752
PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Revista - Site seguro do STJ · COMISSÃO DE REGIMENTO INTERNO Ministro João Otávio de Noronha (Presidente) Ministro Og Fernandes Ministro Marco Aurélio Bellizze

  • Upload
    phamtu

  • View
    225

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • PUBL

    ICA

    O

    OFI

    CIA

    L

    Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

  • VOLUME 234ANO 26

    ABRIL/MAIO/JUNHO 2014

    Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

  • Revista do Superior Tribunal de Justia - n. 1 (set. 1989) -. Braslia : STJ, 1989 -.Periodicidade varia: Mensal, do n. 1 (set. 1989) ao n. 202 (jun. 2006), Trimestral a partir do n. 203 (jul/ago/set. 2006).

    Repositrio Ofi cial da Jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia. Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justia/Editora Braslia Jurdica, set. 1989 a dez. 1998; Superior Tribunal de Justia/Editora Consulex Ltda, jan. 1999 a dez. 2003; Superior Tribunal de Justia/ Editora Braslia Jurdica, jan. 2004 a jun. 2006; Superior Tribunal de Justia, jul/ago/set 2006-.

    Disponvel tambm em verso eletrnica a partir de 2009:

    https://ww2.stj.jus.br/web/revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.eletronica.

    ISSN 0103-4286.

    1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudncia, peridico, Brasil. I. Brasil. Superior Tribunal de Justia (STJ). II. Ttulo.

    CDU 340.142 (81) (05)

    SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAGabinete do Ministro Diretor da Revista

    DiretoraMinistra Nancy AndrighiChefe de GabineteAndrea Dias de Castro CostaServidoresEloame AugustiGerson Prado da SilvaMaria Anglica Neves SantAnaTcnica em SecretariadoMaria Luza Pimentel MeloMensageiroCristiano Augusto Rodrigues Santos

    Superior Tribunal de Justiawww.stj.jus.br, [email protected] do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administrao Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2 Andar, Sala C-240, Braslia-DF, 70095-900Telefone (61) 3319-8055/3319-8003, Fax (61) 3319-8992

  • MINISTRA NANCY ANDRIGHI Diretora

    Revista SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

  • Resoluo n. 19/1995-STJ, art. 3.

    RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, 1, e 23.

    SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIAPlenrio

    Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Gilson Langaro Dipp (Vice-Presidente)Ministro Ari PargendlerMinistro Francisco Cndido de Melo Falco Neto (Corregedor Nacional de Justia)Ministra Ftima Nancy Andrighi (Diretora da Revista)Ministra Laurita Hilrio VazMinistro Joo Otvio de Noronha (Diretor-Geral da ENFAM)Ministro Arnaldo Esteves Lima Ministro Humberto Eustquio Soares Martins (Corregedor-Geral da Justia Federal)Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis MouraMinistro Antonio Herman de Vasconcellos e BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia Filho Ministro Sidnei Agostinho BenetiMinistro Jorge MussiMinistro Geraldo Og Nicas Marques FernandesMinistro Luis Felipe SalomoMinistro Mauro Luiz Campbell MarquesMinistro Benedito GonalvesMinistro Raul Arajo FilhoMinistro Paulo de Tarso Vieira SanseverinoMinistra Maria Isabel Diniz Gallotti RodriguesMinistro Antonio Carlos FerreiraMinistro Ricardo Villas Bas CuevaMinistro Sebastio Alves dos Reis JniorMinistro Marco Aurlio Gastaldi BuzziMinistro Marco Aurlio Bellizze OliveiraMinistra Assusete Dumont Reis MagalhesMinistro Srgio Luz KukinaMinistro Paulo Dias de Moura RibeiroMinistra Regina Helena CostaMinistro Rogerio Schietti Machado CruzMinistro Nefi Cordeiro

  • CORTE ESPECIAL (Sesses s 1 e 3 quartas-feiras do ms)

    Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Gilson Dipp (Vice-Presidente)Ministro Ari PargendlerMinistro Francisco FalcoMinistra Nancy Andrighi Ministra Laurita VazMinistro Joo Otvio de NoronhaMinistro Arnaldo Esteves LimaMinistro Humberto MartinsMinistra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Herman BenjaminMinistro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Sidnei BenetiMinistro Jorge MussiMinistro Og Fernandes

    PRIMEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

    Ministro Humberto Martins (Presidente)

    PRIMEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Napoleo Nunes Maia Filho (Presidente)Ministro Ari PargendlerMinistro Arnaldo Esteves LimaMinistro Benedito Gonalves Ministro Srgio Kukina

  • SEGUNDA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Mauro Campbell Marques (Presidente)Ministro Humberto MartinsMinistro Herman BenjaminMinistro Og FernandesMinistra Assusete Magalhes

    SEGUNDA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms)

    Ministro Luis Felipe Salomo (Presidente)

    TERCEIRA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Villas Bas Cueva (Presidente)Ministra Nancy Andrighi Ministro Joo Otvio de NoronhaMinistro Sidnei BenetiMinistro Paulo de Tarso Sanseverino

    QUARTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Raul Arajo (Presidente)Ministro Luis Felipe SalomoMinistra Isabel GallottiMinistro Antonio Carlos Ferreira Ministro Marco Buzzi

  • TERCEIRA SEO (Sesses s 2 e 4 quartas-feiras do ms) Ministro Jorge Mussi (Presidente)

    QUINTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Marco Aurlio Bellizze (Presidente)Ministra Laurita VazMinistro Jorge MussiMinistro Moura RibeiroMinistra Regina Helena Costa

    SEXTA TURMA (Sesses s teras-feiras e 1 e 3 quintas-feiras do ms)

    Ministro Sebastio Reis Jnior (Presidente)Ministra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Rogerio Schietti CruzMinistro Nefi CordeiroMinistra Marilza Maynard*

    * Desembargadora convocada (TJ-SE)

  • COMISSES PERMANENTES

    COMISSO DE COORDENAO

    Ministro Humberto Martins (Presidente)Ministro Jorge Mussi Ministro Raul Arajo Ministro Benedito Gonalves (Suplente)

    COMISSO DE DOCUMENTAO

    Ministro Napoleo Nunes Maia Filho (Presidente)Ministro Luis Felipe SalomoMinistro Sebastio Reis JniorMinistra Isabel Gallotti (Suplente)

    COMISSO DE REGIMENTO INTERNO

    Ministro Joo Otvio de Noronha (Presidente)Ministro Og FernandesMinistro Marco Aurlio BellizzeMinistro Paulo de Tarso Sanseverino (Suplente)

    COMISSO DE JURISPRUDNCIA

    Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Presidente)Ministra Nancy Andrighi Ministro Herman BenjaminMinistro Sidnei BenetiMinistro Mauro Campbell MarquesMinistro Moura Ribeiro

  • MEMBROS DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

    Ministra Laurita Vaz (Corregedora-Geral)Ministro Joo Otvio de Noronha (Efetivo)Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (1 Substituto)

    CONSELHO DA JUSTIA FEDERAL (Sesso 1 sexta-feira do ms)

    Ministro Felix Fischer (Presidente)Ministro Gilson Dipp (Vice-Presidente)Ministro Humberto Martins (Corregedor-Geral da Justia Federal)

    Membros EfetivosMinistra Maria Th ereza de Assis MouraMinistro Herman BenjaminDesembargador Federal Cndido Artur M. Ribeiro Filho (TRF 1 Regio)Desembargador Federal Sergio Schwaitzer (TRF 2 Regio)Desembargador Federal Fbio Prieto de Souza (TRF 3 Regio)Desembargador Federal Tadaaqui Hirose (TRF 4 Regio)Desembargador Federal Wildo Lacerda Dantas (TRF 5 Regio)

    Membros SuplentesMinistro Napoleo Nunes Maia FilhoMinistro Sidnei BenetiMinistro Jorge MussiDesembargadora Federal Neusa Maria A. da Silva (TRF 1 Regio)Desembargador Federal Poul Erik Dyrlund (TRF 2 Regio)Desembargadora Federal Ceclia Maria Piedra Marcondes (TRF 3 Regio)Desembargador Federal Luiz Fernando Wowk Penteado (TRF 4 Regio)Desembargador Federal Edilson Pereira Nobre Jnior (TRF 5 Regio)

  • SUMRIO

    JURISPRUDNCIA

    Corte Especial .............................................................................................................17

    Primeira Seo .............................................................................................................61

    Primeira Turma .........................................................................................................109

    Segunda Turma .........................................................................................................185

    Segunda Seo ...........................................................................................................245

    Terceira Turma ..........................................................................................................287

    Quarta Turma ............................................................................................................371

    Terceira Seo ............................................................................................................501

    Quinta Turma ............................................................................................................531

    Sexta Turma ...............................................................................................................611

    NDICE ANALTICO ........................................................................................................................................... 713

    NDICE SISTEMTICO ...................................................................................................................................... 731

    SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................................................. 737

    REPOSITRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA ............................................................................................................ 743

  • Jurisprudncia

  • Corte Especial

  • AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSO DE LIMINAR E DE SENTENA N. 1.807-RJ (2013/0339946-5)

    Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Associao Brasileira de Medicina de Grupo - ABRAMGEAdvogado: Dagoberto Jose Steinmeyer Lima e outro(s)Agravante: Federao Nacional de Sade Suplementar - FENASAUDEAdvogado: Sergio Bermudes e outro(s)Agravado: Agncia Nacional de Sade Suplementar - ANSAdvogado: Procuradoria-Geral Federal - PGFRequerido: Desembargador Federal Relator do Agravo de Instrumento n.

    00115106120134020000 do Tribunal Regional Federal da 2 Regio

    EMENTA

    Agravos regimentais na suspenso de liminar e de sentena. Suspenso de poltica pblica preventiva da Agncia Nacional de Sade Suplementar quanto comercializao de produtos mal avaliados. Grave leso ordem e sade pblicas confi gurada. Suspenso deferida. Agravos regimentais desprovidos.

    I - Consoante a legislao de regncia (v.g. Lei n. 8.437/1992 e n. 12.016/2009) e a jurisprudncia deste eg. Superior Tribunal de Justia e do col. Pretrio Excelso, somente ser cabvel o pedido de suspenso quando a deciso proferida em ao movida contra o Poder Pblico puder provocar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas. Precedentes do eg. STJ.

    II - In casu, causam grave leso ordem e sade pblica as decises que, adentrando seara tcnica de regulao do mercado de sade suplementar, modifi caram forma de execuo de poltica pblica preventiva da ANS quanto suspenso de comercializao de produtos (planos de sade) mal avaliados pela autarquia federal.

    III - O Poder Judicirio, quando instado a se manifestar acerca de algum ato administrativo, deve agir com cautela, nos termos da legalidade. Na hiptese, o princpio da legalidade indica que, at que se

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    20

    comprove tecnicamente o contrrio, dever prevalecer a presuno de legitimidade do ato administrativo da ANS consistente na suspenso de comercializao de produtos avaliados negativamente.

