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Discutindo as relações Versão digital: www.rrpponline.com.br RPAtualidades Revista do Curso de Relações Públicas/Famecos/PUCRS | Ano 22 | n° 40 | Porto Alegre-RS-Brasil | Julho 2016 A autoestima, a apresentação e o empoderamento no trabalho. Quando você se sente representado por relatos e confissões do Youtuber. Snapchat viralizou o mundo em dez segundos. E muito mais. Denis Petuco •POLÊMICA TEM QUASE 5000 ANOS Repensando as políticas de drogas RELACIONAMENTO | N O SÉCULO 21 ENTREVISTA JOÃO PAULO DE BOER/RP GREICIANE SANTOS/ RP •CONSCIENTE NA MODA E CONSUMO SOCIEDADE COMUNICAÇÃO •MULHERES ESTÃO EM MAIORIA •SET CHEGA NA 29ª EDIÇÃO Cartaz do 1º SET Um festival com a marca Famecos ACERVO FAMECOS

RPAtualidades - Relações Públicas | Famecos/PUCRSrrpponline.com.br/.../uploads/2016/12/RRPP_Atualidades_2016.pdf · RPAtualidades ulho . 3 “A comunicação em multinacional pre-ocupa-se

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Discutindoas relações

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e.com.br RPAtualidades

Revista do Curso de Relações Públicas/Famecos/PUCRS | Ano 22 | n° 40 | Porto Alegre-RS-Brasil | Julho 2016

• A autoestima, a apresentação e o empoderamentono trabalho. Quando você se sente representadopor relatos e confissões do Youtuber. Snapchatviralizou o mundo em dez segundos. E muito mais.

∆ Denis Petuco

• POLÊMICATEM QUASE5000 ANOSRepensando as políticas de drogas

Relacionamento | no s é c u l o 21

entRevista

JOÃO PAULO DE BOER/RP

GREICIANE SANTOS/ RP

• CONSCIENTENA MODA E CONSUMO

sociedade

comunicação

• MULHERESESTÃO EMMAIORIA

• SET CHEGANA 29ªEDIÇÃO

∆ Cartaz do 1º SET

Um festival coma marca Famecos

ACERVO FAMECOS

2 RPAtualidades | Julho 2016

ComuniCação | i n f l u ê n C i a

Comunicação nas multinacionais• A inserção do setor nas organizações através da cultura das multinacionais

A partir da década de 50, os famo-sos anos dourados da industriali-zação do país que teve seu começo no governo de Getúlio e seu apo-

geu em Juscelino Kubitschek, a migração das multinacionais para o Brasil encetou de maneira estrondosa e, daí em diante, aumentou incessantemente. Como con-tava com modelo e estratégia de trabalho já formulado, o setor das comunicações é aprimorado conforme o passar do tempo,

mesmo de esquecido e ignorado por deter-minadas organizações.

Apesar de essencial para a sinergia de todos os setores organizacionais, muitas vezes, a comunicação é tratada como opcio-nal. Esquecida, feita de qualquer maneira e ainda por profissionais não qualificados, acarretam em inúmeros problemas de trâ-mite de informações que podem acabar com qualquer organização em um curto pe-ríodo de tempo. Em multinacionais, é mais comum que sua importância seja reconhe-cida, pois estudos respeitados da área com-provam que as empresas a se destacarem e

liderarem rankings, contam com um setor de comunicação corporativa muito bem preparado e eficiente.

Segundo Darlene Deuner, graduada em Relações Públicas pelo IESB (2007) e pós-graduada em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional pela USP (2010), atualmente, são raros os setores que não reconhecem a importância da prá-tica de comunicação excelente dentro das organizações. “A cultura de comunicação nos últimos anos está sendo formada po-sitivamente”, ela afirma com base em sua experiência de seis anos na área.

Luiza Romancini

nataLia ouRique

FOTO DIVULGAÇÃO

3RPAtualidades | Julho 2016

“A comunicação em multinacional pre-ocupa-se muito com o alinhamento das informações em suas filiais, visa-se muito que todos tenham as mesmas diretrizes da empresa e participem das atividades es-tabelecidas, independente da localidade”, Darlene destaca que o fluxo rápido e canais de aproximação entre as equipes de comu-nicação são imprescindíveis para o alinha-mento.

É necessário que haja a Comunicação Integrada e a participação de áreas diver-sas da comunicação no setor para o sucesso da comunicação de mão dupla e para que a troca de informações seja compreendi-da por ambas as partes. A Comunicação Integrada é a união da Comunicação Ins-titucional, Mercadológica, Interna e Admi-nistrativa, “unidas de maneira orgânica e sinérgica” (Bueno e Kunsch). Já a impor-tância de profissionais de diversas áreas é a constante troca de visões que cada segmen-to da comunicação carrega.

Gerenciar a área de comunicação das empresas multinacionais envolve uma série de desafios e oportunidades para o profissional de Relações Públicas. A visão macro, geral, do cenário faz com que o RP consiga administrar as demandas. Um exemplo citado por Darlene Deuner, du-rante a entrevista, foi o uso da percepção e feeling, exigidos quando é necessário pas-sar determinadas informações para o pú-blico interno através de informativo, publi-cidade ou ação. A determinação da melhor maneira é baseada na análise de cenário e da percepção do ambiente profissional.

• O TOQUE FEMININO

É notório que, em grande parte das or-ganizações, o setor de comunicação é com-posto por maioria feminina. Outro fato ins-tigante é que apesar de sua predominância na área, nem sempre estão à frente de seus departamentos, estudos apontam que os homens ainda detêm os principais cargos executivos nas empresas, embora essa dife-rença esteja se revertendo. Paul Levinson, headhunter americano respeitado em sua área, assume que ainda há um certo ma-chismo. Na sua ótica, é estimulado pelas próprias mulheres. Autores americanos recomendam o equilíbrio entre a orienta-ção global das multinacionais e o local de comunicação. Segundo eles, sem fugir das normas gerais da organização, é necessá-rio que seja dada liberdade para criação de estratégias específicas para determinado país, com a implantação de programas de Relações Públicas onde a empresa atua.

RP Atualidades. Pu-blicação informativa e de reflexão do curso de Rela-ções Públicas da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, avenida Ipiranga 6681, Porto Ale-gre, RS, Brasil. Versão Online:www.rrpponline.com.brE-mail: [email protected]

Reitor: Ir. Dr. Joaquim ClotetVice-Reitor: Ir. Dr. Evi-lázio TeixeiraDiretor da Famecos: Dr. João Guilherme Barone Reis e SilvaCoordenadora do Cur-so: Drª. Ana BaseggioProdução: alunos de Pro-dução de Mídia Impressa e Digital em RP, turmas da manhã e noite.Professores respon-sáveis: Silvana Sandini e Tibério Vargas Ramos.

Turma da Manhã

Alissa MachadoElisa Maia de OliveiraGabriela Luz RochaGreiciane Santos da SilvaLuiza FeilLuiza RomanciniMaria Cecilia DartoraMariana KorbesMarina Reck Bellon Marisi Lopes da CostaNatalia Ourique DeunerRháris Venes PereiraYasmin dos Santos Dutra

Turma da Noite

Aldry Rocha SilvaAline da Silva PastorisAline Gervasio MartinsAugusto Oliveira de AvilaBruna Dalpipaz dos SantosCítia FamerCleisiani FeistelCristiano Zimmer DiasFabio Silva da PaixãoFernanda CeolinFernanda Luz MoraesFrederico da Rocha

Gabriela AmaralGeovana KerkhovenGiovanna CorreaIsadora ValentinJason Mello dos SantosJéssica PintoJoão Paulo de BoerLarissa Damasio LahorgueLaura BacchiLaura Silva SoutoLeonardo Cason SimonettiLuciana RagazzonLuiza Rocha LimaMaria Eduarda Leal de SouzaMariana Gottfried da SilvaMateus Oliveira ZafanelliMauricio GafforelliMayara Pinto MachadoOrlana Tamiko RossoPamela PereiraPatrícia Ferreira SilvaRafael Rodrigues dos SantosRaíssa Gaiatto KozakRenata Alice BernardiRoberta da Silva SantosVanessa FernandesVanessa TolottiVictória Almeida Miorim

∆ TURMA DA MANHÃ. Alunos produziram o site e a revista impressa

∆ TURMA DA NOITE. Estudantes definiram pautas, realizaram as matérias e editaram

4 RPAtualidades | Julho 2016

As mulheres vêm conquistando es-paços significativos no mercado da comunicação. Uma pesquisa realizada no ano de 2011 pela Fe-

naj (Federação Nacional dos Jornalistas) apontou que a área já estava dominada em cerca de 60% por mulheres. No ano seguin-te, em 2012 um outro estudo, realizado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) em convênio com a Fenaj, apontou na época que 64% dos profissionais da área de jorna-lismo eram mulheres, evidencian-do o avanço feminino considerável no mercado atual.

Decidimos então ir a busca de profis-sionais atuantes no ramo da comunicação para termos uma visão mais abrangente so-bre o avanço do domínio feminino no cam-po e as adversidades ainda encontradas no mercado. Será que ainda existe preconceito com as mulheres dentro da área? Há dife-rença na maneira de reproduzir o trabalho sendo eles desenvolvidos por homens ou mulheres? Segundo Cinara Kovaski (coor-

denadora de Marketing da Rede Verzeri), existe preconceito e desigualdade em todos os mercados. Ela reconhece que ainda há diferença entre os gêneros, mas é a diferen-ça dos perfis que define o desenvolvimento do trabalho. Para ela, a maior dificuldade dentro da sua área de atuação é a instabi-lidade: “Trabalhos e profissionais em cons-

tantes cortes devido às verbas e à falta da cultura do investimento em longo prazo.”

O campo exige profissionais com diferencial, conhecer todas as áreas de possível atuação, ser multitarefa, ser criativo, ter sen-

sibilidade e estar sempre atento aos deta-lhes. É por estes motivos que acreditamos no aumento das mulheres no mercado da comunicação. A profissional Lívia Gregory, que trabalha no setor de atendimento na Agência Praetzel, localizada no bairro Moi-nhos de Vento em Porto Alegre, a qual tem cerca de 60% de seus profissionais do sexo feminino, apresenta como dificuldade no seu ramo “a desconfiança das pessoas nas

afirmações que coloco em reuniões e con-versas, principalmente homens e mulheres de idade mais avançada, por eu ser muito nova e ter uma experiência considerável na minha área.” Mas Gregory considera que para solucionar as desavenças no ambiente de trabalho é preciso saber “ter jogo de cin-tura para não perder a postura”.

Portanto, essa conquista se deu não foi por acaso, ela é fruto do esforço da mulher de fazer valer o seu conhecimento no cam-po, mostrando a necessidade do seu traba-lho dentro da empresa e expondo sua capa-cidade como excelente profissional da área. O fato é que existem estudos comprovados de que está havendo o avanço de mulheres ingressando no mercado da comunicação e que elas estão se tornando maioria dentro das organizações. Ou seja, a mulher mais uma vez está mostrando que é bem maior do que preconceitos e dificuldades, e, dessa vez, o resultado é o domínio do mercado da comunicação.

Aldry rochA MAriA EduArdA lEAl

ComuniCação | P r o t a g o n i s m o

MULHERES EM MAIORIANA COMUNICAÇÃOAvanço e dificuldades: a realidade do mercado na visão das atuantes no ramo

∆ EQUIPE DA AGÊNCIA: João Filipe Padilha, Apa Andrighetti, Luiza Praetzel, Lívia Gregory, Ana Cristina Lemes e Mariana Praetzel

“ Ter jogo de cintura para não perder a

postura.”

ALDRY ROCHA

5RPAtualidades | Julho 2016

Cansamos de dizer que hoje a tecnolo-gia não para de crescer, que nunca houve tanta modernidade. Tudo o que é novo é moderno, toda nova técnica é tecnologia. Então, só depois dos computadores tive-mos a tecnologia?

Marcelo Tas, na palestra “Inovação: a criatividade na era digital”, que aconteceu na Feira de Carreiras 2016, debateu sobre a sociedade em rede e as novas tecnolo-gias. Relembrando o conhecimento de séculos passados, ele mostra que sempre fomos inovadores, buscamos novidade diante daquilo que temos em mãos.

Pode-se dizer que a relação do homem em rede vem desde a Era Paleolítica, quando os nômades começaram a ter organizações sociais e familiares. Séculos depois, é sabido que os fenícios produzi-ram um alfabeto para a organização do comércio, uma grande revolução tecnoló-gica.

Hoje, vivemos ligados a aparelhos digi-tais, conectados a todo instante.

Exigimos respostas instantâneas, porém, esquecemos que lidamos com as pessoas atrás das telas. Queremos inte-ração, com pessoas reais e ansiamos por rapidez.

OK, e o que isso tem a ver conosco, relações-públicas? Tudo! Cansamos de ler teorias de públicos e muitas vezes não conseguimos aplicar a teoria na práti-ca. Quem são e o que querem esses tais de públicos aí? Nós mesmos. Ora, nós sempre queremos respostas do outro lado da telinha, minha organização também precisa se preocupar em responder esses estímulos.

Atuar nas organizações em busca desta harmonia entre públicos, entre pessoas reais é mais do que uma obrigação! Essa demanda sempre existiu e a tecnologia digital aumenta ainda mais a necessidade de trabalharmos nesta área.

Primitivo mesmo é comunicação de mão única, empresa que não se preocupa com o relacionamento. Vamos colocar a mão na massa?

ComuniCação | o p i n i ã o

• VEM DESDEO PALEOLÍTICO

REPRODUÇÃO

Marina Bellon

GaBriela aMaral SchMitz

João Paulo de Boer

Estudantes do ensino público, en-volvidos em protestos em diver-sos pontos do país, conquistaram a confiança e a visibilidade do pú-

blico que os acompanha através da comuni-cação na internet.

Em fevereiro deste ano, em São Pau-lo, após um escândalo de desvio da verba destinada à merenda escolar, os alunos da rede pública ocuparam as suas escolas em forma de protesto. No Rio Grande do Sul, o Colégio Emílio Massot foi o primeiro a ser controlado pelos estudantes no dia 11 de maio. Seguiram-se mais 150 ocupações, en-tre suas reivindicações estavam melhorias na estrutura das escolas, fim dos projetos de lei 44/2016, que visa a privatização da escola pública, e 190/2016, conhecida como escola sem partido.

Utilizando as mídias sociais como fer-ramenta de comunicação e difusão do mo-vimento, os estudantes puderam compar-tilhar informações, trouxeram o cotidiano das ocupações, suas pautas e oficinas, e as-sim ganharam grande popularidade e pro-pagaram suas reivindicações.

No Instituto de Educação General Flo-res da Cunha (IE), ocupado desde 18 de maio, estudantes apresentaram a sua esco-la e explicaram como estavam se organizan-do. Os jovens se dividiram em comissões, e cada comissão foi responsável por alguma atividade que visou a colaboração e o bom funcionamento, são elas: segurança, infra-estrutura, limpeza, alimentação, programa-ção e comunicação.

A comissão de comunicação composta por nove alunos, e esses se dividem entre as contas criadas no Facebook, Twitter e Snapchat. A estudante Camila Vasques, de 16 anos, participa ativamente da comissão da comunicação, e ressalta a responsabili-

dade e o cuidado com cada uma das contas: “A gente tem no Facebook uma página onde a gente divulga tudo que acontece na ocu-pação, divulgamos o nosso cronograma, as atividades e pedimos doações. No Snapchat e no Twitter postamos o nosso dia a dia, fotos da ocupação e o que está acontecen-do, é mais dinâmico porque nós podemos postar toda hora.” Camila vê a diferença na percepção das pessoas que não estão envol-vidas na ocupação, acredita que as redes sociais ajudam a enxergar um outro lado da ação que muitas vezes não é divulgado pela mídia tradicional: “A gente pode mos-trar o que realmente acontece aqui dentro, porque todo mundo acha que a gente só faz bagunça e na verdade não, tem várias ofici-nas, e através das mídias se pode divulgar, chamar as pessoas para dentro do colégio, para participar e doar o que precisamos.”

