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SIMP.TCC/Sem.IC. 2019(18); 1135-1148 CENTRO UNIVERSITÁRIO ICESP / ISSN: 2595-4210 1135 CURSO DE DIREITO A SOBERANIA ESTATAL BRASILEIRA: REFUGIADOS E O PACTO DE MIGRAÇÃO DE MARRAKECH THE BRAZILIAN STATE SOVEREIGNTY: REFUGEES AND THE MIGRATION PACT OF MARRAKECH Rita de Cássia Lanna Santos de Freitas Ana Cecilia Pereira Melo Resumo: O presente artigo é um estudo sobre a dificuldade de se realizar acordos internacionais quando a discussão em foco envolve a Soberania Estatal, como é caso dos Refugiados e o Pacto de Migração de Marrakech, isto porque há diferentes entendimentos do conceito de soberania. O que se observa é que cada governo interpreta os efeitos de um acordo na soberania diferentemente, o que para um governo pode não ser uma ameaça a soberania, para outro governo, desse mesmo país, esse acordo pode mostrar-se perigoso. Isto pode ser verificado ao se estudar o problema dos Refugiados e o Pacto de Mundial de Migração da ONU, conhecido com o Pacto de Migração de Marrakech, que busca uma solução através da cooperação internacional para tornar a migração segura, ordenada e regular, e com isso, garantir um mínimo de dignidade humana conforme estabelece a declaração dos direitos humanos. O Brasil que chegou a assinar o Pacto em dezembro de 2018, após mudança de governo, se retirou do Pacto em janeiro de 2019, entendendo que a imigração não é uma questão global e deve ser tratada de acordo com a realidade e a soberania de cada país. Enquanto, outros países como a Alemanha, não vê ameaça a soberania e não acredita em solução isolada, admite ainda que os Refugiados podem representar soluções para dois de seus problemas internos: a falta de mão de obra técnica e o envelhecimento do seu povo. O estudo considera que todos os países estão envolvidos direta ou indiretamente com o problema dos Refugiados, e que buscar soluções para os problemas mundiais é o dever de todo governo soberano, como uma questão de solidariedade e humanidade. Palavras-chave: Soberania; Refugiados; Migração; Pacto; Brasil; Marrakesh; Dignidade. Abstract: This article is a study on the difficulty of international agreements when the discussion in focus involves State Sovereignty, as is the case of Refugees and the Marrakech Migration Pact, because there are different understandings of the concept of Sovereignty. What is observed is that each government interprets the effects of an agreement on sovereignty differently, which for a government may not be a threat to sovereignty, to another government, of that same country, this agreement can prove dangerous. This can be seen when studying the refugee problem and the UN World Migration Pact, known as the Marrakech Migration Pact, which seeks a solution through international cooperation to make migration safe, orderly and regulated, and with ensure a minimum of human dignity as set out in the declaration of human rights. Brazil, which signed the Pact in December 2018, after a change of government, withdrew from the Pact in January 2019, understanding that immigration is not a global issue and should be addressed according to the reality and sovereignty of each country. While other countries like Germany do not see a threat to sovereignty and do not believe in an isolated solution, it also admits that Refugees can pose solutions to two of their internal problems: the lack of technical labor and the aging of their people The study considers that all countries are directly or indirectly involved in the refugee problem, and that seeking solutions to global problems is the duty of every sovereign government, as a matter of solidarity and humanity. Keywords: Sovereignty; Refugees; Migration; Covenant; Brazil; Marrakesh; Dignity. Introdução O presente artigo “A Soberania Estatal Brasileira: Refugiados e o Pacto de Migração de Marrakech” é um estudo sobre a dificuldade de se realizar acordos internacionais quando a discussão em foco envolve a Soberania Estatal na solução de conflitos, como é o caso dos Refugiados que tem afetado todas as nações direta ou indiretamente e o Pacto de Migração de Marrakesh. Refugiado é todo indivíduo que fora do seu país de nacionalidade ou de onde tinha sua residência habitual, busca refúgio em outro país devido a perseguição ou fundado temor de perseguição em razão de sua raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, ou ainda, toda pessoa que, em decorrência de graves violações de direitos humanos, é obrigada a deixar seu país, conforme define a Lei 9.474/97, em seu art. 1°. É neste cenário que a ONU tem buscado ajuda de países que possam garantir o mínimo de assistência social, abrigo, trabalho e dignidade até que os conflitos se resolvam e os Refugiados possam retornar a seus Estados de origem. Além do Brasil, muitas nações têm se sensibilizado com esse problema, porém poucos tem concedido refúgio, o que tem dificultado sua solução, pois alguns países encontram-se sobrecarregados com a quantidade de Refugiados gerando conflitos sociais internos. Assim como o Brasil, muitos países têm suas próprias Leis para tratar questão da Migração, ignorá-las afeta diretamente o entendimento que cada nação tem sobre sua Soberania. Por isso, a ONU empenhada em resolver o problema dos refugiados envolveu o maior número de países afetados para buscar uma solução conjuntamente. O fruto desse esforço foi a elaboração de um novo Pacto Mundial para Migração, conhecido como Pacto de Marrakech, cujo objetivos são o de promover uma migração Como citar esse artigo: Freitas RCLS, Melo ACP. A SOBERANIA ESTATAL BRASILEIRA: REFUGIADOS E O PACTO DE MIGRAÇÃO DE MARRAKECH. Anais do 18° Simpósio de TCC e 15° Seminário de IC do Centro Universitário ICESP. 2019(18); 1135-1148

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CURSO DE DIREITO A SOBERANIA ESTATAL BRASILEIRA: REFUGIADOS E O PACTO DE MIGRAÇÃO DE MARRAKECH THE BRAZILIAN STATE SOVEREIGNTY: REFUGEES AND THE MIGRATION PACT OF MARRAKECH

Rita de Cássia Lanna Santos de Freitas

Ana Cecilia Pereira Melo

Resumo : O presente artigo é um estudo sobre a dificuldade de se realizar acordos internacionais quando a discussão em foco envolve a Soberania Estatal, como é caso dos Refugiados e o Pacto de Migração de Marrakech, isto porque há diferentes entendimentos do conceito de soberania. O que se observa é que cada governo interpreta os efeitos de um acordo na soberania diferentemente, o que para um governo pode não ser uma ameaça a soberania, para outro governo, desse mesmo país, esse acordo pode mostrar-se perigoso. Isto pode ser verificado ao se estudar o problema dos Refugiados e o Pacto de Mundial de Migração da ONU, conhecido com o Pacto de Migração de Marrakech, que busca uma solução através da cooperação internacional para tornar a migração segura, ordenada e regular, e com isso, garantir um mínimo de dignidade humana conforme estabelece a declaração dos direitos humanos. O Brasil que chegou a assinar o Pacto em dezembro de 2018, após mudança de governo, se retirou do Pacto em janeiro de 2019, entendendo que a imigração não é uma questão global e deve ser tratada de acordo com a realidade e a soberania de cada país. Enquanto, outros países como a Alemanha, não vê ameaça a soberania e não acredita em solução isolada, admite ainda que os Refugiados podem representar soluções para dois de seus problemas internos: a falta de mão de obra técnica e o envelhecimento do seu povo. O estudo considera que todos os países estão envolvidos direta ou indiretamente com o problema dos Refugiados, e que buscar soluções para os problemas mundiais é o dever de todo governo soberano, como uma questão de solidariedade e humanidade. Palavras-chave : Soberania; Refugiados; Migração; Pacto; Brasil; Marrakesh; Dignidade. Abstract : This article is a study on the difficulty of international agreements when the discussion in focus involves State Sovereignty, as is the case of Refugees and the Marrakech Migration Pact, because there are different understandings of the concept of Sovereignty. What is observed is that each government interprets the effects of an agreement on sovereignty differently, which for a government may not be a threat to sovereignty, to another government, of that same country, this agreement can prove dangerous. This can be seen when studying the refugee problem and the UN World Migration Pact, known as the Marrakech Migration Pact, which seeks a solution through international cooperation to make migration safe, orderly and regulated, and with ensure a minimum of human dignity as set out in the declaration of human rights. Brazil, which signed the Pact in December 2018, after a change of government, withdrew from the Pact in January 2019, understanding that immigration is not a global issue and should be addressed according to the reality and sovereignty of each country. While other countries like Germany do not see a threat to sovereignty and do not believe in an isolated solution, it also admits that Refugees can pose solutions to two of their internal problems: the lack of technical labor and the aging of their people The study considers that all countries are directly or indirectly involved in the refugee problem, and that seeking solutions to global problems is the duty of every sovereign government, as a matter of solidarity and humanity. Keywords : Sovereignty; Refugees; Migration; Covenant; Brazil; Marrakesh; Dignity.

