Ricardo Reis; Álvaro de Campos

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Ricardo Reis-Epicurismo -Estoicismo -Paganismo (Neo) Classicismo

EpicurismoDefende que o prazer o caminho para a felicidade, este prazer equivalente ausncia de dor, sendo, portanto, esse o objetivo supremo do homem. Para que a satisfao dos desejos seja estvel necessrio um estado de AtaraxiaViver toda a vida sem qualquer tipo de perturbao/viver a plenitude da tranquilidade. Palavras Chave: -Busca da Felicidade -Moderao dos prazeres -Fuga dor (aponia) -Ataraxia -Carpe Diem (Devemos aproveitar o presente pois a vida breve, a beleza perecvel e a morte uma certeza, que possvel encontrar um significado mais extenso de desfrutar a vida em todos os sentidos sem preocupaes com o futuro. VIVE O MOMENTO.

EstoicismoConformismoPrope viver de acordo com a lei da natureza que governada pela razo pois tudo tem a sua razo de ser, e aconselha a indiferena em relao ao que externo ao ser (apatia-Permanecer indiferente/ausente s paixes/males que uma vez que estes so perturbaes da razo). Defende a que a vida deve ser vivida de uma maneira mediana (Aurea Medicritas- Encontrar um equilbrio na vida (sentimentos). No querer encontrar nada exagerado). Aurea-Grande; Mediocritas- Mdia (A grandeza da vida est em termos uma vida tranquila sem exaltaes e problemas). A verdadeira sabedoria de vida viver de forma equilibrada e serena, sem desassossegos grandes. Palavras-chave: -Aceitao das leis do Destino -Indiferena face s paixes -Abdicao de lutar -Auto Disciplina

-Paganismo(neo)Visa na crena dos Deuses e na civilizao Grega. Acima da verdade esto os deuses Nossa cincia uma falhada cpia Da certeza com que eles Sabem que h o Universo.

Palavras-chave: -Crena nos deuses e na civilizao grega -Intelectualizao das emoes -Medo da morte -Abulia(boul-vontade. O prefixo a, significa a falta de, nesse caso de vontade, na incapacidade de tomar decises (relativa ou temporria). Refere-se generalizadamente a indecises normais e passageiras.

Ricardo Reis, que adquiriu a lio do paganismo espontneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopago (cr nos deuses e nas presenas quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo efmero.

Fatum Deuses Homem

Vem sentar-te comigo Ldia, beira do rioVem sentar-te comigo Ldia, beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e no estamos de mos enlaadas. (Enlacemos as mos.)

Depois pensemos, crianas adultas, que a vida Passa e no fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao p do Fado, Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mos, porque no vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer no gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes. Sem amores, nem dios, nem paixes que levantam a voz, Nem invejas que do movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podamos, Se quisssemos, trocar beijos e abraos e carcias, Mas que mais vale estarmos sentados ao p um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento Este momento em que sossegadamente no cremos em nada, Pagos inocentes da decadncia.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-s de mim depois Sem que a minha lembrana te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaamos as mos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianas.

E se antes do que eu levares o o bolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-s suave memria lembrando-te assim - beira-rio,

As rosas amo dos jardins de AdnisAs Rosas amo dos jardins de Adnis, Essas volucres amo, Ldia, rosas, Que em o dia em que nascem, Em esse dia morrem.

A luz para elas eterna, porque Nascem nascido j o sol, e acabam Antes que Apolo deixe O seu curso visvel.

Assim faamos nossa vida um dia, Inscientes, Ldia, voluntariamente Que h noite antes e aps O pouco que duramos. 1.Identifique o tema desta composio, fundamentando a sua reposta O tema desta composio a efemeridade da vida, referida ao longo de todo o poema. Uma dessas referncias feita atravs da analogia entre as rosas dos Jardins de Adnis, que nascem com o nascer do sol e morrem quando Apolo deixa o seu curso visvel, ou seja tm um curto tempo de vida.

