Revolução Feral e outros ensaios

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  • 8/9/2019 Revoluo Feral e outros ensaios

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    Feral Faun

    Roube de Volta

    sua Vida

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    Economia - O domnio da sobrevivncia sobre a vida - essencial para a manuteno de todas as formas dedominao. Sem o perigo da escassez, seria difcil coagir aspessoas a obedincia da rotina diria de trabalho erecompensas. Nascemos em um mundo economizado. Ainstituio social da propriedade tem feita da escassez umaameaa cotidiana. A propriedade , seja privada ou comunal,separa o individuo do mundo, criando uma situao na qual,no lugar de simplesmente algum pegar o que quer ou oque precisa, este algum provavelmente necessitaria depermisso, uma permisso geralmente concedida apenas naforma de troca econmica. Desta maneira, diferentes nveisde pobreza so garantidas para cada um, mesmo para orico, porque sob o domnio da propriedade o que a um no permitido obter supera o que para algum permitido ter.A dominao da sobrevivncia sobre a vida mantida.

    Aqueles de ns, que desejamos criar nossas vidascomo nossa reconhece que esta dominao, to essencialpara a manuteno da sociedade, um inimigo quedevemos atacar e destruir. Com este entendimento, o rouboe squats (locais abandonados que foram ocupados etransformados em moradias e ou espaos sociais auto-geridos) pode tomar uma parte significante de um projetode vida insurgente.

    Assistncia social, se alimentar em sopes decaridade, Dumpster diving ( coletar alimentos em fins defeira por exemplo. N do T) ou pedir doaes pode permitirque uma pessoa sobreviva sem um emprego fixo, mas denenhuma maneira isso atacaria a economia, ainda estdentro da economia. O roubo e o squat so muitas vezes

    meramente tticas de sobrevivncia. Squatters que exigeme reivindicam o "direito a um lar" ou tentam legalizar seussquats, ladres que trabalham em seu "emprego" comoqualquer outro trabalhador, apenas para acumular maismercadorias insignificantes - estas pessoas no teminteresse em destruir a economia... eles meramente queremuma parte satisfatria de seus bens. Mas aqueles queocupam e roubam como parte de uma vida insurgente,fazem isso , portanto, em desafio a lgica da propriedade

    econmica.

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    Recusar aceitar a escassez imposta por esta lgicaou se curvar as demandas de um mundo que no criaram,tais insurgentes tomam aquilo que eles desejam, sempreque a possibilidade surge, sem pedir a permisso deningum. Neste desafio a sociedade do poder econmico,toma-se de volta a abundancia do mundo como sua - e isto um ato de insurreio.

    Para manter o controle social, as vidas dos indivduosdevem ser roubadas sempre. E no lugar da vida, recebe-se asobrevivncia econmica, a tediosa existncia do trabalho eda recompensa. No podemos comprar a nossa vida devolta, nem pedi-la que seja doada de volta. As nossas vidas

    s sero nossas quando as roubarmos de volta - e issosignifica tomar o que queremos sem pedir permisso.

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    Para Acabarcom a

    Economia doAmor

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    " Amor de todas as coisas Integral Beleza; notem dio ou possessividade... Ento aceite oamor onde quer que o encontre: difcil dereconhec-lo por que ele nunca pergunta." -Austin Osman Spare

    Amor sexual, prazer ertico, a fonte do xtase semlimites, a expresso da divindade infinita em nossos corpo. a muito criativa energia do cosmos. Quando essa energiaflui atravs de ns sem represso, ns vamos estando emamor, desejando compartilhar prazer ertico com todo ocosmos. Mas raramente ns experienciamos esta energiasem fronteiras. Junto com as barreiras da cultura da

    mercadoria, o amor tambm uma mercadoria. Umaeconomia do amor foi desenvolvida, e essa economiadestri a livre circulao do prazer.

    A economia do amor s pode existir por que o amorest escasso. Quando crianas, somos selvagens, amantesdivinos apaixonados por ns mesmos e com todos os outrosseres. Mas nossos pais roubam isso de ns. Eles negam anatureza sexual de seu amor pelas crianas e vendemexpresses de amor em troca de um comportamentoaceitvel. Eles punem ou reprimem-nos por umcomportamento descaradamente sexual, chamando isso demau. Eles julgam-nos e ento ensinam a julgar a nsmesmos. Ao invs de amar a ns mesmos, ns nos sentimosobrigados a provar a ns mesmos -- e falhamossuficientemente para nunca ter certeza da gente. O amorcessa de ser um presente do cosmos e se torna umaescassa, e altamente valorizada mercadoria pela qualdevemos competir.

    A competio pelo amor-mercadoria muda a gente.Ns perdemos nossa expontaneidade, nossa livre ebrincante expresso natural. No adianta agir comorealmente nos sentimos. Devemos fazer-nos desejveis. Sens somos bonitos pelos padres culturais, ns temos umagrande vantagem, pois a aparncia a maior parte do queproduz uma desejvel mercadoria sexual. Mas h outrostraos uteis -- fora, destreza sexual, "bom gosto",

    inteligencia, perspiccia reluzente. E, claro, conhecimento

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    de como jogar os jogos scio-sexuais. O melhor ator ganhanesses jogos. Sabendo como colocar a imagem certa,sabendo exatamente com qual papel atuar em qual situao-- isso ir comprar para voc amor-mercadoria. Mas ao preode perder voc mesmo.

    Poucas pessoas tem atratividade fsica e habilidadeem jogar os jogos scio-sexuais ao mesmo tempo. Entosomos deixados sem amor exceto em raras ocasies. No nenhuma surpresa que quando essas ocasies chegam nsno deixamos elas flurem naturalmente, mas procuramosse segurar nelas, estender elas. Quando o amor mercadoria, ele no mais se presta ao relacionamento livre,

    por que o fluir para longe de um amante em particularcomea a significar o fim do amor em si. Ao invs de serelacionar livremente, ns buscamos construirrelacionamentos - fazendo relaes permanentes,solidificando isso num sistema de troca no qual amantescontinuam a vender amor entre eles at, em algum ponto,um deles se sente trado ou encontra um relacionamentoeconmico por causa do medo de perder o amor - e tendode ir atravs de todo o processo de ganhar amor, tudo de

    novo.E relacionamentos -- sendo uma expresso do amor-

    mercadoria -- so normalmente concebidos para seremmonogmicos. Ns no queremos perder nosso amor paraoutro. Se ns no concordarmos em somente vender nossoamor entre ns, no poder nosso amante encontrar umproduto melhor, um amante que ele preferir a ns, e nosdeixar? E ento o medo induzido pela escassez do amorajuda a criar instituies que reforam essa escassez.

    Algumas pessoas no escolhem o caminho dosrelacionamentos. Eles quererem provar a eles mesmos queso verdadeiras e desejveis mercadorias. Ento eles setornam conquistadoras sexuais. Eles querem marcar pontosna arena da conquista sexual. Eles no ligam de partilharprazer. Eles s querem criar uma imagem. E aqueles quefodem com eles, fazem isso pelo status tambm. Para essaspessoas, o xtase da total partilha foi completamente

    perdido para a economia do amor. Isso a contagem e s

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    isso vale. Para fazer as mercadoria mais valiosas, aeconomia do amor criou especializao sexual. claro, anfase cultural na masculinidade ou feminilidade no lugarde nossa natural androgenia o principal aspecto. Mas osrtulos de preferncia sexual, quando feitos permanentesautodefinies, so tambm parte disso. Definindo a nscomo gay ou htero, ou bissexual, como pedfilo oufetichista ou qualquer outra forma limitada, ao invs dedeixar nossos desejos fluir livremente, ns estamos fazendoum produto especializado de ns mesmos e entoreforando a escassez do amor.

    Quando o amor se tornou uma mercadoria ele cessou

    de ser amor de verdade pois Eros no pode ser acorrentado.O amor deve fluir livremente e facilmente sem preo e semexpectativas. Quando o amor mercadoria, ele cessa deexistir pois os amantes cessam de existir. Desde quedevemos nos tornar produtos desejveis, ns reprimimosnossos eus-verdadeiros para dar lugar aos papis que nossacultura ensina para fazer-nos desejveis. Ento mscarabeijando mscara, imagem acariciando imagem -- masnenhum amante real a se encontrado em lugar algum.

    Se estamos para experienciar a infinita energia doamor sexual, a divindade selvagem de nossos corpos emxtase, ento devemos libertar-nos da economia do amor.Devemos jogar fora todo aspecto desta casca sem vida quenossa cultura passa como amor. Pois em lugar algum destereino as alegrias selvagens do prazer sem limites podem serexperienciadas.

