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ROMANTISMO Os fragmentos a seguir mostram, genericamente, algumas características da literatura romântica no Brasil, no século XIX. Texto I [...] Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. [...] José de Alencar, Iracema. Texto II Minha alma é triste (fragmento) Minha alma é triste como a rola aflita Que o bosque acorda desde o albor da aurora E em doce arrulo que o soluço imita O morto esposo gemedora chora. E, como rola que perdeu o esposo,

Romant is Mo

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ROMANTISMO

Os fragmentos a seguir mostram, genericamente, algumas características da literatura romântica no Brasil, no século XIX.

Texto I

[...]

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

[...]

José de Alencar, Iracema.

Texto II

Minha alma é triste (fragmento)

Minha alma é triste como a rola aflita

Que o bosque acorda desde o albor da aurora

E em doce arrulo que o soluço imita

O morto esposo gemedora chora.

E, como rola que perdeu o esposo,

Minh’alma chora as ilusões perdidas

E no seu livro de fanado gozo

Relê as folhas que já foram lidas.

Casimiro de Abreu

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Texto III

Navio negreiro (fragmento)

Era um sonho dantesco... O tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho,

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite

Horrendos a dançar...

Negras mulheres suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães.

Outras, moças... mas nuas, espantadas

No turbilhão de espectros arrastadas

Em ânsia e mágoa vãs.

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus...

Ó mar! por que não apagas

Com a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noite! tempestades!

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Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!

Castro Alves

José de Alencar, no primeiro texto, usa comparações e metáforas para descrever a índia Iracema, numa clara intenção de idealizar a figura feminina e valorizar elementos da nação brasileira. Casimiro de Abreu, no segundo texto, emprega elementos da natureza brasileira para revelar sua alma constantemente triste. Castro Alves, no terceiro texto, descreve o sofrimento dos escravos aprisionados no porão do navio negreiro; depois, faz uma apóstrofe indignada a Deus a fim de chamar-lhe a atenção para a situação daqueles negros.

História do Romantismo

Embora a idealização da figura feminina (texto I), a expressão de uma natureza pessoal doentia (texto II) e o inconformismo diante de uma situação social (texto III) tenham sido temas literários em todas as épocas, foi no Romantismo que ganharam cores fortes em razão de uma série de fatos históricos.

Na Europa, os acontecimentos políticos das três últimas décadas do século XVIII – principalmente a Revolução Francesa (1789), que deu origem à “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” – geraram a consolidação da burguesia no poder e, consequentemente, o liberalismo, a valorização da iniciativa privada e a exaltação do valor e da competência do indivíduo, ou seja, do eu. Ora, o Romantismo nas artes foi o resultado desses acontecimentos, ou melhor, o retrato deles, tanto que o escritor romântico francês Victor Hugo, autor de Os Miseráveis e de O Corcunda de Notre-Dame, afirmava que o Romantismo era nada mais que o liberalismo nas artes.

No Brasil, o Romantismo coincidiu com a Independência, em 1822, e com o forte sentimento de ufanismo e de lusofobia do final do governo de Dom Pedro I e começo do império de Dom Pedro II. Nessa época, os escritores brasileiros que se inspiravam nos poetas e romancistas alemães, ingleses, franceses e portugueses, principalmente o poeta Gonçalves Dias e o romancista José de Alencar, tentaram criar uma literatura que tivesse, apesar da influência europeia, cunho nacional.

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A história estabeleceu que nosso Romantismo foi iniciado pelo niteroiense Gonçalves de Magalhães, em 1836, com o livro Suspiros Poéticos e Saudades.

Características do Romantismo

Embora no Arcadismo (ou Neoclassicismo) tenha havido alguma manifestação romântica, ela se mostrou incipiente. Na verdade, todo o Romantismo é uma negação do racionalismo da arte greco-romana renascentista do século XVIII.

Individualismo – subjetivismo

A autorrealização do indivíduo é um pressuposto da ideologia burguesa (iniciativa, concorrência, expressão livre), e o Romantismo reflete isso: o particular, o singular, o pessoal, o individual, o subjetivo, a glorificação do eu.

Glorificação do eu

Em Le Pére Goriot (1835), do francês Honoré de Balzac, o jovem Eugène Rastignac sobe no ponto mais alto de Paris e diz que vai conquistá-la, afirmando o valor do indivíduo e da sua capacidade de realização, mesmo que ele seja um rapaz pobre e sem origem. Essa manifestação de Rastignac é uma das partes do livro em que ele escancara sua individualidade e sua personalidade e demonstra que, para o romântico, não há pudor em se revelar ao leitor, que se transforma num confidente do personagem ou do eu-poético. Assim, o escritor romântico tornou-se um ídolo, portador de verdades que seus leitores seguiam – conta-se que, quando Victor Hugo morreu, as mulheres francesas lhe mandaram tantas rosas que as pétalas cobriam as ruas de Paris.

O eu sofrido

Em certo momento, a ideologia burguesa frustrou o romântico, que via na corrida em busca de dinheiro e do “possuir” incessante a derrota de seus

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sonhos de um mundo melhor. Então, ele se refugiou na constatação da inutilidade da sua existência e num pessimismo total. Na França, esse estado de espírito foi chamado de mal-do-século; na Inglaterra, de spleen (fel, amargura); e, no Brasil, de poesia de hospital. Os românticos constituíram a geração da boêmia, das bebidas, do satanismo, da tuberculose.

Sentimentalismo exacerbado

O vocábulo romantismo remete a romance, que, por sua vez, remete à história de amor. O Romantismo é a manifestação de sentimentos, é o palco das emoções. Para o escritor romântico, o importante era o que ele sentia: alegria, tristeza, coragem, angústias, frustrações, sonhos, amor e paixão.

Observação

O alemão Johann Wolfgang von Goethe é o pai da valorização do sentimento, e isso está patente ao livro O Sofrimento do Jovem Werther, publicado em 1774. Esse romance é constituído de cartas do jovem Werther a um amigo. Nelas, Werther revela-se um jovem loucamente apaixonado por Charlotte, bela moça que é namorada de outro homem. Observe a obsessão do jovem apaixonado: “Vou vê-la!, exclamo de manhã, quando desperto e, com a melhor das disposições, vou espiar o sol. Vou vê-la! E para o resto do dia não tenho outro desejo. Tudo, tudo se resume nesta perspectiva.” Werther, apesar de ter feito muitas tentativas para conquistar a amada, não conseguiu. O suicídio foi a única saída para o sentimento de amor não realizado. Nessa obra, Goethe mostra que morrer por amor não é um gesto nobre, e sim divino. Esse livro desencadeou uma onda de suicídios de jovens em toda a Europa, a ponto de alguns governos terem proibido sua circulação. Na verdade, ele era a história de milhares de jovens que viviam numa estrutura social e familiar que lhes proibia a realização do amor; afinal, quem decidia os casamentos eram as famílias.

Fuga da realidade

Como o cruel mundo burguês não servia para os românticos, eles fugiam dele para várias realidades virtuais.

Mundo da fantasia: o romântico devaneava e criava bonitos imaginários, constantemente cor-de-rosa;

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Passado histórico – saudosismo: os escritores do Romantismo viviam do passado. Na Europa, a Idade Média tornou-se o paraíso perdido, por isso muitos poemas e romances têm conteúdos e enredos inspirados naquela época. No Brasil, onde não houve Idade Média, autores como José de Alencar e Gonçalves Dias se inspiraram em histórias e costumes indígenas dos séculos XVI e XVII, período de um possível paraíso perdido.

Passado individual – saudosismo: a infância e a adolescência eram épocas recorrentes para a fuga dos românticos; no Brasil, um dos escritores que usaram esse recurso foi o poeta carioca Casimiro de Abreu.

Natureza: o romântico se identificava com ela – seus estados de espírito sempre encontravam um par na natureza, como a tempestade, a flor levada pelo rio, a noite, a exuberância de cores, a calma do anoitecer e o alarido dos pássaros ao amanhecer. O colorido da natureza brasileira, por exemplo, é recorrente em quase todas as obras românticas.

Satanismo e mal-do-século: cultuar Satanás e todo o mistério que os elementos noturnos, lúgubres e macabros podiam significar tornou-se moda, era o carpe noctum. Para muitos românticos, os ideais cristãos, confiscados a serviço da burguesia, já não serviam, então Lúcifer foi a saída. Aliás, ao lado desse satanismo, houve a procura por uma vida boêmia, desregrada, pândega, regada a conhaque, vodca e fumaça de charutos. A vida noturna seduzia os poetas, a ponto de muitos deles, em função de farras e bebedeiras, não resistirem a doenças venéreas e à tuberculose e morrerem jovens.

Nacionalismo e indianismo

A valorização da nação, ao lado do sentimentalismo exagerado, talvez seja a principal característica do Romantismo. Na Europa, criaram-se heróis que representassem as várias nações (El Cid, Viriato, Robin Hood, São Francisco de Assis, Guilherme Tell, Carlos Magno). O sentimento de amor à pátria era cultivado em todos os países; no Brasil, isso foi importante porque, após a Proclamação da Independência, em 1822, havia um país desenhado no mapa, mas era preciso gerar a ideia de nação. É aí que se situa a importância da obra poética de Gonçalves Dias e os romances de José de Alencar, que usaram o índio como símbolo da pátria brasileira e fizeram elogios múltiplos à natureza e à índole brasileiras.

Idealização e (ou) mitificação

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Praticamente tudo no Romantismo é exagero. A dor que o eu-lírico sente, por exemplo, é a mais lancinante do mundo, haja vista a dor sentimental de Werther. Mas esse exagero, antes de tudo, foi uma convenção burguesa. Por exemplo:

A mulher – é a rainha, anjo, deusa, casta, pura, virtuosa, virgem, donzela; nos romances românticos, as heroínas nunca traem;

O homem – forte, másculo, bonito, dominador, jamais fraqueja – é o herói;

Casamento – o símbolo da felicidade; Pátria – lugar paradisíaco.

Observação

O modelo físico da mulher romântica era o europeu: branca, pálida, transparente.

Estilo romântico

O Romantismo opôs-se ao Classicismo. As regras rígidas da literatura clássica começaram a ser quebradas pela inspiração do romântico. Rompeu-se a separação dos gêneros literários, misturaram-se o cômico e o trágico e o lírico e o épico; no teatro, criou-se o drama; a poesia passou a seguir regras individuais; abandonou-se a metrificação exata (há muitos poemas de versos livres); e surgiu a prosa poética (mistura de verso e prosa).

Os adjetivos tornaram-se os reis da frase e do verso: de acordo com os românticos, eles ampliavam o valor dos sentimentos, davam conotação mais elástica às emoções e intensificavam as paixões. No entanto, um resultado feio dessa adjetivação foi o surgimento de lugares-comuns como doce, cálido, bonito e celestial.

A comparação, a metáfora e a hipérbole foram as figuras preferidas pelos românticos. No Brasil, basta ler um parágrafo de Iracema para constatar que José de Alencar encharcou sua prosa de metáforas, aproximando a linguagem poética da prosificada. A hipérbole serviu para todo um arrebatamento emocional predominante.

Observação

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Em linhas gerais, essas são as características do Romantismo, que apresenta muita contradição, prestando alguma atenção nas sinfonias apaixonadas de Beethoven (1770 – 1827) e Tchaikovsky (1840 – 1893) e no colorido das pinturas de Delacroix (1798 – 1863), você vai constatar que todas as artes, em determinado momento, seguem praticamente as mesmas características.

Poesia romântica

A poesia romântica brasileira é dividida em três gerações em função de temas:

Primeira geração – Gonçalves Dias: natureza brasileira, elogio à nação, glorificação do índio e amor irrealizado;

Segunda geração – Álvares de Azevedo: mal-do-século, ultrarromantismo, byronismo, amor inatingível;

Terceira geração – Castro Alves: poesia social, socialista, abolicionista, condoreira e amor sensual ou carnal.

Primeira geração

Gonçalves de Magalhães (1811 – 1882)

Considera-se que esse médico e visconde de Niterói, amigo de Dom Pedro II, fundou o Romantismo no Brasil, em 1836, ao publicar o livro Suspiros Poéticos e Saudades – poesia de caráter nacionalista e religioso.

Gonçalves Dias (1823 – 1864)

Maranhense de Caxias, filho de um português com uma cafuza, estudou em Coimbra, veio para o Rio de Janeiro, onde foi professor, jornalista e pesquisador de costumes indígenas, tornou-se diplomata na Europa e teve uma vida amorosa cheia de frustrações por não ter casado com a amada Ana Amélia – a família dela não aceitou que ela casasse com um mestiço. É considerado o melhor poeta do Romantismo brasileiro.

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Suas principais obras são:

Primeiros Cantos (1846) – poemas lírico-amorosos e indianistas, entre os quais encontra-se “Canção do Exílio”;

Segundos Cantos (1848) – poemas lírico-amorosos e nacionalistas; Sextilhas de Frei Antão (1848) – experiência poética imitando a poesia

medieval e tematizando a religiosidade; Últimos Cantos (1851) – poemas indianistas e lírico-amorosos. Traz o

melhor poema indianista de Gonçalves Dias: “I-Juca-Pirama”; Os Timbiras (1857) – epopeia indianista inacabada.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá;

As aves aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar sozinho à noite

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Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras

Onde canta o sabiá.

Quanto à forma, esse poema é constituído de três quartetos e dois sextetos em versos heptassílabos (redondilha maior); apresenta musicalidade com ritmo binário.

“Canção do Exílio” foi escrito em Coimbra, em 1843, quando Gonçalves Dias estava com vinte anos, e certamente é o mais conhecido do Romantismo. A saudade do Brasil (lá) provoca melancolia no eu-lírico, que homenageia a pátria e alguns elementos da natureza brasileira (embora o Romantismo permitisse algum erro ecológico: palmeira não é o local de canto do sabiá) e ainda coloca a terra portuguesa (cá) num plano de oposição ao Brasil elogiado. Tão marcante foi tal poema que ele tem sido merecedor de muitas paródias, de outras intertextualidades e de vários paralelos até hoje.

“I-Juca-Pirama” (aquele que é digno de morrer)

Depois de “Canção do Exílio”, “I-Juca-Pirama” certamente é o texto mais festejado de Gonçalves Dias. Esse poema canta a glória timbira e a coragem tupi e é chamado por muitos críticos de “poemeto épico” porque, assim como as epopeias clássicas, narra os grandes feitos de um herói.

Nele, um velho timbira relata a guerreiros incrédulos a história de heroísmo de um guerreiro tupi e, se algum timbira duvida, o velho estribilha: “Meninos, eu vi”.

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O começo do poema faz um elogio à nação timbira:

No meio das tabas de amenos verdores,

Cercadas de troncos – cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos de altiva nação;

São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na guerra, que em densas coortes

Assombram das matas a imensa extensão.

São rudes, severos, sedentos de glória,

Já prélios incitam, já cantam vitória,

Já meigos atendem à voz do cantor:

São todos Timbiras, guerreiros valentes!

Seu nome lá voa na boca das gentes,

Condão de prodígios, de glória e terror!

Os jovens timbiras trazem um prisioneiro tupi que recebe a óbvia notícia de que vai morrer. Preparam-se todos para a cerimônia de morte do prisioneiro: cortam-lhe os cabelos, pintam-lhe o corpo com as cores da morte, fabricam o cauim, são convidadas as tribos amigas para a festa antropofágica. Na hora do sacrifício, o chefe timbira diz ao tupi:

“Eis-me aqui”, diz ao índio prisioneiro;

“pois que fraco, e sem tribo, e sem família,

as nossas matas devastaste ousado,

morrerás morte vil da mão de um forte.”

“Dize-me quem és, teus feitos canta,

ou se mais te apraz, defende-te”. Começa

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o índio, que ao redor derrama os olhos,

com triste voz que os ânimos comove.

Meu canto de morte

Guerreiros, ouvi,

Sou filho das selvas

Nas selvas cresci,

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

Da tribo pujante

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do norte,

Meu canto de morte,

guerreiros, ouvi.

O guerreiro conta que ele e o pai cego e alquebrado são remanescentes de uma batalha em que todos os tupis morreram. Na floresta, em busca de remédios para o pai, ele deixou o ancião sozinho e caiu prisioneiro dos timbiras. Então, no seu canto de morte, ele pede para ser poupado, dispondo-se a ser escravo dos timbiras. O chefe timbira manda soltar o prisioneiro:

Mentiste, que um Tupi não chora nunca,

E tu choraste!... parte; não queremos

Com carne vil enfraquecer os fortes.

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Solto, o tupi volta à floresta em busca do pai, que, ao perceber que o filho não tinha mais a cabeleira e que o corpo dele exalava as cores da morte, pergunta-lhe o que havia acontecido. O filho diz. O velho, então, ordena-lhe que o leve aos timbiras e lá exige que os inimigos matem seu filho. O chefe timbira, porém, foi definitivo:

Nada farei do que dizes:

é teu filho imbele e fraco!

Aviltaria o triunfo

Da mais guerreira das tribos.

Derramar seu ignóbil sangue:

Ele chorou de cobarde;

Nós outros, fortes Timbiras,

Só de heróis fazemos pasto.

O velho tupi, afinal, amaldiçoa o filho:

“Tu choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte,

Pois choraste meu filho não és!

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,

Seres presa de vis Aimorés.

Possas tu, isolado na terra,

Sem arrimo e sem pátria vagando,

Rejeitado da morte na guerra,

Rejeitado dos homens na paz,

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Ser das gentes o espectro execrado,

Não encontres amor nas mulheres,

Teus amigos, se amigos tiveres,

Tenham alma inconstante e falaz!

Não encontres doçura no dia,

Nem as cores da aurora te ameiguem,

E entre as larvas da noite sombria,

Nunca possas descanso gozar.

Não encontres um tronco, uma pedra,

Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos

Padecendo os maiores tormentos,

Onde possas a fronte pousar.”

Toda a maldição do velho tupi contra o filho covarde se resume na negação da natureza, isto é, tudo de bom que a natureza propicia ao guerreiro bravo será negado ao filho tupi.

Mas, para a surpresa de todos, o tupi dá um grito de guerra e enfrenta, valente e sozinho, os timbiras numerosos. Começa a vencê-los e a matá-los. Aí, intervém o chefe timbira:

“Basta! Clama o chefe dos Timbiras,

Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,

E para o sacrifício é mister forças.”

O guerreiro parou, caiu nos braços

Do velho pai, que o cinge contra o peito,

Com lágrimas de júbilo bradando:

“Este, sim, que é meu filho amado!

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E pois que acho enfim, qual sempre o tive,

Corram livres as lágrimas que choro,

Estas lágrimas, sim, que não desonram.”

Esse poema evidencia alguns valores indígenas, como a honra de ser morto sem chorar – o tupi chorou diante da morte iminente, por isso não merecia morrer nem ser tupi. No final, vencedor e herói, ele chora sem que as lágrimas o desonrem. Ora, isso é um paradoxo, na medida em que o herói tupi é capaz de chorar, ou seja, o conceito de heroísmo indígena é estereotipado de acordo com os valores da cultura do Romantismo: foi colocada a emoção expressa pelo choro no universo indígena.

“Se Se Morre de Amor”

Esse poema teve Ana Amélia como inspiradora. Essa mulher foi a paixão da vida de Gonçalves Dias, que chegou a pedi-la em casamento, mas a família dela não permitiu por ele ter sangue de negro e de índio. O poema foi escrito depois da recusa ao pedido de casamento e imediatamente após um serão, no Recife, em que senhoras da alta sociedade contestavam que o amor pudesse matar.

Se se morre de amor! – Não não se morre,

Quando é fascinação que nos surpreende

Do ruidoso sarau entre festejos;

Quando luzes, calor, orquestra e flores

Assomos de prazer nos raiam n’alma,

Que embelezada e solta em tal ambiente

No que ouve e no que vê prazer alcança!

Amor é vida; é ter constantemente

Alma, sentidos, coração – abertos

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Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,

D’altas virtudes, te capaz de crimes!

Segunda geração

Álvares de Azevedo (1831 – 1852)

Paulistano de família rica, não conseguiu formar-se em Direito na Faculdade do Largo São Francisco. Bom estudante, considerado gênio por seus pares, teve vida boêmia. Na poesia, teve influência do pessimista inglês Lord Byron. Morreu aos 21 anos.

Obras principais

Lira dos Vinte Anos – único livro de poemas de Álvares de Azevedo, cuja publicação foi organizada por ele próprio. É composto de três partes (a primeira continua na terceira) e revela as duas faces do poeta: meigo e piegas, cantor de virgens pálidas e inatingíveis; macabro e sarcástico.

