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ANAIS DO VII ENCONTRO REGIONAL RIO DE JANEIRO DA ABRAPSO Rio de Janeiro ISSN 1981‐4321

Rio de Janeiro ISSN 1981‐4321

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ANAIS DO VII ENCONTRO REGIONAL RIO DE JANEIRO DA ABRAPSO 

Rio  de  Janeiro ISSN 1981‐4321 

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Anais do VII Encontro Regional Rio de Janeiro da ABRAPSO Transformações urbanas e psicologia social 

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 27 e 28 de setembro de 2012  –  ISSN: 1981‐4321 

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COMISSÃO CIENTÍFICA

Adriana Carrijo

Alexandre Trzan

Filipe Boechat

Francisco Teixeira Portugal

Marcela Teti

Mariana Alves Gonçalves

Ronald Ericeira

COMISSÃO ORGANIZADORA

Alexandre Trzan

Filipe Boechat

Francisco Teixeira Portugal

Jorge Antonio Tavares

Marcela Teti

Mariana Alves Gonçalves

Nira Kaufman

Ronald Ericeira

PARECERISTAS

Adriana Carrijo

Alessandra Daflon

Beatriz Corsino Pérez

Dayse de Marie Oliveira

Filipe Milagres Boechat

Hildeberto Vieira Martins

Lurdes Oberg

Marcela Alves de Abreu

Marcela Franzen Rodrigues

Marcela Montalvão Teti

Maria Cláudia Novaes Messias

Maria Gláucia Pires Calzavara

Mariana de Araújo Fiore

Rafael Prosdocimi Bacelar

Roberta Maria Federico

Ronald Clay dos Santos Ericeira

Suzana Santos Libardi

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Universidade Federal do Rio de Janeiro, 27 e 28 de setembro de 2012  –  ISSN: 1981‐4321 

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SUMÁRIO

PROGRAMAÇÃO .................................................................................... 4 RESUMOS ............................................................................................. 6 INDICE DE AUTORES ........................................................................... 41

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VII ENCONTRO REGIONAL RIO DE JANEIRO DA ABRAPSO TRANSFORMAÇÕES URBANAS E PSICOLOGIA SOCIAL

LOCAL: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

AV. PASTEUR, 250, PAVILHÃO NILTON CAMPOS, 2º ANDAR.

PROGRAMAÇÃO

Dia 27/09

Credenciamento

Localização: IP/UFRJ, sala 3

Horário: 09h00 – 09h30

Mesa de abertura

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 09h30 – 10h00

Apresentação de trabalhos

Sessão 1

Localização: IP/UFRJ, Estúdio

Horário: 10h00 – 12h00

Monitor: Filipe Boechat

Sessão 2

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 10h00 – 12h00

Monitor: Ronald Clay dos Santos Ericeira

Sessão 3

Localização: IP/UFRJ, sala 10

Horário: 10h00 – 12h00

Monitor: Mariana Alves Gonçalves

Mesa-redonda Territórios e meio ambiente

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 13h00 – 15h00

Luís Antonio Baptista

UFF

Luiz Antonio Simas

Consultor de acervo do MIS-RJ

MUF (Museu de Favela do Cantagalo/Pavão- Pavãozinho)

Francisco Teixeira Portugal (Coordenador)

Vice-presidente da Regional da ABRAPSO

UFRJ

Sessão 4

Localização: IP/UFRJ, sala 10

Horário: 15h30 – 17h30

Monitor: Filipe Boechat

Sessão 5

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 15h30 – 17h30

Monitor: Mariana Alves Gonçalves

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Dia 28/09

Apresentação de trabalhos

Sessão 6

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 08h00 – 10h00

Monitor: Mariana Alves Gonçalves

Sessão 7

Localização: IP/UFRJ, sala 10

Horário: 08h00 – 10h00

Monitor: Alexandre Trzan-Ávila

Mesa-redonda Políticas Públicas

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 10h00 – 12h00

Marcelo Pedra

Ministério da Saúde

Rosa Cristina Monteiro

UFRRJ

José Rodrigues (Coordenador)

UFF

Mesa-redonda Segurança e vigilância

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 13h00 – 15h00

Rosa Pedro

UFRJ

Pedro Paulo Gastalho de Bicalho

UFRJ

Neuza Guareschi (Coordenadora)

Presidente Nacional da ABRAPSO

UFRGS

Encontro dos núcleos da Regional Rio da ABRAPSO

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 15h30 – 17h30

Fechamento do Encontro

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 17h30 – 18h00

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RESUMOS

SESSÃO 1

Localização: IP/UFRJ, Estúdio

Horário: 10h00 – 12h00

Monitor: Filipe Boechat

A cidade e as torcidas: experiências e represen-tações em jogo

Cristal Oliveira Moniz de Aragão

Angela Arruda

O trabalho a ser apresentado é parte de uma pes-quisa realizada no doutoramento em psicologia, cujo objetivo geral é investigar a experiência e as representações dos torcedores de futebol nos está-dios por meio das relações entre a proposta das representações sociais em sua perspectiva proces-sual, inspirada pelos textos de Serge Moscovici, Denise Jodelet e Angela Arruda, e a cartografia tomada como uma metodologia de acompanha-mento de processos no trabalho de campo, como desenvolvida por Virgínia Kastrup e Suely Rolnik. A convergência de tais referenciais se deu pelo construtivismo como uma prática de política cognitiva, bem como pelas necessidades impostas pelo campo de pesquisa, ao deparar-se com ele-mentos mais ou menos estáveis da atividade tor-cedora nos estádios. Com essas ferramentas, ope-ramos num campo em transformação permanente e em fina conexão com os acontecimentos da ci-dade do Rio de Janeiro. Destacou-se na pesquisa as intensas mudanças vividas pela cidade nos úl-timos anos e seu reflexo no cotidiano dos torcedo-res que frequentam os estádios de futebol na cida-de. Como população especialmente sensível ao que se desenrola na cidade, já que sua presença nos estádios depende de uma combinação envolve uma gama extensa de fatores, desde o preço dos ingressos até a percepção do medo e da violência na cidade. Dentre as muitas questões que podem alterar essa equação, é possível destacar a ampla reforma urbana potencializada pelos megaeventos

que a cidade receberá nos próximos anos, a saber a Copa do Mundo FIFA de 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016, que contam com sedes na ci-dade do Rio de Janeiro e têm direcionado ações sobre o torcedor. Importante ressaltar que essas mudanças dizem respeito a construções e refor-mas físicas, mas também tem influência na manei-ra como se pensa as relações com a cidade, como na circulação dos cidadãos, no contato com a dife-rença, a presença de indesejados em certos luga-res, numa política que quer instituir um “choque de ordem” específico. A partir deste contexto, o objetivo deste recorte é trazer a discussão sobre um dos grupos acompanhados, a torcida Loucos pelo Botafogo, inserida neste universo maior. Formada principalmente por jovens, a torcida busca se colocar de forma diferente em relação ao comportamento padrão dos torcedores organiza-dos, tachados de violentos por boa parte da popu-lação e da mídia, reforçando algumas representa-ções compartilhadas por grande parte dos partici-pantes entrevistados por esta pesquisa que não fazem parte de torcidas organizadas. A proposta deles é se opor ao carater violento das mesmas, num movimento próximo do que Moscovici no-meou de minorias ativas, embora com algumas diferenças. O acompanhamento dela ao longo dos últimos dois anos viu também a passagem do amadorismo, que era um emblema e valor defen-dido pelos membros, para a institucionalização da mesma, com formalização de associados com car-teiras, aluguel de sede própria, diversificação de atividades com o objetivo de se estabelecer tam-bém perante a nova conjuntura e as exigências do corpo de segurança da cidade, a polícia e a lei, na forma do estatuto do torcedor. O trabalho apresen-ta ainda fragmentos que parecem compor as re-presentações sociais sobre o clube, esta torcida e o torcer, aparentemente permeadas por escolhas afetivas e estruturantes na vida cotidiana dos par-ticipantes. Contemplar-se-á também as experiên-cias visibilizadas pela inserção no campo, que parecem dialogar com as representações sociais, convergindo e divergindo em relação a elas.

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Câmeras de vigilância no Rio de Janeiro: novas formas de governo em ação na cidade

Rafael Barreto de Castro

Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro

A partir da evidência de que as câmeras de vigi-lância estão cada vez mais presentes no cotidiano dos grandes centros urbanos, algumas controvér-sias vêm se constituindo e adquirindo destaque no cenário atual. Extremamente vinculada ao tema da violência e da segurança, a vigilância parece ter se tornado o meio privilegiado de reação e preven-ção, uma espécie de solução quase que natural aos quadros de desordem e medo que frequentemente assombram as dinâmicas das cidades. Especial-mente na cidade do Rio de Janeiro (Rio de Janei-ro/Brasil), o tema da segurança e suas articulações vêm se apresentando como assuntos diários e sempre dramáticos. Em manchetes de jornais, conversas cotidianas ou como objeto de estudo dos ditos “especialistas”, a preocupação com os episódios de violência e o clima de temor e caos que estes instauram apontam a necessidade de intervenções urgentes e eficazes não só por parte de iniciativas privadas, mas também por parte do poder público. No que tange especificamente às iniciativas e práticas de segurança pública na ci-dade, um fator que recentemente acelerou a busca por soluções foi a escolha do Rio de Janeiro como sede dos jogos da Copa do Mundo FIFA de Fute-bol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de Verão (ou Olimpíadas) do ano de 2016. Visando, então, atender tanto à Copa do Mundo quanto às Olimpí-adas, e acompanhando, principalmente, os proces-sos de modernização das polícias, deverá ser inaugurado ainda durante o ano de 2011 o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) da Se-cretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro (SESEG/RJ). O novo CICC irá integrar as ativi-dades de segurança pública e defesa social de oito órgãos de atendimentos emergenciais aos cida-dãos: Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-RIO), Corpo de bombeiros, Defesa Civil Municipal, Guarda Municipal, Polí-cia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Fede-ral e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgên-cia (SAMU). O objetivo é, a partir desta associa-ção de forças, aumentar a quantidade de dados disponíveis, melhorando e agilizando os processos de tomada de decisões, principalmente em situa-ções de emergência, por parte dos gestores. Dessa

forma, os oito órgãos terão ali não só os seus ser-viços de atendimentos emergenciais como tam-bém os de supervisão de imagens. Todo e qual-quer sistema de câmeras que chegar a esses ór-gãos, deverá chegar também ao Centro Integrado. Desde o início das atividades de vigilância eletrô-nica urbana no Rio de Janeiro, oficialmente inau-guradas em junho de 2005, esta provavelmente será a primeira grande transformação sofrida pelo Centro de Comando e Controle (CCC). Funcio-nando até então no décimo terceiro andar do pré-dio da Central do Brasil, na trajetória do atual centro, encontramos algumas melhorias à época dos Jogos Pan-Americanos (em 2007), da inaugu-ração da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do morro Santa Marta (em 2009), quando novas câmeras foram incorporadas ao funcionamento já existente. Contudo, em nenhumas das referidas ampliações havia claramente um projeto tão am-bicioso articulado. A proposta para o novo CICC foi elaborada a partir de experiências bem sucedi-das tanto nacional como internacionalmente e está apoiada na ampliação do sistema de monitora-mento, com expansão dos postos de trabalho e supervisão da policia militar (atual responsável pela vigilância eletrônica urbana da cidade), per-mitindo o intercâmbio de informações e de ima-gens entre os oito órgãos envolvidos. Segundo a análise de alguns teóricos que se dedicam ao te-ma, a capacidade dos dispositivos tecnológicos de vigilância em promover segurança, ou sua eficá-cia, está diretamente relacionada à possibilidade de articulação a um banco de dados, a softwares de identificação e reconhecimento e a uma políti-ca de segurança adequada. Seria necessário um sistema integrado capaz de gerenciar estas infor-mações para produzir um dispositivo eficiente de vigilância/segurança. Desta forma, o CICC tentará colocar em prática uma espécie de funcionamento considerado ideal no sentido de atingir bons resul-tados. Esta parece, então, uma oportunidade ím-par, um importante processo a ser acompanhado por todos aqueles interessados em discutir os fe-nômenos urbanos, especialmente as práticas de vigilância eletrônica. A partir das atividades do projeto de pesquisa “Cartografando redes de vigi-lância e segurança na Cidade do Rio de Janeiro: nova configuração dos espaços urbanos, novas sociabilidades, novas formas de subjetivação”, ao qual este trabalho se encontra vinculado, alguns contatos já foram realizados na SESEG/RJ, algu-mas entrevistas preliminares com seus represen-tantes, buscando avaliar as possibilidades de se-

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guir a produção desse novo CICC, e aparentemen-te as portas nos foram abertas. Desta maneira, buscaremos neste trabalho tecer algumas conside-rações preliminares que descrevam as forças e tensões que concorrem para a configuração das políticas de vigilância, com foco específico em questões como o risco, a violência, o medo e es-pecialmente a segurança.

Conflitos em torno do Exame Criminológico

Ana Paula Moniz Freire

O presente trabalho visa discutir a legitimidade do exame criminológico. Muitos psicólogos criticam este exame alegando que este não condiz com o corpo teórico de sua profissão nem é um instru-mento da Psicologia. Porém, muitos operadores do Direito defendem a realização deste exame, pois acreditam que através de tal instrumento é possível conhecer os requisitos subjetivos dos presos para concessão de benefícios como pro-gressão de regime e liberdade condicional. A me-todologia utilizada nesse trabalho é a da pesquisa bibliográfica acerca da história da prisão, da in-serção da Psicologia no campo jurídico, a prática do psicólogo na execução penal, bem como sobre a participação da pesquisadora em eventos que discutiam a atuação do psicólogo no sistema pri-sional. Dentre os muitos assuntos abordados em tais eventos, a pesquisadora enfatizou a discussão em torno do exame criminológico como um ins-trumento criado pelos penalistas no final do sécu-lo XIX e início do século XX. A idealização de tal exame decorreu da criação do Sistema Penitenciá-rio no Brasil, que preconizava etapas nas quais o preso ia percorrendo devido a seu merecimento. Por este motivo, surge a necessidade de avaliar o preso em seu íntimo, o que acabou se consolidan-do na criação do exame criminológico. Este exa-me estava de acordo com o “espírito científico” da época, que preconizava que através de testes seria possível conhecer as características subjetivas dos indivíduos. Além disso, o exame criminológico é contemporâneo da sociedade disciplinar (Fou-cault), que convoca os sujeitos a agir em confor-midade com determinadas normas. Então, tal exame teria o objetivo de conhecer a subjetividade do indivíduo a fim de propor um tratamento peni-tenciário mais adequado a sua singularidade para que este tratamento tenha mais chance de ter su-

cesso, isto é, condicionar o preso para que este tenha um comportamento em conformidade com as regras sociais (e penitenciárias) e não venha mais a transgredi-las. Contudo, muitos psicólogos criticam a realização de tal exame, alegando in-clusive que sua realização fere o Código de Ética do Psicólogo. Ao invés de realizar o exame crimi-nológico, os psicólogos deveriam realizar outras práticas mais libertadoras enfocando a redução de danos no sistema penal, preconizado na Portaria Interministerial nº 1.777/2003 dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Porém, muitos operadores do Direito defendem a realização de tal exame, achando-o imprescindível na execução penal. Isso demonstra que o espírito positivista ainda preva-lece no Judiciário, e que este ainda nutre a expec-tativa que um parecer técnico “psi” possa prever comportamentos, sendo, desta forma, útil na exe-cução penal. Devido a esse conflito, alguns emba-tes entre Psicologia e Direito ocorreram. O Conse-lho Federal de Psicologia (CFP) emitiu a Resolu-ção nº 009/2010, que proíbe o psicólogo de reali-zar o exame criminológico. Esta resolução causou grande descontentamento no Judiciário que pres-sionou a categoria para que esta continuasse a rea-lizar tal exame, através de ameaças de prisão de psicólogos por desobediência civil e ameaça con-tra o CFP com uma Ação Civil Pública por cerce-amento da atuação profissional do psicólogo co-mo perito. Devido a todas essas pressões, o CFP retrocedeu e emitiu a Resolução nº 019/2010, que suspende os efeitos da Resolução nº 009/2010. Posteriormente, o CFP emitiu a Resolução nº 012/2011, que regulamenta a atuação do psicólo-go no âmbito do sistema prisional, criando o lugar do “psicólogo perito” e do “psicólogo assistente” como práticas independentes e inconciliáveis. An-terior a esta questão ética envolvendo o exame criminológico, houve uma mudança na Lei de Execução Penal (LEP) pela lei 10.792/2003, que desobrigou os profissionais envolvidos no exame criminológico (psicólogo, assistente social e psi-quiatra) de realizá-lo para fins de progressão de regime e de livramento condicional. Tal mudança na lei também desagradou a área jurídica, que to-mou medidas para que o exame criminológico continuasse a ser realizado. No Rio de Janeiro, a Vara de Execução Penal (VEP), emitiu um docu-mento chamado “Uniformização das decisões” para evitar discrepâncias nas decisões dos juízes e deixa claro, em seu item 19, que, no caso em con-creto, o juiz poderá requisitar o exame criminoló-gico a fim de auferir os requisitos subjetivos para

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concessão de benefícios. O judiciário parece se-guir as prerrogativas do Estado a respeito de segu-rança pública, que sempre demanda mais polícia, mais prisões, leis mais rigorosas; ou seja, o Estado se ocupa em controlar os indivíduos, deixando de lado medidas de assistência social. Porém, apesar de todas essas pressões da área jurídica, a questão está longe de ser resolvida. Na 14a Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2011, foi apro-vada uma moção de apelo para implementação de uma Política Nacional de Saúde para o Sistema Penitenciário Brasileiro com o objetivo de substi-tuir a Portaria Interministerial nº 1.777/2003. Des-ta forma, o movimento dos Conselhos de Psicolo-gia, tanto o Federal quanto os Regionais, estão na contramão das políticas governamentais, que es-pelham políticas mundiais de segregação e repres-são das camadas sociais menos favorecidas.

