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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social ANA CAROLINA GIARRANTE REVISTAS EM PLATAFORMAS DIGITAIS: investigações sobre modelos de negócios e práticas jornalísticas São Bernardo do Campo-SP, 2014

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

ANA CAROLINA GIARRANTE

REVISTAS EM PLATAFORMAS DIGITAIS: investigações sobre modelos de negócios e práticas

jornalísticas

São Bernardo do Campo-SP, 2014

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

ANA CAROLINA GIARRANTE

REVISTAS EM PLATAFORMAS DIGITAIS: investigações sobre modelos de negócios e práticas

jornalísticas

Dissertação apresentada em cumprimento

parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista

de São Paulo (UMESP), para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Sebastião Squirra

São Bernardo do Campo-SP, 2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

G349r

Giarrante, Ana Carolina Revistas em plataformas digitais: investigações sobre modelos de negócios e práticas jornalísticas / Ana Carolina Giarrante. 2014. 175 p. Dissertação (mestrado em Comunicação Social) --Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2014. Orientação : Sebastião Squirra 1. Revista digital 2. Jornalismo de revista 3. Comunicação digital 4. Jornalismo online 5. Prática jornalística I. Título.

CDD 302.2

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação de mestrado sob o título “Revistas em plataformas digitais:

investigações sobre modelos de negócios e práticas jornalísticas”, elaborada por Ana

Carolina Giarrante, foi apresentada e aprovada em 23 de abril de 2014, perante banca

examinadora composta por Profº Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra

(Presidente/UMESP), Profª Dra. Mônica Martinez (Titular/UNISO) e Profº Dr. José

Luiz Proença (Titular/USP).

__________________________________________

Profº Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________

Profª Dra. Marli dos Santos

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Comunicação Social

Área de Concentração: Processos Comunicacionais

Linha de Pesquisa: Inovações Tecnológicas na Comunicação Contemporânea

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Aos meus queridos pais, Simei e Clelio, e ao meu amado marido, James

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“Whoever adapts more easily can evolve along with the changes”

“Quem se adapta melhor, pode evoluir junto com as mudanças”

All work and all play (2012)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me abraçado nos momentos de dificuldade.

À minha doce avó, Herminda, que, com seu exíguo conhecimento das letras, me

ensinou a ler as primeiras palavras – em revistas em quadrinhos.

Ao meu amado pai, Clelio, de quem herdei o hábito (e o prazer) de ler revistas.

À minha querida mãe, Simei, que me ensinou a nunca deixar nada “pela metade” –

advertência cruel na adolescência, mas tão benéfica agora, nos momentos em que as

forças tornavam-se escassas.

Ao meu adorado marido, James, pelo carinho, amor e, principalmente, paciência para

ouvir minhas ideias e lamúrias típicas da pós-graduação.

Ao meu irmão, Guilherme, aos familiares e aos amigos próximos, por terem entendido

as constantes ausências.

Aos meus ex e atual chefes, Marcelo Bartolomei e Aline Cebalos, respectivamente, pela

compreensão e respeito à minha pesquisa.

À gentil e talentosa Aline Madureira, colega recente de trabalho que me presenteou com

o design dos gráficos e tabelas que ilustram esta dissertação.

Ao meu orientador, Sebastião Squirra, pelo apoio incondicional às minhas convicções.

Aos professores da pós-graduação da Universidade Metodista, pelos conselhos e

excelente qualidade das aulas.

Aos amigos do mestrado, pelo amparo nas horas de tensão e pelos bons momentos dessa

fase árdua e desafiadora – especialmente Aline Farias Porto, Ana Graciela da Fonseca

Voltolini, Julio Cesar Fernandes, Eugênia Ribeiro e Mônica Castro.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela

concessão da bolsa de estudo.

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Jornalismo na web e suas definições ........................................................... 113

Tabela 2 – Distribuição dos leitores de Veja ................................................................. 129

Tabela 3 – Sugestões de modelos de negócios e suas aplicações .................................. 146

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Topo da página principal do site de Veja ..................................................... 122

Figura 2 – Veja para tablet ............................................................................................ 126

Figura 3 – Veja no smartphone...................................................................................... 126

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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Recombinação de interfaces nas eMagazines .............................................. 52 Gráfico 2 – Modelo de negócio “tradicional” ................................................................. 67 Gráfico 3 – As gerações e o consumo de mídia .............................................................. 75 Gráfico 4 – Modelo de inovação disruptiva .................................................................... 78

Gráfico 5 – Método de inovação do Newspaper Next..................................................... 80

Gráfico 6 – Publicidade em variados setores da mídia .................................................... 87

Gráfico 7 – Atributos da revista .................................................................................... 111

Gráfico 8 – Pirâmide deitada ......................................................................................... 117

Gráfico 9 – Atributos do webjornalismo ....................................................................... 118

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 15

CAPÍTULO I – PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DA DISSERTAÇÃO E REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................................................... 19

1. Processos de construção da dissertação – metodologia ....................................................... 19

2. Referencial teórico .............................................................................................................. 25

CAPÍTULO II – CONTEXTOS MIDIÁTICOS ......................................................................... 33

1. Da sociedade analógica à sociedade em rede ...................................................................... 33

2. Um novo ecossistema midiático .......................................................................................... 39

3. As revistas enquanto produtos da nova mídia ..................................................................... 47

CAPÍTULO III – NOVOS MODELOS DE NEGÓCIOS DO JORNALISMO .......................... 56

1. Modelos tradicionais de negócios no jornalismo de revista ................................................ 57

2. A necessidade de novos modelos de negócios no jornalismo ............................................. 68

3. Inovação e novos modelos de negócios no jornalismo ....................................................... 76

3.1. Paywall e a receita dos meios digitais .......................................................................... 81

3.2. Conteúdo e publicidade social ...................................................................................... 86

3.3. Agregadores de notícias ............................................................................................... 89

3.4. Crowdfunding ............................................................................................................... 91

3.5. Startups ........................................................................................................................ 93

3.6. Revistas brasileiras e os novos modelos de negócios ................................................... 96

4. Mudanças no trabalho do jornalista .................................................................................... 98

CAPÍTULO IV – AS REVISTAS NO MEIO DIGITAL: ESTUDO DE CASO ...................... 107

1. Atributos da revista e de seu jornalismo ........................................................................... 107

2. O comportamento das revistas nas plataformas digitais ................................................... 112

3. Estudo de caso: Veja.com .................................................................................................. 118

3.1. Sobre Veja e Veja.com ............................................................................................... 119

3.2. Descrição do site e do aplicativo de Veja para tablet ................................................. 121

3.3. Conclusões com base nas categorias de análise ......................................................... 127

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CAPÍTULO V – CAMINHOS PARA NOVAS PRÁTICAS EDITORIAIS E MODELOS DE NEGÓCIOS PARA REVISTAS ............................................................................................... 131

1. O cenário atual e o futuro das revistas .............................................................................. 131

2. Caminhos para práticas editoriais e modelos de negócios ................................................ 140

2.1. Paywall e assinatura digital ........................................................................................ 141

2.2. Conteúdo e publicidade social .................................................................................... 142

2.3. Serviços ...................................................................................................................... 143

2.4. E-commerce ................................................................................................................ 144

2.5. Eventos ....................................................................................................................... 145

2.6. Sistematizando modelos ............................................................................................. 146

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 149

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 155

ANEXO ..................................................................................................................................... 171

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GIARRANTE, Ana Carolina. Revistas em plataformas digitais: investigações sobre modelos de negócios e práticas jornalísticas. 2014. 175 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.

RESUMO

O avanço das tecnologias trouxe aos meios de comunicação a oportunidade destes explorarem novas possibilidades e, também, a necessidade de se adaptarem ao ciberespaço. As revistas compõem este panorama e, com a popularização da internet, começaram a se fazer presentes na rede, ambiente ao qual chegaram com sites que reproduziam seu conteúdo e, com o tempo, aprimoraram seu modus operandi. Com o advento de dispositivos móveis, elas continuam se adequando ao ambiente digital. Sob essa perspectiva, delineia-se a presente pesquisa, que visa compreender as novas práticas jornalísticas e os modelos de negócios possíveis de serem empreendidos em tal cenário de incessantes transformações. Para tanto, realiza-se um levantamento bibliográfico e de dados estatísticos, além de um estudo de caso. A pesquisa revela condições do novo fazer jornalístico, bem como caminhos possíveis de modelos mercadológicos para as revistas nas plataformas digitais.

PALAVRAS-CHAVE: Revistas digitais. Jornalismo de revista. Jornalismo on-line. Prática jornalística. Gestão jornalística.

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RESUMEN

El avance de las tecnologías ha traído a los medios de comunicación la oportunidad de ellos explotaren nuevas posibilidades y, también, la necesidad de adaptarse al ciberespacio. Las revistas componen este panorama y, con la popularización de internet, empezaran a estar presentes en la red, ambiente donde llegaran con sitios que reproducían el contenido y, con el tiempo, perfeccionaran el modus operandi. Con el adviento de los dispositivos móviles, ellas permanecen adecuándose al ambiente digital. En esta perspectiva, quedase la presente investigación, que mira comprender las nuevas prácticas periodísticas y los modelos de negocios posibles de ser emprendidos en este escenario de incesantes transformaciones. Para tanto, realizase una investigación bibliográfica y de datos estadísticos, además de un estudio de caso. La investigación revela condiciones del nuevo hacer periodístico, así como caminos posibles de modelos mercadológicos para las revistas en plataformas digitales.

Palabras clave: Revistas digitales. Periodismo de revista. Periodismo en línea. Práctica periodística. Gestión periodística.

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ABSTRACT

Technologies’ advance has brought to means of communication the opportunity to explore new possibilities and the need to adapt themselves to cyberspace. Magazines make part of this scenario and, with internet popularization, they have started to became part of the web, a place where they have arrived with websites that used just to reproduce their content. Over the time, however, they have improved their modus operandi. With the advent of the mobile displays, magazines have been adjusted themselves to the digital environment. From this perspective, this research aims to understand new journalistic practices and business models to be applied in a scenario of unceasing transformations. To achieve that, it has been done a bibliographical and statistician research, along with case study. This analysis reveals conditions of the new journalistic perform, as well as possible new business models for the magazines in digital platforms.

Key words: Digital magazines. Magazine journalism. On-line journalism. Journalistic practices. Journalistic management.

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INTRODUÇÃO

“Uma revista carrega um mundo dentro de si” Renné Oliveira França (2013, p. 93)

Vive-se um momento particularmente especial na História da humanidade, no

qual as tecnologias tomam conta do dia a dia das pessoas, de maneira ubíqua, e

transformam muitos padrões e paradigmas, seja na sociedade, seja no trabalho, seja no

campo científico. Especificamente na comunicação, as incessantes inovações

tecnológicas vêm provocando ao longo dos anos importantes metamorfoses. As eras

eletrônica e digital apresentaram-nos o telégrafo, o telefone, o rádio, a televisão, o

computador, o videogame, a internet e os dispositivos móveis. E todos os movimentos

levantados por cada uma dessas novidades levaram-nos a uma nova lógica social, que se

estabelece atualmente da maneira como esclarece Manuel Castells:

No final do século XX, três processos independentes se uniram, inaugurando uma nova estrutura social predominantemente baseada em redes: as exigências da economia por flexibilidade administrativa e por globalização do capital, da produção e do comércio; as demandas da sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta tornaram-se supremos; e os avanços extraordinários na computação e nas telecomunicações possibilitados pela revolução microeletrônica. Sob essas condições, a internet, uma tecnologia obscura sem muita aplicação além dos mundos isolados dos cientistas computacionais, dos hackers e das comunidades contraculturais, tornou-se a alavanca na transição para uma nova forma de sociedade – a sociedade em rede –, e com ela para uma nova economia (2003, p. 8).

A sociedade em rede, conforme atesta o autor, também manifesta um novo

ecossistema de mídia, em que tudo ainda está inquietamente em fluxo. E é nesse

ambiente de mutações contínuas que se insere o objeto de estudo desta pesquisa: as

revistas nas plataformas digitais.

Com a apropriação da internet pelos meios de comunicação tradicionais, as

revistas começaram a se fazer presentes no ciberespaço e, pouco mais de duas décadas

depois, buscamos apresentar aqui um panorama dessa movimentação, bem como

caminhos para essas publicações no âmbito comercial e na prática jornalística.

Trabalhando no site de uma revista e observando o dia a dia da produção

jornalística, do contato com os leitores, da repercussão dos conteúdos nos sites de redes

sociais e nos moldes de negócios, questionamo-nos para onde o atual modelo poderia se

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dirigir. A partir dessa dúvida advinda do mercado de trabalho, recorremos à academia

para, com a ajuda de teóricos, buscar compreender melhor as inovações tecnológicas no

cenário da comunicação contemporânea, especificamente no mercado das revistas.

A princípio, a ideia era falar de revista somente sob a ótica das práticas

jornalísticas e da relação entre as redações das versões impressa e digital. Contudo, no

percorrer do caminho, deparamo-nos com muitas transformações no mercado editorial:

- The New York Times declara-se uma empresa de tecnologia e não mais somente de

mídia;

- A maior casa editorial brasileira, a Editora Abril, encerra a circulação de diversas

revistas e demite dezenas de jornalistas;

- Jeff Bezos, CEO da Amazon (empresa de varejo eletrônico), compra o tradicional

jornal norte-americano Wall Street Journal, em uma atitude que vai contra a atual

corrente dos negócios, que visa, principalmente, às empresas focadas em novas

tecnologias.

Essas três movimentações e muitas outras que pudemos extrair de

acontecimentos surgidos durante a elaboração deste trabalho nos fez ampliar o escopo

da pesquisa e, então, buscamos incorporar os atuais modelos de negócios relativos ao

nosso objeto de estudo e tendências que se evidenciam como possibilidades em um

futuro próximo – tendo em vista que as atuais práticas comerciais e jornalísticas estão

ainda sem mostrar números significativos para o mercado.

Com base nessa onda de mudanças constantes, construímos esta pesquisa,

dividida em cinco capítulos. O primeiro aborda a metodologia utilizada e apresenta o

referencial teórico que compõe a coluna dorsal desta dissertação, estruturando-a e

alicerçando-a.

O segundo capítulo busca demonstrar os caminhos pelos quais a humanidade

passou até o estabelecimento da sociedade em rede, a estruturação de um novo

ecossistema de mídia – no qual pessoas comuns têm acesso à produção de conteúdo – e

a forma como as revistas se fixaram nos meios digitais.

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No capítulo seguinte, por meio da história dos magazines, buscamos traçar os

modelos de negócios tradicionais e, em seguida, os modelos que vêm se mostrando mais

adequados para os meios de comunicação em plataformas digitais. Enumeramos, ainda,

ações de revistas nacionais que já vêm demonstrando inovações mercadológicas, seja

por meio de novos negócios, seja por meio de inovações relacionadas ao formato do

conteúdo.

O quarto capítulo apresenta características do jornalismo de revista e do

webjornalismo e sua narrativa multimídia. O objetivo é tentar encontrar pontos em

comum para um padrão de revistas nas plataformas digitais no que concerne ao

conteúdo e, também, à prática jornalística. Para materializar essas recorrências de

atributos de ambos os modelos de jornalismo (revista e web), realizamos um estudo de

caso. Escolhemos como corpus Veja.com1, e pretendemos expor como o site da maior

revista brasileira, assim como sua versão para tablet, está no presente momento lidando

com o conteúdo em múltiplas plataformas digitais, bem como a maneira com a qual se

dividem seus jornalistas, como se estabelece a sua relação com os leitores, e seus

modelos de negócios.

Com base em toda a construção deste estudo, o quinto e último capítulo aponta

possibilidades para o futuro das revistas, tendo como esteio pesquisas relacionadas ao

meio e reflexões de estudiosos da área. Ele, ainda, ousa apresentar caminhos de novos

modelos de negócios para essas publicações em plataformas digitais, sem a pretensão de

estabelecê-los como verdade absoluta.

Aliás, o que mostramos ao longo de todo este estudo não é uma resposta final

para o futuro das revistas nas plataformas digitais, pois acreditamos que ainda não

existe nenhuma questão formalmente respondida no que diz respeito ao novo

ecossistema de mídia. Buscamos aqui fazer um recorte do cenário que vem sido

construído, sob a perspectiva da revista – um objeto de estudo, inclusive, não muito

abordado em pesquisas no Brasil, conforme mostraremos adiante.

Também não intentamos “praticar futurologia”, muito menos fazer apologia ao

fim do jornalismo impresso. Realizamos uma densa pesquisa bibliográfica que pudesse

1 O site da revista Veja, disponível em <http://www.veja.abril.com.br>.

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dar suporte às pretensões desta pesquisa, assim como um estudo de caso aprofundado

para mostrar o panorama atual do objeto escolhido sob dois principais aspectos:

modelos de negócios e práticas jornalísticas.

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CAPÍTULO I – PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DA DISSERTAÇÃO E REFERENCIAL TEÓRICO

“Se o jornal inventou o jornalismo, pode-se dizer que a revista elevou o

jornalismo”

Felipe Boff (2013, p. 189)

O presente capítulo pretende descrever a metodologia utilizada para a elaboração

deste estudo, assim como apresentar os autores e suas respectivas reflexões, produções

e/ ou pesquisas que ajudaram a compor o cabedal teórico acerca do objeto de estudo

proposto: as revistas nas plataformas digitais.

Por se tratar de objeto complexo e ainda pouco estudado da maneira que aqui se

constrói – conforme esclareceremos adiante – consideramos nos aprofundar em dois

aspectos concernentes às revistas nas plataformas digitais. São eles: os modelos de

negócios que se vislumbram como tendências, adequados às lógicas mercadológicas dos

magazines no Brasil; e as práticas jornalísticas em um cenário no qual esse tradicional

meio de comunicação passa a ter aderência à web.

Espera-se, assim, que tais aspectos estudados a fundo e reunidos possam mostrar

ao final desta pesquisa caminhos a serem trilhados pelas revistas nas plataformas

digitais no que diz respeito à produção jornalística, aos conteúdos e aos modelos de

negócios.

1. Processos de construção da dissertação – metodologia

As revistas nas plataformas digitais configuram-se em objeto ainda em

construção, por se tratar de fenômeno recente no campo da comunicação. Com a

popularização da internet nos anos 1990 e o advento da sociedade em rede (Castells,

2011), os meios de comunicação tradicionais viram-se diante da possibilidade de

utilizar os instrumentos do ciberespaço tanto para não perderem o mercado já

conquistado quanto para atraírem novos públicos. As revistas não ficaram de fora dessa

tendência, entretanto, a utilização da web por esses veículos de comunicação e suas

possibilidades ainda estão tomando forma.

Estudar esse cenário no atual momento vem, então, a contribuir com futuras

pesquisas sobre o tema e, ainda, a estabelecer caminhos prováveis a serem perseguidos

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na prática diária da elaboração das revistas no Brasil. Jorge A. González (2007), ao

discorrer acerca dos problemas de pesquisa, esclarece que “geramos conhecimento a

partir de situações das quais não sabemos o suficiente, porque essa carência de

conhecimento nos confronta com eventos ou processos que não desejamos que

continuem ocorrendo ou que poderiam melhorar caso saibamos como resolvê-los”

(GONZÁLEZ, 2007, p. 66, tradução nossa2). Sendo assim, este estudo em questão,

acerca das revistas nas plataformas digitais, vale-se de pesquisa bibliográfica combinada

a um estudo de caso.

A pesquisa bibliográfica (2010, 1996) auxilia na construção de uma base de

conhecimentos prévios do que já foi produzido acerca do tema, bem como de teorias

relacionadas ao objeto de estudo em questão e ao problema de pesquisa, já que seu

desenvolvimento estabelece-se “a partir de material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2010, p. 48). As fontes

bibliográficas podem ser livros de leitura corrente ou de referência e publicações

periódicas (jornais e revistas).

Neste estudo, tal tipo de pesquisa permitiu a constituição de uma base de

conhecimento teórico, bem como a conceituação de termos, descrição e compreensão

dos contextos sociais, culturais e econômicos nos quais se encontram as revistas nas

plataformas digitais. Uma representativa gama de estudiosos foi selecionada para suprir

as necessidades de contextualização do objeto de estudo, assim como para atender às

demandas do problema de pesquisa previamente levantado – quais os modelos de

negócios e as práticas jornalísticas que se aproximam da realidade do atual cenário das

revistas nas plataformas digitais no Brasil?

Os autores consultados tiveram seus materiais acessados por meio de livros e

arquivos digitais. Mas também foram recolhidos e analisados dados estatísticos de

pesquisas – os mais atuais possíveis – de instituições conceituadas acerca do tema.

Grande parte dessas pesquisas que apresentam dados estatísticos aqui expostos partiu de

estudos estrangeiros, mas também há pareceres nacionais que apoiam esta dissertação.

Assim sendo, também foi essencial uma revisão prévia de literatura, bem como de uma

2 “Generamos conocimiento a partir de situaciones de las que no sabemos lo suficiente, porque esa carencia de conocimiento nos confronta con eventos o procesos que no deseamos que sigan ocurriendo o que podrían mejorarse si supiéramos cómo resolverles.”

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pesquisa documental, com a busca documentos “tais como relatórios de pesquisa,

relatórios de empresas, tabelas estatísticas etc.” (GIL, 2010, p. 51).

A revisão de literatura nos ofereceu suporte para a seleção de obras que

realmente pudessem se materializar como referência para esta pesquisa. Christian

Laville e Jean Dionne (1999, apud SANTAELLA, 2001) definem a revisão

bibliográfica como ato de “seguir a informação como um detetive procura pistas: com

imaginação e obstinação”. E, como investigador, buscamos nesta etapa compilar

informações pertinentes ao ponto de propiciar avanço na pesquisa bibliográfica em si,

efetuada durante o curso do estudo.

No que se refere à pesquisa bibliográfica específica, os materiais encontrados

podem ser considerados relativamente exíguos e isso se deve, provavelmente, ao fato de

o objeto de estudo estar constituído dentro de uma realidade extremamente

contemporânea, conforme aponta Sebastião Squirra:

Olhando pelo ângulo da Comunicação é possível afirmar que a produção científica – e bibliográfica – ainda é surpreendentemente escassa tendo em vista uma compreensão mais aguçada das tecnologias digitais utilizadas nas trocas informativas dos dias atuais (2011, p. 74).

O mesmo autor também busca esclarecer a necessidade de uma nova Teoria das

Comunicações, que contemple as características que estão moldando a área,

principalmente devido ao avanço das tecnologias. Para tanto, ele sugere a criação de um

novo campo, dadas as especificidades do novo momento:

Para compreender e enquadrar os sempre diversificados sistemas de difusão de dados e informações, até recentemente pesquisadores cimentavam conceitos e investigações em bases teóricas construídas em meados do século passado. Em seguida, essas foram aprofundadas a partir dos anos 1970 e estruturadas nas várias correntes e pressupostos científicos que se consolidaram nas últimas décadas daquele período. Todavia, centrada na configuração da realidade que definia o terreno analítico de outrora, erigida na convivência com a sociedade analógica, a fértil, plural e evoluída base tecnológica hoje existente demonstra como insuficientes aqueles pressupostos teóricos no enquadramento dos processos digitais da contemporaneidade. Como consequência disso, pesquisadores seniores do segmento das Ciências Sociais estão mergulhados em estudos e reflexões na tentativa da elaboração de uma inédita base epistêmica, que poderá levar o campo na direção de uma novíssima Teoria das Comunicações, fato que tomará com certeza os próximos anos, ou mesmo as décadas vindouras. Seguramente, as condições estão postas para o surgimento de uma redefinição da comunicação e de um inédito campo, a Ciberlogia, como

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espaço apropriado para os estudos do ciberespaço (SQUIRRA, 2013, p. 87-88).

Para Squirra (p. 96), esse novo campo deve se ater a “estudos das características,

plataformas, modelos, abrangências e modularidades da comunicação no ciberespaço”.

Dessa maneira, é preciso levar em conta que estamos adentrando em uma seara

ainda pouco sedimentada no campo científico e, no decorrer deste estudo, até onde se

pôde verificar, há pesquisas escassas que contemplam as revistas nas plataformas

digitais. Além disso, elas abordam temáticas variadas, principalmente no que se refere à

chegada das revistas na web, questões relacionadas à interação, o cenário da mobilidade

e o futuro dos magazines, debatendo, principalmente, o uso de tablets.

Em sua totalidade, não há um estudo contundente sobre o que buscamos

pesquisar aqui: as revistas nas plataformas digitais sob a ótica de novos modelos de

negócios e práticas jornalísticas. Porém, coube-nos realizar o cruzamento de

informações, análise de dados e comparação de pesquisas elaboradas acerca dos temas

de interesse deste estudo a fim de desenredar a maior quantidade possível de questões

que pudessem traçar um panorama detalhado sobre o problema de pesquisa proposto.

Aline Dalmolin (2013), em artigo relacionado à produção acadêmica sobre

revista, mostra que as teses e dissertações que abordaram o assunto dentre os anos de

1987 e 2010 no Brasil somam um total de 501 pesquisas. Dessas, 176 foram produzidas

na primeira década dos anos 2000. A autora aponta, ainda, que tal objeto de estudo não

é exclusivo da comunicação e aparece em pesquisas de diversas áreas do conhecimento,

tais como história e letras. Ela ainda esclarece que:

As revistas, na qualidade de objeto empírico, são amplamente estudadas e tematizadas, no entanto, ainda é bastante incipiente a produção de pesquisas que construam a partir das revistas objetos de conhecimento focados em seus aspectos jornalísticos e comunicacionais, sendo ainda menos representativa a pesquisa voltada à construção de metodologias focadas de forma específica para se pensar o objeto. Apesar de trazerem uma ampla gama de temas, as teses e dissertações giram por construções de abordagem dos objetos bastante similares. Verifica-se a absoluta predominância de pesquisas que respondem a uma fórmula que se estrutura pela análise da cobertura de um determinado tema (na maior parte das vezes, externo ao campo da comunicação) numa determinada revista. [...] Nota-se a ausência absoluta de trabalhos que procuram problematizar as rotinas de produção bem como o trabalho dos profissionais que atuam em revista, contrastando suas especificidades (2013, p. 293-294).

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A pesquisadora complementa que são priorizados “constructos teórico-

metodológicos” de variados campos do conhecimento, como análise do discurso,

semiótica e análise de conteúdo, principalmente a fim de explorar aspectos discursivos e

relativos a representações sociais, em detrimento de “abordagens que enfoquem o fazer

jornalístico próprio, a estruturação de projetos editoriais, o design, a recepção e a

circulação das revistas” (p. 294).

Na tentativa de preencher lacunas designadas pela autora, esta dissertação

pretende tratar do fazer jornalístico e da circulação das revistas, sugerindo, no entanto,

perspectivas mais amplas e mirando as revistas nas plataformas digitais – objeto não

citado por Dalmolin em seu artigo, provavelmente pela ausência de pesquisa nesta área.

Complementando a pesquisa bibliográfica, apresentamos também um estudo de

caso. Como trabalhamos com objeto inserido em novo contexto do campo da

comunicação, não podemos deixar de considerar esta pesquisa como de característica

complexa. Sendo assim, a escolha por estudo de caso faz-se essencial, pois, como

explica Robert K. Yin (2001, p. 32), tal técnica é “uma estratégia de pesquisa

abrangente” e, também, “uma investigação empírica que investiga um fenômeno

contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites

entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.

De acordo com Augusto Nibaldo Silva Triviños (1990, p. 110-111), estudos de

casos “têm por objetivo aprofundarem a descrição de determinada realidade”, porém,

“os resultados são válidos só para o caso que se estuda”. Mas essa particularidade da

técnica não minimiza seu valor já que, segundo o próprio autor, ela fornece “o

conhecimento aprofundado de uma realidade delimitada que os resultados atingidos

podem permitir e formular hipóteses para o encaminhamento de outras pesquisas”.

No caso específico desta pesquisa, optamos por uma técnica que envolve estudo

de caso, mas com métodos complementares. Tal metodologia híbrida para o jornalismo

digital foi proposta por Elias Machado e Marcos Palacios (2007), pesquisadores do

Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line (GJol), da Universidade Federal da Bahia.

Nela, o estudo de caso é o ator principal, acompanhado de revisão da literatura e a

formulação de categorias de análise.

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Este modelo sugere os seguintes procedimentos, exatamente nesta ordem:

Fase 1: Análise preliminar do objeto (complementação da revisão bibliográfica e

mapeamento do campo para a escolha definitiva das organizações jornalísticas que

serão utilizadas nos estudos de caso);

Fase 2: Delimitação do objeto de estudo (identificação das hipóteses de trabalho

que serão relevantes para a compreensão do objeto estudado e das irregularidades e

descontinuidades que possam ser relevantes para a formulação de novas hipóteses) e

procedimentos nos estudos de caso (elaborar protocolo a ser usado em campo e coleta

de dados);

Fase 3: Definição conceitual (definição das categorias de análises e elaboração

de conceitos capazes de dar conta das particularidades do objeto).

Nesta dissertação em questão, aplicamos a metodologia do GJol especificamente

no capítulo IV, no qual realizamos um estudo de caso que busca contemplar parte dos

objetivos propostos nesta pesquisa acerca do objeto de estudo. A escolha se justifica,

pois vislumbramos o objeto como complexo, exigindo uma análise mais profunda, pois

une o questões relativas ao jornalismo impresso e digital em uma única investigação.

Como corpus do estudo de caso, selecionamos o site de Veja, revista de maior

circulação no Brasil. Com periodicidade semanal, a publicação tem edições impressas

especiais, passou a ter um site (agora atualizado em esquema 24 horas por dia, sete dias

por semana) com a chegada da internet às redações, possui versões para tablets e forte

presença em sites de redes sociais. Além disso, a publicação tem redações distintas para

as edições impressa e digital e busca se adequar a uma nova realidade mercadológica

advinda com a inserção das tecnologias no campo da comunicação.

Para a elaboração adequada e aprofundada deste estudo de caso também se faz

necessária a realização de entrevista estruturada (com Carlos Graieb, executivo da

revista Veja e responsável por seu site), a fim de compor de forma mais real possível o

corpus. Teresa Maria Frota Haguette (2005, p. 89-90) pondera o uso dessa técnica na

pesquisa, alertando que alguns aspectos podem interferir na qualidade dos dados por

parte do entrevistado, como: ele pensar que as repostas podem influenciar positivamente

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ação futura; quebra de espontaneidade; desejo de agradar o pesquisador; fatos que

podem acontecer entre as entrevistas; e conhecimento sobre o assunto da entrevista.

Para dirimir alguns desses possíveis obstáculos, optamos por entrevista enviada

por mensagem eletrônica (e-mail), com o intuito de o pesquisador não interferir nas

respostas, deixando o informante à vontade quanto ao momento de preencher a

entrevista, ainda que dentro de um prazo estipulado. Contudo, é preciso levar em

consideração que as respostas carregam em seu teor um viés de informação, conforme

descreve Haguette (2005, p. 89): “o informante é também um observador, no sentido

que ele relata aquilo que viu ou sentiu ao longo de sua experiência”.

Acreditamos que a metodologia aqui esmiuçada tenha contribuído com os

resultados que pretendíamos alcançar no decorrer da elaboração deste estudo,

contemplando as especificidades do objeto de estudo e, também, os aspectos que vêm se

estabelecendo nesse novo cenário que se fixa à volta do campo da comunicação, com a

apropriação das tecnologias.

2. Referencial teórico

Conforme exposto no primeiro trecho deste capítulo, ainda se faz necessário

realizar estudos sobre os assuntos que contornam o objeto aqui proposto. Para aquilo

que foi delineado como propósito desta dissertação, o grande desafio foi construir uma

pesquisa bibliográfica específica. Portanto, realizamos um profícuo levantamento a fim

de abarcar o entorno e a natureza que constitui o fenômeno pesquisado da forma mais

detalhada possível. Assim, com base no entendimento da maneira com a qual essa

dissertação foi elaborada, enumeramos agora o referencial teórico que compõe a base de

conhecimento para a sua construção.

Para a contextualização teórico-histórica desta dissertação, utilizamos conceitos

e pensamentos de Manuel Castells nos livros A sociedade em rede – a era da

informação: economia, sociedade e cultura (2011) e A galáxia da internet: reflexões

sobre a Internet, os negócios e a sociedade (2003). Sociólogo espanhol, o pesquisador é

especialista em estudos sobre sociedade da informação, comunicação e globalização.

Seu conceito de “sociedade em rede” permeia toda a base contextual deste trabalho.

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Ainda acerca dos processos que levaram à “sociedade em rede”, pesquisamos

obras como A terceira onda (2010), de Alvin Tofller3, e O mundo é plano: uma breve

história do século XXI (2007), de Thomas Friedman4. Esses textos ajudaram a

compreender como as mudanças sociais caminharam lado a lado com as inovações

tecnológicas e como esse processo teve influência no campo da comunicação.

O livro Uma história social da mídia (2004), de Asa Briggs5 e Peter Burke6, nos

auxilia a mostrar como os homens se apropriaram das tecnologias para o

desenvolvimento das mídias. Wilson Dizard Jr.7, com A nova mídia (2000), e Henry

Jenkins8, com Cultura da Convergência (2009), também ajudam a compor a análise dos

fatores que levaram às mudanças nos meios de comunicação nas últimas décadas,

constituindo um novo ecossistema de mídia.

Também nos apoia no estabelecimento de uma linha de raciocínio acerca da

inclusão de novas tecnologias no campo da comunicação e das alterações no fazer

jornalístico Sebastião Squirra9, com os recentes artigos científicos Convergências

tecnológicas, mídias aditivas e espiralação de conteúdos jornalísticos (2012),

Jornalismos com convergências midiáticas nativas e tecnologias incessantes (2013) e A

iComunicação: da metacomunicação à Ciberlogia (2013).

3 Alvin Toffler é um escritor e futurista norte-americano conhecido por seus escritos sobre a revolução digital, a revolução das comunicações e a singularidade tecnológica. Página oficial disponível em: <http://www.alvintoffler.net/?fa=home>. 4 Thomas Loren Friedman é um jornalista e escritor norte-americano. Possui uma coluna no jornal The New York Times e já ganhou o Prêmio Pulitzer por três vezes. Página oficial disponível em: <http://www.thomaslfriedman.com/>. 5 Asa Briggs foi diretor do Worcester College, da Universidade de Oxford, e atualmente ocupa a reitoria da Universidade Aberta Britânica. É autor de diversos livros sobre radiodifusão e recebeu o Prêmio Wolfson de História em 2000 (BRIGGS; BURKE, 2004). 6 Peter Burke é professor de história da cultura na Universidade de Cambridge e membro do Emmanuel College, da mesma universidade. Escreveu, entre outros, A Fabricação do Rei (1994), Uma História Social do Conhecimento (2003) e O que é História Cultural (2005) (BRIGGS; BURKE, 2004). 7 Wilson Dizard Jr. foi associado sênior do programa de políticas de comunicações do Center for Strategic & International Studies em Washington. Autor de The Coming Information Age (DIZARD JR. 2000). 8 Henry Jenkins é um estudioso da mídia norte-americano. Página oficial disponível em: <http://henryjenkins.org/>. 9 Sebastião Carlos de Morais Squirra concluiu o doutorado (1992) e o mestrado (1988) em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. Fez pós-doutorado nos EUA e Espanha (1995/96). Atualmente é docente da Universidade Metodista de São Paulo, onde atua no Programa de Pós-graduação em Comunicação (Mestrado e Doutorado). Atua na área da Comunicação Eletrônica (Jornalismo, Mídias e RTV), e com foco na Cibercomunicação e em TV Digital (Plataforma Lattes, 2014).

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Partindo para os processos sociais de midiatização e interação, nos amparam os

textos Circuitos versus campos sociais (2012), de José Luiz Braga10, Discutindo o

“processo de midiatização” (2009), de Fabiane Sgorla11, Redes sociais na internet,

difusão de informação e jornalismo: elementos de discussão (2009), de Raquel

Recuero12, e Modelo para análise do jornalismo midiatizado (2009), de Demétrio de

Azeredo Soster13.

No que concerne especificamente ao jornalismo de revista, consideramos

estudos de importantes e consagrados pesquisadores da área: Sérgio Vilas Boas14, autor

de O estilo magazine: o texto em revista (1996); Marília Scalzo15, autora de Jornalismo

de revista (2003); e Fatima Ali16, autora de A arte de editar revistas (2009). Maria

Celeste Mira17, com sua obra O leitor e a banca de revistas (2001), auxilia em aspectos

históricos das revistas, bem como na consolidação dessas publicações no mercado

editorial.

Organizado por Frederico de Mello B. Tavares18 e Reges Schwaab19 (2013), o

livro A revista e seu jornalismo (2013) nos traz uma contextualização atual do cenário

10 José Luiz Braga é professor titular no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos (RS) desde 1999, tendo coordenado o Programa de 2002 a 2004. Doutor em Comunicação pelo Institut Français de Presse. Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Plataforma Lattes, 2014). 11 Fabiane Sgorla é relações públicas e jornalista, Mestre em Comunicação Midiática pela Universidade Federal de Santa Maria (SGORLA, 2009). 12 Raquel Recuero é jornalista, professora e pesquisadora do PPGL e do Curso de Comunicação Social da UCPel. Autora dos livros Redes Sociais na Internet e A Conversação em Rede. Página oficial disponível em: <http://www.raquelrecuero.com/>. 13 Demétrio de Azeredo Soster é jornalista, mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS e doutor em Ciências da Comunicação pela Unisinos. É professor de jornalismo na Unisc, diretor administrativo da SBPJor, membro pesquisador da Rede de Pesquisa Aplicada Jornalismo e Tecnologias Digitais JORTEC, da SBPJor; e do Grupo de Pesquisa Leitura, Literatura e Cognição, da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) (Plataforma Lattes, 2014). 14 Sergio Vilas-Boas é jornalista, escritor e professor (graduação e pós-graduação) na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Autor de Biografismos, Perfis e Os Estrangeiros do Trem N (vencedor do Prêmio Jabuti 1998). Página oficial disponível em: <http://www.sergiovilasboas.com.br/>. 15 Marília Scalzo é jornalista. Desenvolve e executa projetos de livros, revistas e reportagens e trabalha como consultora para o Instituto Moreira Salles. Dirigiu o Curso Abril de Jornalismo. 16 Fatima Ali foi diretora de redação e publisher de diversas revistas da Editora Abril e diretora-fundadora da revista Nova e do canal MTV no Brasil. Desenvolveu o projeto da edição brasileira da revista Estilo e foi vice-presidente do Grupo Abril (ALI, 2009). 17 Maria Celeste Mira é doutora em Ciências Sociais pela Unicamp, pesquisadora nas áreas de Antropologia Urbana e Sociologia da Cultura e autora de Circo Eletrônico – Silvio Santos e o SBT (MIRA, 2001). 18 Frederico de Mello B. Tavares é jornalista, doutor em Ciências da Comunicação pela Unisinos e professor adjunto no curso de Jornalismo da UFOP (TAVARES; SCHWAAB, 2013). 19 Reges Schwaab é jornalista, doutor em Comunicação e Informação pela UFRGS e professor adjunto no curso de Jornalismo da UFOP (TAVARES; SCHWAAB, 2013).

