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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E APLICADAS - DCEA CAMPUS DE CAICÓ RODRIGO RANIERE DE OLIVEIRA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL BRASILEIRA ÀS NORMAS INTERNACIONAIS: Maior empresa do ramo têxtil Potiguar e a adaptação de suas demonstrações contábeis à nova lei. CAICÓ RN 2015

RODRIGO RANIERE DE OLIVEIRA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ... · Existe uma diferença entre padronização e harmonização das normas contábeis internacionais. A primeira torna-se praticamente

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Page 1: RODRIGO RANIERE DE OLIVEIRA HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL ... · Existe uma diferença entre padronização e harmonização das normas contábeis internacionais. A primeira torna-se praticamente

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E APLICADAS - DCEA

CAMPUS DE CAICÓ

RODRIGO RANIERE DE OLIVEIRA

HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL BRASILEIRA ÀS NORMAS

INTERNACIONAIS: Maior empresa do ramo têxtil Potiguar e a adaptação

de suas demonstrações contábeis à nova lei.

CAICÓ – RN

2015

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RODRIGO RANIERE DE OLIVEIRA

HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL BRASILEIRA ÀS NORMAS

INTERNACIONAIS: Maior empresa do ramo têxtil Potiguar e a adaptação

de suas demonstrações contábeis à nova lei.

Monografia apresentada ao Departamento de

Ciências Exatas e Aplicadas do Centro de Ensino

Superior do Seridó da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, para obtenção do título de

Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientadora: Profª. Ms. Luziana Maria Nunes de

Queiroz

CAICÓ – RN

2015

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RODRIGO RANIERE DE OLIVEIRA

HARMONIZAÇÃO CONTÁBIL BRASILEIRA ÀS NORMAS

INTERNACIONAIS: Maior empresa do ramo têxtil Potiguar e a adaptação

de suas demonstrações contábeis à nova lei.

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Exatas e Aplicadas do Centro de

Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção

do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof.ª Ms. Luziana Maria Nunes de Queiroz - UFRN/CERES

Orientadora

_______________________________________________________

Prof. Clara Monise Silva - UFRN/CERES

Examinador

________________________________________________________

Prof. Ricardo Aladim Monteiro - UFRN/CERES

Examinador

CAICÓ RN

2015

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FICHA CATALOGRÁFICA:

Oliveira, Rodrigo Raniere de.

Harmonização contábil brasileira às normas internacionais:

maior empresa do ramo têxtil Potiguar e a adaptação de suas

demonstrações contábeis à nova lei / Rodrigo Raniere de

Oliveira. - Caicó: UFRN, 2015.

56f: il.

Orientadora: Ms. Luziana Maria Nunes de Queiroz.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Ensino Superior do Seridó.

Curso de Ciências Contábeis.

1. Harmonização. 2. Demonstrações. 3. Guararapes. I.

Queiroz, Luziana Maria Nunes de. II. Título.

RN/UF/BSE07-Caicó CDU

657

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Dedico este trabalho, assim como a felicidade de estar concluindo este curso, a todas as

pessoas que de alguma forma contribuíram para o meu sucesso, em especial à minha família,

meus Professores e meus colegas na Academia.

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“O legado da Contabilidade é indiscutivelmente internacional. Deste

modo, os atuais interesses por uma Contabilidade multinacional têm

mais um caráter de uma ideia renascida que de uma nova”. Choi e

Muller, 1979.

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LISTAS DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

BACEN - Banco Central do Brasil

CFC - Conselho Federal de Contabilidade

CMN - Conselho Monetário Nacional

CPC - Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CVM - Comissão de Valores Mobiliários

DOU - Diário Oficial da União

EUA - Estados Unidos da América

FASB - Financial Accounting Standard Board

IAS - International Accounting Standards

IASB - International Accounting Standards Board

IASC - International Accouting Standards Commitee

IBRACON - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

IFAC - International Federation of Accountants

IFRIC - International Financial Reporting Interpretations Committee

IFRS - International Financial Reporting Standards

IOSCO - International Organization of Securities Commission

MP - Medida Provisória

S.A - Sociedade Anônima

SEC - Securities and Exchange Commission

SFAC - Statements of Financial Accounting Concepts

SFN - Sistema Financeiro Nacional

SIC - Standing Interpretations Committee

SRF - Secretaria da Receita Federal do Brasil

SUMOC - Superintendência da Moeda e do Crédito

SUSEP - Superintendência dos Seguros Privados

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................................... 10

Justificativa ........................................................................................................................... 11

Objetivos da pesquisa ........................................................................................................... 12 Geral ..................................................................................................................................... 12 Específicos ............................................................................................................................ 12

CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................. 13

1 – A origem e consequente evolução da contabilidade ....................................................... 13

2 - A contabilidade no Brasil ................................................................................................. 14

3 - Informações e objetivos almejados pela contabilidade .................................................. 15

4 - Normas Brasileiras de Contabilidade - NBCs ................................................................ 16

5 - A contabilidade e os seus princípios fundamentais ........................................................ 17

5.1 Princípio da entidade ...................................................................................................... 17 5.2 Princípio da continuidade ............................................................................................... 18

5.3 Princípio da oportunidade ............................................................................................... 18 5.3 Princípio do registro pelo valor original ......................................................................... 18

5.4 Princípio da atualização monetária ................................................................................. 19 5.5 Princípio da competência ............................................................................................... 19 5.6 Princípio da prudência .................................................................................................... 19

6 - A contabilidade e os seus usuários ................................................................................... 19

7 - O Profissional Contábil ..................................................................................................... 20

8 – Órgãos reguladores da contabilidade no Brasil ............................................................. 21

8.1 - Conselho Federal de Contabilidade - CFC ................................................................... 21 8.2 - Conselho Regional de Contabilidade – CRC ............................................................... 21

8.3 - Banco Central do Brasil – BACEN .............................................................................. 22 8.4 - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON ................................... 22 8.5 - Comissão de Valores Mobiliários – CVM ................................................................... 23

09 - Contabilidade Internacional .......................................................................................... 23

10 - IFAC (Federação Internacional de Contadores) .......................................................... 26

11 - IOSCO (Organização Mundial das Comissões de Valores Mobiliários). .................. 26

12 - SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) ..................................... 27

13 - FASB (Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira) ........................................ 27

14 – A globalização e a necessidade dos países em harmonizar as suas leis ...................... 28

14.1 - Modelos contábeis ...................................................................................................... 29

15 – Alterações causadas pelas leis 11.638/2007 e 11.941/2009 na lei 6.404/1976 ............. 30

16 – Lei 11941/2009 ................................................................................................................ 32

17 – As novas leis e a padronização da linguagem contábil no Brasil ............................... 34

17.1 - Balanço patrimonial antes e depois da nova lei ......................................................... 35 17.2 - Demais demonstrações após a nova lei ...................................................................... 36

18 – Guararapes Confecções S.A .......................................................................................... 37

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18.1 - Do início aos dias atuais ............................................................................................. 37

19 – Demonstrações contábeis da Guararapes Confecções S.A antes e depois das leis que

modificaram a contabilidade no Brasil: ............................................................................... 38

19.1 – Balanço Patrimonial – Guararapes Confecções S.A ................................................. 38 ATIVO – Guararapes confecções S.A (Reais Mil.): ............................................................ 38

PASSIVO – Guararapes Confecções S.A (Reais Mil): ........................................................ 39 PATRIMÔNIO LÍQUIDO – Guararapes Confecções S.A (Reais Mil): .............................. 40 19.2 – Demonstração do resultado do exercício (DRE) da Guararapes Confecções S.A antes

e depois da mudança da lei da contabilidade societária: ...................................................... 41 19.3 – Demonstração do fluxo de caixa consolidado – Método direto. ............................... 42

CAPÍTULO II - METODOLOGIA ...................................................................................... 44

Abordagem teórico-metodológica da pesquisa..................................................................... 44 O contexto da pesquisa: espaço e sujeitos da investigação .................................................. 45 Procedimentos de análise e interpretação dos dados ............................................................ 45

CAPÍTULO III - ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA

GUARARAPES CONFECÇÕES, E SUA ADAPTAÇÃO À NOVA LEI DA

CONTABILIDADE SOCIETÁRIA ...................................................................................... 45

DFC – Demonstração dos fluxos de caixa............................................................................ 46 DMPL e a Lei nº. 11.638/2007 ............................................................................................. 48 DVA – Demonstração do valor adicionado .......................................................................... 48

A Guararapes Confecções S.A e a adaptação das suas demonstrações à mudança da lei

societária: ................................................................................................................................ 49

Considerações finais ............................................................................................................... 51

Referências .............................................................................................................................. 52

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Resumo

Após a mudança da lei que rege toda a contabilidade no nosso País, surgiu a necessidade de se

pesquisar a adaptação das demonstrações contábeis à nova realidade, adaptação esta que é

regida por lei. Através de um estudo de caso de uma empresa real do ramo têxtil do nosso

Estado do Rio Grande do Norte, será verificado se esta adaptação das demonstrações foi

implantada pelos contadores da referida entidade. Utilizando-se dos métodos de pesquisas

bibliográficas dos autores da área da contabilidade internacional, e fazendo uso de um breve

resumo de como a contabilidade se desenvolveu no Brasil e no mundo, busca-se uma

validação teórica acerca do tema pesquisado, onde através da reprodução das demonstrações

publicadas diretamente no endereço eletrônico da Bolsa de Valores de São Paulo

(BOVESPA), será alcançado o objetivo de observar positivamente ou negativamente a

adaptação desses documentos ao que pede a nova lei da contabilidade societária no Brasil.

Palavras chave: mudança, adaptação, demonstrações, societária.

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Introdução

No contexto socioeconômico atual do mundo, a globalização transforma-se em algo

que não pode mais ser ignorado pelas nações. A grande evolução nos transportes e

comunicações fez com que o planeta inteiro ficasse cada vez mais acessível fisicamente e

virtualmente. Seguindo esta linha de raciocínio, percebemos que a evolução global da

economia obriga alguns setores a se adaptarem aos novos tempos, dentre eles está a

contabilidade.

A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa financeira

internacional, em meados da década de 1980. Depois disso, muitos intelectuais

dedicaram-se ao tema, associando-a à difusão de novas tecnologias na área de

comunicação, como satélites artificiais, redes de fibra ótica que interligam pessoas

por meio de computadores, entre outras, que permitiram acelerar a circulação de

informações e de fluxos financeiros. (Ribeiro, 1995 p. 45).

O Brasil procura sua inserção neste novo cenário global, e a captação de recursos

estrangeiros na forma de investimentos é essencial para que as empresas Brasileiras

concorram de forma leal e igualitária com as grandes corporações estrangeiras (NIYAMA,

2005).

Criado em 1973 e reestruturado em 2001, o IASB (International Accounting Standard

Board) surgiu com a missão de promover a convergência das práticas contábeis de empresas

na elaboração das demonstrações em âmbito mundial. Através da busca de coordenação de

trabalhos em diversas áreas do globo, o IASB começa a emitir a partir de 2003 os IFRS

(International Financial Reporting Standard).

A partir de 2005 o órgão máximo do mercado Brasileiro - a CVM (comissão dos

valores mobiliários) - iniciou uma espécie de “campanha” de observação à convergência do

mercado europeu aos novos IFRS, e começa a incentivar os legisladores a adotarem uma

postura de atenção à mudança que ocorria no mundo. Então, em 28 de dezembro de 2008, o

Governo Federal promulgou a lei nº 11.638, que introduziu respeitáveis alterações para a

escrituração contábil das empresas e na apresentação das demonstrações financeiras a serem

introduzidas a partir de 2008, assim foi modificada a lei nº 6.404/76, também conhecida como

lei das sociedades anônimas.

