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CRIMINALIDADE URBANA E JUVENTUDE: AS ESTATÍSTICAS RECENTES E O PERFIL DA POPULAÇÃO JOVEM MACAENSE 1   Ricardo Cesar Rocha da Costa 2  Scheila Ribeiro de Abreu e Silva 3  O Município de Macaé, no estado do Rio de Janeiro, vive, desde a década de 1970, um crescimento econômico vertiginoso. De pacata cidade eminentemente agrícola, passou a um município industrial, de importância nacional, considerando a  produção dos poços petrolíferos instalados na bacia continental.  Nesse período pós-descoberta do petróleo, Macaé assistiu também a um acelerado crescimento populacional, de 123% em apenas duas décadas –  enquanto que a cidade do Rio de Janeiro, só para efeito de comparação, cresceu 15% nesse mesmo  período. 4  A urbanização que ocupou o seu território de forma desenfreada ocasionou uma série de conseqüências, desde a emergência de constantes demandas nas áreas de transporte, saúde, educação, saneamento básico, moradia, entre outras, até ao surgimento de mazelas como o desemprego, a favelização e o aumento exponencial da criminalidade. A crescente violência urbana que atinge Macaé tem invariavelmente apontado, com preocupação, para as favelas que proliferam na cidade, ocupando “desordenadamente” a periferia, com um elevado índice de jovens entre 15 e 24 anos de idade desempregados ou exercendo trabalho precarizado. Esses jovens, segundo os dados apurados pela Pesquisa Domiciliar efetuada pela Prefeitura entre 2001 e 2003, através do Programa Macaé Cidadão, apresentam um elevado contingente fora da escola, com percentuais mais altos entre os negros do sexo masculino (cf. OLIVEIRA, 1  Artigo publicado originalmente na obra Todas as cores na educação: contribuições para uma reeducação das relações étnico-raciais no ensino básico , organizada por José Flávio Pessoa de Barros e Luiz Fernandes de Oliveira. Rio de Janeiro: Quartet/FAPERJ, 2008, p. 269-289. 2  Professor de Sociologia do IFRJ  –  Instituto Federal do Rio de Janeiro, Campus São Gonçalo. Por ocasião do artigo, lecionava Sociologia na FAETEC, era Professor substituto no Curso de Serviço Social da UFF, em Campos dos Goytacazes, e exercia ainda a função de Assessor Técnico da Prefeitura Municipal de Macaé. 3  Pedagoga. Coordenadora da Educação Técnica do Instituto Nossa Senhora da Glória  –  Macaé e Orientadora  pedagógica da Secretaria Municipal Especial de Educação / Prefeitura Municipal de Macaé. 4  Cf. IBGE, Censos Demográficos, 1980, 1991, 2000.

Ricardo Costa - Scheila r a Silva - Criminalidade Urbana e Juventude Em Macaé

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Análise de dados quantitativos sobre a violência urbana em Macaé, com a devida caracterização das suas vítimas.

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  • CRIMINALIDADE URBANA E JUVENTUDE:

    AS ESTATSTICAS RECENTES E

    O PERFIL DA POPULAO JOVEM MACAENSE1

    Ricardo Cesar Rocha da Costa2

    Scheila Ribeiro de Abreu e Silva3

    O Municpio de Maca, no estado do Rio de Janeiro, vive, desde a dcada de

    1970, um crescimento econmico vertiginoso. De pacata cidade eminentemente

    agrcola, passou a um municpio industrial, de importncia nacional, considerando a

    produo dos poos petrolferos instalados na bacia continental.

    Nesse perodo ps-descoberta do petrleo, Maca assistiu tambm a um

    acelerado crescimento populacional, de 123% em apenas duas dcadas enquanto que a

    cidade do Rio de Janeiro, s para efeito de comparao, cresceu 15% nesse mesmo

    perodo.4

    A urbanizao que ocupou o seu territrio de forma desenfreada ocasionou uma

    srie de conseqncias, desde a emergncia de constantes demandas nas reas de

    transporte, sade, educao, saneamento bsico, moradia, entre outras, at ao

    surgimento de mazelas como o desemprego, a favelizao e o aumento exponencial da

    criminalidade.

    A crescente violncia urbana que atinge Maca tem invariavelmente apontado,

    com preocupao, para as favelas que proliferam na cidade, ocupando

    desordenadamente a periferia, com um elevado ndice de jovens entre 15 e 24 anos de

    idade desempregados ou exercendo trabalho precarizado. Esses jovens, segundo os

    dados apurados pela Pesquisa Domiciliar efetuada pela Prefeitura entre 2001 e 2003,

    atravs do Programa Maca Cidado, apresentam um elevado contingente fora da

    escola, com percentuais mais altos entre os negros do sexo masculino (cf. OLIVEIRA,

    1 Artigo publicado originalmente na obra Todas as cores na educao: contribuies para uma

    reeducao das relaes tnico-raciais no ensino bsico, organizada por Jos Flvio Pessoa de Barros e

    Luiz Fernandes de Oliveira. Rio de Janeiro: Quartet/FAPERJ, 2008, p. 269-289. 2 Professor de Sociologia do IFRJ Instituto Federal do Rio de Janeiro, Campus So Gonalo. Por ocasio do artigo, lecionava Sociologia na FAETEC, era Professor substituto no Curso de Servio Social da UFF, em Campos dos

    Goytacazes, e exercia ainda a funo de Assessor Tcnico da Prefeitura Municipal de Maca. 3 Pedagoga. Coordenadora da Educao Tcnica do Instituto Nossa Senhora da Glria Maca e Orientadora pedaggica da Secretaria Municipal Especial de Educao / Prefeitura Municipal de Maca. 4 Cf. IBGE, Censos Demogrficos, 1980, 1991, 2000.

