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Rima menor

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Equipe Técnica

Coordenação Geral Ivan Dornelas, MSc.

Engº. Cartógrafo

Coordenação TécnicaMaria do Carmo Martins Sobral, Drª

Engª Civil

Apoio a Coordenação TécnicaRita de Cássia Barreto Figueiredo

Engª Química

Gustavo Lira de Melo

Biólogo

Alessandra Maciel de Lima Barros

Engª Civil

Análise do ProjetoAna Paula Batista Lemos Ferreira

Engª. Civil

Supervisão Geral E. AmbientaisWbaneide Martins de Andrade, MSc.

Bióloga/Botânica

Supervisão Meio FísicoSimone Karine Silva da Paixão

Engª Civil

Supervisão Meio BióticoMaristela Casé Costa Cunha, Drª

Bióloga

Supervisão do Meio SocioeconômicoLúcia de Fátima Soares Escorel

Arquiteta e Urbanista

Análise JurídicaTalden Queiroz Farias, MSc.

Advogado

Meio FísicoAna Mônica Correia, MSc.

Geógrafa

Adauto Gomes Barbosa

Geógrafo

Antônio Vicente Ferreira Júnior

Geógrafo

Bruno Ferreira

Geógrafo

Doris Regina Alves Veleda

Meteorologista

Fabíola de Souza Gomes

Engª Civil

Glauber Matias de Souza

Geólogo

Márcia Cristina de Souza Matos Carneiro

Engª Cartógrafa

Maria das Neves Gregório

Geógrafa

Maria das Vitórias do Nascimento, Msc

Engª Civil

Romilson Ferreira da Silva

Meteorologista

Simone Karine Silva da Paixão, Especª.

Engª Civil

Wanderson Dos Santos Sousa

Meteorologista

Weronica Meira de Souza

Meteorologista

Meio BióticoAlfredo Matos Moura Júnior, Dr.

Biólogo/Botânico

Cristiane Maria V. A. de Castro, Drª.

Bióloga/Oceanógrafa

Geraldo Jorge Barbosa de Moura, Dr.

Biólogo/Zoólogo

Hélida Karla Philippini da Silva

Química

Karine Matos Magalhães, Drª.

Bióloga/ Botânica

Marcondes Albuquerque de Oliveira, Drº

Biólogo

Maristela Casé Costa Cunha, Drª

Bióloga/Oceanógrafa

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Mauro Melo Júnior

Biólogo

Paula Braga Gomes

Bióloga

Paulo Guilherme Vasconcelos de Oliveira

Engº de Pesca

Petrônio Alves Coelho Filho

Biólogo

Meio SócioeconômicoBeatriz Mesquita Jardim Pedrosa

Engª de Pesca

Carlos Celestino Rios e Souza

Arqueólogo

George F. C. de Souza

Historiador

José Geraldo Pimentel Neto

Geógrafo

Lúcia de Fátima Soares Escorel

Arquiteta e Urbanista

Lúcia Maria Goés Moutinho

Economista

Luís Henrique Romani Campos

Economista

Marcos Antônio G. Matos de Albuquerque

Arqueólogo

Maria Eleônora da Gama Guerra Curado

Arqueóloga

Osmil Torres Galindo Filho

Economista

Paulo Alves Silva Filho, Msc.

Geógrafo

Veleda Christina Lucena de Albuquerque

Arqueóloga

GeoinformaçãoDaniel Quintino Silva

Tecnólogo em Geoprocessamento

Diego Quintino Silva

Tecnólogo em Geoprocessamento

CartografiaAna Carolina Schuler, MSc.

Engª. Cartógrafa

Ana Mônica Correia, MSc

Geógrafa

Aramis Leite de Lima, MsC.

Engº. Cartógrafo

Daniel Quintino Silva

Tecnólogo em Geoprocessamento

Diego Quintino Silva

Tecnólogo em Geoprocessamento

Felipe José Alves de Albuquerque

Geógrafo

Flávio Porfírio Alves, MsC.

Engº. Cartógrafo

Apoio TécnicoAnthony Epifânio Alves

Biólogo/Macroinvertebrados bentônicos

Cacilda Michele Cardoso Rocha

Biólogo/Avifauna

Elizardo Batista F. Lisboa

Biólogo/Herpetologia

Ericarlos Neiva Lima

Engº. de Pesca/Ictiologia

Jana Ribeiro de Santana

Engª. de Pesca/Ictiologia

Josinaldo Alves da Silva

Biólogo/Botânica

Milena Duarte de Oliveira Souza

Arqueóloga

Tatiana de Oliveira Calado

Bióloga

Apoio AdministrativoEva Luzia Nesso

Analista de Sistemas

Marlúcia Alves Rodrigues

Pedagoga

Solange C. da Costa e Silva

Advogada

Viviane Cabral Gomes

Administradora

Simone Rosa de Oliveira, MSc.

Bibliotecária

Mobilização e Articulação SocialCândida Maria Jucá Gonçalves

Assistente Social

Page 6: Rima menor

6

ESTADO DE PERNAMBUCOGovernador

Eduardo Henrique Accioly Campos

Vice-GovernadorJoão Soares Lyra Neto

Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASSérgio Xavier

Secretário Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASHélvio Polito Lopes Filho

Superintendência Técnica de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASLeslie Tavares

Gerente Geral de Planejamento e Gestão de Meio Ambiente e Sustentabilidade – SEMASBenedito Parente

Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP-OS)

Diretor PresidenteFrederico Cavalcanti Montenegro

Diretor TécnicoIvan Dornelas Falcone de Melo

Diretora Administrativa FinanceiraFabiana Albuquerque de Freitas

Superintendente de Inovação TecnológicaMárcia Maria Pereira Lira

Coordenador da UGP BarragensIvan Dornelas Falcone de Melo

Page 7: Rima menor

7

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Apresentação

“Uma das experiências mais recifenses que o adventício pode ter no

Recife: um mar de água morna, um sol que em pouco tempo amorena

o corpo do europeu ou do brasileiro do Sul”

Gilberto Freyre,

Guia prático, histórico e sentimental da Cidade do Recife

O Recife e a sua Região Metropolitana nasceram a partir do mar.

A cidade costeira e mercantil é também portuária e turística. A sua

urbanização é forte na região costeira, a ocupação é disputada, densa,

vertical. O metro quadrado próximo à praia tem valorização constan-

te. A infraestrutura pública da orla é boa. As praias do Grande Recife

representam a mais democrática opção de lazer do pernambucano e

também o mais atraente cartão postal do Estado.

Essa história, semelhante à de outras capitais no litoral brasileiro, pos-

sui problemas específicos. A erosão costeira está entre os problemas

mais persistentes. Contra seus efeitos, algumas alternativas foram co-

locadas em prática, como os muros de proteção, diques, quebra-mares,

espigões, molhes e outras construções com a finalidade de manter o

recorte do litoral. A erosão continua e ignora a ação do homem.

Os estudos ambientais presentes neste relatório representam uma

resposta do Governo de Pernambuco, manifestada pela Secretaria de

Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), ao contratar a Associação

Instituto de Tecnologia de Pernambuco – ITEP/OS. A missão dada foi a

de acompanhar e coordenar os estudos ambientais do Projeto de Recu-

peração da Orla Marítima dos Municípios de Jaboatão dos Guararapes,

do Recife, de Olinda e do Paulista.

É um projeto estruturador, uma iniciativa do Governo do Estado. Faz

parte da política pública de controle dos efeitos causados pelas mu-

danças climáticas. Recuperar a praia e sua areia tem repercussão

direta no desenvolvimento socioeconômico e ambiental de importantes

Page 9: Rima menor

municípios litorâneos. Representa a criação de novas oportunidades

em um espaço democrático e público.

O presente Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apresenta uma

síntese dos estudos desenvolvidos para obtenção de licenciamento

junto à Agência Ambiental de Pernambuco (CPRH). O RIMA relaciona

os principais resultados dos estudos realizados para os meios físico,

para os seres vivos e o ambiente socioeconômico, no que se refere

ao diagnóstico ambiental atual, os prováveis impactos e as formas de

mitigação e controle que poderão ser implantadas. O relatório contém

dados sobre o empreendimento e sobre os responsáveis envolvidos no

projeto de recuperação da orla e nos estudos ambientais.

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159 INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO Relatório de impacto ambiental-RIMA:

Recuperação da Orla Marítima – Municípios

de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e

Paulista (Pernambuco)/ Instituto de Tecnologia

de Pernambuco. –Recife, 2012.

98p.: il.

ISBN:

Page 11: Rima menor

Sumário

POR QUE ESSA OBRA? 14

A ÁREA DO EMPREENDIMENTO 18

QUAL A ÁREA DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO? 42

COMO É O MEIO FÍSICO NA ÁREA DO EMPREENDIMENTO? 46

COMO SE APRESENTA O MEIO BIÓTICO NA ÁREA

DOEMPREENDIMENTO? 76

QUAIS OS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DA ÁREA DO

EMPREENDIMENTO? 100

QUAIS SÃO OS IMPACTOS DO EMPREENDIMENTO? 110

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Page 13: Rima menor

EMPREENDEDOR

Secretaria de Meio Ambiente

e Sustentabilidade – SEMAS

Responsável: Sérgio Luís de Carvalho Xavier

CNPJ: 13.471.612/000-04

Avenida Marquês de Olinda, 222

Bairro do Recife, Recife - PE, CEP - 50030– 000

Telefone: (081) 31835506 / 31835513

http://www2.semas.pe.gov.br/web/sectma

O RESPONSÁVEL PELOS ESTUDOS AMBIENTAIS

Associação Instituto de Tecnologia

de Pernambuco – ITEP OS

Responsável: Frederico Cavalcanti Montenegro

CNPJ : 05.774.391/0001-15

Av. Professor Luiz Freire, 700

Cidade Universitária – Recife/PE

Telefone: (81) 3183-4399

http://www.itep.br

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14

Pernambuco vive um momento de grande crescimento econômico. O

desenvolvimento é maior na região costeira, com a valorização urbana e

atração de novos empreendimentos residenciais turísticos, concentração

de empresariais, projetos comerciais e industriais. O litoral possui a maior

densidade demográfica do Estado, uma das maiores do Nordeste. A pre-

sença humana gera problemas ambientais e desequilíbrio.

A erosão costeira é uma reação da natureza à urbanização. Os processos

erosivos são evidentes ao longo da costa e variam apenas na intensidade.

Pedras com função de quebra-mar, diques, espigões, muros de proteção

e outras tentativas para conter a erosão foram construídas em busca da

solução de um problema local. Essas ações passaram a induzir a erosão

em áreas próximas e o problema atingiu regiões vizinhas.

O litoral de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista

foi atingida pela erosão marinha ou mesmo em consequência das estrutu-

ras de contenção instaladas. A erosão destruiu parte do potencial da orla

para o turismo e o lazer. Os dois setores representam a base de empre-

gos, geração de renda e riqueza de parte da população do Estado: afeta o

vendedor de picolé e a indústria alimentícia, o movimento do quiosque na

beira-mar e a ocupação do hotel de luxo, atinge o orçamento do motorista

de táxi e da agência de turismo.

A irregular faixa de areia das praias desses quatro municípios evidencia

a necessidade da implantação de projetos de engenharia, integrados de

forma regional. A partir de uma solução técnica que permita corrigir os

impactos ambientais, que atenda à legislação e às exigências dos órgãos

ambientais e que leve em consideração as fragilidades ambientais de cada

um dos setores, além das características de cada um dos municípios.

Com esse panorama, as prefeituras decretaram situação de emergência

Por que essa obra?1

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15

Localização da área de estudo. Municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista. Região Metropolitana de Recife (RMR).

Fonte: Coastal Planning & Engineering do Brasil

em algumas áreas da orla. Essa decisão levou o governo de Pernambuco a realizar medidas para

reduzir esses impactos, com uma visão mais ampla do litoral e dos municípios envolvidos.

Esse projeto está limitado ao sul pela foz do rio Jaboatão e ao norte pela foz do rio Timbó, compre-

endendo os municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista. São os

trechos definidos como Pontos Críticos de Erosão (MAI, 2009). A recuperação da orla marítima e

recomposição da areia das praias vão criar melhores condições para o desenvolvimento socioeco-

nômico e ambiental. Representam novas oportunidades, melhores condições e praias com quali-

dade.

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16

Características dos municípios – situação atual das praias

EXTENSÃO DE ORLA PRAIAS FORMAÇÃO DE PRAIAS TIPOS DE OBRAS

JABOATÃO DOS GUARARAPES

7.961 m Piedade, Candeias, 58,9% Sedimentos Enrocamentos, Espigões,

Barra de Jangada 41,1% Obras Rígidas Muros

RECIFE

13.444 m Boa Viagem, Pina 44,6% Sedimentos Arrecifes

Brasília Teimosa 55,4% Obras Rígidas Enrocamentos

OLINDA

12.261 m Praia dos Milagres 34,4% Sedimentos Enrocamentos

Praia do Carmo 65,6% Obras Rígidas Espigões

São Francisco, Farol Muros

Bairro Novo , Casa Caiada

Rio Doce

PAULISTA

14.468 m Praia de Enseadinha 66,5% Sedimentos Enrocamentos

Janga, Pau Amarelo 33,5% Obras Rígidas Espigões

Nossa Senhora do Ó Muros

Conceição, Maria Farinha

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17

Page 18: Rima menor

18

2

A urbanização da zona costeira pernambucana com diferentes objetivos

e componentes culturais começa com a criação das primeiras vilas e

cidades. As primeiras ocupações eram de grupos com interesse na pesca

– praias e bordas das lagunas (AB’SABER, 1990).

É esse o contexto do espaço urbano no litoral em Jaboatão dos Guarara-

pes, no Recife, em Olinda e no Paulista resultante de relações sociais que

se manifestam desde o período colonial, reflexo na urbanização presente

nas cidades brasileiras.

A pesquisa de Carneiro (2003) constatou que, em um período de trinta

anos, considerando a série dos censos demográficos de 1970 até 2000, o

aumento da população é multiplicado por seis. Esse dado, até mesmo de

forma isolada, comprova o impacto ambiental.

A pesquisa de Carneiro (2003) comprova os momentos de transformação

estrutural na orla olindense. Foram mudanças sociais, políticas e econômi-

cas, que refletiram no adensamento urbano desse espaço do litoral.

Em outro estudo realizado em maio de 2003, Araújo et al. (2004) registra

uma caminhada nas praias do litoral pernambucano, nas duas horas antes

e nas duas horas depois da maré baixa. O estudo fez a identificação do

ponto, com demarcação georreferenciada (GPS GARMIM) relacionada à

ocupação urbana. A pesquisa também observa a presença, ou não, de

edificações próximas à praia.

A metodologia foi objetiva. Adotou trechos de praia e classificou em três

graus de ocupação: ausência de ocupação da pós-praia; ocupação da

pós-praia; e ocupação concomitante da pós-praia e da praia (estirâncio).

A área do empreendimento

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19

Setores Extensão (km) % do litoral Ausência de ocupação Ocupação na pós-praia (%) Ocupação associada da

na pós-praia (%) pós-praia e da praia (%)

Norte 58 31 79.1 5.6 5.3

Metropolitano 42 22.5 49.0 4.0 47

Sul 87 46.5 78.7 9.7 11.6

Total 187 100 72.1 7.13 20.63

O resultado do estudo de Araújo et al. (2004) demonstrou que o setor metropolitano é o mais for-

temente ocupado, seguido pelos setores Norte e Sul pernambucanos respectivamente, conforme a

tabela abaixo.

Setores do litoral pernambucano X extensão (km) e percentual do litoral X percentual de ocupação por edificações e/ou obras de contenção

Compartimentação geomorfológica do ambiente praial

Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)

Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)

O setor metropolitano, de acordo com a pesquisa de Araújo et al. (2004), representa 22,5% do li-

toral pernambucano. Associado a esse indicador, metade do ambiente praial encontra-se ocupado.

Essa ocupação ganhou nova dinâmica na década de 1970. As casas de veraneio se transformaram

em residências. Em seguida, começa a substituição das casas por edifícios residenciais e hotéis.

Cinquenta por cento das praias da região metropolitana apresentam áreas construídas que se es-

tendem até o estirâncio. O elevado percentual de ocupação da praia, principalmente por

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maior impacto é facilmente verificado nessas

praias. São as obras de engenharia que alteram

ou retêm a deriva de sedimentos arenosos,

fundamentais para a alimentação da areia das

praias.

A urbanização no litoral dos quatro municípios

ocorreu sobre as dunas frontais, de forma de-

sordenada. A inadequação provoca e intensifi-

ca a erosão costeira. Em seguida, a construção

de estruturas para mitigar os efeitos da erosão

agrava o problema. As obras de contenção

têm sido construídas com o intuito de proteger

propriedades ameaçadas. Essas estruturas (em

especial os enrocamentos e muros de conten-

ção) são levantadas em frente da escarpa das

dunas e se têm mostrado economicamente

inviáveis. Proprietários ou mesmo o poder

público gastaram recursos a tentar solucionar

os problemas da erosão costeira que afetam as

obras construídas em locais indevidos. A cons-

trução dessas obras na pós-praia e na praia

altera a dinâmica sedimentar, compromete a

estética do local, interfere na visão cênica e no

seu valor econômico.

Essa zona costeira precisa de ações corretivas

e preventivas (como o estabelecimento de

limites para construção) para promover uma

ocupação mais adequada da orla. A ordenação

desse espaço é uma prioridade e um desafio.

residências ou obras de contenção, ocorre

porque o setor possui as maiores aglomerações

urbanas do estado, em especial o Recife, Jabo-

atão dos Guararapes e Olinda. Os trechos mais

críticos corresponderam às praias em Jaboatão

e em Olinda. Elas possuem diversas obras de

contenção, como exemplo, os 38 diques com

intervalos de 50m de Olinda e, em Jaboatão

dos Guararapes, enrocamentos e outras cate-

gorias de intervenção.

Olinda apresentou a pior situação em termos

de ocupação do ambiente na praia. O litoral

é praticamente todo ocupado por grandes

obras públicas de contenção. As poucas praias

existentes ocorreram com a engorda de praia

artificial (PEREIRA et al., 2003).

A ocupação observada próxima ao litoral em

Jaboatão dos Guararapes, no Recife, em Olinda

e no Paulista é semelhante a de outras cidades

no mundo. A urbanização não deixou espaço

para a praia, gerando prejuízos de toda ordem.

O principal são as construções que impedem o

suprimento de areia.

A infraestrutura urbana representada por ruas,

calçadas, residências em área sob a ação do

mar são as intervenções mais comuns. Confor-

me estudos como o de Carneiro (2003), Araújo

et al. (2004), Manso (2004) e MAI (2009), o

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21

Histórico da ocupação da costa de Olinda: primeiras décadas do século XX e depois de 1960 e 2010

Fonte: SEMAS, 2011.

Histórico da ocupação da costa em Jaboatão dos Guararapes

Fonte: SEMAS, 2011.

Page 22: Rima menor

22

Histórico da ocupação da costa do Paulista e variação da linha de costa da praia do Janga.

Fonte: Patrícia de Oliveira, Hewerton da Silva, Neiva de Santana, Elisabeth Silva, Valdir Manso.

Histórico das obras e intervenção de contenção do avanço do mar Os primeiros registros de erosão costeira no

estado de Pernambuco são de 1914 (COUTI-

NHO, 1997). Eles tratam dos danos causados

pelo molhe localizado no istmo de Olinda. O

molhe em construção, na primeira década do

século XX, fazia parte das obras de ampliação

do Porto de Recife. As figuras abaixo mostram

o avanço do mar na praia dos Milagres. A praia

perdeu 80 metros no período 1914 a 1950.

Desde esta época, os problemas de erosão vêm

sendo registrados em vários trechos do litoral,

em especial em áreas urbanas onde foram

implantadas obras costeiras de proteção (COU-

TINHO, 1997).

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23

Fotografia da praia dos Milagres, em 1950, onde ocorreu um avanço de 80 metros da linha de costa

Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950

Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950

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24

Fonte: Coutinho (1997)

Fonte: Coutinho (1997)

Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e praia dos Milagres (1960)

Page 25: Rima menor

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Nos últimos vinte anos, diversas foram as obras

de contenção construídas nas praias dos qua-

tro municípios. Em Jaboatão dos Guararapes,

instalaram-se estruturas do tipo guia corrente,

espigões, enrocamentos aderentes e muros,

desde a margem esquerda do rio Jaboatão até

as praias de Piedade e Candeias. Nas figuras

a seguir, é mostrada as modificações morfo-

lógicas provocadas por essas intervenções na

foz do rio Jaboatão, inclusive com significativa

redução de área na extremidade do pontal

do Paiva (Ilha do Amor, ao longo da margem

direita do rio). Os efeitos da erosão também

são visíveis com as perdas de área de praia em

Candeias e Piedade (MAI, 2009).

Foz do rio Jaboatão em 1989 (a) e (b) detalhe da área com obras costeiras do tipo molhes e espigões ao longo da margem esquerda do rio em 2004

Fonte: a - Laborel (1963); b - Google Earth e fotografias CPRH (2006)

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26

Trecho das praias de Candeias e Piedade em 1963 (a) e em 2004 (b)

Fotografia aérea de 1974 da praia de Boa viagem, com o ambiente praial preservado e a presença de dunas frontais e vegetação

No Recife, foram colocados pedras-rachão

e sacos de areia em resposta a erosão que

destruiu parte do calçadão a praia de Boa Via-

gem, em 1994. No ano seguinte, novo estudo

concluiu que a obra mais adequada à proteção

do calçadão seria o revestimento de blocos

Fonte: MAI (2009)

naturais, presentes até hoje. Na figura a seguir,

vê-se a fotografia aérea de 1974, que retrata o

litoral da Praia de Boa Viagem, com a presen-

ça de dunas frontais preservadas e vegetação

(MAI, 2009).

Page 27: Rima menor

27

A seguir, percebe-se a alteração que essa região sofreu com o processo de urbanização nos últi-

mos 36 anos. As fotografias em detalhe (a e b) mostram a descaracterização da praia em um

Fonte: a - Fidem; b - Google Earth; fotografias de Tereza Araújo, 2004

Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e praia dos Milagres (1960)

As primeiras obras de contenção do mar em

Olinda ocorreram em 1950. As modificações

para a ampliação do Porto do Recife (1909-

1917) e da Base Naval do Recife são aponta-

das como uma das causas da erosão.

Ela provocou diversos danos às construções si-

tuadas entre as praias dos Milagres e do Farol.

Uma mudança notável foi a realocação do farol

de Olinda, que funcionava à beira-mar.

Fotografia de sobrevoo mostra a praia do Farol, Olinda

Nota: No detalhe, antiga posição do farol de Olinda, 1940. A seta em amarelo mostra a posição atual do farol, construído no alto do morro do Serapião.

Fonte: CPRH; fotografia de Alexandre Berzin, acervo da Fundação Joaquim Nabuco

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28

A ampliação do Porto do Recife e, em seguida,

a construção das obras de contenção em Olin-

da interferiram no balanço sedimentar costeiro

nessa orla, provocando a erosão costeira em

Paulista. Como forma de contenção da erosão,

criou-se um sistema de quebra-mares asso-

ciados a espigões, que posteriormente tiveram

de ser ampliados. Na figura abaixo, de 1974,

podem-se perceber recifes naturais submer-

sos, que serviram de suporte para o sistema

de quebra-mares. As modificações podem ser

visualizadas na figura a seguir. Há formação de

saliências e reentrâncias na zona de sombra

dos quebra-mares (MAI, 2009).

