Risco Sísmico.Aprender com o Passado

27 de abril de 2019

RISCOS SÍSMICOS, APRENDER COM O PASSADO:

O CASO DE 1969Carlos Sousa Oliveira

O Clima da Época

• 1969 é o “parente pobre” da Sismicidade em Portugal mas representa um tempo de viragem.

• Ocorre num época de transição: o fim da 2º República e a queda do Regime de Salazar-Caetano

• Ocorre após grandes desastres: Agadir (1960), Skopje (1963), Caracas (1967)

Crise dos Capelinhos (1958-59). Segue-se Bucareste (1977).

• Primeiros passos da Engenharia Sísmica: 1º WCEE (1956), 50 anos após o grande sismo de São Francisco de 1906. 1ª ECEE (1952); 1ª ESC (1946)

• 1755 foi estudado por toda a gente. Praticamente ninguém até hoje olhou com “olhos de ver” para 1969. Nem eu!

Informação 1969• Jornais, revistas,

Arquivos, Actas de Reuniões

• Relatórios• Fichas – levantamentos• Inquérito actualmente

em curso: sismo1969• Alguns poucos estudos

Metodologia de Trabalho• Geologia• Sismologia (sismogramas, propagação)• Registos sísmico• Geotecnia• Engenharia (“Problema Inverso”)• Sociologia• Psiquiatria• Etc..

Pesquisar todas as Fontes e verificar sua veracidade

Centro de Documentação do Museu Municipal de Lagos

Arquivo do Museu de PortimãoHemeroteca Municipal de Lisboa

Jornais Nacionais:• Diário Notícias• Diário de Lisboa• Século• República• Primeiro de Janeiro• Comércio do Porto• Século Ilustrado

Jornais do Algarve:• Jornal do Algarve• Povo Algarvio (Tavira)• Correio do Sul• Comércio Portimão

Jornais de Outras Regiões

Fotos Lisboa

Resumo do ocorrido e acções:• 16 mortos (2 -consequência directa+ 11

indirecta+1Pescador em escarpa que ruiu)• Feridos: uma a duas centenas.• A reconstrução deverá ser feita segundo os

Regulamentos de 1958 e de 1961 • Danos em casas térreas das aldeias do

Algarve junto à Serra e nos núcleos antigos de Lagos, Portimão e Albufeira com 2/3 pisos.

• Causou danos importantes no parque monumental obrigando a fechar algumas igrejas ao culto.

• Algumas das Igrejas encontram-se a muito maiores distâncias do epicentro que as pequenas casas de alvenaria ou taipa, atrás referidas: Tavira, Castro d´Aire, Beja

Segundo o comunicado do Serviço Meteorológico Nacional (que antecedeu o Instituto Português do Mar e da Atmosfera) emitido a 28 de fevereiro de 1969 “foi registado um sismo nas estações sismográficas de e Lisboa, Coimbra e Porto, com início às 3h 41m 20,2s, 3h 41m 41 e 3h 41m 52s, respetivamente, e com o epicentro a cerca de 230 km a SW de Lisboa. A magnitude do sismo é de 7,3 na escala de Richter, tendo sido sentido com o grau VI-VII da escala Mercalli modificada (MM56) em Lisboa e noutras localidades do continente”. O epicentro foi posteriormente determinado como (36.01º N, 10.57º W) e foi-lhe atribuída a magnitude Ms=7.9 e a magnitude Mw=8.0 após integração dos dados provenientes da rede sísmica internacional. A profundidade focal estima-se entre 22 a 33 km, segundo os autores.

A maior intensidade (VIII) foi observada no Algarve, sendo atribuída a Lisboa uma intensidade VI. Foi sentido até 1300 km do epicentro, particularmente em Bordéus, e nas Canárias. Os efeitos do sismo em Lisboa, Algarve e por todo o País encontram-se bem patentes nas páginas dos jornais publicados na época e reproduzidos neste dossier digital.

O sismo de 1969 gerou um pequeno tsunami que foi observado em diversos marégrafos localizados ao longo das costas portuguesas, espanholas e marroquinas, tendo passado praticamente desapercebido pela população dada a hora da sua ocorrência.

