ROTEIRO - A flauta mágicasites.aticascipione.com.br/.../pdf/roteirodetrabalho_flautamagica.pdf · Flauta Mágica, é o som do instrumento musical que ajuda Tamino a superar as diversas

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  • A Flauta Mgica talvez seja a pera que mais interesse desperta no pblico, adulto ou infantil. Por causa de suas qualidades musicais e das vrias chaves de leitura possveis, uma obra que tem forte apelo e que pode ser percebida de diversas maneiras. Estreada em 1791 no eater auf der Wieden em Viena, espao destinado a obras em alemo, de teor mais leve e popular, a pera foi composta quase que concomitantemente Clemenza di Tito, uma pera sria italiana. importante assim reconhecer no apenas o fato de que Mozart estava escrevendo duas grandes obras teatrais ao mesmo tempo, mas, tambm, que cada uma seguia convenes prprias de seu gnero dramtico-musical.

    A Clemenza, uma pera sria, em italiano, sobre um libreto de P. Metastasio, adaptado por C. Mazzol.

    A Flauta, aquilo que em alemo se chama Singspiel (pea cantada ou pea com canto).

    Desde o sculo XVII, a pera italiana alcanou os territrios de lngua alem, com uma histria rica e conturbada. Mais especicamente, a partir de 1782, o novo imperador Leopoldo II passa a dar grande estmulo ao Singspiel e a obra de Mozart deve ser lida dentro deste lo.

    Naquele momento, o Singspiel uma obra teatral com partes recitadas e partes cantadas acompanhadas por uma orquestra. Em geral, na escuta da Flauta, h uma tendncia a deixar de lado toda a parte falada, j que a msica extremamente saborosa. Mas o conjunto do espetculo s adquire seu sentido pleno atravs da escuta de toda a obra, no s porque assim a trama ca completa, mas, tambm, porque a passagem da fala para o canto, problemtica para alguns, d um sentido ainda mais dramtico para a parte musical.

    Schikaneder, autor do libreto, era ator, compositor, cantor e diretor do eater auf der Wieden. O texto da Flauta uma combinao de vrias tradies: uma parte do libreto deriva do Sethos do Abade Terrason (Paris, 1731); outra, do conto de fadas Lulu, oder die Zauberte, de A. J. Liebeskind, publicado no Dschinnistan de Wieland, em 1789. Alm dessas fontes mais diretas, o libreto traz tambm elementos manicos (Mozart e Schikaneder eram maons, assim como tantos outros artistas e literatos no sculo XVII), como o ritual de iniciao, a alquimia e os smbolos egpcios. Mas existem diversos elementos no-manicos como, por exemplo,

    Monostatos, Papageno, Papagena e a Rainha da Noite, alm dos instrumentos mgicos. Percebe-se que o texto da Flauta Mgica combina uma variedade de experincias literrias e culturais do sculo XVIII, criando uma obra que vem despertando interesse do pblico e estudiosos desde sua estreia. A pera pode ser vista como uma tentativa de escapar do peso dos modelos clssicos, alm do fascnio provocado pelo esprito natural e no sosticado da literatura popular. Certamente, o maior responsvel por esse interesse foi a msica de Mozart. Sem ela, talvez se daria pouca importncia ao libreto e mesmo trama de Flauta Mgica.

    Como sempre em suas obras, Mozart conseguiu coordenar vrios elementos de tradies distintas na Flauta. Para alguns, o tema principal do Singspiel seria a prpria msica, assim representada: Papageno (Schikaneder), Pamina (a pera alem), a Rainha da Noite (a pera italiana), Tamino (o msico alemo Mozart), Sarastro (Jos II), Monostatos (Salieri). Claro que outras associaes j foram feitas e certamente a reside um dos principais motivos do fascnio pela pera.

    Desde sua estreia, a pera teve grande sucesso em Viena, depois espalhando-se pelo mundo germnico e tambm pelo resto da Europa, muitas vezes traduzida para outras lnguas. Goethe pensou em escrever uma sequncia, que jamais foi terminada nem totalmente musicada. Mas a Flauta o tipo de pera que nunca saiu do repertrio, que sempre encontrou e encontra um pblico vido e fascinado e que inspira grandes montagens, lmes e at mesmo uma produo em quadrinhos.

    Sugestes de atividades

    Objetivo: identificar os diversos registros vocais usados na pera

    Mozart sempre exigiu muito das vozes dos cantores para quem escreveu suas peras. Na Flauta Mgica, dois personagens tm vozes que esto nos pontos extremos da extenso vocal: a Rainha da Noite (soprano coloratura) e Sarastro (baixo profundo).

    1) Veja as duas rias:

    Rainha da Noitehttp://www.youtube.com/watch?v=UXOYcd6KZ0E&feature=related(a ria propriamente dita comea em 211)

    Tradicionalmente, as peras dividem-se em partes que podem ser faladas ou prximas da fala (trechos recitativos) e partes mais musicais (rias, duetos, tercetos, coros etc.). A ria um momento em que um cantor, sozinho, canta. , assim, um solilquio, em que uma personagem, transportada por seus afetos, canta para mostrar suas paixes.

    tambm o momento em que o cantor vai mostrar todas as suas habilidades como, por

    exemplo, a rapidez na execuo de notas ou a capacidade de atingir notas extremas (graves ou agudas). E, ainda, de sustentar uma nota por muito tempo ou de cantar forte e assim por diante. Desse modo, na viso do compositor, dos cantores, do pblico e tambm dos crticos e dos tericos, a ria o elemento da pera de maior destaque.

    ria de Sarastro com coro

    http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a personagem manifesta sua raiva (ilustrao da pgina 17). J o canto de Sarastro

    grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osiris(representao na pgina 23).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou quase), de carter mstico e religioso e que, do ponto de vista vocal, so representados atravs de uma voz que est totalmente distante da fala ordinria.

    2) Compare os registros vocais (agudo, mdio e grave) s caractersticas das personagens

    A distncia da fala ordinria um dos pontos fortes da pera. Mas no caso de A Flauta mgica, tudo est muito bem demarcado: Tamino e Pamina, o jovem casal, os heris que passam por diversas provaes, so respectivamente um tenor e um soprano, que cantam numa regio vocal nem to aguda, nem to grave. E as rias deles so os momentos mais lricos:

    ria de Tamino:http://www.youtube.com/watch?v=WcQ9NSdAyXE

    ria de Pamina:http://www.youtube.com/watch?v=F3y7UMeC41Y&feature=related

    3) Explore situaes em que A flauta mgica j foi utilizada

    A ria da Rainha da Noite contm uma daquelas melodias to conhecidas que j foi aproveitada em vrias situaes. No mundo da propaganda, apareceu em roupagem pop no anncio do Kadett Chevrolet (1995), na voz de Edson Cordeiro:

    http://www.youtube.com/watch?v=uy3meCahY_Y

    E em verso cinematogrca de Kenneth Branagh, onde o maravilhoso se torna ainda mais explcito: http://www.youtube.com/watch?v=i_FCYzv383o

    Objetivo: compreender a mistura dos gneros srio/cmico e seus efeitos no drama musical

    Uma longa queixa com relao pera do sculo XVII que os gneros srio e cmico estavam misturados, o que contradizia as recomendaes dos tericos do teatro desde a Antiguidade. Sucessivas mudanas na pera italiana conduziram a uma separao, criando dois espetculos distintos, com convenes prprias: a chamada pera sria, com temas histricos e personagens heroicos, e a pera cmica ou bufa, com situaes mais prximas do cotidiano e personagens com caractersticas acentuadas, que funcionavam como uma crtica vida social.

    Contudo, percebe-se ao longo do sculo XVIII o interesse de alguns libretistas e compositores em escapar da rigidez de tal diviso, mesclando novamente personagens srios e cmicos. Note-se que a presena dos personagens cmicos relativiza a seriedade da ao heroica e confere uma dimenso que nos parece mais humana para o que est acontecendo em cena.

    Na Flauta h tambm um casal de personagens cmicas (Papageno e Papagena). Na verdade, Papagena surge apenas no nal da obra e Papageno que acaba acompanhando o jovem heri Tamino atravs de sua jornada. Papageno um caador de pssaros, um homem da natureza, diferente de Tamino, que um ser que passa por privaes para atingir a iluminao. Desse modo, Papageno tem um canto mais popular, mais afvel e tambm grandes melodias, como no dueto com Pamina:

    http://www.youtube.com/watch?v=mO-h1sPcsKQ

    importante notar o quanto a escrita vocal aqui diferente, mais simples, alm de ser um canto estrco que se repete com poucas variaes. Em quase toda a Flauta existem mximas morais, j que os heris, atravs de vrios enganos e dvidas, devem encontrar o caminho da iluminao. Tal proposta assemelha-se muito aos contos de fadas, gnero literrio de grande sucesso a partir do sculo XVIII e que tantas repercusses teve no mundo artstico.

    Sugira aos estudantes que faam o resumo do enredo da Flauta Mgica (jovem casal que no se conhece tem de passar por vrias provaes, com uma rainha que parece ajudar, mas no fundo atrapalha, e um velho sbio que fala algo que ningum entende). Depois, sugira que faam a comparao com outros contos de fadas.

    Incentive os alunos a pesquisar sobre peras srias e peras cmicas. Depois, ajude-os a compar-las com A Flauta Mgica.

    Objetivo: compreender como a msica pode representar o sobrenatural

    A Flauta uma pera que combina diversos componentes do maravilhoso: elementos ousados, sobrenaturais, mas sempre dentro da fronteira do verossmil. Logo no incio da pera, Tamino aparece sendo perseguido por uma gigantesca serpente para nalmente ser salvo pelas trs damas, preparando a chegada da Rainha da Noite. Em geral, a manifestao do sobrenatural precedida por uma manifestao natural violenta; no caso do incio da Flauta, uma tempestade. A msica tem a grande capacidade de representar as violncias da natureza, mas, numa pera, tambm preciso utilizar recursos cnicos.

    Cenrios, partes essenciais em montagens de pera, para a Flauta so os mais variados. Existe o grande exemplo de Karl Friedrich Shinkel (1781-1841), pintor e arquiteto alemo que, entre outros projetos, desenhou cenrios para uma produo da pera de Mozart em 1815. O conhecido guache para a cena da entrada da Rainha da Noite pode ser visto na Web Gallery of Art (http://www.wga.hu/html_m/s/schinkel/magic_.html).

    1) Mostre vrias representaes de uma mesma cena e sugira que a classe compare as diferentes maneiras de represent-las.

    No conhecido filme de Ingmar Bergman:http://www.youtube.com/watch?v=fPwCCGogdBE

    Como teatro de marionetes:http://www.youtube.com/watch?v=wBLKpoM_ajs&feature=related

    Na transposio e adaptao que Kenneth Branagh fez para o cinema, atualizando a trama da pera para a Primeira Guerra Mundial:http://www.youtube.com/watch?v=HuOEdkJdU0Y&feature=related

    Comparar como essa mesma cena acontece nos quadrinhos (pginas 10 e 11).

    Objetivo: conhecer a simbologia da flauta

    A flauta e sua vasta simbologia tem uma longa histria em diversas culturas. No caso da Flauta Mgica, o som do instrumento musical que ajuda Tamino a superar as diversas provaes por que passa. Na histria da humanidade, instrumentos de sopro estiveram sempre presentes. Veja-se, por exemplo, a recente descoberta na Alemanha de um instrumento paleoltico, noticiada pela revista Nature (24/06/2009 - http://www.nature.com/nature/journal/v460/n7256/full/nature08169.html) e divulgada pela Agncia Fapesp (http://agencia.fapesp.br/10685).