  • 2005). O senso comum, reforado pela mdia, classifica, invariavelmente, o grupo

    social afro-descendente como aquele que tem uma relao mais direta com os altos

    ndices de criminalidade que a cidade passou a ostentar, estabelecendo uma relao de

    estigmatizao e de segregao, ao mesmo tempo, tnico-racial e scio-espacial, que

    nos remete aos estudos desenvolvidos pelo socilogo Loc Wacquant a respeito dos

    guetos nas cidades norte-americanas e nas periferias urbanas francesas (cf., entre outros

    trabalhos, WACQUANT, 2001).

    Mas exatamente o grupo citado acima o principal vitimizado pelo fenmeno

    do aumento da violncia urbana no Brasil, nas ltimas dcadas. S para citar como

    exemplo, em 2002, as causas externas foram responsveis por um percentual de 72%

    em relao ao total de mortes de jovens brasileiros na faixa de 15 a 24 anos de idade

    sendo que 39,9% se referiam a homicdios , enquanto que, fora dessa faixa, os bitos

    por causas externas era da ordem de 9,8% do total. Desagregando esses dados sob um

    recorte tnico-racial, os bitos por homicdios entre os jovens negros era superior em

    74% em relao aos jovens brancos que haviam sido vtimas de homicdios (ver

    WAISELFISZ, 2004). Essa elevada diferena percentual entre os bitos de brancos e de

    afro-descendentes que havia influenciado alguns pesquisadores, duas dcadas antes

    desses nmeros, a afirmar que tal fato se tratava de uma poltica de extermnio (cf.

    PINHEIRO, 1984).

    Alm do alvo do extermnio ser o jovem negro e do sexo masculino, este

    tambm se caracteriza por residir nas reas mais pobres das metrpoles brasileiras, se

    levarmos em conta todos os estudos j realizados at o momento, sobre a incidncia do

    nmero de homicdios nos diversos municpios (cf. CANO & SANTOS, 2000).

    No caso especfico de Maca, a exploso de violncia, noticiada pelos meios de

    comunicao em 2007, que tem vitimizado os jovens de 15 a 24 anos, atribuda pela

    polcia s disputas do trfico de drogas que envolveriam 95% dos casos de

    assassinatos. Atestando esse fato, a reportagem exibida pelo programa Fantstico no

    quadro Profisso Reprter, sobre as cidades mais violentas do pas, em 04 de maro

    de 2007, informou que h dois anos no ocorria nenhum latrocnio (roubo seguido de

    morte) em Maca, e que a violncia se encontrava concentrada nas favelas da cidade.

    No jornal O Globo, edio de 28 de fevereiro de 2007, Daniel Bandeira, delegado titular

    da 123 DP (Maca), afirmou que os jovens recrutados pelo trfico so de origem pobre

    e que se tornam presas fceis porque so desqualificados e no encontram vagas no

    mercado de trabalho.

  • Esses dados, na verdade, no deveriam ser apresentados como qualquer

    novidade, j que, segundo o Mapa da Violncia nos Municpios Brasileiros, editado

    pela Organizao dos Estados Ibero-Americanos para a Educao, a Cincia e a Cultura

    OEI, Maca apresentou, entre 2002 e 2004, a taxa mdia recorde de 187 homicdios,

    para cada cem mil habitantes, de jovens de 15 a 24 anos. Este nmero representava,

    nesse perodo, o 5 maior ndice nacional apurado de homicdios de jovens, entre todos

    os municpios brasileiros, e o 2 maior do Estado do Rio de Janeiro, atrs apenas de

    Itagua, na regio metropolitana. Em 2008, no entanto, um novo Mapa da Violncia

    dos Municpios Brasileiros, consolidando, dessa vez, dados apurados entre 2002 e

    2006, apontou que a taxa mdia de homicdios de jovens diminuiu para 152,7 mortes

    por cem mil habitantes, deixando Maca no 18 lugar nacional e terceiro do Rio de

    Janeiro, atrs de Duque de Caxias (8 lugar nacional, com taxa de 176,8) e de

    Carapebus, ex-distrito macaense, emancipado em 1997 (16 lugar nacional e taxa de

    158,7). De qualquer forma, contabilizando-se nas estatsticas todas as faixas etrias da

    populao, Maca continuou ostentando o inglrio ttulo de municpio fluminense com a

    maior taxa mdia de homicdios (15 lugar nacional, taxa de 85,9) e com a maior taxa

    de mortes por arma de fogo (6 lugar nacional, com taxa de 72,2).5

    Neste artigo, objetivamos apresentar o perfil dos jovens de Maca, na faixa

    etria de 15 a 24 anos, segundo os resultados da Pesquisa Domiciliar, realizada pela

    Coordenadoria do Programa Maca Cidado entre 2001 e 2003. Diante desta conjuntura

    em que se destaca uma acentuada e crescente criminalidade urbana, temos o modesto

    objetivo de contribuir para que os rgos competentes possam analisar a possibilidade

    de implementao de polticas pblicas eficazes, direcionadas para esses jovens

    vitimizados pela violncia, a curto, a mdio e a longo prazos.

