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Rui M
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dezembro de 2012UMin
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Con
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a
Universidade do MinhoEscola de Engenharia
Rui Filipe Pedreira Marques
Metodologias Inovadoras noCálculo Sísmico de Estruturas emAlvenaria Simples e Confinada
dezembro de 2012
Tese de DoutoramentoEngenharia Civil / Estruturas
Trabalho efectuado sob a orientação doProfessor Doutor Paulo José Brandão Barbosa Lourenço
Rui Filipe Pedreira Marques
Metodologias Inovadoras noCálculo Sísmico de Estruturas emAlvenaria Simples e Confinada
Universidade do MinhoEscola de Engenharia
iii
AGRADECIMENTOS
Esta tese reflete um trabalho de investigação, mas também um período de tempo em
que o autor viveu melhores e piores momentos, ainda que se espere que apenas os melhores
venham refletidos na tese. O estudo realizado teve o contributo direto de algumas pessoas,
ainda que a maior contribuição tenha sido suportada por aqueles bons momentos.
A pessoa que diretamente mais potenciou a realização deste trabalho foi o Professor
Paulo Lourenço, orientador da tese. A ele, o autor agradece a oportunidade criada e o seu
incentivo e saber aplicados a este estudo.
Pela disponibilização dos softwares de cálculo usados como ferramentas neste trabalho,
o autor é grato aos Professores Sergio Lagomarsino, Guido Magenes e Ivo Caliò, e às
respetivas equipas de investigação nas Universidades de Génova, de Pavia e de Catânia
agradece pelos esclarecimentos prestados sobre os métodos implementados nos programas.
O autor agradece ao seu colega João Pereira a elaboração do modelo do edifício “Old
Municipal Chambers” com o método de elementos finitos, o qual serviu de comparação ao
modelo criado com o método de barras equivalentes. Pela colaboração recíproca no âmbito
dos projetos “SINALES” e “ALVEST” financiados pela Agência de Inovação, os quais
fomentaram respetivamente o desenvolvimento do procedimento de cálculo RANm e o estudo
dos casos de projeto com blocos de betão, o autor é grato ao Engenheiro João Gouveia e à
Doutora Graça Vasconcelos. De resto, o autor agradece aos seus amigos, e em particular à sua
colega Paula Lamego pela leitura cuidadosa da tese.
Pelo financiamento prestado, o autor reconhece o apoio da Fundação para a Ciência e
a Tecnologia (FCT) através da Bolsa de Doutoramento com referência SFRH/BD/41221/2007.
Na primeira pessoa agradeço à minha família, especialmente à minha mãe.
Finalmente, presto agradecimento e homenagem aos antigos “construtores” de
alvenaria, pelo seu legado, em especial ao meu bisavô Manuel Pedreira “Morgado”,
empreendedor da fábrica de tijolos do “Forno da Telha” em Monção.
Em Honra de Santa Rita de Cássia
iv
METODOLOGIAS INOVADORAS NO CÁLCULO SÍSMICO DE
ESTRUTURAS EM ALVENARIA SIMPLES E CONFINADA
RESUMO
As construções em alvenaria representam uma parte importante do legado construído e
cultural do passado, mas também uma solução sustentável para o futuro. Esta é a principal
premissa que motivou este trabalho, assim como o desenvolvimento significativo verificado
na indústria de produtos para alvenaria nos últimos anos, apesar do panorama atual em que o
material alvenaria é essencialmente usado em paredes de preenchimento das estruturas. Neste
trabalho estudam-se as possibilidades de construção e o cálculo moderno de estruturas em
alvenaria. É apresentado o estado da arte de procedimentos de cálculo sísmico, os quais
derivaram sobretudo da experiência acumulada na observação pós-sismo na ex-Jugoslávia e
em Itália. Nestes países verificou-se uma grande preocupação na avaliação sísmica de
estruturas existentes e na continuidade da construção com alvenaria estrutural, através da
realização de amplos estudos experimentais, do desenvolvimento de ferramentas de simulação
analítica, da elaboração de normas para cálculo e da disponibilização de software apelativo.
Os procedimentos e ferramentas desenvolvidos para aplicação baseiam-se, em geral, no uso
de métodos de macro-elementos para análise pushover, com uma verificação da segurança
baseada em desempenho. Neste trabalho, estas ferramentas são comparadas e avaliadas, sendo
também proposto um método simplificado para análise da resposta global de edifícios, o qual
tem em consideração a capacidade inelástica das estruturas. Visando a melhoria do
comportamento sísmico de estruturas em alvenaria, é feito um estudo aprofundado da
tipologia de alvenaria confinada, para a qual são propostos modelos numéricos e analíticos
para cálculo sísmico. Finalmente, são apresentados vários casos de aplicação, incluindo a
avaliação sísmica de um edifício histórico, a comparação de diferentes tipologias estruturais
na construção de um edifício unifamiliar, e a aplicação das ferramentas modernas de análise
no projeto de construção nova em alvenaria. As ferramentas usadas demonstram fiabilidade e
robustez computacional, e permitem comprovar a viabilidade e as vantagens de construção
com estruturas de alvenaria, tendo em conta um futuro mais sustentável.
Palavras-chave: alvenaria estrutural, ação sísmica, macro-modelação, software de cálculo,
análise pushover, cálculo baseado em desempenho.
v
NEW METHODOLOGIES FOR SEISMIC DESIGN OF
UNREINFORCED AND CONFINED MASONRY STRUCTURES
ABSTRACT
Masonry construction represents an important part of the built and cultural heritage, but also a
sustainable solution for the future. This is the main reason for this work, jointly with the
recent relevant developments in the masonry industry, despite the fact that presently masonry
is mainly used as infill of structures. This work addresses the possibilities of construction and
modern design for masonry structures. First, a state-of-art of procedures for seismic design is
presented, which were derived mainly from the post-earthquake experience in former
Yugoslavia and Italy. In these countries a great effort was made to assess existing structures
and to keep construction with structural masonry alive, namely by carrying extensive
experimental and analytical studies, jointly with the development of modern codes and easy-
to-use software. The procedures and tools developed for practitioners have been generally
based in the use of macro-element methods for pushover analysis, which establishes a
framework of performance-based safety assessment. In this work, these tools are compared
and evaluated, being also proposed a simplified method for global analysis of buildings that
considers the inelastic capacity of masonry structures. The confined masonry typology is
studied as an improvement to the masonry structures, developing numerical and analytical
models for seismic design. Finally, several case studies are presented, namely the seismic
assessment of a historical building, the comparison of several typologies for construction of
modern housing, and the application of modern design tools for new masonry buildings. The
used tools presented reliability and computational efficiency, which allowed verifying the
practicability and advantages of structural masonry, aiming at a more sustainable future.