    No mundo ocidental, h um longo percurso iconogrco das autas (de p, doce ou transversal). Podemos tambm pensar em um exemplo mais prximo, em terras brasileiras (veja reportagem do Instituto Socioambiental: http://g1.globo.com/platb/natureza-isa/category/povos-indigenas).

    No mundo grego, temos o episdio de P e a Sirinx e tambm o do duelo entre Apolo e Mrsias, que um dos exemplos mais constantes nas representaes artsticas, onde a auta est presente. Mrsias o inventor da auta de dois tubos e, acreditando no poder do som produzido por ela, desafia o deus Apolo (tambm ele msico, que tocava uma lira). Como de se esperar, o deus vence a disputa e destroa seu rival.

    Veja exemplos

    Representao de Pietro Perugino: http://www.gutenberg.org/files/28420/28420-h/images/img013.jpg

    Representao de Jusepe de Ribera: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/r/ribera/2/apollo1.html

    No apogeu do uso da auta doce, entre os sculos XV e XVII, h vrias representaes de grupos de autistas, mostrando a variedade dos tipos de instrumento, seu uso na vida social, nas festividades, em cenas religiosas etc.

    S. Ganassi:http://www.recorderhomepage.net/inline/ganassi.jpg

    Pere Vall:http://www.recorderhomepage.net/inline/vall_st_peter_4.jpg

    As flautas (e outros instrumentos musicais) tambm so comuns em naturezas mortas, sobretudo como um dos elementos que fazem parte da vida humana e que, ao mesmo tempo, reete a passagem do tempo, a presena da morte e a inconstncia e a futilidade de tudo o que passageiro (vanitas):

    Pieter de Ring:http://www.wga.hu/art/r/ring/stillife.jpg

    Pieter van Roestraten:http://www.recorderhomepage.net/inline/roestraten_vanitas_ageolet.jpg

    Se desde o episdio de P e Sirinx, assim como no de Apolo e Mrsias, a msica aparece ligada a temas de morte e transformao, em A Flauta Mgica o instrumento tambm est ligado a um tipo de morte e transformao, que o da iniciao. Se deixarmos de lado a inspirao nos rituais manicos, na pera, Tamino e Pamina devem morrer, no sentido de deixar para trs a vida para que encontrem a verdade e possam viver o amor em sua plenitude. A flauta e a msica so as grandes companheiras do heri.

    Depois de conhecer a simbologia da auta, proponha:

    O estudo da histria e dos tipos deste instrumento musical

    A escuta de gravaes dos diferentes tipos de flauta

    Pesquisas sobre a flauta de outros povos como da Turquia (flauta ney ou nay) e do Japo (shakuhachi)

    Compare o som a flauta com a voz humana

    Texto: Paulo M. Khl, Colaborao: Maria Cristina M. Pereira Bucci

    www.scipione.com.br/operaemquadrinhos

    Roteiro de trabalho

    A Flauta Mgica

    1

  • 2

    Roteiro de trabalho A Flauta Mgica

    A Flauta Mgica talvez seja a pera que mais interesse desperta no pblico, adulto ou infantil. Por causa de suas qualidades musicais e das vrias chaves de leitura possveis, uma obra que tem forte apelo e que pode ser percebida de diversas maneiras. Estreada em 1791 no eater auf der Wieden em Viena, espao destinado a obras em alemo, de teor mais leve e popular, a pera foi composta quase que concomitantemente Clemenza di Tito, uma pera sria italiana. importante assim reconhecer no apenas o fato de que Mozart estava escrevendo duas grandes obras teatrais ao mesmo tempo, mas, tambm, que cada uma seguia convenes prprias de seu gnero dramtico-musical.

    A Clemenza, uma pera sria, em italiano, sobre um libreto de P. Metastasio, adaptado por C. Mazzol.

    A Flauta, aquilo que em alemo se chama Singspiel (pea cantada ou pea com canto).

    Desde o sculo XVII, a pera italiana alcanou os territrios de lngua alem, com uma histria rica e conturbada. Mais especicamente, a partir de 1782, o novo imperador Leopoldo II passa a dar grande estmulo ao Singspiel e a obra de Mozart deve ser lida dentro deste lo.

    Naquele momento, o Singspiel uma obra teatral com partes recitadas e partes cantadas acompanhadas por uma orquestra. Em geral, na escuta da Flauta, h uma tendncia a deixar de lado toda a parte falada, j que a msica extremamente saborosa. Mas o conjunto do espetculo s adquire seu sentido pleno atravs da escuta de toda a obra, no s porque assim a trama ca completa, mas, tambm, porque a passagem da fala para o canto, problemtica para alguns, d um sentido ainda mais dramtico para a parte musical.

    Schikaneder, autor do libreto, era ator, compositor, cantor e diretor do eater auf der Wieden. O texto da Flauta uma combinao de vrias tradies: uma parte do libreto deriva do Sethos do Abade Terrason (Paris, 1731); outra, do conto de fadas Lulu, oder die Zauberte, de A. J. Liebeskind, publicado no Dschinnistan de Wieland, em 1789. Alm dessas fontes mais diretas, o libreto traz tambm elementos manicos (Mozart e Schikaneder eram maons, assim como tantos outros artistas e literatos no sculo XVII), como o ritual de iniciao, a alquimia e os smbolos egpcios. Mas existem diversos elementos no-manicos como, por exemplo,

    Monostatos, Papageno, Papagena e a Rainha da Noite, alm dos instrumentos mgicos. Percebe-se que o texto da Flauta Mgica combina uma variedade de experincias literrias e culturais do sculo XVIII, criando uma obra que vem despertando interesse do pblico e estudiosos desde sua estreia. A pera pode ser vista como uma tentativa de escapar do peso dos modelos clssicos, alm do fascnio provocado pelo esprito natural e no sosticado da literatura popular. Certamente, o maior responsvel por esse interesse foi a msica de Mozart. Sem ela, talvez se daria pouca importncia ao libreto e mesmo trama de Flauta Mgica.

    Como sempre em suas obras, Mozart conseguiu coordenar vrios elementos de tradies distintas na Flauta. Para alguns, o tema principal do Singspiel seria a prpria msica, assim representada: Papageno (Schikaneder), Pamina (a pera alem), a Rainha da Noite (a pera italiana), Tamino (o msico alemo Mozart), Sarastro (Jos II), Monostatos (Salieri). Claro que outras associaes j foram feitas e certamente a reside um dos principais motivos do fascnio pela pera.

    Desde sua estreia, a pera teve grande sucesso em Viena, depois espalhando-se pelo mundo germnico e tambm pelo resto da Europa, muitas vezes traduzida para outras lnguas. Goethe pensou em escrever uma sequncia, que jamais foi terminada nem totalmente musicada. Mas a Flauta o tipo de pera que nunca saiu do repertrio, que sempre encontrou e encontra um pblico vido e fascinado e que inspira grandes montagens, lmes e at mesmo uma produo em quadrinhos.

    Sugestes de atividades

    Objetivo: identificar os diversos registros vocais usados na pera

    Mozart sempre exigiu muito das vozes dos cantores para quem escreveu suas peras. Na Flauta Mgica, dois personagens tm vozes que esto nos pontos extremos da extenso vocal: a Rainha da Noite (soprano coloratura) e Sarastro (baixo profundo).

    1) Veja as duas rias:

    Rainha da Noitehttp://www.youtube.com/watch?v=UXOYcd6KZ0E&feature=related(a ria propriamente dita comea em 211)

    Tradicionalmente, as peras dividem-se em partes que podem ser faladas ou prximas da fala (trechos recitativos) e partes mais musicais (rias, duetos, tercetos, coros etc.). A ria um momento em que um cantor, sozinho, canta. , assim, um solilquio, em que uma personagem, transportada por seus afetos, canta para mostrar suas paixes.

    tambm o momento em que o cantor vai mostrar todas as suas habilidades como, por

    exemplo, a rapidez na execuo de notas ou a capacidade de atingir notas extremas (graves ou agudas). E, ainda, de sustentar uma nota por muito tempo ou de cantar forte e assim por diante. Desse modo, na viso do compositor, dos cantores, do pblico e tambm dos crticos e dos tericos, a ria o elemento da pera de maior destaque.

    ria de Sarastro com coro

    http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a personagem manifesta sua raiva (ilustrao da pgina 17). J o canto de Sarastro

    grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osiris(representao na pgina 23).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou quase), de carter mstico e religioso e que, do ponto de vista vocal, so representados atravs de uma voz que est totalmente distante da fala ordinria.

    2) Compare os registros vocais (agudo, mdio e grave) s caractersticas das personagens

    A distncia da fala ordinria um dos pontos fortes da pera. Mas no caso de A Flauta mgica, tudo est muito bem demarcado: Tamino e Pamina, o jovem casal, os heris que passam por diversas provaes, so respectivamente um tenor e um soprano, que cantam numa regio vocal nem to aguda, nem to grave. E as rias deles so os momentos mais lricos:

    ria de Tamino:http://www.youtube.com/watch?v=WcQ9NSdAyXE

    ria de Pamina:http://www.youtube.com/watch?v=F3y7UMeC41Y&feature=related

    3) Explore situaes em que A flauta mgica j foi utilizada

    A ria da Rainha da Noite contm uma daquelas melodias to conhecidas que j foi aproveitada em vrias situaes. No mundo da propaganda, apareceu em roupagem pop no anncio do Kadett Chevrolet (1995), na voz de Edson Cordeiro:

    http://www.youtube.com/watch?v=uy3meCahY_Y

    E em verso cinematogrca de Kenneth Branagh, onde o maravilhoso se torna ainda mais explcito: http://www.youtube.com/watch?v=i_FCYzv383o

    Objetivo: compreender a mistura dos gneros srio/cmico e seus efeitos no drama musical

    Uma longa queixa com relao pera do sculo XVII que os gneros srio e cmico estavam misturados, o que contradizia as recomendaes dos tericos do teatro desde a Antiguidade. Sucessivas mudanas na pera italiana conduziram a uma separao, criando dois espetculos distintos, com convenes prprias: a chamada pera sria, com temas histricos e personagens heroicos, e a pera cmica ou bufa, com situaes mais prximas do cotidiano e personagens com caractersticas acentuadas, que funcionavam como uma crtica vida social.

    Contudo, percebe-se ao longo do sculo XVIII o interesse de alguns libretistas e compositores em escapar da rigidez de tal diviso, mesclando novamente personagens srios e cmicos. Note-se que a presena dos personagens cmicos relativiza a seriedade da ao heroica e confere uma dimenso que nos parece mais humana para o que est acontecendo em cena.

    Na Flauta h tambm um casal de personagens cmicas (Papageno e Papagena). Na verdade, Papagena surge apenas no nal da obra e Papageno que acaba acompanhando o jovem heri Tamino atravs de sua jornada. Papageno um caador de pssaros, um homem da natureza, diferente de Tamino, que um ser que passa por privaes para atingir a iluminao. Desse modo, Papageno tem um canto mais popular, mais afvel e tambm grandes melodias, como no dueto com Pamina:

    http://www.youtube.com/watch?v=mO-h1sPcsKQ

    importante notar o quanto a escrita vocal aqui diferente, mais simples, alm de ser um canto estrco que se repete com poucas variaes. Em quase toda a Flauta existem mximas morais, j que os heris, atravs de vrios enganos e dvidas, devem encontrar o caminho da iluminao. Tal proposta assemelha-se muito aos contos de fadas, gnero literrio de grande sucesso a partir do sculo XVIII e que tantas repercusses teve no mundo artstico.

