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Ronaldo sbpjor 2011

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 9º. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Rio de Janeiro, ECO- Universidade Federal do Rio de Janeiro), novembro de 2011

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Morte, acontecimento e redes sociais: das raízes da cultura à

Amy Winehouse

Ronaldo Henn 1 Resumo: O artigo propõe reflexão sobre a morte como acontecimento jornalístico que agora transita para um fluxo em rede por conta das redes sociais. Parte-se de postulados sobre a morte na constituição da cultura formulados na perspectiva sistêmica de Edgar Morin e na semiótica da cultura de Ivan Bystrina e na sua configuração como acontecimento fulcral. Sua migração para o jornalismo e redes sociais é analisada através das postagens no twitter relativas à morte da cantora inglesa Amy Winehause. Entende-se que a ferramenta atualiza a noção de jornalismo como conversação contemporânea da sociedade proposta pela Escola de Munique no século passado. As postagens passam a compor a narrativa jornalística do acontecimento alterando sua própria dinâmica desconstruindo e reiterando sentidos sobre a morte. Palavras-chave: acontecimento; redes sociais; internet; webjornalismo; morte

1. Introdução A partir de várias perspectivas teóricas (MORIN: 1986, QUERÉ: 2005, DE-

LEUZE: 1998, FOCAULT: 1984) o acontecimento é compreendido como uma singula-

ridade. Seja porque ele inaugura todo um processo de sentido (encarnando o próprio

sentido, que sempre escapa, como quer Deleuze, 1998) ou mesmo porque com sua e-

mergência mundos constituem-se, o que une estas perspectivas é a ideia de que o irrom-

per do acontecimento produz a ruptura de uma continuidade. Ao mesmo tempo ele pos-

sui a força propulsora da semiose (HENN, 2010) que se engendra nos complexos pro-

cessos de representação e interpretação em que sua pujança de sentido vai se acomo-

dando. Desta forma, o acontecimento desdobra-se na tensão fulcral entre o singular e o

1 Professor pesquisador do Programa de Pós Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, RS. Pesquisa produção de acontecimento no âmbito da rede a partir de temas como xenofobia e homofobia. É autor de Pauta e Notícia (Canoas: Ulbra, 1996) e Os Fluxos da Notícia (São Leopoldo: Unisinos, 2002)

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geral, aquilo que não é e o devir, a qualidade em toda sua positividade e a legislação, a

mais radical atualidade e a história: o acontecimento participa da ativação da memória.

Entende-se que vida e morte estariam no ápice desta tensão acontecimental.

Morin (1986) enfatiza que só há leis gerais no universo porque ele é singular, o

que implica que sua origem e sua originalidade constituem determinações. São leis que

dependem não só das características singulares do universo, mas também da natureza

destas interações e das condições em que se operam. Nessa concepção, toda a lei depen-

de, num determinado sentido, da eventualidade, do acontecimento: “o encontro é aleató-

rio, o efeito é necessário” (MORIN, 1986, p. 77). Como desdobramento do processo,

funda-se a ordem mais complexa conhecida, a ordem biológica. E há nisso um posicio-

namento epistemológico profundo que implica na própria processualidade do conheci-

mento:

Este universo nascente nasce como acontecimento, e gera-se em cascatas de acontecimentos. O acontecimento, triplamente excomun-gado pela ciência clássica (por ser simultaneamente singular, aleató-rio e concreto), torna a entrar pela porta cósmica, visto que o mundo nasce como acontecimento. Não é o nascimento que é acontecimento, é o acontecimento que é nascimento, no sentido em que, concebido no seu sentido mais forte, é acidente, ruptura, catástrofe... A partir daqui, podemos conceber que o devir cósmico seja cascatas de acon-tecimentos, acidentes, rupturas, morfogêneses. E este caráter repercu-te-se em todas as coisas organizadas, astros, átomo, ser vivo, que tem na sua origem e no seu fim, algo de eventual. Mais ainda, dos subso-los da microfísica até às enormes abóbadas do cosmo, todo o elemen-to pode aparcer-nos, doravante, também, como acontecimento. Donde a necessidade do princípio de complexidade que, em vez de excluir o acontecimento, o inclui e nos leva a olhar os acontecimentos da nossa escala terrestre, viva e humana, aos quais uma ciência antieventual nos torna cegos. (MORIN, 1986: 94)

2. Raízes do acontecimento

Se entendermos a origem do universo como uma singularidade máxima que con-

centra a mais intensa das caoticidades e suas potencialidades negoentrópicas, o tempo

desencadeia-se no e pelo acontecimento: o tempo de devir que é absolutamente comple-

xo e sincrético. Os múltiplos planos de organização do universo e sua complexa diver-

sidade age no ser vivo: “todo o ser humano traz consigo o tempo do acontecimen-

to/acidente/catástrofe (o nascimento e a morte), o tempo da desintegração (a senilidade

que, via morte, conduz à decomposição), o tempo da reiteração (a repetição cotidiana e

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sazonal dos ciclos e ritmos e atividades), o tempo da estabilização” (MORIN, 1986: 86).