O humano por trás da farda: A subjetividade do agente policial e sua implicação no processo de construção de uma nova política de segu-rança

Rodrigo da Silva

Mariane Oselame

As recentes políticas de pacificação e a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) gera-ram um impacto significativo na dinâmica social da cidade do Rio de Janeiro e com isso desperta-ram uma série de debates em torno do tema. Por outro lado, observa-se uma importante lacuna na discussão de tópicos relevantes a este mecanismo. Um dos exemplos destas questões trata da forma-ção do policial como um agente de transformação social e não somente como um especialista em repressão e confronto. O objetivo deste artigo é propor uma discussão em torno deste tema sob a perspectiva da abordagem de Formação Humana tendo como pano de fundo as temáticas levantadas por Foucalt em Vigiar e Punir. Esta discussão sur-ge a partir de uma série de experiências relatadas por moradores ou frequentadores de comunidades pacificadas que participam de um programa de reabilitação em dependência química no CEAD - Centro Estadual de Assistência sobre Drogas que atualmente atravessa um processo de transição para um futuro observatório de pesquisas e práti-cas em dependências química da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) além de rela-

tos vinculados à mídia da através de rádio, jornal, televisão e internet. O próprio nome Unidade de Polícia Pacificadora denota paz, substantivo antô-nimo de guerra. Uma guerra é caracterizada, por controle, violência, punição e medo,. O objetivo de uma guerra é a vitória, a submissão e, por ve-zes, a humilhação do adversário. Portanto seria contraditório se, em um processo de pacificação, elementos de uma guerra fossem protagonistas. Por outro lado, a paz não se ensina, pois trata-se uma construção social que passa pela compreen-são dos processos individuais e singulares, bem como o entendimento do meio social a qual per-tencemos. O agente policial que é o principal sím-bolo da UPP dentro de uma comunidade é, antes de tudo, um ser humano, com uma história repleta de toda a complexidade que caracteriza a existên-cia humana. De que forma o policial da UPP pode atuar como agente dinamizador de um processo de pacificação se está, ele mesmo, em guerra? De que forma o policial pode atuar como sujeito de transformação social se não vislumbra possibili-dades de transformação em si mesmo? Não existe dúvida que além de uma preparação técnica faz-se necessário uma preparação do policial enquanto ser humano, possibilitando-o identificar-se como sujeito atuante e transformador na sua própria vi-da e como possível consequência, da sociedade. O processo de pacificação e de uma nova dinâmica social, passa pelo sujeito que forma o social, e pelo social que forma o sujeito. Reduzir a dicoto-mia entre o individual e o social é uma reflexão importante na realização da política das UPP e reforça a ideia de que o policial não é um agente em separado do processo de paz, mas deve ele mesmo ser uma encarnação viva deste saber. Na abordagem de Formação Humana entende-se que este coexistir em harmonia em uma comunidade, que é um dos objetivos das UPP, passa pelo sujei-to e o seu encontro consigo mesmo. Um policial que não se apropria de suas emoções, não tem consciência reflexiva e crítica de sua história, que não se reconhece como um ser singular e trans-formador, mesmo que com excelente formação técnica, não possui condições de contribuir para um processo de pacificação de uma comunidade. Poderá exercer força, poder, violência e controle, mas não ser um fomentador da paz. É no momen-to de conflito que o poder atribuído a uma pessoa, pode ser exercido de forma violenta e arbitrária. Contudo, se o sujeito tem a possibilidade de uma compreensão do si mesmo, tomando consciência e se apropriando de sua história, de sua subjetivida-

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de e singularidade torna real a possibilidade de atuar como um sujeito transformador da realidade. Sendo assim, por estar autorregulado e confirma-do como um ser humano, exerce uma compreen-são mais apurada do outro. Quando existo de fato, permito que o outro exista. O agente policial é um ser humano com necessidades, emoções, medos, sonhos e anseios. Assumir a humanidade em si é tornar mais humana a sociedade. Ser humano é ser inteiro, com suas emoções, seu corpo e sua histó-ria. A repressão indiscriminada gera medo e inse-gurança. A violência é uma afronta à liberdade social. Uma polícia forte não se faz somente com técnicas bélicas, mas reconhecendo a humanidade em si mesmo. Alternativas para a hierárquica e repressiva política do medo só podem surgir de meios livres. Meios são formados por sujeitos. E sujeitos livres são sujeitos em contato consigo mesmo.

Uma nova apresentação para uma velha co-nhecida: a partir de que mecanismos de con-textualização e significação mulheres morado-ras da Cidade de Deus e do Cantagalo repre-sentam as Unidades de Polícia Pacificadora?

Roberta Brasilino Barbosa

Marcela Figueiredo

Angela Arruda

As Unidades de Polícia Pacificadora são um fe-nômeno relativamente recente no cenário do Rio de Janeiro. Trata-se de unidades policiais instala-das em locais específicos da cidade – algumas de suas favelas – que carregam a bandeira da promo-ção de ‘liberdade’ para os moradores dessas regi-ões que há muito tempo viviam “subjulgados” pelo domínio do “tráfico”. Este trabalho tem o intuito de estudar que representações sociais são produzidas em duas favelas cariocas que recebe-ram UPP: Cidade de Deus e Cantagalo. Busca conhecer representações da UPP engendradas en-tre as moradoras desses espaços e algumas dinâ-micas que contribuem para tal. Como o dia a dia dessas moradoras foi influenciado e que estraté-gias foram adotadas para lidar com essa mudança? Quais significados foram construídos para dar conta da novidade da polícia pacificadora? Para responder a tais questões, conhecer esse objeto de estudo foi fundamental, assim como um pouco da história das favelas em questão e algumas discus-sões acerca do próprio fenômeno favela. A pes-

quisa aqui apresentada é um retrato dentro de um recorte temporal, já que o processo de implanta-ção das UPP na cidade é um fenômeno recente. Além disso, a própria produção de representações sociais tem caráter dinâmico, é da ordem da mu-dança e não daquilo que é estático. O suporte teó-rico usado é a Teoria das Representações Sociais de Moscovici, escolha pertinente considerando a representação social com um processo de conhe-cimento de um objeto novo, uma forma de lidar com a novidade, com o desconhecido, seja um objeto, uma pessoa ou um acontecimento. A me-todologia implementada contou com a realização de trinta entrevistas semi-estruturadas com mulhe-res moradoras das favelas Cidade de Deus e Can-tagalo. Como ferramenta de análise, foi utilizada a análise categorial temática de Bardin. Os indícios de representações sociais encontrados desenham uma UPP que se define pela sua função, que é o combate ao tráfico e a assistência aos moradores, fundamentalmente; e pelo agente executor desta função, o policial, que pode ser considerado como bom ou mau, segundo sua relação com os mora-dores e com o tráfico. Apesar da coincidência de respostas na Cidade de Deus e no Cantagalo quan-to à definição da UPP, na primeira localidade, sobressai o bom policial, mais preparado que um policial ‘comum’, mais solícito e mais honesto. Já no Cantagalo, a definição da polícia pacificadora está pautada na percepção de um policial ‘mau’: mal preparado, corrupto, que pratica atos abusivos contra os moradores. O fato de que em ambas as localidades o agente policial aparece definindo aquilo que se entende por UPP leva a crer que o conceito da UPP nos dois locais de análise teria como sua imagem a figura do policial. Mais ain-da, por meio do uso dessa imagem, o conceito de UPP, torna-se acessível. A diferença entre os dois lugares de análise está na atribuição de maior ou menor valia ao policial (e consequentemente à UPP). Na Cidade de Deus, o policial é bom; já no Cantagalo, o policial é ruim. A partir desse dado, surge o questionamento sobre que condições de produção de representações sociais existem nessas duas localidades, condições essas que esbarram em processos de criminalização das favelas e de seus moradores.

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SESSÃO 2

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 10h00 – 12h00

Monitor: Ronald Clay dos Santos Ericeira

A Garota Pink protege o meio ambiente: Ecologia e consumo na revista Capricho

Vanessa Patricia Monteiro Campos

De setembro de 2008 a março de 2010, a revista Capricho promoveu a campanha: “deixe o mundo mais pink” através do manifesto que prega em 15 itens o modo de ser de uma leitora idealizada, a “garota pink” : ama a si mesma, respeita as dife-renças, acredita na paz, é uma otimista, protege o meio-ambiente, não compra só por comprar, é plugada mas sabe viver off-line, está fora de qual-quer forma de bullying, gosta de zoar mas sem detonar, passa longe das drogas, está sempre dis-posta a ajudar, cuida do corpo e da alimentação mas sem “neurar”, adora beijar mas não qualquer um, só transa com camisinha (e com muito amor, claro) e corre atrás do seu sonho. Para este traba-lho, o foco abrangerá o quinto e o sexto manda-mento: a garota pink protege o meio ambiente e não compra só por comprar. A intenção é investi-gar se a proposta para a proteção ao meio ambien-te e para o consumo consciente da leitora está pre-sente nas páginas da revista. Uma pesquisa reali-zada em 40 edições da Capricho, do número 1054, de 28/03/2008, ao 1093, de 28/03/2010, mostra que o tema ecologia esteve apenas em 0,40% das revistas, estando presente em apenas 11 edições. Nas raras vezes que se fala em ecolo-gia, é com tom didático, para explicar, por exem-plo: o que significa ecoférias, na edição número 1060 de 21/12/2008, página 35; os malefícios do buraco na camada de ozônio, na edição número 1061 de 04/01/2009, página 80; o destino do lixo produzido, na edição número 1065 de 01/03/2009, páginas 92 e 93; o que é um produto ecologica-mente correto, na edição número 1070 de 10/05/2009, página 93; as vantagens de uma gar-rafa pet contra uma lata de alumínio, na edição número 1076 de 02/08/2009, página 83; quais são as fontes de energia existentes, na edição número 1080 de 29/09/2009, páginas 102 e 103; como funcionam os carros elétricos, na edição número 1082 de 25/10/2009, página 105; as leitoras em

fotos natureba, na edição número 1084 de 22/11/2009, página 15. As matérias um pouco mais profundas estão em três edições. Nas páginas 96 e 97 da edição número 1055 de 12/08/2008, há uma matéria de duas páginas sobre uma australia-na de 17 anos que mora numa vila megaecológica, chamada IPEC (Instituto de Permacultura e Eco-vilas do Cerrado) que fica em Pirenópolis (Goia-nia). Na página 90 da edição número 1058 de 23/11/2008, há uma matéria com uma projeção do futuro se não forem tomadas medidas sustentá-veis, com um pequeno artigo sobre mudanças co-tidianas que podem reverter o quadro como eco-nomizar água, reciclar lixo e usar transportes cole-tivos. A matéria finaliza com um teste para definir se a leitora é sustentável. Nas páginas 94 e 94 da edição número 1085 de 06/12/2009, há uma maté-ria sobre uma australiana que, na faculdade, criou um jeito novo de gerar energia. Mas em nenhum número há aulas ou dicas sobre como proteger o meio ambiente ou ser uma garota pink ecológica. A mesma pesquisa demonstra que as páginas com preços de produtos representam 25,3% da edição. Se levarmos em conta que a média do número de páginas das 40 edições pesquisadas da revista é de 102, chegamos ao número aproximado de 25 pá-ginas de vendas em potencial por edição. E os preços dos produtos apresentados variam enor-memente: desde um chiclete Bubbaloo de moran-go na matéria “Kiss me”, um guia para beijar cada vez melhor, na página 83 da edição 1059 de 7 de dezembro de 2008, por R$ 0,15, até uma viagem internacional com estadia durante seis meses para Dublin na Irlanda, na matéria “Intercâmbio na medida”, na página 74 da edição 1091 de 28 de fevereiro de 2010, por R$ 13 mil. A colocação de preços de produtos na Capricho em matérias tão distintas quanto um manual para beijar bem e via-gens de intercâmbio reflete um fenômeno da des-simbolização da comunicação, que, no caso, con-siste na incorporação dos anúncios nas matérias jornalísticas. Porque este é um fenômeno crescen-te na mídia: plantar marcas de produtos nos luga-res mais inusitados, mas altamente eficientes, com os produtos fazendo parte fundamental do enredo de um programa, o detalhe de um cenário ou até mesmo um objeto na trama de um filme ou de um programa de televisão. No caso do chiclete, por exemplo, ele permite que a leitora fique com um “beijo bem docinho”, o que tornaria a carícia bem mais eficiente. Zygmunt Bauman, em Vida para o consumo (2008), afirma que na sociedade de con-sumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem

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primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. O autor prossegue declarando que numa socieda-de de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas. Com o arcabouço teórico destes e outros autores, a proposta deste trabalho é investigar se a leitora ideal precursora da proteção do meio ambiente e do consumo consciente, a garota pink, pode ser identificada nas 40 edições da revista ou se, como propõe Bauman, é mais uma mercadoria no meio de tan-tas apresentadas nas páginas da Capricho.

A percepção e apercepção dos fatores de risco na visão dos motoboys

Paula Andréa Prata Ferreira

Teresa Cristina Mafra de Oliveira Alves

A relação dos habitantes com o trânsito é um tema atual e de profunda emergência, pois as relações adoecidas entre essas partes são responsáveis por índices que mostram uma profunda problemática urbana e, consequentemente, a necessidade de ações sociais para sua transformação. Neste cená-rio, estudos recentes comprovam que dirigir moto no Brasil é arriscado, tendo o condutor a chance 14 vezes maior de se envolver em acidentes. Além disso, o Brasil é o segundo país no mundo com maior número de óbitos provocados por acidentes de moto. O presente artigo tem como objetivo (re)pensar as relações de risco dos motoboys com o trânsito urbano, entender os fatores que influen-ciam e corroboram para a manutenção desses comportamentos a partir das relações de percep-ção e apercepção que os mesmos possuem sobre o assunto, o impacto biopsicossocial na vida dos cidadãos, bem como propostas de ações sociais que modifiquem o quadro atual. Mostraremos um estudo preliminar realizado com 33 entregadores do Rio de Janeiro (RJ), onde os participantes res-ponderam a uma entrevista estruturada composta por variáveis quantitativas e qualitativas. O estudo identifica qual o significado que os fatores de ris-co possuem para o motoboy a partir da percep-ção/apercepção dos mesmos quanto aos riscos enfrentados, como também as pretensões para o futuro da profissão. Além disso, o estudo procu-

rou formular junto ao grupo pesquisado quais as possíveis ações para dirimir os fatores de risco a partir da experiência profissional de cada um.

A sobreposição dos usos às formas urbanas nos espaços de raridade do centro do Rio de Janei-ro: relatos dos camelôs e dos moradores das ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto

Daniel Santos Alves da Silva

A partir dos relatos dos camelôs e dos moradores das ocupações do centro da cidade, este trabalho revela como as correntes transformações da área central da cidade do Rio de Janeiro excluem de seus territórios as famílias ocupantes dos prédios públicos, ligadas ao Movimento dos Trabalhado-res Sem-Teto (MTST) e dos camelôs, em nome do direito positivo republicano liberal em detrimento do direito natural. Ao longo da sua história a área central sofre influências das intervenções urbanís-ticas por conta da reestruturação econômica do capital. Essas transformações têm implicações na centralização do espaço e também na condução das vidas dos seus usuários pelo fato do seu uso contínuo e intenso caracterizar, no interior da sua área, espaços de raridade tanto ao capital quanto aos usuários. Desta forma a centralidade coloca-se como campo de disputa entre o acesso dos usuá-rios e os serviços oferecidos pelas cidades, pois estes são apresentados como participantes ou não-participantes das oportunidades que o centro ur-bano oferece. Logo, a nova centralidade como um “jogo” busca novos espaços acumulando econo-micamente usos, usuários e o próprio lugar, que aponta o surgimento de uma nova raridade espaci-al determinando novos territórios de investimen-tos nas metrópoles modificando a vida cotidiana da/na cidade determinando novos usos para os espaços intraurbanos. Diante disso, urge a neces-sidade de colocar na agenda nacional o debate do problema da especulação imobiliária, assim como, a falta de um projeto urbano nacional que atenda as classes populares nos grandes centros urbanos das metrópoles brasileiras. Entretanto, é na nova alienação econômica de utilização do centro que reside para os camelôs e as ocupações a raridade espacial, oportunizando novas possibilidades para esses que antes estavam segregados da acumula-ção econômica, mas que para a acumulação dos

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usos coloca-se a raridade como múltiplas possibi-lidades. Isso intensifica novas formas de apropria-ção desses espaços a partir de novas possibilida-des que refletem as intencionalidades e necessida-des desses usuários. Essas formas de apropriações dos espaços de raridade são relevantes para os ocupantes do MTST e para os camelôs, pois habi-tar e trabalhar no centro são motivos de empode-ramento político e recurso econômico. Essa afir-mativa valida a ação de permanência no centro da cidade por conta da disputa das centralidades. Sendo assim, o direito a essas centralidades vai de encontro à questão do direito à cidade que atra-vessa diretamente a luta da moradia do MTST e da luta dos camelôs na apropriação do espaço do centro. Isso faz com que esses agentes espaciais tenham uma nova alternativa no seu posiciona-mento político e econômico. Logo, a centralidade espacial pode determinar outras inter-relações as quais estabelecem novos usos/desusos e novos direitos. E esses grupos evocam tais direitos nos dias de hoje, o direto ao acesso às centralidades proporcionadas pelos espaços de raridade da área central. Portanto, essas reivindicações devem ser postas em debate em nosso século: o direito ao centro (à centralidade), ao espaço do devir do cen-tro que tem nas inter-relações de seus sujeitos a base da multiplicidade urbana que efetivamente tem o centro como o lugar do encontro.

Cidade partilhada, cidade incorporada: expe-riência homossexual e juventudes

Renata Nardelli

Marcelo Santana Ferreira

A partir de pesquisa de iniciação científica, o pre-sente trabalho aborda a íntima relação entre mo-dos de subjetivação em curso em um grupo de jovens de Niterói e a deambulação na cidade. Considerando que andar na cidade é uma enuncia-ção da qual o andarilho não se dá conta, procura-mos dialogar com memórias encarnadas no com-partilhamento de experiências ao se produzirem narrativas sobre como alguém se torna o que é, em torno das vicissitudes do dispositivo de sexua-lidade em nossa sociedade. Acompanhando o gru-po citado, temos nos esforçado por compor uma metodologia que indique a presença viva da cida-de ao ser problematizado o estilo de constituição de si mesmo como jovem e como gay na contem-

poraneidade. O trabalho se assentará na apresen-tação de um histórico da pesquisa e no relevo da-do ao momento atual da mesma, em que a fabri-cação de narrativas visa a diluição de princípios insidiosos acerca do desejo, da juventude e das andanças na cidade. Uma cidade conta parte dos conflitos em jogo na invenção de políticas de amizade e de modos de vida. Falando jocosamen-te e seriamente sobre si mesmos, os jovens nos ensinam a pedagogia tácita de uma minoria: luga-res perigosos, lugares amados, lugares da "ralé" e políticas vivas de invenção de novas liberdades. Sentados numa sugestiva rosa dos ventos à beira da Baia de Guanabara, pesquisadores e pesquisa-dos aprendem sobre os riscos de se inventarem liberdades em uma cidade hierarquizada e marca-da por difusas políticas de corporeidade, gênero e identidade sexual. Compartilhando o momento atual da pesquisa, queremos multiplicar as narra-tivas sobre a cidade e sobre a constituição de si mesmo como gay, uma vez que a biografia se descentraliza do si mesmo e se lança aos muros, aos percalços, aos amigos e aos riscos imanentes a uma ocupação intensiva de espaços supostamente invisíveis ao transeunte desatento. Apoiados em diálogos com Michel Foucault, Judith Butler e Walter Benjamin, estamos interessados em indicar em que lugar estamos e para onde temos nos diri-gido em nossa problematização da cidade em pes-quisa na graduação em psicologia.