O Estado do Rio Grande do Norte não tem participação considerável na economia

brasileira, no entanto, possui três empresas que figuram entre as 1000 (mil) maiores do País

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segundo a edição 2014 da revista “Valor 1000”, publicada pelo jornal “Valor Econômico”.

São elas: ALESAT COMBUSTÍVEIS S.A, e GUARARAPES CONFECÇÕES S.A e

CAERN (COMPANHIA DE ÁGUAS E ESGOTOS DO RIO GRANDE DO NORTE).

Neste ano de 2015, sete anos após a mudança da lei das sociedades no Brasil, estaria a

GUARARAPES CONFECÇÕES S.A totalmente ou parcialmente adaptada à nova legislação

no que diz respeito às suas demonstrações contábeis?

Existe atualmente uma tendência onde futuramente as empresas pequenas e de médio

porte também terão que adaptar-se às novas normas. Mas antes que as empresas menores

venham a utilizar esta nova forma de divulgar suas demonstrações contábeis, estariam as

grandes o fazendo? A GUARARAPES CONFECÇÕES S.A já adaptou suas demonstrações

de acordo com o que é definido pelas leis 11.638/2007 e 11941/2009 que modificaram a

estrutura das demonstrações na contabilidade brasileira?

Será objeto desta pesquisa apenas as demonstrações contábeis da GUARARAPES

CONFECÇÕES S.A devido aos motivos que serão elencados abaixo:

A Guararapes é a única empresa entre as três que possui ações na bolsa de

valores de São Paulo;

A ALESAT surgiu da fusão da empresa mineira Ale combustíveis com a

potiguar Satélite distribuidora de petróleo em 2008, impossibilitando a

comparação proposta nesta pesquisa devido a ausência de demonstrações

publicadas antes deste ano;

A CAERN é uma empresa pública.

Justificativa

Existe uma diferença entre padronização e harmonização das normas contábeis

internacionais. A primeira torna-se praticamente impossível devido à natureza humana, onde a

adoção de padrões por sociedades separadas por mares e oceanos esbarra na cultura e forma

de viver de cada um. Niyama (2005, p.38) entende a padronização como o “processo de

uniformização de critérios, não admitindo flexibilização”.

Com o advento da globalização ficou cada vez mais urgente e necessário o

fortalecimento do Brasil no mercado internacional de investidores, onde as multinacionais

abrem fábricas e geram empregos em nosso país frequentemente. Este fortalecimento só

poderia ser atingido com uma lei de sociedades moderna, e nas últimas décadas houve uma

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grande contemporização dos intelectuais das áreas contábil e econômica no sentido de se

buscar essa modernização.

Com a publicação dos IFRS pelo IASB, o Brasil se viu pressionado a mudar sua lei

que já possuía mais de 30 anos, ou então seria jogado para o segundo plano na área global de

investimentos.

O Brasil então modificou sua lei das sociedades no fim da década passada, e fez com

que centenas de empresas de capital aberto e de grande porte se adaptassem às normas

internacionais de contabilidade.

Com base nessa problemática surgiu a necessidade de se buscar de forma mais

aprofundada respostas a estas perguntas, o que justifica a realização desta pesquisa, onde seus

principais objetivos são observar e analisar as demonstrações da empresa supracitada antes e

depois da mudança na lei.

Objetivos da pesquisa

Geral

Analisar a adaptação da empresa às novas normas internacionais de contabilidade,

assim como observar se algumas contas modificadas pelas leis 11.638/2007 e 11941/2009

foram de fato adaptadas nas demonstrações da empresa estudada nesta pesquisa, e sua

relevância provém do fato da empresa estudada ser a segunda maior do estado do Rio Grande

do Norte, onde seu capital e funcionalidade são fatores determinantes no desenvolvimento

social e econômico da unidade da Federação.

Específicos

De acordo com os parâmetros previstos no objetivo geral deste trabalho, serão

objetivos específicos do mesmo:

Explicitar a maneira em que a contabilidade surgiu e evoluiu até os dias atuais

no Brasil e no mundo;

Evidenciar o IASB e suas normatizações refletidas nos IFRS;

Exibir a leis 11941/2009 e 11638/2007, que alteraram a contabilidade no

Brasil;

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Relatar de que forma a globalização obrigou os países a convergirem suas leis

aos padrões internacionais de contabilidade, seguindo a escola Europeia

fundamentada pelo IASB e seus IFRS;

Mostrar as especificações e mudanças trazidas pelas leis 11638/07 e

11941/2009 para a contabilidade brasileira;

Apresentar a empresa estudada, levando em consideração sua importância no

contexto econômico e social do nosso estado;

Evidenciar as principais contas das demonstrações da empresa estudada que

sofreram mais mudanças com a nova lei.

CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1 – A origem e consequente evolução da contabilidade

A contabilidade surgiu juntamente com o início da organização social promovida pelo

homem. Seu desenvolvimento está ligado às primeiras manifestações do ser humano na

necessidade social de proteção à posse e de perpetuação e interpretação dos fatos ocorridos

com o objeto material de que o homem sempre dispôs para alcançar os fins propostos.

Deixando a caça e a atividade nômade, o homem voltou-se à organização da

agricultura e da criação de gado. A organização econômica acerca do direito do uso do solo

terminou em conflitos entre tribos, rompendo a vida comunitária e surgindo divisões e o senso

de propriedade. Assim, cada pessoa criava sua riqueza individual.

Ao morrer, o legado deixado por esta pessoa não era dissolvido, mas passado como

herança aos filhos ou parentes. A herança recebida dos pais, denominou-se patrimônio. O

termo passou a ser utilizado para quaisquer valores, mesmo que estes não tivessem sido

herdados.

A origem da Contabilidade está ligada a necessidade de registros das mutações do

patrimônio. A prática do comércio não era exclusiva de certos povos, sendo exercida nas

principais cidades da Antiguidade.

A atividade de troca e venda dos comerciantes semíticos requeria o acompanhamento

das variações de seus bens quando cada transação era efetuada. As trocas de bens e serviços

eram seguidas de simples registros ou relatórios sobre o fato. Mas as cobranças de impostos,

na Babilônia já se faziam com escritas, embora rudimentares.

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À medida que o homem começava a possuir maior quantidade de bens, preocupava lhe

saber quanto poderiam render e qual a forma mais simples de aumentar os seus recursos; estas

informações não eram de fácil memorização quando já em maior volume, requerendo

registros escritos.

Foi o pensamento do "futuro" que levou o homem aos primeiros registros a fim de que

pudesse conhecer as suas reais possibilidades de uso, de consumo, de produção etc.

Com o surgimento das primeiras administrações particulares aparecia a necessidade de

controle, que não poderia ser feito sem o devido registro, a fim de que se pudesse prestar

conta da coisa administrada.

É importante lembrarmos que naquele tempo não havia o crédito, ou seja, as compras,

vendas e trocas eram à vista. Posteriormente, empregavam-se ramos de árvore assinalados

como prova de dívida ou quitação. O desenvolvimento do papiro (papel) e do cálamo (pena de

escrever) no Egito antigo facilitou extraordinariamente o registro de informações sobre

negócios.

A medida em que as operações econômicas foram se tornando complexas, o seu

controle se refinava. As escritas governamentais da República Romana (200 a.C.) já traziam

receitas de caixa classificadas em rendas e lucros, e as despesas compreendidas nos itens

salários, perdas e diversões.

No período medieval, diversas inovações na contabilidade foram introduzidas por

governos locais e pela igreja. Mas é somente na Itália que surge o termo Contabilitá.

2 - A contabilidade no Brasil

Não existe em nosso País um pensamento contábil genuíno, ou seja, totalmente criado

aqui. Pode-se dizer que em um primeiro instante que a nossa contabilidade foi baseada no

método italiano e posteriormente migrou-se para o método norte-americano, na qual continua

até os dias atuais.

A contabilidade no Brasil ainda sofre grande influência da legislação tributária,

notadamente da legislação do imposto de renda. Pode-se afirmar que em algumas

organizações, principalmente nas micro e pequenas empresas, na maior parte do tempo o

contador se dedica a questões tributárias. Por sua vez, nas médias e grandes empresas

normalmente existe um departamento ligado a questões fiscais para tratar do assunto. Desta

forma a contabilidade se subdivide em diversos módulos: contabilidade financeira,

contabilidade fiscal, contabilidade gerencial, contabilidade de custos etc.

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15

Com relação à intervenção da legislação, principalmente a tributária nos aspectos de

natureza contábil, é importante destacar que o desenvolvimento da contabilidade deve-se em

grande parte às intervenções deste tipo, mas há um certo consenso entre os pesquisadores de

que o excesso de normas às vezes dificulta o processo assim como seus resultados.

O ano de 1966 foi marcado por uma das maiores contribuições nacionais, a chamada

escola de correção monetária. Foi nesse ano que o professor Sérgio de Iudícibus (FEA-USP)

defendeu sua tese de doutorado, intitulada Contribuição à Teoria dos Ajustamentos Contábeis.

Pode-se dizer que esse trabalho foi uma das primeiras grandes contribuições da contabilidade

nacional à comunidade mundial.

Desta forma a partir 1964, com a adoção do método didático norte-americano pela

USP e da apresentação do doutorado de Iudícibus, o direcionamento doutrinário contábil

muda definitivamente sua direção, abandonando as escolas de pensamento contábil italianas e

assumindo os ditames da escola norte-americana.

A chegada das empresas de auditoria anglo-americanas que acompanhavam as

multinacionais recém chegadas ao Brasil foram determinantes para essa mudança de

pensamento, pois estas empresas ofereciam treinamento aos profissionais para elaboração de

demonstrações contábeis, influenciando todo o processo de contabilização em nosso país.

Mesmo com o fato de o Brasil não ter desenvolvido sua própria escola de

contabilidade, as sucessivas mudanças no cenário econômico, o período de altas taxas

inflacionárias que perdurou até 1995 e as inúmeras mudanças na legislação tributária fizeram

com que a nossa legislação contábil seja uma das mais aperfeiçoadas do mundo.

Nos tempos atuais podemos dizer que o pensamento da escola contábil norte-

americana domina grande parte da contabilidade no contexto mundial, inclusive com forte

presença na Itália.

3 - Informações e objetivos almejados pela contabilidade

A Contabilidade tem um papel de fundamental importância dentro da organização,

pois é através dos demonstrativos, elaborados por profissionais contábeis, que se tem base

para a tomada de decisões no ambiente empresarial, ou seja, a Contabilidade tem como

objetivo o controle do patrimônio das empresas, a apuração do resultado, e a prestação de

diversas e importantes informações de acordo com os princípios éticos para os seus diversos

usuários.

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O objetivo científico da Contabilidade manifesta-se na correta apresentação do

Patrimônio e na apreensão e análise das causas das suas mutações. Já sob ótica

pragmática, a aplicação da Contabilidade a uma Entidade particularizada, busca

prover os usuários com informações sobre aspectos de natureza econômico,

financeira e física do Patrimônio da Entidade e suas mutações, o que compreende

registros, demonstrações, análises, diagnósticos e prognósticos, expressos sob a

forma de relatos, pareceres, tabelas, planilhas e outros meios. (CFC, 2006 p. 21)

A forma com que se apresentam os demonstrativos contábeis faz com que estes se

transformem em informações importante para o desenvolvimento da entidade, pois, significa

divulgar a situação financeira, e econômica da organização, que servirá para a análise de

determinados usuários, o que o influenciará na tomada de decisões, cujo objetivo é o

desenvolvimento e crescimento da entidade e outros interesses particulares.