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das revistas, com textos de variados pesquisadores, como os próprios organizadores e,

também, Dulcilia Schroeder Buitoni20 (com o artigo Revista e segmentação: dividir

para reunir) e Laura Storch21 (com o texto Revista e leitura: sujeitos em interação),

entre outros.

Com relação às revistas especificamente nas plataformas digitais, destaca-se a

pesquisadora brasileira Graciela Natansohn22, da Universidade Federal da Bahia. Ela

organizou o livro Jornalismo de revista em redes digitais (2013), com artigos próprios e

de outros importantes estudiosos, como Carlos Alberto Scolari23 (com o texto

eMagazines. La evolución de las interfaces informativas). Natansohn, por sua vez,

explora as formas de distribuição de revistas na internet e discute sobre as novas

configurações na esfera da circulação.

Ainda nessa seara, há a obra Princípios inconstantes24, que reúne textos de

especialistas acerca do Jornalismo Cultural e aborda de forma bastante atual a questão

das revistas nas plataformas digitais.

Dentre os estudos internacionais envolvendo as revistas nas plataformas digitais,

encontramos o trabalho de mestrado de Teresa Ryberg25, do Royal Institute of

Technology, em Estocolmo, na Suécia, intitulado The future of the digital magazine:

how to develop the digital magazine from a reader and advertiser point of view (“O

futuro da revista digital: como desenvolver uma revista digital do ponto de vista do

leitor e do anunciante”, em tradução livre). Em sua pesquisa de 2010, Ryberg explora

tendências para a revista on-line com base em um estudo bibliográfico e entrevistas

realizadas com leitores de publicações impressas e digitais, assim como anunciantes.

20 Dulcilia Schroeder Buitoni é doutora em Teoria Literária pela FFLCH-USP, livre-docente e titular em Jornalismo pela ECA-USP e professora do Mestrado em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero (TAVARES; SCHWAAB, 2013). 21 Laura Storch é jornalista, doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS e professora adjunta no curso de Comunicação Social da UFSM (TAVARES; SCHWAAB, 2013). 22 Graciela Natansohn é professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (NATANSOHN, 2013). 23 Carlos Alberto Scolari é doutor em Linguística Aplicada e Linguagens da Comunicação pela Universidade Católica di Milano. É professor na Universitat Pompeu Fabra, em Barcelona, na Espanha. Página oficial disponível em: < http://hipermediaciones.com/>. 24 Organizada pelo jornalista Claudiney Ferreira. 25 Teresa Ryberg é pesquisadora do KTH Royal Institute of Technology, de Estocolmo, na Suécia.

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A pesquisadora revela ter concluído que o meio impresso possui características

difíceis de serem traduzidas para o formato digital. Ela também detectou que tanto

leitores quanto anunciantes têm altas expectativas com relação à interatividade,

inovação e novos conteúdos digitais. Este estudo revela-se bastante completo e com

informações que amparam esta dissertação em diversos momentos.

Para compreender a narrativa jornalística da revista nas plataformas digitais,

também buscamos respaldo em conceitos do webjornalismo, alicerçados na obra

organizada por Elias Machado26 e Marcos Palacios27, Modelos de jornalismo digital,

(2003). Sobre este assunto, há, ainda, o artigo científico de João Canavilhas28,

Webjornalismo: da pirâmide invertida à pirâmide deitada – obra que, nesta dissertação,

estabelece parâmetros para o entendimento do texto no jornalismo on-line.

Ainda nos auxiliam os livros Jornalismo digital (2003), de Pollyana Ferrari29;

Guia de estilo web: produção e edição de notícias on-line (2007), de Luciana

Moherdaui30, e os estudos de Luciana Mielniczuk31: Jornalismo na web: uma

contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual (2003),

Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web (2003) e Considerações

para um estudo sobre o formato da notícia na web: o link como elemento paratextual

(2001) – este, produzido em parceria com Marcos Palacios.

Para percorrermos os aspectos que envolvem o trabalho do jornalista nesse novo

contexto, recorremos, principalmente, ao livro As mudanças no mundo do trabalho do

26 Elias Machado é jornalista e doutor em Jornalismo. Professor no Departamento de Jornalismo da UFSC. Fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR) (LinkedIn). 27 Marcos Palacios é jornalista e Ph.D. em Sociologia pela University of Liverpool, Inglaterra. Coordena o Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (GJOL) (BARBOSA, 2007). 28 João Manuel Messias Canavilhas é licenciado em Comunicação Social pela Universidade da Beira Interior (UBI). Tem o Diploma de Estudos Avançados em Comunicação Audiovisual e Publicidade pela Universidade de Salamanca, onde realizou o doutorado sobre webjornalismo (BARBOSA, 2007). 29 Pollyana Ferrari é jornalista, doutora em Comunicação Social pela USP e professora na PUC-SP, na graduação e pós-graduação. Consultora de Comunicação e Mídias Sociais. Autora dos livros Jornalismo Digital, Hipertexto, Hipermídia e A Força da Mídia Social (Plataforma Lattes, 2014). 30 Luciana Moherdaui é jornalista (participou da criação do Portal iG) e doutora em Processos de Criação nas Mídias pela PUC. Página oficial disponível em: <http://www.contraclicagemburra.com/>. 31 Luciana Mielniczuk é professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. Doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UFBA. Estuda jornalismo digital desde 1995 (Plataforma Lattes, 2014).

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jornalista (2013), organizado por Roseli Figaro32, além dos artigos científicos

Jornalista contemporâneo: apontamentos para discutir a identidade profissional

(2009), de Virgínia Pradelina da Silveira Fonseca33 e Wesley Lopes Kuhn34; Jornalismo

computacional em função da “Era do Big Data” (2011), de Walter Teixeira Lima

Junior35; e Post-industrial journalism: adapting to the present (“Jornalismo pós-

industrial: adaptando-se ao presente”, em tradução livre), de 2012, de C.W. Anderson,

Emily Bell e Clay Shirky, pesquisadores do Centro Tow para Jornalismo Digital, da

Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

Tal estudo da Escola de Jornalismo de Columbia também nos apoia na

construção de uma contextualização sobre a necessidade de novos modelos de negócios

para o jornalismo nas plataformas digitais. É nesse momento, aliás, que lançamos mão

de uma extensa bibliografia estrangeira, principalmente no que se refere a estudos

acerca de propostas de novas ações mercadológicas para os meios de comunicação

inseridos no cenário digital.

Um deles é o projeto intitulado Creating Breakthrough Business Models36

(“Criando avanços nos modelos de negócios”, em tradução livre), de 2002, elaborado

pelo The Ackoff Center for the Advancement of Systems Approaches, da Universidade

da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Outro é o Blueprint for Transformation37 (Plano para Transformação, em

tradução livre), de 2006, produzido pelo grupo Newspaper Next, do American Press

Institute. O projeto cita o padrão de disrupção nos negócios, do pesquisador Clayton M.

Christensen38, e o adapta para a realidade dos modelos de negócio do jornalismo.

32 Roseli Figaro é professora livre-docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP. Possui pós-doutorado pela Universidade de Provence, França (2007), doutorado (1999) e mestrado (1993) em Ciências da Comunicação pela USP. 33 Virgínia Pradelina da Silveira Fonseca é doutora em Comunicação e Informação, professora e pesquisadora na UFRGS. 34 Wesley Lopes Kuhn é jornalista graduado pela UFRGS. 35 Walter Teixeira Lima Junior é jornalista e pós-doutor em Comunicação e Tecnologias Digitais. Professor da graduação e pós-graduação da UMESP. Pesquisa questões relacionadas à Ciência Cognitiva. Página oficial disponível em: <http://www.walterlima.net/net/>. 36 Disponível em: <http://acasa.upenn.edu/business_models.pdf>. Acesso em: Out. 2013. 37 Disponível em: <http://www.americanpressinstitute.org/wp-content/uploads/2013/09/N2_Blueprint-for-Transformation.pdf>. Acesso em: Out. 2013. 38 Clayton M. Christensen é professor de Business Administration na Harvard Business School. Página oficial disponível em: <http://www.claytonchristensen.com/>.

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Também nos escoramos no relatório Chasing Sustainability on the Net39

(“Buscando sustentabilidade na internet”, em tradução livre), organizado pelo Centro de

Pesquisa para Jornalismo, Mídia e Comunicação da Universidade de Tampere,

Finlândia, e elaborado por integrantes do grupo de pesquisa SuBMoJour (Modelos de

Negócios Sustentáveis para Jornalismo) em 2012, que mostra iniciativas de startups

especializadas em jornalismo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão e seus

respectivos modelos de negócios.

No entanto, um autor brasileiro figura nesse momento da dissertação. Ele é

Sérgio Mattos40, que, no livro A revolução digital e os desafios da comunicação (2013),

aborda a questão dos novos modelos de negócios.

É preciso ressaltar, ainda, que parte deste estudo contou com o apoio de material

publicado em jornais e revistas, tanto nacionais quanto internacionais (principalmente

dos Estados Unidos).

Por fim, quando apresentamos propostas de melhores caminhos a seguir no que

diz respeito às práticas jornalísticas e aos modelos de negócios das revistas nas

plataformas digitais, utilizamos dados estatísticos de institutos nacionais para traçar o

atual cenário das revistas no Brasil, assim como da pesquisa Magazine Media Factbook

2013/201441, realizada nos Estados Unidos por The Association of Magazine Media, e

que traz informações relevantes e aprofundadas sobre o mercado norte-americano de

revistas, bem como sobre os leitores, os anúncios e as revistas em plataformas digitais.

Para abordar a questão de tendências para as revistas nas plataformas digitais,

voltamo-nos novamente ao estudo de Teresa Ryberg, e também ao artigo The Future of

Magazines, 2010-2020 (2009), de David Abrahamson, pesquisador e professor de

Jornalismo norte-americano. No texto, ele enumera aspectos sobre o futuro da indústria

de revistas em médio prazo.

39 Disponível em: <http://tampub.uta.fi/bitstream/handle/10024/66378/chasing_sustainability_on_the_net_2012.pdf?sequence=1>. Acesso em: Out. 2013. 40 Sérgio Mattos é escritor, compositor, poeta, jornalista e professor. Doutor em Comunicação pela Universidade do Texas, Austin, Estados Unidos, vem realizando pesquisas sobre o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa no Brasil desde a década de 1970. 41 Disponível em: <http://browndigital.bpc.com/publication/?i=171192#{%22page%22:1,%22issue_id%22:171192}>. Acesso em: Out. 2013.

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John Battelle, outro pesquisador e professor de Jornalismo norte-americano,

também avalia o que será do futuro das revistas e faz apontamentos sobre a maneira

com a qual as revistas devem ser repensadas, no artigo The Health of Magazines: Blame

Cable As Much As Internet (“A saúde das revistas: culpe o cabo tanto quanto a

internet”, em tradução livre), de 2003.

Dessa maneira, indicamos a base essencial de autores, textos e relatórios que se

figuram como fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa, que será

apresentada nos capítulos subsequentes. Vale mencionar que os demais autores citados

ao longo de toda esta dissertação não foram aqui indicados devido a sua menor

influência no trabalho como um todo. No entanto, eles não podem ser vistos como de

acanhada importância para o estudo da área e serão identificados no andamento do

texto, assim como na lista de referências bibliográficas deste estudo.

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CAPÍTULO II – CONTEXTOS MIDIÁTICOS

“Uma revista inútil é um produto ainda não inventado”

Luís Antônio Giron (2011, p.34)

Compreender os caminhos que levaram as revistas a se fazerem presentes em

plataformas digitais. Este é o intuito deste capítulo, que mostra as transformações no

campo da comunicação ao longo dos tempos, em função dos adventos das tecnologias,

assim como o estabelecimento de um novo ecossistema de mídia, com a apropriação da

internet pelos meios de comunicação.

A maneira como as revistas começaram a se colocar nesse cenário e os desafios

que elas encontraram – e ainda encontram – ao longo dessa trajetória também são aqui

desvendados.

1. Da sociedade analógica à sociedade em rede

Parte da humanidade vive hoje na considerada sociedade em rede, termo

cunhado pelo pesquisador espanhol Manuel Castells (2011) para descrever, de acordo

com autores da área, um ambiente que, entre outros fatores, consiste em mudanças

profundas e rápidas; no aumento da relevância da informação; na digitalização das

relações sociais e das práticas de trabalho; na popularização de máquinas

computacionais e de dispositivos móveis; na segmentação e personalização de

conteúdos; e na convergência de meios de comunicação. Mas como se chegou até aqui?

De que forma os seres humanos caminharam para alcançar o complexo panorama social

onde atualmente se encontram?

Antes de adentrarmos no contexto do avanço das tecnologias e suas influências

no dia a dia das pessoas e no campo da comunicação, é preciso compreender que

durante a maior parte da História da humanidade, nossa sociedade foi conhecida como

sendo analógica.

O termo analógico é comumente utilizado hoje em dia para se referir ao que não

é digital, principalmente dentro do campo da tecnologia e da comunicação. Entretanto,

faz-se necessária a sua compreensão etimológica, visto que, em Língua Portuguesa,

analógico é algo “em que há analogia” que, por sua vez, é a “relação ou semelhança

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entre coisas ou fatos” (Houaiss, on-line). Sendo assim, pode-se compreender que se está

falando da interpretação direta de algo por meio do uso de analogia.

Na tecnologia analógica, por exemplo, uma onda sonora é registrada em sua

forma original. Já na tecnologia digital, esta onda analógica é transformada em

números, que são armazenados em dispositivos digitais – e não se degradam com o

tempo e cujos dados podem ser processados.

Explicações técnicas à parte, nos primórdios da chamada sociedade analógica, os

documentos eram registrados de modo artesanal, com a ajuda dos escribas, e, caso

houvesse a necessidade de comunicação entre pessoas que estavam distantes entre si, as

notícias chegavam por meio de um mensageiro, a pé ou a cavalo.

Já na era moderna, iniciada por volta da década de 1450 d.C., inovações esparsas

começaram a se popularizar de modo tímido, mas de grande importância para o

caminho que conduziu o homem até a sociedade em rede dos tempos atuais.

É deste período que data a invenção da prensa gráfica na Europa, por Johann

Gutenberg, que usava tipos móveis de metal para a impressão. Briggs e Burke (2004)

ressaltam que, na China e no Japão, a impressão já era praticada desde o século VIII

utilizando-se um bloco de madeira entalhada, porém, “o procedimento era apropriado

para culturas que empregavam milhares de ideogramas, e não um alfabeto de 20 ou 30

letras” (p. 26). A partir de então, a prática da impressão gráfica se espalhou pela Europa,

na produção de livros e Bíblias.

Essa novidade para a época, junto de outras invenções como a bússola e a

pólvora, mudou o estado das coisas, não somente por disseminar conhecimento em

diversas classes sociais e mobilizar a área da educação (e deixar políticos e religiosos

com medo de perderem sua voz de comando), como também abriu um novo campo para

bibliotecários, e provocou a ameaça de fim de trabalho para os escribas. “Havia

necessidade de novos métodos de administração da informação, assim como hoje em

dia, nos primeiros tempos da internet” (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 29).

Neste novo contexto, os meios de transporte passaram a ter uma importância

relevante, já que levaram os livros de um local para outro e, depois, cartas e jornais para

os mais variados lugares, principalmente com o advento do sistema postal. A partir de

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então, o mundo começava a “diminuir de tamanho”, no que Pierre Lévy (1999, p. 197)

intitula de “reconexão da humanidade”, uma espécie de reagrupamento e reaproximação

de pessoas que propiciaram a intensificação dos contatos interpessoais. Ele traça um

paralelo entre os meios de transporte e comunicação para a compreensão desta ideia:

O progresso das técnicas de transporte e de comunicação é, ao mesmo tempo, motor e manifestação desse relacionamento generalizado. [...] A navegação de longo curso e a imprensa nascem juntas. O desenvolvimento dos correios estimula e utiliza a eficiência e a segurança das redes viárias. O telégrafo expande-se ao mesmo tempo que as ferrovias. O rádio e a televisão são contemporâneos do desenvolvimento da aviação e da exploração espacial. Os satélites lançados pelos foguetes estão a serviço das comunicações. A aventura dos computadores e do ciberespaço acompanha a banalização das viagens e do turismo, o desenvolvimento dos transportes aéreos, a extensão das auto-estradas e das linhas de trem de grande velocidade. O telefone móvel, o computador portátil, a conexão sem fio à internet, em breve generalizados, mostram que o crescimento da mobilidade física é indissociável do aperfeiçoamento das comunicações (1999, p. 199).

Essa comparação proposta por Lévy tem relação direta com o processo de

globalização, profundamente analisado por Friedman (2007). O jornalista norte-

americano sugere que o mundo tenha ficado “plano” após uma série de acontecimentos

históricos que levaram à globalização pelo fato de eles terem nivelado países tão

distintos, principalmente no contexto socioeconômico.

Para ele, a globalização atravessou três grandes períodos. O primeiro, de 1492 a

1800, quando os europeus inauguraram o comércio entre o Velho e o Novo Mundo,

começando a “reduzir” o tamanho do mundo. O segundo, de 1800 a 2000, momento em

que o mundo passou “do tamanho médio ao pequeno” com o crescimento da força de

empresas multinacionais, a queda dos custos de transporte (devido ao motor a vapor e às

ferrovias) e de comunicação (graças à difusão do telégrafo e, depois, da telefonia, dos

satélites e dos cabos de fibra óptica). O terceiro concerne ao momento atual, no qual o

mundo é “minúsculo” e plano. Neste habitat, um número cada vez maior de pessoas de

todos os lugares do planeta se conecta rapidamente entre si – os indivíduos são os

próprios agentes de transformação da sociedade.

Além disso, Friedman atribui cinco de seus dez “índices de nivelamento global”

(p. 66) a questões envolvendo a comunicação e a tecnologia: o surgimento e a

popularização da internet (e seu consequente papel na troca rápida de informações e

arquivos), a criação do software (que permitiu que as máquinas conversassem entre si),

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o advento do código aberto, o aumento da importância da própria informação em si e o

uso de dispositivos móveis de uso pessoal (PDAs, na sigla em inglês).

Com base nesses autores, podemos afirmar que, ao longo dos tempos, as

tecnologias exerceram influência sobre o campo da comunicação. Desde o surgimento

do papel, e mais tarde, no século XV, com a prensa de tipos móveis de Gutenberg, os

homens se utilizam de invenções de inúmeras áreas da ciência para explorar diferentes

formas de se comunicar. E foi a partir da Revolução Industrial, que carregou consigo

grande quantidade de inovações tecnológicas, que a área da comunicação se

transformou consideravelmente. Com a eletricidade – que permitiu a codificação de

mensagens em fios e a transformação da voz em sinais elétricos – veio o telégrafo

elétrico que, mais tarde, permitiu o advento do rádio, do telefone e da televisão.

Em seguida, pouco antes de 1950, o transistor (componente eletrônico usado

principalmente como amplificador e interruptor de sinais elétricos que foi um dos

grandes responsáveis pela revolução da eletrônica na década de 1960) foi criado e

aperfeiçoado pelo norte-americano William Shockley. Na mesma época, vieram os

chips, circuitos integrados que agregam os elementos principais de operação de um

computador dentro de uma minúscula unidade de processamento lógico. Cada vez

menores (devido à forte tendência de miniaturização), os chips foram de extrema

importância para a evolução e aperfeiçoamento de muitas tecnologias, sem contar a

digitalização, ou a criação do sistema binário, que possibilitou a conversão de todos os

sistemas anteriores para o formato digital.

Em paralelo a isso, passou-se a persistir a ideia de uma máquina universal, que

conhecemos hoje como computador. O primeiro deles, Eniac, começou a ser projetado

em 1943 para fins militares com o objetivo de realizar cálculos balísticos. Inaugurado

em 1946, ele deu início ao que, em 1978, se transformou na comercialização de

computadores para instituições de ensino, empresas e residências, quando essas

máquinas passaram a ser chamadas de computadores pessoais (PC, na sigla em inglês),

e ficaram ainda mais acessíveis com a utilização dos softwares:

O computador exerceu fundamental influência no processo de transformação social e na aceleração da mudança paradigmática que vivemos hoje. Por sua capacidade de atuar como aglutinador de outros meios e de sua capacidade sinérgica de se fazer presente na grande maioria das novas invenções da segunda metade deste século [XX], ele tem merecido um papel de destaque

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no processo de análise dos fatores intervenientes na mudança (LIMA, 2000, p. 16).

Entretanto, a popularização do computador pessoal não seria de tamanha

importância para a transformação da sociedade – agora não mais analógica – sem a

World Wide Web, que começou a ser projetada pelo britânico Tim Berners-Lee na

década de 1980 e se tornou realidade em 1991, quando nasceu o primeiro navegador

com códigos abertos (FERRARI, 2003) para o acesso livre de qualquer pessoa no

mundo que possuísse um computador e uma linha telefônica. Inicia-se, assim, o que

pode ser denominado, como sociedade em rede, conforme Manuel Castells (2011) em

obra de 1996 (A sociedade em rede), ou era da informação, de acordo com Alvin Toffler

(2010) em texto de 1980 (A terceira onda) – e as duas estão relacionadas entre si,

conforme exposto adiante.

Anteriormente a Friedman, Toffler descreveu as transformações na sociedade

por meio de ondas. Ele também divide esse caminhar da humanidade em três momentos

e, assim como o primeiro, destaca a ideia da importância da informação e as alterações

que a velocidade dos acontecimentos e a quantidade de conteúdos estão causando na

mente humana.

De acordo com Toffler, a Primeira Onda de mudança surgiu há 10 mil anos, com

o advento da agricultura. A Segunda Onda veio há cerca de 300 anos, com a Revolução

Industrial. Já a Terceira Onda de transformação é a que se vive atualmente, na qual a

informação talvez tenha se tornado “o negócio mais importante e o que mais cresce no

mundo e está mudando a psique do ser humano” (2010, p. 162). Para ele:

Nova informação nos chega e somos forçados a revisar o nosso arquivo de imagens continuamente, com uma frequência cada vez maior. Imagens mais antigas baseadas em realidade passada devem ser substituídas, pois, a não ser que as ponhamos em dia, nossas ações ficarão divorciadas da realidade e nos tornaremos progressivamente menos competentes. Nós a acharemos impossível de enfrentar. Essa aceleração do processamento da imagem dentro de nós significa que as imagens vão ficando cada vez mais temporárias. [...] Ideias, crenças e atitudes entram vertiginosamente na consciência, são impugnadas, desafiadas e, de repente, desvanecem-se no nada. Teorias científicas e psicológicas são derrubadas e suprimidas diariamente. Ideologias dissolvem-se. Celebridades saltitam fugazmente através da nossa consciência. Somos assaltados por contraditórios slogans políticos e morais. [...] a Terceira Onda faz mais do que simplesmente acelerar fluxos de informação; ela transforma a profunda estrutura de informação de que dependem nossas ações diárias (2010, p. 164).

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Além das metamorfoses internas em cada ser humano, citadas por Toffler, há o

que se pode chamar de nova estrutura social. Castells (2011, que cunhou o termo

“sociedade em rede”, busca esclarecer esse momento em que “diferentemente de

qualquer outra revolução, o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução

atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação” (p. 68).

Para definir o conceito de sociedade em rede, ele argumenta que “as funções e os

processos dominantes na era da informação estão cada vez mais organizados em torno

de redes” (p. 565). E Castells não se refere somente à rede mundial de computadores, a

internet, mas também a estruturas relacionadas à sociedade e à economia como um todo:

Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de redes concretas de que falamos. São mercados de bolsas de valores e suas centrais de serviços auxiliares na rede dos fluxos financeiros globais. São conselhos nacionais de ministros e comissários europeus da rede política que governa a União Europeia. [...] São sistemas de televisão, estúdios de entretenimento, meios de computação gráfica, equipes para a cobertura jornalística e equipamentos móveis gerando, transmitindo e recebendo sinais na rede global da nova mídia no âmago da expressão cultural e da opinião pública, na era da informação. A topologia definida por redes determina que a distância (ou intensidade e frequência de interação) entre dois pontos (ou posições sociais) é menor (ou mais frequente, ou mais intensa), se ambos os pontos forem nós de uma rede do que se não pertencerem à mesma rede. (2011, p. 566)

O autor ainda afirma que redes são estruturas abertas e, portanto, permitem

expansão e inovações. Segundo ele, os conectores da rede são os “detentores do poder”

e as conexões entre as redes e os fluxos de mensagens que passam por elas são

fundamentais para a nova estrutura social.

Sendo assim, nada mais ocorre isoladamente. As redes estão por toda parte e nos

inserimos nelas sem nos darmos conta. Ao estudar a “ciência das redes”, Albert-László

Barabási (2009, p. 6) explica que “muitos eventos e fenômenos se acham conectados,

são causados por um gama de outras partes de um complexo quebra-cabeça universal e

com elas interagem. Começamos a perceber que vivemos em um mundo pequeno, em

que tudo encandeia a tudo”.

É nesta complexa sociedade em rede, na qual a informação é prioridade, que a

maior parte da humanidade encontra-se neste momento. Envolvidas em um processo de

constantes transformações, as pessoas têm a necessidade de se adaptar rapidamente às

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novidades que as tecnologias apresentam incansavelmente, incluindo mudanças

comportamentais nos indivíduos.

Essas alterações sistemáticas exercem influência no campo da comunicação.

Como visto, a área se apropria das novas tecnologias para o seu desenvolvimento. E, em

uma sociedade em rede, a comunicação exerce papel relevante, já que sua matéria-prima

é a informação. Nesta evolução da sociedade analógica para a sociedade em rede,

configura-se, portanto, uma nova mídia.

2. Um novo ecossistema midiático

As principais inovações que tiveram influência no campo comunicacional e que

apresentaram aos seres humanos o que estudiosos como Castells (2003, 2011) e Dizard

Jr. (2000) chamam de uma “nova mídia” são três em especial: a introdução da

impressão a vapor e do papel-jornal, a transmissão por ondas eletromagnéticas, e a

mídia de massa, que, desde meados dos anos 1990, vem sofrendo “uma transição para a

produção, armazenagem e distribuição de informação e entretenimento estruturadas em

computadores” (DIZARD JR., 2000, p. 53-54).

Para compreendermos melhor essa transição, é preciso esclarecer o conceito de

mídia de massa. De acordo com Castells (2003, p.23) “historicamente, [mídia de massa]

significa produtos de informação e entretenimento centralmente produzidos e

padronizados, distribuídos a grandes públicos através de canais distintos”. Ao virarmos

nosso olhar para a História, observamos que não apenas os avanços tecnológicos, mas

também os interesses políticos e econômicos sempre caminharam lado a lado com o

desenvolvimento dos meios de comunicação, mesmo no período em que a linguagem

oral dominava os processos comunicacionais. Ora, na Idade Média, os sermões dos

padres eram “obrigação aceita” (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 38), com total apoio dos

nobres líderes políticos na Europa. Não é à toa que o sociólogo Zygmunt Bauman (apud

BRIGGS; BURKE, 2004) descreveu os púlpitos da Igreja Católica como um meio de

comunicação de massa.

O avanço da escrita, principalmente com a ajuda da prensa de Gutenberg,

permitiu que mais e mais pessoas passassem a ter acesso à leitura, sendo assim, “a

intensificação do uso da escrita no processo de administração era condição necessária

para o controle à distância, para o crescimento de um Estado centralizado” (BRIGGS;

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BURKE, 2004, p. 44). Com o passar do tempo, igreja, estado, lar e escola tinham um

discurso social comum, mas a popularização dos jornais, revistas, rádio e televisão

também ajudava esses meios a tomar espaço na formação dos indivíduos, no período em

que Toffler chama de Segunda Onda: “agora, os próprios meios de comunicação de

massa tornaram-se um gigantesco alto-falante. E seu poder era usado através das linhas

regionais, étnicas, tribais e linguísticas para padronizar as imagens que fluem para a

corrente mental” (TOFFLER, 2010, p. 163).

O surgimento dos meios de massa iniciou-se com a ideia da expansão nacional

dos sistemas de comunicação (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 275), começando com a

popularização de livros, jornais impressos e revistas, em seguida do rádio, cinema e,

depois, da televisão. E foi justamente a tecnologia que permitiu que cada vez mais

residências no mundo tivessem um aparelho de TV, responsável por difundir

consideravelmente o conceito de meios de comunicação de massa. Os outros meios

existentes não desapareceram, mas, assim como acontece quando uma nova mídia

surge, eles perderam público e precisaram se readaptar a uma realidade social que

começava a se concretizar. Além disso, as instituições de mídia – que, como quaisquer

empresas visam ao lucro – não podiam deixar de incorporar essa nova oportunidade de

negócio.

Desde a década de 1970, jornais impressos diminuem sua circulação. Em Nova

York, nos Estados Unidos, entre 1970 e 1976, os três maiores diários em conjunto

perderam 550 mil leitores. Neste mesmo período, a circulação conjunta das 25 mais

importantes revistas norte-americanas caiu 4 milhões (BRIGGS; BURKE, 2004, p.

165). Naquele período, a adaptação ao novo cenário das comunicações, no entanto,

aconteceu da seguinte maneira, segundo Castells:

O rádio perdeu sua centralidade, mas ganhou penetrabilidade e flexibilidade, adaptando modalidades e temas ao ritmo da vida cotidiana das pessoas. Filmes foram adaptados para atender às audiências televisivas, com exceção da arte subsidiada pelo governo e espetáculos de efeitos especiais das grandes telas. Jornais e revistas especializaram-se no aprofundamento de conteúdos ou enfoque de sua audiência, apesar de se manter atentos no fornecimento de informações estratégicas ao meio televisivo dominante. Quanto aos livros, estes continuaram sendo livros, embora o desejo inconsciente atrás de muitos deles fosse tornar-se roteiro de TV (2011, p. 415-416).

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No caso das revistas, o “enfoque na audiência” proferido por Castells veio com

uma estratégia que tinha o objetivo de atrair mercados pequenos de interesse especial,

regionais ou mesmo locais (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 165) – o que marcou o início

de uma grande tendência de segmentação de conteúdos neste tipo de veículo. Da mesma

forma, o rádio também se manteve, com estações especializadas em ritmos musicais,

grupos étnicos ou até mesmo em cantor ou banda.

Enquanto isso, a televisão ganhava cada vez mais espaço nas residências,

transmitindo mensagens de alguns emissores centralizados para uma audiência de

milhões de receptores, segundo Castells – que buscou em Marshall McLuhan razões

para a relevância que a TV ganhou na sociedade dominada pela comunicação de massa:

a máxima de que “o meio é a mensagem”. Ele ainda considera que, pelo fato de a

televisão oferecer tanto informação quanto entretenimento, ela tenha se tornado o

“epicentro cultural” (CASTELLS, 2011, p. 418) da sociedade, além de um ambiente

audiovisual com o qual as pessoas agiam constantemente e quase que automaticamente.

“As mentes das pessoas são informadas fundamentalmente pelos meios de

comunicação, sendo a televisão o principal deles” (p. 421), conclui o sociólogo.

Com o passar do tempo e o surgimento de tecnologias mais modernas, esse

cenário começou a se transformar novamente. O portátil walkman possibilitou que as

pessoas ouvissem suas emissoras de rádio preferidas (e algumas com conteúdos cada

vez mais especializados) no caminho para o trabalho ou enquanto faziam atividades

físicas. Ao mesmo tempo, os videocassetes se tornaram uma alternativa à programação

televisiva, além de ser um instrumento que permitia a gravação de programas para que

fossem assistidos em momento conveniente ao telespectador. Além disso, as pessoas

começaram a filmar suas férias ou festas de aniversário para depois assistirem pela TV.

Não podemos, ainda, esquecer os videogames, que fizeram da tela da TV um suporte

audiovisual para seus jogadores.

Em seguida, o desenvolvimento das tecnologias de fibra óptica e digitalização

proporcionaram a multiplicação de canais de televisão, com o advento da TV a cabo,

que passou a oferecer canais com programações cada vez mais específicas, vide o Music

Television (MTV), com uma grade de atrações 100% voltada para o universo da música.

O estudioso japonês Youichi Ito chamou esse novo cenário de “sociedade segmentada”,

dada a informação especializada direcionada a uma audiência cada vez mais dividida

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por “ideologias, valores, gostos e estilos de vida” (apud CASTELLS, 2011, p. 425).

Novamente em uma alusão aos pensamentos de McLuhan, Castells afirma que, no novo

sistema de mídia, “a mensagem é o meio”, visto que as características da mensagem se

moldarão de acordo com a natureza dos meios.

Esse movimento que levou à segmentação é chamado por Toffler de “idade dos

veículos de comunicação desmassificados”:

A desmassificação dos meios de comunicação de massa desmassifica igualmente as nossas mentes. Durante a era da Segunda Onda o martelar contínuo das imagens padronizadas expelidas pela propaganda criou o que os críticos chamaram de uma “mentalidade de massa”. Hoje, em vez de massas de pessoas recebendo todas as mesmas mensagens, grupos desmassificados menores recebem e enviam grandes quantidades de suas próprias imagens de uns para os outros. Enquanto a sociedade inteira se desloca para a diversidade da Terceira Onda, os novos meios de comunicação refletem e aceleram o processo (2010, p. 171).

Além dessa mudança assinalada pelo pesquisador, a nova mídia surge em meio

ao advento da internet e do aumento da força da comunicação mediada por computador.

A difusão da World Wide Web e das máquinas computacionais nas últimas décadas

moldou a estrutura para um novo veículo de comunicação e para o comportamento de

seus receptores, já que oferece possibilidades de interação nunca antes vistas,

combinando a rápida disseminação da comunicação de massa com a comunicação

pessoal (CASTELLS, 2011, p. 446). Dizard Jr. aprofunda ainda mais o tema quando

afirma que:

A nova mídia não é apenas uma extensão linear da antiga. A mídia clássica e a nova mídia oferecem recursos de informação e entretenimento para grandes públicos, de maneira conveniente e a preços competitivos. A diferença é que a nova mídia está expandindo dramaticamente a gama de recursos disponíveis para os consumidores através da Internet e de outros canais. Em particular, a nova mídia está começando a prover conexões interativas entre o consumidor e o provedor de informação. Essa capacidade acrescenta uma nova dimensão notável ao atual padrão da mídia de massa, que se baseia em produtos unidirecionais entregues por uma fonte centralizada – jornal, canal de TV ou um estúdio de Hollywood. A nova mídia é crescentemente interativa, permitindo aos consumidores escolher quais recursos de informação e entretenimento desejam, quando os querem e sob qual forma (2000, p. 40-41).

Assim, com a nova rede se fundindo à mídia de massa, os negócios de

comunicação envolvendo a internet começam a crescer, fazendo grandes companhias se

unirem tanto para se protegerem dos riscos do novo mercado quanto para oferecer uma

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das características dessa nova mídia, os elementos multimídia – em um processo

conhecido como convergência de meios. Jenkins (2009, p. 37-38) explica que cada meio

tinha suas próprias atribuições e mercados, mas as novas tecnologias midiáticas

começaram a permitir que um mesmo conteúdo fluísse por diferentes canais e ganhasse

formas variadas em cada um deles no ponto de recepção.

Apesar de os executivos da comunicação não contarem com o estouro da

chamada bolha da internet42 no ano de 2000 – tendo em vista que práticas sociais

avançam em um tempo mais lento que as inovações tecnológicas e todos os processos

que envolvem essa transformação ainda estão em construção – a convergência persiste

sendo uma característica da nova mídia, já que, de certa forma, também ajuda a manter

vivas mídias tradicionais, alterando suas funções e status com a introdução de novas

tecnologias. Além disso, como explica Jenkins, ela ajuda os meios a se adaptar a esse

novo público “desmassificado”:

A convergência exige que as empresas de mídia repensem antigas suposições sobre o que significa consumir mídias, suposições que moldam tanto decisões de programação quanto de marketing. Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos. Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandavam que ficassem, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade a redes ou a meios de comunicação. Se os antigos consumidores eram indivíduos isolados, os novos consumidores são mais conectados socialmente. Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos (2009, p. 47).

Desta maneira, pode-se presumir que a complexa sociedade em rede, que possui

uma nova mídia imensamente presente no dia a dia de receptores cada vez mais ativos,

passa por um processo de midiatização, no qual os meios de comunicação se confundem

com as estruturas da própria sociedade. E tal processo acontece, em parte, devido às

facilidades tecnológicas do presente, que:

42 Em março de 2000, quando o mundo estava descobrindo a internet e as revistas de negócios só falavam nas "empresas ponto com", a bolsa eletrônica de valores, Nasdaq, onde as empresas de internet negociavam suas ações, começou a ver seus índices despencarem. No total, chegou a perder 75% do valor. Muitos são os fatores que fizeram a chamada “bolha da internet” inflar e chegar a esse ponto dramático em 2000, entre eles a fusão desastrosa entre as empresas AOL e Time Warner, que resultou na perda de dezenas de bilhares de dólares. (Superinteressante, 10 mar. 2010, disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/rebit/estouro-da-bolha-da-internet-completa-10-anos-hoje-relembre-as-maiores-bobagens-daquela-epoca/>. Acesso em: 21 mar. 2013)

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impulsionaram a comunicação para que todas suas formas comunicativas fossem potencializadas, abrindo canais dialógicos antes impensáveis, pois todas as formas de conteúdos e relatos passaram a ter condições de circular, indo de emissor(es) para o(s) receptor(es) e deste(s) para aquele(s), em infindáveis sistemas de “dupla mão” (o que contrasta com o modelo anterior da “direção única”) (SQUIRRA, 2012, p. 109).

A globalização, a convergência dos meios de comunicação, a digitalização dos

processos que levou à sociedade em rede e o novo papel do receptor estabeleceram uma

relação diferenciada dos indivíduos com as mídias. Esse “novo receptor” é chamado

por Castells (2011, p. 458) de “interagente”, ou seja, aquelas pessoas “capazes de

selecionar seus circuitos multidirecionais de comunicação”.

