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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ Nº 167 – JUNHO DE 2003 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Nesta edição, os artigos do economista Cláudio Salm, sobre políticas sociais, do deputado federal Sérgio Miranda, sobre as diretrizes orçamentárias para 2004, bem como a entrevista com o coordenador do Sindicato dos Economistas, Paulo Passari- nho, revelam o dilema do Governo Lula, que parece operar na tênue linha entre a mudança e a continuidade. Páginas 3, 5 e 8 A onda dos bancos A onda dos bancos A onda dos bancos A onda dos bancos A onda dos bancos eur eur eur eur europeus no Brasil opeus no Brasil opeus no Brasil opeus no Brasil opeus no Brasil Página 11 Os artifícios Os artifícios Os artifícios Os artifícios Os artifícios da LDO Municipal da LDO Municipal da LDO Municipal da LDO Municipal da LDO Municipal Página 15 Economistas Economistas Economistas Economistas Economistas lançam manifestos lançam manifestos lançam manifestos lançam manifestos lançam manifestos Página 16 O Brasil entre a mudança e a continuidade

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ

Nº 167 – JUNHO DE 2003JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

Nesta edição, os artigos do economista Cláudio Salm, sobrepolíticas sociais, do deputado federal Sérgio Miranda, sobre asdiretrizes orçamentárias para 2004, bem como a entrevista como coordenador do Sindicato dos Economistas, Paulo Passari-nho, revelam o dilema do Governo Lula, que parece operarna tênue linha entre a mudança e a continuidade.

Páginas 3, 5 e 8

A onda dos bancosA onda dos bancosA onda dos bancosA onda dos bancosA onda dos bancoseureureureureuropeus no Brasilopeus no Brasilopeus no Brasilopeus no Brasilopeus no Brasil

Página 11

Os artifíciosOs artifíciosOs artifíciosOs artifíciosOs artifíciosda LDO Municipalda LDO Municipalda LDO Municipalda LDO Municipalda LDO Municipal

Página 15

EconomistasEconomistasEconomistasEconomistasEconomistaslançam manifestoslançam manifestoslançam manifestoslançam manifestoslançam manifestos

Página 16

O Brasil entre amudança e a continuidade

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EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Ceci Juruá, Paulo Passarinho,Paulo Mibielli, Sidney Pascotto, Nelson Le Cocq, Gil-berto Caputo Santos, Gilberto Alcântara e JulioMiragaya · Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio Gomes - E-mail:[email protected] · I lustração: Ilustração: Ilustração: Ilustração: Ilustração: Aliedo ·Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio Loredano · Diagramação e Diagramação e Diagramação e Diagramação e Diagramação e

FFFFFinalização: inalização: inalização: inalização: inalização: Rossana Henriques (21) 2462-4885 ·FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: Tipológica · T T T T Tiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000exemplares · P P P P Periodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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As matérias assinadas por colaboradores não refle-tem, necessariamente, a posição das entidades.É permitida a reprodução total ou parcial dos artigosdesta edição, desde que citada a fonte.

CORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJ

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SINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICATO DOSTO DOSTO DOSTO DOSTO DOSECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJ

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Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Paulo Passarinho · CoorCoorCoorCoorCoordenadordenadordenadordenadordenador

de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: Sidney Pascotto ·DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais: RonaldoRangel, Ceci Juruá, Rogério da Silva Rocha, RafaelVieira da Silva, Nelson Le Cocq, Antônio Melki Jr eEduardo Carnos Scaletsky · CoorCoorCoorCoorCoordenador dedenador dedenador dedenador dedenador de

Relações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: João Manoel GonçalvesBarbosa· DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais: JúlioMiragaya, Gilberto Caputo Santos, Sandra Maria deSouza, Carlos Tibiriçá Miranda, José Fausto Ferreira,César Homero Lopes, Neuza Salles Carneiro e reginaLúcia Gadioli dos Santos · CoorCoorCoorCoorCoordenador dedenador dedenador dedenador dedenador de

Divulgação e FDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e Finanças: inanças: inanças: inanças: inanças: Gilberto Alcantara da Cruz ·DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Finanças:inanças:inanças:inanças:inanças: WellingtonLeonardo da Silva e José Jannotti Viegas · ConselhoConselhoConselhoConselhoConselho

FFFFFiscal: iscal: iscal: iscal: iscal: Ademir Figueiredo, Luciano Amaral Pereira eJorge de Oliveira Camargo.

Jornal dos

2 jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003

Um outro Brasil é possível

N

SumárioPágina 02 Editorial

Página 03 Pobres x não-pobres – Cláudio Salm

Página 05 LDO 2004 – Sérgio Miranda

Página 07 Autonomia do BC – Wellington Leonardo da Silva

Página 08 Entrevista: Paulo Passarinho, Coordenador do Sindecon

Página 11 Bancos europeus no Brasil –Luiz Fernando Rodrigues de Paula

Página 15 Fórum do Orçamento –Artifícios da LDO do Rio

Página 16 Manifesto dos EconomistasCorecon Estudantil

O Corecon-RJ apoia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho e MiltonTemer, de segunda à sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, do Rio, 1360 khz.

o último dia 16 de junho, o auditó-rio do Conselho Regional de Eco-

nomia do Rio de Janeiro foi palco do lan-çamento nacional de dois importantesmanifestos de economistas, com críticasaos rumos da política econômica do go-verno Lula.

A Agenda Interditada – uma alterna-tiva de prosperidade para o Brasil, textosubscrito por 300 economistas, e a Notados Presidentes dos Conselhos Regionaisde Economia e dos Conselheiros do Con-selho Federal de Economia são documen-tos que de uma forma muito clara expõemalternativas para a gestão macroeconô-mica do país.

Neste sentido, oferecem ao país umavisão não só dos principais problemas quetemos a enfrentar – tendo em vista a reto-mada do crescimento econômico, a gera-ção de empregos e a inclusão social demilhões de brasileiros – como, especial-mente, a forma e as medidas necessáriaspara que o Brasil ingresse em um ciclovirtuoso na sua trajetória econômica, so-cial e política.

Rompem, assim, na prática, com as afir-mações que procuram desqualificar o exer-

cício da crítica e desmentem, também,aqueles que acabam por afirmar que “oque vem sendo feito é o possível e o ne-cessário”. Jogam por terra, igualmente, asabordagens que situam a atual política eco-nômica como a única viável, afora políti-cas que resultariam em rupturas com o sis-tema financeiro internacional.

Nem tanto à terra, nem tanto ao mar...As possibilidades de gestão macroeconô-mica em nosso país são inúmeras. Somen-te a interdição ao debate pode nos levar,como vem ocorrendo, a um empobreci-mento do debate econômico e da própriacondução das políticas de governo denatureza econômica.

Os economistas, com estas manifesta-ções, alinham-se a outros setores como osintelectuais, magistrados, segmentos dosservidores públicos, parlamentares da pró-pria base de apoio do Governo Lula, quenas últimas semanas vêm demonstrandosuas preocupações com um governo quetantas expectativas e esperanças gerou, aoser eleito, e que continua sendo o fiel de-positário da idéia de que um outro Brasilseja possível. O Brasil da justiça e da de-mocracia para todos.

Errata As fotos de Reinaldo Gonçalves, nas páginas 2 e 8 da edição passada, são de Adilson Vasconcelos.As imagens das páginas 7 e 15 do site www.freeimages.co.uk

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POLÍTICAS SOCIAIS Cláudio Salm*

3jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003

m 21 de abril passado,a Folha de S. Paulo pu-blicou uma entrevista

com Maria da Conceição Tava-res, na qual a ilustre econo-mista do PT manifestou sua in-dignação com o documento“Política econômica e reformasestruturais”, de responsabilida-de do Ministério da Fazenda.Referiu-se especialmente àspolíticas sociais ali propostas.

Entre outros qualificativos,Conceição designou os asses-sores que elaboraram o docu-mento como “infiltrados”. Épesado, mas correto, pois quemescreveu aquilo representa aantítese do pensamento, nãoapenas do PT, mas de todos quese preocupam com a pobreza ea desigualdade no contexto dosubdesenvolvimento.

A parte do documentodedicada à política social, quetanto irritou Conceição, foi ob-viamente terceirizada, requen-tando-se documentos anterio-res, como a “Agenda Perdida”,de autoria de uma ONG - Iets,cujo pessoal tentou vender seu

Pobresx

não-pobres

A retomada da discussão sobre ‘pobres’e ‘não-pobres’ e a armadilha que consis-te em conceber a política de focalizaçãocomo geradora de crescimento.

peixe para todos os partidosdurante a campanha eleitoral.Finalmente, parece que encon-traram comprador.

Conceição espantou-se tam-bém, e com razão, com a intro-missão do Ministério da Fazen-da na política social. Dada aprioridade absoluta de conter ainflação e o peso da dívida pú-blica, compreende-se que a Fa-zenda opine sobre o volume dogasto público como um todo, oude cada setor. Mas deveria se res-tringir a anunciar os cortes quejulgue necessários e não deitarfalação sobre a natureza das po-líticas sociais, se elas devem terum caráter universal ou focaliza-do, que foi transformado em ques-tão central pelo documento.

O Malan não se atreveria atanto. Uma intromissão dessas

provoca mais estranheza aindaquando nos lembramos que Lulahavia prometido que, no seugoverno, o Planejamento seriamais importante que a Fazenda.