Noite na Taverna – uma série de narrativas (em prosa), contadas por um grupo de amigos semibêbados em uma mesa de bar, sobre violação, incesto, antropofagia, adultério, necrofilia e traição. Nelas, o macabro e o fantástico se encontram. Os amigos que contam histórias têm nomes estrangeiros: Solfieri, Bertran, Johann, Gennaro, Claudius e Arnold.

Macário – peça teatral cujos personagens mais importantes são Macário (ateu, irreverente), Penseroso (sentimental, crente) e Satã. Ela resume o pensamento de Álvares de Azevedo (sonhador, macabro e irreverente) e critica a cidade de São Paulo, que o autor detestava.

Este poema faz parte de Lira dos Vinte Anos:

Ideias Íntimas (fragmento)

Vou ficando blasé, passeio os dias

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Pelo meu corredor, sem companheiro,

Sem ler, nem poetar. Vivo fumando.

Minha casa não tem menores névoas

Que as deste céu d’inverno... Solitário

Passo as noites aqui e os dias longos;

Não passeio a cavalo e não namoro;

Reina a desordem pela sala antiga

Desce a teia d aranha as bambinelas

À estante pulverulenta. A roupa, os livros

Sobre as cadeiras poucas se confundem.

Foi-se a minha visão e resta agora

Aquela vaga sombra na parede

- Fantasma de carvão e pó cerúleo,

Tão vaga, tão extinta e fumarenta

Como de um sonho o recordar incerto.

O pobre leito meu desfeito ainda

A febre aponta da noturna insônia

Aqui lânguido à noite debati-me

Em vãos delírios anelando um beijo...

Foram sonhos contudo. A minha vida

Se esgota em ilusões.

Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve

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A ventura de uma alma de donzela!

E sem na vida ter sentido nunca

Na suave atração de um róseo corpo

Meus olhos turvos se fechar de gozo!

Meu pobre leito! eu amo-te contudo!

Aqui levei sonhando noites belas;

As longas horas olvidei libando

Ardentes gotas de licor doirado,

E a mente errante devaneia em mundos

Que esmalta a fantasia! Oh! quantas vezes

Do levante no sol entre odaliscas,

Momentos não passei que valem vidas!

Quanta música ouvi que me encantava!

Quantas virgens amei!

Casimiro de Abreu (1839 – 1860)

Carioca, boêmio, morreu de tuberculose aos 21 anos. Melancólico, é chamado de o poeta da saudade.

Obra principal

Primaveras (1850) – poemas líricos com três temas básicos: o amor adolescente, a tristeza da vida e a saudade da infância e da pátria.

Meus Oito Anos (fragmento)

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Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

- Respira a alma inocência

Como perfumes a flor,

O mar é – lago sereno,

O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado,

A vida – um hino d’amor!

Fagundes Varela (1841 – 1875)

Enquadra-se na segunda geração romântica por seu forte pessimismo, mas em sua poética existem ingredientes da poesia da natureza, predominante na primeira geração, e do condoreirismo, da terceira geração. Seu poema celebrizado é “Cântico do Calvário”, uma elegia ao filho morto.

Obras principais

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Noturnas (1861) Vozes da América (1864) Anchieta ou o Evangelho nas Selvas (1875)

Cântico do Calvário (fragmento)

Eras na vida a pomba predileta

Que sobre um mar de angústias conduzia

O ramo da esperança. Eras a estrela

Que entre as névoas do inverno cintilava

Apontando o caminho ao pegureiro.

Eras a messe de um dourado estio.

Eras o idílio de um amor sublime.

Eras a glória, a inspiração, a pátria,

O porvir de teu pai! – Ah! No entanto,

Pomba – varou-te a flecha do destino!

Astro – engoliu-te o temporal do norte!

Teto, caíste! – Crença, já não vives!

Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,

Legado acerbo da ventura extinta,

Dúbios archotes que a tremer clareiam

A lousa fria de um sonhador que é morto!

Junqueira Freira (1832 – 1855)

Soteropolitano, seus vinte e três anos de vida foram dolorosos e sombrios: aos dezenove anos, tornou-se frade beneditino e, aos vinte e dois, largou o hábito. Morreu de ataque cardíaco, em Salvador.

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Obra principal

Inspirações do Claustro (1855)

A poética de Junqueira Freire é feita de pessimismo e de amargura profunda. Trata de desejos sexuais não realizados e da prisão da vida monástica. A introdução de Inspirações do Claustro mostra isso.

Terceira geração

Castro Alves (1847 – 1871)

Nasceu em Curralinho, Bahia. Filho de médico, estudou no Recife, em Salvador e em São Paulo. Aos 16 anos, no Recife, já era poeta, ator, autor de peças teatrais e diretor de teatro e apaixonou-se pela atriz Eugênia Câmara, de 26 anos. Entre as muitas mulheres inspiradoras da sua poesia sensual, Eugênia foi a principal. Morreu aos 24 anos vítima de várias doenças.

A poética de Castro Alves tem como símbolo o condor, ave de porte avantajado e de voos altos, daí o condoreirismo. Os poetas da terceira geração romântica usavam esse emblema por pretenderem que sua poesia falasse mais alto, “conseguisse alçar altos voos”. A poesia condoreira foi, portanto, diferente no Romantismo: vigorosa, retumbante, indignada, nitidamente voltada para o grande público, o que não a impedia de ser emocional e sentimental.

Atividades

(UFRJ – adaptada) Texto para as atividades 01 e 02.

A Lagartixa

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A lagartixa ao sol ardente vive

E fazendo verão o corpo espicha:

O clarão de teus olhos me dá vida,

Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo-te como o vinho e como o sono,

Tu és meu copo e amoroso leito...

Mas teu néctar de amor jamais se esgota,

Travesseiro não há como teu peito.

Posso agora viver: para coroas

Não preciso no prado colher flores;

Engrinaldo melhor a minha fronte

Nas rosas mais gentis de teus amores.

Vale todo um harém a minha bela,

Em fazer-me ditoso ela capricha...

Vivo ao sol de seus olhos namorados,

Como ao sol de verão a lagartixa.

AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas.

Campinas: Unicamp; São Paulo: Imprensa Oficial

do Estado,2002.

A poética da segunda geração romântica é frequentemente associada ao melancólico, ao sombrio, ao fúnebre; a lírica amorosa, por sua vez, costuma ser caracterizada como lamentação de amores perdidos ou frustrados.

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01 – Relacione essas duas afirmativas sobre a segunda geração romântica ao texto “A Lagartixa” no que se refere à seleção vocabular relativa aos amantes e a seu tratamento poético.

O texto não confirma as afirmativas, como bem o comprovam sua relação vocabular e seu tratamento poético. A caracterização do amante (“lagartixa”) e da amada (“clarão”, “sol”, “vinho”, “sono”, “copo”, “leito”, “néctar de amor”, “travesseiro”, “rosas mais gentis”, “harém”, “minha bela”, “olhos namorados”, “sol de verão”) cria uma atmosfera positiva, solar,amena, bem-humorada, expressando a harmonia entre os amantes.

02 – Verifica-se, no poema, a alternância entre a segunda e a terceira pessoas do discurso. Explique o porquê dessa alternância na construção do poema.

Na construção do sentido do texto,os pronomes de segunda (“teus”, “tu”, “te”, “teu”) e terceira pessoas (“ela”, “seus”) aparecem nos momentos em que o eu-lírico fala com a amada (primeira a terceira estrofe) e sobre a amada (última estrofe).

03 – (Fuvest-SP)

I.

Ah! enquanto os destinos impiedosos

Não voltam contra nós a face irada,

Façamos, sim façamos, doce amada,

Os nossos breves dias mais ditosos.

arcadismo

II.

É a vaidade, Fábio, nesta vida,

Rosa, que da manhã lisonjeada,

Púrpuras mil, com ambição dourada,

Airosa rompe, arrasta presumida.

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barroco

III.

E quando eu durmo, e o coração ainda

Procura na ilusão tua lembrança,

Anjo da vida, passa nos meus sonhos

E meus lábios orvalha de esperança!

romantismo

Associe os trechos com os respectivos movimentos literários, cujas características estão enunciadas abaixo.

Romantismo: evasão e devaneio na realização de um erotismo difuso.

Arcadismo: aproveitamento do momento presente (carpe diem).

Barroco: efemeridade da beleza física, brevidade enganosa da vida.

a) I –Romantismo; II – Arcadismo; III – Barroco.b) I – Barroco; II – Arcadismo; III – Romantismo.c) I – Arcadismo; II – Romantismo; III – Barroco.d) I – Arcadismo; II – Barroco; III – Romantismo.e) I – Barroco; II – Arcadismo; III – Romantismo.

04 – (UFBA) Indique a proposição ou proposições que retomam a mesma temática do descompromisso e da liberdade interior do Romantismo evidenciada no fragmento.

Eu durmo e vivo ao Sol como um cigano,

Fumando meu cigarro vaporoso;

Nas noites de verão namoro estrelas;

Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!

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Tenho por meu palácio as longas ruas;

Passeio a gosto e durmo sem temores;

Quando bebo, sou rei como um poeta,

E o vinho faz sonhar com os amores.

01.

Quero o sonho, a fantasia

quero amor e a poesia

quero cantar, quero companhia

eu quero sempre a utopia;

o homem tem de ser comunhão

a vida tem de ser comunhão

a alegria do vinho e pão

o pão e o vinho enfim repartidos.

02.

Vou seguindo pela vida

Me esquecendo de você

Eu não quero mais a morte

Tenho muito que viver

Vou querer amar de novo

E se não der não vou sofrer

Já não sonho, hoje faço

Com meu braço o meu vivier

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04.

Caminhando contra o vento

Sem lenço, sem documento

No sol de quase dezembro

Eu vou

Sem lenço, sem documento

Nada no bolso ou nas mãos

Eu quero seguir vivendo

Amor

Eu vou

Por que não? Por que não?

08.

Quem perdeu o trem da história por querer

saiu do juízo sem saber

foi mais um covarde a se esconder

diante de um novo mundo.

16.

Um velho calção de banho

O dia pra vadiar

Um mar que não tem tamanho

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Um arco-íris no ar

Depois da praça Caymmi

Sentir preguiça no corpo

E numa esteira de vime

Beber uma água de coco

É bom passar uma tarde em Itapuã.

32.

Meu momento é agora

meu caminho é feliz

se há uma crise lá fora

não fui eu que fiz

então viver é um lance legal

tem que ter um certo sabor...

05 – (UFPR) Assinale a alternativa que apresenta a numeração que corresponde a características da produção romântica.

I – Atitude subjetiva marcada pelo intenso sentimentalismo.

II – Decadência do romance entre os gêneros narrativos.

III – Crença no papel do poeta como gênio portador de verdades, cumpridor de missões.

IV – Presença da natureza com função expressiva, significando e revelando.

V – Culto do mito da nação, em um momento de grande afirmação cultural.

VI – Idealização do herói, visto como ser extraordinário, poderoso, justiceiro e bom.

VII – Conservação dos gêneros poéticos herdados da Renascença.

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a) I – II – III – V – VIb) I – III – IV – V – VIc) I – II – IV – VI – VIId) I – III – VI – VIIe) I – III – V – VI – VII

06 – Ao lado de cada fragmento de texto romântico a seguir á apresentada, entre parênteses, sua caracterização.

I.

Por que havia eu de te amar, ó sol, se tu és inimigo dos sonhos do imaginar, se tu nos chamas à realidade e a realidade é tão triste?

(gosto pelo escuro, pelo noturno)

II.

Ah, vem, pálida virgem, se tens pena

De quem morre por ti, e morre amando

Eu quero ao pé de ti sentir o mundo

Nos teus suspiros sentir as virações do paraíso

Beijar-te nos cabelos soluçando

E no teu seio ser feliz morrendo!

(idealização da mulher)

III.

Eu deixo a vida como deixa o tédio

do deserto o poento caminheiro

(canto à inutilidade da vida)

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IV.

A morte é dura

Porém longe da Pátria é dupla a morte

(valorização do sentimento de saudade da pátria)

V.

Áureos numes d”Ascreu, ficções risonhas

Da culta Grécia, amável...

Gentil religião, teu culto abjuro,

Tuas asas profanas renuncio:

Professei outra fé, sigo outro rito.

E para novo altar meus hinos canto.

(abandono dos modelos clássicos)

VI.

Se eu tenho que morrer na flor dos anos,

Meu Deus, não seja lá;

Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,

Cantar o sabiá.

(culto à terra natal)

Assinale a alternativa que indica os textos que correspondem à caracterização apresentada.

a) I – II – III – IV – V – VI

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b) I – II – III –IV – VIc) I – III – IV – V – VId) I – II – IV – V – VI e) II – III – IV – V

07 – Em 2004 e em 2005,os meios de comunicação de todos os quadrantes do mundo noticiaram, com alguma surpresa, o suicídio coletivo de grupos de jovens japoneses. As notícias comentadas arrolaram vários motivos desse suicídio inusitado: descrença em valores, ausência de perspectiva de felicidade, crença na inutilidade da vida, etc. A literatura romântica do século XIX, porém, já registrava texto de jovens poetas que queriam morrer (e morreram) na flor dos anos, crentes na inutilidade da existência humana. É o tema da evasão, como no texto seguinte.

Pensamento gentil de paz eterna,

Amiga morte, vem. Tu és apenas

a visão mais real das que me cercam,

que nos extingues as visões terrenas.

Que geração de poetas românticos acreditavam na morte prematura?

a) Primeira geração românticab) Segunda geração românticac) Terceira geração românticad) Quarta geração românticae) Quinta geração romântica

08 – (UFPE – adaptado)

O Livro e a América (fragmento)

Oh! Bendito o que semeia

Livros, livros à mão cheia...

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E manda o povo pensar...

O livro caindo n’alma

É gérmen – que faz a palma,

É chuva – que faz o mar.

Castro Alves

Estabeleça o que é verdadeiro (V) ou falso (F) nas afirmações sobre esse texto de Castro Alves e assinale a alternativa que tiver a ordem de V e F decrescente correta.

( V ) Castro Alves supera o extremo individualismo dos poetas anteriores de sua geração, dando ao Romantismo um sentido social e revolucionário.

( F ) Através do isolamento e da fuga à realidade, Castro Alves traduz o desinteresse dos poetas românticos pelo público leitor.

( V ) Castro Alves não apenas realizou uma poesia humanitária, participando de toda a propaganda abolicionista e republicana, como celebrou a instrução.

( V ) O poeta vê a leitura como um instrumento de libertação.

( F ) A poesia de Castro Alves pertence ao Realismo, e não ao Romantismo.

a) V – F – F – V – Vb) V – V – F – F – Vc) F – F – V – V – Fd) F – V – V – V – Fe) V – F – V – V – F

09 – (UFRGS) Considere as afirmações abaixo sobre o Romantismo no Brasil.

I. A primeira geração de poetas românticos no Brasil caracterizou-se pela ênfase no sentimento nacionalista, tematizando o índio, a natureza e o amor à pátria.

II. Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela, representantes da segunda geração da poesia romântica, expressam, sobretudo, um forte intimismo.

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III. A poesia de Castro Alves, cronologicamente inserida na terceira geração romântica, apresenta importantes ligações com a estética barroca, pela religiosidade e o tom místico da maioria dos poemas.

Quais estão corretas?

a) Apenas a I.b) Apenas a II.c) Apenas a I e a II.d) A I, a II e a III.e) Apenas a II e a III.

10) (Puccamp-SP)

Cantor das selvas, entre bravas matas

Áspero tronco da palmeira escolho.

Unido a ele soltarei meu canto,

Enquanto o vento nos palmares zune.

Rugindo os longos, encontrados leques.

Os versos acima, de Os Timbiras, de Gonçalves Dias, apresentam características da primeira geração romântica:

a) Apego ao equilíbrio na forma da expressão; presença do nacionalismo, pela temática indianista e pela valorização da natureza brasileira.

b) Resistência aos exageros sentimentais e à forma de expressão subordinada às emoções; visão da poesia a serviço das causas sociais, como a escravidão.

c) Expressão preocupada com o senso da medida; mal-do-século; natureza como amiga e confidente.

d) Transbordamento na forma de expressão; valorização do índio como típico homem nacional; apresentação da natureza como refúgio dos males do coração.

e) Expressão a serviço da manifestação dos estados de espírito mais exagerados; sentimento profundo da solidão.

11) (UFPA) Os textos seguintes pertencem

Texto I

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Amorosa visão, mulher dos sonhos

Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!

Texto II

Lançai um protesto, ó povo,

Protesto que o mundo novo

Manda aos tronos e às nações

a) Ao mesmo estilo de época, porém a gerações diferentes.b) Ao estilo romântico e simbolista, respectivamente.c) À geração da poesia condoreira.d) Ao indianismo e à poesia condoreira, respectivamente.e) Ao primeiro grupo ou geração da poesia romântica.

12) (PUC-BA) Baseando-se na leitura do texto de Álvares de Azevedo, assinale a única alternativa incorreta.

Junto a meu leito, com as mãos unidas,

Olhos fitos no céu, cabelos soltos,

Pálida sombra de mulher formosa

Entre nuvens azuis pranteia orando.

É um retrato talvez. Naquele seio

Porventura sonhei doiradas noites:

Talvez sonhando desatei sorrindo

Alguma vez nos ombros perfumados

Esses cabelos negros, e em delíquio

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Nos lábios dela suspirei tremendo.

Foi-se minha visão. E resta agora

Aquela vaga sombra na parede

- Fantasma de carvão e pó cerúleo;

Tão vaga, tão extinta e fumarenta

Como de um sonho o recordar incerto.

AZEVEDO, Álvares de. “Ideias íntimas”. In: CANDIDO,

A.; CASTELLO, J. A. Presença da literatura brasileira.

São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1968. p. 26.

a) Considerando os aspectos temáticos e formais do poema, pode-se vinculá-lo ao segundo momento do movimento romântico brasileiro, também conhecido como “geração do spleen” ou “mal-do-século”.

b) A presença da mulher amada torna-se o ponto central do poema. Isso é claramente manifestado pelas recordações do eu-lírico, marcado por um passado vivido, que sempre volta em imagens e sonhos.

c) O texto reflete um articulado jogo entre o plano do imaginário e o plano real. Um dos elementos, entre outros, que articula essa construção é a alternância dos tempos verbais presente/passado.

d) Realidade e fantasia tornam-se a única realidade no espaço da poesia lírica romântica, gênero privilegiado dentro desse movimento.

e) Apesar de utilizar decassílabo, esse poema possui o andamento próximo ao da prosa. Esse aspecto formal é importante para intensificar certo prosaísmo intimista da poesia romântica.

Romance Romântico

Os livros comumente chamados de romance – história de amor em prosa – tiveram origem no folhetim francês, em 1836. E o que eram os folhetins? Histórias de amor contadas em capítulos nos jornais. Alguns folhetins franceses como O Conde de Monte Cristo e Os Três Mosqueteiros (Alexandre Dumas), A Dama das Camélias (Alexandre Dumas Filho), O Corcunda de Notre Dame e Os Miseráveis (Victor Hugo) apaixonaram leitores brasileiros.

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Graças a essa influência, o médico da corte carioca Joaquim Manuel de Macedo, criador, ao lado dos poetas Araújo Porto Alegre e Gonçalves Dias, da revista Guanabara – cujo projeto era criar uma literatura genuinamente brasileira –, publicou em 1844 no Jornal do Comércio, em Niterói, o romance de folhetim intitulado A Moreninha. Essa obra foi muito popular e constituiu o referencial para o romance brasileiro.

Observação

Historicamente, a obra O Filho do Pescador, de 1843, autoria de Teixeira e Souza, é considerado o primeiro romance brasileiro.

Principais características do romance de folhetim:

Publicação seriada, em capítulos diários nos jornais; Histórias de amor; “Ganchos” para criar suspense no final de cada capítulo, mistério,

intrigas; Enredos fáceis para entretenimento: traições, troca de identidades,

infidelidades, violência, amor, incesto, loucura, desejo, miséria e inquietações da alma humana;

Enredo maniqueísta: bem versus mal (o bem sempre vence); Personagens também maniqueístas: heróis, heroínas, vilões; Final feliz ou trágico.

Importância do romance de folhetim:

Criou um público leitor fiel, principalmente o feminino; Popularizou a imprensa e a literatura; Embora nos moldes europeus, fez surgir o romance de características

brasileiras.

