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Richard Monvoisin: Pesquisa Pública, Publicação Privada - Le Monde Diplomatique Brasil

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oisin: Pesquisa pública, publi

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  • 1/25/13 3:25 PMRichard Monvoisin: Pesquisa pblica, publicao privada - Le Monde Diplomatique Brasil

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    25 de Janeiro de 2013

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    Mais alm da corrupoSilvio Caccia Bava

    ARTIGO

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    CINCIA

    Pesquisa pblica, publicao privada

    s pesadas prateleiras das bibliotecas universitrias se somam cada vez mais uma enxurrada depublicaes especializadas on-line, que oferecem, sem atraso e normalmente de graa, os ltimosresultados dos laboratrios de pesquisa

    por Richard Monvoisin

    "Publicar ou apodrecer: a sentena do zoologista Harold J. Coolidge1 resume a vida deum pesquisador. Pouco importa, para seu prestgio acadmico, que seu modo de ensinarseja brilhante, seus estudos sejam bem fundamentados ou que ele seja gentil com oscolegas: a avaliao do trabalho de pesquisa repousa de forma definitiva apenas na somae na qualidade dos artigos publicados nas revistas cientficas. A exposio ordenada dosresultados, passando pela humilhao da releitura por especialistas no assunto o quechamamos normalmente de releitura dos pares, ou peer-review, a chave para isso.

    As publicaes so especializadas de acordo com a rea de pesquisa. Assim, umespecialista em histria moderna da Frana tem escolha uma dezena de revistas

    nacionais, e cerca de uma centena de peridicos acolhem os trabalhos de pesquisa feitosem fsica. Para escolher em que porta bater preciso adaptar as pretenses, levando emconta o fator do impacto da revista, quer dizer, seu valor no mercado do saber. Esse valor fundado no na audincia, mas no nmero mdio de citaes dos artigos da dita revistaem outros artigos cientficos.2 conveniente acertar o alvo: muito baixo (uma revistapouco conhecida), e o artigo no ser apreciado de acordo com seu valor,independentemente de sua qualidade; muito alto (as melhores publicaes), e ele pode serbloqueado durante meses pelos avaliadores, para no final ser recusado. Por ser feroz aconcorrncia entre as equipes de pesquisa, corre-se, ento, o risco de ser ultrapassado nalinha de chegada.

    Alm de o autor do artigo no ser pago, seu laboratrio deve, frequentemente, participarnos gastos de secretaria ou impresso. Em troca, ele recebe capital simblico(reconhecimento, prestgio): o direito de indicar o ttulo do artigo envolto na aura de seufator de impacto em seu curriculum vitae. Os leitores-avaliadores do artigo, por sua vez,so cientistas annimos solicitados pela revista; eles tambm so remunerados apenasem capital simblico. Quando um pesquisador submete um texto numa rea muitoespecfica, seus juzes s vezes participam da mesma corrida. Claro, a honestidade e aboa-f predominam e, em caso de conflito de interesses patente, possvel recusarantecipadamente um avaliador concorrente. Mas as disputas por influncia e os conluiosso inevitveis. A pesquisa moderna se transforma, ento, em uma arena percorrida porcentenas de hamsters na qual, como nos clssicos videogames, se multiplicam poas deleo, cascas de banana e rasteiras.

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    HygorRossoni

    vivilip O que estpor trs dareduo dastarifas de energiaeltrica? [email protected]/artigo.php?id=yesterday reply retweet favorite

    fabscoleso Eamanh,monarquias? - LeMondeDiplomatiqueBrasildiplomatique.org.br/artigo.php?id=@diplobrasil Valea pena!yesterday reply

  • 1/25/13 3:25 PMRichard Monvoisin: Pesquisa pblica, publicao privada - Le Monde Diplomatique Brasil

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    BenettAs ltimas charges

    FerrzFerrz na Revista Frum deJaneiro

    Mara Kubk ManoMulheres no trono: a melhorcomdia do ano!

    Raquel RolnikBoas festas e um timo 2013!

    Qual sua opinio sobre onovo programa do governoDilma - Brasil Carinhoso?

    Contra, apenas outroprogramaassistencialista

    Favorvel, mas precisade melhorias a longoprazo

    Favorvel, precisamosaes p/ reduo damisria

    Resultados

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    Essa mecnica no cooperativa parece hoje sem flego3 e pesa na qualidade deproduo do conhecimento. As grandes revistas esto congestionadas; resultados noacabados, de interesse medocre, so por vezes publicados de maneira precipitada; osresultados negativos quer dizer, sem concluso , que no entanto so muito teis, nuncaso publicados.4