Keywords: structural masonry, seismic action, macro-modeling, design software, pushover
analysis, performance-based design.
vi
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO ........................................................................................ 6
1.2 ESTRUTURA DA TESE ........................................................................................... 7
2. CÁLCULO SÍSMICO DE ESTRUTURAS EM ALVENARIA .............................. 9
2.1 TIPOS DE ANÁLISE SÍSMICA ............................................................................... 10
2.1.1 Análise Linear Elástica ....................................................................... 11
2.1.2 Análise Estática Não Linear ............................................................... 23
2.1.3 Análise Dinâmica Não Linear com Integração no Tempo ................. 33
2.2 MODELOS DE MACRO-ELEMENTOS .................................................................... 37
2.2.1 Modelos de Segunda Geração ............................................................ 38
2.2.2 A Nova Base Experimental ................................................................ 41
2.2.3 Modelos de Terceira Geração .............................................................46
3. BENCHMARKING DE PROGRAMAS DE CÁLCULO COMERCIAIS ........... 57
3.1 ANDILWALL/SAM II ....................................................................................... 58
3.1.1 Modelação de Elementos Resistentes .................................................59
3.1.2 Modelação de Pavimentos .................................................................. 63
3.1.3 Modelação Espacial ............................................................................ 64
3.1.4 Procedimento Computacional de Análise .......................................... 66
3.1.5 Verificação da Segurança ................................................................... 67
3.2 3MURI ............................................................................................................... 71
3.2.1 Modelação de Elementos Resistentes .................................................71
3.2.2 Modelação de Pavimentos .................................................................. 77
3.2.3 Modelação Espacial ............................................................................ 79
3.2.4 Procedimento Computacional de Análise .......................................... 81
3.2.5 Verificação da Segurança ................................................................... 82
3.3 3DMACRO ......................................................................................................... 83
3.3.1 Modelação de Elementos Resistentes .................................................84
3.3.2 Modelação de Pavimentos .................................................................. 86
3.3.3 Modelação Espacial ............................................................................ 87
3.3.4 Procedimento Computacional de Análise .......................................... 89
3.3.5 Verificação da Segurança ................................................................... 90
vii
3.4 COMPARAÇÃO ................................................................................................... 93
3.4.1 Síntese Comparativa ........................................................................... 93
3.4.2 Exemplo de Aplicação ........................................................................96
4. MÉTODO SIMPLIFICADO PARA ANÁLISE GLOBAL DE EDIFÍCIOS ..... 103
4.1 FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO .................................................................. 103
4.1.1 Discretização das Paredes .................................................................105
4.1.2 Esforço Axial nos Painéis .................................................................107
4.1.3 Domínios de Resistência .................................................................. 109
4.1.4 Procedimento Computacional .......................................................... 110
4.2 CONSIDERAÇÃO DO COMPORTAMENTO INELÁSTICO ........................................ 114
4.2.1 Procedimento Proposto .....................................................................115
4.2.2 Verificação da Segurança ................................................................. 116
4.2.3 Exemplo de Aplicação ......................................................................117
4.3 COMPARAÇÃO COM SOFTWARES COMERCIAIS ................................................ 126
4.3.1 Síntese Comparativa das Caraterísticas ............................................ 126
4.3.2 Capacidade e Avaliação de Segurança ............................................. 128
5. ESTRUTURAS DE ALVENARIA CONFINADA ................................................ 135
5.1 COMPORTAMENTO DE PAREDES SOB AÇÕES CÍCLICAS .................................... 137
5.1.1 Resposta Experimental ..................................................................... 137
5.1.2 Modelos Numéricos Existentes ........................................................ 141
5.1.3 Modelos Obtidos por Data Mining ................................................... 145
5.2 COMPORTAMENTO SÍSMICO DE EDIFÍCIOS ....................................................... 151
5.2.1 Resposta Experimental ..................................................................... 152
5.2.2 Modelos Analíticos Existentes ......................................................... 153
5.2.3 Modelo Proposto .............................................................................. 158
5.2.4 Exemplos de Validação .................................................................... 163
5.3 METODOLOGIAS DE DIMENSIONAMENTO SÍSMICO ........................................... 170
5.3.1 Procedimentos de Análise Elástica ...................................................171
5.3.2 Procedimentos de Análise Pushover ................................................ 172
6. APLICAÇÕES NO CÁLCULO SÍSMICO DE EDIFÍCIOS ............................... 177
6.1 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DO “OLD MUNICIPAL CHAMBERS” .................... 178
6.1.1 Descrição do Edifício ....................................................................... 178
6.1.2 Análise Sísmica ................................................................................ 181
viii
6.1.3 Resultados da Análise .......................................................................185
6.1.4 Avaliação da Segurança Sísmica ...................................................... 191
6.2 ANÁLISE COMPARADA DE EDIFÍCIO UNIFAMILIAR .......................................... 195
6.2.1 Descrição do Edifício ....................................................................... 196
6.2.2 Projeto em Alvenaria Simples .......................................................... 198
6.2.3 Projeto em Alvenaria Confinada ...................................................... 208
6.2.4 Síntese Comparativa ......................................................................... 214
6.3 PROJETO DE EDIFÍCIOS EM ALVENARIA MODERNA .......................................... 216
6.3.1 Moradia na Mealhada ....................................................................... 217
6.3.2 Moradia em Bragança .......................................................................222
7. CONCLUSÕES ........................................................................................................ 229
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 235
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1. Exemplos de cidades historicamente construídas com alvenaria .............................1
Figura 1.2. Exemplos de sistemas industrializados de unidades cerâmicas, de betão e
sílico-calcáreas ................................................................................................................... ........ 2
Figura 1.3. Exemplos de edifícios em alvenaria com unidades cerâmicas, de betão e
sílico-calcáreas ................................................................................................................. .......... 2
Figura 1.4. Exemplos de soluções de paredes para estruturas em betão armado e em
alvenaria ..................................................................................................................................... 3
Figura 1.5. Exemplo de modularização de um sistema de alvenaria com blocos de
betão ........................................................................................................................................... 3
Figura 1.6. Exemplos de edifícios danificados pelos sismos de Skopje em 1963 e de Friuli em
1976 ....................................................................................................................................... ..... 4
Figura 1.7. Mapa de perigosidade sísmica no Mediterrâneo em termos de PGA para uma
probabilidade de ocorrência de 10% em 50 anos (Grünthal et al., 1999) .................................. 4
Figura 1.8. Figura 1.8. Exemplos de edifícios com aplicação dos princípios de resistência
sísmica ........................................................................................................................................ 5
Figura 2.1. Fluxograma simplificado para verificação da segurança/desempenho via métodos
de análise linear de acordo com o EC8 (Magenes, 2006) ........................................................ 12
Figura 2.2. Definição do coeficiente de comportamento (Magenes e Morandi, 2008) ............13