    Como desejamos identificar esse jovem vitimizado pela violncia em Maca,

    uma primeira pergunta que se pode fazer se ele corresponde ao perfil de grande parte

    da juventude brasileira que, ano aps ano, engrossa as estatsticas sobre a criminalidade

    urbana, como demonstram diversos estudos acadmicos que vm sendo desenvolvidos

    5 Cf. a matria Em dez anos, 500 mil homicdios, em O Globo, 30 de janeiro de 2008, p. 3. S para

    ilustrar a dimenso do 6 lugar nacional obtido por Maca, nesse ltimo quesito (taxas de mortes por

    armas de fogo), vale a pena citar quais foram os primeiros cinco municpios, com suas respectivas taxas:

    Guara, PR (92,4); Foz do Iguau, PR (90,1); Serra, ES (86,8); Recife, PE (78,6) e Vitria, ES (72,7).

    Para efeito de comparao, Itagua, dessa vez, apareceu em 7 lugar (71,7) e a taxa mdia do municpio do

    Rio de Janeiro, tambm nesse quesito, foi de 42,0 mortes por cem mil habitantes, com o municpio de So

    Paulo apresentando taxa de 23,4 (estes dois ltimos dados foram retirados pelos autores diretamente do

    Mapa da Violncia nos Municpios Brasileiros, editado em 2008 e disponibilizado na Internet (www.ritla.net), na mesma data de publicao da matria pelo jornal O Globo, citada nesta nota).

  • sobre o assunto (ver, por exemplo, as obras supracitadas de PINHEIRO, 1984; CANO

    & SANTOS, 2000; e WAISELFISZ, 2004). Portanto, queremos saber se esses jovens

    macaenses que constam das diversas edies dos Mapas da Violncia so, em sua

    maioria, moradores da periferia urbana, pobres e negros.

    Perfil demogrfico, tnico-racial e econmico da populao jovem de Maca

    Segundo dados do Censo Demogrfico do IBGE de 2000, 20% da populao

    brasileira possuem entre 15 e 24 anos de idade. A mesma pesquisa apurou que, nessa

    faixa etria, estavam representados 19% dos habitantes do municpio de Maca. A

    Pesquisa Domiciliar do Programa Maca Cidado, de 2001-2003, praticamente

    confirma esse ndice: entre a populao residente de 130.335 habitantes, encontrava-se

    na faixa etria de 15 a 24 anos o total de 25.463 pessoas, correspondendo a 19,5% da

    populao. Desse total de jovens, 50,3% eram do sexo feminino e 49,7% do sexo

    masculino. Segundo o critrio tnico-racial, 49,69% dos jovens recenseados eram

    brancos, 49,81% afro-descendentes e 0,5% se definia como pertencente a outras etnias.

    Analisando mais de perto os dados apurados pelo Programa Maca Cidado,

    uma primeira constatao, que consideramos ser bastante relevante, diz respeito

    distribuio desigual desses 25.643 jovens pelo territrio de Maca, como podemos

    verificar na tabela a seguir:

  • Tabela 1 Maca Nmero e percentual de jovens, entre 15 e 24 anos, em bairros e distritos, e sua concentrao relativa no conjunto da populao, na mesma faixa etria, em 2001-2003.

    Bairros / Distritos

    Total da populao

    Total de jovens entre 15 e

    24 anos

    Concentrao de jovens em

    relao ao total de jovens do

    municpio

    (%)

    Bairro da Glria 3.278 589 2,31

    Cavaleiros 2.027 351 1,38

    Gr. dos Cavaleiros 3.251 582 2,29

    Imboassica 381 81 0,32

    Lagoa 1.585 315 1,24

    Vale Encantado 70 21 0,08

    Miramar 5.660 1.124 4,41

    Praia Campista 4.000 783 3,08

    Riviera Fluminense 5.493 985 3,87

    Visc. de Arajo 10.008 1.973 7,75

    Aroeira 12.671 2.565 10,07

    Botafogo 9.103 1.854 7,28

    Virgem Santa 408 87 0,34

    Cajueiros 3.594 692 2,72

    Centro 8.443 1.492 5,86

    Imbetiba 5.037 849 3,33

    Ajuda 3.783 765 3,00

    Barra de Maca 18.756 3.927 15,42

    Cabinas 21 4 0,02

    Lagomar 4.232 842 3,31

    Parque Aeroporto 16.863 3.526 13,85

    S. Jos do Barreto 1.257 255 1,00

    Cach. de Maca 1.128 166 0,65

    Crrego do Ouro 3.114 606 2,38

    Glicrio 1.733 304 1,19

    Frade 1.481 230 0,90

    Sana 1.434 246 0,97

    1 Distrito Rural 1.524 249 0,98

    Total 130.335 25.643 100,00

    Fonte: Pesquisa Domiciliar do Programa Maca Cidado, 2001-2003.

