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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA JULIANE ROBERTA DE ANDRADE PROCESSO DE LUTO DIANTE DA SEPARAÇÃO AMOROSA Biguaçu 2009

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UNIVALI

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

JULIANE ROBERTA DE ANDRADE

PROCESSO DE LUTO DIANTE DA SEPARAÇÃO AMOROSA

Biguaçu 2009

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JULIANE ROBERTA DE ANDRADE

PROCESSO DE LUTO DIANTE DA SEPARAÇÃO AMOROSA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí no Curso de Psicologia, sob orientação da Prof ª: Ivânia Jann Luna.

Biguaçu

2009

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“Dedico este trabalho a minha família

pela força e compreensão dispensados a

mim, não só neste, mas em todas as

etapas e momentos da minha vida”.

Juliane Roberta de Andrade

Dezembro de 2009

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AGRADECIMENTOS

“Inicialmente gostaria de agradecer a Deus por ter me dado o dom da vida e

por proporcionar a oportunidade de eu me formar no que tanto desejei, e

fundamentalmente de ter me fortalecido nas horas que mais precisei;

Agradeço minha mãe por ter me apoiado nas horas que mais precisei, por ter

me ajudado a vencer mais uma etapa da minha vida, tanto emocionalmente quanto

financeiramente, pois sem ela talvez não teria conseguido alcançar um dos maiores

sonhos que é me formar em psicologia;

A minha irmã pelos momentos de compreensão, principalmente quando precisei

utilizar o computador;

Ao meu pai por estar ao meu lado nos momentos em que precisei de um ombro

amigo;

A minha avó Valda e meu avó Anatólio pelas palavras de apoio nos momentos

em que me sentia desmotivada, pelo grande apoio onde jamais esquecerei dessa frase:

“não desista você vai conseguir”;

Ao meu namorado que não mediu esforços me compreendendo nos momentos de

ausência, as longas conversas nas horas de ansiedade, e os momentos proporcionados

com muita alegria para que eu pudesse me distrair;

À minha grande professora e orientadora Ivânia Jann Luna, que me

compreendeu nos momentos em que mais necessitei, e que não mediu esforços para que

eu pudesse alcançar este objetivo;

As minhas grandes amigas de sala por estarem sempre comigo nessa

caminhada;

A psicóloga Márcia e minha grande professora Ana Paula por aceitarem

participar da minha banca, pois contribuíram e enriqueceram muito meu trabalho;

As pessoas que se prontificaram a participar da minha pesquisa;

E a todos que de alguma forma contribuíram e torceram por mais esta grande

etapa da minha vida”.

Muito obrigada de coração a todos!!

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“...e minha alma não podia viver sem ele... Com que dor se ensombreou meu coração! Tudo o que

via era morte para mim... E tudo o que o lembrava transformava-se para mim em crudelíssimo martírio.

Cheguei a odiar todas as coisas, porque nada o continha... Tornei-me para mim mesmo um grande

problema, perguntando à minha alma por que estava triste e me conturbava tanto, e ela não sabia o que

responder-me.”

Santo Agostinho

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RESUMO

O ser humano enquanto ser social, desenvolve ao longo da vida uma série de vínculos. Vínculos estes que são estabelecidos através das relações interpessoais, onde trocas afetivas são realizadas. Estes são de tais formas importantes para a condição de ser social do indivíduo, principalmente num relacionamento amoroso. Desta forma, é possível refletir como e por que o ser humano estabelece vínculos afetivos e emocionais e de como estes mesmos vínculos se transformam, são rompidos, desfeitos e refeitos, obtendo assim em muitos destes rompimentos, o luto. O luto na separação amorosa é uma das experiências mais dolorosas para o ser humano, podendo ser identificada como a morte do outro em si, sendo assim uma morte em vida. A amostra desta pesquisa foi composta por três homens e três mulheres, sendo uma pesquisa qualitativa, com entrevista semi-estruturada, obtendo como objetivo compreender o processo de luto de homens e mulheres diante da separação amorosa, identificar a vivência da experiência emocional da perda e do luto diante da separação amorosa, identificar os motivos da escolha do cônjuge e analisar as características do relacionamento amoroso entre o casal. A pesquisa demonstrou que diante de uma separação amorosa, perder a pessoa amada é tão desorganizadora e assustadora na vida de uma pessoa, como a perda de um familiar, percebeu-se também que tanto os homens quanto as mulheres sofrem por essa perda e passam pelo mesmo processo de luto, no entanto as mulheres sentem mais a perda do que os homens. Palavras-chave: separação amorosa, luto, vínculo, relações de gênero.

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RESUMEN

El ser humano cuanto ser social, desarrolla a través de la vida una serie de enlaces. Enlaces estos que se establecen por intermédio de relaciones interpersonales, donde intercambios afectivos son realizados. Estos enlaces son imprescindíbles para la condición de ser social del indivíduo, principalmente en una relación amorosa. De tal manera, es posible reflexionar como y porqué el ser humano establece enlaces afectivos y emocionales, y como estos mismos enlaces se transforman, se cortan, se deshacen y se rehacen, teniendo como resultado en muchos casos, el luto. El luto en una relación amorosa es una de las experiencias mas dolorosas para el ser humano, pudiendo ser identificada como la muerte del otro, siendo asi una muerte en vida. La muestra de esta investigación fue compuesta por tres hombres y tres mujeres, siendo una investigación cualitativa, con entrevista semi-abierta, teniendo como objetivo entender el proceso de luto de hombres y mujeres delante de la separación amorosa, identificar la experiencia emocional de la pérdida y del luto delante de la separación amorosa, identificar los motivos para la elección de ese compañero y analizar las características de la relación amorosa entre la pareja. La investigación demostró que ante una separación amorosa, perder la persona amada es tan confuso y asustador en la vida de una persona, como la pérdida de un familiar, también se percibió que tanto los hombres como las mujeres sufren por esta pérdida y pasan por el mismo proceso de luto, no obstante las mujeres sienten más la pérdida de que los hombres.

Palabras-llave: separación amorosa, luto, enlaces, relaciones de género.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 09 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................ 12 2.1 RELAÇÃO AMOROSA NA ATUALIDADE......................................................... 12 2.2 FORMAÇÃO DE VÍNCULO AMOROSO E A ESCOLHA DO CÔNJUGE........ 14 2.3 ROMPIMENTO, SEPARAÇÃO E PERDA AMOROSA....................................... 17 2.3.1 Principais reações emocionais e fases do luto................................................ 18 2.3.2 Definições de luto normal, complicado e luto não reconhecido.................................................................................................................... 23 2.3.4Gênero e luto......................................................................................................... 26

3 METODOLOGIA................................................................................. 29 3.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................................... 29 3.2 SUJEITOS DA PESQUISA..................................................................................... 29 3.2.1 Perfil dos informantes ........................................................................................ 29 3.3 INSTRUMENTO.....................................................................................................30 3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS.................................................. 31 3.5 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS................................................................. 31 3.6 QUESTÕES ÉTICAS............................................................................................. 32 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...............................33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... 52

APÊNDICES............................................................................................. 55

APÊNDICE A........................................................................................... 56

APÊNDICE B........................................................................................... 58

APÊNDICE C........................................................................................... 61

APÊNDICE D........................................................................................... 62

APÊNDICE E........................................................................................... 63

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1 INTRODUÇÃO

No fluxo da vida, os seres humanos passam por muitas mudanças. Chegar,

partir, crescer, conquistar, fracassar fazem parte desta mudança. Desta forma as pessoas

vêm e vão, novos hábitos são aprendidos, enquanto que outros são abandonados;

expectativas são atingidas e esperanças são frustradas. Toda mudança envolve uma

perda e um ganho.

É necessário abrir mão do velho ambiente para aceitar o novo. Em todas essas

situações, as pessoas enfrentam a necessidade de abrir mão de um modo de vida e a de

aceitar um outro. Se identificarmos a mudança como um ganho, a aceitação não será

difícil, mas se é vista como uma perda ou uma bênção ambivalente far-se-á de tudo para

resistir à mudança.

As religiões e a filosofia sempre procuraram questionar e explicar a origem e o

destino do homem. Por tradição natural, familiar ou mesmo por investigação pessoal

cada um de nós traz dentro de si “uma morte”, ou seja, a sua própria representação da

morte.

O presente estudo pretende compreender o processo de luto de homens e

mulheres diante da separação amorosa, identificar a vivência da experiência emocional

da perda e do luto diante da separação amorosa, identificar os motivos da escolha do

cônjuge e analisar as características do relacionamento amoroso entre o casal. Este

interesse surgiu pelo fato de haver poucos trabalhos científicos na área da Psicologia

sobre este tema, já que a grande parte das pesquisas relacionadas a lutos, enfocam as

perdas na relação amorosa por morte, estudando o luto de viúvas e viúvos, o luto

conseqüente à morte física, e não o luto de cônjuges diante da separação amorosa, um

tipo de luto por uma pessoa que na realidade ainda está viva.

A partir desta são atribuídas personificações, qualidades e formas. Como

exemplo, cita-se o artigo realizado por Oliveira e Lopes (2008), relatando que o luto é a

fase da expressão dos sentimentos decorrentes da perda, sendo demonstrado por choque,

desejo, desorganização e organização. É a fase de aprender que a morte deve ser tornada

real, a partir do que se torna possível, estabelecendo assim novas concepções sobre o

mundo, necessitando de investimentos pessoais.

A forma como vemos a morte certamente influenciará a nossa forma de ser.

Entrelaçamos vida e morte, durante todo o nosso processo de desenvolvimento vital.

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Engana-se quem acredita que a morte só é um problema no final da vida, e que só então

deverá se pensar nela. Igor Caruso (1986) refere-se a um outro tipo de morte, a

separação amorosa, que ele relaciona a uma fenomenologia da morte, sendo uma das

experiências mais dolorosas para o ser humano, que todos, inevitavelmente, viveremos.

Segundo Caruso, estudar a separação amorosa é estudar a presença da morte em nossa

vida. É uma morte psíquica na vida dos seres humanos. Separar ou partir é morrer um

pouco. A separação pode ser em muitos casos pior do que a própria morte, porque

significa uma capitulação diante da morte ainda em vida. Já, por outro lado, a separação

pode ser a saída menos dolorosa, em alguns casos, porque evita a morte.

A separação amorosa traz o sentimento de “nunca mais”, como na situação de

morte, só que o companheiro não morreu. Este mesmo mecanismo pode levar o

separado a almejar a morte como forma de escape de tão profunda dor, principalmente

quando vem acompanhado da crença de que existe uma vida depois da morte, que é

sempre fantasiada como muito mais feliz do que a atual. Este tipo de sentimento e de

dor é decorrência de um grande amor e de um grande vínculo afetivo. Desta forma é

importante ressaltar que a cada separação vivenciada, é necessário aceitar a perda do

objeto perdido, seja ele qual for, por exemplo, a figura de proteção, dependência

psicológica e toda representação deste, enquanto objeto de apego e significação de

segurança.

O ser humano, enquanto ser social desenvolve ao longo da vida uma série de

vínculos. Vínculos estes que são estabelecidos através das relações interpessoais, onde

trocas afetivas são realizadas. Berthoud (1998, p.15), afirma que “falar de vínculos

afetivos é, de certa forma, falar da essência da vida humana, no sentido em que o ser

humano se relaciona e se vincula a outras pessoas desde sempre, sendo feliz e sofrendo

em decorrência destas inter-relações”.

Muitos vínculos se desenvolvem ao longo de nossas vidas, sendo importantes

para nossa condição de ser social, assim este vínculo contornará em torno de um

relacionamento. Desta forma, é possível refletir como e por que o ser humano

estabelece vínculos afetivos e emocionais e de como estes mesmos vínculos se

transformam, são rompidos, desfeitos e refeitos, obtendo assim em muitos destes

rompimentos, o luto não-reconhecido.

Para Casellato e Motta (2002, apud FRANCO 2002, p.123) o “luto não-

reconhecido é aquele que a sociedade não aceita, onde a perda não pode ser abertamente

reconhecida, socialmente validada ou publicamente lamentada”. O luto não-reconhecido

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pode gerar um luto complicado, não só porque não é reconhecido e não é amparado,

mas porque não pode ser revelado, já que a revelação pode resultar numa resposta social

intensamente negativa, impedido as pessoas nesta situação de vivenciar o seu luto de

maneira saudável.

Diante deste tema, é importante enfocar a importância social, pois falar do luto

por separação amorosa geralmente é uma tarefa difícil, pelo simples fato de que este

tipo de luto muitas vezes é um luto não-reconhecido. Casellato (2005, p.78) relata que:

“existe, em nossa cultura, a noção de rompimento, enquanto experiência de dor e

sofrimento psíquico ou, às vezes, até físico. Porém a perda, enquanto vivência de morte,

não”. Assim, muitos sujeitos acabam não reconhecendo este tipo de luto, o da separação

amorosa, tendo a convicção de que só existe luto por morte física, no qual o luto não-

reconhecido pode desenvolver o problema do luto de várias formas, como por exemplo,

intensificando as emoções normalmente presentes no luto, quer seja a de raiva, culpa,

tristeza e depressão.

Este tema de pesquisa tem como relevância social contribuir para analisar de que

maneira se processa o luto por relacionamentos amorosos perdidos, possibilitando assim

conhecer técnicas e teorias para atuar em terapias e serviços de aconselhamentos

específicos para pessoas enlutadas.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 RELAÇÃO AMOROSA NA ATUALIDADE

Na atualidade, muito se tem discutido sobre os novos modelos de

relacionamentos construídos pela modernidade. As modificações ocorridas ao longo da

história na sociedade proporcionaram mudanças no comportamento humano, e

diversificaram a maneira de se relacionar amorosamente. Aos poucos, os antigos

modelos de relacionamentos foram sendo substituídos pelos atuais, sendo que essas

transformações ainda propiciam certo estranhamento nas gerações que vivenciaram o

modelo antigo, modelo esse que não permitia a exposição dos sentimentos e

principalmente da sexualidade, onde o prazer, principalmente o feminino, estava

relacionado com o pecado e o proibido, possibilitando somente ao homem o

envolvimento em relações extraconjugais (GIDDENS, 1993).