    Sugira aos estudantes que faam o resumo do enredo da Flauta Mgica (jovem casal que no se conhece tem de passar por vrias provaes, com uma rainha que parece ajudar, mas no fundo atrapalha, e um velho sbio que fala algo que ningum entende). Depois, sugira que faam a comparao com outros contos de fadas.

    Incentive os alunos a pesquisar sobre peras srias e peras cmicas. Depois, ajude-os a compar-las com A Flauta Mgica.

    Objetivo: compreender como a msica pode representar o sobrenatural

    A Flauta uma pera que combina diversos componentes do maravilhoso: elementos ousados, sobrenaturais, mas sempre dentro da fronteira do verossmil. Logo no incio da pera, Tamino aparece sendo perseguido por uma gigantesca serpente para nalmente ser salvo pelas trs damas, preparando a chegada da Rainha da Noite. Em geral, a manifestao do sobrenatural precedida por uma manifestao natural violenta; no caso do incio da Flauta, uma tempestade. A msica tem a grande capacidade de representar as violncias da natureza, mas, numa pera, tambm preciso utilizar recursos cnicos.

    Cenrios, partes essenciais em montagens de pera, para a Flauta so os mais variados. Existe o grande exemplo de Karl Friedrich Shinkel (1781-1841), pintor e arquiteto alemo que, entre outros projetos, desenhou cenrios para uma produo da pera de Mozart em 1815. O conhecido guache para a cena da entrada da Rainha da Noite pode ser visto na Web Gallery of Art (http://www.wga.hu/html_m/s/schinkel/magic_.html).

    1) Mostre vrias representaes de uma mesma cena e sugira que a classe compare as diferentes maneiras de represent-las.

    No conhecido filme de Ingmar Bergman:http://www.youtube.com/watch?v=fPwCCGogdBE

    Como teatro de marionetes:http://www.youtube.com/watch?v=wBLKpoM_ajs&feature=related

    Na transposio e adaptao que Kenneth Branagh fez para o cinema, atualizando a trama da pera para a Primeira Guerra Mundial:http://www.youtube.com/watch?v=HuOEdkJdU0Y&feature=related

    Comparar como essa mesma cena acontece nos quadrinhos (pginas 10 e 11).

    Objetivo: conhecer a simbologia da flauta

    A flauta e sua vasta simbologia tem uma longa histria em diversas culturas. No caso da Flauta Mgica, o som do instrumento musical que ajuda Tamino a superar as diversas provaes por que passa. Na histria da humanidade, instrumentos de sopro estiveram sempre presentes. Veja-se, por exemplo, a recente descoberta na Alemanha de um instrumento paleoltico, noticiada pela revista Nature (24/06/2009 - http://www.nature.com/nature/journal/v460/n7256/full/nature08169.html) e divulgada pela Agncia Fapesp (http://agencia.fapesp.br/10685).

    No mundo ocidental, h um longo percurso iconogrco das autas (de p, doce ou transversal). Podemos tambm pensar em um exemplo mais prximo, em terras brasileiras (veja reportagem do Instituto Socioambiental: http://g1.globo.com/platb/natureza-isa/category/povos-indigenas).

    No mundo grego, temos o episdio de P e a Sirinx e tambm o do duelo entre Apolo e Mrsias, que um dos exemplos mais constantes nas representaes artsticas, onde a auta est presente. Mrsias o inventor da auta de dois tubos e, acreditando no poder do som produzido por ela, desafia o deus Apolo (tambm ele msico, que tocava uma lira). Como de se esperar, o deus vence a disputa e destroa seu rival.

    Veja exemplos

    Representao de Pietro Perugino: http://www.gutenberg.org/files/28420/28420-h/images/img013.jpg

    Representao de Jusepe de Ribera: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/r/ribera/2/apollo1.html

    No apogeu do uso da auta doce, entre os sculos XV e XVII, h vrias representaes de grupos de autistas, mostrando a variedade dos tipos de instrumento, seu uso na vida social, nas festividades, em cenas religiosas etc.

    S. Ganassi:http://www.recorderhomepage.net/inline/ganassi.jpg

    Pere Vall:http://www.recorderhomepage.net/inline/vall_st_peter_4.jpg

    As flautas (e outros instrumentos musicais) tambm so comuns em naturezas mortas, sobretudo como um dos elementos que fazem parte da vida humana e que, ao mesmo tempo, reete a passagem do tempo, a presena da morte e a inconstncia e a futilidade de tudo o que passageiro (vanitas):

    Pieter de Ring:http://www.wga.hu/art/r/ring/stillife.jpg

    Pieter van Roestraten:http://www.recorderhomepage.net/inline/roestraten_vanitas_ageolet.jpg

    Se desde o episdio de P e Sirinx, assim como no de Apolo e Mrsias, a msica aparece ligada a temas de morte e transformao, em A Flauta Mgica o instrumento tambm est ligado a um tipo de morte e transformao, que o da iniciao. Se deixarmos de lado a inspirao nos rituais manicos, na pera, Tamino e Pamina devem morrer, no sentido de deixar para trs a vida para que encontrem a verdade e possam viver o amor em sua plenitude. A flauta e a msica so as grandes companheiras do heri.

    Depois de conhecer a simbologia da auta, proponha:

    O estudo da histria e dos tipos deste instrumento musical

    A escuta de gravaes dos diferentes tipos de flauta

    Pesquisas sobre a flauta de outros povos como da Turquia (flauta ney ou nay) e do Japo (shakuhachi)

    Compare o som a flauta com a voz humana

    Texto: Paulo M. Khl, Colaborao: Maria Cristina M. Pereira Bucci

    www.scipione.com.br/operaemquadrinhos

    A Flauta Mgica

    Monostatos, Papageno, Papagena e a Rainha da Noite, alm dos instrumentos mgicos. combina uma variedade de experincias literrias e

    culturais do sculo XVIII, criando uma obra que vem despertando interesse do pblico e estudiosos desde sua estreia. A pera pode ser vista como uma tentativa de escapar do peso dos modelos clssicos, alm do fascnio provocado pelo esprito natural e no sosticado da literatura popular. Certamente, o maior responsvel por esse interesse foi a msica de Mozart.

    Flauta Mgica.

    Como sempre em suas obras, Mozart conseguiu coordenar vrios elementos de tradies seria a prpria msica, assim

    representada: Papageno (Schikaneder), Pamina (a pera alem), a Rainha da Noite (a pera italiana), Tamino (o msico alemo Mozart), Sarastro (Jos II), Monostatos (Salieri). Claro que outras associaes j foram feitas e certamente a reside um dos principais motivos do

    Desde sua estreia, a pera teve grande sucesso em Viena, depois espalhando-se pelo mundo germnico e tambm pelo resto da Europa, muitas vezes traduzida para outras lnguas. Goethe pensou em escrever uma sequncia, que jamais foi terminada nem totalmente

    o tipo de pera que nunca saiu do repertrio, que sempre encontrou e encontra um pblico vido e fascinado e que inspira grandes montagens, lmes e

    Mozart sempre exigiu muito das vozes dos cantores para quem escreveu suas peras. Na Flauta Mgica, dois personagens tm vozes que esto nos pontos extremos da extenso vocal:

  • 3

    Roteiro de trabalho A Flauta Mgica

    A Flauta Mgica talvez seja a pera que mais interesse desperta no pblico, adulto ou infantil. Por causa de suas qualidades musicais e das vrias chaves de leitura possveis, uma obra que tem forte apelo e que pode ser percebida de diversas maneiras. Estreada em 1791 no eater auf der Wieden em Viena, espao destinado a obras em alemo, de teor mais leve e popular, a pera foi composta quase que concomitantemente Clemenza di Tito, uma pera sria italiana. importante assim reconhecer no apenas o fato de que Mozart estava escrevendo duas grandes obras teatrais ao mesmo tempo, mas, tambm, que cada uma seguia convenes prprias de seu gnero dramtico-musical.

    A Clemenza, uma pera sria, em italiano, sobre um libreto de P. Metastasio, adaptado por C. Mazzol.

    A Flauta, aquilo que em alemo se chama Singspiel (pea cantada ou pea com canto).

    Desde o sculo XVII, a pera italiana alcanou os territrios de lngua alem, com uma histria rica e conturbada. Mais especicamente, a partir de 1782, o novo imperador Leopoldo II passa a dar grande estmulo ao Singspiel e a obra de Mozart deve ser lida dentro deste lo.

    Naquele momento, o Singspiel uma obra teatral com partes recitadas e partes cantadas acompanhadas por uma orquestra. Em geral, na escuta da Flauta, h uma tendncia a deixar de lado toda a parte falada, j que a msica extremamente saborosa. Mas o conjunto do espetculo s adquire seu sentido pleno atravs da escuta de toda a obra, no s porque assim a trama ca completa, mas, tambm, porque a passagem da fala para o canto, problemtica para alguns, d um sentido ainda mais dramtico para a parte musical.

    Schikaneder, autor do libreto, era ator, compositor, cantor e diretor do eater auf der Wieden. O texto da Flauta uma combinao de vrias tradies: uma parte do libreto deriva do Sethos do Abade Terrason (Paris, 1731); outra, do conto de fadas Lulu, oder die Zauberte, de A. J. Liebeskind, publicado no Dschinnistan de Wieland, em 1789. Alm dessas fontes mais diretas, o libreto traz tambm elementos manicos (Mozart e Schikaneder eram maons, assim como tantos outros artistas e literatos no sculo XVII), como o ritual de iniciao, a alquimia e os smbolos egpcios. Mas existem diversos elementos no-manicos como, por exemplo,

    Monostatos, Papageno, Papagena e a Rainha da Noite, alm dos instrumentos mgicos. Percebe-se que o texto da Flauta Mgica combina uma variedade de experincias literrias e culturais do sculo XVIII, criando uma obra que vem despertando interesse do pblico e estudiosos desde sua estreia. A pera pode ser vista como uma tentativa de escapar do peso dos modelos clssicos, alm do fascnio provocado pelo esprito natural e no sosticado da literatura popular. Certamente, o maior responsvel por esse interesse foi a msica de Mozart. Sem ela, talvez se daria pouca importncia ao libreto e mesmo trama de Flauta Mgica.

    Como sempre em suas obras, Mozart conseguiu coordenar vrios elementos de tradies distintas na Flauta. Para alguns, o tema principal do Singspiel seria a prpria msica, assim representada: Papageno (Schikaneder), Pamina (a pera alem), a Rainha da Noite (a pera italiana), Tamino (o msico alemo Mozart), Sarastro (Jos II), Monostatos (Salieri). Claro que outras associaes j foram feitas e certamente a reside um dos principais motivos do fascnio pela pera.

    Desde sua estreia, a pera teve grande sucesso em Viena, depois espalhando-se pelo mundo germnico e tambm pelo resto da Europa, muitas vezes traduzida para outras lnguas. Goethe pensou em escrever uma sequncia, que jamais foi terminada nem totalmente musicada. Mas a Flauta o tipo de pera que nunca saiu do repertrio, que sempre encontrou e encontra um pblico vido e fascinado e que inspira grandes montagens, lmes e at mesmo uma produo em quadrinhos.

