10
Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2017 ISSN: 2446-7014 • Número 48 CONSELHO EDITORIAL SUMÁRIO Os textos contidos nesse Boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha. Bolívia e Paraguai: alternativas para o acesso ao mar (Pág.2) Os processos de paz e as tensões transfronteiriças (Pág. 2) Segurança em Honduras (Pág. 3) A guerra de números no Chifre da Áfica (Pág.3) A ascensão de Trump e a questão nuclear no Oriente Médio (Pág.4) Construindo um novo país: o desenrolar do Diálogo Político Líbio (Pág.4) França e Alemanha: novos centros de Defesa da União Europeia (Pág. 5) Economia alemã: realidades e desafios (Pág. 5) Novo processo de reunificação do Chipre (Pág.6) Turcomenistão: um pouco além das eleições (Pág. 7) O porto de Chabahar e a reaproximação entre Índia e Irã (Pág. 7) A geopolítica energética da China (Pág. 8) Coreia do Sul e Estados Unidos após a eleição de Donald Trump (Pág.8) Resposta à repressão: a resistência violenta dos Rohingya (Pág. 9) Os impactos da rachadura Larsen C na Antártica (Pág. 9) Artigos selecionados e notícias de Defesa (Pag. 10) Editor Responsável Leonardo Faria de Mattos (EGN) Editor Científico Francisco Eduardo Alves de Almeida (EGN) Editores Adjuntos Felipe Augusto Rodolfo Medeiros (EGN) Jéssica Germano de Lima Silva (EGN) Noele de Freitas Peigo (FACAMP) Pesquisadores do Núcleo de Avaliação da Conjuntura Adriana Escosteguy Medronho (PUC - Rio) André Figueiredo Nunes (UFRJ) Ariane Dinalli Francisco (Universität Osnabrück) Beatriz Mendes Garcia Ferreira (UFRJ) Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (UFRJ) Catharine Simões (UERJ) Daniel Santos Kosinski (UFRJ) Dominique Marques de Souza (UFRJ) Ely Pereira da Silva Júnior (UERJ) Franco Aguiar de Alencastro Guimarães (PUC - Rio) Gabriela Mendes Cardim (UFRJ) Gabriela da Conceição Ribeiro da Costa (UERJ) Gabriele Marina Molina Hernandez (UFF) Jéssica Pires Barbosa Barreto (UERJ) João Victor Marques Cardoso (UFF) José Gabriel de Melo Pires (UFRJ) Lais de Mello Rüdiger (UFRJ) Larissa Marques da Costa (UFRJ) Louise Marie Hurel Silva Dias (PUC - Rio) Luciane Noronha Moreira de Oliveira (EGN) Luma Teixeira Dias (UFRJ) Marcelle Siqueira Santos (UERJ) Marcelle Torres Alves Okuno (IBMEC) Matheus Souza Galves Mendes (UFRJ) Pedro Allemand Mancebo Silva (UFRJ) Pedro Emiliano Kilson Ferreira (UFF) Pedro Mendes Martins (UERJ) Philipe Alexandre Junqueira (UERJ) Rebeca Vitória Alves Leite (UFRJ) Stefany Lucchesi Simões (UNESP) Taynara Rodrigues Custódio (UFRJ) Thaïs Abygaëlle Dedeo (UFRJ) Thayná Fernandes Alves Ribeiro (UFRJ) Vinícius de Almeida Costa (EGN) Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (UFRJ) Vivian de Mattos Marciano (UFRJ) BOLETIM GEOCORRENTE O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal vinculada ao Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), do Centro de Estudos Político-Estratégicos (CEPE) da Marinha. O NAC possui o objetivo de acompanhar a Conjuntura Internacional sob o olhar teórico da Geopolítica, a fim de ampliar o conhecimento por meio da elaboração deste boletim, além de outros produtos que porventura venham a ser demandados pelo Estado-Maior da Armada. Para isso, o grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade de formações e experiências proporciona uma análise ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, bem como, seus desdobramentos. NORMAS DE PUBLICAÇÃO Esse Boletim tem como objetivo publicar artigos curtos tratando de assuntos da atualidade e, eventualmente, de determinados temas de caráter geral sobre dez macrorregiões do Globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica. Ainda, algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”, voltada a artigos que abordam assuntos não relacionados, especificamente, a uma das regiões supracitadas. Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do Núcleo de Avaliação da Conjuntura do CEPE e submeta seu artigo contendo, no máximo, 350 palavras ao processo avaliativo. A avaliação é feita por pares, sem que os revisores tenham acesso ao nome do autor (blind peer review). Ao fim desse processo, o autor será notificado via e-mail de que seu artigo foi aceito (ou não) e que aguardará a primeira oportunidade de impressão. CORRESPONDÊNCIA Escola de Guerra Naval – Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha. Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de Janeiro/RJ - Brasil (21) 2546-9394 E-mail: [email protected]. Aos cuidados do Editor Responsável do Boletim Geocorrente.

Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2017 ISSN: 2446-7014 ... · [3] Segurança em Honduras Por: Marcelle Santos e Catharine Simões No início de 2017, Honduras caiu cinco posições

Embed Size (px)

Citation preview

Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2017 ISSN: 2446-7014 • Número 48

CONSELHO EDITORIAL

SUMÁRIO

Os textos contidos nesse Boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha.