Toffler vai ainda mais longe e cunha o termo “prossumidor”, que não fica

limitado apenas ao campo da comunicação. Para ele, o “prossumidor” é aquele

“consumidor cada vez mais atraído para dentro do processo de produção” (2010, p.

274). Essa definição pode ser inserida no contexto da nova mídia, visto que ela está

absorvendo constantes mudanças nos processos de produção, edição e recepção já que a

internet está insistentemente mais associada aos meios de comunicação considerados

tradicionais.

Essas práticas recentes proporcionadas pelo ciberespaço e novas tecnologias aos

meios de comunicação estão se configurando no chamado “processo de midiatização”,

que pode ser definido da seguinte forma:

A midiatização é registrada como processo em que as tecnologias midiáticas, técnicas, lógicas, estratégias, linguagens, operações sociotécnicas e demais protocolos das mídias, até então exclusivos do campo das mídias, campo midiático, ou campo dos media, imbricam-se no interior das dinâmicas de funcionamento do tecido social. Em outras palavras, a midiatização pode ser entendida como múltiplos entrecruzamentos entre tecnologias midiáticas, campos e atores sociais, meios de comunicação social tradicionais e sociedade (SGORLA, 2009, p.62).

Neste sentido, no cenário que se edifica, a mídia exerce influência sobre

importantes instituições, em maior ou menor grau, alterando padrões socioculturais e

possibilitando interação mútua.

É neste ambiente que a comunicação se torna elemento estruturante da vida em

sociedade. Braga (2012) chama de midiatização esse novo modelo social, fruto de uma

lógica midiática. Ou seja, não somente a mídia interfere na sociedade, mas o inverso

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também se faz verdadeiro. Braga enxerga a sociedade como um lugar de apropriação

dos discursos midiáticos e de interação com a mídia. Além disso, ele deixa claro que

não foram apenas as tecnologias que conduziram à midiatização. A transformação da

sociedade como um todo levou a esse movimento, assim como as próprias instituições

relacionadas aos processos midiáticos:

[...] na sociedade em midiatização, não são “os meios”, ou “as tecnologias”, ou “as indústrias culturais” que produzem os processos – mas sim todos os participantes sociais, grupos ad-hoc, sujeitos e instituições que acionam tais processos e conforme os acionam (BRAGA, 2012, p. 50).

Nos meios de comunicação em especial, o processo de midiatização causa

mudanças visíveis principalmente no que diz respeito à interação com os públicos, já

que o sistema unidirecional de transmissão de mensagens (de um para todos) perde

espaço. Aqui, a relação emissor/ receptor se torna complexa e, ao mesmo tempo, se

mescla, pois o receptor, agora interagente ou prossumidor, pode assumir características

de produtor de conteúdo.

De acordo com Sgorla (2009), na prática, a midiatização afeta os meios de

comunicação quando se abre espaço para a participação do público. No jornalismo, por

exemplo, isso acontece quando há o papel do repórter cidadão no envio de informações,

mensagens e notícias por meio de textos, vídeos ou áudios – prática intitulada como

jornalismo colaborativo.

Soster (2009) argumenta especificamente sobre o jornalismo midiatizado, aquele

no qual o próprio sistema midiático pode gerar notícias para distintos veículos de

informação. Suas características são “descentralização, autorreferência e

correferencialidade” (p. 137). Em um exemplo sobre este fenômeno, Soster cita o caso

de uma newsletter da revista Veja enviada a seus assinantes sobre uma matéria de capa

da próxima edição. A notícia, de setembro de 2005, se tratava de um escândalo

envolvendo árbitros de futebol que manipulavam resultados de jogos para favorecer

apostadores que lhes pagavam propinas. O autor explica que, antes mesmo de ir à

banca, a revista, apenas pelo envio da newsletter, incitou sites esportivos e apurarem

informações sobre a denúncia exclusiva da publicação, que chegaria às bancas dias

depois – e, nesse caso, o próprio site de Veja, com uma pequena nota sobre a grande

reportagem de capa da revista, virou fonte de informação citada pelos demais veículos.

Até mesmo os cadernos de esportes de jornais impressos de grande circulação foram

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alimentados por essa notícia, gerando entrevistas com outros árbitros sobre a denúncia

que ainda nem havia sido publicada na íntegra. Assim, criou-se um ciclo alimentado

pela notícia da notícia, que gerou tantas outras matérias em sites e até mesmo jornais

impressos.

Outro sistema que alimenta a midiatização da sociedade são os sites de redes

sociais. Por meio deles, notícias de importantes veículos de comunicação são

compartilhadas e estão sujeitas a comentários de quaisquer naturezas. Recuero (2009, p.

45-46) explica que existem três tipos de relações entre as redes sociais e o jornalismo:

redes sociais como fontes produtoras de informação (as pessoas atuantes nos sites de

redes sociais podem ser fontes de notícias); redes sociais como filtros de informações (o

compartilhamento de informações de fontes consideradas confiáveis); ou redes sociais

como espaços de reverberação dessas informações (assuntos muito comentados podem

se tornar material para uma matéria ou reportagem).

Neste ponto, voltamos a Braga, que considera que essas relações citadas por

Recuero concernem ao conceito de circulação dentro da sociedade midiatizada, isto é, o

processo de interação e sua consequente propagação de conteúdos e reações. Segundo o

autor:

[...] o esforço interacional se desloca do modelo conversacional (comunicação reverberante, de ida-e-volta) para um processo de fluxo contínuo, sempre adiante. Nessas circunstâncias, já não é tão simples distinguir “pontos iniciais” e “pontos de chegada”, produção e recepção como instâncias separadas (2012, p. 40).

Configura-se, dessa maneira, um novo ecossistema de mídia, no qual o receptor

tem papel influenciador sobre os meios e produtos de comunicação e, também, no papel

do jornalista. Conforme esclarece Squirra (2012), “a tecnologia digital estrutura a base

dos variados modelos de produção e difusão de conteúdos informativos, independente

de os mesmos serem elaborados por jornalistas ou não” (p. 114). Assim, o atual

ecossistema de mídia permite que o domínio dos processos chegue a “novos

elaboradores”, indo além do relato jornalístico e sua produção característica.

Faz-se necessário, ainda, deixar claro que este cenário não é universal. Em

primeiro lugar porque as sociedades são distintas e, diferentemente do que se pensava

durante o período da Segunda Onda (TOFFLER, 2010), as pessoas foram levadas por

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um caminho no qual têm espaço para serem diferentes e não necessariamente

congregarem um pensamento comum, compartilhado por todos. Em segundo lugar, o

processo de midiatização ainda está em andamento (SGORLA, 2009) e, portanto, os

estudos sobre ele também. Sendo assim, é impossível afirmar que esse novo

ecossistema de mídia se sedimentou, até mesmo por fatores ideológicos e econômicos

das diferentes culturas e sociedades. Sendo assim, este processo coexiste com outras

novas formas de comunicação e práticas sociais e, ao mesmo tempo, imbricado aos mais

diversos meios de comunicação inseridos na nova mídia.

3. As revistas enquanto produtos da nova mídia

As revistas são exemplos de meios de comunicação que vêm se adaptando às

novidades tecnológicas da sociedade em rede que configuraram esse novo ecossistema

de mídia. Antes disso, porém, elas já haviam sofrido uma readaptação. Segmentadas por

natureza (SCALZO, 2003), mas elevadas ao “posto” de produtos de comunicação de

massa por conta da exaltada cultura de massa do início do século XX, a partir da década

de 1950, nos Estados Unidos, as chamadas revistas de massa começavam, pouco a

pouco, a diminuir sua circulação – algumas delas, inclusive, deixaram de ser publicadas

(TOFFLER, 2010).

Na década 1970, no entanto, os norte-americanos passaram a ver uma explosão

de minirrevistas com temas segmentados, visando a mercados pequenos de interesses

específicos, por vezes regionais ou locais. Toffler (2010, p. 166) chamou essas

publicações de revistas desmassificadas, principalmente pelo fato de, naquele momento,

pequenos grupos também poderem começar a produzir suas próprias publicações, com a

facilidade das gráficas baratas e rápidas.

Buitoni (2013), ao discorrer sobre a atual segmentação das revistas, esclarece

que os meios de comunicação de massa que, antes, buscavam igualar pensamentos e

desejos, se voltam agora para particularidades:

No passado, os produtos da cultura de massa tendiam a homogeneizar os grandes públicos; hoje, a diversidade cultural encontra espaços na mídia impressa e nos formatos jornalísticos na internet. As diferenças têm muitas possibilidades de manifestação, mesmo com a tendência de absorção pela indústria da mídia. A segmentação implica uma diferenciação, que, ao mesmo tempo, precisa de consonâncias grupais. Busca-se um equilíbrio entre diferenças e semelhanças. Segmentar é separar para melhor

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compartilhar. Separar também é focar: uma aliança do racional com o desejo (2013, p. 118).

Com o passar dos anos, a segmentação se tornou – e segue sendo uma tendência

forte (DIZARD Jr., 2000) – característica latente das revistas (SCALZO, 2003; VILAS

BOAS, 1996), o que não impediu que publicações de abrangência nacional ou

internacional, de grandes tiragens, continuassem existindo. No Brasil de hoje, por

exemplo, há revistas de grande circulação nacional que abordam assuntos gerais, tais

como Veja, da Editora Abril, Época, da Editora Globo, Carta Capital, da Editora

Confiança, e Istoé, da Editora Três.

Entretanto, dentro do cenário na nova mídia, na década de 1990, surgiram em

todo o mundo inúmeras publicações cada vez mais especializadas, como, por exemplo,

a norte-americana Wired, que tinha o objetivo de ser uma espécie de guia mensal para

usuários de computador que buscavam entender as novidades tecnológicas.

Essa segmentação, de acordo com Buitoni (2013), tem relação com o jornalismo

especializado e com a lógica de mercado. Tendo uma relação muito forte com o

contemporâneo e o crescimento das cidades ao longo das décadas do século XX, as

revistas carregam consigo a ideia de interpretar variados setores, refletindo sobre

assuntos e desejos – o que caracteriza, em parte, sua especialização. Ao mesmo tempo, a

segmentação sempre esteve ligada a um conceito de mercado, definindo grupos de

leitores a partir de pesquisas de marketing. Buitoni (2013) descreve o transcurso que

leva ao processo de especialização/ segmentação:

Revistas foram se formando paralelamente aos jornais diários. Com periodicidade semanal, quinzenal ou mensal, tinham mais possibilidade de aprofundar os temas, utilizar imagens, e não tinham vocação noticiosa. Elas rapidamente adotaram a fotografia e ampliaram suas formas de expressão: a relação com o visível tornou-se parte da natureza da revista. Muitas publicações começaram com intuitos educativos, e, mais tarde, incorporou-se também o entretenimento. O vínculo com a educação em sentido mais genérico é uma das razões que ajudarão a desencadear o processo de especialização e, posteriormente, a segmentação. O desenvolvimento da revista, portanto, ajuda a entender o processo de divisões por assuntos e públicos. As revistas teriam uma tendência “natural” de se encaminhar para a especialização (2013, p. 111).

A digitalização dos departamentos de marketing também “facilitou a produção

de edições segmentadas, com listas de assinantes classificadas por nível de renda,

localização geográfica ou outras divisões especializadas características” (DIZARD Jr.,

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2000, p. 243). Cria-se, dessa maneira, uma relação intrínseca entre as lógicas do

mercado e o conteúdo das revistas, com os objetivos de atender às demandas

mercadológicas advindas dos anunciantes e, também, atrair leitores ávidos por

informações especializadas – e com potencial poder de consumo.

Também começaram a surgir iniciativas que agregavam novas tecnologias às

revistas. Ainda na década de 1980, as editoras começaram a investir nelas. Apareceram

inovações digitais para composições tipográficas e manipulação de imagens e passou-se

a utilizar computadores em redes e mensagens eletrônicas nas redações. Os primeiros

boletins on-line surgiram, com acesso mediante assinatura (QUINN, 2008, on-line).

Nos anos 1990, a Forbes enviou para seus 700 mil assinantes um disquete com

anúncios interativos. A Newsweek, por sua vez, foi uma das primeiras revistas a oferecer

material editorial em CD-ROM. Eles eram vendidos por assinatura quatro vezes por ano

e traziam uma reportagem em profundidade de um tema específico. “O projeto não foi

um sucesso. A Newsweek então se voltou para outra estratégia já adotada pela Time, sua

maior competidora: colocar seu conteúdo on-line” (DIZARD Jr., 2000, p. 243). Assim,

aos poucos, a internet foi se tornando uma ferramenta útil para as revistas mostrarem

seus conteúdos e garantirem assinantes, como explica Dizard Jr.:

A indústria de revistas está se adaptando ao novo mundo da informação multimídia e do entretenimento eletrônico, com formatos que serão muito diferentes dos tradicionais. A publicação gerada por computador se tornou a norma nas revistas de negócios, expandindo-se para além de seus usos mais comuns na produção de jornais orientados e outras publicações especializadas (2000, p. 244).

Com o tempo, Fortune, Forbes, People e Business Week passaram a oferecer

suas edições na internet (ALCÂNTARA, apud VILAS BOAS, 1996, p.125). Dentre as

revistas brasileiras, Manchete, em 1995, e Istoé e Veja, em 1996, (CUNHA, 2011),

foram as primeiras a marcar território no ciberespaço – antes delas os jornais diários

Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, Zero Hora e Gazeta Mercantil criaram suas

páginas na internet. No entanto, inicialmente, o conteúdo era simplesmente transposto

para a versão digital (FERRARI, 2003, p. 23).

Com a consolidação da internet no campo da comunicação, os veículos foram se

adaptando às condições deste novo meio, tanto para não perder uma fatia do público que

estava migrando para o computador, quanto para correr atrás de mais receitas

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publicitárias e assinantes advindos da rede. Aos poucos, começaram a surgir nos

Estados Unidos redações para a produção específica de conteúdo jornalístico on-line.

No Brasil, em 1998, Época On-line (www.revistaepoca.globo.com) foi a primeira

revista semanal a colocar uma página na rede com noticiário diário e a publicação de

cerca de 20 a 30 reportagens por dia (idem). Veja, em 2000, mudou o layout de seu site

(www.veja.abril.com.br) e montou uma equipe própria para a versão digital.

Neste cenário, “as revistas se reconfiguram tanto na produção, na distribuição

quanto no consumo” (NATANSOHN; SILVA; BARROS, 2009, p. 1), tendo em vista o

fato de que absorvem formas e características do webjornalismo, assim como se

utilizam de tecnologias para levar seus atributos à web.

Sendo assim, estabelecem-se diferentes formas de revistas no meio digital.

Marcelo Freire (2013) recorre aos autores Ulrich Kaiser e Hans Christian Kongsted

(2005, p. 2), que diferenciam os termos site agregado (“sites que têm grande parte de

seu conteúdo sobreposto com a versão impressa”) e site destino (apresentam uma

“experiência completa e convincente, com aplicativos e conteúdos únicos”), para

demonstrar como algumas revistas se organizam na internet. De acordo com o

pesquisador, no entanto, a maioria das revistas comporta-se de acordo com a “metáfora

do impresso” (FREIRE apud MIELNICZUK, 2003) – na qual um veículo on-line faz

uso de algumas potencialidades do meio digital, mas ainda mantém a mídia tradicional

como referência principal.

Freire cita como exemplo o site da revista Rolling Stone Brasil que, apesar de ter

seções próprias, possui seu conteúdo vinculado à edição física do mês, “funcionando

como uma complementação do impresso. Ou seja, emprestando algumas características

do webjornalismo a um conteúdo de uma mídia tradicional” (2013, p. 50).

O autor ainda descreve outros dois formatos de revistas na web: o arquivo

impresso em arquivo digital e a revista digital propriamente dita. No primeiro caso,

ocorre a distribuição do texto em formato eletrônico com uma versão idêntica à

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impressa ou, ainda, a distribuição eletrônica de uma publicação que tenha valor

agregado da versão em papel. Para tal, utiliza-se de arquivos em formato PDF43:

A grande vantagem destes formatos é que, em muitos casos, eles não demandam o acesso à internet para a sua fruição. Sua distribuição pode ser feita usando a lógica do broadcatching, típica dos podcasts44, que prevê acesso à internet para o acesso ao arquivo, mas não necessariamente para seu o consumo. Essa característica reforça no meio digital o caráter móvel e colecionável próprio das revistas tradicionais. Essas características são próprias da materialidade do produto impresso e podem ser aplicadas à lógica do arquivo digital, principalmente com o consumo em dispositivos móveis. Entretanto, isso não se aplica a produção em si, que se mantém com sua versão em papel (FREIRE, 2013, p. 51).

Além disso, o próprio site da revista, em formato HTML ou softwares em flash45

podem recriar as revistas impressas na internet. O sistema Flip Page, por exemplo, não

funciona off-line, mas permite que o leitor “folheie” a versão on-line da publicação com

um clique no mouse, simulando a leitura no papel. Essa mesma lógica também é

utilizada em dispositivos móveis com telas sensíveis ao toque.

Já as revistas digitais propriamente ditas são caracterizadas, na visão de Freire

(2013), como produtos autossustentáveis no aspecto editorial, que não precisam

necessariamente da presença do impresso (ou da revista em arquivo digital), apesar de

carregarem os atributos essenciais do jornalismo de revista, e que se utilizam das

potencialidades do webjornalismo, ainda que não reúnam todas as suas características.

Para o pesquisador, a revista digital pode ter aspecto de site, pode ser um híbrido

(utilizando o formato flip, mas sem organização por edição) e pode ser consumida em

formato de aplicativo para tablet ou smartphone – nesses casos, a revista costuma

oferecer recursos multimídia e interface diferenciada.

43 Portable Document Format (na sigla em inglês). É um formato de arquivo usado para representar documentos de maneira independente do aplicativo, do hardware e do sistema operacional usados para criá-los. 44 “O termo podcast nasceu em 2004 da união das palavras iPod e broadcast e está relacionado a produção/ circulação de arquivos de áudio para consumo, prioritariamente, em dispositivos móveis” (FREIRE, 2013, p. 52). 45 HTML (abreviação para a expressão inglesa HyperText Markup Language, que significa Linguagem de Marcação de Hipertexto) é uma linguagem de marcação utilizada para produzir páginas na web. Flash é um software de gráfico vetorial utilizado geralmente para a criação de animações interativas que funcionam embutidas num navegador web e também por meio de desktops, celulares, smartphones, tablets e televisores.

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Mesmo assim, conforme explica Scolari (2013), a interface da revista digital

(que ele chama de eMagazine) é uma combinação de interfaces já conhecidas pelos

usuários, tendo em vista que se utiliza de características comuns às revistas impressas e

on-line, bem como dos dispositivos móveis, da web e dos antigos CD-ROMs, conforme

o seguinte gráfico (gráfico 1):

Fonte: SCOLARI, 2013, p. 203 (tradução nossa). Em cinza, as características ausentes na interface das

eMagazines (nota do autor).

Natansohn e Rodrigo do Espírito Santo da Cunha (2013, p. 146) ainda

enumeram três formas de disponibilização de conteúdo das revistas em plataformas

móveis: SMS (assinatura de serviço de envio de mensagens tarifadas pelo celular);

mobile sites (sites adaptados para a tela menor dos dispositivos móveis); e aplicativos

(softwares instalados no aparelho para acesso a conteúdo on-line ou off-line).

Todas essas possibilidades acabaram por trazer, em certo momento, um receio

das casas editoriais com relação ao futuro das revistas impressas. Segundo Ali (2009, p.

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22), “no ano 2000, previram que a internet acabaria com as revistas”. Até o momento,

entretanto, ela apresentou oportunidades e, de acordo com a autora:

Permitiu um contato direto e imediato com o leitor como nunca foi possível antes e tornou-se um meio para a venda de assinaturas; ajudou a enriquecer o conteúdo editorial com a colaboração instantânea de profissionais em qualquer parte do mundo; com a interatividade com os leitores, pesquisa de informações, compra de fotos, clip-arts e fontes tipográficas. Mais: tornou possível a revista virtual (2009, p. 22).

Conforme exposto, as revistas “lutam para se adaptar às novas mídias” (GIRON,

2011, p. 33) e o segredo de tal ajuste pode estar no modo de se manejar essas

possibilidades ofertadas pelas tecnologias. De acordo com Giron, a revista:

Precisa se reinventar para a internet e para o mundo atual. Mundo em que os leitores podem ter aumentado em quantidade, mas têm a capacidade de atenção diminuída em virtude do assédio de inúmeros meios de comunicação que atuam simultaneamente; da fragmentação dos interesses; e da própria forma de obter informação e conhecimento. São tantas as fontes que as revistas são estimuladas, também elas, a surpreender (2011, p. 33).

Sendo assim, tais mudanças advindas das novas tecnologias acabam por alterar,

também, os modelos de negócios e as práticas de produção jornalística – já que a

frequência informativa diária transforma-se em um fluxo contínuo de notícias –

conforme esclarece Scolari:

Outras transformações traumáticas que viveu o mundo da informação em sua passagem do papel para a tela incluem os processos de produção […] e de distribuição/ consumo, onde o salto de maior destaque foi da banca para a tela do computador ou para o dispositivo móvel. Finalmente, também os modelos de negócios se veem afetados pela crescente exigência de conteúdos gratuitos por parte dos leitores e o avanço muito lento da publicidade on-line (2013, p. 195-196, tradução nossa46).

No que diz respeito às práticas jornalísticas, além da união de atributos de

variados modelos de produção, há de se considerar a existência de múltiplas redações

referentes a um mesmo produto, afinal, costuma-se encontrar duas equipes diferenciadas

de jornalistas, sendo que uma delas produz conteúdo para a versão impressa (baseada

em conceitos do jornalismo de revista) e, a outra, para o site (baseada na junção dos

46 “Otras transformaciones traumáticas que vivió el mundo de la información en su pasaje del papel a la pantalla incluyen a los procesos de producción […] y de distribución/consumo, donde el salto más destacado ha sido del kiosco a la pantalla de la computadora o al dispositivo móvil. Finalmente, también los modelos de negocios se han visto afectados por la creciente exigencia de contenidos gratuitos por parte de los lectores y el avance demasiado lento de la publicidad en línea.”

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conceitos anteriormente expostos) e demais plataformas digitais nas quais ela se faz

presente, como tablets e smartphones.

Em uma análise da convergência de meios em veículos jornalísticos, Virginia

Giacosa (2010) aborda a questão da produção jornalística e apresenta algumas das

dificuldades e maneiras de lidar com a troca de conteúdos em diferentes plataformas de

um mesmo veículo:

A convergência multimídia não deve ser entendida só como uma gestão otimizada dos recursos, mas também como a busca de produtos informativos qualitativamente melhores por meio da cooperação entre os meios. Além do mais, nesse caminho é preciso melhorar os acessos à informação entre os meios e conseguir que a comunicação flua no interior dos mesmos sem obstáculos (portas que permitam o acesso às pastas e arquivos de outros meios para compartilhar e cooperar, sistemas de publicação aberta, sistemas de gestão integrada de conteúdos). Em resumo, são necessárias três condições básicas para tornar possível a convergência: planificação, inovação e formação. A planificação também no escopo editorial, não apenas no administrativo ou gerencial. A inovação, por sua vez, deve apontar os aspectos tecnológicos, e também os comunicacionais. E a formação deve fomentar o uso profissional dos recursos digitais por parte dos jornalistas, que são, sem dúvida, o eixo, desta mudança (GIACOSA, 2010, p. 62, tradução nossa47).

As propostas da autora apontam caminhos para o melhor relacionamento

possível entre os profissionais do impresso e do on-line no que diz respeito às trocas de

informações e ao planejamento editorial. Da mesma maneira, o jornalista ainda tem de

se atentar para outro fator que cerca o novo ecossistema de mídia: a participação do

público. As instituições de mídia, por sua vez, precisam se voltar para modelos de

negócios que integrem “as inovações tecnológicas, o consumo e a produção dos

usuários e o negócio sustentável” (NATANSOHN; CUNHA, 2013, p. 145). Squirra

47 “…la convergencia multimedia no deja de revestir ciertas incógnitas con respecto al futuro de ese entrecruzamiento de medios. Pero como primer paso y con la idea de despejar algunas dudas, se puede pensar en enumerar, al menos, ciertos retos pendientes. Ante todo, la convergencia multimedia no debe ser entendida sólo como una gestión optimizada de los recursos, sino también como la búsqueda de productos informativos cualitativamente mejores a través de la cooperación entre medios. Asimismo, en ese camino hay que tratar de mejorar los accesos a la información entre los medios y conseguir que la comunicación fluya al interior de los mismos sin obstáculos (puertos que permitan el acceso a las carpetas y archivos de otros medios para compartir y cooperar, sistemas de publicación abierta, sistemas de gestión integrada de contenidos). En resumen, se necesita de tres condiciones básicas para hacer posible la convergencia: planificación, innovación y formación. La planificación tanto en el plano editorial y no sólo en el administrativo o gerencial. La innovación debe apuntar a los aspectos tecnológicos, pero también a los comunicativos. Y la formación para fomentar el uso profesional de los recursos digitales por parte de los periodistas, que son sin duda el eje de este cambio.”

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demonstra com clareza os aspectos que arquitetam essa nova situação dentro do

jornalismo:

Nos últimos tempos, açodado pelas novas tecnologias do mundo digital, o jornalismo (e a própria comunicação como um todo) vive uma inquestionável ‘crise de paradigmas’, pois não só os modelos de atuação comercial e de difusão de informação ‘clássicos’ não atingem mais plenamente seus públicos, como se explicita que os consumidores com poder de compra estão migrando para novas plataformas de acesso à informação (2012, p. 107).

Sendo assim, é preciso buscar caminhos tanto para novas práticas jornalísticas

quanto para novos modelos de negócios e este segue sendo o objetivo desta pesquisa.

Por enquanto, expusemos um breve panorama de como essa circunstância se apresenta,

levantando importantes questões que buscaremos esclarecer de forma mais contundente

e detalhada no decorrer dos próximos capítulos deste estudo.

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CAPÍTULO III – NOVOS MODELOS DE NEGÓCIOS DO JORNALISMO

“Quem define uma revista, antes de tudo, é o seu leitor”

Marília Scalzo (2003, p. 12)

As revistas, em sua maioria, não existiriam sem que houvesse uma casa editorial

para comandar sua produção, impressão, distribuição, divulgação e outros

procedimentos necessários para manter uma publicação deste tipo em circulação no

mercado. Tomar conhecimento da ideia de que uma revista pertence a uma instituição

faz parte do processo para compreender que ela está inserida em um contexto

mercadológico e que, portanto, visa ao lucro, ao posicionamento ideológico desta

empresa e, até mesmo, ao seu relacionamento com o poder público na região e/ ou país

em que atua – mesmo que haja iniciativas independentes, as revistas, em sua maioria,

estão ligadas a segmentos.

Para tal entendimento, demonstramos aqui o nascimento deste meio de

comunicação, sua estruturação e consolidação, tendo em vista que sua história está

intrinsecamente ligada ao modo com o qual as instituições jornalísticas estabeleceram

seus modelos de negócios.

Tais modelos pareciam ideais para o “negócio revista”, pelo menos até o

momento em que as novas tecnologias apropriadas pelo campo da comunicação e, mais

especificamente, pelo jornalismo, começaram a provocar intensas mudanças no setor.

Transformações no consumo provocadas por essas modernas possibilidades

comunicacionais trazidas principalmente pela internet implicaram em alterações na

produção e quase todos os demais processos envolvidos na elaboração de uma revista –

o que diretamente afetou seu padrão de operação comercial.

1. Modelos tradicionais de negócios no jornalismo de revista

O nascimento da revista, entre os séculos XVII e XVIII, condiz com o

desenvolvimento do próprio jornalismo e de suas maneiras de se diferenciar, dada a

ascensão do jornal impresso à época e, até mesmo, dos livros, anteriormente. Foi na

Alemanha, em 1663, que surgiu a primeira revista da qual se tem notícia, Edificantes

Discussões Mensais. Trabalho do teólogo Johann Rust, a publicação é considerada uma

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revista, pois tratava de assuntos variados reunidos por um único tema, a teologia

(TAVARES; SCHWAAB, 2013; SCALZO, 2003).

Menos de 10 anos depois, em 1672, apareceram revistas de interesse geral e com

mais variedade temática na França. Mercúrio Galante trazia crônicas sobre a corte,

anedotas e poesias. Em 1692 surgiu Mercúrio das Senhoras, primeira revista feminina,

com modelos de roupas e bordados (MIRA, 2001). Com o tempo, a variedade de

conteúdo e de autores se estabeleceu como característica das revistas, principalmente

para diferenciá-las dos livros.

Surgida em um “contexto amador” (TAVARES; SCHWAAB, 2013), a

maturação e a profissionalização da revista não somente acompanharam o avanço da

indústria da mídia, como também a evolução social e cultural de cada época:

A lenta, mas crescente, melhoria de condições objetivas de vida tornou o cidadão médio um público potencial. A industrialização da comunicação, com avanços técnicos e barateamento na produção, garantiu as condições para efetivar a ideia de multiplicar exponencialmente o número de leitores e demarcar, no âmbito da incipiente indústria jornalística – não a das grandes empresas, mas a dos avanços tecnológicos de impressão de texto –, a possibilidade de um formato específico para falar das coisas do mundo. O século XX consolida tal cenário, unindo certas demarcações editoriais à impressão de imagens, primeiro com o uso crescente da xilografia e da litografia, depois por meio do “mergulho” no universo fotográfico, já a partir de 1920 (TAVARES; SCHWAAB, 2013, p. 29).

A união entre texto e imagem, assim como temas relacionados a variedades,

consolidam os magazines48 no século XX, tanto no mercado de comunicação quanto no

modo com o qual os leitores se relacionam com a sociedade ao seu redor, já que este

tipo de produto jornalístico expõe como vivenciar o espírito contemporâneo da época na

qual vivemos e em que valores nos ancorarmos (BENETTI, 2013, p. 48).

Na virada do século XX, quando a economia norte-americana deixa de ser

essencialmente agrícola para se tornar industrial, ocorre o desenvolvimento da

publicidade. Antes disso, as revistas eram vendidas por um preço de capa considerado

48 Na Inglaterra, Estados Unidos e em outros países de língua inglesa, revista é chamada de “magazine”, que vem da palavra árabe “al-mahazen”, que significa “armazém” ou “depósito de mercadorias variadas”. Isso porque, diferente do livro que geralmente é monotemático, a revista apresenta uma variedade de assuntos. De mesma origem é a palavra francesa “magazine”, que, além de revista, significa “loja de departamentos” (ALI, 2009, p. 19).

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acessível – ideia originada na Inglaterra (TAVARES; SCHWAAB, 2013). Com o

tempo, o aumento da circulação atraiu anunciantes e a consequente negociação de

espaço publicitário, uma tendência que estava se delineando no que concerne ao modelo

de negócio do jornalismo naquele momento, nos Estados Unidos:

Durante o século XIX, ligados a temas religiosos ou rurais, os magazines praticamente não tinham anúncios e eram sustentados pela circulação paga. Com a distribuição nacional de produtos industrializados e o aumento da população urbana, há um extraordinário crescimento da publicidade. Os magazines passam, então, a ser sustentados pela publicidade, a ter circulação nacional e podem ser vendidos a preços muito baixos, coisa de centavos. A publicidade influencia a revista não apenas no seu conteúdo, mas também no formato, especialmente na padronização da página e no uso da cor (MIRA, 2001, p. 10-11).

São essas condições que constituem a dinâmica de negócio das revistas durante

todo o século XX, no qual “o leitor passa a ser visto como consumidor em potencial e o

editor torna-se um especialista em grupos de consumidores” (MIRA, 2001, p. 11).

No Brasil, a constituição do mercado de revistas deu-se com a chegada da corte

portuguesa. Em Salvador, na Bahia, foi criada a primeira publicação produzida no País,

As Variedades ou Ensaios de Literatura, em 1812 (SCALZO, 2003; MIRA, 2001). Ela

trazia textos sobre costumes e princípios morais e sociais, bem como novelas, resumos

de viagens, história e trechos de autores clássicos portugueses.

Em 1813, surge no Rio de Janeiro O Patriota, com colaboradores da elite e

intelectuais da época, nascidos no Brasil. Já em 1827, é lançada a primeira publicação

brasileira segmentada por tema, O Propagador das Ciências Médicas. Revista da

Academia de Medicina do Rio de Janeiro, ela é considerada a primeira especializada do

País. Nessa mesma época, nasce Espelho Diamantino, pioneira entre as femininas

nacionais.

Entretanto, todas essas publicações têm vida curta devido à falta de assinantes e

recursos (SCALZO, 2003). Mas o cenário muda com o lançamento, em 1837, de Museu

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Universal – criada pelo francês Pierre René François de la Noé, um dos introdutores da

litografia49 no Brasil (MIRA, 2001) –, conforme explica Scalzo:

Refletindo a experiência das Exposições Universais europeias que dominam o século XIX, com textos leves e acessíveis, a publicação foi feita para uma parcela da população recém-alfabetizada, a quem se queria oferecer cultura e entretenimento. Além dessas inovações, a revista trazia ilustrações. Com essa fórmula – que era cópia dos magazines europeus – e o avanço das técnicas de impressão, o jornalismo em revista brasileiro encontra um caminho para atingir mais leitores e, assim, conseguir se manter (2003, p. 28).

No período entre o final do século XIX e início do XX, o jornalismo se

transforma em possibilidade profissional e, no Rio de Janeiro, surgem pequenas

“inúmeras revistas como publicações alternativas aos jornais, que estavam se tornando

empresas” (LINS, 2010, p. 15). Elas eram veículos de propagação da oposição da

república recém-proclamada e um meio no qual intelectuais publicavam ideais

modernos, o que, aos poucos, ajudou a desenvolver transformações urbanas.

Até esse momento, no mercado profissional nacional, havia pouco material

sendo impresso em solo brasileiro e “não há distinção entre ser editor de jornais, livros,

revistas, folhinhas, álbuns ou almanaques” (MIRA, 2001, p. 17). Esses profissionais,

além de editar, também ilustravam suas publicações.

O novo século (XX) traz a disseminação do telefone, do automóvel, do avião e,

também, a substituição dos prelos manuais por máquinas mais sofisticadas, como o

linotipo (de composição mecânica), e a invenção da rotativa, “processo de impressão

pelo sistema de cilindro contra cilindro espetacularmente rápido, que introduz o

automatismo e a integração das operações no trabalho gráfico” (MIRA, 2001, p. 21).

Aos poucos, a rotativa substitui os padrões europeus pelos norte-americanos e a

introdução de novas técnicas amplia a profissionalização da área, criando postos de

trabalho, como repórter, fotógrafo, redator, desenhista, revisor e gráfico:

Progresso técnico e divisão do trabalho farão das revistas do novo século um espetáculo à altura, com muitas fotografias e ilustrações coloridas dispostas numa diagramação mais leve e atraente. Entusiasmados, os leitores mandam

49 Processo de gravura inventado nos últimos anos do século XVIII pelo alemão Alois Senefelder, foi fundamental para a reprodução de imagens antes do advento da fotografia (MIRA, 2001). Essa técnica de gravura envolve a criação de marcas ou desenhos sobre uma matriz com um lápis gorduroso. A base dessa técnica é o princípio da repulsão entre água e óleo.

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retratos da família, sobretudo das “moças casadoiras”, fotos de festas e viagens. Não raras vezes, mandam-se emoldurar os quadros europeus publicados nas revistas (MIRA, 2001, p. 21).

Ligada à sociedade burguesa brasileira, a revista ilustrada mais popular do início

do século XX foi a Revista da Semana, criada por Álvaro de Teffé. A publicação tinha

um estilo próximo ao das atuais revistas semanais e trazia resumo dos acontecimentos

da semana, além de poesias, críticas literárias, eventos esportivos, campanhas políticas,

manifestações operárias, festas populares e notícias da sociedade da época.

Seu sucesso foi grande e Carlos Malheiros Dias, um de seus proprietários e

diretor editorial durante 20 anos, foi convidado por Assis Chateaubriand, dono do

império de mídia da época, Diários Associados, para integrar a equipe de criação da

revista O Cruzeiro. Entre as décadas de 1930 e 1950, O Cruzeiro reinou absoluta no

mercado brasileiro.

Considerada o meio de comunicação mais importante do período no Brasil, a

revista tinha tiragem de cerca de 300 mil exemplares por edição (em uma época em que

a população brasileira tinha menos de 50 milhões de habitantes) e era exportada para a

América Latina, chegando, inclusive, a ter uma versão em espanhol.

Em sua longa trajetória, a revista atravessa as décadas de 30 a 60 como veículo nacional responsável pela crônica social, política e artística não apenas do Brasil, mas do mundo, contando para tanto com correspondentes estrangeiros, fato até então inédito no Brasil. Vários elementos que hoje caracterizam o mercado de revistas já aparecem no ousado empreendimento: marketing, investimento técnico, preocupação com o padrão visual e esquema de distribuição. Desde o lançamento, apostava-se na publicidade (MIRA, 2001, p. 23).

Em papel couchê, O Cruzeiro era repleta de fotografias de grandes

personalidades da época, anúncios para um crescente mercado consumidor e uma

inovação para o período: as grandes reportagens. Estabelecido o padrão de produção por

meio da dupla repórter-fotografo, toda grande reportagem (assinada pelos seus

responsáveis) vinha com imagens espetaculares, muitas vezes ocupando páginas

inteiras. O sonho de qualquer jornalista era trabalhar nesta revista. Seus profissionais

eram tão famosos quanto hoje é um galã de novelas da Globo.

Dominado pelos padrões culturais norte-americanos – após uma fase de

inspiração europeia, principalmente francesa – o campo de revista brasileiro incorpora

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em seu conteúdo os astros do cinema de Hollywood e o american way of life. Exemplo

disso é o lançamento da revista Seleções, adaptação de Reader’s Digest, em 1942. A

publicação era “reconhecidamente o maior porta-voz dos valores familiares norte-

americanos e da guerra fria” (MIRA, 2001, p. 26).

Em 1950, Seleções tornou-se a principal concorrente de O Cruzeiro, que, nesta

mesma década, sofreria concorrência de populares revistas nacionais que traziam

fotografias e informações sobre os astros do rádio brasileiro. No mesmo período, surge

Grande Hotel e um fenômeno popular, a fotonovela – que vive sua época áurea nas

décadas de 1950 e 1960.