Fotografia da zona costeira do município de Paulista em 1974 (a) e em 2004 (b) depois da implantação do sistema de quebra-mares

Page 29: Rima menor

29

Em resposta à erosão, as prefeituras dos mu-

nicípios decidiram por fixar a linha de costa.

Obras de contenção foram executadas ao longo

do litoral, em geral de forma pontual e sem

maior conhecimento da dinâmica costeira. A

praia foi profundamente modificada e a beleza

cênica desvalorizada.

Essas intervenções representaram altos custos

sem resultados satisfatórios. A erosão era trans-

ferida para praias ao lado.

Recuperação da orla marítima e seus resultados na contenção dos processos erosivos Em todo mundo, as zonas costeiras convivem

com problemas. Os mais comuns estão ligados

ao recuo (erosão) ou avanço da linha de costa.

Normalmente, relacionados com a retirada ou

deposição de sedimentos. Os problemas estão

mais associados à erosão, pelo risco de danos

materiais. A erosão é de difícil controle.

De acordo com o estudo do MAI (2009),

podem ser citadas entre as causas de erosão

costeira: (a) ação dos agentes naturais que

atuam ao longo da costa e (b) ações do homem

ligadas à implantação de estruturas artificiais,

seja para criar áreas (equipamentos de lazer e

turismo, portos entre outras), seja para a tenta-

tiva de correção de problemas.

Como exemplos dos problemas causados pela

interferência de estruturas artificiais, podem ser

citados:

• Alteração do transporte litorâneo – inter-

rupção ou modificação da movimentação

de sedimentos ao longo da costa, sob

a ação das ondas e correntes. Como a

construção de um espigão perpendicular à

praia e molhes de proteção portuária, entre

outras.

• Alterações nos padrões das correntes

litorâneas. Por exemplo, a construção de

obras na pós-praia, na zona de arrebenta-

ção, causando alteração das correntes.

• Remoção de sedimentos por dragagem.

• Lançamento do produto de dragagem de

canais e de portos.

• Modificação das características das on-

das por efeito de refração e/ou difração

em estruturas. Interrupção do aporte de

sedimentos por obras nos rios (barragens,

fixação de margens e leito). (MAI, 2009, v.

2, p. 127).

Page 30: Rima menor

30

Podemos citar como exemplos de alterações da

linha de costa por meio de causas naturais:

• Alterações climáticas (efeito estufa, natu-

rais), gerando modificações no regime de

ventos, como agente diretamente transpor-

tador de sedimentos (transporte eólico) ou

indiretamente, como gerador de ondas e

responsável, juntamente com as correntes

e ondas, pela dinâmica dos sedimentos.

• Ondas e correntes, como principais agen-

tes de transporte na zona imersa.

• Variação do nível de água, marés astronô-

micas, ressacas (marés de tempestades),

alterações do nível médio do mar.

• Alterações naturais no aporte sedimentar

dos rios.

• Chuvas intensas. (MAI, 2009, v. 2, p.

127).

As ondas geradas por ventos são as principais

agentes de alteração da linha de costa, aliadas

às variações do nível de água (maré, ressacas),

combinados com a falta ou o excesso de aporte

de sedimentos.

A implantação de obras de proteção costeiras

depende do tipo, do tamanho e da localização

das necessidades; da eficiência do método

utilizado; dos efeitos sobre as praias adjacentes

e do impacto econômico resultante da obra

costeira.

Busca-se eleger o tipo de proteção a ser

definido, como muro de proteção, espigão e

alimentação artificial, procurando suprir as

necessidades de acordo com a disponibilidade

econômica local. Aliado a essa premissa, é

necessária a realização de estudos ambientais,

como o monitoramento dos diferentes parâme-

tros envolvidos no fenômeno, como a dinâmica

das ondas, dos ventos, dos níveis de água, as

alterações na movimentação e no abasteci-

mento dos sedimentos, e as variações do perfil

topobatimétrico de praia, como condicionan-

tes para um adequado manejo costeiro (MAI,

2009).

Page 31: Rima menor

31

Principais métodos usados na proteção costeiraOs principais métodos utilizados na prote-

ção costeira buscam, no primeiro momento,

prevenir ou eliminar os efeitos. É denominado

método direto. O outro método procura a cor-

reção do problema por meio de eliminação das

causas (MAI, 2009).

De acordo com MAI (2009), são exemplos de

medidas indiretas:

• Retomada dos aportes sólidos retidos em

barragens, ao sistema costeiro.

• Correção do transporte litorâneo por meio

de modificações definidas, adequadamen-

te, através de um estudo de monitora-

mento – no projeto de espigões, molhes,

quebra-mares, muros novos ou existentes,

entre outros (MAI, 2009, v. 2, p 128)

Vale acrescentar os exemplos de medidas

diretas:

Alimentação artificial – utilizada na reposição

de material de áreas erodidas. Este método pa-

rece, à primeira vista, economicamente dispen-

dioso, além da necessidade de monitoramento

e manutenção. Seu uso, no entanto, pode ser

vantajoso, por manter o aspecto de praia natu-

ral, agradável ao lazer e à contemplação.

• Grupos de espigões – reduzem o transpor-

te longitudinal e, consequentemente, o

recuo da linha de costa. Algumas vezes,

podem forçar a deposição de sedimentos e

a reconstituição da área erodida. Podem,

entretanto, estar na origem (devido à redu-

ção do transporte sedimentar) da erosão de

praias a sotamar. Exigem monitoramento e

manutenção periódicos.

• Quebra-mar destacado – construído em pa-

ralelo à certa distância da linha de costa.

Protege a praia, alterando a capacidade

de transporte litorâneo, pela interceptação

das ondas, total ou parcialmente (quebra-

mares com interrupções ou submersos).

Podem originar a formação de tômbolos

(acréscimos na faixa de areia). Algumas

dessas estruturas têm efeitos a sotamar,

comparáveis aos dos espigões. Podem ser

isolados ou em grupos. Exigem monitora-

mento e manutenção periódicos.

• Quebra-mar em T – quebra-mar ligado

à praia através de espigão. Tem efeito

comparável ao anterior, com maior impacto

sobre o transporte longitudinal de sedi-

mentos, devido à existência do espigão.

Podem ser isolados ou em grupos. Exigem

monitoramento e manutenção periódicos.

Page 32: Rima menor

32

• Muros longitudinais – podem ser verticais

ou com perfil adaptado (construídos em

concreto, gabiões, entre outros), cons-

truídos próximos à linha de costa, com

a finalidade de fixá-la. Neste método, a

erosão no perfil de praia se restringe à

erosão do fundo imediatamente à frente do

muro, podendo ainda causar problemas de

instabilidade da estrutura, redução da pós-

praia e, finalmente, acarretar seu completo

desaparecimento. São mais agressivos ao

perfil praial, devido a um maior poder de

reflexão. Exigem monitoramento e manu-

tenção periódicos.

• Enrocamento aderente – tem finalidade e

efeito semelhante ao muro, com a vanta-

gem de apresentar menor coeficiente de

reflexão, reduzindo o efeito da erosão do

fundo. Exigem monitoramento e manuten-

ção periódicos. (MAI, 2009, v. 2, p. 129).

No entanto, toda intervenção de proteção cos-

teira, seja estrutural ou não, demanda cons-

tante monitoramento e manutenção, de acordo

com o tipo. O monitoramento permite detectar

as alterações ocorridas durante a vida útil

das intervenções e orienta com relação à boa

manutenção. A descrição e avaliação das obras

costeiras no Jaboatão dos Guararapes, no Reci-

fe, em Olinda e em Paulista estão relatadas no

diagnóstico do meio físico, Seção 8.8.

Page 33: Rima menor

33

Resultados das obras costeiras na contenção dos processos erosivosDois fatores são condicionantes na análise da

eficiência das intervenções em um dado trecho

de praia. São eles: (i) o tipo de obra adotado e

(ii) a qualidade dos dados hidrossedimentológi-

cos existentes.

As praias em Jaboatão dos Guararapes, do

Recife, de Olinda e do Paulista possuem uma

dinâmica diferenciada, que depende dos

fatores físicos costeiros locais. Até então, esses

agentes ambientais e a localização das obras

favoreceram a erosão costeira, que se agrava

com a ocupação inadequada da orla, como

ilustra a Figura 3.2-9 (MAI, 2009, v. 2).

Com o plano de reduzir os problemas, foram

implantadas diferentes tipos de obras nas

praias dos quatro municípios para proteção de

propriedades privadas e infraestrutura públi-

ca. Muitas dessas estruturas se apresentam

ineficientes quanto à proteção pretendida.

(MAI,2009,v2).

As obras do tipo enrocamento aderente, pre-

sente no litoral dos quatro municípios, foram

construídas como soluções emergenciais.

Elas têm por objetivo a proteção do terreno (e

não da praia) aos danos produzidos pela ação

das ondas, particularmente sob condições das

ondas de tempestade.

Estrutura 004 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes, ocupando totalmente a faixa de praia

Fonte: MAI (2009, v. 2, p. 134)

Page 34: Rima menor

34

Essa intervenção é efetiva na proteção do

terreno contra a erosão, na proteção da parte

mais elevada da praia. No entanto, as estru-

turas que não protegem a orla dos efeitos das

inundações, nem da erosão dos sedimentos da

porção mais baixa do perfil praial, nem contra a

redução da intensidade das tempestades. Essa

intervenção pode contribuir para o rebaixamen-

to dos depósitos de areia do perfil praial, com

alteração significativa da paisagem.

Outra técnica presente no litoral em análise

são os espigões. Esse tipo de obra é construída

para ampliar na zona a barlamar a largura da

pós-praia ou para reduzir as taxas de deriva

litorânea. “A implantação dessas estruturas,

dependendo do seu número e tamanho, pode

causar significativa retenção de sedimentos

e, consequentemente, um déficit no balanço

de areia, com redução no suprimento para as

praias a jusante.” (MAI, 2009, v. 2, p. 144).

Os quebra-mares são usados principalmen-

te para reduzir a intensidade de energia das

ondas durante os ventos de tempestade. Esse

tipo de estrutura possibilita o desenvolvimento

de uma ampla e estável praia na sua área de

sombra. Os efeitos adversos estão relaciona-

dos com a redução da deriva litorânea para as

praias que se encontram à jusante do quebra-

mar.

Outro efeito hidrodinâmico do quebra-mar é o

desenvolvimento de tômbolos de areia, peque-

nas barras de areia que resultam na deforma-

ção da linha de costa. Se essas estruturas fo-

rem construídas próximas da praia ou se forem

muito extensas em relação ao comprimento das

ondas incidentes, ou ainda muito impermeá-

veis, podem desenvolver uma saliência, que

passa a funcionar como um espigão, a barrar a

deriva litorânea e causando efeitos erosivos nas

praias à jusante. Nessas condições, a deriva

litorânea é forçada a se desenvolver no lado

externo do quebra-mar, desviando a deriva

litorânea do sistema praial (MAI, 2009, v. 2).

Segundo estudos desenvolvidos pelo MAI

(2009), as obras costeiras, ao longo da orla dos

municípios de Jaboatão dos Guararapes, do

Recife, de Olinda e do Paulista, somam uma

extensão de 20.090m de estruturas cons-

truídas, das quais 4.390m encontram-se em

Jaboatão dos Guararapes; 3.440m no Recife;

7.610m em Olinda e 4.650m no Paulista.

Em Jaboatão dos Guararapes, de acordo com

MAI (2009), as estruturas são as seguintes:

• 3.260m de enrocamentos e muros (74%);

• 30m de espigões e molhes (12%);

• 600m de quebra-mar (14%).

Com esta distribuição de estruturas, pode-se

concluir que nas praias de Jaboatão predomi-

nam obras de proteção do terreno, do tipo en-

rocamentos aderentes e muros. O objetivo é a

proteção do terreno, com a fixação da “linha de

costa”, em detrimento da faixa de praia, com o

consequente impacto à paisagem e à vocação

turística local.

Page 35: Rima menor

35

No Recife, a principal estrutura costeira é um

enrocamento com 2.100m de comprimento

na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na

praia de Brasília Teimosa conforme estudo do

MAI (2009). A obra protege o terreno e não a

praia.

Na praias de Olinda, predominam obras de

proteção do terreno na forma de enrocamen-

tos, espigões e quebra-mares que causam boa

proteção da linha de costa. Entretanto, essas

estruturas causam significativa modificação nas

taxas de deriva litorânea, com efeitos negativos

à jusante, aliados ao impacto na vocação turís-

tica. As estruturas têm a seguinte distribuição:

• 1.700m de enrocamentos e muros (22%);

• 250m de espigões e molhes (3%);

• 5.660m de quebra-mares (75%).

Nas praias do Paulista, os enrocamentos,

espigões e quebra-mares protegem os terrenos.

Contudo, os quebra-mares, embora construídos

com altura elevada, causam proteção parcial da

linha de costa. Esse tipo de intervenção, aliado

ao engordamento da praia, com sedimentos de

composição e tamanhos inadequados, pode es-

tar relacionado com os focos de erosão instala-

dos em alguns trechos. As estruturas presentes

na orla de Paulista têm a seguinte distribuição:

• 1.850m de enrocamentos e muros (40%);

• 80m de espigões e molhes (6%);

• 2.520m de quebra-mares (54%).

Page 36: Rima menor

36

Histórico da evolução da linha de praia: processo natural x interferência antrópicaOs registros comprovam que a alteração da po-

sição da linha de praia no litoral pernambucano

é antigo, em especial na costa de Olinda, que,

entre 1915 e 1950, experimentou um signifi-

cativo recuo de aproximadamente 80 metros, o

que resultou em um intenso processo erosivo,

que se instalou, principalmente nas praias dos

Milagres, do Carmo e de São Francisco.

A zona costeira pernambucana apresenta altu-

ras médias de maré de sizígia de 2,07 metros,

de acordo com a Diretoria de Hidrografia e Na-

vegação (DHN). A zona de espraiamento (zona

situada entre o limite superior da preamar e o

limite inferior da baixa-mar) pode atingir até 60

metros de largura na praia.

O estudo histórico evolutivo da linha de praia

dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,

do Recife, de Olinda e do Paulista foi feito pelo

MAI (2009). Esse estudo mediu por meio de

coordenadas, de precisão geodésica, de pontos

a linha de praia dos municípios. A linha de cos-

ta é uma feição extremamente dinâmica (BIRD,

1996) e, para sua medição, é necessário iden-

tificar no ambiente praial as feições que melhor

a representem. A linha de costa, neste estudo,

foi definida como a feição no plano horizontal,

limite entre a área seca do continente, ou de

uma ilha, e a parte onde há efetiva ação das

águas. Considera-se que o local está fora do

alcance das águas, incluindo as maiores marés

de sizígia (MENDONÇA, 2005).

Mapa ilustrando a posição da Linha de Costa em 1915 e 1950 (praia dos Milagres – Olinda/PE)

Fonte: BRASIL (1985)

Page 37: Rima menor

37

No estudo do MAI (2009), foram utilizados dois

receptores GPS, sempre utilizados no modo

relativo, com um permanecendo fixo em um

ponto enquanto o outro era conduzido no modo

cinemático sobre a feição que identificava a

linha de costa. Os dados coletados pelos recep-

tores durante os deslocamentos e os obtidos na

estação base foram pós-processados no softwa-

re GPSurvey 2.35 Dual Frequency Kinematic

Processor, desenvolvido pela Trimble. As coor-

denadas são referenciadas ao Sistema Geodé-

sico Brasileiro (SGB), por meio de uma estação

da rede nacional (estação da RBMC – Rede de

Monitoramento Contínuo do IBGE) no campus

da Universidade Federal de Pernambuco. O

estudo concluiu que o litoral dos municípios do

Paulista, de Olinda, do Recife e de Jaboatão

dos Guararapes totaliza 48.135,07m de linha

de costa; desses, são formados por praias com

sedimentos 24.539,45m (51%) e 23.595,63m

(49%) não têm praias com sedimentos. Nesse

segundo segmento, o litoral é marcado pela

presença de recifes e obras costeiras, tais como

enrocamentos, espigões e muros (MAI, 2009).

Os resultados do estudo do MAI (2009, v. 1, p.

58-59) apresentam uma distribuição da linha

de costa ao longo dos litorais dos municípios

de:

• (1) Jaboatão dos Guararapes possui

7.961,20m de litoral, sendo que em

4.690,94m (58,9%) é formado por praias

com sedimento, e em 3.270,26m (41,1%)

sem praias com sedimentos, constituindo-

se, principalmente, de trechos com obras

do tipo enrocamentos, espigões e muros.

• (2) Paulista tem 14.468,36m de litoral,

sendo que em 9.626,93m (66,5%) é

formado por praias com sedimento, e em

4.841,43m (33,5%) sem praias com sedi-

mentos, constituindo-se, principalmente,

em trechos com obras do tipo enrocamen-

tos, espigões e muros.

• (3) Olinda possui 12.261,14m de litoral,

sendo que em 4.222,33m (34,4%) é

formado por praias com sedimento e em

8.038,81m (65,6%) sem praias com sedi-

mentos, constituindo-se, principalmente,

de trechos com obras do tipo enrocamen-

tos, espigões e muros.

• (4) Recife tem 13.444,38m de litoral,

sendo que em 5.999.25m (44,6%) é

formado de praias com sedimento, e em

7.445,13m (55,4%) sem praias com se-

dimentos, constituindo-se de dois trechos:

um com recifes e outro com enrocamentos.

O estudo CPEB (2011, v. 2) permitiu o cálculo

evolutivo da linha de praia dos municípios de

Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda

e do Paulista; para tal, utilizando fotografias

aéreas e dois conjuntos de imagens extraídos

do Google Earth®. O voo aerofotogramétrico

realizou-se em 1974 e as imagens do Google

Earth® são de 2007 e 2010. A escolha do local

de linha de costa baseou-se num indicador que

não sofresse muita influência da variação de

um ciclo de maré. De acordo com o estudo do

CPEB (2011, v. 2), decidiu-se extrair a linha de

Page 38: Rima menor

38

costa por meio da posição da berma da praia,

que se mostrou aparente em todas as fotogra-

fias aéreas e imagens. O objetivo dessa análise

foi identificar áreas historicamente vulneráveis

à erosão e, de posse dessa informação, ter

embasamento para a escolha de alternativas de

intervenção que serão sugeridas pela CPE.

Conforme o diagnóstico do CPEB (2011, v. 2),

a costa dos quatro municípios tem aproxima-

damente 50km de extensão; analisada com o

enfoque de determinar taxas de variação de

linha de costa (LC) para cada município, feita

por meio de transectos perpendiculares à linha

de costa, com espaçamento de 50 metros. Um

total de 923 transectos na análise, 185 para o

município de Jaboatão dos Guararapes, 241

para o município do Recife, 206 no município

de Olinda e 291 para o município do Paulista.

Cada taxa de variação gerada por um transecto

é a média entre o próprio transecto analisado e

os dois adjacentes. Isso suaviza as discrepân-

cias entre os resultados.

Para apresentação dos resultados da análise,

foram feitas imagens em que os segmentos de

costa se dividiram para cada município. Além

da localização da área de estudo, em cada

figura, apresentam-se gráficos contendo: (i)

o deslocamento linear total da linha de costa

para 2007 e 2010, tendo por base a linha de

1974; (ii) o deslocamento linear total da linha

de costa de 2010, tendo por base a linha de

2007; (iii) a taxa de deslocamento da linha de

costa em metros por ano entre 1974 e 2007,

e entre 2007 e 2010, calculadas pelo método

EPR (End Point Rate), e a incerteza associada

a cada variação; (iv) a taxa de deslocamento da

linha de costa em metros por ano entre 1974

e 2007, e entre 1974 e 2010, calculadas pelo

método EPR e a incerteza associada. Esses

resultados encontram-se detalhados no diag-

nóstico do meio físico (CPEB, 2011, v. 2).

A análise do diagnóstico (CPEB, 2011) foi feito

a partir de uma série temporal de trinta e seis

anos e composta de três linhas de costa em

diferentes momentos. Nesse contexto, percebe-

se que a evolução recente da linha de costa

dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,

do Recife, de Olinda e do Paulista está firme-

mente atrelada à instalação das estruturas cos-

teiras. Nota-se que as variações mais acentua-

das coincidem, na maior parte, com a presença

de estruturas rígidas naturais, como os arre-

cifes, ou introduzidas pelo homem, como os

quebra-mares e espigões e guias correntes.

A partir do resultado obtido pelo estudo CPEB

(2011) pode-se afirmar que a linha de praia no

litoral dos municípios de Jaboatão dos Guarara-

pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, apre-

senta uma acentuada interferência antrópica,

resultando numa linha de praia atual experi-

mentando erosão em diversos trechos e perdas

patrimoniais elevadas (CPEB, 2011, v. 2).

Page 39: Rima menor

39

Ocupação do solo e erosão costeiraO litoral pernambucano tem 187 quilômetros

de extensão, 21 municípios e é o mais impor-

tante aglomerado populacional do Estado, com

44% de sua população (ARAÚJO et al., 2004).

Essa zona costeira apresenta uma densidade

populacional maior do que 900 hab/km2, sig-

nificando uma das maiores concentrações do

Brasil, que tende a aumentar considerando os

novos empreendimentos que estão instalando-

se na região nos últimos anos (MAPLAC, 2010).

Diferentes pesquisas (CARNEIRO,2003; GRE-

GÓRIO, 2009; MAI, 2009) feitas ao longo da

zona costeira pernambucana e, em especial,

na região metropolitana do Recife, comprovam

que estão ocorrendo intensos processos erosi-

vos, com muitos trechos da costa em desequilí-

brio, apresentando erosão marinha progressiva

(CPRH, 1998 apud SOUZA, 2006). A combina-

ção de diversos fatores tem resultado nos pro-

cessos erosivos constados atualmente: o aporte

sedimentar para as praias é deficiente pela

ausência de grandes rios; a plataforma conti-

nental é estreita e dificulta o armazenamento

de sedimentos para remobilização; as linhas de

arrecifes submersos na plataforma dificultam

a remobilização de sedimentos; a ocupação

desordenada do ambiente praial imobiliza as

dunas e dificulta a reconstrução das praias no

período de verão.

Atualmente não existem estudos que possam

comprovar a contribuição relativa de cada

um desses fatores, no entanto, sabe-se que a

ocupação do ambiente da praia por edificações

ou outras estruturas modifica a manutenção

do equilíbrio sedimentar natural (MAI,2009).

Nessas franjas costeiras, observa-se, com fre-

quência, a presença de muitas obras (prédios,

muros de contenção, estradas e estruturas de

engenharia costeira) que foram construídas

sobre o pós-praia, setor da praia essencial para

o suprimento de sedimentos, comprometendo

assim vários trechos de praia que estão sob um

forte processo de erosão (SOUZA, 2006).

Nos trechos críticos da zona costeira da região

metropolitana do Recife, que experimentam o

processo de erosão, o manejo desse problema

tem sido realizado por meio da colocação de

muros aderentes, enrocamentos, espigões e

quebra-mares sem o devido suporte de in-

formações (MAI, 2010). Ao longo do tempo,

observa-se que essas intervenções frequente-

mente resultam em insucessos ou mesmo na

intensificação do processo erosivo, localmente

ou em áreas adjacentes, implicando investi-

mento de somas elevadas para a manutenção

e, também, em prejuízo estético (SOUZA,

2006; MAPLAC, 2010).

Page 40: Rima menor

40

Ocupação do solo e erosão costeira

Os primeiros relatos à erosão costeira nos

municípios litorâneos pernambucanos são de

1914 e mencionam os danos causados pela

intervenção no molhe localizado no istmo de

Olinda, parte das obras de ampliação do Porto

do Recife. A partir de então, constataram-se

problemas de erosão em vários trechos do

litoral e mais notadamente nas áreas urba-

nas (MAI, 2009). A próxima figura apresenta

fotografias de diversas épocas das praias dos

municípios de Jaboatão dos Guararapes, do

Recife, de Olinda e do Paulista.

