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Rosana Pereira Bitencort
As ocupações irregulares em Londrina
San Rafael, um estudo de caso
Londrina 2007
Universidade Estadual de Londrina
Centro de Ciências Exatas
Departamento de Geociências
Rosana Pereira Bitencort
As ocupações irregulares em Londrina
San Rafael, um estudo de caso
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao curso de Geografia da Universidade
Estadual de Londrina, tendo em vista a
obtenção de grau de Bacharel em Geografia
Orientadora: Prof.ª Msª Rosely Maria Lima
LONDRINA – PARANÁ
2007
Rosana Pereira Bitencort
Ocupação Irregular San Rafael:
um estudo de caso
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao curso de Geografia da Universidade
Estadual de Londrina, tendo em vista a
obtenção de grau de Bacharel em Geografia
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________
Rosely Maria Lima
____________________________
Cláudio Roberto Bragueto
____________________________
Ideni Terezinha Antonello
Londrina,_____de _________________________de 2007
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me capacitar a concluir
este trabalho.
À minha mãe (Jovência) que me ajudou não com conhecimento
científico, mas com amor, carinho e compreensão. Aos amigos que muitas
vezes tive que incomodar para utilizar meios necessários para a continuação
do trabalho (como o computador, máquina fotográfica).
Enfim, a todos que de forma direta ou indireta me ajudaram a
continuar este trabalho.
BITENCORT, Rosana Pereira. As Ocupações Irregulares em Londrina
San Rafael, um estudo de caso, Londrina, 2008. monografia (Bacharelado em
Geografia), Departamento de Geociências, CCE, Universidade Estadual de
Londrina.
RESUMO
Estudar as Ocupações Irregulares, não somente em Londrina,
mas em todo o país tem sido cada vez mais intenso. Entender o forte
crescimento urbano, que leva a ocupações e favelas, tem interessado cada vez
mais pessoas de diferentes profissões. Este trabalho busca conhecer quem
são essas pessoas que vão morar nesses lugares muitas vezes distantes dos
centros urbanos, com deficiência de água, energia elétrica, asfalto, esgoto,
escolas, e compreender o motivo que as leva a continuar vivendo nessa
situação, tão precária e triste, que a cada dia aumenta não somente em
Londrina, mas em todo o Brasil. Como o objeto de estudo fica na cidade de
Londrina foi estudado a sua história entender o processo de favelização que
se dissipou por toda cidade. A carência de casas populares, mais baratas, que
a cada ano vem diminuindo sua propagação na cidade, dificulta as chances
dos mais carentes em obter a tão desejada casa própria. Além disso, há
também o desempregado ou subempregado que mal pode se alimentar.
Estudando a cidade e a propagação de favelas e ocupações irregulares,
chega-se ao San Rafael que abriga mais de 100 famílias, e não está tão longe
do centro, pelo contrário encontrar-se próximo.
PALAVRAS CHAVES: Ocupação Irregular, Favela, COHAB- LD, infra-
estrutura.
LISTAS
FIGURAS
Figura 1 – Início da Ocupação da Vila Casoni em 1949....................................33
Figura 2 - Localização do Jardim San Rafael....................................................60
FOTOS
Foto 1 – Máquina de Beneficiar Arroz, situada à Rua Santa Catarina, em
1961...................................................................................................................35
Foto 2 – Aerofoto do Córrego do Leme (Zerão) em 1974 e 1991.....................36
Foto 3 – Londrina em 1950 – Foto Aérea..........................................................39
Foto 4 – Casas Populares – “Cinco Conjuntos” final da década de 70.............44
Foto 5 – Favela do Grilo....................................................................................50
Foto 6 - Barraco próximo a uma fonte de água.................................................61
Foto 7 – residências próxima à fonte.................................................................61
Foto 8 - Área loteada particular, à direita a ocupação.......................................62
Foto 9 – Área onde o lixo era aterrado..............................................................62
Foto 10 - Vista da Ocupação San Rafael a partir da Av. Theodoro
Victorelli.............................................................................................................63
QUADROS
Quadro 1 – Nacionalidade das pessoas que compraram lotes de
Londrina.............................................................................................................19
Quadro 2 - Ocupação San Rafael - Situação da população.............................65
MAPAS
Mapa 1 – Colonização do Norte do Paraná – Área Pertencente à Companhia
de Terras Norte do Paraná ...............................................................................23
Mapa 2 - Planta Cadastral de Londrina – Localização da área de
pesquisa.............................................................................................................59
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - População Urbana - Rural do Município de Londrina
1935 – 1945.......................................................................................................28
Tabela 2 - População Urbana - Rural do Município de Londrina
1935 – 1970 .....................................................................................................33
Tabela 3 – População Urbana - Rural do Município de Londrina
1980 – 2000.......................................................................................................42
Tabela 4 - Habitação Popular no Município ne Londrina - Conjuntos
Habitacionais......................................................................................................46
Tabela 5 – Habitação Popular no Município ne Londrina: Assentamentos e
Favelas – Áreas Aptas a Serem Regularizadas – Dezembro 2006
...........................................................................................................................52
Tabela 06 - Ocupações Irregulares no Município de Londrina – 2006..............55
SUMÁRIO
Introdução............................................................................................................9
1 - Processo de Colonização do Norte do Estado do Paraná e a Importância Da
Companhia de Terras Norte Do Paraná............................................................12
1.1 Colonização.................................................................................................14
1.2 - A Companhia de Terras Norte Do Paraná ................................................20
2 – O Rápido Crescimento Urbano da Cidade - 1929 a 1970...........................26
2.1 – A Problemática da Habitação para uma Crescente População................41
3 – Ocupações Irregulares e Favelas, uma Opção de Moradia – O Caso do
Ocupação São Rafael........................................................................................48
Considerações Finais........................................................................................69
Referência Bibliográfica.....................................................................................71
9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa conhecer a realidade econômica e
social dos residentes da Ocupação Irregular Jardim San Rafael, compreender o
por que estas pessoas ali se instalaram; assim como entender a negligência do
Governo Municipal que permite aos mais carentes que instalem-se em áreas
de reserva natural (fundo de vale) ao conceder, mesmo que temporariamente,
o direito de ali permanecerem, ao invés de serem reinstalados em algum outro
espaço .
Para isso é importante conhecermos a história de Londrina,
entendermos como foi o processo de colonização do Norte do Paraná, quem
são os migrantes, e porque um lugar até então inóspito atraia tantas pessoas.
Ocorreram no Norte do Paraná, transformações no meio rural,
onde principalmente aqueles que detinham uma pequena propriedade perdiam
suas terras, pois não conseguiam concorrer com os grandes proprietários em
questão de produção (fato ocorrido pela modernização do campo, com compra
de equipamentos eficazes e caros), e foram trabalhar nas fazendas de café ou
mesmo migraram para os centros urbanos, então as cidades começaram a
concentrar um grande número de mão de obra excedente, que, no entanto não
tinham emprego para todos.
Nas décadas de 80 / 90 pessoas que não possuíam nenhuma
renda, vão em busca de moradia, mesmo em lugares distantes dos centros
urbanos, ocupando terras públicas ou mesmo privadas, construindo barracos
precários e subumanos.
10
O que o Governo faz diante dessa situação tão difícil para estas
pessoas? Existem instituições como a COHAB – LD, com programa de
construções de casas próprias, que muitas vezes minimizam (ou pelo menos
deveria) as ocupações irregulares ou favelas. No entanto, com o passar dos
anos é perceptível que o número de casas construídas por estas instituições
vem diminuindo enquanto o número de pessoas com objetivo de possuírem
uma casa própria cresce. Mas não é somente a diminuição dessas construções
que auxilia na propagação de ocupações irregulares em Londrina, mas,
também e principalmente, o desemprego ou subemprego. Neste caso os
indivíduos que possuem salários muito baixos não conseguem nem mesmo
pagar aluguel para uma maior comodidade dele e da família, proliferando assim
infelizmente a construção de barracos precários e insalubres.
No primeiro capitulo será levantada a colonização do Norte do
Paraná, a forte influencia da Companhia de Terras Norte do Paraná, dona de
uma extensa área de solo fértil, que inicialmente foi vendida principalmente
com o intuito de vender terras. Londrina iniciou, assim, planejada para uma
população de um pouco mais de 20.000 pessoas.
No capitulo dois será apresentada como Londrina cresce
assustadoramente em apenas algumas décadas, principalmente com a
expulsão do homem do campo para a cidade, que agravará o desemprego e
subsequentemente a crescente construção de moradias precárias pela
população carente. A cidade passa por renovações urbanas como a
substituição das casas de madeira por alvenaria, desenvolvimento de edifícios,
seja para comércio ou para moradia.
11
Com um desenvolvimento tão rápido, os moradores mais
carentes necessitam de moradia. Surgem os conjuntos habitacionais como o
tão conhecido Cinco Conjuntos que foi instalado longe do centro urbano, de
forma estratégica para os agentes imobiliários que certamente lucrariam com o
vazio urbano deixado para trás. Mesmo com esses e outros conjuntos
habitacionais que foram instalados posteriormente, a cidade ainda sofre com a
falta de moradia. Assim, as ocupações irregulares e favelas surgem cada vez
mais e intensamente. Quem são essas pessoas que vão morar em situação,
muitas vezes, precária, sem asfalto, sem esgoto, sem meio de transporte ,
senão aquelas mais carentes que, sem condições de financiar uma casa ou
mesmo de pagar aluguel ,se subjugam em morar nesses locais.
Pensando nisso que resolveu-se estudar o caso da Ocupação
Jardim San Rafael. Assim, no capítulo três faz-se análise de quem por ali mora,
qual infra-estrutura existente, qual a localização do bairro, quais as maiores
dificuldades que os moradores enfrentam. Enfim busca-se compreender o
surgimento e a estabilidade do bairro, que é considerado como Ocupação
Irregular em área Pública pela COHAB – LD, assim como analisar os meios
que o Governo Municipal deveria dispor à essa população para que ocorra uma
melhoria de vida.
12
1 - PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DO NORTE DO ESTADO DO PARANÁ
E A IMPORTÂNCIA DA COMPANHIA DE TERRAS DO NORTE DO PARANÁ
Graças à Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP)
Londrina foi constituída na década de 1920, localizada no Norte do Paraná,
numa região rica em recursos naturais e foi designada a ser sede do escritório
e base fundamental do lugar que estava sendo colonizado pela companhia. De
tal modo o povoado da nova cidade começa a crescer não somente na área
urbana, mas também na área rural. Formando assim uma rede de comércio e
de serviços que vão atender a demanda populacional da época, ou seja, a
instalação de hospedarias, serviços urbanos, bancos, atacadistas, escolas, que
apresentam manutenção da atividade agrícola e à estruturação do espaço
urbano.