As revistas de histórias em quadrinhos também se estabelecem no Brasil,

inicialmente com as editoras Ebal e Rio Gráfica (ambas oriundas de empresas

jornalísticas) e, em seguida, com os Diários Associados, na década de 1940. Mas um

marco das HQs se firma no País em 1950 com o início da publicação dos gibis dos

personagens de Walt Disney pela Editora Abril (MIRA, 2001, p. 28-29). Essa editora,

ao lado de outros importantes conglomerados de mídia, começa a se fortalecer no

mercado editorial brasileiro logo em seguida:

A partir da década de 1960, com a aceleração do processo de modernização e urbanização do País, sobretudo no fim da década de 1960, algumas pequenas publicações deixam de existir, e grandes conglomerados editoriais passam a se formar. A Editora Globo, a Bloch Editores e principalmente a Editora Abril lançam publicações de grande tiragem e consolidam uma nova “era” no mercado editorial nacional, contribuindo, inclusive, para a derrocada e o fechamento completo, em 1975, de O Cruzeiro (TAVARES; SCHWAAB, 2013, p. 31).

As grandes revistas que marcaram a década de 1960 são Claudia, Quatro Rodas,

Realidade e Veja, todas da Editora Abril. Essas publicações representaram um maior

passo em direção à segmentação do mercado de revistas, que se mostrará cada vez mais

especializado. Apesar de essas quatro revistas partirem de fórmulas europeias ou norte-

americanas (Claudia: combinação de conteúdos das revistas femininas Mc Call´s e

Ladies Home Journal, dos Estados Unidos, e Marie Claire e Arianna, da Europa;

Quatro Rodas: Itália; Realidade: inspirada na norte-americana Life; e Veja: implantação

da Time, dos Estados Unidos, no Brasil), elas marcam “um abrasileiramento de modelos

de jornalismo já tradicionais no exterior” (MIRA, 2001, p. 42). O processo de

simplesmente não traduzir seus conteúdos, mas buscar adaptá-los à realidade dos

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leitores brasileiros elevou o grau de profissionalização do mercado. De acordo com

Mira (2001, p. 42), essa modernização “colocará os jornalistas diante de quadro típico

da indústria cultural: divisão do trabalho, aprimoramento técnico, padronização do

produto”.

Claudia, por exemplo, teve de estruturar uma equipe de profissionais. No início,

a maioria vinha do exterior e, com o tempo, os colaboradores daqui começaram a

aprender técnicas de produção:

Aos poucos, e com a televisão no Brasil, Claudia, foi criando condições de produção. Com isso, contribuiu para a profissionalização e a legitimação do chamado jornalismo de serviço, hoje um dos aspectos mais relevantes das revistas. Os profissionais foram aparecendo, pois em vários outros campos estava ocorrendo o mesmo processo. Fotógrafos, manequins, decoradores, produtores de moda são profissionais ligados não apenas ao campo editorial, mas também ao conjunto da indústria cultural, em especial à publicidade (MIRA, 2001, p. 54).

Em 1968 foi a vez de Veja, revista semanal de informação de abrangência

nacional, chegar ao mercado – o que aconteceu com grande estardalhaço, incluindo

inédita campanha publicitária na TV, em rede nacional, sobre o lançamento. Seu

esquema de distribuição também era inédito: frota de ônibus, caminhões, trens e aviões

cargueiros especialmente fretados para que a publicação alcançasse quase todos os

municípios brasileiros. “Desde então, Veja passou a exigir de sua editora um esquema

todo especial de impressão e distribuição” (MIRA, 2001, p. 77). Apesar de um início

claudicante, a publicação se consolidou, tornando-se uma revista de opinião. Com

textos diretos e, a princípio, sem muitas imagens, a revista se propôs, desde seu

lançamento, a transmitir o máximo de informação tomando o mínimo de tempo possível

do leitor.

Para o mercado editorial nacional, mais do que representar uma revista de

grande penetração, Veja impôs conceitos de marketing para ampliar suas vendas e

permanecer líder de circulação:

Nos anos 70/80, Veja entra decididamente na “Era do Marketing”. As vendas por assinatura representam 85% de sua circulação paga. Milhões de peças de mala direta estão circulando entre os assinantes, milhares de vendedores vão de porta em porta e centenas de pessoas trabalham para atender os assinantes. O índice de renovação que se consegue com esse esquema é da ordem de 80%. As mudanças de diagramação da revista também são fruto de pesquisa de mercado (MIRA, 2001, p. 94).

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A partir dessas pesquisas com o público, a revista também pôde aprimorar seus

textos e a escolha dos temas e, assim, aumentar o índice de leitura. Essa forma de

seduzir o leitor a todo custo é chamada por Theodor Adorno e Max Horkheimer de

plugging (apud MIRA, 2001, p. 95). Nesse processo, ele é investigado, atende a

vendedores em sua porta a cada três meses e, depois de assinar a revista, recebe cartas

para renová-la. Enquanto é assinante, o leitor ainda tem seus gostos sondados a fim de

que a revista possa agradá-lo sempre mais.

O objetivo de atrair o leitor a qualquer custo com essas ferramentas, leva a uma

segmentação ainda maior do mercado de revistas. A Editora Azul, que começou a atuar

em 1986 no ramo de revistas segmentadas, estabeleceu que elas devem ter menor

tiragem (em torno de 100 mil exemplares) e públicos específicos oferecidos a

anunciantes também específicos (MIRA, 2001, p. 147). Existem duas formas

fundamentais de segmentação, como explica Buitoni:

Por assunto e por partição de um conjunto maior já existente, seja um grupo de publicações, seja de uma publicação que se reparte em outras. A segmentação por partição ou divisão costuma ser operada pela empresa que produz revistas – impressas ou digitais. As variáveis básicas – gênero, classe social e faixa etária – entrecruzam-se na definição do novo projeto editorial e fazem parte do contexto demográfico (2013, p. 117).

É preciso levar em consideração, no entanto, que a segmentação das revistas não

é apenas uma estratégia de marketing, mas também se concentra em questões

socioeconômicas e ecologias sociais (BUITONI, 2013). A segmentação parte da ideia

de concentração de grupos por interesses ou tipos de pessoas (mulheres, negros,

homossexuais, adolescentes etc) e isso se reflete em anseios de consumo. Como afirma

Mira (2001, p. 2014), “a lógica do mercado absorve os movimentos sociais e culturais,

mas os rearticula de acordo com seus interesses”.

Ryberg (2010) descreve de forma bastante ampla a complexa relação entre

editoras, anunciantes, jornalistas, conteúdos e leitores no íntimo do contexto do

“negócio revista”:

A editora se torna um clube gerenciador na “rede da revista” que interconecta três distintos membros, os leitores, os anunciantes e os diferentes atores que podem ser chamados de “mercado de conteúdo”. Os leitores querem outros leitores para serem “corretos”, assim como anunciantes e conteúdo. Os anunciantes são também parte do ambiente editorial, pois contribuem com a “alma” da revista. Isso significa que não

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apenas o grupo de anunciantes é importante para a sobrevivência de uma revista, mas também a seleção dos anunciantes “corretos”. Os anunciantes, em troca, querem ter uma relação com os leitores certos, assim como com o conteúdo certo. O mercado de conteúdo consiste em artistas, celebridades, empresas, organizações e outros grupos que precisam ou desejam a atenção da mídia por diferentes razões. Os jornalistas podem ser considerados intermediários entre o mercado de conteúdo e os leitores. O conteúdo também quer alcançar os leitores e os anunciantes. Então, é preciso a mistura certa entre leitores, anunciantes e conteúdo e essa é uma importante tarefa da revista (2010, p. 7, tradução nossa50).

Atualmente e há pelo menos três décadas, uma banca conta com inúmeras

publicações que vão desde as revistas semanais de informação até as especializadas em

esporte, ciência, negócios, bem-estar, beleza ou, então, apenas cabelos ou maquiagem.

Não é à toa, portanto, que revistas já consolidadas no mercado também lancem seus

“filhotes” (BUITONI, 2013, p. 115). Claudia, por exemplo, publica edições especiais

com periodicidades definidas, tais como Claudia Bebê, Casa Claudia e Claudia

Cozinha. A revista teen Capricho, por sua vez, tem no mercado produtos licenciados

com a sua marca: maquiagem, esmalte, roupas íntimas, cadernos, agendas.

Capricho, aliás, é um exemplo de como um título pode se adaptar ao mercado,

alterando, inclusive, sua linha editorial e mantendo-se contemporânea. Scalzo (2003)

relata o reposicionamento de mercado da publicação: criada em 1952 (é a segunda

revista mais antiga da Editora Abril, depois de O Pato Donald), Capricho publicava as

melhores fotonovelas de sua época, inovando ao colocar nas bancas histórias inteiras ao

invés de capítulos. O desenvolvimento da televisão e das telenovelas, no entanto, fez a

revista passar por sua primeira mudança radical. Em 1982, ela se transformou em uma

publicação mensal de variedades, dedicada à jovem dona de casa.

50 “The publishing company becomes a club manager in the magazine network that interconnects three different members, the readers, the advertisers and the different actors on what can be called a ”content market”. The readers want other readers to be “right” as well as the advertisers and content. The advertisers are also part of the editorial environment because they contribute to the "soul" of the magazine. This means that not only the amount of advertisers is of importance for the survival of a magazine, but also selection of the "right" advertisers. The advertisers in return want to have a relation with the right readers as well as the right content. The content market consists of artists, celebrities, companies, organizations and other groupings that need or desire media attention for different reasons. Journalists can be considered as intermediaries between the content market and the readers. The content also wants to reach out to readers and advertisers. So there has to be the right mixes of readers, advertisers and content and this is the important task of the magazine.”

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Tendo pejorativamente ficado conhecida na época como “revista de empregada

doméstica”, sua venda caiu muito, assim como o número de anunciantes. Foi quando,

em 1985, a publicação foi direcionada ao público feminino mais jovem, de 15 a 20

anos, e ganhou o slogan “A revista da gatinha”. Essa retomada foi um sucesso e

recuperou boa parte da circulação da revista, mas não durou muito tempo, tendo em

vista que, “na época, não havia anunciantes dispostos a divulgar seus produtos para o

então inexplorado mercado adolescente” (SCALZO, 2003, p. 91). Foi por esse motivo

que a revista ampliou seu conteúdo para um público entre 17 e 25 anos, com matérias

picantes sobre sexo e namoro. A tentativa também não obteve grande êxito.

A equipe da revista descobriu que era preciso colocar o foco no leitor e escolheu

ser a revista para adolescentes de 12 a 18 anos de classe A e B, mudando o tom do texto

(para ser a “amiga da leitora”) e constituindo uma redação com jovens jornalistas. De

acordo com Scalzo (2003), a redação realizou focus groups com meninas a fim de ouvir

o que elas pensavam, gostavam e queriam. A área de atendimento ao leitor passou a ser

o núcleo central do organograma da redação e catalogava telefonemas e cartas para um

relatório mensal com críticas, elogios e sugestões das leitoras. Além, disso, houve uma

grande mudança no projeto gráfico da revista, que, em um ano, voltou a ser líder de

venda em seu segmento. Atualmente, a publicação é quinzenal e ainda atinge bons

índices de venda entre seu público.

Esse é um relato de como uma revista, por meio de seu conteúdo, adapta-se à

realidade dos tempos, reforçando uma de suas fortes caraterísticas: ser contemporânea.

E, a partir dessa breve história das revistas, associada aos seus vieses comerciais,

pudemos extrair dos autores informações que projetam um modelo de negócio padrão

para essas publicações (gráfico 2).

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Material elaborado pela autora.

Entende-se que houve um amadurecimento no capital intelectual (profissionais

do jornalismo) e no processo de produção, principalmente devido às novas formas de

impressão, advento da fotografia e produção local de conteúdo. Ao mesmo tempo, o

desenvolvimento da sociedade (crescimento nos índices de alfabetização e poder de

consumo) ampliou a circulação e a quantidade de publicações, que ficaram cada vez

mais especializadas e segmentadas. Neste cenário mais complexo, os departamentos de

marketing realizaram pesquisas de mercado para conhecer cada vez mais e melhor os

leitores, que têm acesso às revistas pelas bancas ou assinaturas. As receitas também vêm

dos anúncios e publieditoriais51, além de produtos licenciados, como ocorre com

algumas publicações. A impressão e a distribuição podem ser realizadas com recursos

da própria editora ou, então, por empresas contratadas e especializadas nesses tipos de

serviços.

51 Publieditorias são mensagens publicitárias pagas com formato de reportagem ou matéria jornalística. Têm como objetivo integrar-se ao projeto gráfico da publicação na qual está inserido, de modo que não sejam notados como publicidade.

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2. A necessidade de novos modelos de negócios no jornalismo

Este cenário aqui descrito revela que a revista, enquanto veículo de

comunicação, encontrou seu espaço no mercado do século XX, bem como entre os seus

leitores, ávidos por informação específica, direcionada e, até mesmo, personalizada,

dada a grande variedade de títulos existentes com alto grau de especialização. Um

modelo de negócio aparentemente sedimentado, mas que, com a popularização da

internet e as novidades tecnológicas incorporadas pela comunicação, se viu diante da

necessidade de mudar.

Foi preciso se adaptar ao ciberespaço e não apenas o conteúdo ou as práticas

jornalísticas sofreram transformações. Os modelos de negócios das tradicionais

empresas de mídia também ficaram sob a mira das Tecnologias da Informação e

Comunicação (TICs) – que podem ser compreendidas como um conjunto de tecnologias

usadas de maneira integrada – de acordo com o que descreve Mattos:

Ao mesmo tempo em que a cultura digital permite uma comunicação mais flexível do que a produzida pelas mídias tradicionais (impresso, rádio e TV), ela não privilegia o processo reflexivo, tendo em vista que muitas vezes a inovação é incorporada de maneira imediatista e de forma acrítica. Em síntese, o sistema digital rompeu com o modelo de produção e distribuição da informação de um-para-todos, pois no ciberespaço a relação acontece no contexto todos-todos, modificando comportamentos sedimentados pelas mídias tradicionais. A Era Digital é um momento de novos desafios para as mídias tradicionais e também para a análise de dados devido ao volume, variedade e velocidade com que são produzidos e distribuídos. Os desafios da comunicação, portanto, têm a ver com o processo de produção e distribuição de conteúdos, além de passar pela adaptação dos modelos de negócios praticados pelas empresas de mídia (2013, p. 8).

Em se tratando da questão mercadológica, é preciso levar em consideração que,

tanto no Brasil quanto no exterior, os grandes e exitosos veículos de comunicação estão,

em sua maioria, associados a importantes instituições da mídia e, assim, coube a elas

começar a pensar em formas de adaptar seus produtos de sucesso às demandas

oferecidas pelas novas tecnologias e exigidas por um público sedento por novidades.

No sentido aqui descrito, instituição significa “organismo público ou privado,

estabelecido por meio de leis ou estatutos que visa atender a uma necessidade de dada

sociedade ou da comunidade mundial” (HOUAISS, on-line).

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Schwaab (2013, p. 60-61) considera também o campo do jornalismo como

instituição ou, ao menos “os valores que o caracterizam são socialmente conhecidos e

institucionalizados”. Para o pesquisador – que também vê a própria revista com

instituição e não somente a editora em si –, a instituição jornalística conquistou

legitimidade social pelo fato de reconstruir discursivamente fatos cotidianos.

Partimos da ideia de que o jornalismo congrega atributos e valores institucionalizados, constituindo uma imagem socialmente aceita e difundida. Da mesma maneira, as empresas jornalísticas (as editoras, no caso) se dão a ver como instituição que partilha valores relevantes para a sociedade, inerentes ao campo do qual fazem parte. Desse modo, podemos considerar a existência de um lugar social (do jornalismo, das instituições/empresas) como uma espécie de apoio aos quadros de sentido de um produto jornalístico (2013, p. 66).

Esse tópico torna-se relevante para tal discussão, pois não se pode abandonar o

fato de que uma revista é um produto, em sua maioria, vinculado a uma empresa

(instituição), que, no cenário capitalista, visa ao lucro e ao ganho de mercado.

As revistas não receberam o nome de magazine (em inglês e francês) à toa,

afinal, elas “vendem coisas”. Uma revista sobre carros vende carros, mas “vende”

também um estilo de vida. Por ser um produto jornalístico, a revista carrega consigo

valores (linha editorial). Nesse sentido, a segmentação é um componente estratégico “ao

conjugar e ‘avalizar’ escolhas e identificações de cada publicação, com fortes reflexos

mercadológicos” (SCHWAAB, 2013, p. 67).

Exposta a ideia de instituição, é necessário ainda compreender que as revistas –

e, inclusive, demais produtos jornalísticos de grande circulação – estão atrelados a

importantes conglomerados de comunicação, no Brasil e no mundo. Foram esses

grandes grupos comerciais os responsáveis pela profissionalização, modernização e

importância econômica do mercado jornalístico (FIGARO, 2013). De acordo com Paulo

Faustino (2004, apud FIGARO, 2013), “a concentração internacional das empresas de

comunicação está expressa em cinco ou seis grupos empresariais internacionais, cada

vez mais poderosos, que concentram 50% das receitas publicitárias e das grandes

tiragens de jornais e revistas em todo o mundo”.

Conforme Anderson, Bell e Shirky (2012), jornais e revistas foram os primeiros

veículos a serem “institucionalizados”, com a concepção de uma estrutura

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compreendendo redatores, editores, casas editoriais e, mais tarde, ilustradores e

diagramadores, além de todo o aparato necessário para sua produção. Em seguida, o

rádio e a TV entraram nesse processo linear de produção, com a criação de categorias

profissionais e práticas para dividir e sistematizar o trabalho que produziria as notícias

broadcast. Nesse processo, repórteres e editores reuniam fatos e observações,

transformando-os em reportagens, que no papel ou nas ondas de emissão de rádio e TV,

eram consumidas pela audiência. Nesse ecossistema, figuras da grande mídia decidiam

o quê iria ser consumido e quando.

Então, veio a internet, cuja lógica (que envolve replicação digital e nenhuma

divisão entre produtores e consumidores) mexeu com os princípios institucionais da

produção da notícia, modelo que perdurava há anos. O que configurou, com grande

peso, o novo ecossistema da mídia foi o fato de que há maior envolvimento do público

e, com isso, os processos se viram alterados, de acordo com a seguinte explicação dos

pesquisadores:

O que é novo não é a possibilidade do envolvimento ocasional do cidadão. A novidade é a velocidade, escala e potência deste envolvimento. A possibilidade de uma persistente e dramática quantidade de participação de pessoas antes relegadas ao amplo consumo invisível. A novidade é que fazer declarações públicas não mais requer instituições ou editores profissionais (ANDERSON, BELL, SHIRKY, p. 80, 2012, tradução nossa52).

No entanto e a princípio, a concentração e o monopólio parecem não perder

espaço com a incorporação das inovações tecnológicas pelo campo da comunicação e a

possibilidade de voz ao cidadão. Pelo contrário, a convergência de meios aumenta a

concentração das empresas de comunicação em nível nacional e internacional mundo

afora, conforme esclarece Castells:

A formação destas redes globais de empresas multimídia tem sido possível graças às políticas públicas e às mudanças institucionais caracterizadas pela liberalização, privatização e desregulação regulada, nacional e internacionalmente, como consequência das políticas governamentais

52 “What’s new here isn’t the possibility of occasional citizen involvement. What’s new is the speed and scale and leverage of that involvement, the possibility of persistent, dramatic amounts of participation by people previously relegated to largely invisible consumption. What’s new is that making public statements no longer requires pre-existing outlets or professional publishers.”

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favoráveis ao mercado que tem predominado a partir dos anos oitenta (2009, p. 90, tradução nossa53).

Tal agrupamento de empresas do setor, além de centralizar capital, desdobra-se

na “falta de pluralidade de pontos de vista que circulam nos discursos das mídias”

(FIGARO, 2013, p. 9). Figaro (2013) explica que, no Brasil, essas empresas são

familiares, podem ter somente 30% de participação de capital externo, conforme a

legislação, e também atuam em convergência de mídias (estando presentes nos meios

impresso, audiovisual e internet).

Mesmo assim, a saúde financeira de muitas grandes instituições de mídia, tanto

brasileiras quanto estrangeiras, vem sofrendo danos, principalmente no que diz respeito

à venda de publicações impressas e distribuição de receita publicitária. Parte desse

problema – que não é necessariamente recente – se deve à popularização de outras

plataformas de comunicação (rádio, TV e, mais recentemente, internet) e aos novos

hábitos sociais incorporados a partir delas. Ryberg (2010) explica como as mídias

consideradas tradicionais buscam se encaixar nesse novo ambiente convergente:

Na internet, as empresas encontram nova concorrência. As possibilidades digitais fazem as diferentes instituições de mídia convergir. As revistas estão competindo não apenas com outras revistas de outros países, mas também com empresas de mídia que têm suas raízes em outra mídia antiga, como TV ou rádio. Na web, temos a convergência de mídia, o que significa que a mídia antiga fundiu-se. Por exemplo: uma estação de rádio na internet também usa texto e, em alguns casos, vídeo. Um jornal on-line pode usar vídeo e podcasts e um canal de televisão pode usar textos e fotos. Assim, uma mídia tradicional diferente surge quando chega ao digital. A convergência de mídia não apenas oferece às empresas de mídia mais concorrência, como também cria desafios internos quando transforma sua instituição em “jornalismo em plataformas cruzadas”. Isso se torna muito importante para que a empresa redefina quem ela própria é e quem é seu público (2010, p. 4, tradução nossa54).

53 “La formación de estas redes globales de empresas multimedia ha sido posible gracias a las políticas públicas y los cambios institucionales caracterizados por la liberalización, la privatización y la desregulación regulada, nacional e internacionalmente, como consecuencia de las políticas gubernamentales favorables al mercado que han predominado a partir de los años ochenta.” 54 “On the Internet companies meet new competition. The digital possibilities make the different media companies converge. The magazines are competing not only with other magazines from other countries but also with media companies that have their roots in another old media like TV or radio. On the web we have media convergence which means that the old media have merged together. For example a radio channel on Internet also uses text and in some cases video, an online newspaper can use video and podcasts and a television channel can use text and pictures. So the different traditional media emerge when they go digital. The media convergence not only give the media companies more competition but

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Ao discorrer sobre possibilidades de modelos de negócios futuros do jornalismo

investigativo (watchdog journalism), Mark Lee Hunter e Luk N. Van Wassenhove

(2010) enumeram fatores que estão na raiz da crise na indústria da mídia. Na concepção

dos autores, a principal causa é o ciclo vicioso de capacidade, conteúdo e credibilidade

– que compreende a redução da influência e da capacidade da mídia em reter

profissionais; depreciação do conteúdo (perda do valor agregado da notícia relacionada

a determinado veículo de comunicação “respeitado”); diminuição das receitas (queda no

investimento dos anunciantes e da audiência); e perda de credibilidade (acentuada pela

crise financeira no setor). Citemos a seguir dois exemplos dos fatores expostos pelos

autores, no que se refere à queda de receita e perda de credibilidade.

Com relação à perda de credibilidade, Hunter e Van Wassenhove (2010)

mostram os resultados de duas pesquisas, uma realizada nos Estados Unidos e outra na

França, sobre a questão. A primeira delas aponta que 74% dos norte-americanos

acreditam que a grande mídia é influenciada por pessoas ou organizações de poder e

apenas 20% creem que a mídia é independente. Em 1985, esses números eram,

respectivamente, 53% e 37%. Já 66% dos franceses consideram que os jornalistas não

são independentes dos poderes políticos ou comerciais.

Com isso, vê-se um crescimento do que os autores classificam como stakeholder

media (aquela que expressa e defende os interesses de comunidades específicas). De

acordo com eles, “a grande mídia está cada vez mais dependente da stakeholder media,

como fontes de informação ou opinião. Como consequência, a grande mídia está

alimentando a ‘tecnologia disruptiva’, que está comendo sua audiência” (HUNTER;

VAN WASSENHOVE, 2010, p. 12, tradução nossa55).

Com relação à queda de receita, temos um exemplo brasileiro. De acordo com a

Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), a receita do setor totalizou R$

790 milhões em 2013, o que representou uma queda de 8,7% em relação ao mesmo

intervalo de 2012 (BOUÇAS, 2013).

also creates internal challenges when they have to transform their organization to ‘Cross platform journalism’. This will make it very important for the company to redefine who they are and who their audience is.”

55 “News media are increasingly dependent on stakeholder media, as sources of information or opinion. In effect, news media are feeding the 'disruptive technology' that is eating their audience.”

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Antes disso, para conter a queda de vendas, muitas empresas colocaram no

mercado, durante a década de 1990, produtos considerados “ anabolizantes”,

fascículos que acompanham periodicamente o jornal, como enciclopédias e livros. Essas

ações, apenas em curto prazo, ofereceram bons resultados de vendas:

A venda de fascículos integrada ao jornal passou a ser considerada um novo modelo de negócio para as empresas de comunicação, já que alguns anabolizantes passaram a ser produzidos internamente pelos grupos de comunicação, como as publicações do Publifolha, a divisão de publicações do grupo criada em 1995. Mas a estratégia de venda de fascículos, adotada com objetivo de estimular as vendas, apesar de ser mantida até hoje em várias partes do mundo, não foi sustentável. O que se observa é que as vendas em bancas regridem a cada término de campanha dos anabolizantes e as assinaturas – principal fonte de receita de vendas dos jornais (em média correspondem a 80% da receita de vendas) – continuam em queda (RIGHETTI; QUADROS, 2008, apud MATTOS, 2013, p. 22-23).

Outros meios de sobrevivência encontrados pelas empresas de mídia no Brasil,

no início do século XXI, foram parcerias, fusões e aporte de capital estrangeiro.

Exemplos disso são o fato de as Organizações Globo e o grupo Folha lançarem em

conjunto o jornal Valor Econômico; e O Dia e o Jornal do Brasil passarem a ser

impressos no mesmo parque gráfico (MATTOS, 2013). O Jornal do Brasil, mais tarde,

seria pioneiro ao se lançar como o primeiro jornal on-line do País e deixar de circular na

versão impressa, em 2010, oferecendo conteúdo pago pelo site (R$ 9,90 por mês, valor

equivalente a 20% da assinatura da então versão impressa) – uma alternativa mais

econômica em tempos de crise financeira na publicação.

Nos Estados Unidos e outros países desenvolvidos, a decadência dos jornais

impressos parece mais acentuada. O site do jornal The New York Times publicou, em 7

de setembro de 2011, um infográfico56 que mostrava diversos jornais que haviam ido à

falência ou estavam à venda, tais como The Minneapolis Star Tribune, The Chicago

Tribune, The Seattle Post-Intelligencer e The Miami Herald.

Por aqui, em 2013, o Grupo Estado encerrou as atividades d’O Jornal da Tarde.

Em Campinas, interior de São Paulo, o Diário do Povo também colocou fim a sua

edição impressa e agora só existe na internet. Em Natal, no Rio Grande Norte, o grupo

Diários Associados decretou o fim da circulação em papel do Diário de Natal, que

56 Disponível em: <http://www.nytimes.com/interactive/2009/03/12/business/20090312-papers-graphic.html?_r=1&>. Acesso em: Out. 2013.

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também terá apenas versão on-line. Também em 2013, a Editora Abril fechou três

revistas (Gloss, Alfa e Lola) e demitiu cerca de 150 jornalistas.

As instituições que constituíram os tradicionais modelos de negócio do

jornalismo impresso passaram, nas últimas décadas, a vê-los como ineficazes ou

insuficientes e, então, começam a buscar novas maneiras de permanecerem no mercado

– assim como estão fazendo profissionais de comunicação, de maneira independente.

Mais do que a distribuição da receita publicitária e a chegada de novas

tecnologias, a decadência financeira dos tradicionais veículos impressos ainda deve-se

ao fato de termos passado pelo período em que havia apenas os discursos e as versões

da grande mídia. A internet permitiu a multiplicação de vozes, abrindo espaço para que

qualquer indivíduo possa criar um site ou blog informativo e/ou opinativo, sem

quaisquer ligações com grupos de mídia. Ao mesmo tempo, os veículos jornalísticos

ligados a grandes empresas e estabelecidos no meio digital também tiveram de oferecer

áreas para a publicação de comentários de seus leitores. O gráfico a seguir (gráfico 3)

mostra um pouco dessa evolução ao ilustrar a mídia que obteve maior destaque nas

últimas gerações, das revistas ilustradas da década de 1950, passando pelas redes de TV

e a internet, até os dispositivos móveis e as redes sociais da atualidade.

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Fonte: NEWTON, 2013, s/p (tradução nossa)

De modo geral, as pessoas começam a estabelecer novas formas de lidar com os

produtos jornalísticos e as notícias em si, no que se estabelece como um novo

ecossistema, ainda mais com a forte disseminação de sites de redes sociais, que

ampliam a divulgação de notícias, conferindo-as valor a partir do momento em que

pessoas indicam-nas e compartilham-nas em seus perfis. Ryberg (2010) fala do

crescente aumento da importância da chamada mídia social nesse novo contexto de

comunicação:

A mídia social está se tornando mais e mais importante e, em muitos produtos digitais, está agora sendo considerada uma imposição. As pessoas esperam poder facilmente recomendar artigos a amigos ou comentá-los. Na web, as pessoas estão acostumadas não apenas a serem receptores de informação, mas também coprodutores (2010, p. 4, tradução nossa57).

57 “Social media is becoming more and more important and in many digital products it is now considered to be a hygiene factor. People expect to be able to easily recommend articles to friends or comment. On the web people are used to not only being receivers of information but also be co-producers.”

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Sendo assim, é preciso mais do que simplesmente estar presente no ciberespaço,

como fizeram as revistas e diversas outras publicações impressas em meados dos anos

1990, com a popularização da internet. Agora, além da rede mundial de computadores e

de um público participativo, há cada vez mais opções de dispositivos móveis que dão

acesso a milhares de informações onde quer que se esteja. Faz-se necessário, então,

pensar em novas formas de sensibilizar, atrair e manter seu público – tanto

comercialmente quanto no que se refere ao conteúdo.

3. Inovação e novos modelos de negócios no jornalismo

Para ajudar importantes empresas a encontrar “novos caminhos”, diversas

instituições, principalmente norte-americanas, vêm realizando estudos. Uma delas é The

Ackoff Center for the Advancement of Systems Approaches, da Universidade da

Pensilvânia, que idealizou o projeto intitulado Creating Breakthrough Business Models

(“Criando avanços nos modelos de negócios”, em tradução livre), em 2002.

O projeto foi estruturado a partir da necessidade das empresas de buscar

iniciativas diferenciadas a fim de manter sua performance econômico-financeira:

Antes, o desenvolvimento de novos mercados era responsabilidade da área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), e o foco estava em criar novas tecnologias. Agora, vemos que focar somente no desenvolvimento de tecnologia, no tradicional desenvolvimento de novos produtos, e na inovação incremental não é suficiente. Ao invés disso, as empresas devem criar descobertas significantes para sustentar sua posição no mercado. Mas realizar avanços é difícil para a maioria das organizações. Os grupos de P&D e engenharia não são preparados para este tipo de inovação e aqueles que alcançam sucesso ao criar descobertas normalmente têm sorte (2002, p. 1, tradução nossa58).

Entretanto, a dificuldade não está somente em encontrar a melhor descoberta

para cada negócio, mas também em compreender o momento necessário de se buscar

essas inovações e de que forma incorporá-las. Esse tipo de inovação chama-se

58 “Previously, development of new markets was a responsibility of the R&D organization, and the focus was on creating new technologies. Now we see that focusing just on technology development in R&D, on traditional new product development, and on incremental innovation is not sufficient. Instead, companies must create significant breakthroughs just to sustain their position in the market. But creating breakthroughs is difficult for most organizations to accomplish. R&D and engineering groups are not equipped for this type of innovation, and those that do succeed at creating breakthroughs often do so by chance.”

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disruptiva e “ajuda a criar um novo mercado e rede de valor, e eventualmente leva à

disrupção59 um mercado ou rede de valor já existente” (CHRISTENSEN, 2013, on-

line).

Clayton M. Christensen identificou três elementos da disrupção. O primeiro

deles é que, em cada mercado, há uma taxa de progresso que os consumidores podem

usar ou absorver. Ele cita como exemplo as indústrias de automóveis, que buscam

sempre oferecer melhorias nos motores dos carros que, no entanto, nem sempre podem

ser aproveitadas pelos consumidores por questões como o trânsito, limites de velocidade

e restrições de segurança.

O segundo elemento é que as tecnologias quase sempre ultrapassam a habilidade

dos consumidores em utilizá-las na maioria dos mercados existentes. E o terceiro

elemento deste modelo de inovação apontado pelo autor é a diferença entre inovação de

sustentação e inovação disruptiva. De acordo com ele, uma inovação de sustentação visa

oferecer a consumidores altamente capacitados produtos que já estavam disponíveis no

mercado, mas com melhores performances, normalmente com o uso de novas de

tecnologias. Já as inovações disruptivas buscam ruptura ao introduzir produtos e

serviços que são tão bons quanto os já presentes no mercado, e que oferecem benefícios.

Normalmente, eles são mais simples, mais convenientes e menos caros e apelam para

uma nova demanda dos consumidores – que, talvez, eles ainda não saibam que exista.

No gráfico a seguir (gráfico 4), o pesquisador delineia o modelo de inovação

disruptiva de acordo com os três elementos de ruptura para novos negócios:

59 “A disrupção é a transformação de uma ideia em realidade renovadora e solucionadora de problemas” (ZOGBI, 2007, on-line).

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Fonte: CHRISTENSEN, 2013, on-line (tradução nossa)

Em seu projeto Blueprint for Transformation (Plano para Transformação), de

2006, o grupo Newspaper Next, do American Press Institute, cita este padrão de

disrupção de Christensen e o adapta para a realidade dos modelos de negócio do

jornalismo, principalmente para os jornais impressos, além de aplicar seu próprio

processo de inovação em sete jornais norte-americanos. O grupo explica o motivo pelo

qual buscou traçar seu Plano para Transformação:

A circulação dos jornais e seu índice de leitura continuam afundando e os ganhos com a internet não são suficientes para contrabalanceá-los. As receitas com a publicidade impressa estão enfraquecendo e as ofertas da internet, apesar de crescentes, ainda são muito pequenas para causar impacto. [...] Muitos acreditam que este é o começo de um declínio em longo prazo. Ou pior que isso. Mas do lado de fora das conhecidas fronteiras da indústria, grandes oportunidades estão surgindo. O comportamento dos consumidores está mudando rápido enquanto pessoas e profissionais buscam novas soluções para suas necessidades ligadas a notícias, informação e publicidade. Novos modelos de negócios de sucesso estão surgindo, fornecendo novas formas de produzir e oferecer informação, comprar e vender, criar e manter relações, e convocar comunidades. Muitas dessas novas ofertas suplantam as tradicionais funções do jornal, acrescentando novas dimensões de valor, conveniência e interatividade. Os consumidores e anunciantes estão avidamente adotando essas novas soluções para trazer

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serviços-chave para suas vidas (AMERICAN PRESS INSTITUTE, 2006, p. 1, tradução nossa60).

Compreender as características do padrão de inovação disruptiva, bem como o

que deseja o novo leitor, é importante para traçar novos caminhos e estabelecer modelos

de negócios que conciliem com a realidade de consumo de informação e notícias na

atualidade. Assim, o American Press Institute (2006) concebeu que a indústria de

jornais – e podemos adaptar em certo grau também para as revistas – necessita de um

melhor entendimento das forças que estão reorganizando o ambiente de mídia, de um

melhor caminho para enxergar de onde estão surgindo novas oportunidades, e de um

claro e prático processo para formatar produtos que podem criar essas oportunidades e,

ao mesmo tempo, diminuir custos e riscos. Para ele e, de acordo com Christensen

(2013) e seu modelo de inovação disruptiva, “o novo produto fornece menor

performance do que as dimensões tradicionais, mas compensa aqueles fatores com

novos benefícios como simplicidade, conveniência, facilidade de uso e acesso e preço

baixo” (AMERICAN PRESS INSTITUTE, 2006, p. 9, tradução nossa61).

A partir disso, o modelo de inovação proposto pelo projeto estabelece quatro

passos (AMERICAN PRESS INSTITUTE, 2006, p. 20-30): 1. localizar oportunidades

(observar aquilo que ajudará os consumidores a resolver problemas que costumam não

ter soluções, além de olhar para não consumidores e focar em serviços que não são

costumeiramente realizados de forma adequada); 2. desenvolver potenciais soluções

(criar um plano de negócios que fará o serviço ser realizado de forma melhor que as

alternativas já existentes no mercado); 3. avaliar ideias (listar as forças, fraquezas e

fatores desconhecidos do novo negócio); e 4. testar, aprender e ajustar (projetar e

60 “Newspaper circulation and readership keep sinking, and Internet gains are not enough to offset them. Print advertising revenues are weakening, and Internet sales, though growing, are still too small to have much impact. […] Many believe this is the beginning of a long-term decline. Or worse. But outside this industry’s perceived boundaries, huge opportunities are opening all around. Customer behaviors are changing fast as individuals and businesses find new solutions for their news, information and advertising needs. Successful new business models are emerging, providing new ways to get and give information, buy and sell, create and maintain relationships, and convene communities. Many of these offerings supplant traditional newspaper functions, adding new dimensions of value, convenience and interactivity. Consumers and advertisers are eagerly adopting these new solutions to get key jobs done in their lives.” 61 “The new product provides lower performance along some traditional dimensions, but it offsets those factors with new benefits such as simplicity, convenience, ease of use, ease of access or low price.”

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executar testes para compreender melhor as hipóteses-chave e reduzir chances de

riscos). Este método pode ser visualizado no gráfico adiante (gráfico 5):

Fonte: AMERICAN PRESS INSTITUTE, 2006, p. 19 (tradução nossa)

Tal modelo pode ser uma opção de saída econômico-financeira para muitas

empresas jornalísticas que tinham nas publicações impressas como um todo (jornais e

revistas) sua maior fonte de receita. Mesmo assim, é preciso compreender que não é

uma tarefa fácil deixar um negócio único e passar a ter um portfólio de novos serviços,

ainda que no próprio core business. Inclusive, o negócio principal deve ser fortalecido

com o uso dos serviços inovadores e a criação de nichos de serviços baseados em

produtos que se encaixem ao mercado já explorado por ele.

Ademais, conforme prega a própria inovação disruptiva, não basta apenas se

apoiar nas novas tecnologias para atender às demandas do público atual. Cada vez com

mais voz e espaço para disseminá-la, este público deseja serviços especializados, que

lhe tragam benefícios em quaisquer aspectos e que ele nem imaginava que pudesse

existir.

