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1 REVOLUÇÃO NA AMÉRICA DO NORTE As colônias inglesas da América do Norte, inspiradas pelas ideias de John Locke e dos filósofos iluministas, foram as primeiras a se rebelar contra a metrópole. A reação inédita dos colonos ingleses chamou a atenção do mundo pela ousadia e acabou abrindo caminho para que, algumas décadas depois, as colônias francesas, portuguesas e espanholas do continente seguissem a mesma trilha. O movimento, além de romper com o pacto colonial, contribuiu para consolidar a burguesia no poder e condenar ao fim os governos absolutistas e mercantilistas na Europa. 1. ILUMINISMO E REVOLTA: A exploração europeia na América foi regida pelo pacto colonial. A metrópole, em busca de uma balança comercial favorável, detinha o controle das atividades econômicas da colônia. Empenhavam-se, por exemplo, em estimular a cultura de produtos agrícolas tropicais (cana-de-açúcar, fumo, etc.) com o objetivo de revendê-los na Europa. Além disso, explorava riquezas naturais como minérios (ouro, prata) e plantas nativas (pau-brasil). Os colonos, por sua vez, eram obrigados a consumir mercadorias produzidas na Europa, sobretudo manufaturados. A ocupação inglesa na América do Norte seguiu essa regra apenas na região sul. Aí foram instaladas grandes fazendas, nas quais se empregava mão de obra escrava no cultivo de produtos tropicais destinados à exportação. A principal exceção ficou por conta da parte do norte da colônia. Com poucos atrativos para a metrópole, pois o clima era semelhante ao europeu, nessa região surgiram núcleos coloniais com relativa independência. Fundados por europeus, majoritariamente ingleses, que fugiram de perseguições religiosas em seus países, a base de sua ocupação foi a pequena propriedade. Sem controle rígido, esses colonos acabaram criando organizações politicas próprias e mantendo intenso comércio com outras regiões, além de desenvolver u incipiente processo de industrialização. Essa situação se alterou com a Revolução Industrial na Grã-Bretanha, na segunda metade do século XVIII. A partir de então, a Grã-Bretanha aumentou seu controle sobre as colônias norte-americanas, com o objetivo de transformá-las em mercado consumidor para seus produtos. Esse controle aumentou ainda mais após a

Revolução Na América Do Norte

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As colônias inglesas da América do Norte, inspiradas pelas ideias de John Locke e dos filósofos iluministas, foram as primeiras a se rebelar contra a metrópole. A reação inédita dos colonos ingleses chamou a atenção do mundo pela ousadia e acabou abrindo caminho para que, algumas décadas depois, as colônias francesas, portuguesas e espanholas do continente seguissem a mesma trilha. O movimento, além de romper com o pacto colonial, contribuiu para consolidar a burguesia no poder e condenar ao fim os governos absolutistas e mercantilistas na Europa.

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1 REVOLUO NA AMRICA DO NORTE AscolniasinglesasdaAmricadoNorte,inspiradaspelasideiasde John Locke e dos filsofos iluministas, foram as primeiras a se rebelar contra a metrpole. A reao indita dos colonos ingleses chamou a ateno do mundo pela ousadia e acabou abrindo caminho para que, algumas dcadas depois, as colniasfrancesas,portuguesaseespanholasdocontinenteseguissema mesmatrilha.Omovimento,almderompercomopactocolonial,contribuiu paraconsolidaraburguesianopoderecondenaraofimosgovernos absolutistas e mercantilistas na Europa. 