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  • DataGramaZero - Revista de Cincia da Informao - Artigo 05

    DataGramaZero - Revista de Cincia da Informao - v.5 n.1 fev/04 ARTIGO 05

    Organizao dos documentos ou organizao da informao: uma questo de escolha [*] Document organization or information organization: a matter of choice

    por Jaime Robredo

    Resumo: A tecnologia oferece atualmente excelentes solues para organizar grandes volumes de documentos dos mais variados tipos (armazenados em arquivos, bibliotecas, rgos pblicos, empresas de grande porte). Entretanto a soluo para organizar a informao neles contida ainda no foi resolvida a contento, de forma generalizada, e quanto mais cresce o volume de documentos, mais e mais informao se perde nos arquivos e na memria dos computadores. Os fundamentos para a soluo existem e so conhecidos de (alguns) tcnicos e especialistas da gesto da informao e do conhecimento, mas preciso aprofundar e aprimorar os processos de anlise da informao e representao do conhecimento, e realizar o casamento desses princpios com a mais nova tecnologia de gesto dos documentos. Palavras-chave: Documento; Organizao; Informao; Arquivo; Memria; Representao do Conhecimento.

    Abstract: Nowadays, technology offers excellent solutions to organize great volumes of the most different types of documents (such as the ones kept in archives, libraries, public agencies, great corporations, etc.). Nevertheless, the solution to organize the information they contain was not found by now either in a satisfactory or general manner, and as the volume of documents increases, more and more information is lost in files and in computer memories. The foundations of a solution do exist and they are known by [some] specialists and experts in information or knowledge management, but it is necessary to improve and deepen the processes of information analysis and knowledge representation, as well as to match these processes with the newest technologies of document management. Keywords: Document; Organization; Information; Archive; Memory; Knowledge Representation.

    1. Um pouco de histria(s) como introduo

    A preocupao pela conservao de documentos, todo o mundo sabe, no novidade: suas origens situam-se h mais ou menos 4.000 anos, quando os povos da Mesopotmia conservavam em tabuletas de argila cuidadosamente organizadas, registros contbeis, ordenanas de governo, contratos e sentenas judiciais. Entretanto, a consolidao com certa cientificidade das duas profisses que lidam com a guarda, conservao e manuseio dos documentos, ou seja, a arquivologia e a biblioteconomia, somente aconteceu a partir da segunda metade do sculo XIX.

    A mudana de paradigma do documento como foco para o seu contedo, ou seja para a informao, acontece ainda bem mais prxima de ns, com o surgimento da cincia da informao, a qual com o auxlio das novas tecnologias da informao e da comunicao tem revolucionado e ampliado os

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    horizontes do que poderia ser chamado de cincias da documentao.

    Apesar do tempo transcorrido e dos impressionantes avanos tecnolgicos das ltimas dcadas, no se conseguiu ainda estabelecer uma doutrina, uma filosofia, se assim pode-se dizer, sobre como proceder no processamento tcnico dos documentos e das informaes neles contidas. A unanimidade dentro de cada uma das duas profisses da documentao ainda est longe de ser atingida, e muito mais longe ainda entre os arquivistas, os bibliotecrios e os documentalistas em geral. E isso apesar dos esforos das organizaes e associaes profissionais assim como dos organismos internacionais diretamente interessados e envolvidos no problema de tratar os documentos e de organizar a informao.

    Os avanos em matria de organizao fsica com estantes deslizantes robotizadas so fantsticos. Tambm so fantsticos os avanos em matria de informtica, para acelerar o processamento dos documentos e informaes. Os enormes e valiosos conhecimentos adquiridos graas s pesquisas desenvolvidas nos ltimos anos, referentes codificao, armazenagem, transmisso, difuso e recuperao da informao so, tambm, fantsticos. Entretanto, a imagem de um alto executivo em estado terminal de desespero, depois de pedir sua secretria e a outros colaboradores para localizar rapidamente determinados documentos que com toda e absoluta certeza estariam arquivados em algum lugar, e que no foram encontrados, , como mostra a Figura 1, uma maneira bastante expressiva de visualizar uma situao que, sem dvida, neste instante, em algum lugar, continua acontecendo.

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    Figura 1. - Alto executivo em estado terminal de desespero ante a impossibilidade de localizar os documentos que contm as informaes de que precisa.

    Parafraseando Elliot, Nery da Fonseca [1], que cito de memria, escreveu alguma coisa parecida com o texto reproduzido a seguir:

    " ...

