24
Revista 11 de junho de 2011 | Edição 4 | Ano I Intercom Sul e o medo da pesquisa empírica Sob teto de estrelas: a realidade de quem mora nas ruas Violência infantil: Paraná entre os mais violentos CIDADES GERAL Encontro anual reúne estudantes de comunicação do sul do país pg 20 pg 18 Os embates do novo código florestal MEIO AMBIENTE pg 04

Revista Supernova nº 4

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Quarta edição da Revista laboratório Supernova desenvolvida pelos alunos do 3º ano de Comunicação Social hab. Jornalismo, turma 2009, período noturno, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). 15 de junho de 2011

Citation preview

Revista11 de junho de 2011 | Edição 4 | Ano I

Intercom Sul e o medo da pesquisa

empírica

Sob teto de estrelas:a realidade de quem

mora nas ruas

Violência infantil: Paraná entre os mais violentos

Cidades

Geral

Encontro anual reúne estudantes de comunicação

do sul do país

pg 20

pg 18

Os embates do novo código florestal

meio ambiente

pg 04

02 11 de junho de 2011

O trânsito no Brasil é visto como um dos mais violentos do mundo. Todos os anos, a polícia rodoviária realiza cam-

panhas e fiscalização nas estradas, mas as esta-tísticas confirmam que o elevado número de aci-dentes nas rodovias não muda.

Estranho é que o Brasil possui uma das melho-res leis de trânsito. Os acidentes continuam em alta proporção. Segundo estudo da Confederação Nacional de Municípios, desde 1998 – quando o Código Brasileiro de Trânsito (CTB) entrou em vi-gor, as mortes em acidentes não foram reduzidas.

Isso demonstra o despreparo do motorista bra-sileiro à condução de um veículo. A maior parte das fatalidades são causadas por erros humanos. Imprudência, desrespeito e despreparo são as causas mais comuns.

Em 2004, passou-se a ser obrigatório aos con-dutores participar do curso nos CFC (Centros de

Formação de Condutores) para depois retirar a CNH nos órgãos de trânsito, depois de avaliação. Antes disso, só precisávamos ir ao orgão de trân-sito e passar nas provas que já saíamos dirigindo. O curso, garante treinamento prático e teórico an-tes de pegar no volante. Mesmo assim, a violên-cia no trânsito não abateu-se.

O descumprimento às normas é constante. Multas são aplicadas em montante aos conduto-res, fatalidades são perenes. Cobranças ao go-verno vêm de toda parte. Em parte, o Estado tem a responsabilidade de manter em boas condições a sinalização e a qualidade das vias. Mas a princi-pal cobrança, deve ser feita ao motorista. Direção perigosa é o motorista quem realiza, e isso é um desrespeito com demais condutores que circulam de acordo com as leis e que sofrem fatalidades por participarem de tão violento sistema.

Fagner Bruno

O sábio poeta português, Fernando Pessoa, uma vez escreveu sobre a impossibilidade de compreendermos o “psique” das pesso-

as.Ele diz em seu poema: “Como é por dentro ou-tra pessoa, Quem é que o saberá sonhar?, A alma de outrem é outro universo, Com que não há co-municação possível, Com que não há verdadeiro entendimento, Nada sabemos da alma, Senão da nossa; As dos outros são olhares, São gestos, são palavras,Com a suposição de qualquer semelhan-ça, No fundo.”Entender a própria mente já não é fácil, que dirá entender a dos outros. E quando o pensamento é transportado para a escrita, daí gera ainda mais dúvidas de entendimento, gerando polêmicas. Muitas vezes no Jornalismo, tocar em um assun-to delicado causa a ira de muitos leitores. Foi o caso da coluna de João Pereira Coutinho, da Fo-lha.com, com o texto “Mamonas Celestinas”, que despertou indignações, insultos e até mesmo ame-aças de morte, segundo o colunista.

Ao tratar de uma campanha polêmica, o “mamaço” - que foi idealizado depois de uma mãe ter sido im-pedida de amamentar o seu bebê numa galeria de exposições do Itáu Cultural, em São Paulo - o colu-nista fez uso em seu texto de muita ironia, palavras de duplo sentido e analogias nada interessantes, o que obviamente iria causar muito impacto nos leitores, sobretudo nas leitoras e mães. Posteriormente João Pereira Coutinho se justificou em um outro texto “Ponto de ordem” e afirmou que seu único erro foi o uso da ironia no jornalismo . O que fica claro é que este chama os seus leitores de mal interpretadores ou burros mesmo.O repórter, editor, articulista, deve tomar bastan-te cuidado com o uso das palavras e das mensa-gens que querem transmitir, porque estas se mal usadas, podem acabar com a credibilidade do profissional de comunicação. O crítico e jornalista Claudio Abramo disse uma vez “O Jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”. Coutinho deveria saber disso!

Beatriz Bevilaqua

Opinião: O simples trânsito por complexos condutores

Crônica: O problema da comunicação

meio ambiente

pg.Ruralistas pressionam por novo Código 04

indíGena

pg.Índios vivem em condições precárias em Londrina 08

Capa

pg.Por dentro do Intercom Sul 2011 11

eduCação

pg.Evasão escolar e o aumento da criminalidade 16

Cidades

pg.Sobrevivendo sem um lar 18

Geral

pg.Violência infantil preocupa autoridades 20

Cultura

pg.Filo movimenta a cultura de Londrina 22

espeCial: dia dos namorados

pg.Casais optam por sexo apenas no matrimônio 24

Os dias 21 e 22 de maio foram tumultuados para os manifestantes da Marcha Pela Li-berdade de Expressão, ocorrida em capitais

como São Paulo e Curitiba a favor da legalização do uso da maconha. O nome da manifestação, que antes era Marcha da Maconha, foi mudado pelos manifes-tantes devido à suposta “apologia” que o título promo-veria, segundo a Justiça. Qualquer ação que remetes-se à droga se enquadraria em infração à lei. Taxar o produto, a fim de combater o tráfico, e liberar o uso da droga em pequenas porções foram duas das várias reivindicações dos manifestantes. Os protestos foram pacíficos, mas a reação da Polícia Militar foi austera. Em São Paulo, policiais agrediram manifestantes – o governo considerou o “excesso”, mas nada fez quanto a isso.

A decisão da Justiça de proibir as manifestações es-barra na própria liberdade de expressão constitucional. A agressão a jornalistas e a repressão a manifestações para discussão de leis é inadmissível. Além disso, a Justiça comporta-se de forma leniente e proíbe, indire-tamente, o debate com a sociedade civil, pois, ao evitar a simples pronúncia de uma substância considerada ilícita em um protesto, mascara a realidade e exime-se do problema. Se levantar o tema e pô-lo em discussão é apologia, é proibido, nunca se solucionará o caso.

A questão sobre a legalização da maconha é com-plexa e não será resolvida rapidamente, mas o deba-te e as manifestações públicas são salutares e devem existir, assim como existiram em vários países desen-volvidos. Ignorar o caso é retroceder no direito da li-berdade de manifestação e da revisão de conceitos proposta por cidadãos.

Expediente

Editorial: A hipocrisia contra as marchas

Docente responsável: Rosane BorgesProdução: Estudantes do 3º ano de Comunicação Social hab. Jornalismo da UELEdição:Amanda FrançaLucas GodoyLucas RodriguesMarcy Saraiva

Diagramação:Beatriz BevilaquaEnrickson VarsoriLuciana FrancisoPlínio VendittoVanessa Freixo

Reportagem: Carol MoureCinthia MilanezDanylo AlvaresFagner BrunoHellen Paula PereiraLuciana de CastroWillian CasagrandeYuri Bobeck

SUMÁRIO

Revista laboratório

11 de junho de 2011Edição 4

Ano I

04 11 de junho de 2011

O Código Florestal brasileiro, Lei nº 4.771, foi sancionado em se-tembro de 1965 no governo João

Goulart e sofreu diversas alterações ao longo de seus 46 anos de vigência. Ele é uma modificação de um texto já feito no ano de 1934 que definia as áreas nativas e as que poderiam servir para extração de lenha. O atual Código Florestal, des-de sua reformulação, é o responsável por definir as leis que regem a manu-tenção das florestas, matas e as vege-tações das propriedades rurais, ditando suas normas de proteção, exploração e manutenção.