Um fenómeno curioso, que recebeu destaque na cobertura noticiosa, tem a ver com as observações efetuadas em 5 navios que navegavam próximo da região epicentral na altura da ocorrência do sismo. As ondas sísmicas então geradas, propagando-se também na água, atingem os navios com muita violência, causando surpresa e alarme. (Carrilho e Miranda, 2014, Aparício, 2019)

Isossistas (IM - IGN)

The source of the 1969 Ms8.0 HAP earthquake

ISC locations(red stars)

Duarte et al, 2011

Registo no Maciço de Amarração Norte da Ponte sobre o Tejo

Componente E-W

S-waveLisboa: S-P = 27 seg

Portimão: S-P =14 seg

Registo na Ponte sobre o Tejo

Componentes Aceleração (cm/s2) - Registo

E-W

N-S

Vertical

Espectro Resposta

(Seg)

De acordo com as inúmeras testemunhas, este terremoto teve uma longa duração, mais de um minuto mas apenas 26 segundos foram registadas incluindo a chegada da S. Um PGA de aproximadamente 30 cm/s2 nas componentes horizontais foi observado e picos na frequência 5 Hz na componente NS e 2,5 Hz na componente EW. Há ainda um pico de menor amplitude a 1,1 Hz.

Características do registo de aceleração

Portugal encontra-se numa região onde não é frequente a ocorrência de grandes sismos, mas os que ocorrem podem ter uma magnitude elevada. Na Europa dos sismos de maior magnitude desde o ano 1000 foram gerados ao largo de Portugal, a 1/11/1755 e a 28/2/1969. Dada a pouca frequência destes eventos, é necessário que a informação relativa a este perigo seja passada de geração em geração de forma a que não se esqueçam e se reforcem as medidas de mitigação adequadas. (Carrilho e Miranda, 2014)

Relatório LNEC – Marecos e Castanheta(Separata da TÉCNICA, 1970)

• Movimento E-W visto nas telhas

• Vidros de janelas partidos

Pinhal Novo

Lagos

Betão armado mal utilizado

Abrigo PVT- Lagos

Bordeira (aluvião)Plano Centenário

Faro

Gaiola Pombalina –Hospital de Sines

Ficha INQUÉRITO ESTRAGOS -CMPortimão

Algumas Estatísticas

• 400 fichas de edifícios levantadas no Concelho de Portimão

• Danos nas coberturas• Paredes que abriram• Cornijas que tombaram para a rua

• Preenchimento durante os primeiros dias após o sismo• Indicação de limpeza e reforço durante um mês• O calendário não foi cumprido na totalidade

• Reparação preconizada:• Limpeza dos estragos• Introdução de esticadores• Colocação de cinta sísmica.• Introdução de escoras a apoiar paredes

• Estimativa de Custo: ESC 1000$ /m2

Algumas Estatísticas

• A 4 de Março, a Direcção de Urbanização de Faro concluíram que 167 habitações tinham que ser reconstruídas e que outras 438 tinham sofrido danos que podiam ser reparados. (Artur de Jesus, 2017)

• Governo disponibilizou 40 000 Contos para atender aos casos mais graves e construção de tendas.

Algumas Estatísticas• Total de Custos de Reparação no Concelho de Portimão: 32 000

contos à época ( x50x5=8 000M€)• Danos concentrados em diversos locais:

• Sines (Hospital com problemas)• Aljezur• Vila do Bispo (70% dos prédios danificados Construção de Bairro para

desalojados)• Bensafrim (abateram mais de 50 casas)• Barão São João• Barão de São Miguel• Lagos (Centro Histórico)• Portimão (Centro Histórico)• Fonte de Louzeiros (destruição de 80% da habitação -16 casas: 1 ficou

em pé)• Silves• Armação de Pera• Albufeira• Loulé• Faro • Tavira(monumentos- Sta. Luzia; Fuseta)• Castro Marim (Hospital ficou arruinado)

• Danos em monumentos ocorreram em zonas de Intensidade IMM VI-VIII: dados Jornais e DGEMN:• Sines (Hospital com problemas)• Lagos• Portimão• Faro• Tavira (Vários monumentos na Cidade)• Castro Marim (Hospital ficou arruinado)• …

Número total de igrejas

atingidas

185 %

Danos moderados/graves 20 10.8

Custo da reparação: • 50 000 Euro (ano de referência 2000) por igreja; • Tempo de reparação: 30 dias;• Custo total: 10M€

Farol de São Vicente

Cuba de Mercúrio perdeu vários litros devido ao “sloshing” no Topo da Torre.Este Edifício em Alvenaria de Pedra de muito boa qualidade tem uma frequência medida de 1.0 Hz.