A morte é o acontecimento que une o irreversível e o tempo complexo (MORIN, 1970),

complexidade que atinge contornos de grande sofisticação na medida em que o humano

semiotiza-se.

As capacidades semióticas desenvolvidas pela espécie humana intensificaram a

complexidade do mundo biofísico. Provavelmente a partir da consciência da morte, da

morte como acontecimento, que toda a trama constitutiva das linguagens e da cultura

passa a se desenvolver. Morin (1975) lembra que os túmulos mais antigos que conhe-

cemos são os neanderthaleses que indiciam algo muito distinto do que a simples prote-

ção para a decomposição: o morto está numa posição fetal com os ossos pintados e uma

série de utensílios fazendo-lhe companhia. Essas descobertas apontam não só para a

irrupção da morte na vida humana mas também para modificações antropológicas que

permitiram e provocaram essa irrupção (MORIN, 1975: 94).

A morte não é só reconhecida como fato, como a reconhecem os demais animais,

nem só ressentida como perda, mas também é concebida como a transformação de um

estado em outro: ela transforma-se em acontecimento em torno do qual a cultura consti-

tui-se. “Tudo no indica que a consciência da morte que emerge no sapiens é constituída

pela interação de uma mente objetiva que reconhece a mortalidade e de uma consciência

subjetiva que afirma se não a imortalidade pelo menos a transmortalidade” (MORIN,

1975: 95). Os ritos de morte tomada agora como acontecimento fazem frente ao terror

provocado pela ideia do nada: nasce a projeção do duplo e com ele a própria natureza do

signo, ou seja, algo que ocupa o lugar de uma outra coisa.

Esta realidade da sociedade humana aponta para boa parte de coisas que estão para

algo distinto e requerem interpretação, quer dizer, de signos que possibilitam a interpre-

tação. “Onde faltam os signos, nós imaginamos o nada e, onde parece haver o nada, no

apressamos em colocar um signo de ordem” sentenciava sabiamente Harry Pross (1980:

14). “Isso serve tanto para a socialização da criança como para a da humanidade”. O

princípio de organização através do qual as linguagens articulam-se passa a impor uma

espécie de coação na medida em que as ordens e os consequentes focos de poder advêm

da resposta humana à ameaça do nada. Através dos signos reconhecemos como se com-

portam entre si distâncias, os intervalos e as classes sociais em que nos movemos.

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Nobert Elias (1998) entende que a vida dos primeiros homens teria sido insuportá-

vel caso eles não desenvolvessem a capacidade de compensar seu desconhecimento com

fantasias cuja carga afetiva refletia a insegurança de sua situação, a incerteza do seu

acervo de conhecimento (BAITELLO JÚNIOR, 1997) . Eles estavam envolvidos de-

mais para encarar acontecimentos da natureza como observadores distanciados. Trata-

se daquilo que Ivan Bystrina (1995) chama de segunda realidade.

A primeira realidade é a realidade bio-física, que coloca para o ser humano uma

séire de exigências em termos de sobrevivência. Gera um déficit, um stress terrível. As

prórpiras exigências de permanência da espécie humana exigiram formas novas de

socialização, de proteção e com o cérebro maior, consiguimos processar e criar novas

informações, novos códigos. O ser humano despreende-se da primeira realidade criando

a segunda realidade como desdobramento inevitável. Nesta realidde eminentemente

humana, noológica, simbólica, completamente sígnica, o homem tenta superar no mito,

na magia nos ritos, certas determinações terríveis da primeira ralidade. sobretudo à

morte (BYSTRINA, 1995).

Na medida em que a segunda realidade possui um caráter sígnico, ela se ordena

como linguagem e obedece a certos princípios e regras. Desta forma, a cultura possui

seus códigos e funciona de acordo com eles. Códigos esses que vão reger nossas

práticas comunicativas e culturais até hoje.