A seguir, vamos expor alguns exemplos de novos modelos de negócios em

comunicação (alguns deles, inclusive, até considerados já como “padrão”), a fim de

compreender o que as instituições de mídia, bem como profissionais independentes,

estão entendendo como alternativas para suprir essas novas demandas do mercado,

atendendo aos desejos do consumidor e, ao mesmo tempo, incorporando as novas

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tecnologias e buscando fontes de receitas variadas em um mercado que, desde o início

da publicação de conteúdos na internet, acostumou seu consumidor a acessos gratuitos.

3.1. Paywall e a receita dos meios digitais

Uma das opções que algumas instituições de mídia encontraram para se manter

saudável economicamente foi o paywall – no qual o acesso é restrito a usuários que

pagam uma assinatura ao site (OXFORD DICTIONARIES, on-line, tradução nossa62).

O jornal diário norte-americano The New York Times foi um dos pioneiros dessa

iniciativa. Fundado em setembro de 1851, ele é um dos mais conceituados dos Estados

Unidos, tendo ganhado 112 Pulitzer, o prêmio mais reconhecido do jornalismo no País.

Vendido para a família Ochs-Sulzberger (uma das mais tradicionais dinastias de mídia

impressa) em 1896, o jornal passou a integrar o conglomerado New York Times

Company. Em 1996, o diário passou a ter presença na internet e, em 2009, sua página

na web – já com 22 dos 50 mais populares blogs ligados a jornais – era o site de jornal

mais acessado nos Estados Unidos.

Em uma primeira tentativa de mudança de modelo de negócio em 2005, o jornal

decidiu oferecer conteúdo pago. Chamado de TimesSelect, o serviço cobrava 7,95

dólares ao mês ou 49,95 dólares ao ano para que o leitor tivesse acesso a colunas diárias

exclusivas. Dois anos depois, após muitas críticas de leitores e blogueiros

especializados e pressão do mercado (que via de forma negativa a cobrança de conteúdo

em um site que, antes, era totalmente gratuito), o NYT desistiu de cobrar pelo acesso a

áreas específicas de seu website. De acordo com artigo publicado no site da revista

Carta Capital (MARRA MENDONÇA, 2011, on-line), o TimesSelect foi extinto por

“não ter contado com a explosão dos anúncios on-line e o montante de leitores que

chegava ao site via resultados de buscas, algo que fez a base de assinantes ‘digitais’ do

jornal se tornar algo essencialmente irrelevante em termos de receitas.” Além disso, o

jornal decidiu liberar o acesso a seus arquivos desde 1987, assim como as edições de

1851 a 1922, que já são consideradas de domínio público.

62 “Paywall: an arrangement whereby access is restricted to users who have paid to subscribe to the site.”

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Uma nova tentativa de cobrança de conteúdo (paywall) voltou a acontecer em

março de 2011. Desta vez e desde então, os assinantes da versão impressa do jornal

passaram a ter acesso gratuito a todo seu conteúdo digital. Sem pagar nada, os demais

leitores podem acessar, no máximo, 20 artigos, fotos, vídeos ou outros materiais.

Ultrapassando esse limite (que, depois de um tempo, caiu para 10), deverão

desembolsar até 35 dólares mensais para continuar lendo o conteúdo disponível on-line,

no site ou em dispositivos móveis.

Em abril de 2013, ao divulgar seu balanço do primeiro trimestre do ano (e uma

queda na receita com relação ao mesmo período de 2012), o jornal anunciou novos

serviços, que incluem pacotes de assinaturas mais baratos, tanto com conteúdo geral

como segmentado (com opções divididas por assuntos como política, tecnologia,

opinião, cultura etc), e outro pacote premium, com um custo mais elevado e que dá

direito a conteúdo extra, planos familiares e acesso a eventos da empresa. Além disso, o

grupo revelou estar investindo em estratégias de marketing para o público no exterior,

além de novos métodos de pagamento e processamento de assinaturas estrangeiras. Um

pouco antes disso, o grupo anunciou acesso totalmente gratuito a seus vídeos, devido ao

patrocínio das empresas Microsoft e Acura.

Ao que tudo indica, essa nova estratégia tem trazido resultados financeiros

positivos para o grupo The New York Times Company. Em 1º de agosto de 2013, o

NYT divulgou os números de seu faturamento digital (BLODGET, 2013, on-line): o site

arrecadou 200 milhões de dólares de receita de publicidade e um crescente montante de

150 milhões de dólares de assinaturas digitais. Segundo Henry Blodget, co-fundador,

CEO e editor-chefe do site Business Insider, esses números tendem a continuar

crescendo, o que mostra um cenário econômico bastante saudável para os negócios

digitais do grupo:

Assumindo que a receita de assinaturas continue a crescer enquanto a empresa lança novos produtos à base de assinatura, a partir de abril [de 2014], New York Times Company deve, em breve, ter um negócio digital de 400 milhões de dólares. Por que isso significa que nunca teremos de temer com relação ao futuro do jornalismo de novo? Porque um negócio digital de 400 milhões de dólares é saudável e suportará uma redação grande e talentosa. Mesmo se a versão impressa do The New York Times, que ainda gera a maior parte da receita do grupo com cerca de 2 bilhões de dólares por

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ano, fechar amanhã, a empresa ainda estará apta a financiar uma excelente redação (2013, on-line, tradução nossa63).

Visões otimistas como esta são sempre bem-vindas, entretanto, vale ressaltar que

o público não aceitou facilmente ter de pagar pelo conteúdo on-line, tendo em vista que

ainda há a necessidade de maturidade dos consumidores, já que, historicamente, o

conteúdo on-line de veículos tradicionais sempre havia sido gratuito e pagar por ele

significa esperar por melhor qualidade e aprofundamento dos temas.

Uma pesquisa realizada em 2012 por Jonathan Cook e Shahzeen Attari com

relação à aceitação de pagamento por conteúdo que era gratuito demonstrou que, antes

de assumir o modelo de paywall, a empresa deve justificar ao público o motivo desta

decisão – o que, de acordo com os pesquisadores, não aconteceu no caso do The New

York Times. No estudo, quando eles simularam uma justificativa para os entrevistados,

um número maior de pessoas julgava “justo” o pagamento:

Nossas descobertas destacam como os usuários de internet se adaptam ao pagamento por bens e serviços que, antes, eram gratuitos. Este tipo de mudança exemplifica a internet moderna, na qual os negócios de mídia, inicialmente ávidos para marcar presença na web, agora lutam para gerar receita. Nesse sentido, nossa pesquisa é metodologicamente original, capturando uma significante mudança no mundo real – a implementação de assinaturas digitais por um dos mais visitados sites da internet – e seus desdobramentos. Nossos resultados implicam que muitos leitores do NYT resistiram ao paywall e que as percepções de integridade são chave para ajudar consumidores a se adaptar às mudanças abruptas no preço. Como outros provedores de conteúdo seguem o líder NYT, eles podem se beneficiar com justificativas persuasivas que convençam os consumidores com relação à necessidade financeira (COOK; ATTARI, 2012, p. 685, tradução nossa64).

63 “Assuming the digital subscription revenue continues to grow as the company rolls out new subscription products, which it will start to do next April, the New York Times Company should soon have a $400 million digital business. Why does that mean we never have to worry about the future of journalism again? Because a $400 million digital business is a healthy business, one that will support a large, talented newsroom. Even if the New York Times' print paper, which still generates most of the company's overall revenue of about $2 billion a year, were to shut down tomorrow, the company would still be able to fund an excellent newsroom.”

64 “Our findings highlight how Internet users adapt to paying for goods and services that were previously free. This type of change exemplifies the modern Internet, where businesses initially eager to create a Web presence now struggle to generate revenue. In this sense, our research is methodologically novel, capturing a significant real-world change—the implementation of digital subscriptions by one of the Internet’s most-visited sites—as it unfolded. Our results imply that many NYT readers resisted the newly implemented paywall and that perceptions of fairness are key to helping consumers adapt to abrupt changes in pricing. As other content providers follow the lead of the NYT, they may benefit from providing compelling justifications that convince consumers of financial necessity.”

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Com o aumento das receitas advindas de paywall, parece que o The New York

Times aprendeu com os percalços iniciais e passou a justificar suas decisões de

mercado. No mesmo press release em que o grupo divulgou as novidades de serviços,

em abril de 2013 – pouco mais de dois anos após a implantação do paywall – Mark

Thompson, presidente e chefe-executivo do grupo, explicou que as iniciativas que estão

sendo anunciadas devem ser vistas como um significativo primeiro passo no esforço de

colocar a The New York Times Company no caminho do crescimento sustentável.

No Brasil, nove dos 30 maiores jornais já usam o sistema de paywall. São eles:

Folha de S. Paulo, O Globo, Valor Econômico, Correio Braziliense, Estado de Minas,

Zero Hora, Gazeta do Povo, O Amarelinho e ABC Domingo. O Estado de S. Paulo

também já informou que adotará o modelo ao longo de 2014.

De acordo com a própria Folha de S. Paulo (FOLHA..., 2012, on-line), o jornal,

assim como O Globo, exerce o modelo de paywall poroso, que permite o acesso gratuito

a até 10 páginas mensais. Depois, é preciso fazer um cadastro para ler mais 10

reportagens, colunas ou galerias de fotos. Para ter acesso a todo o conteúdo on-line,

paga-se uma mensalidade de R$ 29,90. De acordo com o mais recente relatório O

Estado da Mídia, do Centro de Pesquisa Pew, “no final de 2012 a proporção de jornais

americanos com assinaturas digitais já alcançava um terço do total” (COELHO, 2013,

on-line).

Uma pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo

(CONSUMIDORES..., 2013), da Universidade de Oxford, no Reino Unido, apontou

que o percentual de leitores que afirmou ter pago por conteúdo digital em 2013

aumentou nos Estados Unidos de 9% para 12% em relação a 2012, assim como no

Reino Unido (de 4% para 9%), na França (de 8% para 13%) e na Alemanha (de 6% para

10%). No Brasil (que não fez parte da pesquisa em 2012), o percentual de consumidores

que disse ter pago por notícias digitais no último ano é o maior do ranking, 24%. Em

seguida, vem a Itália, com 21%.

Dos entrevistados brasileiros que no momento não pagam por esse tipo de

conteúdo, 58% afirmaram ter planos de consumir esse serviço no futuro. A média de

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todos os países pesquisados foi de 14%. O estudo mostrou ainda que consumidores

entre 25 e 34 anos se disseram mais propensos a pagar pelo conteúdo digital, e homens

estão mais dispostos que mulheres.

No primeiro ano de paywall na Folha de S. Paulo (EM UM ANO..., 2013, on-

line), o número de visitantes do site cresceu 4%, o de páginas vistas subiu 15% e o de

assinantes totalmente digitais aumentou 189%. É importante lembrar, ainda, que a

Folha, além de ter mudado seu modelo de negócio on-line para paywall, integrou as

redações do jornal impresso e do conteúdo digital:

Como forma de reestruturação do modelo de negócio da organização, o jornal Folha de S. Paulo modificou sua estrutura organizacional em função da inclusão de um novo projeto gráfico e da mudança no modelo apresentado para o formato on-line. De acordo com dados obtidos na sede da empresa em São Paulo, a redação do impresso e do on-line, antes dividida em dois andares, se fundiu. A mudança atingiu física e estruturalmente a redação. Antes divididos em dois andares, hoje, a redação do on-line e do impresso encontram-se unidas. Um editor comanda a produção para ambas as plataformas e o repórter que produz a notícia para o impresso também fará as adaptações textuais necessárias para o on-line. Mudança no modelo e nas tarefas exercidas pelo profissional que hoje deve ficar atento a produção do fato desde o momento de seu acontecimento, até a divulgação em tempo real do mesmo (KALUME; FAVARO; MOLINARO, 2012, p. 4).

O modelo de O Globo (‘O GLOBO’..., 2013) também engloba mais do que o

paywall. Lançado em novembro de 2013, a estratégia de negócios do jornal contempla

pacotes de assinatura multiplataforma e um programa de benefícios por pontos (o Sou +

Rio), nos moldes das companhias aéreas. Nos novos pacotes, o leitor terá acesso a todo

o conteúdo, que inclui jornal diário, site, acesso ao acervo digitalizado desde 1925, o

vespertino para tablet Globo a Mais, além de e-books. O Sou + Rio substitui o Clube do

Assinante, que funcionava como um clube de desconto, e, agora, terá o perfil de um

clube de privilégios. O cliente ganha pontos ao acessar conteúdos, comentar

reportagens, enviar informações, fotos etc. Os pontos poderão ser trocados por entradas

de cinemas e teatros, lugares privilegiados em espetáculos e produtos. Assim como na

Folha, a assinatura de todo os conteúdo digital custa R$ 29,90.

O novo modelo de negócio demandou o desenvolvimento de uma nova

plataforma para dispositivos móveis. Antes disponível apenas para iPad, o novo critério

inclui todos os celulares e tablets com os sistemas operacionais Android, do Google, e

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iOS, da Apple. Um sistema também foi desenvolvido pela Adobe para permitir a leitura

do jornal, inclusive no layout impresso, em qualquer um desses dispositivos.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico (‘O GLOBO’..., 2013), Marcello

Moraes, diretor-geral de O Globo, afirmou que sua equipe concluiu que apenas o

paywall não era suficiente e que era preciso ofertar mais ao assinante, como é o caso do

programa de pontuação em troca de interatividade.

Assim como sugerem as inovações de O Globo, Folha de S. Paulo e The New

York Times, cada vez mais, os serviços pagos estão se adaptando às necessidades do

leitor, mostrando que, conforme o modelo de inovação disruptiva propõe, é preciso se

ater aos anseios do leitor e, não, simplesmente, cobrar pelo uso sem justificativas.

3.2. Conteúdo e publicidade social

Há muitas empresas jornalísticas e startups do ramo buscando alternativas para a

criação de conteúdos que agradem a esse “novo público”, assim como para conter a

evasão de anunciantes. Muitas dessas ideias ainda não são consideradas robustas ou

estáveis e o motivo disso é, em grande parte, a cultura que perdurou por décadas na

indústria da comunicação: o subsídio publicitário (ANDERSON; BELL; SHIRKY,

2012). De acordo com o American Press Institute (2006, p. 8), a publicidade tradicional

ainda comanda os grandes mercados, mas esses números caem a cada dia, já que a verba

de anúncios está migrando para a “publicidade interativa”. Isso demonstra que não

apenas o jornalismo, mas também a publicidade passa por um momento de mudanças de

paradigmas.

O gráfico a seguir (gráfico 6) mostra porcentagens de receitas publicitárias nos

anos de 2010 e 2011 nos Estados Unidos. Nele, percebe-se um aumento no interesse dos

anunciantes em publicidade on-line e uma queda de inserções publicitárias nos veículos

tradicionais:

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Fonte: SIRKKUNEN; COOK, 2012, p. 23 (tradução nossa)

Uma tendência parece bastante clara: a publicidade na internet vai crescer nos

próximos anos e, assim, amadurecer. Uma das propostas do American Press Institute

para os jornais impressos é que eles ofereçam soluções de anúncios de alta performance

em sua versão on-line para publicidade local, regional e nacional. O relatório aponta o

modelo de AdWords, do Google, como uma opção, principalmente para empresas

locais, com verba limitada para anunciar.

No AdWords, os próprios anunciantes criam seus anúncios e escolhem palavras-

chave relacionadas ao seu negócio. Quando as pessoas pesquisam no Google usando

uma dessas palavras-chave, o anúncio pode ser exibido próximo aos resultados de

pesquisa. Daí, ela precisa clicar no anúncio para fazer uma compra ou saber mais sobre

a empresa.

Pensando em uma forma de unir anúncio customizado e conteúdo para que

ambos sejam compartilhados em sites de redes sociais, o norte-americano Jonah Peretti,

co-fundador do Huffington Post, criou o site BuzzFedd, em 2006. Considerado pelo

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próprio dono uma startup, o BuzzFeed é uma empresa de mídia, que produz conteúdo

social. Em sua página na web, ele é descrito da seguinte forma:

BuzzFeed é a principal empresa de mídia para notícia social e entretenimento, intensamente focada em entregar reportagem, conhecimento e conteúdo viral originais de alta qualidade por meio de uma expansiva variedade de áreas temáticas. Nossa tecnologia impulsiona a distribuição social de conteúdo, detecta o que é tendência na web e conecta pessoas em tempo real com o que há de mais quente no momento. Nosso site está em rápido crescimento e alcança mais de 80 milhões de visitantes únicos por mês (BUZZFEED, on-line, tradução nossa65).

Além dessa boa audiência, o BuzzFeed arrecadou, entre 2008 e o início de 2013,

cerca de 69 milhões de dólares de investidores que financiam o negócio (GARA, 2013,

on-line). A empresa ainda conta com receita de anunciantes que trabalham juntos com

seus profissionais a fim de elaborar anúncios criativos e que possam se tornar populares

e compartilhados na internet – o que torna o modelo uma estratégia, já que não é um

simples publieditorial.

“Trabalhamos com as marcas para ajudá-las a falar a linguagem da web”, disse

Peretti em entrevista ao The Guardian (MOORE, 2013). Emily Bell, diretora do Centro

Tow para Jornalismo Digital da Universidade de Columbia, em depoimento a mesma

reportagem, destacou que as experiências do BuzzFeed com anúncios fazem parte de um

movimento pragmático, tendo em vista que há uma busca por novas ideias e que os

banners publicitários, tão populares no início da internet, não são mais uma estratégia

tão assertiva. “Precisamos de novos modelos de anúncios e duas abordagens que estão

chamando mais atenção são a publicidade social e o anúncio fundamentado em

conteúdo” (MOORE, 2013, on-line, tradução nossa66).

Além de atuar em parceria com os anunciantes, o BuzzFeed é muito conhecido

por suas listas, constantemente compartilhadas em sites de redes sociais. Essas listas

vão desde “Os 40 melhores gifs de cachorros de todos os tempos” (os animais fazem

65 “BuzzFeed is the leading media company for social news and entertainment, intensely focused on delivering high-quality original reporting, insight, and viral content across a rapidly expanding array of subject areas. Our technology powers the social distribution of content, detects what is trending on the web, and connects people in realtime with the hottest content of the moment. Our site is rapidly growing and reaches more than 80 million monthly unique visitors.”

66 “We need new ad models, and the two approaches that are getting the most attention are social advertising and advertiser-funded content.”

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muito sucesso no site) até “15 anúncios de supermercado que desafiam qualquer

lógica”. Mas o site também tem um jornalismo mais sério, com profissionais que

cobrem, inclusive, política e realizam investigação jornalística. A startup como um todo

não se limita ao site e à produção de publicidade em parceria com marcas. Ela ainda

mantém toda a sua estrutura de tecnologia, sem a contratação de empresas terceirizadas,

e uma área de desenvolvimento tecnológico para futuros negócios.

Longe de ser considerado um modelo de negócio sustentável e fortalecido no

mercado, conteúdo e publicidade social podem ser uma alternativa viável, mas que

ainda depende do tempo para mostrar se realmente tem viabilidade. Ao menos no

BuzzFeed, o modelo tem se apresentado praticável – mesmo que aliado ao

financiamento privado que o site possui.

E ele se mostra viável pelo fato de que, atualmente, é muito comum pular de link

em link e encontrar algo mais interessante para ler, assistir ou ouvir. Entretanto,

recomendações de amigos podem provocar mais interesse do que de muitas publicações

(ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2012) e é aí que o BuzzFeed ganha mérito, ao criar

conteúdos criativos (tanto editoriais quanto publieditoriais) para compartilhamento.

3.3. Agregadores de notícias

Os agregadores de notícias, sejam sites ou aplicativos, também lidam com

conteúdo social, em sua maioria. Huffington Post e Flipboard são exemplos de

agregadores desse tipo de conteúdo e são, respectivamente, site e aplicativo.

O primeiro deles tem sua principal fonte de receita em publicidade, mas com

diferencial em produção. Criado em 2005 por Arianna Huffington, ele se autointitula “o

jornal da internet” e, além de gerar conteúdo próprio, conta com milhares de blogueiros

que escrevem de graça, enorme variedade de conteúdo (de entretenimento a política e

comportamento), fontes externas agregadas e oportunidade para qualquer pessoa

mandar suas matérias e fotos, podendo chegar à manchete principal. Dentre

celebridades e personalidades que já colaboraram com textos estão o presidente dos

Estados Unidos, Barack Obama, a ex-secretária de Estado norte-americana, Hillary

Clinton, o magnata e ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, o co-fundador do

Google, Larry Page, os atores Robert Redford e Sean Penn, a cantora Madonna, o

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fundador da Microsoft, Bill Gates, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton,

entre outras.

O fato de não pagar aos blogueiros costuma ser alvo de críticas e já rendeu

processos judiciais a Arianna, que argumenta que o site é uma plataforma para a

divulgação desses blogs, tendo em vista que ele atrai 47 milhões de visitantes únicos

mensais nos Estados Unidos e 77 milhões em todo o mundo, segundo dados do

comScore, em maio de 2013 (D’ERCOLE, 2013).

Os conteúdos do site – adquirido pela AOL em 2011 em acordo que manteve

Arianna como presidente – ainda possuem muitos hiperlinks para conteúdos relevantes

produzidos por terceiros, além de oferecerem espaço para comentários – que, no caso,

são um diferencial dada a grande quantidade de participação. O site tem histórico de

mais de 260 milhões de comentários e usa tecnologia baseada em algoritmos e uma

equipe de 40 pessoas para moderação. Com serviços para inglês, francês, alemão,

japonês, italiano e espanhol, The Huffington Post Media Group também está

recentemente presente no Brasil, em parceria com a Editora Abril (D’ERCOLE, 2013).

A edição brasileira vai se juntar a outros 40 sites editoriais e cerca de 30 títulos

disponíveis para tablets já pertencentes a Abril.

Por fim, o HuffPost Social News (uma espécie de rede social) permite ao usuário

ler as notícias do site logado no Twitter ou Facebook e, assim, ver o que seus amigos

estão lendo, além de comentar, compartilhar e “curtir”.

O aplicativo para tablets e smartphones Flipboard também conta com uma

relação direta com os sites de redes sociais mais populares na atualidade. Apresentada

em formato de revista, a plataforma organiza uma grande quantidade de conteúdos

compartilhados nas redes. Com um cadastro no Twitter, Facebook ou outra rede social

associada, o usuário que utiliza esse app tem uma “revista” montada em tempo real com

tudo o que está sendo postado pelos seus contatos, organizado por seções temáticas.

Criado por Mike McCue e com parceiros como o jornal The Washington Post e

as revistas Rolling Stone e Elle americanas, o aplicativo, que é gratuito para o usuário,

recebe investimentos de empresas (até 2011, foram 10,5 milhões de dólares em capital

de risco da Kleiner Perkins Caufield & Byers e Index Ventures) e também busca

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anunciantes entre seus parceiros. “Anúncios bonitos de páginas grandes são familiares

aos leitores que costumam ler revistas – e também acabam empolgando as publicações e

as marcas anunciantes”, disse McCue em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo

(MUNIZ, 2011, on-line). Nesta mesma reportagem, ele ainda afirmou que sua equipe

estava trabalhando em um projeto de localização do usuário a fim de potencializar a

organização do conteúdo, com informações específicas de sua posição geográfica.

Além de Huffington Post e Flipboard, há outros diversos agregadores de

notícias, tais como PulseNews e Zite (SQUIRRA, 2012), também interagindo com sites

de redes sociais.

Existe, ainda, uma plataforma de hospedagem de revistas em suas versões

digitais chamada Zinio, “site que possui parcerias com parte das maiores editoras do

mundo e permite a compra dos direitos de visualização das réplicas das revistas em

formato digital por um preço bem inferior ao de capa” (NATANSOHN et al, 2013, p.

20). Nesse ambiente, que pode ser considerado agregador de conteúdo, é possível

encontrar revistas dos lugares mais variados possíveis, inclusive do Brasil, e fazer o

download. Algumas chegam a ser gratuitas e muitas podem ser compradas na hora.

Como visto nos exemplos aqui expostos, esses agregadores costumam ter um

modelo de negócio tradicional (com anúncios como a principal fonte), mas apresentam

formas diferentes de produção e acesso às informações, podendo gerar, no futuro,

possibilidades diferenciadas para adquirir verbas financeiras.

3.4. Crowdfunding

O crowdfunding “é um fenômeno virtual que tem como objetivo promover a

realização de projetos, os mais variados possíveis, por meio da contribuição financeira

de pessoas que se interessam pela concretização de tais iniciativas” (COCATE;

PERNISA JÚNIOR, 2012, p. 135). O financiamento coletivo não é um modelo de

negócio novo, não fosse a internet, que potencializou sua utilização, bem como, trouxe

os projetos para mais perto dos financiadores, com vídeos e fotografias sobre suas

especificidades.

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A primeira experiência de crowdfunding na internet ocorreu em 2006, com o site

europeu Sellaband, que arrecada verba até hoje para projetos musicais. Em 2009 surgiu

o site que ficou mais expressivo nesse tipo de iniciativa, o Kickstarter, focado em

promoção de variadas manifestações artísticas. Para o Brasil, foi o site Vakinha que

trouxe o conceito.

A ideia de crowdfunding também está associada ao crowdsourcing (algo como

“fonte coletiva”, em português), termo cunhado por Jeff Howe em um artigo publicado

em 2006 na revista Wired, que abordava a questão da nova mídia que estava surgindo,

baseada em conteúdo produzido por amadores.

No crowdfunding, quem financia, normalmente por meio de sites especializados,

costuma ter uma recompensa de acordo com o nível da doação (RIBEIRO, on-line).

Essa retribuição pode ser uma das motivações para o financiamento, mas as razões

também podem ser pessoais ou relacionadas à empatia com a causa do projeto.

Existem diversas experiências de crowdfunding no jornalismo, principalmente

no que se refere a projetos de jornalistas independentes. A agência brasileira de

reportagem e jornalismo investigativo Pública67 é um exemplo. Em seu site, ela informa

que “aposta num modelo de jornalismo sem fins lucrativos para manter a

independência. Todas as nossas reportagens são livremente reproduzidas por diversos

veículos sob a licença creative commons68.”

Além disso, a Pública busca promover o jornalismo investigativo independente

por meio de programas de mentoria para jovens jornalistas e bolsas para a realização de

reportagens. Recentemente, segundo o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas

(MAZOTTE, on-line), a Pública conseguiu arrecadar R$ 58 mil por meio de

crowdfunding para financiar reportagens investigativas.

Outro exemplo é o site norte-americano Spot.us69, plataforma sem fins lucrativos

na qual leitores interessados em algum assunto relativo a sua comunidade financiam

67 Disponível em: <http://www.apublica.org/>. 68 Organização sem fins lucrativos, que permite o compartilhamento e o uso da criatividade e do conhecimento através de licenças jurídicas gratuitas. Disponível em: <http://creativecommons.org.br/>. Acesso em: 25 jan. 2014. 69 Disponível em: <http://www.spot.us/>.

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jornalistas dispostos a produzir uma reportagem de sua escolha. Depois que o conteúdo

é produzido, o site busca vender a matéria para algum veículo local e o dinheiro

recebido é enviado aos que a financiaram. Até mesmo o The New York Times já

divulgou uma reportagem no Spot.us, sobre poluição no Oceano Pacífico. Caso a

reportagem não seja desenvolvida, o dinheiro é integralmente reembolsado aos

financiadores.

Há várias outras iniciativas envolvendo o crowdfunding e o jornalismo. Apesar

de este modelo ainda estar muito relacionado com projetos independentes, ele pode ser

pensado como forma de unir jornalistas em ações mais robustas, como é o caso da

Pública.

3.5. Startups

Uma opção às grandes instituições de mídia, as startups propõem fontes de

receitas alternativas às tradicionais e, ainda, transformam muitos jornalistas em

empreendedores e, em grande parte, oferecem conteúdo independente.

Antes de conhecer quaisquer modelos de negócios relacionados a esses tipos de

empresas, é preciso compreender suas principais características:

Uma startup é uma empresa nova, até mesmo embrionária ou ainda em fase de constituição, que conta com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras. Por ser jovem e estar implantando uma ideia no mercado, outra característica das startups é possuir risco envolvido no negócio. Mas, apesar disso, são empreendimentos com baixos custos iniciais e são altamente escaláveis, ou seja, possuem uma expectativa de crescimento muito grande quando dão certo. [...] Essas empresas, normalmente de base tecnológica, possuem espírito empreendedor e uma constante busca por um modelo de negócio inovador. Este modelo de negócio é a maneira como a startup gera valor – ou seja, como transforma seu trabalho em dinheiro (O QUE É..., on-line).

O relatório Chasing Sustainability on the Net (SIRKKUNEN; COOK, 2012),

organizado pelo Centro de Pesquisa para Jornalismo, Mídia e Comunicação da

Universidade de Tampere, Finlândia, mostra 69 iniciativas de startups especializadas

em jornalismo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão e seus respectivos modelos de

negócios. De acordo com a pesquisa, publicada em 2012, apesar de variadas fontes de

receita terem sido identificadas, praticamente todas elas complementam a publicidade –

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situação não muito diversa da que expusemos até o momento, exceto pelo

crowdfunding.

Em seus achados sobre modelos de negócios em startups jornalísticas ao redor

do mundo, o estudo identificou que elas se encaixam em duas principais categorias

(2012, p. 89): modelos de negócios orientados por storytelling e modelos de negócios

baseados em serviços.

A primeira categoria diz respeito a sites focados em adquirir receita com a

produção de conteúdo, notícias e reportagens exclusivos para o público. Segundo o

relatório, eles se diferenciam do modelo de mídia de massa pelo fato de seus temas

estarem mais relacionados a nichos e, com isso, ter uma firme relação com a

publicidade de produtos específicos. Um site sobre viagens, por exemplo, pode oferecer

informações sobre roteiros turísticos e, ao mesmo tempo, vender pacotes.

Já o outro grupo – modelos de negócios focados em serviços – consiste em

startups que, além de conteúdo, se especializam em vender tecnologia, informação etc,

ou diversificam o modo de produzir notícias. Nesta categoria, o conteúdo jornalístico

tem o papel de ajudar a vender serviços ou produtos.

O relatório também listou as principais fontes de receitas dessas startups, tais

como:

a) Anúncio: a maioria dos sites ainda possui como principal fonte de receita a

publicidade, entretanto, têm melhor performance nesses tempos os que associam mais

efetivamente anúncio e conteúdo. Os tipos de publicidade mais utilizados são banner

com pagamento mediante número de visitação; banner com pagamento mediante

clique no anúncio; banner com “custo por ação” (ou seja, o anunciante paga quando o

usuário realiza uma ação como comprar algo ou preencher um formulário, por

exemplo); e banner simples com pagamento por período de publicação (semanal ou

mensal). Há empresas que negociam com esses sites anúncios com conteúdo, pacotes

de anúncios e publieditoriais. Por fim, há startups que sobrevivem por meio de

patrocínios, quando uma marca relativa ao seu conteúdo o financia.

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b) Pagamento por conteúdo: a receita desse tipo vem a partir de paywalls e assinaturas;

membros (que pertence a uma espécie de clube para o qual se paga para consumir

conteúdo e serviços específicos); e conteúdo freemium (modelo em que se oferecem

conteúdos ou serviços pagos e outros gratuitos);

c) Marketing afiliado: quando um determinado site leva a outro, ganhando uma comissão

sobre a venda que ajudou a gerar neste segundo site.

d) Doações: além de crowdfunding, há financiamento por meio de filantropia.

e) Venda de dados e serviços: essa forma de adquirir receita pode variar entre venda de

conteúdo (diferentemente do paywall ou assinatura, o objetivo é atuar como agência,

vendendo conteúdo); venda de tecnologia (normalmente, a estrutura tecnológica que

sustenta seu negócio). O cliente, em ambos os casos, pode ser o usuário final ou outras

empresas.

f) Eventos: normalmente, conferências pagas sobre o tema do site ou encontros, também

cobrados, entre usuários desses sites.

g) Consultoria e treinamento: este tipo de negócio envolve consultorias e prestação de

serviços para outros sites ou empresas de comunicação, além de trabalhos freelancer.

Algumas startups ainda oferecem treinamentos para profissionais de comunicação, às

vezes em parceria com universidades.

h) Merchandising: sites jornalísticos que também vendem produtos.

Como é possível perceber, muitas dessas iniciativas adotadas por startups aliam

a receita por meio da publicidade com outras propostas menos tradicionais, como a

comercialização de serviços. A maior parte dessas ideias não apresenta necessariamente

novidades, entretanto, não está comumente associada com negócios referentes ao

jornalismo.

No que se refere a revistas, o relatório apontou algumas iniciativas no que diz

respeito a modelos de negócios diferenciados. No Japão, por exemplo, pagar por receber

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via e-mail serviços de revistas como Magmag (mag2.com) ou Yakanhiro (yakan-

hiko.com) está se tornando popular. Ao assinar o que é chamado de mail magazine, os

usuários escolhem receber conteúdo de um jornalista em especial. Essa espécie de

newsletter ainda inclui notícias sobre celebridades. O serviço varia entre 6 e 11 dólares.

Também no Japão, a revista de tecnologia ICT viu suas vendas diminuírem

drasticamente no início dos anos 2000. A alternativa encontrada pelo grupo que a

publicava foi manter o site da publicação. Atualmente, a principal fonte de receita são

anúncios em formato de banner e links de textos, bem como colunas com conteúdo

publicitário, seminários pagos e eventos.

No Reino Unido, outra experiência que envolve revista é a plataforma aberta

para jornalismo cidadão Blottr, para a qual qualquer pessoa pode colaborar com

acontecimentos que está presenciando no momento, enviando conteúdo (textos, fotos e

vídeos) de seu celular. A Blottr tem ainda como modelo de negócio para adquirir renda

o licenciamento de sua tecnologia como “selo branco” (white label, em inglês) – que

são produtos ou serviços produzidos por uma empresa e utilizados por outras, que

colocam sua marca como se esses produtos ou serviços fossem delas. Um dos produtos

que a Blottr oferece é uma revista on-line sobre cirurgias estéticas, que tem 12 mil

leitores entre cirurgiões de todo o mundo.

3.6. Revistas brasileiras e os novos modelos de negócios

É possível verificar, conforme exposto até o momento, que há diversas

iniciativas ao redor do mundo com o objetivo de buscar tornar diversos produtos

jornalísticos economicamente sustentáveis, sejam eles associados a grandes

conglomerados de mídia, sejam relacionados a jornalistas independentes. Aqui,

enumeramos as experiências mais reconhecidas no setor brasileiro, podendo haver

outras práticas com esse objetivo.

Para aproximar essas ideias de novos modelos de negócio do universo das

revistas, buscamos encontrar no Brasil publicações que já lidam com alguns desses

mecanismos considerados inovadores a fim de ampliar sua fonte de renda, além das

tradicionais assinaturas e publicidade (nas versões impressa e on-line).

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Da Editora Abril, a revista para adolescentes Capricho realiza todos os anos o

evento No Capricho, que reúne shows das bandas de sucesso no momento, além de

desfiles de moda e outras atrações para as leitoras. Para viabilizar o evento, a editora

vende cotas de patrocínio a marcas relacionadas ao universo adolescente. A revista, por

sua vez, instiga a participação das leitoras por meio da versão impressa, do site e de seus

perfis em sites de redes sociais. Essa mesma publicação ainda tem diversos produtos

licenciados com a sua marca, tais como artigos para festas, alimentos, cosméticos,

produtos de papelaria e decoração, roupas e acessórios (NO CAPRICHO, 2011).

Já a revista feminina Claudia, da mesma editora, realiza anualmente um prêmio

que leva seu nome (PRÊMIO CLAUDIA, on-line). Desde 1996, a revista premia

mulheres que se destacam em diversas áreas no Brasil. As premiadas são selecionadas a

partir de indicações de especialistas como cientistas, acadêmicos e escritores. O júri é

formado pelas leitoras (que podem votar pelo site da publicação), pela direção da revista

e por uma comissão de dez personalidades. O prêmio é viabilizado com cotas de

patrocinadores.

Também por meio de patrocínio, a revista Exame criou um diferencial para sua

versão para tablets, um serviço de dashboard no qual os leitores podem visualizar os

desdobramentos constantemente atualizados dos principais temas abordados na edição

que chega às bancas quinzenalmente. O patrocinador – neste caso, a Dell (empresa de

produtos de informática) – fica presente no dashboard com conteúdos de publicidade

nativa (espécie de publieditorial), desenvolvidos pelo departamento de marketing da

revista, e integrados ao feed do painel de notícias. Na época de seu lançamento, Cláudia

Vassallo, superintendente do grupo Negócios e Tecnologia da Editora Abril, deu os

seguintes esclarecimentos sobre a estratégia:

Normalmente, a versão de revistas para tablet é muito parecida com o impresso. Claro que existem recursos extra, como podcasts, vídeos e galerias de fotos. Mas, basicamente, o mesmo. [...] Cada vez mais estamos pensando em plataformas de uma marca. O tablet é uma das plataformas para a Exame. Pensamos de forma integrada. Como nosso público é formado por pessoas de negócios, que viajam muito, a mobilidade é muito importante. As duas plataformas convivem muito bem, a digital e a impressa (CALDAS, 2013, on-line).

Por sua vez, a revista de celebridades Caras, da Editora Caras, utiliza-se de

merchandising com a venda de produtos da Grife Caras que vão desde acessórios de

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moda até roupas infantis e artigos para pets. Os produtos – que são feitos por

fornecedores terceirizados – podem ser adquiridos pelo próprio site da revista70.

Aplicativos são oferecidos por muitas revistas, brasileiras e internacionais,

normalmente para se fazer o download de suas edições para dispositivos móveis.

Entretanto, algumas publicações oferecem aplicativos diferenciados, como é o caso da

revista Crescer, da Editora Globo. Na comemoração de seus 20 anos, em novembro de

2013, a revista lançou um aplicativo para o tablet iPad da série Livro Contado, histórias

às quais os leitores já podiam assistir pelo próprio site da publicação e que foram

compiladas neste aplicativo (RODRIGUES, 2013, on-line).

Por fim, a revista digital semanal b-coolt71 pode ser acessada gratuitamente pelo

seu site e possui uma espécie de clube privado, formado por membros cadastrados que

têm acesso a benefícios. Basta que esses membros entrem diariamente no site, façam o

login de acesso ao Coolt Membership, e com isso, acumulem pontos para concorrer a

“experiências” proporcionadas pelas empresas parceiras do site da revista – todas

ligadas ao universo cultural.

