RIacho Pajeú - Planejamento da Paisagem

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Análisis del arroyo Pajeú y su entorno, localizado en el centro de la ciudad de Fortaleza.

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  • PLANEJAMENTO DA PAISAGEMbacia vertente martimamicrobacia a3.6INTRODUO

    Este trabalho conclui a disciplina de Planejamento da Paisagem do Curso de Arquitetura e Urbanismo, bus-cando sintetizar os conceitos vistos em sala de aula e aprofundar a reflexo sobre o quadro natural, a cidade real e a legislao vigente na cidade de Fortaleza. O contexto atual de grandes obras na cidade traz tona muitas dessas questes. Vias esto sendo alargadas, viadutos construdos, grandes equipamentos de lazer e negcios, um Veculo Leve sobre Trilhos est sendo implementado... Todas essas intervenes levantam desafios de planejamento urbano. Ao longo da disci-plina nos familiarizamos com a legislao que orienta (ou deveria) essas aes e pudemos enxergar que os problemas quase nunca so simples. A conservao ambiental, a moradia de baixa renda, os interesses do mercado e o crescimento da cidade so algumas das peas desse quebra-cabea.

    Para ilustrar tais conflitos, cada grupo escolheu uma microbacia. Na maioria delas, foram encontrados con-flitos de moradia de baixa renda ocupando espaos ambientalmente frgeis, sem a infraestrutura necessria para assentamentos legais. Diferente-mente das demais, a microbacia A3.6 (figura 1) tem infraestrutura subutilizada. Por ser localizada no bairro Centro, a rea foi pioneira na ocupao e urbanizao em Fortaleza. Acompanhando a tendn-cia das ltimas dcadas das grandes cidades brasilei-ras, a rea central do municpio sofreu uma evaso populacional. Hoje conta com a populao aproxima-da de 3187 residentes, segundo o Censo 2010 do IBGE. A grande quantidade de imveis e domiclios vazios contrasta com a alta densidade de empregos e amplo abastecimento de infraestrutura.

    Outro aspecto importante na microbacia a relao da cidade com os meios naturais, em especial com o Riacho Paje. Se outrora este foi determinante na escolha do stio para estabelecer as primeiras con-strues da cidade, hoje enfrenta as agresses polui-doras de suas guas. O distanciamento da populao e do riacho tambm ser explorado a seguir.

    Em alguns momentos, sero expostos dados do bairro Centro. Entendemos que estes no correspon-dem necessariamente microbacia, mas ilustram o cenrio especfico da rea, visto que est completa-mente inserida no bairro e ocupa uma grande poro deste.

    bairro centro e microbacia A3.6 (figura 1)ADA | EVY | FRED | SAMUEL

  • SISTEMAS AMBIENTAIS E POSSVEIS IMPACTOS AMBIENTAIS:

    Os sistemas ambientais aqui expostos foram delimita-dos no Diagnstico Geoambiental do Municpio de Fortaleza, publicado em 2009 pela Prefeitura de For-taleza. Essa caracterizao conforme os componen-tes, dimenses, caractersticas de origem e evoluo de territrios, facilitando a identificao de potenciali-dades e limitaes para o uso e ocupao da terra.

    Na rea da microbacia A3.6 encontramos 5 sistemas ambientais, sendo os de maior rea Tabuleiro Pr-Li-torneo e Dunas Fixas. Plancie Fluvial, Faixa de Praia e Terrao Marinho ocupam reas menores.

    O municpio de Fortaleza est quase que em sua totalidade situado sobre Tabuleiros Pr-Litorneos. Esses correspondem a terrenos firmes, de ecodinmi-ca mediamente estvel, com topografia pouco aciden-tada (mximo de 21 e mnimo de 15 metros na rea), favorvel implantao de loteamentos e arruamen-tos, com limitaes acerca da manuteno do equilbrio ambiental e controle de cheias, com des-taque para as reas prximas s plancies fluviomar-inhas. Superfcie de topo plano ou suavemente ondu-lado e com larguras variadas, composta por material arenoso e/ou areno-argiloso inconsolidado, secciona-da por vales abertos e de fundo plano. So ambientes estveis em condies de equilbrio ambiental e tm vulnerabilidade baixa ocupao. Sob o ponto de vista de fragilidades para instalaes urbano-industri-ais, elas so pouco restritivas ou no restritivas. Tm relevo estabilizado, baixo potencial para ocorrncia de movimentos de massa e topografia favorvel para a implementao de todos os modelos de loteamentos e arruamentos..

