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Rio Pesquisa 9 2009 - faperj.br · ça. A avaliação é de Patrícia Lustoza de Souza, doutora em Física, pro-fessora e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio

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1 | Rio Pesquisa - nº 9 - Ano III SUMÁRIO

3 | NANOTECNOLOGIAProjeto multidisciplinar do InstitutoNacional de Ciência e Tecnologia deNanodispositivos Semicondutores,sediado em laboratório da PUC-Rio,avalia o uso de dispositivos emescala nanométrica. Estruturas devemabrir novas possibilidades deaplicações tecnológicas nas áreascivil e militar

6 | INCLUSÃO DIGITALPrograma Rio Estado Digital levaInternet gratuita e sem fio à BaixadaFluminense. Primeira fase do projetodeve beneficiar mais de 1,7 milhãode pessoas em São João de Meriti,Duque de Caxias, Belford Roxo, NovaIguaçu, Mesquita e Nilópolis

10 | MEIO AMBIENTEPesquisadores do Museu Nacional/UFRJ e do Jardim Botânico alertampara a necessidade de preservaçãoda alga calcária, única plantamarinha capaz de sobreviver emdiversas regiões, desde zonas entremarés até águas profundas

13 | HISTÓRIAEncartes didáticos que acompanhamexemplares da Revista de História daBiblioteca Nacional auxiliamprofessores a desenvolver atividadesem sala de aula

15 | SAÚDEPesquisa realizada no Programa dePós-graduação em Odontologia daUerj pode contribuir para a queda nonúmero de enfartes associados aperiodontites, que são processosinflamatórios que levam à perdaóssea na região ao redor dos dentes

18 | INFORMÁTICAPara auxiliar estudantes no aprendizadodas Ciências Exatas, pesquisador doCentro Brasileiro de Pesquisas Físicas(CBPF), José Abdalla Helayel-Neto quertransformar site em um �Youtube� daMatemática e da Física

21 | PERFILAlberto Santoro: nascido em Manaus, ofísico percorreu um longo caminho atéchegar ao Rio, onde construiu uma sólidae premiada carreira como cientista

24 | REPORTAGEM DE CAPALaboratório de Controle de Dopagem daUFRJ se prepara para atender àsdemandas da Copa e das Olimpíadas.Mais de 9 mil amostras de atletas devemser analisadas na instituição durante arealização dos Jogos Olímpicos

29 | PRÉ-INICIAÇÃO CIENTÍFICAPrograma Jovens Talentos concede bolsasde pré-iniciação científica a estudantes deensino médio e técnico que trabalham emprojetos desenvolvidos em universidades einstituições de ensino e pesquisa estaduais

34 | ENTREVISTASérgio Cabral: investindo nos processosde inovação em C&T, governador querconstruir pontes entre as universidades, ogoverno e as empresas para gerar renda,empregos e desenvolvimento

38 | ACERVOColeções do Museu de Patologia daFiocruz, coletadas por grandes nomes dahistória da medicina nacional, ganhamversão eletrônica. Site dispõe também deseção com conteúdo didático paraprofessores

41 | MEDICINAHuap/UFF oferece atendimentoespecializado e gratuito para bebês comsíndrome de Down e para suas mães.Serviço propõe acompanhamento duranteo pré e o pós-natal

43 | ARTIGOO secretário estadual de DesenvolvimentoEconômico, Energia, Indústria e Serviços,Julio Bueno, fala sobre a necessidade deinvestir em pesquisas direcionadas àsociedade

46 | ENSINO SUPERIORUezo, na Zona Oeste, terá núcleo decomputação de alto desempenho comoaliado em pesquisas direcionadas aoparque industrial da região

49 | CENOGRAFIALuiz Carlos Ripper, que marcou a cenateatral a partir da década de 1970, temseu acervo catalogado e seu trabalhoganha destaque em curso de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UniRio

52 | ALIMENTAÇÃOEstudo da UFRJ revela que o café contémsubstâncias antioxidantes que podemreduzir o risco do desenvolvimento dedoenças crônico-degenerativas

54 | FAPERJIANASRelatório de Atividades 2007-2008 daFAPERJ acaba de ganhar uma versãoeletrônica em formato PDF, disponibilizadano site da Fundação

56 | EDITORAÇÃOPrograma de Auxílio à Editoração (APQ 3)termina o ano de 2009 com 60 novasobras contempladas

EXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTE

Governo do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGovernador | Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TecnologiaecnologiaecnologiaecnologiaecnologiaSecretário | Alexandre Cardoso

FFFFFundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àPPPPPesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � FAPERJAPERJAPERJAPERJAPERJDiretor Presidente | Ruy Garcia MarquesDiretor Científico | Jerson Lima SilvaDiretor de Tecnologia | Rex Nazaré AlvesDiretor de Administração e Finanças | CláudioFernando Mahler

Rio Pesquisa. Ano III. Número 9

Coordenação editorial e edição | Paul Jürgens

Redação | Danielle Kiffer, Débora Motta, VilmaHomero, Vinicius Zepeda e Rosilene Ricardo(estagiária)

Colaboraram para esta edição | Beatriz CoelhoSilva, Flávia Machado e Juliana Lanzarini

Diagramação e capas| Adrianne Mirabeau eMirian Dias

Mala direta e distribuição | Élcio Novis e VivianeLacerda

Revisão | Ana Bittencourt

Foto da capa| Richard McMillan

Tiragem |15 mil exemplares

Periodicidade |Trimestral

Distribuição gratuita |Proibida a venda

Avenida Erasmo Braga 118/6° andar - CentroRio de Janeiro - RJ - CEP 20020-000Tel.: 2333-2000 | Fax: 2332-6611

[email protected]

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Ano III - nº 9 - Rio Pesquisa | 2EDITORIAL

Um ano que mantém a curva ascen-dente dos recursos repassados aosetor de Ciência, Tecnologia e Ino-vação (C,T&I). Assim poderíamosdefinir o ano de 2009 para a pes-quisa fluminense. Depois de pisarno freio, por cautela, diante do tom-bo ocorrido a partir do segundosemestre de 2008 nas economiasdos países mais desenvolvidos, oBrasil exibiu, no último trimestre,sinais inequívocos de um rea-quecimento, que deve reposicionar

em 2010, o setor produtivo e de consumo nos patamares deexpansão do período pré-crise. No Estado do Rio de Janei-ro, a retomada dos investimentos em setores estratégicos per-mitiu acelerar novamente parte significativa dos principaisprogramas de governo.

No caso da pesquisa fluminense, se no início de 2009 o cli-ma era de apreensão com a possibilidade de comprometi-mento do cronograma de execução financeira previamenteestabelecido para a FAPERJ, ao longo dos meses o que seviu foi uma gradual e efetiva recuperação na atividade defomento à C,T&I no estado.

A notícia surpreendeu até os mais otimistas, já que, comoaponta o Relatório de Atividades de ações do biênio 2007-2008(pág. 54) � uma compilação de 360 páginas que esquadrinhatoda a atividade de fomento à pesquisa nos dois primeirosanos do atual governo estadual �, o montante de recursosrepassados à FAPERJ no referido período alcançou novospatamares após a decisão do governo do estado de assegu-rar o repasse de 2% de sua receita tributária líquida para aFundação. Somado com o investimento realizado pela Fun-dação no ano de 2009, é possível antecipar que, no quadriênio2007-2010, a principal agência de apoio à pesquisa no esta-do poderá chegar a um total de R$ 1,3 bilhão em investi-mentos.

Para ter certeza de que a �torneira� que alimenta de recursosos principais programas destinados a impulsionar a pesquisacientífica e de inovação fluminenses não sofrerá decontingenciamento no ano eleitoral que se aproxima, a Rio

Pesquisa foi ouvir novamente o governador Sérgio Cabral acercada importância para o estado dos investimentos no setor deC,T&I, que analistas apontam como um dos principais moto-res para promover o desenvolvimento social e econômico naseconomias modernas. A entrevista começa à página 34.

Na edição que marca o início do terceiro ano de publicaçãoda revista, os assuntos abordados confirmam � uma vez mais

Depois do susto, uma gradualretomada do fomento à C,T&I

� o dinamismo das instituições de ensino e pesquisa instala-das em território fluminense. A reportagem de capa revelacomo um laboratório instalado dentro da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ) � o Laboratório de Controlede Dopagem, o Labdop � alcançou excelência internacionale já se prepara para responder por todos os exames neces-sários à realização da Copa do Mundo de 2014 e dos JogosOlímpicos e Para-Olímpicos de 2016.

Um programa de pré-iniciação científica que atende 600bolsistas, espalhados por todas as regiões do estado, ganhoudestaque na presente edição. O projeto, que ajuda a desper-tar o gosto pelas ciências entre estudantes, é fruto de umaparceria com a Fundação Centro de Ciências e EducaçãoSuperior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj) einclui a participação de jovens indígenas, surdos e egressosdo sistema penitenciário.

No campo da saúde, pesquisa realizada no Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade do Estado doRio de Janeiro (Uerj) pode ajudar a reduzir o número deenfartes associados a periodontites, processos inflamatóriosna boca que atinge a região ao redor dos dentes.

Entre as demais reportagens, está a que conta como um pes-quisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)vem trabalhando na criação de um site que pretende se trans-formar em uma ferramenta importante para ajudar os estu-dantes no aprendizado da Física e Matemática. Na mesmaárea do conhecimento, um grupo de pesquisadores do Cen-tro Universitário da Zona Oeste (Uezo) está à frente de umnúcleo de computação de alto desempenho, que deve se tor-nar um importante aliado no desenvolvimento do parqueindustrial da região.

Desta vez, a seção �Perfil� resgata a trajetória de vida de umdos mais respeitados físicos brasileiros, Alberto Santoro, umdos responsáveis pela participação do Brasil nos experimen-tos que estão sendo realizados no impressionante Acelera-dor de Partículas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear,situado na fronteira da Suíça com a França.

Tecnologia de ponta também é o assunto de reportagemsobre o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia deNanodispositivos Semicondutores (INCT/Disse), que fun-ciona no Laboratório de Semicondutores (LabSem) da PUC-Rio. Trata-se de pesquisa na área de nanotecnologia, quepromete aplicações tecnológicas inéditas nas áreas civil emilitar. Na área cultural, um cenógrafo que marcou a cenateatral nas décadas de 1970 e 1980, Luiz Carlos Ripper, temseu acervo resgatado e organizado por pesquisadores da Uni-versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Boaleitura e um bom fim de ano a todos!

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3 | Rio Pesquisa - nº 9 - Ano III

A tecnologia do futuroem milionésimos de milímetros

Uso de dispositivos semicondutoresem escala nanométrica abre novocampo para aplicações tecnológicasnas áreas civil e militar

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Ao longo dos próximos anos,o surgimento de novas apli-cações tecnológicas nas áre-

as civil e militar, por meio do usode dispositivos semicondutores emescala nanométrica � representadapor meio de milionésimos de milí-metro �, deverá elevar o interessede cientistas, gestores públicos eagências de fomento pelo tema. Es-ses dispositivos serão usados na pro-dução de equipamentos eletrônicose optoeletrônicos, que tanto utilizameletricidade como luz para proces-sar informações. Em chips de com-putadores, laser e nos leds � diodosemissores de luz, com brilho inten-so, que gastam menos energia e sãomuito utilizados na sinalização deaeroportos, painéis de carros e ilu-minação de ambientes �, eles pro-metem operar uma pequena revo-lução na indústria, com implicaçõesem diversas áreas, como meio am-biente, telecomunicações e seguran-ça. A avaliação é de Patrícia Lustozade Souza, doutora em Física, pro-fessora e pesquisadora da PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Ja-neiro (PUC-Rio).

Coordenadora de um dos 123 proje-tos de pesquisa selecionados, em no-vembro de 2008, pelo programa Ins-

titutos Nacionais de Ciência e Tecnologia

� INCT (pág. 5), Patrícia está à frentedo INCT de NanodispositivosSemicondutores (Disse), sediado noLaboratório de Semicondutores(LabSem) da PUC-Rio, e que contacom a colaboração de três departa-mentos da universidade: Centro deTelecomunicações (Cetuc), Enge-nharia Elétrica e Ciência de Materi-ais. O projeto mobiliza cientistas deoito centros de ensino e pesquisa deRio de Janeiro, São Paulo, MinasGerais, Amazonas e Amapá, forman-do um grupo com cerca de 30 pes-quisadores.

Entre os principais projetos em de-senvolvimento por esse time deexperts estão estudos e aplicações parafotodetectores de infravermelho.�Esses dispositivos são essenciaispara o surgimento de tecnologias res-ponsáveis por visão noturna, teleco-municações no espaço livre, detecçãode gases tóxicos, imageamentoambiental e inspeção industrial, e quepoderiam servir, por exemplo, paradetectar falhas em linhas de transmis-são ou identificar o foco de um in-cêndio a partir da fumaça, auxilian-do na prevenção de possíveis catás-trofes�, explica Patrícia.

Projetos incluemmonóculo paraenxergar no escuro

Nos estudos voltados para o desen-volvimento de dispositivos foto-detectores de infravermelho, o INCTcoordenado por Patrícia conta comalguns projetos que já vinham rece-bendo apoio da FAPERJ. O novoaporte de recursos garantido peloprograma de fomento do ConselhoNacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq), em par-ceria com a FAPERJ, deu novo im-pulso aos estudos sobre esses fenô-menos físicos. �Ao longo do últimoano, conseguimos aprimorar os me-canismos utilizados nessa técnica,tornando-os mais adequados para os

casos de detecções que exijam mai-or seletividade, como, por exemplo,distinguir gases tóxicos diferentes ouobter imagens mais nítidas�, explicaPatrícia. �Com o Centro Tecnológicodo Exército (CTEx), estamos traba-lhando na elaboração de ummonóculo termal que possibilita en-xergar no escuro�, acrescenta.

Outra frente de atuação do institutoliderado pela pesquisadora é o desen-volvimento de estruturas, como laserde polaritons, mais eficientes que asutilizadas na atualidade, e de fontesde fótons únicos. �Esta iniciativapermitirá a utilização de códigos im-possíveis de serem violados. Atual-mente, mesmo os mais complexoscódigos que utilizamos, seja uma se-nha de banco ou aqueles utilizadospor órgãos públicos, são possíveis deviolação. Claro, uns levam mais tem-po, outros, menos�, diz. �Mas se forcodificado num fóton, ele obedeceum princípio da Física Quântica, e,toda vez que for lido, muda de com-portamento. Ou seja, seria uma es-pécie de senha que, toda vez que fos-se decifrada, saberíamos. Isso a tor-naria impossível de ser violada�, en-sina Patrícia.

Em outra iniciativa, o grupo já vemtrabalhando em pesquisa na área decélulas solares � elementos que pro-duzem energia a partir da luz do sol�, formadas por nanoestruturas. O

Vinicius Zepeda

NANOTECNOLOGIA

Patrícia Lustoza de Souza, da PUC-Rio: pesquisadora em Física, ela coordena projeto quemobiliza cerca de 30 cientistas de oito centros de ensino e pesquisa de cinco Estados

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esforço conjunto das administraçõesfederal e estadual para colocar de péo programa dos INCTs, no caso dogrupo coordenado pela pesquisado-ra, garantiu novo impulso aos estu-dos sobre essa área da tecnologia,que deverá alterar, de forma impor-tante, o modo como viveremos nofuturo. A mobilização de pesquisa-dores em diferentes estados � umadas características dos INCTs � con-tribui para somar esforços na pes-quisa. Um exemplo disso é o forne-cimento, pelo Laboratório deSemicondutores da PUC-Rio e pelaUniversidade de São Paulo (USP),do material necessário para a pro-dução de nanodispositivos semi-condutores, utilizado por diversosgrupos no País e no exterior.

Esses materiais, os chamadossemicondutores III-V � por utiliza-rem os elementos da coluna três ecinco da tabela periódica �, são for-mados principalmente por quatrosubstâncias: arseneto de gálio(GaAs), fosfeto de índio (InP),arseneto de alumínio (AlAs) earseneto de índio (InAs). �A produ-ção aqui no Brasil ainda é difícil eexige a utilização de equipamentosde última geração e pesquisadoresaptos para manejá-los, coisa aindarara em nosso país. Com a produçãonos dois laboratórios ligados ao ins-

tituto, esses materiais poderão nãoapenas ser utilizados por nossos pes-quisadores como por outros centrosde pesquisa ou empresas interessadosem desenvolver procedimentos e ar-tefatos tecnológicos que os empre-guem�, afirma a coordenadora.

Nanotecnologia podepromover uma�pequena revolução�

Segundo Patrícia, produtos elabora-dos pela equipe do instituto deverãoestar prontos para circulação nospróximos dois anos. A pesquisadoraespera que isso possibilite a criaçãode empresas em parceria com a uni-versidade. �Cabe a nós destacarmosa possibilidade de assistir, no futuro,a uma pequena revolução industrialcausada pela nanotecnologia. Comopara elaborar produtos é necessáriotambém desenvolver alta tecnologia� o que implica custos elevados eexige especialização �, poderemosassistir ao surgimento de pequenasempresas criadas para atender deter-minados nichos de mercado�, vis-lumbra Patrícia.

A pesquisadora lembra que o Brasilpossui o mais moderno parquetecnológico da América Latina naárea, muito embora os investimen-tos ainda sejam �irrisórios�, quando

comparados aos de grandes potên-cias, como Estados Unidos, Japão eAlemanha. �Como estamos lidandocom tecnologia de ponta, é essencialque o aporte de recursos nesta áreaseja contínuo. Só assim poderemosobter equipamentos mais modernose nos manter competitivos interna-cionalmente�, explica Patrícia.

A formação de profissionaisespecializados na área, acrescenta acoordenadora do INCT-Disse, temsido uma das prioridades da nume-rosa equipe associada ao projeto.�Nossos pesquisadores têm partici-pado de conferências internacionaisespecíficas e em escolas na área denanotecnologia e de sensores. Alémdisso, o instituto está com bolsistasem todos os graus de conhecimen-to, desde iniciação científica até opós-doutorado�, destaca. �Tambémelaboramos o DVD �Ver o invisível�,que fala sobre detecção deinfravermelho. Em linguagem didá-tica, simples e acessível, o materialestá voltado para a divulgação emmuseus, feiras de ciência e escolas doensino médio�, conclui ela.

Criado por meio de uma parceria entre Ministério daCiência e Tecnologia (MCT),

Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico(CNPq), Fundações de Amparo àPesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ),São Paulo (Fapesp), Minas Gerais(Fapemig), Amazonas (Fapeam), Pará(Fapespa) e Santa Catarina (Fapesc),Coordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (Capes/MEC), Ministério da Saúde (MS),

Petrobras e Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social(BNDES), o programa InstitutosNacionais de Ciência e Tecnologia(INCT) destinou, em um único edital,o maior volume de recursos já reuni-dos na história do País para o fomen-to à pesquisa, mais de R$ 600 milhões.No Estado do Rio de Janeiro, foramcontemplados 20 projetos que rece-berão um investimento de R$ 74 mi-lhões ao longo de três anos, sendoR$ 37 milhões oriundos do Tesouro

estadual e o restante do CNPq e doMinistério da Saúde. As instituiçõesforam selecionadas por um comitê in-ternacional de pesquisadores espe-cializados em cada uma das áreas. Osprojetos terão a duração de três anos,podendo chegar a cinco, de acordocom o seu desenvolvimento. OsINCTs têm quatro metas a serem con-templadas: pesquisa, formação de re-cursos humanos, integração com em-presas e transferência de conhecimen-tos para a sociedade.

O que são os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs)

Pesquisadora: Patrícia Lustoza deSouzaInstituição: Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

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Mais um passo foi dado rumoà popularização da Internetbanda larga sem fio e gra-

tuita em todo o Estado do Rio de Ja-neiro. Depois de um período de tes-tes, a primeira fase do programa Rio

Estado Digital nos municípios da Bai-xada Fluminense foi inaugurada nodia 2 de dezembro. Só esta fase devebeneficiar mais de 1,7 milhão de pes-soas, levando o sinal da Internet a to-dos os moradores do município deSão João de Meriti; a 60% da popula-ção de Duque de Caxias e BelfordRoxo; e a 20% das cidades de NovaIguaçu, Mesquita e Nilópolis.

São duas as formas de captar o sinal:uma nas residências, onde é neces-sária a aquisição de antenas, e outranos chamados espaços de mobilida-de, que contam com sistema wi-fi

aberto � a Internet rápida sem fio.No primeiro caso, os moradores pre-cisam instalar uma antena nas suascasas, da mesma maneira que se fazpara captar o sinal da televisão. Sóquem mora a até 60 metros de umaantena de transmissão e usa notebook

está livre de comprar a antena, já quecom esse tipo de computador se con-segue captar o sinal. Fora isso, seránecessário comprar alguns poucos

equipamentos. A antena para captaro sinal deve ser do tipo 24dBi, commastro e suporte de montagem.

Também é necessário comprar umfixador para o mastro da antena, umadaptador USB com saída para ante-na externa e um cabo com conectoresespecíficos para USB e para antenaexterna. O custo total desses equipa-mentos é de até R$ 150. Para esclare-cer a população, um site <www.baixadadigitalrj.com.br> foi criadocom todas as informações sobre oprograma e a localização das torresde transmissão do sinal de Internet.Além disso, a Secretaria de Ciência

Banda larga para todosPrograma Rio Estado Digital avança e leva Internetgratuita e sem fio a municípios da Baixada Fluminense

Na primeira fase do programa, sinalalcançará seis municípios da região e

beneficiará 1,7 milhão de pessoas

INCLUSÃO DIGITAL

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e Tecnologia disponibiliza um ser-viço de telefone: (21) 2332-4085.

Uma equipe de técnicos da Funda-ção de Apoio à Escola Técnica doEstado do Rio de Janeiro (Faetec)está percorrendo as ruas das cidadesda Baixada Fluminense para mostraro passo a passo de como instalar aantena e ligar o computador à redegratuita de Internet. Já nas ruas, serápossível captar o sinal com notebooks

em algumas praças e alguns corredo-res digitais principais, como Praça doPacificador, Avenida PresidenteKennedy, Avenida Brigadeiro Limae Silva e o �calçadão�, em Caxias; enas praças da Matriz e da prefeitura,em São João de Meriti.

O sinal chega à Baixada com uma ve-locidade de 400 Mbps e é emitido porcada antena com 40 Mbps. No entan-to, isso não significa que os morado-res acessarão a Internet nessa veloci-dade, já que vai depender do númerode pessoas conectadas a cada antenaretransmissora. �Neste primeiro mo-mento, cerca de 10% da área de co-bertura do programa pode não rece-ber o sinal gratuito de Internet porcausa das chamadas áreas de sombra,da mesma maneira que ocorre comas transmissões de televisão e a tele-fonia celular. Essas distorções serãocorrigidas com a instalação de novasantenas nos municípios. Por isso, arecomendação é que as pessoas sócomprem os equipamentos para cap-tar o sinal se conseguirem localizar nasproximidades de suas residências umaantena do programa�, ressalta o se-cretário de Estado de Ciência e Tec-nologia, Alexandre Cardoso.