Romancistas românticos

Joaquim Manuel de Macedo (1820 – 1882)

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Foi médico da corte, jornalista e professor dos filhos de Dom Pedro II.

Principais obras

A Moreninha (1844) Moço Loiro (1845) Dois Amores (1848)

A Moreninha conta uma história de amor ambientada no Rio de Janeiro. Duas crianças, Carolina e Augusto, brincam na praia quando um menino chega a eles dizendo-lhes que seu pai estava morrendo. As crianças vão ver o doente e, constatando a pobreza da família do moribundo, dão-lhes o dinheiro que tinham. O doente, num gesto estremo e agradecido, pede a ambos que lhe deem os respectivos escapulários, solicita à esposa que os costure e devolve a cada um o escapulário do outro, falando que ambos se amariam e casariam no futuro.

A vida separa Augusto e Carolina. Ele estuda Medicina, torna-se um namorador contumaz; ela, fiel à profecia ouvida na infância, espera pelo amor de Augusto. O grande encontro acontece num passeio na Ilha de Paquetá. É o escapulário dele que ela cinge no colo que os faz namorarem, casarem-se e serem felizes para sempre.

A Moreninha é um romance de costumes da época da corte cuja primeira intenção foi entretenimento. Talvez por essa razão predominem na narrativa frivolidade, futilidade, fofoca, ausência de profundidade nos personagens. No entanto, vale o comentário do professor Sergius Gonzaga:

O crítico Antônio Candido diz, com ironia, que Macedo parece ceder “a um irresistível impulso de tagarelice”. Tagarelice comprovada na quantidade de sua produção: em pouco mais de trinta anos de carreira, escreveu dezoito romances, quinze peças de teatro, dois livros de poemas e sete volumes de variedades. Mesmo assim, forneceu as bases para a criação do romance brasileiro. Ao focalizar os costumes patriarcais, inventariou as dificuldades e os fuxicos próprios dos afetos juvenis, invariavelmente centrados no namoro e na promessa de casamento, e acabou mostrando (sem teor crítico), a pequenez de nossa vida urbana.

Acima de tudo, a sua importância na história literária advém do fato de conquistar os leitores para uma ficção voltada para temas e cenários locais, abrindo caminho a escritores de maior significado.

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A Moreninha até hoje é a sua obra mais conhecida. Apesar da superficialidade da trama, há no texto um tom alegre e descompromissado que ainda diverte.

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Observação

Um dos elementos do romance A Moreninha que mais caracteriza a intenção de dar valor à brasilidade – projeto da revista Guanabara – é o título do livro. Na época, a moda entre as mulheres brasileiras era imitar tudo o que era europeu. As mulheres da corte e da aristocracia rural se vestiam conforme os figurinos franceses e se cobriam muitas vezes de veludo no calor carioca e brasileiro, pois a brancura europeia era sinônimo de beleza e de riqueza. Ser preta ou morena era desonroso e revelava a pobreza. Em A Moreninha, apesar de se vestir com roupas europeizadas, a heroína Carolina é morena, marrom, a cor brasileira. Trata-se da valorização da cor tupiniquim.

José de Alencar (1829 – 1877)

Nasceu em Mecejena, Ceará, mas desde os nove anos viveu no Rio de Janeiro, quando seu pai se tornou senador do Império. Cursou Direito no Largo São Francisco, em São Paulo. Ingressou no Partido Conservador e foi jornalista, deputado em várias legislaturas e ministro da Justiça. Escreveu um pouco mais de cem livros. Morreu de tuberculose.

Principais obras

Apresenta-se a seguir a divisão da obra romanesca de José de Alencar proposta pelo próprio autor em Sonhos d”Ouro (1872).

Romance indianista: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874). Em O Guarani, a natureza brasileira é exaltada e nela vive o super-herói: um índio europeizado no modo de agir, de falar e nos costumes. Iracema apresenta a colonização do Ceará, elogiando essa terra, e, com a união da índia Iracema e colonizador português Martim, propõe uma cultura, uma língua e uma raça mestiça (mameluca) para a formação da nação brasileira. Ubirajara mostra os costumes indígenas antes do Descobrimento do Brasil.

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Romance histórico: As Minas de Prata (1862) retratam o início da procura de metais em Minas Gerais. Já A Guerra dos Mascates (1873) reconstitui o conflito entre as cidades de Recife e Olinda.

Romance regionalista e (ou) rural: Os Sertanejos (1875) e O Gaúcho (1870) mostram o relacionamento entre o homem e o meio físico; o primeiro retrata e exalta o nordestino e o segundo, o gaúcho. Em Til (1872), o enredo se desenvolve nas fazendas de café do interior de São Paulo. Já O Tronco do Ipê (1871) narra a vida na fazenda Nossa Senhora do Boqueirão, no Norte do Rio de Janeiro.

Romance urbano: (de perfis femininos e (ou) de costumes) – retrata aspectos negativos da vida urbana e dos costumes burgueses do Rio de Janeiro durante o Segundo Império. Intrigas de amor, desigualdade econômica, mistérios do passado que se revelam no presente – tudo com um final feliz em que o amor sempre vence. Em Cinco Minutos (1856), uma jovem tuberculosa encontra no amor forças para viver; já em Sonhos d”Ouro (1872), Guida Soares, moça rica, esconde sua fortuna para encontrar um amor sem interesses financeiros. Encarnação (1877) é o relato do amor dedicado de um homem à esposa, mesmo depois da morte dela, e Lucíola, a história de uma prostituta que se julga indigna do amor de um bacharel em Direito. Em A Pata da Gazela (1870), os pés de uma jovem “provocam” um homem apaixonado e, em Senhora (1875), a bela e rica Aurélia compra o próprio marido para se vingar dele por tê-la abandonado quando era pobre, pelo dote de outra, mas o final é feliz, pois a vingança cede lugar ao amor entre ambos.

Falar de José de Alencar é dizer o óbvio: o maior romancista do Romantismo brasileiro e um dos expoentes da literatura nacional. Seus romances, praticamente todos de folhetim, pretenderam ler o Brasil horizontalmente e fazer um elogio à nação incipiente. Em O Guarani e Iracema, por exemplo, Alencar propôs a mestiçagem linguística, cultural e racial como sua ideia de brasilidade: mistura de elementos indígenas e portugueses. Tanto isso é verdade que, em Iracema, o personagem Moacir, filho da índia tabajara Iracema e do português Martim, é tratado como o primeiro brasileiro.

A prosa de Alencar é elegante, plena de comparações, metáforas e adjetivação, aliás típica do Romantismo. O livro Iracema é o que mais se aproxima do ideal romântico da prosa poética, principalmente nas descrições da natureza cearense e na caracterização da índia heroína.

Algumas sinopses

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O Guarani: Peri, o índio de “alma branca”, tenta salvar a família Mariz, principalmente a doce Ceci, das adversidades que o mundo coloca diante dos conquistadores imperiais: inimigos externos como o italiano Loredano, traições, florestas, selvagens e outras agruras tropicais. Nos combates aos aimorés, Peri se revela de uma eficácia formidável, apesar da superioridade numérica dos inimigos, que terminam por cercar a casa-forte dos Mariz. Após ser batizado, isto é, depois de perder toda a identidade indígena, Peri recebe a incumbência de levar Ceci à civilização. No caminho, Ceci opta por Peri e corta as amarras da canoa em que viajam. São surpreendidos na floresta por uma enchente, refugiando-se em cima de uma palmeira. As águas sobem, Peri arranca a palmeira e os dois, sobre a árvore, são arrastados pela correnteza em direção a uma cachoeira.

Observação

A idealização do índio, presente na poesia de Gonçalves Dias, é evidente no indianismo de Alencar: o índio Peri está mais próximo do cavaleiro medieval do que do goitacá da época; assim, mesmo glorificado como herói, ele perde sua identidade de índio, integrando-se à cultura dos conquistadores portugueses, tanto que é batizado como Antônio.

Iracema: no início da colonização do Ceará o português Martim Soares se perde e é ferido por Iracema, índia tabajara das matas cearenses. Machucado na cabeça, é levado pela índia até a cabana do pai dela, Araquém, pajé da tribo tabajara, e lá fica hospedado. Apesar de ser uma espécie de sacerdotisa, Iracema apaixona-se pelo branco e o protege das investidas do guerreiro Irapuã, terminando por fugir com Martim para o lado dos potiguaras, tribo chefiada por Poti. Essa tribo, ao contrário da tabajara, era aliada dos portugueses. Iracema e Martim vivem o amor nas florestas e praias do Ceará. A guerra com os tabajaras e os franceses afasta Martim e seu amigo, Poti, de Iracema. Quando Martim regressa, encontra a índia às portas da morte logo após ela ter gerado o filho deles, Moacir. Iracema, exaurida, morre e o branco leva a criança.

Qualificado pelo autor como “lenda do Ceará”, Iracema foi escrito em uma linguagem ritmada, quase um poema em prosa. Alencar valeu-se não apenas de certos termos indígenas, mas procurou “traduzir” para o português a sintaxe tupi.

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Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo de jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca que o orvalho da noite. os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto.

Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.

Lucíola: um jovem bacharel pernambucano, Paulo, apaixona-se à primeira vista por uma cortesã de luxo, Lúcia, e dispõe-se a assumi-la como mulher, apesar de sua condição de prostituta, já que ela adotara essa profissão por necessidades financeiras. O relacionamento entre ambos é muito difícil: o olhar da sociedade os inculpa. Lúcia tem momentos de autodestruição e Paulo sente vontade de renunciar ao seu amor. Mas eles resolvem morar em um sítio no subúrbio da cidade.

Quando a união dos dois parece se sacramentar, Lúcia morre. O final do texto é, pois, absolutamente moralista: uma prostituta não pode ficar com um bacharel. A ótica conservadora triunfa.

Senhora: Fernando Seixas abandona a noiva, Aurélia Camargo, trocando-a por Adelaide Amaral, de quem não gosta, mas que tem um dote de trinta contos de réis. Mais tarde, Aurélia recebe uma fantástica fortuna de um avô desconhecido. Milionária, arquiteta vingança contra o

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ex-noivo oferecendo-lhe cem contos de réis para que se casasse com ela. No círculo permanente da corrupção, Fernando aceita a proposta e eles se casam. Então, Aurélia vinga-se tratando o marido como um objeto comprado. A crítica ao interesse que anula o sentimento, ao ouro que degrada o ser humano não é levada aos limites merecidos, e tudo acaba se ajeitando: Fernando especula na bolsa e ganha o dinheiro para se resgatar. Desse modo, Aurélia percebe que o marido não é tão mau assim, e os dois se reconciliam.

O romance Senhora é constituído de quatro partes – “O Preço”, “Quitação”, “Posse” e “Resgate” – que, por sua vez, são divididas em capítulos. Essa estrutura revela a intenção de José de Alencar: mostrar o casamento da época como um contrato financeiro. Por essa razão, Senhora foi uma obra em que a crítica a um status social prenunciava o advento da literatura realista. Apesar disso, essa obra é extremamente romântica, uma vez que o sentimento de amor venceu o de vingança.

Este fragmento é parte da primeira página do livro:

Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.

Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade.

Era rica e formosa.

Duas opulências, que se realçam como a flor em vasos de alabastro; dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante.

Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da Corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor?

Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia.

Franklin Távora (1843 – 1888)

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Nasceu em Fortaleza, Ceará. Advogado formado no Recife, radicou-se na capital federal e celebrizou-se como jornalista pela polêmica com José de Alencar sobre a verdadeira literatura brasileira. Morreu no Rio de Janeiro.

Principais obras

O Cabeleira (1876) O Matuto (1878)

A obra de Franklin Távora é regionalista. Esse escritor defendia uma literatura do Norte e Nordeste divorciada da do Sul porque, para ele, a verdadeira língua era a praticada naquela região, uma vez que estava imune às influências estrangeiras.

Segundo o crítico José Veríssimo, essa obra “narra a vida de crimes de José Gomes – o Cabeleira. Sua mãe procura educá-lo, mas o pai envereda-o nos caminhos do banditismo. Ao reencontrar Luisinha, a quem Cabeleira muito amava, o protagonista regenera-se. Porém, Luisinha morre e ele é preso e enforcado pela polícia”.

O Cabeleira, na verdade, é um misto de ficção e crônica histórica e já mostra o nordestino como vítima das circunstâncias ambientais.

Bernardo Guimarães (1825 – 1884)

Nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, e estudou Direito em São Paulo, onde foi colega de Álvares de Azevedo, poeta romântico, com quem levou uma vida boêmia na capital. Foi juiz, jornalista e professor. Morreu em Ouro Preto.

Principais obras:

Ermitão de Muquém (1864) Garimpeiro (1872) Seminarista (1872) A Escrava Isaura (1875)

A maioria dos críticos literários concentrou seus elogios e críticas ao romance abolicionista A Escrava Isaura, mas Bernardo Guimarães também foi poeta satírico (alguns o consideram superior ao barroco Gregório de Matos) e o iniciador da prosa regionalista brasileira, com narrativas sobre o Planalto Central.

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Escreveu bons romances, como O Seminarista. Essa obra conta o drama de Eugênio e Margarida que, na infância, passada no sertão mineiro, estabelecem uma amizade que logo se torna paixão. O pai de Eugênio o obriga a ir para um seminário, e ele vai, oscilante entre o amor e a religiosidade. Mesmo sofrendo pela perda, Eugênio ordena-se sacerdote. Quer o destino que ele volte à aldeia natal e encontre Margarida à beira da morte. Os dois não resistem e mantêm relações, mas a jovem morre e o padre, ao saber da noticia, pouco antes de rezar sua primeira missa, enlouquece de dor sentimental e moral: a morte da amada e a quebra do voto de castidade. Esse livro é uma forte crítica ao patriarcalismo.

Visconde de Taunay (1843-1899)

Alfredo d’Escragnolle, o Visconde de Taunay, nasceu no Rio de Janeiro. Foi engenheiro, militar, professor, político e presidente das províncias do Paraná e de Santa Catarina. Era filho de franceses e participou da Guerra do Paraguai. Morreu no Rio de Janeiro.

Principais obras

A Retirada da Laguna (1871) Inocência (1872)

O romance Inocência certamente é o mais regionalista dos românticos. O autor descreve o sertão sul do Mato Grosso do Sul sem os exageros dos outros autores e com bastante meticulosidade e fidelidade. Não que a trama central da narrativa não pertença ao folhetim, ao contrário, trata-se de um melodrama típico: a jovem Inocência não pode desposar o falso médico, Cirino, por imposição do pai, Pereira. Os amantes são vítimas da tragédia: Cirino é assassinado pelo capataz Manecão e Inocência morre de malária e de saudade.

Pode-se afirmar que o romance Inocência, pelo retrato do interior do Brasil e por sua crítica ao paternalismo, tem características também do Realismo.

Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)

Nasceu no Rio de Janeiro. Órfão de pai aos dez anos e de mãe aos vinte, pobre, sustentou seus irmãos com empregos públicos e publicações m jornais e, mesmo assim, formou-se em Medicina. Quando dirigia a Tipografia Nacional, foi incentivador do jovem Machado de Assis. Morreu aos trinta anos, no naufrágio de um vapor na costa do Rio de Janeiro.

Obra principal

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Memórias de um Sargento de Milícias (1853-1854, em folhetim)

Essa obra foge bastante do sentimentalismo romântico e antecipa o romance realista. É uma narrativa de costumes que retrata a sociedade pobre do Rio de Janeiro na época de Dom João VI. Há descrição de procissões, festas, danças e das organizações policial e administrativa do subúrbio.

O herói da narrativa é Leonardo, que é um vadio, logo, um anti-herói. Com ele, andam pelas vielas e ruas sujas da periferia do Rio de Janeiro tipos populares sem nenhuma grandeza, os quais não aparecem em outros romances românticos.

Muitos especialistas em literatura têm afirmado que o romance pré-realista e picaresco Memórias de um Sargento de Milícias, do jovem Manuel Antônio de Almeida (ele tinha 21 anos ao escrever o folhetim), não é simplesmente a história do malandro carioca, mas,acima de tudo, o primeiro e melhor livro sobre a índole do povo brasileiro.

Sinopse

Leonardo Pataca conhece Maria numa viagem de navio, aplica-lhe uma pisadela e recebe de volta um beliscão. “Nove meses depois, filho de uma pisadela e um beliscão, nascia Leonardo.” Enjeitado pelo pai e pela mãe que fugira com um capitão de navio, Leonardo fica aos cuidados do compadre. Era preguiçoso e desordeiro desde a infância, acrescentando, na adolescência, a característica de “mulherengo”. O compadre apenas paga as suas dívidas e tenta arranjar-lhe uma profissão honesta. Leonardo amasia-se com Vidinha e, graças a suas malandragens, é preso e engajado como soldado nas milícias, força da ordem pública chefiada pelo terrível Major Vidigal. Nem o uniforme ajusta Leonardo aos padrões da ordem e ele é novamente preso. Há interferência de algumas senhoras, entre as quais Maria Regalada, ex-amante do major. Por causa de um piscar de olhos maroto, ela consegue a libertação de Leonardo e sua promoção a sargento de milícias. Leonardo casa com a viúva Luisinha, sobrinha da rica Dona Maria, e tudo termina ajeitado.

Atividades

(FEI- SP) O texto seguinte foi extraído do romance Memórias de um Sargento de Milícias. Leia-o e responda às questões 01,02 e 03.

Luisinha pôs-se a chorar, mas como choraria por qualquer vivente, porque tinha coração terno.

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Estavam presentes algumas pessoas da vizinhança, e uma delas disse baixinho à outra, vendo o pranto de Luisinha:

- Não são lágrimas de viúva...

E não eram, nós já o dissemos. O mundo faz disso as mais das vezes de um crime. E os antecedentes? Por ventura ante seu coração fora José Manoel marido de Luisinha? Nunca o fora senão ante as conveniências, e para as conveniências aquelas lágrimas bastavam. Nem o médico nem D. Maria se haviam enganado: à noitinha, José Manoel expirou.

No dia seguinte fizeram-se os preparativos para o enterro. A comadre, informada de tudo, compareceu pesarosa a prestar seus bons ofícios, suas consolações.

O enterro saiu acompanhado pela gente da amizade: os escravos da casa fizeram uma algazarra tremenda. A vizinhança pôs-se toda à janela e tudo foi analisado, desde as argolas do caixão até o número e qualidade dos convidados; e sobre cada um desses pontos apareceram três ou quatro opiniões diversas.

Naqueles tempos ainda não se usavam os discursos fúnebres, nem os necrológicos, que hoje andam tanto em voga; escapamos, pois, de mais essa. José Manoel dorme em paz no seu derradeiro jazigo.

01) Por que as lágrimas de Luisinha não eram de viúva?

O casamento de Luisinha com José Manuel era um casamento de conveniências, afinal ela não amava o marido. Quando José Manuel morreu, Luisinha chorou,mas não eram lágrimas da viúva que sente a morte do marido – eram lágrimas fingidas.

02) Em que expressão do texto o autor estabelece um diálogo com o leitor?

O narrador usa a primeira pessoa do plural (nós) para conversar com o leitor (digressão). Isso acontece em “nós já o dissemos” e “escapamos, pois, de mais essa.” Também as duas interrogações presentes no quarto parágrafo são exemplos de um contato com o leitor.

03) De que elementos se serviu a vizinhança para avaliar o falecido?

A vizinhança avaliou a riqueza do falecido (ou da família dele) observando o valor das argolas do caixão e “o número e qualidade dos convidados”, ou seja, das pessoas que foram ao velório de José Manuel.

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Testes de Vestibular

01) (PUC- PR) Leia o texto e assinale a alternativa que identifica os elementos românticos do trecho citado de Senhora, de José de Alencar:

As cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal.

a) A perspectiva recatada e a afinidade entre sentimento e natureza.b) A vida como teatro e a intensa religiosidade.c) A natureza sem defeitos e o amor idealizado.d) A noite enquanto símbolo e a música como pano de fundo para o amor.e) A linguagem rebuscada e a idealização amorosa.

02) (PUC –RS) Em O Gaúcho, José de Alencar procura representar o povo sul-rio-grandense – empreendimento que não alcançou sucesso e foi desacreditado pela crítica. Ao retratar o contexto urbano, entretanto, seu compromisso ideológico associa-se à expressão estética romântica, especialmente nas obras

a) Diva e O Tronco de Ipê.b) A Moreninha e Lucíolac) Memórias de um Sargento de Milícias e A Pata da Gazela.d) A Escrava Isaura e A Viuvinhae) Senhora e Lucíola

03) (UFPE) O indianismo foi uma corrente literária que envolveu prosa e poesia e fortificou-se após a Independência do Brasil. Sobre esse tema, analise as afirmações a seguir, estabeleça se são verdadeiras ou falsas e assinale a alternativa que tenha a sequência correta de V e F.