Esses são alguns exemplos de como as revistas no Brasil estão buscando

maneiras de diversificar suas fontes de receita e, ao mesmo tempo, levar novidades aos

seus leitores, conforme sugere o relatório do American Press Institute (2006).

Entretanto, não são apenas as instituições de mídia que estão vendo a necessidade de se

adaptar ao atual cenário imposto, em grande parte, pela sociedade em rede. Os

jornalistas também se veem em uma situação muito distinta.

4. Mudanças no trabalho do jornalista

A institucionalização da mídia, acompanhada da profissionalização do

jornalismo – impulsionada pelo capitalismo da sociedade industrial – trouxe

transformações nas funções do jornalista. Muitas vezes considerado um fiscal do poder

público, guardião do interesse comum (com a missão de investigar e denunciar deslizes

do poder público), ou observador imparcial dos fatos (FONSECA; KUHN, 2009), o

jornalista, apesar de ser um “misto de intelectual e técnico”, tornou-se um profissional,

70 Disponível em: <http://caras.uol.com.br/grife>. 71 Disponível em: <http://b-coolt.com/>.

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na maioria das vezes, ligado a uma instituição de mídia. Com a introdução do marketing

nas empresas, a profissão foi, aos poucos, perdendo seu caráter romântico e ideológico e

os jornalistas começaram a perceber que a atividade que exerciam era profissional,

como outra qualquer:

Como de fato é um assalariado submetido a políticas editoriais e às lógicas do mercado, assenta sua legitimidade ratificando esse imaginário que lhe atribui papéis - de “vigia social”, fiscal do poder, ou de observador neutro, para quem a objetividade reveste-se do caráter de um ‘mandato civil’ que o alça à condição de representante da sociedade, a despeito das limitações impostas pela realidade da profissão (FONSECA; KUHN, p. 62, 2009).

A prensa de Gutenberg abriu espaço para intelectuais disseminarem

pensamentos, estudos e críticas. Com o tempo, sob os moldes dos ideais do Iluminismo

e do Racionalismo (NONATO, 2013), o jornalismo se firmou como instrumento para a

necessidade social da informação e assumiu “papel de divulgador de conhecimento e

funcionou como espaço de liberdade democrática, servindo como mediador da

sociedade contemporânea” (p. 145-146). Já no século XIX, com a Revolução Industrial,

a mão de obra humana foi substituída em parte por máquinas, o que mudou a relação

entre capital e trabalho. No mesmo período, a concorrência abriu espaço para a

publicidade nos meios de comunicação e as instituições jornalísticas começaram a se

firmar no mercado, mudando, pela primeira vez, o perfil do jornalista (e também do

leitor).

A pesquisadora Claudia Nonato (2013) explica que a década de 1920 trouxe um

amadurecimento na comunicação brasileira no que diz respeito ao capitalismo, tendo em

vista a introdução do rádio, a implantação da primeira agência de notícias e de

publicidade no País. Além disso, houve ampliação na distribuição dos jornais, graças ao

desenvolvimento dos transportes, e o jornalismo, “feito por escritores e confundido com

literatura” (p. 149), aos poucos, foi aderindo ao modelo norte-americano, mais direto e

seco – afinal, como diz a célebre frase que retrata muito bem o capitalismo

estadunidense, “tempo é dinheiro”.

A publicidade também teve influência no trabalho do jornalista ao longo do

século XX. Inseridas no modelo capitalista, as empresas jornalísticas viram nos

anunciantes parceiros ideais para a manutenção e ampliação de suas receitas. Com isso,

a textualidade jornalística chega, em alguns casos, a transparecer um discurso

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publicitário. Além disso, os profissionais de texto começam a ter de se adaptar a regras

de manuais de redação, “adotados para marcar a identidade das empresas perante o

mercado” (p. 158).

Outra grande adaptação pela qual tiveram de passar os jornalistas no Brasil e no

mundo ocorreu no início dos anos 1990, com a instalação dos computadores nas

redações e gráficas:

As inovações tecnológicas baratearam a produção e causaram profundas alterações nas funções do jornalista, que viu cargos e postos serem extintos. A mudança foi ainda mais radical com a chegada da Internet e da informação eletrônica e interativa. Houve valorização da imagem e maior velocidade da informação, que passou a circular em tempo real. Abreu (2002) afirma que a informatização das redações significou um salto em termos de rapidez na execução das tarefas (NONATO, 2013, p. 155).

Mal sabiam os profissionais que computadores e softwares eram o início de uma

grande transformação no processo de produção jornalística – algo que ainda está em

mutação, inclusive. De acordo com Figaro (2013), as mudanças no modo de produção

dos comunicadores e de outras profissões relacionadas à internet estão remodelando a

força de trabalho no setor. A pesquisadora realizou um estudo com jornalistas que

trabalham em grandes empresas de comunicação brasileiras e demonstrou que o

mercado de trabalho atual requer um profissional “multiplataforma e polivalente”:

Dele [o jornalista] é exigido que tenha domínio dos mais variados meios e linguagens, assumindo funções desempenhadas antes por outros profissionais (editores, revisores, repórteres, diagramadores, pauteiros). As empresas requerem um profissional com habilidades em multiplataformas, com destreza no uso da língua e das linguagens para produzir enunciados de acordo com os requisitos das diferentes plataformas e dos objetivos de consumo. Exigem que tenham habilidades no uso dos artefatos de navegação na Internet e atuação nas redes sociais; e maturidade intelectual para coletar, selecionar e organizar as informações disponíveis em abundância cada vez maior (2013, p. 11-12).

Squirra (2013) complementa a autora ao afirmar que o mercado vem exigindo do

jornalista o conhecimento e o domínio das tecnologias digitais, afinal, mais do que

computadores, tablets e smartphones com acesso à internet estão se popularizando entre

o público. Assim, é necessário para o jornalista entender como funcionam esses aparatos

e como se dá a produção de conteúdo para eles, bem como lidar com as tecnologias que

estão presentes nas próprias redações:

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Há décadas a realidade vem insistentemente apontando que dos jornalistas é requerido muito mais que um bom texto; são necessários o domínio adequado da língua, uma boa articulação lógica, cultura consistente, boa agenda, trabalho pesado (muito suor!), além de enorme talento e infatigável garra. Esses são predicados fundamentais, mas na atualidade se configuram como condição primeira de acesso aos processos de seleção. Hoje se exige muito mais, pois, da sala de redação do passado (onde imperavam barulhentas máquinas de datilografar, os teletipos, os arquivos escassos, difíceis e distantes, os telefones pesados, e o tempo corria em batimentos cadenciados, dentro de uma cultura analógica) às unidades digitais integradas da produção entrelaçada dos dias atuais (em que proliferam computadores potentes, em rede contínua, e os gigantescos bancos de dados são facilmente acessíveis, requerendo rapidez e domínio ímpares no manuseio das máquinas e softwares específicos), inéditas tecnologias foram introduzidas no trabalho jornalístico (SQUIRRA, 2013b, p. 10).

E essas novas habilidades, que misturam conhecimento jornalístico genuíno com

competências técnicas cada vez mais diferenciadas, ainda incluem lidar com o

surgimento dos chamados jornalistas cidadãos – pessoas comuns, sem formação na área

de comunicação, que informam sobre acontecimentos do momento. Esses “amadores”

não necessariamente possuem um blog noticioso, mas atuam em sites de redes sociais e

até mesmo transmitem conteúdos para grandes empresas jornalísticas. Um exemplo é o

iReport72, da rede de TV americana CNN. Com um cadastro no site da emissora, é

possível que qualquer pessoa compartilhe histórias e transmita notícias.

Nesse momento, não podemos deixar de citar os jornalistas cidadãos que

surgiram do movimento que ficou conhecido mundialmente como Primavera Árabe. Os

protestos populares contra os governos fechados de países árabes como Tunísia, Egito,

Líbia e Iêmen, entre 2010 e 2012, contaram com a ajuda de sites de redes sociais como

plataforma para a disseminação de suas ideologias. A maioria dos manifestantes era

formada por jovens com acesso à internet, o que possibilitou que o Ocidente se

mantivesse informado sobre as condições da população de tal região, a partir de seu

ponto de vista.

Devido a essa possibilidade oferecida pela internet e ampliada pelas redes

sociais, importantes veículos de comunicação não podem mais ser considerados

detentores ou controladores das informações, algo que alterou o fluxo informativo e, até

mesmo, sua relevância. A evolução das tecnologias abriu portas para que surgissem

outros produtores de notícias. Além de definir uma forma individual de consumo de

72 Disponível em: <http://ireport.cnn.com/>.

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conteúdo a esse público cada vez mais participativo, o novo ecossistema de mídia ainda

retirou das mãos de profissionais do jornalismo “a incumbência da seleção, formatação

e difusão do conjunto de atos, conceitos, juízos, processos e consequências, a partir de

relatos recortados e pré-moldados com os quais definiam o que seria difundido como a

‘verdade’ para os receptores” (SQUIRRA, 2012, p. 115).

Os jornalistas perderam o domínio absoluto do que seria “a grande notícia do

dia” e a pulverização de um público exigente por informações cada vez mais

especializadas, com o crescente uso das redes sociais. Isso fez com que esses

profissionais precisassem estar presentes nesses ambientes. Lima Junior (2010)

esclarece, no entanto, que essa presença precisa ter uma estratégia definida, que venha a

agregar no conteúdo que o profissional produz. O pesquisador explica essa tendência ao

discorrer sobre como o jornalista pode utilizar a potencialidade dos sites de redes sociais

nesse novo cenário:

No espaço crescente do uso das redes sociais, os profissionais de jornalismo devem ocupar o espaço, mas com objetivos jornalisticamente definidos. A estratégia consiste em realizar um recorte tecnológico, utilizando o ferramental fornecido pela Ciência da Computação e formatar plataformas midiáticas com o objetivo de elaborar, compartilhar e distribuir informações, transformando-as em um bem social. Essa plataforma denomina-se Mídia Social Conectada. Portanto, apesar de utilizar o escopo tecnológico das redes sociais, o formato da Mídia Social Conectada é configurado através de combinações entre ferramentas disponíveis nas redes sociais e a criação de outras, mas combinadas para atingir objetivos editoriais pré-definidos. Essa plataforma deve ser planejada para ser entendida pelo usuário como um ambiente de colaboração informativa de relevância social e, portanto, ser percebida como um espaço diferente dos propósitos encontrados em outros ambientes de relacionamento virtual (2010, p. 122).

Ao que tudo indica, parece que os jornalistas já estão começando a se adaptar a

esse novo cenário que acabamos de apresentar. De acordo com o Estudo Mundial de

Jornalismo Digital 2013, realizado pela agência de relações públicas multinacional

Oriella PR Network, com mais de 500 jornalistas de 14 países (incluindo o Brasil), 1/3

dos entrevistados acredita que os veículos em suas versões digitais vêm em primeiro

lugar, dando o furo jornalístico, ao invés de segurá-lo até a edição impressa chegar à

banca. Além disso, o uso de blogs, microblogs e sites de redes sociais está acontecendo

profissionalmente, entretanto, em todos os países, os jornalistas entrevistados afirmaram

que, ainda, “a fonte mais valiosa de notícias e validação das informações está nas

conversas com especialistas do setor” (ORIELLA PR NETWORK, 2013, p. 2)

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Como é possível notar, as apropriações de tecnologias pelo campo da

comunicação exigem habilidades novas dos jornalistas. Kim Pearson (2009) acredita na

necessidade de os jornalistas aprenderem a “pensar computacionalmente”. Algo que

exemplifica perfeitamente tal exigência é o fato de a Universidade de Columbia, uma

das mais conceituadas no estudo do jornalismo no mundo, ter informado, em 2010, que

estava criando um curso de mestrado com disciplinas envolvendo as áreas de Ciências

da Computação e Jornalismo, a fim de ensinar o jornalista a programar, gerenciar

softwares e pensar como um desenvolvedor (DÓRIA, 2010, on-line).

O chamado jornalismo de dados vem a ganhar com essa “nova habilidade”

jornalística. Termo cunhado pelo desenvolvedor Adrian Holovaty, o jornalismo de

dados inclui técnicas computacionais para obtenção, construção, filtragem, análise e

apresentação de bases de dados, com o objetivo de gerar notícias. É uma forma de

facilitar o reaproveitamento das informações coletadas no trabalho diário de

reportagem. Exemplos desse tipo de jornalismo são os sites Wikileaks73 (que transforma

em notícias documentos confidenciais de governos, principalmente dos Estados Unidos,

além disponibilizá-los na íntegra) e Homicide Watch74 (que cobre assassinatos a fundo,

usando notícias, documentos judiciais, mídia social e ajuda de amigos e familiares de

vítimas e suspeitos, do crime ao julgamento).

Anderson, Bell e Shirky (2012) expõem que entender a disrupção na produção

de notícias e decidir onde o esforço humano pode ser efetivamente aplicado será vital

para todos os jornalistas. Assim, os pesquisadores da Escola de Jornalismo de Columbia

enumeram o que deve ser função das tecnologias e o que deve ter a ação do profissional

da comunicação. Para eles, a mídia social oferece uma ferramenta de extrema

importância para o jornalismo: a testemunha. Além disso, a multidão presente nos sites

de redes sociais entrega dados de determinados acontecimentos (como grandes

catástrofes ambientais, por exemplo), que podem auxiliar na apuração. Sob esse

aspecto, os estudiosos afirmam: “o jornalista não será substituído, mas deslocado para o

topo da cadeia editorial da produção para um papel que enfatize a verificação e

interpretação, trazendo sentido a transmissões de textos, áudios, fotos e vídeos

73 Disponível em: <http://wikileaks.org/>. 74 Disponível em: <http://homicidewatch.org/>.

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produzidos pelo público” (p. 22, tradução nossa75). No que diz respeito a máquinas, os

pesquisadores analisam que elas ajudam justamente na compilação de inúmeros dados.

Já com relação aos próprios jornalistas, os pesquisadores acreditam que ainda

não é possível que o público atuante nos sites de redes sociais nem as máquinas possam

substituí-los por completo. É evidente que está havendo uma transformação nas

atividades destes profissionais, entretanto, o trabalho investigativo e interpretativo só

pode ser realizado por humanos e não por algoritmos. Os pesquisadores listam

características essenciais do jornalista, que valem muito mais do que quaisquer

softwares, tais como responsabilidade, eficiência, originalidade e carisma. Em termos

técnicos, os pesquisadores também creem que algumas habilidades tornar-se-ão

indispensáveis em um curto espaço de tempo. São elas: ter conhecimento especializado,

entender a natureza de dados e estatísticas, conhecer métricas e audiências, aprender a

programar, realizar coberturas em storytelling (escrever, filmar, editar, gravar,

entrevistar, diagramar e produzir) e, por fim, gerir projetos.

Muito do que os estudiosos apontam está relacionado ao fato de o jornalista ter

mais possibilidades de ser um publisher. Como visto ao longo deste capítulo, há cada

vez mais iniciativas jornalísticas independentes no mercado da comunicação que, tanto

nesse caso quanto nas grandes empresas de mídia, requer produzir mais com menos.

No que diz respeito especificamente às revistas, Sílvia Amélia de Araújo (2013,

p. 270) supõe que, aos poucos, “o papel será substituído pela tela”. Contudo, para a

pesquisadora, a mudança de suporte das revistas trará menos impacto no fazer

jornalístico em si do que as transformações na relação entre jornalista e leitor, devido à

interação por meio das redes sociais. Para ela, “os leitores tornam-se cada vez mais

influentes e presentes na rotina das redações: opinam, pressionam, transformam uma

insatisfação com uma matéria em uma manifestação pública [...], bem como querem

estar na revista como produtores de seu conteúdo” (ARAÚJO, 2013, p. 270).

75 “The journalist has not been replaced but displaced, moved higher up the editorial chain from the production of initial observations to a role that emphasizes verification and interpretation, bringing sense to the streams of text, audio, photos and video produced by the public.”

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Dessa forma, conforme exposto até o presente momento, é preciso que o

jornalista esteja atento a três competências fundamentais na atualidade: conhecimento

técnico profundo, habilidades para produção em multiplataformas e noções de

relacionamento planejado com público em redes sociais.

Para tal, as universidades precisam se adaptar a essas novas demandas da

profissão e integrar ao seu conteúdo de aulas material teórico e experiências práticas

que subsidiem as competências que o mercado está começando a exigir, conforme

argumenta Roseli Figaro:

As mudanças no mundo do trabalho colocam desafios novos para a formação do profissional no que diz respeito ao desenvolvimento de habilidades no trato com a produção de conteúdo para multiplataformas e para diferenciados gêneros discursivos. Mas é certo que as novas gerações trazem consigo a naturalidade no trato das novas tecnologias, pois nasceram com elas. Mas carecem de outras habilidades, as quais serão conquistadas com o amadurecimento intelectual, a crítica, e o acompanhamento dos mais experientes (2008, on-line).

E, mais que isso: se levarmos em consideração a gritante necessidade de

conhecimento técnico por parte dos jornalistas nos tempos atuais, a interdisciplinaridade

também pode auxiliar no ensino desse “novo jornalismo”. Squirra (2013) apresenta

alguns desafios para os cursos de jornalismo e sugere espaço para:

a) implementar práticas pedagógicas com foco nas tecnologias, sobretudo as digitais e em tempo real; b) fomentar o incremento das particularidades conceituais do ferramental tecnológico da comunicação digital e suas aplicações concretas nas práticas jornalísticas contemporâneas; c) montar espaços laboratoriais para o aprendizado técnico com os distintos recursos digitais já disponíveis para as ações dos jornalistas; d) estimular ações inovadoras para um jornalismo de domínio tecnológico, voltado para experiências isoladas e desatreladas do mainstream editorial; e) construir relacionamentos e investigações transversais e consolidar uma base de referências teóricas sobre as tecnologias, organizando arcabouço bibliográfico prático para os jornalistas enquanto estudantes (2013, 20).

Também é preciso compreender que o novo ambiente de trabalho jornalístico

não traz apenas mudanças relativas às competências dos profissionais. No dia a dia das

redações, também se contabiliza um grande número de demissões, ano a ano. Em agosto

de 2013, a Editora Abril, a maior do Brasil, fechou quatro revistas e seus respectivos

sites, um portal e demitiu cerca de 150 profissionais de redação, entre jornalistas e

designers (EDITORA ABRIL..., 2013).

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No exterior, a situação não é muito diferente. No censo publicado em 2013, a

Sociedade Americana de Editores de Jornais divulgou uma diminuição nas equipes dos

jornais nos Estados Unidos (GUSKIN, 2013). De acordo com o estudo, foram 2.600

postos de trabalho editorial a menos em 2012 com relação a 2011. Ao todo, a indústria

de jornais está empregando 38 mil pessoas em tempo integral e esta foi a primeira vez

que o número ficou abaixo de 40 mil, desde que esse censo passou a existir, em 1978.

Ainda conforme dados do Estudo Mundial de Jornalismo Digital 2013

(ORIELLA PR NETWORK, 2013, p. 3), 26,6% dos jornalistas brasileiros vislumbram

diminuição das receitas das instituições de mídia. Outros 33% creem na diminuição de

até 10% do efetivo da equipe editorial, mesmo com o aumento constante do número de

cidadãos com acesso a internet (atualmente, 46% da população brasileira possui esse

tipo de acesso).

É de importância destacar que, no Brasil, grande parte dos jornalistas formados

nunca chegou a passar por uma redação. Como alternativa para as escassas vagas neste

setor, os recém-formados veem nas assessorias de imprensa e departamentos de

comunicação de empresas privadas ou públicas opção de carreira. Um estudo realizado

em 2012 pela Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com a Federação

Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e apoio do Fórum Nacional de Professores de

Jornalismo e Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) com

2.731 jornalistas brasileiros detectou que 40% dos profissionais atuam fora da mídia,

em assessoria de imprensa ou comunicação ou outras ações que utilizam conhecimento

jornalístico; e 5% atuam em docência, dando aulas em universidades para a formação

superior de jornalistas (BERGAMO; MICK; LIMA, 2012).

De acordo com a realidade de cada país, os jornalistas buscarão formas de se

adaptar às transformações trazidas pelo novo ecossistema de mídia que se impõe. Vale

ressaltar, no entanto, que este profissional precisa estar cada vez mais disposto a

aprender sobre assuntos que não são diretamente relacionados à comunicação, seja para

trabalhar em grandes empresas de comunicação, seja para atuar de forma independente.

Além do mais, é necessário, também, se preparar para ser um facilitador ou intérprete

das notícias, tendo em vista o espaço cada vez maior que possuem os cidadãos comuns,

não jornalistas, em canais de comunicação.

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CAPÍTULO IV – AS REVISTAS NO MEIO DIGITAL: ESTUDO DE CASO

“Toda revista fala de um tempo presente”

Frederico de Mello B. Tavares (2013, p. 80)

Compreender como funcionam as novas lógicas que sustentam o jornalismo

também abarca conhecer as práticas jornalísticas que estão sendo adotadas por veículos

em multiplataformas digitais – no caso deste estudo, especificamente pelas revistas.

Para tanto, por meio de pesquisa bibliográfica, levantaremos as características do

jornalismo de revista e do webjornalismo. Assim, será possível verificar se as revistas

estão se adaptando a outra linguagem quando presentes na internet e em dispositivos

móveis.

Após esse levantamento bibliográfico, será exposto um estudo de caso – de

Veja.com e as versões da revista para tablets e smartphones – realizado com o objetivo

de verificar de que maneira uma revista se comporta nos meios digitais atualmente

disponíveis.

1. Atributos da revista e de seu jornalismo

Há muitos aspectos que ajudam a definir uma revista e seu jornalismo. Esse tipo

de publicação traz consigo características peculiares, direcionadas para um leitor

específico, como um texto bem elaborado, design cautelosamente pensado, conteúdo

que pode ser definido como o reflexo de uma contemporaneidade apresentada a um

público imaginado, tão bem idealizado nas mentes de seus editores e jornalistas que se

torna uma “realidade sonhada” quando as matérias e reportagens são lidas. Há, no

entanto, uma definição mais direta: publicação periódica que contém imagens,

reportagens e artigos de interesse daqueles que a compram ou assinam.

Muitos são os autores e pesquisadores que estudam as revistas e, em sua maioria,

quase todos chegam ao consenso de que os principais atributos deste veículo de

comunicação são: segmentação, periodicidade regular, contemporaneidade,

relacionamento próximo com o leitor, design e estética elaborados, texto analítico,

interpretativo e mais aperfeiçoado que o de meios que demandam rapidez como o jornal

diário, o rádio, a TV e a internet.

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A revista é um meio de comunicação com algumas vantagens sobre os outros: é portátil, fácil de usar e oferece grande quantidade de informação por um custo pequeno. Entra na nossa casa, amplia nosso conhecimento, nos ajuda a refletir sobre nós mesmos e, principalmente, nos dá referências para formarmos nossa opinião (ALI, 2009, p. 18).

Complementando o raciocínio de Ali, Scalzo também enumera características

que ajudam a definir esse meio:

Uma revista é um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento. Nenhuma das definições acima está errada, mas também nenhuma delas abrange completamente o universo que envolve uma revista e seus leitores. A propósito: o editor espanhol Juan Caño define revista como uma história de amor com o leitor. Como toda relação, essa também é feita de confiança, credibilidade, expectativas, idealizações, erros, pedidos de desculpas, acertos, elogios, brigas, reconciliações (SCALZO, 2003, p. 12).

Justamente pela história de seu desenvolvimento como produto jornalístico, a

revista vem tornando-se companheira de seus leitores. De origem amadora e forte

ligação com a literatura, ela surgiu no século XVII com formato ainda muito semelhante

ao de livros. Seu diferencial, no entanto, era trazer diversos textos sobre um mesmo

tema assinados por diferentes autores e com ilustrações (TAVARES; SCHWAAB,

2013, p. 29-30). Ao longo de sua consolidação no mercado de comunicação ao redor do

mundo, a característica de publicar textos com conteúdos similares entre si, levou a

revista a estabelecer uma relação próxima com seu público, normalmente interessado

em determinado nicho de temas.

Por sua natureza, a revista cria um vínculo de lealdade com o leitor. É como se

houvesse uma espécie de contrato firmado entre ambos, no qual a publicação promete

satisfazer necessidades e desejos (às vezes nunca imaginados) dos leitores, e esses, em

contrapartida, após ter suas expectativas atendidas, juram fidelidade.

Uma revista é feita para um leitor, produzida em função das expectativas e interesses deste. É a partir das necessidades ou dos desejos dos leitores que as revistas se constroem, e é pelo refinamento das curiosidades e das potencialidades de consumo que se efetiva a lógica da segmentação. (STORCH, 2013, p. 132).

Devido a esta proximidade entre revista e leitor, Scalzo (2003, p. 12) afirma:

“quem define uma revista, antes de tudo, é o seu leitor”. Pesquisas de mercado auxiliam

na elucidação deste leitor real que, em paralelo ao “leitor imaginado” (STORCH, 2013)

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– uma “figura conceitual” presente em diversos elementos do processo editorial –,

apontam a linha editorial que conduzirá o produto final.

Por serem destinadas a leitores específicos, as revistas também são, por

definição, segmentadas (MIRA, 2001). Ali (2009, p. 20) afirma que as revistas de

consumo são divididas em três grupos: revistas de interesse geral (as semanais de

notícias, televisão ou celebridades); revistas segmentadas por público (dirigidas a

públicos determinados como mulheres, homens, crianças, professores etc); e revistas

segmentadas por interesses (de assuntos específicos, como automobilismo, culinária,

fotografia etc).

Apesar de a revista sempre ter estado intrinsecamente ligada a determinados

públicos, a ideia de segmentação também está relacionada a questões mercadológicas

(BUITONI, 2013, p. 107), afinal, como afirma Storch (2013, p. 132), “é pelo

refinamento das curiosidades e das potencialidades de consumo que se efetiva a lógica

da segmentação”. A revista, apesar de “companheira fiel” de seu leitor, é um produto e,

como qualquer produto, é comercializada, enfrenta as lógicas do mercado, possui

concorrência e precisa de verba para se manter em funcionamento:

A segmentação é elemento estratégico ao conjugar certos valores e “avalizar” escolhas e identificações de cada publicação com fortes reflexos mercadológicos. A especialização da revista também é fruto da periodicidade, um dos seus maiores fundamentos. Além disso, o serviço oferecido e a especificidade de seu segmento, que, apesar de ser tratado como grupo concreto, é imaginariamente definido, estão sempre inscritos na materialidade de suas páginas. A peculiaridade da periodicidade estipula que a revista, na totalidade de suas partes, mostre seu caráter uniforme (SCHWAAB, 2013, p. 67).

Ao expor a segmentação como uma das estratégias do negócio revista, Schwaab

ainda associa essa característica a outra particularidade deste tipo de publicação: a

periodicidade. Normalmente semanal, quinzenal ou mensal, a revista apresenta

intervalos em suas edições, diferentes dos comumente utilizados na mídia impressa

como um todo. Isso interfere na forma como é produzida e consumida, além de criar

fidelidade por parte do leitor.

Com relação ao consumo, a periodicidade instiga o leitor a ficar esperando a

publicação em datas pré-determinadas. No que diz respeito ao processo de produção, a

revista impressa e seu jornalista têm mais tempo (que o rádio, a TV, o jornal e a

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internet) para elaborar seu texto e construir interpretações direcionadas ao seu leitor,

atendendo, assim, as suas expectativas. A distância de tempo entre o fato e a publicação

da revista também possibilita uma diagramação bem elaborada, fotografias

especialmente produzidas, assim como infográficos detalhados.

A periodicidade é fator determinante do estilo de texto de uma revista. As revistas de informação geral chegam às bancas do mesmo modo que um sabonete ao supermercado. Por isso precisam de atrativos que as diferenciem do jornalismo dinâmico e veloz de todos os dias. O texto das revistas de notícias é um desses atrativos. Utiliza recursos que, nos limites do posicionamento político-empresarial, são a conciliação da prática de noticiar com a de narrar (VILAS BOAS, 1996, p. 101).

Dessa maneira, enquanto um veículo de comunicação de característica

imediatista está preocupado em apresentar um panorama do que acontece agora, a

revista tem intenção de se mostrar como proprietária de um conhecimento

especializado. Por esse motivo, o texto de revista se propõe a interpretar o fato (VILAS

BOAS, 1996), ser analítico, claro, conter informações de qualidade, bem apuradas e, às

vezes, exclusivas. Assim sendo, seu conteúdo também pode ousar e estar alinhado a um

design que agrade ao leitor e, ao mesmo tempo, integre o texto:

O leitor não separa texto de arte – para ele, a revista é uma estrutura única. A maioria folheia as páginas e detém-se ao encontrar algo que lhe interesse. Isso requer que as informações-chave sejam percebidas num olhar, para ajudá-lo a tomar sua decisão. Mesmo a matéria mais fantástica pode deixar de ser lida se o design falhar na sua função de emocionar, surpreender, encantar e – sobretudo – de apresentar as qualidade de seu conteúdo e convencer o leitor de que a informação contida no texto vale a pena ser lida (ALI, 2009, p. 96).

Não é à toa que renomados diretores de arte e fotógrafos se destacaram em sua

profissão ao criar conceitos visuais de revistas conceituadas mundo afora. Alexey

Brodovitch, por exemplo, foi durante quase 25 anos (de 1934 a 1958) diretor de arte da

Harper’s Bazaar e, nesse período, implantou os fundamentos do design da revista

moderna. Já a fotógrafa Annie Leibovitz é mundialmente conhecida por seus retratos.

Foi ela quem praticamente estabeleceu a personalidade visual da revista Rolling Stone

na década de 1970.

No que diz respeito à relação imagem-texto, Vilas Boas complementa o

pensamento de Ali, ao confirmar os aspectos artísticos e possíveis narrativas literárias

que uma revista permite:

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Numa revista encontramos a fotografia, o design e o texto. Em termos de atualidade, apesar de permanecerem mais tempo nas bancas, as revistas são produtos mais duráveis que os jornais. É preciso lembrar novamente que a revista é mais literária que o jornal no que se refere ao tratamento dado ao texto. Admite usos estéticos da palavra e recursos gráficos de modo bem mais flagrante que os jornais. Além disso, a revista é mais artística quanto aos aspectos de programação visual (VILAS BOAS, 1996, p. 71).

Ao unir estética refinada a um texto que permite variadas formas e caminhos

diversos, a revista cria mais um de seus diferenciais com relação aos demais meios de

comunicação. Vejamos adiante um gráfico (gráfico 7) que reúne os principais atributos

desse tipo de publicação:

Material elaborado pela autora.

Em sua pesquisa sobre revistas, Ryberg (2010) extraiu dos entrevistados outras

características que os leitores de revistas atribuem à publicação: as propriedades físicas

da revista são atrativas e funcionam como lembranças do que se quer ler, ver ou

comprar; é um veículo de comunicação de fácil acesso; é fácil de carregar; não exige

cuidados especiais em seu manuseio; dura bastante e é boa para se arquivar; é fácil de

compartilhar com as pessoas de casa; estimula a criatividade principalmente por se

tornar, após o uso, material para recorte de trabalhos escolares e manuais; constrói

identidade e cria grupos de interesses em comum; ajuda a relaxar; entretém; educa; e

inspira.

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Como visto, muitos são os atributos das revistas. Mas o que acontece com elas

quando “saem do papel” e entram no ciberespaço? Para compreender melhor essa

transição, é preciso conhecer os aspectos do webjornalismo e a narrativa multimídia.

2. O comportamento das revistas nas plataformas digitais

A internet permite que seus usuários compartilhem informações em variados

formatos: textos, vídeos, imagens, sons. Um ambiente propício para que o jornalismo

embrenhasse no ciberespaço e começasse a se apropriar de suas funcionalidades a fim

de atingir mais públicos e, até mesmo, ampliar suas fontes de receitas.

A chegada de jornais, revistas, rádios e telejornais à internet aconteceu aos

poucos no mundo e no Brasil, principalmente durante a década de 1990, e atualmente é

quase compulsório que qualquer produto jornalístico esteja presente no ciberespaço. Ao

mesmo tempo, há veículos que já foram concebidos somente em sua versão on-line,

conforme esclarece Squirra:

[...] no cenário da plenitude digital a que muitos já têm acesso, as mídias foram sendo constante e irreversivelmente ‘fundidas’, não se justificando mais as separações estanques entre as mesmas que existiam no passado. No mundo atual, as distintas mídias se tornam possíveis nos displays audiovisuais interativos portáteis e continuamente conectados. Uma transformação robusta acontece na transição das mídias para as formas de estocagem e acesso ‘nas nuvens’, sendo que as diferenciações que se dão entre as mesmas são agora delineadas pelos conteúdos e pelas interatividades particularizadas que cada suporte apresenta. E não mais pela mídia em si (2012, p. 111).

Chamado de webjornalismo, ciberjornalismo, jornalismo digital, jornalismo

eletrônico ou jornalismo on-line (ver tabela 1), os conceitos abrangem a ideia de um

jornalismo produzido para e veiculado por plataformas digitais (móveis ou não).

Importante acrescentar que este não é um fenômeno concluído, mas em construção

(MIELNICZUK, 2003a, p. 21), dadas às intensas transformações tecnológicas que vêm

surgindo nas últimas duas décadas.

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Fonte: MIELNICZUK, 2003b, p. 44

Baseada em diversos autores da área, Moherdaui (2007, p. 122-127) afirma que

há quatro fases do jornalismo digital até o momento:

Primeira fase: a formatação e a organização do produto jornalístico on-line

seguiam o modelo do impresso. Havia a simples transposição de conteúdos e a

atualização acontecia a cada 24 horas.

Segunda fase: começa a haver a produção de conteúdos específicos para a web e

os jornalistas passam a usar recursos como hiperlinks, interatividade, ferramentas de

busca e conteúdo multimídia (vídeo, áudio, imagens).

Terceira fase: produção de conteúdos originais para a web, uso de recursos

multimídia, convergência entre suportes diferentes, disseminação de um mesmo produto

em várias plataformas e a produção de conteúdo pelo usuário.

Quarta fase: jornalismo de dados baseado em bancos de dados inteligentes.

A partir dessa evolução, o webjornalismo ganhou forma e suas principais

características (MACHADO, PALACIOS, 2003; MIELNICZUK, 2003a;

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MOHERDAUI, 2007) são: interatividade, hipertextualidade, personalização, memória,

instantaneidade/ atualização contínua e multimidialidade/ convergência.

A interatividade – neste caso, o diálogo entre o produtor da informação e seu

consumidor – já existia com o rádio e a televisão, no entanto, a internet amplificou essa

possibilidade, tornando o leitor/ usuário mais ativo e, por vezes, colaborativo, tendo em

vista que o consumidor pode contribuir diretamente para a produção jornalística dadas

as facilidades da internet como envio de e-mails, vídeos e fotos, participação em

enquetes, comentários em fóruns, blogs ou chats, disponibilizados nos sites e em redes

sociais.

A personalização ou customização permite ao usuário configurar ou receber

notícias de acordo com seus interesses. Existem sites e aplicativos que possibilitam essa

pré-seleção, conforme esclarece Palacios:

Há sítios [sites] noticiosos que permitem a pré-seleção dos assuntos, bem como a sua hierarquização e escolha de formato de apresentação visual (diagramação). Assim, quando o sítio é acessado, a página de abertura é carregada na máquina do usuário, atendendo a padrões previamente estabelecidos, de sua preferência (2003, p. 19).

Existem, também, os aplicativos PulseNews, Flipboard e Zite (SQUIRRA,

2012b) que agregam conteúdos jornalísticos de acordo com o interesse de seus usuários.

Esse apps podem ser utilizados em variados dispositivos móveis.

Em razão das funcionalidades técnicas da web, ocorre ainda um acúmulo de

informações, que ficam disponíveis para o leitor/ usuário a qualquer momento. A

memória permite, então, o acesso a notícias antigas e, até mesmo, a possibilidade de

disponibilização de edições de jornais ou revistas, por exemplo, no que pode se

configurar em um banco de dados, como esclarece Rachel Bertol (2011):

Na internet, a memória é profunda: todos os movimentos deixam rastros, mesmo quando se busca apagá-los ou esconder sob pseudônimos; o que se estende é o espaço, que absorve e preserva toda e qualquer informação. No jornalismo digital, tornam-se obsoletas palavras como “ontem” ou “amanhã”, ao passo que no texto do jornal-papel é preciso explicitá-los o tempo todo. Apenas o presente se renova, como se a percepção da passagem do tempo tivesse sido eliminada (2011, p. 20).

A instantaneidade é outra característica intrínseca ao webjornalismo. Se na TV e

no rádio as notícias dependem de uma grade de programação para serem veiculadas, na

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internet não há delimitação de temporalidade (MOHERDAUI, 2007, p. 134), pois,

assim que apuradas, as matérias são publicadas e podem ser acessadas em tempo real

pelos leitores/ usuários.

Com relação à multimidialidade/ convergência, Mielniczuk (2003a, p. 48)

explica que “no contexto do webjornalismo, a multimidialidade caracteriza a

convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração

do fato jornalístico em um mesmo suporte”. Isso significa a combinação de informação

em diferentes formatos em um único ambiente. Complementando a descrição da autora,

Palacios ainda acrescenta a característica de complementaridade de informações. “A

convergência torna-se possível em função do processo de digitalização da informação e

sua posterior circulação e/ ou disponibilização em múltiplas plataformas e suportes,

numa situação de agregação e complementaridade" (PALACIOS, 2003, p. 18). Um

exemplo seria uma página de um site noticioso contendo uma matéria e, a partir dela,

com uso de hiperlinks, acesso a vídeos, galeria de fotos e infográficos relacionados.

Também é possível inserir links para podcasts, entrevistas, blog de algum colunista etc.

O último atributo aqui demonstrado do webjornalismo é a hipertextualidade –

possibilidade de interconexão de textos por meio de links (MOHERDUAI, 2007, p.

130). Praticamente ubíqua em tempos atuais, ela permite que, em uma mesma página, o

usuário tenha acesso a conteúdos complementares (fotos, áudios, vídeos, infográficos,

animações), bem como a coexistência de textos, sons, imagens. Normalmente, esses

materiais contextualizam o texto original ou acrescentam dados relativos.