    Como vemos, a Tabela 1 mostra-nos que, nos seis bairros mais populosos do

    municpio (que assinalamos em negrito), que reuniam 75.844 moradores (58,2% da

    populao de Maca), estavam concentrados, entre 2001 e 2003, 60,23% da populao

    jovem macaense entre 15 e 24 anos. Em ordem decrescente de concentrao de jovens,

    teramos a seguinte relao:

    1 - Barra de Maca 15,42%

    2 - Parque Aeroporto 13,85%

    3 - Aroeira 10,07%

    4 - Visconde de Arajo 7,75%

    5 - Botafogo 7,28%

    6 - Centro 5,86%

    Todos os bairros relacionados situam-se na rea urbana de Maca. Por outro

    lado, bairros e distritos da regio serrana e a rea Rural do 1 Distrito, destacam-se por

    apresentar uma concentrao de jovens, de 15 a 24 anos, inferior a 1% em relao ao

  • total de jovens existentes em Maca, nessa faixa etria. Um dos motivos, certamente, a

    falta de alternativa de emprego nessas regies.

    Fazendo um recorte tnico-racial da distribuio espacial dessa populao jovem

    seguindo a metodologia desenvolvida pelo Programa Maca Cidado na primeira

    etapa do projeto Mapeamento Scio-cultural do Municpio de Maca (cf. OLIVEIRA,

    2005) , identificamos uma maioria de jovens afro-descendentes em doze bairros,

    conforme apresentamos na Tabela 2.

    Tabela 2 Maca - Percentual de jovens afro-descendentes, entre 15 e 24 anos, em bairros selecionados, 2001-2003.

    Bairros

    Afro-descendentes, entre

    15 e 24 anos (%)

    1 Imboassica 87,66

    2 Cabinas 75,00

    3 Botafogo 71,63

    4 Ajuda 67,84

    5 S. J. do Barreto 67,84

    6 1 Distr. Rural 60,64

    7 Lagomar 58,55

    8 Barra de Maca 57,32

    9 Cajueiros 54,19

    10 Miramar 52,49

    11 Aroeira 51,58

    12 Virgem Santa 50,58

    Fonte: Pesquisa Domiciliar do Programa Maca Cidado, 2001-2003.

    Procurando estabelecer algum tipo de relao entre as Tabelas 1 e 2, ou seja,

    entre a localizao geogrfica da maioria dos jovens macaenses e a sua identificao

    tnico-racial, observamos que a interseo existente entre as duas listagens de bairros

    exatamente a posio que ocupam em relao distribuio espacial da riqueza no

    municpio de Maca. Para isso, recorremos aos dados divulgados pelo IBGE no Censo

    Demogrfico de 2000, no que diz respeito ao rendimento mdio mensal domiciliar a

    razo entre o somatrio das rendas de todos os domiclios e o nmero de domiclios

    existentes.

    Segundo o IBGE, o rendimento mdio mensal domiciliar do municpio de

    Maca, em 2000, foi de R$ 1.360,85. Analisando os dados disponibilizados pelo Censo,

    verificamos que apenas seis bairros de Maca apresentaram um rendimento mdio

    domiciliar superior mdia do municpio: Cavaleiros, Glria, Lagoa, Imbetiba, Riviera

    Fluminense e Centro.6 Como esses bairros contavam com uma populao de 26.551

    6 O rendimento mdio mensal domiciliar de Cavaleiros, em 2000, segundo o IBGE, foi de R$ 3.603,04.

  • habitantes (20,4% da populao macaense), conclumos que Maca apresentava uma

    elevada concentrao espacial da renda nesses domiclios.

    Nos bairros citados, residiam, em 2001-2003, apenas 17,99% da populao

    jovem macaense, entre 15 e 24 anos de idade. O maior destaque nesse sentido o

    Centro, que, conforme vimos na Tabela 1, concentrava 5,86% dos jovens do municpio.

    Este bairro a nica exceo estatstica que encontramos ao cruzarmos as informaes

    das Tabelas 1 e 2: os bairros que se destacaram por concentrar a populao jovem e por

    identificar os maiores percentuais de afro-descendentes, em 2001-2003, eram bairros

    que apresentavam um rendimento mdio mensal domiciliar inferior, em 2000, ao

    rendimento mdio do municpio de Maca. Assim, selecionando alguns bairros,

    elaboramos a Tabela 3, em ordem crescente de rendimento mdio mensal domiciliar:

    Tabela 3 Maca Rendimento mdio mensal domiciliar, em 2000. Percentual de afro-descendentes e concentrao relativa de jovens, entre 15 e 24 anos, entre 2001 e 2003, em bairros

    selecionados.