Introdução

O presente artigo “A Soberania Estatal Brasileira: Refugiados e o Pacto de Migração de Marrakech” é um estudo sobre a dificuldade de se realizar acordos internacionais quando a discussão em foco envolve a Soberania Estatal na solução de conflitos, como é o caso dos Refugiados que tem afetado todas as nações direta ou indiretamente e o Pacto de Migração de Marrakesh.

Refugiado é todo indivíduo que fora do seu país de nacionalidade ou de onde tinha sua residência habitual, busca refúgio em outro país devido a perseguição ou fundado temor de perseguição em razão de sua raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, ou ainda, toda pessoa que, em decorrência de graves violações de direitos humanos, é obrigada a deixar seu país, conforme define a Lei 9.474/97, em seu art. 1°.

É neste cenário que a ONU tem buscado ajuda de países que possam garantir o mínimo de assistência social, abrigo, trabalho e dignidade até que os conflitos se resolvam e os Refugiados possam retornar a seus Estados de origem. Além do Brasil, muitas nações têm se sensibilizado com esse problema, porém poucos tem concedido refúgio, o que tem dificultado sua solução, pois alguns países encontram-se sobrecarregados com a quantidade de Refugiados gerando conflitos sociais internos. Assim como o Brasil, muitos países têm suas próprias Leis para tratar questão da Migração, ignorá-las afeta diretamente o entendimento que cada nação tem sobre sua Soberania.

Por isso, a ONU empenhada em resolver o problema dos refugiados envolveu o maior número de países afetados para buscar uma solução conjuntamente. O fruto desse esforço foi a elaboração de um novo Pacto Mundial para Migração, conhecido como Pacto de Marrakech, cujo objetivos são o de promover uma migração

Como citar esse artigo: Freitas RCLS, Melo ACP. A SOBERANIA ESTATAL BRASILEIRA: REFUGIADOS E O PACTO DE MIGRAÇÃO DE MARRAKECH. Anais do 18° Simpósio de TCC e 15° Seminário de IC do Centro Universitário ICESP. 2019(18); 1135-1148

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segura, ordenada e regular para territórios onde os Refugiados possam ter ajuda social, condições mínimas de subsistência e vidas dignas, até que possam retornar a seus Estados de origem.

Em dezembro de 2018 o Pacto foi assinado por 164 países. Ao envolver o maior número de países para elaboração deste Pacto, a ONU buscou respeitar o entendimento que cada Estado tem sobre sua Soberania, porém, atualmente, nem todas as nações ratificam o acordo e muitos ameaçam sair, inclusive o Brasil. Notadamente, verificou-se que nesses países ocorrem mudanças, principalmente política, novos líderes tomaram posse, novos governantes que trouxeram um novo entendimento sobre o Pacto e sobre a Soberania Estatal dificultando a sua ratificação. Por isso, esse estudo também busca explicar como é a posição atual da Soberania Estatal Brasileira perante o Pacto de Marrakech.

A metodologia utilizada será a análise qualitativa de diversos textos bibliográficos, entre eles: Leis, Pactos, Artigos, Reportagens, Livros, de onde serão extraídos os argumentos necessários para fundamentar o estudo do tema.

Também, de forma complementar, será realizada uma análise quantitativa dos gráficos e relatórios do CONARE, que contribuem para preparar políticas, visualizar e demonstrar a realidade demográfica dos refugiados no Brasil, em especial, o relatório “Refúgio em Números” , em sua 4ª. edição, elaborado pelo CONARE em 2019, que traz o panorama de 2018 quando no Brasil havia um total de 11.231 refugiados de diversas nacionalidades.

A evolução histórica do conceito de Soberania Estatal

Para entender a problemática deste estudo, ou seja, porque é tão difícil assinar e ou ratificar acordos internacionais, principalmente, quando a Soberania Estatal está diretamente envolvida, será analisado o caso dos Refugiados e o último Pacto Mundial para Migração, conhecido como Pacto de Marrakech, proposto pela ONU para solucionar este problema que persiste há décadas, que vem se avolumando e afetando todas as nações do mundo.

A ONU defende que a solução para o problema dos Refugiados requer um acordo internacional, um Pacto Mundial para Migração, como o que foi apresentado em dezembro de 2018, na cidade de Marrakech: O Pacto Global é um documento abrangente para melhor gerenciar a migração internacional, enfrentar seus desafios e fortalecer os direitos dos migrantes, contribuindo para o desenvolvimento

sustentável, segundo a ONU. (PORTAL G1. Entenda o que é o Pacto Mundial para Migração. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/12/11/entenda-o-que-e-o-pacto-mundial-para-migracao.ghtml>, 2019).

Alguns países, como a Alemanha, concordam, como declarou a chanceler alemã, Angela Merkel: A chanceler alemã, Angela Merkel, saudou a adoção dizendo que já era hora de a comunidade internacional chegar a um entendimento mais realista sobre a migração global. Merkel advertiu que uma abordagem no estilo “cada um por si" não resolverá a questão, enfatizando que o multilateralismo é o único caminho possível a seguir. (PORTAL G1. Entenda o que é o Pacto Mundial para Migração. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/12/11/entenda-o-que-e-o-pacto-mundial-para-migracao.ghtml>, 2019).

Porém há países, como o Brasil, que

discordam, conforme constatado nas palavras do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo: “...A imigração não deve ser tratada como questão global, mas sim de acordo com a realidade e a soberania de cada país", disse Araújo. (PORTAL G1. Entenda o que é o Pacto Mundial para Migração. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/12/11/entenda-o-que-e-o-pacto-mundial-para-migracao.ghtml>, 2019).

Também, outros países, se retiraram da elaboração do texto, conforme citação: Os Estados Unidos se retiraram da elaboração do texto em dezembro de 2017 por considerá-lo contrário à política migratória do presidente americano, Donald Trump. Até agora, nove países se retiraram do processo, após sua aprovação em 13 de julho em Nova York: Áustria, Austrália, Chile, República Checa, República Dominicana, Hungria, Letônia, Polônia e Eslováquia. Outros seis solicitaram mais tempo para consultas internas: Bélgica, Bulgária, Estônia, Itália, Eslovênia e Suíça, de acordo com Louise Arbor, representante especial da ONU para migrações. (PORTAL G1. Entenda o que é o Pacto Mundial para Migração. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/12/11/entenda-o-que-e-o-pacto-mundial-para-migracao.ghtml>, 2019).