Fredericco Restori, 18 anos, aluno no 3º ano do Ensino Médio do IE, acredita que as mídias sociais são as principais ferramen-tas de comunicação da ocupação, tendo em vista que na maioria das escolas os veículos tradicionais de imprensa não são atendi-dos. “A gente não deixa a imprensa entrar aqui por medo, porque a gente sabe que ela é tendenciosa. Que ela pode vir a manipu-lar as questões para desmoralizar o movi-mento, porque ela acaba tendendo para um lado, que é o lado dominante, o lado do ca-pital”, explica.

A mobilização dos estudantes, que fica-ram mais de um mês ocupando as escolas, e o sucesso do movimento se devem, em parte, pela utilização estratégica das mí-dias sociais. Pois, com o uso delas, conse-guiram apoiadores, doações de alimentos e produtos de limpeza, conquistando parte da opinião pública ao mostrar a rotina das escolas, suas oficinas e que não estavam lá para fazer baderna, e sim para lutar por di-reitos básicos, como a educação pública de qualidade.

A mídia nasocupaçõesdas escolas

∆ OFICINAS. Alunos do Instituto de Educação, em Porto Alegre, promoveram debates

JOÃO PAULO DE BOER/ RP

6 RPAtualidades | Julho 2016

Integração e experiênciasComuniCação | SET un i v E r S i T á r i o

• SET Universitário há 29 anos entre os maisimportantes encontros de comunicação do Brasil

∆ MEMÓRIA. Pôsteres de diversas edições do SET Universitário

A credita-se que poucos, ou talvez nenhum outro evento voltado para alunos de Comunicação e de Cinema do Brasil seja tão

tradicional quanto o SET Universitário, promovido todos os anos, desde 1988, pela Famecos. Os três dias de debate, oficinas e encontros com grandes profissionais do país e do mundo, fazem o campus acadêmi-co da PUCRS, em Porto Alegre, receber mi-lhares de estudantes de diversas faculdades gaúchas e de outros estados.

Em mais de duas décadas, o SET se constituiu como um espaço de aprendiza-gem, tornando-se uma referência para es-tudantes e profissionais de todo o país. A oportunidade de trocar experiências com professores, pesquisadores e profissionais que atuam fora da academia leva todos a buscarem sintonia com as tendências da área, além de aprofundar as possibilidades de reflexão e de experimentação.

Nas palestras e oficinas, sempre houve presença de renomados profissionais do es-

tado e do país, entre eles Dado Schneider, Jayme Monjardim, David Coimbra, Edu-ardo Peñuela, Fernando Pires, Margarida Kunsch, Marcelo Canellas, Moacyr Scliar, Paulo Totti, Ruy Carlos Ostermann, e do exterior, Bill Jonhson, Carl Botan (Estados Unidos), Maria Tereza Tellez (Bolívia).

A cada edição, além das palestras e ofici-nas, ocorre também a Mostra Competitiva – concurso que premia os alunos autores dos melhores trabalhos desenvolvidos em atividades acadêmicas. Com o objetivo de valorizar a produção, o empenho e o talen-to dos alunos, a Mostra constitui-se como um dos principais propósitos da iniciativa. O concurso é voltado para graduandos de Comunicação e Cinema que tenham desen-volvido suas obras em disciplinas e labora-tórios nos dois semestres anteriores ao da realização do evento. Divididos em diversas categorias, os trabalhos inscritos são ava-liados por um júri composto por profissio-nais do mercado que não lecionam em cur-sos superiores.

926

1000 1177

∆ NÚMERO de trabalhos inscritos na Mostra Competitiva cresce a cada ano

gabriela rocha, luíza feil e maria cecília dartora

7RPAtualidades | Julho 2016

Jurado da Mostra Competitiva por di-versas oportunidades, Diego Wander, atu-almente professor do curso de Relações Pú-blicas, conta que o processo de avaliação é processual e criterioso. Ele diz que sempre se preocupou em ler os projetos com aten-ção e empatia, compreendendo a expec-tativa envolvida nesse tipo de premiação. Diego ressalta pontos fun-damentais para o sucesso de um trabalho na Mostra: “Relembrando os trabalhos que li, destaco dois pontos: a coerência das possibilida-des de comunicação com as necessidades apontadas nos cenários e diagnósticos e a aproximação do trabalho com práticas pro-fissionais (do ponto de vista da viabilidade, inovação e compromisso com os resulta-dos)”.

Uriel Ricachenevsky, relações-públicas formado pela Famecos e também jurado da Mostra, frisa a importância de envolver-se com a organização e realização do evento: “É o maior evento de comunicação acadê-mica e quem trabalha como monitor só tem a ganhar com essa incrível oportunidade de entender e viver um grande evento”. Como aluno, Uriel participou da Mostra e hoje vê-se honrado em estar do outro lado, julgando os trabalhos inscritos: “Me sinto verdadeiramente agraciado por fazer parte da história desse evento, tanto na parte da monitoria, quanto na parte de avaliação de trabalhos”.

Outra circunstância que permite di-mensionar a importância do SET é o va-lor atribuído pelos alunos vencedores da Mostra Competitiva à distinção recebida. Vários profissionais destacam em seus currículos o fato de, durante a graduação, terem conquistado o 1º lugar no concurso. Para Natália Pegorer, premiada em 2014 pelo trabalho Aika (categoria Plano Estra-tégico) e em 2015 com Planejamento para a marca Starbucks (categoria Campanha de Comunicação Interna ou Externa), o reco-

nhecimento de ter um trabalho ganhador é cada vez maior devido ao grande espaço que a Mostra Competitiva possui no mer-cado atual. A estudante revela que a maior motivação e importância dessa experiência é ter seu esforço reconhecido: “É maravi-lhoso ver que o esforço valeu a pena, que devemos continuar dando o nosso melhor.

Quando terminarmos essa etapa das nossas vidas, a graduação, devemos conti-nuar almejando aquela nota 10 no mercado”. Gabriel Santos, ganhador em 2015

das categorias Empreendedorismo em Co-municação e Pesquisa Institucional e Or-ganizacional, destaca as professoras Neka Machado, Silvana Sandini e Denise Avanci-ni como suas grandes incentivadoras. Ade-mais, reforça a importância do trabalho em equipe e a integração de colegas.

Este ano, a 29ª edição do SET abor-dou dois vieses: os 50 anos da Famecos e a necessidade de repensarmos “Que mun-do é esse?”, “Para onde vamos?” e “O que estamos fazendo?” O tema sugere uma re-flexão acerca de assuntos contemporâneos. São aspectos sociais e ambientais sendo discutidos a partir de outra ótica, através do olhar da comunicação. Como apontam as expectativas da professora da Famecos Neka Machado, ‘‘ trabalhamos para que a Mostra Competitiva cresça cada vez mais’’.

∆ TRADIÇÃO: o SET Universitário é promovido todos os anos, desde 1988, pela Famecos

‘‘É o maior evento de comunicação acadêmica’’

- Uriel Ricachenevsky

JOANA BERWANGER/FAMECOS/PUCRS

∆ DIEGO WANDER na palestra “Afterburner – uma força extra para realizar transformações”, no 28° SET Universitário

JOANA BERWANGER/FAMECOS/PUCRS BRUNA ZANATTA/FAMECOS/PUCRS

∆ GABRIEL SANTOS, um dos ganhadores da edição de 2015

NATALIA PEGORER/FAMECOS/PUCRS

∆ NATÁLIA PEGORER e grupo premiado na categoria Campanha de Comunicação

Interna ou Externa, em 2015

∆ OFICINA ”Laboratório de conteúdo Globosat: Globonews”, com Fernando Gabeira, no 28º SET Universitário

8 RPAtualidades | Julho 2016

Arte | Cu l t u r A p o p u l A r

Festival de arte ao ar livreEsse ano aconteceu em Porto Alegre a

4ª edição de Caminhos Livres para todos, espécie de festival de arte e cultura ao ar li-vre, que mistura música, sustentabilidade, gastronomia e esporte. O evento é preen-chido de muito amor, formado por um gru-po de amigos que tem em vista proporcio-nar um dos eventos mais carismáticos de Porto Alegre. Além de ser um evento sem fins lucrativos, tem como principal objetivo proporcionar um momento de descontra-ção e alegria para todos os envolvidos, pro-vocando um dia inesquecível para aqueles que participaram das edições.

Um dos organizadores do evento, Ber-nardo Rabello, explica que o evento ser-ve como uma espécie de plataforma, para quem quiser colaborar, vir para somar. “O Festival tem a intenção de que os parceiros conectados possam alavancar suas carrei-ras; e tudo que for verdadeiro há de flo-

rescer, pois fazemos nosso papel de plantarmos a nossa semente.”

Diversas bandas porto-alegren-ses já se apresentaram em busca de fomentar a cultura e interação so-cial, entre elas estão: Acústico Gelpi, trazendo um pouco do folk e blues; Samba e Amor, oferecendo um pou-co da velha guarda brasileira; Good Samaritans, esbanjando seu reggae, envol-vido por uma energia inexplicável; e o Vira-lataz, proporcionando aquele clima de rap e hip-hip, com muito talento e carisma. Além da música, o projeto possui uma preocupa-ção social, com pontos de arrecadação es-palhados para recolher livros e agasalhos para doação, e a participação de grupos vo-luntários, como, por exemplo, a instituição Patas Dadas.

Com o intuito de realizar encontro do público da cidade em um evento de rua, o

festival teve suas edições feitas na Praça Efraim Pinheiro Cabral, localizada no bair-ro Boa Vista, misturando o aconchego e a beleza da praça mais conhecida como Mon-teirinho. Nessa próxima edição, que ainda está sem lugar definido, já que a praça não suporta mais a proporção do evento, o fes-tival segue com as mesmas propostas, con-tando ainda mais com a presença de cola-boradores e parceiros, levando a beleza da arte ao espaço público.

Vanessa Flach Fernandes

Grafite e sociedade • A construção da arte de rua no cenário brasileiro

O Grafite surgiu no Brasil na dé-cada de 70, em São Paulo, e se expandiu para o todo país. Mui-to confundido com a pichação, é

considerado vandalismo para alguns e para outros, uma maneira de mostrar a realidade da cidade e do cotidiano, além de ser usado como forma de expor os problemas do tipo de vida de cada local. Uma das diferenças é que no grafite são usadas mais cores, en-quando a pichação é uma caligrafia de uma cor só em sua maioria.

Esse estilo tem ganhado cada vez mais espaço na mídia e artistas como “Os Gême-os” Otávio e Gustavo Pandolfo, Eduardo Kobra, Binho Ribeiro, Zezão, ganharam visibilidade para fora do Brasil. Pela sua história, São Paulo foi escolhida a Capital Mundial do Grafite e também ganhou o pri-meiro Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo (MAAU). Outro fato que traz a im-portância do Grafite é quando vemos cida-des como Paris e Buenos Aires que valori-zam a cultura do Grafite e são visitadas por

pessoas de todo o mundo, pelos seus atrativos históricos, mu-seus, características prováveis, mas também pelas belas obras produzidas por grafiteiros.

O grafiteiro Marcelo Pax ressalta a importância dessa arte: “Acho que o grafite é uma obra de arte disponível no dia a dia das pessoas, no caminho do trabalho, da escola... Não pre-cisa visitar um museu para ver arte. O grafite é na rua de uma maneira democrática para todo mundo apreciar.” Ele iniciou seu trabalho na área de forma improvisada, por curiosidade da interação que ocorria na rua e hoje se tornou um prazer.

Pax lembra que ainda hoje o grafite não é bem visto por

algumas pessoas, por não o reconhecerem como arte e na região sul essa ainda é a opi-nião mais recorrente. O grafiteiro compara o cenário nacional e internacional da arte, fora do Brasil tem uma circulação de infor-mação maior, além de material de maior qualidade, contudo, os artistas nacionais têm uma identidade forte, a qual se destaca no mundo.

O grafite é feito como uma forma de tra-zer o olhar de quem mora na cidade para o que acontece com ela. Essa experiência é representada em forma de desenhos, que visam despertar um pensamento crítico so-bre o tema. Portanto, para quem acredita ou não que grafite é arte, ele está presente na nossa vida e é um movimento que cresce todos os dias, além de estampado nas pa-redes da cidade e por isso é relevante falar sobre ele.

ana Pujol

laura souto

ARTE

DE

MAR

CELO

PAX

9RPAtualidades | Julho 2016

Desde a infância incentivadas a serem bonitas, elegantes e charmosas, meninas e mulhe-res são público-alvo dos cos-

méticos e, muitas vezes, dependentes deles. A obrigação em ficar bonita força meninas desde novas a se imporem padrões de bele-za e pintarem seus rostos exageradamente, todos os dias, chegando ao ponto de não gostarem mais de si sem maquiagem.

O uso exagerado passou a ser tema de-batido entre feministas. Esta imposição desde sempre faz com que mulheres utili-zem a maquiagem como máscara, negando sua aparência real e não se aceitando natu-ralmente. Blogueiras de moda e beleza pas-saram a ser alvo de críticas e dúvidas, por incentivarem o uso dos produtos de beleza em diversas situações diferentes do dia.

Alissa, estudante de Relações Públicas da Famecos, que já usou muita maquiagem e notou que não se contentava com isto,

não vê problema em usá-la, desde que a opção pela pintura seja por vontade pró-pria. Sentir-se obrigada e ser julgada pela maquiagem é que representa uma compli-cação.

Acredita-se que feministas não usam maquiagem. Em um dos vídeos da série “#MulheresNoYouTube”, as Youtubers e feministas Jout Jout e Julia Petit debatem a visão da maquiagem no viés feminista e o poder que ela pode trazer, sendo usada como plataforma de autoconhecimento e autoestima.

Para Petit, a questão está além da ma-quiagem. Ela afirma que o processo de se maquiar é muito mais do que o ato. É o exercício de olhar-se a fundo no espelho, entrar em contato consigo mesma; um momento de carinho, de reflexão pessoal e amor próprio, ou mútuo, quando se ma-quia outras pessoas.

Feminismo é, resumidamente, “dar às

mulheres o poder da escolha”. Partindo disto, elas podem escolher usá-la, ou não. Existem muitas feministas que deixam cla-ro que não gostam e não se sentem bem ao usar estes produtos, porém todas ressal-tam a importância do poder da escolha.

Diversos maquiadores, como Brigitte Calegari, expõem sua indignação ao ver maquiagens que deformam o rosto das pessoas. Eles valorizam a suavidade e o destaque aos detalhes. Esta visão também é uma arma de empoderamento das mu-lheres. Maquiar-se não para esconder o que se julga feio, não para transformar-se, pois maquiagem não deve ser repressão contra a beleza natural, e sim, valorização do que já é bonito em si.

Sentir-se empoderada demonstra a be-leza de dentro. Por que não aliar a beleza que vem de fora? (Se você quiser, é claro!)

Marina Bellon

Relacionamento | a u t o e s t i m a

Espelho, espelho meu• A MAQUIAGEM COMO EMPODERAMENTO É TEMA DE DEBATE ENTRE FEMINISTAS

MARINA BELLON/ RP

∆ CULTO À BELEZA. Utilizar o produto como máscara é consequência da imposição vivenciada por mulheres

10 RPAtualidades | Julho 2016

Relacionamento | W e b c e l e b R i d a d e s

O YOUTUBERQUE ME REPRESENTA

• Como o sucesso dos vlogs está ligado ao seu conteúdo

O YouTube, criado em 2005, é um site que permite aos seus usuá-rios carregarem e compartilha-rem seus vídeos em tempo real

ou de forma programada na web, que po-dem ser assistidos em várias plataformas, como tablets, smartphones e computador.

Esta característica tornou o YouTube uma ferramenta poderosa de comunicação e geração de conteúdos multimídia, tendo em torno de 800 milhões de pessoas que visitam o site todos os meses. Essas foram as características que nos fizeram refletir se o sucesso dos youtubers (criadores de conteúdo em vídeo na Web) está vinculado

à sua representatividade. Através de uma enquete com 7 pesso-

as entre 17 e 29 anos, a maioria estudantes de comunicação, que costumam assistir e acompanhar canais no YouTube, busca-mos analisar se o sucesso dos youtubers está relacionado à representatividade des-tes para com seus seguidores.