Como cita Ernst & Young, Fipecafi (2009, p.3) “O objetivo das demonstrações

financeiras é fornecer informações sobre a posição financeira, o desempenho e as mudanças

na posição financeira da entidade, dando suporte a avaliações e tomadas de decisão

econômica”.

Assim como diz a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras

(2007, p.56), definem quanto às informações fornecidas pela Contabilidade, ressaltam que

esta deve permitir que o usuário possa:

observar e avaliar o comportamento;

comparar seus resultados com os de outros períodos ou Entidades;

avaliar seus resultados à luz dos objetivos estabelecidos;

projetar seu futuro nos marcos políticos, sociais e econômicos em que se insere.

Temos então que a Contabilidade tem como um dos seus principais objetivos atender

as demandas das empresas quanto o acesso à informações precisas, assim como variações do

Patrimônio.

4 - Normas Brasileiras de Contabilidade - NBCs

Normas de contabilidade estão presentes em todos os países capitalistas que praticam a

contabilidade para mensurar o patrimônio de suas empresas. O Brasil possui suas normas,

conhecidas como NBCs. As Normas Brasileiras de Contabilidade criam regras de

conduta profissional e procedimentos técnicos a serem observados e utilizados quando da

realização dos trabalhos previstos na Resolução CFC n° 560/83, de 28 de outubro de 1983,

em consonância com os Princípios Fundamentais de Contabilidade.

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Por tratar se de uma ciência social, a contabilidade busca por meio do registro a

geração de informações quantitativas e qualitativas sobre o patrimônio, expressas tanto em

termos físicos, quanto monetários.

As NBCs podem se classificar em técnicas ou profissionais, sendo enumeradas por

sequência.

As normas profissionais estabelecem regras de exercício profissional, caracterizando-

se pelo prefixo "NBC P".

As normas técnicas estabelecem conceitos doutrinários, regras e procedimentos

aplicados de Contabilidade, caracterizando-se pelo prefixo "NBC T".

NBC e NBC-T

Através de interpretações técnicas, NBCs podem ser detalhadas. Estas interpretações

podem ser identificadas pelo código da NBC a que se referem seguido de hífen, sigla IT e

numeração sequencial.

O CFC poderá emitir comunicados técnicos quando ocorrerem situações decorrentes

de atos governamentais que afetam, transitoriamente, as NNCs. Os comunicados técnicos são

identificados pela sigla CT, seguida de hífen e numeração sequencial.

5 - A contabilidade e os seus princípios fundamentais

Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, os princípios fundamentais da contabilidade

são:

Princípio da Entidade;

Princípio da Continuidade;

Princípio da Oportunidade;

Princípio do Registro pelo Valor Original;

Princípio da Atualização Monetária;

Princípio da Competência; e,

Princípio da Prudência.

5.1 Princípio da entidade

O Princípio da entidade reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e

afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular

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no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um

conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade com ou

sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o patrimônio não se confunde com

aquele dos seus sócios ou proprietários no caso de sociedade ou instituição.

O patrimônio pertence à entidade, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou

agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova entidade, mas numa

unidade de natureza econômico-contábil.

5.2 Princípio da continuidade

A continuidade influência o valor econômico dos ativos e, em muitos casos, o valor ou

o seu vencimento dos passivos, especialmente quando a extinção da entidade tem prazo

determinado, previsto ou previsível.

A observância do Princípio da continuidade é indispensável à correta aplicação do

Princípio da competência, por efeito de se relacionar diretamente à quantificação dos

componentes patrimoniais e a formação do resultado, e de constituir dado importante para

aferir a capacidade futura de geração de resultado.

5.3 Princípio da oportunidade

O Princípio da oportunidade refere-se, simultaneamente, a tempestividade e a

integridade do registro do patrimônio e das suas mutações, determinando que este seja feito de

imediato e com a extensão correta, independentemente das causas que as originaram.

5.3 Princípio do registro pelo valor original

Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das

transações com o mundo exterior, expressos a valor presente na moeda do País, que serão

mantidos na avaliação das variações patrimoniais posteriores, inclusive quando configurarem

agregações ou decomposições no interior da ENTIDADE.

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5.4 Princípio da atualização monetária

Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos

nos registros contábeis através do ajustamento da expressão formal dos valores dos

componentes patrimoniais.

5.5 Princípio da competência

As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em

que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente de

recebimento ou pagamento.

O Princípio da competência determina quando as alterações no ativo ou no passivo

resultam em aumento ou diminuição no Patrimônio Líquido, estabelecendo diretrizes para

classificação das mutações patrimoniais, resultantes da observância do Princípio da

oportunidade.

O reconhecimento simultâneo das receitas e despesas, quando correlatas, e

consequência natural do respeito ao período em que ocorrer sua geração.

5.6 Princípio da prudência

O Princípio da prudência determina a adoção do menor valor para os componentes do

ativo e do maior para os do passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas

para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o Patrimônio Líquido.

O Princípio da prudência impõe a escolha da hipótese de que resulte menor patrimônio

líquido, quando se apresentarem opções igualmente aceitáveis diante dos demais

6 - A contabilidade e os seus usuários

Os usuários da contabilidade são divididos em duas grandes secções: tanto podem ser

internos como externos.

Os usuários internos podem ser os sócios ou acionistas, administradores e outros

responsáveis pelo processo decisório, e até mesmo os empregados da empresa. São

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considerados usuários externos os investidores, fornecedores, governo, enfim todos que

observam as demonstrações de forma sintética.

De acordo com Iudícibus (2004), a contabilidade tem sido aplicada a qualquer tipo de

pessoas, físicas ou jurídicas, que tenham a necessidade de exercer atividades econômicas para

alcançar seus objetivos com ou sem finalidade lucrativa. Os sócios, acionistas e proprietários

de quotas societárias de forma geral têm o interesse na rentabilidade e segurança de seus

investimentos, informações sintéticas.

Os administradores e executivos buscam com as demonstrações contábeis certas

informações sobre diversos aspectos da gestão financeira e econômica da empresa, fato que os

ajudam na tomada de decisões, e nos planejamentos futuros.

7 - O Profissional Contábil

O profissional da área de contabilidade destaca-se cada vez mais no cenário

econômico do país devido a sua importância para a mensuração do patrimônio das empresas,

assim como suas mutações. Desta forma, o contador deve ser mais valorizado nos próximos

anos, e também deve desenvolver uma melhor consciência de sua importância.

O contador deve estar no centro e na liderança deste processo, pois, do contrário, seu

lugar vai ser ocupado por outro profissional. O contador deve saber comunicar-se

com as outras áreas da empresa para tanto, não pode ficar com os conhecimentos

restritos aos temas contábeis e fiscais. O contador deve ter formação cultural acima

da média, inteirando-se do que aconteceu ao seu redor, na sua comunidade, no seu

Estado, no país e no mundo. O contador deve participar de eventos destinados à sua

permanente atualização profissional. O contador deve estar consciente de sua

responsabilidade social e profissional (NASI, 1994. p. 5).

No que concerne ao perfil do contabilista, Branco (2003) diz que:

O contabilista deve possuir um perfil e uma formação humanística, uma visão global

que o habilita a compreender o meio social, político, econômico e cultural onde está

inserida, tomando decisões em um mundo diversificado e interdependente. Deve ter

uma formação técnica e cientifica para desenvolver atividades especificas da prática

profissional, com capacidade de externar valores de responsabilidade social, justiça

e ética. Deve ter competência para compreender ações, analisando, criticamente as

organizações, antecipando e promovendo suas transformações, compreensão da

necessidade continuo aperfeiçoamento profissional, desenvolvimento da

autoconfiança e capacidade de transformar. (BRANCO, 2003, p.45).

Os autores acima evidenciam a importância do contador nos dias atuais,

principalmente no processo decisório das empresas, pois seu trabalho serve de instrumento

para análises e tomadas de decisão.

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Sendo o Contador de importância para as empresas o perfil do profissional para este

século, está direcionada para pessoas que tenham iniciativa; coragem; ética; visão de futuro e

criatividade.

8 – Órgãos reguladores da contabilidade no Brasil

8.1 - Conselho Federal de Contabilidade - CFC

O Conselho Federal de Contabilidade foi criado pelo Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de

maio de 1946. O Conselho conta hoje com a participação de 27 conselheiros efetivos e o

mesmo número de suplentes. É o órgão que representa os Conselhos Regionais de

Contabilidade CRCs , situados no país todo, de acordo com a próprio órgão tem os seguintes

objetivos: Orientar, normatizar e fiscalizar o exercício da profissão contábil, por intermédio

dos Conselhos Regionais de Contabilidade, cada um em sua base jurisdicional, nos Estados e

no Distrito Federal.

O CFC contribui bastante no processo de convergência, pois, como cita Girotto (2009,

p.7): “... além de criar (Resolução 1.055/05) e de compor o CPC juntamente com outras cinco

entidades nacionais, faz a homologação dos Pronunciamentos Técnicos. Durante o ano

passado o CFC, realizou uma série de ações, visando à aplicação da nova Lei”. O CFC tem

grande influência no processo de convergência para os padrões internacionais, é uma

“Autarquia Especial de Caráter Corporativista, sem vínculo com a Administração Pública

Federal” segundo matéria publicada no próprio site do CFC.

8.2 - Conselho Regional de Contabilidade – CRC

Os Conselhos Regionais de Contabilidade (CRC) são órgãos que representam a classe

contábil, mais precisamente os profissionais contábeis, de cada região, juntos todos eles são

parte integrante do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Os CRCs de forma geral,

possuem a função de registrar os profissionais da área contábil e as empresas contábeis da

região onde se encontram.

Todos os conselhos regionais de contabilidade possuem a função de fiscalizar,

orientar, acompanhar, disciplinar, os profissionais contábeis e os escritórios devidamente

registrados, frisando sempre pelo seguimento dos princípios éticos e morais, necessários para

o bom desempenho de qualquer profissão. O CRC-MT (2009) ressalta que o Conselho “...

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prima pelo desenvolvimento de ações que fortaleçam e valorizem o profissional de

contabilidade, além de realizar a integração da profissão, intercalasse e com a sociedade”.

8.3 - Banco Central do Brasil – BACEN

O Banco Central do Brasil é uma pessoa jurídica de caráter público, ou seja, é uma

autarquia responsável diretamente pelas políticas monetárias do país, é a principal autoridade

monetária. Antes de sua criação, em 31 de dezembro de 1964, os órgãos responsáveis pelas

políticas monetárias do Brasil eram a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), o

Banco do Brasil e o Tesouro Nacional, atuando no controle monetário, na função de banco do

governo e na emissão de papel-moeda, respectivamente.

Basicamente, as funções do Banco Central do Brasil se concentram na supervisão da

política monetária e cambial do país e na fiscalização do sistema financeiro nacional. De

forma específica, as principais funções do BACEN são:

Emissão de papel moeda;

Recebimento dos recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais;

Realização de operações de redesconto e empréstimos de assistência à liquidez às

instituições financeiras;

Formulação, execução e acompanhamento da política cambial e de relações

financeiras com o exterior;

Organização, disciplinamento e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional, do

Sistema de Pagamento Brasileiro e do Sistema Nacional de Habitação e ordenamento

do mercado financeiro.