1. ILUMINISMO E REVOLTA: AexploraoeuropeianaAmricafoiregidapelopactocolonial.A metrpole,embuscadeumabalanacomercialfavorvel,detinhaocontrole dasatividadeseconmicasdacolnia.Empenhavam-se,porexemplo,em estimular a cultura de produtos agrcolas tropicais (cana-de-acar, fumo, etc.) comoobjetivoderevend-losnaEuropa.Almdisso,exploravariquezas naturais como minrios (ouro, prata) e plantas nativas (pau-brasil). Os colonos, porsuavez,eramobrigadosaconsumirmercadoriasproduzidasnaEuropa, sobretudomanufaturados.AocupaoinglesanaAmricadoNorteseguiu essaregraapenasnaregiosul.Aforaminstaladasgrandesfazendas,nas quaisseempregavamodeobraescravanocultivodeprodutostropicais destinados exportao.Aprincipalexceoficouporcontadapartedonortedacolnia.Com poucosatrativosparaametrpole,poisoclimaerasemelhanteaoeuropeu, nessa regio surgiram ncleos coloniais com relativa independncia. Fundados poreuropeus,majoritariamenteingleses,quefugiramdeperseguies religiosas em seus pases, a base de sua ocupao foi a pequena propriedade. Semcontrolergido,essescolonosacabaramcriandoorganizaespoliticas prpriasemantendointensocomrciocomoutrasregies,almde desenvolver u incipiente processo de industrializao. Essa situao se alterou comaRevoluoIndustrialnaGr-Bretanha,nasegundametadedosculo XVIII.Apartirdeento,aGr-Bretanhaaumentouseucontrolesobreas colniasnorte-americanas,comoobjetivodetransform-lasemmercado consumidorparaseusprodutos.Essecontroleaumentouaindamaisapsa 2 Guerradosseteanos(1756-11763),entreaInglaterraeaFrana.Oconflito terminoucomavitriadaGr-Bretanha,queseapoderou devriosterritrios naAmricadoNorteedandiaesetornouamaiorpotenciamartimae colonial da poca. Para recuperar-se dos gastos com a Guerra dos Sete anos, osbritnicosdecidiramintensificaraexploraocolonial.Comasmudanas, oscolonossederam contadequeseusinteresseseram muitodiferentesdos interesses da metrpole. Essa tomada de conscincia recebeu influncia direta dasideiasiluministasquechegavamAmricatrazidasporjornais,livros, viajantes e pelos jovens que iam estudar na Europa. 2. AS TREZES COLONIAS SE REBELAM: Oprimeiropassonaampliaodaexploraoinglesasobresuas colniasnorte-americanasocorreuem1763,quandooreiJorgeIIIproibiuos colonosinglesesnaAmricadeocuparasterrasdointeriordocontinente, localizadasaoestedastrezescolnias,nosvalesdosriosOhioeMississpi. Essa rea, tomada da Frana ao final da Guerra dos Sete anos, foi declarada propriedadedaCoroaetornou-sereservaindgena,contrariandoas expectativas dos colonos, que esperavam poder se expandir nessa direo. O segundo passo de Jorge III foi impor aos colonos, em 1764, aLei do Acar,quecriavataxasadicionaissobreasimportaesdevriosprodutos, entreosquaisomelao.Omaiorentravedessaleieraorigorcomquese cobravamosimpostosalfandegrios,oquedificultavaocontrabando,pratica comum entre os colonos. No ano seguinte, outra lei se somaria anterior: a Lei doSelo.Segundoanovaordem,oscolonostinhamdefixarestampilhasem todos os jornais, folhetos e em numerosos documentos legais. Como os selos eramingleses,aocompra-los,oscolonostransferiamrecursosparaa metrpole. O rei justificava essa lei argumentando que, com a guerra, o tesouro britnicohaviaseesgotadoeoscolonosdeviamajudarapagarasdvidas, contradas tambm a favor dos interesses deles. Os norte-americanos no aceitaram essa imposio, alegando que a Lei do Acar e a Lei do Selo, na verdade, constituam impostos disfarados. Para eles,ofatodeteremsefixadonaAmricanolhestiravaacondiode cidadosingleses,cujodireitofundamentaleraprecisamenteodesaceitar impostosaprovadosporseusrepresentantesnoParlamento.Ora,comoos 3 colonos no eram representados no Parlamento britnico, julgavam que no de veriampagarimpostosvotadospelopoderLegislativodaGr-Bretanha.Com basenesseargumento,oscolonosnorte-americanosresolveramboicotaras leis estabelecidas pela metrpole. Diante da forte reao na colnia, o governo ingls ficou sem sada e suspendeu as duas medidas, mas adotou outras. Uma delas, de 1773, ficou conhecida com aLei do Ch que concedia companhia dasndiasOrientaisaexclusividadenavendadochinglsnaAmrica.Os colonosreagiramepromoveramaFestadoCh,emBoston:umgrupode homens,disfaradosdeindgenas,lanouaomarocarregamentodechde trs navios da companhia das ndias. Em represlia, a Inglaterra decretou, em 1774,umconjuntodeleischamadaspelosnorte-americanosdeLeis Intolerveis,determinavaofechamentodoportodeBostoneimpondooutras medidas que cerceavam a liberdade dos colonos. 