A referncia a esta brevidade da vida tambm visvel ao longo da ltima estrofe, em que o sujeito potico diz a Ldia para viverem a vida livre de perturbaes e como se de um nico dia se tratasse, uma vez que esta demasiado curta ou efmera. 2.Refira que tipo de apelo faz o sujeito potico a sai e a Ldia nesta composio, justificando a sua resposta. O sujeito potico apela a si e a Ldia para que vivam a vida como se um dia se tratasse, apela tambm que a vivam totalmente livre de perturbaes uma vez que estas so inimigas do prazer. Resumidamente, o sujeito potico apela a si e a Ldia para que vivam a vida segundo o Carpe Diem.

Texto sntese:Ricardo Reis mais uma de muitas das criaes de Fernando Pessoa. Podemos dizer que Ricardo Reis um poeta clssico de serenidade epicurista, ou seja, Ricardo Reis defende que o prazer do Carpe Diem (vive o momento) o caminho para a felicidade, mas para que a satisfao desta seja estvel, dever viver-se a vida num estado de ataraxia- Viver toda a vida sem qualquer tipo de perturbao, viver a plenitude da tranquilidade. Ainda assim, a obteno desta felicidade forada, auto disciplinada pois Ricardo Reis prope viver de acordo com as leis da natureza que governada pela razo pois tudo tem a sua razo de ser, e assim sendo Ricardo Reis permanece indiferente face s paixes/males, uma vez que estes so perturbadores da razo (apatia). Aprofundando mais o facto de Ricardo Reis defender que devemos viver a vida de uma maneira mediana, isto ter um equilbrio sentimental na vida (Aurea Medicritas), deve-se ao facto de viver em conformidade com a crena dos Deuses e da civilizao Grega (Paganismo), que diz que acima de ns esto os Deuses, e ainda acima dos Deuses est o fatum (destino), e no fatum j est escrito o dia da nossa morte. Portanto Ricardo Reis diz que no vale a pena apegarmo-nos demasiado s coisas porque quanto mais coisas o ligassem a esta vida mais dificuldade teria em larg-la, o que provoca medo de morrer em Ricardo Reis.

Concluindo Ricardo Reis vive uma verdadeira iluso de felicidade conseguida pelo esforo estoico lcido e disciplinado. Toda esta filosofia de Ricardo Reis apoiada por uma mxima por ele proferida Abdica e s rei de ti prprio.

lvaro de Campos

1Fase- Decadentismo (no faz parte do programa do 12ano) 2Fase- Futurismo 3Fase- Pessimismo/Intimismo/Abulia Campos o filho indisciplinado da sensao e para ele a sensao tudo. O sensacionalismo faz da sensao a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existncia ou possibilidade de existir. Este heternimo aprende de Caeiro a urgncia de sentir, mas no lhe basta a sensao das coisas como so: procura a totalidade das sensaes e das percees conforme as sente, ou como ele prprio afirma sentir tudo de todas as maneiras. Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente sentir tudo de todas as maneiras, seja a fora explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o prprio desejo de partir. Poeta da modernidade, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e at violento, a civilizao industrial e mecnica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adotando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

FuturismoNesta fase campos celebra o triunfo da mquina, da energia mecnica e da civilizao moderna. Sente-se nos poemas uma atrao quase ertica pelas mquinas, smbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos maquinismos em fria e da fora da mquina por oposio beleza tradicionalmente concebida. Este progresso tcnico, essa nova revelao nostlgica e dinmica de Deus. A Ode Triunfal ou a Ode Martima so bem o exemplo desta intensidade e totalizao das sensaes. A par da paixo pela mquina, h a nusea, a neurastenia provocada pela poluio fsica por oposio beleza tradicionalmente concebida.

