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Rose e a Máscara do Mago de Holly Webb

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Primeiro capítulo de Rose e a Máscara do Mago de Holly Webb

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jovem

TraduçãoAlice Klesck

Holly Webb

e a máscara do mago

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Capítulo 1

– Uma xícara de chá, Rose?Rose olhou vagamente para a Sra. Jones, assim como o restante

dos empregados da cozinha. Não parecia algo tão estranho a dizer, porém a cozinheira tinha ficado sem falar com Rose por mais de um mês – desde que o segredo da magia de Rose deixara todos os empregados aterrorizados.

Sarah, a assistente de cozinha, estava sentada à imensa mesa de madeira. Ela desviou o olhar da Sra. Jones para Rose e de volta, com os olhos azuis arregalados de ansiedade. Depois, lentamente, passou uma xícara com pires à cozinheira.

Rose engoliu em seco, sentindo a garganta subitamente apertar, com vontade de chorar. Sarah também? Será que elas estavam mesmo parando de fingir que Rose não existia? Ela fungou, zangada. Por que queria chorar justamente agora que elas voltavam a tratá-la bem? Quando a tratavam como alguém invisível, ela fingia vorazmente – inclusive para si mesma – que não estava nem ligando.

A Sra. Jones empurrou a xícara para o outro lado da mesa. Ela a soltou rapidamente, para não segurá-la ao mesmo tempo que Rose, mas já era um começo.

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Grata, Rose sentou-se numa cadeira ao lado de Bill, o ajudante de serviços gerais, que estava sorrindo para ela de forma animado-ra. Bill nunca se incomodara tanto com a magia de Rose quanto os outros empregados. Talvez fosse pelo fato de ele também ser órfão, e isso tê-los unido. Bill viera do orfanato de meninos que ficava ao lado do orfanato St. Bridget, onde Rose havia morado até vir para a residência Fountain.

Bill também havia tido mais tempo para se acostumar à magia. Ele tinha presenciado um dos feitiços acidentais de Rose ao ser mandado à rua com ela para lhe mostrar as redondezas e as lojas. Rose havia ficado tão maravilhada com os belos vestidos e as modernas carrua-gens que se distraiu e entrou no caminho de um cavalheiro a galope, que tentou lhe bater. Estranhamente, o homem e seu cavalo branco ficaram cobertos por um melado grudento e negro. Rose ainda não sabia como havia feito aquilo. Mas encharcar um figurão de melado tinha sido uma boa forma de apresentar Bill à magia dela.

Bill empurrou o açúcar na direção de Rose e ela colocou algu-mas colheradas no chá. A mão dela estava tremendo o suficiente para fazer a colher bater na xícara de porcelana. Ao erguer a xícara, Rose notou que Sarah lhe dera uma das mais bonitas. Somente a Srta. Bridges, a governanta, bebia na porcelana florida, é claro, mas essa xícara tinha uma delicada borda azul. Rose tomou o chá cautelosa-mente, para o caso de haver algo terrível dentro, embora achasse que não haveria – a Sra. Jones não suportava desperdício de comida, e chá era terrivelmente caro.

Rose sorriu precavida para a Sra. Jones e sussurrou: – Muito bom, esse chá.Bill estalou os lábios. – Forte o suficiente para uma colher ficar de pé.

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A Sra. Jones assentiu contente, aceitando o elogio. – Não tolero aquela água lavada que o mestre toma – concordou

ela. Então mexeu a xícara pensativa e depois ergueu os olhos para Rose. – As Majestades tomavam chá?

– Nunca vi o rei e a rainha tomando, mas a Princesa Jane sim, no café da manhã, e novamente à tarde. A Princesa Charlotte tomava leite, às vezes com um pouquinho de chá dentro.

– Que lindinha... – murmurou a Sra. Jones, afeiçoada, e Sarah olha-va para Rose, fascinada.

Rose sorriu atrás da xícara que levara de novo à boca. A Sra. Jones sempre adorou as princesas, embora, é claro, nunca tivesse chegado perto de nenhuma delas – a não ser para jogar flores sob as rodas da carruagem real. Embora o mestre, Sr. Fountain, fosse o Mago Chefe Conselheiro do Tesouro Real e da Casa da Moeda, e auxiliasse o rei quase todos os dias, os empregados dele nunca chegavam perto da rea-leza. A Sra. Jones olhou, admirada, para a ilustração do jornal que colo-cara sobre a cômoda; ela mostrava a Princesa Jane inspecionando um navio de guerra. Rose achava que o artista fizera a princesa bem mais bonita do que ela realmente era. Ela tinha de saber, já que havia passa-do vários dias disfarçada, sob um encanto, para ficar igualzinha à Jane.

