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Revista Schola 2009/2010

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Revista da Escola Secundária/3 de Barcelinhos de 2009/2010

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Número 18Maio 2010Periodicidade anual184 Páginas

Sumário

EDIÇÃO SUBSIDIADA PELA CÂMARA MUNICIPAL DE BARCELOS

FICHA TÉCNICA

Coordenação: Graça Alves

Director: Álvaro Carvalho

Recolha de OriginaisAida Lemos

Álvaro CarvalhoAna Maria ReisAntónio Afonso

António CodesseiraCarminda AbreuCeleste OliveiraDomingos SilvaDulce MacedoEduarda Vieira

Fátima CarvalhoGabriela Beato

Graça TelesHelena TrigueirosHelena Marques

Jaime DantasJoaquim Ferreira

Luísa CruzRaquel CarvalhoVirgínia Portela

IlustraçõesAlunos de Sónia Morgado

e João Paulo Vieira

Capa: Carla Araújo (11.º G)

Administração e PublicidadeAntónio Carvalho

PropriedadeEsc. Sec./3 de Barcelinhos S. Brás

Rua de Areal de Baixo - Barcelinhos4755-056 Barcelos

Tel. 253839260; Fax 253833024/253833482 [email protected]

http:\www.esec-barcelinhos.rcts.pt

Tiragem: 1000 exemplares

Depósito Legal: 55158/92 | ISSN: 0873-1217

Preço | 1,5€

Execução Grá�caOficina S. José | Lar de Jovens | Artes Gráficas

Rua do Raio, 47-75 – 4711-914 BragaTel.: 253 609 100 · E-mail: [email protected]

Escola em Movimento ............................. 3

Reflexões dos Novos Tempos ............... 25

Saberes e Experiências,

Cursos Profissionais e EFA ...................... 45

Ensaios poéticos ......................................... 75

Linhas de Leituras ...................................... 99

Contributos de Investigação ................. 139

Passatempos e Curiosidades ................. 171

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PALAVRAS DE ABERTURA

Num mundo vertiginosamente dominado pelas máquinas de matriz comu-nicativa à escala planetária, cujo fascínio atrai particularmente os nossos jovens, em que o computador surge à cabeça através das suas inúmeras potencialidades como a Internet e o Messenger, Facebook, HI5; seguido do telemóvel com cada vez mais valências para além da simples comunicação, constituindo-se como autêntica máquina multifunções; ou, ainda, a televisão de alta definição e as suas novas virtualidades no âmbito da interactividade, torna-se cada vez mais difícil manter na escola moderna algumas actividades de carácter individual que exigem alguma paciência, concentração e tempo. Falamos, por exemplo, de tarefas básicas como o simples acto de escrever, de ler e até falar.

Os programas escolares têm sofrido algumas alterações no sentido de pro-porcionar aos alunos espaços próprios para estas actividades, particularmente através de oficinas de escrita e de oralidade. No entanto, a resistência dos alunos é enorme, uma vez que estas competências exigem um acto comunicativo, mas de iniciativa individual e de algum esforço, com recurso a instrumentos elementares como a caneta e o papel. É indesmentível que as dificuldades no domínio da escrita se acentuam, mas não deixa de ser, ainda, mais preocupante o que se passa na área da leitura e da oralidade, onde as deficiências de expressão se revelam a cada frase proferida.

A Revista Schola continua a ser um projecto que pretende centrar a acção dos alunos na actividade individual da escrita e da leitura, enquanto manifestações de conhecimento privilegiado do mundo que rodeia os jovens. Felizmente, con-tinuamos a ter alunos que aproveitam esta oportunidade para poderem publicar os seus primeiros textos, sejam eles de poesia, de apreciação crítica a obras lidas ou autores estudados, de opinião ou reflexão sobre os mais variados temas, ou, ainda, de desenho ou banda desenhada.

Surge, assim, o número dezoito da revista Schola, que reúne, também, como vem sendo hábito, alguns textos de carácter mais científico de professores da escola e colaboradores, particularmente da Universidade do Minho. Fica o agradecimento a todos os que possibilitaram esta edição e o convite à leitura.

O Director

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PALAVRAS DE ABERTURA

Num mundo vertiginosamente dominado pelas máquinas de matriz comu-nicativa à escala planetária, cujo fascínio atrai particularmente os nossos jovens, em que o computador surge à cabeça através das suas inúmeras potencialidades como a Internet e o Messenger, Facebook, HI5; seguido do telemóvel com cada vez mais valências para além da simples comunicação, constituindo-se como autêntica máquina multifunções; ou, ainda, a televisão de alta definição e as suas novas virtualidades no âmbito da interactividade, torna-se cada vez mais difícil manter na escola moderna algumas actividades de carácter individual que exigem alguma paciência, concentração e tempo. Falamos, por exemplo, de tarefas básicas como o simples acto de escrever, de ler e até falar.

Os programas escolares têm sofrido algumas alterações no sentido de pro-porcionar aos alunos espaços próprios para estas actividades, particularmente através de oficinas de escrita e de oralidade. No entanto, a resistência dos alunos é enorme, uma vez que estas competências exigem um acto comunicativo, mas de iniciativa individual e de algum esforço, com recurso a instrumentos elementares como a caneta e o papel. É indesmentível que as dificuldades no domínio da escrita se acentuam, mas não deixa de ser, ainda, mais preocupante o que se passa na área da leitura e da oralidade, onde as deficiências de expressão se revelam a cada frase proferida.

A Revista Schola continua a ser um projecto que pretende centrar a acção dos alunos na actividade individual da escrita e da leitura, enquanto manifestações de conhecimento privilegiado do mundo que rodeia os jovens. Felizmente, con-tinuamos a ter alunos que aproveitam esta oportunidade para poderem publicar os seus primeiros textos, sejam eles de poesia, de apreciação crítica a obras lidas ou autores estudados, de opinião ou reflexão sobre os mais variados temas, ou, ainda, de desenho ou banda desenhada.

Surge, assim, o número dezoito da revista Schola, que reúne, também, como vem sendo hábito, alguns textos de carácter mais científico de professores da escola e colaboradores, particularmente da Universidade do Minho. Fica o agradecimento a todos os que possibilitaram esta edição e o convite à leitura.

O Director

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Escola

em Movimento

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A NOSSA ESCOLA EM NÚMEROSDIRECÇÃO EXECUTIVA

A Revista Schola tem vindo a apresentar desde o ano lectivo de 1994/1995 um conjunto de dados estatísticos que visam divulgar aspectos importantes da vida interna da Escola.

Assim, uma vez mais, aproveitamos para apresentar dados referentes aos anos lectivos de 2008/2009 e 2009/2010 agrupando-os com os dados de anos anteriores para possibilitar uma análise global sobre a evolução da situação escolar ao longo dos últimos anos.

Em primeiro lugar, apresentam-se as taxas de sucesso escolar verificadas nos seis últimos anos lectivos.

1 - SUCESSO ESCOLAR 1.1 - Ensino Básico - 3.º Ciclo

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1.2 - Ensino Secundário (10.º e 11.º anos)

1.3 - Ensino Secundário (12.º ano)

Pela décima-segunda vez consecutiva os alunos do 12.º ano tiveram de prestar provas em exames de âmbito nacional para poderem concluir o curso frequentado no Ensino Secundário.

O gráfico seguinte mostra a percentagem de alunos desta escola que conclu-íram o curso secundário nestes 6 últimos anos lectivos.

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2 - POPULAÇÃO ESCOLAR 2.1 - Alunos matriculados 2.1.1 - Frequência por ano lectivo

2.1.2 - Frequência por ano de escolaridade - Ensino regular

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2.1.3 - Total de alunos em 2009/2010

No ano lectivo 2009/2010 inscreveram-se 940 alunos para frequentar esta escola.Os alunos foram distribuídos da seguinte forma:

2.2 - Pessoal Não Docente

O pessoal não docente distribui-se por diversas categorias profissionais. O gráfico seguinte mostra a variação do número de funcionários nestes últimos sete anos escolares.

Legenda: PT Pessoal TécnicoPOAE Pessoal Operário/ Acção EducativaPOC Pessoal Operário/CozinhaPGN Pessoal Guarda Nocturno (EXTINTO)

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2.3 - Pessoal Docente

O pessoal docente distribui-se por diversos grupos de recrutamento. O grá-fico seguinte mostra as oscilações verificadas por grupo nestes últimos oito anos escolares.

3 - PREFERÊNCIAS DOS ALUNOS

3.1 - Ensino Básico - 3.º Ciclo

No ano lectivo 2002/2003, com a entrada em vigor da reorganização cur-ricular para o 3.º ciclo, foram criadas novas áreas opcionais na área da educação artística. O gráfico que se segue mostra as opções, dos alunos do 7.º e 8.º ano, nas novas áreas: Teatro e Dança

Legenda:TEA TEATRODAN DANÇA

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3.2 - Ensino Secundário - 10.º ano de escolaridade

As opções dos alunos que se matricularam pela primeira vez no ensino se-cundário eram feitas entre os cursos científico-humanísticos e cursos tecnológicos até 2005/2006.

A partir de 2006/2007, entre os C C H e os Cursos Profissionais entretanto criados.

3.2.1 - Opção em relação ao tipo de CURSO

Legenda:C C H Cursos Científico-Humanísticos C T / C P Cursos Tecnológicos / Cursos Profissionais

3.2.2 - Opção em relação ao tipo de CURSO (Científico-Humanísticos)

Legenda: C T Ciências e Tecnologias C S E Ciências Socioeconómicas C S H \ L H Ciências Sociais e Humanas Línguas e Humanidades

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3.2.3 - Por opção em relação ao tipo de CURSO (Cursos Tecnológicos)Os cursos tecnológicos deixaram de existir nesta escola desde o ano lectivo

de 2005/2006. Porém, no ano 2008/2009, volta a funcionar o Curso Tecnológico de Des-

porto.

Legenda: T Adm Curso Tecnológico de Administração T Com Curso Tecnológico de Comunicação T Despor Curso Tecnológico de Desporto

3.2.4 - Opção em relação ao tipo de CURSO PROFISSIONAL No ano lectivo 2006/2007 os cursos tecnológicos foram substituídos pelos cursos

profisssionais, prevendo-se o progressivo alargamento da oferta a nível destes cursos.Percentagem de alunos que escolheram estes cursos no início do secundário:

Legenda: CONT Curso Profissional de Técnico de Contabilidade ASC Curso Profissional de Técnico de Animador Sociocultural TAR Curso Profissional de Técnico de Turismo Ambiental e Rural COM Curso Profissional de Técnico de Comércio ELECT Curso Profissional de Técnico de Electrotecnia

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3.3 - Ensino Secundário - Alunos a frequentar os 11.º e 12.º anos de escolaridade

Em continuidade das opções tomadas pelos alunos no 10.º ano, conforme foi indicado nos pontos 3.2.2 e 3.2.3, no ano lectivo 2009/2010 frequentam esta Escola 169 alunos no 11.º ano e 176 no 12.º ano, distribuídos pelos seguintes cursos:

Legenda:C T Ciências e Tecnologias C S E Ciências Socioeconómicas C S H / L H Ciências Sociais e Humanas / Línguas e Humanidades CP- CONT Curso Prof. de Técnico de Contabilidade CP - ASC Curso prof. de Técnico Animador Sociocultural CP - TAR Curso Prof. Técnico de Turismo Ambiental e Rural CP- ELEC Curso Prof. Técnico de Electrotecnia CP- COM Curso Prof. Técnico de Comércio

3.4 - Outros níveis de Educação e Formação 3.4.1 - Cursos de Educação e Formação

Nos alunos que foram considerados a frequentar o 9.º ano de escolaridade, pontos 2.1.2 e 2.1.3, uma turma é um Curso de Educação e Formação (CEF), de Electricista de Instalações.

3.4.2 - Educação e Formação de Adultos No presente ano lectivo entrou em funcionamento mais uma turma de

Educação e Formação de Adultos (EFA). Assim sendo, a nossa Escola conta com quatro turmas EFA SEC.

A Escola Secundária/3 de Barcelinhos pretende continuar a diversificar a oferta de Cursos de Educação e Formação, Cursos Profissionais e Cursos de Educação e Formação de Adultos no próximo ano lectivo.

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ÍNDICE DE MASSA CORPORALESTUDO COM A POPULAÇÃO ESTUDANTIL

DA ESCOLA SECUNDÁRIA/3 DE BARCELINHOS

“A escola constitui um excelente local para uma abordagem compreensiva da promoção da saúde.”

(Direcção-Geral da Saúde)1

A saúde e a qualidade de vida são te-mas que preocupam cada vez mais a nossa sociedade. A obesidade faz parte dessas preo-cupações sendo considerada, actualmente, um problema de saúde pública. Para a Organi-zação Mundial de Saúde (OMS) é mesmo a epidemia do século XXI. Podemos defini-la como uma doença na qual a reserva natural de gordura aumenta até ao ponto em que passa a estar associada a certos problemas de saúde ou ao aumento da taxa de mortalidade. O excesso de peso predispõe o organismo a uma série de doenças, em particular doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2, apneia do sono e osteoartrite (doença degenerativa das articulações).

Uma das formas indirectas de avaliar a composição corporal de um indivíduo é através do cálculo do Índice de Massa Corporal2 (IMC). Este é um método simples, analítico e não laboratorial, e por isso, amplamente utilizado para se medir a gordura corporal.

O IMC expressa a relação entre o peso (massa corporal) e a altura de um indivíduo e traduz-se pelo quociente entre a massa corporal, em quilos, e o qua-drado da altura, em metros, [IMC = Peso (kg) / Altura (m2)], e tem sido usado frequentemente para estimar o peso ideal ou a obesidade. Este método foi tam-bém validado para identificar crianças e adolescentes obesos. O termo obesidade é aplicado quando o IMC excede o percentil 95 para crianças da mesma idade e sexo, enquanto risco para sobrepeso é aplicado para crianças ou adolescentes cujo IMC está entre os percentis 85 e 95.

1 In http://www.dgs.pt2 O IMC foi desenvolvido na Bélgica, em 1969, pelo estatístico e antropometrista Adolphe Quételet, pelo que também se pode designar por Índice de Quetelet.

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Apesar de não representar a composição corporal, o IMC é utilizado como uma medida aproximada de gordura total, uma vez que apresenta uma forte correlação com a gordura corporal. Tem como vantagem a grande facilidade de recolha de dados. Contudo, entre as limitações do uso do IMC está o facto deste indicador poder sobrestimar a gordura em pessoas com elevada percentagem de tecido muscular e subestimar a gordura corporal de pessoas que perderam massa muscular, como no caso de idosos. De salientar ainda, que as crianças e os jovens passam por rápidas alterações corporais decorrentes do crescimento, pelo que é necessário algum cuidado no cálculo do IMC.

A obesidade, como já foi referido, é uma doença crónica e atinge também as crianças e os jovens. Podemos inclusive dizer que a maioria das crianças come muito e mal. Fazem uma alimentação com baixo consumo de fibras (poucos vegetais e fruta) e com excesso de açúcar (refrigerantes, bolos, doces…), gordu-ras saturadas (batatas fritas de pacote) e sal. A esta alimentação desequilibrada associa-se o sedentarismo e a reduzida prática de exercício físico, a qual pode ser atribuída à diminuição de espaços apropriados para actividades ao ar livre e ao aparecimento de actividades lúdicas mais sedentárias e acessíveis a uma grande parte da população, entre os quais a televisão e os jogos electrónicos.

Ciente desta realidade, o Projecto de Educação para a Saúde e Educação Sexual (PESES) estabeleceu como um dos seus objectivos “promover as boas práticas alimentares e o exercício físico adequado, de forma a prevenir a emer-gência de doenças do comportamento alimentar.3” Assim, tem sido desenvolvido ao longo dos últimos três anos e em estreita colaboração com os professores de Educação Física, um levantamento da composição corporal dos alunos da Escola Secundária/3 de Barcelinhos, através da avaliação do IMC.

No início do ano lectivo 2009-2010, os professores de Educação Física pro-cederam à recolha dos dados dos alunos necessários para o cálculo do IMC. Daí resultou uma amostra formada por 853 alunos (393 rapazes e 460 raparigas) da Escola. Embora a população estudantil seja superior, não foram contabilizados os restantes discentes por falta de elementos.

Após terem sido facultados os dados de todas as turmas da Escola, foi re-alizado o respectivo tratamento estatístico. Os resultados obtidos encontram-se expressos de forma sintetizada no seguinte quadro4:

3 In Projecto de Educação para a Saúde e Educação Sexual 2009/10, p.5.4 O relatório do estudo está disponível no Gabinete do PESES para uma consulta mais detalhada.

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Quadro 1 – Distribuição do IMC pelo sexo dos alunos que participaram no estudo

Pela leitura do quadro atrás exposto, podemos constatar que a grande maioria dos alunos, independentemente do sexo, apresentam um IMC normal (normo-ponderal). Observamos ainda que 11% das alunas e 8,7% dos alunos da escola, apresentam um IMC acima do intervalo de valores considerados normais, não entrando no entanto em valores considerados de obesidade. Na categoria “obesi-dade” verificamos que 5% são raparigas e 5,2% são rapazes. Finalmente, e de uma forma pouco expressiva (0,2% das raparigas e 0,1% dos rapazes) encontramos a categoria “magreza”.

Assim, e de acordo com os dados apresentados, podemos inferir que em cada 10 alunos, 1 encontra-se na categoria “obesidade” e 2 na categoria “sobrepeso”.

Fazendo ainda uma análise comparativa com os resultados obtidos em 2007-2008, em que 4,3% dos alunos rapazes e 4% das raparigas estavam na categoria “obesidade”, podemos referir que houve um aumento da obesidade na população estudantil, o que nos faz pensar na necessidade de continuar a monitorizar a composição corporal dos alunos da escola de forma a reforçar algumas medidas para contrariar esta alegada “tendência”.

Como nota final, devemos salientar que a prevenção da doença e a preservação da saúde dependerão sempre da adopção de estilos de vida sau-dáveis. Estilos de vida, que não são, apenas o produto da hereditariedade de cada indivíduo. Pelo contrário, são acima de tudo o resultado do combate a comportamentos de risco e da aquisição de conhecimentos e competências necessárias à adopção de hábitos e rotinas saudáveis. É assim fundamental a promoção de uma nutrição equilibrada, a redução do sedentarismo e a prática regular de exercício físico.

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BibliografiaBatista, M. (2006). Educação alimentar em meio escolar – referencial para

uma oferta alimentar saudável. Lisboa: Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. 1ª Edição.

Gonçalves, H. e Diamantino, C. Obesidade Infantil. Évora: Hospital do Espírito Santo. Consultado em 12 de Fevereiro de 2010, disponível em http://www.hevora.min-saude.pt/docs/pediatria/Obesidade%20Infantil.pdf.

IMC – Estudo com a população estudantil da Escola Secundária/3 de Barcelinhos, 2007/08 (elaborado pela Equipa do PES).

IMC – Estudo com a população estudantil da Escola Secundária/3 de Barcelinhos, 2009/10 (elaborado pela Equipa do PESES).

Projecto de Educação para a Saúde e Educação Sexual (2009/10), da Escola Secundária/3 de Barcelinhos.

Equipa do PESES - Projecto de Educação para a Saúde e Educação Sexual:Joaquim Vinhas, Tânia Moinhos e Marta Fernandes

Com a colaboração dos Docentes de Educação Física:José Cruz, Edgar Silva, Fernando Sousa, Domingos Silva, Ricardo Cibrão, Liberto Reis,

José Vilaça, Artur Loureiro, Tânia Moinhos, Hélder Pereira

LUGAR DO CRUZEIRO

CREIXOMIL 4750-424 BARCELOS

TEL.: 253 862 654

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A RÁDIO NA NOSSA ESCOLA

– RÁDIO GRAFONOLA

A Rádio Grafonola é, no presente ano lectivo, dirigida pela turma do 12ºB e alguns elementos de outras turmas (11ºC e 12ºC) da Escola Secundária de Barcelinhos. Trata-se de um projecto fundado no ano de 2008/2009, pela turma do 12ºF, no âmbito da disciplina de Área de Projecto, consistindo actualmente num projecto desenvolvido no âmbito da mesma disciplina e sob orientação da mesma docente, Aida Lemos.

A Rádio Grafonola retomou as suas emissões, a cargo da turma do 12ºB, no ano lectivo de 2009/2010, em meados do 1º Período. Tal como no ano anterior, cada dia da semana é dedicado a um tema específico com diferentes locutores. Deste modo, a emissão de segunda-feira é dedicada aos anos 80 durante a manhã e ao desporto durante a tarde. De realçar que esta emissão é conduzida pelas turmas 12º C e 11º C, respectivamente. As terças-feiras são alusivas à literatura; o tema das quartas-feiras é a música; às quintas-feiras aborda-se o tema cinema e, por fim, o programa das sextas-feiras é dedicado à agenda cultural.

As instalações da Rádio Grafonola localizam-se no bloco 2 (entre as salas 10 e 11) e encontram-se abertas a visitas, desde que efectuado aviso prévio.

O principal objectivo deste projecto é, sem dúvida alguma, tornar os inter-valos da Escola Secundária de Barcelinhos menos monótonos, mas, para além da vertente lúdica, pretende alertar/informar a comunidade escolar para o desen-volvimento cultural que se faz semana após semana, em diversas áreas, tais como no cinema, na música, na literatura, etc.

A Rádio tem-se revelado uma ferramenta importante na realização de inúmeras actividades de várias turmas, que em muito têm contribuído para o engrande-cimento pessoal e cultural de todos os elementos da nossa comunidade escolar, como o Dia das Línguas Estrangeiras, com declamações na rádio de poemas e músicas alusivas, o Dia de S.Valentim.

Ainda que consideremos que, de uma forma geral, temos desenvolvido um bom trabalho, a Rádio Grafonola pretende a colaboração de todos, para que assim possamos melhorar a intervenção da rádio. Porque, acima de tudo, é fundamental salientar que “A Rádio Grafonola é a rádio da tua escola!”; como tal, cabe a todos dar contributos para que este projecto possa servir mais e melhor toda a comunidade escolar.

Como também é preciso avaliar os projectos, será feito um questionário, dirigido a todos os membros da comunidade escolar (professores, alunos e funcionários), cujos re-sultados serão revelados posteriormente no nosso blogue http://radiografonola.blogspot.com

Natália Soares (12.º B)

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A BIBLIOTECA NA NOSSA ESCOLA

Afirmava E. T. Silva (1983:33) que, numa sociedade como a contemporânea, em que se “assiste à reprodução eterna das crises e à naturalização da tragédia e da barbárie, a presença de leitores críticos é uma necessidade imediata de modo que os processos de leitura possam estar directamente vinculados a um projecto de transformação social”.

Nessa transformação, impossível por utópica, dirão muitos, mas necessária e urgente, dizemos nós e tantos outros, a escola tem um papel fundamental e não pode, pese embora todas as tempestades que por ela têm passado, demitir-se de tal tarefa. Assim, como professores e educadores, e como cidadãos, cabe-nos igualmente assumir um papel activo para a sua consecução. Dentro e fora do contexto de aula, somos também responsáveis por promover a leitura e formar leitores críticos que possam ser cidadãos interventivos no desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa.

A equipa da Biblioteca (BE), consciente desta importância, tem procurado contribuir para essa promoção por meio da organização de actividades fomenta-doras da leitura e da escrita, em particular, bem assim como do desenvolvimento cultural, em geral, dos nossos alunos.

José Luís Peixoto Filipa Leal

Assim, e nos últimos anos lectivos, foram diversas as acções nesse sentido, algumas em parceria com a Biblioteca Municipal e com o Clube da Língua

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Portuguesa, e que passaram pela organização de encontros com escritores como José Luís Peixoto, Jacinto Lucas Pires, Ana Salomé, Paula Tito, Filipa Leal, José Pedro Lima-Reis, Fernando Queirós, Alberto Serra, Matilde Luís, Flávio Silva, e também com jovens escritoras como Ana Andrade, Daniela Cardoso, Ana Mar-garida Cardoso e Maria Esteves, a participação no Concurso Nacional de Leitura, a organização da Semana da Leitura e do Sarau Cultural, a realização da Feira do Livro, do “Chá de Livros” e do “Conto das Quintas”; além disso, a BE tem acolhido vários eventos, promovidos por professores e alunos, nomeadamente conferências, palestras, apresentação de trabalhos, sendo também lugar para ex-posições de índole cultural e de trabalhos dos alunos, promovendo oficinas de escrita e concursos de língua e literários. De tudo isto se vai dando notícia no blogue da BE, www.bibliobarcelinhos.blogspot.com.

Embora não devamos ser juízes em causa própria, não podemos, enquanto elementos da equipa da BE, deixar de manifestar a nossa satisfação pelo traba-lho que tem sido realizado, esperando que o apoio que temos tido da direcção executiva se mantenha e a comunidade escolar continue a participar, se possível mais ainda, nas actividades levadas a cabo, sobretudo os alunos, já que o nosso trabalho é para eles, feito na convicção de que é imperativo, como já o dissemos, a escola formar e educar leitores e cidadãos críticos e interventivos.

Doutora Aida Sampaio Lemos (Equipa da Biblioteca)

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CLUBE DA LÍNGUA PORTUGUESA DÁ A CONHECER AQUILO QUE AS PALAVRAS TÊM PARA DIZER

O Clube da Língua Portuguesa (CLP) continua a dar espaço “àquilo que as palavras têm para dizer” em O Som das Palavras, um programa quinzenal do CLP, na Rádio Barcelos (91.9), das 18:00 às 19:00.

Criatividade, iniciativa e inovação são três palavras de ordem que norteiam O Som das Palavras. Com o objectivo de difundir e defender a língua de Camões e a cultura em geral, há uma hora em que os alunos de Barcelinhos têm a opor-tunidade de experimentar o trabalho de rádio. Com a ajuda da Professora Aida Lemos, discorrem sobre a língua, subordinando-se aos mais variados temas. Este é também o mote para que se passe boa música, quer nacional, quer estrangeira, que cativa os ouvintes. Com a promessa de chegar mais longe, estes são ainda jovens ‘prodígios’ com muito para dar, alguns já com a experiência trazida da rádio Grafonola, a rádio-escola. O talento de alguns, o nervosismo de outros, a coragem e a iniciativa de todos, bem como o esforço são de louvar. E não se trata só de um esforço, é já um produto difundido por todo o concelho.

Colocando o ouvinte em primeiro lugar, O Som das Palavras tem também uma componente interactiva, o blogue http://somdaspalavras.pt.vu, por meio do qual os ouvintes pode participar no programa, dando a sua opinião, sugerindo um tema, ou mesmo ouvir os programas. Para além disto, é possível ver o que se passa em estúdio pela webcam ligada durante todo o programa ou ainda tornarem-se fãs do programa, na página do Facebook. Estas e mais novidades, todas as semanas, na Rádio Barcelos, uma forma de provar que a Escola não se restringe ao espaço físico que a acolhe e que os alunos podem pôr em prática o que lá aprendem.

(Ana Isabel Lopes e Bruno Fernandes, ex-alunos da Escola e membros do Clube da Língua Portuguesa)

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FORMAÇÃO NACIONAL DE ALUNOS JUÍZES ÁRBITROS30 E 31 DE JANEIRO DE 2010 EM ÉVORA

A Formação de Alunos Juízes Árbitros constitui-se como uma das áreas de intervenção prioritária do Desporto Escolar, já que, para além de proporcionar a aprendizagem dos regulamentos de cada modalidade em ambiente escolar, privilegia o desenvolvimento pessoal e social dos alunos facultando-lhes mecanismos de avalia-ção e de julgamento do trabalho dos seus colegas, estimulando valores e capacidades, promovendo a disciplina e a imparcialidade, a verdade, a honestidade e o fair play entre as equipas.

Évora recebeu no fim-de-semana de 30 e 31 de Janeiro, uma acção de formação para alunos Juízes-Árbitros que contou com a participação de 275 alunos, oriundos das cinco Direcções Regionais de Educação, sendo o culminar das duas outras fases de formação: a primeira de nível I, ao nível da escola e avaliada pelo professor, a segunda de nível II promovida pelas Equipas de Apoio às Escolas, em articulação com cada uma das cinco regiões educativas. Nesta formação nacional de nível III, esteve presente o aluno do 11º ano do Curso Tecnológico de Desporto Tiago Alves, da Escola Secundária de Barcelinhos, em representação da E.A.E. de Braga, na modalidade de Basquetebol.

As actividades envolveram 11 modalidades (Andebol, Atletismo Badming-ton, Basquetebol, Desporto Gímnicos, Futsal, Natação Ténis, Ténis de Mesa, Voleibol e este ano, pela primeira vez, Boccia, uma modalidade para alunos com necessidades educativas especiais), decorreram em várias escolas: Escola Secundária Gabriel Pereira, Escola Básica Conde de Vilalva, Escola Secundária Severim de Faria, Escola Básica André de Resende, Escola Secundária André de Gouveia e Externato Oratório S. José, e ainda nas Piscinas Municipais e Clube de Ténis de Évora.

Esta formação nacional esteve integrada nas comemorações do Centenário da República. O programa contou ainda com um colóquio, que se realizou sábado (30) pelas 21h, em que estiveram presentes Avelino Azevedo, árbitro internacional de Voleibol, António Pitta, árbitro internacional de Boccia e professor de Educação Física e um atleta indicado pela Comissão de Atletas Olímpicos. Nesta palestra, animada pela presença dos jovens aspirantes à ar-bitragem, foram debatidas as questões inerentes ao objectivo deste encontro nacional.

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A organização deste evento esteve a cargo da Direcção Regional de Educação do Alentejo e da Equipa de Apoio às Escolas do Alentejo Central, por delegação da Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, contando com a cooperação do Governo Civil e Câmara Municipal de Évora, PT, PT Funda-ção, Liberty Seguros, Federação de Andebol de Portugal, Federação Portuguesa de Atletismo, Federação Portuguesa de Badmington, Federação Portuguesa de Basquetebol, Federação Portuguesa de Ténis, Federação Portuguesa de Voleibol, Federação de Ginástica de Portugal, Federação Portuguesa de Trampolins e Des-portos Acrobáticos e Federação Portuguesa de Futebol, entre outras entidades.

Ricardo Cibrão Professor de Educação Física na ES/3 de Barcelinhos

BLOCO DESPORTIVO - XADREZ

Realizou-se no dia 9 de Janeiro/2010 o 1º Encontro de Xadrez, na EB2,3 Rosa Ramalho, com participação de alunos da nossa escola. A classi-ficação final colectiva foi o 3º lugar, enquanto, a nível individual, os juvenis obtiveram as seguintes classificações: Miguel Bruno Rego Freitas (11ºA), 2º lugar; André Samuel Costa Moreira (11ºD), 8º lugar; Maurício João Gomes Peixoto (11ºA), 9º lugar; José Domingos Figueiredo Figueiras (11ºA), 10º lugar e Bruno André Gonçalves Araújo Silva (11ºD) o 12º lugar. O representante dos juniores, Mário Jorge Silva Miranda (11ºD), ficou em 2º lugar.

Também no dia 23 de Janeiro/2010, realizou-se o 2º Encontro de Xa-

drez, na Escola Secundária de Amares. A classificação colectiva foi o 2º lugar, enquanto a nível individual, o representante dos iniciados, Luís Fernando Alves Pereira (9ºD), ficou em 3º lugar, e dos juniores, Mário Jorge Silva Miranda (11ºD), em 3º lugar; os juvenis obtiveram as seguintes classificações: Miguel

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Bruno Rego Freitas (11ºA), 1º lugar; Maurício João Gomes Peixoto (11ºA), 4º lugar; José Domingos Figueiredo Figueiras (11ºA), 5º lugar; Bruno André Gonçalves Araújo Silva (11ºD) o 9º lugar e André Samuel Costa Moreira (11ºD), 10º lugar.

Ainda no domínio desta modalidade, realizou-se no dia 13 de Março/2010 o 3º Encontro de Xadrez, na Escola EB2,3 Manhente. A classificação colectiva foi o 3º lugar, enquanto as classificações individuais foram as seguintes: Miguel Bruno Rego Freitas (11ºA), 1º lugar; Maurício João Gomes Peixoto (11ºA), 6º lugar; André Samuel Costa Moreira (11ºD), 10º lugar; José Domingos Figuei-redo Figueiras (11ºA), 12º lugar e Bruno André Gonçalves Araújo Silva (11ºD) o 11º lugar. O representante dos Juniores, Mário Jorge Silva Miranda (11ºD), ficou em 2º lugar.

De registar que foram apurados para o Campeonato Distrital, em Fama-licão, no dia 24 de Abril/2010, os seguintes alunos: Juvenis: Miguel Bruno Rego Freitas (11A) e Maurício João Gomes Peixoto (11A). Juniores: Mário Jorge Silva Miranda (11D).

César Gomes (8.º C)

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CORTA-MATO DISTRITAL

Teve lugar no passado dia 24 de Fevereiro/2010, o «Corta-Mato Distrital» que decorreu em Guimarães. Num dia de chuva e frio intensos, onde o acto de correr tornou-se uma aventura, destacam-se os nossos bravos atletas que resistiram às ad-versidades meteorológicas e entregaram-se até ao fim, provando que são dotados de grande espírito de sacrifício, garra e atitude. É desta massa que queremos que a nossa juventude seja formada. A classificação era o menos importante. Todavia, o 2º lugar obtido por Hélder Costa (9ºC) apurou-o para o Campeonato Nacional de Corta-Mato. As melhores classificações foram as seguintes: infantis: 40º lugar, de Bruno Monteiro (7ºB) e de Cáudia Fernandes (7ºB); iniciados: 2º lugar, de Hélder Costa (9ºC) e 14º lugar de Carla Ferreira (9ºA); juvenis, 70º lugar, de Jorge Esteves (10ºB) e 24º lugar, de Patrícia Aspra (10ºC); juniores: 11º lugar, de Ana Regina Ribeiro (11ºE).

No Campeonato Nacional que decorreu em Vagos, no passado dia 13 de Março/2010, Hélder Costa (9ºC) obteve um honroso 5º lugar.

CORRIDA PELO CORAÇÃO/2009

Teve lugar no passado dia 18 de Dezembro, a coincidir com o final do primeiro período lectivo, a «Corrida pelo Coração» da Escola Secundária de Barcelinhos, numa organização conjunta do Curso Tecnológico de Desporto, Subdepartamento de Educação Física e Clube do Desporto Escolar. Este evento, aberto a toda a comunidade escolar, contou com a participação de 159 alunos (85 raparigas e 74 rapazes) e 2 professores. O trajecto compreendeu a passagem pelas principais artérias de Barcelinhos, com partida e chegada na ESB. Contou

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com a colaboração da Direcção Executiva, da CMB, da GNR, dos Bombeiros de Barcelinhos e de algumas empresas de Barcelos.

Nos classificações finais, destacam-se, nos infantis femininos: Cláudia Fernandes (7ºB), 1º lugar, e em masculinos o 1º lugar foi obtido por Bruno Monteiro (7ºB). Nos iniciados femininos, o 1º lugar foi para Catarina Ferreira (10ºA), enquanto nos masculinos foi para Hélder Costa (9ºC). Em juvenis femininos, o 1º lugar foi obtido por Catarina Ferreira (10ºA), enquanto nos masculinos o 1º lugar foi para Jorge Esteves (10ºB). Finalmente, em juniores femininos o 1º lugar foi para Ana Catarina Melo (12ºF) e nos masculinos para Sandro Ferreira (10ºJ).

Professor Domingos J. Lopes da SilvaCoordenador do Desporto Escolar na ES/3 de Barcelinhos

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Reflexões dos Novos Tempos

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UMA CARTA SOBRE A TOLERÂNCIA(para alunos do Secundário)

Caros Alunos:

Hoje vou falar-vos de um assunto que considero muito pertinente num mundo cada vez mais globalizado: o problema da tolerância.

Peço a vossa atenção para a notícia que li há dias no jornal PÚBLICO – on line e que, de certo modo, me inspirou nesta mensagem. Passo a transcrever:

Num discurso no Palácio de VersalhesSarkozy diz que o uso da burqa “não é bem-vindo” em França

22.06.2009 - 18h35 PÚBLICO

O Presidente francês Nicolas Sarkozy defendeu esta tarde que o uso da burqa por mulheres muçulmanas “não é bem-vindo” em França e apoiou a criação de uma comissão parlamentar para preparar uma nova lei que proíba o uso de véus islâmi-cos que cobrem todo o rosto, como a burqa e o niqab. Num discurso no Palácio de Versalhes, o primeiro de um chefe de Estado francês desde 1848, Sarkozy considerou que a burqa “não é um símbolo religioso, é um símbolo de subserviência”.