Pode-se notar na discussão sobre o Pacto, a presença de dois componentes da soberania:

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autonomia e independência. Cada país é autônomo, pois tem seu próprio ordenamento jurídico para tratar o problema dos Refugiados, e que esse tratamento independe de como qualquer outra nação trata a questão, mas para alguns estudiosos isso não torna a soberania absoluta, pois mesmo ao fazerem uso destes dois componentes da soberania, autonomia e independência, os Estados devem respeitar as normas dos direitos humanos, e portanto, os acordos internacionais, como explica Fredson Costa (2016) em seu artigo: “...alguns teóricos defendem que a soberania passou por uma evolução e não é mais vista como eterna e absoluta. Para eles, a soberania teria duas componentes: a primeira estaria ligada ao poder do Estado de não se submeter, contra a sua vontade, a outro Estado e a segunda parte seria a capacidade de impor o seu ordenamento no seu próprio território. A primeira parte chamamos de independência e a segunda de autonomia. Para os internacionalistas, essa soberania não é absoluta, pois os Estados devem respeitar as normas de “jus cogens” e de direitos humanos.” (COSTA, Fredson. A Soberania estatal e os Direitos Humanos: um debate atual sobre os limites do Poder do Estado. Disponível em: <https://fredsonsousa.jusbrasil.com.br/artigos/256801164/a-soberania-estatal-e-os-direitos-humanos-um-debate-atual-sobre-os-limites-do-poder-do-estado>,2019).

Também em seu artigo: “A Soberania estatal

e os Direitos Humanos: um debate atual sobre os limites do Poder do Estado”, Fredson Costa (2016) defende que para entender o conceito de soberania estatal é preciso estudar sua evolução histórica. O estudo sobre soberania teve início em 1576, com a publicação da primeira obra sobre o tema “Les Six Livres de la République”, por Jean Bodin, que conceituou soberania como o poder absoluto e perpétuo centrado na pessoa do Monarca. Mas, este conceito teve novo entendimento quando Rosseau, em 1762, em seu livro “Do Contrato Social”, destacou, diferentemente de Bodin, que quem era soberano era o povo e não o Monarca. Para Rousseau, soberano é o povo, corpo coletivo, que através da lei, expressa uma vontade geral: Digo, pois, que outra coisa não sendo a soberania senão o exercício da vontade geral, jamais se pode alienar, e que o soberano, que nada mais é senão um ser coletivo, não pode ser representado a não ser por si mesmo; é perfeitamente possível transmitir o poder, não porém a vontade.( ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Tradução de Rolando Roque da Silva. Disponível

em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/contratosocial.pdf>. 2019).

Além da soberania ser inalienável ela também

é indivisível, como afirma Rousseau: Pela mesma razão por que é inalienável, a soberania é indivisível, visto que a vontade ou é geral, ou não o é; ou é a do corpo do povo, ou unicamente de uma parte. No primeiro caso, essa vontade declarada é um ato de soberania e faz lei; no segundo, não passa de una vontade particular ou um ato de magistratura: é, quando muito, um decreto. Mas, não podendo dividir a soberania em seu princípio, nossos políticos a dividem em seu objeto; eles a dividem em força e em vontade, em poder legislativo e poder executivo, em direitos de impostos, de justiça e de guerra, em administração interior e em poder de negociar com o estrangeiro; (ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social – Princípios do Direito Político. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. 1996, p.34).

É fundamentado nesses princípios que surge o Estado democrático moderno, onde os cidadãos podem livremente eleger seus governantes que representarão a vontade da maioria do povo que se impôs ao vencer o pleito. No Brasil, os poderes legislativo, executivos e judiciário são independentes e harmônicos entre si, nos termos do artigo 2° da Constituição Federal, sendo dever deles zelar pelas leis já estabelecidas e pelas novas que serão elaboradas de acordo com os anseios da sociedade. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>, 2019).

Assim, as leis, expressão da vontade popular, são as legítimas representantes da soberania

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estatal. Por isso, ao compreender as Leis de Migração do Brasil, vamos entender como a Soberania Estatal Brasileira se posiciona diante do problema dos Refugiados. 2. A Soberania Estatal Brasileira e as Leis de Migração

Felipe Dalenogare Alves (2000) em seu artigo: “Do estado moderno até a atualidade”, trata o conceito de soberania onde alguns estudiosos defendem que seu entendimento é tão importante que chegam a afirmar que não há estado perfeito sem soberania e que o conhecimento a respeito desse instituto é fundamental para se entender a formação do que se define por Estado. Sua importância é tamanha que é reconhecida na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, onde é citada em seu artigo primeiro.

E como já dito anteriormente, soberano é o povo, que através da lei, expressa uma vontade geral. Historicamente, o povo brasileiro, expressou sua vontade sobre o problema da Migração através de três leis: Lei 6.815/80, conhecida como o Estatuto do Estrangeiro, a Lei 9.474/97, o Estatuto dos Refugiados e Lei nº 13.445/17, a Lei de Migração. 2.1. Lei 6.815/80 – O Estatuto do Estrangeiro

A Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, o Estatuto do Estrangeiro, assinada pelo trigésimo presidente do Brasil, General João Figueiredo, que governou entre 1979 a 1985, ditou as regras legais da política migratória do país até sua revogação com a edição da nova Lei de Migração (Lei nº 13.445/17), fruto do projeto de lei proposto em 2013 pelo atual Ministro das Relações Exteriores, Senador à época, Aloysio Nunes (PSDB-SP), com carácter mais humanitário ao antigo conjunto de leis sancionado pelo General.

O Estatuto do Estrangeiro objetivava a segurança nacional e a defesa do trabalhador nacional, isto pode ser confirmado pela expressão “em tempo de paz”, em seu primeiro artigo, preocupação explicada pelo cenário político de 1980, que era conduzido pelo regime militar que durou de 1964 a 1985.

No seu segundo artigo, traz claramente os motivos da Lei, citando a segurança nacional e a defesa do trabalhador nacional, demonstrando as preocupações urgentes, que precisavam ser tratadas por um instrumento legal. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art 1 º Em tempo de paz, qualquer estrangeiro poderá, satisfeitas as condições desta Lei, entrar e

permanecer no Brasil e dele sair, resguardados os interesses nacionais. Art 2 º Na aplicação desta Lei atender-se-á precipuamente à segurança nacional, à organização institucional, aos interesses políticos, socioeconômicos e culturais do Brasil, bem assim à defesa do trabalhador nacional. (Lei nº 6.815/80 - Estatuto do Estrangeiro. Disponível em: < https://www.oas.org/juridico/mla/pt/bra/pt_bra-ext-law-6815.html>, 2019).

Portanto, o Estatuto do Estrangeiro, definia uma política do migrante no país de caráter protecionista, reflexo do governo militar vigente que exercia sua soberania visando exclusivamente os interesses nacionais. 2.2. Lei 9.474/97 – O Estatuto dos Refugiados

A Organização das Nações Unidas (ONU), desde o fim da segunda guerra mundial, não tem medido esforços no sentido de tentar resolver o problema dos Refugiados.

Para isso, A ONU em 1951, criou o ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – que pretendia com a criação do Estatuto dos Refugiados conseguir para essas pessoas, que devido a guerra foram perseguidas ou obrigadas a deixarem seus países de origem, um refúgio com condições mínimas de sobrevivência, em países fronteiriços ou além-mar de forma que pelo menos as garantias expressas na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovadas em 10 de dezembro de 1948, fossem atendidas por todos os países membros.

