da música vai surgindo. A inspiração parte de todos, cada uma tem as suas influências e vai beber a outras fontes para depois criar em conjunto, é sempre um tudo muito dinâmico. LM: Temos sempre alguma tendência para criar músicas extensas que em concerto resultam muito bem mas que para as rádios são mais complicadas. Há uns dias atrás fizemos uma boa analogia em relação a isso: é como teres um quadro e cortares uma parte para encaixar naquela moldura.PF: ... mas a obra de arte está lá na mesma. (risos)

Os quatro temas do álbum falam sobre todas as fases da vida, quase como se fosse uma viagem pelo tempo e pelo mundo?Lourenço Mendes (LM): Não queremos mudar o mundo com a música. Achamos que a voz fazia falta e funciona quase como um instrumento. Não queríamos ter letras fúteis por isso tentamos abordar situações da sociedade mais viradas para o sentimento do Ser Humano. A letra do tema “Liquid Pea-ce” apela a um sentimento profundo de paternidade que acaba por refletir a posição dos quatro elementos enquanto pais. É um tema que descreve o tempo de infância como sendo o melhor da vida. Neste caso o termo “Liquid Peace” é associada ao líquido amniótico. “Those Lines” retrata a angústia e a ansiedade de uma mulher que atravessa uma depressão profunda.

Vocês são todos pais…PF: Primeiro, já somos todos casados. JP: E só somos músicos a partir das 22h30. (Risos)LM: E raramente ao fim de semana. A paternidade influencia-nos largamente mas os nossos filhos, à excepção do Patrício que foi pai recentemente, todos eles… JP: Já carregam o material… (risos).PF: As nossas caras metades ficam um bocado amputadas da nossa presença mas elas sabem que a música está sempre na nossa vida.

Smartini dão a volta à vida com a reflexão pelos vários estados do ser humano. O rock está de volta. Acabámos a entrevista com muitos risos e registramos imagens do concerto de apresentação.

TEXTO Luís Leite

ENTREVISTA

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61Observar

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62 Apreciar

A o mesmo tempo que trabalhava à noite como barten-der, Américo da Silva licenciou-se e tirou o mestrado na Uminho em Arquitetura. Há dois anos, o bracarense de 27 anos, decidiu emigrar para Viena em conjunto com um grupo de amigos.

Considerada por muitos a “Cidade de Sonho”, Américo afirma que entre ele e Viena há uma relação de amor ódio. Define-a como uma cidade chi-que, cheia de cultura, mágica, funcional, mas também chata e snobe. Não encontrava trabalho e as perspectivas eram poucas quando já pensava no regresso a Portugal. Mas tudo mudou. Viu um anúncio para trabalhar num bar, fez a entrevista no mesmo dia e à noite já estava a trabalhar à experiên-cia. Entretanto, já foi convidado duas vezes para servir, no dia 10 de junho, na embaixada de Portugal em Viena. Para além do bar, neste momento Américo trabalha também numa firma de Oficina de pedreiros como Técni-co de Desenho. Na firma trata das ofertas e propostas de orçamentos para clientes, e também de desenhos técnicos para a concretização e finalização dos trabalhos pedidos.

“Eh pah está frio”, foi um dos principais pensamentos quando aterrou em Viena. Há coisas que não mudam, uma dessas coisas é a comida. Não gostou de início e dois anos depois continua sem gostar. No Inverno é no seu apartamento que passa muito tempo, quando não está a trabalhar, joga na internet com os irmãos, lê manga, vê series e sai com os amigos. Sem regresso anunciado, afirma que o que lhe faz mais falta é a família, foi para o país onde nasceu Mozart, à procura de experiência, das melhores condições de vida possíveis para poder poupar, e um dia, de alguma forma voltar a Portugal.

Aos que têm a oportunidade de emigrar, o jovem diz para pensarem o que realmente querem. Se emigrar for a resposta certa, então “siga”, porque os portugueses ainda têm no “sangue a força de ir em busca de algo melhor, é só içar as velas e agarrar-se ao leme, pois que tempestades e trovões se seguem é certo, mas também é certo que promessa está lá, naquele horizonte.”

