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5 RICARDO OHARA O Encanto do Pássaro Azul 1ª Edição “CAROS AMIGOS ESTOU DISPONIBILIZANDO O PRIMEIRO CAPÍTULO DO MEU LIVRO - O ENCANTO DO PÁSSARO AZUL - PARA QUE POSSAM APRECIAR UM POUCO MAIS DO MEU TRABALHO. DIVIRTAM- SE... CASO SE INTERESSEM PELO LIVRO ELE ESTÁ DISPONÍVEL NOS SITES: WWW.AGBOOK.COM.BR WWW.CLUBEDOSAUTORES.COM.BR O Encanto do Pássaro Azul transborda magia desde o primeiro capítulo até o último. Vô Jô, uma das personagens principais, recebe a filha Clara, o genro e os netos para passarem alguns dias de férias no Sítio do Jacaré do Papo Dourado. Danilo, o filho mais velho, mostra-se muito amargurado e descontente, pois pretendia viajar com os amigos da escola para uma colônia de ferias. E para quebrar a monotonia do dia a dia, vô Jô convoca a todos para uma sessão de contos, onde todas as noites um dos participantes contaria uma história. E a magia começa a acontecer, misturando a realidade com a fantasia. Interferindo na vida de todos e principalmente na do Danilo, que se entrega totalmente ao encanto do pássaro azul.

RICARDO OHARA O Encanto do Pássaro Azul 1ª Edição · “A fantasia permanecerá adormecida até que o sol ... - Mas eu queria ter ido com os meus amigos para a colônia de férias

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Page 1: RICARDO OHARA O Encanto do Pássaro Azul 1ª Edição · “A fantasia permanecerá adormecida até que o sol ... - Mas eu queria ter ido com os meus amigos para a colônia de férias

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RICARDO OHARA

O Encanto do Pássaro Azul

1ª Edição

“CAROS AMIGOS ESTOU DISPONIBILIZANDO O

PRIMEIRO CAPÍTULO DO MEU LIVRO - O ENCANTO

DO PÁSSARO AZUL - PARA QUE POSSAM APRECIAR

UM POUCO MAIS DO MEU TRABALHO. DIVIRTAM-

SE... CASO SE INTERESSEM PELO LIVRO ELE ESTÁ

DISPONÍVEL NOS SITES:

WWW.AGBOOK.COM.BR

WWW.CLUBEDOSAUTORES.COM.BR

O Encanto do Pássaro Azul transborda magia desde o primeiro

capítulo até o último. Vô Jô, uma das personagens principais,

recebe a filha Clara, o genro e os netos para passarem alguns

dias de férias no Sítio do Jacaré do Papo Dourado. Danilo, o

filho mais velho, mostra-se muito amargurado e descontente,

pois pretendia viajar com os amigos da escola para uma colônia

de ferias. E para quebrar a monotonia do dia a dia, vô Jô

convoca a todos para uma sessão de contos, onde todas as

noites um dos participantes contaria uma história. E a magia

começa a acontecer, misturando a realidade com a fantasia.

Interferindo na vida de todos e principalmente na do Danilo,

que se entrega totalmente ao encanto do pássaro azul.

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“A fantasia permanecerá adormecida até que o sol

desponte no brilho de um olhar...”

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O Sítio do Jacaré do Papo Dourado já estava às vistas. As

crianças, cheias de euforia, começaram a gritar e saltitar dentro

do carro. Os pais, na tentativa quase que inútil, tentavam

acalmar as meninas, Ana Clara e Gabriela, mas de nada

adiantava. A visão da grande porteira do sítio anunciava dias

de muitas travessuras: correr em volta do antigo casarão,

alimentar as carpas coloridas no pequeno lago, brincar de pique

no pomar sentindo o cheiro suave de frutas frescas; claro que

tudo isso com a companhia permanente do fiel companheiro e

travesso vô Jô.

Fazia tempo que a família não passava longas férias no

sítio. Apenas algumas visitas rápidas no fim de semana. Danilo,

o filho mais velho, já com os seus onze anos de idade, não

demonstrou tanta alegria ao avistar a porteira do sítio. Estava

ali contra a sua vontade. Queria mesmo ter ido junto com a

turma da escola para a colônia de férias.

- Desemburra essa cara, Danilo – chamou-lhe a atenção a

mãe.

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- Que coisa chata! Só eu que não fui para a colônia de férias.