    Mas para se libertar da economia do amor, o amor

    deve cessar de ser escasso para ns. Enquanto o selvagemcosmos est cheio de amantes, a cultura da mercadoriaroubou isso de ns. Ento somos deixados com um caminhopara libertar-nos da escassez do amor. Precisamos aprendera amar a ns mesmos, a descobrir em ns mesmos togrande fonte de prazeres que camos de amor por ns. Almdisso, no o meu corpo a fonte de prazer que eu sinto emamor? No minha carne, meus nervos, minha pele asvastas galxias na qual a energia sem limites flui? Quando

    aprendemos a estar em amor com ns mesmos, descobrir

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    em ns uma fonte de prazer ertico sem fim, o amor nopoder ser escasso para ns. Para ns, teremos sempre ans mesmos como amante.

    E quando amamos a ns mesmos, a alegria semlimites de Eros ir fluir em ns transbordando adiantelivremente. Ns no agarraremos o amor por necessidade,mas ns livremente partilharemos nossa vasta energiaertica com cada ser que se abrir a isso. Nossos amantessero homens e mulheres, crianas, arvores e flores,animais, montanhas, rios, oceanos, estrelas e galxias.Nossos amantes estaro em todos os lugares, pois nsmesmos somos amor.

    Como poderosos deuses do amor, ns entopodemos vagar pela terra como heris fora da lei, porhavermos escapado da economia do amor, ns temos afora de se opor a todas as economias. E ns notoleraremos essa cultura onde nossos amantes soabusados, escravizados e ameaados, mortos eaprisionados. Com toda a poderosa energia do amor, nsquebraremos cada corrente e tomaremos de assalto asbarreiras at elas carem e todos que amamos forem livres.E ento terminar a longa, tenebrosa dominao daeconomia, a dana da morte da civilizao.

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    A Libertaodo Movimento

    Atravs doEspao

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    O tempo um sistema de medida, ao qual se podenomear, dirigente e autoritrio. Existe uma razo pela qualdurante muitas insurreies, os relgios foram esmagados eos calendrios queimados. Houve a um reconhecimentosemiconsciente por parte destes insurgentes de que taisartefatos representassem a autoridade qual eles serebelaram assim como os os reis ou presidentes, a lei ou ossoldados. Mas no entanto no demorou muito para quenovos relgios e calendrios fossem criados, j que dentrodas cabeas de ditos insurgentes o conceito do tempo aindagovernava.

    O tempo uma construo social que usada para

    medir o movimento atravs do espao, de modo a control-lo e anex-lo a um contexto social. Assim sejam osmovimentos do sol, da lua, estrelas e planetas nofirmamento, os movimentos dos indivduos sobre osterrenos em que andam, ou os movimentos de eventossobre os artifcios conhecidos como dias, semanas, meses eanos, o tempo a forma com a qual estes movimentos soatadas a uma utilidade social. A destruio do tempo essencial para a libertao do indivduo do contexto social,

    libertao de indivduos como uma entidade consciente,autnoma e criadora de sua prpria vida.

    A revolta na contramo do tempo no nada se nofor uma revolta na contramo da dominao do tempo navida diria. Esta, chama para uma transformao damaneira na qual algum se move atravs dos espaos quevai encontrando. O tempo domina nosso movimento atravsdo espao como um recurso necessrio para chegar a umdestino, um itinerrio, uma pontuao. Enquanto o contextosocial o qual produziu o tempo como um recurso de controlesocial continua existindo, duvidoso que algum de nspossa ser capaz de completamente erradicar os destinos,itinerrios e pontuaes de nossas vidas. No entantoexaminar cuidadosamente como esta maneira de interagirafeta a forma em que algum se move atravs do espao,poderia ajudar algum a criar por si mesmo um movimentomais consciente. O mais notvel efeito de ter que chegar algum lugar (um destino), especialmente quando algumtem que estar neste destino em certo tempo (itinerrio/

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    pontuao), a falta de conhecer o terreno sobre onde semove. Tal movimento tende a ser um tipo de caminhar-dormindo do qual o indivduo no cria nada, j que odestino e o itinerrio pr-criam a travessia e a definem. esteAlgum s consciente de seus arredores e como elesafetam no mnimo de extenso necessrio para chegar ondevai. Eu no nego que a maioria dos ambientes atravs doqual algum se move, especialmente num ambiente urbano,podem ser perturbantes e desagradveis, fazendo nossainconscincia esttica implorar, mas esta falta deconscincia causa o perder de muitas oportunidades desubverso e jogar com aquilo que de outra maneira criado.

    Subverter o prprio movimento atravs do espao,fazendo isto da sua prpria maneira, livre das ataduras dotempo, s questo de converter tal movimento a ummovimento preferencialmente nmade que antestransportar-se a si mesmo. O movimento nmade faz umadivertida (ainda que sria) explorao do terreno sobre oqual algum vai passando, o aspecto essencial da travessia.O caminhante interage com os lugares pelos quais vai

    passando, conscientemente mudando e sendo mudado poreles mesmos. O destino, ainda que este existe, de mnimaimportncia, j que este tambm ser um lugar pelo qualvai passar. Assim ento, conforme esta forma de movimentoatravs do espao se converte num habito pessoal, podetambm realar a sabedoria do mesmo, permitindo-lhe seconverter menos dependente dos destinos pr-traados, deitinerrios, pontuaes e outros grilhes que impe a regrado tempo sobre nossos movimentos. Parte do refinamento

    da sabedoria nmade dentro do atual contexto dominado a habilidade de aprender a criar formas de atuar sobretempo, subvert-lo e us-lo contra ele mesmo para ampliaro livre andar prprio.

    Um modo radicalmente diferente de experimentar avida ocorre quando conscientemente criamos tempo parans mesmos. Por causa dos limites de uma linguagemdesenvolvida dentro deste contexto social de tempo-domado, esta maneira de experimentar a vida comumentereferido em termos temporrios tambm, mas como um

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    tempo subjetivo, como em: A vez quando estavaescalando o Monte Hood Mas talvez no preferiria referir-se a este como um tempo subjetivo j que no temnenhum propsito compartilhado com o tempo social. talvez prefervel chamar de uma experincia nmade.Dentro da experincia nmade, os cumes, os vales eplancies no so criados em ciclos constantes emensurveis. So interaes passionais do tipo que podemconverter um momento a uma eternidade e nas semanassubsequentes uma mera piscada. Nesta apaixonantetravessia, o sol nasce e repousa no entardecer, a luaresplandece e mngua, as plantas florescem carregam frutose se murcham mas no em ciclos que se possam medir.

    Em vez disso, algum poderia experimentar esteseventos em termos passionais e de interao criativa comeles. Sem nenhum destino real que defina o movimentoprprio atravs do espao, e ao mesmo tempo, o tempolinear se volta sem sentido. Uma experincia nmadesempre esta fora do tempo, no num sentido mstico, masem reconhecer que o tempo a mistificao do movimentoatravs do espao e que como toda mistificao, usurpa

    nossa habilidade de criar a ns mesmos.Uma muito consciente e divertida investigao

    exploradora de nossos prprios movimentos no espao, denossas prprias interaes com os lugares queatravessamos, a prtica necessria para a revolta contra otempo - nada mais que criar eventos e sua prprialinguagem. At ns comearmos a transformar a nsmesmos em criadores nmades. De outra maneira seseguimos vivendo nossas vidas da mesma maneira que hojeas vivemos, cada relgio achatado e cada calendrioqueimado ser simplesmente substitudo j que o tempocontinua dominando nossa maneira de viver.

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    A SubculturaAnarquista1

    1Esse texto apareceu originalmente no Anarchy: A Journal of Desire Armed

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    a ausncia de imaginao necessita demodelos; ela jura por eles e vive somente por

    eles.

    fcil declarar que no existe um movimentoanarquista na Amrica do Norte.

    Essa declarao libera algum de ter que examinar anatureza desse movimento e de qual a funo desse algumnele. Mas uma rede de publicaes, livrarias, arranjosdomsticos anarquistas, squats e correspondncias

    conectando aqueles com perspectivas anti-estadistascertamente existe. Isso se cristalizou em uma subculturacom seus costumes, rituais e smbolos de rebelio. Maspode uma subcultura criar indivduos livres capazes de criaras vidas que eles desejam? A subcultura anarquistacertamente no pode. Eu espero explorar o porqu nesseartigo.

    A subcultura Anarquista certamente abrangeatividade aparentemente rebelde, explorao histrica,

    anlise social (teoria), jogo criativo e exploraes em auto-libertao. Mas essas no existem como uma prticaintegrada com o objetivo de entender a sociedade e abrirpossibilidades para que criemos nossas vidas para nsmesmos, mas sim como funes sociais, queocasionalmente se sobrepem, mas na maioria das vezes seseparam, que funcionam principalmente para se mantereme para manter a subcultura que as criam, que emcontrapartida elas criam.