O projeto de colonização, além disto, trouxe outras inovações, como a propaganda em larga escala, transporte gratuito para os colonos, posse da terra em quatro anos, alguma assistência técnica e financeira, levantamento de toda a área e até o mapeamento do solo em algumas zonas. (LONDRINA, 2007, p. 3)
Atraindo agricultores, arrendatários e colonos, com
propagandas de venda de lotes em diversos estados, especialmente em Minas
e São Paulo, o lugar que foi colonizado pela CTNP e teve um ligeiro aumento
populacional, os compradores foram seduzidos, sobretudo pela facilidade de
pagamentos dos lotes, podendo ser donos de uma determinada quantidade de
alqueires de terra. Também, foi viabilizado transporte de colonos e escoamento
de produção que estavam associados à propaganda e ao interesse pela
propriedade. A Companhia apontaria o seu artifício que seria a de favorecer os
pequenos produtores, no entanto não esqueceram daqueles que possuíam
13
maiores recursos. Estimulou-se a concentração da produção, principalmente a
cafeeira, o aumento populacional, a ampliação urbana
Porém, a grande novidade introduzida pela Companhia e que lhe valeria o “slogan” de ”a mais notável obra da colonização que o Brasil já viu” foi a repartição dos terrenos em lotes relativamente pequenos. Os ingleses promoveram desta forma, uma verdadeira reforma agrária, sem intervenção do Estado, no Norte do Paraná, oferecendo aos trabalhadores sem posses a oportunidade de adquirirem os pequenos lotes, já que as modalidades de pagamento eram adequadas às condições de cada comprador. (LONDRINA, 2007, p. 3)
No dia 21 de Agosto de 1929, a primeira expedição da
Companhia de Terras Norte do Paraná atinge um local denominado Patrimônio
Três Bocas, sendo o engenheiro Dr. Alexandre Razgulaeff o responsável a
fincar o primeiro marco nas terras de onde nasceria Londrina. O município
surge cinco anos mais tarde com o Decreto Estadual n.º 2.519, firmado pelo
interventor Manoel Ribas, em 3 de dezembro de 1934. Em 10 de Dezembro do
mesmo ano foi instalado o município, data em que se comemora o aniversário
da cidade, tendo como primeiro prefeito designado Joaquim Vicente de Castro.
A cidade conserva um desenvolvimento durável, se estabilizado como lugar de
identificação no Norte do Paraná influenciando e atraindo investimento e
pessoas na região (LONDRINA, 2007.)
Atualmente Londrina está com 78 anos de idade da sua
fundação (1929), com uma população de 447.065 (IBGE 2000), sendo a sede
da Microrregião Geográfica 011, constituída pelos Municípios de Cambé,
Ibiporã, Londrina, Pitangueiras, Rolândia e Tamarana (IBGE – 2002). A Região
Metropolitana de Londrina, foi instituída pela Lei Complementar n.º 81, de 17
de junho de 1998, e modificada pelas Leis n.º 86, de 07/07/2000, e n.º 91, de
05/06/2002, aprovada pelo governador Jaime Lerner. A Região Metropolitana
de Londrina é composta por:: , Bela Vista do Paraíso, Cambé, Ibiporã,
14
Jataizinho, Londrina, Rolândia, Sertanópolis e Tamarana, abrangendo uma
população de 678.032 habitantes (IBGE – Censo 2000 – Resultados do
Universo).
1.1 COLONIZAÇÃO
Em meados do Século XIX, a economia do Paraná encontrava-
se atravessando uma crise, pois o comércio do mate que antes era próspero
estava decaindo, as fazendas de criação de gado percebiam o fenecimento do
tropeirismo, conseqüentemente delas mesmas, pois seu quadro no período era
de estagnação. Logo a ocupação do Norte Velho por fazendeiros de São Paulo
e Minas Gerais foi importante.
Fazendeiros paulistas e mineiros começavam a ocupar o Norte Velho (1860), instalando-se nos vales dos Rios Paranapanema, Cinzas e Ribeirão Jataí; buscavam terras férteis, cobertas por florestas para plantarem café, além da lavoura branca. (ALVES 1991, p.20)
Havia uma grande dificuldade dos fazendeiros em atingirem as
zonas habitadas, pois o acesso a lugares como Curitiba, Ponta Grossa e
Paranaguá era difícil, deixando os fazendeiros do Norte do Paraná isolados,
então o governo do estado abaixou o preço da terra. Facilitando então a
colonização da região, surgindo novos núcleos urbanos:
A terra era adquirida a baixo preço do governo ou simplesmente ocupada. Foi grande e rápida a ocupação do norte Velho, sendo que a partir de 1862 foram criados vários núcleos urbanos como, por exemplo: Cerqueira Campos (colônia Mineira), Santo Antônio da Platina, Wenceslau Braz, São José da Boa Vista, Jacarezinho (Nova Alcântara)[...]. E nas margens do Rio Tibagi, em 1855, funda-se a colônia Militar de Jataí (Jataizinho), como segundo posto avançado, estabelecendo ligação entre Curitiba e Mato Grosso, pela necessidade política e estratégia militar em decorrência da Guerra do Paraguai. (ALVES, 1991, p. 21)
15
No entanto, apesar do solo fértil, o Norte do Paraná não possuía
meios de transportar sua produção. Então ao invés de escoar as mercadorias
no próprio estado, escoavam para São Paulo, em direção ao Porto de Santos.
Inicialmente, o transporte era feito nas margens do Paranapanema, por tropas,
através de Itararé, Santa Cruz do Rio Pardo e Pirajuí, os animais atravessavam
o rio nadando, sendo que as cargas cruzavam o rio em canoas.
Com a Estrada de Ferro Sorocabana completada que interligava
a capital e Itapetininga, que depois interligou Ourinhos, promoveu a
Comunicação do Norte do Paraná com São Paulo, servindo de escoamento da
produção paranaense. Segundo Wachowicz 1988 .”[..]a Sorocabana atraia toda
a produção do Norte Pioneiro, canalizando-a ao mercado paulista e ao porto de
Santos.” Confirmando, assim, que a produção do norte paranaense estava
sendo escoada para o estado de São Paulo.
O período de 1916 a 1930 foi muito adequado para a ocorrência
da colonização do norte paranaense, pois o preço alto do café, no competitivo
mercado internacional, e o desenvolvimento da frente pioneira estimulavam os
capitalistas pioneiros, juntamente com os trabalhadores, à procura de novos
solos férteis.
Conhecida pelas terras produtivas, o Norte do Estado do
Paraná recebia cada vez mais fazendeiros, pois além da fertilidade eles
poderiam adquirir as terras que estavam muito baratas. Embrenhavam-se pelo
Parapanema, sendo Ourinhos o “boca de Sertão”. Constituíram Cambará em
1904, ampliando a ocupação rumo ao Rio Tibagi.
Segundo Wachowicz (1988), no século XX houve, medidas de
redução da produção cafeeira e até mesmo de produtos que fossem para
16
exportação, isso devido à crise de superprodução. Mesmo possuindo um solo
fértil, o Paraná manteve uma produção de café restrita (até 1926), pois apesar
de possuir um solo produtivo, essa plantação ainda estava apenas começando,
e da baixa quantidade de exportação pelo porto de Paranaguá.
Mesmo com uma fertilidade que atraia a ocupação e exploração
cafeeira no Norte do Paraná, a sua péssima localização atrapalhava, pois
mesmo com uma produtividade tão grande quanto São Paulo ( se não maior),
os custos da produção se elevavam pois o escoamento da produção era
péssima. As tentativas do Governo em interligar o Norte Velho com o restante
do Paraná foram em vão. Uma delas foi o ramal Jaguaraiiva-Ourinhos,
lembrado como ramal Paranapanema, quer dizer estrada de Ferro. A
construção começou em 1912 chegando em Jacarezinho somente em 1930 e a
ligação Jaguariaíva a Curitiba só se concretiza em 1934. Mas o Governo do
Estado estava interessado em colonizar esta região então criou meios para
isso:
O governo do Estado do Paraná estava interessado em povoar o Norte do Estado, e aliado ao fato de nessa porção do território não haver estradas, vende as terras no Norte para companhias Colonizadoras a um preço bem baixo (pois eram tidas como terras de terceira ordem), a fim de que essas Companhias parcelassem suas glebas e vendessem. Mas para vender a terra, seria necessário que as Companhias investissem em estradas. Desse modo, o Estado, teria as comunicações que tanto precisava e que não tinham capital para sua execução. (ALVES, 1991, p. 23)
Assim a terra foi negociada pelo Estado às Companhias
Particulares, que lotearam e venderam as terras. E não foi somente isso, as
companhias investiram também em estradas e ferrovias para facilitar o
escoamento da produção.
17
Não se pode esquecer que a região norte do Paraná teve uma
heterogeneidade de nacionalidades, conseqüente de imigrantes da Europa e
da Ásia cooperando assim na formação da sociedade norte paranaense.
Investindo em publicidade no Brasil e também no exterior, a
Companhia de Terras Norte do Paraná tinha o objetivo de seduzir indivíduos
interessados em se instalar em um novo lugar, que proporcionava ampla
capacidade de enriquecimento, pois com um solo extremamente fértil, e com o
café que era super valorizado e pela sua grande procura no mercado
internacional, o lucro então era algo certo. Então a propaganda internacional
não foi por uma casualidade ou mesmo um “capricho”, todavia porque os
imigrantes apresentariam mais recursos para contrair terras da Companhia.
O interesse da CTNP era essencialmente motivar a imigração para venda dos lotes de terras; uma vez vendidas, o comprador as tornaria produtivas promovendo o desenvolvimento da região, logo favorecendo os interesses da Companhia e de seus investidores. Para isso oferecia como isca, terras férteis para o plantio de café e de outros cereais. Favorecia a compra da terra, aos imigrantes e reimigrantes , com parcelamentos e também oferecia todas as condições necessárias para a viagem e alojamentos na chegada. (STECA, 2002, p. 43)
Quando os novos imigrantes chegavam ao Brasil (a maioria em
grupos) logo eram conduzidos pelos agenciadores para as terras da CTNP por
meio da Ferrovia que unia Ourinhos à Cambará e em seguida, até Jataí, às
margens do Rio Tibagi, e de ônibus chamados de “jardineiras”.
Em um relatório de 1935 da CTNP publicado na “Folha de
Londrina” de 19/04/1975, nos dá a quantidade da nacionalidade das pessoas
que compraram os lotes da cidade de Londrina, ver Quadro 1.
Estudando o quadro podemos ressaltar a multiplicidade de
nacionalidades dos compradores de lotes. A quantidade de estrangeiros é
18
grande, no entanto a quantidade compradores nacionais igualmente o é, pois
uma vez que existe a apresentação de migrantes da pátria de diversos
estados, principalmente composto por paulistas e mineiros.