    Ocupa tambm importante rea na microbacia o siste-ma ambiental de Dunas Fixas. So ambientes de tran-sio, classificados como rea medianamente frgil. Alm do potencial paisagstico, os campos de dunas fixas concentram reservas de guas subterrneas passveis de utilizao. Morros de areias quater-nrias em depsitos marinhos e litorneos inconsoli-dados e acumulados pelo vento. Fitoestabilizao via-biliza a fixao das dunas. Constituem morros de areia pertencentes a geraes mais antigas de dunas,

    estando alguns, eventualmente, dissipa- dos. Se destaca pela considervel declividade.

    A microbacia tambm contm a Plancie Fluvial do Riacho Paje. Essa rea caracterizada por uma superfcie plana, com pequenas variaes altimtricas mais presentes na margem leste. Restries legais protegem essa rea, visando a preservao da mata ciliar e do recurso hdrico. Superfcies planas, oriun-das de acumulao de sedimentos inconsolidados fluviais, sujeitas a inundaes sazonais e revestidas primariamente por matas ciliares; ocorrem como feies sazonais, ocupando faixas de deposio aluvi-al, bordejando as calhas fluviais.

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  • O extremo norte da microbacia sistematizado como Terrao Marinho e Faixa de Praia. So ambientes que tm como caracterstica alta fragilidade ambiental e ecodinmica desfavorvel s atividades humanas, que devem ser cuidadosamente planejadas. O Ter-rao Marinho foi classificado como rea mediana-mente estvel, j a faixa de praia classificada como rea frgil. Trata-se de um ambiente fortemente instvel, constantemente recebendo aes dos pro-cessos morfogenticos. Seu uso mais apropriado destinado ao lazer e recreao de forma planejada e no predatria. Segundo relatrio de balneabilidade da SEMACE de 01/11/2013, a praia da microbacia (identificada como praia da INACE) est prpria para o banho. rea plana ou com declive muito suave para o mar, resultante de acumulao marinha. A oeste da ponta do Mucuripe at a Barra do Cear, o sistema ambiental apresenta a maior parte dos seus compo-nentes degradados ou suprimidos e a organizao funcional eliminada em virtude da expanso urbana contnua e desordenada. H, por consequncia, des-caracterizao dos substratos terrestre e marinho, alteraes das drenagens ou da hidrodinmica.

    OUTRAS CARACTERSTICAS AMBIENTAIS:

    Como a maior parte do territrio fortalezense, a micro-bacia quase completamente coberta por vegetao antrpica. A exceo se faz em algumas reas onde o Riacho Paje exerce influncia, com vegetao ribei-rinha aparente.

    A Microbacia estudada tem poucos pontos de grande variao de altitude. Estes esto concentrados nas margens do Riacho Paje e adjacente Avenida Pres-idente Castelo Branco, prximo costa marinha. (figu-ra 2) microbacia e curvas de nvel distantes de um metro (figura 2)

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  • BREVE HISTRICO DA URBANIZAO DA MICROBACIA:

    O Forte Schoonenborch foi construdo pelos holande-ses em 1649 na regio da microbacia estudada, entre-tanto o prprio forte e a regio em questo foram ocu-pados apenas de maneira a garantir a defesa do territrio. O perodo seguinte construo do forte foi permeado por disputas pela terra tanto na ordem poltica quanto militar, o que dificultou o desenvolvi-mento linear da populao ao redor do riacho Paje.

    Ento em 13 de abril de 1726, data do aniversrio de Fortaleza, a regio supracitada eleva-se a categoria de vila e a comea o seu processo de urbanizao. (figura 3). A ocupao do territrio se deu margem esquerda da foz do riacho Paje. Em 1812 ocorre a primeira interveno no traado urbano da vila, at ento a vila seguia um processo autoconstrutivo orgnico. Silva Paulet mantm os arruamentos j con-strudos e aplica um traado xadrez vila, j prevendo a sua futura expanso. A regio at ento compreen-dida pelo processo de urbanizao constitua-se de plancies litorneas de dunas fixas, reas mediana-mente frgeis, mas segundo o parecer do Eng. Silva Paulet passveis de construo. O riacho Paje per-manece inclume e suas guas potveis.