    Agravos regimentais desprovidos.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento aos agravos regimentais, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Joo Otvio de Noronha, Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins, Herman Benjamin, Napoleo Nunes Maia Filho, Sidnei Beneti, Jorge Mussi, Og Fernandes e Raul Arajo votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Francisco Falco.Licenciada a Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura.Convocado o Sr. Ministro Raul Arajo.Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Gilson Dipp.Braslia (DF), 19 de fevereiro de 2014 (data do julgamento).Ministro Gilson Dipp, PresidenteMinistro Felix Fischer, Relator

    DJe 26.2.2014

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de agravos regimentais interpostos pela Associao Brasileira de Medicina de Grupo - ABRAMGE e pela Federao Nacional de Sade Sumplementar - FENASADE, em face de deciso monocrtica proferida por esta Presidncia s fl s. 407-415, que deferiu o pedido de suspenso dos efeitos das rr. decises de antecipao de tutela proferidas em agravos de instrumento que tramitam perante o eg. Tribunal Regional Federal da 2 Regio e o eg. Tribunal Regional Federal da 3 Regio.

    Na origem, a ABRAMGE ajuizou ao ordinria em face da Agncia Nacional de Sade Suplementar - ANS requerendo, em breve sntese, a no aplicabilidade da

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 21

    medida administrativa de suspenso temporria de comercializao de alguns de seus produtos (planos de sade). A FENASADE, por sua vez, ajuizou ao cautelar inominada requerendo, em termos gerais, aquilo que foi postulado pela ABRAMGE.

    Os pedidos feitos em primeira instncia foram denegados, o que ensejou a interposio de agravos de instrumento perante os eg. Tribunais Regionais Federais da 3 e 2 Regies, que obtiveram a antecipao da tutela pleiteada para suspender a execuo da poltica pblica realizada pela autarquia federal no sentido de suspender a comercializao de planos considerados irregulares.

    Sustentou a ANS, em seu pedido suspensivo, que a suspenso temporria de comercializao, caso se identifique alguma irregularidade contratual, econmico-fi nanceira ou assistencial, possui carter cautelar e preventivo, e independente da aplicao de sano ou multa (fl . 8), e que as rr. decises atacadas causariam grave leso ordem e sade pblicas, na medida em que, no intuito de proteger as operadoras de planos de sade, terminaram por impedir a execuo de poltica pblica de defesa dos interesses dos consumidores, contratantes de planos de sade, que permanecero expostos a severos riscos assistenciais, que resultam da inobservncia das normas editadas pela Agncia Reguladora que determinam uma atuao tempestiva e efi caz do citado agente econmico (fl s. 42-43).

    O pedido de suspenso foi deferido. Da os presentes agravos regimentais interpostos pela ABRAMGE e pela FENASADE, s fl s. 753-790 e 893-918, respectivamente.

    Em suas razes, a ABRAMGE aduz que a deciso ora agravada no observou os requisitos essenciais ao deferimento da suspenso da liminar ora comentada, haja vista que no est plenamente caracterizada a ocorrncia de grave leso ordem, segurana, sade ou economia pblica, tal como determina o artigo 4, da Lei n. 8.437/1992, tampouco foi levado em conta o carter excepcional da medida (fl s. 765-766).

    Alega que, apesar dos atos administrativos gozarem da presuno de legitimidade, este princpio relativo e deve ser analisado em harmonia com os demais do ordenamento jurdico, em especial, o do devido processo legal e o da ampla defesa, sob pena de legitimar a prtica de atos abusivos pelos Agentes Administrativos (fl . 766).

    Afi rma, neste sentido, que ainda que se pretenda indevidamente encartar a conduta das operadoras sob o regramento das sanes administrativas, o

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    22

    que se admite, apenas por amor ao argumento, considerada a ausncia de substrato conclusivo quanto prtica de ato ilegal, no se pode aceitar a penalidade aplicada pela agravada ANS, em razo da ausncia de indicao de parmetros proporcionais e razoveis compatveis em intensidade e extenso ao cumprimento dos objetivos legais (fl . 768).

    Requer, ao fi nal, a reconsiderao da deciso agravada, a fi m de julgar improcedente o pedido formulado pela ANS (fl . 790).

    J a Federao Nacional de Sade Suplementar - FENASADE, em suas razes, destaca que deve ser restabelecida a deciso do TRF da 2 Regio, determinando que a ANS no considere, na avaliao da garantia de atendimento, as reclamaes que tenham sido respondidas pelas operadoras de plano de sade e em relao s quais a agncia reguladora tenha opinado no sentido do encaminhamento para a realizao de diligncias (abertura de processo administrativo), enquanto no houver um juzo conclusivo no sentido de que foi cometida infrao por parte da operadora de plano de sade (fl s. 895-896).

    Afi rma que a deciso nada tem de atentatria coletividade, s polticas pblicas de regulao do setor e higidez do sistema de sade suplementar (fl . 896).

    Sustenta, ainda que a v. deciso agravada, ao suspender a efi ccia da liminar do e. TRF da 2 Regio, desconsiderou os fundamentos apresentados no decisum impugnado e na ao cautelar que o ensejou (fl s. 330-369), e, com base nica e exclusivamente na argumentao panfl etria e divorciada da realidade apresentada pela ANS, suspendeu a liminar concedida (fl . 899).

    Salienta que a matria tratada neste pedido de ndole constitucional, confi gurando-se, assim, o descabimento do pedido de suspenso formulado perante esse eg. Superior Tribunal de Justia (fl . 901).

    Resume seu inconformismo ao dizer que o cmputo das reclamaes enviadas para abertura de processo administrativo no far com que os resultados da avaliao refl itam a realidade, pois, segundo se alega, ao computar as reclamaes que ainda sero apuradas em processo administrativo, a ANS acaba por computar reclamaes improcedentes (fl . 917).

    Requer, ao fi nal, a reconsiderao da deciso agravada ou o provimento do agravo, a fi m de que se decline da competncia desta Corte para o eg. Supremo Tribunal Federal, revogando-se a deciso concessiva da suspenso de liminar (fl . 918).

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 23

    A Agncia Nacional de Sade Suplementar - ANS, ofereceu impugnao aos agravos regimentais, s fl s. 935-957 e 960-996. Na impugnao ao agravo interposto pela ABRAMGE, destaca a agravada a importncia de sua atuao na regulao do mercado de sade suplementar, aduzindo, em sntese, que a manuteno dos efeitos das d. decises em exame inviabilizar a execuo de atribuio cometida na Lei de Planos de Sade ANS, de importncia fundamental para coibir comportamento oportunista das operadoras de planos de sade, que agrava o risco vida e sade de um universo expressivo de brasileiros [...] (fl . 940).

    Afi rma, ainda, que como demonstrado na petio que inaugurou este requerimento de suspenso, a alegao da agravante equivocada, porquanto a ANS somente considera as demandas dos consumidores, para efeito do programa de acompanhamento e avaliao da garantia de atendimento, aps regular procedimento administrativo, no qual a operadora notifi cada para apresentar suas razes e documentos que balizaram a deciso de negativa da cobertura, ou aqueles relacionados verifi cao se a liberao do procedimento ocorreu dentro dos prazos mximos estabelecidos na norma regulamentar (fl . 943).

    J na impugnao oferecida em face do agravo regimental interposto pela FENASAUDE, afi rma a autarquia que sua atuao visa proteo do interesse dos consumidores, e que sua atuao preventiva contribui para a reduo de litgios no que diz respeito chamada judicializao da sade (fl . 966).

    Sustenta, em suas razes, que a poltica pblica desenvolvida pela autarquia suspende a comercializao de produtos mal avaliados, e que as operadoras buscam limitar as atribuies da Agncia Reguladora, para que se enquadre em um modelo arcaico de atuao estatal, despido de instrumentos de interveno mais cleres para enfrentamento de anormalidades verifi cadas no mercado regulado e para evitar a consumao de leso ao direito dos consumidores, contratantes de planos de sade (fl . 970).

    Aduz, ainda, a competncia desta col. Corte para anlise do feito, tendo em vista que a controvrsia fi rmada tem ndole infraconstitucional, especialmente se levada em considerao a Lei n. 9.656/1998.

    Requer, ao fi nal, reafi rmando a existncia de grave leso ordem e sade pblicas, o desprovimento do agravo.

    Por manter a deciso agravada, submeto o feito col. Corte Especial. o relatrio.

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    24

    VOTO

    O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): Os recursos no merecem prosperar, porquanto os agravantes no trouxeram argumentos novos aptos a infi rmar as premissas que nortearam a r. deciso ora recorrida.

    Transcrevo, oportunamente, para elucidao da controvrsia, o seguinte excerto da deciso reprochada, in verbis:

    Em casos como o presente, em que se discutem questes tcnicas atinentes normatizao no mbito da Agncia Nacional de Sade Suplementar - ANS, mostra-se, em princpio, invivel o deferimento de liminar sem um mbito robusto de cognio.

    Todavia, entendo que a requerente logrou xito, em sua exordial, na comprovao de que as r. liminares combatidas adentraram em seara na qual no poderia o Judicirio, imiscuindo-se na forma como deveria se dar a execuo das normas que regulamentam o tema envolvido na presente quaestio, consubstanciadas na Resoluo Normativa n. 226/2010 e na Instruo Normativa n. 42, de 26 de fevereiro de 2013.

    Transcrevo, oportunamente, o seguinte excerto da r. deciso proferida pelo em. Desembargador do eg. TRF da 2 Regio, que bem defi ne o tema:

    (...)

    Verifi ca-se, pois, que, pela redao do artigo 6, inciso I, da Instruo Normativa n. 42, de 26 de fevereiro de 2013, situaes nas quais ainda no foi constatada negativa indevida de cobertura, mas apenas determinando o encaminhamento para a abertura de processo administrativo para apurar eventual infrao, sero consideradas negativamente para fi ns de avaliao da garantia de atendimento.

    (...)

    No se revela razovel, portanto, que, mesmo sem estarem esgotadas as possibilidades de defesa da operadora de plano de sade e sem que haja a constatao da irregularidade, haja computao de pontos negativos na avaliao da garantia de atendimento aos benefi cirios pela operadora de plano de sade, sobretudo porque, nos autos do processo administrativo, ainda sero feitas diligncias, garantindo o contraditrio e ampla defesa operadora.