    Onde esto os documentos que se perderam nos arquivos?

    Onde esto os livros que se perderam nas bibliotecas?

    Onde esto os dados Que se perderam nos computadores? ..."

    2. Tratando de cercar o problema

    Cabe, assim, perguntar como que com tantos progressos, com tanta tecnologia, com tantos estudos e conhecimentos no foi ainda possvel dominar a informao. Existem variadas e numerosas causas que vamos sobrevoar a seguir tentando focalizar alguns fatores que podem ajudar a compreender a complexidade do problema e, por via de conseqncia, a dimensionar a magnitude do esforo a realizar, alocando os recursos necessrios (humanos, tecnolgicos, de conhecimentos, financeiros, culturais, etc.), para se chegar a solues que hoje so certamente possveis.

    Um problema muito srio decorre do fato de que as mquinas informticas processam sob a forma de cdigos representaes de palavras que, pela sua vez so representaes de conceitos. Os computadores, ou mais precisamente os informticos que os programam, lidam muito bem com dados e nmeros, realizando clculos complicadssimos com velocidade impressionante, mas infelizmente as palavras codificadas - e menos ainda os conceitos que elas representam - no podem ser processadas com os mesmos algoritmos que se aplicam aos clculos numricos. Enquanto esse fato no for profundamente assimilado, continuaremos encontrando nos jornais manchetes como estas:

    1) "O INSS CONTINUA PAGANDO A APOSENTADORIA DE UM FUNCIONRIO FALECIDO H NOVE ANOS"

    2) "O PEDREIRO JOO CRISTINO, HOJE NONAGENRIO, TENTA PROVAR QUE, APESAR DO QUE CONSTA NO SEU ATESTADO DE BITO, EXPEDIDO H 18 ANOS, CONTINUA VIVO"

    Vejamos, um sistema informtico ao qual se ordena que localize informaes sobre a morte de Fulano de Tal obter aps o rigoroso cruzamento das expresses 'morte' e 'Fulano de Tal' - se tudo corre como desejado - alguns documentos PERTINENTES, mas ser incapaz de pensar que outras palavras tais como 'falecimento', 'bito' ou, ainda, 'desencarnao' se porventura pudessem existir documentos produzidos

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    num ambiente 'kardecista', tambm deveriam ter sido cruzadas com o nome do indivduo.

    Todavia preciso pensar que podem existir ou ter existido vrias pessoas com igual identidade e que para 'cercar' a pessoa certa seria necessrio introduzir 'filtros' tais como o local e data de nascimento, filiao, CPF, certido de casamento, etc., informaes estas que no sempre se encontram acessveis num nico banco de dados.

    Outro exemplo: Consideremos um sistema altamente sofisticado, capaz de identificar de forma automtica, num processo de varredura dos textos dos documentos, aqueles termos e expresses possveis e provveis que podem ser utilizados como 'ponteiros' ou pontos de acesso para recuperar as informaes desejadas. Suponhamos que desejamos fazer uso desse sistema para localizar documentos que tratam da evoluo e uso dos sinos e outros instrumentos assemelhados, ao longo de um certo perodo de tempo. Imaginemos que o dito sistema examinou com todo rigor um acervo de documentos manuscritos cuidadosamente digitalizados e indexados procura das palavras 'sino' ou 'campana', palavra esta que, como explica qualquer dicionrio, refere-se a um sino pequeno. Imaginemos, enfim, que o sistema identificou um certo nmero de documentos com a palavra 'sino' e outra quantidade de documentos com a palavra 'campana'. timo! Muito bom!!... Ento pedimos ao sistema para ver o texto dos documentos encontrados e... Surpresa! Entre os documentos que, a primeira vista nos parecem bem pertinentes para o que queramos encontramos um, do qual reproduzimos um fragmento (Figura2) onde efetivamente identificamos a palavra 'campana' misturada com um monte de palavras escritas com uma grafia que no conseguimos entender.

    O que aconteceu no , finalmente, to complicado de entender. Trata-se de um texto escrito em lngua russa, que utiliza, como outras lnguas eslavas, o alfabeto cirlico, sendo que somente algumas letras deste correspondem s letras de nosso alfabeto latino. Lembremos dos atletas do tempo da Rssia sovitica que exibiam nas costas a sigla CCCP, que para ns parecia 'C' de 'campana' (trs vezes) e 'P' de Polnia (uma vez), mas que para eles corresponde a 'S' de 'socialistas' e 'soviticas' (o terceiro 'C' a inicial de 'unio', em russo, naturalmente) e 'R' de 'repblicas'?