    Militantes politicamente corretos dominam a aoradical nessa subcultura. Eles negam a necessidade daanlise social. Afinal, os assuntos j foram traados pelosliberais de esquerda - o feminismo, liberalismo gay, anti-racismo, libertao animal, ecologia, socialismo, oposio guerra - adicione uma pitada de anti-estadismo e, por deus, o anarquismo! Bem, no mesmo? Para garantir queningum possa duvidas de suas credenciais anarquistas, osmilitantes anarquistas iro certamente gritar o mais alto emmanifestaes, queimar algumas bandeiras e ficaro

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    preparados para lutar com alguns policiais, fascistas eoutros de partidos de esquerda sempre que possvel. O queeles no iro fazer analisar suas atividades ou suasfunes como militantes para verem se eles estorealmente minando de alguma forma a sociedade ou se elesesto apenas representando suas leais oposies,reforando-as ao reforar o papel de dentro de seus papisde dentro de seu espetculo. Suas recusas de anlise tmpermitido que muitos deles se iludam em acreditarem quefazem parte de um movimento em massa de rebelio quedeve ser convertido para o anarquismo. Mas no existe talmovimento em massa neste continente, e as atividades dosmilitantes so apenas uma vlvula de escape em rituais deoposio que apenas refora os seus lugares na subculturaanarquista.

    Historiadores anarquistas so em sua maioriaprofessores, editores e operadores de livrarias, interessadosem manter informao disponvel sobre a histriaanarquista. A maioria dessas pessoas bem-intencionada,mas elas falham em aplicar anlise crtica nessas histrias.A vasta maioria do material histrico anarquista parece

    servir ao propsito de criar mitos, criar heris, mrtires emodelos para imitar. Mas todos esses modelos falharam emcriar mais do que situaes anrquicas temporrias. Issodeveria, pelo menos, levar a um questionamento de como eporque eles falharam que vai alm da afirmao simplistade que eles foram esmagados pelas autoridades. A falta detal anlise deixou a histria anarquista amplamenteinutilizvel para apresentar lutas contra autoridade, e emvez disso tornando-se a mesma coisa para a subcultura

    anarquista do que a histria da corrente predominante para a sociedade, um mito que mantm a ordem atual dascoisas.

    Alguns teoristas anti-autoritrios tm atacadointelectualmente as estruturas mais bsicas da sociedadede uma forma que revela seus papis em nossadomesticao. O exame dos teoristas dessas coisas atlevou a alguns deles abandonarem o rtulo anarquista,apesar de que suas rejeies de autoridade e conexo coma subcultura pelos seus textos e suas amizades continuam

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    com seus papis dentro dela. E por toda a profundidade desuas exploraes intelectuais, um certo nvel de recusa detrabalho, roubos e um pequeno vandalismo parecem ser asoma de suas prticas. Pelo fato de que eles no exploramformas prticas de expressarem rebelio contra a totalidadeda dominao reveladas por suas crticas, essas crticasperdem sua caracterstica de vanguarda como teoria radicale se parecem mais com filosofia. No mais sendo umaferramenta de rebelio ativa, seu pensamento ao contrriose torna em um modo de definir a vanguarda intelectual dopensamento anarquista, um modo pelo qual se determina seuma idia radical o suficiente. Deste modo, a funo dointelectual perpetuada na subcultura anarquista.

    Jogos criativos tambm foram especializados dentroda subcultura. Esquecendo a crtica que pede pelasubstituio da arte por jogos espontneos, criativos e livrespor todos, artistas postais, artistas de performance e anti-artistas reivindicam essa categoria como sendo deles,destruindo a espontaneidade e a liberdade, e valorizando aatividade como arte. Muitas das atividades dessas pessoas -festivais, leituras de poesias selvagens, sesses ruidosas de

    improvisao e teatro interativo - podem ser bem divertidase valem a pena participar delas nesse nvel, mas,enquadrando-as como arte, seu apelo subversivo seembota. Ao valorizar a criatividade, esses artistas fizeramser mais importante ser criativo do que se divertir, ereduziram suas crticas ao nvel de se algo pode ser utilizadopara criar arte. O processo criativo recuperado na formade trabalho produtivo fazendo trabalhos de arte. Jogar transformado em performance. Atos de fazer rodeios

    tornam-se espetculos em shows de arte postal. Asubverso recuperada pela sociedade como arte.Ignorando o fato que a arte uma categoria social ecultural, artistas anrquicos afirmam que arte ope-se cultura, mas suas atividades criam para eles a funo detrabalhadores culturais dentro da subcultura anarquista.

    Quando os situacionistas disseram que a prticarevolucionria precisava se tornar teraputica, eles nofaziam idia de que certos anarquistas norte-americanosencontrariam formas de unir essa e outras idias

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    situacionistas semi-digeridas em psicoterapias de new age -mas, nossa, aqueles Ianques (e Canadenses) certamenteso inventivos, no so? Terapias "new age" vieram subcultura anarquista amplamente pelos movimentosfeministas, de libertao gay e movimentos relacionados. Arazo dada em praticar essas terapias o auto-descobrimento e a auto-libertao. Mas todas aspsicoterapias - incluindo aquelas dos psicologistashumanistas e da terceira fora - foram desenvolvidas paraintegrar as pessoas na sociedade. Quando os feministas, osliberacionistas gays e grupos similares comearam a utilizartcnicas teraputicas, isso ajudou a integrar indivduos emuma estrutura comum pela qual eles iriam ver e agir nomundo. Anarco-terapistas tm adaptado tais prticas comomeditao, terapia de jogos, apoio e espaos separados. Ameditao realmente apenas uma forma de escape, sem odano fsico de beber ou de drogas. Ela ameniza os estressesda vida diria, mantendo-os tolerveis.

    Ela pode, ento, ser til, mas no auto-libertadora.Jogar como forma de terapia, e jogar como arte, perde suavanguarda subversiva. Com seus parmetros definidos, isso

    se torna uma liberao segura, uma vlvula de escape, emvez de um rompimento real com todos os riscos envolvidos.Isso no representa um desafio autoridade ou ticatrabalhista, porque jogar com segurana na estrutura deutilidade produtiva e retira a energia catica que poderia deoutra forma desafiar a autoridade dentro de uma estruturaseguramente ordenada.

    A terapia de grupo de apoio uma formaespecialmente traioeira de auto-decepo. Um grupo depessoas rene-se para conversar sobre um problemacomum, um fardo ou opresso que eles supostamente tmem comum. Essa prtica imediatamente remove o problemada realidade da vida cotidiana, de relacionamentosindividuais e circunstncias em particular, e o coloca narealidade de nossa opresso comum onde poder serento colocada em um enquadramento ideolgico. Gruposde apoio so formados com um propsito particular (se no,para que form-los?) que ir moldar como o grupofuncionar, influenciar as concluses traadas e moldar os

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    participantes na moldura da ideologia do grupo. A criaode espaos separados (somente mulheres, somente gays,etc.) refora as piores tendncias da terapia de grupo deapoio, ao garantir que nenhum elemento externo possapenetrar. Os anarquistas alegremente ignoram asimplicaes autoritrias e de propriedade dessa prtica esua inerente intolerncia, com a desculpa de que a prticade um grupo oprimido. Todas dessas formas teraputicasseparam as pessoas de suas experincias cotidianas e ascolocam em uma realidade teraputica separada ondeeles podem ser prontamente integrados em uma estruturasocial e ideolgica especfica. No caso dos anarco-terapistas, a estrutura da subcultura anarquista e a funoque eles desempenham nela.

    A maioria das pessoas que eu conheci na subculturaanarquista so pessoas sinceras. Eles realmente querem serebelar contra a autoridade e destru-la. Mas eles soprodutos da sociedade, treinados a desconfiar delesmesmos e de seus desejos e a terem medo dodesconhecido. Encontrar uma subcultura com papis queeles possam se adaptar, muito mais fcil cair em um ou

    mais papis em que eles se sintam confortveis, seguroscom o conhecimento que eles so parte de um meiorebelde, do que realmente dar um passo no escuro e vivereles mesmos contra a sociedade. E esses papisanarquistas ligam-se em uma estrutura social e em ummodo de se relacionar amplamente com o mundo que soigualmente essenciais para a subcultura anarquista e quetambm necessitam ser examinados.

    No seria um anacronismo cultivar o gosto porrefgios, certezas, sistemas?

    A estrutura da subcultura anarquista estamplamente centrada em torno de publicar projetos,livrarias, situaes de vivncia coletiva e ativismo radical.Esses projetos e os mtodos de execut-los que reproduzema subcultura criam os mtodos de envolvimento externo

    anarquista. O que eles criam assemelha-se em muitas

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    formas com uma seita evanglica religiosa.

    A maioria dos projetos que fazem parte da estruturada subcultura anarquista so executados coletivamente

    usando um processo de tomar decises por consenso. Sopoucos os projetos de apenas um indivduo queocasionalmente tem a ajuda de amigos. (Na borda dasubcultura existem inmeros projetos de panfletos em quequase todos so projetos individuais.) Eu vou deixar parafazer uma crtica mais detalhada do consenso em um outroartigo. Por agora, suficiente apontar que o processo deconsenso requer a subjugao da vontade individual para avontade do grupo como um todo e a subjugao do

    imediato para a mediao de encontros e processos detomadas de deciso. O consenso tem uma inclinaoinerentemente conservadora, porque ele cria polticas ques podem ser mudadas se todos concordarem com elas. uma autoridade invisvel na qual os indivduos so sujeitos,o que limita a extenso em que questionam o projeto noqual esto envolvidos ou a subcultura anarquista.