No entanto, muitos desses modelos de relacionamentos mudaram, a maioria das

mulheres já expõe seus sentimentos e interesses. Monteiro (2000) cita que o

estabelecimento de vínculos afetivos sofreu muitas influências e mudanças ao longo das

histórias de vida e das características psicológicas de cada um dos parceiros, sendo que

esse vínculo é enriquecido pela história conjunta do casal. Essa modificação da relação

amorosa em torno da modernidade, demanda o cumprimento de exigências mínimas a

serem negociadas pelos parceiros.

A idéia de modernidade, na sua forma mais ambiciosa, foi à afirmação de que o

homem é o que ele faz. Com base no que foi citado acima, é indispensável conceituar

modernidade. Touraine (1998, p.17) observa que “a modernidade é uma difusão dos

produtos da atividade racional, científica, tecnológica administrativa. Assim, implica na

crescente diferenciação dos diversos setores da vida social: política, economia, vida

familiar, religião, arte em particular”.

O modo de uma pessoa enfrentar o desafio da mudança em sua vida determinará

não apenas a sua visão de mundo, como também a visão acerca de si mesma. Vivemos

em uma sociedade moderna, pautada no produtivismo e consumismo, no qual a

identidade do homem moderno é resultado, efeito desta sociedade. Moderno é o homem

que surgiu há pouco, e um problema moderno é uma questão que surgiu, mas cuja

resposta ainda está no futuro, Jung (2000, p.23) cita:

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E, de fato, podemos constatar que o mundo ocidental começa a caminhar num ritmo bem mais rápido, o ritmo americano, exatamente o contrário do quietismo e da resignação que não coadunam com o mundo. Começa a manifestar-se mais do que nunca uma oposição entre o exterior e o interior, ou mais exatamente, entre a realidade objetiva e a subjetividade. Quem sabe uma última corrida entre a envelhecida Europa e a jovem América. Talvez uma última tentativa, sadia ou desesperada, de escapar do poder das obscuras leis naturais e conquistar uma vitória, maior e mais heróica ainda, da mente desperta sobre o sono das nações. Uma questão que só a história poderá responder.

Através desta sociedade moderna, nos dias atuais, a escolha de um parceiro,

namorado, esposo, é um fator determinante para a satisfação amorosa do sujeito. Pois,

mesmo com a diversidade de relacionamentos e autonomia para escolha dos parceiros

(as), ainda é comum perceber em algumas pessoas a insegurança em iniciar uma relação

e a dificuldade em mantê-la. Porém, a busca por parceiros (as) idealizados que

satisfaçam as expectativas é incessante.

Em torno dessa busca por parceiros, como um novo ideal de conjugalidade

instaurado pela sociedade, o ser humano criou muitas expectativas e idealizações, entre

elas a idéia de casamento como lugar de felicidade, onde o amor e a sexualidade são

fundamentais, ocorrendo assim mudanças na relação dos cônjuges desde a antiguidade

até os dias atuais. Costa (2000) ressalta que essa modificação do casamento, é resultado

de diversos fatores, entre os quais se destacam a emancipação feminina, a liberdade

sexual e a valorização do amor na união conjugal, estabelecendo relações de poder e

distribuição de tarefas mais equilibradas no casamento, como forma de reconhecimento

e satisfação do sujeito.

Esse tipo de relação amorosa impõe mudanças no casamento, sendo

extremamente revolucionárias para a época, já que nos dias atuais existe uma relação

mais igualitária entre marido e mulher, e na antiguidade na maioria das sociedades

prevalecia a dominação masculina. O casamento centrado no vínculo conjugal, e não

nos filhos ou na família, foi uma grande mudança. Ao valorizar o afeto, a amizade e o

companheirismo, o casamento se tornava um refúgio dentro de um modo competitivo e

individualista (ARAÚJO, 2001).

A tendência em manter a igualdade entre homens e mulheres moldou os

relacionamentos amorosos contemporâneos de uma forma inconcebível há alguns anos.

Esses pensamentos igualitários permitiram à mulher o direito de escolher o seu parceiro

e a carreira profissional, deixando de ser a dona de casa e estabelecendo novas relações

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para a satisfação individual. Essa autonomia feminina causou transformações também

nos homens, que tiveram que se adaptar as novas exigências feitas pelo sexo oposto.

Todas essas mudanças no âmbito amoroso vêm desencadeando nas pessoas certo receio

em criar novos vínculos afetivos.

Costa (2000) afirma que essas mudanças ocorridas, tanto em homens como nas

mulheres, tornou-se relevante com o casamento por amor, possibilitando assim a

igualdade entre ambos. Surgem na contemporaneidade diversos tipos de

relacionamentos, como o pegar, ficar, rolo, namoro, casamento e relacionamento aberto.

Alguns desses tipos de relacionamentos possibilitam que os envolvidos mantenham um

relacionamento paralelo, pois não apresentam estabilidade afetiva, já outros exigem um

pouco mais dos parceiros. Muitas dessas pessoas que exigem um pouco mais dos

parceiros priorizam estabilidade financeira, profissional, para depois pensar no

casamento, no seu objeto de apego, não deixando de ter um laço afetivo.

Estas mudanças nem sempre coincidem com as normas socialmente prescritas,

isto é, com padrões socialmente aceitos para casais tradicionais. Assim, ressalta-se a

importância de rever seus valores e encontrar um estilo próprio, a fim de sentirem-se

socialmente adaptadas.

2.2 FORMAÇÃO DE VÍNCULO AMOROSO E A ESCOLHA DO CÔNJUGE

Desde os primórdios, o homem tem a necessidade de estabelecer relações com

outras pessoas. Quando criança, não é dada a opção de escolher seu grupo de origem,

ninguém pode escolher pai ou mãe. Além disso, os primeiros passos na história de

qualquer indivíduo são muitas vezes determinados pelos adultos que dele se

encarregam. No entanto, gradativamente, a criancinha vai crescendo, observando o meio

onde vive e fazendo, espontaneamente, uma seleção de parceiros podendo escolher seu

cônjuge (ANTON, 2000). E, nessa seleção, o amor está presente, embora a maneira de

expressar e vivenciar esse sentimento possa variar de acordo com determinados

costumes.

A escolha do cônjuge é um tema sempre atual, de grande interesse, pois se sabe

mais do que nunca, que o ser humano busca o outro para formar um vínculo, seguindo

suas necessidades internas de complementaridade. Este vínculo cria um funcionamento

específico, com modos privativos de manejar as diversas situações que vivencia.

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Aos poucos, vai estabelecendo uma cultura própria, com crenças e mitos

peculiares. Tudo isso pertence ao casal, desenvolvendo-se a partir da experiência

individual de cada cônjuge, obtida dentro de um contexto relacional com outras pessoas.

Oltramari (2007, apud SANTOS, 2008, p.7) ressalta que historicamente, “o amor tem

sido durante séculos, um dos mais declamados, procurados ou mesmo desejados

sentimentos relacionados ao comportamento humano”. Por muitas vezes referenciado

como uma das razões de viver, ou de sofrer, este tem sido responsabilizado tanto pelas

felicidades humanas quanto por suas mazelas.

Torna-se imprescindível apontar que a busca por um amor tem que ter uma

razão, e a partir da formação do vínculo existem várias formas de amar, como define

Lenzi (2009), destacando-se:

• Amor paixão – é um estado de euforia, onde a razão é rompida. Neste

não existe o amor, apenas a paixão. Pois a paixão não se escolhe, ela surge; ao contrário

do amor. Passar pela mesma não se considera como um problema, desde que esteja no

tempo indicado, durando entre 03 meses a 2 anos.

• Amor projeção – as ações presentes nesse amor são influenciadas pela

forma de amar dos pais. Busca-se que o outro satisfaça a condição interna do eu, não

idealizando o processo de consciência do eu e crescimento pessoal.

• Amor dominação – é visto como um “campo de batalha”. Ocorre o

pedido que o cônjuge sempre o salve, iniciando assim as brigas, gerando cansaço por

causa das expectativas criadas, onde estas não são respondidas.

• Amor escolha – une a razão e a emoção. Envolve um ato de vontade e

requer disciplina, pois está a serviço do crescimento pessoal e bem-estar de seu cônjuge.

Amar por escolha é aceitar como o outro é, sem projeções.

• Amor compaixão – é amor, uma atitude amorosa onde motiva o sujeito a

fazer o bem em benefício da pessoa amada. Neste existe a doação pura, plena, porém

com limites.

• Amor espiritual – neste ocorre a atitude de cuidado ecológico com a

mente e com o mundo, não poluindo a mente do cônjuge. É estar sempre motivado, ou

seja, impulsionado a fazer o bem.

A escolha do cônjuge e a formação de vínculo é constituída através da relação de

apego, onde esta é estabelecida desde muito cedo, ainda quando bebê, porém de uma

forma ainda não compreendida. É através desta semelhança com um ser humano em

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especial, que o bebê se humaniza e desenvolve sua autonomia como um ser único e

social.

Já na vida adulta, este sujeito ainda cria relações/ vínculos, onde há muitos

indícios de que o padrão de apego desenvolvido na vida adulta seja uma evolução do

apego estabelecido na infância. Berthoud (1998) pressupõe que a vivência desta fase é

determinante na escolha de outro adulto como figura de apego. Já que há um

deslocamento da figura principal de apego estabelecida quando bebê, para um parceiro

(a) que vai funcionar como base segura a partir da qual as vivências e exigências da vida

adulta se tornem possíveis.

Anton (2000) afirma que um sujeito, ao escolher alguém para compartilhar sua

vida, faz esta escolha a partir de desejos e necessidades, tanto consciente como

inconscientemente. A partir da afirmação do autor, é possível analisar que o que atrai as

pessoas num universo povoado de tantas alternativas, homens e mulheres

interessantíssimos sob os mais variados aspectos. Por que alguns se tornam mais

atraentes ou mais repulsivos, e se aproximam ou se afastam, e se unem ou desaparecem?

O que determina as escolhas feitas?

Na vida adulta, a escolha desse parceiro como figura de apego, ocorre por uma

empatia, a sensação de acolhimento, proteção, há uma grande necessidade de

proximidade física. Este parceiro eleito é insubstituível, a alegria e a sensação de bem-

estar trazida por sua presença é única. A partir deste, Anton (2000, p. 26) afirma que

esta escolha do cônjuge é relacionada através de micro-sinais:

As pessoas, permanentemente, emitem microssinais, captam microssinais e, mesmo se tomarem consciência disso e se estarem, necessariamente corretas, interpretam esses micro-sinais. Na verdade, eles nos denunciam, com mais veemência do que qualquer discurso. Não há como haver enganos em um nível mais profundo, dado que o contato se estabelece através de mensagens basicamente não-verbais. E é por aí que acontece aquela espécie de química, capaz de atrair e de envolver pessoas.

É a partir desta escolha do cônjuge que se constitui a união de um

relacionamento, estabelecendo assim um compromisso, uma relação contínua, em que

um se importa com o outro, em que ambos se desejam, se acolhem, se respeitam e se

nutrem, a individualidade muitas vezes é deixada de lado, existindo, portanto, um “nós”

forte e afetuoso.

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2.3 ROMPIMENTO, SEPARAÇÃO E PERDA AMOROSA

Uma das mais dolorosas experiências da vida humana e talvez a mais dolorosa, é

a separação do ser amado, do cônjuge. A separação amorosa pode ser identificada como

a morte do outro em si, sendo assim uma morte em vida. É a experiência da morte que

não é a própria, mas é vivida como se uma parte nossa morresse, é uma parte ligada ao

outro pelos vínculos estabelecidos.

É possível enfatizar que na separação amorosa, em muitos casos, são

estabelecidos momentos de desespero, no qual constantes perguntas sem respostas são

feitas: “era mesmo necessário?” ou “por que tinha que acontecer justamente comigo?”.

Caruso (1986) ressalta que a filosofia e as religiões já apresentam respostas prontas para

estas perguntas, onde estas servem de proteção ao sujeito diante da perda amorosa.

Entretanto, percebe-se que essa resposta é exatamente analisada porque constitui um

lugar comum, e só é utilizada em casos específicos.

Kovács (1992) observa que a morte, como perda, coloca em primeiro lugar um

vínculo que é rompido. Nesta representação da morte, estão envolvidas duas pessoas:

uma que é “perdida” e a outra que lamenta esta falta, um pedaço de si que se foi. A

partir deste, a morte como perda evoca sentimentos fortes, podendo ser então chamada

de “morte sentimento”, sendo vivida por todos nós, pois é impossível encontrar um ser

humano que nunca tenha vivido uma perda amorosa.

A perda e a sua elaboração são elementos contínuos no processo de

desenvolvimento humano. É neste sentido que a perda pode ser chamada de morte

“consciente” ou de “morte em vida”. Esta é vivenciada conscientemente, muitas vezes é

mais temida e dolorosa do que a própria morte. Como afirma Caruso (1986, p. 11), “[...]

o “prêmio do prazer” perdido é muito grande e gera uma frustração especialmente

dolorosa [...]”. Este tipo de separação ocasiona perdas, gerando assim muitos

sentimentos. Kovács (1992 p. 150) relata que:

A morte como perda supõe um sentimento, uma pessoa e um tempo. É a morte que envolve basicamente, a relação entre pessoas. Se ocorre de maneira brusca e inesperada tem uma potencialidade de desorganização, paralisação e impotência. As ações do cotidiano, como falar, atravessar uma rua, cuidar do outro, alimentar-se são matizadas pelo constrangimento do inusitado em duas situações: diante da própria perda e diante de alguém que perdeu alguém. Embora saibamos racionalmente que a morte é inevitável, este saber nem sempre está presente, fazendo surgir o paradoxo da morte (in)esperada. Em casos extremos a morte invade de tal forma a vida que passa a fazer parte dela.