I. ( V ) A literatura indianista cumpriu um claro projeto de fornecer aos leitores um passado histórico, quando possível, verdadeiro, se não, inventado.

II. ( V ) Os dois autores que mais se empenharam no projeto de criação de um passado heroico foram José de Alencar, na prosa, e Gonçalves Dias, na poesia.

III.( V )Gonçalves Dias, da primeira geração de românticos, escreveu I- Juca-Pirama, Os Timbiras, Canto do Piaga. Com eles, construiu a imagem heróica e idealizada do índio brasileiro.

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IV.( V ) Indianismo não significa simplesmente tomar como tema o índio; significava a construção de um novo conceito que, embora idealizado, expressava menos que uma realidade racial; expressava uma realidade ética e cultural, distinta da europeia.

V.( V ) José de Alencar, em seus romances, sobretudo em Iracema e em O Guarani, encarregou-se de construir o mito do herói indianista. De grande importância para isso foi a preocupação com a vertente brasileira do português, pois Alencar procurava moldar a língua nacional aos personagens indígenas que a falavam.

a) V – V – V – Fb) V – V – F – V c) V – F – V – V d) F – V – V – V e) V – V – V – V

04) (PUC-SP)

[...] Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado [...]

Cedendo à meiga pressão, a virgem reclinou-se ao peito do guerreiro, e ficou ali trêmula e palpitante como a tímida perdiz [...] A fronte reclinara, e a flor do sorriso expandia-se como o nenúfar ao beijo do sol [...]. Em torno carpe a natureza o dia que expira. Soluça a onda trepida e lacrimosa; geme a brisa na folhagem; o mesmo silêncio anela de opresso. [...] A tarde é a tristeza do sol. Os dias de Iracema vão ser longas tardes sem manhã, até que venha para ela a grande noite.

Os fragmentos acima constroem-se estilisticamente com figuras de linguagem, caracterizadoras do estilo poético de Alencar. Apresentam eles, dominantemente, as seguintes figuras:

a) Comparações e antíteses.b) Antíteses e inversões.c) Pleonasmos e hipérboles.d) Metonímias e prosopopeia.e) Comparação e metáfora.

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05) (PUC-SP) Considere os dois fragmentos extraídos de José de Alencar.

I.

Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela? Onde vai como branca Alcione buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano? Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce,mar em fora. Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.

II.

O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil braço o filho e o cão fiel. A jandaia não quis deixar a terra onde repousava sua amiga e senhora. O primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da pátria. Havia aí a predestinação de uma raça?

Ambos apresentam índices do que poderia ter acontecido no enredo do romance, já que constituem o começo e o fim da narrativa de Alencar. Desse modo, é possível presumir que o enredo apresenta:

a) O relacionamento amoroso de Iracema e Martim, a índia e o branco, de cuja união nasceu Moacir, e que alegoriza o processo de conquista e colonização do Brasil.

b) As guerras entre as tribos tabajara e pitiguara pela conquista e preservação do território brasileiro contra o invasor estrangeiro.

c) O rapto de Iracema pelo branco português Martim como forma de enfraquecer os adversários e levar a um pacto entre o branco colonizador e o selvagem dono da terra.

d) A vingança de Martim, desbaratando o povo de Iracema, por ter sido flechado pela índia dos lábios de mel em plena floresta e ter-se tornado prisioneiro de sua tribo.

e) A morte de Iracema, após o nascimento de Moacir, e seu sepultamento junto a uma carnaúba, na fronde da qual canta ainda a jandaia.

(UEPG-PR – adaptado) Os textos I e II servem de base para as questões 06 e 07.

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Texto I

O fragmento a seguir apresenta o momento em que Luisinha e Leonardo se reencontram durante o velório do marido dela.

O Leonardo começou a procurar alguém que tinha curiosidade de ver; deu com o que procurava: era Luisinha. Há muito que os dois não se viam; não puderam pois ocultar o embaraço de que se acharam tomados. E foi tanto maior esta emoção, que ambos ficaram surpreendidos um do outro. Luisinha achou Leonardo um guapo rapagão de bigodes e suíça; elegante até onde pode sê-lo, um soldado de granadeiro, com o seu uniforme de sargento bem ausente. Leonardo achou Luisinha uma moça espigada, airosa mesmo, olhos e cabelos pretos, tendo perdido todo aquele acanhamento físico de outrora. Além disso seus olhos, avermelhados pelas lágrimas,seu rosto empalidecido, se não verdadeiramente pelos desgostos daquele dia, seguramente pelos antecedentes, tinham nessa ocasião um toque de beleza melancólica, que em geral não devia prender muito a atenção de um sargento de granadeiro, mas que enterneceu ao sargento Leonardo que, apesar de tudo não era um sargento como qualquer. E tanto assim, que durante a cena muda que se passou, quando os dois deram com os olhos um no outro, passaram rapidamente pelo pensamento de Leonardo os lances de sua vida de outrora, e remontando de fato em fato, chegou àquela ridícula cena de sua declaração de amor a Luisinha. Pareceu-lhe que tinha então escolhido mal a ocasião, e que agora isso teria um lugar muito mais acertado.

ALMEIDA, Manuel Antonio de. Memórias de

um sargento de milícias. São Paulo: Ática, 1997. p. 148-149.

Texto II

Seus Olhos

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,

De vivo luzir,

Estrelas incertas, que as águas dormentes

Do mar vão ferir.

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Seus olhos tão negros, tão belos tão puros,

Têm meiga expressão,

Mais doce que a brisa, – mais doce que o nauta

De noite cantando, – mais doce que a frauta

Quebrando a solidão.

Seus olhos tão negros, tão belos,tão puros,

De vivo luzir,

São meigos infantes, brincando, saltando

Em jogo infantil,

Inquietos, travessos; – causando tormento,

Com beijos nos pagam a dor de um momento,

Com modo gentil...

DIAS,Gonçalves. Poesia lírica e indianista.São

Paulo: Ática,2003. p. 123.

06) Sobre os dois textos apresentados assinale o que for correto.

01. O fragmento: “chegou àquela ridícula cena de sua declaração de amor a Luisinha” é uma comprovação de que o comportamento de Leonardo não se assemelha ao típico personagem romântico, já que caracteriza a cena de declaração de amor como “ridícula”.

02. Os textos I e II têm, respectivamente, a forma de textos literários em prosa e poesia.

04. Tanto o texto I quanto o texto II têm características claras do estilo de época chamado Romantismo e ambos pertencem ao mesmo gênero literário.

08. No texto I, se considerarmos o fato de o encontro dito romântico entre Leonardo e Luisinha ter acontecido no velório do marido dela, temos uma situação diferente das apresentadas na maioria dos escritos dessa fase da literatura e também diversa do que se possa convencionar como um “encontro romântico”. Nessa obra, essa é apenas uma das circunstâncias em que o autor busca diferenciar seu estilo, motivo pelo qual ela é considerada de transição entre o Romantismo e o Realismo/Naturalismo.

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16. O segundo texto é uma poesia lírico-amorosa do Romantismo.

07) Observe como os olhos são apresentados nos dois textos e assinale o que for correto.

01. No texto II, os versos “Estrelas incertas, que as águas dormentes / Do mar vão ferir” e “São meigos infantes, gentis, engraçados / Brincando a sorrir” são metáforas referentes aos olhos.

02. No texto II,há uma exaltação aos olhos que se pode observar pela escolha dos adjetivos, metáforas e expressões que o caracterizam.

04. No texto I, os olhos de Luisinha são apresentados como avermelhados porque ela chorava de saudades de Leonardo.

08. Embora sejam considerados de uma mesma escola literária – o Romantismo –, os textos I e II caracterizam os olhos de maneira distinta.

16. Tanto o texto I quanto o texto II apresentam muitas metáforas para caracterizar os olhos de uma mulher.

08) (UFPR) Uma das preocupações básicas de Alencar em relação à linguagem é a questão da língua portuguesa no Brasil, o que o leva a procurar a pronúncia brasileira e as construções sintáticas locais. Na época em que se passa Senhora a pronúncia correta era com “o” fechado, porém, no Brasil, já aparecia a pronúncia aberta,conforme utilizamos atualmente.

Qual a alternativa que melhor explica o interesse do diálogo transcrito?

- É verdade: dancei com ele; é um dos meus pares habituais,tomou com volubilidade. E o senhor, por que não dançou também?

- Porque a senhora não me ordenou.

Aurélia tomou o braço do marido e afastou-se lentamente ao longo da alameda.

- Por que me chama senhora? Perguntou ela, fazendo soar o ó com voz cheia.

- Defeito de pronúncia.

- Mas às outras diz senhora. Tenho notado, ainda esta noite.

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- Essa é, creio eu, a verdadeira pronúncia da palavra, mas nós brasileiros, para distinguir da forma cortês, a relação de império e domínio usamos da variedade que soa mais forte, e com certa vibração metálica. O súdito diz à soberana, como o servo à sua dona, Senhora. Eu talvez não reflita e confunda.

a) A oposição fonológica é explicada a partir do fenômeno linguístico da lei do menor esforço.

b) Através da fala do personagem o autor explica a oposição fonológica valendo-se dela para caracterizar o nível social do personagem.

c) A explicação dada pela personagem reduz a oposição fonológica à diferença de pronúncias entre Portugal e Brasil.

d) A explicação de pronúncias é um recurso de que se vale o personagem para humilhar a esposa diante das outras mulheres.

e) Através da fala do personagem o autor vale-se da oposição fonológica para uma explicação de ordem semântica que abrange a oposição entre a fala no Brasil e a fala em Portugal, crítica ao cultismo local que aceita como súdito as imposições totalitárias do português de Portugal, a relação entre os personagens, em que a situação do marido é inferior à da mulher.

09) (UFRN) O Guarani e Iracema destacam-se dos romances românticos brasileiros porque José de Alencar, na tentativa de retornar ao passado, procura

a) Criar um ambiente medieval, cheio de mistérios.b) Na cidade, o lugar de refrigério, de tranquilidade, onde o seu espírito

pode encontrar a paz.c) Novas situações que o conduzem às terras distantes, às paisagens

exóticas orientais.d) Mostrar o sofrimento do homem escravizado, nas terras baianas dos

senhores do cacau.e) Identificar-se com as origens da nacionalidade brasileira exaltando o

índio.

10) (PUC-BA) Em Lucíola e Senhora, José de Alencar assume posição tipicamente romântica quando

a) desnuda o jogo de interesses que preside a relação amorosa, em uma verdadeira denúncia da hipocrisia humana.

b) investiga as origens mais remotas e mais autenticamente nacionais, exaltando épica e liricamente o indígena.

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c) faz prevalecer o amor como força redentora e reintegradora, tanto da mulher quanto do homem, pela preservação da autenticidade dos sentimentos.

d) explora o exotismo, atitude representada pela curiosidade de fixar tipos e costumes de regiões longínquas.

e) ressalta o valor do passado grandioso e extinto, apegando-se à contemplação de ruínas antigas.

Realismo (1881)

Virgília? Mas não era a mesma senhora de alguns anos depois? [...] A mesma; era justamente a senhora que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias e que antes, muito antes, teve larga parte nas minhas mais íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza entre as mocinhas de seu tempo, porque isto não é um romance em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda, não.

Esse texto é um fragmento do capítulo XXVII do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicado no Rio de Janeiro em 1881. Trata-se do primeiro romance do Realismo no Brasil.

Esse romance de Machado de Assis também ganhou sua versão cinematográfica em Memórias Póstumas, filme de André Klotzel.

Se você comparar esse fragmento com aqueles em que José de Alencar descreve as heroínas Iracema e Aurélia, perceberá claramente a diferença básica entre um texto romântico e um realista: José de Alencar, autor romântico,idealiza completamente a beleza da índia Iracema e de Aurélia, pintando aquela com cores da bela natureza brasileira e colorindo esta com metáforas exageradas; no trecho anterior, Machado de Assis mostra que Virgília era uma moça comum, inclusive afirma ao leitor que “isto não é um romance em que o autor sobredoura [pinta de ouro] a realidade”. Se no Romantismo colocava-se maquiagem na realidade, o Realismo a registrava realmente como era.

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História do Realismo

Como surgiu o Realismo? Grandes descobertas científicas, principalmente no campo da Biologia, da Medicina e da Física, produziram mudanças gritantes na sociologia e na filosofia do século XIX na Europa. Por exemplo: Charles Darwin (1809 – 1882) publicou, em 1859, o livro Origem das Espécies, em que expôs suas pesquisas sobre a Teoria da Evolução Natural (darwinismo), segundo a qual a natureza ou o meio determinam, entre os seres vivos, as variações das espécies que estão destinadas a sobreviver; Gregor Mendel (1822 – 1884) descobriu as leis da hereditariedade; Theodor Schwann (1810 – 1882) demonstrou que não só os animais mas também as plantas se compõem de células; Ernest Haeckel (1834 – 1919) provou o transformismo biológico; e Louis Pasteur (1822 – 1895) lançou as bases da ciência bacteriológica. Houve, na Física, muitos inventos tecnológicos, como a máquina a vapor e a máquina fotográfica.

A filosofia dessa época foi toda influenciada pela ciência. Auguste Comte (1798 – 1857) fundou o Positivismo para mostrar que tudo na vida e na natureza tem uma explicação científica, uma causa e uma consequência; Herbert Spencer (1820 – 1923) criou a Teoria Evolucionista, o determinismo, provada por Charles Darwin; Hippolyte Taine (1828 – 1893), dando continuidade às ideias deterministas, afirmou que o homem é produto da raça que o origina, do momento histórico em que está inserido e do meio em que vive; Friedrich Nietzsche (1844 – 1901) defendeu que a constante eliminação dos incapazes acabaria por produzir uma raça de super-homens; Ceasar Lambroso (1836 – 1909) provou que o criminoso é um doente cujas características de crime são hereditárias; e Karl Marx (1818 – 1883) publicou O Capital, em que expôs os princípios do materialismo histórico e dialético e a questão da luta de classes e da maisvalia . Marx acreditava que o poder passaria das mãos dos capitalistas industriais para as dos trabalhadores. Suas ideias inspiraram os movimentos e governos comunistas no mundo todo durante o século XX.

Essas descobertas e mudanças foram acompanhadas da industrialização rápida e do inchamento das cidades europeias, causando grandes e graves problemas sociais; negava-se a existência de Deus e ridicularizavam-se as crenças religiosas.

Nesse clima de muitas mudanças no pensamento humano, foi publicado, em 1857, o romance Madame Bovary, do francês Gustave Flaubert, que retrata a visão desse escritor sobre as mudanças e de sua influência nas pessoas. Flaubert refletiu sobre a impossibilidade da concretização de fantasias

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sentimentais naquele mundo, colocando Ema em um colégio da burguesia europeia, onde ela recebeu a educação de uma elite educacional que vivia fora da realidade de seu tempo. Lá, ela fantasiou a felicidade apregoada nos muitos romances românticos que leu. Ao casar com o médico do interior Carlos Bovary, Ema encontra uma realidade completamente adversa da que vivera no colégio e lera nos romances. Então, torna-se infeliz, comete adultério, tentando encontrar a felicidade sonhada, e, por fim, amargurada, suicida-se.

O romance Madame Bovary mostra que a realidade é muito mais forte que as fantasias de vida que alguém possa ter e critica, acidamente, os ideais e os pseudovalores difundidos pelos ideais burgueses do Romantismo.

No Brasil, a literatura realista predominou de 1880 a 1910, caracterizando-se pela clara negação dos ideais românticos dominantes, presentes, principalmente, na obra de Machado de Assis (Realismo propriamente dito), Aluísio de Azevedo (Naturalismo), Olavo Bilac (Parnasianismo), Raul Pompeia (Impressionismo) e em autores do Pré-Modernismo, como Euclides da Cunha.

Historicamente, considera-se o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicado em folhetim em 1880 e editado em 1881, como a obra inicial do Realismo no Brasil.

Observação

Há algumas semelhanças entre a obra realista de Machado de Assis e a naturalista de Aluísio de Azevedo; todavia, como as diferenças entre esses escritores são gritantes, decidiu-se por separar Realismo propriamente dito (Machado de Assis) e Naturalismo (Aluísio de Azevedo).

Características do Realismo

As características do Realismo se confundem com a obra realista de Machado de Assis e são, genericamente, apresentadas a seguir.

Objetividade e racionalismo

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Investigação objetiva da realidade, negação da fantasia, do sentimento e da imaginação exagerados. Machado de Assis, por exemplo, negava a emoção nos seus personagens. Quando ela ocorria, era para caracterizar a falsidade e a alienação deles.

Contemporaneidade

O que vale, para o realista, é o presente. Se, por ventura, ele usa o passado, é simplesmente para explicar o presente e não para refugiar-se nele. Afirma-se que os romances realistas eram romances de tese porque procuravam documentar a realidade.

Verossimilhança

Se o que se conta não é verdade, poderia ser. Arroubos, milagres, religiosidade, transcendências, quando ocorrem na narrativa, são periféricos, isto é, não essenciais ao desenvolvimento das ações.

Desmistificação

Os românticos foram criadores de mitos, heróis e heroínas. Por exemplo: a heroína romântica é bela, casta, virtuosa, sonhadora e fiel ao homem que ama; os realistas desmistificaram essa mulher, tornando-a falsa, dissimulada e adúltera. A nação mestiça do romântico José de Alencar era uma verdadeira ilha da utopia de tão grandiloquente e bela; já o Brasil pintado por Machado de Assis não passava de um país de corruptos culturalmente subdesenvolvidos.

Tipificação social

As ações, falas, gestos e conflitos dos personagens são representações do grupo social a que pertencem. No conto “Missa do Galo”, Machado de Assis descreve Conceição como uma mulher que não é feia nem bonita, nem gorda nem magra, estatura mediana, moralista e incapaz de dizer mal de alguém. Mesmo assim, era traída pelo marido Meneses, que passava uma noite por semana na casa da amante. Na noite de Natal daquele ano, quando todos

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dormiam na casa e o marido estava ausente (encontrara-se com a amante), Conceição entrou na sala de frente da sua casa e tentou seduzir Nogueira, um ingênuo rapaz de dezessete anos que morava na casa dela e esperava um amigo com o qual deveria ir à Missa do Galo. Por que Conceição, uma esposa tão recatada, tentou seduzir Nogueira? Uma mulher carente, abandonada, solitária e traída pelo marido tinha ou não motivos para trair? Ora, na cidade onde você mora, quantas Conceições devem existir?

Crítica

Toda obra realista tem por objetivo retratar a sociedade. Assim, os valores burgueses, o casamento, a amizade, as relações humanas, tais como se apresentavam, eram criticados.

Detalhismo

Os realistas, nos seus textos, privilegiavam a narração lenta e a descrição detalhada de ambientes, ações e personagens. Machado de Assis, em Dom Casmurro, faz com que Bentinho construa toda a suspeita de que sua amada Capitu o traía a partir de gestos, olhares, atitudes e das palavras dela, privilegiando o detalhe na construção do personagem.

Temas realistas

O parasitismo social, o fracasso permeando a vida dos indivíduos, o adultério, o egoísmo, a vaidade, a hipocrisia, o interesse, os conflitos interiores do ser humano e as crises nas instituições, como a Igreja, o Estado, o casamento e a família.

Atividade

Leia o fragmento a seguir e identifique elementos realistas que ele evidencia.

Quando o preto acendeu o gás da sala, Pestana sorriu dentro d’alma, cumprimentou uns dez retratos que pendiam da parede. Um só era a óleo, o de um padre, que o educara, que lhe ensinara latim e música, e que, segundo os ociosos, era o próprio pai de Pestana. Certo é que lhe deixou em herança

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aquela casa velha, e os velhos trastes, ainda do tempo de Pedro I. Compusera alguns motetes o padre, era doudo por música, sacra ou profana, cujo gosto incluiu no moço, ou também lhe transmitiu no sangue, se é que tinham razão as bocas vadias, cousa de que se não ocupa a minha história, como ides ver.

Machado de Assis, Um homem Célebre.

O primeiro elemento realista do texto é a crítica à Igreja: a imposição do celibato aos padres versus a realidade. Já o outro elemento, embora tratado por Machado de Assis com ironia – “segundo os ociosos” e “se é que tinham razão as bocas vadias” –, é a questão do determinismo biológico: Pestana herdou características do pai, que era padre.