Pedimos que fossem apontados os três canais favoritos do YouTube e qual deles era considerado seu melhor representante. Os canais mais citados foram: Jout Jout Prazer (818.480 inscritos), Porta dos Fun-dos (11.755.950) e PewDiePie (44.104.530 inscritos). Nessa análise, os perfis dos you-

tubers que se destacam são: humorísticos contendo uma crítica social, apenas humo-rísticos sem conteúdo e críticos com um bom tom de sarcasmo.

Alexandre Barletta Peres, 18, estudan-te de Publicidade e Propaganda na PUCRS, 2º semestre, opina: “Os vlogs de entrete-nimento que contam experiências pessoais provocam maior identificação com seus públicos, pois as pessoas gostam de ouvir dos outros sobre experiências que já vive-ram. Nos canais como os de games, as pes-soas buscam se distrair sem precisar refle-tir e por essa razão se tornam medianas e menos críticas.”

AlissA MAchAdo, GreiciAne sAntos e MAriAnA Körbes

∆ ACESSO. A possibilidade de utilizar várias plataformas facilita o acompanhamento dos seus canais favoritos no YouTube

GREICIANE SANTOS/RP

11RPAtualidades | Julho 2016

Dessa forma, o sucesso dos youtubers é atrelado majoritariamente ao conteúdo, com uma parcela de representatividade.

Na televisão, a aparência é fundamental para a credibilidade no que é postado. Não obstante, percebemos nas redes sociais um fenômeno inverso, onde as ideias têm mais importância que a aparência.

Nota-se que nos canais do YouTube a flexibilidade da frequência das postagens, do conteúdo lançado e da forma como a pessoa se apresenta é diferente da televisão (que os entrevistados usaram como compa-rativo), onde há engessamento das perso-nalidades e é imposto um estilo de vida e de opinião. Entre as semelhanças, se destaca o fato de que ambos fornecem distração, diversão e assiduidade dos programas nos canais. Para os entrevistados, o YouTube desconstrói a ideia de estilo de vida e a opi-nião programada que a televisão estabelece

no imaginário das pessoas.Levando em consideração as informa-

ções obtidas com as entrevistas, ficou evi-dente que o sucesso de um canal está di-retamente relacionado ao seu conteúdo e a identificação do público com o youtuber e seu estilo. Quando se trata de puro entrete-nimento, o item mais relevante é a diversão e a possibilidade de se entreter. Já quando se referem a temas mais críticos, o que é le-vado em consideração é a experiência pes-soal do protagonista do canal.

A representatividade está presente na

flexibilidade da forma como um youtuber transmite seu ponto de vista, e esta carac-terística realmente importa para o espec-tador, tanto para se divertir sem maiores preocupações quanto para refletir sobre questões mais profundas da atualidade.

∆ FELIX ARVID. Canal PewDiePie

∆ JULIA TOLEZANO. Jout Jout Prazer

∆ PORTA DOS FUNDOS. A equipe do canal de enorme sucesso

SAM GUTELLE

ARQUIVO PESSOAL

FOTO DIVULGAÇÃO

Diferentemente do jornalismo tradicio-nal, esta nova técnica de reportagem não tem necessidade da prática da entrevista. Os profissionais utilizam informações com fontes e dados oficiais, contendo uma gran-de quantidade de estatística, números e trabalham em cima disso.

Em entrevista, a professora Karen Sica da Faculdade de Comunicação Social (Fa-mecos) da PUCRS, relatou a importância do jornalismo de dados “no momento em que o jornalista analisa os dados disponí-veis em sites oficiais, cria ideias de pautas inovadoras para uma matéria que nunca foi feita, e consegue dados que sejam es-senciais para a sociedade”, assegura Karen.

A professora explica que o jornalismo de dados é um método que facilita a utili-zação de outros artifícios do jornalismo, como um infográfico, possibilitando uma exposição de todos esses dados nas peque-nas letras de um jornal e, no momento que acrescenta números, fica mais clara a lei-tura.

Apesar de ser um assunto novo na área do jornalismo, Karen auxilia seus alunos na disciplina do quinto semestre de Produção e Jornalismo Online, exigindo uma grande reportagem com dados oficiais para a reali-zação do trabalho.

Aline PAstoris

isAdorA VAlentini

• Surge nova técnica de trabalhar com informações

Afinal, o queé o jornalismode dados?

FOTO LUÍZA ZELMANOWICZ/FAMECOS/PUCRS

∆ INOVAÇÃO. Professora Karen Sica

12 RPAtualidades | Julho 2016

Relacionamento | t e c n o l o g i a s

Snapchat, o aplicativoque viralizou o mundoem dez segundos

Criado em 2011, o Snap-chat chegou para mu-dar completamente a maneira como as pes-

soas tiram suas fotos, deixando de usá-las apenas para registrar momentos únicos como tam-bém para mostrar situações co-tidianas.

Muitas pessoas ainda não conhecem a funcionalidade deste aplicativo, apesar de ele ser hoje considerado como um dos mais utilizados no mun-do. O “Snap”, como é chamado pelos seus usuários, funciona basicamente assim: tudo o que você envia como fotos, vídeos, mensagens tem um tempo que você estipula (de no máximo 10 segundos) para se autodestruir, vamos dizer que é como conver-sar pessoalmente, se você perde algum momento engraçado, ou algo que seu amigo tenha dito, não tem como voltar atrás.

Algumas pessoas se per-guntam, por que elas usariam esse aplicativo? O Snapchat é um conceito totalmente dife-rente dos outros, o que vale é o momento, se você viu alguma coisa e quer mandar para seu amigo não importa a qualidade da foto, do vídeo ou o conteúdo por mais infantil que pareça, seu amigo ou amigos nesse tipo de comunicação estarão viven-ciando aquele momento com você, por mais distantes que estejam. Você também pode seguir pessoas que você conhe-ça ou não, até mesmo famosos que utilizam o aplicativo e ver o que elas postam em My Story/Minha História, que é um tipo de pasta onde são armazenados imagens e vídeos que estarão disponíveis por 24 horas.

Profissionais também utili-zam o aplicativo para mostrar seu trabalho, até mesmo médi-cos, nutricionistas, educadores físicos, fotógrafos, entre outros

que veem no Snapchat uma ma-neira de conquistar mais clien-tes. Marcas também fazem uso muitas vezes para divulgar ou transmitir eventos que reali-zam.

Famosos do mundo todo se renderam ao aplicativo pos-tando sua rotina, seu dia de trabalho, alimentação, treinos, muitas vezes incentivando ou-tras pessoas a se alimentarem melhor, a se exercitarem, a ter uma vida mais saudável ou até mesmo animando o dia a dia de muita gente, como o Padre Fabio de Melo (fabiodemelo3) que arranca gargalhadas dos seus seguidores. Rafinha Bastos (orafinhabastos) brinca com a sonoplastia dos vídeos que pos-ta, e contagia a todos com seu humor irônico e único. Hugo Gloss (hugogloss), o bloguei-ro Bruno Rocha, está sempre presente nos melhores eventos e comenta em tempo real os programas de TV que assiste Fernanda Souza (eu.fesouza), a atriz é bem-humorada no Snap-chat, divertida, mostra sua ro-tina profissional, pessoal, amo-rosa, sua alimentação e treinos. Gabriela Pugliesi (ga.pugliesi), além de postar dicas de beleza,

incentivos para se exercitar, treinos e dicas de alimentação, a blogueira e musa fitness posta fotos com seus cachorros, via-gens e fotos românticas com seu namorado Erasmo. Assim como também hoje algumas pesso-as são conhecidas devido ao uso do aplicativo que é o caso da Thaynara OG (thaynaraog) que conquistou seus seguido-res por conta da sua maneira diferente e inovadora de postar seus snaps, onde faz um tipo de gravação de programa ao vivo, e cria muitos bordões diferen-tes que acabaram conquistando cada vez mais seguidores.

O Snap vem se aprimoran-do a cada ano, e trazendo ainda mais novidades. Em 2016 foi a vez da chamada por vídeo che-gar ao aplicativo, trazendo ain-da mais praticidade e utilidade para os usuários. A tendência é cada vez mais o Snapchat con-quistar pessoas e continuar sen-do o aplicativo mais utilizado, porque afinal quem não gosta de se divertir e compartilhar o momento com os amigos ou até mesmo com o mundo?

Aline PAstoris

isAdorA VAlentini

Aline PAstoris (AlinePAstoris)isAdorA VAlentini (isAVAlentini)

ISADORA VALENTINI/RP

1. Escolhendo o primeiro filtro para uma foto, você pressiona o dedo sobre a tela e com o ou-tro escolhe um ou mais filtros.

2. Efeitos que você aplica com a câmera frontal pressionando o seu rosto (lenses) são troca-dos diariamente, mas se você gostou de um e quer utilizá-lo novamente, basta trocar a data do seu celular para o dia que possuía o efeito;

3. Caso não queira que apare-ça para alguém que você viu o snap que ela enviou a você, basta carregar o snap, colocar seu celular em modo avião, vi-sualizar o snap e assim não vai aparecer que você visualizou;

4. Para enviar textos maio-res, ultrapassando o limite de caracteres do aplicativo, basta você escrever o texto em algum local do seu celular, copiar e colar na caixa de texto do Snapchat.

• CONHEÇA ALGUNSTRUQUES COMO:

13RPAtualidades | Julho 2016

Final do dia, você está exausto, já tomou três xícaras de café para encarar o trabalho, passou o dia sentado em frente ao computador

e, a partir das cinco da tarde, tudo o que você quer é ir para casa. Essa é a realidade de muitos trabalhadores ao redor do mun-do, mas alguns jovens empreendedores es-tão mudando isso.

Os jovens hoje em dia não querem ter hora para chegar e hora para sair. Não que-rem fazer a mesma coisa todos os dias. Não acreditam na impessoalidade que um am-biente de trabalho com pouca troca huma-na e muito estresse pode trazer. As vagas disponíveis no mercado de trabalho não lhes pareciam suficientes, então eles deci-diram criar suas próprias vagas, seu pró-prio emprego dos sonhos. Assim surgiu a Nerd Universe, uma loja online fundada em 2013, criada por Alezi Goulart, na época um garoto de 16 anos, morador de Porto Alegre.

Alezi percebeu que havia um gap no mercado de cultura geek no Brasil e deci-diu investir e se dedicar em tempo integral à comercialização de artigos nerd. No pri-meiro ano, a empresa teve um faturamento de aproximadamente R$ 2 milhões e, hoje, a marca é referência quando se trata de cul-tura popular, nerd/geek no Brasil. A Nerd Universe se encaixa no mercado de produ-tos com temática geek e cultura popular, in-cluindo artigos sobre filmes, séries, livros, quadrinhos etc. Seus principais produtos são camisetas, moletons, artigos colecioná-veis, entre outros.

A empresa se comunica com os clien-tes através das suas páginas no Facebook, Twitter e Instagram. Alezi reforça a impor-tância do Facebook para a comunicação com os clientes:

– Acho bem importante, hoje o Face-book é a maior rede social de interação do mundo, na minha opinião. A gente intera-ge bastante, produzimos um conteúdo bem legal, hoje a gente tem a maior página de cultura popular do brasil, independente de serem lojas ou produtores de conteúdo, hoje a página da Nerd Universe tem quase 1

milhão de likes – comenta. Seguindo uma tendência na forma de se

relacionar com seus clientes, a Nerd Uni-verse é irreverente e divertida nas redes sociais, não existe hierarquia na hora de se comunicar com os clientes. Para o criador da marca, o que a diferencia das concorren-tes nas mídias sociais é entender o que o

público necessita, o que ele vive, gosta. – Tentamos produzir conteúdo trans-

parente, humanizado, do bem e que faça sentido para o nosso público. Conversando com os públicos como amigos, ele acredita que empresa conseguiu construir um bom relacionamento com seus públicos sendo transparente, humana e real.

SUCESSO NERD• O caso de sucesso de Alezi Goulart,o jovem empreendedorque conquistou a cultura nerd no Brasil

Inovação | e m p r e e n d e d o r I s m o

MARISI COSTA /RP

∆ ESTAMPAS CRIATIVAS. As camisetas são direcionadas ao público geek

Elisa OlivEira

Marisi COsta

14 RPAtualidades | Julho 2016

Inovação | Co w o r k I n g

Adeus, escritório chato!• Como espaços compartilhados vêm transformando o ambiente de trabalho

RháRis Venes

Yasmin DutRa

Na atual conjuntura de crise econômica e política que o país se encontra, o coworking vem conquistando o merca-

do por oferecer uma alternativa eficiente para aqueles que desejam trabalhar em ambientes compartilhados que sejam cria-tivos, diversificados e com ótimo custo-be-nefício. Este conceito foi criado em 2005 pelo engenheiro de software americano Brad Neuberg e desde então vem conquis-tando muitos adeptos ao redor do mundo.

O coworking é o equivalente a escritó-rios compartilhados, nos quais há a pos-sibilidade de se conviver com diferentes profissionais de diversas áreas de trabalho, proporcionando um espaço de interação e troca de conhecimentos. Apesar do concei-to ter sido criado há mais de uma década, sua prática no Brasil só fora concretizar-se em meados de 2009 e ainda se encontra em processo de consolidação, com a criação de empresas especializadas na área.

Um exemplo destas empresas é a Farol Coworking, criada em 2016 por Carolina Leal, Daiane Pagnussatt e Denise Pagnus-satt, professora do curso de Relações Pú-blicas da PUCRS e reconhecida pela sua trajetória de sucesso com a Agência Comu-nicative.

Os ambientes da Farol são únicos: es-timulam a criatividade e o trabalho em equipe, são acolhedores, dinâmicos e fun-cionais. Com a prestação de mentorias es-

pecializadas para auxiliar os coworkers em suas necessidades, o slogan ‘‘muito mais que uma cadeira” abandona o discurso for-mal e é realmente percebido como sendo parte da essência da Farol.

Sem dúvida, a tendência do coworking não só é uma alternativa a ser considerada para todos aqueles que desejam trabalhar em um espaço dinâmico, econômico e ins-pirador, mas também, para todos aqueles que, como Denise, têm um espírito empre-endedor e inovador.

O que você entende por co-working?

Na sua essência, um espaço de co-working é um espaço de colaboração que reúne profissionais, de diferentes áreas ou não, que são unidos por uma filosofia. Seja ela uma filosofia de troca de conhecimen-tos, de cooperação ou, até mesmo, susten-tabilidade.

Qual o diferencial da Farol?Nosso diferencial, que já se tornou nossa

maior vantagem competitiva, é a assistên-cia que oferecemos. Principalmente nossas mentorias, que estimulam a capacitação e o desenvolvimento profissional e pessoal dos nossos coworkers.

Por que está cada vez mais popular?Acredito que no cenário de crise do nos-

so país, as empresas e os profissionais não estão conseguindo mais manter a estrutu-ra que contavam anteriormente. Tudo está mais oneroso. Além do coworking ser mais viável financeiramente, ele proporciona uma potencialização de negócios, fortalece a rede de contatos e relacionamentos.

Qual o público-alvo?Para qualquer empresa de coworking,

profissionais autônomos, startups, empre-sas, freelancers são mais indicados a par-ticipar, sem excluir quem não se encaixa nestes termos, claro. Mas, falando especi-ficamente da Farol, os coworkers têm de contar com um espírito colaborativo, que queira trocar experiências e conhecimentos e, mais importante, crescer junto.

∆ AMBIENTE COMPARTILHADO. Espaço de interação entre os coworkers

∆ EMPREENDEDORISMO. Denise Pagnussatt, idealizadora da Farol Coworking

FOTOS YASMIN DUTRA/RP

15RPAtualidades | Julho 2016

Mensagens de amornas ruas da Capital

A banda porto-alegrense Lítera encontrou uma forma inusita-da para divulgar o lançamento de seu segundo disco, chamado

Caso Real. Foram espalhados diversos car-tazes e adesivos pelas ruas da capital com frases poéticas. Entre elas, “Nada mais digo senão sou teu”, “Para quem com amor me prende e por amor é presa” e a mais famosa, “Você já viveu um amor impossível?”.