Ode Triunfal

dolorosa luz das grandes lmpadas elctricas da fbrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. rodas, engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fria! Em fria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lbios secos, grandes rudos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabea de vos querer cantar com um excesso De expresso de todas as minhas sensaes, Com um excesso contemporneo de vs, mquinas! Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -Grandes trpicos humanos de ferro e fogo e fora -Canto, e canto o presente, e tambm o passado e o futuro, Porque o presente todo o passado e todo o futuro E h Plato e Virglio dentro das mquinas e das luzes elctricas S porque houve outrora e foram humanos Virglio e Plato, E pedaos do Alexandre Magno do sculo talvez cinquenta, tomos que ho de ir ter febre para o crebro do squilo do sculo cem,

Andam por estas correias de transmisso e por estes mbolos e por estes volantes, Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, Fazendo-me um excesso de carcias ao corpo numa s carcia alma. Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! Ser completo como uma mquina! Poder ir na vida triunfante como um automvel ltimo-modelo! Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento A todos os perfumes de leos e calores e carves Desta flora estupenda, negra, artificial e insacivel! Fraternidade com todas as dinmicas! Promscua fria de ser parte-agente Do rodar frreo e cosmopolita Dos comboios estrnuos, Da faina transportadora-de-cargas dos navios, Do giro lbrico e lento dos guindastes, Do tumulto disciplinado das fbricas, E do quase-silncio ciciante e montono das correias de transmisso! Horas europeias, produtoras, entaladas Entre maquinismos e afazeres teis! Grandes cidades paradas nos cafs, Nos cafs osis de inutilidades ruidosas Onde se cristalizam e se precipitam Os rumores e os gestos do til E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo! Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares! Novos entusiasmos da estatura do Momento! Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas s docas, Ou a seco, erguidas, nos pianos-inclinados dos portos! Actividade internacional, transatlntica, Canadian-Pacific! Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotis, Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots, E Piccadillies e Avenues de lOpera que entram Pela minhalma dentro! H-l as ruas, h-l as praas, h-la-h la foule! Tudo o que passa, tudo o que 9ara s montras! Comerciantes; vadios; escrocs exageradamente bem-vestidos; Membros evidentes de clubes aristocrticos;

Esqulidas figuras dbias; chefes de famlia vagamente felizes E paternais at na corrente de oiro que atravessa o colete De algibeira a algibeira! Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa! Presena demasiadamente acentuada das cocotes; Banalidade interessante (e quem sabe o qu por dentro?) Das burguesinhas, me e filha geralmente, Que andam na rua com um fim qualquer, A graa feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos; E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra E afinal tem alma l dentro! (Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!) A maravilhosa beleza das corrupes polticas, Deliciosos escndalos financeiros e diplomticos, Agresses polticas nas ruas, E de vez em quando o cometa dum regicdio Que ilumina de Prodgio e Fanfarra os cus Usuais e lcidos da Civilizao quotidiana! Notcias desmentidas dos jornais, Artigos polticos insinceramente sinceros, Notcias passez -la-caisse, grandes crimes -Duas colunas deles passando para a segunda pgina! O cheiro fresco a tinta de tipografia! Os cartazes postos h pouco, molhados! Vients-de-paraitre amarelos com uma cinta branca! Como eu vos amo a todos, a todos, a todos, Como eu vos amo de todas as maneiras, Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!) E com a inteligncia como uma antena que fazeis vibrar! Ah, como todos os meus sentidos tm cio de vs! Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura! Qumica agrcola, e o comrcio quase uma cincia! mostrurios dos caixeiros-viajantes, Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indstria, Prolongamentos humanos das fbricas e dos calmos escritrios!