Políticas pobres

Por que será que o Minis-tro Palocci teria aceito argu-mentos tão falaciosos contra auniversalização do acesso àspolíticas públicas? Por que estaretomada intempestiva da de-fesa da focalização, e por quea Fazenda levanta esta bandei-ra neoliberal?

Uma explicação plausívelpode ser o reconhecimento,pela Fazenda, de que não re-tomaremos o crescimento tãocedo e de que tão cedo nãoiremos nos livrar da preocupa-

ção com a geração de eleva-dos superávits fiscais. Sendoassim, é melhor esquecer aconsigna de campanha – cres-cimento com distribuição derenda – e concentrar (“focali-zar”) os parcos recursos públi-cos em políticas exclusivamen-te voltadas para os mais pobres.

Impossível não lembrar oque disse Albert Hirshman so-bre o tema: políticas exclusivaspara os pobres, são políticaspobres. Foi o que aconteceucom a nossa escola pública.Ninguém declarou a intenção,mas a verdade é que praticamoshá muito tempo, na Educação,a tal focalização. Ou alguémnega que o ensino básico, pú-blico e gratuito, está voltadopara os mais pobres enquanto,quem pode, paga a escola pri-vada? E deu no que deu...

Sorte nossa, até aqui, porconseguirmos manter o atendi-mento universal do SUS. Aliás,o documento, que cita tanto aInglaterra, poderia ter mencio-nado, também, que lá não ocor-re a ninguém, nem mesmo aos

E

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conservadores, mexer nos fun-damentos do National HealthService. Apesar de todas as re-formas visando sua maior efici-ência, o NHS continua financi-ado por impostos, é de acessouniversal, gratuito e o atendi-mento é integral.

E não venham dizer que oSUS atende mais aos “não-po-bres”, porque isso simplesmen-te não é verdade, embora, empequena proporção, tambématenda a “ricos”, dado, justamen-te, que é de acesso universal .Tomara que continue assim eque o atual ministro da Saúdenão dê ouvidos aos “infiltrados”.Como dizia Serra, quando eraministro dessa pasta: se fosseoferecer hemodiálise gratuitaapenas aos que são considera-dos pobres, condenaria a maio-ria dos pacientes à morte.

Pobres e não-pobres

O documento contém inú-meras platitudes, algumas abso-lutamente inócuas, mas outrasembutem verdadeiras armadi-lhas, como esta: “A melhoria dascondições de geração de rendados grupos mais pobres teráimpacto positivo sobre o mer-cado interno e sobre a deman-da por setores intensivos emmão-de-obra... Dessa forma, oajuste da estrutura de oferta àalteração na composição dademanda desses setores teráimplicações benéficas sobre aremuneração dos trabalhadoresde menor renda”.

O problema não está tantona idéia equivocada de que oconsumo do pobre gera maisemprego do que o consumo do“não-pobre”, como se sandáliajaponesa fosse mais intensivaem trabalho que as sandáliasdo Mr.Cat. Isto é o de menos eparece que entrou no docu-mento como concessão, a úni-

ca, feita ao programa do PT. Aarmadilha consiste em defen-der a focalização, não só porseus supostos méritos sociais,mas também porque promove-ria o crescimento.

Em outras palavras, inver-te-se o sentido da determina-ção. Não é o crescimento comdistribuição, como defende oprograma do PT, que vai aca-bar com a pobreza; a focali-zação dos gastos sociais nospobres é que vai alterar a dis-tribuição de renda e, assim,acabar com a pobreza.

Alegam que “...a questãocentral de nossa política socialnão é apenas de natureza or-çamentária, mas, sobretudo,está relacionada à sua poucaefetividade. A despeito do ex-pressivo volume de gastos, elanão é capaz de reduzir a desi-gualdade presente”.

Diga-se, de passagem, queo único programa governa-mental, dito “social”, que teriavolume para alterar de formasignificativa nossos indicadores

Não disponho dos números, mas desconfio que, por este critério, pelo menos 80% das famíliasbrasileiras passariam a ser consideradas pobres. A idéia, então, seria “focalizar” em 80% dapopulação? Nada contra, mas, não deixa de ser um nonsense

de desigualdade é o previden-ciário. Nenhum outro progra-ma de transferência de rendatem poder para alterar o índicede Gini, na segunda casa deci-mal. Agora, como fazer paraque a distribuição realizadapelos regimes da Previdência,o geral e o do servidor públi-co, não só deixe de refletir adistribuição de renda, como aaltere significativamente, isto odocumento ficou nos devendo.

Pobreza e crescimento

Os autores tratam com des-prezo as questões que realmen-te emperram o crescimento, atéporque o Brasil já teria umarenda média suficientementegrande para distribuir sem ne-cessidade de crescimento. A re-dução da pobreza dependeriamais da distribuição de rendado que do crescimento (sãoprogressistas!): “Para se alcan-çar uma redução na extrema po-breza em 10 pontos percentuais(isto é, para reduzi-la de 15% para

5%), bastaria diminuir o graude desigualdade em 10%”. Já ocrescimento, se não vier acom-panhado de alterações na dis-tribuição de renda, não reduzmuito a pobreza. Para “provar”a futilidade do crescimento,apontam a estabilidade do Giniao longo das décadas.

Nota 10 em aritmética. Mas,onde está escrito que devemoscrescer sem distribuir? Quemnos impôs este trade-off entrecrescimento e distribuição? E,o mais importante, como dis-tribuir melhor a renda numaeconomia que não cresce? Ora,dizem, através da focalizaçãodas políticas públicas. As polí-ticas de caráter universal seri-am ineficazes no combate àdesigualdade porque acabambeneficiando os “não-pobres”.

Mas, afinal, quem são os“não-pobres”? Onde traçar a li-nha que separa pobres de “não-pobres”? Não existe consenso;qualquer critério pode ser váli-do porque se trata de uma deci-são política. Suponhamos queadotemos o critério europeu:pobres são os que ganham abai-xo da metade da renda média.Não disponho dos números, masdesconfio que, por este critério,pelo menos 80% das famílias bra-sileiras passariam a ser consi-deradas pobres. A idéia, então,seria “focalizar” em 80% da po-pulação? Nada contra, mas, nãodeixa de ser um nonsense.

Espertamente, os autoresnão se comprometem com qual-quer definição de linha de po-breza. Mas seja qual for a queutilizaram, aposto que a imen-sa maioria dos “não-pobres”deles, não teria dinheiro parapagar nem o mais vagabundoplano de saúde privado.

* Economista, ex-assessor do ministroda Saúde, José Serra, e ex-presidentedo IERJ.

Impossível não lem-brar o que disse AlbertHirshman sobre o te-ma: políticas exclusivaspara os pobres, são po-líticas pobres. Foi o queaconteceu com a nos-sa escola pública

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5jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003

LDO 2004 Sérgio Miranda*

m 2003, o governo Lula está submetidoa uma lei orçamentária elaborada e vo-

tada durante a gestão de Fernando HenriqueCardoso. Resultam também do

governo anterior as leis emvigor do Plano Plurianual deInvestimentos – PPA – e de

Diretrizes Orçamen-tárias – LDO.

Essa é umaincômoda

Entre a continuidadee a mudança

de 2004 é ainda maior porque ela será a pri-meira, desde 1999, que não estará condicio-nada aos limites dos diversos acordos com oFMI, assinados por FHC.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO –é um dos vários ordenamentos de estruturaçãodas finanças públicas previstos na Constitui-ção Federal. De natureza anual, a LDO estabe-lece diretrizes e metas da administração públi-ca federal, incluindo as despesas de capital parao exercício financeiro subseqüente, orienta aelaboração da lei orçamentária anual, dispõesobre as alterações na legislação tributária eestabelece a política das agências oficiais defomento (CF 165, §2°).

A supremacia do ajuste fiscal

As metas, prioridades e demais dispositi-vos da LDO delimitam a elaboração das pro-postas orçamentárias pelos tribunais (CF 99,§1°), Ministério Público (CF 127,§3°) e aindapelos órgãos responsáveis pela seguridadesocial (CF 195, §2°). A LDO define ainda osgastos de pessoal, autorizando a concessãode vantagens ou aumento de remuneração,criação de cargos, alteração de estrutura decarreiras e admissão ou contratação de pes-soal (CF 169, §1°).

Com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LCn.° 101, de 2000), a LDO passou a acumularoutras funções derivadas de um modelo depolítica econômica e fiscal, onde vigora a su-premacia do ajuste fiscal sobre todas as de-mais funções e programas de governo

1. As-

sim, novas disposições sobre o controle dascontas públicas passaram a integrar a LDO,dentre elas um Anexo de Metas Fiscais esta-belecendo parâmetros anuais de receitas, des-pesas, resultados nominal e primário, mon-tante da dívida pública para o exercício a quese referem e para os dois seguintes. EsseAnexo deve ainda avaliar o cumprimento dasmetas do exercício anterior, apresentar “me-mória e a metodologia que justifiquem os re-sultados pretendidos (...), evidenciando a con-sistência delas com as premissas e os objetivosda política econômica nacional.”

Outros anexos, também determinadospela LRF, retratam os Riscos Fiscais, a-presentando os passivos contingentes e ou-tros riscos capazes de afetar as contas públi-cas e, em anexo específico da mensagem doprojeto, os objetivos das políticas monetária,

situação que integra a Herança Maldita deFHC, que compartilhou com o FMI o gover-no e a soberania de nosso país, influencian-do e restringindo, inclusive, o uso dos recur-sos públicos. Sem alterar a lei orçamentáriaanual há pouca flexibilidade para fazer valeras prioridades políticas.