Pelos resultados do recenseamento de 1950, ficou evidenciado que cerca de 30% dos estrangeiros presentes na população paranaense estavam vivendo na região Norte do Paraná, onde entraram de modo primordial como colonos espontâneos, adquirindo seus lotes coloniais das companhias imobiliárias que operavam na região, e em menor escala, para núcleos de colonização dirigidos, como aqueles que se estabeleceram em Rolândia, Assai e outros. (BALHANA,; MACHADO; WESTPHALEN, 1969, p. 225)
19
Quadro 1 – Nacionalidade das pessoas que compraram lotes de Londrina
Brasileiros 1266 43,0%
Alemães 479 16,3%
Japoneses 434 14,7%
Espanhóis 216 07,3%
Porgugueses 156 05,3%
Poloneses 98 03,3%
Húngaros 75 02,5%
Ucranianos 60 02,0%
Thecos 41 01,4%
Russos 32 01,0%
Austríacos 20 0,7%
Suíços 19 0,6%
Lituanos 15 0,5%
Romenos 08 0,3%
Iuguslavos 06 0,2%
Ingleses 06 0,2%
Outras Nações 21 0,7%
Total de Estrangeiros 1686 57,0%
Total dos compradores 2956 100,0%
Fonte: BRAGUETO. 1996
20
1.2 - A COMPANHIA DE TERRAS DO NORTE DO PARANÁ
Segundo Boni (2004) a ocupação, colonização e exploração
agrícola do Norte do Paraná tiveram um procedimento vagaroso e gradual. O
caminho de entrada era Ourinhos, no estado de São Paulo, à margem do rio
Paranapanema, e que faz divisa com o Paraná. Por esta cidade que o Major
Antonio Barbosa Ferraz Junior, abastado fazendeiro da comarca de Ribeirão
Preto (SP), atingiu a cidade de Cambará, no início do século XX, abrindo
fazendas.
O Norte Velho, ou Norte Pioneiro foi ocupado principalmente por
fazendeiros mineiros e paulistas que se instalaram nos vales dos Rios Cinza,
Paranapanema e Ribeirão Jataí; pois procuravam solos férteis, a fim de
plantarem café e, também, a lavoura branca. Essas novas fazendas seguiam o
exemplo das fazendas de São Paulo, que eram grandes propriedades, com
famílias que viviam em colônias e com o trabalho de agregados.
Com essas novas fazendas ocorria um aumento na produção,
que viria ressaltar o problema de transporte, pois a grande quantidade de
produtos era quase impossível de ser transportada em animais ou carroças
para lugares distantes. A atividade agrícola estava exigindo, então, uma
maneira eficaz, breve e segura de escoar sua produção. Era indispensável
instalar uma estrada de ferro.
A Estrada de Ferro Sorocabana, que demandava ao Porto de
Santos já tinha seus trilhos até Ourinhos. Para viabilizar a atividade econômica
da região Norte do Paraná os fazendeiros, que principiaram a ocupação e a
produção percebiam a necessidade de estender a Sorocabana até Cambará.
21
Capitaneados por Barbosa Ferraz, alguns fazendeiros da região constituíram, em 1910, uma empresa cujo objetivo era prolongar a estrada de ferro Sorocabana na direção do Paraná. A empresa chamava-se Estrada de Ferro Noroeste do Paraná ( mais tarde a razão social seria alterada para Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná) que, após constituída, iniciou a construção do trecho de 29,3 quilômetros que ligaria a estrada de ferro de Ourinhos a Cambará. Esse trecho seria inaugurado somente em 1926. (BONI, 2004, p. 27)
No entanto, a construção de ferrovias era muito caro, surge
então outra necessidade: a de novos sócios ou acionistas, fossem eles
brasileiros ou estrangeiros, mas que tivessem recursos para agilizar e viabilizar
o empreendimento. A partir de então, a Companhia de Terras do Norte do
Paraná começa a nascer.
A Companhia de Terras do Norte do Paraná começou a ser criada em 1924, quando Lord Lovat, que estava no Brasil como integrante da Missão Montagu, visitou o norte do Paraná a convite dos fazendeiros que estavam construindo a estrada de ferro entre Ourinhos e Cambará. (BONI 2004, p. 31.)
A Missão Montagu era liderada pelo Lord Montagu que veio ao
Brasil acompanhado por várias pessoas importantes da época entre eles
estavam: Lord Lovat, diretor da Sudan Cotton Plantations Syndicate, assessor
para assuntos de agricultura e florestamento, que veio analisar a probabilidade
de vir a Sudan Plantations, uma grande companhia inglesa, e aplicar seu
capital no Brasil.
Lord Lovat conheceu o Norte do Paraná e ficou muito animado
ao verificar que a terra era muito fértil. Os fazendeiros perceberam que ali
estava uma grande oportunidade de negócios, convidaram o Lord para um
novo e lucrativo empreendimento.
22
[...]de um lado Lord Lovat, em busca de informações sobre a nossa agricultura e terras adequadas para o plantio de algodão; de outro, os fazendeiros do Norte Velho, liderados pelo Major Barbosa Ferraz e por Antônio Ribeiro dos Santos, que procuravam interessar investidores estrangeiros. (COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ, 1977, p. 42)
Então em 24 de setembro de 1925 foi fundada, na cidade de
São Paulo, a Companhia de Terras Norte do Paraná, registrada na Junta
Comercial do Estado de São Paulo, com mais de 90% do capital da Paraná
Plantation Ltd. Mas, que de acordo com a Constituição daquela época a
direção precisaria ser desempenhada por brasileiros. Assim, a presidência foi
exercida por Antonio de Moraes Barros, ficando a gerência com Arthur
Thomas.
Pela nobreza de seus solos, pela facilidade de aquisição da
terra, pois o Governo Estadual comercializava as terras a valores baixíssimos,
e pelo retorno do capital investido ser líquido e certo, incorporando a ferrovia
que facilitava o escoamento da produção, Lord Lovat interessou-se pela região
Norte do Paraná. Certamente as áreas adquiridas iriam ter uma alta
valorização tornando o empreendimento muito lucrativo.
O Mapa I representa a extensão que a Companhia de Terras
Norte do Paraná possuía uma área muito extensa e próspera gerando lucro
para a Companhia.
23
Mapa 1 – Área Colonizada pela Cia. Melhoramentos Norte do Paraná
Fonte: STECA 2002 Escala:
0 40 80 120 km
24
O governo do Paraná vendeu para a Companhia de Terras
Norte do Paraná, uma região de 515.000 alqueires localizada em meio aos rios
Paranapanema, Tibagi e Ivaí, de solo muito férteis, cercada ainda por imensa
mata, e por um preço baixíssimo, cerca de 20 mil reis por alqueire paulista
(24.000 m2). A Companhia Ferroviária de São Paulo-Paraná teve a maioria das
suas ações compradas pela Companhia de Terras Norte do Paraná, e assim
poderia investir seu capital na Ferrovia para que esta pudesse chegar às novas
terras valorizando ainda mais assim suas terras, pois facilitava o escoamento
da produção agrícola. Ocorre então uma espécie de entrosamento entre as
Companhias, pois enquanto uma garantia a construção de Ferrovia (com
capital), a outra certificava o transporte de colonizadores para frente pioneira.
A abertura de uma região pioneira sempre demanda grandes investimentos e uma eficiente promoção de vendas. Com o lançamento das vendas dos lotes, a CTNP preocupou-se em promover sua divulgação nos grandes jornais, especialmente em São Paulo. Foram contratados agenciadores que faziam os contratos com os possíveis compradores, mormente no interior de São Paulo e nos estados vizinhos. (CERNEV, 1988, p. 43)
Um aspecto interessante da Companhia de Terras Norte do
Paraná era o pagamento a posseiros e grileiros pela terra, para que esses não
contatassem a terra que fosse adquirida por compradores.
Algo de interessante que a Companhia de terras fez foi a
implantação de pequenas sedes urbanas a cada 15 Km, sendo favorável para
a abertura de venda de cada uma de suas glebas, com uma estação ferroviária
e serviços que atendiam a população da região que comprava e vendia
gêneros que eram indispensáveis.
Ou seja, a idéia central era de instalar, entre várias cidades pequenas distanciadas mais ou menos 15 quilômetros uma da outra, um centro de atração econômica – especialmente comercial e de serviços – e assim surgiram Londrina (1934), Maringá (1947), Cianorte (1953) e Umuarama (1955), mais ou menos eqüidistantes entre si. Em torno destes centros urbanos, razoavelmente bem
25
dotados de atividades do setor terciário – surgiu mais de uma centena de cidades. (BRAGUETO 1996, p. 63)
Em julho de 1929, a CTNP tomou a posse efetiva de sua
enorme propriedade, com a fundação da cidade destinada a ser sede do
escritório da Companhia e capital da região por ela colonizada – Londrina.
O loteamento da gleba Três Bocas, iniciado em 1929, seguiu
planos pré-determinados. Os lotes foram traçados em longas fitas, indo dos
espigões até os vales à fim de todas as propriedades terem acesso à água e a
comunicação (estradas). Em média, a extensão dos lotes era de seis alqueires
paulistas, embora variando conforme a localização vão de 1 a 5 alqueires ao
redor dos núcleos urbanos, passando a 10 alqueires e mais nas áreas mais
distantes.
Amplos preparativos e atividades aconteceram entre 1929 a
1934 para a colonização que ambicionaram atingir. Logo com a aquisição da
Companhia Ferroviária São Paulo – Paraná, pela Paraná Plantations,
recomeçaram a construir para que os trilhos chegassem até Jataí, localizado à
margem do Rio Tibagi, que foi realizado em 1932.
Com a Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra precisava de
grande quantidade de capital, devido à despesa com a guerra. O governo
inglês adota uma política de retorno compulsório dos capitais ingleses
investidos no exterior. Uma lista de empresas que estavam à venda eram
divulgadas semanalmente, e entre elas a Companhia de Terras Norte do
Paraná em 1942. Com a oportunidade considerada vantajosa que surgiu, um
grupo de brasileiros se interessa a adquir a empresa, surgindo então a
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná.
26
2 – O RÁPIDO CRESCIMENTO URBANO DA CIDADE DE 1929 A 1970
A venda das terras e a ocupação do espaço foi planejado pela
Companhia de Terras Norte do Paraná, que considerou importante fundar
cidades de 100 em 100 Km (cidades estas de um porte maior). Como sede da
Companhia, Londrina foi a primeira destas cidades, depois Maringá (1946);
Cianorte (1953) e Umuarama (1955), mas Cianorte e Umuarama foram
instaladas pela Companhia Melhoramentos. Também foram fundados
patrimônios de 15 em 15 Km, pois a CTNP se preocupava com a locomoção do
agricultor, assim este não necessitaria se locomover para regiões muito
distantes para escoar sua produção. A intenção da Companhia era de que os
pequenos proprietários vendessem suas mercadorias aos pequenos
maquinistas que comercializavam nas cidades maiores. Assim o pequeno
proprietário não consumiria seu lucro nas cidades maiores. O pequeno
proprietário usaria seu dinheiro por ali mesmo, no comércio instalado nos
patrimônios, quando então uma repartição de negócios e uma movimentação
local, fazendo assim que o lugar progredisse.
Compreende-se que a CTNP não se preocupava somente com
a venda das terras, mas também que os produtos da agricultura pudessem ser
negociados na região, pois assim existiria a circulação do capital na região,
tendendo a acumulação primitiva na localidade.
A CTNP em seu projeto de colonização previa a venda de lotes urbanos e rurais. Era objetivo da Companhia o estabelecimento de patrimônios de 15 em 15 Km e cidades de 100 em 100 Km. Desse modo, concretizando seus planos, havia a venda e o estabelecimento de pessoas em terras que teriam o uso urbano e rural. (ALVES, 1991, p. 38)
27
A terra vendida pela CTNP é valorizada pelo trabalho e pela
existência de fortes investimentos em infra-estrutura, e uma comercialização
rápida que gera renda. Com isso, os lucros auferidos como o retorno expandido
do capital investido era encaminhado para a “Paraná Plantation” , cuja sede
ficava na Inglaterra.