É nesse sentido que postulamos aqui a idéia de morte como acontecimento, tanto

pelo seu assombramento, quanto pela dinâmica inaugural de práticas semióticas que

desencadeiam os processos culturais. A cultura vai ser um sistema muito bem

organizado, de caráter simbólico, mas que necessita de condições bio-físicas para

existir. A cultura vai fazer um investimento simbólico nas línguas naturais, criando

significados múltiplos ao ponto de amalgamá-las. E a cultura passa a gerar diversas

coisas como mitologias, narrativas que dão conta dessas mitologias, regras de

comportamento ou conduta social, ideologias, religiões, práticas políticas e também

práticas de lazer.

A cultura tem o poder de se diverssificar porque ela é um sistema aberto, mesmo

com todo o seu rigor de organização interna. Sociedades diferentes vão se constituindo,

tribos, nações, e com elas a cultura vai sofrendo variações, especificidades, mesmo

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mantendo certos matizes básicos. Porque ela é multirelacional e inesgotável. Se a

cultura fica presa a códigos muitos rígidos, ela se torna fóssil, pode morrer. Também

pode se constituir como intrumento de domínio.

A cultura nasce percebendo polos assimétricos, mas nasce também inconformada

com eles. Vida e morte constituem a oposição mais inexorável (BYSTRINA, 1995).

Como a espécie humana não consegue resolver essas assimetrias na natureza, nas

estruturas da ralidade, ela desenvolve ações simbólicas. A morte vira vida eterna, o

trovão vira Deus, a tempestade purificação. O homem, diferentemente dos outros

animais, espera a morte, sabe a morte que vai acontecer com ele e os semelhantes.

Sabendo, ele espera e na medida em que espera, pauta-se para ela. Conhecendo sua

força limitada, vê-se impotente diante da natureza pelo fato de ser sempre derrotado

pela morte (BAITELLO JÚNIOR, 1997).

2. Morte como acontecimento jornalístico em rede

Incrustrada na própria constituição da cultura é quase natural que a morte

converta-se em acontecimento jornalístico altamente valorizado. Seja como resultado de

tragédias, de crimes aterradores ou envolvendo personalidade pública, a morte sempre

encontra espaço nas coberturas jornalísticas e ganha, via de regra, muito destaque. Há

diversas ênfases no noticiário de morte que vai do impacto, suas consequências e a uma

exumação pública e excessiva. Quando o protagonista da morte faz parte do mundos dos

espetáculos, essa ênfase agiganta-se produzindo uma espécie de mitologia às avessas em

que o personagem aos mesmo tempo é colocado em patamar que o distingue dos

humanos e no limbo das desconstruções mais sórdidas.

A morte da cantora inglesa Amy Winehouse no dia 23 de julho de 2011 foi

processada pelo jornalismo com todas essas ênfases. Com vida atribulada por conta de

excessos, sua performance pública já fazia a festa dos tablóides britânicos. Encontrada

morta aos 27 anos, idade em que muitos ídolos da música pop partiram “fora do

combinado”, um mixto de consternação e dissecação emergiu deste acontecimento

fulcral. Só que a notícia de sua morte ingressou nesse novo processo de semiose

instalado pelas redes sociais: a participação coletiva na construção de sentidos

encontrou agora uma materialidade exuberante.

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As redes sociais não só introduziram ao longo dos anos 2000 novas formas de so-

ciabilidade como também de produção e circulação de informação. Em convergência

com plataformas móveis, como celulares, smartphones e tablets, essas redes protagoni-

zaram nos últimos anos a formatação de acontecimentos como os protestos da oposição

nas eleições do Irã em 20092 e a recente renúncia do ditador Ben Ali da Tunísia em

2010 (RECUERO e ZAGO, 2011). As eleições do presidente dos Estados Unidos Ba-

rack Obama em 2008 teve também uma presença significativa da web. No Brasil, após a

confirmação da vitória da presidente Dilma Rousseff no pleito de 2010, manifestações

anti nordestinos proliferaram-se pelo twitter acompanhadas de reações de intensidade

maior. Uma estudante de direito em São Paulo, que postou mensagem xenófoba agres-

siva gerou forte repúdio e acabou demitida de estágio que cumpria em importante escri-

tório de advocacia3. Em maio de 2011, um protesto na forma de churrasco no bairro

Higienópolis de São Paulo, contra manifestações preconceituosas de moradores contrá-

rios a instalação da estação de metrô, foi todo organizado pela rede4.