Eu queria estar lá agora e não aqui no meio do mato. Aqui

não tem nada para fazer. Só tem gente chata e bichos.

- Eu não estou lhe reconhecendo, Danilo. Você sempre

gostou de passar a temporada de férias no sítio do seu avô.

Você não sente saudades dele?

- Claro que eu sinto. Mas a gente não se fala sempre por

telefone?

- Não é a mesma coisa.

- Mas eu queria ter ido com os meus amigos para a colônia

de férias. Aqui só tem velho, não tem ninguém da minha

idade.

- Vê se para de reclamar, rapazinho – repreendeu-o o pai.

- Eu adoro passar as férias aqui com o vô Jô. Tudo aqui é tão

bonito! – disse Ana Clara, a filha do meio, com oito anos

de idade.

- Olha lá o malhado pastando – gritou Gabriela, a mais nova

de todos, com quase cinco anos de idade.

- Olha o vô Jô, ele veio abrir a porteira. Vô! – gritou Ana

Clara.

As meninas abriram a porta do carro e correram na

direção do avô, cobrindo-o de abraços e muitos beijos.

- Quanta saudade o vô estava sentindo de vocês, meu

tesouro.

- Vamos, meninas, entrem no carro! Ainda não chegamos.

- Ah, mãe, eu quero ir de charrete – insistiu Gabi.

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- Eu também quero ir de charrete – entusiasmou-se Ana

Clara, reforçando o pedido da irmã.

- Está bem. Mas tenham cuidado.

- Oba! – gritaram as duas.

As meninas correram, subiram na charrete e se juntaram

ao avô.

- Iah! – gritou vô Jô, agitando as rédeas do cavalo.

- Vamos cavalinho! Eu nem vejo a hora de ver o dingo e o

hércules. Eu estou morrendo de saudade deles.

- Eles também devem estar morrendo de saudade de você,

Gabi. E nós temos mais um amiguinho morando aqui no

sítio.

- Quem? Outro cachorro, vô? – perguntou Ana Clara.

- Vocês vão ver. É uma grande surpresa.

- Não é um cachorro? Então é um gatinho... – insistiu Gabi,

cheia de curiosidade.

- Calma, logo vocês vão ver.

- É um bicho grande?

- Gabriela, o vô já disse que é uma surpresa.

- Meninas! Logo, logo, vocês vão ver. Pronto! Vamos

descer e entrar. Os seus pais devem estar nos esperando

com ansiedade.

- Mamãe! O vô disse que tem uma surpresa para gente –

gritou Gabi, descendo da charrete e correndo ao encontro da

mãe.

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- É? O que o senhor está aprontando dessa vez, papai? –

perguntou Clara.

- Não é nada de mais. É que as meninas estão entusiasmadas

para ver o novo amiguinho que está morando aqui com a

gente.

- Outro cachorro?

- É surpresa, filha. E você, Danilo?

- Eu o quê?

- Não vem dar um abraço no vô?

O menino, ainda carrancudo, levantou-se do sofá e deu

um abraço meio sem graça no avô, deixando sua mãe indignada

por tratar o avô com tanta indiferença.

- O que há com você, meu filho?

- Nada, vô.

- Está chateado? Já sei, não queria ter vindo para cá. Está

sentindo falta dos amiguinhos?

- É que eu queria ir para a colônia de férias com a turma da

escola. Eu sei que ia ser muito legal. Melhor do...

- Danilo! – repreendeu-o o pai.

- Desculpa, vô. Eu também estava com muita saudade do

senhor – retratou-se o menino, meio envergonhado.

- Você vai ter muito tempo para se divertir com os seus

amiguinhos, meu filho. Deixa essa tristeza de lado e

aproveita as suas férias aqui no nosso sítio. Você sempre

adorou passar as férias aqui. Eu me lembro bem quando

você ainda era bem pequenino, e não faz tanto tempo assim,

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fazia um escândalo para não ir embora, saía daqui aos

soluços. Teve uma vez que você cismou que queria levar

um cavalo com você.

- Eu gosto daqui, vô. Mas é que...

- Eu acho melhor desfazermos as malas e tomarmos um bom

banho. O que vocês acham disso?

- Claro, filha. Eu vou chamar alguém para ajudar a carregar

a bagagem.

Mais tarde, bem de noitinha, após o descanso da longa

viagem, todos se acomodaram à mesa para jantar.