Bolívia e Paraguai: alternativas para o acesso ao mar (Pág.2)Os processos de paz e as tensões transfronteiriças (Pág. 2)Segurança em Honduras (Pág. 3)A guerra de números no Chifre da Áfica (Pág.3)A ascensão de Trump e a questão nuclear no Oriente Médio (Pág.4)Construindo um novo país: o desenrolar do Diálogo Político Líbio (Pág.4)França e Alemanha: novos centros de Defesa da União Europeia (Pág. 5)Economia alemã: realidades e desafios (Pág. 5)

••••••••

Novo processo de reunificação do Chipre (Pág.6)Turcomenistão: um pouco além das eleições (Pág. 7) O porto de Chabahar e a reaproximação entre Índia e Irã (Pág. 7)A geopolítica energética da China (Pág. 8)Coreia do Sul e Estados Unidos após a eleição de Donald Trump (Pág.8)Resposta à repressão: a resistência violenta dos Rohingya (Pág. 9)Os impactos da rachadura Larsen C na Antártica (Pág. 9)Artigos selecionados e notícias de Defesa (Pag. 10)

••••••••

Editor ResponsávelLeonardo Faria de Mattos (EGN)

Editor CientíficoFrancisco Eduardo Alves de Almeida (EGN)

Editores AdjuntosFelipe Augusto Rodolfo Medeiros (EGN)Jéssica Germano de Lima Silva (EGN)

Noele de Freitas Peigo (FACAMP)

Pesquisadores do Núcleo de Avaliação da ConjunturaAdriana Escosteguy Medronho (PUC - Rio)

André Figueiredo Nunes (UFRJ)Ariane Dinalli Francisco (Universität Osnabrück)

Beatriz Mendes Garcia Ferreira (UFRJ)Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (UFRJ)

Catharine Simões (UERJ)Daniel Santos Kosinski (UFRJ)

Dominique Marques de Souza (UFRJ)Ely Pereira da Silva Júnior (UERJ)

Franco Aguiar de Alencastro Guimarães (PUC - Rio)Gabriela Mendes Cardim (UFRJ)

Gabriela da Conceição Ribeiro da Costa (UERJ)Gabriele Marina Molina Hernandez (UFF)

Jéssica Pires Barbosa Barreto (UERJ)João Victor Marques Cardoso (UFF)José Gabriel de Melo Pires (UFRJ)

Lais de Mello Rüdiger (UFRJ)Larissa Marques da Costa (UFRJ)

Louise Marie Hurel Silva Dias (PUC - Rio) Luciane Noronha Moreira de Oliveira (EGN)

Luma Teixeira Dias (UFRJ)Marcelle Siqueira Santos (UERJ)

Marcelle Torres Alves Okuno (IBMEC)Matheus Souza Galves Mendes (UFRJ)Pedro Allemand Mancebo Silva (UFRJ)Pedro Emiliano Kilson Ferreira (UFF)

Pedro Mendes Martins (UERJ) Philipe Alexandre Junqueira (UERJ) Rebeca Vitória Alves Leite (UFRJ)Stefany Lucchesi Simões (UNESP)

Taynara Rodrigues Custódio (UFRJ)Thaïs Abygaëlle Dedeo (UFRJ)

Thayná Fernandes Alves Ribeiro (UFRJ)Vinícius de Almeida Costa (EGN)

Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (UFRJ)Vivian de Mattos Marciano (UFRJ)

BOLETIM GEOCORRENTEO Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal vinculada ao Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), do Centro de Estudos Político-Estratégicos (CEPE) da Marinha. O NAC possui o objetivo de acompanhar a Conjuntura Internacional sob o olhar teórico da Geopolítica, a fim de ampliar o conhecimento por meio da elaboração deste boletim, além de outros produtos que porventura venham a ser demandados pelo Estado-Maior da Armada.Para isso, o grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade de formações e experiências proporciona uma análise ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, bem como, seus desdobramentos.

NORMAS DE PUBLICAÇÃOEsse Boletim tem como objetivo publicar artigos curtos tratando de assuntos da atualidade e, eventualmente, de determinados temas de caráter geral sobre dez macrorregiões do Globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica. Ainda, algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”, voltada a artigos que abordam assuntos não relacionados, especificamente, a uma das regiões supracitadas.Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do Núcleo de Avaliação da Conjuntura do CEPE e submeta seu artigo contendo, no máximo, 350 palavras ao processo avaliativo. A avaliação é feita por pares, sem que os revisores tenham acesso ao nome do autor (blind peer review). Ao fim desse processo, o autor será notificado via e-mail de que seu artigo foi aceito (ou não) e que aguardará a primeira oportunidade de impressão.

CORRESPONDÊNCIAEscola de Guerra Naval – Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha. Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de Janeiro/RJ - Brasil (21) 2546-9394E-mail: [email protected] cuidados do Editor Responsável do Boletim Geocorrente.