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Carvalho (2000, apud DUCATTI, 2005, p. 85) nos convida a pensar na

separação como movimento inverso da intimidade, onde “é comum as pessoas relatarem

que é estranho se afastar de alguém com quem se teve tanto apego”, já que a intimidade

é uma afeição muito forte, estando implicado no processo de investimentos afetivos,

geralmente recíprocos, facilitando assim o aprofundamento da mesma. Esta separação

consiste no término desta intimidade e da conjugalidade, surgindo, então, o processo de

redescoberta da individualidade.

Ainda a respeito dessa separação, é possível ressaltar que esta gera um

rompimento muito doloroso, causando assim perdas significativas em relação aos

cônjuges, como afirma Caruso, (1986, p. 86): “perda da conjugalidade, da identidade,

no caso das mulheres, perda de vida social, da convivência com a família e filhos, perda

da casa como espaço físico e seus significados, perda de um ideal, etc.”. O rompimento

deste vínculo significa a perda de si próprio projetado no outro, ou é possível refletir

que eu morro dentro do outro e ele morre dentro de mim.

É preciso romper definitivamente com todos os vínculos que mantiveram a

relação, para não causar mais sofrimento, pois assim o sujeito que está sofrendo poderá

gerar um outro vínculo amoroso, como afirma Anton (2000, apud HINTZ, p. viii): “este

rompimento muitas vezes se mostra necessário, a fim de poder se abrir um espaço para a

formação de um novo vínculo que venha a complementar, mais intensamente, as

necessidades básicas do amor”.

2.3.1 Principais reações emocionais diante da perda e fases do luto A perda de uma pessoa querida, como o cônjuge, pode repercutir muito na vida

de um sujeito, levando assim ao luto. O luto é um processo causado por uma perda,

separação ou afastamento, provocando reações diversas na vida de um sujeito.

Oliveira e Lopes (2008) apontam que este processo significa aprender que a

perda deve ser tornada real, a partir do que se torna possível estabelecer novas

concepções sobre o mundo, favorecendo investimentos pessoais. Os autores citados

acima ressaltam que o luto é a fase da expressão dos sentimentos decorrentes da perda, a

qual se demonstra por choque, desejo ou anseio e organização.

• Fase do choque – pode durar horas ou dias. Constitui-se de desespero,

raiva, irritabilidade, amargura e isolamento.

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• Fase do desejo ou anseio – esta etapa é distinguida por um forte impulso

de busca pela figura perdida. Neste ocorre um estado de vigília, de movimentação para

os locais onde a pessoas provavelmente estaria. Essa fase pode durar anos ou meses,

sendo comuns os desapontamentos por sua não-afetividade, com episódios de choro e

de tristeza.

• Fase de reorganização – caracteriza-se pela aceitação da perda definitiva

e pela conseqüente constatação de que uma nova vida precisa ser iniciada. No entanto, é

possível ocorrer recidiva de episódios de saudade e de tristeza.

Uma forma de amenizar o luto é manter a sensação de que a pessoa está por

perto e criar uma idealização através do reviver de lembranças felizes. Neste caso, são

bem-vindos os tributos ao sujeito perdido, pois isto representa que este é merecedor da

dor do sobrevivente.

A morte como perda nos fala em primeiro lugar de um vínculo que se rompe, de forma irreversível, sobretudo quando ocorre perda real e concreta. Nesta representação de morte estão envolvidas duas pessoas: uma que é “perdida” e a outra que lamenta esta falta, um pedaço de si que se foi. O outro é em parte internalizado nas memórias e lembranças, na situação de luto elaborado. (KOVÁCS, 1992, p. 150).

A perda consiste em uma forma de fortalecimento para o sujeito, despertando

sua criatividade, estimulando-o a se realizar, ou pode deixar atrás de si um legado

destrutivo, ainda mais poderoso se não for enfrentado.

É certo que quanto mais importante era o sujeito perdido para o funcionamento

emocional ou prático do seu ciclo de vida, mais difícil é o ajustamento para se recuperar

da perda. O sentido e as conseqüências da perda variam dependendo da fase específica

do desenvolvimento do ciclo de vida que o sujeito está no momento em que a perda

acontece.

Walsh e McGoldrick (1998) ressaltam que, através da perspectiva do ciclo de

vida, o sujeito vê a perda como um processo transacional que envolve a figura perdida e

o sobrevivente em um ciclo de vida comum, que reconhece tanto a finalidade da morte

quanto a continuidade da vida. Aceitar esta experiência é o desafio mais importante que

se pode enfrentar na vida.

Cabe salientar ainda que a perda do cônjuge, conforme aponta Walsh e

McGoldrick (1998), pode trazer alguns impactos diante da constituição da família:

20

Casais jovens: união da família pelo casamento

Esta etapa pode ser muito difícil se a perda ocorrer no início do casamento; viuvez precoce é uma experiência chocante e isoladora; se repentina tende a ser mais traumática.

Relacionamentos com filhos pequenos

Complicações pelo motivo de questões financeiras e cuidado com os filhos. Visto que os filhos podem distrair os pais do luto.

Filhos saindo de casa: coincide com a etapa adulto jovem

Renegociação de relacionamento entre os pais. Na meia-idade os homens começam a demonstrar preocupações a respeito de sua mortalidade, mulheres dependentes financeiramente e centradas emocionalmente no cônjuge do que com seu próprio bem estar. Os homens tendem a antecipar a viuvez, podendo ter um choque maior quando acontece a perda do cônjuge. O viúvo (a) pode sobrecarregar os filhos que recém saíram de casa, que não estão estabilizados ou pais idosos que não tem recursos e carecem de cuidados.

Relacionamentos na velhice Neste se o casamento foi muito valorizado, o sobrevivente tende a não querer casar mais. Quando este perde seu cônjuge o risco de suicídio no primeiro ano de luto é provável. Os homens estão menos preparados para o ajustamento, um cônjuge falecido não é considerado como um ex-marido ou ex-mulher.

(WALSH e MCGOLDRICK, 1998, P. 58-72)

Considera-se aqui as perdas em relacionamentos onde existia um vínculo,

portanto, um investimento afetivo. Quanto maior este investimento, maior a energia

necessária para o desligamento. Estes fatos se agravam, quando existe antes uma

dependência física ou psíquica com o sujeito perdido, tornando a reorganização da vida

mais difícil.

O luto pela perda e as reações emocionais são elaborados de forma diferente em

cada sujeito. Os significados existentes frente à perda podem alterar consideravelmente

a maneira de ritualizar e representar a perda. No entanto, os significados são construídos

e internalizados de acordo com a influência da cultura na qual o sujeito está inserido.

21

Para que ocorra um luto é necessário que exista um vínculo, e que este tenha

sido rompido. O luto pode ser compreendido como um processo de enfrentamento, uma

resposta que ocorre em situações de perda, em função do rompimento de um vínculo. O

luto pode acontecer em uma separação amorosa, anteceder a morte física ou pela morte

em vida; e/ou manifestar-se após a morte do indivíduo. (ZACCARON, 2000).

Oliveira e Lopes (2008, p. 2) afirmam que:

O luto é etapa da expressão dos sentimentos decorrentes da perda, a qual é demonstrada por choque, desejo, desorganização e organização; é onde se aprende que a morte deve ser tornada real, a partir do que se torna possível, estabelecendo novas concepções sobre o mundo, favorecendo investimentos pessoais.

Embora as pessoas reajam à perda de uma pessoa querida e vivenciem o

processo de luto de forma individual, ou seja, devido às muitas diferenças entre elas, a

variação no processo de luto é de três a quatro fases, como descreve Bromberg (1998):

1° Entorpecimento – nesta fase, inicialmente, a pessoa enlutada encontra-se em

estado de choque e descrença, com permanência de poucas horas ou vários dias. Na

mesma, podem ocorrer crises de raiva ou desespero. O sujeito pode se sentir

desamparado, perdido, imobilizado, podendo aparecer sintomas somáticos. É

identificada também a negação da morte, como se nada tivesse acontecido.

2° Anseio e protesto – neste processo o sofrimento psicológico, agitação física e

a busca pelo morto são destaque. A dor e o choro incontrolável são evidenciados

quando a pessoa enlutada percebe a perda. Com isso, há vontade de reencontrar a pessoa

falecida, resultando muitas vezes, em uma situação insuportável. É corriqueiro que a

pessoa enlutada sinta raiva de si, obtendo anseios de culpa e falta de cuidados para com

o morto. A raiva também pode ser focalizada no morto, já que a pessoa enlutada se

sente abandonada por este. Existe também a preocupação com os objetos e lembranças

do falecido.

3° Desespero – nesta etapa é evidenciada a imutabilidade da perda no primeiro

ano de luto. Em alguns casos, é possível diagnosticar a depressão e apatia, mas este

procedimento de superação é devagar e dolorido. Ocorre afastamento de suas

atividades, das pessoas e carência de empenho e envolvimento de qualquer condição.

Desta forma, da-se ênfase nos sintomas somáticos, como: deficiência de sono, perda de

apetite e de peso, e distúrbios gastrintestinais.

22

4° Recuperação e restituição – nesta fase, o sujeito enlutado apresenta

sentimentos mais positivos, desiste de reencontrar o morto e com isso tem-se uma nova

identidade e independência. Há indícios de o enlutado buscar novas amizades e resgatar

laços antigos. Como esta fase é de recuperação, é normal que os sintomas apareçam

principalmente em datas que ele associe as lembranças, como por exemplo, em datas

comemorativas.

Um ponto importante a considerar é que nas diferentes fases do ciclo vital, o

impacto do luto se faz sentir diferentemente em casa sujeito, e isto se explica tanto no

desenvolvimento do indivíduo, com suas transições necessárias, como na família, que

também passa por constantes processos, nos quais as mudanças podem adquirir o

caráter de uma perda. (FRANCO, 2002).

As experiências de morte e de perda são eventos difíceis e muitos estressantes

para a pessoa enlutada. A vivência da perda é relacionada à importância do vínculo

estabelecido com o objeto perdido. Neste contexto, Bromberg (1998) ressalta os

primeiros sintomas mais encontrados nas pessoas enlutadas, variando de acordo com

cada sujeito:

• Afetivos: Depressão, ansiedade, culpa, raiva e hostilidade, falta de

prazer, solidão.

• Manifestações comportamentais: agitação, fadiga, choro.

• Atitudes em relação a si, ao falecido e ao ambiente: Auto-reprovação,

baixa auto-estima, desamparo, suspeita, atitudes em relação ao falecido.

• Deterioração cognitiva: lentidão do pensamento e da concentração.

• Mudanças fisiológicas e queixas somáticas: perda do apetite, distúrbio de

sono, perda de energia, queixas somáticas, queixas somáticas semelhantes ao do

falecido, mudanças na ingestão, suscetibilidade a doenças.

É possível considerar que o sujeito constrói vínculos com o ser amado, similar

aos vínculos familiares. Faz-se necessário avaliar o processo de luto, como um evento

semelhante ao do sistema familiar.

Neste sentido, a perda do cônjuge é tão desorganizadora e assustadora como a

perda de um familiar e, portanto, o sujeito que perde a pessoa amada por separação,

pode passar pelas mesmas etapas de enfrentamento de luto, onde a duração do luto varia

de sujeito para sujeito. Assim, nesta perda no sujeito enlutado, o sentido da vida é

repensado, as relações são refeitas e a identidade pessoal se transforma.

23

2.3.2 Definições de luto normal, complicado e luto não reconhecido

É certo que a impossibilidade de se definir e classificar fases para o luto existe,

devido à existência de muitas diferenças individuais. Cada um de nós reagirá de forma

diferente em situações de perda e enfrentamento do luto, sentindo-o e experenciando-o

de acordo com nossa história de vida, e não necessariamente passando por todas as

fases. Porém, estas são necessárias para distinguirmos e avaliarmos a condição do

indivíduo enlutado.

Assim, deparamo-nos com uma questão que se coloca em discussão: muitos

sujeitos não passam apenas pelo processo de luto normal, dirigindo-se assim para o luto

complicado.

Para que se possa compreender melhor os tipos de luto, Cataldo e Majola (1997

apud SCHILIEMANN; NACIF & OLIVEIRA, 2002, p.136) apontam as diferenças do

luto normal e do luto complicado:

LUTO NORMAL LUTO COMPLICADO

1) Identificação normal com o falecido.

1) Identificação excessiva e anormal com o falecido.

2) Pouca ambivalência para com o falecido.

2) Maior ambivalência e raiva inconsciente para com o falecido.

3) Choro; perda ou aumento de peso; libido diminuída; retraimento; insônia; hipersonia; irritabilidade; concentração e atenção diminuída.

3) Similar ao luto, em relação a qualidade, mas com maior intensidade.

4) Idéias suicidas raras. 4) Idéias suicidas comuns. 5) A auto-imposição de culpa relaciona-se ao modo como o falecido foi tratado.

5) A auto-imposição de culpa é global.

6) Ausência de sentimentos globais de inutilidade.

6) A pessoa pensa ser inútil ou má em termos gerais.

7) Evoca empatia e solidariedade no médico.

7) Geralmente evoca aborrecimento.

8) Com o tempo, os sintomas sedem; auto limitados, desaparecem de uma maneira geral em 6 meses, podendo se estender até ao redor de dois anos.

8) Os sintomas não aliviam com o tempo, e podem piorar, podendo persistir por vários anos, se não tratados.

9) Vulnerabilidade a doenças físicas e psíquicas.

9) Vulnerabilidade a doenças físicas e psíquicas.

10) Resposta a reasseguramento e 10) Ausência de resposta a

24

contatos sociais. reasseguramento; afasta contatos sociais.

11) Não ajudado por medicamentos antidepressivos.

11) Ajudado por medicamentos antidepressivos.

(CATALDO E MAJOLA 1997 apud SCHILIEMANN; NACIF & OLIVEIRA, 2002, p.136)

A partir da análise descrita acima, é possível observar que é muito comum o luto

pela morte física, aquele em que se perde pessoa cujos relacionamentos são validados e

reconhecidos socialmente. Porém, como avaliar o luto pela separação amorosa, quando

não há morte física e sim a morte em vida, como, por exemplo, o rompimento de um

vínculo afetivo?

