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ROSAS DE AMDETE · 2019. 2. 9. · ROSAS DE AMDETE Desde que a finais do século XX se descobriu o primeiro planeta extrassolar, 51 Pegasi b, a máxima prioridade da comunidade astronómica

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ÂNGELOBREA

ROSASDEAMDETE

FREEBOOKSEDITORAVIRTUAL–NOSSOSAUTORES

TERROR-HORROR-FANTASIA

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Título:RosasdeAmdete

Autor:ÂgeloBrea

Paísdeorigem:Galiza/Espanha

Imagemdacapa:AzDude/Pixaby

Leiautedacapa:Canva

Série:NossosAutores–vol.16

Editor:FreeBooksEditoraVirtual

Site:www.freebookseditora.com

Direitos:ÂngeloBrea. Todos os direitos reservados. Proibida a reproduçãosemautorizaçãopréviaeexpressadoautor.

Ano:2017

Sitesrecomendados:

www.triumviratus.net,www.contosdeterror.com.br

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SumárioROSASDEAMDETE

SOBREOAUTOR

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ROSASDEAMDETE

Desde que a finais do século XX se descobriu o primeiro planetaextrassolar, 51 Pegasi b, a máxima prioridade da comunidade astronómicainternacionalorientou-seàdescobertadeumanovaTerra.Eracomoosantograaldainvestigaçãoespacial.

Nas primeiras décadas do século XXI, novos telescópios espaciaisdotados de melhores instrumentos óticos, como o Kepler, de venerávellembrança, que substituíra o aindamais saudosoHubble, ou o famosoBPT,(Buscador de Planetas Terrestres), ampliaram enormemente o nossoconhecimento.OBPTconstavadedoiselementosessências.OprimeiroeraoCronógrafodeLuzVisível,querecolhiaaluzdaestrelae,depoisdefocalizá-la, podia bloqueá-la e deixar passar apenas a luz do planeta. O segundoelemento erao Interferómetro, que captava a luz recebida e, usandodoisoumais telescópios, conseguia que a luz da estrela desaparecesse, podendoobservar a luz dos planetas próximos a essa estrela. Estes instrumentossensacionais,melhoradosdepoisnumerosasvezes,acharamcentosecentosdeplanetadotipoterrestrequepodiamapresentarcaracterísticasqueosfizessemhabitáveis para nós. Contudo, as naves espaciais baseadas na propulsão pormeiodecombustíveistradicionaiseramtãolentasqueaviagemmesmoatéaAlfa Centauro, o sistema de estrelas mais próximo à Terra, tornava-sepraticamenteimpossível.

Isso começou a solucionar-se parcialmente quando se começaram aaperfeiçoarasnavesespaciais.AchegadaaMarte,nasprimeirasdécadasdoséculo XXI, implicou o começo da mudança com respeito ao paradigmaaplicado às viagens das naves lunares Apollo, mas mesmo assim eramlentíssimasparacolonizarmundosextra-solares.

Oseguintepasso,aproveitandoochamadoventosolar,foiusargrandesvelasdespregadas,paraviajaraJúpiter,Saturno,UranoemesmoaodistanteNeptuno.Masparachegarmosàsdistantesestrelas,houvequeaguardarmuitomais.Quandoseconseguiudescobriraviagemdaluz,osonhodechegarmosa outros planetas alheios ao Sistema Solar começou a encarar-se comopossível.

Para essa altura, os sistemas óticos e de deteção estavam tão

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desenvolvidos que se podia dizer com segurança que se tinham encontradonoventa por cento dos planetas que orbitavam as estrelas num raio de cemanos-luzeentreossessentaeosnoventanumraiodecematrezentosanos-luzdedistância.

Até essemomento, o costume tinha sido denominar os novos planetascom um complexo código de cifras e letras que para o resto da populaçãomundialviravanumgalimatiasininteligível.IssomudouquandonumareuniãodaSociedadeAstronómicaInternacionalfoipropostorenomeartodosaquelesplanetas que orbitavam estrelas próximas à Terra com nomes muito maissingelos. A proposta compartilhava uma venerável tradição: ir ao mundogreco-latino. Mas haveria que renomear milhares de planetas, começandopelasestrelasmaispróximasànós:PróximaCentauri,AlfaCentauriA,AlfaCentauriB,aestreladeBarnard,Wolf359,Lalande21185,SirioA,SirioB,UVCeti,BLCeti,Ross154,Ross248,EpsilonEridani,Lacaille9352,Ross128, EZ Aquarii e assim centos de estrelas situadas a poucos parsecs dedistância.