Além de definir a Amazônia Legal – delimitação feita para melhor planejar a área que engloba 9 estados da Floresta

meio ambiente

Aldo Rebelo comemoraa aprovação de seu texto

pela Câmara dos Deputados

A hora e a vez do Código FlorestalEmbate entre ambientalistas e ruralistas apressa

a aprovação do novo Código FlorestalAmazônica – o Código Florestal regula as Reservas Legais e Áreas de Preser-vação Permanente (APPs). As Reser-vas Legais, hoje em dia, correspondem a 20% do território da propriedade rural. Nessa área devem ser cultivadas es-pécies nativas de vegetação que, por conseguinte, ajudam também a manter a fauna natural da região. As APPs são porções vegetais que protegem rios, cór-regos, nascentes, lagos, topos de morro, serras e montes. Possuem regras dis-tintas para cada tipo desses elementos (observe o Box). Essas medidas foram tomadas com o pretexto de estabelecer uma relação harmônica entre a explora-ção e a natureza, ouvindo a opinião de ruralistas, ambientalistas e entidades científicas.

Nos últimos anos surgiu uma forte

pressão da bancada ruralista – a repre-sentação da parcela da sociedade ligada com a agropecuária, geralmente encabe-çada por movimentadores do agronegó-cio - sobre o Governo Federal para que essas leis se tornassem menos rígidas. Segundo os ruralistas, as áreas dedica-das à preservação diminuem a produtivi-dade no campo e geram prejuízos para o produtor. Devido a essas reivindicações, a Câmara dos Deputados esboçou um primeiro texto idealizado pelo Deputa-do Federal Sérgio Carvalho (PSDB-RO) propondo novas regras. O discurso foi arquivado em 2003 e a Câmara iniciou um ciclo intenso de conversas com os principais órgãos ligados à agricultura e ao meio ambiente, além de entidades cientificas, políticos, ambientalistas e re-presentantes da sociedade rural. Foram

LUCIANA DE CASTRO

Car

ta C

apita

l

0511 de junho de 2011

realizadas também audiências públicas para ouvir as opiniões e queixas da so-ciedade civil.

O resultado dessas conversas gerou ideias para um novo Código Florestal com medidas mais permissivas para o agricultor, partindo da proposta já relata-da por Carvalho. O responsável por jun-tar todas essas sugestões foi o Deputa-do Federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que apresentou o texto pronto no primeiro semestre de 2010. Os novos argumentos diminuem as APPs de forma considerá-vel e extinguem as Reservas Legais nas propriedades com até 4 módulos fiscais (medida que varia de estado para esta-do, em Londrina, por exemplo, um mó-dulo fiscal equivale a 12 hectares). Além disso, propõe a anistia – quitação da di-vida legal - a quem cometeu crimes am-bientais até ano de 2008.

Corrida pela aprovaçãoEntre o período de formulação e

definição de um novo texto para o Có-digo Florestal, o Presidente Luís Inácio Lula da Silva assinou em dezembro de 2009 o Decreto nº 7.029, intitulado como “Programa Mais Ambiente”, que, em concordância com o Código Florestal, reafirmava a obrigatoriedade da averba-ção da Reserva Legal e das APPs nas propriedades rurais – averbar significa legalizar a implantação dessas áreas no órgão ambiental do estado e registrar no cartório de registro de imóveis. O prazo para se adequar à norma é até o dia 11 de junho de 2011, depois desta data o agricultor fica na ilegalidade. O perigo da situação não é necessariamente o de multas pela fiscalização ambiental, mas, sim, pelo bloqueio de créditos e fi-nanciamentos feitos aos produtores pelo Banco do Brasil que começará a ser feito imediatamente no outro dia que finda o Decreto.

Essa decisão do Banco do Brasil mexe diretamente com a produção no campo, afinal, muitos agricultores ne-cessitam de financiamento para traba-lhar. Consequentemente, o deputado Aldo Rebelo foi ainda mais pressionado para que o Código fosse logo aprovado ou vetado, afinal, os produtores rurais precisam saber como agir para ficarem dentro da lei para contar com o auxílio do Banco do Brasil. “A gente precisa fazer a regularização e não tem como. Depois eu preservo uma área da propriedade e ela sai de lei, como é que fica? Eu quem saio no prejuízo?”, questiona o agricultor Claudionor Boveto, dono de 30 hectares no distrito de São Luiz, zona rural de Londrina.

Prejuízo no campoCom a data cada vez mais próxima,

as entidades ligadas ao movimento ru-ralista começaram a se mobilizar pela aprovação do texto de Rebelo. Houve protestos gigantescos? em frente à Câ-mara dos Deputados – primeira casa por onde a proposta passa. Favoráveis ao texto de Aldo Rebelo, agricultores, órgãos como a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), muitos políticos como a Senadora Kátia Abreu (PSD-TO) e o Go-vernador Confúcio Moura (PMDB-RO) e partidos, como o PSDB, pediam rapidez

“É fácil para ativistas de ONGsfalarem o quanto devemos tirarde nossas propriedades, eles nãovivem do que a terra dá”, contestaAlmir Montecelli, Diretor Agrícolae produtor de algodão

Ambientalistas protestaramconfrontando o novoCódigo Florestal

Gaz

eta

do P

ovo

Miri

am P

roch

now

na decisão. Um dos argumentos usados pelo gru-

po é de que o agricultor possui a terra, ele quem pagou, registrou e a mantém. Nesse raciocínio, é o agricultor quem deve decidir o quê e onde plantar den-tro da propriedade. “Comprei o meu sítio para plantar soja e trigo. Eu não quero perder mais de 5 hectares para plantar árvores que não me dão retorno”, co-menta o agricultor Claudionor Boveto sobre a Reserva Legal. O Diretor de Ati-vidade Agrícola da Sociedade Rural do Paraná em Londrina e produtor rural, Al-mir Montecelli, exemplifica a situação “É como se alguém pedisse que em nossas casas, na área urbana, fossem retirados 20% da área para plantação de árvores.

06 11 de junho de 2011

Uma das áreasintocáveis daAmazônia Legal

Foto

: G1

Luci

ana

de C

astro

O biólogo e ambientalistaEduardo Panachão se

declara totalmente contra à proposta de um novo

Código Florestal

Ninguém iria querer fazer, é uma área considerável. Agora imagi-ne para quem depende da terra o que isso significa”. Os ruralis-tas afirmam que o principal afetado com as exigências do Código vigente é o agricultor familiar, isto é, o pequeno proprietário, pois não possui dinheiro e tempo para implantar as áreas de preser-vação na propriedade e acaba perdendo uma grande quantidade de terra cultivável.

Montecelli comenta outro argumento levantado em pauta na discussão do Código Florestal. Com o Decreto Mais Ambiente vencendo em 11 de junho e o Código Florestal se mantendo da forma como está, todas as propriedades rurais “perderão” 20% de terras além das APPs. Segundo o diretor, essa perda vai gerar desemprego no campo, diminuição crítica da produção agrícola e, em ordem, falta de alimentos e aumento no preço dos vegetais “Até com o texto do Aldo Rebelo isso já vai acontecer em menor escala”, afirma, “E esses são problemas que afetam todo o mundo, afinal, somos exportadores”.

Por fim, o Diretor Agrícola critica a forma pela qual os gover-nos de países estrangeiros, como Alemanha e Estados Unidos, repudiam o novo texto do Código Florestal. Ele argumenta: “Eles [estrangeiros] exploram o país que possuem da forma que bem entendem, agora nos pressionam para que viremos ‘mato’. Como se devêssemos preservar para que eles possam enriquecer”.

Impacto ambientalEm contrapartida, os ambientalistas iniciaram uma campanha

massiva contra o novo Código Florestal. Apoiados em estudos científicos, ONGs e movimentos sociais, como a WWF (World Wil-dlife Fund) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), pedem que o Código Florestal se mantivesse como está nas leis atuais. De acordo com o biólogo e presidente da ONG MAE (Meio

Ambiente Equilibrado), Eduardo Panachão, a proposta de Aldo Rebelo “é um atentado contra o meio ambiente”. O ambientalista explica: “O novo Código pretende diminuir as matas ciliares pela metade e isso significa, em termos mais claros, proteção pela metade aos nossos cursos d’água. Significam margens erodidas, tratamento de água mais caro, assoreamentos nos rios. E, como se não bastasse, ainda quer extinguir as Reservas Legais das pe-quenas propriedades”. Segundo Panachão, a maioria das proprie-dades rurais de Londrina vai perder as áreas nativas que garantem a biodiversidade da região. A situação se torna ainda mais drástica em estados onde os módulos fiscais têm grandes medidas, como é o caso do Amazonas onde cada módulo equivale a 100 hectares. “Estão ameaçando um ecossistema riquíssimo como o amazônico em prol do agronegócio”, defende.