Numa sociedade na qual a relação com a morte é marcada por evitação e

negação, muitas são as situações em que não há reconhecimento social. Então, as

condições de compartilhar os mais conflitantes sentimentos e pensamentos tornam-se

difíceis, e a condição de expressar o luto pela separação amorosa torna-se muito mais

custoso. Neste contexto, pode-se conceituar esse luto pela separação amorosa como um

luto não-reconhecido.

Casellato (2005, p. 24) ressalta a vivência desse luto não-reconhecido como

perda que envolve ambivalência:

A vivência do luto pode se tornar ainda mais difícil quando se trata de uma perda que envolve ambivalência. Perdas ambíguas são aquelas que se caracterizam pela falta de clareza com relação ao que foi perdido, sobre quem perdeu, ou ainda, se houve a perda ou não. Com a incerteza sobre como reagir nestas situações, as pessoas frequentemente não fazem nada, ou melhor, não expressam nenhum tipo de reação. Neste sentido, a perda que envolve ambivalência gera o luto não reconhecido, uma vez que passa a ser considerada “pequena e superável”, principalmente, quando comparada às perdas por morte, após determinada convivência e vinculação com a pessoa amada.

Para Doka (1989, apud CASELLATO, 2005, p. 24), o “luto não-reconhecido

parte do princípio de que qualquer sociedade tem um conjunto de normas, ou ainda,

“regras de luto” que estão a serviço de especificar quem, quando, onde, como, por

quanto tempo e por quem devemos expressar sentimentos de luto”. Conforme o autor

citado acima, isso ocorre na sociedade por cinco razões:

• O relacionamento não é reconhecido – o luto não pode ser reconhecido

naquelas situações e que a relação do enlutado com a pessoa perdida não é baseada em

laços afetivos entre parentes ou ligados à família. Esta situação pode envolver a

25

intimidade de outro relacionamento não familiar. É possível citar como relacionamentos

que podem ser intensos, mas que não são validados socialmente: homossexuais,

amantes, amigos, vizinhos, parentes distantes, colegas.

• A perda não é reconhecida – a perda não é socialmente considerada como

significativa. Há casos em que a realidade da perda não é validada. Tanalogistas têm

reconhecido que a perda significativa pode ocorrer somente quando o objeto da perda

deixou de existir fisicamente. Existe a “perda social”, onde a pessoa existe, mas é

tratada como morta. Exemplos de perdas não reconhecidas socialmente: perdas

perinatais, abandono, rompimento de vínculos amorosos.

• O enlutado não é reconhecido – isto ocorre quando a pessoa não é

socialmente definida como capaz de enlutar-se. Este acontece quando há pouco ou

nenhum reconhecimento do seu senso de perda ou necessidade de enlutamento. Um

sujeito diante de uma separação amorosa, destaca-se com um enlutado não reconhecido.

• A morte não reconhecida – este evento acontece quando há resistência da

sociedade em enquadrar a morte nas regras do luto. Obtendo como exemplo: homicídio,

terrorismo, morte por AIDS ou outra doença com importante estigma social.

• Modo de enlutar-se e o estilo de expressão do pesar não são validados

socialmente – nesta condição, o enlutado viola as regras emocionais do luto, na medida

em que a forma de se expressar não é condizente com o que se espera socialmente

nestas situações.

Ainda a respeito do luto não-reconhecido, conforme Casellato e Motta (2002,

p.123), este possui dois aspectos:

• Intersocial – ocorre quando o luto do sujeito diante da separação amorosa

é inibido pela sociedade, através da negação do sentimento imposto diante da perda.

• Intrapsíquico – neste, o enlutado possui sentimentos vergonhosos perante

as regras da sociedade, ocorrendo a inibição do processo de luto.

Conforme Pine (1989, apud FRANCO, 2002, p. 124), há basicamente três tipos

de pessoas cujo luto não é reconhecido pela sociedade:

Aquelas cujos relacionamentos não são socialmente reconhecidos ou legitimados, aquelas cuja perda não se coaduna com as normas, aquela cuja habilidade para enlutar-se é questionada ou que são consideradas enlutados não legitimados.

Nesta concepção, conclui-se que diante da impossibilidade de validação social, a

falta de expressão dos sentimentos pode levar a um adiamento ou mesmo inibição do

26

processo de luto, o que, em primeira instância, implica uma dificuldade de aceitar a

realidade. Consequentemente, a impossibilidade de buscar em outros relacionamentos,

novas figura de apego, que possam atender às necessidades afetivas da pessoa enlutada,

porém este processo varia muito em cada sujeito.

2.3.3 Gênero e luto

O termo gênero tem-se mostrado, ao longo da história, como um poderoso

demarcador de esferas, espaços e tarefas. Segundo tal lógica, que pode ser debitada à

assimetria de gêneros, ou ainda à dominação masculina, onde ao homem compete o

espaço público, o trabalho não doméstico e o encargo da subsistência da prole. À

mulher o trabalho doméstico, as tarefas relativas a esse espaço e o cuidado da família.

(MENEZES E HEILBORN, 1997).

Torna-se imprescindível citar as relações de poder quando se conceitua gênero,

já que as mesmas permeiam todas as esferas da convivência humana. Segundo Santos

(2008), sempre que qualquer relação social é regulada por uma troca desigual, como nas

relações de gênero, gera-se um poder. A partir deste, tem-se então duas importantes

conclusões:

• O poder se manifesta não apenas na esfera estatal, mas está presente

sempre que há convivência e interação entre pessoas.

• Relações de poder, embora impliquem troca, ou seja, interação ativa (de

duas vias) entre seus atores, são sempre desiguais, resultando em doses maiores ou

menores de dominação. Ambas as conclusões se aplicam às relações de gênero.

Com base no que foi relatado, é possível refletir que vivemos em uma sociedade

regida por uma dinâmica complexa e encadeada, onde trocas acontecem em âmbitos

plurais e interdependentes, como o econômico, o produtivo, o político, o estatal, o

racial, no qual estes são tópicos importantes quando se analisa a questão de gênero.

Nestes, desigualdades perpassam e se multiplicam em todos os universos. A

especificidade de cada estrutura ou esfera de poder está no tipo de troca desigual que

marca as relações nela estabelecidas.

Santos (2008, apud SCOTT, 1995, p. 10) aponta que a terminologia da palavra

gênero “vem gerando muitas controvérsias quanto ao seu uso correto, pois

27

gramaticalmente o termo gênero é compreendido com uma forma de classificar

fenômenos, um sistema socialmente consensual de distinções e não descrição objetiva

de traços inerentes”. Este autor, ainda, observa que o conceito de gênero vai além de

homens e mulheres concretos, uma vez que possibilita diferenciações entre pessoas ou

situações vivenciadas, tornando o gênero uma condição mutável. Ou seja, masculino e

feminino estão em constante mudança, como afirma Oliveira (2002, p. 155):

A partir das mudanças ocorridas nos últimos 50 anos, passamos a olhar e entender diferentemente o papel dos homens e mulheres na sociedade, que levou a uma nova forma de olhar para as diferenças entre homens e mulheres. Tornou-se necessário distinguir aspectos biológicos e aspectos sociais e culturais. Passamos assim a entender sexo como a categoria biológica a que cada pessoa pertence, enquanto gênero implica a abrangência dos papéis sociais organizados pela cultura, de tal maneira que atribuem expectativas e valores à participação social das pessoas de cada sexo.

Partindo do princípio, torna-se imprescindível analisar gênero diante do luto,

pois é evidente a diferença entre homens e mulheres em seus vínculos e sua reação

diante do mesmo. No entanto, as razões para essa variação incluem diferenças culturais,

variação e diferenças no comportamento.

Conforme Parkes (1985 p.173), no texto a influência do gênero sobre os apegos

e sobre o luto, relata a questão citada acima a partir de um encaminhamento. Onde

descreve: “R. H. tinha 38 anos quando foi encaminhado a mim após a morte de sua

esposa. Embora muito abalado por esse evento, R. achava difícil chorar. Ele se tornou

muito tenso, ansioso e deprimido, sentindo-se “morto por dentro”. Sua angústia era tal

que ele se mostrava incapaz de voltar a trabalhar e foi isso que finalmente o convenceu

de que precisava de ajuda”.

A diferença entre homens e mulheres ao enfrentar o processo de luto varia

muito, porém, em um estudo antropológico em 78 culturas diferentes, foram revistos

por Rosenblatt (1978). Neste estudo foi constatado que, apesar de haver muitas

sociedades nas quais homens e mulheres choram quando enlutados nos funerais, sempre

existem variação de gênero, pressupondo assim que as mulheres choram mais do que os

homens.

Ainda a respeito de estudos realizados sobre gênero das pessoas enlutadas x

relacionamento com a pessoa falecida, ao lidar com o luto na vida adulta, na perda do

28

cônjuge, surge uma grande diferença, onde, num estudo com 34 sujeitos, 82% das

mulheres sentem a perda, contra 18% dos homens. (PARKES, 2009).

A partir desse estudo, é possível constatar que os homens tendem a evitar ou

inibir a expressão natural do sofrimento da separação amorosa e outras emoções. No

entanto, esse fato pode atrapalhar o processo de luto, atrasando a recuperação, podendo

agravar os efeitos de uma doença cardíaca preexistente.

Cada uma das estratégias de enfrentamento tem suas vantagens e desvantagens. A solução de problemas tem obviamente menos probabilidade de ajudar se um problema é insolúvel. Ela não vai permitir que uma pessoa enlutada traga de volta aquela que morreu. A focalização da emoção pode facilitar a expressão e trabalhar o pesar, mas não vai ajudar as pessoas enlutadas a replanejar a vida. (PARKES, 1985, p. 175).

Diante das constatações citadas acima, explica-se o fato de a inibição dos

sentimentos ser mais comum nos homens do que nas mulheres. Em conseqüência dessa

inibição, os homens têm menor probabilidade do que as mulheres em procurar ajuda

profissional após um enlutamento. No entanto, os homens têm maior probabilidade de

sofrer de distúrbios da personalidade, particularmente daqueles que refletem a inibição

emocional. Cabe salientar ainda que esta diferença é própria da origem de cada sujeito,

embora seja muito influenciado pela experiência cultural.

Para que se possa compreender melhor a probabilidade da inibição dos

sentimentos dos homens, Parkes (1985, p.180) aponta que essa tendência possui duas

explicações: “predisposição inata que se torna manifesta na adolescência e por

aculturação pelos amigos e/ ou outras pessoas”.

Ao investigar gênero, é indispensável caracterizar que estes possuem diferenças

e semelhanças, concluindo que ambos procuram construir suas identidades e

desempenham seus papéis sociais e culturais. Vê-se, portanto que é impossível

relacionar de forma isolada o masculino e o feminino, visto que um existe a partir do

outro.

29

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

O presente estudo caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa, que consiste

em um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado, ou seja, ela

trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos

valores e das atitudes (MINAYO, 2007).

Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade

social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e

por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus

semelhantes.

O tipo de pesquisa utilizada foi a exploratória, que se caracteriza, pela

interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Este tipo de

pesquisa é realizada mediante a solicitação de informações de um sujeito ou mais acerca

do problema estudado, seguida de análise e obtenção de resultados.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

O público alvo deste estudo foram três homens e três mulheres que residem na

região da grande Florianópolis. Que vivenciaram uma relação amorosa, com idade igual

ou superior a dezoito anos, e que sofreram uma separação amorosa de no mínimo há um

ano. Quanto ao tipo da amostra, foi intencional, como ressalta Minayo (2007), onde é

escolhido intencionalmente os sujeitos que irão compor a amostra.

3.2.1 Perfil dos informantes

A seguir apresenta-se um quadro com o perfil dos entrevistados (as), esse quadro

é decorrente de algumas perguntas do roteiro de entrevista. (Apêndice A).

30

INICIAIS SEXO

IDADE

NÚMERO

DE FILHOS

ESTADO CIVIL ATUAL

TEMPO DE DURAÇÃO DO

RELACIONAMENTO

TEMPO DO

TÉRMINO

RO. M. B. F 41 2 Solteira 14 anos 8 anos

VA. C. M. F 28 1 Solteira 10 anos 1 ano

JA. L. V. F 46 1 Solteira 2 anos 03 anos

MA. J. R. M 43 2 Casado 15 anos 03 anos

MO. D. A. M 23 - Solteiro 1 ano 1 ano

ED. D. V. M 25 - Solteiro 3 anos 8 anos

3.3 INSTRUMENTO

O instrumento utilizado para a coleta de dados consistiu em uma entrevista

semi-estruturada, que consta em um roteiro temático, incidindo em perguntas fechadas e

abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em

questão, sem se prender a indagação formulada. Trivinõs (1987, p. 168) aponta que a

entrevista semi-estruturada é:

aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam a pesquisa, e que, em seguida oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante.

A pesquisa citada acima foi aplicada na forma de entrevista individual com os

sujeitos, sendo o procedimento mais usual no trabalho de campo. Esta é entendida como

uma conversa a dois, com propósitos bem definidos, auxiliando como um meio de

coleta de informações sobre um determinado tema científico.

As entrevistas possuem um roteiro previamente estabelecido no apêndice A,

formado por questões, podendo ser retiradas ou incluídas, onde a pesquisadora observa

a necessidade, na medida em que as entrevistas vão acontecendo.

Para a elaboração do instrumento de pesquisa, alguns cuidados foram tomados,

tais como a preocupação em não realizar perguntas sugestivas, que indiquem a resposta

que o entrevistado deve fornecer, assim como cuidados éticos para respeitar os

entrevistados, bem como clareza e objetividade nas perguntas. Cabe ressaltar, ainda, que

31

o referido instrumento de pesquisa passou pela avaliação do comitê de ética da

UNIVALI, conforme as normas da instituição.