    E o sistema de releitura pelos pares est longe de garantir a honestidade de todas aspublicaes. Resultados fraudulentos, maquiados para melhor seduzir, s vezes atcompletamente forjados, superam regularmente esse filtro. Podemos citar os casos de JanHendrik Schn, fsico alemo dos laboratrios Bell desmascarado em 2001; de HwangWoo-suk, bilogo sul-coreano descoberto em 2005; ou do psiclogo Diederik Stapel, quese demitiu em 2011. Depois de ter estudado os 17 milhes de publicaes cientficas, de1950 a 2007, referenciadas pela base de dados Medline, os pesquisadores Murat okol,Fatih Ozbay e Raul Rodriguez-Esteban observaram que a porcentagem de retrataes deartigos pelas revistas tem aumentado significativamente desde os primeiros escndaloscientficos, nos anos 1970. Esses casos tinham conduzido instalao do Office ofResearch Integrity (ORI), escritrio norte-americano pela integridade na pesquisa.5

    A avaliao dos pesquisadores comprometida: a busca por citaes engendra umaforma de trfico de influncias, levando, por exemplo, citao de amigos. Encontram-seigualmente artigos assinados por dezenas de nomes: os dos jovens pesquisadores querealizaram o essencial do trabalho e os dos diretores de laboratrio, claramente menosimplicados revelando um procedimento que pode ser legtimo no caso de trabalhosfundadores que tenham efetivamente contado com um grande nmero de participantes.Impe-se, assim, o que o socilogo Robert K. Merton chamava de efeito Mateus (SoMateus: Porque, quele que tem, se dar e ter em abundncia; mas, quele que notem, at aquilo que tem lhe ser tirado), um encadeamento de mecanismos pelos quais osmais favorecidos, no caso os mais citados, tendem a ganhar vantagem sobre os outros,que iro encher as colunas das revistas medocres e pouco lidas.

    Esse sistema se revela, alm do mais, muito dispendioso para a comunidade cientfica. Ocontribuinte financia uma pesquisa que o cientista publicar muitas vezes sua custa em uma revista endossada por uma empresa privada, que outros pesquisadores deveroavaliar gratuitamente e que as universidades devero, em seguida, comprar a preo deouro. possvel dizer, com efeito, que a literatura cientfica custa caro. A metade dooramento de funcionamento das bibliotecas universitrias vai embora nas assinaturas, oque prejudica imediatamente os estabelecimentos menos ricos e tem repercusses sobreastaxas de matrcula dos estudantes.6

    Ascenso da Elsevier

    Uma editora, a Elsevier, cresce em poder e chama a ateno. Sua histria comea nosanos 1580, em Louvain, na Blgica. Um certo Lodewiejk Elzevir (1542-1617), tipgrafo,fundou uma empresa de publicao e difuso de livros, em particular de clssicos latinos.A empresa familiar subsistiu com dificuldade por algumas dcadas, depois desapareceucom o ltimo de seus representantes, em 1712. Em 1880, em Amsterd, nasceu aElsevier, em homenagem a essa antiga editora. Em pouco mais de um sculo, ela tomouconta de uma grande parte da publicao cientfica no mundo. Em 1993, a fuso dasempresas Reed International e Elsevier PLC criou a Reed-Elsevier, segundo maiorconglomerado de edio mundial, atrs da Pearson.7 Agora proprietria da revista Cell, doLancete de colees de livros como Grays anatomy, a Elsevier publica 240 mil artigos porano em cerca de 1.250 revistas. Seus lucros se aproximaram de 1 bilho de euros em2011.8 Para algumas bibliotecas, a assinatura anual dos jornais da editora representacerca de US$ 40 mil. Para os 127 estabelecimentos franceses onde as compras deassinaturas eletrnicas so gerenciadas pela Agncia Bibliogrfica do Ensino Superior, aspublicaes Elsevier custaram 13,6 milhes de euros em 2010.

    At agora, nos Estados Unidos, os Institutos Nacionais de Sade tinham o costume deexigir dos pesquisadores que colocassem em acesso livre o resultado dos trabalhosfinanciados pelo contribuinte. Quando, em dezembro de 2011, foi apresentado aoCongresso um projeto de lei proibindo esse procedimento, muitos cientistas se revoltaram.Em 21 de janeiro de 2012, o matemtico Timothy Gowers, ganhador da medalha Fields em1998, anunciou que boicotaria a partir de ento a Elsevier. Depois de um artigo noGuardian, em Londres, e depois no New York Times,9 ele foi acompanhado por outros 34matemticos. Logo foi lanada uma petio intitulada The cost of knowledge (O custo doconhecimento), assinada por mais de 10 mil pesquisadores acadmicos. A UniversidadeParis 6, que gasta mais de 1 milho de euros por ano com essas assinaturas, entrou noboicote.

