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Revolução e Independências: Notas sobre o Conceito e os Processos Revolucionários na América Espanhola Maria de Fátima Silva Gouvêa Os movimentos de independência hispano-americanos nunca haviam sido plenamente associados à idéia de rolução até muito recentemente, apesar de O termo aparecer com grande eqüência na historiografia tradicional sobre as independências no continente. No conjunto das Américas, a problemática da revolução no contexto das independências sempre pareceu reservada ao caso clássico da "Revolução Americana" - a das Treze Colônias, em f ins do século XVIII - e ao caso-limite do Haiti, no qual a articulação ene revolução, inde- pendência e abolição imprimiu características sobremodo radicais ao processo. No caso hispano-americano, no entanto, "revolução" quase sempre não foi mais do que uma palavra, indicando antes uma ausência e levando a uma história contada pela ótica do continuísmo e do conservadorismo. Foi apenas nos últimos os que, sob a iuência de estudos mais recentes sobre o Antigo Regime e mais particularmente sobre a Revolução Francesa, novos rumos foram percebidos nesse processo, favorecendo a elaboração de uma história mais dinâmica da , desagregação do mundo colonial hispano-americano. E objetivo deste artigo a realização de um balanço bibliográf ico que avalie os principais marcos dessa 275

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Revolução e Independências: Notas sobre o Conceito e

os Processos Revolucionários na América Espanhola

Maria de Fátima Silva Gouvêa

Os movimentos de independência hispano-americanos nunca haviam sido plenamente associados à idéia de revolução até muito recentemente, apesar de O termo aparecer com grande freqüência na historiografia tradicional sobre as independências no continente. No conjunto das Américas, a problemática da revolução no contexto das independências sempre pareceu reservada ao caso clássico da "Revolução Americana" - a das Treze Colônias, em fins do século XVIII - e ao caso-limite do Haiti, no qual a articulação entre revolução, inde­pendência e abolição imprimiu características sobremodo radicais ao processo. No caso hispano-americano, no entanto, "revolução" quase sempre não foi mais do que uma palavra, indicando antes uma ausência e levando a uma história contada pela ótica do continuísmo e do conservadorismo. Foi apenas nos últimos anos que, sob a influência de estudos mais recentes sobre o Antigo Regime e mais particularmente sobre a Revolução Francesa, novos rumos foram percebidos nesse processo, favorecendo a elaboração de uma história mais dinâmica da

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desagregação do mundo colonial hispano-americano. E objetivo deste artigo a realização de um balanço bibliográfico que avalie os principais marcos dessa

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reflexão, assim como a possibilidade de generalização dessa nova abordagem a um número mais amplo de movimentos no continente.

1. A revolllção na sombra: entre o continllísmo colonial e o liberalismo atlântico

Assunto muito raramente considerado por historiadores brasileiros, exceto poucas e honrosas exceções (Prado, 1985), as independências latino-ameri­canas constiruíram até muito recentemente um território marcado pela presença de uma historiografia bastante convencional e pouquíssimo explicativa. Em termos gerais se pode dizer que desde fins do século XIX foi sendo cunhada uma historiografia de corte sobremodo liberal e nacionalista em cujo conteúdo era utilizado o termo revolução apenas como sinônimo de guerras de independência e, conseqüentemente, apenas enfatizando o simples caráter de ruprura insti­rucional do mundo colonial hispano-americano. Essa historiografia se prendia de modo muito particular ao relato dos eventos de natureza mais local, então tomados e analisados a partir de um ponto de vista "nacional". Era uma produção sem grandes conexões com as transfolmações mais globais, o que fazia com que o conceito de revolução não aparecesse problematizado e muito menos expli­cado.1

Além disso, pode-se argumentar também que a abundância dos esrudos produzidos nos diferentes países da América Latina encontrava-se fortemente associada a uma discussão bastante teleológica dos processos de constrUção dos diversos Estados nacionais. Buscava-se assim estabelecer uma espécie de reco­nhecimento das origens desses Estados, atitude bastante ambígua, pois, se de um lado dava destaque à maturidade política das classes dominantes locais, e portanto à necessidade de promover a ruptura do vínculo colonial até então vigente, de outro, enfatizava a inadequação das classes populares para exercer uma plena cidadania. Esse debate foi muito característico da primeira metade do século XX, quando os intelecruais travaram grande discussão acerca da crise do Estado oligárquico e da conseqüente implementação de medidas reformistas de cunho fortemente autoritário.

Em outra perspectiva, esse debate se encontrava também profundamente marcado pela oposição do processo de independência latino-americano àquele verificado nas treze colônias anglo-saxônicas. Sempre considerando a sua natureza revolucionária, as análises da Revolllção Americana salientavam carac­terísticas radicalmente opostas às observadas em OUITas partes das Américas. A cidadania, argumentava-se, fora de fato ampliada nos Estados Unidos, al­cançando grandes contingentes populacionais. Ali, as idéias liberais puderam de fato viabilizar a instauração de um novo sistema político, a democracia baseada

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na divisão dos três poderes - o executivo, o legislativo e o judiciário -, modelo radicalmente diferente daquele que ali existira anteriormente. Esta fora uma conquista inusitada e que tornara possível a preservação da unidade daquele território colonial, garantindo a estabilidade política e a harmonia social no processo de constituição de um governo nacional. Já na América Latina, a tragédia do fracionamento político, verificado a partir dos processos de independência, constituía-se em uma das principais heranças a caracterizar o processo de cons­trução dos novos Estados. Isso porque considerar o fracionamento das elites era tarefa muito mais fácil de operar do que considerar o lugar e o papel das classes populares no interior dos novos arranjos políticos instituídos a partir dos

primórdios do século XIX. Nesse sentido, a noção de revolução foi descartada, na medida em que os grupos sociais incrustados nos altos escalões das hierarquias de poder permaneceram inalterados ao longo do processo de eliminaçao do vínculo colonial que unia a Espanha às suas colônias americanas.

No pólo oposto, a década de 1950 assistiria ao aparecimento de uma nova tendência historiográfica na qual a idéia de revolução se apresentava mais pronunciada. "Revolução" surgia aqui, porém, não tanto como um conceito explicativo dos processos que configuravam as independências hispano-ameri­canas, mas como a expressão de uma causalidade externa. Tratava-se de um período muito marcado pelo ambiente da Guerra Fria, em que se observava o esforço dos Estados Unidos e dos principais países da Europa Ocidental para organizar a OTAN, concretizando uma oposição conjunta aos avanços alcançados pelo bloco comunista no contexto mundial do pós-guerra.