Os ambientalistas também repudiaram a anistia que pode ser aprovada. A lei deve assegurar que os crimes ambientais cometi-dos até 2008 sejam perdoados legalmente e que as áreas desma-tadas não precisam ser reconstituídas “O novo texto ainda permite que áreas que deveriam ser preservadas até mesmo dentro da nova lei sejam usadas para outros fins. É lamentável”, opina Edu-ardo Panachão. O biólogo observa que em seus trabalhos de cam-po, auxiliando pequenos agricultores na regularização ambiental, a grande dificuldade dos produtores é a falta de incentivo do pró-prio governo que custeia e burocratiza tais ações. O agricultor José Carlos Dutra, produtor de café em São Luiz, concorda: “Eu tenho mais de 30 metros de mata ciliar que é pedido na lei, sempre fez bem para minha plantação. Só não legalizei ainda porque é processo caro e demorado”.

O incentivo governamental que os agricultores deveriam re-ceber, segundo Panachão, vai além da melhoria do processo de legalização. Ele afirma que os proprietários de terra deveriam ser

0711 de junho de 2011

Como é que vai ficarConfira como é a lei vigente do Código Florestal

e como o novo texto pretende mudá-lo

Áreas de Preservação Permanente (APPs):Atualmente:- As matas ciliares devem ter 30 metros em cada mar-

gem de um curso d’água com até 10 metros de largura. - Os topos de morro, montes e serras com declividade

acima de 45°, restingas fixadoras de dunas ou estabiliza-doras de mangues e áreas com mais de 1800 metros de altitude não são áreas cultiváveis.

- Não existem “áreas consolidadas”.Com o texto aprovado:- A dimensão das matas ciliares cai em 50%.- É permitido o manuseio de culturas perenes ou de

ciclo longo nas áreas de topos.- As áreas desmatadas que não precisam ser recons-

tituídas devido à anistia passam a ser chamadas de áreas rurais consolidadas, isto é, se tornaram áreas cultiváveis.

Reserva Legal: Atualmente:- As Reservas Legais equivalem a 20% das proprie-

dades rurais. Excetuando na área de floresta da Amazô-nia, que equivale a 80%, e no cerrado da Amazônia, que é de 35%.

Com o texto aprovado:- As propriedade rurais com até 4 módulos fiscais não

precisam mais ter Reserva Legal.

Anistia:Com o texto aprovado: - Crimes ambientais de desmatamento terão perdão

judicial e não deverão passar pelo processo de reconsti-tuição das áreas. (L.C.)

O novo Código Florestal propõea anistia a quem desmatou áreasde preservação até 2008

Rep

rodu

ção

orientados sobre a rentabilidade da Reserva Legal e como implan-tar na propriedade. “Ao invés de ceder ao agronegócio e diminuir o verde do nosso país, as nossas autoridades deveriam param de usar o pequeno agricultor como ‘escudo’ e passar a orientá-los que é possível lucrar com a Reserva Legal”, explica.

Rumo à sançãoDepois de anos de discussão e de mais de uma semana de

sessões, a Câmara dos Deputados aprovou, no dia 24 de maio, por 410 votos a favor, 63 contrários e uma abstenção, o texto de Aldo Rebelo. Porém, a lei não entra vigor a partir dessa data. É preciso passar pelo Senado, onde será analisada por três comis-sões. Só então é encaminhado para o Plenário, onde é sanciona-da ou vetada pela Presidenta Dilma Rousseff (PT).

Dilma já adiantou que irá vetar o texto caso ele se mantenha como aprovado pela Câmara após sair do Senado. A principal questão que a Presidenta discorda é a da anistia aos desmata-dores. “Não concordo que o Brasil seja um país que não tenha condição de combinar a situação de grande potência agrícola com a potência ambiental que também é. Não sou a favor da consolidação a anistia dos desmatamentos”, afirmou Rousseff em discurso oficial.

O dia 11 de junho está próximo, a ilegalidade e o bloqueio de créditos no Banco do Brasil também. Na melhor das hipóteses, o Senado anunciou no dia 2 de junho que pode demorar 45 dias para dar uma resposta. Porém, se Dilma Rousseff vetar qualquer uma das propostas do texto, dessa vez redigido pelo Senador Jor-ge Viana (PT-AC), o projeto volta para a Câmara dos Deputados e percorre o mesmo caminho que demorou anos para fazer. Até lá, ambientalistas e ruralistas continuam num confronto permeado pelas estratégias políticas dos senadores e deputados.

indíGenas

08 11 de junho de 2011

Tribo dos EsquecidosGrupo de índios Kaingang vive em estado de favelização em Londrina

DANYLO ALVARES

T io, dá um trocadinho?” Mediante a resposta nega-tiva e ao questionamento sobre a ausência total de vestimentas em pleno outono londrinense, não

houve resposta alguma. O garotinho franzino, sujo e de idade aparentemente inferior a três anos olhou hesitante, como se ouvisse algo ininteligível. O veículo, então, tocou em frente. O breve diálogo foi o primeiro contato estabelecido pela equipe de Supernova com o grupo Kaingang que habita a área urbana de Londrina. Apesar de ingênua e pouco pretensiosa, a fala do indiozinho abre espaço para a discussão de uma realidade cada vez mais notável: a situação de mendicância e o proces-so de favelização por que tem passado os índios que habitam as cidades. Nossa reportagem conferiu de perto como vivem

e a quais circunstâncias estão expostos os cerca de 30 indígenas que ocupam as margens da rua Pedro Antônio da Silva, localizada entre as avenidas Duque de Caxias e Dez de Dezembro.

No passado, centro culturalA região ocupada atualmente pelos índios fica ao lado

do antigo Centro Cultural Kaingang Wãre, inaugurado durante as comemorações do dia nacional do índio, em 1999, na gestão do então prefeito Antônio Carlos Belina-ti. O local contava com oito casas-abrigo, que serviam de guarida para os índios que vinham da Reserva Indígena Apucaraninha (a 80 km do centro da cidade) para Londrina comercializar seus produtos, além de funcionar como um espaço para mostras permanentes de artesanato típico. Embora o terreno em que o Centro Cultural foi erguido e a responsabilidade sobre sua manutenção ficasse a cargo

Foto

s: D

anyl

o A

lvar

es

Péssimas condições de moradia: famílias inteiras sob lonas, tecidos e tábuas

da Prefeitura, cabia aos hóspedes limpar e conservar as instalações. Tais diretrizes, no entanto, nunca foram cumpridas à risca. O que culminou em 2008, sob justifi-cativa de insalubridade por parte da Vigilância Sanitária, no embargo e na desativação do Centro.

Situação atualHoje, a faixa de terra, que ainda recebe a alcunha

de Centro Cultural Kaingang, já não representa o refe-rencial étnico a que o nome se propõe. O que se vê são barracos debilmente estruturados com lonas e tábuas, mato alto em alguns pontos e muita sujeira. Imagens que logo nos remetem a uma visão estereotipada de in-vasões e assentamentos, cenas comuns nos grandes municípios. A antropóloga da Secretaria Municipal de Assistência Social, Marlene de Oliveira, explicou que após a extinção do Centro Cultural, muitas discussões foram promovidas com representantes do grupo a fim de se oferecer alternativas de abrigo durante a esta-dia dos índios em Londrina. Transporte de ida e volta e hospedagem em hotéis foram algumas das propostas preteridas por eles. Mesmo sem infra-estrutura alguma, várias famílias decidiram ficar e ali levantaram barracos e estabeleceram morada. Vadico Marcolino, de 53 anos, atual representante dos acampados, diz que as famílias se revezam na ocupação do lugar “A turma vem para vender o que produz e retorna à Reserva depois”, escla-rece o líder. Entretanto, o espaço de tempo envolvido no processo de comercialização das cestas de palha e de-mais artigos Kaingang pode variar muito. E neste ponto residem muitos problemas.