8.4 - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – IBRACON

O IBRACON quando foi constituído era conhecido pela sigla IAIB, foi criado no dia

13 de dezembro de 1971, depois de algum tempo, houve a troca para a sigla IBRACON, em

1° de julho de 1982. Szuster et al (2008, p. 74) define que o respectivo órgão: “... tem a

função de discutir, desenvolver e aprimorar as questões éticas e técnicas da profissão de

auditor e de contador e, ao mesmo tempo, atuar como porta-voz dessas categorias diante de

organismos públicos e privados e da sociedade em geral”.

O instituto representa os Auditores e contadores que atuam em diversas áreas, assim

como os estudantes de Ciências Contábeis. Foi criado com o objetivo de ser o único

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representante desses profissionais. Alguns órgãos governamentais acompanham o trabalho do

IBRACON, entre eles: CVM, SUSEP e BACEN, em razão de que o Instituto segue princípios

éticos na execução dos trabalhos, e também por ser uma entidade responsável e com

credibilidade, possuindo interesse em proporcionar qualidade nos serviços de classe.

Atualmente o órgão possui como associados mais de dois mil profissionais em todo

País. Outra preocupação do IBRACON é com a formação dos profissionais, em função disso

está sempre realizando cursos, encontros, palestras com o intuito de contribuir para a

qualificação dos profissionais.

8.5 - Comissão de Valores Mobiliários – CVM

A Comissão dos valores mobiliários (CVM) foi criada com a Lei 6.385 de 07 de

dezembro de 1976, e seu artigo 5° dispõe sobre a criação desta autarquia federal. Trata-se de

um órgão oficial do governo responsável pela fiscalização do mercado imobiliário no país. A

CVM é um órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, possui personalidade jurídica, funciona

como o órgão máximo do mercado de valores mobiliários. Sua sede é localizada no Rio de

Janeiro, e possui duas outras representações, uma no estado de São Paulo e outra em Brasília.

A Comissão dos valores Mobiliários é responsável por normatizar, disciplinar e

fiscalizar a atuação dos que participam do mercado de capitais Brasileiro, em suma, tem

poderes para controlar tudo o que acontece no mercado, onde as grandes empresas e as

Sociedades Anônimas se responsabilizam pela emissão de ações e debêntures.

A CVM foi a grande responsável no Brasil pelo processo de convergência às normas

internacionais, no início emitiu alguns pronunciamentos até a publicação de um ofício circular

no dia 25 de fevereiro de 2005, onde já incentivava o País a adotar o modelo que vinha sendo

seguido por alguns países da União Europeia. A partir dessa iniciativa a CVM passou a ser

vista como a responsável pelo amadurecimento da ideia da harmonização das normas no

Brasil com as normas emitidas pelo IASB.

09 - Contabilidade Internacional

Não se tem uma data pré-definida para início dos primeiros estudos sobre

Contabilidade Internacional.

Na literatura mundial, não há uma data exata que defina o início dos estudos sobre

Contabilidade Internacional, mas pode-se traçar uma linha divisória por volta de

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1950-1960, após o término da Segunda Guerra Mundial e o restabelecimento do

comércio internacional mundial. (NIYAMA, 2007, p. 21)

Cada nação possui seus princípios, regras, postulados, normas e legislações pertinentes

às demonstrações contábeis, ou seja, significa dizer que a forma de escrituração de cada país e

os procedimentos contábeis são diferentes de um para o outro, em razão de suas

particularidades e realidade.

Com o crescimento e expansão do mercado de capitais entre diversas nações, com o

passar dos anos, foi se observando a necessidade de apresentação de demonstrativos contábeis

de forma harmoniosa perante todos.

Desta forma começou a se pensar em harmonização contábil. Porém a harmonização

contábil implica dizer que, é manter as particularidades de cada país, mas buscando ao mesmo

tempo unir os aspectos contábeis e criar um modelo a ser seguido por todos, que visa à

informação e compreensão de todos os mesmos modelos a serem seguidos, para que desta

maneira as demonstrações contábeis produzidas em países da Europa sejam entendidas por

brasileiros e Americanos, ou o contrário.

Conforme descreve Niyama (2007, p. 40) “A busca de uma harmonização contábil

internacional tem envolvido iniciativas de diversos organismos em nível mundial, bem como

esforços de algumas entidades profissionais de classe, de âmbito regional...”.

No mundo inteiro existem diversos órgãos envolvidos que se uniram com o intuito de

criar um padrão a ser seguido internacionalmente. Diversos órgãos se preocuparam com as

divergências nas informações contábeis existentes no planeta, e tentam fazer com que essas

informações sejam de fácil entendimento entre as empresas. Pode-se citar como organizações

empenhadas nesse processo o International Accounting Standards Board (IASB) e o Financial

Accounting Standards Board (FASB).

Segundo menciona Carvalho (apud GIROTTO 2009, p. 13) 38 “A Europa por meio da

Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, sediados em Bruxelas, deliberou em 2000 que

as cerca de sete mil companhias abertas da União Europeia passariam a adotar as normas

internacionais IFRS a partir de 2005”.

De acordo como descreve a KPMG Risk Advisory Services Ltda. (2008, p. 04) “Desde

1° de janeiro de 2005, data oficial de implementação das normas internacionais, diversos

países aderiram a esse padrão contábil e outros têm implementado programas de convergência

entre suas normas locais e as IFRS...”

Países da União Européia iniciaram as práticas de adoção dos IFRS a partir do ano de

2000, finalizando 5 anos depois. Isso faz com que haja globalização também na área contábil.

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International Accouting Standards Committee – IASC (Comitê de Pronunciamentos

Contábeis) O IASC foi criado em 1973, mais precisamente em 29 de junho do referido ano,

pelos organismos profissionais da Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos da América,

França, Irlanda, Japão, México, Holanda e Reino Unido.

Já em 1973, se pensava em contabilidade globalizada, padrões mundialmente aceitos

de demonstrações contábeis. O que se tornou realidade muito tempo depois, no entanto o

IASC, emitia seus pronunciamentos através das International Accouting Standards (IAS).

Em 1997, foi criado o Standing Interpretations Committee (SIC), que são as primeiras

interpretações emitidas pelo IASC, cujo objetivo é “... a necessidade de considerar algumas

questões contábeis que possam receber tratamento contábil divergente ou inaceitável, devido

à falta de orientação oficial no local.” (SANTOS, SCHMIDT e FERNANDES, 2007, p.12).

Com o passar do tempo, a Fundação IASC, verificou a necessidade de criar o

International Accouting Standards Board (IASB) para assumir as responsabilidades técnicas

da Fundação, porém quem tem o poder de nomear os membros do IASB é a IASC. 40 2.3.2

International Accouting Standards Board – IASB (Conselho de Padrões Contábeis

Internacionais) Atualmente o IASB é o órgão responsável pela emissão de padrões

internacionais de contabilidade, suas normas têm sido adotadas por mais de cem países no

mundo e pelos países que fazem parte da União Europeia.

É um órgão independente do setor privado que se destina ao estudo de padrões

contábeis, com sede em Londres, Grã-Bretanha. É formado por um Conselho de

Membros, constituído por representantes de mais de 140 entidades profissionais de

todo o mundo, inclusive o Brasil, representado pelo Instituto Brasileiro de

Contadores (IBRACON) e Conselho Federal de Contabilidade (CFC). (NIYAMA,

2007 p.40)

É de grande valia para o Brasil ter como participantes do IASB o IBRACON e o CFC,

assim facilitam o intercâmbio de informações. Segundo Niyama (2007 p.41), o IASB tem os

seguintes objetivos de acordo com sua constituição:

a) desenvolver, no interesse público, um único conjunto de normas contábeis

globais de alta qualidade, inteligíveis, exequíveis, que exijam informações de

alta qualidade, transparentes e comparáveis nas demonstrações contábeis e em

outros relatórios financeiros, para ajudar os participantes do mercado de capital

e outros usuários em todo o mundo a tomar decisões econômicas; b) promover o

uso e a aplicação rigorosa dessas normas; e c) promover a convergência entre as

normas contábeis locais e as Normas Internacionais de Contabilidade de alta

qualidade.

O IASB é o comitê responsável por editar as IFRS International Financial Reporting

Standards, que são os mais recentes pronunciamentos emitidos pelo comitê, cujo objetivo e de

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elaborar e publicar as IFRS, que já são aderidas por diversos países, que adotaram essas

normas em harmonia com as normas de seus países, a fim de tornar as normas contábeis de

um determinado país, por exemplo, entendidas por usuários das demonstrações contábeis de

outros países, facilitando as informações, e tornando assim também globalizada a

contabilidade.

O conjunto de normas e interpretações técnicas que compõem as IFRS é formado

pelas IAS, que são os primeiros pronunciamentos emitidos pelo IASC, juntamente com as

SIC, as primeiras interpretações também emitidas pelo IASC e pelas IFRS que é o nome dado

aos pronunciamentos emitidos pelo IASB, juntamente com as IFRIC, que são os mais

recentes pronunciamentos emitidos pelo referido órgão.

10 - IFAC (Federação Internacional de Contadores)

O IFAC é o representante da classe contábil em nível mundial.

Trata-se de uma organização mundial que representa a profissão contábil. É de

natureza não governamental, sem fins lucrativos e não política, sediada em Nova

York (Estados Unidos da América), com participação de 157 membros (o Brasil é

representado pelo Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON) e pelo Conselho

Federal de Contabilidade (CFC), representando 118 países e quase 2,5 milhões de

Contadores. (NIYAMA, 2007 p.42).

O IFAC funciona como uma organização responsável pelo relacionamento dos

profissionais contábeis, dentre suas diversas atribuições. É responsável também para

representar publicamente a profissão contábil quando o interesse é público.

Sua missão é a de estreitar o relacionamento da profissão contábil em nível mundial,

atendendo à demanda de interesse público, contribuir para o desenvolvimento da

economia internacional, estabelecendo e promovendo aderência â elevada qualidade

técnica dos padrões profissionais (além de buscar convergência internacional desses

padrões) e, finalmente, representar a profissão em assuntos de interesse público.

(NIYAMA, 2007 p. 43)

11 - IOSCO (Organização Mundial das Comissões de Valores Mobiliários).

O IOSCO apresenta a característica de funcionar como um supervisor do mercado de

capitais, promovendo a interação e regulamentação das normas e informações do mercado de

capitais. De acordo com Niyama (2007, p.46) a função do órgão é:

a) cooperar para a promoção de altos padrões de regulamentação do mercado de

capitais, de modo a refletir um mercado justo, eficiente e sadio;

b) promover troca de informações ou outras experiências para o desenvolvimento do

mercado de capitais “domésticos”;

c) estabelecer padrões e efetivo monitoramento de transações internacionais,

envolvendo títulos; e

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d) promover a integridade do mercado, mediante uma rigorosa aplicação de padrões

regulatórios.

Ainda Niyama (2007, p. 46) ressalta que “A IOSCO, em sua reunião anual de 1995

(Tóquio), endossou a obrigatoriedade de adoção das normas internacionais de contabilidade

editadas pelo IASB pelas companhias que transacionam no mercado de capitais”. A CVM é o

representante do país nas reuniões regulares da IOSCO.

12 - SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos)

A SEC – Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos - surgiu logo após o

grande Crash de 1929, quando as bolsas americanas quebraram dando início à grande

depressão americana que durou doze anos.