O núcleo central de Londrina foi esquematizado pelos ingleses
com o intuito de acolher uma população de 20 mil moradores. O esquema
urbano, quadrangular, na forma de tabuleiro de xadrez, foi superposto ao
espigão, e não foi elaborado algum tipo de readaptação. A cidade foi inserida
sobre um espigão a oeste do Rio Tibagi, divisor de águas entre os ribeirões
Cambezinho e Quati.
[...]em 1929 no local onde se ergue a cidade não havia uma única habitação [...] foi em julho deste ano que os primeiros desbravadores realizavam uma derrubada de 10 alqueires e iniciou-se a construção da estrada de Jataí e também ergueram-se os primeiros esteios de um hotel campestre. Em 1930 ergueu-se em londrina sete casas. Em 1932 a cidade já começava a desenvolver-se: possuía 12 casas. Isto até em junho. Em dezembro o número de habitações subiu a 150. em 1933 passou para 400 para atingir 554 em outubro de 1934. (ALVES, apud ARIAS NETO, 1998, p. )
Em 1935 a cidade de Londrina já estava com 700 casas e em
1936 cerca de 1.120 casas. A chegada do primeiro trem e as primeiras
colheitas de café em 1935 são apontadas como responsáveis pelo espantoso
crescimento de residências.
Abaixo a tabela da População Urbana – Rural da cidade, onde
percebemos o intenso crescimento populacional de Londrina. De 1935 - 1936 a
população aumenta mais de cinco mil pessoas, de 1936 a 1938 (dois anos)
aumenta mais de dez mil pessoas, de 1938 a 1940 a população aumenta
espantosamente de 32 mil pessoas para mais de 75 mil, entre 1940 a 1945
(ano que a cidade foi desmembrada), a população foi para mais de 50 mil.
28
Tabela 1 – População Urbana - Rural do Município de Londrina
1935 – 1945
População
Ano Urbana Rural Total
1935 4.000 11.000 15.000
1936 7.620 0 12.907 20.527
1938 10.200 18.800 32.000
1940 10.531 64.765 75.296
1945* 22.560 33.000 55.500
Fonte: ALVES, 1998 * Desmembramento do Município
Londrina teve um crescimento rápido e isso se deve a diversos
fatores como a publicidade (através da imprensa escrita) que era realizada em
praticamente todas as regiões do Brasil e mesmo no exterior, comentando
sobre a fertilidade dos solos e a viabilidade econômica do Norte do Paraná
estimulando assim o povoamento e a produção, sobretudo agrícola aonde se
enfatiza a comercialização de café , madeira, feijão, milho, algodão e arroz.
Com o aumento da densidade demográfica, a comercialização
de terras pela CTNP também cresce, em proporção igual ou mesmo maior em
relação à venda das terras, pois existem aqueles compradores tanto para
pouca terra, 5 alqueires, como aqueles que adquirem 50 ou mais alqueires.
Assim, ocorre o desenvolvimento de pequenas, médias e até grandes
propriedades. No entanto há pessoas que não buscam o campo para se
estabelecer e trabalhar, mas sim a região urbana. Assim, ocorre o
29
desenvolvimento caracteristicamente urbano, como a circulação, modificação e
distribuição de mercadorias. Com a instalação do Banco Noroeste de São
Paulo (que chega em Londrina em 1938) ocorre o desenvolvimento do
financiamento da produção através do capital financeiro.
A ocupação inicial da cidade seguiu certo zoneamento, a área
sul da Avenida Paraná tornou-se residencial, enquanto as pequenas indústrias
e o comércio atacadista procuravam a estrada de ferro (ao Norte) assim como
a população de baixa renda. Esse zoneamento embora relativamente
espontâneo foi indiretamente orientado pela CTNP, por causa da diferença de
preços dos terrenos.
A diferença do preço da terra, diferenciava espacialmente o uso que essa parcela terá, e orienta o espaço dos ricos, dos pobres, do comércio e da indústria. (ALVES, 1991 p. 43)
A região Sul da cidade possui terrenos mais caros, sendo então
reservada para a classe média que possui dinheiro para adquirir esses lotes,
servidos com melhores serviços públicos de consumo coletivo, desde a década
de 30. Esta área havia sido planejada para favorecer espacialmente as classes
sociais, que detivessem os meios de produção.
A região Norte teve seu espaço reservado para a classe
trabalhadora, com residências de valor mais baixo, por causa da proximidade
com a ferrovia, em torno da qual se localizavam os armazéns, o comércio
atacadista e varejista, as hospedarias, etc. Ou seja, era região de circulação de
carga / mercadorias.
Londrina se desenvolve seguindo continuamente a planta entre
a Av. Paraná e a estrada de ferro. A área antiga da cidade vai se contraindo ao
30
mesmo tempo em que a cidade prossegue a se desenvolver, ampliando-se ao
norte da estação ferroviária (comércio, pequenas indústrias e residências para
a classe trabalhadora). A partir de 1936, fora do perímetro urbano, da-se o
início do surgimento de vilas, a primeira delas é a Vila Agari na saída para
Cambé. Ao norte da área urbana surgem outras vilas como Vila Casoni, Nova
Conceição e outras (1937 e 1939).
Tanto assim que a primeira vila (Agari) foi criada em 1936 e em 1939 havia a Vila Casoni, Vila Nova, Vila Conceição etc. ( PRANDINI, 1952, p. 66). Tal fato deixa evidente a complexidade das relações sociais que envolviam o grande projeto fundiário e urbano, desmistificando as falas (CMNP, 1975), a respeito da grande “eficiência social” de projetos como este. Em outras palavras, em 1936 tem-se o primeiro registro da população de menor poder aquisitivo sendo obrigada a residir “fora” da cidade. Ao encerrar a década, Londrina contava com uma população de 10. 531 habitantes (PRANDINI, 1952), e a dinâmica que explicava tal crescimento urbano perduraria ao longo da próxima década. (FRESCA, 2002, p.243)
Essas vilas que surgem nos anos 30 serão comercializadas
para a população recém migrada. É válido entender que esses bairros da
cidade de Londrina são reservados à classe trabalhadora sendo que até hoje
em dia conservam as peculiaridades referente à classe que ali reside, mas
também à aparência das casas (madeira).
A Figura I mostra a Vila Casoni que foi um dos primeiros
loteamentos inseridos na cidade, ainda rodeada por plantações de café.
Cercando e envolvendo os vazios e o perímetro da cidade.
Começa a chegar cada vez mais migrantes que visam se
acomodar na cidade, no entanto a partir da década de 40, a Companhia não
possui mais lotes urbanos para comercializar (vender). Então, os migrantes
31
defrontam-se com a escassez de habitação e essa falta faz com que o preço
na região central seja alto.
Londrina estava crescendo rapidamente, em 1940 os
loteamentos avançam nas chácaras do entorno do plano urbano da CTNP, no
entanto ali ainda não era implantada alguma infra-estrutura, serviços como:
redes de água encanada, luz e arruamento, era um “luxo” somente para a
região central.
Sem qualquer legislação que viesse a coagir os promotores
imobiliários a abastecer os novos bairros, de infra-estrutura, os novos lotes
foram ofertados sem possuírem nenhuma infra-estrutura. Isto ocorria porque a
inclusão da infra-estrutura acarretava a alteração no valor do terreno, ou seja,
se ocorressem gastos com terraplanagem, aberturas de ruas, colocação de
guias e sarjetas, os loteadores esperavam obter lucro.
33
Na tabela abaixo temos o total da população urbano-rural de
Londrina que cresceu assustadoramente de 1950, com uma população de
71.412 para 1970 com 228.832 habitantes. O número de pessoas praticamente
triplicou nesses vinte anos.
Tabela 2 – População Urbana - Rural do Município de Londrina
1935 – 1970
População
Ano Urbana Rural Total
1935 4.000 11.000 15.000
1940 10.531 64.765 75.296
1945 22.500 33.000 *55.500
1950 33.095 38.317 71.412
1960 74.110 60.711 134.821
1970 156.510 72.262 228.832
Fonte: ALVES, 1998 *Desmembramento do Município
Com a população aumentando dessa maneira, é claro que
havia a necessidade de loteamentos e criação de residências para abrigar
aqueles que chegavam. Então foram criadas leis de zoneamento que muitas
vezes não eram cumpridas.
34
Embora já existisse uma lei de zoneamento que disciplinava o uso da terra urbana, principalmente no que tange a abertura de loteamentos, os promotores imobiliários não cumpriam a lei 133/1951. Assim na implantação dos loteamentos para comercialização, o arruamento era traçado, e os lotes demarcados, sem retirarem o cafezal. A moradia, um dos componentes fundamentais da reprodução da força de trabalho, era uma necessidade premente, devido ao crescimento populacional, o que gerou aumento da renda auferida pela venda de lotes, mesmo sem infra-estrutura. (ALVES, 1991, p. 50)
A forte valorização das propriedades urbanas em curto período,
foi um dos fatores que incidiu na expansão rápida de loteamentos na cidade de
Londrina, já que este investimento é proveitoso ao investidor.
Determinados loteamentos foram alvo de especulação e não
foram ocupados logo. Isso é devido à monopolização do espaço urbano por
aqueles que possuem alto poder aquisitivo e que visam o lucro de suas terras.
Um excelente negócio, onde não apenas os agricultores, mas também os
comerciantes e os industriais investem seus ganhos com a terra urbana.
Sendo a terra uma mercadoria e Londrina uma cidade em plena expansão dos meios de produção, através da diversificação da indústria, do comércio e dos serviços que atraem força de trabalho, há necessidade de expansão da malha urbana visto a carência não só de moradia, mas de terra como substrato para as atividades econômicas. Assim, a abertura dos loteamentos oferece um mercado para os especuladores, para aqueles que investem na terra, pois sabem que é uma mercadoria especial e limitada, que será valorizada com a introdução de serviços públicos de consumo coletivo (água, rede de esgoto, ruas pavimentadas, transporte, escolas, hospedarias, etc.). (ALVES, 1991 p.51)
35
Foto 1 – Máquina de Beneficiar Arroz, situada à Rua Santa Catarina, em 1961.
Fonte: BORTOLOTTI, 2007.
Na Foto 1 acima, a máquina de beneficiar arroz que funcionou
por décadas no centro da cidade de Londrina. Nota-se que estão iniciando
calçamento da rua, o que veio facilitar as condições de vida do povo
londrinense.
No caso de Londrina e do Norte do Paraná, são os agricultores,
em parte pequenos proprietários, que devido à fertilidade da terra e aos bons
preços dos gêneros alimentícios e do café no mercado, obtém renda. Parte da
renda que receber na venda da safra era reinvestida na produção e outra era
investida na compra de terra urbana, nas dezenas de loteamentos que estavam
sendo abertos.