América do Sul

[2]

Bolívia e Paraguai: alternativas para o acesso ao mar Por: Carlos Henrique Em outubro de 2016, o Ministro de Obras Públicas do Paraguai, Ramón Gaona, demonstrou o interesse de seu país em participar do Corredor Ferroviário Bioceânico Central (CFBC). Esse envolvimento se daria por meio de uma conexão ferroviária de Roboré, cidade do departamento de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, que faz parte do trajeto do CFBC, até a cidade paraguaia Carmelo Peralta, no departamento de

Alto Paraguay. Confirmada em janeiro deste ano, por meio de um memorando de entendimento entre os dois países sem litoral, essa nova conexão levantou debates na Bolívia sobre o acesso soberano ao mar. No início de fevereiro, a Cámara de Exportadores, Logística y Promoción de Inversiones de Santa Cruz (CADEX) pronunciou-se contrária à conexão Roboré - Carmelo Peralta. Esta alega que a conexão Motacucito - Mutún - Puerto Busch, que aparece nos projetos da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul Americana (IIRSA), desde julho de 2016, traria menor custo de frete, um percurso menor (cerca de 130 km, comparados aos 600 km do caminho para o Paraguai) e daria soberania sobre o porto na hidrovia Paraná-Paraguai, com acesso independente ao Oceano

Atlântico. Observada a questão boliviana, o caminho Roboré - Carmelo Peralta é vantajoso tanto para o Paraguai quanto para o Brasil. Desde 2015, já estava prevista a criação de um corredor rodoviário bioceânico, que ligaria Porto Murtinho, cidade do Mato Grosso do Sul, localizada do outro lado da hidrovia em relação a Carmelo Peralta, aos portos do norte do Chile. Esse projeto iniciou-se em julho de 2016, tendo em vista a conclusão das negociações para construção de uma ponte que ligaria ambas as cidades. Ainda que o destaque seja o desenvolvimento da região (o intercâmbio comercial entre Brasil e Paraguai em 2015 alcançou US$ 3,3 bi), cabe lembrar que o departamento do Alto Paraguay, onde fica Carmelo Peralta, é próximo do departamento de Concepción, área de ação da guerrilha Exército do Povo Paraguaio (EPP), o que pode vir a comprometer seriamente a segurança da importante iniciativa.

O processo de paz e as tensões transfronteiriças Por: Lais Rüdiger

Entre 02 e 05 de fevereiro, Bogotá sediou a 16ª Cúpula Mundial de Prêmios Nobel da Paz, considerado o principal evento anual no campo da pacificação e ocorrido pela primeira vez em um país latino americano. Com diálogos relacionados à construção da paz, reconciliação e sua relação com o desenvolvimento, a capital colombiana foi escolhida para sediar o evento face aos desafios enfrentados tanto pela população quanto por empresários e, ainda, pelos setores público e privado, no processo de construção da paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Coincidentemente com o dia inaugural do evento supracitado, seguindo as etapas prescritas no acordo assinado em novembro de 2016, os combatentes do grupo guerrilheiro iniciaram seu processo de desarmamento, com mediação da ONU (conforme abordado no Boletim 38). O local escolhido para a entrega do arsenal bélico foi denominado como “Ponto Transitório de Normalização de Pondores”, localizado no departamento de La Guajira, litoral extremo norte do país. Tal região é altamente estratégica (vide imagem) não somente por fazer fronteira com a Venezuela, mas também por ficar próxima a quatro portos do país – Cartagena, Santa Marta, Guajira e Barranquilla –, a via protagonista do fluxo de exportação do comércio colombiano.

Ultimahora.com

América do Sul

[3]

Segurança em Honduras Por: Marcelle Santos e Catharine Simões No início de 2017, Honduras caiu cinco posições no índice de liberdade de imprensa do Reporters Without Borders, passando a ocupar a colocação 137 de um total de 180. Com 7,8 milhões de habitantes (a segunda maior população da América Central) e Índice de Desenvolvimento Humano de 0,606 (somente superando, no continente americano, a Nicarágua e o Haiti), é o país mais violento do mundo, segundo dados da ONU. No dia 10 de fevereiro, em vista da tentativa de melhora da situação de segurança do Estado, cerca de 6 mil militares participaram de diversas operações para manter a ordem pública junto com a polícia nacional. Desde os acontecimentos políticos de 2009, quando o Presidente Manuel Zelaya foi deposto, a instabilidade se agrava no país, intensificando as disputas territoriais entre indígenas, trabalhadores agrícolas e os proprietários de terra. Tal situação é acrescida pelo aumento de gangues locais e transnacionais de narcotraficantes, que cometem atos de assassinato, extorsão, sequestro, tortura, tráfico de seres humanos e intimidação de jornalistas, mulheres e defensores dos Direitos Humanos. O atual Presidente de Honduras, Juan Orlando Hernandez, eleito em 2013, tenta administrar essa série de problemas estruturais que o país enfrenta. Destaca-se que a corrupção e a fragilidade institucional do sistema judiciário hondurenho muitas vezes conduzem à impunidade. Por isso, a cooperação em assuntos de segurança com países americanos vem sendo incrementada por Hernandez. Até novembro de 2017, a Força Naval de Honduras pretende incorporar um navio de desembarque anfíbio negociado com a Colômbia para combater o tráfico de drogas em suas águas jurisdicionais. Existe, ainda, pretensão de realização de treinamentos conjuntos com Guatemala e El Salvador neste ano. Em 2014, o governo hondurenho negociou a compra de aviões da Embraer com o Brasil e, agora, acredita que a chegada do navio colombiano auxiliará no aumento da segurança na região.