    Assim o que a ns parece dizer 'campana', para os russos diz 'strapa', como mostra a equivalncia das letras nos alfabetos cirlico e latino (Figura 3).

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    A traduo do fragmento do texto russo anterior a seguinte:

    "...strapa o ttulo dado aos governadores de provncia na antiga Prsia"

    Note-se que tambm poderamos encontrar a informao procurada em documentos redigidos em outras lnguas, a condio de utilizar os critrios de busca adequados. Por exemplo, 'cloche' em francs, 'bell' em ingls, etc. Mas, por no ter pensado, perdemos, certamente, informao importante.

    Poderamos estender de forma quase infinita os exemplos que demonstram a necessidade de cuidar de um certo nmero de detalhes quando se trata de codificar e processar a informao.

    Outro aspecto a considerar a fragilidade dos registros da informao que podem ser destrudos por incndio ou enchentes, no caso de papel ou microfichas e microfilmes, assim como pelos efeitos de fortes campos magnticos e radiaes, no caso de CDs e disquetes, o que exige cuidados extremos na atualizao dos 'backups'. A ttulo de lembrete, e no intuito de ajudar a fixar a idia dos perigos que podem ameaar os arquivos documentais, permito-me mostrar dois exemplos: o primeiro (v. Figura 4), um caso de incndio (literalmente queima de arquivo) que tanto pode ser acidental como criminoso e o segundo, tambm um caso de queima de arquivo (v. Figura 5), que parece ser criminoso.

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    Semelhantemente, os processos de telecomunicao, teletransmisso e teleprocessamento de dados e informaes (Internet, redes diversas) so extremamente vulnerveis a ao de vrus e 'hackers', que podem destruir dados e informaes se no so tomadas as medidas de preveno indispensveis.

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    3. Existe soluo depois do caos?

    Se pretendermos ser objetivos, preciso reconhecer que a organizao e conservao dos acervos documentais, assim como o acesso aos dados e informaes neles contidos so, em numerosas e diversas organizaes e instituies pblicas e privadas, simplesmente caticos. E, assim sendo, continuaremos ainda por um bom tempo, se no forem tomadas as medidas adequadas, a descobrir rombos espantosos nas contas pblicas, seja por falta de planejamento, seja por falta de controle ou, em todo caso, por falta absoluta de informao confivel. E os casos de funcionrios falecidos e pedreiros nonagenrios, citados antes, que a Administrao converte em zumbis ou mortos-vivos, continuaro a pipocar em qualquer lugar do pas, junto com outros, diferentes e talvez mais absurdos.

    Da mesma forma, o combate ao crime, a indispensvel reengenharia do sistemas de sade e previdncia, da educao, dos transportes, da energia e assim por diante, so e continuaro sendo improvveis enquanto no seja encarado com deciso e competncia, em cada uma dessas reas, o problema da anlise, do processamento e do acesso informao em todos seus aspectos.

    Enfim, como pretender ser competitivos para colocar pelo mundo afora os produtos e servios brasileiros sem informao continuamente atualizada sobre a conjuntura, situao e exigncias dos mercados externos?

    Que o problema a resolver grande, enorme mesmo, no difcil de se perceber, de forma que cabe perguntar se existe soluo possvel depois de chegar atual situao de caos. A resposta sim. Os pases desenvolvidos possuem, em todas s reas crticas e estratgicas, sistemas de informaes poderosos, dinmicos e atualizados que fornecem o lastro indispensvel ao planejamento e execuo de suas polticas. Ento, porqu o Brasil no poderia? A resposta , novamente afirmativa: o Brasil tambm pode. Com vontade e competncia possvel adaptar s realidades diversas do pas s solues que podem e devem dar certo.

    4. Para onde apontam a(s) possvel(eis) soluo(es)?

    Em primeirssimo lugar, para a indispensvel conscientizao das lideranas de todos os setores envolvidos de que o Brasil continuar a ser dependente e vulnervel enquanto no seja dono e mestre de suas informaes. Neste ponto, a imprensa e mdia em geral tm um importante papel pela frente.

    Em segundo lugar, para o investimento na formao de recursos humanos capazes de discernir as boas solues e aqueles profissionais e tcnicos que as podem implementar. Aqui, as universidades e as instituies de ensino e formao, podem contribuir de forma decisiva com cursos intensivos de atualizao nas reas crticas mais urgentes.