36
A Foto 2 é muito interessante, pois mostra o processo de
ocupação de uma determinada área da cidade, o zerão. Na primeira foto, de
1974, observa-se uma boa parcela de terrenos vazios, já em 1991 o local está
bem ocupado e reurbanizado. Na atualidade, com o forte desenvolvimento
urbano da cidade, e o fato desta autora conhecer o local, pode-se calcular que
a área encontra-se densamente ocupada.
Foto 2 – Aerofoto do Córrego do Leme (Zerão) em 1974 e 1991
Fonte: BORTOLOTTI, 2007.
37
No período de 1960-1970 ocorre, em Londrina, um rápido
crescimento urbano, uma vez que de 74.110, habitantes em 1960, estende-se
para 156.570, em 1970, mais que o dobro em apenas dez anos, tendo como
motivo principal, a migração de pessoas que foram expulsas do campo, pelas
modificações ocorridas na agricultura: mecanização do campo, especialização
de cultura, erradicação do café, promulgação do Estatuto da Terra.
Nessa época, por meio dos promotores imobiliários e do Estado,
são abertos vários loteamentos para atender o surgimento de novas indústrias
e do comércio, assim, buscando a fixação dos detentores dos meios de
produção e da ampliação produtiva na cidade, visando empregar a força de
trabalho expulsa do campo.
A segregação sócio-econômica, enquanto parte de um amplo
processo de exclusão social característico do sistema capitalista, diferencia o
espaço urbano, segundo um maior ou menor investimento em serviços públicos
de consumo coletivo que garantem a reprodução da força de trabalho e do
capital.
Os que planejam e criam o espaço urbano são os promotores
imobiliários, que dirigem a segregação sócio-econômica guiando um
determinado espaço a uma determinada classe. O diferencial no preço do solo
urbano será dado através dos serviços públicos de consumo coletivo
colocando, assim, o Estado nesse processo de segregação.
Com o aumento populacional ocorre a necessidade de consumo
de determinados produtos. Então para antender esta demanda regional, a
partir da década 40, os estabelecimentos do comércio atacadista se instalaram
em Londrina, explorando armarinhos, tecidos, derivados de petróleo, gêneros
38
alimentícios, etc. Com o passar dos anos o comércio vai crescendo e se
destacando.
No início, em Londrina, o comércio era feito também de trocas.
Pagava-se até consultas médicas com produtos agrícolas, e era comum, no
lugar do dinheiro, pagar o transporte nas “jardineiras” com porcos e galinhas. A
moeda era quase inexistente.
A primeira casa de comércio, foi aberta em 1930, que fornecia
fósforos, material de costura, papéis etc., era do alemão Alberto Kock, ficava
na esquina da Rua Duque de Caxias, com a Avenida Paraná; havia também o
armazém de Carlos Strass, em Heimtal, que atendia à maioria dos colonos.
(MACARINI, 2004, p. 403)
O comércio de Londrina começa a se destacar a partir da
década de 1960, com o aumento do número de estabelecimentos, pessoas
empregadas, receita gerada, atraindo compradores da região tanto para o
comércio varejista como atacadista.
Quanto às indústrias, inicialmente se preocupavam com
atividade que beneficiasse o produto agrícola da região e com abastecimento
de insumos e a madeireira.
39
Foto 3 – Londrina em 1950 – Foto Aérea
Fonte: BORTOLOTTI, 2007.
Sabe-se que os colonos, principalmente os estrangeiros,
trouxeram novas técnicas para industrialização de produtos agrícolas e
animais. Assim, desde o inicio implantaram-se pequenos moinhos de milho e
trigo, máquinas de descascar arroz e café, produção de aguardente,
equipamento para transformação de carnes em embutidos e defumados, e
serrarias. (MACARINI, 2004, p. 404). Posteriormente, chegaram as indústrias
de embalagens de plásticos, de confecções, de embalagens de papel, de
malharias, etc.
Foram criados novos lugares para a acomodação de indústrias
e comércios, a partir de meados da década de 1960. Paulatinamente são
incorporadas novas áreas na região oeste, em 1968, o Parque das Indústrias;
em 1970 o Parque das Indústrias Leves e em 1975 o Parque das Indústrias
40
Cacique, liberando toda a região Norte, para futura valorização que se realizará
a partir de 1970, com a construção da variante ferroviária, do Estádio do Café e
dos Conjuntos Habitacionais.
Provenientes da região rural, Londrina já possuía um número
considerável de mão de obra, a cidade era considerada um lugar ideal, pois era
o centro econômico do Norte do Paraná, região que reunia uma das maiores
plantações de café do país e, também, dispunha de vias de acesso aos portos
de Santos e Paranaguá.
Mesmo sendo uma cidade tão nova, Londrina promove uma
renovação urbana, na década de 1960 (que na verdade já havia se iniciado na
década de 1950). No centro, ou na área esquematizada pela CTNP, casas são
trocadas por edifícios de apartamentos para a classe média; construção de
edifícios comerciais; retirada de estabelecimentos de comércio atacadista e de
máquinas e também, de indústrias e armazéns para regiões reservadas
designadamente para esse uso.
De acordo com Fresca,(2002, p.244), outros elementos também
indicavam as rápidas transformações pelas quais passava a cidade, como a
substituição das casas de madeira pelas de alvenaria. Esta substituição,
evidenciava a melhoria das condições econômicas de seus proprietários e ao
mesmo tempo, começava a eliminar gradativamente as marcas na paisagem
urbana da fase inicial.
Todo esse processo de renovação é sustentado juridicamente e
politicamente por leis de zoneamento. A primeira lei de zoneamento, data de
1951, que foi alterada substancialmente – especialmente quanto às exigências
e rigor na aprovação de novos loteamentos e a delimitação de zonas
41
Residencial, Industrial, Comercial, Agrícola e de uso misto – em 1974 e 1987,
em consonância com as necessidades políticas e capitalistas visando uma
reprodução ampliada do capital.
2.1 – A problemática da habitação para uma crescente população.
No decorrer de sua história, Londrina cresce continuamente
juntamente com os problemas com habitação. No inicio da cidade há abertura
de lotes para construção de residências, mas esses lotes eram caros,
principalmente àqueles próximos ao núcleo urbano. Neste período são
instaladas as vilas, próximas do centro, como a Vila Casoni, Vila Agari e outros.
Mas a cidade não pára, e no período 1960- 1970 com a expulsão das pessoas
do campo, a população urbana cresce terrivelmente e com ela surge a
necessidade de moradia. A instalação dos Conjuntos Habitacionais (os
chamados “Cinco Conjuntos”, por exemplo) não foi suficiente para amenizar o
problema habitacional, principalmente para as camadas mais pobres da
população que não tem nem mesmo condições de pagar as prestações da
casa própria, assim, aparecem as favelas e assentamentos.
Desde o período da fundação de Londrina, o déficit habitacional aumentou ano após ano. Num primeiro momento, muitas famílias que chegavam de ônibus e caminhões improvisados, popularmente chamados de “pau-de-arara”, não tinham onde se fixar. Nos anos de 1970, a crise se agravou com o surgimento de nove favelas ocupando os fundos de vale e áreas vizinhas. A maior parte da população era composta por crianças, 61% do total de moradores. A média do número de integrantes por família era de 5,6 pessoas, e 66,33% das famílias tinham renda menor que um salário mínimo. (BORTOLOTTI, 2007, p. 119).
De acordo com o exposto acima, percebe-se que a crise
habitacional em Londrina agrava-se ano após ano. Medidas para amenizar
esse caos foram tomadas como a construção de Conjuntos Habitacionais.
42
Na tabela 3 verificamos que a cidade de Londrina cresce
continuamente, principalmente a população urbana, enquanto a rural diminui.
Isso ocorreu devido ao processo de mecanização da agropecuária deixando
várias pessoas desempregadas, fazendo com que as mesmas migrassem para
a malha urbana. Com isso, além do problema de emprego a cidade também
sofre com o problema de habitação, pois esses novos habitantes necessitarão
de um lugar para morar. Em 1980 a população rural era de 34.771 e no ano de
2000 ela diminui drasticamente para apenas 13.696, ou seja há uma redução
por volta de 60%, já a população urbana no mesmo período tem um acréscimo
aproximado de 60%, salta de 266.940, em 1980, para 433.369 em 2000.
Tabela 3 – População Urbana - Rural do Município de Londrina – 1980 - 2000
População
Ano Urbana Rural Total
1980 266.940 34.771 301.711
1991 366.676 23.424 390.100
(1)1996 396.121 15.679 411.800
2000 433.369 13.696 477.065
Fonte: Perfil de Londrina, 2006. (1) Descontou-se a população de Tamarana que foi desmembrado através da Lei Estadual
nº. 11.224 de 13/12/1995.
Foi no final dos anos 1970, através dos recursos provenientes
do Banco Nacional de Habitação (BNH), por meio do Plano Nacional de
Habitação (PLAN / HAB), que começou a edificação de habitação para as
43
pessoas de baixa renda, 6735 casas, disseminadas em dez Conjuntos
Habitacionais, a maioria na conhecida Zona Norte (8 especificamente).
Esses Conjuntos Habitacionais foram estrategicamente
instalados longe do centro urbano, pois o preço do terreno era inferior, sendo
então destinado à classe social de renda mais baixa. Logo, é perceptível que
houve uma segregação social no que se refere à moradia, pois a classe social
que poderia pagar mais caro por um determinado lote, morava perto da região
central enquanto àqueles que não possuíam alto poder aquisitivo tinham que
se contentar em morar longe do centro urbano. Além disso, garantia-se a
reserva de larga faixa de terra entre o centro e os conjuntos para futuros
loteamentos.
[...] o projeto urbanístico de Londrina definia certa especialização das áreas, manifestando-se concomitantemente à sua criação, as primeiras evidências de segregação urbana. Ao ser implantado o plano e colocado à venda, foi estabelecida também uma distinção de valores, consequentemente, gerando uma distinção de usos e padrões, com feições de um primeiro zoneamento (LINARDI, apud FRESCA, 2002, p. 242)
Com o decorrer dos anos vários Conjuntos habitacionais foram
concretizados em Londrina.
Foi efetivamente a partir de 1970 que a COHAB – LD iniciou suas atividades, construindo, com recursos do BNH, os conjuntos habitacionais em Londrina. Entre 1970-1980, entregou à comunidade 32 conjuntos, totalizando 9.055 unidades. Do total de conjuntos, 12 foram localizados na porção norte, perfazendo 7.821 unidades. (LONDRINA, apud FRESCA, 2002, p.246).
44
Foto 4 – Casas Populares – “Cinco Conjuntos” final da década de 70
Fonte: BORTOLOTTI, 2007.
A foto 4, mostra o início da construção das casas populares da
região norte de Londrina, o conhecido “Cinco Conjuntos”, ainda sem asfalto e
com pouca infra-estrutura. Inicialmente como estes conjuntos situavam-se
longe do centro os moradores sofreram pois tinham dificuldade em locomover-
se até o centro da cidade para comprar o que fosse necessário para sua
subsistência. Atualmente a região norte está bem desenvolvida, com uma
grande quantidade de pontos de comércio, boa infra-estrutura, e até mesmo
algumas indústrias ali foram implantadas.