Autores como Godechot e Palmer (1956 e 1959) encontravam-se asso­ciados a essa tradição historio gráfica de cunho liberal que evocava deteIUlinadas características da história do "mundo Atlântico" enfatizando sua "vocação bur­guesa". Era enfatizada, portanto, a pujança de uma "revolução atlântica" no contexto de crise do absolutismo. Seria a sobreposição desse quadro de "revolução generalizada" ao mundo hispano-americano a causadora mais importante da ruptura institucional de seu colonialismo. Dessa forma, a idéia de revolução surgia aqui também não problematizada sob o ponto de vista interno dos processos mais específicos que haviam concorrido para o desencadeamento das independências.

Essa historiografia reafirmava, portanto, determinadas contradições in­trínsecas ao próprio processo de ruptura do vínculo colonial hispano-americano. Um conjunto de causas gerais era responsabilizado pela definição do curso dos acontecimentos, perdendo-se de vista as principais especificidades de caráter mais local (Chaunu, 1973: 16). Aos exemplos revolucionários caracterizados pelas experiências francesa e norte-americana, adicionava-se também a preponderân­cia do Iluminismo, das novas idéias, que faziam com que as elites hispano-ameri-

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canas optassem de forma quase que unívoca pela ruptura do vínculo colonial. Por conseguinte, os movimentos anti coloniais verificados no continente, especial­mente no Vice-Reino do Peru - a revolta de Tupac Amaru -, e no Vice-Reino de Nova Granada - a revolta comunero de Socorro -, eram tomados como sendo necessariamente movimentos separatistas e, portanto, obrigatoriamente precur­sores dos movimentos de independência no primeiro quartel do século XIX. Pouca ou quase nenhuma consideração era dispensada às diversidades sócio­econômicas características das regiões hispano-americanas, ou às fOllnas mais específicas como as novas idéias eram lidas e assumidas por seus habitantes.

lI. A revolução lJossível: guerra civil e "mutação"

Seria apenas nos anos 70 que essa visão apriorística, profundamente associada à ênfase na incidência da dinâmica externa sobre o curso das transfor­mações internas, sofreria uma revisão, a partir da contribuição crítica de Pierre Chaunu (1973). Pela primeira vez se formulou uma análise que enfatizava a valorização da complexidade interna da sociedade hispano-americana. A natureza ambígua da elite criolla era pela primeira vez apontada como principal fator a explicar o caráter mais específico das independências na região. Se, por um lado, essa elite era dominante graças à sua permanente defesa dos valores e princípios herdados dos peninsulares que se haviam estabelecido na América ao longo dos anos, por outro lado, esse mesmo grupo sofria cotidianamente um contexto de profunda discriminação em termos de sua efetiva participação na administração e no clero das diversas colônias.

2 Tudo isso concorria para uma grande tensão racial, a grande marca de todo esse processo de ruptura. A isso Chaunu agrega a questão da ausência metropolitana, reforçando a importância da fidelidade crio/la no curso dos acontecimentos, que caracterizou as duas primeiras décadas do século passado. Pela primeira vez se avançou, portanto, no sentido de pensar as guerras de independência como guerras civis em termos dos conflitos travaâos entre as diversas lideranças patriotas erea/istas no período entre 1810 e 1817. Concluindo, Chaunu relaciona essa análise, que prioriza fatores internos em relação à conjuntura externa, ao argumento de que a ruptura insti­tucional do império hispano-americano, a partir de 1820, esteve profundamente ligada à revolta liberai em curso na Espanha, o que fez com que o desfecho final da crise - as independências - fosse dado muito mais por essa alteração externa do que como uma resposta às contradições internas e intrínsecas à sociedade colonial hispano-americana (Chaunu, 1973: 37).

A consideração dos processos de independência encontrava com Chaunu, finalmente, uma leitura que, a despeito de ainda estar muito vinculada a uma valorização dos fatores externos, priorizava as características e contradições

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internas dos diversos movimentos separatistas. Nesse mesmo sentido, Maria Lígia Prado, em seu breve estudo sobre a formação dos Estados nacionais latino-americanos, também enfatizaria o caráter de ruptura da ordem colonial, declarando discordar daqueles que afirmavam que nada havia mudado, pois na verdade o século XIX se caracterizava pela destruição das estruturas político­jurídicas herdadas do período colonial (Prado, 1985: 2).

Chegou-se assim, na década de 80, à certeza de que as independências latino-americanas não poderiam mais ser estudadas apenas sob o signo do continuísmo. Encontrava-se, portanto, consolidada a percepção de que algo de concreto havia sido alterado a partir da quebra do vínculo colonial. O desafio era precisar as especificidades e a natureza dessa mudança. Curioso é perceber que esse desafio foi então fortemente incentivado, inicialmente não tanto por estu­diosos preocupados com a conjuntura das independências, mas sobretudo pelo impacto causado por uma revisão marxista em curso nos estudos sobre a Revolução Francesa.

François Furet, ao propor e iniciar tal revisão, abriu um caminho novo e bastante fecundo para os estudos sobre os movimentos de independência a partir de uma reavaliação do conceito clássico de revolução. Seu livro Pensando a Revolução Francesa, publicado pela primeira vez em 1978, propõe um modelo explicativo alternativo para o estudo do fenômeno revolucionário francês, to­mando-o como um processo e um acontecimento ao mesmo tempo, definindo assim o conceito de revolução como uma modalidade de ação social. Ao propor essa releitura, Furet passava a operar com um modelo de análise que enfatizava a importância das continuidades e rupturas no curso do processo revolucionário francês, abrindo aquele contexto histórico a uma análise mais atenta e sensível a todas as possibilidades concretamente presentes. A influência da obra de Toc­queville no desenvolvimento de sua reflexao subsidiava uma tendência do autor a enfatizar de forma mais clara o peso da permanência da tradição absolutista do que os elementos de ruptura subjacentes à instauração de uma política democrática, que passava a vigorar enquanto ideologia nacional no decurso do processo revolucionário francês.