Condições das moradias Acomodados em cabanas paupérrimas e sob pre-

cárias condições de segurança, higiene e alimentação, diversas famílias permanecem na cidade durante me-ses. Enquanto isso, as crianças ficam longe da escola e à mercê de inúmeros perigos. O último exemplo foi a prisão de Rodrigo Oliveira dos Santos, 29, capturado e espancado por índias no último dia 30 de maio. Acusado pela tribo de habitualmente exibir a genitália para garo-tos e mulheres, o rapaz foi surrado pelas indígenas e amarrado ao tronco de uma árvore até a chegada da po-lícia. Além dos riscos inerentes ao não cercamento do local, distantes de suas raízes socioculturais, os índios recorrem à mendicidade porta a porta e em semáforos pelas redondezas a fim de complementar a renda que, segundo Marcolino, “dá apenas para quebrar o galho”. A mendicância, porém, potencializa ainda mais a situação de vulnerabilidade a que eles já se submetem.

MendicânciaPara a assistente social da coordenação técnica lo-

cal da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Londrina, Evelise Viveiros Machado, o índio “habituou-se a mendi-gar”. “Anteriormente, eles vinham à cidade apenas para vender o que confeccionavam, mas hoje é diferente. Muitos deles prolongam a estada porque acham que pe-dir é mais fácil do que plantar”, confessa. Evelise ressal-ta que a Reserva Apucaraninha oferece toda a estrutura para que eles vivam comodamente sem se distanciarem dos hábitos históricos indígenas. “A Secretaria de Esta-do da Agricultura e do Abastecimento (SEAB) concede

sementes e fertilizantes para manutenção dos cerca de 75 hec-tares de arroz, 60 de feijão, 200 de milho, do plantio de hortas, eucalipto e palmito pupunha. Lá, eles têm casas, posto de saúde e escola de 1ª à 6ª série do ensino fundamental, mesmo assim, não podemos impedi-los de vir para cá. Nossa recomendação é a permanência na aldeia, mas eles, tal qual todo cidadão, têm livre arbítrio. A questão é que optar pela vida na cidade pode acarretar muitos ônus “.

A assistente social informou ainda que a Funai entrega perio-dicamente cestas básicas aos moradores da Reserva. Marlene de Oliveira reitera a ideia de que as carências sofridas pela co-munidade indígena situada em Londrina são acentuadas, muitas vezes, por opção dos próprios índios. De acordo com a antropó-loga, todas as famílias são cadastradas e usufruem de progra-mas municipais e federais de distribuição de renda. “Porém, todo serviço de amparo prestado pela Prefeitura ocorre no interior da Reserva. Se os ajudássemos aqui, legitimaríamos o estado ir-regular das moradias em que eles estão, seria o mesmo que endossar a permanência deles em circunstâncias degradantes”,

11 de junho de 2011

Crianças em idade escolar ficam longe das salas de aula durante o tempo que os pais levam para

vender o que produzem

09

10 11 de junho de 2011

destaca. Segundo Marlene, o trabalho da Prefeitura tem sido no sentido de conscientizar o indígena de que ele tem o seu espaço, e de que a área urbana impõe outros padrões comportamentais. Para isso, foram elaboradas, juntamente com representantes Kaingang, cartilhas em forma de ma-nual que orientam os índios quanto a modos de conduta, hábitos higiênicos e alimentares com o intuito de atenuar a discriminação sofrida por eles. “O Sinal Verde (projeto de assistência que atende pessoas em situação de risco) en-frenta dificuldades em abordar cidadãos indígenas porque, no entendimento deles, pedir esmola não constitui constran-gimento”, diz a antropóloga. Fora os ganhos ofertados pela Funai e pelo Município, povos indígenas são considerados segurados especiais pela Previdência Social. Ou seja, o índio tem direito a benefícios para si e sua família, como aposentadoria por idade ou por invalidez, auxílio-doença, auxílio-acidente, salário maternidade, pensão por morte e auxílio-reclusão.

Insatisfação Apesar das aparentes benesses, a comunidade visita-

da por Supernova exibiu evidente descontentamento com a gestão municipal. “Bate foto aqui, mostra para o Barbosa como é que a gente vive”, indignou-se um dos moradores ao exibir o rudimentar e improvisado fogão sobre o qual co-zia o almoço. Vadico Marcolino diz esperar que a Prefeitura tome uma atitude e melhore as condições do lugar. O líder já reafirmou que “os Kaingang permanecerão no local”.

Promessa

Índios utilizam tanques para a limpeza de utensílios dométicos e banhos. Água usada no preparo de alimentos também vem do mesmo lugar.

A esperança a que se refere o líder do grupo trata-se do anúncio feito pelo prefeito de Londrina, Homero Barbosa Neto, que diz respeito à reconstrução do Centro Cultural Wãre. A declaração foi dada pelo líder do executivo mu-nicipal no dia 19 de abril, durante festividades da semana do índio. Segundo informações da Secretaria Municipal de Assistência Social, o novo Centro contará com oito casas--abrigo de tipologia diferenciada – já que as antigas eram cobertas com folhas de palmeiras ou palha e ofereciam risco de incêndio –, área comum para a produção de ar-tesanato, biblioteca com acervo voltado à cultura do índio e uma espécie de loja para a comercialização de souve-nires e demais produtos Kaingang. Visando evitar ao má-ximo os problemas decorrentes da habitação estendida e não projetada, a Prefeitura promete instituir regras claras de permanência para os que quiserem alojamento no novo Centro. As famílias indígenas não poderão prolongar a ins-talação por mais do que alguns dias.

Vários motivos explicam a vinda do índio às cidades. Um deles é a sedução exercida pelos centros urbanos, operada em sua maioria pelos meios de comunicação em massa, que não excetuam as aldeias do seu poder de alcance. Outra possível explicação diz respeito ao ethos (termo sociológico que designa, grosso modo, um valor de identidade social) indígena, que traz em sua essência costumes seminômades. Fator social ou não, a verdade inconveniente é que este grupo representa apenas mais uma pluma no grande cocar dos marginalizados indígenas.

Pesquisadores reunidos

Encontro de pesquisadores de

comunicação, realizado em Londrina,

é registrado como o maior da categoria

pelo Intercom Sul

Capa

“A relação da comunicação é uma troca humana, não existe humanidade sem o ato da comunicação. E é dessa forma que a comunicação será uma ferramenta para um mundo melhor”

Marialva Barbosa: “É preciso produzir transformações”

Agência UEL

Se as portas do Cine Teatro Ouro Verde, da Universidade Estadu-al de Londrina, permitissem ape-

nas a entrada de apresentações artísti-cas dos mais variados estilos, perderia a oportunidade de sediar a abertura do maior encontro de pesquisadores da área de comunicação da região sul do País: o Intercom Sul 2011. E essa chance não foi desperdiçada.

Realizado por meio de uma par-ceria entre a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), o XII Congresso de Ciências da Comunica-ção da Região Sul teve como tema a questão “Quem tem medo da pesqui-sa empírica?” e envolveu estudantes e professores dos cursos de Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Pro-paganda e Turismo. O número total foi de 1684 inscrições.

Essa integração de diversidade cul-tural, reunida em solo paranaense, teve como objetivo estimular a produção científica nos diversos espaços de ensi-no, pesquisa e produção comunicacio-nal, em diferentes modalidades e ainda contribuir para regiona-lizar a discussão sobre o campo da comunica-ção.

A mesa de apresentação da ceri-mônia de abertura con-tou a participação das reitoras Nádina Mo-reno e Wilma Jandre Mello, UEL e UNOPAR e a conferênica foi me-diada pelo presidente da Intercom, professor doutor Antonio Carlos Hohlfeldt.

Contudo o mo-mento mais aguarda-do por todos daquela noite era, sem dúvida, a palestra proferida pela professora dou-tora Marialva Carlos Barbosa. Detentora

HELLEN PAULA PEREIRA de um extenso gabarito profissional, atualmente é docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, diretora científica da Intercom e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores de Histó-ria da Mídia – ALCAR.