Também surgiram Conjuntos Habitacionais que visavam
atender os servidores municipais, os estaduais e os federais, que detivessem
uma renda familiar mensal superior a cinco salários mínimos. Isso ocorreu a
45
partir de 1984 através do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores
do Estado (IPE), por meio do Programa Nacional de Habitação ao servidor
público.
Houve também o assentamento do trabalhador rural de baixa
renda, convenientemente na região rural, chamados de Habitação nos Distritos
de Londrina que visavam à permanência do trabalhador rural no seu lugar de
trabalho, ou seja, no campo. E para isto foram apresentados lotes de custo
baixo nas sedes distritais que, de acordo com as condições financeiras do
trabalhador, lhe oferecia habitação.
Em 1986, com o fechamento do BNH, o setor de habitação
passa por sérias dificuldades, construindo poucas unidades residenciais,
segundo o relatório da Diretoria da Cohab de 1988.
Este foi o ano marcado por sérias dificuldades administrativas. A Caixa Econômica Federal fechou as portas a novos financiamentos, a partir do início do ano, com o surgimento de uma nova proposta por parte do Governo Federal, cujo objetivo era conter o tão falado déficit público. A medida visava oferecer financiamentos a empresas privadas somente. A participação da Companhia seria simplesmente a nível de assessoramento, em cada empreendimento. Essa alternativa não resultou em nada concreto, tendo verificada ausência absoluta de contratos firmados nessa modalidade em termos nacionais. (ALVES, 1991, p.100)
46
TABELA 4 - HABITAÇÃO POPULAR NO MUNICÍPIO DE LONDRINA - CONJUNTOS HABITACIONAIS
ÓRGÃOS COHAB-LD COHABAN/INOCOOP COHAPAR IPE TOTAL ANO
Conjuntos Unidades Conjuntos Unidades Conjuntos Unidades Conjuntos Unidades Conjuntos Unidades Antes de 1969 - - - - 1 228 - - 1 228
1969 – 1972 6 576 - - 2 67 - - 8 643
1973 – 1976 8 773 2 291 - - - - 10 1 064
1977 – 1980 18 10 301 2 928 - - - - 20 11 229
1981 – 1984 14 7 364 2 349 - - - - 16 7 713
1985 – 1988 21 2 096 2 367 - - 4 702 27 3 165
1989 – 1992 36 (1) 6 488 4 666 - - - - 40 7 154
1993 – 1996 5 202 1 486 3 573 - - 9 1 261
1997 1 10 - - - - - - 1 10
1998 - - - - 1 94 - - 1 94
1999 1 185 - - 1 441 - - 2 626
2000 1 360 - - 6 160 - - 7 520
2001 2 548 - - 2 99 - - 4 647
2002 - - - - 1 80 - - 1 80
2003 - - - - - - - - - -
2004 4 711 - - - - - - 4 711
2005 3 392 - - - - - - 3 392
2006 3 212 - - 2 3 - - 5 215
TOTAL 123 30.218 13 3 087 19 1 745 4 702 159 35 752
FONTE: LONDRINA, 2007
(1) 564 unidades: Convênio CAAPSML.
47
Analisando a tabela acima, percebe-se que no período de 1977
a 1980 há o maior número de residências (habitação popular) entregues, foram
um total de 11.229 unidades e 20 conjuntos. Posteriormente o número de
unidades entregues vão diminuindo.
[...] o número de conjuntos e unidades entregues sofreu forte arrefecimento por duas razões: a primeira vinculada a uma crise de arrecadação e gestão do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, comprometendo a oferta de recursos para a moradia em âmbito federal – além de toda a problemática vinculada às diretrizes para utilização e Gestão do fundo – bem como dívidas pendentes da COHAB – LD junto a CEF, que proibiu a liberação de recursos para o órgão Londrinense. Acrescente-se ainda as alterações na política habitacional implantadas em 1995 em âmbito federal ( FERNANDES,1999), referentes às novas regras para comercialização de imóvel financiado, tornando mais limitada a ação da COHAB – LD. (FRESCA, 2002, p. 254)
Com a diminuição de unidades de casas populares agrava-se
ainda mais a questão habitacional em Londrina, pois com a sua redução ocorre
um aumento de favelas, assentamentos e ocupações irregulares por toda a
cidade.
48
3 – OCUPAÇÕES IRREGULARES E FAVELAS, UMA OPÇÃO DE MORADIA
– O CASO DO JARDIM SÃO RAFAEL
Com a expulsão do homem do campo para a cidade o que
acontece é uma ampla quantidade de mão-de-obra agrícola que muitas vezes,
não achava trabalho fixo, dedicando-se ao trabalho temporário rural e urbano
para se sustentar. Com isso, o rendimento mensal é diminuído, minguando seu
poder aquisitivo. Logo, esta população é obrigada a se alojar na periferia
urbana, principalmente em terrenos que não exija a obrigação de pagamento
pela ocupação do solo.
[...] com o rebaixamento do poder aquisitivo da população brasileira, e mais particularmente dos migrantes, devido até mesmo à falta de qualificação profissional destes nos setores urbanos, a submoradia passou a ser alternativa dos que chegam. (VALEM, 1996, p. 17)
O preço do solo é diferente para um determinado grupo de
habitantes, pois se estes forem detentores de capital irão se instalar em regiões
mais distintas, já que poderão pagar pelo uso do solo, ou seja, que este local é
equipado de infra-estrutura como água encanada, energia elétrica, etc.
Importante ressaltar o fato de que um determinado bairro é habitado por
indivíduos com o mesmo nível de renda, isso acontece divido ao preço do uso
do solo.
Como já foi observado anteriormente, em Londrina desde o seu
início a população mais pobre já havia sendo excluída morando nas regiões
piores servidas de infra-estrutura e colocadas em região distante da classe
média para valorização do uso do solo.
49
Segundo o Plano de Desenvolvimento Urbano de Londrina, o surgimento e expansão das favelas deu-se em Londrina no mesmo ritmo e nas mesmas formas do restante dos país, revelando uma crise urbana que resulta de problemas originários do meio rural. Grande parte dos contingentes populacionais que se deslocam para Londrina enfrenta uma degradação de sua situação econômica por circunstâncias diversas, ficando assim impedido de ingressar no mercado de terrenos ou moradias como comprador ou inquilino. Resta-lhe invadir áreas publicas ou particulares constituindo formas diversas de habitações precárias e deficientes, entre as quais as favelas. (VIZINTIM, 1984, p. 30)
Se a instalação dos serviços públicos depende do Estado leva-
se a argumentar a razão da recusa de introduzir os mesmos para as áreas
carentes.
Entretanto compreende-se que esta repartição (do uso do solo)
ultrapassa a ação do Estado, pois o mercado imobiliário é quem desempenha a
responsabilidade de transmissor dos serviços urbanos, assim como do custo
pelo uso do solo, ou seja, isso acontece devido à propriedade privada dos
meios de produção.
Em muitas cidades, a rápida expansão do número de seus habitantes leva à escassez, de serviços urbanos, a nível critico, o que exarceba a valorização das poucas áreas bem servidas. O funcionamento do mercado imobiliário faz com que a ocupação destas áreas seja privilégio das camadas de renda mais elevadas, capaz de pagar um preço alto pelo direito de morar. A população mais pobre fica relegada às zonas pior servidas e que, por isso são mais baratas”. (SINGER, apud VIZINTIM, 1984, p.28, grifo nosso)
Segundo Vizintim, (1984, p.30) “Quem promove esta
distribuição perversa dos serviços urbanos não é o Estado, mas o mercado
imobiliário.” Fato facilmente observado se estudarmos a história de Londrina,
onde a região norte foi “separada” para a população mais carente, enquanto, a
região sul mais dotada de infra-estrutura ficou para a população mais abastada.
Então o desejo de possuir uma propriedade na cidade é
restringida para aqueles que não possuem uma renda suficiente a fim de pagar
50
por este beneficio, principalmente se houver infra-estrutura instalada, pois
encarece ainda mais o solo. Porquanto, o que ocorre é uma concentração de
renda já que o capitalismo não garante uma distribuição da mesma de forma
justa para todos, mas pelo contrário uma pequena parcela da população é
quem possui uma grande renda.
A Foto 5 mostra a Favela do Grilo, na fonte não constava o ano.
Esta antiga favela foi desfeita e edificado o Conjunto Habitacional Pindorama,
entregue à população em 1972. Próximo a esta antiga favela foi erguida a
Ocupação Irregular San Rafael, em 1998. É provável que pessoas desse
Conjunto e imediações tenham se organizado e ocupado o fundo de vale que
também foi um antigo lixão.
Foto 5 – Favela do Grilo - uma das primeiras favelas londrinenses
Fonte: BORTOLOTTI, 2007.
51
O evidente processo de urbanização provocou discussão da
questão do problema de habitação não somente em Londrina, mas como em
todo o Brasil como algo social que é distinguida pelo desequilíbrio entre o
aumento populacional e a distribuição de moradias com infra-estrutura, tendo
como conseqüência o aparecimento de residência popular de baixa renda,
onde geralmente são construídas de maneira ilegal na cidade, já que seus
habitantes estão incapacitados de comprarem uma residência em um local com
infra-estrutura já instalada ou mesmo de pagarem aluguel.
É compreensível então o porquê do crescimento assombroso de
inúmeras ocupações irregulares e favelas. Analisando A Tabela 5, observamos
que há 23 Assentamentos e Favelas que estão habilitadas para serem
regularizadas, com um total de 9.889 habitantes e 2.836 famílias.
De acordo com Vizintim, (1984, p.30) é observado que o
número de pessoas morando em favelas aumentou. “Segundo os dados da
Cohab existia em Londrina em 1982 mais de 5 mil favelados agregados em 14
favelas e 2 núcleos[...]”. Muitos fatores já discutidos como, migração campo-
cidade, subemprego, contribuíram para tal acontecimento.
Analisando as favelas atualmente tem que se cogitar sobre este
meio de residência. Ocorrem várias distinções que necessitam ser avaliadas
como por exemplo: condição dos loteamentos, condição social e econômica
dos habitantes, infra-estrutura e etc. Apesar de diversas tentativas
desenvolvidas pelo Estado de domínio e coordenação do espaço urbano as
favelas vêm ampliando-se continuamente revelando assim a carência de
muitas pessoas que não tem onde viver.