O desarme e o regresso à vida civil dos ex-combatentes das FARC, em tese, ficou agendado para ser concluído até maio deste ano. Entretanto, de acordo com estimativas do governo colombiano, 5% dos guerrilheiros são contrários ao processo de paz, fato que preocupa as autoridades do país. O maior temor é de que esses guerrilheiros sejam recrutados por grupos criminosos que projetam ampliar seu domínio do narcotráfico, não só internamente, mas também em países vizinhos. Com isso, Colômbia e Brasil acordaram mobilizar forças especiais e agentes de inteligência para controle da porosa fronteira, na busca de evitarem que tanto o contingente quanto os armamentos recolhidos das FARC caiam nas mãos de facções organizadas.

América do Norte e Central

Procolombia

África SubsaariunaA guerra de números no Chifre da África Por: Franco Alencastro

No dia 21 de janeiro, um atentado promovido pelo grupo extremista islâmico Al Shabaab resultou em 28 mortos e 43 feridos em Mogadishu, capital da Somália. No dia seguinte, o grupo ainda assumiu responsabilidade por um ataque na base militar queniana de Kulbiyow, localizada no nordeste do país. Existem divergências em torno das informações do ataque: segundo nota divulgada pelos extremistas, a investida matou 57 soldados quenianos; autoridades do Quênia, no entanto, negaram essa afirmação, divulgando apenas a morte de dezenas de insurgentes. A dificuldade de se obter informações transparentes das baixas em Kulbiyow mostra a forma como os números foram instrumentalizados por ambos os lados do conflito como arma de propaganda. Em janeiro passado, um atentado do Al Shabaab na base de El-Adde foi considerado uma humilhação nacional para o Quênia após a divulgação do número de baixas do país.

[4]

Construindo um novo país: o desenrolar do Diálogo Político Líbio Por: Pedro Kilson

O projeto de consolidação de um Estado líbio politicamente estável, capaz de viabilizar governabilidade, passou a ser orquestrado por meio do desenrolar de um esforço político a partir de 17 de dezembro de 2015. O Diálogo Político, sob os auspícios do Acordo Político Líbio, assinado em Skhirat, Marrocos, está muito aquém de desmantelar os conflitos, estabelecer unidade nacional, arquitetar uma nova constituinte e eleições, somente reconfigurou o conturbado quadro político do país. Visava-se, na ocasião da implementação do acordo, à legitimação de um governo central capaz de articular a exportação petrolífera, a desmobilização e reintegração social de grupos armados. Nesse contexto, o papel da ONU gravitou em torno do Representante Especial das Nações Unidas para para a Líbia e chefe da USMIL, Bernardino León, e, posteriormente, Martin Klober, enfrentando um ambiente hostil. O Diálogo Político Líbio sustentou as discussões, que abarcaram representantes de ambos os

Oriente Médio e Norte da África

O Quênia, junto com Djibuti, Burundi e Uganda, é um dos países que contribuem com tropas para a missão da União Africana na Somália (AMISOM, sigla em inglês). Sua fronteira com o país do Chifre da África o torna o segundo maior alvo dos atentados do Al Shabaab. A recente intensificação dos ataques desse grupo, após um recuo significativo no ano de 2016, pode ser interpretada como uma forma de intimidar o novo governo do Presidente Mohamed Farmaajo (vide imagem). A nova ofensiva ocorre três meses após a Etiópia anunciar que iria se retirar da AMISOM, reduzindo o contingente da missão de 22 mil para 18 mil combatentes. Com isso, é possível afirmar que o Presidente Farmaajo terá dificuldades em pôr fim ao conflito e que este ainda poderá se intensificar nos próximos anos. Wikipedia.com

Ascensão de Trump e a questão nuclear no Oriente Médio Por: Taynara R. Custódio

No último dia 29 de janeiro, o Irã disparou um míssil balístico S-200 de longo alcance diretamente da ci-dade de Bushehr e, quase concomitantemente, sua Organização de Energia Atômica comunicou o início de tes-tes de novas centrífugas nucleares IR-8, que darão ao país maior capacidade de enriquecimento de urânio. No dia 08 de fevereiro, militares iranianos novamente testaram um míssil de curto alcance Mersad. Notadamente, a conduta iraniana fez ecoar na esfera internacional um ambiente de advertência por parte de Washington D.C., Riad e Jerusalém. Durante a corrida presidencial, Donald Trump mostrou-se insatisfeito com o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, sigla em inglês) – acordo entre Irã, Estados Unidos, G5+1 e União Europeia, que tem como escopo impedir que Teerã produza armas nucleares –, sugerindo que o desmantelaria ou o renegociaria. Já na primeira quinzena de seu mandato, o presidente eleito demonstra certa insatisfação com os lançamentos por parte dos iranianos, usando o acontecimento como justificativa para a imposição de novas sanções, especial-mente a entidades relacionadas à Guarda Revolucionária do Irã. O aumento da influência regional iraniana no Oriente Médio foi o grande temor de sauditas e israelenses, desde o início das negociações do acordo. A tensão foi gerada na medida em que, revogadas as sanções, o país passaria a estar apto a receber investimentos estrangeiros e negociar livremente seu petróleo. Essa condição foi fundamental para que o Irã se consolidasse como uma influência regional e diminuísse o espaço de ação da Arábia Saudita e Israel. Cabe, ainda, citar que o Irã se opõe aos dois países em importantes conflitos regionais, como a Guerra civil do Iêmen, respaldando a ação dos Houthis na luta contra o governo apoiado por Riad. Apresentadas todas essas questões, a previsão é que Trump não se volte para um “desmantelamento” total do acordo, e sim que intensifique o cumprimento do mesmo por parte de Teerã. Essa situação exigirá resiliência para que não se instaure um dilema de segurança na região, desencadeando, inclusive, uma corrida nuclear.