No Brasil, somente após sanção da Lei no 9.474 de 22 de julho de 1997, conhecida como o Estatuto do Refugiado, que definiu mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, criado pelo ACNUR, que o governo buscou definir uma política para tratar esse problema mundial que também atingia o Brasil, e traz no seu artigo 1º a definição do reconhecimento de um indivíduo como Refugiado: Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior;

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III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país. (Lei no 9.474/97 - Estatuto dos Refugiados. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm>, 2019).

Com essa Lei têm-se a Criação do Comitê

Nacional para os Refugiados (CONARE), em seu TÍTULO III, é órgão responsável por analisar o pedido de refúgio e asilo político e declarar o reconhecimento, em primeira instância, e também tem entre outros objetivos o de realizar o levantamento demográfico dos Refugiados no Brasil para definição de políticas públicas, e que até 2018 reconheceu um total de 11.231 refugiados de diferentes nacionalidades, demonstrados através de Gráficos no relatório “Refúgio em Números”, na sua 4ª edição, de julho de 2019. TÍTULO III Do Conare Art. 11. Fica criado o Comitê Nacional para os Refugiados - CONARE, órgão de deliberação coletiva, no âmbito do Ministério da Justiça. CAPÍTULO I Da Competência Art. 12. Compete ao CONARE, em consonância com a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, com o Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967 e com as demais fontes de direito internacional dos refugiados: I - analisar o pedido e declarar o reconhecimento, em primeira instância, da condição de refugiado; II - decidir a cessação, em primeira instância, ex officio ou mediante requerimento das autoridades competentes, da condição de refugiado; III - determinar a perda, em primeira instância, da condição de refugiado; IV - orientar e coordenar as ações necessárias à eficácia da proteção, assistência e apoio jurídico aos refugiados; V - aprovar instruções normativas esclarecedoras à execução desta Lei. (Lei no 9.474/97 - Estatuto dos Refugiados. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm>, 2019).

Com esses estudos, pôde-se dimensionar o

problema dos Refugiados e definir uma nova política para tratar a questão da Migração de forma abrangente, é o que se pretende com a nova Lei de Migração. 2.3. Lei nº 13.445/17 – A Lei de Migração

Com a sanção da Lei 13.445, de 24 de maio de 2017, o Estatuto do Estrangeiro foi revogado, pois conflitava com tratados internacionais de Direitos Humanos defendidos pela ONU e seus países signatários.

O Brasil já tinha assumido o compromisso da preservação dos direitos e garantias individuais do cidadão diante da comunidade internacional, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, que institui em seu art. 60, § 4º, as cláusulas pétreas: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>, 2019).

A lei de Migração, de caráter mais humanitário, define a inclusão social, laboral e produtiva do migrante, conforme inciso X do art. 3°: Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes: VI - acolhida humanitária; VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil; VIII - garantia do direito à reunião familiar; IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares; X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas; (Lei nº 13.445/17- Lei da Migração. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm>, 2019).

Com essa Lei, o Brasil tem buscado cumprir os acordos internacionais, especialmente os relativos aos Direitos Humanos, entendendo que desta forma está contribuindo para solução dos problemas causados pelas migrações desordenadas, como as dos Refugiados, ao mesmo tempo que mantem o controle de legislar sobre o tema, não compromete sua soberania. Por que os Refugiados querem migrar para o Brasil?

Os Refugiados querem ir para um lugar onde encontre condições dignas para suas subsistências, e isto só é possível com trabalho. Encontrar um lugar onde possam desempenhar atividades produtivas utilizando suas habilidades

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técnicas e profissionais é o desejo maior de todo Refugiado.

Não só o Brasil como muitos países têm enfrentado dificuldades na geração de novos postos de trabalho, hoje, no Brasil o desemprego atinge cerca de 12,5% da população economicamente ativa, segundo dados do IPEA de 2019. Proteger o trabalhador nacional e ao mesmo tempo gerar emprego para os Refugiados, torná-los capacitados para exercer uma atividade profissional é o grande desafio de todos os países que têm recebido solidariamente os Refugiados. É preciso preparar o país para esta demanda de forma que não se torne um novo problema social.

O Brasil, na sua nova Lei de Migração, 13.445/17 define como condição essencial a inclusão social, laboral e produtiva do migrante, gerando com isso, a necessidade de capacitação técnica destes, de forma que possam ingressar no mercado de trabalho. Foi baseado nesta Lei que o governo brasileiro, em 22 de setembro de 2016, assumiu compromisso na reunião da Cúpula de Líderes sobre Refugiados, convocada pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em Nova York, onde cerca de 50 países e organizações participaram da reunião. Nesse encontro o Brasil informou que esperava receber 3 mil novos refugiados sírios até o final de 2017 e se comprometeu através do Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, proteção e dignidade aos Refugiados: De acordo com a proposta brasileira, o Brasil oferecerá ainda neste ano cursos de português a cerca de 270 solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes por meio do PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), além de cursos de empreendedorismo a outros 200 refugiados já reconhecidos, em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). O país também dará prioridade à apreciação de solicitações de refúgio apresentadas por pessoas com deficiência, idosos, crianças e adolescentes, promovendo o direito de solicitantes de refúgio e refugiados ao trabalho, à educação, à saúde e a benefícios sociais – de acordo com a lei brasileira de refúgio (9.474, de 1997). “O compromisso do Brasil é com a segurança, a inclusão e o resgate da dignidade dos refugiados. Queremos que esta inclusão não seja apenas quantitativa, mas também qualitativa”, disse o ministro Alexandre de Moraes, em Nova York, após a reunião liderada pelo governo norte-americano. (PORTAL ONU. Em Cúpula de Líderes em NY, Brasil reafirma compromisso com proteção e dignidade de refugiados. Disponível em: <

https://nacoesunidas.org/em-cupula-de-lideres-em-ny-brasil-reafirma-compromisso-com-protecao-e-dignidade-de-refugiados/>, 2019).

Com isso, o Brasil se tornou um país mais

atrativo, solidário a causa dos Refugiados, ao reafirmar ao mundo o seu compromisso com a proteção e dignidade deles, mostrando de forma soberana que possuía uma Lei moderna e mais humanitária para tratar esta questão, dando uma grande contribuição para resolução do problema dos Refugiados, ao demonstrar que não basta recebê-los, é preciso capacitá-los, torná-los produtivos, indo ao encontro do que estabelece o novo Pacto de Migração Mundial da ONU que busca realizar uma distribuição regular dos Refugiados de forma que possam ser produtivos nos países em que consigam refúgio.

Além de trabalho, os Refugiados tentam migrar para países vizinhos que se encontram política e economicamente estáveis, sem conflitos internos e de preferência com as condições climáticas semelhantes ao seu, mas se isso não for possível, ariscam suas vidas enfrentando todo tipo de adversidades, cruzando oceanos, rumo a outros continentes.

O Brasil é notoriamente conhecido como um país amigo de todos os povos, em sua formação cultural, tem pessoa de várias nações, raça e credo convivendo pacificamente, que desde seu descobrimento tem recebido imigrantes que vieram principalmente da Europa, em busca de trabalho ou de investimento em atividades agropecuárias e exploração das riquezas naturais. Além dos portugueses, dos povos indígenas nativos, do negros africanos trazidos como escravos, outros grupos de imigrantes fazem parte da formação racial e cultural do país: Os principais grupos de imigrantes no Brasil são portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses, que representam mais de oitenta por cento do total. Até o fim do século XX, os portugueses aparecem como grupo dominante, com mais de trinta por cento, o que é natural, dada sua afinidade com a população brasileira. São os italianos, em seguida, o grupo que tem maior participação no processo migratório, com quase trinta por cento do total, concentrados, sobretudo no estado de São Paulo, onde se encontra a maior colônia italiana do país. Seguem-se os espanhóis, com mais de dez por cento, os alemães, com mais de cinco, e os japoneses, com quase cinco por cento do total de imigrantes. (PORTAL UOL. Imigração no Brasil. Disponível em: < https://brasilescola.uol.com.br/brasil/imigracao-no-brasil.htm>, 2019).