Com as redes sociais processo de produção e circulação de notícia hoje está dis-

seminado. A notícia não precisa necessariamente freqüentar o ambiente chancelado o

lugar institucional da notícia. E o jornalismo em base de dados possibilita a apuração de

informações sem a mediação do jornalismo convencional. E são nessas operações que

se percebem as mudanças mais profundas.

O jornalismo tradicional se vê compelido a se apropriar destas plataformas e fer-

ramentas, seja num processo de convergência, seja no do estabelecimento de novos pa-

drões. Mas tem que lidar com essa forte dose de imprevisibilidade. O jornalismo, tradi-

cionalmente vinculado ao presente, mas ainda atrelado ao tempo do evento, do processo

produtivo e do receptor (FRANCISCATO, 2005) vive agora uma espécie de exaspera-

ção da instantaneidade e da proliferação simultânea do acontecimento em rede. As redes

comunicacionais digitais móveis de acesso translocal, como os telefones celulares, os

2Matéria do New York Times reproduzida na UOL em 16 de junho informava que “no Twitter, as repor-tagens e links para fotos de uma marcha pacífica em massa por Teerã na segunda-feira (15), juntamente com relatos de combates nas ruas e vítimas por todo o país, se tornaram o assunto mais popular no serviço em todo o mundo, segundo as estatísticas publicadas pelo Twitter” http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2009/06/16/ult34u223320.jhtm 3 Conforme notícia publicada em O Globo em 01/11/2011 http://glo.bo/9uCfSa 4 Conforme IG em 11/05/2011 http://bit.ly/mxC5Ob

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wireless computers e as conexões sem fio adensam a vivência do “tempo real” pelo jor-

nalismo (COSTA, 2003) a partir de espaços híbridos.

Se por um lado, há todo um fluxo libertário, anárquico, colaborativo, numa nova

possibilidade de jornalismo, há, por outro problemas sérios como o da credibilidade da

informação, precisão, proliferação de boatos. Mas o fenômeno mais perceptível é o da

repercussão da informação, que se dá de forma estonteante. A construção da opinião

pública, grande trunfo de uma imprensa de ideais modernos e iluministas, saiu total-

mente do controle. Esta é a cena de uma crise que está gerando muitas questões que

estão sendo investigadas.

Os casos recentes de acontecimentos que emergem da web revelam desdobramen-

tos de semiose5 que atendem à outra lógica de produção de informação jornalística a

partir da própria instituição do acontecimento. As rotinas de produção tradicionais exi-

biam nexo ordenado entre pauta, apuração, relação com fontes, redação, edição e dia-

gramação. Essas instâncias interpretantes seguiam trajetória de cunho linear na qual a

relação signo (notícia) e objeto (acontecimento) desdobrava-se ao longo da cadeia pro-

dutiva e culminava no deadline imposto. Havia, neste contexto, um predomínio da refe-

rencialidade que migrava, via operações produtivas, ora para as lógicas simbólicas de

convenção dos códigos jornalísticos, ora para as lógicas icônicas de sedução, sobretudo

pelas imagens.

Com relação ao acontecimento em rede, em primeiro lugar, já se tem um aconte-

cimento de natureza essencialmente sígnica, logo já articulado nas tramas simbólicas do

que Peirce (2002) chama de terceridade. Isso porque é a partir de sua construção no am-

biente da rede que o acontecimento se institui. É na web que o acontecimento se produz

independente do fato de ele poder se referir a uma realidade exterior. Os episódios só se

transformam em acontecimento por conta desta mediação. Em segundo, as lógicas de 5 Semiose está sendo empregada aqui no sentido oferecido pela Teoria Geral dos Signos de C. S. Peirce (2002). Em primeiro lugar, o signo é pensado de forma triádica e só existe enquanto tal a partir de um processo relacional das três dimensões envolvidas: signo, objeto e interpretante. Em segundo, se o inter-pretante é um novo signo acionado neste processo, e sua geração configura-se como potencialmente infi-nita, seu funcionamento já traz embutida a própria semiose que, em outros termos, significa a ação do signo. Em terceiro, o signo só existe por conta de uma determinação, a do seu objeto, cuja natureza não precisa ser necessariamente alguma "coisa" constituída no mundo, mas algo da ordem do imaginado ou do conceito. E toda a seqüência de interpretantes vai, de alguma forma, dar conta destes objetos originá-rios.