    Nesse diapaso, afigura-se mais consentneo com o ordenamento jurdico a manuteno do disposto no artigo 7, 2, da Instruo Normativa n. 38, de 24 de maio de 2012, que exclua do objeto da avaliao, para fi ns de acompanhamento da garantia do atendimento, as reclamaes

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 25

    que no foram objeto de anlise, que tenham sido objeto de anlise pela necessidade de realizao de diligncias e que tenham sido objeto de anlise pela no obrigatoriedade de cobertura. (fl . 312)

    Tal deciso foi parcial e posteriormente reconsiderada, em r. deciso cujo dispositivo colaciono a seguir:

    Ante o exposto, defiro parcialmente o pedido de reconsiderao formulado pela agravada, a fi m de reduzir o mbito da medida liminar anteriormente deferida, para manter da excluso da avaliao de garantia de atendimento, to somente, as reclamaes que tenham sido respondidas pelas operadoras de plano de sade e em relao s quais a agncia reguladora tenha opinado no sentido de encaminhamento para a realizao de diligncias, enquanto no houver um juzo conclusivo no sentido de que foi cometida infrao por parte da operadora de plano de sade. (fl . 325)

    Observe-se que, conforme alegado pela requerente, a referida poltica pblica constitui importante instrumento garantidor da sade dos contratantes de planos de sade (...), e que impede que um consumidor desavisado ingresse em plano de sade que apresente histrico de negativas de cobertura ou de descumprimento de prazos estabelecidos pela ANS para atendimento. (fl . 6)

    A autarquia refora tal argumento ao afi rmar que o que prev a norma editada pela ANS um procedimento resumido, quase cautelar, mas rpido e eficaz para apurao de reclamaes de negativas de atendimento praticadas pelas operadoras (fl . 23).

    Alm disso, deve-se frisar que, segundo a requerente, a partir de uma reclamao de um consumidor, abrem-se duas linhas de atuao da autarquia: uma de deflagrao de processo sancionador, e outra de monitoramento e avaliao de garantia de atendimento dos benefi cirios daquela operadora.

    E esta segunda frente, objeto da irresignao da ora interessada, a meu ver, no se d maneira isolada ou arbitrria, uma vez que, conforme alegado na inicial do presente incidente, Com base em um dado individual, a reclamao de um consumidor, a ANS avaliar se aquele comportamento ocorreu de forma isolada, ou se existe uma reiterao daquela conduta, submetendo tais dados a um clculo previsto de forma objetiva na Instruo Normativa DIPRO n. 42/13, que redundar na atribuio de indicador da operadora (IO), que permitir mensurar se a atuao daquele agente regulado est em conformidade com seu porte, levando em conta faixas de comparao com mediana apurada junto ao mercado de sade complementar. (fl . 10)

    Desta forma, tenho que r. decises impugnadas alteraram aspectos de procedimentos internos da Agncia que, certamente, nasceram para proteger

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    26

    com maior efi ccia o consumidor em importante aspecto da vida, qual seja, a sade. Ressalte-se que, quando se fala em sade, a agilidade no atendimento no deve ser desconsiderada, sob nenhuma hiptese, j que pode confi gurar a diferena entre eventual sucesso ou insucesso do tratamento.

    Acredito, pois, que as r. decises impugnadas, ao determinarem a reviso de normas que avaliam o desempenho das operadoras de planos de sade em razo das reclamaes efetuadas pelos beneficirios, atentaria contra o princpio da presuno de legitimidade dos atos administrativos, causando, por conseguinte, grave leso ordem pblica e, em ltima anlise, sade de uma imensa coletividade.

    Assevere-se que o Poder Judicirio deve ser instado a se manifestar sempre que houver ameaa de leso a direito, atuando para a soluo das lides a ele submetidas. Contudo, dever faz-lo com cautela, nos estritos termos da legalidade. E, no presente caso, tenho que o princpio da legalidade indica que, at que se comprove tecnicamente o contrrio, dever prevalecer a presuno de legitimidade do ato administrativo praticado pela Agncia Nacional de Sade Sumplementar - ANS.

    A propsito, cito precedente da col. Corte Especial que, no exerccio do juzo de ponderao entre os bens jurdicos tutelados pela legislao de regncia, deu prevalncia ordem pblica, em sua acepo administrativa, consubstanciada no princpio da presuno de legitimidade dos atos administrativos:

    Pedido de suspenso de medida liminar ajuizado pela Agncia Nacional de Energia Eltrica. Reajuste da tarifa de energia eltrica. Presuno de legitimidade do ato administrativo. At prova cabal em contrrio, prevalece a presuno de legitimidade do ato administrativo praticado pela Agncia Nacional de Energia Eltrica - Aneel. Agravo regimental provido.

    (AgRg na SLS n. 1.266-SP, Corte Especial, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 19.11.2010).

    Portanto, na hiptese, parece-me ser mais consentneo com o interesse pblico o reconhecimento de tal presuno, resguardando-se, principalmente, a proteo sade, mas tambm privilegiando a ordem pblica sob o vis administrativo.

    Assim, faz-se necessrio ressaltar o impretervel juzo de ponderao que deve ser realizado na espcie, sob o qual a ordem pblica possui destaque, notadamente em sua acepo administrativa. Assevero, novamente, a importncia de se reconhecer a legitimidade dos atos administrativos, como forma mais condizente de defesa do interesse pblico, especialmente em se tratando de sade pblica, como o caso que aqui se apresenta.

    Reafirmo, pois, meu anterior posicionamento de que, na hiptese, os em. desembargadores prolatores das rr. decises em agravo de instrumento

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 27

    imiscuiram-se indevidamente em funo administrativa da ANS, de forma a gerar grave leso ordem pblica.

    Alm disso, tenho como demonstrado, por conseguinte, que as rr. decises atacadas pelo presente incidente suspensivo tiveram o condo de atingir a coletividade sob o aspecto da sade pblica, tendo em vista a possibilidade de que, mantidas as referidas decises, a ANS no pudesse mais regular, de forma efi ciente, o mercado de sade suplementar.

    Finalmente, tenho que no merece prosperar o argumento da FENASADE acerca da eventual incompetncia desta eg. Corte para anlise do feito, uma vez que a matria aqui tratada reveste-se de natureza infraconstitucional, mormente no que se refere anlise das Leis n. 9.956/1998 e 9.961/2000, bem como normas regulamentares acerca da atuao da agncia reguladora.

    Alm disso, insta consignar que a Reclamao n. 16.546-RJ, ajuizada na col. Suprema Corte pelos agravantes em face da deciso ora agravada, teve sua medida liminar denegada, em r. deciso do em. Ministro Joaquim Barbosa, da qual colaciono, oportunamente, o seguinte trecho:

    Sem prejuzo de exame mais aprofundado por ocasio do julgamento de mrito, considero ausentes os requisitos que ensejariam a concesso da medida pleiteada.

    Na pendncia do desfecho do controle judicial dos atos da agncia interessada, h o confl ito de duas pretenses hipoteticamente legtimas: de um lado, o direito das associadas reclamante de exercerem atividade econmica lcita sem a interferncia despropositada do Estado e, do outro, as aes de fi scalizao para garantia de oferta de servios adequados aos padres legais, como disponibilidade e efi cincia.

    Segundo dados de amplo conhecimento, o quadro pende em desfavor do consumidor dos planos de sade. Confi ra-se.

    No Estado de So Paulo, ao menos 79% dos consumidores tiveram algum problema relacionado aos planos de sade nos ltimos 24 meses (REOLOM, Mnica. 79% tm problemas para usar plano de sade, diz Datafolha: A principal reclamao sobre o atendimento em prontossocorros, que corresponde a 80% das questes relatadas. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 17 out. 2013).

    Por outro lado, nesse mesmo estado, 30% dos consumidores foram obrigados a pagar por atendimento mdico ou a utilizar a rede pblica de sade devido

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    28

    inefi cincia das operadoras (MOREIRA, Marli. Piora o atendimento mdico por meio dos planos de sade: O levantamento mostra que a deteriorao do atendimento levou 30% dos pacientes a pagar por servios particulares ou a procurar o Sistema nico de Sade. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 17 out. 2013).

    Diante dessa situao, a cautela recomenda a manuteno do ato da agncia-interessada, ao menos nesse momento de exame inicial.

    Ante o exposto, indefi ro o pedido para concesso da medida cautelar pleiteada. (Rcl n. 16.546-RJ/STF)

    Ante o exposto, mantenho a deciso de fl s. 407-415 por seus prprios fundamentos, e nego provimento aos agravos regimentais.

    como voto.

    AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSO DE LIMINAR E DE SENTENA N. 1.854-ES (2014/0026050-0)

    Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Jander Nunes VidalAdvogado: Aloir Zamprogno Filho e outro(s)Agravado: Tribunal de Justia do Estado do Esprito SantoInteressado: Ministrio Pblico do Estado do Esprito Santo

    EMENTA

    Agravo regimental na suspenso de liminar e de sentena. Grave leso ordem pblica. Inexistncia. Indevida utilizao como sucedneo recursal. Prazo de afastamento de prefeito superior a 180. Peculiaridades concretas. Pedido de suspenso indeferido. Agravo regimental desprovido.

    I - Na linha da jurisprudncia desta Corte, no se admite a utilizao do pedido de suspenso exclusivamente no intuito de reformar

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 29

    a deciso atacada, olvidando-se de demonstrar concretamente o grave dano que ela poderia causar sade, segurana, economia e ordem pblicas.

    II - Consoante a legislao de regncia (v.g. Lei n. 8.437/1992 e n. 12.016/2009) e a jurisprudncia deste Superior Tribunal e do c. Pretrio Excelso, somente cabvel o pedido de suspenso quando a deciso proferida contra o Poder Pblico puder provocar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas.

    III - In casu, o agravante no demonstrou, de modo preciso e cabal, a grave leso ordem e economia pblica, sendo insufi ciente a mera alegao de que o afastamento cautelar do cargo de prefeito teria o condo de provocar prejuzos ao Poder Pblico. Precedente do STJ.

    IV - No se desconhece o parmetro temporal de 180 (cento e oitenta) dias concebido como razovel por este eg. Superior Tribunal de Justia para se manter o afastamento cautelar de prefeito com supedneo na Lei de Improbidade Administrativa. Todavia, excepcionalmente, as peculiaridades fticas, como a existncia de inmeras aes por ato de improbidade e fortes indcios de utilizao da mquina administrativa para intimidar servidores e prejudicar o andamento das investigaes, podem sinalizar a necessidade de alongar o perodo de afastamento, sendo certo que o juzo natural da causa , em regra, o mais competente para tanto.

    V - A suspenso das aes na origem no esvaziam, por si s, a alegao de prejuzo instruo processual, porquanto, ainda que a marcha procedimental esteja paralisada, mantm-se intactos o poder requisitrio do Ministrio Pblico, que poder juntar novas informaes e documentos a serem posteriormente submetidos ao contraditrio, bem assim a possibilidade da prtica de atos urgentes pelo Juzo, a fi m de evitar dano irreparvel, nos termos do art. 266 do CPC.

    Agravo regimental desprovido.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    30

    unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Joo Otvio de Noronha, Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Sidnei Beneti, Jorge Mussi e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Francisco Falco e Napoleo Nunes Maia Filho.

    Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Gilson Dipp.Braslia (DF), 13 de maro de 2014 (data do julgamento).Ministro Gilson Dipp, PresidenteMinistro Felix Fischer, Relator

    DJe 21.3.2014

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de agravo regimental interposto por Jander Nunes Vidal, prefeito afastado do Municpio de Maratazes-ES, em face de deciso, por mim proferida, que indeferiu o pedido de suspenso anteriormente formulado.

    Conforme relatado na deciso agravada, o agravante pretende a suspenso de decises monocrticas nos autos de trs Agravos de Instrumento, proferidas pela eminente Desembargadora Eliana Junqueira Munhs Ferreira, do eg. TJES, que manteve o afastamento cautelar do alcaide do exerccio de suas funes, conforme determinado em provimentos liminares de primeira instncia.

    Tambm se insurge contra deciso do eminente Presidente do eg. Tribunal local que deferiu parcialmente pedido suspensivo apenas para limitar o afastamento ao total de 300 (trezentos) dias.

    Na origem, diversas aes por ato de improbidade administrativa foram ajuizadas pelo Ministrio Pblico, lastreado em documentos e depoimentos, nas quais pleiteou, entre outras medidas, o afastamento do ora agravante do cargo de prefeito, ao argumento de que o alcaide faria parte de organizao criminosa que, desde o incio de seu primeiro mandato, fraudava processos licitatrios visando benefi ciar seus familiares e parceiros polticos, ocasionando enriquecimento ilcito e considervel prejuzo ao errio municipal.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 31

    Lastreado em elementos informativos documentais e orais, o Juzo da Comarca de Maratazes, aps uma enxurrada de aes por Ato de Improbidade Administrativa, e considerando estarem presentes a base ftica e os requisitos legais pertinentes, deferiu o pedido liminar, para afastar o requerente do cargo de Prefeito da municipalidade, com fundamento no art. 20, p.u., da Lei n. 8.429/1992, concluindo que a bem da coletividade e do errio, deve ser deferida a medida (fl . 52).

    Contra tais pronunciamentos, em sede de Agravo de Instrumento, a em. Relatora indeferiu o pedido de efeito suspensivo, ao fundamento de que indicia-se nos autos que o prefeito ru, maestro regente da mquina pblica - inclusive em relao ao corpo operacional -, tem se valido dos cargos comissionados e das funes para construir panorama favorvel, sit venia verbo, s supostas fraudes investigadas (fl . 255).

    Em pedido de suspenso de liminar aviado paralelamente, o em. Desembargador-Presidente da eg. TJES reconsiderou sua anterior deciso e deferiu a pretenso apenas para limitar o afastamento do prefeito em mais 120 (cento e vinte) dias.

    Veio-me, ento, o pedido suspensivo contra as decises que afastaram o prefeito do cargo, e tambm aquela emanada da Presidncia do eg. TJSP que manteve o afastamento por mais 120 (cento em vinte dias). O pleito foi por mim indeferido nos seguintes termos:

    In casu, o requerente no obteve xito na efetiva comprovao do alegado dano causado a qualquer dos bens tutelados pela lei referida. O Prefeito afastado da citada municipalidade aponta leso ordem pblica apoiando-se, para tanto, no desacerto do r. ato decisrio que determinou o seu afastamento e no prazo determinado pelo eg. TJES para seu retorno.

    Sem embargo, verifico que a linha de argumentao desenvolvida pelo requerente, a ttulo de justifi car a suspenso da liminar, no logrou demonstrar a caracterizao de grave leso aos interesses tutelados pela legislao de regncia.

    Na presente senda, no se mostra vivel o exame do acerto ou desacerto do decisum questionado, no podendo o incidente ser utilizado como sucedneo recursal a fi m de se verifi car se houve ou no obedincia a determinada legislao.

    Em que pese a possibilidade de realizao de um juzo mnimo de delibao sobre os termos da deciso, o pedido de suspenso deve, essencialmente, aferir se a deciso impugnada efetivamente pode causar grave leso aos bens jurdicos tutelados pela legislao de regncia (ordem, sade, segurana e economia pblicas).

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    32

    O presente instrumento judicial, a bem da verdade, no deve substituir os recursos processuais adequados, at porque, consoante a sedimentada jurisprudncia desta eg. Corte, no h que se analisar, no pedido extremo de suspenso, em regra, a legalidade ou ilegalidade das decises proferidas. Neste sentido:

    Agravo regimental. Suspenso de segurana. Municpio. Contrato administrativo. Onerosidade contratual. Matria de mrito. Impossvel o exame na via eleita. Leso ordem e economia pblicas. Demonstrao. Ausente.

    - Suspenso de liminar s oportuna quando houver perigo de leso a bens jurdicos protegidos no Art. 4 da Lei n. 4.348/1964.

    - [...].

    - No se admite, em suspenso, discusso sobre o mrito da controvrsia.

    (AgRg na SLS n. 846-SP, Corte Especial, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe de 7.8.2008).

    Agravo regimental. Suspenso liminar. Indeferimento. Ausncia de leso aos bens jurdicos tutelados pela norma de regncia.

    1. O pedido de suspenso de liminar no tem natureza de recurso. instrumento processual de cunho eminentemente cautelar e de natureza excepcional, no qual no se examina o mrito da causa principal nem eventual erro de julgamento ou de procedimento.

    2. A leso ordem jurdica h de ser examinada nas vias recursais ordinrias.

    3. [...].

    4. O pedido de suspenso no pode ser utilizado como via de atalho para modifi car deciso desfavorvel ao ente pblico.

    Agravo no provido.

    (AgRg na SL n. 116-MG, Corte Especial, Rel. Min. Edson Vidigal, DJ de 6.12.2004).

    Por fi m, vale destacar julgado emanado da eg. Corte Especial que versou o mesmo tema tratado no presente feito, e corrobora a orientao ora fi rmada:

    Agravo regimental na suspenso de liminar e de sentena. Grave leso ordem pblica. Inexistncia. Indevida utilizao como sucedneo recursal. Pedido de suspenso indeferido. Ao de improbidade. Prefeito municipal. Afastamento do cargo. Agravo regimental desprovido.

    I - Na linha da jurisprudncia desta Corte, no se admite a utilizao do pedido de suspenso exclusivamente no intuito de reformar a deciso

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 33

    atacada, olvidando-se de demonstrar o grave dano que ela poderia causar sade, segurana, economia e ordem pblicas.

    II - In casu, os agravantes no demonstraram, de modo preciso e cabal, a grave leso ordem pblica, sendo insufi ciente a mera alegao de que a manuteno do decisum atacado teria o condo de provocar prejuzos ao Poder Pblico. Precedentes do STJ e do STF.

    III - O afastamento temporrio de prefeito municipal, com base no art. 20, pargrafo nico, da Lei n. 8.249/1992 e decorrente de investigao por atos de improbidade administrativa no tem o potencial de, por si, causar grave leso aos bens jurdicos protegidos pela Lei n. 8.437/1992.

    Agravo regimental desprovido

    (AgRg na SLS n. 1.662-MA, Corte Especial, de minha Relatoria, DJe de 1.2.2013).

    Agravo regimental. Suspenso de liminar e de sentena. Ao de improbidade. Prefeito municipal. Afastamento do cargo.

    - Na linha da jurisprudncia da Corte Especial, os temas de mrito da demanda principal no podem ser examinados na presente via, que no substitui o recurso prprio. A suspenso de liminar e de sentena limita-se a averiguar a possibilidade de grave leso ordem, segurana, sade e economia pblicas.

    - O afastamento temporrio de prefeito municipal, com base no art. 20, pargrafo nico, da Lei n. 8.249/1992 e decorrente de investigao por atos de improbidade administrativa no tem o potencial de, por si, causar grave leso aos bens jurdicos protegidos pela Lei n. 8.437/1992.

    Agravo regimental improvido.

    (AgRg na SLS n. 1.047-MA, Corte Especial, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJe de 17.12.2009).

    Exsurge dos autos que as decises que determinaram o afastamento do requerente do cargo de prefeito, alm de encontrar permisso no art. 20 da Lei n. 8.429/1992, possuem fundamentao idnea, estando amplamente lastreadas em elementos de convico documentais e orais colhidos durante a investigao ministerial. Confi ra-se:

    De um lado, excesso de cargos comissionados e funes pblicas temporrias, caracterizados pela subordinao, em maior ou menor escala, aos interesses do chefe do executivo. De outro, reduzido nmero de cargos efetivos, retirando a independncia do funcionalismo pblico e sua capacidade de se insurgir contra os desmandos da administrao municipal. No bastasse o pequeno nmero de cargos dessa natureza,

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    34

    aqueles que os ocupam, conforme relatado acima, tornam-se vtimas de achaques e presses de toda ordem ao se opor a prticas ilegais e imorais, a ponto de, pasmem, pedirem exonerao de seus cargos efetivos (fl . 421)

    No se desconhece o parmetro temporal de 180 (cento e oitenta) dias concebido como razovel por este eg. Superior Tribunal de Justia para se manter o afastamento cautelar de prefeito deferido com supedneo na Lei de Improbidade Administrativa. Entrementes, no se trata de prazo peremptrio e improrrogvel, eis que as peculiaridades fticas de cada caso podem indicar a necessidade de alongar o perodo de afastamento, sendo certo que o juzo natural da causa , em regra, o mais competente para tanto.

    No h que se falar, tambm, que a suspenso das aes, por si s, esvaziam a alegao de prejuzo para a instruo processual, porquanto, ainda que a marcha procedimental esteja paralisada, mantm-se intactos o poder requisitrio do Ministrio Pblico, que poder juntar novas informaes e documentos a serem posteriormente submetidos ao contraditrio, bem assim a possibilidade da prtica de atos urgentes pelo Juzo, a fi m de evitar dano irreparvel, nos termos do art. 266 do Cdigo de Processo Civil.

    Impende referir, por derradeiro, que durante o perodo relativo ao afastamento cautelar do Prefeito, a municipalidade ser representada pelo seu Vice-Prefeito, sucessor provisrio do alcaide, o que denota que o Municpio poder desenvolver as polticas pblicas previstas pelo governo local e dar andamento s atividades inerentes Chefi a do Poder Executivo municipal.

    Ante o exposto, indefi ro o pedido suspensivo.

    em face deste ltimo pronunciamento que se volta o presente agravo regimental.

    De incio, o agravante reitera os argumentos lanados na inicial do pedido suspensivo, alegando em sntese que o afastamento do prefeito por um perodo total de 300 (trezentos) dias causa grave leso ordem pblica e viola o prazo de 180 (cento em oitenta) dias utilizado como parmetro pela jurisprudncia desta eg. Corte, sob pena de confi gurar verdadeira e ilegal cassao do mandato e subverter o regime democrtico ancorado na soberania popular retratada nas urnas.