Jogos Olímpicos e revitalização do Porto do Rio de Janeiro: reflexões acerca da aplicação de um modelo de urbanização e a produção de deslocamentos populacionais

Marcela Montalvão Teti

Em virtude dos Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro, ano de 2016, a região portuária sofre transformações urbano-territoriais. São múltiplas as intervenções na área: construção do Museu do Mar e do Amanhã, reforma do Píer Mauá, da reti-rada do Viaduto da Perimetral, reforma da Praça Mauá, reconstrução do Cais do Valongo, instala-ção de Teleférico no Morro da Providência. O modelo usado para a reurbanização do Porto, ape-sar de controverso, é o da zona portuária de Bar-celona. Na iminência dos Jogos Olímpicos de 1992, a cidade espanhola foi modificada. Basea-dos em projetos públicos, elaborados cerca de 10

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anos antes, e com o estímulo financeiro internaci-onal para realização dos jogos, Barcelona sofreu intervenção pública e privada para transformação da paisagem visual e estrutural. Dentre as princi-pais alterações, os projetos privilegiam a utiliza-ção dos espaços públicos e são ancorados em re-construção de praças, aumento das áreas verdes nesses espaços e instauração de vias públicas. Ao final dos jogos olímpicos daquele ano, o processo de instalação de equipamentos e reordenação ur-bana alcançou tamanho sucesso que hoje aquele modelo de reforma é bastante difundido. De certo modo, foi a lógica da construção de espaços aber-tos e de passagem que operou nas transformações urbanas para a Copa do Mundo de 2006, na Ale-manha, e na reestruturação do Porto de Buenos Aires, Argentina, durante o governo de Carlos Menem. Dentre as principais consequências das medidas de reurbanização, afirmam os governan-tes, estão a revitalização das áreas portuárias, an-tes locus de marginalidade, insegurança pública, tráfico de drogas, disseminação de doenças, difi-culdades de circulação. A revitalização desses espaços, portanto opera uma maior quantidade e qualidade nos fluxos de pessoas, que passam a atuar inclusive em torno de bares, restaurantes, espaços culturais e de conhecimento. Seguindo esses exemplos, a prefeitura do Rio e o Governo brasileiro afirmam que a cidade alcançará o mes-mo destino de Barcelona. As reformas dotariam o Rio e o porto de aparatos necessários para abarcar diversidade cultural, qualidade de vida e atendi-mento das exigências do fluxo turístico, que pre-tende ocupar as ruas da região nos próximos anos. No intuito de debater as “benesses incontestáveis” das recentes transformações urbanas, é que o pre-sente texto se inscreve. Ele é resultado parcial do doutorado, realizado nos últimos dois anos e obje-tiva questionar os discursos público e privado de-senhados em torno do tema dos jogos olímpicos. O percurso de pesquisa, por isso, se inscreveu em duas direções. Uma delas focada na leitura e ana-lise de textos que questionam a inviabilidade de aplicação de um modelo “a-histórico” sobre o solo de qualquer cidade, focando somente nos resulta-dos positivos dessa aplicabilidade. De outro lado, a pesquisa enveredou pelo acompanhamento das reuniões e ações políticas do Fórum Comunitário do Porto do Rio de Janeiro, rede social que luta e atua, junto aos moradores da região, pela defesa dos seus Diretos. No tocante às análises a respeito do sucesso de modelo de urbanização na zona portuária de Barcelona, pesquisadores salientam

que antes mesmo de sua indicação como sede Olímpica os projetos urbanos já existiam. Seu re-conhecimento como sede, veio somar forças para realizar projetos iniciados ou que estavam entra-vados por ausência de recursos. Por ser um proje-to pensado bem antes de colocado em prática, a população das áreas afetadas foi participativa no processo. Mesmo aqueles que precisaram ser re-movidos, foram com negociação, viabilizando benefícios para as partes. O que os autores cha-mam a atenção, é que no Rio, o que se passa é o percurso contrário do que foi efetivado na cidade espanhola. Os projetos urbanos passaram a existir depois da indicação da sede olímpica dos jogos de 2016 e são implantados com demasiada rapidez, sem participação da população na elaboração dos mesmos. Para dar conta do segundo trajeto de pesquisa, o método utilizado foi de vertente etno-gráfica, em que foi possível acompanhar o cotidi-ano da população portuária, observando a reper-cussão da construção do Porto Olímpico no seu dia a dia. Ficou evidente a retirada da população residente e a construção de equipamentos que so-mente uma elite cultural e social poderá desfrutar. E isso acontece sem o devido conhecimento por parte dos moradores, que acompanham diariamen-te as construções do porto sem saber que em pou-cos meses, é sua casa que será demolida e que, logo, serão eles que não terão lugar para morar. Muitos moradores são obrigados a se deslocar para comunidades miliciadas, como as de Senador Camará, afastados dos locais de trabalho e centros de saúde pública. A partir desse quadro político de modificações, importa à psicologia refletir a égide de uma diversificação cultural, processos de se-gregação social e exclusão que se configuram. A partir do exposto fica claro quais indivíduos de-vem atuar em determinado espaço público e quais relações são permitidas no exercício cotidiano das atividades portuárias.

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SESSÃO 3

Localização: IP/UFRJ, sala 10

Horário: 10h00 – 12h00

Monitor: Mariana Alves Gonçalves

Acolhimento e Acesso a Saúde Mental no Brasil: desafio e responsabilidade de todos

Edilane Paula

As constantes ações do governo no âmbito da sa-úde mental vêm demonstrando cada vez mais a necessidade e a importância da melhoria nos ser-viços de saúde, a qualificação dos profissionais e a melhoria na qualidade do atendimento dedica-dos aos pacientes com transtorno mental. A re-forma psiquiátrica no Brasil veio com a principal proposta para que possamos ter outra forma de pensar o cuidado com a pessoa que esta com so-frimento psíquico grave. As hospitalizações psi-quiátricas não são mais vistas como o único recur-so, exclusivo como tratamento, aos transtornos mentais. A humanização e diversificação dos atendimentos, com ênfase na (re)integração dos pacientes ao convívio familiar e social sempre que possível, além dos leitos para internação, várias ações, programas e equipamentos de saúde mental foram criados em muitos municípios: Centros de Assistência Psicossocial (CAPS); Casas de Aco-lhimento Temporário (CAT); Comunidades Tera-pêuticas; Consultórios de Rua; Programa De Vol-ta Para Casa; Ações dos Programas de Saúde da Família; entre outros. O principal foco da reforma psiquiátrica foi o de mudar o paradigma, a cultura. Não vê-lo como um doente incapaz, mas pensá-lo como um todo, como uma pessoa com seus direi-tos e deveres. O paciente psiquiátrico tem que vi-ver livre, na sua comunidade, pode voltar para a casa. Refazer os laços sociais. A recuperação dos seus direitos, o respeito à diferença. A convivên-cia com o outro, é de suma importância para uma vida melhor, uma qualidade de vida mais digna. O convívio com outro é que molda o modo como você se relaciona o aprendizado cotidiano. Temos que reconhecer o portador de saúde mental como cidadão pleno de seus direitos, como ir e vir, o direito ao trabalho, da dignidade, da integridade física, direto a renda a educação. O resgate ao di-reito e da ressignificação da convivência e do res-peito da diferença. A partir da elaboração dessa

revisão foi observado que o acolhimento pressu-põe da atenção ao individuo de maneira que o mesmo se sinta confortável e apto a receber um atendimento impar, ético, humano. Podemos ob-servar que com um atendimento humanizado, ele responde melhor a qualquer tratamento trazendo resultados significantes a sua melhora. Um profis-sional bem capacitado tem condições de receber melhor o individuo tratá-lo como humano, olhar o outro com respeito e receber melhor esse paciente que quando buscar o atendimento esta vulnerável, entender o sofrimento do outro. Com uma melhor formação do profissional de saúde, se consegue dialogar adequadamente com as transformações dos cuidados, que hoje estão ocorrendo. O grande desafio hoje do HUMANIZASUS (criado em 2003), e de qualificar o profissional, na atenção em saúde mental, como tratar melhor as pessoas, investir na formação do profissional em serviços para que possam em serviço refletir os princípios éticos, adequados e fundamentais para uma me-lhor prática. O presente artigo vem discutir a hu-manização do acolhimento como porta de entrada na atenção básica de saúde mental. Os desafios e as dificuldades. Através da revisão bibliográfica de artigos e com base no programa do governo HUMANIZASUS. Concluímos que para um melhor acolhimento, a solução não é imediata, temos que ter o envolvimento de todos da rede de saúde. É necessário que haja uma mudança na cultura, a recuperação dos direitos, o respeito a diferença, todos nos somos diferentes.A capacitação de pro-fissionais , a integração do trabalho, o trabalho intersetorial. Tratar a Saúde Mental como priori-dade e com maior investimento financeiro.

Do Outro Lado da Linha do Trem: Problema-tizando os serviços de Assistência à população em situação de rua que ocupa as senas de uso de crack e outras drogas no RJ

Diana Jenifer Ribeiro de Almeida

Atuo como psicóloga do CREAS (Centro de Refe-rência Especializada em Assistência Social), vin-culado à prefeitura do Rio de Janeiro a pouco mais de um ano. Ao representar esta instituição através de ações que visam à proteção de direitos de crianças, adolescentes, idosos, famílias em condição de vulnerabilidade social, incluindo des-ta forma, a aqueles que fazem do espaço público

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seu local de moradia. O desejo em desenvolver esse tema me veio a partir das experiências que tenho tido nos últimos meses, com população em situação de rua concentradas nas cracolândias de algumas comunidades do Rio de Janeiro. Por fa-zer parte da equipe, acompanho as ações de Polí-ticas Públicas, ações essas supervisionadas pela Secretaria de Segurança do município do RJ. Em meio às incertezas sobre a legalidade, a eficácia e as consequências do acolhimento compulsório, venho trazer à luz da discussão, as práticas dos profissionais envolvidos nessas ações ainda polê-micas e pouco definidas. Proponho também pen-sarmos sobre os possíveis desdobramentos da re-lação entre os atores que compõem a rede de pro-fissionais na Secretaria de Assistência Social (as-sistentes sociais, psicólogos, pedagogos e advoga-dos) inseridos nas ações de acolhimento (compul-soriamente ou não) da população em situação de rua fazendo uso de crack e outras drogas. O traba-lho das equipes envolvidas consiste em entrar nas comunidades, sempre durante a semana e pela manhã, para erradicar a concentração de crianças, adolescentes e adultos que se aglomeram geral-mente nas linhas de trem para consumir princi-palmente crack. A primeira etapa é feita através de “recolhimento” compulsório ou não dos mes-mos. Essa ação se dá por profissionais intitulados “educadores sociais”, embora saibamos que essa equipe em especial, formada exclusivamente para essas abordagens, seja composta por policiais mi-litares, bombeiros, ou na maioria homens com qualquer formação profissional, mas que tenham porte físico avantajado. Após abordagem e “reco-lhimento”, são colocados separadamente em transportes da prefeitura, os adultos das crianças e adolescentes. Tal separação se dá, devido à dife-renciação nos percursos legais a serem tomados para cada grupo. O serviço da Assistência Social garante aos usuários, “recolhidos” voluntariamen-te ou não, que seus direitos sejam preservados. Neste mesmo cenário, ocorrem outras etapas co-mo a realização de sarqueamento (levantamento de informações junto à delegacia como: saber se há algum tipo de mandato de busca e apreensão devido a algum ato infracional cometido por cri-anças e adolescentes, fazer confirmações de dados e reincidências e verificar entre os adultos se pos-suem pendências judiciais). Ao serem devidamen-te identificados, os menores são encaminhados para as chamadas Casas de Recepção, onde além de receber os primeiros cuidados como banho e refeição, serão individualmente fotografados para

serem incluídos em um banco de dados. Após es-sas etapas, aguardarão para que sejam transferi-dos, ainda no mesmo dia, para os abrigos destina-dos às crianças e adolescentes dependentes de crack. Quanto aos adultos, as etapas são similares, porém o local de destino para a maioria é o abrigo Rio Acolhedor, também conhecido como “Abri-gão”, localizado no bairro de paciência – Campo Grande. As clínicas conveniadas com a prefeitura se propõem a oferecer de imediato um tratamento de desintoxicação, em que o usuário deveria per-manecer pelo tempo mínimo de três meses, para que seja reinserido em suas famílias e em socie-dade. Mediante ao que venho observado não há tal continuidade e efeito esperados pelo programa de combate à dependência química. Observando a dinâmica entre os profissionais da assistência e as pessoas abordadas, a relação estabelecida entre esses atores se dá de maneira precária e equivoca-da quanto ao proposto na tipificação. Estar em campo já faz parte do meu trabalho e me disponi-bilizar a ouvi-los foi fundamental para iniciar uma reflexão a respeito da engrenagem (Secretaria de Segurança Pública, Rede de Assistência, saúde mental, usuários e dependentes químicos, interna-ção/punição, abrigos, imprensa e sociedade) e os caminhos gerados como consequência. Trago também à essa discussão a influência da mídia, pois através dela são veiculadas as ações (reais ou não) sobre a temática, constituindo-se aí a princi-pal forma pela qual a sociedade se informa e ex-pressa suas opiniões. Porém, cabe destacar que determinadas ações invasivas e um tanto oportu-nistas da mídia, produzem efeitos nocivos ao tra-balho dos profissionais destinados a prestar assis-tência à população. Enfim, a partir disso, vem sendo ratificado para a sociedade a incapacidade de fazer escolhas por parte dos dependentes de crack. , demarcando-se lugares de exclusão e su-posto saber (profissionais envolvidos) e incapaci-dade de decisão (usuários). Proponho também, pensar a prática do psicólogo, na perspectiva da psicologia social, considerando os atravessamen-tos inerentes às ações com esta população em des-taque. Quais as consequências na formação de vínculo mediante um acolhimento compulsório de crianças e adolescentes? Que brechas a psicologia pode criar para construir e/ou fortalecer sua rela-ção com os usuários e a sociedade? Essas refle-xões surgem contornadas pela Teoria Ator Rede (TAR) de Bruno Latour, em que seguindo e acompanhando os atores implicados na temática, numa tentativa de detectar nas relações estabele-

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cidas, seus possíveis desdobramentos. Pretende-mos, desta forma, problematizar a relação de cui-dado em campo, propondo ao máximo a aproxi-mação desta metodologia com a prática. Mediante o que observamos nas práticas deste trabalho co-mo psicóloga representando a Assistência, pro-blematizaremos também a eficácia do projeto de erradicação das cracolândias, já mediante ao ob-servado, considerando que o número de pessoas concentradas no local vem crescendo a cada dia. Será que há interesse, principalmente por parte das autoridades envolvidas, em rever conceitos e preconceitos inerentes ao tema? Quais os atraves-samentos provocados pelo atual olhar dos profis-sionais mediante aos usuários de crack alocados nas cracolândias? A internação para todos é a so-lução? Quais os desdobramentos do olhar equivo-cado da internação como primeira via de suporte para esses usuários? Compreendemos que expor e refletir acerca das dificuldades de atuação do pro-fissional envolvido nesse contexto pode ser um primeiro passo para iniciarmos um entendimento desses atravessamentos e acompanhando os mo-dos de construção e afetações dessa rede emara-nhada de intervenções sobre um fenômeno ainda estranho ao sistema vigente. Historicamente há um embate entre as práticas punitivas, corretivas e segregadoras e as práticas de atenção e cuidado. Embora hajam avanços na área de Assistência, a questão do crack faz emergir o mal estar quando destaca a internação compulsória como a melhor (ou a única) opção de tratamento. Uma opção que, por si só, destitui-se da própria noção de escolha, responsabilidade e autonomia. Portanto, além da atualidade dessa discussão, ela nos convoca a re-ver feridas em nossas formas de intervir e atuar.

Dos usos dos restos urbanos nas construções de políticas da existência

Ana Cabral Rodrigues

Ao indagar-se sobre como seriam as mentalidades urbanas no futuro, o psicólogo francês Felix Gua-tarri escancara o pleonasmo que sua pergunta comporta afirmando que o porvir da humanidade não parece poder se dizer senão inseparável do devir urbano. Assim também o sociólogo alemão Georg Simmel, no célebre A metrópole e a vida mental (1903), consagra a imagem de uma estrei-teza entre o advento das grandes cidades e trans-

formações radicais nos modos de subjetivação, nos modos de constituição da experiência. Estrei-teza a qual seu leitor e conterrâneo, Walter Ben-jamin, esteve atento; talvez não exatamente atra-vés de amplos cenários, sobrevôos que buscassem evidenciar mais precisa ou completamente os con-tornos e funcionamentos de cidades e das vicissi-tudes da experiência, mas antes através dos aves-sos que narram descontinuidades, desvios, feituras e re-feituras que inscrevem seu estatuto político. Benjamin, tal como o trapeiro dos poemas baude-lairianos, escarafuncha os lixos, as inutilidades, o que não cabe na ordem dos dias, os restos do coti-diano da urbe para, curiosamente, de seu uso, fa-zer saltar preciosidades. Ou ainda, como o explo-rador veneziano Marco Pólo, ao provocar o olhar do poderoso Kublai Khan a ver cidades invisíveis, a vislumbrar não aquilo que era o escondido da cidade - seus sentidos velados ou elementos obs-curos -, mas as chances que poderiam advir do recolher de ruínas de cidades, do contar e recontar de histórias que ficaram pelo caminho, histórias esquecidas em favor de uma História que parece seguir por si só. O presente trabalho, de caráter eminentemente transdisciplinar, e fruto de tese de doutorado no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR-UFRJ), alia-se a esta proposta benjaminiana de recolher estes cacos da História como movimento de escová-la a contra-pelo, instigado, pois, pela potência dos restos nos diálogos entre os Estudos das Subjetividades e do Planejamento Urbano. Ou mais ainda, instigado pela potência do uso destes restos de cidade nas construções das micro e macropolíticas da exis-tência. Compreendendo, neste sentido, que as pre-ciosidades que advém deste uso podem provocar nossas questões, nosso olhar; porém, não enquan-to apelo a românticas idealizações daquilo ou da-queles que poderiam encarnar o papel de escórias e rebotalhos da História – como se, aí sim, neles se pudesse vislumbrar a verdadeira face e modelo de cidade e subjetividade. O que, por sua vez sig-nificaria simplesmente substituir os ideais que erguem as cidades-modelo, as cidades-vitrine, cidades cartão-postal, por aqueles princípios que se julga permearem os usos marginais das cidades e modos de vida de comunidades, moradores de rua, catadores... Nada seria mais inócuo; na medi-da em que tal movimento de substituição não pas-saria de uma inversão de lugares, sem qualquer interferência, sem qualquer interpelação à lógica que erige cidade e subjetividade como evidências, cindidas pelos limites de suas naturezas. Escovar

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a contrapelo, portanto, é antes movimento de eri-çar, fagulhar, tensionar as histórias lineares que narram cidade e subjetividade a partir de modelos, formas, substâncias para além ou aquém das lides humanas, demasiadamente humanas; cujo único caráter histórico apreensível resume-se às pro-gressivas modulações, a variações do mesmo no decorrer de um tempo que segue sempre em fren-te. Recolher estes cacos, fazer uso destes restos, escovar a história a contrapelo significa, enfim, enredar-se pelas tramas incompletas, sempre por se fazer, que dizem subjetividade e cidade en-quanto acontecimentos. Isto é, forjadas a partir das singularidades das práticas, dos discursos - enquanto prática - que as narram. Afinal, quando indicamos que a preciosidade que pode advir do uso destes restos refere-se à incompletude, o fa-zemos, justamente, no sentido de apontar para a consistência epistemológica que sustenta este tra-balho: o entendimento de que a construção do co-nhecimento é sempre operação no mundo e não descrição de mundo; é feitura e re-feitura inesgo-tável das histórias que narramos e que nos narram nos embates com outros tantos discursos. Se as-sim o afirmamos, estas histórias - histórias que narram cidades e subjetividades -, não podem se dizer senão como obra aberta. Estreito a esta aber-tura e inspirado nas técnicas de montagem cine-matográfica, o método proposto neste trabalho, e que dá sentido e precisão ao termo “uso”, o méto-do da montagem benjaminiano permite que, dos deslizamentos, das passagens, choques e sobrepo-sições entre um fragmento e outro, formem-se novas constelações analíticas que se oferecem a tarefa de interrogar os domínios de um território subjetivo identificado a uma natureza individual e substancialmente distinto - ainda que articulado - aos domínios de uma exterioridade apresentada pelos signos da concretude, da objetividade e da utilidade que a palavra cidade muitas vezes encar-na. A montagem permite, pois, implicar nossos discursos nas políticas cotidianas que constituem, a um só tempo, modos de subjetivação e cidades, e permite, destas políticas extrairmos outras pos-sibilidades de questão, outros posicionamentos éticos.