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produção se alteram na medida em que é a própria rede, em um primeiro momento, que

abastece os jornalistas de informação sobre que relatar. E o próprio relato amplia-se em

cadeia interpretante rizomática, hipertextual e miltimidiática trazendo complexidade

maior a relação signo/objeto.

O twitter está entre as ferramentas mais populares de redes sociais. Sua principal

característica é a de funcionar como um microblog que comporta postagem de mensa-

gens que contenham no máximo 140 caracteres. Pessoas físicas e jurídicas, nos seus

mais diferentes matizes, constroem perfis que se vinculam entre si através de uma sis-

temática de seguidos e seguidores. A partir da pergunta “What is happening?” (o que

está acontecendo?), as mensagens tanto podem se referir a relatos prosaicos do cotidia-

no das pessoas como à difusão e comentário de acontecimentos jornalísticos. Com uso

do sustenido (#) é possível criar uma hashtag que aponta para uma página comum. No

caso em análise, a #amiwinehouse passou a ser usada pela maioria dos perfis que se

referiram ao acontecimento. Os termos ou hashtag são constantemente classificados

num ranking chamado treend topics em que aparecem os dez assuntos mais comentados

no momento. A ferramenta sofisticou-se e hoje é possível ter uma lista só com os tweets

brasileiros e já há classificações regionais para cidades como Rio de Janeiro e São Pau-

lo.

Esta dinâmica estabelece uma conversação coletiva que é ao mesmo tempo dialó-

gica e narcísica, na medida em que há um capital social envolvido nas postagens, como

bem propõe Raquel Recuero e Gabriela Zagos (2011). As autoras lembram que o capital

social, como forma de capital, é produto de investimento dos indivíduos em suas redes e

da construção de valor nesses espaços e transforma-se no twitter em ingrediente funda-

mental da sua constituição já que ele é capaz de gerar valores na sua apropriação. Estar

vinculado a um determinado assunto de forma pública revela implicações simbólicas no

sentido da visibilidade proposital desse vínculo.

A configuração do twitter atualiza postulado que a chamada Escola de Munique

nas teorias de jornalismo alemã havia compreendido na essência do jornalismo na déca-

da de 1960, conforme sistematizou Hanno Beth (1987). Os autores dessa escola (Hans

Braun, Otto B. Roegele e Heinz Starkula) incluem em seu campo de trabalho na pers-

pectiva do jornalismo como ciência “a forma mais ampla de contato humano a qual me-

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diante a fala, a audição e a compreensão se efetua o encontro e a influência recíproca, a

troca constante de agendas e o intercâmbio de conteúdos espirituais” (BETH, 1987).

Por conta disso, entendiam o jornalismo como a conversação contemporânea da socie-

dade e defendiam que o termo “periodismo’ (zeitung) não só designa um meio técnico

mas um fenômeno primogênito da comunicação social. As redes sociais contemporâ-

neas parecem levar esse postulado a consequências bem mais intensas.

4. Semioses do acontecimento Amy Winehouse

“Minha mãe falou assim quando eu acordei: A morte da #amywinehouse já ta no

twitter? Eu tinha acabado de acordar e nem sabia”. O post, pertencente ao perfil

@fco_lrds_cotia do twitter, aponta para esse outro modo do acontecimento pelas redes

sociais. Ao mesmo tempo em que intensifica de forma instantânea e contínua uma con-

versação coletiva sobre o que aconteceu, também permite que se vislumbrem níveis de

afetação dos mais diversos. Assim que saíram as primeiras notas nos portais noticiosos

sobre o corpo morto de uma mulher aparentando 27 anos encontrado no endereço de

Amy Winehouse, no começo da tarde de sábado, horário de Brasília, uma profusão de

posts pipocaram e rapidamente a hashtag referente ao acontecimento passou a liderar os

treends topics.

Selecionou-se um conjunto de postagens com essa hashtag, publicadas por perfis

brasileiros, para que se percebam alguns sentidos que o acontecimento “morte de uma

celebridade atormentada” foi constituindo ao longo da tarde do dia 23 de julho de 2011.

As mensagens desencadeiam três movimentos jornalísticos. O primeiro deles é a refe-

rência a ou o comentário da notícia que estabelecem vínculos dos sujeitos com o acon-

tecimento, vínculos esses de múltiplas ordens, tais como morais, comportamentais, de

afetos ou de mera observação dos ambientes da cultura em geral. Também faz parte

desse movimento o próprio ato de noticiar. Postar referência à notícia imediatamente ao

seu surgimento é quase como um furo: o perfil portador de uma novidade bombástica

que logo é replicada.