    Refora que a suspenso das aes de improbidade determinada pelo Juzo de piso, a pretexto de aguardar pronunciamento do eg. TJES sobre a constitucionalidade da prerrogativa de foro dos prefeitos para responder tais demandas, exclui as razes do afastamento do alcaide do exerccio de suas funes, porquanto ausente qualquer prejuzo para a instruo do processo, cuja marcha se encontra paralisada.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 35

    O agravante faz juntar documentos (reportagens e declaraes partidrias) pelos quais pretende demonstrar a desordem pblico-administrativa em que se encontra o municpio de Maratazes durante o perodo de seu afastamento.

    Alega que os programas sociais iniciados quando estava em exerccio no esto atendendo adequadamente a coletividade, notadamente a distribuio de medicamentos e alimentos populao carente, a m prestao de servios de sade, a queda substancial na renda do comrcio local como refl exo da baixa movimentao turstica do balnerio, alm de assdio moral a funcionrios por parte do prefeito em exerccio.

    Requer, ao fi nal, a reconsiderao da deciso agravada e, subsidiariamente, o provimento do presente recurso para suspender os efeitos da deciso proferida na origem.

    Por manter a deciso agravada, submeto o feito eg. Corte Especial. o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): O ato decisrio recorrido deve ser mantido por seus prprios fundamentos.

    Em que pese o esforo argumentativo desenvolvido, tenho que no assiste razo ao recorrente.

    Isso porque o afastamento do titular do cargo de prefeito no implica na descontinuidade administrativa municipal que o agravante quer fazer crer, uma vez que, em tal situao, a administrao entregue ao sucessor legal do agente poltico.

    Nesse ponto, no se pode conceber que o substituto alado ao cargo de Prefeito, em razo do afastamento de seu titular, esteja despreparado para assumir o posto e dar continuidade aos servios pblicos essenciais, sob pena de esvaziar a essncia poltica do Vice-Prefeito, que existe no mundo jurdico justamente para substituir ou suceder o Chefe do Poder Executivo em caso de afastamento ou vacncia, o que, em sua maioria e por variadas razes, ocorre sem qualquer planejamento.

    No ponto, destaco o recente julgado emanado desta eg. Corte Especial, no qual se afi rmou que O afastamento temporrio de prefeito municipal, com base no art. 20, pargrafo nico, da Lei n. 8.249/1992 e decorrente de investigao

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    36

    por atos de improbidade administrativa no tem o potencial de, por si, causar grave leso aos bens jurdicos protegidos pela Lei n. 8.437/1992.

    Agravo regimental na suspenso de liminar e de sentena. Grave leso ordem pblica. Inexistncia. Indevida utilizao como sucedneo recursal. Pedido de suspenso indeferido. Ao de improbidade. Prefeito municipal. Afastamento do cargo. Agravo regimental desprovido.

    I - Na linha da jurisprudncia desta Corte, no se admite a utilizao do pedido de suspenso exclusivamente no intuito de reformar a deciso atacada, olvidando-se de demonstrar o grave dano que ela poderia causar sade, segurana, economia e ordem pblicas.

    II - In casu, os agravantes no demonstraram, de modo preciso e cabal, a grave leso ordem pblica, sendo insufi ciente a mera alegao de que a manuteno do decisum atacado teria o condo de provocar prejuzos ao Poder Pblico. Precedentes do STJ e do STF.

    III - O afastamento temporrio de prefeito municipal, com base no art. 20, pargrafo nico, da Lei n. 8.249/1992 e decorrente de investigao por atos de improbidade administrativa no tem o potencial de, por si, causar grave leso aos bens jurdicos protegidos pela Lei n. 8.437/1992.

    Agravo regimental desprovido (AgRg na SLS n. 1.662-MA, Corte Especial, de minha Relatoria, DJe de 1.2.2013).

    No merece abrigo o argumento segundo o qual o afastamento do alcaide acarreta insegurana jurdica e paralisao das atividades administrativas at a defi nio sobre o desfecho judicial. Isso porque a incerteza e a provisoriedade so inerentes a qualquer medida cautelar, sempre amparada em juzo perfunctrio, embora se exija maior prudncia e rigor na anlise dos pressupostos legais na hiptese de suspenso ftica de mandato eletivo, o que restou sufi cientemente atendido, no caso em apreo, pelos doutos julgadores de piso.

    A suposta ausncia de conduta prejudicial instruo processual, por parte do ora agravante, no refl ete das decises a que visa atacar. Ao revs, os pronunciamentos, tanto da 1 quanto da 2 instncia de julgamento, so dotados de amplas e concretas razes que tornam intacta a legitimidade democrtica das ordens judiciais impugnadas.

    Repita-se exausto, na excepcional e estreita via do pedido suspensivo, no se avalia o acerto ou desacerto da deciso, mas to somente a existncia inequvoca de grave leso aos bens jurdicos tutelados pela legislao de regncia.

    De mais a mais, no de logrou demonstrar que a alegada queda no movimento turstico e prejuzo ao comrcio local, bem assim a eventual

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 37

    defasagem no atendimento de servios pblicos, tm relao direta e imediata com o afastamento do prefeito do exerccio de suas funes. Descortina-se dos documentos acostados aos autos que a ausncia de planejamento antecipado e organizao para a realizao de eventos festivos durante o vero 2013/14 no decorreu de pura desdia do prefeito em exerccio, tendo em vista que Desde setembro as festividades estavam proibidas enquanto um acordo feito com o Ministrio Pblico para melhorar o atendimento de sade no fosse cumprido (fl . 925).

    Tambm no se pode atribuir nova gesto toda a responsabilidade pela m prestao de servios pblicos atinentes sade e educao municipal, o que aparentemente j vinha h muito causando graves prejuzos sociais. No se olvide que o prefeito afastado investigado tambm por suspeita de fraude e direcionamento de contrato para merenda escolar.

    Portanto, se no h a efetiva comprovao de dano a qualquer dos bens tutelados pela lei de regncia, no se revela processualmente vivel buscar a reforma do r. decisum proferido na origem atravs do pedido suspensivo.

    Assim, a pretenso do agravante, ainda que por via transversa, a reviso das rr. decises proferidas na origem. Tal circunstncia, entretanto, ultrapassa os limites em que deve se fundamentar o pedido de suspenso, cujo objetivo precpuo o de afastar a grave leso aos bens jurdicos tutelados pelo art. 4 da Lei n. 8.437/1992.

    Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. o voto.

    ARGUIO DE INCONSTITUCIONALIDADE NO RECURSO ESPECIAL N. 1.266.318-RN (2011/0166398-3)

    Relator: Ministro Napoleo Nunes Maia FilhoRelator para o acrdo: Ministro Sidnei BenetiRecorrente: Fazenda NacionalProcurador: Procuradoria-Geral da Fazenda NacionalRecorrido: Geraldo Jos da Cmara Ferreira de MeloAdvogado: Mariana Amaral de Melo e outro(s)

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    38

    EMENTA

    Execuo fi scal. Parcelamento. Arts. 10 e 11, 2 parte, da Lei n. 11.941/2009 Princpio da isonomia constitucional (CF, art. 150, II) no violado. Questo de ordem julgada. Constitucionalidade. Inconstitucionalidade afastada.

    1.- O parcelamento do crdito tributrio, com fundamento nos arts. 10 e 11, 2 parte, da Lei n. 11.941/2009, c.c. art. 151, VI, do Cd. Tributrio Nacional, no determina o cancelamento da penhora ou o desbloqueio de bens, consequncia liberatria reservada pela lei apenas a dbitos cuja penhora de bens em execuo judicial ainda no se tenha realizado quando do parcelamento.

    2.- A distino legal entre dbitos ainda no garantidos por penhora judicial e dbitos cuja execuo fi scal j tenha sido ajuizada, com penhora realizada, no ofende o princpio constitucional da isonomia tributria (CF, art. 150, II), antes a reafi rma, pois subjacente o princpio de que o favor legal pode tratar diferentemente situaes ftico-jurdicas designais, de modo que a distino pode ser feita por lei ordinria, sem necessidade de Lei Complementar.

    3.- Questo de ordem de arguio de inconstitucionalidade afastada, declarando-se a constitucionalidade dos arts. 10 e 11, 2 parte, da Lei n. 11.941/2009, c.c. art. 151, VI, do Cd. Tributrio Nacional, retornando os autos Turma de origem para prosseguimento do julgamento como de Direito.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, prosseguindo no julgamento, aps o voto-vista do Sr. Ministro Sidnei Beneti rejeitando a arguio de inconstitucionalidade, no que foi acompanhado pelos Srs. Ministros Ari Pargendler, Eliana Calmon, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Joo Otvio de Noronha, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura e Herman Benjamin, e o voto divergente do Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima acolhendo a arguio de inconstitucionalidade, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por maioria, declarou a constitucionalidade dos arts. 10 e 11, segunda parte, da Lei n. 11.941/2009.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 39

    Lavrar o acrdo o Sr. Ministro Sidnei Beneti. Votaram com o Sr. Ministro Sidnei Beneti os Srs. Ministros Ari Pargendler, Eliana Calmon, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Joo Otvio de Noronha, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura e Herman Benjamin. Vencidos os Srs. Ministros Relator e Arnaldo Esteves Lima.

    No participaram do julgamento os Srs. Ministros Gilson Dipp e Jorge Mussi.

    Impedido o Sr. Ministro Ricardo Villas Bas Cueva.Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Francisco Falco.Braslia (DF), 6 de novembro de 2013 (data do julgamento).Ministro Felix Fischer, PresidenteMinistro Sidnei Beneti, Relator

    DJe 17.3.2014

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Napoleo Nunes Maia Filho: 1. Trata-se de Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, com fundamento no art. 105, III, a da Constituio Federal, contra o acrdo do TRF da 5 Regio que determinou o desbloqueio de valores depositados em dinheiro ou em fundos de investimentos do recorrido, tendo em vista a suspenso da exigibilidade do crdito tributrio pelo parcelamento da dvida. Eis a ementa do julgado:

    Tributrio e Processual Civil. Execuo fi scal. Adeso ao parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009. Suspenso da exigibilidade do crdito tributrio. Art. 151 do CTN. Desbloqueio de ativos fi nanceiros. Possibilidade.

    - Com efeito, consoante a inteligncia do art. 151, VI, do CTN, a formalizao de parcelamento da dvida hiptese de suspenso da exigibilidade do crdito tributrio, motivo pelo qual se impe a suspenso do feito executivo, enquanto durar o parcelamento, at que a dvida seja plenamente quitada pela parte devedora.

    - Manuteno do decisum de fl s. 118-120 que determinou o desbloqueio dos valores depositados em dinheiro ou em fundos de investimentos, referentes ao Processo n. 2004.84.007500-7, sob o fundamento de que o dbito objeto da execuo se encontrava com a exigibilidade suspensa, face formalizao do parcelamento da dvida, nos termos previsto no art. 151, VI, do CTN.

    - Agravo de instrumento provido (fl s. 141).