Tais alegações foram utilizadas pelo atualgoverno diante da necessidade de respondera demandas como reajuste do salário mínimoe dos salários dos servidores, para justificarcorte de recursos para as diversas ações degoverno, entre outros. Embora muitos cons-trangimentos macroeconômicos deixados porFHC ainda permaneçam, iniciando-se o pro-cesso de definições para o orçamento de 2004,está na hora de explicitar as prioridades, cons-

truindo um orçamento compatível com asmudanças. A importância da Lei de

Diretrizes Orçamentárias

Em artigo exclusivo para o JE, o deputado federal Sérgio Miranda, doPcdoB, aponta as restrições e condicionalidades a que estão subme-tidos a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Plano Plurianual, que dei-xam o Governo com poucas alternativas para tomar as iniciativas ne-cessárias à retomada do desenvolvimento econômico. O país perdeusoberania para dirigir o seu próprio rumo. Face à importância do de-bate e, sobretudo, da falta de informação qualificada a respeito daLei de Diretrizes Orçamentárias, a pouco conhecida LDO – e como otema é complexo e o artigo extenso, o JE o publicará em duas partes,a final na próxima edição.

E

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creditícia e cambial, parâmetros e projeçõespara agregados e variáveis, inclusive de in-flação. Estão ainda demandadas avaliaçõesatuariais dos regimes de previdência própri-os e dos principais fundos públicos

2.

A LDO, como orientadora da elaboraçãoorçamentária e determinadora de metas e pri-oridades, foi transformada pela LRF no prin-cipal instrumento de implementação de umapolítica de ajuste fiscal. A ausência de uma leiatualizada sobre finanças públicas – a vigenteé de 1964 – e de uma lei ordenadora do pro-cesso orçamentário, como determina a Cons-tituição Federal em seus artigos 163 e 165,§9°, respectivamente, tem delegado para a Leide Diretrizes Orçamentárias um acúmulo dedispositivos sobre estruturação dos orçamen-tos, definições de procedimentos, etc. Essavariedade de funções faz hoje da LDO umanorma longa, de mais de 100 artigos, muitosdos quais se repetem anualmente.

O Congresso Nacional, por meio da LDO,vem ampliando o controle e a transparênciadas contas públicas. O rol de informações queacompanham e subsidiam as discussões sobrea lei orçamentária anual tem-se ampliado emquantidade e qualidade. Os debates e as audi-ências públicas têm também permitido que secompreenda o intrínseco vínculo entre o orça-mento e as políticas públicas. Esse processonão deve ser interrompido. Pelo contrário, épapel das forças progressistas aproveitar essemomento ímpar para aprimorar essa prática,principalmente exigindo um reposicionamentodo Executivo, que nos últimos anos, por meiode vetos, tem dificultado o aprimoramento dasinformações e do debate.

Papel do Parlamento

Definir os orçamentos públicos e, posteri-ormente, acompanhar as contas públicas sãotarefas que se associam ao nascimento e de-senvolvimento do parlamento moderno. Apartir dos orçamentos, pode-se acompanharas rotas do dinheiro público, de onde vem,para onde vai, quem financia e quem dele seapropria, e assim exercer a definição e o con-trole das prioridades públicas.

Os orçamentos são leis de meios, pelosquais se expressam direitos individuais esociais oponíveis contra o Estado. A univer-salidade da saúde, a educação como direitode todos, o direito à segurança, políticas ati-vas de desenvolvimento econômico e social,etc. são suportados por dotações orçamen-tárias suficientes.

O orçamento público representa a unida-de entre o programa de governo e a sua açãoconcreta. Boa parte do que “vai sair do pa-pel” vira realidade por meio dos orçamentospúblicos. As mudanças exigidas pelas urnas,com a reversão das prioridades, necessitamde uma materialidade que também passa peloorçamento. Daí o tamanho do desafio dessemomento: extrair da lei orçamentária, das pri-oridades definidas pela Lei de Diretrizes Or-çamentárias e da planificação constante doplano plurianual de investimentos a e-xeqüibilidade do programa de Lula.

Os debates sobre a LDO 2004 represen-tam também um momento privilegiado paraa discussão do significado político de umaopção estritamente fiscalista praticada pelosgovernos FHC e as conseqüências econômi-cas e políticas dessas metas fiscais. Somenteassim poderemos escolher, dentro dos grausde liberdade hoje disponíveis, o melhor ro-

A política econômica em curso está centradano cumprimento de metas inflacionárias fixa-das pelo Conselho Monetário Nacional, na li-vre ação da autoridade monetária para a con-secução dessa meta, principalmente por meiode uma política de juros e de restrições mone-tárias, de alto custo sobre a dívida pública e noestabelecimento de uma política fiscal para ob-ter resultados primários tendentes a controlaro endividamento. Resulta daí a grande impor-tância da Lei de Diretrizes Orçamentárias paraa política econômica em curso.

Mas enfrentar definitivamente os aspectosnocivos dessa política econômica não se resu-me a um posicionamento sobre a LDO. O con-flito entre continuidade e mudança e, especial-mente, a determinação dos rumos e as medidasconcretas dessa mudança dependem principal-mente da conformação de uma maioria políti-ca, capaz de redirecionar o país rumo ao cres-cimento econômico e ao desenvolvimento

As mudanças exigidas pelas urnas, com a reversãodas prioridades, necessitam de uma materialidadeque também passa pelo orçamento. Daí o tamanhodo desafio desse momento: extrair da lei orçamen-tária, das suas prioridades e da planificação cons-tante do plano plurianual de investimentos aexeqüibilidade do programa de Lula

social. Há diminutos espaços para as mudan-ças, enquanto predominarem na sociedade osinteresses de um capital que se multiplica àscustas dos cofres públicos, por meio dos en-cargos da dívida, enquanto as normas jurídicaspermitirem a esse capital tornar reféns os inte-resses públicos; enquanto inexistir em consci-ência e organização sociais que defendam eimponham a ampliação da renda do trabalhofrente a do capital.

Muito importante para a construção des-sa frente pelas mudanças é a compreensãode que a herança deixada por FHC repre-senta um caminho que se contrapõe às no-vas alternativas políticas, à soberania nacio-nal e aos interesses populares.

* Deputado federal do PcdoB (MG)Na próxima edição, a proposta do Governo.

teiro para as mudanças que o país precisa,indicando claramente o papel que será de-sempenhado pela União para o desenvolvi-mento econômico, o combate às desigual-dades, a criação de empregos e a melhoriada qualidade de vida, quer seja diretamenteatravés das suas dotações orçamentárias, oupor meio das metas de sua política monetá-ria, cambial e creditícia.

Durante todo esse 1º semestre, o novogoverno esteve preocupado em construir ce-nários que atendessem às expectativas demercado. O conteúdo desse projeto, comovários outros produzidos nesse período, deveser analisado nesse contexto. Todos eles têmcomo fio condutor esse direcionamento, emque, no conflito entre continuidade e as mu-danças, prepondera a primeira. As mudan-ças exigidas pelas urnas estão a aguardar asolução de diversos problemas, armadilhase constrangimentos, a que se convencionouchamar de Herança Maldita.

1 A LC n.° 101, de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal – trata especificamente em seu art. 4° de inovações sobre a LDO, mas há também referências nos 5°, 7°, 9°, 14,16, 17, 20, 22, 25, 26, 45, 48, 59, 62 e 63

2 As projeções abrangem os regimes previdenciários dos servidores e militares, do Regime Geral de Previdência Social, do Fundo da Amparo ao Trabalhador, do FundoNacional de Assistência Social, responsável pelos pagamentos dos benefícios de ação continuada da Lei Orgânica da Assistência Social.

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SISTEMA FINANCEIRO

Banco Central do Brasilfoi criado em 1964. Aos

poucos, assumiu o papel de au-toridade monetária, em substi-tuição, principalmente, ao Ban-co do Brasil, ao qual cabia,dentre outras, as funções decontrolar as operações de co-mércio exterior, arrecadar de-pósitos compulsórios e volun-tários dos bancos comerciais eexecutar operações de câmbioem nome de empresas públi-cas e do Tesouro Nacional.

Desde sua criação buscou-se dotar o BC de mecanismoscapazes de lhe permitir de-sempenhar também o papel deórgão regulador do mercado fi-nanceiro. Em 1988, na Cons-tituinte, foram estabelecidosdispositivos para sua atuação,destacando-se o exercício ex-clusivo da competência daUnião para emitir moeda e, doponto de vista de sua estruturaadministrativa, a exigência deaprovação prévia, pelo Senado,dos nomes indicados pelo pre-sidente da República para ocu-par sua presidência e diretorias.Ao mesmo tempo, permaneceupor regulamentar o artigo 192da Carta Magna, no qual seencontram abrigadas as ques-tões relativas ao Sistema Finan-ceiro Nacional.

É no preenchimento dessalacuna que os defensores dosmais diversos tipos de indepen-dência, autonomia ou qualqueroutro eufemismo, cujo objeti-vo central seja proporcionarredução da capacidade de in-

Wellington Leonardo da Silva *

Banco Central:

Antes de definir o modelo de BC adequado ao Brasil é necessário anali-sar as características políticas e econômicas do país e, sobretudo, com-preender a importância do papel desempenhado pelo BC no sistemafinanceiro, ao longo de sua curta história

gerência governamental sobreo BC, esperam lograr êxito emsua empreitada. Reside aqui,aliás, a primeira preliminar des-se debate, que consiste na ne-cessidade dos que defendemessa desvinculação definirem oque, de fato, estão propondo.