Danilo, ainda muito emburrado, demonstrava muita

tristeza e insatisfação de estar ali, deixando vô Jô com um

semblante de preocupação. Mas ele tentou disfarçar para que o

menino não percebesse que estava sendo observado. Sentia-o

bem longe dali, e isso poderia tornar os seus dias no sítio

enfadonhos e cansativos. Tinha que pensar em um modo de

trazer o menino inteiro para junto deles – pensou ele.

A comida estava tão saborosa que não se ouvia uma só

palavra, apenas o tilintar dos talheres e os olhares de satisfação.

Após o jantar todos foram para o salão do antigo casarão.

Os adultos ficaram conversando ao sabor de um café bem forte,

servido pela empregada da casa. Enquanto as meninas,

totalmente despojadas, jogaram-se sobre as grandes almofadas

que cobriam o assoalho, submergindo em sua maciez com tanta

satisfação e felicidade por estarem passando as férias no sítio

do vô Jô. Claro que com Danilo não acontecia o mesmo. Ele

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sequer contraía um músculo da face. Toda a euforia e alegria

extravasada por todos naquele momento não conseguia arrancar

dele um singelo sorriso de satisfação. Pelo contrário, ele sentia

muita raiva. A sua vontade era de sair correndo, ir para bem

longe daquele lugar e de todos.

- Seu Jô, vou lhe falar com franqueza, eu já estou começando

a me sentir outra pessoa. A cidade grande nos estressa

muito. A gente trabalha tanto para manter certo padrão de

vida que nem vê o tempo passar. E olha que passa muito

rápido. Às vezes eu chego em casa tão cansado, tomo um

banho, janto, sento no sofá para relaxar um pouco e ali

mesmo eu apago. Não sei nem como eu fui parar na cama.

Eu só sei que quando eu abro os olhos já está na hora de me

levantar e trabalhar, trabalhar...

- Eu sei muito bem como é este corre-corre, Rony. Eu já

passei por isso.

- Eu gostaria de passar mais tempo aqui, papai. Eu adoro isso

tudo aqui. Aqui eu nasci e cresci. Passei praticamente toda

uma vida neste sítio. Tenho grandes recordações e muitas

saudades.

- É por isso que eu quero morrer aqui, minha filha.

- Não vamos falar em morte...

- Mas a morte faz parte da vida. Um dia eu terei que partir,

não sou eterno...

- Para mim o senhor é.

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- Eu sei, querida. Eu amo muito todos vocês. Quando eu

abro aquela porteira e vejo todos vocês passarem por ela, eu

me sinto o ser mais feliz do planeta.

- Do planeta, vô? – questionou-o Ana Clara, dando-lhe um

sorrisinho irônico.

- Do planeta não... Do universo...

- Mamãe, lá fora está cheio de fadinhas voando. Vem ver,

vem ver – gritou Gabi, agarrando a mãe pelas mãos e

puxando-a até a janela.

- Fadinhas? Que coisa ridícula! – murmurou Danilo.

- Nossa! É mesmo, querida.

- Não vai me dizer que o sítio está sendo invadido por

fadinhas? Essa eu quero ver – disse Rony, levantando-se

apressadamente do sofá.

- Eu posso ir lá fora para ver de mais perto?

- Não, Gabi. Senão, elas vão ficar assustadas e vão embora.

- Que pena!

- Não deveríamos explicar para a menina que as fadinhas que

ela está vendo são apenas vaga-lumes? Afinal, ela já está

bem crescidinha para ficar acreditando nessas coisas... –

murmurou Rony no ouvido da Clara.

- Não. Deixe-a pensar que são fadinhas. Não vamos tirar

dela esse momento de magia. Eu também acreditava que

eram fadinhas.

- Acho que você é meio destrambelhada como o seu pai.

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- A magia está dentro de nós, meu amor. E aqui no sítio eu

posso achar tudo. Aqui, tudo é um pouco mágico.

- Mágico?

- Não são lindas, mamãe? – continuou Gabi, deslumbrada

diante do apagar e acender das pequeninas luzes que

ziguezagueavam entre a vegetação.

- Olha lá para fora, Rony.

- Eu estou olhando. E daí?

- Responda com sinceridade, vaga-lumes voam tão rápido?

- O quê? Acho que sim. Bem, estão rápidos mesmos. O que

você...?

- Eu não estou querendo dizer nada – respondeu ela, dando

uma risadinha de deboche.

No dia seguinte, durante o café da manhã.

- Dormiram todos bem? – perguntou-lhes vô Jô.

- Parece que sim, papai.