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Com passar do tempo o Brasil aprendeu a respeitar e integrar na formação do seu povo, as diferentes culturas, religiões e raças, tornando-o um exemplo a ser seguido, como destaca a Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR, Angelina Jolie: O Brasil tem generosamente recebido migrantes e refugiados por décadas, e tem feito isso com respeito aos seus direitos e à sua dignidade humana. Em um mundo onde refugiados e estrangeiros são com frequência estigmatizados e marginalizados devido ao racismo e à xenofobia, nós temos muito que aprender com a positiva experiência brasileira em relação aos refugiados. (BARRETO, Luiz Paulo Teles Ferreira e outros. Refúgio no Brasil - A proteção brasileira aos refugiados e seu impacto nas Américas. 2010, p.7).

Por esse motivo, o Brasil tem atraído Refugiados de toda parte do mundo, principalmente os que fogem da estagnação econômica de seus países, como é caso dos venezuelanos, de conflitos internos como é caso dos sírios, do que perderam tudo devido a catástrofes como os haitianos. Além desses, outros grupos como os congoleses, angolanos, cubanos, chineses e bengaleses por sofrerem diversos tipos de perseguições.

Diferença entre Refúgio e Asilo Político

Entre essas diversas formas de perseguições uma merece atenção especial, devido as suas características, a perseguição política. Por isso, devemos destacar a diferença desse tipo de perseguição para um Refugiado e um Asilado Político. Historicamente, na América Latina, o asilo político tem sido praticado com frequência, devido principalmente a instabilidade política que tem passado a região, com revoluções e golpes de estado. Na América Latina, desenvolveu-se o conceito de asilo, originário do Tratado de Direito Penal Internacional de Montevidéu, de 1889, que dedicou um capítulo ao tema. Inúmeras outras convenções ocorreram no continente americano, dedicadas à temática do asilo, tais como a Convenção sobre Asilo assinada na VI Conferência Pan-americana de Havana, em 1928; a Convenção sobre Asilo Político da VII Conferência Internacional Americana de Montevidéu, em 1933; o Tratado sobre Asilo e Refúgio Político de Montevidéu, em 1939; e a Convenção sobre Asilo Diplomático da X Conferência Interamericana de Caracas, em 1954. O asilo diplomático, assim, é instituto característico da América Latina. Em outros lugares do mundo, a

expressão que se utiliza é refúgio. É certo, contudo, que outros países aplicam o asilo diplomático esporadicamente, não o reconhecendo, todavia, como instituto de Direito Internacional. Esporádicos casos de asilo diplomático ocorreram na Europa, nos séculos XIX e XX, em proteção a criminosos políticos, geralmente sob intensos protestos dos países de onde se originavam as perseguições. Isso fez com que o instituto caísse em desuso naquele continente. (BARRETO, Luiz Paulo Teles Ferreira e outros. Refúgio no Brasil - A proteção brasileira aos refugiados e seu impacto nas Américas. 2010, p.13).

No Brasil, para uma pessoa receber o benefício de asilado político é necessário que ela esteja sendo perseguida fundamentalmente por motivos políticos em seu país de origem e não tenha cometido crime comum ou esteja aguardando julgamento relacionado a um crime comum. A Constituição Federal de 1988, ratificando os Tratados de Direito Internacional estabelece em seu artigo 4º, X, a concessão de asilo político. O asilo político pode ser dividido em dois tipos: territorial ou diplomático: O territorial consiste em uma permissão do governo brasileiro para que a pessoa possa ficar em território nacional, sendo protegida assim pelo país. Para que ele seja concedido, o requerente deve estar dentro dos limites territoriais do Brasil. O asilo diplomático pode ser concedido enquanto a pessoa ainda estiver em seu país, ao se dirigir a uma Embaixada ou Consulado do país para o qual deseja solicitar o asilo. Se aceito, o asilado “habita” a Embaixada ou Consulado de outro país, ficando assim protegido de qualquer perseguição. (PORTAL POLITIZE! IMIGRANTE, REFUGIADO E ASILADO: QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS? Disponível em: <https://www.politize.com.br/refugiados-imigrantes-e-asilados/>, 2019).

Assim, asilo territorial será concedido quando o solicitante se encontrar dentro do território em que está pedindo asilo, por tempo máximo de dois anos, podendo ser renovado se as condições que o motivaram ainda existir, enquanto o diplomático ao ser solicitado nas representações políticas, tais como, Embaixadas ou Consulados, navios, aeronaves e acampamentos militares, tem caráter provisório, pois as acomodações nessas representações são temporárias até que seja decidido conceder ou não o asilo territorial. Por outro lado, o asilo é territorial quando o Estado aceita a presença do estrangeiro no seu território

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nacional. Trata-se de benefício concedido pelo Ministro da Justiça, por prazo limitado, de no máximo dois anos, passível de renovação enquanto subsistem as condições que o ensejaram. O instituto é regulado pela Convenção sobre Asilo Territorial de 1954, cujo artigo 1.º diz que "todo Estado tem direito, no exercício de sua soberania, de admitir dentro de seu território as pessoas que julgar conveniente, sem que, pelo exercício desse direito, nenhum outro Estado possa fazer qualquer reclamação. De acordo com a doutrina, o asilo diplomático, em razão do seu caráter provisório e não-definitivo, deve ser compreendido como uma ponte para a obtenção do asilo territorial. Neste momento, uma importante observação deve ser feita. Há de se notar que a concessão do asilo diplomático NÃO garante a do asilo territorial. Em outras palavras, não é porque o Estado outorgou ao indivíduo o primeiro que estará obrigado a recebê-lo em seu território nacional. O que se entende é que, depois do reconhecimento do asilo diplomático por um determinado Estado, aumentam as chances de o mesmo conceder ao asilado, o asilo territorial. Nunca é demais lembrar que, muito embora reconhecido internacionalmente como direito fundamental, o asilo político não pode ser imposto a um Estado, devendo ser visto como exercício de soberania. (PORTAL AJUSBRASIL. STF nega a extradição de Cesare Battisti para Itália. Ministro da Justiça concede-lhe asilo político: as nuanças jurídicas do caso concreto. Disponível em: < https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/590812/stf-nega-a-extradicao-de-cesare-battisti-para-italia-ministro-da-justica-concede-lhe-asilo-politico-as-nuancas-juridicas-do-caso-concreto>, 2019).

Portanto, a grande diferença entre Refúgio e Asilo é que, o asilo político é uma decisão política, soberana e exclusiva do Estado, que leva em conta sua relação com o indivíduo na análise dos motivos da sua petição, enquanto que o refúgio decorre de perseguição política, cabendo ao Estado decidir de forma humanitária, e não política, acolher esses indivíduos que chegam a seu território fugindo das ameaças e ricos as suas vidas, conforme estabelece a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).

