Roberto J. Fraga Moreira Roberto J. Fraga Moreira

Espelho, espelho meu... Quando acordo sempre procuro instintivamente a sua superfície lisa para ver o reflexo da minha imagem.

Há dias em que fico feliz com o que vejo e chego até a esboçar um sorriso narcisista.

Há ocasiões que me surpreendo a detalhar cada superfície do meu rosto espelhado à procura de eventuais máculas que o possam comprometer.

Há oportunidades em que nem me vejo corretamente, talvez devido a uma preocupação maior ou mesmo um desalento momentâneo.

Há dias em que olho várias vezes como não acreditando no que está sendo refletido.

Há vezes em que olho com esperanças tímidas de enxergar alguma melhora no meu visual.

Há momentos nos quais me iludo com o que vejo, e desse modo finjo que está tudo de acordo com o que me vai à alma.

Há circunstâncias em que sorrio para mim mesmo, não sei se de alegria ou desilusão, ou mesmo de esperança pelo que ainda está por vir.

Há situações em que dou um polimento esmerado na sua superfície à espera de melhores resultados, mesmo sabendo que isso é quase que impossível.

Há outras circunstâncias em que insisto, mas não consigo me olhar e, simplesmente, abaixo a cabeça e fico absorto em pensamentos profundos.

Há contingências, não muitas , em que simplesmente não consigo me ver, por mais que tente, como se ali não estivesse ou não pudesse ser refletido.

Mas há  ocasiões em que penso: Eu me amo, mesmo que o meu reflexo possa não concordar com isso.

E continuo me olhando todos os dias, quase sempre ao amanhecer, como um ato reflexo e repetitivo...

E assim continuarei fazendo até que um dia a sua imagem seja refletida junto com a minha.

Roberto J. Fraga Moreira