Desta forma, em 1934 foi criado a SEC como uma agência federal norte americana

que viria a regulamentar o mercado de ações para evitar uma nova recessão econômica. O

poder da SEC ia desde assuntos relacionados à emissão de novas ações e a negociação destas

até a fiscalização das companhias listadas na bolsa americana e as corretoras de valores.

Este órgão é formado por cinco comissários que devem ser indicados pelo presidente

além de aprovados no Senado com mandatos de cinco anos. A divisão também deve respeitar

a regra de que não pode haver mais de três comissários de um mesmo partido para que não

aconteça um jogo de interesse partidário.

A comissão de valores mobiliários americana possui tamanha relevância que ela detém

o poder de aplicar penas aos indivíduos e empresas que cometerem algum tipo de infração as

suas leis.

13 - FASB (Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira)

O FASB é um órgão do setor privado, formado por pessoas que não possuem nenhuma

ligação com o mercado de capitais. Foi constituído no ano de 1973 e é o responsável pelas

normas contábeis nos Estados Unidos.

Quem detém a autonomia formal de criação das normas e procedimentos a serem

seguidos pelos contabilistas nos EUA é a SEC, porém, ela transferiu os poderes ao FASB, que

hoje é o órgão cuja função é a emissão de padrões contábeis a serem seguidas por todos.

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Os pronunciamentos emitidos pelo FASB são denominados SFAS, porém para que

seja emitido tal pronunciamento o FASB, através de seus membros, colhe opiniões do

público, analisa e depois de avaliado acontece a emissão.

Para a emissão das Statement of Financial Accouting Concepts (SFAS) são

consultados diversos profissionais, e os procedimentos são diversos, primeiro passa pela

consultoria, depois é colocado em audiência pública para questionamentos e sugestões antes

de serem emitidos os pronunciamentos definitivamente.

14 – A globalização e a necessidade dos países em harmonizar as suas leis

As últimas duas décadas foram responsáveis por mudanças no comportamento

humano nunca vistas nos 11 mil anos de história da espécie. Uma imensa evolução na área

tecnológica e dos transportes aconteceu após a invenção do avião, do computador e da

internet.

Globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras e de investimentos

pelo mundo afora. Além disso, ela foi definida como um sistema cultural que

homogeneíza, que afirma o mesmo a partir da introdução de identidades culturais

diversas que se sobrepõem aos indivíduos. Por fim, houve quem afirmasse estarmos

diante de um cidadão global, definido apenas como o que está inserido no universo

do consumo, o que destoa completamente da ideia de cidadania (Ribeiro, 1995,

p.56).

Na política, nações fechadas foram obrigadas a se abrir, e países com regras e leis

arcaicas e ultrapassadas se viram obrigados a modernizar-se em prol do desenvolvimento

social e econômico.

De acordo com Niyama e Silva (2008), a expansão das relações comerciais e

internacionais no cenário globalizado, a necessidade de investimento e o avanço tecnológico

que permite fácil acesso à informação, exige uma linguagem em comum entre os países

estabelecendo padrões contábeis uniformes.

O Brasil possuía uma lei que regulava as sociedades por ações com mais de 30 anos, e

quando a globalização da informação e do investimento do capital estrangeiro começava a

deixar o país para trás na corrida capitalista, o legislador brasileiro não teve outra saída a não

ser modernizar a lei contábil, convergindo para uma harmonização internacional que já

acontecia há anos.

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14.1 - Modelos contábeis

Existem dois grandes sistemas contábeis que, desde o mercantilismo, influenciam a

área no contexto mundial: O modelo Anglo-Saxônico e o modelo da Europa continental. O

primeiro é adotado por países como Grã-Bretanha, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos,

Índia, Canadá, Malásia, África do Sul e Cingapura, e possui profissão forte e atuante, sólido

mercado de capitais, pouca influência do governo na definição de práticas contábeis e busca

atender primeiro os investidores. Já o segundo modelo é adotado por nações como França,

Alemanha, Itália, Japão, Bélgica, Espanha, Brasil e maior parte dos países da América do Sul,

e possui profissão fraca e pouco atuante, forte influência governamental na definição de

práticas contábeis, bancos e governos são os principais usuários e o mercado de capitais não é

a principal fonte de captação pelas empresas (NIYAMA, 2005).

Com a pluralidade de opiniões e do pensamento humano, é impossível uma

padronização das normas contábeis no mundo inteiro. Cada mercado age de uma maneira

diferente.

A Contabilidade enquanto ciência social está sujeita às grandes influências do

ambiente em que atua, sendo que as práticas contábeis são fortemente afetadas pelos

valores culturais, tradição histórica, estrutura política, econômica e social. Dessa

forma, os sistemas contábeis se diferenciam de acordo com o conjunto de leis,

filosofias, procedimentos e objetivos de cada país (NIYAMA, 2007, p.88).

Devido a este problema, os países buscam uma harmonização com as regras definidas

pelos dois grandes sistemas contábeis, e o Brasil tem sua contabilidade influenciada

principalmente pela escola Europeia, mas sua lei de sociedade por ações possuem trações de

influência definidos pela escola Anglo-saxônica.

Com a necessidade de órgãos que normatizem estas regras, surgiu em 1973 o IASB

(International Accouting Standard Board). Após uma reestruturação em 2001, o órgão do

modelo Europeu surge com a missão de orientar e regular a convergência das normas

contábeis dos países. Surgem então a partir de 2003 os IFRS (International Financial

Reporting Standard).

Niyama (2005) afirma que o IASB (International Accounting Standards board) tem

sua sede em Londres e é o órgão responsável, desde 2001, pela emissão das International

Financial Reporting Standards (IFRS). O IASB teve como antecessor o International

Accouting Standards Committee (IASC), fundado em 1973 e responsável pela emissão de um

conjunto de 41 IAS - International Accounting Standards, nome dado anteriormente às IFRS.

Entre os objetivos do IASB, está o de desenvolver um único conjunto de normas contábeis

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globais de alta qualidade, transparentes e comparáveis, que ajudem os usuários em todo o

mundo a tomar decisões econômicas.

15 – Alterações causadas pelas leis 11.638/2007 e 11.941/2009 na lei 6.404/1976

As principais mudanças trazidas pela atualização da antiga lei das sociedades por

ações (6.404/76) ocorreram nas demonstrações contábeis das empresas.

Demonstrações Financeiras ou Contábeis são relatórios elaborados com base na

escrituração mercantil mantida pela entidade, com a finalidade de apresentar aos

diversos usuários informações principalmente de natureza econômica e financeira,

relativas à gestão do patrimônio ocorrida durante um exercício social (Ribeiro, 2008

p.37).

Visando atender as necessidades dos usuários externos com interesse em investir no

País, a lei 11.638/2007 incluiu, excluiu e modificou algumas das demonstrações mais

conhecidas. Com essas modificações, as demonstrações de filiais de grandes multinacionais

com investimentos no Brasil ficaram mais coerentes com as demonstrações de suas matrizes,

facilitando assim o processo decisório dos executivos destas corporações no que se diz

respeito à viabilidade e a continuidade do investimento.

Financial reporting está relacionado com o usuário da informação. Nesse sentido, as

informações requeridas por investidores (acionistas) são diferentes daquelas

requeridas por credores e Governo. ™ Países com sólido mercado de capitais

tendem a ser mais transparentes até por exigência dos investidores. Por outro lado,

países com captação de recursos via bancos e Governo caracterizam-se por forte

tradição de segredo profissional e como consequência, pouca transparência aos

usuários (Niyama, 2008, p.53).

As principais mudanças ocorridas nas demonstrações financeiras foram: Substituição

da Doar (Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos) pela DFC (Demonstração de

Fluxo de Caixa) e inclusão da DVA (Demonstração do Valor Adicionado).

Então, segundo Ribeiro (2008), as Demonstrações Financeiras exigidas por lei a partir

de 1º de janeiro de 2008 são:

Balanço Patrimonial (BP);

Demonstração do Resultado do Exercício (DRE);

Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA);

Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL);

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Demonstrações de Fluxo de Caixa (DFC);

Demonstrações do valor Adicionado (DVA)

Desta forma, as principais mudanças trazidas com a nova lei são:

Balanço de abertura

Nova classificação das contas de Ativo e Passivo

Restrição e extinção do ativo diferido

Extinção do grupo Resultados de Exercícios Futuros

Nova classificação das contas

Cálculo da depreciação dos bens do Imobilizado

Criação do Ativo Intangível

Reserva de reavaliação

Operações de arrendamento mercantil

Ajustes de avaliação patrimonial

Manutenção de saldo positivo na conta de Lucros Acumulados, sem destinação

Extinção de contas de Reservas de Capital e nova forma de registro dos prêmios na

emissão de debêntures, dos incentivos e subvenções fiscais e das doações em contas

de resultado

Fim da segregação das receitas e despesas em operacionais e não operacionais

Elaboração da Demonstração dos Fluxos de Caixa

Elaboração da Demonstração do Valor Adicionado

Regime Tributário de Transição

Ajuste a Valor Presente

Adiantamento para Futuro Aumento de Capital (AFAC)

Classificação do Ativo e do Passivo em "Circulante" e "Não Circulante";

Extinção do grupo Ativo Permanente;

Restrição ao longo do exercício de 2008 e extinção, na data de 05.12.08, do subgrupo

"Ativo Diferido";

Criação do subgrupo "Intangível" no grupo do Ativo Não Circulante;

Proibição da prática da reavaliação espontânea de ativos;

Aplicação, ao final de cada exercício social, do teste de recuperabilidade dos ativos

(teste de impairment);

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Registro, em contas de ativo e passivo, dos contratos de arrendamento mercantil

financeiro (leasing);

Extinção do grupo Resultados de Exercícios Futuros;

Criação, no Patrimônio Líquido, da conta de "Ajustes de Avaliação Patrimonial";

Destinação do saldo de Lucros Acumulados;

Alteração da sistemática de contabilização das doações e subvenções fiscais,

anteriormente contabilizadas em conta de Reserva de Capital;

Alteração da sistemática de contabilização dos prêmios nas emissões de debêntures,

anteriormente contabilizados em conta de Reserva de Capital;

Extinção da classificação das Receitas e Despesas em Operacionais e Não

Operacionais;

Substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela

Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) no conjunto das Demonstrações Contábeis

obrigatórias;

Obrigatoriedade da elaboração da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) pelas

Companhias Abertas;

Criação do Regime Tributário de Transição (RTT);

Implantação da apuração do Ajuste a Valor Presente de elementos do ativo e do

passivo.

16 – Lei 11941/2009

A partir de 2008, a lei societária nº 6.404/76 sofreu grandes alterações, a começar pela

Lei 11638/07 e pela Medida Provisória nº 449/08, convertida na Lei nº 11.941/09, quando

foram incluídos novos métodos e conceitos contábeis e fiscais, com o intuito de harmonizar as

normas contábeis adotadas em nosso país no que se diz respeito à elaboração de suas

demonstrações aos padrões internacionais de contabilidade, recepcionando assim a

transparência internacional de regras e informações contábeis a serem observadas por todas as

companhias abertas e pelas empresas de grande porte.

Dessa forma, foi extinta a DOAR (demonstração das origens e aplicações de recursos)

e criada a DFC (demonstração dos fluxos de caixa) e a DVA (demonstração do valor

adicionado). Também foi significativamente alterada a classificação dos grupos e subgrupos

de contas do balanço patrimonial. O ativo e o passivo foram divididos em dois grandes grupos

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de contas: circulante e não circulante. Foram extintos os seguintes grupos, subgrupos e

contas: Ativo permanente, ativo diferido, passivo realizável a longo prazo, resultado de

exercício futuro, reserva de reavaliação, lucros e prejuízos acumulados.