Nota: As fotografias A, B e C mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos da orla de Jaboatão dos Guararapes, assim como as obras de contenção do avanço do mar, tipo enrocamento; as fotografias D, E e F mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos do litoral do Recife, assim como as obras de

contenção do avanço do mar, tipo enrocamento na praia de Boa Viagem; a fotografia da ocupação do litoral de Olinda (no alto, à direita) retrata uma praia ocupada por obras de contenção costeira do tipo espigão,

enrocamento e quebra-mares. A fotografia aérea da ocupação do litoral do Paulista retrata uma praia ocupada por obras de contenção costeira do tipo quebra-mares.

Projeto MAI (2009) estudou a variação da ocu-

pação do solo por trinta e quatro anos no litoral

dos quatro municípios da Região Metropolitana

do Recife com o objetivo de comprovar que

o aumento da ocupação do solo tem relação

direta com a erosão. Essa pesquisa foi realizada

com a análise de fotografias aéreas de 1974

(Agência Condepe/Fidem) e imagens Quickbird

de 2008 (Agência Condepe/Fidem). A área cos-

teira selecionada, considerada para monitorar

a ocupação do solo, foi uma faixa demarcada

por quadras e vias, afastada da linha de costa

entre 200 e 300 metros. Conforme o estudo

do Projeto MAI (2009), foram consideradas na

análise as seguintes faixas de densidade para a

área ocupada:

Page 41: Rima menor

41

• Baixa densidade – menor que 30% de

ocupação;

• Média densidade – entre 30% e 70% de

ocupação;

• Alta densidade – maior que 70% de ocu-

pação.

Para ilustrar a metodologia utilizada, selecio-

nou-se um recorte costeiro no município de

Jaboatão dos Guararapes, com praia arenosa

em 1974, e atualmente, com problemas de

erosão. Para tanto, a classificação realizada

para ocupação do solo foi disposta sob uma

mesma base cartográfica, para 1974 e 2008 e

os resultados encontrados são apresentados na

tabela abaixo.

Distâncias e percentuais da ocupação do litoral dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista

Fonte: MAI (2009)

MUNICÍPIO 1974 2008 CLASSIFICAÇÃO

Jaboatão dos Guararapes 414.411,92 m² 25,2% 1.086.408,01 m² 66,1% Alta densidade

464.950,26 m² 28,3% 439.471,14 m² 26,7% Média densidade

764.863,87 m² 46,5% 118.346,9 m² 7,2% Baixa densidade

Recife 1.525.669,83 m2 72,6% 1.896.909,94 m2 90,3% Alta densidade

358.328,85 m2 17,1% 95.549,73 m2 4,5% Média densidade

216.650,35 m2 10,3% 108.189,68 m2 5,2% Baixa densidade

Olinda 887.321,60 m2 50,9% 1.135.018,63 m2 65,1% Alta densidade

451.465,43 m2 25,9% 467.874,07 m2 26,8% Média densidade

405.829,62 m2 23,2% 141.723,95 m2 8,1% Baixa densidade

Paulista 273.203,12 m2 6,7% 1.637.269,64 m2 40,4% Alta densidade

555.163,67 m2 13,7% 1.202.753,91 m2 29,7% Média densidade

3.220.752,67 m2 79,6% 1.209.095,92 m2 29,9% Baixa densidade

Page 42: Rima menor

42

3

A área de influência do empreendimento corresponde aos espaços geográ-

ficos passíveis de alterações em termos de dinâmica ambiental a partir da

projeção de cenários relacionados à implantação e operação do mesmo,

tratando-se aqui da Recuperação da Orla Marítima – Jaboatão, Recife, Olinda

e Paulista – Pernambuco. Conforme legislação ambiental vigente e exigências

do Termo de Referência 14/2011 emitido pela CPRH (Agência Estadual de

Meio Ambiente de Pernambuco) em 14 de setembro de 2011, serão aborda-

dos e justificados de forma distinta, os meios físico, biótico e socioeconômico.

As áreas de influência do empreendimento serão estabelecidas segundo os

seguintes níveis hierárquicos (CPRH, 2011, p. 9):

• Área de Influência Indireta (AII): aquela onde os impactos provenien-

tes da implantação e operação do empreendimento se fazem sentir

de maneira indireta e com menor intensidade em relação à área de

influência direta.

• Área de Influência Direta (AID): aquela sujeita aos impactos diretos

provenientes da implantação e operação do empreendimento, incluí-

do faixa marítima a ser utilizada para transporte de matéria prima.

• Área Diretamente Afetada (ADA): aquela onde ocorrem as interven-

ções relacionadas ao empreendimento, incluindo áreas de apoio

como canteiros de obra, acessos, áreas de jazida, etc.

O diagrama na próxima página mostra uma representação hierárquica das

áreas de influência do empreendimento:

Qual a área de influência do empreendimento?

Page 43: Rima menor

43

Níveis Hierárquicos das Áreas de Influência do Empreendimento

Fonte: ITEP – UGP Barragens 2011

É importante lembrar que os meios físico, biótico

e socieconômico compõem o universo de estudos

integrados do meio ambiente, previstos na elabo-

ração do EIA/RIMA. Para efeitos de elaboração

do diagnóstico e prognóstico ambiental, impactos

e planos de controle ambiental, os três meios

citados devem ser entendidos de forma interrela-

cionada e interdisciplinar.

É necessário ressaltar o caráter de localização do

empreendimento. O projeto de Recuperação da

Orla Marítima dos municípios de Jaboatão dos

Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista

concentra-se na faixa de orla destes municí-

pios, a qual se insere no contexto de uma região

metropolitana brasileira com elevados níveis de

impermeabilização do solo, grande concentração

populacional, valorização do metro quadrado,

forte especulação imobiliária, limitações de áreas

verdes, áreas estuarinas ocupadas e poluídas,

entre outros aspectos. Vale frisar o estreitamen-

to da faixa de areia, o fim do ambiente praial e

pós-praial em muitos pontos ao longo da costa

metropolitana ocorre por fatores relacionados à

evolução histórica das formas de uso dessa faixa

de orla, associada a outros fatores, como a dimi-

nuição da quantidade de sedimentos carreados

pelos rios, como a dinâmica de correntes maríti-

mas e padrões de ventos e ondas. Nesse sentido

estabeleceu-se a seguinte delimitação para efeitos

de estudo:

MEIO FÍSICO

A Área de Influência Indireta (AII) corresponde

aos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de

Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,

do Paulista, de Abreu e Lima, Igarassu e Itama-

racá. Ao se considerar esse nível hierárquico é

Page 44: Rima menor

44

importante ter como foco a área de jazida de

areia (no litoral do Cabo de Santo Agostinho), as

áreas que irão sofrer intervenção por meio da

obra (municípios de Jaboatão dos Guararapes,

do Recife, de Olinda e do Paulista) e uma impor-

tante zona estuarina nos municípios de Igarassu

e Itamaracá. A AII engloba os seguintes relevos: i)

semi-plano: predominam as áreas baixas e englo-

ba a área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros

e os terraços; ii) ondulado: formado por morros e

colinas, com declividades acentuadas. A inserção

de Itamaracá nessa regionalização reflete uma

preocupação relacionada à Ilhota da Coroa do

Avião, uma vez que representa uma formação

emersa de origem recente (menos de 50 anos).

A Área de Influência Direta (AID) se estende da

linha de costa até a isóbata (linhas de profundi-

dade) de 20m. Essa área foi projetada para todo

o litoral dos quatro municípios, já que apresenta

os processos erosivos que serão focos de análise

dos estudos e concentra as principais dinâmicas

marinhas relacionadas ao transporte de sedimen-

tos e incidência de ondas na costa.

A Área Diretamente Afetada (ADA) segue os mes-

mos critérios de delimitação adotados na AID (se

estende da linha de costa até a isóbata de 20m),

porém restringe-se apenas aos quatro municípios

que irão receber o empreendimento: Jaboatão

dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista.

MEIO BIÓTICO

A delimitação da Área de Influência Indireta

(AII) segue os mesmos procedimentos utilizados

para o meio físico. Supõe-se que a delimitação

dos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de

Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,

do Paulista, de Abreu e Lima, de Igarassu e de

Itamaracá abrange uma área significativa em ter-

mos de diversidade de espécies da flora e fauna,

além de contemplar possíveis rotas de migração

de espécies com a implementação do empreen-

dimento. Assim, tem-se a importância do Cabo

de Santo Agostinho quanto à posição da jazida e

prováveis impactos nas espécies subaquáticas,

Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Paulista

com relação à zona de intervenção física e impac-

tos em espécies terrestres e subaquáticas e, em

Itamaracá, no que diz respeito à Coroa do Avião

e sua necessidade por recomendações, a fim de

viabilizar a manutenção de espécies vivas desse

ambiente recentemente formado.

A Área de Influência Direta (AID) corresponde à

área inserida entre a linha de costa e limite médio

de 3km no sentido leste em relação à costa

(plataforma marinha). Considera em sua delimi-

tação à diversidade verificada nos beach rocks e

áreas de prováveis concentração e deslocamento

de tubarões (aproximadamente a 2km da linha

de costa). A Área Diretamente Afetada (ADA)

respeita como limite a área inserida entre a linha

de costa e os beach rocks e enroncamentos.

Page 45: Rima menor

45

MEIO SOCIOECONÔMICO

A Área de Inlfuência Indireta (AII) é representada

pela totalidade dos espaços territoriais represen-

tados pelos municípios de Jaboatão dos Guarara-

pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, uma vez

que o empreendimento proposto contempla uma

área pública urbanizada.

A Área de Influência Direta (AID) corresponde

aos setores censitários que contém os trechos de

orla destes municípios. Essa escolha se deve ao

fato dessa ser a menor unidade de medida onde

é possível obter informações com dados secun-

dários.

A Área Diretamente Afetada (ADA) obedece à fai-

xa de orla marítima enquanto unidade geográfica

inclusa na zona costeira. Sua delimitação segue

as recomendações do Ministério do Meio Am-

biente (2006, p.28), o qual estabelece um limite

para a área terrestre de 50m em áreas urbaniza-

das e de 200m em áreas não urbanizadas. Dado

os elevados níveis de densidade de ocupação do

solo deste empreendimento, resolveu-se fazer

uma ampliação na faixa de área terrestre em

áreas urbanizadas, passando de 50m para 100m

e mantendo os mesmos 200m para áreas não ur-

banizadas. A área é correspondente às praias que

sofrerão a intervenção e aos prédios em frente a

essas. Para os estudos de patrimônio cultural, a

ADA também considerou regiões subaquáticas, a

exemplo dos pontos de naufrágio na costa destes

municípios.

Page 46: Rima menor

46

4

Geologia e GeomorfologiaGeologicamente, a área de estudo do projeto de Proteção Costeira, que

engloba os Municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda

e do Paulista, está inserida nos domínios das bacias de Pernambuco e

Paraíba.

Como é o meio físico na área do empreendimento?

Mapa de localização das bacias de Pernambuco e Paraíba com ênfase nos seus limites estruturais

Fonte: Barbosa & Lima Filho (2006).

Page 47: Rima menor

47

Essas bacias possuem características estrutu-

rais, geocronológicas e estratigráficas diferen-

tes, as quais refletem o processo de formação

diferenciado. As bacias de Pernambuco e Pa-

raíba se relacionam geneticamente ao processo

de rifteamento que afetou o paleocontinente

de Gondwana durante o Cretáceo Inferior. A

bacia de Pernambuco seria controlada por

um sistema de falhas normais, com direção

principalmente NE, e falhas de transferência,

predominantemente, de direção NW, sendo

que ambas definem um eixo principal de dis-

tensão (s3) de orientação NW. A bacia Paraíba

sofreu eventos tectônicos diferenciados dos

fenômenos ocorridos nas bacias adjacentes ao

norte e ao sul (Barbosa, 2004 apud Asmus &

Carvalho, 1978). A preservação de uma ligação

(landbridge) entre a África e a América do Sul,

durante o Cretáceo Superior (Barbosa, 2004

apud Rand, 1985; Rand & Mabesoone, 1982)

possivelmente é responsável pela diferenciação

entre a bacia Paraíba e as bacias de Alagoas,

Pernambuco e Potiguar. Conforme Barbosa &

Lima Filho (2006), a bacia Paraíba comparti-

menta-se em sub-bacias que se baseiam nas

principais feições tectônicas da área.

A sub-bacia Olinda é limitada pelo Lineamento

Pernambuco e pela falha de Goiana; a sub-

bacia Alhandra/Miriri é limitada pela falha de

Goiana e o Lineamento Paraíba. O período

geológico conhecido como Quaternário com-

preende as Séries do Pleistoceno e Holoceno,

esses inseridos na Era Cenozóica. Nesse espa-

ço temporal, também conhecido como a Era

do Gelo, ocorreram diversas glaciações, que

representaram eventos de variações climáticas

extremas e que repercutiram sobre todos os

ambientes terrestres.

A sedimentação de ambientes costeiros está di-

retamente relacionada às variações do nível do

mar, ao espaço de acomodação e ao suprimen-

to sedimentar. O nível do mar sofre variações ao

longo do tempo geológico, de ordem global, de-

vido à eustasia que é consequência da variação

de volume de água dos oceanos, decorrente de

glaciações e deglaciações, e variações na capa-

cidade reservatória dos oceanos, causadas pela

dinâmica das placas tectônicas. Localmente ou

regionalmente, o nível do mar se modifica devi-

do à isostasia. A costa brasileira foi submetida,

durante o Quaternário, a diversas oscilações do

nível do mar que ficaram registradas em teste-

munhos fósseis. Grande parte desses registros

fósseis foi submetida a estudos, utilizando

métodos de datação isotópicos, paleontológi-

cos, arqueológicos para definição da idade de

formação do registro.

Geomorfologicamente, a área de estudo

apresenta-se inserida em um único domínio

morfoestrutural denominado de Domínio Rifte.

Ela se apresenta, de modo geral, em dois

conjuntos distintos de relevo: o relevo semi-

plano e o relevo ondulado. O relevo semi-plano

encontra-se na porção Leste, com maior

presença no município do Recife, englobando a

área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros e

os terraços. É onde predomina as áreas baixas

Page 48: Rima menor

48

e ocupa a maior parte da área de estudo. O

relevo ondulado ocupa uma pequena porção

da área e é formado por morros e colinas, com

declividades acentuadas.

Condições meteorológicas hidrodinâmicasAs condições meteorológicas e o clima são

influenciados por características geográficas

como oceano, latitude, relevo, solo e por siste-

mas de circulação atmosféricos dinâmicos. A

orla marítima dos quatro municípios analisados

está situada em posição geográfica favorável à

atuação simultânea dessas influências, prin-

cipalmente das variáveis atmosféricas como

vento e pressão atmosférica, que provocam

alterações no nível do mar costeiro, afetando de

forma considerável as cidades localizadas na

linha de costa.

A precipitação se apresenta como uma variável

de extrema importância em análises meteo-

rológicas e climatológicas em zonas costeiras.

Verifica-se que o semestre mais chuvoso

corresponde aos meses de março a agosto, e o

mais seco ao período de setembro a janeiro. Os

meses mais chuvosos correspondem a maio,

junho e julho com precipitação de 295mm,

362mm e 301mm, respectivamente. Outubro e

novembro são os meses mais secos com preci-

pitação inferior a 40mm.

Page 49: Rima menor

49

Climatologia da precipitação média mensal em Olinda, Recife e Jaboatão dos Guararapes.

Com relação a vento, na faixa litorânea de Per-

nambuco verificou-se que os maiores valores

em intensidade foram observados no setor

leste, fator esse que está associado à atuação

dos ventos alísios de sudeste, devido o deslo-

camento da Alta Subtropical do Atlântico Sul.

Os meses de novembro, dezembro e janeiro

apresentam direção predominante de leste

com intensidade de 3 a 5m/s em novembro e

dezembro, e 2 a 3m/s em janeiro. Em fevereiro

e março, há um aumento na magnitude do

vento com valores em torno de 3 a 4m/s e uma

pequena mudança na direção do vento que

passa de Leste para Sudeste. Nos meses de

abril, maio, junho, julho, agosto, setembro e ou-

tubro, a direção é de sudeste com intensidade

de 5 a 6m/s, com exceção dos meses de abril e

outubro com velocidade entre 4 a 6m/s.

PraiasAs praias são depósitos de sedimentos, co-

mumente arenosos, acumulados pela ação

das ondas, ventos e marés (MUEHE, 2009).

Representam um elemento natural de prote-

ção ao litoral. O perfil transversal de uma praia

varia com o ganho ou perda de sedimentos, de

acordo com o nível de energia das ondas e com

a alternância de tempo bom (acumulação) no

prisma subaéreo ou de tempestade (erosão),

com a retirada de sedimentos do perfil subaé-

reo para o perfil submerso, ocorrendo à erosão.

O ambiente praial, segundo Reading e Collin-

son (1996), consiste em dunas frontais,

pós-praia, praia e antepraia. As dunas frontais

Page 50: Rima menor

50

limitam-se com a pós-praia na parte inferior da

escarpa. A pós-praia situa-se acima da linha da

preamar, sendo atingida pela ação das ondas

em ocasião de tempestades. Praia ou estirâncio

está situada entre o limite superior da preamar

e o limite inferior da baixamar. A antepraia

compreende a parte submersa do perfil e se

delimita com a praia no nível da maré baixa,

estendendo-se em direção offshore, até onde

não há remobilização dos sedimentos. Os

fatores que influenciam na construção e na

variação de um perfil praial são condições de

energia das ondas, o tipo de arrebentação, o

sedimento e o seu transporte, que interagem

com as condições hidrodinâmica locais.

Mudanças no ambiente praial podem ser

medidas por vários métodos, um deles é o

método topográfico convencional, tal como o

teodolito (BIRD, 1996). Esses métodos podem

avaliar e monitorar o avanço ou a recessão da

linha de costa ao longo do tempo (LARSON e

KRAUS, 1994; CLARK e ELIOT, 1988; LACEY e

PECK, 1998; SWALES, 2002; ANFUSO e DEL

RIO, 2003). O nivelamento topográfico tem por

finalidade verificar a variabilidade vertical do

perfil praial, se há uma tendência erosiva ou

deposicional no ambiente.

O projeto Monitoramento Ambiental Integra-

do (MAI) foi realizado no ambiente praial da

Região Metropolitana do Recife (RMR), nos

anos de 2006 e 2007. O nivelamento dos perfis

foi determinado a partir de uma Referência de

Nível (RN) perpendicularmente à linha de cos-

ta. Foi utilizada a nomenclatura morfológica e

hidrodinâmica sugerida por Hoefel (1998) para

a definição da divisão do perfil praial.

O monitoramento realizou 460 nivelamentos

topográficos, distribuídos em 28 perfis localiza-

dos em Jaboatão dos Guararapes, nas praias

de Barra de Jangadas (01), Candeias (02) e

Piedade (02); no Recife, nas praias da Boa Via-

gem (04) e do Pina (01); em Olinda, nas praias

dos Milagres (01), do Carmo (03), do Bairro

Novo (03), de Casa Caiada (02) e do Rio Doce

(02); no Paulista, nas praias do Janga (03),

de Pau Amarelo (01), de Nossa Senhora do

Ó (01), de Conceição (01) e de Maria Farinha

(01).

De acordo com o projeto MAI, os resultados ob-

tidos durante o monitoramento correspondem:

• Jaboatão dos Guararapes apresentou um

balanço sedimentar positivo para os perfil

1 (42,4m3/m), perfil 4 (28,5m3/m) e um

balanço negativo para o perfil 2 no valor

de 16,5m3/m, para o perfil 4 na ordem

de 22m3/m. O município do Jaboatão dos

Guararapes apresentou em sua região cen-

tral um déficit de sedimentos, porém os

perfis 2 e 3 apresentaram o menor volume

de sedimentos;

• No Recife, os perfis apresentaram um

balanço sedimentar positivo, considerando

a diferença no volume sedimentar entre

o primeiro mês monitorado e o ultimo

mês. São observados os seguintes valo-

Page 51: Rima menor

51

res PR1 (7,4m3/m); PR2 (13,7m3/m);

PR3 (9,6m3/m); PR4 (12,1m3/m); PR5

(+17,8m3/m). Entretanto, Gregório e Arau-

jo (2008) realizaram um monitoramento

por um período mais longo nas praias de

Boa Viagem e do Pina, entre os anos de

2001 a 2005, e constataram uma maior

variação no volume de sedimentos nos

extremos das praias, inclusive na praia do

Pina, e no perfil ao norte da obra de con-

tenção (enrocamento);

• Em Olinda, apresentaram um balanço sedi-

mentar positivo os perfis PO1 (7,46m3/m),

PO2b (13,10m3/m), PO2c (6,85m3/m

), PO5 (17,59m3/m), PO6 (3,10m3/m ),

PO7 (3,00m3/m), PO8 (4,10m3/m ); e

um balanço sedimentar negativo (Figura

8.6-2) para os perfis PO2a (0,69m3/m),

PO3 (19,98m3/m), PO4 (9,49m3/m ) e

PO9 (2,00m3/m). Os perfis localizados

na praia do Carmo se encontram em uma

saliência, que corresponde aos vestígios

da ponte utilizada para a construção do

quebra-mar, aumentando o volume sedi-

mentar da parte superior do perfil;

• No Paulista, os resultados apresentaram

um balanço sedimentar positivo nos perfis

PA1 (28,46m3/m), PA2 (0,28m3/m), PA3

(13,26m3/m), PA4 (27,06m3/m), PA5

(12,57m3/m), PA7 (11,07m3/m); e um

balanço sedimentar negativo para o perfil

PA6 (48,33m3/m).

A análise sedimentar fornece subsídios para

a correlação entre as características texturais

dos sedimentos e dos vários ambientes, que

compõe a dinâmica deposicional, e estabele-

cer parâmetros utilizáveis na identificação e

característica do ambiente (SUGUIO, 1973).

Segundo a classificação de WENTWORTH

(1922 apud MUEHE, 1996) são classificados

em: cascalho (-1 Φ), areia muito grossa (-1 a 0

Φ), areia grossa (0 a 1 Φ), areia média (1 a 2 Φ),

areia fina (2 a 3 Φ), areia muito fina (3 a 4 Φ).

O tamanho do grão depende da natureza do

material envolvido, do tempo e da distância do

transporte.

A metodologia utilizada pelo MAI foi a classi-

ficação proposta por FOLK e WARD (1957).

Os dados foram processados no software

SYSGRAM, sendo utilizado o tamanho médio

do grão. Para os perfis de Jaboatão dos Gua-

rarapes predominou areia fina nos perfis PJ1

e PJ2 e PJ5, na parte extremas do segmento

Jaboatão; e em sua parte central PJ3 e PJ4

foi observado areia média. No Recife, há uma

predominância de areia fina em todo o arco

praial. Em Olinda, verificou-se a presença de

areia grossa em todos os perfis; porém o perfil

PJ3 apresentou uma maior variação de areia

média a grossa. Em relação ao município do

Paulista, há predominância de areia média,

sendo observado também uma variação de

areia fina a média, principalmente nos perfis

nos perfis PA4 e PA5, correspondendo à parte

central segmento.

Page 52: Rima menor

52

Variação volumétrica dos perfis topográficos do município de Olinda

Fonte: MAI (2009).