    Em 1823, atravs de um decreto imperial, a vila pro-movida a categoria de cidade. At ento a cidade no dispunha de infraestrutura, os transportes eram feitos por animais e no existia um sistema de distribuio de gua, fatores que motivaram a ocupao de toda a regio no entorno do riacho, passando a exercer mais diretamente e com maior intensidade impacto na qual-idade vital do riacho. Algumas edificaes que so construdas seguem a sinuosidade do riacho, preser-vando-o em face de sua importncia para a cidade, mas j notvel que outras edificaes negligenciam o riacho, voltando suas costas para o corpo hdrico e em alguns trechos utilizando coberturas artificiais, comeando assim o processo, atualmente j consoli-dado, de esquecimento do riacho. A cidade experi-menta ento um processo de expanso e principal-mente de transformao, passando a desempenhar a funo econmica de exportao de produtos oriun-dos do serto, em especial o algodo e o gado, alm de defensiva e administrativa.

    poca, 1875, Adolfo Herbster prope um novo plano para a cidade, ainda seguindo o traado xadrez, porm com a implementao de grandes novas vias, as atuais Imperador, Duque de Caxias e Dom Manuel, alm da implementao do Boulevard Jacarecanga, onde mais tarde ocorrer a fixao das famlias abas-tadas oriundas do centro da cidade. As mudanas do novo plano geram grande impacto na cidade, porm foram implementadas em reas de tabuleiros litor-neos. Fortaleza vivencia um desenvolvimento ocasio-nado pelo Ciclo do Algodo, melhorando seu sistema de transportes e estabelecendo sua rede de ilumi-nao pblica e seu sistema de canalizao de gua. O mesmo sistema de canalizao de gua ser um dos principais responsveis pelo ocultamento do riacho.

    O final do sculo XIX e comeo do XX foi marcado pela definio de Fortaleza como centro poltico e econmico do Cear e por sua conseguinte expanso, irradiando-se para reas perifricas ao j consolidado Centro da cidade, com o surgimento de lojas, bancos, clubes, fbricas, manses e novos bair-ros, que visavam atender ao conceito de moderni-dade. O riacho Paje passa ento a desempenhar o papel de obstculo natural expanso da cidade. Nesse entretempo nenhuma proposta urbanstica dis-correu sobre os impactos ambientais d corrente/futu-ra expanso da cidade, muito menos sobre o riacho, a preocupao maior parecia ser fazer a cidade crescer, preocupao outorgada pela hegemnica oligarquia Nogueira Accioly. Nos anos 30 a cidade supera a cifra dos 100 mil habitantes e cresce de ma-neira exageradamente desorganizada, a entra em jogo o comeo da especulao imobiliria e o enfra-quecimento da gesto pblica ao revs do fortaleci-mento das elites locais, que passam a vetar qualquer proposta urbanstica que no lhes convenha e a extin-guir qualquer vestgio de planejamento e atino que por ora a regio da microbacia revelava.

    No possvel precisar com exatido o impacto ocor-rido ps-30, mas sabido que os antigos 100 mil transforaram-se em mais de 800 mil j no incio na dcada de 70 (figura 4), e que os problemas sociais resultantes da falta de planejamento (alta desigual-dade social, surgimento de favelas, especulao imo-biliria) foram, em medidas absolutas e relativas, maiores que quaisquer infrutferas tentativas de reverso do problema. O centro da cidade, junto com o riacho Paje, declina para a sua deslembrana, suas edificaes se convertem em impvidas esttu-as de sal.

    primeiro mapa de fortaleza de 1730 (figura 3)

    bibliografia consultada:FORTALEZA: 285 ANOS (Artur Bruno, Airton de Farias)CENTRO DE FORTALEZA, LUGAR DE TRANSFORMAES (Ftima Bertini)http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1327762

    rua Guilherme Rocha na dcada de 70 (figura 4) ADA | EVY | FRED | SAMUEL

  • RIACHO PAJE:

    Sua nascente, hoje subterrnea, localiza-se no bairro Aldeota nas imediaes da Rua Silva Paulet, este curso dgua possui aproximadamente cinco quilmetros de extenso, percorre vrias ruas do centro da cidade em alguns momentos canalizado e em outros momentos aberto at desaguar entre o Marina Park Hotel e a Indstria Naval Cearense (figu-ra 5).

