Revista3_t - Comunidade e Mobilidade

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Lditorial|l&Comunicao Culturan. 3 | primavera-vero 072|Carla Ganito Lditorial|3TtuloComuniCao & CulturaDirectoraisabel Capeloa GilEditorJos alfaroConselho ConsultivoGabriele Brandstetter (Freie universitt Berlin), Elisabeth Bronfen (universitt Zrich), marcial mur-ciano(universitatautnomadeBarcelona),ChristianeSchnfeld(HustonSchoolofFilm,national university of ireland), michael Schudson (Journalism School, Columbia university, university of Cali-fornia, San Diego), michel Walrave (universiteit antwerpen) Conselho Editorialanbal alves, Carlos Capucho, Estrela Serrano, Fernando ilharco, Gustavo Cardoso, Horcio arajo, isabel Ferin, Jos augusto mouro, Jos miguel Sardica, Jos Paquete de oliveira, manuel Pinto, maria augusta Babo, maria lusa leal de Faria, mrio Jorge torres, roberto Carneiro, rogrio Santos Conselho de RedacoCarla Ganito, Catarina Duff Burnay, Ftima Patrcia Dias, maria alexandra lopes, nelson ribeiro, rita Figueiras, Vernica PolicarpoArbitragemanbal alves, Fernando ilharco, Horcio arajo, isabel Ferin, Jos miguel Sardica, manuel Pinto, maria augusta Babo, maria lusa leal de Faria, mrio Jorge torres, roberto Carneiro, rogrio SantosEdioComumaperiodicidadesemestral,Comunicao&CulturaumarevistadaFaculdadedeCincias Humanas da uCP, editada pela editora QuimeraArtigos e recenses arevistaComunicao&Culturaaceitapropostasdeartigosparapublicaoqueseenquadremna readasCinciasdaComunicaoedaCultura.todososelementosrelativosaessascolaboraes normas de apresentao de artigos, temas dos prximos nmeros, princpios gerais de candidaturas, contactos e datas devem ser consultados no final desta publicaoAssinatura anualCusto para Portugal e Espanha: 20 euros. Para outros pases, contactar a editora. os pedidos de assinatura devem ser dirigidos editora Quimera: [email protected] | www.quimera-editores.com | r. do Vale Formoso, 37, 1959-006 lisboa | telefone: 21 845 59 50 | fax: 21 845 59 51RevisoConceio CandeiasImpressorolo & Filhos ii, SaDepsito legal: 258549/07iSSn: 1646-4877Solicita-se permuta. Exchange wanted. on prie lchange. Quimera&Comunicao Culturan. 3 | primavera-vero 07UniversidadeCatlicaPortuguesaFACULDADEde cincias humanascomunidademobilidade4|Carla Ganito Lditorial|5ndiceEditorialComunidade e mobilidade ............................................................................................... 11carla ganitodossier .................................................................................................................................. 17Portugal mvel .............................................................................................................. 19gustavo cardoso, maria do carmo gomes, rita espanha, vera arajoHoje em dia, os telemveis tornaram-se parte integrante do nosso quotidiano, funcionando como telefone, agenda, lista de contactos, arquivo de fcheiros, walkman, rdio, despertador, consola de jogos, calculadora e relgio, sendo, por isso, inegvel o seu impacto na sociedade actual. o telemvel deixou de ser apenas um dispositivo que permite comunicar, para se tornar uma ferra-menta da interaco social. Em poucos anos, passou de mero instrumento de trabalho a equipamento de massas, utilizado no s para comunicar, como tambm para estruturar as relaes sociais e o quotidiano. o presente artigo analisa as alteraes sociais provocadas pela possibilidade da comunicao a qualquer momento e em qualquer local no contexto portugus, levantando pistasdeanlisemaisabrangentes,quevisamperceberastransformaes sociais decorrentes da mobilidade.Palavras-chave: mobilidade, Sociedade em rede, telemvel6|Carla Ganito Lditorial|7as mulheres e os telemveis: uma relao por explorar ...................................... 41carla ganitoneste artigo, pretende-se, a partir de uma reviso da literatura, apresentar umaanlise,sobumaperspectivafuncionalistaeassentenosconceitos- -chavedemcluhan,dosusosegratifcaesdotelemvelcondicio-nadospelognero.Estatemsidoumavarivelsubestimadapelosinves-tigadores e pela indstria, na sua oferta de produtos e servios, e que, no entanto, pode ajudar a identifcar a futura evoluo deste media. o artigo pretende evidenciar o esquecimento de que as mulheres tm sido objecto, enquantopblico-alvoeutilizadorasdascomunicaesmveis.Procura- -se igualmente identifcar as diferenas de apropriao entre homens e mu-lheres.Palavras-chave: Comunicaes mveis, Gnero, mcluhan, telemvelWhere are you? a Heideggerian analysis of the mobile phone .......................... 59fernando ilharcoEste paper investiga os contornos essenciais do fenmeno sobre o qual as-sentamosactuaisdesenvolvimentosnacomunicaomvel:otelemvel. assim, pretende-se responder pergunta: o que , enquanto tal, um telem-vel?opaperapresentaumadescriofenomenolgicadotelemvel,con-textualizadapordoisdostrabalhosde martinHeidegger(1889-1976),ten-tando apontar o modo como no-mundo o telemvel o que . assentando a anlise na ontologia de Heidegger apresentada em Ser e Tempo (Heidegger 1962[1927]),propomos,nesteartigo,queotelemvelssenosmostrar tal qual ele desde que acedido no-mundo onde os telemveis j so o que so. Esta anlise complementada por uma explorao de uma outra noo Heideggeriana, a de Ge-stell (Heidegger 1977) como essncia da tecnologia moderna, visando desta forma obter uma melhor compreenso do envolvi-mento humano com os telemveis. neste contexto ontolgico, a nossa inves-tigao aponta as noes de ser-com, de juntar e de timing como contornos essenciaisdotelemvel.Estasideias,porsuavez,sugeremasnoesmais fundas de momento e de descorporizao como essenciais no fenmeno do telemvel.Palavras-chave: Comunicao, Fenomenologia, Heidegger, ontologia, tecnologia de informao, telemvelo impacto do telemvel na sociedade contempornea:panorama de investigao em Cincias Sociais ..................................................... 77patrcia diasa utilizao generalizada e frequente do telemvel na sociedade contempo-rnea e as mudanas sociais a ela associadas tornam o modo de apropriao destatecnologiaumobjectodeestudorelevante.Esteartigoofereceuma reviso da literatura actualizada sobre a investigao deste tema em Cincias Sociais, que, apesar de recente, j vasta, de mbito internacional e est em constantedesenvolvimento.asinvestigaesincidemsobreoitotemas:(i) prticas de utilizao e factores de variao; (ii) conectividade social; (iii) co-ordenao; (iv) atenuamento de fronteiras e negociao de regras sociais; (v) dimenso simblica; (vi) estmulo aos sentidos e personalizao; (vii) emo-o; e (viii) dependncia.Palavras-chave:Conectividade,Coordenao,Sociedade,tecnologia,telemvel, utilizao Fractura digital e literacia:reequacionar as questes do acesso ......................................................................... 97jos afonso furtadoos modos de pensar e agir sobre a produo e transmisso da informao e do saber, historicamente ligados ao mundo do impresso, alteram-se com a informao a ser gerada e a circular cada vez mais em canais electrnicos, complexifcando as relaes entre processos de desenvolvimento tecnol-gicoeprticaseinstituiessociaiseculturais.Dasmesmastecnologias deinformaoeComunicao(tiC)quepotenciamodesenvolvimento emergemnovasdesigualdades,pordifculdadesvriasnainteracocom astecnologiase,assim,noacessoacontedoseserviosdeinformao. Designadas como fractura digital, tais desigualdades so em geral vistas de forma redutora, mais focada nas infra-estruturas, nos equipamentos ou nalarguradebanda,doquenasmotivaes,nasnovascompetnciasou nosdiferentespadressociaisdeusodoacesso.Estessoaspectoscru-ciaisqueconfrontamaliteraciatradicionalcomnovasemaiscomplexas questes.Palavras-chave: acesso informao, Fractura digital, literacia, tecnologias digitais outros artigos ................................................................................................................... 113o modelo americano de jornalismo: excepo ou exemplo? ............................................................................................... 115michael schudsonoartigodiscuteosgrandesideaisdojornalismoamericano,articulando- -os na dependncia de formantes socioculturais particulares realidade dos Eua.traaasuaevoluodesdeaproximidadeindiferenciadacomopo-der poltico, ao afastamento radical, chegando ao modelo actual, que se pauta porumaarticulaocvica.Conclui-sequeomodeloamericanonopode 8|Carla Ganito Lditorial|9ser implantado em nenhum outro sistema. Surgiu de uma histria nica e foi moldado por uma relao com instituies polticas distintas e uma cultura poltica nica, podendo, contudo, servir como inspirao democrtica ideal. Palavras-chave:Excepcionalismo, Histria dos media, Jornalismo americanoSobre a Economia da Cultura .................................................................................. 131emlio rui vilaraexpressoeconomiadaculturarevelaumanoofuncionaldacultura associada a determinadas actividades econmicas relacionadas com a criati-vidade e os seus respectivos produtos. as indstrias culturais podem defnir- -se como as actividades que permitem produzir, distribuir e colocar no mer-cado bens e servios culturais. nos ltimos anos, assistiu-se democratiza-o e industrializao da cultura, questionando-se, no entanto, se isto sig-nifca uma melhoria da qualidade de vida ou, pelo contrrio, a diminuio do nvel qualitativo das manifestaes culturais. a questo do papel da cultura e das polticas culturais levanta a questo da sustentabilidade dos mercados debensculturais.DeacordocomateoriaclssicadeBaumoleBowen,o crescimento da produtividade permanece limitado, ou quase impossvel, na produodeespectculos(v.g.pera,teatro).assimsecolocaaquestodo papel do Estado, que, para alm da responsabilidade que lhe cabe na defesa do patrimnio, surge como indispensvel na sustentao de determinado tipo de espectculos ou de indstrias (v.g. cinema) sem dimenso competitiva.Palavras-chave:Criatividade, Cultura, Economia da cultura, indstrias culturaisDescobrir o tesouro ................................................................................................... 145roberto carneiroPortugal padece h, pelo menos, 150 anos de um dfce estrutural em mat-ria de educao e de qualifcaes. Esse desequilbrio face aos demais parcei-ros europeus resulta de um desinvestimento sistemtico no capital humano dosportuguesesverifcadoathcercade30anos.oartigocomeapor evidenciaraimportnciaestratgicadaopodeinvestirduradouramente nasuperaodesteatrasoenareversodesteciclolongodeatvicades-qualifcao da maioria da populao, evidenciando como noutros pases foi possvel realizar a revoluo educativa. Defende-se, de seguida, a evoluo para um novo paradigma de educao como servio de proximidade e oabandonodeummodelofabrilindustrialdeformao.ainiciativa novasoportunidadesrepresentatambmumagrandeoportunidadepara reorganizar a oferta inclusiva de educao-formao segundo padres mais fexveiseprximosdasverdadeirasnecessidadesdaprocura.Porltimo, elabora-se sobre a misso da educao naquilo que ela encerra de redesco-berta doimenso tesouro que habita o interior de Portugal e a alma de cada portugus. a fnal, a educao visa tornar as pessoas mais felizes e ajud-las a descobrir o tesouro que reside na profundidade do sentido da vida.Palavras-chave: Capital humano, Educao, Educao portuguesa, incluso, Forma-o, novas oportunidades, Qualifcao, Sentido da vidaas sondagens pr-eleitorais nas autrquicas de 2005 ........................................ 