Rigidez Salarial na Indústria do Estado da Bahiaforumbaiano.sei.ba.gov.br/forum_2015/apresentacoes/rigidez_sal... · Indústria do Estado da Bahia Gisele Ferreira Tiryaki Grupo de

Rigidez Salarial na Indústria do Estado da Bahia

Gisele Ferreira Tiryaki

Grupo de Pesquisa em Economia Aplicada Universidade Federal da Bahia

IV Fórum Baiano de Economia de Aplicada Salvador, 6 de outubro de 2015

Sumário

Motivação

Objetivo

Referencial Teórico

Dados e Metodologia

Resultados

Considerações Finais

Motivação

Desemprego:

◦ Tema central em macroeconomia

◦ Duas vertentes de pesquisa

Determinantes do desemprego no longo prazo

Comportamento cíclico

Evidência empírica sobre o desemprego no curto prazo: salário real é acíclico ou moderadamente pró-cíclico

◦ Porque?

Indústria de Transformação: Brasil

-0,1

-0,08

-0,06

-0,04

-0,02

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1 20

06

M0

1

200

6M

07

200

7M0

1

200

7M0

7

200

8M

01

200

8M

07

200

9M

01

200

9M

07

2010

M0

1

2010

M0

7

2011

M0

1

2011

M0

7

2012

M0

1

2012

M0

7

2013

M0

1

2013

M0

7

2014

M0

1

2014

M0

7

2015

M0

1

2015

M0

7

CYCHORAS CYCREND

Fonte: CNI (2015)

σCYCHORAS = 0,028

σCYCREND = 0,012

σPIB = 0,017 (2013)

Motivação

Como explicar a rigidez salarial?

◦ Literatura extensa

◦ Consistência lógica, mas pressupostos de difícil comprovação com uso de dados estatísticos agregados

Hipóteses baseadas em padrões de comportamento e incentivos de trabalhadores e gestores

◦ Solução: realização de surveys

Objetivo

Verificar, com a utilização de survey, se os modelos teóricos desenvolvidos para explicar a rigidez salarial se aplicam à realidade do mercado de trabalho no Brasil, utilizando por amostra o setor industrial do estado da Bahia


Modelo clássico: ◦ Oferta de trabalho é significativamente elástica?

◦ Deslocamentos na oferta de trabalho explicam as variações no desemprego?

◦ Realidade: baixa substituição intertemporal A incerteza presente nas recessões faz com que os

trabalhadores receiem mudar de emprego

Cortes nos salários são incomuns durante recessões

Trabalhadores que procuram trabalho nesses períodos são flexíveis e aceitam ofertas de salários abaixo do valor de mercado

Cortes reais de salários, quando feitos durante a recessão, causam pouca rotatividade extra, provavelmente porque novos empregos são difíceis de serem encontrados


Salário Eficiência

Contratos Implícitos

Insider-Outsider

Busca e Combinação


Modelos de salário eficiência: salário como mecanismo de redução da assimetria de informação

Porque os salários reais não caem durante a recessão?

Manutenção do salário real permite: ◦ Otimizar a produtividade do trabalhador

empregado

◦ Elevar a probabilidade de contratação de trabalhadores melhor qualificados

Referencial Teórico: Salário Eficiência

Modelo Hipótese Autores

Reciprocidade Salário como mecanismo para estimular a lealdade do trabalhador * Salário justo e o grupo de referência

Akerlof (1982)

Salário Nutrição Salário impacta na saúde e vitalidade do trabalhador

Leibenstein (1957), Strauss e Thomas (1998)

Monitoramento Imperfeito

Salários: mecanismo para elevar o custo de oportunidade da demissão e a efetividade do esforço

Shapiro e Stiglitz (1984)

Rotatividade Salários: mecanismo de preservação de mão de obra qualificada e redução dos custos de oportunidade

Stiglitz (1974), Weiss (1990)

Seleção Adversa Salário: sinalizador da qualidade da mão de obra

Weiss (1980, 1990)

Atributos Morais e Aspectos Sociológicos

Salário e estado relativo na sociedade, senso geral de justiça

Fehr (1993), Blinder (1988)

Referencial Teórico Modelos de contratos implícitos: a rigidez salarial surge

como um seguro garantido pelas empresas aos trabalhadores contra declínios na renda ◦ A existência desse seguro atrairia pessoal qualificado

◦ Baily (1974), Gordon (1974) e Azariadis (1975)

Modelos insider-outsider: a pressão dos trabalhadores já empregados por maiores salários, principalmente aqueles sindicalizados, leva ao desemprego involuntário ◦ Lindbeck e Snower (1988)

Modelos de busca e combinação: a combinação entre trabalhadores e vagas não é automática, podendo ser longa e dispendiosa (desemprego involuntário) ◦ Diamond (1981, 1982), Mortensen (1982, 1986) e Pissarides

(1985)

Dados e Metodologia

Análise de frequência e de sensibilidade das respostas às características da firma entrevistada

Entrevistas com 221 empresas escolhidas aleatoriamente dos polos industriais mais representativos do estado ◦ Entrevistas: 2013 e 2014 ◦ Questionário com 16 perguntas: Campbell e