O que dizer e, sobretudo, o que pensar desta atitude do Presidente Francês? Dirão vocês que estas questões são ninharias que não têm importância. Digo-vos que têm, e muita. Como dizia Savater, filósofo espanhol do século XX: “Pode-se viver sem saber astrofísica, marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler ou escrever: vive-se pior, mas vive-se. (…) Podemos viver de muitas maneiras, mas há maneiras que não deixam viver.”

A questão colocada é a da tolerância, ou se quiserem a da intolerância. Se não as estudarmos, se sobre elas não reflectirmos, podemos não conseguir viver. Eu quero que vocês vivam. Muito e em paz.

Vejamos o que significa a palavra Tolerância. No dicionário Robert, a palavra tolerância apresenta dois sentidos: no sentido n.1, “facto de tolerar alguma coisa, de não interditar ou exigir quando se poderia fazê-lo, liberdade que resulta dessa abstenção.” No sentido n.2, “atitude que consiste em admitir no outro maneira de pensar ou de agir diferente da que pessoalmente se adopta”. Nestes dois sentidos, passamos, segundo Paul Ricoeur, da instituição ao indivíduo; da abstenção à admissão.

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Terá sido Sarkozy um homem tolerante? Para Acílio Estanqueiro Rocha, filó-sofo português do Século XX, em Relativismo Cultural, versus Universalismo Ético: “compreender o outro como sujeito a partir da sua figura no mundo, não implica compartilhá-lo nem tão pouco deixar de o julgar a partir da nossa própria cultura: mais ainda, não podemos prescindir de julgar o outro segundo os nossos próprios valores e razões, a menos que nos convertamos à cultura do outro e abandonemos a nossa. Por isso compreender uma cultura alheia não é incompatível com o facto de julgarmos superiores as crenças e atitudes que correspondem à nossa figura no mundo.”

Terá Sarkozy tentado compreender uma cultura alheia? Na obra supracitada, acrescenta o referido filósofo: “Ambas as obrigações – a de respeitar o outro como sujeito da sua própria cultura e procurar que compartilhem os valores da nossa – só podem justificar-se no âmbito da nossa cultura.”

Mas será que o povo islâmico quer compartilhar os valores da nossa cultura?Reflictamos ainda nas palavras do mesmo autor: “uma cultura não é

uma maneira uniforme de vida, estabelecida de uma vez para sempre, mas está transida de conflitos permanentes, entre o que é aceite pela maioria e as razões e valores que uma minoria crítica propõe, sem abandonar por isso as crenças dessa cultura. (…) Toda a cultura apresenta uma tensão constante entre os ideais pro-jectados não realizados e os valores reiterados dia após dia. (…) A identidade de um povo não é algo dado, mas a imagem que um povo forma de si mesmo; este transforma-se segundo circunstâncias históricas; do mesmo modo, não é a mesma em todos os sectores da sociedade, e imagens distintas de si podem coexistir numa mesma cultura. A identidade não é um conjunto de características peculiares por descobrir, mas uma representação ideal para projectar, não é algo consumado, transmitido, pela tradição, mas um projecto, renovado em cada momento, pelo qual se interpreta o passado para lhe conferir um sentido em função de fins esco-lhidos. Na verdade, a tradição não só transmite valores actualmente aceites, mas também valorações originárias perdidas ou esquecidas; compreende não só o legado de ideias e comportamentos, mas também critérios para pôr em questão esse legado e transformá-lo seguindo possibilidades abertas por novas escolhas”.

Estará o Estado Nacional obrigado à homogeneização numa sociedade de-mocrática? Se assim for, Sarkozy procedeu bem ao proibir, em nome da homo-geneização da sociedade democrática, o uso da burqa. Neste momento, imagino que estarão a pensar que eu defendo a burqa e o niqab…

Não! Nasci e cresci na civilização Ocidental, por isso essa hipótese é impro-vável, embora não esconda a minha simpatia pela tolerância de usos e costumes diferentes dos meus. Penso mesmo que, em muitos casos, só beneficiamos em conhecer e até acrescentar esses valores, crenças ou tradições à nossa forma de ser. Com restrições, bem entendido, como adiante direi.

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Poderão colocar também a hipótese de que devemos ser indiferentes a tudo isso, porque o que importa é que vivamos em paz.

Também não! Se há atitude que não devemos suportar é a indiferença (atitude segundo a qual tudo se equivale e não vale a pena comprometer-se com nada).

Vejo-vos impacientes. Lembram-se de vos ter dito que viver dá trabalho? Então adivinhem o que se segue. Devemos conhecer e pensar antes de agir. E argumentar, sempre.

Tomem em linha de conta as palavras do autor anteriormente citado: “Para que duas culturas comuniquem, por outra via que não seja a violência, é mister que se compartilhe uma base mínima comum. Dado tratar-se de sujeitos de diferentes cul-turas, essa base só pode ser transcultural, e tem que estar presente nas distintas figuras do mundo que se contrapõem, tendo como pressuposto a satisfação dos bens básicos.”

O vestuário é um bem básico, logo a sua satisfação é necessária. Se não formos tolerantes com outras formas de estar (andar de burqa é outra forma de estar) podemos mesmo criar situações de revolta, de violência porque bem se vê que o povo que a usa vê-se ultrajado e atingido num valor que o distingue. O que propor então?

Podíamos concordar com o comunitarista Taylor quando afirma: “uma so-ciedade com objectivos colectivos fortes pode ser liberal, desde que ela seja capaz de respeitar a diversidade, em especial, quando considera aqueles que não partilham dos objectivos comuns, e desde que possa proporcionar garantias adequadas para os direitos fundamentais. Concretizar todos estes objectivos irá provocar, sem dúvida, tensões e dificuldades, mas não é nada impossível, e os problemas não são em princípio, maiores do que aqueles que qualquer sociedade liberal encontra quando tem de combinar, por exemplo, liberdade com igualdade ou prosperidade com justiça.”

O comunitarista Taylor reconhece, no entanto, que o que está em jogo é um valor muito mais importante: a defesa dos direitos individuais é algo que não pode ser atingido em nome do direito dos povos. Em muitos casos, o povo islâmico adopta, por tradição e convicção, comportamentos difíceis de aceitar.

Leiam, por ora, a definição de pluralismo cultural, do mesmo autor: “esta é a constatação neutral e descritiva de que há uma multiplicidade de sistemas culturais e de civilizações, cada qual com as suas peculiaridades que enriquecem o conjunto da Humanidade. O pluralismo reconhece como positiva esta constelação de nações e de culturas, que podem coexistir de maneira pacífica porque aceitam algumas normas universalmente válidas – os direitos humanos. Este tipo de pluralismo é tão mais necessário quanto vivemos uma “era de globalização estrutural e fragmentação cultu-ral”. Então se um dos lados da globalização é a crescente homogeneização de usos e costumes, o outro lado é sem dúvida por um imenso e variado mosaico de culturas e civilizações e esta é a mais forte imagem com que o planeta cada vez mais surge;

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e mais: as colectividades reivindicam de um modo crescente a autonomia dos seus próprios modos de vida. Daí que, a partir das sílabas dos termos “global” e “local”, haja quem proponha uma nova palavra – glocal.”

Glocal! Muito interessante este termo. O meu computador assinala erro na palavra. Nem ele “pensa” glocalmente…

Outro filósofo do século XX, Paul Ricoeur, na sua obra Em torno do político, introduz um conceito interessante: o de consenso conflitual. Nessa obra, pode ler-se: “o consenso conflitual refere-se à tolerância activa, positiva, a virtude da tolerância”.

Para explicar este conceito, dá o exemplo das culturas cristã e leiga afirmando que ambas concordam sobre valores comuns que elas fundam diferentemente, mas que enunciam em termos próximos, em parte pelas raízes religiosas da cultura leiga, nascida em última instância da secularização do cristianismo. Consenso, portanto, mas consenso conflitual, na medida em que os dois rios da modernidade têm não só fontes diferentes, mas cursos diferentes.

Interessante é também, na minha opinião, o conceito de intolerável, abordado na mesma obra. Para Ricoeur, intolerável é: “o que não poderia ser incluído no pacto do consenso conflitual sobre o qual repousa o equilíbrio – não digo a identi-dade – do viver-em-comum”.

Segundo ele, há, para cada indivíduo, cada colectividade nacional, o into-lerável. E dá alguns exemplos: “o racismo, o anti-semitismo, o apartheid ou, num outro campo, a exploração sexual de crianças.”

Mais adiante, clarifica o critério do intolerável, dizendo: “Não pode haver senão um: é o que não merece respeito, se o respeito é a virtude da tolerância no plano cultural. [O intolerável] é o abjecto, o que rejeitamos porque devemos rejeitar, portanto o que não deve ser tolerado.” Julgo que aqui estamos todos de acordo.

Volto ao texto de Estanqueiro Rocha:“(…) A identidade de um povo não é algo dado, mas a imagem que um povo

se forma de si mesmo; este transforma-se segundo circunstâncias históricas; do mesmo modo, não é a mesma em todos os sectores da sociedade, e imagens distintas de si podem coexistir numa mesma cultura. A identidade não é um conjunto de carac-terísticas peculiares por descobrir, mas uma representação ideal para projectar, não é algo consumado, transmitido, pela tradição, mas um projecto, renovado em cada momento, pelo qual se interpreta o passado para lhe conferir um sentido em função de fins escolhidos.”

O que concluir? Nenhuma sociedade é detentora exclusiva da verdade. Mas se calhar isso significa apenas que algumas sociedades estão certas de umas coisas e outras de outras. Se assim for, poderemos tentar aprender com outros povos, procurando compreender em que domínios foram bem sucedidos, quais as soluções mais eficazes, o que estamos dispostos a aceitar e o que não podemos tolerar.

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Talvez possa ultrapassar-se o problema da intolerância – é assim que classifico a atitude de Sarkozy – se fizermos como a princesa Rânia da Jordânia que construiu um site na Internet onde todos os dias envia mensagens aos seus compatriotas com exemplos construtivos de mudança de mentalidades, sem contudo esquecer a identidade do seu povo, nomeadamente na forma atenta e cuidadosa com que se apresenta nas cerimónias internas do seu país e também nas internacionais.

Não podemos destruir as tradições, sem mais. Temos o dever de aceitá-las, compreendê-las através do conhecimento, da partilha de experiências e do diálogo, de forma a entrelaçarmos os valores de cada civilização.

Já agora, sabem por que razão as mulheres islâmicas usam a burqa? Aposto que Sarkozy não esteve preocupado em investigar… Pensem nisto!

Maria Helena Trigueiros ReisProfessora de Filosofia na ES/3 de Barcelinhos

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PROXIMIDADES VIRTUAIS

As novas tecnologias permitiram uma aproximação global entre as pessoas e, consequentemente, uma divulgação mais rápida das notícias decorrentes em todo o mundo, bastando, actualmente, um simples “clique” para obtermos toda a informação mundial, nos diversos meios de comunicação (televisão, Internet, etc.).

Efectivamente, o planeta está a transformar-se numa “aldeia global” no que se refere à divulgação da informação e à facilidade com que as pessoas podem comunicar, ainda que em dois pontos muito longínquos geograficamente, dado que todas as novas tecnologias permitem um maior contacto entre as pessoas, ainda que virtualmente.

As novas tecnologias são de extrema importância nos dias de hoje, até no que se refere a acções de solidariedade internacional. Contudo, perante toda esta realidade virtual, o Homem, ser social, é posto de parte e substituído por uma máquina. O contacto físico entre as pessoas torna-se cada vez menor e a preferência por uma máquina em vez de um amigo torna-se actualmente mais verosímil.

Uma das consequências da implementação dos meios de comunicação é, sem dúvida alguma, a maior solidão das pessoas e o menor contacto físico entre elas. Desta forma, é necessário que haja um equilíbrio na utilização das novas tecnologias, para que estas se tornem extremamente úteis na vida quotidiana. É importante sobretudo que a distância geográfica, que foi ultrapassada através da “proximidade virtual”, não se faça sentir novamente, mas agora entre indivíduos que morem a poucos metros de distância!

Natália Soares (12.º B)

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MULHER…

A MAIS BELA METADE DO MUNDO

Dia 25 de Novembro, dia internacional de combate contra a violência da Mulher. Medo…Dor…Violência…Morte. O Medo que seduz, a dor que se sente, a violência que destrói, a morte que liberta. No olhar de uma Mulher brilha a esperança, o aconchego, o afecto, mas não a imortalidade.

A violência instalou-se. Diariamente, centenas de mulheres são espancadas em todo o mundo. Vítimas da força, do poder, do ciúme, são vencidas pela fra-gilidade, e pelo sofrimento. Cicatrizes que fazem o corpo derramar lágrimas de sangue, crueldades verbais que corroem a alma.

Vulneráveis, não denunciam na primeira ameaça. Envolvidas por uma pura ingenuidade, acreditam sempre num novo amanhecer, num dia sem mágoa, sem dor. Pura ilusão! A cada dia que passa, o sol resguarda-se no horizonte, e os sonhos terminam em decepções. A dor regressa, mais violenta… destruidora. Escutam- -se silêncios de dor, gritos de mágoa. No amanhã nem paz nem justiça, somente súplicas, lágrimas perdidas, marcas no corpo, reflexos de dor que o tempo jamais apagará. Somente vidas destruídas…mulheres violentadas.

Que tipo de amor gera a violência? Quem ama não bate! Sofrimento, de-silusão, mágoa… A violência no íntimo e no corpo da mais bela metade do mundo. Até quando?

Clara Rodrigues Araújo (12.º A)

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CIRROSE ALCOÓLICA

Actualmente, estamos rodeados de diversas informações, poderia estar aqui a referir inúmeras, como a política, a economia, a educação, entre outras. Mas, neste momento, compete-me falar sobre a saúde mais especificamente sobre a cirrose alcoólica. Cirrose alcoólica, o que será? Será que metade dos nossos jovens sabe o que a cirrose pode provocar? Ou que pode provocar a morte?

Para ser sincera, eu devia fazer parte daquele grupo de jovens que não sabia o que era a cirrose alcoólica, mas, após uma pequena pesquisa, descobri que a cirrose alcoólica é uma patologia que afecta o nosso fígado e que só se desen-volverá numa fase mais avançada de uma doença hepática, como, por exemplo, a hepatite B.

Inicialmente não é possível realizar um diagnóstico pois não existem sintomas, já que a parte ainda saudável do fígado consegue compensar as funções da parte afectada durante muito tempo. Numa fase mais avançada, aparecem sintomas como a desnutrição, hematomas, aranhas vasculares, etc. A cirrose é diagnosticada em 15 a 35% dos consumidores crónicos e abusadores de bebidas alcoólicas. É causada pelo uso excessivo de bebidas alcoólicas, o uso de determinadas drogas e a exposição a determinadas substâncias químicas. O doente deve evitar o consumo de álcool e adoptar uma dieta nutritiva saudável, para que a evolução durante um período de anos seja progressivamente decrescente. Com a deterioração da função hepática e o surgimento de hipertensão, as sequelas são a Ascites (barriga de água), a Encefalopatia (alterações mentais), Rotura de varizes do esófago (vómitos com sangue), Cancro do fígado (carcinoma hepatocelular).

Em Portugal, nos últimos anos, a taxa de jovens com menos de 18 anos de idade a consumir álcool tem aumentado, consequentemente surge uma nova moda, conhecida por binge drinking, que consiste em consumir uma grande quantidade de álcool num curto espaço de tempo. Qual o objectivo? Alcançar mais rapidamente o estado de euforia!

Será que passa pela cabeça dos nossos jovens que daqui a alguns anos estarão a sofrer de inúmeras doenças hepáticas devido ao consumo excessivo de álcool?! Para mim, a maioria dos jovens que consome álcool só o faz para chamar a aten-ção das pessoas que os rodeiam, ou, simplesmente, porque querem mostrar aos amigos que são os maiores. A única terapia totalmente eficaz para doentes com cirrose (qualquer que ela seja a cirrose) é o transplante de fígado, mas também poderá haver melhorias se o indivíduo deixar de utilizar o agente agressor que originou a cirrose - o álcool ou o vírus da hepatite.

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Agora será o momento de os leitores colocarem algumas questões… Para não chegar aos extremos, como posso eu prever a cirrose ou qualquer outra doença he-pática? Só tenho duas repostas para dar: a primeira passa por não beber e a segunda por beber com moderação. Mitos ou realidades? Perguntas mais frequentes… Porque é que as mulheres são mais sensíveis ao álcool do que os homens? Neste caso, é uma realidade, porque as mulheres têm níveis menores de uma enzima conhecida como desidrogenáse láctica, enzima que é responsável pela “digestão” do álcool, diminuindo a quantidade de álcool que chegará à corrente sanguínea. Por isso é que as mulheres sentem o efeito do álcool com menor quantidade ingerida.

O café tira o efeito do álcool? Neste caso, não passa de um mito. Segundo um estudo realizado nos Estados Unidos, diz-se que tomar café não acaba com os efeitos de uma embriaguez, diferentemente do que afirmam as crenças populares. Cientistas responsáveis pela pesquisa afirmam que o café parece fazer tornar mais difícil para o alcoolizado perceber que está embriagado.

Assim, a cirrose alcoólica é um problema grave que afecta uma grande parte da população portuguesa, pode afectar qualquer pessoa, seja ela rica ou pobre, exemplo disso mesmo é o grande actor britânico Richard Burton, mais conhe-cido como 007 (James Bond), que morreu de cirrose hepática aos 59 anos de idade, vendo-se obrigado a beber uma garrafa inteira de vodka por dia. Espero que os leitores tenham ficado esclarecidos com este trabalho e tomem as suas precauções.

Elizabeth Peixoto (12.º E)

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FELICIDADE, ONDE ESTÁS TU?

Hoje em dia passamos numa rua e raramente vemos pessoas a sorrir, umas caminham com pressa, porque estão atrasadas para o trabalho, outras acalmam o passo para ver o vestuário da montra de uma loja, outras conversam formalmen-te com um colega de trabalho pois nem sequer têm tempo para construir uma amizade, há ainda aquelas que até passeiam calmamente com a família ou com um grupo de amigos, só que estão a pensar nos compromissos que têm e nem sequer podem aproveitar este escasso momento de descontracção.

No meio de tanto stress, aflição, antipatia e tristeza, as pessoas tentam en-contrar algo que mude as suas vidas, que lhes proporcione melhores momentos, só que não vêem nada que as anime e que as faça sentir felizes, pois certamente ainda não encontraram a felicidade.

A busca pela felicidade torna-se complicada pois todos podemos tê-la, mas ninguém pensa que a pode encontrar dentro de si, as pessoas procuram por todo o lado e não procuram onde deviam pois não imaginam sequer que a felicidade sempre esteve dentro delas, só que como sempre ambicionaram muitas coisas nunca se sentiram felizes com aquilo que já tinham.

As caras tristes e o cumprimento de horários e compromissos são uma consequência disto, ninguém se preocupa consigo mesmo, mas sim com o seu trabalho. É claro que, se queremos encontrar a felicidade, não nos podemos preo-cupar exclusivamente com ele, devemos sim saber dividir um dia e tentar arranjar tempo para descontrair, descansar e trabalhar. Só assim estamos a caminhar no encontro da felicidade.

Para sermos felizes temos também que valorizar outros sentimentos, só sere-mos felizes quando soubermos amar, aceitar os nossos erros, respeitar, construir amizades e, acima de tudo, devemos saber que, apesar de a vida ser complicada, há sempre tempo para termos momentos felizes.

Anabela Barros (10.º B)

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EU E A SOLIDÃO

O que vou começar por dizer é algo por que muita gente já passou, e que eu sou mais uma que está a passar pelo mesmo.

Viver na solidão é triste, não é aquela tristeza fraquinha como quando per-demos um namorado ou algo parecido, mas sim aquela tristeza que vem de lá, mesmo do fundo do coração, parecendo que ficamos com um enorme buraco e que nunca mais se fecha.

Na verdade, esse tal buraco demora algum tempo a fechar, pois a tristeza é tanta que demoramos muito para reencontrar a nossa alegria. A solidão infe-lizmente existe, quem vive na solidão custa-lhe viver, porque viver sem alegria é como se estivéssemos a viver num mundo fechado. E, quando a solidão existe, é sinal de que existem pessoas a sofrer e o que se torna mais triste, é não poder ajudar essas pessoas na solidão a reencontrar o seu mundo.

Eu sei que há pessoas que vivem assim por vontade própria, mas também sei que outras é porque têm problemas graves, porque perderam os amigos, etc. Mas é nesses momentos, quando se precisa mais daquelas pessoas a que nós chamamos amigos, pois os amigos servem para boas e más ocasiões.

Por fim, resta-me dizer que se puder evitar viver na solidão evite, pois se o buraco que tem no coração é grande, ainda irá ficar maior. Pense bem antes de entrar para o mundo da solidão.

Ana Rita Ferreira Peixoto (9.º B)

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REFLEXÕES4 de Fevereiro de 2009

Hoje estou pensativa. Acordei cedo e com a cabeça a abarrotar de ideias, de memórias e de reflexões. Não sei porquê, mas acho que nos faz bem reflectir sobre a nossa vida, o nosso futuro, o nosso passado, sobre tudo. Vivo exclusivamente no meu mundo, com as minhas ideias e opiniões. Hoje é como se eu fosse a Deusa do Mar, sou proprietária dos mais profundos e desconhecidos oceanos. Vasculho sobre tudo e descubro as mais diversas riquezas. Riquezas que enriquecem o meu mundo, que me enriquecem.

Estive a adiantar umas pesquisas e deparei-me com uma fotografia tirada do Holocausto. Meu Deus! Como é possível?! Estão ali crianças! O Homem pode ser verdadeiramente cruel… E penso… Penso que agora o mais importante é se os casais homossexuais têm direito a casar ou não… E no passado?! Que se discutia? Bom, penso que nem discussões havia, era apenas a morte. Aquela morte cruel e injusta que reinava nas ruas da Alemanha. Olho para a imagem novamente. É triste! Para além de serem mulheres e homens, são crianças e todas elas inocentes.

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E aqueles homens armados?! Como puderam? Não seria capaz de tamanha bru-talidade, eles são como eu, são humanos...

Agora que a noite já domina, registo isto. Acabo um dia meditativo em que a única coisa que posso dizer é que dói. Dói pensar, dói imaginar… E se vivesse naquela altura e naquele sítio, não aguentava, porque dói imaginar, dói pensar…

Alice Loureiro (10.º A)

AFINAL, O QUE É O AMOR?

Todos os dias, senão mesmo a todo o momento, ouvimos falar em amor. Co-meçamos, então, a pensar e tentar recordar se alguém na história da humanidade conseguiu definir esse sentimento de que todos falam, e chegamos à conclusão que, embora muitos se tenham atrevido a tal, ninguém o conseguiu. Ouvimos inúmeras vezes dizerem: «Sinto-me apaixonado», «Amo aquela pessoa» ou até «Acho que en-contrei o amor da minha vida», mas, na realidade, poucos são os que se atrevem a ir mais além e expressarem aquilo que verdadeiramente sentem. Os motivos para tal comportamento podem ser diversos: ou porque têm vergonha de enfrentar a situação, ou não têm a certeza daquilo que sentem, ou porque amam a pessoa errada ou até mesmo porque não se sentem preparados para assumirem tal compromisso.

Começando pelo primeiro motivo, considero que a vergonha não é um obstáculo para revelarmos ao outro aquilo que sentimos, no entanto, a timidez de certas pessoas é, muitas vezes, determinante nestas situações. Inicialmente escolhem, de entre as muitas maneiras possíveis, aquela que consideram a mais adequada para dizerem o que então sentem; o que é certo é que, na verdade, só existe uma forma de revelarmos os nossos sentimentos que é dialogando, isto é, pelo meio das palavras dizermos aquilo que nos vai na alma. Passando ao se-gundo motivo, são diversas as vezes que nos questionamos se o que sentimos é amizade, intimidade, familiaridade ou amor. Esta é, sem dúvida, uma das questões mais colocadas ao nosso consciente, que o leva a avaliar os nossos pensamentos mais profundos e reflectir sobre aquilo que éramos capazes de fazer pela outra pessoa: ajudá-la quando ela precisa de ajuda, ouvi-la e aconselhá-la quando se sente desorientada, partilhar com ela aquilo que pensamos, a nossa história de vida, as nossas experiências e vivências mais significativas ou até darmos a vida por essa pessoa, ou seja, a ligação que nos une a ela é tão forte que nos leva a preterir a nossa vida para que ela prossiga a dela. É escusado dizer que o ideal

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seria podermos passar a nossa vida ao lado dela, mas, quando tal não é possível, pomos a vida dela em primeiro lugar. Quanto ao terceiro motivo, questionamo-nos muitas vezes se amamos a pessoa certa. Mas afinal, será que podemos amar a pessoa errada? Acho que não, podemos é amar aquela pessoa que, aos olhos de uma sociedade egoísta, não é considerada como sendo a mais indicada para nós. Contudo, deparamo-nos, por vezes, com situações que nos levam a pensar que amamos a pessoa errada: sentimo-nos atraídos por uma pessoa comprometida, gostamos daquele que até há bem pouco tempo era o nosso maior inimigo ou até queremos conhecer aquela pessoa que sente absoluto desprezo por nós e que tenta, por tudo, evitar-nos. De facto, nenhuma destas situações é fácil, no entanto, se pensarmos bem, talvez não amemos realmente essas pessoas, talvez o que sintamos por elas sejam formas do nosso inconsciente se libertar: queremos muito alguém com-prometido porque sabemos que não é correcto e carecemos de uma aventura que é reprovada pela sociedade (o proibido é, quase sempre, o mais desejado), sentimo-nos atraídos por uma pessoa que não suportávamos porque nos dá prazer discutir com alguém capaz de nos contrariar sempre e criticar tudo aquilo que fazemos e gostamos de uma pessoa que nos dá desprezo porque queremos muito que ela nos veja de outra forma, queremos que olhe mais para as nossas qualidades e veja que, realmente, não somos aquela pessoa que ela pensava que éramos, queremos sentirmo-nos especiais. Por último, sentimos, muitas vezes, receio de exprimir aquilo que sentimos porque queremos, a todo o custo, evitar situações que nos comprometam e nos levem a assumir um compromisso. No entanto, considero que assumir o que sentimos, reve-lar o nosso oculto não é, de forma alguma, comprometermo-nos com alguém, mas connosco próprios. Com efeito, podemos, talvez, preferir manter a aliança que temos connosco em segredo, fazer dela um lugar exclusivamente nosso, um lugar a que poucas pessoas, ou mesmo nenhuma, tem acesso, um lugar estranho, sem dúvida. Talvez o motivo que nos leva a que muitas vezes omitamos aquilo que sentimos seja simplesmente o nosso egocentrismo. Assim, queremos amar uma pessoa sem que ela saiba, queremos estar próximos dela, sem que ela se aperceba, porque nos faz sentir bem, quando, no entanto, não queremos demonstrar mais que isso. Sentimos a indigência de manter sempre uma certa distância dela, não queremos jamais deixar que ela ultrapasse uma barreira que nós próprios estabelecemos: a barreira que assegura a nossa integridade, que resguarda aquilo que para nós é sagrado. Será medo? Talvez. Provavelmente será medo de revelarmos ao outro tudo aquilo que realmente somos, aquilo que distingue cada ser humano, aquilo que nos torna únicos e que, numa situação menos favorável, seria o responsável pelo nosso sofrimento.

Na verdade, acho que é impossível explicar os factores que nos levam a amar uma pessoa, sejam os nossos pais, irmãos, amigos ou até mais que isso. Considero

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que apenas podemos revelar as nossas emoções, nunca os nossos sentimentos. Aquilo que sentimos é o tesouro de cada um de nós, é uma sensação muito especial que ninguém, alguma vez, conseguirá exprimir. O que sentimos só pode ser vivido por nós, é algo a que mais ninguém tem acesso por muito que queiramos. Desta forma, apenas conseguimos transmitir aos outros as nossas emoções, os comportamentos, a nossa postura, a interpretação que fazemos deles: a forma como os olhamos, como admiramos o que dizem, como os respeitamos e o valorizamos por tudo aquilo que são. Assim, por mais que procuremos uma forma de dizermos ao outro o motivo pelo qual o amamos, todas as tentativas serão em vão, porque, como sabemos, o coração tem razões que a própria razão desconhece e, como tal, vamos continuar a restringirmo-nos à expressão a que nos fomos habituando a ouvir: Amo-te!

Cátia Ferreira (12.º A)

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FRAGRÂNCIAS DE LUZ

NOTA INTRODUTÓRIA

Ouso com este gesto partilhar alguns pensamentos que assolam o meu espírito.

APRENDER E BRINCAR

Há tempo para aprender e tempo para brincar.O conhecimento e a sabedoria fazem falta à formação da pessoa humana,mas a brincadeira e o sonho também são essenciais à construção afectiva

de cada um.Sem aqueles somos ignorantes

e sem estes nunca conseguiremos lidar com a frustração.Uns e outros completam o ser.

ARTE DE ENSINAR

Ensinar é a nobre artede acompanhar, instruir e educar aqueles que nos querem ouvir e estão dispostos a assimilar o que somos - os nossos valores e os nossos princípios - o que sabemos e o que podemos e, ao transmitir-lhes todos os conhecimentos, estamos a ajudá-los a ser mais capazes, dentro das limitações que naturalmente temos.

AUTOR

O verdadeiro autor é um articulador de expressões que dão corpo às ideias que cria.Tê-las é uma dádiva, um acto de inspiração.

Expressá-las é um trabalho exaustivo e inacabado que jamais larga o criador.

AVAREZA

É melhor ser do que ter.A boa formação não tem preço.A verdadeira riqueza não é de bens, mas de virtudes.

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CEGUEIRAPor vezes ensinar é tão difícil como explicar as cores as quem nunca as viu.Mas com persistência e um apelo à imaginação, far-se-á surgir um arco-íris

num horizonte de trevas.

CRESPÚSCULOO crepúsculo é o instanteem que, sorvendo tragos de maresia, duas almas se fundem num sopro de vida.Ali, no ocaso do dia, o mundo condensa-se num grito de esperança.Tudo é perfeito naquele universo de sentimentos.A luz ténue oferece-se e empresta a chama que compõe o restante cenário.

DOCUMENTOQualquer papel escrito é um documento.

Um documento deve ser um papel muito bem escrito.

ESPERANÇAA esperança é o alento que nos faz viver.Tê-la fortalece, revigora a vontade de vencer, perdê-la tudo deixa de ter sentido.A prosperidade de uma instituição ou sociedade depende da sapiência dos que tomam as rédeas do poder em manter bem vivo o sonho de cada um dos seus subordinados.

LIBERDADESaber é ser mais livre.

Ensinemos, pois, para que ninguém seja prisioneiro da sua ignorância e se veja privado do mais elementar quinhão de dignidade a que tem direito.

A sabedoria é a fonte que sacia a sede, o valor da liberdade.

LIVROSAs pessoas interessantes mexem connosco,as outras apenas falam do tempo.E os livros são como as pessoas: uns, provocam explosões de emoções, de sentimentos, mexem com o leitor; outros, nada acrescentam, retiram-nos, sim, tempo de vida.

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NATUREZAO futuro da Natureza

depende do que fizermos por ela e da passagem desse testemunho aos mais novos.

PARTILHAO Homem é um ser gregário que não pode viver isoladamente.A partilha é um dom que, infelizmente, não está ao alcance de todos.

PORTUGALÓ Portugal!

Tanta aventura, tanta glória,tanta loucura, tanta vitória,

se foram desvanecendo entretanto.Nem Lisboa, rainha com seu manto,

arrastado pelo trono do Tejo ainda luz.Ó quinhentistas, a vossa obra, a vossa Cruz

se apagaram pouco a pouco e jamaisos filhos de ti Portugal orgulharão seus pais.

Pois nós nos orgulhamos de tudo aquilo que fomos, mas eles, por certo, não se orgulhariam,

sabendo o que hoje somos.

PRAZER DA ESCRITAO gozo de quem escreveé esperar que alguém leia com igual prazeraquilo que escreveu.

REPRODUÇÃOA reprodução foi a forma encontrada pela Natureza

para eternizar a vida na Terra.

RIQUEZA VS MISÉRIAA verdadeira riqueza é a do conhecimento e da sabedoria.A partir desta facilmente se conseguem todas as outras.Não perceber isto significa viver na mais profunda miséria.

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TERRATerra da minha terra

tudo me dás, tudo me levas.Tanto me ofereces o pão, o sustento, como retiras pedaços de mim.

Quando eu for, já quase nada restará da minha essência.

TRABALHOPercebemos, desde tenra idade, que precisamos de trabalhar para garantir o nosso sustento.Além disso, o trabalho dignifica, dá estatuto.Poder servir os outros, é nobre.Mas qualquer trabalhador é um recluso fora do cárcere.Deixa de ser dono da sua vontade.A força do dever acaba por limitar os impulsos.

VOCAÇÃOA verdadeira vocação é o gozo que temos em tudo o que fazemos ….

A orientação vocacional acaba por ser o farol, a ajuda preciosa a descobrir o caminho certo para a realização pessoal e profissional e, desse modo, conseguir

o escasso privilégio de viver num estado de felicidade plena …

Jaime DantasProfessor de Biologia/Geologia da ES/3 de Barcelinhos

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Saberes e Experiências

Pe

dro

Bo

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(9

.º C

)

Cursos Profissionais e Efa

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ALGUNS PENSAMENTOS EM REDOR DO PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA

E O REI D. JOÃO V

O verde predominava no caminho, mas depois de horas de verde e mais verde só verde, deparei-me com algo grandioso, imponente, magnânimo de tal forma que os turistas daquela imponente obra exclamaram “oh é lindo, fantástico, uau!”.

À medida que me aproximava, maior era o meu espanto, perante aquele monte de pedra, tão belo. Não sei porquê, mas tive a sensação de que já tinha estado lá, talvez pela televisão ou pela internet. Quem sabe se não foi numa vida passada! Seja lá quando foi… aquele monte de pedra tão belo tinha a capacidade de me fazer sonhar.

Ao entrar na basílica, pensei que estava já no céu e tudo. Foi naquele mo-numento mágico e sem fazer esforço algum que me pude imaginar no passado, como se a voz da guia fosse a voz da minha consciência que me diz tantas vezes para eu não fazer, e que desta vez me dizia: «– Vai até ao órgão e toca!» E foi mesmo onde eu fui, fui tocar um pouquinho de órgão. O problema é que estava tão entretida a tocar que não reparei que este estava a fazer um barulho que se ouvia a quilómetros e todos os frades vieram a correr saber quem ousara tocar. Mas como não viram ninguém, voltaram para dentro e eu escondida a rir-me, à socapa deles até que me caiu uma pinga. Olho para cima e não é que já se estava a formar uma estalactite. Senti saudades do meu aquecimento central. Dando mais umas voltas, mas sempre com muito cuidado porque a probabilidade de os frades me verem era grande, afinal 300 é uma quantidade considerável e se me vissem tão bem cheirosa de calças de ganga e camisola ainda podiam pensar que eu era extraterrestre. Quem sabe se me apanhassem não era condenada no auto-de-fé, como a mãe da Blimunda e isso é que não. Primeiro, porque queria voltar para Barcelos e, depois, porque não queria contribuir para o cheiro a carne assada.

Mas tudo me parecia fantástico até os pestilentos piolhos eram engraçados e as cabeleiras. Posso afirmar que as das lojas chinesas são bem mais apresentáveis. Aquelas eram demasiado semelhantes. Não sei, talvez com ninhos de ratos. Cá fora o povo andava muito apressado, mas não era para apanhar o comboio, de certeza. Estava eu de novo atrás de uma viga até que vejo uns senhores a co-mentarem que aquela pedra, pedra essa que estava mesmo por cima da minha cabeça, tinha morto o Francisco Marques e eu pensei: «– Pois é bonito, é bonito

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mas e o resto?! Será que vale a pena?» como o poema do «Mar Português», em que também houve muito sofrimento.

Voltei para dentro e fui ao famosíssimo corredor, que em Portugal devia ser tão famoso como o corredor da fama em Hollywood, mas já estava eu a subir a escadaria e pensei para mim: «também não tenho muitas hipóteses de os ver, se só eram 2 vezes por semana (as relações)», mas não é que tive mesmo sorte?! Lá ia o rei a desfilar com o salto vermelho pelo corredor. Devo confessar que o homem podia ser rei, mas tinha um aspecto e um cheiro a perfume que de aspecto parecia o Mário Soares, e o cheiro, bem esse mais se assemelhava a re-pelente de insectos. Depois de todo aquele panorama eu nem quis ver a rainha. Fui dar mais uma das minhas voltinhas e devo admitir que nunca tinha visto algo tão extraordinário. A biblioteca, aquela que para além de livros também tem morcegos, mas mesmo assim não deixa de ser fantástica. Bem, não me podia per-der a ler porque ainda tinha que voltar a Barcelos. Mais à frente queria lavar as minhas mãos por causa da poeira de alguns livros. E não é que fico a cheirar ao mesmo repelente de insectos que o rei?! Que desastre! Vou a saltitar pelo corredor e passo pelo quarto da rainha onde está ela deitada como se estivesse em estado de choque e eu disse para os meus botões: «– Está a pensar no cunhado». Estas rainhas já eram umas perversas. Mas compreende-se, afinal o seu cunhado era, digamos, mais engraçado fisicamente do que o rei.