Foram criados os subgrupos e contas: "Intangível" no Ativo e "Prejuízos Acumulados"

e "Ajustes de Avaliação Patrimonial" no Patrimônio Líquido. Na Demonstração de Resultado

do Exercício (DRE) foi excluído o grupo Resultados Não Operacionais, adotando-se a

nomenclatura de "Outras Receitas" e "Outras Despesas". As contas representativas de Prêmios

na Emissão de Debêntures e Doações Subvenções para Investimentos, antes de comporem as

Reservas de Lucros, agora devem transitar pelo resultado do exercício.

Também houveram diversas alterações no que diz respeito ao registro de bens no

Ativo Imobilizado. Pelo que foi alterado, também houve mudança na classificação no ativo

imobilizado os direitos que tenham por objeto bens corpóreos decorrentes de operações que

transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens, como é o caso, por

exemplo, do leasing financeiro, o qual não pode mais ser registrado como despesa, devendo

assim ser ativado.

Outra importante mudança feita pela Lei 11.941/09 foi a que trata dos critérios de

avaliação do Ativo e do Passivo, concebendo-se assim os conceitos de valor justo, que

enfatiza a questão da essência sobre a forma, de valor recuperável de ativos e de valor

presente.

Foram dados poderes para a Comissão de Valores Mobiliários para estabelecer normas

especiais de avaliação e contabilização aplicáveis à aquisição de controle, participações

societárias ou negócios, ou seja, a CVM pode criar novos "Critérios de Avaliação em

Operações Societárias".

Dessa forma, o artigo 243 da Lei das Sociedades anônimas também foi alterado para

positivar um antigo conceito de sociedade coligada que há muito já se encontrava consolidado

pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, que diz: "são coligadas as sociedades nas quais

a investidora tenha influência significativa", ou seja, agora, para uma sociedade se

considerada como coligada basta saber se o investimento da investidora tem ou não influência

significativa na investida.

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Tal influência significativa pode ter como características alguns pontos, como por

exemplo o fato de a investidora ter total poder de decisão financeira ou operacional, sem

controlar de forma individual ou conjunta essas políticas, ou então pelo fato de a investidora

ser titular de um quinto ou mais do capital da investida. A novidade é que a figura da

influência significativa dos investimentos agora se revela também pela via da presunção legal.

Já o conceito de sociedade controlada não foi alterado.

Dessa forma, o novo rol de sociedades sujeitas ao método de equivalência patrimonial

passou a ser: sociedades controladas (nada mudou), sociedades coligadas (todas as sociedades

que a investidora tenha influência significativa) e outras sociedades que façam parte de um

mesmo grupo ou estejam sob controle comum.

As novas regras do Regime tributário de transição têm o mesmo papel e objetivo que o

antigo decreto lei nº 1.598/77 tinha em relação à Lei nº 6.404/76, quando foram criados os

ajustes ao lucro contábil no Livro de Apuração do Lucro Real - LALUR, sendo que, desta

feita, foi instituído o Controle Fiscal Contábil de Transição.

O Controle Fiscal Contábil de Transição é uma escrituração obrigatória das contas

patrimoniais e de resultado, em partidas dobradas, que considera os métodos e critérios

contábeis aplicados pela legislação tributária, vigentes em 31 de dezembro de 2007, a qual

não substitui o LALUR nem qualquer outro controle ou memória de cálculo. O assunto

encontra-se disciplinado pelas Instruções Normativas da Receita Federal do Brasil - RFB nº

949/09 e 967/09.

17 – As novas leis e a padronização da linguagem contábil no Brasil

As Leis nº 11.638, de 2007 e 11.941, de 2009 trouxeram importante alteração no

sentido de dar sustentação legal às normas contábeis expedidas pela Comissão de Valores

Mobiliários - CVM e demais órgãos reguladores. Isso obrigou os órgãos responsáveis pelas

normas contábeis a falarem a mesma língua, ou seja, atualmente, a CVM, o Banco Central,

agências reguladoras (ANATEL, ANEL, ANS, SUSEP, etc.), devem observar as regras

internacionais de contabilidade introduzidas pelas referidas leis e referendadas pelo Comitê de

Pronunciamentos Contábeis.

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Tais mudanças também serviram para prestigiar e valorizar o trabalho dos contadores

e auditores, os quais, até então, não vinham tendo a devida importância nas políticas de

transparência das informações contábeis e financeiras das sociedades e das grandes empresas.

Agora, espera-se, ao menos, um resultado mais prático dessas mudanças: que os

departamentos jurídicos e de contabilidade das sociedades possam trabalhar com mais

sintonia e harmonia, quando da elaboração de suas demonstrações financeiras.

17.1 - Balanço patrimonial antes e depois da nova lei

O Balanço Patrimonial (BP) é a demonstração contábil que evidencia em determinada

data, a posição patrimonial e financeira da entidade. (RIBEIRO, 2008, p.39).

Segundo Santos (2000), o balanço patrimonial é assim definido pelas duas leis:

Lei 6.404/76 Lei 11.638/2007

Ativo:

Ativo circulante

Ativo realizável em longo prazo

Ativo permanente

Investimento

Imobilizado

Diferido

Ativo:

Ativo circulante

Ativo não circulante

Ativo realizável em longo prazo

Investimentos

Imobilizado

Intangível

Passivo:

Passivo circulante

Passível exigível em longo prazo

Resultados de exercícios futuros

Passivo:

Passivo circulante

Passivo não circulante

Patrimônio líquido:

Capital social

Reservas de capital

Reserva de reavaliação

Reservas de lucros

Lucros acumulados

Prejuízos acumulados

Patrimônio líquido:

Capital social

Reservas de capital

Ajustes de avaliação patrimonial

Reservas de lucros

Ações em tesouraria

Prejuízos acumulados

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Analisando as duas estruturas acima, podemos concluir que houveram de fato grandes

mudanças na estrutura desta demonstração, onde o Ativo permanente desaparece a partir de

2008, assim como o Ativo diferido que deixa de existir dando lugar ao Intangível. A partir da

mudança da lei em 2008, percebemos também que o Ativo não circulante começa a fazer

parte do Ativo no balanço patrimonial. No passivo a conta Resultado de exercícios futuros

desaparece, assim como lucros acumulados e reservas de reavaliação no patrimônio líquido,

dando lugar a Ações em tesouraria.

17.2 - Demais demonstrações após a nova lei

Além do balanço patrimonial, algumas demonstrações contábeis sofreram

modificações após a lei 11.638, entre elas a DRE:

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) consiste na demonstração das

receitas e despesas referentes ao exercício social. Evidencia o resultado econômico,

o lucro ou prejuízo obtido pela empresa no período. A DRE já constava na Lei

6.404/76, apenas foi incluída uma nova linha com “Participações de debêntures de

empresas e administradores e de instituições” ou “Fundos de assistência de

previdência de empregados”. (DIAS e CALDARELLI, 2008, p.13).

A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) evidencia o destino

dado ao lucro líquido ao fim do exercício. Após a modificação da lei, a conta Lucros ou

Prejuízos Acumulados foi excluída do Patrimônio Líquido. Sendo assim, após a nova lei, o

Lucro líquido deve ser destinado a compensar prejuízos, constituir reservas de capital, ou ser

distribuído entre os sócios.

A obrigatoriedade da DLPA continua, mesmo com a exclusão de suas contas

principais, pois seu disposto não foi alterado e esta pode continuar a evidenciar as mutações

das outras contas a que o Lucro Líquido possa se destinar.

A DMPL (Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido) tem como principal

objetivo evidenciar todas as variações ocorridas no Patrimônio Líquido durante o exercício

social. A DMPL já existia na lei 6.404/76, e não havia uma estrutura para a mesma

continuando assim após 2008, portanto as empresas podem montar sua estrutura.

A Doar (Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos) foi substituída pela

DFC (Demonstração de Fluxo de Caixa).

A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) tem como preceito evidenciar as mudanças

que ocorrerem durante o exercício, e que provoquem alterações na conta Caixa. Também não

foi definido pela lei 11.638 um modelo no que diz respeito à estrutura desta demonstração.

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A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) busca evidenciar o quanto de riqueza

a empresa possui, o quanto foi agregado e de que maneira foi distribuída esta

riqueza entre governos, sócios, empregados, entre outros. (DIAS e CALDARELLI,

2008, p.21).

A DVA foi introduzida pela Lei 11.638, mas não regulamenta sua estrutura, deixando

a cargo de instituições regulamentadoras e das empresas os itens que integrarão a mesma.

18 – Guararapes Confecções S.A

18.1 - Do início aos dias atuais

O mercado de confecções no Nordeste brasileiro começava a se desenvolver no

período pós-guerra, onde o jeans e outras malhas de origem americana se tornavam moda e

invadiam o mundo. Foi com essa visão que os irmãos Nevaldo e Newton Rocha abriram sua

primeira loja de roupas chamada "A Capital", em Natal-RN.

Procurando expansão, os irmãos decidiram investir na capital pernambucana, onde

adquiriram vários pontos de vendas.

Foi então que em outubro de 1956, os irmãos Rocha fundaram a Guararapes, em

Recife-PE. Dois anos depois, sua matriz foi transferida para Natal, com a inauguração de sua

primeira fábrica, que possuía quase 3.000 metros quadrados de área.

No mesmo período em que foi criada a cadeia de lojas Super G, por volta do início dos

anos 70, o capital da empresa foi aberto, e 6 anos depois foram construídas as fábricas de

Fortaleza e de Mossoró.

Em meados de 1979, a Guararapes confecções adquiriu as lojas Riachuelo e Wolens,

expandindo sua atuação para o varejo têxtil, área responsável pelo maior crescimento do

Grupo atualmente. Nesse mesmo ano, foi inaugurada a Guararapes Têxtil em Natal, com

40.000 metros quadrados de área construída.

Com mais de 150 mil metros quadrados de área construída, a unidade fabril de Natal

foi transferida e ampliada para o distrito industrial de Extremoz em 1997. Esta unidade foi

responsável pela produção da malharia do Grupo e por parte da camisaria, enquanto as três

unidades fabris de Fortaleza produziam tecido plano.

Com forte investimento em pesquisa e desenvolvimento no processo de distribuição, a

Guararapes aperfeiçoou de maneira exponencial o seu timing entre o desenvolvimento do

produto e a entrega nas lojas.

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Nos dias atuais, o grupo conta com três centros de distribuição, que se encontram em

Extremoz, Guarulhos e Manaus, que juntos somam quase 150 mil metros quadrados de área

fabril.

Além da Riachuelo, o Grupo é proprietário da Midway Financeira, do Shopping

Midway Mall e da Transportadora Casa Verde. A partir de 2008, toda a produção têxtil da

Guararapes passou a ser direcionada para as lojas Riachuelo.

A Guararapes confecções hoje é o único grupo a integrar as três vertentes de seu

negócio: varejo, indústria e financeira, pois mantém a gestão integrada entre varejo e

confecção juntamente com sua operação financeira, direcionando todos os seus esforços na

busca de um máximo global em todas as suas operações.