Tudo tinha começado com o inverno estranho e incomum, algu-mas semanas antes. Neve e gelo tinham caído fortemente sobre a ci-dade. Conforme os dias iam ficando mais escuros e frios, as histórias assustadoras sobre feitiços de gelo e magia perigosa se espalharam pelas ruas. Os magos londrinos faziam seus negócios à espreita, segui-dos por vozes sussurradas.

Em meio a essa atmosfera sombria, um grupo de enviados Talish havia chegado para discutir o tratado de paz. A guerra tinha sido

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vencida havia oito anos, com uma grande batalha naval, quando o galante capitão de um navio britânico contara a seus marujos sobre o nascimento de uma nova princesa, induzindo-os à bravura patrióti-ca com uma ração extra de rum. Foi por pouco, mas a invasão triun-fante de Talis não aconteceu. O grande império, do outro lado do canal estreito, simplesmente recuou da Bretanha e passou a anexar pequenas porções da Itália.

Foram anos de cartas e presentes, retrocessos e pequenas vitórias, para que a paz chegasse tão longe assim, e a embaixada seria corteja-da com um grande banquete para celebrar o aniversário da Princesa Jane. Mas então a princesa desapareceu, e, subitamente, não poderia mais haver nenhuma festa, o pânico invadindo o palácio. Os enviados voltariam correndo para Talis, profundamente insultados, e a chance de paz seria novamente perdida.

Foi quando Rose percebeu que os reis não eram como as outras pessoas. Durante todo o tempo em que procurava freneticamente pela filha, o rei sentia quase um pesar maior pela perda de seu tratado de paz. Ele precisava de uma princesa – ou de alguém que se parecesse com uma. O Sr. Fountain ficara relutante em permitir que Rose assumisse um encanto – ou um feitiço estranho que lhe desse outro rosto – e se fizesse passar pela Princesa Jane até que ela fosse encontrada. Rose nem gosta de pensar no que teria acontecido se a princesa nunca tivesse sido salva. Ela talvez ainda estivesse disfarçada sob a pele da princesa.

Apesar do encanto, a festa de aniversário acabou sendo um fiasco. O enviado Talish, Lorde Venn, atacou Rose, dizendo a todos que ela era uma impostora – evidentemente, ele sabia disso, pois ele e seu mestre, Gossamer, o estranho mago do gelo, é que tinham sido os responsáveis pelo rapto da princesa. Ela havia sido aprisionada dentro de sua pró-pria casa de bonecas.

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Os boatos do desaparecimento de Jane haviam se espalhado por Londres, e todos culpavam a magia. Foram feitos protestos, reuniões e até um debate no parlamento. Depois que Rose salvou Jane, a princesa apareceu no terraço do palácio, diante de uma multidão assustada e desconfiada. Mais de mil pessoas estavam reunidas na frente do palá-cio, e ninguém tinha certeza de em quem confiar. O rei levara a filha à frente, agradecendo por seu regresso em segurança, mas ninguém os saudara. Seria mesmo a princesinha?, sussurravam todos. Ou apenas

outra fraude? Talvez nem o rei fosse o rei!

Então, a própria Jane falou, arrastando Rose à frente do terraço. De alguma forma, a visão da criança que arriscara a vida pela prin-cesinha amada por todos abalou a multidão, que se dispersou, dei-xando o local. Mas ainda havia correntes ocultas fluindo pela cida-de. A maioria das pessoas aceitara o fato de que magos embusteiros haviam sequestrado a princesa, e que seus próprios magos eram confiáveis, ou, ao menos, tão confiáveis como sempre foram. Mas os salafrários haviam fugido.

O clima era tenso e assustador, e o fato de os sequestradores faze-rem parte da embaixada de paz de Talish piorava as coisas – embora os membros restantes da embaixada tivessem jurado terem sido en-feitiçados, e o imperador nada soubesse sobre a trama. Lorde Venn vinha secretamente tramando para destruir a missão de paz, segundo afirmaram. Todos haviam sido envolvidos por ele.