3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Os sujeitos da pesquisa foram indicados por professores, acadêmicos do curso

de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí, campus de Biguaçu, onde a amostra foi

obtida através do contato telefônico e uma visita anterior, na qual se esclareceu a

finalidade da pesquisa. Neste momento foi combinado o local, a data e hora da

entrevista.

Os candidatos participaram das entrevistas voluntariamente. A mesma ocorreu

individualmente, em local e horário escolhido pelos próprios entrevistados, facilitando a

acessibilidade dos mesmos, garantindo o sigilo das entrevistas e assim preservando-os.

Para auxiliar o procedimento de coleta de dados, utilizou-se um gravador, no

qual o participante autorizou por escrito mediante um termo de consentimento que foi

assinado, conforme o apêndice B. Assim ficou claro que em qualquer momento da

entrevista o sujeito entrevistado poderá desistir.

As entrevistas tiveram apenas um encontro, com duração de quarenta minutos

com os entrevistados, sendo que o tempo da entrevista proposta foi suficiente, não

necessitou de outro encontro. A maioria das entrevistas foram na UNIVALI de Biguaçu,

visto que grande parte dos entrevistados foram indicados pelos professores e colegas da

UNIVALI de Biguaçu, apenas duas entrevistas foram feitas em outro local.

3.5 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

Os dados da pesquisa foram analisados a partir da técnica da análise de

conteúdo, sendo uma técnica de investigação que, através de uma descrição objetiva,

sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem como

finalidade a interpretação destas mesmas comunicações. (GIL, 1999).

As informações da entrevista para a análise foram obtidas por meio de relatos

dialogados transcritos, seguindo as seguintes etapas: a pré-analise, a análise do material,

e o tratamento dos resultados. A fase da pré-análise consistiu na operacionalização do

trabalho, uma espécie de organização, é uma etapa que dá ao pesquisador, autonomia

32

para modificar seu projeto, com o propósito de favorecer seu estudo. Na etapa da análise

do material, o pesquisador deve fazer a categorização, quantificação e codificação dos

dados obtidos através, no caso da presente pesquisa, das entrevistas e do indivíduo. Por

fim, a fase do tratamento dos dados, que é a fase onde, no referido estudo, consistirá na

interpretação qualitativa dos dados.

3.6 QUESTÕES ÉTICAS

Esta pesquisa foi pautada na resolução n° 196, de 10/10/1996, do Conselho

Nacional de Saúde. Onde os sujeitos da pesquisa estavam cientes de todos os

procedimentos realizados.

A metodologia qualitativa levanta muitas questões éticas, principalmente devido

à proximidade entre o pesquisador e pesquisados. Desta forma, garantiu-se o anonimato

do sujeito da pesquisa, deixando claro para o sigilo para o entrevistado. Os participantes

não receberam ou pagaram quaisquer valores para a participação na pesquisa, onde os

objetivos da mesma foram esclarecidos aos participantes, como também, o uso feito das

informações; garantiu-se que a participação tem caráter voluntário na pesquisa de

acordo com o termo de consentimento no (Apêndice B). Assim foi cuidadosamente

solicitada a autorização para os entrevistados acerca da gravação e da entrevista, itens

estes contemplados no “termo de consentimento”, no (Apêndice B), no qual foi lido e

assinado pelos participantes da entrevista.

A pesquisa realizou-se com o conhecimento e esclarecimento sobre os termos de

consentimento aos sujeitos, e sempre visando de acordo com os termos, o respeito e o

comprometimento do pesquisador frente aos indivíduos participantes para a realização

da pesquisa de forma a poder concretizá-la da melhor forma possível e comprometendo-

me a colocá-los a par dos objetivos da pesquisa, tais termos permaneceram sob cuidados

deste pesquisador e serão incinerados após cinco anos.

33

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para a elaboração da análise dos dados, inicialmente fez-se a construção das

categorias. Esta construção se deu da seguinte forma: Primeiro retomou-se as perguntas

do roteiro e se agrupou as principais perguntas quanto à singularidade do tema. Em

seguida definiu-se 5 categorias da análise:

• Categoria 1 – Caracterização do vínculo afetivo;

• Categoria 2 – Processo de separação;

• Categoria 3 – Reações à perda;

• Categoria 4 – Processo de elaboração do luto.

• Categoria 5 – Impacto na vida particular;

Foram construídos cinco quadros e classificadas as falas mais significativas de

cada categoria. Posteriormente, serão correlacionadas com o referencial teórico.

Quadro 1 – Respostas relacionadas à caracterização do vínculo afetivo CATEGORIA 1 Caracterização do vínculo afetivo

Sujeito RO. “[...] me casei por amor, nunca foi nada forçado. Foi uma coisa que partiu de mim e dele só que desde o início eu sempre achei que esta parte de gostar, de amar, era muito mais de mim em relação a ele.”

Sujeito VA. “[...] antes nós éramos um completando o outro, eu caracterizo como uma completude.”

Sujeito JA. “[...] nesse relacionamento foi uma coisa que chamou bastante a atenção, foi o fato no momento que eu olhei pra ele e ele olhou pra mim e eu na condição de professora e ele na condição de aluno a gente sentiu a mesma coisa, aquele primeiro olhar, aquele primeiro contato que a gente teve na hora da matricula e quando eu fiz essa ficha, dali eu já me tornei outra pessoa e ele também”.

Sujeito MA. “[...] o que mais caracterizou foi questão de estarmos juntos sempre.”

Sujeito MO. “... caracterizo como uma aprendizagem.”

Sujeito ED. “... o que mais caracterizou o vínculo foi a compreensão e a parceria entre ambos, tendo assim uma grande amizade.”

A partir da análise de dados é imprescindível citar a caracterização do vínculo

afetivo nas categorias. Esta é possível observar na fala do sujeito J. onde a mesma relata

que sentiu algo diferente no momento em que conheceu a pessoa amada, uma forte

emoção, relatando que naquele momento já se tornou outra pessoa. Muitos destes

vínculos surgem nas mais intensas emoções humanas, durante a formação e manutenção

34

dos vínculos emocionais, no apego. Cardoso e Seminotti (2006, p. 1) afirmam que o

vínculo é:

uma estrutura inconsciente que liga dois ou mais sujeitos em uma relação de presença, constituindo-os como sujeitos do vínculo. Como a estrutura vincular é inconsciente, seu registro pelo sujeito se dá pelo sentimento de pertença, que designa a ocupação de um lugar pelo sujeito na estrutura vincular. A pertença não é definitiva, deve ser constantemente renovada pelo próprio sujeito e reconhecida pelos outros sujeitos vinculados. E o sujeito precisa justificar sua ocupação de um lugar na estrutura vincular, mantendo seu status de presença e acreditando compartilhar objetivos e idéias com os outros sujeitos vinculados.

Cabe ainda analisar o apego e o vínculo nos sujeitos V. e MA., onde o sujeito

MA. relata o fato de estar sempre junto da ex-parceira, pois trabalhavam no mesmo

local de trabalho, tinham os mesmos desejos pelas mesmas coisas; e um sempre

acompanhava o outro na hora das atividades realizadas, respeitando um ao outro. Já o

sujeito V. expõe durante a entrevista a completude que existia no relacionamento do

casal, a necessidade de estar com a pessoa amada e a falta que um fazia para o outro no

momento que estavam separados. Visto que ambos tentavam unir os seus serviços, pois

trabalhavam em áreas diferentes, no entanto uma área completava a outra. Assim, pode-

se afirmar o que foi acima citado no quadro 1, quando o sujeito V. relata: “antes nós

éramos um completando o outro.” Pelo exposto Berthoud (1998, P. 37), ressalta:

Há uma grande necessidade de proximidade física, um se sente seguro e confortado na presença do outro, e este parceiro eleito é insubstituível; a alegria e sensação de bem-estar trazida por sua presença, é única. Se uma relação segura então se estabelece e se desenvolve, ela se torna duradoura e persistente, promovendo mudanças nos comportamentos de ambos os parceiros que, apesar de desenvolverem outros interesses e de dedicarem muito tempo a outras atividades, sabem com certeza que o seu “outro especial” está lá e se sente confortado e seguro compartilhando com ele suas experiências de vida.

É importante ressaltar o amor na caracterização do vínculo amoroso, como pode

ser verificado no sujeito R., onde a entrevistada expõe que se casou por amor, que

sempre sonhou com um grande amor, mesmo achando que em relação ao amor, ela

gostava mais do ex-marido do que ele em relação a ela. Desta forma é possível refletir

que o amor como um sentimento particularizado, se revela quando uma pessoa deseja e

busca de uma outra pessoa receber e dar prazeres ou satisfações, que podem ter

diferentes naturezas, como: sexuais, de admiração, compreensão, proteção.

35

Maisonneuve (1966, apud NÓBREGA, FONTES e PAULA 2005, p.78), afirma

que em uma forma mais ampla, “o amor pode ser considerado um sentimento que se

manifesta na forma de desejo do outro: o outro sendo um objeto, uma pessoa ou um

deus, e o amor no sentido restrito e corrente: atração recíproca de sexos.”

Percebe-se que cada entrevistado define a caracterização do vínculo de formas

diferentes, já o sujeito MO e o sujeito E. caracterizam seu vínculo como uma

aprendizagem e uma grande amizade, onde MO. relata que aprendeu muito com o sua

ex-namorada em vários aspectos. O que realmente importa, é estarmos sempre em

relação com o outro, mantendo vínculos e realizando trocas que serão importantes ao

nosso crescimento como pessoa e como ser de relação. Berthoud (1998) afirma que

necessitamos, para nossa integridade emocional, de uma rede de relacionamentos

interpessoais que preencham nossas mais diversas necessidades: de amizade, de

companheirismo, de satisfação sexual, de paixão, de amor, enfim, vínculos, sejam estes

passageiros ou duradouros, que dão sentido em nossa existência.

É certo que alguns vínculos são duradouros e outros não, desenvolvemos uma

série de vínculos que dependendo da natureza e de suas características vão desempenhar

diferentes papéis e dar diferentes significados à vida, nos permitindo estabelecer

diferentes relações com diferentes pessoas, e tornar estas, tão únicas na vida do ser

humano.

Quadro 2 – Respostas relacionadas ao processo de separação CATEGORIA 2 Processo de separação

Sujeito RO. “[...] mesmo ele tendo me traído, ter partido tudo dele, mesmo assim ele que quis a separação. Ele quis fazer a separação judicial, divórcio direto e como eu sabia que era uma coisa que não adiantava lutar sozinha, não adiantava eu levar uma briga judicial com ele porque isso não ia me trazer ele de volta.”

Sujeito VA. “[...] tiveram muitas traições envolvidas da parte dele, então chega um ponto que por mais que você goste do outro chega um ponto que não dá mais né, então vai minando o casamento e vai perdendo a confiança, eu sempre tive pra mim que a partir do momento que se perde a confiança e o respeito acabou o casamento, porque daí não tem mais graça. E eu deixei de confiar nele, e acabei perdendo a admiração e o respeito que eu sentia, então não tinha mais porque eu ficar junto de uma pessoa que eu não confiava, que eu não admirava e que já não me completava mais.”

Sujeito JA. “[...] ele passou a ser possessivo em relação a mim, começou a se sentir meu dono, começou a interferi na minha vida pessoal, na minha

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vida profissional, na minha vestimenta, na minha maquiagem, no meu sapato, na minha alimentação, no meu biquíni, tudo ele dava palpite, tudo não tava bom, todos os homens estavam olhando pra mim, várias vezes eu sai do restaurante porque o garçom tava olhando pra mim, então assim, tava possessivo isso, eu já não era mais a mesma pessoa.”

Sujeito MA. “... a separação foi em função de algumas quebras dessas afinidades, em termos de ela passar pela doença da mãe, isso foi nos primeiros cinco anos do nosso relacionamento. Ela perdeu a mãe e ela entrou em depressão e teve uma depressão pós-parto né, e eu não consegui identificar, claro não era psicólogo também, e foi complicado. A partir dali teve complicações no pós-gestão e não podia mais fazer as atividades físicas que a gente fazia juntos e tal, depois teve uma separação no sentido assim de que ela começou a cursar faculdade e eu também, ai eu trabalhava e houve digamos assim um afastamento e agente acabou se separando um pouco um do outro tal.”

Sujeito MO. “... depois de muitas brigas, términos e reconciliações acabou não dando certo”.

Sujeito ED. “... a separação se deu através das mentiras de outras pessoas, e com isso vieram as brigas e o término.”

As relações amorosas, como qualquer outra situação de vida estão sujeitas as

tensões, conflitos, crises, traições, divergências e em muitos relacionamentos a

separação. A cada separação vivenciada, é necessário aceitar a perda do objeto perdido,

seja ele qual for, por exemplo, colo e toda representação deste, enquanto objeto de

apego e significação de segurança.

A partir desta categoria de análise pode-se compreender que um dos grandes

motivos da separação de um casal é a traição, como é possível analisar nos sujeito R. e

V. Ambos os entrevistados relatam que tentaram “salvar” o casamento, no entanto as

traições eram constantes e visíveis, sendo assim impossível continuar o relacionamento,

pois a confiança não prevalece mais. Goldenberg (2006) afirma que a traição está ligada

ao tipo de relacionamento que se tem, ou seja, as pessoas procuram vivenciar novas

experiências fora do relacionamento por que, muitas vezes, a relação está desgastada,

sem diálogos e a grande maioria se acomoda com vida em comum que mantém.

A maioria dos casos terminam a relação amorosa para assumir outra pessoa, por

questões sociais, e por gostarem da posição de superioridade em ter dois “amores”. Este

fato pode ser notado na fala do sujeito R., no qual observa-se a infidelidade nos

relacionamentos atuais e novas configurações que vão tomando.