- Parece que eu dormi cem anos! – respondeu Rony,

espreguiçando-se.

- Cem anos, papai? – questionou-o Ana Clara.

- É, filha. Eu quis dizer que dormi muito bem. E você,

Danilo?

- Eu, o quê?

- Já passou a ranhetice?

- Eu também gostaria de poder dizer que estou me sentindo

como se tivesse dormido cem anos.

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- E por que não dormiu, Danilo?

- Com esse monte de barulho chato, quem é que consegue

dormir...

- Barulho? Você está falando do quê? – estranhou Rony.

- Ele está falando dos pequenos seres da natureza –

respondeu vô Jô.

- Pequenos seres?

- É pai... Os grilos, sapos e outros bichos mais – retrucou

Danilo.

- Ah, agora eu entendi. O problema, Seu Jô, é que ele ficou

com o pensamento longe, por isso não conseguiu dormir

direito. Mas acho bom deixar esse mau humor de lado... –

esbravejou o pai.

- Deixa o garoto. Logo, logo, isso passa. Nós também já

tivemos a idade dele. Ele tá ficando um rapazinho. Tá

sentindo falta dos amigos, das meninas. Mas eu garanto

que ele ainda vai se divertir muito por esses dias. Nem vai

querer ir embora quando as férias acabarem.

- E a surpresa, vô? – lembrou-o Gabi.

- Que surpresa, filha? – perguntou Rony.

- A surpresa que o vô disse que ia nos mostrar. Ele disse que

tinha um novo amiguinho morando no sítio.

- Tem mais crianças morando aqui no sítio, papai?

- Não, Clara. É um...

- Um...? – continuou Gabi, cheia de curiosidade.

- Se eu falar, não vai ser uma surpresa.

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- Mostra logo vô – insistiu Ana Clara.

- Todos já terminaram o café?

- Já! – gritaram as meninas, levantando-se apressadamente

como um soldado para receber as ordens do comandante vô

Jô.

- Então vamos lá! Vamos conhecer o nosso novo amiguinho.

Vô Jô tomou as duas meninas pelas mãos e convidou a

todos para que os seguissem. No meio do caminho foram

surpreendidos pelos cães dingo e hércules. Os bichanos

fizeram a maior festa, pulando e lambendo as meninas sem

parar.

- Dingo! – gritou Ana Clara, afagando a cabeça do cão.

- Venham! Venham! – chamou-os vô Jô, entrando no

estábulo.

- Mas para que tanto mistério, papai?

- Olhem! Este é o nosso novo amiguinho.

- Que cavalinho mais lindo! – gritou Gabi, aproximando

mais do animalzinho.

- Um potrinho, papai! – maravilhou-se Clara.

- Ele vai crescer mais que o malhado, não vai mamãe? –

indagou Gabi.

- Vai, filha. Ele vai ficar do tamanho da mãe dele.

- E quem é o pai dele? – continuou ela.

- O pai dele é um belo puro sangue que mora em outra

fazenda, bem longe daqui – explicou-lhe vô Jô.

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- Mas por que ele não está aqui com o filhote, vô? O pai não

tem que ficar perto do filho? – continuou a menina com as

suas perguntas desenfreadas.

- É que o cavalo, pai do potrinho, não pertence ao vô, meu

anjo. O dono dele mora em outra fazenda.

- Mas o potrinho não vai sentir falta do pai dele?

- Só um pouquinho, querida. De vez em quando ele vem

visitar o filho. Ele tem outros filhos para cuidar.

- Muitos?

- Muitos... Ele sabe que a gente vai cuidar bem dele. Não

vamos?

- Vamos! – gritaram as meninas cheias de empolgação.

- Realmente, Seu Jô, é uma bela cria – elogiou Rony. – Foi

inseminação artificial?

- Não. Eu levei a égua para a cobertura. É um puro sangue

de muito valor.

- Eu posso tocar nele, mamãe?

- Não, Gabi. A mãe dele pode ficar brava.

- E o que você achou, Danilo? Danilo?

- O quê?

- Danilo, seu avô está perguntando o que você achou do

potrinho.

- Sei lá, mãe. É bonitinho – respondeu o garoto,

aproximando-se do potrinho com certa indiferença.

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- Só falta escolher um belo nome para ele. Eu vou deixar a

tarefa para vocês. Cada um vai escolher um nome. Vamos

realizar uma grande sessão familiar, com pipocas, bolo e

muitos outros doces. Que tal? Todos concordam?