O grande impacto causado pela obra de Furet ficou evidente principal­mente através de muitos dos trabalhos apresentados por ocasião das comemorações do bicentenârio da Revolução Francesa. A publicação, em 1988, de seu Dicionário crítico da Revolução Francesa, escrito em co-autoria com Mona Ozouf, consolidou sua posição destacada em relação aos estudos sobre revolução. Foi justamente num dos vários colóquios comemorativos, organizados em 1989, que pela primeira vez se pôde observar a aplicação da reflexão desenvolvida por Furet à análise dos processos de independência hispano-americanos. François­Xavier Guerra apresentou, nessa ocasião, uma comunicação que antecipava boa

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parte dos argumentos que iriam compor seu livro editado três anos depois, Modernidad e illdepmdmcias. Eruayos sobre las revoluciO/les hispánicas (1992). Guerra publicaria novo artigo sobre o assunto em 1994, texro que tornaria ainda mais clara sua percepção do caráter revoluciO/lário das independências latino-america­nas. Finalmente, portanto, chegava-se a uma abordagem capaz de enfatizar a dimensão da mudança, da transformação, que caracterizava o processo de ruptura do vínculo colonial na América Hispânica.

A análise de Guerra teve como ponto de partida principal a obra já citada de Pierre Chaunu, na qual se encontrava fortemente caracterizado o quadro de profunda crise do absolutismo espanhol. A devida ênfase foi dispensada ao processo de desintegração da estrutura imperial, composta pelo vasro conjunto político da monarquia bourbônica, o que possibilirou ao autor definir o contexto de revolução hispânica (Guerra, 1993: 42-50). A partir de 1808, o mundo hispânico iniciou seu trânsito para a modemidade política por 11m duplo viés. De um lado, a ruptura do Antigo Regime, diante das sucessivas abdicações reais, possibilitava experimentações e realizações em termos de novas formas de soberania e repre­sentação política. De outro lado, essa conjuntura de crise servia de espaço concrero para novas e inesperadas experiências, através das quais os homens iam construindo novos conceitos, vocábulos e soluções voltadas para as situações então vivenciadas.

O autor definiu, assim, dois cortes cronológicos reveladores desse macro­processo hispano-americano. Primeiramente, o período entre 1808 e 1810, ou o ponto de mutação, como definiu o autor, momento no qual se dá pela primeira vez o debate sobre a natureza da representação e da soberania americana no interior da monarquia espanhola (Guerra, 1993: 31 e 1994: 208). Indagações como "que nação formamos?", "qual a natureza da relação existente entre a América e a Espanha?", "qual o significado da soberania nacional?" e "qual o teor da propalada igualdade de direitos entre os territórios americanos e a Espanha?" eram, enfim, questões que atestavam o próprio contexto de desintegração do Antigo Regime: A ruptura aqui se dava em termos da quebra da antiga relação pessoal e recíproca estabelecida entre o súdito e o rei, defmida portanto como uma relação binária. A noção de nação enquanto uma grande família era perdida a partir do desaparecimento da pessoa real.

Até então, segundo Guerra, europeus e americanos eram entendidos, especialmente sob o ponto de vista americano, como pilares da monarquia espa­nhola. O ano de 1808 instauraria uma nova lógica representativa, corporificada inicialmente pela organização das juntas de governo. Entretanto, o que mais distinguiria esse período seria justamente o faro de que ele se constituiu em um ponto de mutação ideológica que, através de dois caminhos principais e com dimensões bastante concretas, propiciou a transformação das antigas noções de

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soberania e de nação. Em termos gerais, dois novos fenômenos viabilizaram essa mutação por todo o continente. De um lado, a abundante proliferação de publicações viabilizava e garantia o franco acesso de grandes contingentes popu­lacionais às novas idéias então em voga (Guerra, 1993: capo 3 e 1994: 210). A circulação, e mesmo a reimpressão, de periódicos peninsulares acabavam por desempenhar 11m papel crucial em favor da grande velocidade com que começava a circular a crítica peninsular ilustrada à monarquia no interior do próprio ambiente colonial hispano-americano. Por outro lado, o desenvolvimento e a expansão de novas fOlIuas de sociabilidade passavam a constituir importantíssi­mos espaços nos quais essas novas idéias eram cliscutidas e compartilhadas. A proliferação da organização de tertúlias e de clubes literários constituía-se em

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característica preponderante em todo o terri tório latino-americano. E no interior desses novos espaços que os homens começam a compartilhar sentimentos e, conseqüentemente, constituir um novo vocabulário político, capaz de fazer nascer e concretizar uma modemidade política, tanto em termos de idéias como também em termos dos objetivos e dos ritos que configurariam uma nova prática política no interior das sociedades coloniais. O ano de 1810 iria assistir à organização das principais juntas de governo americanas, a começar pelas de Caracas e de Buenos Aires, em nome dos direitos primitivos e enquanto estratégia que evitasse a acefalia do corpo político nas diversas regiões.

O segundo marco cronológico indicado por Guerra seria definido pelo desencadear das revoluçoes de indepelldêllcia a partir de 1810. A ruptura ocorreria a partir da ofensiva da França que, através do seu conselho de regência, não reconhecia, naquele momento, a legitimidade das juntas americanas. Como antes fizera Pierre Chaunu, também Guerra enfatizou esse fator externo como ele­mento crucial a detonar as guerras civis que culminariam na instauração do processo revolucionário das independências. Regiões e/ou cidades entravam em conflito aberto em torno do fato de aceitarem ou não o governo provisório espanhol, ou apenas por se oporem de todas as maneiras ao governo central da monarquia. A abolição do direito de igualdade entre americanos e espanhóis, detemlÍnada em 1812, eliminava a possibilidade de um sentimento muito caro aos criollos, aos americanos, como então já se poderia talvez dizer. Isso culminaria em uma escalada de eventos que levou ao acirramento dos ânimos e das vivências definidoras de novos comportamentos e atitudes. Em outros termos, observava-se a própria gestação da modetnidade política em seu sentido plenamente processual.