Desci a escadaria a correr, pois tinha de ver o amor verdadeiro entre Blimunda e Baltasar. Adorei Mafra e adorei os fradinhos da pastelaria!

Melissa Santos – Curso Profissional de Turismo Ambiental e Rural (12.º I)

SE O ONTEM FOSSE HOJE(A PREPÓSITO DO PALÁCIO NACIONAL

DE MAFRA E D. JOÃO V)

O trajecto de volta foi penoso, demorado e cansativo e mal tive a hipótese de pensar no que tinha visto e ouvido. Quando finalmente me encontrava deitada e enrolada nos meus quentes e aconchegados lençóis, dei por mim a reflectir sobre a visita ao memorável Palácio Nacional de Mafra. O quanto foi difícil, mortífero até, construir aquele edifício, os risos, os choros, os segredos escondidos, as traições, as festas vividas naquele local. E pensei “E se o palácio fosse construído hoje? Como era?”. Imaginei aquele presunçoso, barrigudo, que hoje até é normal ser-se

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cheiinho, careca e piolhoso D. João V a viver os nossos tempos, a exibir-se de um lado para o outro no palácio com os seus anéis que de tanto brilho tinham, cegavam o pobre coitado que olhasse para a mão dele, a planear a próxima festa real, sem motivo algum. Bem que para el-rei D. João V, qualquer coisa é motivo de festa, ele podia, ele tinha dinheiro, ou melhor, ouro, todo o ouro proveniente do Brasil, e desta vez, o motivo era nem mais nem menos que um lifting à cara do querido e excelentíssimo rei D. João V e queria mostrar a sua nova face a toda a corte real. Atravessou os dois metros que o separavam da cama da rainha, sim porque agora, é tudo muito moderno, e como quem não quer a coisa, deu um beijo à sua querida amada, ou nem tanto amada, e rapidamente estavam nus para cumprir o dever conjugal e real, procriar um herdeiro ao trono.

É o dia da festa, reunidos os 200 convidados, todos se divertem, todos comem, em pé e sem muita comida, agora é como se fôssemos todos franceses, uns canapés para entrada, tão pequeninos, tão minúsculos, uma salsazinha, uma batatinha e uma rodelinha de carne ou uma postinha de salmão, coisas que nem dão para encher a cova de um dente. Ouve-se uma voz do fundo, era a rainha, a dizer que finalmente estava grávida, já tinha feito o teste de gravidez e deu positivo, e como forma de celebrar queria mandar construir um hospital psiquiátrico para 3000 doentes em Mafra. O rei rapidamente aceitou a proposta e mandou o assessor telefonar para a Direcção Geral de Saúde, Ministérios e coisinhas burocráticas para informar que se iria erguer um hospital psiquiátrico em Mafra.

No dia seguinte, apareceu na capa da revista “Luxe” a notícia “João V engra-vida Mafra”, e no seu interior explicava que D. Maria Ana Josefa estava grávida e que a mando de D. João V um hospital psiquiátrico se iria edificar em Mafra. E assim foi. Passada uma semana, já se via o campo com camiões e meia dúzia de trabalhadores a começar as obras. A pedra da varanda que vinha de Pêro Pinheiro apenas demorou meia hora a chegar a Mafra, em apenas dois meses os alicerces estavam erguidos, e passando um ano e meio o hospital, a capelinha e uma modesta casinha, ou nem tão pouco assim modesta, um verdadeiro palácio, para El-rei e sua madame, estavam prontos a serem utilizados.

D. Maria Ana Josefa e seu marido, D. João V, foram morar para o palacete, os 3000 quartos para os doentes rapidamente se encheram. João, feliz do seu feito, e com o seu herdeiro nos braços, não se podia sentir mais realizado, ou podia, com mais uma operação aqui e ali, talvez um implante capilar, já que era careca, mas sim, estava feliz.

Olhou contente para o seu filho, sorria e demonstrava afecto, mas rapida-mente o seu sorriso desvaneceu, e tornou-se de raiva, reparou que seu filho não era parecido com ele mas sim com o seu irmão, deslocou-se ao quarto onde a rainha descansava com duas rodelas de pepino nos olhos e uma máscara facial,

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pousou o menino no berço e gritou, chorou e pediu explicações à rainha. Esta retirou os pepinos, pousou-os em cima de um prato de porcelana que estava em cima da mesinha de cabeceira, e abriu uma gaveta e retirou uns papéis, e deu ao rei. Eram os papéis do divórcio. A rainha disse apenas que o filho não era dele e que queria o divórcio, disse-lhe para fazer as malas e para ir mendigar para a rua, como fazia sempre para ver as meninas universitárias e que como a construção do hospital tinha sido ideia dela, era tudo propriedade dela.

E assim foi. Ironia das ironias, D. João V foi viver para a rua e como era hipocondríaco rapidamente ficou louco e foi parar ao seu próprio hospital psi-quiátrico e D. Josefa usufruiu de tudo que o partilhou com o seu novo marido e filho.

Tânia Coelho – Curso Profissional de Turismo Ambiental e Rural (12.º I)

CARNES MEIRELES DO MINHO, LDA

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PROJECTO “HORTA BIOLÓGICA”

A criação da horta biológica na escola surgiu do desafio lançado pela Câ-mara Municipal de Barcelos, através de um concurso e pelo facto de estarmos a abordar a importância da Agricultura Biológica na disciplina de Ambiente e Desenvolvimento Rural.

Praticar Agricultura Biológica não é uma tarefa fácil, pois não basta escolher o local, é necessário pesquisar e compreender que o modo de produção biológico implica respeitar os recursos naturais, como o solo e a água. Para isso, é importante adoptar determinados procedimentos, como permitir o sistema de rotatividade das culturas, estabelecer as consociações, para mais facilmente eliminar as pragas e produzir fertilizantes naturais, como a adubação verde e a compostagem.

Para iniciar o projecto, seleccionamos o local, que apesar de ser pequeno, encontra-se dividido em três parcelas: uma com as culturas de Inverno, como o espinafre, o rabanete, o nabo, as favas e a couve-rábano (fotos 1 e 2); outra parcela com morangueiros e a última com a sideração (adubação verde), ou seja, a sementeira de ervilhaca (leguminosa) com o azevém (gramínea).

A escolha das culturas resultou da leitura de tabelas das consociações, o que significa que é benéfico semear as culturas referidas anteriormente, facilitando a extracção das plantas infestantes e das pragas que possam atacar as culturas, mas também permite a mobilização dos nutrientes do solo. Para evitar o ataque de algumas pragas, como fungos, ácaros, bactérias e insectos serão efectuadas macerações de plantas, como as urtigas, o alho e mulching’s (coberturas) com

Fotos 1 e 2 – Horta Biológica e Sementeiras na estufa

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palha, plástico e folhas para impedir o crescimento das ervas daninhas, pois não se podem utilizar pesticidas.

Em simultâneo realizamos a compostagem com os resíduos orgânicos que recolhemos da cantina da escola e com materiais provenientes da limpeza e ma-nutenção da horta. Para proteger a nossa horta construímos uma pequena cerca para delimitar o espaço.

Este projecto tem sido gratificante pois permite-nos não só aplicar os co-nhecimentos apreendidos na sala de aula, como compreender a importância de mudar consciências, de promover boas práticas agrícolas e respeitar os recursos naturais que são de todos nós. E é claro, poder provar uns belos morangos, sem pesticidas!

Carla Ramos e Helena Amorim Curso Profissional de Turismo Ambiental e Rural (12.º I)

Clube Ciência em Movimento

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O SUJEITO ÉTICO

O indivíduo é um ser pensante, único e uno, que cria os seus valores e é responsável pelas suas atitudes. Por exemplo: a culpa de sermos considerados bons ou maus, falsos ou verdadeiros é nossa, pois somos nós quem em determinada altura tomamos uma dada decisão que vai fazer com que sejamos reconhecidos por isso, ou seja, se eu mentir, por algum motivo, vou ser vista como mentirosa. Mas a culpa de tal situação é apenas minha.

Claro que o sujeito apesar de ser capaz de tomar as suas próprias decisões, de ser um ser individual, vive inserido numa sociedade e em diferentes grupos sociais, logo podemos afirmar que ele não vive, convive. As influências dos outros vão ser muito importantes e, por vezes, os seus valores passam a ser nossos também.

As instituições, apesar de terem perdido um pouco o seu poder de socia-lização e de enquadramento social, vivem actualmente um vazio institucional, mas continuam a ter um papel preponderante no processo de socialização e, por conseguinte, na transmissão de valores éticos. Por exemplo, logo depois do nosso nascimento a primeira instituição em que estamos inseridos é a família, e é ela que nos vai transmitir os principais valores, isto é, o que é certo ou errado, o que fazer em determinada altura e as coerções que podemos ter, se optarmos pela escolha errada.

Em suma, o sujeito apesar de racional, único e uno, nunca vai poder viver fora da sociedade nem fora dos grupos sociais. É na sociedade e com a sociedade que ele se constrói em termos éticos.

Aristóteles defendia que o homem sem regras e fora da sociedade é um ser selvagem.

Sandra Barroso – Curso de Animação Sociocultural (12.º H)

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SERÁ DOR, AMOR OU ILUSÃO?

Seja tarde ou cedo, tenho sempre algo a dizer.Para mim, o mundo parou e eu fiquei sem percebero que queria para a minha vida.Por ti, vou até ao fim do mundo, mas não encontro o teu caminho.

Este amor que existe, aos poucos vai desaparecer.Estou triste, as tuas atitudes serviram de liçãoe a paciência torna os meus actos defeitos.Só me apetece dizer que o amor de mãe é o mais perfeito.Nós esperamos futuros, tudo em vão é o que me magoa.Será que vais viver os meus sonhosao lado de outra pessoa?

Nunca te esqueças que acabámos,mas não te quero magoar.Pensei que o nosso amor nunca iria acabar, mas estarás sempre no meu coração.Será dor, amor ou ilusão?Olho para o meu interior, vejo lágrimas derramadas, coração ferido,alma destroçada, numa noção da dor.Dentro do meu coração existe tanta dor!Eu magoei, errei, foi sem intenção.Tu erraste, magoaste, deixaste-me infeliz.Tornou-se rotina o sofrer sem poder mais,o silêncio ocupava o lugar em que estavas,a dor falava por si, a paciência ia terminando.Às vezes, pergunto-me:«Será que me amaste mesmo?»Dói imenso amar e não ser amada.Deixaste-me com uma dor de amor marcada para sempre:A dor maior de quem confia e é enganado.

Silvana Miranda – Curso Profissional de Turismo Ambiental e Rural (10.º I)

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A SOMBRA DO VENTO, DE CARLOS RUIZ ZAFÓN

ZAFÓN é, actualmente, um dos romancistas europeus de maior projecção em todo o mundo. Nasceu em Barcelona, em 1964. Com a sua primeira obra “El Píncipe de la Niebla” obteve o Prémio Edebé, em 1993. Desde então, escreveu 4 romances e tornou-se numa revelação literária dos últimos tempos.

Numa manhã, um rapaz órfão de mãe é levado pelo seu pai ao coração de uma velha cidade, Barcelona. Num local que o pai lhe diz que é secreto, Daniel Sempere fascina-se com os labirintos de milhões de livros esperando em estantes: trata-se do “Cemitério dos Livros Esquecidos” e o jovem terá de escolher um deles…

Fascinado, Daniel parece mais ser escolhido pelo livro do que o contrário, como se uma força o impelisse para “A Sombra do Vento”, de um autor chamado Carax. À saída, o pai, também ele um livreiro e um apaixonado pelos livros, diz-lhe que nem mesmo o seu melhor amigo poderá saber daquele local…

Com aquele livro, muitos mistérios são atraídos para a vida de Daniel e surgem várias intrigas e tramas que se desenrolam em torno do próprio livro, pois há um homem misterioso que quer queimar os livros todos e o segue na noite… Daniel resiste e quer saber mais sobre o autor da narrativa que o fascinou, quer ler mais obras dele.

Como personagem, seleccionámos o homem que quer queimar todos os livros do autor do livro de Daniel, Carax, pois tendo a cara queimada de um incêndio, era uma figura sinistra, com voz metálica e arrepiante. Isso despertou ainda mais o interesse em continuar a ler!

É um livro excelente pois tem um pouco de tudo: romance, enigmas, misté-rio, comédia. A forma como o livro está escrito é excelente, pois refere o mistério que os livros trazem, página a página.

Carlos Cardoso e Fábio Miranda – Curso Profissional de Turismo Ambiental e Rural (10.º I)

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MY FOOD TRIP

Everybody wants to know, new countries, new cultures, new people…, and what about new types of food?

I had never thought of that before, essentially in what respects healthy food. I confess, I wasn’t very enthusiastic about tasting new types of food.

One day we were talking about fast food and healthy food in the English class and our English teacher suggested us to taste these two types of food. We would go to a typical fast food restaurant in Barcelos and then we would taste healthy food in a macrobiotic restaurant, also in Barcelos. The aim was to pay attention to the calories, fat, salt and other fast food ingredients and to taste macrobiotic food and understand why it is healthy.

So, first, we went to the fast food restaurant and I ate a cheeseburger with French fries and a soda. Hum…, delicious! That’s my favourite food. We all liked it a lot, but we were amazed at the quantity of calories and fat it contains.

Then, we went to the macrobiotic restaurant. We were all very apprehensive. The restaurant was nice and cosy, but we were sure we wouldn’t like the food. When the food came, we didn’t find it very appetizing, but then I tasted it and I liked it a lot.

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It is true that I didn’t like the Miso soup, but all the rest was excellent! One of the vegetal ingredients tasted like pork meat. That was spectacular! I also liked the chocolate muffins a lot. They were equally delicious! We also learned some-thing about macrobiotic food. For instance we learned that the word macrobiotic means a long and good quality life.

It was an interesting experience!

Paula Campos – Curso de Turismo Ambiental e Rural (12.º I)

AUTOBIOGRAFIA

Sou o Jorge. Nasci no dia 16 de Setembro de 1987. Moro numa freguesia de Barcelos, a Pousa. Sou uma pessoa calma e muito simpática. Pode-se dizer que sou bom rapaz! Tenho uma família fantástica. Quando preciso deles sei que estão sempre disponíveis para me ajudar.

Tive uma adolescência como qualquer adolescente, normal. Na escola tive a felicidade de passar bons momentos, fazer bons amigos e ainda me dou muito bem com alguns desses amigos. Ainda me lembro bem desse tempo!

Na primária tive uma professora que me marcou muito. Foi minha profes-sora durante quatro anos. Ela, nos primeiros três anos, foi muito exigente e, por vezes, muito “dura”, mas no último ano que esteve connosco já foi diferente. Ela foi meiga e carinhosa connosco. Ela só foi “dura” e exigente para nos fazer bons alunos e, no futuro, boas pessoas. Quando viu que já tinha cumprido o objectivo, demonstrou a pessoa que era. Uma grande pessoa!

Foi na minha adolescência que a minha madrinha de baptismo me convidou para padrinho de baptismo da filha dela. Fiquei um pouco surpreendido, pois ainda era novo, tinha 14 anos. Senti uma certa responsabilidade, mas gostei da ideia.

Um dos momentos mais marcantes da minha vida de que nunca me vou esquecer foi quando o meu irmão mais novo teve um problema de saúde. Teve de ir para o hospital e ficar lá alguns dias. A minha mãe ficou com ele no hospi-tal. Numa noite, ela ligou para casa a chorar, a dizer que o médico tinha estado com ela e lhe tinha dito que as coisas não estavam nada boas. Em casa ficámos todos preocupados, aflitos, e tememos o pior. Foi a pior noite da minha vida. Nem consegui dormir.

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Graças a Deus, ele ficou bom e agora é um jovem com muita saúde. A partir daí, fiquei com mais certezas de que devemos aproveitar todos os momentos para estar com as pessoas de quem mais gostamos.

Comecei a trabalhar aos 17 anos, na pintura da construção. Aprendi essa arte e fiz novas amizades. Como todos os jovens, também tive o dia da defesa nacional. Tive a oportunidade de conhecer melhor o papel das forças armadas e o significado de defesa nacional. Fiquei a saber como temos garantido a segurança do nosso país e como fazer no futuro.

Quando tinha 19 anos, comprei o meu carro. Fiquei mesmo muito contente por ter o carro. A partir de então, já não ia ter que depender de ninguém, pois tinha o meu próprio carro, já não tinha que estar sempre a pedir o carro empres-tado aos meus pais. Sabia bem que eles me emprestavam de boa vontade, mas era chato andar sempre a pedir-lho. O que tenho de mais importante na vida é a minha família. Não mudava a minha vida em nada, gosto dela como é.

Trabalho elaborado no âmbito da disciplina: Comunicação, Língua e Cultura E do Núcleo Gerador: Saberes Fundamentais

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E SE FOSSE VERDADE…

Angkor

Notícia“Como resposta às recentes secas que assolam o Camboja, que já provocou vários prejuízos na agricultura nacional, o governo anunciou o início da construção de uma hidro-barragem que deixará submersa a fabulosa estru-tura de Angkor”

OBJECTIVO DO TRABALHONeste trabalho irei apresentar algumas razões para evitar a construção da

barragem prevista, tendo como fundamento o valor patrimonial da região de Angkor.

Angkor (Khmer) é uma região do Camboja, situada na Ásia, serviu como sede do Império Khmer, que floresceu aproximadamente entre o século IX e o XII. Angkor tinha sido a maior cidade pré-industrial do mundo. As ruínas de Angkor

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estão localizadas no meio da floresta e ao norte do Lago Grande (Tonle Sap) e ao sul dos montes Kulen, próximo da moderna Siem Reap (13°24’N, 103°51’), e são consideradas como um Património Mundial da UNESCO.

Angkor está localizado a 308 km a noroeste da capital, Phnom Penh.

É o maior e mais bem preservado templo no local e também o único que restou com importante significado religioso - inicialmente hindu, e depois Bu-dista - desde a sua fundação. Angkor foi abandonada, no final do século XV. Engenheiros khmer construíram redes de canais, mas com a falta de manutenção, o sistema hidráulico fracassou e Angkor foi caindo com ele.

A principal característica geográfica do país é a planície, formada pelas inundações do Grande Lago, que têm cerca de 2 590 km² de superfície durante a estação seca e 24 605 km² na estação das chuvas. Esta planície é densamente povoada e dedicada ao cultivo do arroz. Os meses da monção são seguidos de meses de seca. Por isso, os engenheiros khmer construíram redes de canais, fossos, lagoas e reservatórios, aproveitando as águas vindas das colinas que acabaram por alterar o percurso do rio, formando pequenas barragens, que alimentavam os fossos dos templos. Sendo assim, parte da paisagem da Grande Angkor é artificial.

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“Património Mundial é a designação dada a lugares do mundo que têm valor universal excepcional para a humanidade e, como tal, nos termos da “Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural”, tenham sido ins-critos na Lista do Património Mundial pelo Comité do Património Mundial, de modo a garantir a sua salvaguarda para o benefício de gerações futuras.”

Angkor é um dos mais importantes sítios arqueológicos da Ásia. O Templo Angkor, considerado o maior monumento religioso do mundo, é o ponto turís-tico mais popular no Camboja e é reconhecido como Património Mundial pela Unesco desde 1992. Estas ruínas foram descobertas por Henri Mouhot, explorador francês do século XIX. Angkor Wat, o maior monumento religioso do planeta, foi restaurado na década de 1940.

Angkor tornou-se um importante destino turístico e também uma das maiores fontes de divisas para o governo do Camboja. O afluxo de turistas tem, até agora, relativamente poucos danos causados, com excepção de alguns casos. Com cerca de 2 milhões de visitantes por ano, o potencial turístico da região é fundamental para o desenvolvimento sustentável do território, possibilitando a criação de empregos e novos negócios para uma população fortemente dependente da agricultura.

A falta de água, mesmo no período de seca, não é tão grave que justifique a destruição deste templo, da sua cultura e religião, que aliás, é património mundial da Unesco. Do meu ponto de vista, as suas características topográficas também justificam esta posição. Isto porque o seu território é maioritariamente composto por planícies e terraços fluviais, aliás, propício à cultura do arroz, que

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é a sua principal actividade agrícola e económica, que são frequentemente alvo de inundações e cheias do seu Grande Lago.

Um outro motivo é, precisamente, a importância turística que o Angkor tem para o país, na dinamização da economia, promoção e desenvolvimento sustentável. A Unesco pode alertar e desenvolver campanhas de sensibilização e consciencialização para a protecção e conservação de Angkor, bem como de outros espaços ou monumentos que sejam património da Humanidade. Assim como pode fazer pressão sobre o Governo do Camboja, em como não estão a respeitar a Convenção para a protecção do património mundial, que exige que os governos ou entidades gestoras destes monumentos tomem a responsabilidade da sua preservação, protecção e conservação. O que, caso se verificasse, perderiam de imediato a classificação de Património Mundial da Unesco, a notoriedade e a certificação.

BibliografiaNational Geographic Portugal, nº100. Julho 2009.Apontamentos “Os Impactos do Turismo” (Luís Ferreira, 2007).Geografia Dos Continentes: Ásia – volume 2 - Hélio Carlos Garcia - Tito

Marcio Caravello www.tourismcambodia.com www.unesco.org Wikipedia - www.wikipedia.org

Maria dos Prazeres dos Santos (Curso EFA/ Secundário)Trabalho Cidadania Profissionalidade

N. G. Identidade e Alteridade, Dr4

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E SE FOSSE VERDADE…

NotíciaA descoberta de petróleo perto das Pirâmides de Gizé abriu a discussão sobre a impossibilidade de preservação destes monumentos.A actual crise mundial de energia é um problema económico e político dos mais agudos da actualidade. Sendo o petróleo uma fonte de energia indispensável para a necessidades e desenvolvimento dos países, os dirigentes dos vários países consideram não existir qualquer tipo de constrangimento que impeça a destruição deste património.

Pirâmides de GizéInscrição na Unesco: 1979Localização Cairo, EgiptoCritérios: (1), (111), (VI)

As Pirâmides de Gizé, Guizé ou Guiza ocupam a primeira posição na lista das sete maravilhas do mundo antigo.

LocalizaçãoAs pirâmides de Gizé estão localizadas na esplanada de Gizé, na antiga ne-

crópole da cidade de Mênfis, e actualmente integra o Cairo, no Egipto. Elas são as únicas das antigas maravilhas que sobreviveram ao tempo.

Estas três majestosas pirâmides foram construídas como tumbas reais para os reis Kufu (ou Quéops), Quéfren, e Menkaure (ou Miquerinos) - pai, filho e neto. A maior delas, é chamada Grande Pirâmide, sua altura original era de

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146,60 metros, mas actualmente é de 137,16 m, pois falta parte do seu topo e o revestimento, e foi construída cerca de 2550 a.C. para Kufu, no auge do antigo reinado do Egipto. As pirâmides de Gizé são um dos monumentos mais famosos do mundo.

A Grande Pirâmide é a maior de todas as 80 pirâmides do Egipto. Se a Grande Pirâmide estivesse na cidade de Nova Iorque, por exemplo, ela poderia cobrir sete quarteirões. A Grande Pirâmide manteve-se como a mais alta estrutura feita pelo homem até à construção da Torre Eiffel, em 1900, 4.400 anos depois da construção da pirâmide.

Foram necessários 30.000 trabalhadores por mais de 20 anos para construir a Grande Pirâmide. Foram usados mais de 2.000.000 de blocos de pedra, cada qual pesando em média duas toneladas e meia.

Existem três passagens dentro da Grande Pirâmide, levando às três câmaras. A maioria das pirâmides tem apenas uma câmara mortuária subterrânea, mas enquanto a pirâmide ia ficando cada vez mais alta, provavelmente Kufu mudou de ideia, duas vezes. Ele finalmente foi enterrado na Câmara do Rei, onde a pedra do lado de fora de seu caixão - chamado sarcófago - está hoje. A câmara do meio foi chamada Câmara da Rainha, por acidente. A rainha foi enterrada numa pirâmide muito menor, ao lado da pirâmide de Kufu.

Na realidade, a demolição das Pirâmides de Gizé só tinha algum fundamento se a opção de escolha fosse salvar a humanidade ou as pirâmides, por outro lado a demolição das pirâmides provavelmente não iria resolver o problema energético do mundo, porque também começa a haver outras soluções energéticas.

Por outro lado, a deslocalização também não seria uma boa opção pois como as pirâmides são património mundial, inscritas na UNESCO, têm que cumprir determinadas regras ou normas. Jamais a Unesco podia concordar com estas op-ções, uma vez que o seu valor reside na sua actual localização. A demolição das pirâmides também iria confrontar civilizações.

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ConclusãoCom este trabalho concluí que todos os monumentos, museus, ruínas e até

belezas naturais fazem parte da História e da Civilização do mundo, por isso é que devemos preservar todo o património histórico, cultural e natural.

Eu, pessoalmente, já dava muito valor a tudo ou quase tudo que é histórico, mas este trabalho reforçou esse valor, e descobri também que é muito importante para as civilizações.

Bibliografia http://pt.wikipedia.org/wiki/Pir%C3%A2mides_de_Giz%C3%A9http://en.wikipedia.org/wiki/World_Heritage_Sitehttp://www.unesco.pt/cgi-bin/info_e_docs/info_e_docs.php

Abílio Macedo (Curso EFA/ Secundário)Trabalho Cidadania Profissionalidade

N. G. Identidade e Alteridade, Dr4

ADOPÇÃO E FAMÍLIAS DE ACOLHIMENTO

UMA OPINIÃO

Eu sou a favor da adopção, desde que ela cumpra regras. A adopção é um processo complexo, pois está em causa o futuro de crianças. As crianças que são abandonadas pelos familiares ou têm a infelicidade de perder os seus parentes também têm direito a ter uma família. Mas não podemos adoptar só por adop-tar, temos que verificar se a família que irá acolher a criança tem condições para a fazer feliz. Por isso, defendo que as famílias que querem adoptar têm de ser “inspeccionadas” ao pormenor.

Existem vários casais que não podem ter filhos e a adopção é uma forma desses casais terem o seu próprio “filho”. Estes casais podem fazer com que muitas crianças tenham uma infância normal, ou seja, tenham uma mãe e um pai.

Já a adopção feita por pessoas do mesmo sexo é algo com que não concordo muito, não é porque ache que essas pessoas não tenham amor para oferecer às crianças, mas, na minha opinião, estas correm o risco de serem discriminadas pela sociedade.

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Concluindo, acho que a adopção é um processo que muda a vida de várias pessoas, tanto das crianças que são adoptadas como as dos adoptantes, pois na maioria dos casos torna as suas vidas mais felizes. Contudo, como já referi, tem que se ser exigente com os adoptantes e ver se eles têm as devidas condições para acolher uma criança. Se essas condições estiverem reunidas, devemos facultar às crianças um futuro feliz.

Flávio Eira Martins, no âmbito da disciplina: CLC, NG: Saberes Fundamentais, Dr3(Curso EFA, Secundário)

ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL UMA MUDANÇA DE MENTALIDADES

A Animação Sociocultural tem-se vindo a desenvolver no nosso país, tanto a nível das instituições que contratam estes profissionais, como a nível de esta-belecimentos de ensino que apostam na formação dos mesmos.

A nossa escola, à semelhança de muitos estabelecimentos de ensino portu-gueses, aposta na formação destes profissionais através do Curso Profissional de Técnico de Animação Sociocultural.

O Animador Sociocultural, ao contrário da opinião de grande parte da população, não é o “palhacinho de serviço”. Qualquer Animador deve ser reco-nhecido como um profissional de respeito que, apesar de ter uma actividade mais animada que as restantes ofertas profissionais, também tem a sua componente mais teórica e séria.

No entanto, nós, Animadores Socioculturais, somos vistos como a turma dos palhaços. Não digo que em parte não seja verdade, mas somos palhaços com formação e não estudámos para sermos palhacinhos. O nosso curso, na verdade, inclui disciplinas práticas que nos dão esse estatuto, mas também se incluem na nossa formação disciplinas teóricas, tais como Psicologia ou Sociologia.

Precisamos que se mudem as mentalidades deste nosso país para que se mude também o estatuto social do Animador. Cabe a cada um de nós, Animadores Socioculturais, alterar as mentalidades…

Maria Azevedo (12ºH)

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O ALCOOLISMO NA ADOLESCÊNCIA

A turma H, do 12º ano do Curso Profissional Técnico de Animação So-ciocultural, desenvolveu um projecto no âmbito da disciplina de Área de Estudo da Comunidade, com a denominação de “O Alcoolismo na Adolescência”, com o objectivo de sensibilizar os jovens para a diminuição do consumo de álcool na fase inicial da vida.

Neste âmbito, o projecto abordava uma problemática existente na nossa comunidade escolar, o alcoolismo na adolescência. Deste modo, inicialmente realizámos um inquérito a uma amostra da comunidade escolar do secundário, com o objectivo de conhecer a percentagem de jovens consumidores de álcool.

Depois de analisados todos os dados, chegámos à conclusão que, apesar das consequências negativas para o rendimento escolar, cerca de metade dos es-tudantes admite ser consumidor de álcool e que o fazem muito precocemente, apresentando variadíssimas razões para a iniciação nesta prática.

Estes dados serviram também para complementar a apresentação de uma palestra realizada no auditório da nossa escola, contando com a participação dos Professores Joaquim Vinhas e Arminda Carvalho, apresentada às turmas dos Cursos Profissionais da nossa escola.

De um modo geral, a concretização do projecto foi positiva, uma vez que atingimos o nosso principal objectivo e as actividades correram de uma forma positiva.

Curso Profissional de Animação Sociocultural (12.º H)

A LUZ

Depois de vários dias, ele ainda não sabia onde estava. Começou a reparar que aquele lugar não era vulgar, um espaço de outro mundo, um ar denso, portas esquisitas que não dão para lado nenhum, aquele silêncio absurdo, aquele espaço infinito.

Abriu bem os olhos, olhando para o horizonte, escuro, surgiu uma luz, o que seria? Um animal? Um anjo? Uma pessoa? Algo de outro mundo?

A luz começou a aproximar-se e ele tenta decifrar aquele mistério. A luz afastou-se, ele seguiu-a, cada vez mais depressa, tentando alcançá-la. A luz entrou

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numa sala inundada pelos raios solares onde se encontrava um corpo humano.Era uma mulher vestida de branco, deitada numa mesa de pedra polida;

seus olhos azuis brilhavam enquanto o sangue escorria pelo rosto e pelos lábios vermelhos.

Ele, surpreendido com a figura da mulher, ajoelhou-se abrindo os braços para o céu, dizendo: – “Que a luz invada esta sala”.

Era a sua mãe, assassinada por ele há 10 anos. “Foi aí que se apercebeu que a sua hora tinha chegado e, com o seu arrependimento, a luz dera-lhe uma oportunidade”.

Michele Pereira – Curso Profissional de Técnico de Contabilidade (11.º F)

AS ENERGIAS RENOVÁVEIS

As emissões produzidas pelos combustíveis fósseis usados para satisfazer as crescentes necessidades energéticas a nível global estão a provocar alterações cli-máticas perigosas no planeta.

Os cientistas têm vindo a alertar-nos para o facto de as temperaturas globais poderem aumentar de um mínimo de 1,4oc (se as emissões de CO2 estabilizarem rapidamente) a um máximo de 5,8oc, caso não se tomem medidas imediatas no sentido de controlarem as emissões poluidoras.

O CONSUMO ENERGÉTICO NOS EDIFÍCIOS

Em Portugal, os edifícios foram responsáveis pelo consumo de 5,8 Mtep (milhões de toneladas equivalente de petróleo), representando cerca 30% do consumo total de energia primária do país e 62% dos consumos de electricidade, em 2005. O sector residencial com cerca de 3,3 milhões de edifícios contribuiu com 17% dos consumos de energia primária em termos nacionais, representando cerca de 29% dos consumos de electricidade, o que evidencia a necessidade de uma atenção particular à eficiência energética dos equipamentos consumidores de electricidade como forma de moderação de consumo.

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ENERGIA RENOVÁVEL NAS HABITAÇÕES

Energia solar fotovoltaicaUm painel fotovoltaico é um dispositivo capaz de converter a energia solar

directamente em electricidade. A unidade básica de um módulo fotovoltaico é a célula fotovoltaica. A versão mais utilizada é formada por uma placa de material semicondutor em silíco monocristalino, cujo tamanho pode ir de 10 a 15 cm.

O desempenho energético dos painéis fotovoltaicos (PV) varia consoante a luz solar disponível e a inclinação dos módulos, sendo a eficiência de conversão de ordem dos 15 %. O nosso país, devido às suas características climáticas, possui excelentes condições para a conversão fotovoltaica, com índices de produção entre 1 e 1,7 kWh por ano, por cada Wp instalado.

Vantagens e DesvantagensA tecnologia solar fotovoltaica apresenta um grande número de vantagens: -

cações em locais isolados.

a várias necessidades energéticas. Os sistemas podem ser dimensionados para aplicações com potências variáveis.

No entanto esta tecnologia apresenta também algumas desvantagens: -

fisticada, provocando um custo de investimento elevado.

teórico máximo numa célula de silíco cristalino é de 28%), face ao custo do investimento.

química (baterias), o custo do sistema fotovoltaico torna-se ainda mais elevado.

Anthony Bouça, Gersão Araújo, Hugo Vieira, Nelson Figueiredo, Rúben Gomes, Rui Neco. (9.ºD _CEF – Electricidade de Instalações)

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AS ENERGIAS RENOVÁVEIS

E NÃO RENOVÁVEIS

Como viver sem energia? O homem foi sempre dependente da energia que a natureza lhe fornece. Primitivamente, o homem utilizava apenas a energia dos seus músculos e a dos alimentos que ingeria. Depois começou a utilizar a energia dos animais, usou velas para o vento impulsionar os seus barcos, concebeu os moinhos de vento, a roda hidráulica... Até que, há cerca de dois séculos, passou a recorrer mais ao carvão e, no século passado, a explorar o petróleo e o gás natural.

As energias não renováveis são aquelas que cujas reservas se esgotam, pois o seu processo de formação é muito lento comparado com o ritmo de consumo que o ser humano faz delas. Ex: Petróleo, Carvão, Urânio, Gás natural. As fontes de energias renováveis são aquelas que se renovam continuamente na natureza, sendo, por isso, inesgotáveis. Ex: Energia solar (sol), Energia eólica (vento), Energia hídrica (água).

A energia eólica começou devagar, mas agora produz 11 por cento da electri-cidade consumida no país. Um sucesso que é seguido de longe por outras formas de energia renovável.

Energia solar é a designação dada a qualquer tipo de captação de energia luminosa (e, em sentido, da energia térmica) proveniente do sol, e posterior transformação dessa energia captada em alguma forma utilizável pelo homem, seja directamente para aquecimento da água ou ainda como energia eléctrica ou mecânica.

A energia hidráulica ou energia hídrica é a energia obtida a partir da energia potencial de uma massa de água. A forma na qual se manifesta na natureza é nos fluxos de água, como rios e lagos e pode ser aproveitada por meio de um desnível ou queda de água.

Fonte: Wikipédia

Elói Carvalho, Hélder silva, Nelson Rodrigues, Ricardo Queirós, Rui Miranda, Rui silva (9.º D_CEF de Electricidade de Instalações)

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HISTÓRIA DAS LÂMPADAS

O Homem sempre se preocupou em dotar as suas moradias de meios adequados para suprir a falta da luz natural. Até ao início do século XIX, toda a iluminação artificial era obtida com velas ou lâmpadas a óleo (uma espécie de lamparina).

Por volta de 1810, descobriu-se que o contacto entre dois pedaços de carvão ligados aos terminais de uma bateria produzia uma descarga contínua e brilhante. A ideia de usar essa engenhoca como fonte de iluminação artificial parecia boa. Contudo, tinha uma série de inconvenientes; consumia muita energia da bateria; o brilho era intenso, insuportável em ambientes fechados e o carvão durava pouco. Agora, o desafio era encontrar um substituto para o carvão que consumisse pouca energia, durasse mais e produzisse um brilho suportável.