O segundo movimento é o da referência a links que trouxeram algum material no-

ticioso ou audiovisual sobre o acontecimento. Em pouco menos de duas horas das pri-

meiras notícias, o portal G1 já publicava matéria reunindo o que chamava de especialis-

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tas que analisavam “a morte precoce de Ami Winehouse”. Através de programas que

produzem encurtamentos da URLs, é possível fazer referências aos links de forma eco-

nômica, sem que se ultrapassem os caracteres máximos permitidos. Dessa forma, a ma-

téria do G1 apareceu difundida em vários posts através de links como

http://glo.bo/pPMdp2. Originalmente o link era http://g1.globo.com/pop-

arte/noticia/2011/07/especialistas-comentam-morte-precoce-de-amy-winehouse.html.

Já o terceiro movimento pertence às próprias organizações jornalísticas que se uti-

lizam da estratégia dos hashtags para divulgarem seus materiais. Nesse aspecto, os veí-

culos das organizações globos mostraram-se intensamente efetivos na utilização desse

recurso com remissão a várias inserções, do jornal O Globo ao programa Fantástico.

Um dos perfis que se manifestou já no começo era um fake6 da própria cantora

com o perfil @MinhasAtitudes. Os posts criavam um efeito metafísico: uma análise

rapidamente póstuma do seu próprio comportamento , como no MinhasAtitudes Amy

Winehouse “Se uma pessoa tem tendência para o vício, passa de um veneno para o ou-

tro.” - #AmyWinehouse 23 Jul ou no MinhasAtitudes Amy Winehouse Existe uma luz

no céu acima de nós que apenas quem ama a consegue ver. #AmyWinehouse 23 Jul.

Dada as circunstâncias da morte, uma provável overdose de drogas e álcool, proli-

ferou-se um discurso condenatório, de ordem moral. Alguns reforçavam o talento mas

criticavam o comportamento. Outros ignoravam suas qualidades artísticas. Destacam-se,

entre eles, o do escritor de telenovelas Walcyr Carrasco:

WalcyrCarrasco Walcyr Carrasco Mesmo sendo contra o uso, porém, reconheço que a droga

leva a superar fronteiras artisticas, como #Janis Joplin e #AmyWinehouse

23 Jul marciomarques Marcio marques #amywinehouse- pra quem acha que maconha e alcool nao

fazem mal, eles sao portas de entrada do vicio. o final pode ser igual ao da Amy

23 Jul anagoelzer anagoelzer RT @talanotalaveira: Ao inves de ficar falando da mor-

te #AmyWinehouse vamos falar de quem celebra a vida e nao provoca o seu fim

6 Fakes são perfis sem identidade comprovada ou que simulam personalidades conhecidas. Bastante po-pulares no twitter, esses perfis também interagem na construção dos acontecimentos trazendo problemati-zações importantes nesse tipo de abordagem.

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Como o acontecimento veio na sequência de outro acontecimento, esse de caráter

brutal, o atentado de extrema direita que matou mais de 70 pessoas na Noruega, algu-

mas relações entre eles foram estabelecidas. Destacam-se duas, uma de caráter crítico e

outra condescendente.

saulosales Saulo Sales E ainda tem gente achando que a morte

de #AmyWinehouse é maior que a tragédia da Noruega. #Fail gondimricardo Ricardo Gondim #amywinehouse destruiu a si um dia depois que um norue-

guês matou 92. Ela, autodestrutiva, implodiu-se; ele, assassino, quis explodir o mundo

23 Jul

O humor, a ironia e sarcasmo logo compareceram no conjunto de postagens. São

posts que de certa forma desconstroem o peso da inevitabilidade num processo de car-

navalização, no sentido de Bakhtin (1993).