Apropostaeraque,paracomeçar,cadaplaneta levasseonomedeumaoceânidegrega,eaoacabar,odeumriooudeumadivindademenor.TendoemcontaqueasfilhasdeOceanoedeTétiseramumasquatromil,haviaumaboa listagem de nomes para começar. Desde esse momento, a proposta foiaceite e bem acolhida pela população mundial, para a qual era impossívelseguiraclassificaçãoalfanuméricatradicional.

Tínhamosagoranomeseplanetas,masapenasumpunhadodossituadosnum raio de cem anos-luz eram candidatos fiáveis para um assentamentohumanopermanente.Naquelaaltura, jáhaviaumapequeníssimabasehumanano subsolo de Mercúrio e um milhão de pessoas habitava as cidadesmarcianas,quesemprefoi,porassimdizê-lo,osegundo lugarmaispopulardepoisdaTerra.TambémhaviacolóniasnalgumasluasdeJúpiteredeSaturno(umascemmilpessoas),enasdeUranoeNeptuno(apenascincoouseismil).Masprecisávamosumnovo larparamilmilhõesde sereshumanosquenãocabiamnaultra-habitadaTerra,quecomeçavaatornar-seumlugardifícilparaavida,devidoaoefeitoestufaeàsuperpopulação.

Enviaram-secentosdesondasespaciaisrobotizadasàvelocidadedaluzatodososplanetas candidatospara albergar sereshumanos.Claroque anovaTerraperfeitanãoexistia algures.Osplanetas sempre tinhammais tamanho,

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mais massa, mais anidrido carbónico, ou eram demasiado quentes oudemasiado frios, ou estavam demasiado perto ou demasiado longe dos seussóis. Em todos havia contratempos,mas com uma situação tão desesperada,mesmo se começaram a enviar pequenas colónias a alguns desses planetas.Poucasconseguiramsobrevivereprosperar,masaomenoseraumcomeço.

Um dos planetas a que se enviaram sondas foi Admete. Orbitava umaestrela mais grande que o nosso sol, do tipo F, mas emitindo uma maiorradiaçãoemcomparaçãocomonosso.Norestodosplanetasdessesistemaavida humana era inviável, mas emAdmete a sonda ficou durante décadas arecolherinformação,quefoienviadapontualmenteàTerra.Ali,devidoàaltaradiaçãoeaoestarquasenolimitedazonahabitável,avidaquesurgiraestavasempre ao fio do impossível. Mas naquele planeta, de duas vezes e meia amassa da Terra, crescia uma vegetação parecida à nossa. Realizavaperfeitamenteafotossíntese,emboraaatmosferadeAdmetetivesseapenasos14%deoxigénio.AsplantasdeAdmeteeramquasetodasdecorvermelhaoularanjaescuraehaviaanimaispoucocomplexos.

A planta que mais interessou os investigadores foi a conhecida comorosa de Admete. Tinha uma particularidade que a fez famosíssima para oshumanos:podiacriarumcampoelétricoaproveitáveleosseusramosemitiamumaincrívelgamadecorespelosseusgâmetasmasculinosefemininos.Eramcomo árvores de natal que, ademais, podiam criar a eletricidade necessáriaparaqueosaparelhosdeumacasafuncionassemsemgastonenhum.Pareciademasiado bom para crê-lo, mas a informação das ondas não se podiaenganar.

Admeteorbitaasuaestrelanumperíodoequivalentea33anos,4mesese 23 horas segundo o horário terrestre.Quando o planeta completava o seuperíodo orbital, a radiação da estrela reduzia-se 2%, devido à posição daelípticadoplanetae,aproveitando-o,asrosasdeAdmeteentravamnumestadode ebulição, lançando à atmosfera uma grande quantidade de esporos quecolonizavamnovaszonasdoplaneta.Amuitasdelasa intensa radiaçãosolaracabava por destruí-las com facilidade,mas uma de cada dezmil conseguiagerminarecriarnovasplantas.OplanetaAdmeteeraumpossívelcandidatoaalbergarumapresençahumana,sempreequandoseconseguisseevitaraquelaterrívelradiação,oquelevouapensarnapossibilidadedeinstalarascidadesdebaixodaterra.