    Um grande nmero de anarquistas vive por contaprpria ou com seus amantes. Mas muitos veem aorganizao de uma vivncia coletiva como uma melhorforma, pela simples razo de amenizar as finanas de todos(a razo da qual envolve as poucas iluses), mas maisfrequentemente para criar uma situao viva de apoio emgrupo, para participar mais facilmente em um projetocomum ou para colocar a teoria na prtica. J tendo lidadocom grupos de apoio, eu vou apenas acrescentar que viverjunto em um grupo de apoio tender a exagerar todos osaspectos ideolgicos e isoladores da terapia de grupo deapoio. Uma situao de vivncia coletiva pode certamentefacilitar alguns dos aspectos de compartilhar de um projetoem comum, desde o financeiro at o truque de reunir aspessoas para discutir o projeto. Isso tambm aumenta aschances do projeto se tornar isolador, alimentando-se delemesmo, perdendo a entrada de informaes crticasnecessrias.

    Mas so esses que dizem estar colocando teoria na

    prtica nessas situaes de vivncia que esto praticando

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    o nvel mais alto de auto-decepo.

    Situaes de vivncia em grupo podem serpossivelmente uma base para explorar novas formas de

    relacionar, mas a semi-permanncia em tais situaes tendeem direo a criao de papis sociais e estruturas, e novasexploraes no so o que os grupos domsticos queconheo esto perseguindo. A separao entre teoria eprtica implicada pela frase colocar teoria em prtica evidente na relativa semelhana dessas situaes devivncia. A maioria dos anarquistas acredita que existemcertos princpios que devem governar o modo que aspessoas se relacionam. Em seus coletivos de vivncia,

    trustes de terras e squats, eles tentam viver por seusprincpios. Suas situaes de vivncia no so exploraesde teoria e prtica, mas em vez disso, a submisso deindivduos para uma estrutura social pr-concebida. Essesprincpios no so postos prova nestas situaes, porcausa que o grupo domstico anarquista uma situaoisoladora, um tipo de realidade alternativa no meio domundo. Com a exceo de squats anarquistas - o que, pelomenos, mostram-se um desafio autoridade dos

    proprietrios e de propriedade - estes grupos domsticosrelacionam-se com o mundo de autoridades externas damesma forma de que todos os outros fazem: pagando seualuguel (ou imposto de propriedade) e contas, e trabalhandoou coletando auxlio-desemprego. Estes grupos domsticosno fazem nada, se chegam a fazer, em relao a minar asociedade, mas eles oferecem uma estrutura para aspessoas viverem que mantm suas sensaes de rebeldia ea subcultura os d um lugar seguro para expressar essa

    sensao.Os vrios projetos de publicaes (incluindo

    peridicos) e livrarias so as fontes principais de histria,teoria e informao para a subcultura anarquista. At certoponto, esses projetos tm que se ligarem no sistemacapitalista e ento raramente pretendem ser de naturezarevolucionria. Quando eles so projetos de grupo, eles sogeralmente executados por consenso na suposio absurdade que existe algo anarqustico em passar por reunieslongas e entediantes para trabalhar nos detalhes de

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    administrar um negcio pequeno ou produzir uma revista ouum livro. Mas o aspecto desses projetos que realmente meincomoda que eles tendem a se tornar meios de definir aestrutura de pensamento na subcultura anarquista ao invsde uma provocao para discutir e explorar a natureza daalienao e da dominao e em como destru-las.

    Em sua maior parte essa carncia de provocao inerente no que publicado. A maioria das publicaesanarquistas, sejam elas livros ou peridicos, soreimpresses de textos anarquistas antigos, histrias nocrticas, recultivo de opinies esquerdistas ou com umapequena quantia de anti-estadismo no meio ou

    modernizaes no crticas de idias anarquistasultrapassadas. Tais textos reforam certos padres emodelos do que significa ser anarquista sem questionaresses modelos. At mesmos os textos que se mostramdesafiadores raramente parecem evocar o tipo de discussocrtica e inteligente que poderia ser parte de uma prticaradical estimulante. Em vez disso, eles tambm sotomados como uma fonte de padres, modelos, modos dedefinir os parmetros de revolta. Isso vem, em parte, da

    natureza da palavra impressa, que parece ter umapermanncia que no compatvel com a natureza fluida eviva do pensamento ou da discusso. A maioria dos leitorestm dificuldade em ver alm da palavra escrita a fluidez dopensamento por trs dela. Ento eles reagem como seestivessem se ligando com algo sagrado - tanto o adorandoou o profanando. Nenhuma das reaes me agrada, porqueambas significam que as idias abstratas foram tornadasconcretas, tornaram-se mercadorias no mercado de idias -

    uma imagem reforada pelo fato de que essas idias so emsua maior parte encontradas venda em livrarias.

    Outro aspecto da publicao anarquista apropaganda. Esse o lado das propagandas anarquistas - aprova de que amplamente apenas uma mercadoria nomercado de idias. A maioria da propaganda anarquista uma tentativa de criar uma imagem do anarquismo que atraente para quem que seja que a propaganda estalmejando. Assim sendo, muita dessa literatura parece servoltada em amenizar as mentes das pessoas, provando que

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    a anarquia no to extrema, que ela no desafia pessoas;isso as reassegura, demonstrando s pessoas que elaspodem continuar a terem vidas estruturadas e segurasmesmo aps a revoluo anarquista. J que a maior parte daliteratura anarquista, incluindo a desse tipo, comprada ouroubada por anarquistas, eu me pergunto se isso no apenas uma tentativa de se auto-reassegurarem, e dereforar os modelos que definem a subcultura. As estruturasque fazem a literatura anti-autoritria disponvel poderiamfornecer uma rede para uma discusso desafiante com oobjetivo de criar e manter um costume realmente rebelde,mas em vez disso elas criam um esquema de modelos eestruturas para as pessoas seguirem os princpiosanarquistas pelos quais tantas pessoas se apegamcegamente, o que refora a subcultura anarquista.

    O ativismo radical outro aspecto da imagempblica da subcultura anarquista, especialmente a facomilitante. Ela envolve amplamente a participao emmanifestaes esquerdistas, apesar de que ocasionalmenteos anarquistas iro organizar suas prprias manifestaesem um assunto especfico. Um motivo por trs de muito

    desse ativismo o de levar as pessoas para o anarquismo.Para conseguir isso, os anarquistas precisam se separar deuma entidade definvel e se tornarem atraentes paraaqueles que esto tentando converter. No momento, amaior parte do ativismo parece estar tentando atrair jovens,e particularmente, os jovens punks.

    Ento os anarquistas tendem a ser particularmentebarulhentos e briges em manifestaes, retratando umaimagem de desafio e mostrando que os anarquistassignificam assunto srio. J que outros grupos, como oR.C.P. (Partido Revolucionrio Comunista), tambm ficambriges e desafiantes, os militantes anarquistas tm quefazer com que a distino seja clara, denunciandoestridentemente esses grupos e at entrando brigando comeles - voc meio que tem de se perguntar sobre essesmilitantes anarquistas, se suas aes so to similares aosgolpes Maostas de que eles tm que conscientemente seesforar para se distinguirem. Mas o evangelicalismo no a nica razo pela qual os anarquistas participam nesses

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    rituais de oposio. Muitos participam porque a coisaanarquista apropriada a se fazer. Em suas mentes,anarquista um papel que envolve uma atividade socialespecfica. uma subespcie do esquerdista que briguenta e um pouco mais violenta que a maioria. Isso ospermite separar a anarquia e a rebelio de suas vidascotidianas. Questes como, Essa atividade ajuda a destruira dominao, minar o espetculo e criar vida livre? soirrelevantes j que o anarquismo definido pelaparticipao em atividades militantes, e no pela rebeliocontra tudo o que fica no caminho de nossa liberdade decriar para ns mesmos as vidas que desejamos. Contantoque algum seja ativo em manifestaes do jeito certo, oalgum anarquista, sustentando a imagem e mantendo asubcultura anarquista.

    Apesar de que algumas dessas estruturas -especialmente aquelas que lidam com publicao - tm opotencial de serem parte de um desafio realmenteanrquico para a sociedade, a subcultura anarquista desviasua energia para se manter e reproduzir. A subcultura nosoferecer refgios, certezas, sistemas, tendendo a nos

    fazer cautelosos, nos levando a abraar o conhecido em vezde desafiar o desconhecido. Ento os anarquistas e os anti-autoritrios, pensando serem rebeldes, so na verdade osque definem os limites da revolta e assim os recuperam. Asubcultura anarquista tem minado a anarquia, tornando-aem mais uma mercadoria no mercado ideolgico e assimtornando-se em mais uma categoria da sociedade.