Por volta de 1880, o cientista Thomas Edison e os seus colaboradores, após testarem cerca de 1 600 materiais, chegarem a uma lâmpada que apresentava um filamento composto de algodão carbonizado e protegido por um bulbo de vidro sem ar. Essa lâmpada conseguiu permanecer acesa por dois dias, tempo recorde. Mais tarde, Edison substituiu o algodão por bambu carbonizado e só então solicitou a patente da lâmpada. Ele montou uma fábrica e em três meses de actividade, comercializou mais de 20 mil lâmpadas.

Hoje, o filamento das lâmpadas é feito de tungsténio, um metal extremamente resistente ao calor, e o bulbo contém um gás inerte, isto é, que não pega fogo.

Fonte: Mania do Saber – História das lâmpadas.

André Martins, Flávio Oliveira, Nelson Costa, Ricardo Jardim, Ruben Terroso, Vítor Oliveira (9.ºD _ Curso CEF: Electricidade de Instalações)

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A DESPEDIDA IMORTAL

Há anos atrás, nasceu uma menina, num casebre feito de troncos de árvores e palha. Essa menina, de nome Lua, fora abandonada logo à nascença, ainda débil e rosadinha. Seu pai era uma pessoa muito alegre, a sua vida era um paraíso, até que soube que estava doente e não teria muitos anos de vida, tomando assim a decisão da sua vida, casar e formar uma família. Mais tarde, seu corpo começa a mostrar sinais de uma doença, que não tinha tratamento. Ele sabia que não restavam muitos dias, por isso decidiu aproveitá-los com Míria, sua esposa.

Míria sempre fora uma mulher muito sociável e muito agarrada à vida, mas a situação em que Fernando, seu marido, se encontrava deixou-a muito abalada. A poucos minutos de Fernando abandonar a Terra para sempre, Míria conta-lhe que está grávida de uma menina e promete que quando nascer terá o nome de Lua. Perante a notícia, sorri e fecha os olhos para sempre.

Meses e meses de sofrimento e dor passam, dando lugar ao nascimento de Lua, o dia mais feliz de Míria, ao recebê-la nos braços. Coloca-a numa cama de palha e uma lágrima corre pela sua face. Sua filha, inocente da vida, adormece tranquilamente quando a mãe lhe toca delicadamente na mão e lhe canta ao ou-vido. Passam segundos de pensamentos silenciosos, quando uma sombra se levanta e sai pela porta de madeira, dirigindo-se rapidamente à “Falésia do Abismo”.

A “Falésia do Abismo” transmitia uma certa agonia, um aperto no peito, todos temiam chegar perto dela. Mas Míria não teve medo, avançou sem pensar e olhou para o fundo da falésia, mas nada via, a não ser um nevoeiro intenso. Num fechar de olhos, deixa-se levar pelo som da queda de água a 15 metros de profundidade e atira-se a chorar desalmadamente.

Lua encontrava-se sozinha no meio de um casebre desconhecido, até que uma porta se abre. Era uma menina, com aparência de 10 anos, e a sua mãe. Ao encontrarem a bebé deitada na cama de palha, mexendo os seus pequenos pés e as suas mãozinhas, param a olhar, não havia um movimento sequer, apenas se ouvia o murmurar do vento contra a frágil casa.

A menina de 10 anos era muito curiosa e não sabia muita da vida, por isso aproximou-se da bebé, com algum receio, e agarrou na sua mão sorrindo para a sua mãe, Maria do Céu. Mas a certo momento apercebe-se que ao lado dela se encontrava um cartão, que lê em voz alta: “Gostava que se chamasse Lua, o nome que prometi ao meu marido antes de falecer”. Ambas ficaram sem per-ceber. Maria do Céu aproxima-se da sua filha Rita e repara que por baixo da cama estava um saco com roupas e um envelope. A filha, curiosa, espreitou para

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ver o conteúdo do saco, enquanto a sua mãe lia atenciosamente a carta que o envelope continha. Os anos foram passando e agora Lua tinha 15 anos, já era uma mulher feita, com olhos verdes, cabelos escuros e muito encaracolados e uma pele branca, muito pura.

A menina dos 10 anos agora tinha 25, era uma mulher. Tomou conta da Lua sozinha, durante os últimos 7 anos, pois sua mãe havia falecido, um senhor de barba escura assassinara-a durante a noite. Rita já tinha acabado o seu curso, desde pequena que queria ser educadora de infância. Era uma lutadora, que nada temia e tudo enfrentava. Procurava emprego na sua área, todos os dias folheava os jornais na esperança de encontrar algo e respondia sem medo a todos os anúncios.

Lua também já pensava no futuro, queria ser médica, curar todas as doenças temíveis. Aos 11 anos, já sabia todo o seu passado, que Rita não era sua irmã de sangue, mas sentia um carinho muito especial por ela, como se fosse mesmo irmã.

Numa sexta-feira 13, aquele dia que todos temem, Rita recebe uma carta, era de um infantário lá da cidade e queria que estivesse presente na entrevista. Na semana seguinte, vestiu as suas melhores roupas e levou Lua consigo à cidade, e nesse mesmo dia foi aceite para trabalhar. Ao chegar à sua velha casinha, conversa com Lua e decide que quer viver na cidade, porque sempre foi o seu sonho. Ao fim de 2 anos a receber pelo seu trabalho, mudou-se para um belo apartamento, muito melhor que a sua casinha, em que as paredes eram coloridas, o chão em madeira refinada com tapetes de veludo, era um sonho total. As duas sorriam de alegria, iam ter muito espaço para se divertirem e darem umas festas.

Os anos passam e Rita já se tornou numa mulher casada. Aos 32 anos cria a sua própria creche, enquanto Lua tira o seu curso de medicina avançada. Sem esperar que o curso terminasse, Rita prepara uma surpresa para Lua, um apartamento só para si. Com 24 anos já necessitava de privacidade. Aliás, a sua querida irmã já tinha uma família, com 34 anos era mãe de um casal de gémeos, e aquele espaço que anteriormente era enorme, tornou-se pequeno e necessário para ela. Lua não recuou e aceitou a oferta de viver sozinha.

A relação com Rita nunca desaparecia, por mais anos que passassem, e aquela sensação de amizade verdadeira perdurava. Era uma amizade muito forte, impossível de se quebrar. Ambas viviam felizes, juntavam-se nas festas para conversarem até ao nascer-do-sol. Até que um dia Lua sentiu-se mal e desmaiou. No hospital, revelaram-lhe que a doença do seu pai, Fernando, tinha-lhe sido transmitida, mas só agora é que se manifestou. A notícia correu por todos os colegas de trabalho, família, vizinhos, chegando também aos ouvidos do seu namorado, Guilherme.

Guilherme assustado com a notícia resolve pedir Lua em casamento o mais depressa possível. Amava-a com todas as forças e o que ele mais queria era tê-la como esposa para toda a vida, por mais curta que pudesse ser. O

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pedido é aceite, e um ano depois Lua dá à luz uma linda menina saudável a quem chamaram Céu, em homenagem a Maria do Céu, que acolhera Lua como uma filha. Mais tarde, nasce um menino, também ele saudável, dão-lhe o nome de Fernando, como o seu avô, um homem que soube o que era sofrer na vida.

E novamente correm os anos. Céu já se tornara uma linda rapariga, cabelos escuros e lisos, pele branca e olhos castanhos. Já Fernando era um autêntico rapaz, cabelos loiros e encaracolados, pele morena e olhos verdes. Ambos com caracte-rísticas que os distinguiam. Ela era uma aventureira e muito sorridente, gostava de desvendar casos “secretos”, tal como os detectives que via nas séries televisivas. Ele gostava mais de ler arqueologia e de ver documentários sobre descobrimentos arqueológicos, desde pequeno que coleccionava todos os fósseis que encontrava. Guilherme, o seu fiel marido, era um óptimo médico e ficou responsável pelo seu caso, mas algo lhe parecia estranho, pois a doença que se manifestara estava agora inofensiva. Veio a diminuir, mas ninguém ficou a saber a razão, era tudo inacreditável. Talvez a doença tivesse cura, ou então o seu pai não se encontrava preparado psicologicamente para a enfrentar.

Guilherme e Lua decidem ir para o estrangeiro, para um país onde a tecno-logia fosse mais avançada e levavam com eles os dois filhos para continuarem os estudos nas suas áreas preferidas. Detective e arqueólogo, ambas profissões com futuro. Quando iam a caminho dos E.U.A., o avião despenhou-se no Oceano Pacífico. Depois de vários dias de buscas, a polícia marítima encontrou 250 ca-dáveres, dois deles eram Guilherme e Céu. Um dia mais tarde, encontraram Lua e Fernando à deriva no mar, ambos adoecidos, que rapidamente foram levados directamente ao hospital. Poucos dias depois, foram informados através da te-levisão que as buscas tinham terminado, e apenas encontraram 50 pessoas com vida, entre os quais não estavam Guilherme e Céu.

Com esta agitação, Lua é informada de algo estranho que se alastrou no seu corpo, era a causa da morte do seu pai, a doença tinha-se manifestado no-vamente, mas neste caso, o acidente de avião veio a piorar a situação. Poucos anos depois, Lua deixa Fernando sozinho, mas ele não desiste, encara o espírito de Céu e da mãe e segue em frente. Como sempre sonhou com arqueologia, tornou-se o mais famoso arqueólogo, descobriu imensos fósseis de há milhões de anos atrás, embarcações e templos soterrados ainda intactos. Com o apoio de várias entidades, fundou o seu próprio museu, ao qual apelidou “Mamã Lua”. Museu este dedicado à sua mãe, criado para entretenimento das crianças e para lhes dar a conhecer tudo aquilo que os rodeia.

Paula Campos – Curso de Turismo Ambiental e Rural (12.º I)

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Joana Silva (8.º A)

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Ensaios

Poéticos

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9.º

B)

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Vendo graça na desgraça que me propões.Acrescento mais um nó à corda que pende da tua garganta.Quase asfixiando, soltas ecos enrouquecidos que descodifico numa voz colocada, usada, quase perfeita de tanta imperfeição!Declaradamente imperfeitos, enchemos nossos corações de segredos armazenados, partilhados até à exaustão.Prestes a sermos observados, porque infalivelmente parados num mesmo presente, investimos a medo num futuro duvidoso porque medroso de nos pertencer.Buscando verdades nas dúvidas que povoam nossas mentes tentamos equilibrar nossos corpos que, balanceando, trazem graça à desgraça que me propões…

Maria Eduarda VieiraProfessora de Filosofia

ES/3 Barcelinhos

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UM MOMENTO

Por um momentoUm pensamentoEntristecido

Por um instanteRosto distanteEmpobrecido

Por um segundoUm moribundoEnfurecido

Por um lugarQuando calharEnternecido

Só um, somente um,Um segundo maisPara estar contigo

Manuel Silva

Assistente Técnico na ES/3 de Barcelinhos

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POEMA DO INATINGÍVEL

Ser feliz…Partir na busca de um sentimento. Viver…Na alegria de saber que existo.

Procurar-te,Alcançar-te,Mesmo que inatingível.Fugir-te, Sumir à procura do desconhecido…

Despir-me de preconceitos,Encontrar-te.

Tão perto….Teu calor percorre o meu corpo,Tua presença Acalma-me.

Saber…Que me escondo.Recear…Que me vejas.

Esgotar…As minhas forças.Eliminar…Toda a vontade.

Descobrir… Que sempre estiveste comigo.Dentro de mim… Como o Homem está dentro do mundo.

Cátia Ferreira (12.º A)

Concurso “Faça lá um poema” (21 de Janeiro de 2010)

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A ILUSÃO DO AMOR

Sinto-me só!Procuro por todo o lado a tua presença,Um bem precioso, raro e difícil de encontrar, Só tu me acalmas e me fazes sentir segura.

Acalma-me saber que estás a meu lado, que me proteges de quem me quer mal.Porém, agora vais embora,Disseste que nunca me abandonarias e mentiste-me.Dizes que o fazes para me proteger, masA tua ausência deixa-me indefesa.

Peço-te: não me deixes!Não consigo viver sem te ter, sem te olhar,Sem te sentir junto a mim.Por favor, não vás!

Deixaste-me!Agora não sei o que fazer,Vagueio pelo mundo vendo o tempo passar.O tempo passa,Passa tentando apagar em mim a lembrança de que te conheci.

Já não me sinto só!Sinto que tudo o que vivemos não passou de um sonho.A tristeza que se abraçou a mim não me deixa.Será que algum dia vais voltar?Não, não voltarás,Não voltarás porque nunca exististe.

Não compreendo!Amei-te apaixonadamente!Amei-te como nunca amei ninguém!Mas como é possível amar alguém, Alguém que realmente nunca existiu?

Não sei!Não sei se te amei verdadeiramente! O sonho que me prendeu a tiFoi o medo de ficar só.O pânico que se abraçou a mimFoi o medo de saber que sem ti não seria feliz.Que só te amando, me amaria!

Cátia Ferreira (12.º A)

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PESSOAS EXCLUÍDAS

Por o caminho delesNão seguir,A eles estão a excluir.

Sem os conhecer,A eles os estão a fazer sofrer.

Pelo mundo da toxicodependênciaOu da prostituição terem seguido,Mas agora se terem arrependido.Por muitos não serem admirados,Nem valorizados.Estão neste momento a ser discriminados.

Pelo facto de ser forteOu até por não se vestir como eles,Deles se estão a afastarE a eles estão a ignorar.

Pelo seu estiloNão quererem seguirCom eles vão gozar.

Muitos são gozados,Excluídos,Diferenciados,E até, por vezes, ignoradosPor a eles não quererem pertencer.

Marina Isabel Pereira (10.º A)

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A ESCOLA

Nascemos sem nada saber,E não nos preocupamos com nada.Algum tempo depois vamos perceberQue a vida não nos é assim tão facilitada.

A escola prepara-nos para sermos independentes,Aí começamos a decidir aquilo que queremos,Construímos sonhos e usamos as nossas mentes.

Ela decide o nosso futuro,Por isso é que se torna importante.E se trabalharmos muito,Podemos ter um futuro triunfante.

Quando saímos da escola,Sentimo-nos capazes de tudo,Mas a vida fora dela é complicadaE às vezes o futuro que sonhámosPassa a ser uma história malfadada.

O esforço é por isso importanteE não podemos deixar que a preguiça vença,Pois se isso aconteceEsta luta torna-se desinteressante.

Anabela Barros (10.º B)

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BEIJOS

Todos gostamos de beijosJá os teve já os deuTransmitem muitos desejosToda a gente os recebeu

Beijos secos ou molhadosDados com muito calorDe tantos enamorados Bocas ciosas de amor

Beijos nos enternecemE lembram por uns instantesMomentos que não esquecemDoces paixões dos amantes

E muito ternos e belosDoces e muito meiguinhosSão como cunho de selosBeijos dos nossos filhinhos

Mas os mais belos sãoComo esses não há iguaisGravamos no coraçãoOs beijos dos nossos pais

Manuel Silva

Assistente Técnico na ES/3 de Barcelinhos

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LIBERDADE

Corre o rio para a foz,Independente da nossa vontade,Os clamores da nossa voz,A vida passa, é verdade.

A noite aparece de mansinho,Tentando travar o meu desejo,Como pedras no caminho,Qual mortal beijo.

Mas eu, marinheiro do abismo renascidoUltrapassarei as tormentas,Tal como a tempestade esconde a bonança,Também eu agarro a esperança.

Sonho ser pomba e voar,Sobre as montanhas saltar.Por tudo isto viver eSentir-te, minha amada, liberdade.

Ricardo Gomes (12.º A)Concurso «Faça Lá um Poema»

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Prestes a afogar-me numa marinada negra de cheirosAgarrei-me a uma laranja amarga e senti o doce do teu serTrincando pão duro e seco comecei a rasgar-te as entranhasEsperando ver-te por dentro tal como somos.Adocicada que fui por mimos mentais, fiquei tão pegajosaQue dificilmente me despegava da tua carne quentePois começava agora a alimentar-me melhor.Fui crescendo e engordando lentamente E tendo sede, bebi do teu vinhoMas só depois falei!Falando já bem, criei um samba de enredo, apenas faladoE comecei a treiná-lo contigo.Entusiasmada pelo batuque dos teus beijosPassei a dançá-lo, e, exausta de tanto me agradar, parei.Parando, imóvel fiquei emagrecendo de fome, agora muito rapidamente.Salgada que fui pelas minhas, mas também tuas lágrimasIa matando muito dificilmente a minha sede.E assim fiquei, fechada no tempo, a tentar esquecer-me de mim.

Maria Eduarda VieiraProfessora de Filosofia

ES/3 de Barcelinhos

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ENTRE NASCER E MORRER

NascerNascer é…Acordar para uma história,Relembrar e ficar memória,Sentir uma glória,Viver uma vitória.

Viver Viver é…Sorrir para a vida,Encontrar uma história perdida,É uma estrela recebida,É um caminho sem saída.

SonharSonhar é…Viver com emoção,Como cantar uma canção,Que toca no meu coração.

MudarMudar é…Acabar com o racismo,Com a guerra e a doença,Abolir o egoísmo…A solidão e a indiferença.

MorrerMorrer é…Fechar o livro de histórias de encantar,Parar de amar,Desistir de enfeitiçar,É acabar.

Gisela Barbosa (9.º A)

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NAVEGAR

Adoro navegar Nas lindas águas transparentes.Remar o meu barcoPara chegar à felicidade.

Gosto de mergulharNas águas calmas e profundas.Conhecer o fundo do marE contigo sempre a sonhar.

Hélder Alves (9.º A)

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TODOS OS DIAS

Todos os dias, a idaTodos os dias, a vindaMelancolicamente,Sempre os mesmos passos,As mesmas pessoas,O mesmo espírito,Tudo sempre igual.

Olho para o lado,Já dois anos passaram,Em frente pressintoAlgo que jamais concretizaram.

Cada vez, o tempo é menor,Cada vez se torna mais especial,A vontade da chegada ao futuro:O cheiro da concretização,O fim do sonho próximo,O princípio de uma projecção.

Deste modo, são saciadosTodos os dias que passam,Aqueles que cansadosSão vagarosos,Os que energicamenteCorrem de forma empolganteE todos aqueles que voamSem que o rumo lhes seja visto.

Saber viverÉ aproveitar cada momentoQue a vida sabe oferecer.Ser felizÉ lutar por algoQue sempre foi sonhado.ConcretizarÉ conseguir ser feliz,Lutar, sonhar…De maneira Insaciável.

Jéssica Silva (10.º A)

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LÁGRIMAS

LágrimasPesam nos meus olhosAs lágrimas da tristeza que sinto.São transparentes, ninguém as vê,Mas acreditem que eu não minto.

São lágrimas,Aquelas que certo poeta Verificou serem iguais,Seja qual for o lado da moeda.

São de dor e saudadePor alguém que partiu.São lágrimas da realidadeQue eu e tu partilhámos.

Será justo esperarmosPor alguém que nos ajude,Que nos limpe o que chorámosPela realidade trágica do Mundo?

Cláudia Costa (10.º A)

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JANELAS QUE SE FECHAM…

Acordo, mas mantenho-me de olhos cerrados,Porque a escuridão é claridade no meu íntimo.Não quero ver o que as janelas me querem mostrar,Os meus sentidos estão como que hipnotizados.

Todo o meu ser é invadido por nadas,Nadas que contíguos formam tudo.Tudo aquilo que incontestavelmenteFaz de mim nada.

O tempo passa e a escuridão vai clareando,Os meus olhos abrem-seE, por momentos, penso:De que vale viver sonhandoNeste cruel mundo imensoOnde toda a gente pensaQue não vale a pena viver sonhando…

Susana Araújo (12.º E)

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ÁGUA

Água,Fonte de vida, esperança e alegria.Nasce nos rochedos,E corre ao longo das ribeiras, dos riachos, dos rios…

Chega finalmente até nós,Como se tratasse de uma força atractiva.Bebemo-la,E no instante seguinte, algo em nós muda.

Se estávamos doentes, ficamos curadosSe estávamos tristes, ficamos animadosSe estávamos morrendo, voltamos a viver.

Mas, lá longe a água não chega,E vida, haverá vida lá?Há, mas neste caso o HomemDesloca-se até à fonte de água.

Nesse lugar a água é poucaPara muita genteE não chega à bocaDe toda a gente.

As crianças choram, Estão doentes e quase a morrer,Pois não têm uma mãe para lhes dar de beber.Pobre mulher morreu de sede, ao ir buscar água!

Água,Fonte de vida ou de morte.Teremos muita sorteTê-la como fonte de vida!

Andreia Garrido (12.º A)

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LAMENTAVELMENTE, TU!

Quero respirar o teu aroma perdidoQuero falar da tua belezaQuero ouvir a música da tua vozE saber se transborda pureza.

Quero conhecer o que te vai na almaQuero sentir a textura das tuas lágrimasQuero mergulhar no esplendor dos teus olhosE acreditar na tua magia.

Quero esmiuçar o teu pensamentoQuero gritar contra o teu peitoQuero amar do meu feitoE descobrir o sentido deste lamento.

Pedro Fernandes (9.º A)

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RECORDAÇÃO

Ofereceste-me a vida,Ensinaste-me a conquistar a felicidade,Sempre me deste amor,E encheste o meu mundo de cor.

Meus braços estarão sempre prontos para te abraçar,No meu pobre coração,Tua imagem estará sempre guardada,Como uma boa recordação.

Carla Pereira (9.º A)

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SER POETA É…

Amar desmedidamente.Construir sem alicerces.Pensar sem fronteiras.Sonhar veementemente.

Voar mais alto do que as asas possam chegar.Perdoar sem receios o que há p’ra perdoar.Distribuir harmonia com olhares.Brotar melodias em cantares.

Mergulhar num mundo de sinestesias.Deslustrar as mãos com sentimentoQue acabara com as energias.

Uma mochila a transportarCom o amante das palavras.Ver, querer, imaginar.

Carla Ferreira (9.º A)

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QUÍMICA DO AMOR Amor…Uma só palavra,Uma experiência sem igual! Queres amar?!Então, os preconceitosTens de evaporar,Os medos e receiosIrás filtrar,E toda a tua vidaComeçará a mudar…Lágrimas terás de esterilizarPor vezes ácidas ou básicas,Mas terás que as preparar,Analisar e até mesmo testar,Já que, para uma junção,Não basta uma simplesEsterilização…Por vezes, é necessárioUma sublimação!...Mas basta um sinalE não te sairás nada mal!O lume irá aquecer,Carícias vão aparecerE os desejos permanecer…Amar-nos-emos mutuamenteE a experiência será fluente…

Nelson Figueiredo (12.º A)

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LIBERDADE…

A liberdade não é um lugarQue se procura. A liberdade éUm lugar que eu encontreiDentro de mim. É o meu meio deLigação com cada um de nós. E se aVida é uma aventura, então euEntro de cabeça, ultrapassandoBarreiras quando me desafiam osLimites, trilhando um caminho só meu.A minha essência de viver é ser livre.

Cristiana Casanova (9.º B)

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AMAR

Esta felicidade que está em mimFaz de mim uma criançaCujas risadas não têm fimE que nunca perde esperança.Sinto que me completei,Que me finalizei,E tudo isto só porque te amei.Nem sei mais o que escrever,Nem tão pouco o que dizer,Só te quero mostrarA força do verbo amar.Podia-me alongarE até escrever um livro,Mas tudo ganha sentidoNa pequena palavra amar.

Marta Neves (9.º B)

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VIDA

A vida pode ser ilusão, triste e sem perdão…Pode ter maldade e sacrifícios…Nela posso sofrer, chorar e perder…No entanto a vida é linda se houverPessoas com coração…Por isso lembra-te de sorrir,Lembra-te de amar, lembra-teDe viver, e sobretudo lembra-teDas pessoas que gostam de ti…Estarão sempre prontas para teAjudar.

Ana Figueiredo (9.º B)

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ÁGORA – HIPÁCIA UMA MULHER FILÓSOFA

“Ensinar superstições como uma verdade absoluta é uma das coisas mais terríveis”Hipácia

Hipácia foi a última grande cientista de Alexandria. Os relatos históricos são incertos relativamente aos diferentes aspectos da vida de Hipácia e quanto à data do seu nascimento (370 d. C.?). Filha de Theon, um conceituado filósofo, astrónomo e matemático, autor de diversas obras e professor da Universidade de Alexandria, este incutiu em Hipácia a paixão pelo conhecimento e pela procura de respostas para o desconhecido. Quando lhe perguntavam porque nunca se casara ela respondia que já era casada com a verdade.

Hipácia estudou na Academia de Alexandria, onde devorava conhecimento: filosofia, matemática, astronomia, religião, poesia e artes. A oratória e a retórica, com grande importância na aceitação e integração das pessoas na sociedade da época, também não foram descuidadas.

No que se refere ao campo religioso, ela recebeu informação sobre todos os sistemas de religião conhecidos na época, tendo seu pai cuidado para que nenhuma religião ou crença lhe limitasse a busca e a construção do seu pró-prio conhecimento. Quando adolescente, viajou para Atenas, para completar a sua educação na Academia Neoplatónica, onde logo se fez notar pela sua dedicação aos estudos, pelo brilho da sua inteligência e pelo arrojo de suas ideias. A sua fama espalhou-se rapidamente e, ao regressar à Alexandria, foi convidada a dar aulas no museu juntamente com aqueles que haviam sido seus mestres.

Aos 30 anos, tornou-se directora da Academia de Alexandria. Do seu traba-lho, infelizmente, pouco chegou até nós. Sabe-se que desenvolveu estudos sobre Álgebra, que inventou alguns instrumentos para a Astronomia e aparelhos usados pela Física. É um marco na História da Matemática que poucos conhecem, tendo sido equiparada a Ptolomeu. O seu talento para ensinar Geometria, Astronomia, Filosofia e Matemática atraía estudantes admiradores de todo o império romano, tanto pagãos como cristãos.

A tragédia de Hipácia foi ter vivido numa época de luta entre o paganismo e o Cristianismo, com este a tentar apoderar-se dos centros importantes então existentes. Hipácia era pagã, facto normal para alguém com os seus interesses, pois o saber era relacionado com o chamado paganismo que dominou os séculos anteriores e era alicerçado nas tradições de liberdade de pensamento.

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O cristianismo foi oficializado em 390 d.C, e o recém nomeado chefe re-ligioso de Alexandria, o bispo Cirilo, dispôs-se a destruir todos os pagãos assim como seus monumentos e escritos.

Por causa de suas ideias científicas pagãs, como por exemplo a de que o Universo seria regido por leis matemáticas, Hipácia foi considerada uma herética pelos chefes cristãos da cidade. A admiração e protecção que o político romano Orestes dedicou a Hipácia pouco adiantou, e acirrou ainda mais o ódio do bispo Cirilo por ela e, quando este se tornou patriarca de Alexandria, iniciou uma per-seguição sistemática aos seguidores de Platão, sendo Hipácia a primeira da lista.

Assim, numa tarde do ano 415 d.C, a ira dos cristãos abateu-se sobre Hipá-cia. O historiador Edward Gibbon faz um relato vívido do que aconteceu: “Num dia fatal, na estação sagrada de Lent, Hipácia foi arrancada de sua carruagem, teve suas roupas rasgadas e foi arrastada nua para a igreja. Lá foi desumanamente massacrada pelas mãos de Pedro, o Leitor, e sua horda de fanáticos selvagens. A carne foi esfolada de seus ossos com ostras afiadas e seus membros, ainda palpi-tantes, foram atirados às chamas”.

Enrico Riboni descreve os motivos e as consequências dessa acção fanática dos religiosos afirmando: “A brilhante professora de matemática representava uma ameaça para a difusão do cristianismo, pela sua defesa da Ciência e do Neo-platonismo. O facto de ela ser mulher, muito bela e carismática, fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos dos cristãos. Sua morte mar-cou uma reviravolta: após o assassinato, numerosos pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e Alexandria deixou de ser o grande centro de ensino das ciências do mundo antigo. Além do mais, a Ci-ência retrocederá no Ocidente e não atingirá de novo um nível comparável ao da Alexandria antiga, senão no início da Revolução Industrial”. E Carl Sagan acrescenta: “Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, conside-rada pagã. Seu nome era Hipácia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciência, e devido à Alexandria estar sob domínio romano, após o assassinato de Hipácia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”

Os trabalhos da Escola de Alexandria sobre Matemática, Física e Astronomia serão preservados, em parte, pelos árabes, persas, indianos e também chineses. O Ocidente, pelo seu lado, mergulhará no obscurantismo da Idade Média, do

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qual começará a sair somente mais de um milénio depois. Pelos seus méritos de perseguidor da comunidade científica e dos judeus de Alexandria, o Bispo Cirilo foi canonizado e promovido a Doutor da Igreja, em 1882.

Rosa CondeProfessora de Filosofia da ES/3 de Barcelinhos

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ALVES DOS REIS – O MAIOR BURLÃO

DA 1ª REPÚBLICA – UM CASO INTEMPORAL

Artur Virgílio Alves dos Reis nasceu em

1896, em Lisboa, no seio de uma família modesta. Apraz-me questionar-me a mim mesma o porquê da maioria das biografias das personalidades de notável relevo na História se iniciarem com a típica frase: «Nasceu no seio de uma família modesta». Ainda começou um curso de Engenharia, mas não passou para além do 1.º ano (se fosse actualmente conseguiria acabar o curso facilmente, desde que tivesse o domingo livre…), devido ao casamento com Maria Luísa Jacobetty de Azevedo, em 1916, facto que o isentou da mobilização para a Primei-ra Guerra Mundial. Nesse mesmo ano parte para Angola, onde trabalhará nas Obras Públicas, chegando a ser inspector. Foi também director dos Caminhos de Ferro naquela colónia. Este cargo foi obtido a partir da sua primeira burla conhecida, quando forjou um diploma de Engenharia pretensamente obtido em Oxford, com capacidades para gestão industrial e financeira. Retiro o que disse, afinal Alves dos Reis não finalizou o curso mas conseguiu, sem esforço algum, e sem prescindir dos seus domingos, um diploma, portanto conseguiu ser mais esperto que alguns «engenheiros» do século XXI. A partir de 1919, Alves dos Reis dedicou-se ao comércio de produtos entre a colónia e a metrópole, sempre com golpes e ilegalidades. Acumulou algum capital, regressando a Lisboa em 1922, onde criou a firma Alves dos Reis, Ldª. Investiu também numa empresa mineira em Angola, assumindo-se cada vez mais como um grande empresário, quiçá se ele ainda estivesse vivo não estaria também envolvido no Caso Freeport.

No entanto, tanto Portugal como a sua colónia de Angola, sentiam de forma profunda a grave crise económica europeia resultante da Grande Guerra. Alves dos Reis ressentiu-se imenso dessa situação difícil, embora tenha encontrado maneiras de a superar. Como sempre alimentara o sonho angolano, acreditava firmemente que seria aquela colónia a sua rampa de lançamento para negócios em maior escala, fosse de que maneira fosse. Assim, virou-se para a Ambaca, empresa ferroviária estatal de Angola, a qual queria controlar através da posse da maior parte das suas acções. Estas, conseguiu-as adquirir através de uma nova fraude, um cheque sem cobertura do National City Bank, de Nova Iorque, onde tinha conta. Alves dos reis pretendia

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vender as acções a um preço mais alto antes do cheque chegar ao seu destinatário. O principal comprador que Alves dos Reis tinha em vista era Norton de Matos, comissário-geral de Angola. Mas o negócio não se concretizou, e Alves dos Reis foi arrastado para os tribunais, com um processo judicial que lhe valeria uma detenção na prisão, entre 5 de Julho e 27 de Agosto de 1924, data do julgamento. Se cogitarmos um pouco facilmente nos apercebemos que estamos rodeados de «Alves dos Reis». Como seria de esperar foi absolvido da acusação de desvio de fundos, mas culpado da emissão de um cheque sem cobertura.

Em 1925, todavia, Alves dos Reis entraria na História de Portugal como o seu maior burlão, a partir de uma gigantesca operação de fraude financeira, pelo que, indubitavelmente, deveria estar incluído na lista dos Grandes Portugueses. Nesse ano, Alves dos Reis montara um plano para criação de um banco – o Banco Angola e Metrópole – através da obtenção de fundos de que não dispunha. Formara uma equipa de especialistas: José dos Santos Bandeira, vigarista e irmão do embaixador português na Holanda; Karel Ysselveere, negociante holandês; Adolf Hennies, alemão, também negociante, profundo conhecedor dos meandros da diplomacia internacional. Então, Alves dos Reis, em Inglaterra, mandou imprimir 580 000 notas de 500 es-cudos, fingindo-se de governador do Banco de Portugal, para além de ter falsificado uma chapa de nota, documentos e credenciais várias. Utilizou ainda as matrizes e serviços da empresa inglesa Waterlow & Sons, Ltd, a qual executava a impressão das referidas notas. Através de Ysselveere, obteve do administrador da empresa inglesa o reconhecimento da autenticidade de dois contratos, pelos quais o Banco de Portugal autorizava o governo de Angola a emitir 580 000 notas de 500 escudos (290 000 000 de escudos/1 446 514 de euros), ficando Alves dos Reis encarregado de tratar do negócio. Assim, Ysselveere recebeu da Waterlow, em Fevereiro de 1925, a primeira parte das notas. José Bandeira, através da embaixada portuguesa em Haia, fez chegar a Portugal esse primeira parte da encomenda. As restantes remessas foram chegando ao País, suscitando então desconfianças nos meios financeiros, perante tantas notas em circulação. Contudo, as investigações do Banco de Portugal nada clarificaram, desmentindo mesmo a existência de dinheiro falso. Actualmente este caso poderia intitular-se de dinheiro oculto…já que tudo que é oculto parece despertar o interesse da sociedade actual..

Alves dos Reis pretendia com toda esta fraude gigantesca fundar o Banco Angola e Metrópole, para investir em Angola e, posteriormente, tentar controlar a maioria das acções do Banco de Portugal, situação que esteve prestes a conseguir. Mais uma vez conseguimos encontrar paradigmas desta situação na nossa socie-dade actual. As polémicas que envolvem bancos são atemporais …Entretanto, a burla foi descoberta, estando Alves dos Reis em Angola. A bordo de um navio alemão, foi preso a 5 de Dezembro de 1925, acusado de falsificação de notas. Foi

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aberto um processo judicial, que se prolongou até 30 de Junho 1930, quando foi condenado a 20 anos de prisão. Manteve-se encarcerado na Penitenciária de Lisboa até 1945, sofrendo a pena mais pesada do grupo de falsificadores por ele dirigido, em que se incluía a sua mulher.

A justiça condenou Alves dos Reis, mas o povo absolveu-o desde o início do processo. Era uma figura conhecida do grande público, um indivíduo elegante e vaidoso, considerado por muitos um génio, um aventureiro romântico, um homem capaz dos mais impensáveis estratagemas para alcançar fortuna e notoriedade, até alguém capaz de salvar o País do seu estado depauperado, tal como acontece hoje em dia: todos aqueles que cometem ilegalidades são venerados no nosso país…. A fraude que organizara teve repercussões em todo o País e em muitas figuras públicas e do governo, levando algumas a tribunal e mesmo à prisão, como o governador e o director do Banco de Portugal. O governo foi ridicularizado e contestado pela opinião pública durante o processo, que arrastou inúmeras per-sonalidades para a ignomínia e para as “ruas da amargura”.

Mas mesmo depois da maior fraude da História portuguesa, este campeão das ilegalidades voltou a reincidir, quando a 12 de Fevereiro de 1952, sete anos depois de sair da prisão, burlou em 60 mil escudos (299.27 euros) um negociante de Lisboa, a quem prometera 6 400 arrobas de café angolano, inexistentes. Em 1955 foi condenado a quatro anos de prisão, pena que não chegou a cumprir, pois morreu em 9 de Julho desse ano, na pobreza e no esquecimento geral. Podemos deduzir por esta última afirmação que há 50 anos ainda não existia o telejornal da TVI, porque se existisse Alves dos Reis e o seu dinheiro oculto não caíriam no esquecimento certamente.

Susana Araújo (12.º E)

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CHÁ E LIVROS

Nada mais intrigante do que um esgar, embora distraído e ocupado, sobre as nossas estantes de livros. Certos livros, vemo-los desarticulados e moles como que implorando-nos, “lê-me, pois estou prestes a desfalecer”. Outros, absolutamente hirtos e potentes, afrontam-nos com tanta sabedoria que se torna difícil encontrar a hora ideal para nos digladiarmos com eles.

O certo é que as nossas estantes ficam mais nobres graças aos livros, transmi-tem um certo status quando recebemos visitas, mas logo nos incomoda o trabalho de termos que os limpar, ao mesmo tempo que, inversamente, aspiramos a que eles tenham uma certa patine que só o pó, a humidade e os anos conseguirão dar-lhes de forma natural e autêntica.