Testes de Vestibular

01) (UFPA) A propósito da ficção realista,é correto afirmar que

01. deixa-se influenciar pela filosofia positivista de Augusto Comte.

02. demonstra sede de objetividade, respondendo aos métodos científicos vigentes na época.

04. prefere a descrição dos ambientes naturais, privilegiando seus aspectos mais sedutores e agradáveis.

08. é profunda a narração de costumes do passado, sobretudo da Idade Média.

16. busca a sobriedade e o rigor analítico.

32. ignora a Teoria Evolucionista de Darwin.

02) (UFRS) Proposições:

I. representação objetiva e analítica da vida humana.

II. visão crítica e denunciadora da hipocrisia e dos valores da classe burguesa.

III. abordagem do homem em suas dimensões humanas e psicológicas, compreendendo-o como um ser isolado do contexto social e valorizado em suas características individuais, subjetivas e emocionais.

IV. descrição minuciosa e detalhada das personagens e do espaço em que se inserem.

Encontramos afirmações válidas para o Realismo nas seguintes proposições:

a) III e IV.

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b) I e II.

c) I, II e IV.

d) II, III e IV.

e) I, III e IV.

03) (UFPR – adaptado) Eça de Queirós afirmava:

O Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.

Para realizar esta proposta literária, quais os recursos utilizados no discurso realista de Machado de Assis?

01. preocupação revolucionária, atitude de crítica e de combate.

02. imaginação criadora.

04. personagens frutos da observação; tipos concretos e vivos.

08. linguagem natural, sem rebuscamento.

16. preocupação com mensagem que revela concepção materialista do homem.

32. retorno ao passado.

64. determinismo biológico e social.

04) (UEPG-PR) Assinale a alternativa que se pode considerar correta quanto ao Realismo.

a) libertando-se do excesso de sentimentalismo dos românticos, desenvolveu o romance nacionalista,exaltando o modo de vida da nova sociedade brasileira que estava surgindo.

b) procurou analisar, com mais objetividade e senso crítico,os problemas sociais, denunciando os vícios e a corrupção da burguesia.

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c) desenvolveu principalmente uma literatura voltada para os problemas rurais, mostrando como o progresso das cidades estava corrompendo a vida campestre.

d) apesar das intenções críticas, acabou por fazer a apologia dos valores burgueses e de suas instituições, como o casamento e a Igreja.

e) demonstrou grande preocupação em analisar o ser humano do ponto de vista estritamente psicológico, isolando-o do meio social.

05) (PUC-PR) O Realismo procura a

a) verdade subjetiva.

b) verdade fantasiada.

c) verdade em um dado momento.

d) verdade social.

e) verdade relativa.

06) (UTFPR) Para alcançar a fidelidade integral, a descrição realista.

a) é minuciosa e a sua narração, rápida.

b) é minuciosa e a sua narração, vagarosa.

c) é lenta e a sua narração, rápida.

d) é rápida e a sua narração, lenta.

e) é minuciosa e a sua narração, curta.

07) (UFAL)

Há um esforço, por parte do escritor antirromântico, de acercar-se impessoalmente dos objetos e das pessoas. É uma sede de objetividade que responde aos métodos científicos cada vez mais exatos nas últimas décadas do século XIX.

O perfil esboçado corresponde ao de um escritor

a) Neorromântico

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b) Simbolistac) Modernistad) Realistae) Regionalista

08) (Unicentro-PR) O Realismo no Brasil começou com a obra

a) Memórias de um Sargento de Milícias.

b) Memórias do Cárcere.

c) Memórias Sentimentais de João Miramar.

d) Memórias Póstumas de Brás Cubas.

e) Memorial de Aires.

09) (UnB-DF) Totalize os valores das afirmativas corretas.

01. O Realismo teve sua origem na França e foi apenas uma renovação no campo literário.

02. O escritor realista deve estudar somente o exterior dos indivíduos, interrogá-los, analisar o meio e, depois, transcrever suas observações, procurando ser rigorosamente impessoal.

04. Para o escritor realista o que importa é o que está fora de nós, o objeto captado pelos sentidos.

08. O homem, como indivíduo, é o centro das preocupações do autor realista.

16. No Brasil, o Realismo tem início com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881.

32. A afirmação do indianismo, em vez de medievalismo, deve-se à força do nacionalismo realista, que determina a exaltação de valores e tradições.

10 ) (UnB-DF) Relacionando os textos I e II a seguir, totalize os valores das afirmativas corretas.

Texto I

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O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa. Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Texto II

Branca, ainda assim Mariazinha Tiro a Esmo é uma peça. Meteram-lhe esse nome lá pelos altos encardidos da Favela da Rocinha [...]

[...] Os cabelos andam na moda, escorridos, longos matizados de sol e sem tintura. Os cílios enormes sem postiços. Alguns dentes podres, é o ponto fraco, vive chupando balas de hortelã para esconder o mau hálito.

João Antonio. Malhação de Judas Carioca.

01. Evidencia-se um processo de análise de uma realidade no texto I, seguido de uma síntese. O texto II limita-se à análise.

02. No texto I, o intelectualismo irônico do autor revela seu ceticismo em relação ao sentido da vida. No texto II esse ceticismo está ausente.

04. Há maior dinamismo na apresentação do personagem do texto I.

08. No texto I, o fato (ser bonita e coxa) aparece em primeiro plano, ao contrário do texto II, em que o personagem é o elemento de destaque.

16. A linguagem do texto I é sintética, concisa, trabalhada, o que não acontece no texto II, em que a linguagem coloquial corporifica a realidade descrita.

Machado de Assis (1839 – 1908)

Dados biográficos

Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, palco da maioria de suas obras. Mulato, teve uma infância extremamente pobre. Na adolescência, empregou-se como tipógrafo na Imprensa Oficial. Foi autodidata e publicou seu primeiro livro aos vinte e seis anos. Casou-se com a portuguesa Carolina de

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Novaes, com quem viveu durante 35 anos – não tiveram filhos. Machado de Assis foi funcionário público, jornalista e, como escritor já consagrado, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Obra

A obra literária de Machado de Assis é bastante extensa e compreende poesia, crônica, conto, teatro e romance. A mais importante é dividida em duas fases: a romântica e a realista.

Primeira fase – romântica

Ressurreição (1872) – romance A Mão e a Luva (1874) – romance Helena (1876) – romance Iaiá Garcia (1878) – romance Contos Fluminenses (1872) – contos Histórias da Meia-Noite (1873) – contos

Os romances românticos de Machado de Assis seguiam praticamente a mesma trilha dos melhores romances urbanos de José de Alencar, mas já se delineavam neles a crítica e a análise psicológica que pontificaram na sua melhor fase, a realista. Em Iaiá Garcia, por exemplo, destaca-se a importância da sociedade na formação do indivíduo, e esse procedimento foi um dos motivos condutores dos romances realistas de Machado de Assis.

Segunda fase – realista

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) – romance Quincas Borba (1891) – romance Dom Casmurro (1900) – romance Esaú e Jacó (1904) – romance Memorial de Aires (1908) – romance Papéis Avulsos (1882) – contos Histórias sem Data (1884) – contos

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Relíquias da Casa Velha (1906) – contos

Teatro

A Queda que as Mulheres Têm pelos Tolos (1864) Quase Ministro (1864) Tu, Só Tu, Puro Amor (1881)

Poesia

Falenas (1870) Americanas (1875) Ocidentais

A Criatura (fragmento)

Sei de uma criatura antiga e formidável,

Que a si mesma devora os membros e as entranhas

Com a sofreguidão da fome insaciável.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo

Vem a folha, que lento e lento se desdobra,

Depois a flor, depois o suspirado pomo

Pois essa criatura está em toda a obra:

Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;

E é desse destruir que as suas forças dobra.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto;

Começa e recomeça uma perpétua lida,

E sorrindo obedece ao divino estatuto.

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Tu dirás que é a Morte: eu direi que é a Vida.

Machado de Assis, Poesia Completa. p. 447.

A poesia machadiana não é muito comum nos livros de Literatura de Ensino Médio, apesar de ser comparável às dos grandes poetas brasileiros. Talvez a excelência dos romances da fase realista tenha deixado os poemas de Machado de Assis em segundo plano. De acordo com o crítico e historiador de literatura Alfredo Bosi, em História Concisa da Literatura Brasileira, além dos versos bem elaborados, nos poemas de Ocidentais (como “A Criatura”), estão presentes a desesperança, o mito da natureza madrasta e o gosto de destruir, que marcam a condição humana. Quanto à forma, a poesia de Machado de Assis é parnasiana.

O texto a seguir é um soneto que Machado de Assis fez para a esposa, Carolina, que faleceu em 1904. Evidentemente, o texto é pleno de sentimento, mas isso ocorre de maneira comedida, à moda realista, isto é, sem o arrebatamento emocional romântico – afinal, o poema é de 1906.

À Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

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E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.

Características da prosa realista de Machado de Assis

Machado de Assis é citado como o escritor realista brasileiro, mas é preciso considerar que a obra dele está muito além dos procedimentos literários dos autores de características realistas, na medida em que ele se preocupou em ter um caminho próprio, singular, que o diferenciou de todos. De que forma isso se deu? Para responder a essa questão, você deve considerar as características citadas na aula anterior como machadianas (com algumas nuances diferentes) e ainda fixar as explicações a seguir.

Análise psicológica

O indivíduo – a alma humana –, suas motivações, tendências psíquicas, as causas e consequências de suas ações e suas relações com o meio e com o momento são as principais características da prosa realista machadiana. Por isso, Machado de Assis não conta uma história: os fatos por ele narrados são meros referenciais para analisar os indivíduos e a sociedade.

Antilinearidade

Na maioria das narrativas de Machado de Assis, não existe o esquema tradicional começo, meio e fim. A história é fragmentada, as ações acontecem em zigue-zague e o narrador sempre conversa com o leitor (a quem ele trata por tu, vós, leitor ou leitora) para filosofar acerca do que conta e desviar a atenção dele para detalhes periféricos, a fim de que este, além de fruir a história, pense sobre os acontecimentos narrados. Na realidade, esse autor não quer um leitor comum, mas um cúmplice do que está sendo exposto.

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Temas machadianos

Descrença nas instituições Igreja, Estado, casamento e família como “burguesamente” se apresentavam; o egoísmo, a hipocrisia, o adultério, a traição, a mentira, a vaidade e o interesse dominando as relações humanas; os limites da loucura e da razão; a desesperança, o mito da natureza madrasta e o gosto de destruir (já presentes em sua poesia), que marcam a condição humana, são temas recorrentes em Machado de Assis.

Toda essa temática é carregada de ironia e ambiguidade, marcas singulares de Machado de Assis. Assim, especialmente as heroínas – como Capitu (Dom Casmurro), Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas), Sofia (Quincas Borba), Flora (Esaú e Jacó) e Conceição (“Missa do Galo”) – agem de forma equivocada,e suas ações e as dos outros personagens são sempre caracterizadas por esse tom irônico e ambíguo, gerando dúvidas no leitor. Essa é, aliás, uma peculiaridade de escritores que fogem da gratuidade de certas narrativas que dão tudo pronto ao leitor.

É importante considerar, ainda, que a leitura que Machado de Assis faz da vida e da sociedade é completamente pessimista.

Universalidade

A obra de Machado de Assis, via de regra, tem ações ambientadas no Rio de Janeiro do Segundo Império, local e época em que ele viveu. Entretanto, os temas desse escritor ultrapassam os limites de seu tempo, pois dizem respeito ao ser humano de qualquer lugar e período.

Forma perfeita

Machado de Assis tem sido o modelo de linguagem da maioria dos escritores brasileiros. O texto dele é gramaticalmente bem elaborado, suas frases e capítulos são curtos e sua sintaxe é predominantemente subordinada, característica de quem sabe expressar o que pensa.

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Algumas sinopses

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Ao longo dos 160 capítulos desse romance, o defunto Brás Cubas narra, sempre conversando com o leitor, sua vida de fracassos: seus amores frustrados com a cortesã Marcela, com a adúltera Virgília, com a doente Eulália e com a coxa Eugênia. Além disso, faz considerações sobre o governo do segundo Império, as famílias, a imprensa, a sociedade, a vida e a morte. Ele alimenta uma amizade com o ex-mendigo Quincas Borba, herdeiro de uma fortuna em Barbacena, demente e filósofo criador do humanitismo, uma gama de teorias que critica todas as filosofias existentes.

Brás Cubas falhou em tudo – nos amores, na profissão de advogado e na política – e morreu de pneumonia aos 64 anos, quando tentava criar um emplasto, remédio que seria a cura dos hipocondríacos, não fosse a intenção do inventor de simplesmente colocar seu nome no rótulo da embalagem do remédio para, assim, ganhar posteridade, já que nada produzira em vida.

O defunto-autor Brás Cubas é um cínico: durante a narrativa inteira, ironiza tudo e a si mesmo e termina justificando, ironicamente, a frívola existência:

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro,não fui califa,não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comer o pão com o suor do meu rosto. Mais: não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque, ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Quincas Borba

Esse romance conta a história do jovem professor mineiro Rubião (de Barbacena), para quem o filósofo Quincas Borba deixa toda a herança, com a

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condição de que o herdeiro cuide do cachorro também chamado de Quincas Borba.

Cheio de dinheiro e tendo aprendido algumas frases do humanitismo de Quincas Borba, Rubião muda-se para o Rio de Janeiro. Moço de interior,ingênuo, cercado de pessoas que vivem do seu dinheiro, Rubião apaixona-se por Sofia, esposa de Cristiano Palha, casal que Rubião conhecera na viagem de trem para o Rio. Aos poucos, Sofia e Palha vão sugando toda a riqueza de Rubião. O ex-professor perde a razão e a fortuna. Fala sozinho, julga-se Napoleão e repete sempre, na sua alucinação, a frase-chave do humanitismo: “Ao vencedor, as batatas”.

No final da narrativa, o louco Rubião foge do hospital em que fora internado e vai para Barbacena, onde falece. Três dias depois, morre também o cachorro Quincas Borba.

Esse romance é a narrativa da tragédia de Rubião. O dinheiro que ele recebeu de Quincas Borba fê-lo conhecer o Rio de Janeiro, viver em palacete, freqüentar a corte, ser cortejado e também apaixonar-se por Sofia. Essa paixão é que levou Rubião à loucura e, consequentemente , à morte.

Observe este fragmento do capítulo VI, em que o velho filósofo Quincas Borba tenta explicar ao jovem e ignorante Rubião o humanitismo. “Ao vencedor, as batatas” éa explicação da tragédia de que Rubião foi vítima posteriormente.

[...]

- Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte,há vida, porque a supressão de uma é a condição de sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se,pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que

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virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

- Mas a opinião do exterminado?

- Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver a água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias.

- Bem; a opinião da bolha...

- Bolha não tem opinião. Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho. Repito, as bolhas ficam na água. Vês este livro? É D. Quixote. Se eu destruir o meu exemplar, não elimino a obra que continua eterna nos exemplares subsistentes e nas edições posteriores. Eterna e bela, belamente eterna, como este mundo divino e supradivino.

Dom Casmurro

Certamente a obra mais popular de Machado de Assis, parece uma narrativa de um caso banal de adultério. Mais que isso, é uma tragédia, como outros romances do autor. O advogado Bentinho, viúvo, sem herdeiros, mora acompanhado de mordomo e empregados em uma bela casa de um subúrbio do Rio de Janeiro. Como era um homem de hábitos solitários, misantropo e antipático, um vizinho o apelidou de Casmurro. Logo os vizinhos dele acrescentaram, por ironia, o título Dom, por isso Dom Casmurro.

Bentinho, já cinquentão, escreve um livro que intitulou de Dom Casmurro, para explicar ao leitor por que é um homem solitário, misantropo, ou seja, casmurro. Então, ele volta ao tempo em que tinha quinze anos e era um adolescente puro, ingênuo, filho único de Dona Glória, uma viúva rica com quem moravam algumas pessoas: a viúva prima Justina, o viúvo tio Cosme, o agregado José Dias e alguns escravos.

Nessa época, embora já estivesse de namoro com Capitu, uma adolescente filha de vizinhos pobres, Bentinho teve de ir para o seminário para cumprir uma promessa que sua mãe fizera a Deus. No seminário, a vida

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religiosa não o atrai. Lá, conhece Escobar, um rapaz de Curitiba, esperto e objetivo, de quem se torna amigo. Escobar monta um plano para Bentinho sair do seminário e isso acontece. Dona Glória finonciou a ordenação de um jovem pobre, ficando Bentinho livre do seminário e cumprindo-se, dessa forma, a promessa de sua mãe.

O namoro entre Bentinho e Capitu se intensifica. Bentinho vai para São Paulo, forma-se em Direito aos 23 anos, retorna à capital do Império e casa com Capitu. O amigo Escobar também sai do seminário, monta um negócio no Rio de Janeiro e casa com Sancha, amiga de Capitu.

Os casais visitam-se constantemente, mantendo a antiga amizade, até que Sancha engravida e tem uma menina que recebe o nome de Capituzinha, em homenagem à amiga. Tempos depois, Capitu também engravida e tem um menino que é chamado de Ezequiel, em homenagem ao amigo, cujo nome é Ezequiel Escobar. Nesse momento, Bentinho é um advogado de sucesso e os negócios de Escobar prosperam. Dona Glória, Prima Justina e José Dias são completamente dedicados ao menino Ezequiel.

Nessa época de felicidade, começam as agruras de Bentinho. Capitu chama a atenção do marido para o fato de o filho, Ezequiel, que tem mania de imitar os outros, apresentar semelhanças físicas com o amigo Escobar. Bentinho, desconfiado e ciumento, passa a achar que Ezequiel não é filho dele.

Escobar tem porte atlético e é ótimo nadador (Bentinho é franzino). Num sábado pela manhã, Escobar vai nadar na praia do Flamengo, mas, como o mar está ressacado, não resiste à força das águas e morre afogado. As lágrimas de Capitu no velório do amigo despertam mais desconfianças no ciumento Bentinho.

Após a morte de Escobar, o casamento de Bentinho e Capitu não se sustenta. Bentinho, considerando-se traído pela esposa e certo de que Ezequiel não é seu filho, pensa em suicidar-se e até em matar Ezequiel com veneno, mas prefere levar esposa e filho para a Europa e lá os deixa, mantendo, para a sociedade carioca, a aparência da existência de um casamento que se desmanchara. Morrem Dona Glória e o agregado José Dias. Capitu também falece na Europa e é enterrada na Suíça.

Bentinho, morando sozinho num subúrbio do Rio de Janeiro, recebe a visita de Ezequiel, que não vê há anos. Ao ver o filho já moço, não tem dúvidas de que ele é fruto do adultério, tal a semelhança física entre Ezequiel e o falecido amigo Escobar. Ambos ficam juntos durante três meses. Após esse tempo, Ezequiel vai para o Oriente Médio numa expedição de pesquisa arqueológica e lá morre de uma doença epidêmica.

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Bentinho conta a história do seu casamento para mostrar ao leitor que ele foi vítima da traição justamente da única mulher que amou. Acontece que o virtuosismo da fabulação de Machado de Assis serve-se de um procedimento de grandes escritores: a ambiguidade. Não existe, em toda a narrativa, a cena de alcova em que o marido traído flagra os amantes (aliás, isso é prerrogativa de escritores previsíveis); o que há é a montagem de um processo de um advogado amargurado no qual são arrolados pequenos flagrantes, indisfarsáveis suspeitas e o perfil psicológico de uma mulher que quer somente a ascensão social e se mostra traidora desde o momento em que entra na narrativa.

A seguir, um fragmento do capítulo XXI – “Olhos de ressaca” –, talvez uma das mais belas metáforas que caracterizam o personagem.

[...]

- Você jura?

- Juro! Deixe ver os olhos, Capitu.

Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei de extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas.

[...]

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que de fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro,como a vaga que se retira da praia,nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía dela vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.

Esaú e Jacó

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Nesse romance, o narrador conta que se apossou de dois manuscritos que tinha achado e foram produzidos por um ex-diplomata, o Conselheiro Aires. Trata-se dos textos intitulados “Último” e “Memorial”. Utilizando “Último”, o narrador escreveu o romance Esaú e Jacó e, com “Memorial”, o (também romance) Memorial de Aires.