    Apesar de todo o seu valor simblico, o recurso hdri-co encontra-se atualmente bastante comprometido por intervenes. A intensa urbanizao de Fortaleza e ocupao que comeou h 284 anos justamente pelas margens do Riacho Paje trouxeram danos graves ao corpo hdrico. Os principais impactos acar-retados esto relacionados ao revestimento artificial da foz; ao lanamento de esgotos no curso dgua; a remoo da vegetao natural; a canalizao subter-rnea e aberta; ao desvio do curso dgua e ocu-paes comerciais e moradia nas margens e prximas ao riacho. Nota-se que a poluio modifica as carac-tersticas naturais do corpo hdrico podendo perce-b-lo como corpo hdrico contaminado.

    O processo de urbanizao impe um alto preo o da vida saudvel deste corpo hdrico. Quando um curso dgua passa por processo de urbanizao, ocorre remoo da cobertura natural sendo substitudas por reas intensamente permeabilizadas e isto per-ceptvel em grande parte do percurso do Riacho Paje. As consequncias dessa impermeabilizao podem ser vistas atravs do impedimento de infil-trao das guas das chuvas, a eroso do solo que cresce exponencialmente devido grande perda de sua proteo natural e assim no perodo de chuvas o material erodido levado para a calha fluvial onde se sedimenta e assim diminui o escoamento. Desta forma percebe-se que a ocupao das plancies de inundao junto a impermeabilizao dos solos dos corpos hdricos promove a degradao do Riacho Paje que serviu de fonte de vida para o surgimento dos primeiro fortalezenses e hoje encontra-se em situ-ao altamente crtica.

    No centro da cidade de Fortaleza entre a Rua Pinto Madeira e Av. Dom Manuel, prxima administrao da Cmara de Dirigentes Lojistas CDL encontra-se Praa da CDL onde existiu uma tentativa de revital-izao do espao, atravs da construo de obras artsticas como Parque das Esculturas. Neste trecho o Riacho corre de maneira aberta onde torna-se per-ceptvel a quantidade de lixo acumulada neste percur-so. Entretanto o mais assustador o fato de muitos cidados no saberem que aquele corpo hdrico um riacho, devido a poluio existente naquele percurso. Mesmo com a tentativa de revitalizao deste trecho percebe-se a negligncia e o forte mau cheiro vindo do curso dgua.

    Na praa da CDL (figura 6) existe uma sada de gua que promove uma ligao para o lago situado no Parque das Crianas, onde so recebidas guas ser-vidas de residncias e pontos comerciais promovendo mais agresses ao Riacho.

    bibliografia consultada:FORTALEZA: 285 ANOS (Artur Bruno, Airton de Farias)CENTRO DE FORTALEZA, LUGAR DE TRANSFORMAES (Ftima Bertini)http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1327762

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    mapa do riacho Paje, arquivo Dirio do Nordeste (figura 5)

    trecho do riacho localizado na praa da CDL (figura 6)

  • O percurso mais dramtico o trecho no qual o Riacho percorre por entre estacionamentos (figura 7), onde so despejados leo de motor, copos des-cartveis e garrafas. O lixo, animais putrefatos e sujei-ra acumulada transformam o espelho d'gua num esgoto a cu aberto. Existe at estacionamento com o nome do corpo hdrico onde os carros ficam estacio-nados de frente para o Riacho.

    Como tantos recursos hdricos de Fortaleza, o Paje a demonstrao da depredao do meio ambiente na cidade. No percurso por trs da Rua Governador Gen-eral Sampaio onde esto construdos outros estacio-namentos percebe-se que o Riacho corre aberto e cercado por muros e percebe-se novamente um elevado ndice de poluio. A visualizao deste per-curso a mais degradante de todas. Cadeiras, saco-las plsticas, roupas, latinhas de refrigerante encon-tram-se sobre o Riacho e o acmulo to grande que o lixo fica na superfcie do espelho dgua que no reflete praticamente nada de luz, devido a cobertura de lixo.