O arco é amplo. Da inde-pendência, pura e simples, háuma involução para autonomiae, mais recentemente, para au-tonomia operacional, com de-missão de diretores, em casode descumprimento das metasfixadas pelo Governo ou peloConselho Monetário Nacional.Neste imbróglio, há uma razo-ável contradição: de que servi-ria ao BC gozar de autonomiaou independência sendo seupapel o de mero executor demetas? Cristalina nos parece aconclusão de que qualqueruma das duas alternativas po-deria, na verdade, transformar-se em eventual empecilho.

Papel do BC

Antes de definir o modelode BC adequado ao Brasil énecessário analisar as caracte-rísticas políticas e econômicasdo país e, sobretudo, compre-ender a importância do papeldesempenhado pelo BC no sis-tema financeiro, ao longo desua curta história. Além dos jámencionados, vinculados àcondição de banco do gover-no, o BC é o encarregado defiscalizar as demais instituiçõesfinanceiras, agindo, de prefe-

modelo de administração ge-rencial para sua própria atua-ção. Podemos acrescentar ou-tras quatro funções: controledas reservas cambiais, geren-ciamento da negociação dasdívidas públicas - externa einterna, e administração dapolítica cambial e de juros, fun-damentais para a manutençãodo equilíbrio econômico.

Teremos assim estabelecidoo quadro e concluiremos que,se desafios de tal envergaduraestão sob a responsabilidade doBanco Central, não pode ser ra-zoável admitir sua independên-cia em relação ao governo fede-ral. A menos que a proposta viseatender ao entusiasmo de repre-sentantes da banca internacio-nal e do “mercado”, a exemploda vice-diretora-gerente do FMI,Anne Krüeger, que sugeriu amesma receita à Argentina.

Por último, estabelecendoas bases de nossa intransigen-te posição contrária à indepen-dência ou autonomia do BC,aponto três derradeiras razões.A primeira, ancorada na com-preensão de que bancos cen-trais são apenas, embora im-portantes, instrumentos deexecução de política econômi-ca, quer na Inglaterra, nos EUAou na França. Portanto, devemestar subordinados aos gover-nos centrais. A segunda porentender que não é papel dosBCs definir a política monetá-ria de nenhuma nação. E a ter-ceira e última, a compreensãode que a Argentina chegouonde está, antes por ter cum-prido todo o receituário do FMIdo que pela resistência aos di-tames de seus gerentes.

* Diretor do Sindicato dos Economistasdo Estado do Rio de Janeiro.

Autonomia para quê?rência preventivamente, dian-te de indícios de má gestão ouinconsistência sistêmica, paraevitar prejuízos à sociedade.

No cumprimento de seu pa-pel fiscalizador, é de sua respon-sabilidade zelar para que osbancos privados cumpram de-terminações legais, a exemploda aplicação de parte dos re-cursos captados a 6% ao ano,via cadernetas de poupança, emfinanciamento imobiliário, parareduzir o déficit habitacional, oscustos de construção, o valordos aluguéis e, sobretudo, ge-rar empregos na construção ci-vil. Para se ter dimensão da vi-tal importância dessa tarefa, sea primeira destas funções hou-vesse sido cumprida a conten-to, talvez não tivesse ocorrido asangria de recursos decorrentedo Proer, em passado recente.

Outras inequívocas provasda importância dos serviços acargo da instituição podem serproporcionadas pelos macro-objetivos definidos para a ins-tituição no biênio 2002/3, taiscomo o de consolidar as polí-ticas monetária e cambial paraassegurar a estabilidade dopoder de compra da moeda, eo de assegurar que a regulaçãoe a fiscalização do Sistema Fi-nanceiro observem padrões epráticas internacionais.

Cabe também ao BC con-solidar a implantação do novoSistema de Pagamentos Brasi-leiro; concluir o processo de sa-neamento e reestruturação dosbancos oficiais; e implantar

O

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Paulo Passarinho, coordenador geral do Sindicato dos Economistas do Rio de JaneiroENTREVISTA

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Por que o Sindicato dos Econo-mistas entrou de cabeça naluta contra a proposta de re-forma da Previdência? Merocorporativismo?

A atual diretoria do Sindi-cato é herdeira de sucessivasgestões que, à frente não so-mente do Sindecon, mas, tam-bém, do Conselho Regional deEconomia e do IERJ – Institutodos Economistas do Rio de Ja-neiro, têm se pautado, há mui-tos anos, pela defesa de umprojeto nacional de desenvol-vimento para o Brasil. Um pro-jeto de Nação que esteja base-ado, em termos econômicos,no entendimento de que so-mente através de um vigorosoprocesso de desconcentraçãoda renda e da riqueza iremossustentar um ciclo de cresci-mento econômico que nos ga-ranta inclusão social, geraçãode empregos e, principalmen-te, um modelo de desenvolvi-mento baseado nas necessida-des da maioria da populaçãobrasileira e não nas fantasiasconsumistas das classes médi-as e rica, cada vez mais aliena-das e desvinculadas da tarefade construção de uma naçãobrasileira, voltada e constituídapelo nosso povo. Não vejo, comsinceridade, onde possamosestar sendo corporativistas.

E o que a Reforma Previden-ciária tem a ver com isso?

Muita coisa. A discussão daPrevidência deve ser inserida nodebate do tipo de Estado quenos interessa. As propostas dealteração encaminhadas peloatual Executivo ao CongressoNacional encarnam a continui-dade da contra-reforma previ-denciária iniciada pelo governoFHC e têm como objetivo, den-tre outros, sepultar pressupostosreformistas contidos na Consti-tuição de 1988. Pressupostos en-contrados tanto no conceito deSeguridade Social - onde a Pre-vidência Social é um dos seuspilares, ao lado da Saúde e daAssistência Social –, quanto emum conceito de organização dosserviços estatais que, por estarbaseado nas idéias da efetivida-de e da impessoalidade, estabe-leceu a exigência de um regimepróprio de trabalho e, por con-seqüência, de previdência paraos servidores públicos.

Explique melhor essa idéia.A Constituição de 1988 con-

sagrou a idéia de que devería-mos ter um Estado promotorda cidadania e dos direitos so-ciais. Um Estado, para tanto,altamente profissionalizado,consciente de seus deverespara com a formação e o forta-

lecimento de milhões de cida-dãos. Neste sentido, princípiosconstitucionais foram apro-vados para se romper o viciodo patrimonialismo e do pro-cesso de privatização que, emboa medida, sempre estiverampresentes no âmago do Esta-do brasileiro. Idéias como a doestabelecimento de carreiraspara as diversas funções pro-fissionais encontradas noEstado; exigência de concursopúblico para o ingresso nessascarreiras profissionais; e esta-bilidade no emprego contra asdemissões imotivadas fazemparte de toda essa concepção.Visam conferir critérios deprofissionalização elevada epadronização na formação dosquadros funcionais do Estado.Do mesmo modo, a concepçãode que todo o cidadão deveter direito à cobertura daSeguridade Social – repito: odireito à previdência, à saúdee à assistência social – seria acontra-partida mínima que estemesmo Estado deveria confe-rir a todo e qualquer cidadão.Entretanto, paradoxalmente, oque aconteceu após a promul-gação da Constituição foi umaespécie de retrocesso brutal:em 1989, com a eleição deCollor de Mello, foi dado iní-cio, de uma forma acelerada, a

Se forem consideradas todas as fontes de receita instituídas pela Constituição de 1988 para osistema de Seguridade Social, não se encontrará déficit e, sim, superávit nas contas da Previ-dência. É o que sustenta o economista Paulo Passarinho, em entrevista concedida ao jornalistaCid Benjamin e publicada parcialmente no Jornal do Brasil de 25 de maio último e cuja íntegratranscrevemos a seguir, em decorrência da importância do debate sobre a Previdência Social.Passarinho, que é também um dos apresentadores, junto com Milton Temer, do programa FaixaLivre, que vai ao ar de segunda à sexta na rádio Bandeirantes do Rio (1.360 khz), faz um levan-tamento completo do problema da Seguridade Social, no Brasil, que propicia uma compreensãomais integral do tão propalado problema da Previdência no Brasil.

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ência, mas da política monetária”um processo de desconstitui-ção do próprio Estado. ApósCollor, tivemos o interregno dogoverno Itamar – onde, inclu-sive, no plano federal, tivemosalgumas medidas para se pro-curar corrigir o processo de de-sestruturação anterior, mas cujoalcance foi muito limitado, atémesmo por uma questão detempo. E, em seguida, enfren-tamos os oito anos de FHC. Oresultado está aí. O Estado bra-sileiro não consegue sequercuidar de seus presidiários...

E a Previdência?Pois é, daquele conceito ci-

dadão de Seguridade Social, oque assistimos, especialmente

Funrural; trabalhadores urbanos,sob determinadas condições,também passaram a fazer jus àcobertura garantida pela Lei Or-gânica da Assistência Social; seg-mentos mais vulneráveis da po-pulação, como os deficientesfísicos, também passaram a tero direito a uma remuneraçãomensal vitalícia. Na área da saú-de, avançamos com a coberturado Sistema Único de Saúde. Emsuma: em termos de cobertura,do universo da população aten-dida, tivemos uma expansãomuito importante. Entretanto, oconstituinte de 88 não foi irres-ponsável em estender benefíci-os – o que implica aumentar des-pesas – sem criar as fontes dereceitas para tanto. Foram defi-nidas contribuições para o finan-ciamento desses gastos: a Cofins– Contribuição para o Financia-mento da Seguridade Social éuma delas; a CSLL – Contribui-ção Social sobre o Lucro Liqui-do das empresas, é outra; parteda receita proveniente dos con-cursos de prognósticos – a mega-sena, sena, loteria esportiva eoutros, também reforçam, ou de-veriam fazê-lo, o “caixa” da se-guridade social.