Oriente Médio e Norte da África

[5]

Parlamentos em conflito, House of Representatives, existente desde 2014 e baseado em Tobruk, e General National Congress, em Trípoli, desde 2012. O acordo concretizou o Presidential Council e o High Council of State, sob o Governo Interino do Acordo Nacional, que estabelecera como único Parlamento legítimo o House of Representatives. Entretanto, o esforço diplomático nascera com fissuras, em meio a um cenário profundamente polarizado por dois eixos de poder, tornando-se incapaz de abarcar as demandas das diversas milícias armadas, bem como de conter o avanço da atividade terrorista. Nesse sentido, no decorrer de 2016, questões políticas mal resolvidas tornaram-se problemas estruturais, compreendendo desde a insuficiência de recursos da Missão da ONU a abordagens de segurança estratégica, como o real espaço político que milícias deveriam ocupar na Líbia pós-acordo. Ademais, a negligência quanto à complexidade sociopolítica e militar, que compõe o cenário geopolítico líbio, inviabiliza um acordo que, se bastante ousado em seus objetivos, tornou-se falho perante a resistência de atores regionais e exteriores quanto à efetivação de um diálogo nacional.

França e Alemanha: novos centros da Defesa da União Europeia Por: Dominique Marques

No final de 2016, após o plebiscito britânico de deixar a União Europeia (UE) no que ficou conhecido como Brexit, a Ministra de Defesa alemã Ursula von der Leyen declarou que, a partir de então, França e Alemanha deveriam assumir a liderança do bloco, aumentando ainda mais a cooperação entre si. Este foi um fato historicamente relevante, considerando que ambos os países guerrearam e disputaram influências durante séculos. Dando continuidade a esse fato, em dezembro foi realizado um encontro de governantes da “Europa a 27” (excetuando o Reino Unido) chamado a “Cimeira de Bratislava”, capital da Eslováquia. O objetivo foi discutir o futuro quanto aos temas Defesa, Segurança, Brexit e Emprego Jovem, representando um ponto de partida para a saída da “situação crítica” em que se encontra a Europa – palavras da chanceler alemã Angela Merkel. O encontro não pretendia lançar políticas definitivas, mas pensar possíveis saídas para os problemas advindos das imigrações, da crise econômica e do “efeito dominó” que o Brexit poderia desencadear. O presidente francês François Hollande seguiu no mesmo discurso quanto à necessidade de manutenção da união dos países membros, tema já presente no último White Paper alemão, lançado em julho do ano passado. Como resoluções finais da reunião, ficaram pré-estabelecidas a necessidade de um Plano de Defesa único para toda a UE e um maior controle de imigrantes, inclusive na circulação de cidadãos europeus com problemas de visto. Nesse encontro já não houve participação de representantes britânicos, os quais não foram convidados, evidenciando o novo posicionamento dos novos líderes relacionado assunto ‘‘Defesa na Europa”. A UE passa por momentos delicados e o encontro destacou a necessidade de união frente às tendências separatistas com as tensões advindas principalmente da economia, dos imigrantes e da reação dos partidos de extrema direita às questões debatidas no encontro. Uma quebra da união levaria a graves crises, principalmente, aos países de menor economia, impactando negativamente a região, que já foi palco das guerras mundiais do último século.

Europa

Qantara.de

EuropaEconomia alemã: realidades e desafios Por: Ariane Francisco

Atualmente, muito se tem falado da importância política da Alemanha como líder do “mundo livre”.

As decisões e discurso da chanceler Angela Merkel, tendo em contrapartida Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, dão esperança e são vistas como ponto de referência para o turbilhão pelo qual o mundo tem passado. Menos analisada, porém, mas igualmente importante, é a existência da Alemanha como país mais forte do continente europeu econômica e geopoliticamente.

[6]

Deve-se levar em consideração a posição geográfica do país no continente e, consequentemente, as possibilidades que isso traz. Nesse caso, é importante notar a situação atual do país em relação aos seus portos, setor industrial e financeiro. A Alemanha, com posição central no continente europeu, tem acesso ao Mar do Norte e ao Mar Báltico, além de importantes linhas fluviais, como o Rio Reno. De acordo com o CIA World Factbook, o país está na 24ª posição na lista de marinhas mercantes e tal fato, assim como os investimentos feitos na infraestrutura do setor, contribuíram para que, no último dia 10, o país tenha anunciado saldo positivo na balança comercial em € 253 bilhões – o maior do mundo em 2016. A ênfase dada aos portos do país também leva em consideração o fato de que, atualmente, 47% do PIB vem das exportações; consequentemente, é necessária a manutenção de uma boa infraestrutura logística para o escoamento dos produtos alemães. Na contramão do sucesso das exportações, o setor financeiro ainda enfrenta sérios problemas oriundos da crise de 2008, incluindo perdas de milhões de euros relacionados justamente a empréstimos para a indústria de navegação. Mesmo exitosa em termos de comércio exterior, a Alemanha precisa organizar seu setor financeiro urgentemente, em busca de melhor se proteger para uma Europa e um mundo cada vez mais instáveis.