A segunda fase do Baixada Digital vaicomeçar no início de 2010 e benefi-ciará mais 1,3 milhão de moradores,alcançando toda a extensão da Bai-xada. A previsão desta próxima eta-pa é que o sinal gratuito de Internetseja liberado na área até o fim de abril.O projeto, no entanto, é mais ambi-cioso. De responsabilidade técnica da

Técnicos da Faetec percorrem os municípios da Baixada para esclarecer dúvidas sobre o programa

Foto: Alexandre Arruda

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Universidade Federal Fluminense(UFF) e com financiamento daFAPERJ, ele tem como meta cobrir70% do estado em 2010, incluindo azona rural, e torná-lo o primeiro doPaís a oferecer acesso gratuito àInternet com banda larga a todos osseus municípios.

�O programa caminha em três eixosde expansão no interior fluminense:pela região serrana, pelo litoral e pelafronteira com Minas Gerais�, expli-ca o coordenador do Baixada Digital

e professor da UFF, Franklin DiasCoelho, acrescentando que a expan-são deve se estender pelas demais 14regiões do estado, que já conta comum corredor de cidades digitais nochamado Vale do Café, onde estãoPiraí, Rio das Flores e Conservatória.�Nesse corredor, vamos comple-mentar a cobertura.�

Da orla de Copacabanaà Baixada Fluminense

Lançado em julho de 2008, o proje-to Rio Estado Digital começou com ainstalação de 11 pontos de acesso àInternet sem fio de alta velocidadena orla de Copacabana � da Rua Prin-cesa Isabel até a Figueiredo Maga-lhães. De lá para cá, cresceu e já be-neficiou as orlas do Leme, deIpanema e Leblon, o Morro DonaMarta, em Botafogo, e a Cidade deDeus, em Jacarepaguá. No Rio, en-tre outras áreas a serem beneficiadascom a expansão do projeto até 2010,estão 28 bairros nos arredores daAvenida Brasil, além de Cantagalo,Pavão-Pavãozinho e Rocinha.

A mola propulsora da iniciativa, en-tretanto, foi a bem-sucedida experi-ência do Piraí Digital. Em 2004, omunicípio fluminense dedicou R$ 1milhão ao projeto, que tinha o obje-tivo de implantar uma rede wi-fi gra-tuita em toda a cidade, o que repre-sentava 1,4% do orçamento munici-pal. Na época, a Light, maior empre-

sa da cidade, acabava de ser priva-tizada e passava por uma reestru-turação que cortou 1.200 vagas. Adigitalização veio como a respostacerta para o desenvolvimento local.�O Piraí Digital é uma referência paratodo o desenho da arquitetura de re-des do Rio Estado Digital e hoje con-ta com a chancela da Unesco�, assi-nala Franklin, também coordenadortécnico desse projeto.

Para tornar o estado totalmente di-gital, o investimento será de pelo me-nos R$ 40 milhões. Os impactos eco-nômicos, porém, prometem com-pensar esse montante. O projeto vaialavancar a produção econômica doestado em vários segmentos, comoTurismo, Segurança, Educação eComércio. �Será possível que microe pequenos empresários da Baixadae de outros locais do interior do es-tado comprem e vendam os seus pro-dutos pela rede, diminuindo os pre-ços da compra de insumos e da ven-da de produtos�, pondera Franklin,lembrando que outras possibilidadesserão o acesso da população a ban-cos de empregos on-line e serviços degoverno eletrônico.

Para ele, a capilarização da banda lar-ga começa pela Baixada Fluminensepor esta ser uma das áreas mais ca-rentes do estado. �Toda a arquitetu-ra do projeto foi pensada de forma aatender a necessidade de inclusãodigital�, diz o pesquisador, acrescen-tando que a tecnologia empregadaaproveita o backbone de alta velocida-de do governo estadual � da Rede Rio

de Computadores, rede acadêmica finan-ciada pela FAPERJ � e faz acapilarização nos municípios comtecnologias sem fio. �Estamos usan-do microondas no backbone, WiMAXna rede de distribuição com expan-são em rede Mesh�, conclui

Na corrida pela inclusão digital, oEstado do Rio de Janeiro, com osavanços recentes do programa coor-denado pela Secretaria de Estado deCiência e Tecnologia, sai na frentena corrida para ocupar o posto deprimeiro estado brasileiro inteira-mente coberto por banda larga.

Pesquisador: Franklin Dias CelhoInstituição: Universidade FederalFluminense (UFF)

O coordenador do projeto, Franklin Coelho, durante teste para a implementação da rededigital na Baixada Fluminense: na tela do laptop, o vice-governador Luiz Fernando Pezão

Foto: Everton Barsan/PMDC

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Estudo sobre algascalcárias alerta para anecessidade depreservação da únicaplanta marinha capaz desobreviver em diversasregiões, desde zonasentre marés até águasprofundas

Lucros em terra& vidas no fundo do oceano

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As algas calcárias são plantasmarinhas, impregnadas decarbonato de cálcio, presen-

tes em todos os oceanos � desdezonas entre marés, área da costa su-jeita à influência do fluxo e refluxodas marés, até grandes profundida-des, que podem alcançar 280 metros.Esses organismos, ao lado dos co-rais, são os principais responsáveispela construção de recifes naturais.Juntos, formam as maiores constru-ções vivas do planeta, fornecendohabitat para vários seres marinhos.Apesar de ocuparem menos de 1%do fundo dos oceanos, os recifes ebancos de algas calcárias servemcomo lar ou recurso vital para 25% a33% das criaturas do mar.

Vários estudos sobre a viabilidade douso sustentável das algas calcárias �já utilizadas na calagem de solos oucomo suplemento alimentar naturalpara prevenir a falta de cálcio, entreoutras aplicações � surgiram ao lon-go das últimas décadas. Alguns de-les já destacaram o Brasil como o de-tentor do maior depósito de algascalcárias do planeta. Coordenadorada pesquisa Paradigma entre a conserva-

ção e o uso sustentável de bancos de algascalcárias, estudo que contou com oapoio da FAPERJ, a bióloga MárciaFigueiredo Creed preocupa-se, háanos, com a exploração desses recur-sos naturais do litoral brasileiro.

�Pouco sabemos sobre a diversida-de das espécies existentes aqui, e aretirada delas é feita visando apenasao interesse econômico, sem se im-portar com o equilíbrio ambiental�,alerta a pesquisadora do Instituto dePesquisas Jardim Botânico do Rio deJaneiro e docente do Museu Nacio-nal/UFRJ, onde trabalha comoorientadora no Programa de Pós-Graduação em Botânica. Márcia lem-bra que a alga calcária é a única plan-ta marinha que consegue sobreviverem locais tão profundos nos ocea-nos, ocorrendo em bancos desde acosta do Maranhão até o litoral donorte fluminense, podendo ainda serencontrada na Baía da Ilha Grande,na Costa Verde, e na Ilha do Arvore-do, em Santa Catarina.

A pesquisa conta com uma equipede oito pesquisadores, incluindo co-laboradores de Austrália e México,além de estudantes de graduação,mestrado e doutorado do JardimBotânico e do Museu Nacional/

UFRJ. �Constatamos, por meio denossa pesquisa, que o delta do rioParaíba do Sul, no norte fluminense,mais precisamente no município deSão Francisco de Itabapoana, é tãorico em algas calcárias quanto o suldo Espírito Santo, região tradicional-mente conhecida como a que possuia maior reserva dessas algas no País�,afirma a bióloga.

De acordo com Márcia, mestre emBotânica pelo Museu Nacional/UFRJe doutora em Ecologia pela Universi-dade de Liverpool, no Reino Unido,dois exemplos de recifes naturais for-mados por algas calcárias que já con-tam com a proteção ambiental da le-gislação brasileira são o Parque Mari-nho de Abrolhos, no sul da Bahia, e oAtol das Rocas, próximo ao arquipé-lago de Fernando de Noronha. Segun-do ela, o uso do calcário marinhocomo suplemento alimentar contra aosteoporose ainda é pouco difundi-do no País, apesar dos custos relativa-mente baixos de sua produção. �Háuma indústria no sul do Espírito San-to que desenvolve um suplemento,que possui 22,5% das necessidadesdiárias de cálcio, concentração bemmaior que as encontradas em simila-res naturais, e que também contêm

Vinicius Zepeda

A partir da esq., pesquisa de campo em São Francisco de Itabapoana: detalhe de alga calcária; Sulamita Oliveira coleta algas encontradas na praia...

MEIO AMBIENTE

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ômega-3, proveniente da fauna asso-ciada�, explica.

Com relação ao emprego do calcáriodas algas na fertilização de solos, abióloga afirma que já estão compro-vadas as suas vantagens se compara-das àquelas do calcário terrestre � ain-da hoje o mais utilizado na agricultu-ra. �A textura do talo das algas calcáriascria habitat para toda uma fauna depequenas bactérias que não existiri-am no calcário terrestre, e que servempara decompor a matéria orgânica eaumentar a porosidade dos solos�, diz.

Coleta em maresprofundos seria umadas soluções

Para Márcia Creed, enquanto o Ins-tituto Brasileiro de Meio Ambientee Recursos Naturais Renováveis(Ibama) possui uma série de progra-mas para evitar a coleta indis-criminada de corais, ainda há poucasações para a preservação dos bancosde algas calcárias, mesmo em face doaumento da extração do calcário e daexploração de petróleo nesses ban-cos. �Muitas vezes, essas algas, na for-ma de rodolitos � que são algascalcárias de vida livre que, na forma

de nódulos, servem de habitats para afauna associada, como briozoários eesponjas �, são arrastadas até a beirade praias. De lá, são retiradas indis-criminadamente por pessoas que ig-noram a sua importância para a con-servação da diversidade na natureza�,relata a bióloga. Ela acredita que umadas soluções para aliar o equilíbrioambiental com a exploração do po-tencial econômico dessas plantas se-ria a coleta em áreas mais distantes dacosta, em águas profundas. �Ali, o solotem menos nutrientes, a fauna e a flo-ra são mais pobres e o impactoambiental seria indiscutivelmentemenor�, avalia.

O trabalho desenvolvido sob a co-ordenação da pesquisadora foi sub-dividido para dar mais agilidade àpesquisa, e seus resultados finais de-vem ser apresentados no início de2010. Até o momento, já foram di-vulgados alguns estudos sobre o usoe a conservação de algas calcárias noBrasil. No caso particular da conser-vação, o tema foi explorado na tesede doutorado em Botânica, defendi-da no Museu Nacional/UFRJ pelobiólogo Alexandre Bigio Villas Boas.Ele se concentrou em um banco raso� de até 50 metros de profundidade

� encontrado no sul do Espírito San-to. �O local é considerado um dosmais diversificados do mundo, comoito espécies de algas calcárias asso-ciadas para a formação de rodolitos.Ali, encontrei duas espécies inteira-mente novas para a ciência: uma ain-da a ser descrita e o Lithophyllum

depressum, que se diferencia das de-mais espécies do gênero por ter o tetodo conceptáculo [estrutura repro-dutiva] afundado�, revela Villas Boas.

O doutor em Botânica explica aindaque, durante a realização de seus es-tudos, foram encontrados tantorodolitos monoespecíficos comomultiespecíficos, que apresentam atéquatro espécies distintas formandoum único rodolito. O biólogo desta-ca a importância de descobertas ain-da recentes, como a do banco derodolitos encontrado em frente aomunicípio de Anchieta, no litoral suldo Espírito Santo, que está sendodefinido como uma Área de Prote-ção Ambiental (APA) pelo InstitutoEstadual de Meio Ambiente do Espí-rito Santo (Iema-ES), e que ocupa umaextensão de aproximadamente 5 qui-lômetros quadrados. �Falta fazermosum mapeamento mais detalhadodesses bancos, que vão do litoral do

...Alexandre Villas Boas estuda a incidência de algas calcárias associadas a rodolitos; e Márcia Creed e equipe observam algas coletadas na região

Fotos: Sulamita Oliveira Barbosa

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Maranhão até o litoral do Rio, poiseles não são contínuos, são manchasque se agregam, formando uma es-pécie de mosaico�, acrescenta.

Já na dissertação de mestrado emBotânica apresentada por SulamitaOliveira Barbosa no Jardim Botâni-co, que contou com a coorientaçãodo pesquisador Everaldo Zonta, doLaboratório de Análises do Solo,Plantas e Resíduos da UniversidadeFederal Rural do Rio de Janeiro(UFRRJ), são relatados experimen-tos que comparam o uso das algascalcárias e de outras macroalgas arri-badas � ambas associadas aosrodolitos �, com o uso de adubo co-mum, usado para o cultivo de horta-liças em São Francisco doItabapoana. �Todos os experimentosforam realizados em laboratório daUFRRJ, com estufa controlada e emiguais condições de luz, água e tem-peratura�, explica Sulamita. Ela co-letou 72 toneladas de algas secas ar-ribadas e rodolitos depositados naspraias da região, principalmente en-tre os meses de março e julho. A algaparda Dictyopteris jolyana representou65% do total encontrado. A associa-ção da alga parda com o rodolito ob-teve melhor resultado que o aduboquímico comumente utilizado pelosprodutores rurais locais. �Enquanto

pontos de coleta em profundidadesentre 50 e 250 metros. Quase todasas espécies apresentaram uma distri-buição vertical muito ampla, compa-rando-se os registros de suas ocor-rências em todos os oceanos. Istopode indicar uma grande tolerânciaa variações ambientais, como tempe-ratura, luminosidade e pressão�, afir-ma Carolina. �Muitas dessas espéci-es ainda não puderam ser descritas eé importante que novos trabalhos se-jam realizados a fim de completar alistagem dessas áreas, garantindo, as-sim, informações que possam subsi-diar monitoramentos e controlempotenciais mudanças nesse ecos-sistema�, completa.

Para Márcia Creed, a pesquisa estásendo muito útil para identificar asespécies de algas calcárias existentesno País e também para aferir a taxade reprodução e de crescimento dosdepósitos onde elas se encontram.�Algumas espécies demoram cente-nas, outras, milhares de anos paraatingir um tamanho de 10 centíme-tros [as de maior diâmetro], o quetorna sua coleta indiscriminada umaameaça ao meio ambiente�, afirma.

A equipe coordenada pela biólogaparticipa, neste mês de dezembro, emArmação dos Búzios, na Região dosLagos, tanto na apresentação de tra-balhos como na organização do 3ºWorkshop Internacional de Rodo-litos. Ao ressaltar que o evento reú-ne pesquisadores do mundo todo,Márcia diz que ainda há poucos pes-quisadores estudando o assunto � enão só no Brasil, mas também noexterior. �Por isso, o objetivo de nos-sa pesquisa também é o de formarnovos estudiosos e especialistas paraque possamos avançar nas pesquisassobre o tema�, conclui a bióloga.

a alga fornece nutrientes para o solo,ela equilibra o meio ambiente aoequilibrar o pH do solo�, esclarece.

Sulamita acredita que o uso das al-gas poderia contribuir para melho-rar as condições na colônia de pes-cadores, já que hoje eles se encon-tram bastante prejudicados por gran-des barcos que utilizam redes de ar-rasto. �Quando chegam às praias, asalgas causam mau cheiro e, muitasvezes, acabam no lixo. Se pegássemosesse material e o secássemos, ele po-deria ser vendido pelos pescadores eutilizado pelos produtores rurais daregião como um adubo barato e ex-tremamente eficiente�, diz.

Colega de mestrado de Sulamita,Maria Carolina Henriques se propôsa catalogar as espécies de algascalcárias encontradas em depósitosde regiões oceânicas. Nessa tarefa, elajá encontrou mais de 10 espécies dealgas encontradas na Zona Econô-mica Exclusiva Central do Brasil,desde o sul da Bahia até o nortefluminense, incluindo duas áreasconsideradas pelo Ministério doMeio Ambiente como prioritáriaspara a conservação da biodiversidadecosteira e marinha no Brasil: do del-ta do Rio Paraíba até Vitória e a re-gião de Abrolhos (BA). �Foram 12

Pesquisadora: Márcia FigueiredoCreedInstituição: Instituto de PesquisasJardim Botânico do Rio de Janeiro

Estimativa da altura dos depósitos de algas retiradas da praia de São Francisco de Itabapoana, nonorte fluminense; e falésias formadas pela ação das ondas abrigam crostas calcárias de algas

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Reflexões sobre história doBrasil nas salas de aulaEncartes didáticos que acompanham exemplares daRevista de História da Biblioteca Nacional auxiliamprofessores a desenvolver atividades em sala de aula

Há anos transformando a his-tória brasileira em artigoscríticos e acessíveis a um

público que sempre se disse ter me-mória curta e avesso a pensar sobreo passado, a Revista de História da Bi-

blioteca Nacional transformou artigose reportagens publicados em algunsde seus números em material peda-gógico. No início do segundo semes-tre de 2009, a publicação produziuquatro encartes didáticos que, acom-panhados de exemplares da revista,foram doados na forma de kits à Se-cretaria de Estado de Educação paradistribuição aos professores da redepública estadual. Em menos de ummês, o projeto, que visa auxiliar osprofessores a desenvolver diversasatividades em sala de aula, distribuiu18 mil kits. Com apoio do Auxílio àEditoração (APQ 3), da FAPERJ, oprojeto promoveu uma verdadeira�invasão� nas escolas.

Os encartes foram preparados apro-veitando temas abordados pela revis-ta da Biblioteca Nacional. Um delestrata do futebol, atividade que conti-nua despertando paixões e, não poracaso, foi alvo de acadêmicos, que

Encartes ajudam a popularizar e a tornarmais agradável o ensino de História

Foto: Reprodução

Vilma Homero

HISTÓRIA

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viram no tema meios de refletir sobrea formação da identidade e cidadaniano País. Além de �Futebol e socieda-de�, foram produzidos encartes a par-tir de outras três edições da publica-ção, sobre assuntos com maior pos-sibilidade de despertar o interesse dosestudantes: �Fotografia e História�,�Tiradentes e o Altar da Pátria� e os�Descaminhos do Ouro�. Os textosdos encartes foram preparados peloprofessor Alexandre Camargo, da Fa-culdade de São Bento do Rio de Ja-neiro, com consultoria de Suzana deAquino, professora do ensino médiodo Colégio São Bento.

Voltado a professores do 9º ano doensino fundamental e das três sériesdo ensino médio, a iniciativa da equi-pe da revista está tendo uma reper-cussão maior que o esperado. �Areceptividade foi enorme e a corridapelos exemplares na secretaria é si-nal de que os professores estão se-quiosos de material de trabalho emsala de aula�, diz Luciano Figueiredo,professor de História da Universida-de Federal Fluminense, editor da

revista e coordenador do projeto. Aforte demanda trouxe a perspectivade produzir novo material, de formamais sistemática. �Nossa ideia agoraé preparar os encartes número a nú-mero. Ou seja, cada edição da revis-ta já sair com seu respectivo encarte.Precisamos, porém, encontrar umafórmula para isso.�

A repercussão também deu a dimen-são à equipe de quanto os profes-sores podem utilizar esse tipo de ma-terial para enriquecer suas aulas. �Oprojeto nos serviu como aprendiza-do. Tem sido também um meio deconquistar novos leitores, que são osestudantes em sala de aula. Está sen-do um avanço. Temos recebido vári-as cartas a respeito�, fala Luciano.

Nos encartes nos quais se abordou afotografia, por exemplo, discute-se asua função nos seus primórdios,quando procurava mostrar o perten-cimento a um determinado grupofamiliar e classe social. A partir daí,o tema serve para levantar discussõessobre �o valor da aparência�, ques-

tão que ainda hoje se mostra bastan-te atual. Em �Tiradentes e o Altar daPátria�, os textos da revista procu-ram fugir da imagem convencionaldos livros escolares, mostrando ocenário do Brasil colonial que fomen-tou a Inconfidência Mineira e tam-bém um pouco do homem por trásdo mito, capaz de cometer deslizeséticos, colecionar mulheres e falardemais. Entre as propostas didáticas,reflexões sobre quem foi realmentea figura por trás da imagem do heróimineiro e o que propunham os in-surgentes da Inconfidência.

�A história é sempre atual, portanto,nossas revistas não envelhecem. Eessa é mais uma forma de explorar omagnífico acervo de nossa institui-ção. Nossa revista é uma espécie deBiblioteca Nacional portátil�, expli-ca Luciano. Entusiasmado, ele pensanos próximos desdobramentos queo projeto pode ter. �Este foi um pi-loto. Estamos pensando em formasde replicar a experiência, focandotambém em realidades regionais, deoutros estados além do Rio de Janei-ro e transformar o projeto numa sis-temática mensal�, resume.

Pesquisador: Luciano FigueiredoInstituição: Universidade FederalFluminense (UFF)

Tópicos que ajudam a refletir sobre aformação da identidade brasileira, comofutebol, fotografia e o ciclo do ouro, estãoentre os temas apresentados nos encartes

Figueiredo: coordenação de projeto quedistribuiu 18 mil kits para professores

Foto: Bel Pedrosa/Revista de História

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Aperiodontite é uma das do-enças silenciosas que afetamuma parcela importante da

população mundial, sobretudo nospaíses menos desenvolvidos. As-sunto ainda pouco conhecido dogrande público, a doença periodon-

Pesquisa pode contribuirpara a queda no número deenfartes associados aprocessos inflamatórios naregião dos dentes

Doenças cardiovasculares e

periodontite:

tal, que pode ocasionar a perda dosdentes na região afetada da gengiva,também está relacionada com osurgimento de problemas cardio-vasculares. O médico e periodontistaRicardo Guimarães Fischer, profes-sor titular da Universidade do Esta-do do Rio de Janeiro (Uerj), vem tra-balhando em um estudo que pode

contribuir para a queda no númerode enfartes do miocárdio associadosà doença, incluindo a sua reincidên-cia. Intitulado O efeito do tratamento

periodontal no controle da hipertensão arte-

rial refratária, o projeto de pesquisacontou com o apoio da FAPERJ, pormeio de Auxílio Básico à Pesquisa(APQ 1). �Problemas periodontais

uma relação perigosa

Danielle Kiffer

Problemas periodontais: cerca de 80% a 90% da população mundial sofre com gengivite e aproximadamente metade tem periodontite

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são altamente prevalentes na popu-lação mundial, cerca de 80% a 90%têm gengivite, e 40% a 50%, perio-dontite�, diz Fischer, traçando umquadro que não deixa dúvidas sobrea gravidade do problema. �Qualquersangramento na gengiva já é sinal deque a pessoa tem gengivite. E, se nãofor tratada, pode evoluir para umaperiodontite�, avisa.