Marialva trouxe o tema “Reflexões em torno da Pesquisa em Comunica-ção no Brasil” para revelar os primór-dios da pesquisa nacional caminhan-do até seu cenário atual. Para ela, as pesquisas em comunicação tendem a melhorar tanto em quantidade quanto em qualidade e considerou o quadro como positivo não apenas entre os es-tudantes de graduação, mas também com mestrandos e doutorandos. Entre-tanto ressalvou que, primeiramente, é preciso avaliar o propósito do que será pesquisado. Ou seja, o indivíduo pes-quisador deve saber para que serve o seu objeto de estudo para não ser meramente um trabalho que renda-lhe um título. Questionada sobre como os estudantes poderiam ser incentivados para alcançar esse objetivo, Marial-va apontou: “O ambiente universitário não oferece apenas uma aprendiza-

gem técnica. O papel da universidade é o de saber refletir. Cabe ao docente mostrar que a teoria não está desaco-plada da prática”.

O exercício da comunicação in-fluencia toda a cadeia social, confor-me declarou a professora: “A relação da comunicação é uma troca humana, não existe humanidade sem o ato da comunicação. E é dessa forma que a comunicação será uma ferramenta para um mundo melhor”.

A professora Zilda Andrade liderou a equipe organizadora do Intercom Sul e comentou o significado do even-to para a cidade de Londrina: “Isso demonstra que Londrina também faz parte da pesquisa em comunicação sendo um espaço de potência maior da faculdade e também de produção acadêmica”.

A empolgação com o evento tam-bém veio palavras do presidente do Intercom: “Esse foi o maior Intercom Sul que nós registramos. Eu até me surpreendi com o número de inscritos. Isso mostra como tem aumentado o in-teresse dos estudantes”.

Quem acompanhou o encerramen-to da cerimônia de abertura assistiu a

1311 de junho de 2011

apresentação do grupo de acordeom Evelina Grandis, composto por oito mulheres e dois homens, todos da ter-ceira idade, que levantou até os me-nos empolgados da plateia com um dos clássicos de Luiz Gonzaga. Festa para preparar quem teria uma mara-tona de apresentações de trabalhos para acompanhar no dia seguinte, 27 de maio.

Quem VeioTratando-se de um encontro que

envolve a região sul do Brasil, nada mais óbvio que a participação de gaú-chos, catarinenses e paranaenses. Podem não ter nascido nessa região, mas representaram em peso e em conteúdo seus devidos estados. A Su-pernova coletou alguns depoimentos de quem prestigiou o encontro e a ci-dade da terra vermelha.

A escrita da ciência: desafios para ‘gente grande’, um dos temas da Di-visão Temática (DT) Interfaces Comu-nicacionais, foi apresentada pela pro-fessora doutora Maria Luiza Cardinale Baptista da Universidade de Caixas do Sul, Rio Grande do Sul (UCS). Sua pesquisa aborda o modo de repensar a constituição da ciência, “o conheci-mento só se produz através de aproxi-mações entre áreas do conhecimento”, explica. Doutora em Ciências da Co-municação pela Universidade de São

Fotos: Hellen Paula Pereira

Paulo (USP) é professora na área de comunicação há mais de vinte anos e leciona rádio e TV na UCS participan-do dos principais eventos de comuni-cação. Para ela, um encontro como esse permite fazer carreira como edu-cadora, um compromisso de sempre aprender e “voltar com novos objetos de pesquisa”.

Para as estudantes de mestra-do da Universidade Federal de Santa

Maria, Rio Grande do Sul, Rafaela Ca-etano Pinto e Solange Prediger esta também foi a primeira participação de-las num Intercom. Elas avaliaram que, esse ano, “os conteúdos do Intercom estavam bem desenvolvidos”, o que permitiu a construção de novos con-ceitos para suas dissertações.

Em sua primeira participação e apresentação no Intercom Sul, a graduanda de Relações

Viviane Oliveira graduanda de Relações Públicas em DT de Jornalismo: desafio superado

Milliane Lauize estudante do primeiro ano de jornalismo e

seu primeiro Intercom: Uma diversidade de aprendizado”

Públicas da UEL, Viviane Oliveira, deixou a ansiedade e nervosismo de lado e narrou os principais pontos de seu objeto de análise no DT de Jornalismo: Espaço e design das seções culturais da “Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo”: confluências com o Jornalis-mo digital na web 3.0.

Também prin-cipiante no even-to, a estudante do primeiro ano de Jornalismo da UEL, Milliane Lauize não se apresentou, mas foi integrante da equipe organiza-dora. Como mo-nitora ela conta que pode acompanhar diversos traba-lhos: “Os trabalhos foram bem diversi-ficados e contribuíram bastante para o meu aprendizado, ainda mais que estou no primeiro ano do curso”.

InterligadasAs Divisões Temáticas e o Intercom

Júnior receberam 349 propostas de tra-balho, das quais foram selecionadas 279. As mesas abordaram temas cen-trais a partir de diferentes perspectivas – teoria e metodologia, pesquisa empírica em comunicação na academia, pesqui-sa empírica no mercado profissional e

experiências interdisci-plinares.

O Prêmio Expocom recebeu 247 inscrições e teve 179 trabalhos aceitos. A premiação é para os melhores produtos laboratoriais desenvolvidos por alu-nos de graduação em comunicação matricu-lados nos cursos da região sul. Os vencedo-res concorrem na edi-

ção nacional do evento, que, este ano, acontece em Recife (PE), de 3 a 6 de setembro. Para participar do Expocom, o aluno precisa ser indicado por sua ins-tituição de ensino superior, fazer a ins-crição no congresso regional e submeter o trabalho. Os nomes dos premiados já estão disponíveis no site da Intercom:

http://www.inter-comsul2011.com.br /p remiados .php.

A programa-ção teve ainda no auditório maior da UNOPAR, palestra de Raul Costa Júnior, di-retor executivo da SporTV falando sobre o projeto Passaporte Spor-TV, que tem como objetivo oferecer oportunidades para jovens re-cém-formados e estimular novos talentos, além de duas edições do Laboratório Itaú Cultural, ambas com a participa-ção do escritor e jornalista José Castello.

Palavras de Quem Sabe

O último dia

do Intercom foi marcado pelas oficinas da Uno-par. Jornalismo e Histó-ria; Censura e Pasquim, oferecida pela Profª Dra. Márcia Neme Buzalaf, foi uma delas. Trata-se da fundamentação do trabalho historiográfico com periódicos para a constituição dos cami-nhos da pesquisa. Mé-todos e teorias que dão sustentação à análise jornalístico-historiográ-fica do período da di-tadura. Fontes, docu-mentação, entrevistas, história oral e o conceito de geração. Conteúdo e forma no Pasquim - determinismos e ino-vações para um estudo multidisciplinar.

Formada em Jorna-lismo pela Unesp, com mestrado em MA in In-ternational Relations and Political Theory da Universidade de Westminster, Londres, atualmente le-ciona a disciplina de radioJornalismo na UEL. Ela é autora da tese de doutorado “A Censura no Pasquim (1969-1975)”, defendida em 2009 junto à Faculdade de Ciências e Letras da Unesp e con-tinua a dedicar-se em pesquisas sobre a censura durante a ditadura militar no Brasil. Entre um trabalho e outro, aceitou dar alguns detalhes sobre sua pesquisa e assuntos relacionados, em entrevista para a Supernova. Confira a íntegra.

Supernova: Foi o primeiro traba-lho que apresentou em um Intercom?

Márcia Buzalaf: Intercom Sul, sim.

SN: O que sentiu?MB: Acredito que seja um ambiente

naturalmente à vontade para quem gos-ta da área acadêmica. Senti uma alegria enorme de ver tantos estudantes de fora trocando experiências.

SN: Acompanhou alguma apre-sentação?

MB: Fui mediadora de uma mesa de trabalhos sobre comunicação, espaço e cidadania. Foram ótimos trabalhos e bons debates. Mas o melhor foi durante a oficina “Jornalismo e História, Censura e Pasquim”, com a participação de vá-rios alunos da UEL e de outras univer-

“O conhecimento só se produz através de

aproximações entre áreas do conhecimento”

Solange Prediger e Rafaela Caetano, mestrandas do Rio Grande do Sul em mais um dos vários encontros do Intercom

1511 de junho de 2011

sidades e estados. O debate que fluiu foi ótimo. Se o objetivo é nunca deixar uma pesquisa parada nas bibliotecas em formato de tese, a oficina foi um bom momento acadêmico.

