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JACOBINA SOB A LENTE DE UM FOTÓGRAFO: JUVENTINO RODRIGUES E A DIFUSÃO DA FOTOGRAFIA EM JACOBINA. (1930 - 1940) Bolsista -Ronaldo Rodrigo F. ALMEIDA[1] [email protected] ; Valter Gomes Santos de Oliveira[2] [email protected] r RESUMO: Neste artigo será proposto um estudo da difusão da fotografia na cidade de Jacobina,localizada na região Nordeste do estado da Bahia, a 330 km da capital Salvador, durante o período de 1930 e 1940, através do fotógrafo Juventino Rodrigues. Considerado um inovador, por ter inserido em seu ofício a utilização de ampliadores, artifício que dentro do contexto da época era considerado algo inédito para a cidade. Sem mencionar suas fotos, que variam desde a panorâmica da cidade, até fotos publicitárias de estabelecimentos comerciais. Com isso, este artigo está pautado em estudar parte desse circuito social da fotografia, ou seja, os mecanismos de divulgação e propagação da fotografia e o contexto em que a produção fotográfica estava inserida. Palavras chaves: fotógrafo; difusão; cartão postal. INTRODUÇÃO: HISTÓRIA & FOTOGRAFIA Com a revolução industrial verifica-se um enorme desenvolvimento das ciências em seus vários campos, sendo a fotografia uma das invenções surgidas naquele contexto. Em 1828, o francês Joseph Nicephore Niepce, desenvolveu a heliografia, um processo químico para fixar, em uma câmera escura, a luz emanada de objetos. Contudo, um tempo depois, em 1839, surge a daguerreotipia, fruto da associação de Niepce e Lois Jacques Mand Daguerre. A daguerreotipia consistia em usar uma fina camada de prata polida aplicada sobre uma placa de cobre, sensibilizada em vapor de iodo, resultando em uma imagem mais precisa, embora, em apenas uma cópia. Sendo assim, o daguerreótipo era visto como uma “aura”, que segundo Benjamin era “um objeto singular composto de elementos espaciais e temporais, a aparição única de uma coisa distante, por mais próxima que ela esteja”[3] . Entretanto, em meados do século XIX, devido à inovação técnica, nota-se a popularização do retrato fotográfico, através do cartão de visita, a qual baratearia sensivelmente o custo da fotografia e iniciaria uma democratização dos valores e dos signos fotográficos, criando assim, condições para a implementação da fotografia comercial e industrial. Não obstante, o aumento do consumo da fotografia ocorre de fato após à comercialização do novo invento de George Eastman: a Kodak, que consistia em um aparelho portátil chamado de instantâneo, o qual continha um rolo de 100 filmes e imagens. Então, surge paralelo aos ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 02: História e Imagem. 1

Ronaldo Rodrigo F. Almeida e Valter Gomes Santos de Oliveira

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JACOBINA SOB A LENTE DE UM FOTÓGRAFO: JUVENTINO RODRIGUES E A DIFUSÃO DA FOTOGRAFIA EM JACOBINA.

(1930 - 1940)

Bolsista -Ronaldo Rodrigo F. ALMEIDA[1]

[email protected];

Valter Gomes Santos de Oliveira[2]

[email protected] r RESUMO:Neste artigo será proposto um estudo da difusão da fotografia na cidade de Jacobina,localizada na região Nordeste do estado da Bahia, a 330 km da capital Salvador, durante o período de 1930 e 1940, através do fotógrafo Juventino Rodrigues. Considerado um inovador, por ter inserido em seu ofício a utilização de ampliadores, artifício que dentro do contexto da época era considerado algo inédito para a cidade. Sem mencionar suas fotos, que variam desde a panorâmica da cidade, até fotos publicitárias de estabelecimentos comerciais. Com isso, este artigo está pautado em estudar parte desse circuito social da fotografia, ou seja, os mecanismos de divulgação e propagação da fotografia e o contexto em que a produção fotográfica estava inserida. Palavras chaves: fotógrafo; difusão; cartão postal.