Recolhimento e internação compulsória de crianças e adolescentes na cidade do Rio de Janeiro: a lógica do "choque de ordem" nas políticas públicas

Alice De Marchi Pereira de Souza

Isabel Costa Lima

O recolhimento compulsório de crianças e adoles-centes das ruas do Rio de Janeiro não é uma novi-dade na história da cidade, ainda mais em momen-tos de grandes eventos que mobilizam interesses do capital e de governantes. A retirada forçada de meninos e meninas das ruas sempre foi alvo de denúncias de movimentos sociais, organizações de direitos humanos e trabalhadores do campo da infância e adolescência. Em 27 de maio de 2011, com o aval do Poder Judiciário e do Ministério Público, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) instituiu, através da resolução nº 20, o recolhimento e a internação compulsória de crianças e adolescentes em situação de rua que supostamente fazem uso de crack e outras drogas. Caso estejam nas ruas no período noturno, o reco-lhimento independente da constatação do uso de drogas. A institucionalização do recolhimento compulsório, sob a justificativa do cuidado e da proteção, surge em um contexto no qual assisti-mos um reordenamento higienista da cidade se-gundo a lógica da “ordem pública”. É importante situarmos o recolhimento e a internação compul-sória no bojo dessas transformações que preten-dem preparar a cidade para sediar grandes eventos esportivos nos próximos anos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Assim, deve ser entendi-da numa articulação com outras medidas, como remoções de dezenas de favelas e instalação de Unidades de Polícia Pacificadora. Análises com as quais concordamos revelam que esse ordenamento da cidade tem sido norteado pelos interesses do capital, sendo evidente que a preocupação princi-pal é a imagem da cidade global que o Rio de Ja-neiro vem se tornando a partir da atração de gran-des investimentos - e não as pessoas que moram no município. Muito menos os setores que há muito sofrem com a ausência e/ou ineficácia das políticas públicas, fruto do descaso do poder pú-blico em uma conjuntura de grande desigualdade social. Apesar da intensa mobilização de amplos setores da sociedade contrários às ações da Prefei-tura do Rio de Janeiro, a prática do recolhimento e da internação compulsória continua ganhando for-

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ça na cidade e servindo como “modelo” em outros cantos do país. Observamos hoje que o discurso sobre o crack e sobre um suposto quadro de epi-demia vem sendo usado para desqualificar os re-cursos existentes no âmbito das políticas públicas de saúde e assistência social construídas democra-ticamente, como se estes não dessem conta da si-tuação dos sujeitos que fazem uso do crack, em-bora a rede substitutiva ao modelo manicomial não tenha sido efetivamente consolidada devido ao investimento insuficiente nas políticas públicas de saúde mental. Nos interessa no presente traba-lho pensar sobre a imbricação das transformações urbanas vividas no Rio de Janeiro e da precariza-ção das políticas públicas, bem como analisar as forças em jogo que configuram essa realidade que aponta para um retrocesso em relação a conquistas importantes no âmbito da reforma em saúde men-tal antimanicomial e da luta pelos direitos huma-nos de crianças e adolescentes no marco da prote-ção integral preconizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, principalmente no que se refere ao enfrentamento à histórica institucionalização da infância e adolescência pobres.

A “lei do TDA“ no município do Rio de Janeiro

Alexandre Trzan-Ávila

O objetivo deste trabalho é problematizar a cres-cente medicalização da vida, principalmente em relação às políticas públicas voltadas a educação no município do Rio de Janeiro, mais especifica-mente a dita “lei do TDA” de autoria do vereador Tio Carlos. Aponto para a proliferação de Projetos de Leis por todo o país que visam definir doentes e doenças, propor formas de tratamento e deter-minar a compra de medicamentos pelos equipa-mentos de saúde pública. Pertenço ao Núcleo-Rio criado em setembro de 2011 que faz parte do Fó-rum sobre Medicalização da Educação e da Soci-edade que vem atuando em âmbito nacional com núcleos em âmbito internacional, com ações vin-culadas. Este Núcleo conta com o apoio do: CRP-RJ, UFF, Núcleo Rio ABRAPSO e mandato do vereador Reimont. Este Núcleo tem como objeti-vo desestabilizar o discurso medicalizante e dar passagem para outros possíveis sem cair na arma-dilha da substituição de uma verdade por outra, buscando tencionar as forças hegemônicas presen-tes na produção de fracasso e adoecimento em

espaço escolar, trabalhando continuadamente para desmedicalizar a atenção à saúde. Defino medica-lização como o processo que transforma, artifici-almente, questões não médicas em problemas mé-dicos, pois atualmente sentimentos como: tristeza, alegria e medo, se entendidos como excessivos por parâmetros nada sensíveis e extremamente patologizantes passam a ser considerados diagnós-ticos patológicos e, não raras vezes, as pessoas são medicadas com anfetaminas, estimulantes, dentre outras drogas denominadas de “tarja preta” que trazem consigo sérios efeitos colaterais e cau-sam dependência. Portanto, enquanto na socieda-de brasileira são feitos enormes alardes em rela-ção às drogas ilícitas e campanhas envolvendo grandes somas de dinheiro público são realizadas para o questionável controle e tratamento de al-gumas delas, como o crack, as drogas lícitas avançam em seu consumo de forma alarmante. O Brasil, por exemplo, é o segundo país do mundo em vendas de medicamentos com o principio ati-vo metilfenidato, substância dada para crianças e adolescentes com a pretensão de diminuir o cha-mado “déficit de atenção”. Recentemente entrou em vigor a Lei Municipal nº 5416 de 29 de maio de 2012, que dispõe sobre as diretrizes adotadas pelo Município para realizar a orientação a pais e professores da Cidade do Rio de Janeiro sobre as características do transtorno do déficit de atenção –TDA de autoria do Vereador Tio Carlos. Esta lei relacionada à Saúde e a Educação, exige um deba-te ampliado, no qual os diversos posicionamentos, já em curso nos movimentos sociais e na acade-mia, estejam presentes. O primeiro ponto polêmi-co desta lei diz respeito à própria existência do TDA/H como categoria diagnóstica, pois há fortes argumentos sobre a falta de evidências que a comprove, sobre a fragilidade dos instrumentos diagnósticos utilizados e sobre os possíveis equí-vocos e danos implicados nos tratamentos, que hoje o suposto transtorno se associa. Afirmo a existência de experiências significativas que de-monstram que o investimento na condução de pe-dagogias inclusivas e não normativas têm grande valor para a formação de crianças e adolescentes, não apenas do ponto de vista do aprendizado cog-nitivo, mas também da criatividade e da sociabili-dade. Outro ponto polemico é trazer para a esco-la, instituição que tem por prerrogativas trabalhar com a aprendizagem e com a formação de crian-ças e adolescentes para a vida em sociedade, a função de buscar diagnosticar e encaminhar para os serviços de saúde crianças supostamente porta-

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dores deste dito transtorno, isso além de expressar uma intolerância às diferentes formas de ser e de aprender, o que, pelas consequências da estigma-tização, constitui uma ameaça à saúde destes indi-víduos, além de produzir processos de exclusão. Esta Lei ao buscar defender a oferta do medica-mento para tratamento do “TDAH” nos equipa-mentos de Saúde Pública, acaba por determinar como deve atuar o Sistema Único de Saúde (SUS) indicando claramente um processo de judicializa-ção da saúde. Esta “Lei do TDA” constitui um retrocesso para todos que lutam a favor da desme-dicalização da educação e da sociedade, pois a mesma favorece o crescente movimento de judici-alização da vida e despotencializa o espaço da educação. Respeitando as intenções dignas e ver-dadeiras que originam esta lei, mesmo assim in-terrogo, quem realmente ganha como uma Lei que determina a “disponibilização de remédios associ-ados ao tratamento do TDA nos equipamentos de saúde pública municipais”? O que esta lei pro-move ao “identificar possíveis portadores do transtorno entre os alunos do ensino fundamen-tal”? Quando uma lei normatiza o procedimento que tenta transformar crianças em alunos portado-res de transtornos, a educação deixa de ser o lugar para promover ensinos e aprendizagens. O univer-so escolar se restringe a identificar “portadores de transtornos” para encaminhá-los aos serviços de saúde e se torna coadjuvante no processo de fabri-cação de futuros consumidores da indústria far-macêutica. Por fim, a luta contra a medicalização da sociedade fortalecida e instrumentalizada pelas políticas públicas deve ser alvo de constante vigi-lância, relutância e conscientização dos profissio-nais de saúde e principalmente da sociedade.

SESSÃO 4

Localização: IP/UFRJ, sala 10

Horário: 15h30 – 17h30

Monitor: Filipe Boechat

Gênero e Religião: uma análise da participação feminina na constituição do movimento espírita brasileiro

Maria Cláudia Novaes Messias

Bárbara Albuquerque Pereira

Ana Maria Jacó-Vilela

A partir da análise de gênero, este trabalho inves-tiga de que formas o espiritismo se apresenta na experiência religiosa das mulheres nas primeiras décadas do século XX, no Rio de Janeiro. A pers-pectiva teórico-metodológica se insere no campo da historiografia, mais especificamente da nova história, e o principal recurso metodológico é a análise bibliográfica e documental. O espiritismo se destaca pela importância e abrangência que assume no campo social e religioso brasileiro, país onde mais se disseminou. Contudo, apesar disso, ele é muito pouco pesquisado, especialmen-te dentro da psicologia, o que justifica o estudo dessa temática. O espiritismo foi um movimento iniciado na França pelo pedagogo Allan Kardec (1804-1869), em 1857, e se pretendia uma ciên-cia, com bases filosóficas e implicações morais, não se colocando no campo religioso. Foi introdu-zido no Brasil nos anos de 1860 por imigrantes franceses e observa-se que, no processo de consti-tuição, expansão e consolidação no Brasil ao lon-go do século XX, não sem conflito, a doutrina se popularizou e se institucionalizou no campo reli-gioso, através de expansão de práticas terapêuticas por meio da mediunidade e da assistência social com ênfase na caridade. A eleição do gênero co-mo categoria de análise histórica parte da percep-ção de que este é fundamental para a compreensão de qualquer acontecimento histórico. A categoria gênero levou a um questionamento da “dessexua-lização” da narrativa historiográfica, pois, ainda que se reconheça a relação entre os sexos como parte constituinte de nossas experiências, de nossa subjetividade, orientadora de nossas práticas coti-dianas, esta não é normalmente utilizada enquanto dimensão analítica da história. Segundo a perspec-

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tiva aqui adotada, escrever uma história em que o gênero seja colocado como uma categoria de aná-lise leva a uma releitura da história, evidenciando aquele conceito como elemento constituinte das relações sociais, baseado nas diferenças percebi-das entre os sexos e, por outro lado, uma forma primordial de significar as relações de poder. Por-tanto, inserir as mulheres na história provoca uma resignificação do que tradicionalmente é tido co-mo historicamente relevante. As relações de poder operaram na produção da estrutura binária da rea-lidade, polarizada entre o feminino e o masculino. As relações de gênero, expandindo-se em relações de poder, norteiam a posição dos sujeitos em rela-ção a si e ao outro, constituindo práticas cotidia-nas que, com o tempo, parecerão que sempre fize-ram parte da compreensão da realidade. Procuran-do desconstruir a noção de apatia, submissão e vitimização das mulheres, materializada pelo mo-vimento feminista, até certo momento, firmada e afirmada pela história das mulheres, muitos estu-dos buscaram priorizar a revelação das inúmeras estratégias cotidianas, das formas de resistência e de atuação das mulheres no espaço público. Estes estudos, entre os quais o que aqui se apresenta, questionam o “mito da passividade feminina”, tentando encontrar e revelar práticas de resistên-cia, campos pouco explorados anteriormente. As mulheres foram silenciadas através dos séculos de muitas formas pelas religiões, pelos sistemas polí-ticos e pelos manuais que regulamentavam sua conduta, mas, evidentemente, não aceitaram esse mandato, e este é o pressuposto a partir do qual se faz esta análise. No período estudado, a mulher passava a ocupar papel central nos discursos mé-dicos e religiosos. Antes desprovida de importân-cia, aos poucos é levada a uma posição de desta-que enquanto esposa e mãe, guardiã da missão de educar os futuros cidadãos da nação. Como con-clusão lógica, para que a mulher pudesse oferecer uma educação baseada nos princípios da moral, dos valores sociais e cívicos, era preciso que fos-se, antes, educada nestes mesmos princípios, guardados com rigorosa vigilância pela Igreja Ca-tólica e a medicina e, assim, reproduzidas social-mente. As práticas médicas produziram novas construções sobre a feminilidade e sobre o femi-nino. Ao conferirem a responsabilidade pela edu-cação dos filhos à mulher, ainda no século XIX, ao mesmo tempo em que lhe atribuem um estatuto relevante na nova estrutura social, passam a nor-malizar e controlar sua conduta. A Igreja Católica havia sido a religião oficial do Império; com a

proclamação da república ocorreu a separação entre Igreja e Estado, que se constitui como laico. Contudo, a Igreja permaneceu detentora de grande influência social e política, reafirmando no discur-so médico sua posição secular a respeito da mu-lher e o lugar destinado a ela por Deus, o de sub-missão ao homem. Pecadora por sua própria cons-tituição, deve buscar a identificação com Maria, a “Mãe-Virgem”, a única mulher sem pecado, que representa o feminino idealizado, a mulher, a es-posa e a mãe de Jesus. Sob a guarda do médico de família e do padre, era vista como propriedade do pai e depois do marido, a quem cabia o direito sobre sua vida e morte e cujo dever era vigiá-la atentamente para que não caísse em erro, já que era considerada pecadora em potencial. Assim, a ideia do marido dominador e de uma mulher que lhe é submissa e frágil aparece praticamente em quase toda a literatura do período, atualizando os discursos e as práticas patriarcais na sociedade brasileira. Por outro lado, os pressupostos do espi-ritismo acerca da mulher, em oposição aos discur-sos médico e católico, se justificam através da crença na reencarnação. Logo, não seríamos ho-mens ou mulheres e, sim, estaríamos como tais, entendendo-se que, para a evolução completa “in-telectual e moral” do ser humano teríamos que vivenciar ambas as experiências “feminina e mas-culina”, uma vez que os espíritos não tem sexo. Para esta doutrina, não há, portanto, distinção en-tre homens e mulheres, especialmente aquela ba-seada no determinismo sexual, justificativa, se-gundo o espiritismo, para a opressão, o controle, a submissão e a violência contra a mulher. Em de-corrência desta compreensão igualitária e por pos-suir uma organização institucional bastante diver-sa das religiões tradicionais, pois não tem uma classe sacerdotal organizada e não confere ne-nhuma prerrogativa ao poder masculino, o espiri-tismo possibilitou às mulheres maior participação no movimento, desde a sua constituição. Dessa forma, entende-se que para compreender a parti-cipação feminina em um certo contexto sócio-histórico, em certa sociedade, em um determinado período de tempo, deve-se compreender os espa-ços sociais disponíveis para as mulheres nesse dado contexto, os discursos que sobre elas se constroem. Assim como compreender aqueles que são construídos por elas, os seus espaços de resis-tência, as relações de força que se formam no campo das lutas cotidianas, das práticas. Sendo assim, acredita-se que a religião é, ainda hoje, um importante circuito produtor e reprodutor de sis-

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temas simbólicos que exercem extrema influência sobre as relações de gênero, o que se torna o mo-tivo subjacente à realização deste trabalho. Ou seja, é uma questão atual que nos leva a perguntar ao passado. Não apenas analisar as experiências femininas no passado, mas a conexão entre a his-tória passada e a prática histórica presente, anali-sando como o gênero estrutura as relações sociais e fornece sentido à organização e à percepção do conhecimento histórico.

Transformações urbanas e segregação social: como os discursos dos Jogos Internacionais agenciam a produção da ordem social

Marcela Montalvão Teti

Esse resumo é fruto da primeira parte da pesquisa de Doutorado, realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem o intuito de colocar em debate a relação entre a produção de jogos inter-nacionais, Copa do Mundo e Olimpíadas, e as modificações urbanas que vem acontecendo nas cidades-sede dos jogos. O caso especificamente trabalhado nessa pesquisa é o da cidade do Rio de Janeiro, muito embora, a reflexão acerca dos ocor-ridos nas outras cidades venha a ser utilizada para pensar a lógica da construção urbana encampada pelo “selo” dos jogos internacionais. A pesquisa se desenvolve a partir de dois campos, um biblio-gráfico e outro de perspectiva etnográfica. No campo dos estudos bibliográficos, o trabalho bus-ca, por meio de um estudo dos projetos de urbani-zação, de forma geral, analisar os desenhos paisa-gístico-geográficos em vigor nas cidades da Euro-pa e da América Latina. Com tal percurso, tem o intuito de observar as principais mudanças urba-nas que ocorreram nos dois últimos séculos. Para auxílio no tocante a essa produção, procurar en-tender por meio do estudo de Políticas Públicas quais os interesses que movem algumas das modi-ficações urbanas. De outro lado, a pesquisa procu-ra, por meio de inserção etnográfica de campo, observar como os desenhos urbanos alteram os modos de vidas das pessoas afetadas por eles. Pa-ra efetivar essa parte do estudo, foi importante acompanhar algumas lutas e bandeiras encampa-das por alguns grupos de Movimentos Sociais, a exemplo do Comitê Popular da Copa e das Olim-píadas, além agrupamento de moradores, dos bair-ros e localidades afetados pelas construções atu-

ais. A partir de uma inserção regular e sistemática nesses grupos, e por meio de visitas, ainda que um pouco esparsas, foi possível estabelecer alguns debates a respeito do que acontece na cidade do Rio de Janeiro e trazer para a apresentação do pre-sente trabalho. Como resultados parciais, percebe-se que a celebração da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016 no Brasil levanta discussões amplas. Sejam elas favoráveis ou con-trárias à inauguração desses eventos, e ao próprio funcionamento da FIFA e do Comitê Olímpico Internacional (COI), importa direcionar a reflexão ao jogo de relações entre políticas públicas e as necessidades da população. Desde o ano de 2011, são inúmeras as alterações paisagístico-territoriais no âmbito das cidades-sede destes megaeventos. Sob o argumento de tornar as cidades viáveis à circulação de brasileiros e turistas, de toda ordem, medidas governamentais modificam o desenho de suas esferas urbanas e de diversas formas produ-zem limpeza social. Inúmeras famílias são deslo-cadas de seus ambientes de moradia, sem ser res-sarcidas pelas suas antigas casas, deslocadas em muitos casos para lugares situados a 70km de seus ambientes de trabalho. Além de tantas outras fa-mílias que são ameaçadas de remoção porque es-tão situadas nos “caminhos” por onde os projetos de reurbanização e reconfiguração social preten-dem passar. De certo modo, evidenciando dois outros movimentos de limpeza social na cidade do Rio, por parte de governantes, durante as décadas de 1920 e 1970. O quadro social que se coloca diante de tal situação levanta algumas questões. Uma delas poderia dizer respeito a que tipo de população tais reformas dizem respeito. Outra poderia se direcionar à análise da forma como os caminhos e práticas sociais, exigidas por esses novos caminhos produzem exclusão e segregação social. Em geral, no Brasil, a psicologia não parti-cipa de discussões que envolvem reconfigurações territoriais. Domínio da Antropologia Urbana, da Sociologia, do Turismo Social e da Arquitetura, relacionada ao planejamento urbano, transforma-ções urbanas acabam passando ao largo das dis-cussões acerca da subjetividade e dos modos de interação e relações sociais. E essa conexão que esse trabalho pretende fazer. Discutir políticas públicas, controle de população (circulante ou estável), e os processos de subjetivação envolvi-dos na produção paisagístico-territorial.