    A questo precisamente se afastar, desviar,absolutamente, da regra; dar um passo da arenacom entusiasmo histrico; para iludir parasempre as armadilhas preparadas pelocaminho...Longa vida ao Impossvel!

    Fazer uma crtica da subcultura anarquistaexaminando alguns de seus papis e de suas funes maisimportantes deixar passar sua falha mais importante - de

    que uma subcultura. Subculturas constituem uma espcie

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    especfica de fenmeno social com traos particulares. Seesses traos conduzissem rebelio, se eles fizessem aspessoas agirem por si prprias, ento poderia ser possvelreformar a subcultura anarquista, mas esses traos naverdade tendem direo oposta. Tm existido tantassubculturas rebeldes, tantos bomios, todos recuperados.Isso indica claramente que existe algo inerente emsubculturas que as impede de representar um desafio real sociedade da qual elas so parte. Deixe-me tentar examinarporque.

    Para que uma subcultura possa existir, seusparmetros devem ser definidos de uma maneira que a

    distingue de outros grupos na sociedade. Pelo fato de umasubcultura no ser uma entidade oficial ou legal, essesparmetros no necessitam estar em qualquer formaprontamente definvel ou oficial. Mais frequentemente, elesso a base, inerentes na natureza da subcultura, consistindode valores compartilhados, ideais compartilhados, costumescompartilhados e de sistemas de relacionamentocompartilhados. Isso significa que a participao em umasubcultura requer um certo nvel de conformidade.

    Isso no exclui os desentendimentos sobre ainterpretao desses parmetros - tais desentendimentospodem ser bem intensos, j que os envolvidos iro ver elesmesmos como os sustentadores dos reais valores do grupo.Mas a ameaa real para qualquer subcultura qualquerindivduo que recusa parmetros.

    Tal indivduo perigoso, sem moral, uma ameaa atodos. O que os parmetros de uma subcultura realmente

    alcanam o seu sistema de moralidade. Eles fornecem ummodo da subcultura se ver como superior sociedade emgeral. Isso ento cria um mtodo para relacionar com outrospela culpa e por sentimentos de superioridade moral, duasdas armas favoritas da autoridade. A existncia e amanuteno de uma subcultura requerem ento de umaautoridade internalizada para se manter.

    A criao de parmetros ir levar a uma intolernciadaqueles que so percebidos como irrecuperavelmente forados parmetros - especialmente se eles so competidores

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    em algum nvel (por exemplo, um partido comunista, umpartido socialista, e similares, para os anarquistas), mastambm leva a uma tolerncia de todos que so percebidoscomo uma parte daquela subcultura. Devido as diferentesinterpretaes dos parmetros da subcultura, discusses ebrigas, algumas vezes at odiosas, so possveis mas aindaexiste uma certa unidade que reconhecida e tende amanter os desentendimentos dentro de uma certa estrutura.Tal tolerncia necessria para manter a subcultura. Elatambm tem o efeito de reduzir tudo a um nvel demediocridade mundana. Os extremos so permitidossomente at onde eles possam ir sem que com isso passema ser um desafio real para a subcultura. Tato, cautela ecortesia so a ordem do dia para manter a unidade dentroda diversidade da subcultura. Conflitos tendem a serritualizados e previsveis. Na cultura anarquista emparticular, raramente existem quaisquer conflitos honestose entusiasmados cara a cara. Em vez disso, as interaescara a cara so de cortesia e do ritual subcultural detolerncia, e com isso so, tanto quanto elas, entediantes.Aprender a relacionar por ritual, por tato, por mscarassociais, nos deixou ignorantes de como relacionarlivremente. Mas dentro desses rituais de tolerncia umasubcultura no pode se manter, porque como a sociedadede forma geral, uma subcultura requer conformidade,harmonia social e a supresso de paixes individuais porsua continuada existncia.

    Ao se relacionar com pessoas de fora, as subculturastendem a optar por ou um tipo de separatismo -minimizando o contado com o mundo de fora - ou um

    evangelismo - tentando conquistar as pessoas para aperspectiva da subcultura. J que a subcultura anarquista decididamente evanglica, com isso que eu irei lidar. Todos os grupos evanglicos, desde os Batistas at ospartidos comunistas, desde os Moonies at a subculturaanarquista, o so porque eles esto convencidos de que elestm as respostas para os problemas essenciais do mundo.

    Convencer os outros disso torna-se um grandemotivador por trs das aes daqueles dentro de taissubculturas. Eles agem e falam de uma forma a apresentar

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    uma imagem de auto-confiana como tambm um tipo desolidariedade com aqueles que eles desejam conquistar. Osindivduos de dentro dessas subculturas no vivem por elesmesmos mas pelo ideal, pela resposta de que eles tm tantacerteza que ir curar todos. Eles vivem, ou tentam viver, deacordo com uma certa imagem, e portanto soconformistas.

    Por causa da natureza das subculturas, a subculturaanarquista s pode existir ao remover a anarquia e arebelio do terreno de nossas atuais vidas dirias etornando-as em idias com papis sociais correspondentes.Ela ir louvar a espontaneidade enquanto define seu

    contedo e, portanto, suprimindo-a. A expresso livre depaixo e de desejos no encorajada, e na verdade,frequentemente o oposto. De dentro de sua estrutura, asubcultura anarquista bem conservadora, sendo suamanuteno a sua prioridade mais alta. Cada novaexplorao e experimentao uma ameaa para suaexistncia e deve ser rapidamente definida, limitada erecuperada por ela. Isso explica ambas as reaes absurdase defensivas de certos anarquistas a exploraes tericas

    mais ousadas, como tambm a tendncia por essasexploraes de se manterem em uma realidade de teoriaseparada sem prtica. Uma subcultura um lugar seguro,para segurana, para encontrar papis sociais e sistemas derelacionamentos pelo qual uma pessoa possa definir elamesma, e no um lugar para exploraes livres e encontraro desconhecido.

    A subcultura anarquista, ento, no pode ser umaexpresso de anarquia e rebelio vivida, mas pode somenteser o modo da sociedade de definir, limitar e as recuperar.Como crianas de uma sociedade, ns todos somos peritosem desconfiar de ns mesmos, em ter medo dodesconhecido, em preferir a segurana do que a liberdade.No de se surpreender que ns camos em atividades quecriam e mantm uma subcultura. Mas j passou da hora dens admitirmos que esse apenas o nosso modo de nosadaptar na sociedade que ns dizemos odiar, de criar umnicho para ns mesmos em sua estrutura. Por que essasubcultura no um desafio real sociedade; ela

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    meramente uma leal oposio na qual suas regras - comotodas as regras - so apenas um sub-sistema das regras dasociedade.

    Ento chegou o momento de jogar ao vento acautela, de divergir absolutamente, como os surrealistasdizem, de todas as regras, para dar um passo da arena dasubcultura anarquista - ou de derrubar a arena. Sempreexistiro aqueles exigindo saber o que ns iremos por emseu lugar, mas a questo exatamente colocar nada emseu lugar. O problema, a fraqueza destes de ns que dizemopor-se autoridade, tm sido nossa necessidade de teruma autoridade dentro de nossas cabeas, uma resposta,

    um modo de nos manter na linha. Ns no temos confiadoem ns mesmos, e ento nesses momentos quando aanarquia tem realmente irrompido adiante, quando aautoridade tem sido temporariamente quebrada abrindotodas as possibilidades, ns no ousamos explorar odesconhecido, para viver nossos desejos e paixes. Em vezdisso ns canalizamos nossa rebelio na mera imagem darebelio, que nos mantm seguros de jamais termos queconfrontar nossos reais desejos e paixes.

    A recusa de autoridade, a recusa de todas asamarras, deve incluir a recusa da subcultura anarquista,porque uma forma de autoridade. Com esse suporteterminado, ns ficamos com nada - alm de ns mesmos.Como indivduos transitrios, em constante mudana, eapaixonados, ns nos tornamos a nica base para criarnossas vidas e nos opormos sociedade enquanto ela tentaforar nossas vidas em seu molde. A rebelio deixa de serum papel e em vez disso torna-se nossa recusa momento amomento em deixar que nossas vidas sejam roubadas dens. A anarquia deixa de ser um ideal e se torna o caos quedestri a autoridade, que mina a autoridade e abrepossibilidades, novas realidades de explorao para nsmesmos. Para realizarmos isso, ns devemos deixar depensar como vtimas e comear a pensar como criadores. Aparania negativa que permeia o modo que ns nosrelacionamos com o mundo precisa de ser rejeitada paraque ns possamos avaliar precisamente as foras e asfraquezas da sociedade enquanto a confrontamos em

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    nossas vidas cotidianas e possamos min-lainteligentemente.