É a hipertextualidade que dá condições para a multimidialidade na web, trazendo

um padrão de narrativa – textos multilineares – para o webjornalismo. Palacios e

Mielniczuk (2001) recorrem a Gérard Genette (1997) para discorrer sobre os paratextos,

“textos que acompanham, envolvem, delimitam o texto principal” (PALACIOS;

MIELNICZUK, 2001, on-line). Segundo os dois estudiosos, na internet, o link é um

elemento paratextual da escrita em hipertexto, pois exerce as seguintes funções:

a) faz uma apresentação do texto principal; b) é o elemento de negociação (transação) entre leitor e texto; c) tem a função de realizar a transição entre o mundo do leitor e o mundo do texto; d) o paratexto está situado nas fronteiras do texto, estabelecendo-lhe os limites (2001, on-line).

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Sendo assim, a hipertextualidade possibilita a narrativa multimidiática,

tornando-a, também, multilinear. Esse pensamento reforça o que Janet Murray sugere

em sua obra “Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço”

(MOHERDAUI, 2007, p. 147): a criação de narrativas multiformes ou

multissequenciais, que abre espaço para versões diferentes, a partir do ponto de vista e

da escolha do usuário.

A partir disso, Canavilhas (2007) desenvolve o conceito de pirâmide deitada. De

acordo com ele, o trabalho de redação jornalística joga com duas variáveis: a dimensão

(quantidade de informações) e a estrutura (arquitetura da notícia). Na web, organizar

uma notícia implica em visualizar sua arquitetura, ou seja, a organização hierárquica dos

elementos multimídia e seus links internos. É essa prática que, segundo Canavilhas,

afasta a narrativa do webjornalismo da tradicional pirâmide invertida, que consiste em

colocar as principais informações no início do texto, buscando um equilíbrio entre o

essencial do fato e o espaço disponível no papel (em que o editor pode cortar os últimos

parágrafos, pois eles contêm informações menos relevantes para o veículo).

Se no papel, a organização dos dados evolui de forma decrescente em relação à importância que o jornalista atribui aos dados, na web é o leitor quem define o seu próprio percurso de leitura. A técnica da pirâmide invertida, preciosa na curta informação de última hora, perde a sua eficácia em webnotícias mais desenvolvidas, por condicionar o leitor a rotinas de leitura semelhantes às da imprensa escrita (2007, p. 35).

Em sua proposta de pirâmide deitada (gráfico 8), Canavilhas (2007, p. 38-39)

ilustra essa ideia, sendo que a Unidade Base (o lead) responde ao essencial (o quê,

quando, quem e onde), podendo evoluir ou não para um formato mais elaborado. Já o

Nível de Explicação responde ao “por quê” e ao “como”, completando a informação

essencial sobre o fato. No Nível de Contextualização é proporcionada mais informação

– em formato textual, vídeo, som ou infografia – sobre cada uma das questões

essenciais. O último, Nível de Exploração, liga a notícia ao arquivo da publicação ou a

arquivos externos.

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Fonte: CANAVILHAS, 2007, p. 38

Para encerrar sua linha de raciocínio, o autor destaca que esta arquitetura

proposta, além de permitir uma leitura pessoal ao usuário, oferece ao jornalista “um

conjunto de recursos estilísticos que, em conjunto com novos conteúdos multimídia,

permitem reinventar o webjornalismo a cada nova notícia” (CANAVILHAS, 2007, p.

39).

É preciso lembrar que, além da multimidialidade e da hipertextualidade, as

demais características aqui demonstradas do webjornalismo estão relacionadas entre si.

Combinadas, elas podem se potencializar. Vejamos adiante um gráfico (gráfico 9) que

reúne as principais características do webjornalismo:

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Material elaborado pela autora

No estudo de caso que segue, tentaremos explicitar como o webjornalismo e a

narrativa multimídia se dão no dia a dia de uma revista brasileira, Veja, em suas versões

digitais (site, tablet e smartphone). Também serão abordados outros temas tratados

nesta pesquisa: as práticas jornalísticas e o modelo de negócio adotado pela publicação

escolhida para o estudo de caso.

3. Estudo de caso: Veja.com

Realizada a análise teórica do objeto de estudo, delimitado como sendo as

revistas nas plataformas digitais, é preciso estabelecer categorias de análises do corpus:

o site de Veja.com.

O Protocolo de Estudo de Caso desta pesquisa em questão é composto de

descrição do site da publicação escolhida, Veja.com (em análise realizada em setembro

de 2013), e entrevista estruturada com Carlos Graieb, editor executivo da revista Veja e

responsável por seu site (ver no anexo a íntegra da entrevista).

Dentre as categorias de análise, estão: características do site relacionadas ao

webjornalismo; características do site relacionadas ao jornalismo de revista; modelo de

negócio adotado pela revista em suas plataformas digitais; e estrutura de redação e

forma como os jornalistas atuam no site.

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3.1. Sobre Veja e Veja.com

A revista Veja teve sua primeira edição lançada em setembro de 1968. Inspirada

no modelo da revista de informação semanal norte-americana Time, a publicação foi

idealizada por Roberto Civita, filho de Victor Civita, dono da Editora Abril. Com o

intuito de abranger todo o território nacional, Veja teve uma estrondosa campanha de

lançamento e um início difícil, tanto com relação à vendagem (“o principal obstáculo

era a falta de hábito de leitura de revistas de informação” [MIRA, 2001, p. 85]) quanto

com a censura do regime militar brasileiro. Antes de seu “nascimento”, houve um ano

de planejamento e treinamento de jornalistas País afora, para que esses profissionais se

adequassem ao estilo na nova publicação.

Após inúmeras adaptações para “agradar” ao seu leitor e atingir a maior

vendagem de uma revista no Brasil (cada edição de Veja costuma vender cerca de 1

milhão de exemplares76), a publicação tornou-se “a maior e mais importante revista

brasileira” (ALI, 2009, p. 373) – motivo pelo qual foi escolhida para compor o corpus

deste estudo de caso.

Em 1997 Veja inaugurou seu site77. Pouco tempo depois, a revista o reformulou

“com o conteúdo na íntegra da edição da semana, incluindo textos, gráficos e

fotografias” (NATANSOHN et al., 2013, p. 15-16). Em 2010, aconteceu a última

grande reforma do site. “Foi um investimento para que Veja pudesse ganhar contornos

mais claros como um ‘produto digital’ e desenvolver na internet uma presença

equivalente à que tem no mundo das publicações off-line” (GRAIEB, 2013). Neste

momento, o objetivo da Editora Abril era posicionar Veja.com entre os maiores sites do

segmento de notícias, oferecendo como diferencial análise e contextualização dos fatos,

que Graieb considera como sendo atributos da “‘nave mãe’, a revista”.

Veja ainda foi a primeira publicação nacional a disponibilizar seus exemplares

antigos em seu próprio site. Além disso, atualmente, como mostra o expediente da

76 De acordo com informações do site PubliAbril, a média de circulação de Veja é de 1.050.196 exemplares (IVC jan-abr/13). Disponível em: <http://publicidade.abril.com.br/marcas/veja/revista/informacoes-gerais>. Acesso em 23. set.2013. 77 Segundo informações de um especial on-line de Veja, disponível em: <http://veja.abril.com.br/especiais_online/10_anos/conteudo.html>. Acesso em 1.jun.2014.

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revista impressa, há uma equipe de jornalistas para sua elaboração e outro grupo de

profissionais para a atualização de Veja.com:

São, hoje, redações independentes. A revista tem um processo de fechamento muito bem definido, nesta sequência: repórter, editor, editor executivo (e eventualmente diretor de redação, para páginas amarelas, reportagens de capa ou quaisquer outras que ele decida fechar). Depois disso vem ainda dois passos cruciais para o controle de qualidade, a checagem de informações e a revisão de texto, feitos por equipes específicas. O site trabalha em turnos, para que todos os períodos, inclusive a madrugada, possam ser cobertos. Por isso, nem sempre é possível submeter uma reportagem a tantas leituras. Idealmente, um texto chamado em manchete passa pelas seguintes instâncias: repórter, editor de seção, editor de home e checagem. Dependendo do horário, vai do repórter diretamente para o editor de home. Na madrugada, dois plantonistas redigem e publicam seus próprios textos, com o compromisso de que um fará a releitura do trabalho do outro à caça de erros. É um ambiente onde é muito mais difícil manter a unidade de tom e acabamento encontrada na revista. Melhorar a qualidade final da redação é um desafio permanente (GRAIEB, 2013, s/p).

Mais de 17 anos após seu lançamento, o site de Veja traz conteúdos exclusivos,

blogs próprios e ainda possui interação com sites de redes sociais. “No nosso segmento,

estamos entre os líderes em seguidores nas principais redes sociais – Facebook, Twitter

e G+. Temos dois editores bastante voltados a isso, que interagem com os leitores,

analisam as métricas e buscam novas oportunidades – como a criação do aplicativo

GeoSocial78, que nasceu dentro da redação” (GRAIEB, 2013). Veja ainda utiliza as

redes sociais para um monitoramento permanente da reputação da revista e de seu site.

Como modelo de negócio, Veja lança mão de publicidade, publieditoriais, venda

em banca e assinaturas – 85% da venda de exemplares vem de assinaturas (VASQUES,

2013). Além disso, conta com a venda de publicidade nas edições regionais (Veja SP,

Veja RJ, Veja BH, Veja ES, Veja Brasília) e seus respectivos sites, e nos especiais

Comer & Beber.

Veja.com também tem publicidade e a versão da revista para tablets já conta

com 110 mil assinantes. “Toda edição é redesenhada para o tablet. Alguns conteúdos

78 Aplicativo no qual, em um mapa virtual, os leitores têm acesso a informações sobre bares, restaurantes, lojas, shoppings, hotéis, parques, cinemas, pontos turísticos, previsão do tempo, serviços públicos, trânsito e transporte. Um exemplo bastante interessante de seu uso pela publicação foi aliar conteúdo sobre o festival de música Rock in Rio ao mapa da Cidade do Rock, local onde aconteciam os shows, no Rio de Janeiro.

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são específicos – especialmente vídeos e gráficos. Tem havido também diversas edições

especiais só para tablet” (GRAIEB, 2013). Por fim, os aplicativos de Veja.com, Veja

Comer & Beber, 24horas também se tornam fonte de renda.

3.2. Descrição do site e do aplicativo de Veja para tablet

O site Veja.com pode ser descrito da seguinte maneira:

Header (figura 1) com o logotipo da revista e as abas “Buscar”, “Acervo

Digital” e “Assine Veja” (destacando a capa da edição impressa da semana), além do

menu do noticiário, sendo:

- A aba “Buscar” possui um campo em branco que permite ao leitor digitar quaisquer

palavras-chave que o leve a uma lista de textos publicados no site, a fim de que encontre

notícias relacionadas ao tema de sua busca.

- A aba “Acervo Digital” leva a uma área exibida em Adobe Flash Player onde todas as

edições da revista, desde a número 1 até a de três semanas anteriores à atual, podem ser

“folheadas” por meio do software Adobe Flash.

- A aba “Assine Veja” leva para a área “Assine Abril”, onde o usuário encontra uma

descrição da revista e uma oferta de assinatura para os seguintes três pacotes: impressa

+ digital, impressa e digital. Além disso, também é possível assinar Veja junto com

outras publicações da Editora Abril.

- Compondo o menu do noticiário, a aba “Notícias” refere-se à própria home e possui as

seguintes subabas, que seriam as editorias do site: “Brasil”, “Celebridades”, “Ciência”,

“Economia”, “Educação”, “Esporte”, “Internacional”, “Saúde”, “Vida Digital”,

“Infográficos” e “ As Listas de VEJA” (com conteúdo do tipo: “Os livros mais

vendidos”, “Seis países da América Latina mais competitivos que o Brasil”).

- A aba “Temas” leva para uma página com os principais assuntos do momento ou casos

de repercussão nacional e internacional, de acordo com a concepção da revista, tais

como “Julgamento do mensalão” e “Tragédia em Santa Maria”. É possível navegar

pelos temas em ordem alfabética. “Temas” ainda possui subabas, com assuntos recentes

em destaque. Em 15 de setembro de 2013, os temas eram “Espionagem internacional”,

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“Família real”, “Revolta no Egito”, “Eike Batista”, “JMJ Rio 2013”, “Enem e

Vestibulares”, além do “Ver Todos”, que leva à página onde todos os temas estão

listados por ordem alfabética.

- A aba “Vídeos e Fotos” conduz a uma página com os vídeos produzidos pelas variadas

editorias do site – é possível escolher entre os “+ recentes” e os “+ vistos” – bem como

galerias temáticas de fotos, que possui um menu de editorias e oferece ao usuário a

possibilidade de ver apenas as galerias de cada tema. “Vídeos e Fotos” também possui

subabas: “Vídeos”, “Galeria de Fotos”, “Galeria de Vídeos” e “Infográficos”. Em todas

essas subabas é possível definir editorias.

- A aba “Blogs e Colunistas” refere-se à página com a lista de blogs e colunas do site,

com as fotos de seus responsáveis. A disposição está definida pelos temas: “Política,

economia, opinião”, “Saúde”, “Variedades”, e “Blogs da Redação” (páginas

alimentadas por conteúdos produzidos pelos próprios repórteres de cada editoria). Ao

final das descrições de todos esses blogs e colunas existe a frase “Assine o feed”, no

qual o usuário pode receber as notícias de seu colunista preferido. Assim como em

todos os outros links do menu, há subabas com os nomes de alguns colunistas em

destaque, além da subaba “Todos os colunistas”.

- As abas “Assine Veja” e “Veja SP” (link para o site da publicação destinada aos

paulistanos) são fixas na área de subabas.

- Abaixo de um banner de anúncio, ainda fica uma linha de links temáticos com o nome

“Em Foco”, em que se destacam os temas mais relevantes segundo a edição do site.

Figura 1: Topo da página principal do site de Veja

Fonte: Veja.com, 15 set. 2013

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Após o header, o site segue em três colunas verticais com: manchete do

momento e mais cinco principais notícias do dia; “carrossel” de oito fotos e suas

chamadas para outros destaques noticiosos do momento; e a capa da revista da semana,

com a chamada principal e links para os destaques e o índice da edição.

A disposição do site da revista continua com uma área que apresentam os

últimos textos dos colunistas, com barras de rolagens laterais, que permitem a

visualização de todas as colunas recentes. Ao lado, há a mesma configuração para os

“Blogs da Redação”. Abaixo, a “Programação de transmissões ao vivo”.

Em seguida, há três colunas verticais relacionando todas as editorias e contendo

três destaques de cada uma delas, com fotos. Abaixo, os “Especiais” (“Temas”) em

relevância no momento.

O site de Veja ainda oferece dois serviços: “Previsão do tempo”, com a

possibilidade de escolha de cidade, estado e país, e “Mercado financeiro”, com cotações

do dia.

A parte inferior do site é composta por uma tabela com as notícias “+ lidas” e “+

comentadas” das últimas 24 horas, sete dias ou 30 dias (basta o usuário configurar). Ao

lado, existe um quadro com acesso à página de Veja no Facebook e ao aplicativo social

da revista (que será descrito adiante).

Há, novamente, um espaço para busca no “Acervo Digital” e outro destaque para

a edição impressa da semana. Com a barra de rolagem lateral, o usuário também pode

ver os destaques das edições regionais de Veja.

A área “Serviços” lista aplicativos e, claro, serviços que a revista dispõe para o

público, sendo:

- “Tablet”: o link leva à página que descreve como a revista está presente nos tablets,

como os dias e horários em que são disponibilizadas as novas edições para compra:

Além de todo o conteúdo da edição impressa de VEJA, o aplicativo proporciona diferenciais como animações e infográficos que ganham vida ao toque, imagens com muito mais brilho e apelo visual na tela do tablet, vídeos incorporados dentro das matérias, galeria de fotos navegável com os dedos,

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além de links que remetem das páginas de VEJA para a internet (Revista Veja, s/d, on-line).

- “Android”: página que explica que o conteúdo do site da revista pode ser baixado em

celulares com sistema operacional Android.

Atualizado em tempo real, o aplicativo traz reportagens, artigos, fotos e vídeos nas áreas de Brasil, internacional, economia, celebridades, esportes, ciência, educação, saúde e tecnologia. Também estão disponíveis as colunas e blogs do site de VEJA. O aplicativo permite que os leitores compartilhem seus conteúdos favoritos no Twitter ou via e-mail (Revista Veja, s/d, on-line).

O texto da página ainda afirma que o site já possui aplicativo para dispositivos

móveis da Apple, como iPhone e iPod Touch.

- “Facebook”: link que remete à página da revista no Facebook, rede social onde

2.067.316 membros79 “curtem” a publicação e na qual são postadas notícias diariamente

com hiperlinks para o site da revista.

- “Orkut”: link que remete à comunidade da revista no Orkut, rede social que, agora,

tem pouca expressão. Pelo que se pôde constatar, o último post da revista no Orkut

ocorreu em 31 de março de 2011.

- “Foursquare”: link que remete à página da revista no Foursquare, rede social na qual o

usuário “marca” o local onde está localizado fisicamente. A descrição do perfil da

revista do site é: “Siga VEJA no Foursquare. Além dos destaques de capa da edição da

semana, você recebe, frequentemente, ofertas especiais das bancas e livrarias mais

próximas a você.”

- “Twitter”: link que leva à página da revista no Twitter, rede social em que a

publicação tem 2.646.235 seguidores80 e é atualizada diariamente com notícias que

oferecem hiperlinks para o site.

- “Google +”: link que leva à rede social Google +. Perfil atualizado diariamente pela

publicação.

79 Dado recolhido no Facebook em 15 de setembro de 2013. 80 Dado recolhido no Twitter em 15 de setembro de 2013.

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- “RSS”: página com lista de links para se assinar o feed de notícias do site, além das

colunas e blogs.

- “Newsletter”: link para uma página de cadastro para receber, por e-mail, um boletim

semanal com informações sobre cada nova edição da revista.

- “Anuncie”: link para o site PubliAbril, direcionado a anunciantes da publicação.

- “Tempo”: link para página sobre previsão do tempo de cada estado e cidade do Brasil,

mediante pesquisa.

- “Cotações”: link para página com cotações do mercado financeiro.

- “iba”: link para página explicando o que é o iba, loja on-line que oferece, por meio de

pagamento prévio, o download de e-books, revistas e jornais digitais para PC, iPad ou

tablet Android.

- “Assine”: link para o site Assine Abril, o mesmo a que remete o link do header.

- Aplicativo Social de Veja e Veja Minhas Notícias: Realizando um cadastro nessa área,

o usuário pode compartilhar com amigos do Facebook os seus conteúdos preferidos do

site de Veja e, também, verificar o que eles “curtiram” ou “compartilharam”. O

contrário também é possível: instalar um aplicativo de Veja em sua página no Facebook

(Veja Minhas Notícias), que permite o compartilhamento automático de conteúdos na

rede social.

O site da revista ainda oferece podcasts e enquetes (em formato de matérias).

A versão para tablet (figura 2), conforme anuncia a própria publicação, possui

acesso a vídeos e galerias de fotos, bem como para as notícias de destaque do site no

momento. Além disso, visualizar todas as revistas que o usuário já adquiriu e

compartilhar conteúdos por e-mail ou em sites de redes sociais.

Há, ainda, infográficos interativos, nos quais os usuários podem escolher quais

informações quer ver mais detalhadamente. É possível também encontrar ilustrações

animadas.

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Figura 2: Veja para tablet

Fonte: Revista Veja para tablet

Já no smartphone (figura 3), há uma versão reduzida do site e links para

“Listas”, “Vídeos”, “Blogs” e “Frases”. Também há como escolher ler as notícias por

editorias. Diferentemente da versão para tablet (em que o usuário para por edição), não

é preciso pagar pelo aplicativo de Veja no smartphone.

Figura 3: Veja no smartphone

Fonte: Revista Veja para smartphone

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3.3. Conclusões com base nas categorias de análise

Nesta descrição do site Veja.com, é possível notar aspectos relacionados ao

webjornalismo e à narrativa multimídia, tais como:

- Memória: nas áreas de “Busca”, “Acervo Digital”, “+ Recentes” e “+ Vistos”;

- Personalização: quando a revista oferece o serviço de assinatura de feed, seu aplicativo

social e, ao final de cada matéria, nota ou reportagem, a área “Recomendados para

você” – que oferece quatro notícias de acordo com o perfil usuário, ou seja, relacionadas

a outros conteúdos que ele já acessou;

- Interatividade: é possível comentar todas as notícias (mediante cadastro prévio), bem

como compartilhá-las e recomendá-las em sites de redes sociais;

- Instantaneidade: o site é atualizado 24 horas por dia e 7 dias por semana. Sua equipe se

reveza em plantões aos finais de semana e também há jornalistas atuantes durante as

madrugadas;

- Hipertextualidade: todas as notícias apresentam links que direcionam o usuário para

outros textos, vídeos e/ ou galerias de fotos relacionados, seja no decorrer da própria

notícia, abaixo (“Leia também” e “Recomendados para você”) ou ao lado;

- Multimidialidade/ Convergência: além dos hiperlinks acima citados, há também os

recursos de áudio, vídeo e imagens, o que caracteriza esse tópico. Além disso, há cerca

de seis áreas com textos e links com chamadas para o usuário assinar a revista, o que

significa optar por receber a versão impressa em casa ou, então, baixar a edição da

semana pelo tablet. Sendo assim, a Editora Abril utiliza-se do site da publicação para,

também, angariar assinantes, tendo em vista que o conteúdo do site é diferente do das

versões impressa e para tablet;

- Narrativa multimídia: ao clicar nas matérias do site de Veja, é possível identificar

características multilineares, multiformes, multissequenciais e paratextuais, já que os

textos são “interrompidos” por hiperlinks e recursos de áudio, vídeo e imagens. Sendo

assim, ele também apresenta a arquitetura da pirâmide deitada proposta por Canavilhas

(2003).

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Na descrição, foi possível demonstrar que há adequação do conteúdo exclusivo

do site de Veja às características do webjornalismo e da narrativa multimídia, sem, no

entanto, que isso interfira na versão impressa da revista. Segundo Graieb (2013), “a

revista é o ponto de referência do site para os grandes assuntos de política, economia,

sociedade e cultura. O ponto de vista é o mesmo”. Sendo assim, o site segue a mesma

linha editorial da revista, respeitando, no entanto, as particularidades do meio.

No que se refere às características do jornalismo de revista, o site de Veja,

conforme já explicitado, acompanha a mesma linha editorial proposta pela publicação

impressa. Sua periodicidade, no entanto, segue a lógica dos veículos on-line, que

trabalham com a instantaneidade. A sua presença em sites de redes sociais e as

oportunidades que oferece para comentários aproximam os leitores – característica

bastante intrínseca ao veículo revista.

O design do site segue a linha gráfica da revista impressa e utiliza fotos de

agências de notícias em sua maioria, seguindo os padrões dos grandes portais de

notícias. “Discute-se a criação de uma identidade visual mais forte nas diversas

plataformas. Mas isso não significa integrar layout, porque a navegação em

computadores, tablets e smartphones tem regras próprias de eficiência, usabilidade etc”

(GRAIEB, 2013).

Nos conteúdos especiais, os textos se mostram mais analíticos, entretanto, o site

de Veja também possui notícias mais diretas, com textos curtos e objetivos – atributo

particular do webjornalismo.

Por fim, o público da revista se diferencia em alguns aspectos do público do site.

De acordo com o Publiabril, os leitores estão dispostos da seguinte maneira (tabela 2):

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Fonte: Publiabril

A tabela mostra que o público masculino é maior no site. Ao mesmo tempo,

leitores da classe social A leem mais a revista on-line do que a impressa. Pessoas com

mais de 50 anos acessam mais o site e leitores entre 25 e 34 anos consomem mais a

revista. Dessa maneira, pode-se compreender que há uma ligeira diferenciação de

público entre a revista impressa e o site de Veja – e o mais curioso é a questão da idade,

demonstrando que há um futuro promissor para a revista impressa. Segundo Graieb

(2013), existem “pesquisas qualitativas cujos dados usamos com cautela. Elas indicam

que o leitor compreende que são meios com dinâmicas diferentes, conteúdos diferentes,

mas uma mesma linha editorial (aquilo que tenho chamado de ‘ponto de vista’)”.

Há equipes diferenciadas de jornalistas para a publicação impressa e a on-line,

provando que ainda há profissionais dedicados a elaborar materiais para cada

plataforma, distintamente. Para Graieb (2013), as redações não são integradas,

entretanto, “o site produz eventualmente textos para o papel ou cede repórteres para

apurações especiais. Repórteres e editores da revista costumam oferecer colaborações

ao site quando percebem que a informação não vai chegar inédita ao fim de semana, e

também quando viajam”.

De acordo com o editor executivo de Veja, integrar as redações do impresso e do

on-line é um caminho para corte de custos, entretanto, em sua opinião, há riscos para a

revista nesta estratégia:

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É preciso tomar muito cuidado antes de expor um produto bem sucedido como Veja ao risco. De todos os meios impressos, creio que a revista semanal é o mais difícil de traduzir para a internet. A reportagem da internet pode ser uma primeira versão ou um laboratório para aquilo que o jornal vai mostrar no dia seguinte. O fluxo de fechamento da revista mensal deixa o jornalista mais livre para eventualmente produzir para um site. A rotina da revista semanal é pesada, porque é preciso acompanhar de perto vários assuntos antes de fazer a seleção final daquilo que vai para a gráfica. Além disso, há um compromisso com a exatidão, com a análise, com a qualidade do texto e do acabamento, que não pode jamais ser quebrado. Costumo dizer que qualquer legenda de uma revista como Veja leva uma semana para ser feita – o que é um exagero, mas não uma completa inverdade. O timing do jornalismo de internet e de revista semanal é conflitante, e isso é algo que sempre esteve na balança (GRAIEB, 2013).

Por fim, é possível notar que a revista utiliza-se de sua presença na internet para

anunciar sua versão impressa – que completou 45 anos de existência em 2013. Essa

atitude de certa forma referenda o site, já que o vincula a uma revista de renome no

campo comunicacional brasileiro. Assim, verifica-se que a produção jornalística é

adaptada a cada plataforma a que se propõe e que ainda não ocorre uma integração de

afazeres por parte dos profissionais de ambas as redações. Entretanto, os mesmos

conteúdos podem estar presentes tanto no on-line como no impresso, desde que se

respeitem as características de cada meio. Vale ressaltar que os jornalistas do site, mais

do que conhecimentos relativos ao webjornalismo associado às características do

jornalismo de revista, precisam saber sobre o manuseio do publicador, a produção e a

apresentação de vídeos, assim como a edição de fotografias.

Por estar diretamente relacionado a uma revista impressa que circula há décadas

no mercado editorial brasileiro, o site de Veja não deixa “suas raízes” de lado e usa essa

ligação, praticamente de mãe e filho, para dar credibilidade aos seus conteúdos na rede.

Ao mesmo tempo, tanto o site quanto as versões de Veja para tablets e smartphones

ratificam a ideia de que a presença de uma publicação impressa em multiplataformas

digitais é não mais uma tendência, mas uma necessidade exigida pelo atual mercado.

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CAPÍTULO V – CAMINHOS PARA NOVAS PRÁTICAS EDITORIAIS E MODELOS DE NEGÓCIOS PARA REVISTAS

“As revistas traduzem o espírito do tempo”

Fabricio Marques de Oliveira (2013, p. 277)

As revistas no cenário da sociedade em rede e da incorporação das mídias

digitais no dia a dia das pessoas se encontram em um momento de adaptação e, ao

mesmo tempo, de busca por inovação, tanto no que se refere à área comercial (novos

modelos de negócios) quanto no que diz respeito às práticas editoriais influenciadas

pelas características do webjornalismo e do novo leitor (prossumidor/ interagente) que

vêm se estabelecendo. Como apresentamos ao longo deste estudo, há ideias inovadoras

sendo testadas em todo o mundo como forma de manter mercado e desbravar novos

negócios, mas nada ainda se revela como concreto, apesar de surgirem tendências que

têm se mostrado estáveis.

Para compreender quais os melhores caminhos a seguir, é preciso considerar a

essência de cada produto jornalístico. Entretanto, existe a necessidade de se levar em

conta os percursos já trilhados, reconhecer suas vantagens e falhas, e aprimorá-los.

Neste capítulo, vamos expor o que mostram alguns estudos sobre o mercado de

revistas atual e o que preveem pesquisas e pesquisadores sobre o futuro das revistas. Em

seguida, indicaremos possibilidades de novas práticas jornalísticas e de modelos de

negócios a serem aplicados neste tipo de publicação, com base no que já foi

mencionado ao longo desta pesquisa e no que apontam as tendências.

1. O cenário atual e o futuro das revistas

Apesar da retração do mercado publicitário (queda de 8,7% em revistas no Brasil

em 2013 com relação a 2012, segundo a pesquisa Inter-Meios [BARBOSA, 2013])

como um todo e do crescente uso de dispositivos móveis – e o consequente consumo

das mídias digitais –, o mercado de revistas busca manter-se ativo, tanto no Brasil

quanto no exterior.

De acordo com estudo da Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas,

2012), a circulação de revistas no Brasil aumentou, entre 2005 e 2011, cerca de 10%,

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saltando de 387 milhões de exemplares para 434 milhões. Neste mesmo período, houve

um crescimento de 44% na quantidade de títulos, de 3.651 em 2005 para 5.272 em 2011

(IVC, 2011).

O relatório ainda mostra que, segundo pesquisa Ipsos Marplan de 2012, as

revistas são lidas por 46% dos brasileiros, sendo 78% da classe A, 58% da classe B e

61% da classe AB. Também de acordo com outro estudo Ipsos Marplan, realizado em

2011, a revista tem 26% de seus leitores entre 10 e 19 anos e 22% entre 20 e 29 anos,

demonstrando ser um meio de interesse do público jovem.

Por fim, a revista também mostrou ser um dos meios que mais influencia em

uma compra. Os Estudos Marplan EGM Next Gen (MANZANO, 2012) apontaram que

as revistas, assim como a internet, são os meios mais comumente utilizados para

atualização, ver/ assistir programas específicos, distração e informações sobre compras.

Esses dados comprovam para os anunciantes a importância de se fazerem presentes

nesse tipo de publicação, assim como o fato de que 63% da população se dedicam

somente à revista quando a leem, enquanto os demais meios dividem a atenção do leitor

com outras mídias e até mesmo atividades, segundo Pesquisa de Relacionamento do

Leitor de Revistas com os Meios, realizada pela Editora Abril, também em 2012

(ANER, 2012).

Outra pesquisa, The Magazine Media Factbook 2013/2014, realizada nos

Estados Unidos por The Association of Magazine Media (MPA, 2013), trouxe

informações bastante relevantes e aprofundadas sobre o mercado norte-americano de

revistas, bem como sobre os leitores, os anúncios e as revistas em plataformas digitais,

conforme os dados apresentados abaixo:

- As revistas apresentam um consumo consistente entre gerações diferentes de leitores,

diferentemente da internet ou da televisão, cujos principais consumidores são,

respectivamente, os millenials (nascidos entre 1977 e 1994) e os baby boomers

(nascidos entre 1946 e 1964);

- Adultos com menos de 35 anos leem mais revistas mensalmente do que os com mais

de 35;

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- As 25 revistas mais vendidas atingem mais adultos e adolescentes do que os 25

programas de TV do horário nobre com maior audiência;

- As revistas são o meio para qual os leitores dão mais atenção concentrada;

- Os leitores de revistas são os mais influenciados por essa mídia e seus anúncios do que

os de internet e telespectadores;

- Leitores de revistas são early adopters (pessoas que aderem rapidamente às novidades

do mercado) e recomendam produtos e serviços às pessoas de seu convívio;

- Leitores de revistas gastam mais tempo e dinheiro no ambiente on-line;

- Leitores de revistas são experts em aparelhos celulares e os utilizam para diversos fins

como assistir a vídeos, realizar compras, enviar e receber mensagens de textos, baixar

aplicativos etc;

- Anúncios de revistas auxiliam em decisões de compras mais do que publicidade em

websites e TV;

- Leitores de revistas são influenciadores; as revistas impressas têm impacto em todos

os segmentos do comércio.

No que diz respeito às revistas nas plataformas digitais, o estudo apontou o

seguinte:

- Quando uma revista está disponível para tablets e smartphones, os leitores acessam-na

em ambas as plataformas, ampliando o número de sessões e páginas lidas por mês;

- Dentre os donos de tablets, 40% leem ao menos uma vez por mês revista pelo

dispositivo, 17% leem de 1 a 3 vezes ao mês, 13% ao menos uma vez por semana e

10% quase todos os dias;

- Aplicativos de revistas (tanto da própria revista quando de serviços relacionados ao

tema da revista) estão entre os mais baixados na loja de aplicativos do iPad;

- Entre o início de 2011 e o início de 2013, houve um aumento de 170% no número de

downloads de revistas;

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- O pagamento pelo conteúdo digital de revistas alcançou 78% do total disponível,

sendo 35% advindos de pacotes de assinatura impressa e digital, 34% de assinaturas

digitais e 10% de edições avulsas. Os 22% restantes ainda são gratuitos;

- A maioria dos leitores está satisfeita com suas assinaturas de revistas digitais,

principalmente devido às suas facilidades de acesso;

- Revistas digitais levam seus leitores a ações no ambiente on-line e 67% dos seus

leitores estão interessados em adquirir produtos e serviços diretamente dos anúncios

vistos nas revistas digitais e 62% querem comprar diretamente dos artigos e reportagens

lidas;

- Leitores de revistas digitais gastam mais tempo com anúncios elaborados para tablets

do que para impressos;

- Dentre os adultos de 18 a 34 anos que leem revistas e utilizam mídia social, 37%

leram ou olharam uma revista digital nos últimos 60 dias. Quase metade disse que a

experiência de interagir com outra mídia geralmente é enriquecida quando

compartilhada com outros e 35% gostam de compartilhar imediatamente artigos e

produtos que viram em revistas. Quase metade já visitou uma página de revista no

Facebook e 3/4 “curtiram” uma revista no Facebook; 69% postaram um artigo de revista

no Facebook. Mais de 2/3 seguem um editor ou colunista de revista no Twitter e 3/4

seguem uma revista no microblog. Três em cada quatro seguem a página de uma revista

no Pinterest;

- A audiência e a circulação (assinaturas e venda em banca) médias das revistas

permanecem estáveis. As receitas publicitárias apresentaram quedas, mas se mantêm

estáveis desde 2009 (em torno de 19 bilhões de dólares);

- Anunciantes de peso acreditam na importância da publicidade em revistas.

Alguns dos resultados apresentados nesta pesquisa norte-americana vão ao

encontro do cenário brasileiro. O primeiro deles está no fato de que os jovens têm

interesse por revistas. Além disso, os leitores de revistas, no Brasil e nos Estados

Unidos, são os que mais oferecem atenção exclusiva à publicação (com relação a outros

meios).

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Assim como nos Estados Unidos, aqui as revistas também exercem influência

sobre compras e seus leitores, por sua vez, influenciam pessoas de seu convívio. De

acordo com os entrevistados que participaram dessa pesquisa que revelou dados

relativos ao mercado nacional – Relacionamento com os Meios, de 2012, da Editora

Abril (ANER, 2013) –, 83% afirmaram que uma indicação de revista pesa tanto ou mais

que uma indicação de amigos.

Por outro lado, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, ainda não

há dados divulgados no Brasil, até onde pudemos pesquisar, sobre as revistas em

dispositivos móveis ou plataformas digitais. Entretanto, de acordo com pesquisa do IVC

(2013), há um crescente aumento no uso de tablets e smartphones para o acesso a sites

de conteúdo jornalístico na internet.

Novamente conforme dados do IVC (2011, p. 12), entre os anos 2000 e 2005

houve uma “recuperação de margens dos produtos, transformando as editoras em

empresas mais saudáveis e preparadas para crescer”. Já entre 2005 e 2011, as editoras

aumentaram circulação e o faturamento ao investirem em dois mercados: revistas

populares vendidas a baixos preços em bancas e varejo e revistas segmentadas mensais

com preço de capa acima de R$ 10, com vendas avulsas e assinaturas.

No momento da divulgação da pesquisa, o IVC relatou que as edições digitais

das revistas ainda não acumulavam receitas significantes, porém, o Instituto revelou que

a popularização dos tablets poderia auxiliar no desenvolvimento desse mercado:

As edições digitais não apresentaram números expressivos que marcassem nenhum movimento importante no período analisado. Os eventos mais marcantes nesta área, especialmente o surgimento dos tablets, ainda não apresentaram impacto nos números de circulação [...]. Considerando o potencial, ainda não desenvolvido dos tablets no mercado brasileiro, ainda é difícil estimar o impacto que ele vai ocasionar (IVC, 2011, p. 12).

Há estudos que reforçam essa tendência. Segundo levantamento do Ibope e da

Worldwide Independent Network of Market Research (WIN), divulgado em abril de

2013 (USO DE SMARTPHONE..., on-line), o brasileiro gasta mais tempo utilizando

celulares, smartphones, tablets e e-readers do que a média mundial81. No Brasil, a

81 A pesquisa não apresentou dados acerca do motivo desse resultado, o que não nos mostra se a qualidade da banda larga possui influência sobre ele.

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136

média diária de tempo de uso de celulares é 59 minutos, à frente do período médio de 42

minutos registrado no mundo. Com smartphones, o brasileiro gasta 84 minutos diários,

acima dos 74 minutos globais. Para tablets, o gasto nacional é de 79 minutos, acima da

média de 71 minutos no resto do mundo. Já para e-readers, é de 63 minutos, superior

aos 54 minutos gastos com o aparelho no mundo.

Em sua pesquisa sobre o futuro das revistas digitais (especificamente

publicações preparadas para tablets), Ryberg (2010) fez um estudo qualitativo

realizando entrevistas com quatro diferentes grupos: os dois primeiros eram formados

por assinantes das revistas impressas suecas Mama (publicação de comportamento para

a “mãe moderna”) e Allt om Mat (a maior revista de culinária da Suécia); o terceiro por

pessoas interessadas em maternidade e culinária, mas que preferem realizar leituras on-

line (e que a pesquisadora classificou como leitores da web); e o quarto grupo formado

por profissionais de publicidade que trabalham em agências de mídia e publicidade ou

empresas.

A pesquisadora identificou que todos os leitores da web queriam ler revistas

digitais. Esse número caiu pela metade nos grupos de assinantes de revistas impressas.

A maioria desses assinantes, inclusive, não gostaria de trocar sua assinatura por uma

digital, mas afirmou que, se tivesse um tablet, compraria edições avulsas de outras

publicações. Houve um pequeno grupo de pessoas, no entanto, assinantes da Allt om

Mat, que disseram considerar a troca da assinatura de sua revista impressa pela digital,

caso o conteúdo extra oferecesse novidade e se o preço fosse bem menor que o da

revista impressa.