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Reflexões sobre o cuidar no interior das famílias

Camila Miranda de Amorim Resende

Ana Maria Szapiro

Observamos atualmente na sociedade uma enorme centralidade quanto aos cuidados relativos à in-fância. A todo o momento recomendações são feitas quanto à melhor forma de agir com as cri-anças de modo a assegurar-lhes um desenvolvi-mento saudável. Diante deste cenário, buscamos compreender que sentidos adquire o cuidar na contemporaneidade, especialmente no que diz respeito à relação entre pais e filhos. Nossas con-siderações se voltam inicialmente para as antigas sociedades hierarquicamente demarcadas, onde a diferenciação de papéis no interior da família sempre colocou as figuras parentais em uma posi-ção diferenciada dos filhos. Tal posição garantia aos pais a legitimidade necessária para o exercício de sua autoridade vista como fundamental ao pro-cesso de educação das crianças. Como adultos, caberia aos pais a transmissão dos códigos de so-ciabilidade aos filhos. A família sempre foi, as-sim, o lugar de exercício de uma forma de poder, no modelo de contenção para civilidade. Educar na família representava o início de um processo de sujeição do individual ao coletivo, do individu-al à sociedade. Considerava-se que cabia à família a experiência de governar os indivíduos no senti-do de, por sua vez, dotá-los de governabilidade. Hoje, estamos diante de uma indiferenciação de lugares no interior da família, mais precisamente uma indefinição entre o lugar que a geração pre-cedente ocupa na transmissão e o lugar que a nova geração ocupa. Nesta crescente indistinção entre os lugares e papéis geracionais no interior das fa-mílias, os pais apresentam dificuldades crescentes no que diz respeito ao exercício de autoridade face aos filhos. Este exercício que historicamente este-ve associado à transmissão de valores e interditos da cultura, parece não mais se sustentar. Sem sus-tentação para o exercício da autoridade, a função dos pais parece se voltar cada vez mais a um pre-zar pelo “bem-estar” dos filhos. Com este intuito, os pais não param de comprar livros, fazer buscas na internet, consultar profissionais, sempre bus-cando saber como agir da melhor forma com os filhos, como se posicionar e até como falar sobre determinados assuntos com os mesmos. Decor-rem, assim, avaliações de toda espécie, prescri-

ções administrativas, perícias, sondagens, méto-dos que pretendem basear-se na positividade dos fatos para justificar as medidas a serem tomadas. Uma nova legitimidade é assim buscada e aparen-temente encontrada nos fatos, na tecnologia, na medicina, no direito etc. Assim, o cuidar no inte-rior da família, vem se consolidando como um cuidado regulamentado pelos enunciados científi-cos. Aos pais cabe por vezes o papel de multipli-cadores do discurso científico sem o qual parecem não saber como cuidar. O que hoje se entende por “bem-estar” é, nos parece, orientado por padrões de normalidade dos enunciados científicos que, assim vêm produzindo uma crescente demanda de tratamentos de crianças e adolescentes diagnosti-cados às vezes apressadamente como portadores de patologias - as “síndromes” descritas nos ma-nuais de diagnósticos de Psiquiatria. Deste modo, a nova face do cuidar na relação entre pais e filhos parece se inclinar a uma patologização de com-portamentos antes considerados singulares resul-tando, por vezes, em um enorme aumento de indi-cação de terapias medicamentosas ou não.

A Dinâmica sócio-espacial em Seropédica: memórias e registros imagéticos

Ronald Clay dos Santos Ericeira

Cecília Maria Rocha Ribeiro

Julia da Silva Xavier

Juliana Gomes Braz Vargas

Julianne Haru Gomes Horita

Ao longo das últimas décadas, observamos um aprofundamento da discussão sobre o uso da me-mória e de imagens em pesquisas na área de Psi-cologia. Esta comunicação oral vislumbra investi-gar a memória coletiva no contexto rural da Bai-xada fluminense, especificamente na cidade de Seropédica. O nome Seropédica surgiu da forma-ção das palavras: sericeo ou serico, de origem latina, que significa seda, e pais ou paidós, de ori-gem grega, que significa tratar ou consertar. Um local, portanto, onde se tratava a seda. Esse local é originário da fazenda 'Seropédica do Bananal de Itaguaí', de propriedade de Luiz Resende, que por volta de 1875 chegou a produzir cerca de 50 mil casulos de bichos da seda por dia. Com a abolição da escravatura houve considerável êxodo dos an-

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tigos escravos, ocasionando uma série crise eco-nômica. Esse fato, aliado à carência de transporte e à insalubridade da região, fez com que as gran-des plantações agrícolas desaparecessem, bem como provocou o declínio da produção de seda na região. Em meados de 1930, começaram, em Se-ropédica, as obras do Centro Nacional de Estudos e Pesquisas Agronômicas, onde atualmente funci-ona a UFRRJ, que teve seu campus transferido para as margens da antiga rodovia Rio-São Paulo em 1948, hoje BR-465. Os movimentos populaci-onais em torno da Universidade promoveram a chegada de equipamentos urbanos que alteraram uma parte da paisagem do município. No trans-curso de 1950 e 1960, a Baixada Fluminense atra-vessou um período durante o qual foi palco de conflitos de terra, protagonizados por grileiros em oposição aos agricultores familiares descendentes de escravos livres e mestiços, e por herdeiros das fábricas falidas que tentavam despejar os ex-operários que ocupavam terras das fábricas. A ditadura militar estancou os conflitos, retornados nos anos 1980. No entanto, atualmente, há um expressivo número de assentamentos de reformas agrárias na região. Em 1995, Seropédica tornou-se independente de Itaguaí. Com a emancipação, a cidade teve sua economia movimentada e ganhou obras de infraestrutura, que permitiram definir um perímetro urbano de grande densidade. Este vem se ampliando pela própria expansão da Universi-dade Rural e suas áreas de influência, e, mais re-centemente, pela construção de uma obra de gran-de impacto socioambiental: a construção do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, que faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) dos governos federal e estadual. A obra afeta áreas onde ainda há resíduos de ruralidade de importân-cia sociocultural, representando uma provável perda de identidade cultural e coesão territorial. A contemporânea realidade ambiental de Seropédica e adjacências apresenta um quadro completamente diverso do seu passado rural, longínquo, e do re-cente e imperfeito pretérito rural que se esvai. Nesse sentido, por meio de fotografias e de histó-rias de vida, buscamos identificar como os mora-dores de Seropédica registraram imageticamente e construíram a memória coletiva das principais transformações ocorridas na paisagem urbana da cidade. Em termos teóricos, recorremos a Maurice Halbwachs, que estuda a função mnêmica não como um processo mental individual, mas a partir de quadros sociais. Em sua visão, a memória está interligada ao contexto social (família, escola,

religião, espaço social). Fundamentamo-nos ainda em pesquisas de cunho psicossocial, como os tra-balhos de Eclea Bosi sobre a memória de velhos em centros urbanos. Para a autora, os idosos são encarados como os guardiões da memória coletiva na maioria dos grupos sociais. Nestes, as recorda-ções dos mais velhos seriam o elemento de medi-ação entre as gerações atuais e as testemunhas do passado. É através das lembranças dos idosos que os valores tradicionais e demais constituintes de uma cultura mantêm-se vivos, sendo repassados de uma geração à outra. Quanto à coleta de dados, empregamos o método de história de vida. Esta metodologia foi escolhida por proporcionar maior aproximação do pesquisador com o sujeito ou grupo analisado, já que privilegia as exposições das experiências pelos próprios participantes.

Contribuições do Interacionismo Simbólico ao Bem-estar subjetivo: a importância do observador

Caio de Melo e Silva

A teoria do interacionismo simbólico surgiu em 1930 e se consolidou posteriormente como forte influência no campo da psicologia social socioló-gica. Seu desenvolvimento foi uma alternativa às teorias positivistas da época, impulsionado pelas intensas mudanças sociais decorrentes dos proces-sos de industrialização e urbanização do início do século XX. Essa abordagem constitui uma pers-pectiva teórica que possibilita a compreensão do modo como os indivíduos interpretam os objetos e as outras pessoas e como essa interpretação con-duz o comportamento individual em situações específicas. Foi influenciada principalmente pelas ideias de George Mead (1863-1931) e teve sua inicial divulgação na Escola de Chicago. Posteri-ormente, Herbert Blumer (1900-1987) cunhou o termo “Interacionismo Simbólico” a partir de sua própria interpretação. Por ser uma perspectiva de teorização e pesquisa que percebe as pessoas co-mo capazes de usar seu raciocínio e poder de sim-bolização para interpretar e adaptar-se flexivel-mente às circunstâncias dependendo de como de-finam a situação, é considerada uma abordagem eficaz para analisar processos de socialização e ressocialização, estudo de mobilização de mudan-ças de opiniões, comportamentos, expectativas e exigências sociais. É importante ressaltar a ênfase dada à percepção do indivíduo perante as circuns-

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tâncias e relações sociais, sendo o ponto de vista do observador fundamental para suas reações e comportamento ao meio no qual está inserido. Dessa maneira, percebe-se uma estreita relação com o conceito de bem-estar subjetivo, no qual a avaliação pessoal das experiências de vida e os processos dessa avaliação são fundamentais. Além disso, a avaliação está relacionada à cultura e valores da sociedade no qual se está inserido, aos objetivos, expectativas e interesses de cada um, evidenciando a importância das construções simbólicas das relações interpessoais e entre indi-víduo e sociedade. A preocupação com a existên-cia humana e o desenvolvimento individual apa-rece eminente na sociedade contemporânea, ha-vendo grande interesse em temas como a qualida-de de vida da população, o que pode ser identifi-cado por políticas públicas governamentais reali-zadas nas áreas de saúde, educação e lazer e pelos inúmeros estudos científicos no campo da Psico-logia. O conceito de bem-estar subjetivo aparece, assim, como importante construto devido ao seu caráter multidimensional, englobando temas como qualidade de vida, felicidade e autoestima. Procu-rando contribuir para a compreensão e melhoria da qualidade de vida das pessoas, o presente estu-do pretende investigar as contribuições da teoria do interacionismo simbólico para o conceito de bem-estar subjetivo. Para tanto se realizou uma revisão bibliográfica de 15 artigos para descrever alguns dos fundamentos teóricos mais relevantes do interacionismo simbólico nas teorias contem-porâneas, e posteriormente uma análise qualitativa a fim de estabelecer pontos de comunicação com a teoria do bem-estar subjetivo. Além disso, foi realizada uma pesquisa de campo etnográfica pro-curando compreender quais os fatores e processos ao longo da vida de homens e mulheres com ida-des entre 25 e 60 anos moradores de comunidades de baixa renda são associados ao bem-estar subje-tivo. A pesquisa apresenta a perspectiva dos en-trevistados sobre suas trajetórias de vida e o de-senvolvimento do bem-estar subjetivo, além da análise de como tal desenvolvimento pode ser for-talecido no campo da educação e da saúde. Apesar das precárias condições de vida em comu-nidades urbanas de baixa renda, percebe-se que boa parte de seus moradores apresentam resiliên-cia e enfrentam desafios socioeconômicos impos-tos no cotidiano com criatividade e determinação, demonstrando traços de bem-estar e felicidade. A revisão de literatura e as entrevistas deixaram no-tório que a melhoria da qualidade de vida está re-

lacionada às noções de resiliência, enfrentamento, forças, otimismo, habilidades, esperança, alegria e virtudes, o que ressalta a importância da percep-ção individual perante as ações coletivas, os valo-res sociais e culturais e as relações interpessoais. O interacionismo simbólico aparece, pois, como importante ferramenta para o entendimento desse processo de subjetivação e interação interpessoal, ressaltando a importância da dimensão interpreta-tiva do sujeito para as relações sociais. O estudo aponta, dessa maneira, a importância de se traba-lhar a percepção individual perante o coletivo a fim de se estimular o bem-estar subjetivo e a qua-lidade de vida.

SESSÃO 5

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 15h30 – 17h30

Monitor: Mariana Alves Gonçalves

Reflexões Sobre a Reinvenção da Política: A judicialização da adolescência e os discursos da "crise"

Mauro da Silva de Carvalho

Ana Clara Leitão de Castilho

Pelas ruas, condomínios e, em especial, no con-texto escolar da cidade do Rio de Janeiro, vive-mos hoje um aumento significativo das demandas que chegam as delegacias relacionadas a brigas e conflitos entre crianças e adolescentes. Esta cons-tatação nos aponta para o fato de que as políticas voltadas à proteção e educação de crianças e ado-lescentes vêm enfrentando desafios graves não apenas no âmbito educacional, mas também no social e político-criminal. Sentindo-se cada vez mais incapazes de ensinar limites e responsabili-dades os pais das crianças e adolescentes, por ini-ciativa própria ou por de encaminhamento da di-reção das escolas, buscam as delegacias como “último recurso”, uma última e desesperada tenta-tiva de disciplinar seus filhos no ambiente escolar. Mesmo após 18 anos de implementação do ECA a lógica punitiva ainda persiste no imaginário de pais e educadores, sendo percebida como a única e eficaz forma de educação. Palmadas, chineladas, suspensões e expulsões - instrumentos clássicos de disciplinarização no ambiente escolar - uma

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vez percebidos como passíveis de criminalização, transformam a tarefa de educar e dirimir conflitos em demandas policiais. A criminalização da in-fância e do adolescer, tornada regra, incita políti-cas públicas marcadas pelo medo, onde a discus-são sobre a presença de policiais armados, contra-tados para fazer a segurança das escolas, assume outros contornos, ou seja, ao invés de manter a segurança do ambiente escolar ante as ameaçadas externas, sua presença torna-se necessária para ante o perigo que encontra-se -se dentro de seus muros e paredes. A tarefa de educar associada à criminalização da infância e do adolescer e do dilemas do cotidiano, uma vez analisadas sobre a ótica proposta pelo filósofo Michel Foucault em sua obra, apontam para a produção de sujeitos cada vez mais impotente ante as demandas do contemporâneo, onde potentes produções subjeti-vas, calcadas em modos de subjetivação cada vez mais rígidos ante ao risco de dissolução das iden-tidades no capitalismo globalizado, dão vida a subjetividades fragilizadas. Neste contexto “im-plicância” torna-se bulling, fofoca em “calúnia” e simples brigas e desentendimentos entre adoles-cente “lesão corporal” provocada por um “menor infrator”. O que antes era resolvido no cotidiano hoje cada vez mais vai parar na delegacia e a polí-cia vai parar dentro das escolas. Neste sentido, Pedrina nos aponta que mais do que uma militari-zação da segurança pública, instaura-se uma mili-tarização da vida social, militarização essa que, uma vez associada ao que Joel Birman denomina como desamparo, gera a sensação de impotência, que por sua vez alimenta o processo de transfor-mação das questões sociais em demandas policias num ciclo contínuo onde a política - entendida como a arte de gerir conflitos - perde espaço ante aos desafios do cotidiano, propiciando a gestação de corpos incapazes de gerir suas próprias vidas. Ao ampliarmos o escopo de nossas análises per-cebe-se que a os discursos e práticas presentes no ambiente escolar, mas do que retratar uma reali-dade particular, refletem cotidianos urbanos, em especial ao que tange a cidade do Rio de janeiro, onde insegurança e medo tornam-se estratégias centrais na formulação de políticas públicas cal-cadas no controle social, incidindo sobre os cor-pos na dimensão da vida e do viver. Romper com tais práticas implica em dar vida ao que Gilles Deleuze e Felix Guatarri enunciam e Sueli Rolnik denomina como “homem da ética”, ou seja, a reinvenção de formas de viver calcadas nos con-flitos que emergem do caos do cotidiano; dimen-

são conflitosa, no entanto, que não se coaduna ao ideal bélico presente nos discursos cotidianos que criminalizam a infância e o adolescer e sim numa aposta na dimensão disrruptora presentes nestes discursos.

Representação social e construção da identida-de da população em situação de rua da cidade de Vitória da Conquista-BA

Hellen Dayane dos Santos Marinho

Maykon dos Santos Marinho

Everaldo Nery de Andrade

Claudio Marinho dos Santos Junior

As representações sociais permitem ao indivíduo interpretar os objetos sociais externos à ele de forma similar ao de sua respectiva cultura, bem como, associar essas interpretações à elaboração de identidades grupais. As rotulações criam es-quemas de tipificação que desencadeiam intera-ções sociais preconceituosas em relação a quem está sendo rotulado e influencia no processo de identidade deste. Deste modo, pode-se observar, ainda hoje, nas sociedades, a existência de rotula-ções a respeito dos moradores de rua e a influên-cia negativa dessas representações sociais no pro-cesso de construção de identidade deles. Para Moscovici, as representações sociais convencio-nalizam os objetos e pessoas, fornecem uma for-ma definitiva a esses e transformam-os em mode-los que passam a ser partilhados pelas pessoas na construção de suas “realidades”. OBJETIVOS: compreender as representações sociais que a soci-edade e o indivíduo em situação de rua, na cidade de Vitória da Conquista, possui sobre esse grupo de pessoas e como os moradores representam as suas próprias identidades diante dessas represen-tações. JUSTIFICATIVA: Este artigo se justifica pela necessidade de proporcionar um entendimen-to sobre as representações sociais que permite a permanência de relações de dominação e explora-ção, e que interfere na construção de identidade dos moradores de rua. MÉTODO: A pesquisa de campo foi desenvolvida através do método quali-tativo. Diante disso, na busca da compreensão do fenômeno pesquisado e para avaliação do mesmo, utilizamos como instrumento para coleta de dados dois questionários semi-estruturados. O primeiro com 17 questões direcionadas aos próprios mora-

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dores de rua e o segundo, com 12 questões direci-onadas às pessoas com habitação fixa. Esses ques-tionários, além de favorecer a obtenção de dados pessoais, relacionavam-se com a identificação da representação social e a construção da identidade do morador de rua. Quanto aos participantes, fo-ram entrevistados 7 moradores de rua, enquadra-dos na faixa etária entre 38 e 60 anos, sendo 3 mulheres e 4 homens, com baixa escolaridade e 7 pessoas com habitação fixa, de ambos os sexos, com idade entre 20 e 58 anos e escolaridade cor-respondente ao ensino médio completo, sendo ambos os grupos pertencentes a cidade de Vitória da Conquista (VC) na Bahia. Através de um con-tato estabelecido com o responsável da Casa do Andarilho, foram entrevistados alguns moradores de rua que contribuíram para pesquisa. Outros foram abordados nas ruas do centro da cidade de VC, onde também foram entrevistadas as pessoas com residência fixa. A partir das informações re-sultantes da análise de conteúdo, foi possível es-tabelecer uma comparação entre os dois grupos envolvidos na pesquisa, bem como analisar as diferenças e semelhanças acerca da representação social e a constituição da identidade social dos moradores de rua tanto para os mesmos, quanto para quem não está inserido nessa realidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Através da análise dos discursos foi possível detectar aspectos que se relacionam com a representação social e a cons-trução da identidade do morador de rua. A maior parte das respostas aponta para a existência de representações sociais pejorativas por parte dos moradores com residência fixa, nas quais a ima-gem do morador de rua é sempre estigmatizada e associada às características negativas. Foi possível observar que o discurso das pessoas com residên-cia fixa também negam a realidade, que é vista de outra forma, no sentido de tentar camuflar os seus preconceitos e afirmar que os moradores de rua, na maioria das vezes, estão nas ruas por vontade própria ou por já estarem acostumados com essa realidade. Assim, a representação individual con-figura e reafirma sua própria identidade. Muitas vezes, o morador de rua é visto como uma não-pessoa, como um sujeito perturbador, sujo, violen-to, sem importância e totalmente excluído do es-paço social. Não somente ele é visto como tam-bém se vê desta maneira, pois os valores, negati-vamente, afirmados produzem estereótipos que são difundidos e posteriormente, internalizados. A maior parte dos moradores de rua negava, em seus discursos, a sua condição, fazendo questão de

afirmar que mesmo na rua sempre trabalhavam e possuíam recursos financeiros. Assim, percebe-se que, na construção dos significados para os mora-dores de rua, o seu estereótipo, tão difundido, acaba por acarretar a produção de comportamen-tos preconceituosos em relação a si mesmos. CONCLUSÃO: A repercussão negativa da identida-de construída e reafirmada do morador de rua de-ve ser discutida pela Psicologia Social, já que todo ser humano possui uma condição social e histórica que, se desconsiderada, produz uma visão distor-cida (ideológica) de seu comportamento. Além disso, a Psicologia deve atuar como mediadora de relações sociais, no sentido de considerar os as-pectos subjetivos envolvidos com o tema aborda-do e superar as reproduções ideológicas fortemen-te dominantes, que só têm a colaborar com a per-manência de estereótipos, estigmas e preconceito.