- Que legal! – gritou Ana Clara.

- Agora vamos que a mãe dele está ficando um pouco

agitada. Eles têm que descansar.

- Que pena! Eu queria ficar aqui olhando mais um

pouquinho.

- Vamos Gabriela. Você vai ter muito tempo para ficar

olhando para o seu novo amiguinho.

- Só mais um pouquinho, papai.

- Vamos, Gabi – esbravejou Rony, puxando-a pela mão

contra a sua vontade.

- Amanhã o vô vai soltar ele um pouco para pastar com mãe.

Ele já está forte. Vai se sair bem.

- Eu já tenho um nome lindo para dar a ele.

- Depois, Gabi.

- Mas pai... É um nome tão lindo, tão lindo, que vocês vão

adorar...

- Vamos, crianças. Vocês vão ter muito tempo para pensar

em um nome para dar para ele. Eu também tenho que ir à

cidade para comprar algumas coisas para abastecer a casa.

- Eu vou com o senhor, papai. Você se importa de ficar e

olhar as crianças, Rony?

- Mas...

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- Eu preciso comprar algumas coisas que eu esqueci de

trazer. Vamos, papai.

- Eu vou adorar.

Enquanto tomavam a estrada, vô Jô não deixava de

observar Clara. Sabia que alguma coisa estava acontecendo e

tinha a ver com o comportamento do Danilo. No entanto,

continuou calado, esperando que ela tomasse a iniciativa, não

queria bancar o intrometido.

- Puxa! Isso aqui está cada vez mais lindo. Parece até que

estamos em um outro mundo. Nos grandes centros urbanos

se vê tão pouco verde. Aqui os problemas parecem tão

pequenos.

- E são. Basta que saibamos a hora certa de atacá-los.

- Papai, meu grande e melhor amigo. Como poderia

esconder do senhor que estou com uma batata quente nas

mãos.

- Não podemos deixar a batata nos queimar, meu bem.

Devemos colocá-la para esfriar em algum lugar.

- Se fosse tão fácil assim...

- O que está acontecendo, Clara?

- É que eu ando um pouco sem paciência com tudo. Marido,

filhos, o cotidiano...

- Mas você sempre foi tão paciente e dedicada a sua família.

- Eu tenho me esforçado tanto... Mas às vezes acontecem

várias coisas ao mesmo tempo... Parece até que eu vou

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enlouquecer. A vida da gente é uma correria só. Tem

sempre alguma coisa que foge do nosso controle.

- É o Rony?

- Também tem a ver com ele.

- Tem alguém com alguma doença grave?

- Não, papai. Não há doença alguma.

- Então o que é?

- O Danilo está muito rebelde. Não é mais aquele garotinho

carinhoso, amoroso e obediente como antes. Acho que não

estamos sabendo lidar com isso. O Rony passa mais tempo

trabalhando e dormindo. Até já brigamos por causa disso.

- Isso é coisa da idade. Ele está ficando rapazinho. Hoje, um

garoto da idade dele não pensa e nem vive como um garoto

de tempos atrás. É todo esse modismo... Essa coisa de

Internet. Cuidado com isso, minha filha.

- Eu sei papai. Mas eu estou sempre fiscalizando. Eu não

deixo que eles fiquem muito tempo navegando na Internet.

Eu converso muito com eles sobre isso.

- Então o que está realmente acontecendo, Clara?

- Ele está muito agressivo. Investe contra as meninas com

violência. Está muito ciumento e possessivo.

- Foi por isso que vocês não deixaram ele ir para a colônia de

férias com a turma da escola?

- Também. Hoje nós temos um padrão de vida bem melhor

do que antes. Trabalhamos muito para isso. E ele sempre

quer que façamos as suas vontades. Acho que em parte

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somos um pouco culpados, mas já está na hora dele

aprender a lição. Precisa compreender mais. Precisa

dedicar-se mais aos seus estudos, a sua família. Sei lá. Às

vezes eu fico um pouco perdida, sem saber como agir. Eu

fico apavorada só em pensar na possibilidade dele estar

usando drogas.

- O que Rony acha de tudo isso?