Rose não simpatizara com Venn, um homenzinho rechonchudo e rude, mas ficara aterrorizada com o mestre dele, Gossamer, um ho-mem de olhos gélidos. Desde o fracasso da intriga, o Sr. Fountain havia descoberto alguns dos planos deles, e agora eles sabiam que Gossa-mer tinha sido o cabeça – e o mago com força suficiente para invocar aquele inverno horrendo.

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Podia-se dizer que Gossamer e Venn não estavam, de fato, traba-lhando por Talis – e o imperador assim dissera, em várias cartas lison-jeiras ao rei –, mas, se tivessem sido bem-sucedidos, teriam deixado a Inglaterra aos prantos pela adorada princesa, e cheia de ódio pelos magos e pela magia. A magia seria necessária para ganhar qualquer guerra contra Talis. Se o inverno encantado tivesse congelado o rio Tâmisa e chegasse a congelar o canal – o que havia sido o plano de Gossamer –, as forças do imperador teriam passado por cima do gelo em alguns dias, e Londres teria caído.

Rose torcera para que Bill tivesse ficado impressionado por ela ter feito um pouquinho pelo império britânico, mas não esperava que todos também a perdoassem por ser maculada com aquela maluquice

da magia. Mas agora ela percebia que havia subestimado o fascínio pela

fofoca do palácio. Sarah, que ficara aterrorizada com Rose antes de sua partida para o palácio – ela parecia pensar que Rose poderia transformá-la em algo pequeno e cheio de perninhas – tomava seu chá e perguntava:

– Quantos vestidos a princesa tem, Rose? São todos bordados com pedras? Ela usa luvas de pelica no banho?

A moça estendeu o braço, olhando as próprias mãos, com seus dedos curtos e avermelhados por passarem, diariamente, horas mergu-lhados na água quente. Como empregada responsável pela louça, ela passava um tempo interminável esfregando panelas.

Rose sorriu para ela. Dava para ver que Sarah estava sonhando com a princesa, esticada numa nuvem de vapor diante de uma imensa lareira de mármore, admirando os braços com luvas de pelica até os cotovelos e pesados braceletes de esmeraldas.

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Sarah deixou cair a colher de chá que estava usando para mexer seu chá e olhou para Rose como um coelho assustado.

Rose olhou de volta, preocupada. Sarah não apenas imaginara a princesa; ela, de fato, a vira, provavelmente na superfície reluzen-te de sua xícara de chá. A magia de Rose havia começado assim, com imagens acidentais. Elas tendiam a acontecer quando ela es-tava contando histórias, se não se concentrasse com muito afinco para evitá-las.

– Oh... onde eu estava? – perguntou com a voz rouca, torcendo para que Sarah não gritasse. Logo quando voltaram a gostar dela! Como ela pôde se deixar levar?

– Flutuando no chá – Sarah respondeu com uma voz aguda. E ra-pidamente pôs a mão para cobrir a xícara quando Bill tentou espiar. – Ela não está decente! – comentou rispidamente.

– Na minha cozinha, não, obrigada, Srta. Rose – a Sra. Jones disse firmemente, pegando a xícara e entornando o chá. – Eu já disse antes, e você sabe muito bem disso. Essa maluquice de magia deixa um gosto ruim na comida e interfere no fogão. Sem contar o endurecimento da gelatina. Guarde isso lá para cima, mocinha, está me ouvindo?

– Eu lamento, Sra. Jones. Realmente não fiz de propósito – Rose dis-se rapidamente. – Essas imagens... elas simplesmente escapam quando não estou pensando. Não tive a intenção.

A Sra. Jones fungou e assentiu, altiva. – Ela usa... luvas de pelica no banho? – perguntou, curiosa.Ela lançou um olhar de alerta a Bill, dando a entender que qual-

quer comentário faria com que ele fosse removido pela orelha. Rose sacudiu a cabeça. – Não, mas ela tem uma essência de rosas jogada na água do ba-

nho. A Princesa Louisa lhe deu no último Natal. E lencinhos de banho

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cor-de-rosa de seda, com bordados dourados. E a Princesa Charlotte tem um veleiro de brinquedo para brincar no banho, e esse veleiro tem velas de seda cor-de-rosa.

Sarah e a Sra. Jones suspiraram, apreciando. – E joias? – suplicou Sarah. – Imagino que tenham vestidos com

pedras penduradas...Rose estremeceu. Ela só usara um vestido com pedrarias: o ves-

tido de seda que deveria combinar com o magnífico colar de péro-las rosadas, presente do rei à filha favorita. Até o fim do banquete de aniversário de Jane, aquele vestido estava esfarrapado e coberto de sangue – o sangue de Rose.

Rose sacudiu a cabeça. – Não há joias para uso diário. Mas os melhores tecidos. Renda e

um veludo que parece pelo de gato. E nada de combinações comuns; só renda em todas as camadas.

Sarah estava assentindo, como se isso fosse bem como ela esperava.Rose olhou abaixo, para sua xícara de chá, tentando esconder um

enorme sorriso para ninguém pensar que ela era doida. O palácio não era como elas pensavam. Era um lugar estranho e frio – mesmo sem os magos sinistros evocando o inverno artificial que congelou a cidade com a maior nevasca em cinquenta anos.

Não havia magia ali; não como na casa do Sr. Fountain. Embora a Sra. Jones tivesse banido a magia de sua cozinha – e, estranhamente, as rigorosas ordens dela tivessem de fato mantido esse tipo de coisa fora do subsolo da casa –, Rose ainda podia senti-la pairando por per-to, esperando para envolvê-la. E, agora que a frieza odiosa dos outros empregados havia derretido com o inverno gélido lá de fora, ela não conseguia evitar que o sorriso tolo voltasse.

– Oh!

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Rose ergueu os olhos, ansiosa. Ela não tinha deixado escapar outro feitiço, tinha?

Mas não era Sarah. A empregada do andar de cima, Susan, estava no portal com uma expressão de repugnância – como se tivesse en-contrado algo horrível em seus sapatos.

– Você voltou. Que pena... – rosnou ela. Ela soava corajosa, mas Rose notou que ela estava à espreita, na

porta, sem fazer nenhum movimento para entrar. Susan sempre detes-tara Rose, e a magia havia tornado as coisas cem vezes piores. E o fato de Rose e Susan terem brigado pouco antes de Rose partir para o palá-cio também não ajudava muito. Susan a havia agarrado e Rose tornara o braço da jovem todo preto – embora não fizesse ideia de como isso havia acontecido. Depois ele voltou ao normal, mas ela sabia que Su-san jamais a perdoaria, mesmo que os demais empregados estivessem preparados para aturar a esquisitice de Rose em nome dos fragmentos de fofoca real.

– Eu ficarei fora do seu caminho se você ficar fora do meu – Rose disse friamente. Isso soou como uma ameaça, o que fora sua intenção.

Susan adentrou a cozinha, andando de lado, como um caranguejo, beirando a parede e mantendo a mesa entre ela e Rose.

– Ela não vai lançar uma labareda em você – fungou Bill, debo-chando, e Susan retribuiu o olhar de deboche.

– Parem! – disse a Sra. Jones, severamente. – Ninguém aqui vai fazer nada. Rose é sensível o bastante para não tirar vantagem, eu tenho certeza disso.

– Aberração – Susan disse baixinho à Rose, enquanto a Sra. Jones voltou a se ocupar com a chaleira. – Rejeitada...

Rose encolheu os ombros e sorriu. Ela tinha a sensação de que isso irritaria Susan mais do que qualquer coisa. A menina mais velha sabia

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que as provocações sobre sua família a magoavam, porque Rose já dei-xara transparecer. Rose passara seu tempo no orfanato tentando não se importar com os pais. Tentando não imaginar quem exatamente a deixara num cesto de pesca no memorial de guerra do pátio da igreja. E por quê. Ela se convencera de que isso não tinha importância, mas, agora que parecia ter herdado algo além do bom senso e da simples cor dos cabelos castanhos, queria muito saber de onde isso viera. Ela já não acreditava que não se importava.

Mas esses eram pensamentos secretos, e Rose era boa com segre-dos. Ela fora idiota antes, deixando que as palavras de Susan a atin-gissem. Bem, de agora em diante, ficaria inerte como uma pedra, e os ataques de Susan flutuariam sobre ela como água. Afinal, era apenas outro tipo de encanto.

Então, ela sorriu amistosa para Susan, e teve a satisfação de vê-la estremecer.