Há uns dias atrás, peguei num livro desses com patine, folhas amarelecidas, desesperadamente amarradas umas às outras como se juntas tivessem sido vítimas de um naufrágio. A capa, de tipo pergaminho, era matizada de pontos de humidade cinzentos e atada por fios de couro quebradiços capazes de não atar por muito mais tempo. Não lhe peguei para o ler, confesso, até porque era tão recuado no tempo que tive dificuldade e senti-me ignorante ao tentar decifrar o ano da sua edição escrito em letra romana (M,DC,LXXXVII). O conteúdo tinha a ver com máximas políticas e morais de um Padre Jesuíta, de nome Francisco Garau, de Barcelona. Do livro, apenas lhe quis sentir o peso, o cheiro, manuseá-lo num fim de tarde vulgar que aspirava a algo de novo.

Como troca do prazer proporcionado pelo livro, injustamente apenas li os títulos de algumas das suas máximas! Ao pousá-lo, em cima da caixa que ele ajuda a decorar - e aqui está a cobrança que faço ao livro em causa - recordei que esta “peça” foi resgatada para minha casa tal como acontece a um animal solitário na rua que acolhemos por compaixão. Mas, para tudo é preciso ter sorte, pensei… porque pelo menos esta valiosa antiguidade livrou-se de ir para a fogueira ou para o contentor mais próximo.

Constato que até com os livros nos vem o egoísmo ao de cima. Usamo-los, sugamos-lhes o sangue e pomo-los de lado porque já deram o que tinham a dar.

O mesmo se passa quando fazemos uma tertúlia cujos personagens somos nós, os livros e o chá. Nesta partilha, o livro talvez seja o menos compensado, porque se o livro for forte de mais, não passa despercebido e é criticado; enquanto que se o chá for forte, deitamos-lhe água e adocicamo-lo, ou então, ficamos vidrados na sua caixa de folha que utilizaremos na decoração da nossa cozinha, facilmente esquecendo o seu conteúdo.

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Penso que para saldarmos a dívida que temos para com os livros, a qual nos incomoda, resta-nos a compensação do livro se ter sentido acariciado nos breves momentos em que decidimos escolhê-lo e aspirar a que as suas folhas rebentem na próxima Primavera, pois os livros, tal como as plantas, também gostam que falemos com eles.

Eduarda Vieira Professora de Filosofia da ES/3 de Barcelinhos

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A CIDADE E AS SERRAS DE EÇA DE QUEIRÓS- RECENSÃO CRÍTICA -

Um reavivar da paixão pelo natural, pelo espontâneo e pelo belo – assim poderia ser caracterizado o romance A Cidade e as Serras de Eça de Queirós. Servindo-se do poder melódico dos advérbios, da natureza representativa dos adjectivos e da lentidão temporal transmitida pelos gerúndios, Eça traz até ao leitor a descrição naturalista de duas realidades antagónicas: a cidade e a serra. E quanto à forma detalhada como a serra é descrita muito há a dizer: desde a atenção dada aos mais ínfimos pormenores da vida do campo, até à beleza leve-mente exaltada dos pequenos “achados” que Jacinto vai fazendo na sua descoberta do campo, desde a exploração da beleza de um riacho, até à genialidade musical do canto de uma ave.

Apesar de não tão salientes, notam-se, ainda, os traços naturalistas carac-terísticos da obra de Eça; de facto, há um empenho por parte do narrador em salientar as imperfeições tanto do campo, como da cidade, dando, todavia, mais naturalidade e espontaneidade ao ambiente da serra e criticando, já na parte final do romance, a pressa, o egoísmo e a preocupação desmesurada com a satisfação das carnes e dos bolsos característicos das gentes da cidade.

Por outro lado, o autor tem tendência a estereotipar pessoas e classes. Isto ocorre com certa frequência, por exemplo, na caracterização das raparigas do campo, que tendem a ser todas muito gordinhas ou muito magrinhas, com uma beleza rural que chega a ser caracterizada, hiperbolicamente, como monstruosi-dade, e com os modos de selvagens iletradas; noutros casos, temos as descrições da classe alta de Paris, composta por mulheres que escondem o passar dos anos com camadas cada vez mais espessas de pó-de-arroz, que vestem de peles e se entregam ao sensualismo, e por homens cultos e excessivamente pedantes, que não retiram qualquer prazer da vida e, por isso, cedem muitas vezes ao ócio e aos vícios. Neste romance, em particular, a utilização excessiva de estereótipos faz com que as personagens se tornem demasiado previsíveis e pouco cativantes, o que leva, de certa forma, à previsibilidade do desfecho.

Para além disso, a história em si não cativa nem prende o leitor pela, de certa forma, exagerada simplicidade dos contornos. O enredo centra-se demasiado nas personagens do Jacinto e do Zé Fernandes; para além disso, a brevidade com que tudo se desenrola, a efemeridade e a falta de acção e de intriga transformam o romance de Eça em algo muito semelhante a uma pintura: muita cor e pouco movimento. Eça empenhou-se bastante nas palavras e cores com que pincelaria

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a sua obra, mas desmazelou-se na criação de uma base sólida e empolgante, fa-zendo com que o resultado final fosse uma historieta monótona contada com as mais belas sonoridades da língua portuguesa. Manteve, assim, a fama de exímio contador, ficando a faltar a fama de exímio criador.

Apesar de tudo, o romance salva-se, não só pela belíssima forma como é contado, mas também por todo o simbolismo e moralidade que carrega consigo. Afinal, mais do que tudo, Eça parece procurar a reconciliação com as origens, o regresso da ovelha tresmalhada ao seio do rebanho, o reavivar de um amor ador-mecido. Parece procurar o conforto na sua pátria saloia e inculta, mas sempre acolhedora e compadecida. Teria saudades?

Ana Andrade (11.º A)

O PRIMO BASÍLIO- RECENSÃO CRÍTICA -

O Primo Basílio é um livro de Eça de Queirós que aborda, essencialmente, o tema do adultério. Para além deste tema principal, o autor faz algumas críticas à sociedade da época, expondo a corrupção instalada no Portugal do século XIX.

O livro, na minha opinião, é bastante bom. O narrador conta a história de adultério de Luísa, a personagem principal, com grande detalhe. O modo como, Luísa, vendo-se privada de seu marido por questões profissionais deste, procura sentir o que lhe é descrito nos romances e sair da solidão em que penetrou, quando o seu primo Basílio, rico e elegante, de volta a Portugal, a seduz, representa um dos problemas da burguesia da época. As sensações expressas nos romances eram procuradas sem que houvesse qualquer preocupação moral.

Juliana, empregada de Luísa, que lhe rouba cartas provatórias do adultério, e a chantageia, representa os frustrados com a vida. Solteirona, e já velha, só pensa nos benefícios que pode tirar de cada situação, mas, por doença, acaba por morrer.

Quando Juliana chantageia Luísa, o livro torna-se muito interessante, pois Basílio também volta para França, fugindo a esta situação. Luísa não sabe como obter o dinheiro necessário para pagar o silêncio de Juliana e, entretanto, o seu marido Jorge regressa. Ela opta por recorrer a Sebastião, amigo de infância de Jorge, que acaba por assustar Juliana com um polícia e o coração desta acaba por não aguentar.

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Depois disto, quando se pensava que o livro não teria muito mais a contar, Basílio envia uma carta a Luísa perguntando se esta queria dinheiro, mas Luísa ficara doente e é Jorge quem a lê. Quando Luísa melhora, Jorge pergunta-lhe sobre o conteúdo daquela carta. Luísa volta a adoecer e morre. Este acontecimento acaba por ser irónico, pois o leitor fora informado anteriormente que Jorge não seria capaz de perdoar a traição, sendo capaz de matar.

Mas Basílio não podia ficar malvisto apenas porque fugira quando Luísa foi chantageada. Ele volta a Portugal alguns meses depois e visita a casa de Luísa. Deparado com a notícia de que esta morrera, fica arrependido de não ter trazido uma mulher francesa, desprezando completamente a morte da prima.

As descrições de Eça tornam as situações mais naturais e até mesmo reais e a intriga vicia-nos, o que torna a leitura da obra fácil e atractiva.

A personagem de que mais gostei foi Sebastião. A atitude que este amigo de infância de Jorge toma mostra que era um pessoa de confiança e é aquela personagem que não faz nenhuma crítica à sociedade.

As críticas à sociedade são conseguidas por meio dos amigos da casa de Jorge: Julião apresenta-nos as ‘cunhas’ como modo de alcançar sucesso neste país. D. Felicidade é uma cinquentona que tenta seduzir o conselheiro Acácio, também amigo da casa. Este é muito pudico mas acaba por descobrir-se que mantém uma relação com a criada, que não é de cariz profissional.

É com este enredo e personagens que Eça cria, assim, a receita perfeita para criticar a sociedade, enquanto proporciona uns bons momentos de leitura.

Maurício Peixoto (11.º A)

O MANDARIM, EÇA DE QUEIRÓS- RECENSÃO CRÍTICA -

O Mandarim, obra de Eça de Queirós, fala-nos da história de um homem, Teodoro, funcionário público que desejava sair da sua miserável vida na esperan-ça de um futuro melhor. Teodoro encontra numa feira da ladra um documento que lhe mostra que, com um simples tilintar de um sino, se poderia tornar num homem rico, podendo assim retirar-se da sua miserável vida, fazendo desaparecer alguém. Teodoro não hesita, ficando assim com a fortuna de Ti Chi-Fu, homem que desconhece. Apesar de contente, com o passar do tempo, Teodoro mostra-se desgostoso com a sua nova vida, sentindo remorsos por ter retirado a vida

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a um homem para enriquecer facilmente. Com o peso na consciência, Teodoro parte para China, tentando de certa forma, junto dos familiares de Tin Chi-Fu, remediar o mal que fez.

O Mandarim foi escrito por Eça para compensar a promessa não cumprida, de publicar no jornal “Diário de Portugal”, nessa mesma data, Os Maias. Talvez devido a esse facto, o conto apresente expressões e locais referidos em Os Maias mas, apesar de uma certa semelhança com ela, esta obra leva-nos para o campo do surreal, do sobrenatural, com a apresentação da figura do Diabo, que aparece a Teodoro, propondo-lhe uma vida com mais dinheiro.

A história leva-nos ao ponto de partida de um problema moral que era conhecido, no século passado, como o “paradoxo do mandarim”, formulado em 1802 por Chateaubriand, que consistia numa pergunta: “Se pudesse, com um simples desejo, matar um homem na China e herdar a sua fortuna na Europa, com a convicção sobrenatural que nunca ninguém descobriria, você formularia esse desejo?”. Com este dilema, Eça, de uma forma divertida, leva-nos a pensar nesse mesmo dilema, apresentando-nos a história e o final trágico da personagem principal, Teodoro. Mostrando-nos como todos o tra-tam, apenas porque possui dinheiro, revelando assim a hipocrisia que domina as relações pessoais e sociais. A ideia geral do conto é, na verdade, a de que o crime não compensa, independentemente de qualquer outra consideração. Ao longo do tempo, após o crime que lhe proporcionara a riqueza, Teodoro foi-se tornando infeliz, a tal ponto que o retorno à vida rotineira e medíocre de hóspede pobre da pensão de D. Augusta chega a parecer-lhe uma forma de conseguir alguma paz de espírito. Além da história e crítica feita no livro, é também apresentada uma viagem à China que nos leva de certa forma a viver e a conhecer todos os percursos descritos no livro.

Apesar de curta, gostei da história e da mensagem que Eça pretendia passar, deixando com ela uma lição de vida que jamais alguém se pode esquecer. Retiro desta obra uma moral muito importante: a de que, por muito pobres que for-mos, “Só sabe bem o pão, que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o mandarim”.

Natasha Moreira (11.º A)

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A TRAGÉDIA DA RUA

DAS FLORES DE EÇA DE QUEIRÓS- RECENSÃO CRÍTICA -

Se se pode afirmar que Os Maias são a catedral do livro realista português melhor conseguida, também se pode afirmar que Eça de Queiroz tinha em men-te, e em papel, um projecto inovador para uma nova catedral, sendo esta mais ampla, mais alta, mais larga, mais bela,… Essa planificação corresponde à obra A Tragédia da Rua das Flores.

As semelhanças entre estas duas obras vão além de terem sido escritas por Eça de Queiroz, ambas abordam temas clássicos (o incesto), ambas seguem as características realistas, em ambos os romances há separação física dos amantes no final, entre outras parecenças. Em A Tragédia da Rua das Flores há, tal como em Os Maias, uma fusão entre a crónica de costumes da sociedade lisboeta do século XIX (mais explorada no segundo romance, mas mais mordaz e austera no primeiro) e a intriga principal (o desfecho da primeira obra é mais trágico do que o final do segundo livro, com o suicídio de Genoveva, evidenciando-se tal tragédia no título).

Ao longo da obra predominam presságios da “Tragédia”, indicados pelo narrador e pelas personagens, como quando Victor e Genoveva se vêem pela primeira vez, no Teatro da Trindade, existe uma personagem da peça representada que refere lá estar para “separar os amores culpados”; o “tio” Timóteo relembra-se da sua juventude, em que andara enamorado pela Joaquina dos Melros (que, no final da obra, se descobre ser Genoveva), da fuga da Joaquina da Ega (que mudara de nome quando se casou com Pedro da Ega, irmão de Timóteo) e da morte do seu irmão, no dia seguinte a Genoveva ter chegado a Lisboa; Genoveva, ao ler as cartas (tentando interpretar o seu futuro), apercebe-se que algo se irá passar, chorando por isso; e, quando se encontra com Dâmaso em Sintra, escreve a Victor e diz-lhe que será “a sua mamã” e ele “o seu bebé”; a semelhança física entre Victor da Silva e Genoveva, por eles notada e por outras personagens (João da Maia e Madalena Gordoff ); Genoveva na manhã em que se suicidou cantou “A Última Manhã da Minha Vida” de Schubert, dizendo a Victor que era uma música auspiciosa; estes são alguns dos indícios trágicos presentes na obra.

Esta obra nunca foi acabada (ou melhor, dizendo, aperfeiçoada) tendo, con-sequentemente, algumas frases inacabadas, rasuradas, outras sem sentido, mudança de nomes de personagens, palavras imperceptíveis, fora do seu contexto. No

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entanto, no meio desta imperfeição encontra-se um traço mais realista, satírico, irónico e original, perdendo-se, contudo, uma riqueza vocabular presente em outros livros de Eça de Queiroz. Aqui, o narrador vai mais longe do que em Os Maias, razão pela qual, talvez, Eça de Queiroz nunca tenha publicado este livro (A Tragédia da Rua das Flores é uma obra póstuma, foi publicada em 1980, 80 anos após a morte do escritor), isto é, este “rascunho”, se fosse publicado, seria demasiado polémico e cruel para uma sociedade acostumada ao Romantismo (estilo que não mostrava os defeitos da sociedade escancarados nos livros, como o movimento Realista fez).

Penso que os amores de Victor e de Genoveva, de A Tragédia da Rua das Flores, são mais profundos e sentidos, estão mais perto de serem reais do que a idealização romântica dos amores de Carlos e Maria Eduarda de Os Maias; os laços que unem Victor e Genoveva estendem-se para além dos poemas, do amor, do sangue, da morte e da eternidade.

Pedro Monteiro (11.º C)

“VOA, CORAÇÃO. OU ENTÃO ARDE”.A propósito da frase do grande poeta, Eugénio de Andrade:

“ Voa, coração. Ou então arde”

Aparentemente esta é uma frase simples, sem grande significado, profundida-de filosófica ou verdadeira emoção. Mas são os gestos e as palavras mais simples a essência do nosso Mundo. Esta pequenina frase está embuída de genialidade verdadeiramente fascinante. Voar? Ou Arder?

Todos os seres sensatos e com algum sopro de juízo, diriam sem grandes indagações que é melhor Voar. Afinal, o Homem sempre aspirou a ser pássaro, a ter asas, inventando mecanismos para poder fervilhar por breves instantes o Azul do Céu. Arder é lembrança feroz do fogo, da cor avermelhada da dor, e até, segundo os mais crentes, do Diabo que castiga os pecadores no fogo do inferno. Mas afinal, o que é que um músculo apertado e latejante como o coração tem a ver com tudo isto?

É que não é fácil deixar voar o coração, porque o voo conduz-nos neces-sariamente a uma queda fatal, a um enamoramento que nos parte os ossos. O Arder pode ser sinónimo de queimadura com antídoto, cicatriz que se cura com o Milagre do Tempo. Já o voo da doação do Amor, só pode dar-se, de forma

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gratuita, com consentimento voluntário e absoluto de um guerreiro coração. Esta nem sempre é a estrada que percorremos. Preferimos Arder diariamente e queimar o pavio das artérias dos relacionamentos, a aceitar a queda libertadora que o voo nos dá. Porém, não existe Vida sem risco, nem Amor sem dor. E jamais seremos felizes se virmos em cada rampa um ferir de asa quebrada.

Mas palavras são palavras e atitudes são actos. Agir no impulso de uma emoção é ser transportado para uma dor que nos faz Arder por dentro. Fugir desse impulso, é negar o fortuito, o inusitado, e ser-se fugitivo sem cadeia, com grades epidérmicas que nos acorrentam o traçar de cada amanhecer, e nos privam da lucidez da loucura.

Fugir da dor do amor, fugir do medo de perder esse amor, fugir do amanhã que será breve, fugir da distância que nos une, é sobretudo fugirmos de nós mes-mos. Do eu que nos constitui e que faz de nós aquilo que somos verdadeiramente. É transformar o Ser humano num Ser com fragilidade de vidro, quebrável ao menor toque. Uma leve pluma ou brisa de rosto poderá quebrar esta redoma que abafa o nosso interior e amordaça a nossa singularidade.

Mas um dia, irá derramar-se ao Mundo o melhor que há em nós e que está escondido em todos os instantes dos minutos que compõem os nossos dias. O vidro quebrar-se-á e deixaremos de fugir das emoções que o colo embala, de correr de nós mesmos para declarar luta ao risco e pisá-lo na imensidão de um deserto coberto pelas máscaras dos rostos amedrontados e frivolidades de sentimentos sem cor.

Brotará em cada um de nós uma criança, sentir-nos-emos embalados pelo brilho inocente de um sorriso e sem truques, como que por magia, aprenderemos a Voar com o Coração.

Gabriela BeatoProfessora de Psicologia da ES/3 de Barcelinhos

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PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA

E «MEMORIAL DO CONVENTO»

No dia 15 de Janeiro de 2010, enquanto membro da turma A do 12º ano, desloquei-me à vila de Mafra no âmbito da disciplina de Português e do estudo da obra integral Memorial do Convento, de José Saramago. Tínhamos como ob-jectivo assistir a uma peça de teatro e visitar o Convento. Mafra é uma vila mais pequena que Barcelos que tem como plano central dois aspectos: a imponência do Convento e a forte presença militar.

Durante a manhã, dirigimo-nos para um piso térreo do Palácio onde tivemos oportunidade de assistir a uma adaptação encenada da obra que estudámos. Tudo começou quando se abriram duas grandes portas em madeira e tivemos acesso a uma longa galeria abobadada em pedra. Apareceram-nos dois pajens vestidos a rigor (séc. XVIII), o que logo nos transportou para outra época. Era como se estivéssemos num filme em que éramos invisíveis e tínhamos recuado no tempo, tendo a oportunidade única de assistir in loco a acontecimentos que muitos his-toriadores dariam a vida para terem uma vez oportunidade de presenciar. Após uma introdução ao contexto do “Memorial do Convento” e de umas risadas, abriram-se outras portas e passámos para a local da encenação propriamente dita. Aqui foi-nos apresentada de forma sucinta e bem articulada a obra de José Sara-mago. Tudo feito com muita comédia e boa disposição ora não estivesse presente a gulosa e distinta barriga d’el-rei D. João V ou o sensível andar saltitante do seu ministro da Fazenda.

A tarde foi preenchida com um visita guiada pelo Palácio e por uma pe-quena parte do Convento já que 90% do mesmo está afecto à Escola Prática de Infantaria, sob alçada do Ministério da Defesa. A maior parte do Palácio que se encontra visitável está restaurada. As torres dos carrilhões encontram-se interditas neste momento porque necessitam de obras e não há verbas. As alas do convento interditas ao público encontram-se num estado deplorável. Que os militares usem maioritariamente as catacumbas para treinar, tudo bem, agora que o Estado se sirva disso para não recuperar uma parte importante de um monumento nacional é triste e soa a manobra de cosmética barata. O palácio visitável é muito belo e foi construído para enaltecer a grandeza do nosso povo. O problema reside nos custos humanos e monetários da obra, como o autor refere no Memorial. Infeliz-mente esta política utópica não é de agora. Inicialmente estava prevista a criação de um convento para 13 frades, mas assim que o ouro foi chegando do Brasil, logo se embarcou em ideias megalómanas e o “rei-sol à portuguesa” conseguiu a

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bela proeza de colocar o país mais pobre após a descoberta das riquezas brasileiras que antes. Já naquele tempo a fama nacional não era a melhor e assim que o enviado do rei tentou comprar 1 carrilhão em Antuérpia, os produtores riram-se do emissário pois não acreditavam que Portugal tivesse dinheiro para o pagar. O rei, sentindo-se ferido no seu orgulho, deu ordem para que se comprassem não um, mas sim dois carrilhões!

Este palácio é muito belo, de fachada semelhante a Versalhes (claro que não tem os mesmos jardins nem a Galerie des Glaces) mas já é suficientemente grande para que a sua presença seja admirada de qualquer ponto da vila. Possui ainda uma bela Basílica no seu interior, da qual o rei e outros enfermos poderiam as-sistir à missa sem sair dos quartos. Foi construída à semelhança da Basílica de S. Pedro em Roma e embutida na estrutura, à semelhança da capela de Versalhes. Tivemos a felicidade de encontrar um senhor a ensaiar nos órgãos da basílica e a forma como aquela música atravessava o espaço e nos envolvia como um per-fume da melhor qualidade, soberba. Seria sem dúvida um local apropriado para nos deleitarmos com um concerto de música clássica ou até uma ópera, fazendo pleno uso dos quatro órgãos em funcionamento. Para quando a reparação dos outros dois? Não tenho dúvidas de que a atmosfera do local com os órgãos em funcionamento, uma bela voz e uma pequena encenação, seria capaz de transportar o maior crítico internacional à época áurea de Viena de Áustria.

A visita guiada correu muito bem. O nosso guia, um jovem pouco mais velho que nós, fez muito bem a correlação entre o monumento, o contexto histórico e fenómenos corriqueiros e engraçados da vida quotidiana. São exemplo as casas de banho portáteis e os relatos de que nobres que tomavam banho duas ou três vezes na vida.

Concluindo, Mafra é uma obra grandiosa, uma ode à excelsitude do nosso povo. Pena é que tamanha obra tenha sido realizada pelo sacrifício de muitos para o deleite de poucos. A época histórica favoreceu o monumento, mas empobreceu o país porque se todos os dias chegavam a Lisboa navios carregados de ouro, mais ainda saíam cheios dele para pagar as enormes importações.

Ricardo Gomes (12.º A)

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PESSOA ORTÓNIMO E HETERONÍMIA

No dia 13 de Julho de 1888, nasce Fernando António Nogueira Pessoa, um dos maiores poetas do século XX que viria a conhecer uma edição póstuma das suas Obras Completas, com crescente projecção, no plano nacional e inter-nacional.

Todavia este poeta não só se apresentava com o seu nome próprio, como através dos seus heterónimos. Destes ficaram mais conhecidos: Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Estes heterónimos são nada mais nada menos do que invenções de personagens completos, com biografias próprias e estilos literários diferentes.

Conforme estudei ao longo deste período lectivo, o essencial na poesia pes-soana era, primeiramente, entender o poema «Autopsicografia» e «Isto» onde o ortónimo explica ser um poeta ‘fingidor’. Nesse contexto, teríamos de entender que fingir se equipara aqui a inventar e elaborar mentalmente conceitos que exprimem as emoções, isto é, transfigurar pela imaginação aquilo que se sente naquilo que se escreve. Exigia assim a criação de uma dor ‘fingida’ sobre a dor real e experimental e nasce assim uma nova concepção de arte. Os dois poemas completam-se, na medida em que ele explica num o que queria dizer no outro, como deu a entender no verso «Eu simplesmente sinto/Com a imaginação». Para além disso, Fernando Pessoa aborda outras temáticas como a dor de pensar («Ela Canta, Pobre Ceifeira»), o sonho/realidade («Tudo o que Faço ou Medito») e a nostalgia de um bem perdido («Não Sei, Ama, Onde Era»). Além de toda a sua obra poética, ainda editou o seu único livro «Mensagem», em 1934, em que não retrata o EU do poeta, mas a nação portuguesa.

No entanto, estava muito longe de perceber a verdadeira complexidade deste sujeito poético e ainda neste momento não sei se consigo entender toda a mecânica dos heterónimos que ele criou diante de si, embora ele explique este facto dizendo que a origem destes reside na sua histeria, provavelmente ‘histeroneurastenia’ (his-teria interior), e na ‘tendência orgânica e constante para a despersonalização’.

Assim, é-me apresentado Alberto Caeiro, que é considerado por muitos o mestre ingénuo por se apresentar como um simples ‘guardador de rebanhos’. É um poeta, pastor por metáfora na medida em que o que ele realmente guar-da são os seus pensamentos, e também uma espécie de poeta deambulatório, assemelhando-se a Cesário Verde nesse aspecto, que anda constantemente e sem destino. Além disso, ele é o único que recusa o pensamento metafísico pois sendo este um poeta da Natureza acredita na constante renovação da vida e aquilo que

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vê na Natureza vê sempre pela primeira vez. Mais uma vez somos confrontados com a dor de pensar que já havíamos visto em Pessoa ortónimo, pois para este heterónimo «pensar é estar doente dos olhos». Assim, ele dá primazia às sensações, sendo que a mais importante é a visão como ele afirma em vários poemas pois «Para além da realidade imediata não há nada». Por conseguinte, ele vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, vê a Natureza como um mundo que quer descobrir, como uma «eterna criança».

Depois de algumas aulas é a vez de conhecer um pouco de Ricardo Reis. Para este poeta foi fulcral entendermos todos os conceitos pelos quais se rege a sua filosofia de vida, «Carpe Diem» (gozar a vida) sendo que a esta imagem estão interligados os conceitos de epicurismo e estoicismo. O epicurismo é a busca da tranquilidade, da moderação dos prazeres e da fuga à dor, enquanto o estoicismo assenta nos princípios da firmeza de carácter, impassividade perante a dor (aceitar a dor), aceitação das leis do destino («a vida/passa e não fica, nada deixa e nunca regressa»), a recusa de paixões desmedidas e a falta de ambição. Toda a sua poesia é pedagógica cheia de ensinamentos e conselhos como as odes «Para Ser Grande, Sê Inteiro» e «Segue o teu Destino». Com ele surge também o Neopaganismo, isto é, a crença nos deuses. Porém, aqui o destino está acima dos próprios deuses e não na mão deles, é o Fatum uma força oculta que actua sobre o Homem. O poema que mais me marcou foi «Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio» pois a minha opinião inicial era de que este poeta era um homem triste por recusar o amor, mas apercebi-me o quão errada estava pois ele aceita o amor, no entanto não é a concepção a que estamos habituados a presenciar no nosso quotidiano com todo o afecto que os pares apaixonados demonstram. Ele explica bem neste poema o porquê de não enlaçar as mãos e de evitar outros contactos: é que se «for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois/Sem que a minha lembrança de arda ou te fira ou te mova», isto é, ninguém sofre com a morte do parceiro.

Agora com Álvaro de Campos a história já foi outra, pois tive mais dificul-dades na interpretação. O que ficou bem claro na minha cabeça é que este poeta é caracterizado por três fases: o decadentismo (somente o poema «Opiário») onde existe o tédio, a abulia e a busca de novas sensações; a fase futurista/sensacio-nista onde celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização, os seus poemas são caracterizados por uma atracção erótica pela máquina, um ritmo frenético e nervoso. A «Ode Triunfal» e a «Ode Marítima» são exemplos desta totalização das sensações; depois, por fim, temos o pessimismo que perante a impossibilidade de realizações traz mais uma vez o tédio e um «suprimíssimo cansaço». Aqui vemos o poeta voltar às temáticas abordadas por Fernando Pessoa, uma vez que perante a frustração da incapacidade refugia-se nas recordações do passado e confessa ter «Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira».

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Está neste verso patente a nostalgia da infância irremediavelmente perdida sendo que depois disso «A única conclusão: é morrer».

Em suma, posso resumir em apenas uma palavra cada um deles. Fernando Pessoa caracteriza-se pelo fingimento; Alberto Caeiro a fragmentação; Ricardo Reis a dissimulação; e Álvaro de Campos a despersonalização.

Ana Perestrelo (12.º D)

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O MARINHEIRO E A DAMA

“Este romance que vou começar É sobre a vida de um marinheiroQue passa a vida a navegarE percorrer mundo inteiro.”

Era uma vez, um rapaz muito querido dos seus familiares e amigos, viveu muito feliz até atingir a idade para cumprir o serviço militar. Optou pela marinha sendo colocado em Angola para a guerra colonial. Jovem e sozinho embarcou muito triste deixando, em terra, família, amigos e a sua amada.

“Nesse dia de tristezaMeus amigos abraceiE eu cheio de mágoaMinha terra abandonei.”

Quando chegou ao quartel, entregou os seus documentos, cortaram-lhe o cabelo e tomou um banho de água fria. Depois do banho, com tudo no pensa-mento, deram-lhe uma farda de cotim e deslocou-se para o seu quarto.

“Neste primeiro dia fiz a camaJunto dos meus companheiros,Mas eu nenhum conheciaPareciam-me todos estrangeiros.”

Mas com o tempo isso passou, formando grandes amizades. Para ocupar os tempos livres, saía com os seus companheiros, e, no meio de uma brincadeira, começou a namorar com uma dama. Até que um dia dormiram juntos e a dama engravidou.

“Fui então dormir com elaMas, oh! Que grande alegriaSe passou a noite todaNem um nem outro dormia”

Mas o marujo aldrabão despediu-se da dama, não podia casar com ela, por-que tinha amor na terra natal.

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“Se tinhas amor na terraNunca me disseste nadaAgora fico no mundoPara ser uma desgraçada.

Não chores, amor, não choresQue me faz ter compaixãoSabes bem que o marujoSabe ser aldrabão.”

Sozinha e grávida ficou, o marujo aldrabão tinha-lhe roubado a honra e agora ninguém queria casar com ela. Então, farta de chorar, fez queixa no quartel.

“Dá-me licença, Sr. Comandante,Digo já porque aqui estou:Eu venho aqui à procuraDo marujo que me enganouE grávida me deixou.”

E logo o Sr. Comandante mandou chamar o marujo 209, vindo ele a correr. A dama identificou-o como sendo o rapaz que a enganou.

“Vira-te para mim rapazNão estejas a chorarSe é verdade o que ela dizCom ela tens que casar.

Eu com ela é que não casoPorque estrago a minha vidaPorque eu lá na minha terraTenho outra rapariga…”

António Gomes Queirós Senra, Corpo de Marinheiros da Armada (28/05/1964), adaptado por Marta Araújo (Neta)

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NÓS, NOS LIVROS

Sonhar é um dom, um privilégio que nem todos têm. Ler um livro propor-ciona-nos milhares de sonhos. Sonhar não é apenas fechar os olhos e imaginar o dia de amanhã como melhor nos convém, mas sim, ter a capacidade e liberdade de entrar num livro, vivê-lo e sonhá-lo.

Tudo é muito monótono quando nos baseamos em viver os dias como simples robôs, alguém que tudo faz por obrigação, ou fazem aquilo que todos os outros fazem. Não! Essa ideia é errada. O desejo de querer sempre mais é óptimo, é insaciável e pode ser concretizado com a leitura de um livro.

A simples palavra livro traz consigo milhares de palavras. A ideia de conhecer países lindos e maravilhosos, de ficar a perceber histórias e romances marcantes na literatura, de voar até à lua, de conhecer Marte, pode ser algo não concretizável na realidade, mas alcançado no pensamento. É esse um dos grandes privilégios que se pode ter a ler um livro.

Quando começo a ler um livro, parece-me sempre desinteressante, até ao momento em que me desperta e me apercebo daquilo que ele realmente me proporciona. A minha imaginação voa cada vez mais alto, os meus sonhos e desejos flutuam com mais velocidade sobre a superfície da água, sinto que com eles aprendo a saber lidar de maneiras diferentes com as situações e, por vezes, comigo mesma.

Jéssica Silva, (10.º A)

LER… ESTIMULAR… CRESCER…

Ler é saber! Ler é trocar! Ler não é só receber! Ler é comparar as experiências próprias com as narradas pelo escritor, ler é dialogar! Ler é ampliar a percepção! Ler é ser motivado à observação de aspectos da vida que antes nos passavam despercebidos! Ler bons livros é capacitarmo-nos para ler a vida! Assim, podemos crescer e tornarmo-nos mais instruídos – basta ler!

Fernando Savater é um escritor Espanhol muito conceituado que escreveu o livro “Ética Para Um Jovem” com o intuito de estimular o desenvolvimento de livres-pensadores. Usualmente, estamos dispostos a pensar que os nossos hábitos, as nossas crenças, a nossa religião e os nossos políticos são melhores do que os

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dos outros, ou que os nossos interesses exigem ataques defensivos ou dissuasivos contra eles. É por causa de ideias sobre o que os outros são, ou quem somos, ou o que os nossos interesses ou direitos exigem que fazemos guerras ou oprimimos os outros de consciência plácida, ou até aceitamos, por vezes, ser oprimidos. É necessário reflectirmos, pois a reflexão permite-nos recuar, ver que talvez a nossa perspectiva sobre uma dada situação esteja distorcida, ou pelos menos ver se há argumentos a favor dos nossos hábitos.

Fernando Savater mostra-nos tudo isso no livro em questão, fala-nos das nossas situações do dia-a-dia, faz-nos reflectir, estimula-nos a pensar! Por tudo isto, aconselho arduamente a lerem este livro, pois é um livro fácil de ler, visto que a linguagem usada é destinada a jovens o que não significa que outras pessoas não o façam – nunca é tarde para reflectirmos!

Juliana Carvalho (10.º B)

APRECIAÇÃO CRÍTICA DO FILME “SLUMDOG MILLIONAIRE”

Vi este filme no cinema e este ano, repeti a sua visualização na aula de Psi-cologia, a propósito do tema «Eu nos Contextos». Adorei! Não há dúvida de que merece todo o crédito internacional que teve. Este filme prende-nos, choca-nos e faz-nos rir porque, embora com um pouco de ficção à mistura (o facto de Jamal Malik saber todas as respostas e conseguir ser bilionário), mostra-nos a vida num país de Terceiro Mundo, sobrelotado, como é a Índia.

Este filme despertou em mim um turbilhão de emoções. Por um lado, fiquei enojado com o amontoado de pessoas num pequeno espaço sem as mínimas con-dições de habitabilidade (bairros de lata e dejectos a céu aberto). Repugnaram-me os angariadores de crianças que as levam das lixeiras por uma simples garrafa de coca-cola e que cometem a barbaridade, se é que existe palavra para definir o que eles fazem, de cegarem as crianças para elas angariarem mais dinheiro.

Mumbai, é apresentado como um local onde uma pessoa que nasça pobre, está condenada a morrer pobre, se viver honestamente, tal é o ambiente que a rodeia. São os traficantes que se tornam empresários respeitados, donos de metade da cidade, as mulheres que não são respeitadas… é uma realidade tão diametral-mente oposta à nossa que até parece que aquele local foi esquecido por Deus. Uma pessoa sabe que nos países muito populosos a maior parte das pessoas não

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vivem, existem. Constatar isso de forma tão cruel, através das imagens do filme surpreendeu-me de verdade. Embora de forma mais camuflada, também assistimos a discriminações na nossa sociedade, mas nada que se compare a um sistema de castas. Ser gozado por ser chaiwalla em frente a todo o país, ser humilhado por não ter instrução, torturar com choques eléctricos, são coisas que eu consideraria impensáveis acontecerem no nosso país. As crianças a fazerem-se passar por guias turísticos, os roubos de pneus, as quedas no esgoto, dão uma pitada de comédia ao filme, aliviando a tensão que ele provoca.

Realmente este é um mundo em que é preciso ter-se muita sorte com o local/contexto onde se nasce, porque ele determinará grande parte da nossa vida.