A obra de GuelIa abre, portanto, uma nova era para o desenvolvimento dos estudos sobre as independências latino-americanas, ao enfatizar com vigor o duplo caráter dessa conjuntura revolucionária - um processo e um acontecimento ao mesmo tempo. Resta assim considerar essa análise mais ampla em relação a alguns casos concretos que talvez possam tornar mais evidentes a validade dessa

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proposta, mas que também não poderão deixar de contemplar o peso um tanto comprometedor de determinadas generalizações operadas pelo autor. A proposta que aqui se apresenta, na verdade, diz mais respeito a um esforço de mapeamento de algumas das principais especificidades regionais no interior do esquema analítico proposto pelo autor.

lI!. A revolução de fato: tensões sociais no "vazio de poder" hispânico

A análise desenvolvida por Guerra (1992) tomou de muito perto os elementos oriundos de sua pesquisa sobre a Nova Espanha. Esse é o cenário que Guerra conhece mais profundamente. Seguindo sua análise e os clássicos estudos de Ernesto de la Torre Villar (1992), Jacques Lafaye (1992) e Leslie Simpson (1966), podemos perceber a clara relação estabelecida entre os argumentos desenvolvidos por Guerra e os principais marcos que caracterizaram o processo de independência da Nova Espanha.

Cabe destacar inicialmente a importância econômica desse Vice-Reino para a Espanha, sendo ele sozinho responsável por 67% de toda a prata produzida na América. O período entre 1790 e 1810 foi caracterizado, de um lado, pelo grande crescimento populacional, quando o total da população aumentou de 4,5 milhões para 6,2 milhões de habitantes, sendo esse crescimento mais pronun­ciado nos setores mestiços. Por outro lado, esse período assistiu também a um processo de profunda deterioração das condições de vida dos setores populares, com a ocorrência de uma série de crises agrícolas e a emergência do fenômeno do banditismo rural como contrapartida. A miséria chegava a níveis até então jamais observados no Vice-Reino, num desdobramento muito direto da grande elevação dos preços do milho e da crescente concentração da propriedade de terras. O ano de 1810 se delineava então como o ano da fome e o ano da revolução, uma situação bastante similar àquela verificada na Revolução Francesa. Em terlllos raciais, a estrutura social se apresentava de forma bastante rígida. De seu total, 60% eram constituídos por índios e apenas 18% por brancos, sendo os restantes 22% integrados por mestiços e outros grupos étnicos. A riqueza se apresentava como distinção básica entre os principais grupos sociais, sendo que os espanhóis concentravam a maior disponibilidade de capital e de cargos administrativos no Vice-Reino, compondo assim uma aristocracia que contro­lava boa parte da mineração, do comércio e da propriedade das terras. A relação numérica entre peninsulares e criollos era de 1 para 70, o que explicava em grande medida a frustração criolla em relação a esse monopólio político e econômico dos peninsulares. Nessa conjuntura de crise, a possibilidade de abolição dos tributos pagos pelos índios e mestiços constituía-se em elemento altamente revolu-

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cionário, na medida em que envolvia os interesses mais caros tanto de criollos como de peninsulares.

A Igreja Católica era a instituição mais estável no interior dessa conjun­tura de crise. Sua capacidade histórica de combinar um número bastante dife­renciado de recursos financeiros fazia dela uma das mais ricas instituiçóes de poder da sociedade colonial mexicana. Seu forte potencial de cobrir gastos e oferecer empréstimos agregava poder adicional àquela que era uma das principais agências ordenadoras do mundo colonial. Para alguns analistas, a quebra da ordem institucional na Nova Espanha se iniciaria em 1804, quando a própria Espanha ordenou o confisco dos recursos financeiros da Igreja pelo Estado. Seria aí o momento em que se daria pela primeira vez a quebra da unidade na frente peninsular, na medida em que seriam vários os espanhóis no Vice-Reino que se oporiam a tal decisão. O próprio vice-rei Iturrigaray tomaria o partido de defesa da Igreja, favorecendo uma ampla divisão no interior do grupo peninsular.

O ano de 1808 passaria a marcar a escalada dos conflitos entre essas duas facções uma vez instaurado o debate sobre a natureza do governo da Nova Espanha diante da invasão napoleônica. Iturrigaray, o vice-rei, mais uma vez assumiria uma posição destoante no interior da facção peninsular ao defender a organização de um governo autônomo e independente no México em face da abdicação de Fernando VII. Entretanto, o conjunto mais amplo da facção espanhola se anteciparia à realização dessa proposta. Em setembro de 1808, D. Gabriel Yermo, um espanhol, rico plantador de açúcar, casado com a fllha de lima das principais famílias criollas, ordenaria a prisão do vice-rei, passando a coorde­nar a organização de um governo plenamente favorável aos interesses espanhóis e aguardando assim a restauração da monarquia espanhola. A marca dessa fase inicial foi justamente a quebra da ordem institucional por parte dos próprios espanhóis, marca da ilegalidade que viria, assim, a configurar todo um quadro de debilidade crônica da gestão dos vice-reis que se seguiram.

Seria nessa conjuntura instável que se daria a organização de movimen­tos clandestinos em prol da independência da Nova Espanha. A base principal de desenvolvimento desses movimentos se deu através da organização de so­ciedades secretas. Destacou-se fortemente, nesse sentido, o Clube Literário de Queretáro, do qual fazia parte o padre criollo Miguel Hidalgo y Costilla. Nesse espaço de intenso debate intelectual é que ele teria tomado conhecimento pela primeira vez da declaração dos direitos do homem, do contrato social, enfim, das doutrinas mais caras aos revolucionários franceses. Ele, que era um profundo conhecedor da cultura e dos hábitos indígenas, falando vários de seus dialetos, vivia cotidianamente o dramático contraste social verificado entre ricos e pobres em sua paróquia de periferia. Esse foi o percurso realizado por Hidalgo no desenvolvimento de sua idéia de revolução.

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A especificidade de Hidalgo, entretanto, talvez residisse mais no fato de que para ele uma solução política ideal se encontrava associada à união do México independentemente da pessoa de Fernando VII. A conspiração em curso na região de Queretáro planejava uma declaração de independência em nome do rei de Espanha. Se, por um lado, o famoso "grito de Dolores" foi muito mais o desdobramento de uma delação em franca associação a um quadro de miséria crônica, fica bastante claro o percurso feito pela noção de soberania informando essa dada conjuntura política. Sob a bandeira "morte aos guachupines" iniciava-se um amplo movimento popular em busca da restauração de uma ordem usurpada. Em defesa, portanto, da religião católica e do rei. Essa foi a marca primeira e talvez a mais fundamental de todo o processo de independência do México tomado em sua longa duração, ao se considerar anos mais tarde o plano das três garantias editado por lturbide.