Page 53: Rima menor

53

Plataforma InternaA plataforma continental de Pernambuco é

caracterizada por uma largura média de 34km,

variando aproximadamente de 30km no trecho

sul a 40km no extremo norte. Possui um relevo

suave, com a quebra da plataforma na faixa de

60metros de profundidade (Araújo et al. 2004).

O levantamento batimétrico detalhado permitiu

a visualização das variações da profundidade,

bem como a morfologia da plataforma con-

tinental interna na área pesquisada. Sendo

assim, foi possível identificar as principais fei-

ções, tais como os arenitos de praia, os bancos

arenosos, os paleocanais e os leitos planos e

com declives pouco acentuados.

De forma geral, foi possível observar que a

plataforma interna dos municípios de Olinda

e, particularmente, do Paulista apresentam

gradientes suaves em direção offshore, com

profundidade máxima em torno de 19m. Na

plataforma interna dos municípios do Recife

e de Jaboatão dos Guararapes, os valores de

profundidade variam abruptamente e a mor-

fologia é mais acidentada, com presença de

paleocanais e diversas linhas de arenitos de

praia. A área da plataforma interna mostra

várias estruturas e feições na superfície do

fundo marinho, representada por três linhas de

arenitos de praia, além de paleocanais, bancos

arenosos, marcas de ondas e os tipos de se-

dimentos (areia, cascalho ou lama). Os dados

batimétricos descritos possibilitaram uma análi-

se de reconhecimento preliminar da morfologia

da plataforma interna da região estudada. Os

dados compilados de outros projetos foram

interpolados e com isso foi gerado um modelo

digital de terreno para a referida área (ver figura

a seguir).

A morfologia de fundo na área estudada

influencia de forma significativa os processos

hidrodinâmicos que ocorrem na região, tais

como a dinâmica das correntes, a incidência

das ondas e o transporte sedimentar. Portanto,

são informações imprescindíveis para a com-

preensão dos problemas de erosão costeira que

atinge a Região Metropolitana do Recife.

Ao analisar o comportamento dos sedimentos

do ambiente praial e da plataforma continental

interna do Recife, Gregório (2009) observou

uma forte influência da presença da linha de

arenito de praia, na distribuição e transporte

dos sedimentos. Os sedimentos encontrados no

ambiente praial são constituídos, em sua maio-

ria, por areia fina a muito fina. Entre o ambiente

praial e a primeira linha de arenitos de praia

submersos, que corresponde à área do canal, a

predominância é de areia muito fina. Depois da

linha de arenito de praia, há uma variação de

areia grossa a cascalho, com presença predo-

minante de areia grossa, e com maior teor de

carbonato de cálcio.

Page 54: Rima menor

54

A característica marcante desse fundo marinho

é a primeira linha de arenito de praia submerso

que serve como um divisor entre os sedimen-

tos.

Presença de obras costeirasNas últimas décadas, diversas obras de con-

tenção da linha de costa vêm sendo implan-

tadas, no sentido de reduzir o problema de

erosão costeira. No entanto, os resultados

dessas intervenções nem sempre tiveram

êxito, acarretando um ambiente praial bastante

modificado, e, em alguns trechos, transferência

do processo erosivo para praias vizinhas (MAI,

2009).

No município de Jaboatão dos Guararapes,

implantaram-se estruturas do tipo guia corren-

te, espigões, enrocamentos aderentes e muros,

desde a margem esquerda do rio Jaboatão até

as praias de Piedade e Candeias (MAI, 2009).

O resultado é um litoral que contempla em

cerca de 20% de sua faixa com algum tipo de

obra costeira de proteção, em que se destacam

estruturas rígidas perpendiculares à praia – de-

nominada de espigões; assim como na praia de

Candeias encontra-se o enrocamento aderente

formado por blocos de pedras (ARAÚJO, 2001

apud MOURA et al., 2010).

Em 1994, na Praia de Boa Viagem, no Reci-

fe, foram construídas obras de contenção em

razão do processo erosivo que destruiu parte

do calçadão. Essa obra consistiu na colocação

Page 55: Rima menor

55

de pedras-rachão e sacos de areia. No entanto,

o problema da erosão continuava e realizou-se

outro estudo que indicou que a obra mais ade-

quada à proteção da praia seria o revestimento

com blocos naturais, atualmente encontrada,

em contraposição à restauração com reposi-

ção de areia e utilização mista de espigões e

quebra-mares (MAI, 2009).

A ocupação do espaço litorâneo olindense com

obras de proteção costeira contra o avanço do

mar data de 1950. A posição da linha de costa

de Olinda, entre 1915 e 1950, experimentou

um recuo de aproximadamente 80 metros, o

que resultou em um intenso processo erosivo,

principalmente nas praias dos Milagres, do

Carmo e de São Francisco (CARNEIRO, 2003).

As mudanças decorrentes da ampliação do

Porto do Recife, entre os anos de 1909 e 1917,

assim como da Base Naval do Recife, concluí-

das em 1948.

Atualmente, a zona costeira do município de

Olinda apresenta dez quebra-mares paralelos à

linha de costa, 34 espigões perpendiculares e

diversos trechos com enrocamentos aderentes.

Diversas obras vêm sendo eficientes na prote-

ção do patrimônio urbanístico, assim como na

fixação da linha de costa. Contudo, na época

de sua instalação, não havia a valorização

econômica sustentável do uso da praia direcio-

nado tanto para o turismo quanto para o lazer

(CPEB, 2011, v1).

A ampliação do Porto do Recife e a constru-

ção das obras de defesa do litoral de Olinda

modificaram o balanço sedimentar costeiro

original nessa zona, aparentemente provocando

uma aceleração da erosão no litoral de Pau-

lista. Para contenção da erosão no município,

implantou-se um sistema de quebra-mares

associados a espigões, que posteriormente am-

pliados. Recifes naturais submersos serviram

de suporte para o sistema de quebra-mares.

As modificações ocorridas na praia do Paulista

ocasionaram a formação de saliências e um

tômbolo na zona de sombra dos quebra-mares

(MAI, 2009). As obras costeiras ao longo dos

municípios da RMR, identificadas no relatório

do projeto (MAI, 2009).

Na zona costeira dos quatro municípios, cons-

tatam-se 19 áreas com intervenções, algumas

ilustradas e descritas, com as estruturas cos-

teiras e respectiva descrição ao longo da orla

dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,

Recife, Olinda e Paulista-PE, o tipo de obra

costeira, sua localização, o tamanho, a função,

o resultado e a similaridade (CPEB, 2011, v1).

Na orla do município de Jaboatão dos Guarara-

pes, prevalecem obras de proteção do terreno,

ou seja, as intervenções adotadas são, princi-

palmente, as do tipo enrocamentos aderentes

e muros. São obras que têm por objetivo a

proteção do terreno, por meio da fixação da

“linha de costa”, em detrimento da faixa de

praia (MAI, 2009). As estruturas se distribuem

da seguinte maneira: 3.260m de enrocamentos

Page 56: Rima menor

56

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 001, 002 e 003 no estuário do rio Jaboatão, Jaboatão dos Guararapes - PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)

e muros (74%); 530m de espigões e molhes

(12%) e 600m de quebra-mar (14%) (CPEB,

2011, v1).

No Recife, a principal estrutura costeira é um

enrocamento com 2.100m de comprimento

na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na

praia de Brasília Teimosa (MAI, 2009). Entre

1900 e 1912, realizaram-se obras de ampliação

do Porto do Recife a fim de protegê-lo de ações

causadas pelas ondas. Entre elas, destacam-

se o prolongado do quebra-mar natural e a

construção dos recifes paralelos à costa, que

atingiram 4 km de comprimento; além de

construído o molhe de Olinda com 800m e o

quebra-mar do Branco Inglês com 1.150m de

extensão (CPEB, 2011, v1).

A zona costeira de Olinda apresenta-se com

obras de proteção do terreno, constituída de

enrocamento, espigões e quebra-mares que

estabilizaram e protegeram eficientemente essa

costeira municipal. As estruturas têm a se-

guinte configuração: 1.700m de enrocamentos

e muros (22%); 250m de espigões e molhes

(3%); e 5.660m de quebra-mares, 75% (MAI,

2009).

O litoral do município de Paulista tem o mes-

mo modo de proteção do terreno, na forma

de enrocamentos, espigões e quebra-mares.

Contudo, os quebra-mares vêm protegendo

parcialmente a linha de costa apesar de sua

altura bastante elevada. Encontra-se nesse

trecho obra de engordamento da praia, aliada à

construção dos quebra-mares; contudo utiliza-

ram sedimentos de composição e granulome-

tria inadequados, causando, assim, os focos

de erosão, instalados em alguns trechos desse

litoral (MAI, 2009). As estruturas têm a seguin-

te distribuição: 1.850 metros de enrocamentos

e muros (40%); 280m de espigões e molhes

(6%); e 2.520m de quebra-mares, 54 % (MAI,

2009).

Page 57: Rima menor

57

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 004, 005, 006, 007 e 008 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes – PE

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 008 e 009 na praia de Candeias, e estrutura 010 na praia de Piedade, Jaboatão dos Guararapes - PE

Fonte: MAI (2009, v. 3)

Fonte: MAI (2009, v. 1)

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e detalhe do enrocamento presente na praia de Boa Viagem, Recife - PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)

Page 58: Rima menor

58

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira presentes na praia dos Milagres e do Carmo (013), e na praia do Bairro Novo (014), Olinda - PE

Fonte: MAI (2009, v. 1)

Fonte: MAI (2009, v. 1)

Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e detalhe das estruturas presentes na praia de Brasília Teimosa, Recife - PE

Page 59: Rima menor

59

Vulnerabilidade a erosão costeira A orla costeira é a estreita faixa de contato da

terra com o mar na qual a ação dos processos

costeiros se faz sentir de forma mais acentu-

ada e potencialmente mais crítica à medida

que efeitos erosivos ou construcionais podem

alterar sensivelmente a configuração da linha

de costa. Representa também uma faixa na

qual a degradação ambiental por destruição da

vegetação e construção de edificações se torna

extremamente evidentes (MUEHE, 2001).

O termo vulnerabilidade é frequentemente

empregado na área de geociências associados

ao desastre e incidência de fenômenos natu-

rais (MAZZER, 2007). Nas últimas décadas,

especial importância tem sido dada a estudos

relacionados com a evolução do litoral e da

linha de costa. Segundo Gornitz et al. (2002),

a vulnerabilidade é o estudo em uma grande

extensão territorial e de um volume de dados,

que considerem como fatores aqueles ligados

diretamente aos processos costeiros.

Nos estudos realizados pelo projeto MAI sobre

a vulnerabilidade dos municípios do Jaboatão

dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Pau-

lista foi utilizada a linha de costa digitalizada,

de 1974, bem como a linha de costa do ano de

2008, totalizando um período de 34 anos. A

linha de costa de 2008 foi realizada através de

caminhamento, com o uso de equipamentos

(Global Positioning Systm) geodésicos, no modo

relativo cinemático (MENDONÇA, 2005). O ano

de 1974 foi considerado o ano mais antigo e o

ano de 2008 o mais recente. A linha de costa

(última maré) e os limites da zona de interesse

(a primeira linha de edificação) foram vetoriza-

dos em formato shapefile e organizados numa

base de dados geográficos (Geodatabase).

A área de estudo foi dividida em segmentos

assim distribuídos: Jaboatão dos Guararapes

(05), Recife (04), Olinda (12), Paulista (08),

totalizando 29 segmentos (ver figura na página

seguinte). Para a divisão dos segmentos foram

considerados suas características naturais e

antrópicas, bem como a presença ou não de

obras de contenção. Sendo que, essas não

foram calculadas por estarem imobilizadas.

Segundo o projeto MAI, para a análise da vul-

nerabilidade, foi utilizado um número reduzido

de variáveis, a fim de reproduzir o principal

processo de dinâmica de linha de costa local,

como por exemplo, à susceptibilidade da praia

em ser impactada pelas taxas de avanço da

ocupação, bem como, atual largura da pós-

praia.

Os segmentos foram identificados ou classifica-

dos segundo o seu grau de vulnerabilidade de

baixo a muito alto, bem como, o termo con-

dicional e não avaliado para o diagnostico do

Page 60: Rima menor

60

grau de vulnerabilidade. O desenvolvimento do

sistema praial pode ser alterado com a influ-

ência de edificações em uma de suas regiões,

como por exemplo, muitas dessas construções

se localizam na região da pós-praia, alterando a

sua largura e dinâmica. Isto permite que esses

ambientes alterem a sua vulnerabilidade.

Duas projeções foram realizadas pelo projeto

MAI, com a finalidade de identificar o grau

de vulnerabilidade das praias em estudo. Na

primeira projeção, foi desconsiderado o des-

locamento da zona de interesse e a segunda

considerando o deslocamento da zona de inte-

resse. Consta no relatório do projeto MAI, uma

estimativa para a largura da pós-praia de 30m

para os próximos 20 anos.

Os segmentos Candeias e Piedade Sul (Ja-

boatão dos Guararapes); Casa Caiada III, Rio

Doce II (Olinda); Enseadinha, Pau Amarelo,

Conceição e Maria Farinha (Paulista) apresen-

taram grau de vulnerabilidade alto, indepen-

dentemente da utilização da zona de interesse

ou não. Os segmentos que apresentaram baixa

vulnerabilidade nas duas condições foram

Piedade Norte II, Casa Caiada I, Rio Doce IV,

localizados no município de Olinda. E outros

segmentos que apresentaram um alto grau de

vulnerabilidade considerando a zona de interes-

se, como por exemplo, no segmento Barra de

Jangadas (Jaboatão), Boa Viagem Sul (Recife),

Enseadinha Quebra-mar, Nossa Senhora do Ó,

Pontal de Maria Farinha (Paulista).

Page 61: Rima menor

61

Extensão aproximada dos segmentos (m) considerados para o estudo

Fonte: MAI (2009)

Análise da linha de costaA linha de costa corresponde ao limite entre o

continente e o oceano, é uma região dinâmica

e sofre constantes mudanças em relação ao

continente ou em relação ao oceano. Quando

ela avança em direção ao oceano, fala-se que

a linha de costa progradou. Se a linha de costa

se desloca em direção ao continente, houve

uma retração.

A sua posição resulta da interação entre agen-

tes costeiros tais como ondas, marés e outros.

As modificações na configuração da linha de

costa podem ocorrer em escalas de tempo

variadas: diárias, mensais, sazonais e seculares

(ESTEVES, 2002).

Em praias arenosas, a linha de costa é utilizada

pelo homem para diversos fins, destacando

aqueles de natureza recreacional e turística.

A crescente demanda por tais usos nos mu-

Page 62: Rima menor

62

nicípios litorâneos induz muitas vezes a um

desenvolvimento sem planejamento, desconsi-

derando a natureza móvel e dinâmica da linha

de costa (MAZZER e DILLENBURG, 2009).

A metodologia utilizada pelo projeto MAI, para

o estudo da linha de costa dos municípios do

Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda

e do Paulista foi realizada através do geopro-

cessamento no programa ArcGiz 9.1. O ano

de 1974 digitalizado foi considerado o ano

mais antigo e o ano de 2008 o mais recente,

totalizando um período de 34 anos. O estudo

da linha de costa, MAI (2009) foi vetorizada

em formato shapefile e organizada numa base

de dados geográficos (Geodatabase). Segundo

este projeto o deslocamento da linha de costa

dos municípios do Jaboatão dos Guararapes,

Recife, Olinda e Paulista foram os mesmos

seguimentos da zona de interesse, bem como a

linha de costa também foi utilizada para saber

a distancia entre esta linha e a zona de interes-

se para o calculo da vulnerabilidade.

Os resultados obtidos nos valores médios para

o deslocamento da linha de costa estão repre-

sentados na figura a seguir. Os segmentos que

apresentaram os maiores deslocamentos se

encontram ao norte e ao sul da área de estudo,

isto pode ser explicado pela presença de um

maior numero de segmento na parte central da

área que corresponde ao município de Olinda.

Exceto no segmento de Casa Caiada I, que

apresentou um deslocamento maior para este

município. A Região Metropolitana do Recife

se encontra em uma situação que pode ser

considerada grave, no que se refere ao pro-

cesso erosivo, tendo em vista que a erosão se

faz presente na maior parte do litoral, tem se

intensificado e tende a se agravar no futuro

(MAI, 2009).

Utilizando uma serie temporal de 36 anos, a

Coastal Planning & Engineering do Brasil (CPE,

2011) investigou o deslocamento da linha de

costa, através da posição da linha da berna e

onde a linha de costa se encontra fixada por

estruturas rígidas, estas foram consideradas

como o indicador. O estudo foi realizado com

fotografias áreas do ano de 1974 e as imagens

do Google Earth® de 2007 e 2010. A área foi

dividida em quatro setores: (i) Paulista, (ii) Olin-

da, (iii) Recife e (iv) Jaboatão dos Guararapes.

A taxa de deslocamento da linha foi realizada

entre o ano de 1974 e 2007, e entre 1974 e

2010, e a incerteza associada.

Segundo a CPE (2011), em Jaboatão dos

Guararapes, no período entre 1974 e 2007,

houve progradação da linha de costa ao norte

da área, e apresentou um deslocamento posi-

tivo no valor médio de 0,45m/ano. No período

entre 1974 a 2010, uma variação média de

0,47m/ano. Na parte central do município, a

linha de costa se encontra fixada por obras de

contenção, do tipo enrocamento, bem como o

trecho entre os transectos 124 e 146 mais ao

sul. Porém, é observada entre as duas obras

de contenção uma progradação da linha de

costa, com valores médios de 1,33 m/ano. Para

Page 63: Rima menor

63

o período entre 2007 a 2010, observa-se uma

retração da linha de costa entre as obras de

contenção e ao norte destas.

Segundo a CPE (2011), no Recife, o trecho

compreendido entre a praia do Pina e o norte

da praia da Boa Viagem, entre o período de

1974 a 2007, a linha de costa progradou em

uma taxa de 0,43m/ano, apresentando-se

estável no segmento seguinte, para o mesmo

período. Mas ao sul da área a linha de costa

apresentou retração com uma variação média

em torno de 0,55m/ano, bem como, entre

2007 e 2010, no valor médio de 4,00m/ano.

No extremo sul, a linha de costa se apresentou

estável.

Entre o ano de 1974 e 2007, em Olinda, ao

norte da área, a linha de costa sofreu retração

até ser fixada por obras de contenção, apre-

sentado uma variação média de 13,32m (CPE,

2011), exceto próximo a desembocadura do rio

Paratibe. Onde a linha de costa não foi fixada,

apresentou uma progradação em torno de

0,35m/ano.

Foram observados trechos em progradação na

zona de sombra dos quebra-mares. Em direção

ao sul da área, exceto a praia de Del Chifre, a

linha de costa se encontra fixada por obras de

contenção. Segundo a CPE (2011), a linha de

costa da praia de Del Chifre sofreu um proces-

so rotacional e apresentou uma retração em

sua direção norte e progradação ao sul.

Segundo a CPE (2011), para o município do

Paulista, entre 1974 a 2010, o pontal arenoso

ao norte sofreu progradação (2,22m/ano). A

partir deste trecho, observa-se uma retração da

linha de costa, a partir de 1974 (0,26m/ano).

Esse mesmo seguimento se apresenta estável,

entre 2007 e 2010. Na direção sul do muni-

cípio, a linha de costa apresentou variações

de progradação e retrogradação, causando

avanços e recuos. Do centro em direção ao sul,

a linha de costa, encontra-se fixada por obra de

contenção. Para o período entre 2007 a 2010,

a maior progradação também ocorreu ao norte

da área e uma retração é evidenciada nos últi-

mos transectos devido à fixação do rio Paratibe.

Page 64: Rima menor

64

Resultados dos valores médios do deslocamento da linha de costa para os municípios do Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista

Fonte: MAI (2009)

Perfis topo-batimétricosSegundo CPEB (2011), os resultados obtidos

na medição dos perfis topo-batimétricos ao

longo da Região Metropolitana do Recife foram

complementados com os dados fornecidos pela

SECTMA e UFPE coletados durante a execução

dos projetos MAI (2009) e MAPLAC (2010). Os

procedimentos adotados garantiram a cober-

tura de dados com alta exatidão para toda a

área estudada, onde os perfis serviram para o

desenvolvimento das alternativas de projetos de

engenharia, e para a interpolação da batime-

tria usada para a modelagem numérica das

condições atuais e alternativas (CPE, 2011). O

quadro a seguir faz um resumo por trecho de

praia x comprimento x espaçamento x números

de perfis. O gráfico ilustra um exemplo de uso

de dados topo-batimétricos complementados,

neste caso para um perfil de Jaboatão dos Gua-

rarapes. Em vermelho, a linha representando o

que foi medido pela CPE (2010). No caso algu-

ma porção do perfil não medida, usou-se dados

complementares dos perfis medidos durante os

projetos MAI (2009) e MAPLAC (2010).

Page 65: Rima menor

65

Perfis Topo-Batimétricos

Trecho de Praia Comprimento(m) Espaçamento(m) Número de Perfis Observações

Boa Viagem 6000 300 20 Praia aberta sem

estruturas com muros de contenção

e enrocamentos

Del-Chifre ao início 1700 300 6 Praias com

dos espigões espigões e quebra-mares

de Olinda

Espigões de Olinda 1900 300 6 Praia com diversos

espigões curtos

Longos 4100 300 14 Praia com muitos

quebra-mares quebra-mares

(Olinda)

Janga a Pau Amarelo 2500 300 8 Praia aberta convexa

(Paulista) com recife. Erosão

acentuada

Marinha Farinha 1800 300 6 Área próxima a

(Paulista) (Paulista)

desembocadura do rio Timbó

Definição e pro-pagação do re-gime de ondasNo presente estudo é apresentado o procedi-

mento adotado para obtenção da onda, o qual

envolve a geração e análise de dados de ondas

em águas profundas, propagação de ondas

em águas rasas através do emprego de mode-

lo numérico. Para isso, utilizaram-se modelos

de onda, como o WAVEWATCH III ou WWIII

(TOLMAN, 2002) desenvolvido pela NOAA/

NCEP (National Ocean and Atmosphere Ad-

ministration/National Centers of Environmental

Prediction). É um modelo espectral, que simula

processos de geração e propagação de ondas

em águas profundas, com base em dados

dos quais podemos obter a altura significativa,

período de pico e direção como uma relação

do espectro, que descreve o cenário geral

das condições de onda em um determinado

momento. Porém, o espectro é composto mais

detalhadamente, com energia de ondas for-

madas por ventos locais em uma determinada

região e grupos de ondas originários de locais

afastados, que se unem aos ventos locais desta

região para compor a totalidade de energia

contida em um espectro. Desta forma, quan-

do se caracteriza um clima de ondas de uma

região, é necessário ter conhecimento de suas

características de formação.

Os dados utilizados para análise e caracteriza-

ção do regime de ondas em águas profundas,

obtido a partir do modelo WWIII, foram extra-

ídos do elemento da grade de cálculo situado

Page 66: Rima menor

66

Exemplo de uso de dados topo-batimétricos complementados, (um perfil de Jaboatão dos Guararapes, PE). Em vermelho está representado o que foi medido pela CPE (2010).

Fonte: CEPB,2011

nas coordenadas 8°S e 034°W (Datum SIR-

GAS-2000), a uma profundidade de aproxima-

damente 2000m, para o período compreendido

entre 30 de janeiro de 1997 e 1º de março de

2010, com dados a cada três horas. Dados

analisados permitem concluir que as ondas

de águas profundas são predominantemente

provenientes de direções entre NNO e SSO

(98,3% dos registros), com alturas de onda va-

riando entre 0,5 e 4,3m e períodos de 3 a 22s.