EuropaO novo processo de reunificação do Chipre Por: Matheus Mendes

Desde 1974, a ilha do Chipre é dividida entre a República do Chipre (ao sul), integralmente reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e Estado-membro da União Europeia (UE); e a República Turca do Chipre do Norte (RTCN), apenas reconhecida pela Turquia, país este que mantém tropas mobilizadas na região, com cerca de 40 mil militares. No início de janeiro, líderes governamentais de ambas as partes reuniram-se para negociações acerca da reunificação do Chipre, agenda que vem sendo discutida entre os chefes de Estado há quase 2 anos e pode se concretizar em um futuro próximo. A dificuldade em firmar um acordo reside em aspectos históricos e sociais. Quando o país tornou-se independente do Reino Unido, em 1960, ficou estabelecido que este último, Grécia e Turquia seriam os “garantidores” da segurança da ilha, fato este que permitiu aos turcos intervirem no Chipre quando houve um golpe militar no sul (em 1963), com intuito de integrar o país ao Estado grego. Vale ressaltar que cerca de 80% da população é composta por cipriotas de origem grega. A relevância britânica consiste na existência de duas bases militares no Chipre (Akrotiri e Dhekelia), haja vista sua importância geoestratégica, próxima ao Oriente Médio e ao Canal de Suez. Também é importante destacar a posição da Rússia sobre a questão. Além de aspectos econômicos (investimentos) e sociais (emigrantes e turistas), os russos possuem fortes interesses navais como apoio logístico, por meio dos portos, para atuação na Síria; e energéticos com as já comprovadas reservas de gás natural cipriotas na região. Muitos analistas internacionais consideram que o fator central da discussão seja a segurança: para gregos e britânicos, não seria um problema, já que os “garantidores” fazem parte da OTAN; a Turquia, por outro lado, não parece aceitar em seu discurso qualquer abdicação da sua participação militar ao norte da ilha; já a Rússia pode vetar qualquer proposição no Conselho de Segurança da ONU, como já o fez em outra negociação a respeito envolvendo o Chipre, em 2004. Portanto, por mais que haja o interesse dos dois Chipres na reunificação, é prematuro afirmar que isso vá ocorrer.

BBC News

[7]

Turcomenistão: um pouco além das eleições Por: José Gabriel Melo No dia 12 de fevereiro ocorreram eleições presidenciais no Turcomenistão. A data confirmou o favoritismo do então Presidente Kurbanguly Berdymukhamedow, que venceu com aproximadamente 98% dos votos. O presidente recém-eleito assumiu pela primeira vez em 2007, após a morte do Presidente vitalício Saparmurat Niyazov, e vai para seu terceiro mandato. O governo de Berdymukhamedow é semelhante ao de seu antecessor, caracterizado pela repressão a movimentos de oposição, controle da mídia e da liberdade de expressão. Em setembro de 2016, foi aprovada uma emenda constitucional que estende o mandato presidencial de cinco para sete anos e extingue o limite de idade de 70 anos para concorrer à presidência, um movimento do qual Berdymukhamedow se beneficiará. O país, de maioria muçulmana, possui a quarta maior reserva de gás natural do mundo (17.5 trilhões de m³) e estrutura sua economia majoritariamente em torno da exportação da commodity, sendo a agricultura a segunda maior fonte de renda. Nos últimos anos, por meio de investimentos em gasodutos a fim de dinamizar a região, a China tornou-se o maior parceiro comercial da ex-república soviética no que diz respeito ao volume de gás exportado, desbancando a Rússia, tradicional parceira turcomena. Os investimentos chineses direcionados ao Turcomenistão estão abarcados no projeto One Belt One Road, que tem como objetivo a garantia de sua segurança energética, além de preservar os interesses chineses na região. Berdymukhamedow parece ser um governante obsoleto em um mundo dinamizado e terá que lidar com um cenário de mutação regional, que lhe trará alguns desafios, sendo a diversificação e modernização da economia o maior deles. O país encontra-se em meio a uma crise de abastecimento – apesar de possuir vastas reservas, não possui o domínio da tecnologia para o refino de petróleo –, podendo resultar no aumento gradual do descontentamento interno, o que pode abalar ou mesmo desmantelar as bases do governo.

O Porto de Chabahar e a reaproximação entre Índia e Irã Por: Rebeca Leite

No decorrer da última semana do mês de janeiro, medidas importantes foram deliberadas a respeito da ampliação do porto iraniano em Chabahar, um projeto capitaneado por Índia, Irã e Afeganistão. O chefe da Iran’s Ports and Maritime Organization (PMO) declarou que a construção da primeira fase do porto começa em três meses, com investimento inicial de US$ 85 milhões da parte indiana, a fim de construir terminais multi-propósito e contêineres. Embora tenha sido idealizado em 2003, o acordo trilateral

caminhou a passos lentos devido às sanções impostas ao Irã, por isso, somente em 2016 o acordo foi assinado. Cabe ressaltar que, atualmente, o Irã passou a ser o quarto maior fornecedor de petróleo para a Índia, ultrapassando a Arábia Saudita. Para a Índia, a substituição da rota terrestre pela marítima significa muito em termos estratégicos. Do ponto de vista econômico, a nova rota permite ao país comercializar seus produtos com a Ásia Central, através do Afeganistão, em menos tempo e desviando do Paquistão. A expectativa indiana é de também exportar para a Europa, visto que,

estima-se que essa rota seja 40% mais curta e 30% menos dependiosa do que sua atual pelo Mar Vermelho. No que se refere à energia, a Índia poderá ainda importar gás da Ásia Central, particularmente do Turcomenistão, um antigo parceiro no projeto do gasoduto/oleoduto batizado de The Turkmenistan–Afghanistan–Pakistan–India Pipeline (TAPI). O TAPI encontra dificuldades em se desenvolver devido aos movimentos insurgentes nos países colaboradores e também à acentuada tensão entre Índia e Paquistão.