A política de saúde para o usuário de drogas: Visões, percepções e novas possibilidades de atuação

Rodrigo da Silva

O uso e abuso de substâncias psicoativas pode ser encarado como um sintoma de uma sociedade profundamente adoecida. O grande aumento do número de usuários de álcool e outras drogas, jun-tamente com a precária infraestrutura para trata-mento, evidencia este tema como um grave pro-blema de saúde pública. O poder público, a aca-demia, a mídia e os demais setores da sociedade civil elaboram iniciativas pautadas por debates, pesquisas, políticas públicas e projetos sociais, mas a sensação de que este problema é muito mais complexo do que o imaginário pode alcançar en-reda o cotidiano da sociedade. O consumo de dro-gas, que há vinte anos era feito “às escondidas”, hoje não escolhe horário e muito menos lugar para saltar aos olhos da rotina do cidadão, seja nas cra-colândias, nas praças ou até mesmo na praia. A maconha, a cocaína, Ecstasy, LSD são comuns e, até, socialmente aceitos. Isso se não falarmos no álcool que além de aceito tem seu consumo incen-tivado pela propaganda que quase sempre trás nas entrelinhas mensagens de poder e aumento de au-toestima. Grande parte das iniciativas propostas estão ancoradas na repressão, ou em meios tera-pêuticos massivos que utilizam elementos peda-gógicos e terapêuticos autoritários para o alcance

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do objetivo que é a reforma do sujeito. Esta re-forma é um ideal definido, muitas vezes, pelo te-rapeuta e suas noções de certo e errado. Busca-se uma higienização do sujeito, uma assepsia que leva a uma espécie de engessamento. Analisando o contexto social, este cidadão “limpo” e “curado” poderá contribuir para a manutenção dos padrões sociais que estabelecem modelos de comporta-mento aceitáveis e não aceitáveis e que muitas vezes são meios de extinguir a singularidade e a criatividade massificando conceitos, conhecimen-to e negando a pluralidade de pensamento e a di-versidade da vida. O objetivo deste estudo é vis-lumbrar novas possibilidades na compreensão deste problema. As questões aqui discutidas surgi-ram de experiências com a prática da abordagem de Formação Humana no tratamento de usuários de drogas, participantes de um programa de reabi-litação no CEAD (Centro de Estadual de Assis-tência sobre Drogas), vinculado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Um sujeito submetido a um tratamento terapêutico onde é reconhecido como mais um elemento da grande massa, tem em si confirmado uma espécie de inexistência. Sua confirmação como pessoa é substituída por rótu-los e diagnósticos que constituem uma a priori na relação com o terapeuta, ou seja, quem é tratado não mais “João Carlos com 42 anos e com uma história,e um presente”, mas um “dependente químico, usuário de cocaína, com leve psicose, paranoia e instabilidade de humor”. Essa política terapêutica, que é recorrente nos tratamentos para reabilitação de usuários de drogas, conduz muito mais à alienação e à dependência do que ao auto-conhecimento e à liberdade. Este sujeito, enquan-to membro de uma sociedade, será um multiplica-dor dessa alienação. Não se reconhece como pes-soa e consequente não terá em si a possibilidade de reconhecer o outro como legítimo na relação. Fato observado pelos sinais recorrentes como an-siedade, busca por prazer imediato, dificuldade de lidar com a dor, sensação de abandono e solidão. O trabalho de Formação Humana é construído com base na liberdade do sujeito, no seu poder de autorregulação e na confirmação de si mesmo como sujeito responsável, atuante e transformador de sua história e consequentemente, da sociedade. No processo de Formação Humana na relação do terapeuta com o paciente busca-se um espaço de escuta seguro, ancorada na confiança e na empa-tia. Evita-se ao máximo qualquer tipo de diagnós-tico ou julgamento. Estar presente na experiência da relação de forma aberta e sincera possibilita

que ambos, terapeuta e paciente, sejam confirma-dos com seres humano inteiros, singulares e acei-tos em si mesmo. O paciente passa naquele mo-mento a existir com toda sua bagagem subjetiva e histórica. A sociedade em que vivemos é caracte-rizada por um sujeito, em sua maioria, não con-firmado. Apenas membro da massa, multiplicador da mentalidade produtiva ancorada no consumo. É fomentado no sujeito, desde a infância, que ele siga o projeto do outro e viva sua vida cumprindo com expectativas alheias. A frustração o senti-mento de fracasso e de inferioridade é sem dúvida fruto deste paradigma. O usuário de drogas preci-sa resgatar em si a confirmação de sua existência para que possa vislumbrar a possibilidade de li-berdade. As práticas de atuação na saúde precisam revisar seus meios terapêuticos, para que assim possam cumprir com seus reais papéis de trans-formação, estimulando a caminhada na busca por uma sociedade mais justa, saudável e livre.

As Políticas Públicas de Saúde Mental na cida-de do Rio de Janeiro e o Direito à Cidade: a exclusão da loucura das centralidades urbanas

Simone Lima Guimarães

Daniel Santos Alves da Silva

Marilene Verthein

O presente artigo é uma contribuição que surge da aproximação do conceito de direito à cidade do filósofo Henri Lefebvre e a área de Saúde Mental, permitindo o diálogo entre as transformações ur-banas vigentes na cidade do Rio de Janeiro e a aplicação das políticas públicas de saúde mental no espaço seu urbano. Apresentaremos o mapea-mento das principais instituições de saúde mental da cidade do Rio de Janeiro bem como a oferta de políticas públicas no seu território; de forma a questionarmos a distribuição diferenciada de in-vestimentos de políticas públicas de saúde mental nos espaços intraurbanos dos principais bairros que constituem as Áreas de Planejamentos (AP) da cidade. As políticas públicas de saúde mental têm como uma das principais funções articular seus serviços de forma territorial com seus princi-pais agentes, entretanto, podemos perceber que quanto mais distante das centralidades urbanas são os dispositivos de assistência (Institutos e Centros de Atenção Psicossociais, CAPS) menor

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serão suas articulações com a qualidade das polí-ticas públicas da rede de saúde mental caracteri-zando uma estrutura de distribuição sócioespacial desigual quanto da qualidade da articulação dessa função. Sendo assim, a partir da simples plotagem das unidades de saúde mental no mapa da cidade chegaremos a uma representação cartográfica que expressa o poder das intencionalidades do orde-namento urbano-territorial estatal para a cidade, excluindo assim os dispositivos de saúde mental de alguns territórios centrais. Mapeando essa ofer-ta chegaremos ao direito à cidade, conceito utili-zado pelos estudiosos da cidade (arquitetos, soció-logos urbanos, geógrafos etc.) que trás como ideia o direito às centralidades aos principais equipa-mentos urbanos. O direito ao centro que histori-camente é o lugar de maior concentração dos principais investimentos públicos, os quais carac-terizam a participação dos cidadãos aos melhores espaços que oportunizam múltiplas possibilidades, é visto como o lugar do encontro; das manifesta-ções e da celebração da cidadania. A ausência de unidades de saúde mental no centro denuncia uma intenção política estatal que se objetiva na forma do ordenamento urbano-territorial da cidade, o qual gera um distanciamento desse campo na par-ticipação dos novos investimentos urbanos que a cidade está recebendo por conta dos Megaeventos que sediará: Copa do Mundo de 2014 e as Olim-píadas 2016. Por conta desses eventos o ordena-mento territorial da cidade escolhe as áreas que receberam investimentos em função da demanda neoliberal de liquidação do dinheiro público em função de uma forma urbana que atende aos an-seios do mercado em detrimento das áreas priori-tárias de investimento como: Saúde, Educação e Habitação. Assim, pontuamos a representação cartográfica expressa e denuncia que por mais que a rede de saúde mental da cidade do Rio de Janei-ro tenha a maioria de suas unidades e, por conse-guinte as suas políticas públicas longe do centro, menor será a qualidade dessas nos espaços de maior concentração. Portanto, a escala de atuação das Políticas Públicas em saúde Mental (por mais que validadas pela Lei 10.216 de 2001 e por vá-rias portarias) ganham agora um outro nível de discussão que é a cidade, tendo nos seus docu-mentos de planejamento urbano (planos diretores, planos participativos e planos gestores estratégi-cos) novos instrumentos os quais deveriam validar a inserção da loucura no espaço urbano.

SESSÃO 6

Localização: IP/UFRJ, sala 2

Horário: 08h00 – 10h00

Monitor: Mariana Alves Gonçalves

Emoções territorializadas: o ensaio da puta pobre

Saulo Magalhães Resende

O saber dos outros transforma nossas maneiras de nos saber. Essa frase célebre de Despret nos re-mete a problematizar como temos procurado nos saber na construção epistemológica de assuntos que inflamam nossa sociedade no século XXI. Uma das temáticas férteis para o olhar da Psicolo-gia Social é a forma como se é mulher em territó-rios caracterizados pela marginalidade diante de uma lógica do consumo exacerbado atravessado pela ideia de emoções que nos fabricam. Nessa perspectiva, esse artigo/ensaio pretende analisar um filme dirigido por uma mulher no Brasil: So-nhos roubados (2009), de Sandra Werneck, em-pregando o desenho de um ensaio, entendendo tal modalidade como um exercício crítico de procura, de caráter exploratório, acerca de um tema ou ob-jeto de meditação, buscando uma nova forma de olhar o assunto, conforme preconizam Tobar e Yalour. O foco é positivar as diferenças e acentuar os traços de territorialidade em que, no filme, o feminino se expressa. A trama acompanha três garotas, amigas inseparáveis de colégio que en-contram na prostituição uma maneira de comple-mentar o orçamento doméstico ou alcançar seus sonhos de consumo. A mais esperta, Jéssica (Nanda Costa), se vira como pode para cuidar do avô Horácio (Nelson Xavier) e sua filha Britney. Já Daiane (Amanda Diniz) vive em busca do afeto de seu pai ausente, Seu Germano (Ângelo Antô-nio). Para completar, Sabrina (Kika Farias), caren-te de afeto e atrás de um futuro melhor, se apaixo-na por um traficante da comunidade. As histórias de Daiane, Sabrina e Nanda são interessantes por suscitar uma série de aparatos normativos sobre o papel da mulher/mãe/trabalhadora na favela cario-ca. Essa dinâmica nos conduz de maneira sutil a depararmos com a proposta de Sandra Werneck de mostrar garotas “sexualmente atiradas”, que “rala muito pra ser gostosa”, sabem usar o corpo e não veem qualquer problema em se prostituir.

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Aliás, sequer acreditam que o que fazem é prosti-tuição, sendo esta uma visão honesta que a direto-ra parece de certa maneira compartilhar. Nossas considerações sobre o cinema brasileiro e o femi-nismo buscam uma metodologia polifônica, con-trária ao pensamento concreto ou às estatísticas comprobatórias. Isso porque o tema território e o processo de ocupação/identificação do feminino em contextos subalternizados são preocupações frequentes no cinema feito por mulheres. O filme de Sandra Werneck é uma adaptação do seu do-cumentário Meninas (2006), baseado no livro As meninas da esquina: diários dos sonhos, dores e aventuras de seis adolescentes do Brasil, de Elia-ne Trindade, que conta a história meninas adoles-centes moradoras de periferias e favelas do Rio de Janeiro. As abordagens dos contextos das favelas no cinema, longe de serem consideradas uma no-vidade, conforme preconiza Selem, destacam-se aqui pelo protagonismo feminino das persona-gens, em constante reinvenção frente ao paradoxo das exigências do mundo do consumo e seus pa-drões de beleza versus as marcas coloniais e a precariedade financeira que constitui suas realida-des territoriais. Nessa lógica epistemológica, loca-lizamos o desenvolvimento das supostas “esco-lhas' das personagens em se prostituírem para po-derem “ganhar a vida”. Até que ponto essas esco-lhas são tão simples de serem feitas? Quais prin-cípios estão sendo negociados nesse engendra-mento? Como então esse Circuito superior as en-xergam numa lógica do absoluto? Entendemos e acreditamos de fato que, a exploração deste tema em específico: território e o processo de ocupa-ção/identificação do feminino solicita, ou ao me-nos deveria fazê-lo, ou poderíamos dizer incita a uma aproximação devida da experiência prática que representa o discurso em torno do qual se pre-tende discorrer. Além disso, falar de prostituição neste contexto precisa colocar em cena nossas próprias emoções, nossos próprios instintos, e aqui talvez estejamos mais interessados naqueles que dizem respeito à busca e alcance do prazer e do sentido que este prazer atribui à vida, do que de fato estaríamos interessados nos assim deno-minados e entendidos instintos de sobrevivência e todos os seus desdobramentos e implicações eco-nômicas. Alguns importantes recortes conceituais e teóricos serão estabelecidos, enumerados e ex-plorados, a fim de conformarem com devida pro-priedade todo o arcabouço epistemológico capaz de situar esta discussão em torno de seus focos: um mergulho no relativo e os ganhos de sensibili-

dade que se manifestam nas experiências de pes-quisa com o particular e específico e que podem ser levadas para outras situações; as categorias marcadas e não marcadas em torno da mulher, feminismo e estética da mulher na favela; a ciên-cia sem um “C” maiúsculo, daquela que provém a verdade de maneira totalizante e conforme objeti-vos universalizantes, ou seja, a ciência tal qual a experiência artística Barroca: múltipla, complexa e não coerente, e as emoções que nos fabricam e nos habitam. Isso porque o mundo é de fato cons-tituído por nossas práticas, e esta constituição im-plica em diversas lutas de conquista por parte dos sujeitos e objetos que o compõe.

Ensinando trabalho, saúde e subjetividade: uma experiência na universidade pública que valoriza o território

Rita de Cassia Ramos Louzada

Pensar o modo com as pessoas vivem, na atuali-dade, envolve necessariamente uma avaliação de seus modos de inserção no mundo do trabalho. Ocupados, desocupados, informais ou não, todos estão minimamente referidos ao trabalho. No en-tanto, a formação de psicólogos com essa perspec-tiva ainda não é algo hegemônico. Aqui preten-demos apresentar uma experiência de ensino-aprendizagem, na graduação, em uma universida-de pública, onde trabalhamos, desde 2006, articu-lando o trinômio trabalho, saúde e subjetividade. Na disciplina, o trabalho é considerado categoria central de análise e ponto de partida para acessar ferramentas conceituais e metodológicas para in-tervenções no campo da saúde pública (vigilância, assistência e educação em saúde do trabalhador), privilegiando aspectos relativos à saúde mental. Para atingir nossos objetivos, buscamos não ape-nas apresentar a produção existente nesse campo de conhecimento (saúde mental e trabalho), como também sensibilizar os estudantes para as intensas mudanças que o trabalho vem sofrendo ao longo do tempo e seus impactos sobre as pessoas. Para isso, as atividades propostas ao longo do curso levam os estudantes à refletirem sobre seu territó-rio e as formas de trabalho (e impactos) observa-dos nos locais onde vivem e/ou em seus grupos sociais. Pretendemos, enfim, apresentar a estrutu-ra e a dinâmica da disciplina, além de discutir, especificamente, uma das estratégias pedagógicas

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utilizadas, onde as informações trazidas pelos es-tudantes aparecem mais claramente: o “relato so-bre o mundo do trabalho”.

Interfaces entre Religião e Política: Espiritismo e Socialismo

Maria Cláudia Novaes Messias

Bárbara Albuquerque Pereira

Ana Maria Jacó-Vilela

Este trabalho analisa as concepções sociais e polí-ticas presentes na doutrina espírita, especialmente aquelas vinculadas ao pensamento socialista, além de investigar o envolvimento de militantes operá-rios, socialistas e anarquistas com o espiritismo nas primeiras décadas do século XX, no Brasil. O Espiritismo foi um movimento iniciado na França pelo pedagogo Allan Kardec (1804-1869), em meados do século XIX, e se pretendia uma ciên-cia, com bases filosóficas e implicações morais, não se colocando, neste primeiro momento, no campo religioso. Emergiu em um contexto euro-peu marcado por grandes conflitos sociais, se po-sicionou frente a eles, abordando os mais variados temas relativos à vida e à sociedade, como as re-lações de trabalho, a desigualdade social e de gê-nero e os conflitos de classe, segundo a ótica re-encarnacionista. A perspectiva teórico-metodológica se insere no campo da historiogra-fia, mais especificamente da nova história, e o principal recurso metodológico é a análise biblio-gráfica e documental. Esse estudo se justifica pela importância e abrangência que a doutrina espírita assume no campo social e religioso brasileiro, país onde mais se disseminou. Apesar disso, é ainda muito pouco pesquisada, especialmente pela área da psicologia. Kardec, contemporâneo dos socialistas franceses, dialoga com eles em toda a sua obra, fazendo referência a Fourier e a Saint-Simon, especialmente na Revista Espírita. Em O livro dos Espíritos, há passagens surpreendentes sobre temas polêmicos como igualdade, proprie-dade e trabalho. Por sua vez, Robert Owen, um dos teóricos do chamado socialismo utópico, con-temporâneo de Kardec, foi influenciado por Pesta-lozzi - do qual Kardec foi aluno e discípulo - e mais tarde aderiu a Doutrina Espírita. Kardec e Maurice Lachâtre (1814-1900), nutriram uma par-ceria intelectual e uma profunda amizade, che-

gando a ter um projeto de fundação de um banco popular, nos moldes dos socialistas franceses e anarquistas, como Proudhon. Lachâtre, socialista de tendência anarquista, foi um influente e impor-tante intelectual e editor francês, era ardente de-fensor da liberdade de expressão e do pensamen-to. Outra referência da história do espiritismo que marca essa relação com o pensamento socialista é Léon Denis (1846-1927), socialista e filósofo es-pírita francês, um dos principais continuadores do espiritismo após a morte de Kardec, liderando o movimento espírita francês depois da Primeira Guerra Mundial. Denis foi operário em Tours, amigo e companheiro de Jean Jaurès (1859-1914), importante político socialista francês, também espiritualista. Denis, em sua obra Socialismo e Espiritismo, que se tornou um clássico do pensa-mento social espírita, descreve seu intenso envol-vimento com o movimento operário francês e os conflitos entre o socialismo materialista, marxista, e o socialismo espiritualista, vinculado aos socia-listas franceses. Em diversas passagens das obras tanto de Kardec, quanto de Léon Denis, observa-se que existe grande afinidade entre o espiritismo e o socialismo utópico, conforme designado por Marx e Engels, e menos afinidade entre espiritis-mo e marxismo. O conjunto de pressupostos do pensamento social espírita do século XIX encon-tra-se fragmentado na codificação e em inúmeros textos e artigos de Kardec e, ao longo do tempo, foram sendo aprofundados e sistematizados por pensadores espíritas do século XX, entre eles José Herculano Pires (1914-1979). Jornalista, filósofo e educador, era socialista e foi um dos mais ativos divulgadores do espiritismo. Em O Livro dos Es-píritos, podem ser encontradas críticas à injustiça da estrutura social e indicações para a transforma-ção da sociedade, aliada à transformação do ho-mem. Entre as questões levantadas por Kardec aos espíritos está a da propriedade e a da desigualdade social, em muitas há críticas ao supérfluo de uns e à miséria de outros, à criação artificial de necessi-dades, que gera o consumismo excludente. Além disso, analisa a necessidade das revoluções soci-ais, que germinam durante séculos para provocar as mudanças na coletividade, observando que a passividade é característica das formas inconsci-entes de vida. As revoluções sociais estão direta-mente atreladas a renovação do homem, que deve se modificar e assim, transformar o meio em que vive, rumo a igualdade, a fraternidade e a liberda-de, sendo esta sua indeclinável obrigação como espírita. Contudo, essa transformação social não