3. A CONQUISTA DA INDEPENDNCIA:A situao tornou-se insustentvel, levando os colonos a se reunirem no PrimeiroCongressoContinentaldeFiladlfia,realizadonomesmoano.No encontroficoudecididoqueelesnotolerariammaisnenhumataxaosem representaoefariamumboicoteeconmicoirrestritoInglaterra.Atenso entreosdoislados,quejsearrastavadesde1763,quandoasprimeiras medidas restritivas tinham entrado em vigor, desembocou em conflito armado. Oscombatesiniciaisentrenorte-americanoseinglesesaconteceramemabril de1775.Paraenfrentarospoderososadversrios,oscolonoscontavamcom umamilciaarmadaporvoluntrios,quehaviaseorganizadoaolongodos anos de insatisfao com a metrpole. Em maio do mesmo ano, os colonos se reuniram no Segundo Congresso Continental de Filadlfia.Nesseencontro,decidirampelaseparaodascolniasdeGr-Bretanha.Finalmente,em4deJulhode1776,foiaprovadaaDeclaraode Independncia,regidaporThomasJefferson,comacolaboraodeoutros polticosdoCongresso.Nessemomento,aguerraentrebritnicoecolonos estava em franca evoluo. Benjamin Franklin, um dos integrantes do Segundo Congresso de Filadlfia e colaborador de Jefferson na redao da Declarao deIndependncia,foienviadoEuropaparaconquistaraliadoseo reconhecimento da causa norte-americana.Muitos franceses se dispuseram a 4 ajudar,entreelesomarqusdeLaFayette,quereuniuumexercitoepartiu paraaAmrica.Porumtratadoassinadoemoutubrode1778,aFranase comprometeuacolaborarcomosEstadosUnidosnaguerracontraos britnicos.Posteriormente,osnorte-americanosreceberamapoiotambmda EspanhaedaHolanda.Aguerradurouat1781,quandooexrcitobritnico finalmentecapitulou.OacordodepazfoicelebradoemParis,em1783. Derrotada,aGr-Bretanhatevedefazerconcessesaosvitoriosos:cedeu Frana alguns territrios nas Antilhas e na frica e entregou a ilha de Minorca e aFloridaEspanha.Jemrelaoaosnorte-americanos,oTratadode Versalhes,assinadoemParisreconheceuaindependnciadosEstados UnidosdaAmrica,cujoterritrioapartirdessemomentopassouase estender, para o oeste, at o Mississpi. 4. ESTADOS UNIDOS DA AMRICA:Politicamente,anovanaoadotouaformadeconfederao,ouseja, umtipodeorganizaonaqualosdiversosestadosgozavamdecompleta autonomia.Entretanto,essaausnciadeumpodercentralfortelevouos Estadosconfederadosaumasituaodecrisepermanente.Nohaviaum rgoexecutivoqueunificasseopas,masapenasumCongressoques podia exercer sua autoridade por intermdio do governo de cada Estado. No existia nem mesmo uma moeda nica entre as ex-colnias.Pararesolveressesproblemas,oCongressoautorizouarealizaode umaconvenoquerepresentassetodososestadosevotasseuma constituionicaparatodoopas.Naconveno,reunidaem1787na Filadlfia,osEstadosconcordaramemabrirmodaautonomiairrestritae formarumauniodirigidaporumpodercentralforte.Essearranjojurdico-polticofoidefinidonaconstituio.Opasassim,constitudopassouase chamarEstadosUnidosdaAmrica.OnovoEstadoerainovadoremmuitos aspectos.Primeiro,porassumiraformaderepblicaenodemonarquia, comoacontecianamaioriadospaseseuropeusdapoca.Depois,porque adotou o sistema presidencialista. Alm disso, assumiu a forma de federao, o quesignificaqueemboraexistisseumgovernocentral,osEstados-membros conservavam ampla autonomia, podendo tomar decises prprias em relao a muitos assuntos. Para completar, o Estado estabeleceu um complexo sistema 5 de diviso e equilbrio entre o Legislativo, o Judicirio e o Executivo, conforme ateoriadeMontesquieu.Portodosessesaspectos,afederaoconsistiu numa inovao capaz de conciliar princpios democrticos e um vasto territrio ocupado