Kamlani (1997), Agell e Bennmarker (2002) e Druant et al (2009)

◦ Amostra ideal: 362 (margem de erro: 6,5%, ao invés de 5%)

Distribuição por Porte

Fonte: elaboração própria a partir de dados da FIEB (2015)

Distribuição por Segmento

Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE (2015)

Distribuição dos Municípios

Nomenclatura

Atribuída

Territórios de Identidade

Associados

Municípios com Produção

Industrial mais Relevante

Região

Metropolitana de

Salvador (RMS)

Metropolitano de Salvador

Litoral Norte e Agreste

Baiano

Recôncavo

Camaçari, Candeias, Dias

d'Ávila, Pojuca, Salvador, São

Francisco do Conde, Simões

Filho, Lauro de Freitas

Agreste Baiano Litoral Norte e Agreste

Baiano Portal do Sertão

Alagoinhas e Feira de

Santana

Sertão do São

Francisco

Sertão do São Francisco

Itaparica

Paulo Afonso, Sobradinho,

Juazeiro

Baixo Sul e Litoral

Sul

Baixo Sul

Litoral Sul

Cairu, Ilhéus, Itabuna

Extremo Sul Costa do Descobrimento

Extremo Sul

Eunápolis, Teixeira de

Freitas, Mucuri

Centro Sul Vitória da Conquista

Médio Rio de Contas

Médio Sudoeste da Bahia

Vitória da Conquista,

Itapetinga, Jequié

Extremo Oeste Bacia do Rio Corrente

Bacia do Rio Grande

Luís Eduardo Magalhães,

Barreiras

Perfil: Empresa Mediana da Amostra

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

50,0%

Pequeno Medio Grande

Sem Escolaridade Fund. Incomp. Fund. Compl.

Médio Superior

Perfil: Empresa Mediana da Amostra

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

50,0%

Construção Civil Transformação Extrativa

Sem Escolaridade Fund. Incomp. Fund. Compl.

Médio Superior

Questão 1. Se houver abundância de um tipo específico de trabalhador no mercado, você contrataria esse trabalhador por um salário significativamente menor do que o salário pago a outros trabalhadores similares (em termos de qualificação e experiência) que já trabalham na firma?

15,2%

5,2%

10,9%

28,0%

16,7%

23,1%

13,6% 12,5% 13,1%

36,0%

53,1%

43,4%

1,6% 3,1% 2,3% 5,6%

9,4% 7,2%

PEQUENA MÉDIO/GRANDE GERAL

Sim

Não, porque seria percebido como algo injusto, rendendo uma má reputação para a firma

Não, porque teria um efeito negativo no esforço dos recém-contratados

Não, porque é proibido pela regulação trabalhista ou pelo acordo coletivo de pagamento

Não, porque o sindicato contestaria esse ato

Outras razões

A legislação trabalhista é particularmente enfatizada pelos

gestores de empresas da construção civil e extrativa

Questão 2. Se houvesse escassez de mão de obra no mercado de trabalho de algum tipo de trabalhador que você precisa contratar e atrair esse novo trabalhador fosse difícil, você ofereceria a esse novo trabalhador um salário significativamente maior do que o salário pago a trabalhadores similares (em termos de qualificação e experiência) que já trabalham na firma?

32,8% 33,7% 33,2% 30,4%

18,9% 25,5%

15,2% 17,9% 16,4%

9,6% 13,7% 11,4% 9,6% 8,4% 9,1% 2,4%

7,4% 4,5%


Sim

Não, porque seria percebido como algo injusto pelos trabalhadores já empregados

Não, porque teria um efeito negativo no esforço desempenhado pelos trabalhadores da firma

Não, porque não é permitido pela regulação trabalhista ou pelo acordo coletivo de pagamento

Não, porque geraria pressão por um aumento salarial por parte dos empregados mais antigo

Os gestores de empresas da construção civil e extrativa estão

menos preocupados em gerar disparidade de salários entre novos e

antigos funcionários

Questão 3

Até mesmo em períodos de contração econômica, firmas raramente congelam os salários dos seus funcionários, muito embora esta política possa vir a ajudá-los a manter seus empregos. Analise cada uma das afirmações abaixo, indicando o quanto cada uma é pertinente para justificar tal fato ◦ Respostas de acordo com a qualificação da mão de

obra

Menos qualificados: sem escolaridade ou com nível fundamental incompleto ou completo

Qualificados: ensino médio

Altamente qualificados: ensino superior

Negociações com sindicatos não permitem que os salários sejam mantidos congelados

13,7% 8,3%

11,7% 8,5% 8,7% 7,9%

20,3%

30,7%

15,9%

57,5% 52,3%

64,5%

Altamente qualificados Qualificados Menos qualificados

Geral

Não é importante É pouco importante

É moderadamente importante É muito importante

Trabalhadores não gostam de mudanças imprevisíveis na renda. Logo, trabalhadores e empresas entram em um entendimento implícito de que os salários não vão ser congelados durante recessões, nem aumentados de forma expressiva em expansões.