Dados analisados pelo MAI (2009) apresentam

séries temporais obtidas para a área de estudo

com ondas de gravidade com alturas significati-

vas médias de 0,60 a 0,97m nas áreas cos-

teiras de Jaboatão dos Guararapes, do Recife

e de Olinda e de 0,27 a 0,29m no Paulista.

Os períodos significativos das ondulações nos

municípios analisadas variaram entre 5,1 e 6,8

segundos. As maiores ondulações ocorreram

na região do Recife, com Hs de 1,57 no perío-

do de ventos mais intensos.

Page 67: Rima menor

67

Perfis topo-batimétricos medidos em Recife, PE. Coordenadas em metros UTM. Imagem: Google Earth

Fotografia da embarcação Loba do Mar II, utilizada no levantamento batimétrico

Fonte: CEPB,2011

Fonte: CEPB,2011

Page 68: Rima menor

68

Calibração para modelagem numéricaA maior parte dos problemas de erosão costeira

tem sua causa relacionada à perda sedimen-

tar em longa escala de tempo, que por sua

vez está relacionada à mudança na fonte de

sedimento, ou a mudanças na orientação da

costa devido a construções (LIMA, 2008). Esse

problema é comum em cidades modernas ou

de veraneio que tiveram sua linha de costa

modelada pelo uso de muros de contenção de-

vido à ocupação costeira (BLACK AND MEAD,

2001). O problema fundamental, nestes casos,

é o desequilíbrio entre a orientação da linha de

costa em relação à orientação média da direção

de ondas, a qual governa a direção das corren-

tes ao longo da costa. São estas correntes as

responsáveis pelo transporte de sedimento que

ocasiona a erosão.

Uma ferramenta utilizada para o entendimento

de sistemas costeiros é a modelagem numéri-

ca. A ideia da modelagem numérica pode ser

entendida como a tentativa de explicar nume-

ricamente o comportamento ou característica

de um determinado sistema, permitindo-nos

dizer se a forma de se tratar um determinado

sistema é a mais adequada. A ferramenta é

extremamente útil.

É necessária a calibração do modelo para

se obter sucesso na modelagem costeira. O

processo de calibração de um modelo numé-

rico consiste na escolha dos parâmetros mais

adequados de modo a aproximar os resultados

simulados dos medidos. A modelagem através

de simulação numérica tem-se mostrado de

elevada importância no campo da investigação,

previsões e soluções para problemas dentro do

ambiente marinho.

O uso de modelos numéricos possibilita que,

depois da calibração em um único (ou alguns

pontos), possamos extrapolar as informações

para todo o domínio de cálculo. O processo de

calibração foca na comparação entre os resul-

tados do modelo e observações de campo, de

forma que quanto melhor o ajuste entre estes

valores, melhor o resultado fornecido pelo mo-

delo (COASTAL PLANNING & ENGINEERING,

2010).

O processo de calibração do modelo numérico

Delft3D envolveu comparações entre dados de

marés, ondas e correntes medidos em campo e

simulados. As séries temporais foram medidas

entre o período de 29 de julho de 2009 e 13 de

agosto de 2009 e obtidas no âmbito do proje-

to PROCOSTA (2010). Foram utilizados dois

ondógrafos/marégrafos/correntógrafos InterO-

cean S4ADWi, com frequência de amostragem

Page 69: Rima menor

69

Fonte: PROCOSTA (2010).

de 2Hz, operando em modo intermitente com

aquisição de 30 minutos de dados em inter-

valos de uma hora. Os equipamentos foram

fundeados a 1m de distância do fundo do

mar (COASTAL PLANNING & ENGINEERING,

2011).

As comparações das simulações com os dados

de nível do mar, ondas e correntes ao longo

da simulação foram feitas para dois pontos

diferentes em frente à praia de Boa Viagem, no

Recife. Verifica-se a posição em planta, pro-

fundidade e esquema de fundeio dos sensores

fundeados nos pontos cujos dados levantados

foram utilizados para calibração (BVE e BVI) e

também para os pontos cujos dados não foram

utilizados (CANE, CANI e foz do rio Jaboatão).

Em sentido horário, da esquerda para a direita: localização do fundeio dos sensores S4 na área do estudo BVI – BVE: praia de Boa Viagem; CANI – CANE: praia de Candeias; FOZ: foz do rio Jaboatão e os respectivos valores de profundidades (m) de cada estação. Esquema demonstrando a profundidade e configuração de fundeio dos equipamentos.

Page 70: Rima menor

70

Modelagem com Delft3DA calibração do modelo numérico Delft3D en-

volveu comparações com os dados de marés,

ondas e correntes medidos em campo, para

dois pontos diferentes em frente à praia de Boa

Viagem, no Recife (Coastal Planning & Engine-

ering, 2011). São descritas as calibrações de

marés, ondas e correntes no modelo numéri-

co utilizado. Uma breve descrição é dada ao

modelo numérico Delft3D, desenvolvido pela

Deltares®, em Delft, Holanda, e seus módulos,

assim como o módulo hidrodinâmico Delft3D-

FLOW, o modelo de propagação de ondas

SWAN, o módulo morfológico Delft3D-Mor,

assim como as grades numéricas e batimetria

utilizados ao longo da costa.

Para este trabalho foi utilizado o Delft3D. Este

modelo constitui-se em um avançado sistema

de modelos numéricos 2D/3D (duas ou três di-

mensões) composto de diversos módulos para

a simulação de processos costeiros complexos,

tais como geração e propagação de ondas, cir-

culação hidrodinâmica, transporte de sedimen-

tos e mudanças da morfologia.

O módulo hidrodinâmico Delft3D-FLOW resolve

um sistema de equações de águas rasas em

modo bidimensional (ou integrado em vertical)

ou tri-dimensional. O sistema de equações

consiste nas equações horizontais de movi-

mento (conservação do momento), na equação

de continuidade, equações de transporte para

constituintes conservativos e um modelo de

fechamento turbulento. A equação vertical de

conservação do momento é reduzida à rela-

ção de pressão hidrostática e as acelerações

verticais são assumidas como sendo pequenas

em relação à aceleração da gravidade. Isso faz

com que o Delft3D-FLOW seja adequado para

a predição de fluxos em mares rasos, áreas

costeiras, estuários, lagos, rios e lagoas.

O modelo SWAN é baseado na equação de

conservação da ação de onda e é espectral

(em todas as direções e frequências). Isso

significa que um campo de ondas de cristas

curtas, randômico, propagando-se simultanea-

mente a partir de diferentes direções, pode ser

bem representado. O SWAN calcula a evolu-

ção de um campo de ondas de cristas curtas

randômico, em águas profundas, intermediá-

rias e rasas, assim como em ambientes com

presença de correntes (e.g. desembocaduras).

O modelo calcula os processos de refração

provocados por correntes ou por mudanças

na profundidade e representa os processos de

geração de ondas pelo vento, dissipação por

whitecapping (“carneirinhos”), fricção com o

fundo e quebra induzida pela profundidade,

assim como interações não-lineares onda-onda

(quadruplets e triads), explicitamente, com as

formulações que representam o “estado da

arte” em modelagem de ondas. Ondas bloque-

adas por correntes são também representadas

explicitamente no modelo.

Page 71: Rima menor

71

As grades numéricas determinam a resolução e

delimitam as células de cálculo do modelo. As

propriedades e características variam, portan-

to, de acordo com o objetivo proposto, tipo de

modelagem aplicada e com a área de estudo.

Foram criadas três grades numéricas para

realizar a calibração do modelo.

Os levantamentos batimétricos (hidrográficos)

na área de estudo foram apresentados como

resultados nos relatórios dos projetos MAI

(2009) e MAPLAC (2010). Ambos os levan-

tamentos foram realizados com emprego de

ecobatímetro e utilizaram a mesma metodo-

logia. Além dos levantamentos batimétricos

realizados durante os projetos MAI (2009) e

MAPLAC (2010), em 2010, a CPE realizou

um levantamento batimétrico da praia média,

antepraia e plataforma interna de Jaboatão dos

Guararapes. Esses dados foram coletados com

o objetivo de subsidiar a elaboração do projeto

conceitual de recuperação da orla do muni-

cípio. Maiores detalhes sobre o levantamento

batimétrico podem ser encontrados em Coastal

Planning & Engineering (2011).

Fonte: Coastal Planning & Engineering (2011).

Grades numéricas aninhadas: R - Grade regional (branco). I – Grade intermediária (Azul). L – Grade local (vermelho). As grades foram utilizadas na modelagem e calibração dos modelos. Datum WGS 84, projeção UTM, zona 25 S, coordenadas em metros. Imagem: Google Earth ®.

Page 72: Rima menor

72

Modelagem do cenário atual

Na faixa costeira, entender os processos hidro-

dinâmicos constitui atividade indispensável à

ocupação, uso e intervenção. Todas as ações

nesses ambientes essencialmente complexos e

dinâmicos devem ser minuciosamente estu-

dadas e testadas. Essas raras paisagens e de

variados ecossistemas merecem o máximo de

atenção para que sua manutenção e diversida-

de sejam conservadas.

O levantamento dos processos hidrodinâmicos

das orlas dos municípios de Jaboatão dos Gua-

rarapes, do Recife, de Olinda e do Paulista foi

realizado a partir de dados indiretos obtidos de-

pois de revisão bibliográfica, cartográfica e do-

cumental. Os estudos encontrados se baseiam

principalmente em dois modelos: o de ondas,

avaliando a hidrodinâmica e o de transporte de

sedimentos, contendo simulação de orientação

dos fluxos e direções do transporte de sedi-

mentos pelas mesmas. Esses estudos foram

realizados em três níveis de maré (MHHW, MSL

e MLLW), utilizando doze modelos de ondas e;

modelo da Morfologia e transporte de Sedimen-

tos, mudanças morfológicas, correntes, trans-

porte de sedimentos e processos de ondas.

Na aplicação desses modelos CPEB (2011),

adotou períodos de estabilização (spin-up time)

cerca de 745 minutos (um ciclo de maré semi-

diurna) (CPEB, 2011).

O CPEB (2011) elaborou um modelo acoplado

aos módulos Delft3D-FLOW e Delft3D-WAVE

para avaliar a propagação de ondas e o sistema

de correntes gerado nos quatro municípios.

Foram realizadas medições nos doze tipos de

onda previamente escolhidos, em três níveis de

maré, preamar média de sizígia (maré de lua

cheia ou nova), nível médio e baixa-mar média

de sizígia. As forçantes foram originadas nos

tensores de radiação computados pelo modelo

SWAN (CPEB, 2011).

O CPEB (2011) acoplou módulos Delft3D-WA-

VE, Delft-3D-FLOW e Delft3D-MOR na análise

do transporte de sedimentos e de mudanças

morfológicas. Foram utilizados, nessa simula-

ção, forçantes a maré morfológica e dos doze

casos representativos do clima de ondas. Cada

tipo de onda foi simulado em três ciclos de

maré. Foram registrados, como resultado, os

campos de correntes geradas tanto pela varia-

ção de marés quanto pelas ondas, para aferir

o transporte de sedimentos. Nesse modelo,

utilizou-se sedimentos na fração 0,3mm, em

amostras previamente coletadas. Com base em

imagens aéreas, foram delimitadas as áreas

com presença de arrecifes expostos, definidas

no modelo como área sem sedimentos dispo-

nível para os processos erosivos. Desse mesmo

modo, foram identificadas e classificadas as

áreas com estruturas antropogênicas (e.g. es-

pigões, quebra-mares e enrocamentos). Para o

calculo das alterações morfológicas, utilizou-se

os fluxos de erosão e deposição em cada célula

da grade multiplicas pelo fator de aceleração

Page 73: Rima menor

73

morfológica (morfac) para cada caso de onda.

Os resultados foram apresentados de forma

esquemática de 1 e 5 anos respectivamente.

Os resultados obtidos por CPEB (2011), em

Jaboatão dos Guararapes, mostram que a

variação do nível de maré influencia significati-

vamente a propagação de ondas e campos de

correntes geradas por ondas. Durante a baixa-

mar, as ondas quebram nos arrecifes, locali-

zados a offshore, emersos, onde grande parte

da energia é dissipada. Nos períodos de maré

intermediária, parte das ondas não quebra

sobre os arrecifes, atingindo a praia, principal-

mente onde os mesmos são mais rebaixados

ou nem existem.

Ao analisar os mapas de batimetria inicial e

final, juntamente com os de erosão/sedimen-

tação, é possível observar que a praia de Barra

de Jangada, a norte da foz do rio Jaboatão,

apresenta erosão na porção subaérea do perfil

e deposição em sua porção subaquosa, praia

estável, com tendência deposicional em alguns

pontos. Quando analisado o modelo de 5 anos,

essa tendência a deposição passa de alguns

pontos para uma área bem maior (CPEB,

2011).

Para o Recife, os resultados obtidos por CPEB

(2011) mostram que as mudanças de maré

tem tido efeito significativo na quebra de ondas

e no campo de correntes gerado por elas. A

configuração de mar prolongado também vem

influenciando os padrões de circulação de

ondas. As ondas vindas de leste geram corren-

tes longitudinais próximas à praia no sentido

de norte para sul. Já nas ondas proveniente do

quadrante sul-sudeste, a corrente longitudinal

paralela à praia apresenta sentido de sul para

norte. Na baixa-mar, as ondas quebram mais

afastadas da costa, devido a menor profundida-

de dos arrecifes offshore.

Os mapas batimétricos mostram a existência de

uma região com característica deposicional no

extremo sul da praia de Boa Viagem. Ao norte,

a praia apresenta erosão da porção subaérea

e deposição na antepraia, onde o transporte

residual possui sentido sul norte bem próximo

à costa. Os padrões de erosão e deposição são

semelhantes nos resultados de 1 e 5 anos, com

maior magnitude na simulação de 5 (CPEB,

2011).

Em Olinda, os resultados apresentados por

CPEB (2011) mostram que o nível da maré

influencia significativamente a propagação de

ondas e os campos de correntes geradas por

onda. Na maré baixa, os arrecifes localizados

mais distantes da costa influenciam a quebra

de ondas e dissipam grande parte da energia.

Na maré alta (nível médio de maré e nível

médio de preamar), a quebra de ondas ocorre

mais próxima à costa.

Na costa do Paulista, os resultados por CPEB

(2011) indicam que a variação de maré tam-

bém influencia fortemente na quebra de ondas.

Na maré baixa, os arrecifes que estão na região

Page 74: Rima menor

74

offshore ficam mais rasos, fazendo com que

ocorra uma dissipação da energia de onda na

área mais afastada da costa. Na maré alta, a

quebra ocorre na praia ou quebra-mares da

praia do Janga. A configuração morfológica e

feições batimétricas dos recifes criam correntes

perpendiculares à linha de costa. Essas fei-

ções, por sua vez, sofrem influência do nível de

maré, sendo um pouco mais intensas quando

da maré alta (CPEB, 2011).

Em toda a extensão da linha de costa, entre

a praia de Nossa Senhora da Conceição e o

pontal de Maria Farinha, predomina um caráter

erosivo, tanto na simulação de um ano quanto

de cinco anos. O transporte de sedimentos é

no sentido norte, intensificado na porção sul,

na praia de Nossa Senhora da Conceição, e ao

sul do rio Timbó, no pontal de Maria Farinha

(CPEB, 2011). Em toda a costa dos quatro mu-

nicípios, a propagação de onda e transporte de

sedimentos são fortemente influenciados pela

variação de maré e pela presença de estruturas

de dissipação e quebra da energia de onda,

que também oferecem barreira ao transporte

de sedimentos.

Balneabilidade das praiasA balneabilidade trata da qualidade das águas

destinadas ao contato primário, onde são rea-

lizadas atividades como natação, mergulho e

esportes aquáticos. São analisados os níveis de

bactérias do grupo coliforme na água para de-

terminar essa qualidade. Apesar de não serem

patogênicos, a presença dos coliformes indica

a ocorrência de poluição de origem humana ou

animal, o que pode significar a existência de

outros microorganismos danosos.

A Resolução do CONAMA nº 247/00 dá orien-

tações sobre como essas análises devem ser

feitas e classifica as águas como Próprias ou

Impróprias, de acordo com a densidade de co-

liformes fecal, E. coli e Enterococos. As águas

Próprias podem ser subdivididas nas categorias

Excelente, Muito boa ou Satisfatória. A classi-

ficação Imprópria indica um comprometimento

na qualidade sanitária das águas, porém, uma

praia pode entrar nessa classificação mesmo

com baixos níveis de coliformes, em situações

como presença de óleo, maré vermelha ou

doenças de veiculação hídrica.

Em Pernambuco, a CPRH é a responsável pelo

monitoramento da balneabilidade das praias

e realiza coletas todas as segundas-feiras, em

locais pré-determinados, escolhidos em função

da frequência do público e proximidade com

adensamentos urbanos. As amostras são leva-

das ao laboratório e analisadas utilizando o mé-

todo Determinação do Número Mais Provável

(NMP), que estima a densidade de bactérias. O

monitoramento permite informar os locais com

melhores condições de uso pelos banhistas,

assim como a sua frequência permite traçar os

perfis de balneabilidade das praias.

O monitoramento semanal realizado pela CPRH

permite atualizar os usuários das praias quan-

Page 75: Rima menor

75

Condições das praias dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista, durante a semana de 16 a 22/12/2011.

Fonte: www.cprh.pe.gov.br

ESTAÇÃO PRAIA CLASSIFICAÇÃO

JABOATÃO DOS GUARARAPES

JAB-10 Barra de Jangada PRÓPRIA

JAB-20 Candeias PRÓPRIA

JAB-30 Candeias PRÓPRIA

JAB-40 Candeias IMPRÓPRIA

JAB-50 Piedade PRÓPRIA

JAB-60 Piedade PRÓPRIA

JAB-70 Piedade PRÓPRIA

JAB-80 Piedade PRÓPRIA

RECIFE

REC-10 Boa Viagem PRÓPRIA

REC-20 Boa Viagem PRÓPRIA

REC-30 Boa Viagem PRÓPRIA

REC-40 Boa Viagem PRÓPRIA

REC-50 Boa Viagem PRÓPRIA

REC-60 Boa Viagem PRÓPRIA

REC-70 Pina PRÓPRIA

REC-80 Pina IMPRÓPRIA

OLINDA

OLD-10 Milagres PRÓPRIA

OLD-20 Carmo PRÓPRIA

OLD-30 Farol PRÓPRIA

OLD-40 Bairro Novo PRÓPRIA

OLD-50 Bairro Novo IMPRÓPRIA

OLD-60 Casa Caiada IMPRÓPRIA

OLD-70 Casa Caiada IMPRÓPRIA

OLD-80 Casa Caiada PRÓPRIA

OLD-90 Rio Doce PRÓPRIA

OLD-97 Rio Doce PRÓPRIA

PAULISTA

PAL-10 Janga IMPRÓPRIA

PAL-20 Janga PRÓPRIA

PAL-30 Pau Amarelo IMPRÓPRIA

PAL-33 Conceição IMPRÓPRIA

PAL-40 Maria Farinha IMPRÓPRIA

to às melhores áreas para fins de recreação,

sendo que a médio/longo prazo, é possível

traçar um perfil mais confiável da qualidade

das águas nos locais específicos. Os resultados

das análises são publicados no site da CPRH,

estando disponíveis para toda a população. A

tabela a seguir exemplifica os dados de classifi-

cação dos pontos de monitoramento segundo a

CPRH, durante a semana de 16 a 22/12/2011.

Page 76: Rima menor

76

5

Flora aquáticaOs estudos relativos à composição da comunidade de microalgas planc-

tônicas (fitoplâncton), na Área Diretamente Afetada, são poucos princi-

palmente na zona de arrebentação. O fitoplâncton é o principal produtor

primário dos ambientes costeiros, responsável pelo início do fluxo de

matéria e energia da rede trófica destes ambientes, contribuindo para a

sua fertilização, sustentando diretamente os herbívoros e indiretamente

os animais dos níveis tróficos superiores, incluindo espécies economica-

mente importantes. A composição dessa comunidade é influenciada pelas

variações do nível das marés, bem como da contribuição dos estuários.

No diagnóstico realizado, a baixa riqueza de táxons (24) não condiz com

estudos dessa natureza para os locais amostrados.

Os grupos registrados (clorofíceas, diatomáceas, dinoflagelados e ciano-

bactérias) foram citados em levantamentos anteriores, mas não foram

registrados nas análises qualitativas. Um estudo considerando uma malha

amostral que contemple um maior número de estações, com as regiões

estuarinas incluídas, necessita ser realizado para o entendimento de como

o empreendimento afetara a comunidade fitoplanctônica nas praias e estu-

ários localizados na ADA e AID. Outro aspecto importante é considerar as

variações de maré e sazonalidade, observando a influência do continente

para a composição de espécies.

O perifiton é uma complexa comunidade de microrganismos (algas,

bactérias, fungos e animais), detritos orgânicos e inorgânicos aderidos a

substratos inorgânicos (rochas, conchas) ou orgânicos vivos ou mortos.

Rico em proteínas, vitaminas e minerais, constitui importante alimento

Como se apresenta o meio biótico na área do empreendimento?

Page 77: Rima menor

77

Bellerochea sp.

Fonte: ITEP-OS/UFQB

para muitos organismos aquáticos. Sua quali-

dade alimentar é determinada pela composição

dos grupos de algas dominantes, influenciando

a produção secundária e o fluxo de energia dos

micro-organismos consumidores.

Com a efetiva participação na reciclagem de

nutrientes inorgânicos, quase toda produção

fotossintética é mineralizada continuamente no

biofilme perifítico. As macrolagas Dictiopterys

sp. (Paheophyceae) e Caulerpa sertularioides

(Chlorophyceae) foram eleitas como substrato,

por apresentarem ampla distribuição e abun-

dância no litoral de Pernambuco, nas praias

do Cabo de Santo Agostinho, de Jaboatão dos

Guararapes, do Recife e de Olinda. Foram

identificadas 10 taxa de microalgas epífitas nos

dois substratos, sendo um baixo número de

espécies, devido a amostragem ter sido

realizada somente uma única vez. Porém, fica

evidenciada, em nível de Divisão, a presen-

ça das três principais Divisões no ambiente

aquático marinho (Cyanobacteria, Rhodophyta

e Chlorophyta), representadas por espécies

cosmopolitas que pouco diferiam entre os

substratos. Neste caso, as diferenças florísticas

existentes entre os dois substratos analisados

poderiam estar relacionadas mais às desigual-

dades arquitetônicas dos dois hospedeiros, do

que às mudanças ambientais, que apresentam

pequenas variações em todo litoral do Estado.

Portanto, o monitoramento, em longo prazo,

deve trazer informações mais precisas sobre

a dinâmica desta comunidade, pois as micro-

algas têm uma alta taxa de reprodução em

curtíssimo intervalo de tempo, favorecendo-as

como indicadores rápidos da qualidade am-

biental da região onde habita.

Page 78: Rima menor

78

Licmophora abbreviata

Chaetoceros sp.

Fonte: ITEP-OS/UFQB

Fonte: ITEP-OS/UFQB

Page 79: Rima menor

79

Aspecto geral de Ceratium sp.