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QuandoseestavaapontodeenviarumaexpediçãoaAdmeteocorreuumacontecimentoextraordinárioparaossereshumanos.Descobriu-seaviagemultralumínica, até cem vezes a velocidade da luz. É algo tão complexo queapenasquatrooucincomentesprivilegiadasnaTerra,paraosquaisEinsteinou Newton seriam uns alunos de infantário, podem compreender na suatotalidade.Parautilizaressatécnica,graçasaDeus,nãohaviaquesabercomofuncionava, simplesmentehaviaquesaber levarumanaveatéaesse lugar.Écomoterumcarro,nãoháquesabercomofunciona,apenassaberconduzi-lo.

A nave que iria a Admete foi modificada e o que ia ser uma colóniadefinitiva, seria agora uma simples viagem de colheita daquelas plantasextraordinárias.Atéessemomento,assondasclassificaramumasquatrocentasvariedades. Tinham-se em conta a cor base (do vermelho escuro ao laranjaclaro), a potência elétrica, a gama de cores das suas luzes, o tipo de flor, avariedade dos gâmetas, o comprimento dos ramos e os inúmeros tipos defolhas. As rosas de Admete eram ummundo em si mesmas. Escreveram-seinúmeros livros sobre elas, da Enciclopédia mais complexa até livroseletrónicosdebolso.

A nave espacial Halle foi a encarregada daquela missão. Apesar deAdmete se encontrar a 98 anos-luz, com a nova viagem ultralumínica,unicamente se demoraram 357 dias terrestres no trajeto. A descoberta daviagemultralumínicaeraalgocolossal!

OsastronautasdaHallecomprovaramoqueassondastinhamrecolhido.AsrosasdeAdmetegeravameletricidade, luzecalor.Nãohaviaumapessoaquenãoquiserateruma.Atésefizerambonsaiscomelas,porquepodiamserpodadas,enxertadasetransplantadassemperdernenhumapropriedadeetendoamesmacapacidadedegeraçãodeeletricidade,luzecalordoqueasplantasoriginais. Para evitarem a sua carga elétrica, na viagem de regresso, foramapanhadasunicamenteplantasrecém-nascidasepequenosrebentos.

As rosasdeAdmete tinhamcompletado a fasede criar esporos apenasdoisanosterrestresantesdachegadadoshumanosenãoovoltariamafazeratédentrode31anos.

O que os cientistas não sabiam era se as plantas continuariam criandoesporosnoutrosplanetaslongedoseuplanetanatal,masoscódigosgenéticosdaplantaapontavamnessadireção.Eracomoseotivessemgravadoalumenocérebro.

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AochegaremàTerraseguiu-seumestritoprotocolobiológico.Noutroscasos, exigia-se uma quarentena preventiva, mas neste caso ordenou-serealizarumaquarentenamuitomaislonga,dequaseumanoterrestre.Asrosasestudaram-seatéoúltimoaspeto.Mesmoseanalisaramosesporosapanhadospelassondasequalquerelementosignificativodaquelasplantasextraterrestres.Houve biólogos que solicitaram que não fossem introduzidas na Terra,temendo o impacto que poderiam causar. Mas as suas qualidades pareciamsuperar com muito as possíveis implicações de tipo ecológico para oecossistematerrestre.PassadoumanodesdeoregressodaHalle,aquarentenapreventiva foi levantada, e milhões de pessoas se lançaram a comprar asfamosasrosasdeAdmeteparacomprovaremaquelasincríveisqualidades.

Durante anos as rosas de Admete foram as plantas mais populares efamosasdestapequenapartedagaláxiaexploradapeloshumanos,nobraçodeÓrion. Para muitas pessoas eram como os animais de estimação, mas emplanta. Os viveiros terrestres aproveitaram uma capacidade das rosas deAdmete:Ao chegarem àTerra descobriu-se que este era para elas o planetaideal.Sematerrívelradiaçãodasuaestrelaenumplanetacomtantooxigénio,as rosas de Admete espalharam-se alegremente pelo mundo. Nos antigosdesertos cálidos, comooSaara, as rosasdeAdmete cobriramasdunas e oslugares mais inóspitos de um maravilhoso jardim edénico. Tambémconseguiramadaptar-seadesertosfrios,comoodoGobi,àtundraeàtaigadeCanadáoudaSibériaeconviviamsemproblemascomasplantasdaspoucasflorestasamazónicasquesobreviveram.Asrosasadaptaram-seespecialmentea Marte e foram cultivadas a milhares para terraformar o planeta.Conseguiram em vinte anos o que poderia ter levado milénios. Muitospensavam que aquelas rosas iam conseguir colonizar para a raça humana ouniversoconhecido.