Ricardo Fernandes (12.º A)

SERMÃO DO EDUCADOR

PAULO FREIRE ÀS BARATAS

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade,sem ela, tampouco a sociedade muda.” (Paulo Freire)

I

Dizia, um dia, um grande educador brasileiro: Se a educação sozinha não transforma a sociedade, tampouco a sociedade muda. E era com estas palavras que esse sábio da cultura mundial explicava ao mundo a importância de ins-truir um povo, de lhe fornecer as bases para o seu desenvolvimento, de lhe dar a oportunidade de reclamar a sua liberdade através do conhecimento. Foi também por estas e por muitas outras palavras que este educador brasileiro foi perseguido. Aliás, foi o seu amor pela educação que o levaria a ter de abdicar do seu país: Paulo Freire ousou empenhar-se no ensinamento dos pobres e na criação de métodos educativos de vanguarda, que enfureceram as mentes mais medíocres, para quem a educação pertencia apenas a alguns privilegiados e, com isso, foi-lhe sentenciado o exílio, o abandono do país onde desenvolveu grande parte do seu trabalho. Assim, e tal como acontece à maioria dos visionários, cujo único erro é não terem nascido no tempo certo, no tempo em que são precisos, também Paulo Freire foi incompreendido e julgado à luz da ignorância.

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Desta forma, este educador tornou-se numa inspiração para a geração de educadores que se seguiria. Ainda assim, as lutas que Paulo Freire travou contra a perseguição do regime militar no Brasil haviam de repetir-se no percurso esco-lar daqueles professores que, reconhecendo-lhe o mérito, quiseram dar o melhor de si pelos educandos. Ambas as partes viam o seu trabalho ser, muitas vezes, desvalorizado: o sábio educador porque os seus métodos eram contestados pelas altas autoridades brasileiras, os professores actuais porque os alunos não reconhe-cem, muitas vezes, o esforço e dedicação a que se entregam para que lhes seja transmitido tudo aquilo que sabem. Do mesmo modo, também eu me mostro indignado com as sucessivas palavras de desmerecimento lançadas contra a minha classe. Que farei, então? Assim, seguindo o exemplo de Paulo Freire que, apesar de ter sido expulso do seu país, continuou a educar, e uma vez que me vejo despojado de mais alternativas, mudo a minha sala de aula e o meu auditório, tal como ele fez, e, em vez de ensinar os alunos, vou ensinar-vos a vós, baratas. Ainda que todas vós sejais animais de reduzidas dimensões, não creio que seja pelo tamanho que vá fracassar.

Para esta minha árdua tarefa de ensinar-vos a vós, baratas (espero que não tão árdua quanto a de ensinar os jovens), espero receber toda a inspiração daqueles que, antes de mim, tentaram com alunos e foram bem sucedidos.

II

Um sermão, que se designe como tal, tem de reunir em si duas apreciações distintas: o bom e o mau. Desta forma, proponho-me, como professor expe-riente na arte de educar, falar-vos das vossas qualidades e dos vossos defeitos. As primeiras servirão para que saibam tudo aquilo em que são admiradas, para que assim continuem e se melhorem sempre; os segundos ajudar-vos-ão a conhecerem-se melhor e a perceberem as vossas fragilidades para que, sabe-doras destas, se mudem, se eduquem e, como Paulo Freire “pregava”, mudem a vossa sociedade.

Começando pelas vossas qualidades, friso a vossa capacidade de aproveitamento como uma das maiores. É notável que sejam um bicho que se governa com os restos dos outros: tudo aquilo a que o homem chama de lixo, para vós é fonte de alimento. Do mesmo modo, eu desejava que os meus alunos tomassem esse valor vindo de vós e se deixassem da luxúria com que vivem. Esse seria um dos primeiros passos para que houvesse respeito pela minha classe, uma vez que esse luxo aparente com que vivem se traduz numa sobreprotecção paterna que, salvo algumas excepções, os leva à insolência. Se eles vos tomassem como exemplo, caras baratas, não teria eu de os deixar para vos ensinar a vós.

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III

Partindo para os vossos louvores mais particulares, amigas baratas, ficai, pois, sabendo que, para além de todas as qualidades que possam ter, como o facto de serem cuidadosas e trabalhadoras, aprecio em vós duas grandes carências nos meus antigos educandos: a vossa sensibilidade para o mundo e a vossa discrição. Mais do que todos os outros atributos, são estes dois que, aos meus olhos de fiel educador, sobressaem.

A vossa sensibilidade ao mundo está bem latente no facto de serem conhe-cidas como bichinhos curiosos que tocam em tudo e que, muitas vezes, por esse motivo, causam enjoos aos homens que se julgam com mais discernimento porque se coíbem de conhecer as coisas com o tacto. Aprecio, pois, a vossa curiosidade e a naturalidade com que se entregam ao conhecimento de novas texturas, de novos lugares. Mais singular do que isso, só o facto de, ainda que vos cortem a cabeça, conseguirem orientar-se e saberem o caminho que percorrem, mesmo sem olhos. Haverá maior sensibilidade do que aquela que têm os cegos? E haverá maior aproveitamento do que aquele que fazeis? Porque, afinal, mesmo quando não vos cortaram a cabeça e tendes olhos para ver, continuais a guiar-vos pelo tacto. Terei eu tido algum aluno com a sensibilidade de aproveitar todas as suas capacidades do mesmo modo? Vendo bem, é esse um dos problemas dos edu-candos: não têm curiosidade! Basta-lhes o pouco que sabem e, com esse pouco, julgam-se muito sabedores. Tivessem eles a vossa sensibilidade e soubessem eles aproveitar os recursos que têm, o sucesso ser-lhes-ia dado a provar. Mas nem nisso eles me ouvem! Nem quando é para seu benefício me ouvem. Pelo menos que o meu esforço não seja em vão e haja algum ser que o aproveite, porque, se o dou, é por amor à educação. Já que eles não o souberam aproveitar, sabei vós, baratas.

Outro dos atributos que em vós aprecio consiste na vossa discrição. Animais muito pequenos, escuros, de andar leve, que se confundem com as mobílias de uma casa. Essa vossa reserva apenas demonstra o respeito que têm pelo tamanho que vos foi dado. Aceitam-se da maneira que são e são conhecedoras das vossas limitações. Que mais poderia eu querer de um aluno, que não a sua humildade? Como professor, poderia consentir que ele não aprendesse muito por falta de jeito para a disciplina, mas, pelo menos, que aprendesse que a humildade é um valor básico para que haja sucesso. E nisso vós, baratas, respeitais aqueles que vos são superiores no tamanho, mantendo-se na escuridão. Tomara que os meus alunos respeitassem o conhecimento e os anos de experiência que tenho. Não há nada pior do que um ser que se julga superior. Oh, que os meus alunos não se julgassem nada superiores! Então quando esse ser tem menos de dezoito anos de

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vida… Mais facilmente me indigno com a altivez com que me desafia e afronta os anos de experiência que carrego às costas. Essa arrogância era manifestada nos olhares impassíveis que me lançavam e que me comunicavam: “Não há nada do que tenhas para me dizer que me faça falta.” Um olhar indiferente era sempre significado de desrespeito pelo meu esforço. Por isso, baratas, sintam-se no dever de continuarem a habitar os sítios mais escuros das nossas casas, porque enquanto assim for, saberei que são um exemplo a invocar para ensinar aos meus educan-dos de que a humildade e a discrição são fundamentais para que haja respeito e sucesso.

Ficam, deste modo, ditas as vossas qualidades e espero, sinceramente, que se lembrem sempre que se sois um dos poucos animais com a capacidade de sobreviver às mais duras guerras, os vossos atributos têm um papel nisso. Por isso, preservem-nos.

IV

Se no melhor pano cai a nódoa, também sobre as melhores qualidades caem os piores defeitos. Tal como já vimos que não é pelo tamanho reduzido que as vossas capacidades ficam lesadas, também veremos que não é pela dimensão que os defeitos se privam de fazer parte de vós.

Primeiro de tudo, devo criticar-vos porque tornaste uma das vossas maiores qualidades num dos vossos piores defeitos: a discrição. Se anteriormente vos elogiei porque se mantinham na escuridão, demonstrando respeito pelo vosso tamanho, não posso deixar de notar que se aproveitaram dessa discrição para tencionarem derrubar os maiores. Afinal, se algumas de vós nunca saem dessa escuridão, outras ousam aparecer às luzes com o intuito de assustar os bichos maiores. No entanto, essa vossa insolência custa-vos muitas vezes a vida. Calcu-lam mal o vosso próprio tamanho e o tamanho do sapato daquele que querem atemorizar e acabam esmagadas pela vossa arrogância. Que vos parece isso como castigo por terem transformado o que de melhor havia em vós, no que de pior se pode observar? Justo, diria eu. Do mesmo modo, os meus alunos insurgem-se, muitas vezes, contra aqueles que desde sempre coabitaram com eles: os professores. Quando acontece o confronto, acabam esmagados pelo conhecimento experiente de que os da minha classe costumam ser dotados. Que me parece este castigo? Uma vez mais, justo. Quando se procura uma guerra, é bom que ambas as partes saibam o que podem esperar. Quando os meus alunos decidem tornar os aliados de guerra em inimigos, tal como vós, baratas, fazeis quando vos insurgis contra o homem que vos deu tecto debaixo do seu tecto, é natural que a parte mais fraca acabe esmagada.

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V

Urge agora contemplar-vos com os vossos defeitos mais particulares para que, tal como anteriormente do bom fizeram mau, desta feita, do mau criem o bom. Tomem, então, atenção às vossas imperfeições e tornem-nas no que de melhor se pode esperar de vós.

Primeiramente, pretendo salientar a vossa total incapacidade para aprender com os erros umas das outras. Sendo vós um bicho tão sensível ao mundo, não consigo conceber como podem ser tão incapazes de aprender com a ex-periência alheia. Afinal não tendes quase todas o mesmo fim? Será estupidez colectiva que quando uma morre ao tentar atravessar uma cozinha, pouco tempo depois outra se decida a fazê-lo também, mesmo tendo visto o fim da primeira? Por norma, morrem todas debaixo do mesmo pé ou da mesma vassoura. Quererão vocês ser diferentes? Mesmo assim, acabam todas debaixo da mesma regra. É essa vossa falta de memória e de discernimento que me choca; apesar disso, vós tendes a desculpa de terem sido desprovidas de razão, já os meus educandos não se podem nem sequer socorrer disso. Qual será, então, o problema deles? Afinal, eles, mais do que vós, se mostram incapazes de aprender com o erro alheio. E disso vos aviso eu: já que eles não quiseram ser avisados queiram vocês superá-los.

Por fim, pretendo apenas alertá-las, amigas baratas, para o vosso desnortea-mento quando vos trocam as voltas. O que acontece quando uma de vós tem o infeliz acaso de ficar de pernas para o ar? Será que ela usa a cabeça de que foi guarnecida para resolver este problema? Nem pouco me parece que assim seja! Ao invés disso, fica ali, deitada no chão de pernas para o ar feita “barata tonta”, à espera. Esperneia, esperneia, esperneia. De que lhe serve tanto espernear? Se em vez disso, procurasse uma forma de se endireitar, seria maior o proveito. O mesmo acontece com os meus alunos: se por algum motivo lhes é apresentado um problema e lhes trocam as voltas, ali ficam eles, a espernear e à espera. À espera de quê? – perguntais vós, amigas baratas. À espera que alguém o resolva. – respondo eu. Tal como vós, também eles se deitam com a preguiça à espera do facilitismo. Afinal, dá trabalho ter de pensar, não dá? E se critico em vós a mesma preguiça que critico neles quando o que é preciso é que se tomem as rédeas e se resolvam os problemas, é porque ainda espero que vocês mudem, já que com eles perdi essa esperança.

Desta forma acabo, então, a minha missão de vos alertar para os vossos de-feitos, para que a partir deles, tal como já disse, os transformem em qualidades. Espero pois, que pelo menos este meu novo auditório me dê crédito, o mesmo crédito que me foi negado nas salas de aula.

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VI

Concluindo este meu sermão, e em jeito de despedida, relembro-vos, caras baratas, que se fostes dotadas de enormes qualidades, com certeza que algo maior se espera que façam. Agora que vos passei os meus ensinamentos de vida, ide e fazei o que o educador Paulo Freire tanto apelava: mudai a vossa sociedade, já que os homens não souberam mudar a deles com a educação que lhes era dada. Haja alguém que a aproveite. Ide!

Ana Andrade (11.º A)

UM PROFESSOR FRUSTRADO

Mais uma vez me encontro perante vós, jovens alunos. Poderia começar mais uma aula, na qual pronunciaria vários saberes, mas deparo-me com a necessidade de expor algumas considerações a vosso respeito. Preferia estar no Parlamento e fazer um discurso aos nossos governantes, mas começarei por vós, e espero que me ouçais.

Querendo persuadir-vos a terdes um comportamento mais correcto, apresen-tarei as razões que me levaram a tomar esta aula para falar-vos à razão.

Lisonjeio-vos o facto de possuirdes espírito de iniciativa e determinação. Quando manifestais interesse em alguma causa, sabeis fazer valer a vossa opinião e procedeis à sua defesa. No entanto, esta nem sempre é correcta. Utilizais injúrias e calúnias, e não argumentos fortes e verdadeiros. Este vosso comportamento assemelha-se aos dos nossos deputados que, para contra-argumentar alguma proposta, dirigem-se apenas ao seu adversário político e não fundamentam a sua opinião.

Vós, alunos, deveríeis pretender o mesmo, bons resultados escolares, para dig-nificar o vosso nome e o do vosso estabelecimento de ensino, mas preocupais-vos apenas com a vossa imagem, pensando que esta bastará para que vos valorizem e respeitem. Todavia, encontrais-vos perante um abismo, fazendo um esforço para não reprovar, para vos mostrardes desenvolvidos. E de ano para ano fazeis o mesmo, levando-o às novas gerações. Preferis preservar esse comportamento inconsequente a desenvolverdes-vos. Este comportamento também é observável no Parlamento onde, por vezes, se negligencia o estado do país e se faz chegar ao estrangeiro uma imagem de Portugal que é pura ficção, como se nesta nação

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se vivesse como reis. Dizei-me! É assim que desejais proceder, inconsequente e desonestamente?

E formais grupos consoante as vossas características e, esquecendo os vossos verdadeiros objectivos, concentrais-vos, apenas, em distinguir progressivamente essas vossas facções, como se os partidos portugueses que não sabem ouvir-se e trabalhar em conjunto em prol de um Portugal melhor.

Não respeitais a vontade dos professores, pondo muitas vezes a sua paciência à prova, quando vos mostrais impertinentes e mal-educados. Mas quando precisais, não hesitais em pedir-lhes ajuda, e eles ajudam, confiando nas vossas promessas, pelas quais vos comprometeis a tentar melhorar. O que é facto é que continuais a desrespeitá-los, tal como os políticos que, durante a campanha, são as melhores pessoas, com ideias de progresso e investimento, e que, quando eleitos, desrespei-tam o prometido e desinteressam-se pelos eleitores. É este comportamento digno de vós? Sois portadores de tal falta de carácter?

Quereis continuar assim, ou preferis ter um bom comportamento à imagem dos alunos das melhores escolas do mundo, que revelam resultados excelentes. Estes, no entanto, esforçam-se e utilizam as suas capacidades, preocupados em elevá-las e assim evoluir atingindo o topo. Vós chegais variadas vezes a uma aula e ficais a assistir apáticos, apenas em presença física e não mostrais real interesse. Este comportamento é comparável ao daqueles deputados que comparecem na Assembleia para ler o jornal, ou para levantar o braço numa votação. Sereis, vós, tão desleixados ao ponto de deixar o vosso futuro ao acaso e não fazerdes um esforço para progredir?

Vós, meus alunos, possuís um sistema de ensino que poderia funcionar se vos mostrásseis disponíveis, com o qual poderíeis fazer evoluir a situação escolar do país. E não vos podem apontar falta de capacidades. Mas o que é certo é que vós não as usais, senão para outros fins, como as picardias e as chalaças. Sois como os nossos políticos que não tomam as medidas necessárias para que este país evolua.

Pensai nisto que vos digo, que não o repetirei tão brevemente. Reflecti no vosso comportamento, jovens, e dizei-me se é vosso desejo permanecer nesta situação, preferindo um comportamento baseado nas irresponsabilidades e no desrespeito por quem, em vós, deposita confiança, ou se preferis no futuro alterar esta situação.

Maurício Peixoto (11.º A)

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VOS ESTIS SAL TERRAE MAT.5,13

Vós, professores, sois o sal da terra. Devereis causar o mesmo efeito na terra que causa o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, é impedir que a terra se corrompa. Alunos, vós sois a terra e deveis deixar que o sal actue em vós.

Santo António pregou aos hereges para que estes não corrompessem a terra e corrigissem os seus erros, mas estes não o ouviam e lutavam contra ele. António não se acovardou, não se calou, apenas mudou o seu auditório e o seu lugar de pregação, deixando assim as praças e os homens, dirigindo-se às praias e falando para os peixes. Já que, vós, alunos, não me ouvis quando vos falo directamente, tal como António, não me irei calar nem acovardar. Oh, maravilhas! Vós, dizem os homens, que sois os seus melhores amigos, ouvistes o meu chamamento, e, por grande admiração minha, aqui estais todos em grande número, obedientes e desobedientes, pequenos e graúdos, meigos e rebeldes, para me ouvir.

Quero hoje à imitação de Santo António, já que os alunos não aproveitam, pregar aos cães. Eles estão tão perto, que sei que me ouvirão. Ave Maria.

Nunca pior auditório que os cães. Ao menos têm eles duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Apenas uma coisa me irá desconsolar, que é serem gente os cães que não se possam converter. Para este sermão não ser repetitivo não falarei no vosso futuro, que poderá ser memorável ou miserável, dependendo do vosso estudo e das vossas escolhas.

Sabereis, cães, que o sal tem duas propriedades: conservar e preservar o são para que não se corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações de Santo António. Hoje, tal como ele, irei louvar as vossas qualidades e conservá-las, e corrigir os vossos defeitos. Começarei, então, a minha doutrina.

Há cães obedientes que ouvem os seus donos, ajudam-nos e fazem o que eles mandam, pois sabem que, com o seu esforço e a sua luta, terão uma recompen-sa, e tal, como eles, vós alunos deverias lutar pelo vosso futuro e estudar, assim teríeis a recompensa de uma vida melhor. Outros de vós, seres de quatro patas, sois preguiçosos, estando sempre a dormir, não se importando com o mundo e com o futuro, mas de vós não terei eu pena, alertei-vos várias vezes e vós não me ouvistes, isso terá consequências, por agora provavelmente não visíveis, mas num futuro próximo serão terríveis.

‘Cão que ladra não morde’, diz a voz do povo. Vós gostais de aterrorizar, mas no fim de contas vós não meteis medo a ninguém. Roncais muito mas não fazeis mal. Mas, se há quem ladre e não morda, há também quem ladre e morda, mas a esses eu alerto para terem cuidado, pois haverá alguém sempre mais forte do

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que vós, que irá meter-vos medo tal e amedrontar-vos-á tanto que nem sabereis para onde fugir, ou os pequenos que vós quereis morder, no futuro, poderão ser grandes e não vos ajudarão.

Ladrai, ladrai, não mordais nem sejais preguiçosos, sede obedientes e ouvi os vossos donos, que a recompensa virá, e só quando já fordes grandes como os vossos pais é que podereis morder, roncar e ensinar os outros a lutar por um futuro memorável e compensador.

Com uma última advertência me despeço de vós, meus fiéis e bons amigos cães, que ouvistes o meu chamamento. Cães bons, obedientes e lutadores continuai a lutar e ajudai-me a corrigir o erro de muitos outros, abrindo-lhes os olhos e fazendo-os ver que poderão ter uma boa vida como muitos se se esforçarem, ou terão uma vida miserável se perderem a luta a meio, desistindo, ou se não par-tirem para a guerra e não lutarem. Ouvi os vossos superiores e sede obedientes. Lutai, que a vossa luta não será em vão.

Isabel Barbosa (11.º A)

Vós, alunos, que não aproveitais as oportunidades que vos são oferecidas, as oportunidades de estudar, sois uns ingratos. O objectivo dos alunos deveria ser somente o estudo, mas havendo tantos e tantos alunos, qual será a razão do insucesso? Ou é por causa dos alunos, que não aprendem, ou de certos professo-res, que não sabem ensinar. Ou é devido às novas tecnologias e os alunos não se aplicam, ou por causa dos professores que implicam tanto com eles. Ou é porque os alunos dizem que estudam e não fazem nada, ou porque os professores não utilizam as melhores técnicas para ensinar.

Mas, então, o que se há-de fazer aos alunos? Se os alunos não cumprirem com as suas obrigações enquanto estudantes, é repreendê-los, fazer com que este-jam atentos e se interessem pela matéria. Isto é o que deve ser feito aos alunos, e não permitir os telemóveis no estabelecimento. Nem uma mensagem, nem uma chamada, nem um toquezinho! E o que deve ser feito aos professores? Para estes o assunto já é mais complicado. Oh, que complicado que é! Não são manhosos, não, mas são experientes e adultos. O castigo terá de ser pensado com muita calma.

Os mamíferos é o grupo das espécies mais abundante no reino animal. E é a estes que vou pregar. E que havemos nós de pregar aos mamíferos? Ao me-nos estes têm uma qualidade. Parte deles é um grupo domesticável e amigo do seu dono e estes animais sabem comportar-se em comunidade, o que é outra qualidade. Mas não há só que notar e que repreender, há também que louvar e

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imitar. E onde há bons e maus, há que louvar e que repreender. Por isso, irmãos mamíferos, dividirei este Sermão em dois pontos: um em que louvarei as vossas virtudes, e outro repreenderei os vossos vícios.

Então, começando pelos louvores, eu vos digo, irmãos mamíferos, vós sois amigos do homem, o qual vos abriga e alimenta durante uma vida.

Descendo ao particular, e em primeiro lugar, louvarei um mamífero que, apesar do tamanho que tem e apesar de ser alvo de perseguições pelo seu mais temido adversário, consegue sempre escapar. Falar-vos-ei agora do rato. Ora, este é um animal muito pequenino, ao qual é dada a mínima importância, mas que, na realidade, é um dos animais mais espertos. O rato, apesar do seu tamanho, consegue enganar o seu predador, o gato. Ora, isto também acontece nas escolas, e com os alunos.

Por vezes, há alunos aos quais não é dada importância, sendo julgados como fracos e inferiores. O certo é que a célebre expressão “Tu és rato!” faz um certo sentido. Por vezes, aqueles que mais inferiorizamos são aqueles que são mais espertos, mas apenas temem que alguém lhes faça mal.

Um outro mamífero que vos quero referir, como sendo um dos animais mais louváveis, é o fiel companheiro do homem, o cão. O cão é um animal domes-ticado pelo ser humano, capaz de ajudar o homem na caça e protegendo-o em sua casa, sendo um mamífero digno de louvor.

E como este é louvado, Irmãos mamíferos, também no nosso mundo existem alunos semelhantes. Existem sempre aqueles alunos que são espertos, não receiam ou temem que alguém lhes faça mal e não utilizam a sua inteligência para fazer inveja aos mais fracos, mas sim ajudam-nos quando necessitam. Este sim é um animal, um aluno, digno de louvor, também.

Bem, antes que vos vades embora, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões.

A maior repreensão que vos tenho a fazer é que vos alimentais uns dos outros. Ora, sendo vós pertencentes ao mundo animal, não vos deverias alimentar uns dos outros. Tal como vós, mamíferos, vos alimentais uns dos outros, também há alunos que se aproveitam uns dos outros. Os terríveis copianços sempre estiveram presentes nas escolas e, apesar de os alunos pensarem que estes os favorecem, não, estes copianços são, não uma boa forma de obter boas notas, mas sim uma má táctica de estudo, pois no fim de ano chegam os ainda mais terríveis, aqueles que deixam qualquer aluno fora de si, os exames nacionais! Oh! Que medo e receio! Um dos dias mais difíceis para os alunos.

Mas, descendo ao particular, direi agora, Irmãos mamíferos, o que eu tenho contra alguns de vós. Começarei por um dos mamíferos que todas as pessoas conhecem. O famoso rei leão. Sendo este o rei da selva, o animal ao qual todos

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os outros animais têm respeito, deveria este ser um animal digno de confiança e louvor. Não é que não o seja, aparentemente, olhando para a sua imagem de leãozinho querido e inofensivo. Mas o leão, o considerado chefe de todos os animais, quando resolve mostrar as suas garras e os seus assustadores dentes…Oh! Assusta!

Também nos estabelecimentos de ensino isso acontece. Um aluno muito calminho, mas que, depois de ganhar confiança, ataca de uma maneira impres-sionante. Pois julga ser o maior de todos e, fisicamente até o pode ser, mas, intelectualmente, pode ser facilmente derrubado. Ora, e muitos outros alunos mais fracos ficam com medo de que este lhes faça mal ou lhes peça o dinheiro do almoço. Uma terrível desgraça.

Falarei agora de outro animal que deve também ser repreendido. A hiena é um dos mamíferos mais falsos que existe no mundo animal. Apesar dos seus risos maléficos e simpatia, esta é, na verdade, uma das maiores predadoras. Consegue atingir velocidades enormes para conseguir apanhar uma presa, para se alimentar. Certos alunos são também como as hienas. Com um risinho cínico e que engana, têm como objectivo enganar os supostos “colegas”, para, mais tarde, poderem “ata-car” e aproveitarem-se destes. Uma tristeza aquilo que acontece com estes pobres animais. Em vez de se darem todos muito bem e serem amigos e fiéis uns aos outros, existem, por vezes, aqueles que agem apenas por interesse próprio.

E agora me despeço de vós, Irmãos mamíferos. Louvai e aproveitai as quali-dades que Deus vos ofereceu e fazei com que os vossos defeitos se convertam em qualidades para que a vossa vida seja repleta de paz, alegria, amizade e convívio. Ámen.

Ana Sofia Novais (11.º C)

SERMÃO DA AIA

DE MINHA MÃE AOS ALUNOS

Por quem me tomais vós? Em pouca conta, decerto. Não deveríeis vós dar mais e maior valor a tamanho privilégio, este que é o de ter uma escola onde se possa estudar? Deveríeis, digo eu, mas com tanto barulho não se consegue escutar, quanto mais reflectir no que se ouve e no que se faz. Parai! Já chega! Agora, vão ouvir o que vos tenho a dizer, e espero, assim como vós deveríeis esperar, que o que vos direi vos faça mudar e, se possível, para melhor.

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Quando era criança, o marido da aia da minha mãe era pescador e, como tal, a aia contava-me numerosas histórias de bons (e de maus também) peixes, para me embalar, acalmando-me, sossegando-me e fazendo-me adormecer. Sabeis vós o que me fazem lembrar tais histórias? O vosso comportamento! Mas até os peixes saem prejudicados com esta comparação. Portanto, a comparação vai dar-se ao nível das qualidades e dos vícios dos peixes; começarei por dizer e criticar os defeitos dos peixes, que também o são em vós, direi os vossos defeitos e os dos peixes em geral e em particular, seguindo-se uma enumeração e louvor das qualidades dos peixes, que também o deveriam ser em vós, mas que, devido ao vosso comportamento, não o são, e para que não vos vades tristes e cabisbaixos direi, no final, em que sois melhores do que os peixes.

No reinado dos peixes (que é só um) não há este abusar de artimanhas, de esquemas, estratégias, ardis e tácticas que se dão na sociedade destes reinos acima do mar e da água (sociedades estas que se dizem modernas e contemporâneas), mas também não deixam de ocorrer nas escolas, e nesta, não sendo excepção, também. Podeis discordar, mas sei que a razão está do meu lado; quem é que copia, que deixa copiar e que se copia? Vós. Falando em copiar-vos uns aos outros, olhai para os peixes e vede se eles se deixam levar e copiar uns pelos outros; estes só se deixam levar pelas marés e correntes do mar, mas a vós não, levam-vos a popularidade, a rebeldia, a ousadia, a inveja, a vaidade e a pregui-ça; estais tão enganados! Pensais que a rebeldia vos faz mais livres? Como sois tão cegos! A rebeldia ainda vos amarra mais. Os peixes, esses sim, são livres, sem utopias, fantasias e ilusões. Essa é a verdadeira liberdade! Como se sabe, as águas dos oceanos, mares, rios, ribeiros e riachos são límpidas e translúcidas e, como tal, nada do que os peixes façam lá pode ser ocultado, os peixes não se refugiam atrás de máscaras e aparências, não se escondem com disfarces e capas, não se encobrem. Acontecerá isto entre vós? Não serei eu a responder a esta questão, porque estais todos escondidos e não consigo ver ninguém e porque quero que vós penseis nela. E assim dou como acabadas as repreensões, em geral, a vós, alunos.

Inicio, agora, as críticas em particular aos estudantes e aos peixes, mas como são tantas, farei apenas menção de algumas. Uma boa qualidade do salmão é a sua carne apetitosa e vistosa; mas não é só de boas qualidades que se faz um peixe. O salmão é um peixe que nasce na nascente dos rios, descendo por rápi-dos, cascatas e águas paradas para chegar ao mar, onde cresce; quando chega a altura deste peixes se reproduzirem, vêm eles rio acima até às nascentes, porque é lá o seu local de desova. Haverá maior ignorância que esta? Estar-se em perigo porque se quer? Que imaturidade esta que os faz morrer! Tanta imprudência e descuidado, para no final morrerem por um salto mal dado num rio. Contudo,

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morrem os salmões por um fim nobre. E vós? Deixais-vos morrer por tudo e por nada; morreis porque sois e não sois, porque tendes e não tendes… A morte virá sozinha, não precisam de a estar a chamar com comportamentos semelhantes aos do salmão, comportamentos imaturos, infantis e ingénuos. Vede, pois, se deixais de ser ignorantes como o salmão e passais a ser ajuizados. Ajuizados precisam ser também os peixes-palhaço, tão bonitos, tão belos, tão graciosos, leves e rápidos, que poderiam ser chamados de “Cisnes do Mar” pelo o seu encanto, atracção e charme, mas não o são, por causa da sua vaidade, ostentação e presunção, que também vos caracteriza e muito bem, infelizmente. O peixe-palhaço passeando-se pelos recifes de coral, sabe que, vindo um ncógni com a boca aberta e com apetite voraz, não tem outra alternativa senão fugir e esconder-se. Há, também, na escola lucianos, mas há muitos mais peixes-palhaço; os segundos muito se pavoneiam, quando querem exibir as suas cores e formas, e muito se calam e correm, quando se querem esconder do perigo. Mas por que são os peixes-palhaço assim? Vós deveríeis saber a resposta, não estou certo? São assim porque são os primeiros a quererem que as bocas do mar (ou seja, as ondas) falem deles, mas, quando o perigo e a desgraça os começam a rondar, são, também e curiosamente, os primeiros a evadirem-se. São os “amigos de ocasião do mar”, os da terra estão bem à frente dos meus olhos. E estes “amigos” não prestam, não valem nada, sendo uma desonra para os amigos fieis e leais usar esta palavra com os infiéis e desleais.

Chegou a altura de elogiar estas criaturas aquáticas que têm muito que se lhes louve, mas falarei apenas de algumas; o atum pelo seu engenho e o carapau pela sua colaboração. O atum destaca-se pela sua aguda inteligência, se assim não fosse, este não dominaria os mares, nem tão pouco, seria senhor destes. Mas não é só esperteza que faz os atuns serem maravilhosos, também a sua astúcia, a sua perspicácia e a sua “arte conhecer/saber” os engrandecem. Olhai para o atum e vede nele um exemplo a seguir, já que não conseguis ver nenhum num homem. E o carapau destaca-se por demonstrar, todos os dias aos homens, o poder da amizade; vai um cardume de carapaus mar fora, quando aparece um tubarão faminto, os primeiros, para lhe escaparem, fogem, mas não se escondem, a solução está na ajuda mútua. Há tamanha cooperação, solidariedade, altruísmo, inter-ajuda e entrega entre os alunos que aqui estão? Algum de vós poria a vida em risco por um companheiro? Não me parece que tenhais tanta coragem. Se houvesse esta coragem, tudo seria diferente; como não há, tudo é igual, nada muda, não importa estarmos em 1580 ou em 1640. Não achais que está na altura de mudar?

Falarei, por fim, e em jeito de conclusão, de alguns dos aspectos em que sois melhores que os peixes. Ao contrário de vós, os peixes são surdos (embora este

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defeito nos peixes seja por vezes elogiado e invejado, como se de uma qualidade se tratasse), não ouvindo nada do que se lhes diz e por isso é que eu não falei com eles, uma vez que tudo o que eu dissesse seria levado pelo vento e pelo mar. Os peixes não têm sonhos, ambições, desejos e aspirações, falta-lhes o sopro de vida, o espírito e alma, que nos torna verdadeiramente humanos. E, por fim, os peixes não são guiados pelas emoções (o que até é bom e invejável), mas também não o são pela razão (geralmente, nem nós o somos); então, quem os conduz? O destino? O acaso? O fado? Não, o condutor dos peixes é o instinto e o im-pulso; se, por um lado, os peixes não odeiam, nem guardam rancor, por outro, também não amam, nem guardam recordações; se não têm ressentimentos, muito menos têm sentimentos; em conclusão, os peixes não se lembram saudosamente de passados longínquos, nem anseiam por futuros próximos.

Como a aula está a acabar, podeis arrumar e sair, mas não esqueçais nunca o que vos hoje foi dito; não vos esqueçais do mais importante: viver, mas viver bem! Até à próxima aula.

Pedro Monteiro (11.º C)

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Contributos de Investigação

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O LIVRO NA IDADE MÉDIA

O livro é desde a sua criação o resultado de um desejo de conservar e vei-cular mensagens, pelo que falar do livro é também falar das ideias que se foram propagando por meio dele ao longo dos séculos, bem como da ressonância que elas geraram e da influência que tiveram, o que nos conduz ao contexto histórico da sua produção, aos homens que as criaram, aos movimentos intelectuais que as suportaram, as receberam e desenvolveram, bem assim como às implicações sociais, intelectuais, religiosas e económicas que provocaram.

Na Idade Média eram comuns as representações do livro na pintura ou na iluminura nas mãos de Cristo, dos apóstolos ou dos Doutores da Igreja; os códices eram objectos que detinham, para além de um grande valor material e artístico, uma “força sobrenatural e até taumatúrgica” (Peixeiro: 1991, 182); eram benzidos e incensados, oferecidos à devoção dos crentes como paradigma da única realidade válida, a da Fé e da Palavra de Deus, o que conduz a uma concepção de livro a que subjaz um profundo carácter de sacralidade.

O advento do cristianismo, tendo ampliado esse pendor por meio da importância central que deu às Escrituras Sagradas, glorificou o livro, o que implicou também um crescendo de glorificação das crenças religiosas, de tal forma que frequentemente se apelida o cristianismo de “religião do livro sagrado”. Como relembra Curtius (1976: 435), “Cristo es el único Dios a quien se representa en el arte antiguo con un rollo de papel en la mano. Desde sus comienzos, la religión cristana produje incontables escrituras sagradas, y seguió produciéndolas en toda su primera época: documentos de la fe como los evangelios, las cartas de los apóstoles y los apocalipsis, actas de los mártires, vidas de santos, libros litúrgicos […]”.

Falar do livro medieval implica falar das crenças religiosas que enformam a sociedade da época, bem assim como dos seus artífices – os monges das diversas ordens religiosas que tinham como sua uma das tarefas mais importantes para a posteridade: a da ‘fabricação’ de códices, cópia e tradução de manuscritos, pro-dução, autoral ou apócrifa, de textos, organização dos scriptoria, preservação desse saber nas bibliotecas, bem como a leitura, o comentário e a transmissão desses textos. A grandeza de tal trabalho era posta sobretudo ao serviço das crenças religiosas e da transmissão das verdades da fé cristã, e embora não fossem esque-cidos assuntos profanos, com funções práticas ou lúdicas, no acto de escrita dos monges manifesta-se a ligação entre o livro e o sagrado, numa operação física e mental de transmissão cultural que adquire antes do aparecimento da imprensa “um significado transcendente: o copista escreve, e escrevendo ganhará o céu.” (Buescu: 2000, 32).

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Assim, dada a situação cultural da sociedade da época e o carácter sagrado atribuído aos códices, não admira que seja o monge a converter-se “en transmisor principal – y, desde el siglo VIII, único – de la escritura y del libro” (Curtius: 1976, 438) e que muitas comunidades monásticas sejam sobretudo comunidades textuais, quer pela importância que o seus scriptoria assumem no contexto medie-val em geral e, em particular, no próprio mosteiro, quer pelo papel importante que alcança o comentário das Escrituras, quer também pelo trabalho de tradução dos textos dos Doutores da Igreja, quer ainda pelo lugar da leitura colectiva e individual no quotidiano do monge. A lectio, como prática diária prescrita pela Regra, consolida-se também como atitude espiritual, proporcionando ao monge a possibilidade de desenvolver o seu conhecimento de Deus, auxiliando-o na oração e no encontro com o divino. A Sagrada Escritura é o livro fundador na relação e vivência do homem com a Palavra de Deus, pelo que a lectio divina, a sacra lectio é principalmente a leitura, em público ou em privado, dessa Palavra. S. Gregório foi um dos autores que defendeu vivamente a importância da lectio divina, dizendo que a “ Bíblia é como a carta que Deus escreve aos homens para manifestar os seus próprios segredos, o espelho que permite conhecermo-nos a nós mesmos, o campo de trigo que alimenta a alma, o tesouro inesgotável.” Por isso, ele fala da leitura como “uma visão antecipada da glória divina”, à qual o monge se deve entregar “com esforço, perseverança e fidelidade” para poder “che-gar à compunção pelas faltas passadas e à contemplação das realidades eternas” (Mattoso: 1982, 326-327).