    Descendo a um nvel de idias mais pragmtico e imediato podemos apresentar algumas pistas sobre as etapas a completar para se chegar ao domnio da informao.

    1. A identificao e anlise do contedo informacional dos documentos ou, de forma mais genrica

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    e precisa, dos suportes da informao e do conhecimento registrados;

    2. A organizao fsica e a preservao segura da memria documental original;

    3. A organizao lgica dos dados, da informao e do conhecimento, identificados na primeira etapa;

    4. A converso ou codificao desses dados, informaes e conhecimentos de forma a permitir seu processamento informtico avanado e seu armazenamento digital organizado e seguro, assim como a gerao e contnua atualizao de bancos de dados e conhecimentos;

    5. A utilizao de motores de busca avanados suscetveis de converter as questes e pedidos de informao dos usurios numa linguagem codificada compatvel com a linguagem de codificao utilizada na etapa precedente;

    6. A identificao dos documentos que contm os dados, informaes e conhecimentos pertinentes s questes e solicitaes formuladas;

    7. A localizao imediata desses documentos e o acesso e consulta aos mesmos, seja esta fsica mediante extrao do acervo onde foram armazenados, ou virtual atravs de uma cpia digitalizada devidamente autenticada e certificada.

    Apresentadas as coisas dessa forma, os especialistas da arquivologia, da biblioteconomia, dos sistemas de informao documentria, do processamento de dados, dos sistemas eletro-eletrnicos de armazenamento poderiam muito bem perguntar: Qual a novidade de tudo isso, que no seno a expresso do chamado ciclo documentrio? Resposta: novidade nenhuma !

    E ento? Ento, o que acontece que em cada uma das etapas s quais temos feito referncia encontramos especialistas - e bons especialistas mesmo - que s conhecem em profundidade uma parcela desse ciclo, ignorando geralmente todo o resto. Assim, as empresas de digitalizao de documentos, que tm surgido e se desenvolvido como cogumelos numa floresta mida, se no aplicam conhecimentos especializados avanados na etapa de anlise das informaes, de forma a permitir a organizao dos bancos de dados e de conhecimentos e tornar possvel a busca e recuperao das informaes, podero contribuir a diminuir o volume de armazenamento dos documentos, mas no muito a solucionar o problema do domnio da informao.

    Os fabricantes dos grandes equipamentos de armazenamento mais ou menos robotizados contribuem para a boa organizao, conservao e localizao dos documentos, mas ser que podem sempre apresentar solues para enxergar os dados e informaes neles contidos?

    Os informticos organizam sempre os dados e informaes, nos bancos, de forma estruturada e compatvel com os mtodos e ferramentas utilizados pelos usurios nas suas consultas e buscas ou, pelo contrrio, montam e desenvolvem estruturas e modelos de dados que pouco se adequam realidade de uso?

    Observe-se que propositadamente foram utilizadas as expresses 'banco(s) de informaes' e 'banco(s) de

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    conhecimentos' que podem parecer mais prprias dos sistemas de inteligncia artificial que do tema que vimos tratando. Pode parecer, mas no bem assim. Seno, vejamos: Na Figura 6 representamos o esquema clssico de um sistema especialista, tpico de numerosas reas de aplicao da inteligncia artificial.

    Figura 6.- Esquema simplificado de um sistema especialista [2]

    A interface de aquisio corresponde, de fato, no ciclo documentrio, etapa de anlise da informao dos contedos dos documentos, antigamente realizada por especialistas e que tende cada vez mais a ser automatizada.

    A base de conhecimento nada mais do que o(s) banco(s) de dados, informaes e conhecimentos, organizados e estruturados de forma a permitir a consulta rpida quando solicitados.

    No outro extremo, a interface do usurio permite formular perguntas e consultar a base de conhecimento por intermdio do mecanismo de inferncia, em nosso caso chamado normalmente motor de busca, que compara os elementos da pergunta/consulta com os dados e informaes da base de conhecimento, verificando se existe ou no, na base, algum registro de documento(s) pertinentes, fornecendo a resposta para o usurio.

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    A Figura 7 pode ajudar a fixar de forma mais forte a relao conceitual intrnseca de nossas preocupaes de conservao, organizao e gesto de documentos com os sistemas especialistas da inteligncia artificial, e no por acaso que j se comea a falar de 'arquivamento inteligente da informao'. A figura mostra as trs grandes reas em que pode ser subdividida a inteligncia artificial [3].