Figura 2.3. Estudo analítico na Universidade de Pavia para avaliação do coeficiente de
comportamento: (a) exemplo de configuração em planta estudada (Frumento et al., 2009);
(b) valores de FSR calculados para os edifícios de 2 e 3 pisos (Magenes, 2006) .................... 15
Figura 2.4. Estudo experimental no ZAG: (a) ensaio em plataforma sísmica de modelo 1:5 em
alvenaria simples e (b) curvas de resistência de modelos ensaiados (Tomaževič, 2007) ........ 16
Figura 2.5. Definição do espetro de cálculo Sd(T) para análise elástica no EC8 (IPQ, 2010) .17
Figura 2.6. Comportamento sísmico de paredes (a) em consola, (b) de corte com nembos
fracos e (c) de corte com lintéis fracos (Tomaževič, 1999), e (d, e, f) respetivos modelos de
cálculo (Augenti, 2004) ............................................................................................................ 19
Figura 2.7. Ilustração das variáveis envolvidas na rotação (a) de piso e (b) de nembo ........... 21
Figura 2.8. Esforços elásticos (a) de painel isolado, e (b) de parede com vários painéis
(Augenti, 2004) ........................................................................................................................ 22
x
Figura 2.9. Relação força-deslocamento laterais típica de uma parede de alvenaria, obtida por
ensaio de resistência lateral cíclica (Tomaževič, 2000) ........................................................... 24
Figura 2.10. Edifício típico jugoslavo no período 1920-1965: (a) vista e (b) planta (Lutman e
Tomaževič, 2002) ..................................................................................................................... 25
Figura 2.11. Rotura por corte diagonal típica de nembos de edifício em alvenaria simples de
tijolo (Lutman e Tomaževič, 2002) .......................................................................................... 26
Figura 2.12. Princípio de cálculo do método POR para o piso genérico de um edifício
(adaptado de Tomaževič, 1978) ............................................................................................... 26
Figura 2.13. Mecanismos de rotura típicos em nembos: (a) flexão composta ou rocking,
(b) deslizamento horizontal, (c) deslizamento diagonal e (d) corte diagonal .......................... 26
Figura 2.14. Ensaio na mesa sísmica do ZRMK de modelo em escala 1:5 de protótipo de
edifício em alvenaria simples de blocos cerâmicos perfurados: (a) planta do modelo, (b) vista
do modelo no momento anterior ao colapso, (c) padrões de fendilhação típicos na parede
periférica e (d) no núcleo central (Tomaževič et al., 1990) ..................................................... 27
Figura 2.15. Ilustração (a) do espetro de resposta elástica de aceleração e (b) do cálculo do
deslocamento-alvo ....................................................................................................................30
Figura 2.16. Ilustração de análise pushover sobre um edifício de alvenaria ............................32
Figura 2.17. Métodos de análise dinâmica (Bazán e Meli, 1999) ............................................ 34
Figura 2.18. Hipóteses para consideração da não linearidade: (a) regra histerética
elasto-plástica e (b) avaliação da rigidez para um incremento da força resistente fS ...............35
Figura 2.19. Procedimento de análise dinâmica inelástica com integração no tempo:
(a) modelo da estrutura, (b) modelo histerético, (c) acelerograma de cálculo e (d) resposta em
deformação (adaptado de Lestuzzi e Badoux, 2008) ............................................................... 37
Figura 2.20. Modelação de uma parede através de escoras equivalentes (Calderoni et al., 1987
e 1989) ...................................................................................................................................... 39
Figura 2.21. Modelação com elementos de barra: (a) modelo de parede e (b) comportamento
de nembos em função da condição de ligação superior (Braga e Dolce, 1982) .......................40
Figura 2.22. Modelo com elementos de geometria variável proposto por D’Asdia e Viskovic
1994) ........................................................................................................................................ 40
Figura 2.23. Modelo de macro-elementos com campo de esforços de tração nula (Braga e
Liberatore, 1990) .......................................................................................................................41
Figura 2.24. Ensaio do edifício de Pavia: (a) esquema do ensaio, (b) planta do edifício,
(c) sequência de deslocamentos aplicados ao pavimento de teto; padrões de fendas nas
fachadas no final dos (d) Run 3 e (e) Run 7; (f) resposta lateral das fachadas .........................43
xi
Figura 2.25. Resposta experimental de nembos representativos do (a) edifício testado em
Pavia com: (b) esbeltez de 1.35 e tensão normal de 0.6 MPa, (c) esbeltez de 2.0 e tensão
normal de 0.6 MPa, (d) esbeltez de 2.0 e tensão normal de 0.8
MPa .......................................................................................................................................... 45
Figura 2.26. Macro-elemento de Génova: (a) versão original de Gambarotta e Lagomarsino
(1996), e variáveis (b) cinemáticas e (c) estáticas segundo Brencich e Lagomarsino (1998) . 48
Figura 2.27. Modelação de (a) uma parede e de (b) um edifício segundo Brencich et al.
(1998) ....................................................................................................................................... 48
Figura 2.28. Modelação de nembo: (a) macro-elemento e (b) comportamento ao corte ......... 49
Figura 2.29. Hipótese para o cálculo da resistência à flexão composta (Magenes e Calvi,
1997) ........................................................................................................................................ 50
Figura 2.30. Hipótese para o cálculo da resistência ao corte na extremidade de painel
fendilhada por flexão (adaptado de Magenes et al., 2000) .......................................................51
Figura 2.31. Parametrização do softening na resposta lateral de macro-elemento (Lagomarsino
et al., 2009) ............................................................................................................................... 51
Figura 2.32. Modelação de (a) uma parede e de (b) um edifício com o método SAM ............ 52
Figura 2.33. Bases para definição da altura efetiva de nembos segundo a proposta de Dolce
(1991): (a) parede danificada por sismo; (b) padrão de fendas idealizado; (c) subsistemas
nembo-lintéis para parede genérica; (d) simulação de subsistemas com o MEF ..................... 53
Figura 2.34. Macro-elemento de Catânia: (a) discretização e modos de colapso por (b) flexão
composta, (c) corte diagonal e (d) deslizamento (Caliò et al., 2004) ....................................... 54
Figura 2.35. Leis adotadas para o comportamento de (a) flexão composta e (b) corte diagonal
da alvenaria (Caliò et al., 2004) ............................................................................................... 55
Figura 2.36. Modelação de (a) uma parede e de (b) um edifício com o método de
Catânia ......................................................................................................... .............................55
Figura 2.37. Macro-elemento de escoras e tirantes: (a) discretização e modos de colapso por
(b) flexão e (c) corte diagonal (Vanin e Foraboschi, 2009) ..................................................... 56
Figura 3.1. Discretização de uma parede em alvenaria: (a) identificação dos elementos
estruturais e (b) esquematização de nó estrutural (Calliari et al., 2010) .................................. 59
Figura 3.2. Plantas (a) arquitetónica e (b) estrutural de moradia (Calliari et al., 2010) ........... 60
Figura 3.3. Plantas com identificação de (a) nós estruturais e (b) elementos horizontais
(Calliari et al., 2010) ................................................................................................................ 60
Figura 3.4. Leis materiais (a) elasto-plástica com endurecimento para o comportamento à
flexão e (b) elasto-plasto-frágil para o comportamento ao corte ............................................. 62
xii
Figura 3.5. Janela de definição de parâmetros globais no ambiente do ANDILWall .............. 62
Figura 3.6. Regras construtivas para lajes aligeiradas de vigotas (Magenes e Morandi,
2006) ........................................................................................................................................ 63
Figura 3.7. Exemplos de subdivisão das áreas de influência (a) em planta e (b) em altura
(Calliari et al., 2010) ................................................................................................................ 64
Figura 3.8. Input DXF de planta estrutural (Calliari et al., 2010) ............................................ 64
Figura 3.9. Ilustração (a) do referencial local para um elemento de alvenaria de eixo vertical
(Calliari et al., 2010) e (b) dos graus de liberdade de cada nó ................................................. 65
Figura 3.10. Modelos (a) 3D geométrico e (b) de assemblado equivalente de edifício ........... 65
Figura 3.11. Ilustração da (a) distribuição de forças sobre edifício e (b) procedimento de
solução de Newton-Raphson com estratégia arc-length numa dimensão (Calliari et al.,
2010) ........................................................................................................................................ 66