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    40

    2. Em primeiro grau, aps o bloqueio de valores do executado por meio do BACENJUD, foi noticiado ao Juzo o pedido de incluso no parcelamento de que trata a Lei n. 11.941/2009, requerendo o contribuinte a liberao do dinheiro bloqueado. O MM. Juiz de primeiro grau indeferiu o pedido, pelos seguintes fundamentos:

    De acordo com a Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009, A opo pelos parcelamentos de que trata esta Lei importa confi sso irrevogvel e irretratvel dos dbitos em nome do sujeito passivo na condio de contribuinte ou responsvel e por ele indicados para compor osreferidos parcelamentos, confi gura confi sso extrajudicial nos termos dos arts. 348, 353 e 354 da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Cdigo de Processo Civil, e condiciona o sujeito passivo aceitao plena e irretratvel de todas as condies estabelecidas nesta Lei (art. 5). O mesmo Diploma estabelece, por sua vez, que Os depsitos existentes vinculados aos dbitos a serem pagos ou parcelados nos termos desta Lei sero automaticamente convertidos em renda da Unio, aps aplicao das redues para pagamento a vista ou parcelamento (art. 10).

    Na hiptese dos autos, a confi sso irrevogvel, feita sem ressalvas, foi efetuada posteriormente ao bloqueio, informando o documento de fl s. 77-80 que este - o bloqueio - ocorreu, de fato, aos 2 de setembro de 2009, um dia antes da adeso ao parcelamento legal. Embora no formalizada ainda a penhora, no resta dvida de que a localizao de crditos e seu bloqueio ordem do Juzo, depois de mais de cinco anos do ajuizamento da execuo, seguida da confi sso do dbito, impedem a liberao dos valores, especialmente se com isso no concorda a credora, discordncia, alis, compreensvel, a considerar os valores bloqueados - mais de 560 mil reais - com aqueles juntados com a notcia do parcelamento - 50 reais por dbito parcelado, ao menos at a consolidao.

    No vislumbro viabilidade liberao do bloqueio.

    (...).

    Tal precedente deixa claro que a simples adeso ao parcelamento no implica a possibilidade de liberao de bloqueios BACENJUD.

    Diante do exposto, indefi ro o pedido liberatrio de fl s. 55-56, ordenando a transferncia dos crditos bloqueados para contar a ser aberta no Posto CEF desta Seo Judiciria, onde permanecero at converso em renda da Unio.

    Aguardem-se informaes da Fazenda acerca da ofi cializao do parcelamento e da definio do seu saldo devedor, aps as dedues previstas na Lei n. 11.941/2009 para converso (Lei n. 11.941/2009, art. 10 e pargrafo nico) (fl s. 106-108).

    3. Dessa deciso foi interposto Agravo de Instrumento pelo devedor, com pedido de antecipao de tutela, para a liberao dos valores bloqueados, pleito

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 41

    atendido pelo Relator (fl s. 121-122); posteriormente, foi dado provimento ao Agravo, pelos fundamentos acima sumariados.

    4. No presente Apelo Nobre, a Fazenda Nacional sustenta violao aos arts. 10 e 11 da Lei n. 11.941/2009 e 151, VI do CTN, sob o argumento de que o parcelamento da dvida suspende apenas o curso da execuo, no havendo previso de levantamento da garantia. Alega-se que o bloqueio dos valores foi realizado antes do parcelamento.

    5. Os referidos dispositivos legais assim dispem:

    Art. 10 - Os depsitos existentes vinculados aos dbitos a serem pagos ou parcelados nos termos desta Lei sero automaticamente convertidos em renda da Unio, aps aplicao das redues para pagamento a vista ou parcelamento.

    Pargrafo nico - Na hiptese em que o valor depositado exceda o valor do dbito aps a consolidao de que trata esta Lei, o saldo remanescente ser levantado pelo sujeito passivo.

    Art. 11 - Os parcelamentos requeridos na forma e condies de que tratam os arts. 1, 2 e 3 desta Lei:

    I no dependem de apresentao de garantia ou de arrolamento de bens, exceto quando j houver penhora em execuo fi scal ajuizada;

    Art. 151 - Suspendem a exigibilidade do crdito tributrio:

    (...).

    VI o parcelamento.

    6. Apresentadas contrarrazes (fl s. 154-172), o recurso foi admitido na origem (fl s. 173).

    7. Em 28.2.2012, a Primeira Seo acolheu Questo de Ordem para submeter o presente feito Corte Especial, em obedincia ao disposto na Smula Vinculante n. 10 do colendo STF, para decidir sobre eventual ofensa ao princpio da isonomia ou da igualdade tributria (art. 150, II da CF) (fl s. 182-183 e 194-195).

    8. O Ministrio Pblico Federal, em parecer ofertado pelo ilustre Subprocurador-Geral da Repblica Wallace de Oliveira Bastos, manifestou-se pelo provimento do Recurso Especial da Fazenda Nacional, nos termos da seguinte ementa:

    Recurso especial. Execuo fi scal ajuizada pela Fazenda Nacional. Deciso do Juzo de 1 grau que indeferiu o pedido de liberao dos valores bloqueados

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    42

    atravs do sistema BACEN JUD. Acrdo do Eg. TRF-5 Regio que deu provimento ao agravo de instrumento interposto. Recurso especial fundado no art. 105, III, a da Constituio Federal. Alegao de violao aos arts. 10 e 11 da Lei n. 11.941/2009 e art. 151, VI do CTN. Demonstrao. Orientao fi rmada por essa Colenda Corte no sentido de que o parcelamento da dvida no autoriza o levantamento da garantia da execuo at a quitao integral do dbito. Precedente. Parecer pelo provimento do Recurso Especial ora analisado (fl s. 188).

    9. o relatrio.

    VOTO

    Ementa: Recurso especial. Tributrio. Execuo fi scal suspensa pelo parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009 (art. 151, V do CTN). Arts. 10 e 11, I, segunda parte, da Lei n. 11.041/2009. Inadmissibilidade da manuteno do bloqueio de ativos fi nanceiros da empresa executada ou converso imediata em renda da Unio. Penhora no concretizada. Ofensa ao princpio da igualdade tributria (art. 150, II da CF), uma vez que para os no executados, a garantia ou o arrolamento de bens dispensada. Bloqueio durante todo o perodo do parcelamento, que pode chegar a 180 meses. Grave risco atividade econmica e ao prprio cumprimento do parcelamento. Declarao de inconstitucionalidade. Controle difuso. Arguio de inconstitucionalidade julgada procedente.

    1. O voto condutor do acrdo recorrido no se manifestou numericamente sobre as disposies da Lei n. 11.941/2009; todavia, ao reformar a deciso de primeiro grau, louvando-se no art. 15I, VI do CTN para dizer possvel e desejvel o desbloqueio dos valores em dinheiro depositados em Juzo, por estar a exigncia do crdito tributrio suspensa, bem como ao fazer meno, na ementa, de que houve adeso ao parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009, o Colegiado de origem afastou a sua aplicao ao caso concreto e dirimiu a questo constitucional a ser aqui enfrentada, qual seja, se o parcelamento tributrio implica (ou no) na manuteno da garantia ofertada em momento anterior ao seu deferimento, o que, ao meu sentir, sufi ciente para caracterizar o prequestionamento, permitindo a esta Corte analisar a tese jurdica sob os fundamentos legais que entender aplicveis hiptese.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 43

    2. No desconheo a orientao que se fi rmou na Primeira Seo desta Corte de que o parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009 suspende o curso da execuo, mas no acarreta a desconstituio da garantia dada em juzo antes da adeso ao parcelamento. Precedentes: REsp n. 1.229.028-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 18.10.2011; AgRg no REsp n. 1.249.210-MG, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 24.6.2011.

    3. A manuteno desse bloqueio e mesmo a converso imediata do depsito em renda da Unio, ainda que para abater parte da dvida, ofende o princpio da isonomia tributria; irrazovel, para dizer o mnimo, que um contribuinte executado pelo Fisco ao qual prestou garantia, depois ingressando no parcelamento, tenha situao menos favorvel do que aquele que no sofreu a execuo; esses dois contribuintes, nessa hiptese, so igualmente devedores, nota peculiar que os equipara e os torna merecedores do mesmo tratamento perante a Administrao; ora, se aquele outro que prestou a garantia permanecer com o seu patrimnio constrito, mesmo tendo aderido ao parcelamento, ver-se- em posio desvantajosa para competir com outro.

    4. A desequiparao entre esses dois contribuintes d-se por uma circunstncia absolutamente fortuita, e a fortuidade, como se sabe, serve para surpreender e espantar, mas no serve para criar discriminaes, que s so legtimas se tiverem por suporte uma circunstncia permanente e razovel.

    5. A interpretao que vem sendo dada ao CTN (art. 151, VI) e Lei n. 11.941/2009 (atual Lei do PAES) coloca contribuintes de uma mesma exao, ambos, em tese devedores, em situaes absolutamente indiscrepantes, com um deles suportando um nus que para o outro no existe, o que certamente no se coaduna com o art. 150, II da CF, por isso a inconstitucionalidade dos arts. 10 e 11, I, segunda parte, da Lei n. 11.941/06.

    6. O princpio da igualdade tributria deve ser entendido com largueza e esprito livre, para contemplar hipteses outras daquelas relacionadas to somente imposio tributria equnime, situao em que normalmente invocado, merecendo ser aplicado a todas as relaes em que se verifi que uma discriminao entre sujeitos

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    44

    contribuintes que se encontram em condies fticas ou jurdicas semelhantes.

    7. Fere a lgica do razovel permitir o parcelamento, mas negar ao executado a possibilidade de levantar dinheiro bloqueado ou penhorado, mormente ante a possibilidade de quitao da dvida em at 15 anos ou 180 meses como permite a prpria Lei n. 11.941/2009, sendo injusto e desproporcional a mantena de dinheiro bloqueado ou a sua imediata converso em renda a favor da Unio, privando a empresa, mormente as menores, de valer-se desses recursos para honrar seus compromissos e at mesmo o parcelamento efetuado.

    8. As normas benfi cas, como a que institui o parcelamento tributrio, merecem interpretao de forma a efetivar o benefcio por ela veiculado, sob pena de serem incuas e descriminalizantes e no atenderem sua fi nalidade.

    9. As leis que versam sobre parcelamento ou moratria tributria objetivam, em ltima ratio, o equacionamento da questo fi nanceira e oramentria do Estado, com o estmulo ao pagamento de tributos pelos contribuintes mediante certas benesses, e sem o aviltamento de suas capacidades produtivas, mantendo ntegra a atividade econmica; incluir um tal dispositivo legal que veda o levantamento da garantia nesses casos vai de encontro inteno da norma.