CadeMeuUisque Cadê o meu uísque? O lado ruim de morrer não é a morte, mas ter que largar o u-

ísque e os cigarros. #AmyWinehouse 23 Jul erica_leobas Erica Leobas RT @rafa_couto: #AmyWinehouse "do pó viestes, pelo pó

passastes, ao pó voltarás." 23 Jul rafaelmalenotti rafaelmalenotti Vai ser uma tremedeira só! RT @FilhoDoOCriador: E na

Cracolândia está sendo programado um minuto sem fumar em homenagem a #AmyWinehouse

23 Jul HomerFail Homer Simpsons Deus, vamos fazer um trato ? vc leva todas as integrantes da

"banda" Restart, o justin bieber e o LS , e só nos Devol-ve #AmyWinehouse e o MJ

23 Jul. Fellipe_cap Verified Account ✔ #amywinehouse chegou ao céu, foi barrada com 2kg de ma-

conha

Outra linha de manifestação diz respeito aos fãs declarados7 ou mesmo àqueles

que são críticos ao julgamento moral de muitos comentários. Nesses posts, há uma pro-

7 A pesquisadora Adriana Amaral (2010) vem investigando a constituição e articulação das comunidades de fãs nas redes sociais. Entre outras perspectivas instigantes, identificou que os perfis online em redes de relacionamento têm se mostrado eficientes no sentido de constituição de um banco de dados de consumo, de memória musical, de organização social em torno da música, de crítica e classificação de gêneros, de

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jeção do ídolo como alguém inconformado que necessitava transgredir. A mensagem

que lembra letra de Cazuza, cantor/compositor brasileiro morto em 1990, em perfil atri-

buído a Leo da banda Inimigos da HP, faz uma síntese dessa perspectiva:

leoinimigosdahp Leo - Inimigos da HP "Meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no

poder. Ideologia, eu quero uma pra viver!" (Cazuza) Vá com Deus#AmyWinehouse #fb

23 Jul

Até mesmo o jogador do Milan Alexandre Pato entrou nesta linha, assim como o

escritor de telenovelas Agnaldo Silva e o jornalista Tiago Leifert, entre outros:

AlexandrePaato Alexandre Pato #9 Surpreso com a morte do ícone musical dessa década, de

longe a melhor artista dos últimos 10 anos. #amywinehouse 23 Jul Aguinaldinho Aguinaldo Silva #amywinehouse estar nos TTs não é nada, você esta na

memoria de todos nós e na historia da musica mundial. Tiago_Leifert Tiago Leifert Perder a Amy Winehouse é como perder Mamonas Assassi-

nas de novo ! #amywinehouse 23 Jul 23 Jul lellid léli duarte ☺ Todo mundo sente peninha dos muito pobres ou filhinhos de

papai que se drogam, agora, pq é a #AmyWinehouse, um íco-ne, todos julgam.

23 Jul ebitelo Euclides Bitelo Estaremos nós condenados a um mundo de sertanejos, gos-

pels e sertanejos gospels? Eles são comportados, mas chatos pra caralho! #amywinehouse

23 Jul

O comportamento da mídia, assim como das próprias manifestações nas redes so-

ciais são alvos de críticas. Percebe-se uma postura ambígua na medida em que quem

critica vale-se das mesmas estratégias dos demais, o que amplia o sentido de conversa-

ção, ao mesmo tempo dialogada e narcísica.

leotody Leo Rapini Hienas do twitter celebram a morte

da #amywinehouse rindo e fzendo piada. Elas são conhecidas por caçar e se alimentar de suas presas vivas.

23 Jul

constituição de reputação de conhecimento sobre o assunto, quando aliados aos sistemas de recomenda-ções musicais.

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 9º. Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

(Rio de Janeiro, ECO- Universidade Federal do Rio de Janeiro), novembro de 2011

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galvao_matheus Matheus Galvão Nem esperam o corpo esfriar e já começam a querer lucrar

com isso... Assustador... #AmyWinehouse 23 Jul deputadokennedy Kennedy Nunes A Globo News não sabe mais o que falar

da #amywinehouse. Até o Eca Camargo teve que vir p estúdio rsrs

23 Jul

A mídia institucionalizada comparece de várias formas: faz referência aos seus

materiais, reproduz trechos das canções das cantoras, convida a interação com a propos-

ta de enquetes como “qual a sua canção preferida” e outros procedimentos.