De acordo com o pesquisador, aperiodontite é uma doença inflama-tória crônica de origem infecciosa,que atinge os tecidos ao redor dosdentes � gengiva, osso alveolar e li-gamento periodontal, que dão supor-te aos elementos dentários � e, namaioria das vezes, não provoca dor.�Quando a pessoa tem doençaperiodontal, o epitélio bucal estárompido. É como se você tivesse asua pele ferida, ralada�, explica.�Com a doença, o epitélio bucal serompe e a pessoa fica com o tecidoconjuntivo gengival exposto, quecorresponde a uma área de 20 centí-metros quadrados, mais ou menosequivalente à área da palma da mão,toda banhada por bactérias�, dizFischer. Uma vez instalada, ela setorna uma fonte constante de pro-dutos inflamatórios, caindo na cor-rente sanguínea, podendo ocasionarproblemas no coração, no pulmão,nos rins e aos fetos.�

Esse aumento de bactérias na boca esua migração pelo sangue, de acordocom Fischer, aumentam a presença de

proteína C-reativa, interleucina-6 efibrinogênio, entre outras substânci-as também conhecidas comomarcadores inflamatórios. �A relaçãoentre a periodontite e as doençascardiovasculares está na presença debactérias na corrente sanguínea, já quea aterosclerose também é uma doen-ça inflamatória crônica. A presençaelevada desses marcadores inflama-tórios aumenta o risco de enfarte,derrame cerebral e hipertensão empacientes�, esclarece. Se o pacientecom periodontite não tem ate-rosclerose ou está fora dos tradicio-nais fatores de risco, como colesterolalto e tabagismo, ainda assim, há umachance de desenvolver doençascardiovasculares. �Os pacientes comperiodontite têm de 1,3% a 1,6%mais chances de desenvolver doen-ças relacionadas ao coração, e o tra-tamento consegue até diminuir amassa ventricular esquerda, que au-menta quando o paciente tem pro-blemas cardíacos e hipertensão.�

A relação entre a doença periodontale as doenças cardiovasculares foisugerida, pela primeira vez, em 1989,por um médico finlandês, Kimmo J.Matilla. A partir daí, surgiram diver-sos estudos pelo mundo para com-provar sua correlação. Na primeirafase de sua pesquisa, Fischer tratoude 22 pacientes com hipertensão re-fratária e periodontite do InstitutoNacional de Cardiologia, no bairrodas Laranjeiras, na Zona Sul da cida-de. Nessa fase do estudo, 11 pacien-

tes receberam tratamento perio-dontal. Após três meses, o professorpôde comprovar que esses pacientestiveram os marcadores inflamatóri-os diminuídos e apresentavam me-lhora na pressão arterial, enquanto os11 restantes, que não receberam tra-tamento periodontal, não exibiam omesmo progresso. �O próximo pas-so é verificar, dentro do prazo de umano, se essa melhora no quadro in-flamatório sistêmico trará algum be-nefício direto aos males causadospela aterosclerose�, adianta o pesqui-sador, para quem é preciso testar oefeito do tratamento periodontal nolongo prazo. E ele próprio questio-na: �Se o paciente que sofreu umenfarte tratar a periodontite, terá me-nos chance de sofrer novamente umataque cardíaco? É essa resposta queestamos tentando obter por meio demais alguns testes. Com esse resulta-do comprovado, poderemos unir o

Boca com periodontite e boca saudável:placa acumulada na arcada dentária podeagravar doença periodontal se associada adoenças, como diabetes

Fischer: Periodontite aumenta de 1,3% a1,6% a ocorrência de doenças do coração

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

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trabalho do dentista ao médico e di-minuir a reincidência de doençascardiovasculares, a quantidade dedosagem de remédios e o número deinternações desses pacientes que so-frem de aterosclerose�, diz, com oti-mismo.

Fischer já comprovou os benefíciosdiretos do tratamento da periodontiteem pacientes com doenças renais, di-abetes e também na gravidez. �Todasas doenças estão relacionadas pelapresença dos marcadores inflamató-rios no sangue�, explica o professor.�Já demonstramos que o tratamentoperiodontal realizado em pacientes empré-diálise melhorou a função renaldesses pacientes. Também tivemosuma paciente com diabetes que, de-pois do tratamento dentário, em qua-tro anos, não foi mais internada, di-minuiu a dosagem de insulina e pas-sou a apresentar hemoglobinaglicosilada, um dos marcadores dodiabetes, dentro de controle. No casode gestação, a inflamação periodontalpode aumentar a presença demarcadores inflamatórios no organis-mo, podendo aumentar o risco para onascimento de bebês prematuros oucom baixo peso�, diz.

Em outro dado levantado pela pes-quisa, Fischer e sua equipe constata-ram que a doença periodontal, queafeta milhões de brasileiros, tambémtem relação com pelo menos um tipode pneumonia, comum em Unidadesde Tratamento Intensivo (UTIs).�Descobrimos que, entre pacientesinternados em UTI com pneumonianosocomial, característica dessa uni-dade de internação, cerca de 70% dasbactérias que provocaram essa doen-ça estavam na placa bacteriana pre-sente nos dentes com periodontitedesses pacientes. Para os pulmões, amigração das bactérias pode aconte-cer por aspiração�, ressalta.

Segundo o pesquisador da Uerj, al-guns países já se beneficiam da com-

Odontologia da Uerjbusca ascensãoacadêmica

O Programa de Pós-graduação strictusensu de Odontologia da Uerj temconceito 4 na Coordenação de Aper-feiçoamento de Pessoal de Nível Su-perior (Capes/MEC). Entretanto,nem sempre foi assim. Essa avalia-ção foi conquistada na última avali-ação trienal feita pela instituição, em2007. De acordo com RicardoFischer, que leciona tanto na gradu-ação como na pós-graduação, o quefaz uma unidade acadêmica ter con-ceito mais alto na Capes é o prazode defesa de teses (até 24 meses paramestrado e 48 para doutorado) e aprodução acadêmica. �Os prazos nadefesa já havíamos conseguido háum bom tempo�, diz o pesquisador.�O que nos impedia de avançar napontuação era a questão da produ-ção acadêmica. E não devido à faltade capacidade de nosso corpo do-cente e discente, mas pela dificulda-de de conseguirmos financiamentospara nossos projetos�, conta. �Coma gestão atual da FAPERJ, consegui-mos a aprovação de inúmeras pes-quisas tão importantes quanto essaque venho coordenando, e cujo re-sultado já nos permitiu estabeleceruma parceria com o InstitutoKarolinska, em Estocolmo�, come-mora. Ele conclui: �Por isso, temosgrandes expectativas de conseguirnota 5 na próxima avaliação, queacontecerá em 2010. Nesse ponto,o apoio da Fundação tem sido fun-damental�. A avaliação da Capes érealizada a cada três anos e gera con-ceitos que vão de 1 a 7. Os concei-tos 1 e 2 resultam na desativação docurso, por desempenho insuficienteou fraco. Os conceitos de 3 a 5correspondem, respectivamente, aosatributos regular, bom e muito bom.Os conceitos 6 e 7 são apenas paraprogramas que tenham doutorado eque demonstram excelência em âm-bito internacional, liderança na áreae contribuição destacada na nu-cleação de novos grupos de pesqui-sa e de pós-graduação no País.

provação da relação dos efeitos be-néficos do tratamento da perio-dontite em doenças cardiovasculares.�No ano de 2006, em Madri, duran-te a realização de um congresso deOdontologia que ocorre na Europaa cada três anos, um palestrante ame-ricano apresentou um estudo sobreos planos de saúde em seu país, querelatava que grandes empresas queatuam nesse mercado haviam ofere-cido tratamento odontológico parapacientes enfartados ou diabéticos.Em dois anos, esses planos de saúderegistraram uma economia de 15 bi-lhões de dólares�, conta. E acrescen-ta: �Aqui no Brasil, se pudéssemosunir o trabalho de um periodontistaa um nefrologista, pneumologista,obstetra, endocrinologista e cardio-logista, seria um grande benefíciopara o paciente�.

O tratamento para periodontite, se-gundo Fischer, é simples e barato,mas, ainda assim, são muitos os ca-sos de pessoas acometidas pela do-ença que hesitam ou demoram a pro-curar um dentista. Ele alerta: �Todosaqueles que perceberem um san-gramento na gengiva não devem he-sitar em procurar um periodontista�.E vai mais longe: �E mesmo as pes-soas sem nada aparente ou sintomade algum desconforto na boca, de-vem visitar um dentista regularmen-te, no período de seis meses a umano. Para quem tem periodontite, ointervalo no tratamento é menor: detrês em três meses, e a manutençãodo tratamento é fundamental para amelhora do paciente�, explica.

Pesquisador: Ricardo FischerInstituição: Universidade do Estadodo Rio de Janeiro

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Você provavelmente já utilizoua Internet para pesquisar, es-tudar ou preparar aulas de

História, Geografia, Português e In-glês. Mas é bem provável que poucoproveito tenha tirado da web para en-sinar ou aprender Física e Matemáti-ca. É que a Internet ainda é umainterface pouco usada para ensinarFísica e resolver equações, mas, prin-cipalmente, porque essas matériascontinuam a ser um bicho-papão paragrande parte dos brasileiros. O pes-quisador do Centro Brasileiro dePesquisas Físicas (CBPF), JoséAbdalla Helayel-Neto, sabe bem omotivo dessas dificuldades.

Há 15 anos, Helayel dá aulas em cur-sos pré-vestibulares para jovens ca-rentes, um deles localizado emPetropólis, na Região Serrana do es-tado do Rio de Janeiro. Sob sua ori-entação, pessoas de origem humildedo interior foram alçadas à condiçãode físicos e matemáticos. �Geralmen-te as pessoas que vêm de um ensinofundamental e médio fraco têm cer-to bloqueio pelas matérias exatas, e,até por isso, acabam ingressando emcursos superiores da área de Huma-nas, procurando fugir, sobretudo, daFísica e da Matemática�, explica o fí-sico. �O nosso objetivo é acabar comessa dificuldade e mostrar que umjovem carente pode se tornar um ci-entista social, pedagogo, psicólogo,mas também um físico ou um mate-mático�, diz o pesquisador, que apos-

ta no uso da Internet para ajudar osjovens a ter um desempenho melhorno aprendizado dessas matérias.

Não é só nas salas de aula, mas tam-bém na graduação a distância que aInternet promete ser fundamental noensino da Física e da Matemática. Atéhá alguns poucos anos, os cursos adistância eram feitos por correspon-dência, mas, hoje, grande parte docontato com a instituição de ensinoocorre pela rede mundial de compu-tadores. Entre 2007 e 2008, o núme-

ro de brasileiros matriculados emcursos a distância saltou de cerca de400 mil para mais 750 mil e as gran-des universidades vêm aderindo, umaa uma, a essa prática. Para se ter umaideia, um jovem morador de TrêsRios, na região centro-sul fluminense,já pode obter um diploma de físicopela Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ) sem precisar sair desua cidade. Tudo isso graças àmetodologia de educação a distân-cia ligada ao Cecierj/Cederj (Funda-ção Centro de Ciências e EducaçãoSuperior a Distância do Estado doRio de Janeiro).

O método funciona assim: a presen-ça do professor se faz por meio deum sistema que compreende ummaterial didático especialmente pre-parado, tutoria a distância viaInternet, telefone e fax. Mas emmuitos casos, como no dos cursosoferecidos pelo Cecierj/Cederj, nadadisso dispensa a presença semanal doaluno nos polos regionais de ensinodo órgão, onde ocorrem as aulas deapoio presenciais.

Agora, imagine um aluno oriundo deuma escola pública de baixa qualida-de ingressando em uma graduação deFísica a distância. Para Helayel, se essejovem não tiver apoio pedagógico,certamente terá muita dificuldade delevar a graduação adiante. Justamentepor isso, ele e um grupo de profes-sores que se dedicam a preparar jo-vens carentes para o ingresso no en-sino superior público estão desenvol-vendo o projeto �Ensino de Física eMatemática via Web 2.0�, iniciativaque conta com o apoio da FAPERJ.

Utilizando um software denominado�Professor Global�, o CBPF desen-volveu, em parceria com a empresapetropolitana Aprendanet � distribui-dora exclusiva da canadenseMaplesoft no País �, um site cuja ver-são de teste já está disponível na web.Iniciado em 2005, o projeto contoucom recursos do Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), que tota-lizaram R$ 190 mil até 2008, na for-ma de bolsas de pesquisa para pro-

Não é um bicho-papãoPara auxiliar estudantes em disciplinas nas quaistêm mais dificuldade, pesquisador quer transformarsite em um �YouTube� da Matemática e da Física

Juliana Lanzarini

Proposta é rompera resistência dosjovens carentes aoaprendizado dasCiências Exatas

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fessores e bolsistas de iniciação ci-entífica de várias universidades. Ogrupo vem trabalhando no CBPFpara diponibilizar conteúdos deapoio ao ensino de Física e Matemá-tica � não apenas para os alunos doensino médio, mas também àquelesque estão cursando os primeiros anosde graduação.

Uma das ferramentas inovadoras queserão disponibilizadas pelo site desen-volvido por Helayel e sua equipe é a�Web Calculadora�, capaz de resol-ver problemas gráficos, derivadas efunções, entre outros desenvolvidosem linguagem java. �O �ProfessorGlobal� é o primeiro site no Brasil aresolver equações matemáticas pelaInternet com as facilidades da web2.0", assegura Helayel.

A inovação permitirá, por exemplo,que um aluno conclua um curso in-

teiro de álgebra, fazendo os seus cál-culos interativamente via web. Ou ain-da, que um profissional embarcadoem uma plataforma de petróleo re-solva complicados cálculos numéri-cos conectando-se à Internet. Segun-do Helayel, serão disponibilizadaspara o usuário nada mais nada me-nos que 3.500 funções matemáticase cerca de 12 mil páginas de conteú-do. O projeto prevê ainda um fórumde discussão no que o aluno poderáter suas dúvidas respondidas por umprofessor conectado de qualquerparte do País, além de um banco dequestões de domínio público, que jáestá disponível.

Mas não é só isso. Qualquer usuá-rio poderá ainda disponibilizar seupróprio conteúdo no site. �Enquan-to o YouTube é uma proposta de web

2.0 para vídeos e a Wikipédia para

enciclopédia, o �Professor Global�espera ser um instrumento para di-fusão da Matemática e da Física�,explica o pesquisador. A previsão éde que o projeto atinja um númeromínimo de 100 mil usuários no pri-meiro ano.

Helayel espera ainda incluir o �Pro-fessor Global� nas salas de aula dopré-vestibular comunitário onde dáaulas de Física Geral e Introdução àMecânica Quântica, em Petrópolis, enos mais de 146 cursos preparatóri-os para comunidades carentes exis-tentes e também apoiados pelaPontifícia Universidade Católica doRio de Janeiro (PUC-Rio). �A ideianão é substituir, de forma alguma, oprofessor. Ao contrário, esse profes-sor é valorizado quando passa a ter aseu dispor um material como este deapoio para as aulas�, explica.

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Agora, o software está prestes a con-tar com mais um incentivo financei-ro. Graças aos recursos da FAPERJ,Helayel espera realizar minicursos eworkshops direcionados à comunida-de acadêmica sobre o ensino de Fí-sica e Matemática via web 2.0. Alémdisso, serão organizados cursos detreinamento para professores sobrea utilização do site Professor Global.Mas os trabalhos não param por aí:Helayel já se prepara para uma ter-

ceira etapa, prevista para o ano quevem, a de aperfeiçoamento do site,para o qual espera contar com umnovo edital de incentivo.

Enquanto prepara o lançamento ofi-cial do site, Helayel continua indo deum canto a outro do estado do Rio,onde dá aulas de Física para pessoasque jamais imaginaram que, um dia,aprenderiam sobre Mecânica Quân-tica e Física de Partículas. Um doscasos de sucesso que saíram do qua-

dro-negro de Helayel e sua equipe deprofessores é Walace Ferreira, quecursou o pré-vestibular comunitáriode Petrópolis, em 2001, e hoje é dou-torando em Ciências Sociais pelaUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj). �O professor Helayel,brilhante pesquisador e docente,sempre me serviu como fonte de ins-piração e motivação, não só no pré-vestibular�, diz Ferreira.

Outro ex-aluno que decidiu mergu-lhar de vez nos números e equações éMarcel Duarte Xavier, que cursou oPré-vestibular para Negros e Caren-tes (PVNC) e agora cursa o 5º perío-do de Matemática no polo dePetrópolis do Cederj. Marcel trabalha-va em uma fábrica quando ingressouno pré-vestibular. Acabou gostandotanto que hoje dá aulas para outrosjovens carentes. �Quando conheci omovimento, percebi que eu não do-minava nem 10% do conteúdo aca-dêmico que deveria, ao terminar oensino médio�, conta. �Graças aoPVNC e ao professor Helayel, troqueio trabalho em uma confecção peloCurso de Licenciatura em Matemáti-ca, disciplina que, ao lado da Física,hoje ensino em um colégio e no pró-prio PVNC�, relata Xavier, que atual-mente é bolsista do CNPq e pesquisajustamente o desempenho dos alunosdo PVNC de Petrópolis nas provasde Matemática e Física do vestibular.�Aprender Física e Matemática levan-ta a autoestima desses jovens, que per-cebem que eles também são capazesde se inserir nas ciências ditas duras�,comemora Helayel.

Pesquisador: José Abdalla Helayel-NetoInstituição: Centro Brasileiro dePesquisas Físicas (CBPF)

Helayel-Neto (no alto) e aluna: Software�Professor Global� deve atingir pelo menos100 mil usuários no primeiro ano do projeto

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Uma vidadedicada à Física

O cientista Alberto Santoropercorreu um longo caminhoaté chegar ao Rio, ondeconstruiu uma sólida carreira

Em uma mistura de descendências italiana, portu-guesa e francesa, o físico Alberto Franco de SáSantoro não poderia ser mais brasileiro que a pró-

pria mistura sugere. Nascido em julho de 1941, em plenaguerra, no coração da Amazônia, este manauara traz, des-de os tempos de garoto quando morava perto da floresta,a vontade de ser um cientista e poder fazer algo pelo seupaís. Hoje, físico renomado, professor titular da Universi-dade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordena o Gru-po de Física de Altas Energias do Departamento de FísicaNuclear e Altas Energias da instituição e é um dos respon-sáveis pela participação do Brasil nos experimentos do Cen-tro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), situado na fron-teira entre a França e a Suíça.

Cientista brilhante, agraciado com diversos prêmios e meda-lhas ao longo de sua carreira � o mais recente deles foi oPrêmio Desenvolvimento de Rede, concedido pela Corporation

for Education Network Iniciatives in California (Cenic), Ultralight,nos Estados Unidos, em 2008. Por 32 anos, atuou como ser-vidor público do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas(CBPF), tendo iniciado a carreira na instituição como pesqui-sador-assistente, depois promovido a associado, chegando aprofessor titular em 1989. Publicou mais de 300 artigos cien-tíficos em periódicos nacionais e, principalmente, estrangei-ros. Física experimental de altas energias, fenomenologia departículas e computação de alto desempenho em física dealtas energias são os temas de suas linhas de pesquisa.

Caçula de uma família com mais outros 14 irmãos, a vidadepois da morte do pai, Michelangelo Giotto, quando eletinha apenas 7 anos, foi de muito trabalho para ajudar nosustento da casa. �Vendia doces para minha mãe na rua.Ela, por sua vez, fazia festas de aniversário e dava aulas depiano e música em casa�, conta Santoro. Estudou em es-colas públicas desde pequeno, sempre trabalhando paracontribuir com as finanças da família. Fez Escola Técnicade Contabilidade e também curso de técnico em eletrôni-

Flávia Machado

PERFIL

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ca. Trabalhou como datilógrafo de umescritório de advocacia e também foibancário. Muito influenciado pelosirmãos mais velhos, principalmente omúsico e compositor Cláudio Santoro,mas também pelo primo FernandoBonfim, Santoro, desde pequeno,convivia com parentes que tinhamuma aptidão para a eletrônica e que oinfluenciaram muito na sua escolhapela Engenharia. Vindo de uma fa-mília de médicos, artistas, engenhei-ros, arquitetos e muitos comerciantes,a criatividade e a inovação fizeram par-te de sua adolescência.

Com o objetivo de estudar Engenha-ria Elétrica, ele saiu da casa dos pais,em Manaus, com destino a Minas Ge-

a UnB. Foi ali que iniciou sua car-reira, ao entrar para a Faculdade deFísica, em 1962.

Estada na capital federaldurou apenas dois anos

A permanência em Brasília acaboudurando apenas dois anos. Mas ele diznão lembrar de outro período tão ricoem sua vida. �A cidade era inovadorae havia uma vontade de se construiralgo novo no País. Vivíamos um climaintenso, de muita atividade construti-va, de um entusiasmo que não me lem-bro de outro igual�, relembra, empol-gado. Do contato com o professorRoberto Salmeron, físico que influen-ciou toda uma geração de futuros ci-

Foi quando ele veio para o Rio deJaneiro e conseguiu transferênciapara a antiga Faculdade Nacional deFilosofia, da Universidade do Brasil,que em seguida se tornou Universi-dade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ). Sempre engajado na luta pelademocracia, participou ativamentecontra a ditadura militar e foi contraos que defendiam o ensino pago.�Neste período, de 1965 a 1968, vi-vemos intensamente a vida nacional,com toda a repressão que havia seinstalado no País�, recorda-se.

Terminado o curso de Física naUFRJ, Santoro prosseguiu sua forma-ção com o ingresso na pós-gradua-ção no Centro Brasileiro de Pesqui-

rais, mais especificamente Itajubá, ci-dade que era �uma espécie de idealdo jovem amazonense�, como eledescreve. Por lá, não ficou muitotempo, nem chegou a entrar na fa-culdade. Antes de prestar vestibular,em uma viagem que fez de férias paraa casa do irmão Cláudio, em Brasília,apaixonou-se pela cidade e pelo es-pírito efervescente da então capitalque nascia. Voltou a Itajubá somen-te para buscar seus objetos pessoaise também influenciar os amigos �conseguiu convencer, estima, cercade 30 deles a também fazerem vesti-bular para a Universidade de Brasília,

entistas brasileiros, veio uma aproxi-mação mais intensa com a Física, oinício de sua participação nos experi-mentos do Cern, e o convite para daraulas no ensino médio. Além disso,havia o engajamento político e a suaparticipação no Diretório dos Estudan-tes de Ciências da UnB, no qual che-gou a ocupar o cargo de presidente;os cursos de Cinema com PauloEmídio e Nelson Pereira dos Santos;e as aulas de música, com seu irmãoCláudio Santoro. Em 1964, houve ogolpe militar e os universitários, comoconta Santoro, foram �cassados peloregime, como comunistas perigosos�.

sas Físicas (CBPF), mesma épocaquando começou sua carreira na ins-tituição. Ali, foi orientado nomestrado por José Leite Lopes. Aconvivência com o famoso físico bra-sileiro, no entanto, seria breve, já quepouco depois Lopes seria exiladopelo regime militar. Mais uma vez,por influência de seu irmão Cláudioe pelas dificuldades encontradas emse trabalhar com a Física Experimen-tal no Brasil daquela época, Santoroconseguiu � por meio de Salmeron,que estava na Ecole Polytechnique de

Paris �, uma bolsa de doutorado naFrança, na Université de Paris VII. Teve

A partir da esq.: Santoro com o primo Bonfim; militar em Manaus; de óculos escuros em Itajubá (MG); no casamento com Elizabeth, em 1968...