157pedro magalhes, diogo moreiraEste artigo tem dois objectivos principais. o primeiro fornecer um panora-ma descritivo das sondagens pr-eleitorais realizadas nas eleies autrquicas de 2005, analisando as suas caractersticas tcnicas e a forma como os seus resultados foram divulgados pelos meios de comunicao social. o segundo analisar o grau de preciso dessas sondagens, confrontando as estimativas apresentadas com o que vieram a ser os resultados eleitorais e testando algu-mas hipteses acerca dos factores que podem infuenciar essa preciso. Palavras-chave:Comunicaosocial,Eleiesautrquicas,Portugal,Sondagens pr-eleitoraisa Emissora nacional: das emisses experimentais ofcializao (1933-1936) ....................................................................................... 175nelson ribeiroEm Portugal, o nascimento da radiodifuso ofcial surge na dcada de 1930, aps um perodo marcado por um monoplio de iniciativas privadas. Coin-cidindonotempocomafasedeafrmaodoEstadonovo,osprimeiros anosdaEmissoranacionalfcariammarcadosporquestestcnicasepor uma intensa luta pelo controlo da estao. no decorrer do perodo experi-mental so desde logo visveis as vrias tendncias que, no interior do regi-me, procuram defnir o papel que a radiodifuso ofcial deve assumir como meio de divulgao do iderio do Estado novo. So essas tendncias que o presente artigo procura apresentar, fornecendo tambm alguns dados sobre o tipo de contedos emitidos pela Emissora nacional.Palavras-chave: antnio Ferro, Emissora nacional, Estado novo, Fernando Homem Christo, Henrique Galvo, Programao, radiodifuso entrevista........................................................................................................................... 201marcas portuguesas uma questo de identidade diferenciada? entrevista a teresa Carvalho ................................................................................. 203rita curvelo l0|Carla Ganito Lditorial|llEditorialComunidade e mobilidadecarla ganitoo contedo o utilizador. mcluhan, 1964as redes, coleces de entidades coordenadas, esto por todo o lado: na biolo-gia, na economia, na organizao social, nas tecnologias de informao. a anlise de redes sociais, denominada teoria das redes, tem-se afrmado como uma tcnica- -chave em vrias reas de saber. a criao de redes sociais uma caracterstica da nossa espcie. Somos cria-turassociais.Evolumosparasermosexcelentesconstrutoresderedes.Podemos at dizer que foram estas que garantiram a nossa sobrevivncia. usamos todos os meios possveis para estarmos juntos, comunicar e construir comunidades. as tecnologias de informao no vieram seno permitir a gesto destas redes distncia. a internet potenciou todo o processo de construo de redes, alargan-do a possibilidade de interaco a grupos que normalmente estariam impedidos de interagirporconstrangimentosdetempo,geogrfcosousimplesmentepeloseu lugar na estrutura social.asnovastecnologiasdecomunicaoderamcorpoaldeiaglobalde mcluhan. a aldeia um ambiente informacional que permite aos receptores tor-narem-se, em qualquer altura, emissores. Qualquer membro da aldeia pode intera-gir com o emissor, colocar questes e ter acesso a toda a informao pblica. Esta possibilidadedeinteraco,dedilogoimediato,perdeu-secomacomunicao escritae,ataosurgimentodosmediaelectrnicos,nenhumoutromediatinha corrigido esta situao (levinson, 2001)._______________* assistente da Faculdade de Cincias Humanas da universidade Catlica Portuguesarecenses ........................................................................................................................... 211Dominique Wolton, Preciso Salvar a Comunicao (nelson ribeiro)alain touraine, Um Novo Paradigma Para compreender o mundo de hoje(Vernica Policarpo)Zygmunt Bauman, Community: Seeking safety in an insecure world (Diana Gonalves)Fernando ilharco, Filosofa da Informao Fernando ilharco, A Questo Tecnolgica(manuel Srgio)Henry Jenkins, Convergence Culture. Where old and new media collideHenry Jenkins, Fans, Bloggers and Gamers. Exploring participatory culture (rogrio Santos)montra de livros ............................................................................................................... 227teses defendidas .............................................................................................................. 233agenda ............................................................................................................................... 237abstracts ............................................................................................................................ 241prximos nmeros .....................................................................................................................249normas para o envio de artigos e recenses ...................................................................253l2|Carla Ganito Lditorial|l3o conceito de aldeia global de mcluhan signifca tambm o fm dos centros e o caminho para o que manuel Castells vir mais tarde a chamar a sociedade em rede. semelhana da aldeia global de mcluhan, a sociedade em rede de Castells tem centros e margens variveis (Castells, 2002). a hierarquia dos espaos j no est subjugada a uma condicionante geogrfca, mas geometria varivel dos fu-xos de informao.manuel Castells toma como ponto de partida a revoluo das tecnologias de informao,emespecialainternet,paraexplicarosurgimentodeumanovaso-ciedade,comnovasformasdeorganizaoeconmicaecultural.Castells(2002) diz-nosqueestenovoparadigmasocialtemcincocaractersticasprincipais:a informao a matria-prima; a capacidade de penetrao dos efeitos nas novas tecnologiasatingetodaaactividadehumana;algicaderedes;afexibilidadee capacidade de reconfgurao; a convergncia de tecnologias especfcas para um sistema altamente integrado. De forma crescente, as pessoas esto a tomar o poder da internet nas suas mos: expressam as suas opinies em blogues, partilham fcheiros de msica e vdeo, editam uma enciclopdia on-line a Wikipdia. os sites que promovem oscrculosdeamigosredessociaison-linecomearamasurgirem2002. Comunidades virtuais como o Friendster, o linkedin, o orkut e o ryze do for-maaumanovaWeb,queDaleDoughertyetimoreillycunharamdeWeb 2.0. Esta veio trazer uma nova dinmica de relao dos utilizadores com a rede. Comoadventodosblogues,daswikis,dossitesdepartilhadeudioevdeo como o Youtube, terminam as barreiras que inibiam a fcil criao e partilha de contedos. Paralelamente, h uma tendncia social de mobilidade: viajamos mais, j no vivemos ou trabalhamos uma vida inteira no mesmo local, as foras de trabalho e de vendas esto a tornar-se mveis e temos tecnologia para suportar a realizao de actividades econmicas em contexto de mobilidade. a mesma tendncia afecta o capital e os contedos, que, sendo digitais, so movimentados atravs das redes globais.astecnologiasmveispodemserusadasnosparamobilizaronosso espao social, mas tambm pessoas e recursos (Green et al., 2001). a procura da computao ubqua tem conduzido miniaturizao, perso-nalizao e democratizao das tecnologias, que convergem para um novo am-biente de computao que lyytinen e Yoo (2002) designam como ambiente infor-macional nmada. Hoje, assistimos mobilizao da interaco social, de dados, de contedos e de um vasto conjunto de comunicaes mediadas e suportadas por computadores e que incluem a internet, o telefone, a rdio, o vdeo, etc.as tecnologias mveis no so um fenmeno recente. os jornais, as revistas, o rdio e outros media j eram mveis. no entanto, o que novo a possibilidade de,atravsdotelemvel,sechegardirectamenteaumapessoaenoaumlocal (Feldmann, 2005).otelemvelsatisfazumanecessidadehumanatovelhacomoaprpriaes-pcie a de falarmos enquanto nos deslocamos. Esta at uma necessidade que defne a espcie humana somos o nico mamfero bpede que libertou as mos para usar ferramentas (levinson, 2003).os telemveis contribuem assim para o fenmeno da globalizao e da cons-truo de uma sociedade em rede, aproximando pessoas e empresas. o telemvel o complemento perfeito da actual confgurao social de regresso aos primrdios do nomadismo. Durante o sculo passado, com o movimento de globalizao, as pessoas tornaram-se crescentemente mveis. o telemvel mais no fez do que po-tenciar esta transformao social.tal como outros media, o telemvel tem vindo a provocar profundas altera-es no nosso contexto: novos usos do tempo, novas formas de interaco social e o esbater das barreiras espaciais. Desta forma, o telemvel vem sendo analisado noapenascomoumatecnologia,mastambmcomoumartefactosocial.um artefacto que tem tido um profundo impacto na reconfgurao do sistema comu-nicacional e das prticas quotidianas. o novo modelo de sociabilidade da sociedade em rede caracteriza-se tambm peloindividualismoemrede.osindivduosconstroemassuasredeson-linee of-line com base nos seus interesses, valores, afnidades e projectos. o telemvel vem reforar esta tendncia social. temos assim comunidades personalizadas (Wellman, 2004) e interaces individualizadas pela possibilidade de seleccionar o tempo, o lugar e os companheiros para a interaco. assistimos hoje a uma verdadeira reconstruo das estruturas da sociabilidade, aliceradas em redes centradas no eu, em redes de escolha.Hoje, o telemvel o nosso repositrio de informao pessoal: contactos, ani-versrios,reunies,mensagens.Detalformaquenossentiramosdesligadosda nossa rede social caso perdssemos o telemvel (Castells, 2004). Estes novos consumos e estilos de vida requerem novas e apuradas competn-cias de seleco, processamento e interpretao da informao. a internet e as redes mveis esto a avanar de maneira desigual por todo o planeta, reproduzindo padres antigosdeexclusosocial.ainfoexclusotorna-seassimumadasdimensesmais importantes da excluso social e acaba muitas vezes por ser um dos seus factores de ampliao. os desafos tornaram-se deste modo mais complexos, uma vez que o aces-so, embora sendo um requisito prvio, no constitui j uma soluo em si mesma.l4|Carla Ganito Lditorial|l5Faceaestecontexto,surgeaescolhadeComunidadeemobilidadecomo tema central do terceiro nmero da revista Comunicao & Cultura. Sendo o te-lemvel a ferramenta mais massifcada de construo de redes e de suporte mo-bilidade, a maioria dos artigos do dossier temtico debrua-se sobre este artefacto que faz j parte da vida das sociedades dos cinco continentes. mas o que efecti-vamente o telemvel? no seu artigo, Where are you? a Heideggerian analysis of the mobile phone, Fernando ilharco pretende responder a essa pergunta e ajudar compreenso do nosso envolvimento com esta ferramenta tecnolgica. j vasta a investigao sobre o telemvel em Cincias Sociais, pelo que, no seuartigooimpactodotelemvelnasociedadecontempornea:panoramade investigao em Cincias Sociais, Patrcia Dias apresenta-nos uma reviso da li-teratura, organizada em oito temas relativos apropriao do telemvel. a autora no deixa no entanto de referir as muitas linhas de investigao ainda por explorar, explicando que o artigo pretende ser um ponto de partida para um estudo mais aprofundado da utilizao desta tecnologia. o artigo de abertura, da autoria de Gustavo Cardoso, maria do Carmo Gomes, rita Espanha e Vera arajo, denominado Portugal mvel: utilizao do telemvel e transformao da vida social, explora exactamente um dos temas mais preva-lentesnainvestigaodestarea,enunciadonoartigodePatrciaDiasPrticas de utilizao