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Rosa Maria No Castelo Encantado

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livro infanto juvenil

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ROSA MARIA NO CASTELO ENCANTADO

a

HISTRIA DE ERICO VERISSIMO

ILUSTRAES DE EVA FURNARIhttp://groups-beta.google.com/group/digitalsource

Eu sou um mgico. Moro num castelo encantado. Os homens grandes no sabem de nada. S as crianas que conhecem o meu segredo...Quando um homem passa pela minha casa, o que v uma casa como as outras: com portas, janelas, telhado vermelho, sacada de ferro...S as crianas que enxergam o meu castelo encantado. Com torres de acar e chocolate. Pontes que sobem e descem, puxadas ou empurradas por anezinhos barrigudos, vestidos de verde. Os trincos das portas, vocs pensam que so de metal? Nada disso. So de marmelada, de goiabada, de cocada.Quando um homem grande entra na minha casa, tem de subir toda a escada, degrau por degrau. Quando uma criana entra no meu castelo, a escada que sobe com ela.Mas no adianta a gente ficar conversando assim toa. O melhor eu contar logo a visita que Rosa Maria fez ao meu castelo maravilhoso.Foi assim:

No. Primeiro quero apresentar a vocs a menina Rosa Maria. Apertem a mo gorducha e rosada da minha amiguinha. E digam: Dona Rosa Maria, temos muito prazer em conhecer a senhorita.Viram que mo macia? Parece um pozinho de tosto. Recm-sado do forno. Ainda est quentinho.Pois agora que apertaram a mo, vejam a carinha dela. Olhem...

No bonita mesmo? Parece um nen de brinquedo. Ainda no tem um ano bem completo. Aprendeu a caminhar a semana passada.Mas examinem bem o rostinho da senhorita Rosa Maria. Vocs conhecem aquelas bolitas de vidro com que os meninos jogam? Como mesmo o nome delas? Alguns rapazes brasileiros dizem assim: "bolinha de gude". Outros do um nome diferente: "bolita de inhaque". Oh! Este nosso Brasil to grande, to comprido que os meninos do Norte e os meninos do Sul chegam a dar nomes diferentes a coisas to pequeninas e simples como essas bolinhas de vidro. Mas no faz mal. O principal que vocs saibam o que eu quero dizer. J vi que sabem. Pois bem. Os olhinhos de Rosa Maria parecem duas enormes bolinhas de vidro preto, muito redondas, muito brilhantes.E o nariz? Ah! O nariz assinzinho...Se o rosto dela fosse um campo, o nariz nem chegava a ser um monte, de to baixinho que .A boca? Nem sei... O anozinho verde e barrigudo que est aqui agora ao meu lado, enquanto escrevo esta histria, me diz baixinho ao ouvido: "Boca de pitanga!".Ano bobo! Nunca que as pitangas tiveram um jeito to engraado e uma cor to bonita como a boquinha de Rosa Maria!Os dedinhos das mos dela so como dez soldadinhos que sempre andam juntos. S que no so do mesmo tamanho... Marcham e cantam. O dedo minguinho sempre anda na frente, porque desinquieto como um mico. O polegar se atrasa nas marchas porque gordo como um porquinho.Bom. Agora que j mostrei a vocs quem Rosa Maria, vou contar a visita que ela fez ao meu castelo encantado.Ela chegou, parou, olhou e bateu na porta. Mal encostou o dedinho... Mas o ano azul, que sempre est de guarda entrada do castelo, tem um ouvido to fino que chega a perceber o cochicho dum mosquito a muitas lguas de distncia. Pois o ano azul ouviu a batida e abriu a porta. Dona Rosa Maria, a senhorita pode entrar.O ano azul fez um cumprimento muito respeitoso para o nen. Quase encostou o nariz no cho.Rosa Maria botou o dedinho na boca e ficou sem saber o que ia fazer.

O ano azul bateu palmas. Apareceu um ano amarelo. O ano amarelo tinha uma corneta. O ano azul fez um sinal. O corneteiro tocou: to-to-ro-r... to-ro-r!

Comearam a aparecer anezinhos verdes de todos os cantos. Eu j disse de que tamanho eles eram? Pois mal chegavam aos joelhos de Rosa Maria...Os anes verdes formaram uma fila, como soldados, e ficaram perfiladinhos.