Figura 3.12. Análise pushover: (a) direções a considerar e (b) entidades da curva de
capacidade ................................................................................................................................ 67
Figura 3.13. Exemplos do output do ANDILWall: (a) quadro de verificação da segurança,
(b) deformada e (c) colorido de elementos danificados do edifício ......................................... 69
Figura 3.14. Avaliação da resposta fora do plano de parede em alvenaria: (a) modelo
considerado e (b) curva momento-deslocamento a meia-altura da parede (Morandi et al.,
2008) ........................................................................................................................................ 70
Figura 3.15. Cinemática dos casos (a) axial elástico e (b) com secção efetiva reduzida ......... 72
Figura 3.16. Comportamento ao corte: (a) ciclo de carga-descarga e (b) andamento da função
de tenacidade R(α) (adaptado de Penna (2002)) ...................................................................... 73
Figura 3.17. Comportamento à compressão de painel: (a) lei de fibra com degradação de
rigidez e (b) estado de tensão e deslocamento em condição de não linearidade ......................73
Figura 3.18. Convenção para a discretização de paredes: (a) planta de edifício, (b) definição
de alinhamentos de paredes e (c) tipos de nós (STA Data, 2009) ............................................75
Figura 3.19. Representação do (a) fluxo de tensões numa parede com abertura e (b) respetivo
modelo simplificado no 3Muri (STA Data, 2009) ................................................................... 75
Figura 3.20. Elemento finito de 4 nós para o modelo de pavimento (Penna, 2002) ................ 77
Figura 3.21. Exemplo de modelo de pavimento com elementos triangulares ..........................77
Figura 3.22. Pavimentos constituídos por: (a) madeira-betão, (b) perfis metálicos-betão,
(c) perfis metálicos-abóbadas-betão e (d) vigotas-abobadilhas-betão (STA Data, 2009) ........78
Figura 3.23. Comportamentos de (a) pavimento rígido e de (b) pavimento flexível ............... 78
Figura 3.24. Exemplificação do input do 3Muri para definição de um pavimento ..................79
xiii
Figura 3.25. Discretização da massa de pavimento para o cálculo das suas ações sobre os
nós ............................................................................................................................................ 79
Figura 3.26. Esquema de: (a) nós 2D e 3D, (b) graus de liberdade de nó 3D e (c) repartição de
massa fora do plano .................................................................................................................. 80
Figura 3.27. Malha (a) tridimensional de edifício e (b) bidimensional de sua fachada ........... 80
Figura 3.28. Curva força-deslocamento com controlo de força e de deslocamento ................ 81
Figura 3.29. Exemplos de resultados do 3Muri: dano em parede e curva de capacidade de
edifício ......................................................................................................................................83
Figura 3.30. Discretização com molas de interface para simular a interação entre painéis de
alvenaria (Caliò et al., 2004) .................................................................................................... 84
Figura 3.31. Elemento resistente linear: (a) modelação e (b) diagrama de interação (Gruppo
Sismica, 2011) .......................................................................................................................... 85
Figura 3.32. Interação de painéis com (a) elemento rígido e com (b) diafragma deformável
(Gruppo Sismica, 2011) ........................................................................................................... 86
Figura 3.33. Definição no 3DMacro da direção de funcionamento das lajes no piso de
edifício ......................................................................................................................................87
Figura 3.34. Interseção de paredes: (a) campo tensional e (b) modelo (Gruppo Sismica,
2011) ........................................................................................................................................ 88
Figura 3.35. Modelação de edifício: (a) modelo geométrico e (b) modelo computacional ..... 88
Figura 3.36. Ilustração (a) do procedimento de redução do passo de carga e (b) da correção da
lei de uma mola ........................................................................................................................ 90
Figura 3.37. Exemplificação do domínio de capacidade para um edifício: (a) direções
consideradas, (b) vista em planta e (c) vista em alçado (Caliò et al., 2006) ............................ 91
Figura 3.38. Exemplos do output do 3DMacro: (a) dano sobre um edifício, (b) esquema de
verificação da segurança, (c) digramas de tensões nos macro-elementos e (d) resposta de
mola ............................................................................................................................. ............. 91
Figura 3.39. Verificação fora do plano: (a) cinematismos possíveis e (b) resposta do oscilador
equivalente ............................................................................................................................. .. 92
Figura 3.40. Estrutura em alvenaria de tijolo testada sob carregamento lateral estático:
(a) vista, (b) propriedades da alvenaria e (c) perfis (Cappi et al., 1975) .................................. 97
Figura 3.41. Modelos da parede: (a) físico, (b) ANDILWall/SAM II, (c) TreMuri e
(d) 3DMacro ............................................................................................................................. 98
Figura 3.42. Envolventes experimentais e curvas de capacidade obtidas dos programas ....... 98
xiv
Figura 3.43. Evolução dos esforços (a) axial N e (b) transverso T nos nembos em função do
deslocamento no topo da parede .............................................................................................. 99
Figura 3.44. Resposta da padieira central: (a) evolução dos esforços axial N e transverso T, e
(b) início de uma fenda típica no modelo experimental (Cappi et al., 1975) ......................... 100
Figura 3.45. Resposta da parede em termos da deformada e do dano nos elementos segundo
os modelos: (a) SAM II, (b) 3Muri, (c) Gambarotta-Lagomarsino e (d) 3DMacro ............... 101
Figura 4.1. Ilustração (a) de configuração típica de edifício e (b) do macro-elemento
idealizado ............................................................................................................................... 104
Figura 4.2. Discretização de painéis em função do sentido da ação do sismo (Augenti,
2004) ...................................................................................................................................... 105
Figura 4.3. Influência da altura efetiva dos nembos na resposta global: (a) parede estudada e
(b) curvas de capacidade de acordo com diferentes hipóteses para a geometria ................... 106
Figura 4.4. Áreas de influência admitidas no cálculo das ações verticais sobre os painéis ... 107
Figura 4.5. Esquema ilustrativo do cálculo das variações de esforço axial nos nembos de uma
parede de piso devido a ação lateral (adaptado de Augenti (2004)) ...................................... 108
Figura 4.6. Esquema de referência ao cálculo dos momentos de piso de uma parede
genérica .................................................................................................................................. 109
Figura 4.7. Formulação dos domínios de resistência V–N (adaptado de Augenti (2004)) .....110
Figura 4.8. Curvas características para (a) flexão composta e (b) corte (Augenti, 2004) ...... 112
Figura 4.9. Cálculo da curva de capacidade de (a) parede e de (b) edifício
inteiro ..................................................................................................................... ................ 114
Figura 4.10. Equilíbrio estático de parede e esforços nos nembos (a) antes e (b) após a
eliminação de um nembo ....................................................................................................... 115
Figura 4.11. Geometria da parede estudada: (a) alçado e (b) discretização em painéis .........117
Figura 4.12. Distribuição das forças sísmicas pelos nembos e definição dos braços das
forças ...................................................................................................................................... 120
Figura 4.13. Cálculo da redistribuição dos esforços verticais na parede ............................... 123
Figura 4.14. Curvas de capacidade (D: descompressão, O: plástico por flexão, X: plástico por
corte diagonal; T2 – d2×10 é a curva de capacidade do piso superior com deslocamento
ampliado 10 vezes) ................................................................................................................. 124
Figura 4.15. Interfaces de implementação do RANm em (a) Excel ao caso atual e (b) VB.NET
com aplicação a um outro edifício ......................................................................................... 125
Figura 4.16. Curvas de capacidade obtidas pelos diferentes métodos ................................... 128
Figura 4.17. Resposta bilinear idealizada em correspondência com os vários modelos ........ 129
xv