    Bairros

    Rendimento mdio mensal

    domiciliar

    (em reais, de 2000)

    Afro-descendentes entre

    15 e 24 anos existentes no

    bairro

    (%)

    Jovens entre 15 e 24 anos em

    relao ao total do municpio,

    nesta faixa etria (%)

    Botafogo 318,58 71,63 7,28

    Lagomar 346,45 58,55 3,31

    Ajuda 382,11 67,84 3,00

    Virgem Santa 386,66 50,58 0,34

    S.J. do Barreto 433,16 67,84 1,00

    Barra de Maca 438,67 57,32 15,42

    Imboassica 467,04 87,66 0,32

    Cabinas 617,27 75,00 0,02

    Parque Aeroporto 695,90 47,30 13,85

    Cajueiros 744,41 54,19 2,72

    Aroeira 762,11 51,58 10,07

    Visc. de Arajo 851,26 47,19 7,75

    Miramar 974,39 52,49 4,41

    Fontes: Pesquisa Domiciliar do Programa Maca Cidado, 2001-2003 e IBGE, Censo Demogrfico,

    2000.

    Relacionamos na tabela acima todos os bairros de Maca com rendimento mdio

    mensal domiciliar inferior a R$ 1.000,00, em valores de 2000, excluindo a rea Rural

    do 1 Distrito e os bairros e distritos da regio serrana. A populao urbana

    correspondia, em 2000, a 95% dos residentes de Maca, segundo o IBGE.

    Destacamos duas observaes: em primeiro lugar, quase todos os treze bairros

    mais pobres do municpio apresentaram maioria de populao afro-descendente, na

    faixa etria de 15 a 24 anos. As excees so Parque Aeroporto e Visconde de Arajo,

    com ndices de 47,30% e 47,19%, respectivamente. Mas esses so percentuais bastante

    altos, caso comparemos com o Centro que, excludo da lista por apresentar um

  • rendimento domiciliar acima da mdia, apresentou uma populao afro-descendente, no

    grupo de 15 a 24 anos, de 36,46%. J em Cavaleiros, por exemplo, o percentual de afro-

    descendente foi de apenas 11,4%.

    A segunda observao diz respeito concentrao de jovens entre 15 e 24 anos:

    apesar da excluso dos 5,86% do Centro, destacados na Tabela 1, a soma dos

    percentuais da ltima coluna da Tabela 3 apresenta, como um dado extremamente

    revelador, que 69,49% dos jovens macaenses, na faixa etria em questo, so residentes

    nos bairros mais pobres da cidade.

    Assim, podemos inferir que a grande maioria da juventude macaense de 15 a 24

    anos, destacada nacionalmente pelo Mapa da Violncia, por apresentar o 5 maior

    ndice de homicdios nessa faixa etria, entre 2002 e 2004, afro-descendente e reside

    em bairros e localidades da rea urbana, que no oferecem as mesmas condies de

    qualidade de vida apresentada pelos jovens que moram nos bairros mais nobres da

    cidade.

    Restaria verificar as condies de acesso dessa juventude educao pblica ou

    a possibilidade de insero no mercado de trabalho em Maca, como alternativas de

    sobrevivncia ou melhoria futura da qualidade de vida.

    A juventude de Maca e seu acesso escola e ao mundo do trabalho

    Para refletir sobre o acesso educao por parte da juventude entre 15 e 24 anos,

    vamos primeiramente subdividi-la em dois grupos de idades: de 15 a 19 anos e de 20 a

    24 anos.

    No municpio de Maca como um todo, constatamos que apenas 71% do total de

    12.738 residentes, que se encontravam na faixa etria de 15 a 19 anos entre 2001-2003,

    freqentavam a escola. Este nmero pode estar relacionado a ndices elevados de evaso

    escolar, em um grupo de idade que corresponde etapa do Ensino Mdio. J entre 20 e

    24 anos, a permanncia na escola foi uma realidade para apenas 25,5% do total de

    12.724 jovens macaenses residentes, que pertenciam a essa faixa etria. Este dado pode

    significar que o acesso universidade, na poca da pesquisa, ainda no era uma opo

    para os jovens que concluam o Ensino Mdio em Maca.

    Vejamos a distribuio da freqncia escolar dos jovens macaenses pelos bairros

    e distritos:

  • Tabela 4 Maca Freqncia escola, segundo grupos de idade de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos

    bairros e distritos 2001-2003.

    Bairros / Distritos

    Freqncia escola entre

    15 e 19 anos (%)

    Freqncia escola entre 20 e

    24 anos (%)

    Bairro da Glria 80,2 37,7

    Cavaleiros 94,0 65,7

    Gr. dos Cavaleiros 74,7 23,4

    Imboassica 60,5 27,9

    Lagoa 85,9 46,2

    Vale Encantado 81,3 25,0

    Miramar 76,9 33,4

    Praia Campista 74,3 26,4

    Riviera Fluminense 73,7 25,8

    Visc. de Arajo 76,0 28,5

    Aroeira 73,3 28,0

    Botafogo 56,4 14,5

    Virgem Santa 64,1 14,6

    Cajueiros 80,8 31,4

    Centro 81,7 45,3

    Imbetiba 82,7 41,0

    Ajuda 59,7 13,5

    Barra de Maca 63,1 16,2

    Cabinas 66,7 100,0(*)

    Lagomar 59,8 13,0

    Parque Aeroporto 74,2 25,6

    S. Jos do Barreto 55,0 23,3

    Cach. de Maca 61,1 16,9

    Crrego do Ouro 60,8 16,9

    Glicrio 63,9 19,3

    Frade 71,1 18,1

    Sana 64,2 15,9

    1 Distrito Rural 62,2 15,4

    Fonte: Pesquisa Domiciliar do Programa Maca Cidado, 2001-2003.