Diz que a palavra “saudade” não lhe era estranha devido a entes que-ridos que já tinham partido. Agora, o sentimento e o sabor da palavra são diferentes, com um sentido mais reconfortante porque essa saudade passa quando estiver com as pessoas próximas. Se “saudade” é uma palavra que tanto gosta, diz que no bar onde trabalha até criou um cocktail com esse nome. Tem até no bar um gin alemão, que é estilado em Hamburgo que se chama “Gin Sul”, um dos melhores que já provou, e no fundo da garrafa, na parte de trás, tem algo que costuma adora ler para os clientes em por-tuguês. A frase é célebre e o autor também (Fernando Pessoa) e diz assim: “Saudades, só portugueses/Conseguem senti-las bem./Porque têm essa pa-lavra/ para dizer que as têm”.

MINHOTOS PELO MUNDO

AMÉRICO CRIOU O COCKTAIL SAUDADE EM VIENA

EMIGRAR FOI COMO SE SE TIVESSE ATIRADO DE UMA JANELA DO TERCEIRO ANDAR, MAGOOU-SE MAS SOBREVIVEU.

AGORA DIZ QUE SÓ LHE FALTA O RESTO. TEXTO Beatriz Gomes

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DesfrutarEXPERIÊNCIAS À FLOR DA PELE.

+ESPAIRECER

Réveillon Minhoto

COZINHARNatal a dois

MIMARAno novo, brilho intenso

ARRASARBoas Festas!

TUA NA RUABraga

AGENDADezembro '16

HUMORRui Leite Gonçalves

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66 Desfrutar

ESPAIRECER

RéveillonMinhotoDEIXÁMOS 4 SUGESTÕES PARA UMA CONTAGEM

DECRESCENTE MINHOTA NA NOITE MAIS LONGA DO ANO

BARCELOS É MÁGICOBarcelos é Mágico é o mote para um final de Ano diferente. O Município de Barcelos em parceria com a Lux Produções está a preparar uma grande festa de passagem de ano para 2016 no Pavilhão Municipal.

Pavilhão MunicipalEntrada Livre

VIANA RÉVEILLONDia 31 de dezembro, Viana Réveillon 2016 - 6 casas, 6 staff, a maior e mais glamourosa passagem de ano da cidade de Viana do Castelo! Após o grande êxito da edição do ano passado, Viana quer trazer mais uma vez um grandioso e espetacular final de ano.

Centro Cultural de Viana do Castelo

GUIMARÃESTambém Guimarães não irá faltar à festa, o município quer festejar na rua e em comunidade. Está em preparação um diversificado programa de celebrações que prometem uma entrada em 2017 em grande.

+ info brevementeGuimarães

CAMINHA - ONDE O NORTE PASSA O ANOMarta Ren & The Groovelvets estarão connosco neste Réveillon. Prepare-se porque é em Caminha Onde o Norte passa o Ano! Após a atuação recorde “Simon&Garefunkel”, “Stones”, “Beatles”, “Beeges” entre outros com o Grupo de Covers Xornas.

Caminha

TEXTO Joana Ribeiro

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67Observar

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68 Desfrutar

O Natal não tem que ser um cliché. Nem só as prendas nos iluminam o olhar, nem todos temos a família inteira à mesa, mas todos merecemos que seja um dia especial. A pensar nisto trazemos-vos uma sugestão adaptada a um “Natal a Dois”. Experimentem a dois, a três, a quatro…e enviem-nos os resultados para o nosso Facebook ou Instagram e não deixem de visitar o nosso blog em: intimidadesnacozinha.blogspot.com

EMBRULHADINHO

de perú

COZINHAR

INGREDIENTES

200 gr de perú em cubos80 gr azeitona preta sem caroço125 gr de mix de pimentos em cubos100 gr de bacon em cubos80 gr de milho6 folhas de massa filo

PREPARAÇÃO

· Começar por grelhar (em manteiga de alho) os cubos de perú e conservar.

· Num recipiente juntar: bacon, mix de pimentos, azeitonas, milho e os cubos de perú já grelhados. Estender a massa filo e pincelar entre folhas com manteiga. No centro colocar o recheio e embrulhar com a massa.

· Levar ao forno 15 minutos a 180Cº.

Especial Natal NATAL a dois

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69Desfrutar

INGREDIENTES

6 pãesLeite (q.b.)Mel (q.b.)3 paus de canela200 gr de açúcar amarelo2 ovos1 maçã maduraVinho do porto branco (q.b.)Licor de frutos vermelhos(q.b.)Canela em pó (q.b.)Açúcar branco granulado (q.b.)