Por que deveriam fazê-lo?Esse é um ponto importan-

te. Desde 1994, com a entradaem vigor do Real, o Executivovem, com o aval do Congres-so, desvinculando os recursosque deveriam estar financian-do a Seguridade Social parauma outra finalidade, especifi-camente para o financiamentodo rombo financeiro que apolítica monetária produz nascontas públicas.

Como assim?O Plano Real, em sua con-

cepção original, alicerçado naparidade entre a nova moeda e

o dólar, e na abertura comerciale financeira, exigiu desde o seunascedouro uma política mone-tária muito restritiva, baseada,entre outros mecanismos, naadoção de taxas reais de jurosmuito elevadas. As despesascom juros e encargos financei-ros cresceram de uma maneiraespetacular e a necessidade dese criar um “colchão” financeiropara o financiamento extra departe desses gastos era inevitá-vel. Assim, em 1994, já nascia oFundo Social de Emergência –que de social não tinha nada,transformado posteriormente emFEF – Fundo de EstabilizaçãoFiscal e hoje batizado de DRU –Desvinculação de Receitas daUnião. E é justamente na Segu-ridade Social que a DRU encon-tra a sua principal fonte de re-cursos. Até mesmo a CPMF –criada com a finalidade exclusi-va para o financiamento da saú-de – não foi poupada. Esse fatolevou, inclusive, a que o ex-mi-nistro Adib Jatene se afastassedo governo Fernando Henrique.

Mas, e o déficit da Previdência?O déficit propalado pelo

governo só existe se compara-mos o total das contribuiçõesde empregados e empregado-res com o total dos benefíciospagos pelo regime geral da Pre-vidência. O que, evidentemen-te, é uma forma muito capcio-sa de se apresentar as contasda Previdência.

Por que?Porque o universo atual dos

atendidos é muito maior doque o universo daqueles quecontribuíram para o Sistema.Justamente pela extensão dosbenefícios – conquista daConstituição de 88 – a uma po-pulação muito significativa, nãopodemos – se houver um mí-

nimo de seriedade – comparara receita dos contribuintes for-mais com o total da despesaque garante benefícios a umaparcela da população que nun-ca antes havia contribuído.Para chegarmos a uma visãoreal da situação financeira daPrevidência, temos de levar emconta as receitas fiscais garan-tidas pela Constituição de 88para que o sistema fosseviabilizado.

E por esse critério qual seriahoje a situação das contas daPrevidência?

No ano de 2001, para umtotal de despesas de R$ 105,4bilhões, as receitas chegarama R$ 136,9 bilhões. Ou seja:houve um superávit superior aR$ 31 bilhões. Agora, em 2002,o superávit aumentou. Nãoexiste, portanto, déficit no Sis-tema de Seguridade Social. Parausarmos essa linguagem, odéficit existente é o da políticamonetária, da política de jurosaltos que, além de estrangulara economia produtiva e au-mentar o desemprego, desviaos recursos da Seguridade So-cial. O problema é que pelosdiagnósticos apresentados pe-los governos – anterior e o atu-al – há uma satanização da uti-lização de recursos fiscais parafins sociais. Usar os recursosfiscais para pagamentos de ju-ros é válido e responsável. Parapagamentos de aposentadori-as e pensões para idosos é ina-dequado e pecaminoso...

Então não existe problema nascontas da Previdência?

Existe, e os problemas são gra-ves, especialmente se olharmospara o futuro e quisermos man-ter a concepção de SeguridadeSocial consagrada na Constitui-ção. O maior problema é o

após o Plano Real, foi muito jogode cena e, especialmente, muitamanipulação. O conceito deSeguridade Social implicouestender, de uma forma muitosignificativa, os benefícios deatendimento e cobertura. Tra-balhadores rurais passaram a fa-zer jus à aposentadoria de umsalário mínimo, independente-mente de contribuição, amplian-do-se a cobertura inauguradacom o regime militar, através do

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decorrente do fato de mais dametade da população economi-camente ativa não contribuir paraa Previdência. Em função do de-semprego e da informalidade –especialmente acelerada e atémesmo incentivada nos últimosoito anos – poderemos vir a tersérios problemas no futuro. Tra-ta-se de uma população que de-verá ter cobertura previdenciária,de acordo com o que entende-mos e o que a Constituição (ain-da) garante. Se ao longo da vidalaborativa esse contigente de tra-balhadores não contribui e ainformalidade continua predomi-nando, é lógico que estaremoscriando problemas no futuro.

Mas nas contas atuais nãoexistem problemas?

Se fossem respeitadas as fon-tes de receita da Seguridade So-cial, não haveria problema. Oproblema do déficit público nãoé o da previdência. É, repito, oda política monetária. E olha queas atuais fontes de receita sãoprejudicadas pelo alto nível dodesemprego e da informalidade,sem contar o baixíssimo cresci-mento econômico, a atividadeprodutiva reprimida que impactanegativamente a arrecadação.Outra distorção atual, muito agu-da, diz respeito à sonegação e àapropriação indevida das contri-buições descontadas dos traba-lhadores, por parte de um nú-mero muito expressivo deempresas, e não repassada paraa Previdência, inclusive por ban-cos e multinacionais. Isto nosremete a dois graves problemas:a precária fiscalização – o núme-ro de fiscais do INSS na décadade 80 estava em torno de 7.500e, hoje, são 3.800; e a baixa efi-cácia e lentidão dos processosde cobrança judiciais. Em rela-ção ao número de fiscais, a situ-ação tende a piorar com aprecarização do trabalho no ser-viço público; quanto aos débi-tos das empresas, o que está emcurso é uma nova oportunida-de, através do Refis, de reduçãodas dívidas e generosos prazospara o pagamento das mesmas.

Nova oportuni-dade porque, hádois anos, houve oprimeiro Refis e 70%das empresas queaderiram ao pro-grama voltarama não pagar.Agora recebe-ram uma novachance. Um escânda-lo. O necessário seria uma Leide Execução Fiscal rigorosa eque garantisse celeridade nascobranças.

E o regime próprio dos servido-res? Os governadores alegam nãoterem condições de continuar ar-cando com a despesas com apo-sentadorias e pensões. E aí?

Neste ponto somos obriga-dos a voltar à Constituição de88. Em decorrência daquelaconcepção de Estado que de-fendemos, a Constituição esta-beleceu que os servidores pú-blicos deveriam passar a ter umregime próprio de trabalho –coerente com o princípio deefetividade, impessoalidade ealto profissionalismo nos servi-ços prestados pelo Estado eonde os seus servidores são,naturalmente, componentesfundamentais. Qual o proble-ma? Havia uma transição a seroperada e administrada. A es-magadora maioria dos funcio-nários públicos era regida pelaCLT. Contribuíam, assim, parao regime geral da Previdência.Da noite para o dia, passaram aser regidos por regimes jurídi-cos próprios que, entre outros,previam o direito à aposenta-doria integral. Ou seja: haviamcontribuído, até então, de acor-do com as regras de descontodo regime geral – diferentes donovo regime implantado – epassavam, ao mesmo tempo, ater o direito a aposentadoriasintegrais. Se o vencimento doservidor estivesse acima do tetodo salário de referência para odesconto do INSS, haveria umdesequilíbrio inevitável. Só que,é importante lembrar, a maioriados vencimentos dos servido-

res, especialmentenos estados e mu-nicípios, não ultra-

passa esse teto.O que deveriater sido feito e

não o foi? OINSS deveria

transferir para o ente da Fe-deração respectivo – a União,os Estados ou os Municípios,os valores relativos aos descon-tos que até então haviam sidorecolhidos pelo funcionário –antes celetista, agora estatutário– para o regime geral. Isto ate-nuaria, em muito, o dese-quilíbrio que passou a existirentre as contribuições dos ser-vidores da ativa – que a partirde então passavam a descontar11% do total de seus ven-cimentos, sem teto – e as a-posentadorias e pensões quepassaram a ser de responsabi-lidade da União, dos Estadosou dos Municípios. Mas outrosproblemas existiram e per-duram até hoje. Esses entes de-veriam ter organizado as finan-ças dos seus respectivos planosde seguridade dos servidoresde uma forma clara, transparen-te e separada das demais re-ceitas e despesas sob suas res-ponsabilidades. Mais ainda:enquanto empregadores, essesgovernos – nas três esferas –deveriam contribuir, na propor-ção de 2 para 1, para esses pla-nos de seguridade. Nada dis-so foi feito e pior: como houveum número elevado de apo-sentadorias desde então – atémesmo acelerado, em decor-rência das periódicas ameaçasde perdas de direitos, nãocompensadas pela contra-tação, via concurso público,de novos servidores, o proble-ma tendeu a se agravar atéchegarmos, novamente, a essatentativa de se taxar aposen-tados e pensionistas.

A proposta de taxação dos ina-tivos será aprovada?

Não posso prever. Mas des-confio que essa proposta sejauma espécie de “bode na sala”.