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ocorre por meios revolucionários de luta armada, nem pela tomada do poder pela atuação política e esse é um dos pontos em que o espiritismo está próximo ao anarquismo. Herculano Pires, em seus trabalhos, proclama que todos devemos lutar para construir as condições sociais mais adequadas ao aprimoramento do homem, o que nos faz lembrar as concepções de Fourier, Sain-Simon e Proudhon acerca da criação de condições para o desenvol-vimento integral da humanidade, que deveria vi-ver em liberdade plena, o que a levaria ao equilí-brio, à harmonia e à igualdade. Além disso, ob-serva-se ideias espiritualistas e reencarnacionistas presentes em alguns dos principais socialistas utópicos, alguns deles considerados importantes para a construção das ideias anarquistas, como Leroux, Fourier e Proudhon. Contudo, nos estudos atuais sobre estes teóricos é possível perceber uma ortodoxia na leitura de suas obras, sem um enten-dimento do contexto sócio-histórico em que esta-vam inseridos, no qual havia grande difusão de ideias espiritualistas entre intelectuais e cientistas, mesmo, e principalmente, aqueles envolvidos com questões políticas, sociais e, sobretudo, humanas. Fundamentalmente, se construiu uma história so-bre estes pensadores, e, principalmente, sobre os movimentos socialistas e anarquistas, que relegou ao ostracismo e ao silenciamento uma relação bas-tante importante com o espiritismo. Durante um longo período, a hegemonia de uma escola histo-riográfica baseada em Marx, questionada somente na década de 1960, tornou invisível aquilo que não se aplicava às suas estruturas teóricas, entre elas, a relação entre religiosidade/espiritualidade e política. No Brasil é possível encontrar muitos militantes e mesmo alguns líderes sindicais do movimento operário como seguidores, ou ao me-nos simpatizantes, do espiritismo na primeira me-tade do século XX. Destaca-se também a grande influência do espiritismo e da maçonaria na classe operária. No início do século XX, a aliança entre socialistas, anarquistas, maçons e espíritas possi-bilitava ao movimento operário maior organização e mais representação social e cultural, revelando uma complexidade de representações que, longe de serem contraditórias, ou fruto de imaturidade de classe ou ideológica, revelavam um projeto social sob os auspícios da modernidade. Estes movimentos se uniram para minimizar a autorida-de da Igreja Católica junto aos trabalhadores, lu-tando pela liberdade de expressão e de religião, pelo livre-pensamento, pelo ensino laico e por uma sociedade livre da influência dogmática cató-

lica. A partir da instauração do Estado Novo a atuação de ambos os movimentos junto à classe operária diminuiu. Os grupos e centros espíritas passaram a ser perseguidos pelo governo Vargas, acusados de serem locais subversivos e que abri-gavam comunistas e anarquistas. Este fato pode ser considerado mais uma prova da influência des-tes movimentos junto aos operários, pois de outra maneira o governo não teria motivos para vincular maçons e espíritas a socialistas e anarquistas, que planejavam implementar ações contra a ditadura do Estado Novo. Observa-se, portanto, que, inver-samente ao que é interpretado popularmente pelo espiritismo brasileiro, nas obras de Kardec e para o espiritismo, como doutrina filosófica complexa e dinâmica, não existe a aceitação de um fatalismo social, de um determinismo absoluto dos destinos individuais e coletivos, implicando em passivida-de e submissão, tendo como prerrogativa o con-ceito da reencarnação.

Mobilidade e história da urbanização: sob o argumento de melhorar vias de acessos a diver-sificados fluxos as cidades operam segregação social

Marcela Montalvão Teti

O presente texto é parte integrante da pesquisa de Doutorado, realizada entre os anos de 2011 e 2012. Apresenta como temática da discussão a relação entre a produção de jogos internacionais, tais como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpí-adas de 2016, e as modificações urbanas na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. A pesquisa de doutora-do se desenvolve, principalmente, a partir de dois campos, um bibliográfico e outro de perspectiva etnográfica. No campo dos estudos bibliográficos, contemplado especificamente por esse texto, o trabalho busca por meio de um estudo dos proje-tos de urbanização analisar os desenhos paisagís-tico-geográficos em vigor nas cidades da Europa e da América Latina, a fim de entender o modelo de urbanização que perpassa os diferentes lugares. O interesse também dessa abordagem é o de obser-var as principais mudanças que ocorreram nos dois últimos séculos, em algumas cidades dessas regiões, além de procurar entender por meio do estudo de Políticas Públicas quais os interesses que movem algumas dessas modificações urba-nas. Os resultados parciais das leituras e análises

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evidenciam alguns modelos preponderantes. Eles inclusive refletem a forma como as cidades brasi-leiras, e em questão a cidade do Rio de Janeiro, foram urbanizadas. É possível percebe quatro mo-delos em vigor no decorrer dos últimos dois sécu-los. O primeiro deles é o modelo de urbanização produzido no final do século XIX. Dentre outros focos, privilegia a construção de indústrias próxi-mas às regiões portuárias. O intuito dessa forma de organização é o de facilitar a importação e ex-portação de mercadorias e pessoas, na medida em que as construções e local de trabalho ficam pró-ximos aos locais de embarque e desembarque. Nesse período, as moradias dos trabalhadores são também próximas das indústrias e dos portos. No início e primeiras décadas do século XX, o que se percebe é uma mudança da configuração urbana. Há a construção de grandes vias de transporte. Estas são largas, grandes em comprimento e, em geral, conduzem os habitantes da região central da cidade até lugares mais distantes. Muitas vezes essas vias de acesso chegam a cortar toda a cidade de um lado a outro. É nesse período que grandes avenidas como a Central, no Rio de Janeiro, de-pois chamada de Rio Branco, assim como a Ave-nida 9 de julho e Avenida de Mayo, em Buenos Aires, são construídas. Posteriormente, mas ainda seguindo o mesmo modelo, a Avenida Presidente Vargas, também no Rio, é construída. Nesse mo-mento histórico, importava a construção de vias que conduzissem a classe burguesa das cidades para locais distantes do trabalho. Com a proletari-zação das regiões próximas às indústrias, a bur-guesia precisou de vias de acesso rápido, distante do trabalho, mas que a reconduzisse a ele assim que precisasse. O resultado disso é que as regiões portuárias, antes bastante valorizadas, tornam-se ambiente em que circula, principalmente, uma classe média-baixa. O terceiro modelo que se evi-dencia é o de construção de grandes viadutos. A partir da década de 1950, as grandes vias de aces-so ao deslocamento não são mais suficientes. Os antigos caminhos ficam congestionados e a forma de elevar rapidez dos fluxos é construindo outras vias que passem por cima do congestionamento. O resultado são cidades com paisagens dotadas de minhocões e caminhos suspensos. O último mode-lo é o que passa a acontecer nos últimos 30 anos, o da construção dos espaços livres, estimulado especialmente pelo discurso que perpassa a pro-dução dos jogos internacionais nas cidades-sede. Os discursos que permeiam as atuais construções urbanas levantam a necessidade de produção de

espaços abertos, com mais verde, a produção de ciclovias e, acima de tudo, um maior descongesti-onamento dos fluxos, seja de pessoas ou de obje-tos. Com o argumento de melhoria da mobilidade urbana, seja para a população residente ou para o fluxo de turistas, as cidades vêm modificando a paisagem, cada vez mais direcionadas à produção de espaços públicos. Nessa ocasião, tudo aquilo que aparece como obstáculo à beleza da paisagem e como impedimento da livre circulação, inclusive do ar, é destruído. Não é a toa que recentemente, os grandes viadutos, necessários antigamente, perdem sua total utilidade no século XXI. Como consequência da fase atual, a população classe-média baixa, que por muito tempo habitou regiões centrais, é removida do ambiente agora projetado para livre circulação. O que chama a atenção, no entanto, é que a defesa de uma maior mobilidade, presente nos discursos de Políticas Públicas urba-nas atuais, não são novos. As modificações reali-zadas nos últimos séculos mostram que a mobili-dade sempre foi o foco, o argumento para mudan-ças que acompanham as passagens de modelos econômicos de produção e da organização social. Colocando para a reflexão que, talvez, o discurso de uma maior mobilidade urbana, apesar da pro-dução dos jogos internacionais, em boa parte in-clui uma política de limpeza e segregação social.

Da exceção ao desejo: sobre remoções e vidas que recusam ser despidas

Livia Fortuna do Valle

No âmbito das favelas cariocas vê-se uma dimen-são do “estado de exceção” que vigora no atual contexto de transformações urbanas provocadas pelos megaeventos. O programa “Morar Carioca” no Morro da Providência prevê para a sua realiza-ção a remoção de 832 famílias. Moradores desde então não têm tido os encaminhamentos necessá-rios, não sabendo como vão existir. A maioria não quer ser realocada, pois, dentre muitas justificati-vas, construiu toda sua história e vínculos neste lugar. Sem nenhum processo participativo junto aos cidadãos, o poder público não oferece infor-mações, ignora leis enquanto cria decretos e me-didas provisórias para legitimar suas violações, em diferentes lugares. Casas são marcadas com números e siglas em tinta spray, tornando iminen-te o risco da remoção, despindo a vida: “vocês

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precisam entender que para haver progresso, vo-cês têm que sair”, como nos tempos do discurso civilizatório das reformas do prefeito Pereira Pas-sos. Viu-se que a política urbana do Rio de Janei-ro do início do século XX baseou-se também em remoções dos pobres, pois estes ameaçavam o desejado projeto de cidade europeia, o que acarre-tou em uma “limpeza social” como caminho para a modernização da mesma. Contudo, há uma im-portante diferença entre as estratégias biopolíticas das remoções daquela época e da que nos é pre-sente: a definição técnica da “área de risco”. Após a tragédia natural ocorrida no Morro do Bumba, em Abril de 2010; o poder público produziu em decreto o conceito da “área de risco” para justifi-car legalmente remoções forçadas. O discurso da área de risco dá visibilidade a uma sofisticação no antigo discurso científico do início do século XX; pois se os pobres e os cortiços eram antes um “risco” para um Outro (no sentido epidêmico as-sim propagado e respaldado no movimento higie-nista), hoje estes que residem nas favelas são um risco para eles mesmos, e morar nestas passa a ser um risco determinado politicamente por novos técnicos: ser o que eles são e estar onde estão é arriscado - corre o risco de ser apagado. A partir disso, vê-se que as determinações de área de risco nas favelas vêm ocorrendo de forma arbitrária e conveniente para os grandes projetos de moderni-zação. Arbitrariedades como estas revelam a vul-nerabilidade da vida nua nesse contexto dos me-gaeventos. O que acontece pela cidade hoje é a produção de sujeitos-risco, como também ocorre com os recolhimentos compulsórios aqui e acolá: você é um risco do crack ou é uma área de risco. Práticas que despotencializam existências e remo-vem, produzindo muitas microfísicas contraditó-rias dentro de um discurso de preservação da vida, de políticas ditas “em nome da proteção”. Nesta nova limpeza urbana, vidas esquecidas estão sen-do removidas, não merecem fazer parte (de novo) desta cidade. Tentam apagá-las, mas elas resisti-ram. As comunidades pobres são indesejáveis por ainda representarem o problema daquilo que es-capa, daquilo que conseguiu permanecer e inven-tar o seu lugar, resistindo. Nesse processo de capi-talização da cidade, em que novas políticas de controle sobre o corpo social vem atuar, como as UPP, pode-se problematizar como, em diferentes momentos da história, quando o país precisou se modernizar, ele precisou ser repressivo. Toda vez que houve destaque em alguma política de contro-le foi para transformar a cidade em uma cidade

mais capitalista: o que está acontecendo com as favelas no geral é a sua transformação em produ-to. Pois quem não for capaz de consumir ou ven-der, é descartável, removível, e o espaço político que restar se destina aos grandes projetos dos em-presários, que estão ocupando as favelas. Muitos serviços estão entrando nas favelas desde então, mascarados por um discurso de integração da fa-vela a cidade. Mas é óbvio que estão integrando a favela: estão integrando a favela a lógica do con-sumo que o resto da cidade já estava vivendo. E mais, transformando a favela em produto-vitrine; em local de turismo, com diversas obras de embe-lezamento, mas não interessadas em melhoramen-tos ou em construção de equipamentos públicos; com projetos de condomínios residenciais caros e hoteis com vistas lindas do morro; ou ainda de edifícios comerciais, levando concorrência aos comércios locais; e mais a especulação imobiliária que também entra no pacote. A favela pode ser um negócio bem rentável. Este processo de exa-cerbação do estado capitalista aliado ao esvazia-mento da discussão política passa pela questão da resistência, pois existem os movimentos revoluci-onários que, segundo Deleuze (2010), consistem em maneiras de ocupar, preencher ou inventar novos espaços-tempos, tensionando relações de poder, e forjando um novo processo de discussão. As próprias existências das favelas, a criação das suas formas de vida até este momento, em que se encontram ameaçadas e se organizam, para que suas histórias não sejam matáveis - e que novas sejam reivindicadas - são devires que rompem com o lugar que determinam para sua existência na medida em que esta também se recusa ser des-pida. Muitas iniciativas de moradores em diferen-tes comunidades ameaçadas de despejo podem ser cartografadas e colocadas como acontecimentos de resistência. E reconhecendo que chegamos a esse ponto, precisamos criar cotidianamente dis-positivos que potencializem a construção de saí-das que afirmem a vida e seu direito. Temos que fazer essa discussão ser uma construção na prática do direito de viver nessa cidade, apoiando movi-mentos que existem, e apoiando a produção das singularidades resistentes, ultrapassando na práti-ca a idéia inicial e reducionista dos direitos como uma coisa distante, que só pode ser praticada ou pensada dentro de uma esfera moral ou jurídica-institucional, como se esses direitos não fossem reinventados todos os dias pelos sujeitos. Este trabalho surge a partir da experiência no Programa de Gestão Social em territórios pacificados, da

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Secretaria Estadual de Assistência Social e Direi-tos Humanos, desde Abril de 2011, no Morro da Providência. Esta pesquisa-intervenção, compro-metida com a transformação da realidade, só pos-sível a partir do desejo, tem a necessidade de “fa-zer a leitura do social desde o desejo, fazer a pas-sagem do desejo ao político. É assim que se faz interessante para este trabalho a possibilidade de potencializar as estratégias de formação do desejo no campo social. Somente implicados com este “direito ao desejo”, a aposta deleuziana frente à construção histórica; é que se traçam microfísicas do possível, iniciando-se assim uma nova discus-são sobre esta temática da cidade, e sobre a atua-ção daqueles que trabalham na sua interface. Afi-nal, qual o nosso papel quando nos chamam para ocupar certos lugares dentro deste ordenamento violento chamado de cidade olímpica? Precisamos pensar sobre isso, sobre o que os projetos políticos estão exigindo de nós, psicólogos e demais profis-sionais, e para que.

SESSÃO 7

Localização: IP/UFRJ, sala 10

Horário: 08h00 – 10h00

Monitor: Alexandre Trzan-Ávila

Política Pública de Saúde no Brasil: análise qualitativa das diretrizes da Política Nacional de Promoção da Saúde

Mariama Augusto Furtado

Ana Maria Szapiro

A Promoção da Saúde surge no Canadá, Estados Unidos e países da Europa Ocidental e se propaga de forma mais vigorosa nos últimos trinta anos. Partindo de um conceito amplo de saúde, tal polí-tica busca formular ações sociais e econômicas que operem na redução dos riscos de adoecer. O campo da Promoção da Saúde contribuiu para o debate sobre as práticas em saúde, propondo a ampliação do conceito de saúde que pretende es-capar ao modelo hegemônico hospitalocêntrico. A importância das ações integradas, das interven-ções nos determinantes sociais do processo de adoecimento, assim como das críticas ao modelo biomédico abrem questões novas que cabem se-

rem analisadas. Temos como objetivo analisar a noção de autonomia presente no discurso da Polí-tica Brasileira de Promoção da Saúde, buscando refletir sobre os efeitos e dilemas resultantes da ênfase na responsabilidade individual no cuidado com a saúde e gestão dos riscos. Partimos da hi-pótese que o discurso promocional através da ên-fase na autonomia e na responsabilidade individu-al no cuidado com a saúde tem contribuído para consolidar as políticas liberais no setor saúde. A investigação presente se constitui como um es-tudo bibliográfico. Realizamos ainda uma análise qualitativa do documento oficial brasileiro da po-lítica de promoção da saúde (2005). Destacamos três eixos de análise: responsabilização individual; ênfase na escolha individual e nos hábitos de vida; processos de subjetivação. Por fim, outros docu-mentos foram tomados como referência, tais co-mo: Carta de Ottawa; Carta de Bogotá; Relatório Lalonde; Relatório sobre o desenvolvimento mundial 1993: investindo em Saúde (Banco Mun-dial); A Organização, Prestação e Financiamento da Saúde no Brasil: uma agenda para os anos 90 (Banco Mundial). A justificativa para a busca na literatura de um embasamento que fundamente essa análise está na relevância da temática tratada para a formulação de um modelo de Promoção da Saúde que possa contribuir com a instituição de novos olhares sobre o processo de adoecimento e seus determinantes, sendo capaz de romper com a hegemonia do modelo biomédico sem com isso deslizar para uma perspectiva que focaliza no in-divíduo a responsabilidade pelo cuidado de sua saúde e que parte de uma visão que idealiza as possibilidades individuais de escolha. Considera-mos fundamental refletir sobre como são formu-lados os modelos de atenção à saúde, a que rela-ções de poder eles estão a serviço, e sobretudo quais são os processos de produção discursiva que permitem a enunciação de um determinado mode-lo. A nosso ver, a noção de autonomia presente neste discurso reflete importantes transformações contemporâneas no que diz respeito à ideia de liberdade e de autonomia, e deste modo promove alguns efeitos no campo da saúde, sobre os quais pretendemos nos debruçar neste trabalho. Os re-sultados dessa tendência contribuíram para a transformação das concepções modernas de indi-vidualidade, autonomia, sociabilidade e suas for-mas de regulação. Daí a pertinência de buscar es-clarecer a natureza da individualidade em sua fase pós-moderna e, especificamente, como as práticas de saúde participam desta construção. Assim,

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quando o discurso da promoção especifica certos estilos de vida como fatores que determinariam o estado de saúde ou doença, o cuidado com a saúde passa a ser responsabilidade do próprio indivíduo, cabendo a ele adotar comportamentos e hábitos que promovam sua saúde. De certa maneira, in-troduz-se aí um deslocamento do papel dos servi-ços de saúde e, portanto, do Estado como prove-dor de políticas públicas de cuidado com a saúde da população; o que parece estar em consonância com as políticas liberais que defendem a diminui-ção da intervenção do Estado na sociedade. Não parece por acaso que a conformação do discurso da Nova Saúde Pública, enfatizando a responsabi-lidade individual e os hábitos de vida, tenha sur-gido no contexto das sociedades capitalistas neo-liberais da última década do século XX. Embora incorporando uma extensão de inovações ao cam-po da saúde, observamos que o discurso da Pro-moção, de certo modo, atém-se à superfície de alguns dos fenômenos que determinam o campo da saúde, sem aprofundar certos aspectos da rela-ção entre o cuidado individual com a saúde e as condições socioeconômicas vigentes. Pretende-mos, portanto, contribuir para o debate sobre o contexto contemporâneo das políticas públicas de saúde no Brasil, de modo a trazer para a cena tais reflexões. O cuidado autônomo com a saúde é um ponto importante na discussão sobre as práticas “iatrogênicas” que desconsideram o saber e a au-tonomia dos sujeitos, muito embora paradoxal-mente, em termos de política pública de Estado, precise ser pensado levando em consideração a tensão extremamente sensível que marca a com-plexa relação entre a responsabilidade individual e o âmbito da coletividade no contexto das práticas contemporâneas de saúde. Por fim, neste trabalho procura-se adotar uma postura de estranhamento diante dos padrões conceituais e das práticas em saúde que se mostram hoje excessivamente natu-ralizadas. Assim, tomamos a promoção da saúde como uma prática que precisa ser revisitada e seus conceitos constantemente problematizados de modo a provocar mudanças na maneira como pen-samos em “promover saúde”. A questão que sub-jaz ao objetivo desta investigação poderia ser ori-entada em direção a uma indagação maior: que sujeitos e que subjetividades estão se produzindo através do atual discurso da promoção da saúde?