Fotos: Arquivo pessoal

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como orientador de doutoradoGilles-Cohen Tannoudji, no Centrode Energia Atômica da França, emSaclay, onde permaneceu até 1977.

Não só no período quando viveu naFrança, mas durante toda a sua vidaacadêmica, Santoro sempre teve de lu-tar com dificuldades para continuarse aprimorando, buscando o apoio debolsas que pudessem financiar seusestudos. Ele conta que recebeu con-vites de trabalho na França para quecontinuasse por lá, mas o compromis-so com o seu país estava em primeirolugar. Quando voltou ao Brasil, ingres-sou novamente no CBPF, onde ficouaté 2001, como professor titular. �Vol-tar ao Brasil para o CBPF não era pro-

os centros de filtragem � espalhadosao redor do mundo. Essa arquitetu-ra, envolvendo computadores de altaperformance, permite que as pesqui-sas sejam realizadas simultaneamen-te nos diferentes países que partici-pam do projeto, ou seja, todos têmacesso às informações geradas noCern, podendo, igualmente, compar-tilhar seus resultados.

Criado para investigar a FísicaSubatômica, em 1954, na Suíça, oCern conta com a colaboração doBrasil nos quatro detectores do seuacelerador gigante. Engenheiros e ci-entistas do mundo todo trabalhamem colaboração para compreendermelhor como a natureza se compor-

priamente uma posição apreciada pelacomunidade científica, mas queríamosreconstruir a memória do instituto eassim o fizemos.�

A participaçãofluminense no Cern

Membro do Conselho Superior daFAPERJ, Santoro coordena a equi-pe da Uerj no Centro Europeu dePesquisa Nuclear, com a chamada�Computação em Grid�, que pos-sibilita o compartilhamento das in-formações da Física produzida e dis-tribuída para as diversas máquinas �

ta em um espaço infinitamente pe-queno. Entusiasmado, Santoro expli-ca a importância de um projeto des-sa magnitude, não somente comoobjeto de estudo da Física, mas tam-bém pelo que ele pode representarcom o surgimento de novas tec-nologias em benefício da sociedade.�Além de aumentar o nosso conhe-cimento da natureza, o equipamen-to utilizado nesse tipo de experimen-to é absolutamente inovador e pro-voca um desenvolvimento tec-nológico que, mais tarde, pode estarao alcance de todos.� O que, aliás, jáestá acontecendo. Entre os avanços

tecnológicos surgidos a partir de tra-balhos realizados pelo Cern estão oprotocolo livre da Internet, ou o�www� (world wide web), desenvolvi-do em 1993 para facilitar a troca dedados entre centenas de colaborado-res do projeto em países diferentes;a tomografia computadorizada, quepermite fazer imagens de órgãos docorpo humano em funcionamento;e as aplicações dos aceleradores paratratamentos de câncer.

O Rio de Janeiro é o estado brasilei-ro que possui o maior número depesquisadores envolvidos com os ex-perimentos do Cern. A Universida-de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),a Universidade do Estado do Rio de

Janeiro (Uerj), o CBPF e o CentroFederal de Educação Tecnológica(Cefet/RJ) colaboram em três dosquatro experimentos do Centro Eu-ropeu: LHCb (Large Hadron Collider),Atlas e CMS (Compact Muon Solenoid).Santoro acredita que o estado do Riosó tem a ganhar com a participaçãoem projetos científicos desse porte eque os investimentos realizados de-verão trazer retorno. �O investimen-to em pesquisa atrai a indústria e cria-se uma relação entre pesquisa e de-senvolvimento que acaba benefician-do o processo produtivo econômicoe social�, enfatiza o pesquisador.

...em Paris, em 1973, durante o doutorado; com a mulher e os filhos Giulia e Leonardo; e com Erney Camargo (dir.), ex-presidente do CNPq, no Cern

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Ano III - nº 9 - Rio Pesquisa | 24REPORTAGEM DE CAPA

Experiência na realizaçãode exames antidoping foidiferencial para a escolhado Rio como sede dosJogos Olímpicos de 2016

Labdop da UFRJ se prepara para

Copa e Olimpíadas

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Laboratório de Controle deDoping é o único do Brasilcredenciado para estas competições

Dos requisitos necessários àrealização da Copa do Mun-do de 2014 e dos Jogos

Olímpicos de 2016, ao menos em umo Brasil já tem garantia de que vai fa-zer bonito: a realização de examesantidoping exigida dos atletas queparticipam das competições. O La-boratório de Controle de Dopagemda Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ) é uma instituição pa-drão nessa área, a única do Brasilacreditada pela Wada (Agência Mun-dial Antidoping, na sigla em inglês),realiza 4.500 testes por ano e já seplaneja para duplicar esse númeroapenas nas três semanas de realiza-ção das Olimpíadas.

O Labdop, como é conhecido, foicriado em 1989, quando a Confede-ração Brasileira de Futebol (CBF) esua congênere sul-americana preci-savam desenvolver a capacidade defazer esse controle dos atletas, comvistas à realização da Copa Américano Brasil. �Aceitamos o desafio des-sas instituições e, desde então, nãoparamos�, conta Francisco Radler deAquino Neto, diretor do Laborató-rio de Apoio ao DesenvolvimentoTecnológico (Ladetec) do Institutode Química da UFRJ, do qual oLabdop faz parte. �Quando se deci-diu a cidade dos Jogos Pan-Ameri-canos de 2007, o fato de termos umlaboratório em pleno funcionamen-to foi decisivo para a escolha do Riode Janeiro. Agora nas Olimpíadas,Chicago ficou fora porque teria decriar um que depois ficaria sem fi-

nalidade, já que existem outros doisnos Estados Unidos.�

Radler, que é professor titular do Ins-tituto de Química da UFRJ, explicaque o controle de dopagem (nomecorreto do exame antidoping) é neces-sário porque muitos atletas, na tenta-tiva de superar suas marcas, tendem aapelar para qualquer tipo de substân-cia, muitas com efeitos colaterais no-civos. �Em casos mais graves, buscamo efeito colateral de uma droga, ou seja,tomam uma quantidade enorme deuma substância para ter um pouco dareação desejada. Por isso, o controle nãoé apenas uma questão da ética esporti-va, mas evita que o atleta violente opróprio organismo na busca de autos-superação�, diz o professor e pesqui-sador, contemplado pelo programa Ci-

entista do Nosso Estado, da FAPERJ.

Embora fundamental em qualquercompetição, o controle de dopagemaceito pelos organismos internacionais(Wada, Comitê Olímpico Internacio-nal, Fifa etc.) é feito por apenas 35laboratórios em todo o mundo, sen-do que apenas três ficam no Hemis-fério Sul: além do Labdop, há o daAustrália (criado para a Olimpíada deSydney, em 2000) e o da África do Sul(que realizará as análises da Copa de2010). Isso porque esta atividade exi-ge uma série de procedimentos rigo-rosos na coleta e no exame do materi-al, e, além disso, pesquisas constantespara acompanhar o que o professorRadler chama de �avanço exponencialda medicina associada à farmacologia,pois qualquer medicamento pode serusado ou abusado por um atleta nabusca de um melhor desempenho�.

Beatriz Coelho Silva

Foto: DIvulgação

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Trabalhar no presente eprever o futuro

Acresça-se a isso a criatividade e odesenvolvimento de novos métodosde dopagem. Por isso, um laborató-rio de controle de dopagem trabalhatambém com o imponderável, comuma projeção do que poderá acon-tecer, das substâncias e outros mé-todos que ainda serão criados. Nocaso dos jogos de 2016, tal comoacontece nas comunicações, onde édifícil prever qual será o veículo paratroca e transmissão de dados e in-formações (hoje são Internet e tele-fone celular, praticamente inaces-síveis há 20 anos e talvez ultrapas-sados nos próximos seis anos), nãose sabe a quais substâncias os atletaspoderão recorrer.

�Felizmente, há um acordo da indús-tria farmacêutica com a AgênciaMundial Antidoping e, quando umasubstância é descoberta, uma amos-tra é destinada à pesquisa para testá-

la�, ressalta Radler. �No entanto, ain-da não se sabe nada sobre a terapiagenética, por exemplo. Até 2016, elapode se transformar em realidade etalvez seja necessário criar métodose critérios para ela. Por enquanto,toda a análise se baseia na química.�

Sem comentar qualquer caso recen-te ou antigo de doping, por motivoséticos, Radler explica que o proto-colo (ou procedimento) de coleta eexame de material dos atletas vemsendo desenvolvido há mais de 40anos e hoje se baseia na análise daurina, em 90% dos casos. Se a coletaé relativamente simples, embora en-volva todo um ritual com testemu-nhas e tempo precisos, a análise domaterial é uma corrida contra o tem-po, mas também um procedimentoque exige cuidados minimalistas esistemáticos. �Nossa função é bus-car quantidades ínfimas das substân-cias que o atleta pode ter tomado,mas que foram transformadas den-tro de seu organismo, ou seja, foram

metabolizadas, viraram outro tipo demolécula. E essas substâncias vêmjunto com outras, com tudo que apessoa ingeriu e que seu organismoprocessou. É como buscar uma agu-lha em um palheiro.�

Um palheiro mínimo, já que as amos-tras são, geralmente, de 70 mililitros,menos que meio copo de água. Pormedida de segurança, já ao chegar aoLabdop, o material do atleta, que jávem com um código, recebe outraidentificação para que nenhum téc-nico que vai lidar com aquele mate-rial saiba a quem pertence. Aí, os 70mililitros são divididos em oito fra-ções diferentes e cada uma é enca-minhada para um tipo de análise es-pecífico. �Damos um tratamentopara tirar da quantidade de molécu-las presentes aquele pouquinho quenecessitamos e concentrá-lo em umvolume bem pequeno. No fim, os 70mililitros viram 100 microlitros, o quecorresponde mais ou menos a umagota�, explica Radler.

Apesar de ser o ponto mais visí-vel, o Laboratório de Controlede Dopagem é só uma parte do

organograma do Ladetec, que tem maisde dez itens. Na área de análise química,um item importante é o Laboratório deResíduos, o Lab Res, que analisa amos-tras de animais. Foi criado na mesmaépoca do Labdop, mas a pedido do Mi-nistério da Agricultura, para atender àsexigências da União Européia que haviaembargado a importação de carne bra-sileira. Foi criada uma metodologia paraanalisar anabolizantes na urina de gadobovino e equino (cuja carne desagradaao paladar brasileiro, mas é muito apre-ciada na Europa).

Os processos são semelhantes aos dosseres humanos, já que na produçãoagropecuária ocorre a mesma tentação

de abusar de determinadas substânciasnocivas. Há, no entanto, uma ressalva.Algumas substâncias podem ser minis-tradas na quantidade e no tempo certo,pois serão eliminadas pelo animal an-tes do abate. Outras são proibidas mes-mo por causarem câncer (são chama-das carcinogênicas) ou outras doenças.As carnes bovina e equina ainda são ocarro-chefe do Lab Res, mas hoje seustécnicos analisam também suínos, aves(até avestruz), peixes e crustáceos.

Na área médica, as duas principais áre-as de atuação são a análise de Erros Ina-

tos de Metabolismo e o controle de medi-cação no tratamento quimioterápico.Erros Inatos do Metabolismo é um nomepara as deficiências com as quais osbebês nascem e precisam ser contor-nadas já nos primeiros dias de vida.

Radler explica que alguns bebês nas-cem com tendência a acumular ou nãoproduzir determinadas moléculas, pro-blema que pode ser detectado em exa-me de sangue já no primeiro dia do nas-cimento (o teste do pezinho, como éconhecido popularmente, avalia apenasuma dezena de doenças) e sanado comdieta ou medicação adequada que eli-mine ou acrescente o que for necessárioao bem-estar do bebê. �Hoje, já foramdetectadas mais de 500 doenças, masos testes não são realizados em todosos neonatos como deveria ser�, lamen-ta Radler.

No controle de medicação quimio-terápica, o trabalho é feito em parceriacom o Instituto Nacional do Câncer(Inca). Analisa-se a quantidade de me-dicamento no sangue do paciente para

Medicina e meio ambiente também são focos do Ladetec

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É essa gota que vai à análise em doisequipamentos, o de cromatografia(que separa as moléculas, de acordocom sua natureza química, e as isolaespacialmente) e o espectrômetro demassas (que quebra as moléculas iso-ladas em pedaços que serão analisa-dos). �É como se um conjunto depessoas com interesses diferentespassasse por uma galeria de lojas.Cada uma ficaria mais ou menosatraída por certas lojas e, apesar deterem entrado ao mesmo tempo nagaleria, sairiam na medida do tempoem que estiveram retidas nas lojas deseu interesse. Assim, as moléculassaem da cromatografia, separadaspelas suas características, e sãotransferidas para o espectrômetro demassas. Cada tipo de molécula resul-ta em determinado conjunto de pe-daços. Cabe ao cientista juntar os pe-daços, refazendo esse quebra-cabe-ça para identificar a molécula e verse está entre as proibidas ou as per-mitidas�, ensina Radler.

Ele ressalta, no entanto, que não cabeao laboratório julgar se houve ou nãodoping. Quando se encontra umasubstância proibida, o relatório emi-tido diz que houve um �resultadoanalítico adverso�, para significar queno material analisado encontrou-sealgo que não deveria estar ali. O juízode valor cabe à instituição que enco-menda o exame, seja o Comitê Olím-

pico Internacional (COI) ou as di-versas federações esportivas nacio-nais ou internacionais. Radler lem-bra que a margem de erro é peque-na, pois cada amostra passa duas ve-zes pelo teste, e que a competência econfiabilidade do laboratório é tes-tada continuamente. Por isso, é rarohaver exigência de uma segunda pro-va com a amostra de reserva que é

saber se é suficiente para matar as célu-las cancerígenas, sem prejudicar as ou-tras, sadias. �Mais uma vez, o juízo devalor cabe ao médico, que determina sea quantidade da substância empregadaestá no padrão devido ou não. O labo-ratório só faz a análise�, adianta Radler.

Há ainda o Laboratório de GeoquímicaOrgânica e Molecular, que desenvolvepesquisas com a Petrobras, seja na áreafim da estatal, seja na pesquisa de meioambiente. �Inclusive meio ambiente in-terno, um tema pouco falado. Quandose fala em meio ambiente, todo mun-do pensa em rios e florestas, esquecen-do que os seres humanos passam 90%do tempo em lugares fechados. Nóspesquisamos também a qualidade des-se ambiente interno�, revela Radler. Elecita mais um laboratório importante.

�É o de calibração o LabCal. Comonossos instrumentos devem ser muitoprecisos e temos muitos, ficaria muitocaro fazer essa calibração fora. Então,criamos nosso laboratório que hojetambém é modelo.�

Tudo isso funciona com uma equipede cerca de 100 pessoas, que vão deprofissionais com pós-doutorado,como Francisco Radler, a técnicos ougraduandos, geralmente em Químicaou áreas afins. O Ladetec, embora per-tença à UFRJ, mantém-se com o quearrecada de seus clientes. Atualmen-te, segundo seu diretor, o controle dedopagem esportivo é a maior fontede renda, mas é também deficitário,enquanto a dopagem animal e os con-tratos com a Petrobras completam oorçamento.

Mas o que leva o trabalho adiante é acerteza de estar na ponta das pesquisas,ser uma instituição-modelo reconheci-da no Brasil (onde é credenciado com anorma ISO-17.025 pelo Instituto Na-cional de Metrologia, Normalização eQualidade Industrial � Inmetro, e ain-da pelo Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento e pela Anvisa)e internacionalmente (pela Wada, COI,CE etc.). �Isso se dá porque acumula-mos a cultura dos temas, com atençãoespecial à metodologia, que se estendea todos os funcionários, do cientistamais graduado ao auxiliar que cuida damanutenção e limpeza dos equipamen-tos e sala�, comemora Radler. �Essa ca-racterística foi um diferencial na épocado Pan e certamente contribuiu para tra-zer a Olimpíada para o Rio.� (B.C.S.)

Ladetec, da UFRJ: apenas 35 laboratórios em todo o mundo fazem controle de dopagem

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sempre recolhida do atleta, juntocom a que vai ao primeiro exame.

�O credenciamento ou acreditação,como se diz hoje, é anual e a cada trêsmeses nos são enviadas amostras paranos testarem. Ultimamente, em acor-do com seus clientes, a AgênciaMundial Antidoping tem enviadomaterial de teste junto com o comum,das competições. Isso nos leva a agircomo se estivéssemos sendo obser-vados o tempo todo� conta Radler.�O que é bom para que nunca deixe-mos de lado o cuidado e a minúciacom todas as etapas da análise.�

Copa de 2014 e Rio2016 começam agora

É um processo que leva quase um diainteiro (cerca de 20 horas), o que im-plica uma logística azeitada, pois osresultados de controle de dopagem,por regulamento das grandes compe-tições, devem ser entregues em 24horas. Aí, entra o planejamento paramanter o patamar de excelência atualna Copa de 2014 e nos Jogos Olímpi-cos de 2016. �Na Copa do Mundo, émais simples porque colhe-se e anali-sa-se material de dois jogadores decada time, ou seja, são quatro amos-

tras por jogo. Daremos conta com onosso pessoal, mesmo que seja preci-so alguém estender o horário ou fun-cionarmos em três turnos�, comentao diretor do Labdop. �O problemavai ser em 2016, quando deveremosanalisar, em três semanas, cerca de 9mil amostras, ou seja, em menos deum mês, teremos o dobro do traba-lho de um ano. Para isso, temos decomeçar a nos preparar agora.�

Radler aponta três vertentes nesseplanejamento. O primeiro é alogística, com a aquisição de novosequipamentos para aumentar a capa-cidade do laboratório. O professoravisa que, embora sejam caros, nãohaverá desperdício de dinheiro, poisessas máquinas poderão ser usadasem outros tipos de análise desenvol-vidas pelo Ladetec, tal como aconte-ceu com o Pan, quando se analisa-ram 1.600 amostras em 15 dias.�Quando a competição acabou, todomundo voltou as suas atividades e asmáquinas foram reaproveitadas emoutros laboratórios�, conta Radler.

A segunda vertente é a capacitação depessoal. Radler descreve o profissionalideal como aquele que tem a �culturado tema�. Além da formação acadê-mica ou técnica em Química, precisa

criar um conhecimento e uma habili-dade para lidar com amostras e molé-culas, e reconhecer como elas se com-portam tanto no laboratório, como deacordo com as características do in-divíduo que as produziu.

�Isso só se aprende no exercício con-tínuo. Nosso profissional precisa seruma pessoa engajada no trabalho, in-teressada no seu crescimento técni-co mais que no lado financeiro. Suacompensação será trabalhar comequipamentos de ponta, em uma ins-tituição de excelência reconhecidamundialmente�, garante ele, enume-rando outras qualidades. �Deve seruma pessoa sistemática e cuidadosa,mas com um pouco de empre-endedorismo, para ver além de suaanálise. É uma combinação quaseexcludente no nosso meio. Por isso,quem entra aqui trabalha durantequatro ou cinco meses até combinaressas duas características.�

A terceira vertente da preparação paraas Olimpíadas é a pesquisa. Radler lem-bra que, dentro do conceito usado noBrasil, há a pesquisa incremental (paramelhorar as técnicas e os resultados deuma instituição ou procedimento) e ainovadora. No site do Ladetec, há umalista de mais de 50 trabalhos publica-dos ou em andamento, com títulos quesó um graduando ou pós-graduandoda área entenderiam, mas o professorexplica: �Na área incremental, temospesquisas muito avançadas. Nossas téc-nicas funcionam bem, mas queremosque melhorem, com redução de tem-po e de custos, até por uma questãode sustentabilidade, já que o laborató-rio se mantém com o que arrecada. Naárea de inovação temos ainda poucacoisa, mas estamos associados aos pro-gramas de pós-graduação do Institutode Química da UFRJ.�

Cerca de 9 mil amostras de atletas devem ser processadas na UFRJ durante as Olimpíadas

Foto: Gabriela d�Araújo

Pesquisador: Francisco Radler deAquino NetoInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

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Uma iniciativa voltada para in-centivar o gosto pela ciênciaem escolas públicas do Esta-

do do Rio de Janeiro está comemo-rando uma década de existência nes-te ano de 2009. Trata-se do programaJovens Talentos, que concede bolsasde pré-iniciação científica a estudan-tes de ensino médio/técnico que par-ticipam de projetos desenvolvidos emuniversidades e instituições de ensi-no e pesquisa sediadas no estado. Umaparceria da FAPERJ com a FundaçãoCentro de Ciências e Educação Su-perior a Distância do Estado do Riode Janeiro (Cecierj), o programa, soba responsabilidade do biólogo e co-ordenador da área de iniciação cientí-fica júnior da FAPERJ e gerente deprojetos do Cecierj, Jorge Belizário,atende cerca de 600 bolsistas compro-metidos com projetos de pesquisa emtodo o território fluminense.

Entre os diversos estudos em anda-mento, três deles têm despertado es-pecial interesse de pesquisadores dasrespectivas áreas em que se inserem.No município de Angra dos Reis, naCosta Verde fluminense, a arqueólo-ga Nanci Vieira Oliveira, da Univer-sidade do Estado do Rio de Janeiro(Uerj), vem realizando, com apoio daEletronuclear, um trabalho de resgateda memória indígena da triboGuarani, na localidade de Bracuí. São35 bolsistas, entre eles 12 jovens in-dígenas e estudantes não-índios deescolas de ensino médio de Paraty e

Quando um empurrãozinho

Projeto de pré-iniciação científica ajuda a despertaro gosto pelas Ciências entre os estudantes

Vinicius Zepeda

pode fazer a diferença

Foto:Divulgação/Eletronuclear

PRÉ-INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O trabalho de resgate da memória indígena em Angra dos Reis tem a participação de jovens não-índios

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Angra. �Os índios vêm aprendendopráticas de pesquisa arqueológica quecontribuem para resgatar e, eventu-almente, passar às futuras geraçõesde sua tribo a história de seu povo�,explica Nanci. Ela enfatiza o interessedo intercâmbio de índios com não-índios, que serve para ampliar o es-copo do projeto.

O trabalho desenvolvido na regiãopor Nanci e sua equipe, que contoucom a participação dos estudantes,acabou tendo um desdobramentoinesperado: o descobrimento de ves-tígios arqueológicos dos indígenasque habitaram a região antes da co-lonização portuguesa. Esses vestígi-os já fazem parte do Sítio-Museu Ar-queológico Sambaqui do Velho, emPiraquara de Fora, uma pequena en-seada na entrada da baía da Ribeira,em Angra dos Reis. Embora inaugu-rado no início de junho, o sítio-mu-seu ainda não tem data certa de aber-tura à visitação pública. A descober-ta permitiu traçar um perfil dos po-vos que habitaram a região. Em umprimeiro momento, o local foi ocu-pado por uma população de coleto-res-pescadores e caçadores que, ao

que tudo indica, tinham uma alimen-tação bem diversificada. Em segui-da, a região foi habitada por pesca-dores-coletores, com alimentaçãopredominantemente marinha, antesde novas levas de grupos humanosacamparem na área e, pelos vestígiosdeixados, fabricarem principalmen-te artefatos polidos enquanto prati-cavam a pesca.