    10. Arguio de inconstitucionalidade julgada procedente.

    O Sr. Ministro Napoleo Nunes Maia Filho (Relator): 1. O acrdo recorrido teceu as seguintes consideraes:

    Com efeito, consoante a inteligncia do art. 151, VI do CTN, a formalizao de parcelamento da dvida hiptese de suspenso da exigibilidade do crdito tributrio, motivo pelo qual se impe a suspenso do feito executivo, enquanto durar o parcelamento, at que a dvida seja plenamente quitada pela parte devedora.

    Presente, portanto, o receio de leso grave e de difcil reparao.

    (...).

    Ante o exposto, dou provimento ao Agravo de Instrumento para manter o decisum de fl s. 118-120 que determinou o desbloqueio dos valores depositados em dinheiro ou em fundos de investimentos, referentes ao Processo n. 2004.84.007500-7, sob o fundamento de que o dbito objeto da execuo se

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 45

    encontrava com a exigibilidade suspensa, face fomalizao do parcelamento da vdia, nos termos previstos no art. 151, VI do CTN (fl s. 138-139).

    2. Inicialmente, preciso dirimir questo processual de suma importncia ao conhecimento do prprio Recurso Especial, qual seja, a referente ao prequestionamento; h muito esta Corte posiciona-se a favor do chamado prequestionamento implcito, isto , admite-se o Recurso Especial quando a questo federal foi debatida e apreciada pelo acrdo a quo, embora sem meno expressa a dispositivos legais (REsp n. 1.151.758-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe 10.10.2011 e REsp n. 1.100.394-PR, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 15.10.2009).

    3. O voto condutor do acrdo recorrido no se manifestou numericamente sobre as disposies da Lei n. 11.941/2009; todavia, tanto a deciso do MM. Juiz de primeiro grau, que indeferiu o desbloqueio dos valores apreendidos por meio do BACENJUD, quanto as contrarrazes da Fazenda Pblica a elas fi zeram meno como fundamento para o indeferimento do pedido de liberao da garantia do executado.

    4. Ao meu sentir, ao decidir louvando-se no art. 15I, VI do CTN para dizer possvel e desejvel o desbloqueio dos valores em dinheiro depositados em Juzo, por estar a exigncia do crdito tributrio suspensa, bem como ao fazer meno, na ementa, de que houve adeso ao parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009, o Colegiado de origem afastou a sua incidncia ao caso concreto e dirimiu a questo federal a ser aqui enfrentada, qual seja, se o parcelamento tributrio implica ou no na manuteno da garantia ofertada, o que, ao meu sentir, sufi ciente para caracterizar o prequestionamento, permitindo a esta Corte analisar a tese jurdica sob os fundamentos legais que entender aplicveis hiptese.

    5. Como afi rmei, a questo a ser apreciada por esta Corte Especial refere-se possibilidade de lei ordinria dispor sobre os efeitos da garantia dada pelo contribuinte diante da suspenso do crdito tributrio executado em razo do parcelamento; isso porque, a Lei n. 11.941/2009 estabelece que as garantias oferecidas ou as penhoras efetuadas em execuo fiscal no so liberadas, mesmo depois de parcelado o dbito tributrio.

    6. O art. 151, VI do CTN, por sua vez, includo pelo LC n. 104/2001, apenas previu o parcelamento como mais uma das hipteses de suspenso da exigibilidade do crdito tributrio, nada disciplinando sobre o destino das garantias/penhoras ofertadas/efetuadas em casos de execuo fi scal j ajuizada, competindo a Lei n. 11.941/2009 esmiuar essa delicada questo, como autorizado pelo art. 155-A do Cdigo Tributrio.

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    46

    7. A Primeira Turma entendeu que esse conflito s se dirime pela Constituio Federal, porque a admisso da tese de que a referida lei ordinria (Lei n. 11.941/2009) no poderia dispor sobre esses efeitos do parcelamento implicaria na sua no aplicao aos casos concretos, o que, nos termos da Smula Vinculante n. 10, s pode ser feito por meio da declarao de sua inconstitucionalidade.

    8. de se ter mente, ainda, o disposto no art. 150, II da CF, que consagra o princpio da isonomia tributria, pois, nos termos do prprio art. 11, I, primeira parte, da Lei n. 11.941/2009, os parcelamentos requeridos, de ordinrio, no dependem de apresentao de garantia ou de arrolamento de bens.

    9. Inicialmente, destaco que a Constituio Federal no exige que todas as questes relacionadas tributao sejam veiculadas por Lei Complementar, embora afi rme, no inciso III do art. 146, que compete Lei Complementar estabelecer normas gerais em matria de legislao tributria, exemplifi cando, nas alneas seguintes, as matrias que deveriam ser obrigatoriamente veiculadas por essa lei especial, quais sejam: defi nio de tributos, suas espcies, fatos geradores, bases de clculo, contribuintes, adequado tratamento tributrio s cooperativas, obrigao tributria, lanamento, crdito tributrio, decadncia e tambm prescrio tributria.

    10. A defi nio de que outras matrias poderiam ser enquadradas como normas gerais de legislao tributria questo que permeou significativos debates doutrinrios, havendo certo consenso de que devem se referir a princpios, fundamentos ou diretrizes para o exerccio da tributao aptas a serem aplicadas uniformemente para todos os contribuintes, sendo certo que a Lei Complementar que as veicular deve estar em conformidade formal e material com o texto constitucional (MARTINS, Ives Gandra da Silva, Sistema Tributrio Nacional na Constituio de 1988, 5 edio, So Paulo: Saraiva, 1998 e CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributrio. 27 edio, So Paulo: Malheiros, 2011).

    11. A jurisprudncia do STF j afirmou que a observncia de normas gerais em matria tributria imperativo de segurana jurdica, na medida em que necessrio assegurar tratamento centralizado a alguns temas para que seja possvel estabilizar legitimamente expectativas. Neste contexto, gerais no signifi ca genricas, mas sim aptas a vincular todos os entes federados e os administrados; ademais, nem toda contraposio entre lei ordinria e lei complementar se resolve no plano constitucional. Dentre outras hipteses, a discusso ser de alada constitucional se o

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 47

    ponto a ser resolvido, direta ou incidentalmente, referir-se existncia ou inexistncia de reserva de lei complementar para instituir o tributo ou estabelecer normas gerais em matria tributria, pois a Constituio que estabelece os campos materiais para o rito de processo legislativo adequado (RE n. 433.352-AgRg, e RE n. 228.339-AgRg, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 28.5.2010).

    12. Guiado por estas consideraes, ouso afi rmar que a instituio de nova hiptese de suspenso de crdito tributrio deveria mesmo, como o foi, ser veiculada por lei complementar (art. 146, III, b da CF c.c. o art. 97, VI do CTN); todavia, dispensam essa exigncia as questes relacionadas simplesmente forma ou aos procedimentos de execuo do crdito tributrio, bem como quelas relativos ao seu parcelamento.

    13. Tanto que assim foi feito: a LC n. 104/2001 instituiu o parcelamento como mais uma hiptese de suspenso do crdito tributrio (art. 151, VI do CTN); referiu, todavia, no art. 155-A, que a forma e as condies de sua concesso sero estabelecidas em lei especfi ca; destarte, os arts. 10 e 11 da Lei n. 11.941/2009, por terem sido institudos por meio de lei ordinria, s por isso, no podem ser tidos por inconstitucionais.

    14. No desconheo o entendimento veiculado por diversos julgados de ambas as Turmas da Primeira Seo de que o parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009 suspende o curso da execuo, mas no acarreta a desconstituio da garantia dada em juzo antes da adeso ao parcelamento. Confi ram-se os seguintes julgados:

    Processual Civil e Tributrio. Inexistncia de violao ao art. 535 do CPC. Execuo fiscal. Manuteno da indisponibilidade de valores via Bacenjud efetivada antes da adeso do contribuinte a parcelamento tributrio. Possibilidade. Interpretao do art. 11, I, da Lei n. 11.941/2009.

    1. O acrdo recorrido analisou todas as questes necessrias ao desate da controvrsia, s que de forma contrria aos interesses da parte. Logo, no padece de vcios de omisso, contradio ou obscuridade, a justifi car sua anulao por esta Corte. Tese de violao do art. 535 do CPC repelida.

    2. Esta Corte possui entendimento pacfi co no sentido de que o parcelamento tributrio possui o condo de suspender a exigibilidade do crdito, porm no tem o condo de desconstituir a garantia dada em juzo. Precedentes: AgRg no REsp n. 1.249.210-MG, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe de 24.6.2011; AgRg no REsp n. 1.208.264-MG, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, DJe de 10.12.2010.

    3. Na espcie, o Tribunal de origem, apesar de reconhecer que o parcelamento tributrio possui o condo de suspender o curso da execuo, com a respectiva

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    48

    manuteno das garantias do crdito fi scal, concluiu pela impossibilidade da manuteno do bloqueio de valores do devedor por meio do Bacenjud, sob o fundamento de que a onerosidade imposta ao executado revela-se intensa, pois, de modo diverso da penhora sobre bens corpreos tais como imveis e veculos, em que o devedor fica como depositrio e continua com a posse do objeto corpreo, os valores bloqueados tornam-se de imediato indisponveis, privando-se o titular, na prtica, de todos os direitos atinentes ao domnio (e-STJ fl . 177).

    4. Ocorre que o art. 11, I, da Lei n. 11.941/2009 no prev que a manuteno da garantia encontra-se vinculada a espcie de bem que representa a garantia prestada em Execuo Fiscal. Dito de outro modo, seja qual for a modalidade de garantia, ela dever fi car atrelada Execuo Fiscal, dependendo do resultado a ser obtido no parcelamento: em caso de quitao integral, haver a posterior liberao; na hiptese de resciso por inadimplncia, a demanda retoma o seu curso, aproveitando-se a garantia prestada para fi ns de satisfao da pretenso da parte credora (REsp n. 1.229.025-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 22.2.2011, DJe 16.3.2011).

    5. Recurso especial parcialmente provido (REsp n. 1.229.028-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 18.10.2011).

    Processual Civil. Tributrio. Execuo fiscal. Garantia do juzo. Valores bloqueados. Sistema Bacenjud. Adeso a parcelamento. Liberao. Impossibilidade. Inteligncia do art. 11, I, da Lei n. 11.941/2009. Bens do scio gerente. Ausncia de prequestionamento. Nome constante na CDA. Redirecionamento. Possibilidade. Art. 135 do CTN. nus da prova. Anlise de conceitos e princpios constitucionais. Inviabilidade. Competncia do STF.

    1. Esta Corte tem entendimento pacifi cado de que o parcelamento de crditos suspende a execuo, mas no tem o condo de desconstituir a garantia dada em juzo. Precedentes: AgRg no REsp n. 1.208.264-MG, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Primeira Turma, julgado em 21.10.2010, DJe 10.12.2010; AgRg no REsp n. 1.146.538-PR, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 4.3.2010, DJe 12.3.2010; REsp n. 905.357-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 24.3.2009, DJe 23.4.2009.