    Observe-se que as trs reas esto fortemente implicadas na soluo de nosso problema:

    - O foco linguagem natural aponta para o desenvolvimento de aplicaes capazes de ler, interpretar e codificar automaticamente os textos dos documentos;

    - A robtica, presente numa infinidade de sistemas e aplicaes sensveis a estmulos visuais e eletro-magnticos (leitores ticos e magnticos) est cada vez mais presente nos grandes sistemas de armazenamento/arquivamento de importantes volumes de documentos;

    - Os sistemas especialistas, dos quais acabamos de falar nos pargrafos anteriores, apontam para o desenvolvimento de aplicaes informticas suscetveis de utilizar o conhecimento simblico da forma o mais prxima possvel do comportamento humano.

    Convm destacar que a considerao conjunta das duas figuras anteriores leva concluso de que etapa fundamental de todo o processo de gesto da informao e do conhecimento justamente a primeira etapa, ou seja a interface de aquisio. Com efeito, essa etapa a que h de permitir a gerao, alimentao, organizao e atualizao, com o padro de qualidade requerido, da base de conhecimento. Essa etapa, por ser justamente a que mais requer um elevado padro de qualidade e por apresentar um elevado nvel de complexidade, para chegar a permitir a representao codificada das informaes e conhecimentos, de forma a abrir o caminho para os sucessivos processamentos que se fizerem necessrios, tambm,

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    infelizmente, a menos desenvolvida nos sistemas atualmente disponveis no Brasil, prejudicando o desempenho global dos mesmos.

    Entretanto, os princpios algortmicos bsicos que podem ser utilizados so conhecidos h tempo. Peo licena para mostrar dois exemplos, velhos de mais de doze anos, de uma aplicao informtica de anlise e indexao automtica de textos, concebida e desenvolvida com o auxlio parcial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e da Universidade de Braslia (UnB)[4].

    As Figuras 8 e 9 mostram um exemplo de aplicao de rotinas informticas de indexao automtica de textos, a preparao de um ndice dos artigos publicados na revista Cincia da Informao no perodo 1972-1983. A primeira permite ver os descritores (pontos de acesso) identificados no processo de indexao aps digitalizao e editorao. A segunda mostra um fragmento do ndice.

    Figura 8.- Indexao automtica a partir dos ttulos e resumos dos registros documentrios Publicados em 'Cincia da Informao' no perodo 1972-1983

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    Figura 9. - Fragmento do ndice temtico remissivo gerado automaticamente a partir dos resultados da indexao mostrados na figura anterior.

    As Figuras 10 e 11 mostram, respectivamente, um exemplo de processamento de uma carta e o resultado da identificao e extrao automtica dos termos que podero servir como ponteiros ou pontos de acesso, para busca e recuperao de informaes na base de conhecimento.

    Figura 10 . - Texto de uma carta aps editorao para indexao automtica.

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    Figura 11. Descritores temticos extrados automaticamente da carta da figura precedente, que serviro como pontos de acesso na base de conhecimento

    Hoje, algoritmos mais avanados, mas que pouco diferem conceitualmente dos implementados e utilizados nos exemplos mostrados, so utilizados por todos ns cada vez que fazemos uso dos motores de busca de Yahoo, Google, Altavista e muitos outros, que vo buscar a respostas s nossas indagaes em gigantescos bancos de dados e informaes.

    Voltando ao nosso assunto, antes de encerrar estas consideraes, permitam-me lembrar um filme realizado e difundido h alguns anos, protagonizado por Michael Douglas e pela bonita Demi Moore, filme esse que, com uma histria de assdio sexual da segunda sobre o primeiro, como pano de fundo apresentava um sistema de tele-acesso a documentos confidenciais. Poderia parecer pura fico mais ou menos cientfica e tecnolgica se no existissem j naquela data sistemas totalmente automatizados de registro, organizao, armazenamento e consulta de documentos, com diversas variantes e em vrios pases. A ttulo de exemplo citarei um dos primeiros, instalado e operado pelo Ministrio das Finanas da Frana, num corredor de mais de 200 metros, nos terrenos de uma antiga fbrica da Renault, em Boulogne-Billancourt, perto de Paris, que permite tele-processar, tele-organizar, tele-localizar, tele-extrair, e tele-consultar os documentos.

    5. Concluso

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    A mudana de paradigma, em curto prazo de tempo, do processamento de documentos para o processamento do contedo, e a mudana, tambm, de paradigma na cincia da computao do foco processamento de dados para processamento de informaes, levaram, devido s presses do mercado e busca de maior competitividade e eficincia, a uma mudana radical na gesto eletrnica de documentos.