INTRODUÇÃO: HISTÓRIA & FOTOGRAFIACom a revolução industrial verifica-se um enorme desenvolvimento das ciências em seus

vários campos, sendo a fotografia uma das invenções surgidas naquele contexto. Em 1828, o

francês Joseph Nicephore Niepce, desenvolveu a heliografia, um processo químico para fixar, em

uma câmera escura, a luz emanada de objetos. Contudo, um tempo depois, em 1839, surge a

daguerreotipia, fruto da associação de Niepce e Lois Jacques Mand Daguerre.

A daguerreotipia consistia em usar uma fina camada de prata polida aplicada sobre uma

placa de cobre, sensibilizada em vapor de iodo, resultando em uma imagem mais precisa, embora,

em apenas uma cópia. Sendo assim, o daguerreótipo era visto como uma “aura”, que segundo

Benjamin era “um objeto singular composto de elementos espaciais e temporais, a aparição única de

uma coisa distante, por mais próxima que ela esteja”[3].

Entretanto, em meados do século XIX, devido à inovação técnica, nota-se a popularização do

retrato fotográfico, através do cartão de visita, a qual baratearia sensivelmente o custo da fotografia

e iniciaria uma democratização dos valores e dos signos fotográficos, criando assim, condições para

a implementação da fotografia comercial e industrial.

Não obstante, o aumento do consumo da fotografia ocorre de fato após à comercialização do

novo invento de George Eastman: a Kodak, que consistia em um aparelho portátil chamado de

instantâneo, o qual continha um rolo de 100 filmes e imagens. Então, surge paralelo aos

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instantâneos, os cartões postais, que tinham como finalidade levar a imagem da cidade, transmitindo

a noção positiva de “progresso” e de civilidade, os quais podem ser observados nas fotografias de

Juventino Rodrigues, que atuou em Jacobina a partir da década de 1930, registrando toda as

transformações no espaço urbano. Um dos exemplos é esta imagem que demonstra a construção da

ponte Manoel Novais, a qual serviu de cartão-postal da cidade em 1936. Nesta imagem pode ser

observada facilmente a idéia de crescimento e desenvolvimento urbano, através do concreto que

substituía a antiga ponte de madeira que ligava as duas margens do Rio Itapicurú (Imagem 1), pois,

“o interesse não estava só em modernizar o espaço e modificar costumes – a preocupação das

elites era, também, com a imagem da cidade a ser veiculada pelos visitantes que chegavam para

fazer negócios”[4].

Entretanto, a fotografia, no final do século XIX e início do século XX, ganha uma conotação

mais ampla através da sua inserção na imprensa. Com isso:

A fotografia cria novas formas de documentar a vida em sociedade. Mais que a palavra escrita, o desenho e a pintura, a pretensa objetividade de uma imagem fotográfica veiculada nos jornais não apenas informa o leitor, (...) como também cria verdades a partir de fantasias do imaginário, quase sempre produzidas por frações da classe dominante. (BORGES, Maria Eliza Linhares; 2003. p.69)

Assim, cada vez mais, é observada neste período a contratação de fotógrafos ou a utilização

de fotografias nas matérias jornalísticas, um exemplo disso é o jornal “O Lidador”, que circulou na

cidade de Jacobina de 1933 a 1940, e utilizou as fotografias do fotógrafo Juventino Rodrigues para

ilustrar as suas matérias. Contudo, essas fotografias não se limitavam apenas em registrar os

aspectos da cidade, mas também em destacar figuras da elite jacobinense, como o empresário

Octacílio Nunes e o administrador da cidade na época, Reynaldo Jacobina Vieira.

Sendo assim, pode-se constatar que a evolução nas pesquisas no campo da técnica

fotográfica se deu de forma bastante rápida, não ficando apenas centralizada nos grandes centros

urbanos da Europa ou do próprio Brasil, como nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo ou

Salvador.

Pois, no inicio do século XX, já é observado algumas fotografias da cidade tiradas pelo

fotógrafo Rosendo Borges, que possivelmente estava de passagem pela cidade de Jacobina. Uso o

termo “possivelmente” devido à escassez de informações sobre este fotógrafo, já que os únicos

registros deixados por dele são as fotografias feitas da cidade. Contudo, é na década de 1930, que a

fotografia começa a se disseminar pelo meio social, isso devido à figura do fotógrafo Juventino

Rodrigues, que atuou na cidade da década de 1930 até o inicio da década de 1970.