De acordo com Nanci, a área abran-ge um sambaqui e também uma for-tificação do século XIX. �Instaladapelos portugueses, ela fazia parte deuma rede responsável por vigiar todaa costa do Rio de Janeiro e enviar asinformações à Corte, por meio de si-nalizações, que eram feitas com ban-deiras�, diz a pesquisadora. Reunidospela equipe de Nanci, os relatos demoradores da área incluem referên-cias à vida de seus antepassados e doconhecimento que têm da região.�Encontrei um senhor que me faloude pedras estranhas na praia dePiraquara. No local, descobri que aspedras eram, na verdade, polidoresque os índios usavam para fazer suasferramentas. Foi quando encontrei emapeei os sítios�, conta a professora.

No laboratório, jovenssurdos debatem temasde interesse geral

Outro projeto que vem merecendodestaque no programa Jovens Talentos

teve início em meados de 2000 e pas-sou a contar com o apoio daFAPERJ/Cecierj em 2008. Orienta-do pela biomédica Vivian Rumjanek,da UFRJ, consiste em selecionar jo-vens surdos que se destacam em umcurso experimental de curta duração(uma semana) sobre ciência e que, emseguida, demonstram interesse emestagiar no laboratório do Institutode Bioquímica Médica (IBqM) dauniversidade. O estágio envolve dedois a quatro alunos surdos, sempreorganizados em duplas e em dias di-ferentes para nunca se sentirem so-zinhos e não terem com quem con-versar. �Nesse período, nossa equi-pe de pesquisadores não utiliza in-térpretes de Libras [Língua Brasilei-ra de Sinais, utilizada pelas comuni-dades surdas brasileiras]. O esforçopara inclusão na sociedade tem de ser

Vivian Rumjaneck (ao centro): auxílio ajovens surdos em estágio no laboratório daUFRJ, durante curso pioneiro no País

Foto: Divulgação/IBqM/UFRJ

Vestígios do sambaqui achado em Angra dos Reis...

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dos dois lados: do nosso e do de-les�, afirma Vivian. �No curso comduração de uma semana � que reúneaproximadamente 18 alunos, o intér-prete está presente, já que o nossoconhecimento de Libras ainda é in-suficiente para ensinar tantas pesso-as�, acrescenta.

No convívio do laboratório, os sur-dos debatem assuntos não só de cu-nho científico, mas também de inte-resse geral, divulgados pela mídia, ejá elaboraram um glossário de termoscientíficos não-existentes em Libras� um deles sobre o sangue. No mo-mento, estão finalizando um sobre�sistema imune�. �A maior parte des-tes termos não existe na linguagemde sinais. Assim, foi necessário umgrande esforço para explicar deter-minados conceitos aos surdos, que,Com os intérpretes, desenvolveramum símbolo gestual que cor-respondesse àquela ideia. A partir daí,desenvolvemos esse glossário, ilus-trado, que tem como personagem oCebolinha, da Turma da Mônica�, ex-plica a biomédica.

O trabalho acabou gerando aindauma iniciativa inédita no País. �Gra-ças ao conhecimento adquirido como glossário, inauguramos no final de

junho o primeiro Curso de Especia-lização em Biociências para JovensSurdos. Oferecido a sete estudantesdo ensino médio e contando com ummonitor surdo, o curso engloba au-las diárias e duração de um ano. Aofinal deste período, poderá ser trans-formado oficialmente em curso denível médio profissionalizante�,acrescenta Vivian.

Presos são ao mesmotempo agentes e focoda pesquisa

No bairro de São Cristóvão, ZonaNorte da cidade do Rio de Janeiro,um projeto vem contribuindo paramudar a rotina de jovens egressos dosistema penitenciário. Ao todo, sãooito jovens bolsistas: dois detentosem regime fechado, quatro em liber-dade condicional e dois cumprindopena em regime semiaberto, todos li-gados ao Presídio Evaristo deMoraes. Todos eles são alunos doColégio Estadual Anacleto deMedeiros (Ceam), localizada dentrodo espaço prisional, e vêm realizan-do, sob orientação do antropólogoMário Miranda Neto, pesquisador doNúcleo Fluminense de Estudos ePesquisas da Universidade Federal

Fluminense (Nufep/UFF) � em par-ceria com o Programa de Pós-gra-duação em História das Ciências dasTécnicas e Epistemologia da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro(PPGHTE/UFRJ) �, uma série deestudos em Ciências Sociais, voltadospara sua própria condição e as pecu-liaridades do cotidiano do presídio.

Um dos trabalhos enfoca a produ-ção das �engenhocas da cadeia� �como são chamados pelos própriosapenados os artefatos que constro-em com materiais reutilizados, copi-ando objetos de uso doméstico, taiscomo travesseiros feitos com preser-vativos inflados recobertos por ca-misas de pano velhas, fornos que uti-lizam a parte interna de caixas de lei-te cobertas por papel alumínio e queaquecem ao serem expostas ao ca-lor, e outros equipamentos que aju-dam a minorar o problema do des-conforto e da falta de utensílios bá-sicos nos presídios. Nas cadeias doPaís, apenas um número bastante re-duzido de presos têm a oportunida-de de realizar algum tipo de trabalhoenquanto cumprem suas penas. Noprimeiro semestre de 2010, as�engenhocas da cadeia� deverão ga-nhar exposições no Serviço Social do

... e Nanci Oliveira durante pesquisa de campo com Índios Guarani; à dir., o Sítio-Museu Arqueológico Sambaqui do Velho, inaugurado em julho

Fotos: Divulgação/Eletronuclear

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Comércio (Sesc), na UFF e no Mu-seu Nacional/UFRJ.

Para Mário Miranda, o projeto abor-da de forma bastante particular o uni-verso prisional, pois os presos agemao mesmo tempo como agentes efoco da pesquisa. �O sucesso do pro-jeto tem servido para tornar estes jo-vens mais conscientes do seu espaçoe, ao mesmo tempo, gerar uma novaoportunidade para eles, que buscamnovos rumos após o cumprimentode suas penas�, explica. �Além dis-so, o governo do estado passou aaceitar que o trabalho feito pelos jo-vens sirva como forma de reduçãoda pena para aqueles que cumpriremsuas atividades de forma adequada�,diz. De acordo com o antropólogo,a iniciativa caminha para se transfor-mar na primeira escola profis-sionalizante a funcionar dentro deum presídio em todo o País.

Os bolsistas Jovens Talentos envolvidosno projeto criaram o NúcleoInterdisciplinar de Estudos e Pesqui-sa na Prisão (Niep), que funciona den-tro do Ceam e faz parte doorganograma da escola, articula as

produções de professores e dá suportea outras iniciativas inovadoras. �En-tre as várias parcerias do Niep, pode-mos destacar a sua participação noInstituto Nacional de Ciência eTecnologia (INCT) em Administra-ção Institucional de Conflitos � nú-cleo temático de estudos e projetosde caráter nacional e de excelência naárea � desenvolvido com o apoio daFAPERJ e o Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq)�, explica Mário.

Outro ponto destacado no estudoaponta para uma mudança da lógicaque prevalece dentro dos presídios.�O trabalho no espaço prisional estásempre identificado com a ideia de�trabalho braçal�, ao contrário desseprograma, que incentiva os detentosa ler Filosofia e Sociologia, e que vemfazendo com que o trabalho intelec-tual passe também a ser reconheci-do dentro da prisão�, defende ele.

Desde sua implementação, os ares dopresídio têm sido contaminados deforma positiva pelo envolvimentodos detentos, influenciando a orga-nização do ambiente escolar e mobi-

lizando outros alunos, como relata oex-detento Luis Cláudio Verta Dias:�O projeto ajudou a construir umabase de pesquisa dentro do presídio.Eu, que estou em liberdade condici-onal, tenho me reunido três vezes porsemana com pesquisadores do Nú-cleo Fluminense de Estudos e Pes-quisas [Nufep/UFF]. Este convíviotem me motivado a fazer uma facul-dade depois que acabar minha pena.�

Dias confirma que a iniciativa veminfluenciando de maneira favoráveloutros detentos e alunos do colégio,por meio de uma série de atividadesinéditas, como um cineclube e a pro-dução de um jornal, além da já cita-da produção de �engenhocas da ca-deia�. �O projeto também ajudou areestruturar outras atividades que jáexistiam aqui no colégio, como a ofi-cina de teatro e de aprendizado defrações por meio do preparo depães�, recorda.

Bolsistas participam daSemana Nacional deCiência e Tecnologia

A participação dos jovens bolsistasem alguns dos principais eventos deciências confirma a efetividade doprograma. Em outubro, durante acerimônia de abertura da SemanaNacional de Ciência e Tecnologia nomunicípio de Santo Antônio dePádua, noroeste fluminense, cincobolsistas foram convidados a apre-sentar trabalhos que realizaram du-rante sua participação no programa.�Na ocasião, firmei convênio para aparticipação de estudantes de maisuma cidade do estado no programa� Itaperuna, que será incluída no anoque vem�, conta Belizário. �A expec-tativa é de que, ainda no correr de2010, consigamos atender a mais ummunicípio, atingindo um total de 40cidades�, diz o coordenador geral.

Em outra participação dos estudan-tes que integram o programa, na pri-

Belizário: coordenador espera que programa chegue a 40 municípios do estado em 2010

Foto: Vinicius Zeppeda

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Moradora de Itaboraí, município vizi-

nho a Niterói, na Região Metropolita-

na do Rio, Graciela Ferreira de Olivei-

ra, 20 anos, cursa o último período de

licenciatura em Biologia na Universida-

de Salgado de Oliveira (Universo), em

São Gonçalo. Em 2005, ainda no ensi-

no médio do Colégio Estadual Visconde

de Itaboraí (Cevi), a estudante foi con-

templada com uma das bolsas do progra-

ma Jovens Talentos, destinadas a formar

um grupo de guias durante o processo de

revitalização do Parque Paleontológico de

Itaboraí. O local, um rico sítio de estu-

dos geológicos, arqueológicos e paleon-

tológicos, abriga a bacia calcária de São

José de Itaboraí � única do gênero no

estado com a presença de fósseis, princi-

palmente de mamíferos primitivos, rép-

teis, aves e sementes surgidos logo após a

extinção dos dinossauros (há cerca de 70

milhões de anos).

No início, éramos seis alunos muitocuriosos que não sabíamos nada sobreo parque. Particularmente, estava cu-riosa, mas ao mesmo tempo não acre-ditava que minha participação naqueleprojeto pudesse ter grande proveitopara o meu futuro. A nossa orientadorae professora de História do Cevi, à épo-ca, Angélica Paiva, procurava nos in-centivar, apostando que poderíamos ti-rar proveito da chance de participar doprojeto. Só que nós não levávamosmuito a sério o assunto. Pessoalmente,eu achava que a experiência ali nãopassava de mais um conhecimento ad-quirido. Com o passar dos meses, medei conta do quão importante era o tra-balho, e comecei a me empolgar. Noinício, participávamos como alunas,aprendendo sobre o parque; depois,começamos a fazer a divulgação naprópria escola, o que foi muito inte-ressante, pois muitos também nada sa-biam sobre a existência daquele �Ber-ço dos Mamíferos�. Em 2007, tive deme afastar do grupo, pois não era maispossível conciliar os horários com o da

faculdade. O afastamento foi muito di-fícil para mim, a essa altura completa-mente envolvida com a ideia não só decontinuar adquirindo mais e mais in-formações sobre o parque, mas tam-bém de divulgá-lo nos municípios daregião. Ainda assim, apesar da incom-patibilidade de horários, nunca me afas-tei de verdade do grupo, e sempre quepodia participava das reuniões e even-tos. No dia 12 de dezembro de 2008,data de aniversário do parque, o meuprofessor de Geologia e Paleontologiada faculdade me apresentou à profes-sora Lílian Bergqvist, da UFRJ, que meconvidou para fazer um estágio no De-partamento de Paleontologia da univer-sidade. Fiquei muito entusiasmada e, aomesmo tempo, com medo, pois, até ali,toda a minha vida se limitava a Itaboraí,e, indo para o Rio, seria como conhe-cer �outro mundo�. Pouco tempo de-pois, em janeiro, fui conhecer o labo-ratório, no campus da UFRJ. Foi encan-to à primeira vista, estou lá até hoje eespero continuar ainda por muito tem-po. A partir daí, vi que o mundo dávoltas, e que a experiência no parquenão foi só um projeto passageiro, masabriu portas pra mim. Ele acabou meoferecendo a chance de continuar esseimportante trabalho de divulgação dahistória do local para outras pessoas,que, como eu, não sabiam de sua exis-tência. Os moradores da região poucoou nada sabem da importância daque-le lago artificial, e, sendo assim, não têmpreocupação em preservá-lo. A nossafunção é informar e conscientizar apopulação sobre o quanto é importantepreservar a área para que outros tam-bém possam conhecer essa rica região.Assim como aconteceu comigo, tenhoa certeza de que, do grupo que integraos Jovens Talentos, poderão sair outrosestudantes interessados em divulgar ahistória do parque e lutar para sua pre-servação.

meira quinzena de novembro, na vilaresidencial da Eletronuclear, na cida-de de Angra dos Reis, foi realizada a10ª edição da Jornada Científica Jo-vens Talentos, com 30 apresentaçõesorais e cerca de 60 pôsteres de bol-sistas de diferentes cidades. �Poucosdias depois, outros 30 trabalhos de-senvolvidos por nossos estudantesforam apresentados no Riocentro[principal centro de convenções dacapital fluminense, situado na ZonaOeste do município], durante a rea-lização do congresso internacionalAssociação Americana de Geo-logistas do Petróleo�, relata Belizário.

Para o biólogo, a participação dosalunos tem demonstrado, por meiodos depoimentos de ex-bolsistas,uma forte influência do programasobre inúmeros aspectos da vida so-cial e acadêmica dos estudantes. �Se-gundo pesquisas que realizamos, osnúmeros indicam claramente a efi-cácia da iniciativa ao proporcionarum futuro de melhores oportunida-des para estes jovens�, comemoraBelizário. De acordo com o coorde-nador, 87% dos estudantes ingres-saram no vestibular, e destes, 67%escolheram a mesma área de estudoem que estagiaram como bolsistas doprograma. �O êxito alcançado nosdeixa confiantes sobre o caminhoescolhido. Mas ainda existem muitasinstituições e estudantes por todo oestado do Rio que não conhecem oJovens Talentos, lamenta. Ele aposta queo acesso ao programa pode represen-tar um diferencial no futuro da po-pulação de jovens do estado, mesmoem pequenas cidades. �Precisamosdar continuidade a essa trajetória vi-toriosa, não apenas mantendo nos-sos bolsistas, mas ampliando aindamais nossas ações�, conclui.

Depoimento: GRACIELA FERREIRA DE OLIVEIRA

Pesquisador: Jorge BelizárioInstituições: FAPERJ e Cecierj

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Depois de, no início de seu go-verno, tomar uma decisãohistórica para o fomento à

pesquisa em Ciência e Tecnologia noEstado do Rio de Janeiro, ao asseguraro repasse de 2% da receita tributárialíquida para a FAPERJ, o governadorSérgio Cabral volta a defender os in-vestimentos em C,T&I pelo estado, emnova entrevista concedida à revista Rio

Pesquisa. Para Cabral, a parcela do or-çamento destinada ao setor continuasendo estratégica para o Estado do Riode Janeiro, e o conhecimento geradonas universidades deve se transformarna principal fonte de consultoria e par-ceria em programas de governo.

O crescimento econômico, de acor-do com o governador, tem comoprincipal alavanca a inovação, que jádita o ritmo do dia a dia das iniciati-vas do governo do estado. Cabral lem-bra a grande mostra Rio Inovador,realizada na segunda quinzena de se-tembro, no jardim de inverno do Pa-lácio Guanabara.

Na entrevista, ele defende o estímu-lo à curiosidade científica entre osjovens, a fim de prepará-los para oseu ingresso futuro nos campos daCiência e da Tecnologia. Sobre o pro-grama Estado Digital (reportagem à pág.

6), adianta que é uma das �priorida-des sociais� de sua gestão à frentedo Executivo estadual, que irá ofe-recer uma importante ferramentapara o exercício da cidadania pela po-pulação fluminense. Confira, a se-guir, a entrevista.

Em 2007, ainda nos primeiros mesesda sua gestão, o senhor decidiu as-segurar o repasse de 2% da receitatributária líquida para a FAPERJ fo-mentar a Ciência, a Tecnologia e aInovação. Passados três anos, comoo senhor avalia esta sua decisão?

Tratava-se, obviamente, do cumpri-mento da legislação que determina orepasse de 2% da receita tributária lí-quida para a FAPERJ e que não vi-nha sendo cumprido. Por outro lado,é consensual que o progresso eco-nômico tem como instrumento prin-

cipal a inovação, por meio das pes-quisas científicas e tecnológicas quepropicia, inclusive, a transformaçãodo cenário produtivo dos países,como os asiáticos, que exemplificamcom clareza tal estratégia. A FAPERJtem como missão fomentar a culturada investigação científica que, em de-corrência, poderá resultar na inova-ção como um produto de qualidade,e, assim, cumprindo com excelênciaa sua participação na execução da po-lítica de desenvolvimento da nossagestão. Para isto, incentivos como aFAPERJ tem realizado, estimulandoa pesquisa científica e tecnológica emáreas estratégicas para o estado e parao País, não somente em instituiçõesde ensino e pesquisa, mas tambémcom o apoio à inovação em micro epequenas empresas, com recursospara o desenvolvimento de pesquisase bolsas para a formação de pesqui-sadores e fixação de pós-doutores,vem ao encontro dos anseios dasassociações empresariais e começa a

Sérgio Cabral: �Considero a comunidade científicauma grande aliada na superação de todos os desafios doEstado moderno, e que pode contribuir efetivamente paraaumentar a eficiência das ações de governo�

ENTREVISTA

Fotos: Carlos Magno

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atender ao pressuposto na Lei Esta-dual de Inovação.

O senhor tem reiterado que é im-prescindível utilizar o conhecimen-to gerado pelas universidades pú-blicas fluminenses em favor do de-senvolvimento social e econômicoda população do estado. Como andaa relação das universidades com oExecutivo estadual?

As universidades devem se constituirna nossa principal fonte de consul-toria na prospecção de rumos e es-tratégias de governo, bem comoposicionar-se como parceira no apoioao cumprimento de nossos progra-mas de governo, por meio de um for-te alinhamento a todas nossas fun-ções de estado. Nossas Uerj, Univer-sidade do Estado do Rio de Janeiro,Uenf, Universidade do Norte Flu-minense, e Uezo, Centro Universitá-rio da Zona Oeste, têm demonstra-do plena consciência deste papel e sealinhado, cada vez mais, aos esforçosno sentido de um crescimento eco-nômico e social autossustentado eorientado à melhoria da qualidade devida de nossa população. Ainda quetenhamos experimentado avançosnesta relação, é verdade que o pro-cesso é lento, pois, na verdade,estamos a �desconstruir� uma cultu-ra de distanciamento de muitas dé-cadas. Também é fato concreto oapreço e o reconhecimento dos pes-quisadores das universidades públi-cas fluminenses pela nova propostade ação da FAPERJ, que vem sendoaplicada a partir de 2007. A tendên-cia é tornar ainda mais objetiva eatraente a possibilidade de alcancedos benefícios esperados, capacitan-do as universidades estaduais a conti-nuarem a auxiliar o estado na resolu-ção de questões imediatas e funda-mentais para o nosso desenvolvimen-to econômico e social.

No mês de setembro de 2009, o pro-grama Rio Inovador promoveu umamostra no Palácio Guanabara, comos produtos e protótipos desenvol-vidos com o apoio do estado à área

de pesquisa e inovação tecnológica.Especialistas apontam que esse é umdos gargalos para o desenvolvimen-to do País, já que a maioria dos nos-sos pesquisadores está dentro dasinstituições de ensino e pesquisa, enão na iniciativa privada. Como essequadro pode ser revertido?

O estado do Rio de Janeiro reúne con-dições bastante favoráveis no que dizrespeito à inovação, possui um qua-dro de cientistas de excepcional qua-lificação, é sede de mais de umacentena das mais importantes insti-tuições de Ciência e Tecnologia doPaís e possui uma forte capacidadeempreendedora no setor empresari-al. A inovação já vem ditando o rit-mo de nosso dia a dia, mas somoscapazes de mais. Ainda existem obs-táculos a serem superados para aconcretização da sinergia universida-de-empresa-governo, fundamentalpara os processos de inovação. Re-pousam ainda muitos mútuos precon-ceitos entre essas instituições, mas quepoderão ser erradicados no momen-to em que nos atribuamos desafioscomuns. Ao quebrar os muros queseparam estas instituições e construirpontes entre elas, naturalmente esta-remos promovendo as migrações,não apenas de cientistas e pesquisa-dores para as empresas, mas tambémaproximando experientes empreende-

dores privados de uma vivência aca-dêmica, e ambos se articulando paraapoiar o papel principal da inovaçãoa serviço da sociedade. O programaRio Inovador, desenvolvido pelaFAPERJ, tem propiciado iniciativasconcretas na área da Pesquisa e daInovação que aproximam universida-de e empresa e nos animam a acredi-tar na expansão dos seus êxitos emescala progressiva. A pesquisa cien-tífica tem como propósito efetivo aviabilidade de seu aproveitamento embenefício da sociedade e é isso o quepercebemos no Rio Inovador, aproxi-mando universidade e empresa, ge-rando renda, desenvolvimento e em-pregos, e isso é inovação. É um es-forço em que todos ganham! Este éum programa que precisa ser cada vezmais apoiado.

O programa Estado Digital já espa-lhou o sinal da banda larga gratuitaem diversos pontos da cidade, daZona Sul à Baixada Fluminense. Aospoucos, a população parece compre-ender a importância dessa iniciativade oferecer acesso gratuito à redemundial de computadores, sobretu-do aos menos favorecidos. De queforma o projeto pode levar àmelhoria da qualidade de vida dapopulação do estado?

A utilização recente da Internet tor-nou-se também instrumento de aqui-

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sição de conhecimento, informaçãoe cultura que favorece e estimula oprocesso educacional e o aprimora-mento da cidadania das pessoasenriquecidas pelo acesso imediato àsinformações e fatos do cotidiano. Ainclusão dos menos favorecidos noacesso gratuito à rede mundial decomputadores é dever do Estado de-mocrático e uma das prioridades so-ciais de nossa gestão. O programaEstado Digital é um dos mais ambicio-sos em sua categoria, proporcionan-do acesso gratuito em banda larga aoscidadãos de todas as idades, permi-tindo a sua integração à cultura digi-tal. Ganhar cultura digital significa tera oportunidade de acessar um mun-do digital, suas facilidades de e-gover-no, e-empresa etc. Um cidadão digi-talmente incluído pode pretendermelhor se inserir no mercado de tra-balho, a ter uma participação mais ati-va na sociedade, fazendo uso de suacidadania, reivindicando seus direitos.Iniciativas pioneiras como esta doprograma Estado Digital, da Sect, como apoio da FAPERJ, cumprem o ob-jetivo de disponibilizar mais que oacesso à Internet, uma poderosa fer-ramenta de cidadania à disposição dapopulação fluminense.