A combinação de fatores incidindo no forte caráter popular e de quebra da ordem acionado pelo movimento de Hidalgo fizera com que o núcleo criollo, passível de uma possível união com esses insurgentes, recuasse no sentido da manutenção da ordem colonial e, conseqüentemente, do apoio à resistência peninsular, desdobrando-se assim na organização das milícias criollas. Hidalgo havia abolido o tributo indígena e a escravidão, defendendo também a restituição das terras indígenas comunais nas áreas sob seu comando. Essa era a base daquilo que alguns definiram como sendo o seu radicalismo agrário. A pouca organização das forças de Hidalgo levariam ao seu recuo para a região norte, contexto que culminaria com a sua prisão e subseqüente execução.

Por essa ocasião, outro importante padre criolto já havia aderido ao movimento de Queretáro. José Maria Morelos de Caracuaro já se constituía então em uma das mais importantes lideranças do movimento. Conhecedor do per­curso seguido pela ação liderada por Hidalgo, desde muito cedo desenvolveu uma forte preocupação com a organização do movimento insurgente, devotando sua atenção ao preparo e organização de seu exército. Dedicaria também cuidadosa atenção à reorganização dos impostos arrecadados nas áreas sob seu comando, buscando com isso uma melhor organização dos recursos materiais disponíveis para a ação de seu movimento. Usando de um discurso político mais moderado, defendia a religião católica e o sistema republicano, este com base em um sistema eleitoral e na clássica divisão dos três poderes -executivo, judiciário e legislativo. Para ele a guerra de independência configuraria uma guerra sama. O texto constitucional promulgado na cidade de Apatzingan em 1814 detelminava em seu artigo I SO que a qualidade de cidadão seria perdida pelo crime de heresia (Romero, J. L. & Romero, L. A. 1977: 61, voI.II). Apesar desses aspectos conservadores, sua fala era consistentemente voltada para o ataque dos sócio­economicamente poderosos. Sua fala era marcada por um fortíssimo senso de

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nacionalismo, sempre em defesa dos americanos, da abolição das castas, dos tributos indígenas e da escravidão. Freqüentes eram também seus discursos pregando a necessidade de uma ampla reforma agrária que, de fato, garantisse a propriedade das terras àqueles que nelas trabalhavam, e defendendo uma política de altos salários para os trabalhadores.

Para Morelos todo esse conjunto de metas só seria passível de implemen­tação caso o regime colonial fosse de fato destruído. Nesse sentido, seu ideário era bastante claro. A independência só teria sentido se acompanhada da plena destituição do governo colonial. Para ele a figura do rei espanhol não era mais portadora de qualquer significado que justificasse a sua preservação. Os direitos dos homens encontravam uma única forma de representação -um governo eleito em prol da defesa da religião católica no país. Aqui se encontrava provavelmente a diferença mais significativa de sua atuação quando contrastada com a de Hidalgo. Como antes afirmara Guerra (1993 e 1994), o debate acerca das novas idéias acompanhado de uma vivência concreta do desenrolar dos acontecimentos - processo e acontecimento -, era o percurso pelo qual os homens criavam novas modalidades de ação, novas opções de arranjos políticos para os desafios que suas sociedades lhes propunham. A nova forma como Morelos encaminhava sua ação revolucionária lidava recorrentemente com o fato de que se, por um lado, os homens já poderiam abrir mão da figura real, como alguém que servia de referência básica para a sistematização das relações sociais, a religião católica oferecia uma tradição secular capaz de garantir os meios para a defesa de valores que mobilizavam o conjunto social como um todo. O p01JO, em contrapartida, passava a ser a base sobre a qual era gradualmente constituída a nova noção de soberania, segundo a qual a representação nacional deveria ser composta de deputados eleitos conforme o prescrito na constituição de Apatzingan (Romero, J. L. & Romero, L. A. 1977: 59, vol. II). Sua ênfase era bastante clara em telmos de constituir e fortalecer a base constitucional do novo Estado independente estabelecido em 1813.

A despeito de todo o esforço de organização levado adiante por Morelos, a reaçao criolla e peninsular mostrava-se cada vez mais fortalecida. Morelos seria primeiramente derrotado pelo coronel Agustin lturbide em Valladolid, posteri­ormente seria preso e teria suas forças desmanteladas em 1815. Condenado por crime de heresia pelo tribunal do Santo Ofício, seria fuzilado fora da cidade do México devido a temores de reações populares. A morte de Morelos significaria a morte do movimento insurgente, como também a consolidação da posição criolla em termos de uma independência sem mudança social e política. Na luta contra os insurgentes, o setor criollo da facção branca havia constituído um exército bem treinado, em condições de, em um segundo momento, investir contra as forças pminsulares.

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Seriam necessários outros seis anos para que essa investida fosse reali­zada. No contexto da reação liberal espanhola, a �dministração colonial da Nova Espanha iniciou uma avaliaçãq mais sistemátic:�l da sua posição no interior da monarquia hispânica, agora sob a liderança daquele que havia vencido Morelos anos antes. Nesse momento, Iturbide desenvolvia uma aliança precária com Vicente Guerreiro, líder remanescente daquilo que havia restado das antigas forças insurgentes.]untos, eles elaborariam um plano de independência em 1821, o plano de Iguala, calcado em três garantias básicas: a independência imediata, a unidade na igualdade de trato entre espanhóis ecriollos e a religião -a supremacia da Igreja cat6lica. O exército, agora denominado mgarame, seria o responsável por zelar pelos três prinCÍpios definidores do novo Estado independente. Defen­dendo a organização de uma monarquia constitucional em fins de 1821 e início de 1822, Iturbide acabaria por tomar o poder para si pr6prio, em uma escalada de eventos cuja maior marca seria o triunfo da força e dos privilégios tradicionais em reação à nova monarquia constitucional espanhola. Seria apenas em 1823 que Antonio Lopes de Santa Anna iniciaria uma reação militar em oposição a Iturbide. Isso levaria, em 1824, à instauração de um sistema republicano no México independente, com a promulgação de uma constituição que definia a organização de um sistema fede,ativo, sendo restabelecido o Congresso e reafir­mada a proposta de defesa das três garantias: união, religião e independência.