SN: Como surgiu a ideia dessa pesquisa?

MB: Ela vem do meu doutorado, que na verdade deriva também do meu mestrado. Venho estudando a censura há mais de 10 anos. Assim, o Pasquim - por admiração que eu tinha pelo jornal e por quem o fazia - tornou-se meu ob-jeto e minha fonte de pesquisa.

SN: O que ela pretende?MB: Basicamente o objetivo é en-

tender como a censura afetou a produ-ção do jornal, os jornalistas... Detalhar as minúcias de um período tão intenso para a produção jornalística e cultural.

SN: Como você avalia o resulta-do já alcançado pela pesquisa?

MB: Acredito que tem sido ótimo, e a cada debate, como no Intercom as análises se complementam.

SN: O que é mais trabalhoso e o mais satisfatório numa pesquisa?

MB: Tudo é trabalhoso em uma pesquisa - e talvez esta seja a grande satisfação. É difícil entrar em um pro-grama de pós, difícil se afinar com o orientador, difícil conseguir bolsa, difí-cil achar os documentos historiográfi-

cos.... O mais difícil, na minha opinião, é a solidão da pesquisa, da escrita, da reflexão. É um processo solitário, sim, mas engrandecedor. Crescemos indivi-dualmente e socialmente quando enca-ramos os dilemas da reflexão científica.

SN: Qual a finalidade dela? MB: A finalidade da pesquisa é

ampliar os conhecimentos sobre uma sociedade. No caso da pesquisa histo-riográfica e da comunicação buscamos entender e reconstruir momentos im-portantes.

SN: Deve se ter medo da pesqui-sa empírica?

MB: Não, claro que não. Mas se ti-ver medo, aí é que se tem que seguir adiante mesmo.

O único problema é não conseguir participar de tudo por conta dos even-tos simultâneos.

SN: Qual o recado que você dei-xaria para quem pretende começar uma pesquisa científica?

MB: Bom, principalmente, a pes-soa precisa gostar de ler, pensar, refle-tir, trocar ideias e conhecimento com os outros. É o começo.

Saiba MaisA Intercom – Sociedade Brasi-

leira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – é uma institui-ção sem fins lucrativos, destinada ao fomento e à troca de conhe-cimento entre pesquisadores e profissionais atuantes no merca-do. A entidade estimula o desen-volvimento de produção científica não apenas entre mestres e dou-tores, como também entre alunos e recém-graduados em comuni-cação, oferecendo prêmios como forma de reconhecimento aos que se destacam nos eventos promovidos pela entidade.

Fundada no dia 12 de de-zembro de 1977 em São Paulo, a Intercom preocupa-se com o compartilhamento de pesquisas e informações de forma interdis-ciplinar. Além de encontros peri-ódicos e simpósios, a instituição promove um Congresso Nacional – evento de maior prestígio na área de pesquisa em Comunica-ção, que recebe média de 3.500 pessoas anualmente, entre pes-quisadores e estudantes do Brasil e do exterior. O evento, sediado em cidade escolhida pelos sócios no ano anterior, é precedido de cinco Congressos Regionais.

A instituição ainda é respon-sável pelo lançamento de livros e revistas especializados em Co-municação, além da busca por parcerias com entidades de mes-mo objetivo, institutos e órgãos de incentivo à pesquisa brasileiros e estrangeiros. Esse intercâmbio é um incentivo à formação científi-ca, tecnológica, cultural e artísti-ca, além de uma forma de capa-citar professores, estudantes e profissionais da Comunicação.

Fonte: www.portalintercom.org.br (H.P.)

Márcia Buzalaf: “Se o objetivo é nunca deixar uma pesquisa parada nas bibliotecas em formato

de tese, a oficina foi um bom momento acadêmico”

16 11 de junho de 2011

Livros por armasBalanço divulgado pela Polícia Civil de

Londrina mostra que 65% dos jovens responsáveis por algum tipo de crime na

cidade estão fora da escola

eduCação

A morte violenta da empre-sária Isabella Prata Ti-bery Garcia Lopes, filha

do primeiro reitor da UEL, alas-trou o pânico em Londrina. Há um mês, Isabella foi vítima de um assalto em plena luz do dia na região central da cidade. Ela foi baleada na cabeça e morreu alguns dias depois. Dos três ra-pazes responsáveis pelo crime, dois eram adolescentes, um de 14 e outro de 17 anos.

De acordo com o delegado--chefe da 10ª Subdivisão da Polícia Civil de Londrina, Már-cio Amaro, esses jovens não frequentavam a escola. Segun-do ele, quase 40% dos crimes são cometidos por adolescen-tes e 65% desses jovens não possuem sequer o ensino fun-damental.

Para o delegado, esses da-dos mostram que o problema da criminalidade está direta-mente relacionado à educa-ção. “Se a educação fosse de qualidade e os jovens não dei-xassem de estudar, o número

de crimes cometidos por ado-lescentes com certeza seria menor”, explica Amaro.

NúmerosO número de crianças e

adolescentes fora das salas de aula no município de Lon-drina é considerado elevado. De acordo com dados do Con-selho Tutelar, só neste ano, foram encaminhados à insti-tuição 267 casos de evasão escolar, sendo 63 referentes às re-giões leste, oeste e central, 37 vin-culados à região sul e 167 casos na região norte da cidade.

O Núcleo Re-gional de Educa-ção desconhece esses dados atu-alizados da eva-são escolar do município, tendo apenas os núme-ros referentes ao ano de 2009. E é com base neles que a chefe da

instituição, Lucia Cortez, admi-te que os alunos mais velhos desistem de estudar com mais facilidade ora porque não con-seguem conciliar o trabalho e a escola ora por que optam pelo caminho do crime.

Lucia acrescenta que os nú-meros da evasão escolar em Londrina já foram bem maio-res. Agora, alguns alunos pro-curam continuar os estudos por conta das exigências do

CINTHIA MILANEZ

Quase 40% dos crimes são cometidos por adolescentes e 65% desses jovens não possuem sequer o ensino fundamental

Goo

gle

Imag

ens

1711 de junho de 2011

mercado de trabalho. “Esse número vem diminuindo, até porque o mercado de trabalho exige que esse aluno estude”, explica a chefe do Núcleo Re-gional de Educação.

ControlePara a Secretária Municipal

de Educação, Karin Sabec Via-na, os alunos têm um determi-nado limite de faltas e quando ele é ultrapassado, a diretoria deve comunicar imediatamen-te a Secretaria de Educação e o Conselho Tutelar. Este locali-za os alunos ausentes e procu-ra trazê-los novamente ao am-biente escolar. “Muitos alunos vão embora para os municípios vizinhos e o Conselho Tutelar é o único órgão que conse-

gue localizá-los com precisão”, conclui a Secretária.

O Ministério Público também assume um i m p o r t a n -te papel no controle dos n ú m e r o s da evasão escolar em L o n d r i n a . No começo do ano, a p r o m o t o r a s u b s t i t u t a da Vara de Infância e Juventude, Sônia Regina Melo, se reuniu com representantes do Conselho Tutelar para defi-nir estratégias que amenizem esses índices na cidade.

Até setembro do ano pas-sado, o Conselho Tutelar contabilizou mais de 600 fi-

chas de alunos ausentes na es-cola. O número é alarmante, mas até agora nenhu-ma providência foi tomada. Se ainda depois da interferência do Conselho Tute-lar, a criança ou o adolescente não voltar a freqüen-

tar as aulas, a Promotoria da Infância e da Juventude pre-cisa ser comunicada para to-mar providências mais drás-ticas.

“Só neste ano, foram

encaminhados ao Conselho Tutelar de Londrina 267 casos de evasão

escolar”

Ilust

raçã

o de

Mar

cos

Phi

lipe

Wed

nesd

ay

Carlos e a irmã Daniele, grávida de seis meses. Estão na rua há 15 anos, em-bora ele não saiba ao certo a sua data de nascimento, apenas que tem 25 anos e que ela é um ano mais ve-lha. Ambos vivem da ajuda da assistência so-cial, de pequenos servi-ços e também do tráfico – é “aviãozinho”, leva a droga, em especial o crack, até o usuário. Cresceram pedin-do esmola “quando o dinheiro da ven-da de mel, que era feito pelo padrasto, não dava”. Os parentes moram perto, alguns a poucas quadras de distân-cia, mas, por motivo de briga familiar, os primos, avós e tios não os ajudam. Vieram embora de Cambé para Londri-na quando pequenos, mas sonham em viajar, diz Carlos. “Em Maringá, soube

que tem um abrigo com trabalho. Quan-do o filho da Dani nascer, vamos pra lá e não voltamos mais pra cá, não.”