Figura 4.18. Resposta da parede em termos da deformada e do dano nos elementos segundo
os modelos: (a) SAM II, (b) TreMuri e (c) 3DMacro ............................................................ 129
Figura 4.19. Evolução dos esforços (a) axial e (b) transverso nos nembos externos do
rés-do-chão na fase inicial de deformação (linhas com marcador de círculo correspondem ao
nembo à direita) ................................................................................................. .....................130
Figura 4.20. Esquema estrutural para definição da matriz de rigidez da parede ....................130
Figura 4.21. Modos de vibração principais no plano da parede segundo os modelos (a) SAM
II e (b) TreMuri ............................................................................................................ .......... 132
Figura 4.22. Perfis do deslocamento-alvo em função da aceleração do terreno .................... 133
Figura 5.1. Paredes de alvenaria com contornos em betão armado: (a) parede confinada e
(b) diferença de comportamento entre alvenaria de enchimento e alvenaria
confinada ................................................................................................................................ 135
Figura 5.2. Cenários pós-terramoto no Chile: (a) Talca, 1928 (alvenaria simples) e (b) Chillan,
1939 (alvenaria confinada) .................................................................................................. ... 136
Figura 5.3. Mapa mundial de perigosidade sísmica (GSHAP, 1999) .................................... 136
Figura 5.4. Rótula plástica desenvolvida numa parede confinada (Aguilar, 1997) ............... 138
Figura 5.5. Resposta de paredes confinadas sob carregamento lateral cíclico (San Bartolomé,
1994): envolventes de força lateral-deslocamento e padrões de dano em paredes ................ 138
Figura 5.6. Rotura por flexão de parede confinada apresentando (a) fendilhação horizontal e
(b) separação de pilar (Yoshimura et al., 2004) similarmente a (c) mecanismo num pórtico em
betão armado com deslizamento por faixas da parede de enchimento (Tomaževič, 1999) ... 139
Figura 5.7. Resultados de ensaios com carregamento lateral cíclico sobre paredes de alvenaria
simples e confinada (Gouveia e Lourenço, 2007) .................................................................. 140
Figura 5.8. Comportamento da interface pilar-alvenaria (Acuña e De la Cuba, 2009):
(a) penetração de fenda diagonal em pilar e (b) gráfico de deslocamentos na interface
relativamente ao deslocamento global da parede (— ligação embricada, - - ligação reta) .... 141
Figura 5.9. Fenómenos em paredes confinadas: (a) forças de interação na interface do painel
de alvenaria (Tomaževič, 1999) e (b) efeito de cavilha (Bourzam et al., 2008) .................... 143
Figura 5.10. Padrões de dano devido a carregamento lateral cíclico sobre paredes (a) com
múltiplos pilares (Marinilli e Castilla, 2007) e (b) com abertura (Yáñez et al., 2004) .......... 145
Figura 5.11. Matriz de relacionamento entre as variáveis da base de dados ..........................146
Figura 5.12. Exemplos de (a) perceptrão multicamada e de (b) transformação MVS ........... 148
Figura 5.13. Resistência experimental contra a resistência prevista por (a) árvores de
regressão, (b) redes neuronais artificiais, (c) k-vizinhos próximos, (d) regressões múltiplas,
xvi
(e) máquinas de vetores de suporte; (f) importância das variáveis na previsão com RM e
MVS ....................................................................................................................................... 149
Figura 5.14. Comparação entre a resistência experimental e a resistência prevista por
diferentes modelos ......................................................................................... ........................ 150
Figura 5.15. Edifícios danificados pelo sismo do Chile em 2010 (Brzev et al., 2010) .......... 151
Figure 5.16. Ensaios sob ações laterais de: (a) modelo de 2 níveis à escala 1:2 de forma
monotónica e em mesa sísmica (San Bartolomé, 1994); e (b) modelo 1:2 de 3 níveis (San
Bartolomé, 1994), (c) edifício 1:2 de 2 pisos (Barragán e Alcocer, 2006), (d) edifício 1:5 de 3
pisos (Tomaževič, 1999) e (e) edifício 1:5 de 3 pisos (Shahzada et al., 2011) em mesa
sísmica ..................................................................................................................... ............... 152
Figure 5.17. Método da coluna larga: (a) estrutura equivalente e (b) modelo ao corte proposto
por Flores e Alcocer (1996) ................................................................................................. .. 154
Figure 5.18. Método da coluna larga: (a) macro-elemento, (b) exemplo de edifício ensaiado
em mesa sísmica por Arias (2005) e (c) respetiva previsão do dano por modelo no
SAP2000 ................................................................................................................................ 155
Figura 5.19. Modelos discretos para pórticos com enchimento em alvenaria usando: (a) molas
(Žarnić, 1994), (b) escoras e rótulas plásticas por flexão (El-Dakhakhni et al., 2003) e
(c) escoras e rótulas plásticas por flexão e por corte (Uva et al., 2012) .................................156
Figura 5.20. Modelos com (a) múltiplas escoras e com (b) escoras e tirantes, idealizados com
base em padrão de dano sobre parede testada por Pari (2008) ...............................................157
Figura 5.21. Macro-elemento discreto: (a) modelo de interface, (b) mecanismos de colapso,
(c) modelo de parede confinada, (d) elemento de viga e (e) domínio de interação
N-Mx-My ................................................................................................................................157
Figura 5.22. Ilustração da alteração do domínio de resistência por descompressão e
sobre-compressão da parede .................................................................................................. 159
Figura 5.23. Alçado e planta do edifício testado por Alcocer et al. (1993) ........................... 160
Figura 5.24. Curvas de capacidade da parede no sentido de carregamento positivo ............. 162
Figura 5.25. Evolução dos esforços axial e transverso nas paredes do primeiro nível .......... 162
Figura 5.26. Estrutura em alvenaria confinada ensaiada no CENAPRED: (a) vista 3D,
(b) detalhe de armaduras e (c) esquema de ensaio (Alcocer et al., 1993) .............................. 163
Figura 5.27. Resposta da estrutura: (a) modelo no 3DMacro, (b) dano previsto e (c) dano
observado para um drift de 0.5%; (d) comparação de envolventes previstas com resposta
real .......................................................................................................................................... 164
xvii
Figura 5.28. Tensões na interface confinamentos-alvenaria para carregamentos positivo e
negativo no 3DMacro, em correspondência com um drift do primeiro nível de 0.1% .......... 165
Figura 5.29. Evolução do esforço axial em elementos estruturais das paredes confinadas do
primeiro nível da estrutura, para carregamento negativo ....................................................... 165
Figura 5.30. Evolução do esforço transverso em paredes e painéis confinados respetivamente
para o método proposto e para o modelo no 3DMacro .......................................................... 166
Figura 5.31. Edifício ensaiado no CISMID: (a) arquitetura, (b) planta estrutural,
(c) construção e (d) cenário de ensaio (Zavala et al., 2004) ...................................................167
Figura 5.32. Modelos geométrico e computacional no 3DMacro para o edifício ..................168
Figura 5.33. Comparação do dano experimental na parede Sul (Zabala et al., 2004) com
aquele previsto no programa 3DMacro para três níveis de drift ............................................ 169
Figura 5.34. Comparação do dano experimental último na parede Norte (Zabala et al., 2004)
com aquele previsto no programa 3DMacro .......................................................................... 169
Figura 5.35. Comparação da resposta experimental (Zabala et al., 2004) com as curvas de
capacidade obtidas no 3DMacro ............................................................................................ 170
Figura 5.36. Ilustração de rotações observadas e previstas nos dois sentidos de
carregamento ................................................................................................................ .......... 170
Figura 5.37. Norma peruana: (a) objetivos do dimensionamento e (b) esforços considerados
no dimensionamento dos confinamentos (San Bartolomé e Quiun, 2004) ............................ 172
Figura 5.38. Desempenho de estruturas em alvenaria confinada: (a) níveis de desempenho e
(b) ilustração do mecanismo de “piso fraco” (Rodriguez e Rodriguez, 2000) ...................... 173
Figura 6.1. Fotografia inaugural do edifício “Old Municipal Chambers” ............................. 179
Figura 6.2. Plantas estruturais do rés-do-chão e primeiro piso (configuração original) ........ 179
Figura 6.3. Alçado Este e vista em corte de Sul (desenhos originais de Samuel Seager,
1886) ...................................................................................................................................... 179
Figura 6.4. Espetros de resposta registados em local próximo do edifício, para os vários
eventos sísmicos, em temos de aceleração e deslocamento ................................................... 180