A ação, além de ser criativa, despertou o interesse e a curiosidade das pessoas que se deparavam com o projeto. O grupo, forma-do por André Neto, James Pugens, Rodrigo Bonjour, Fernando Spillari e Fred Bessa, está causando grande mobilização na inter-net, com diversas fotos postadas das frases nas redes sociais, através das hashtags #Ca-soReal e #EscuteLitera.

As músicas do novo disco são inspiradas nas cartas trocadas entre os amantes Dom Pedro I e a Marquesa de Santos no século XIX, durante o Primeiro Império. O ro-mance entre os dois durou sete anos, mas só foi confirmada a existência destas cor-respondências anos depois. Martina Mom-belli, assessora de comunicação da banda, explica como surgiu a ideia: “Num fim de tarde, tomando um café por Porto Alegre, o André comentou que na Itália, durante um bom tempo, por não poderem se ver por alguma restrição da família (em casos de casamento arranjado, por exemplo) ou jul-gamento da própria sociedade – as pessoas escreviam ou colavam bilhetes na parede para os seus amores/amantes. Eles nun-ca iriam ficar juntos, mas acabaram en-contrando essa for-ma de se comunicar. Através da imigração, esse ‘ritual’ acabou vindo parar aqui no Brasil. Como as meninas só saíam de casa para ir à missa – e sempre acompanhadas, pela mãe ou por serviçais – os apaixonados ou pretendentes deixavam recados escritos pelas paredes, colados pelo caminho que elas iriam passar. Tinham que ser mensa-gens rápidas, para que lessem na passagem, caminhando.”

Um grande paradoxo que vivemos nos dias atuais é o fato de possuirmos acesso a

diversos meios de comunicação instantâne-os, que causam uma enorme facilidade na transmissão de informações. Mas, ao mes-mo tempo em que nos aproxima das pesso-as, nos afasta do contato pessoal. Segundo Martina, “vimos o quanto é fácil, atualmen-te, falar dos nossos sentimentos para ou-tra pessoa; porém, isso serve apenas para quem tem uma posição social economica-mente boa, uma cor que não seja discrimi-nada e um relacionamento com o gênero

contrário do seu. Quem atende a todos esses re-quisitos pode namorar, ligar, mandar mensagem, andar de mão dada, beijar em público – caso contrá-rio, sofre com uma comu-nicação limitada como na época lá próxima da Re-

nascença. Falando assim até parece que es-tamos discutindo sobre uma minoria, mas não é verdade. São muitas as pessoas que não estão incluídas nesse protocolo de re-lacionamento.”

Por esta solidão presente em nossos contatos, sejam eles virtuais ou pessoais, Lítera sentiu a necessidade de “conversar com a rua” ainda mais. Foi então que co-locaram uma cadeira no centro de Porto

Alegre, onde pessoas aleatórias chegavam despretensiosamente para contar seus ca-sos reais de amores impossíveis. Tais his-tórias foram filmadas e publicadas no canal do YouTube da banda.

A proximidade da banda com o público fez com que não houvesse mais um controle do número exato de stickers colados pelas ruas, nem de fotos postadas nas redes so-ciais, devido ao enorme sucesso do projeto que mexeu com o imaginário destas pesso-as. Também são enviados envelopes com os adesivos para todo o Brasil, propagando ainda mais a iniciativa.

A sensação que a banda quis passar através das colagens são perguntas inquie-tantes, que fazemos para nós mesmos e ansiamos pela resposta sem possibilidade de retorno. “Quem está dizendo isso? Para quem é? Quem precisa urgentemente ler isso? Quem precisa desesperadamente fa-lar isso para alguém a ponto de colocar essa carta aqui nessa parede?”, sugere Mom-belli. Estes questionamentos nos fazem ter empatia com os amores alheios, pois todos nós já vivemos um romance platônico.

Inovação | Mú s I c a & p o e s I a

∆ BAIRRO BOM FIM. Recados de amor divulgam disco da banda Lítera

• UMA INTERVENÇÃO LITERÁRIA EM PORTO ALEGRE

VICTÓRIA ALMEIDA MIORIM/RP

Larissa Lahorgue

Patrícia ferreira

Victória miorim

“Essa ação nos mostrou que temos uma enorme carência de contato humano, de encostar

no outro, de dizer palavras, de desabafar”, conta a assessora.

16 RPAtualidades | Julho 2016

EvEntos | A r t i s t A s

Participar da produção de grandes shows, como Rolling Stones, Coldplay e Paul McCartney é o sonho de muitos fãs. Mesmo assim, ter acesso livre aos bastidores pode revelar algo surpreendente: um show acontece por trás

dos palcos. Muito antes de as bandas se apresentarem e os fãs formarem

filas gigantescas para assistir aos seus ídolos de perto, alguns pro-fissionais – os produtores de eventos – se dedicam à montagem de grandes estruturas para receber os artistas. Esse trabalho é intenso e requer muita paciência e jogo de cintura.

“Nossa vida é completamente sem horário. Sem dia, sem festas e sem finais de semana. A partir do momento em que você assu-me esse compromisso, é muito difícil sua vida voltar ao normal”, revela Ingrid Berger, produtora de camarins do Rock in Rio. Ela trabalha há quase trinta anos produzindo grandes shows nacionais e internacionais e conta, em detalhes, como funciona a produção de um Backstage, a área mais restrita do show, onde fica o artista e parte de sua equipe.

Desde o planejamento até a montagem de como será o Backs-tage, é preciso muito tempo dedicado em escritório, negociação e contato com a equipe dos artistas. Entre shows nacionais e interna-

cionais, Ingrid Berger diz que o trabalho com as bandas de fora do Brasil é muito mais profissional – ela já produziu 15 shows de Paul McCartney. “São pessoas super profissionais e temos um relacio-namento muito franco e direto”, ressalta a produtora.

Para a produção de shows como esses, o tempo de montagem da estrutura depende, principalmente, do tamanho da banda e o trabalho pode variar entre três dias e um mês. Bandas como os Rolling Stones, por exemplo, exigem maior dedicação, justamente por ser um trabalho minucioso. Cada artista possui um camarim, a banda também necessita de um local para descansar, um depósito para guardar os instrumentos, ou seja, é preciso planejar o espaço de maneira muito cuidadosa.

Exigências curiosas integram a lista de pedidos de muitos ar-tistas e Berger revela que uma das produções mais desafiadoras foi a montagem do show de Madonna, quando ela esteve no Brasil em 2012. “Na época, 70% dos pedidos de camarim não existiam no Brasil. Tivemos que ir para fora encontrar”, explica. Hollywood Vampires, de Johnny Depp e Alice Cooper, por outro lado, compõe a categoria que surpreende pela simplicidade. “Você acha que eles fariam pedidos extraordinários e isso não aconteceu. Eles pediram três linhas”, declara Ingrid.

Fernanda Moraes e Mauricio GaFForelli

BACKSTAGE, UM GRANDE ESPETÁCULO

• Os bastidores da produção de grandes shows revelam boas histórias

FOTO DIVULGAÇÃO

17RPAtualidades | Julho 2016

Quem deseja trabalhar na produção de um show, deve saber que o backstage é uma das áreas mais delicadas por ser o lo-cal onde o artista e sua equipe se preparam, descansam e curtem alguns momentos ao lado dos fãs. Por isso, torna-se fundamen-tal estar preparado para imprevistos, pois eles são comuns e certamente irão acon-tecer. “Nos eventos, 80% das coisas estão prontas, enquanto os 20% restante são o que chamamos de surpresa”, explica a pro-dutora de camarins. O fator surpresa men-cionado por Ingrid nada mais é do que o imprevisto – atenção gerenciadores de cri-se!

Em geral, os imprevistos estão rela-cionados à parte elétrica dos camarins e outros pequenos detalhes. O principal é saber que o show, havendo crises ou não, irá acontecer. Por isso, manter a calma faz parte do trabalho de um bom produtor de eventos.

No Brasil, os cursos na área de grandes shows e produção ainda são poucos e aos que desejam trabalhar na área, Ingrid Ber-ger avisa que é preciso ser calmo, antenado e responsável. Sem esquecer, claro, do re-quisito fundamental: falar inglês.

Afinal, o que éBackstage?

∆ ROCK IN RIO. Festivais exigem muito trabalho e dedicação

O backstage nada mais é que a área restrita ao artista e sua equipe de trabalho. É nesse local em que ele irá des-cansar. Para produzi-lo, é necessário elaborar um planeja-mento, controlar planilhas e custos, receber solicitações de

pedidos e interpretá-las. Além disso, o produtor responsável pelo backstage organizará toda a logística desde a entrada do artista, até o momento em que ele deixa o camarim. O

trabalho é realizado de maneira integrada e envolve desde a equipe de limpeza especializada, carregadores, até o artista.

ACERVO BLOG ROCK IN RIO

18 RPAtualidades | Julho 2016

Alimentação saudável atualmente é um desafio, e ele se torna cada vez maior para os estudantes de ensino superior. Desde peque-

nos fomos ensinados que devemos manter uma rotina de hábitos saudáveis, praticar exercícios, comer regularmente frutas e verduras, mas muitas vezes nossos pais ce-deram às nossas vontades e nos deram nos-so lanchinho no Mc Donalds ou um bolo de chocolate especial.

Conforme a Pesquisa Nacional de Saú-de realizada pelo Ministério da Saúde, em parceria com o IBGE, Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística, os brasileiros es-tão preferindo alimentos mais gordurosos na hora de se alimentar. Os dados apresen-tados na pesquisa mostraram que cerca de 60% dos alimentos consumidos diariamen-te pela população possuem o teor de gor-dura maior do que o desejável. A pesquisa realizada entre agosto de 2013 e fevereiro de 2014 com 63 mil pessoas apontou que 37,2% dos entrevistados afirmaram comer comida muito gordurosa. Entre os homens, esse percentual é de para 47,2%.*

Hoje percebemos como é difícil man-ter uma rotina alimentar saudável. Com os universitários da PUCRS não poderia ser diferente, na correria do dia a dia, deslo-cando-se entre casa, faculdade e estágio nos

perdemos nos horários e acabamos optan-do por lanches práticos, prazerosos e que deem mais saciedade.

Entrevistamos dois alunos da PUCRS com hábitos alimentares distintos e a ge-rente de um dos estabelecimentos mais frequentados da PUCRS, o Restaurante Central no prédio 15. Cada um com uma vi-são diferente sobre a alimentação, mas com muitos aspectos em comum. Nossa primei-ra entrevistada, Lívia Rossa, estudante de jornalismo na Famecos foi questionada so-bre a importância de possuir uma alimenta-ção regrada, de alimentar-se de três em três horas, e os benefícios que isso pode trazer para a saúde, ela ressaltou:

“Acho importante comer nos horários

Como anda a sua rotinaalimentar na PUCRS?• O desafio dos estudantes, no Campus, de abrir mão delanches rápidos por alimentos mais saudáveis

Cotidiano | nu t r i ç ã o

Gabriela Schmitz

JéSSica Pinto

JOÃO PAULO DE BOER/RP

19RPAtualidades | Julho 2016

certos, para evitar comer mais do que eu preciso ou comer os alimentos errados. Quan-do ficamos muito tempo sem ingerir um alimento, temos a tendência a comer muito na próxima refeição, as vezes por impulso nós ingerimos ali-mentos que não são tão sau-dáveis para o organismo.” Ela pratica exercícios físicos regu-larmente e tem o acompanha-mento de uma nutricionista, além de ser vegetariana.

O segundo entrevistado, o estudante de Publicidade e Propagan-da João Paulo Alves, não pratica exercícios físicos e considera a sua rotina bem corrida, para ele o mais complicado para possuir uma alimentação balanceada é ter disciplina: “Disciplina é extremamente complicado, por que eu não consigo comer de três em três horas, eu acabo comendo muitos alimentos rápidos e que eu goste. Ter pouco tempo livre e a falta de disciplina são os fatores que mais me inco-modam.” João também acha que o maior problema dos jovens são os maus hábitos e o estágio que estão na vida. Lívia aponta que o pro-blema das pessoas muitas vezes também é a ansiedade: “Vejo que as pessoas são muito ansiosas, comem algo e logo já estão com fome de novo, porque são alimentos que não saciam e elas acabam ingerindo por impulsividade.”

É perceptível como os estudantes estão ficando mais sem tempo para se preocupar com a prática de exercícios e manter o hábito de uma alimentação balanceada. Contudo, os dois estudantes ressalta-ram que os preços dos alimentos saudáveis na PUCRS não contri-buem. João salienta: “Apesar de não negar um pastel ou um pão de queijo, se os preços dos alimentos saudáveis fossem mais justos na Universidade, eu compraria”.

Entrevistamos a gerente do restaurante localizado no prédio 15, Ingrid Kaefer, ao ser indagada sobre o preço dos alimentos saudá-veis, ela afirmou: “Os produtos saudáveis muitas vezes se tornam mais caros por causa da sua produção que é mais complexa, mas aqui nossos salgados têm o preço muito parelho, você encontra, por exemplo, um pastel frito e um pastel integral pelo mesmo preço.” Ingrid fala que todo o almoço do restaurante é baseado em um car-dápio saudável: “Trabalhamos com arroz integral, dois legumes co-zidos, oito tipos de salada, seis tipos de fruta, uma das opções de carne é sempre grelhada, então todo nosso cardápio é voltado para a alimentação saudável. Fora o almoço, nós temos uma leva bem grande de lanches para quem está na correria e não tem muito tem-po, nós temos os salgados integrais, assados em forno, sem glúten e sem lactose, saladas de fruta, sanduíches com pão integral e pão de linhaça, os sucos e vitaminas, bolinhos, cucas e muffins integrais, o dia inteiro.”

Com inúmeras opções disponíveis, por que os jovens não se sen-tem instigados a comer melhor? Os três entrevistados concordam que o problema é cultural, no Brasil não se tem o hábito de comer alimentos saudáveis quando se está em uma rotina apertada nos ho-rários. O desafio maior para o universitário brasileiro acaba sendo a ausência de força de vontade, para uma possível reeducação alimen-tar. Atualmente existem vários aplicativos para dispositivos móveis que ajudam a melhorar os hábitos alimentares, uma sugestão é o aplicativo DS – Dieta e Saúde, eleito nos melhores apps de 2013 a 2015 pelo Google Play, ele dá dicas para cuidar da saúde e orienta-ções para manter uma dieta saudável, auxiliando em quantidades certas de água e nutrientes que devem ser ingeridos diariamente.

(*)Fonte: Portal Brasil (http://www.brasil.gov.br/saude/2014/12/levan-tamento-analisa-habitos-alimentares-dos-brasileiros)

AlissA MAchAdo

Para escrever este texto eu precisei sair para comer pão de queijo, parar várias vezes a leitura dos textos por-que alguém falava mais alto e me distraía, ou a colega do lado abriu uma foto grande e colorida na tela do compu-tador, ou o professor começou a colar matérias impressas no quadro e eu simplesmente não resisti a ficar olhando para esta ação, ao invés de fazer o que deveria, pois além de uma obrigação, era um tema que tem me interessado muito.

Eu sou uma pessoa adulta com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, ou TDAH, sigla oficial. Descobri isso recentemente e, ao contrário do que possam pensar, senti um alívio imenso quando tive o diagnóstico. “Uau, como assim ficar feliz por saber que tem um problema?”, então, vou explicar:

Durante toda a vida eu tive a sensação de que não me encaixava. Eu via os outros estudando facilmente para as matérias que eu achava as mais chatas. Não entendia como era possível ser tão simples sentar e estudar ou fazer as tarefas, enquanto para mim era quase uma tortura, eu precisava investir muita energia para fazer estas mesmas tarefas. Isso sempre me fez sentir diferente, não tão boa quanto os outros. E, com o passar dos anos, essa sensação foi se transformando em frustração, um sentimento de não ser boa o bastante para fazer algo concreto e relevante da minha vida. Parecia que faltava uma engrenagem, mi-nha máquina não era tão produtiva quanto a dos outros.