    (*) Este percentual de 100% para a freqncia escolar em Cabinas estatisticamente

    irrelevante, por se referir a apenas 1 residente.

    Verificando os percentuais apresentados por alguns bairros, podemos destacar os

    seguintes dados: em Botafogo, por exemplo, encontramos 43,6% dos jovens entre 15 e

    19 anos fora da escola. Na Ajuda eram 40,1%, em 2001-2003. Em Lagomar, 40,2%. Em

    So Jos do Barreto, o maior percentual encontrado: 45%. Para efeito de contraste,

    observamos que em Cavaleiros apenas 6% dos jovens entre 15 e 19 anos encontravam-

    se fora da escola entre 2001 e 2003.

    Na faixa etria que vai dos 20 aos 24 anos, encontramos os nmeros mais

    significativos em quatro bairros da periferia urbana, em relao aos jovens que no

    freqentavam qualquer escola entre 2001 e 2003:

    1. Lagomar: 87,0%

    2. Ajuda: 86,5%

    3. Botafogo: 85,5%

    4. Virgem Santa: 85,4%

  • Excluindo parte da Serra e da rea rural, o quinto bairro a se destacar na relao

    acima o de Barra de Maca, que apresentava 83,8% dos jovens entre 20 e 24 anos fora

    da escola.

    Poderia se alegar que o elevado nmero de jovens desse grupo de idade estaria

    fora da escola exatamente por corresponder ao perodo do seu ingresso no mercado de

    trabalho, aps a concluso do Ensino Mdio. No entanto, os baixos percentuais de

    freqncia escola na faixa dos 15 aos 19 anos, encontrados nesses bairros, relativizam

    essa ltima possibilidade.

    Quanto questo do emprego, no h como deixar de pensar tambm no

    cruzamento dos dados acima com o total de desempregados em Maca nesses dois

    grupos de idade, principalmente nos bairros que acabamos de destacar.

    Para alimentar essas nossas reflexes, apresentamos a seguir os dados

    estatsticos consolidados pelo Programa Maca Cidado, com o percentual de pessoas

    residentes ocupadas em cada bairro e/ou distrito, nos grupos de idade de 15 a 19 anos e

    de 20 a 24 anos de idade.

    Tabela 5 Percentual de pessoas residentes ocupadas, por grupos de idades de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos, nos bairros e/ou distritos, 2001-2003.

    Bairros / Distritos

    Pessoas residentes ocupadas

    entre 15 e 19 anos (%)

    Pessoas residentes ocupadas

    entre 20 e 24 anos (%)

    Bairro da Glria 5,0 11,6

    Cavaleiros 1,2 4,3

    Gr. dos Cavaleiros 4,6 13,9

    Imboassica 12,4 15,8

    Lagoa 4,0 11,0

    Vale Encantado 11,8 5,9

    Miramar 6,6 14,7

    Praia Campista 5,4 13,8

    Riviera Fluminense 6,0 12,6

    Visc. de Arajo 6,7 15,1

    Aroeira 7,3 15,3

    Botafogo 9,5 15,8

    Virgem Santa 10,0 20,7

    Cajueiros 6,8 15,9

    Centro 4,7 13,0

    Imbetiba 3,3 12,2

    Ajuda 7,0 17,2

    Barra de Maca 8,9 15,8

    Cabinas 14,3 14,3

    Lagomar 7,2 16,2

    Parque Aeroporto 7,7 15,6

    S. Jos do Barreto 7,3 20,1

    Cach. de Maca 5,2 7,4

    Crrego do Ouro 9,5 14,1

    Glicrio 7,9 11,1

    Frade 5,7 11,3

    Sana 5,5 11,4

    1 Distrito Rural 4,9 11,0

    Fonte: Pesquisa Domiciliar do Programa Maca Cidado, 2001-2003.

  • Deve-se observar que os nmeros apresentados pela tabela acima se referem ao

    total de pessoas ocupadas nos bairros. O percentual indicado significa que, do total de

    residentes ocupados no bairro, x % est nos grupos de idade assinalados. Essa

    informao pode ser interpretada como uma possvel impreciso, j que esses nmeros

    no representavam o percentual de jovens que trabalhavam, em relao ao total de

    jovens residentes no bairro.

    Mas, apesar de reconhecer isso, esses dados tornam-se relevantes no momento

    em que lembramos a informao de que 19,6% da populao residente total de Maca

    encontravam-se nessas duas faixas etrias, sendo 9,64% (ou 12.915 pessoas)

    pertencente ao grupo de 15 a 19 anos e 9,97% (ou 13.364 pessoas) fazendo parte do

    grupo de 20 a 24 anos de idade. Em nmeros absolutos, trata-se das duas faixas de idade

    que apresentavam o maior nmero de moradores no municpio, no perodo da pesquisa.

    Ainda sobre a Tabela 5, destacam-se os percentuais de So Jos do Barreto e

    Virgem Santa, onde, respectivamente, 20,1% e 20,7% das pessoas ocupadas tm entre

    20 e 24 anos. Cruzando esta informao com as tabelas anteriores, pode-se concluir que,

    nestes casos, a baixa freqncia escola (Tabela 4) coincide com o ingresso no mercado

    de trabalho, como necessidade de composio da renda das famlias mais carentes

    (Tabela 3).