    2. A distino feita pela empresa executada entre indisponibilidade e penhora no prospera. A uma, porque a jurisprudncia do STJ remete-se a garantia dada em juzo, no se limitando penhora. A dois, porque o art. 11, I, da Lei n. 11.941/2009 no prev que a manuteno da garantia encontra-se vinculada a espcie de bem que representa a garantia prestada em Execuo Fiscal. Dito de outro modo, seja qual for a modalidade de garantia, ela dever fi car atrelada Execuo Fiscal, dependendo do resultado a ser obtido no parcelamento: em caso de quitao integral, haver a posterior liberao; na hiptese de resciso por inadimplncia, a demanda retoma o seu curso, aproveitando-se a garantia prestada para fi ns de satisfao da pretenso da parte credora (REsp n. 1.229.025-

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 49

    PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 22.2.2011, DJe 16.3.2011).

    3. A tese de que a restrio no deveria ter recado sobre bens do scio indevidamente includo na lide no comporta conhecimento pela ausncia de prequestionamento, e porque a prpria agravante/executada reconhece, na sua pea inicial, que o nome do scio constava na CDA, o que possibilita o redirecionamento da execuo, conforme pacfi ca jurisprudncia.

    4. Se no ocorreu nenhuma das hipteses do art. 135 do CTN, cabe ao executado fazer prova do alegado, em momento oportuno (embargos do devedor), e no em autos de agravo de instrumento, que aborda questo diversa.

    5. Descabe ao STJ examinar na via especial, sequer a ttulo de prequestionamento, eventual violao de dispositivos ou princpios constitucionais, pois tarefa reservada ao Supremo Tribunal Federal.

    Agravo regimental improvido (AgRg no REsp n. 1.249.210-MG, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 24.6.2011).

    15. Data venia, ouso divergir da concluso acima, amparado por razo de ordem constitucional calcada na inteligncia do princpio da isonomia ou igualdade tributria, que exsurge do art. 150, II da CF como garantia fundamental do contribuinte.

    16. A suspenso da exigibilidade do crdito tributrio impede a cobrana do respectivo montante, alm de vedar a oposio desse crdito para o fi m, por exemplo, de compensao de ofcio pela Administrao ou negativa de expedio de certido de regularidade fi scal (art. 206 do CTN). A suspenso retira a situao de inadimplncia do contribuinte, que, para todos os efeitos legais, deve ser considerado em situao regular.

    17. A suspenso pode ocorrer antes mesmo do lanamento e, portanto, no pressupe a existncia de crdito tributrio no sentido que lhe deu o CTN (de crdito lanado) e, nesse caso, embora no impea esse mesmo lanamento, impe o adiamento de qualquer medida tendente a sua cobrana e interrompe o prazo prescricional, por constituir reconhecimento inequvoco do dbito, nos termos do art. 174, parg. nico, IV do CTN.

    18. Nesse sentido, exemplifi cadamente, pode ser citado o seguinte julgado desta Corte:

    Tributrio. Compensao de ofcio pela Secretaria de Receita Federal de valores pagos indevidamente a ttulo de PIS e COFINS a serem restitudos em repetio de indbito, com valores dos dbitos tributrios consolidados no programa

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    50

    PAES. Impossibilidade. Art. 151, VI, do CTN. Suspenso da exigibilidade do crdito tributrio. IN SRF n. 600/2005 e 900/2008. Exorbitncia da funo regulamentar.

    (...).

    7. A suspenso da exigibilidade do crdito tributrio impede qualquer ato de cobrana, bem como a oposio desse crdito ao contribuinte. que a suspenso da exigibilidade conjura a condio de inadimplncia, conduzindo o contribuinte situao regular, tanto que lhe possibilita a obteno de certido de regularidade fi scal (REsp n. 1.130.680-RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 28.10.2010).

    19. O parcelamento, mesmo antes da LC n. 104/2001, que expressamente o incluiu como uma das hipteses de suspenso da exigibilidade do crdito tributrio, j era considerado uma subespcie de moratria (postergao do prazo para o pagamento da dvida concedida pelo credor ao devedor); por isso se dizia que produzia esse mesmo efeito suspensivo.

    20. Ressalto que h os que entendem, inclusive, que o parcelamento constitui verdadeira transao ou novao (art. 156, III e 171 do CTN), pois, muito embora no extinga propriamente o crdito tributrio, impe concesses mtuas entre as partes, com a Fazenda Pblica reduzindo multas e juros e dispensando garantias e o contribuinte confessando a dvida, desistindo de impugnaes judiciais e administrativas e comprometendo-se a pagar as prestaes no valor e prazo estipulados; dessa forma, o parcelamento faria com que a obrigao tributria primitiva desaparecesse, dando lugar a outra, com valor e prazo de vencimento prprios (CARAZZA, Roque Antnio - A extino da punibilidade no parcelamento de contribuies previdencirias descontadas, por entidades benefi centes de assistncia social, dos seus empregados, e no recolhidas no prazo legal. Questes conexas, in Revista dos Tribunais, v. 728, jun/1996, p. 443-450).

    21. Embora se faam crticas a esse entendimento, pois segundo outros doutrinadores, o parcelamento altera apenas as condies de pagamento do tributo (mantidas as mesmas partes e objeto), a questo certamente no se resolve com a simples afirmao de que o parcelamento apenas suspende a exigncia do crdito fi scal, fi cando as garantias ou penhoras j ofertadas/efetivadas atreladas ao referido dbito, enquanto no houver a quitao integral da dvida.

    22. Para alm da dicotomia entre suspenso ou extino da obrigao tributria, deve-se perquirir se a manuteno dessa constrio ou indisponibilidade por longo perodo ou a converso imediata do depsito

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 51

    em renda da Unio juridicamente aceitvel, isto , se est em conformidade com o ordenamento jurdico tributrio, que tem seus princpios defi nidos na Constituio Federal.

    23. Destarte, se o deferimento do parcelamento pode se dar at mesmo antes da declarao do crdito tributrio, e se, para a sua concesso, no se exige o oferecimento de garantia alguma, como expressamente prev o art. 11, I, primeira parte, da Lei n. 11.941/2009, mostra-se inconcebvel a negativa de levantamento daquela eventualmente j ofertada no mbito da execuo fi scal, especialmente e principalmente quando esta contempla dinheiro.

    24. A manuteno desse bloqueio e mesmo a converso do depsito em renda da Unio ofende o princpio da isonomia tributria; irrazovel, para dizer o mnimo, que um contribuinte executado pelo fi sco, que prestou garantia, depois ingressando no parcelamento, tenha situao menos favorvel do que aquele que no sofreu a execuo; esses dois contribuintes, nessa hiptese, so igualmente devedores, nota peculiar que os equipara e os torna merecedores do mesmo tratamento perante a Administrao.

    25. Ao meu sentir, a nota caracterstica da igualdade exatamente o fato de os contribuintes serem ambos devedores do fi sco, pouco importando que um deles tenha sido executado ou no; essa situao ftica e fortuita, no os diferencia, pois o importante para fi ns de exegese do art. 150, II da CF a igualdade marcada pelo fato de serem devedores. Assim, se aquele que prestou a garantia permanecer com o seu patrimnio constrito, mesmo tendo aderido ao parcelamento, ver-se- em posio desvantajosa para competir com outro.

    26. A desequiparao entre esses dois contribuintes d-se por uma circunstncia absolutamente fortuita, e a fortuidade, como se sabe, serve para surpreender e espantar, mas no serve para criar discriminaes, como ensina o Professor CELSO ANTNIO BANDEIRA DE MELLO; qualquer discriminao s legtima, se tiver por suporte uma circunstncia permanente e razovel.

    27. A interpretao que vem sendo dada ao CTN (art. 151, VI) e Lei n. 11.941/2009 (atual Lei do PAES) coloca contribuintes de uma mesma exao, ambos, em tese devedores, em situaes absolutamente discrepantes, com um deles suportando um nus que para o outro no existe, o que certamente no se coaduna com o art. 150, II da CF.

    28. O princpio da igualdade tributria deve ser entendido com largueza e esprito livre, para contemplar hipteses outras daquelas relacionadas to

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

    52

    somente imposio tributria equnime, situao em que normalmente invocado, merecendo ser aplicado a todas as relaes em que se verifi que uma discriminao entre sujeitos contribuintes que se encontram em condies fticas ou jurdicas semelhantes.

    29. Fere a lgica do razovel permitir o parcelamento, mas negar ao executado a possibilidade de levantar dinheiro bloqueado ou penhorado, mormente ante a possibilidade de quitao da dvida em at 15 anos ou 180 meses como permite a prpria Lei n. 11.941/2009. Pergunta-se: no caso de bloqueio ou penhora em dinheiro, este fi car disposio da Fazenda Nacional durante todo esse perodo? justo que o dinheiro bloqueado seja imediatamente convertido em renda a favor da Unio, privando a empresa, mormente as menores, de valer-se desse capital indispensvel para honrar seus compromissos e at mesmo o parcelamento efetuado?

    30. O bloqueio de dinheiro ou aplicao financeira pode prejudicar imensamente a atividade empresarial, inviabilizando, inclusive, o cumprimento do prprio parcelamento. Repito no ser razovel exigir do contribuinte o pagamento das parcelas e, ao mesmo tempo, priva-lo de seus recursos fi nanceiros; as normas benfi cas, como esta que instituiu o parcelamento tributrio, merecem interpretao de forma a efetivar o benefcio por ela veiculado, sob pena de serem incuas e descriminalizantes e no atenderem sua fi nalidade.

    31. As leis que versam sobre parcelamento ou moratria tributria objetivam, em ltima ratio, o equacionamento da questo financeira e oramentria do Estado, com o estmulo ao pagamento de tributos pelos contribuintes mediante certas benesses, mas sem o aviltamento de suas capacidades produtivas, mantendo ntegra a atividade econmica; incluir um tal dispositivo legal que veda o levantamento de dinheiro bloqueado, nesses casos, vai de encontro inteno da norma.

    32. indispensvel haver uma relao de adequao e de proporcionalidade para admitir-se a desequiparao de contribuintes em situao de inadimplncia e o discrmen no pode ser arbitrrio, como no caso em que se releva ao absoluto a s existncia de execuo, colocando uns em situao muito mais onerosa do que outros ou mesmo em relao ao Fisco.

    33. Na hiptese, o Juiz de primeiro grau determinou, pelo sistema BACENJUD, o bloqueio da quantia de R$ 700.464,10 (setecentos mil, quatrocentos e sessenta e quatro reais e dez centavos). Foram bloqueados R$ 565.286,97 (quinhentos e sessenta e cinco mil, duzentos e oitenta e seis reais e

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 26, (234): 17-59, abril/junho 2014 53

    noventa e sete centavos), em 2.9.2009, quantia assaz expressiva. No dia seguinte o ora recorrido aderiu ao parcelamento previsto na Lei n. 11.941/2009.

    34. Segundo a decis