Figura 6.5. Vistas do edifício e os sismos de Christchurch em 2010-2011: (a) antes
[Fotografia por Phillip Capper sob licença Creative Commons, em
http://en.wikipedia.org/wiki/File:OxfordTerraceChristchurch13June2008.jpg] e
(b) depois................................................................................................................................. 180
Figura 6.6. Principal dano identificado nas fachadas Norte e Este ........................................ 181
Figura 6.7. Principal dano identificado nas fachadas Sul e Oeste ......................................... 181
Figura 6.8. Malha MEF do edifício e detalhe do modelo na empena Este ............................ 183
xviii
Figura 6.9. Modelação da alvenaria: (a) elemento de laje quadrangular e (b) diagramas
tensão-extensão para o comportamento da alvenaria em tração e compressão (TNO,
2009) ...................................................................................................................................... 183
Figura 6.10. Modelação do edifício: modelo tridimensional e planta do modelo de
pavimento ............................................................................................................................... 184
Figura 6.11. Exemplos de alçados do modelo MBE .............................................................. 184
Figura 6.12. Empena na fachada Este (linhas a traço interrompido denotam o fluxo de
forças) ..................................................................................................................................... 185
Figura 6.13. Deformada e dano para +X: (a) colapso da empena Sul, (b) dano adicional sem
empena Sul, e –X: (c) colapso do canto Sudoeste e (d) dano adicional sem canto Sudoeste .186
Figura 6.14. Deformada e dano para +Y: (a) estrago na Câmara do Conselho, (b) dano
adicional sem a Câmara do Conselho, e –Y: (c) colapso do arco superior na fachada Sul e
(d) dano adicional sem canto Sudeste .................................................................................... 186
Figura 6.15. Curvas de capacidade obtidas a partir da análise com o modelo MEF ..............187
Figura 6.16. Deformada em planta para +X relativa (a) ao corte basal de pico [x50] e (b) ao
estado último [x20], e estado de dano das fachadas (c) Este (desl. médio de 1.83cm) e
(d) Oeste (desl. médio de 0.52cm) correspondentemente ao corte basal de pico [x20] ......... 187
Figura 6.17. Deformada em planta para –X correspondentemente (a) ao corte basal de pico
[x50] e (b) ao estado último [x20] ..........................................................................................188
Figura 6.18. Deformada em planta para +Y relativa (a) ao corte basal de pico [x50] e (b) ao
estado último [x20], e estado de dano das fachadas (c) Sul (desl. médio de 2.31cm) [x20] e
(d) Norte (desl. médio de 0.21cm) [x50] correspondentemente ao corte basal de pico ......... 188
Figura 6.19. Deformada em planta para –Y correspondentemente (a) ao corte basal de pico
[x50] e (b) ao estado último [x20] ..........................................................................................189
Figura 6.20. Plantas do rés-do-chão do edifício (a) original e (b) remodelado ......................189
Figura 6.21. Curvas de capacidade obtidas para as estruturas original e alterada do
edifício ....................................................................................................................................190
Figura 6.22. Curvas de capacidade para o edifício alterado, considerando pavimentos 1D e
2D ........................................................................................................................................... 191
Figura 6.23. Deformada em planta para as análises (a) +X e (b) –Y em correspondência com o
corte basal de pico [x50] ........................................................................................................ 191
Figura 6.24. Comparação de curvas de capacidade obtidas para os modelos MEF e MBE com
pavimentos 1D ....................................................................................................................... 192
xix
Figura 6.25. Resposta bilinear idealizada do edifício nas várias direções para o modelo MBE
com pavimentos 2D ................................................................................................................193
Figura 6.26. Evolução histórica da edificação em Portugal quanto ao número de pisos ....... 195
Figura 6.27. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia: plantas e alçado lateral .......... 196
Figura 6.28. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia: alçados principal e posterior . 197
Figura 6.29. Plantas estruturais originais em betão armado ...................................................197
Figura 6.30. Exemplos de montagem do sistema de alvenaria usado .................................... 198
Figura 6.31. Peças do sistema de alvenaria utilizado ............................................................. 198
Figura 6.32. Plantas estruturais da solução construtiva em alvenaria simples .......................199
Figura 6.33. Modelos tridimensionais do edifício (a) geométrico e (b) computacional e
modelos planos (c) da fachada lateral e (d) do pavimento ..................................................... 201
Figura 6.34. Síntese de resultados da verificação de segurança sísmica do edifício no
3Muri ............................................................................................................................. ......... 202
Figura 6.35. Fatores de segurança em termos de aceleração e fator q* ................................. 203
Figura 6.36. Curvas de capacidade do edifício na direção X ................................................. 203
Figura 6.37. Curvas de capacidade do edifício na direção Y ................................................. 204
Figura 6.38. Dano na fachada principal e dano último no edifício para “+X 1º modo e.0” .. 205
Figura 6.39. Dano na fachada lateral e dano último no edifício para “+Y 1º modo e.0” .......205
Figura 6.40. Modelos geométrico e computacional do edifício no 3DMacro ........................205
Figura 6.41. Dano no edifício para (a) “+X 1º modo” e (b) “+Y 1º modo” em correspondência
com as deformações indicadas (X: corte diagonal, =: fendas por tração, ●: rótula
plástica) .................................................................................................................................. 206
Figura 6.42. Comparação de curvas de capacidade obtidas para os modelos 3Muri e
3DMacro ................................................................................................................................ 207
Figura 6.43. Evolução de esforços na interface de elementos e nas molas diagonais ........... 207
Figura 6.44. Plantas estruturais da solução construtiva em alvenaria confinada ................... 209
Figura 6.45. Exemplo de alçado estrutural do sistema construtivo em alvenaria confinada . 209
Figura 6.46. Modelos geométrico e computacional do edifício em alvenaria confinada .......210
Figura 6.47. Dano no edifício para a análise “+X 1º modo” em correspondência com as
deformações indicadas (X: corte diagonal, =: fendas por tração, ●: rótula plástica) ............. 211
Figura 6.48. Dano no edifício para a análise “+Y 1º modo” em correspondência com as
deformações indicadas (X: corte diagonal, =: fendas por tração, ●: rótula plástica) ............. 212
Figura 6.49. Curvas de capacidade obtidas para os modelos 3DMacro em alvenaria simples e
em alvenaria confinada .......................................................................................................... 213
xx
Figura 6.50. Ilustração do progressivo mecanismo de colapso no rés-do-chão do edifício para
“−X 1º modo” (X: corte diagonal, =: fendas por tração, ●: rótula plástica) .......................... 213
Figura 6.51. Resumo da estimativa de custos para os vários tipos de estrutura .................... 216
Figura 6.52. Desenhos de projeto de moradia em alvenaria com planeamento das
instalações .............................................................................................................................. 217
Figura 6.53. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia na Mealhada ........................... 218
Figura 6.54. Plantas do projeto da estrutura em alvenaria ..................................................... 219
Figura 6.55. Sistema de alvenaria com unidades de betão: (a) bloco “Best” e aparelhos com
armadura (b) na junta de assentamento e (c) em junta vertical contínua ............................... 219
Figura 6.56. Desenhos do projeto de modulação da estrutura em alvenaria .......................... 220
Figura 6.57. Pormenores de soluções para caixa de estore compacta e revestimento de
fachada ................................................................................................................................... 220
Figura 6.58. Modelos tridimensionais (a) geométrico e (b) de barras do edifício ................. 221
Figura 6.59. Quadro de verificação da segurança para a ação sísmica tipo 2 (sismo próximo)
da Mealhada ........................................................................................................................... 221
Figura 6.60. Aspetos do comportamento em deformação e dano do edifício: (a) deformação
torsional em planta, (b) dano na estrutura e (c) zona vulnerável ........................................... 222
Figura 6.61. Planta e perfil dos blocos de moradias na urbanização em Bragança ............... 223