e factores de variao. o estudo traa um retrato nacional dos usos sociais do telemvel, identifcando as tendncias mais signifcativas em termos da sua utilizao. Portugal , reconhecidamente, um estudo de caso interessante nesta rea. Em-bora seja um mercado pequeno, apresenta uma taxa de penetrao das tecnologias mveis acima da mdia europeia. Esta tendncia para a inovao e para a adopo de novas tecnologias no , alis, indita entre ns; basta pensar no xito de inte-grao e de gesto tecnolgica que a Via Verde ou a rede multibanco representam em Portugal. no contexto das tecnologias mveis, Portugal foi o primeiro pas do mundoaoferecerumprodutodecomunicaomvelpr-pago.1semelhana deoutrosestudosinternacionaissimilares,GustavoCardosopropeaindauma categorizao dos utilizadores nacionais.tambmdeumaperspectivafuncionalista,oartigoasmulhereseostele-mveis: uma relao por explorar foca a varivel gnero e o seu impacto nos dife-rentes usos e apropriaes. Esta uma varivel de anlise que tem sido ignorada ou subestimada, quer pelos investigados, quer pela prpria indstria, mas que pode ajudar a identifcar a futura evoluo deste media. mas no podemos esquecer que toda a mudana gera dissonncia. Como nos diz Guy almes, um dos pioneiros do desenvolvimento da internet, existem trs tiposdemorte:amortecerebral,ocoraodeixardefuncionar,eestarmosdes-ligadosdarede.nalinhadestaproblemtica,JosafonsoFurtadoprope-nos justamente refectir sobre a realidade da excluso e sobre as dimenses do conceito de literacia, no seu artigo Fractura digital e literacia: reequacionar as questes doacesso.Emboranoversandoespecifcamenteaquestodotelemvel,Jos afonso Furtado ajuda-nos a perspectivar as vrias dimenses de excluso, que vo muitoparaalmdaquestodoacessotecnologia.numasociedadeemrede mvelouubqua,emqueseesperaquetodosestejamligadosedisponveisem qualquer lugar e em qualquer momento, qual o futuro daqueles que no podem, no sabem ou no querem estar ligados?nesteterceironmeropublicamosigualmenteumconjuntodeartigosque, no estando directamente enquadrados no tema central, contribuem para o enri-quecimento do debate nas reas das Cincias da Comunicao e da Cultura. Esta seco abre com o artigo de michael Schudson, o modelo americano de jornalis-mo: excepo ou exemplo?, em que o autor defende a excepcionalidade deste mo-delo. Sobre a Economia da Cultura, de Emlio rui Vilar, revela-nos uma dimen-so funcional da cultura. Em Descobrir o tesouro, roberto Carneiro fala-nos do crnicodfceportugusrelativamenteeducaoequalifcaodosrecursos humanos, e da necessidade de um novo paradigma de educao, que nos ajude a descobrir o tesouro que reside na profundidade do sentido da vida. o artigo de PedromagalheseDiogomoreira,assondagenspr-eleitoraisnasautrquicas de 2005, visa descrever estas eleies e analisar a preciso das sondagens. Por fm, no artigo a Emissora nacional: das emisses experimentais ofcializao (1933- -1936, nelson ribeiro apresenta-nos o retrato histrico da Emissora. Este nmero conta ainda com uma entrevista de rita Curvelo a teresa Carva-lho, directora da unidade de Comunicao e marca do iCEP, intitulada marcas portuguesas uma questo de identidade diferenciada?. Esperamos,assim,queadiversidadedosartigosapresentadospermitaabrir novas perspectivas de refexo e de investigao para alm do tema central deste nmero._______________ 1a tmn lanou o carto pr-pago, mimo, a 7 de Setembro de 1995. data o mimo constituiu um importante factor de crescimento do mercado.l6|Carla Ganito Lditorial|l7BiBlioGraFiaCastells, m., Fernndez-ardvol, m., Qiu, J., Sey, a. (2004), Te Mobile Communica-tion Society: A cross-cultural analysis of available evidence on the social uses of wireless communication technology. relatrio preparado para o workshop internacional Polticas e Perspectivas Futuras da Comunicao sem Fios: Uma Perspectiva Global, los angeles: annenberg research network on international Communication.Castells,m.(2002),AEradaInformao:Economia,sociedadeecultura,Vol.1:ASo-ciedade em Rede, lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian [trabalho original em ingls publicado em 2000].Feldmann, V. (2005), Leveraging mobile media: Cross-media strategy and innovation policy for mobile media communication, Heidelberg: Physica-Verlag.Green, n., Harper, r., murtagh, G., Cooper, G. (2001), Confguring the mobile user: Sociological and industry views, Personal and Ubiquitous Computing, londres: Springer- -Verlag, pp. 146-156.levinson,P.(2003),Realspace:Tefateofphysicalpresenceinthedigitalage,onandofplanet, londres: routledge.levinson,P.(2001),DigitalMcLuhan:Aguidetotheinformationmillennium,londres: routledge.lyytinen, K., Yoo, Y. (2002), Te next Wave of nomadic Computing, Information Sys-tem Research, Vol. 13(4), pp. 377-388. Wellman, B. (2004), Te mobile-ized Society Communication modes and social ne-tworks,Receiver#1ConnectingtotheFuture.recuperadoem2005,Janeiro12,de www.receiver.vodafone.com/archive/index.html.dossier|19Portugal mvelGustavo Cardoso, Maria do CarMo GoMes, rita espanha e vera arajo *

introduoOs telemveis tornaram-se parte integrante do nosso quotidiano e, hoje emdia,dif cilconcebermosomundosemeles.Seumindivduoseperde,telefonaapedirindicaesdocaminho,emvezdeperguntaraalgumnarua.ManifestaessoconvocadasatravsdeSMS.Otelemveltambmagenda,listadecontactos,arquivo de fcheiros, walkman, rdio, despertador, consola de jogos, calculadorae relgio. O impacto dos telemveis na sociedade actual portanto inegvel. Noentanto, a natureza precisa desse impacto, assim como as suas implicaes emtermos de transformao da vida social, permanece por identifcar e analisar emprofundidade.Antesde1991,Portugalviviasemestetipodedispositivo.Decorridosapenas16anos,oseuusotornou-sebanale,nosdiasquecorrem,dif cilencontraral-gumquenopossuapelomenosumtelemvel.Em consequncia desta rpida massifcao, o sector das telecomunicaestornou-seumdosquecresceramaumritmomaisaceleradonombitodaHistriadaTecnologia.Torpido,quesetornaporvezesdif cilrecordarcomoeraorgani-zadoonossoquotidianoantesdoaparecimentodostelemveis.Masqualomotordestecrescimento?Oqueexplicaaadesodasmassasaestedispositivo?SeroosComunicao & Cultura,n.3,2007,pp.19-39_______________*InvestigadordoCIES-ISCTEeOberCom;socilogaeinvestigadoradoCIES-ISCTE;investigadoradoCIES-ISCTEeOberCom;investigadora-colaboradoradoOberCom20| |211. a sociedade das Comunicaes MveisO conceito de Sociedade das Comunicaes Mveis, inicialmente desen-volvidoporCastells(2004),pretendedarcontadanovaconfguraodavidasocialresultante da mobilidade proporcionada pelas comunicaes mveis, em geral, epelostelemveis,emparticular.Umavezqueascomunicaessopartecentraldaactividadehumana,oad-ventodestetipodetecnologiamvel,capazdepermitiracomunicaoemqual-querparteeparaqualquerparte,temprofundosefeitossociais.Noentanto,poucosesabeaindaacercadotipoecondiesdestesefeitos.Senosreportarmoshis-tria da tecnologia, incluindo a Internet, podemos observar que muitas vezes osindivduosacabamporseapropriardosdispositivos,utilizando-osparafnsmuitodistintos dos inicialmente previstos. Alm disso, quanto maior for o grau de in-teracocomatecnologia,maiorseracapacidadedeosindivduossetornaremprodutoresactivosdasprticasdeutilizao.1

Assim,deumasegmentaoinicialdemercadorelativamentesimples,carac-tersticadosprimeirosanosdeintroduodostelemveis(quedistinguiaentreuti-lizadoresmuitofrequentes,frequentesepoucofrequentes),passou-se,atravsdageneralizaodestatecnologiaedasuaapropriaopelosutilizadores,paraumanova e complexa segmentao do mercado. Diferenciar entre utilizadores poucofrequentes, frequentes e muito assduos, apesar de continuar a ser til, no nospermiteavaliardeformaintegradaasvriastendnciasnautilizaodostelem-veis.Outrasvariveis,provenientesdainteracoentreoindivduoeatecnologia e que vo desde as atitudes em relao aos telemveis, ao seu uso como novomediadorsocialeanlisedoseupapelnagestodoquotidianoedavidaprofs-sional,devemserconsideradas.Partindodeumaperspectivafuncionalista,possvelconsiderarqueaadop-odeumadadatecnologiainfuenciadapelasrestriesedisponibilidadesqueelaofereceaoutilizador,emcombinaocomasnecessidadesdeste.Deentreasvrias subperspectivas do funcionalismo, destacam-se as teorias da domestica-o e dos usos e gratifcaes, que tm sido frequentemente utilizadas paracontextualizar as anlises acerca das comunicaes mveis (por exemplo, LeungeWei,2000;Haddon,2003).Estasabordagenssugeremumaalteraodofocodaanlise,colocandoanfasenaformacomoosindivduosusamosmeiosdecomu-nicaoparasatisfazerassuasnecessidades,emvezdeincidirsobreospotenciaisefeitosdosmesmos.Assim,deacordocomestespontosdevista,deesperarquecada grupo social, normalmente defnido em funo das suas caractersticas so-ciodemogrfcas,associeaotelemvelusosdiferenciados.Quaissoentoasva-telemveisexpressesdaidentidade,ferramentas,umamoda,ouumacombinaodetodosesteselementos?Apesardeostelemveisseremnormalmenteconsideradosmerosinstrumen-tosaoserviodosseuspossuidores,elessotambmartefactossociais.Enquantomeio de comunicao, suportam a relao com o outro. Mas, para alm disso, aprticacomunicativaatravsdotelemvelinfuenciadapelocontextosocialemqueesteutilizado,e,aopoderseractivadoapartirdequalquerparteeaqualquermomento,otelemvelpassouaassumirtambmumpapelsocialactivo.Masquemcomunicacomquem?Qualaestruturadasredessociaiscriadaspelacomunicaoatravsdotelemvel?Estarousodotelemvelassociadoaumesbatimentodasfronteirasentreoscontextossociaisdasprticasindividuais,medidaqueospa-pisquedesempenhamosnoquotidianoseentrecruzam?Opresenteartigoanalisaaspotenciaisalteraessociaisprovocadaspelapos-sibilidadedacomunicaoatodaahoraeemqualquerlocal,levantandopistasdeanlisemaisabrangentes,quevisamperceberastransformaessociaisdecorren-tesdamobilidade.Otelemveldeixoudeserapenasumdispositivoquepermitecomunicar,parasetornarumaferramentadainteracosocial.Empoucosanos,passoudemeroinstrumentodetrabalhoaumequipamentodemassas,utilizadonosparacomunicar,mastambmparaestruturarasrelaessociaiseoquoti-diano.Estaanliseintegra-senombitodoprojectoA Sociedade em Rede em Por-tugal 2006,desenvolvidonoCIES-ISCTE,porGustavoCardoso,MariadoCarmoGomeseRitaEspanha,resultandodaaplicaodeuminquritoporquestionrioa2000indivduosumaamostrarepresentativadasociedadeportuguesa.Otraba-lhodecampofoidesenvolvidopelaMetrisGfK.Numaprimeiraparte,serrealizadoumbreveenquadramentosobreacom-plexifcaodosusossociaisdostelemveis,realando-seaindaasprincipaiscon-clusesdeestudosprviosacercadastendnciasdeutilizao,numaperspectivainternacional.Numasegundaparte,seroanalisadasastendnciasmaissignifcativasnauti-lizaodostelemveisnombitodasociedadeportuguesaactual.Numaterceiraparte,analisar-se-areconfguraodasrelaessociais,des-tacando-seopapeldotelemvelcomonovomediadorsocialecomodispositivodegestodoquotidianoedavidaprofssional.Por fm, feita a integrao de todas estas vertentes, atravs do estabeleci-mentodeperfsdeutilizadoresdetelemvel.Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo Portugal mvel22| |23Tendoemboraumamaiorfrequnciadeinteracocomosdispositivos,no contudo este grupo que comanda as receitas do sector. Na sua grande parte,osindivduosdestegruponodispemdemeiosdesustentoprprios,peloqueoptam geralmente por solues de comunicao menos dispendiosas, como osSMS, em detrimento das chamadas de voz. Pelo contrrio, os indivduos per-tencentes a classes etrias mais velhas valorizam muitas vezes a facilidade deutilizao em detrimento do custo, optando assim pelas comunicaes de voz,maisdispendiosas.Noquetocaaognero,existeumatendncianaEuropaenosEstadosUnidosparaoesbatimentodofossoentreutilizadoreseno-utilizadores:senoincioseverifcava uma maior utilizao do telemvel por parte dos homens, a situaoactualapontaparaumequilbrioentreosexomasculinoeofeminino.Noentanto,omododeapropriaoedeinteracocomostelemveisrevelamuitasdiferenas.Seoshomensdesenvolveramumarelaodecarcterpredomi-nantemente instrumental com esta tecnologia, as mulheres apropriaram-se delaenquanto item de moda, servindo-se do telemvel para manterem as suas redessociais.Por outro lado, verifcou-se que os homens tm uma maior curiosidade emrelaosvriaspotencialidadeseusosdotelemvel,aopassoqueasmulheresoutilizamessencialmenteparacomunicar.Porfm,noquedizrespeitoaoestatuto socioeconmico,denotarqueemtermosmundiaispredominamosutilizadorescommaiornvelderendimento.Quadro 2: Subscritores mveis, por nvel de rendimento 2003 (%)Fonte:ITUStatisticsTodavia, enquanto em pases como a China (onde a taxa de penetrao dostelemveis por ora bastante reduzida) a varivel estatuto socioeconmico aindamuitosignifcativa,naEuropa,ondehpasescommaisde90%detaxaderiveis-chavedesteprocesso?QualonveldeenvolvimentodosdiferentesgrupossociodemogrfcosnaSociedadedasComunicaesMveis?Equaisasprincipaisdiferenasemtermosmundiais?OestudoTe Mobile Communication Society,desenvolvido,entreoutros,porManuel Castells (University of Southern California), em 2004, procurou identif-cartendnciasglobaisaonveldospadresdediferenciaosocialentreosutili-zadores de telemveis, assim como delinear as principais diferenas por regiesgeogrfcas.Noquedizrespeitopenetraodascomunicaesmveisnasvriasregiesdomundo,denotaralideranadaEuropa,ondemaisde71indivduosemcada100habitantespossuemtelemvel(em2004).AAmricadoNorte,queataoano2000dominavaosector,fcourelegadaparaumasegundaposio.Quadro 1: Penetrao do telemvel por regio geogrfca (nmero de subscritores por 100 habitantes)Fonte:ITUStatisticsRelativamentediferenciaoetria,denotarqueascomunicaesmveisforaminicialmentedesenvolvidastendocomoalvoosjovensadultospertencentesclasseempresarial,cujoelevadograudemobilidadesedeveamotivosprofssio-nais.Noentanto,apesardeestegrupocontinuaraliderarosegmentonospasesasiticos, na Europa e nos Estados Unidos, existe uma tendncia para que essalideranasejaassumidapelasclassesetriasmaisjovens(menosde24anos),quetmvindoaassumirumpapelderelevo,nomeadamenteaonveldaadopodosnovosserviosefuncionalidades.Portugal mvel1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004Europa 0,8 1,2 1,9 3,1 4,8 7,7 13,2 22,8 36,6 44,9 51,3 55,4 71,5Amrica do Norte4,3 6,1 8,9 12,4 16,0 19,8 24,5 30,2 37,9 44,1 47,7 53,1 66,0Ocenia 2,2 3,1 5,3 9,3 15,7 17,8 19,5 26,1 33,9 44,4 48,9 54,4 62,7Resto da Amrica0,1 0,2 0,4 0,8 1,3 2,4 4,1 7,9 12,1 16,0 19,0 21,9 30,2sia 0,1 0,2 0,3 0,7 1,4 2,2 3,1 4,6 6,8 9,5 12,4 15,0 18,9frica 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,6 1,0 2,0 3,2 4,6 6,2 9,02003MundoAlto 50,8Mdioalto 8,8Mdiobaixo 35,1Baixo 5,3Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo24| |25telemvel (juntos, estes dois escales representam cerca de 66% dos inquiridoscomtelemvel).Jnogrupodosquenodispemdestedispositivo,odestaquevaiparaosgruposetriosmaisidosos,comosinquiridoscomidadesiguaisousupe-rioresa65anosarepresentarempertode45%dototal.Quadro 3: Posse de telemvel, por idade (%)Fonte:InquritoA Sociedade em Rede em Portugal 2006,CIES-ISCTENo entanto, de destacar que cerca de 61% dos indivduos com 65 anos oumaispossuemtelefonefxoemcasa,contraapenas40%dototaldeinquiridoscomidadesentre25e44anos.Poroutrolado,verifca-sequeentreaquelesquetmumnveldeinstruomaisbaixoqueapenetraodoSTMmenor.Defacto,emtermosdehabilita-esliterrias,91,1%dosinquiridosquenosabemlernemescreverafrmaramno ter telemvel. Esta percentagem vai decrescendo medida que o nvel dehabilitaesaumenta,passandopara68,5%nogrupodosquenuncafrequenta-ram a escola mas sabem ler e escrever, 25,3% no que concluiu o ensino bsico,1,7%noquepossuiosecundriocompleto,epara1%nogrupodoslicenciados.Na categoria Mestrado/Doutoramento, a percentagem de indivduos sem te-lemvelde0%.Almdestasduasvariveis,outroselementosnospermitemcompletaraca-racterizao dos utilizadores e dos no-utilizadores de telemvel. Em termos degnero, de salientar que, se no conjunto dos indivduos que afrmaram possuirum telemvel no foram encontradas diferenas signifcativas (50% de homens e50%demulheres),nogrupodosquenotmtelemvelexisteumamaioriademu-lheres(57,7%contra42,3%dehomens).penetraodestesdispositivos,estavariveltemvindoaperderimportnciacomoelementocapazdeanteciparaadopodestatecnologia.Noobstante,aindaumelementosignifcativonoqueserefereaotipodetelemvelaadquiriresrespec-tivasfuncionalidadesaeleassociadas,bemcomoutilizaodosnovosserviosdisponibilizadosparaestesuporte.Concluindo,nemtodasasregiesdomundotmomesmograudeenvol-vimentonaSociedadedasComunicaesMveis.semelhanadoquesucedecom a Internet ou com outras tecnologias, a adopo do telemvel por partedapopulaoeamassifcaodoseuusoocorreramcommaiorceleridadenasregiesmaisdesenvolvidasdoplaneta,emdetrimentodaszonasmaisdesfavo-recidas.Almdisso,emcadaumadasregies,outrasvariveis,nomeadamenteosexo,aidadeeoestatutosocioeconmicorevelaram-seessenciaisparadeter-minar o grau de envolvimento dos indivduos na Sociedade das ComunicaesMveis.

2. o utilizador de telemvelUmavezcaracterizadoomercadonacionaldascomunicaesmveis,hqueperceberquemutilizaestedispositivoedequeformaofaz.2QuemtemtelemvelemPortugal?ComocaracterizaroutilizadordoServioTelefnicoMvel(STM)?Apesar da elevada taxa de penetrao dos telemveis em Portugal, que deacordo com a ANACOM ultrapassa j os 100%, apenas 74,4% dos inquiridos nombitodoprojectoASociedadeemRedeemPortugal20063afrmaramter pelo menos um telemvel.A diferena entre a penetrao acima indicada, por um lado, e as respostasobtidas, por outro, resultam de vrios factores, nomeadamente: da existncia deutilizadoresquedispemdemaisdeumcartoactivo,daactivaodenovoscar-tesSIMparautilizaoexclusivadeserviosdedadoseacessoInternet,oudofactodehavercartesactivosafectosaempresas,amquinas,aequipamentosouaviaturas.Segundo informao recolhida pela ANACOM nos inquritos ao consumodascomunicaeselectrnicas4deFevereirode2004,Junhode2005eFevereirode2006,soasvariveisidadeenveldeinstruoquemaisdiferenciamosutilizado-resdosno-utilizadoresdoSTM.Estasconclusessoconfrmadaspelopresenteestudo,verifcando-sedefac-toumarelaonegativaentreaidadeeapenetraodoSTM.Assim,destaca-sealideranadascategorias25-44anose45-64anos,entreosindivduosquepossuemPortugal mvelIdadeTemtelemvel?Simn=1488Non=5108-17anos 11,3 14,318-24anos 14,4 2,225-44anos 39,9 10,845-64anos 25,8 27,865e+ 8,5 44,9Total 100% 100%Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo26| |27Concluindo,aperguntaaformularparecenosertantoquemtemtelem-vel?, mas sim quem no tem telemvel?. De facto, se determinadas variveis,comoosexo,nosodiscriminatriasnogrupodosquepossuemtelemvel,so--noentreosindivduossemestedispositivo.Ogrupodosno-utilizadoresdoSTM,assim,maioritariamenteconstitudoporpessoasdeidadeavanada,dosexofe-minino,compoucainstruoepertencentesaogrupodosinactivos.3. o telemvel como mediador das relaes sociaisExpresses como Sociedade das Comunicaes Mveis (Castells, 2004),CulturadoTelemvel(Goggin,2006),ouTumb Culture(Glotz,2005,refe-rindo-se ao uso do polegar para comandar o telemvel) pretendem dar conta deum novo paradigma social, que a mobilidade, em geral, e os telemveis, em par-ticular, impuseram ao nosso quotidiano. Como que o facto de podermos estaracessveisaqualquerhoraelugar(e,simultaneamente,termospermanentementeaoportunidadedecontactaroutros)alterouanossasociedadeeaconfguraodasnossasrelaessociais?Quaisasdimenseseaextensodestatransformao?Parapodermostentardarrespostaaestasquestes,hprimeiroqueidenti-fcar quem fala com quem, e quais as variveis determinantes no mbito do usodo telemvel enquanto mediador social. Por outro lado, a possibilidade de estarsempre contactvel e de poder sempre contactar veio permitir uma nova gestoda vida social, familiar e inclusivamente das relaes ntimas, que tambm deveseranalisada.Almdisso,necessrioperceber-seorealpesodascomunicaestelefnicasnasrelaesinterpessoaisequalavalorizaoqueosindivduosatri-buemaumaeoutraformaderelacionamento.Porfm,importatambmanalisaroscdigostcitosdeinteracoquesedesenvolveramaolongodosanosdesdeaintroduodestedispositivonomercadoecomandamasuautilizaoemlocaispblicos.Quem fala com quem: a importncia das conversas com familiares e amigosNoinciodasuaintroduonomercado,otelemvelcomeouporterumautilizao comum na vida profssional. No entanto, com a queda dos preos e amassifcaodoseuuso,otelemvelmigrouparaavidaparticular.Qualadimen-sodestefenmenoequaisassuasvertentes?SeroostelemveisinstrumentosdeQuadro 4: Posse de telemvel, por sexo (%)Fonte:InquritoA Sociedade em Rede em Portugal 2006,CIES-ISCTEQuantocondioperanteotrabalho,verifca-seopredomniodostrabalha-dores,ouseja,dapopulaoactiva,queconstitui54,3%dototaldeinquiridoscomtelemvel.Contrariamente,observa-seafracaadesodosreformadosedeoutrosinactivos (desempregados, domsticas, incapacitados): esta categoria representamaisde70%dosinquiridossemtelemvel.Quadro 5: Posse de telemvel, por condio perante o trabalho (%)Fonte:InquritoA Sociedade em Rede em Portugal 2006,CIES-ISCTENota:nainterpretaodosdadosrelativosaosestudantes,hqueteremcontaqueestacategoriaconstitudaporapenas316inquiridos,contra885quesotrabalhadorese799queestoinclu-dosnogrupodosreformadoseoutrosinactivos.Poroutrolado,regista-seumarelaodirectaentreapossedetelemveleocontactocomoutrosmeiosdecomunicao.De facto, dos que costumam assistir a flmes, 84,6% tm telemvel, contraapenas28,5%dosutilizadoresquenopossuemessehbito.Almdisso,dosquepassammuitotempoaouvirrdio(maisde6horas),84,5%tmtelemvel,sendoqueestapercentagemcaipara72,3%nogrupodosqueouvemmenosdeumahora.Finalmente,dosquedespendemmaisdeduashorasalerjornais,90%tmtelem-vel,contra59,1%dosqueosnolem.Portugal mvelCondioperanteoTrabalhoTemtelemvel?Simn=1489Non=511Trabalhador 54,3 14,9Estudante 16,3 14,5Reformadoseoutrosinactivos 29,4 70,6Total 100% 100%SexoTemtelemvel?SimN=1489NoN=511Masculino 50,0% 42,3%Feminino 50,0% 57,7%Total 100% 100%Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo28| |29aos44;12,5%dos45aos64;e8,7%apartirdos65anos.Poroutrolado,27,2%dototaldoshomensreferiramosamigoscomoprincipalinterlocutor,contraapenas23,1% das mulheres. Similarmente, 46,8% dos solteiros afrmaram utilizar o tele-mvelparaconversaremprimeirolugarcomosamigos,percentagemquedescepara 19,4% e 12,2%, respectivamente entre vivos/separados/divorciados e casa-dos/uniodefacto.Estasobservaessoconfrmadasatravsdacomparaodaspercentagensdetempoatribudaspelosinquiridosparacadatipodeconversaaotelemvel,veri-fcando-seopredomniodosjovensnasconversascomosamigos,ealideranadascamadasdeidadesmaisavanadasnasconversascomfamiliares.Defacto,nogrupodos8-17anos,61,3%referiramquemaisde40%dassuaschamadas ao telemvel so conversas sociais com amigos. Esta percentagem vaicaindo com a idade. Assim, os que referiram que mais de 40% das conversas quetmsocomamigosapresentamoseguintepadrodedistribuio:nogrupodos18-24correspondema51,2%dosindivduos;nogrupodos25-44,apercentagemde25,1%;nogrupodos45-64,de17,7%;eapartirdos65anos,fca-senos18,1%.Comfamiliares,atendnciaaoposta:apenas33,3%dosinquiridosdacate-goria18-24anosreferiramquemaisde40%dassuasconversasaotelemveltmcomodestinoafamlia,contra48,7%dogrupodos25-44anos,57,6%dogrupodos45-64anose68,5%dogrupodos65emaisanos.