fazendas nas montras! manequins! ltimos figurinos! artigos inteis que toda a gente quer comprar! Ol grandes armazns com vrias seces! Ol anncios elctricos que vm e esto e desaparecem! Ol tudo com que hoje se constri, com que hoje se diferente de ontem! Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos! Progressos dos armamentos gloriosamente mortferos! Couraas, canhes, metralhadoras, submarinos, aeroplanos! Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. Amo-vos carnivoramente, Pervertidamente e enroscando a minha vista Em vs, coisas grandes, banais, teis, inteis, coisas todas modernas, minhas contemporneas, forma actual e prxima Do sistema imediato do Universo! Nova Revelao metlica e dinmica de Deus! fbricas, laboratrios, music-halls, Luna-Parks, couraados, pontes, docas flutuantes -Na minha mente turbulenta e incandescida Possuo-vos como a uma mulher bela, Completamente vos possuo como a uma mulher bela que no se ama, Que se encontra casualmente e se acha interessantssima. Eh-l-h fachadas das grandes lojas! Eh-l-h elevadores dos grandes edifcios! Eh-l-h recomposies ministeriais! Parlamento, polticas, relatores de oramentos; Oramentos falsificados! (Um oramento to natural como uma rvore E um parlamento to belo como uma borboleta.) Eh-l o interesse por tudo na vida, Porque tudo a vida, desde os brilhantes nas montras At noite ponte misteriosa entre os astros E o amor antigo e solene, lavando as costas E sendo misericordiosamente o mesmo Que era quando Plato era realmente Plato Na sua presena real e na sua carne com a alma dentro, E falava com Aristteles, que havia de no ser discpulo dele.

Eu podia morrer triturado por um motor Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuda. Atirem-me para dentro das fornalhas! Metam-me debaixo dos comboios! Espanquem-me a bordo de navios! Masoquismo atravs de maquinismos! Sadismo de no sei qu moderno e eu e barulho! Up-l h jquei que ganhaste o Derby, Morder entre dentes o teu cap de duas cores! (Ser to alto que no pudesse entrar por nenhuma porta! Ah, olhar em mim uma perverso sexual!) Eh-l, eh-l, eh-l, catedrais! Deixai-me partir a cabea de encontro s vossas esquinas, E ser levantado da rua cheio de sangue Sem ningum saber quem eu sou! tramways, funiculares, metropolitanos, Roai-vos por mim at ao espasmo! Hilla! Hilla! Hilla-h! Dai-me gargalhadas em plena cara, automveis apinhados de pndegos e de putas, multides quotidianas nem alegres nem tristes das ruas, Rio multicolor annimo e onde eu me posso banhar como quereria! Ah, que vidas complexas, que coisas l pelas casas de tudo isto! Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro, As dissenses domsticas, os deboches que no se suspeitam, Os pensamentos que cada um tem a ss consigo no seu quarto E os gestos que faz quando ningum pode ver! No saber tudo isto ignorar tudo, raiva, raiva que como uma febre e um cio e uma fome Me pe a magro o rosto e me agita s vezes as mos Em crispaes absurdas em pleno meio das turbas Nas ruas cheias de encontres! Ah, e a gente ordinria e suja, que parece sempre a mesma, Que emprega palavres como palavras usuais, Cujos filhos roubam s portas das mercearias E cujas filhas aos oito anos e eu acho isto belo e amo-o! -Masturbam homens de aspecto decente nos vos de escada.

A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa Por vielas quase irreais de estreiteza e podrido. Maravilhosa gente humana que vive como os ces, Que est abaixo de todos os sistemas morais, Para quem nenhuma religio foi feita, Nenhuma arte criada, Nenhuma poltica destinada para eles! Como eu vos amo a todos, porque sois assim, Nem imorais de to baixos que sois, nem bons nem maus, Inatingveis por todos os progressos, Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida! (Na nora do quintal da minha casa O burro anda roda, anda roda, E o mistrio do mundo do tamanho disto. Limpa o suor com o brao, trabalhador descontente. A luz do sol abafa o silncio das esferas E havemos todos de morrer, pinheirais sombrios ao crepsculo, Pinheirais onde a minha infncia era outra coisa Do que eu sou hoje. . . ) Mas, ah outra vez a raiva mecnica constante! Outra vez a obsesso movimentada dos nibus. E outra vez a fria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios De todas as partes do mundo, De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios, Que a estas horas esto levantando ferro ou afastando-se das docas. ferro, ao, alumnio, chapas de ferro ondulado! cais, portos, comboios, guindastes, rebocadores! Eh-l grandes desastres de comboios! Eh-l desabamentos de galerias de minas! Eh-l naufrgios deliciosos dos grandes transatlnticos! Eh-l-h revolues aqui, ali, acol, Alteraes de constituies, guerras, tratados, invases, Rudo, injustias, violncias, e talvez para breve o fim, A grande invaso dos brbaros amarelos pela Europa, E outro Sol no novo Horizonte! Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto Ao flgido e rubro rudo contemporneo,