- Às vezes ele concorda comigo. Outras vezes não. Isso está

gerando muitas discussões entre a gente. Ainda bem que

dessa vez ele concordou comigo em não deixar o Danilo ir

para a colônia de férias. Já estava passando da hora de

tomarmos uma atitude mais enérgica com ele. Ele não

queria vim com a gente de jeito algum. Veio obrigado. Até

nos ameaçou dizendo que ia fugir de casa e que a gente não

ia ver a cara dele nunca mais. O Rony quase que perdeu a

paciência e deu umas sacudidas nele. É por isso que ele

está todo emburrado com a gente. Não tem nada a ver com

o Senhor. Na verdade, estamos todos precisando do

aconchego da família. Precisamos do seu aconchego.

Precisamos da sua ajuda.

- Eu também preciso do aconchego de vocês. Vocês são a

minha família.

- Eu adoro conversar com o Senhor, sabia. Esse seu jeitinho

especial de ouvir atentamente o que a gente está falando

sem interromper uma palavra, e depois confortar a gente

com suas palavras doces e sábias... Isso é único. O Senhor

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se lembra de quando eu fiquei menstruada pela primeira

vez?

- Claro!

- Eu corri assustada para contar para o Senhor. Engraçado

que eu não tive nem um pouco de vergonha.

- Eu fiquei muito emocionado em compartilhar esse

momento com você, filha.

- Eu sei. Mas a mamãe ficou com um pouco de ciúmes, não

foi?

- Foi? Mas ela nunca teve esse jeito aberto de conversar

sobre essas coisas. Bem lá no fundo, ela até gostou.

- Jura?

- Claro. Ela ficava fascinada quando nos via juntos

conversando.

- Eu achava que ela sentia ciúmes.

- Talvez sentisse um pouquinho. Mas ela sempre dizia que

sentia uma alegria enorme quando nos via juntos. Dizia

que era contagiante.

- Eu sinto muita saudade dela.

- Eu também, filha.

- Eu queria tanto que fosse assim também com o Danilo. Às

vezes eu sinto que ele está cada vez mais distante de nós,

papai. Eu não sinto nele aquele apego familiar. Está

sempre distante. Tem hora que eu me sinto uma estranha

diante dele. É horrível.

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- Besteira, filha. Nós vamos encontrar uma solução. Sempre

encontramos, não é?

- É por isso que estamos aqui.

Mais tarde, enquanto todos estavam reunidos no salão do

antigo casarão, vô Jô pediu um pouco de atenção. Danilo, ainda

bem fechado, despojado em uma das poltronas assistindo

televisão, torceu o nariz, colocou o controle remoto de volta no

móvel e ficou prestando atenção nas palavras proferidas pelo

avô.

- Senhoras, senhoritas e senhores, está aberta a sessão de

debate para a escolha do nome que será batizado o mais

novo integrante desta família. Na mesa à frente, muitos

doces, bolos, refrescos, e ainda com o direito dos

participantes ouvirem uma grande história.

- Qual? – perguntou Ana clara, como se conhecesse todas as

histórias contadas pelo avô.

- Eu acho que já ouvi todas as histórias contadas pelo vô Jô?

– ironizou Danilo.

- Dessa vez eu vou surpreender a todos. Eu sei onde tem

muitas histórias que vocês nunca ouviram.

- É mesmo, vô. Onde? - insistiu Gabi.

- Dentro de um enorme baú mágico. Um verdadeiro

tesouro...

- Eu estou morrendo de curiosidade para ouvi-las.

- Depois, Ana Clara. Agora vamos aos nomes que Vossas

Senhorias escolheram.

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- Eu escolhi Floco de Neve – gritou Gabi.

- Que nome lindo Gabi! – emocionou-se a mãe.

- Mas o potrinho não é negro? – espantou-se Rony.

- Não tem importância, Rony.

- Eu sei papai, mas é que ele é tão fofinho e pequenino que

parece um floquinho...

- Que idiota! – implicou Danilo.

- Mamãe, o Danilo me chamou de idiota – reclamou a

menina.

- Danilo, se você não se comportar vai para o seu quarto –

repreendeu-o o pai.

- Eu escolhi sansão, por que ele tem uma crina bem

comprida, e vai se tornar um garanhão grande e forte, feito

o Sansão das histórias – manifestou-se Ana Clara.

- Ele tem cara de sansão – concordou Rony.

- Por que não pode ser floquinho de neve? – reclamou Gabi,

emburrando a cara.

- Calma, meu anjo. É por isso que estamos todos aqui, para

apresentar vários nomes e escolher um só. Você escolheu

floquinho. A Clara escolheu sansão. Agora temos que

esperar a apresentação dos outros nomes para a gente

escolher um só. O seu nome é muito bonito – confortou-a

a mãe.