Rosa Maria olhou para eles, muito admirada. Viu uma banda de msica completa. Soltou gritinhos de contentamento.O ano azul fez um sinal.A banda comeou a tocar uma marchinha muito engraada. E os anes verdes desandaram a cantar uma cantiga mais engraada ainda.Rosa Maria entrou. Quis erguer o p direito para subir o primeiro degrau. Mas perdeu o equilbrio e j ia caindo de costas no cho quando o corrimo da escada estendeu a mo e a segurou.Rosa Maria olhou muito admirada para o corrimo e disse: Ungu! Ungu!O corrimo, que sabia a lngua dos nens, compreendeu o que ela tinha dito. Era isto: Muito obrigada, seu Corrimo.Ento, como a senhorita Rosa Maria no alcanava o degrau, o ano azul disse uma coisa ao ouvido da escada e o primeiro degrau se abaixou, se abaixou at ficar quase rente do cho, e assim o nen pde subir para cima dele.

Depois que subiu, parou. Porque no podia continuar... A escada era muito comprida. O ano deu um grito e a escada comeou a subir, levando consigo o nen. Em menos de um minuto, Rosa Maria estava l em cima.

Eu abri a porta e disse:

Pode entrar, senhorita Rosa Maria. Eu sou o mgico e o meu castelo todo seu! Ungu! Ungu! disse ela.Eu tambm compreendo a lngua dos nens. Queria dizer isto:"Homem, eu gosto de ti. Quero ficar na tua casa. "

Rosa Maria entrou.

Samos a caminhar. Seguimos por um corredor muito comprido. Estava escuro. Ento um camundongo saiu da sua casa, com uma vela na mo, e foi frente, alumiando o caminho. E comearam a aparecer mais dois, mais trs, mais quatro, mais oito, mais vinte camundongos, todos com velas acesas na mo. O corredor ficou claro como o dia.

Chegamos a uma sala muito grande. O cho era liso. Muitas formiguinhas estavam patinando nele.

Rosa Maria ficou admirada e ento eu expliquei que ali era a praa de recreio de todas as formigas do castelo. Ela se ajoelhou e comeou a olhar muito alegre.Bem debaixo da mesa estava uma orquestra de formigas tocando uma valsa.

Entramos na sala de refeies. A mesa tinha uma fruteira em cima. Uma laranja muito intrometida deu um pulo da fruteira, tirou o chapu e disse: Bom dia, senhorita Rosa Maria! Em nome de todas as frutas do mundo, eu cumprimento a senhorita.Rosa Maria apertou a mo dela. Depois quatro bananas, todas irms, de braos dados comearam a danar. De repente, pararam, coaram o queixo e disseram: "Falta msica".Um gato branco apareceu. Estava de cartola e fraque. Tinha uma medalha no peito. Pois o gato tirou o seu piano do bolso e comeou a tocar uma msica puladinha.

As bananas agradeceram e continuaram a danar, muito contentes da vida.Rosa Maria batia palmas e ria.

Chegamos depois a um quarto de paredes cor-de-rosa.

Rosa Maria me disse:

No gosto dessa cor. Perguntei: Ento qual a cor que o nen quer? Ela ergueu o dedinho e disse: Quero a cor que pintaram o cu.Bati palmas e dei uma ordem. Apareceram cinqenta baratas vestidas como pintores. Cada uma tinha na mo um pincel e na outra um balde de tinta azul. Saram a correr pelas paredes, esfregando nelas o pincel de tinta azul. Num minuto a parede mudou de cor.Olhei para Rosa Maria e disse:

Pronto, minha amiga. O nen queria um quarto da cor do cu? Aqui est.Rosa Maria estava satisfeita. Mas de repente sentiu fome.