Fonte: ITEP-OS/UFQB

Entre os organismos bentônicos, aqueles que

vivem no sedimento, podem ser encontrados

representantes da flora, além de animais. Na

área do empreendimento, foram registradas

três espécies de angiospermas marinhas,

alimento preferencial do peixe-boi, nas praias

do Paulista e de Piedade, além de áreas mais

afastadas da costa no Recife e no Cabo de

Santo Agostinho. Destaca-se a presença da

espécie Halophila baillonis que ocorre, no

Brasil, exclusivamente nas Áreas de Influência

Direta e Indiretas do empreendimento. Embora

as angiospermas marinhas não apresentem um

número representativo de espécies, sua impor-

tância econômica, ecológica e biológica é alta,

sendo consideradas “engenheiras de ecossis-

temas”, por terem a capacidade de modificar

as condições hidrológicas, físicas e geológicas

dos ambientes. É fundamental o monitoramento

dessas plantas tanto durante as obras como

depois do engordamento das praias uma vez

que a manutenção dos bancos destas plantas

podem ser benéficas para o empreendimento,

por ajudarem na manutenção do sedimento na

área.

Importante produtor primário, as macroalgas

bentônicas tiveram registradas em literatura

mais de 100 espécies na área do empreen-

dimento, contudo, nas amostragens inicias

apenas 30 espécies foram identificadas. São

necessários maiores esforços de inventário de

espécies e seu monitoramento, uma vez que

esses organismos podem ser utilizados como

bioindicadores. Atualmente, por exemplo,

foram encontradas várias espécies que indicam

Page 80: Rima menor

80

Aspecto de um prado de Halophila decipiens com destaque a fauna acompanhante

Fonte: //http: home.coqui.net/

áreas eutrofizadas (com muitos nutrientes), o

que pode ser alterado durante e depois das

obras propostas. Nas áreas de dragagem,

foram identificados bancos de rodolitos, algas

calcárias compostas basicamente por carbo-

nato de cálcio e de magnésio, que apresentam

importância econômica, por sua utilização na

agricultura, potabilização de água para consu-

mo humano, indústria de cosméticos, implan-

tes em cirurgia óssea, aquariofilia e nutrição

animal. Esses bancos devem ser mapeados

imediatamente, até porque eles não servem aos

fins de engordamento de praia devido a sua

alta taxa de carbonato.

Apesar de não estarem na área diretamen-

te afetada pela obra, encontramos na área

manguezais. Nessa área se encontram um

dos maiores manguezais em área urbana do

mundo, localizado no complexo estuarino dos

rios Pina, Jordão e Tejipió, além dos mangue-

zais dos estuários do rio Jaboatão e do canal de

Santa Cruz. Os manguezais desempenham fun-

ção prioritária na estabilidade da geomorfologia

costeira, na conservação da biodiversidade e

na manutenção de amplos recursos pesqueiros

devendo, assim, ser monitorados para garantia

de sua conservação e de toda fauna e flora

dependente.

Page 81: Rima menor

81

Aspecto da angiosperma Halophila baillonis

Gracilaria sp., Rhodophyta

Fonte://http: aquaportail.com/

Foto: Cacilda Rocha (25/11/2011)

Page 82: Rima menor

82

Sargassum sp., Heterokontophyta

Fonte://http: aquaportail.com/

Fauna aquáticaO zooplâncton consiste em uma parcela da bio-

ta marinha composta por vários representantes

heterótrofos (aqueles que não possuem a capa-

cidade de produzir seu próprio alimento). Eles

desempenham importante papel na transfe-

rência da energia das microalgas planctônicas

para elos superiores das teias alimentares mari-

nhas. Por essa razão, esses pequenos animais

são grupos-chaves na caracterização ambiental

de quase todos os ecossistemas aquáticos,

servindo como bioindicadores da qualidade

ambiental em curta e longa escalas de tempo.

O monitoramento da comunidade zooplanctô-

nica é essencial para um manejo adequado de

ambientes aquáticos, em todas suas escalas. A

partir da análise dos resultados obtidos no pre-

sente estudo, bem como uma breve síntese do

estado atual de conhecimento científico, foram

identificadas expressivas lacunas, na região em

questão, quanto aos estudos sobre a comuni-

dade zooplanctônica de ambientes costeiros

não estuarinos. O presente estudo consiste em

um dos primeiros levantamentos da composi-

ção e estrutura desta comunidade em vários

trechos da área do empreendimento.

Foram registrados 50 táxons zooplanctônicos,

todos típicos de regiões costeiras marinhas e

estuarinas brasileiras. Algumas áreas estuda-

das apresentaram vários grupos meroplanctô-

nicos, tais como larvas de medusas, planárias,

moluscos, poliquetos, decápodes, cirripédios,

ascídias e peixes, além de alguns organismos

Page 83: Rima menor

83

Nauplius de Copepoda, típico de regiões costeiras tropicais de Pernambuco.

Foto: Cacilda Rocha (25/11/2011)

ticoplanctônicos (foraminíferos, copépodes

harpacticóides da meiofauna, além de isópodes

e anfípodes, que vivem associados à vegetação

aquática) de importantes ecossistemas bentô-

nicos.

Especial atenção deve ser dada à manutenção

da dinâmica das massas d’água costeiras que

banham os recifes costeiros, os bancos de

macrófitas e as áreas adjacentes às desembo-

caduras dos diversos estuários que deságuam

nesta área do empreendimento, de modo a

manter o equilíbrio nos ecossistemas. Espécies

e grupos típicos de tais ambientes podem servir

como bioindicadores, a curto e longo prazos,

da manutenção dessa dinâmica oceanográfica

costeira. Nesse caso, é extremamente necessá-

rio um acompanhamento desses táxons indica-

dores da qualidade ambiental durante todas as

etapas de consolidação do empreendimento.

Os organismos que compõem o ambiente ben-

tônico têm sido amplamente utilizados como

bioindicadores, uma vez que estão intimamente

associados a ele, respondendo a vários tipos de

alterações naturais e antropogênicas. Dentre os

organismos que ocorrem no sedimento, os que

constituem a meiofauna são de grande impor-

tância, pois desempenham papel fundamental

na teia alimentar. Participam como elo entre os

recursos basais (detritos e algas) e os peixes,

além de que, sua diversidade, junto com os

fatores abióticos, é um fator relevante para o

Page 84: Rima menor

84

Macho do Copepoda Parvocalanus crassirostris, espécie muito comum no litoral de Pernambuco

Fonte: Xiomara F. García-Díaz

estudo desses ambientes. Com base nos resul-

tados obtidos no estudo, a meiofauna das áreas

estudadas não foge aos padrões encontrados

para outras áreas, tais como do estuário do rio

Jaboatão (Silva 1997), canal de Santa Cruz

(Da Rocha, 1991), Pina e Boa Viagem (Silva,

1997), onde os grupos mais representativos

são Foraminifera, Nematoda e Copepoda Har-

pacticoida. É possível observar que há alguns

pontos com baixa diversidade, como é o caso

de Jaboatão dos Guararapes e de Boa Viagem,

porém tal aspecto pode estar relacionado com

a flutuação sazonal normal, com a disponibi-

lidade de matéria orgânica, granulometria ou

pode estar refletindo um ambiente com certo

grau de impacto. Das áreas estudadas,

os pontos localizados na praia do Paulista

apresentam as melhores condições ambientais,

com dominância de Copepoda Harpacticoi-

da, que é indicador de ambiente com pouca

influência de matéria orgânica, detrito. Porém,

somente um monitoramento de longo prazo,

contemplando coletas nos diferentes períodos,

seco e chuvoso, e nos diferentes habitats (praia

e estuário) trará informações mais precisas

sobre as flutuações e o funcionamento dessa

comunidade que é de fundamental importância

para o conhecimento da qualidade do sedi-

mento e na transferência de energia no ecos-

sistema.

Page 85: Rima menor

85

Fêmea do Copepoda Oithona hebes – espécie muito comum no litoral de Pernambuco

Fonte: Fernando F. Porto Neto

Fêmea ovada do Copepoda Euterpina acutifrons – espécie muito comum no litoral de Pernambuco.

Fonte: Xiomara F. García-Díaz

Page 86: Rima menor

86

Vários motivos justificam o interesse pelo co-

nhecimento da fauna de praias. Muitas espé-

cies têm importância econômica direta, como

os crustáceos e moluscos utilizados na alimen-

tação humana ou como isca para pesca. A

esses são somados os poliquetas, que também

constituem rica fonte de alimento para alguns

organismos, principalmente peixes, crustáce-

os e aves (AMARAL et al., 1994). Além disso,

diversos estudos têm demonstrado a relevância

da utilização de comunidades bentônicas na

avaliação da qualidade ambiental.

As análises das amostras das praias de Jabo-

atão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e

do Paulista revelaram a ocorrência dos tá-

xons Crustacea Isopoda, Nematoda, Mollusca

(Bivalvia, Gastropoda, Scaphopoda), Polycha-

eta e Sipuncula, tendo Sipuncula (47,54%)

apresentado a maior abundância, seguido por

Polychaeta (20,77%) e Nematoda (15,85%).

Os demais grupos foram responsáveis por

15,85% do total.

A densidade total variou de 31,83 ind.m2 na

praia exposta de Jaboatão dos Guararapes a

3.023,94 ind.m2 na praia protegida do Pau-

lista. Não foram encontrados organismos na

praia exposta estudada no Recife, município

no qual foram encontradas as menores densi-

dades durante o estudo. Observou-se também

que as maiores densidades foram encontradas

nas praias protegidas em todos os municípios

analisados.

No total das amostras da área de jazida foram

encontrados 841 organismos de 31 táxons

diferentes. Em termos de grandes grupos

taxonômicos, Polychaeta foi o mais abundante

(37,81%), seguido por Crustacea (21,40%),

Mollusca (21,05%), Sipuncula (10,46%) e

Echinodermata (9,27%).

Dos 31 táxons encontrados, Bivalvia foi o único

constante com quase 87% de frequência de

ocorrência, enquanto que Gammaridea, Ophiu-

roidea, Polychaeta, Sipuncula e Scaphopoda

foram muito frequentes, e Paguroidea, Gastro-

poda, Isopoda e Portunus sp foram comuns. Os

outros 21 táxons foram considerados raros na

área estudada.

Imagem derepresentantes do Filo Foraminifera

Imagem de representante do Filo Nematoda

Imagem de representante da Ordem Harpacticoida

Fonte: http://migre.me/7F0vW

Page 87: Rima menor

87

Paractaea r. nodosa (Stimpson, 1860). Macho em vista dorsal. Marca=0,5mm

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

Os resultados obtidos podem estar relacionados

com a variação espaço-temporal, com a dinâ-

mica do ambiente ou podem estar refletindo

um ambiente impactado. As praias dos muni-

cípios estudados vêm sofrendo uma crescente

descaracterização em razão da ocupação

desordenada.

Também merecem destaque a crescente espe-

culação imobiliária, a mineração com retirada

de areia das praias e dunas, e o crescimento

explosivo e desordenado do turismo sem qual-

quer planejamento ambiental e investimentos

em infraestrutura.

Inachoides forceps A. Milne-Edwards, 1879. Macho em vista dorsal. Marca=1mm.

Pelia rotunda A. Milne-Edwards, 1875. Macho em vista dorsal. Marca=0,5mm.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

Sicyonia typica (Boeck, 1864). \Marca=1mm.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

Page 88: Rima menor

88

Fonte: Paula B. Gomes

Recife de arenito costeiro na praia de Boa Viagem, Recife - PE.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

Na área afetada pelo empreendimento, o substrato consolidado está representado por ambientes

recifais. São entendidos como ambientes recifais aqueles ecossistemas de substrato consolidado

que possuem elevada cobertura viva, podendo incluir corais, e que apresentam fauna e flora típica

dos recifes costeiros. A diversidade de vida e a produtividade destes ambientes são bem elevadas,

reforçando sua importância ecológica. Na área do estudo são encontrados recifes de arenito cos-

teiros, em franja e também recifes artificiais compostos pelos quebra-mares dispostos previamente

em diversos pontos da orla para mitigar efeitos erosivos das ondas.

Page 89: Rima menor

89

Recife artificial (quebra-mar) em Jaboatão dos Guararapes-PE.

Foto: Petrônio A. Coelho Filho

As amostragens realizadas na área diretamente

afetada pelo empreendimento revelam dois

tipos de comunidades bentônicas, aquelas as-

sociadas aos recifes naturais e as que habitam

os recifes artificiais (quebra-mares). Nos recifes

costeiros, a comunidade esteve composta por

representantes típicos destes ambientes, po-

rém, com baixa riqueza quando comparada a

outros recifes de áreas não urbanizadas.

Os quebra-mares funcionam como recifes

artificiais, porém apresentam uma comunidade

menos rica que os naturais devido à excessiva

altura. Abrigam uma fauna típica de ambientes

costeiros com longo tempo de exposição ao ar.

No entanto, a comunidade destes ambientes é

bem característica e será afetada pela abertura

dessas estruturas, com retirada direta de orga-

nismos e alterações nas condições químicas,

Page 90: Rima menor

90

Exemplares de Uca rapax (Smith, 1870) coletado no quebra-mar de Olinda - PE.

Fonte: Paula B. Gomes

Banco de areia com presença de caranguejos chama marés (Uca rapax e Uca thayeri) em Olinda - PE.

Fonte: Paula B. Gomes

Page 91: Rima menor

91

Exemplares de crustáceos cirripédios no quebra-mar de Jaboatão dos Guararapes - PE.

Fonte: Paula B. Gomes

Exemplares de ostras (Mollusca) no quebra-mar do Paulista - PE.

Fonte: Paula B. Gomes

Page 92: Rima menor

92

físicas e biológicas do ecossistema.

O conhecimento da composição da assem-

bleia de peixes vem a ser uma das ferramentas

utilizadas para compreender o nível da inter-

ferência antrópica sofrida nessas regiões. A

comunidade de peixes é a mais diversificada

fauna de vertebrados conhecida e representam

o maior componente biológico em ecossistemas

costeiros (SALE, 1985).

Os peixes são o mais antigo e numeroso grupo

entre os vertebrados. São cerca de 24.000

espécies de peixes, número semelhante ao de

anfíbios, répteis, aves e mamíferos somados

(NELSON, 1994). As comunidades de pei-

xes apresentam numerosas vantagens como

indicadora nos programas de monitoramento

biótico e levantamentos, realizados em um

espaço de tempo definido e replicável. Permi-

tem importantes inferências sobre impactos

ambientais nos ecossistemas em questão.

Foram analisados 225 indivíduos distribuídos

em 42 espécies e 24 famílias. Os indivíduos

pertencentes às famílias Ariidae (Bagres) não

foram identificados em gênero e espécie, em

virtude do tamanho muito reduzido dos indiví-

duos, além do fato de alguns exemplares serem

danificados durante o arrasto. As famílias com

maior número de espécies foram: Gerreidae e

Sciaenidae, ambas com cinco espécies cada e

a Tetraodontidae com três diferentes espécies.

Todas as outras famílias apresentaram duas ou

uma única espécie. As espécies mais captura-

das durante as amostragens foram a carapeba-

branca, Diapterus rhombeus; n=58 (25,5%),

a solha ou linguado, Citharichthys spilopterus

n=37 (12,6%) e o coró, Stellifer stellifer, n=26

(11,5%) respectivamente.

Principais espécies de organismos marinhos, com enfoque para os peixes, coletados na zona de arrebentação do litoral de Pernambuco, destacando o juvenil de mero (círculo azul)

Fonte: Paula B. Gomes

Page 93: Rima menor

93

Indivíduos de Cephalopholis fulva que são capturados pela frota artesanal, com armadilhas de fundo (covos), e são encontrados ao longo na plataforma continental do Estado

Fonte: Paula B. Gomes

Page 94: Rima menor

94

Visão panorâmica da praia de Boa Viagem, Recife - PE

Fonte: Marcondes Oliveira

Flora terrestreHistoricamente, os ecossistemas costeiros no

Brasil foram os que maior impacto sofreram

principalmente pela ocupação desordenada e

especulação imobiliária, devido a sua posição

geográfica ao longo do litoral – local preferen-

cial para a ocupação, desde a colonização do

Brasil (Coimbra-Filho & Câmara, 1996).

Diversas áreas de vegetação nativa de floresta

atlântica, restingas, manguezais e zona de praia

foram suprimidos para ceder espaço à criação

de importantes centros comerciais e residen-

ciais, plantações de monocultura, especulação

imobiliária, extração de jazidas, exploração de

recursos vegetais e animais (Coimbra-Filho &

Câmara, 1996). A vegetação desses ecossis-

temas tem sido reduzida em cerca de mais de

90% de sua área (SOS Mata Atlântica, 1998).

A Zona Costeira de Pernambuco apresenta

um litoral com 187km de extensão, abrigando

grande diversidade de ecossistemas, como

praias, restingas, tabuleiros, cerrados, pontais

rochosos, recifes de corais, ilhotas e mangue-

zais (Andrade-Lima, 1960).

Nas zonas de praia, antedunas e dunas mais

próximas ao mar predominam espécies herbá-

ceas reptantes e rizomatosas, principalmente

ciperáceas e gramíneas, com destaque tam-

bém as jitiranas ou salsa da praia, bredo e

feijão da praia. Em alguns casos, arbustos e

árvores, que ocorrem de forma isolada e pouco

expressiva ou formando agrupamentos ou moi-

tas mais densos.

Árvore símbolo da praia, o coco-da-baía ou

coco-da-praia é a planta de maior represen-

tatividade ao longo de toda a orla das praias

nordestinas e, não poderia ser diferente na orla

pernambucana. Essas espécies acompanham

toda a costa. Com suas propriedades alimentí-

cias e medicinais, o fruto é bastante apreciado

pelos nordestinos, além de servir como orna-

mento urbano.

Page 95: Rima menor

95

Ramos frutíferos de Anacardium occidentale L. (Cajueiro)

Ramo frutificado de Crotalaria retusa

Fonte: Marcondes Oliveira

A área de estudo, apesar de impactada,

apresenta importantes fitofiosonomias diferen-

ciadas, desde faixa de praia, pequenas dunas,

reduzido trecho de restinga e manguezal con-

tornando alguns estuários como os de Pirapa-

ma e de Jaboatão, de Beberibe, de Paratibe e

de Timbó.

A flora da orla da Região Metropolitana do Re-

cife apresenta-se mista, com diversas espécies

exóticas, ou seja, estrangeiras e, ruderais, com

ampla distribuição na natureza. Entre as espé-

cies nativas na faixa de praia, temos: Alternan-

thera littoralis var. maritima (Mart.) Pedersen,

Blutaparon portulacoides (Bredo-da-praia),

Canavalia rosea (Feijão-da-praia), Dalbergia

ecastaphyllum (Bugi), Fimbristylis spathacea,

Guapira pernambucensis, Guilandina bonduc,

Ipomoea pes-caprae (Salsa-da-prais), Ipomoea

stolonifera (Salsa-branca), Paspalum mariti-

mum, Paspalum vaginatum, Remirea marítima,

Sesuvium portulacastrum, Sophora tomentosa,

Sporobolus virginicus.

Foram detectadas importantes áreas para a

preservação da flora e da fauna costeira, como

estuários, manguezais e restinga, ambientes

associados à zona de praia. O impacto dos

ecossistemas é fato consumado e notório,

porém são urgentes e prudentes medidas

conservacionistas que visem minimizar esses

impactos, tais como poluição de resíduos sóli-

dos, redução de áreas naturais, exploração de

caça, pesca e retirada da vegetação, proteção à

desova de tartarugas marinhas.

Page 96: Rima menor

96

Ramos floridos de Canavalia rosea

Ipomoea stolonifera (salsa-branca)

Dalbergia ecastaphyllum (bugi)

Gramínea Sporobolus virginicus

Fonte: Marcondes Oliveira

Fonte: Marcondes Oliveira

Page 97: Rima menor

97

Fauna terrestreNas áreas Diretamente Afetada (ADA), de Influ-

ência Direta (AID) e de Influência Indireta (AII)

do empreendimento de “Recuperação da Orla

dos Municípios de Jaboatão dos Guararapes,

Recife, Olinda, Paulista e adjacentes” encon-

tram-se basicamente três ambientes propícios

à ocorrência da fauna terrestre, representantes

dos grupos dos anfíbios, répteis, aves e ma-

míferos: i. Ambientes aquático marinho com

registro de tartarugas marinhas; ii. Ambientes

aquático lótico, com registro principalmente de

cágados, jabutis e jacarés; iii. Ambientes flores-

tados em diferentes estágios de conservação,

com ocorrência marcante de anuros, lagartos,

serpentes, testudines e jacarés.

A fauna de vertebrados terrestres está repre-

sentada por 430 espécies, sendo 41 anfíbios

anuros, 59 répteis, 261 aves e 69 mamíferos.

Quanto aos anfíbios, todos foram registrados na

Área de Influência Indireta-AII do empreendi-

mento, sendo 26 em Jaboatão dos Guararapes,

28 no Recife, 19 em Paulista e 34 em Igarassu.

As espécies registradas podem ser enquadra-

das em nove famílias: Amphignathodontidae

(1 sp.), Brachycephalidae (2 spp.), Bufonidae

(4 spp.), Cycloramphidae (1 sp.), Hylidae (20

spp.), Leiuperidae (3 spp.), Leptodactylidae (7

spp.), Microhylidae (2 spp.) e Ranidae (1 sp.),

estando todas as espécies com ampla distribui-

ção, ocorrendo em grande parte do estado e

na maioria dos estados nordestinos, em es-

pecial em ambientes de Mata Atlântica, áreas

de transição entre Mata Atlântica e Caatinga e

em áreas abertas de Caatinga. Em relação aos

estágios de conservação, doze espécies encon-

tram-se classificadas como “pouco preocupan-

te” na lista de espécies ameaçadas da IUCN

(2010); estando todas ausentes dos Apêndices

I, II e III da CITES (2011), que também trata

das espécies sob ameaça de conservação.

Em relação aos répteis, foram registradas qua-

tro espécies nas Áreas Diretamente Afetada,

de Influência Direta e de Influência Indireta e

55 apenas na Área de Influência Indireta do

empreendimento. São 42 espécies registradas

em Jaboatão dos Guararapes, 12 no Recife, 18

em Paulista, 19 em Igarassu e 4 espécies nas

áreas costeiras dos municípios analisados – es-

sas últimas se destacam por ocorrerem simul-

taneamente nas Áreas Diretamente Afetada,

de Influência Direta e de Influência Indireta do

Empreendimento. Os répteis registrados estão

distribuídos em cinco grandes grupos, testudi-

nes (5 spp.), lagartos (19 spp.), amphisbaena

(1 sp.), serpentes (32 spp.) e jacaré (2 spp.).

No que se refere aos testudines, foram regis-

tradas duas famílias: Cheloniidae (4 spp.) e

Chelidae (1 sp.). Os amphisbaenídeos tiveram

registro de uma família: Amphisbaenidae (1

sp.). Os lagartos tiveram registro de dez famí-

lias: Gekkonidae (1 sp.), Gymnophtalmidae (2

spp.), Iguanidae (1 sp.), Leiosauridae (1 sp.),

Phyllodactylidae (1 sp.), Polychrotidae (4 spp.),

Page 98: Rima menor

98

Scincidae (2 spp.), Sphaerodactylidae (1 sp.),

Teidae (4 spp.) e Tropiduridae (2 spp.). As ser-

pentes tiveram registro de seis famílias: Boidae

(3 spp.), Colubridae (6 spp.), Dipsadidae (16

spp.), Elapidae (1 sp.), Typhlopidae (1 sp.) e

Viperidae (5 spp.). Os jacarés tiveram registro

de uma família: Alligatoridae (2 sp.). Dentre as

espécies de répteis registradas, todas possuem

ampla distribuição, ocorrendo em grande parte

do Nordeste, em especial na Mata Atlântica e

algumas em áreas abertas de Caatinga.