O CENÁRIO:

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Juventino Rodrigues começa a desenvolver a atividade de fotógrafo em Jacobina por volta

da década de 1930. Período em que a cidade passava por um momento de transformação

determinado pela “febre do ouro”, e pelo desenvolvimento proporcionado pala chegada da malha

ferroviária, inaugurada em 1920, que tinha como objetivo a articulação de Jacobina com outras

regiões e a escoação de toda a produção agrícola.

Era um ramal da ferrovia Alagoinhas- Juazeiro, concluída em 1896, que possibilitou a ligação de Jacobina com Salvador e Pernambuco. A partir daquela cidade a linha férrea expandia-se até Rui Barbosa e Iaçu completando assim a linha Centro-Sul da Viação Férrea Leste Brasileiro,( FONSECA, 1995, p.65) .

Assim, com a explosão da exploração aurífera em suas serras, e com a chegada da estrada de

ferro, Jacobina se vê diante da “invasão” de forasteiros. Sendo um desses “estrangeiros”, o

fotógrafo Juventino Rodrigues, que chega através dos trilhos da modernidade, da ferrovia, para

registrar em suas lentes a cidade através das suas fotografias. Sendo as de mais destaque às vistas

aéreas de Jacobina, nomeadas por ele como fotos panorâmicas (Imagem 2), a qual tem em sua

composição um caráter inovador pois analisam Jacobina de cima, mais precisamente das suas

serras. Tarefa que deve ter sido árdua pela dificuldade de locomoção com os pesados equipamentos

fotográficos na escalada às íngremes serras do Piemonte da Chapada. Contudo, Juventino não

deixou se abater pelas dificuldades, obtendo belas imagens da cidade pelos seus mais variados

ângulos, mostrando assim traços da formação urbana da cidade. Além das vistas panorâmicas da

cidade, foram também realizadas, por este fotógrafo, imagens que registraram os aspectos urbanos

de Jacobina.

Outro fator, que foi de bastante relevância para o progresso e desenvolvimento da cidade de

Jacobina, e particularmente, para a fotografia, na década de 1930, foi à chegada da luz elétrica,

através da companhia de Força e Luz de Jacobina, fundada pelo Coronel Galdino César de Morais,

respaldado na “Lei nº. 11, de 7 de agosto de 1924”[5], em que estabelece luz elétrica e água

encanada. Concessão que viria a se tornar, em 1928, a Sociedade Anônima Companhia de Força e

Luz de Jacobina. Assim, nesse período, pode-se observar, claramente, o surgimento de uma nova

estética fotográfica, pois as fotografias que antes apenas poderiam ser feitas durante o dia, agora

poderiam ser realizadas também à noite, graças à chegada da luz elétrica na cidade. Contudo, a

distribuição da luz elétrica não ocorreu de forma igualitária, ou seja, era beneficio de poucos, e se

concentrava apenas nas ruas onde estava localizado o comércio. Com isso, pode-se observar que

não houve uma substituição progressiva e gradual do candeeiro a querosene e nem das lamparinas

por esse advento da modernidade.

... claro que a nossa gente, habituada com a incandescecia dos filamentos, com o expendor das suas lampadas de 200, 300, 500 velas, não mais se sugeitaria ao broxear dos candeeiros do pavio de algodão. O mundo marcha; na natureza, segundo o grande químico Lavosier, tudo se

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transforma. (...) o que é verdade é que estamos precisando de luz eficiente, luz permanente(...)[6].

Dentre os lugares que não era beneficiado pela luz elétrica, estava o estúdio fotográfico de

Juventino Rodrigues, chamado Foto Ideal, ficava localizado na rua Coronel Teixeira, conhecida

popularmente na época como rua da Lama, devido esta não ser pavimentada. Isso, só confirma a

idéia de que a preocupação com a estética da cidade concentrava-se apenas no centro da cidade,

onde ficava localizado o comércio.

Dessa forma, em linhas gerais, pode-se observar que a chegada da ferrovia à cidade de

Jacobina marca um momento de intensa transformação, pois a cidade ganha status de ponto de

articulação, ligando a Região Nordeste do Estado ao Litoral e a Chapada Diamantina, que

juntamente à agricultura mista e a pecuária especializada faz resgatar a importância da cidade,

abalada pela crise da mineração no final do século XVIII. Logo, como conseqüência desse

crescimento econômico, observa-se, uma transformação urbana ocasionada pelo surgimento de

vários bairros, como o Bairro da Estação, bairro povoado pelo comércio atacadista exportador e o

Bairro da Serrinha, formado basicamente por operários, “era um bairro pobre, desenvolvido

próximo ao rio, com habitações de palha”[7] .