Na verdade, eu tenho uma engrenagem que funciona diferente da maioria. Os portadores de TDAH têm alte-rações na região frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. Esta região frontal é bem desenvolvida no ser humano e é responsável pela inibição do comportamento, ou, no caso, controlar comportamentos inadequados. O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcio-namento de um sistema de substâncias químicas chama-das neurotransmissores, que passam informação entre os neurônios. Vários estudos confirmam que o TDAH é também hereditário (obrigada, pai!).

E, então, vem a parte do alívio em descobrir o proble-ma. Existe tratamento, ele pode ser pensado de forma única para mim e vai me ajudar nos sintomas do meu transtorno, como a procrastinação (uma semana se pas-sou entre o primeiro parágrafo do texto e este aqui!), a fal-ta de foco (ouvir uma aula inteira e no fim não fazer ideia do que foi dito naquela hora e meia) e até a impulsividade (xô ataques de raiva e uma ideia mirabolante de negócio por semana). A expectativa de ter mais qualidade de vida, com menos ansiedade e frustração, me faz suspirar de alegria.

A grande questão neste meu relato é: descubra-se! Se você sente que algo não vai bem, que alguma coisa está errada, se sente a deriva enquanto os outros parecem seguros, não tenha medo de procurar ajuda. Não evite a consulta com um psicólogo ou psiquiatra, pense no seu bem-estar. Fazer terapia não lhe fará mal, pelo contrário, vai fazer você se conhecer melhor e lidar com qualquer problema que te impeça de viver plenamente, com qua-lidade. Eu demorei 31 anos para encontrar o motivo dos meus problemas, talvez você possa fazer isso muito antes e se tornar alguém mais feliz já.

Para ser feliz e… Esqueci!C r ô n i c a

20 RPAtualidades | Julho 2016

Alunos da PUCRS es-tão aderindo ao Uber para deslocamento ao Campus. Eles dizem

que se sentem mais seguros e confortáveis do que de táxi.

Asseguram que o atendimento dos motoristas é melhor, além de mostrarem mais respeito aos clientes do que os taxistas. Exis-te preconceito em cima dos tá-xis pelo fato de que nem sempre os clientes são bem tratados.

Uma enquete com universi-tários escolhidos aleatoriamen-te buscou a opinião sobre a acei-tação do Uber e a comparação que fazem com o táxi.

Como alguns pontos citados

pelos entrevistados, o Uber tem como facilidade usar apenas o cartão de crédito vinculado ao aplicativo para o pagamento, sendo mais seguro não precisar lidar com o dinheiro no ato da viagem. Este ponto foi o prin-cipal divisor de águas, quando comparado aos táxis em geral.

Mais facilidades se desta-cam, tais como o seu próprio aplicativo, onde antes mesmo de chegar o motorista solicita-do, você sabe a placa do veícu-lo, qual é a marca do carro e até mesmo o nome do condutor. Isso dá mais segurança para o cliente ao saber qual o perfil do motorista, todos devem ser fichas limpas, pois a empresa antes de cadastrar checa a ficha criminal para ver se não tem ne-nhum antecedente. O que não ocorre com os taxistas.

No aplicativo, o cliente re-cebe o recibo online logo após o término da sua corrida, tendo assim um comprovante de pa-gamento. O que não acontece com os taxistas, somente se for solicitado antes da viagem.

O que deixa os clientes do Uber mais satisfeitos é o fato de que antes da corrida ser feita, pode-se pedir uma estimativa de preço do local de partida até o local de chegada, não sendo pego de surpresa pelos preços abusivos quando não souber o

caminho da sua viagem.A inovação chegou não só

com a proposta de um servi-ço individual de passageiros requintado, trouxe também o exemplo na prática que a livre iniciativa melhora e barateia o serviço do consumidor. E, além disso, impõe aos concorrentes um aviso claro: melhorem, ou perderão espaço no mercado.

Apesar de estar dividindo opiniões, é uma maneira de o consumidor não precisar ficar atrelado a uma só opção de ser-viço de deslocamento.

Tem ocorrido muitos acon-tecimentos de violência con-tra os motoristas do Uber. O aumento da concorrência tem provocado reação hostil dos ta-xistas. Ocorreram muitos ata-ques violentos até mesmo con-tra motoristas comuns. Uma técnica que vem sendo utilizada pelos motoristas alternativos, para fugir das agressões, é con-vidar os passageiros para sentar no banco da frente para que o carro fique “disfarçado” de car-ro comum. O caso dividiu opini-ões e gerou danos tanto morais quanto psicológicos em muitos motoristas.

Atualmente a aceitação do Uber tem sido gradativamente maior em um curto espaço de tempo. Dos 10 estudantes en-trevistados, 80% concordam

com a justiça ao liberar o tra-balho destes motoristas, pois veem o transporte como uma inovação para a cidade e como um meio seguro, econômico em relação aos táxis e com um aten-dimento personalizado. Entre os estudantes, 80% escolheriam fazer uma corrida com o Uber no momento da pesquisa.

Hoje em dia os estudantes estão cada vez mais preocupa-dos com a segurança e a falta dela nas ruas. Com a chegada do Uber tudo se tornou mais fácil e tranquilo, pois pelas opi-niões, os estudantes avaliaram os motoristas como sendo mais prudentes no trânsito do que os outros meios de transporte.

Assim, com o fechamento da enquete pode-se observar que o Uber está chegando na cida-de para inovar e acrescentar no mercado de trabalho. Com uma aceitação positiva e desenvolvi-mento tão gradativo, o aplicati-vo está crescendo cada vez mais e abrindo novos mercados de trabalho nesta crise em que o Brasil se encontra hoje.

Aos poucos o Uber está deixando de ser um tabu, e se tornando além de uma grande realidade para população, uma nova forma de empreender e inovar. RobeRta SantoS

LauRa bacchi

Cotidiano | t r a n s p o r t e

UBER ACADEMICS• Aceitação no Campus da PUCRSpelos alunos

FOTOS ROBERTA SANTOS E LAURA BACCHI

21RPAtualidades | Julho 2016

O aplicativo americano de orga-nização do transporte privado chegou ao Brasil de forma avas-saladora, caindo nas graças da

opinião pública como poucos e numa in-tensidade inimaginável. Em meio a isso, surge a pergunta: Como eles (Uber) se po-pularizaram e puseram para escanteio os taxistas que monopolizavam os transpor-tes privados do país em tão pouco tempo? A resposta é simples: com a exploração da mídia espontânea.

Utilizando-se de técnicas de marketing, o Uber virou xodó da população brasileira mais rápido que serviços como Netflix e Spotify. O que eles fizeram de diferente? Disseminaram seus serviços para forma-dores de opinião testarem, mas não apenas para os profissionais de mídia da Grande São Paulo. O algoz dos taxistas investiu seus serviços de forma estratégica em todo

o Brasil. Disponibilizaram viagens gratui-tas tanto para comunicadores do Rio Gran-de do Sul quanto aos profissionais residen-tes no Rio Grande do Norte.

Sua grande estratégia ao chegar em Porto Alegre foi oferecer uma corrida inau-gural um dia antes do serviço começar ofi-cialmente. Em conversas com agências, descobriram alguns dos maiores forma-dores de opinião da região e, dentre eles, o Pretinho Básico. Após a descoberta, fi-zeram um contato oferecendo um convite para conhecer o serviço.

Para o profissional de mídia do progra-ma Pretinho Básico, da Rádio Atlântida, Rodrigo Cosma, 27, o Uber “contou com a mídia espontânea oriunda da corrida inaugural, além de toda a relevância do seu aplicativo”. A proposta dos americanos foi excelente e com o custo baixíssimo, atin-gindo um patamar onde só uma crise pode-

rá colocá-los num embate com a sociedade. Vale ressaltar que a corrida inaugural foi completamente gratuita para todo o públi-co selecionado, tendo existido um contato prévio com os clientes, não havendo qual-quer tipo de pedido para a divulgação.

Uma empresa não se populariza sem uma reputação consolidada e, para Cosma, todo o trabalho desempenhado foi uma “questão de legitimidade”, oferecendo o serviço de forma exemplar, além de todo o cuidado com o Marketing e de Relações Públicas. Por já se encontrar inserido no mercado internacional e estar passando por embates quanto à legislação do serviço, foi necessário todo um cuidando com o po-sicionamento perante essa nova inserção no mercado local.

Este case mostra que não é necessá-rio desembolsar quantias grandiosas para atingir o seu alvo. Se a empresa garante que o seu serviço é superior ao da concorrência, por que não oferecer, de forma gratuita, o seu trabalho para profissionais e pesso-as pré-selecionadas? A mídia espontânea, com o advento das mídias sociais e blogs, é uma das mais poderosas ferramentas que possuímos para a propagação de informa-ções, serviços e produtos.

Fernanda Ceolin

Jason Mello

• Como o Uber contou com o apoio da mídia espontânea para se inserir no mercado gaúcho

∆ DIRETO AO CAMPUS. Aplicativo é muito utilizado pelos universitários da PUCRS

FOTO FERNANDA CEOLIN/ RP

Ele chegou!

22 RPAtualidades | Julho 2016

Cotidiano | V e g a n i s m o

Iniciativa culinária• A atuação de novos empreendimentos na gastronomia vegetariana

As comidas vegetarianas e vega-nas se tornaram mais que uma opção de vida saudável, motivos ecológicos ou quaisquer razões.

São um estilo de vida que acredita que o veganismo/vegetarianismo é uma crença de cada um, em respeito aos animais, meio ambiente e até questões religiosas. A ideia é parar de comer carne e deriva-dos de animais para diminuir o mercado desses produtos e consequentemente contribuir para o equilíbrio do planeta. Partindo desse pensamento, uma aluna de comunicação resolveu se arriscar no mundo dos negócios e empreender na cozinha vegetariana.

A empreendedora Thaís da Silva Gomes, de 22 anos e estudante de Publicidade e Propaganda na PUCRS, criou a TeleVege. O serviço começou porque ela queria adquirir hábitos saudáveis e um extra na renda. Co-meçou a cozinhar comidas vegetarianas e levar ao trabalho na produtora Grande Pla-no Geral. Sua chefe provou, gostou e Thaís

sugeriu trazer encomendas para ela por um baixo custo. ‘’A partir do feedback positivo da comida, foi que surgiu a ideia de criar uma página no Facebook e disponibilizar esse serviço para mais pessoas’’, explicou.

Vegetariana desde o início do ano, por influência da irmã e por não que-rer mais comprar carne, a futura publicitária revelou que apresenta um espírito criativo desde criança; começou sozinha nessa empreita-da, cuidando de todos os serviços do TeleVege com apenas a ajuda de uma menina. “Ela vai até o destino de bicicleta, de maneira ecológica e sustentável”, destaca. Atualmente,

o negócio conta com uma nova sócia, Ga-briela Monteiro, que é formada em Gas-tronomia, e uma funcionária que auxilia eventualmente no preparo das comidas e distribuição.

Inaugurado no dia 12 de janeiro de 2016, o serviço possui muitas avaliações positivas dos clientes em sua página no Facebook. Desde que foi lançado, adquiriu um público predominantemente feminino, que se mos-

tra satisfeito com o atendimento e a forma como são tratadas suas particularidades. O TeleVege se preocupa em estabelecer uma relação próspera com seus consumidores, desde a criação de cada receita até a entrega dos produtos.

Situado atualmente no bairro Cida-de Baixa, em Porto Alegre, a teleentrega abrange bairros centrais e das proximida-des. “Ainda não engloba toda a cidade por limitações que a bicicleta oferece, possu-ímos apenas uma para realizar toda a en-trega”, comenta. Porém, o empreendimen-to possui planos futuros para atingir mais pessoas, gerar capital e poder assim alugar uma cozinha industrial, aumentar e perso-nalizar as bicicletas. Para que o sonho saia do mundo das ideias, Thaís está realizando uma pesquisa acadêmica voltada para o TeleVege e se mostra confiante com a con-tinuação e futura expansão de seu negócio inovador.

∆ A JOVEM EMPREENDEDORA. Thais da Silva Gomes, estudante de Publicidade e Propaganda que criou TeleVege

Thaís vai até o destino de bicicleta, de maneira ecológica e sustentável.

Cíntia da Rosa FameR

mateus oliveiRa ZaFanelli

vanessa tolotti

PAM HAUBER

23RPAtualidades | Julho 2016

Cotidiano | Em p r E E n d E d o r a s

Moda sustentável, consumo com responsabilidade• Dupla de Porto Alegre cria projeto que buscaestimular moda de maneira responsável

Existe uma maneira de consumir a moda de forma consciente e sustentável? A resposta é sim. As meninas da Closet Detox te en-

sinam como. Milena Faé e Bruna Holder-baum, ex-colegas de faculdade, formadas em moda, descontentes com a sociedade do consumo e, principalmente, dispostas a fazer diferente, se unem em prol de um consumo mais conscientizado.

Foi um ano atrás, em um café, que as meninas compartilharam suas frustrações com suas carreiras no mundo na moda. “Ambas achávamos que não praticavamos nossos valores pessoais, estávamos insa-tisfeitas”, conta Milena. Assim elas resol-veram se lançar como empreendedoras, após cinco anos de formadas, colocando no mercado uma empresa que, segundo elas, é 100% fiel aos seus valores pessoais. Dessa forma nasce a Closet Detox, uma consulto-ria de estilo pessoal com foco no consumo consciente e sustentável.

Já inseridas na moda, Milena e Bruna conhecem bem a trajetória de cada peça até chegar à loja e, a partir daí, até o seu roupeiro/closet. As garotas defendem que “precisamos consumir mais consciente por causa dos tantos danos sociais e ambien-tais que a moda causa no mundo.” Elas possuem uma preocupação em transmitir isso para as suas clientes. Repassar esse conhecimento adiante não é uma tarefa fá-cil, dadas as circunstâncias do mundo globalizado em um sistema capitalista, onde o consumo vem como fer-ramenta de auto-afirmação perante a sociedade.

Mesmo com as dificuldades, elas enxer-gam no processo um “desafio necessário” e acreditam em um futuro de consumo mais sustentável, no qual o seu projeto tenha contribuído. “É um desafio necessário que nos dispusemos e lutamos diariamente em fazer, pois o mundo precisa repensar o con-sumo desenfreado e adotar uma moda mais ética, humanizada”, ressalta Milena.

Segundo as jovens empreendedoras, a moda é a segunda indústria que mais po-lui no mundo, perdendo somente para a do

petróleo. Daí vem a ideia de que roupas não são descartáveis, que não devem ser joga-das fora e que conscientizar é de extrema importância.

Outro contraponto da moda é a utiliza-ção de mão de obra barata, muitas vezes ori-

ginada do trabalho infantil e escravo, “muitas pessoas são exploradas para que outras estejam usando uma peça tendência”, destaca Bruna. A falta de questionamento e pesquisa sobre a origem dos produtos consumidos é fator determinante no pro-

jeto. Buscando mão-de-obra barata, muitas marcas acabam fazendo suas confecções a partir dessa força de trabalho ilegal, o que barateia o produto e acelera o consumo, o deixando irracional e enchendo closets de peças que talvez nunca serão usadas.

Defendendo que o desejo de consumir é fruto da vontade de simplesmente possuir coisas que supostamente acarretarão em uma maior afirmação individual, as meni-nas mostram que muitas vezes adquirimos peças que não se encaixam em nosso esti-

lo, dessa forma enfatizam a importância de cada um conhecer seus gostos e construir sua própria diretriz e consciência social. “Queremos mostrar que menos é mais, que é possível fazer mais com muito menos dano. Quando conhecemos nossos próprios gostos e estilo de vida, consumimos de for-ma muito mais acertada”, pontua Milena.

Se redescobrir no próprio closet, é isso que quem contrata a consultoria da Closet Detox tem a oportunidade de experimentar, repensando, assim, a sua forma de comprar e consumindo de maneira moderada e sen-sata. As meninas contam que os clientes passam a enxergar as suas peças com um novo olhar, uma vez que elas trazem “com-binações nunca antes pensadas por eles”, o que os faz perceber que é possível fazer muito mais com menos e os conscientiza da necessidade dessa nova visão no mun-do da moda. “Temos que aproveitar bem o que adquirimos, fazer durar e, quando não quisermos mais, entender que não há fora”, conclui Bruna.

“Queremos mostrar que menos é mais,

que é possível fazer mais com muito menos

dano”

AndressA LAmAnA

LAurA souto

mAriAnA Gottfried

∆ AS DESCONTENTES. Milena Faé e Bruna Holderbaum, criadoras da Closet Detox

FOTO DIVULGAÇÃO

24 RPAtualidades | Julho 2016

Cleisiane Feistel

luiza RoCha

Cada época pela qual a sociedade passa possui suas próprias ca-racterísticas de consumo, afila-das com a própria história que

se vive naquele momento, seja da explosão consumista que houve no século XIX após o Início da Revolução Industrial, até o con-sumo individualista dos anos 1980, quando começaram a ser projetados e produzidos produtos para uso próprio e privado, como o computador portátil, por exemplo. Essas tendências também foram marcadas por movimentos de contracultura, como a fi-losofia hippie e punk das décadas de 1960 e 1970, que, à sua maneira, incentivavam um estilo de vida mais simples e contra a ordem dominante.

Assim, como não poderia deixar de ser, a era em que vivemos também é marcada pelas suas próprias características. Uma das principais tendências da atualidade é o que chamamos de Lowsumerism, que sur-ge de uma junção das palavras de língua inglesa low e consumer, que literalmente querem dizer “baixo consumo” ou consu-mo mínimo. Esse estilo de vida vem ao en-contro aos grandes problemas ambientais, sociais e até mesmo políticos que hoje são parte de sociedades do mundo todo, porque acredita não apenas que devemos consumir pouco, mas sim equilibradamente, descar-tando o que não for realmente necessário, respeitando assim o meio ambiente e toda uma linha de produção que deve se tornar cada vez mais artesanal, sem deixarmos de nos privar de bens e produtos que existem para facilitar a vida de todos.

Lowsumerism: a urgência • Como os novos hábitos da modernidade vêm afetando a decisãode compra e a imagem das empresas junto ao consumidor

Cotidiano | S u S t e n t á v e l

∆ CANAL CAFÉ. Um exemplo de consumo mínimo, sem impacto ambiental, no Campus da PUCRS

CLEISI FEISTEL

Embora seja uma macrotendência, o Lowsumerism não é algo introduzido na vida de todos de forma simples. Requer uma readequação e uma forte conscienti-zação na forma de comprar e desejar bens de consumo com a qual estamos familia-rizados desde a infância. Na era da obso-lescência planejada – ou seja, os objetos têm sua morte programada já quando do lançamento, caso das inúmeras versões de iPhone que sempre surgem para substituir a anterior – muitas organizações ainda não começaram a atentar para este novo perfil de consumo, e como isso pode vir a afetar a sua trajetória e consolidação no mercado no futuro.

• AFINAL, LOWSUMERISMPARA QUEM?

25RPAtualidades | Julho 2016

Uma proposta de Lowsumerim – con-sumo consciente – é o Canal Café, no Cam-pus da PUCRS. Cláudio Matone, 26 anos, proprietário da cafeteria, conta que já ti-nha o sonho de ter um projeto sustentável desde 2011, mas que a burocracia dificul-tou o processo – ou seja, nem mesmo a lei incentiva esse tipo de prática pelas empre-sas. No entanto, ele não desistiu. “Antes mesmo que fosse modinha, eu já pensava em ter um negócio de baixo impacto am-biental, porque sentia essa demanda cada vez mais viva nos consumidores.” Tendo a cadeia americana Starbucks como refe-rência, Matone acredita que cada vez mais as organizações se verão obrigadas a se readaptar a esse novo estilo de consumo, porque ainda que o mercado não faça isso, o meio ambiente, já escasso em recursos, irá.

A professora da Famecos, Cláudia Trin-dade, corrobora parcialmente o que diz o empresário. Embora ela afirme que não se trata de apenas uma moda, mas sim de uma tendência sólida que vem sendo cons-truída desde o evento Rio-92, também en-tende que os consumidores estão ficando mais exigentes e que, em função disso, as organizações precisarão mudar de pos-tura. “As pessoas estão mais conscientes,

elas querem comprar de uma forma limpa, e para isso precisam saber que a origem do produto é boa, que a empresa usa seus recursos de forma sustentável, que ela não explora trabalho infantil ou escravo, que ela trata bem seus funcionários. O consu-mo consciente vai além do que impacta o meio ambiente, mas também afeta as esfe-ras social e cultural”, conta.

No entanto, Cláudia Trindade é categó-rica ao afirmar que esse tipo de mudança não pode vir por meio de um discurso va-zio: as organizações realmente precisam mudar as suas atitudes, remodelar suas ações desde o cerne do negócio para que elas tenham resultado. Do contrário, a em-presa corre o risco de acabar vendendo a imagem inversa, e a opinião pública irá classificá-la como gananciosa, uma marca que, visando ao lucro acima de tudo, de-fende a bandeira que melhor convier.

Franciele Cavalheiro, ao dar sua versão como consumidora, se aproxima das con-siderações trazidas por Cláudia. Ela afirma que o discurso ambiental das empresas de hoje, em sua opinião, é apenas um meio destas ganharem a simpatia das pessoas, mas não consegue citar o nome de uma organização que associe a um discurso so-cial e ambientalmente consciente genuíno.

Junto a isso, também, faz uma autoanálise do seu próprio comportamento na hora de comprar. “Eu não sou uma consumidora totalmente consciente, eu sei que muitos dos produtos importados que nós temos aqui vêm da China e esses objetos, essas roupas, provavelmente têm trabalho es-cravo envolvido. Isso não me impede de comprar. Mas se eu sei, se foi divulgado e é de conhecimento geral, eu deixo de com-prar sim. Nunca mais comprei na Zara”, conta a estudante de administração, se re-ferindo ao episódio de 2015 em que a grife internacional foi denunciada por ter traba-lho escravo em sua linha de produção.

Assim, podemos notar que, embora seja a passos lentos, o Lowsumerism e o consu-mo consciente vão se solidificando como um novo pilar de comportamento na atu-alidade. Vemos isso não apenas nos boico-tes a empresas que não seguem políticas socioambientais aceitáveis, mas também na forma como as organizações vêm mos-trando preocupação em adotar essas medi-das. Isso não significa que elas tenham in-teresse apenas em gerar uma repercussão positiva em torno do seu nome, mas que estão inseridas e são atores em uma socie-dade que está em pleno desenvolvimento de uma cultura global sustentável.

do consumo consciente

“Antes mesmo que fosse

modinha, eu já pensava em ter um

negócio de baixo impacto

ambiental.”(Cláudio Matone)

FELIPE FRAGA

26 RPAtualidades | Julho 2016

Desperte suas vontades e

vista-se sem preconceito

Cotidiano | t e n d ê n C i a s

• Um novo conceito está invadindo Porto Alegre (e o mundo!)

27RPAtualidades | Julho 2016

O mundo está sempre se reno-vando. Passam-se os anos, e as tendências vão e voltam, mas nesses processos, novas cria-

ções constantemente aparecem. Peças de roupas que estejam ligadas à personali-dade das pessoas estão prevalecendo com intensidade. Elas buscam por tendências que contemplem suas necessidades estéti-cas, emocionais, culturais e sociológicas, de modo que o mercado de moda busque apri-morar e satisfazer o consumidor, para cada vez mais legitimar suas marcas e produtos.

Pedro Benites, empresário no ramo da moda, possui uma linha de roupas infantis baseada neste conceito. Tendo como slogan da marca “Produção justa, sustentável e cheia de cor”, busca trazer ao mercado uma nova visão de vestuário, onde há uma pro-dução inovadora, em que meninos podem vestir cor-de-rosa e meninas podem vestir azul sem problema algum.

Ao ser questionado, pela razão da esco-lha de seu público ser infantil e trabalhar com questões de gênero, ele diz: “Quando eu começo a falar em gênero, a construção que se faz no imaginário infantil, principal-mente quando a criança está em crescimen-to, é de uma divisão em duas caixas. Então, o cérebro da criança já começa a trabalhar em identificar o que é igual a mim e o que não é. Assim, o que não é igual a mim eu vou repelir, vou tratar de outra maneira. Benites acredita que é na infância que de-vemos desconstruir estas barreiras, pois, desta forma, obteremos resultados a longo prazo, que serão notados e se fortalecerão cada vez mais. Recentemente, as marcas Zara e C&A lançaram uma linha de moda

sem gênero que acabou ganhando espaço e originando diversas repercussões. “A gente vê campanhas ‘super’ bem elaboradas, no ponto de vista da comunicação, mas quan-do vamos aos produtos em si averiguar isso, acabamos encontrando muito do que já era. A coleção da Zara, por exemplo, que traba-lha o gênero neutro de uma forma morta. Eles trouxeram falta de cor, de modelagens, são peças largas. Não vemos isso como algo de gênero neutro. É estranho falar em uma loja de departamentos, uma loja de anos de estrada nesse formato, que vende gênero neutro, mas que ainda divide as roupas da loja entre masculino e feminino”, comenta o empresário de moda.

Benites destaca que ainda temos que evoluir muito nessa nova tendência, por ainda não ter totalmente claro o que é uma roupa não-gênero. “Falar de gênero neutro, é falar de uma coisa que não seja só adap-tar roupas masculinas para mulheres usa-rem ou vice e versa. É criar uma roupa que possa servir para todos. Vemos isso como uma mudança de comportamento. Ela é pe-quena, mas é ‘super‘ transformadora. Tira a pessoa do automático e começa a repen-sar algumas coisas”, ele revela que está fe-liz com a aceitação, de ver quantas pessoas abertas para isso, engajadas.

Em contraponto, a professora de moda da Universidade UniRitter, Camila Farina, de 36 anos, comentou que acha o assunto polêmico. “Tenho minhas dúvidas em re-lação à aplicação disso”, ela lembra que a C&A fez uma campanha neste sentido, e foi bem criticada nas redes sociais. “Eu en-tendo que exista uma necessidade da gente discutir essa diluição da diferença entre po-

sições, hierarquia, sexo, e tudo mais, mas acho que é um passo muito difícil de ser dado, esse de tentar sugerir que não exis-tam mais diferenças no vestir, em relação ao gênero. Acho complicado esse processo, não vai acontecer de uma hora para outra, porém, acho válida a discussão”.

Perguntada se usaria algum elemen-to do universo masculino, para compor o look, a resposta de Camila foi direta: “Eu uso, todas essas camisas assim, da Sueca, eu sempre compro. Não tem essa divisão assim entre masculino e feminino. Eu com-prei inclusive uma última peça masculina, eu tenho várias roupas na verdade, meu marido, quando ele não quer mais as cami-sas, eu geralmente dou uma arrumadinha, sempre uso elas, dou um jeito de dar uma acinturada, porque eu sou uma mulher com essência feminina.”

Apesar dos pontos de vistas divergen-tes, o que há em comum é que a moda não- gênero está inserida no mercado, e é uma causa que deve entrar em pauta na socie-dade. Independente da tendência lançada no mercado, o importante é você ter o seu estilo, sentir-se bem e ser feliz com o que está vestindo. Como diria Coco Chanel: “A moda sai de moda, o estilo jamais! ”

Camila Farina, professora de moda da UniRitter.

Pedro Benites, empresário de moda infantil, empresa Matiz.

Giovanna Correa

Pamella Pereira

rafael rodriGues ∆ VISUAL DA PERSONALIDADE. Pamella Pereira e Rafael Rodrigues, estudantes de RP

28 RPAtualidades | Julho 2016

M atheus Pereira, de Caxias do Sul, surpreendeu-se ao ou-vir dos pais a seguinte frase “olha, se é o que tu queres fa-

zer, acho que tu deves ir atrás”, quando de-cidiu fazer uma viagem sozinho pela Euro-pa. Arrecadando dinheiro desde o primeiro salário e diferente dos seus amigos, ele não sabia o que queria da vida. Ao contrário de Bibiana Ayete, de Porto Alegre, que decidiu fazer um intercâmbio social de doze meses pela AIESEC (em português, “Associação Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Comerciais”) e da Camila Lisboa, de São Paulo, que esperou onze meses pelo mês das férias, quer dizer, “o melhor mês do ano”, como prefere chamar.

Mochileiros seriam definidos como “pessoas que organizam sua viagem com o objetivo de permanecer em trânsito por longos períodos, conhecendo um maior número de destinos” (OLIVEIRA, 2005), o que motivou Camila, que acabou criando um blog para descrever suas inúmeras his-tórias de viagens. “O melhor mês do ano” ganhou uma página no Facebook, um per-fil no Instagram (omelhormesdoano) e no Snapchat (camilalisboap). Lá, a viajante compartilha planejamentos, histórias, di-cas de lugares para se hospedar e até aju-da visitantes a fazerem seu próprio roteiro. Camila confessa que prefere sempre viajar sozinha, pois isso lhe dá liberdade de fazer o que ela quer, sem outras interferências.

Durante a entrevista, Bibiana desabafou que estava insatisfeita antes do intercâm-bio, “eu estava fazendo tudo o que eu ima-ginava que me faria feliz, mas não estava” e também revelou que, pelos países que pas-sou, não encontrou ninguém fazendo seis intercâmbios sociais como ela. “Eu comprei seis projetos e foi a melhor escolha da mi-nha vida”, conta. Bibiana também é esco-teira e desabafa que sofreu um pouco com a alimentação em sua viagem, já que poucos países consomem carne de gado na Améri-ca Latina (devido ao seu alto valor), o que fez com que ela tivesse novas experiências.

Enquanto isso, Camila contava os dias para chegar ao mês das férias. Formada em engenharia química, trabalhou em grandes empresas, mas nunca se viu trabalhando atrás de uma mesa, oito horas por dia. E o Matheus, em Caxias, procurava “compre-ender” o que fazer com sua própria vida. Trancou a faculdade, largou tudo e foi atrás do que queria para si, esperando que, ao voltar, soubesse que rumo tomar. Ele sen-tiu falta da segurança de estar em casa.

Quando questionados sobre as formas de comunicação, todos revelam que houve algumas dificuldades. Entretanto, na via-gem, puderam aperfeiçoar a linguagem dos países visitados. Matheus dá a dica: “Ver seriados americanos sem legenda está lon-ge de te qualificar como fluente em inglês.”

Em 2014, Camila resolveu fazer uma viagem de quatro meses, começando pelo Peru e terminando na Colômbia. Tentava ligar para a mãe uma vez por semana ou a cada 15 dias. “Ela não se preocupa muito com isso. Ela sabe que eu já tenho bastante experiência, então ela não fica muito malu-ca com essas coisas”, e reforça: “ela já está bem acostumada, não vai colocar no jornal que eu estou perdida”. A Bibiana admite que só sentiu falta dos pais quando já esta-va voltando ao Brasil, no fim do seu período de intercâmbio, “senti muita falta da minha cadelinha, Pepa, mas conheci pessoas in-críveis durante a viagem.” Matheus confes-sa que fez muitos amigos no mochilão que acabaram dando apoio quando ele passou por alguns momentos difíceis. “Está todo mundo no mesmo barco, todo mundo pre-cisa de amigos e de um porto seguro”, diz. Atualmente, ele está viajando com a namo-rada pela Croácia.

No Google, o termo “mochilão” aponta cerca de 463 mil resultados e mais de 50 mil vídeos. Uma pesquisa feita pelo site Fa-tos Desconhecidos revelou quais os 10 paí-ses mais baratos para se fazer um mochilão. São eles: Albânia, Costa Rica, Índia, Indo-nésia, Nepal, Nicarágua, Peru, Sri Lanka, Tailândia e Turquia. A lista foi divulgada em fevereiro de 2015 e comprovou que os países asiáticos costumam ser os mais vi-sitados por mochileiros que gostam de co-nhecer diversos lugares gastando pouco.

Vida de mochileiro

Viagens | na e s t r a d a

∆ CAMILA LISBOA. Patagônia, Argentina

∆ BIBIANA AYETE. Salar de Uyuni, Bolívia

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

• COMO SENTIR-SECOMPLETO

Geovanna KerKhoven

Priscila Trelles

29RPAtualidades | Julho 2016

Viver uma experiência de vida im-pactante é o sonho de muitos jo-vens que partem a outro país em busca da concretização de suas

carreiras profissionais. Sentimentos como insegurança e saudade da família, por ve-zes, podem impedir os planos de estudar e trabalhar no exterior.

Em 2015, a jovem Anna Berthier, na época estudante do curso de Publicidade e Propaganda da Famecos, decidiu se mudar para Londres e optou por continuar seus es-tudos na Middlesex University. “No começo eu pensei em continuar o curso de Publici-dade e Propaganda. Para minha surpresa, eles não têm um curso idêntico ao nosso. O mais semelhante seria o de Advertising, Pu-blic Relations and Media, mas eu teria que começar do zero, considerando quão amplo ele é”, contou Anna, que atualmente reside em Londres e estuda Fotografia naquela Universidade.

Para a estudante, experiência e conhe-cimento em Fotografia foram essenciais para que ela fosse aceita na Universidade. “Conversei com o coordenador do curso so-bre meu trabalho, meu portfólio e a parte técnica de fotografia também. Com isso, fe-lizmente ele concordou em me colocar no

segundo ano, apesar de dizer que eles rara-mente fazem esta concessão”, relatou.

Anna já falava inglês fluente quando foi morar em Londres, o que fez com que o processo de adaptação fosse mais tranqui-lo. Ela revela que a saudade da família e dos amigos é grande, mas se comunica com ele através do Skype e isso facilita bastante.

Vivendo em outro país, as diferenças culturais podem ser bem evidentes, mas Anna afirma que, pela sua experiência, uma das coisas que mais sente falta, com-parando o Ensino Superior no Brasil e na Europa, é a amizade que desenvolveu com seus professores no tempo em que estudou na Famecos. “Mais do que mestres, de fato,

nos gostávamos muito e nos queríamos bem. Aqui eles têm um aspecto mais con-servador, professor/aluno e só”, desabafa a jovem.

Histórias como a da Anna Berthier, por exemplo, servem como inspiração para muitos outros jovens que desejam estudar ou trabalhar no exterior, mesmo que de ma-neira voluntária. O estudante de Relações Públicas da Famecos, Pedro Maciel, que há mais de um ano trabalha como voluntário na AIESEC – uma organização gerida por jovens que busca o desenvolvimento de li-derança e impacto positivo através dos in-tercâmbios sociais e profissionais – acolhe estudantes de vários lugares do mundo.

Ele trabalha na área de intercâmbios so-ciais, em um projeto da AIESEC chamado Smarketing, que recebe estudantes de ou-tros países para trabalhar presencialmente em ONG’s locais, buscando gerar recursos, parceiros e visibilidade para as organiza-ções. Pedro conta que os destinos mais procurados por estudantes que querem via-jar ao exterior, em geral, estão na Europa. “Tanto por ser um polo de conhecimento e um continente que parece estar à frente e, também, por possibilitar viver diferentes culturas”, explica.

Os maiores desafios dos jovens que es-tão em outro país, por vezes, pode ser a diferença cultural e, também, a saudade da família. “Você chega a um ambiente em que não conhece muitas pessoas e isso pode despertar solidão. Outra questão é a famí-lia. Não é fácil ficar longe da família”, res-salta Pedro.

Para quem deseja experiências positi-vamente impactantes, oportunidades não faltam. “Como seres humanos, somos aco-modados e isso nos priva de experiências magníficas. Com certeza, vai ver que é a melhor coisa que já fez na sua vida”, diz o estudante e voluntário Pedro. E então, já decidiu qual será o seu destino?

Fernanda Ceolin

Fernanda Moraes

MauriCio GaFForelli

Viagens | i n t e r c â m b i o

∆ ANNA BERTHIER mora em Londres desde 2015

∆ TRABALHOS REALIZADOS por Anna Berthier

Atrás do sonhoacadêmico• Dar a volta ao mundo pode ser inspirador

∆ PEDRO MACIEL (esquerda), com seus colegas da AIESEC

ACERVO PESSOAL

ACERVO PESSOAL

ACERVO PESSOAL

30 RPAtualidades | Julho 2016

Comportamento| Ca r n a v a l

• PASSISTAS NÃO SE INTIMIDAM COM O PRECONCEITO EMOSTRAM QUE O IMPORTANTE É SEGUIR SEUS SONHOS

Em tempos em que amamentar o filho na rua, expondo o seio, virou motivo para polêmicas, a cada ano, na época do Carnaval,

se reacende um debate que parece nunca ter fim: a nudez da mulher – principalmen-te da mulher negra – exposta sem pudores na televisão, nos jornais e na internet, deve ser combatida ou vista apenas como liber-dade de expressão?

São de longa data as discussões que le-vantam a questão do corpo feminino sen-do usado como objeto, não só na arte, mas também na propaganda, nas novelas, na literatura, na moda e também no Carnaval. E isso levanta interrogações: até que ponto é possível fazer parte dessa cultura do es-petáculo, feita para agradar os gostos mas-culinos sem, necessariamente, contribuir para a perpetuação do machismo.

Enquanto debates acalorados tomam forma em grupos e fóruns de discussão fe-ministas, existe o outro lado dessa história, que não pode ser ignorado: o das passistas das escolas de samba. Ao alternar entre o papel de mulher, que sofre com o machis-mo diariamente, como todas as demais, e o de símbolo sexual, essas mulheres acabam por se encontrar no meio de uma situação emblemática. No entanto, algumas con-seguem driblar o preconceito e se divertir com o momento, como é o caso de Alice Pe-reira, 29 anos de idade, dos quais passou 20 desfilando.

“As pessoas acham que o Carnaval é só vadiagem, e tem a questão do machismo, mas eu não me importo com isso. Nada para mim é maior do que me sentir impor-tante para a minha escola”, conta a passis-ta, que já desfilou pela IAPI e Vila Isabel, mas atualmente sai pela Bambas da Orgia, todas de Porto Alegre. Para mulheres co-muns, que não são celebridades reconheci-das na grande mídia, esse é um momento de destaque e, embora tenham que enfren-tar a ira de uma sociedade que vê a exposi-ção do corpo – especialmente o feminino – com muita sordidez, elas não deixam que isso seja maior que a realização do sonho. É possível vermos isso na história de Ali-ce: conta que vai para os ensaios todos os dias, à noite, custeando sozinha todas as despesas e para ela não existe emoção maior do que pisar no sambódromo e ver seu pai chorando da arquibancada. A tra-dição atravessa gerações: assim como o pai de Alice para tudo para vê-la dançar na avenida, a jovem – que não deixou de desfilar nem quando estava grávida – agora leva a filha para sambar junto. “Eu amo o Carnaval, essa é a minha motivação. E eu também acredito que não podemos deixar essa cultura, que é tão brasileira, se perder, independentemente do machismo e do que ouvimos nas ruas. Quem é do meio entende

SAMBA NO PÉ, CORAGEMNA CABEÇA

Cleisiane Feistel e luiza RoCha

FOTOS: CLEISIANE FEISTEL

31RPAtualidades | Julho 2016

a beleza desse momento”, conta. Quem também é apaixonada pelo sam-

ba e, apesar de se sentir agredida pelo ma-chismo até mesmo depois que o Carnaval acaba, mas faz questão de continuar a des-filar, é a estudante Ketlyn Couto. Para ela, há uma inversão dos valores que oprime a mulher e a exibição do seu corpo. “Nós deveríamos ir à praia de burca?”, questio-na a jovem. “Não é somente no Carnaval que acontece o exibicionismo do corpo, acredito que não somos nós que precisa-mos modificar nossas vestimentas, mas a sociedade que deve mudar seu modo de agir e pensar”, relata a futura relações-pú-blicas que desfila atualmente pela escola Imperadores do Samba.

Já a professora da Famecos, Helena Stigger, que ministra a cadeira de Cultura e Realidade Brasileira, também enriquece o debate: ela acredita que o Carnaval é um momento que pertence ao povo e às ruas, e por isso não é território livre para o femi-nismo caminhar. “Carnaval é o momento de sermos o que nós desejamos, de não respeitar as normas, de dar asas à ima-ginação, é onde cada um pode ser o que quiser. Assim, não é certo dizer como as mulheres podem se vestir, porque isso se-ria apenas trocar uma imposição sobre o

corpo feminino por outra”.A professora traz, ainda, um outro viés

para o tema ao falar da questão do belo feminino e da aversão que temos ao cor-po e à nudez. Para ela, vivemos em uma sociedade em que, em tempos de “nudes”, dialoga diretamente com o corpo nu, mas ao mesmo tempo o destrata e recrimina. “Em consequência disso, uma mulher que deseje afrontar os padrões impostos – expondo o próprio corpo, por exemplo – deve estar preparada para o julgamento que irá enfrentar”, alerta.

Em contrapartida, ela diz que, embora a linha seja tênue, nem tudo pode ser ta-chado de puro machismo. “Na Grécia An-tiga”, recorda, “o corpo masculino é que era venerado e retratado em esculturas. Se esse culto ao corpo feminino hoje é con-siderado machismo, então o que vivíamos naquela época?”, questiona.

Seja como for, o debate não parece que vai perder força. Enquanto o Carnaval não chega, muitos outros meios de exposição do corpo feminino, viram polêmica diaria-mente, como em desfiles, shows, filmes, livros e campanhas publicitárias. Mas, in-dependentemente da opinião de cada um, sabemos que jamais deixarão o samba morrer, o samba acabar.

“Não somos nós que precisamos modificar nossas vestimentas, mas a

sociedade que deve mudar seu modo de agir e pensar”

“Carnaval é o momento de ser o que nós desejamos, de não respeitar as normas, de dar asas à imaginação” ∆ PERFORMANCE. A passista Alice

32 RPAtualidades | Julho 2016

Três garotos, Afonso Antunes, então com 17 anos, Bruno dos Anjos, de 16, e Pedro

Nectoux, de 18, foram o em-brião da Banda Alpargatos, em 2012, quando se reuniam em um estúdio estúdio para tocar covers.

Um ano depois, em um festival do colégio Santa Inês, a banda, agora com mais um membro, Guilherme Almei-da, o mais jovem, hoje com 18 anos, faz seu primeiro show e se depara com a necessidade de escolher um nome. Entre uma ideia e outra, sob a pressão do show, surge os Alpargatos.

A maior dificuldade que encontram aqui no estado, é a falta de incentivo por parte de casas noturnas, que não abrem espaço para as bandas mostra-rem seu trabalho, porém atra-vés de parcerias com outros grupos eles vão abrindo espaço no cenário musical.

Os Alpargatos entram em estúdio para gravar sua primei-ra música “ta ali”. O que iniciou como uma brincadeira agora se torna uma realidade.

Os shows foram aumentan-do, os números de fãs também e os likes nas redes sociais mais ainda. Pessoas de diversos luga-res do Brasil estavam ouvindo a banda e pedindo show, e o mais legal é que o número de likes da banda aumenta em um número bastante razoável por dia. E foi

assim, cativando um fã e outro, que os quatro guris foram parar no MECAFestival.

No dia 22 de março, o ME-CAFestival abre espaço para uma banda gaúcha tocar. Du-

rante dois dias os fãs comentam o nome da banda que gostariam de ouvir no festival. No dia 24, os Alpargatos entram na vota-ção final com mais quatro ban-das. Cinco dias foram suficien-

tes para eles ganharem quase 4000 votos. Finalmente, em 29 de março são anunciados como a banda escolhida para abrir os shows do palco principal. E en-tão, depois de todo o empenho e correria, veio o choque de reali-dade: “estamos no Meca, e ago-ra?” No dia 2 de abril, na fazen-da O Butiá, em Itapuã, na zona rural de Porto Alegre, os Alpar-gatos se apresentam. A prepa-ração foi grande, o nervosismo também, mas deu tudo certo e assim ocorreu o primeiro gran-de show da banda.

Quando surge a pergun-ta “Onde eles se veêm daqui 5 anos?” vem à tona a emoção. Eles não sabem onde querem chegar, deixam fluir, porém ao falar sobre a emoção de estarem no palco do MECA, apesar de todos se dedicarem a diferentes carreiras na faculdade, são unâ-nimes em dizer que largariam tudo para viver daquela emoção sempre.

Bruna Dalpiaz raíssa KozaK

Estamos aqui, e agora?

ArtistAs independentes | Al p A r g A t o s

• A história de como os Alpargatos chegaram no MECAFestival

BRUNO PERES FOTOGRAFIA

FOTO DIVULGAÇÃO

∆ SUCESSO. Alpargatos no MECAFestival

∆ A BANDA. Afonso Antunes, Bruno dos Anjos, Pedro Nectoux e Guilherme Almeida

33RPAtualidades | Julho 2016

EntrEvista | t E m a P o l ê m i c o

• Como uma ervausada desde 2727 a.C tornou-se um dos principaisinimigos da sociedade?

João Paulo de Boer

leonardo Simonetti

No Brasil, a primeira lei que proibia o uso da erva foi criada em 1830, de-senvolvida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Porém, ela só ganhou

a atual fama de vilã no início do século XX, no ano de 1937, quando o governo dos Estados Unidos da América declarou guerra às drogas. Com a legaliza-ção no estado do Colorado, nos EUA, o assunto co-meçou a ser debatido no mundo inteiro, pois esse ato tem um peso muito grande, tendo em vista que o país que começou com a guerra às drogas estava voltando atrás. Será que esse foi o reconhecimento de que a sociedade perdeu, em todos os sentidos, essa guerra? Depois dessa decisão, muitos países reviram as suas legislações referentes à maconha, entre eles o nosso vizinho Uruguai, enquanto o Brasil ainda está distante de possível mudança.

Em entrevista concedida na Redenção, parque tradicional da capital gaúcha, Denis Petuco, 44 anos, sociólogo e professor/pesquisador da Fun-dação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, falou sobre como a redução de danos chegou ao Brasil e de que forma se aplica à maconha. Ressaltou também sobre a ligação da planta com a saúde pública, bem como criminalização e consequente violência que gera na sociedade brasileira. Oportunamente perguntado sobre a atual conjuntura política do país e possíveis avanços em relação à legalização, Petuco, desanimado, disse, entre outras coisas: “A democracia brasileira é jovem e já estamos retro-cedendo, a política de drogas é apenas uma parte desse processo...” A entrevista:

HORA DE DEBATERESSE TABU

O que é redução de danos?

A primeira política de redução de danos foi criada na Inglaterra, a par-tir do aumento brutal no consumo de morfina. Pessoal voltando da Pri-meira Guerra Mundial, com seque-las sérias de batalha, precisava usar muita morfina para a dor, e aí come-ça a aumentar muito as situações de dependência. Naquela época as técni-cas convencionais não davam resulta-dos, ou seja, simplesmente internar as pessoas e retirar a droga, porque as pessoas faziam uma síndrome de abstinência tão séria que elas cor-riam o risco de morrer, não por causa da droga, mas pela falta dela. Então, a primeira estratégia de redução de danos inventada foi a terapia de subs-tituição: você substitui a droga com a qual a pessoa tem uma relação de dependência, por uma outra droga, mais segura, administrada. A prática ainda existe em países que há casos de dependência de heroína, como Ca-nadá, Austrália e alguns da Europa. A droga de substituição usada é a me-tadona. O segundo início da redução de danos foi na Holanda na década de 70: o governo holandês, preocupado com uma epidemia de hepatites virais entre usuários de drogas injetáveis, queria entender o que estava aconte-cendo. Incentiva a criação de uma as-

sociação de usuários de drogas e isso é muito mais revolucionário do que qualquer coisa na história do cuida-do em saúde para usuários de álcool e drogas, chamando esse pessoal para os debates para tentar entender o que estava acontecendo. Pois eles estavam se infectando com o vírus da hepatite e aí, nesse diálogo, é que se consegue entender que uma das maiores redes de farmácias de Amsterdã estava se negando a vender seringas para pes-soas que tinham o estereótipo de usu-ário de drogas. Eles continuaram se drogando com as poucas seringas que havia. Essas eram compartilhadas e isso transmitia o vírus da hepatite. Aí surge uma política da troca de se-ringas: os usuários levavam seringas sujas e ganhavam uma nova, conse-quentemente limpa. Então se quebra-va a corrente de infecção entre usuá-rios. Foi assim que a redução de danos chegou ao Brasil. Em Santos, ano de 1989, tentando fazer frente a epide-mia de AIDS (segunda cidade no con-tinente americano com mais casos de AIDS, atrás apenas da São Francisco/CA). Muito dos casos aconteciam pelo compartilhamento de seringas entre usuários de cocaína injetável. Então, a Prefeitura de Santos tentou aplicar a troca de seringas, mas o Ministério Público impediu, considerando isso um incentivo ao uso de drogas.