Esaú e Jacó não tem a excelência da estrutura e da fabulação dos outros romances realistas de Machado de Assis, a não ser pela linguagem bem elaborada. A estrutura romanesca é bem marcada, com começo, meio e fim, e os personagens são planos, isto é,não alteram seu comportamento em toda a narrativa. Pedro e Paulo, filhos gêmeos da zelosa Natividade e do banqueiro Santos, conforme visões de uma sortista de nome Bárbara (o fio condutor de toda a trama), brigam desde o ventre materno, por toda a vida. São inimigos na política (Pedro é monarquista; Paulo,um ferrenho republicano), adversários nas ideias (Pedro é conservador; Paulo, reformista), contrários na profissão (Pedro faz Medicina; Paulo, Direito) e disputam o amor da mesma mulher, Flora, uma moça bonita e ambígua que não se decide por nenhum deles. A morte prematura de Flora e o falecimento de Natividade obriga os gêmeos a uma trégua, logo desfeita, já que continuam inimigos políticos como deputados da República recentemente proclamada. No meio dessa inimizade, o narrador introduz o Conselheiro Aires – o verdadeiro autor da história – viúvo e ex-diplomata, vivendo sua aposentadoria no Rio de Janeiro, sendo amigo da família Santos e exercendo o papel de eterno conciliador,uma vez que é completamente avesso a discussões.

Memorial de Aires

Publicado em 1908, logo após a morte de Machado de Assis, é um romance-diário narrado pelo diplomata aposentado Conselheiro Aires, que apresenta poucas personagens: os velhos Aguiar e Dona Carmo, casal marcado pela esterilidade; o jovem Tristão, que faz as vezes do filho que o casal não teve; a viúva Fidélia, o próprio narrador e sua irmã Rita. O drama e o enredo apresentados no livro são simples, mas você deve saber que o forte de Machado de Assis é fazer uma profunda análise psicológica e não simplesmente contar uma história. O drama é a esterilidade, porque Aguiar e Dona Carmo não tiveram filhos e “adotam” Tristão. Este, um dia, vai para a Europa, onde estuda e torna-se deputado. Os velhinhos ficam solitários, e Fidélia passa a compensar essa ausência. A alegria retorna. Mas Tristão volta, casa-se com Fidélia e a leva para Portugal. Dá-se, então, a tragédia da velhice sem filhos, que, segundo o narrador, traz um sentimento de inutilidade e de solidão.

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Machado de Assis é considerado o melhor escritor brasileiro, e isso também diz respeito ao contista que ele foi. Entre seus contos, destacam-se “A Igreja do Diabo”, “Conto de Escola”, “Missa do Galo”, “A Cartomante”, “Cantiga dos Esponsais”, “Uns Braços”, “Miss Dólar” e “O Alienista” (muitos críticos literários consideram essa obra uma novela).

Atividades

01) (Fuvest-SP – adaptado) Quem é o personagem Quincas Borba? Em que romances ele aparece?

No romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba é um mendigo que herda uma vultosa quantia em dinheiro em propriedades na cidade de Barbacena (MG). Brás Cubas o encontra numa praça do Rio de Janeiro e eles se tornam “amigos”: haviam estudado juntos quando crianças. O mendigo tem laivos de loucura e inventou uma filosofia chamada humanitismo. Essa mesma personagem dá nome a outra obra de Machado de Assis: Quincas Borba. Nesse romance, Quincas Borba, rico, em Barbacena, contrata os serviços de um professor de crianças – Rubião, que herda toda a seua riqueza.

Texto para as questões 02 e 03.

CAPÍTULO CXLVIII / E BEM, E O RESTO?

Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração?

Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca,nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.

E bem, qualquer que seja a solução, uma cousa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu

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maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à “História dos Subúrbios”.

Machado de Assis, Dom Casmurro.

Costuma-se reconhecer que o discurso do narrador de Dom Casmurro apresenta características que remetem às duas formações escolares pelas quais ele passou: a de seminarista e a de bacharel em Direito.

02) No texto, você identifica algum aspecto que se possa atribuir ao ex-seminarista? Explique sucintamente.

A citação bíblica, transcrita e indicada – livro de Sirach (Eclesiástico), cap. IX, vers. 1 –, denuncia um repertório de leituras típicas de um ex-seminarista. O Eclesiástico, atribuído a Jesus, filho de Sirach – não confundir com Jesus de Nazaré –, é livro canônico na Bíblia católica, mas não na protestante, o que indica que Bentinho e formou segundo os princípios religiosos do catolicismo.

03) O modo pelo qual o narrador conduz a argumentação revela o bacharel em Direito? Explique resumidamente.

A argumentação desenvolvida nesse parágrafo é de teor dialético, com a proposição de uma hipótese, confronto de pontos de vista opostos e encaminhamento de uma conclusão com a qual Bentinho tenta conquistar o leitor, que é considerado o júri. Esses procedimentos no texto podem ser associados à formação bacharelesca de Bentinho.

04) (Enem) Leia o texto e examine a ilustração.

Óbito do Autor

(Pegar ilustração)

[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869,na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia – peneirava – uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à

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beira de minha cova: - “Vós, que o conhecestes, meus senhores,vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” [...]

Adaptado de: ASSIS, Machado de. Memórias póstumas

de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943. p. 1.

Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto afirmar que a ilustração do pintor.

a) apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal.

b) retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis.

c) distorce a cena descrita no romance.

d) expressa um sentimento inadequado à situação.

e) contraria o que Machado de Assis descreve.

(UEPG-PR) O texto a seguir serve de base para as questões 05, 06 e 07.

O SENÃO DO LIVRO

Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho o que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar, tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...

E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.

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Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

05) A partir da leitura deste capítulo do romance de Machado de Assis, podemos concluir, no que diz respeito ao seu estilo narrativo, que

I. se trata de uma obra fragmentada.

II. os capítulos vão e vêm sem uma linearidade cronológica rígida.

III. o narrador, em estado de embriaguez, não consegue impor uma ordem satisfatória em suas lembranças.

IV. o ideal de arte do narrador está na regularidade e na fluência da narrativa.

Das opções acima, estão corretas:

a) II, III e IV.

b) I, II e III.

c) II e III.

d) II e IV.

e) I e II.

06) O capítulo em questão pode ser considerado metalinguístico porque

a) o narrador fala sobre sua própria vida.

b) é explícita a presença do narrador.

c) o narrador comenta aspectos estilísticos do romance.

d) Machado de Assis criou um narrador que está morto.

e) há uma nítida opção pela ironia.

07) O “Senão do Livro” é um dos momentos de conversa com o leitor. Machado de Assis usa este recuso com frequência, sendo abundantes em sua obra as referências ao fruidor. Assinale a alternativa que contém a afirmação incorreta sobre esse assunto.

a) o narrador reconhece que está escrevendo segundo o gosto do seu público.

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b) ao contrário do que acontecia no período romântico, há agora uma fratura entre a obra e o público.

c) a intenção do autor não é contentar quem o lê, mas mexer com os seus valores, fazendo com que ele veja e sinta as coisas de forma diferente.

d) o narrador, por estar (pelo menos em tese) morto, sente-se livre para frustrar o leitor.

e) o diálogo com o leitor constitui uma digressão narrativa, que fortalece o caráter ziguezagueante do livro.

08) (UEPG-PR) Memórias Póstumas de Brás Cubas seria uma espécie de educação sentimental, em que o narrador vai relatando a sua vida a partir de um eixo: a relação amorosa. Assinale a única afirmativa que não é verdadeira quanto ao caráter do amor nessa obra de Machado de Assis.

a) a primeira experiência de Brás Cubas é marcada pelo cálculo interesseiro.marcela se entrega ao jovem apenas pelos ricos presentes que recebe.

b) o narrador, recusado por Marcela, cura-se da paixão depois de uma estada na Europa. Ao retornar, não se deixa levar pelo encanto de Eugênia, por ter ela um defeito físico que lhe fecharia as portas de uma vida social de sucesso.

c) Brás Cubas se apaixona por Virgília e, juntos, rompem com todas as convenções sociais, vivendo um grande amor até o fim de sua vida.

d) a paixão por Virgília tem que ser clandestina porque, dentro de uma estrutura social em que o casamento é uma forma de elevação social, ela acaba optando por um outro pretendente, Lobo Neves, político em ascensão.

e) o noivado com Eulália, consolidado sem grandes entusiasmos, é um degrau a mais rumo à revelação dos mecanismos de relacionamento, que têm por fim último a conciliação de interesses.

09) (UFBA)

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.

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Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me [...]

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. p. 69-70.

Considerando o fragmento acima, a alternativa que corresponde à classificação da personagem Capitu, da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, é

a) personagem com atitudes superficiais, sem demonstração de vivência interna, cuja atuação em nada determina o desenvolvimento da ação narrativa.

b) caricatura – personagem vista sob um ângulo estereotipado e cômico.

c) personagem tipo, cuja vida superficial e estática representa uma média normal de indivíduos, com defeitos, qualidades e vícios comuns.

d) personagem redonda – plena de profundidade e vida interior, as coisas passam-se dentro dela; revela-se por força de sua personalidade e caráter.

e) personagem plana – destituída de dramaticidade, vida interior: as coisas acontecem a ela, não dentro dela.

10) (UEL-PR) Uma característica, já presente em romances de José de Alencar, encontra em Machado de Assis o ponto mais alto da narrativa brasileira do século XIX. Trata-se

a) do traço regionalista, que estende e procura completar a visão das terras do Brasil.

b) do aprofundamento da análise psicológica das personagens, notadamente das femininas.

c) da preocupação com o homem do sertão brasileiro, cuja vida é tema de romances e contos.

d) da vertente indigenista, preocupada em ampliar o conhecimento das coisas brasileiras.

e) da identificação das situações criadas entre as personagens, na trama narrativa.

11) (UEL-PR) Associe os títulos dos romances aos respectivos fragmentos.

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01. Memorial de Aires

02. Quincas Borba

03. Dom Casmurro

04. Memórias Póstumas de Brás Cubas

05. Esaú e Jacó

( 2 ) Nisto passou um rapaz alto, que a cortejou sorrindo e vagarosamente. Sofia cortejou-o também um pouco espantada da pessoa e da ação.

( 3 ) Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca.

( 1 ) Ao levantar da cama, a primeira ideia que me acudia foi aquela que escrevi ontem, à meia-noite:

Esta moça (Fidélia) foge e alguma coisa, se não foge a si mesma.

( 4 ) Somadas umas cousas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e consequentemente que saí com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas:

- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

( 5 ) – Tem razão, sr. Conselheiro – disse Paulo – Pedro é um velhaco...

- E você é um furioso...

- Em grego, meninos; em grego e em verso, que é melhor a nossa língua e a prosa do nosso tempo.

A sequência correta é

a) 2 – 1 – 3 – 4 – 5

b) 1 – 2 – 3 – 4 – 5

c) 1 – 3 – 2 – 4 – 5

d) 5 – 4 – 1 – 3 – 2

e) 2 – 3 – 1 – 4 – 5

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12) (PUC-BA) O romance realista traduz, seguidas vezes, uma concepção materialista da realidade, da existência e do homem. Aponte a alternativa que ilustra essa proposição.

a)

A floresta destilava suave fragrância e exalava arpejos harmoniosos; os suspiros do coração se difundiram nos murmúrios do deserto.

b)

O progresso técnico acabou com qualquer veleidade de amar a vida, que tornou muito confortável, mais invisível.

c)

No céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra, há tão poucos que o amem, todos o ofendem.

d)

Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.

e)

Na ocasião daqueles dias, a recordação de Vovó Olegária se me ressuscitava, desenganava-se, retornava remoçada.

13) (UFPE) No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo.

Certo, não lhe falta imaginação; mas esta tem suas regras, o estro leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras, é porque as fazem novas, é porque se chamam Shakespeare, Dante, Goethe, Camões.

Com base nesse texto, notamos que o autor

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a) preocupa-se com princípios estéticos e acredita que a criação literária deve decorrer de uma elaboração da produção dos autores.

b) refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período reivindicaram uma estética oposta à clássica.

c) entende a arte como um conjunto de princípios estéticos consagrados, que não podem ser manipulados por movimentos literários específicos.

d) defende a ideia de que cada movimento literário deve ter um programa estético rígido e inviolável.

e) entende que o Naturalismo e o Parnasianismo constituem solução ideal para pôr termo à falta de invenção dos românticos.

Naturalismo (1881)

[...]

Noventa e cinco casinhas comportou a imensa estalagem. As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago adiantado.

[...]

Daí a pouco, em volta das bicas era um zum-zum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns após outros lavavam a cara debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar. [...] Os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas das mãos. As portas das latrinas não descansavam: era um abrir e fechar a cada instante, um entrar e sair sem tréguas. [...] As crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, a multiplicar-se como larvas no esterco.

Esse fragmento do romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, descreve o amanhecer de um cortiço, habitação coletiva comum no Rio de Janeiro do

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século XIX. Tanto quanto Machado de Assis, Aluísio de Azevedo mostrava a realidade, mas não se detinha na análise psicológica dos personagens; a ele só interessava o coletivo e a bestialidade natural do ser humano. Essa é a diferença básica entre o Realismo propriamente dito, o de Machado de Assis, e o Naturalismo de Aluísio de Azevedo.

O Naturalismo nasceu na França nos romances Teresa Raquin e Germinal, de Émile Zola, e se difundiu pelo Ocidente como forma agressiva de revelar a sujeira da sociedade. No Brasil, o romance O Mulato, de Aluísio de Azevedo, publicado em 1881, é considerado o livro inicial desse movimento.

Características

Observação – objetividade – verossimilhança: retrato da verdade por meio da observação.

Homem é produto do meio, da raça e do momento: aplicação das teorias de Hippolyte Taine.

O ser humano é um animal: age por instinto, não pensa e porta-se como uma besta, ou seja, segue as mesmas leis naturais que regem um animal qualquer.

Determinismo biológico: o homem recebe por herança seu temperamento e o meio só o desenvolve. Presença das teorias de Herbert Spencer sobre o determinismo.

Patologia: personagens mórbidos, viciados e doentes. No Naturalismo, há uma legião de bêbados, assassinos, incestuosos, homossexuais, devassos e prostituídos. O feio, o vulgar e o sórdido dominam as narrativas.

Crítica social explícita: denúncia dos problemas sociais e da degradação humana.

Preferência pelos ambientes dos menos favorecidos: desenvolvimento do enredo em cenários como cortiços, pensões e subúrbios.

Detalhismo: narração lenta e descrição detalhada. Romances de tese: o objetivo dessas narrativas era defender uma tese

– o homem é resultado da raça, do meio e do momento, conforme apregoava o francês Taine.

Observação

É importante entender que o Realismo de Machado de Assis se preocupava em retratar psicologicamente o indivíduo e as suas relações com o meio; dessa forma, ele fazia uma radiografia do indivíduo e da sociedade

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simultaneamente. Já o Naturalismo de Aluísio de Azevedo e outros escritores privilegiava o coletivo e a força do meio sobre este.

Principais autores

Aluísio de Azevedo (1857 – 1913)

Maranhense de São Luís, era desenhista desde menino e passou a escrever aos 24 anos. Depois de publicações de sucesso no Rio de Janeiro, onde se radicara, desgostou-se da literatura, que mal o sustentava, e tornou-se diplomata.

Principais obras

O Mulato (1881) – romance que conta a história do mulato Raimundo, vítima de racismo em São Luís do Maranhão.

Casa de Pensão (1884) – romance em que a ação acontece no Rio de Janeiro. Amâncio, rapaz do interior e estudante na capital federal, é corrompido pela sujeira da pensão onde morava.

O Cortiço (1890) – principal romance de Aluísio de Azevedo.

O Cortiço é um painel do subúrbio do Rio de Janeiro e uma denúncia contra a discriminação racial, a miséria e o abandono em que jaziam as classes populares naquela metrópole.

A promiscuidade, a falta de travas morais, a sedução amolecedora do caráter exercida pelo ambiente, tudo isso acaba por tragar quantos se acerquem do cortiço de São Romão, seja o bom português Jerônimo, seja a pobre e ingênua Pombinha, esta arrastada à prostituição e aquele degradado pela carne sensual da mulata Rita Baiana.

A habitação coletiva, com seus moradores bestializados pela exaltação do sexo e a falta de perspectiva de melhoria em suas condições de vida, serve de pano de fundo para a ascensão social do português João Romão, dono do cortiço, em concorrência com Miranda, rico decadente e morador do sobrado ao lado do pardieiro.

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Em O Cortiço, os problemas, os atritos, as confusões são oriundas do sexo sujo e do dinheiro, e todos cedem indiferentes à força desse binômio. Nesse romance, o protagonista da narrativa é o próprio cortiço, porque é ele quem determina o comportamento dos indivíduos. Não existe, portanto, um protagonista humano, mas uma série de figurantes relacionados com uns ou com outros e, acima de tudo, com o ambiente.

Raul Pompeia (1863 – 1895)

Fluminense de Angra dos Reis, nos seus 32 anos de vida, cursou Direito em São Paulo e em Recife, militou na causa abolicionista, foi diretor da Biblioteca Nacional, professor de Mitologia e jornalista. Por causa de incidentes que provocara no enterro do Marechal Floriano (do qual era partidário), o poeta Olavo Bilac o ofendeu moralmente em um artigo de jornal. Raul Pompeia desafiou o poeta para um duelo que acabou não acontecendo. Raul suicidou-se na tarde do Natal de 1895, após ler críticas sobre sua conduta – envolvia-se constantemente em polêmicas políticas.

Principal obra

O Ateneu (1888)

Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa do carinho que é o regime de amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpora brusca da vitalidade na infância de um rigoroso novo clima [...] Eu tinha onze anos. [...]

Esse é o começo do primeiro romance autobiográfico da literatura brasileira: O Ateneu. Nesse livro, o menino Sérgio narra a sua estada no Colégio Abílio, ou o Ateneu, um colégio de regime de internato onde estudavam e viviam meninos e adolescentes de onze a dezoito anos. Mais que simplesmente narrar, Sérgio registra as impressões que teve dos colegas, dos

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professores e do diretor de métodos educacionais condenáveis. A narrativa termina com o incêndio do colégio, simbolizando, certamente, a destruição daquela sociedade e da monarquia.

O Ateneu é uma autobiografia romanceada de Raul Pompeia, porque o próprio autor foi aluno interno do Colégio Abílio. Trata-se de um grito de revolta contra a educação que recebeu na adolescência. Retrata a educação sexual e intelectual dos rapazes como reflexo de uma sociedade no contexto da falência do regime monárquico.

O romance O Ateneu apresenta outras classificações além do Naturalismo óbvio:

Romance impressionista: o narrador registra impressões do ambiente em que viveu, ou seja, não conta exatamente a verdade, mas as sensações que as coisas lhe causaram. O Impressionismo, aliás, é típico das narrativas memorialistas, pois a memória é o registro de sensações.

Romance expressionista: uma vez que o narrador usa a caricatura, procedimento típico do Expressionismo, movimento na época incipiente no Brasil.

Inglês de Sousa (1853 – 1918)

Paraense, escreveu um romance regionalista intitulado O Missionário, no qual conta a história do padre Antônio de Morais, um homem extremamente religioso que, ao exercer as funções de missionário na Amazônia, não resiste à sensualidade da cabocla Clarinha e cai em pecado.

Júlio Ribeiro (1845 – 1890)

Mineiro de Sabará, era filho de brasileira e norte-americano. Não conclui nenhum curso, mas foi um jornalista extremamente polêmico, especialmente na defesa do erotismo, apresentado no seu romance naturalista A Carne. Esse livro causou escândalo ao agredir a moralidade da sociedade brasileira do século XIX, colocando a personagem Lenita como a personificação do ser humano guiado pelo instinto sexual.

Adolfo Caminha (1867 – 1906)

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Cearense, oficial da Marinha, tem como obras importantes no Naturalismo os romances O Bom Crioulo e A Normalista.

O Bom Crioulo foi o primeiro romance brasileiro a focalizar as minorias sexuais. Trata do relacionamento homossexual entre o marinheiro negro Amaro e o loiro catarinense Aleixo. Parece que houve uma intenção clara nesse romance polêmico de Adolfo Caminha: denunciar o homossexualismo entre oficiais e marinheiros da Marinha Brasileira.

A Normalista é a história chocante de um incesto, em que Maria do Carmo, a normalista, é seduzida por João da Mata, seu padrinho. Na verdade, em certo ponto do romance, a personagem Maria do Carmo se apaixona pelo cheiro de sovaco do padrinho João da Mata. O romance mostra que o instinto é superior a qualquer força psíquica.