Quadro 7: Interlocutores das conversas ao telemvel, por idade (%)Fonte:InquritoA Sociedade em Rede em Portugal 2006,CIES-ISCTEPorfm,osinquiridosquedestacaramopredomnio das conversas profssio-naiscomclientesecolegasrepresentam6,5%dogrupodos25-44anose6,5%dosindivduoscomidadesentreos45eos64anos,contraapenas1,2%dototaldogru-podos8-17anos,2,3%dodos18-24anose0%dosinquiridoscom65anosemais.Ouseja,existeumaclararelaoenteaidadeactivadosindivduoseatendnciaparamanterconversasprofssionaisaotelemvel.umamaiorsociabilidadenomundoactual?Parafalarcomqueinterlocutoressoelesutilizados?Antesdemais,refra-seque69,1%dosinquiridosoutilizamparafalaressen-cialmente com familiares, 25,2% com os amigos e 4,7% com colegas de trabalhoouclientes/fornecedores,sobreassuntosprofssionais.Saliente-seaindaaimpor-tncia das conversas com os amigos (62,1%), com os familiares (27,2%) e as queenvolvemassuntosprofssionais(5,3%).Paratermosumavisomaisintegradadestarealidade,foipedidoaosinqui-ridos que atribussem uma percentagem a cada tipo de conversa que tm ao te-lemvel. Uma comparao de mdias dos valores obtidos permitiu-nos destacar,maisumavez,arelevnciadafamlia(44,57%)edosamigos(33,4%).Asconversasprofssionaisregistaramumvalormdiodeapenas8,8%.Relativamentecaracterizaodosinquiridos que falam sobretudo para fa-miliares, de salientar que estes pertencem a categorias etrias mais elevadas emaioritariamentedosexofeminino,compredomniodecasadosouvivos:46,2%entreos8eos17anos,47,2%entreos18eos24,71,4%entreos25eos44,80,7%entreos45eos64e90,6%apartirdos65anos.Nestequadroassinala-seumava-rivel:entreasmulheres,aopopelosfamiliaresatingeos74,1%,fcando-sepelos64%entreoshomens.Verifcou-seaindaumaoutravarivel:taisconversassobempara81,2%entrecasadosouvivendoemuniodefacto,para77,1%entrevivos/separados/divorciados,limitando-sea48,1%entresolteiros.Quadro 6: Principal interlocutor das chamadas ao telemvel, por estado civil (%)Fonte:InquritoA Sociedade em Rede em Portugal 2006,CIES-ISCTEJosinquiridos que falam essencialmente com amigospertencemacama-dasetriasmaisjovens:51,5%dos8aos17anos;47,7%dos18aos24;21,2%dos25Portugal mvelComquemquefalamaishabitualmenteatravsdotelemvel?EstadoCivilSolteirosCasados/UniodeFactoSeparados/Divorciados/VivosFamiliares 48,1 81,2 77,1Amigos 46,8 12,2 19,4Colegas/Clientes(assuntosprofssionais)2,8 6,4 2,8OutrosNs/Nr 2,3 0,2 0,7Total 100 100 100Daschamadasquetemnoseutelemvel,quepercentagemdariaa...Idade(%darespostamaisde40%,emcadacategoriaetria)8-17 18-24 25-44 45-6465emais...conversassociaiscomamigos 61,3 51,2 25,1 17,7 18,1...conversassociaiscomfamiliares 41,7 33,3 48,7 57,6 68,5Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo30| |31Emsntese,otelemvelaparececomoumfacilitadordacomunicaonoseiodavidaprivada,sendoqueamaioriadaschamadasrealizadastemcomodestinoafamliaouosamigos.Noentanto,poder-se-afrmarqueestedispositivorevelaummaiorgraudesociabilidadenomundocontemporneo?Porumlado,permiteummaiornmerodeinteraces,mesmosemediadasporviaelectrnica,masporoutrootelemvelassume-setambmcomoumelementodeafrmaodoindiv-duo, conduzindo a uma individualizao das prticas quotidianas, j verifcada apropsitodeoutrasferramentascomunicativas,comoaInternet.A resposta a tal questo portanto complexa, e anlises complementares,comoporexemploumestudodoscontedosdasconversaesmantidasaotele-mvel,soessenciaisparasugerirpistasdeanlise.Todavia,podemosafrmarcomcertezaqueotelemvelassume,pelomenos,umpapeldefacilitador da comuni-caonoseiodavidaprivada,permitindoumainteracoinditaentreindivduoseconduzindoaumanovaformadegeriravidaparticular,nomeadamentenom-bitodasrelaescomamigosecomfamiliares.4. perfs do utilizador de telemvel em portugalAo longo do presente trabalho analismos e caracterizmos o utilizador detelemvel em Portugal, realando as principais diferenas nos contextos da suautilizao.Assim,diferencimos,emparticular,oseuusonombitodavidasocial,familiareprofssional.Destacmostambmopapeldotelemvelenquantomedia-dorsocial,oseupesofacesrelaesinterpessoaisparaosvriosgrupossociode-mogrfcos,asatitudeseestratgiasdeapropriaodesenvolvidaspelosindivduosrelativamenteaotelemvel,assimcomoasvariveis-chavequedeterminamotipoeograudeinteracocomodispositivo.MascomorelacionartodosestesaspectosdaSociedadedasComunicaesMveis?Comoavaliarautilizaodotelemveleatransformaodavidasocial,considerandosimultaneamentetodasestasverten-tes?Existempadresdeutilizaoquecruzamosvriosassuntosconsiderados?E,casoexistam,comoestoconstitudosequecaractersticasagregam?Deformaaintegrarmostodosesteselementosfoirealizada,atravsdean-liseestatsticanoSPSS,umaHOMALS(anlisedecorrespondnciasmltiplas)entrevariveisdecaracterizaosociodemogrfca,prticasdeutilizaodote-lemvel,relaessociaiseapropriaododispositivo.Dadaaamplitudeecom-plexidade dos temas desenvolvidos ao longo do presente trabalho, foi seleccio-nado um conjunto de variveis para a determinao de perfs do utilizador detelemvelemPortugal:Quadro 8: Principal interlocutor das chamadas ao telemvel, por idade (%)Fonte:InquritoA Sociedade em Rede em Portugal 2006,CIES-ISCTEPoroutrolado,asconversasprofssionaissoessencialmenteconduzidasporhomens (7,5% do total dos inquiridos do sexo masculino, contra apenas 2% dasmulheres),verifcando-setambmumamaiorpropensoporpartedosindivduosdogrupocasados/uniodefactoparaestetipodeconversas(para6,4%dosinqui-ridosdesteconjuntoforamaprimeirareferncia,contraapenas2,8%dototaldossolteirose2,8%dogrupodosvivos/separados/divorciados).Passando agora anlise da frequncia do uso de telemvel, verifca-se queexisteumamaiorpropensoparaautilizaodestedispositivoporpartedosinqui-ridosquepassammenostemponacompanhiadefamiliareseamigos.Defacto,dosinquiridosquefazemapenasuma(ouzero)chamadaspordia,19,3% passam mais de 10 horas por semana com os amigos e 16,7% mais de 30horascomafamlia.Estapercentagemvaicaindomedidaqueaumentaonmerodechamadasdirias.Assim,nogrupodosquerealizammaisdedezchamadaspordia,apenas8,5%dosinquiridospassamaisde10horasporsemanacomosamigose13,3%passamaisde30horascomafamlia.Quadro 9: Chamadas dirias, pelo tempo com a famlia e os amigos (%)Fonte:InquritoA Sociedade em Rede em Portugal 2006,CIES-ISCTEPortugal mvelComquemquefalamaishabitualmenteatravsdotelemvel?Idade8-17anos18-24anos25-44anos45-64anos65e+Familiares 46,2 47,2 71,4 80,7 90,6Amigos 51,5 47,7 21,2 12,5 8,7Colegas/clientes(assuntosprofssionais)1,2 2,3 6,6 6,5 0,0OutrosNs/Nr 1,2 2,8 0,8 0,3 0,8Total 100 100 100 100 100Numasemanatpica,quantashorasdedica...Nmerodechamadaspordia(%emcadacategoria)0ou1 2ou3Entre4e10Maisde101/2vezesporsemanaNs/Nr...aestarcomosamigos/colegas(%darespostamaisde10h)19,3 16,2 11,1 8,5 11,8 11,2...estarcomafamlia(%darespostamaisde30h)16,7 16,0 14,5 13,3 17,6 10,8Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo32| |33Estesquatroperfsestoorganizadosemtornodedois eixos de anlise:porumlado,acaracterizaodotipoderelaocomodispositivo,quepodevariardoinstrumentalismo relao afectiva; por outro lado, o grau de interaco com oequipamento,quevaidautilizaobsicaavanada.Figura 2: Perfs de utilizao do telemvel e eixos de anlise

Analisemosentoemdetalhecadaumdosperfsidentifcados:Perfl 1: os Desconectados Idadeavanada Poucoescolarizados Inactivos(normalmentereformados) PoucaounenhumainteracocomotelemvelRene um conjunto de caractersticas de indivduos que no participam dasociedademvel,unsporquenotmtelemvel,outrosporque,apesardeoterem,outilizamdeformamuitobsica.Osprincipaiselementosdistintivosdestegruposo:idadeavanada(normal-mente,maisde65anos),nveldeescolaridaderelativamentebaixo(ensinobsicoouinferior)eausnciadeactividadelaboral(reformadoseoutrosinactivos).Assim,92,4%dosinquiridoscom65anosoumaisequenosabemlernemescrevernotmtelemvel.Dosquetmtelemvelepertencemaestegruposo-Quadro 10: Modelo de anliseEm funo da associao das caractersticas dos inquiridos, o cruzamentodestasvariveispermitiuacriaodequatro perfs de utilizador de telemvel.Figura 1: Anlise de correspondncias mltiplas (HOMALS) entre variveis de caracterizao sociodemogrfcas, prticas de utilizao do telemvel e seu papel nas relaes sociaisPortugal mvelConceito Nveldeanlise IndicadorPrticasdeutilizaodotelemvelPossedetelemvel TertelemvelUtilizaodasvriasfuncionalidadesdotelemvel3GSMSCmarafotogrfcaRelaessociaiseapropriaodotelemvelTelemvelcomomediadordasrelaessociaisComquemfalamaisaotelemvel(1.referncia)EstratgiasdeapropriaodotelemvelPersonalizaodotelemvelLinguagemutilizadanosSMSCaracterizaosociodemogrfcaIdadeInstruoCondioperanteotrabalhoEstadocivilGustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera ArajoRelaoAfectivaRelaoInstrumentalUtilizaoBsicaUtilizaoAvanada124334| |35queutilizamotelemvelessencialmenteparafnsprofssionaistmumdispositivo3G,contraapenas28%dosindivduosdestegrupoetrioquefalamsobretudoparaamigose20%dosquefalamparafamiliares.Perfl 4: os Gestores do Lar Idadeentreos44eos64anos Casados Baixonveldeinteracocomotelemvel PredomniodautilizaodotelemvelnoseiodasrelaesfamiliaresIndivduos que participam na sociedade mvel apenas como forma de con-seguirumamelhorgestodoseuquotidiano,nomeadamentedasuavidafamiliar.Assim,entreosindivduoscasadosdacategoriaetria25-44anos,79,4%dascon-versasaotelemveltmcomodestinoafamlia,talcomoaconteceem82,1%dasconversasdosindivduoscasadoscomidadesentreos45eos64anos.Asfuncionalidadesavanadasdostelemveissodesvalorizadas.Oqueim-portaaquiestarcomunicvel.Porexemplo,dosinquiridoscasadosqueutilizamotelemvelparafalaressencialmenteparafamiliares,agrandemaioria(86%)nodis-pedeequipamento3G,nemdedispositivoscomcmaraincorporada(80,1%).ConclusoO presente estudo permitiu avaliar o grau de envolvimento de Portugal naSociedadedasComunicaesMveis,destacandoasprincipaisdiferenasentreosgrupossociodemogrfcos,nombitodosvrioscontextosdeutilizao.Poroutrolado, contribuiu para a identifcao de perfs de utilizao, permitindo prever orumodedesenvolvimentodestesector,noqualacadadiasurgemnovaspossibili-dades.Oseumaiorcontributoserporventuraodeabrirdiscussosobreaneces-sidadedeanalisaropapeldamobilidadeemgeral,edostelemveisemparticular,natransformaodavidaemsociedade.Noentanto,estaaindaumarevoluoemcurso.Aanlisedolugardostele-mveisnatransformaodavidasocialnecessitadeserenquadradanummbitomaisvasto,centradonofenmenodaconvergnciaenodesenvolvimentodaSo-ciedade em Rede. Se actualmente determinados servios como a Internet ou atelevisonotelemvelsoaindapoucousados(devidonosaoseucusto,queciodemogrfco(seminstruoe65anosoumais),100%nomandamSMS,notmcmaraincorporadaenodispemdeequipamento3G.Perfl 