INGREDIENTES

2 postas de bacalhau200 gr de batata1 molho de grelos2 cebolas2 dentes de alhoAzeite (q.b.)Vinagre (q.b.)Colorau (q.b.)Pimentão doce (q.b.)2 ovos

PREPARAÇÃO

· Tirar a crosta de 6 pães biju. Num tacho juntar leite, mel, açúcar e canela em pó e deixar ferver. Passar os pães por esta calda de forma a ficarem bem embebidos. De seguida passar os pães por ovo batido e fritar.

· Fazer uma redução de vinho do porto branco, licor de frutos vermelhos, açúcar amarelo e maçã cortada em cubos pequenos. Ralar o preparado.

· Passar as rabanadas por açúcar branco e canela moída e de seguida dar um golpe na rabanada de forma a rechear com a redução do vinho.

· Decorar a gosto com frutos secos da época.

PREPARAÇÃO

· Cozer o bacalhau, os ovos, as batatas e os grelos. Tirar o bacalhau e reservar. Deixar cozer os outros ingredientes mais 10 minutos e reservar. Preparar um estrugido com cebola, alho e azeite. Colocar os grelos, as batatas e os ovos aos cubo e deixar ganhar cor. Acrescentar vinagre a gosto para cortar a gordura do estrugido. Reservar.

· Numa frigideira colocar uma cebola em meias luas, um dente de alho picado e azeite. Quando a cebola estiver cozinhada acrescentar colorau, pimentão doce e vinagre. Reservar.

· Rechear uma forma redonda com o refogado de batata. Dispor a posta de bacalhau ao lado e regá-la com a cebolada.

RABANADASrecheadas

BACALHAU velhoNATAL

a dois

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70 Observar

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VIDAcom estilo

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72 Desfrutar

MIMAR

Ano Novo,Brilho Intenso

Deixámos 5 produtos para brilhares na última noite do ano.

MAKE UP FOR EVER GRAPHIC GLITTER

CHANEL BATOM

DIOR EYE SHADOW

DIOR EYELINER

YVES SAINT LAURENT VERNIZ

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73Observar

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74 Desfrutar

ARRASAR

Boas Festas!

Dezembro é o mês festivo por excelência, o que significa que muitas de nós já iniciaram a busca pelas peças perfeitas para usar no Natal e na Passagem de Ano!

H&M 49,99€

PARFOIS 6,99€

H&M 4,99€

STRADIVARIUS 15,95€ZARA 22,95€

STRADIVARIUS 7,95€

BERSHKA 19,99€

PULL & BEAR 12,99€

ASOS 59,99€

Page 77: Revista Rua nº10

75Desfrutar

O veludo e as transparências trazem elegância e sensualidade às peças mais simples...

...e os metalizados, em dourado, prata e outras tonalidades mais inusitadas acrescentam diversão e jovialidade a qualquer conjunto!

Nádia Sepúlveda Autora do blog "My Fashion Insider", é uma jovem médica de 27 anos apaixonada pela vida que adora escrever, ler, fotografar, cantar e rodopiar como uma doida à chuva (e não só!).

ZARA 12,95€

PULL AND BEAR 15,99€

ZARA 22,95€

ASOS 29,33€

PULL & BEAR 7,99€

PULL & BEAR 22,99€

ZARA 29,95€

H&M 29,99€

Page 78: Revista Rua nº10

76 Desfrutar

TU NA RUA

SÃO DIAS DE CHUVA E FRIO. OS AGASALHOS, ALÉM DE NOS PROTEGEREM, AJUDAM A COMPOR UM GUARDA ROUPA COM

ESTILO. CACHECÓIS, GORROS E CASACOS FAZEM PARTE DA INDUMENTÁRIA. UM ESTILO URBANO SOBRESSAI NAS

TONALIDADES QUENTES DO LARANJA E VERDE. APROVEITA A NATUREZA PARA DESFRUTARES DE SERENIDADE.

ESTILO URBANOpara o frio

FOTOGRAFIA Margarida Ramos

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Observar

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78 Desfrutar

AGENDA CULTURALDEZEMBRO '16

9-10CRISTINA BRANCOMÚSICA

Dentro de uma área de fortes raízes conservadoras e tradicionalistas como é o caso do fado, Cristina Branco apresenta sempre uma alternativa alicerçada no profundo conhecimento dos poetas e poemas que interpreta, em compositores requintados e em músicos de excelência que transpõem uma aura única ao vivo.“Menina” é o título do seu novo trabalho, novas abordagens e novos compositores de várias latitudes da música portuguesa.