Rússia e ex-URSS

Sul da Ásia

dailymail.com

ria.ru

[8]

O valor estratégico do Porto de Chabahar para a Índia é evidente e denota sua política de influência, não apenas no continente, mas no sistema internacional como um todo a fim de consolidar seu desejo de ser vista como protagonista na política mundial.

Coreia do Sul e Estados Unidos após a eleição de Donald Trump Por: Ely Pereira

Na primeira semana de fevereiro, o Secretário de Defesa norte-americano James Mattis desembarcou em Seul em sua primeira missão internacional. Durante a visita, Mattis reuniu-se com líderes do governo sul-coreano, como o Conselheiro de Segurança Nacional Kim Kwang-jin e o Presidente interino Hwang Kyo-ahn, para debater questões de segurança da península coreana e reafirmar a aliança entre os dois países. Desde a Guerra da Coreia (1950-1953), os Estados Unidos mantiveram-se como um importante aliado da Coreia do Sul, sobretudo nos âmbitos econômico e militar. No governo da ex-Presidente Park Geun-hye, os dois países estreitaram ainda mais seus laços e firmaram acordos importantes, entre eles aquele para instalação do THAAD. Entretanto, a eleição do Presidente Donald Trump gerou uma grande interrogação a respeito do futuro dessa aliança, que se expandiu ainda mais com a instabilidade política ocasionada pelo afastamento da ex-Presidente Park após um escândalo envolvendo seu partido. Ainda assim, a relação com os Estados Unidos se mantém como um ponto nevrálgico da política externa da Coreia do Sul, especialmente na conjuntura atual, em que a Coreia do Norte segue no desenvolvimento de seus armamentos nucleares e se mostra cada vez mais próxima de seu objetivo. No último dia 12, Kim Jong-un realizou seu primeiro lançamento de míssil balístico desde que Trump assumiu a presidência norte-americana. No mesmo dia, Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão solicitaram uma reunião urgente ao Conselho de Segurança para discutir novas medidas para lidar com o regime. É possível dizer que a visita de Mattis sinalizou, mesmo que sem muitos detalhes, que o governo de Trump pretende manter a aliança estratégica construída durante décadas com a Coreia do Sul, contradizendo

A geopolítica energética da China Por: Philipe Alexandre

A supremacia naval dos Estados Unidos é um grande desafio para a segurança energética chinesa. A prioridade estratégica de Pequim para sustentar o seu desenvolvimento é garantir a sua segurança energética por meio da conexão segura com seus grandes fornecedores de petróleo e gás, por meio de gasodutos que transitam por rotas terrestres. Com tal fim, a iniciativa do governo chinês One Belt, One Road, se bem-sucedida na construção de oleodutos, estradas e ferrovias, garantirá o transporte de petróleo e gás suficientes para atender às necessidades do país, sem depender tanto das rotas marítimas. A China é o maior importador mundial de hidrocarbonetos, principalmente do Golfo Pérsico e da África. O transporte se dá, majoritariamente, por navios-tanque sobre linhas de comunicação marítima, cujos pontos focais são controlados pela Marinha dos Estados Unidos. Uma interrupção na importação de energia por um bloqueio naval norte-americano, por exemplo, afetaria a economia chinesa e poderia paralisar suas forças militares. Contudo, muitos analistas afirmam ser um erro moldar a estratégia americana de longo prazo para a China sob o pressuposto de que Pequim continuará dependente de importações marítimas de energia. Sendo assim, a estratégia chinesa One Belt, One Road, que busca amenizar sua vulnerabilidade no ambiente marítimo, é vista como uma ação não-militar de Pequim contra o domínio naval dos Estados Unidos. Quando os novos oleodutos/gasodutos terrestres entrarem em operação, os Estados Unidos terão maior dificuldade de interromper o fornecimento energético da China, em caso de conflito. No entanto, o governo chinês também considera outros aspectos, como os fatores econômicos – os EUA podem utilizar dispositivos econômico-financeiros para dificultar os projetos terrestres chineses –, assim como os interesses de vários países por onde passará a “Nova Rota da Seda”. Desse modo, o governo de Pequim vem prezando nas negociações pela aplicação conjunta dos três pilares de sua projeção internacional: os poderios militar, econômico e político.