    Outra ressalva importante que muitos jovens estudavam e trabalhavam

    simultaneamente uma interseo que no aparece nos dados acima.

    Uma outra informao que deve ser levada em conta: do total de residentes

    macaenses pertencentes ao grupo de 15 a 19 anos, 28,8% (3.716 pessoas) trabalhavam

    em 2001-2003. Da mesma forma, do total de moradores de Maca na faixa de 20 a 24

    anos de idade, 58,5% (7.817 pessoas) trabalhavam na poca.

    O maior nmero de desempregados em Maca, entre 2001 e 2003, estava

    localizado nos bairros perifricos da rea urbana (para verificao desses dados, cf.

    COSTA, 2007). Esses bairros unem os maiores ndices de desempregados, os maiores

    percentuais de jovens fora da escola e as mais elevadas taxas de jovens que trabalham

    (lembrando sempre que, como vimos neste artigo, os jovens entre 15 e 24 anos reuniam

    praticamente 20% da populao de Maca, com maior destaque exatamente nesses

    bairros mais pobres).

    Para concluir, contabilizamos em cada bairro da rea urbana, o nmero de

    jovens ocupados dentre o total de jovens residentes. O resultado aponta para um

    percentual em torno de 30% de jovens que trabalhavam, no grupo de idades de 15 a 19

  • anos, ao mesmo tempo em que freqentavam a escola ou, o que mais provvel,

    engrossando o percentual de jovens que no estudavam, na idade em que deveriam estar

    cursando o Ensino Mdio. Na faixa que vai dos 20 aos 24 anos, como era de se esperar,

    o percentual salta para cerca de 60%, em mdia. Na contramo da periferia urbana,

    eram trabalhadores apenas 18,2% dos jovens entre 15 e 19 anos que residiam em

    Imbetiba; 17,1% daqueles que moravam na Lagoa e apenas 4,6% da populao de

    Cavaleiros que pertencia a essa faixa etria. Confiram abaixo:

    Tabela 6 Percentual de jovens ocupados, por grupos de idades de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos, nos bairros da rea urbana do 1 Distrito, 2001-2003.

    Bairros / Distritos

    Jovens ocupados

    entre

    15 e 19 anos

    (%)

    Jovens ocupados

    entre

    20 e 24 anos

    (%)

    Bairro da Glria 23,0 60,5

    Cavaleiros 4,6 27,6

    Gr. dos Cavaleiros 26,5 63,1

    Imboassica 57,9 65,1

    Lagoa 17,1 55,2

    Miramar 28,7 65,2

    Praia Campista 22,9 61,0

    Riviera Fluminense 27,3 64,9

    Visc. de Arajo 31,8 69,1

    Aroeira 30,2 63,4

    Botafogo 35,0 58,6

    Virgem Santa 38,5 64,6

    Cajueiros 30,2 67,5

    Centro 26,0 63,7

    Imbetiba 18,2 64,6

    Ajuda 26,1 56,4

    Barra de Maca 33,4 58,8

    Lagomar 26,0 52,0

    Parque Aeroporto 30,0 64,8

    S. Jos do Barreto 30,3 62,3

    Fonte: Pesquisa Domiciliar do Programa Maca Cidado, 2001-2003.

    Obs.: foram excludos, da tabela acima, aqueles bairros que apresentaram nmeros que podemos

    considerar como estatisticamente irrelevantes.

    Portanto, cruzando essas ltimas informaes principalmente aquelas

    destacadas pelas Tabelas 4 e 6 , podemos nos arriscar a levantar algumas questes.

    Escolhendo o bairro Lagomar como exemplo, percebemos que ele apresentava, em

    2001-2003, 87% dos jovens de 20 a 24 anos fora da escola, como se v na Tabela 4.

    Mas, segundo a Tabela 6, apenas 52% desses jovens encontravam-se vinculados, de

    alguma forma, ao mercado de trabalho. Desse modo, podemos dizer que sobrariam,

    no mnimo, 35% dos jovens do bairro, nessa faixa etria, fora da escola e sem trabalho.

    Quando ressaltamos que este percentual o mnimo, porque consideramos que uma

    parte dos jovens, certamente estuda e trabalha. Logo, aqueles que no estudam, nem

    trabalham, devem corresponder a um percentual superior a 35%.

  • O mesmo raciocnio pode ser feito para os demais bairros. Percebam que, nos

    bairros mais pobres da periferia urbana, os menores percentuais de jovens ocupados,

    tanto entre 15 e 19 anos, quanto na faixa dos 20 aos 24 anos, praticamente coincidem

    com os maiores percentuais de jovens fora da escola nesses dois grupos de idade. Na

    verdade, no deve ser uma mera coincidncia estatstica...

    Uma Educao crtica e transformadora como um caminho possvel

    Como um fenmeno cultural e social que a todos desperta ateno, a juventude

    insere-se no contexto das transformaes das chamadas sociedades ps-modernas ou

    ps-industriais, as quais, ao longo da histria, apresentaram significativas mudanas,

    ocasionando novas formas de ser, viver e consumir. O avano vertiginoso nos campos

    cientfico e tecnolgico, as alteraes profundas no mundo do trabalho trouxeram

    grandes conseqncias vida social.