O OFÍCIO DURANTE AS DÉCADAS DE 1930 E 1940:

Juventino Rodrigues inicia a carreira de fotógrafo no inicio da década de 30, sendo

considerado um dos pioneiros da fotografia na cidade. Contudo, não o tratarei como precursor desse

processo de registro de imagens da cidade, porque antes de se ter conhecimento das fotografias

dele, Jacobina já tinha sido registrada pelas lentes do fotografo Rosendo Borges, um “forasteiro”,

que supostamente estaria de passagem nas terras jacobinenses, isso nos meados da década de 1910.

No entanto, se faz necessário salientar que, antes deste período, já se tem registro de imagens da

cidade em outras épocas, ainda sem identificação da autoria.

Considerados por muitos fotógrafos como um excelente profissional, Juventino Rodrigues

destaca-se pelo seu caráter inovador e seu olhar “clinico” sobre as representações de imagens da

cidade de Jacobina, pois, antes dele nenhum outro fotógrafo tinha registrado imagens tão belas da

cidade. Ele fotografou Jacobina em sua “intimidade”, fez o que nenhum outro fotógrafo havia feito,

ou seja, ele congelou as melhores imagens da cidade.

Juventino era um retratista que comercializava fotos tiradas em estúdio. E por volta da

década de 1930, instala seu primeiro estúdio fotográfico, chamado Foto Ideal, na rua Coronel

Teixeira. Contudo, para começar a registrar Jacobina nas suas lentes, desprovido de muitos

acessórios, o improviso se apresentou como a sua maior “arma” para combater as dificuldades.

A este fotógrafo “Jacobinense” se atribui à inserção de equipamentos nas suas fotografias

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feitas na cidade do ouro, como é o caso de ampliadores. Além da introdução de equipamentos,

segundo seu sobrinho e fotógrafo Lindenicio Ribeiro, atribui-se a ele a criação de ampliadores e um

tipo de flash que era utilizado nas grandes festas dos clubes Aurora e 2 de Janeiro, ou seja, em

locais fechados. Logo, pode-se perceber que Juventino, apesar de ter registrado a estrutura urbana

da cidade de Jacobina, era considerado também um fotógrafo de estúdio, isto pode ser percebido em

suas fotografias devido à qualidade. Segundo os seus amigos e clientes, Terenço e Lourival,

Juventino não realizava fotos de lambe-lambe, consideradas, por ele, como fotos de baixa

qualidade. Por isso, sua preferência pelas fotografias realizadas em estúdio.

A elaboração deste flash, que era uma novidade na cidade, segundo entrevistas realizadas,

partiu dele e de um amigo que trabalhava com pólvora. Juntos, eles projetaram uma pistola que

acionada causava um “enorme fumacê”, mas em contra partida, dali se obtinha ótimas imagens.

No inicio de sua carreira Juventino tinha como sua aliada uma maquina grande com um tripé

e uma caixa de placas fotográficas de 18x24, tendo negativa da mesma medida, ou seja, 18x24 que

depois era dividido em vários tamanhos como 3x4, 6x9, 9x12,13x18, equipamento semelhante ao

que o fotógrafo francês Atget, utilizado entre o período de 1875, sendo considerado por muitos

profissionais, da época, “um profissional arcaico um novato de meia-idade na arte da fotografia,

que adotou práticas que já estavam se tornando obsoletas: uma grande câmera com tripé de

madeira, uma caixa de placas fotográficas de 18 x 24 cm.”[8]. Contudo, deve-se ressaltar que Atget

poderia ser considerado arcaico na época, pelo fato de não acompanhar a evolução da técnica

fotográfica, entretanto, exerceu como ninguém seu oficio de fotógrafo, retratando Paris nos seus

mais variados ângulo, assim como J. Rodrigues fez na cidade de Jacobina.

. Logo, pode-se perceber o que era fazer fotografia no interior da Bahia no inicio do século

XX, particularmente na cidade do ouro. Exigia bastante esforço, devido às inúmeras dificuldades.