Figura 6.62. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia tipo ......................................... 223
Figura 6.63. Desenhos da modulação estrutural do edifício .................................................. 224
Figura 6.64. Situações de projeto relacionadas com caixa de estore: (a) padieira e (b) lintel
resistentes ............................................................................................................................... 224
Figura 6.65. Modelo do edifício: (a) vista 2D da malha e (b) do pórtico equivalente da fachada,
(c) vista 3D e (d) pavimento ...................................................................................................225
Figura 6.66. Resultados da análise +X 1º modo: (a) evolução do dano na fachada principal,
(b) dano último nas paredes intermédia e posterior e (c) curva de capacidade do edifício ... 226
Figura 6.67. Resultados da análise –X 1º modo: (a) evolução do dano na fachada principal,
(b) dano último nas paredes intermédia e posterior e (c) curva de capacidade do edifício ... 226
xxi
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1. Especificação do tipo de análise elástica em função da regularidade estrutural do
edifício, de acordo com o Eurocódigo 8 (IPQ, 2010) .............................................................. 11
Tabela 2.2. Valores regulamentares para o coeficiente q de estruturas em alvenaria .............. 15
Tabela 3.1. Propriedades para definição de um material do tipo alvenaria no ANDILWall ....61
Tabela 3.2. Propriedades para definição de um material do tipo alvenaria no 3Muri ............. 76
Tabela 3.3. Comparação sintética dos programas avaliados .................................................... 95
Tabela 4.1. Resumo do cálculo da variação de esforço axial nos nembos do piso superior .. 119
Tabela 4.2. Resumo do cálculo de componentes do momento de piso M1 para o piso
inferior .................................................................................................................................... 120
Tabela 4.3. Resumo do cálculo da variação de esforço axial nos nembos do piso inferior ... 121
Tabela 4.4. Solução correspondente ao limite elástico linear da parede ................................ 122
Tabela 4.5. Resumo das soluções do cálculo incremental-iterativo ....................................... 122
Tabela 4.6. Soluções do cálculo incremental-iterativo após o colapso do painel 4 ............... 124
Tabela 4.7. Comparação sintética entre o método proposto e os programas comerciais ....... 127
Tabela 4.8. Modos de vibração principais no plano da parede .............................................. 132
Tabela 4.9. Parâmetros da resposta bilinear idealizada e do sistema bilinear equivalente .... 133
Tabela 5.1. Resumo das soluções do cálculo incremental-iterativo no sentido positivo ....... 151
Tabela 5.2. Expressões para cálculo de forças internas em pilares de confinamento ............ 172
Tabela 5.3. Valores de C0 para edifícios em alvenaria confinada que exibem um “piso
fraco” ...................................................................................................................................... 174
Tabela 5.4. Comparação do cálculo do FS correspondente a vários procedimentos ............. 176
Tabela 6.1. Propriedades da alvenaria ....................................................................................182
Tabela 6.2. Parâmetros da resposta bilinear idealizada em cada direção ...............................193
Tabela 6.3. Cálculo de ordenadas espetrais de referência e de fatores de segurança .............194
Tabela 6.4. Parâmetros definidores do sistema bilinear equivalente ..................................... 194
Tabela 6.5. Cálculo de fatores de segurança em termos de deslocamentos ........................... 195
Tabela 6.6. Caraterização das ações sísmicas a considerar na Póvoa de Varzim .................. 200
Tabela 6.7. Síntese de resultados na verificação de segurança .............................................. 214
Tabela 6.8. Estimativa de custos para os vários tipos de estrutura considerados .................. 215
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
1
1. INTRODUÇÃO
Na era do homem civilizado, a evolução das construções em alvenaria confunde-se
com o desenvolvimento da própria História. As primeiras construções em alvenaria aparecem
com o sedentarismo, quando o homem decide fixar-se num local do Crescente Fértil. Desde
então, a alvenaria assumiu-se como um elemento essencial na fundação de civilizações e
cidades, e.g. na Figura 1.1. Nestas cidades, as construções de alvenaria foram inicialmente
baseadas na colocação de pedras sobrepostas. Mais tarde, o uso de tijolos cerâmicos viria a
desencadear a primeira verdadeira revolução na construção, dadas as vantagens construtivas e
funcionais deste material face à pedra.
Çatal Hüyük (6700 a.C.) Grécia Antiga (500-400 a.C.) Florença Renascentista (1400-1600) Lisboa Pombalina (1755-1880)
Figura 1.1. Exemplos de cidades historicamente construídas com alvenaria
Na história mais recente, o setor da Construção recebe um grande impulso com a
Revolução Industrial, nomeadamente através do desenvolvimento de sistemas mecanizados
no século XIX, particularmente para a produção de tijolos. Por outro lado, a introdução do
sistema estrutural em betão armado, no qual os tijolos são usados como material de
preenchimento, originou que a quantidade de produção prevalecesse face à qualidade. Apenas
recentemente, tendo em conta exigências funcionais e de sustentabilidade na construção, é
adotada uma política de qualidade na produção de tijolos, a qual potencia também a retoma da
alvenaria estrutural empregando sistemas modernos.
No mercado de construção recente foi introduzido o conceito de “sistemas
construtivos em alvenaria”, os quais focam na racionalização do processo construtivo,
particularmente pela idealização de soluções que permitam sistemas construtivos integrados
em alvenaria. Paralelamente aos sistemas de unidades cerâmicas, são também desenvolvidos
sistemas de blocos de betão e de unidades sílico-calcáreas, e.g. na Figura 1.2. Tais sistemas
permitem o reaparecimento no setor da construção de edifícios verdadeiramente em alvenaria,
tal como exemplificado na Figura 1.3.
Capítulo 1. Introdução
2
Figura 1.2. Exemplos de sistemas industrializados de unidades cerâmicas, de betão e
sílico-calcáreas
Figura 1.3. Exemplos de edifícios em alvenaria com unidades cerâmicas, de betão e
sílico-calcáreas
O uso de paredes exclusivamente com função de preenchimento em estruturas de
betão armado levou a uma grande degradação nos procedimentos construtivos das alvenarias.
Este desleixo manifesta-se negativamente através de múltiplos defeitos, particularmente a
fendilhação excessiva e a formação de pontes térmicas. Na Figura 1.4 ilustram-se técnicas de
construção corrente para paredes de enchimento em estrutura de betão armado e para uma
estrutura resistente em alvenaria simples. De modo a garantir as exigências térmicas, a
solução que emprega tijolo vazado tradicional obriga à construção de dois panos de alvenaria,
ao preenchimento parcial da caixa-de-ar com isolamento térmico e à resolução das pontes
térmicas. Por outro lado, a solução em alvenaria simples com uso de tijolos estruturais e de
elevada eficiência térmica obriga apenas à simples montagem da parede, usualmente com
blocos de encaixe que aumentam a produtividade, evitando pontes térmicas.
Além do mais, no caso da alvenaria estrutural moderna, a elevada qualidade
geométrica das unidades e o uso de sistemas modulares permitem um planeamento
sincronizado da estrutura e das instalações técnicas (rede elétrica, canalizações, etc.). Nestes
sistemas, o desenho estrutural consiste sobretudo na otimização do arranjo dos blocos (e.g. na
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
3
Fig. 1.5) em conjugação com as instalações técnicas, de modo a permitir elevados
rendimentos e um reduzido desperdício de material.
Figura 1.4. Exemplos de soluções de paredes para estruturas em betão armado e em alvenaria
Figura 1.5. Exemplo de modulação de um sistema de alvenaria com blocos de betão
A alvenaria estrutural é largamente utilizada em países com economias fortes, como a
Alemanha e o Brasil, dadas as suas vantagens na poupança de recursos, na rapidez e
facilidade de execução, na racionalização da construção e nos aspetos ambientais, entre outras.
Na Alemanha, as construções com alvenaria são em geral de 2-3 pisos, empregando unidades
cerâmicas, de betão celular ou sílico-calcárias. Por outro lado, no Brasil, os edifícios de
habitação com grande altura construídos com blocos de betão são correntes, chegando a
atingir 10 pisos elevados ou mais.
Esta alvenaria deixou de ser ensinada e usada em Portugal desde há cerca de 40 anos,
em grande parte devido à popularidade do betão armado, e também à ideia que se criou da sua
incapacidade de resistir adequadamente aos sismos. Como resultado, a geração atual de
projetistas não possui um conhecimento adequado sobre o comportamento estrutural deste
sistema construtivo. Pelo contrário, países como a ex-Jugoslávia e a Itália, com grande
Capítulo 1. Introdução
4
tradição de construção em alvenaria resistente, ainda que apresentando elevada sismicidade,
fizeram um grande esforço de investigação sobre o comportamento sísmico das estruturas em
alvenaria, sobretudo como reação a sucessivos sismos destrutivos (e.g. na Fig. 1.6) e à
preocupação de preservar o património construído.