    A convivncia com este mundo contemporneo impele a juventude

    necessidade de responder s exigncias sociais que se configuram diante da

    efemeridade, dos desafios e das urgncias da ps-modernidade, o que traz angstias,

    inseguranas e incertezas. Uma convivncia marcada pela quebra de paradigmas,

    valores e concepes; por profundas alteraes na esfera da educao e do trabalho;

    pela insero da tecnologia na vida cotidiana; pela violncia e pela falta de condio de

    uma vida digna e com qualidade.

    Construir uma cidadania autnoma, que responda a tantos desafios com os quais

    se deparam, no somente uma necessidade dos adolescentes e jovens de hoje,

    tambm uma urgncia social.

    As dificuldades que emergem na prtica cotidiana, de quem lida com os jovens

    nas atividades educativas formais, no formais e na vida social, suscitam o

    aprofundamento do conhecimento terico, prtico e cientfico sobre a adolescncia e a

    juventude contemporneas, fortalecendo as instituies que trabalham frente ao

    fenmeno juvenil, s polticas pblicas e s prticas sociais, que se impem nos nveis

    local, regional, nacional e internacional.

    Esto as instituies em busca de caminhos para enfrentar os questionamentos

    da juventude. perceptvel o movimento social em torno da temtica juventude na

    contemporaneidade. Diversos fruns, congressos, estudos e grupos de trabalho, tm se

    formado, buscando estratgias de promoo da cidadania destes sujeitos sociais.

  • A divulgao, pelos meios de comunicao, dos elevamos ndices de

    criminalidade que tm marcado, a ferro e fogo, a capital do petrleo, tm provocado

    uma reflexo sobre uma realidade com a qual toda a populao convive, mas que

    somente passou a ser efetivamente encarada, aps nos depararmos, ao ler os jornais,

    com as manchetes a respeito da morte de tantos jovens, excludos dos benefcios do

    processo de crescimento econmico.

    A necessidade de se agir torna-se a palavra de ordem. H uma urgncia em

    que se promova, de forma sistemtica, a formao de valores e atitudes cidads, que

    permitam aos jovens agir com conscincia e de maneira autnoma na sociedade

    contempornea.

    Os dados, aqui apresentados, so subsdios importantes para as instituies que

    se relacionam diretamente com essa populao juvenil, e so referenciais j utilizados

    por diversos projetos implementados pelo pas afora, nos bairros, localidades e distritos

    mais carentes de investimentos em infra-estrutura.

    Investir na juventude macaense, de 15 a 24 anos, significa, alm de elaborar

    polticas integradas de segurana pblica, que fujam ao lugar comum da simples

    represso, afirmar o papel protagonista da escola, como um espao de construo

    cotidiana de cidadania da juventude tema que, pela sua relevncia, ultrapassa o

    processo de educao formal. Significa investir na sua qualificao profissional,

    fornecendo-lhes perspectivas concretas de obteno de trabalho. Significa potencializar

    aquilo que lhe prprio, proporcionando-lhe acesso cultura, tecnologia, ao

    conhecimento.

    imperioso dar voz e vez aos jovens, oferecendo-lhes condies para a

    construo da sua identidade. E no so necessrios grandes esforos para que isso

    acontea: questo de prioridade e de comprometimento poltico. Os jovens de Maca,

    manchetes dos jornais de forma trgica e dolorosa para toda a sua famlia e para a

    sociedade, que, com isso, se incomoda e se mobiliza, no tiveram oportunidade, no

    tiveram escolha: no mundo em que vivem, a droga, a violncia e o preconceito falam

    mais alto. Passaram pela escola; foram crianas, adolescentes e vtimas.

    So muitas as escolas inseridas no contexto social onde os jovens descritos pelo

    perfil traado neste texto esto situados. O que esto fazendo essas escolas? Quais so

    os seus projetos polticos-pedaggicos? Qual a viso desses educadores acerca desses

    jovens? Reproduzem e reforam o preconceito, a marginalizao e a violncia?

    Iniciativas escolares importantes, annimas, acontecem. Iniciativas que poderiam se

  • configurar em projetos-piloto dentro do municpio e na regio. Cabe uma reflexo

    acerca dos valores que devem nortear a ao pedaggica do educador, onde quer que ele

    esteja inserido. Uma ao pedaggica reflexiva, crtica e, acima de tudo, comprometida,

    que possibilite ao jovem estudante ver alm dos limites do seu cotidiano e encontrar

    reais caminhos que dignifiquem e potencializem o seu talento.

    Finalizando, no podemos deixar de considerar, mais uma vez, que

    fundamental instrumentalizar criticamente os jovens, para que possam de fato assumir

    seus projetos de vida, posicionando-se frente aos problemas cotidianos a que so

    submetidos, contribuindo efetivamente para a busca da sua superao.

    responsabilidade de todos alicerar a juventude (no somente o jovem

    marginalizado), fornecendo-lhe meios para que, com sua autonomia, com seu estudo e

    trabalho, seu vigor, sua criatividade e iniciativa, seja protagonista na construo da sua

    histria.

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