Apenas foram proibidas nos assentamentos humanos onde não haviaatmosfera,devidoaqueemespaçosfechadosesematmosferaasuaatividadeelétrica criava curtos--circuitos e problemas nas redes de informação, peloquenaLuaenaspequenascolóniasdasluasdeJúpiteredeSaturnonãoerampermitidas. No espaço vazio, infelizmente, as rosas de Admete tampoucopodem viver, já que as rosas de Admete precisam oxigénio ou anidridocarbónico para prosperar, mas nunca no vazio ou numa temperaturademasiado elevada ou demasiado fria, já que tinham a mesma tolerância àtemperaturaqueossereshumanos.

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QuandometransladeiàLuaporcausadomeutrabalho,tivequedeixarna Terra a média dúzia de rosas de Admete que criara como bonsais. Quesaudade tinha delas, com aquele jogo constante de cores. Ali não tinha quepagar a eletricidade, porque as rosas me facilitavam grátis toda a queprecisava,masaquinaLuatemosqueutilizarcustosossistemasparaconseguirqueaspequenascolôniashumanaslogremsobreviver.

EmquasetrintaanosasimbioseperfeitaentreoshumanoseasrosasdeAdmeteforatotal,prolíficaemaravilhosa.Tínhamosluz,eletricidadeecaloremtodososmundoshabitadosporhumanoseemcadaumdelesasrosasdeAdmeteestavamemitindooxigénioàatmosfera,paratornaressesmundosemlugaresperfeitamentehabitáveisparaoshumanos.EmDóris,porexemplo,oshumanos já podiamviver sem fatos espaciais, nummundo aquoso, comum26% de massa continental, respirando a pleno pulmão e com um climatemperado,comonumasegundaTerra.Maisde50milhõesdepessoastinhamviajadoouestavamadirigir-seàquelacolóniahumananoespaço.EmDóristínhamosencontradoanovaTerraideal.

Os humanos íamos assistir agora ao processo de criação de esporosdaquelas flores. Na Terra chegou a pensar-se em reduzir a sua enormepopulação, porque se cria que aqueles esporos (que as flores lançavam àatmosferadoseuplanetanatalparaconquistarnovoespaçovital)iamespalharcentosdemilhõesdeexemplarespelomundo,semquea inócuaradiaçãodonossosolaspudesseameaçaremabsoluto.ObomeraquearosadeAdmetepodia eliminar-se comenorme facilidade.Se asqueimavas,morriam.Assimdefácil.

Em Marte, porém, e nos outros planetas colonizados, pensou-se queseriaummomentoextraordinário,porquehaveriaumaenormefloraçãoeumaterraformaçãoemmassadaquelesplanetasqueestávamosacolonizar.

Segundo a informação das sondas, o dia em que as rosas de Admetelançariam os seus esporos ao vento calhava no dia dois de abril, pelocalendário terrestre. Eu, que nasci em 28 de março, celebrarei o meuaniversárionaLua,atentoàqueleprocessomaravilhoso.Detodaapopulaçãohumana,menosde1%viveemlugaresondeasrosasdeAdmetenãopodiamsobreviver e de onde foram eliminadas pelas implicações elétricas queocasionamemlugaressematmosfera.

Nodia2deabril,àsdozeetrêsminutosdamanhã,pelohorárioterrestre

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deGreenwich,começouoespetáculoe,aomesmo tempo,comose tivessemumrelógiouniversal,emtodososlugaresondeaquelasfloresviviam,dentrodas casas, nas florestas da Terra, emMarte, na formosaDóris, na brumosaClítia,namontanhosaMétis,naaquosaTique,nacálidaPolidora,nafriaThoe,na frondosaGalaxauraeassimnos31planetascolonizadosatéaomomentopelos humanos.Muitas pessoas saíram à rua na Terra para observar aquilo.Apanharamosformososesporosmulticoloreseosguardaramnasalgibeiras,emsacasdeplástico,emcaixinhasounasmãos.Océuencheu-sedepontinhosde luz e na zona escura da Terra, onde era de noite, o espetáculo foi tãoformosoquemilhõesdepessoasseemocionaramaovê-lo.Milhareschoraramdeemoção.Osesporos,tambémagoraeemtodaaparte,criaramumatoxinaantirradiação, espalhando-a para proteger-se (como se ainda estivessem nodifícilambientedoseuplanetanatal)ecomeçaramaespalhá-laexatamenteumpardeminutosdepoisdafloração.Parecialógico.