Há opiniões, inclusive dentrodo STF, que lembram que estaé uma matéria inconstitucional.O que me chama a atençãodentre as novas medidas pro-postas para a área da previdên-cia dos servidores é o paga-mento de aposentadorias, paraos atuais servidores da ativa,proporcionais às contribuiçõesfeitas ao longo da vida labora-tiva. Em 1998, na tramitação dareforma conduzida pelo gover-no anterior, esta proposição foideclarada pelo INSS de difíciloperacionalidade, em decor-rência da precariedade dos re-gistros da contribuição passa-da de cada trabalhador. Paraaqueles que venham a ingres-sar no serviço público, o queme preocupa é o teto máximoda aposentadoria ser definidoem R$ 2.400,00.

Isso tudo significará a aber-tura de um mercado para ban-cos e seguradoras – inclusiveestrangeiros – que passarão acontrolar a poupança previden-ciária de um expressivo núme-ro de trabalhadores qualifica-dos do serviço público. Alémde todos os riscos que essa pro-posta representa – quem garan-te que depois de 30, 35 anos,em meio às crescentes e per-manentes turbulências e crimesdo mercado financeiro, haja re-cursos para o pagamento deaposentadorias e pensões deforma adequada? – a suaefetivação será mais um deses-tímulo ao emprego público,por parte de quadros e técni-cos mais qualificados. Afinal,para esse segmento, os salári-os na iniciativa privada já são,hoje, muito mais atrativos. Sen-do assim, caso haja a aprova-ção dessas medidas, o Estadobrasileiro estará se afastando,ainda mais, daquelas idéias quedefendemos e que a Constitu-inte de 88 tentou, mas não con-seguiu, que se transformasseem realidade. E o país estará,cada vez mais, se afastando deum projeto nacional capaz dedeter a gravíssima crise em quevivemos.

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ESTUDOS Luiz Fernando Rodrigues de Paula*

este artigo iremos analisar os prin-cipais determinantes e alguns im-pactos da recente onda de bancos

europeus no Brasil. Sua hipótese principalé que esta onda de bancos europeus sópode ser entendida se forem consideradosambos os fatores, externo e interno. Osdeterminantes externos estão relacionadosao processo de consolidação bancária nosistema financeiro europeu, no contexto daUnião Monetária Européia, que tem esti-mulado alguns conglomerados bancáriosa se expandirem para o exterior. Os inter-nos, principalmente à flexibilização das res-trições legais quanto à presença de estran-geiros no setor bancário brasileiro.

O Programa de Mercado Único e aUnião Monetária Européia (UME) podemser vistos como redutores de barreiras deeficiência para consolidação bancária den-tro das fronteiras da União Européia, edentro do subconjunto de nações partici-pantes da união monetária, respectivamen-te. De fato, essas políticas podem reduzirou eliminar as diferenças entre moedas,estruturas regulatórias e as regras explíci-tas contra competidores estrangeiros porparte dos países da União Européia (UE),o que torna em tese mais fácil e menoscustoso para as instituições financeirasoperarem através das fronteiras entre paí-ses dentro da região. Portanto, a Lei doMercado Único criou, teoricamente, asmesmas oportunidades para a atividade defusões e aquisições (F&As) que ocorreurecentemente nos EUA.

As evidências empíricas, contudo, mos-tram que as F&As bancárias, especialmen-te no mercado varejista, permanecem emboa medida confinadas dentro das frontei-

ras nacionais, contrastando com o peque-no volume de negócios envolvendo ou-tros países da UME. De fato, como assinalarelatório do Banco Central Europeu, “pare-ce que em muitos países, os grupos bancá-rios têm procurado primeiro consolidar suaposição dentro das fronteiras nacionaisantes de fazerem um movimento estratégi-co como resposta à criação do mercadoúnico e da introdução da moeda única”.

Portanto, parece haver alguns impedi-mentos para fusões e aquisições, dentrodos países da UE, e um incentivo para talatividade fora da região. Um destes incen-tivos é a ausência de uma agênciaregulatória única na UE, que tem limitadoos benefícios para os bancos se expandi-rem para áreas de atividades financeirasentre países e, ao mesmo tempo, tem im-pedido os bancos europeus de se engaja-rem na diversificação de ganhos e na re-dução dos níveis de capital, tal como temsido praticado nos EUA.

A expansão como alternativa

Assim, a despeito da uniformidade quedeveria ter sido criada depois da Lei doMercado Único e da introdução da moeda

O texto a seguir é um resumo elaborado pelo próprioautor do artigo “Determinantes e impactos da recen-te entrada de bancos europeus no Brasil”, premiadocom a primeira colocação na categoria artigo no XPrêmio Brasil de Economia, promovido pelo ConselhoFederal de Economia.

comum, dificuldades como diferentes re-gulamentações prudenciais nacionais têmtornado as operações entre países mais di-fíceis. Existem ainda múltiplas agências desupervisão dentro dos diferentes países enenhuma agência de coordenação ou umaagência regulatória única dos bancos paraa zona do euro.

Adiciona-se que vários governos dospaíses membros da UE têm freqüentemen-te recusado a entrada de bancos de (ou-tros) países da UE. Dessa forma, alguns ban-cos que têm tentado entrar em outros paísesda UE têm se defrontado com forte oposi-ção dos países hospedeiros, com o objeti-vo não explícito de se criar alguns poucos“campeões nacionais” em cada país paracompetir no mercado europeu e global.

A recente onda de bancos estrangei-ros na América Latina e no Brasil foi umaonda predominantemente européia. Istosignifica que o correto entendimento des-ta onda deve levar em consideração tantoo processo de consolidação bancária naEuropa, esta última no contexto da UniãoMonetária Européia (UME), quanto nosEUA. De fato, a tímida presença dos ban-cos americanos no processo de F&As naAmérica Latina pode ser explicado emparte pelo fato de que, além de já teremuma antiga presença no mercado latino-americano, eles estavam absorvidos peloprocesso de fusões e incorporações nopróprio mercado doméstico americano,que passou por um importante movimen-to de desregulamentação nos anos 1990.

Em realidade, esta recente onda debancos europeus foi determinada por um

Os bancos controlados por grupos estrangeiros, em somente seteanos, têm elevado sua participação (no Brasil) de 7,2%, em 1994,12,8%, em 1997, para 29,9%, em 2001, no total dos ativos dosetor bancário, enquanto declina a participação de outros seg-mentos, em especial as instituições públicas

Bancos europeus no Brasil:

N

razões e resultadosda onda recente

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conjunto de diferentes fatores, que inclui,entre outros, (i) o processo de rees-truturação do setor bancário no contextoda UME, que tem feito com que a expan-são para o exterior para alguns bancoseuropeus seja não somente uma fonte dediversificação de ganhos mas tambémuma forma que eles encontraram para for-talecer sua posição no mercado bancárioeuropeu; (ii) a dinâmica de interna-cionalização dos bancos espanhóis, umavez que eles têm sido os principais pro-tagonistas na recente onda de bancosestrangeiros na América Latina: esses ban-cos – em particular o BSCH e BBVA –perseguiram estratégias de crescimentobaseadas em F&As em seu mercado do-méstico, antes de se lançarem em umaestratégia de expansão internacional; (iii)o processo de desregulamentação de mer-cado ocorrido na região desde o iníciodos anos 90, no contexto das reformasliberalizantes, que permitiu a entrada deempresas estrangeiras em setores chaves,como telecomunicações, energia elétricae bancário; (iv) as melhores perspectivasda região para maiores retornos às insti-tuições financeiras, comparativamentecom os países desenvolvidos, assim comoos potenciais ganhos de eficiência quepoderiam ser obtidos na América Latinapelos bancos estrangeiros.

O contexto do Brasil

No caso do Brasil, a “crise bancária”de 1995 foi um marco neste processo, jáque resultou na abertura de uma porta paraa entrada de bancos estrangeiros no país,uma vez que desvalorizou os bancos exis-tentes e colocou um grande número de-les sob o controle do Banco Central. Nes-te contexto, mudanças na estrutura

regulatória referente a bancos estrangei-ros – através de uma flexibilização nas res-trições legais relativas à presença deles nosetor bancário brasileiro, o programa deprivatização de bancos estaduais, a esta-bilização de preços a partir de 1994, o cres-cente potencial do mercado bancário va-rejista brasileiro, o desenvolvimento –ainda infante – dos fundos de pensão emercado de títulos no Brasil, a crescenteintegração da economia brasileira no flu-xo comercial e financeiro – todos essesfatores juntos contribuíram para atrair ocapital estrangeiro para o setor bancáriobrasileiro.

Uma breve avaliação da recente ondade F&As bancárias no Brasil mostra que:(i) os bancos europeus comandaram asaquisições bancárias feitas por instituiçõesestrangeiras, destacando-se a compra doBamerindus pelo HSBC (britânico), Excel-Econômico pelo BBVA (espanhol), Amé-rica do Sul pelo Sudameris (ítalo-francês),Real pelo ABN Amro (holandês) e Banespapelo BSCH (espanhol); (ii) os dois gran-des bancos americanos no Brasil – Citibanke BankBoston – não participaram da ondade aquisições no país e optaram por bus-car um crescimento orgânico; (iii) os trêsgrandes privados nacionais – Bradesco,Itaú e Unibanco – reagiram à penetraçãodos bancos estrangeiros, participando ati-vamente do processo de F&As bancárias,realizando várias operações importantes,

como a compra dos bancos Nacional eBandeirantes pelo Unibanco, do BCN/Credireal e Mercantil de São Paulo peloBradesco, e o Banerj e BBA pelo Itaú.