19 – Demonstrações contábeis da Guararapes Confecções S.A antes e depois das leis que

modificaram a contabilidade no Brasil:

É objetivo desta pesquisa a comparação das demonstrações da referida empresa antes e

depois das leis que modificaram a contabilidade societária no nosso País. Desta forma, serão

reproduzidas as demonstrações da Guararapes Confecções S.A no ano de 2007 e 2008, a fim

de que se chegue ao objetivo pretendido, que é saber se a empresa adaptou ou não suas

demonstrações à nova lei.

Por se tratar de uma empresa sociedade anônima, com capital aberto e com ações na

bolsa de valores do Estado de São Paulo (BOVESPA), não houveram dificuldades para o

acesso à tais demonstrações, onde as mesmas serão reproduzidas abaixo, e logo após será feita

a análise final, onde saberemos, enfim, se as demonstrações já trouxeram as modificações

exigidas pela nova lei.

19.1 – Balanço Patrimonial – Guararapes Confecções S.A

ATIVO – Guararapes confecções S.A (Reais Mil.):

Conta 31/12/2007 31/12/2008

Ativo total 1.531.197 1.567.019

Ativo circulante 455.689 538.958

Disponibilidades 103.644 7.019

Créditos 266.137 401.714

Clientes 199.238 375.858

Créditos diversos 66.899 25.856

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Impostos/contribuições a recuperar 36.538 6.515

Contas a receber de controladas 30.361 19.341

Estoques 82.465 122.562

Outros 3.443 7.663

Ativo não circulante 1.075.508 1.028.061

Ativo realizável em longo prazo 1.508 13.854

Créditos diversos 1.508 2.527

Créditos com pessoas ligadas 0 11.327

Com coligadas e equiparadas 0 0

Com controladas 0 11.327

Com outras pessoas ligadas 0 0

Outros 0 0

Ativo permanente 1.074.000 1.014.207

Investimentos 953.628 882.950

Part. coligadas/equiparadas 0 0

Part. coligadas/equiparadas-Ágio 0 0

Participações em controladas 783.470 710.122

Participações em controladas-Ágio 0 0

Outros investimentos 170.158 172.828

Imobilizado 120.311 131.192

Intangível 61 65

Diferido 0 0

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

PASSIVO – Guararapes Confecções S.A (Reais Mil):

Conta 31/12/2007 31/12/2008

Passivo total 1.531.197 1.567.019

Passivo circulante 153.523 159.680

Empréstimos e financiamentos 134 184

Debêntures 0 0

Fornecedores 45.454 47.027

Impostos, taxas e contribuições 49.832 50.765

Dividendos a pagar 44.980 29.461

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Provisões 4.546 26.474

Dívidas com pessoas ligadas 0 0

Outros 8.577 5.769

Passivo não circulante 108.574 33.727

Passivo exigível a longo prazo 108.574 33.727

Empréstimos e financiamentos 0 0

Debêntures 0 0

Provisões 0 14.149

Dívidas com pessoas ligadas 67.961 9.429

Adiantam. futuro aum. capital 0 0

Outros 40.613 10.149

CSLL 36.054 10.149

Impostos/contribuições diferido 4.559 0

Result. de exercícios futuros 0 0

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

PATRIMÔNIO LÍQUIDO – Guararapes Confecções S.A (Reais Mil):

Conta 31/12/2007 31/12/2008

Patrimônio Líquido 1.269.100 1.373.612

Capital social realizado 1.000.000 1.200.000

Reservas de capital 56.749 0

Reservas de reavaliação 0 0

Ativos próprios 0 0

Controladas/coligadas/equiparadas 0 0

Reservas de lucro 212.351 173.612

Legal 45.706 51.737

Estatutária 0 0

Para contingências 0 0

De lucros a realizar 0 0

Retenção de lucros 166.645 121.875

Esp. dividendos não distribuídos 0 0

Outras reservas de lucros 0 0

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Lucros acumulados 0 0

Prejuízos acumulados 0 0

Adiantam. futuro aum. de capital 0 0

Incentivo fiscal – IR 0 0

Ajustes de avaliação patrimonial 0 0

Ajustes títulos/valores mobiliários 0 0

Ajustes acumulados de conversão 0 0

Ajustes de conversão de negócios 0 0

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

19.2 – Demonstração do resultado do exercício (DRE) da Guararapes Confecções S.A

antes e depois da mudança da lei da contabilidade societária:

Utilizando se da mesma metodologia no balanço patrimonial acima, reproduziremos a

DRE da Guararapes confecções em uma tabela contendo os resultados de 2007 e 2008 da

empresa, ou seja, antes e depois da mudança da lei, a fim de que tenhamos em mãos dados

suficientes para a comparação objeto desta pesquisa:

Demonstração do resultado do exercício - Guararapes Confecções S.A

DRE – Guararapes Confecções S.A (Reais Mil):

Conta 31/12/2007 31/12/2008

Receita Bruta de vendas e/ou serviços 665.525 959.576

Deduções da receita bruta (105.085) (150.107)

Receita líquida de vendas e/ou serviços 560.440 809.469

Custo de bens e/ou serviços vendidos (378.649) (546.713)

Resultado Bruto 181.791 262.756

Despesas / Receitas operacionais 69.514 16.345

Com vendas (21.890) (25.933)

Gerais e administrativas (44.356) (56.007)

Financeiras 10.409 (484)

Receitas financeiras 29.098 10.224

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Despesas financeiras (18.689) (10.708)

Outras receitas operacionais 81.321 105.787

Aluguéis de imóveis 67.008 58.434

Incentivo do imposto de renda 0 45.801

Recuperação de créditos eventuais 13.335 1.210

Ganhos em baixa no imobilizado 61 140

Receitas de luvas 917 202

Outras despesas operacionais (12.675) (11.783)

Depreciação de imóveis (6.211) (6.359)

PIS, Cofins (6.283) (5.424)

Perdas na baixa de investimentos (181) 0

Condomínio e eventuais 0 0

Resultado da equivalência patrimonial 32.449 (27.925)

Resultado operacional 227.049 246.411

Resultado não operacional 0 0

Receitas 0 0

Despesas 0 0

Resultado antes tributação/participações 227.049 246.411

Provisão para IR e contribuição social (63.343) (79.987)

IR diferido 0 0

Participações/contribuições estatutárias 0 0

Participações 0 0

Contribuições 0 0

Reversão dos juros sobre capital próprio 0 0

Lucro/prejuízo do período 163.706 166.424

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

19.3 – Demonstração do fluxo de caixa consolidado – Método direto.

Demonstração do fluxo de caixa consolidado – Guararapes Confecções S.A

DFC – Guararapes Confecções S.A (Reais mil.)

Conta 31/12/2007 31/12/2008

Caixa Líquido Atividades Operacionais 199.131 92.500

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Caixa Gerado nas Operações 493.303 590.554

Lucro líquido do exercício 158.284 136.938

Tributos diferidos (3.370) (33.565)

Provisão para contingência 1.823 7.210

Depreciação e amortização 66.495 79.938

Valor residual ativo permanente baixado 26.977 25.881

Variação monetária do exigível a longo prazo 16.031 8.065

Redução, isenção e reinvestimento IR 37.518 0

Provisão para crédito de liquidação duvidosa 189.545 366.087

Variações nos Ativos e Passivos (294.172) (498.054)

Duplicatas a receber de clientes (214.281) (390.436)

Estoques (77.986) (72.821)

Depósitos judiciais e outros (4.068) (1.193)

Impostos e contribuições a recuperar (8.466) (19.942)

ICMS a recuperar (698) (4.032)

Demais contas a receber 5.674 23.962

Fornecedores 56.540 (82.590)

Salários, provisões e contribuições sociais 730 75.542

Imposto de renda (9.921) 9.410

Imposto sob circulação de mercadorias (3.305) 7.499

Contribuição social (27.785) (27.745)

Dividendos a pagar (3.270) (15.519)

Luvas e aluguéis a apropriar (1.008) (189)

Demais contas a pagar (6.328) 0

Outros 0 0

Caixa Líquido Atividades de Investimento (223.391) (274.472)

Aumento do realizável a longo prazo 0 0

Investimentos - imóveis comerciais 0 0

Investimento - empresas controladas 0 (213)

Aumento do imobilizado (217.456) (251.752)

Aumento do ativo diferido 0 0

Aumento do intangível (5.935) (22.507)

Caixa Líquido Atividades Financiamento (30.559) 65.157

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Empréstimos e financiamentos do ICMS 18 50

Empréstimos e financiamentos 0 121.678

Empréstimos com partes relacionadas (30.577) (56.571)

Variação cambial sobre caixa e equivalentes 0 0

Aumento (Redução) de Caixa e Equivalentes (54.819) (116.815)

Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes 251.843 197.024

Saldo Final de Caixa e Equivalentes 197.024 80.209

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

CAPÍTULO II - METODOLOGIA

Abordagem teórico-metodológica da pesquisa

Este trabalho faz uso do método pesquisa bibliográfica, onde autores de contabilidade

foram consultados. Trata-se de um estudo de caso e pesquisa documental, possuindo caráter

qualitativo, utilizando-se do método comparativo/qualitativo, onde através da confrontação

das demonstrações busca-se chegar à resposta procurada na problemática do tema.

O método comparativo ocupa-se da explicação dos fenômenos e permite analisar o

dado concreto, deduzindo desse “os elementos constantes, abstratos e gerais.” (LAKATOS;

MARCONI, 2007, p. 107). Gil (2008) comenta que o método comparativo procede pela

investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e

as similaridades entre eles. “Sua ampla utilização nas ciências sociais deve-se ao fato de

possibilitar o estudo comparativo de grandes grupamentos sociais, separados pelo espaço e

pelo tempo.” (GIL, 2008, p. 16-17).

As demonstrações contidas nesta pesquisa foram buscadas no sistema da Bolsa de

valores do Estado de São Paulo (BOVESPA), devido a empresa pesquisada ser uma

Sociedade Anônima com ações na bolsa, o que a obriga a publicar suas demonstrações

anualmente a fim de servir de base de tomada de decisões de seus investidores.

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O contexto da pesquisa: espaço e sujeitos da investigação

São as demonstrações publicadas no sistema da Bolsa de valores de São Paulo, da

GUARARAPES CONFECÇÕES S.A dos anos 2007 e 2008, não havendo assim entrevistas

com terceiros e visitas a locais.

Procedimentos de análise e interpretação dos dados

Os dados pesquisados neste trabalho são analisados a fim de se perceber diferenças

entre as demonstrações antes e depois da mudança da lei, onde se busca o objetivo de

responder a questão se as demonstrações da empresa pesquisadas foram adaptadas totalmente

ou parcialmente ao que diz a nova lei da contabilidade societária.

CAPÍTULO III - ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA

GUARARAPES CONFECÇÕES, E SUA ADAPTAÇÃO À NOVA LEI DA

CONTABILIDADE SOCIETÁRIA

Ativo:

O último balanço patrimonial da Guararapes Confecções publicado na BOVESPA

(Bolsa de valores de São Paulo) antes da mudança da lei, nos mostra de forma natural em seu

ativo algumas contas que foram extintas a partir da publicação das novas leis.

Mesmo com diversas contas zeradas, o ativo não circulante está presente no balanço

de 2007, sendo que sua obrigatoriedade só ficou estabelecida com a mudança da lei no ano

seguinte.

O ativo permanente ainda estava constando no balanço, assim como o ativo diferido.

Mesmo sendo obrigatório apenas com a mudança da lei em 2008, também está presente o

ativo intangível neste balanço antes da nova lei.

Passivo:

No passivo do balanço de 2007, a conta resultado de exercícios futuros ainda fazia

parte da demonstração, mesmo estando com seu saldo zerado.