Rose achara surpreendentemente fácil se readaptar à sua vida de metade empregada, metade aprendiz de feiticeira – embora ainda fi-casse exausta à noite ao se arrastar escada acima, até seu quartinho no sótão. A casa parecia ainda mais movimentada do que antes de sua partida. A Srta. Bridges estava determinada a, com a rápida apro-ximação do Natal, deixar a casa impecável para as festividades. O Sr. Fountain gostava que a casa fosse decorada com azevinho e outros ramos verdes, e tudo ficava lindo. Mas eles soltavam frutinhos e peque-nas folhas, além de fragmentos que se espalhavam pela casa. Tudo isso significava mais trabalho.

Apesar de suas lições extras com o Sr. Fountain e Freddie, ainda esperavam que Rose fizesse sua porção de limpeza. Até as unhas dela doíam.

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Suas lições mágicas no momento envolviam mais a vidência – aquela estranha arte de ver as coisas a distância. O Sr. Fountain estava empregando seus aprendizes para ajudá-lo na busca desesperada por Gossamer. O mago havia escapado com todos os seus poderes intactos, e eles não tinham ideia do local para onde ele e Venn teriam fugido. Ou o que estavam planejando.

Infelizmente, as lições não estavam indo muito bem. – Encontrou algo, senhor? – perguntou Freddie, esperançoso, na-

quela tarde. – Alguma pista?O Sr. Fountain sacudiu a cabeça e despencou numa das cadeiras

à mesa da sala de trabalho. Ele sentou com o queixo numa das mãos, enroscando a ponta do bigode.

– Nada de magia... mas, para ser honesto, eu não estava esperando. Gossamer e Venn foram quase impossíveis de pegar no palácio. – Ele riu rapidamente. – Escondidos simplesmente à vista, eu suponho. Bem, agora eles estarão se escondendo com mais cuidado. Não tive o mais leve lampejo, embora tenha praticado a vidência à procura deles du-rante todas essas semanas. – Ele suspirou longamente, zangado. – E nem sinal, de nenhuma das minhas fontes. A quantidade de dinheiro que gastei subornando as pessoas... Para nada!

Ele estava incrivelmente irritado, pensou Rose, considerando-se que ele podia fazer dinheiro crescer em árvores. O Sr. Fountain era um alquimista, assim como um mago muito poderoso. Rose nunca tinha ouvido falar sobre alquimistas antes de deixar o orfanato, porém, agora, pelo que Freddie e Gus lhe haviam dito, ela percebia quanto o Sr. Foun-tain era incomum. A alquimia sempre fora algo obscuro e um tipo de magia ligeiramente vergonhosa, simplesmente porque não funcionava. Até vinte anos antes, quando o Sr. Fountain e seu colega estudante, um tal de Joshua Merganser, de fato conseguiram transformar chumbo em

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ouro. Segundo Freddie, à época eles eram tão pobres que tinham rou-bado o chumbo do telhado de uma igreja, mas Rose não tinha certeza se acreditava nisso.

O Sr. Merganser havia morrido em circunstâncias misteriosas, e Freddie lhe contara algumas histórias interessantes sobre isso tam-bém – nas quais Rose realmente não acreditava na maior parte do tempo. Independentemente do que tivesse acontecido, o Sr. Fountain se tornou o único alquimista bem-sucedido do mundo. Mas agora parecia que nem o ouro era mais suficiente.

– A pista é completamente fria – gemeu o Sr. Fountain. – Eles desa-pareceram. Desapareceram! – Ele mergulhou a cabeça drasticamente nas mãos e acrescentou, numa voz sinistra: – O que só pode significar que estão planejando outra coisa. Quem pode saber o que os demô-nios estão buscando agora?

Gus, o gato branco, enroscou-se confortavelmente nos braços do Sr. Fountain, e seu mestre o afagava sem notar, o que era um erro. Gus exigia total atenção de seus admiradores, e lançou um alerta:

– O que foi? Oh, desculpe, Gus. Vão em frente, vocês dois. Mos-trem-me o que aprenderam. Quem sabe talvez precise de um novo olhar... um de vocês pode dar uma olhada. – O Sr. Fountain não pare-ceu muito esperançoso.

Rose estava tentando abrir o Olho Interno e permitir que sua Verdadeira Visão trabalhasse, como instruíra a Cartilha perfeita do

aprendiz de feiticeiro de Prendergast, quando surgiu uma batida na porta da sala de trabalho.

Rose e Freddie deram um pulo; quase nunca se ouvia falar de alguém que tivesse interrompido uma lição, pois os empregados morriam de medo da sala de trabalho e de quaisquer práticas que a família estivesse realizando.