    O Bosque do Pao Municipal situado na Rua So Jos atrs da Catedral Metropolitana de Fortaleza um trecho no qual o Riacho percorre um pouco mais preservado. necessrio refletir o motivo deste trecho transpassar mais revitalizado. Um dos motivos a construo de departamentos pblicos neste espao como a transferncia atualmente do gabinete da prefeitura da cidade para o Pao Municipal. A revi-talizao e limpeza do Riacho deveria ser efetivada por todo o percurso, portanto necessrio com-preender que o Riacho percorre altamente fragmenta-do por interesses de revitalizao que predominam em alguns trechos e em outros o Riacho negligen-ciado.

    A construo do Mercado Central, prdio localizado em frente a 10 Regio Militar, onde a finalidade maior do prdio a venda de mercadorias como atrativos tursticos, entretanto esta construo promove o esquecimento do Riacho inviabilizando o processo de revitalizao do espelho dgua.

    Percebe-se que no interior do lote, as margens do Riacho servem como estacionamentos e circulao de veculos. O potencial paisagstico do espao no utilizado como rea para o lazer de funcionrios ou clientes, mas sim como proteo para os carros que optam por permanecer sobre a sombra das rvores que foram implantadas s margens do Riacho. Sente-se falta na construo deste prdio de uma revitalizao que vislumbrasse e revitaliza-se o espao do Riacho Paje como doao para a cidade. O trecho que percorre o Mercado Central o ltimo aberto, posteriormente o Riacho percorre totalmente coberto at desaguar entre o Hotel Marina Park e a Indstria Naval na orla martima de Fortaleza.

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    estacionamento paju park (figura 7)

  • RELAO DA CIDADE COM OS ESPAOS NATURAIS:

    Se o ambiental nas cidades a sntese, ainda que contraditria, entre o natural e o social, o embate seria, antes, entre o social e o poltico, sendo a questo ambiental urbana, uma das expresses mais completas deste conflito (Spsito, 2003, p. 295).

    A assimilao das relaes entre sociedade, natureza e cidade no se trata unicamente da censura ao crescimento desregulado, ao produtivismo, e con-statao de finitude dos recursos ambientais, mas das experincias artstico-culturais relacionadas pais-agem urbana e prticas sociais positivamente conect-adas a rede de espao pblico. Alm de se abrir dis-cusso sob o vis do pensamento sustentvel, necessrio integrar essa nova dimenso, de maneira que se consiga aproveitar estruturas urbanas, espaos livres e naturais para o uso coletivo, bem como atentar para a conservao dos elementos cni-cos naturais.

    Por mais genrico que o termo sustentabilidade urbana possa parecer, sabe-se da sua importncia em decorrncia do aumento da degradao do meio ambiente. Pelo seu impacto sobre os espaos natu-rais, a urbanizao pode ser considerada como uma questo de sustentabilidade em si. No caso microba-cia em estudo vale notar que as construes ecolgi-cas, o posicionamento dos parques, praas - des-taque para o Passeio Pblico, Praa General Tibrcio, Praa dos Lees e Praa do Ferreira - afetam de ma-neira positiva a estrutura sistmica do funcionamento urbano por proporcionar a integrao entre esses espaos livres e naturais.

    estacionamento do Mercado Central (figura 8)

    ADA | EVY | FRED | SAMUELestacionamento do Mercado Central (figura 9)

  • SISTEMA DE ESPAOS LIVRES:

    Quanto relao com os espaos livres, a microbacia estudada, localizada no Centro da Cidade, no est tomada por tipologias arquitetnicas segregativas, como altos muros, grandes recuos de torres, tampou-co condomnios fechados, o que se v nessa regio de Fortaleza uma maioria de edificaes com conta-to direto com a rua, devido ao pouco recuo dos prdios, na maioria de poucos patamares.

    A vitalidade da rea central evidencia-se hoje pela presena do comrcio informal e pela popularizao de espaos pblicos, como a Praa do Ferreira (figura 10) e os arredores do Mercado Central, locais de usos diversificados, com frequncia de vendedores ambu-lantes, pregadores religiosos, vendedores de caf, artistas, passantes e contempladores.

    No entanto, desde que passou por um perodo de esvaziamento a situao dos vazios urbanos e da subutilizao da terra vem sendo uma das grandes problemticas da microbacia A3-6. Esse perodo foi marcado pela redistribuio de atividades comerciais e de servios como bancos e escritrios por outros polos comerciais da cidade, transformando as antigas salas de servios do centro em residncias precrias, acarretando na demolio de imveis para criao de estacionamentos e no crescimento do comrcio infor-mal, que vem ocupando os espaos pblicos

    Nas proximidades do Riacho Paje h uma concen-trao de vazios e estacionamentos. No setor central da microbacia tem espaos subutilizados de menor dimenso e edifcios desocupados.