Ao rudo cruel e delicioso da civilizao de hoje? Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento, O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro, O Momento estridentemente ruidoso e mecnico, O Momento dinmico passagem de todas as bacantes Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais. Eia comboios, eia pontes, eia hotis hora do jantar, Eia aparelhos de todas as espcies, frreos, brutos, mnimos, Instrumentos de preciso, aparelhos de triturar, de cavar, Engenhos, brocas, mquinas rotativas! Eia! Eia! Eia! Eia eletricidade, nervos doentes da Matria! Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metlica do inconsciente! Eia tneis, eia canais, Panam, Kiel, Suez! Eia todo o passado dentro do presente! Eia todo o futuro j dentro de ns! Eia! Eia! Eia! Eia! Frutos de ferro e til da rvore-fbrica cosmopolita! Eia! Eia! Eia, eia-h--! Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. Engatam-me em todos os comboios. Iam-me em todos os cais. Giro dentro das hlices de todos os navios. Eia! Eia-h eia! Eia! Sou o calor mecnico e a electricidade! Eia! E os rails e as casas de mquinas e a Europa! Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, mquinas a trabalhar, eia! Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-l! Hup-l, hup-l, hup-l-h, hup-l! H-l! He-h Ho-o-o-o-o! Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! Ah no ser eu toda a gente e toda a parte! lvaro de Campos (Fernando Pessoa)

1.2-Explicita a relao que ele mantm com a realidade que o cerca. O sujeito potico estabelece com o ambiente envolvente uma ligao eufrica e exaltada, revelando tambm um erotismo quase doentio pela mquina, pela fbrica provocando nele uma fora explosiva, febril, uma convulso que brota no sujeito a imensa vontade de escrever escrevo rangendo os dentes para aquilo que a sua tremenda obsesso: A mquina, o mundo moderno. 2.2-Na 2 estrofe o sujeito potico encontra-se num estado febril. Explicita as razes desse delrio. O delrio do sujeito potico, tem origem nos excessos do ambiente em que o sujeito potico se insere. Esse delrio leva-o a um tal estado de exaltao que todas as sensaes se conjugam na composio de todas as minhas sensaes. 2.7- Interpreta os desejos expressos pelo sujeito potico nas exclamaes da 4 estrofe. O sujeito potico deseja ser mquina, deseja sentir a beleza da fora 3.1- Na stima estrofe justifica o recurso aos parnteses. (quebra no ritmo alucinante) O uso dos parnteses justifica-se pelo carter intimista que o sujeito potico assume nesta estrofe; trata-se de uma espcie de aparte, de uma reflexo que, aparentemente, em nada se relaciona com a temtica desenvolvida. 4.3-Identifica o recurso estilstico presente nos verso 68 e 76 Oxmoro-Consiste na associao de dois termos contraditrios, duas imagens, que na realidade se repelem, que aproximam dois sentidos totalmente incompatveis. 6.Comenta o ttulo do poema e relacionando-o com a cultura do excesso tao cara aos sensacionistas. O ttulo do poema Ode Triunfal s por si um canto em tom elevado, escrito num discurso exaltado em que se presta um tributo ao mundo moderno da mquina.

Ode Triunfal ento uma homenagem em tom sublime e excessivo ao mundo mecnico. 7.Comenta o quadro relacionando-o com algumas passagens da Ode Triunfal que ele poderia ter inspirado.