A Tabela 1 mostra que os bancos con-trolados por grupos estrangeiros, em so-mente sete anos, têm elevado sua partici-pação de 7,2%, em 1994, 12,8%, em 1997,para 29,9%, em 2001, no total dos ativosdo setor bancário, enquanto declina a par-ticipação de outros segmentos, em especi-al as instituições públicas. Embora existauma tendência declinante na participaçãorelativa dos bancos públicos, incluindo osdois “gigantes” federais, Caixa EconômicaFederal e Banco do Brasil, sua participaçãorelativa é ainda importante no setor bancá-rio com 31,6% do total de ativos no finalde 2001, enquanto que os bancos privadosnacionais tinham uma participação predo-minante, de 37,2%.

Em particular, os maiores bancos pri-vados domésticos no Brasil – Bradesco,Itaú e Unibanco - têm aumentado sua fa-tia de mercado no setor bancário via fu-sões e aquisições de bancos estaduais eprivados, e, em menor grau, através decrescimento orgânico. Quando se compa-ra a participação percentual dos bancosestrangeiros nos maiores países da Améri-ca Latina, pode-se observar que, no Bra-sil, esta participação é muito mais baixado que na Argentina (48,6%, em 1999) eno México (80,0%, em 2001).

TABELA 1

Participação percentual das instituições nos ativos do setor bancário no Brasil

1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Bcs com controle estrangeiro 8,35 7,16 8,39 9,79 12,82 18,38 23,19 27,41 29,86

Bcs privados nacionais 40,67 41,21 39,16 39,00 36,76 35,29 33,11 35,23 37,21

Bcs públicos (+ Caixa Estadual) 13,41 18,17 21,90 21,92 19,06 11,37 10,23 5,62 4,3

Caixa Econômica Federal 14,51 14,98 16,40 16,47 16,57 17,02 17,06 15,35 10,97

Banco do Brasil 22,93 18,28 13,91 12,52 14,42 17,44 15,75 15,63 16,76

Cooperativas de Crédito 0,13 0,20 0,24 0,30 0,37 0,50 0,66 0,76 0,9

Área bancária 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: Banco Central do Brasil

Ao analisar-se as estratégias de expansão dos maiores bancosestrangeiros na América Latina, uma das características comunsdesses bancos é que todos eles são grandes bancos universais,que escolheram se expandir para outros países como estratégiade crescimento de suas atividades

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Ao analisar-se as estratégias de expan-são dos maiores bancos estrangeiros naAmérica Latina, uma das características co-muns desses bancos é que todos eles sãograndes bancos universais, que escolhe-ram se expandir para outros países comoestratégia de crescimento de suas ativi-dades. De acordo com a literatura inter-nacional, bancos que operam em paísesonde o setor bancário é grande e maislucrativo devem ser capazes de exportaruma habilidade superior e são, assim,mais prováveis de expandirem suas ativi-dades para o exterior. De fato, todos osmaiores bancos europeus na América La-tina – BSCH, BBVA, HSBC e ABN Amro –aumentaram recentemente seu marketshare nos respectivos mercados domésti-cos via fusões e aquisições, alcançandouma posição de liderança nesses merca-dos. A expansão para o exterior não foisomente uma fonte de diversificação dereceitas para esses bancos, mas, também,uma forma deles fortalecerem sua posi-ção no mercado bancário europeu, nocontexto das pressões resultantes daunião econômica e monetária.

A reação dos nacionais

De acordo com a literatura internacio-nal, os dois principais impactos da entra-da de bancos estrangeiros em mercadosdomésticos são: (i) os bancos estrangei-ros são menos eficientes do que os ban-

cos domésticos nos países desenvolvidos,mas são mais eficientes do que os bancosdomésticos nas economias emergentes; (ii)a entrada de bancos estrangeiros podetornar os mercados domésticos mais com-petitivos, e, assim, forçar os bancos do-mésticos a operarem de forma mais efici-ente e, ao mesmo tempo, a expandiremsuas atividades.

Ao analisar-se o recente comportamen-to dos maiores bancos privados nacionais– Bradesco, Itaú e Unibanco – a partir dealguns indicadores de eficiência e desem-penho, os dados mostram alguma evidên-cia de que, ao menos no período recente,os bancos privados brasileiros estão ob-tendo um bom desempenho e os seus cus-tos, embora não tenham declinado, têmestado sob controle.

A Tabela 2 mostra que, embora as evi-dências não permitam extrair conclusõesdefinitivas, existe alguma evidência queos três grandes privados domésticos têmapresentado em geral melhores resultados– em termos de indicadores de eficiênciae desempenho - do que os bancos estran-geiros no período recente, ainda que osubconjunto de bancos americanos (Citi-

bank e BankBoston) apresente um melhordesempenho do que o subconjunto dosbancos europeus.

Observa-se, portanto, que os bancosestrangeiros não têm se mostrado neces-sariamente mais eficientes que os bancosbrasileiros. Ao mesmo tempo, existem evi-dências que os grandes bancos privadosnacionais têm reagido positivamente àentrada de bancos estrangeiros, uma vezque a entrada desses bancos tem afetadoo mercado bancário doméstico, forçandoos bancos nacionais a operarem de formamais eficiente e também a expandirem suasatividades, organicamente ou por fusõese aquisições. Diferenças culturais, o altonível de desenvolvimento e sofisticaçãodo setor bancário no Brasil, que resultoude sua capacidade de se adaptar ao perío-do de alta inflação, e a forma como foramadministradas as crises externas no Brasil,no período 1997/2002, podem explicar estecomportamento.

* Professor da Faculdade de Ciências Econômicas daUERJ. E-mail: [email protected]

Uma versão completa em inglês do mesmo pode serobtida no site: www.brazil.ox.ac.uk. O correio

TABELA 2

Indicadores selecionados de alguns da maiores bancos no Brasil, 1999-2000

Eficiência Desempenho

Indicador de Empregados Receita liquída Retorno sobre Retorno sobre Margem líquida eficiência* agências Empregados Patrimônio ativos de juros

1999 2000 1999 2000 1999 2000 1999 2000 1999 2000 1999 2000

Bradesco 70,41% 65,62% 7 7 20,6 32,0 16,32% 21,50% 1,38% 1,83% 7,19% 7,12%

Itaú 66,12% 66,54% 15 16 49,6 50,9 31,65% 27,71% 3,60% 2,65% 7,56% 7,09%

Unibanco 69,44% 70,10% 13 18 31,6 36,0 14,76% 13,43% 1,64% 1,44% 7,31% 6,04%

Safra 61,40% 54,16% n.d. 40 n.d. 88,5 19,33% 22,11% 1,10% 1,32% 4,91% 4,01%

ABN-Amro Real 69,95% 72,92% n.d. 15 9,2 13,3 10,32% 5,47% 1,04% 0,93% 6,34% 13,17%

HSBC 79,27% 94,20% n.d. 13 n.d. 9,7 25,76% 21,48% 1,84% 1,21% 10,39% 8,02%

Sudameris 130,5% 105,5% n.d. 18 -15,1 -46,1 -14,85% -38,28% -0,73% -1,83% 3,36% 4,31%

BBVA 78,40% 87,42% n.d. 12 n.d. 13,8 28,49% 9,25% 2,12% 0,67% 6,49% 5,29%

Bank Boston 49,41% 52,78% n.d. 20 n.d. 131,0 22,23% 20,57% 1,19% 1,16% 8,27% 5,83%

Citibank 38,25% 76,30% n.d. 24 n.d. 92,8 48,45% 19,37% 4,02% 1,43% 11,79% 3,95%

Fonte: Elaboração própria com dados de Guimarães et al (2001)Nota: (*) Índice de eficiência = (salários + overhead + tarifas)/receita líquida de juros

Observa-se que os bancos estrangeiros não têm se mos-trado necessariamente mais eficientes que os bancosbrasileiros.

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As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.Equipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: Luiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, coordenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Filgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricardo Monteirdo Monteirdo Monteirdo Monteirdo Monteirooooo

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Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.brAs reuniões do Fórum são abertas: todas as quintas-feiras, às 18h, na sede do CORECON-RJ

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO

15jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003jornal dos economistas - junho de 2003

oi apresentado pela prefeitura carioca,em 15 de abril de 2003, o projeto de Leidas Diretrizes Orçamentárias – LDO para

2004, em cumprimento à determinação cons-titucional e legal. Tal instrumento de plane-jamento governamental foi criado com oobjetivo de proporcionar a discussão sobreas prioridades governamentais, sem a com-plexidade dos códigos e dos valores mo-netários da Lei Orçamentária.

Entretanto, esse objetivo “não pegou” eo histórico das 14 LDOs na cidade do Riode Janeiro atesta uma tentativa do PoderExecutivo em obscurecer suas intenções,através do estratagema de listar toda e qual-quer ação governamental como prioridade.Infelizmente, o projeto deste ano não fogea esta sina.

O projeto de LDO de 2004 aponta ape-nas para a continuidade do “cumprimento”(?) do que foi proposto no Plano Plurianualpara 2002/2005 – Lei nº 3.345/2001. Sem

Os artifícios da LDOTexto da lei permanece obscurecendo intenções reais do Poder Executivo

qualquer indício de acerto de coordenadas,a prefeitura parece seguir satisfeita em nãoobedecer a metas fiscais e prioridades previ-amente estabelecidas. Cenário que pode serfacilmente comprovado pelo não pagamen-to de 83% do previsto com amortizações dadívida e pelo aumento de 149% das receitasprovenientes de aplicações financeiras (verPrestação de Contas de 2002, de autoria doPoder Executivo).

Desnudando o rei...