Dois casos sobre asilo político ocorridos na história recente do Brasil e no mundo, merecem destaques:

O caso do italiano Cesare Battisti integrante do grupo de extrema esquerda da Itália, conhecido como Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), foi preso em junho de 1979 e condenado a

doze anos de prisão na Itália, sob acusação de participação em grupo armado, assalto e receptação de armas. Em outubro de 1981 fugiu da prisão para França, mudou-se para o México, e em 1990 retornou a França, quando o governo de François Mitterrand deu garantias que não concederia extradição para Itália aos envolvidos em atividades terroristas até 1981. Em 1987, após novo julgamento na Itália, com as delações premiadas dos ex-integrantes do PAC Pietro Mutti e Sante Fatone, Battisti foi condenado, à revelia, a prisão perpétua acusado de quatro assassinatos, dois por razões políticas e os outros crimes comuns, onde um teria participação direta no homicídio e em outro teria sido o mandante intelectual. Em 2004, vivendo na França com a esposa e filha, como escritor, sua extradição foi revista e concedida devido a mudança da orientação política do governo de Jacques Chirac. Na iminência de ser extraditado, Battisti foge novamente, com destino ao Brasil. Em 18 de março de 2007, foi preso no Rio de Janeiro, pela INTERPOL. Em 28 de novembro de 2008, o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), órgão responsável por julgar casos de asilo em primeira instância, rejeitou seu pedido de asilo político, por três votos a dois. Em dezembro de 2008, a defesa de Cesare Battisti recorreu ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, conforme orienta o artigo 29 da Lei 9474/97, e que baseado na tese de "fundado temor de perseguição por suas ideias políticas" concedeu o status de refugiado político. A decisão gerou controvérsia e repercutiu principalmente nos países envolvidos no caso – Itália, França e Brasil. Prontamente, o governo italiano entrou com Mandado de Segurança contra a decisão do Ministro da Justiça, Tarso Genro, e com isso, o italiano permaneceu preso. Quanto a extradição, o Supremo Tribunal Federal (STF) não concedeu, pois entendia que havia dúvidas no julgamento realizado, à revelia, baseadas nas delações premiadas.

Em 18 de novembro de 2009, o STF considerou ilegal o status de refugiado político e decidiu pela extradição do italiano, porém a execução desse ato, conforme estabelece a Constituição Brasileira, caberia ao Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que em 31 de dezembro de 2010 não concedeu a extradição. Em 8 de junho de 2011, Cesare Battisti, preso desde março de 2007 teve sua libertação imediata decida pelo STF.

Em 13 de dezembro de 2018, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, revogou a liminar concedida por ele mesmo em outubro de 2017, que impedia a extradição de Battisti, e ordenou sua prisão pela Interpol ou pela Polícia

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Federal, argumentando que, uma vez que o STF entendeu pela possibilidade de extradição, pelos crimes comuns cometidos, porém, caberia ao Poder Executivo, o juízo político de sua conveniência. No dia seguinte o presidente Michel Temer assinou o decreto de extradição. Com a expedição do decreto de prisão pelo STF, Battisti que estava foragido, foi capturado em 13 de janeiro, na Bolívia, extraditado diretamente para a Itália e enviado para uma prisão de segurança máxima na Sardenha, após confessar os crimes que fora acusado.

Outro caso é do analista de sistemas americano, Edward Snowden, que prestava serviços para Agência de Segurança Nacional Americana (NSA), e que após revelar que o serviço secreto americano estava utilizando programas, sem a permissão expressa da justiça, para registrar dados de ligações e outras comunicações não só de americanos, mas também de países estrangeiros e até mesmo aliados, como o Brasil, teve que pedir asilo político a vários países, alegando que sua vida corria risco, por ter sido considerado traidor. Após entregar ao jornalista americano Glenn Greenwald, do The Intercept e a jornalista britânica Sarah Harrison, da WikiLeaks, documentos com informações sobre diversas autoridades do mundo as quais foram divulgadas pela impressa global, Snowden comprovava a existência do projeto de monitoração global através de programa de vigilância em massa, conhecido com PRISM. Em 01 de agosto 2013, a Rússia concedeu aliso político a Edward Snowden, o qual já foi renovado e poderá ser estendido até 2020.

Importante destacar que o CONARE é órgão responsável pelo julgamento dos pedidos de refúgio e asilo político em primeira instância, porém essa decisão pode ser revista pelo Ministro da Justiça, e em caso de extradição o STF pode se pronunciar favorável ou não, cabendo ao Presidente da República deliberar sobre sua concessão.

Análise quantitativa sobre os Refugiados no Brasil

O relatório “Refúgio em Números” elaborado pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), traz na sua 4º edição, um retrato da situação dos Refugiados no Brasil até 2018. Através de dados numéricos e gráficos, o relatório demonstra o panorama dos Refugiados no Brasil, identificando os grupos que mais solicitam refúgio, as regiões que mais recebem Refugiados e o quantitativo de pessoas refugiadas reconhecidas pelo estado brasileiro após decisão do CONARE.

Análise do relatório “Refúgio em Números” do CONARE

Segundo dados do relatório “Refúgio em Números”, o Brasil reconheceu, somente em 2018, um total de 1.086 refugiados de diversas nacionalidades, atingindo a marca de 11.231 pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado brasileiro (ANEXO A).

Desse total, os sírios representam a maior população refugiada com registro ativo no Brasil, cerca de 36%, seguidos dos congoleses com 15%, angolanos com 9%, colombianos com 7%, venezuelanos e paquistaneses com 3% (ANEXO B).

O ano de 2018 tem sido considerado o ano com maior número de solicitações de reconhecimento de condição de refugiado, foram mais de 80 mil solicitações, sendo 61.681 de venezuelanos, mais de 7 mil solicitações de Haitianos, seguidos dos cubanos (2.749), chineses (1.450) e os bengaleses (947) (ANEXO C).

Neste ano, o estado com mais solicitação foi Roraima (50.770), que apresentou mais de 300% de aumento quando comparado com ano o anterior, onde houve quase 16 mil solicitações, seguido do Amazonas (10.500) e São Paulo (9.977) (ANEXO D).

Em 2018 o CONARE decidiu 13.084 processos, deferindo 777 com elegibilidade reconhecida e 309 com extensão dos efeitos das condições de refugiado, totalizando 1086 refugiados (ANEXO E).

O relatório “Refúgio em Números” divulgado em 2019, também traz o panorama mundial do refúgio e do deslocamento regional do ano 2018, segundo o ACNUR: • Segundo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) ao final de 2018, cerca de 70,8 milhões de pessoas foram forçadas a deixar seus locais de origem por diferentes tipos de conflitos. • Desses, cerca de 25,9 milhões são refugiados e 3,5 milhões são solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado. • 67% dos refugiados no mundo vieram de três países: Síria (6,7 milhões), Afeganistão (2,7 milhões) e Sudão do Sul (2,3 milhões). • Os países que mais possuem refugiados são a Turquia (3,7 milhões), o Paquistão (1,4 milhão) e Uganda (1,2 milhão). • Segundo o ACNUR, o continente americano abrigava (até dezembro de 2018) cerca de 643.300 pessoas refugiadas. As situações mais relevantes no continente são: 1) Venezuela: Na data de 06 de junho de 2019, segundo dados de governos, estima-se que

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4.001.917 de nacionais da Venezuela constam como solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado, refugiados e residentes em seus sistemas. 2) Colômbia: É o segundo país com maior número de deslocados internos do mundo, somando uma quantia de cerca de 7,8 milhões. 3) Norte da América Central: Até 31 de agosto de 2018, dados de governos indicam que existiam em suas bases de dados cerca de 307.900 solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado e refugiados do Norte da América Central (El Salvador, Guatemala e Honduras). (PORTAL ACNUR.ORG. REFÚGIO EM NÚMEROS 4º EDIÇÃO. Disponível em:<https://www.acnur.org/portugues/wpcontent/uploads/2019/07/Refugio-em-nu%CC%81meros_versa%CC%83o-23-de-julho-002.pdf>, 2019).