OTEMPOonline O TEMPO online Causa da morte de Amy Winehouse ainda é desconheci-

da.http://owl.li/5LNG6 #amywinehouse 23 Jul BlogdoNoblat Blog do Noblat RT @JornalOGlobo: #amywinehouse: consternações de

uma morte anunciada showdavida Fantástico O Canal F especial mostra como será a cobertura da morte

da cantora #amywinehouse. E essa maldição dos 27 anos? As-sista:tinyurl.com/3awll3o

23 Jul saulosales Saulo Sales Veja no @papelpop como as celebridades reagiram no Twit-

ter ao saber da morte de #amywinehouse http://bit.ly/qps4zA. 23 Jul JPCURITIBA JOVEM PAN CURITIBA #AmyWinehouse "Nós apenas dizemos adeus com palavras

/ Eu morro umas cem vezes" (Back to Black) criativaonline Revista Criativa Qual sua música preferi-

da? #tributo #amywinehouse:http://ow.ly/5LKtL 23 Jul canalglobonews Globo News A última aparição pública de #amywinehouse foi em show

de afilhada artística. Confira as imagens - glo.bo/nc6MbU #globonews

ultimosegundo Último Segundo #AmyWinehouse era "superamável" e querida no bairro, di-

zem vizinhos ao @iG http://ig.com/8qp 23 Jul JHoje Jornal Hoje Vc pode ter outras informações sobre a morte da canto-

ra #Amywinehouse no @JNTVGloboBrasil ou na Globo News:g1.globo.com/globo-news/

23 Jul JornalOGlobo Jornal O Globo Polícia inglesa já investiga morte de #amywinehouse. Veja

a fotogaleria: http://migre.me/5kFDC

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(Rio de Janeiro, ECO- Universidade Federal do Rio de Janeiro), novembro de 2011

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23 Ju quemacontece QUEM Acontece Veja vídeo de última aparição pública da canto-

ra #AmyWinehouse: t.co/hU5tfdM 23 Jul

No âmbito mais tradicionalmente midiático, o lado da cantora ligado à moda, na

medida que seu estilo de vestir, de maquiar e de formatar os cabelos transformaram-se

em referência, logo foi explorado de forma imediata à sua morte, como nos seguintes

posts:

iG iG Os famosos que adoravam se vestir co-

mo #AmyWinehousehttp://ig.com/8qd iG iG No @igmoda: Para Costanza Pascola-

to @constanzOFICIAL, #AmyWinehouse era um retrato da moda do século 21http://ig.com/8ql

23 Jul criativaonline Revista Criativa Pin-up e lady like, #amywinehouse é ícone de estilo. Que

make e cabelo inconfundíveis, não é mes-mo? http://ow.ly/5LLcH

23 Jul

Por fim, um senso de contexto emerge entre os twiteiros a partir do que se con-

vencionou chamar de “síndrome dos 27 anos”, já que grandes nomes da música pop não

conseguiram ultrapassar essa idade, a maioria por conta de problemas com drogas.

cacildanc Cacilda N.C. 4 de outubro de 1970: O Blues perde sua áspera voz branca:

Morre aos 27 anos Janes Jo-plin http://bit.ly/pZg1pU @HojenaHistoria #amywinehouse

23 Jul hojenahistoria Hoje na História JB 8 de abril de 1994 – Aos 27 anos, Kurt Cobain é encontrado

morto: t.co/8B0gAQC via @HojenaHistoria #amywinehouse 23 Jul

5. Considerações finais

A trama de sentidos que emerge do acontecimento em rede revela textura comple-

xa tanto na sua constituição quanto na proporção que sua proliferação alcança. Os valo-

res que circulam entre os tweets desdobram-se entre a consternação, condenação moral,

idolatria, carnavalização, divulgação, entretenimento e protagonismo enunciativo. São

valores que se expressam em qualquer conversação instituída nos espaços públicos con-

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vencionais mas que, na medida em que são vinculados a um espaço virtual de grande

visibilidade e com poder de propagação tão intenso, transformam-se em elementos

constitutivos do próprio acontecimento na sua transição para acontecimento público e

jornalístico. Eles passam a compor a narrativa jornalística desse acontecimento alteran-

do sua própria dinâmica, narrativa essa de caráter transmidiático característico desses

tempos de convergência (JEKINS, 2009).

A consciência da morte que deflagrou os primórdios das formulações culturais en-

contra nesse cenário uma profícua diversidade complexificando ainda mais a própria

cultura exatamente em um dos seus potentes textos contemporâneos, no sentido de

Lotman (1999): os acontecimentos jornalísticos. Um texto da cultura que na especifici-

dade da morte desencadeia semioses sempre perturbadoras por nos confrontar com ele-

mentos profundamente atávicos, conforme já desenhava Freud (2001) na sua teoria das

pulsões. Em rede, a morte de uma celebridade convertida em acontecimento desconstrói

esta consciência na mesma medida em que a fortalece.

Referências

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