Uma das principais dificuldades era atribuída aos pesados equipamentos, e falta da energia elétrica,

que apesar de já existir na cidade não chegava até o estúdio de J. Rodrigues. Com isso, para

compensar a falta da luz, acessório imprescindível, para a realização de uma boa fotografia, ele

trabalhava com uma iluminação natural e com o seu flash improvisado, nas suas fotografias

externas e de estúdio.

É bem provável, que devido a sua condição financeira, ele não tenha lido o livro La

Photographie em Amérique, de Aphinse J. de Liebèrt, onde o autor faz uma descrição meticulosa do

funcionamento e da instalação de uma oficina fotográfica, esta obra é equivale como a um manual

do fotógrafo. Onde dentre os vários assuntos, Liebèrt aborda particularmente a participação da luz

na produção fotográfica, como ponto fundamental para a aquisição de uma boa fotografia. Contudo,

apesar de não ter acesso a essa literatura, Juventino seguiu corretamente os passos para se obter uma

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boa fotografia, uma prova cabal disso são as suas imagens. Segundo Liébert:

Dominar a luz para a produção de retratos artísticos era, inclusive, o que marcaria a diferença entre um bom fotógrafo e um simples manipulador de máquinas, entre um profissional artista e um mero produtor de imagens. ( Liebert In: Grangeiro, Candido,)

Grande “retocador”, que fazia seus retoques ainda no negativo. Dono de uma habilidade

imensa para transformar a fotografia em arte, Juventino Rodrigues começou a ganhar notoriedade

na sociedade jacobinense em meados da década de 30, mais precisamente no ano de 1936, quando

aparecem pela primeira vez anúncios publicitários a fim de divulgar o seu oficio de fotógrafo, a

partir daí nota-se sucessivas aparições de J. Rodrigues no único jornal de Jacobina.

Assim, com a chegada de Juventino Rodrigues, na cidade de Jacobina, a fotografia ganha

uma representação maior. Isso é observado principalmente nas matérias do jornal O Lidador, que

ilustram as suas noticias com as fotos de Juventino Rodrigues, como é percebido na matéria de

título: “Está sendo construída a estrada que será um escoadouro seguro para os nossos produtos e

nos liberará dos desmantelos da Leste Brasileiro”[9]; assim, pode-se observar que está matéria

fazia uma critica aos serviços prestados pela Leste Brasileiro no ano de 1937, que segundo o Jornal,

se mostra de péssima qualidade, durante este período a ferrovia foi várias vezes criticas pelo atraso

das viagens, e pela mercadoria que apodreciam em seus armazéns a espera do transporte.

Faz-se também de grande importância, ressaltar, que ao longo de sua carreira, J. Rodrigues

fez parcerias com fotógrafos, como: Aurelino Guedes; e no inicio da década de 1950 Lindenicio

Ribeiro e Eliezer, sobrinhos dele, ao quais ele inicia no mundo da fotografia. Além das parcerias,

Rodrigues também possuía uma relação de amizade com outros fotógrafos, um exemplo era sua

relação de amizade com Amado Nunes, escrivão que também era fotógrafo.

É neste momento que também podemos perceber a difusão da fotografia na cidade, através

dos informes publicitários do estabelecimento fotográfico de Juventino, que começam a aparecer no

jornal, a partir de 1936 e seguiram até final da década. Estes informes sempre se apresentavam de

forma minúscula, não ocupava muito espaço, era objetivo, e apenas oferecia os serviços deste

profissional da arte de capturar imagens, todavia, seus trabalhos, não eram apenas ofertados para

cidade de Jacobina, mas também, para toda a região.

A partir daí é cada vez mais observado a presença de fotografias ilustrando anuncio

publicitários de casas comerciais, como é o caso da Farmácia Santa Terezinha[10]. Em 1937, a qual

tinha como responsável, o farmacêutico Arnóbio de Meireles, que além de comercializar remédio,

vendia também material fotográfico, o que consistia em uma novidade para a cidade de Jacobina.

Pois, antes deste estabelecimento, não se tem noticia do comércio de material fotográfico na cidade.