Domingos Olímpio (1867 – 1897)

Cearense, publicou um romance regionalista importante, Luzia-Homem, cuja ação acontece entre os retirantes da seca de 1877 e 1878. Por influência do meio e das circunstâncias, a força física que deveria caracterizar o homem Alexandre, um caboclo, ocupa o corpo de uma mulher, Luzia, a namorada dele.

Atividades

(Fuvest-SP – adaptada) O texto a seguir serve de base para as questões 01, 02 e 03.

Entretanto Maria não dava palavra, com as pálpebras pesadas de sono, respirando a custo, numa espécie de inconsciência muda, como hipnotizada. Este estado porém durou pouco; espreguiçou-se, repuxando o lençol para se cobrir melhor, e começou a achar certo encanto naquela intimidade secreta, ombro a ombro com o padrinho. Seu instinto de mulher nova acordara agora obscurecendo-lhe todas as outras faculdades, ao cheiro almiscarado que transudava dos sovacos de João da Mata. Coisa extraordinária! aquele fartum de suor e sarro de cachimbo produzia-lhe um efeito singular nos sentidos, como uma mistura de essências sutis e deliciosas, desconcertando-lhe as ideias. Uma coisa impelia-a para o padrinho, sem que ela compreendesse exatamente essa força oculta e misteriosa.

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01) A que romance naturalista pertence esse texto?

Esse texto pertence ao romance A Normalista, do cearense Adolfo Caminha.

02) Que vocabulário prova que esse texto pertence ao Naturalismo?

O vocabulário típico do Naturalismo: “seu instinto de mulher nova [...] ao cheiro almiscarado que transudava dos sovacos [...] fartum de suor e sarro de cachimbo”.

03) Explique a passagem abaixo segundo as características do Naturalismo.

[...] produzia um efeito singular nos sentidos [...] desconcertando-lhe as ideias [...]

Essa passagem do texto evidencia uma das crenças do Naturalismo: o ser humano é um animal, isto é, o instinto sobrepuja o psíquico.

04) (UFPR – adaptado) Que alternativa contém todas as características do romance naturalista enumeradas neste conjunto?

01. Vulgaridade

02. Atmosfera de sonho

03. Idealização do herói

04. Cientificismo

05. Espírito de aventura

06. Contemporaneidade

07. Predomínio da observação

08. Narrativa lenta, em prosa

09. O homem como indivíduo

10. Concepção mecanicista do mundo

a) 03 – 04 – 06 – 07 – 09 – 10

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b) 01 – 04 – 05 – 07 – 09 – 10

c) 03 – 04 – 07 – 08 – 09 – 10

d) 01 – 03 – 04 – 06 – 08 – 09

e) 01 – 04 – 06 – 07 – 08 – 10

05) (UFTPR) Identifique quais dos comentários abaixo dizem respeito à época naturalista e assinale a alternativa correta.

I. A fuga das impressões vulgares, a concentração nas visões interiores constituem, entre outros, traços típicos do Naturalismo, responsável pelo isolamento da sociedade, pelo ideal da torre de marfim.

II. O naturalista observa o homem por meio do método científico, impessoal e objetivamente, como um caso a ser analisado.

III. A visão da vida no Naturalismo é mais determinista, mais mecanicista: o homem aparece como máquina guiada pela ação das leis físicas, químicas, pela hereditariedade e pelos meios físicos e social.

IV. Para os naturalistas, a natureza era a fonte de inspiração, lugar de refúgio puro, não contaminado pela sociedade. Relacionada com esse culto, a ideia do “bom selvagem”, do homem simples e bom em estado de natureza (recuperado de Rousseau) dominou toda a época.

a) apenas o iem IV está correto.

b) II e III estão corretos.

c) apenas o item I está correto.

d) I e IV estão corretos.

e) III e IV estão corretos.

06) (ITA-SP) Assinale o texto que, pela linguagem e pelas ideias, pode ser considerado como representante da corrente naturalista.

a)

[...] essa noite estava de veia para a coisa; estava inspirada; divina! Nunca dançara com tanta graça e tamanha lubricidade! Também cantou. E cada verso que vinha de sua boca [...] era um arrulhar choroso de pomba no

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cio. E [...], bêbado de volúpia, enroscava-se todo ao violão; e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero de luxúria que penetrava até ao tutano com línguas finíssimas de cobra.

b)

Na planície avermelhada dos juazeiros, alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos, [...] Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.

c)

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.

d)

Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno [...] Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença.

e)

Hércules-Quasímodo, reflete o aspecto a fealdade típica dos fracos. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela.

07) (PUC-PR) O Naturalismo adquire uma feição própria inteiramente materialista, profundamente científica, com uma propensão irresistível para

a) o exame subjetivo do indivíduo.

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b) a análise da sociedade nos seus aspectos românticos.

c) o exame patológico do indivíduo.

d) a aferição mecânica do indivíduo.

e) o realismo da sociedade.

08) (Vunesp)

E assim, pouco a pouco, se foram reformado todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado que a entristecia; já apareciam por lá alguns companheiros de estalagem, para dar dois dedos de palestra nas horas de descanso, e aos domingos reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi completa: a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto ao bacalhau com batatas e cebolas cozidas; a pimenta-malagueta e a pimenta-do-reino invadiram vitoriosamente a sua mesa [...]

O trecho, que faz parte de um romance, ilustra uma das teses caras a certa escola literária vigente no Brasil no fim do século XIX e começou do século XX. No caso, essa tese só se compreende bem se o quadro de referências incluir uma personagem feminina como causa da transformação do português Jerônimo. Considerando esses pontos, assinale a alternativa correta.

a) O romance é A Carne; a escola, o Naturalismo; a tese, a influência determinante do momento; e o personagem feminino, Lenita.

b) O romance é Casa de Pensão; a escola, o Realismo/Naturalismo; a tese, a influência determinante da raça; e o personagem feminino, Bertoleza.

c) O romance é O Cortiço; a escola, o Naturalismo; a tese, a influência determinante da raça; e a personagem feminina, Rita Baiana.

d) O romance é O Cortiço; a escola, o Naturalismo; a tese, a influência determinante do meio; e o personagem, Rita Baiana.

e) O romance é O Mulato; a escola, o Realismo; a tese, a determinação causal do meio; e o personagem, Ana Rosa.

(Fuvest-SP) As questões 09 e 10 referem-se aos textos a seguir.

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Texto I

[...] a sua pele, cor de cobre, brilhava com reflexos dourados; [...] a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos [...]

Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e nervosa [...], apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida. Segurava o arco e as flechas com a mão direita caída...

Texto II

[...] devia ser esmagada, devia ser suprimida [...]. Ela era o torpe balcão da primitiva bodega; era o aladroado vintezinho de manteiga em papel pardo; era o peixe trazido da praia e vendido à noite ao lado do fogareiro à porta da taberna; era o frege imundo [...]; era o sono roncado num colchão fétido, cheio de bichos...

09) Pelas características que apresentam os textos I e II são, respectivamente

a) barroco e realista

b) moderno e moderno

c) moderno e naturalista

d) romântico e naturalista

e) romântico e simbolista

10) Com relação aos textos I e II, assinale a alternativa incorreta.

a) O texto I revela a profunda contradição existente em querer valorizar o nacional sem perder de vista os valores e padrões europeus.

b) O texto I é descritivo e a exagerada adjetivação apresenta o personagem como um ser imponente, idealizado.

c) As metáforas que caracterizam o personagem no texto II são exemplos da linguagem rude que Aluísio de Azevedo utiliza em seus livros.

d) A atmosfera de morbidez criada no texto II contraria os princípios do estilo de época que o texto I representa.

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e) Os dois textos são típicos do Modernismo, pois os escritores modernos amavam demais a liberdade, podendo, portanto, embelezar ou enfear o que quisessem.

11) (ITA-SP) Marque a opção que identifica autor e obra a que pertence o excerto abaixo.

Os companheiros eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O Gualberto, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, motilidade brusca e caretas de símio [...]; o Nascimento, o “bicanca”, alongado por um modelo geral de pelicano, nariz esbelto, curvo e largo como uma foice; o Almeidinha, claro, translúcido, rosto de menina, faces de um rosa doentio, que se levantava para ir à pedra com um vagar lânguido de convalescente; [...]. O resto, uma cambadinha indistinta, adormentados nos últimos bancos, confundidos na sombra preguiçosa do fundo.

a) Bernardo Guimarães – O Seminarista

b) Manuel A. de Almeida – Memórias de um Sargento de Milícias

c) Raul Pompeia – O Ateneu

d) Aluísio de Azevedo – O Cortiço

e) Jorge Amado – Capitães de Areia

12) (PUC-RS)

A mais terrível das instituições do Ateneu era a famosa justiça de arbítrio, não era ainda a cafua, asilo das trevas e do soluço, sanção das culpas enormes.

Era o livro das notas.

Todas as manhãs, infalivelmente, perante o colégio em peso, congregado para o primeiro almoço, às oito horas, o diretor aparecia a uma porta, com solenidade tarda das aparições, e abria o memorial das partes.

Em O Ateneu, Raul Pompeia denuncia, como exemplifica o texto, a

a) perversidade do sistema educacional.

b) relação perigosa entre adolescentes.

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c) brutalidade física na educação.

d) vontade de poder do educador.

e) política interesseira da escola.

13) (Cecem-SP) Identifica-se com a corrente impressionista a obra que

a) se preocupa mais em narrar os fatos do que em analisar a motivação psicológica das personagens.

b) se limita ao acidental, às contingências do dia a dia.

c) tenta criar um painel realista e objetivo por meio de uma narrativa lenta e minuciosa.

d) causa a impressão duradoura e profunda no espírito do leitor.

e) procura recriar, por meio da pesquisa de memórias, o tempo e o ambiente perdidos no passado.

Parnasianismo – Simbolismo – Pré-Modernismo

Parnasianismo (1880)

As seis estrofes seguintes fazem parte do poema “Profissão de Fé”, do poeta parnasiano Olavo Bilac. Profissão de fé é uma expressão que significa “declaração pública de uma crença”. Nesse poema, Olavo Bilac declara seu conceito de poesia, que era o credo do Parnasianismo: o poeta, quando escreve, tem o mesmo cuidado de um ourives ao trabalhar com o ouro.

Invejo o ourives quando escrevo:Imito o amorCom que ele, em ouro, o alto relevoFaz de uma flor.

Bilac, como parnasiano, privilegiava os vocábulos nobres e raros como o ourives despreza o mármore de Carrara e escolhe as pedras raras.

Imito-o. E, pois, nem de CarraraA pedra firo:O alvo cristal, a pedra rara,O ônix prefiro.

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Bilac compara a pena (com que escreve) ao cinzel (martelo do ourives), pela precisão que ambos os instrumentos devem ter.

Por isso, corre, por servi-me,Sobre o papelA pena, como em prata firmeCorre o cinzel.

A ideia do poeta deve ser vestida de uma roupa solene; essa metáfora defende o privilégio aos elementos formais do texto.

Corre; desenha, enfeita a imagem,A ideia veste:Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagemAzul-celeste.

O poeta compara a rima ao rubi. Isso significa que a rima tem que ser perfeita.

Torce, aprimore, alteia, limaA frase; e, enfim,No verso de ouro, engasta a rimaComo um rubim.

Bilac insiste na ideia de que o trabalho do poeta precisa ser idêntico ao do ourives.

Quero que a estrofe cristalina,Dobrada ao jeitoDo ourives, saia da oficinaSem um defeito.

Assim procedo. Minha penaSegue esta norma.Por te servir, Deusa serena,Serena Forma!

O poema “Profissão de Fé” é longo. A reprodução dessas estrofes objetiva mostrar o procedimento principal dos poetas parnasianos: a busca da perfeição da forma do poema.

O Parnasianismo nasceu na França com a revista Le Parnasse Contemporain, por volta de 1870. Os poetas Leconte de Lisle, Théophile Gautier e Charles Baudelaire (este romperia com a estética parnasiana mais

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tarde) propunham um texto literário sem os exageros emocionais do Romantismo e uma poesia voltada para si mesma, isto é, uma poesia que funcionasse como um objeto de arte cuja função seria causar prazer estético.

No Brasil, o Parnasianismo esteve principalmente na poesia de Olavo Bilac, de Raimundo Correia e de Alberto de Oliveira e dominou a produção literária no final do século XIX e do começo do século XX.

Além da preocupação com a elaboração de um poema perfeito, as características do Parnasianismo eram as relacionadas a seguir:

Arte pela arte: certamente escudado nos poetas parnasianos, o poeta paranaense Paulo Leminski escreveu que poesia é um in( utensílio), isto é, um utensílio inútil. Ora, segundo o Parnasianismo, o poema deve ser um objeto de arte, ele é um fim em si mesmo. O poema não deve estar a serviço de uma causa social, não deve fazer concessão ao que é prosaico e popular; o poema só pode retratar o que é esteticamente belo.

Grécia – Roma – Renascimento: Parnasianismo tem tudo a ver com a Grécia ( e seus imitadores), uma vez que o Parnaso é a região montanhosa onde ficaria o Olimpo, a morada dos deuses segundo a mitologia grega. Os parnasianos buscavam retratar a beleza ideal cujo modelo foi inspirado na Grécia e, por conseqüência, em Roma e no Renascimento.

Objetividade e impassibilidade: pode-se dizer que o Parnasianismo foi o Realismo na poesia na medida em que era antirromântico: os textos dessa escola buscavam a objetividade e evitavam os arroubos sentimentais típicos do Romantismo. Todavia, a completa isenção de sentimentos (impassibilidade, frieza) não aconteceu nos parnasianos brasileiros.

Descrição: objetos esteticamente bonitos, criaturas belas e fatos históricos interessantes eram assuntos parnasianos; por isso, a descrição era uma forma recorrente nos textos parnasianos.

Soneto: o poema (texto em verso) foi a tônica parnasiana, tanto que o soneto se constituiu na forma poética fixa mais cultivada por Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira, a trindade parnasiana. Mesmo assim, o vocabulário rebuscado e culto, a sintaxe clássica e preciosa também apareceram em prosadores como Rui Barbosa e Coelho Neto.

Simbolismo (1893)

O poeta catarinese Cruz e Sousa escreveu a sua profissão de fé no Simbolismo ao redigir o poema “Antífona”, nome dado à primeira oração rezada pelo padre na missa e que significa preparação. Aliás, de modo geral, o vocabulário litúrgico, bíblico e esotérico permeia os poemas simbolistas.

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Leia a seguir seis estrofes desse poema.

Ó Formas alvas, brancas, Formas clarasDe luares, de neves, de neblinas!...Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...Incensos dos turíbulos das aras...

O poeta defende um texto cuja forma expresse brancura, vanguidade, volatilidade e misticismo.

Formas do Amor, constelarmente puras,De Virgens e de Santas vaporosas...Brilhos errantes, mádidas frescurasE dolências de lírios e de rosas...

O poema simbolista apresenta metáforas singulares e emprega letras maiúsculas no meio do verso para valorizar o vocábulo.

Indefiníveis músicas supremas,Harmonias da Cor e do Perfume...Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Não existe poesia simbolista sem musicalidade e sinestesia (vocábulos com sentido de dor, cheiro, gosto, enfim, sensações).

Visões, salmos e cânticos serenos,Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...Dormências de volúpicos venenosSutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Novamente o vocabulário litúrgico, a música e a sinestesia. Dormência é o estado simbolista: nem acordado nem dormindo, mas dormente.

Infinitos espíritos dispersos,Inefáveis; edênicos, aéreos,Fecundai o mistério destes versosCom a chama ideal de todos os mistérios.

Espiritualidade, mistério, diafaneidade sempre estão presentes nos poemas.

Tudo! Vivo e nervoso e quente e forte,Nos turbilhões quiméricos do Sonho,Passe, cantando, ante o perfil medonhoE o tropel cabalístico da Morte...

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De novo a sinestesia. Agora, a presença do sonho e a referencia ao misticismo da cabala, ciência esotérica da Idade Média.

O poema “Antífona” é longo, e a reprodução desses versos visa evidenciar as principais características do Simbolismo, que são genericamente, apresentadas a seguir.

Características

Forma

Não se descreve um objeto; sugere-se a existência dele. Emprego de letras maiúsculas no verso para valorizar o vocábulo. Uso de um vocabulário bíblico, litúrgico, esotérico e arcaico revitalizado. Musicalidade: não se trata de poema com fundo musical, mas com

musicalidade em si mesmo no manejo de cadências, ritmos, combinações de sons e repetição de fonemas para os quais se usavam técnicas de composição como a aliteração e a assonância.

A imprecisão no sentido de certos vocábulos para caracterizar o mistério e o indizível.

Como se pode notar nos versos de “Antífona”, Cruz e Sousa dá bastante importância às frases nominais, isto é, àquelas em que não existem verbos.

Embora tenham dado importância ao verso livre, os simbolistas ainda estavam presos a poemas bem elaborados formalmente, como os parnasianos.

Conteúdo

Religiosidade, misticismo, espiritualismo,esoterismo. Expressão de estados de alma profundos e complexos. Hermetismo – texto difícil de ser entendido. Siderações – nuvens, constelações, estrelas, astros, planetas. Sonhos- não os sentimentais dos românticos, mas os sonhos mais

escondidos do ser humano. Presença do inconsciente e do subconsciente.

O Simbolismo nasceu quando escritores passaram a considerar que o Positivismo de Auguste Comte e o demasiado uso da ciência e do ateísmo (procedimentos do Realismo) não conseguiam expressar completamente o que acontecia com o homem e a natureza. Esses escritores negavam a realidade como a explicação de tudo e voltaram-se para o misticismo e a espiritualidade a fim de tentar ver o ser humano de outra perspectiva.

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A França foi o berço do Simbolismo, que se manifestou no satanismo e no spleen de As Flores do Mal, do poeta Charles Baudelaire; no mistério e na destruição da linguagem linear de Um Lance de Dados e de Tardes de um Fauno (poemas dificílimos de serem entendidos), de Stéphane Mallarmé; no marginalismo de Outrora e Agora, de Paul Verlaine e ainda no amoralismo de Uma Temporada no Inferno, de Arthur Rimbaud.

No Brasil, o Simbolismo foi uma literatura de província na medida em que esse estilo literário apareceu nos poemas de jovens poetas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. O poeta parnasiano Olavo Bilac, decano da poesia brasileira do final do século XIX, ao ler as primeiras produções simbolistas publicadas na capital da República, apelidou os poetas provincianos simbolistas de “nefelibatas” (quem vive nas nuvens), querendo dizer, certamente, que viviam fora da realidade. Na Europa, o Simbolismo s sobrepôs ao Parnasianismo mas, no Brasil, ocorreu o contrário, tornando-se um movimento marginal, sem acesso a jornais e revistas, veículos que eram dominados pelos parnasianos. Por isso, não teve a repercussão devida junto ao público e à crítica da época.

Missal (poemas em prosa) e Broquéis (poesia), de Cruz e Sousa, publicados em 1893, foram as obras iniciais do Simbolismo no Brasil.

Pré-Modernismo

O Pré-Modernismo não é propriamente um estilo ou uma escola literária. Essa foi uma denominação dada à literatura de alguns escritores do Brasil no começo do século XX, período em que a prática realista-naturalista-parnasiana começou a dar lugar ao Simbolismo e uma literatura ligada á tradição realista, mas com fortes traços do Modernismo posterior.

O Pré-Modernismo resultou da simultaneidade de vários estilos e de características marcantes das obras de quase todos os escritores que dele fizeram parte:

Alguma influência do Expressionismo (a caricatura e a crítica social) e do Impressionismo europeus.

A visão eminentemente crítica da realidade brasileira do começo do século XX.

O interesse pela vida marginalizada na sociedade (os sertanejos, os mulatos,os caipiras e os funcionários públicos).

O regionalismo crítico evidenciado na obra de Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e do gaúcho Simões Lopes Neto.

O imigrante e suas dificuldades de adaptação no Brasil.

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Autores e Obras

Augusto dos Anjos (1884-1914)

Eu e os Outros Poemas (misturam-se nessa obra poemas naturalistas e simbolistas com técnica parnasiana) – poesia pessimista, muitas vezes de linguagem científica, que privilegia a sujeira humana e (ou) aspectos sórdidos da condição humana.