    O uso de novas tecnologias de informao, como a digitalizao, e anteriormente a microfilmagem, por si s no solucionaram o problema do acesso informao contida no documento.

    Para tanto, necessria a anlise criteriosa e objetiva do contedo dos documentos para identificar os ponteiros ou pontos de acesso que sero utilizados pelas instituies para recuperar e localizar as informaes especficas.

    Lamentavelmente, por falta de percepo da importncia primordial da etapa de aquisio, que complexa, que exige tempo e trabalho acurado para definir os filtros e parmetros especficos de cada aplicao concreta, em sade, cincia e tecnologia (e suas subdivises), economia, poltica, planejamento, administrao e gerncia, prospeco, comrcio, inteligncia competitiva nas suas diversas reas de aplicao, e assim por diante, ainda se reclama do custo dessa fase e do tempo que requer para ser bem feita.

    Soluo geralmente proposta por muitos administradores pretensamente ciosos do bom uso dos recursos:

    "Uma secretria pode fazer esse trabalho, no ?" [sic]

    Sem comentrios.

    considerado razovel gastar uma fortuna e um tempo considervel para consolidar e nivelar o piso do(s) local(ais) onde sero instalados os equipamentos mais ou menos robotizados. considerado razovel gastar uma fortuna e um tempo considervel em refazer completamente toda a instalao eltrica. considerado razovel gastar uma fortuna e um tempo considervel em adquirir novos e poderosos equipamentos informticos. considerado razovel gastar uma fortuna e um tempo considervel em escolher e instalar diversos sistemas de segurana e preveno. Entretanto, realizar uma despesa que dificilmente ultrapassaria dez por cento das despesas totais, na implementao do sistema de aquisio, processamento e armazenamento inteligente das informaes e do conhecimento, nica forma de dispor de bases de dados, informaes e conhecimentos suscetveis de informar corretamente e de alcanar o domnio da informao.

    Na Figura 12 podemos ver como um alto executivo bem informado, que conseguiu o domnio inteligente da informao, pode monitorar o bom andamento de seus negcios de qualquer lugar do planeta.

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    Figura 12. Alto executivo bem informado monitorando seus negcios.

    Para encerrar, voltemos ao ttulo da palestra:

    "Organizao dos documentos ou organizao da informao: uma questo de escolha".

    Notas e Referencias Bibliogrficas

    [*] Palestra apresentada no Seminrio "Gesto da Informao: Desafios e Solues", realizado em Braslia DF em 21 de agosto de 2003, no Blue Tree Park, organizado pela ACECO - Solues Integradas em Arquivamento, do Grupo Ambient, com o apoio do Arquivo Nacional, da Cmara dos Deputados, do Conselho da Justia Federal, do Senado Federal e da Universidade de Braslia. Conference in the Seminar "Information Management: Challenges and Solutions", held in Braslia DF on August 21, 2003, at the Blue Tree Park, organized by ACECO - Integrated Solutions for Archival, a member of the Grupo Ambient. Sponsored by the Federal Justice Council, National Archive, National Congress, and University of Brasilia.

    [1] Eliot, Thomas Stearns. The Rock. Apud Nery da Fonseca, Edson. Conferncia de abertura do 2 Seminrio Nacional de Bibliotecas Universitrias - 2 SNBU. Braslia DF, ABDF, jun 1981, Anais.

    [2] Harmong, Paul; King, David. Sistemas especialistas. Rio de Janeiro RJ: Campus, 1988. Apud Teixeira, Alison Ribeiro. A utilizao de programas de computador com agentes no processo de tranferncia da

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    informao: criao e avaliao de um sistema especialista baseado em casos. Braslia DF: Universidade de Braslia/Departamento de Cincia da Informao,2000 (Dissertao de Mestrado.)

    [3] Op. cit. Ibidem.

    [4] Robredo, Jaime. Indexao automtica de textos: uma abortdagem automatizada e simples. Cincia da Informao, v.20, n.2, 1991, p.130-136.

    Sobre o autor / About the Author:

    Jaime Robredo [email protected]

    Pesquisador Associado Senior, Departamento de Cincia da Informao, Universidade de Braslia;Consultor da SSRR Informaes Consultoria e Projetos Ltda., Braslia DF Senior Researcher, Information Science Department, University of Brasilia; Consultant of the SSRR Information, Consultancy and Projects Ltd., Brasilia DF.

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