Fonte de Louzeiros- Concelho de Silves

(Ramos et al., 2015)

Povoações afectadas

Efeito combinado da Topografia-Classe de solo

(Miano et al. 2019)

Baixa de Setúbal Tese Henrique Vicêncio (2017)

Zona mais afectada em 1858 e 1969

Aleluia (2019)

Polícia Lagos• Pilar central Φ35 cm• Cobertura em disco com Φ8 m e espessura 20 cm• Altura 3.0 m

Danos:• Fissura na base• Deslocamento permanente no topo –

alguns centímetros• Segundo Borges & Ravara (1969) o

“Coeficiente de Resistência“ para causar a fendilhação é de 6%

Frequência vibração: • 0.91 Hz –Torção• 1.11 Hz – 1ª Flexão• 3.70 Hz – 2ª Flexão

Danos em Lisboa (Fita do tempo)

Chaminés. Derrubadas ou apeadas

FREGUESIASPORTAS,JANELAS

, CLARABOIASFENDAS CHAMINÉS ARTíSTICOS

ESTUQUES

REBOCOS

DANOS

ESTRUT:TOTAL

S. FRANC. XAVIER 1 1 2

S.JOÃO DEUS 1 2 3 2 8

S. VICENTE FORA 24 20 2 9 55

SÉ 12 19 1 5 37

S. JOSÉ 19 25 2 8 9 63

SANTOS-O-VELHO 47 63 2 6 18 136

S. NICOLAU 22 47 2 9 2 82

S. JUSTA 2 24 27 5 4 11 73

S. MAMEDE 18 24 2 5 49

S. ISABEL 7 4 1 1 13

S. CONDESTÁVEL 24 25 1 6 9 65

S. DOMING. BENFICA 12 6 2 20

N.S.PENA 2 30 22 2 5 10 71

S. JORGE ARROIOS 1 79 73 4 15 10 182

ALVALADE 4 5 2 11

CHARNECA 1 2 3

N.S.GRAÇA 51 42 7 8 108

S. PAULO 1 21 45 3 4 7 81

S. ENGRACIA 8 8 1 2 6 25

S. SEBAST. PEDR. 12 11 1 4 28

BEATO 18 9 6 7 40

ALTO DE PINA 2 5 4 11

S. ESTEVÃO 1 15 14 2 2 9 43

N.S.MÁRTIRES 4 12 4 3 1 24

S. TIAGO 10 6 1 2 19

CAMPOLIDE 12 6 1 10 29

ALCÂNTARA 16 21 3 7 5 52

PENHA DE FRANÇA 37 35 1 9 9 91

CASTELO 1 8 6 1 7 23

SOCORRO 22 15 1 5 3 46

S. JOÃO 1 26 27 1 10 4 69

S. MARIA OLIVAIS 11 1 2 14

LUMIAR 8 3 2 13

CORAÇÃO DE JESUS 18 17 6 5 3 49

S. MIGUEL 28 10 4 14 56

ANJOS 2 30 58 2 18 18 128

MERCÊS 20 41 6 10 77

N.S.FÁTIMA 3 22 47 3 14 89

AJUDA 16 6 2 4 9 37

AMEIXOEIRA 1 1 1 1 4

ENCARNAÇÃO 21 31 2 9 7 70

C.GRANDE 7 3 3 13

S.JOÃO BRITO 2 4 2 4 12

MARVILA 1 8 8 4 14 35

SACRAMENTO 10 9 2 2 1 24

S.CATARINA 35 42 3 2 5 87

MADALENA 7 6 1 14

LAPA 21 34 3 14 72

CARNIDE 4 1 5

BENFICA 11 7 1 5 24

PRAZERES 6 11 1 2 5 25

S. CRISTOVÃO

S. LOURENÇO 6 16 1 3 7 33

S. MARIA BELÉM 9 6 1 2 18

TOTAIS 19 893 986 55 189 316 2458

FREGUESIASPORTAS,JANELAS

, CLARABOIASFENDAS CHAMINÉS ARTíSTICOS

ESTUQUES

REBOCOS

DANOS

ESTRUT:TOTAL

S. FRANC. XAVIER 1 1 2

S.JOÃO DEUS 1 2 3 2 8

S. VICENTE FORA 24 20 2 9 55

SÉ 12 19 1 5 37

S. JOSÉ 19 25 2 8 9 63

SANTOS-O-VELHO 47 63 2 6 18 136

S. NICOLAU 22 47 2 9 2 82

S. JUSTA 2 24 27 5 4 11 73

S. MAMEDE 18 24 2 5 49

S. ISABEL 7 4 1 1 13

S. CONDESTÁVEL 24 25 1 6 9 65

S. DOMING. BENFICA 12 6 2 20

N.S.PENA 2 30 22 2 5 10 71

S. JORGE ARROIOS 1 79 73 4 15 10 182

ALVALADE 4 5 2 11

CHARNECA 1 2 3

N.S.GRAÇA 51 42 7 8 108

S. PAULO 1 21 45 3 4 7 81

S. ENGRACIA 8 8 1 2 6 25

S. SEBAST. PEDR. 12 11 1 4 28

BEATO 18 9 6 7 40

ALTO DE PINA 2 5 4 11

S. ESTEVÃO 1 15 14 2 2 9 43

N.S.MÁRTIRES 4 12 4 3 1 24

S. TIAGO 10 6 1 2 19

CAMPOLIDE 12 6 1 10 29

ALCÂNTARA 16 21 3 7 5 52

PENHA DE FRANÇA 37 35 1 9 9 91

CASTELO 1 8 6 1 7 23

SOCORRO 22 15 1 5 3 46

S. JOÃO 1 26 27 1 10 4 69

S. MARIA OLIVAIS 11 1 2 14

LUMIAR 8 3 2 13

CORAÇÃO DE JESUS 18 17 6 5 3 49