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– Entre! – gritou o Sr. Fountain, e a porta se abriu lentamente. Susan estava ali em pé, com o rosto branco. Ela empurrou um envelope fir-memente lacrado para Rose, que estava mais perto, fez a cortesia mais rápida que Rose já vira e saiu correndo.

– Garota estranha... – murmurou o Sr. Fountain, pegando o en-velope de Rose e segurando-o para Gus, que rasgou os lacres de cera com sua pata anormalmente estendida. – Este é o selo do Rei Albert... O que esse homem pode querer? Já passei a manhã toda no palácio... Realmente, esse emprego no Tesouro está se tornando desesperadamente entediante.

Ele começou a ler a carta, tamborilando irritantemente o dedo na mesa, porém, conforme foi olhando o pergaminho pesado, o tam-borilar foi parando e o rosto dele empalideceu. Gus pulou em seu colo para ver.

– Oooh, visita. E bem na hora do chá – murmurou ele.O Sr. Fountain empurrou a cadeira para trás, fazendo um rangido,

com Gus pendurado em seu colete, miando.– Não haverá sanduíches de peixe hoje. Venham. Vocês dois. Eles

querem os três lá. Meu bom Deus, como isso pôde ter acontecido? Como não previ que aconteceria? Rose, mande chamar a carruagem, e Freddie, pelo amor de Deus, escove os cabelos.

– O que é? – perguntou Freddie.– Aqueles malditos tolos do palácio esqueceram onde coloca-

ram... rá! Olhem como ele diz! ...Esqueceram onde colocaram a más-cara do mago!

Pela expressão nos olhos do mestre e o rabo eriçado de Gus, Rose pôde ver que isso era algo terrível, embora não compreendesse. Ela saiu correndo da sala de trabalho, voou descendo os quatro lances de escada e irrompeu na cozinha, ofegante.

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– Ele precisa da carruagem, para o palácio... Você pode dizer ao cocheiro, Bill?

A Srta. Bridges olhou Rose por cima de seus óculos. – Ele vai levá-la junto?Rose assentiu, olhando abaixo, para seu avental sujo e seu vestido

de lã escuro, que já estava ficando pequeno.– Você não poderia fazer algo em relação a isso sozinha? – pergun-

tou a Srta. Bridges, com uma ponta de esperança e um olhar lamentoso para a Sra. Jones, que estava segurando uma forma de cobre em posi-ção de escudo.

– Acho que não... – disse Rose, depois de pensar freneticamente por um segundo. – Acho que é um encanto, e eu ainda não consigo fazer isso sozinha.

– Não me admiro... – estrilou a Srta. Bridges. – Ninguém nesta casa pensa na apresentação. Eu já disse ao mestre. Bem, nós simplesmente teremos que fazer o melhor. – Ela saiu apressada e voltou com um bra-ço cheio de cambraia. – Deixei isto separado. Eu tinha a sensação de que algo desse tipo aconteceria. Tome, vista isso, Rose. E apenas... bem, apenas tente abaixar-se um pouquinho, e seu vestido não parecerá tão vergonhosamente curto.

Rose tirou o avental e a Srta. Bridges abotoou seu novo avental, com beiradas de renda nos braços e flores bordadas na bainha.

– Pela expressão no rosto do mestre, senhorita, o rei não vai ligar se eu estiver com meu vestido velho. Acho que há algo errado. E estou vestindo minha boa capa. Obrigada, Srta. Bridges, pelo avental; é mais bonito do que o das princesas.

Nem a Srta. Bridges era imune à fofoca sobre as princesas, e um sorrisinho surgiu em seus lábios, por um instante.

– Corra, Rose – murmurou ela. – Imagino que ele não vá levar a Srta. Isabella também? – perguntou ela, esperançosa.

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– Ele não disse, senhorita – Rose respondeu lamentosa, e a Srta. Bridges suspirou. Bella, a pequena filha do Sr. Fountain, era um terror, particularmente quando achava que estava sendo deixada de fora de algo empolgante, e ela era especialista em evitar a governanta.

– Quando aquela atrevidinha começar a lançar magia por aí, eu estarei procurando outro emprego – alertou a Sra. Jones. – Ela já é bem ruim sozinha. Nem suporto pensar nisso.

Rose assentiu, seguindo ansiosa em direção à porta. Ela estava pensando se veria de novo as princesas – estranhamente, ela sentia falta de Jane, embora fingir ser ela fosse um jeito bem esquisito de conhecer alguém.

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