Por isso, antes da Farmácia Santa Terezinha todo o material fotográfico era adquirido na capital, o

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que possivelmente tornava bem mais caro a fotografia.

A este fotógrafo também é atribuída à realização de fotografias de monumentos da cidade,

por isso, atribuímos às fotos de Juventino um caráter documental. Entretanto, ele não só registrou o

ritmo acelerado da transformação urbana em que a cidade de Jacobina estava passando na década de

1930. Mas também, foi impar ao registrar imagens que revelam aspectos culturais da cidade, como

é observado em suas fotografias da micareta de 1935 e 1936, a qual, ele nos mostra mais ou menos

um pouco da dimensão desta festa, neste período as filarmônicas, ou sociedades musicais, era que

comandavam as festas. Assim, as micaretas não passaram despercebidas pelas lentes deste

fotógrafo, que fez questão de fotografar a passagem dos blocos Salgueiros do Amor( Imagem 3), e

Assassinos da Tristeza, em 1936, que pousaram juntamente com os músicos da filarmônica 2 de

Janeiro para J. Rodrigues. Contudo, deve-se assinalar, que todas as fotografias da Micareta de

Jacobina, feitas por J. Rodrigues, traziam referencias que identificava o fotógrafo, o bloco e o ano

em que estava sendo realizada a festa.

Logo, percebe-se que eram variados os mecanismos de difusão da fotografia em Jacobina.

Sendo os de maiores destaques: os cartões postais, jornais, e exposição realizada por Juventino

Rodrigues, as quais eram noticiadas pelo “Jornal O Lidador “, em 1940.

Sendo assim, nota-se que durante as décadas de 1930 e 1940, a cidade de Jacobina sofreu

grandes transformações, sendo a fotografia uma delas. Como prova disso, temos as fotografias de

Juventino que serviram como um registro de uma época, e de um povo que se mostrava ávido por

registrar as transformações da cidade, proporcionada pelo “ progresso” trazido pelos trilhos da

ferrovia, e é neste contexto, que a fotografia começa a ganhar notoriedade na cidade, através da

figura de Juventino José Rodrigues.

NOTAS:

[1] Bolsista do Projeto: A memória fotográfica de Jacobina. Aluno do curso de história da Universidade do Estado da Bahia- Departamento de Ciências Humanas- Campus IV.

[2] Coordenador do Projeto: A Memória Fotográfica de Jacobina. E professor do curso de História da Universidade do Estado da Bahia- Departamento de Ciências Humanas- Campus IV.

BENJAMIN, Walter. “Pequena História da Fotografia”. IN: Magia e Técnica, Arte e Política 1ª ed. São Pulo: Brasiliense, 1985.

[4] SANTOS, Silva Vanicléia. Sons, danças e ritmos: a micareta de Jacobina-Ba (1920- 1950). Mestrado em História. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2001.

[5] Jornal O Lidador 7/09/1935, nº 103. Fundação da Companhia.

[6] Jornal O Lidador, de 29/11/1936. “ a iluminação da cidade- como na Groenlândia- A Escrava de Abraão- Náufragos- Go Ahead!” ( grifo nossos)

[7] FONSECA, Antonio Ângelo Martins. Poder, Crise Regional e Novas Estratégias de Desenvolvimento: O Caso de Jacobina-Bahia. Dissertação de mestrado. Salvador, 1995.

[8] Anunciação, Priscila da, Andrade ,Viviane. Eugène Atget: um romance com Paris. Trabalho da disciplina oficina da

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comunicação audiovisual. Salvador: UFBA, 2002.

[9] Jornal O Lidador:7/09/1937; nº 207-1

[10] Jornal O Lidador 07/09/7937, nº 201-7.

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ANEXOIMAGENS DE JACOBINA

Imagem 1- Ponte Manoel Novais; Fotógrafo: Juventino Rodrigues

Acervo: Projeto: A Memória fotográfica de Jacobina

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Imagem 2 - Vista panorâmica. Foto- Juventino Rodrigues

Acervo: A Memória Fotográfica de Jacobina

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Imagem 3- Micareta de 1936- Foto: J. Rodrigues

Acervo: A Memória Fotográfica de Jacobina

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Imagem 1- Ponte Manoel Novais; Fotógrafo: Juventino Rodrigues

Acervo: Projeto: A Memória fotográfica de Jacobina

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