Quero leite!Soltei um assobio. Apareceram cinco vaquinhas do tamanho dum camundongo. Depois vieram cinco formiguinhas de avental, com baldes nos braos. Sentaram-se em caixinhas de fsforos e comearam a tirar leite. Botaram o leite num pires grande e o puseram na frente de Rosa Maria.O nen bebeu e ficou com a cara lambuzada.Depois pediu:

Banana.Mal ela acabou de falar, ouvi um barulho na fruteira. Uma das bananas levantou-se, despediu-se chorando das suas irms, beijou-as, disse adeus para a comadre Laranja, para o compadre Pssego e para o vizinho Abacate e desceu da fruteira.Aproximou-se de Rosa Maria e disse com a sua voz mole e doce:

Senhorita Rosa Maria, pode me comer.Ento a banana, com as suas prprias mos, se descascou. As cascas caram para o cho. E a banana ficou branquinha, descascada, parada, esperando...Rosa Maria sentiu muita pena da banana e desatou o choro.

No quero mais banana! disse ela, soluando. Estou com pena da banana! No quero banana!Mandei chamar um doutor. Veio um cachorrinho peludo. De cartola, culos e bengala, com uma maleta na mo.

Doutor! disse Rosa Maria com voz tremida. Cure essa banana. Eu no quero que ela fique assim, a coitadinha! Foi por minha causa!E chorava, chorava e mais chorava...

O doutor tirou os seus instrumentos da mala e botou de novo a casca na pobre banana. Depois chamou o automvel do pronto-socorro. Levaram a doente para um hospital de bananas.Para consolar Rosa Maria, eu disse uma palavra mgica e apareceu na frente dela uma mesa cheia dos doces mais bonitos e mais gostosos do mundo.Ela se sentou na sua cadeirinha e comeou a comer, dando gritinhos de alegria. Enchia muito a boca. Mal terminava de comer um doce, enxergava outro e avanava... s vezes nem chegava metade de um bom-bocado e j estava com os dedinhos em cima dum papo-de-anjo.Por fim ficou sem vontade de comer mais doces. E disse:

Agora no como mais doce o resto de minha vida. Sentiu ento vontade de dormir.Levei a minha amiguinha para uma cama muito macia. E, enquanto ela dormia, todos os anezinhos do castelo ficaram de guarda. As formigas pararam de patinar, para no fazer barulho.Rosa Maria dormiu. Decerto sonhou sonhos muito bonitos, porque estava rindo enquanto dormia.

Acordou alegre e disse:

Quero cinco bonecas. Uma para cada dedo da mo.

Sim, senhorita respondi. Mas quero boneca que se mexa, que fale. Boneca bonita!Ento eu botei em cima duma mesa cinco paus de fsforos. Um era verde; outro, azul; o terceiro, encarnado; o quarto, amarelo; e o ltimo, branco.Gritei:

Abracadabra!Era uma palavra mgica. Os cinco paus de fsforo se levantaram. Soprei bem de levezinho neles. E os paus foram crescendo, crescendo e ao mesmo tempo se transformando em bonecas.Rosa Maria estava to alegre que nem podia falar.Quando ela quis dizer: "Que lindo!", no teve fora, porque bem na frente dela se viam cinco bonecas. Uma estava vestida de verde; a outra, de azul; a terceira, de encarnado; a quarta, de amarelo; e a quinta, de branco. As cinco eram do mesmo tamanho. Ficaram perfiladinhas. Depois seguraram as pontinhas dos vestidos, fizeram um cumprimento para Rosa Maria e cada uma cantou uma musiquinha:

Rosa Maria gostou muito. Voltou-se para mim e disse:

Oh! Mgico! Eu queria que essas bonequinhas fossem bem do meu tamanho.Soprei mais nas bonequinhas e elas ficaram do tamanho de Rosa Maria.

Pularam de cima da mesa, vieram para o cho. Deram-se as mos, fecharam a roda e comearam a danar ao redor de Rosa Maria.As bonequinhas cantavam assim:

, Rosa Maria!

, Rosa Maria!

Entrars na roda

E ficars sozinha!A princpio Rosa Maria ficou meio tonta e encabulada. Mas depois respondeu cantando:

Eu sozinha no fico,

Nem hei de ficar,

Vou escolher a B

Para ser meu par!E escolheu a B, que era a bonequinha de vestido verde. A B foi para dentro da roda e escolheu a B, de vestidinho azul. A B escolheu a Bi. A Bi escolheu a B e por fim a B escolheu a Bu. Brincaram muito tempo. Depois cansaram.Ora, eu, como mgico, tinha a obrigao de no deixar a minha visita ficar aborrecida dentro do meu castelo. Comecei a pensar num brinquedo...De repente Rosa Maria olhou para uma mesa e viu um livro com figuras coloridas na capa. Perguntou:

Que aquilo? Um livro respondi. Mas que um livro? tornou a perguntar o nen. A bobinha no sabia o que era um livro! Tive de explicar. Foi muito difcil. Mas, no fim, Rosa Maria entendeu. Entendeu e disse: Quero ver esse livro.Botei o livro em cima do tapete. Rosa Maria se sentou perto dele. As bonequinhas gritaram todas ao mesmo tempo:

Ns tambm queremos ver! Sentaram-se igualmente ao redor do livro.Fui virando as folhas. Era um livro cheio de figuras coloridas. Tinha muitas histrias. A do Gato de Botas. A da Menina do Chapeuzinho Vermelho. A da Bela Adormecida do Bosque. A do Prncipe Encantado que virou sapo.Rosa Maria e as bonequinhas riram muito quando lhes contei essas histrias.Quando viram uma figura que representava um mato escuro com uma grande lua cheia por cima, no cu azul, todas perguntaram: Que isso? a floresta encantada respondi eu.

Tive de explicar o que queria dizer "floresta encantada". Era um mato onde moravam anezinhos que se chamavam gnomos, onde vivem as fadas, os elfos, os gnios bons e maus, alguns gigantes bondosos ou malvados.E, quando acabei de explicar, vocs sabem que foi que Rosa Maria me disse? Pois me disse isto: Ns queremos entrar nessa floresta encantada! Fiquei de boca aberta. Respondi: Mas, senhorita, a floresta fica muito longe. Precisamos muitos dias para chegar l.Rosa Maria e as bonequinhas desataram a rir.

Que homem bobo! disseram. A floresta encantada est to pertinho...E apontaram para o livro. Fiquei muito encabulado. Eu era mgico e no tinha reparado naquilo! A floresta estava mesmo ali pertinho dos nossos narizes, no livro... Ento vocs querem mesmo entrar na floresta encantada? perguntei.E todas elas responderam:

Queremos! Queremos! Retruquei: Pois vo entrar. Esperem. Mas... e o senhor? perguntou Rosa Maria. Respondi: Eu no posso. Sou grande demais. Ela ficou muito triste mas no disse nada. Pensou um pouco e depois falou: Uma vez eu ouvi papai dizer que a gente no devia entrar num mato sem cachorro. Que que o senhor acha?Cocei a cabea, atrapalhado. Est bem! disse eu. Vou arranjar um cachorro muito bom, muito inteligente e muito corajoso, que vai ser o companheiro de vocs.Olhei para os lados. No vi cachorro nenhum. Fui at a cozinha, assobiando. Nada de cachorro. De repente enxerguei no armrio da cozinha uma salsicha. Ela estava muito triste, com as duas mos na cara, pensativa, assim com o ar de quem perdeu todos os amigos.Tive uma idia. Agarrei a salsicha, disse uma palavra mgica e transformei-a num cachorro, num desses cachorros alemes muito engraados, que parecem mesmo gordas salsichas.

Quando voltei para a sala onde estavam Rosa Maria e as cinco bonequinhas, o cachorro veio atrs de mim. As meninas fizeram uma festa muito grande e perguntaram: Como o nome dele?O cachorro mesmo se encarregou de escolher o seu nome. Disse:

Eu me chamo Cachorro-Quente. Agarrei o livro e fiz que ele ficasse de p. Mandei Rosa Maria parar na frente dele. Atrs deRosa Maria se enfileiraram, uma a uma, as cinco bonequinhas. A Bu era mais alta do que a B; a B, mais alta do que a Bi; e assim por diante at a B, que era a menor de todas. Bem atrs da B estava o nosso valente Cachorro-Quente. Gritei: Todos quietos!Fiz um gesto: risquei duas letras no ar. Depois segurei o livro e fui puxando... O livro cresceu, cresceu... Cresceu de tal modo que a floresta que estava pintada dentro dele ficou do tamanho duma floresta de verdade.