15€Theatro Circo - Braga21h30

GARY BECK, CHRISTINNE, DANI & WAILERSMÚSICA

Techno físico e pujante, com texturas robustas e complexas. Gary Beck confessa que a procura do seu próprio estilo foi, talvez, um dos desafios mais duros da sua carreira. Isto já após o seu lançamento pela M-nus de Richie Hawtin, que serviu de catalisador para a sua afirmação na cena mundial. Mais do que copiar a fórmula do seu primeiro grande trabalho, quis que a musica que faz fosse instantaneamente reconhecida como sua. Conseguiu-o.

10€Club 118 - Barcelos00h00

XXIII CELTAMÚSICA

A 23ª edição do CELTA - Certame Lusitano de Tunas Académicas é uma organização da Azeituna - Universidade do Minho, que continua a preservar e desenvolver voluntariamente o espaço cultural dentro da universidade e de Braga. Projeta-se mais um grandioso espetáculo musical com as melhores tunas nacionais no palco principal do Theatro Circo. O CELTA apresentará ainda surpresas enquadradas nas atividades da Capital Ibero-Americana da Juventude.

5-8€Theatro Circo - Braga21h

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XI PRESÉPIO DE PRISCOSCERTAME

O Presépio ao Vivo de Priscos é uma oportunidade para fazer uma viagem ao tempo de Jesus. A um tempo com vozes, música, cheiros, sabores, sons, casas, lojas, praças e mercados e cerca de 600 participantes que dão vida a uma história sempre antiga e sempre nova. É um espaço com cerca de 30.000 m2 de ocupação e com mais de 70 cenários, com referência às culturas judaica e romana.

0-5€Braga

18-22/1

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79Desfrutar

DISNEY IN CONCERTFESTIVAL MÚSICA

A Magia Disney regressa em Dezembro!Os temas de O Rei Leão, A Pequena Sereia, Piratas das Caraíbas, Mary Poppins, A Bela e o Monstro, Aladdin e Frozen-O Reino do Gelo, entre outros, serão tocados por 55 músicos e cantados por 4 cantores, sincronizados com as imagens dos famosos filmes da Disney projectadas numa tela, proporcionando uma experiência musical de orquestra verdadeiramente mágica e um Natal ainda mais especial.

22,5-30€Pavilhão Multiusos de Guimarães21h

MÁQUINA DEL AMORMÚSICA

Existem calafrios. Existem arrepios. O fantasmagórico e o enigmático dão lugar ao intenso pulsar; um ritmo inebriante, semiclubbing . Máquina del Amor é uma reminiscência do pós-rock, é uma ramificação do experimentalismo sem rede, é industrial. Máquina del Amor é escabroso. Soa a ecos de relações e de vivências. É intenso. Sabe, cheira e sente-se sangue; dispersa a fragância de pétalas de rosas, de orquídeas e de incensos misteriosos.

5€gnration - Braga22h30

18

17

até31

PHIL MENDRIXMÚSICA

Famalicão recebe dia 10 de Dezembro Filipe Mendes, um dos melhores guitarristas portugueses de sempre. Desde 1965, fez parte de bandas como os Chinchilas, Roxigénio, Psico, Heavy Band, Irmãos Catita e Ena Pá 2000. Resume a sua carreira desta forma: "Tentei ser o mais honesto possível. A honestidade que se transforma em espontaneidade. Se conseguir transmitir isso, já se entretém o público". Famalicão aguarda para ver.

5€CRU - Famalicão23h

CARLOS DO CARMOMÚSICA

Um dos maiores embaixadores do Fado, Carlos do Carmo – o fadista português mais premiado de sempre, apresenta-se para um concerto único em Guimarães.O espectáculo será no dia 17 de Dezembro, no Multiusos de Guimarães. Carlos do Carmo é considerado uma das maiores figuras vivas do panorama fadista e os prémios que recebeu recentemente mostram isso mesmo.