Leitura e escrita assumem, pois, no ideal de vida monástico um papel re-levante e, como diz Curtius (1976: 460), “A la ncógnitoa de la lectura como forma de recepción y de ncógni corresponde la de la escritura como forma de producción y configuración. Estos dos complejos se fortalecen uno al otro; en el mundo espiritual de la Edad Media constituyen como los dos hemisferios de un mismo globo”.

A relevância do labor librário é alvo de diversas observações de enalte-cimento; Cassiodoro (m. 575), por exemplo, considerado por muitos como o principal promotor do trabalho de cópia dos textos antigos, acentuava as vantagens advindas da actividade librária, dizendo aos seus monges que era um caminho preferencial para o afastamento do diabo e consequente salvação dos homens: “Confesso que o meu desejo é que acima de qualquer outro trabalho corporal que vós possais desenvolver esteja o empenho dos artesãos do livro; e não sem razão, pois ao relerem as Escrituras instruem salutarmente a sua mente e ao escreverem os preceitos do Senhor disseminam-nos ao longe e ao largo. Feliz iniciativa essa, esforço de louvar esse o de pregar aos homens com mão operosa, abrir as línguas com os dedos, oferecer aos humanos a salvação

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sem fazer barulho, e bem assim lutar com a caneta e com a tinta contra as insídias do diabo. […] Muitas coisas se poderiam dizer de arte tão ncógni, mas basta dizer que eles são “librários” e como tal livremente servem ao Se-nhor e à sua justiça”. Também o cartuxo Guigo, normalmente pouco dado a fervorosas expansões nos seus textos, alerta expressivamente os seus monges para a importância dos livros: “que los hermanos tengan cuidado de que los libros que reciban de la estantería no se ensucien de humo o mugre; los libros son, como si dijéramos, la eterna comida de nuestras almas; deseamos que se guarden con sumo cuidado y se confeccionen celosamente”.

Assim, se, por um lado, o monge executa um trabalho basilar para a so-ciedade, por outro, a parceria estreita e privilegiada que mantém com o livro dá-lhe um poder enorme sobre os restantes homens, porquanto é ele o principal destinatário do saber que o livro transmite, saber que nem sempre partilha com os outros homens ou que adultera por achar que não são conformes às verdades da fé, pelo que o livro e aquele que o manuseia se transformam frequentemente não em divulgadores do saber, mas sobretudo em avaros guardas do conhecimen-to. No entanto, e mesmo que tal situação se tenha verificado amiúde, há toda uma civilização devedora a esta empreitada vital que constituiu o labor “librário” levada a cabo pelos monges.

Todo um trabalho de preparação dos suportes da escrita era tido em con-sideração no scriptorium, lida laboriosa que o monge executava paciente e obe-dientemente; de igual modo o exercício de cópia, labor estafante e moroso, que levava à produção de códices com uma história e uma identidade próprias, mesmo tratando-se de cópias, quer de manuscritos originais, quer de outras cópias, pois “no solo cada ejecución, sino también cada copia alcanzaba un estatuto supe-rior al de mera reproducción y se constituía en texto con entidad ncógni […]” (Rico: 1997, 151). Esta concepção perder-se-á em grande parte com o advento da imprensa, pois, como refere Curtius (1976: 460), “antes de ella, todo libro era un manuscrito; simplemente por su materia, para no hablar de su presentación artística, el libro escrito poseía un valor que los hombres de la era de la imprenta no son ya capaces de apreciar; en cada libro, en cada copia, había aplicación, habilidad manual, larga concentración del espíritu, trabajo hecho con amor y con cuidado.”.

A escrita é, por conseguinte, mais do que um meio que permite gravar a palavra oral, silenciando-a apenas no que ao som físico diz respeito, a escrita perpetua-a e dota-a de outras potencialidades, nomeadamente as de organizar o pensamento que, a partir do momento em que é inscrito por meio da escrita, fica disponível a outros em tempos e locais distintos, dando-lhe o poder de atra-vessar os séculos, as vicissitudes dos homens e da História, e ser simultaneamente

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o motor e o produto dos desenvolvimentos e/ou regressões do espírito humano ao longos dos tempos.

O homem medieval, sobretudo o ‘letrado’, o homem culto, tinha esta pers-pectiva da coisa escrita, dedicando-lhe tempo e energias. O lugar privilegiado que a Biblioteca ocupava na arquitectura do mosteiro e na vida dos monges atesta bem a importância de toda uma actividade ligada à escrita e ao livro. Aliás, ficou conhecido o provérbio medieval que comparava o mosteiro sem biblioteca a uma fortaleza sem armas: claustrum sine ncógni quasi castrum sine armamentario.

O livro é, por um lado, o alimento da alma, a arma que a defende, a via da salvação, ou seja, o caminho para conhecer, dar-se e chegar a Deus por meio da lectio divina e da oratio contemplativa; e, por outro, ele é na cultura monásti-ca “centro de interesse e meio instrumental de relações colectivas” (Nascimento: 1991, 151), porquanto, se o conteúdo que guarda o associa ao sagrado, ele é encarado também numa perspectiva instrumental enquanto meio material para chegar ao espiritual.

No scriptorium a escrita assumia funções religiosas, estéticas e administrativas que respondiam às diversas necessidades que iam desde os aspectos organizacionais e administrativos respeitantes, por exemplo, a cartas de venda e a testamentos, até à formação intelectual e espiritual e à constituição das livrarias. As livrarias me-dievais, sobretudo as monásticas, tinham um papel fulcral na formação da cultura e no desenvolvimento do conhecimento, nomeadamente por se assumirem como veículos transmissores de uma herança intelectual essencial; contudo, esse precioso espólio encontrava-se quase exclusivamente escrito em latim ou, se se tratava de textos mais recentes e inovadores, noutras línguas, pelo que se começou a sentir a necessidade de traduzir essas obras para vernáculo, como forma de as difundir e também de nacionalizar os conhecimentos e ideias por elas transmitidos. Foi também no recolhimento do mosteiro que o exercício da tradução encontrou am-biente cultural propício, bem como destros e pacientes executores e, embora não cumpram a regra da originalidade para que possam figurar em primeiro plano na história da literatura autóctone, as traduções são indubitavelmente documentos importantes para a história da língua, da cultura e da civilização, porquanto, para além de recuperarem conhecimentos da Antiguidade, tiveram, também por isso, um papel fundamental no enriquecimento dos espíritos que a elas tiveram acesso (tradutores e leitores), com todas as consequências que daí advieram, nomeadamente na produção original, para além da já referida implicação no aperfeiçoamento da desenvoltura da língua vernácula. Não podendo naturalmente, por variadíssimos motivos, igualar-se o contexto medieval da tradução ao de hoje, não se pode deixar de notar que uma das motivações para a tradução de certo tipo de obras continua a encontrar-se na Autoridade dos textos a traduzir.

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A questão da Autoridade assume, como se sabe, especial relevância na história da cultura, mormente da época medieval, na qual a compreensão do mundo era estruturada mais como adopção e recepção das autoridades tradi-cionais do que como função criadora (Curtius: 1976, 458), pelo que as ideias veiculadas nos textos eram compostas sob a égide de auctores cujo prestígio era tido como indiscutível e que funcionavam para o intelectual medieval como fonte de conhecimento e como tesouros de sabedoria (Curtius: 1976, 92). Assim, o conceito da auctoritates juntamente com “o latim como língua franca, o texto bíblico como livro fundamental e a tradição patrística como único testemunho da cultura clássica” (Eco: 1989, 11) distinguem-se no quadro da cultura medieval, no qual o pensamento antigo é alvo de consideração e preservação, desde que “cristianizável ou, pelo menos, moralizável” (Pimpão: 1959, 373). Na verdade, e configurando-se como as bases medievais mais importantes do pensamento ocidental, a recepção e a transmissão da antigui-dade clássica aparecem frequentemente aliadas a uma empenhada actividade de propagação e consolidação do cristianismo. E também neste ponto, a Idade Média extraiu da Antiguidade aquilo que favorecia os seus fins, éticos, estéticos ou literários e, consequentemente, não se limitou a receber o conhecimento e o pensamento antigos, muitas vezes adaptou-os, alterou-os e deformou-os na sua veiculação, ou inovou mesmo quando parecia pretender apenas repetir; nesta sujeição à transmissão inalterada ou repetição pesa também o facto de entre os monges a originalidade ser considerada como um pecado de orgu-lho, bem como o facto de ser difícil, e mesmo perigoso, colocar em causa a tradição oficial (Eco: 1989, 12).

A figura do intelectual medieval foi relativamente desvalorizada ao longo dos séculos que se seguiram à Idade Média pela relação que ele mantinha com as Autoridades. No entanto, e como relembra Brocchieri (1996: 141), “é preciso ter presente que o significado dominante e impositivo do termo «autoridade» foi emergindo no mundo moderno: para os medievais, as auctoritates eram os autores, os textos, a biblioteca com que trabalhavam. Uma biblioteca dupla, de santos e de filósofos. E esta, como notava argutamente um estudioso do séc. XII, era constituída por autores que «em vida, nunca tinham estado de acordo uns com os outros e, por isso, era inútil tentar encontrar neles as mesmas posições”. Por um lado, existe a enorme produção de comentários e glosas a Platão, a Aris-tóteles, aos evangelistas e até a pensadores modernos que surgiram, de repente, como «autoridades» (Pedro Lombardo, por exemplo), mas, por outro lado, há a variedade dos comentários, a multiplicidade de tomadas de posição, os debates acesos, as oposições cerradas, que nos revelam um trabalho muitas vezes pessoal e, por vezes, corajoso.”.

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Não parece credível encarar os autores medievais apenas como simples com-piladores ou ordenadores de obras antigas, dado que eles, não obstante aceitarem e seguirem a auctoritas, interferiram, por meio da ratio, nos textos deixando também a sua marca nas ideias por eles difundidas. Tanto mais que essas ideias eram inseridas num quadro em que prevalecia agora a visão e os valores cristãos do homem, do mundo e da divindade.

Aquilo que Eco (1989: 12) denomina de “história de permanências” ganha grande acuidade quando falamos da cópia medieval de manuscritos. Nos scriptoria

faziam-se execuções de cópias, “cópias físicas”, que eram realizadas pelo copista directamente ou por meio de ditado e nas quais não eram incluídos nem o nome do seu executor nem outras informações, tais como a data e o local de execução; era um trabalho duro e anónimo aquele que o copista levava a cabo e disso tinha consciência quando juntava à conclusão do seu trabalho rogos de recompensas, espirituais ou profanas, e anatematizava todos os que do seu esforço fizessem mau uso (Santos: 2000, 191). Mas no scriptorium também se procedia frequen-temente àquilo que poderemos chamar de ‘cópia intelectual’ que era inserida nesse trabalho sem levantar questões nem de autoria nem de plágio, conceitos, sobretudo este último, ausentes das preocupações dos autores medievais. Com efeito, a ausência do conceito de autoria, tal como hoje o entendemos, aliada à de Autoridade fazia com que as utilizações e adaptações de textos fossem enca-radas como actos proveitosos e justificáveis: “Ninguém pensava que fosse delito, de cópia em cópia, era frequente já ninguém saber de quem verdadeiramente era a paternidade de uma fórmula, e no fim de contas pensava-se que se uma ideia era verdadeira pertencia a todos”, diz Eco (1989:12); também Mário Martins (1969: 83) refere que a “Idade Média tinha o sentido comunitário da verdade”, para o que concorreria certamente o sentimento de pertença a uma comunidade e o receio de se ser excluído.

Para além disso, há que aventar também a situação que resultaria do facto de o copista medieval por vezes não se ver apenas como um mero executor e, de quando em vez, adaptar e introduzir alterações, proceder ao que lhe pareceria de ‘melhoramento’ ou ‘correcção’ dos textos, não sendo improvável, pois, que, motivado por um desejo de criação pessoal, encaixasse produção própria nos tex-tos que lhe eram dados para copiar. Um outro aspecto importante no âmbito da produção nos scriptoria é o que se prende com a apocrifia. A palavra “apócrifo”, etimologicamente “coisa escondida, oculta, secreta”, era usado na Antiguidade para nomear os livros que se destinavam unicamente à utilização privada dos membros de uma seita ou iniciados em algum mistério; nos fins do século II, usa-se para indicar algo duvidoso ou adulterado. A Igreja emprega-o inicialmente para indicar livros de origem imprecisa atribuídos a profetas e apóstolos ou livros que iam

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contra as verdades da fé cristã; com a fixação do cânone das Escrituras, a partir do século IV, são designados “apócrifos” os livros que, embora se apresentem com carácter sacro, não se integram no cânone.

Embora a Igreja tenha usado inicialmente a designação de “apócrifo” para qualificar escritos suspeitos ou de origem herética, tal foi-se atenuando até serem encarados como obras que, imputadas a Autoridades da ideologia cristã, ser-viam objectivos de formação intelectual e de elevação espiritual. Assim, a Idade Média legou-nos numerosas obras apócrifas de vários “autores”, tais como o Pseudo-Aristóteles, o Pseudo-Atanásio, o Pseudo-Agostinho, o Pseudo-Jerónimo, o Pseudo-Boécio, o Pseudo-Isidoro de Sevilha, o Pseudo-Dionísio Areopagita, o Pseudo-Bernardo, o Pseudo-Boaventura, o Pseudo-Tomás de Aquino.

A “Autêntico” ligavam-se valores como o mérito, a autoridade e a credibilidade, pelo que um texto autêntico era assim considerado mais por estas características do que pelas da pertença e originalidade autoral. Assim, actos como a utilização de palavras originalmente escritas por outrem ou a inclusão do nome do autor num determinado texto sem este o ter efectivamente escrito não eram tidos como reprováveis, mas serviam antes objectivos como os de propagar ideias e valores, de louvar virtudes, de celebrar autores, de enaltecer juízos e modelos de pensamento, de exaltar concepções de vida, de transmitir e difundir conhecimentos, objectivos norteados por preocupações de formação, religiosa, espiritual, mística ou intelectual, naturalmente modeladas pelas percepções do mundo e pelo modelo de pensamento cristãos. Os textos apócrifos não foram, pois, obstáculo à conservação do cânone civilizacional da literatura sagrada e profana, favorecendo-a até nos casos em que autores e obras canónicos foram dados a conhecer em algumas culturas e épocas apenas por meio da produção apócrifa em língua vernácula, pelo que a partir da sua escrita se tem acesso ao conhecimento e ao estudo da língua da época a que se reporta. Para além disso, se o conteúdo dos textos apócrifos contribui para a compreensão da mundividência do homem medievo, eles são por si mesmos, pela sua própria existência no panorama medieval, um dos aspectos da definição da cosmovisão medieval.

Assim, uma das contribuições mais importantes dos monges dos muitos mosteiros que povoaram a paisagem da nossa Idade Média foi aquela que se prendeu com o objecto livro, no que ele engloba de mais importante como a língua e a cultura, pelo trabalho que fizeram no scriptorium, quer por meio das cópias que executaram, quer pelas traduções que levaram a cabo e pelo patrocínio que deram à escrita.

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BibliografiaBROCCHIERI, Mariateresa F. Beonio (1996), “O Intelectual”. In Monges e

Religiosos na Idade Média. Berlioz, Jacques (Apres.) Trad. Teresa Perez. Lisboa: Terramar, pp. 125- 141.

BUESCU, Ana Isabel, Memória e Poder. Ensaios de História Cultural (sécs. XV-XVIII). Lisboa: Ed. Cosmos, 2000.

COSTA Pimpão, Á. J. (1959), História da Literatura Portuguesa. Idade Média, 2ª ed., Atlântida.

CURTIUS, E. Robert (1976), Literatura europea y edad media latina, 2 vol. Madrid: Fondo de Cultura Económica.

ECO, Umberto (1989), Arte e Beleza na Estética Medieval. Trad. A. Guer-reiro. Lisboa: Editorial Presença.

MATTOSO, José (1982), Religião e Cultura na idade Média Portuguesa. Lisboa: Imprensa nacional – Casa da Moeda.

NASCIMENTO, Aires A. (1991), “Livro e leituras em ambiente alcobacen-se”. In IX Centenário do Nascimento de São Bernardo. Actas Encontros de Alcobaça e Simpósio de Lisboa. Braga Alcobaça: Universidade Católica, pp.147-165.

Doutora Aida Sampaio LemosProfessora da ES/3 de Barcelinhos

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PARAÍSO E INFERNO NA REPRESENTAÇÃO DO BRASIL COLONIAL:

DOS TEXTOS INAUGURAIS DO SÉC. XVI AO COMPÊNDIO

NARRATIVO DO PEREGRINO DA AMÉRICA, DE NUNO MARQUES PEREIRA (1728)

1. Na história da literatura do período colonial brasileiro, duas correntes sobressaem como formas de representar essa realidade desconhecida que a desco-berta do Brasil, em 1500, veio dar a conhecer, não só a Portugal, como a toda a velha Europa face à qual se abria um vasto e novo mundo.

Evidenciam-se, em primeiro lugar, os textos inaugurais, entroncados numa tradição iniciada por Pêro Vaz de Caminha que, com a Carta de Achamento do Brasil que endereça a D. Manuel I, dá início aos relatos de viagem sobre terras de Vera Cruz, incluindo já no seu testemunho «muitos dos motivos que através dos tempos iriam distinguir literariamente a nova terra: o mito sempre colimado (…) do eldorado edénico (…) habitado por uma inumerável variedade de aves, entre as quais brilhavam por sua cor e estranheza os papagaios (…); o mito do bom selvagem que uma Europa, cansada e desencantada, depressa fará seu (…); o mito (…) de uma feminilidade exótica, inocente e sedutora (…); o mito-programa da catequese, instrumento e máscara, mas também transferência e justificação, no plano ético, da conquista imperial» (PICCHIO, 1997: 74-75).

As imagens do Brasil divulgadas em tais relatos tinham como principal objectivo informar sobre a terra e divulgar as suas grandezas e por isso incidem sobre aspectos da paisagem geográfica, natural e humana, tornando-se essa a pers-pectiva dominante, se não mesmo exclusiva, como decorre das obras de Pêro de Magalhães Gândavo (História da Província de Santa Cruz, 1576) ou de Gabriel Soares de Sousa (Tratado Descritivo do Brasil, 1587).

No início do século XVII, porém, uma obra como os Diálogos das grande-zas do Brasil, escritos em 1618 por Ambrósio Fernandes Brandão, vem lançar a semente de uma nova forma de representar a colónia, desta feita por oposição à vida na metrópole. Como escreve Francelina Drummond, «nestes diálogos entre dois colonos (…) conflui a representação polarizada da terra brasileira. Tem a conotação de casa – o paraíso transposto para os trópicos -, captada na visão do protagonista, e a de exílio, lugar do desterramento, da fragmentação e da falta, na opinião do outro colono. Na diversidade temática dos diálogos, na exuberân-cia de descrições e alusões à terra do Brasil, é possível identificar que os colonos

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simbolizam o entrelugar da condição colonial – o não ser ainda brasileiro nem português – porque decifravam o espaço precariamente, ou talvez miticamente, e ainda tacteavam seus lugares na cultura» (DRUMMOND, 2006: 21).

A partir de então, começa a ganhar forma uma outra corrente que passa a representar a terra brasileira sob o prisma da Cultura, subalternizando as visões míticas, baseadas no ufanismo da Natureza, que até aí proliferavam. Trata-se de incluir nos relatos elementos colhidos na observação dos costumes dos habitantes da colónia, o que vem alterar radicalmente a imagem paradisíaca que dela davam os primeiros relatos, substituindo-a por uma outra diametralmente oposta – a visão do inferno colonial. É neste filão já distante do deslumbramento da descoberta que se inclui a obra de Nuno Marques Pereira intitulada Compêndio Narrativo do Peregrino da América. Francelina Drummond referir-se-lhe-á dizendo que «a representação ficcional da colónia como inferno é inaugurada com o livro de Nuno Marques Pereira» (DRUMMOND, 2006: 50).

2. O Compêndio Narrativo do Peregrino da América, publicado em edição princeps, em Lisboa, em 1728, é considerado a primeira prosa de ficção brasi-leira, embora os historiadores da literatura daquele país nem sempre tenham demonstrado saber como lidar com ela, talvez porque o seu carácter doutrinário, assumidamente comprometido com a moral da igreja católica e perseguindo fins catequizantes, tenha sido determinante para a secundarização de que a obra foi objecto no cânone literário do Brasil.

Com efeito, trata-se da única obra publicada por Nuno Marques Pereira, autor cuja existência permanece «até hoje envolta em trevas» (MOISÉS, 1985:222). É uma obra classificada como sendo uma novela alegórica, composta por duas partes que, no entanto, não tiveram percurso editorial idêntico. Na verdade, enquanto o primeiro volume da novela conheceu cinco edições ao longo do século XVIII – 1728, 1731, 1752, 1760 e 1765 -, o segundo volume permaneceria inédito até ao século XX, altura em que, pela primeira vez, se procedeu a uma edição com-pleta desta narrativa ficcional em prosa de conteúdo marcadamente doutrinário. Assim, são já contemporâneas as duas edições que completam o percurso editorial desta novela: a 6ª edição, em cujo título se lê Compêndio narrativo do peregrino da América. 6. Ed. Completada com a 2ª parte, até agora inédita, acompanhada de notas e estudos de Varnhagen, Leite de Vasconcelos, Afranio Peixoto [y outros], foi feita no Rio de Janeiro, pela Academia Brasileira de Letras, em 1939; a 7ª, e última, data de 1988 e é uma reedição da anterior, feita pela mesma Academia Brasileira de Letras, dado a de 1939 estar «há muito esgotada» e ser «preciosa», segundo informação de Afrânio Coutinho contida na introdução à edição de 1988 (PEREIRA, 1988: 3/I).

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A trama ficcional da obra gira em torno de duas personagens principais: o Peregrino e um Ancião que no último capítulo do primeira volume se identifica como sendo o «Tempo Bem Empregue». Instigado pelo Ancião, o Peregrino dá início à narração da sua «peregrinação» por terras do Brasil, «mais levado de hum desejo de ver esse portento da fama, novo mundo descuberto, ha tantos annos ncógnito, que dos lucros do interesse» (PEREIRA, 1752: 11). É este o mote que justifica o relato das peripécias de uma viagem ao longo da qual o Peregrino se depara com diversos espaços e as mais distintas personagens, a partir dos quais vai explanando a sua visão do Brasil. Cada uma das pequenas histórias contadas pelo Peregrino ao Ancião assume, pois, um carácter modelar exemplar que pretende traçar o retrato da terra, documentar o seu quotidiano e denunciar a perversão dos costumes a ele associados.

O segundo volume do Compêndio Narrativo do Peregrino da América esta-belece com o primeiro nexos de continuidade temática, temporal e espacial. Tais nexos são assegurados quer pela manutenção das duas personagens principais da novela – o Peregrino e o Ancião -, quer pela replicação do esquema narrativo: o «Tempo Bem Empregue» volta a procurar o Peregrino para que este lhe conte «o mais que lhe sucedeu depois que o Ancião dele se apartou». É este repto que está na base do diálogo que os dois vão manter, no decurso do qual o Peregrino se lança novamente na empresa de narrar um conjunto de histórias sucessivas que assumem uma dimensão exemplar tanto para a condenação do mal, quanto para o enaltecimento do bem.

Longe de se deter no elogio das qualidades naturais do espaço geográfico em que se desloca, o narrador-peregrino foca a sua atenção no registo das maneiras de sentir, de pensar e de se comportar dos habitantes da colónia, captando as imagens do quotidiano colonial e registando uma visão própria da terra brasileira que faz dele uma testemunha privilegiada da realidade do Brasil do século XVII. Mostra em tal tarefa um afã de cronista não já de matérias relacionadas com o meio natural, mas antes de episódios que relevam dos comportamentos sociais.

Na obra de Marques Pereira, o Brasil deixa de ser identificado metonimica-mente com um paraíso natural – terra de clima ameno e de fauna e flora exube-rantes e exóticas. Pelo contrário, as alusões à natureza tendem a funcionar como mera moldura textual, na medida em que os interlocutores principais da novela permanecem num mesmo local ao longo de toda a acção referida na narrativa. Em consequência, os episódios que o narrador-peregrino vai sucessivamente re-latando ao Ancião são fruto de reminiscências de leituras e de casos observados ou vividos ao longo da sua peregrinação, decorrendo essa peregrinação em datas e por lugares não especificados.

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Se no início da novela o narrador revela alguma preocupação em fornecer indica-ções geográficas caracterizadas por relativa precisão, tal preocupação vai-se atenuando ao longo da obra, deixando progressivamente o relato do Peregrino de incluir referências a localizações explícitas que permitam um enquadramento geográfico com ancoragem no real. Assim, se é possível rastear a presença de alguns pormenores geográfico-naturais nos primeiros capítulos da narrativa, depressa eles são relegados para segundo plano, cedendo espaço para a explanação de inquietações que se prendem com a observação dos comportamentos das personagens com quem o narrador-peregrino se cruza no decorrer das suas sucessivas jornadas pelo interior do Brasil.

3. São múltiplos os alvos da crítica do narrador-peregrino. As suas jornadas põem-no em contacto com as mais diversas personagens do mosaico social brasileiro. Pelo seu relato perpassam os membros do clero, devassos e omissos em relação aos seus deveres de evangelização e de auxílio espiritual aos colonos; os oficiais de justiça corruptos; os médicos, os cirurgiões, os boticários e os barbeiros de cuja ignorância e incúria resultam erros calamitosos, fatais para quem procura os seus serviços; os colonos proprietários que tratam com desumanidade os serviçais; os aventureiros de ambição sem limites; os senhores ricos e avarentos; as mulheres fúteis e vergadas sob o peso da luxúria; os escravos entregues a práticas rituais de feitiçarias que tanto escandalizam a percepção eurocentrista e cristocêntrica de quem delas dá testemunho.

Cada uma destas e das restantes figuras que compõem a galeria de perso-nagens da novela entram na narrativa para protagonizarem episódios sucessivos que o narrador-peregrino experiencia no decorrer das suas deambulações. A narração da viagem estriba-se numa representação linear do tempo, no sentido em que o Peregrino procede ao relato diário e contínuo das etapas por si per-corridas ao longo do itinerário traçado. Tais etapas têm geralmente a duração de um dia, desde o romper da aurora até ao cair da noite. No entanto, não existe isomorfismo entre o tempo cronológico e o tempo do discurso, já que a sequencialidade das jornadas não corresponde à sucessão dos capítulos, ou seja, os relatos motivados pelas diversas jornadas do Peregrino podem estender-se por vários capítulos.

O alongamento discursivo coincide com momentos de paragem no desenrolar da acção aproveitados pelo Peregrino, alter-ego do autor, para se deter em longas dissertações doutrinárias e morais. Os momentos de avanço, correspondentes aos progressos que o Peregrino faz relativamente ao roteiro esboçado, são breves e concentram-se por via de regra em início e em fim de capítulo. Para além do mais, estes momentos de avanço obedecem a um esquema padrão que se repete de etapa em etapa: no princípio do capítulo, o Peregrino anuncia o começo de

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uma nova jornada que o conduz a um novo local onde geralmente é recebido por algum morador; no término desse mesmo capítulo, o Peregrino e o morador tomam uma refeição em conjunto, o Peregrino pernoita nos aposentos que o morador lhe indica e, na manhã do dia imediatamente a seguir, volta a fazer-se ao caminho, repetindo-se assim todo o processo.

Os encontros do Peregrino com os sucessivos companheiros com quem se vai cruzando, os comportamentos que estes lhe dão a observar e mesmo as pró-prias cenas do quotidiano com que se depara constituem o verdadeiro fulcro de interesse de cada capítulo, na medida em que servem de móbil para justificar as longas digressões. Estas nunca irrompem na novela de forma gratuita; antes pelo contrário, a sua inserção ocorre sempre na sequência de uma peripécia perfeita-mente justificável pelo desenrolar da acção. A substância das referidas digressões pode incidir sobre aspectos bem diferentes, do conjunto dos quais emerge um fresco de toda a sociedade colonial brasileira.

4. Pela sua importância em termos etnográficos, julgamos pertinente fixarmo-nos no capítulo XI do volume I, cujo incipit remete para a crítica ao «grande abuso dos calundus, e feitiçarias, que se acham introduzidos no Estado do Brasil» (PEREIRA, 1988: 145/I).

Neste capítulo, trava-se um diálogo entre o narrador-peregrino e um «dono da casa» não especificado a quem o primeiro pedira agasalho para passar a noite. Uma vez chegada a manhã, queixa-se o peregrino ao seu anfitrião de ter passado a noite em claro. A razão da sua insónia encontra-a ele no «estrondo dos tabaques, pandeiros, canzás, botijas, e castanhetas; com tão horrendos alaridos, que se [lhe] representou a confusão do inferno» (PEREIRA, 1988: 145/I). Logo, solícito, o morador se apresta a dizer que se soubesse do incómodo que causaria ao seu hóspede, teria mandado «que [essa] noite não tocassem os pretos seus calundus», esclarecendo logo de seguida tratar-se de «uns folguedos, ou adivinhações (…) que dizem estes pretos que costumam fazer nas suas terras, e quando se acham juntos, também usam deles cá, para saberem várias coisas; como as doenças de que procedem [sic]; e para adivinharem algumas coisas perdidas; e também para terem ventura em suas caçadas, e lavouras; e para outras muitas coisas» (PEREIRA,1988:145/I).

Tal explicação é motivo de perplexidade para o peregrino, sobretudo pela naturalidade com que o fazendeiro mostra aceitar esses ritos primitivos praticados pelos seus escravos:

«Verdadeiramente, Senhor, (…) que me dais motivo para não fazer de vós o conceito , que até agora fazia; pois vos ouço dizer que consentis na vossa fazenda, e nos vossos escravos coisa tão supersticiosa, que não estais menos que excomun-

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gados, e os vossos escravos; além de seres transgressor do primeiro mandamento da Lei de Deus» (PEREIRA, 1988, 145-146/I)

Logo o peregrino se alonga na denúncia e condenação daquelas cerimónias de magia diabólica: admoesta severamente o fazendeiro; manda reunir o grupo de escravos, explicando-lhes que as práticas a que se dedicam ofendem a Deus porque são artimanhas do diabo («Não sabeis, (…) esta palavra de calundus o que quer dizer em português? (…) Pois eu vos quero explicar, (…) pela etimologia do nome, que significa. Explicado em português, e latim, é o seguinte: se calam os dois: Calo duo. Sabeis quem são estes dois que se calam? Sois vós, e o diabo. Cala o diabo, e calais vós o grande pecado que fazeis, pelo pacto que tendes feito com o diabo; (…) Aqui tendes a explicação desse horrendo pecado: o qual por sua natureza e malícia é tão péssimo, que se vós soubésseis a qualidade dessa culpa, e os mais, fugiríeis dela, como do mesmo inferno», PEREIRA, 1988: 148); informa-os de que essas práticas os afastam irremediavelmente da hipótese de alcançar o paraíso, a eles que foram resgatados do barbarismo em que se encontravam na África natal, para serem convertidos e salvos em terras do Brasil.

No final da prelecção, assiste-se à queima dos instrumentos usados nos «diabólicos folguedos». Deles sai «um fumo tão negro, que não havia quem o suportasse: e estando até então o dia claro, se fechou logo com uma nebrina tão escura, que parecia se avizinhava a noite» (PEREIRA, 1988: 150), Ou seja, assiste-se a um acto de exorcismo praticado pelo peregrino que assim busca extirpar o mal, expulsando o demónio.

Subjacente a toda a cena está, por um lado, o ponto de vista do colonizador da metrópole, cuja indignação é fruto da crença na superioridade do racionalismo europeu face aos ritos primitivos dos escravos africanos; por outro, o despontar de uma nova realidade, mestiça e miscegenada, documentada pelo processo de acultu-ração, condenável aos olhos do peregrino, a que os colonos brasileiros são expostos numa terra em que a exuberância do cenário natural contrasta com a civilização ainda por construir.

5. É desse entrelugar do paraíso natural associado ao caos civilizacional que o Compêndio Narrativo nos dá notícia. Se os textos inaugurais sobre o Brasil continham alusões edénicas motivadas pela observação da pujança dos elementos da natureza, o Peregrino da América vai captar a visão deplorável da grave ruína sociológica em que vivia o Brasil.

O livro traça o retrato da sociedade colonial afectada por uma malícia dia-bólica que se traduz na crise de costumes à qual nenhum membro do complexo mosaico sócio-cultural escapa, o que justifica a pedagogia de repreensão do hedo-nismo e de condenação das práticas da cultura popular emergente que norteia os

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propósitos do autor. O texto de Marques Pereira faz-se assim expressão de uma corrente de interpretação da realidade colonial brasileira que opõe à sedutora imagem do paraíso, a visão do inferno tropical.

Bibliografia:A)PEREIRA, Nuno Marques (1752), Compendio Narrativo do Peregrino da

America, Lisboa: Officina de Miguel Manescal da Costa, Impressor do Santo Officio.

Idem (1988), Compêndio Narrativo do Peregrino da América (notas e estudos de Varnhagem, Leite de Vasconcelos, Afrânio Peixoto, Rodolfo Garcia e Pedro Calmon. Introdução de Afrânio Coutinho), Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, tomos I e II.

B)DRUMMOND, Mª Francelina Silami Ibrahim (2006), Leitor e Leitura na

Ficção Colonial, Ouro Preto: Ler – Livraria e Editora Real.PICCHIO, Luciana Stegagno (1997), História da Literatura Brasileira, Rio

de Janeiro: Editora Nova Aguilar.

Doutora Micaela Ramon, [email protected] – Universidade do Minho

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AS FERRAMENTAS DA WEB 2.0 AO SERVIÇO DO ENSINO-APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA MATERNA OU ESTRANGEIRA

IntroduçãoA Web 2.0 é uma plataforma que congrega um conjunto de ferramentas e

serviços online, que facilitam e promovem a interacção entre os utilizadores, a publicação e partilha de informação. Os exemplos mais populares de aplicações Web 2.0 são mencionados a seguir:

– Softwares para criação de redes sociais (social networking) – Hi5 (http://hi5.com/), Facebook (http://www.facebook.com/), Blogger (https://www.blogger.com/start);

– Ferramentas de escrita colaborativa – Wikispaces (http://www.wikispaces.com/), Podomatic (http://www.podomatic.com/), Google Docs (http://docs.google.com);

– Ferramentas de comunicação online – Windows Live Messenger (http://messenger.live.com/), Skype (http://www.skype.com/), Google Talk (http://www.google.com/talk/);

– Ferramentas de publicação de vídeos online – YouTube (http://www.youtube.com/), Dailymotion (http://www.dailymotion.com/pt), Google Vídeos (http://video.google.com/), Yahoo Vídeos (http://video.yahoo.com/), Sapo Vídeos (http://videos.sapo.pt/);

– Ferramentas de publicação de fotografias online – Flickr (http://www.flickr.com/), Picasa (http://picasa.google.com/), Sapo Fotos (http://fotos.sapo.pt/);

– Plataformas de e-learning – Moodle (http://moodle.org/), Blackboard (http://www.blackboard.com/).

– Ambientes de realidade/interacção virtual – Second Life (http://secondlife.com/).

Estas novas tecnologias que implicam essencialmente colaboração, trabalho em equipa, trabalho em rede, conhecimento aberto, interactividade, redes sociais e outras formas de cooperação conhecem uma boa aceitação no mercado, prin-cipalmente, entre o público estudantil. De facto, como refere Costa (2008: 19), se antes teenager era sinónimo de adolescente, a geração de estudantes de hoje

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é chamada de screenagers5 (Rushkoff, 1999), uma vez que nasceu rodeada pelos mais diversos dispositivos tecnológicos, os jogos de computadores, os comandos, os telemóveis, as mensagens (SMS e MMS), o MSN.

Convém relembrar, de facto, que os alunos com que hoje convivemos per-tencem à geração Net (Tapscott, 1999), à geração dos digital natives (Prensky, 2001): frequentemente estão online a aceder e receber informação, já que preferem hiperligações à linearidade do texto (Prensky, 2001). Não é pois de estranhar que aspirem a um ensino diferente do que os seus professores, os da geração de papel (Carvalho, 2009), seguramente tiveram.