    Sabe-se da potencialidade desses vazios para rece-ber habitao, pois esto localizados em lugar de infraestrutura privilegiada. A grande concentrao de empregos na rea em estudo no condizente com a elevada taxa de vazios domiciliares e com as poucas aes concretas no sentido de viabilizar uma poltica habitacional para a populao de menor renda. Tendo em vista que a maioria dos trabalhadores da regio est inclusa nessa faixa, a metrpole tem sua mobili-dade prejudicada pelos grandes deslocamentos diri-os desta populao.

    Os vazios urbanos correspondem aos edifcios vagos e subutilizados (galpes, estacionamentos ou depsi-tos). Os usos representados aqui foram retirados do plano habitacional para reabilitao da rea central de Fortaleza e correspondem aos usos do trreo das edi-ficaes.

    0 0.2 0.4kmcomercialservios

    uso misto

    habitacional

    espao livres/praas

    institucional

    vazios urbanos

    N

    coluna da hora na Praa do Ferreira (figura 10)

    passeio pblico (figura 11)

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  • vista do pao municipal (figura 14)

    POTENCIALIDADE DOS ESPAOS NATURAIS:

    Os rios podem ser entendidos atravs de seus atribu-tos visuais. Estes podem ser valorados a partir da per-cepo visual de suas caractersticas fsicas, como aspectos singulares, que caracterizam a identidade visual de cada rio e se constituem de modo diferencia-do de seu entorno (MCHARG, 1969; MANN, 1973; LYNCH, 1981; TARDIN, 2008; outros).

    Um importante espao natural que exerce grande influncia na microbacia o Riacho Paje, que foi essencial para a formao de Fortaleza, e hoje, a maioria da populao ignora sua existncia. A maior parte do seu curso est em canais sob as ruas do Centro e da Aldeota, de modo que pouco se v do riacho e quando visto, facilmente confundido com um canal de esgoto, por causa da grande poluio que o cerca.

    O descaso da populao, que deposita lixo nas mar-gens do Paje fermentado pela pouca capacidade da Prefeitura de promover limpezas regulares no riacho. Enquanto a limpeza no acontece, as pessoas convivem com o mau cheiro e os mosquitos. Em algu-mas localizaes a situao um pouco melhor, como o caso das proximidades do Pao Municipal (figura 14), no qual funcionrios catam o lixo de dentro do canal. O Paje de hoje em nada lembra as guas lm-pidas que abasteciam a vila com os primeiros mora-dores de Fortaleza, h 280 anos. Nota-se, assim, que o potencial paisagstico do riacho vem sendo subuti-lizado e que os atributos visuais que foram to impor-tantes na estruturao do territrio no so consider-ados.

    A faixa de praia pertencente a microbacia A3.6 vem gradativamente perdendo seu potencial paisagstico, bem como seu poder turstico e de rea de lazer. O antigo trecho de berma utilizado como porto de janga-das, vem sendo descaracterizado pela estrutura do canal estuarino que hoje ocupa o local.

    A localizao de atividades do INACE, Indstria Naval do Cear, na faixa de praia est diretamente relacio-nada com o aproveitamento e com a explorao dos recursos naturais da rea, no entanto vem ameaan-do seu valor cnico. O trfego de pessoas na rea praticamente inexistente, o atributo visual da faixa ignorado e o uso voltado para a contemplao e para o lazer perdido.

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  • Uma outra lei que visa a preservao de recursos naturais como o riacho, o Cdigo Florestal. O Cdigo estabelece as medidas da mata ciliar em corpos hdricos. Mata ciliar a vegetao que ocorre nas margens dos rios, crregos, lagos, lagoas, olhos dgua, represas e nascentes. considerada pelo Cdigo Florestal Federal (Lei N 4.771/65) como rea de preservao permanente, ou seja, rea que no pode sofrer alterao.