O relatório “Refúgio em Números” traz ainda o cenário do Brasil e do Mundo até dezembro 2018, realizando um comparativo, onde se destaca que enquanto no Brasil 11.231 pessoas foram reconhecidas como refugiadas, no Mundo foram quase 26 milhões, enquanto no Brasil ocorreu 161.057 solicitações de reconhecimento da condição de refugiado em trâmite, no Mundo foram cerca de 3,5 milhões e tanto no Brasil como no Mundo a nacionalidade com maior número acumulado de pessoas refugiadas reconhecidas é a Síria (ANEXO F).

Com base nestes números pode-se notar o crescente aumento de Refugiados no Brasil e no Mundo, um problema que necessita de uma solução urgente como pretende a ONU com o Pacto de Migração Mundial, conhecido como Pacto de Marrakech. A Soberania Estatal Brasileira e Pacto de Migração de Marrakech

Ratificar um acordo internacional é um desafio muito grande, pois é preciso superar várias barreiras impostas pelos países que pretendem celebrar o acordo, entre elas estão, os diferentes regimes políticos, as diferenças religiosas, as garantias dos direitos humanos, os interesses econômicos e estratégicos, os impactos ambientais, e sem dúvida, o entendimento dos efeitos de um acordo na soberania do país é fator determinante para o fechamento do acordo, sua assinatura e ratificação.

Caso a nação entenda que sua soberania será afetada por um acordo internacional, este dificilmente terá êxito, estará fadado ao fracasso. Foi pensando nisso que a ONU buscou o

entendimento e participação de todos os envolvidos com o problema das migrações desordenadas que tem se espalhado pelo mundo, para que conjuntamente fosse possível a elaboração de um Pacto Mundial para Migração que atendesse os interesses de todos os participantes e ao mesmo tempo ajudasse a resolver o problema dos Refugiados, porém, alguns países se retiraram logo no início da sua elaboração, alegando principalmente que o problema dos Refugiados era problema exclusivamente de cada nação, e que cada um deveria resolver a sua maneira e com suas próprias leis, preservando sua soberania, como é o entendimento do atual governo brasileiro. Porém, outros países, como a Alemanha, entenderam que não haverá solução se os países se isolarem e não buscarem uma solução conjunta.

Todavia, mesmo diante desse conflito gerado pelo entendimento que cada país tem sobre ameaça a sua soberania, em 10 dezembro de 2018, na Conferência Intergovernamental, realizada na cidade de Marrakech, no Marrocos, a ONU apresentou o novo Pacto Mundial para Migração, que levou meses para ser elaborado e contou com a colaboração de diversos países para encontrar um consenso nas ações para o tratamento do problema dos Refugiados. Nesta ocasião, o acordo foi assinado por 164 países, inclusive o Brasil, e que entraria em vigor após sua ratificação na Assembleia Geral da ONU, marcada para o dia 19 de dezembro, em Nova York, quando esses países teriam que confirmar sua adesão e outros também que ainda não haviam assinado, poderiam ratificá-lo.

5.1. O Pacto de Migração de Marrakech

O novo Pacto Mundial para Migração, que ficou conhecido como o Pacto de Migração de Marrakech, com 23 objetivos, pretende reforçar a cooperação internacional, para uma migração segura, ordenada e regular: O documento destaca 23 objetivos para a cooperação internacional em relação à imigração. Dentre os objetivos, uma proposta visa o trabalho em conjunto para melhorar as condições estruturais de países e diminuir a fuga de pessoas de seus territórios. • Coletar e utilizar dados precisos e desagregados como base para políticas • Minimizar os fatores adversos e os fatores estruturais que obrigam as pessoas a deixarem seus países de origem • Fornecer informações precisas e oportunas em todos os estágios da migração

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• Assegurar que todos os migrantes tenham prova de identidade legal e documentação adequada. • Aumentar a disponibilidade e a flexibilidade dos caminhos para a migração regular • Facilitar o recrutamento justo e ético e salvaguardar condições que garantam um trabalho decente. • Abordar e reduzir vulnerabilidades na migração • Salvar vidas e estabelecer esforços internacionais coordenados em migrantes desaparecidos • Reforçar a resposta transnacional ao contrabando de migrantes • Prevenir, combater e erradicar o tráfico de pessoas no contexto internacional migração • Gerenciar as fronteiras de forma integrada, segura e coordenada • Reforçar a certeza e previsibilidade nos procedimentos de migração para triagem, avaliação e encaminhamento • Usar a detenção de migração apenas como uma medida de último recurso e trabalhar para alternativas • Reforçar a proteção, assistência e cooperação consulares em toda o ciclo de migração • Fornecer acesso à serviços básicos para migrantes • Capacitar os migrantes e as sociedades para a plena inclusão e coesão social • Eliminar todas as formas de discriminação e promover o discurso público baseado em evidências para moldar percepções de migração • Investir no desenvolvimento de competências e facilitar o reconhecimento mútuo de competências, qualificações e competências • Criar condições para os migrantes e as diásporas contribuírem plenamente para o desenvolvimento sustentável em todos os países • Promover uma transferência de remessas mais rápida, segura e mais barata e promover a inclusão financeira dos migrantes • Cooperar para facilitar o regresso e a readmissão seguros e dignos, bem como reintegração sustentável • Estabelecer mecanismos para a portabilidade dos direitos de segurança social e benefícios • Fortalecer a cooperação internacional e as parcerias globais para garantir a segurança, ordenação e migração regular (PORTAL G1. Entenda o que é o Pacto Mundial para Migração. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/12/11/en

tenda-o-que-e-o-pacto-mundial-para-migracao.ghtml>, 2019).

A motivação que levou a criação deste Pacto é a crise migratória que o mundo vem passando, conforme dados da ONU de 2018, cerca de 258 milhões de pessoas, que representa 3,4% da população mundial encontram-se deslocadas ou são migrantes que se aventuram em rotas migratórias perigosas responsáveis pelo desaparecimento ou morte de 3.323 pessoas, principalmente, os que vem para a Europa da África ou Ásia pelo Mar Mediterrâneo.

Por isso, o Pacto é antes de tudo uma cooperação internacional que visa a segurança no deslocamento dos Refugiados para países que os recebam voluntariamente evitando mortes e desaparecimentos, visa a ordenação com uma distribuição equânime evitando sobrecarga nos países e por fim, visa a regularidade garantindo legalidade com garantia de direitos humanos e de cidadania evitando sua exploração e perdas para o tráfico internacional de pessoas. A Soberania Estatal Brasileira perante o Pacto de Migração de Marrakech

Muitos dos 164 países que assinaram o acordo, após mudanças políticas ocorridas, principalmente com a mudança de governo, resolveram não o ratificar, como foi o caso do Brasil. No então governo de Michel Temer, o ministro das Relações Exteriores Aluísio Nunes, assinou o acordo e o defendeu, dizendo que o mesmo não feria a soberania: O ministro afirmou que o pacto assinado por cerca de 160 países, inclusive o Brasil, não se sobrepõe à soberania de cada país. "Nada existe nesse pacto que possa se sobrepor à soberania dos países. Cada país tem a sua política migratória no exercício da sua soberania própria", afirmou o chanceler. Ele observou que o pacto é uma "cooperação voluntária", mas muito importante porque envolve troca de informações entre países que ajuda a desmantelar redes criminosas de tráficos de seres humanos. “Ele [o pacto] não cria uma obrigação aos países. Isso é preciso entender. Ele não é vinculante, não é um tratado, não é uma convenção que cria obrigações jurídicas. É um chamamento à cooperação voluntária", argumentou. (PORTAL G1. Aloysio Nunes vê 'retrocesso' se Brasil deixar pacto da ONU para migração. Disponível em: < https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/12/11/ ministro-das-relacoes-exteriores-diz-que-nao-e-

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bom-para-o-brasil-deixar-o-pacto-da -onu-para-migracao.ghtml>, 2019).