O número de alunos para os quais as ferramentas da Web 2.0 são já fa-miliares tem vindo a aumentar pelo que podem facilmente transformar-se em poderosos objectos de ensino- aprendizagem com estrutura reutilizável. Foi nesta perspectiva que se propôs, no âmbito de um projecto de estágio realizado na Es-cola EB 2,3 de Lamaçães (em Braga), desenvolver para a disciplina de Francês do 8º ano uma série de actividades subordinadas ao tema “A Aplicação de Blogues e outras ferramentas da Web 2.0 na aprendizagem do Francês como língua estrangeira”. Nesta breve intervenção, queremos sobretudo relembrar que, com os recursos existentes online e as ferramentas de fácil publicação da Web 2.0, os professores têm em mãos inúmeras novas oportunidades para promover, junto dos seus alunos, uma aprendizagem autêntica, apoiada em modelos de comunicação bidireccional, síncrona e assíncrona.

1. O blogue como ferramenta de apoio à disciplina de uma língua materna ou língua estrangeiraNeste estágio, optámos por usar o blogue6 como ponto de partida para

todo o trabalho a desenvolver com os alunos. O blogue é uma das ferramentas Web 2.0 mais utilizada no campo da Educação. A sua popularidade advém, em parte, da facilidade de o criar e editar as suas mensagens (“posts”) constituídas

5 - Rushkoff (1999) utiliza o termo para descrever o perfil das crianças e adolescentes que nasceram a partir de 1980. Eles são a primeira geração a crescer com computadores em casa, downloads de música, correio electrónico, Messenger e telemóveis.6 Segundo Cruz e Carvalho (2006: 64), o termo Weblog, registo diário na Web, foi simplificado para blogue e aportuguesado para blogue, tendo maior vulgarização a partir de 2003. Com o surgi-mento de serviços de criação e alojamento de blogues de forma fácil e gratuita (de que são exemplos bem conhecidos o Blogger.com http://www.blogspot.com a nível mundial e o Blogs.sapo.pt http://blogs.sapo.pt/ a nível nacional), a publicação na Internet assume um nível de facilidade nunca antes atingido. Através do serviço gratuito Blogger, criado em 1999, é possível criar blogues facilmente em diversos idiomas.

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por imagens e/ou textos normalmente de pequenas dimensões (muitas vezes in-cluindo ligações para materiais de consulta e textos de apoio às aulas, indicações de trabalhos a realizar, ligações para sites de interesse, comentários e pensamentos pessoais do professor).

O blogue serve também como portefólio digital de todos os trabalhos e actividades realizados pelos alunos7, ficando assim tudo registado:

Figura 1. «Arquivos» e «Mensagens recentes» do blogue Espace FLE8

É importante referir que todas as mensagens publicadas no blogue são apre-sentadas de forma cronológica, sendo as mensagens mais recentes normalmente apresentadas em primeiro lugar. Mas o professor pode adicionar ao seu blogue um arquivo que lhe permite recuperar todas as actividades desenvolvidas ao longo do ano lectivo.

7 Os blogues escolares podem ser utilizados como portefólios digitais de aprendizagem dos alunos. Estes portefólios digitais permitem ao professor orientar todo o trabalho, podendo, em tempo útil, consultar todos os portefólios dos seus alunos, não necessitando de os transportar. No ano 2006/07, no âmbito da disciplina de Língua Portuguesa, o professor Paulo Faria da Escola Básica Integrada de Vila Cova – Barcelos sugeriu que os seus alunos criassem o seu próprio blogue. Todos os blogues dos alunos podem ser consultados a partir do blogue Língua Portuguesa (disponível em: http://paulofaria.wordpress.com).8 O blogue Espace FLE apresentado na figura 1. Foi especialmente criado para os alunos que aprendem a língua francesa na Universidade do Minho. O blogue está disponível em: http://lewebpedagogique.com/silviaraujo/.

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1.1. Ferramentas educativas de fácil incorporação no blogue Os blogues suportam uma infinidade de aplicações e ferramentas disponíveis

na Web como vídeos, slides, faixas de áudio que podem ser usadas para desen-volver a capacidade comunicativa dos alunos.

1.1.1. Utilização de personagens animadas com mensagens áudio no Voki9

O Voki é uma ferramenta que permite criar o nosso próprio avatar e dispo-nibilizá-lo na Web usando a nossa própria voz. A voz pode ser adicionada através de um microfone, de um arquivo pessoal por meio de upload10, ou por mensagem digitada, e neste caso há a possibilidade de escolhermos a língua que pretendemos bem como o tipo de voz que queremos para vocalizar a mensagem:

Figura 2. Interface do Voki

Pode-se também personalizar o Voki desde a personagem que se quer utilizar (pessoa, animal, políticos, etc.), ao cabelo, roupa, cor de pele, até ao pano de fundo que poderá ou não conter animações:

9 O Voki é um serviço on-line e gratuito. O endereço é: http://www.voki.com. Existem, na internet, várias ferramentas online (Robobraille, Spoken Text, …) que permitem converter qualquer ficheiro escrito em áudio. Esse tipo de aplicativo é habitualmente denominado de Sintetizador de Arquivo de Texto. 10 Em vez de gravar o texto com a própria voz no voki, o aluno poderá recorrer a um programa de software livre como o Audacity (http://audacity.soucerforge.net). Para além de permitir a gravação de textos mais longos, este programa gratuito oferece recursos avançados para tratar e melhorar a gravação dos textos.

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Figura 3. Avatares construídos no Voki pelos alunos da turma 8º5

Adoptar uma personalidade virtual pode ser uma maneira motivadora de desen-volver as competências orais dos estudantes de uma língua estrangeira. De facto, a produção destes avatares permite aos alunos praticar a oralidade e a audição da pro-núncia correcta. Esta ferramenta poderá ajudar a desinibir alunos tímidos, dado que lhes permite falar para o microfone em privado, em vez de enfrentarem um grupo de colegas. Cremos que, ao recorrermos ao formato áudio, estamos garantidamente a tornar os alunos mais críticos e, por sua vez, a facultar ao docente ferramentas que permitem uma avaliação mais rigorosa da evolução de cada aluno ao nível da produção oral. É de salientar que todos estes avatares são de fácil incorporação no blogue:

Figura 4. Publicação dos avatares no blogue11 da disciplina de Francês

Se os alunos forem estimulados a gravar as suas narrações aprendem muito mais, pois terão maior preocupação em preparar um bom texto e disponibilizar um material correcto e coerente para os colegas.

11 O blogue de francês da turma 8º5 da Escola EB 2,3 de Lamaçães foi criado no sistema Lewebpedagogique e pode ser consultado no endereço que se segue: http://lewebpedagogique.com/francesescolalamacaes.

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1.1.2. Ferramentas de publicação de vídeos online no YouTube ou DailymotionTambém o YouTube12 e o Dailymotion contribuem, de forma simples e eficaz,

para um maior contacto com uma língua. O Youtube e o Dailymotion são sites de enorme sucesso que permitem que os seus usuários carreguem e compartilhem vídeos em formato digital. O material encontrado nestes sites pode ser disponi-bilizado no blogue:

Figura 5. Vídeos do YouTube incorporados no blogue da disciplina de Francês

Estes sites permitem ao utilizador publicar, ver e partilhar vídeos da sua au-toria. Depois de ter descarregado vários videoclips de música francesa no YouTube, a turma 8º 5 da Escola de Lamaçães recorreu a um software de edição de vídeo, o Windows Movie Maker13, para criar um diaporama musical:

12 É de referir que existe uma versão do YouTube dirigida a um público mais restrito, o público do ensino/educação: trata-se do TeacherTube que pretende ser um site de partilha de vídeos onde educadores em geral podem disponibilizar os seus vídeos para que os outros colegas e alunos os possam ver. 13 O Windows Movie Maker (WMM) é uma aplicação simples de edição de vídeo incluída no sis-tema operativo Windows XP com o qual é possível adicionar a gravação de uma narração realizada pelo próprio utilizador ou por outro locutor. Como referem Cruz & Carvalho (2007: 242), através do WMM, os alunos podem tornar-se os realizadores de filmes, criar os seus próprios argumentos, dramatizar um texto, criar narrativas digitais, tendo ao dispor vários cenários que podem ser utilizados a partir de diferentes perspectivas. Este software ajuda, por conseguinte, a estimular a criatividade do aluno, ao mesmo tempo que confere ao aluno o estatuto de autor.

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Figura 6. Criação de um diaporama de músicas francesas com o Windows Movie Maker

Com este software, os alunos procuraram encurtar e ordenar todos os clips importados. O produto final foi posteriormente disponibilizado online no serviço gratuito de publicação de vídeos Dailymotion14:

Figura 7. Publicação do diaporama criado pelos alunos no Dailymotion

Ferramentas de publicação acessíveis na rede revolucionaram o modo como as pessoas consomem, interpretam, produzem e divulgam informações. É importante que o professor proponha actividades motivadoras que orientem o aluno na pas-sagem de simples consumidor para produtor de informação para a Web. Nesta perspectiva, os trabalhos produzidos já não são apenas para entregar ao professor, mas para serem reconhecidos tanto na escola quanto fora dela.

14 http://www.dailymotion.com/video/xbvbm3_diaporama-musique-française-8º5-esc_music.

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1.1.3. Potencialidades educativas do editor de texto do Google Docs O Google Docs15 oferece um pacote de ferramentas de escritório que são

colaborativas e podem ser editadas online. Com esse programa, o professor pode produzir, de uma forma simples e rápida, pequenos testes e provas, ou exercícios16 que são disponibilizados no blogue a partir de uma hiperligação:

Figura 8. Ligação para o questionário criado no Google docs

O aluno começa por clicar na hiperligação «document audiovisuel» para visualizar uma reportagem. Na hiperligação «questionnaire», o professor propõe uma ficha de compreensão oral que o aluno terá de preencher com base nos apontamentos recolhidos durante a escuta da reportagem:

15 Para aceder a esta ferramenta, o utilizador necessita apenas de possuir uma conta no Gmail.16 O Google Docs pode ser usado para criar WebQuests. Pode optar-se por inserir numa só página cada um dos componentes da WebQuest com hiperligações entre eles. Ou criar uma página indivi-dual para cada componente e ligá-las umas às outras mediante hiperligações externas (Moura, 2006). Uma WebQuest é constituída por seis componentes: a introdução, a tarefa, o processo e os recursos, a avaliação e a conclusão, que relembra o objectivo final daquele projecto e deve despertar o aluno para pesquisas futuras. O site http://www.iep.uminho.pt/aac/diversos/webquest/disponibiliza informação sobre WebQuests propostas por professores para serem resolvidas colaborativamente por um grupo de alunos. Outros exemplos de WebQuests podem ser consultados no site: https://comunidade.ese.ipb.pt/phpwebquest/index.php.

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Figura 9. Aspecto de um questionário online criado no Google Docs

Este questionário que o professor disponibiliza no blogue da disciplina foi previamente criado na sua página pessoal do Google docs17. Estes formulários online do Google Docs constituem um meio simples, rápido e económico, de assegurar um acompanhamento do percurso da aprendizagem efectuado pelos alunos dado que, ao clicar na tecla «envoyer» que surge no fim do questionário, cada aluno da turma encaminha directamente a sua resposta para a página do professor:

Figura 10. Página pessoal do professor que grava automaticamente as respostas dos alunos

17 No site ESL Video (http://eslvideo.com/), o professor pode criar um videoquiz online para seus alunos em poucos minutos. Esse questionário criado pelo professor assim como qualquer outro ques-tionário produzido no site por outro utilizador podem ser incorporados no blogue da disciplina.

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Nesta página pessoal que concentra todas as respostas fornecidas pelos alunos, o professor poderá introduzir todo o tipo de observações (correcção de erros, resposta correcta, …) e publicar essa página no blogue. Por ser um pacote de ferramentas de escritório, o Google Docs permite igualmente criar, armazenar e compartilhar apresentações multimédia que são particularmente interessantes como ferramenta de apresentação de conteúdos, informações e esquemas didácticos.

Vejam-se alguns dos trabalhos realizados pelos alunos de Francês do 8º ano da Escola EB 2,3 de Lamaçães sobre uma cantora francesa:

Figura 11. Apresentações multimédia18 criadas pelos alunos no Google docs

Os alunos em questão podem controlar a partilha destes documentos com os outros utilizadores do serviço, autorizando ou não, a sua visualização ou a sua edição. Os documentos criados no Google Docs ficam on-line e nem o autor nem os colaboradores necessitam de os descarregar para o seu PC. A partilha, edição e publicação dos documentos é instantânea e feita em simultâneo na Web. O Google Docs apresenta ainda a vantagem de gerar um código que permite a fácil incorporação dos trabalhos realizados pelos alunos no blogue da disciplina.

2. Possibilidade de adicionar miniaplicações radiofónicas ou televisivas O professor pode ainda personalizar o blogue com várias miniaplicações

(programas televisivos ou radiofónicos e playlists musicais criadas, por exemplo, no site mixpod):

18 Apresentações disponíveis em: http://docs.google.com/present/view?id=dcvt9ww9_14dm2xmbc3; http://docs.google.com/present/view?id=ddbnb69f_0d6dm3phn.

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Figura 12. Algumas das miniaplicações que podem ser integradas num blogue

De facto, partir de materiais autênticos para ensinar una língua estrangeira possibilita um desenvolvimento mais eclético da compreensão oral da língua em estudo e uma maior facilidade em comunicar efectivamente quando em contacto com locutores nativos.

3. A utilização de podcasts em contexto educativoExistem já diferentes sites pedagógicos que fazem uso de podcasts19 para

proporcionarem episódios em que falantes nativos20 falam de forma natural e real, ao contrário dos métodos das editoras, criados artificialmente. Existem na rede excelentes exemplos do podcast em ambientes educativos. A maioria deles estão disponíveis 24 horas, são actualizados regularmente, são autênticos e gratuitos.

19 Podcast é a combinação dos conceitos iPod (leitor digital portátil fabricado pela Apple) e broadcast (transmissão de dados), podendo definir-se como um ficheiro de áudio, normalmente em formato MP3. Distribuído através da Internet, o podcast pode ser subscrito através de RSS (Really Simple Sindication) feeds e é descarregado automaticamente para agregadores, como o iTunes, ou para outros dispositivos móveis como o computador, leitor de MP3, MP4 ou telemóvel por exemplo, que depois podem ser ouvidos onde e quando o utilizador quiser. Podcasting é o acto de gravar ou divulgar os ficheiros na Web. Podcaster é o autor que grava os ficheiros no formato áudio.20 Algumas entidades privadas propõem podcasts que facultam material de apoio e permitem o con-tacto com as pessoas que os elaboraram, tirando dúvidas, colocando questões, etc. Um exemplo deste tipo de podcast é o LingQ (http://www.lingq.com/pt/) que fornece cursos intensivos de línguas. O podcast PortugueseLingQ (http://www.portugueselingq.com/) foi concebido para ajudar estrangeiros a aprender a Língua Portuguesa. Encontrámos na Internet um documento intitulado «Répertoire des sites de podcasts gratuits pour apprendre les langues» que apresenta uma lista exaustiva dos sites de podcasts que podem ser usados nas aulas de língua estrangeira.

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A Rádio França Internacional RFI21 por exemplo é uma rádio de informação internacional que transmite programas para o mundo inteiro, 24 horas por dia, em mais de 20 línguas. A gravação e disponibilização aos alunos de podcasts que abordam conteúdos em várias línguas podem certamente ajudar a colmatar a falta de oportunida-des dos alunos ouvirem outros idiomas em contexto escolar. Estes podcasts funcionam, sem dúvida, como um complemento à aula, uma outra maneira de aprender uma língua estrangeira. Na sala de aula, os professores podem ainda usar podcasts que dão a conhecer obras de autores portugueses e estrangeiros. São disso exemplo o podcast “Era uma vez”22 (Fig. 13) ou o exemplo dos podcasts de apoio à disciplina de Língua Portuguesa da professora Adelina Moura23 (Fig. 14).

Figura 13. Aspecto de uma página de um dos episódios do podcast (A Fada Oriana)

21 http://www.rfi.fr/.22 O Podcast “Era uma vez…” (http://recursoseb1.com/eraumavez/) é um projecto direccionado para as crianças, educadores e professores do ensino pré-escolar, primeiro e segundo ciclo. Através da narração de histórias e pequenos contos de autores portugueses, o podcast procura ser uma fer-ramenta educativa que potencia a aquisição de competências na área da língua portuguesa. Existem muitos outros podcasts dedicados à língua portuguesa (ver, por exemplo, o podcast «Estúdio Raposa» (http://www.estudioraposa.com/) ou ainda os arquivos de áudio da professora Teresa Pombo (http://profteresa.podomatic.com/)).23 No portal Podomatic, a professora Adelina Moura criou o seu primeiro podcast de Literatura Portuguesa, Em Discurso Directo I (http://linade.podomatic.com/), como se pode ver na figura 14. Nesta primeira série, foram gravados 117 episódios distribuídos da seguinte forma: Estrutura da obra literária; História da Literatura Portuguesa; Barroco; Romantismo; Realismo e Modernismo. Na segunda série, designada por Em Discurso Directo II (http://discursodirecto.podomatic.com/), a professora deu continuidade à temática.

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Podcast: Em Discurso Directo II (2ª série)

Fig.14. Podcast: Em Discurso Directo I (1ª série)

O podcast surge, sem dúvida, como uma tecnologia alternativa de auxílio ao ensino tanto presencial (b-learning) como a distância (e-learning), pois permite disponibilizar materiais didácticos em formato áudio que podem ser ouvidos a qualquer hora do dia (anytime) e em qualquer espaço geográfico (anywhere) (Moura & Carvalho, 2006). Para armazenar, organizar e partilhar todos os seus conteúdos de áudio, o professor tem à sua disposição vários serviços online de podcasting que possibilitam a criação e a disponibilização de podcasts24.

A disponibilização aos alunos de podcasts sobre todo o tipo de temas permite reforçar o que foi ensinado, melhorando, assim, o desempenho na língua mas pode também ajudar a realizar um ensino diferenciado, uma vez que os alunos25 podem ouvir as gravações sobre os conteúdos curriculares, de acordo com o seu ritmo e necessidades de aprendizagem.

Frequentemente os alunos mostram interesse por criar os seus próprios con-teúdos, de forma a ouvir a sua própria voz e a partilhá-la com os colegas. Para dar início à produção de podcasts, a turma 8ºG da Escola Afonso Henriques (em Guimarães) criou uma única conta no Podomatic26:

24 Apesar de existirem vários serviços de publicação de podcasts, optámos por mencio-

nar um dos mais conhecidos entre os utilizadores da Web: o Podomatic (http://www.

podomatic.com/).

25 Os podcasts pela sua facilidade em serem descarregados da Web para dispositivos

móveis, como leitores de MP3 e de MP4 ou telemóveis podem tornar-se aliciantes para

os alunos. Para que os alunos sem ligação à Internet e sem esses dispositivos móveis

possam ouvir os podcasts da disciplina, o professor pode copiá-los para um CD-ROM.

26 http://classe8g.podomatic.com/

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Figura 15. Página de podcasts disponibilizados no Podomatic

É importante referir que o Podomatic é uma ferramenta gratuita, fácil de usar e tanto permite alojar ficheiros de áudio já gravados27, como também per-mite fazê-lo directamente na página. A produção, pelos alunos, dos seus próprios podcasts é uma actividade excelente no ensino de línguas estrangeiras, pois permite que os alunos tomem consciência dos seus erros e falhas mas também das suas capacidades e potencialidades na leitura expressiva.

A partir de textos produzidos e gravados pelos próprios alunos no Podoma-tic ou no Audacity, é possível produzir livros multimédia. A partir de um conto colaborativo criado nas aulas de Língua Portuguesa, os alunos do 3º ciclo e secundário da Escola Básica Integrada de Vila Cova utilizaram a ferramenta em linha Myebook28 para elaborar um livro digital29 que associa cada segmento de texto a uma imagem e um ficheiro de som:

27 Se optarmos por um método de pré-gravação, é conveniente utilizar, como já refe-rimos na nota 6, programas específicos como é o caso do software livre de edição de áudio Audacity. 28 http://www.myebook.com/. 29 Ligação para o livro digital: http://www.myebook.com/ebook_viewer.php?ebookId=9776.

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Figura 16. Conto colaborativo criado e publicado com Myebook

4. Considerações finais Torna-se claro que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)

fornecem uma variedade de recursos interactivos que podem ser explorados por professores e alunos, quer seja num contexto de sala de aula quer seja fora dela. Estes recursos oferecem, de facto, ao contexto educacional uma panóplia de opções para uso real em sala de aula que promovem o envolvimento do aluno na sua própria aprendizagem. Como procurámos mostrar, estas ferramentas da Web 2.0 apresentam vantagens aliciantes no contexto do ensino/aprendizagem de uma língua materna ou estrangeira dado que permitem uma abordagem integradora das quatro capacidades fundamentais na aprendizagem de uma língua – a audição, a leitura, a escrita e a fala.

Referências bibliográficasCarvalho, A. (2009) «Podcasts no ensino: Contributos para uma taxonomia»,

Ozarfaxinars, n.º 8 Disponível em: http://www.cfaematosinhos.eu/Pod-casts%20no%20Ensino_08.pdf.

Costa, I. (2008) A WebQuest na aula de Matemática: Um estudo de caso com alunos do 10º ano de escolaridade, Tese de Mestrado em Educação, Universidade do Minho.

Cruz, S. & Carvalho, A. A..(2006) «Weblog como Complemento ao Ensino Presencial no 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico», Revista Prisma.com, 3, pp. 64-87.

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Cruz, S. & Carvalho, A. A. (2007) «Produção de Vídeo com o Movie Maker: Um Estudo Sobre o Envolvimento dos Alunos de 9.º Ano na Aprendizagem», SIIE’2007, pp. 241-246.

Moura, A. & Carvalho, A. A. (2006). Podcast: Potencialidades na Educação. Revista Prisma.com, nº3, 88-110. Disponível em http://prisma.cetac.up.pt/.

Moura, A. (2006). «Produzir uma WebQuest num Wik», In Ana Amélia A. Carvalho (org.) Encontro sobre WebQuest – Programa, Resumos e Workshops. Braga: CIEd, pp. 61-71.

Prensky, M. (2001). «Digital natives, digital immigrants», On the Horizon, 9 (5), pp. 1–2.

Rushkoff, D.. (1999) Um jogo chamado futuro: como a cultura dos garotos pode nos ensinar a sobreviver na era do caos. Revan, Rio de Janeiro.

Tapscott, D. (1999) Geração Digital: A crescente e irreversível ascensão da Geração Net. São Paulo: Makron Books.

Sílvia Lima Gonçalves Araújo*Cláudia Santos Gonçalves**

* Professora do Departamento de Estudos Românicos da Universidade do Minho.** Aluna do Mestrado em Mediação Cultural e Literária da Universidade do Minho.

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Passatempos e Curiosidades

Ad

ria

no

(9

.ºB

)

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CENTENÁRIO DA REPÚBLICA (1910-2010)SOPA “ESPECIAL” DE LETRAS E DE NÚMEROS

Divirte-te a testar os teus conhecimentos sobre a Monarquia e a 1ª República em Portugal. As palavras e as datas podem estar na vertical (V), horizontal (H) ou na diagonal (D)

R T H J L O P I U T G F D S W X C V B N M K H L P O Q A Z X C 1 J

F E V E R E I R O 1 3 E R G D A J O S É R E L V A S L G H J U 9 K

1 3 G E X V B N A E 9 T J G Y U I 5 4 G E V U I L R L W V A E 1 G

D L U I S F I L I P E 0 1 R T V X C B N A H E Q F S M F L P R 4 H

2 4 6 D C A R L O S H 1 8 9 0 E T B X V L M 4 8 R 5 N U R D R D 6

X C V 4 B Í G H U 4 9 F 9 B U L T I M A T O Y K E I L N T B A K U

F Ú G V R T D V X C J K 1 L 3 A V C V B G N Y K D F G R S R P O 4

G B L F D 2 5 I 3 G C B M L O I 3 2 D E T A C M O N T V D M M 1 V

B N S T A 2 7 0 O T M P R E S I D E N T E R E P Ú B L I C A U 9 S

W A S C I D G B J K O V N M L D S A X C B Q P 1 9 1 6 Y 5 N N 1 A

C I N C O M R T Y U N J K S A C V B N M K U L D S A M T P U D 8 D

C F G H U 5 O 9 6 F A V H F D C B N M I T I D A X D U F E E I F R

2 4 C V T C 8 H C A R B O N Á R I A 1 5 1 A R R I A G A U L A V W

A H F F U V L N R B Q 7 2 6 5 F V B 3 N 3 4 H G G L T H J 1 L B V

A B I 3 B 1 9 1 0 E U 9 E F S E S C U D O 6 G B P V R N K 2 A N U

A B 5 N R N 9 8 Q 3 I 5 R L Q 5 F B 5 9 4 N H C R E I S G 8 L M M

A 1 9 1 0 M G 0 M M A F R A F V B N M L J Y 5 M P S Q O F 9 Y J N

C V 8 8 D C A R T A 9 F P L X 6 V B 9 4 7 S J S K M F P B J S Y B

N M 9 9 F F N K D H C B T O C 7 B B D I T A D U R A M I L I T A R

W R T U H 5 C 2 4 R T N L 0 R Ç I T M 5 2 8 M A I O 1 9 2 6 4 9 A

R A F O N S O F V B N M L J Y T U G A L H J K L Z X G C V B N M G

Q W E R T U S I O P A S D F G H J K N L Ç Z X C V B 5 M 1 9 2 7 A

C O N S T I T U I Ç Ã O 1 9 1 1 G 4 U E R T U O P O L Y Y U O P P

J F T R E W A R T I O O L 9 5 2 1 C E P O P O T R R O F G H J Ç L

O W E R T Y I O P Q A X C F V B N M L J Y R E T S F P H U T R Q Z

Com a ajuda das informações, tenta encontrar as respostas:. Assassinato de um rei ou rainha (D) . Último rei de Portugal. Iniciais do Partido Republicano (V). Autor da música “A Portuguesa”. Responsável pela proclamação da República da varanda dos Paços do Concelho, em Lisboa (H). Mês e ano do regicídio. Sinónimo de monarca (D). Nomes do rei e príncipe assassinados. Ordem dada pelo governo inglês a Portugal (H). Ano da 1ª revolta republicana. Data da proclamação da República. Documento que consagrou a nova ordem política e ano do mesmo. Primeiro presidente eleito (V+H). Moeda do período monárquico

. Moeda adoptada pela República (V)

. Autor da Lei da Separação da Igreja e do Estado

. Palácio onde D. Manuel II passou a última noite (H)

. Maior falsário da 1ª República

. Hino da Monarquia (D+ H)

. Conflito mundial que envolveu Portugal e período do mesmo (V)

. Batalha que envolveu soldados portugueses (V)

. Sociedade secreta associada aos ideais republicanos (H)

. Contingente militar português que participou no conflito mundial. Estado governado por um monarca (V). Cargo exercido por Manuel de Arriaga. Data e local do golpe militar que derrubou a 1ª república e designação do período

Maria de Fátima Castro de CarvalhoProfessora de História ES/3 de Barcelinhos

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CURIOSIDADES CIENTÍFICAS

1 - Oscar, o gato que adivinha a morteEste gato chama-se Oscar e já pressentiu a morte de pelo menos 50 doen-

tes terminais. A história do felino contada por um professor de medicina, em livro.

Oscar, o gato, vive num lar de idosos em New England, EUA. Sempre que o felino se enrosca a dormir na cama de um paciente, este acaba por falecer pouco tempo depois. Os funcionários da casa de repouso observam este comportamento de Oscar desde os seus seis meses.

Quem relatou o dom de Oscar foi David Dosa, professor de medicina de uma universidade norte-americana, num artigo publicado num jornal de medici-na, em 2007. Agora, a história volta a ser notícia com a publicação de um livro sobre a vida do felino.

Dosa recorda um episódio em particular como o mais fantástico. Quando os funcionários do lar pensavam que um determinado paciente estaria prestes a morrer, Oscar preferiu deitar-se numa outra cama. Este segundo doente viria a morrer primeiro, reiterando o sexto sentido do gato.

Dosa explica, em declarações à agência Reuters, que o dom do gato pode estar simplesmente relacionado com a sua capacidade para sentir odores e fenó-menos que os humanos não conseguem detectar. O médico afirma que o gato, agora com 5 anos, pode ser um apoio para as famílias que lidam com a morte de parentes, doentes terminais.

2 - Cientistas conseguem comunicar com paciente em estado vegetativoUm grupo de cientistas europeus conseguiu estabelecer uma comunicação com

um paciente em estado vegetativo, em que este respondia mentalmente “sim” ou “não” às perguntas dos estudiosos. A pesquisa publicada no New England Journal of Medicine explica que o paciente está nessa condição vegetativa há sete anos, quando sofreu um acidente de trânsito.

Os médicos das universidades de Cambridge, na Inglaterra, e de Liège, na Bélgica, pediram ao paciente belga que imaginasse actividades motoras, como jogar ténis, para responder “sim”, e imagens espaciais, como ruas, para indicar “não”.

Os especialistas sabiam que cada tipo de pensamento activaria uma área diferente do seu cérebro. Portanto, por meio de uma técnica de Imagem por Ressonância Magnética Funcional (IRMF, na sigla em inglês), que monitora a

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actividade cerebral do paciente em tempo real, eles puderam identificar as suas respostas.

O paciente respondeu correctamente a cinco das seis perguntas sobre a sua vida pessoal. Ele confirmou, por exemplo, que o seu pai se chamava Alexander.

3 - A descoberta do fermentoO fermento foi descoberto por acaso. Segundo consta, um pedaço de massa,

esquecida por alguém por mais tempo do que o necessário, deu para concluir que quando a massa é exposta ao calor e à humidade, antes de ser utilizada para assar, cozer, faz com que se transforme originando o fermento. A farinha humedecida, entrou em processo de fermentação espontânea: ganhou volume, ficou mais macia, mudou o seu sabor. Foi assim que se descobriu o princípio básico do pão.

Esta lenda, segundo consta, passou-se no Egipto, precisamente nas margens do rio Nilo, por volta de 2600 a.C. Depois, lá por volta de 1750 a. C., os egípcios passaram a empregar nas massas a levedura de cerveja, e mais tarde inventaram outros produtos, já químicos, para auxiliar no crescimento das massas.

O fermento é o elemento básico no processo de fermentação de massas e consiste num microorganismo unicelular. Trata-se de um ser vivo com as diversas funções vitais: respira, alimenta-se, reproduz-se… A reprodução é feita através da acção de microorganismos, que são os fungos. Neste processo dá-se a decomposição, que é o promotor da fermentação, que consiste na acção desses microorganismos transformarem estruturas complexas em estruturas mais simples.

4 - O processo de ferrugemA ferrugem é o nome conhecido para um composto muito comum: o óxido

de ferro. O óxido de ferro com fórmula Fe2O

3, é muito comum pois o ferro

gosta de se combinar com o oxigénio.A oxidação do ferro (processo de enferrujamento) é consequência de um

processo electroquímico que envolve um ânodo (material que gosta de doar elec-trões), um electrólito (material que transporta os electrões) e um cátodo (material que gosta de acolher electrões livres). Quando um pedaço de metal corrói, é o electrólito que ajuda a fornecer oxigénio ao ânodo.

Para que o ferro se torne óxido de ferro, são necessárias três coisas: ferro, água e oxigénio. Eis o que acontece quando eles ficam juntos: quando uma gota de água atinge um objecto de ferro, duas coisas começam a acontecer quase que imediatamente: a primeira é que a água (um bom electrólito) se combina com o dióxido de carbono do ar para formar um ácido carbónico fraco, que é um electrólito ainda melhor.

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Conforme o ácido se forma e o ferro se dissolve, uma parte da água começa a decompor-se nos seus dois componentes: hidrogénio e oxigénio. O oxigénio livre e o ferro dissolvido ligam-se para formar óxido de ferro, liberando electrões no processo.

Os electrões libertados do ânodo do ferro seguem para o cátodo, que pode ser um pedaço de metal electricamente menos reactivo do que o ferro, ou até outro ponto do mesmo pedaço de ferro.

Para prevenir a ferrugem o mais comum é aplicar uma camada de tinta esmalte ou outras substâncias que causem o mesmo efeito. Pode-se também as-sociar outros metais ao ferro, formando ligas metálicas sem tendência para doar electrões. O aço inoxidável é um exemplo dessas ligas.

5 - Do mais duro ao mais macio

A grafite do lápis, uma das substâncias mais macias e o diamante, o mais resistente material de ocorrência natural que se conhece, possuem a mesma forma química, diferenciando-se unicamente pela estrutura cristalina. Assim, é possível que com o mesmo componente que é o carbono se obtenham duas substâncias diametralmente opostas sobretudo no que diz respeito à sua dureza.

José Ramires CruzProfessor de Física e Química ES/3 de Barcelinhos

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PENSAMENTOS MATEMÁTICOS

“A Matemática: o incontornável fundamento de todas as ciências e a generosa fonte de benefícios para os assuntos humanos.” Isaac Barrow

“A Matemática é como um moinho de café que mói admiravelmente o que se lhe dá para moer

mas não devolve outra coisa senão o que se lhe deu.” Faraday

“A Vida é boa em apenas duas coisas, descobrir Matemática e ensinar Matemática.” Siméon Poisson

“O número domina o Universo.” Pitágoras

“Tudo é número.” Pitágoras

“Um trabalho matemático é para quem o sabe ler o mesmo que um trecho musical para quem o sabe ouvir,

uma ode para quem a sabe sentir.” Francisco Gomes Teixeira

“Geometria é a arte de pensar bem desenhando mal.” Henri Poicaré

“Os matemáticos duram muitos anos; é uma profissão saudável. A razão pela qual se vive tantos anos, é que se tem pensamentos agradáveis.”

Dirk Struik

“Na Matemática nunca sabemos sobre o que estamos a falar, embora o que estejamos a fazer seja verdade.” Bertrand Russel

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“O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo. O que há é pouca gente a dar por isso.”

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

“Conhece a Matemática e dominarás o mundo.” Galileu Galilei

“Nenhuma investigação humana pode ser chamada Ciência se não puder ser demonstrada matematicamente.”

Leonardo Da Vinci

“O estudo da Matemática é o mais indicado para desenvolver as faculdades, forta-lecer o raciocínio e iluminar o espírito.”Sócrates

“A Matemática é a mais simples, a mais perfeita e amais antiga de todas as ciências.”

Jacques Hadamard

“A Lógica é a anatomia do pensamento.” John Locke

“A Matemática é a rainha das Ciências.” Carl Gauss

“Como em qualquer outra coisa, também para uma teoria matemática, a beleza pode ser percebida mas não explicada.” Arthur Cayley

“Os números são o degrau mais alto do conhecimento, são o conhecimento em si.”

Platão

“Os números perfeitos, como os homens perfeitos, são muito raros.” René Descartes

“A Matemática é o alfabeto com que Deus escreveu o mundo.” Galileu Galilei

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“Deus é o grande geómetra. Deus geometriza sem cessar.” Platão

“Não há nenhum ramo da Matemática, por mais abstracto que seja, que não possa um dia ser aplicado a fenómenos do mundo real.”

Nicolai Lobachevsky

“A essência da Matemática reside na sua liberdade.” Georg Cantor

Turma do 8.º C

Sala de Matemática (10ºA)

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BANDA DESENHADA

Jorge Roriz (8.º C)

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Sara Gomes (8.º A)

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181Schola

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182 Schola

Alda Andrade (8.º A)

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Gabinete Coordenador das Novas Oportunidades

OFERTA EDUCATIVA E FORMATIVA

PROPOSTA PARA 2010/2011

1 - Cursos Cientifico - Humanísticos - Vocacionados para prosseguimento de estudos

Designação do Curso CertificaçãoCondições de

Acesso

Ciências e Tecnologias Ciências Sócio-Económicas Línguas e Humanidades

CERTIFICADO DE ENSINO SECUNDÁRIO

9º Ano

2 - Cursos Tecnológicos - Vocacionados para a Vida Activa

Designação do Curso CertificaçãoCondições de

Acesso

CERTIFICADO DE ENSINO SECUNDÁRIO

U.E.

9º Ano

3 - Cursos Profissionais - Vocacionados para a Vida Activa

Designação do Curso CertificaçãoCondições de

Acesso

CERTIFICADO DE ENSINO SECUNDÁRIO

U.E.

9º Ano

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184 Schola

4 - Cursos Educação Formação

Designação do Curso

Ensino Básico (9º Ano)

U.E.

anos.

anos.

Em regime nocturno

5 - Cursos Educação Formação de Adultos

Designação do Curso

Diploma de Ensino Básico

Diploma de Ensino Secundário

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