    A mata ciliar funciona como filtro ambiental, retendo poluentes e sedimentos que chegariam aos cursos dgua, sendo fundamental para o equilbrio dos ecos-sistemas aquticos. Portanto, a manuteno da mata ciliar protege contra a eroso e assoreamento dos recursos hdricos, conservando a qualidade e o volume das guas.A mata ciliar um obstculo natural contra o aterra-mento, ou seja, evita a eroso das margens para que a terra no caia dentro do rio, tornando-o barrento e dificultando a entrada de luz solar. A mata ciliar tambm evita enchentes, d abrigo para os animais, controla a temperatura climtica e evita o despejo de lixo e esgoto nos rios, alm de impedir que os agrotx-icos, possivelmente usados na agricultura, sejam levados ao rio pelas guas da chuva.

    No caso do Riacho Paje, a mata ciliar mnima. O seu curso majoritariamente canalizado, com inex-istncia de mata s suas margens. Quando expostas, suas margens esto acompanhadas de estaciona-mentos, inclusive no trecho que passa pelo Mercado Central. A exceo acontece no Pao Municipal, onde o Riacho transcorre em sua forma quase ideal, com razovel respeito aos limites estabelecidos pelo Cdigo Florestal.

    Legislao

    Cada municpio elabora as suas prprias Leis de Uso e Ocupao do Solo, e Lei de Parcelamento do Solo. A microbacia em estudo foi uma das primeiras reas da cidade a receberem a infra estruturao, da que ela seja um pouco melhor organizada, no entanto pouco adensada. Lei de uso e ocupao do solo

    A microbacia A3.6 est enquadrada na rea de Urbanizao Prioritria da ZU-1 Centro, segundo a LUOS. Nesta zona, os parmetros de ocupao do solo so bastante permissivos, tendo maiores restries acerca da dimenso do passeio.

    I - para os lotes lindeiros s vias de sentido norte-sul, o pavimento trreo dever ser recuado at liberar um passeio mnimo de 4,00m (quatro metros) e sem qualquer fechamento, inclusive na lateral;

    II - para os lotes lindeiros s vias de sentido leste-oes-te, o pavimento trreo dever ser recuado at liberar um passeio mnimo de 3,00m (trs metros) e sem qualquer fechamento, inclusive na lateral;

    III - para os lotes lindeiros s avenidas de sentido les-te-oeste, o pavimento trreo dever ser recuado at liberar um passeio mnimo de 4,00m (quatro metros) e sem qualquer fechamento, inclusive na lateral.

    Situao do Riacho Paju

    Sobre a pssima situao em que se encontra o Riacho, vale citar que a o ART. 13 TTULO II DO USO E DA OCUPAO CAPTULO I DISPOSIES GERAIS, diz que qualquer atividade que seja realiza-da no municpio no deve causar riscos de poluio sonora e visual, poluio do ar, da gua, do solo e do subsolo. Mas na vida real no o que se pode consta-tar. O riacho que hoje praticamente esquecido e desconhecido por grande parte da populao se encontra em estado preocupante. Falando em termos de legislao, crime a poluio do Riacho, mas nin-gum at agora foi responsabilizado pelo que est ocorrendo, e possivelmente a poluio continuar.

    travessa Crato (figura 12)

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  • ZPA: Zona de Preservao AmbientalEm tais zonas, os efeitos das atividades socioeco-nmicas e da urbanizao desordenada refletem expressivamente no meio ambiente. Com o objetivo de manter a diversidade biolgica, definiu-se como ZPA1 (corresponde faixa de preservao de recur-sos hdricos, em questo est o Riacho Paje) e ZPA2 na faixa de praia) as locaes do Pao Municipal e as proximidades do Poo da Draga respectivamente. Idealiza-se que a preservao da rea motive ativi-dades de pesquisas e prticas de educao ambien-tal.

    ZONEAMENTO URBANO AMBIENTAL: Definies de Zonas: De acordo com zoneamento urbano proposto pelo Plano Diretor de 2009, a microbacia estudada est inserida na Macrozona de Ocupao Urbana. Anal-isando as caractersticas naturais dominantes, a capacidade de suporte, a sustentabilidade ambiental em face do processo histrico e da legislao ambien-tal atuante, foram consideradas zonas que melhor simbolizam a realidade da microbacia retratada. So elas:

    ZOP1: Zona de Ocupao PreferencialCaracteriza-se pela disponibilidade de infraestrutura e servios urbanos e pela presena de imveis no utilizados e subutilizados; destinando-se intensifi-cao e dinamizao do uso e ocupao do solo e condicionando a ampliao dos nveis construtivos. Os parmetros que levam ao Centro ser considerado uma Zona de Ocupao Preferencial so seus baixos ndices de aproveitamento e sua taxa de ocupao ser em torno de 60%.Com o zoneamento prever-se a recuperao e a conservao de equipamentos e espaos pblicos, implementao de instrumentos que incentivem o uso do solo para o cumprimento da funo social da propriedade, a elaborao e a imple-mentao de planos especficos, visando dinam-izao socioeconmica de reas histricas e reas que concentram atividades de comrcio e servios.