Neste quadro, Picabia tal com lvaro de Campos na Ode Triunfal, homenageia a mquina, realando a tendncia de valorizar os mecanismos que movem o mundo. Picabia poder-se-ia ter inspirado na elaborao deste quadro, em qualquer excerto da Ode Triunfal, visto que tal como o seu ttulo indica, toda a composio um canto laudatria mquina. Poderia por exemplo ter-se inspirado neste excerto rodas, engrenagens rr-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo dentro de mim; Por todos os meus nervos dissecados fora, () Neste excerto visvel a atrao febril que lvaro de Campos tem pela mquina, pela natureza mecnica o que brota em si uma convulso que provoca a vontade sedenta de saudar, de homenagear aquilo que mais o atrai (a mquina), atravs das palavras. No fundo, Picabia poder-se-ia ter inspirado na escrita de lvaro de Campos para homenagear a mquina, porm a sua reproduo seria feita atravs da pintura e no atravs de palavras. Caractersticas da Ode Triunfal vaidade e orgulho por poder conviver com tudo aquilo que os antigos no conseguiram poeta extasiado; A fria do exterior reflecte-se dentro de si e espalha-se por todas as suas sensaes o que lhe permite escrever; Humanizao das mquinas (grandes trpicos humanos de ferro e fogo e fora);

O presente a concentrao de todos os tempos: o presente existe porque houve passado e o presente que permite que haja futuro;

Desejo de materializao, de funcionar como uma mquina pois elas funcionam sem sofrer, sem pensar; Denncia dos aspectos negativos da sociedade da civilizao moderna: cio, inutilidade, riqueza, luxo (dos que no trabalham), superficialidade e falta de sinceridade e iseno da imprensa, corrupo (poltica);

Prazer obtido atravs das mquinas; Agora devem ser exaltadas outras coisas que so to belas como a natureza (Um oramento to natural como uma rvore); Alucinao provocada por todo o movimento das mquinas; Quebra abrupta no ritmo acelerado e esfuziante: ele pra para pensar, recordar a infncia e constata a efemeridade da vida e as prprias mudanas que se operam nele infncia a idade da felicidade;

Termina com um grito de Sensacionalismo, anulao do eu, viver tudo de todas as maneiras, por toda a gente e em toda a parte; Novo conceito do homem insensvel, livre e amoral; Irregularidade estrfica, mtrica e rtmica; utilizao de palavras agressivas; linguagem tcnica, realidades antilricas; muitas anatopeias apstrofes e interjeies, discurso catico recursos estilsticos me excesso;

Fase Intimista/Pessimista/AblicaPerante a incapacidade de realizaes, traz de volta o abatimento, que provoca Um supremssimo cansao /ssimo, ssimo, ssimo;/ Cansao. Neta fase, Campos sentese vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. ( Esta velha angstia; Apontamento; Lisbon Revisited). O drama de lvaro de Campos concretiza-se num apelo dilaceramente entre o amor do mundo e da humanidade; uma espcie de frustrao total de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela,

como Pessoa, a mesma inadaptao existncia e a mesma demisso da personalidade ntegra, o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infncia. -Face incapacidade das realizaes, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido. -Frustrao total: incapacidade das realizaes, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido. -Dissoluo do eu. -Dor de pensar. -Conflito entre a realidade e o poeta. -Cansao, tdio, abulia -Angstia existencial. -Solido. -Nostalgia da infncia irremediavelmente perdida(Raiva de no ter trazido o passado roubado na algibeira, Aniversrio). lvaro de Campos na fase intimista irmo de Fernando Pessoa: Tem dor de pensar, descontentamento de si prprio e do mundo, porque pensa nas coisas devido presena de conscincia que provocadora de abulia, descontentamento.

Campos o poeta do abatimento, da atonia, da aridez interior, de descontentamento de si e dos outros. () -Ele no gosta do que , nem do que os outros so no mundo em que o rodeia/No encontra nenhum ponto de encontro entre si e o resto do mundo.