O senhor afirmou que sediar os Jo-gos Olímpicos de 2016 é resultadode parceria inédita das três esferasde governo e contribuirá para recu-perar a autoestima do carioca. Deque forma as instituições de ensinoe pesquisa do estado poderão con-tribuir para o êxito dos jogos?

Sediar as Olimpíadas e Paraolim-píadas de 2016 na nossa cidade foiuma das mais importantes conquis-tas da notável parceria das três esfe-ras de governo e que, certamente,promoverá impactos sensíveis naformação dos atletas brasileiros eampliará a participação das popula-ções nas práticas esportivas compe-titivas ou não. Saúde também se con-quista com exercícios e hábitos es-portivos em todas as idades. AFAPERJ, certamente, será atraída a

estimular pesquisas científicas quecontribuam, de algum modo, para oêxito do empreendimento e suasconsequências beneficiando a popu-lação, promovendo a inovação nosesportes. Não se pode esquecer tam-bém que, concomitantemente, serãorealizadas as paraolimpíadas, e a FA-PERJ já vem apoiando pesquisas nosentido da construção da cidadaniaplena das pessoas com deficiência,melhorando, assim, a sua qualidadede vida e o seu desempenho físico.

O governo estadual tem incentiva-do novas iniciativas no ensino, tan-to no convencional como no ensinotécnico profissionalizante. Como osenhor avalia o crescimento do en-sino técnico e a sua inserção no pla-no estratégico para o ensino médiono Estado do Rio de Janeiro?

A Educação Profissional e Tecno-lógica é importante no processo degeração de renda, melhoria dos níveisde emprego e crescimento econômi-co. Cerca de 60% da população em-pregada demanda níveis de quali-ficação profissional mais exigentestecnologicamente, constituindo-se nocontingente mais expressivo quantita-tivamente dos programas de forma-ção profissional. A Educação Técni-ca para os concluintes do ensino mé-dio será sempre um programa edu-cativo que demanda qualidade e de-sempenho eficiente. Os tecnólogossurgem, mais recentemente, como im-portantes recursos humanos de nívelsuperior, em focos das áreas do co-nhecimento que cresceram em decor-rência do progresso científico etecnológico. A Faetec está em francoprogresso com investimentos consi-deráveis em suas ações específicas e aUezo cresce na medida das deman-das empresariais, com expressivoapoio da FAPERJ, na implantação delaboratórios e em pesquisas tec-nológicas estratégicas. Não se pode,entretanto, esquecer o ensino médiotradicional, obrigação do Estado, parao que a FAPERJ tem contribuído sen-sivelmente, com iniciativas para o

desenvolvimento de métodos de en-sino mais eficientes e para a produ-ção de material didático.

Em anos recentes, cresceu de formasignificativa o número de eventosvoltados para a divulgação científi-ca em todo o Estado do Rio de Ja-neiro. Alguns analistas dizem que acidadania plena passa, também,pela compreensão da importânciada Ciência no cotidiano da popula-ção. Nesse sentido, qual a impor-tância para o estado de promover edivulgar a ciência?

A popularização da Ciência é neces-sidade decorrente da melhoria da qua-lidade nos níveis de desempenho daeducação básica, seja no ensino fun-damental ou no ensino médio. A cu-riosidade científica deve ser estimula-da desde cedo nas crianças e nos jo-vens, como uma antevisão de seu in-gresso futuro nos campos da Ciênciae da Tecnologia. A FAPERJ tempromovido iniciativas exitosas, mui-

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tas vezes em parceria com a Faetec eo Cecierj, em eventos em todos osmunicípios do estado, sempre comsignificativa participação das popula-ções locais. A ciência é parte funda-mental de nosso mundo moderno, eo papel da divulgação e da popu-larização da ciência é o de ser um ins-trumento de construção da cidadania.De fato, a cidadania se reafirma àmedida que o conhecimento se am-plia, por meio das aplicações da ciên-cia à vida cotidiana, para toda a po-pulação, sem distinção. Não se trata,porém, de apenas instrumentalizar ocidadão para o debate na sociedadedemocrática, mas, principalmente, deinseri-lo na cultura de nossos tempos.

Instituições de ensino e pesquisasediadas no estado mobilizam seusquadros para o trabalho em pesqui-sas que abordam temas em áreasestratégicas, como segurança públi-ca, desenvolvimento sustentável,

doenças negligenciadas e tráfico/consumo de drogas. Como o senhorvê essa mobilização e em que me-dida a comunidade científica podeajudar a encontrar soluções para osproblemas enfrentados pela popu-lação fluminense?

Os problemas enfrentados pela po-pulação do estado decorrem do seucrescimento populacional e da expan-são das cidades, nem sempre obede-cendo a um planejamento urbanocompatível. Questões como seguran-ça do cidadão, saúde pública e meioambiente, por exemplo, reclamam tra-tamentos emergenciais para os quaisa comunidade científica pode contri-buir efetivamente, aumentando a efi-ciência das ações e alcançando me-lhores resultados. Considero a comu-nidade científica uma grande aliada nasuperação de todos os desafios doestado moderno, sendo a FAPERJum dos mais privilegiados canais paramediar estas relações de resultado, por

meio de seus programas de apoio àsiniciativas que visem à melhoria devida dos cidadãos do estado.

Passados três anos de sua gestão àfrente do Executivo estadual, comoo senhor vê o papel desempenhadopela FAPERJ?

Estou consciente da importância dopapel da FAPERJ na minha gestão àfrente do governo do Estado do Riode Janeiro, e reafirmo que ela tem al-cançado um expressivo desempenhoqualitativo nestes três anos, no alcan-ce de seus investimentos em C,T&I.Defendo que essa participação decisi-va na execução e elaboração da políti-ca de C,T&I do estado possa ser am-pliada. O apoio à FAPERJ precisa serconsolidado, como uma política deEstado e não de governo. Desta for-ma, ganham as instituições de pesqui-sa, as empresas que buscam inovação,a população fluminense, e o Estadodo Rio de Janeiro. É desta forma quepoderemos experimentar um desen-volvimento econômico e social rele-vante. Também deve ser lembrado queo Estado do Rio de Janeiro dispõe dasmaiores reservas de petróleo do País,e exerce um papel relevante na criaçãode tecnologias inovadoras neste cam-po. Tem se tornado públicos e notóri-os os nossos pronunciamentos sobrea participação do Estado do Rio deJaneiro na exploração iminente dasreservas do pré-sal do litoral brasilei-ro. No entanto, não se trata apenas deuma questão de percentuais de royalties,mas, por outro lado, serão elevados osinvestimentos públicos e privados de-correntes e desafiadores, tanto para oplanejamento socioeconômico comotecnológico, e a FAPERJ, certamente,exercerá papel importante ao estimu-lar pesquisas que viabilizem benefíci-os concretos para a população. Nãohá dúvida que, sob o comando do se-cretário Alexandre Cardoso e do pro-fessor Ruy Marques, tornou-se nítidoo avanço experimentado, e assim devecontinuar, com a FAPERJ reafirman-do-se como uma das maiores agênci-as de fomento à C,T&I no Brasil.

Cabral: �É consensual que o progresso econômico tem como instrumento principal a inovação�

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Museu daPatologia da Fiocruz

Em 1903, o sanitarista Oswal-do Cruz pediu aos patologistas do então Instituto Soro-

terápico Federal que guardassem alipeças anatômicas e amostras de pa-tologia para estudos. Para que des-sem conta dessa tarefa, criou entãoo Museu da Patologia, que hoje inte-gra o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O acervo do museu, devalor inestimável, reúne órgãos hu-manos de importantes casos médi-cos, coletados por grandes nomes daciência nacional, quase 500 mil amos-tras de fígado recolhidas durantecampanhas para controle da febreamarela no País, e materialhistopatológico de modelos experi-mentais. �A restauração das coleçõesque compõem o museu resgata operfil empreendedor de OswaldoCruz�, diz Barbara Dias, uma dasidealizadoras do projeto. �Ele diziaque, para fazer pesquisa no País, ainstituição precisava contar com umacervo biológico próprio, e que nãoera possível estudar febre amarela,um de seus objetos de pesquisa, compeças provenientes de outros países�,lembra a microbiologista.

Disponibilizado ao público em suaversão virtual, graças ao apoio daFAPERJ � o projeto foi um dos

contemplados no edital Difusão ePopularização da Ciência eTecnologia de 2007�, o museu é for-mado por três coleções científicas,instaladas nas dependências do ins-tituto, em Manguinhos: a Coleçãoda Seção de Anatomia Patológica,que corresponde à coleção originaldo museu criado por Oswaldo Cruz;a de Febre Amarela, fruto de con-vênio do governo brasileiro com aFundação Rockefeller e a Coleçãodo Departamento de Patologia,acervo gerado em 25 anos de pes-quisas em Patologia Experimental.�Com apoio do BNDES, consegui-mos realizar a digitalização de 90 millâminas da Coleção de Febre Ama-rela. Estas imagens estão sendo or-ganizadas em um banco de dadosque apresentará as informações decada um dos casos humanos quecompõem o acervo. Futuramente, osusuários terão acesso a essas infor-mações a partir do site�, explica ocoordenador do projeto e chefe doLaboratório de Patologia do IOC,Marcelo Pelajo Machado.

No site, acessível no endereço<museudapatologia.ioc.fiocruz.br>,uma das seções é voltada diretamen-te a professores de ensino funda-mental e médio, com conteúdo pe-dagógico e atividades on-line para au-xiliar no ensino em sala de aula. Essa

ganha versãoeletrônica

Rosilene Ricardo

ACERVO

Foto: Divulgação/Fiocruz

área de navegação do site se trans-formou em uma das mais acessadase, desde o lançamento, em junho, járecebeu mais de 2.500 visitantes.Entre as opções de navegação ofe-recidas, pode-se interagir com umquiz de perguntas e respostas sobreas coleções ou visitar, virtualmente,o salão que reúne o acervo. Segun-do Marcelo, a próxima meta é lan-çar versões do site em inglês e emespanhol para facilitar o contatocom o público estrangeiro. �Já re-cebemos contato e visitas virtuais depesquisadores dos Estados Unidos,Angola, Argentina e de vários ou-tros países. Até o fim de 2009, asversões em idiomas estrangeiros jádevem estar prontas�, acredita.

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De acordo com Barbara Dias, o acer-vo propriamente dito teve sua res-tauração enfatizada há quatro anos.�Parte das lâminas coletadas à épocade Oswaldo Cruz ainda está sendorecuperada. Patologistas renomados,como Gaspar Viana, Carlos Chagas,Emmanuel Dias e Margarinos Tor-res depositaram materiais de autóp-sias e de suas pesquisas no museu�,conta a pesquisadora. �Cada peçadessa coleção corresponde a um casoestudado para investigação de mor-tes em decorrência de doenças, comoChagas e malária. Quando o acervoainda era exposto no Castelo da Fun-dação, Oswaldo Cruz chegou a rece-ber a visita do físico Albert Einsten�,lembra Barbara.

A Coleção da Seção de Anatomia Pa-tológica é composta por 854 peçashumanas mantidas em formol, já re-cuperadas, que se encontram preser-vadas em grandes recipientes de vi-dro. É considerada a mais expositiva.A Coleção de Febre Amarela, por suavez, reúne 498 mil fragmentos de fí-gado (coletados por viscerotomia) decasos suspeitos da doença, obtidosentre as décadas de 1930 e 1970, emtodo o território nacional e em paí-ses vizinhos. Esse material, fruto deconvênio entre o governo brasileiroe a Fundação Rockefeller, era reuni-do e processado no então Labora-tório de Histopatologia de FebreAmarela, instalado no PavilhãoRockefeller, construído a partir do

Coleções restauradas: acervo criado por Oswaldo Cruz reúne cortes histológicos coletados ao longo da história da ciência no País

Com conteúdopedagógico eatividades on-line,iniciativa iráauxiliar no ensinoem salas de aulado ensinofundamental emédio

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convênio. �Cada fragmento de fíga-do, fixado em formalina, era clivado,emblocado em parafina e gerava lâ-minas histológicas coradas para di-agnóstico�, relata Barbara. Desta for-ma, começou a ser formado o acer-vo da Coleção de Febre Amarela, queatualmente é composto por cerca de1,5 milhão de peças. �Hoje, o traba-lho está concentrado na recuperaçãodas lâminas, que já totalizam cercade 20% do total do acervo�, explicaa microbiologista.

A Coleção do Departamento de Pa-tologia é composta por materiais deanimais, para estudos nas mais diver-sas condições. São tecidos de camun-dongos, de galinhas e de outros ani-mais normais ou infectados poresquistossomos ou tripanossomos,por exemplo. Esse material aindahoje é utilizado pelos pesquisadorespara consulta e pesquisa.

Como seria de se esperar, as peçassofreram a ação do tempo, uma vezque muitas têm cerca de 100 anos.Para recuperá-las, foi feita uma lim-peza técnica dos vidros e troca dofixador das peças da Coleção da Se-ção de Anatomia Patológica e dasviscerotomias da Coleção de FebreAmarela. �Agora, já com pouco maisde 50% das amostras de fígado res-tauradas, estamos resgatando as lâ-

minas com cortes histológicos damesma coleção�, prossegue Barbara.

Cada uma das coleções mantém suaespecificidade, mas todas guardamaspectos importantes da memória doque foi realizado pelo Setor de Pato-logia do instituto ao longo dos anos.�Além de resgatar a memória, o tra-balho de recuperação permite tam-bém que o material seja estudadocom as novas tecnologias que dispo-mos hoje�, explica a pesquisadora.�As lâminas da Coleção de FebreAmarela, por exemplo, ainda estãobem preservadas. Embora o corte domaterial não tenha a mesma preci-são e qualidade que dispomos atual-mente, sabemos que podemos fazere refazer laudos. Ainda se pode ob-ter um diagnóstico preciso.�

De acordo com Barbara, com os mi-croscópios fabricados até a décadade 1960, já era possível diagnosticara maioria dos casos de febre amarelae malária, comuns na época. O avan-ço dessas tecnologias, desde então,vem contribuindo para aumentar aprecisão dos exames. �Hoje, além datecnologia, os métodos para diagnós-

tico avançaram e houve a criação denovas técnicas, como aquelas espe-cíficas para ver moléculas.�

Mas as peças que agora foram � econtinuam sendo � restaurada, sãoapenas uma parte do acervo original.Pelo que contam os antigos funcio-nários, como o auxiliar de necrópsiaNelson Araújo Silva, e como está re-gistrado nas páginas do livro Massacre

de Manguinhos, de Herman Lent, du-rante a ditadura militar, entre 1960 e1970, boa parte do material foidestruída e jogada no lixo. �Perdeu-se parte da documentação e um gran-de número de peças históricas. Foigraças ao esforço dos pesquisadoresresponsáveis pelo acervo, desde en-tão, que permitiu salvar uma parte dacoleção�, diz Barbara. �Alguns che-garam a ponto de esconder as amos-tras em casa e em outros locais daFundação�, revela. Um levantamen-to feito pelos pesquisadores em anosrecentes revelou que, se antes haviacerca de 40 armários com uma mé-dia de 100 amostras em cada um, aofinal, restaram apenas dois armários.�O esforço está valendo a pena.Hoje, o instituto guarda uma parteimportante da história da medicinano País. Com certeza, trata-se de umacontribuição inestimável para a ciên-cia fluminense e brasileira.�

Pesquisadores: Bárbara Dias eMarcelo PelajoInstituiçaõ: Instituto Oswaldo Cruz(IOC/Fiocruz)

Além de resgatar aspectos importantes da memória da instituição, o trabalho derecuperação do acervo tornará possivel seu estudo com ajuda das novas tecnologias

Foto: Divulgação/Fiocruz

Site tem uma seção voltada diretamentepara professores do ensino fundamental e

médio, com conteúdo pedagógico

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Passaporte paraa inclusão

Huap ofereceatendimentoespecializado e gratuitopara bebês comsíndrome de Down esuas mães, comacompanhamentodurante o pré e opós-natal

Cerca de 8 mil bebês nascem com síndrome de Down todo ano no Brasil. Além de serem

alvo do preconceito social, os porta-dores da trissomia do cromossomo21 sofrem com a falta de estruturaadequada no sistema público de saú-de para um apoio integral às suas ne-cessidades especiais. Pensando emoferecer atendimento gratuito e es-pecializado a essas crianças e suasmães, os professores Alan AraújoVieira, Renato Augusto Moreira de Sá,Waldercyr Herdy Alves e Luciana deBarros Duarte desenvolvem, no Hos-pital Universitário Antônio Pedro, daUniversidade Federal Fluminense(Huap/UFF), o projeto Uma nova

abordagem ao binômio mãe/bebê com

síndrome de Down, contemplado peloedital Apoio à Construção da Cidadania

da Pessoa com Deficiência, da FAPERJ.

O ponto de partida do projeto foiimplementar um centro de pesquisavoltado para o aprimoramento dodiagnóstico durante o pré-natal e oacompanhamento pós-natal. Segun-do Alan Vieira, a detecção precoceda anomalia genética, ainda no ven-tre materno, é um diferencial para ofe-recer um tratamento adequado paramães e filhos. �O diagnóstico preco-ce permite preparar a família para re-ceber melhor o recém-nascido comsíndrome de Down, além de favore-cer o atendimento, visando minimizaras complicações perinatais�, diz.

Débora Motta

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Para saber se o feto é portador dacromossomopatia, recorre-se ao usoda tecnologia. O software de análiseantenatal, proveniente da Fetal

Medicine Foundation, de aplicação iné-dita na rede de saúde pública do Es-tado do Rio de Janeiro, ajuda no diag-nóstico da síndrome de Down, comprobabilidade de �falso positivo� deapenas 5%. �O programa associa fa-tores biofísicos, como translucêncianucal, identificação do osso nasal eDoppler do ducto venoso, marca-dores bioquímicos, como dosagemsérica de âhCG e de proteína Aplasmática associada à gestação e ohistórico familiar, o que gera umapontuação que indica a probabilida-de do feto ter cromossomopatias�,explica Vieira.

A partir dessa alta probabilidade, écoletado material fetal para avaliaçãodo cariótipo. �Desde 2006, já foramrealizados mais de 90 diagnósticos decromossomopatias, e, entre estes, 31casos de síndrome de Down�, com-pleta. Após receberem o diagnósti-

mães e suas crianças especiais. �Exis-tem cerca de 2 milhões de habitan-tes nessa região, mas não existe ne-nhum outro hospital público queofereça um serviço especializado ematender portadores da síndrome deDown�, destaca.

Um caso acompanhado pelo grupoque merece destaque foi o de umfeto diagnosticado precocemente,que, entre outras complicações,apresentava derrame pleural. A equi-pe realizou uma intervenção cirúr-gica no bebê, ainda no ventre ma-terno, para prevenir o desenvolvi-mento de hipoplasia pulmonar �caracterizada pelo desenvolvimen-to de insuficiência pulmonar, rela-cionada à compressão intrínseca ouextrínseca do tórax fetal. �O fetoevoluiu bem, nascendo a termo erecebendo alta hospitalar em trêsdias após a retirada da derivaçãotorácica�, conta o pesquisador.

O professor lembra ainda que, namaioria dos países desenvolvidos, asmães que recebem diagnóstico deque seus fetos têm cromossomo-patias, como a síndrome de Down,não raro são aconselhadas à interrup-ção da gestação. �O tema ainda é umtabu e existem poucas pesquisas ci-entíficas voltadas para o estudo des-sa anomalia genética�, avalia Vieira,ressaltando a importância do proje-to. �Os pacientes especiais precisamser atendidos de uma forma peculiarpara que conquistem uma inclusãosocial plena.�

co positivo da anomalia genética �principal causa de atraso no desen-volvimento motor em crianças �, asmães são encaminhadas para dar àluz de uma forma mais humanizada.

Região metropolitanade Niterói ganhaserviço diferenciado

As pacientes são direcionadas a umprograma de incentivo à ama-mentação, com cuidados fisioterápi-cos específicos e apoio psicológicoà gestante. Vieira acrescenta quemães e bebês são acompanhados poruma equipe de saúde multidisciplinar,formada por médicos (obstetras, pe-diatras e neonatologistas), fisiotera-peutas, psicólogos, nutricionistas,assistentes sociais e enfermeiros.

O centro é o único em toda a regiãometropolitana de Niterói a oferecerum atendimento diferenciado para

Pesquisador: Alan Araújo VieiraInstituição: Hospital UniversitárioAntônio Pedro, da UniversidadeFederal Fluminense (Huap/UFF)

À esq., Luciana Duarte e Alan Araújo; à dir., Renato Sá: equipe multidisciplinar reúnemédicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros e assistentes sociais

Diagnóstico precoce da síndrome de Downminimiza as complicações perinatais e

prepara melhor a família

Foto: Divulgação

Foto: Reprodução

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Um dos desafios mais urgen-tes do Brasil é aumentar oinvestimento em pesquisa e

desenvolvimento nos próximos anos.Tão importante quanto isso é fazercom que o conhecimento gerado seconverta em dividendos para toda asociedade, não ficando limitado a la-boratórios e centros de pesquisas. Aprimeira tarefa é complexa em qual-quer lugar do mundo, em especial em

I N O V A Ç Ã O

um país ainda carente das necessida-des mais básicas, como ensino fun-damental e básico de qualidade, saú-de, saneamento, segurança. Entretan-to, essa dívida social não pode maisservir de desculpa para não se enca-rar essa empreitada e buscar umanova posição no cenário mundial.

É exatamente nesse contexto que oRio de Janeiro está inserido e diantedessas escolhas que o governo doestado se deparou em 2007. E foicom coragem e visão estratégica que

o governador Sérgio Cabral decidiu,priorizando esses dois tipos de de-manda e tratando-os como comple-mentares, e não mais como incom-patíveis. Desse modo, garantiu 2% dearrecadação tributária líquida do es-tado para a FAPERJ, mudando a rea-lidade da instituição. Por isso, é fun-damental o empenho de todo o go-verno em reduzir e melhorar o per-fil dos gastos públicos, abrindo es-paço para aumento dos investimen-tos no que realmente é estratégico.

a serviço do desenvolvimento

Julio Bueno

ARTIGO

O governador Sérgio Cabral examina protótipo de robô durante mostra de inovação realizada no Palácio Guanabara

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A estimativa é que a FAPERJ invista� incluindo convênios com outrasinstituições � mais de R$ 1 bilhão nosquatro anos do governo Cabral.