A quilôme-tros dali, na Rua Guilherme de Almeida, sob um teto comerciário, uma senhora de nome Vil-ma alimenta e

higieniza, todo dia, o senhor Lorival, de 76 anos. A primeira vista, impressiona a perna esquerda, toda enfaixada, da qual corre, quase em fluxo contínuo, um líquido misturado com água, sangue e pus que deixa marcas negras no chão. Em um acidente de trabalho - Lorival já trabalhou fazendo letreiros após formar--se pelo Instituto Universal Brasileiro -, um caibro rasgou a sua perna. A falta de

18 11 de junho de 2011

Em meio a lixo, entulho e miséria, moradores de rua convivem diariamente com o abandono

Entre mocós e vielas

WILLIAN CASAGRANDE

Olocal é o “mocó” das castanhei-ras – edificação precária em que normalmente vivem morado-

res de rua –, situado na rua de mesmo nome. Logo da entrada, a visão do lixo e de entulho espalhados no que seriam os cômodos da “casa” enche os olhos e as narinas. No canto, além de uma cerca, segundo um auxiliar educativo de abor-dagem a moradores de rua, armações queimadas revelam os restos de alguns móveis que a polícia queimou para afu-gentar quem ainda ocupa aquele es-paço. As paredes imundas escondem, ao fundo, uma montanha de lixo e um pequeno espaço, uma “casinha” de gás, que serve de banheiro aos moradores.

Num quarto, isolado do resto da casa por uma coberta xadrez, vivem

Segundo o Creas, há 200 pessoas em situação de rua em

Londrina

Cidades

Stock.Hu

19

tratamento deixou o local propício para a proliferação de vermes e bactérias. A sua “canhota”, no entanto, já foi motivo de glórias que explicam o porquê da re-sistência do ex-atleta em amputá-la. “Fui meia-esquerda do Grêmio Esportivo de Maringá, campeão duas vezes da Taça Paraná. Eu batia faltas como ninguém. Se você perguntar, em Maringá, quem é o ‘Rei da Taça Paraná’, todo mundo vai saber”, comenta, saudosista. O gra-ve acidente rendeu a Lorival um esta-do depressivo, que foi acentuado após a morte da mãe. O consumo de álcool subsequente cresceu vertiginosamente. Os parentes conhecidos - uma irmã e o pai, este já bem idoso - não aceitam, as-sim como o próprio Lorival, a volta dele para casa devido aos problemas com o álcool e ao gênio forte. E Lorival não quer deixar a rua porque, segundo ele, sabe viver nela. “Sabendo viver (na rua), é melhor do que em uma residência. Não gosto de abrigos e nem de hospital, moro há 30 anos na rua e ficarei aqui.”

Esses personagens representam uma parcela felizmente minoritária da população brasileira, mas que clama por atenção. Em Londrina, segundo o Centro de Referência Especializado de Assistência Social I (CREAS I), órgão estatal especializado na abordagem de moradores de rua, há 200 moradores em situação de rua, embora a maioria tenha um lar, mas, por diversos motivos, não more nele. Em esquinas, becos e “mocós”, eles sobrevivem em condições desumanas e longe das benesses pro-porcionadas pelo capitalismo moderno. A ajuda proveniente do poder público no mais das vezes não é suficiente ou não consegue competir com a renda propor-cionada pelo tráfico ou com o vício das drogas pesadas.

A dura ressocializaçãoLucinéia Maria Ribeiro, psicóloga

e coordenadora do CREAS I, garante que há cobertura aos necessitados, mas as dificuldades são muitas. “O trá-fico e o uso de drogas, além das esmo-las, são problemas marcantes, porque criam dependência no morador de rua. Enquanto tem o dinheiro fácil da esmo-la e a droga para prendê-lo à rua, nada vai forçá-lo a sair de lá”. A principal cau-

sa de abandono da família ou de isola-mento do próprio indivíduo, segundo a psicóloga, é por conta das drogas. Ela afirma que quase 100% dos problemas que temos no CREAS se dão por envol-vimento com drogas. “Levar o paciente ao abrigo não é o bastante, porque, se a dependência existir, ele vai querer sair para usar drogar-se novamente.”

Problemas difíceis de contornar, como a não-aceitação da comunida-de aos moradores, também inspiram preocupações. Até a sede do CREAS I, localizada em uma área residencial, já recebeu várias notificações para ser transferida devido à presença dos mo-radores de rua no local. A confusão com a real função do Centro também é notá-vel. “Recebemos chamadas de pessoas pedindo para retirar moradores da fren-te de prédios comerciais, como se eles fossem entulho”, explica.

A vergonha da ressocialização e o sentimento de derrota e de incapaci-dade prejudicam seriamente os mora-dores de rua. Lucinéia afirma que eles são muito dependentes de ajuda exter-na por conta do processo de descren-ça pelo qual passaram durante muitos anos. O papel da assistência, salien-ta, deve ser justamente reverter esse quadro. “Não há vergonha que possa barrar a volta a uma vida digna. Nada justifica estar na rua.”

Desde os 10 na rua, embora não saiba ao certo sua data de nascença

“Mocós”, construções em péssimo estado, são as casas de muitos moradores de rua

Will

ian

Cas

sagr

ande

11 de junho de 2011

Foto

s: W

illia

n C

assa

gran

de

Geral

20 11 de junho de 2011

A mercê da própria sorteA violência contra crianças e adolescentes é um problema presente

na sociedade, mas suas causas ainda não são combatidas

YURI BOBECK

Exploração sexual, trabalho forçado, maus tratos, abandono e outras formas de violência contra crian-ças e adolescentes estão presentes na sociedade.

Talvez justamente por ser mais vulnerável, esta faixa da po-pulação é mais suscetível a diversos tipos de violência.

Quando se fala no abuso de crianças, logo vem à cabeça o que se passa na região Nordeste do país, onde o turismo sexual é rota para pedófilos de várias partes do mundo há décadas. Porém, poucos sabem que esta triste realidade está mais perto do que se imagina, visto que o Paraná é hoje o quinto estado com maior número de casos de violência contra os mais jovens, e a região de Paranaguá concentra um dos maiores índices de abuso sexual infanto-juvenil do país.

Numa iniciativa de buscar soluções para que se reverta

o quadro atual, o governo do Paraná pretende implantar nas principais cidades do estado, a exemplo do que já ocorre em Curitiba, o Plano de Enfrentamento às Violências contra Crianças e Adolescentes, que tem como principais objetivos, a criação de redes de proteção e também ações de preven-ção contra a violência infantil.

No final do mês de maio, este plano foi lançado em Londrina pela secretária de estado da Família e do Desenvol-vimento Social, Fernanda Richa, que explicou de que forma o conjunto de medidas e ações visa diminuir os números da vio-lência contra a camada mais jovem da população no estado.

“É um plano que trabalhará ações de prevenção, assistên-cia e resgate junto às famílias, para que se tenha uma força e uma corrente de mudança. Serão formadas redes de apoio, onde cada município terá atuação própria, com os Conselhos Tutelares, as escolas e todas as entidades envolvidas com

Get

tyIm

ages

Abuso sexual e violências física e psicológica estão entre as mais cometidas

com crianças e adolescentes

2111 de junho de 2011

a educação. Esperamos que com a união de esforços, o atual panorama possa ser mudado”, afirmou a secretária, que também é presidente do Provopar Estadual.

Em Londrina, a realidade não é diferente com relação ao restante do estado. O Conselho Tutelar, em conjunto com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, trabalha de forma a receber as denúncias e encaminhar aos órgãos de assistência como o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Cre-as). Silmeri Rossi, presidente do Conselho Tutelar e do Conselho Municipal destaca que as entidades trabalham de uma forma diferenciada para atender a tantos casos de violência. Ela explica que o Conselho Municipal exer-ce a função fiscalizadora, além de checar todas as de-núncias encaminhadas ao Conselho Tutelar, que por sua vez tem a função de zelar pelas garantias de crianças e adolescentes. Silmeri também destaca as ações do Con-selho Tutelar em erradicar o trabalho infantil no municí-pio, através do cumprimento da Lei do Aprendiz, número 10.097/00, que garante ao adolescente um emprego, em horários especiais e cargos diferenciados, e com registro na carteira de trabalho.