S. MIGUEL 28 10 4 14 56

ANJOS 2 30 58 2 18 18 128

MERCÊS 20 41 6 10 77

N.S.FÁTIMA 3 22 47 3 14 89

AJUDA 16 6 2 4 9 37

AMEIXOEIRA 1 1 1 1 4

ENCARNAÇÃO 21 31 2 9 7 70

C.GRANDE 7 3 3 13

S.JOÃO BRITO 2 4 2 4 12

MARVILA 1 8 8 4 14 35

SACRAMENTO 10 9 2 2 1 24

S.CATARINA 35 42 3 2 5 87

MADALENA 7 6 1 14

LAPA 21 34 3 14 72

CARNIDE 4 1 5

BENFICA 11 7 1 5 24

PRAZERES 6 11 1 2 5 25

S. CRISTOVÃO

S. LOURENÇO 6 16 1 3 7 33

S. MARIA BELÉM 9 6 1 2 18

TOTAIS 19 893 986 55 189 316 2458

Num deste Edifícios em Almada o inquilino do último andar viu o cadeeiro da sala oscilar violentamente quase a bater no tecto

Qual a aceleração ou deslocamento do tecto que origina este fenómeno? (f=1 Hz)

Ensaio rudimentar: Pêndulo para relacionar Aceleração no tecto com Angulo de rotação do Pêndulo.

aceleracão

Utilização de um ou dois telemóveis

60

/70

cm

Discussão sobre acção sísmica• Intensidade Lisboa a partir do nº de “chaminés colapsadas” só pode ser intensidade VII

EMS-98. O que se traduz segundo Mota de Sá em 0.06 g, para Terreno B-C do EC-8.Na Ponte 25 Abril verificou-se uma Aceleração PGA de 0.03g.

• Usando o mesmo esquema de atenuações, o sismo de 1969 teria tido um PGA de 0.140 g em Sagres (Terreno rochoso –A) e Intensidade EMS-98 de VIII.

• Vamos tentar resolver o “problema Inverso”, ensaiando uma chaminé de tijolo representativa das chaminés em causa na mesa Sísmica do IST para observar o seu comportamento até à fissuração e colapso.

• De acordo com o EC-8 em Vila do Bispo (Terreno A), Portimão (A) e Faro (A) os valores de PGA são respectivamente 0.250 g, 0.250 g e 0.200 g. Estes valores estão, portanto, cerca de 1.8 x (PGA1969). Há que ver se isto está correcto?

Rotura da falha (J. Bonacho, 2019)

PontualExtensa

Bufforn et al., (2019)

17 Dezembro 2019 (M6) 28 Fevereiro 1969 (M7.5)

Estudos de Perigosidade

Período de Retorno 475 AnosCarvalho et al., 2018

EspinhoCinfães

Figueira da Foz

CastroDaire

Guarda

Covilhã

V. Velha de Ródão

Caldas da Rainha Rio Maior Santarém

A

B

Mora

Beja

D

C

Viseu

Regulamento de ConstruçãoRSA - 1983

Proposta EC-82010

UPStrat-MAFA2017

Considerações Finais.

• Conhecer melhor 1969 é indispensável para percebermos onde estamos e o que pode acontecer com a sua repetição.

• Necessidade de colaboração entre Grupos de Investigação,

• Necessidade de ter um “Livro Branco” sobre o assunto para que quando chegar o dia (?) não estejamos à procura de responsáveis e passemos imediatamente ao socorro e à reconstrução com tudo aquilo que essa logística obriga.

• Deveremos “build back better”, como preconiza a plataforma Sendai 2020-2030.

• É necessário mudar o paradigma da Engenharia Sísmica para que a engenhariafique satisfeita por haver poucas vidas perdidas mas as nossas casas estaremimpossíveis de ocupar.

Situação 25 Abril 20192493 – completos; 206 no Algarve; 136 “histórias”

http://sismo1969.ipma.pt/Inquérito ao sismo1969

25 Abril 2019 - 206 respostas no Algarve18 Março 2019

Basta por Hoje. Obrigado

Por favor preencham o Inquérito Nacional sobre o Sismo de 28 de Fevereiro de 1969

“Lembra-se como foi o Sismo?”

(http://sismo1969.ipma.pt)