Batalho! gritei. Ordinrio, marche! Rosa Maria compreendeu tudo e comeou a caminhar.Entrou no livro. As cinco bonequinhas e o cachorro seguiram atrs.Pouco tempo depois, os sete companheiros j estavam dentro da floresta encantada.Rosa Maria olhava com os olhos arregalados para as grandes rvores, para os troncos grossos, para as folhagens verdes. As bonequinhas caminhavam em silncio, marchando direitinho como um batalho.Cachorro-Quente latia de vez em quando. Latia por latir, s para no ficar em silncio. Porque estava com muito medo de encontrar algum bicho feroz.De repente, Rosa Maria e os companheiros comearam a ouvir uma msica muito bonita. Pararam para escutar. Rosa Maria botou um dedo na boca para pedir silncio. Todos escutaram...Caminharam mais. De repente encontraram pregada numa rvore uma tabuleta com estas palavras:

AQUI COMEA O MUNDO DOS GNOMOSO nico do grupo que sabia ler era o Cachorro-Quente. Leu o que dizia a tabuleta e explicou tudo s companheiras.Continuaram a caminhar. Desceram por uma escadaria grande. Quando chegaram aos ltimos degraus, avistaram uma cidade muito engraada. Tinha casinhas de telhado vermelho. Eram todas pequeninas e feitas de barras de chocolate. Os telhados eram de caramelo. Os vidros, de acar. O cho era todo calado de tijolinhos de goiabada.A msica continuava a tocar. Vinha duma casa muito bonita, toda coberta de flores azuis.Os sete amigos chegaram perto da casa e espiaram pela janela.

Viram l dentro uma moa loura e linda deitada numa cama, dormindo, e sete anezinhos barbudos, de carapua verde, sentados ao redor duma mesa.Mas donde vinha a msica? Rosa Maria apontou com o dedinho para um canto da sala. Ali estava um rdio. E a msica saa do rdio. O rdio viu os sete amigos espiando na janela e piscou um olho para eles, assim como quem diz: "No tenham medo, eu no conto aos barbudinhos que vocs esto espiando".Mas Rosa Maria estava muito curiosa por saber quem era aquela gente engraada. Convidou os companheiros para entrarem. Bateu na porta. O anozinho que veio abrir ficou muito admirado quando viu Rosa Maria e mais as cinco bonecas e o cachorro. Entrem! Esta a casa dos gnomos. Os gnomos so amigos de todas as crianas do mundo!

Entraram. Os sete anezinhos comearam a andar de um lado para o outro. Num instante botaram a mesa, trouxeram pratos, talheres e grandes travessas com doces, gelias, bolinhos e muitas outras comidas boas.Rosa Maria e as cinco bonequinhas sentaram ao redor da mesa e comearam a comer.Cachorro-Quente tocou o brao de um dos anes e perguntou: Ento, esqueceram-se de mim? O ano ficou encabulado. O senhor me desculpe disse. Pode ir tambm para a mesa.O cachorro foi. E todos comeram muito e muito, at Rosa Maria, que se esqueceu de que tinha dito que nunca mais em sua vida comeria doces.Depois de estar j enjoada de tanto doce, perguntou: Quem aquela moa bonita ali na cama? Um dos anes respondeu: Branca de Neve. Uma rainha invejosa quis matar Branca de Neve. Agora ela est dormindo, esperando o Prncipe, que chega daqui a pouco para lev-la embora.

As bonequinhas bateram palmas. Queriam ver um prncipe de verdade. Nunca tinham visto. Um dos anes disse: Enquanto o Prncipe no vem, ns podamos fazer um baile.Todos gostaram da idia. O ano mais velho chegou perto do rdio e pediu:

Ns queremos uma valsa bem bonita.O rdio sorriu e comeou a tocar uma valsa bem bonita. Eu dano com aquela! disse um ano risonho, apontando para a bonequinha de vestido amarelo.E cada um dos anes escolheu seu par. Como os anes eram sete e as meninas seis, um dos barbudinhos ficou sem par e no teve outro remdio seno danar com o Cachorro-Quente.