Em termos gerais, todo esse processo s'e apresentava caracterizado por

duas fases principais. A primeira, marcada pela pujança do movimento insur­gente, fazia do "grito de Dolores" o marco de ruptura em todo o contexto revolucionário. Tanto foi assim que, na introdução do plano das três garantias apresentado por lturbide, um dos argumentos que justificavam a proposta de ruptura de 1821 era justamente o ato fundador de Hidalgo. Apesar das desgraças e da desordem que havia causado, o "grito de Dolores" havia fIXado também "a opinião pública de que a união geral entre europeus e americanos, índios e indígenas, [serial a única base sólida em [que poderia 1 descansar nossa comum felicidade" (Romero,]. L. & Romero, L. A., 1977: 284, vol. 11).

Essa marca da mutação na atitude tanto dos setores populares quanto dos criollos configuraria o processo revolucionário em grande parte, fato que acabaria por enfatizar dois grandes traços de c01ltinuidade naquela conjunrura de transfor­mações: a Igreja catõlica e o conjunto de tradições e de privilégios que havia muito vinha caracterizando a facção criolla no interior da sociedade mexicana. Os debates então travados nos principais salões literários viabilizavam soluçoes para os impasses vivenciados por uma elite circunscrita no interior de uma posição deveras ambígua. As três gar;jntias constituíram, em grande medida, a estratégia

,

pela qual todos os segmentos sociais poderiam pt:lluanecer juntos, preservando certas configurações tracticionais de uma dada trama das relações de poder.

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Brancos, de um lado, e índios e mestiços, de outro, permaneceriam ambos apartados pelo velho elemento de distinção social: a riqueza material. A revolução da independência havia alterado o conteúdo do discurso político - no nível do seu vocabulário, dos seus significados e dos seus objetivos - e portanto marcaria uma ruptura. Afinal, uma nova noção de soberania mais vinculada à figura do povo encontrava-se em vias de consolidação em associação com a defesa dos valores intrínsecos à religião católica. Mas ela também se apresentava como um processo que por isso mesmo possibilitava continuidades fundamentais no campo das relações sociais.

No tocante aos acontecimentos que marcaram a independência do Vice­Reino do Peru, grandes são os contrastes observados em relação ao caso mexicano. Em uma breve consideração do processo, chama a atenção sua tardia ocorrência em contraste com os demais casos hispano-americanos. Foi apenas em 1826 que o Peru se tomou realmente um país independente. Esse fato seria bastante surpreendente aos olhos de uma historiografia mais tradicional que sempre enfatizou o caráter separatista dos movimentos anticoloniais do Peru setecentista e, portanto, sua natureza necessariamente precursora do posterior movimento de independência.

Na verdade, a questão de maior destaque seria o contexto cultural característico dos movimentos do século XVIII. Vasta é a bibliografia que se tem dedicado ao estudo dessa questão (Gouvêa, 1997). Sua relevância se baseia na trajetória do mito inkarrí que, ao longo dos séculos da história colonial peruana, havia tomado possível a permanência de elementos culturais oriundos das antigas tradições ligadas ao antigo império inca, e que naquela conjuntura de crise tomaria possível a emergência do mito do retomo do inca em uma atitude messiânica e restauradora dos direitos primitivos dos povos do Vice-Reino. O índio mestiço José Gabriel Condorcanqui, também conhecido como Tupac Amaru, líder do movimento iniciado na região de T inta, conclamava as comu­nidades indígenas, em nome do rei de Espanha e de Jesus Cristo, a se insurgirem contra as autoridades coloniais. Sua ação era baseada no argumento de que, estando Carlos 111 fisicamente muito distante, não tinha conhecimento do quadro de usurpação dos direitos dos povos do Peru. A insurreição encontrava-se, portanto, justificada na atitude restauradora por ele encabeça da.

A intensidade dos conflitos que caracterizaram esse e outros movimentos anti coloniais do mesmo tipo marcaria a história desse momento de forma singular. A rapidez com que circularam as notícias sobre o cerco da cidade de Cuzco e sobre a violência das lutas travadas serviria de tema de reflexão para a maioria das elites criollas na América hispânica. Muito do temorcriollo em relação às classes populares foi gestado nessa ocasião, a partir das notícias acumuladas nesse período, levando a uma posição acerca da inviabilidade de alianças entre

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ambos. Essa seria talvez uma das razões mais imponantes para explicar o atraso no desfecho do processo de independência peruana, na medida em que setores criollos, a despeito de toda a sua participação nos debates em curso nos círculos letrados, não foram capazes de - ou talvez não tenham desejado - agir no sentido da construção de alternativas para a reelaboração da noção de soberania de modo a viabilizar a transformação do governo colonial ao longo do primeiro quartel do século XIX.

Foi nesse mesmo sentido que o vice-rei Abascal decidiu impedir a organização de uma junta de governo em resposta aos acontecimentos de 1808. Fato deveras singular no contexto hispano-americano, a ausência dessa insti­tuição de governo naquela conjuntura inviabilizaria o acesso a um espaço insti­tucional capaz de fomentar o debate formal sobre a natureza das relações entre a Espanha e a América, considerando assim a representação dos direitos e a soberania americalla. Essa marca favoreceu a posição pmj/ISUlar e a atitude conivente do grupo criollo em retardar o máximo possível o debate sobre a natureza da soberania peruana. Isso fez com que o Vice-Reino servisse como lima importantíssima base contra-revolucionária em prol das forças interessadas em salvaguardar os interesses espanhóis em solo americano.

Essa situação explicaria em grande medida o fato de o Peru se apresentar como um tema e uma 1!ecessidade de trabalho comum para as principais lideranças patriotas da América hispânica (Candamo, 1992: 219). Nesse ambiente, as so­ciedades literârias não teriam concorrido para o desenvolvimento de uma re­flexão sobre os direitos dos homens na direção da proposta de ruptura do vínculo colonial. Poucos seriam os homens que, a exemplo do índio Pumacahua, foram capazes de liderar um movimento de independência na década de 1810. Isso entretanto se configuraria mais como uma rememoração dos eventos de 1780 e 1781 aos olhos das elites criol/as, fato que alimentava ainda mais o seu temor em relação a qualquer alteração do status quo vigente - consolidando-se assim sua tendência a seryir cada vez mais como antecâmara da resistência realista no continente. A década seguinte assistiria à constituição de uma ofensiva das lideranças criollas dos territórios vizinhos ao Peru. Uma atitude que tanto revelava a necessidade concreta de eliminar a presença espanhola no continente, como enfatizava a importância de promover a desestruturação da estrutura jurídico-ad­ministrativa do império espanhol na América como um todo. Tanto San Martín quanto Bolivar voltar-se-iam para a liberação do território peruano como um desfecho necessário e emblemático dos processos de emancipação política das Províncias Unidas do Sul e da Grã-Colômbia.