52
TABELA 5 – HABITAÇÃO POPULAR NO MUNICÍPIO DE LONDRINA: ASSENTAMENTOS E
FAVELAS – ÁREAS APTAS A SEREM REGULARIZADAS – DEZEMBRO 2006
LOCALIZAÇÃO Nº DE FAMÍLIAS
Nº DE PESSOAS REGIÃO ANO DE
OCUPAÇÃO ANO DE
URBANIZAÇÃO Conj. Resid. Aurelino Manoel da Costa - Distrito de Guaravera
24 84 Distrito 1996 1998
Jardim das Bananeiras – próximo à Vila Ricardo
29 106 Leste 1994 1995
Jardim dos Campos (ao lado do C. H. Aquiles Stenghel)
210 735 Norte 1996 1997
Jardim Franciscato I 202 707 Sul 1978 1982
Jardim Franciscato II 94 329 Sul 1978 1988
Jardim Kobayashi 31 109 Sul 1994 1999
Jardim Leste-Oeste/Favela Vila Rica
197 690 Oeste 1966 1993
Jardim das Paineiras (Fundo de Vale do C. H. Hilda Mandarino)
43 151 Norte 1997 1997
Jd. Rosa Branca I 140 490 Leste 1976 1995-1996
Jd. Rosa Branca II 19 67 Leste 1983 1995-1996
Jardim Santa Inês 35 123 Leste 1985 1994-1995
Jardim Santa Mônica 32 112 Leste 1986 1991-1995
Jardim São Marcos 160 560 Sul 1996 1997
Jd Sérgio Antonio 24 84 Leste 1973 1987
Jardim União da
Vitória V
100 305 Sul 1985 1998
Remanescente do C. H. Vivi Xavier
50 175 Norte 1998 1998
Jardim Campos
Verdes (Cambe)
345 1208 Oeste 1994 1998
Vila Marizia II 68 238 Centro 1966 1994-1997
Jardim Monte Cristo 471 1649 Leste 1996 2005
Jardim Morar Melhor 66 231 Sul 1996 1997
Jardim Santa Fé 356 1246 Leste 1992 1994
Jardim Quati 46 161 Norte 1993 1997
Jardim Novo Perobal (área Sanepar)
26 91 Sul 1998 1998
Vila Marizia II 68 238 Centro 1966 1994-1997
TOTAL 2 836 9.889 - - -
FONTE: LONDRINA, 2007
53
De acordo com a Cohab/LD o Jardim San Rafael é uma
ocupação irregular existente desde 1998. Para entender melhor a diferença
entre favelas, ocupações irregulares e assentamentos logo abaixo será
discutido brevemente a definição de cada um de acordo com a COHAB-LD
(DORES, 2005, p.19)
A favela é um núcleo que se inicia espontaneamente, de forma
desordenada, fruto de ocupação organizada gradativa ou não, seja em solo
público ou privado, entretanto que já passou por processo de urbanização
básica, como demarcação de lotes, abertura de ruas, implantação de sistema
de abastecimento de água potável e energia elétrica, via de regra executado
pela administração pública (COHAB-LD), que futuramente tende à uma
regularização fundiária. As residências naturalmente não são objeto de
intervenção, onde há somente a realocação dentro da mesma área.
De acordo com o texto citado indiretamente acima, analisamos
o que é favela, em vários textos pesquisados o termo é parecido, no entanto o
que pode mais diferir é a favelização nas cidades, como por exemplo, no Rio
de Janeiro onde possui extensas áreas de morros, onde muitas vezes surgem
as favelas.
O Assentamento Urbano é o centro planejado pela
Administração Pública (COHAB – LD), em área pública, sendo esse processo
habitualmente constituído por ocupação na própria área ou procedente de
outro. No caso inicial, as famílias são removidas, para o cumprimento da
urbanização básica, como demarcação de lotes, abertura de ruas, implantação
de sistema de abastecimento de água potável e energia elétrica, pavimentação
primária ou asfáltica, normalmente efetuada pela administração pública
54
(COHAB-LD) e eventualmente essas famílias vão sendo assentadas de
maneira organizada, podendo receber excedentes de outros núcleos ou são
compostas de famílias carentes espalhadas pela cidade. Enquanto no segundo
caso, as famílias vão sendo redistribuídas e assentadas, de acordo com o
acabamento das obras, cuja finalidade também é a futura regularização
fundiária, podendo ser regularizada ou não, dependendo da fase do processo
de regularização. As residências são reconstruídas ou reformadas, pela
COHAB-LD dependendo da viabilização de recursos, e também pelos próprios
moradores – autoconstrução.
É compreendido que o assentamento é uma reorganização da
favela, onde as ruas, as casas vão ser realocadas com a instalação de infra-
estrutura, como por exemplo, o asfalto que facilita a passagem de grandes
meios de transporte como o ônibus melhorando a locomoção dos moradores.
Energia elétrica, evitando os chamados “gatos” que podem ocasionar algum
incidente, água encanada facilitando a vida da dona-de-casa e até mesmo a
saúde, pois diminui o risco de contaminação, pois agora não necessitam de
poços artesianos.
Temos ainda as Ocupações Irregulares onde geralmente estão
instaladas em terrenos impróprios que geram algum tipo de risco para a
população ou para o meio ambiente, como por exemplo, em áreas de
preservação como fundos de vale, e mesmo antigos lixões, como é o caso do
San Rafael.
[...]produto de ocupação de áreas legalmente impossíveis de serem regularizadas, insalubres, de risco e preservação permanente. Como áreas destinadas a equipamentos comunitários, ruas, lixões, possuem alta declividade, solo instável e se constituem em fundos de vale, podendo ser de domínio público ou privado. (COHAB-LD, apud DORES, 2005, p. 20)
55
TABELA 06 - OCUPAÇÕES IRREGULARES NO MUNICÍPIO DE LONDRINA – DEZ./ 2006
LOCALIZAÇÃO NÚMERO
DE FAMÍLIAS
NÚMERO DE
PESSOAS REGIÃO ANO DE
OCUPAÇÃO
Área do Centro Comunitário do Jardim Santa Fé 20 70 Leste 1994
Área do DER 11 39 Sul 1993
Cilo III 64 224 Oeste 1990
Fazenda Refúgio 17 60 Sul 1997
Fundo de Vale da Av. Santa Mônica 6 21 Leste 1996
Fundo de Vale C. H. José Belinati 64 224 Norte 1988
Fundo de Vale da Favela Marizia 102 357 Centro 1995
Fundo de Vale da Favela Santa Inês 43 151 Leste 1996
Fundo de Vale do Jardim das Bananeiras 13 46 Leste 1996
Fundo de Vale Jardim dos Campos 10 35 Norte 2000
Fundo de Vale Fazenda Primavera 107 375 Norte 1996
Fundo de Vale do Jardim Marieta 66 231 Norte 2002
Fundo de Vale do Jardim Novo Perobal 39 137 Sul 1998
Fundo de Vale do Jardim Paulista – Cantinho do Céu 68 238 Norte 1988
Fundo de Vale do Jardim Rosa Branca 36 126 Leste 2000
Fundo de Vale do Jd .Santa Fé/Horta Comunitária 91 319 Leste 1994
Fundo de Vale da Rua Ana C. Piacentini 149 522 Norte 1995
Fundo de Vale da Rua Bélgica – próximo à Cativa 40 168 Sul 1975
Fundo de Vale da Rua Café Arábica 38 133 Norte 1989
Fundo de Vale da Rua Zircônio 22 77 Leste 1975
Fundo de Vale do Resid. Santa Mônica (Chácara) 86 301 Norte 1989
Fundo de vale do Jd. Beleville 18 63 Norte 1989
Fundo de Vale do Fransiscato 9 32 Sul 1997
Jardim San Rafael 106 371 Leste 1998
Fundo de Vale do Jd Quadra Norte 12 46 Norte 1999
Fundo de Vale da Rua Sérgio Antônio 26 91 Leste 1973
Jardim União da Vitória 330 1155 Sul 1998
Jardim Londriville 43 151 Oeste 1998
Jardim Morar Melhor 21 74 Norte 2001
Lixão Esquina (ao lado da Av. Teodoro Victorelli) 12 42 Leste 1992
Rua Rosa Branca (Luiz Victorelli) 24 84 Leste 2001
Vila Ricardo (próximo à Escola) 21 74 Leste 1992
TOTAL 1714 6037 - -
Fonte: LONDRINA, 2007
56
Muito interessante é a definição assentamento urbano utilizada,
especialmente em nossa cidade, sendo propagada a partir da Gestão Municipal
do Prefeito Antonio Casemiro Belinati, quem estreou a ação de mudar as
pessoas das regiões de ocupação ilegal para algum outro local, no entanto com
as mesmas distinções de uma favela, sendo então considerada uma estratégia
política de se adquirir votos, pois a população carente não percebia que as
condições de vida ainda não haviam melhorado, apenas mascarando com
aquilo que poderiam dizer de casa própria. Ainda as chamadas Ocupações
Irregulares estão sendo habitadas.
A tabela 6 está relacionando as ocupações irregulares em
Londrina, dentre elas a Ocupação irregular Jardim San Rafael, com 106
famílias e 371 moradores, ocupado em 1998. Sendo nosso objeto de estudo,
aplicamos questionário junto a 30% das famílias que ali moram, totalizando 32
famílias.
De acordo com os textos estudados e com pesquisa de campo
(acrescenta-se as experiências anteriores a este trabalho, como pesquisa de
campo com docentes) pode-se afirmar que na favela, a ocupação da terra
acontece de maneira singular, pois o sujeito que não possui moradia e procura
um lugar onde morar, investiga com os residentes da favela onde pode se
instalar e logo constrói sua casa ou mesmo compra. Já as ocupações
irregulares ocorrem em grupo, isto é, um determinado número de famílias se
aparelha e unidas visam um lugar para ocupar, sendo essa ocupação um
encargo de cada família.
Segundo o LONDRINA 2007, foram obtidos os seguintes dados
sobre Habitação Popular no Município de Londrina: Assentamentos e Favelas –
57
áreas aptas a serem regularizadas possuem 2.836 famílias com 9.889
pessoas; nos Assentamentos e Favelas Urbanizadas em áreas regularizadas
são de 677 famílias com 3.385 pessoas; Ocupações Irregulares em Áreas
Particulares são de 246 famílias com 1.230 pessoas; Ocupações Irregulares
com 1.714 famílias e 6.037 pessoas. Portanto, há um total de 5.473 famílias e
20.541 pessoas morando em favelas, assentamentos ou ocupações irregulares
em Londrina. (LONDRINA, 2007)
De acordo com a COHAB-LD as áreas regularizadas são
aquelas que foram analisadas pela Secretaria de Obras do Município e
encontravam-se de acordo com as leis municipais e federais. Enquanto as
áreas aptas a serem regularizadas são as que possuem infra-estrutura
principal, mas a terra ainda é de domínio da companhia.
O Mapa 2, Planta Cadastral de Londrina mostra a localização do
Jardim San Rafael, sendo perceptível quão pequeno é a área em questão. Em
pesquisa de campo é notada uma diferenciação entre uma pequena área
privada que foi loteada ao lado da ocupação. A primeira já apresenta asfalto e
rede de esgoto, enquanto na segunda os moradores ainda lutam por esse tipo
de beneficio que é uma das suas principais exigências diante a Prefeitura de
Londrina.
Na pesquisa de campo observou-se algumas casas em boas
condições (alvenaria) misturando-se com pequenos barracos mal feitos. Pode-
se notar que muitas pessoas que ali moram são filhos, irmãos, ou seja,
parentes ou mesmo amigos daqueles que moram no Jardim Pindorama e que,
por motivos como desemprego, salários baixos entre outras condições
59
PLANTA CADASTRAL DE LONDRINA Localização da área de pesquisa
Fonte: COHAB-LD Companhia de HABITAÇÃO DE Londrina Base Cartográfica IPPUL Autora - Júlia Luciana Pereira das Dores Reorganização: Rosana Pereira Bitencort
Escala: 0 1 2 3 KM
60
Localizada na região Leste de Londrina a ocupação San Rafael
é próxima do Centro, ver figura 2. Ao olhar o lugar onde está tal ocupação, uma
característica física percebida em relação à topografia e declividade é que as
casas foram estabelecidas em um espaço relativamente plano (ver foto 10).