14,2% 13,0% 16,2%

5,7% 6,5%

14,8%

21,8%

34,3%

24,5%

58,3%

46,3% 44,4%


Geral



Se sua empresa fosse congelar os salários e as pessoas na comunidade tivessem conhecimento desta iniciativa, seria mais difícil a contratação de trabalhadores no futuro.

16,5% 12,0%

17,8%

9,9% 14,8%

19,2% 17,5%

35,2%

28,0%

56,1%

38,0% 35,0%


Geral



Os gestores de firmas de pequeno porte e do segmento de

transformação atribuíram maior importância a essa questão

O congelamento salarial diminuiria o esforço dos trabalhadores, resultando em menor produtividade

10,0% 6,0% 8,9% 6,6%

10,1% 9,8%

27,0% 31,8%

21,5%

56,4% 52,1%

59,8%


Geral





O congelamento salarial aumentaria o número de trabalhadores que pediriam demissão, elevando o custo com contratação e treinamento de novos trabalhadores no futuro

12,4% 12,0%

22,8%

7,6% 12,0%

19,1% 18,1%

30,4%

20,0%

61,9%

45,6%

38,1%


Geral



Se sua empresa demitisse alguns dos seus trabalhadores atuais e contratasse novos trabalhadores com salários inferiores, os trabalhadores que permanecessem em suas posições iriam se recusar a cooperar com os trabalhadores recém contratados

22,5% 19,9%

22,4%

15,8% 19,9%

26,6% 21,5% 23,1%

18,2%

40,2% 37,0%

32,7%


Geral



Os gestores de firmas de pequeno porte atribuíram maior importância a

essa questão

Se sua empresa congelar os salários, os trabalhadores mais produtivos podem pedir demissão, enquanto que, se a firma optar por demitir trabalhadores, é possível escolher dispensar os trabalhadores menos produtivos

7,6% 4,6% 7,4% 5,7% 7,8% 14,4% 14,3%

30,4% 28,8%

72,4%

57,1% 49,3%


Geral



Os gestores de firmas de pequeno porte atribuíram maior importância a

essa questão

Trabalhadores que foram contratados pela firma há muito tempo aprenderam como a firma opera e estabeleceram relações com outros trabalhadores e com os clientes. Um congelamento salarial pode levar esses trabalhadores seniores a pedirem demissão e seus substitutos não teriam o mesmo nível conhecimento de como a firma opera

8,1% 5,0% 11,2% 8,1% 11,0%

17,3% 13,3%

28,4% 25,7%

70,5%

55,5%

45,8%


Geral



Independente do efeito do congelamento salarial sobre os lucros, as pessoas em cargos de gestão relutariam em congelar salários, a fim de evitar ressentimentos dos funcionários

12,8% 8,9%

14,2% 8,5%

12,6% 16,0%

22,7%

33,2% 29,2%

55,9%

45,3% 40,6%


Geral





Assuma que existem dois trabalhadores que estão sendo considerados para contratação. Com base nas entrevistas e características dos trabalhadores, ambos são qualificados. Um dos trabalhadores aceita trabalhar pelo salário oferecido, enquanto o outro solicita um salário maior para aceitar a oferta de trabalho. Levando em consideração esta diferença, você pode concluir que um trabalhador é mais produtivo do que o outro?

10,6% 17,7%

13,7%

89,4% 82,3%

86,3%


Sim Não

Outras perguntas...

Até que ponto sua firma consegue avaliar se um grupo de funcionários (e.g., uma divisão da firma ou um grupo atuando em projeto específico) exerce satisfatoriamente sua função no trabalho?

Como você acha que o esforço direcionado ao trabalho pelos seus funcionários seria afetado se houvesse menos desemprego na região? E se o seguro desemprego aumentasse?

Como você acha que o esforço direcionado ao trabalho pelos seus funcionários seria afetado se o salário pago por empresas similares aumentasse, enquanto que, em sua empresa, o salário fosse mantido constante?

Considerações Finais Alterações nos salários relativos de empregados

incumbentes e entrantes em resposta ao contexto do mercado de trabalho são evitadas: legislação trabalhista, reputação da firma de tratamento justo

A evidência apoia as ideias defendidas pelos modelos de "salário justo", particularmente para a mão de obra mais qualificada

Os funcionários preocupam-se como seus salários se comparam com os salários dos demais funcionários da firma com igual qualificação

O esforço dos funcionários é afetado negativamente pelo tratamento desigual no processo de reajuste salarial de trabalhadores de diferentes qualificações

Atribuiu-se importância à manutenção de salários reais como forma de minimizar custos de rotatividade, particularmente para a mão de obra mais qualificada

Considerações Finais

As firmas aparentam não concordar com a importância das ideias defendidas pelo modelo insider-outsider

Modelos de seleção adversa: evidência não é conclusiva ◦ A ausência de reajustes salariais pode levar os

trabalhadores mais produtivos a solicitarem seu desligamento, mas...

◦ O nível de salário desejado por um trabalhador em potencial não reflete a qualidade de sua mão de obra

Modelos de monitoramento: evidência não é conclusiva ◦ Maior desemprego ou elevação no seguro desemprego

não influenciam os salários de maneira determinante

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