    As bibliotecas, de mos atadas, podem apenas apoiar o boicote; por exemplo, o conselhode administrao da Universidade Harvard, que conta todo ano com US$ 3,75 milhespara comprar revistas, encorajou seus 2,1 mil professores e pesquisadores a colocar suaspesquisas disposio on-line.10 Espero que outras universidades faam a mesmacoisa, declarou Robert Darnton, diretor da biblioteca.11 Estamos todos confrontados como mesmo paradoxo. Fazemos as pesquisas, escrevemos os artigos, trabalhamos no

    Plug-in social do Facebook

    Rossoni Trabalha naempresaUniversidadeFederal deViosa -CampusFlorestalPesquisapblica,publicaoprivadaResponder

    Curtir Seguirpublicao 18de janeiro s20:15

    2

    lden Adrio CSSR....elecorrompetd msm, oboicoteparece seruma boaideiaResponder Curtir Seguirpublicao Tera s 11:03

  • 1/25/13 3:25 PMRichard Monvoisin: Pesquisa pblica, publicao privada - Le Monde Diplomatique Brasil

    Page 3 of 4http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1342

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    referenciamento dos artigos de outros pesquisadores, tudo de graa... Em seguida,compramos o resultado do nosso trabalho por um preo escandaloso.

    J existem algumas solues, em particular na rea da publicao livre e aberta (com ossites PLoS, HAL, arXiv...). A longo prazo, a comunidade dos pesquisadores no ter outraescolha a no ser desenvolver melhor essas solues a fim de burlar o sistema.

    Richard Monvoisin

    pesquisador e membro do Coletivo de Pesquisa Transdiciplinar Espirto Crtico eCincias (Cortecs), em Grenoble

    Ilustrao: Orlando

    1 Harold Jefferson Coolidge, Archibald Cary Coolidge: life and letters, 1932.2 Deve-se o fator de impacto a Eugne Garfield, fundador do Institute for Scientific Information,cujo primeiro Science Index data de 1963.3 Laurent Sgalat, La science bout de souffle? [A cincia sem flego?], Seuil, Paris, 2009.4 Brian Martinson, Melissa Anderson e Raymond de Vries, Scientists behaving badly [Cientistasse comportando mal], Nature, Londres, n.435, 9 jun. 2005.5 Murat okol, Fatih Ozbay e Raul Rodriguez-Esteban, Retraction rates are on the rise [Taxas deretrao esto em ascenso], EMBO Reports, 2008.6 Ler Isabelle Bruno, Pourquoi les droits dinscription universitaires senvolent partout [Por que astaxas de matrcula universitrias aumentam em todos os lugares], Le Monde Diplomatique, set.2012.7 Livres Hebdo, Paris, 22 jun. 2012.8 Reed-Elsevier, Annual reports and financial statements 2011. Disponvel em:.9 Scientists sign petition to boycott academic publisher Elsevier [Cientistas assinam petio paraboicotar a editora acadmica Elsevier], The Guardian, Londres, 2 fev. 2012; Mathematiciansorganize boycott of a publisher [Matemticos organizam boicote a editora], The New York Times,13 fev. 2012.10 Faculty Advisory Council Memorandum on Journal Pricing, Major periodical subscriptionscannot be sustained [Principais assinaturas no podem ser sustentadas], 16 abr. 2012. Disponvelem: .11 Ler Robert Darnton, La bibliothque universelle, de Voltaire Google [A biblioteca universal,de Voltaire ao Google], Le Monde Diplomatique, mar. 2009.

    07 de Janeiro de 2013

    Palavras chave: Educao, pesquisa, publicao, universidade, cincia, bibliotecas, academicismo,especializao, Elsevier, curriculum vittae, pesquisador, reconhecimento, citaes, tese, creative commons,estudantes, acesso, assinaturas, impresso, digital, internet, rede

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    comentrios4 comentrios

    25/01/2013 - 12:14hs - Claudia LibaExcelente artigo. Finalmente temos a possibilidade de reverter o quadro atravs depublicaes online. Sou inteiramente favorvel democratizao do conhecimento.

    22/01/2013 - 07:18hs - Hugo

    Acredito que a Wikipedia um grande exemplo a ser seguido pelo mundo acadmico. preciso mais colaborao mtua e menos interesse privado.

    18/01/2013 - 21:15hs - Chico NogueiraQuando li este artigo, lembrei imediatamente de discusses calorosas com colegas,sobre a promiscuidade que alguns submetem o processo de construo doconhecimento. Construo que por natureza deve ser colaborativa e livre.Conhecimento para todas as pessoas!

    18/01/2013 - 09:01hs - Jos Maria Alves da Silva

    Quero enviar meus parabns ao autor do artigo. Compartilho suas posies. Jpassou da hora das pessoas srias na rea cientfica tomarem uma atitude maisdecisiva contra esse estado de coisas. Estou disposto a participar de um grandemovimento nesse sentido. Mesmo que tenha de enfrentar dificuldades, o faria comestoicismo.

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  • 1/25/13 3:25 PMRichard Monvoisin: Pesquisa pblica, publicao privada - Le Monde Diplomatique Brasil

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