Este lugar é um antigo lixão, mesmo sendo tão próximo de um córrego ali era
depositado o lixo da cidade.
Figura 2: Localização da Ocupação São Rafael
Fonte: Google Earth 2007
61
Foto 6 - Barraco próximo a uma fonte de água
Fonte: R. Bitencort, 2007. Foto 7 – residências próxima à fonte
Fonte: R. Bitencort, 2007.
62
Foto 8 – Área loteada particular
Fonte: R. Bitencort, 2007. Foto 9 – Área onde o lixo era aterrado
Fonte: R. Bitencort, 2007.
63
Foto 10: Vista da Ocupação San Rafael a partir da Av. Theodoro Victorelli
Fonte: R. Bitencort, 2007.
Apesar de a ocupação possuir várias casas de alvenaria,
algumas até mesmo em boas condições, ainda há pequenos barracos, como o
da Foto 6. Este barraco provavelmente vai ser removido por estar próximo
demais da mina. Várias outras casas também foram construídas próximas da
fonte de água (ver foto 7), observa-se um impacto ambiental.
Através da pesquisa em campo foi encontrado o lugar do antigo
depósito de lixo, Na Foto 9 pode-se observar que era um barranco e
atualmente está praticamente aterrado. Na área onde construíram suas casas
provavelmente é o lugar de onde os tratores retiravam terra para então cobrir o
lixo explicando o porquê da área ser plana.
Uma característica interessante, obtida através de conversa
com os moradores são as minas d' água que se disseminam em vários lugares,
inclusive nos quintais das residências. Este problema é agravado pelo fato de
o local ainda não possuir uma rede de esgoto o que obriga aos moradores
64
abrirem fossas em seus quintais e em épocas chuvosas essas fossas muitas
vezes vazam.
Muito próximo da ocupação, que praticamente tornou-se como
um só bairro (Jd. San Rafael), existe um loteamento já asfaltado e com
residências construídas (ver foto 8). No loteamento que é particular não
ocorreu evento de ocupação, mas apenas no espaço do fundo de vale,
descendo a rua e logo à direita localiza-se a ocupação.
De acordo com o questionário distribuído para 30% do número
de famílias (106 famílias ver Tabela 06), a maioria dos moradores indica que o
principal problema é a falta de asfalto e rede de esgoto, com 84,37 % dos
pesquisados. Com relação a outros benefícios como escola, creche e mesmo
posto de saúde, estes estão localizados em bairros muito próximos dali (Cj.
Hab. Pindorama, Vila Ricardo, Vila Fraternidade, Jardim França), para onde os
moradores podem se locomover até mesmo a pé até esses locais.
65
Quadro 2 - Ocupação San Rafael - Situação da população (%) Quando decidiu ir para a Ocupação San Rafael 1998 a 2000 – 40,62 2000 a 2002 – 12,5 2002 a 2004 – 12,5 2004 a 2006 – 21,87 2007 – 12,5 Qual principal motivo de mudança para a ocupação Não conseguia pagar aluguel – 37,5 Ficou desempregado – 21,87 Casou e não tinha condições de comprar uma casa – 3,12 Não conseguiu financiar uma casa – 12,5 Outro motivo – 25 Como era o lugar no inicio O acesso era difícil, pois não possuía asfalto – 18,75 o acesso não era difícil já que a ocupação é pequena – 6,25 Faltava de tudo, água potável, energia elétrica, asfalto – 40,62 Pesquisados que não estavam desde o inicio da ocupação – 34,37 Participaram do inicio da ocupação Sim – 34,37 Não – 65,62 O que falta no bairro Escola – 6,25 Creche – 3,12 Posto de Saúde – 0 Outros – 84,37 (asfalto e esgoto) Como foi recebido pela Prefeitura no começo da ocupação (ao ajudar a normalizar a ocupação) Foram logo atendidos – 18,75 Houve demora – 6,25 Ainda não foram atendidos – 0 Possui a escritura Sim Não – 100
Fonte: A autora Quadro elaborado a partir de questionário aplicado em campo elaborado pela autora, foram pesquisadas 32 famílias.
66
Muitos mudaram para esta ocupação entre os anos de 1998
(inicio de sua instalação), e 2000 com 40,62%, de 2003 a 2006 consta-se que
21,87% dos pesquisados passaram a morar ali. Os motivos principais destas
pessoas para ir morar na ocupação: 37,5% não conseguia pagar aluguel e
21,87% ficaram desempregadas. Algo detectado de interessante foi que no
item outros motivos que levaram as pessoas ali residirem foi que fizeram “rolo”
com a casa, ou seja se transferiram de um lugar para outro, de outra favela ou
ocupação.
Na questão sobre como era o lugar no início (para aqueles que
participaram do inicio da ocupação, ou logo depois) 40,62% disseram que
“faltava de tudo, água potável, energia elétrica, asfalto”, 18,75% disseram que
“o acesso era difícil, pois não possuía asfalto.”
É perceptível como a dificuldade financeira de muitas pessoas
as levam à morar em lugares que muitas vezes são de difícil acesso, sem infra-
estrutura. A pesquisa mostra que ocorre a continuidade da construção de
casas em lugares impróprios, pois as pessoas não podem pagar aluguel ou,
como alguns indivíduos, venderam seus barracos localizados em outra região.
Na questão sobre normalização da ocupação, constou-se que
logo que iniciaram a ocupação foram atendidas pela COHAB – LD, para
normalizar a ocupação (de acordo com as pessoas pesquisadas). Das 32
famílias pesquisadas 24 não participaram do inicio da ocupação, ficando
apenas 8 famílias que estão ali desde o começo da ocupação e entre elas 75%
concordam que foram atendidos logo e 25% disseram que houve demora.
Assim compreende-se que o poder público pouco está fazendo para normalizar
a situação dessas pessoas, pois como ocupam uma área de fundo de vale
67
deveriam ser realocadas para uma região mais propícia, de preferência um
conjunto habitacional cujas residências sejam favoráveis para que essas
pessoas possam pagar a prestação. Ao contrário, estão “normalizando”
incluindo alguma infra-estrutura, como água e energia elétrica, esquecendo o
básico como asfalto e esgoto que a população está sentindo muita falta.
Os moradores ainda não possuem a escritura de suas
residências, fato este que é temível entre os moradores, alguns não reformam
suas casas com temor de serem realocados para outra região perdendo assim
suas economias na reforma.
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O surgimento de ocupações irregulares é um problema de
habitação, interligado com outros fatores como o socioeconômico e mesmo
político. Londrina, uma cidade de rápido crescimento econômico e demográfico
não conseguiu acolher de maneira digna a todos aqueles que foram expulsos
do campo. Sem emprego estas pessoas não conseguem nem mesmo pagar
aluguel e assim vão morar em barracos deteriorados e tendo uma qualidade de
vida muito baixa. Logo, devemos considerar então que o surgimento das
favelas ou das ocupações irregulares, refletem na verdade, um conjunto de
fatores que geram esse desequilíbrio que existe na sociedade.
Sobre o contexto atual, as favelas ou as ocupações irregulares
deixaram de ser uma fase para as famílias migrantes, que procuravam
melhores condições de vida, e passaram a instituir-se em um lugar de
habitação permanente da população carente, cooperando para o aumento das
áreas ilegais da cidade.
O aparecimento da ocupação San Rafael não é diferente de
muitas outras existentes, ela apareceu a partir do momento em que pessoas
sem condições de pagar aluguel ou adquirir um terreno, ou seja, em difíceis
condições financeiras, optaram em morar em um lugar irregular, pois é um
fundo de vale e o mesmo deveria ser preservado e não servindo de moradia
para a população carente.
Carência essa que dificulta a mudança dessa população para
os conjuntos habitacionais, porque se ela está morando precariamente é por
não desfrutar de uma renda satisfatória para obter um outro local, seja alugado
69
ou mesmo adquirindo posse de um lugar para uma melhor qualidade de vida.
Assim não teria que conviver diariamente com a miséria.
A forma para garantir uma melhoria da condição de vida dessa
população carente seria aumentar a oferta de empregos, com melhores
salários, resultando então na mudança dessa população para área com infra-
estrutura urbana. No entanto não é isso o que acontece, mas sim a
urbanização dessas áreas precárias pela prefeitura, ou seja, urbanização de
favelas ou de ocupações, loteando corretamente o lugar, implantando infra-
estrutura básica (água, energia elétrica, asfalto, transporte), amenizando as
dificuldades enfrentadas pelos moradores.
Algo que precisa ser analisado é a posse definitiva dos terrenos,
pois assim os moradores sentiriam segurança em melhorar suas residências.
Essas pessoas que moram em situação precária, são
determinadas como excluídas socialmente falando, pois moram em uma região
ilegal. É perceptível, também, que essas pessoas em sua maioria estão nos
empregos informais, sem carteira registrada, não possuindo então benefícios
como FGTS, 13º salário, férias etc., dificultando uma melhoria em sua condição
de vida.
Um importante passo que necessita ser iniciado é uma
regularização fundiária de responsabilidade do poder público visando
estratégias inovadoras para amenizar a problemática da habitação no espaço
urbano, através de programas habitacionais, diminuindo os problemas das
pessoas que moram de modo precário.
Analisamos a história do Norte do Paraná, chegando ao início
da cidade de Londrina, para entender o que aconteceu para que uma cidade,
70
nova como essa, possua tantas pessoas vivendo de modo tão problemático.
Essa cidade foi planejada para possuir uma população de no máximo 22 mil
pessoas, hoje existe quase meio milhão de habitantes em Londrina.
Desde seu princípio a segregação urbana na cidade já era
visível, os que moravam ao sul do centro eram aqueles que possuíam renda
para adquirirem terra, enquanto os que moravam ao norte os de menor salário
ou carentes. Foi a Companhia de Terras do Norte do Paraná quem delimitou
dessa maneira a cidade de Londrina. Com o passar dos anos, mais e mais
migrantes chegavam à Londrina, os que possuíam recursos financeiros
compravam sítios e fazendas, os que detinham pouco capital, mas que
poderiam comprar pequenos lotes adquiriram terrenos nas primeiras vilas que
surgiram em Londrina e uma delas foi a Vila Casoni. Posteriormente os menos
afortunados começaram a invadir terrenos para construir seus barracos,
surgindo então uma das primeiras favelas em Londrina, que posteriormente
foram realocados, para um Conjunto Habitacional, melhorando assim sua
condição de vida.
Com o passar dos anos é notável que a construção de
Conjuntos Habitacionais em Londrina foi diminuindo dificultando o acesso à
casa própria. Logo, é preciso estabelecer medidas públicas para a continuidade
da construção de conjuntos habitacionais para os trabalhadores, assim como a
disponibilidade de empregos com melhores salários para aqueles que ainda
moram em áreas de pouca infra-estrutura possam adquirir residências em
outras regiões deixando as favelas e as ocupações irregulares.
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