    Sugestes de atividades

    Objetivo: identificar os diversos registros vocais usados na pera

    Mozart sempre exigiu muito das vozes dos cantores para quem escreveu suas peras. Na Flauta Mgica, dois personagens tm vozes que esto nos pontos extremos da extenso vocal: a Rainha da Noite (soprano coloratura) e Sarastro (baixo profundo).

    1) Veja as duas rias:

    Rainha da Noitehttp://www.youtube.com/watch?v=UXOYcd6KZ0E&feature=related(a ria propriamente dita comea em 211)

    Tradicionalmente, as peras dividem-se em partes que podem ser faladas ou prximas da fala (trechos recitativos) e partes mais musicais (rias, duetos, tercetos, coros etc.). A ria um momento em que um cantor, sozinho, canta. , assim, um solilquio, em que uma personagem, transportada por seus afetos, canta para mostrar suas paixes.

    tambm o momento em que o cantor vai mostrar todas as suas habilidades como, por

    exemplo, a rapidez na execuo de notas ou a capacidade de atingir notas extremas (graves ou agudas). E, ainda, de sustentar uma nota por muito tempo ou de cantar forte e assim por diante. Desse modo, na viso do compositor, dos cantores, do pblico e tambm dos crticos e dos tericos, a ria o elemento da pera de maior destaque.

    ria de Sarastro com coro

    http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a personagem manifesta sua raiva (ilustrao da pgina 17). J o canto de Sarastro

    grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osiris(representao na pgina 23).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou quase), de carter mstico e religioso e que, do ponto de vista vocal, so representados atravs de uma voz que est totalmente distante da fala ordinria.

    2) Compare os registros vocais (agudo, mdio e grave) s caractersticas das personagens

    A distncia da fala ordinria um dos pontos fortes da pera. Mas no caso de A Flauta mgica, tudo est muito bem demarcado: Tamino e Pamina, o jovem casal, os heris que passam por diversas provaes, so respectivamente um tenor e um soprano, que cantam numa regio vocal nem to aguda, nem to grave. E as rias deles so os momentos mais lricos:

    ria de Tamino:http://www.youtube.com/watch?v=WcQ9NSdAyXE

    ria de Pamina:http://www.youtube.com/watch?v=F3y7UMeC41Y&feature=related

    3) Explore situaes em que A flauta mgica j foi utilizada

    A ria da Rainha da Noite contm uma daquelas melodias to conhecidas que j foi aproveitada em vrias situaes. No mundo da propaganda, apareceu em roupagem pop no anncio do Kadett Chevrolet (1995), na voz de Edson Cordeiro:

    http://www.youtube.com/watch?v=uy3meCahY_Y

    E em verso cinematogrca de Kenneth Branagh, onde o maravilhoso se torna ainda mais explcito: http://www.youtube.com/watch?v=i_FCYzv383o

    Objetivo: compreender a mistura dos gneros srio/cmico e seus efeitos no drama musical

    Uma longa queixa com relao pera do sculo XVII que os gneros srio e cmico estavam misturados, o que contradizia as recomendaes dos tericos do teatro desde a Antiguidade. Sucessivas mudanas na pera italiana conduziram a uma separao, criando dois espetculos distintos, com convenes prprias: a chamada pera sria, com temas histricos e personagens heroicos, e a pera cmica ou bufa, com situaes mais prximas do cotidiano e personagens com caractersticas acentuadas, que funcionavam como uma crtica vida social.

    Contudo, percebe-se ao longo do sculo XVIII o interesse de alguns libretistas e compositores em escapar da rigidez de tal diviso, mesclando novamente personagens srios e cmicos. Note-se que a presena dos personagens cmicos relativiza a seriedade da ao heroica e confere uma dimenso que nos parece mais humana para o que est acontecendo em cena.

    Na Flauta h tambm um casal de personagens cmicas (Papageno e Papagena). Na verdade, Papagena surge apenas no nal da obra e Papageno que acaba acompanhando o jovem heri Tamino atravs de sua jornada. Papageno um caador de pssaros, um homem da natureza, diferente de Tamino, que um ser que passa por privaes para atingir a iluminao. Desse modo, Papageno tem um canto mais popular, mais afvel e tambm grandes melodias, como no dueto com Pamina:

    http://www.youtube.com/watch?v=mO-h1sPcsKQ

    importante notar o quanto a escrita vocal aqui diferente, mais simples, alm de ser um canto estrco que se repete com poucas variaes. Em quase toda a Flauta existem mximas morais, j que os heris, atravs de vrios enganos e dvidas, devem encontrar o caminho da iluminao. Tal proposta assemelha-se muito aos contos de fadas, gnero literrio de grande sucesso a partir do sculo XVIII e que tantas repercusses teve no mundo artstico.

    Sugira aos estudantes que faam o resumo do enredo da Flauta Mgica (jovem casal que no se conhece tem de passar por vrias provaes, com uma rainha que parece ajudar, mas no fundo atrapalha, e um velho sbio que fala algo que ningum entende). Depois, sugira que faam a comparao com outros contos de fadas.

    Incentive os alunos a pesquisar sobre peras srias e peras cmicas. Depois, ajude-os a compar-las com A Flauta Mgica.

    Objetivo: compreender como a msica pode representar o sobrenatural

    A Flauta uma pera que combina diversos componentes do maravilhoso: elementos ousados, sobrenaturais, mas sempre dentro da fronteira do verossmil. Logo no incio da pera, Tamino aparece sendo perseguido por uma gigantesca serpente para nalmente ser salvo pelas trs damas, preparando a chegada da Rainha da Noite. Em geral, a manifestao do sobrenatural precedida por uma manifestao natural violenta; no caso do incio da Flauta, uma tempestade. A msica tem a grande capacidade de representar as violncias da natureza, mas, numa pera, tambm preciso utilizar recursos cnicos.

    Cenrios, partes essenciais em montagens de pera, para a Flauta so os mais variados. Existe o grande exemplo de Karl Friedrich Shinkel (1781-1841), pintor e arquiteto alemo que, entre outros projetos, desenhou cenrios para uma produo da pera de Mozart em 1815. O conhecido guache para a cena da entrada da Rainha da Noite pode ser visto na Web Gallery of Art (http://www.wga.hu/html_m/s/schinkel/magic_.html).

    1) Mostre vrias representaes de uma mesma cena e sugira que a classe compare as diferentes maneiras de represent-las.

    No conhecido filme de Ingmar Bergman:http://www.youtube.com/watch?v=fPwCCGogdBE

    Como teatro de marionetes:http://www.youtube.com/watch?v=wBLKpoM_ajs&feature=related

    Na transposio e adaptao que Kenneth Branagh fez para o cinema, atualizando a trama da pera para a Primeira Guerra Mundial:http://www.youtube.com/watch?v=HuOEdkJdU0Y&feature=related

    Comparar como essa mesma cena acontece nos quadrinhos (pginas 10 e 11).

    Objetivo: conhecer a simbologia da flauta

    A flauta e sua vasta simbologia tem uma longa histria em diversas culturas. No caso da Flauta Mgica, o som do instrumento musical que ajuda Tamino a superar as diversas provaes por que passa. Na histria da humanidade, instrumentos de sopro estiveram sempre presentes. Veja-se, por exemplo, a recente descoberta na Alemanha de um instrumento paleoltico, noticiada pela revista Nature (24/06/2009 - http://www.nature.com/nature/journal/v460/n7256/full/nature08169.html) e divulgada pela Agncia Fapesp (http://agencia.fapesp.br/10685).

    No mundo ocidental, h um longo percurso iconogrco das autas (de p, doce ou transversal). Podemos tambm pensar em um exemplo mais prximo, em terras brasileiras (veja reportagem do Instituto Socioambiental: http://g1.globo.com/platb/natureza-isa/category/povos-indigenas).

    No mundo grego, temos o episdio de P e a Sirinx e tambm o do duelo entre Apolo e Mrsias, que um dos exemplos mais constantes nas representaes artsticas, onde a auta est presente. Mrsias o inventor da auta de dois tubos e, acreditando no poder do som produzido por ela, desafia o deus Apolo (tambm ele msico, que tocava uma lira). Como de se esperar, o deus vence a disputa e destroa seu rival.

    Veja exemplos

    Representao de Pietro Perugino: http://www.gutenberg.org/files/28420/28420-h/images/img013.jpg

    Representao de Jusepe de Ribera: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/r/ribera/2/apollo1.html

    No apogeu do uso da auta doce, entre os sculos XV e XVII, h vrias representaes de grupos de autistas, mostrando a variedade dos tipos de instrumento, seu uso na vida social, nas festividades, em cenas religiosas etc.

    S. Ganassi:http://www.recorderhomepage.net/inline/ganassi.jpg

    Pere Vall:http://www.recorderhomepage.net/inline/vall_st_peter_4.jpg

    As flautas (e outros instrumentos musicais) tambm so comuns em naturezas mortas, sobretudo como um dos elementos que fazem parte da vida humana e que, ao mesmo tempo, reete a passagem do tempo, a presena da morte e a inconstncia e a futilidade de tudo o que passageiro (vanitas):

    Pieter de Ring:http://www.wga.hu/art/r/ring/stillife.jpg

    Pieter van Roestraten:http://www.recorderhomepage.net/inline/roestraten_vanitas_ageolet.jpg

    Se desde o episdio de P e Sirinx, assim como no de Apolo e Mrsias, a msica aparece ligada a temas de morte e transformao, em A Flauta Mgica o instrumento tambm est ligado a um tipo de morte e transformao, que o da iniciao. Se deixarmos de lado a inspirao nos rituais manicos, na pera, Tamino e Pamina devem morrer, no sentido de deixar para trs a vida para que encontrem a verdade e possam viver o amor em sua plenitude. A flauta e a msica so as grandes companheiras do heri.

    Depois de conhecer a simbologia da auta, proponha:

    O estudo da histria e dos tipos deste instrumento musical

    A escuta de gravaes dos diferentes tipos de flauta

    Pesquisas sobre a flauta de outros povos como da Turquia (flauta ney ou nay) e do Japo (shakuhachi)

    Compare o som a flauta com a voz humana

    Texto: Paulo M. Khl, Colaborao: Maria Cristina M. Pereira Bucci

    www.scipione.com.br/operaemquadrinhos

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela personagem

    ). J o canto de Sarastro grave, solene e lento, numa invocao

    ).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou

    exemplo, a rapidez na execuo de notas ou a capacidade de atingir notas extremas (graves ou agudas). E, ainda, de sustentar uma nota por muito tempo ou de cantar forte e assim por diante. Desse modo, na viso do compositor, dos cantores, do pblico e tambm dos crticos e dos tericos, a ria o elemento da pera de maior destaque.

    ria de Sarastro com coro

    http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a manifesta sua raiva (ilustrao da pgina 17). J o canto de Sarastro

    grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osiris(representao na pgina 23

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou quase), de carter mstico e religioso e que, do ponto de vista vocal, so representados atravs de uma voz que est totalmente distante da fala ordinria.