    Uma paranoia positiva - um reconhecimento de que a

    sociedade e o inferno que ela nos faz passar so aberraese que o mundo est cheio de maravilha e beleza, que dentrodele todos os nossos desejos mais profundos e mais aindapodem ser facilmente realizados - necessita ser cultivada.Ento ns iremos ousar a encarar o desconhecido, a nosrelacionar livre e apaixonadamente, evitando a meratolerncia e aceitando um conflito honesto. Ns ousaremosnos opor sociedade pela fora de nossos prprios desejos,sonhos e de nossa cobia pela vida. Ns iremos recusar

    respostas fceis, sistemas e seguranas pelas prises queelas so, preferindo a liberdade encontrada em explorarcom entusiasmo o desconhecido, a aventura de descobrir omundo de maravilhas que a autoridade tenta nos negar. Oque foi negado de ns, ns devemos tomar, e ns devemostom-los no nos conformando em uma subcultura, mas simmergulhando de cabea no desconhecido, correndo o riscode deixar para trs tudo o que foi suprimido de ns noimportando quo confortvel seja e rebelando totalmente

    contra a sociedade.Tudo para ser sempre e automaticamentearriscado. Sabemos, pelo menos, que o fio queencontramos no labirinto deva levar a outrolugar.

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    A Naturezacomo um

    espetculo - Aimagem da

    naturezaselvagemversus o

    selvagem2

    2O uso frequente de aspas nesse ensaio para reforar a idia de que anatureza e o selvagem so conceitos, e no seres reais. Publicado no Do

    "Anarchy: A Journal Of Desire Armed" Edio #29 Vero 1991 republicadopela Elephant Editions (Londres) 2000/2001 na coleo "Revoluo Feral"

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    A Natureza nem sempre existiu. Ela no encontradanas profundezas da floresta, no corao do puma ou nascanes dos pigmeus; ela encontrada nas filosofias e nasimagens construdas de seres humanos civilizados. Linhasaparentemente contraditrias so tecidas juntas criandouma natureza como uma construo ideolgica com opropsito de nos domesticar, suprimir e canalizar as nossasexpresses de natureza selvagem.

    A civilizao monoltica e o modo civilizado deconceber tudo o que observado tambm monoltico.Quando confrontada com a infinidade de seres que existempor toda a parte, a mente civilizada necessita de categoriz-

    los para que possa sentir que os est entendendo (apesarde, na verdade, tudo o que ela realmente est entendendo em como fazer essas coisas teis para a civilizao). Anatureza uma das categorias civilizadas mais essenciais,uma das mais teis em conter a natureza selvagem dosindivduos humanos e em assegurar de que se auto-identifiquem como seres sociais e civilizados.

    Provavelmente um dos primeiros conceitos danatureza era algo similar ao que encontrado no antigotestamento da Bblia: a natureza selvagem maligna, umlugar de desolao habitado por bestas ferozes evenenosas, demnios maliciosos e por loucos. Esse conceitoserviu a um propsito especialmente importante para asprimeiras civilizaes. Ele induziu o medo do que selvagem, mantendo a maioria das pessoas dentro nosmuros da cidade e dando queles que saam para exploraruma postura defensiva, uma atitude de que estavam emterritrio inimigo. Esse conceito, nesse modo, ajudou a criara dicotomia entre "humano" e "natureza" que impede queos indivduos vivam de modo selvagem, isto , em termosde seus desejos.

    Mas um conceito totalmente negativo da naturezaestava fadado a atingir seus limites de utilidade j que fezcom que a civilizao ficasse dentro de uma fortalezafechada e sitiada, e para sobreviver a civilizao tem queexpandir, para poder explorar mais e mais. A "natureza" se

    tornou uma cesta de recursos para a civilizao, uma "me"

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    para ensinar a "humanidade" e sua civilizao. Era bela,digna de adorao, de contemplao, de estudo...e deexplorao. No era m...mas era catica, caprichosa e noconfivel. Felizmente para a civilizao, a "naturezahumana" evoluiu, racional e necessitando colocar as coisasem ordem, para control-las. Lugares selvagens eramnecessrios para que as pessoas pudessem estudar econtemplar a "natureza" em seu estado intocvel, masprecisamente para que seres humanos civilizados possamvir a entender e controlar os processos "naturais" para quepossam utiliz-los para expandir a civilizao. Ento a"natureza selvagem maligna" foi ofuscada por uma"natureza" ou "natureza selvagem" que tem um valorpositivo para a civilizao.

    O conceito de natureza cria um sistema de valorsocial e moralidade. Por causa das linhas aparentementecontraditrias que se uniram no desenvolvimento da"natureza", esses sistemas tambm podem parecercontraditrios; mas todos eles atingem o mesmo fim: nossadomesticao. Aqueles que nos dizem para "agircivilizadamente" e aqueles que nos dizem para "agir

    naturalmente" esto realmente nos dizendo a mesma coisa:"Viva de acordo com os valores externos, no de acordocom seus desejos." A moralidade da naturalidade tem sidono menos odiosa do que qualquer outra moralidade. Aspessoas tm sido aprisionadas, torturadas e at mortas porcometerem "atos no naturais"- e ainda so. A "natureza",tambm, um deus exigente e feio.

    Desde seu princpio, a natureza tem sido umaimagem criada por uma autoridade para reforar seu poder.No de se surpreender que na sociedade moderna, ondeuma imagem domina a realidade e frequentemente parececri-la, a "natureza" aparece como ela prpria como ummeio de manter-nos domesticados. A "natureza" mostraremda na TV, calendrios do Sierra Club, equipamentos parausar na "natureza selvagem", fibras e alimentos "naturais",o presidente "ambiental" e a ecologia "radical" conspirampara criar a "natureza", e, nosso relacionamento"apropriado" para com ela. A imagem invocada retmaspectos da "natureza selvagem maligna" das primeiras

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    civilizaes de uma forma subconsciente. Programas sobre a"natureza" sempre incluem cenas de predao e sabidoque os diretores desses programas utilizam basteseletrificados em tentativas de incitar os animais a lutarem.Os avisos dados aos aspirantes a exploradores da "naturezaselvagem" sobre animais e plantas perigosas e a quantidadede produtos criados por lojas de equipamentos para a"natureza selvagem" para lidar com essas coisas bemexcessivo de acordo com minhas prprias experinciasvagando em lugares selvagens. Eles nos do a imagem deque a vida fora da civilizao uma luta pela sobrevivncia.

    Mas a sociedade do espetculo necessita que a

    "natureza selvagem maligna" seja subconsciente para poderutiliz-la eficientemente. A imagem dominante da"natureza" a de que um recurso e uma coisa de belezapara ser contemplada e estudada. A "natureza selvagem" um lugar no qual ns podemos nos retirar por um curtotempo, se apropriadamente equipados, para escapar damonotonia cotidiana, para relaxar e meditar ou paraencontrar excitao e aventura. E, claro, a "natureza"permanece a "me" que supre nossas necessidades, o

    recurso no qual a civilizao se cria.Na cultura de mercadoria, a "natureza" recupera o

    desejo pela aventura selvagem, pela vida livre dedomesticao, ao nos vender sua imagem. O conceitosubconsciente da "natureza selvagem maligna" d ao ato deaventurar-se na floresta um forte sabor de risco que atraente ao aventureiro e ao rebelde. Ela tambm refora aidia de que ns no realmente pertencemos nela, e entonos vendem produtos numerosos considerados necessriospara incurses em lugares selvagens. O conceito positivo danatureza nos faz sentir que precisamos experimentarlugares selvagens (no se dando conta de que os conceitosque nos foram dados iro criar o que ns experimentamospelo menos na mesma medida que nossos arredores atuais).Dessa forma, a civilizao recupera com xito at mesmoaquelas reas que ela aparenta no ter tocado diretamente,transformando-as em "natureza", em "natureza selvagem",e em aspectos do espetculo que nos mantmdomesticados.

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    "Natureza" domestica porque ela transforma o selvagem emuma entidade monoltica, uma enorme realidade separadada civilizao. Expresses de coisas selvagens no meio dacivilizao so rotuladas como imaturidade, loucura,delinqncia, crime ou imoralidade, permitindo que sejamdispensadas, trancadas, censuradas ou punidas enquantoainda mantendo que o que "natural" bom. Quando a"natureza selvagem" se torna uma realidade fora de nsmesmos ao invs de uma expresso de nossa livre energiaindividual, ento passam a existir os especialistas em"natureza selvagem" que nos iro ensinar sobre os modos"corretos" de nos "conectarmos" com ela. Na costa oeste,existem todos os tipos de professores espirituais ganhandouma fortuna vendendo uma "natureza selvagem" parayuppies que de forma alguma ameaam seus sonhoscorporativos, seus Porsches ou seus condomnios. A"natureza selvagem" uma indstria muito lucrativaatualmente.