- Não pode ser mais de um nome? Aí pode colocar floquinho

também.

- Até poderia, coisa rica do vô – respondeu o velho rindo.

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- Então!

- Mas é que bicho não é igual à gente, Gabi. Só um nome

basta. Se a gente colocar vários nomes, ele vai ficar

confuso. E quando você chamá-lo para brincar, ele não vai

lhe dar atenção.

- Tá bom, vô.

- E você Danilo?

- Eu o quê?

- Escolheu algum nome?

- Eu não.

- E você Clara?

- Papai, eu nem parei para pensar em algum.

- Rony?

- Eu?

- É.

- Bom...Que tal... Poderia ser...

- Já vi que você também não parou para pensar em um nome.

Mas não tem problema.

- E o Senhor escolheu qual, vô? – perguntou Ana Clara.

- Eu pensei em Fúria. Ele tem jeito que vai ser um pouco

valente. Bravo.

- Nós já tivemos um cavalo no sítio com esse nome. Eu

gostei, papai.

- Ninguém gostou do nome que eu escolhi – resmungou

Gabi, cruzando os braços e amarrado a cara.

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- Gostamos sim, meu bem. Mas como vamos chamar o

potrinho de floquinho de neve se ele é todo preto. Se ele

fosse todo branquinho como a neve... – justificou o avô.

- Então pode ser só floquinho? Ele é tão fofinho que parece

um floquinho – insistiu a menina.

- Eu nunca vi tanta palhaçada – resmungou Danilo.

- O que foi que você falou rapazinho?

- Nada, pai.

- Eu ouvi.

- É que eu acho tudo isso muito chato. Eu preferia estar

assistindo um bom filme na televisão.

- É só uma brincadeira, Danilo.

- Eu sei, mãe. Mas é que vocês ficam falando de um cavalo

que mal acabou de nascer como se ele fosse a coisa mais

importante do mundo. A gente nem sabe se ele vai estar

vivo amanhã.

- Mas este é o segredo, Danilo. Devemos celebrar a vida

com muita alegria enquanto ela se manifesta e está

presente. Não somos dono do amanhã. Não sabemos nem

se nós mesmos estaremos vivos daqui a um segundo.

- Desculpa, vô. É que vocês ficam falando desse cavalo

como se ele fosse uma jóia muito preciosa, um diamante.

- Isso!

- Isso o quê? – espantou-se o menino.

- Ele é muito importante para nós, Danilo. É a nossa jóia.

Nosso diamante negro.

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- Diamante negro? Eu adorei! É melhor do que floquinho –

gritou Gabi, radiante.

- Todos concordam com o nome escolhido? – perguntou vô

Jô, olhando com entusiasmo para Danilo.

- Sim! – gritaram todos; menos Danilo, que se sentiu acuado

e forçado a participar da solene sessão.

- Então vamos comemorar! – gritou vô Jô, olhando para

Clara com ar de satisfação.

E avançaram todos à mesa para saborearem as

guloseimas que foram preparadas para a grande ocasião. Até

Danilo, que se encontrava um pouco arredio, não resistiu,

juntou-se a todos e aos poucos foi deixando de lado um pouco

do seu mau humor.

Os empregados da casa também foram convidados para

participarem da comilança e trouxeram com eles os seus filhos,

dois meninos. Carlos, quase da idade do Danilo, e José, com a

mesma idade da Ana Clara. O bastante para que em poucos

minutos toda a criançada se sentisse à vontade para fazer uma

grande algazarra.

- Vô Jô, você não vai contar a historinha? – perguntou Gabi,

cochichando no ouvido dele.

- A história? Acho que já está um pouco tarde, querida. Mas

amanhã eu prometo que contarei uma bela história. Ou

melhor, venham todos para cá.

- O que foi papai? – perguntou Clara, espantada e ao mesmo

tempo curiosa.

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- Filha, a Gabi veio me perguntar se eu não vou contar uma

história. Isso até me deu uma grande idéia. E isso inclui

todos que estão aqui presente, inclusive a Maria, o Zé Pedro

e as suas crianças. Vamos fazer todas as noites reuniões

iguais a esta. Só que tem uma coisa, a cada noite um de nós

contará uma história diferente. Vamos nos tornar

contadores de histórias. Que tal?

- Oba! Eu adoro ouvir historinhas – gritou Gabi.

- O que vocês acham? Podemos também nos reunir lá fora,

acender uma fogueira. Seria divertido, não?