    2) Compare os registros vocais (agudo, mdio e grave) s caractersticas das personagens

    A distncia da fala ordinria um dos pontos fortes da pera. Mas no caso de mgica, tudo est muito bem demarcado: Tamino e Pamina, o jovem casal, os heris que passam por diversas provaes, so respectivamente um tenor e um soprano, que cantam numa regio vocal nem to aguda, nem to grave. E as rias deles so os momentos mais lricos:

    ria de Tamino:http://www.youtube.com/watch?v=WcQ9NSdAyXE

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a personagem

    ). J o canto de Sarastro grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osirisrepresentao na pgina 23).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou

  • 4

    Roteiro de trabalho A Flauta Mgica

    A Flauta Mgica talvez seja a pera que mais interesse desperta no pblico, adulto ou infantil. Por causa de suas qualidades musicais e das vrias chaves de leitura possveis, uma obra que tem forte apelo e que pode ser percebida de diversas maneiras. Estreada em 1791 no eater auf der Wieden em Viena, espao destinado a obras em alemo, de teor mais leve e popular, a pera foi composta quase que concomitantemente Clemenza di Tito, uma pera sria italiana. importante assim reconhecer no apenas o fato de que Mozart estava escrevendo duas grandes obras teatrais ao mesmo tempo, mas, tambm, que cada uma seguia convenes prprias de seu gnero dramtico-musical.

    A Clemenza, uma pera sria, em italiano, sobre um libreto de P. Metastasio, adaptado por C. Mazzol.

    A Flauta, aquilo que em alemo se chama Singspiel (pea cantada ou pea com canto).

    Desde o sculo XVII, a pera italiana alcanou os territrios de lngua alem, com uma histria rica e conturbada. Mais especicamente, a partir de 1782, o novo imperador Leopoldo II passa a dar grande estmulo ao Singspiel e a obra de Mozart deve ser lida dentro deste lo.

    Naquele momento, o Singspiel uma obra teatral com partes recitadas e partes cantadas acompanhadas por uma orquestra. Em geral, na escuta da Flauta, h uma tendncia a deixar de lado toda a parte falada, j que a msica extremamente saborosa. Mas o conjunto do espetculo s adquire seu sentido pleno atravs da escuta de toda a obra, no s porque assim a trama ca completa, mas, tambm, porque a passagem da fala para o canto, problemtica para alguns, d um sentido ainda mais dramtico para a parte musical.

    Schikaneder, autor do libreto, era ator, compositor, cantor e diretor do eater auf der Wieden. O texto da Flauta uma combinao de vrias tradies: uma parte do libreto deriva do Sethos do Abade Terrason (Paris, 1731); outra, do conto de fadas Lulu, oder die Zauberte, de A. J. Liebeskind, publicado no Dschinnistan de Wieland, em 1789. Alm dessas fontes mais diretas, o libreto traz tambm elementos manicos (Mozart e Schikaneder eram maons, assim como tantos outros artistas e literatos no sculo XVII), como o ritual de iniciao, a alquimia e os smbolos egpcios. Mas existem diversos elementos no-manicos como, por exemplo,

    Monostatos, Papageno, Papagena e a Rainha da Noite, alm dos instrumentos mgicos. Percebe-se que o texto da Flauta Mgica combina uma variedade de experincias literrias e culturais do sculo XVIII, criando uma obra que vem despertando interesse do pblico e estudiosos desde sua estreia. A pera pode ser vista como uma tentativa de escapar do peso dos modelos clssicos, alm do fascnio provocado pelo esprito natural e no sosticado da literatura popular. Certamente, o maior responsvel por esse interesse foi a msica de Mozart. Sem ela, talvez se daria pouca importncia ao libreto e mesmo trama de Flauta Mgica.

    Como sempre em suas obras, Mozart conseguiu coordenar vrios elementos de tradies distintas na Flauta. Para alguns, o tema principal do Singspiel seria a prpria msica, assim representada: Papageno (Schikaneder), Pamina (a pera alem), a Rainha da Noite (a pera italiana), Tamino (o msico alemo Mozart), Sarastro (Jos II), Monostatos (Salieri). Claro que outras associaes j foram feitas e certamente a reside um dos principais motivos do fascnio pela pera.

    Desde sua estreia, a pera teve grande sucesso em Viena, depois espalhando-se pelo mundo germnico e tambm pelo resto da Europa, muitas vezes traduzida para outras lnguas. Goethe pensou em escrever uma sequncia, que jamais foi terminada nem totalmente musicada. Mas a Flauta o tipo de pera que nunca saiu do repertrio, que sempre encontrou e encontra um pblico vido e fascinado e que inspira grandes montagens, lmes e at mesmo uma produo em quadrinhos.

    Sugestes de atividades

    Objetivo: identificar os diversos registros vocais usados na pera

    Mozart sempre exigiu muito das vozes dos cantores para quem escreveu suas peras. Na Flauta Mgica, dois personagens tm vozes que esto nos pontos extremos da extenso vocal: a Rainha da Noite (soprano coloratura) e Sarastro (baixo profundo).

    1) Veja as duas rias:

    Rainha da Noitehttp://www.youtube.com/watch?v=UXOYcd6KZ0E&feature=related(a ria propriamente dita comea em 211)

    Tradicionalmente, as peras dividem-se em partes que podem ser faladas ou prximas da fala (trechos recitativos) e partes mais musicais (rias, duetos, tercetos, coros etc.). A ria um momento em que um cantor, sozinho, canta. , assim, um solilquio, em que uma personagem, transportada por seus afetos, canta para mostrar suas paixes.

    tambm o momento em que o cantor vai mostrar todas as suas habilidades como, por

    exemplo, a rapidez na execuo de notas ou a capacidade de atingir notas extremas (graves ou agudas). E, ainda, de sustentar uma nota por muito tempo ou de cantar forte e assim por diante. Desse modo, na viso do compositor, dos cantores, do pblico e tambm dos crticos e dos tericos, a ria o elemento da pera de maior destaque.

    ria de Sarastro com coro

    http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a personagem manifesta sua raiva (ilustrao da pgina 17). J o canto de Sarastro

    grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osiris(representao na pgina 23).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou quase), de carter mstico e religioso e que, do ponto de vista vocal, so representados atravs de uma voz que est totalmente distante da fala ordinria.

    2) Compare os registros vocais (agudo, mdio e grave) s caractersticas das personagens

    A distncia da fala ordinria um dos pontos fortes da pera. Mas no caso de A Flauta mgica, tudo est muito bem demarcado: Tamino e Pamina, o jovem casal, os heris que passam por diversas provaes, so respectivamente um tenor e um soprano, que cantam numa regio vocal nem to aguda, nem to grave. E as rias deles so os momentos mais lricos:

    ria de Tamino:http://www.youtube.com/watch?v=WcQ9NSdAyXE

    ria de Pamina:http://www.youtube.com/watch?v=F3y7UMeC41Y&feature=related

    3) Explore situaes em que A flauta mgica j foi utilizada

    A ria da Rainha da Noite contm uma daquelas melodias to conhecidas que j foi aproveitada em vrias situaes. No mundo da propaganda, apareceu em roupagem pop no anncio do Kadett Chevrolet (1995), na voz de Edson Cordeiro:

    http://www.youtube.com/watch?v=uy3meCahY_Y

    E em verso cinematogrca de Kenneth Branagh, onde o maravilhoso se torna ainda mais explcito: http://www.youtube.com/watch?v=i_FCYzv383o

    Objetivo: compreender a mistura dos gneros srio/cmico e seus efeitos no drama musical

    Uma longa queixa com relao pera do sculo XVII que os gneros srio e cmico estavam misturados, o que contradizia as recomendaes dos tericos do teatro desde a Antiguidade. Sucessivas mudanas na pera italiana conduziram a uma separao, criando dois espetculos distintos, com convenes prprias: a chamada pera sria, com temas histricos e personagens heroicos, e a pera cmica ou bufa, com situaes mais prximas do cotidiano e personagens com caractersticas acentuadas, que funcionavam como uma crtica vida social.

    Contudo, percebe-se ao longo do sculo XVIII o interesse de alguns libretistas e compositores em escapar da rigidez de tal diviso, mesclando novamente personagens srios e cmicos. Note-se que a presena dos personagens cmicos relativiza a seriedade da ao heroica e confere uma dimenso que nos parece mais humana para o que est acontecendo em cena.

    Na Flauta h tambm um casal de personagens cmicas (Papageno e Papagena). Na verdade, Papagena surge apenas no nal da obra e Papageno que acaba acompanhando o jovem heri Tamino atravs de sua jornada. Papageno um caador de pssaros, um homem da natureza, diferente de Tamino, que um ser que passa por privaes para atingir a iluminao. Desse modo, Papageno tem um canto mais popular, mais afvel e tambm grandes melodias, como no dueto com Pamina:

    http://www.youtube.com/watch?v=mO-h1sPcsKQ

    importante notar o quanto a escrita vocal aqui diferente, mais simples, alm de ser um canto estrco que se repete com poucas variaes. Em quase toda a Flauta existem mximas morais, j que os heris, atravs de vrios enganos e dvidas, devem encontrar o caminho da iluminao. Tal proposta assemelha-se muito aos contos de fadas, gnero literrio de grande sucesso a partir do sculo XVIII e que tantas repercusses teve no mundo artstico.

    Sugira aos estudantes que faam o resumo do enredo da Flauta Mgica (jovem casal que no se conhece tem de passar por vrias provaes, com uma rainha que parece ajudar, mas no fundo atrapalha, e um velho sbio que fala algo que ningum entende). Depois, sugira que faam a comparao com outros contos de fadas.

    Incentive os alunos a pesquisar sobre peras srias e peras cmicas. Depois, ajude-os a compar-las com A Flauta Mgica.

    Objetivo: compreender como a msica pode representar o sobrenatural

    A Flauta uma pera que combina diversos componentes do maravilhoso: elementos ousados, sobrenaturais, mas sempre dentro da fronteira do verossmil. Logo no incio da pera, Tamino aparece sendo perseguido por uma gigantesca serpente para nalmente ser salvo pelas trs damas, preparando a chegada da Rainha da Noite. Em geral, a manifestao do sobrenatural precedida por uma manifestao natural violenta; no caso do incio da Flauta, uma tempestade. A msica tem a grande capacidade de representar as violncias da natureza, mas, numa pera, tambm preciso utilizar recursos cnicos.

    Cenrios, partes essenciais em montagens de pera, para a Flauta so os mais variados. Existe o grande exemplo de Karl Friedrich Shinkel (1781-1841), pintor e arquiteto alemo que, entre outros projetos, desenhou cenrios para uma produo da pera de Mozart em 1815. O conhecido guache para a cena da entrada da Rainha da Noite pode ser visto na Web Gallery of Art (http://www.wga.hu/html_m/s/schinkel/magic_.html).

    1) Mostre vrias representaes de uma mesma cena e sugira que a classe compare as diferentes maneiras de represent-las.

    No conhecido filme de Ingmar Bergman:http://www.youtube.com/watch?v=fPwCCGogdBE

    Como teatro de marionetes:http://www.youtube.com/watch?v=wBLKpoM_ajs&feature=related

    Na transposio e adaptao que Kenneth Branagh fez para o cinema, atualizando a trama da pera para a Primeira Guerra Mundial:http://www.youtube.com/watch?v=HuOEdkJdU0Y&feature=related

    Comparar como essa mesma cena acontece nos quadrinhos (pginas 10 e 11).

    Objetivo: conhecer a simbologia da flauta

    A flauta e sua vasta simbologia tem uma longa histria em diversas culturas. No caso da Flauta Mgica, o som do instrumento musical que ajuda Tamino a superar as diversas provaes por que passa. Na histria da humanidade, instrumentos de sopro estiveram sempre presentes. Veja-se, por exemplo, a recente descoberta na Alemanha de um instrumento paleoltico, noticiada pela revista Nature (24/06/2009 - http://www.nature.com/nature/journal/v460/n7256/full/nature08169.html) e divulgada pela Agncia Fapesp (http://agencia.fapesp.br/10685).