2: os Envolvidos Jovens(menosde24anos) Estudantes Solteiros Elevadonveldeinteracocomotelemvel PredomniodautilizaodotelemvelemcontextosocialIndivduos que participam activamente na sociedade mvel. Utilizando asvrias potencialidades do telemvel (voz, SMS, 3G, imagens, etc.), concebem-nocomoelementodasuapersonalidade,sentindonecessidadedeopersonalizar.Porexemplo,nogrupodos8-17anosquetmoseutelemvelpersonalizado,95,3% usam uma linguagem especfca para escrever SMS, o que demonstra umelevadograudeapropriaododispositivo.Deigualmodo,dototaldeinquiridoscom telemvel 3G, ou com funcionalidades 3G e com cmara incorporada, 74%usamumalinguagemespecfcaparaescreverSMSe81,7%tmotelemvelper-sonalizado.Perfl 3: os Utilitrios Idadeentreos25eos44anos Altonveldeescolaridade Profssesqualifcadas Elevadonveldeinteracocomotelemvel PredomniodautilizaodotelemvelemcontextolaboralIndivduosqueparticipamactivamentenasociedademvel,utilizandootele-mveldeformaavanadaparafnsespecfcos,nomeadamenteemcontextopro-fssional.Principaiscaractersticas:idadeentre25e44anos;altonveldeescolaridade;membrosdapopulaoactiva;utilizaodotelemvelsobretudonavidaprofssio-nal,oquejustifcaorecursoaummaiornmerodefuncionalidadeseserviosdes-tedispositivo.Porexemplo,39%dosinquiridoscomidadesentreos25eos44anosPortugal mvel Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo36| |37permanece relativamente alto, mas tambm por limitaes de ordem tecnolgi-ca),nofuturoatendnciaodesenvolvimentodeumaplataformacomum,mvel,que concentre todas estas prticas. Se por enquanto o telemvel , alm de umdispositivodecomunicao,umaagenda,umdespertador,umacalculadora,umamquinafotogrfca,umrdioetc.,numfuturoprximoelepodersertambm,para uma parte signifcativa dos indivduos, uma aplicao auxiliar de processa-mentodetexto,defolhadeclculooudegestodeapresentaes,umaplataformasimplifcadadeligaoInternet,umainterfaceWi-FiparavozviaIP,umarqui-vo de fcheiros, uma cmara digital de vdeo, uma televiso, etc. Ser que aindase utilizar o conceito de telemvel para designar tal dispositivo? Tero essesserviosreaiscondiesparasetornaremserviosdemassas?Comoavaliarosimpactos sociais destas transformaes? Qual ser, ento, a base da organizaodasociedade?EssasquestesprocurarorespostasnasCinciasSociais,daEconomiaSo-ciologia, passando pela tica. Este artigo apenas um pequeno contributo parao mapear da comunicao mvel em Portugal, na tentativa de abandonarmos aideiadequesomosumasociedademvelcomdisseminadousodetelemveis,parapassarmosaentenderaquiloquenostornanicoseaomesmotemponosligaamuitasoutrassociedadesmveisdaEuropa,Amrica,frica,siaeOcenia.NOTAS1 Castells,et al.(2004),Te Mobile Communication Society,Califrnia:USC.2 Osdadosutilizadosapartirdestepontoresultamdaanlisedosresultadosobtidosnombitodoinqurito A Sociedade em Rede em Portugal 2006,exceptomenocontrria.3 GustavoCardoso,MariadoCarmoGomeseRitaEspanha(2006),Inqurito: A Sociedade em Rede em Portugal 2006,Lisboa:CIES-ISCTE.4 ANACOM,Inqurito ao Consumo das Comunicaes Electrnicas Fevereiro de 2006,disponvelemwww.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=190143.Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo Portugal mvel38| |39BIBLIOGRAFIAAgar,J.(2003),Constant Touch: a Global History of the Mobile Phone,ReinoUnido:IconBooks.ANACOM,Inqurito ao Consumo das Comunicaes Electrnicas Fevereiro de 2006,dis-ponvelemwww.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=190143.ANACOM, Estatsticas:Servios de Comunicaes Electrnicas Mveis,ServioTelefnicoMvel, 2. trimestre 2006. 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(2004), TeMobileConnection:TeCellPhonesImpactonSociety, MorganKaufmannPublishers.Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha, Vera Arajo Portugal mvel40|As mulheres e os telemveis: uma relao por explorarCarla Ganito *1. introduoMobile communication is becoming a way of life.(Katz,2006:3)AsTecnologiasdeInformaoeComunicao,TIC,estoamodelareasermodeladaspelaformacomoaspessoasasusamedelasseapropriamemcontextosreais(MacKenzieeWajcman,1999).Darevisodaliteraturaresultacomoprincipalconclusoaunanimidadequan-toaoprofundoimpactodascomunicaesmveisnaformacomovivemos,comonos relacionamos e como olhamos o mundo (Green etal., 2001; Katz e Aakhus,2002;Levinson,2004).Os telemveis fazem parte da vida das sociedades dos cinco continentes e,apesardassuasdiferenasculturais,essaspopulaesparecemconvergirparaumconjuntocomumdeprticas,depreocupaesedenegociaesdetempo,espaoeidentidade,noquetocaaousodascomunicaesmveis(KatzeAakhus,2002).Otelemvelapresentaaindaaspectossimblicosemdiferentesculturaseemdife-rentesgruposeestintimamenteligadoquestoestticaedemoda,apresentan-do-secomoumobjectocultural.OmeioamensagemprovavelmenteumadascitaesmaisfamosasdeMcLuhan.Amaioriadensidentifcariaomediacomoocanaldeinformao,eamensagemcomoocontedoqueveiculadopelomedia.Noentanto,essano_______________*AssistentedaFaculdadedeCinciasHumanasdaUniversidadeCatlicaPortuguesa([email protected])Comunicao & Cultura,n.3,2007,pp.41-5742| |43 a interpretao de McLuhan. A mensagem, que tende a ser interpretada comoo contedo, para McLuhan o conjunto das alteraes provocadas pelo media:We shape our tools and thereafter our tools shape us(McLuhan,1964).Quandocriamosumnovomedia,asuamensagemoconjuntodemudanasnanatureza,ritmo e mbito das nossas interaces e actividades. Estas mudanas provocamalteraesemnsmedidaquenosvamosadaptandoereagindomudana. medida que as nossas perspectivas mudam, muda tambm o contexto eassim o media passa a ter um novo ambiente, um ambiente transformado pelanossaaco,quejemsiumresultadodomediaequeotransformanovamen-te,numcontnuodemudana.UmfenmenoqueMcLuhan(1964)denominadefeedforwardequetornaonossomundocomplexoeincerto.Hoje, os indivduos, as empresas e organizaes tm muita difculdade emgerirestescontextosdepermanentemudanae,nasuatomadadedeciso,nopo-demesperardcadasparaperceberquaissoosreaisefeitosdeummedia;notmsuadisposioosresultadosdeanosdeexperinciacomummedia,dadoquees-tessointroduzidosnomercadoaumritmocrescente.Compreenderamensagemachavedosucessoparaintroduzirouusarummedia(FedermaneKerckhove,2003).[...] Te killer apps of tomorrows mobile infocom industry wont be hardware devices or software programs but social practices. Te most far-reaching changes will come as they often do, from the kinds of relationships, enterprises, communities, and markets that the infrastructure makes possible[...].(Rheingold,2002,p.xii)2. uma histria de esquecimento das mulheresYou just dont understand men and women in conversation.(Tannen,1991)Aoobservarmosaevoluodastecnologiasdecomunicaoatactualco-municaomvel,podemosobterdadosimportantesparaperspectivarofuturo.Muitosdosusossocompletamenteinesperadose,porvezes,soexactamenteosmaisinesperadosqueditamosucessoouinsucessodaadopodeumatec-nologia.Noentanto,ofascnioqueoscriadoresdeumatecnologiasentempelasuacriaotornaaindstriacegasreaisnecessidadesdomercadoesapropriaessociais.Marvin(1988)refereosconstrangimentosdoscriadoresepromotoresdatecnologia,constrangimentosquevoparaldasquestestcnicasoufnancei-ras e que assentam na interpretao dos usos, condicionada pela sua histria ecultura:Technologists are not solely members of professional groups; they are social actors with a variety of loyalties that may not always be perfectly congruent with professional goals. Even their professional roles cannot be fully understood without attention to their eforts and aspirations as members of families, citizens of countries, and possessors of gender and race [...]. (Marvin,1988:232)Aprincipallioquepodemosextrairdahistriadosmediaquenopo-demossubestimaropoderdosutilizadores,dequeexemploosegmentofemi-ninoeousosocializantedotelefone.Aanlisedosmateriaispromocionaisdostelefones,osantecessoresdotelemvel,apontaparaumenfoquesistemticonosobjectivosprticosenapoupanadetempocomopropostadevalor,consideran-doqueoutrosusos,comoaconversao,sopoucoapropriados,meracoscuvi-lhice(Lasen,2002).Aindstriaignorouotelefonecomoobjectodesocializaodurantedcadasechegoumesmoaconsider-loindesejvel,expressandoreceiosdecontactosmenosapropriadosentrehomensemulheresdediferentesclasses(Fischer,1992).Ousosocialdotelefonefoisubestimadoporqueasmulhereseramignoradase at rejeitadas como utilizadores. Esta desqualifcao das mulheres como utili-zadoresincompetentesfoitambmestendidapopulaonegra,aosimigranteseaosagricultores(Marvin,1988).Noentanto,asocializaoerajumdosusosmaisimportantesdesdeospri-meirosdiasdotelefone(Lasen,2002),sendoesteumaferramentaimportanteparaasmulheresquebraremoseuisolamento.Snosanos20e30dosculoxx,apu-blicidadecomeouamostrarasmulheresausarotelefone.Tercomopblico-alvoprincipalosinovadores,osprimeirosaadoptar,umconstrangimentoparaodesenvolvimentodenovosservioseparaasuamassif-cao.Nocasodotelefone,oenfoquenasfuncionalidadesprofssionaiseprticasinibiuumaadopogeneralizadapelasuafacetadesocializaoedeconversao.Asempresaseuropeiaseamericanasseguiramamesmaestratgiainicialparao telemvel: preos elevados e uso exclusivo. J nos pases escandinavos, onde apenetraofoimuitomaisrpida,aestratgiafocalizou-seemsimultneonosuti-lizadoresprofssionaisenomercadodemassas.A tendncia actual na Europa e nos Estados Unidos para o equilbrio en-trehomensemulheresnautilizaodotelemvel(Castells,2004;Cardosoet al.,2007).Noentanto,aparidadenautilizaonosignifcaaigualdadenosusos.Mui-tasvezesignora-sequeasuaapropriaomuitodistinta1,semelhanadoqueacontececomoutrosobjectostecnolgicos.Turkle(1984)feznotarofactoderapazeseraparigasteremestilosdiferentesparalidaremcomoscomputadores,queeladenominoudemestriaduraesu-Carla Ganito As mulheres e os telemveis: uma relao por explorar44| |45ave.Aprimeiratpicadosrapazes,queimpemasuavontademquina,ten-tandocontrol-la;asegundatpicadasraparigas,quepraticamumaabordagemmaisinteractiva,negocialerelacional.Extrapolandoparaotelemvel,poderamosdizerqueasraparigasprefeririamosaspectossociaisequalitativosdostelem-veis,enquantoosrapazesiriamfocar-senassuascapacidadestcnicas[...](Skog,2002:256).Seriaumerrocairnoextremoopostoepensarquepodemostratarognerocomo uma varivel homognea (IDC, 2005), mas, se a sociedade co-produzidacom a tecnologia, os efeitos do gnero no podem ser ignorados no design, nodesenvolvimento de novos produtos, na inovao e na comunicao. A correnteemergentedotecnofeminismodefende,semelhanadoconceitomaislatodeMcLuhanwe