Na conjuntura peruana, portanto, destacavam-se mais vigorosamente os elementos de COmi1luidade no interior daquilo que poderia ser tomado como uma conjuntura revolucionária de independência. Colltilluidade essa que talvez encon-

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trasse uma expressão ainda mais forte no fato de que a história política peruana do século XIX seria profundamente marcada pela busca do estabelecimento de acordos internacionais em favor da unidade hispano-americana, destacando-se nesse sentido os congressos internacionais organizados no próprio Peru em 1847-8 e em 1864 (Candamo, 1992: 224-225).

A rnptura mais flagrante nesse contexto talvez não tenha sido fruto dos acontecimentos que marcaram o primeiro quartel do século passado - como argumentara Guena, em terlllos da circulação das novas idéias e da prática associada às novas redes de sociabilidade. O essencial residiria em que um ingrediente cultural formador da atitude insurgente nos anos 'de 1780 encon­trava-se mais associado a uma permanência cultural que colocava os valores de um passado inca, glorioso e profundamente mitificado, no centro dos sentimen­tos e que mobilizava os homens para um movimento de desacato à ordem colonial. Nesse sentido, não tanto as idéias foram tão determinantes, mas muito mais o fato de que os homens haviam constituído uma memória de sua sociedade bastante dinâmica, a qual, se acionada, talvez pudesse viabilizar a reestruturação de todo um modo de vida onde não estariam salvaguardados os privilégios e os direitos do grupo até então dominante.

Este quadro dificultava bastante, por um lado, a reelaboração da noção de soberania à luz de seu gradual deslocamento da figura real em direção à idéia de povo. Tanto o rei como o i/lkarrí encontravam-se fortemente associados a urna cultura política impregnada de sentimentos pactis/as. Por outro lado, a ambigüi­dade criolla em relação aos setores populares reafirmava ainda mais esse caráter de espera no processo de mutação ideológica no interior de um Peru insurgente. Por tudo isso talvez se pudesse argumentar que, mais do que em qualquer outro lugar da América hispânica, no Peru a revolução teria vindo de fato de fora -muito mais como uma necessidade ampliada de todas as lideranças criol/as do continente do que como ullla decisão gerada a partir das vivências estabelecidas no interior do próprio Vice-Reino.

Dando continuidade a esse rápido painel comparativo de alguns dos principais processos de independência na América Espanhola, caberia ainda recuperar algumas das características que marcaram esse processo no Vice-Reino da Nova Granada e na capitania da Venezuela. De um lado, a precocidade dos eventos aí observados diz respeito, segundo alguns autores, à natureza mestiça de sua população e à sua localização geográfica (Bushnell, 1985: 109 e 111). De outro lado, a Sociedade Patriótica de Caracas vinha, havia já algum tempo, servindo de espaço para o vigoroso debate sobre os direitos naturais e civis dos indivíduos. Homens como Francisco Miranda e Simón Bolivar, recém chegados do exterior, onde também haviam participado de diferentes tipos de círculos intelectuais, compartilhavam novas leituras e idéias, promovendo assim o surgimento de uma

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noção de soberania associada a novos valores. A grande tensão presente nos conflitos dos primeiros anos da década de 1810 girava justamente em torno da questão do federalismo, ou seja, em tenllos do grau de liberdade que deveria ser garantido aos homens e às regiões no interior do sistema político em vias de . -

orgamzaçao. Em 1811, foi organizado o governo das Províncias Unidas da Nuva

Granada, que logo encontrou oposição no recém-organizado Esrodo de Cundi­namarca. As lutas intestinas que se seguiram entre as diferentes facções patriotas e realistas configuraram um quadro de debilidade crônica, afetando ambos os grupos. Essa situação fez com que homens como Simón Bolivar refletissem sobre o conjunto de idéias ilustradas então em voga, favorecendo assim uma discussão que considerava em melhor estilo a especificidade das sociedades americanas. Cabia aos próprios americanos, segundo Bolivar, realizar uma reflexão específica sobre o conjunto das idéias ilustradas que desenvolvesse ou propusesse soluções mais adequadas para os problemas observados no continente (Lynch, 1983: 09).

Bolivar, dessa maneira, passava a defender uma posição consoante com sua preocupação de restringir a ampliação do acesso de um maior número de indivíduos aos direitos básicos então defendidos pelo pensamento ilustrado e liberal. Sua crescente crítica ao federalismo surgia como uma salvaguarda discreta em favor da permanência de certos privilégios do grupo do qual ele fazia parte. Se, em 1811, ele se tinha posicionado favoravelmente à instituição deum governo federal, mais tarde, em 1815, por ocasião de seu exílio voluntário no Haiti, começaria a argumentar em favor de um governo fortemente centralizado como forma de contornar as fragilidades resultantes da complexa condição do cidadão americano. Ele, que era essa espécie média, constituída politicamente a meio caminho entre os legítimos proprietários do país e os usurpadores espanhóis. Essa situação dificultava dramaticamente a construção de um governo independente no continente em face da inexistência de um conjunto de direitos que pudesse subsidiar tal proposta (Romero,]. L. & Romero, L. A. 1977: 89, vol. II). Bolivar assumiria cada vez mais os valores de um discurso autoritário, pregando a restrição dos direitos e das liberdades, e conseqüentemente assumindo uma posição cada vez mais pessimista em relação ao futuro da América hispânica.

Essa posição encontraria sua expressão mais acabada no pensamento de Bolivar em fevereiro de 1819, quando, discursando por ocasião da abertUra do Congresso de Angostura, propôs a instituição do sufrágio limitado, a eleição de um senado hereditário contemplado com amplos poderes na gestão pública, tudo isso acompanhado de um poder moral, composto por cidadãos eminentes (Bush­nell, 1985: 139 e Romero,]. L. & Romero, L. A. 1977: 114-115, 117-118 e 124-125, vol. II). Era verdade que essas propostas viriam também acompanhadas por uma defesa da abolição da escravidão e da concessão de beneficios especiais aos

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soldados patriotas. Esse seria o principal caminho, a fórmula através da qual Bolivar argumentaria em favor da defesa dos direitos do homem e da ampliação da soberania do povo, a despeito do arsenal de medidas conservadoras e elitistas por ele defendidas na mesma ocasião. Mas essas duas últimas medidas foram promessas reafirmadas ao longo de toda a luta travada contra a facção realista, estratégia pela qual Bolivar e os patriotas conseguiram reunir uma força militar capaz de obter a vitória final.