Uns minutos depois da floração dos esporos, quando as toxinasalcançaram a superfície,morreu a primeira pessoa. Foi umamenina de trêsanos, chamada Mary Brown, na superfície do planeta Dóris. Na Terra, aprimeirapessoaquemorreu foi umhomemde sessenta anos, JohnClarke eemMarte umapessoa chamadaVicenteRodríguez, de uns quarenta e quatroanos.Queestavaaacontecer?

Nosseguintescincominutoscomeçaramamorrerpessoasaosmilhares,depoisaosmilhões.NaszonasdaTerraondeeradenoite,osmesmosqueseemocionavam ao ver as inúmeras luzes dos esporos, caíam agora, ainda asorrir.Eraterrível,inaudito,aterrador...

Os esporos das rosas de Admete erammortais para os humanos. Ummilhãodevezespioresqueapestebubónicaouqueavaríola.Ummilhãodevezesmaisvelozes...Umsimplessegundodecontactocomelasouderespirarastoxinasqueestavamaespalhar(curiosamenteparaproteger-sedaradiaçãodeumaestrelalongínqua)supunhaamortequaseinstantânea.NoplanetaTerramorreram onzemilmilhões de pessoas emmenos de cincominutos. Só sesalvaramalgumaspessoaspelomaiordosacasos.Unsquantosmergulhadores,aspessoasquenaqueleprecisomomentoestavamaviajaremaerojet(ondeasrosasdeAdmetetampoucosepermitiam),osmilitaresqueestavamdepráticanos submarinos e umas cem mil pessoas que viviam em apartamentosaquáticos ou cidades submarinas (que evitavam ter aquelas plantas). Nessescincominutosaterradoresmorreuos98%daraçahumana.Tinhachegadoo

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Armaggedonparanós,mascomeçaranaquelediafatalemqueaprimeirarosadeAdmetetinhachegadoàTerra.

Ocuriosofoiquealgunsmergulhadores,apenasdezminutosdepoisdeque tivesse morto a primeira pessoa, subiram à superfície e ao tirarem osescafandros respiraram sem problema. Como se nada tivesse acontecido. Atoxina deixara de ter efeito. Era inócua. Se descêssemos à Terra agora, nãohaveriaproblema (bom,apenasosbiliõesdecadáveresporenterrar).E issoserá assim até dentro de 33 anos.Apenas foram cincominutos de floração.Apenas cinco minutos e acabaram com vinte e oito mil milhões de sereshumanos!

Quefaremosossobreviventes?Nãoosei.É tãoaterradorquenemmeocorre. Perdi tudo, a minha mulher, os filhos, a família, os amigos... Maspensando-omelhor, sei simoquevou fazer.Estapastilhavai conseguir queme livre desta dor insuportável. Apenas um minuto e eu também compartilharei o destino da nossa raça.Não posso suportá-lomais um segundo.MalditasrosasdeAdmete...

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SOBREOAUTOR

ÂngeloBrea (SantiagodeCompostela,1968) realizouestudosdeFilologiaHispânicanaUniversidadedeSantiagodeCompostelaedeFilologiaGalego-PortuguesanaUniversidadedaCorunha.Foisecretáriodas Irmandades da Fala da Galiza e Portugal e coordenou vários congressos internacionais sobreliteraturas lusófonos e língua portuguesa. Na atualidade é membro da Academia Galega da LínguaPortuguesaeprofessor titulardeLínguaeLiteraturaGalegano IESTerradeSoneira (Vimianço).Comoescritor, é autor de “Livro dos Caminho” (1989) e “Lembranças da Terra” (2014) e está presente emváriasantologias,como“MátriadaPalavra”,“AntologiadaPoesiaLusófona”e“AVozdosMundos”.Publicou,em2005,“OpaísdosNevoeiros”,naeditorialEspiralMaior.Éautordaediçãoportuguesade“CantaresGalegos”,deRosaliadeCastro,ede“QueixumesdosPinhos”,deEduardoPondal.