Após a comprovação da denúncia sobre algum tipo de violência praticado contra uma criança ou adolescente, a vítima é encaminhada ao Creas, que viabiliza um acom-panhamento psicológico e social até que o jovem se sinta recuperado do trauma.

De acordo com Alessandra Santos Silva, psicóloga e coordenadora do Creas, desde a implantação do cen-tro, em 2002, mais de 2.800 crianças e adolescentes já passaram pelo local. Atualmente na unidade de Londri-na, 1.169 jovens estão em atendimento. Deste total, há a predominância de casos de abuso e exploração sexual, totalizando 687 casos. A seguir aparece a violência físi-ca, com 259 casos, e em terceiro lugar nos atendimentos prestados pelo Centro de Referência, está a violência psi-cológica, com 134 ocorrências. A coordenadora também traçou um perfil das vítimas, como a faixa etária em que os principais casos de violência são cometidos, sendo que no abuso sexual, a média está entre os sete e 11 anos, e atinge em maior número as meninas, enquanto que nas violências física e psicológica, com mais incidên-cias entre 12 e 18 anos, os rapazes estão entre as prin-cipais vítimas.

Ainda segundo Alessandra, as vítimas que são enca-minhadas ao Creas passam por um tratamento psicosso-cial, e são atendidas por psicólogos, assistentes e educa-dores sociais. O tempo médio que um jovem permanece em acompanhamento varia entre seis meses a um ano e meio, mas que variam em cada caso. A psicóloga também informa que hoje as entidades de assistência social pro-curam afastar o agressor da vítima, para que o jovem não seja recolocado em abrigos e longe do contato familiar, mas salvo em casos extremos, em que o centro busca por parentes próximos, como avós ou tios para abrigarem a criança vítima de violência.

Além de autoridades municipais e estaduais, a repor-tagem da Supernova entrevistou o advogado Renato Roseno de Oliveira, especialista em direitos humanos

da criança e do adolescente. Para o advogado, além da

denúncia, deve-se combater a violência como um todo para que se reduzam os abusos infantis. “Nos últimos 20 anos, tivemos uma mobilização muito grande no combate à violência infantil, em especial ao abuso sexual, o que deu mais visibilidade e es-timulou um maior número de denúncias, porém não houve um aumento nas redes de proteção que suportasse a demanda de casos. O que se precisa é ampliar estas formas de atendimento as vítimas, mas o grande desafio é esclarecer a sociedade para que ela não viva apenas em torno da denúncia, mas que redu-za a produção da violência a que os jovens são vítimas. Como podemos evitar que um adulto abuse sexualmente de uma crian-ça? Essa é a pergunta que nos devemos fazer. Então, a cha-ve para que se possam resolver estes problemas passa pela estimulação de relações sociais que não sejam tão produtoras em violências contra crianças e adolescentes.” Ainda segundo o advogado, houve uma demora muito grande em reconhecer a criança como relevo social, o que levou a um reconhecimento tardio da violência contra a criança e o adolescente.

Apenas para comparação, o Brasil ocupa hoje o quarto lugar no ranking mundial da violência em todos os tipos, à frente apenas da Colômbia, Rússia e Venezuela, sendo mais vio-

lento do que países como o Iraque.

Renato Roseno também fala sobre a produção de violência pela sociedade

GettyIm

ages

22 11 de junho de 2011

Começa dia 10 de junho o Filo 2011, o festival do gênero mais antigo da

América do Sul completando seus 43 anos

Filo comemora seus 43 anos em 2011

FAGNER BRUNO

CulturaFo

tos:

Div

ulga

ção

Durante o Festival Interna-cional de Londrina, Filo, que tem início dia 10 de

junho em Londrina quase 100 apresentações serão realizadas, destas 12 são espetáculos inter-nacionais e 35 nacionais e regio-nais.

O Filo completa, este ano, 43 anos e é o festival mais antigo

do gênero na América Latina. Nasceu em 1968 como mostra de grupos universitários. Perpas-sando por suas quatro décadas de existência, o festival catego-rizou-se como local, regional, nacional. No ano de 1988, foi realizada pelo festival a Mostra Latino-Americana de Teatro, a qual colocou o Filo no âmbito in-ternacional. Foi esta a primeira

do país. E demonstrou inquietu-de por parte dos grupos de tea-tro participantes, sedentos pelas críticas sociais após término da Ditadura de 64.

Festival 2011A abertura deste ano, como

por tradição, será realizada no Teatro Ouro Verde, na qual a Companhia de Ballet de Londrina

‘TROUBLES’ peça da companhia belga, Cie Gare Centrale.

2311 de junho de 2011

Para este ano, o festival apre-senta 12 companhias interna-cionais, sendo elas da Argen-tina, Chile, Uruguai, Suíça, China, Itália, Bélgica, França, Portugal, Espanha, Alemanha e da Finlândia.Confira os espetáculos:Os espetáculos latino-ameri-canos serão "AMAR", de Ale-jandro Catalán (Argentina), "Cuestión de Principios", dos uruguaios do Montevideo Teatro e "Chef" da A Cia. Viaje Inmóvil, do Chile. Das companhias internacio-nais predomina a presença européia. "PERSONA Ingmar Bergman", é peça apresen-tada pelo Teatro Turim (Portu-gal); "Il Calapranzi" é do Cant-ieri Teatrali di Koreja, da Itália; "Keskusteluja" é um espetácu-lo da companhia WHS / Ville

Walo & Kalle Hakkarainen, da Finlândia. Da França, a Com-pagnie Sens Dessus-Dessous mostra "Petites Pièces" e "Out Of Lines...". A Familie Flöz, da Alemanha, apresenta "Teatro Delusio". A peça "Troubles" é encenada pela Compagnie Gare Cen-trale (Bélgica). Em versão para bonecos do clássico de Miguel de Cervantes, "Quijote" é a montagem da Bambalina Teatro. "Les Trois Vieilles" é outra produção espanhola que ganha versão de bone-cos, com a Compagnie Point Zéro (Bélgica). China e Suíça apresentam "Hand Stories", com o mestre das marionetes Yeung Faï e o Théâtre Vidy-Lausanne. Informações sobre todas as at-rações no sítio filo.art.br (F.B.)

Programação internacional do filo 2011

estreará seu espetáculo nacional “A Sagração da Primavera”. Além de Londrina, o festival abrangerá cidades da região com espetácu-los em teatros, praças, parques e no campus da UEL.

Segundo Luiz Bertipaglia, coodenador do evento, uma das novidades para 2011 é a com-panhia finlandesa WHS / Ville Walo & Kalle Hakkarainen. “É a primeira vez que uma companhia deste país se apresenta no Filo”, revela. Os finlandeses criaram um espetáculo de dança, teatro, vídeo, marionetes, malabarismo e ilusionismo.

Outra novidade é a promoção para a venda dos ingressos. O início das vendas promocionais é dia 4 de junho, com o preço a 15 reais (inteira) e 7,50 reais (meia entrada) até 10 de junho. Após termino da promoção, os preços passam para 20 reais (inteira) e 10 reais (meia entrada). A bilhe-teria fica no piso térreo do Shop-ping Royal Plaza.

A expectativa de público para o festival, de acordo com Berti-paglia, é de 80 a 90 mil pesso-as, que foi a média de público da edição anterior. Segundo o coor-denador, o evento deste ano está com o mesmo porte que os ante-riores, tendo atrações para todos os tipos de públicos.

“O Filo é reconhecido em todo o Brasil e até no exterior. A pro-gramação intensa é motivo de orgulho para o londrinense. O festival tem que crescer e se ino-var a cada ano, e essa é a nossa proposta”, conclui Bertipaglia.

Atividades complementares como oficinas, palestras e encon-tros com participantes do festival estão com inscrições abertas.

Informações: www.filo.art.br ou (43) 3344-3386.

Cena da peça "Keskusteluja" da companhia WHS / Ville Walo & Kalle Hakkarainen, da Finlândia que envolve dança, teatro, vídeo, marionetes, malabarismo e ilusionismo