Seria, pois, ao longo dos anos de 1819-1821, que se daria a consolidação ,

das posições republicanas. A liberação de Caracas, se seguiriam os congressos constituintes de Carabobo e de Cúcuta. Nessas ocasiões, seriam editadas uma constituição centra1ista para a nova república, a despeito da aprovação de poderes ampliados para o legislativo, e a lei do ventre livre - ao invés da plena abolição da escravidão.

Ambas as decisões assinalariam derrotas parciais para Bolivar. Derrotas essas que configuravam, antes de mais nada, o fracasso de Bolivar em elaborar estratégias que de fato viabilizassem a unidade dos diversos grupos crio/los no interior de uma unidade política mais ampla, como fora o caso da Nova Espanha. O posterior fracionamento político da Grã-Colômbia culminaria no desdobra­mento final desse fracasso, fruto em grande medida da ausência de fórmulas políticas que adequassem os interesses mais particulares das diferentes lideranças no interior de um projeto maior.

A noção de independência, numa perspectiva revolucionária, encon­traria nessa região vários elementos a seu favor. O ponto de mutação estaria aí presente conforme os cortes cronológicos definidos por Guerra, configurando-se, portanto, a pujança dos debates intelectuais no interior dos principais clubes literários e seus similares. Essa vivência seria uma marca importante a configurar as disputas que já se iniciavam no ano mesmo de 1812. Em relação ao marco da revolução liberal espanhola de 1820, haveria um problema de adequação quanto ao seu impacto em relação ao processo de reconfiguração da noção de soberania então em curso.

Na verdade, o marco temporal fundamental estaria dado no final do ano de 1816, quando Bolivar, ao regressar do Haiti, intensificou sua investida contra os realistas da Venezuela. Seria em 1817 que Bolivar prometeria pela primeira vez a divisão das terras dos inimigos entre os soldados da tropa, passando a discursar em favor também da abolição da escravidão.

O marco posto pelo congresso constituinte de Angostura, em dezembro de 1819, seria talvez a melhor expressão das bases dessa especificidade temporal no que tange à originalidade própria dessa ruptura em relação ao impacto causado pelo movimento liberal espanhol de 1820.

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rv. Conclusão: a revolução como c01lCeito operativo para pCl/Sar as

independê1lCias

Concluindo este breve balanço bibliográfico, poderíamos apontar duas questões principais. Primeiramente, caberia salientar a importância da abordagem apresentada por Guerra (1993 e 1994) em teImos da análise das independências na América Latina através de seu viés revolucionário. Estudar essa conjuntura a partir da ênfase no seu caráter de mudança propicia um olhar mais apurado sobre os atores diretamente envolvidos, assim como sobre a pujança da dinâmica interna dos processos. Nesse sentido, as independências se apresen­taram como uma resposta da própria sociedade colonial aos impasses então vividos. Por maior que tenha sido a importância dos fatores externos presentes, especialmente sob o ponto de vista político e econômico, este foi um processo histórico configurado por atores próprios, que de fato vivenciaram as vicissitudes da crise posta no mundo colonial no início do século passado e que, a partir dela, acionaram atitudes de resposta em benefício de seus interesses fundamentais.

Outra característica importante que resulta da abordagem de Guerra é o fato de que ela afirma e demonstra a ocorrência de transfoI mações com dimensões bastante concretas no interior do território americano ao longo do processo de ruptura do vínculo colonial. Nesse sentido, a história do continente não resultaria pura e simplesmente da preeminência dos interesses externos e da correlata subserviência das classes ali dominantes. Havia atores historicamente consti­tuídos, lutando em defesa de seus interesses e propiciando a gestação de soluções que melhor pudessem atender suas necessidades.

Por tudo isso, a história da independência hispano-americana é passível de ser analisada a partir dos elementos que tiveram um papel preponderante no interior do macroprocesso constituído pela desestruturação do mundo colonial americano. Trata-se no mini mo de uma história que redescobre a complexidade marcada tanto por grandes conflitos armados como por grandes enfrentamentos no plano das idé"ias.

Por outro lado, a aplicação dos marcos de análise apresentados por Guerra a diferentes regiões do continente de fOI ma indiscriminada, além de não respeitar o rigor original do autor, implicaria também uma grande simplificação de uma análise capaz de contemplar o quadro de imensa diversidade cultural, geográfica, econômica e social que caracterizava a América Hispânica. O Peru seria talvez o caso que de mais perto poderia fragilizar parte da abordagem encaminhada por Guerra. O vigor social das massas, que marcou os movimentos anticoloniais no final do século XVIII, abriria uma reflexão acerca da especifici­dade da região. Isso poderia, provavelmente, explicar em grande medida as razões que fizeram com que esse Vice-Reino servisse de bastião da defesa peni71Sulor

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contra as forças patriotas. O aprofundamento dos estudos acerca das revoluções de independência poderão em muito esclarecer as dimensões da mutação ideológica que configurou esse processo em um número cada vez maior de casos. O avanço é portanto poderoso, no sentido da elaboração de uma história marcada pela mudança e pelo forte papel desempenhado por seus próprios atores.

Notas

1. Há que se destacar a contribuição pioneira do professor John Lynch a essa discussão em seu livro The Spanish American rcvolulions, 1808-1826, publicado pela primeira vez em 1973 e reeditado 13 anos depois. Embora a defmição do caráter revolucionário desses movimentos apareça nessa obra ainda muito vinculada à ruptura institucional do regime colonial, o autor apresenta um relato bastante denso e articulado de todas as independências hispano-americanas, realizando um

grande esforço de problematização do conjunto desses movimentos e enfatizando ainda a importância de detenninadas transformaçóes internas no curso daqueles acontecimentos.

2. Pierre Chaunu (1973: 23 e 27) enfatiza a importância da crise do absolutismo espanhol e, conseqüememente, das reformas bourbônicas em tennos do seu impacto na constituição de uma ambigüidade intrínseca à natureza criolla. Ver também a análise de John Lynch sobre a questão (1973: 7-24).

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(Recebido para publicação em novembro de 1997)