25-40€Pavilhão Multiusos de Guimarães21h30

SALVADOR MARTINHASTAND-UP COMEDY

O Theatro Circo volta a acolher o conceituado humorista agora com o espetáculo 'Tipo Anti-Herói'.“Este espectáculo pretende salvar a humanidade. E falhar redondamente. O meu nome é Salvador e nunca salvei ninguém. Sou anti-herói desde pequenino. Uma espécie de criminoso que quer fazer o bem. Os meus pais enganaram-se no meu nome e alguém tem de se rir disto. No palco. Na vida. Sobretudo a martelar sapateira”.

15€Theatro Circo - Braga21h30

ONDA BIENALARTE CONTEMPORÂNEA

Com o objectivo de promover e divulgar a arte contemporânea, a exposição Onda Bienal em Barcelos, terá patente obras de 48 artistas plásticos portugueses, das diversas áreas, pintura, escultura, desenho e fotografia. A exposição teve como ponto de partida Vila Nova de Gaia, passando posteriormente por seis concelhos portugueses, fazendo Barcelos parte desta viagem, que tem a sua grande aposta, nos artistas, na cultura e na arte.

LIVREGaleria Municipal de Artes - Barcelos

10 17

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80 Opinião

E stou sem ideias sobre que assunto abordar este mês e talvez a culpa seja do mundo em geral. Se olharmos para os últimos acontecimentos, é difícil antever novidades neste período na-talício: Cristiano Ronaldo continua a bater re-cordes, o Benfica lidera o campeonato e Bruno de Carvalho mantém o seu admirável compor-tamento de gangster, etc. Estamos a viver uma rotina previsível, mas é uma rotina agradável.

Apesar de concordar com esta rotina, como escritor, sinto-me sem pano para mangas para realizar o meu trabalho com a elevada qualidade que é esperada, com naturalidade, pelo leitor. Para desafiar este fenómeno de estabilidade vou ter de lançar um tema à sorte. Vou pegar no dicionário e procurar uma palavra de forma aleatória. Parece que estou a fazer improvi-so no papel, nunca antes visto. Dedico 5 minutos do meu tempo a escrever um pequeno texto e já estou a fazer história. Os dados foram lançados e a palavra que acaba de sair é: bullying. Nem sabia que tal vocábulo constava no dicionário da língua portuguesa, mas parece-me um tema pertinente que caiu em desuso e que pode ser interessante voltar a abordar.

Admito que as pessoas hoje estão mais familiarizadas e atentas para o bullying. No entanto, depois de ler alguns artigos que esmiúçam a questão apercebo-me que o fenómeno foi estudado com demasiada leviandade. Es-tamos a tratar este assunto de forma reactiva na maioria das vezes, quando proactivamente poderíamos intervir com muito maior eficiência.

Tomemos como exemplo o caso de alguns amigos meus que são adeptos do Sporting. Estes indivíduos não têm como fugir ao bullying porque apre-sentam uma característica demasiado apetecível para serem gozados, o que implica que também seja muito difícil para o praticante de bullying não actuar perante presas de tal maneira apetecíveis. O problema encontra-se muitas vezes nos progenitores que permitiram os seus filhos seguirem tal caminho, mas temos dois cenários possíveis para tal ocorrência.

Num primeiro cenário, temos os pais que desejam que os seus filhos escolham de forma livre a sua equipa de futebol, não percebendo, por ig-

CRÓNICA DE HUMOR

norância, as consequências que pode trazer uma escolha errada. Num se-gundo panorama, temos os pais que eram do Sporting e que querem que os filhos sigam o mesmo caminho para passarem pelo mesmo sofrimento. Tra-ta-se aqui daquele tipo de pessoas que só vive bem com o mal dos outros.

Não pretendo ferir nenhuma susceptibilidade, isto foi só um exemplo de como podemos intervir antes do bullying aparecer. Com certeza, há muitas outras centenas de exemplos. Eu é que não me consigo recordar de mais nenhum.

Juro que quando comecei a escrever este texto não fazia a mínima ideia de que ia conseguir juntar as palavras bullying e Bruno de Carvalho na mesma página, juro.

Brullying de Carvalho“JURO QUE QUANDO COMECEI A ESCREVER ESTE TEXTO NÃO FAZIA A MÍNIMA IDEIA DE QUE IA CONSEGUIR JUNTAR AS PALAVRAS BULLYING E BRUNO DE CARVALHO NA MESMA PÁGINA, JURO.”

Rui Leite GonçalvesSublime e humilde. Humorista.

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