Ainda de acordo com os resultados da pesquisa, os leitores da web declararam-se

muito interessados em experimentar o consumo de uma revista digital, mas

apresentaram grandes expectativas quanto ao nível de interatividade, à qualidade dos

novos conteúdos e à integração com diferentes serviços da web.

No que se refere ao conteúdo, os entrevistados apontaram que gostariam de

“utilizar busca, assistir a vídeos, enviar recomendações, compartilhar artigos, ter acesso

a hiperlinks para artigos sobre outros temas e temas relacionados em outras revistas”

(RYBERG, 2010, p. 18), entretanto, não desejariam, por exemplo, que vídeos se

iniciassem automaticamente, tirando-lhes a atenção. Muitos entrevistados também

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demonstraram a preferência por acessar suas revistas digitais não apenas por tablets,

mas também por notebooks e smartphones. “Eles não esperam o mesmo conteúdo da

revista digital de seu dispositivo de e-reader em seu telefone celular, mas uma espécie

de aplicativo com atualizações recentes ou serviços úteis”.

Os entrevistados enumeraram, também, algumas desvantagens das revistas

digitais em tablets: a sensação de se ler uma revista impressa e ter a noção geral de toda

ela é diferente; o ambiente digital oferece distrações; a revista digital é “muito abstrata”

e o leitor não teria “controle sobre o produto”; compartilhar a revista com outras pessoas

fica mais difícil, pois requer a necessidade de se ter o aparelho eletrônico; o hardware

pode ser pesado e exige a recarga de bateria; e a dependência de uma única plataforma

(o fato de se comprar uma revista digital e não poder acessá-la de outro dispositivo).

Com relação ao preço, existe o desejo de se pagar pelas revistas digitais, no

entanto apenas a metade do que se pagaria por uma revista impressa, principalmente

pelas limitações acima citadas. Por outro lado, muitos entrevistados disseram que

pagariam um preço maior se a revista digital trouxesse conteúdos extras que realmente

justificassem a cobrança mais alta.

Ainda sobre pagamento pelo conteúdo, os entrevistados expressaram diversas

opiniões: muitos assinariam uma revista digital se fossem lembrados sobre o

lançamento de cada nova edição; outros relataram a possibilidade de assinar um

determinado número de revistas por mês e escolher quais títulos se quer ler a cada

período.

Por fim, os profissionais de publicidade destacaram, durante a pesquisa, que têm

grandes expectativas no desenvolvimento de plataformas publicitárias para revistas

digitais:

Eles acreditam que esta nova oportunidade de publicidade vai desenvolver a comunicação, tornar os anúncios para interessantes e ajudar o leitor oferecendo serviços de valor dentro dos anúncios. Eles querem relacionar anúncios à web e oferecer concursos, enquetes e pesquisas diretamente deles. Muitos dos profissionais esperam testar a venda de produtos diretamente dos

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anúncios e realizar links entre diferentes anúncios de diferentes revistas (RYBERG, 2010, p. 24, tradução nossa82).

Além disso, muitos disseram acreditar que os anúncios possam trazer mais

informações do que apenas um link para o site da campanha em questão e, mais que

isso, que os anúncios possam ser personalizados.

Os dados apresentados pela pesquisa de Ryberg apontam desejos de

consumidores e do mercado publicitário, além de apresentarem possibilidades para os

negócios e as práticas jornalísticas, conforme veremos adiante. Antes disso, no entanto,

é preciso conhecer o que pesquisadores estão identificando como tendências para as

revistas no futuro.

Um deles é David Abrahamson, pesquisador e professor de Jornalismo norte-

americano. Em 2009, ele publicou o artigo The Future of Magazines, 2010-2020 no

qual enumerou oito aspectos sobre o futuro da indústria de revistas em médio prazo (p.

2-3):

- A internet não vai substituir o impresso. Para o autor, “a versão impressa de uma

revista permanecerá essencial para a criação de ‘identidade de marca’” (p. 2, tradução

nossa83);

- A especialização da mídia vai continuar ou se acelerar. Com isso, as revistas de

interesse geral sem um nicho específico como alvo poderão desaparecer. Parte desse

processo de especialização incluirá a expansão do papel das revistas no campo da

análise e da interpretação (“menos notícia, mais reportagem”). Ao mesmo tempo, a

presença das revistas na web vai mudar. Segundo Abranhamson, elas se parecerão mais

com portais do que como repositório das edições impressas;

82 “The advertising professionals have big hopes for the development of the advertising platform for the new digital magazine. They believe this new advertising opportunity will improve the communication, make the ads more exciting and help the reader by offering valuable services within the ads. They want to connect ads to the web and build competitions, polls, surveys etc directly in the ads. Some of the professionals have hopes to test selling products directly from the ads and link between different advertisements from different magazines.”

83 “The print version of a magazine product will remain essential to the creation of ‘brand identity’”.

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- Com essa divisão de função entre impresso e digital, o produto on-line será visto como

um negócio à parte baseado em novos modelos de negócios – o que vai contra o

conceito de convergência;

- As editoras precisarão rever seus modelos de circulação devido às mudanças nas

práticas de publicidade e à dispendiosa distribuição. Haverá mais títulos individuais

com circulações menores;

- Haverá um aumento da prática da leitura por prazer e, com isso, textos maiores e mais

densos ganharão espaço em diversos tipos de publicações;

- As instituições de mídia impressa se tornarão hábeis em web, adaptando-se às

necessidades da internet para servir melhor seus leitores;

- O papel da revista semanal de notícia baseada em informações factuais vai diminuir.

Esse conteúdo irá para a web e o produto impresso abrigará textos mais analíticos e

interpretativos;

- Por último, Abranhamson diz acreditar que a indústria de revistas não vai deixar de

produzir conteúdos especiais com base nos conceitos do jornalismo de revista, tais

como: “reportagem rigorosa e empreendedora; análises conceituais atenciosas e

redondas; escrita persuasiva, eloquente e informativa; e direção de arte comprometida e

bela” (p. 3, tradução nossa84).

Ao expor esses oito aspectos, Abranhamson ainda atenta para o fato de as

revistas, nesta década a que ele se refere, começarem a atuar como mediadoras entre

interesses individuais e compartilhados e, assim, criar a ideia de comunidades – o que

pode vir a ser essencial para o sucesso dessas publicações, já que, dessa maneira, elas

tornar-se-ão mais valiosas para quem procura por “vozes que falem a verdade para elas

sobre aquilo com o que elas se importam” (p. 2, tradução nossa85). Em sua visão, nota-

se que Abranhamson acredita que importantes características do jornalismo de revista

vão se manter muito vivas.

84 “Rigorous and enterprising reporting; thoughtful and well-rounded conceptual analysis; compelling, eloquent and informative writing; and engaging and beautiful art direction.” 85 “People who are looking for voices that speak the truth to them about the things that they believe matter.”

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140

John Batelle, outro pesquisador e professor de Jornalismo norte-americano,

também avalia o que será do futuro das revistas e faz apontamentos que têm relação

com os pensamentos de Abranhamson. Para ele, as revistas devem ser repensadas em

três aspectos:

Primeiro, elas devem ser feitas para públicos menores e competir nesse ponto ao invés de se envergonhar disso. Segundo, elas precisam entender como fazer revistas darem certo no mundo on-line (quase todas as tentativas realizadas são terríveis). E terceiro, encontrar um caminho para contornar as tradicionais práticas de circulação e distribuição (BATELLE, 2003, on-line, tradução nossa86).

Pelo que já foi mencionado até o momento, percebem-se inúmeras revistas

buscando funcionar como produto na web e, ao mesmo tempo, se manter vivas em seus

formatos tradicionais impressos (vale ressaltar que as impressões de Batelle foram

publicadas em 2003). A seguir, com base na íntegra deste estudo aqui apresentado,

apontaremos caminhos para novas práticas jornalísticas e modelos de negócios a serem

aplicados nas revistas com o objetivo de atrair e manter leitores e ampliarem sua receita

enquanto produto jornalístico.

2. Caminhos para práticas editoriais e modelos de negócios

Em setembro de 2013, na abertura da VII edição do Fórum da Aner, Frederic

Kachar, presidente da associação e diretor geral da Editora Globo, destacou que não há

mais dúvida da importância do meio revista, entretanto, disse ele, “precisamos apenas

encontrar um novo modelo de negócio” (SACCHITIELLO, 2013, on-line). Segundo o

executivo, nunca houve números tão bons de circulação e vendas avulsas, mas a queda

do faturamento publicitário está dificultando a monetização. Ao expor esse cenário,

Kachar enumerou algumas medidas que ele julga necessárias: a criação de novos

formatos publicitários, o investimento em técnicas de mensuração de resultados, a

necessidade de enxergar o leitor como um ser multimídia que anseia pelo consumo do

conteúdo em diferentes plataformas e a união dos empresários do setor: “Precisamos

criar uma política comercial que nos valorize e enfatizar ao mercado as vantagens e

86 “For one, make them for smaller audiences, and compete on that point, rather than be ashamed of it. Two, figure out how to make magazines sing in the online world (nearly all attempts to date are awful). And three, figure out a way to get around traditional approaches to the twin evils of circulation marketing and distribution.”

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atributos que são exclusivos das revistas, como credibilidade e poder de captar a atenção

do leitor” (SACCHITIELLO, 2013, on-line).

Esses comentários, assim como o que já foi demonstrado nesta dissertação por

meio de pesquisa bibliográfica e estudo de caso, apontam a necessidade da busca por

novas alternativas de negócios e, consequentemente conteúdos, no mercado brasileiro

de revistas.

Relacionando os dados, as tendências e as reflexões de especialistas em revistas

até o momento apresentados, buscaremos indicar caminhos para que os magazines se

mantenham presentes e relevantes no mercado editorial e encontre formas de coexistir

junto aos demais meios de comunicação.

Compreendendo que grande parte das revistas no Brasil está ligada a instituições

comerciais, que há um novo ecossistema de mídia no qual a internet e os sites de redes

sociais vêm ganhando cada vez mais espaço – assim como o leitor –, que não basta

apenas aderir às tecnologias sem dar atenção às novas exigências do conteúdo e práticas

jornalísticas, reunimos sugestões de novos modelos de negócios para as revistas em

plataformas digitais aliados aos atributos essenciais do jornalismo de revista e às

características do webjornalismo e sua narrativa, sempre levando em consideração os

conceitos que envolvem a sociedade em rede. Entendemos que as revistas impressas

serão parceiras nesses modelos de negócio, andando lado a lado com suas versões em

multiplataformas digitais.

2.1. Paywall e assinatura digital

Pagar pelo conteúdo, como vimos, ainda não é uma prática comum na web.

Quem acessa sites de revistas sabe que pode contar com temas similares aos da versão

impressa, na mesma linha editorial e de qualidade semelhante. Mas também sabe que

não é a revista em si, afinal, a maioria das editoras no Brasil exige pagamento pela

leitura da publicação na íntegra, apesar de divulgar parte de seu material impresso

gratuitamente. Entretanto, como apontam estudos, exclusividade, opinião diferenciada e

recursos que ofereçam aprofundamento do conteúdo podem justificar cobrança.

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Na web, ampliando a qualidade e a credibilidade já adquiridas no impresso, a

revista pode atrair um novo público que deseja conhecimento mais aprofundado e

específico. Aqui, o jornalismo de dados também pode fazer diferença e oferecer

conteúdos ainda mais premium aos consumidores que estão pagando.

Ao mesmo tempo, o jornalista amplia sua capacidade de trabalhar com

diferentes mídias – afinal, um conteúdo exclusivo exige vídeos, fotografias, infográficos

etc – e, também, um texto diferenciado. É aqui que o profissional do jornalismo

consegue, em meio digital, trabalhar com as características essenciais do texto de

revista, interpretando os fatos e apresentando ao leitor visões diversas acerca de um

assunto – algo que vem sido chamado de long form journalism87.

Ademais, de acordo com o Estudo Mundial de Jornalismo Digital (ORIELLA

PR NETWORK, 2013), os paywalls e modelos freemium abriram caminho para os

smartphones e tablets, dispositivos móveis que começam a transformar o hábito de

consumo de informação em todo o mundo.

2.2. Conteúdo e publicidade social

Atrair anúncios e produzir conteúdo, ambos de interesse tamanho que crie

oportunidades de recomendações e compartilhamentos em sites de redes sociais, é um

desafio que se coloca diante das revistas nas plataformas digitais, afinal, links

compartilhados significam exposição do produto jornalístico e possibilidades de

aumento de número de acessos. Essa situação implica, portanto, em produção de

conteúdos temáticos, unindo de modo criativo texto e design, bem como no exercício de

se manter cada vez mais próximo do leitor – ações que exigem do jornalista

conhecimento aprofundado do tema e práticas de relacionamento com o leitor.

Ao mesmo tempo, investir em técnicas mais elaboradas de mensuração de

resultados faz-se importante à medida que uma maior audiência – nesse caso, devido a

uma alta capacidade de compartilhamento – resulta em aumento de anunciantes.

Entretanto, esses anunciantes também devem estar preparados para uma publicidade

social, com características que incitem compartilhamento. Dessa maneira, o leitor

87 Jornalismo dedicado a artigos mais longos, com ampla variedade de conteúdos.

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poderá se tornar mais fiel à publicação – o que também se reflete na criação de

comunidades de interesses comuns. O conteúdo patrocinado (ou publieditorial) também

pode ser explorado nas ferramentas sociais usadas pelas revistas nas plataformas digitais

com esse objetivo.

2.3. Serviços

Conforme aponta o relatório Blueprint for transformation (AMERICAN PRESS

INSTITUTE, 2006), as empresas jornalísticas têm de dilatar seu escopo de atuação,

ampliando as já conhecidas funções das revistas, agregando-lhes novos valores e

conveniências:

Muitas empresas de comunicação fazem pesquisas com leitores e anunciantes. Poucas, no entanto, têm metodologias para explorar os desejos e necessidades – serviços a serem oferecidos – de não leitores ou executivos que não anunciam. Como resultado, grandes campos de oportunidade para novos produtos e serviços permanecem invisíveis. Para abastecer o processo de inovação, as empresas precisam de mecanismos consistentes para constantemente reunir conhecimento sobre os serviços que os consumidores e não consumidores estão querendo (p. 60, tradução nossa88).

É para atrair novos leitores e atender às demandas publicitárias que os serviços

entram em cena. Um tipo de serviço pode ser a venda de conteúdo do acervo da

publicação. Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times já possui essa estratégia,

na qual o consumidor paga por realizar uma busca detalhada sobre determinado assunto

em seus arquivos. Essa prática pode ser bem explorada por revistas, ainda mais aquelas

com anos de existência no mercado. A própria revista Veja já disponibiliza suas edições

para os leitores, no entanto, esse serviço é gratuito. Se aliado a um exímio software de

busca e mineração de dados, pode apresentar importantes informações, a serem

utilizadas em pesquisas acadêmicas e, até mesmo, jornalísticas. Esse serviço pode ainda

ser aplicado a vários tipos de publicações. Uma revista direcionada ao público

adolescente, por exemplo, pode apresentar dados sobre as diferenças comportamentais

de jovens de diversas gerações.

88 “Many newspaper companies do research on readers and advertisers. Few, however, have any processes for exploring the wants and needs — jobs to be done — of nonreaders or businesses that do not advertise. As a result, large realms of opportunity for new products and services remain invisible. To fuel the innovation process, companies need consistent mechanisms to constantly gather knowledge about the jobs nonconsumers and consumers are trying to do.”

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Outro modelo de serviço que pode ser oferecido pelas revistas são os aplicativos

temáticos. Gratuitos ou não para os leitores, eles podem contar com patrocínios, como é

o caso do GeoSocial, da revista Veja.

Avaliações e críticas sobre livros, filmes, discos, restaurantes, hotéis, casas

noturnas etc podem também oferecer outro tipo de serviço ao leitor da revista nas

plataformas digitais: o e-commerce. Ao ler uma crítica de um colunista sobre um

determinado filme, por exemplo, o leitor pode passar a ter acesso à lista dos cinemas

que o exibem em sua cidade e, então, poder comprar ingressos para assisti-lo.

Esse três exemplos de modelos de serviços já existentes ou a serem implantados

podem, ainda, estar aliados ao compartilhamento em sites de redes sociais e/ou e-mails

de pessoas conhecidas.

No que se refere ao trabalho do jornalista, os serviços conferem ao profissional

uma visão mais ampla desse novo mercado, no qual, em alguns casos, é preciso aliar

conteúdo a ações de marketing ou publicidade.

2.4. E-commerce

Além de ser utilizado junto às recomendações e críticas das revistas nas

plataformas digitais, o e-commerce pode agregar serviços a essas publicações. Um

exemplo foi o que a edição brasileira de Marie Claire fez recentemente: um shopping

on-line que levava o nome da revista e vendia roupas e acessórios indicados nos

editoriais de moda da publicação na internet.

Chamado pela Marie Claire de “o primeiro e-commerce de revistas no Brasil”

(A UM CLIQUE..., 2012, on-line), o shopping virtual reunia mais de 1.800 marcas

nacionais e internacionais, com a curadoria da equipe de moda da revista que, toda

semana, indicava peças da estação e tendências. Além das sugestões de compra, o leitor

também podia buscar produtos por categorias (marca, preço e tipo de peça) e, por meio

de sites de redes sociais (Twitter e Facebook), acompanhar as principais novidades das

grandes marcas.

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Este serviço foi lançado em 2012 pela Editora Globo, mas não está mais ativo.

Entretanto, representa uma tentativa de novo modelo de negócio que pode ser bem

aplicado por diversas revistas no Brasil, desde que haja uma estratégia mercadológica

bem planejada e executada em boa sincronia com o conteúdo da publicação – em que o

jornalista possa ter ferramentas para conciliar produtos e conteúdo.

Outra opção de e-commerce pode ser a venda de produtos licenciados das

revistas. Como já exposto, a revista para adolescentes Capricho tem uma ampla gama

de licenciamentos, no entanto, a venda não é explorada em seu site. Esse pode ser um

serviço a mais oferecido para o leitor, tanto desta revista quanto de outras.

2.5. Eventos

Os eventos são uma prática que já vem dando certo para muitas revistas

brasileiras, principalmente no que diz respeito ao acúmulo de receita, pelo fato de atrair

patrocínio. Em entrevista à revista Negócios da Comunicação (VASQUES, 2013), o

jornalista Mino Carta, diretor de redação da revista Carta Capital, afirma que a

publicidade não pode mais ser vista como única fonte de renda para as revistas e

diversifica as receitas da publicação com a elaboração de projetos especiais e eventos de

debates: “Ajuda muito na receita, pois são eventos patrocinados, com ampla liberdade

de organização. Nos dias atuais, precisamos ser mestres em economia. Gastamos o

mínimo e o indispensável” (VASQUES, 2013, p. 28).

O mesmo fazem as revistas Claudia e Capricho: organizam eventos

direcionados a seu público e, além de atrair verba de patrocínio, reúnem leitores,

cultivando comunidades e grupos de interesse – algo que reforça uma das características

do meio revista. Os eventos são, ainda, uma forma de materializar aquilo que a revista

mostra em suas páginas físicas ou digitais, conforme aconselha Joshua Benton:

Um dos modelos promissores em termos de receita se baseia em eventos – da conferência mais formal aos encontros ou cafés da manhã mais informais. As revistas de negócios sabem há muito tempo que esse é um modo de gerar receita e ampliar a divulgação da marca, mas outrs publicações – de revistas a websites e jornais – estão tendo sucesso em reunir leitores no mundo real e encontrar formas de cobras pela experiência (BENTON, 2011, p. 89).

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Além disso, realizar eventos e potencializá-los nos sites de redes sociais são

ações que os jornalistas da publicação podem fazer a fim de ampliar a capacidade da

revista em reunir fãs, mesmo que eles não estejam fisicamente presentes no encontro.

2.6. Sistematizando modelos

Na tabela que segue (tabela 3), há uma representação dos modelos de negócios

que acabamos de sugerir, respeitando as características do meio revista e da sua

natureza nas plataformas digitais:

Material elaborado pela autora

Conforme sistematizados na tabela, os novos modelos de negócios não podem

perder de vista a essência editorial da publicação, além de levar em conta os atributos do

jornalismo de revista e do webjornalismo e sua narrativa.

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Com a enorme carga de informações que circula diariamente nos meios digitais

é preciso, ainda, diferenciar-se oferecendo serviços e possibilidades inéditas ao leitor/

consumidor. Conteúdo elaborado e exclusivo já é uma das práticas da maioria das

revistas, porém, essa característica precisa ser ampliada e aplicada às versões dessas

publicações nos meios digitais a fim de garantir sobrevivência ao produto – sempre com

o jornalista atuando de forma ativa diante das suas novas competências.

Também é preciso destacar que os números relativos a verbas publicitárias,

circulação e audiência podem não ser mais tão exorbitantes como no passado,

entretanto, o novo mercado que se estabelece no atual ecossistema de mídia pode

apresentar resultados menores, porém, mais efetivos. Isso pode ter relação com o forte

crescente da segmentação (nichos de mercado cada vez mais específicos), o que se

espelha em uma pulverização da verba publicitária – e não, necessariamente, em uma

diminuição de receita para o mercado de mídia como um todo.

O investimento em banda larga de qualidade por parte das empresas de

telecomunicações também se mostra aumentado, implicando em ampliação do acesso à

internet e, consequentemente, na popularização do uso de dispositivos móveis. Essa

tendência de mercado mostra, ainda, a necessidade de adaptação de conteúdo para essas

plataformas, demonstrando que as mudanças e transformações (relativas a modelos de

negócios, conteúdos e práticas jornalísticas) não param por aqui.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Todos publicam. Quem tem competência (e atratividade) se estabelece” José Marcelo Zacchi (2011, p. 79)

Este trabalho se propôs a identificar modelos de negócios e práticas jornalísticas

que podem começar a se estabelecer no mercado de revistas, principalmente no que

tange as versões dessas publicações para plataformas digitais.

Para tal, realizamos uma contextualização histórica do avanço das tecnologias e

sua relação com o campo da comunicação, a fim de demonstrar de que forma as

inovações tecnológicas têm influência direta com a evolução dos meios de comunicação

– incluindo o foco desta pesquisa: as revistas – e suas apropriações. Buscamos

esclarecer, ainda, que no momento atual se constrói um novo ecossistema midiático, no

qual o público tem possibilidade de se colocar no papel de produtor e propagador de

informações e em que as pessoas estão rodeadas de material noticioso em variadas

plataformas ubíquas de comunicação.

Conforme demonstrado, as revistas começaram a se acomodar a esse novo

cenário dedicando-se a nichos de leitores cada vez mais específicos e, ainda,

distribuindo conteúdos em plataformas que vão do CD-ROM até o ambiente on-line,

com o lançamento de sites que, inicialmente, transpunham o conteúdo da versão

impressa para o ciberespaço. Daí em diante, foi questão de adaptação e necessidade

começar a oferecer conteúdo exclusivo na web, com material jornalístico condizente

com o perfil editorial da publicação vendida nas bancas.

Foi neste instante que as revistas se reconfiguraram na produção, na distribuição

e, também, no consumo (NATANSOHN; SILVA; BARROS, 2009), com formas

variadas de apresentação e presença em plataformas digitais: sites com conteúdo

complementar às edições impressas, portais, arquivo impresso em formato digital,

revista digital propriamente dita e versões para dispositivos móveis.

Essas inúmeras possibilidades impuseram novas necessidades mercadológicas,

além de terem estabelecido mudanças na prática jornalística até então vigente nas

redações de revistas impressas.

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Para compreender como essas transformações se instauraram, o modelo

tradicional de negócio das revistas (venda em banca, assinatura e publicidade) foi

apresentado neste trabalho por meio da própria história e evolução deste meio de

comunicação, que, na maioria das vezes, esteve ligado a uma instituição de mídia. Em

seguida, colocamos em discussão as mudanças ocorridas no mercado editorial,

principalmente em função da necessidade de contínua adaptação dessas publicações às

plataformas digitais.

A partir deste momento, a pesquisa aborda a importância de inovações no

mercado de revistas e chama a atenção para a inovação disruptiva, aquela na qual se cria

um novo mercado, atribuindo novos valores aos produtos e serviços (CHRISTENSEN,

2013). Para cumprir um dos objetivos aqui incialmente propostos, expusemos dados de

alguns estudos (Blueprint for Transformation, de 2006, e Creating Breakthrough

Business Models, de 2002) que tiveram a iniciativa de mostrar caminhos possíveis para

que jornais e revistas se mantivessem em um mercado em constante transformação e, ao

mesmo tempo, se adequassem às incessantes novidades tecnológicas.

Assim, determinamos a importância de se localizar oportunidades e desenvolver

soluções, produtos e serviços com cunho inovador e especializado, e que transmitam a

sensação de inédito e, fundamentalmente, necessário, imprescindível, criando

oportunidade de o consumidor pensar em algo do tipo: “Como era possível viver sem

isso antes?”.

Estabelecida essa espécie de inevitabilidade, foram apresentados exemplos de

novos modelos de negócios em comunicação (alguns deles já considerados como

“padrão”, inclusive), com o intuito de mostrar as alternativas das instituições de mídia e

profissionais independentes para atender às demandas do mercado (e aos desejos do

consumidor), incorporar as tecnologias e buscar fontes de receitas variadas em um

ambiente no qual o público se acostumou a ter acesso gratuito. Dentre os modelos

comentados, estão: paywall (pagamento pelo conteúdo on-line) e seus desdobramentos,

conteúdo e publicidade social (material passível de compartilhamento em sites de redes

sociais), agregadores de notícias (sites que reúnem conteúdos de outros sites e/ ou

blogs), crowdfunding (produção de conteúdo mediante doações financeiras) e startups

(pequenas empresas em atividade como alternativa às grandes instituições de mídia).

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Em seguida, foram elencadas iniciativas já realizadas por revistas nacionais e

que se adequam às características de novos modelos de negócios, tais como organização

de eventos, realização de prêmios, licenciamentos, aplicativos, utilização de

merchandising e, até mesmo, clubes privados para leitores. Pudemos notar que, em sua

maioria, as verbas das ações ainda advêm de patrocínios e publicidade, no entanto,

estabelecem-se como novidades para o consumidor, agregando valor à revista, seja em

sua versão impressa, seja em sua versão on-line.

As transformações que vêm acontecendo no campo da comunicação não só

abalam as estruturas tradicionais de negócios, como também provocam uma reviravolta

no mercado de trabalho do profissional do jornalismo. Mudanças sempre foram

absorvidas pelos jornalistas. Quem nunca assistiu a cenas clássicas em filmes antigos ou

de época que mostram jornalistas em redações encobertas pela fumaça dos cigarros e o

barulho irritante das “aposentadas” máquinas de datilografia? Hoje, além dos

computadores – e das leis antifumo! –, as redações são ambientes nos quais os

jornalistas precisam ser multitarefas.

Conforme Figaro (2013), é exigido deles o domínio de variados meios e

linguagens. Além disso, espera-se dos jornalistas habilidades em multiplataformas,

conhecimento de atuação em redes sociais e maturidade intelectual para selecionar e

organizar um número crescentemente abundante de informações disponíveis. Lidar com

um público cada vez mais atuante, engajado e disposto a produzir informação e,

também, a propagar conteúdos é outra necessidade que vem se consolidando, já que é

necessária a existência de um facilitador ou intérprete das notícias, tendo em vista o

espaço amplo que vêm adquirindo os cidadãos comuns em canais de comunicação.

Também pudemos concluir que os jornalistas precisam “pensar

computacionalmente” (PEARSON, 2009), contraindo conhecimentos relativos à

programação, principalmente com o advento e disseminação do jornalismo de dados.

Expandir sua capacidade para negócios também passa a ser uma conveniência, tendo em

vista o aumento de iniciativas independentes na área da comunicação.

Com base nessas proposições, foi realizado um estudo de caso de Veja.com (site

da maior revista brasileira) e suas versões para tablets e smartphones, com o objetivo de

mostrar como uma publicação nacional está adotando as novas práticas jornalísticas e,

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também, seus atuais modelos de negócios. Para isso, foram expostas as características

essenciais do jornalismo de revista, bem como do webjornalismo e sua narrativa

multimídia, com o suporte de autores renomados nessas áreas.

Com a descrição de Veja.com e tendo como esteio os conceitos apresentados, foi

possível notar aspectos relacionados ao webjornalismo e à narrativa multimídia no site

da publicação, tais como memória, personalização, interatividade, instantaneidade,

hipertextualidade e multimidialidade/ convergência. Ao mesmo tempo, foram

encontrados atributos do jornalismo de revista em Veja.com: o design segue o projeto

gráfico da edição impressa, assim como a linha editorial, e seus especiais apresentam

textos analíticos, mais complexos. O site também funciona como uma plataforma para a

venda de assinaturas e a presença da revista em redes sociais a aproximam do leitor.

Após as explanações e análises de todos esses contextos com base em

pesquisadores de cada área que abrange este estudo, entendemos que o objetivo foi

concluído, culminando no que se espera do futuro próximo das revistas, tanto no que se

refere às práticas jornalísticas, quanto aos modelos de negócios.

Os próximos passos incluem a necessidade da busca por novas alternativas de

negócios e adaptações dos profissionais, compreendendo que não basta apenas aderir às

tecnologias sem dar atenção às novas exigências do conteúdo e práticas jornalísticas.

As sugestões de novos modelos de negócios para as revistas em plataformas

digitais aliadas aos atributos essenciais do jornalismo de revista e às características do

webjornalismo e sua narrativa, levando em consideração os conceitos que envolvem a

sociedade em rede, se materializaram no seguinte cenário:

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Material elaborado pela autora

Esses argumentos devem respeitar os princípios editoriais e as características

essenciais da publicação, levando em consideração uma prática jornalística atual e ativa,

o novo ecossistema de mídia e o fato de que os nichos de mercado são cada vez mais

específicos – o que decorre na distribuição mais pulverizada da verba publicitária.

Ressalta-se que essas alternativas propostas pela pesquisa não pretendem ser a

resolução cabal para as adversidades que têm se manifestado no campo da comunicação

nos últimos anos, entretanto, apontam caminhos que podem ser perseguidos para a

construção de um mercado de comunicação ainda mais complexo e com condições de

absorver todas as inovações já existentes e em constituição.

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ANEXO

Entrevista com Carlos Graieb, executivo da revista Veja:

Em que momento e circunstância foi criado o site da revista?

O site foi criado em 1997, e passou por diversas mudanças desde então. A última grande reforma aconteceu em 2010. Foi um investimento para que VEJA pudesse ganhar contornos mais claros como um “produto digital” e desenvolver na internet uma presença equivalente à que tem no mundo das publicações off line.

Quais diferenças podem ser encontradas entre as versões do site de quando ele foi criado e de hoje em dia?

Como eu disse, o site tem uma longa trajetória. Mas a mudança de 2010 foi mesmo uma ruptura, e serve para dividir a história em um antes/depois. As mudanças mais significativas foras as seguintes: ampliação da equipe, que triplicou de tamanho; adoção de uma dinâmica 24/7; criação de um novo layout e de um CMS próprio, adequado às necessidades de um site de notícias que buscava um crescimento acelerado da audiência.

A que você atribui essas diferenças?

Antes da reformulação do site, houve uma longa discussão estratégica envolvendo a cúpula da Abril e de VEJA. Ali foi dada a diretriz: o site deveria se posicionar entre os maiores do segmento notícias, tendo como diferenciais a oferta de análise e contextualização dos fatos – que são atributos da “nave mãe”, a revista.

De que maneira é conduzido o trabalho dos jornalistas tanto na redação da revista como na redação do site?

São, hoje, redações independentes. A revista tem um processo de fechamento muito bem definido, nesta sequência: repórter, editor, editor executivo (e eventualmente diretor de redação, para amarelas, reportagens de capa ou quaisquer outras que ele decida fechar). Depois disso vem ainda dois passos cruciais para o controle de qualidade, a checagem de informações e a revisão de texto, feitos por equipes específicas. O site trabalha em turnos, para que todos os períodos, inclusive a madrugada, possam ser cobertos. Por isso, nem sempre é possível submeter uma reportagem a tantas leituras. Idealmente, um texto chamado em manchete passa pelas seguintes instâncias: repórter, editor de seção, editor de home e checagem. Dependendo do horário, vai do repórter diretamente para o editor de home. Na madrugada, dois plantonistas redigem e publicam seus próprios textos, com o compromisso de que um fará a releitura do trabalho do outro à cata de erros. É um ambiente onde é muito mais difícil manter a unidade de tom e acabamento encontrada na revista. Melhorar a qualidade final da redação é um desafio permanente.

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Existe algum tipo de integração de conteúdo e de profissionais na revista e no site?

Explique o modelo de produção jornalística. O site reproduz parcialmente nos fins de semana três ou quatro reportagens da revista. É isso o que ocorre sistematicamente. Fora isso, o site produz eventualmente textos para o papel ou cede repórteres para apurações especiais. Repórteres e editores da revista costumam oferecer colaborações ao site quando percebem que a informação não vai chegar inédita ao fim de semana, e também quando viajam. Alguns têm programas em vídeo. Não existe neste momento, portanto, uma política de integração de conteúdo.

A direção e/ou chefia busca proporcionar um ambiente harmonioso entre ambas as redações? Explique.

Não tem sido necessário arbitrar ou administrar conflitos. Sempre que os editores da revista reconhecem ter em mãos uma apuração que não vai sobreviver até o fim de semana, encaminham ao site. E o site sugere à revista entrevistas com grandes personalidades que eventualmente tenha conseguido, e outros tipos de colaboração. Não é uma troca intensa, mas ocorre sem nenhum stress.

Existe interesse em integrar ambas as redações? Você vê a integração de redações de diferentes plataformas como uma tendência de modelo de negócio atualmente?

Há uma discussão permanente sobre esse assunto. Não há dúvida que é um caminho para cortar custos. Mas há riscos nessa estratégia, sobretudo para a revista. E é preciso tomar muito cuidado antes de expor um produto bem sucedido como VEJA ao risco. De todos os meios impressos, creio que a revista semanal é o mais difícil de traduzir para a internet. A reportagem da internet pode ser uma primeira versão ou um laboratório para aquilo que o jornal vai mostrar no dia seguinte. O fluxo de fechamento da revista mensal deixa o jornalista mais livre para eventualmente produzir para um site. A rotina da revista semanal é pesada, porque é preciso acompanhar de perto vários assuntos antes de fazer a seleção final daquilo que vai para a gráfica. Além disso, há um compromisso com a exatidão, com a análise, com a qualidade do texto e do acabamento, que não pode jamais ser quebrado. Costumo dizer que qualquer legenda de uma revista como VEJA leva uma semana para ser feita – o que é um exagero, mas não uma completa inverdade. O timing do jornalismo de internet e de revista semanal é conflitante, e isso é algo que sempre esteve na balança.

O conceito editorial da revista é o mesmo que deve ser seguido pelo site?

A revista é o ponto de referência do site para os grandes assuntos de política, economia, sociedade e cultura. O ponto de vista é o mesmo.

Existe diferenciação ou restrição de conteúdos que podem ou não entrar em cada um dos produtos (revista ou site)?

Não. Como costuma dizer o Euripedes Alcântara, diretor editorial do grupo VEJA, o que importa ê o tratamento que você da a um assunto - o seu esforço para entender o que há por traz de um fenômeno, as suas consequências, a maneira como ele influi na vida do nosso leitor.

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Há orientações específicas para os tipos de textos a serem utilizados no site ou na revista? Quais?

Não.

Existe uma preocupação em se ter o produto como único, mesmo com a presença em multiplataformas digitais?

Depende do que se entenda por único. Se for no sentido de manter os atributos essenciais de credibilidade, qualidade de apuração e acabamento, além de um ponto de vista bem estabelecido sobre as principais áreas do noticiário, a resposta é positiva.

Há preocupação em integrar o layout da revista impressa e de suas versões on-line?

Discute-se a criação de uma identidade visual mais forte nas diversas plataformas. Mas isso não significa integrar layout, porque a navegação em computadores, tablets e smartphones tem regras próprias de eficiência, usabilidade etc.

Quando a revista passou a ter versão para tablets? Há conteúdos diferenciados para esta plataforma? Quais? Como eles são produzidos?

Em 2010. Foi uma pioneira no Brasil. Toda edição é redesenhada para o tablete. Alguns conteúdos são específicos - especialmente videos e gráficos. Tem havido também diversas edições especiais só para tablet.

A revista tem conteúdos específicos para celulares? Como eles são produzidos?

O site tem um aplicativo para celular e o da revista vai sair em breve. Mas não há conteúdo especifico.

É possível perceber se o leitor identifica a revista e o site de modos diferentes?

Temos algumas pesquisas qualitativas, cujos dados usamos com cautela. Elas indicam que o leitor compreende que são meios com dinamicas diferentes, conteúdos diferentes, mas uma mesma linha editorial (aquilo que tenho chamado de “ponto de vista”)

Há ainda como saber se a revista e o site têm públicos diferentes?

Não posso divulgar números, mas há uma parcela bastante significativa dos leitores da revista que hoje também consulta o site de maneira habitual. O público do site é um pouco mais jovem e um pouco mais masculino do que o da revista.

Como funciona a interação da revista/ site com os leitores?

Falo sobre o site: essa é uma das áreas que mais temos de aprimorar. Nosso mecanismo de comentários é rudimentar, e permite apenas que o leitor deixe seu comentário. Há ferramentas muito mais sofisticadas hoje em dia, e exemplos notáveis de utilização dos comentários dos leitores. Cito o Huffington Post, que “gamificou” sua área de comentários, valorizando os usuários mais frequentes, os comentários mais bem escritos

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ou de maior repercussão (seja no próprio site, seja nas redes sociais) e assim por diante. O site da VEJA SP vem tentando adaptar alguns desses conceitos para uso próprio – e estamos tentando aprender com a experiência deles.

Como a publicação como um todo utiliza as redes sociais para interagir com seus leitores?

Embora não haja muita interação dentro do site (uma “rede” própria, por assim dizer), VEJA é um exemplo muito bem sucedido de uso das redes sociais. No nosso segmento, estamos entre os líderes em seguidores nas principais redes sociais – Facebook, Twitter e G+. Temos dois editores bastante voltados a isso, Jadyr Pavão Jr. e Rafael Sbarai, que interagem com os leitores, analisam as métricas e buscam novas oportunidades – como a criação do aplicativo GeoSocial, que nasceu dentro da redação.

Além de interação, para quais outras finalidades se utilizam as redes sociais?

Fazemos monitoramento permanente de reputação da revista e do site. Usamos tecnologia para saber o que estão falando de nós.

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