shape are tools, and our tools shape us,umarelaoemqueatecnologia,aomesmotempo,causaeconsequnciadasrelaesdegnero(Wa-jcman,2004:107).McLuhanmostrouqueasferramentas,astecnologias,osmedia,nosmo-dificametmefeitosmuitomaisprofundosdoquegeralmentepensamos.Osmtodosdeprevisonormais,comoaanlisedaevoluomacroeconmicaedastendnciassociais,noconseguemcaptartodososefeitosdemudana.Fe-dermanedeKerckhove(2003)apontamcomoexemplooimpactodotelemvelna criao de uma nova gerao, do instantneo, com uma baixa capacidadedeplaneamento.Paraalmdoimpactonaprpriaindstriadascomunicaesmveis,noquetocaaexignciaseaexpectativasdeacessibilidadepermanente,estabaixacapacidadedeplaneamentoreflecte-senaescassezdeprofissionaispara gesto de projecto e de clientes para indstrias como a financeira: qualaseguradoraquesercapazdevendersegurosouplanosdepoupanaaumagerao que no est habituada a planear, a antecipar, a precaver problemasfuturos? A nova gerao do telemvel foi modificada pelas caractersticas donovomeio.assimdeesperarque,medidaqueasmulheresvointensifcandoautiliza-odeartefactostecnolgicos,possamoscomearaassistiraumatransformaonosesteretiposdosinteressesfemininos(Skog,2002:268).3. o espao acstico das comunicaes mveis como espao femininoSubestimar a importncia da varivel gnero na apropriao que feita dotelemvel tanto mais grave quanto as caractersticas das comunicaes mveisparecemserparticularmenteatractivasparaopblicofeminino.Otelemvelveiorecriar o que McLuhan designa como espao acstico, um ambiente instant-neo,omnipresente,multissensorial.Nasuaobra,McLuhancomeaadesenharaexistnciadeumnovoambientedecomunicaoquesmaistarde,comarevoluodigitaleoaparecimentodaIn-ternetedotelemvel,seveioarevelaremtodooseupotencial.Umambienteins-tantneo,omnipresente,caracterizadopelosmediaelectrnicos,aqueMcLuhanchamoudeespaoacstico,porque,conformeexplicou,ossonsseaproximamdensdamesmaformaqueosnovosmediaofazem,detodosospontosdoambiente,a360graus.Levinson (2001) vem depois identifcar este espao acstico como sendo ociberespaoe,maistarde,comosendooambientecriadopelascomunicaesm-veis,exactamenteporqueenglobamemsimesmasociberespao,aludindojusta-posioentreinformaoecomunicao.De acordo com McLuhan, o alfabeto, a palavra impressa, leva-nos a ver omundocomoumasriedefontessingularesdeinformao,dasquaisnospode-mosdistanciarcomosefechssemososolhosespaovisual.Podemosfecharosolhosmasnopodemosbloquearossonsquenoschegaminvoluntariamente.Estaconcepo,abstractaesequencial,veiosubstituirummodeloacstico,segundooqualnosaproprivamosdomundocomoumtodo.Noentanto,McLuhandiziaquea televiso estava a recuperar o modelo acstico ao tratar a viso como audio,projectandoasmesmasimagensemtodososecrs.No entanto, a televiso no era claramente o meio adequado para aplicareste conceito. Isso s se tornou possvel com o advento dos meios digitais, no-meadamente com a Internet, porque o espao do ecr de computador est defactodisponvelemqualquerlugar,mas,aocontrriodateleviso,umprodutonossocriamo-loetransformamo-loaous-lo,talcomooespaoacsticodoambientepr-escrita(Levinson,2001).Ascaractersticasdoespaoacsticosoaindamaisacentuadascomascomunicaesmveisemquedadosevozconver-gem.Otelemvelrecuperaadimensooral,omediamaisantigodacomunicaohumana(Rheingold,2004).Osentidodaaudioummeiointermdioentreosbenef cioseasdesvan-tagens do tacto e da viso (Levinson, 2001). Enquanto o tacto requer contactof sicoecomotalmaisfelrealidade,avisod-nosaseguranadadistncia,mas implica maior probabilidade de erro, porque tendemos a concentrar-nosnumaspectoespecfcodoambiente.Aaudiod-nosalgumdodistanciamen-to da viso, mas sem tanta perda do contexto. Por outro lado, estamos sempreimersosemsons,noexistempausascomonaviso.Quandofechamososolhos,deixamosdeterestmulos,poissvemosoquefocamos.Naaudionuncaexis-Carla Ganito As mulheres e os telemveis: uma relao por explorar46| |47teverdadeiramenteumsilncio,porquenopodemosfecharosouvidos.Mesmoa dormir tendo os olhos fechados , estamos sempre a ouvir; no um actovoluntrioparaoqualsejaprecisoaccionaranossaateno,comoacontececomaviso.Otelemvelestassimarecuperarummodelodecomunicaopassado.Le-vinson(2001)procuraavanarumaexplicaodarwinianaparaestaevoluo.Se-gundooautorfazemosumaselecodosmediacombaseemdoiscritrios:prefe-rimososquepossamestenderosnossossentidosnaturaisparaalmdasfronteirasbiolgicas,eosquerecuperemelementosdessacomunicaobiolgicaqueexten-sesartifciaispassadaspossamterperdido.Otelefonesubstituiotelgrafoporqueparaganhardistnciatnhamosperdidoavoz.Ardionofoierradicadaporqueouvirsemverumcomponentedonossoambientedecomunicaonatural.ParaLevinson, os media que prosperam so aqueles que replicam, correspondem a,acomodamourecuperamumafacetaimportantedacomunicaobiolgica,nomediada.O telemvel satisfaz uma necessidade humana to velha como a prpria es-pcieanecessidadedefalarenquantonosdeslocamos.Estaatumanecessi-dadequedefneaespciehumana:somosonicomamferobpedequelibertouasmosparausarferramentas(Levinson,2003).Otelemvelrecuperaigualmenteumelementofundamentaldonossoambientedecomunicaonatural:aabstrac-o desenvolvida na linguagem e no alfabeto. O telemvel, para alm da voz, in-corporatexto,permitindoassimumageneralizaoeumaabstracoessenciaiscomunicaohumana.Estaumaevoluoquepode,segundoalgunsautores,benefciarasmulhe-res.Asmulheresestomaisbempreparadasparaestaculturaoral,semelhanadasantigassociedadesmatriarcais.SegundoKerckhove,citandoDianeMcGuin-ness2(1997),oshomensvemduasvezesmelhorqueasmulheres,easmulheresouvemduasvezesmelhorqueoshomens:[...]Asmulheresouvemmelhorqueoshomens.Oseulimitedesensibilidadeacsticasitua-sequaseumdecibelabaixododoshomens.Aaudioeavisonosoapenasmaneirasdiferentesdeteracessoeprocessarainformao,estabelecemumarelaodiferenteentreaspessoaseomeioambiente[...].(Kerckhove,1997:166)Estacaractersticadacomunicaohumanatemassimumimpactoprofun-donagestodomediaenodesenvolvimentodecontedosparaessemedia,noquetocaaopblico-alvoaatingir.Defacto,osestudosapontamparaaexistnciadeumamaiorpropensoporpartedoshomensparaumautilizaomaisvariadadasfuncionalidadesdotelemvel3,indicandoqueasmulherespreferemcentrara sua ateno exclusivamente nas funcionalidades de comunicao (Cardoso,2007;Geser,2006;Katz,2006).Em Portugal, devido ao nmero elevado de cartes pr-pagos4, existe umdesconhecimento, em termos de gnero, da caracterizao dos clientes dos di-versos servios das operadoras. Esta preocupao foi expressa por AntnioCarrio5directordeNegciosdeDadoseContedosdaVodafonePortugalrelativamentescaractersticasdosconsumidoresdeentretenimentomvelemPortugal:[...]Notemosacertezadequeadivisoentrehomensemulheressejadefactonumaproporode60/40.Noutrospasesumbocadinhodiferente.Porexemplo,noReinoUnidoaorientaomaisfeminina[...].(Entrevista,30/06/2005)Um relatrio da Strand Consult (2005) chamou a ateno para o facto de,relativamenteaosnovosserviosdeentretenimentomvel,osoperadoresestaremadiscriminarosutilizadoresdosexofemininoe,dessaforma,cercademetadedasuabasedeclientes:[...] Mobile portals are usually characterised by having been developed and marketed by men for men! Up to now the mobile markets have been characterised by the mass marketformobileservicesconsistingofrevenuegeneratedbyespeciallyyoungermen butmobileoperatorswillsoonhavetorealisethatanexpansionofthemarketfor mobile services will require that they launch interesting mobile services for all customer segments which will include both men and women and both younger and older seg-ments [...].(StrandConsult,2005)

Deigualmodo,numestudorecentedaIDC(2005)apenas18,1%dasmulhe-resacharamqueosprodutostecnolgicos,entreosquaisostelemveis,sodese-nhados a pensar nelas, e 43,8% concordaram que as campanhas demarketing deprodutostecnolgicosnegligenciamouignoramasmulheres,oquecorrespondetendnciatradicionaldedesenharatecnologiadeacordocomascaractersticasmasculinas(Wajcman,1991).[...] It does not take a social scientist to make the observation that is most contemporary cultures women and men have diferent access to the creation of technology, have dife-rent access to decision making about the development of technology, and have diferent experiences with technology [...].(Rakow,1988:57)Carla Ganito As mulheres e os telemveis: uma relao por explorar48| |494. o telemvel como extenso do espao pessoal All media are extension of some human faculty psychic or physical.(McLuhan,1967)Para McLuhan, um media tudo o que seja uma extenso da nossa mente,corpoousentidos.Porexemplo,aroupaumaextensodanossapele,ardioumaextensodanossavoz.DevemosolharparaotelemvelluzdoconceitodemediadeMcLuhan.Ele,defacto,ummedia,porqueumaextensodanossavoz,danossaaudioeatmesmodanossapersonalidade,donossoespaopessoal.Otelemveltemvindoaprovocar,semelhanadoqueaconteceucomaInternet,profundasalteraesnonossocontextoenanossaformadeviver:acessibilidadeconstante,liberdadedemovimentos,possibilidadedecontroloesegurana,oesbaterdafronteiraentreaesferapblicaeaesferaprivada,entreoutras.O desejo de personalizao, de usar mecanismos ou smbolos que sejamumaextensodanossapersonalidade,umatendnciacadavezmaismarcantedasociedadeactual.Otelemveltemvindoacontribuirparaasatisfaodessedesejo.NosestudosdeMizukoIto(2003),osutilizadoresdetelemveisnoJapoafrmamquenuncaatenderiamumachamadanumtelemvelquenofossede-les,emesmoolharparaumtelemvelsemserconvidadoafaz-loumcompor-tamentosocialmenteinaceitvel.Estaligaopessoallevaaqueosutilizadoresqueiramqueoseutelemvelsejaumrefexodesi.Osserviosdecustomizaoepersonalizao,comoostoqueseosfundosdeecr,estoentreosserviosmaispopulares.Asempresasprecisamdeavaliaramensagemdotelemvelparaperceberemoimpactodamobilidadenasuaactividade.Oactodefalaraotelemvelmuitomaisrevolucionriodoqueamaioriadascoisasquesedisseaotelemvel.McLuhanreferiatambmquecadamediacontinhaoutrosmediapelome-nosumemuitasvezesmaisdoqueum.ParaMcLuhan,todososmediasomulti-mdia,cadacamadatemumconjuntodeefeitosdistinto,umamensagemdistintaque deve ser analisada de forma independente. Nas comunicaes mveis, voz edados podem assim ser considerados media diferentes, com mensagens dsparesquedevemserobjectodeofertasdistintas.Omediaamensagemumconceitoparticularmenterelevanteparaain-dstriadascomunicaesmveis,porserumnegciodebasetecnolgica.fcilfcar-sefascinadopelatecnologiaemsimesma,peloseucontedo,eesquecerasuamensagem,ouseja,osseusefeitos.Maisumavez,aInternetsurgecomoumexem-plo paradigmtico. Muitas foram as empresas que faliram por estarem