Quando estavam no melhor da festa, ouviram um barulho muito forte, um ronco de motor.

a feiticeira! gritou um. a feiticeira que anda voando no seu cabo de vassoura.Foi janela espiar. Felizmente no era a feiticeira. Era o Prncipe que chegava no seu avio amarelo. Os anezinhos, muito satisfeitos, acordaram Branca de Neve. O Prncipe entrou na casa dos gnomos. Era um moo lindo. As bonequinhas pensavam que ele ia aparecer vestido com roupas coloridas... Mas o Prncipe trazia s um macaco de aviador. Veio, pegou Branca de Neve pelo pulso, atirou umas moedas de ouro para cima da mesa e voltou de novo para o avio, levando a noiva. Ento Rosa Maria e as amigas agradeceram muito aos anezinhos a bela festa e os gostosos doces e continuaram a caminhar pela floresta encantada.

Anoitecia.

Os sete companheiros sentaram-se debaixo duma grande rvore. Comeou a ficar escuro. Cachorro-Quente estava todo encolhido, tremendo de medo. As bonequinhas fecharam os olhos, assustadas.Mas de repente chegou um vaga-lume e disse ao ouvido de Rosa Maria:

Se a senhorita quer, eu chamo os meus companheiros para servirem de luz eltrica.Rosa Maria disse que queria. Dali a pouco, as rvores estavam cheias de vaga-lumes. Tudo ficou claro como um dia de sol. Ento Rosa Maria comeou a contar histrias para distrair os vaga-lumes. Depois Cachorro-Quente cantou para fazer as bonequinhas dormirem. E, quando todos abriram os olhos, era dia de novo e os vaga-lumes tinham ido embora.Continuaram a caminhar. Encontraram uma abelha dentro de uma grande flor cor de ouro.

Dona Abelha perguntou Rosa Maria , que que a senhora est fazendo? Estou buscando material para minha fbrica respondeu a abelha. Querem visitar a minha fbrica? Queremos! respondeu Rosa Maria. Foram.Como a colmia era muito pequena, tiveram de espiar de fora por um buraquinho. L dentro tudo era muito engraado.

As abelhinhas com avental branco estavam trabalhando perto duma mesa comprida, comprida...

Que que elas esto fazendo? perguntou o Cachorro-Quente.A abelha respondeu:

Esto enrolando as balas de mel... Aquelas balas que se vendem nas lojas, sabem?E os sete companheiros viram outras coisas muito interessantes. Quando batia a sineta da fbrica, todas as abelhas tiravam os aventais e iam almoar. Muito obrigada, Dona Abelha disse Rosa Maria. E seguiu o seu caminho com as bonecas e o cachorro.Encontraram um sapo perto duma lagoa.

Quem o senhor? perguntou a bonequinha azul.

O sapo respondeu:

Sou um prncipe muito bonito. Foi uma feiticeira que me transformou em sapo. Cachorro-Quente resmungou: Isso deve ser mentira. Como que um sapo pode ser prncipe?O sapo ouviu e ficou danado da vida. Avanou para o Cachorro-Quente, dizendo: Cachorro-Quente bobo! Sou um prncipe! Eu te mostro!Saltou para cima do cachorro. O cachorro deu uma dentada nele e de repente o sapo cresceu e se transformou num prncipe muito bonito. Agora eu apanho mesmo uma surra! resmungou o cachorro.Mas o Prncipe agradeceu muito ao Cachorro-Quente, deu-lhe de presente um osso para chupar e foi embora.Os companheiros continuaram o caminho. Chegaram cidade das borboletas. Havia borboletas de todas as cores. As pobres voavam como voam as borboletas.As ricas tinham hlices de avio. A cidade era muito linda. Rosa Maria e as bonecas gostaram muito de tudo que viram.

Depois da cidade das borboletas, veio a cidade das flores. As flores cantavam, danavam, tinham casas, teatros, automveis.

Quando saram da cidade das flores, apareceu um gato no caminho dos sete companheiros. Cachorro-Quente comeou a tremer. Quem o senhor? perguntou Rosa Maria. O gato respondeu: Eu sou o Gato de Botas! Mas onde que esto as suas botas?O gato explicou:

As coisas andam muito ruins. Tive de vender as botas para no morrer de fome. E, por falar em fome, estou sentindo um cheiro de salsicha...E, dizendo isso, pulou para cima do cachorro. O cachorro deitou a correr. As meninas continuaram a caminhar muito tristes, pensando que seu valente amigo tinha sido devorado pelo gato. Mas qual! Numa volta da estrada encontraram Cachorro-Quente, muito satisfeito, lambendo-se todo.