Leste Asiático

Leste Asiático

[9]

Resposta à repressão: a resistência violenta dos Rohingya Por: Thayná Fernandes

No início deste mês, a ONU lançou um relatório apontando a grave situação enfrentada pelos Rohingya de Mianmar. Desde o ano passado, uma série de conflitos armados entre essa minoria e as forças militares do governo tomou tal proporção que está sendo apontada como um possível caso de limpeza étnica. Em outubro último, alguns Rohingyas realizaram emboscadas em diversas cidades, em que tanto policiais quanto membros do grupo atacante foram mortos. Com isso, iniciaram-se operações militares no estado de Rakhine (onde se concentra a maior parte dos muçulmanos) e notícias de violações por parte das forças de segurança logo se espalharam. O grupo por trás dos ataques da minoria muçulmana chama-se Harakah al-Yaqin (HaY, “Movimento de Fé”, em árabe). Ele é formado por muçulmanos Rohingya treinados na Arábia Saudita que retornaram a Mianmar para lutar contra a violenta opressão que a minoria étnica vem sofrendo há décadas. O atual governo, eleito com esperança de transformar a realidade do país, pronunciou-se somente no último dia 12, após um longo período de silêncio, com um pedido de cessar-fogo aos grupos étnicos, pela líder do partido da situação e Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi. Cabe lembrar que ela não controla efetivamente o governo e que ¼ do Parlamento é formado por militares. O governo da Malásia já criticou fortemente o posicionamento de Mianmar. A Indonésia, que possui a maior população muçulmana do mundo e é atuante na ASEAN, não se posicionou fortemente sobre o assunto, ainda que pudesse ajudar a solucionar as questões étnicas e econômicas, já que os países do bloco são destinos de refugiados Rohingyas. Em abril do ano passado, um estudo do FMI declarou Mianmar como um dos países com maior crescimento econômico e possibilidade de investimentos. Entretanto, para que haja real desenvolvimento, tanto para o governo central quanto para outras regiões do país, algo além de repressão violenta precisa ser feito.

Os impactos da rachadura Larsen C na Antártica Por: Stefany Simões

Nos últimos dois meses, as atenções dos pesquisadores antárticos voltaram-se para uma parte peculiar do continente. Desde dezembro, vem sendo observado o agravamento da situação da rachadura Larsen C, que cresceu mais de 27 km nos últimos dois meses. Hoje, ela mede mais de 160 km de extensão e 4 km de largura em alguns pontos, muito maior do que os cientistas tinham previsto no seu surgimento em 2010. O tamanho do bloco de gelo que pode se soltar com a quebra equivale à extensão do Líbano. Ainda não se tem certeza de quando o iceberg vai se desprender, algo que pode levar de dias a anos. Contudo, quando ocorrer, vai ser o maior já registrado na história. O bloco onde está a rachadura Larsen C é fundamental para manter o equilíbrio da península antártica e prevenir que outros icebergs não se formem. Outros blocos de gelo já se desprenderam da mesma região: o Larsen A era a parte mais ao norte da área e a menor que se soltou, em 1995; já o Larsen B era maior, com 3.200 km² e se desprendeu em 2002. Tal desprendimento do Larsen C é preocupante, pois é visto como um aviso para possíveis futuros desprendimentos que podem ter consequências muito mais sérias. Segundo cientistas, o nível do mar não vai crescer por causa desse acontecimento e o resultado não tem ligação direta com o aumento da temperatura global, visto que o desprendimento é um fenômeno natural. Até agora o maior impactado pela rachadura foi o British Antarctic Survey (BAS), o instituto britânico de pesquisas antárticas. Sua estação Halley VI está localizada nas proximidades da rachadura. Ela já tinha sido deslocada 23 km para prevenir possíveis danos, no entanto, a chegada do inverno impossibilita viagens à região. Devido ao futuro instável da rachadura, Halley VI foi fechada com objetivo de garantir a segurança dos pesquisadores que trabalham durante a estação mais fria do ano.

Ártico e Antártica

o discurso adotado durante as eleições. Todavia, enquanto um novo presidente sul-coreano não for eleito e o presidente norte-americano não se mostrar mais claro em relação à sua política com os aliados do Leste Asiático, o rumo que a parceria entre os dois países tomará permanece impreciso e preocupante.

Sudeste Asiático e Oceania

Participamos aos nossos leitores que todos os Boletins anteriores estão disponíveis na página da Escola de Guerra Naval na internet no seguinte endereço:

<https://www.egn.mar.mil.br/boletimgeocorrente.php>

Nesse link também é possível cadastrar seu email para que passe a receber sempre nosso Boletim.

[10]

Artigos selecionados e notícias de Defesa

GEOPOLITICAL FEATURES - US Strategies in the Middle East - By: George Friedman

NATIONAL INTEREST Russia’s Dangerous Nuclear Forces are Back - By: Dave Majumdar

THE DIPLOMAT How the South China Sea Could Heat Up Again in 2017 - By: Ankit Panda

PROJECT SYNDICATE Powering Africa’s Future - By: Alpha Condé

BUSINESS INSIDER After a decade fighting the cartels, Mexico may be looking for a way to get its military off the front line - By: Christopher Woody;

PROJECT SYNDICATE Why Trump Can’t Bully China - By: Kenneth Rogoff

STRATFOR The Indian Military’s March Toward Modernity

DEFENSE NEWS US Coast Guard urged to step up requirements - By: Christopher P. Cavas

EL PAIS Italia se consagra como principal vía de entrada de migrantes en la EU - By: Lucía Abellán

DEFENSE INDUSTRY DAILY Norway May go Dutch with Poland on Subs