    No mundo ocidental, h um longo percurso iconogrco das autas (de p, doce ou transversal). Podemos tambm pensar em um exemplo mais prximo, em terras brasileiras (veja reportagem do Instituto Socioambiental: http://g1.globo.com/platb/natureza-isa/category/povos-indigenas).

    No mundo grego, temos o episdio de P e a Sirinx e tambm o do duelo entre Apolo e Mrsias, que um dos exemplos mais constantes nas representaes artsticas, onde a auta est presente. Mrsias o inventor da auta de dois tubos e, acreditando no poder do som produzido por ela, desafia o deus Apolo (tambm ele msico, que tocava uma lira). Como de se esperar, o deus vence a disputa e destroa seu rival.

    Veja exemplos

    Representao de Pietro Perugino: http://www.gutenberg.org/files/28420/28420-h/images/img013.jpg

    Representao de Jusepe de Ribera: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/r/ribera/2/apollo1.html

    No apogeu do uso da auta doce, entre os sculos XV e XVII, h vrias representaes de grupos de autistas, mostrando a variedade dos tipos de instrumento, seu uso na vida social, nas festividades, em cenas religiosas etc.

    S. Ganassi:http://www.recorderhomepage.net/inline/ganassi.jpg

    Pere Vall:http://www.recorderhomepage.net/inline/vall_st_peter_4.jpg

    As flautas (e outros instrumentos musicais) tambm so comuns em naturezas mortas, sobretudo como um dos elementos que fazem parte da vida humana e que, ao mesmo tempo, reete a passagem do tempo, a presena da morte e a inconstncia e a futilidade de tudo o que passageiro (vanitas):

    Pieter de Ring:http://www.wga.hu/art/r/ring/stillife.jpg

    Pieter van Roestraten:http://www.recorderhomepage.net/inline/roestraten_vanitas_ageolet.jpg

    Se desde o episdio de P e Sirinx, assim como no de Apolo e Mrsias, a msica aparece ligada a temas de morte e transformao, em A Flauta Mgica o instrumento tambm est ligado a um tipo de morte e transformao, que o da iniciao. Se deixarmos de lado a inspirao nos rituais manicos, na pera, Tamino e Pamina devem morrer, no sentido de deixar para trs a vida para que encontrem a verdade e possam viver o amor em sua plenitude. A flauta e a msica so as grandes companheiras do heri.

    Depois de conhecer a simbologia da auta, proponha:

    O estudo da histria e dos tipos deste instrumento musical

    A escuta de gravaes dos diferentes tipos de flauta

    Pesquisas sobre a flauta de outros povos como da Turquia (flauta ney ou nay) e do Japo (shakuhachi)

    Compare o som a flauta com a voz humana

    Texto: Paulo M. Khl, Colaborao: Maria Cristina M. Pereira Bucci

    www.scipione.com.br/operaemquadrinhos

    http://www.youtube.com/watch?v=uy3meCahY_Y

    E em verso cinematogrca de Kenneth Branagh, onde o maravilhoso se torna ainda mais explcito: http://www.youtube.com/watch?v=i_FCYzv383o

    Objetivo: compreender a mistura dos gneros srio/cmico e seus efeitos no drama musical

    Uma longa queixa com relao pera do sculo XVII que os gneros srio e cmico estavam misturados, o que contradizia as recomendaes dos tericos do teatro desde a Antiguidade. Sucessivas mudanas na pera italiana conduziram a uma separao, criando

  • Roteiro de trabalho A Flauta Mgica

    A Flauta Mgica talvez seja a pera que mais interesse desperta no pblico, adulto ou infantil. Por causa de suas qualidades musicais e das vrias chaves de leitura possveis, uma obra que tem forte apelo e que pode ser percebida de diversas maneiras. Estreada em 1791 no eater auf der Wieden em Viena, espao destinado a obras em alemo, de teor mais leve e popular, a pera foi composta quase que concomitantemente Clemenza di Tito, uma pera sria italiana. importante assim reconhecer no apenas o fato de que Mozart estava escrevendo duas grandes obras teatrais ao mesmo tempo, mas, tambm, que cada uma seguia convenes prprias de seu gnero dramtico-musical.

    A Clemenza, uma pera sria, em italiano, sobre um libreto de P. Metastasio, adaptado por C. Mazzol.

    A Flauta, aquilo que em alemo se chama Singspiel (pea cantada ou pea com canto).

    Desde o sculo XVII, a pera italiana alcanou os territrios de lngua alem, com uma histria rica e conturbada. Mais especicamente, a partir de 1782, o novo imperador Leopoldo II passa a dar grande estmulo ao Singspiel e a obra de Mozart deve ser lida dentro deste lo.

    Naquele momento, o Singspiel uma obra teatral com partes recitadas e partes cantadas acompanhadas por uma orquestra. Em geral, na escuta da Flauta, h uma tendncia a deixar de lado toda a parte falada, j que a msica extremamente saborosa. Mas o conjunto do espetculo s adquire seu sentido pleno atravs da escuta de toda a obra, no s porque assim a trama ca completa, mas, tambm, porque a passagem da fala para o canto, problemtica para alguns, d um sentido ainda mais dramtico para a parte musical.

    Schikaneder, autor do libreto, era ator, compositor, cantor e diretor do eater auf der Wieden. O texto da Flauta uma combinao de vrias tradies: uma parte do libreto deriva do Sethos do Abade Terrason (Paris, 1731); outra, do conto de fadas Lulu, oder die Zauberte, de A. J. Liebeskind, publicado no Dschinnistan de Wieland, em 1789. Alm dessas fontes mais diretas, o libreto traz tambm elementos manicos (Mozart e Schikaneder eram maons, assim como tantos outros artistas e literatos no sculo XVII), como o ritual de iniciao, a alquimia e os smbolos egpcios. Mas existem diversos elementos no-manicos como, por exemplo,

    Monostatos, Papageno, Papagena e a Rainha da Noite, alm dos instrumentos mgicos. Percebe-se que o texto da Flauta Mgica combina uma variedade de experincias literrias e culturais do sculo XVIII, criando uma obra que vem despertando interesse do pblico e estudiosos desde sua estreia. A pera pode ser vista como uma tentativa de escapar do peso dos modelos clssicos, alm do fascnio provocado pelo esprito natural e no sosticado da literatura popular. Certamente, o maior responsvel por esse interesse foi a msica de Mozart. Sem ela, talvez se daria pouca importncia ao libreto e mesmo trama de Flauta Mgica.

    Como sempre em suas obras, Mozart conseguiu coordenar vrios elementos de tradies distintas na Flauta. Para alguns, o tema principal do Singspiel seria a prpria msica, assim representada: Papageno (Schikaneder), Pamina (a pera alem), a Rainha da Noite (a pera italiana), Tamino (o msico alemo Mozart), Sarastro (Jos II), Monostatos (Salieri). Claro que outras associaes j foram feitas e certamente a reside um dos principais motivos do fascnio pela pera.

    Desde sua estreia, a pera teve grande sucesso em Viena, depois espalhando-se pelo mundo germnico e tambm pelo resto da Europa, muitas vezes traduzida para outras lnguas. Goethe pensou em escrever uma sequncia, que jamais foi terminada nem totalmente musicada. Mas a Flauta o tipo de pera que nunca saiu do repertrio, que sempre encontrou e encontra um pblico vido e fascinado e que inspira grandes montagens, lmes e at mesmo uma produo em quadrinhos.

    Sugestes de atividades

    Objetivo: identificar os diversos registros vocais usados na pera

    Mozart sempre exigiu muito das vozes dos cantores para quem escreveu suas peras. Na Flauta Mgica, dois personagens tm vozes que esto nos pontos extremos da extenso vocal: a Rainha da Noite (soprano coloratura) e Sarastro (baixo profundo).

    1) Veja as duas rias:

    Rainha da Noitehttp://www.youtube.com/watch?v=UXOYcd6KZ0E&feature=related(a ria propriamente dita comea em 211)

    Tradicionalmente, as peras dividem-se em partes que podem ser faladas ou prximas da fala (trechos recitativos) e partes mais musicais (rias, duetos, tercetos, coros etc.). A ria um momento em que um cantor, sozinho, canta. , assim, um solilquio, em que uma personagem, transportada por seus afetos, canta para mostrar suas paixes.

    tambm o momento em que o cantor vai mostrar todas as suas habilidades como, por

    exemplo, a rapidez na execuo de notas ou a capacidade de atingir notas extremas (graves ou agudas). E, ainda, de sustentar uma nota por muito tempo ou de cantar forte e assim por diante. Desse modo, na viso do compositor, dos cantores, do pblico e tambm dos crticos e dos tericos, a ria o elemento da pera de maior destaque.

    ria de Sarastro com coro

    http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a personagem manifesta sua raiva (ilustrao da pgina 17). J o canto de Sarastro

    grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osiris(representao na pgina 23).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou quase), de carter mstico e religioso e que, do ponto de vista vocal, so representados atravs de uma voz que est totalmente distante da fala ordinria.

    2) Compare os registros vocais (agudo, mdio e grave) s caractersticas das personagens

    A distncia da fala ordinria um dos pontos fortes da pera. Mas no caso de A Flauta mgica, tudo est muito bem demarcado: Tamino e Pamina, o jovem casal, os heris que passam por diversas provaes, so respectivamente um tenor e um soprano, que cantam numa regio vocal nem to aguda, nem to grave. E as rias deles so os momentos mais lricos:

    ria de Tamino:http://www.youtube.com/watch?v=WcQ9NSdAyXE

    ria de Pamina:http://www.youtube.com/watch?v=F3y7UMeC41Y&feature=related

    3) Explore situaes em que A flauta mgica j foi utilizada

    A ria da Rainha da Noite contm uma daquelas melodias to conhecidas que j foi aproveitada em vrias situaes. No mundo da propaganda, apareceu em roupagem pop no anncio do Kadett Chevrolet (1995), na voz de Edson Cordeiro:

    http://www.youtube.com/watch?v=uy3meCahY_Y

    E em verso cinematogrca de Kenneth Branagh, onde o maravilhoso se torna ainda mais explcito: http://www.youtube.com/watch?v=i_FCYzv383o

    Objetivo: compreender a mistura dos gneros srio/cmico e seus efeitos no drama musical

    Uma longa queixa com relao pera do sculo XVII que os gneros srio e cmico estavam misturados, o que contradizia as recomendaes dos tericos do teatro desde a Antiguidade. Sucessivas mudanas na pera italiana conduziram a uma separao, criando dois espetculos distintos, com convenes prprias: a chamada pera sria, com temas histricos e personagens heroicos, e a pera cmica ou bufa, com situaes mais prximas do cotidiano e personagens com caractersticas acentuadas, que funcionavam como uma crtica vida social.

    Contudo, percebe-se ao longo do sculo XVIII o interesse de alguns libretistas e compositores em escapar da rigidez de tal diviso, mesclando novamente personagens srios e cmicos. Note-se que a presena dos personagens cmicos relativiza a seriedade da ao heroica e confere uma dimenso que nos parece mais humana para o que est acontecendo em cena.