    Ecologistas - at mesmo ecologistas "radicais" -caem direto nisso. Ao invs de tentarem se tornar selvagense destruir a civilizao com a energia de seus desejos

    desencadeados, eles tentam "salvar a natureza selvagem".Na prtica, isso significa implorar ou tentar manipular asautoridades para pararem com as atividades mais danosasde certas indstrias e de ganharem dinheiro de florestas,desertos e montanhas relativamente no danificadas emreas Selvagens protegidas. Isso apenas refora oconceito de natureza selvagem como uma entidademonoltica, de uma "natureza selvagem" ou uma "natureza",e a inerente transformao em mercadoria desse conceito.

    A base do conceito de uma "rea Selvagem" a separaodo "selvagem" e da "humanidade". Ento no de sesurpreender que uma das variedades da ideologia daecologia "radical" criou o conflito entre "biocentrismo" e"antropocentrismo" - apesar de que no somos mais do queegocntricos.

    At mesmo aqueles "ecologistas radicais" que dizemquerer reintegrar as pessoas na "natureza" esto seenganando. Suas vises (de acordo com o que um delesdisse) de um "todo simbitico e selvagem" apenas o

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    conceito monoltico criado pela civilizao expressado deum modo quase que mstico. A "natureza selvagem"continua a ser uma entidade monoltica para esses msticosecolgicos, um ser maior que ns, um deus a quem nsdevemos nos submeter. Mas submisso domesticao.Submisso o que mantm a civilizao existindo. O nomeda ideologia que refora a submisso pouco importa - queseja "natureza", que seja um "todo simbitico e selvagem".O resultado ainda ser a continuao da domesticao.

    Quando a natureza selvagem vista sem terqualquer relao com um conceito monoltico, incluindo"natureza" ou "natureza selvagem", quando vista como a

    livre energia potencial em indivduos que podem semanifestar a qualquer momento, s ento se torna umaameaa civilizao. Qualquer um de ns poderia passaranos na "natureza selvagem", mas se continuarmos a ver oque nos cerca pela lente da civilizao, se ns continuarmosa ver a infinidade de seres monoliticamente como"natureza", como "natureza selvagem", como o "todosimbitico e selvagem", ns ainda seramos civilizados. Nsno seramos selvagens. Mas se, no meio da cidade, em

    qualquer momento ns ativamente recusamos nossadomesticao, recusamos ser dominados pelos papissociais que nos so forados e ao invs disso vivamos nostermos de nossas paixes, desejos e caprichos, se ns nostornamos os seres nicos e imprevisveis que repousamescondidos por trs de nossas funes, ns somos, naquelemomento, selvagens. Jogando ferozmente entre as runas deuma civilizao decadente (mas no se engane, mesmo nadecadncia ainda um inimigo perigoso e capaz de manter-

    se por um longo tempo), ns podemos fazer das tripascorao para derrub-la. E os rebeldes livres de esprito irorejeitar o sobrevivencialismo da ecologia como mais umatentativa da civilizao de conter a vida livre, e iro seesforar para viverem a dana catica e sempre emmudana de indivduos nicos e de relacionamentos livresem oposio a tanto civilizao quanto tentativa dacivilizao de conter o modo de vida livre e selvagem: a"Natureza".

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    InsurgnciaNmade

    (fragmentos)

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    Agricultores se apossam da terra e trabalham nela.Posse e trabalho so as definies bsicas da atividade dosagricultores. Nmades atravessam o espao e otransformam atravs de interaes - movimento e atividadeso as atividades bsicas dos nmades. Agricultoresnecessitam de hbitos, rituais, consistncia, unidade.Nmades quebram hbitos, transformam, variam,diversificam. Agricultores idolatram a ordem. Nmadescriam o caos.

    A agricultura a origem da tica do trabalho. Devidoo agricultor ser aquele cuja a vida criada para o trabalhodo cultivo, o agricultor no pode criar nenhum momento

    para si que entre em conflito com as necessidades dotrabalho agrcola - caso contrrio, a lavoura fracassa e oagricultor perde sua identidade, e possivelmente suasobrevivncia. O tempo - uma constante e padronizadamedio do movimento - essencial para o agricultor - suamobilidade pelo espao no mobilidade atravs do espao- no essencialmente - mas sim o trabalho da terra. Isto baseado em ordem, em controle de ciclos medidos.

    Nomadismo - pelo menos em atitude - essencialpara a autonomia. A recusa da permanncia, a recusa deuma ptria. Quando todo o espao e tempo formalmentedominado pelos relacionamentos que constituem o contextosocial, autonomia consiste em aparentemente no estar l...O segredo desta invisibilidade o movimento constante...Encontrando brechas onde a dominao no efetiva...desafiando a sociedade com a sua criatividade autnoma...desaparecendo antes que as foras presentes da dominaopossa suprimir o desafio... uma dana habilidosa, arriscada.Movimento fsico no necessrio para esta estratgia - esim, a habilidade de escapar de classificaes, de evitar serpego. Porm o movimento fsico pode improvisar algumaspossibilidades. Quanto mais amplo o terreno por onde seatravessa, mais vasta a possibilidade para as rupturasradicais, para a descobertas de fendas, para o jogoselvagem... Num contexto de tal travessia, zonaspermanentes de auto-escravido se tornam aspectos docontexto social a serem subvertidos para os usos e desafiosprovocadores dos nmades insurgentes, em qualquer modo

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    que faa sentido e em qualquer caso. No existe receitaspara a autonomia.

    Os lugares assentados e as vidas estabelecidas se

    tornam cada vez mais estranhas para mim. H algodemasiado ordenado a cerca da maioria das vidas e lugares.Isso me deixa louco - Eu quero destruir isso. por isso queeu aprecio cada indivduo que atualmente rompe com isso,e o porque que fico ansioso quando fico to assentado. Eucomeo a me sentir como se eu no pertencesse - ai eulembro que o conceito de pertencer um absurdo. Precisofazer de cada lugar atravs do qual eu passo como meu, ato momento em que esteja bom o suficiente.

    Um dos motivos para evitar fazer projetosinsurgentes... com pessoas inaptas.. que sua faculdadecrtica se torna gasta ao ponto de suas idiotices. Melhorignorar os idiotas e criar projetos com aqueles que no sopresos por todas as velhas ideologias. Assim nossasfaculdades crticas podem ser direcionadas em criarmos ans memos como insugentes, transformando nossasinteraes e nossas vidas dirias e vindo a umentendimento da sociedade que precisamos destruir. Usarnossas faculdades crticas contra alvos fceis pode destru-los. Us-las para criar a vida que desejamos, em guerra coma autoridade, as afia. Crueldade necessrio.

    A ilegalidade insurgente no para ser confundidacom criminalidade. Sim, os insurgentes fora da lei cometemcrimes e podem fazer bem manter algumas coneces como submundo perifrico... porm os criminosos profissionaisusam o crime como uma forma de vida, onde o insurgente

    fora da lei est conscientemente minando as tradies,costumes e leis da sociedade. O criminoso inteligente teramigos entre os executores da lei, porque esse um bomnegcio; O insurgente fora da lei ir evitar tais conexes,porque seu desejo a criao de uma vida que noreconhea a lei... Qualquer conexo com os executores dalei ir colocar em perigo tal vida. Existem foras da lei quedesejam apenas substituir a lei do Estado pela lei moral. Oinsurgente fora da lei amoral - rejeita a lei em todas as

    suas formas, porque isto restringe a sua vida e limita suas

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    possibilidades. Um insurgente fora da lei pode destruir umtem roubado, pode vender no mercado negro, ficar com eleou dividir entre os amigos - da maneira que lhe convm.Pode roubar um banco e usar o dinheiro para um projeto,esbanjar com os amigos, fazer uma viagem ou queimar odinheiro. Mas os foras da lei morais iro se sentir obrigadosa usar todos os bens roubados para suas causas abraadas.

    Criminosos profissionais no so foras da lei. Elesdanam com a lei, e a mudam para seus prprios fins; Elesquebram a lei no pela revolta, mas por razes econmicas.Com suas subculturas, eles praticamente possuem leis emtodos de execut-las. Mas seus trabalhos ilegais so

    melhores do que muitos trabalhos legais porque envolvemelementos de risco: a emoo de ser mais esperto. Pode serinteligente para o criminoso profissional ficar em algumlugar, para criar coneces estabelecidas. Mas e para oinsurgente fora da lei? No, nunca em um lugar por muitotempo. O insurgente fora da lei no quer mais estarintegrado na subcultura criminal, to pouco na culturadominante ou em qualquer subcultura alternativa...

    O insurgente fora da lei est conscientementetentando aumentar seu poder de auto-criao em oposioa sociedade. Sua habilidade para isso exigem destreza,coragem e a capacidade de se tornar invisvel. Desta forma,insurgentes fora da lei muitas vezes vivem comovagabundos - passando por, mas nunca se assentando e setornando definido. Suas vidas, assim como suas atividadesilegais, so ataques contra o sistema.

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    3 Publicado originalmente em Demolition Derby #1, 1988, p. 30

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    Quando eu era uma criana bem jovem, minha vidaestava cheia de um prazer intenso e uma energia vital queme fazia sentir que eu experimentava tudo ao mximo. Euera o centro dessa existncia maravilhosa e brincalhona eno sentia necessidade de depender em nada alm deminha prpria experincia de vida para me satisfazer.