Patrimônio Líquido:

Lucros acumulados, que foi excluído do patrimônio líquido com a lei de 2008, ainda

figurava nesta parte da demonstração.

A conta Reserva de reavaliação do patrimônio líquido também aparecia no balanço de

2007, mesmo estando com seu saldo zerado.

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O plano de contas nos dois balanços praticamente permanece, havendo apenas

algumas modificações no patrimônio líquido de 2008, onde a conta ajustes de avaliação

patrimonial aparece assim como prevê a nova lei, mesmo estando com o saldo zerado.

O ativo diferido, mesmo sendo extinto com a mudança da lei, ainda permanece no

ativo de 2008, mesmo estando com seu saldo zerado em ambas as demonstrações.

Algumas contas apareceram no balanço de 2008, como incentivo fiscal de imposto de

renda, ajustes de títulos e valores mobiliários, ajustes acumulados de conversão e ajustes de

conversão de negócios.

Modificações na Demonstração do resultado do exercício com a mudança da lei:

Na Demonstração do Resultado do exercício (DRE), a nova Lei Societária eliminou o

“saldo da conta de correção monetária”, onde este deixa de fazer parte definitivamente desta

demonstração. A nova lei também determinou que deve conter na DRE “as participações de

debêntures, de empregados e administradores, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e

de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se

caracterizem como despesa”.

E, por último, revogou o § 2°, que tratava do aumento de valor de elementos do ativo

em virtude de novas avaliações, registrado como reserva de reavaliação. Também foram

definidos limites para a conta “Reserva de Lucros”, não podendo mais seu valor ultrapassar o

valor do Capital Social.

A modificação da lei trouxe mais algumas mudanças na DRE, como nas Reservas de

incentivos ficais. Porém, o estudo de tais fatos merece uma pesquisa mais detalhada e

específica, de empresas que estejam passando por estes processos ou que possuem reservas de

incentivos fiscais. Como não se tem informação quanto à transformação, incorporação, fusão

e cisão de empresas coligadas e controladas pela Guararapes Confecções S.A, e que a mesma

não possui a Reserva de incentivo fiscal, tais modificações não foram estudadas.

DFC – Demonstração dos fluxos de caixa

A Demonstração dos fluxos de caixa (DFC) surgiu a partir de 2008 com a nova lei, e

substituiu completamente a DOAR (Demonstração de origens e aplicações de recursos). É

uma demonstração comum no âmbito financeiro e administrativo, auxiliando na tomada de

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decisão. Iudicibus (1995, p. 603) previa, 13 anos antes da mudança da lei, que a DFC

substituiria a DOAR em um futuro próximo:

há atualmente uma tendência em alguns países de adotar-se a demonstração do

Fluxo de Caixa em substituição a Demonstração de Origens a aplicações de

recursos. Isto deve-se basicamente a maior facilidade de entendimento daquela pelos

usuários, onde é visualizado de forma mais clara o fluxo dos recursos financeiros

durante o período, apesar de a DOAR ser mais rica em termos de informações.

A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) indica quais foram as saídas e entradas de

dinheiro no caixa durante o período e o resultado desse fluxo. Assim como a Demonstração

de Resultados de Exercícios, a DFC é uma demonstração dinâmica e deve ser incluída no

balanço patrimonial.

Todas as sociedades de capital aberto ou com patrimônio líquido superior a R$

2.000.000,00 (dois milhões de reais) são obrigadas a publicar a DFC. Esta obrigatoriedade

vigora desde 2008, quando a lei das S.A foi alterada, e desta forma torna-se mais um

importante relatório para o processo decisório da empresa.

A DFC também é de elaboração obrigatória para pequenas e médias empresas,

portanto, independentemente do tipo societário adotado, as entidades devem apresentar o

referido demonstrativo, pelo menos anualmente, por ocasião da elaboração das demonstrações

financeiras.

De acordo com as tendências internacionais, o fluxo de caixa pode ser incorporado às

demonstrações contábeis tradicionalmente publicadas pelas empresas. Basicamente, o

relatório de fluxo de caixa deve ser segmentado em três grandes áreas:

I - Atividades Operacionais;

II - Atividades de Investimento;

III - Atividades de Financiamento.

As Atividades Operacionais são explicadas pelas receitas e gastos decorrentes da

industrialização, comercialização ou prestação de serviços da empresa. Estas atividades têm

ligação com o capital circulante líquido da empresa.

As Atividades de Investimento são os gastos efetuados no Realizável a Longo Prazo,

em Investimentos, no Imobilizado ou no Intangível, bem como as entradas por venda dos

ativos registrados nos referidos subgrupos de contas.

As Atividades de Financiamento são os recursos obtidos do Passivo Não Circulante e

do Patrimônio Líquido. Devem ser incluídos aqui os empréstimos e financiamentos de curto

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prazo. As saídas correspondem à amortização destas dívidas e os valores pagos aos acionistas

a título de dividendos, distribuição de lucros.

DMPL e a Lei nº. 11.638/2007

No que tange a DMPL, deve-se ficar atento para o fato de que em relação aos

exercícios encerrados partir de 2008, a primeira linha dessa demonstração (saldo inicial),

relativamente aos lucros acumulados, poderá ter saldo (que corresponderá aquele do exercício

anterior, no caso de 2008 será o saldo de 31.12.2007).

No decorrer de 2008, tal saldo mais o eventual lucro apurado em 2008 deverão receber

destinação. Deste modo, não mais existe a possibilidade de haver saldo positivo (lucro) nessa

linha ao final do exercício social, relativamente a Lucros Acumulados. Portanto, já a partir de

2008, o saldo será "zero" ou prejuízo.

O objetivo da DMPL é demonstrar as modificações ocorridas durante o exercício em

todas as contas que compõem o grupo do Patrimônio Líquido.

Tratando-se de empresa que possui investimentos avaliados pelo Método da

Equivalência Patrimonial (MEP), é importante que sua(s) coligada(s) e/ou controlada(s)

elabore(m) a DMPL porque isso tornará bem mais simples o trabalho de apuração do

resultado da equivalência patrimonial.

Para a elaboração da demonstração deve partir dos razonetes contábeis de todas as

contas que integram o Patrimônio Líquido, dos quais serão extraídos:

a) os saldos no encerramento do balanço do exercício anterior;

b) os acréscimos e as diminuições dos saldos; e

c) os saldos no encerramento do exercício ao qual a demonstração se refere.

DVA – Demonstração do valor adicionado

A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) busca evidenciar o quanto de riqueza a

empresa possui, o quanto foi agregado e de que maneira foi distribuída esta riqueza entre

governos, sócios, empregados, entre outros. (DIAS e CALDARELLI, 2008, p.21).

Não será reproduzida a DVA da Guararapes Confecções S.A, já que a mesma foi

introduzida com a lei 11.638/2007, onde esta não regulamenta a estrutura da DVA, deixando a

cargo de instituições regulamentadoras e das empresas os itens que integrarão a mesma.

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A Guararapes Confecções S.A e a adaptação das suas demonstrações à mudança da lei

societária:

Respondendo então à questão principal desta pesquisa, como também atendendo ao

principal objetivo proposto no início deste trabalho, e considerando as demonstrações acima

reproduzidas e comparadas, chega-se à conclusão que:

O Balanço Patrimonial (Ativo, Passivo e PL) da Guararapes Confecções

adaptou-se totalmente às leis 11638/2007 e 11.941/2009, pois as contas criadas

com a mudança foram incluídas no balanço de 2008. As contas excluídas

também apareceram, e então chega-se à hipótese de que esta repetição foi uma

opção dos contadores, para facilitar a fiscalização, bem como as consultas dos

investidores e acionistas da empresa;

Na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), a conta de “correção

monetária” não existiu na DRE da Guararapes nos dois anos observados,

portanto, não há como determinar se houve adaptação neste caso. A nova lei

discrimina as contas de participações que devem conter na DRE a partir de

2008, como as participações de empregados, debêntures, assim como de

administradores e de instituições ou fundos previdência ou assistência de

empregados. Notamos então que a Guararapes Confecções S.A sintetiza todas

estas participações em uma conta apenas, o que deixa essa demonstração sem o

detalhamento necessário para a análise da adaptação. No entanto, a conta de

“participações” aparece no ano antes da nova lei, assim como no ano

subsequente, o que não caracteriza adaptação. Portanto, devido à falta de

informações mais detalhadas, não é possível afirmar que a Guararapes

Confecções S.A adaptou sua DRE à nova lei, pois as contas incluídas já

figuravam nesta demonstração antes mesmo da mudança, e as que foram

excluídas sequer apareceram na DRE nos dois anos observados.

Na Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC), conforme publicado no endereço

eletrônico da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo, e reproduzido mais

acima por esta pesquisa, observa-se que a DOAR foi substituída na íntegra pela

nova demonstração, o que caracteriza adaptação total ao que pede a nova lei.

Observa-se também que a Demonstração dos Fluxos de Caixa foi publicada na

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íntegra antes mesmo da mudança da lei, onde os dados de 2007 também estão

disponíveis, e podem ser comparados com os dados de 2008, o que mostra

competência dos contadores da corporação em divulgar esta importante

demonstração antes mesmo de sua obrigatoriedade.

A DMPL (Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido), não sofreu

alterações com a mudança da lei da contabilidade societária, assim como a

DVA, que foi incluída pela referida mudança.

Portanto, a Guararapes Confecções S.A ADAPTOU suas demonstrações financeiras

ao que pede as leis 11.638/07 e 11.941/09.

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Considerações finais

Com os objetivos propostos alcançados, assim como tendo o seu problema respondido,

esta pesquisa chega ao fim com a certeza de que a contabilidade está em constante evolução, e

evoluir junto com ela é um imenso desafio dos profissionais desta área nos dias de hoje. Tudo

que é aprendido no bacharelado de um curso como o de ciências contábeis, que pode durar até

cinco anos, pode ser integralmente modificado por um único decreto, uma única lei, e foi o

que aconteceu em primeiro de janeiro de 2008.

Através da mudança da lei, houve então o esforço de todos para se encontrar dentro do

novo universo da contabilidade no Brasil, que passava a partir de então a fazer parte do seleto

grupo de países no mundo a harmonizar sua contabilidade com os padrões internacionais em

busca da atração de novos investimentos internacionais.

Com base nisso, e procurando um maior aprofundamento no referido assunto, esta

monografia buscou sintetizar em singelas páginas um caso da vida real, onde a maior empresa

do nosso Estado teve suas demonstrações estudadas e comparadas, a fim de se responder uma

única pergunta: Estaria estas demonstrações adaptadas ou não ao que pede a nova lei da

contabilidade societária no Brasil?

Os objetivos gerais e específicos previstos no início deste trabalho foram alcançados

com êxito, graças a existência de referências bibliográficas e eletrônicas onde se buscou uma

maior validação dos dados apresentados. Foi alcançada então a resposta ao problema, através

da comparação das demonstrações da referida empresa após a mudança da lei.

É relevante para as futuras gerações a busca pela adaptação das demonstrações

contábeis às mudanças que ocorreram e que vierem a ocorrer, pois é desejo de todos os

profissionais da contabilidade que a nossa ciência seja um pilar de sustentação positivo para a

travessia das décadas vindouras.

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Anexos

Fotografias das telas do site da Bolsa de Valores de São Paulo, de onde foram extraídas

as demonstrações contábeis contidas nesta pesquisa.

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

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Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br

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Fonte: http://www.bmfbovespa.com.br