por populaes diferentes. Aconstituionorte-americanaseinspiravaclaramenteemdois pensadores: Montesquieu e John Locke. Do primeiro, tomou a ideia da diviso dospoderesdoEstado;nosegundo,buscouainspiraoparatornara populao fonte de poder. Entretanto, o Estado que surgia apresentava muitos entravesparaaamplaparticipaopopular.Oprocessodeindependncia havia sido comandado por uma elite de comerciantes e senhores de terras e de escravosqueprocuravaatodocustopreservaraestruturaexistente.Nopor acaso a escravido foi mantida e criou-se um complicado sistema eleitoral para a escolha do presidente. Apesar de seus limites, a independncia dos Estados Unidostransformou-senumaameaaaosistemacolonial,namedidaemque apontavaparaasdemaiscolniasocaminhoaseguir.Porisso,alcanou granderepercussoemoutrasregiesdocontinenteamericanoeatna Europa, contribuindo para a ecloso da Revoluo Francesa. Texto complementar A luta das mulheres pela independncia Associedadessecretasforamumadasprimeirasraesdoscolonoscontraas medidasinglesas.AmaisfamosadelasfoiOsfilhosdaLiberdade,queestabeleceuuma grande rede de comunicaes, em muito facilitando a articulao entre os colonos. Os filhos da Liberdade tambm era uma escola poltica, pois seus membros liam as principais obras poltica para darem base intelectual ao movimento. Houve tambm um grupo feminino intitulado Filhas da Liberdade, com o mesmo proposito. As mulheres tambm organizaram Ligas do Ch com o objetivodeboicotaraimportaodechingls.NasgrandescidadescomoNovaYorke Boston,mulheresencabearamcampanhascontraosprodutoselegantesimportadosda Inglaterra e incentivavam produtos feitos em casa, mais simples, porm mais patriticos. Na c Carolinadonorte,umgrupodemulhereschegouaelaborarumdocumentochamado Proclamao de Edenton, dizendo que o sexo feminino tinha todo o direito de participar da vida poltica.Maistarde,quandoaguerraentreascolniaseaCoroaBritnicacomeou,as colonasdemonstrarammaisumahabilidade:foramadministradorasdefazendasenegcios enquanto os maridos lutavam (kanal, Leandros). 6 PARA SISTEMATIZA OS ESTUDOS1 1.EmuitasdascolniasbritnicasdaAmricadoNortehavialiberdade para a organizao dos negcios e na administrao colonial. Explique o que mudou nessa relao a partir da segunda metade do sculo XVIII. 2.OscolonosbritnicosdaAmricadoNorteserecusaramapagar diversosimpostos,comooestabelecidopelaLeidoSelo,em1765.Que princpio justificava essa atitude. 3.PorquesepodedizerqueaindependnciadosEstadosUnidos constituaaomesmotempoumavitriadasideiasiluministaseuma derrota do antigo regime? 4.AssociandooconceitodeRevoluoARevoluoNorte-Americana foi politica e econmica, como a que aconteceu na Gr-Bretanha. Por que sepodedizerqueaindependnciadosEstadosUnidosfoiresultadode uma Revoluo? 5. As formas de organizao poltica adotadas nos Estados Unidos aps a suaindependnciaforaminovadorasparasuapoca,poisdiferiamdos modelos de outros pases. Descreva que novidades foram essas. 6.Vimosqueademocraciaestadunidensetraziadoberouma contradio fundamental: proclamava a igualdadedetodos os homense mantinha a escravido nos Estados Unidos. Passado mais de um sculo, essa contradio foi superada nos Estados Unidos, no que diz respeito igualdade dos homens? Justifique sua resposta.

1 Material elaborado pelo prof. Elicio Lima para sistematizar situaes de aprendizagem na sala de aula, a intertextualidade desse trabalho consiste em um dialogo entre as obras: Histria: Volume nico:Divalte Garcia Figueiredo. 1. ed. SoPaulo: tica, 2005. Histria global volume nico: Gilberto Cotrim. 8. ed. So Paulo: Saraiva, 1995. (Feitas algumas adaptaes e grifos para facilidade o processodidticoensinoaprendizagem -2015).Sequencia didtica. Terceiro Bimestre - Segundo ano do Ensino Mdio. REVOLUO NA AMRICA DO NORTE Situao de aprendizagem 13 Histria - Prof. Elicio Lima NSrieData NOME: