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Componente curricular: Língua Portuguesa Professora: Belkis F. de Oliveira
“Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer.”
Albert Einstein
Roteiro de Estudo para o Exame Final
(Data da Prova: 12/12/2013) I – Conteúdos selecionados para o Exame Final, de acordo com a abordagem
realizada nos trimestres:
1° Trimestre 2° Trimestre 3° Trimestre
Análise da linguagem: gramática normativa e gramática textual.
Gramática normativa:
- Fonética e fonologia (ortoepia); - Acentuação (revisão). .
- Morfologia: estrutura e formação das palavras; - Morfologia: revisão geral, foco: pronomes e verbos;
- Sintaxe: termos essenciais, integrantes e acessórios da oração.
Gramática textual: língua, linguagem e fala; representações da linguagem verbal; variação linguística; registro formal e informal; polissemia (ambiguidade, denotação e conotação); elementos do processo de comunicação; clareza e objetividade no uso da linguagem; procedimentos argumentativos.
Leitura e interpretação textual: gêneros do discurso abordados em todos os trimestres.
II – Como estudar: 1. Refaça os instrumentos avaliativos: testes, trabalhos e provas; 2. Consulte o livro didático da FTD: sistema de ensino – Módulo1 (P7), Módulo 2 (P15- P16)
e Módulo 3 (P23 – P24) - Teoria e Caderno de Atividades; 3. Releia as anotações feitas em aula e os materiais impressos trabalhados; 4. Refaça os materiais entregues nas aulas de Estudos de Recuperação, realizadas a cada
trimestre; 5. Consulte o Ambiente de Aprendizagem do colégio – plataforma Moodle – para rever os
materiais que foram disponibilizados ao longo do ano letivo; 6. Faça as atividades do Banco de Questões, que constam neste material de orientação
para o Exame Final.
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QUESTÕES COM FOCO NO 3° TRIMESTRE
17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
27 28 29 30 31 32 33 34 35 37
38 39 40 41 42 43 44 46 47 48
51 55 56 58 60 61 62 63 64 66
68 69 73 81 82 83 89 101 103 104
107 108 110
Questão 01)
Assinale a alternativa em que o x nunca é pronunciado como ks:
a) tóxico / máximo / prolixo
b) êxtase / exímio / léxico
c) máximo / êxodo / exportar
d) exportar / nexo / tóxico
e) exímio / prolixo / êxodo
Gab: C
Questão 02)
A palavra sanguessuga possui 11 letras, 8 fonemas e 3 dígrafos; democracia tem 10 letras, 1 encontro
consonantal e 1 hiato. Relacione as duas colunas a seguir e depois assinale a alternativa com a seqüência
correta.
1. república
2. hábito
3. reeleição
4. candidatos
5. corrupção
6. excessivo
( ) 9 fonemas, 1 dígrafo
( ) 7 fonemas, 2 dígrafos
( ) 8 fonemas, 1 dígrafo, 1 encontro consonantal
( ) 9 fonemas, 1 encontro consonantal
( ) 9 fonemas, 2 ditongos, 1 hiato
( ) 5 fonemas
a) 6 - 4 - 1 - 5 - 3 - 2
b) 2 - 4 - 5 - 6 - 3 - 1
c) 5 - 1 - 6 - 4 - 2 - 3
d) 4 - 6 - 5 - 1 - 3 - 2
e) 3 - 5 - 2 - 6 - 4 - 1
Gab: D
Questão 03)
Assinale a opção em que o vocábulo apresenta ao mesmo tempo um encontro consonantal, um dígrafo
consonantal e um ditongo fonético.
a) ninguém
b) coalhou
c) iam
3
d) nenhum
e) murcham
Gab: E
Questão 04)
Conforme o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a partir de janeiro de 2013, a ortografia portuguesa
passa por algumas mudanças. Algumas dessas mudanças estão relacionadas à (ao):
a) Crase. Acentuação. Hífen.
b) Alfabeto. Acentuação. Trema.
c) Trema. Pronúncia. Hífen.
d) Alfabeto. Hífen. Crase.
e) Trema. Acentuação. Pronúncia.
Gab: B
Questão 05)
(http://blogdoorlandeli.zip.net/arch2009-01-11_2009-01-17.html)
Levando em conta as informações do primeiro quadrinho, identifique a alternativa que apresenta a palavra que
também sofreu alterações na acentuação gráfica devido à regra mencionada.
a) plateia
b) heroico
c) gratuito
d) baiuca
e) caiu
Gab: D
Questão 06)
Leia o texto abaixo.
Com mais de 50 anos de escrevinhação nas costas, descobri algumas ideias que muita gente faz da vida de um
escritor. Por exemplo, tem quem ache que os escritores, notadamente entre eles mesmos, só falam difícil, uma
proparoxítona para abrir, uma mesóclise para dar classe e um tetrassílabo para arrematar. "Em teu parecer, meu
impertérrito amigo", perguntaria eu ao Rubem Fonseca, durante nosso almoço periódico, "abater-se-á hoje,
sobre a nossa urbe, uma formidanda intempérie?" Ao que o Zé Rubem reagiria com uma anástrofe, um mais-
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que-perfeito fazendo as vezes do imperfeito do subjuntivo e uma aliteração final show de bola, coisa de craque
mesmo. "Augure do tempo fora eu, pressagiá-lo-ia libentissimamente", responderia ele. "Todavia, de tal não me
trato." E assim iríamos almoço afora, discutindo elevadíssimos assuntos, em linguagem só compreensível por
indivíduos especiais.
(João Ubaldo Ribeiro, O Estado de São Paulo, 03/07/2011)
Ao comentar a suposta sofisticação presente nas falas dos escritores, João Ubaldo Ribeiro faz menção a vários
fenômenos de linguagem. A respeito deles, está correto o que se afirma em:
a) Os tetrassílabos ocorrem quando as palavras contêm um grupo de duas letras que representam um único
fonema.
b) A mesóclise, exemplificada em formas como “abater-se-á”, é uma construção que determina a colocação do
pronome em relação ao verbo.
c) A anástrofe consiste em estabelecer a concordância ideológica, isto é, de acordo com a ideia e não com as
palavras que efetivamente aparecem na oração.
d) O pretérito mais que perfeito e o imperfeito do subjuntivo expressam um processo verbal indicativo de
exortação e advertência.
e) A aliteração, empregada pelo autor em “libentissimamente”, exprime o auge da intensificação de uma
qualidade.
Gab: B
Questão 07)
Dois amigos conversam:
Amigo 1: "Faz tempo que não vejo ela".
Amigo 2: "Pois eu vi ela ontem à noite".
Há quem brinque com esse tipo de construção da frase. No português falado do Brasil, na língua do dia-a-dia, o
____________ (eu, tu, ele, nós, vós, eles) assumiu definitivamente o papel de ___________. Nós dizemos, no
dia-a-dia, "faz tempo que não vejo ele", "eu vou encontrar ela amanhã" e por aí vai. Isso não está no padrão
formal da língua portuguesa. O correto seria:
"Faz tempo que eu não o vejo."
"Eu devo encontrá-la amanhã."
a) Pronome reto, complemento verbal.
b) Pronome impessoal, adjunto adnominal.
c) Pronome oblíquo, advérbio.
d) Pronome reto, advérbio.
e) Pronome reto, adjetivo.
Gab: A
Questão 08)
No quadrinho abaixo, observamos um problema de comunicação entre os personagens. Assinale a alternativa
que apresenta o elemento da comunicação que levou a esse problema.
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a) Canal.
b) Código.
c) Referente.
d) Mensagem.
e) Receptor.
Gab: B
Questão 09)
Leia o texto abaixo.
Para fazer um poema dadaísta
Pegue num jornal.
Pegue numa tesoura.
Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pretende dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Em seguida, recorte cuidadosamente as palavras que compõem o artigo e coloque-as num saco.
Agite suavemente.
Depois, retire os recortes uns a seguir aos outros.
Transcreva-os escrupulosamente pela ordem que eles saíram do saco.
O poema parecer-se-á consigo.
E você será um escritor infinitamente original, de uma encantadora sensibilidade, ainda que
incompreendido pelas pessoas vulgares.
(Tristan Tzara)
A metalinguagem, presente no poema de Tristan Tzara, também é encontrada de modo mais evidente em:
a) Receita de Herói
Tome-se um homem feito de nada
Como nós em tamanho natural
Embeba-se-lhe a carne
Lentamente
De uma certeza aguda, irracional
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois perto do fim
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim
Serve-se morto. FERREIRA, Reinaldo. Receita de Herói. In: GERALDI, João
Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes,
1991, p.185.
b)
c)
http://deposito-de-tirinhas.tumblr.com/page/2
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A charge ironiza:
a) a velocidade na cobrança de impostos do cidadão brasileiro. O título contém um substantivo formado por
hibridismo.
b) a carga tributária que recai sobre o cidadão brasileiro. O título contém um substantivo composto a partir de
“imposto” e do radical grego “-metro”.
c) o método de cobrança de impostos do cidadão brasileiro. O título contém um substantivo composto a partir
dos substantivos “imposto” e “metro”.
d) a falta de dinheiro do cidadão brasileiro. O título contém um substantivo derivado de “imposto” com o
acréscimo do sufixo “-metro”.
e) a intensidade dos impostos cobrados do cidadão brasileiro. O título contém um substantivo formado a partir
de um verbo.
Gab: B
Questão 11)
Palavras e segmentos diversos do texto podem ser expressos de outras formas graças à utilização dos recursos
gramaticais da língua, como os processos de derivação prefixal e sufixal e a variação das estruturas sintáticas.
a) Aqui encontra-se o substantivo derivado "submetimento" . Cite um sinônimo deste substantivo, derivado por
meio de outro sufixo, e indique o verbo do qual ambos derivam.
b) "através de concepções BASTANTE CONVENIENTES A SEUS PROPÓSITOS".
Substitua a parte destacada do trecho acima por uma oração de sentido equivalente, constituída de
pronome relativo e verbo cognato do adjetivo "convenientes".
Gab:
a) Submissão.
Verbo submeter.
b) que convinham bastante a seus propósitos
Questão 12)
Sobre o processo de "verbar palavras", assinale a alternativa correta.
a) O menino, usando as palavras "quando" e "agora", convence o tigre de que tal processo acaba de ser criado
e fará a língua melhorar.
b) Para o menino, o processo amplia o vocabulário, pois cria verbos paralelos a formas nominais pré-
existentes, opinião reforçada pelo uso de "também".
c) Para o tigre, com o emprego do processo, a língua pode ser estropiada, mas se torna mais dinâmica.
d) Para o tigre, é uma sorte o processo ter sido descoberto, pois contribuirá para que a língua recupere sua
função de código de comunicação.
e) O tigre e o menino possuem um plano de divulgação do processo que tornará a língua um empecilho para a
intercompreensão.
Gab: B
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Questão 13)
Assinale o item em que o par de prefixos grifados não possua equivalência de significado:
a) dilema / bienal
b) disenteria / discordar
c) hemisfério / semicírculo
d) sinestesia / companhia
e) endoscopia / ingerir
Gab: B
Questão 14)
Quanto à estrutura e formação de palavras, assinale a alternativa correta.
a) Perfeição e percurso são palavras cognatas.
b) Em combatente, ocorre derivação parassintética.
c) A palavra pontiagudo é formada por justaposição.
d) Em exportar e êxodo, os prefixos têm sentido correspondente.
e) Em hipótese, o prefixo indica “antes, anterioridade”.
Gab: D
Questão 15)
Leia a tira.
Folha de S.Paulo, 26.10.2012)
Observando os termos “doente” e “egoísta” (1.º quadrinho) e “doença” e “egoísmo” (3.º quadrinho), é correto
afirmar que:
a) os dois primeiros são advérbios, pois expressam circunstância de modo; os dois últimos são adjetivos, pois
qualificam o termo “lucrar”.
b) os quatro são substantivos, sendo que há relação de sinonímia entre “doente-doença” e “egoísta-egoísmo”.
c) os dois primeiros são substantivos, pois nomeiam a “sociedade”; os dois últimos são adjetivos, pois são
predicativos de “lucrar”.
d) os quatro são adjetivos, sendo que há relação de sentido entre “doente-doença” e “egoísta-egoísmo”, que
são palavras derivadas.
e) os dois primeiros são adjetivos, pois qualificam o substantivo “sociedade”; os dois últimos são substantivos,
pois nomeiam.
Gab: E
Questão 16)
A sentença “Ele anda ouvindo música” pode ser interpretada de duas formas: a) ele ouve música enquanto
caminha – neste caso, o verbo “andar” funciona como verbo pleno, significando “caminhar”; b) a atividade de ele
ouvir música tem se repetido ultimamente – neste caso, o verbo “andar” se esvazia de seu sentido pleno e
funciona como elemento gramatical, um auxiliar. Podemos identificar no português outros verbos que podem ter
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esses dois usos: um com seu sentido lexical pleno e outro funcionando como elemento gramatical. Tendo isso
em vista, considere os conjuntos de sentenças abaixo:
1. Ele chegou na festa e bagunçou o tempo todo.
Ele chegou a interferir no processo, mas foi neutralizado.
2. Ela está querendo comer camarão.
Ela está querendo ficar doente.
3. O que ela fez com a faca que estava no chão? Ela pegou e guardou na gaveta.
Como ele agiu quando se deparou com o grupo? Ah, ele pegou e foi batendo em todo mundo.
4. Todos trabalham pela causa.
Eles trabalham vendendo computadores.
Em qualquer caso, independente do contexto, o verbo grifado pode ser interpretado com sentido lexical pleno
em ambas as ocorrências:
a) do conjunto 3 apenas.
b) do conjunto 4 apenas.
c) dos conjuntos 1 e 4 apenas.
d) dos conjuntos 1 e 2 apenas.
e) dos conjuntos 2, 3 e 4 apenas.
Gab: B
Questão 17)
Assinale a única frase com verbo de ligação.
a) Todo mundo bebe e sai dirigindo.
b) O discurso muda radicalmente quando se passa da condição de infrator à de vítima.
c) Beber e dirigir coloca sua vida e a de outras pessoas em risco.
d) No Brasil, 36 mil mortes no trânsito por ano estão ligadas à combinação perversa de álcool e direção.
e) Brindemos à lei seca.
Gab: D
Questão 18)
Assinale a opção em que o predicado da oração é verbo-nominal:
a) Por que andas, jovem rapaz, meio sorumbático?
b) Só na ficção infantil um sapo pode virar príncipe.
c) O rato, após cruel assédio, foi devorado pelo manhoso bichano.
d) Esse talentoso rapaz nasceu músico.
e) Continuo aqui. Que jeito!
Gab: D
Questão 19)
…não apenas a devastação causada pela guerra condenara a maior parte da Europa à pobreza…
A predicação do verbo grifado na frase acima se repete em:
a) despertou esperanças tão grandes quanto a catástrofe…
b) no qual a paz e a prosperidade seriam o destino de todos.
c) que não ficava muito longe da ditadura nazista.
d) e essa conclusão positiva resiste a muitas das restrições…
e) impôs a grande parte do continente um regime repressivo…
Gab: E
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Questão 20)
1 "Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome,
comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. ELE,
a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos - e a lembrança dos
sofrimentos passados esmorecera(...).
2 - Fabiano, VOCÊ é um homem, exclamou em voz alta.
3 Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E,
pensando bem, ele não era um homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. (...)
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, ALGUÉM tivesse percebido a frase imprudente.
Corrigiu-a, murmurando:
4 - Você é um bicho, Fabiano.
5 Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho capaz de vencer dificuldades".
Observe a oração: "Fabiano ia SATISFEITO". O termo em destaque assume a função de:
a) predicativo do sujeito
b) objeto direto
c) adjunto adverbial
d) adjunto adnominal
e) agente da passiva
Gab: A
Questão 21)
Indique a opção em que o termo grifado NÃO é predicativo.
a) “As palavras, porém, são mais difíceis ...”
b) “... e vêm carregadas de uma vida ...”
c) “... vi-me cercada de pessoas ...”
d) “... selecionado animadamente e com grande competência ...”
e) “Pareciam pequenas abelhas alegres ...”
Gab: D
Questão 22)
Indique a opção em que o termo grifado NÃO é predicativo.
a) “As palavras, porém, são mais difíceis …”
b) “… e vêm carregadas de uma vida…”
c) “…vi-me cercada de pessoas…”
d) “…selecionando animadamente e com grande competência…”
e) “Pareciam pequenas abelhas alegres…”
Gab: D
Questão 23)
"CARIOCA (...) FOI O NOME DADO EM VIRTUDE DO DEPÓSITO DE PIPAS DE ÁGUAS FRESCA."
A opção correta, quanto à sintaxe da oração acima, é:
a) o predicado é nominal.
b) o predicado é verbal.
c) o verbo, na oração, é transitivo direto.
d) EM VIRTUDE DO DEPÓSITO ... FRESCA é adjunto adverbial de conseqüência.
e) DE ÁGUA FRESCA é complemento nominal.
Gab: B
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Questão 24)
Assinale a oração cujo sujeito é inexistente.
a) Houve-se muito bem o rapaz na prova.
b) Havia falado sobre tal assunto.
c) Há de existir uma solução.
d) Não há possibilidade de êxito.
e) Havia-o por louco.
Gab: D
Questão 25)
Texto
UM SONHO DE SIMPLICIDADE
Então, de repente, no meio dessa desarrumação feroz da vida urbana, dá na gente um sonho de
simplicidade. Será um sonho vão? Detenho-me um instante, entre duas providências a tomar, para me fazer essa
pergunta. Por que fumar tantos cigarros? Eles não me dão prazer algum; apenas me fazem falta. São uma
necessidade que inventei. Por que beber uísque, por que procurar a voz de mulher na penumbra ou os amigos
no bar para dizer coisas vãs, brilhar um pouco, saber intrigas?
Uma vez, entrando numa loja para comprar uma gravata, tive de repente um ataque de pudor, me
surpreendendo assim, a escolher um pano colorido para amarrar ao pescoço.
A vida bem poderia ser mais simples. Precisamos de uma casa, comida simples mulher, que mais? Que se
possa andar limpo e não ter fome, nem sede, nem frio. Para que beber tanta coisa gelada? Antes eu tomava a
água fresca da talha, e a água era boa. E quando precisava de um pouco de evasão, meu trago de cachaça.
Que restaurante ou boate me deu o prazer que tive na choupana daquele velho caboclo do Acre? A gente
tinha ido pescar no rio, de noite. Puxamos a rede afundando os pés na lama, na noite escura, e isso era bom.
Quando ficamos bem cansados, meio molhados, com frio, subimos a barraca, no meio do mato e, chegamos à
choça de um velho seringueiro. Ele acendeu um fogo, esquentamos um pouco junto do fogo, depois me deitei,
numa grande rede branca - foi um carinho ao longo de todos os músculos cansados. E então ele me deu um
pedaço de peixe moqueado e meia caneca de cachaça. Que prazer em comer aquele peixe, que calor bom em
tomar aquela cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos e vozes distantes de animais noturnos.
Seria possível deixar essa eterna inquietação das madrugadas urbanas, inaugurar de repente uma vida de
acordar bem cedo? Outro dia vi uma linda mulher, e senti um entusiasmo grande, uma vontade de conhecer mais
aquela bela estrangeira: conversamos muito, essa primeira conversa longa em que a gente vai jogando um
baralho meio marcado, e anda devagar, como a patrulha que faz um reconhecimento. Mas par que, essa eterna
curiosidade, essa fome de outros corpos e outras almas?
Mas para instaurar uma vida mais simples e sábia, então seria preciso ganhar a vida de outro jeito, não
assim, nesse comércio de pequenas pilhas de palavras, esse ofício absurdo e vão de dizer coisas, dizer coisas...
Seria preciso fazer algo de sólido e de singelo; tirar areia do rio, cortar lenha, lavrar a terra, algo de útil e
concreto, que me fatigasse o corpo, mas deixasse a alma sossegada e limpa.
Todo mundo, com certeza, tem de repente um sonho assim. É apenas um instante. O telefone toca. Um
momento! Tiramos um lápis do bolso para tomar nota de um nome, um número... Para que tomar nota? Não
precisamos tomar nota de nada, precisamos apenas viver - sem nome, nem número, fortes, doces, distraídos,
bons, como os bois, as mangueiras e o ribeirão.
(BRAGA, Rubem. In: 200 crônicas escolhidas, 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 1979. p.262-3.)
A respeito do sujeito do verbo poder no enunciado – “Que se possa andar limpo”... (L. 18) – é CORRETO afirmar
que:
a) é indeterminado.
b) é inexistente.
c) é composto.
d) é simples.
e) é oculto.
Gab: A
12
Questão 26)
Nas orações a seguir:
I. No trabalho, use equipamento de proteção.
II. Júlio, no clube, falaram mal de você.
III. Vendeu-se a pá.
O sujeito é, respectivamente:
a) simples, simples, simples.
b) oculto, simples, simples.
c) indeterminado, indeterminado, simples.
d) oculto, indeterminado, simples.
e) oculto, indeterminado, indeterminado.
Gab: D
Questão 27)
Analise a tira.
(Folha de S.Paulo, 10.12.2008)
a) No primeiro quadrinho, a palavra Deus ocorre na fala das duas personagens. Explique a função sintática que
ela assume em cada uma dessas ocorrências.
b) No segundo quadrinho, a personagem afirma: Preciso de provas. Supondo que ela utilizasse uma frase
completa, com as informações do seu interlocutor, reescreva a frase que resultaria dessa mistura, iniciando
com Preciso de provas e justificando a escolha dos elementos que devem unir as informações.
Gab:
a) No primeiro caso, Deus é um sujeito (pratica a ação expressa pelo verbo da oração e concorda com esse
verbo); no segundo caso, é agente da passiva (pratica a ação expressa pelo verbo, mas não concorda com
ele)
b) Começando com as informações da segunda fala e articulando-as com as da primeira obtém-se: Preciso de
provas de que você é filho de Deus. No caso, houve a necessidade da preposição de e da conjunção que,
completando o sentido do substantivo provas, na formação de um período composto.
Questão 28)
Assinale a função sintática do elemento sublinhado:
“A invasão das escolas por esses novos equipamentos tecnológicos exige adaptação.”
a) Complemento nominal
b) Adjunto adnominal
c) Adjunto adverbial
d) Objeto indireto
e) Objeto direto
Gab: A
13
Questão 29)
A expressão sublinhada na oração "Qualquer pessoa vende produto para qualquer outra pessoa" exerce a
mesma função sintática da expressão sublinhada em:
a) As empresas estão estudando formas de estabelecer um padrão.
b) Seja quando se trata de informação privativa.
c) Por isso ainda há muitos problemas.
d) A desconfiança quanto à segurança, indispensável ao comércio livre.
e) É a principal chave para o sucesso da INTERNET comercial.
Gab: B
Questão 30)
“Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar.
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar.”
(Noel Rosa)
Sobre o texto de Noel Rosa, pode se afirmar que
a) “medo” tem a mesma função sintática de “beijo”.
b) “calo” é predicativo.
c) “perto de você” é complemento nominal.
d) “tudo” é sujeito de penso.
e) “nada” é sujeito de falo.
Gab: A
Questão 31)
Filha de faraó 1Vem para o Brasil minha Luz da Luz, minha Flor da Religião, o hissopo brota da parede aqui tudo é
2leve como
se a vida fosse uma música ou poesia [...] no Brasil com um só olhar em um só instante 3tu ias poder ver o mar
montanhas céu azul e sol cidade e campo, passado e presente, como no 4Líbano, na América para ver tudo isso
tinha de fechar os olhos, olharia as montanhas com olhos 5longos apaixonados, as encostas que me apertavam
o peito e a aldeia, aprendi a amar Beirute 6quando perdi Beirute, esqueci Beirute e aprendi a amar a América,
quantas vezes disse adeus, 7fechei os olhos senti a nái em meu peito correndo o som da nái o hand drum
embalava sagat reque 8daff pact as mãos nas tranças, o corpo se entrega à alma e a alma prende o corpo, um
sentimento 9de ser invertida, a alma por fora o corpo por dentro.
MIRANDA, Ana. Amrik. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 44.
Considere o texto para contextualizar as proposições abaixo e assinale a(s) CORRETA(S).
01. O texto inicia com o verbo vir no modo imperativo – “Vem para o Brasil” – o que se mostra inadequado, porque esse modo verbal é usado para dar ordens, e Amina não deve obediência ao tio.
02. A partir do trecho “na América para ver tudo isso tinha de fechar os olhos” (ref. 4) observa-se uma súbita mudança da perspectiva de Naim para a de Amina, perceptível, entre outras coisas, pelas formas verbais, que passam da segunda para a primeira pessoa do singular.
04. Na perspectiva das personagens, Brasil, América e Líbano apresentam semelhanças e diferenças paisagísticas: os dois primeiros lugares apresentam características geográficas em comum, contrastando com o terceiro.
08. Por uma escolha estilística da autora, a palavra “Beirute” aparece três vezes seguidas (ref. 5 e 6). As duas últimas ocorrências poderiam ser substituídas pelo pronome oblíquo a – quando a perdi, esqueci-a – porque em ambos os casos “Beirute” funciona como objeto direto.
16. Para representar o fluxo de consciência da protagonista, a autora omite sinais de pontuação. Se tivesse sido usada pontuação convencional, o trecho “como no Líbano, na América para ver tudo isso tinha de fechar os olhos” (ref. 3 e 4) poderia ser uma frase delimitada por pontos, sem alteração do sentido do texto.
Gab: 10
14
Questão 32)
Assinale a opção de que consta afirmativa falsa sobre a análise sintática do terceto abaixo, extraído do soneto
“Versos íntimos”, de Augusto dos Anjos:
Toma um fósforo. Acende o teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
a) No segundo verso, beijo é o sujeito.
b) No segundo verso, véspera do escarro é o objeto direto.
c) No terceiro verso, há duas orações adjetivas restritivas, porém não coordenadas entre si. O sujeito de ambas
é o pronome relativo que.
d) No segundo verso, amigo é o vocativo.
e) No verso inicial do terceto, há dois períodos simples. Em ambos o verbo está no imperativo e tem por sujeito
o pronome tu.
Gab: B
Questão 33)
Assinale a alternativa em que se converteu erroneamente a voz ativa na passiva:
a) As chuvas, em algumas regiões, provocam inundações terríveis. Inundações terríveis, em algumas regiões,
são provocadas pelas chuvas.
b) O pai lhe aconselhava maior prudência. Maior prudência lhe era aconselhada pelo pai.
c) Quem me cassará a palavra? Por quem a palavra me seria cassada?
d) Exaltavam sempre a inteligência de Aristarco. A inteligência de Aristarco era sempre exaltada.
e) Promover-se-ão festas durante o mês do santo padroeiro. Festas serão promovidas durante o mês do santo
padroeiro.
Gab: C
Questão 34)
Colocando a oração “No peito pintou-se a águia ”, na ordem direta e na voz ativa, temos:
a) Pintaram a águia no peito;
b) A águia pintou-se no peito;
c) No peito, a águia pintaram;
d) Tinha-se pintado no peito a águia;
e) A águia foi pintada no peito.
Gab: B
Questão 35)
Texto 1
Esquecer algumas coisas facilita lembrar outras
Esquecer uma informação menos importante, mediante um processo de memória seletiva, torna mais fácil
lembrar um dado mais relevante, segundo um estudo elaborado por cientistas dos Estados Unidos. Para chegar
a esta conclusão, que a revista científica britânica “Nature Neuroscience” traz em sua última edição, os
especialistas fizeram ressonâncias magnéticas em indivíduos enquanto estes tentavam lembrar associações de
palavras que tinham aprendido anteriormente. 5Durante os exames, os cientistas analisaram o comportamento do córtex pré-frontal, a parte do cérebro que
participa do processo de recuperação das informações armazenadas na memória. Como se fosse uma
competição em que uma informação vence quando outra é descartada, quanto maior o número de coisas que os
pesquisados esqueciam, menos ativo o córtex pré-frontal se mostrava, isto é, menos recursos o cérebro
precisava usar para recuperar uma informação.
Portanto, para os indivíduos que participaram da experiência, foi muito mais simples lembrar uma associação de
palavras ao esquecer outras.
Adaptado de texto disponível em: Yahoo Notícias, <http://br.noticias.yahoo.com>, 03 de junho de 2007.
15
Texto 2
Esquecimento de impressões e conhecimentos
Também nas pessoas saudáveis, não neuróticas, encontramos sinais abundantes de que uma resistência se
opõe à lembrança de impressões penosas, à representação de pensamentos aflitivos. [...]
O ponto de vista aqui desenvolvido – de que as lembranças aflitivas sucumbem com especial facilidade ao
esquecimento motivado – merece ser aplicado em muitos campos que até hoje lhe concederam muito pouca ou
nenhuma atenção. 5Assim, parece-me que ele ainda não foi enfatizado com força suficiente na avaliação dos
testemunhos prestados nos tribunais, onde é patente que se considera o juramento da testemunha capaz de
exercer uma influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças psíquicas. É universalmente
reconhecido que, no tocante à origem das tradições e da história legendária de um povo, é preciso levar em
conta esse tipo de motivo, cuja meta é apagar da memória tudo o que seja penoso para o sentimento nacional.
FREUD, Sigmund. Fragmento de Sobre a psicopatologia da vida cotidiana. Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. VI, Tradução dirigida por Jayme Salomão, Rio de Janeiro: Imago,
1996, p. 152-153.
a) Os Textos 1 e 2 tematizam o esquecimento, associando sua ocorrência a fatores distintos. Diga quais são
esses fatores e compare-os quanto à sua natureza.
b) No experimento descrito no Texto 1, que relação foi observada entre a menor atividade do córtex pré-frontal
e o desempenho dos participantes na tarefa proposta?
c) Leia o período abaixo, extraído do Texto 2 (linhas 5-7), e retire o termo oracional que exerce a mesma função
sintática de muito divertida em O menino achou muito divertida a comédia.
“Assim, parece-me que ele ainda não foi enfatizado com força suficiente na avaliação dos testemunhos
prestados nos tribunais, onde é patente que se considera o juramento da testemunha capaz de exercer uma
influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças psíquicas.”
Gab:
a) O Texto 1 associa o esquecimento a fatores de natureza neurofisiológica: processos de memória seletiva
relacionados ao modo como o cérebro armazena e recupera informações. O Texto 2, por sua vez, vincula o
esquecimento a fatores de ordem psicológica: forças psíquicas ligadas à necessidade de evitar lembranças
particularmente aflitivas e desagradáveis.
b) A menor atividade do córtex pré-frontal foi relacionada a um melhor desempenho dos pesquisados na tarefa
experimental envolvendo associações de palavras.
c) O termo oracional que exerce a mesma função sintática da expressão destacada é “capaz de exercer uma
influência exageradamente purificadora sobre o jogo de suas forças psíquicas”. (A função sintática nos dois
casos é predicativo).
TEXTO: 1 - Comum à questão: 36
01
Estava longe de ser um Escort XR3 ou um Gol GTI, mas tinha lá seu 02
charme, até porque era uma marca
genuinamente nacional. Um dos 03
carrinhos da montadora Gurgel fez história nos anos 80: o compacto 04
BR-800,
feito em São Paulo (o número era uma referência à cilindrada 05
do motor). O que pouca gente sabe é que aquela
simpática caixinha 06
de fósforos com rodas teria o nome Cena (Carro Econômico 07
Nacional). Antes de começar
a ser produzido, porém, Ayrton Senna 08
entrou na Justiça exigindo que o carro fosse rebatizado. A Gurgel 09
não
quis briga e o BR-800 ganhou as ruas em 1988.
Adaptado de Almanaque anos 80
Questão 36)
Assinale a alternativa correta.
a) No vocábulo rebatizado (ref. 08), verifica-se o processo de formação de palavras por prefixação, semelhante
ao que ocorre em referência.
b) porém (ref. 07) é conjunção e denota idéia de exclusão.
c) Cena e Senna exemplificam o fenômeno da homofonia, isto é, são palavras pronunciadas da mesma
maneira, mas com sentidos diferentes.
16
d) Em A Gurgel não quis briga e o BR-800 ganhou as ruas em 1988, a conjunção poderia ser trocada, sem
prejuízo do sentido original, por “todavia”.
e) Os parênteses nas linhas quatro e cinco contêm correção ao que foi dito anteriormente.
Gab: C
TEXTO: 2 - Comum à questão: 37
DEIXEM JESON EM PAZ
André Petry
Sou a favor da legislação da eutanásia. É uma louvável alternativa que o homem encontrou para morrer com
dignidade, para evitar o suplício das dores vãs. Mesmo assim, mesmo defendendo que a eutanásia seja um
direito disciplinado na lei brasileira, eu precisaria ser louco para apontar o dedo, atirar uma pedra ou escrever
uma linha que fosse contra a atitude de Rosemara dos Santos Souza, a mãe de Jhéck Breener de Oliveira, que
luta para impedir que seu filho seja submetido à eutanásia. O pequeno Jhéck, 4 anos, está num leito de UTI,
vítima de uma doença degenerativa irreversível. Já perdeu a fala, a visão, o movimento dos braços e pernas,
alimentase por meio de sonda e respira com ajuda de aparelhos. A luta de Rosemara merece respeito e, onde
quer que ela apareça, assim tem sido. A luta de Jeson de Oliveira, o pai de Jhéck, também deveria ser
respeitada. Mas é nesse ponto que a história se complica.
Jeson queria pedir à Justiça que seu filho fosse submetido à eutanásia. Ele não suporta ver o seu filho preso
a uma cama, inerte, morto para a vida, sem andar de bicicleta, tomar um sorvete, apontar pra Lua, desenhar um
elefante, bater palmas, sorrir. E o que se fez com esse pobre homem? Não lhe deram uma lasca de respeito.
Jeson foi hostilizado, xingado, difamado. Foi acusado de assassino, de querer matar o próprio filho! Jeson
pensou até em se mudar de Franca, a cidade paulista onde mora e onde seu filho está internado, porque já não
podia caminhar na rua em paz. Ceifaramlhe o direito de ir à Justiça. Questionaramlhe até a sanidade mental,
sugerindo que procurasse tratamento psiquiátrico forma maliciosa de sugerir que a eutanásia é coisa de gente
mentalmente perturbada. Jeson, afinal, desistiu de tentar a eutanásia do filho.
“Desisto oficial e definitivamente. Quero dar chances à mãe e estou entregando meu filho a Deus”, disse ele,
numa entrevista, na véspera do feriado de 7 de setembro. O pai de Jhéck, claro, tem todo o direito de mudar de
idéia (e, pessoalmente, saúdo que tenha conseguido dominar seu sofrimento para ceder à vontade da mãe de
Jhéck).
O dado repugnante é a intolerância da qual foi vítima. Jeson virou a Geni da Franca, só faltou ser apedrejado
nas ruas. Os adversários da eutanásia religiosos dogmáticos, em geral não lhe deram o direito sequer de
pensar em voz alta. É coisa própria das mentalidades entrevadas, dos que se sentem ungidos por forças
superiores, dos que cevam suas idéias como se fossem bens supremos, perfeitos, inatacáveis.
Aos religiosos dogmáticos e intolerantes em geral, aos que sacralizam suas idéias e acham que sabem tudo
na vida e do sofrimento, aqui vai um apelo: deixem o Jeson em paz! Ele já sofre o bastante com um filho que
perdeu a liberdade de viver para tornarse um prisioneiro da vida. A eutanásia, caros intolerantes, pode ser, sim,
um ato de amor.
Revista Veja, 140905
Questão 37)
Em qual das alternativas abaixo em verbo de conteúdo relacional está integrado um predicado nominal?
a) ”E o que se fez com esse pobre homem?”
b) ”Foi acusado de assassino...”
c) ”...[o filho] sem andar de bicicleta...”
d) ”Jeson virou a Geni de Franca...”
Gab: D
17
TEXTO: 3 - Comum às questões: 38, 39
NO RASTRO DA FALA
Se fizéssemos uma lista dos dez maiores mistérios
da humanidade, certamente o surgimento da linguagem se destacaria.
A linguagem verbal é marca forte, constitutiva, distintiva da nossa espécie. Por isso, a discussão de suas
origens está intrinsecamente ligada às discussões da origem da própria espécie humana. Dispomos hoje de boa
quantidade de fósseis, fornecedores de evidência material interessante para hipóteses sobre os longos e
complexos caminhos da evolução até 05
o surgimento do Homo sapiens.
Temos, por exemplo, indícios convincentes de que nossa espécie se originou nas savanas do leste da África
e se espalhou pelo planeta seguindo rotas que levaram à Europa e à Ásia e desta à América e à Oceania. Essas
rotas têm sido estabelecidas em parte pelo estudo do DNA das populações. 10
Com base nestes dados, os paleontólogos têm sugerido que o Homo sapiens surgiu na terra há
aproximadamente 100 mil anos, embora se calcule que o ramo hominídeo dos primatas tenha se separado há 6
milhões de anos ou mais.
Igualmente, dispomos hoje de precioso acervo de objetos criados pelos humanos (ferramentas e utensílios
domésticos, por exemplo) e de registros pictóricos que nos 15
permitem sustentar hipóteses plausíveis sobre os
caminhos percorridos pela humanidade na construção de sua cultura material e simbólica.
Seguindo essas pistas, os antropólogos costumam registrar um florescimento cultural bastante significativo
por volta de 50 mil anos atrás. Para alguns, este florescimento cultural, inimaginável sem a linguagem, é indício
de que ela já estava plenamente estruturada 20
naquela época.
Ao confrontar a data do surgimento da espécie com a do florescimento da cultura, há lingüistas que
defendem a hipótese de que a linguagem teve desenvolvimento vagaroso, crescendo em complexidade ao longo
dos milênios.
Outros, porém, consideram intrínseca a relação entre a espécie e a linguagem e 25
prodigioso o processo pelo
qual um bebê se torna um falante. Afinal, uma criança não começa a falar por simples imitação ou por puro
aprendizado a partir de um estágio zero, como se o cérebro fosse uma caixa vazia. Por isso, defendem que a
linguagem como a conhecemos surgiu junto com a espécie e está relacionada a uma mutação radical no
conglomerado de genes dos hominídeos mais antigos. 30
No momento, a Lingüística não tem nenhuma base para optar entre essas hipóteses. A linguagem falada é
um bem imaterial. Assim, de seu passado nada sobrou. Não temos, por exemplo, o menor indício de como teria
sido o estágio semiótico imediatamente anterior à linguagem propriamente humana, isto é, aquela anterior à
nossa linguagem. (...)
[FARACO, Carlos Alberto. No rastro da fala. Revista Discutindo Língua Portuguesa, ano 1, n. 3, p. 18-21.
(fragmento adaptado)]
Questão 38)
Leia as assertivas abaixo, pautadas no vocábulo “campanha”, e assinale a alternativa que, de acordo com a
gramática tradicional, encerra apenas as assertivas VERDADEIRAS:
I. O vocábulo é formado por 06 fonemas;
II. Há dois dígrafos na representação gráfica do vocábulo;
III. Verifica-se um ditongo nasal na sílaba inicial do vocábulo;
IV. O vocábulo apresenta um encontro consonantal;
V. Trata-se de um vocábulo paroxítono.
a) I, II, V;
b) I, II, IV;
c) I, III, V;
d) II, III, IV;
e) III, IV, V.
Gab: A
18
Questão 39)
Identifique a alternativa que, segundo a gramática normativa, contém uma oração na voz passiva:
a) Nossa espécie se originou nas savanas da África;
b) Não sabemos se o ramo hominídeo dos primatas já existia mais de 6 milhões de anos atrás;
c) Dispõe-se hoje de precioso acervo de objetos criados pelos primeiros humanos;
d) Se o cérebro fosse uma “caixa vazia”, não seria possível adquirir a linguagem em tão pouco tempo;
e) Esmiúçam-se fósseis e demais vestígios materiais humanos em busca da origem da linguagem articulada.
Gab: E
TEXTO: 4 - Comum à questão: 40
(Fonte: http://www2.uol.com.br/millor/aberto/char-ges/006/ index.htm)
Questão 40)
Considerando o período: "Se você mantiver seus princípios com firmeza, um dia lhe oferecerão excelentes
condições de abdicar deles", assinale o que for correto.
01. Se substituirmos a forma verbal "mantiver" por "mantivesse", obrigatoriamente a forma verbal "oferecerão"
seria substituída por "ofereceriam".
02. A expressão "um dia" estabelece uma circunstância de tempo e certeza em relação à condição estabelecida
pela primeira oração.
04. "lhe" refere-se a meu filho e é complemento do verbo oferecer, "deles" refere-se a princípios.
08. O período é composto por três orações.
16. "abdicar deles" exerce a função de complemento nominal de condições, na oração anterior.
Gab: 31
TEXTO: 5 - Comum à questão: 41
TEXTO I
RACISMO DISTRAÍDO
Luis Fernando Veríssimo
(fragmento)
Nosso racismo tem a desculpa de ser distraído. O que nos absolve é que não nos damos conta. O Grafite
não considera o seu apelido racista. Como é negro e comprido, deve achar o apelido bem bolado. Implícita neste
racismo que não se reconhece está a idéia de que caricaturar carinhosamente ou infantilizar o negro é uma
maneira de consolá-lo pela sua condição de diferente. Entre o negrão e o negrinho está a nossa incapacidade de
dar nome certo ao preconceito.
19
E não é só com negros. Há anos que o humor brasileiro recorre a estereótipos raciais sem medir o insulto: o
judeu sempre retratado como o avarento de sotaque carregado, o japonês invariavelmente bobo, etc., além do
negro em suas várias versões de primitivo divertido.
Questão 41)
Nas alternativas abaixo, marque aquela em que o termo sublinhado desempenha função sintática distinta da
apontada em parênteses:
a) “Nosso racismo tem a desculpa de ser distraído” (predicativo do sujeito)
b) “...é uma maneira de consolá-lo pela sua condição de diferente” (predicativo do objeto)
c) “Como é negro e comprido” (predicativo do sujeito)
d) “...deve achar o apelido bem bolado” (predicativo do objeto)
e) “O Grafite não considera o seu apelido racista” (predicativo do objeto)
Gab: B
TEXTO: 6 - Comum às questões: 42, 43
Mudança no clima afeta mais os pobres, diz secretário da ONU
Após alerta climático da ONU, reunião com ministros do Meio Ambiente de cem países pretende estudar
modificações no comércio global para salvar o planeta Agência Reuters
NAIRÓBI, Quênia - Os pobres do mundo, embora sejam os menos responsáveis pelo aquecimento global, serão
os mais afetados pelo fenômeno, disse na segunda-feira o secretário-geral da Organização das Nações Unidas
(ONU), Ban Ki-moon, a ministros de Meio Ambiente de vários países. Eles estão reunidos em Nairóbi, capital do
Quênia, para estudar modificações no comércio global de modo a salvar o planeta.
"A degradação do ambiente global continua incontida, e os efeitos da mudança climática estão sendo sentidos
em todo o globo", disse Ban em nota que ecoa o relatório divulgado na semana passada pela ONU que apontava
as atividades humanas como principais causas do aquecimento.
Em um discurso atribuído a Ban no início da reunião ministerial de Nairóbi, capital do Quênia, o secretário-geral
afirmou que todos os países vão sentir os efeitos adversos das mudanças climáticas.
"Mas são os pobres, na África e em pequenos Estados insulares, que vão sofrer mais, mesmo que sejam os
menos responsáveis pelo aquecimento global", afirmou.
Especialistas dizem que a África é o continente que menos emite gases do efeito estufa, como o dióxido de
carbono, mas que devido à pobreza e à geografia é a região que tem mais a perder. Símbolos disso são a
desertificação em torno do Saara e a redução da capa de gelo do monte Kilimanjaro.
Agências ambientais da ONU pressionam Ban a se empenhar na busca por um tratado que suceda ao Protocolo
de Kyoto, que prevê a redução nas emissões globais de poluentes, mas expira em 2012.
Os governos estão sob pressão para agirem à luz das conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática da ONU, que apontou grande probabilidade de que no futuro haja mais tempestades, secas, ondas de
calor provocadas pela queima de combustíveis fósseis e outras atividades.
Alternativas
Achim Steiner, chefe do Programa Ambiental da ONU, que organiza o encontro de uma semana dos quase cem
ministros, disse que a globalização está esgotando os recursos mundiais, sem oferecer os benefícios esperados.
Mas há muitos exemplos de gerenciamento sustentável, lembrou ele, citando a certificação de recursos como
madeira e pesca para evitar a exploração ilegal e mecanismos "criativos", como o mercado de carbono, ou seja,
de créditos para a emissão de poluentes, que se amplia rapidamente.
"Precisamos valorizar o poder do consumidor, atender aos apelos por regulamentação internacional para o setor
privado e impor padrões e normas realistas para os mercados globalizados", disse Steiner em nota antes da
reunião.
Relatório climático
20
O encontro ocorre sob o impacto do relatório da ONU, de acordo com o qual há mais de 90% de probabilidade de
que o aquecimento global tenha como principal causa o fator humano.
Funcionários da ONU esperam que o estudo incentive governos – especialmente o dos EUA, maior poluidor
mundial – e empresas a se empenharem mais na redução dos gases do efeito estufa, emitidos principalmente
por usinas termelétricas, fábricas e carros.
O encontro desta semana do Conselho do Programa Ambiental da ONU no Quênia discutirá também a crescente
ameaça da poluição por mercúrio, a demanda por biocombustíveis e reformas na ONU.
Pela primeira vez, o evento receberá dirigentes de outras agências, como Pascal Lamy, da Organização Mundial
do Comércio (OMC).
"Acredito que a presença (de Lamy) mostra que não há mais um tráfego de mão única a respeito do comércio e
meio ambiente", disse Steiner.
Fonte: www.estadao.com.br/2007/fev/05/85.htm
Questão 42)
Considerando o trecho “Os governos estão [1] sob pressão [2] para agirem à luz das conclusões do Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU, que apontou grande probabilidade [3] de que no futuro
haja mais tempestades, secas, ondas de calor provocadas [4] pela queima de combustíveis fósseis e outras
atividades”, os termos grifados e numerados exercem, respectivamente, a função sintática de
a) predicativo do sujeito, adjunto adverbial de finalidade, complemento nominal e agente da passiva.
b) predicativo do sujeito, adjunto adverbial de conformidade, objeto indireto e sujeito paciente.
c) adjunto adverbial de modo, adjunto adverbial de conseqüência, objeto direto preposicionado e aposto.
d) adjunto adnominal, adjunto adverbial de afirmação, adjunto adnominal e complemento nominal.
e) adjunto adverbial de companhia, adjunto adverbial de proporção, agente da passiva e objeto indireto.
Gab: A
Questão 43)
Considerando o trecho “Os governos estão [1] sob pressão [2] para agirem à luz das conclusões do Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU, que apontou grande probabilidade [3] de que no futuro
haja mais tempestades, secas, ondas de calor provocadas [4] pela queima de combustíveis fósseis e outras
atividades”
Ainda em relação ao trecho que serviu de base para a questão anterior, os termos “tempestades, secas, ondas
de calor” têm a mesma função sintática que se vê em
a) “... na África e em pequenos Estados insulares.” [3ºparágrafo]
b) “...a desertificação em torno do Saara e a redução da capa de gelo no monte Kilimanjaro” [4ºparágrafo]
c) “... valorizar o poder do consumidor, atender aos apelos por regulamentação internacional para o setor
privado e impor padrões e normas realistas para os mercados globalizados.” [9ºparágrafo]
d) “... usinas, fábricas e carros.” [11ºparágrafo]
e) “... comércio e meio ambiente.” [14ºparágrafo]
Gab: D
TEXTO: 7 - Comum à questão: 44
Tirinha 1
21
Disponível em
<http://tiras-hagar.blogspot.com/2006_04_01_archive.html>.
Tirinha 2
Disponível em
<http://tiras-hagar.blogspot.com/2006_05_01_archive.html>.
Questão 44)
Na tirinha 1, em “...dizer pra elas o que é bom pra elas?”, temos dois complementos que se classificam,
respectivamente, como
a) objeto indireto e complemento nominal.
b) objeto direto e complemento nominal.
c) objeto indireto e objeto indireto.
d) complemento nominal e complemento nominal.
e) objeto indireto e objeto direto.
Gab: A
TEXTO: 8 - Comum à questão: 45
Texto:
O texto eletrônico: um desafio para o ensino da leitura e da escrita
01
O hipertexto é um documento eletrônico composto de nodos ou de unidades textuais 02
interconectados que formam uma rede de estrutura não-linear. As palavras, ressaltadas nestes blocos 03
textuais, desempenham a função de botões que conectam a outras fontes. Navegando entre estes nodos, 04
o
leitor vai criando suas próprias opções e trajetórias de leitura, o que rompe o domínio tradicional de 05
um
esquema rígido de leitura imposto pelo autor. Assim, o leitor tem a oportunidade de experimentar o 06
texto, não
só em um nível subjetivo de interpretação, mas também em um nível de manipulação 07
objetiva dos
elementos que o integram. A opção de modificar o conteúdo do texto, de conectá-lo a 08
outros trabalhos
22
prévios, e as novas formas de acesso e de consulta mudam substancialmente o 09
conceito tradicional do
livro. Embora em um texto impresso o índice sugira diversas alternativas de 10
leitura, estas devem
submeter-se à ordem fixa das páginas; em troca, no hipertexto, que apresenta uma 11
estrutura menos rígida,
podem coexistir estruturas hierárquicas e associativas. Qualquer caminho 12
representa uma alternativa de
leitura apropriada, o que implica uma mudança radical na relação do 13
leitor com o texto.
ÁLVAREZ, O. H. “O texto eletrônico: um desafio para o ensino da leitura e da escrita” In: PÉREZ, F.
C. e GARCÍA, J. R. Ensinar ou aprender a ler e a escrever? Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 167.
Questão 45)
Assinale a alternativa cujo par de palavras tem o mesmo número de letras e de fonemas.
a) leitura – radical.
b) radical – criando.
c) caminho – leitura.
d) criando – domínio.
e) domínio – caminho.
Gab: A
TEXTO: 9 - Comum à questão: 46
UMA PAIXÃO DOS BRASILEIRO’S
Roberto Pompeu de Toledo
1Toda vez que se fala em antiamericanismo, no Brasil, dá vontade de contra-atacar com o apóstrofo. Muita
gente não gostou da presença de George W. Bush no país, mas esse sentimento é largamente superado pelo
amor que temos pelo apóstrofo. O apóstrofo em questão, para os leitores que ainda não se deram conta, é
aquele sinalzinho (’) que na língua inglesa se põe antes do “s” (’s). Quanto 5charme num pequenino sinal gráfico!
Bush se sentiria vingado das manifestações de protesto se lhe fosse permitido caminhar por uma rua comercial
brasileira e verificar quantos nomes de estabelecimentos são, em primeiro lugar, em língua inglesa e, em
segundo, ostentam como rabicho o ’s.
Somos apaixonados pelo ’s. O que é uma forma de expressar nosso amor e respeito pelos Estados Unidos. 10
Se o Brasil é antiamericano ou, ao contrário, americanófilo – e até o mais americanófilo dos países – é
questão aberta. Da boca para fora, somos antiamericanos. As pesquisas de opinião vão revelar sempre uma
maioria crítica aos EUA. Na era Bush, então, nem se fala. Lá no fundo, no entanto, é só contemplar um ’s e um
coração brasileiro baterá mais forte. Poucos países, fora os de língua inglesa, terão tantas lojas, produtos,
serviços ou eventos batizados em inglês. Isso vale tanto para o 15
mundo dos ricos – o do serviço bancário
chamado prime e o do evento chamado Fashion Week – quanto para o dos pobres, que encontram a seu dispor
a lanchonete X Point. Quando enfeitados pelo ’s, os nomes adquirem superior requinte. Comprar na Bacco’s, em
São Paulo, ou bebericar no Leo’s Pub, no Rio, não teria o mesmo efeito se o nome desses estabelecimentos não
ostentasse aquele penduricalho, delicado como jóia, civilizado como o frio. 20
O professor Antonio Pedro Tota, que entende do assunto (é autor de O Imperialismo Sedutor: a
Americanização do Brasil na Época da II Guerra), explica, em artigo numa recém-lançada publicação do Wilson
Center dedicada às relações Brasil–EUA, que a definitiva prova de que os americanos tinham nos ganhado,
naqueles anos de combate contra o nazifascismo e o Japão foi a adoção, pelos brasileiros, do gesto do polegar
para cima, o sinal do “positivo”. Tota recorre a Luís da Câmara 25
Cascudo, estudioso dos gestos dos brasileiros,
para explicar a origem do “polegar para cima”. Na base aérea que, por concessão do governo brasileiro, os
americanos montaram no Rio Grande do Norte, para de lá atacar o norte da África, os pilotos e mecânicos, uns
dentro e outros fora dos aviões, e ainda por cima ensurdecidos pelo ruído dos motores, comunicavam-se
erguendo o polegar, thumbs up, para dizer uns aos outros quando tudo estava em ordem. 30
O gesto encantou os brasileiros que serviam de pessoal de apoio. Ainda mais que era muito útil para a
comunicação com os estrangeiros. Isso de levantar ou abaixar o polegar tem origem remota e era usado em
Roma para indicar se um gladiador devia ser poupado ou morto. Mas no Brasil, segundo Câmara Cascudo,
chegou com os pilotos americanos, e da base aérea se espalhou pelo Nordeste e logo por todo o Brasil. Era tão
moderno, tão viril, tão americano! O mesmo autor diz que o “polegar para 35
cima” causou a desgraça do “da
23
pontinha da orelha”. Para indicar uma coisa boa, antes, os brasileiros seguravam a ponta da orelha, gesto
aprendido dos portugueses. Perto do polegar para cima, soava tão antigo, tão da vovó, tão efeminado!
As pequenas coisas dizem muito mais do que os altissonantes falatórios. A vitória do gesto de “positivo”
sobre o “da pontinha da orelha” significou, naquele momento decisivo da II Guerra, o 40
abandono do que restasse
da herança lusitana, tão singela, tão curta de horizontes, tão caseira, em favor da perseguição do modelo
americano, tão valente, tão desprendido, tão sintonizado no futuro. Da mesma forma, o apego a essa outra coisa
miúda que é o apóstrofo representa nossa rendição aos poderes de sedução americanos. Bares modestos, Brasil
afora, anunciam que servem “drink’s”. Não venha o leitor observar que está errado, que esse ’s nada tem a ver
com o caso possessivo da língua 45
inglesa. O inglês de nossas ruas não é o de Shakespeare. É o inglês recriado
no Brasil, como em “motoboy”. O ’s de drink’s está lá talvez para indicar plural, mas com certeza para conferir
beleza e vigor americanos ao ato, de outra forma banal, de avisar os clientes de que ali se servem bebidas.
O emprego do ’s Brasil afora é muito peculiar, e quem sair à cata das várias formas em que é encontrado
terminará com uma rica coleção. O colunista que vos fala tem especial queda por dois 50
exemplares, entre os
muitos com que, como todos nós, já deparou. Um é o nome, sem dúvida sugestivo – e, mais que sugestivo,
inspirador – de um motel nos arredores de Florianópolis: “Erectu’s”.
Outro é o de um salão de beleza de uma cidade vizinha a São Paulo: “Skova’s”. São nomes que, enquanto
explodem de brasileira inventividade, prestam homenagem aos EUA.
Veja – 14/3/2007
Questão 46)
Qual dos verbos abaixo foi empregado no texto com objeto direto de pessoa e objeto indireto (oracional) de
coisa?
a) Recorrer (linha 24).
b) Permitir (linha 6).
c) Avisar (linha 47).
d) Causar (linha 35).
Gab: C
TEXTO: 10 - Comum à questão: 47
Afinal, quem manda na floresta?
Enfim resolveu o Leão sair para fazer sua pesquisa, verificar se ainda era o Rei dos Animais. Os tempos
tinham mudado muito, as condições de progresso alterado fundamentalmente a psicologia e os métodos de
combate das feras, as relações de respeito e hierarquia entre os animais já não eram as mesmas, diziam até que
subterraneamente as formigas estavam organizadas. De modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão
qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar–se é uma das constantes do espírito humano, e, por
extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele
nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí,
Macaco, quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e,
quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro
que é você!".
Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupato, Papagaio. Quem, segundo
seu conceito, é o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar,
mas apenas o de repetir, lá repetiu o Papagaio, rumorejando as asas: "Currupato... é o Leão? Não é o Leão?
Currupato, não é o Leão?".
Cheio de si, o Leão penetrou mais ainda na floresta adentro, em busca de novas afirmações de sua
personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja velha, não sou eu o Maioral da Mata?" "Sim, ninguém
duvida de que és tu", disse a Coruja. Mas disse de lábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo,
mais alto de cabeça. Encontrou o Tigre! "Tigre, disse em voz de estertor, para impor–se ao rival terrível – não
tens a menor dúvida de que sou o Rei da Floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas
sentiu o barulho do olhar do Leão queimando as folhas e disse, rugindo contrafeito: "É". E rugiu ainda mais mal
humorado e já arrependido, quando o Leão se afastou.
24
Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o Elefante. Perguntou: "Elefante, quem
manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor das árvores e dos seres,
dentro da mata?" O Elefante pegou–o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou–o contra o tronco de
uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e humilhado, levantou–se lambendo uma
das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".
M o r a l: Cada um tira dos acontecimentos a conclusão que bem entende.
Millôr Fernandes
Questão 47)
E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir...
Os termos em negrito, no período acima, exercem, respectivamente, as seguintes funções sintáticas:
a) sujeito – adjunto adnominal – objeto indireto
b) objeto indireto – sujeito – adjunto adnominal
c) objeto direto – adjunto adnominal – sujeito
d) agente da passiva – objeto direto – adjunto adverbial
e) complemento nominal – objeto direto – predicativo
Gab: B
TEXTO: 11 - Comum à questão: 48
(Extraído do último capítulo de Memorial de Aires, de Machado de Assis)
Há seis ou sete dias que eu não ia ao Flamengo. Agora à tarde lembrou-me lá de passar antes de vir para
casa. Fui a pé; achei aberta a porta do jardim, entrei e parei logo.
- Lá estão eles, disse comigo.
Ao fundo, à entrada do saguão, dei com os dois velhos sentados, olhando um para o outro. Aguiar estava
sentado ao portal direito, com as mãos sobre os joelhos. D. Carmo, à esquerda, tinha os braços cruzados à cinta.
Hesitei entre ir adiante ou desandar o caminho; continuei parado alguns segundos até que recuei pé ante pé. Ao
transpor a porta para a rua, vi-lhes no rosto e na atitude uma expressão a que não acho nome certo ou claro;
digo o que me pareceu. Queriam ser risonhos e mal podiam se consolar. Consolava-os a saudade de si mesmos.
Questão 48)
Assinale as alternativas em que a palavra sublinhada exerce a função de objeto direto.
01) ...digo o que me pareceu.
02) Consolava-os a saudade de si mesmos.
04) Agora à tarde lembrou-me lá de passar antes de vir para casa.
08) Queriam ser risonhos e mal podiam se consolar.
16) Lá estão eles, disse comigo.
Gab: 03
TEXTO: 12 - Comum às questões: 49, 50
As coisas boas
01
Recebo e-mail de um jovem de 16 anos reclamando, num texto lúcido e bem escrito, de que sou 02
pessimista. Pois escrevi na última coluna que "ninguém faz nada", quando, segundo ele, eu deveria dar uma 03
mensagem esperançosa a quem quer "mudar o mundo". De alguma forma, isso me comoveu. Quase todos 04
queremos melhorar o mundo na juventude, e é bom querer não ficar ________, amargo ou ________ na 05
idade adulta. Pior ainda, chato na velhice. Sou esperançosa e otimista, por isso mesmo não posso escrever 06
apenas sobre coisas amenas, e infelizmente não tenho mensagem nem receita para o mundo melhorar. 07
Pois
eu sou apenas mais uma pessoa que de um lado se alegra, de outro se aflige. O número espantoso de 08
leitores
25
desta revista me dá uma sensação de comprometimento com a não-alienação. Escondendo a 09
realidade é que
não se vai poder mudar ou melhorar coisa nenhuma. 10
Acho nosso momento tristíssimo. Até jornais estrangeiros importantes, que em geral não nos dão bola, 11
registram os fatos que andam ocorrendo no Senado e em outras __________ solenes como "coroamento da 12
corrupção brasileira". A impressão que se tem, que eu tenho, é que ninguém anda fazendo grande coisa, ou 13
pouca gente faz alguma coisa para melhorar. Escrever que "ninguém faz nada" é uma hipérbole literária, é 14
como dizer, sem realmente querer dizer isso, "morri de ódio". Acho, sim, que muitos responsáveis não fazem 15
nada, ou fazem o mal: desviam ou aplicam de maneira irresponsável dinheiro destinado aos pobres, 16
desprezam a educação e a cultura, ________ na saúde, enganam uma montanha (não, um verdadeiro 17
Everest...) de gente que merecia coisa melhor. 18
Mas também vejo muita gente fazendo muita coisa positiva, gente querendo acertar, jovens ou velhos 19
com esperança, pessoas espalhando o bem. Cada vez que um de nós é leal com alguém, faz uma coisa 20
boa;
cada vez que respeitamos o outro com suas diferenças, seus dramas e necessidades, fazemos uma 21
coisa boa.
Cada vez que somos decentes em vez de perversos, cada vez que cultivamos compreensão e 22
respeito em
lugar de rancor, cada vez que somos carinhosos, alegres, solidários, fazemos coisas muito 23
boas. 24
Cada vez que um jovem estuda, trabalha, e se constrói como pessoa produtiva e positiva, faz algo muito 25
bom. Cada vez que um pai presta atenção no filho, cada vez que uma mãe é dedicada sem depois cobrar 26
isso, fazem uma coisa boa. Cada vez que alguém fuma seu último cigarro, bebe seu derradeiro copo, cheira 27
sua ultimíssima carreirinha e dá o primeiro passo numa nova vida, faz uma coisa maravilhosa. Sempre que 28
alguém recusa uma baforada de maconha, negando-se a homenagear os traficantes que amanhã vão matar 29
seu filho ou trucidar seu amigo, está fazendo uma coisa muito boa. 30
Quando olhamos uma árvore na beira da estrada, a luz do sol num gramado, a chuva na vidraça, a 31
criança observando um besouro, um bebê dormindo, um velho rodeado pelos filhos, estamos fazendo uma 32
coisa muito boa; cada professor mal pago que atende com dedicação seus alunos, cada médico de uma 33
saúde pública apodrecida que cuida com humanidade de seus doentes faz uma coisa muito boa. Sempre 34
que
uma mulher aproxima os filhos do pai mostrando que ele é um ser humano, está fazendo uma coisa 35
boa; cada
filho que abraça o pai que já não o pode sustentar faz uma coisa boa. O político que rema contra 36
a correnteza
permanecendo honrado faz uma coisa muito boa. 37
Fazem-se muitas coisas boas neste mundo, e por isso ainda não nos matamos. Por isso ainda estamos 38
abertos ao belo, ao bom e ao outro. Por isso vale a pena viver. Mas, sinto muito, o ser humano é um animal 39
predador: o desejo de destruir e arruinar coexiste em todos nós com a bondade, a decência, a dignidade. 40
Que
fazer? Somos assim. Se pudermos estar do lado do bem, querendo melhorar o mundo, viva! As coisas 41
não
estarão perdidas, a amargura não vai nos dominar, a sombra acabará fugindo da claridade, e 42
continuaremos
sendo, mais que feras, humanos. Mesmo quando alguém escreve sobre as realidades 43
menos bonitas, elas não
precisam prevalecer. E muita gente continuará fazendo muita coisa boa, aos 16 44
anos, aos 68 ou aos 86.
(Luft, Lya. Revista Veja.19 de dezembro de 2007. Texto adaptado.)
Questão 49)
Assinale a alternativa em que todas as palavras pertencem a mesma família.
a) pessimista (l. 02) – péssimo – peçonhento.
b) esperançosa (l. 03) – esperança – desesperado.
c) velhice (l. 05) – envelhecer – velhaco.
d) impressão (l. 12) – impressionista – depressivo.
e) vidraça (l. 30) – envidraçado – enviesado.
Gab: B
Questão 50)
Analise as palavras a seguir e assinale C (correto) ou E (errado) as afirmações que as seguem.
1 – melhorar (l. 04).
2 – infelizmente (l. 06).
3 – comprometimento (l. 08).
4 – hipérbole (l. 13).
5 – irresponsável (l. 15).
6 – coexiste (l. 39).
( ) Em 1 e 5, há dígrafo.
26
( ) Em 2, 3 e 5, há dígrafo vocálico.
( ) Em 4 e 6, há tantas letras quanto fonemas.
( ) Somente uma das palavras acima tem o mesmo número de letras e fonemas.
( ) Todas as palavras acima têm mais fonemas que letras.
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) CCCCC.
b) ECEEC.
c) EECCC.
d) CCECE.
e) EECCE.
Gab: D
TEXTO: 13 - Comum à questão: 51
Lembrança e esquecimento
DULCE CRITELLI
1“Como é antigo o passado recente!” Gostaria que a frase fosse minha, mas ela é de Nelson Rodrigues numa
crônica de “A Menina sem Estrela”.
Também fico perplexa com esse fenômeno rápido e turbulento que é o tempo da vida. Não são poucas as
vezes em que me volto para algum acontecimento acreditando que ele ainda é atual e descubro 5que ele faz
parte do passado para outros.
Um exemplo é quando, em sala de aula, refiro-me a eventos que se passaram nos anos 70 e meus alunos
me olham como se eu falasse da Idade Média... E eu nem contei para eles que andei de bonde!
A distância entre nós não é apenas uma questão de gerações. Eles nasceram em um mundo já transformado
pela tecnologia e pela informática. Uma transformação que começou nos anos 50 e que não 10
nos trouxe
somente mais eletrodomésticos e aparelhos digitais. Ela instalou uma transformação radical do nosso modo de
vida.
Mudou o mundo e mudou o jeito de viver. Mudou o jeito de namorar, de vestir, de procurar emprego, de
andar na rua e de se locomover pela cidade.
Mudou o corpo. Mudou o jeito de escrever, de estudar, de morar e de se divertir. Mudou o valor da 15
vida, do
dinheiro e das pessoas...
Outros tempos. E, quando um jeito de viver muda, ele não tem volta. Não se pode ter a experiência dele
nunca mais. Por isso, meus alunos e eu só podemos compartilhar o tempo atual. Não podemos compartilhar um
tempo que, para eles, é passado, mas, para mim, ainda é presente.
Os fatos de 30 anos atrás não são passado na minha vida. Para mim, meu passado não passou e 20
minha
história não envelhece. Minha memória pode alcançar os acontecimentos que vivi a qualquer momento, e posso
revivê-los como se ocorressem agora. Mas, se eu os narrar, quem me ouve não pode, como eu, vivenciá-los. Por
isso, para meus alunos, são contos o que para mim é vida.
Mas é assim que corre o rio da vida dos homens, transformando em palavras o que hoje é ação. Se não
forem narrados, os acontecimentos e os nossos feitos passam sem deixar rastros. 25
Faladas ou escritas, são as palavras que salvam o já vivido e o conservam entre nós. Salvam os feitos e os
acontecimentos da sua total desintegração no esquecimento.
A memória do já vivido e a sua narração numa história é o que possibilita a construção da História e das
nossas histórias pessoais. Só os feitos e os acontecimentos narrados em histórias são capazes de salvaguardar
nossa existência e nossa identidade. 30
Só conservados pela lembrança é que os feitos e os acontecimentos podem entrar no tempo e fazer parte
de um passado. Recente ou antigo.
Folha de São Paulo – 20/3/08
Questão 51)
“Mas, se eu os narrar, quem me ouve não pode, como eu, vivenciá-los.”
27
NÃO se indicou corretamente, à direita, a palavra ou a oração que representa o agente da ação verbal, em
a) “... se eu os narrar...” (eu)
b) “Mas (...) quem me ouve...” (me)
c) “... como eu (posso vivenciá-los.)” (eu)
d) “... não pode vivenciá-los.” (quem me ouve)
Gab: B
TEXTO: 14 - Comum à questão: 52
– A potranca. Num vi ela em lugá ninhum.
Os esbirros do Capitão Palhares espalhavam-se pela gleba arrecadando os animais.
Pilharam, da casa, tudo o que encontraram de valor. Incendiaram o pequeno paiol. A roça, esta já queimava.
Bocudo, empunhando a tocha, caminhou com indiferença por entre os corpos de Zinho e de Charrua, prostrados
ambos junto à soleira, e incendiou a casa.
[VASCONCELLOS, A. Sanford de. Chica Pelega –
a guerreira de Taquaruçu. Florianópolis:
Insular, 2000. p.67.]
Questão 52)
Assinale a alternativa incorreta.
a) O verbo incendiar, na oração “Incendiaram o pequeno paiol”, é verbo transitivo direto e ganha um e nas
formas rizotônicas.
b) Na oração “A roça, esta já queimava”, o vocábulo esta se refere ao termo anterior casa, que é o sujeito da
oração, enquanto a palavra já sugere idéia de intensidade.
c) Em “...prostrados ambos junto à soleira...”, pode se dizer que há, seqüencialmente, palavras que exercem
função de adjetivo, numeral, locução prepositiva e substantivo derivado.
d) Do excerto se infere que os esbirros do Capitão Palhares eram embrutecidos e agiam como seres
animalescos.
e) O excerto apresenta características de um texto narrativo com progressão temática.
Gab: B
TEXTO: 15 - Comum à questão: 53
Palavras que ferem, palavras que salvam
"Posso ajudar?" Eis duas palavrinhas que nos soam mais que familiares. Entra-se numa loja e lá vem: "Posso
ajudar?". Está desencadeado um processo durante o qual não mais conseguiremos nos livrar da prestimosa
oferta. Ao entrar numa loja, o ser humano necessita de um tempo de contemplação. Precisa se acostumar ao
novo ambiente, testar a nova luminosidade, respirar com calma o novo ar. Sobretudo, necessita de solidão para,
por meio de um diálogo consigo mesmo, distinguir entre os objetos expostos aquele que mais de perto fala à sua
necessidade, ao seu gosto ou ao seu desejo. A turma do "posso ajudar" não deixa. Mesmo que se diga "Não,
obrigado; primeiro quero examinar o que há na loja", ela só aparentemente entregará os pontos. Ficará por perto,
olhando de esguelha, como policial desconfiado.
Onde a situação atinge proporção mais dramática é nas livrarias. Livraria é por excelência lugar que convida
ao exame solitário das mesas e das prateleiras. É lugar para passar lentamente os olhos sobre as capas,
apanhar e sentir nas mãos um ou outro volume, abrir um ou outro para testar um parágrafo. Um jornal certa vez
avaliou como critério de qualidade das livrarias a rapidez com que o atendente se apresentava ao freguês.
Clamoroso equívoco. Boa é a livraria em que o atendente só se apresenta quando o freguês o convoca. As
melhores, sabiamente, dispensam o "posso ajudar". As mais mal administradas, desconhecedoras da natureza
de seu ramo de negócio, insistem nele.
28
Ainda se fossem outras as palavrinhas – "Posso servi-lo? Precisa de alguma informação?" Não; o escolhido é
o "posso ajudar", traduzido direto do jargão dos atendentes americanos ("May I help you?"). A má tradução das
expressões comerciais americanas já cometeu uma devastação no idioma ao propagar o doentio surto de
gerúndios ("Vou estar providenciando", "Posso estar examinando") que, do telemarketing, contaminou outros
setores da linguagem corrente. O "posso ajudar" é caso parecido. Tal qual soa em português, mais merecia
respostas como: "Pode, sim. Meu carro está com o pneu furado. Você pode trocá-lo?". Ou: "Está quase na hora
de buscar meu filho na escola. Você faz isso por mim? Assim me dedico às compras com mais sossego".
Pode haver algo mais irritante do que o "posso ajudar"? Pode. É o "é só aguardar". Este é próprio dos lugares
em que se é obrigado a esperar para ser atendido – o banco, o INSS, o hospital, o cartório, o Detran, a delegacia
da Polícia Federal em que se vai buscar o passaporte. Ou bem há uma mocinha distribuindo senhas ou um
mocinho organizando a fila. Chega-se, a mocinha dá a senha, o mocinho aponta o lugar na fila, e tanto a
mocinha quanto o mocinho dirão em seguida: "Agora é só aguardar".
Só? Só mesmo? O que vocês estão dizendo é que o mais difícil, que foi apanhar essa senha ou ouvir a
instrução sobre em qual fila entrar – ações que não me custaram mais que alguns segundos –, já passou? Agora
é só gozar as delícias desta sala de espera, mais apinhada do que a Faixa de Gaza? Ou apreciar as maravilhas
desta fila, comprida como a Muralha da China? Um traço característico da turma do "é só aguardar" é que ela
nunca cometerá a descortesia de dizer "é só esperar". Seus chefes lhes ensinaram que é mais delicado, menos
penoso, "aguardar" do que "esperar". É um pouco como quando se diz que fulano "faleceu", em vez de dizer que
"morreu". A crença geral é que quem falece morre menos do que quem morre. No mínimo, morre de modo
menos drástico e acachapante.
Há outras ocasiões em que o uso inábil da língua vem em nosso socorro. Exemplos:
"Foi movido contra você um processo nº 01239/2009 por danos morais, conforme a Lei nº 9.099, na segunda
vara penal. Caso não compareça no lugar especificado no arquivo em anexo poderá implicar em chamada de
segunda instância e/ou recolhimento da sociedade".
"Todos os clientes MasterCard, devem recadastrar o seu cartão em 72 horas. Este procedimento está sendo
ocorrido mundialmente. Caso nosso sistema não reconhecer o recadastramento, ele bloqueia o cartão, isto é,
ficando impossibilitado de novas compras. Clique no link abaixo e recadastre".
Quem frequenta a internet sabe do que se trata: e-mails de golpistas, ladrões de senhas. Quando não
oferecem outros indícios, eles se denunciam pelo incontornável costume de estropiar o idioma. Que bom que a
escola brasileira é tão ruim.
(Roberto Pompeu de Toledo. Veja, 25 de março de 2009)
Questão 53)
No texto, Roberto Pompeu de Toledo compara o uso da expressão “Posso ajudar?” ao gerundismo, a que ele se
refere como “doentio surto”. A crítica ao gerundismo, no texto, deve-se principalmente ao fato de
a) ser o resultado de má tradução de expressões comerciais americanas.
b) esse vício de linguagem prejudicar a compreensão da língua.
c) ser um jargão saído do telemarketing.
d) sugerir a ideia de prolongamento, demora no atendimento.
e) merecer respostas grosseiras por parte de quem o ouve.
Gab: A
TEXTO: 16 - Comum à questão: 54
A erosão da confiança dos cidadãos em seus dirigentes e nas instituições políticas é o principal problema das
democracias atuais. Em tempos de capitalismo global o individualismo se exacerbou, a esfera pública se erodiu,
a vontade política declinou e os interesses privados se impuseram nos altares do mercado. As segundas
hipotecas e os subprimes só ocorreram porque os cidadãos norte-americanos foram induzidos ao consumo
conspícuo pela propaganda, levando-os a imaginar que a escalada absurda de preços dos seus imóveis seria
permanente. O mundo macroeconômico havia entrado numa fase de alta complexidade e especialização, em que
dominam opiniões tecnocráticas muito distantes da sensibilidade do cidadão; o capitalismo financeiro global disso
se aproveitou e vendeu-lhe fantásticas miragens e ilusões.
29
A era da abundância de recursos naturais já havia terminado antes da crise, mas o poder econômico
continuava garantindo que as novas tecnologias "dariam um jeito". Cientistas respeitáveis, no entanto, alertavam
que – mais alguns passos da humanidade na direção errada – a crise ecológica poderia ser irreparável, vitimando
gerações futuras. A questão é de quem são as escolhas e a quem elas beneficiam.
A crise iniciada pelo colapso do sistema financeiro pode, de fato, gerar uma nova era de regramento do lado
desenfreado do capitalismo global? Quem serão seus agentes? Políticos movimentam- se de forma hiperativa,
outorgando-se poderes de épocas de guerra, mas ainda estão tão perdidos como os economistas e os
intelectuais. Suas posições oscilam entre a antevisão das "folhas de outono" do fim do capitalismo e a assunção
de que esta é uma mera crise de ajuste e será resolvida com certa socialização de prejuízos e alguma regulação.
Mas a sua verdadeira natureza é tão complexa que conduz a uma cegueira relativa.
Em suma, a profundidade e a qualidade desta crise tanto pode ser de fundamentos quanto de forma, ou de
ambos. Estruturas e equilíbrios de poder vão-se alterar, tanto na política quanto na economia, e muito exigirão de
seus atores principais.
(Trecho do artigo de Gilberto Dupas. O Estado de S. Paulo,
15 de novembro de 2008, A2, com adaptações)
Questão 54)
Ambos os verbos grifados estão corretamente flexionados em:
a) Diante da perspectiva de ganhos sempre maiores, os consumidores não se conteram e ultrapassaram os
limites de crédito.
b) Cientistas preocupados com a ecologia anteveram os possíveis prejuízos que se abateriam sobre as
gerações futuras.
c) Os abusos da propaganda comporam alguns fundamentos da crise que afetou os mercados financeiros do
mundo todo.
d) O governo interveio no mercado financeiro para evitar endividamentos voltados a satisfazerem os ímpetos
consumistas enaltecidos pela propaganda.
e) A crise financeira global adviu da busca do lucro a qualquer preço, sem que houvesse o devido controle de
endividamento da população.
Gab: D
TEXTO: 17 - Comum à questão: 55
A forma mais difundida de paquera entre os sauditas são os cafés que oferecem acesso à internet. São poucos,
mas estão se tornando uma ferramenta de aproximação entre os jovens. E estão se mostrando eficientes. Com
base em sua interpretação do Corão, o governo da Arábia Saudita restringiu alguns hábitos considerados
“ocidentalizados” da população, principalmente dos mais jovens. Teatros, cinemas e boates foram proibidos de
funcionar tanto na capital Riad quanto nas cidades pequenas do país. Na esteira do fechamento dessas casas,
perde-se uma forma centenária de encontrar um namorado ou mesmo de conhecer outras pessoas. A alternativa
para quem não costuma usar os sites de namoro é escrever nome e telefone em pedaços de papel e deixá-los
nos vidros dos carros para achar, com a ajuda do destino, um candidato a cara-metade e marcar um encontro.
(Sauditas aprendem a namorar pela net, in: Galileu nº 131)
Questão 55)
Observe que o verbo da oração em destaque está na voz passiva.
Assinale a alternativa cuja expressão verbal destacada se encontra na voz passiva.
a) A forma mais difundida de paquera entre os sauditas são os cafés ...
b) ... o governo da Arábia Saudita restringiu alguns hábitos considerados “ocidentalizados” da população...
c) Na esteira do fechamento dessas casas, perdese uma forma centenária de encontrar um namorado...
30
d) A alternativa para quem não costuma usar os sites de namoro é escrever nome e telefone...
e) ...
Gab: C
TEXTO: 18 - Comum à questão: 56
Apólogo brasileiro sem véu de alegoria
1O trenzinho recebeu em Magoari o
2pessoal do matadouro e tocou para Belém.
3Já era noite. Só se sentia o
cheiro doce do 4sangue. As manchas na roupa dos
5passageiros ninguém via porque não havia
6luz. De vez em
quando passava uma fagulha 7que a chaminé da locomotiva botava.
8Trem misterioso. Noite fora noite
9dentro. O chefe vinha recolher os bilhetes de
10cigarro na boca. Chegava a
passagem bem 11
perto da ponta acesa e dava uma chupada 12
para fazer mais luz. 13
Noite sem lua nem nada. Os fósforos é 14
que alumiavam um instante as caras 15
cansadas e a pretidão feia
caía de novo. 16
Ninguém estranhava. Era assim mesmo 17
todos os dias. O pessoal do matadouro já 18
estava
acostumado. Parecia trem de carga o 19
trem de Magoari. 20
Porém aconteceu que no dia 6 de maio 21
viajava no penúltimo banco do lado direito 22
do segundo vagão um
cego de óculos azuis. 23
Cego baiano das margens do Verde de 24
Baixo. Flautista de profissão dera um 25
concerto
em Bragança. O taioca guia dele só 26
dava uma folga no bocejo para cuspir. 27
Baiano velho estava contente. Primeiro 28
deu uma cotovelada no secretário e puxou 29
conversa. Puxou à
toa porque não veio 30
nada. Então principiou a assobiar. Assobiou 31
uma valsa (dessas que vão subindo, vão 32
subindo e depois descendo, vêm descendo). 33
De repente deu uma cousa nele. Perguntou 34
para o rapaz: 35
- O jornal não dá nada sobre a 36
sucessão presidencial? 37
O rapaz respondeu: 38
- Não sei: nós estamos no escuro. 39
- No escuro? 40
- É. 41
Ficou matutando calado. Claríssimo que 42
não compreendia bem. Perguntou de novo: 43
- Não tem luz? 44
Bocejo. 45
- Não tem. 46
Cuspada. 47
Matutou mais um pouco. Perguntou de 48
novo: 49
- O vagão está no escuro? 50
- Está. 51
De tanta indignação bateu com o 52
porrete no soalho. E principiou a grita dele 53
assim: 54
- Não pode ser! Estrada relaxada! Que 55
é que faz que não acende? Não se pode 56
viver sem luz! A luz é
necessária! A luz é o 57
maior dom da natureza! Luz! Luz! Luz! 58
E a luz não foi feita. Continuou 59
berrando: 60
- Luz! Luz! Luz! 61
Só a escuridão respondia. 62
Baiano velho estava fulo. Urrava. Vozes 63
perguntaram dentro da noite. 64
- Que é que há? 65
Baiano velho trovejou: 66
- Não tem luz! 67
Vozes concordaram: 68
- Pois não tem mesmo. 69
Foi preciso explicar que era um 70
desaforo. Homem não é bicho. Viver nas 71
trevas é cuspir no progresso
da 72
humanidade. Depois a gente tem a 73
obrigação de reagir contra os exploradores 74
do povo. No preço da
passagem está 75
incluída a luz. O governo não toma 76
providências? Não toma? A turba ignara fará 77
valer seus
direitos sem ele. 78
- Que é que se vai fazer então? 79
Ninguém sabia. Isto é: João Virgulino sabia. 80
Magarefe chefe do
matadouro de Magoari, 81
tirou a faca da cinta e começou a 82
esquartejar o banco de palhinha. 83
Todos os passageiros magarefes e 84
auxiliares imitaram o chefe. Os instintos 85
carniceiros se satisfizeram
plenamente. A 86
indignação virou alegria. Era cortar e jogar 87
pelas janelas.
31
88O chefe do trem foi para o cubículo
89dele e se fechou por dentro rezando. Belém
90já estava perto. Dos
bancos só restava a 91
armação de ferro. Os passageiros de pé 92
contavam façanhas. Baiano velho tocava a 93
marcha de sua lavra Às armas cidadãos! O 94
taioquinha embrulhava no jornal a faca 95
surrupiada na confusão. 96
Belém vibrou com a história. Os jornais 97
afixaram cartazes. Era assim o título de um: 98
Os passageiros no
trem de Magoari 99
amotinaram-se jogando os assentos ao leito 100
da estrada. Mas foi substituído porque se 101
prestava a interpretações que feriam de 102
frente o decoro das famílias. Diante do 103
Teatro da Paz houve um
conflito sangrento 104
entre populares. 105
Dada a queixa à polícia foi iniciado o 106
inquérito para apurar as responsabilidades. 107
O delegado
perguntou a um passageiro que 108
se declarou protestante e trazia um 109
exemplar da Bíblia no bolso: 110
- Qual a causa verdadeira do motim? 111
O homem respondeu: 112
- A causa verdadeira do motim foi a 113
falta de luz nos vagões. 114
O delegado olhou firme nos olhos do 115
passageiro e continuou: 116
- Quem encabeçou o movimento? 117
Em meio da ansiosa expectativa dos 118
presentes o homem revelou: 119
- Quem encabeçou o movimento foi um 120
cego! 121
Quis jurar sobre a Bíblia mas foi 122
imediatamente recolhido ao xadrez porque 123
com a autoridade não se
brinca.
(Antônio de Alcântara Machado. Coleção Nossos
Clássicos. v. 57. p. 38-43. Adaptação.)
Questão 56)
Marque a afirmação INCORRETA a respeito do período em destaque: Os fósforos é que alumiavam um instante
as caras cansadas e a pretidão feia caía de novo. (refs. 13-15)
a) O período é formado de três orações.
b) É que é uma locução expletiva e, como tal, não tem função sintática e não é necessária ao sentido da frase.
c) O é que torna a frase mais forte e põe em evidência o sujeito – Os fósforos.
d) Se o é for deslocado para antes do sujeito, alterar-se-á a concordância: Eram os fósforos que alumiavam
um instante as caras cansadas e a pretidão feia caía de novo.
Gab: A
TEXTO: 19 - Comum à questão: 57
Os diferentes
Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha de Ossevaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça
para baixo e tem vida organizada.
É aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não
perde tempo, entretanto, em refutar a visão normal do mundo. E o que eles dizem com os pés dá a impressão de
serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a linguagem desses homens e mulheres, não
tendo chegado ainda a conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses nativos e foram
recolhidos ao hospital da ilha. Os cabecences-para-baixo, como foram denominados à falta de melhor
classificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa Seleta. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 150)
Questão 57)
No texto, identifica-se o povo da ilha de Ossevaolep por um neologismo: cabecences-para-baixo.
a) Identifique os processos de formação de palavras utilizados para a criação desse neologismo.
b) Considerando o conhecimento que os observadores têm do povo de Ossevaolep, responda: por que se
afirma, no texto, que o neologismo foi criado “à falta de melhor classificação”?
32
Gab:
a) Os processos de formação utilizados foram composição por justaposição e derivação sufixal.
b) Os observadores criaram um neologismo que não vai além do nível descritivo superficial porque eles não
conseguiram alcançar um conhecimento aprofundado, conclusivo a respeito do povo de Ossevaolep.
TEXTO: 20 - Comum à questão: 58
Logo depois transferiu-se para o trapiche [local destinado à guarda de mercadorias para importação ou
exportação] o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. Estranhas coisas entraram então
para o trapiche. Não mais estranhas, porém, que aqueles meninos, moleques de todas as cores e de idades, as
mais variadas, desde os 9 aos 16 anos, que à noite se estendiam pelo assoalho e por debaixo da ponte e
dormiam, indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os
lavava, mas com os olhos puxados para as luzes dos navios, com os ouvidos presos às canções que vinham das
embarcações. . .
(AMADO, Jorge. O trapiche. Capitães de Areia. São Paulo: Livraria Martins Ed., 1937. Adaptado.)
Questão 58)
Assinale a alternativa em que o verbo destacado tem como sujeito aquele apresentado entre colchetes.
a) Logo depois transferiu-se para o trapiche o depósito dos objetos... [os objetos]
b) ... o depósito dos objetos que o trabalho do dia lhes proporcionava. [o depósito dos objetos]
c) Estranhas coisas entraram então para o trapiche. [estranhas coisas]
d) ... indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando... [o casarão]
e) ... com os ouvidos presos às canções que vinham das embarcações. . . [as embarcações]
Gab: C
TEXTO: 21 - Comum à questão: 59
Uma ideia radical demais
“Grátis pode significar muitas coisas, e esse significado tem mudado ao longo dos anos. Grátis levanta
suspeitas, mas não há quase nada que chame tanto a atenção. Quase nunca é tão simples quanto parece, mas
é a transação mais natural de todas. Se agora estamos construindo uma economia em torno do Grátis,
deveríamos começar entendendo o que ele é e como funciona.” Essas são as palavras que abrem o segundo
capítulo de um livro lançado nesta semana nos Estados Unidos. O título é Free – The Future of a Radical Price
(“Grátis – o futuro de um preço radical”, numa tradução livre). A editora Campus-Elsevier deve lançá-lo no Brasil
no final deste mês. É preciso reconhecer que o autor não falta com a verdade. “Grátis” pode realmente significar
muitas coisas, entre elas cobrar por um livro cuja ideia central é uma defesa apaixonada de tudo o que é gratuito.
A favor de Anderson, é necessário avisar de saída: em nenhum momento ele escreve que tudo será de
graça. Sua tese central é que certos produtos e serviços podem, sim, ser gratuitos – e mesmo assim dá para
ganhar dinheiro. Anderson constrói seu argumento sobre as diferenças fundamentais entre o mundo das coisas
materiais, ou o mundo dos átomos, e a internet, ou o mundo dos bits. Eis a ideia central: todos os custos dos
insumos básicos do mundo digital caem vertiginosamente.
(portalexame.abril.uol.com.br/revista/exame/edicoes/0947/tecnologia/ideiaradical-
demais-482570.html)
33
Questão 59)
Observe a tira.
(http://educacao.uol.com.br/album/tiras_reforma_album.jhtm)
No título do texto – Uma ideia radical demais – aparece a palavra ideia e, destacada no 2.º parágrafo, a palavra
constrói. Tendo como base as informações da tira, conclui-se que:
a) nenhuma das duas palavras contém ditongo, por isso a regra do acordo descrita não se aplica a elas.
b) ambas as palavras estão corretamente grafadas, tendo como referência o novo acordo ortográfico.
c) nenhuma das palavras deve receber acento agudo no ditongo aberto, pois elas são oxítonas.
d) ambas as palavras deveriam receber acento, pois este deve estar presente nos ditongos das paroxítonas,
conforme o novo acordo ortográfico.
e) houve troca no acento, pois a primeira, por ser oxítona, é que deveria ser acentuada conforme o novo acordo
ortográfico.
Gab: B
TEXTO: 22 - Comum à questão: 60
O comprador de fazendas
1
O acaso deu a Trancoso uma sorte de cinquenta contos na loteria. Não se riam. Por que motivo não havia
Trancoso de ser o escolhido, se a sorte é cega e ele tinha no bolso um bilhete? Ganhou os cinquenta contos,
dinheiro que para um pé-atrás daquela marca era significativo de grande riqueza. 5De posse do bolo, após semanas de tonteira deliberou afazendar-se. Queria tapar a boca ao mundo realizando
uma coisa jamais passada pela sua cabeça: comprar fazenda. Correu em revista quantas visitara durante os
anos de malandragem, propendendo, afinal, para a Espiga. Ia nisso, sobretudo, a lembrança da menina, dos
bolinhos da velha e a ideia de meter na administração ao sogro, de jeito a folgar-se uma vida vadia de regalos,
embalada pelo amor de 10
Zilda e os requintes culinários da sogra. Escreveu, pois, a Moreira anunciando-lhe a
volta, a fim de fechar-se o negócio.
Ai, ai, ai! Quando tal carta penetrou na Espiga houve rugidos de cólera, entremeio a bufos de vingança.
– É agora! – berrou o velho. – O ladrão gostou da pândega e quer repetir a dose. Mas desta feita 15
curo-lhe a
balda*1
, ora se curo! – concluiu, esfregando as mãos no antegozo da vingança.
No murcho coração da pálida Zilda, entretanto, bateu um raio de esperança. A noite de sua alma alvorejou ao
luar de um “Quem sabe?” Não se atreveu, todavia, a arrostar*2
a cólera do pai e do irmão, concertados ambos
num tremendo ajuste de contas. Confiou no milagre. Acendeu outra velinha a Santo Antônio... 20
O grande dia chegou. Trancoso rompeu à tarde pela fazenda, caracolando o rosilho*3
.
Desceu Moreira a esperá-lo embaixo da escada, de mãos às costas.
Antes de sofrear*4
as rédeas, já o amável pretendente abria-se em exclamações.
– Ora viva, caro Moreira! Chegou enfim o grande dia. Desta vez, compro-lhe a fazenda.
Moreira tremia. Esperou que o biltre*5
apeasse e mal Trancoso, lançando as rédeas, dirigiu-se-lhe 25
de braços
abertos, todo risos, o velho saca de sob o paletó um rabo de tatu e rompe-lhe para cima com ímpeto de
queixada*6
.
– Queres fazenda, grandissíssimo tranca*7
? Toma, toma fazenda, ladrão! – e lepte, lepte, finca-lhe rijas rabadas
coléricas.
34
O pobre rapaz, tonteando pelo imprevisto da agressão, corre ao cavalo e monta às cegas, de passo 30
que Zico
lhe sacode no lombo nova série de lambadas de agravadíssimo ex-quase-cunhado.
Dona Isaura atiça-lhe os cães:
– Pega, Brinquinho! Ferra, Joli!
O mal azarado comprador de fazendas, acuado como raposa em terreiro, dá de esporas e foge à toda, sob uma
chuva de insultos e pedras. Ao cruzar a porteira inda teve ouvidos para distinguir 35
na grita os desaforos
esganiçados da velha:
– Comedor de bolinhos! Papa-manteiga! Toma! Em outra não hás de cair, ladrão de ovo e cará!...
E Zilda?
Atrás da vidraça, com os olhos pisados do muito chorar, a triste menina viu desaparecer para sempre, envolto em
uma nuvem de pó, o cavaleiro gentil dos seus dourados sonhos. 40
Moreira, o caipora*8
, perdia assim naquele dia o único negócio bom que durante a vida inteira lhe deparara a
Fortuna: o duplo descarte – da filha e da Espiga...
MONTEIRO LOBATO
Urupês. São Paulo: Globo, 2007.
Vocabulário: *1
balda - defeito habitual, mania *2
arrostar - encarar sem medo *3
rosilho - cavalo de pelo avermelhado *4
sofrear - conter *5
biltre - homem vil, infame *6
queixada - espécie de porco-do-mato *7
tranca - indivíduo ordinário, de mau caráter *8
caipora - indivíduo azarado
Questão 60)
Observe a oração:
Desta vez, compro-lhe a fazenda. (ref. 20)
Classifique sintaticamente o pronome pessoal. Em seguida, reescreva a oração, substituindo-o por outra palavra
de igual valor, mantendo o sentido original.
Gab:
objeto indireto
Desta vez, compro a sua fazenda.
TEXTO: 23 - Comum à questão: 61
A IMAGINAÇÃO
1O processo de trabalho do cientista aproxima-se do processo de trabalho do artista. Ambos desenvolvem um
tipo de comportamento denominado “exploratório”, isto é, dedicam-se a “explorar” as possibilidades, “o que
poderia ser”, em vez de se deter no que realmente é. Para isso, necessitam da imaginação. Assim, um dos
sentidos de criar é imaginar. Imaginar é a capacidade de ver além do imediato, 5 do que é, de criar possibilidades
novas. É responder à pergunta: “Se não fosse assim, como poderia ser?”. Se dermos asas à imaginação, se
deixarmos de lado o nosso senso crítico e o medo do ridículo, se abandonarmos as amarras lógicas da
realidade, veremos que somos capazes de encontrar muitas respostas para a pergunta. Este é o chamado
pensamento divergente, que leva a muitas respostas possíveis. É o contrário do pensamento convergente, que
leva a uma única resposta, considerada certa. 10
Por exemplo, para a pergunta “Quem descobriu o Brasil?” só há
uma resposta certa: Pedro Álvares Cabral. Para a pergunta “Se os portugueses não tivessem descoberto o
Brasil, como estaríamos vivendo hoje?”, há inúmeras respostas possíveis. A primeira envolve memória; a
segunda, imaginação.
35
Tanto o artista quanto o cientista têm de ser suficientemente flexíveis para sair do seguro, do conhecido, do
imediato, e assumir os riscos ao propor o novo, o possível.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires.
A imaginação. In: Filosofando. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. p. 338-339.
Questão 61)
Leia os períodos abaixo.
I - “O processo de trabalho do cientista aproxima-se do processo de trabalho do artista” (ref. 1).
II - “Ambos desenvolvem um tipo de comportamento denominado ‘exploratório’.” (ref. 1).
III - “A primeira envolve memória; a segunda, imaginação” (ref. 10).
Os termos em destaque exercem a mesma função sintática:
a) apenas em I e II.
b) apenas em I e III.
c) apenas em II e III.
d) nos três períodos.
Gab: D
TEXTO: 24 - Comum à questão: 62
Capítulo XIII
1 Os reposteiros, as tapeçarias, os divãs, tudo enfim quanto constituía a mobília do palácio demonstrava a
magnificência inexcedível de um príncipe das lendas hindus.
Lá fora, nos jardins, reinava a mesma pompa, realçada pela mão da Natureza, perfumada por mil odores
diversos, alcatifada de verdes alfombras, banhada pelo rio, 5 refrescada por inúmeras fontes de mármore branco,
junto às quais um milheiro de escravos trabalhava sem cessar.
Fomos conduzidos ao divã das audiências por um dos auxiliares do vizir Ibraim Maluf.
Avistamos, ao chegar, o poderoso monarca sentado em riquíssimo trono de marfim 10
e veludo. Perturbou-me,
de certo modo, a beleza estonteante do grande salão. Todas as suas paredes eram adornadas com inscrições
admiráveis feitas pela arte caprichosa de um calígrafo genial. As legendas apareciam, em relevo, sobre fundo
azul claro em letras pretas e vermelhas. Notei que eram versos dos mais brilhantes poetas de nossa terra! Jarras
de flores por toda a parte, flores desfolhadas sobre coxins, sobre alcatifas, ou em 15
salvas de ouro e prata
primorosamente cinzeladas.
Malba Tahan, em O homem que calculava, p. 69 e 70.
Questão 62)
Assinale a alternativa incorreta.
a) Os termos “pela mão da Natureza” (ref. 1), “pelo rio” (ref. 1) e “por inúmeras fontes” (ref. 5) são
sintaticamente classificados como objetos indiretos.
b) Em “alcatifada de verdes alfombras” (ref. 1), pode-se substituir a palavra destacada por atapetada, que se
mantém o sentido do período.
c) No período “Avistamos, ao chegar, o poderoso monarca sentado em riquíssimo trono de marfim e veludo”
(ref. 5 e 10), a oração destacada está entre vírgulas por ser uma oração reduzida do infinitivo.
d) Da leitura do excerto, pode-se inferir que o grande salão onde eles seriam recepcionados tinha em suas
paredes versos desenhados a mão, não escritos por um poeta, mas sim, por um calígrafo.
e) O uso da hipérbole “mil odores diversos” (ref. 1) e da linguagem adjetivada no excerto ratificam o
encantamento do narrador em relação ao palácio.
Gab: A
36
TEXTO: 25 - Comum à questão: 63
FOLHA – Seus estudos mostram que, entre os mais escolarizados, há maior preocupação com a corrupção. O
acesso à educação melhorou no país, mas a aversão à corrupção não parece ter aumentado. Não se vê mais
mobilizações como nos movimentos pelas Diretas ou no Fora Collor. Como explicar?
ALMEIDA – Esta questão foi objeto de grande controvérsia nos Estados Unidos. Quanto maior a escolarização,
maior a participação política. Mas a escolaridade também cresceu lá, e não se viu aumento de mobilização. O
que se discutiu, a partir da literatura mais recente, é que, para acontecerem grandes mobilizações, é necessária
também a participação atuante de uma elite política. No caso das Diretas-Já, por exemplo, essa mobilização de
cima para baixo foi fundamental. O governador de São Paulo na época, Franco Montoro, estava à frente da
mobilização. No Rio, o governador Leonel Brizola liberou as catracas do metrô e deu ponto facultativo aos
servidores. No caso de Collor, foi um fenômeno mais raro, pois a mobilização foi mais espontânea, mas não tão
grande quanto nas Diretas. Porém, é preciso lembrar que Collor atravessava um momento econômico difícil. Isso
ajuda a explicar por que ele caiu com os escândalos da época, enquanto Lula sobreviveu bem ao mensalão.
Collor não tinha o apoio da elite nem da classe média ou pobre. Já Lula perdeu apoio das camadas mais altas,
mas a população mais pobre estava satisfeita com o desempenho da economia. Isso fez toda a diferença nos
dois casos. A preocupação de uma pessoa muito pobre está muito associada à sobrevivência, ao emprego, à
saúde, à própria vida. Para nós, da elite, jornalistas, isso já está resolvido e outras questões aparecem como
mais importantes. São dois mundos diferentes.
(Adaptado de: GOIS, Antonio. Mais conscientes, menos mobilizados. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br//fsp/mais/fs2607200914.htm>.
Acesso em: 26 jul. 2009).
Questão 63)
Considere o trecho: “Isso fez toda a diferença nos dois casos. A preocupação de uma pessoa muito pobre está
muito associada à sobrevivência, ao emprego, à saúde, à própria vida. Para nós, da elite, jornalistas, isso já está
resolvido e outras questões aparecem como mais importantes. São dois mundos diferentes.”.
As palavras grifadas são
a) predicados verbais.
b) núcleos do sujeito.
c) substantivos.
d) advérbios.
e) adjetivos.
Gab: E
TEXTO: 26 - Comum à questão: 64
Marte é o Futuro
1O pouso na Lua não foi só o ápice da corrida espacial. Foi também o passo inicial do turbocapitalismo que
2dominaria as três décadas seguintes. Dependente, porém, de matérias-primas do século 19: aço, carvão,
3óleo.
Lançar-se ao espaço implicava algum reconhecimento dos limites da Terra. Ela era azul, mas finita. 4Com o
império da tecnociência, ascendeu também sua nêmese, o movimento ambiental. Fixar Marte como 5objetivo
para dentro de 20 ou 30 anos, hoje, parece tão louco quanto chegar à Lua em dez, como determinou 6John F.
Kennedy. Não há um imperialismo visionário como ele à vista, e isso é bom. A ISS (estação espacial 7internacional) representa a prova viva de que certas metas só podem ser alcançadas pela humanidade como
8um todo, não por nações forjadas no tempo das caravelas. Marte é o futuro da humanidade. Ele nos fornecerá
9a experiência vívida e a imagem perturbadora de um planeta devastado, inabitável. Destino certo da Terra
10em
vários milhões de anos. Ou, mais provável, em poucas décadas, se prosseguir o saque a descoberto da 11
energia
fóssil pelo hipercapitalismo globalizado, inflando a bolha ambiental.
(Adaptado de: LEITE, M. Caderno Mais!. Folha de São Paulo.
São Paulo, domingo, 26 jul. 2009. p. 3.)
37
Questão 64)
Quanto à predicação verbal, é correto afirmar:
a) Em “Lançar-se ao espaço implicava algum reconhecimento” (ref. 3), o verbo implicar, nesse contexto, é um
verbo transitivo direto, por isso seu complemento não exige preposição.
b) Em “Não há um imperialismo visionário como ele à vista” (ref. 6), o verbo haver é considerado um verbo de
ligação, pois estabelece relação entre sujeito e seu predicativo.
c) Em “A ISS (estação espacial internacional) representa a prova viva” (refs. 5 e 7), o verbo representar é
intransitivo, portanto, não necessita complemento.
d) Em “Marte é o futuro da humanidade” (ref. 8), o verbo ser é classificado como verbo transitivo direto e
indireto, ou seja, possui um complemento precedido de preposição e outro não.
e) Em “Ele nos fornecerá a experiência vívida e a imagem” (refs. 8 e 9), o verbo fornecer é classificado como
verbo defectivo, pois não apresenta a conjugação completa.
Gab: A
TEXTO: 27 - Comum à questão: 65
01
Grande parte de nossas decisões é tomada de 02
maneira mais ou menos automática. Esse processo 03
é
guiado pelo valor que se dá às diversas experiências 04
do passado. Se uma pessoa desperta boas emoções 05
em mim, toda vez que eu a encontrar vou reviver 06
uma memória que se divide em dois aspectos: 07
o cognitivo
(quem é essa pessoa) e o emocional 08
(é alguém de quem eu gosto). Não há memória ou 09
tomada de decisões
neutras, sem emoção. 10
Na verdade, nada é mais essencial para a identidade 11
de uma pessoa do que o conjunto de experiências 12
armazenadas em sua mente. Por isso, o que 13
mais distingue a memória humana é a capacidade 14
de ter uma
autobiografia. Cada um de nós sabe quando 15
nascemos, quem são nossos pais, nossos amigos, 16
quais são
nossas preferências, o que já realizamos 17
na vida… Enfim, qual é nossa história. Um chimpanzé 18
ou um cão
têm isso de forma limitada; sua memória 19
não possui a mesma riqueza de detalhes e 20
abrangência. Essa
diferença é amplificada pela linguagem, 21
que codifica memórias não verbais em formas 22
verbais, expandindo
enormemente tudo o que o 23
ser humano é capaz de memorizar. 24
Cada vez que a memória decai, e conforme a idade 25
isso ocorre em maior ou menor grau, perde-se 26
um
pouco da interação com o mundo. Mas a ciência 27
vem avançando no conhecimento dos mecanismos da 28
memória e de como fazer para preservá-la. Pesquisas 29
recentes permitem vislumbrar o dia em que será
realidade 30
a manipulação da memória humana. (...) 31
A neurociência é um campo tão promissor que, nos 32
Estados Unidos, um quinto do financiamento em
pesquisas 33
médicas do governo federal vai para as tentativas 34
de compreender os mecanismos do cérebro. E
os 35
estudos sobre a memória têm lugar destacado nesse 36
esforço científico. Afinal, mantê-la em perfeito
funcionamento 37
tornou-se preocupação central nas sociedades 38
modernas, na qual dois fenômenos desafiam:
a exposição 39
a uma carga diária excessiva de informações, 40
que o cérebro precisa processar, selecionar e, se
relevantes, 41
reter para uso futuro; e o aumento da expectativa 42
de vida, que se traduz em uma população mais 43
vulnerável a distúrbios associados à perda de memória.
Texto redigido com base em informações publicadas na revista Veja, 13 de janeiro, 2010.
Questão 65)
Analise as informações a seguir e preencha os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).
Caso o leitor não conheça a palavra “neurociência” (ref.31), ele pode chegar ao sentido aproximado
( ) decompondo a palavra em seus elementos constitutivos e observando o que cada um significa.
( ) buscando pistas do seu significado no conteúdo do parágrafo anterior.
( ) identificando a classe gramatical e a função sintática dessa palavra no contexto.
( ) relacionando a palavra com outras do mesmo campo de significação, como “cérebro”, “estudos sobre a
memória”, “esforço científico”.
38
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V – V – V – F
b) V – V – F – V
c) V – F – V – F
d) F – F – V – V
e) F – V – F – V
Gab: B
TEXTO: 28 - Comum à questão: 66
Trabalhar e sofrer
1
“O trabalho enobrece” é uma dessas frases feitas que a gente repete sem refletir no que significam, feito
reza automatizada. Outra é "A quem Deus ama, ele faz sofrer", que fala de uma divindade cruel, fria, que não
mereceria uma vela acesa sequer. Sinto muito: nem sempre trabalhar nos torna mais nobres, nem sempre a dor
nos deixa mais justos, mais generosos. O tempo para contemplação da arte e da natureza, ou 5curtição dos
afetos, por exemplo, deve enobrecer bem mais. Ser feliz, viver com alguma harmonia, há de nos tornar melhores
do que a desgraça. A ilusão de que o trabalho e o sofrimento nos aperfeiçoam é uma ideia que deve ser
reavaliada e certamente desmascarada.
O trabalho tem de ser o primeiro dos nossos valores, nos ensinaram, colocando à nossa frente cartazes
pintados que impedem que a gente enxergue além disso. Eu prefiro a velha dama esquecida num 10
canto feito
uma mala furada, que se chama ética. Palavra refinada para dizer o que está ao alcance de qualquer um de nós:
decência. Prefiro, ao mito do trabalho como única salvação, e da dor como cursinho de aperfeiçoamento
pessoal, a realidade possível dos amores e dos valores que nos tornariam mais humanos. Para que se trabalhe
com mais força e ímpeto e se viva com mais esperança.
O trabalho que dá valor ao ser humano e algum sentido à vida pode, por outro lado, deformar e 15
destruir. O
desprezo pela alegria e pelo lazer espalha-se entre muitos de nossos conceitos, e nos sentimos culpados se não
estamos em atividade, na cultura do corre-corre e da competência pela competência, do poder pelo poder, por
mais tolo que ele seja.
Assim como o sofrimento pode nos tornar amargos e até emocionalmente estéreis, o trabalho pode aviltar,
humilhar, explorar e solapar qualquer dignidade, roubar nosso tempo, saúde e possibilidade de 20
crescimento.
Na verdade, o que enobrece é a responsabilidade que os deveres, incluindo os de trabalho, trazem consigo. O
que nos pode tornar mais bondosos e tolerantes, eventualmente, nasce do sofrimento suportado com dignidade,
quem sabe com estoicismo. Mas um ser humano decente é resultado de muito mais que isso: de genética, da
família, da sociedade em que está inserido, da sorte ou do azar, e de escolhas pessoais (essas a gente costuma
esquecer: queixar-se é tão mais fácil). 25
Quanto tempo o meu trabalho se é que temos escolha, pois a maioria de nós dá graças a Deus se
consegue trabalhar por um salário vil me permite para lazer, ou o que eu de verdade quero, se é que paro
para refletir sobre isso? Quanto tempo eu me dou para viver? Quanto sobra para meu crescimento pessoal, para
tentar observar o mundo e descobrir meu lugar nele, por menor que seja, ou para entender minha cultura e
minha gente, para amar minha família? 30
E, se o luxo desse tempo existe, eu o emprego para ser, para viver, ou para correr atrás de mais um
trabalho a fim de pagar dívidas nem sempre necessárias? Ou apenas não me sinto bem ficando sem atividade,
tenho de me agitar sem vontade, rir sem alegria, gritar sem entusiasmo, correr na esteira além do indispensável
para me manter sadio, vagar pelos shoppings quando nada tenho a fazer ali e já comprei todo o possível
muito mais do que preciso, no maior número de prestações que me ofereceram? E, quando 35
tenho momentos
de alegria, curto isso ou me preocupo: algo deve estar errado?
Servos de uma culpa generalizada, fabaricamos caprichosamente cada elo do círculo infernal da nossa
infelicidade e alienação. Essas frases feitas, das quais aqui citei só duas, podem parecer banais. Até rimos
delas, quando alguém nos leva a refletir a respeito. Mas na verdade são instrumento de dominação de mentes:
sofra e não se queixe, não se poupe, não se dê folga, mate-se trabalhando, seja humilde, seja pobre, 40
sofrer é
nosso destino, darás à luz com dor e todo o resto da tola e desumana lavagem cerebral de muitos séculos,
que a gente em geral nem questiona mais.
Lya Luft, Veja, 20/1/2010
39
Questão 66)
Na análise sintática da oração “Assim como o sofrimento pode nos tornar amargos e emocionalmente estéreis...”
(ref. 15), é INCORRETO afirmar que
a) “o sofrimento” é o termo a que se refere o predicado.
b) o pronome oblíquo “nos” é complemento de “pode tornar”.
c) “amargos” e “emocionalmente estéreis” se referem a “nos”.
d) o predicado dessa oração se classifica como nominal.
Gab: D
TEXTO: 29 - Comum à questão: 67
O milagre do sorinho e outros milagres
1
A doutora Zilda Arns fez tudo ao contrário de como costumam ser feitos os programas de políticas públicas
no Brasil. Não chamou o marqueteiro, como providência inaugural dos trabalhos. Não engendrou uma generosa
burocracia, capaz de proporcionar bons e agradáveis empregos. Não ofereceu contratos milionários aos
prestadores de serviço. Sobretudo, não anunciou o programa e, com o simples anúncio, deu 5a coisa por feita e
resolvida. Milagre dos milagres. Zilda Arns, que morreu na semana passada, no terremoto do Haiti, aos 75 anos,
realmente fez. Se o Brasil teve uma redução significativa nos níveis de mortalidade e desnutrição infantil, nas
últimas décadas, isso se deve em primeiro lugar à Pastoral da Criança, criada e administrada por ela, com apoio
da Igreja Católica, e aos exemplos que semeou.
O índice de mortalidade infantil no Brasil andava pelos 82,8 mortos por 1000 nascidos vivos, em 10
1982,
quando Zilda foi convocada pelo irmão, o cardeal Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, a pôr sua
experiência de médica pediatra e sanitarista a serviço de um programa de combate ao problema. Hoje está em
23,3 por 1000. Nas áreas com atuação direta da Pastoral da Criança . são 42000 comunidades pobres,
espalhadas por 4000 municípios brasileiros . está em 13 por 1000. O que mais espanta, na obra de Zilda, é o
contraste entre a eficácia dos resultados e a simplicidade dos métodos. Nada 15
de grandiosos aparatos, nada de
invencionices. A partir da gestão do hoje governador José Serra no Ministério da Saúde, ela passou a contar
com forte apoio governamental. Mas suas ferramentas básicas continuaram as mesmas:
O sorinho e a multimistura. O soro caseiro feito de água, açúcar e sal foi o grande segredo no combate à
desidratação, por muito tempo a maior causa de mortalidade infantil no Brasil. A multimistura feita de casca 20
de
ovo, arroz, milho, semente de abóbora e outros ingredientes singelos foi, e continua sendo, a arma contra a
desnutrição. Zilda Arns era contra a cesta básica. Achava-a humilhante, para quem a recebia, e de presença
incerta. Optou por ensinar como proporcionar uma boa dieta com recursos escassos.
A multiplicação da boa vontade. A ordem era ensinar e fazer com que os que aprendiam passassem também
a ensinar. A Pastoral da Criança conta hoje 260000 voluntários. 25 O trabalho e a persistência. Se fosse só ensinar a tomar o sorinho ou a multimistura e ir embora, seria repetir
outro padrão das políticas públicas à brasileira. Cabe ao voluntariado fazer uma visita por mês às famílias
assistidas. Um instrumento imprescindível nessas ocasiões é a balança, para medir a evolução da criança.
A escora da índole feminina. Noventa e dois por cento do voluntariado da Pastoral da Criança é 30
constituído
por mulheres. Uma tarefa dessas é séria demais para ser deixada por conta dos homens. A mulher é muito mais
confiável quando se mexe com assunto situado nos extremos da existência, como são os cuidados com o
nascimento e a morte, a saúde e a doença.
Zilda Arns conduziu-se por uma estratégia baseada na sabedoria antiga e na vontade de fazer, nada mais do
que isso. É paradoxal dizer isso de uma pessoa tão religiosa, mas não houve milagres na sua ação. 35
A menos
que se considere um milagre a presença dessa coisa chamada amor como motor, tanto dela como das pessoas
em quem ela inoculava o mesmo vírus. Vai ver, ela diria isso. Vai ver, isso foi importante mesmo.
O escritor Saul Bellow conta que, certa vez, passeava de bote num rio infestado de jacarés quando começou
a ficar apavorado. Não era tanto a morte que o apavorava. Era o necrológio: "Morreu ontem, 40
devorado por
jacarés...". Zilda Arns está condenada ao necrológio: "Morreu de terremoto, no Haiti". Não é esdrúxulo como ser
devorado por um jacaré. Também não é raro como cair no poço do elevador, como a atriz Anecy Rocha, irmã de
Glauber, ou ser tragado pela boca do Vesúvio, como o republicano histórico Silva Jardim. Mas é raro para um
brasileiro, em cujo território não ocorrem terremotos de proporções mortais, e chocante como são as mortes
40
inesperadas, provocadas por acidentes. Zilda Arns, como Anecy 45
Rocha e Silva Jardim, morreu em
circunstâncias do tipo que nunca se esquece. Mas, também, em circunstâncias que lhe coroam a vida. Estava
no Haiti para, em contato com religiosos locais, propagar a metodologia da Pastoral da Criança. Morreu em
combate.
Roberto Pompeu de Toledo, Veja, 20-1-2010
Questão 67)
Em qual das palavras abaixo o elemento sublinhado é prefixo e não radical?
a) “Necrológico” (ref. 35).
b) “Terremoto” (ref. 40).
c) “Metodologia” (ref. 45).
d) “Arcebispo” (ref. 10).
Gab: D
TEXTO: 30 - Comum à questão: 68
O Homem que se endereçou
Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua Treze, nº 21.
Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a empregada
colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o
funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa
prateleira.Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta
voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta
se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem com o furo na mão e
outras histórias. São Paulo: Editora Ática, 1998
Questão 68)
Há um caso de predicado verbo-nominal na alternativa:
a) ...o funcionário tinha parado indeciso
b) ...consultara o envelope e prosseguira
c) ... a empregada colocou-o no correio
d) Narciso nunca mais encontrou a si mesmo
e) A carta voltou à prateleira
Gab: A
TEXTO: 31 - Comum à questão: 69
1Com o advento da internet, criam-se novos mecanismos para quem busca ser uma celebridade ou tornar-se,
pelo menos, conhecido. Um exemplo disso é a utilização das redes sociais – o Facebook, Twitter e o Orkut,
entre outros – pelos aspirantes a famosos, que desejam alcançar os seus quinze minutos de fama – previstos
por Andy Warhol em 1960 –, por meio da utilização dessas ferramentas. Essas redes, que surgiram
prioritariamente como um 5agente para a integração social, criam um ambiente propício para o exibicionismo e o
voyerismo (prática que consiste no prazer a partir da observação de outras pessoas), onde ser contemplado é o
que importa.
Sobre essa prática, Paula Sibília, professora do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comenta que a rede tem proporcionado uma espécie de democratização na
busca pelo estrelato. “A internet oferece um outdoor com espaço para todos: nessas vitrines mais populares,
41
qualquer um 10
pode ser visto como tem direito. As opções são inumeráveis e não cessam de se multiplicar:
blogs, fotologs, Orkut, Facebook, MySpace, Twitter, Youtube e um longo etcétera”.
O temor da chamada “invasão de privacidade”, segundo a professora, dá espaço para o quase oposto: o
aparecer, ser visto, contemplado e admirado. Para ela, o exibicionismo na rede ocorre a partir da necessidade
que as pessoas têm de serem vistas, e como uma forma de confirmação de que existem e estão vivas. As
pessoas mostram-15
se como um personagem, saciando a voracidade e a curiosidade de outras. “Tudo aquilo
que antes concernia à pudica intimidade pessoal tem se ‘evadido’ do antigo espaço privado, transbordando seus
limites, para invadir aquela esfera que antes se considerava pública. O que se busca nessa exposição
voluntária, que anseia alcançar as telas globais, é se mostrar, justamente: constituir-se como um personagem
visível. Por sua vez, essa nova legião de exibicionistas satisfaz outra vontade geral do público contemporâneo: o
desejo de espionar e consumir vidas alheias”. 20
Cláudia da Silva Pereira, professora do Centro de Ciências Sociais, da Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro, também acredita que na internet se cria um espaço para que as pessoas vivam outros
personagens e consigam, deste modo, uma espécie de autorrealização pessoal. “Podemos ser ali o que
desejarmos, construindo perfis de acordo com o que projetamos ser o ideal. Ou não. Afinal, a internet abre ainda
mais espaço para condutas sociais desviantes que raramente poderiam se concretizar na vida off-line. Aderir a
comunidades politicamente 25
incorretas, criar perfis falsos ou transitar por comunidades que consideramos
‘exóticas’ pode ser uma ótima maneira de buscar a experimentação e, consequentemente, a realização, da
mesma forma”, conclui.
Sibília aponta ainda para a ruptura de um padrão de vida em que os muros já não protegem mais a
privacidade individual. “Das webcams até os paparazzi, dos blogs e fotologs até YouTube e MySpace, das
câmeras de vigilância até os reality shows e talk shows, a velha intimidade transformou-se em outra coisa. E
agora está à vista de todos. 30
Ou, pelo menos é isso o que conseguem aqueles afortunados: os famosos”. Já
Pereira lembra que a “espetacularização” do cotidiano atinge a todos, invariavelmente, ao utilizarem essas
ferramentas sociais, levando a uma maior permissividade com relação ao que é restrito ou irrestrito, ao que é
público e ao que é privado. “A própria ideia de fronteira é imprecisa em se tratando de internet. É evidente que
existe a opção de se compartilhar ou não da intimidade na internet, existe até mesmo a opção de não participar
de redes sociais on-line, mas esta já parece ser 35
uma escolha que limita o trânsito em diversos espaços sociais.
A superexposição nas redes sociais on-line tem seus reflexos na vida off-line, assim como a simples ausência”.
Outra rede social em que a exposição está presente e nem sempre de maneira benéfica é o Youtube.
Inúmeros são os casos de pessoas que se tornam famosas por meio da utilização dessa ferramenta, sem se
importarem em ser reconhecidos por postarem vídeos de gosto duvidoso ou grotesco, confirmando a obsessão
de muitos na busca 40
pela fama a qualquer custo. “Esses sujeitos têm fortalecido o hábito de serem
reconhecidos pelo que fazem de transgressão e não por respeitarem a ordem social. Em toda prática de desvio
de conduta, sempre podemos acreditar que o meio ou a ferramenta apenas facilitou o ato, que na verdade já
havia no sujeito que o praticou uma predisposição para fazê-lo. Infelizmente, os valores de determinados grupos
sociais são refletidos nessas práticas e as consequências podem ser a banalização desses atos, aumentando as
probabilidades de legitimá-las”, lembra Khater. Para ela, as 45
pessoas não devem permitir que o virtual se
sobreponha ao real. “Nós, seres humanos, precisamos da realidade, pois somos seres eminentemente sociais.
Quando o virtual se sobrepõe ao real, nos sentimos vazios, pois sabemos da nossa necessidade de real
aprovação em nosso meio social”.
Ainda, na contramão dos que buscam o reconhecimento, muitos famosos e celebridades encontram nas
redes sociais uma forma de se aproximar das pessoas comuns, do seu público, de seus fãs. Artistas, jornalistas,
músicos 50
e público interagem de uma maneira mais natural. “É praticamente imperativo que uma celebridade
mantenha um perfil no Twitter ou no Facebook, caso contrário ela simplesmente não existe no ambiente on-line.
Desta forma, o público se aproxima daqueles que o sociólogo e filósofo Edgar Morin um dia chamou de
‘olimpianos’, aqueles que se veem obrigados a descer de seus altares dos meios de comunicação de massa
para interagir em 140 caracteres com as pessoas ‘comuns’. O fã torna-se íntimo do ídolo, o que retira dessa
relação grande parte de sua magia”, 55
defende Pereira.
Para Francisco Rüdiger, docente do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), as celebridades, ao migrarem para as redes sociais, têm seus carismas submetidos a testes
cotidianos e banais. “As redes sociais abriram aos fãs a possibilidade de articular, mais ampla e cotidianamente,
o culto de seus ídolos mas, por outro lado, atraíram estes últimos para um terreno onde sua capacidade de
gerenciar a própria 60
imagem e influência é muito mais fraca ou instável. As celebridades não podem ficar fora
das redes, se quiserem continuar sendo celebridades, mas a redução da distância que assim se instala,
converte-se em fonte de perigo para sua condição”, acredita.
42
Ferrari aponta para o fim do antigo esquema celebridade-mídia-público. Pois, agora, os fãs podem interagir
diretamente com seus ídolos (e vice-versa), sem precisar de intermediário. “As mídias sociais tiraram os
intermediários, 65
ou seja, a grande mídia. Hoje uma celebridade interage diretamente com seus fãs pelo Twitter,
Facebook, MySpace etc. O feedback é instantâneo”, conclui.
Disponível em: <http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?
section=8&edicao=59&id=751&tipo=0>.
Acesso em: 12 de set. 2010. (Texto modificado)
Questão 69)
Assinale a ÚNICA alternativa que NÃO apresenta indeterminação do agente.
a) “Com o advento da internet, criam-se novos mecanismos para quem busca ser uma celebridade [...].” (ref.
1)
b) “O que se busca nessa exposição voluntária, que anseia alcançar as telas globais é se mostrar [...]”. (ref.
15)
c) “[...] na internet se cria um espaço para que as pessoas vivam outros personagens [...]”. (ref. 20)
d) “As pessoas mostram-se como um personagem, saciando a voracidade e a curiosidade de outras.” (ref. 10
e 15)
Gab: D
TEXTO: 32 - Comum à questão: 70
De bem com a vida
1
A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele
momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras 5maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida. Afinal, desde que nos entendemos por gente,
aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente
colocado no meio do meu caminho (que, de certa 10
forma, coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive
certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não
é um estado mágico e duradouro. Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída 15
em
conta-gotas. Um pôr de sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não
consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir... São situações e momentos que
vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que 20
merecem alegrias de pequeno e médio porte e até
grandes (ainda que fugazes) alegrias.
FERREIRA, Leila. Revista Marie Claire. nov. 2008. p.56. (fragmento)
Questão 70)
São acentuadas por justificativas distintas as palavras:
a) “dúvida” e “xícara”.
b) “contrário” e “trajetória”.
c) “café” e “até”.
d) “mágico” e “homeopática”.
e) “pôr de sol” e “recém-coado”.
Gab: E
43
TEXTO: 33 - Comum à questão: 71
A revolução das Células-tronco
Evanildo da Silveira
“A expectativa hoje é tão grande que, se você diz que vai tratar um paciente com células-tronco, é capaz de
ele se curar sozinho.” Embora dita em tom de brincadeira, a frase da bióloga e geneticista Nance Nardi, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e uma das maiores especialistas do Brasil em células-
tronco (CTs), dá bem a medida da fama e das esperanças em torno dessa nova possibilidade terapêutica. Mas é
preciso cautela. Para 5usar um velho clichê: devagar com o andor. O santo não é de barro, é verdade, mas
ainda vai demorar a fazer milagres.
Até 1999, quando as CTs foram eleitas pela revista Science o avanço científico do ano, pouca gente sabia do
que se tratava. Hoje, elas estão nas páginas dos jornais e, por causa de sua capacidade de se transformar em
qualquer tecido do corpo humano, trazem esperanças de recuperação para vários males. Alguns cientistas
chegam 10
a dizer que sua descoberta é tão revolucionária quanto a da penicilina. Em sua maioria, no entanto, os
pesquisadores são mais cautelosos. Embora reconheçam as possibilidades que essas células abrem para a
medicina, fazem questão de lembrar que ainda serão necessários muitos anos de estudos e testes até que elas
possam ser usadas em tratamentos rotineiros.
Nance, por exemplo, lembra que as únicas CTs usadas hoje na medicina são as da medula óssea, que
desde 15
os anos 1950 são empregadas no tratamento de doenças do sangue, como leucemias e anemias. “O
uso de célulastronco para qualquer outro tipo de doença deve ser considerado ainda em experimentação”,
explica. “A maioria dos estudos clínicos continua sendo realizada com pequeno número de pacientes e sem
controles adequados. Apenas quando tivermos muitos desses estudos, controlados, realizados em vários
centros de pesquisa, é que poderemos comprovar a real eficiência da terapia com células-tronco.” 20
A farmacêutica bioquímica Patrícia Pranke, professora de hematologia da Faculdade de Farmácia da
UFRGS, também prefere guardar certa reserva. Ela realiza estudos na área de neurociência, mais
especificamente na tentativa de reconexão de medula partida. Justamente o caminho para que paraplégicos
possam levantar de suas cadeiras de rodas e voltar a andar. Não é de se estranhar, portanto, as esperanças em
milagres que esse tipo de estudo gera.
Mas a própria pesquisadora não compartilha dessa crença. Ainda na fase de experiências com cobaias, ela
já 25
obteve bons resultados em ratos. Mesmo assim, mantém a calma e resume sua posição e a da maioria de
seus pares: “Estamos cautelosamente otimistas. Não podia ser diferente diante do que estamos conseguindo.
Há dez anos, dizia-se que a reconexão da medula era impossível. Hoje, sabemos que não. Mas também não
devemos nos precipitar, porque não se trata de milagre. É ciência, e a ciência é lenta”.
Disponível em: <http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/454/artigo180208-3.htm>.
Acesso em: 10 nov 2010. Texto modificado.
Questão 71)
Observa-se no texto a alternância de tempos verbais. A esse respeito, faça o que se pede:
a) Explique a razão dessa alternância.
b) Retire do texto dois períodos em que fique evidenciado o efeito de sentido provocado por essa alternância,
conforme sua explicação dada em A.
Gab:
a) A alternância entre os tempos verbais evidencia que o autor do texto, ao mesmo tempo em que marca o
momento da enunciação, empregando as formas do presente, distancia-se do que é dito, por meio das
formas do passado.
b) Resposta pessoal.
44
TEXTO: 34 - Comum à questão: 72
Sua excelência
[O ministro] vinha absorvido e tangido por uma chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que quase lhe
falavam a um tempo na consciência: orgulho, força, valor, satisfação própria etc. etc.
Não havia um negativo, não havia nele uma dúvida; todo ele estava embriagado de certeza de seu valor
intrínseco, das suas qualidades extraordinárias e excepcionais de condutor dos povos. A respeitosa atitude de
todos e a deferência universal que o cercavam, reafirmadas tão eloquentemente naquele banquete, eram nada
mais, nada menos que o sinal da convicção dos povos de ser ele o resumo do país, vendo nele o solucionador
das suas dificuldades presentes e o agente eficaz do seu futuro e constante progresso.
Na sua ação repousavam as pequenas esperanças dos humildes e as desmarcadas ambições dos ricos.
Era tal o seu inebriamento que chegou a esquecer as coisas feias do seu ofício... Ele se julgava, e só o que
lhe parecia grande entrava nesse julgamento.
As obscuras determinações das coisas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam,
visto que, só ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o país chegar ao destino que os antecedentes dele
impunham.
(Lima Barreto. Os bruzundangas. Porto Alegre: L&PM, 1998, pp. 15-6)
Questão 72)
Assinale a alternativa contendo as palavras acentuadas segundo a regra que determina a acentuação,
respectivamente, de consciência, intrínseco e levá-lo-iam.
a) Extraordinárias; própria; país.
b) Parágrafo; porém; até.
c) Ofício; dúvida; atrás.
d) Vivência; tórax; virá.
e) Cenógrafo; bíceps; contê-las.
Gab: C
TEXTO: 35 - Comum à questão: 73
Considere o artigo de Don Tapscott (1947-).
O fim do marketing
A empresa vende ao consumidor
— com a web não é mais assim
Com a internet se tornando onipresente, os Quatro Ps do marketing — produto, praça, preço e promoção —
não funcionam mais. O paradigma era simples e unidirecional: as empresas vendem aos consumidores. Nós
criamos produtos; fixamos preços; definimos os locais onde vendê-los; e fazemos anúncios. Nós controlamos a
mensagem. A internet transforma todas essas atividades.
(...)
Os produtos agora são customizados em massa, envolvem serviços e são marcados pelo conhecimento e os
gostos dos consumidores. Por meio de comunidades online, os consumidores hoje participam do
desenvolvimento do produto. Produtos estão se tornando experiências. Estão mortas as velhas concepções
industriais na definição e marketing de produtos.
(...)
Graças às vendas online e à nova dinâmica do mercado, os preços fixados pelo fornecedor estão sendo cada
vez mais desafiados. Hoje questionamos até o conceito de “preço”, à medida que os consumidores ganham
acesso a ferramentas que lhes permitem determinar quanto querem pagar. Os consumidores vão oferecer vários
preços por um produto, dependendo de condições específicas. Compradores e vendedores trocam mais
informações e o preço se torna fluido. Os mercados, e não as empresas, decidem sobre os preços de produtos e
serviços.
(...)
45
A empresa moderna compete em dois mundos: um físico (a praça, ou marketplace) e um mundo digital de
informação (o espaço mercadológico, ou marketspace). As empresas não devem preocupar-se com a criação de
um web site vistoso, mas sim de uma grande comunidade online e com o capital de relacionamento. Corações, e
não olhos, são o que conta. Dentro de uma década, a maioria dos produtos será vendida no espaço
mercadológico. Uma nova fronteira de comércio é a marketface — a interface entre o marketplace e o
marketspace.
(...)
Publicidade, promoção, relações públicas etc. exploram “mensagens” unidirecionais, de um-para-muitos e de
tamanho único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem poder. As comunidades online perturbam
drasticamente esse modelo. Os consumidores com frequência têm acesso a informações sobre os produtos, e o
poder passa para o lado deles. São eles que controlam as regras do mercado, não você. Eles escolhem o meio
e a mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas por profissionais de relações públicas, eles criam a
“opinião pública” online.
Os marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
(Don Tapscott. O fim do marketing. INFO,
São Paulo, Editora Abril, janeiro 2011, p. 22.)
Questão 73)
Nós criamos produtos; fixamos preços; definimos os locais onde vendê-los; e fazemos anúncios. Nós
controlamos a mensagem.
Nas orações que compõem os dois períodos transcritos, os termos destacados exercem a função de
a) sujeito.
b) objeto direto.
c) objeto indireto.
d) predicativo do sujeito.
e) predicativo do objeto.
Gab: B
TEXTO: 36 - Comum à questão: 74
01 Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
05 esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
[...]
10 Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
agramática.
Manoel de Barros, “Poema VII”
Questão 74)
O valor do prefixo da palavra agramática encontra-se também em:
a) anagrama.
b) acrópole.
c) adjunto.
d) amoral.
e) análise.
Gab: D
46
TEXTO: 37 - Comum à questão: 75
Leia a legenda da foto.
Nó cego. Quinze pessoas, uma delas adolescente, foram libertadas de oficinas subcontratadas pela confecção.
(O Estado de S.Paulo, 21.08.2011. Adaptado)
Questão 75)
Observa-se alteração da voz passiva para a ativa da frase – Quinze pessoas, uma delas adolescente, foram
libertadas de oficinas subcontratadas pela confecção – em:
a) Libertaram de oficinas subcontratadas pela confecção quinze pessoas, uma delas adolescente.
b) De oficinas subcontratadas pela confecção foram libertadas quinze pessoas, uma delas adolescente.
c) Serão libertadas de oficinas subcontratadas pela confecção quinze pessoas, uma delas adolescente.
d) Vão ser libertadas de oficinas subcontratadas pela confecção quinze pessoas, uma delas adolescente.
e) Quinze pessoas, uma delas adolescente, vão ser libertadas de oficinas subcontratadas pela confecção.
Gab: A
TEXTO: 38 - Comum à questão: 76
01
Organizações ambientalistas internacionais afirmam 02
que o Brasil pode estar perdendo a liderança 03
no
movimento ecológico global, depois que 04
a Câmara dos Deputados aprovou, na quarta feira, 05
um novo texto
que altera o Código Florestal Brasileiro. 07
Em entrevista _____ BBC Brasil, representantes 08
da WWF e do Greenpeace em Londres disseram 09
que o
Brasil sempre foi visto como um dos países 10
mais ativos na promoção de ideias ambientais 11
em fóruns
internacionais, como as reuniões sobre 12
mudanças climáticas da ONU. Mas, a aprovação 13
do texto do
deputado Paulo Piau (PMDB-MG) pode 14
provocar uma mudança nessa percepção. 15
O texto ainda precisa ser apreciado pela presidente 16
Dilma Rousseff, que pode vetá-lo na íntegra 17
ou
parcialmente. Neste caso, a proposta volta para 18
o Congresso, que pode fazer alterações ou derrubar 19
o veto. 20
Entre os pontos mais polêmicos do parecer de 21
Piau está a questão da anistia ______ produtores 22
que
desmataram florestas nas proximidades de 23
rios. O texto afeta os proprietários de terra que 24
desmataram os
30 metros das Áreas de Preservação 25
Permanente (...). Eles ficam liberados da obrigação 26
de recuperar
totalmente a área degradada. 27
De acordo com o texto aprovado, (...), os proprietários 28
que infringiram tais
regras terão de replantar 29
apenas 15 metros. 30
É um choque estarem alterando o Código Florestal 31
que protege_____ floresta amazônica. Com 32
a
proximidade da Rio+20, isso bota muita pressão 33
sobre a presidente Dilma Rousseff. Será muito difícil 34
para
ela se apresentar como defensora do 35
ambiente, disse _____ BBC Brasil Sarah Shoraka, 36
ativista especialista
em florestas do Greenpeace. 37
Para a diretora de Florestas da WWF no Reino 38
Unido, Sandra Charity, a comunidade internacional 39
está
'perplexa' com a votação no Congresso 40
brasileiro. 41
O Brasil tem uma trajetória de país moderno, 42
que sempre esteve na liderança dos compromissos 43
ambientais, tendo em vista a sua posição na 44
Conferência de Mudanças Climáticas de Copenhague 45
[2009].
O país sempre esteve na frente e 46
puxando os outros países. A aprovação desse texto 47
é um retrocesso,
disse ela. 48
A representante da WWF ressalvou que o texto 49
foi aprovado no Congresso, e não pela Presidência, 50
mas
que mesmo assim a medida tende a respingar 51
na imagem do governo e do país como um 52
todo.
http://verde.br.msn.com (Por BBC, BBC Brasil, Atualizado: 26/4/2012)
47
Questão 76)
Assinale a alternativa em que o elemento mórfico em destaque está incorretamente analisado.
a) desmataram (Ref.22) - radical
b) aprovação (Ref.46) - prefixo
c) ficam (Ref. 25) - tema
d) afirmam (Ref. 1-2) - desinência número-pessoal
e) provocar (Ref. 14) - vogal temática
Gab: B
TEXTO: 39 - Comum à questão: 77
Leia a tirinha a seguir.
(Jornal de Londrina. 27 maio 2011. Seção Mosaico.)
Questão 77)
Com relação à tirinha, assinale a alternativa correta.
a) A reação do paciente revela a falta de entendimento do discurso expresso pelo médico sobre seu estado de
saúde.
b) A sátira se faz presente, no último quadrinho, ao demonstrar um erro cometido pelo médico.
c) Há uma crítica aos médicos que se preocupam mais com a beleza física do que com a saúde.
d) O efeito do humor se apoia na polissemia presente na expressão “beleza interior”.
e) O segundo quadrinho é marcado pelo uso da linguagem denotativa.
Gab: D
TEXTO: 40 - Comum à questão: 78
Era uma vez a criatividade
A televisão e o cinema revivem (e maltratam) os contos de fadas
Danilo Venticinque e Isabella Ayub
01
Se o teste do tempo é a melhor forma de 02
julgar o valor de uma história, a genialidade dos 03
contos de
fadas é inquestionável. Adaptados de 04
narrativas orais da Idade Média, os escritos de 05
Charles Perrault
(1628-1703) e dos irmãos Jacob 06
(1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) têm 07
sido capazes de encantar
seguidas gerações – e, 08
naturalmente, migraram para as telas. Desde a 09
invenção do cinema, as histórias
fantásticas 10
ganharam inúmeras adaptações: de Branca de 11
Neve, de Walt Disney (de 1937), à sátira Shrek 12
(2001), passando por filmes de terror e comédias 13
românticas. Nada mais natural, portanto, que a 14
entressafra de boas ideias em Hollywood tenha 15
trazido de volta os contos de fadas. Num intervalo 16
de dois
meses, duas adaptações de Branca de 17
Neve, dos Irmãos Grimm, chegarão aos cinemas. 18
Espelho, espelho meu tem a vantagem de 19
chegar primeiro – embora os espectadores não 20
tenham
motivos para ficar empolgados. Julia 21
Roberts, que vive a Rainha Má, avisou que não 22
deixará seus três filhos
assistirem ao filme. Talvez 23
as outras mães devessem imitá-la. A história traz 24
invenções duvidosas, como
Branca de Neve 25
recebendo treinamento de artes marciais dos sete 26
anões... Com Lily Collins no papel
48
principal (de 27
cabelo exageradamente curto e sobrancelhas 28
grossas), é difícil entender por que a linda vilã 29
interpretada por Julia Roberts sentiria inveja da 30
aparência dela. Ao contrário de Encantada, de 31
2007,
Espelho, espelho meu não seduz na 32
comédia nem no romance. 33
Seu concorrente parece ainda menos atraente. 34
Em Branca de Neve e o Caçador, que estreia em 35
junho, a heroína é interpretada por Kristen 36
Stewart (a Bella, de Crepúsculo). O Caçador é 37
Chris Hemsworth,
de Thor. Ambos estudam 38
estratégias militares e se unem contra a Rainha 39
Má, com um exército de oito
(oito?!) anões. 40
Criticar o filme antes das primeiras exibições 41
seria temerário, evidentemente. 42
Na televisão, os contos de fadas também 43
ocupam um papel central em duas estreias 44
recentes. Aí, o
problema é o excesso de 45
originalidade. A série Grimm, lançada no final do 46
ano passado no canal Universal,
é ambientada 47
num mundo em que os personagens de contos de 48
fadas existem – e estão entre nós. Cabe a
uma 49
antiga linhagem de caçadores, chamados Grimms, 50
a tarefa de controlar essas criaturas sobrenaturais. 51
Vítimas da criatividade dos roteiristas, os 52
linguistas alemães do século XIX viraram 53
caçadores de
lobisomens. 54
O mesmo mal acomete Once upon a time 55
(Era uma vez), da Sony. Criada por Edward Kitsis 56
e Adam
Horowitz, produtores de Lost, a história 57
tem um enredo sombrio. No casamento de Branca 58
de Neve com o
Príncipe Encantado, a Rainha Má 59
invade a Floresta Encantada e promete lançar um 60
feitiço que acabará
com a alegria de todos os 61
personagens dos contos de fadas. A ameaça se 62
torna verdade no dia do
nascimento de Emma, 63
filha do casal, quando todos se esquecem de que 64
fazem parte de contos de fadas e
ficam presos 65
numa cidade chamada Storybrook, no meio do 66
mundo real. Só Emma escapa da maldição, 67
protegida por um armário mágico construído por 68
Gepeto, de Pinóquio. Aos 28 anos, ela retorna à 69
terra natal
para livrar os seres fantásticos de suas 70
vidas comuns. 71
Apesar da premissa esquisita, a série 72
consegue manter o tom de drama e mistério. Foi o 73
suficiente
para cativar a audiência americana, 74
embora a magia não tenha amolecido o coração da 75
crítica, que detonou
a série. Seu sucesso de 76
público, porém, mostra que os contos de fadas, 77
mesmo mal adaptados, mantêm
um forte apelo. 78
“Eles sempre serão atuais, pois trazem arquétipos 79
que estão na essência da humanidade”,
diz o 80
linguista José Gregorin Filho, da Universidade de 81
São Paulo. Na falta de boas ideias como Shrek ou 82
Encantada, não faria mal algum deixar Branca de 83
Neve esperar mais alguns anos pelo príncipe, ou 84
permitir
que a Bela Adormecida descanse em paz.
(Texto adaptado. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Mente-aberta/
noticia/2012/04/era-uma-vez-criatividade.html >. Publicado em 04/04/2012. Acesso em 15/08/2012)
Questão 78)
Assinale o que for correto a respeito do uso dos tempos verbais no texto.
01. Em “os escritos de Charles Perrault (1628-1703) e dos irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-
1859) têm sido capazes de encantar seguidas gerações” (Refs. 4-7), a locução verbal “têm sido” indica uma
anterioridade que dura até o presente.
02. Em “é difícil entender por que a linda vilã interpretada por Julia Roberts sentiria inveja da aparência dela”
(Refs. 28-30), a forma verbal no futuro do pretérito “sentiria” denota uma ação que será realizada.
04. Em “Talvez as outras mães devessem imitá-la.” (Refs. 22 e 23), o verbo auxiliar “devessem”, no pretérito
imperfeito do subjuntivo, indica um pedido por parte dos autores do texto.
08. Em “Nada mais natural, portanto, que a entressafra de boas ideias em Hollywood tenha trazido de volta os
contos de fadas.” (Refs. 13-15), a locução verbal “tenha trazido” poderia ser substituída, sem prejuízo de
sentido, por uma forma simples como “trouxesse”.
16. Em “duas adaptações de Branca de Neve, dos Irmãos Grimm, chegarão aos cinemas” (Refs. 16 e 17), a
forma verbal simples “chegarão” poderia ser substituída, sem prejuízo de sentido, pela locução verbal “vão
chegar
Gab: 25
49
TEXTO: 41 - Comum à questão: 79
Volta às origens. Conheça trechos das versões originais das histórias
Bia Reis − O Estado de S. Paulo
01
Animais que falam, princesas que sofrem, 02
reis e rainhas, fadas madrinhas, gigantes. As 03
histórias se
passam em um lugar longínquo, 04
muitas começam com “era uma vez” e os 05
personagens têm nomes simples,
às vezes 06
apelidos. E, como se fosse mágica, o leitor 07
mergulha em um mundo onde tudo é possível: um 08
pé
de feijão pode crescer até o céu e um tapete, 09
voar. 10
Conforme atravessaram os séculos, os contos 11
de fadas foram ganhando nova roupagem. A 12
narrativa
central permaneceu, mas, em geral, eles 13
se tornaram mais leves, açucarados. Na versão 14
original de
Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, 15
o Lobo come a Vovó e a menina − e não há nem 16
sombra dos
caçadores. 17
O mesmo aconteceu com a história da Rainha 18
Má que tenta a todo custo acabar com a vida da 19
enteada, apontada pelo Espelho como a mulher 20
mais bela do reino. Criado entre os séculos 16 e 21
17, o
conto foi reescrito pelos irmãos Jacob 22
(1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) e 23
ganhou o mundo com a
versão de Walt Disney 24
para o cinema, em 1937. Mas, nesse caso, foi o 25
americano quem colocou o açúcar. 26
Na versão dos irmãos Grimm de Branca de 27
Neve, cujo texto está sendo relançado pela 28
Geração
Editorial, após receber do caçador 29
pulmões e fígado de um javali, a madrasta pede ao 30
cozinheiro que ferva
os órgãos e os come 31
pensando que fossem da moça. 32
A Rainha Má tenta matar a enteada não uma, 33
mas três vezes. Primeiro, vai à casa dos sete anões 34
e,
disfarçada de vendedora, oferece laços para 35
espartilho. Branca de Neve deixa que a senhora 36
coloque a fita,
e ela a aperta com tanta força que 37
faz a garota desmaiar. Depois, a rainha tenta 38
matá-la com um pente
envenenado para, 39
finalmente, lançar mão de sua estratégia mais 40
conhecida: a maçã cheia de veneno. 41
O fim da história também é mais dramático. 42
Não há o famoso beijo e o “então viveram felizes 43
para
sempre”. Branca de Neve volta à vida 44
quando, ao ser carregada pelos servos do príncipe, 45
um deles tropeça
e, com o solavanco, um pedaço 46
de maçã envenenada sai da garganta da moça. 47
A madrasta é convidada para o casamento de 48
Branca de Neve com o príncipe, e os dois se 49
vingam da
rainha cruel fazendo com que ela calce 50
sapatos de ferro aquecidos sobre carvões em brasa 51
e dance. (...)
(Texto adaptado. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/
impresso,volta-as-origens -conheca-trechos-das-versoes-originais-das-
historias,897511,0. htm>. Publicado em 08/07/2012. Acesso em 15/08/2012)
Questão 79)
Assinale o que for correto em relação à flexão e à formação de palavras no texto.
01. Os vocábulos “reescrito” (linha 21), “relançado” (Ref. 27) e “receber” (Ref. 28) têm em comum o prefixo “re-”,
que indica repetição.
02. No vocábulo “açucarados” (Ref. 13), o sufixo “-ado” forma um adjetivo a partir do substantivo “açúcar”.
04. O vocábulo “envenenado” (Ref. 38) é formado a partir de “envenenar”, em que há adição simultânea de
prefixo e de sufixo: en + veneno + ar.
08. Em “Animais que falam” (Ref. 1), a desinência número-pessoal “-m” indica que se trata de forma da terceira
pessoa do plural.
16. O vocábulo “personagens” (Ref 5), embora possa ter referentes tanto do sexo masculino (“príncipe”, por
exemplo) quanto do sexo feminino (“princesa”), é tratado pela autora do texto como sendo do gênero
masculino pela anteposição do artigo “os”.
Gab: 30
TEXTO: 42 - Comum à questão: 80
Kristen Stewart trai Robert Pattinson com diretor casado: “sinto muito”
Atriz de “Crepúsculo” é flagrada beijando Rupert Sanders, diretor de “Branca de Neve e O Caçador”, e pede
desculpas pela “indiscrição momentânea”
iG São Paulo
50
01
O romance de Kristen Stewart e Robert 02
Pattinson, protagonistas da saga Crepúsculo, é 03
capa de
revista novamente, mas dessa vez as 04
notícias não reafirmam o “conto de fadas da vida 05
real”. A edição desta
semana da Us Weekly 06
mostra fotos da atriz traindo o namorado, na 07
última terça (17), com Rupert Sanders,
diretor de 08
“Branca de Neve e o Caçador”, filme do qual ela 09
é protagonista. 10
Após a polêmica, Kristen veio a público para 11
se desculpar em nota publicada nesta quarta (24) 12
pela
People: “Sinto muitíssimo pelo sofrimento e 13
constrangimento que causei àqueles próximos a 14
mim e a todos
afetados por isso. Essa indiscrição 15
momentânea expôs a coisa mais importante da 16
minha vida, a pessoa
que eu mais amo e respeito, 17
Rob. Eu o amo, o amo, e sinto muito.” 18
A capa da US divulgada no site da publicação 19
mostra uma foto de Rupert abraçando Kristen por 20
trás
enquanto a atriz segura a mão do diretor. 21
“Parecia que eles não se cansavam”, disse um 22
fotógrafo da
revista. 23
Rumores de que Kristen namora Robert 24
Pattinson existem desde o início da saga 25
Crepúsculo, mas
foram confirmados mais 26
recentemente, quando os atores foram flagrados 27
aos beijos em Cannes e a atriz de
22 anos falou 28
sobre Rob em uma entrevista. 29
Rupert Sanders, por sua vez, é 19 anos mais 30
velho do que Kristen, casado com a modelo 31
Liberty
Ross, de 33 anos, e pai de dois filhos. 32
A esposa de Rupert, Liberty Ross, que 33
interpretou a mãe da princesa Branca de Neve no 34
filme,
publicou no Twitter apenas “Wow”. Em 35
seguida, retwittou uma frase de Marilyn Monroe, 36
que diz que “às
vezes coisas boas terminam para 37
que outras melhores comecem”, e deletou a conta 38
na rede social. 39
De acordo com a People, o caso foi 40
momentâneo. “Ela não teve um caso com Rupert. 41
Foi só um
momento passageiro que não devia ter 42
acontecido”, teria dito uma fonte à revista. 43
De acordo com o informante da publicação, 44
Kristen está destruída: “ela nunca quis machucar 45
ninguém.
Ela é uma boa pessoa que fez uma 46
escolha ruim”.
(Texto adaptado. Disponível em: <http://igirl.ig.com.br/celebridades/
2012-07-25/kristen-stewarttrai- robert-pattinson-com-diretor-casado-diz-
revista.html>. Publicado em 25/07/2012. Acesso em 15/08/2012)
Questão 80)
Assinale o que for correto a respeito dos elementos linguísticos do texto.
01. A expressão “desta semana” (Ref. 5) não pode ser interpretada sem referência à data de publicação da
revista Us Weekly, que mostra fotos da traição de Kristen Stewart.
02. Em “Sinto muitíssimo” (Ref. 12), o sufixo “-íssimo” intensifica ainda mais uma palavra que já funciona como
intensificador.
04. O vocábulo “retwittou” (Ref. 35), embora ainda não esteja totalmente adaptado às regras gráficas da língua
portuguesa, é formado a partir de um vocábulo estrangeiro, “Twitter”, ao qual se acrescentam elementos da
língua portuguesa, como o prefixo “re-” e a desinência verbal “-ou”.
08. A utilização dos adjetivos “boa” (Ref. 45) e “ruim” (Ref. 46) para qualificar, respectivamente, os substantivos
“pessoa” (Ref.. 45) e “escolha” (Ref. 46), representa uma tentativa do informante da revista People de
defender a pessoa da atriz Kristen Stewart.
16. Em “a coisa mais importante da minha vida” (Refs.15 e 16), observa-se uma construção comparativa de
superioridade.
Gab: 15
TEXTO: 43 - Comum à questão: 81
Reduza a marcha para viver melhor
Plugados, conectados, acelerados. Assim vivemos esses dias modernos. Assumimos muitos compromissos e
esperamos realizá-los em tempo recorde. Fazemos horas extras na empresa, checamos nossos e-mails a cada
instante e somos constantemente acompanhados pela incômoda sensação de que não vamos conseguir cumprir
tudo o que temos agendado.
51
Em resumo: são muitos deveres e pouco repouso. Além disso, muita gente confunde agenda lotada com
sucesso profissional e competência. Isso não passa de um equívoco. Pequenas pausas são fundamentais e
ajudam a reencontrar nossa identidade, que foi perdida no meio dessa correria sem fim.
Em contrapartida, quantas vezes, ao desacelerar um pouco, atingimos um silêncio interior tão grande que
chega a incomodar? Segundo a psicóloga Patrícia Gebrim, autora do livro Enquanto Escorre o Tempo (Editora
Pensamento Cultrix), isso acontece porque as pessoas que estão sempre com a cabeça nas atividades
tornaram-se meras cumpridoras de papéis, perdendo assim a sua essência. Elas correm tanto que se esquecem
de quem são e passam a se identificar com o que compram, fazem ou com o trabalho. Portanto, é preciso utilizar
momentos de sossego para dar um passo para trás e redescobrir quem somos. "Caso contrário, boicotaremos
qualquer tentativa de melhorar a qualidade de vida", pontua a psicóloga.
Adaptado de: Angela Tessicini. Revista Vida Natural.
Ano III. Edição 43 – novembro/2010.
Questão 81)
Quando se escreve um texto, de qualquer gênero, elege-se elementos que possam lhe dar unidade estrutural e
também para atender ao meio em que ele circula. Em relação a isso, assinale o que for correto.
01. O uso do chamado sujeito não expresso (o tradicional sujeito oculto) é constante no primeiro parágrafo do
texto, sem alterar a clareza das ideias ex-postas.
02. A escolha de sujeito expresso ou não expresso se dá por razões textuais, necessárias para o fluir da
informação.
04. O pronome complemento em "esperamos realizá-los em tempo recorde" que se refere a compromissos, foi
usado em concordância aos padrões da escrita com maior formalidade.
08. O uso do possessivo sua, em "perdendo assim a sua essência", deixa o leitor sem saber a que palavra ele
se refere.
Gab: 07
TEXTO: 44 - Comum à questão: 82
Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de telhado abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fazer. O
diplomata ajusta, com um copo de champagne na mão, os mais intrincados negócios; todos murmuram, e não
há quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço goza
todos os regalos da sua época; as moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu elemento: aqui
uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os quais surde, às vezes, um
bravíssimo inopinado, que solta de lá da sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida no écarté,
mesmo na ocasião em que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido; daí a pouco vão
outras, pelos braços de seus pares, se deslizando pela sala e marchando em seu passeio, mais a compasso que
qualquer de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos
inocentes que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha vovó, que ensaca
nos bolsos meia bandeja de doces que veio para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram em
casa. Ali vê-se um ataviado dandy que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na
sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é
regra, durante ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos.
E o mais é que nós estamos num sarau. Inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha de... senhoras e
senhores, recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande
casa, que brilha e mostra em toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto.
Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam para ver qual delas
vence em graças, encantos e donaires, certo sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa.
(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.)
52
Questão 82)
Assinale a alternativa em que a eliminação do pronome em destaque implica, contextualmente, mudança do
sujeito do verbo.
a) Ali vê-se um ataviado dandy [...].
b) [...] aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos [...].
c) O velho lembra-se dos minuetes e das cantigas do seu tempo [...].
d) [...] mesmo na ocasião em que a moça se espicha completamente [...].
e) [...] daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se deslizando pela sala [...].
Gab: A
TEXTO: 45 - Comum às questões: 83, 84
Cheguei com 21 anos e já estou há 54 em São Paulo. Desde meus primeiros dias, vivo um problema que
existe até hoje e compartilho com todo mundo. Não dirijo. Ando de táxi, ônibus, metrô e caminho muito. Sou
pedestre e, como tal, conheço a tragédia das calçadas. Quem caminha torce o pé em buracos, tropeça em
desníveis, precisa olhar para baixo o tempo inteiro. Não há calçadas uniformes, planas, planejadas, cuidadas.
Cada dono constrói seu trecho segundo sua fantasia. Há gosto, bom gosto e muito mau gosto, breguice, kitsch.
A variedade não contribui para uma cidade criativa e original. Ao contrário, é um mix desordenado de
excrescência.
Problemas pequenos? Some aos outros, por exemplo, as agruras de quem toma ônibus, de quem toma
metrô, de manhã ou à tarde. Tente viajar nos horários de pico. Ah! Aí, sim, se vê por que é uma selva. Algum
coordenador de transportes tentou fazer uma viagem num coletivo cheio, em dia de calor, janelas fechadas?
Algum já viajou esmagado, prensado, sufocado, o ar faltando aos pulmões?
Sonho com utopias. A São Paulo ideal teria calçadas largas contendo uma ciclovia e árvores. E bueiros que
deem vazão às águas das chuvas. E um povo que não varra as folhas para dentro dos bueiros. E que tenha
recipientes para se depositar o lixo. A São Paulo ideal teria prédios de no máximo oito andares e praças e
jardins e parques. E principalmente projetos e planos diretores que olhassem o futuro, e não o presente imediato
e eleitoreiro. E administradores que olhassem com carinho para a cidade.
(Ignácio de Loyola Brandão. O Estado de S.Paulo, 01.07.2012. Adaptado.)
Questão 83)
Em – A São Paulo ideal teria calçadas largas. – a ordem direta dos termos da oração (sujeito, verbo,
complemento) está preservada, o que ocorre também em:
a) Nada substitui o contato direto entre médico e paciente, nem mesmo a internet.
b) Deverá ser o médico um especialista em gente e em processos vitais de singularização.
c) Abrem as novas tecnologias a possibilidade de alterar a relação médico-paciente, com os fóruns e as trocas
de e-mails.
d) Fragilizado, amedrontado e, às vezes choroso, assim chega ao médico o paciente.
e) Cabe ao Conselho Regional de Medicina a obrigação de julgar as denúncias no âmbito profissional da
atividade médica.
Gab: A
Questão 84)
Pelo processo de derivação, as palavras sofrem modificações incorporando diferentes sentidos. Assinale a
alternativa em que as palavras em destaque, nas frases, resultantes do mesmo processo de formação,
traduzem, respectivamente, sentido de admiração e de menosprezo.
a) São Paulo, com todas as oportunidades que oferece, é mesmo uma cidadona. / Quadrilhas invadem
restaurantes e roubam clientes em ondas de ataque em São Paulo: que cidadezinha violenta!
b) As calçadas nas cidades europeias são planejadíssimas. / Como houve mudança na administração do
bairro, a reforma da praça teve de ser replanejada.
53
c) Algum coordenador de transportes tentou fazer uma viagenzinha curta que seja, num coletivo cheio, em dia
de calor? / Moradora da periferia enfrenta uma rotina diária de mais de cinco horas dentro dos ônibus: é
uma hiperviagem.
d) Ele é um supercoordenador e deveria conhecer os problemas do trânsito. / A Prefeitura nomeou uma
pessoa incompetente para administrar o trânsito, é um descoordenador.
e) A variedade dos desenhos forma um mix desordenado de excrescência. / Que sorte temos nós, nossa
cidade é harmoniosa, ordenadíssima!
Gab: A
TEXTO: 46 - Comum à questão: 85
Brasil em alta impulsiona ensino de português no mundo
Até alguns anos atrás, quando algum estrangeiro decidia aprender português, de duas uma: ou tinha um
relacionamento amoroso com um brasileiro ou se interessava por algum aspecto da cultura do País, como a
música. Nos últimos anos, universidades e escolas de idiomas de diversos países têm registrado não só um
aumento da procura pelos cursos que ensinam o be-a-bá da língua de Camões, mas também uma mudança no
perfil dos alunos. “Saber português hoje é bom para o currículo”, resume a brasileira Roberta Mallows, que
ajudou a criar um recém-lançado curso de língua portuguesa e cultura brasileira no King's College London e,
antes disso, dava aulas de português na Suíça. "Há muito mais gente tentando aprender o idioma por questões
pragmáticas e, em especial, para ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho e fazer negócios com o
Brasil".
Roberta nunca planejou ser professora de português. Terminou no ramo ao perceber a enorme demanda do
mercado. A mudança na rotina da professora Claudia Padoan, que há mais de uma década ensina português
em Londres, também dá a medida de como o entusiasmo com os negócios com o Brasil ampliou o interesse
pelo português mundo afora. "Comecei dando aulas esporádicas, para poucos alunos indicados por conhecidos
enquanto trabalhava em uma companhia aérea e como intérprete", conta. Hoje, ela tem seis turmas de
português que podem chegar a 12 estudantes. Dá aulas em duas escolas, em uma agência contratada por
empresas e em uma ONG, além de ter aluno particular. "A grande virada ocorreu mesmo nos últimos dois anos",
diz.
Desde 2008, o português vem sendo listado como um dos idiomas prioritários na pesquisa feita pela
Confederação Britânica da Indústria (CBI), maior lobby empresarial britânico, para identificar quais habilidades
dos trabalhadores podem ser úteis para os negócios. Entre as escolas que se entusiasmaram com a nova
demanda na Grã-Bretanha, está a United International College London, na qual Claudia trabalha. A escola abriu
um curso de português há um ano e já matriculou 86 estudantes, segundo Javier Zamudio, diretor da área de
línguas estrangeiras. "Entre eles, há europeus de diversos países e também alguns latino-americanos", diz
Zamudio, calculando que "cerca de 95% dos alunos" estão interessados no português "do Brasil".
O King's College já tem cerca de 100 alunos aprendendo português e as aulas do curso que alia o ensino da
língua a lições sobre outros aspectos da cultura brasileira começaram na segunda-feira. A rede de ensino de
idioma Cactus, que oferece aulas de português em 13 unidades, também viu o número de estudantes nesses
cursos crescer 107% nos últimos cinco anos, segundo Tinka Carrick, a diretora de marketing. O número de
treinamentos oferecidos às empresas quadruplicou, tendo o aumento mais acentuado ocorrido nos últimos dois
anos (63% e 77% respectivamente).
Nos EUA, a revista especializada em Educação Language Magazine notou, em um artigo recente, como o
boom na procura pelo português em universidades americanas gerou uma demanda ainda não atendida por
mais professores, livros didáticos avançados e dicionários especializados – por exemplo, no vocabulário
corporativo. Lá, há mais de 10 mil alunos matriculados em cursos de português, segundo a Modern Language
Association. Os últimos dados da organização, divulgados em 2010, mostravam um crescimento anual de cerca
de 10% na procura pelo idioma desde 2006, e a estimativa é que essa tendência tenha se acentuado desde
então.
Na China, até alguns anos atrás apenas 4 universidades ofereciam aulas de português. Hoje são 15 e a ideia
de autoridades chinesas é chegar a 30 nos próximos anos. Além disso, também tem aumentado a procura de
jovens estrangeiros por cursos de imersão no Brasil – oferecidos por universidades, instituições e escolas de
idioma em cidades brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo e Maceió. [...]
54
(Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/
2012-10-10/brasil-em-alta-impulsiona-ensino-de-portugues-no-
mundo.html. Acesso em16/10/2012. Adaptado.)
Questão 85)
Acerca do uso de algumas formas verbais, assinale a alternativa correta.
a) No trecho: “Nos últimos anos, universidades e escolas de idiomas de diversos países têm registrado não só
um aumento da procura pelos cursos [...]” (1º §), a forma verbal destacada indica que a ação ocorreu no
passado e está, hoje, totalmente concluída.
b) No trecho: “Há muito mais gente tentando aprender o idioma por questões pragmáticas” (1º §), as formas
verbais utilizadas indicam que a ação de ‘aprender’ ocorreu em um passado bem próximo.
c) No trecho: “Desde 2008, o português vem sendo listado como um dos idiomas prioritários” (3º §), a forma
verbal utilizada indica que a ação começou no passado, durou certo período de tempo e foi finalmente
concluída.
d) No trecho: “A escola abriu um curso de português há um ano e já matriculou 86 estudantes” (3º §), a forma
verbal destacada indica tempo transcorrido, e poderia ser substituída por “faz”.
e) No trecho: “e a estimativa é que essa tendência tenha se acentuado desde então.” (5º §), a forma verbal
destacada indica que a ação foi finalizada em um passado anterior à fala do locutor.
Gab: D
TEXTO: 47 - Comum às questões: 86, 87
VERÍSSIMO, Luís Fernando. As cobras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.
Questão 86)
No segundo quadro da tira, a minhoca se esconde para não ser notada pelas cobras.
Essa tentativa de desaparecimento da personagem é enfatizada pelo uso do seguinte recurso:
a) caráter exclamativo de uma fala
b) movimento conjunto das cobras
c) ausência da moldura do quadro
d) presença de personagens distintos
Gab: C
Questão 87)
Na tira, as duas cobras estão dialogando entre si, quando a minhoca interfere.
Nessa situação, a repetição e o tom exclamativo da fala da minhoca destacam principalmente a seguinte
característica da personagem:
a) raiva
b) ansiedade
c) intolerância
d) contrariedade
Gab: B
55
TEXTO: 48 - Comum à questão: 88
Nós, escravocratas
1 Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros de todos os tempos:
2 o
pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou pensar, intelectual que não se omitiu em 3 agir, pensador e
ativista com causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no 4 Brasil.
5 Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar com a escravidão não basta.
6 É preciso
acabar com a obra da escravidão”, como lembrou na semana passada Marcos Vinicios 7 Vilaça, em solenidade
na Academia Brasileira de Letras. Mas a obra da escravidão continua viva, 8 sob a forma da exclusão social:
pobres, especialmente negros, sem terra, sem emprego, sem 9 casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem
comida; sobretudo sem acesso à educação de 10
qualidade.
11
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se mantém e continuamos 12
escravocratas.
13
Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada, conforme a renda da 14
família de uma
criança, quanto eram diferenciadas as vidas na Casa Grande ou na Senzala. 15
Somos escravocratas porque,
até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento 16
decisivo para a liberdade nos dias atuais.
Somos escravocratas porque todos nós, que estudamos, 17
escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos
diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos 18
que não estudaram. Como antes, os brasileiros livres se
beneficiavam do trabalho dos escravos.
19
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não saberem ler, em vez 20
de
assumirmos nossa própria culpa pelas decisões tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos 21
investimentos
econômicos no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque 22
construímos universidades para
nossos filhos, mas negamos a mesma chance aos jovens que 23
foram deserdados do Ensino Médio completo
com qualidade. Somos escravocratas de um novo 24
tipo: a negação da educação é parte da obra deixada pelos
séculos de escravidão.
25
A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até o Brasil, a prisão e o 26
trabalho
forçado. Somos escravocratas que não pagamos para ter escravos: nossa escravidão 27
ficou mais barata, e o
dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos 28
escravocratas. Como na
escravidão, o trabalho braçal fica reservado para os novos escravos: os 29
sem educação.
30
Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.
31
Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de escravidão; e nossos 32
intelectuais
e economistas comemoram minúscula distribuição de renda, como antes os senhores 33
se vangloriavam da
melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do 34
açúcar. Continuamos escravocratas,
comemorando gestos parciais. Antes, com a proibição do 35
tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos
sexagenários. Agora, com o bolsa família, o voto do 36
analfabeto ou a aposentadoria rural. Medidas generosas,
para inglês ver e sem a ousadia da 37
abolição plena.
38
Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a estupidez de não abolirmos 39
a
escravidão. Ficamos na mesquinhez dos nossos interesses imediatos negando fazer a revolução 40
educacional
que poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as amarras 41
que envergonham e
impedem nosso salto para uma sociedade civilizada, como, por 350 anos, a 42
escravidão nos envergonhava e
amarrava nosso avanço.
43
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela escravidão continua, porque 44
continuamos escravocratas. E, ao continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos 45
condenados à
falta de educação.
CRISTOVAM BUARQUE
Adaptado de http://oglobo.globo.com, 30/01/2000.
56
Questão 88)
A expressão somos escravocratas é repetida quatro vezes no texto que, embora assinado pelo autor Cristovam
Buarque, é todo enunciado na primeira pessoa do plural.
O uso dessa primeira pessoa do plural, relacionado à escravidão, reforça principalmente o objetivo de:
a) situar a desigualdade social
b) apontar o aumento da exclusão social
c) responsabilizar a sociedade brasileira
d) demonstrar a importância da educação
Gab: C
TEXTO: 49 - Comum à questão: 89
Tome por base uma crônica de Clarice Lispector (1925-1977) e uma passagem do Manual do Roteiro, do
professor de Técnica do roteiro, consultor e conferencista Syd Field.
Escrever
Eu disse uma vez que escrever é uma maldição. Não me lembro por que exatamente eu o disse, e com
sinceridade. Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva.
Não estou me referindo muito a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que eventualmente pode se
transformar num conto ou num romance. É uma maldição porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual
é quase impossível se livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação.
Salva a alma presa, salva a pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a menos
que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o
sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi
abençoada.
Que pena que só sei escrever quando espontaneamente a “coisa” vem. Fico assim à mercê do tempo. E, entre
um verdadeiro escrever e outro, podem-se passar anos.
Lembro-me agora com saudade da dor de escrever livros.
(Clarice Lispector. A descoberta do mundo, 1999.)
Escrevendo o roteiro
Escrever um roteiro é um fenômeno espantoso, quase misterioso. Num dia você está com as coisas sob
controle, no dia seguinte sob o controle delas, perdido em confusão e incerteza. Num dia tudo funciona, no outro
não; ninguém sabe como ou por quê. É o processo criativo; que desafia análises; é mágica e maravilha.
Tudo o que foi dito ou registrado sobre a experiência de escrever desde o início dos tempos resume-se a uma
coisa — escrever é sua experiência particular, pessoal. De ninguém mais.
Muita gente contribui para a feitura de um filme, mas o roteirista é a única pessoa que se senta e encara a folha
de papel em branco.
Escrever é trabalho duro, uma tarefa cotidiana, de sentar-se diariamente diante de seu bloco de notas, máquina
de escrever ou computador, colocando palavras no papel. Você tem que investir tempo.
Quantas horas por dia você precisa dedicar-se a escrever?
Depende de você. Eu trabalho cerca de quatro horas por dia, cinco dias por semana. John Millius escreve uma
hora por dia, sete dias por semana, entre 5 e 6 da tarde. Stirling Silliphant, que escreveu The Towering Inferno
(Inferno na Torre), às vezes escreve 12 horas por dia. Paul Schrader trabalha com a história na cabeça por
meses, contando-a para as pessoas até que ele a conheça completamente; então ele “pula na máquina” e a
escreve em cerca de duas semanas. Depois ele gastará semanas polindo e consertando a história.
Você precisa de duas a três horas por dia para escrever um roteiro.
Olhe para a sua agenda diária. Examine o seu tempo. Se você trabalha em horário integral, ou cuidando da casa
e da família, seu tempo é limitado. Você terá que achar o melhor horário para escrever. Você é o tipo de pessoa
que trabalha melhor pela manhã? Ou só vai acordar e ficar alerta no final da tarde? Tarde da noite pode ser um
bom horário. Descubra.
(Syd Field. Manual do roteiro, 1995.)
57
Questão 89)
No sétimo parágrafo do texto de Syd Field, que informação o autor passa ao aprendiz de roteirista com os
diversos exemplos que apresenta?
Gab:
Os exemplos de Syd Field para orientar o aprendiz de roteirista apresentam desde escritores que trabalham uma
hora por dia até aqueles que escrevem 12 horas diárias. Assim, o autor passa ao aprendiz de roteirista a ideia
de que não há um método estabelecido ou predeterminado para produzir um roteiro, uma vez que cada escritor
tem seu próprio ritmo e, com ele, seu próprio método de trabalho.
TEXTO: 50 - Comum à questão: 90
O TRAPICHE
SOB A LUA, NUM VELHO TRAPICHE ABANDONADO, as crianças dormem.
Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas ora se
rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas
crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros
carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas.
Aqui vinham encher os porões e atracavam nesta ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do
trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras,
daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.
Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o areal do cais do porto. Por
baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia invadiu tudo, fez o mar recuar de muitos metros. Aos
poucos, lentamente, a areia foi conquistando a frente do trapiche. Não mais atracaram na sua ponte os veleiros
que iam partir carregados. Não mais trabalharam ali os negros musculosos que vieram da escravatura. Não mais
cantou na velha ponte uma canção um marinheiro nostálgico. A areia se estendeu muito alva em frente ao
trapiche. E nunca mais encheram de fardos, de sacos, de caixões, o imenso casarão. Ficou abandonado em
meio ao areal, mancha negra na brancura do cais.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 25.
Questão 90)
Leia o trecho a seguir.
“Não mais atracaram na sua ponte os veleiros que iam partir carregados. Não mais trabalharam ali os negros
musculosos que vieram da escravatura. Não mais cantou na velha ponte uma canção um marinheiro nostálgico.”
Sobre esses períodos, é correto afirmar que:
a) o adjetivo nostálgico autoriza o leitor a inferir que todos os marinheiros eram nostálgicos.
b) as ações expressas pelas formas verbais atracaram, trabalharam e cantou nunca foram realizadas, ideia
marcada linguisticamente pela palavra não.
c) as ações expressas pelas formas verbais atracaram, trabalharam e cantou já foram realizadas um dia, ideia
marcada linguisticamente pela palavra mais.
d) a oração que iam partir carregados autoriza o leitor a inferir que todos os veleiros partiriam carregados.
Gab: C
58
TEXTO: 51 - Comum às questões: 91, 92, 93, 94, 95.
A língua e o poeta
Hoje eu peço vênia¹ para discrepar2 do grande Ferreira Gullar, que, no domingo, escreveu um artigo defen-
dendo o "modo correto" de usar a língua portuguesa.
Longe de mim propor que o poeta, eu e o leitor comecemos a dizer “nós vai” ou “debateu sobre as
alternativas”, mas não dá para comparar violações à norma culta com um erro conceitual como afirmar que
tuberculose não é doença, para ficar nos exemplos de Gullar. Fazê-lo é passar com um “bulldozer”³ sobre o
último meio século de pesquisas, em especial os trabalhos de Noam Chomsky, que conseguiram elevar a
linguística de uma disciplina entrincheirada nos departamentos de humanidades a uma ciência capaz de fazer
previsões e articular-se com outras, como psicologia, biologia, computação.
Chomsky mostra que a capacidade para a linguagem é inata. É só lançar uma criança no meio de uma
comunidade que ela absorve o idioma local. O fenômeno das línguas crioulas revela que grupos expostos a
«pidgins» (jargões comerciais que misturam vários idiomas, geralmente falados em portos) desenvolvem, no
espaço de uma geração, uma gramática completa para essa nova linguagem. Mais do que de facilidade para o
aprendizado, estamos falando aqui de uma gramática universal que vem como item de fábrica em cada ser hu-
mano. Foi a resposta que a evolução deu ao problema da comunicação entre caçadores-coletores.
Nesse contexto, o único critério para decidir entre o linguisticamente certo e o errado é a compreensão da
mensagem transmitida. Uma frase ambígua é mais "errada" do que uma que fira as caprichosas regras de
colocação pronominal.
Na verdade, as prescrições estilísticas que decoramos na escola e que nos habituamos a chamar de
gramática são o que há de menos essencial e mais aborrecido no fenômeno da linguagem. Estão para a lin-
guística assim como a pesquisa da etiqueta está para o estudo da história.
(HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de S.Paulo, 27 de março de 2012)
¹vênia = licença, permissão
²discrepar = divergir de opinião, discordar
³bulldozer = (inglês) escavadeira
Questão 91)
Considere: “Longe de mim propor que o poeta, eu e o leitor comecemos a dizer ‘nós vai’...”. Se na
formação do sujeito composto substituíssemos o pronome “eu” por “tu”, a forma verbal seria:
a) começas
b) comecem
c) comeceis
d) comeces
e) começais
Gab: C
Questão 92)
O autor utiliza aspas nas expressões “modo correto” e “bulldozer” por tratar-se respectivamente de:
a) jargão utilizado na área linguística e palavra estrangeira.
b) expressão já empregada em ocasião anterior e metáfora
c) título de artigo e citação.
d) citação e expressão metafórica.
e) citação e palavra estrangeira.
59
Gab: E
Questão 93)
De acordo com o 2o parágrafo, a linguística:
a) estabeleceu, dentro da área de humanidades, uma linha de combate contra as violações à norma culta da
língua portuguesa.
b) foi pioneira na área de humanidades a desenvolver pesquisas científicas sobre uma gramática universal.
c) era uma disciplina que se defendia de ataques a suas teorias, tornando-se uma ciência articulada com
outras áreas científicas.
d) outrora restrita aos meios acadêmicos, ganhou “status” de ciência e enredou-se com outras áreas do
conhecimento.
e) destacou-se nos últimos cinquenta anos, fazendo previsões sobre os rumos da língua portuguesa.
Gab: D
Questão 94)
Segundo o texto, o autor:
a) defende de forma incondicional, como Ferreira Gullar, o “modo correto” de usar a língua portuguesa.
b) considera que ambiguidade seria mais “errada” do que um erro de próclise porque esta não apresenta
distorção na comunicação.
c) preconiza que uma frase com transgressões às “caprichosas regras de colocação pronominal” prejudica o
ato da fala.
d) prega o caráter supérfluo e vão das prescrições gramaticais, linguísticas e estilísticas.
e) reclama da natureza complexa e enfadonha do estudo da gramática nas escolas.
Gab: B
Questão 95)
O autor lança mão de expressões com carga pejorativa ou irônica para referir-se à gramática, exceto em:
a) “universal”
b) “caprichosas regras”
c) “prescrições estilísticas”
d) “decoramos”
e) “pesquisa da etiqueta”
Gab: A
TEXTO: 52 - Comum à questão: 96
Naquele dia, sobre o fogo estão minha marmita e a do colega. O mesmo alumínio amassado, os mesmos
riscos fundos, o arroz feijão igual. Mas na do colega tem um ovo cozido, que minha marmita inveja. Sozinho,
olho para o lado, olho para o outro, olho à volta; o estômago sussurra; ninguém vai ver. E a boca instiga: pega
logo, é a chance. Ouço vozes e a urgência decide. De supetão, agarro o ovo cozido. Meus pés são carregados
pelo medo de ser apanhado. De uma bocada, engulo o ovo. A fome se solidifica. Trabalho o resto do dia com
uma pedra no ventre: o rosto do meu filho, cheio de vergonha. Doente, minha digestão ferve.
Pela primeira vez, evito minha casa. Caminho devagar até o ponto do ônibus, entro numa linha que sei ser
mais longa, quero chegar na noite escura. Minha mulher vem ao portão curiosa da quebra da rotina. Estou
exausto. Vou até o quarto onde meu filho dorme. Olho desonrado sua respiração. Sento-me à mesa, prato de
comida à frente. A cabeça tonteia. Levanto, vou até a porta, os olhos vagueiam. Quero chorar. De manhã
quando acordei, era eu; agora sou joão-ninguém.
Lá do fundo minha mulher chama e digo que já vou. Chove forte. Encolho a humilhação entre os ombros e
vou porta afora.
(Celina Ishikawa. Toda verdade do mundo. Ler&Cia. Adaptado.)
60
Questão 96)
Assinale a alternativa em que o primeiro termo é derivado com prefixo de sentido negativo e o segundo
composto por justaposição.
a) desonrado, joão-ninguém.
b) humilhação, sussurra.
c) afora, de supetão.
d) urgência, arroz feijão.
e) digestão, quebra da rotina.
Gab: A
TEXTO: 53 - Comum às questões: 97, 98
(...)
Aos sete anos de idade imaginei que ia presenciar a morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um
cometa mal-humorado visitava o espaço. Em certo dia de 1910, sua cauda tocaria a Terra; não haveria mais
aulas de aritmética, nem missa de domingo, nem obediência aos mais velhos. Essas perspectivas eram boas.
Mas também não haveria mais geleia, Tico-Tico, a árvore de moedas que um padrinho surrealista preparava
para o afilhado que ia visitá-lo. Ideias que aborreciam. Havia ainda a angústia da morte, o tranco final, com a
cidade inteira (e a cidade, para o menino, era o mundo) se despedaçando – mas isso, afinal, seria um
espetáculo. Preparei-me para morrer, com terror e curiosidade.
O que aconteceu à noite foi maravilhoso. O cometa de Halley apareceu mais nítido, mais denso de luz e
airosamente deslizou sobre nossas cabeças sem dar confiança de exterminar-nos. No ar frio, o véu dourado
baixou ao vale, tornando irreal o contorno dos sobrados, da igreja, das montanhas. Saíamos para a rua
banhados de ouro, magníficos e esquecidos da morte, que não houve. Nunca mais houve cometa igual, assim
terrível, desdenhoso e belo. O rabo dele media... Como posso referir em escala métrica as proporções de uma
escultura de luz, esguia e estelar, que fosforeja sobre a infância inteira? No dia seguinte, todos se
cumprimentavam satisfeitos, a passagem do cometa fizera a vida mais bonita. Havíamos armazenado uma
lembrança para gerações vindouras que não teriam a felicidade de conhecer o Halley, pois ele se dá ao luxo de
aparecer só uma vez a cada 76 anos.
Nem todas as concepções de fim material do mundo terão a magnificência desta que liga a desintegração da
Terra ao choque com a cabeleira luminosa de um astro. Concepção antiquada, concordo. Admitia a liquidação
do nosso planeta como uma tragédia cósmica que o homem não tinha poder de evitar. Hoje, o excitante é
imaginar a possibilidade dessa destruição por obra e graça do homem. A Terra e os cometas devem ter medo de
nós.
Carlos Drummond de Andrade
Questão 97)
Em relação ao marco temporal presente em cada um dos trechos abaixo, o verbo sublinhado indica
anterioridade em:
a) “Aos sete anos de idade imaginei que ia presenciar a morte do mundo”.
b) “Em certo dia de 1910, sua cauda tocaria a Terra”.
c) “O que aconteceu à noite foi maravilhoso”.
d) “No dia seguinte, todos se cumprimentavam satisfeitos, a passagem do cometa fizera a vida mais bonita”.
e) “pois ele se dá ao luxo de aparecer só uma vez a cada 76 anos”.
Gab: D
Questão 98)
No trecho “terão a magnificência desta” (3o parágrafo), empregou-se o pronome demonstrativo em lugar da
palavra, do mesmo parágrafo,
61
a) “concepção”.
b) “tragédia”.
c) “cabeleira luminosa”.
d) “desintegração”.
e) “Terra”.
Gab: A
TEXTO: 54 - Comum à questão: 99
O administrador da repartição em que Pádua trabalhava teve de ir ao Norte, em comissão. Pádua, ou por ordem
regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador com os respectivos honorários.
Não se contentou de reformar a roupa e a copa, atirou-se às despesas supérfluas, deu joias à mulher, nos dias
de festa matava um leitão, era visto em teatros, chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dois meses
na suposição de uma eterna interinidade. Uma tarde entrou em nossa casa, aflito e esvairado, ia perder o lugar,
porque chegara o efetivo naquela manhã. Pediu à minha mãe que velasse pelas infelizes que deixava; não podia
sofrer a desgraça, matava-se. Minha mãe falou-lhe com bondade, mas ele não atendia a coisa nenhuma.
– Não, minha senhora, não consentirei em tal vergonha! Fazer descer a família, tornar atrás... Já disse, mato-
me! Não hei de confessar à minha gente esta miséria. E os outros? Que dirão os vizinhos? E os amigos? E o
público?
– Que público, Sr. Pádua? Deixe-se disso; seja homem.
Lembre-se que sua mulher não tem outra pessoa... e que há de fazer? Pois um homem... Seja homem, ande.
Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova, – ou então
no quintal, ao pé do poço, como se a ideia da morte teimasse nele. D. Fortunata ralhava:
– Joãozinho, você é criança?
Mas, tanto lhe ouviu falar em morte que teve medo, e um dia correu a pedir à minha mãe que lhe fizesse o favor
de ver se lhe salvava o marido que se queria matar. Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que
vivesse. Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação menos, e
perder um emprego interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha... Pádua
obedeceu; confessou que acharia forças para cumprir a vontade de minha mãe.
– Vontade minha, não; é obrigação sua.
– Pois seja obrigação; não desconheço que é assim mesmo.
(Machado de Assis, Dom Casmurro)
Questão 99)
Segundo o dicionário Houaiss, dígrafo corresponde a um “grupo de duas letras usadas para representar um
único fonema”. Essa definição é exemplificada com as seguintes palavras do texto:
a) administrador, designação, vergonha.
b) trabalhava, comissão, maluquice.
c) roupa, supérfluas, contentou.
d) aflito, desgraça, fechado.
e) público, gratificação, desgraçado.
Gab: B
62
TEXTO: 55 - Comum à questão: 100
Segundo um estudo realizado pelo Banco Mundial, a população acima dos 60 anos é a nova força econômica do
País. Os idosos brasileiros estão mais ricos, mais saudáveis e mais poderosos. De acordo com o relatório, o
Brasil vive o que os especialistas chamam de “bônus demográfico”, período em que a força de trabalho (pessoas
na ativa) será muito maior do que o número de brasileiros que não produzem. Isso se dará como resultado
principalmente do envelhecimento da população. Os números do Banco Mundial são impressionantes. Até 2050,
as pessoas com mais de 60 anos vão responder por 49% da população economicamente ativa do país.
Atualmente, esse percentual é de 11%.
(IstoÉ, 03.10.2012)
Questão 100)
Assinale a alternativa em que a expressão destacada, correspondendo ao sujeito da oração, é formada por
substantivo seguido de adjetivo.
a) … um estudo realizado…
b) … a nova força econômica do País.
c) Os idosos brasileiros…
d) … o número de brasileiros…
e) … do envelhecimento da população…
Gab: C
TEXTO: 56 - Comum à questão: 101
V – O samba
À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes recortam no azul do
céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento.
(...)
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes com
alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça d’armas.
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o samba
com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo
o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudarse.
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das raparigas. Os
mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um desses corta jaca no
espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e
começou de rabanar como um peixe em seco. (...)
José de Alencar, Til.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.
Questão 101)
Na composição do texto, foram usados, reiteradamente,
I. sujeitos pospostos;
II. termos que intensificam a ideia de movimento;
III. verbos no presente histórico.
Está correto o que se indica em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
63
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e III.
Gab: E
TEXTO: 57 - Comum à questão: 102
O Vasconcelos quis festejar o exame do filho, com um jantar oferecido aos senhores examinadores e aos velhos
amigos da família.
À noite houve dança. Amâncio convidou os companheiros do ano; compareceram somente os pobres – os que
não tinham em casa também a sua festa.
O pai, por instâncias de Ângela, fizera-lhe presente de um relógio com a competente cadeia, tudo de ouro. A
avó, que se abalara da fazenda para assistir ao regozijo do seu querido mimalho, trouxera-lhe de presente um
moleque, o Sabino.
Amâncio, todo cheio de si, a rever-se na sua corrente e a consultar as horas de vez em quando, foi nesse dia o
alvo de mil felicitações, de mil brindes e de mil abraços.
Alguns amigos do pai profetizavam nele uma glória da pátria e diziam que o João Lisboa, o Galvão e outros não
tinham tido melhor princípio.
O Dr. Silveira, homem íntimo da casa e figura conhecida na política da terra, voltara-se rapidamente para dar
atenção a Amâncio, que acabava de aproximar-se, em silêncio, com o ar presumido de quem tinha consciência
de que toda aquela festa lhe pertencia.
– Então, meu estudante! – disse o jurisconsulto, empinando a cabeça. – Já escolheu a carreira que deseja
seguir?
– Marinha, respondeu Amâncio secamente.
A farda seduzia-o. Nada conhecia “tão bonito” como um oficial de marinha.
À meia-noite foram todos de novo para a mesa. Vasconcelos era muito rigoroso quando recebia gente em casa;
queria que houvesse toda a fartura de vinhos e comidas. Os brindes reapareceram. Visivelmente orgulhoso, o
anfitrião se superava. Abriram-se garrafas de Moscato d’Asti, Chateau Yquem e Champagne.
Do meio para o fim da ceia, Amâncio sentiu-se outro.
Ângela abraçou o filho, chorando de comovida.
– Que lhe disse eu?... resmungou delicadamente Silveira ao ouvido dela. – Este menino promete! Deem-lhe
asas e hão de ver... deem-lhe asas!...
Amâncio foi coberto de ovações. Batiam-se no copo, faziam-lhe saúdes. Ele a todos respondia, rindo e bebendo.
Daí a uma hora recolheram-no à cama da mãe, porque lhe aparecera uma aflição na boca do estômago; mas
vomitou logo e adormeceu depois, completamente aliviado.
Foi a sua primeira bebedeira.
(Aluísio Azevedo. Casa de pensão. Adaptado.)
Questão 102)
Em rever e secamente, observam-se dois processos de derivação muito comuns. Os mesmos tipos de formação
de palavras se encontram destacados, respectivamente, na seguinte alternativa:
a) Amâncio convidou os companheiros do ano; compareceram somente os pobres [...]
b) Os brindes reapareceram. Visivelmente orgulhoso, o anfitrião se superava.
c) Vasconcelos era muito rigoroso quando recebia gente em casa [...].
d) Alguns amigos do pai profetizavam nele uma glória da pátria [...].
e) O Vasconcelos quis festejar o exame do filho, com um jantar oferecido aos senhores examinadores [...].
Gab: B
64
TEXTO: 58 - Comum à questão: 103
Os pesquisadores Roberta Faria, Alan Vendrame, Rebeca Silva e Ilana Pinsky, do Departamento de
Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo, analisaram a associação entre
propaganda de álcool e consumo de cerveja por adolescentes. Foram entrevistados 1 115 estudantes de sétima
e oitava séries de três escolas públicas de São Bernardo do Campo, SP, em 2006. As variáveis independentes
foram: atenção prestada às propagandas de álcool, crença na veracidade das propagandas, resposta afetiva às
propagandas, uso prévio de cigarro, entre outras. A variável dependente foi consumo de cerveja nos últimos 30
dias. Idade, importância dada à religião e ter banheiro em casa foram utilizadas como controle. O consumo de
cerveja nos últimos 30 dias esteve associado ao uso de cigarro, a ter uma marca preferida de bebida alcoólica, a
não ser monitorado pelos pais, a achar que as festas que frequentam parecem-se com as de comerciais, a
prestar muita atenção aos comerciais, acreditando que eles falam a verdade. Essa associação manteve-se
mesmo na presença de outras variáveis associadas ao seu consumo. A conclusão do artigo “Propaganda de
álcool e associação ao consumo de cerveja por adolescentes” foi: as propagandas de bebidas alcoólicas
associam-se positivamente ao consumo recente de cerveja por remeterem os adolescentes à própria realidade
ou por fazê-los acreditar em sua veracidade. Limitar a veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas pode
ser um dos caminhos para a prevenção do uso e abuso de álcool por adolescentes.
(Pesquisa FAPESP, agosto de 2011. Adaptado.)
Questão 103)
Certos termos têm o papel, na frase, de completar outros termos, como no trecho resposta afetiva às
propagandas, no qual a expressão às propagandas funciona como complemento nominal. Assinale a alternativa
em que a expressão destacada exerce essa mesma função sintática:
a) [...] a prestar muita atenção aos comerciais [...].
b) O consumo de cerveja nos últimos 30 dias [...].
c) [...] limitar a veiculação de propagandas [...].
d) [...] consumo de cerveja por adolescentes [...].
e) [...] acreditando que eles falam a verdade.
Gab: A
TEXTO: 59 - Comum à questão: 104
Conversar pressupõe um diálogo produtivo entre as pessoas. Significa dizer que conversar é um processo
cooperativo entre interlocutores.
Leia o texto, que representa uma conversa.
(QUINO. Toda a Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993).
65
Questão 104)
No trecho “a gente pode ter conversas literárias”, substituindo-se o sujeito por outro de primeira pessoa do plural,
no tempo pretérito perfeito, o resultado é o seguinte:
a) podemos ter conversas literárias.
b) podíamos ter conversas literárias.
c) poderíamos ter conversas literárias.
d) pudemos ter conversas literárias.
e) pudéssemos ter conversas literárias.
Gab: A
TEXTO: 60 - Comum à questão: 105
No português, encontramos variedades históricas, tais como a representada na cantiga trovadoresca de João
Garcia de Guilhade, ilustrada a seguir.
Non chegou, madre, o meu amigo,
e oje est o prazo saido!
Ai, madre, moiro d’amor!
Non chegou, madre, o meu amado,
e oje est o prazo passado!
Ai, madre, moiro d’amor!
E oje est o prazo saido!
Por que mentiu o desmentido?
Ai, madre, moiro d’amor!
E oje, est o prazo passado!
Por que mentiu o perjurado?
Ai, madre, moiro d’amor!
Questão 105)
Considerando a terceira estrofe, assinale a alternativa que apresenta uma palavra formada por parassíntese.
a) desmentido
b) prazo
c) saido
d) d´amor
e) moiro
Gab: A
TEXTO: 61 - Comum à questão: 106
Esse texto do século XVI reflete um momento de expansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a
apropriação de alguns gêneros discursivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa produção é a Carta de
Caminha a D. Manuel. Considere a seguinte parte dessa carta.
Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons
ares assim frios e temperados como os de Entre-
66
Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, darse- á
nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar
esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.
Questão 106)
Considere os dois trechos a seguir:
... não pudemos saber que haja ouro nem prata...
... me parece que será salvar esta gente ...
Substituindo os trechos grifados por um pronome oblíquo correspondente, tem-se um resultado correto
gramaticalmente em:
a) ... não pudemos saber isso... / ... me parece que será salvar eles ...
b) ... não pudemos saber-lhes... / ... me parece que será salvar-lhes ...
c) ... não pudemos sabê-lo... / ... me parece que será salvá-la...
d) ... não pudemos saber-no... / ... me parece que será salvar-lhes ...
e) ... não pudemos sabê-lo... / ... me parece que será salvá-los ...
Gab: C
TEXTO: 62 - Comum às questões: 107, 108
Buscando a excelência (Lya Luft)
Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistentemente.
Autoridades, altos cargos, líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos
que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às
públicas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual.
As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem
magnificamente para alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do ensino superior. Alunos que não
conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem ler
nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e
pobre. [...] E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito [...]
Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem
deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade. [...]
Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o
trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso da própria capacidade e talento, já entre as crianças. O ensino nas
últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem
pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato
de que a vida não é só brincadeira, que lazer e divertimento são necessários até à saúde, mas que a escola é
também preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá disciplina e limites – que aliás deveriam
existir em casa, ainda que amorosos.
Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus
leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num momento fundamental em
que, em meio a greves, justas ou desatinadas, [...] se delineia com grande inteligência e precisão a possibilidade
de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a
dignidade de milhões de brasileiros. Está sendo um momento de excelência que nos devolve ânimo e
esperança.
(Fonte: Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado).
Questão 107)
Assinale a alternativa em que se apresenta o emprego da voz passiva analítica.
a) (...) a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país (...)
67
b) Estamos carentes de excelência.
c) (...) as universidades, que aos poucos (...) vão se tornando reduto de pobreza intelectual.
d) (...) não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre.
e) (...) parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens (...)
Gab: A
Questão 108)
Assinale o pronome que corretamente substitui a expressão grifada no trecho – E as cotas roubam a dignidade .
a) a
b) as
c) lhe
d) na
e) lha
Gab: D
TEXTO: 63 - Comum à questão: 109
1 É certo que Fräulein tinha esclarecido muito o que viera fazer na casa deles,
2 porém dona Laura que tinha
percebido tudo com a explicação de Felisberto, agora não 3 compreendia mais nada. Afinal: o que era mesmo
que Fräulein estava fazendo na casa 4 dela!
5 Fräulein esperou um segundo. Nada tinham para lhe falar aqueles dois.
6 Cumprimentou e saiu. Subiu pro
quarto. Fechou-se. Tirou o casaco. O pensamento forte 7 imobilizou-a. Comprimiu o seio com a mão, ao mesmo
tempo que amarfanhava-lhe a 8 cara uma dor vigorosa, incompreendida assim! Mas foi um minuto apenas,
dominou-se. 9 Tinha que despir-se. Continuou se despindo. E Carlos?... Minuto apenas. Varreu o
10 carinho.
Prendeu com atenção os cabelos. Lavou o rosto. Se deitou. Um momento no 11
escuro, os olhos inda
pestanejaram pensativos. Não tinha nada com isso: haviam de lhe 12
pagar os oito contos. Mas agora tinha que
dormir, dormiu.
In: ANDRADE, Mario de. Amar, verbo intransitivo. Agir: Rio de Janeiro, 2008. p. 57.
Questão 109)
Assinale a alternativa correta de acordo com o texto.
a) Na oração “porém dona Laura que tinha percebido tudo” (Ref. 2), a conjunção destacada pode ser
substituída, sem prejuízo semântico, pela conjunção conforme.
b) Da leitura do excerto infere-se que Fräulein não conseguiu dormir porque estava preocupada com o
desdobrar dos acontecimentos do dia seguinte.
c) Se o segmento “Varreu o carinho” (Refs. 9 e 10) for substituído por Enalteceu o carinho, ainda assim
mantém-se o sentido original do texto.
d) Em “Se deitou” (Ref. 10), o uso da próclise evidencia a aproximação da linguagem literária à linguagem
coloquial.
e) Em “Fräulein esperou um segundo” (Ref. 5), o verbo destacado classifica-se como transitivo indireto.
Gab: D
68
TEXTO: 64 - Comum à questão: 110
BRASIL E ÁFRICA SUBSAARIANA: PARCERIA SUL-SUL PARA O CRESCIMENTO
1 Atualmente, Brasil e África vêm restabelecendo ligações que poderão ter efeitos importantes sobre
2 a
prosperidade e o desenvolvimento de ambos. Na última década, a África tornou-se 3 um continente de 3
oportunidades, com tendências econômicas positivas e uma melhor governança. 4
O crescimento de alguns países africanos, sua resistência às crises globais recentes e a 5 implementação
de reformas de políticas que fortaleceram os mercados e a governança democrática vêm 6 expandindo o
comércio e o investimento na região. Apesar dessa tendência positiva, muitos países 7 africanos ainda enfrentam
enormes gargalos de infraestrutura, são vulneráveis à mudança do clima e 8 apresentam capacidade institucional
deficiente. Consequentemente, a ajuda para o desenvolvimento 9
continua sendo uma das principais fontes de apoio ao desenvolvimento em vários países do continente, de
10 modo que a transferência e a troca de
conhecimento ainda são necessidades prementes. 11
A partir do final século XX, a África se tornou um dos principais temas da agenda externa do Brasil, 12
que tem demonstrado um interesse cada vez maior em apoiar e participar do desenvolvimento de um 1
3 continente
que se encontra em rápida transformação. A intensificação do engajamento do Brasil com a 14
África não somente demonstra a ambição geopolítica e o interesse econômico do Brasil: os fortes laços
15 históricos e a
afinidade com a África diferenciam o Brasil dos demais membros originais do BRICs [grupo 16
formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia e China e que incluiu depois a África do Sul].
17 O crescimento econômico do Brasil, sua atuação crescente no cenário mundial, o sucesso
18 alcançado
com a redução da desigualdade social e a experiência de desenvolvimento oferecem lições 19
importantes para os países africanos que, dessa forma, buscam cada vez mais a cooperação, assistência
20 técnica e
investimentos do Brasil. Ao mesmo tempo, multinacionais brasileiras, organizações não 21
governamentais e diversos grupos sociais passaram a incluir a África em seus planos. Em outras palavras, a
22 nova África coincide
com o Brasil global. 23
Complementando as fortes ligações históricas e culturais, a tecnologia brasileira parece ser de fácil 24
adaptabilidade a muitos países africanos em razão das semelhanças geofísicas de solo e de clima. O 25
sucesso recente do Brasil no plano social e econômico atraiu a atenção de muitos países de língua
26 portuguesa com os
quais o país possui ligações históricas.
Figura ES.2 Principais áreas de atuação do Brasil em arranjos de cooperação com a África, 2009.
27 No que se refere à diplomacia, o Brasil mantém atualmente 37 embaixadas na África, comparado a
28 17
em 2002, um incremento correspondido pelo aumento do número de embaixadas africanas no Brasil: 29
desde 2003, 17 embaixadas foram abertas em Brasília, somando-se às 16 já existentes, o que representa a
30 maior
concentração de embaixadas no Hemisfério Sul.
31 Os países da África Subsaariana solicitam cooperação com o Brasil em cinco áreas principais:
32
agricultura tropical; medicina tropical; ensino técnico (em apoio ao setor industrial); energia; e proteção 33
social (figura ES.2). (Áreas de interesse relativamente menor incluem ensino superior, esportes e ação
34 afirmativa.).
35 No que se refere à agricultura, a Empresa de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em parceria com
36
várias outras instituições brasileiras de pesquisa, atua com parceiros locais na implementação de projetos 37
69
modelo em agricultura com o objetivo de reproduzir o sucesso alcançado no cerrado brasileiro – semelhante 38
a alguns solos africanos − e aprimorar o desenvolvimento agrícola e o agronegócio na África.
39 Investimentos do setor privado brasileiro na África tiveram início nos anos 1980 e chegaram a tal
40 ponto
que atualmente as empresas brasileiras atuam em quase todas as regiões do continente, com 41
atividades concentradas nas áreas de infraestrutura, energia e mineração. A presença do Brasil chama a
42 atenção devido
à forma como as empresas brasileiras realizam seus negócios; elas tendem a contratar mão 43
de obra local para seus projetos, favorecendo o desenvolvimento de capacidades locais, o que acaba por
44 elevar a
qualidade dos serviços e produtos. Dado o ambiente de negócios favorável aos investimentos 45
brasileiros na África, a Agência Brasileira de Exportação vem fomentando a presença de pequenas e
46 médias empresas no
continente, por meio de feiras de negócios, por exemplo. As tendências analisadas em 47
estudos internacionais indicam que o Brasil e a África desenvolvem, em conjunto, um modelo de relações
48 Sul-Sul que pode ajudar a
reunir os dois lados do Atlântico. 49
Embora as relações entre o Brasil e a África tenham se intensificado muito na última década, ainda 50
existem desafios consideráveis. Em particular, existe um desconhecimento nos dois lados do Atlântico. A
51
maioria dos brasileiros possui conhecimento limitado e normalmente desatualizado sobre a África; as 52
poucas informações que têm, muitas vezes, se limitam a Angola, Moçambique e, às vezes, à África do Sul.
53 A
burocracia de ambos os lados atrasa o comércio marítimo que chega a levar 80 dias, em vez de 10. O 54
Banco Mundial poderia contribuir para a superação desses obstáculos, de modo a favorecer a ampliação do
55
relacionamento entre a África e o Brasil e trazer benefícios adicionais para todos. BANCO MUNDIAL/IPEA. Ponte sobre o Atlântico. Brasil e África Subsaariana: parceria Sul-Sul para o crescimento.
Brasília: [s.n.], 2011. p. 1-8. (Adaptado).
Questão 110)
Comparando-se a figura ES.2 com o restante do texto, percebe-se que:
a) a figura apresenta informações contraditórias com aquelas encontradas no texto.
b) a interpretação das informações da figura somente é possível a partir das informações contidas no texto.
c) as informações da figura complementam as informações contidas no texto.
d) as informações da figura são as mesmas que estão no texto, colocadas em forma de gráfico.
Gab: C
FONTE: GPS DO PROFESSOR – EDITORA FTD