    Na Flauta h tambm um casal de personagens cmicas (Papageno e Papagena). Na verdade, Papagena surge apenas no nal da obra e Papageno que acaba acompanhando o jovem heri Tamino atravs de sua jornada. Papageno um caador de pssaros, um homem da natureza, diferente de Tamino, que um ser que passa por privaes para atingir a iluminao. Desse modo, Papageno tem um canto mais popular, mais afvel e tambm grandes melodias, como no dueto com Pamina:

    http://www.youtube.com/watch?v=mO-h1sPcsKQ

    importante notar o quanto a escrita vocal aqui diferente, mais simples, alm de ser um canto estrco que se repete com poucas variaes. Em quase toda a Flauta existem mximas morais, j que os heris, atravs de vrios enganos e dvidas, devem encontrar o caminho da iluminao. Tal proposta assemelha-se muito aos contos de fadas, gnero literrio de grande sucesso a partir do sculo XVIII e que tantas repercusses teve no mundo artstico.

    Sugira aos estudantes que faam o resumo do enredo da Flauta Mgica (jovem casal que no se conhece tem de passar por vrias provaes, com uma rainha que parece ajudar, mas no fundo atrapalha, e um velho sbio que fala algo que ningum entende). Depois, sugira que faam a comparao com outros contos de fadas.

    Incentive os alunos a pesquisar sobre peras srias e peras cmicas. Depois, ajude-os a compar-las com A Flauta Mgica.

    Objetivo: compreender como a msica pode representar o sobrenatural

    A Flauta uma pera que combina diversos componentes do maravilhoso: elementos ousados, sobrenaturais, mas sempre dentro da fronteira do verossmil. Logo no incio da pera, Tamino aparece sendo perseguido por uma gigantesca serpente para nalmente ser salvo pelas trs damas, preparando a chegada da Rainha da Noite. Em geral, a manifestao do sobrenatural precedida por uma manifestao natural violenta; no caso do incio da Flauta, uma tempestade. A msica tem a grande capacidade de representar as violncias da natureza, mas, numa pera, tambm preciso utilizar recursos cnicos.

    Cenrios, partes essenciais em montagens de pera, para a Flauta so os mais variados. Existe o grande exemplo de Karl Friedrich Shinkel (1781-1841), pintor e arquiteto alemo que, entre outros projetos, desenhou cenrios para uma produo da pera de Mozart em 1815. O conhecido guache para a cena da entrada da Rainha da Noite pode ser visto na Web Gallery of Art (http://www.wga.hu/html_m/s/schinkel/magic_.html).

    1) Mostre vrias representaes de uma mesma cena e sugira que a classe compare as diferentes maneiras de represent-las.

    No conhecido filme de Ingmar Bergman:http://www.youtube.com/watch?v=fPwCCGogdBE

    Como teatro de marionetes:http://www.youtube.com/watch?v=wBLKpoM_ajs&feature=related

    Na transposio e adaptao que Kenneth Branagh fez para o cinema, atualizando a trama da pera para a Primeira Guerra Mundial:http://www.youtube.com/watch?v=HuOEdkJdU0Y&feature=related

    Comparar como essa mesma cena acontece nos quadrinhos (pginas 10 e 11).

    Objetivo: conhecer a simbologia da flauta

    A flauta e sua vasta simbologia tem uma longa histria em diversas culturas. No caso da Flauta Mgica, o som do instrumento musical que ajuda Tamino a superar as diversas provaes por que passa. Na histria da humanidade, instrumentos de sopro estiveram sempre presentes. Veja-se, por exemplo, a recente descoberta na Alemanha de um instrumento paleoltico, noticiada pela revista Nature (24/06/2009 - http://www.nature.com/nature/journal/v460/n7256/full/nature08169.html) e divulgada pela Agncia Fapesp (http://agencia.fapesp.br/10685).

    No mundo ocidental, h um longo percurso iconogrco das autas (de p, doce ou transversal). Podemos tambm pensar em um exemplo mais prximo, em terras brasileiras (veja reportagem do Instituto Socioambiental: http://g1.globo.com/platb/natureza-isa/category/povos-indigenas).

    No mundo grego, temos o episdio de P e a Sirinx e tambm o do duelo entre Apolo e Mrsias, que um dos exemplos mais constantes nas representaes artsticas, onde a auta est presente. Mrsias o inventor da auta de dois tubos e, acreditando no poder do som produzido por ela, desafia o deus Apolo (tambm ele msico, que tocava uma lira). Como de se esperar, o deus vence a disputa e destroa seu rival.

    Veja exemplos

    Representao de Pietro Perugino: http://www.gutenberg.org/files/28420/28420-h/images/img013.jpg

    Representao de Jusepe de Ribera: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/r/ribera/2/apollo1.html

    No apogeu do uso da auta doce, entre os sculos XV e XVII, h vrias representaes de grupos de autistas, mostrando a variedade dos tipos de instrumento, seu uso na vida social, nas festividades, em cenas religiosas etc.

    S. Ganassi:http://www.recorderhomepage.net/inline/ganassi.jpg

    Pere Vall:http://www.recorderhomepage.net/inline/vall_st_peter_4.jpg

    As flautas (e outros instrumentos musicais) tambm so comuns em naturezas mortas, sobretudo como um dos elementos que fazem parte da vida humana e que, ao mesmo tempo, reete a passagem do tempo, a presena da morte e a inconstncia e a futilidade de tudo o que passageiro (vanitas):

    Pieter de Ring:http://www.wga.hu/art/r/ring/stillife.jpg

    Pieter van Roestraten:http://www.recorderhomepage.net/inline/roestraten_vanitas_ageolet.jpg

    Se desde o episdio de P e Sirinx, assim como no de Apolo e Mrsias, a msica aparece ligada a temas de morte e transformao, em A Flauta Mgica o instrumento tambm est ligado a um tipo de morte e transformao, que o da iniciao. Se deixarmos de lado a inspirao nos rituais manicos, na pera, Tamino e Pamina devem morrer, no sentido de deixar para trs a vida para que encontrem a verdade e possam viver o amor em sua plenitude. A flauta e a msica so as grandes companheiras do heri.

    Depois de conhecer a simbologia da auta, proponha:

    O estudo da histria e dos tipos deste instrumento musical

    A escuta de gravaes dos diferentes tipos de flauta

    Pesquisas sobre a flauta de outros povos como da Turquia (flauta ney ou nay) e do Japo (shakuhachi)

    Compare o som a flauta com a voz humana

    Texto: Paulo M. Khl, Colaborao: Maria Cristina M. Pereira Bucci

    www.scipione.com.br/operaemquadrinhos

    5

    Stage set for Mozart's Magic Flute1815

    Gouache, 463 x 616 mmStaatliche Museen, Berlin

  • 6

    Roteiro de trabalho A Flauta Mgica

    A Flauta Mgica talvez seja a pera que mais interesse desperta no pblico, adulto ou infantil. Por causa de suas qualidades musicais e das vrias chaves de leitura possveis, uma obra que tem forte apelo e que pode ser percebida de diversas maneiras. Estreada em 1791 no eater auf der Wieden em Viena, espao destinado a obras em alemo, de teor mais leve e popular, a pera foi composta quase que concomitantemente Clemenza di Tito, uma pera sria italiana. importante assim reconhecer no apenas o fato de que Mozart estava escrevendo duas grandes obras teatrais ao mesmo tempo, mas, tambm, que cada uma seguia convenes prprias de seu gnero dramtico-musical.

    A Clemenza, uma pera sria, em italiano, sobre um libreto de P. Metastasio, adaptado por C. Mazzol.

    A Flauta, aquilo que em alemo se chama Singspiel (pea cantada ou pea com canto).

    Desde o sculo XVII, a pera italiana alcanou os territrios de lngua alem, com uma histria rica e conturbada. Mais especicamente, a partir de 1782, o novo imperador Leopoldo II passa a dar grande estmulo ao Singspiel e a obra de Mozart deve ser lida dentro deste lo.

    Naquele momento, o Singspiel uma obra teatral com partes recitadas e partes cantadas acompanhadas por uma orquestra. Em geral, na escuta da Flauta, h uma tendncia a deixar de lado toda a parte falada, j que a msica extremamente saborosa. Mas o conjunto do espetculo s adquire seu sentido pleno atravs da escuta de toda a obra, no s porque assim a trama ca completa, mas, tambm, porque a passagem da fala para o canto, problemtica para alguns, d um sentido ainda mais dramtico para a parte musical.

    Schikaneder, autor do libreto, era ator, compositor, cantor e diretor do eater auf der Wieden. O texto da Flauta uma combinao de vrias tradies: uma parte do libreto deriva do Sethos do Abade Terrason (Paris, 1731); outra, do conto de fadas Lulu, oder die Zauberte, de A. J. Liebeskind, publicado no Dschinnistan de Wieland, em 1789. Alm dessas fontes mais diretas, o libreto traz tambm elementos manicos (Mozart e Schikaneder eram maons, assim como tantos outros artistas e literatos no sculo XVII), como o ritual de iniciao, a alquimia e os smbolos egpcios. Mas existem diversos elementos no-manicos como, por exemplo,

    Monostatos, Papageno, Papagena e a Rainha da Noite, alm dos instrumentos mgicos. Percebe-se que o texto da Flauta Mgica combina uma variedade de experincias literrias e culturais do sculo XVIII, criando uma obra que vem despertando interesse do pblico e estudiosos desde sua estreia. A pera pode ser vista como uma tentativa de escapar do peso dos modelos clssicos, alm do fascnio provocado pelo esprito natural e no sosticado da literatura popular. Certamente, o maior responsvel por esse interesse foi a msica de Mozart. Sem ela, talvez se daria pouca importncia ao libreto e mesmo trama de Flauta Mgica.

    Como sempre em suas obras, Mozart conseguiu coordenar vrios elementos de tradies distintas na Flauta. Para alguns, o tema principal do Singspiel seria a prpria msica, assim representada: Papageno (Schikaneder), Pamina (a pera alem), a Rainha da Noite (a pera italiana), Tamino (o msico alemo Mozart), Sarastro (Jos II), Monostatos (Salieri). Claro que outras associaes j foram feitas e certamente a reside um dos principais motivos do fascnio pela pera.

    Desde sua estreia, a pera teve grande sucesso em Viena, depois espalhando-se pelo mundo germnico e tambm pelo resto da Europa, muitas vezes traduzida para outras lnguas. Goethe pensou em escrever uma sequncia, que jamais foi terminada nem totalmente musicada. Mas a Flauta o tipo de pera que nunca saiu do repertrio, que sempre encontrou e encontra um pblico vido e fascinado e que inspira grandes montagens, lmes e at mesmo uma produo em quadrinhos.

    Sugestes de atividades

    Objetivo: identificar os diversos registros vocais usados na pera

    Mozart sempre exigiu muito das vozes dos cantores para quem escreveu suas peras. Na Flauta Mgica, dois personagens tm vozes que esto nos pontos extremos da extenso vocal: a Rainha da Noite (soprano coloratura) e Sarastro (baixo profundo).