Euclides da Cunha (1886-1909)

Os Sertões (1902) (realidade nordestina e Guerra de Canudos) – Euclides da Cunha estruturou Os Sertões em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”. Ou seja, ele só escreveu sobre a guerra após um levantamento geográfico da região e um estudo antropológico do homem do sertão em uma proposta de causalidade: Canudos foi o confronto de “dois Brasis” – um, rico e latifundiário; outro, abandonado e miserável. Esse critério para a redação de Os Sertões revela a clara influência da doutrina positivista na leitura que Euclides da Cunha fazia daquela realidade brasileira.

Ainda que Os Sertões tenha sido escrito com um enfoque sobremaneira sociológico, também é fundamentalmente uma obra literária. A linguagem do livro é monumental, solene, épica; também tortuosa, difícil, preciosa, a ponto de o Barão do Rio Branco ter dito ao seu amigo Euclides da Cunha: “O senhor escreve como um cipó”.

Lima Barreto ( 1881-1922)

Recordações do escrivão Isaías Caminha (romance, 1909) Triste Fim de Policarpo Quaresma (romance, 1911) Numa e Ninfa (romance, 1915) Morte e M.J. Gonzaga de Sá (romance, 1919) Os Bruzundangas (crônica, 1923) Clara dos Anjos (romance, 1924) Histórias e Sonhos (contos, 1956) Diário Íntimo (memórias, 1956) Cemitério dos Vivos (memórias, 1956)

Lima Barreto é considerado um dos melhores narradores da literatura brasileira. Despiu-se da linguagem requintada, intelectualizada e parnasiana da época para utilizar-se de outra linguagem, mais jornalística, panfletária e popular, pois esteve mais preocupado em retratar a vida dos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro na época da Primeira República. Detestava as altas rodas sociais. Seus personagens foram os humildes funcionários públicos, os alcoólatras, os fracassados, os humilhados, os mulatos, os negros, os miseráveis, os pobres-diabos cujos pensamentos e modos de

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vida apareceram, principalmente, em Recordações do Escrivão Isaías Caminha e em Clara dos Anjos.

A obra-prima de Lima Barreto é o romance Triste Fim de Policarpo Quaresma. Trata-se da história de um funcionário público graduado – Policarpo Quaresma – que se apaixonou pelo Brasil, mas cuja paixão o levou à morte. Quaresma foi um visionário, um “dom Quixote”, um sonhador: ele achava que as mazelas do Brasil podiam ser resolvidas facilmente. A realidade provou a ele que não.

Monteiro Lobato (1882-1948)

Não há no Brasil quem tenha superado Monteiro Lobato como escritor de histórias infantis. No Sítio do Pica-pau Amarelo (uma chácara imaginária), ele colocou personagens antológicos como a boneca Emília, Narizinho e Pedrinho, Dona Benta, Tia Anastácia, Rabicó, o Visconde de Sabugosa, Tio Barnabé, o Saci-pererê, a Cuca, o Minotauro e muitos outros, misturando realidade e fantasia em doses sábias. Monteiro Lobato soube lidar com o universo mental da criança, empregando mitos do folclore mundial que convivem harmoniosamente com os mitos das histórias populares brasileiras.

Algumas histórias infantis: Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho e Hans Staden, Memórias de Emília e Peter Pan, Emília no País da Gramática,A Aritmética de Emília, O Poço do Visconde, Geografia de Dona Benta, Histórias de Tia Anastácia, O Minotauro, O Marquês de Rabicó.

Entre as obras voltadas ao público adulto, destacam-se:

Urupês (contos, 1919) Cidades Mortas (contos, 1919) Negrinha (contos, 1920)

Monteiro Lobato escreveu mais de trinta livros, mas tem sido considerado principalmente um grande contista, especialmente em se tratando de seu regionalismo (presente em Urupês e Cidade Mortas), que retrata o universo rural paulista com meticulosidade e precisão. Ele criou o Jeca Tatu, um símbolo do caboclo paulista. Preguiçosos na primeira versão, doentio e subnutrido nas demais, esse personagem se tornou um dos mais populares da literatura brasileira.

Em Urupês, há uma crônica em que Monteiro Lobato fotografa a imagem do caipira, apresentado como uma raça intermediária, que perdeu o

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primitivismo do índio sem, todavia, adquirir a força do colonizador europeu. O texto aponta para a indolência desse habitante do interior.

Graça Aranha (1868-1931)

Canaã (romance, 1902) A Estética da Vida (tese de explicação do modernismo, 1921)

Canaã foi o primeiro romance brasileiro sobre os imigrantes. O enredo dessa obra gira em torno da vida social de uma colônia alemã (pomerônios) na localidade de Porto do Cachoeiro, no Espírito Santo. A ele chegam dois imigrantes, Milkau e Lentz,que simbolizam concepções opostas de existência. Naquele, a solidariedade universal fortemente carregada do cristianismo, e neste a exaltação do mais forte, do imperialismo racista alemão. Para Milkau, o Brasil é Canaã, a terra prometida, onde a fusão de raças formaria uma humanidade renovada; para Lentz, o que interessava era a defesa da superioridade da raça alemã.

Romance documental (vida social de uma colônia, xenofobia), romance ideológico (conflito de crenças e de conceitos de sociedade) são classificações possíveis para Canaã, em que Graça Aranha mistura características do Naturalismo (a criança devorada por porcos é típica) e do Simbolismo (o autor transfigura e espiritualiza a natureza).

ATIVIDADES

Os textos a seguir são referenciais para as questões 01 e 02.

VANDALISMO

Meu coração tem catedrais imensas,

Templos de priscas e longínquas datas,

Onde um nume deamor, em serenatas,

Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlvida e nas colunatas

Vertem lustrais irradiações intensas

Cintilações de lâmpadas suspensas

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E as amestistas e os florões e as pratas.

Como os velhos templários medievais

Entrei um dia nessas catedrais

E nesses templos claros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,

No desespero dos inoclastas

Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

Augusto dos Anjos

BANDALHISMO

Meu coração tem butiquins imundos,

Antros de ronda, vinte-e-um, purrinha,

Onde trêmulas mãos de vagabundos

Batucam samba-enredo na caixinha.

Perdigoto, cascata, tosse, escarro,

Um choro soluçante que não para,

Piada suja, bofetão na cara

E essa vontade de soltar um barro...

Como os pobres otários da Central

Já vomitei sem lenço e sonrisal

P.F. de rabada com agrião...

Mais amarelo do que arroz de forno,

Voltei para o lar e em plena dor-de-corno

Quebrei o vídeo da televisão.

Aldir Blanc

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01. “Bandalhismo”, de Aldir Blanc, é um poema de forma paralela à de “Vandalismo”, de Augusto dos Anjos. Cite dois elementos formais que os assemelham.

Ambos são sonetos e foram construídos com versos decassílabos.

02. Considerando o conteúdo, que relação há entre esses poemas?

“Vandalismo”, de Augusto dos Anjos, é uma leitura pessimista da vida. O eu-lírico compara seu coração cheio de sonhos a uma bela catedral da Idade Média. Mas, assim como belas catedrais daquela época foram destruídas pelos templários, ele, o eu-lírico, destruiu todos os seus sonhos, impiedosamente. Ora, no poema de Aldir Blanc, há uma clara paródia da leitura pessimista de Augusto dos Anjos. O interessante do soneto de Aldir é o fato de ele usar uma linguagem naturalista (predominante nos poemas de Augusto dos Anjos) para parodiar um poema (o de Augusto) de linguagem simbolista (também presente em muitos poemas do paraibano pessimista). Isso comprova o caráter pré-modernista da poética de Augusto dos Anjos.

TESTES DE VESTIBULAR

01. (ESPM-SP) O sincretismo (de elementos literários de várias épocas com características populares do Simbolismo) pode aparecer no mesmo poema. Marque a letra que apresente os seguintes elementos: pessimismo, imagens vagas, presença do branco, vocabulário exótico, fusão dos sentidos e misticismo.

a) Quente estrias a alma, à frialgem, nas cousas... Que bom morrer! Manhã, luz, remada sonora... Pousas um dedo níveo às níveas cordas, pousas E és náufrago de ti, a harpa caída, agora.

Pedro Kilkerryb) A minha Alma, pobre ave que se assusta, Veio encontrar o derradeiro asilo No teu olhar de Imperatriz augusta, Cheio de mar e de céu tranqüilo.

Alphonsus de Guimaraens

c) Para as Estrelas de cristais gelados As ânsias e os desejos vão subindo Galgando azuis e siderais noivados De nuvens brancas e amplidão vestindo...

Cruz e Souza

d) De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem essa luz que sobre as nebulosas

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Cai de incógnitas criptas misteriosas Como as estalactites de uma gruta?!

Augusto dos Anjos

e) O vento vem vindo de longe, a noite se curva de frio; debaixo d’água morrendo meu sonho, dentro do navio...

Cecília Meireles

Este texto serve como base para as questões 02 e 03.

E horas sem conta passo, mudo,O olhar atento,A trabalhar, longe de tudoO pensamento.

Assim procedo. Minha penaSegue esta norma,Por te servir, Deusa Serena,Serena Forma.

02. (PUC-SP) – As estrofes apresentadas elegem a forma e a contínua dedicação do escritor como fundamentos da criação poética. Essas palavras traduzem os ideais estéticos do seu autor, o poeta

a) Castro Alvesb) Cruz e Souzac) Manuel Bandeirad) Alphonsus de Guimaraense) Olavo Bilac

03. (UFBA) – Assinale a alternativa que contém um texto teórico sobre a poesia parnasiana, de que o excerto da questão 02 é exemplo.

a) “Os nossos poetas de hoje, possuindo um sentimento igual, e às vezes superior aos dos poetas antigos, sobre eles se excedem pelo cuidado que dão à pureza da linguagem e pela habilidade com que variam e aperfeiçoam a métrica.”b) “Ela não se destina ao pensamento, dirige-se ao instinto, ao subconsciente, que a recebe e absorve, simplesmente como um trecho de música ou uma fulguração de coloridos passageiros. Não será essa, porventura, a tendência da poesia no porvir?”c) “Na limitação que tracei, o corpo da poesia – o poema- precisa ser organizado por dentro e por fora; externamente uma configuração estética ou, pelo menos, gráfico-visual.”d) “A poesia brasileira muito tem sofrido destas inconveniências, principalmente a contemporânea, em que a licença de não metrificar brotou muita gente

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imaginando que ninguém carece de ter ritmo mais e basta ajuntar frases fantasiosamente enfileiradas para fazer verso livre.”e) “Há uma poesia cerebral, cujo elemento emotivo decorre das reações provocadas na inteligência pelos contatos do mundo exterior [...] E diretamente o fenômeno associação das ideias, cujo processo imprevisto tem uma grande intensidade dramática, que reside o seu poder emotivo.”

04. (UTFPR) Assinale a alternativa que não pertence ao momento parnasiano:

a) Apuro das rimasb) Linguagem elitizadac) Aproveitamento da realidade imediatad) Ordem indireta e inversõese) Forma poética preferida: soneto

05. (PUC-PR) Assinale a alternativa que exprime a oposição fundamental constante no texto a seguir.

Se se pudesse, o espírito que chora,Ver através da máscara da face;Quanta gente, talvez, que inveja agoraNos causa, então piedade nos causasse!

Raimundo Correia

a) Corpo versus espíritob) Gente feliz versus gente infelizc) Piedade versus falsidaded) Essência do ser versus aparência e) Dor versus falsidade

06. (UFPE)

Leve é o pássaro;E a sua sombra voante,Mais leve

E o desejo rápidoDesse antigo instanteMais leve.

E a figura invisívelDo amargo passante,Mais leve.

Cecília Meireles

Mais claro e fino do que as finas pratasO som da sua voz deliciava...

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Na dolência velada das sonatasComo um perfume e tudo perfumava.

Cruz e Sousa

Qual a semelhança ou o ponto de convergência entre a poesia neossimbolista de Cecília Meireles e a de Cruz e Sousa?

a) A objetividade e o materialismo marcantes no estilo parnasiano.b) A realidade focalizada de maneira vaga, em versos que exploram a sonoridade das palavras.c) A preocupação formal e a presença de rimas ricas.d) O erotismo e o bucolismo como tema recorrente.e) A impassibilidade dos elementos da natureza e a presença da própria poesia como musa.

07. (UFV) Considere as alternativas abaixo, relativas ao Simbolismo.

I. No plano temático, o Simbolismo foi marcado pelo mistério e pela inquietação mística com problemas transcendentais do homem. No plano formal, caracterizou-se pela musicalidade e certa quebra no ritmo do verso, precursora do verso livre do Modernismo.II. O Simbolismo, surgido contemporaneamente ao materialismo cientificista, como atitude de espírito, passou ao largo dos maiores problemas da vida nacional. Já a literatura realista-naturalista acompanhou fielmente os modos de pensar das gerações que fizeram e viveram a Primeira República.III. O Simbolismo, com Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, nossos maiores poetas do período, legou-nos uma produção poética que se caracterizou pela busca da “arte em arte”, isto é, uma preocupação com o verso artesanal, friamente moldado. Devido a essa tendência à objetividade na composição, o movimento também se denominou “decadentista”.

Assinale a alternativa correta.

a) I é falsa; II e III são verdadeiras.b) I, II e III são verdadeiras.c) I é verdadeira; II e III, falsas.d) I e II são verdadeiras, III é falsa.e) I e III são falsas; II é verdadeira.

08. (UFPE)

Na verdade, um estilo literário não desaparece nunca. Ele se incorpora à cultura; pode cair de moda, mas continua fazendo parte do amplo conjunto de realizações humanas e traços podem até reaparecer.

Faraco e Moura

Analise as afirmações abaixo sobre estilos e escolas literárias e assinale a alternativa incorreta:

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a) O Barroco usou o excesso de imagens (comparações, antíteses, paradoxos) para expressar contradições. Esse excesso permaneceu no Simbolismo para expressar sensações de cores, luzes e sons. No Barroco, destacou-se a temática da efemeridade da vida, cultivada, também na poesia do romântico Álvares de Azevedo.b) O Arcadismo caracterizou-se pelo retorno à natureza, pelo bucolismo, que permanece no “culto à natureza” do Romantismo, numa dimensão mais dinâmica. c) O Realismo e o Modernismo tiveram em comum a característica de retratar a realidade brasileira tal como se apresentava, embora com concepções diferentes de linguagem.d) O Romantismo cultivou a exaltação das paisagens brasileiras, frequente em Gonçalves Dias. O Parnasianismo retomou essa tendência, observada no ufanismo de Olavo Bilac.e) O Simbolismo restringiu-se à poesia, tendo-se identificado com o Realismo pelo afastamento do místico e do espiritual.

09. (UFRS) Leia o poema “Siderações”, de Cruz e Sousa.

Para as estrelas de cristais geladosAs ânsias e os desejos vão subindo,Galgando azuis e siderais noivados,De nuvens brancas e amplidão vestindo...

Num cortejo de cânticos aladosOs arcanjos, as cítaras ferindo,Passam, das vestes nos troféus prateados,As asas de ouro finamente abrindo...

Dos etéreos turíbulos de neveClaro incenso aromal, límpido e leve,Ondas nevoentas de visões levanta...

E as ânsias e desejos infinitosVão com os arcanjos formulando ritosDa eternidade que nos astros canta...

A respeito do poema, é correto afirmar que:

a) o poeta idealiza seus desejos, projetando-os para uma instância inatingível.b) o poema emprega descrições nítidas que garantem uma compreensão exata dos versos.c) o poeta expõe a sua avaliação sobre a realidade objetiva, utilizando imagens da natureza em linguagem precisa e direta.d) o poema, em forma de epigrama, traduz uma visão materialista do amor e da sensualidade.e) se trata da descrição de fantasias e alucinações apresentadas nos moldes de ficção científica.

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10. (ITA-SP) Leia os seguintes versos:

Mais claro e fino do que as finas pratasO som da tua voz deliciava...Na dolência velada das sonatasComo um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatasEm lânguida espiral que iluminava,Brancas sonoridades de cascatas...Tanta harmonia melancolizava.

SOUSA, Cruz e. Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. P. 86.

Assinale a alternativa que reúne as características simbolistas presentes no texto:

a) Sinestesia, laiteração, sugestão.b) Clareza, perfeição formal, objetividade.c) Aliteração, objetividade, ritmo constante.d) Perfeição formal, clareza, sinestesia.e) Perfeição formal, objetividade, sinestesia.

11. (PUC- SP)

Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

Lima Barreto

O trecho acima pertence ao romance O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Da personagem que dá título ao romance, podemos afirmar que:

a) foi um nacionalista extremado, mas nunca estudou com afinco as coisas brasileiras.

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b) perpetrou seu suicídio, porque se sentia decepcionado com a realidade brasileira.c) defendeu os valores nacionais, brigou por eles a vida toda e foi condenado à morte justamente pelos valores que defendia.d) foi considerado traidor da pátria, porque participou da conspiração contra Floriano Peixoto.e) era um louco e, por isso, não foi levado a sério pelas pessoas que o cercavam.

12. (UFRS) Leia o poema a seguir, intitulado “A Ideia”, de Augusto dos Anjos.

De onde ela vem? De que matéria brutaVem essa luz que sobre as nebulosasCai de incógnitas criptas misteriosasComo as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta lutaDo feixe de moléculas nervosas,Que, em desintegrações maravilhosas,Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,Chega em seguida às cordas da laringe,Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,Mas, de repente, e quase morta, esbarraNo mulambo da língua paralítica!

Assinale a alternativa correta sobre esse poema:

a) A interrogação inicial expressa o apego do poeta aos temas sentimentais do Romantismo no Brasil.b) A linguagem, rica de imagens, utiliza um vocabulário científico para abordar uma questão filosófica.c) O emprego de palavras como “estalactites” e “moléculas” mostra uma inadequação entre a linguagem cientifica e o conteúdo do poema.d) O poeta adota a forma do soneto, porém rompe com o temário cientificista dominante no seu tempo.e) No primeiro quarteto, as palavras “nebulosas” e “misteriosas” constituem rimas pobres, retomadas no segundo quarteto pelas palavras “nervosas” e “maravilhosas”.

13. (Puccamp – SP)

Os representantes do atraso e do progresso aparecem como faces da mesma moeda em Os Sertões e em outro livro da época, O Bota-Abaixo, de José Vieira. Euclides traça o perfil de Conselheiro no parágrafo “Como se faz um monstro”: “E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até os

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ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano”; Vieira parece retomá-lo na caracterização do prefeito Pereira Passos: “Ali estava ele – o monstro. Trajava um simples paletó azul, calça de listras, chapéu de feltro. Alto, a barba branca espontada, as sobrancelhas espessas sombreando-lhe os olhos pequenos”.

Sem se ocupar da população despejada, a reforma de Pereira Passos tornou sistemático um processo que deve o nome à campanha de Canudos: a favelização. Os veteranos da guerra, ao se reinstalar no Rio de Janeiro, deram ao morro da Providência o nome do seu local de acampamento nos sertões: o morro da Favela, também mencionado por Euclides como o lugar de onde um capuchinho amaldiçoou Conselheiro, abrindo caminho para a invasão.

Ricardo Oiticica, Nossa História.

Se de fato, como supõe o texto, José Vieira valeu-se de uma descrição do Conselheiro, feita por Euclides da Cunha, para, a partir dela, criar a de Pereira Passos, pode-se afirmar que Vieira explorou o recurso estilístico da

a) antíteseb) metáforac) ambiguidaded) paródiae) sinonímia

14. ( Puccampo – SP) A frase “Os representantes do atraso e do progresso aparecem como faces da mesma moeda” indica que, para Euclides da Cunha, são antagônicas e complementares as ações dos

a) jagunços e as dos fanáticosb) cangaceiros e as do governoc) sertanejos revoltosos e as do poder da Repúblicad) soldados amotinados e as dos oficiais do Exército.e) retirantes e as dos proprietários.

15. (UEL- PR) Assinale a alternativa incorreta sobre o Pré-Modernismo.

a) Não se caracterizou como uma escola literária com princípios estéticos bem delimitados, mas como um período de prefiguração das inovações temáticas e linguíticas do Modernismo.b) Algumas correntes de vanguarda do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exerceram grande influência sobre nossos escritores pré-modernistas, sobretudo na poesia.c) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes significativos da literatura pré-modernista produzida nos primeiros anos do século XX, pois problematizam a realidade cultural e social do Brasil.d) Euclides da Cunha, com a obra Os Sertões, ultrapassa o relato meramente documental da batalha de Canudos para fixar-se em problemas humanos e revelar a face trágica da nação brasileira.

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e) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além da crítica social, acrítica ao academicismo e à linguagem empolada e vazia dos parnasianos, traço que revela a postura moderna do escritor.