O que hO que h em mim sobretudo cansao No disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansao assim mesmo, ele mesmo, Cansao. A sutileza das sensaes inteis, As paixes violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em algum, Essas coisas todas Essas e o que falta nelas eternamente ; Tudo isso faz um cansao, Este cansao, Cansao. H sem dvida quem ame o infinito, H sem dvida quem deseje o impossvel, H sem dvida quem no queira nada Trs tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possvel, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou at se no puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a mdia entre tudo e nada, isto , isto... Para mim s um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansao, Um supremssimo cansao, ssimno, ssimo, ssimo, Cansao...

2.Na segunda estrofe, o sujeito potico adianta algumas razes que esto na origem do seu estado de esprito. 2.1-Prova que essas razes se relacionam com a inutilidade e com o excesso. Nesta 2 estrofe o sujeito potico considera que a origem do seu cansao est num excesso de paixes e amores violentos O sujeito potico sublinha, agora, a inutilidade de todos os sentimentos por ele vividos. 3.2-Salienta as diferenas entre o eu e os outros. O sujeito potico desiste da vida porque no se identifica com os outros. O sujeito potico realista, ou seja, tem conscincia do que se passa volta o que o leva dor de pensar e consequentemente ao desejo de morte, J os outros idealizam amam o infinito, desejam o impossvel e no querem nada, e esse idealismo que os faz sonhar! O sujeito potico deseja o possvel mas mesmo assim no consegue alcanar este desejo, da que este sente uma grande frustrao. (se fosse impossvel alcanar o sujeito potico aceitaria melhor, porm, possvel mas ele no consegue, da que a sua frustrao maior. 4.Na ltima estrofe, o sujeito potico expe o resultado das duas filosofias de vida expostas na estrofe anterior. 4.1-Explicita os efeitos destas formas de vida sobre os outros e sobre o eu Enquanto os outros vivem o sonho inseridos numa desprezvel mediania, o sujeito potico apenas sente um grande e supremssimo cansao.

Comentrio Geral: O sujeito potico concretizar o seu cansao que parece ser total e autnomo. O motivo de tamanho cansao o excesso de paixes que se revelaram inteis. A repetio da palavra cansao intensifica a sensao de tdio, abulia e atonia sentidos pelo sujeito potico.

AniversrioNo tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ningum estava morto. Na casa antiga, at eu fazer anos era uma tradio de h sculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religio qualquer. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande sade de no perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a famlia, E de no ter as esperanas que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanas, j no sabia ter esperanas. Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de corao e parentesco. O que fui de seres de meia-provncia, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui ai, meu Deus!, o que s hoje sei que fui... A que distncia!... (Nem o acho...) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje como a humidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes... O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme atravs das minhas lgrimas), O que eu sou hoje terem vendido a casa, terem morrido todos, estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fsforo frio... No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ... Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo fsico da alma de se encontrar ali outra vez, Por uma viagem metafsica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim... Comer o passado como po de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que h aqui... A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loia, com mais copos, O aparador com muitas coisas doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alado, As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . . Pra, meu corao! No penses! Deixa o pensar na cabea! meu Deus, meu Deus, meu Deus! Hoje j no fao anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velho quando o for.

Mais nada. Raiva de no ter trazido o passado roubado na algibeira!... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

No poema Aniversrio, lvaro de Campos contrape o tempo da infncia ao tempo presente. A poca da infncia marcada pela inocncia, pois a criana no tem noo do que se passa sua volta: Eu tinha a grande sade de no perceber coisa nenhuma. A passagem de criana para adulto marcada por uma perda, pois se percebe que a vida no tem sentido. O poeta hoje terem vendido a casa, ou seja, um vazio, que perdeu a sensao de totalidade, de alegria, de aconchego dada pela vida em famlia na infncia distante. Assim, a festa de aniversrio toma o aspeto simblico de um ritual familiar, dentro do qual a criana se torna o centro de um mundo que a acolhe e protege carinhosamente. No presente, no h mais aniversrios nem comemoraes: resta ao poeta durar, porque o pensamento o impede de ter a inocncia de outrora. Passado(Infncia) Alegria Sade Famlia Vida InconscinciaPresente(Fase Adulta)

Tristeza Doena Solido Morte Conscincia