JOÃO PAULO DE BOER/RP

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Só alguns anos depois que se consegue im-plantar uma política de redução de danos aqui no Brasil, e quando começa, ela já ini-cia de um jeito diferente dos europeus, a re-dução de danos no Brasil sempre foi muito mais do que apenas ofertar seringa para as pessoas, para nós sempre foi um princípio ético. O que acontecia historicamente era isso: o usuário chegava ao serviço de saúde dizendo que queria ajuda, tratar suas do-enças sem parar de se drogar. A resposta era “vá para casa e quando quiser se ajudar você volta aqui”. O Brasil não conseguia li-dar com usuários que não queriam ou não conseguiam parar. A partir da experiência da redução de danos, começa-se a mudar essa realidade. Surge então, no Brasil, o que chamamos de terceiro início da redu-ção de danos: o princípio ético aponta para radicalidade do direito à saúde: os usuá-rios têm direito ao acesso à saúde mesmo que não consigam ou não queiram parar. Não se prescreve uma técnica de cuidado, constrói-se junto esse cuidado e é preciso sustentar este princípio ético.

No Brasil, já existiu alguma expe-riência de terapia de substituição, utilizando a maconha como droga substituta?

Nos anos 90, em São Paulo, quando se começa a questão do crack, o PROAD (Programa de Atendimento a Usuários de Drogas), percebeu que muitos usuários de crack chegavam no Programa dizen-do que quando eles fumavam maconha, conseguiam lidar melhor com a fissura do crack: menos ansiedade; menos angustia; era mais suportável a ausência de crack. Foi aí que o PROAD apostou nessa ideia, aplicaram uma pesquisa com dois grupos. O primeiro, formado por um número x de

usuários de crack, que relatavam usar ma-conha. O outro grupo, com mesmo núme-ro, que fumavam crack, mas não fumavam maconha. Acompanharam-se os grupos por cerca de um ano. Ao final, pode-se detectar que, no primeiro grupo, 68% dos usuários tinham abandonado o crack. No segun-do grupo, ninguém conseguiu abandonar. Essa pesquisa nunca pôde ser replicada, nunca recebeu autorização, nunca recebeu financiamento, sempre se considerou que essa pesquisa tinha problemas éticos. Isso dialoga profundamente com a questão da proibição da maconha no Brasil. Essa poderia ter sido, por exemplo, uma experiên-cia bastante inovadora com o uso medicinal da maconha para o tratamento da depen-dência química, a gente já tem várias pesquisas avan-çadas da maconha como co-adjuvante no tratamento da AIDS, de câncer, da epilep-sia refrataria etc. Mas a ma-conha para o tratamento da dependência química é algo muito pouco estudado, apenas recente-mente, se abriu um edital para grupos de pesquisa aprofundarem esse assunto do tratamento de dependência química com utilização de drogas. Existem algumas coi-sas que aproximam a legalização da maco-nha com a redução de danos. Nós que tra-balhamos com essa redução no Brasil, de um modo geral, temos uma postura crítica ao modelo de proibição, não só da maco-nha, mas de todas as drogas, além de críti-cas ao processo de criminalização, pois per-cebemos que a proibição das drogas é fator de produção de vulnerabilidade, estigmati-zação para os usuários, enfim. As pessoas sujeitas a esses processos sempre são as

que terão saúde mais vulnerá-vel, sabemos que a exclusão so-cial é prejudicial à saúde. Ainda tem toda questão da violência agregada à criminalização das drogas, da violência policial e do tráfico. A grande causa das mortes de usuários de drogas no Brasil não é overdose, não são doenças associadas ao uso. A grande causa de morte é a violência ligada ao mundo da criminalização. É nítido que

discutir a proibição/criminalização é discu-tir saúde pública, sim. Isso só não vê quem não quer.

Uma coisa que se ouve muito é a ligação da maconha com casos de es-quizofrenia, o que você acha disso?

A criminalização é impactante na saú-de pública. O grande debate sanitário em torno legalização da maconha tem sido em torno da esquizofrenia. A maconha seria um gatilho para essa doença, surtos psicó-

ticos etc. Talvez fosse o caso da gente começar a estudar, eu não conheço pesquisas que falem sobre isso, se es-ses usuários de maconha que estão tendo surtos ou ingres-sando em quadros de esqui-zofrenia, se isso acontece em função da química/princípio ativo da maconha agindo no sistema nervoso central ou se isso tem relação com o estresse de você estar con-sumindo uma substância

proibida, tendo que fazer isso escondido da polícia, da família, dos professores, em uma sociedade que criminaliza o uso. Por exem-plo, você corre o risco de, na melhor das hi-póteses, sofrer um enquadramento policial, ser levado até uma delegacia de polícia, ter que assinar um termo circunstanciado. O quanto essa situação de tensão, esta sim, não é um disparador de quadros de surtos psicóticos e de quadros de esquizofrenia. Quer dizer, o quanto a tensão é um quadro muito mais importante que o efeito farma-coquímico da maconha no sistema nervoso central. Para proteger algumas pessoas do uso, produzimos uma espiral de violência na sociedade que acaba atingindo muitas

A grande causa das mortes de usuários de drogas no Brasil não é overdose, não são

doenças associadas ao uso. A grande causa

de morte é a violência ligada ao mundo da

criminalização.

∆ En t r E v i s t a E x c l u s i v a. Com o pesquisador Denis Petuco, da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro

JOÃO PAULO DE BOER/RP

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pessoas que não são usuárias (o Brasil é um país com número grande de assassi-natos associados a esse universo da proi-bição das drogas, do mercado clandestino da droga etc.). Vemos uma legião de jovens mortos todo ano somente para proteger alguns outros jovens do acesso às drogas. Os que morrem, na maioria, são negros e/ou pobres. É uma questão de classe social e isso não se consegue justificar em hipótese alguma. A proibição não conseguiu atingir seu objetivo que era impedir os jovens de usarem maconha e, não obstante, atingiu um objetivo que não era desejado: criou-se essa espiral de violência gravíssima em tor-no do universo da droga. A proibição não se justifica enquanto uma estratégia de pro-teção à saúde e violência. A criminalização, em especial da maconha, é injustificável em qualquer prisma que se olhe.

Como tu enxergas o argumento de que a legalização da maconha não funcionaria no Brasil. E que dá cer-to em outros países, pois estes são de primeiro mundo ou pequenos?

O que mais se ouve nos debates é que o processo de legalização da maconha funcio-na em países de primeiro mundo ou países pequenos. Sempre que escuto isso, lembro que ouvia nos anos 80 sobre o processo de redemocratização brasileira, que diziam

que povo não estava preparado para vo-tar, por não ter educação. Então, antes de acabar com a ditadura, antes de estender o direito de voto à população brasileira, pri-meiro de tudo, temos de elevar o nível edu-cacional para que as pessoas possam exer-cer a democracia com consciência. Como se fosse possível se preparar para alguma coi-sa sem vivenciar esse quadro. Quer dizer, a gente só aprende a viver numa sociedade democrática, vivendo numa sociedade de-mocrática. Acho que a gente precisa cada vez mais radicalizar a nossa democracia, inclusive no que tange a política de drogas. A gente precisa produzir uma política de drogas que seja, também, democrática e re-publicana, capaz de respeitar as liberdades individuais, a diversidade, sem criminali-zar as pessoas que tem práticas diferentes. Enfim, isso é produzir uma política de dro-gas democrática, respeitando as minorias. Porque democracia, muitas vezes, é con-fundida com o desejo da maioria. Mas não é apenas com o desejo e direito da maioria que se faz democracia. Talvez se diga que uma política de drogas é aquela criada pelo desejo da maioria da população. Por exem-plo, se fizer um plebiscito para o povo deci-dir se é a favor ou não da legalização: Caso o povo vote contra a proposta, isso será uma política democrática. Mas na verdade não, não é uma política democrática, pois não se respeita o desejo e o direito de uma deter-

minada minoria. Seria a mesma coisa que criar uma assembleia para debater a volta da ditadura e o povo ser a favor. Um país não pode submeter o direito de uma mino-ria ao desejo da maioria, afinal é da nature-za de uma sociedade democrática respeitar os direitos das minorias, principalmente quando esses direitos não atentam contra os direitos da maioria. Um exemplo é o casamento gay: esse direito desta minoria diminui o direito dos heterossexuais? Não. Portanto, não é democrático acabar com o casamento gay, mesmo que a maioria da população defenda o fim do casamento gay. A maconha se aplica da mesma forma. Um plebiscito hoje daria como resultado a manutenção da criminalização da maco-nha. Portanto, seria democrático sustentar essa criminalização? Não. Não seria demo-crático, pois, de novo, não está respeitando os direitos dessa minoria interessada. O direito de uma pessoa usar maconha fere outra de não usar? Não. Essas continua-rão tendo as mesmas liberdades. A demo-cracia brasileira é jovem e já estamos re-trocedendo, a política de drogas é apenas uma parte desse processo e, sim, precisa-mos construir uma política de drogas que respeite o direito das minorias. E minoria aqui é, por exemplo, usuários de maconha, essas pessoas precisam ter os seus direitos respeitados, o direito de não ser tratado como criminoso, o direito de poder com-prar uma planta de qualidade, o direito de poder comprar isso sem precisar se expor à situações de violência. Poderíamos, inclu-sive, ampliar isso e pensar, por exemplo, o Brasil tem produtores de maconha, muito pouco se fala disso, no Norte e Nordeste do país, e quem produz são meros lavradores, agricultores, precisamos respeitar o direito destes. A maconha precisa voltar o que já foi nesse país, comprava-se em feiras, por exemplo. Ou na farmácia, que é o caso dos países que já legalizaram o uso. Ou até do plantio caseiro como é o caso do Uruguai. É preciso dar esse direito às pessoas, avan-çar nesse sentido... Por mais que a maioria não queira usufruir desse direito, uma mi-noria quer. Como já falei anteriormente, o processo de criminalização produz uma espiral de violência que impacta, inclusive, nas pessoas que não fumam maconha. Es-sas também têm sua vida piorada por causa da proibição.

Concluindo, é preciso superar aquela clássica frase que sempre foi dita: “O meu direito acaba quando começa o seu.” Não, pelo contrário, o meu direito aumenta à medida que o seu aumenta. Quanto mais li-vre você for, mais livre eu vou ser. Falo isso com certo desespero, porque parece que es-tamos muito distantes dessa realidade.

REPRODUÇÃO

36 RPAtualidades | Julho 2016

AnA Pujol

orlAndA TAmiko

O termo making of significa por trás das câmeras e é mais co-mum vermos sua aplicação na divulgação de filmes, séries,

novelas ou shows. Contudo pode produzir um encontro de várias situações, como na montagem de um concerto. Normalmente, quando pensamos num making of de con-certo, é comum vermos apenas os prepa-ros artísticos, como os ensaios. Porém, um concerto começa bem antes disso.

O Instituto de Cultura da PUCRS é o responsável pelo planejamento, produ-ção e execução dos concertos realizados pela Universidade e, atualmente, produz três séries. Uma delas são os Concertos PUCRS, que acontecem uma vez por mês, normalmente na última quarta-feira, às 18h30min, sempre com entrada franca. Com repertórios mais populares como te-mas de filmes, seriados entre outros, vol-tados à comunidade acadêmica, têm como objetivo ser uma porta de entrada à música instrumental e erudita. Já os Concertos Es-peciais PUCRS, que acontecem às 20h, re-gistram na programação temas eruditos e pode haver cobrança de ingressos. Por fim, os Concertos Internacionais PUCRS con-tam com a participação de personalidades internacionais da música erudita.

Tivemos a oportunidade de assistir par-tes de alguns ensaios da orquestra. Nesta ocasião conversamos com o maestro Mar-cio Buzatto, o qual falou sobre sua profis-são, que exige ser um líder em um grupo de instrumentistas, que é a Orquestra. Um maestro tem a função de lembrar os deta-lhes esquecidos da partitura e conduzir os músicos para a harmonia musical, dando o compasso correto para cada parte da músi-ca. A orquestra, nos seus longos anos, mu-dou, acompanhando as mudanças do tem-po e o aprimoramento dos instrumentos.

Também falamos com um dos violi-nistas, em uma ocasião mais informal, o qual relatou que, na sua visão, a música não fica completa quando apenas a pes-soa a representa, ela precisa do auxílio de outros instrumentos que, juntos, formam um conjunto de sentimentos, e isso a tor-na completa. Os músicos, quando então no palco, prestam atenção no maestro, nos de-mais colegas músicos e em si mesmos para produzir a melhor interpretação de forma

uníssona e, quando encontram o ápice da música, juntos transmitem uma nova sig-nificância na sua arte.

O planejamento dos concertos se inicia, no mínimo, no ano anterior, com a reser-va do local apropriado, Salão de Atos ou o Teatro. Após, é iniciado um brainstorm de possíveis temas, repertório, entre outras questões artísticas, técnicas e administra-tivas. Fica a cargo do maestro Marcio Bu-zatto propor os temas artísticos e avaliar as opções recebidas através de convites exter-nos, propostas de parceria e também são levadas em conta as sugestões encaminha-das pelo público. “Tudo isso é analisado de acordo com as possibilidades técnicas, or-çamentárias, entre outras necessidades le-vantadas. Em alguns casos, quando há en-volvimento de convidados internacionais, é comum selecionar a data por esse critério e também são tratadas questões burocráti-cas para a contratação,” explica o maestro.

A partir do tema é feita a seleção do repertório. E tem como etapa seguinte a encomendada de partituras ou, caso não tenha, dos arranjos (adaptação da música original para a formação de instrumentos, no caso para uma orquestra). Esses mate-riais podem ser enviados pelo correio ou digitalmente para serem impressos no pró-prio Instituto. Essas partituras serão orga-nizadas em pastas para cada naipe (grupos

de instrumentos), partitura de regência (específica para o maestro) e é comum se-parar cópia de estudo.

Cada músico estuda individualmente as peças. O tempo e como são estudados de-pende de cada um. Porém, cabe ao maestro dar a orientação de prazos. No planeja-mento artístico é feita uma previsão do ri-der (planejamento técnico), a distribuição dos equipamentos no palco, como sonori-zação, a localização de cada instrumento da orquestra e tudo que compõem o ce-nário de um concerto. Este planejamento influencia não apenas na estética do palco, mas, principalmente, como a música vai chegar ao público. Para cada formato de apresentação há um rider específico. Isso é pensado pelo maestro com o auxílio de téc-nicos como o de sonorização, por exemplo.

Com isso tudo acertado, o maestro en-caminha o release, breve descrição do con-certo, e informações pertinentes como o tema, quem serão os executores, regência, breve currículo dos convidados. Informa-ções essas que se transformarão em ma-teriais de imprensa, mídias de divulgação e programas entregues no dia do concer-to. Até a data do concerto, são inúmeros ensaios e há muito esforço na produção. “Não há uma segunda chance na música, todo o preparo é para realizar aquele mo-mento único”, conclui Marcio Buzatto.

∆ A PREPARAÇÃO. Ensaio em grupo da Orquestra da PUCRS

ANA PUJOL/ RP

Cultura | O r q u e s t r a d a PuCrs

Making Of de um Concerto• O processo de idealização por trás das cortinas da Orquestra universitária