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[...] ele conheceu uma pessoa que ofereceu oportunidade de trabalho e essa pessoa por ser uma mulher acabaram se envolvendo e no meu modo de ver as coisas, não foi só uma carência dele, mas também ele sempre foi ambicioso e era tudo junto, lá ela podia proporcionar um emprego legal para ele, na Itália daria documentação legal para ele permanecer no país, então assim eu acho que ele estando no lado dela tudo era favorável para ele. O objetivo dele era ganhar muito dinheiro lá na Itália.” (sic)

Já no sujeito J. o processo de separação ocorreu pelo fato de seu ex-namorado

ter muito ciúme, seja pela vestimenta, pelas amizades, pelas atitudes, então a mesma

percebeu que já não estava fazendo o que gostava e desejava, mas sim o que seu ex-

namorado desejava. Numa relação afetada pelo ciúme, as pessoas, geralmente, são

reificadas, ou seja, tratadas como objetos pelos próprios parceiros. Muitas se anulam, e

assim, perdem grande parte de sua identidade para serem o que o ciumento quer que

sejam, tentando corresponder a todas as suas expectativas, já outras não aceitam este

ciúme. Segundo Rosset (2004, apud Almeida, Rodrigues e Silva, 2008, p. 1) ciúme

pode ser considerado:

um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado. As definições de ciúme são muitas, mas todas têm em comum três elementos: (1) é uma reação frente a uma ameaça percebida; (2) haver um rival real ou imaginário; e (3) a reação visa eliminar os riscos da perda da pessoa amada.

Para muitas pessoas, o ciúme representa uma manifestação de amor, já para

outras ele é considerado um sentimento que produz angústia, pode atingir formas

doentias e abalar a saúde física e mental dos envolvidos direta ou indiretamente com

ele, estes dados são possíveis identificar no sujeito J. através da sua fala.

As pessoas optam pela separação, seja esta no casamento, namoro, noivado por

motivos muitas vezes complexos e dolorosos na vida de um casal, diferentemente da

decisão de casar, a decisão de divorciar-se raramente ocorre por consentimento mútuo

do casal, principalmente quando este casal possui filhos. Como é possível observar no

relato do sujeito MA., no qual houve o divórcio no casamento, porém o mesmo sofreu

muito com esta separação, foi uma etapa de muito sofrimento, pois o entrevistado não

soube lidar com os motivos da separação, no entanto percebia que era necessário este

afastamento. A separação deste entrevistado foi por haver muita incompatibilidade nas

decisões do casal no final do relacionamento, já que ambos sempre gostaram das

mesmas atividades, lazer, obtinham muita afinidade no relacionamento. No final do

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casamento, o que era maravilhoso no início do casamento, já estava virando um

sofrimento psíquico para ambos por não saberem lidar com certos acontecimentos

cotidianos, ocorrendo assim algumas reconciliações.

[...] após a separação, houveram reconciliações, porém essa volta foi complicada ai acabamos separando de vez, eu lembro que depois até teve uma nova tentativa, ficamos uma semana, mas vimos que não daria certo, muito doloroso. (sic)

Caruso (1986) descreve dois tipos de separação: a súbita e a lenta. A segunda se

refere a um processo que vai ocorrendo o distanciamento mútuo, sendo um doloroso

processo comparável a uma doença crônica que encontra sua expressão social no

divórcio. O autor acima citado ainda ressalta que com a separação ocorre um tipo de

elaboração do luto curiosa e paradoxal; ou seja, para se conservar a vida, utiliza-se uma

repressão dirigida contra o que é vivo, porque a separação é um problema de morte

entre vivos.

Dando continuidade, observa-se a fala do sujeito MO. no processo de separação,

no qual relata que foi um processo de muitas tentativas, reconciliações, onde no final do

relacionamento o mesmo reconheceu que o relacionamento não daria mais certo, pois as

brigas eram constantes por ciúmes de ambas as partes. Então o entrevistado tomou a

iniciativa de romper o namoro, já não agüentava a situação que estava chegando o

relacionamento, sendo este um processo de muito sofrimento. A separação expressa e

expõe socialmente a discórdia existente entre o casal e o desejo de uma das partes, ou

das duas, de romper uma relação de convivência. (ROMARO E OLIVEIRA, 2008).

Cabe ainda analisar a fala do sujeito E., em relação ao sujeito MO., visto que

ambos relacionamentos terminaram pelo mesmo motivo, por brigas. No entanto no

relacionamento do sujeito MO. houve muitas reconciliações e no relacionamento do

sujeito E. por não agüentar mais as brigas e as fofocas, o mesmo tomou a iniciativa de

terminar o namoro, não havendo reconciliações.

O processo de separação é um processo complexo, que mobiliza sentimentos

ambivalentes em suas mais diversas fases, como na pré e pós-separação, e, por mais que

o casal anseie por ela, depara-se com uma nova situação, com repercussões afetivas,

sociais, laborais.

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[...] foi bem difícil a reorganização, porque tu não é mais acostumado a viver sozinho, teus finais de semana são com uma pessoa ai de repente domingo tu acorda e se pergunta o que eu irei fazer hoje, mas depois de um tempo você percebe que tem muita coisa para fazer. (sic)

Cabe salientar ainda que o processo de separação gera um sofrimento psíquico

intenso, como foi possível observar na entrevista do sujeito MO., onde o mesmo relata

que depois de tantas “tentativas” mal sucedidas, o relacionamento já estava causando

um sofrimento. Nóbrega, Fontes e Paula (2005) afirmam que do ponto de vista

psicossocial, o sofrimento se situa “no carrefour da subjetividade e da realidade exterior,

do individual e do social”. Ele consiste na expressão de diferentes formas de experiência

de mal-estar, tais como: injustiça, humilhação, reificação, rejeição. Todos esses

sentimentos encontram-se aglomerados nas condições psicossociais de exclusão e

solidão.

A análise de dados desta categoria nos leva à reflexão que o processo de

separação de cada relacionamento foi por motivos diferentes, porém suas implicações

no processo adaptativo e possíveis manifestações sintomáticas são praticamente as

mesmas em cada sujeito. Assim sendo conclui-se que o processo de separação varia de

sujeito para sujeito, visto que este processo poderá gerar um sofrimento ou não,

dependendo do nível da paixão, do amor, da dependência ou até mesmo da idealização

de cada indivíduo.

Quadro 3 – Respostas relacionadas às reações à perda CATEGORIA 3 Reações à perda

Sujeito RO. “... eu fiquei muito deprimida, eu achava que eu nunca mais ia ser feliz, que eu fosse entrar numa depressão. Achava que minha vida tava acabada mesmo. A única coisa que me fazia comer, dormir e levantar era os meus filhos.”

Sujeito VA. “[...] a primeira coisa que eu fiz no mesmo dia em que ele saiu de casa, que nós decidimos realmente que era isso, no mesmo dia eu liguei pro meu pai e pedi pra que ele viesse pra cá ou que a minha mãe viesse pra cá pra ficar junto comigo. Porque eu sabia que seu eu ficasse sozinha eu não ia ter condições né, até porque eu tenho o G. que é uma criança que precisava de apoio e eu tava muito fragilizada naquela hora.”

Sujeito JA. “[...] eu me desmontei, eu emagreci, eu perdi o sentido das coisas, eu chorava muito, eu perdi o sono, eu vi que eram sintomas depressivos.”

Sujeito MA. “[...] eu me sentia muito mal, triste mesmo, eu entrei em depressão, tive que tomar umas baguinhas porque eu não agüentei.”

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tive que tomar umas baguinhas porque eu não agüentei.” Sujeito MO. “... no momento da separação foi tranquilo, mas uma semana depois

bateu o desespero.” Sujeito ED. “... no momento da separação não senti nada. Sem sentimento de

culpa, apenas de “honra” lavada, mostrando que o que tinham falado era tudo mentira, porém após um tempo o arrependimento veio. Pois se tivéssemos parado para conversar não teríamos terminado.”

As perdas na vida de um sujeito têm um grau de complexidade muito grande,

pois provocam reações diversas na vida de um sujeito. Vários fatores implícitos

ocorrem nas reações dos indivíduos, podendo essas reações serem mais ou menos

intensas no aspecto emocional, físico e consequentemente sintomático. É possível

observar estas reações nas falas dos sujeitos R., J. e MA. onde estes focam bem os

sintomas diante da perda, como: falta de apetite, tristeza, depressão, choro. Oliveira

(2002) aponta que “existem diversas manifestações afetivas nas reações a perda ao

longo do processo de luto, constituindo formas variadas de expressão do conflito, do

sofrimento e das dificuldades envolvidas”. O autor ainda expõe que as principais

reações são: depressão, tristeza, choro, culpa, raiva e hostilidade, diminuição da atenção

e do interesse, fadiga, alteração no apetite, no sono, queixas sintomáticas. É importante

ressaltar que não necessariamente aparecem todas estas reações e podem ter duração por

períodos variáveis.

Segundo Parkes (1998) é aceitável a evidência de que o luto pode afetar a saúde

física, mas parece que a maior parte das queixas que levam as pessoas aos médicos

refletem ansiedade e tensão, mais do que doença orgânica.

Ao enfrentar uma perda, o corpo sofre o mesmo processo que um ferimento

físico. No entanto é preciso aceitar esse processo, confiar nele e ter certeza que a dor vai

passar e, quando passar, o indivíduo será mais forte e consciente do que aconteceu, pois

em muitos casos alguém depende desta pessoa enlutada, seja filhos, pais, como é

possível analisar na fala do sujeito R. Já outras pessoas, necessitam de alguém para estar

junto, seja para um ombro amigo, para dar forças nesse momento que se sente tão frágil,

para se sentir mais forte, como enuncia o sujeito V.

Muitas pessoas procuram recursos individuais e familiares para a elaboração do

luto: o apoio da família mais ampla e do círculo de amigos é sempre um recurso

importante para permitir um melhor enfrentamento da perda do cônjuge, pois permite

encontrar ajuda nas tarefas diárias e apoio para poder se lamentar e lembrar-se do ex-

parceiro. Observa-se que estes recursos individuais e familiares, fazem parte de uma

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rede social de apoio do indivíduo enlutado. Dias, Nascimento, Mendes e Rocha (2007)

observam que “[...] um indivíduo, submetido às condições adversas, usa várias

alternativas de superação de agravos que atingem sua saúde e, quando se esgotam suas

competências individuais, recorre à rede de apoio social”.

A partir do exposto acima será analisado o sujeito MO., no qual o entrevistado

relata o oposto do sujeito V., contando que o momento da separação foi tranqüilo,

porém após semanas percebeu que este processo não seria tão fácil como imaginava.

Visto que sentiu muita falta da ex-namorada e sentia-se sozinho.

Já o sujeito E. no momento da separação não obteve nenhum tipo de sentimento,

se sentindo “de honra lavada” (sic), ciente de que eram apenas mentiras das pessoas

que queriam ver a separação do mesmo e de sua namorada, porém após algumas

semanas se sentiu arrependido, percebendo assim que no momento da separação se

tivessem conversado, talvez não tivessem rompido o relacionamento. Cada indivíduo

expressa de uma forma diferente no momento e no processo da separação, muitos

preferem acreditar que está “tudo bem” e que logo vai passar. Desta forma observa-se o

choque e entorpecimento e uma resistência a encarar a realidade talvez esperada, porém

não aceita.

Parkes (2009) descreve uma pesquisa realizada em Harvard com mulheres

viúvas jovens que perderam seus maridos de forma prematura e inesperada, cuja reação

foi a de não acreditar e evitar o confronto com a realidade. Esta pesquisa apresenta um

pouco da fala do sujeito MO., porém o mesmo percebeu a realidade, mas algumas

semanas depois.

Com base no que relatou o sujeito MA., o mesmo teve que “tomar algumas

baguinhas” porque não agüentou, levanta-se o seguinte questionamento: por que

algumas pessoas, submetidas a fatores estressores como o luto pela separação amorosa,

adoecem e outras permanecem saudáveis. Schiliemann, Nacif e Oliveira (2002, p. 144),

correlacionam como uma maior probabilidade de desenvolver certos tipos de

enfermidades em algumas personalidades do tipo A, com padrões típicos de respostas

emocionais que os predispõem a doenças cardíacas, com um modelo semelhante ao

descrito por Selye (1976), com suas noções de resposta geral adaptativa a um estímulo

estressante.

A experiência da perda de um ente querido como um namorado (a), noivo (a),

marido (a), como no processo de separação, coloca o indivíduo diante de uma vivência

entre as mais dolorosas e de difícil recuperação. Como citado anteriormente varia de

42

pessoa para pessoa, então em muitos casos esta não é uma experiência tão

desorganizadora, permitindo-lhes, após a vivência do processo de luto, retomar suas

atividades diárias como similar nível de qualidade àquele exibido antes da perda,

enquanto que para outros isto não acontece.

Resposta 4 – Respostas relacionadas ao processo de elaboração de luto CATEGORIA 4 Processo de elaboração do luto

Sujeito RO. “... eu achava que eu nunca mais ia conseguir me levantar, que eu fosse tipo envelhecer da noite pro dia, eu olhava no espelho e achava que tava me acabando, fiquei completamente deprimida. A auto estima baixa, eu tinha que trabalhar, mas eu não tinha vontade de trabalhar, eu tinha que dormir ais eu não tinha sono, todas as noites eu chorava e acordava com meu olho ardendo, inchado e foi durante muito tempo. Claro que com o passar do tempo vai amenizando mas foi mais ou menos um ano e cinco meses...”

Sujeito VA. “... foi muito difícil os primeiros quinze dias, foram muito difíceis né. Bom os primeiros quinze dias foram piores assim, mas depois desses quinze dias, ele começou a me procurar muitas vezes todos os dias e isso pra mim foi difícil também, porque eu fiquei no meio de um turbilhão onde eu não sabia o que tava acontecendo afinal de contas.”

Sujeito JA. “[...] eu me lembro que o processo de luto demorou bastante, demorou quase um ano. Eu ainda lembrava das datas todas e hoje eu não lembro mais, mas foi bem demorado.”