Onde est o gato? perguntou Rosa Maria. Eu comi respondeu o cachorro.Seguiram os sete a caminhar. Encontraram o Pequeno Polegar. Gostaram muito dele. Ficaram amigos. Depois deram com a Menina do Chapeuzinho Vermelho, que disse que no podia entrar no bloco porque tinha de levar um cesto de merenda sua vov. Mais adiante encontraram a Bela Adormecida, debaixo duma rvore. No era muito bela e nem estava adormecida. Levantou-se e seguiu com o grupo. Debaixo de outra rvore estavam Joozinho e Maria, com os olhos arregalados, com medo da feiticeira. Os dois irmos resolveram seguir com o grupo, que j estava ficando enorme.

De repente ouviram um urro. Um urro de bicho muito grande.

o gigante! disse o Pequeno Polegar. Quando Rosa Maria e as bonequinhas se voltaram para os lados, todos os outros o Pequeno Polegar, a Bela Adormecida, Joozinho e Maria tinham desaparecido. E agora? perguntou uma das bonequinhas.

Rosa Maria olhou para o cachorro. E o cachorro disse depressa:

Agora vamos fugir.Quando ele acabou de dizer isso, apareceu o gigante, um homem enorme, de cara barbuda e feroz.

Os sete companheiros correram, loucos de medo. E correram tanto, que foram sair do outro lado do livro e caram de novo dentro da sala do meu castelo.Ficaram me olhando muito admirados.

Fiz o livro ficar pequeno outra vez e disse para Rosa Maria que ela podia levar para casa as cinco bonequinhas e mais Cachorro-Quente.

Na hora da despedida ela tornou a dizer:

Homem, eu gosto de ti. Senhorita Rosa Maria, quando quiser, pode voltar.E ela se foi embora com o seu bando.

E vocs, meninos e meninas, quando vierem cidade onde eu moro, no deixem de visitar o meu castelo encantado.Eu sou um mgico.Sobre o autor

Erico Verissimo dizia que era apenas "um contador de histrias".Contou muitas histrias para gente grande, em livros como Olhai os lrios do campo, Caminhos cruzados, O tempo e o vento, O senhor embaixador e Incidente em Antares. Mas tambm gostava de contar histrias para crianas, em livros como este.Ele nasceu em Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul, em 1905. Antes de ser escritor, fez muitas coisas. Trabalhou no comrcio, foi bancrio, e se tornou scio de uma pequena farmcia que foi falncia porque ele preferia ficar lendo seus livros em vez de vender remdios.Quando se mudou para Porto Alegre, Erico foi trabalhar na Revista do Globo, que era publicada pela Livraria do Globo. Depois nasceu a Editora Globo, que ele ajudou a criar e a se tornar uma das mais importantes do pas. E que editou todos os seus livros, desde o primeiro, Fantoches.Ele considerado um dos melhores escritores brasileiros da sua poca, e foi um dos mais populares. Muitos dos seus livros foram traduzidos em outras lnguas. Erico Verissimo contou suas histrias para muita gente.Morreu em Porto Alegre, em 1975, quando ia fazer setenta anos.

Luis Fernando Verissimo

Sobre a ilustradora

Eva Furnari (1948) formada em arquitetura pela Universidade de So Paulo e foi professora de artes. escritora e ilustradora de livros infantis desde 1980. J publicou cinqenta livros. Colaborou como ilustradora em diversas revistas, e durante quatro anos histrias semanais da Bruxinha, sua personagem mais conhecida, saram no suplemento infantil do jornal Folha de S. Paulo. Tambm criou duas peas de teatro com base em seus livros Truks que ganhou o Prmio Mambembe em 1994 e A Bruxa Zelda e os 80 docinhos.Tem livros publicados no Mxico, no Equador e na Bolvia, e participou de vrias exposies de ilustradores brasileiros e feiras de livros no exterior. Entre os diversos prmios que Eva Furnari recebeu, esto o Prmio Jabuti de Melhor Ilustrao (trs vezes), sete prmios da Fundao Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), e o Prmio da Associao Paulista dos Crticos de Arte (APCA) pelo conjunto da obra. Participou da Lista de Honra do International Board on Book for Young People (ibby), rgo consultivo da Unesco para o livro infantil, com O feitio do sapo (tica, 1996).

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