Encaminhada a primeira parte dodesafio, outro passo importante éacertar no direcionamento das pes-quisas, para que o conhecimentoseja empregado cada vez mais emtemas que contemplem as deman-das da sociedade. Essa tarefa estásendo bem encaminhada pelaFAPERJ e pela Secretaria de Esta-do de Ciência e Tecnologia, que vembuscando aproximação cada vezmaior com o setor industrial.

É fundamental induzir o setor priva-do a entrar nesse caminho, aumen-tando sua participação no setor do-minado, predominantemente, pelasuniversidades. Vale ressaltar que essaé uma questão de muitos países e nãoapenas do Brasil, sendo pauta de dis-cussão da Organização para a Coo-peração e Desenvolvimento Econô-mico (OCDE), organismo internaci-onal do qual participam 30 países.

De acordo com pesquisa da OCDE,o volume de recursos aplicados empesquisa e desenvolvimento temcorrelação com a participação das

empresas no setor. O mesmo se dáem relação ao PIB per capita: nospaíses em que esse indicador é mai-or, mais dinheiro é direcionado àpesquisa e ao desenvolvimento.Com os 2% garantidos no Orça-mento do governo do estado � equi-valente ao de países europeus �, anecessidade de aumentar os inves-timentos nessa área aponta comosaída o maior envolvimento de com-panhias com o tema.

O esforço é vital para que o Rio deJaneiro e o Brasil respondam à alturao aumento de investimento em ino-vação observado nas regiões quecompõem a OCDE � Europa, Esta-dos Unidos, Canadá, México, Japão,Coreia do Sul, Austrália e NovaZelândia. De acordo com levanta-mento da entidade, de 1996 a 2006,o investimento anual no setor pas-sou de US$ 468 bilhões para US$ 818bilhões. Ainda segundo a OCDE,estudo mais recente (de 2008) mos-tra que o volume de recursos aplica-dos na área é crescente no Brasil, naChina e na Índia, simultaneamente àredução observada entre nações de-senvolvidas.

Ainda assim, estamos atrás, porexemplo, de Malásia, Índia e China

em relação ao número de patentesconcedidas, segundo o USPTO(United States Patent and Trademark

Office): no quadriênio 2005-2008, oBrasil apresentou queda de 12% emrelação ao período anterior. En-quanto isso, os três países registra-ram, respectivamente, expansão de128%, 81% e 93%. Em números ab-solutos, foram 389 patentes no Bra-sil contra 511 (Malásia), 2.046 (Ín-dia) e 4.321 (China).

Neste contexto e com os reflexos dacrise econômica mundial, o momen-to é propício para o Brasil, já que opaís foi um dos que menos sofreramos impactos negativos e largou nafrente no processo de recuperação deatividade econômica. Então, enquan-to as nações desenvolvidas tendem areduzir recursos em novos projetos,incluindo inovação tecnológica, faz-se necessário encarar o cenário atualcomo uma grande oportunidade. Emais: olhar com muita atenção omovimento de nossos pares e bus-car, no mínimo, acompanhar o de-sempenho deles.

O ritmo de inovação mundial deveperder fôlego nos próximos anos.Novas previsões da OCDE estimamexpansão média de 2% até 2011, con-tra 6% esperados anteriormente. Po-rém, a China deve alcançar 11% noperíodo. Daí a necessidade de não fi-car apenas acima da média, mas simolhar os melhores resultados, princi-palmente quando vêm de países emdesenvolvimento. Uma das estratégi-as do gigante asiático para chegar aosdois dígitos é atrair empresas estran-geiras para seu território em associa-ção com companhias chinesas. Assim,acreditam adquirir conhecimento paramelhorar produtos e serviços. Cami-nho parecido foi trilhado pela Coréiado Sul na década de 1990.

Uma vez mais está posto à mesa odebate Inovação x Invenção. Especialis-tas defendem que as duas vertentessão importantes, sendo que o Brasil

Foto: Vinicius Zeppeda

Inovação em alta: parcerias de empresas com instituições de pesquisa têm apoio do governo

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encontra-se em fase de fazer o queoutros países já fazem, ou seja, focarem inovação. De acordo com esti-mativas da Confederação Nacionalda Indústria (CNI), 30 mil empresasbrasileiras declaram inovação emprocessos e produtos � sendo queum quinto investe em pesquisas �,universo que a entidade pretendedobrar em quatro anos.

Agora, focando especificamente noRio de Janeiro, o estado concentraum número expressivo de centrosde pesquisa e excelência, sendo omaior formador de cientistas dopaís. No entanto, esse fator não fazdo Rio a primeira unidade da fede-ração em patentes por vários moti-vos. Dentre os quais, boa parte dosnossos talentos migrava para outrosestados em busca de melhores con-dições de trabalho, repetindo ten-dência observada no mercado pro-fissional em geral.

A boa notícia é que, pela primeira vezdesde 1992, o Rio de Janeiro voltoua receber mão-de-obra de outros es-tados: 200 mil pessoas no ano pas-sado, segundo levantamento do Ins-tituto de Pesquisa Econômica Apli-cada (Ipea), com base na Pnad 2008.A maior parte dos trabalhadores é

oriunda de São Paulo e foi atraídapela indústria, em especial a cadeiado petróleo. Nos últimos dois me-ses, três novos centros de pesquisaforam anunciados no estado, especi-ficamente no Parque Tecnológico daUFRJ, na Ilha da Cidade Universitá-ria. As unidades serão instaladas paraatender a demanda petrolífera, sen-do um da francesa Schlumberger,outro da americana Baker Hughes eo terceiro da Usiminas, para áreas desiderurgia e metalurgia, com previ-são de atender a demanda do pré-salna primeira fase.

O governo do estado entende aindaque P&D e inovação devem estar aserviço da sustentabilidade. E umadas frentes para viabilizar esse link éo Programa Estadual de Racionali-zação do Uso de Energia (Proren),coordenado pela Secretaria de De-senvolvimento Econômico e quevisa garantir a eficiência energéticado estado e obter a mitigação de im-pactos ambientais. Alguns de seusprojetos incentivam o uso de fontesrenováveis � eólica e solar � e a redu-ção do consumo de energia elétricae gás, inclusive financiando projetosvia Agência de Fomento do Estadodo Rio de Janeiro (Investe Rio).

Foto: Divulgação/Palácio Guanabara

Julio Bueno, engenheiro, éSecretário de DesenvolvimentoEconômico, Energia, Indústria eServiços do Estado do Rio deJaneiro

Mostra Rio Inovador, apoiada pelo governoestadual: previsões do OCDE apontam paraqueda no ritmo de inovação mundial e Paísainda precisa aumentar investimentos no setor

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na era da informáticaUezo, na Zona Oeste, terá núcleo de computação dealto desempenho como aliado em pesquisas voltadasao desenvolvimento do parque industrial da região

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A Zona Oeste do Rio ganhará, no pri- meiro semestre de 2010, mais um impulso rumo ao seu desenvolvi-

mento científico e tecnológico. O CentroUniversitário da Zona Oeste (Uezo) se pre-para para inaugurar uma rede de informáticaque reforçará o papel da instituição comoum polo de tecnologia avançada na região: oNúcleo de Computação de Alto Desempe-nho (NuCAD). O núcleo se insere no con-texto do aumento da demanda pela compu-tação de alta performance, consequência danecessidade crescente de aplicações com altopoder de processamento para diversos finsde pesquisa, recorrendo à simulação e à com-putação científica.

Com o aprimoramento e a popularização dainformática, ficou mais fácil armazenar gran-des volumes de dados. No entanto, torna-senecessária uma infraestrutura tecnológica demaior alcance, capaz de manipular essa gran-de quantidade de informações em tempohábil para a tomada de decisões. �A compu-tação de alto desempenho envolve tanto apreparação de um sistema computacionalcom processamento distribuído em váriasmáquinas ao mesmo tempo, como o desen-volvimento de algoritmos capazes de fazerum processamento matemático de uma gran-de base de dados e extrair informações rele-vantes em curto espaço de tempo�, explicao coordenador do NuCAD e professor doColegiado de Computação e MatemáticaAplicada (CCMAT) da Uezo, RogérioEspíndola.

O NuCAD vai empregar métodoscomputacionais intensos e complexos, tan-to para simulações numéricas como para oprocessamento de dados experimentais. �Onúcleo será voltado para processar bases dedados extremamente grandes, com informa-ções na maioria das vezes complexas. Pre-tendemos avaliar dados que não poderiamser processados com baixos recursoscomputacionais, como imagens de satélitese perfis de poços de petróleo�, diz o profes-sor do CCMAT José Luiz Rosa, também in-tegrante do NuCAD.

Com implantação prevista para o mês demarço, o Núcleo de Computação de AltoDesempenho da Uezo será composto portrês laboratórios: a sua sede, que vai alojar30 computadores e três servidores � emprocesso de aquisição, com apoio daFAPERJ � e dois laboratórios, já em funcio-namento: o Núcleo de Computação Cien-tífica (NCC) e o Núcleo de Tecnologia daInformação (NTI).

O laboratório principal funcionará como umcluster, ou seja, um conjunto de computado-res (no qual cada computador é chamado�nó�) interconectados por uma rede de fi-bra óptica, construídos especificamente paraos cálculos envolvidos em uma dada simula-ção ou modelagem. �Para processar a mes-ma quantidade de tarefas e cálculos com amesma capacidade dos computadores doNuCAD, seria necessário o uso de aproxi-madamente 240 computadores usualmenteutilizados em residências�, diz Rogério.

Os laboratórios do NuCAD serão utilizadospor pesquisadores de todas as áreas da Uezo.

Débora Motta

ENSINO SUPERIOR Ano III - nº 9 - Rio Pesquisa | 46

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Especialistas dos diversos cursos ofe-recidos pela instituição vão contarcom o apoio do núcleo para desen-volver seus estudos, a partir docompartilhamento e da análise dosdados científicos em rede. Os cur-sos oferecidos na Uezo têm perfiltecnológico, com três anos de for-mação, voltados para a prática indus-trial. São eles: Tecnologia em Análi-se e Desenvolvimento de Sistemas,Tecnologia em Biotecnologia,Tecnologia em Produção deFármacos, Tecnologia em Polímeros,Tecnologia em Processos Meta-lúrgicos, Tecnologia em ConstruçãoNaval. Há também os bachareladosem Ciências Biológicas, Ciência daComputação, Engenharia de Produ-ção e Farmácia.

�O NuCAD será um grande núcleointerdisciplinar�, assinala Rogério.�Uma determinada aplicação queexija grandes recursos compu-tacionais será executada simultanea-mente em todas as máquinas do la-boratório � sede do núcleo. Isso farácom que certas operações demora-das, das mais diversas áreas de estu-do na Uezo, tenham seus resultados

obtidos mais rapidamente. Serão pro-cessados os mais diversos estudos,desde a simulação computacional deuma pesquisa sobre o aproveitamen-to de resíduos de pilhas, sem precisargastar reagente do laboratório de quí-mica com experimentos, até o uso dacomputação algébrica para linhas depesquisa na área de teoria dagravitação�, detalha.

Impactos para a ZonaOeste

Mais que desenvolver aplicativos esistemas, o NuCAD terá como metaformar mão-de-obra especializada eproduzir soluções que atendam àsnecessidades do parque industrial daZona Oeste, região carente de pro-fissionais com formação de níveluniversitário. Em pesquisa recentesobre a economia local desenvolvi-da pela economista Renata LaRovere, da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), constatou-seque apenas 13,5% dos jovens daZona Oeste têm ensino superiorcompleto, em contraposição a 26,1%em todo o município. Já a mão-de-obra com formação secundária sedestaca na região: 45% dos jovenstêm ensino médio completo, compa-rados a 39% na capital fluminensecomo um todo.

A grande distância que separa a ZonaOeste das universidades públicas si-tuadas na Região Metropolitana é umdos fatores que justificam essadisparidade educacional, dificultan-do o deslocamento dos alunos e con-tribuindo para a evasão escolar. Em

Fotos: Divulgação/Uezo

Equipe de professores do Nucad: laboratório vai empregar métodos computacionaiscomplexos, tanto para simulações numéricas quanto para processamento de dados

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sua trajetória para se consolidarcomo um centro de ensino e pes-quisa de excelência na região, a Uezoexerce um papel fundamental parasuprir essa lacuna de profissionaisqualificados exigida pela crescenteindústria local. �Pelo menos 50%dos alunos da Uezo moram na ZonaOeste. A outra metade mora nos ar-redores, como em Seropédica eItaguaí, e boa parte é de baixa ren-da�, aponta José Luiz.

Formada por 10 regiões adminis-trativas e 41 bairros � como Cam-po Grande, Bangu, Santa Cruz,Jacarepaguá e Barra da Tijuca �, aZona Oeste ocupa metade do ter-ritório do município do Rio de Ja-neiro. Com seu campus situado emCampo Grande, a Uezo vem aten-dendo, desde a sua criação, em2006, essa necessidade de expan-são das universidades públicas parauma das áreas que mais atrai inves-timentos na cidade.

Entre os empreendimentos da regiãoque vêm absorvendo os jovens for-mados pela Uezo, estão a criação da

Companhia Siderúrgica do Atlânti-co, a expansão do grupo Gerdau eda francesa Michelin, o crescimentoda indústria biotecnológica e farma-cêutica, com a inauguração do labo-ratório francês Servier, as obras doArco Rodoviário e o crescimento dosetor de construção naval, com osportos de Sepetiba e Itaguaí.

A Uezo propõe, assim, ser uma pon-te entre o ensino superior técnico ea indústria, aliando o conhecimentoà prática no mercado. E o NuCADsegue essa mesma diretriz. �Uma dasfunções do NuCAD será prestarconsultoria às empresas instaladas naZona Oeste�, diz Rogério, adiantan-

do que outra finalidade do núcleoserá o aprimoramento dos recursoshumanos. �Pensamos em usar oNuCAD para atrair os professores,preferencialmente da rede pública,que atuem na região lecionando Ci-ências básicas, como Física e Mate-mática, e que não têm possibilidadede utilizar um laboratório para o apri-moramento em suas áreas.�

As expectativas para o futuro daZona Oeste são animadoras. A des-coberta do pré-sal promete movi-mentar mais recursos para a pesqui-sa e desenvolvimento na Uezo. �Pre-tendemos, futuramente, apresentarprojetos ligados à indústria do petró-leo, que é obrigada a destinar 1% doseu faturamento bruto à pesquisa eao desenvolvimento�, conta Rogério.�Estamos montando os alicercesdaquilo que vai ser a grande univer-sidade que nós esperamos�, completaJosé Luiz.

Atendendo aomercado, Uezo éuma ponte entre oensino superiortécnico e a indústriada Zona Oeste

Pesquisador: Rogério EspíndolaInstituição: Centro Universitário daZona Oeste (Uezo)

Núcleo de Tecnologia da Informação, um dos três laboratórios do NuCAD: proposta é formar mão-de-obra para atender a demanda local

Fotos: Divulgação/Uezo

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Em Hoje é Dia de Rock, ence-nada em 1971, no TeatroIpanema, o público assistiu

a uma radical transformação cênica.Em vez da configuração de palco ita-liano, onde o público é disposto di-ante de um palco, o que se via aoentrar eram os assentos dispostos naslaterais do teatro e a peça encenadaem um palco-corredor, envolvendopúblico e atores em um mesmo pla-no. O responsável pela ousadia foiLuiz Carlos Mendes Ripper (1943-1996), que, mais que cenógrafo, foi,antes de tudo, um inovador. Foi tam-bém um dos envolvidos no movi-mento que transformava o TeatroIpanema em um ponto de renova-ção experimental da cena carioca.

Boa parte dessa história aparece noscerca de 14 mil documentos do acer-vo pessoal de Ripper, que, em carta-zes, folhetos, convites de peças e ano-tações a lápis, em que passava para o

Luiz Carlos Ripper,que marcou a cenateatral a partir dadécada 1970, temseu acervocatalogado e seutrabalho ganhadestaque em cursode Pós-graduaçãoem Artes Cênicasda UniRio

quivo fotográfico da família Ferrez,hoje na posse do Instituto MoreiraSalles. Já higienizado, o acervo deRipper está sendo digitalizado, emalta resolução, por técnicosespecializados � já que tratar um ma-terial tão diversificado é uma área ain-da experimental no País �, para pos-terior criação de um banco de dados.

Mas o tratamento do acervo vai alémdo reconhecimento e catalogação domaterial. O arquivo pessoal, cedidopelo irmão do artista à Escola deArtes Técnicas (EAT) Luiz CarlosRipper, dirigida por Jalusa Barcelose ligada à Fundação de Apoio à Es-cola Técnica do Estado (Faetec), en-contrava-se desordenado e precaria-mente encaixotado.

Em acordo firmado com a Faetec,esse material está sendo organizadocom vários objetivos. Na EAT, porexemplo, objetos pessoais e mais al-gumas peças serão integradas a umaexposição permanente, constituindo

Um radical transformador cênico

papel as ideias que fervilhavam emsua mente criativa, deixou um vastomaterial sobre as Artes Cênicas dadécada de 1970. Material esse queestá sendo devidamente organizadopela cenógrafa Lídia Kosovski, pro-fessora e coordenadora do Progra-ma de Pós-graduacão em Artes Cê-nicas da Universidade Federal do Es-tado do Rio de Janeiro (UniRio), epor Heloysa Lyra Bulcão, suaorientanda, que tem na vertenteeducativa do trabalho de Ripper otema de sua tese de doutorado.

O projeto Riscos Cenográficos: identifi-cação e organização do acervo de Luiz

Carlos Ripper, liderado pela professo-ra Lídia Kosovski, está sendo desen-volvido com recursos do edital Apoio

à Produção e Divulgação das Artes, daFAPERJ. Para organizar o material,elas também contaram com aconsultoria técnica de Helena Ferrez,diretora, por 17 anos, do Centro deDocumentação (Cedoc) da Funarte,e responsável pela organização do ar-

Vilma Homero

Luiz Carlos Ripper: acervo pessoal do cenógrafo, com cerca de 14 mil documentos, entrecartazes, folhetos e anotações, é resgatado pela pesquisadora Lídia Kosovski, da UniRio

CENOGRAFIA

Fotos: Ari Gomes / Agência JB

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um pequeno acervo museológico, emuma iniciativa conjunta de alunos doDepartamento de Cenografia daUniRio e da própria EAT. O acervotambém está dando origem a umportal na web do Laboratório deInvestigacão Cenográfica (Lince) daUniRio, voltado especificamente àárea de cenografia. Também já ge-rou, e continuará gerando, aulas epalestras sobre o trabalho de Rippere sua importância no meio teatral.

A pesquisa levou ainda à criação docurso denominado Construção Cênica:abordagens sobre o espaço e a sua

ambientação dramática, que teve iníciono segundo semestre de 2009, naPós-graduacão em Artes Cênicas dauniversidade. Nele, os professoresLídia Kosovski, Ricardo Kosovski eJosé Dias focam a cena teatral a par-tir da perspectiva da obra de Rippere das montagens realizadas do Tea-tro Ipanema, na década de 1970.

�Estamos tentando também acres-centar dados à memória do teatro

brasileiro. Hoje, na historiografia te-atral, a década de 1970 ficou muitomarcada como a época do surgi-mento do grupo Asdrúbal Trouxe o

Trombone. O que é verdade, mas tam-bém não se pode esquecer a impor-tância do Teatro Ipanema e de ou-tras ocorrências artísticas, como aspróprias transformações propostaspor Ripper para a narrativa visual dacena teatral. Estamos propondo con-tar um pouco dessa história, não so-mente a partir do trabalho de umgrande diretor ou de um ator famo-so, mas a partir da obra de um cenó-grafo�, enfatizam Lídia e Heloisa.

Tudo isso vem exigindo da dupla umverdadeiro trabalho de detetives. Alémde croquis, vários desenhos, cartas edocumentos institucionais, há de sedecifrar as inúmeras anotações espa-lhadas em pedaços de papel. Em umdeles, por exemplo, há apenas uma in-dicação sumária, em três palavras es-critas a lápis: �boca de pedra�. �O sen-tido da obra artística e do homem co-meçam a ser construídos a partir dajunção de informações esparsas. De-pois de dar tratos a bola, descobrimos,por exemplo, que se tratava de um es-tudo para um complexo centro cultu-ral, o Espaço Boca de Pedra, queRipper pensava criar em Barra deGuaratiba, bairro da Zona Oeste doRio de Janeiro�, conta Heloísa. Paradescobrir do que tratam anotaçõescomo essa, Lídia e Heloisa estão re-correndo não só à própria memória,mas também à ajuda de quem convi-

veu com Ripper, como amigos e o pes-soal da época.

�Ripper foi um marco na cena tea-tral. Afinado com as tendências davanguarda das Artes Cênicas, ele nãosó mudou, em alguns espetáculos, aarquitetura do teatro, aproximando opúblico do que estava sendo ence-nado, como ampliou o papel do pró-prio cenógrafo. Nas peças de queparticipa, o trabalho integra atores,diretores, cenógrafo e figurinista naconcepção de criação. Como ele diz,um bom espetáculo é aquele em queninguém sabe quem fez o que, emque as coisas vão sendo construídasem conjunto�, afirma Heloisa.

Isso pode ser bem exemplificado nojá citado Hoje é Dia de Rock, de JoséVicente, em que a cena se transfor-mava em um cortejo, diante de umaplateia que assistia, pela primeira vez,tamanha transformação no espaçoteatral. �O Teatro Ipanema já traziauma proposta inovadora, reunindonomes como o de José Vicente,Rubens Correa¸ Ivan de Albuquerquee José Wilker, que encabeçava o elen-co de A China é Azul, em 1972. Nadamais natural que, com suas ideias e suaousadia, Ripper estivesse entre eles�,dizem as pesquisadoras.

Ao romper com os paradigmas bási-cos do teatro, Ripper abriu novas ver-tentes, fazendo com que o públicopassasse a ver a cena de um modo in-teiramente diferente. Em vez dos ade-reços, cenários e objetos construídoscom técnicas artesanais para produzira conhecida �imitacão� do mundoreal, como na cenografia tradicional,ele propõe uma abordagem poética,usando elementos reais de uma for-ma altamente teatral. �Esse recursohoje é linguagem corrente e fartamen-te explorada no meio, mas, naquelaépoca, era uma poética que começavaa ser delineada�, explica Lídia.

Balões de gás, por exemplo, podem re-presentar uma floresta, como aconte-

Dois momentos em cena:fotos do espetáculoAvatar, de Paulo AfonsoGrisolli, montado em1974, no MAM, sob adireção de Luiz CarlosRipper

Fotos: Divulgação/UniRio

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ce em A China é azul. Em O Dragão,peça de 1975, levada ao palco do Tea-tro Tablado, ele veste os atores comcaixas de papelão, pintadas como ca-sas, vazadas por janelas e iluminadasinternamente com lanternas, para darforma a uma cidade. �O resultado emcena é impressionante: quando essascaixas, que estavam no fundo do pal-co, começam a se movimentar inespe-radamente, avançando cena adentro,em direção à plateia. Foi um grandeimpacto, com efeito surpreendentepara o público da época, acostumadocom soluções realistas�, diz Lídia.