Avós de Copacabana

Fátima Maria Azeredo Melca

Leila Sanches de Almeida

O aumento dos anos vividos pelas pessoas e a in-serção da mulher no mercado de trabalho defla-graram uma questão importante no nosso século: muitas vezes é necessário o compartilhamento da educação e dos cuidados infantis dos filhos. Ape-sar das mudanças sociais e culturais, tais como, a mulher ter tido acesso à educação e ter conquista-do seu espaço no mercado produtivo, permanece, sem grandes alterações, o olhar de que é a mãe quem tem que cuidar de seus filhos. Muitas vezes, a mãe busca solução alternativa em sua própria família. Na maioria das vezes, a solução encon-trada é a avó compartilhar com filhas e noras a criação dos netos. Tendo em vista essas conside-rações, este estudo, fundamentado na Rede de Significações, tem como objetivo compreender, através dos discursos de mulheres idosas, a partir de 60 anos, residentes em Copacabana, os modos de serem avós cuidadoras. O foco é como se constituem através desta prática e como signifi-cam os efeitos produzidos em si e em sua vida por estarem compartilhando o cuidado do neto. Parti-ciparam do estudo 13 avós. Todas tinham netos com idade entre zero a seis anos, compartilhavam de seus cuidados e educação, moravam no bairro de Copacabana, no Rio Janeiro e pertenciam a classe média. Foi realizada uma entrevista semies-truturadas com as participantes que tinha como eixos: envelhecimento, família e cuidados infan-tis. As primeiras análises realizadas revelaram que as avós cuidadoras tinham até 72 anos de idade, formação superior com exceção de uma e eram aposentadas. Seu tempo de residência em Copa-cabana era entre 25 a 60 anos. As avós respondi-am pelos cuidados de 19 netos. Seis avós cuida-vam de dois netos e sete de um neto. Duas das avós cuidavam dos netos das noras. As idades dos netos variavam entre quatro meses e cinco anos e cinco eram do gênero masculino. Em relação ao local de cuidados, nove iam para a casa das avós, sete ficavam em suas casas e três moravam juntos com as avós. Foi observado que 10 avós inter-romperam suas atividades diariamente para cuidar em tempo integral dos netos, duas avós cuidavam em tempo parcial e uma cuidava, diariamente, nos horários que lhe era possível. As mães demanda-vam das avós cuidados com alimentação, higiene,

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lazer e algumas os deslocamentos para institui-ções de educação infantil. Quanto à decisão de compartilhar os cuidados, dez avós revelaram que isso já era o esperado e que sempre foi assim na família. Duas, falaram que ocorreu por necessida-des das filhas não relacionadas ao trabalho e uma ressaltou que ajudava, mas sem ter obrigação. A questão do envelhecimento foi abordada e, apesar da variedade de respostas, prevaleceu que essas avós não se fixavam em idade cronológica, prefe-rindo ressaltar sua qualidade de vida. A longevi-dade trouxe a verticalização da organização fami-liar, constatada na seleção das participantes, quando aos cinquenta anos já eram avós e aos 67 bisavós. Vimos, ainda, que a mãe foi a mais indi-cada para cuidar dos filhos. Mas, quando a mãe trabalhava, ficava unanime que a família, mais especificamente, a avó deveria ser a pessoa que compartilharia dos cuidados. Há bastante restrição à creche e as babás. A creche por ser ambiente propício às doenças infantis e as babás por, nem sempre, serem confiáveis. As avós se posiciona-ram como imensamente feliz por cuidarem dos netos. Nas falas, pareciam ressignificar o modo como desempenharam suas atividades como mães. Algumas relataram cansaço físico, mas na-da extenuante. Percebemos no discurso de uma das avós que, apesar do grande amor em cuidar das netas, sentia-se triste pelo seu compartilha-mento não ser reconhecido pela filha. As avós disseram contar com apoio de avôs, bisavôs, tata-ravós, babás, empregadas e instituição de educa-ção infantil para cuidar dos netos. Os avôs surgi-ram como coadjuvantes das avós, como aquela pessoa que entretém as crianças, que leva para passear. Chama atenção, a unanimidade das avós em apoiar o trabalho das mulheres da família. Na historia contextual familiar percebemos um pa-drão repetitivo. Essas avós foram ajudadas por suas famílias para criarem seus filhos, e agora ca-be a elas retribuírem. Algumas avós, também cui-davam dos pais idosos. A questão da proximidade entre residências das avós e netos pareceu ser as-pecto que facilitou para as avós assumirem as identidades de cuidadoras secundárias dos netos. A troca entre gerações apareceu nas falas como importante tanto para as crianças, quanto para os idosos. Segundo algumas participantes, o momen-to da entrevista ressignificou o olhar que elas ti-nham de serem avós cuidadoras. É importante que políticas públicas voltadas para a família e cuida-dos infantis considerem formas de dar apoio e suporte aos idosos que compartilham da criação

de seus netos, para que suas filhas e noras possam conciliar trabalho e maternidade e assim, contri-buírem com a renda familiar.

Da Copa as Olimpíadas: a produção de vidas descartáveis no Rio de Janeiro

José Rodrigues de Alvarenga Filho

A partir de nossa pesquisa de doutorado, preten-demos em nossa apresentação colocar em análise a fabricação do Rio de Janeiro enquanto “cidade olímpica”. Os acontecimentos megaeventos espor-tivos (Copa do Mundo de Futebol, 2014; Olimpí-adas, 2016) intensificam a criação de uma série de políticas públicas voltadas para a chamada “pre-paração carioca” para tais evento. Ao mesmo tempo, tais práticas intensificam processos como a criminalização da pobreza, o estado de exceção e a produção de vidas descartáveis, isto é, vidas humanas refugadas. Mais do que simplesmente eventos esportivos de caráter ecumênicos, trata-se de um negócio que envolve bilhões e que traz a cidade/país sede dos mesmos a entrada de grande volume de capital financeiro internacional. Além, é claro, do fluxo de entrada de turistas, jornalistas, chefes de Estados etc. Ou seja, o Rio de Janeiro se tornará uma espécie de vitrine para o investimento do capital internacional. Neste sentido, o que está em jogo não são apenas o esporte e as maneiras pelas quais megaeventos podem potencializar a construção de uma cidade menos excludente e desigual. O que importa, em demasia, é o negócio e o lucro que ele pode gerar para um pequeno grupo. Por outro lado, os megaeventos servem, também, como acontecimentos que tornam possí-veis a instauração/intensificação de verdadeiros estados de exceção. Por exemplo, grandes obras são feitas sem licitação; “a FIFA não paga impos-to, os hotéis pra Copa e Olimpíadas não vão pagar IPTU, todas as regras do direito de construir, do uso do solo, inclusive em termos fiscais, todas as regras são suspensas”. Além disso, um exemplo recente de tal processo aconteceu na última Copa do Mundo de futebol realizada na África do Sul. Na ocasião, centenas de famílias pobres foram criminalizadas, “os pobres foram tirados das ruas, os vendedores ambulantes foram tirados das ruas, para não poluírem a paisagem”. Como podemos perceber, a festa das olimpíadas não é para o po-bres: “claro que os pobres não fazem parte da ma-

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quiagem que será colocada na cidade para diluir suas desigualdades gritantes, seus espaços de ex-clusão e violência. Os pobres são, antes, aquilo que a maquiagem precisa esconder dos olhos, dos ouvidos, dos narizes dos turistas, da mídia inter-nacional, dos chefes de Estado etc. Neste Rio de Janeiro de 'az de conta', no melhor estilo Shop-ping Center e Zona Sul, a pobreza e os pobres são o 'lixo' que precisa ser removido ou exterminado”. Por causa dos preparativos para a Copa e Olimpí-adas no Rio, centenas de moradores de comunida-des pobres correm o risco de serem despejados da noite para o dia de suas casas. Ou melhor, tal pro-cesso já está acontecendo. Um exemplo marcante de tentativa de remoção de comunidade refere-se a Vila Autódromo. Trata-se de uma comunidade que há 30 anos está localizada na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Ela é composta, principalmente, de pescadores e suas famílias. Pelo menos desde o início da década de 1990, prefeituras e governos cariocas tentam expulsar os moradores da comu-nidade. Estes tem se organizado e conseguido re-sistir à remoção. No entanto, a Prefeitura do Rio já anunciou projeto de remover a comunidade pa-ra a construção de um “anel viário” na região. Em 1993, Eduardo Paes era subprefeito da Barra da Tijuca e chegou a afirmar que a Vila Autódromo causava “dano estético” à paisagem. Um dos pla-nos de trabalho da prefeitura carioca e do governo fluminense é a remoção das comunidades peque-nas, porém numerosas, bem como, a instalação de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) nas gran-des comunidades. Para a realização da primeira estratégia é simples: basta, por exemplo, construir um projeto de via expressa que passe por cima de onde hoje existem comunidades. O que justifica a remoção é a construção de uma “importante obra” para a Copa e Olimpíada. No caso das UPP, as grandes comunidades não podem, com tanta faci-lidade, serem removidas. Então, em nome do su-posto combate a violência criminal nos morros, se instala o dispositivo UPP. Assim sendo, remoção de comunidades e instalação de UPP andam de mãos dadas pelo palco do Rio de Janeiro. Como afirma Marques, “estão previstas remoções de 130 favelas até as Olimpíadas. Para a construção de 3 grandes vias rodoviárias (Transcarioca, Transoes-te e Transolímpica) serão necessários milhares de despejos e remoções”. Segundo Raquel Rolink, “como relatora do direito a moradia adequada, o que eu tenho recebido mais são denúncias de des-pejos e ameaças de despejo, principalmente de comunidades de baixa renda, de assentamentos

precários, em função de obras de infraestrutura ou estádios, ou estacionamentos de estádios, coisas ligadas aos equipamentos da Copa do Mundo em várias cidades do Brasil. Não é apenas no Rio de Janeiro, mas Belo Horizonte já estão acontecendo despejos e a gente recebeu também notícias de Fortaleza nesse sentido”. O que seria cômico, se não fosse tão trágico é ouvir os discursos oficiais do governo, bem como, da grande mídia afirman-do que enquanto as remoções possibilitam a cons-trução de uma cidade mais bonita e eficaz, “revi-talizando” certas áreas, as UPP trazem paz as fa-velas e aos morros cariocas. Comunidades que já existem há mais de 30, 40 ou 50 anos estão sendo expulsas de seus lugares. Seus moradores ganham uma indenização irrisória – quando ganham. Onde há beleza nisso? A dita “pacificação” - ou seria um apaziguamento? - das UPP se traduz num no-vo tipo de controle sobre os moradores de favelas. Não negamos que as UPPS trouxeram benefícios as comunidades, como: a diminuição do número de pessoas mortas por armas de fogo. Segundo Ribeiro, “Quem não quer paz? Porém, como canta o Rappa, a paz, quando confundida com o apazi-guamento ou mansidão do outro, tem efetivamen-te limites: 'A minha alma está armada e apontada para a cara do sossego. Pois paz sem voz. Paz sem voz. Não é paz. É medo'”.Como vimos em nossa pesquisa de mestrado, a realização dos jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro em 2007 foi o mote a partir do qual se tornou viável a intensificação de um estado de exceção sobre os moradores de comunidades pobres. Através de uma junção entre a realização dos jogos Pan, o racismo de Estado, a produção de vida nua e o estado de exceção tor-nou-se possível matar em nome da suposta segu-rança da cidade e dos turistas e atletas que viriam ao Rio participar do megaevento esportivo. E o povo aplaudiu a matança. E o Rio tornou-se uma cidade supostamente “segura”. Compreendemos que o atual contexto do Rio de Janeiro, ante a rea-lização de dois megaeventos esportivos, é de apreensão no que concerne a potencialização dos processos de criminalização da pobreza e de ex-termínio e repressão aos pobres e a suas estraté-gias de sobrevivência. É o momento em que tor-nar-se urgente acompanharmos o processo de pre-paração da cidade para os eventos e produzir in-tervenções no sentido de colocarmos em análise as forças que atuam no contexto carioca, bem co-mo, produzirmos e darmos visibilidade aos dis-cursos que questionam toda esta lógica de trans-formação da cidade num balcão de negócios e

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violação de direitos. Por este viés, almejamos em nossa apresentação colocar questões e potenciali-zar o debate sobre as políticas públicas destinadas a “preparar” o Rio de Janeiro para os megaeven-tos esportivos. Sobretudo, analisar o quanto tais políticas estão a serviço do capital financeiro glo-balizado e trazem como alguns de seus efeitos a intensificação do atual estado de exceção, a cri-minalização dos pobres a fabricação de vidas hu-manas refugadas.

As transformações da paternidade na socieda-de contemporânea

Bernardo Antônio A. P. de Souza

Neste trabalho, propomos investigar como as transformações das identidades masculinas influ-enciam no surgimento de novas formas de pater-nidade. Em vista disso, também buscamos uma maior compreensão das maneiras pelas quais estas novas paternidades operam nas famílias atuais, modificando sua constituição e as relações entre seus membros. O conceito de família vem passan-do por diversas reformulações na contemporanei-dade. O modelo nuclear anteriormente dominante – a tríade pai, mãe e filhos – não é mais o arranjo predominante das conformações familiares. Estas transformações estão relacionadas às mudanças sociais, culturais e econômicas que ocorrem desde a modernidade, tais como os processos de indus-trialização, a entrada da mulher no mercado de trabalho, as mudanças nas relações de gênero e o aumento do número de separações, divórcios e adoções. Neste contexto, os papéis parentais pas-sam a ganhar novos significados, extrapolando os sentidos e funções que anteriormente definiam o que era ser pai ou mãe. Todas estas mudanças so-ciais e demográficas que mencionamos acima cri-aram novas mentalidades no que diz respeito à família e ao casamento. Estas novas formas de pensar, por sua vez, geraram uma revolução nos valores, nas normas sociais e nos papéis sexuais. Porém, é importante ressaltar, que junto às novas concepções, permanecem as antigas de modo coe-xistente. Na organização familiar tradicional, isto é, a que emerge na época moderna, o pai é consi-derado o chefe e responsável pelo seu sustento financeiro, cabendo à mãe as atividades de cuida-dos domésticos e com os filhos. Desta forma, houve um grande impacto na constituição moder-

na da identidade masculina, bem como no exercí-cio da função de pai. Nos últimos anos, os estudos sobre a constituição da identidade masculina – isto é, sobre a noção que o homem tem de si mesmo – têm apontado para uma crise da mascu-linidade do homem moderno. São poucos os estu-dos que enfocam a temática da paternidade e da participação masculina no cuidado com os filhos. Nesse sentido, destaca-se a importância do papel da cultura na concepção dos conceitos de paterni-dade contemporâneos. A paternidade deve ser compreendida numa dimensão ampla, que abranja o conjunto de ideias e valores que determinam o que é ser pai num determinado contexto sócio-histórico. Os modelos culturais mostram o que será esperado de alguém que se torne pai. O ho-mem moderno tem dificuldades para separar sua individualidade das funções de pai. Acabou por ficar de fora de uma relação mais intensa com a família: há ausência de diálogo, principalmente com os filhos. A cultura contribuiu para que esta situação se estabelecesse, mantendo o homem em uma posição hierárquica superior aos demais membros da família e designando-o como o pro-vedor financeiro da mesma. As novas configura-ções familiares criam um espaço para uma mani-festação diferenciada da paternidade. As mudan-ças sociais têm impacto em termos de renegociar o significado da paternidade. Dentro deste contex-to propõe-se o conceito de “novo pai”, segundo o qual a paternidade é considerada uma oportunida-de para expressar sentimentos, participando ati-vamente no cuidado dos filhos, e tendo relação igualitária e fluida com a parceira, o que se ex-pressa na divisão de tarefas. Os estudos de gênero, que começaram após as conquistas feministas, permitiram que se começasse a estudar melhor o homem e a identidade masculina. A partir daí se pensa em “masculinidades” diferentes, com um “novo homem” que admite sua fraqueza e fragili-dade. De certa forma, a sensibilidade, antes só feminina, passa a fazer parte da subjetividade masculina. A partir do estudo do tema da paterni-dade é possível adquirir uma maior compreensão das relações familiares e das condições de desen-volvimento infantil, que são fundamentais para a implementação de políticas públicas de apoio e suporte à família. A pluralidade de temas associa-dos à paternidade demonstra a complexidade de situações que determinam e facilitam o envolvi-mento dos homens com seus filhos. Diversos es-tudos foram unânimes em afirmar a importância do envolvimento e participação masculina nos

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cuidados infantis. Outro aspecto relevante que merece ser levado em consideração, é que uma maior compreensão da paternidade pode favorecer a proposta de ações, tanto individuais quanto no

âmbito da sociedade em geral, que favoreçam o incentivo, a participação e o reconhecimento da paternidade.

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ÍNDICE DE AUTORESA Adriana Carrijo, 2 Alexandre Trzan, 2, 5, 20, 36 Alice De Marchi Pereira de Souza, 19 Ana Cabral Rodrigues, 18 Ana Clara Leitão de Castilho, 26 Ana Maria Jacó-Vilela, 21, 32 Ana Maria Szapiro, 24, 36 Ana Paula Moniz Freire, 8 Angela Arruda, 6, 10 

B Bárbara Albuquerque Pereira, 21, 32 Bernardo Antônio A. P. de Souza, 40 

C Caio de Melo e Silva, 25 Camila Miranda de Amorim Resende, 24 Cecília Maria Rocha Ribeiro, 24 Claudio Marinho dos Santos Junior, 27 Cristal Oliveira Moniz de Aragão, 6 

D Daniel Santos Alves da Silva, 13, 29 Diana Jenifer Ribeiro de Almeida, 16 

E Edilane Paula, 16 Everaldo Nery de Andrade, 27 

F Fátima Maria Azeredo Melca, 37 Filipe Boechat, 2, 4, 6, 21 Francisco Teixeira Portugal, 2, 4 

H Hellen Dayane dos Santos Marinho, 27 

I Isabel Costa Lima, 19 

J Jorge Antonio Tavares, 2 José Rodrigues, 5, 38 Julia da Silva Xavier, 24 Juliana Gomes Braz Vargas, 24 Julianne Haru Gomes Horita, 24 

L Leila Sanches de Almeida, 37 Livia Fortuna do Valle, 35 Luís Antonio Baptista, 4 Luiz Antonio Simas, 4 

M Marcela Figueiredo, 10 Marcela Montalvão Teti, 2, 14, 23, 34 Marcelo Pedra, 5 Marcelo Santana Ferreira, 14 Maria Cláudia Novaes Messias, 2, 21, 32 Mariama Augusto Furtado, 36 Mariana Alves Gonçalves, 2, 4, 5, 16, 26, 30 Mariane Oselame, 9 Marilene Verthein, 29 Mauro da Silva de Carvalho, 26 Maykon dos Santos Marinho, 27 

N Neuza Guareschi, 5 Nira Kaufman, 2 

P Paula Andréa Prata Ferreira, 13 Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, 5 

R Rafael Barreto de Castro, 7 Renata Nardelli, 14 Rita de Cassia Ramos Louzada, 31 Roberta Brasilino Barbosa, 10 Roberta Maria Federico, 2 Rodrigo da Silva, 9, 28 Ronald Clay dos Santos Ericeira, 2, 4, 12, 24 Ronald Ericeira, 2 Rosa Cristina Monteiro, 5 Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro, 7 Rosa Pedro, 5 

S Saulo Magalhães Resende, 30 Simone Lima Guimarães, 29 

T Teresa Cristina Mafra de Oliveira Alves, 13 

V Vanessa Patricia Monteiro Campos, 12