centradasnascaractersticasdaInternet,noqueerapossvelfazercomela,eporesqueceremosseusefeitos.AsempresasquedesenvolveramasuaactividadenaInternetpr--2000 no s no tiveram em conta a mensagem da Internet, como no tiveramemconsideraooefeitodefeedforward,ouseja,ignoraramosefeitosnasuaacti-vidade,nacriaodaoferta.Decadavezqueamensagemmuda,criam-senovossignifcados,mesmoparaummediaquesemantmconstante,eassimasempresasnoperceberamqueosseusprodutos,serviosemodelosdenegcioestavamaseralteradosenoforamcapazesdeacompanharamudana(FedermaneKerckhove,2003).Estadeveserumadasprincipaisliesparaaindstriadascomunicaesmveis e para o entretenimento mvel em particular. Entrar nesta espiral queMcLuhan (1966) designa como de acelerao seria o colapso das empresasdestaindstria.Aqui,surgemasverdadeirasdifculdades,dadoquemuitodi-f cil compreender realmente o que se passa no presente, e ainda mais dif cilprever o que se ir passar no futuro. o que McLuhan chama viver a olharparaoespelhoretrovisor:quandocriamosumanovomeio,nolhedamoslogoutilizaesnovas,tentamosantesrecriaropresente,estendendoautilizaodeoutrosmedia.Antesdetentarpreverofuturo,asempresasdeviamtentarpercebereviverno presente, dar um sentido a umcontexto cada vez mais complexo. Viver estepresente signifca tambm compreender o impacto que variveis como o gnerotmnaadopodeummedia.Otelemvel,aocontrriodostelefones,consideradoumbempessoal,umaextensodocorpo(Lasen,2002).Osignifcadodotelemvelnoapenasutilitrioe instrumental, mas tambm emocional e de entretenimento. Esta caractersticaparecemaisumavezfavoreceropotencialdeadopopelasmulheres,dadoqueestasdoaotelemvelumusomaisexpressivoepessoal(Cardoso,2007;Castells,2004;Geser,2006;Kerckhove,1997;Skog,2002).Enquantoqueoshomensdesenvolveramumarelaodecarcterpredominantemen-teinstrumentalcomestatecnologia,asmulheresapropriaram-sedostelemveisen-quantoumitemdemoda,ecomoformademanterassuasredessociais[...].(Cardoso,2007:5)Oshomenstmumaatitudeinstrumentalperantealinguagemeavida,enquantoasmulherestmumapropensorelacionalparacomaspalavras,sons,pessoasecoisas[...].(Kerckhove,1997:167)Carla Ganito As mulheres e os telemveis: uma relao por explorar50| |51Estudosrecentesdemonstraramqueasmulheresusamotelemvelparacon-versas mais longas sobre questes pessoais e emocionais, enquanto os homensusammaisfrequentementeotelemvel,masparachamadasmaiscurtas,comfnsprofssionaiseutilitrios6(Cardoso,2007;Geser,2006;Ling,2004).Otelemveltambmreferenciadopormuitosautorescomoumatecnolo-giaafectiva(Lasen,2004;Plant,2001),umobjectodemediao,demonstraoecomunicaodesentimentoseemoes.Estaligaoemocionaltraduz-senaper-sonalizaodosterminaisatravsdelogos,imagens,toquesedosserviosMMS,toquesring-backquepersonalizamosomdechamada.Otelemvelnosumaextenso do seu utilizador, mas tambm uma presena virtual, uma extenso danossa rede social e, neste sentido, traz consigo um apelo especial para o pblicofeminino.Deve-seaindaaMcLuhanaclassifcaoquedistingueosmediaentrefres-cosouquentes.Estadistinoajuda-nosacompreendermelhorosdiferentesusosquehomensemulheresdoaotelemvel.5. telemvel como media fresco: condicionante da apropriao de acordo com o gneroAo analisar a forma como os vrios media afectavam os nossos sentidos,McLuhan chegou a uma distino entre media frescos e media quentes. Deacordo com McLuhan, os media quentes so aqueles que tm uma elevada def-nio,deixampoucosespaosembrancoparanspreenchermos.Somediaquerapidamentesetornamumcontexto,passandodespercebidosnoambiente.Josmediafrescosnopodemserignorados,exigemoenvolvimentodosnossossen-tidos para completar a informao limitada que nos proporcionam, exigem umaparticipaoactivadosutilizadores.Esta uma classifcao muitas vezes dif cil de entender por ser contra-in-tuitiva (Quadro 1). Geralmente, consideramos quente algo que pensamos comoenvolvente,poroposioaalgofresco,quenossugeredistanciamento.Noentanto,estaformadeclassifcaofazpartedametodologiadeanlisedeMcLuhan,obri-gando-nosapensar,airparaalmdobvio.Quadro 1. Comparao entre media quente e media fresco (Mark Ferderman e Derrick de Kerckhove, 2003)Nosendocontemporneodotelemvel,McLuhannolhepodiateraplicadoesta classifcao. No entanto, McLuhan assistiu ao nascimento e evoluo dateleviso,sendoqueomesmopadroqueeledescreveparaatelevisopareceestaraacontecercomotelemvel.Quandonasceu,atelevisoexigiamuitoenvolvimento,aimagemeraapretoebrancoedebaixaresoluo,aqualidadederecepoeramuitasvezesm.Mas, medida que foi melhorando de qualidade e ganhando novas funcionalidades, ateleviso foi-se tornando um media quente, exigindo cada vez menor interacodos utilizadores: ecrs grandes, som de alta defnio, imagem digital tornam aimagemdatelevisoprximadaimagemreal.Otelemvelpareceestaraseguiromesmopadrodeevoluodateleviso.Os primeiros telemveis permitiam apenas conversao, as chamadas estavamconstantementeacair,aqualidadedosomeram,eissoexigiaumgrandeenvol-vimentodosutilizadores.Osaparelhosmaisrecenteseosserviosprestadosnestemomento,comoovdeo,indicamumaevoluoparaummediaquente.Observarastransformaesporquepassouatelevisopodeajudarosgestoresresponsveispelas decises na rea da tecnologia mvel a perspectivarem a sua evoluo. TalcomoMcLuhanafrma,nohvantagemoudesvantagememserummediafrescoouquente,agestoquetemdeestaratentascaractersticasdomediaeformacomoomercadoreage.Carla Ganito As mulheres e os telemveis: uma relao por explorarMedia quente Media frescoEstendeumnicosentidoemaltadefnio,ouseja,commuitainformao.Porexemplo,umafotografaaltadefnio,enquantoumdesenhobaixadefnio.Envolvemltiplossentidoscombaixadefnioemenosinformaoparacadaumdeles.Baixaparticipaoactiva;aaudincianoprecisadepreencherespaossensoriaisvazios.Participaoelevadadointelecto;aaudinciaprecisadepreencherosespa-ossensoriaisvazios.Tendeaexcluir. Tendeaincluir.Geraespecializaoefragmentao. Gerageneralizaoeconsolidao.Areaconaturaladormeceraconscinciaparamitigarosefeitosdomediaquente.Areaconaturalactivaraconscin-ciaparaaumentarapercepo.geralmentecaracterizadoporexperinciascurtaseintensas.geralmenteassociadoaexperinciasmaislongasesustentadas.52| |53FedermanedeKerckhove(2003)aplicaramestaclassifcaoaocontextoem-presarial, alertando os gestores para o facto de uma indstria fresca precisar deexperinciasedeempresasquentesqueconquistemoverdadeirovalordeumam-bientefrescoaateno.Jnumaindstriaquente,umaempresatambmquen-te corre o risco de sobreaquecer e de manifestar a tendncia de reverso. Destaforma, segundo os autores, as indstrias quentes devem ter uma gesto fresca enegciosfrescos.Oinversotambmverdade,ouseja,paraconquistaraatenodoclientenumaindstriafresca,asempresastmdeserquentes,casocontrriocorremoriscodeperderaatenodosseusclientes.Dentrodaindstriadascomunicaesmveisosvriosserviosapresentamnveisdeevoluo,defrescoaquente,muitodiferentes.Oentretenimentomvelfresco:baixadefniocomumaparticipaointensaequeexigeumenvolvimentodointelecto.Destaformaasempresaseagestoprecisamdeserquentes,precisamdeatrairaatenodosclientese,nessesentido,necessriaumaindstriafrag-mentadaeespecializadaquevaoencontrodasnecessidadesespecfcasdevriossegmentosdemercado.Avozmaisquente,dando-nosmaisdetalhesedeixandomenosparaoreceptorpreencher,joSMS7maisfresco,deixandomaisparaainterpretaodoreceptordamensagem(Rheingold,2004).Estascaractersticastambmestointimamenterelacionadascomasques-tes de gnero. A ateno das mulheres no especializada [...], no focam aatenonumacoisadecadavez.Asmulheresusamosouvidostantomaisqueosolhos.Istosignifcaqueestoacostumadasamanter-seemcontactocommuitascoisasaomesmotempo[...](Kerckhove,1997:166).EstacaractersticaparecejustifcarasestatsticasqueapontamparaofactodeasmulheresusaremmaisoSMSeoshomenspreferiremaschamadas(Hjorth,2005). As caractersticas masculinas conduzem a uma maior tendncia para aadopodetecnologiasquentes,eascaractersticasfemininasparaaadopodetecnologiasfrescas.ConclusesAslinhasdeinvestigaoqueassumemumaperspectivaevolutivapartemdaobservaodastecnologiasanterioresaostelemveis,osquaistmnotelefoneoseuprecursormaisdirecto.Asconclusesdestesestudossoparticularmenteim-portantes,umavezqueprocuramextrairliesparaofuturosucessoouinsucessode novas iniciativas como o 3G, ou para o investimento em novos formatos deserviosoucontedos.Dos vrios estudos realizados podemos assinalar duas constataes impor-tantes:aprimeiraadequenodevemossubestimaropoderdosutilizadoresparaimporosseusobjectivosecompetncias;asegundaadequeacontnuaignorn-ciadoimpactodavarivelgneroconstituiumfactordeapropriaodistintiva.Talcomosucedeucomatelefoniafxa,otelemveltambmfoi,inicialmente,visto pelos seus fabricantes como sendo, antes de mais, uma ferramenta de tra-balho dirigida ao pblico masculino. Essa atitude levou a que se subestimasse aimportnciadosusosprivadosedelazerdascomunicaesmveis,bemcomoascondiesdeapropriaoespecfcasdopblicofeminino.Carla Ganito As mulheres e os telemveis: uma relao por explorar54| |55NOTAS1 De referir que no estudo elaborado por Gustavo Cardoso, Portugal Mvel, evidenciada umahomogeneidadedegneronosutilizadores,masumadiscriminaonoseiodosquenotmtele-mvel,dadoqueentreestes57,7%somulheres.2 Diane McGuinness psicloga de Standford e autora do artigo Sex, Symbols and Sensations.Cf. Kerckhove, D. e Iannucci, A. (eds.), McLuhanelaMetamorfosidellUomo, Ottawa: CanadianCommissionforUNESCO,OccasionalPaperNo.49,1984.3 NoestudoPortugalMvel,30,2%doshomensfaziamumautilizaomaisvariadadasfunciona-lidadesdotelemvel,contraapenas22,8%dasmulheres(p.52).4 DeacordocomoinquritoASociedadeemRedeemPortugal2006,CIES-ISCTE,agrandemaio-riadosinquiridos(89,4%)afrmouutilizarocartopr-pago.5 EntrevistarealizadanombitodadissertaodemestradoO Impacto da Mobilidade na Indstria de Contedos: Entretenimento Mvel em Portugal.AntnioCarrioeraquestionadosobreseconsi-deravaqueavarivelgnerotinhaimpactonoconsumodeentretenimentomvelese,emPortugal,aproporodeconsumidoreseraidnticadeoutrospases:60%dehomense40%demulheres.6 DeacordocomoestudoPortugalMvel(Obercom),soasmulheresquefalamparaosfamiliares(74,1%demulherespara64,4%dehomens).Jasconversasprofssionaissoessencialmentecondu-zidasporhomens(7,5%dehomensparaapenas2%demulheres),sendoque,dosquereferiramquemaisde10%dassuasconversasaotelemveleramconversasprofssionais,76,5%eramhomenseapenas23,5%mulheres.7 OSMSumprotocoloquepermite,entreoutrasaces,oenviodemensagensemformatodetextodeumapessoaparaoutrapessoa.BIBLIOGRAFIACardoso, G., Gomes, M., Espanha, R. e Arajo, V. 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