Em Avatar, seu primeiro trabalho dedireção, Ripper se mostra mais umavez o homem dos sete instrumentos:também produz, faz os figurinos e acenografia. Cenografia, diga-se depassagem, em que revela mais umaousadia: �Afinado com o movimentodas Artes Plásticas, Ripper constróium ambiente a partir de elementosincomuns nos espetáculos daqueletempo; coloca no palco água corrente,areia, pedra e bambu, e cria uma ilu-minação a velas. O público foi aco-modado em almofadões�, conta Lídia.

O trabalho de Ripper, no entanto, nãose limitou ao teatro. Com formaçãoem Cinema, ele assina a pesquisa deépoca, figurinos e a direção de arte,deixando sua marca nos filmes, comoComo era gostoso o meu francês, de Nel-son Pereira dos Santos, e Xica da Sil-

va, de Cacá Diegues. �Em Xica da Sil-va, por sua opção em dar gran-diosidade visual ao cenário e tratamen-to de estrela à personagem, o filmerecebe algumas críticas. É acusado deser turístico, de ter uma estéticaespetaculosa e carnavalesca, o que le-vou Cacá a falar em patrulhamentoideológico�, lembram as pesquisado-ras. Xica também é um dos primeirosfilmes a tratar a questão do negro eda mulher.

Para dar forma à produção de arte deQuilombo, em que Cacá parte dos mes-mos princípios para abordar o univer-

so afrodescendente e as questões daidentidade brasileira, Ripper criou aUsina de Xerém, uma pequena cen-tral de produção cinematográfica. �Ali,juntou escultores, artesãos em cerâ-mica e aprendizes para desenvolver oscenários, figurinos, adereços e obje-tos de cena que aparecem na tela.Durante o período quando funcio-nou, a Usina trabalhou na formaçãode artistas e técnicos a partir da expe-riência de produção do filme. Essaperspectiva de gerar e multiplicar co-nhecimentos também era uma daspreocupações de Ripper�, conta Lídia.

Essa preocupação com a educação,com a formação de técnicos, era cons-tante em Ripper. �Embora o que maisapareça sejam suas realizações, sobre-tudo as divulgadas pela imprensa, eletinha grande preocupação com a de-mocratização do conhecimento�, falaHeloisa. É o que o leva a manter umaintensa e constante atividade nessecampo. Foi um dos integrantes dareestruturação da Escolinha de Artesdo Brasil, fundada por AugustoRodrigues, participou da renovação daEscola de Artes Visuais do ParqueLage e da criação do Centro de Artesdo Tempo, voltado para a formaçãode atores-bailarinos, bem como decenógrafos e produtores culturais, quefuncionou em Botafogo. Tambémesteve entre os fundadores do Cen-tro Técnico de Artes Cênicas, da Fun-dação Nacional de Artes Cênicas(Fundacen), hoje Funarte.

�O arquivo de Ripper revela maissobre seu processo de criação quesobre os resultados de seu trabalho.E também mostra como ele era umprofissional interessado em pesquisara cultura popular, sobretudo a negra,como referências da identidade bra-sileira. E foram esses aspectos dabrasilidade que ele procurou colocarem cena�, diz Heloisa.

Por sua importância para o teatro bra-sileiro, as pesquisadoras esperam queo trabalho de Ripper se torne cada vezmais conhecido. �Ele fez parte de umprocesso de inovação que tomou con-ta do mundo todo, durante as déca-das de 1960, 1970. E procurou tra-duzir essas transformações sob a óti-ca da cultura popular brasileira, que,na década de 1970 começava a ser re-ferência fundamental nos processosde criação do campo artístico�, lem-bra Lídia.

�Ao romper com antigas convençõesdo teatro, Ripper também fundou li-nhagens artísticas, abriu novas ver-tentes. Depois das experimentaçõespropostas por ele, afinadas com avanguarda de então, nunca mais seviu a cena teatral do mesmo modo.Ripper foi, sem dúvida, um visioná-rio�, concluem as pesquisadoras.

Pesquisadoras: Lídia Kosovski eHeloisa LyraInstituição: Universidade Federal doEstado do Rio de Janeiro (UniRio)

A partir da direita, Lídia Kosovsky, Heloisa Lyra e Luana Nunes: equipe do Lince/UniRioexamina peças do acervo de Ripper para posterior criação de banco de dados

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muito além de apenas um bom estimulante

Quem não conhece os efei-tos estimulantes do café?Muita gente não passa sem

uma xícara para começar o dia. Mascomo constata o químico DanielPerrone, da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), a bebida temmuitas outras propriedades. Em seuprojeto Efeito da torrefação sobre aspec-

tos benéficos e prejudiciais do café à saúde

humana: uma abordagem holística, desen-volvido com apoio do programaBolsa Nota 10 da FAPERJ, ele mos-tra que a bebida contém várias subs-tâncias, muitas delas associadas à ati-vidade antioxidante, podendo con-tribuir para a redução no risco do de-senvolvimento de doenças crônico-degenerativas.

Componente mais conhecido porseus efeitos estimulantes sobre o sis-tema nervoso central, a cafeína ge-ralmente é associada a uma melhorano estado de alerta, na capacidade de

aprendizado e resistência ao esforçofísico. Após ser transformada peloorganismo humano, ela pode contri-buir para a atividade antioxidante dabebida. O café contém também áci-dos clorogênicos responsáveis porgrande parte de sua atividadeantioxidante, e ainda com potencialatividade antibacteriana, antiviral, eanti-hipertensiva, informa Perrone.Outro componente são as mela-noidinas, pigmentos marrons que seformam durante a torrefação e dão acor característica à bebida.

Por último, de acordo com o quími-co, há ainda a niacina, que é uma vi-tamina do complexo B, formada peladegradação de um composto natu-ralmente presente no grão, chamadode trigonelina, durante o processo deindustrialização. Essas descobertasforam anotadas pelo pesquisador emsua tese de doutorado, desenvolvidano Programa de Pós-graduação emCiência de Alimentos e defendida emjaneiro de 2009. A pesquisa, realiza-

da no Laboratório de BioquímicaNutricional e de Alimentos (LBNA),no Departamento de Bioquímica doInstituto de Química da UFRJ, tevea orientação das professoras AdrianaFarah e Carmen Marino Donangelo.

Vários estudos já associam a ativida-de antioxidante dessas substâncias àprevenção de algumas doenças,como Alzheimer e Parkinson. Segun-do Perrone, porém, esses efeitos be-néficos não são observados em pes-soas que já desenvolveram essas do-enças. �Como a torrefação do caféocasiona a transformação de partedos ácidos clorogênicos em lactonas,compostos que alteram os teores deglicose no sangue, o consumo dabebida pode modificar as quantida-des de hormônios envolvidos na se-creção de insulina e na regulação dasaciedade, contribuindo para reduziro risco de diabetes�, explica. �Alémdisso, o café pode ainda alterar amicroflora intestinal e consequen-temente o processo digestivo. Esses

Rosilene Ricardo

ALIMENTAÇÃO

Fotos: Divulgação/ UFRJ

Bebida contém substâncias que podem contribuir para reduziro risco do desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas

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efeitos, no entanto, não são obser-vados em diabéticos dependentes deinsulina.�

Acredita-se que o aumento doestresse oxidativo pode ser um dosfatores que contribuem para a mortedos neurônios após eventosisquêmicos ou hipóxicos, ou seja, deredução de taxas de oxigênio no san-gue arterial ou nos tecidos, econsequentemente, para o envelhe-cimento e as doenças degenerativas.No caso da doença de Alzheimer, emparticular, parece existir uma ligaçãodireta entre o possível causador di-reto da doença (um peptídeo) e pro-cessos oxidativos no cérebro e nofluido cérebro-espinhal. �Também jáse verificou que as lesões corticaiscaracterísticas dessa doença são oca-sionadas pelo estresse oxidativo e por

um subsequente acúmulo de radicaislivres que levam à oxidação doslipídios presentes nas membranasdos neurônios. Os radicais livres sãocapazes de iniciar a oxidação doslipídios e a sua ação pode ser inibidapor antioxidantes presentes no café�,explica o pesquisador.

De acordo com Perrone, além deestudos clínicos com fármacosantioxidantes, na verdade, a proteçãoantioxidante contra radicais livresparece ser altamente influenciadapela dieta. Logo, uma alimentaçãosaudável tanto pode reduzir o riscodo desenvolvimento de câncer e deproblemas cardiovasculares quantode doenças cerebrais degenerativasrelacionadas ao envelhecimento.

Mas como constatou o químico, oprocesso de industrialização influen-cia diretamente na quantidade dosantioxidantes presentes no café.�Durante o processo de torrefação,há uma drástica mudança na compo-sição química do grão, em que algunscomponentes são gerados e outrosperdidos. O calor necessário ao pro-cesso leva à degradação dos ácidos

clorogênicos naturalmente presentesno café verde�, diz. Durante a tor-refação, há também a formação dehidrocarbonetos policíclicos aromá-ticos, ou HPAs, e niacina. Os HPAssão parte de um vasto grupo de com-postos orgânicos, formados princi-palmente pela ação do calor e poten-cialmente cancerígenos. �Como osteores máximos de HPAs no cafétorrado ainda se encontram bemabaixo do limite recomendado pelaUnião Europeia, não são motivo depreocupação�, esclarece Perrone.

Na avaliação do pesquisador, con-siderados em conjunto, os resulta-dos do trabalho sugerem que, parase maximizar o teor dos componen-tes benéficos e da atividade anti-oxidante da bebida, minimizando oscomponentes prejudiciais, o desejá-vel é desenvolver condições médiaspara a torrefação. �Diversos parâ-metros do processo, como tempe-ratura, velocidade do ar, diferentestipos de torradores, influenciam nacomposição química da bebida etambém merecem investigação�,acrescenta o químico. O que signi-fica que, para ele, o trabalho estáapenas começando.

Pesquisador: Daniel PerroneInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro � UFRJ

Daniel Perrone, da UFRJ, e equipe (aocentro): consumo do café também podereduzir o risco de desenvolver diabetes

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Pesquisadores, estudantes e opúblico em geral já podemconsultar com mais facilidade

toda a história da FAPERJ � desdesua criação em 1980 até os dias dehoje �, bem como explicações deta-lhadas sobre sua estrutura de funcio-namento, suas diversas modalidadesde apoio à Ciência, Tecnologia e Ino-vação no Estado do Rio de Janeiro,como auxílios, bolsas, editais, e atéexemplos de projetos apoiados pelaFundação. Os dados estão reunidosno Relatório de Atividades 2007-2008,

lançado em outubro deste ano.

O impresso de 360 páginas, ricamenteilustrado com fotos, gráficos e estatís-ticas, acaba de ganhar uma versão ele-trônica em formato PDF, dispo-nibilizada no site da FAPERJ. De acor-do com a diretoria da Fundação, o re-latório tem, entre outros objetivos,prestar contas à comunidade científicae tecnológica, e à sociedade flu-minense, além de dar maior transpa-rência às atividades realizadas pela Fun-dação, durante o biênio 2007-2008.

Para Ruy Marques, o ano de 2007representou um grande marco nahistória da FAPERJ. O cenário, queantes apontava para um discreto cres-cimento no apoio à C&T fluminense,mudou de forma favorável e signifi-cativa, quando, em 15 de junho, ogovernador Sérgio Cabral anunciouque o estado passaria efetivamente acumprir o artigo 332 da Constitui-ção estadual, que previa a destinaçãode 2% de sua arrecadação tributáriapara a FAPERJ.

�O empenho do governador SérgioCabral e do secretário de estado deC&T, Alexandre Cardoso, em garan-tir os 2% dos recursos estaduais paraa Fundação permitiu que o orçamen-to da FAPERJ mais que duplicasse,em relação a anos anteriores. Contu-do, o que talvez seja ainda mais im-portante que, propriamente, esse au-mento foi que se iniciou a previ-sibilidade no pagamento dos auxíli-os contemplados. Hoje, sabemosque, em até 30 dias após a emissãoda programação de desembolso (PD)pela FAPERJ, o auxílio estará na con-ta bancária dos pesquisadores�, afir-ma Marques.

O ineditismo no biênio 2007-2008também se situa no fato de que, nes-ses anos, foram lançados 17 e 29editais, respectivamente, abrangendotodas as áreas do conhecimento. Orelatório vem sendo distribuído parainstituições de ensino e pesquisa,programas de pós-graduação, Fun-dações de Amparo à Pesquisa detodo o País, agências parceiras (comoCNPq, Capes, Finep, MS, dentre ou-tros) e autoridades dos governos fe-deral, estadual e municipal.

Fundação disponibiliza relatório deatividades do biênio 2007-2008

Contemplados comCNE e JCNE recebemtermos de outorga

Em cerimônia que teve lugar no Sa-lão Nobre do Palácio Guanabara, em16 de outubro, foi realizada a entregados termos de outorga aos 258 novosCientistas e Jovens Cientistas do Nosso Es-

tado, contemplados na edição 2009 dosdois editais da Fundação. O pesquisa-dor Antônio Cláudio Lucas daNóbrega, da Universidade FederalFluminense (UFF), falou em nomedos agraciados, enfatizando a ampli-tude da atuação da Fundação. �Hoje,a FAPERJ tem recursos e capacidadede aplicá-los, em uma distribuição ba-seada no mérito dos projetos. Atual-mente, no estado, não há projeto dequalidade sendo desenvolvido semapoio da FAPERJ�, resumiu. Juntos,os dois programas destinarão mais deR$ 18 milhões em recursos para a dis-tribuição das bolsas de taxa de banca-da aos pesquisadores contemplados,durantes os próximos três anos. Paraos Jovens Cientistas do Nosso Estado, asbolsas têm valor de R$ 1.800, enquan-to que a dos Cientistas do Nosso Estado

são de R$ 2.400. Somados aos apro-vados em edições anteriores, hoje são668 bolsistas beneficiados pelos doisprogramas-símbolo da Fundação, de-senvolvendo projetos em todas as áre-as do conhecimento.

FAPERJ realizaconcurso público parapreencher 31 vagas

Investindo na consolidação de recur-sos humanos para dar continuidadeà política de fomento à pesquisa noestado, a FAPERJ, pela primeira vezem sua história, vai realizar concursopúblico para o preenchimento de 31vagas de cargos permanentes no qua-dro de pessoal da Fundação. São 14vagas para nível superior, das quaisuma para portador de deficiência

FAPERJIANAS

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física, e 17 para nível médio, dasquais duas para portadores de defi-ciência física. O processo seletivoserá realizado pela Fundação Cen-tro Estadual de Estatísticas, Pesqui-sas e Formação de Servidores Pú-blicos do Rio de Janeiro (Ceperj),que sucedeu a antiga Fundação Es-cola de Serviço Público (Fesp). Aseleção constará de três etapas: pro-vas objetivas, de caráter eliminató-rio e classificatório; redação, de ca-ráter eliminatório e classificatório;e avaliação de títulos, de caráterclassificatório. O diretor-presiden-te da FAPERJ, Ruy Marques, come-mora o lançamento do processo se-letivo: �Hoje, contamos com pou-co mais de 20 funcionários efetivosna Fundação, grande parte delespróximos da aposentadoria. O qua-dro precisa ser preenchido por fun-cionários de carreira que possam darcontinuidade ao importante papelque a FAPERJ vem desempenhan-do no fomento à C,T&I no estado�.

Fundação participa da6ª edição da SemanaNacional de C&T no Rio

A FAPERJ voltou a marcar presen-ça na Semana Nacional de Ciência &Tecnologia, realizada de 19 a 25 deoutubro. Durante o evento, que re-cebeu apoio da Fundação, uma sériede atividades ocorreu simultanea-mente em várias cidades do País.Com a participação do secretário es-tadual de Ciência e Tecnologia, Ale-xandre Cardoso, que representava ogovernador Sérgio Cabral; do secre-tário do município de C&T, RubensAndrade, que também representavao prefeito Eduardo Paes; do diretor-presidente da Fundação, Ruy GarciaMarques e de seu diretor científico,Jerson Lima, a abertura oficial no Rioteve lugar no Armazém Científico,instalado no Centro Cultural Ação daCidadania (Av. Barão de Tefé, 75 �

Saúde). Ali, uma exposição de 4 milmetros quadrados mostrou os pro-jetos desenvolvidos por diversas ins-tituições de ensino e pesquisa. AFAPERJ participou com o seu já tra-dicional estande, montado em umespaço de 16 metros quadrados, ondefuncionários distribuíram materialinstitucional, como folderes, folhe-tos e a revista Rio Pesquisa. Lá tam-bém, um computador aberto ao pú-blico permitiu o acesso ao site daFundação, houve exibição de DVDinstitucional e crianças participaramde uma atividade de montagem dequebra-cabeças sobre dinossauros.

FAPERJ contemplainfraestrutura dasuniversidades estaduais

A FAPERJ anunciou, no final do mêsde novembro, o resultado do seu pri-meiro edital destinado ao Apoio daInfraestrutura nas Universidades Es-taduais do Rio de Janeiro. Devido àdemanda altamente qualificada e se-guindo a indicação de readequaçãoorçamentária do comitê de avaliação,os recursos alocados no programa pas-saram de R$ 15 milhões para R$ 16,4milhões, Vinte projetos, das três uni-versidades estaduais, foram con-templados. A Universidade do Esta-do do Rio de Janeiro (Uerj) foi a ins-tituição que obteve a maior quantida-de de projetos aprovados, 10; seguidapela Universidade Estadual do Norte

Fluminense (Uenf), com sete; e pelaFundação Centro Universitário daZona Oeste (Uezo), com três. O pro-grama é destinado a financiar a aqui-sição e manutenção de equipamentos,além da execução de obras de infra-estrutura previstas em projetos apre-sentados por pesquisadores vincula-dos às universidades estaduais, queimpulsionem novas perspectivas paraessas instituições. O diretor-presidenteda FAPERJ, Ruy Marques, ressalta oimportante apoio que o governo fe-deral vem dando às instituições fede-rais de ensino e pesquisa. �Vimos pre-senciando um aporte significativo derecursos para as instituições federais,o que, certamente, deve ser aplaudi-do por todos. Assim, no âmbito doEstado do Rio de Janeiro, cabe àFAPERJ propiciar o aporte de recur-sos financeiros para que o mesmoocorra com as universidades estadu-ais. Claro que a recuperação dainfraestrutura não se dá rapidamente,mas é nosso dever tentar viabilizar, emum médio espaço de tempo, o engran-decimento de nossas universidadesestaduais.� Jerson Lima, diretor cien-tífico da Fundação, concorda: �AUezo é uma universidade estadual queainda está em processo de consolida-ção; a Uenf tem apenas 15 anos deexistência, apesar de seu excelente de-sempenho; e a Uerj, uma grande uni-versidade, ainda carece de recursospara a implantação de sua infraes-trutura plena para pesquisa�.

VI Semana Nacional de Ciência e Tecnologia: estudantes participaram de atividades demontagem de quebra-cabeças sobre dinossauros, realizadas no estande da FAPERJ

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O programa de Auxílio àEditoração (APQ 3) que,desde a sua criação, em

1999, já financiou a publicação demais de 750 títulos, contemplou 60novas obras em 2009, a maioriaoriunda da Universidade do Estadodo Rio de Janeiro (Uerj) � 27. Nesteano, a grande área de conhecimentocom maior número de obras apoia-

Programa apoia divulgação de 60 novos títulos

Memória hojeFatos que mudaram nossa formade ver o universo � volume 2

A coleção Memória Hoje foi criada com oobjetivo de divulgar artigos originalmentepublicados na seção �Memória� da Ciência

Hoje � revista de divulgação científica doInstituto Ciência Hoje � e de ampliar o nú-mero de interessados em Ciência e História

da Ciência. O volume contém artigos ligados à área das Ciên-cias Exatas e Correlatas.

Organizadores: Alicia Ivanissevich, Antonio Augusto Passos Videira

Editora: Instituto Ciência Hoje

Número de páginas: 295

Tecnologias da Informação eComunicação na Formação eEducação Matemática

O objetivo desta série é estreitar o diálogoentre a pesquisa em Educação Matemática,a Informática e a sala de aula, em um con-texto cada vez mais complexo por contados diferentes tecnologias que compõem o

cotidiano dos estudantes.

Autor: Marcelo Almeida Bairral

Editora: Edur/UFRRJ

Número de páginas: 111

Por uma filosofia empírica daatenção à saúdeOlhares sobre o campo biomédico

Nesta coletânea, os autores assumiram umduplo desafio em relação à abordagemempírica de questões estratégicas em pes-quisa, ensino e prática da atenção à saúde:um, de caráter epistemológico, dada acomplexidade dos objetos analisados; e o

outro, de natureza ética.

Organizadores: Kenneth Rochel de Camargo Jr., Maria Inês Nogueira

Editora: Fiocruz

Número de páginas: 224

EDITORAÇÃO

das foi a de Ciências Humanas � 33.O programa, que recebeu 103 solici-tações de auxílio do início de marçoao final de julho, destinou cerca deR$ 1 milhão para essa linha de fomen-to da Fundação. Voltado para incen-tivar a publicação de obras de pesqui-sadores fluminenses, decorrentes dodesenvolvimento de projetos de pes-quisa em todas as áreas do conheci-

mento, o APQ 3 possibilita a divulga-ção e disponibilização para a socieda-de de livros, vídeos e CDs de inegávelvalor científico. Desde 2007, tambémtem sido incentivada a produção e pu-blicação de material didático para en-sino e para pesquisa, com o lançamen-to de um edital específico para essa fi-nalidade. Confira, abaixo, alguns lan-çamentos de 2009:

Mediação entre as CiênciasSociais e a Educação FísicaA contribuição do pensamento deHugo Lovisolo � uma homenagemacadêmica

Os textos reunidos nesta publicação sãouma contribuição relevante ao avançodos estudos da Educação Física, comabordagens oriundas da Antropologia e

da Sociologia. A contribuição de Levisolo imprime àobra a marca do social e das dimensões humanas nos es-tudos sobre o homem em movimento.

Organizadores: Sebastião Josué Votre e outros

Editora: Mauad X

Número de páginas: 237

No fio da navalhaMalandragem na literatura e nosamba

O livro apresenta um recorte especial damalandragem e convida a entender porque a imagem do malandro permanececomo um traço marcante da cultura na-cional.

A autora se vale da música e da literatura para apontarnovas formas de enxergar o malandro e a malandragem.

Autora: Giovanna Dealtry

Editora: Casa da Palavra

Número de páginas: 207

Qual o problema?

A história deste livro remete a uma su-gestão feita pelo físico Marco Moriconi,de se criar uma seção com desafios mate-máticos na revista Ciência Hoje. O autor,então, começou a divulgar no periódico acoluna �Qual o problema?�, em agosto de2005.

Autor: Marco Moriconi

Editora: Instituto Ciência Hoje

Número de páginas: 111