Sujeito MA. “... foi bem complicado, foi difícil lidar com isso, mesmo assim longe e tal, eu sempre ficava imaginando, imagina quinze anos não são quinze dias, nem quinze semanas, nem um mês. Quinze anos é uma coisa pra recordar, e saber que teus filhos não estão ali, não estás na mesma casa que a tua família. Foram mais ou menos dois anos de luto ”

Sujeito MO. “... foi bem difícil, mas o luto ocorreu durante uns 6 meses.”

Sujeito ED. “... foi um processo demorado, uma reorganização demorada, mas com a ajuda da família, amigos e até mesmo o tempo fez com que esse processo acontecesse. Mas quando amamos uma pessoa de verdade o luto da perda fica para sempre. Podemos até diminuí-lo com o passar do tempo e colocar outra pessoa no lugar, mas a ferida sempre fica.”

Nos sujeitos R., V. e J. o processo de elaboração de luto ficam bem explícitos,

pois destacam as fases do luto e seus sintomas. Parkes (1998) ressalta que o luto é

entendido como uma importante transição social, com impacto em todas as áreas de

influência humana.

43

Neste contexto observar que o luto é um processo e não um estado, já que não é

um conjunto de sintomas que tem início após uma perda e, depois, gradualmente se

desvanece. O luto envolve uma sucessão de quadros clínicos que se compõem e se

substituem. Desta forma é possível analisar estas etapas do luto na fala do sujeito R. ao

relatar seu dia a dia após a separação, no qual não se sentia motivada para continuar sua

vida, sentia-se desamparada e sozinha, sendo para o indivíduo um processo doloroso.

No entanto a mesma precisava seguir sua vida, relatando assim que um dos grandes

motivos de seguir sua vida eram seus dois filhos E. e L.; já que a mesma precisava

seguir sua vida com eles e por eles, porém sem o apoio de seu “marido”.

Nesta perspectiva, a necessidade de aprender novos papéis sem o apoio da

pessoa com quem ela se acostumou a contar, em tempos de luto para os demais

membros da família, em particular dos filhos, pode trazer uma experiência de estresse

para a mulher muito maior do que o luto em si. Diante do que foi acima exposto, é

possível refletir o processo de luto com relação à teoria de apego como afirma

Nascimento e Coelho (2006, p. 435):

No estudo do processo do luto, a teoria de apego oferece-nos a base teórica para a compreensão dos sentimentos/ sintomas freqüentemente encontrados na reação à perda. Os recursos da pessoa para o enfrentamento da perda estariam relacionados a seu padrão de apego. O comportamento de apego, como já visto, é investido de valor de sobrevivência, visando manter proximidade com a(s) pessoa(s) cuidadora(s), buscando-as como base segura, para diminuir os riscos causados pelo abandono. Assim se explica a necessidade dos enlutados estarem reclusos, em ambientes protegidos e próximos a poucas pessoas, que lhes tragam apoio, e um mínimo de previsibilidade no ambiente. O luto seria, então, uma resposta a separação.

Na fala do sujeito V. pode-se analisar como uma perda ambígua, já que para a

mesma seu papel dentro da situação que se estabeleceu não estava definido. No qual não

sabia quem era ela diante da separação, qual era o seu papel: mãe, ex-mulher, esposa, ou

amante? A mesma não sabia, relatando que estava “no meio de um turbilhão, onde não

sabia o que tava acontecendo e qual era o seu papel.” (sic).

Ao longo do tempo, a família, como um sistema dinâmico, convive com

entradas e saídas de membros, que vai sempre gerar uma situação de crise, sendo

compreendida como uma mudança. As entradas e saídas, normativas ou não normativas

ocorrem: no casamento, no divórcio e nas separações, nos nascimentos e nas mortes.

Neste contexto o luto pode se caracterizar como perda ambígua, quando seu processo de

elaboração é impedido pela ausência da constatação clara da perda, como foi possível

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analisar nesta categoria a fala do sujeito V. Para Boss (2001, apud Nascimento e

Coelho, 2006, p. 437) “a expressão “perda ambígua” se circunscreve às relações

pessoais”.

Cabe salientar ainda a perda ambígua na fala do sujeito MA., visto que o

entrevistado tem um enorme amor e carinho por seus filhos, falando com freqüência da

família que constituiu com sua ex-mulher, embora nos dias atuais o mesmo possua uma

nova família. Esta observação é possível é ressaltada em uma pequena frase durante a

entrevista de MA.: “saber que teus filhos não estão ali, não estás na mesma casa que a

tua família”. (sic).

Segundo Boss (2001), o primeiro matrimônio deixa completamente de existir

quando há uma segunda união. Entretanto, ele sempre fará parte da história de vida da

pessoa, no sentido de que, mesmo que tenha sido uma experiência boa ou ruim,

frequentemente algo mais que a lembrança permanece nas relações seguintes. O mesmo

autor ainda observa que com o divórcio, o antigo companheiro se encontra muitas vezes

presente, principalmente quando há filhos dessa união, como é o caso de MA.

Dando continuidade será analisada a fala do sujeito J., onde a mesma relata que

sentia muita saudade, muitas lembranças boas do tempo que passou junto do seu ex-

namorado, e que o processo de luto demorou bastante. Carvalho (2000) afirma que em

numa separação, assim como na morte, aparece a saudade e as lembranças. Saudade do

nascimento dos filhos, da casa nova, do primeiro beijo, das férias, das festas de natal,

entre outras lembranças.

O tempo do luto é variável e em alguns casos pode durar anos, este fato pode ser

observado na fala do sujeito E.: “quando amamos uma pessoa de verdade o luto da

perda fica para sempre. Podemos até diminuí-lo com o passar do tempo e colocar outra

pessoa no lugar, mas a ferida sempre fica.” (sic) . Segundo Kovács (1992) em alguns

casos o processo de luto nunca termina, com o passar do tempo, uma profunda tristeza,

um desespero e um desânimo tomam conta, quando se recorda da pessoa amada,

embora estes sentimentos ocorram com menos freqüência.

O entrevistado E. ainda relata que no processo do luto o apoio dos amigos e da

família foi imprescindível, onde a família falava que “o que tivesse que ser seria” (sic),

e os amigos “ligavam, convidando para sair na noite, não deixando o ânimo cair” (sic).

A separação é a vivência da morte numa situação de vida. Caruso (1986) afirma que no

processo de separação o indivíduo passa por algumas etapas como: a catástrofe do ego,

a agressividade, a indiferença, a fuga para diante e a idealização. No processo de

45

elaboração do luto do sujeito E. pode ser identificada à fuga para diante, sendo uma

busca de novas atividades ou de novas formas de prazer.

Segundo Coutinho (2008) as teorias sobre o luto são muito complexas, existem

vários fatores implícitos nas reações dos indivíduos, podendo essas reações ser mais ou

menos intensas no aspecto emocional, físico e consequentemente sintomático. Essas

reações podem ser analisadas no sujeito MO. visto que foi um processo bem difícil, mas

logo conseguiu superar e seguir sua vida sem sua ex-namorada.

De todos os aspectos analisados nas categorias até agora, pode-se observar que

as perdas e sua elaboração fazem parte do cotidiano, já que são vividas em todos os

momentos do desenvolvimento humano. A morte do outro se configura como a vivência

da morte em vida. É a possibilidade de experiência da morte que não é a própria, mas é

vivida como se uma parte da vida do indivíduo morresse, uma parte ligada ao outro

pelos vínculos estabelecidos.

Quadro 5 – Respostas relacionadas ao impacto na vida particular CATEGORIA 5 Impacto na vida particular

Sujeito RO. “[...] eu nunca consegui ter uma família como eu imaginava, eu tinha essa carência de ter uma família, uma coisa concreta, então eu buscava isso no meu casamento. Eu achava que no meu casamento eu ia conseguir isso, e comigo aconteceu a mesma coisa.”

Sujeito VA. “[...] existiu um impacto de perceber que eu tava sendo muito manipulada e que eu estava me deixando ser manipulada. A partir do momento que houve o rompimento eu tive que cair em mim né, tive que cair e perceber que eu tinha condições de fazer as coisas por mim mesma e que eu não precisava dele me guiando, então o impacto foi muito positivo, não foi um impacto negativo. Em relação à perda foi ótimo, eu não tenho dúvida de que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, que foi a nossa separação.”

Sujeito JA. “... eu nunca mais consegui me apaixonar dessa forma, foi um impacto muito grande, né. Lógico que hoje eu gostaria de encontrar uma paixão daquele tamanho, e a partir dessa que passou eu nunca mais consegui me relacionar.”

Sujeito MA. “... saber que teus filhos não estão ali, não estás na mesma casa que a tua família. Então eu me sentia muito mal, triste mesmo, eu entrei em depressão, tive que tomar umas baguinhas porque eu não agüentei.”

Sujeito MO. “... sempre causa impactos na vida particular, mas visivelmente não foi nada brusco.”

Sujeito ED. “... foi difícil de perceber a perda, sendo que ela poderia ter sido uma pessoa para construir minha família.”

46

Como pode ser verificado no quadro anterior, o impacto na vida particular varia

muito de sujeito para sujeito, já que nem todas as pessoas conseguem enfrentar o

impacto sofrido na vida particular diante da separação amorosa. Visto que o término de

um relacionamento, não implica somente em ir embora, muitos sentimentos,

acontecimentos ocorrem em decorrência deste rompimento. Como é possível observar

na fala do sujeito R., relatando que seus pais se separaram quando ela era pequena,

então sempre sonhou em ter uma família, achava que a família que ela construiu seria

diferente. É possível analisar que após a separação de R. houve uma desidealização dos

sonhos e expectativas com relação a casamento e a família que a mesma sentia, tendo

que redefinir as suas crenças e valores em relação a mesma e o papel dela nesta, sendo

uma família monoparental. A perda associada ao divórcio é, muitas vezes, mais difícil

de resolver do que a viuvez, pelas dificuldades relacionadas à ambigüidade. Neste

contexto é possível acrescentar o que Nascimento e Coelho (2006, p.436) afirmam:

Para aprender a conviver com a ambigüidade do divórcio, são necessárias novas habilidades. A primeira compreende a percepção de quem faz parte da família e quem não, se o cônjuge divorciado é ou não assim percebido. Isso requer uma segunda habilidade, a de abandonar uma definição absoluta e precisa da família. Faz-se necessário aumentar a flexibilidade de sua composição nos períodos de transição, em que novos membros passam a fazer parte eventual do sistema. As relações, antes caracterizadas pela co-habitação, passam também a existir de outras formas, como no caso da guarda e visita aos filhos, de novas relações amorosas dos cônjuges e do suporte fornecido pelos pais/avós.

Pelo exposto cabe ainda analisar outros acontecimentos que podem ocorrer em

decorrência de um rompimento, como no sujeito J., que após a separação amorosa

apresenta dificuldades de desenvolver novos relacionamentos afetivos. Reconstruir a

identidade individual após uma separação amorosa, é um processo lento e vivenciado

com dificuldade por muitos indivíduos. A vivência de uma maior liberdade se mistura

com o sentimento de solidão, tornando os primeiros tempos após a separação,

particularmente, difíceis para homens e mulheres. As mulheres estão mais acostumadas

a falarem sobre os sentimentos e mais motivadas a explicar e discutir relacionamentos,

as mulheres parecem conseguir descrever com mais facilidade o gratificante, no entanto

o processo de reconstrução da identidade individual é mais penoso. (FÉRES-

CARNEIRO, 2003).

Já o sujeito V. percebe positivamente o impacto da perda, no sentido de ter

possibilitado o resgate do self, da autonomia dentro da relação de casal, porém como foi

47

visto na categoria 4, parece que este sujeito vivencia a perda como ambígua, portanto,

não consegue avaliar concretamente todos os aspectos da perda conjugal e o processo de

separação e talvez por isso não consiga dimensionar o impacto da perda na sua vida

particular. Segundo Nascimento e Coelho (2006) a separação dos cônjuges como no

divórcio provoca uma confusão sobre a ausência e presença da cada um na vida do

outro, e, principalmente no início da separação, as fronteiras entre cada um dos ex-

cônjuges e as fronteiras familiares não estão suficientemente claras.

Cabe salientar ainda que no divórcio, a relação do casal é alterada e sofre a perda

de seu significado pela dissolução do casamento, porém algo também continua; o

casamento terminou, mas cada parte do casal continua exercendo o papel de pai ou mãe

ou de ex-esposo e ex-esposa. Assim sendo é possível ainda analisar esta perda no sujeito

V., ressaltando que a questão analisada não é o divórcio em si, mas a ambigüidade da

perda não resolvida que com freqüência o acompanha.

É interessante analisar o impacto da separação amorosa na vida do sujeito V. e

do sujeito MA., no qual ambos sofreram com a perda ambígua em diferente contextos.

No sujeito MA. o impacto foi na vida familiar e na saúde mental, obtendo muita

dificuldade de perceber a dissolução da família anterior e a reconfiguração de novos

vínculos familiares com o recasamento, ou seja, como se o modelo de família fosse a

anterior, nuclear e intacta. Conseqüentemente sofreu muito com essa separação, tendo

que procurar ajuda médica para poder suportar o afastamento dos seus filhos. No

entanto estabelecer um novo vínculo afetivo ajudou muito na elaboração do luto. Neste

sentido Boss (2001 apud Nascimento e Coelho, 2006, p. 440) afirma que:

A perda ambígua pode causar efeitos dolorosos e dramáticos, porém algumas pessoas podem utilizar esta experiência para aprender a viver em circunstâncias difíceis que passam pela vida, procurando assim equilibrar o que se perdeu com o reconhecimento da dor e da fé nas possibilidades oferecidas pela vida. Por certo, o manejo individual e familiar em lidar com a perda ambígua deve estar orientado a questões de resiliência.

Dando continuidade serão analisados os sujeitos MO. e E. avaliando que o

impacto da perda não foi percebido de maneira brusca, podendo-se supor que ambos

não reconheçam o impacto a médio prazo, por conta das questões de gênero e luto não

reconhecido. Assim é possível observar que toda perda desencadeia um processo de luto

da conjugalidade, o luto dos ideais (casamento e/ou parceiros idealizados), o luto da

família sonhada, dos bens materiais, do status, de um nome (no caso da mulher), luto

48

pela identidade perdida. (DUCATI, 2005). Este tipo de perda desencadeante do

processo de luto pode ser analisado no sujeito E., onde ele percebeu que poderia ter

construído uma família com sua ex-namorada, assim ocorreu um luto pela família

sonhada.