    Eu sentia intensamente, eu experimentavaintensamente, minha vida era um festival de paixo eprazer. Meus desapontamentos e minhas tristezas tambmeram intensos. Eu nasci um ser livre e selvagem no meio deuma sociedade baseada na domesticao. No tinha comoeu escapar de ser domesticado. A civilizao no ir tolerar

    o que selvagem em seu meio. Mas eu nunca me esquecida intensidade do que a vida podia ser. Eu nunca meesqueci da energia vital que havia se agitado em mim.Desde que eu comecei a notar que essa vitalidade estavasendo drenada, minha existncia tem sido uma guerra entreas necessidades da sobrevivncia civilizada e a necessidadede me soltar e experimentar a intensidade total da vidadesprendida.

    Eu quero experimentar essa energia vital novamente.Eu quero conhecer a natureza selvagem de livre esprito demeus desejos no oprimidos se realizando em um jogofestivo. Eu quero derrubar todas as paredes que esto entremim e a vida intensa e apaixonada da liberdade indomadaque eu desejo. A soma dessas paredes tudo o que nschamamos de civilizao, tudo o que fica entre ns e aexperincia direta e participatria do mundo selvagem. Umateia de dominao cresceu em nossa volta, uma teia demediao que limita nossa experincia, definindo asfronteiras aceitveis de produo e consumo.

    A autoridade domesticadora toma muitas formas,algumas das quais so difceis de reconhecer. O governo, ocapital e a religio so algumas das faces mais bvias deautoridade. Mas a tecnologia, o trabalho, a linguagem comseus limites conceituais, os hbitos arraigados de etiqueta epropriedade - essas tambm so autoridadesdomesticadoras que nos transformam de animais selvagens,

    divertidos e ingovernveis em produtores e consumidores

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    domesticados, entediados e infelizes. Essas coisas sedesenvolvem em ns traioeiramente, limitando nossasimaginaes, usurpando nossos desejos, suprimindo nossaexperincia vivida. E esse mundo criado por essasautoridades, o mundo civilizado, o mundo em que vivemos.Se o meu sonho de uma vida cheia de prazer intenso eaventura selvagem for realizado, o mundo precisa sertransformado radicalmente, a civilizao precisa acabarantes de expandir a natureza selvagem, a autoridadeprecisa acabar antes da energia de nossa liberdadeselvagem. necessrio - para querer um mundo melhor -uma revoluo.

    Mas uma revoluo que possa quebrar a civilizao erestaurar a energia vital de desejo indomado no pode sercomo qualquer outra revoluo do passado. Todas asrevolues at hoje se concentraram em volta do poder, emseu uso e redistribuio. Elas no procuraram erradicar asinstituies sociais que domesticam; no mximo elasapenas procuraram erradicar os relacionamentos de poderdentro dessas instituies. Ento os revolucionrios dopassado miraram seus ataques nos centros de poder,

    tentando derrub-los. Concentrados no poder, eles foramcegados pelas foras traioeiras da dominao queabrangem nossa existncia diria e assim, quandoconseguiram derrubar os detentores do poder, elesacabaram recriando-os. Para evitar isso, ns devemos nosconcentrar no no poder, mas no nosso desejo de tornar-mos selvagens, de experimentar a vida ao mximo, paraconhecer-mos um prazer intenso e uma aventura selvagem.Enquanto ns tentamos realizar esse desejo, ns nos

    confrontamos com as foras reais da dominao, as forasque ns encaramos a todo o momento, todos os dias. Essasforas no possuem um nico centro que pode serderrubado. Elas so uma rede que nos amarra. Ento aoinvs de tentarmos derrubar os detentores do poder, nsqueremos minar a dominao enquanto a confrontamostodos os dias, contribuindo para quebrar mais rapidamentea civilizao que j est em colapso, e enquanto ela cai, oscentros de poder iro cair com ela. Os revolucionrios

    anteriores apenas exploraram os territrios bem mapeados

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    do poder. Eu quero explorar e me aventurar nos territriosno mapeados, e nos territrios no mapeveis da liberdadeselvagem. A revoluo que pode criar o mundo que euquero tem de ser uma revoluo feral.

    No podem haver programas ou organizaes para arevoluo feral, porque a natureza selvagem no podebrotar de um programa ou uma organizao. A naturezaselvagem brota ao libertarmos os nossos instintos e desejos,da expresso espontnea de nossas paixes. Cada um dens j experimentou os processos da domesticao, e essaexperincia pode nos dar o conhecimento que precisamospara minar a civilizao e transformar nossas vidas. Nossa

    desconfiana de nossa prpria experincia o queprovavelmente nos mantm de nos rebelar livremente eativamente como gostaramos. Ns temos medo deestragarmos tudo, ns temos medo de nossa prpriaignorncia. Mas essa desconfiana e esse medo foramintroduzidos gradualmente em ns pela autoridade. o quenos segura de realmente crescer e aprender. o que nostorna em alvos mais fceis para qualquer autoridade queest pronta para nos satisfazer. Preparar programas

    "revolucionrios" jogar com esse medo e desconfiana, reforar a necessidade de nos dizerem o que fazer.Nenhuma tentativa de se tornar feral pode ser bemsucedida quando baseada em tais programas. Nsprecisamos aprender a confiar e agir baseado em nossosprprios sentimentos e experincias, se for para nostornarmos livres.

    Ento eu no ofereo programas. O que eu ireicompartilhar so alguns pensamentos em maneiras deexplorar. J que ns todos fomos domesticados, parte doprocesso revolucionrio um processo de transformaopessoal. Ns fomos condicionados a no confiarmos em nsmesmos, em no sentir completamente, em noexperimentar a vida intensamente. Ns fomoscondicionados a aceitar a humilhao do trabalho epagamento como inescapveis, para relacionas coisas comorecursos a serem utilizados, para sentir a necessidade denos provarmos e assim produzindo. Ns fomoscondicionados a esperar decepo, para v-la como algo

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    normal, e no question-la. Ns fomos condicionados aaceitar o tdio da sobrevivncia civilizada ao invs de noslibertamos e realmente vivermos. Ns precisamos explorarmeios de quebrar esse condicionamento, de nos libertarmosde nossa domesticao o quanto pudermos agora. Vamostentar nos tornar to livres desse condicionamento que elecessar de nos controlar e se tornar nada mais do que umafuno que iremos utilizar quando necessrio para asobrevivncia no meio da civilizao enquanto tentamosmin-la.

    De um modo bem generalizado, ns sabemos o quequeremos. Ns queremos viver como seres livres e

    selvagens o mximo o possvel em um mundo de sereslivres e selvagens. A humilhao de ter que seguir regras,de ter que vender nossas vidas para comprar nossasobrevivncia, de ver nossos desejos usurpados seremtransformados em abstraes e imagens para que nosvendam mercadorias nos enche de dio. Por quanto tempons iremos continuar com essa misria?Ns queremos fazercom que esse mundo seja um lugar onde nossos desejospossam ser imediatamente realizados, no apenas

    esporadicamente, mas normalmente. Ns queremos re-erotizar nossas vidas. Ns queremos viver no em ummundo morto de recursos, mas em um mundo vivo deamantes livres e selvagens. Ns precisamos comear aexplorar a extenso de que somos capazes de viver essessonhos no presente sem nos isolarmos, um entendimentoque nos permitir lutar contra a domesticao maisintensamente e assim expandir at que possamos vivermais selvagens.

    Tentar viver o mais selvagem o possvel agora irtambm ajudar a quebrar o nosso condicionamento social.Isso ir iniciar uma malandragem selvagem em ns que irmirar em tudo o que tentar nos domar, minando acivilizao e criando novas formas de viver e compartilharcom cada um. Essas exploraes iro expor os limites dadominao da civilizao e ir mostrar a sua oposioinerente liberdade. Projetos, desde sabotagem a pregarpeas que exponham ou minem a sociedade dominante, ata expanso da natureza selvagem, at festivais e orgias e

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    um compartilhamento livre generalizado, podem nos indicara possibilidades incrveis.

    A revoluo feral uma aventura. atrever-se na

    explorao de se tornar selvagem. Ela nos leva emterritrios desconhecidos para os quais no existem mapas.Ns s poderemos chegar a conhecer esses territrios sens nos atrevermos a explor-los ativamente. Ns devemosnos atrever a destruir qualquer coisa que destri nossanatureza selvagem e a agir em nossos instintos e desejos.Ns devemos nos atrever a confiar em ns mesmos, emnossas experincias e em nossas paixes. E ento ns noiremos deixar que sejamos acorrentados ou encurralados.

    Ns no iremos permitir que sejamos domados. Nossaenergia feral ir rasgar a civilizao em pedaos e criar umavida de liberdade selvagem e de prazer intenso.