Porém, o atual governo de Jair Bolsonaro não ratificou o Pacto, discordando dos mais de 120 países que o aderiu, alegando interferência na soberania estatal brasileira: O Brasil aderiu ao pacto há menos de um mês por decisão do então presidente Michel Temer, acompanhando o posicionamento de mais de 120 dos 193 países membros da ONU. O pacto conclama os países a trabalharem juntos na troca de informações e políticas para as fronteiras e combate ao tráfico de pessoas. Nesta terça-feira (8), o governo Jair Bolsonaro anunciou a mudança de posição do país. Como divulgou o site da BBC Brasil, o Ministério das Relações Exteriores pediu que diplomatas brasileiros em Nova York, nos Estados Unidos, e em Genebra, na Suíça, comuniquem à ONU e à Organização Internacional de Migração que o Brasil “não é mais signatário do pacto global para migração segura, ordenada e regular”. Ainda em dezembro passado, antes de assumirem os cargos, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disseram em redes sociais que o Brasil deixaria o pacto. Araújo classificou o acordo como um “instrumento inadequado para lidar com o problema” e afirmou que “imigração não deve ser tratada como questão global, mas sim de acordo com a realidade e a soberania de cada país”. Na ocasião, Araújo afirmou também que “o Brasil buscará um marco regulatório compatível com a realidade nacional e com o bem-estar de brasileiros e estrangeiros”, mesma posição adotada por Estados Unidos, Itália, Suíça, Austrália, Israel e duas dezenas de países. O pacto vinha sendo negociado há dois anos como uma resposta à onda migratória que atingiu principalmente a Europa. Pelas estimativas da ONU, há mais de 258 milhões de imigrantes no mundo. Só em 2018, mais de 3.300 pessoas morreram ou desapareceram em rotas migratórias. (PORTAL G1. Brasil informa à ONU que vai deixar Pacto de Migração. Disponível em: < https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/01/08/brasil-informa-a-onu-que-vai-deixar-pacto-de-migracao.ghtml>, 2019).

Novamente constatamos que o entendimento que cada governo tem sobre conceito de soberania é determinante para que um acordo internacional seja realizado, mesmo que a decisão possa trazer mais prejuízo do que benefício ao país, como analisa o professor do Instituto de

relações internacionais da Universidade de Brasília, Juliano da silva Cortinhas: “O Brasil não tem um problema sério de migração. Temos uma parcela muito pequena da nossa população composta por migrantes, são cerca de 0,4% de migrantes chegando no Brasil, e temos muito mais brasileiros vivendo no exterior do que estrangeiros vivendo no Brasil. Então, a saída do pacto prejudica mais os brasileiros do que a permanência no pacto”, disse. (PORTAL G1. Brasil informa à ONU que vai deixar Pacto de Migração. Disponível em: < https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/01/08/brasil-informa-a-onu-que-vai-deixar-pacto-de-migracao.ghtml>, 2019).

Além disso, o Brasil pode ter mais dificuldades no fechamento de novos acordos internacionais que traria benefício ao país, como os comerciais, por exemplo, pois pode sofrer retaliação, isolamento e até discriminação oriunda dessa decisão.

A Alemanha, por exemplo, defende que o Pacto não fere a soberania dos países e que só uma solução conjunta pode resolver o problema, e ainda encontrou oportunidade para resolver alguns dos seus problemas internos, como a carência de mão de obra e o envelhecimento do país: ... a Alemanha - que já acolheu mais de um milhão de migrantes e refugiados nos últimos anos, de países como a Síria - necessitará de mão-de-obra mais qualificada de fora da União Europeia e tem interesse na migração legal. Mas ela também reafirmou que os Estados Membros devem combater a migração ilegal e claramente se comprometer com a proteção efetiva das fronteiras para prevenir o tráfico de seres humanos, como apresentado no Pacto. (PORTAL G1. Entenda o que é o Pacto Mundial para Migração. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/12/11/entenda-o-que-e-o-pacto-mundial-para-migracao.ghtml>, 2019). A falta de mão de obra é uma das maiores preocupações dos empresários alemães, de acordo com as pesquisas, especialmente em algumas regiões do sul do país e em polos industriais no norte. Faltam sobretudo trabalhadores com algum nível de treinamento profissional, como encanadores, projetistas e motoristas, e com diploma universitário, como educadores de crianças. Além da falta de trabalhadores, a Alemanha tem pela frente previsões demográficas que apontam para o envelhecimento acentuado da população. Essas projeções também afetarão o Leste

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Europeu, de onde vem boa parte da mão de obra estrangeira na Alemanha e cuja chegada deverá diminuir nos próximos anos. "Esses países estão se tornando países de imigração. É preciso procurar trabalhadores fora da UE", diz Thomas Liebig, especialista em questões migratórias na OCDE. A integração dos refugiados no mercado de trabalho avança, embora especialistas alertem que isso levará tempo. O chefe da associação de empregadores BDA, Ingo Kramer, indicou recentemente que, dos requerentes de asilo que se radicaram no país desde 2015, cerca de 400.000 estão trabalhando ou participando de algum programa de treinamento vocacional como aprendizes. "É um processo lento, às vezes são pessoas que não falam alemão e muitas delas vêm do Afeganistão ou da Somália, por exemplo, onde não receberam instrução", diz o especialista da OCDE, Thomas Liebig. (PORTAL BRASIL.ELPAIS.COM. Alemanha busca trabalhadores fora da UE para ajudar a cobrir 1,2 milhão de vagas de empregos. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/19/internacional/1545233313_157398.html>, 2019).

Considerações finais

Enquanto alguns países estão buscando soluções isoladas para alguns problemas mundiais, como o dos Refugiados, como é o caso do governo atual do Brasil que saiu do Pacto Mundial de Migração da ONU, por entender que o Pacto é uma ameaça a soberania estatal, também os Estados Unidos da América que por decisão do atual governo de Donald Trump, não participa do Pacto e atualmente está construindo um muro na fronteira com o México, acreditando ser a solução para migração irregular, pois afirma que a sobrecarga de Refugiados afetam sua economia, causam problemas sociais, em particular, no mercado de trabalho.

Porém, contrário a estes entendimentos, países como a Alemanha, busca uma solução conjunta e entende que o Pacto não fere a soberania, visa organizar a migração de forma segura, ordenada e regular, ao mesmo tempo, encontra oportunidade para resolver alguns dos seus problemas internos, ao permitir a entrada legal dos Refugiados, busca capacitá-los ao seu mercado de trabalho carente de mão de obra técnica e o tratar o envelhecimento do país.

Portanto, encontrar o equilíbrio entre defender a soberania e reconhecer que um acordo internacional pode trazer mais ganho do que perda e que possa resolver alguns dos seus problemas

internos é uma obrigação de todo governo soberano, que também, tem o dever de buscar e participar de soluções para os problemas que tem afetado o mundo inteiro, cooperando, ajudando, demonstrando solidariedade e humanidade, como no caso dos Refugiados.

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Anexos

ANEXO A – Pessoas refugiadas reconhecidas no Brasil

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ANEXO B – Pessoas refugiadas atualmente – Nacionali dades

ANEXO C – Solicitações de reconhecimento da condição de ref ugiado por país

ANEXO D – Solicitações de reconhecimento da condição de ref ugiado por estado

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ANEXO E – Número de decisão do CONARE em 2018

ANEXO F – Cenário do Brasil e Mundo até dezembro de 2018