    ZO3: Zona Da OrlaCompreende parte da plancie litornea da microba-cia, pelas suas caractersticas de solo, suas potencial-idades tursticas e sua funo na estrutura urbana, exigem definies de padres especficos de urban-izao. Idealiza-se para ZOs, a aplicao de instru-mentos como: parcelamento, edificaes e utilizaes, IPTU progressivo no tempo, desapro-priao mediante pagamento por ttulos da dvida pblica, operao urbana consorciada, consrcio imo-bilirio, bem como estudo de impacto de vizinhana.

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  • Os vazios urbanos correspondem aos edifcios vagos e subutilizados (galpes, estacionamentos ou depsi-tos). Os usos representados aqui foram retirados do plano habitacional para reabilitao da rea central de Fortaleza e correspondem aos usos do trreo das edi-ficaes.

    LUOS X PDPFOR

    At o dia 23 de janeiro de 2012, as zonas acima detal-hadas e os seus parmetros eram vlidos legalmente para a microbacia. No entanto a Prefeitura apresentou uma ementa no Dirio Oficial do Municpio que modi-fica a Lei complementar n62, de 02 de fevereiro de 2009, que institui o Plano Diretor Participativo do Mu-nicpio de Fortaleza. Destas modificaes, ressalta-mos o retorno Zona de Urbanizao Prioritria (ZU-1) (figura 13) prevista da LUOS com seus usos, parmetros e indicadores, transparecendo que esses se sobrepem s especificidades das demais zonas do PDPFor, uma vez que no h ressalvas:

    3 - Permanecem em vigor os usos, parmetros e indicadores urbanos previstos na Lei n. 7.987/96 referentes rea nela definida como de urbanizao prioritria da ZU-1 - Centro at a sua reviso (FOR-TALEZA, 2012).

    Essa mudana pode ser encarada como um retroces-so, pois generaliza o que antes era especificado no PDPFor, reduzindo o zoneamento diversificado aos mesmos parmetros. H um aumento significativo do gabarito, sem que haja tambm um aumento no ndice de aproveitamento. Uma vez que o gabarito estendi-do, a taxa de permeabilidade tambm poderia aumen-tar, pois haveria uma maior possibilidade de rea livre no trreo, no entanto houve uma diminuio da taxa de permeabilidade.

    Essa alterao da validez do PDPFor traz junto de si o questionamento acerca da fora que o plano tem dentro da cidade, visto que seu estudo e zoneamento foi colocado de lado na rea central da cidade.

    ZU-1 (figura 13)

    [I.A.B.] ndice de aproveitamento bsico [I.A. mx.] ndice de aproveitamento mximo [I.A. mn.] ndice de aproveitamento mnimo [T.P.] taxa de permeabilidade [T.O.] taxa de ocupao [T.O.S.] taxa de ocupao do subsolo [H. mx.] altura mxima (gabarito) [A. mn.] rea mnima do lote [T. mn.] testada mnima [P. mn.] profundidade mnima

    Parmetros de controle urbano: PDPFor, 2009; LUOS, 1996. I.A.B. I.A. mx I.A. mn T.P. T.O. T.O.S. H mx. A mn. T mn. P mn.ZOP 1 3,0 3,0 0,25 30% 60% 60% 72m 125m 5m 25mZO III 2,0 2,0 0,25 25% 60% 60% 48m 125m 5m 25m ZPA 1 0,0 0,0 0,0 100% 0,0 0,0 - - - - ZPA 2 0,0 0,0 0,0 100% 0,0 0,0 - - - -ZU - 1 3,0 3,0 0,25 20% 60% 70% 95m 125m 5m 25m

    ADA | EVY | FRED | SAMUEL