- Só o Senhor mesmo para ter essas idéias, papai.

- Clara, minha Clarinha, você não se lembra das histórias

contadas pelos seus avós?

- De algumas sim, papai.

- Então, conte-as aos seus filhos.

- Mas as crianças de hoje não querem saber de ficar sentadas

ouvindo histórias.

- É porque elas são contadas sem magia. Tem que ter

emoção, Clara. Tem que sair do coração.

- Eu sou péssimo para contar histórias. Não levo o melhor

jeito para tal coisa, mas prometo ser um bom ouvinte -

disse Rony, bocejando.

- Então está combinado. A partir de amanhã a magia vai

tomar conta deste sítio.

No dia seguinte, mal havia clareado e vô Jô já estava de

pé, pronto para começar os seus afazeres. Tomou o seu café e

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foi direto para o estábulo para ver como estava passando o

potrinho.

Olhou para o animalzinho com um olhar examinador. O

pequeno diamante negro estava arisco, forte, pronto para correr

com sua mãe pelas pastagens. Mas ele queria fazer isso junto

dos meninos. Queria que eles também sentissem a emoção de

ver aquele novo e pequenino ser sair em disparada junto de sua

mãe correndo pelas pastagens. Deixou-os quietos por um

instante e seguiu em direção a um pequeno sótão que existia na

parte superior do antigo casarão.

O lugar estava um pouco empoeirado, cheio de teias de

aranhas e quinquilharias. Ele entrou de mansinho, olhando

tudo ao seu redor. Até que encontrou um velho baú. Ficou por

algum tempo olhando para o velho baú, alheio a tudo que

estava a sua volta, como se tivesse voltado no tempo em busca

de suas lembranças. Dos seus olhos algumas lágrimas de

saudades rolaram pelo rosto, caindo sobre a sua mão,

despertando-o, transportando-o ao tempo real.

Cuidadosamente, ele abriu o velho baú, remexeu-o até

encontrar um pequeno caderno amarelado pelo tempo. Tomou-

o em suas mãos e saiu apressadamente, sem se dar conta do

tempo que havia passado no sótão debruçado sobre o velho baú

agarrado as suas doces lembranças. Mas foi o tempo suficiente

para que todos acordassem, tomassem o café e saíssem para um

banho de sol.

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- Eu estava esperando vocês acordarem. Vamos ver o

diamante negro correr pelo pasto?

- Vamos! Vamos! – gritou Gabi, correndo ao encontro do

avô e segurando na sua mão.

E todos os outros se juntaram a vô Jô para assistirem o

primeiro dia do potrinho solto, pastando junto de sua mãe.

O potrinho logo que foi solto no pasto começou a

espinafrar e a dar pinotes, correndo de um lado para o outro

sem parar.

- Realmente, Seu Jô, ele é um belo animal – elogiou Rony.

- Concordo plenamente com você, meu genro.

- Vô Jô eu posso montar um pouquinho no malhado? –

perguntou Gabi.

- Claro meu bem. Eu vou colocar a sela nele.

E assim foi se passando mais um dia no Sítio do Jacaré

do Papo Dourado. Todos entusiasmados com o pequeno

potrinho, batizado pelo nome de diamante negro.

Já de noitinha, após o jantar, todos se deslocaram para o

salão do antigo casarão. Acomodaram-se e ficaram aguardando

a chegada dos empregados de confiança da casa, Maria, Zé

Pedro e os seus filhos.

Quando todos já estavam reunidos e bem à vontade, vô

Jô chamou a atenção para si e abriu a sessão agradecendo a

presença de todos. Depois, sentindo-se um pouco emocionado,

deu um discreto suspiro de saudade, tomou na mão o pequeno

caderno amarelado pelo tempo e começou o seu discurso.

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- Aqui estão algumas das histórias contadas por gerações de

minha família, inclusive pela minha falecida mulher, que

sempre procurou guardá-las com muito zelo e carinho neste

pequeno caderno. Ela sempre dizia que não poderia se

perder coisas tão ricas. E hoje eu vejo que ela tinha razão.

Prova disso, é podermos estar todos aqui reunidos para

ouvi-las e até, quem sabe, aprender um pouco com cada

uma delas. Sei também que cada um de vocês deve guardar

uma pequena história em seus corações. Digo no coração,

pois é ele quem a conduz, que dá vida a cada palavra, a

cada frase. Então, podemos começar?