Em relação ao status de conservação, qua-

tro espécies de tartarugas marinhas (Caretta

caretta, Chelonia mydas, Eretmochelys imbri-

cata e Lepidochelys olivacea) se encontram

classificadas pelo Ibama (2008) e IUCN (2010)

como criticamente em perigo; além das espécie

Caiman latirostris e Paleosuchus palpebrosus

comporem o Apêndice I e os squamatas Tupi-

nambis marianae, Iguana iguana, Boa constric-

tor e Epicrates cenchria comporem o Apêndice

II da CITES (2011).

Quanto as aves, quatorze espécies foram regis-

tradas simultaneamente nas Áreas Diretamente

Afetada, de Influência Direta e de Influência

Indireta e 247 registradas exclusivamente na

Área de Influência Indireta. Essas espécies se

enquadram em 46 famílias, sendo todas com

ampla distribuição, ocorrendo em grande parte

do estado e na maioria das fitofisionomias e

dos estados da região nordeste, em especial na

Mata Atlântica, áreas de transição entre Mata

Atlântica e Caatinga e em áreas abertas de

Caatinga. Uma parte menor de espécies ocorre

preferencialmente em áreas costeiras. Em re-

lação ao status de conservação, duas espécies

se enquadram na categoria de espécies em

perigo (Myrmeciza ruficauda e Curaeus forbe-

si), três na categoria de espécies quase amea-

çadas (Pyrrhura lépida, Thalurania watertonii e

Picumnus fulvescens), quatro na categoria de

espécies vulneráveis e 234 espécies na catego-

ria de pouco preocupantes segundo o IBAMA

(2008) e IUCN (2010); estando duas no Apên-

dice II (Pteroglossus aracari e Tangara fastuosa)

e duas no Apêndice III (Dendrocygna bicolor e

Cairina moschata) da CITES (2011).

Em relação aos Mamíferos, todas as espécies

foram registradas apenas na Área de Influência

Indireta-AII do empreendimento, especifica-

mente 31 espécies em Jaboatão dos Guara-

rapes, 47 no Recife e 33 em Paulista. Entre

as espécies, 48 representando a mastofauna

não alada e 21 a mastofauna alada (morce-

gos). Ressaltando o registro de oito espécies

que ocorrem em áreas urbanas. Em relação

aos status de conservação, uma espécie se

enquadra na categoria de dados deficientes

(Lontra longicaudis); uma espécie na categoria

de quase ameaçada (Leopardus wiedii); uma

espécie na categoria de vulnerável (Leopardus

tigrinus) e 52 espécies na categoria de pouco

preocupante segundo o IBAMA (2008) e IUCN

(2010); estando quatro no Apêndice I (Leopar-

dus pardalis, Leopardus tigrinus, Leopardus

wiedii e Lontra longicaudis), duas no Apêndice

II (Bradypus variegatus e Cerdocyon thous) e

Page 99: Rima menor

99

cinco no Apêndice III (Cuniculus paca, Eira

barbara, Galictis vittata, Nasua nasua e Platyr-

rhinus lineatus) da CITES (2011).

Quanto ao uso pelas comunidades, destacam-

se duas espécie de anfíbios anuros (Leptodac-

tulus vastos e Leptodactylus latrans), cinco de

testudines (Caretta caretta, Chelonia mydas,

Eretmochelys imbricata, Lepidochelys olivá-

cea e Phrynops geoffroanus), uma de lagarto

(Tupinambis meriana), duas de jacaré (Caiman

latirostris e Paleosuchus palpebrosus), nove de

aves (Columbina passerina, Columbina minuta,

Columba livia, Columbina talpacoti, Leptotila ru-

faxilla, Geotrygon montana, Porphyrio martini-

ca, Gallinula chloropus e Ortalis guttata) e doze

de mamíferos (Cuniculus paca, Cabassous

unicinctus, Cavia aperea, Dasyprocta prymnolo-

pha, Dasypus novemcinctus, Didelphis albi-

ventris, Euphractus sexcinctus, Hydrochaeris

hydrochaeris, Leopardus pardalis, Leopardus

tigrinus, Nasua nasua e Tamandua tetradactyla)

por serem expressivamente utilizadas como

fonte de alimentação e consequentemente são

alvos de caça (espécies cinegéticas).

Destaca-se que embora tenhamos registrado

uma riqueza expressiva e quatro espécies criti-

camente em perigo de extinção, as populações

existentes são de ampla distribuição geográfica

e abundantes em todo território nacional, não

representando obstáculo a implementação da

obra almejada, desde que seja operacional-

mente efetuada dentro de critérios que possibi-

litem a conservação das populações relaciona-

das.

No que se refere aos impactos negativos para

a fauna de vertebrados terrestres é possível re-

conhecer dois núcleos, uma vez que a grande

maioria das espécies de anfíbios, répteis, aves

e mamíferos ocorrem na AII em áreas relati-

vamente distantes da costa: i. Destruição de

ninhos de tartarugas marinhas e o ii. Atropela-

mento e destruição das áreas de alimentação

e reprodução das tartarugas marinhas por

ocasião do tráfego das embarcações e da cons-

trução dos espigões decorrentes do empreendi-

mento. Tais impactos podem ser mitigados ou

controlados através de medidas e programas

que deverão ser realizados durante e depois da

implantação do empreendimento.

Page 100: Rima menor

10

0

6

SocioeconomiaOs estudos efetuados pela equipe de socioeconomia para avaliar os im-

pactos com a implantação do projeto de recuperação da orla de Jaboatão

dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista destacaram alguns

pontos da caracterização dos municípios e de sua área de influência

direta:

• O crescimento populacional dos municípios intensificou-se no século

XX como resultado da atração populacional decorrente da concentra-

ção de investimentos na Região Metropolitana do Recife;

• A ocupação urbana ocorreu de forma desordenada e sem planeja-

mento;

• Existem grandes disparidades sociais, que se refletem no perfil da

ocupação da orla;

• A atual pressão populacional na parte sul da região metropolitana

é um importante impulsionador na ocupação mais intensa da orla,

principalmente de Jaboatão dos Guararapes e do Recife;

• As taxas de crescimento populacional indicam que o Recife e Olinda

estão apresentando menor atração populacional, tendo em vista as

menores taxas de crescimento populacional nos últimos anos;

• Os municípios apresentam perfil extremamente urbanizado;

• A expectativa de vida está aumentando, a população tem envelhecido

pela diminuição da taxa de natalidade, o que reduz a necessidade de

crescimento da infraestrutura para atendimento da primeira infância,

mas aumenta a necessidade de crescer a oferta de infraestrutura

para atendimento de idosos, desenvolvimento de novas tecnologias

Quais são os aspectos socioeconômicos da área do empreendimento?

Page 101: Rima menor

10

1

medicinais, melhorias no atendimento

básico a saúde;

• Quase a metade do PIB estadual ocorre

nos municípios que receberão o projeto;

• O crescimento econômico do conjunto dos

municípios está pouco inferior à média

do estado, mas existe disparidade entre

os quatro, com a parte sul apresentando

crescimento bem mais intenso que a parte

norte;

• O PIB per capita é muito maior nos muni-

cípios do que no restante do estado;

• Os municípios de Jaboatão dos Guararapes

e do Paulista apresentam importante papel

no setor industrial do estado;

• No Recife, o setor de serviços é bastante

dinâmico, inclusive com a presença de

alguns APLs focados em conhecimento,

como o Porto Digital e o Polo Médico;

• Os níveis de escolaridade são mais ele-

vados nos municípios da AII do que no

restante do estado;

• O contingente populacional que reside

na área diretamente afetada é de 31.839

domicílios e 76.542 pessoas;

• O perfil socioeconômico médio dos domicí-

lios da orla apresenta evidências de maior

nível de renda, educação e composição

etária diferenciada do restante dos muni-

cípios, corroborando o fato de que as áreas

de orla são, proporcionalmente dentro dos

municípios, mais valorizadas;

• A ocupação da orla do Recife e de Jaboa-

tão dos Guararapes se faz de forma mais

densa e com unidades imobiliárias mais

valorizadas;

• A distribuição de moradores por domicílio

do Recife é mais concentrada nas uni-

dades menores. Isto indica que o perfil

socioeconômico, incluindo ainda o capital

social dos moradores, é diferenciado neste

município. Tendo em vista o alto valor dos

imóveis nesta região, pode-se supor que

o número de pessoas viúvas, divorciadas

e solteiras com alto poder aquisitivo seja

elevado na orla do Recife;

• Existe um grande diferencial na utiliza-

ção econômica da orla dos municípios.

O Recife possui um volume muito maior

de estabelecimentos do que os demais,

mesmo não possuindo a maior extensão

de orla. Jaboatão, que apresenta um perfil

de domicílios mais próximo ao de Recife

possui volume de estabelecimentos mui-

to menor. Olinda também tem número

expressivo de estabelecimentos, mas sua

área é superior à do Recife. Paulista é o

município que tem a menor densidade de

empresas situadas na orla.

Page 102: Rima menor

10

2

Enrocamento, próximo ao Golden Beach (Jaboatão dos Guararapes - PE)

Vista do enrocamento da praia, próximo a praça de Boa Viagem (Recife – PE)

Limite da Praia de Piedade próximo ao Sesc Piedade (Jaboatão dos Guararapes - PE)

Fonte: Éder Lira de Souza Leão

Fonte: Éder Lira de Souza Leão

Os estudos socioeconômicos relativos à área

diretamente afetada se dividiram em duas

frentes, que usaram metodologias distintas. De

um lado, analisaram-se as atividades econômi-

cas voltadas à exploração da praia, tais como

ambulantes, barraqueiros, bares, restaurantes

e hotéis e a análise baseou-se em entrevistas

semiestruturadas. De outro, tratou-se a pesca

artesanal, que se baseou, além de entrevistas

semiestruturadas, em reuniões e oficinas.

Os empreendimentos de agentes econômicos,

tais como: ambulantes, quiosqueiros, donos de

bares e de restaurantes bem como de empre-

sários da hotelaria situados na orla marítima

de Pernambuco no percurso que se estende

de Jaboatão dos Guararapes ao Paulista vêm

sendo afetados diretamente e fortemente pelo

avanço do mar. Nem todos os empreende-

dores interpretam esse fenômeno como uma

ameaça aos seus negócios, uma vez que não

existem hotéis nas praias ao norte de Olinda.

Page 103: Rima menor

10

3

Os ambulantes e donos de bares e quiosques,

por serem os principais afetados e por terem

sido transformados em “nômades da orla”,

têm uma melhor percepção do problema. São

empurrados sistematicamente e juntamente

com seus clientes, da areia em direção às cal-

çadas, quando estas existem. Porém, essa não

é a opinião de todo o grupo, pois muitos deles

atribuem a evasão de clientes à falta de banhei-

ros públicos, aos dejetos que são despejados

nas praias (no Paulista), a falta de segurança

diante da presença da marginalidade, tal como

a existência dos usuários de drogas, ao lixo não

recolhido pelas prefeituras, entre outros fatores.

Quanto ao Projeto Orla, os que o conhecem

têm dúvidas quanto à sua realização, embora

achem que ele viria estimular a clientela em

seus empreendimentos atraindo novos cientes,

especialmente o turista em busca de lazer.

Nenhum desses agentes econômicos demons-

trou preocupação com os efeitos sobre os

negócios, que envolveria a fase de operação e

implantação do projeto, talvez pelo descrédito

da realização da intervenção.

A pesca artesanal na região urbana do Grande

Recife, apesar de ser tratada como uma ativi-

dade marginal, representa historicamente uma

atividade socioeconômica forte, que engloba

milhares de pessoas e sustenta uma cadeia

produtiva grande, muitas vezes formada por

relações familiares e de parentesco. No Recife

e municípios vizinhos, a pesca assume propor-

ção não encontrada em outras áreas altamente

urbanizadas do país devido à presença de

inúmeros estuários e rios que cortam essas

cidades.

A pesca artesanal é multiespecifica, ou seja,

um pescador realiza diversas pescarias de

acordo com as condições oceanográficas,

biológicas e de mercado, podendo capturar a

lagosta em certa época, peixes que realizam

migração em outra ou mesmo a sardinha ou

peixes de menor valor comercial em outra épo-

ca. Na região estudada, é praticada uma série

de pescarias que podem ser resumidas em

pescarias de mar de fora, pescarias de mar de

dentro e a pesca estuarina. A pesca motorizada

é muito frequente e captura espécies de alto

valor comercial. A pesca estuarina é realizada

por um grande contingente de pessoas, em

sua maioria mulheres, e representa uma das

formas mais democráticas de geração de renda

na região estudada.

Em relação à cadeia produtiva, a pesca tem

características de dispersão espacial e perecibi-

lidade dos produtos, que dificultam os proces-

sos de conservação e comercialização, exigindo

assim complexos mecanismos logísticos entre

a produção e o consumidor final. Essas difi-

culdades favorecem a presença de inúmeros

elos na cadeia produtiva. Algumas espécies de

pescado passam por até quatro vendedores até

atingir o consumidor final, elevando o preço do

produto na ponta e diminuindo, consequen-

temente, o preço pago ao pescador na praia.

Essa complexa cadeia agrega uma série de

pessoas que são dependentes da pesca.

Page 104: Rima menor

10

4

O foco da pesca artesanal nos municípios es-

tudados pode ser dividido em três direções ou

três classificações: a primeira reside em uma

pesca artesanal mais capitalizada, utilizando

embarcações de madeira ou fibra, a motor, as

quais pescam em áreas mais distantes da costa

até a região do talude continental (paredes)

e chamada de pesca de “mar de fora”. É nas

paredes que se realiza a pesca de linha, a qual

captura peixes nobres como a cioba. A segun-

da classe pode ser chamada de pesca de “mar

de dentro”, segundo denominação dos próprios

pescadores, é a pesca costeira, realizada na

região protegida pelos arrecifes, em geral com

pequenas embarcações (jangadas principal-

mente) ou mesmo desembarcada. Esse tipo

de pesca também é visualizada nos municípios

estudados, em menor proporção. Exceção para

a pesca de arrasto de camarão, que é realizada

nessa região com o auxílio de barcos de maior

porte. O terceiro grande contingente de pes-

cadores encontra-se envolvido em uma pesca

que exige menos capital – a pesca estuarina –,

realizada com o apoio de pequenas embarca-

ções a remo ou a vela (baiteras). As mulheres

são os grandes atores da região estuarina, onde

catam seus mariscos, sururus e outros molus-

cos. Em todos os municípios pesquisados a

pesca estuarina é realizada e depende dire-

tamente dos estuários e boa saúde da região

costeira e adjacências da praia.

A pesca e o meio ambiente são interdependen-

tes, sendo os impactos ambientais as princi-

pais causas da diminuição dos recursos nessa

região. Apesar de toda a poluição, estima-se a

partir da bibliografia consultada e de informa-

ções das instituições de representação dos pes-

cadores que aproximadamente 7.600 pessoas

realizem a pesca como atividade profissional na

região dos municípios do Cabo de Santo Agos-

tinho, de Jaboatão dos Guararapes, do Recife,

de Olinda e do Paulista – regiões que serão

diretamente afetadas pelo “Projeto Recupera-

ção da Orla Marítima”.

Foram realizadas entrevistas com lideranças

de pescadores, questionários semiestrutura-

dos (50) e dez reuniões e oficinas das quais

participaram 203 pescadores e pescadoras,

com o objetivo de levantar informações sobre

as comunidades e os impactos visualizados por

estes em relação ao “Projeto Recuperação da

Orla Marítima”. O projeto é prejudicial trazendo

inúmeros impactos negativos, por vezes não

mitigáveis para a pesca artesanal.

Diante das incertezas existentes em relação ao

projeto, principalmente no que tange a inexis-

tência de jazida de areia para a maioria das

engordas de praia propostas, o projeto deve ser

revisto. A participação dos pescadores e seu

conhecimento deveriam ter sido contemplados

quando da concepção da ideia e mesmo do

projeto. É altamente recomendável que um pro-

jeto desse porte reconheça o saber tradicional

de longas gerações e os impactos causados a

uma classe de profissionais que por direito é a

Page 105: Rima menor

10

5

usuária legítima das regiões costeiras e estua-

rinas.

Vários impactos negativos podem ser citados

em relação ao “Projeto Recuperação da Orla

Marítima”. Os principais são ambientais e

causam a diminuição e mesmo o impedimento

da atividade da pesca artesanal. A diminui-

ção da produção poderá ser causada pela

dragagem dos sedimentos, pelos sedimentos

em suspensão na água, aterros de bancos de

moluscos, barulho e movimentação da dra-

ga, assoreamento de habitats (leito de rios e

lagoas, recifes, manguezais), entre outros. A

atividade da pesca também será prejudicada

com a movimentação das máquinas na obra,

as modificações na orla com possível impedi-

mento da atracação dos barcos, funcionamento

da draga e exclusão da pesca na região de inte-

resse de dragagem. As caiçaras e moradias de

pescadores também serão atingidas. Em menor

grau, cita-se uma série de impactos negativos à

pesca: dificuldades de trânsito de embarcações

e aumento de acidentes, aumento no número

de afogamentos na região de Suape e outras

onde ocorrerem às dragagens, dificuldades

para a comercialização de produtos pesqueiros

nas praias, dificuldades de acesso às praias,

problemas de saúde decorrentes do acúmulo

de lixo e propagação de pragas nas estruturas

de contenção e problemas de pele devidos a

matéria orgânica no sedimento.

O dimensionamento dos impactos positivos e

negativos apontados foi feita de forma quali-

ficada, ou seja, considerando que o cenário

descrito no projeto de engenharia fosse cumpri-

do. Contudo destacaram-se algumas incertezas

críticas que afetam sensivelmente a tomada de

decisão acerca do licenciamento ambiental do

projeto.

As incertezas críticas levantadas pela equipe

de socioeconomia são: i) impossibilidade de

estimar a viabilidade econômica do empreen-

dimento; ii) indefinições no projeto apresenta-

do sobre a tomada de areia; iii) divergências

sobre a melhor alternativa de engenharia no

tocante às estruturas rígidas; iv) inexistência de

detalhamento sobre impactos nos sedimentos

que se acumulam na comunidade da “Ilha do

Maruim”; v) cronograma de realização da obra

extremamente otimista e vi) necessidade de

manutenção constante do engordamento de

praia, o que gerará custos de manutenção altos

para as prefeituras, além de impactos ambien-

tais de longo prazo causados pelas dragagens.

Os impactos positivos recaem sobre um contin-

gente populacional bastante superior ao con-

tingente populacional que recebe os impactos

negativos e podem ser resumidos em valoriza-

ção dos imóveis da orla; aumento do bem estar

dos usuários das praias e aumento do potencial

turístico (não necessariamente do turismo)

das praias dos quatro municípios. Os impactos

negativos são de natureza transitória para os

Page 106: Rima menor

10

6

moradores das parcelas mais valorizadas da

orla, mas algumas vezes permanentes para os

pescadores e moradores de áreas de orla me-

nos valorizados. A clássica solução de valorizar

as perdas da menor parcela da população que

será negativamente afetada é possível, mas

pode inviabilizar economicamente o projeto,

uma vez que as incertezas críticas fazem com

que o tamanho econômico dos impactos posi-

tivos seja bastante duvidoso e também porque

sobrecarregaria demasiadamente o futuro

orçamentário dos municípios.

A melhor alternativa parece ser o aprofunda-

mento dos estudos de engenharia, principal-

mente detalhando melhor as origens de areia e

o complemento do projeto de engenharia com

um projeto socioeconômico de implantação e

gestão da orla acoplado ao projeto de engenha-

ria. Um enriquecimento no projeto deste tipo

pode, por exemplo, propor que sejam criados

tributos específicos para os beneficiários do

projeto, de sorte a que as compensações am-

bientais e a manutenção da orla sejam garan-

tidas.

Patrimônio culturalA legislação federal aplicável ao patrimônio

histórico-cultural protege os conjuntos urbanos

e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e cien-

tífico. No estudo do Patrimônio Cultural relativo

ao Projeto Recuperação da Orla Marítima, a

contextualização etno-histórica envolveu parte

da faixa litorânea de Pernambuco; mais especi-

ficamente os municípios de Olinda, do Paulista,

do Recife e de Jaboatão dos Guararapes, que

integram atualmente a Mesorregião Metropo-

litana do Recife. Inclui-se aqui ainda, como

área de influência direta do empreendimen-

to, o município do Cabo de Santo Agostinho,

considerando-se que o ponto de dragagem faz

face àquele litoral. Na faixa litorânea destes

municípios, os estudos envolveram a busca

pela coleta de dados primários, de modo não

interventivo, além do levantamento de dados

secundários.

Durante o diagnóstico, foram levantados os

aspectos culturais dos municípios estudados,

incluindo o levantamento do patrimônio ima-

terial (festas, danças, comidas típicas, lendas,

artesanato), do patrimônio paisagístico, do

patrimônio espeleológico (cavernas e furnas)

e paleontológico, e do patrimônio material (ar-

queológico e histórico), relativos à AII.

Os aspectos relativos ao patrimônio imaterial

dos referidos municípios, no geral, correspon-

dem àqueles que ocorrem na região pernam-

bucana como um todo. Merece destaque as

festas populares como o Carnaval e o São João,

quando ocorrem manifestações culturais típicas

que envolvem grupos organizados como os

blocos de Carnaval, o Galo da Madrugada e

outros.

Entre as festas religiosas e profanas, desta-

Page 107: Rima menor

10

7

cam-se a Festa da Pitomba em Jaboatão dos

Guararapes e a Festa da Lavadeira, uma festa

de cunho religioso realizada todo dia 1 de maio,

na praia do Paiva. Ainda no âmbito das festas

populares e religiosas, a corrida de jangadas no

Paulista e a Romaria ciclística a São Severino

do Ramos.

Ainda no âmbito do patrimônio imaterial, cons-

tam na lista gastronômica o Bolo Souza Leão,

a tapioca, além dos frutos do mar típicos da

região (peixes, camarões, caranguejo, sururu,

marisco, entre outros), os licores e doces ca-

seiros vendidos em barracas de rua nas áreas

de praia são famosos na região. São doces e

licores de frutas regionais produzidos artesanal-

mente. A passa-de-caju é um dos doces mais

procurados.

Há que se mencionar ainda a relação da popu-

lação com a orla marítima e as atividades que

nela ocorrem como cerimoniais e festividades

religiosas (manifestações dos cultos afro-bra-

sileiros), a pesca artesanal, além do uso como

lazer e o comércio informal.

O patrimônio paisagístico profuso na AII, na

realidade se sobressai como paisagem valoriza-

da. Facilmente a população consultada elenca

um número significativo de locais de interesse

paisagístico, onde certamente se incluem as

praias e as áreas de esporte e passeio náutico.

No âmbito da Área de Influência Indireta, al-

guns bens têm o reconhecimento como patri-

mônio paisagístico pela esfera federal, como o

conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagísti-

co de Olinda; o conjunto arquitetônico, urbanís-

tico e paisagístico do antigo Bairro do Recife;

o conjunto paisagístico do Sítio da Trindade,

estrada do Arraial n° 3250; a casa de Gilberto

Freyre - Vivenda Santo Antônio de Apipucos,

envolvendo as edificações e o sítio paisagístico

ao seu redor. Menção específica se deve aos

coqueirais, que outrora caracterizavam pratica-

mente todo o litoral.

Do ponto de vista do Patrimônio Espeleológi-

co, o Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil

(CNC) não registra a presença de formações

cavernícolas de interesse espeleológico na

Área de Influência Indireta (AII) deste empre-

endimento. A despeito da presença de rochas

carbonáticas, representada pelas Formações

Gramame e Maria Farinha do Grupo Paraíba,

presentes no litoral Norte de Pernambuco,

mesmo no litoral onde tais rochas se expõem

em contato com o mar, não há referências à

presença de cavernas.