É perfeitamente sustentável alegar quehá uma maior preocupação em, simples-mente, não infringir as leis acima citadas,caracterizando superficialmente as priorida-des, do que elaborar estudos de maior ri-gor técnico, e, conseqüentemente, mais con-dizentes com as necessidades de cada áreado município.

Certamente, uma das razões do PoderExecutivo para o uso desse artifício é a ten-tativa de escapar da análise mais apurada doque é dito para o que é feito. Porém, o orça-mento existe para “desnudar o rei”. Apre-sentaremos a comparação de alguns progra-mas do que foi executado em 2002, com oprevisto para 2004.

Controle das doençastransmissíveis/Combate à DST/AIDSGrau de execução em 2002: 13% (inicial R$18,156 milhões – realizado R$ 2,294 milhões)Previsão para 2004: 200 mil testes sorológicos

Garantindo a Educação CidadãEste programa prevê ações, dentre outras,como a merenda escolar e a ronda da Guar-da municipal nas escolas.Grau de execução em 2002: 82% (inicial R$107,578 milhões – realizado R$ 88,007 milhões)Previsão para 2004: 106 milhões de refei-ções; ronda nas 1050 escolas.

Prevenção e controle de enchentesGrau de execução em 2002: 57% (inicial R$35,220 milhões – realizado R$ 19,910 milhões)Previsão para 2004, dentre outras ações:drenagem de 305 km.

Emendas do Fórum

Conforme é feito todos os anos, o Fórum Popular deOrçamento do Rio de Janeiro apresenta sugestões deemendas em busca de uma melhor qualidade e quantida-de das informações contidas na Lei Orçamentária.

As emendas nesse sentido foram baseadas no projetode Lei Complementar Federal nº 135/96, que “Estatui nor-mas gerais de direito financeiro para elaboração, execu-ção e controle dos planos, diretrizes, orçamentos e balan-ços da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios”, de autoria da Comissão Mista de Planos, Or-çamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional.

Este ano, os componentes do Fórum estão particular-mente esperançosos, face a declaração de apoio a esseprojeto feita pelo Controlador Geral do Município do Riode Janeiro, Lino Martins da Silva (ver Relatório doControlador na Prestação de Contas de 2002).

Cabe, aliás, registrar que o Controlador tem sido in-cansável defensor não só do aprimoramento da qualidadeda peça orçamentária, mas também da sua divulgação (foiatravés dele que o Fórum obteve acesso ao sistema Fincon).

Outra emenda de grande relevância é a que trata dapriorização das dotações destinadas às crianças e adoles-centes, continuidade da parceria com o Ministério Público.

Intervenções urbanísticasGrau de execução em 2002: 312% (inicialR$ 27,453 milhões – realizado R$ 85,591 mi-lhões)Previsão para 2004, dentre outras ações:reurbanizar 335 mil m².

Como acreditar nas previsões para 2004,com uma realização nesses níveis?

...caindo a máscara

Até aqui estamos analisando apenas o quefoi listado como prioridade, e comparandocom o que foi realizado. Porém, o mais gra-ve está por vir.

Neste exercício de 2003, a prefeitura ca-rioca, com base no superávit acumulado,“emprestou” ao governo do estado R$ 330milhões (R$ 230 mi para o pagamento do13º atrasado e R$ 100 mi para programas desegurança*), atitude questionável sob qual-quer aspecto, do jurídico ao político, pas-sando pelo ético.

Também sustentado por esse mesmo su-perávit, criado às custas do calote da dívida (ver JE, maio/03), a prefeitura abriu um crédi-to suplementar no valor de R$ 30 milhões parao pagamento do arquiteto estrangeiro JeanNouvel (logo, saída do país de aproximada-mente US$ 10 milhões), contratado para a ela-boração do projeto do Museu Guggenheim,que não está no PPA nem na LDO/2003.**

Outro dado surpreendente é sobre o pro-grama destinado à publicidade e propagan-da da prefeitura. Pela Lei Orçamentária, oprefeito tinha a seu dispor um crédito depouco mais de R$ 100 mil. Em maio, atravésde remanejamento essa dotação saltou paramais de R$ 9,3 milhões, retirados de váriosoutros programas, dentre os quais, R$ 3 mi-lhões da Guarda Municipal. Com essa ação“cai a máscara” do discurso da segurançapública tão vociferado pelo alcaide.

* Ver JE, abril/03** Breve faremos uma análise mais aprofundada so-bre esse projeto, que até o momento está barradopela Justiça, graça s a uma ação do vereador EliomarCoelho.

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oram lançados, em junho, no auditó-rio do Corecon-RJ, dois manifestos

de economistas, com críticas à política eco-nômica que vem sendo adotada pelo Go-verno Lula e a apresentação de propostaspara a retomada do crescimento econô-mico e da prosperidade no país, comredistribuição de renda e inclusão social.

Em linhas gerais, os dois textos susten-tam que há alternativas de política econô-mica para o país, que não o deixe tantotempo refém e submetido às armadilhas da

CONJUNTURA

Economistas lançammanifestos

Manifesto dos Economistas

Subscrito por 300 profissionais de todo o Brasil, propõe 7 medidas:1. controle do fluxo de capitais externos e administração do câmbio em nível favorável àsexportações;2. enquanto perdurar o alto desemprego, redução do superávit primário pelo aumentoresponsável do dispêndio público, a fim de ampliar a demanda efetiva agregada induzin-do a retomada do desenvolvimento e do emprego;3. ampliação dos gastos públicos nos três níveis da administração, com prioridade paradispêndio com ampliação dos serviços de educação, saúde, segurança, assistência e habi-tação, grandes geradores de empregos, e de competência também dos estados e municípi-os - o que implica a restauração da saúde financeira da Federação, inclusive, medianterenegociação das dívidas de Estados e Municípios para com o Governo federal;4. redução significativa da taxa básica de juros, como complemento indispensável da polí-tica fiscal de estímulo à retomada dos investimentos privados;5. promoção de investimentos públicos e privados em saneamento e infra-estrutura (logísticae energia), para assegurar a melhoria da competitividade sistêmica da economia; incentivoa investimentos imediatos em setores privados próximos da plena capacidade;6. manutenção e ampliação da política de incentivo às exportações; e substituiçãode importações;7. política de rendas pactuada para controle da inflação.

Criado o Corecon estudantil

Conselho cria comissão voltada para as áreas acadêmicas e estudantis

Conselho Regional de Economia doRio de Janeiro instituiu uma linha de

acesso direto com os estudantes fluminen-ses – a Comissão Corecon Estudantil, vi-sando afirmar e fortalecer a interlocuçãoda instituição com as comunidades acadê-mico-estudantis dos cursos de graduaçãoem economia.

O objetivo é aprofundar a participaçãodo Conselho na formação dos estudantes deeconomia. E se traduz no apoio institucional

à realização de eventos acadêmico-estudan-tis, suporte informativo e acadêmico, bemcomo apoio administrativo para o registroprofissional provisório.

A comissão compõe-se de três membros,com vínculos nas atividades acadêmico-estu-dantis: Rogério Rocha, diretor de AssuntosInstitucionais do Sindicato dos Economistas(Sindecon-RJ); Tatiana Macedo, estudante deCiências Econômicas da Rural e membro doDiretório Acadêmico da UFRRJ; e Rafael Vieira,

NOVO ESPAÇO

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cartilha neoliberal. Alertam para os riscosda recessão e das conseqüências que aspolíticas hoje adotadas projetam sobre oscenários de médio e longo prazo, e indi-cam um conjunto de propostas para a mu-dança de rumo na economia brasileira.

Na impossibilidade de publicarmos osdois documentos na íntegra, destacamosa seguir as propostas por eles defendidase indicamos aos leitores a íntegra dos tex-tos na página dos economistas na internet– www.corecon-rj.org.br.

também diretor do Sindecon.Para incentivar o uso de mais esse espa-

ço foi criado um link na página do Corecon-RJ – [email protected], para men-sagens, esclarecimentos e desenvolvimentodesse espaço sobre assuntos do universo es-tudantil de economia, e sua relação com ainstituição e com o espaço acadêmico.

A esse novo espaço todos os estudantesde economia do Rio de Janeiro estão convi-dados. Sejam bem vindos.

Os economistas Paulo Passarinho, José Carlos de Assis, SidneyPascotto e Reinaldo Gonçalves na divulgação dos manifestos

F

O

Manifesto dos Conselhos de Economia

Subscrito por todos os presidentes de Conselhos Regionais deEconomia e conselheiros do Cofecon, propõe:a) Abandono das práticas do fundamentalismo econômico de mer-cado, que se estabeleceu no governo anterior e vem sendo reforça-do no atual, repetindo simplesmente a política de mais do mesmo eque fracassou;b) Início imediato de construção das condicionantes mínimas neces-sárias para a promoção do crescimento e desenvolvimento econômi-co e social. Para tanto, é pré-condicão indispensável a pronta e vigo-rosa redução das taxas de juros, inclusive daquelas taxas abusivas,cobradas de cidadãos e empresas, pelos bancos privados e públicos;c) Descontingenciamento do orçamento da União, com a conse-qüente retomada dos investimentos públicos em saneamento, ha-bitação e infra-estrutura e, portanto, a necessária redução imedia-ta da meta prevista para o superávit primário; e,d) Estabelecimento de políticas públicas que estimulem a capacidadede expansão do nosso mercado consumidor interno, inclusive pormeio da significativa revisão das propostas de reforma da previdên-cia e do sistema tributário, que têm um foco fiscalista estreito.