Já no relato do sujeito MO. fica evidente o luto não reconhecido, sendo um luto

complicado, não só porque não é reconhecido e não é amparado, mas porque não pode

ser revelado, dado que a revelação pode resultar numa resposta social ainda mais

intensamente negativa. (CASELLATO E MOTTA, 2002).

Quando se perde a pessoa amada, perde-se juntamente a condição civil, o

parceiro de atividades e lazer, a pessoa em quem se apoiar nos momentos de dúvida, o

pai ou mãe dos filhos, muitas vezes a pessoa desejada para o casamento e tudo aquilo

que acompanha o vínculo de parceria do casal.

Com freqüência as pessoas enlutadas se referem a aspectos muito especiais da

relação com o cônjuge, dos quais sentem falta, mesmo que aparentemente seja um

aspecto superficial. É essa falta de sentido que precisa ser enfrentada, para que se

reconstrua um novo sentido a partir dessa mudança de vida. A vida precisa ter novos

significados que possam absorver e reorganizar os valores e refazer a identidade e a

compreensão do mundo, a partir de uma nova identidade individual.

49

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa tinha como objetivo principal compreender o processo de

luto de homens e mulheres diante da separação amorosa. Pode-se perceber que as

mudanças ocorridas na sociedade nas últimas décadas refletiram de alguma forma na

maneira que as pessoas têm de se relacionar, vivenciar e romper os relacionamentos

amorosos. Assim é possível fazer uma reflexão em relação à Teoria do Apego,

compreendendo a vinculação como fator central no desenvolvimento da personalidade,

onde a perda significaria um imenso custo emocional, assim como a ativação do

comportamento de apego como resposta ao risco de estar só.

Os objetivos: geral e específicos foram atingidos satisfatoriamente a partir das

discussões realizadas nas análises de dados, sendo possível refletir em relação ao

“Processo de luto diante da separação amorosa”.

O processo de desenvolvimento da análise dos dados perpassou pela transcrição

detalhada e de alta-fidelidade das entrevistas. Estas se tornaram uma “lente teórica”, e a

partir delas chegou-se a categorias que guiaram a análise de resultados. Um duplo

movimento ocorreu entre a teoria e os dados empíricos para a compreensão do luto

diante da separação amorosa, seus significados e sentidos.

Para a análise e discussões dos resultados foram utilizadas várias obras literárias,

todas relacionadas nas referências bibliográficas. Destas obras destaca-se a de Parkes

(2009) por se tratar de uma obra mais recente e muito rica em conteúdos, favorecendo

uma melhor compreensão sobre as relações parentais e os vínculos envolvidos. Bowlby

(2002) que coloca que o rompimento de um vínculo ameaça a visão de mundo e a visão

que o sujeito constituiu de si até o momento. O mesmo autor ressalta que há uma

tendência de construir vínculos, sendo biologicamente determinada. Quando este

vínculo é rompido de forma repentina, a pessoa fica muito exposta e com poucas

habilidades para reconstruir o seu mundo e sua identidade. Outro grande autor utilizado

foi Casellato (2002) relatando o luto pela separação nas relações amorosas.

A partir dos relatos dos entrevistados (as), pode-se perceber que o vínculo

afetivo estabelecido em um relacionamento, seja este casamento, noivado, namoro é

muito valorizado pelos entrevistados, e que apesar da separação ter gerado muito

sofrimento, a grande parte dos entrevistados ainda sente um grande carinho pelo ex-

parceiro. A forma como a personalidade se estrutura determina também a maneira pela

50

qual a pessoa responde a diversos eventos relacionados à separação ou não

disponibilidade de figuras com quem se mantém vínculo afetivo, tais como rejeição,

afastamento e perda (NASCIMENTO E COELHO, 2006).

Embora vivenciando a mesma dor, foi possível analisar a questão do gênero, na

qual na grande parte dos entrevistados existe uma diferença em relação ao processo de

luto diante da separação amorosa. Homens e mulheres comportam-se diferentemente e

manifestam de forma distinta seus sentimentos em relação à separação e àquilo que

pode tê-la provocado. Tais diferenças estão muito mais relacionadas a questões culturais

do que a distinções biológicas entre os sexos. Quando homens e mulheres apontam o

processo de luto e as reações à perda, as mulheres são mais sentimentais, passando por

todo o processo de luto, já os homens não deixam de ser sentimentais, no entanto

passam pelo processo de um luto não reconhecido.

A partir do exposto acima, foi possível analisar a questão do sofrimento

psicológico e físico, sendo que a grande parte dos entrevistados passaram por este

sofrimento psíquico diante do rompimento, necessitando em um caso de ajuda de um

profissional médico. Esse processo se faz acompanhar de sentimentos próprios e

naturais para quem enfrenta essa reformulação interna, acompanhado pela reconstrução

da rotina familiar e pela redistribuição das tarefas desempenhadas pela pessoa falecida

(perdida) e a importância da mesma na vida do enlutado.

Outro fator citado foi a infidelidade masculina como uma das causas da

separação, ao mesmo tempo em que estão ressaltando que a traição masculina é mais

tolerada culturalmente do que a feminina, estão também explicitando uma reação maior

das mulheres que, traídas, desejam a separação nos relacionamentos conjugais. À

medida que as mulheres conquistaram, nas últimas décadas, mais espaços no mercado

de trabalho, elas se tornaram mais exigentes no relacionamento amoroso.

Através desta pesquisa pode-se constatar que homens e mulheres estão sofrendo

diante de uma separação amorosa, buscando assim relacionamentos amorosos mais

verdadeiros e gratificantes e que, talvez por isso, tantos casamentos se dissolvam.

Compreender melhor como os sujeitos desta população vivenciaram o doloroso

processo de separação contribui, sem dúvida, de maneira relevante para compreender o

processo de luto diante da separação amorosa no âmbito psicológico.

A contribuição desta pesquisa para a Psicologia permeia ainda a possibilidade de

novos projetos em relação ao luto diante da separação amorosa. Para a autora esta

51

pesquisa incentiva a produção de um artigo cientifico, mostrando a realidade de um

processo de separação amorosa em diversos contextos.

Aprofundar pesquisas sobre o luto diante da separação amorosa, abordando

temas relacionados à idade, sexualidade, condições econômicas, filhos e outros, fará a

Psicologia repensar este processo de tanto sofrimento para uma pessoa, com a

possibilidade de levantar hipóteses de mudanças e atuação direta do Psicólogo para este

indivíduo. Outras pesquisas como esta, podem contribuir para a instrumentalização de

novas práticas de atenção a este indivíduo que esta sofrendo ou sofreu com processo de

luto diante da separação amorosa.

52

REFERÊNCIAS

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ZACCARON, M. As reações dos profissionais da saúde diante da perda do paciente. Tubarão, 2000. 40 folhas. UNISUL. Trabalho de conclusão de curso.

55

APÊNDICES

56

APÊNDICE A

ROTEIRO PARA A ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA IDENTIFICAÇÃO: Sexo: F ( ) M ( ) Idade: Filhos: Tempo de duração do relacionamento: Tempo do término: O roteiro das entrevistas semi-estruturadas serão norteadas pelas seguintes questões:

1 - Caracterização do vínculo;

2 - Como se deu a separação;

2.1 - Foi imediata ou houve reconciliação e novas separações;

2.2 - De quem foi a iniciativa;

3 - Significado dessa perda;

3.1 - Como percebeu o apoio social dos amigos e familiares diante da perda;

4 - Reação imediata e posterior à perda;

5 - Como ocorreu o processo de luto;

5.1 - Houve adoecimento físico e psicológico;

5.2 - Necessitou de um tratamento de saúde;

6 - Impacto da perda na vida particular;

7 - Expectativas e sentimentos vivenciados na relação amorosa durante a maior parte

do relacionamento;

7.1 - Problemas e conflitos no relacionamento amoroso;

7.2 - O que perdeu com este rompimento;

7.3 - Percepção da ameaça do rompimento do vínculo;

8 - Expectativas quanto ao término da relação amorosa;

9 - Reorganização após a perda;

9.1 - Atualmente está com outro parceiro;

57

9.2 - O tipo de vínculo que mantém atualmente;

10 - Caracterização do estado emocional e social no momento atual.

58

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma

pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar

fazer parte do estudo, assine ao final deste documento.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título do projeto: Processo de luto de cônjuges diante da separação amorosa.

Pesquisador responsável: Ivânia Jann Luna.

Telefone para contato: (48) 9937-7847

Pesquisador participante: Juliane Roberta de Andrade.

Telefone para contato: (48) 9126-4266

O presente projeto tem como objetivo específico identificar a vivência da

experiência emocional da perda e do luto diante da separação amorosa, identificar os

motivos da escolha do cônjuge e analisar as características do relacionamento entre o

casal. Possui como objetivo geral identificar o processo de luto de homens e mulheres

diante da separação amorosa. Pressupõe-se que a partir deste trabalho seja construído

conhecimento técnico e científico sobre a psicologia na perda e no luto em relações

amorosas, a fim de auxiliar sujeitos que vivenciaram e vivem a perda amorosa na

elaboração do seu luto.

A realização da entrevista seguirá um roteiro com questões pré-definidas, no

qual poderá ser acrescentada outras perguntas. Será realizado apenas um encontro, com

duração de quarenta minutos, caso a entrevista não seja concluída no primeiro encontro,

poderá haver outro encontro, em outra data, caso o entrevistado aceite, com duração de

quarenta minutos. Os procedimentos utilizados contemplam a realização de: entrevista

individual com roteiro de entrevista semi-estruturada que será gravado na íntegra e

diante dos resultados da entrevista será aplicada à análise de conteúdo que prevê o

59

levantamento dos principais significados expressos nas respostas dos sujeitos. Não estão

previstos riscos e desconfortos durante a realização da entrevista. Os pesquisadores

estarão disponíveis para qualquer informação e esclarecimento que o senhor (a) tiver

necessidade, antes e durante a realização da pesquisa. Pelo fato desta pesquisa ter única

e exclusivamente interesse científico, a mesma foi aceita espontaneamente pelo senhor

(a), onde você poderá desistir a qualquer momento da pesquisa, inclusive sem nenhum

motivo, bastando para isso, informar da maneira que achas mais conveniente, a sua

desistência. Por ser voluntária e sem interesse financeiro, o senhor (a) não terá direito a

nenhuma remuneração. Os dados referentes ao senhor (a) serão sigilosos e privados, e a

divulgação do resultado visará apenas mostrar as possíveis reações e benefícios obtidos

pela pesquisa em questão, sendo que o senhor (a) poderá solicitar informações durante

todas as fases desta pesquisa, inclusive após a publicação da mesma.

60

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Eu, ____________________________________________________________,

RG ________________________, CPF _________________________.

Abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui

devidamente informado e esclarecido dobre a pesquisa, os procedimentos nela

envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha

participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer

momento, sem que isto leve a qualquer penalidade.

Local: ____________________________________ Data: _____/_____/_____

Nome do sujeito: _________________________________________________

Assinatura do sujeito: _____________________________________________

61

APÊNDICE C

TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR

Nós, abaixo assinados, aluno e professor do Curso de Psicologia da UNIVALI

– CE Biguacu, nos comprometemos em realizar a pesquisa do Trabalho de Conclusão

do Curso “Processo de luto de cônjuges diante da separação amorosa”, desenvolvendo

todas as atividades relacionadas à sua concretização.

_____________________________ ____________________________ Juliane Roberta de Andrade Ivânia Jann Luna Aluna pesquisadora Professora Orientadora Biguacu, ________/________/_______

62

APÊNDICE D CARTA DE APRESENTAÇÃO DA PESQUISA (endereçada aos sujeitos participantes da pesquisa). Biguacu, junho de 2009. Prezado Sr.

Eu, Juliane Roberta de Andrade, aluna do Curso de Psicologia da UNIVALI –

CE Biguacu, sob orientação da professora Ivânia Jann Luna, venho por meio deste,

encaminhar o meu projeto de Trabalho de Conclusão de Curso de Psicologia para sua

análise e parecer a respeito da viabilidade de estarmos desenvolvendo esta pesquisa com

o senhor (a). A pesquisa tem como título “Processo de luto de cônjuges diante da

separação amorosa”, e tem como objetivo identificar o processo de luto de homens e

mulheres diante da separação amorosa.

A referida pesquisa teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da Univali. Conforme os preceitos éticos em pesquisa, informo que os dados

coletados durante o estudo serão utilizados exclusivamente para fins de pesquisa,

mantendo assim o sigilo sobre a identidade dos sujeitos participantes.

Comprometo-me também em fornecer uma cópia do relatório final do estudo.

Portanto, sua colaboração será de fundamental importância para esse estudo.

Atenciosamente,

_____________________________ ____________________________ Juliane Roberta de Andrade Ivânia Jann Luna Aluna pesquisadora Professora Orientadora

63

APÊNDICE E

TERMO DE COMPROMISSO DE UTILIZAÇÃO DE DADOS

Eu, abaixo assinado, pelo presente “Termo de Compromisso de Utilização de

Dados”, em conformidade com a Instrução Normativa n° 004/2002, autor do projeto de

pesquisa intitulado: “Processo de luto de cônjuges diante da separação amorosa”, a ser

desenvolvido no período de agosto a novembro de 2009, na cidade de Florianópolis,

comprometo-me em utilizar os dados coletados, somente para fins deste projeto e

divulgação científica através de artigos, livros, resumos, pôsteres. Informo também,

comprometer-me a retornar os resultados da pesquisa.

_____________________________ ____________________________ Juliane Roberta de Andrade Ivânia Jann Luna Aluna pesquisadora Professora Orientadora Biguacu, ________/________/________