Todavia, aquelas rochas carbonáticas têm

revelado a presença de alguns fósseis relatados

em pesquisas que precederam a explotação

industrial daqueles depósitos. Do mesmo

modo, se tem em Olinda, onde na década de

1940 foi identificada a ocorrência de depósitos

de fosforitos marinhos com considerável teor

em fosfato, associados aos arenitos calcíferos

da bacia sedimentar costeira nos estados de

Pernambuco e Paraíba. Kegel (1953) denomi-

Page 108: Rima menor

10

8

nou de Formação Itamaracá esses arenitos cal-

cíferos de granulometria grossa com abundante

fauna cretácea e, posteriormente, Kegel (1955)

incluiu na referida formação a porção inferior

de arenitos friáveis, continentais, com restos de

plantas carbonizadas, por vezes conglomeráti-

cos, interdigitados com calcarenitos de fácies

marinhas anteriores.

O patrimônio material identificado na AII, do

ponto de vista histórico, representa o foco

inicial da ocupação histórica do Estado. Longa

é a lista dos bens tombados, sobretudo em

Olinda e no Recife, onde se destaca o conjunto

de igrejas que está entre os mais antigos do

Brasil. O rol de edificações históricas tombadas

(e em processo de tombamento), por institui-

ções do governo federal, estadual e municipal

abrange uma vasta gama de exemplares da

arquitetura histórica, envolvendo não apenas

edificações religiosas e de defesa, mas exem-

plares da arquitetura civil governamental e

particular. Quanto à distribuição temporal,

estão contemplados desde monumentos com

origem no século XVII, àqueles representantes

do século XX.

No âmbito do patrimônio material arqueológico,

estão registrados no Cadastro Nacional de Sí-

tios Arqueológicos do IPHAN (CNSA), 39 Sítios

arqueológicos. Todavia com base nas consultas

realizadas na sede do IPHAN em Pernambuco,

bem como em outras instituições de pesquisa,

foram arrolados mais 206 sítios arqueológicos,

sendo que 7 em Jaboatão dos Guararapes, 17

no Recife, 2 em Olinda, 4 no Paulista e 176 no

Cabo de Santo Agostinho.

A implantação do Projeto Recuperação da

Orla Marítima interferirá fisicamente em áre-

as urbanas, entretanto, no que concerne às

edificações reconhecidas como de interesse

histórico e arqueológico, tem-se o caso da área

onde provavelmente existiu a primitiva Igreja de

Nossa Senhora das Candeias, hoje destruída.

No trecho onde se supõe ter existido aquela

igreja, foram realizadas obras de contenção

marinha. De permeio com o material utilizado

nas obras, podem ser vistos blocos de calcário

com evidencias de trabalho de cantaria. Parte

desse material calcário foi reunido e transporta-

do por moradores interessados na preservação

do patrimônio, que de há muito sugerem que

sejam realizados estudos na área para a iden-

tificação do local e das ruínas da antiga igreja,

cuja construção remonta ao primeiro quartel do

século XVII.

As obras do empreendimento envolvem ainda

riscos com relação ao patrimônio arqueológico

não manifesto, além do natural e paisagístico.

A expectativa de tais riscos converge para as

áreas onde existiram obras de defesa, como

aquelas que cercavam a cidade de Olinda, em

que se inclui o Forte do Buraco.

As áreas a serem aterradas, em parte corres-

pondem àquelas que foram atingidas pelo

avanço das águas do mar. Entretanto, há que

se considerar o risco que a dragagem a ser

Page 109: Rima menor

10

9

realizada representa para eventuais sítios ar-

queológicos subaquáticos não manifestos, visto

que o material para o engordamento das praias

será obtido a partir da dragagem de trechos do

leito oceânico nas proximidades do Cabo de

Santo Agostinho.

A grande maioria dos múltiplos naufrágios

listados na costa pernambucana é de localiza-

ção imprecisa ou desconhecida. O potencial

em termos de informações, de remanescentes

materiais destes sítios arqueológicos é dos

mais ricos. Quando identificados, os vestígios

de naufrágios apresentam um valor científico

agregado, representado pela exatidão cronoló-

gica dos remanescentes, que podem auxiliar

na datação de outros sítios arqueológicos. Por

outro lado, o ato de dragar acarreta em retira-

da de um pacote sedimentar, podendo expor

vestígios que estejam enterrados, ou mesmo

removê-los.

Considerando-se o potencial arqueológico da

área e avaliando-se a intensidade no local das

ações que interferirão fisicamente no leito

oceânico, no trecho considerado e adjacências,

as ações de dragagem, potencialmente pro-

moverão o deslocamento de vestígios arque-

ológicos eventualmente presentes na área;

alterações e mesmo inversões estratigráficas no

terreno contíguo, o que representa a destruição

do contexto arqueológico de uma área.

Page 110: Rima menor

11

0

7Quais são os impactos do empreendimento?

Grupo de Discussão Multidisciplinar

Prognóstico Ambiental

A identificação dos impactos previsíveis em decorrência do empreen-

dimento de recuperação da orla marítima, as medidas que deverão ser

tomadas para minimizar os efeitos negativos e maximizar os positivos, em

todas as etapas da obra são, de fato, as informações e os instrumentos

essenciais para a sustentabilidade ambiental da área modificada. Por sua

vez, os Programas de Controle e Monitoramento Ambiental propostos para

acompanhar possíveis mudanças e adequar seu curso, contribuem para

a consolidação de um Sistema de Gestão Ambiental na área da bacia que

será afetada.

Os impactos identificados foram localizados, avaliados e descritos e,

para cada um deles, foram sugeridas medidas mitigadoras e de controle

ambiental, além de ações de monitoramento. Os impactos identificados

foram:

DESCRIÇÃO dos Impactos

AVALIAÇÃO dos Impactos

Matriz de Correlação(Meio físico - Meio Biótico -

Meio Socioeconômico)

MEDIDAS de Mitigação e Controle

PROPOSTAS de Monitoramento

Page 111: Rima menor

11

1

MEIO IMPACTO

Físico Aumento da oferta da praia

Propagação da linha de costa

Instabilidade do fundo arenoso

Aumento de processos erosivos

Risco de compactação da camada superficial da areia na área destinada

ao reforço do leito da praia

Alteração da qualidade da água

Geração de efluentes e resíduos sólidos decorrentes da obra

Modificação da dinâmica sedimentar

Aumento do nível de ruídos e vibrações

Alteração da qualidade do ar (emissão de gases e material particulado)

Risco de alteração da qualidade da água com óleos e graxas

Biótico Perda da área de alimentação/reprodução de espécies

Interferências sobre a fauna associada

Alterações que impliquem em extinção de espécies

Interrupção da migração de espécies

Perda de diversidade biológica

Favorecimento da seleção de organismos existentes

Destruição de ninhos de tartarugas marinhas

Atropelamento e destruição das áreas de alimentação e reprodução das tartarugas marinhas

Perda de biodiversidade e das características das comunidades vegetais

Socioeconômico Expectativa da população em relação à implantação do empreendimento

Eliminação de equipamentos disponíveis para atividades sociais e culturais

Risco de acidentes com a população local e o pessoal alocado às obras

Impactos sobre a população decorrentes da instalação das obras e canteiro de obras

Valorização imobiliária do entorno

Desvalorização imobiliária do entorno

Incremento das atividades econômicas

Paralisação e /ou redução de atividades econômicas

Alteração na oferta de emprego

Impactos sobre a saúde pública - doenças dermatológicas e bacteriológicas

Aumento do valor do imobilizado dos empreendimentos através da valorização dos imóveis onde

estão instalados os bares, restaurantes e hotéis

Aumento do número de clientes que resultarão em elevação de receita de todos os

empreendimentos: quiosques, bares, ambulantes, hotéis e restaurantes

Diminuição da demanda para os negócios dos grupos econômicos

Diminuição da produção pesqueira

Impedimento da atividade pesqueira

Impactos sobre as caiçaras e atividade produtiva dos pescadores realizada na beira-mar

Aumento de acidentes com embarcações e em terra

Diminuição das vendas de produtos pesqueiros nas praias durante as obras

Comprometimento de estruturas em terra devido a deposição de sedimento – Ilha do Maruim, Olinda

Restrição de acesso a área de praia

Aumento no número de afogamentos na área de Suape e outras áreas a serem

estabelecidas como áreas de tomada de sedimento

Possibilidade de aumento nos ataques de tubarão

Possibilidade de implantação de projetos turísticos

Aumento das receitas municipais

Page 112: Rima menor

11

2

Aumento da educação ambiental da população

Interferência no patrimônio cultural arqueológico, histórico de interesse arqueológico,

paisagístico e imaterial

Interferência no patrimônio cultural subaquático

Programas de acompanha- mento e monitoramento de impactos

O Programa de Acompanhamento e Monitora-

mento dos Impactos que se apresenta a seguir,

atende ao Termo de Referência da Agência

Estadual de Meio Ambiente (CPRH), TR GT Nº

14/11, para elaboração do Estudo de Impacto

Ambiental e do Relatório do Impacto Ambiental

(Rima) para implantação do empreendimento

Recuperação da Orla Marítima de Jaboatão, do

Recife, de Olinda e do Paulista e incorpora da-

dos dos estudos anteriores bem como as reco-

mendações decorrentes do presente trabalho.

O monitoramento ambiental durante e depois

da execução das obras é de fundamental

importância para garantir que o projeto exe-

cutivo seja corretamente implementado, bem

como para sugerir alguns ajustes que se façam

necessários, e avaliar os possíveis impactos

ambientais decorrentes da interferência no

meio ambiente.

Sistema de Gestão AmbientalO Sistema de Gestão Ambiental proposto para

o empreendimento tem seus fundamentos no

arcabouço legal pertinente e na articulação

interinstitucional necessária à sua efetivação.

Sua concepção busca favorecer e estimular a

participação da sociedade, não apenas no que

se refere aos programas educativos, mas em

todas as ações implementadas. Nesse sen-

tido, o processo de gestão incorporará como

instrumentos básicos os Programas Ambientais

apresentados no quadro seguinte, relacionados

aos temas maiores do EIA e sintetizados em

seguida.

Page 113: Rima menor

11

3

Programas de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos (PAs)

Temática do PA Denominação

MEIO FÍSICO PA 1 - Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

PA 2 - Programa de Monitoramento da Linha e do Perfil Praial

PA 3 - Programa de Monitoramento da Qualidade da Água e Balneabilidade

PA 4 - Programa de Recuperação de Restinga e Áreas de Dunas na Praia Engordada

PA 5 - Programa de Monitoramento Contínuo para Identificação de Hotspots de Erosão

PA 6 - Programa de Segurança do Trabalho

PA 7 - Programa de Acompanhamento da Execução das Obras

MEIO BIÓTICO PA 8 - Programa de Salvamento e Conservação da Fauna Marinha

PA 9 - Programa de Salvamento e Conservação da Fauna Costeira

PA 10 - Programa de Monitoramento da Flora Terrestre

PA 11 - Programa de Monitoramento da Fauna e Flora (Marinhas e Associadas)

PA 12 - Programa de e Resgate de Germoplasma e Conservação da Flora

MEIO SOCIOECONÔMICO PA 13 - Compensação Socioeconômica para Pescadores

PA 14 - Programa de Cooperativismo Pesqueiro

PA 15 - Programa de Melhoria da Qualidade e Beneficiamento dos Pescados

PA 16 - Capacitação em Zooartesanato

PA 17 - Programa de Capacitação Técnica e Profissional do Estaleiro Escola

PA 18 - Programa de Comunicação Social (PCS)

PA 19 - Apoio a Atividades Econômicas e Produtivas Ligadas Diretamente à Praia

PA 20 - Programa de Educação Ambiental

PA 21 - Prospecção e Resgate do Forte do Buraco

PA 22 - Programa de Prospecção e de Resgate Arqueológico

PA 23 - Programa de Prospecção Arqueológica Subaquática

PA 24 - Programa de Monitoramento, de Resgate Arqueológico e Educação Patrimonial

das Obras de Contenção e de Engordamento das Praias

PA 25 - Programa Paisagístico Integrando às Obras e às “Novas Praias”

Page 114: Rima menor

11

4

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Prognóstico da qualidade ambientalO prognóstico ambiental foi elaborado com

base nas informações do diagnóstico ambien-

tal dos meios físico, biótico e socioeconômico,

bem como na sua análise integrada e avalia-

ção de impactos, apresentando uma análise

comparativa dos cenários ambientais para as

situações sem o empreendimento e com o

empreendimento.

Qualidade ambiental sem o empreen-dimentoO processo desordenado da ocupação urbana

ao longo das décadas associado às atividades

antrópicas, à urbanização, à construção de al-

ternativas inadequadas para o controle do pro-

cesso erosivo vem provocando a degradação da

orla marítima ao longo das décadas, revelando

uma tendência de grandes perdas do patrimô-

nio material e imaterial, representadas através

das perdas econômicas com a desvalorização

imobiliária, perdas do espaço público de lazer e

do turismo na região.

Prog. meio físico

Sistema de gestão ambiental

Prog. meio biótico Prog. meio sócioeconômico

Page 115: Rima menor

11

5

Esse processo de degradação avança, sendo

um processo progressivo contínuo.

A situação ambiental, no que se refere à faixa

de praia futura da área, sem o empreendimen-

to, pode ser prognosticada da seguinte forma:

• Sem a segmentação do quebra-mar, as as

ondas continuarão atingindo fortemente

a praia. Essa variação gera um gradiente

de pressão que induz correntes longitudi-

nais na zona de surfe (entre o arrecife e

a praia). Essas correntes são capazes de

transportar sedimento para fora do sistema

costeiro, servindo como um sumidouro

natural;

• O enrocamento não potencializará a

recuperação da praia preexistente como é

observado atualmente, devido aos pro-

cessos erosivos, o que reflete em perdas

econômicas;

• O engordamento (aterro hidráulico) terá

vida útil curta, devido aos processos erosi-

vos o que reflete em perdas econômicas;

• A área a ser recuperada retornará as condi-

ções atuais, prevendo-se o avanço do mar

sobre o calçadão.

Dessa forma, a não construção de uma obra

de porte sistêmico mantém esse status quo,

deixando os bens da população residente, bem

como a população usuária, além da infraestru-

tura pública, a mercê do avanço do nível do

mar e degradação progressiva da orla marítima.

Qualidade ambiental com o empreen- dimentoO projeto de recuperação da orla marítima tem

como finalidade reduzir os danos provocados

pelo avanço do mar nas últimas décadas, mi-

tigando o efeito da perda de área de acesso a

praia, bem com reduzindo o risco de perda dos

imóveis, equipamentos de infraestrutura e lazer

construídos na orla marítima.

Esta obra trará usos múltiplos, tendo em vista

que o espaço da orla garante o equilíbrio do

ecossistema praial, assegura o habitat susten-

tável da fauna e flora existentes, que propor-

cionarão uma melhoria da qualidade de vida

da população diretamente afetada, ao permitir

a dinamização de atividades econômicas e

aumento de emprego e renda. A obra também

vai oferecer um espaço de beleza paisagística e

de uso de área de lazer para a população local

e os turistas.

Ressalta-se que o processo de engorda da orla,

contemplando reposição de areia e constru-

ção de espigões, implica necessariamente na

ocorrência de vários impactos adversos sobre

o ambiente atual, cuja importância foi avaliada

e coberta por um conjunto de propostas de

mitigação e por Programas Ambientais, que

permitirão desenvolver a gestão ambiental da

área.

Page 116: Rima menor

11

6

Entre os impactos positivos, ressaltam-se a pro-

teção do patrimônio construído, estímulo à eco-

nomia local, fortalecimento do turismo, diversi-

ficação das atividades econômicas, contratação

de mão de obra e do fornecimento de produtos

e serviços ao empreendimento, contribuindo

para a geração direta de emprego e renda,

além de incentivar de forma indireta a geração

de postos de trabalho em outros setores.

Deve-se considerar que o aumento das de-

mandas de infraestrutura física e social da orla

marítima nos últimos anos, vem acontecendo

face à grande especulação imobiliária, particu-

larmente em razão do crescimento econômico

de Pernambuco. Este crescimento se deve à

existência de empreendimentos estruturado-

res, tais como o Complexo Portuário Eraldo

Gueiros (Suape), o Polo Industrial de Goiana,

bem como as obras estruturadoras, como a Via

Mangue, para atender as demandas futuras da

Copa do Mundo de 2014.

Durante a fase de implantação das obras de

controle da erosão na orla dos municípios do

Paulista, de Olinda, do Recife e de Jaboatão

dos Guararapes, o processo construtivo do

empreendimento que envolve ações como

manejo de materiais rochosos, manuseio de

equipamentos, movimentação de máquinas e

de trabalhadores, poderá apresentar os seguin-

tes prognósticos:

• Ficar submetida à instabilidade ambiental

e desequilíbrio da dinâmica natural do

ecossistema, prevendo-se temporariamente

a degradação da paisagem pela própria

exposição do canteiro de obras e movimen-

tação das máquinas, materiais e trabalha-

dores no local;

• O local em obras demonstrará uma situa-

ção de desconforto ambiental em decor-

rência da emissão de ruídos e lançamento

de poeiras, bem como pela situação de

alteração da paisagem pelas obras;

• Como efeito da situação de desconforto

ambiental, os estabelecimentos do entorno

sofrerão perdas temporárias, uma vez que

é previsível uma diminuição na frequência

de visitantes ao local, o que deverá per-

manecer até que as condições ambientais

favoráveis sejam restabelecidas;

• Temporariamente, o tráfego de veículos na

via principal e nas secundárias (vias de

acesso) sofrerá alteração no trânsito, uma

vez que haverá necessidade do transporte

de diversos materiais de construção civil e

máquinas pesadas;

• A qualidade da água nessa faixa de praia,

bem como no seu entorno, apresentará

alteração, tornando-se temporariamente

turva, devido o aumento de sólidos em

suspensão;

• Durante o período de instalação da

segmentação do quebra-mar e do en-

gordamento da praia, é provável que os

componentes da fauna e flora marinha

(ecossistema aquático), bem como as

relações tróficas estabelecidas, sofram

desequilíbrio em caráter temporário. Pos-

Page 117: Rima menor

11

7

teriormente, é notório que a obra se torne

um atrativo para a fauna e flora, criando-se

desta forma um novo habitat para algas e

organismos incrustantes.

Depois da segmentação do quebra-mar e en-

gordamento da praia:

• A segmentação do quebra-mar, para área

em foco, irá intensificar a troca de sedi-

mentos pelas correntes de retorno e permi-

tir a oxigenação da água, não afetando o

equilíbrio do ecossistema marinho;

• A paisagem local será alterada com a ins-

talação de uma nova feição a qual deverá,

a médio e longo prazo, ser reincorporada

aos cartões postais da orla marítima dos

municípios da Região Metropolitana do

Recife, restabelecendo a beleza anterior;

• A obra proporcionará a conservação da

faixa de praia recuperada com o aterro

hidráulico, gerando saldos positivos;

• A manutenção da praia recuperada, garan-

tida com o engordamento da mesma, redu-

zirá sensivelmente os custos com possíveis

reposição do aterro hidráulico;

• A faixa litorânea, no entorno, poderá levar

vários anos para estabelecer um novo equi-

líbrio, especialmente se houver transporte

de areia pela deriva litorânea. Por isso é

essencial o monitoramento posterior;

• Como a estrutura será construída paralela

a praia, ocorrerá significativa redução na

altura das ondas e ressacas que alcançam

a linha de costa promovendo, dessa forma,

o equilíbrio morfodinâmico;

• Na área de interferência física do quebra-

mar no ambiente aquático, ou seja, entre

a praia e o alto-mar, não há previsão de

alterações nos parâmetros físicos ou bio-

lógicos, desde que não haja intervenções

antrópicas no local.

O prognóstico desse estudo é o de que o

empreendimento recuperação da orla maríti-

ma dos municípios de Jaboatão, do Recife, de

Olinda e do Paulista deve ser implementado, o

que contribuirá para o desenvolvimento susten-

tável da região. A recuperação da orla marítima

corresponde ao principal impacto positivo deste

projeto.

ConclusõesO Estado de Pernambuco se encontra em gran-

de crescimento, em especial na Zona Costeira,

que apresenta a maior densidade demográfica

do Estado, concentrando atividades econômi-

cas, industriais, de recreação e turismo. Diver-

sos problemas ambientais têm se desenvolvido

no litoral pernambucano com destaque para

os processos erosivos ao longo da costa. Na

tentativa de contê-los, ao longo dos anos, di-

versas alternativas foram implementadas, como

a instalação de estruturas rígidas, a exemplo

de muros de proteção, diques, quebra-mares,

espigões e outras técnicas de contenção cons-

truídas para solucionar um problema local, e

que passaram a induzir o processo de erosão

em áreas próximas.

Page 118: Rima menor

11

8

Os municípios de Jaboatão dos Guararapes,

do Recife, de Olinda e do Paulista, localizados

na Região Metropolitana do Recife, sofrem

bastante com os processos erosivos causados

pela ação do mar ou como consequência das

estruturas de contenção instaladas, provocando

a destruição do potencial da orla para o turismo

e o lazer. A partir desse panorama, as prefei-

turas decretaram situação de emergência em

algumas áreas da orla marítima, o que levou

o Governo de Pernambuco a buscar medidas

para minimizar esses impactos, através de

projetos que considerem uma visão mais ampla

do Estado.

O empreendimento Recuperação da Orla Ma-

rítima dos municípios de Jaboatão dos Gua-

rarapes, do Recife, de Olinda e do Paulista é

uma ação estruturadora do Governo do Estado,

inserida numa política pública de controle das

Mudanças Climáticas. A recuperação da orla

marítima e recomposição das praias arenosas

proporcionarão melhores condições para o

desenvolvimento socioeconômico e ambiental

destes municípios, através de novas oportuni-

dades e melhores condições.

O Estudo de Impacto Ambiental (RIMA) foi de-

senvolvido com o objetivo de avaliar os diferen-

tes tipos de impactos ambientais, associados às

distintas fases de planejamento, implantação e

de operação do empreendimento. Foi realizado

um diagnóstico do ambiente a ser afetado, con-

templando os elementos ambientais dos meios

físico, biótico e socioeconômico, sendo iden-

tificados prováveis impactos, os quais foram

analisados e avaliados. Para mitigar, controlar e

até neutralizar o efeito desses impactos foram

propostas medidas mitigadoras, e elaborados

25 Programas Ambientais para subsidiar o de-

senvolvimento da Gestão Ambiental da área.

A análise dos impactos positivos e negativos

e a convicção da necessidade de obras estru-

turadoras concatenadas em políticas públicas

efetivas para a redução dos desastres recorren-

tes do avanço do mar no litoral pernambucano

mostrou que é importante e indispensável para

a implementação do empreendimento. Por fim,

considerando o caráter dinâmico e a especifi-

cidade do empreendimento, é possível que, ao

longo do tempo, ou até mesmo durante a fase

de discussão e análise deste EIA, seja neces-

sária a adoção de medidas complementares

não previstas neste documento. Assim sendo,

é relevante o acompanhamento sistemático de

todas as fases de operacionalização do empre-

endimento, de forma a possibilitar a adoção, de

modo proativo, de medidas complementares

que se fizerem necessárias. Do ponto de vista

técnico, pode-se considerar que os cuidados

ambientais prévios, as medidas mitigadoras

e de controle, quando bem implementadas,

contribuirão efetivamente para a viabilidade

ambiental da atividade descrita e avaliada neste

documento.

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11

9

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