    1) Veja as duas rias:

    Rainha da Noitehttp://www.youtube.com/watch?v=UXOYcd6KZ0E&feature=related(a ria propriamente dita comea em 211)

    Tradicionalmente, as peras dividem-se em partes que podem ser faladas ou prximas da fala (trechos recitativos) e partes mais musicais (rias, duetos, tercetos, coros etc.). A ria um momento em que um cantor, sozinho, canta. , assim, um solilquio, em que uma personagem, transportada por seus afetos, canta para mostrar suas paixes.

    tambm o momento em que o cantor vai mostrar todas as suas habilidades como, por

    exemplo, a rapidez na execuo de notas ou a capacidade de atingir notas extremas (graves ou agudas). E, ainda, de sustentar uma nota por muito tempo ou de cantar forte e assim por diante. Desse modo, na viso do compositor, dos cantores, do pblico e tambm dos crticos e dos tericos, a ria o elemento da pera de maior destaque.

    ria de Sarastro com coro

    http://www.youtube.com/watch?v=K_IaJDqz2Zo

    Note como a escrita vocal para a Rainha da Noite gil e ela alcana notas muitas agudas, num momento em que a personagem manifesta sua raiva (ilustrao da pgina 17). J o canto de Sarastro

    grave, solene e lento, numa invocao religiosa a Isis e Osiris(representao na pgina 23).

    No a toa que os extremos vocais estejam associados a dois personagens tambm extremos: seres mgicos (ou quase), de carter mstico e religioso e que, do ponto de vista vocal, so representados atravs de uma voz que est totalmente distante da fala ordinria.

    2) Compare os registros vocais (agudo, mdio e grave) s caractersticas das personagens

    A distncia da fala ordinria um dos pontos fortes da pera. Mas no caso de A Flauta mgica, tudo est muito bem demarcado: Tamino e Pamina, o jovem casal, os heris que passam por diversas provaes, so respectivamente um tenor e um soprano, que cantam numa regio vocal nem to aguda, nem to grave. E as rias deles so os momentos mais lricos:

    ria de Tamino:http://www.youtube.com/watch?v=WcQ9NSdAyXE

    ria de Pamina:http://www.youtube.com/watch?v=F3y7UMeC41Y&feature=related

    3) Explore situaes em que A flauta mgica j foi utilizada

    A ria da Rainha da Noite contm uma daquelas melodias to conhecidas que j foi aproveitada em vrias situaes. No mundo da propaganda, apareceu em roupagem pop no anncio do Kadett Chevrolet (1995), na voz de Edson Cordeiro:

    http://www.youtube.com/watch?v=uy3meCahY_Y

    E em verso cinematogrca de Kenneth Branagh, onde o maravilhoso se torna ainda mais explcito: http://www.youtube.com/watch?v=i_FCYzv383o

    Objetivo: compreender a mistura dos gneros srio/cmico e seus efeitos no drama musical

    Uma longa queixa com relao pera do sculo XVII que os gneros srio e cmico estavam misturados, o que contradizia as recomendaes dos tericos do teatro desde a Antiguidade. Sucessivas mudanas na pera italiana conduziram a uma separao, criando dois espetculos distintos, com convenes prprias: a chamada pera sria, com temas histricos e personagens heroicos, e a pera cmica ou bufa, com situaes mais prximas do cotidiano e personagens com caractersticas acentuadas, que funcionavam como uma crtica vida social.

    Contudo, percebe-se ao longo do sculo XVIII o interesse de alguns libretistas e compositores em escapar da rigidez de tal diviso, mesclando novamente personagens srios e cmicos. Note-se que a presena dos personagens cmicos relativiza a seriedade da ao heroica e confere uma dimenso que nos parece mais humana para o que est acontecendo em cena.

    Na Flauta h tambm um casal de personagens cmicas (Papageno e Papagena). Na verdade, Papagena surge apenas no nal da obra e Papageno que acaba acompanhando o jovem heri Tamino atravs de sua jornada. Papageno um caador de pssaros, um homem da natureza, diferente de Tamino, que um ser que passa por privaes para atingir a iluminao. Desse modo, Papageno tem um canto mais popular, mais afvel e tambm grandes melodias, como no dueto com Pamina:

    http://www.youtube.com/watch?v=mO-h1sPcsKQ

    importante notar o quanto a escrita vocal aqui diferente, mais simples, alm de ser um canto estrco que se repete com poucas variaes. Em quase toda a Flauta existem mximas morais, j que os heris, atravs de vrios enganos e dvidas, devem encontrar o caminho da iluminao. Tal proposta assemelha-se muito aos contos de fadas, gnero literrio de grande sucesso a partir do sculo XVIII e que tantas repercusses teve no mundo artstico.

    Sugira aos estudantes que faam o resumo do enredo da Flauta Mgica (jovem casal que no se conhece tem de passar por vrias provaes, com uma rainha que parece ajudar, mas no fundo atrapalha, e um velho sbio que fala algo que ningum entende). Depois, sugira que faam a comparao com outros contos de fadas.

    Incentive os alunos a pesquisar sobre peras srias e peras cmicas. Depois, ajude-os a compar-las com A Flauta Mgica.

    Objetivo: compreender como a msica pode representar o sobrenatural

    A Flauta uma pera que combina diversos componentes do maravilhoso: elementos ousados, sobrenaturais, mas sempre dentro da fronteira do verossmil. Logo no incio da pera, Tamino aparece sendo perseguido por uma gigantesca serpente para nalmente ser salvo pelas trs damas, preparando a chegada da Rainha da Noite. Em geral, a manifestao do sobrenatural precedida por uma manifestao natural violenta; no caso do incio da Flauta, uma tempestade. A msica tem a grande capacidade de representar as violncias da natureza, mas, numa pera, tambm preciso utilizar recursos cnicos.

    Cenrios, partes essenciais em montagens de pera, para a Flauta so os mais variados. Existe o grande exemplo de Karl Friedrich Shinkel (1781-1841), pintor e arquiteto alemo que, entre outros projetos, desenhou cenrios para uma produo da pera de Mozart em 1815. O conhecido guache para a cena da entrada da Rainha da Noite pode ser visto na Web Gallery of Art (http://www.wga.hu/html_m/s/schinkel/magic_.html).

    1) Mostre vrias representaes de uma mesma cena e sugira que a classe compare as diferentes maneiras de represent-las.

    No conhecido filme de Ingmar Bergman:http://www.youtube.com/watch?v=fPwCCGogdBE

    Como teatro de marionetes:http://www.youtube.com/watch?v=wBLKpoM_ajs&feature=related

    Na transposio e adaptao que Kenneth Branagh fez para o cinema, atualizando a trama da pera para a Primeira Guerra Mundial:http://www.youtube.com/watch?v=HuOEdkJdU0Y&feature=related

    Comparar como essa mesma cena acontece nos quadrinhos (pginas 10 e 11).

    Objetivo: conhecer a simbologia da flauta

    A flauta e sua vasta simbologia tem uma longa histria em diversas culturas. No caso da Flauta Mgica, o som do instrumento musical que ajuda Tamino a superar as diversas provaes por que passa. Na histria da humanidade, instrumentos de sopro estiveram sempre presentes. Veja-se, por exemplo, a recente descoberta na Alemanha de um instrumento paleoltico, noticiada pela revista Nature (24/06/2009 - http://www.nature.com/nature/journal/v460/n7256/full/nature08169.html) e divulgada pela Agncia Fapesp (http://agencia.fapesp.br/10685).

    No mundo ocidental, h um longo percurso iconogrco das autas (de p, doce ou transversal). Podemos tambm pensar em um exemplo mais prximo, em terras brasileiras (veja reportagem do Instituto Socioambiental: http://g1.globo.com/platb/natureza-isa/category/povos-indigenas).

    No mundo grego, temos o episdio de P e a Sirinx e tambm o do duelo entre Apolo e Mrsias, que um dos exemplos mais constantes nas representaes artsticas, onde a auta est presente. Mrsias o inventor da auta de dois tubos e, acreditando no poder do som produzido por ela, desafia o deus Apolo (tambm ele msico, que tocava uma lira). Como de se esperar, o deus vence a disputa e destroa seu rival.

    Veja exemplos

    Representao de Pietro Perugino: http://www.gutenberg.org/files/28420/28420-h/images/img013.jpg

    Representao de Jusepe de Ribera: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/r/ribera/2/apollo1.html

    No apogeu do uso da auta doce, entre os sculos XV e XVII, h vrias representaes de grupos de autistas, mostrando a variedade dos tipos de instrumento, seu uso na vida social, nas festividades, em cenas religiosas etc.

    S. Ganassi:http://www.recorderhomepage.net/inline/ganassi.jpg

    Pere Vall:http://www.recorderhomepage.net/inline/vall_st_peter_4.jpg

    As flautas (e outros instrumentos musicais) tambm so comuns em naturezas mortas, sobretudo como um dos elementos que fazem parte da vida humana e que, ao mesmo tempo, reete a passagem do tempo, a presena da morte e a inconstncia e a futilidade de tudo o que passageiro (vanitas):

    Pieter de Ring:http://www.wga.hu/art/r/ring/stillife.jpg

    Pieter van Roestraten:http://www.recorderhomepage.net/inline/roestraten_vanitas_ageolet.jpg

    Se desde o episdio de P e Sirinx, assim como no de Apolo e Mrsias, a msica aparece ligada a temas de morte e transformao, em A Flauta Mgica o instrumento tambm est ligado a um tipo de morte e transformao, que o da iniciao. Se deixarmos de lado a inspirao nos rituais manicos, na pera, Tamino e Pamina devem morrer, no sentido de deixar para trs a vida para que encontrem a verdade e possam viver o amor em sua plenitude. A flauta e a msica so as grandes companheiras do heri.

    Depois de conhecer a simbologia da auta, proponha:

    O estudo da histria e dos tipos deste instrumento musical

    A escuta de gravaes dos diferentes tipos de flauta

    Pesquisas sobre a flauta de outros povos como da Turquia (flauta ney ou nay) e do Japo (shakuhachi)

    Compare o som a flauta com a voz humana

    Texto: Paulo M. Khl, Colaborao: Maria Cristina M. Pereira Bucci

    www.scipione.com.br/operaemquadrinhos

  • 7

    Roteiro de trabalho A Flauta Mgica

    A Flauta Mgica talvez seja a pera que mais interesse desperta no pblico, adulto ou infantil. Por causa de suas qualidades musicais e das vrias chaves de leitura possveis, uma obra que tem forte apelo e que pode ser percebida de diversas maneiras. Estreada em 1791 no eater auf der Wieden em Viena, espao destinado a obras em alemo, de teor mais leve e popular, a pera foi composta quase que concomitantemente Clemenza di Tito, uma pera sria italiana. importante assim reconhecer no apenas o fato de que Mozart estava escrevendo duas grandes obras teatrais ao mesmo tempo, mas, tambm, que cada uma seguia convenes prprias de seu gnero dramtico-musical.

    A Clemenza, uma pera sria, em italiano, sobre um libreto de P. Metastasio, adaptado por C. Mazzol.

    A Flauta, aquilo que em alemo se chama Singspiel (pea cantada ou pea com canto).

    Desde o sculo XVII, a pera italiana alcanou os territrios de lngua alem, com uma histria rica e conturbada. Mais especicamente, a partir de 1782, o novo imperador Leopoldo II passa a dar grande estmulo ao Singspiel e a obra de Mozart deve ser lida dentro deste lo.

    Naquele momento, o Singspiel uma obra teatral com partes recitadas e partes cantadas acompanhadas por uma orquestra. Em geral, na escuta da Flauta, h uma tendncia a deixar de lado toda a parte falada, j que a msica extremamente saborosa. Mas o conjunto do espetculo s adquire seu sentido pleno atravs da escuta de toda a obra, no s porque assim a trama ca completa, mas, tambm, porque a passagem da fala para o canto, problemtica para alguns, d um sentido ainda mais dramtico para a parte musical.

    Schikaneder, autor do l