Figura 1.6. Exemplos de edifícios danificados pelos sismos de Skopje em 1963 e de Friuli em
1976
Em Portugal existem também razões para preocupação na preservação do património
edificado. Ainda que diversas estruturas históricas tenham sido estudadas e dotadas de reforço
sísmico (e.g., Lourenço, 2005; 2005b), a grande parte das estruturas tradicionais em alvenaria
não tem recebido a atenção necessária. Sobre este aspeto, convém não esquecer que Portugal
é um país com sismicidade média a elevada no contexto do Oeste Europeu (ver Fig. 1.7, ainda
que a mesma seja questionável por ignorar sismos afastados, fortemente condicionantes para o
sul do país), trazendo-se aqui à memória os sismos destrutivos de Lisboa em 1755, de
Benavente em 1909 e dos Açores em 1998. Para além das perdas materiais, estes eventos
deixaram marcas irreversíveis nas populações, seja por morte ou pelos traumas sofridos.
Figura 1.7. Mapa de perigosidade sísmica no Mediterrâneo em termos de PGA para uma
probabilidade de ocorrência de 10% em 50 anos (Grünthal et al., 1999)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
5
A atividade sísmica é um fenómeno complexo, envolvendo aspetos como a atividade
de placas tectónicas, o padrão e a propagação de ondas sísmicas. No que respeita aos efeitos
dos sismos sobre os edifícios, o aspeto mais importante é o movimento do terreno, que
durante um sismo é sujeito a diferentes tipos de ondas. Por outro lado, dois sismos espaçados
no tempo provocam movimentos muito diferentes no mesmo edifício. Por esta razão, o
projeto e a construção sismo-resistente implicam uma experiência significativa no estudo dos
efeitos de sismos passados sobre os edifícios.
A segurança das construções em alvenaria foi desde sempre condicionada pela
ocorrência de sismos. A sobrevivência de construções milenares em alvenaria demonstra que
desde cedo os construtores se preocuparam com a resistência das construções aos sismos.
Kirikov (1992) formula sete princípios para o projeto de edifícios resistentes aos sismos, os
quais segundo ele foram já considerados na construção de estruturas milenares: (1) simetria,
implicando distribuição uniforme de peso e rigidez; (2) harmonia, requerendo
proporcionalidade de dimensões; (3) anti-gravidade, pelo qual a estrutura deve ser leve e
possuir um centro de gravidade baixo; (4) elasticidade, devendo ser dada preferência a
materiais robustos, leves e elásticos; (5) continuidade, segundo o qual os elementos resistentes
devem ser ligados de modo a formar contornos fechados; (6) solidez, implicando fundações
firmes; e (7) isolamento sísmico, através do uso de artifícios para reduzir os movimentos.
Nas estruturas antigas encontram-se de facto preocupações antissísmicas,
nomeadamente a firmeza de fundações no Antigo Egito, a utilização de ligadores pelos
Gregos, o aligeiramento de cúpulas nas construções Renascentistas, etc.. Um dos aspetos mais
notáveis em construções antigas é a presença de caraterísticas de ductilidade, que em alguns
casos comprovam a preocupação com a ação sísmica. O caso mais simples da aplicação deste
conceito serão provavelmente alguns dólmens, e.g. na Figura 1.8a, nos quais as juntas entre
placas de pedra constituem planos de dissipação de energia ou de formação de rótulas.
Dólmen no Cáucaso (3000 a.C.) Mausoléu de Samanids (892-943) Panteão de Roma (126)
Figura 1.8. Exemplos de edifícios com aplicação dos princípios de resistência sísmica
Capítulo 1. Introdução
6
Historicamente, ainda que na edificação se tenham verificado várias revoluções
arquitetónicas, os construtores foram em geral capazes de encontrar soluções mais ou menos
resistentes aos sismos, nas zonas de sismicidade repetida. Estas soluções passaram pela
aplicação dos princípios de resistência sísmica enumerados atrás, os quais podem ser
verificados em diversas construções antigas, por exemplo na geometria ideal do Mausoléu de
Samanids em Bukhara na Ásia Central (Fig. 1.8b), ou pela introdução de reforços de madeira
na alvenaria (disseminados por todo o mundo em diferentes formas). Naturalmente, em alguns
casos, as tendências arquitetónicas dificultaram o respeito por esses princípios, realçadas
nomeadamente pela introdução de assimetrias. No entanto, os construtores procuraram
compensar a resposta dos edifícios com medidas antissísmicas, e.g. do Panteão de Roma na
Figura 1.8c, onde foi adotada uma estrutura fortemente aligeirada para a cúpula. Pelo dito,
fica claro que no projeto sísmico é fundamental o conhecimento das técnicas antissísmicas
precedentes, tendo em vista a sua aplicação e o seu melhoramento na construção moderna.
1.1 Objetivos do Estudo
A Europa está a passar neste momento por uma grave crise económica, a qual está a
gerar muitas dúvidas quanto à sustentabilidade de alguns países, tal como Portugal. O setor da
construção é aquele com maior relevância neste cenário, face ao seu peso na economia global
e ao impacto do custo da habitação no orçamento familiar. Neste contexto, o objetivo
assumido neste estudo de potenciar a reutilização de alvenaria estrutural na tipologia de
edificação predominante em Portugal, de pequeno a médio porte (com 1 a 3 pisos), assume
relevo para a economia nacional e para a competitividade da indústria da construção num
mercado global. O trabalho foca sobretudo aspetos práticos da análise e cálculo sísmicos de
edifícios em alvenaria, os quais são suportados por amplos programas experimentais
identificados na bibliografia, os quais lhe fornecem um acrescido relevo científico.
Tendo em conta o objetivo de aplicabilidade da alvenaria na construção de edifícios,
pretende-se: (a) valorizar e promover os procedimentos e as ferramentas adequados para o
cálculo sísmico; (b) validar as ferramentas existentes para avaliação da segurança sísmica;
(c) propor métodos de cálculo sísmico simplificados em termos da sua aplicação; (e) estudar a
aplicação de tipologias de alvenaria antissísmicas, nomeadamente o sistema de alvenaria
confinada; e (f) comprovar a viabilidade de construção de edifícios sismo-resistentes de
alvenaria em Portugal e em outros países com perigosidade sísmica moderada a elevada. O
presente estudo visa também a validação das ferramentas estudadas na avaliação da segurança
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
7
sísmica de estruturas tradicionais em alvenaria, as quais são um legado importante em termos
económicos e culturais, e representam um dos maiores suportes do setor do turismo.
1.2 Estrutura da Tese
A tese está organizada em sete capítulos: (1) introdução; (2) cálculo sísmico de
estruturas em alvenaria; (3) benchmarking de programas de cálculo comerciais; (4) método
simplificado para análise global de edifícios; (5) aplicações no cálculo sísmico de edifícios;
(6) estruturas de alvenaria confinada e (7) conclusões.
O Capítulo 2 apresenta o estado da arte em termos de metodologias desenvolvidas
para o cálculo sísmico de estruturas em alvenaria. São abordados diferentes tipos de análise
sísmica e apresentadas as várias gerações de modelos com macro-elementos, os quais estão na
base de ferramentas desenvolvidas para cálculo sísmico de edifícios em alvenaria. Este
capítulo é fundamental para dotar os projetistas com os conceitos teóricos utilizados no
cálculo sísmico.
No Capítulo 3 é realizado um processo de benchmarking sobre diferentes ferramentas
comerciais para cálculo sísmico de edifícios em alvenaria, apresentando os seus princípios de
modelação e de cálculo, e fazendo uma avaliação comparada destas ferramentas. Apresenta-se
uma comparação dos resultados obtidos com os vários programas, relativamente a um ensaio
experimental bem documentado na literatura. Este capítulo permite o contato com as várias
ferramentas, o suporte na escolha da ferramenta a adotar em aplicações práticas, e a
interpretação dos resultados obtidos.
No Capítulo 4, considerando que a aplicação de procedimentos com “cálculo aberto”,
implementados por exemplo numa folha de cálculo, permite ao utilizador uma melhor
compreensão dos fenómenos envolvidos, é proposto um método simplificado para a
verificação sísmica de edifícios em alvenaria simples, o qual contempla uma extensão para o
comportamento inelástico. Os resultados na verificação da segurança são depois comparados
com aqueles obtidos pelas ferramentas comerciais, com referência a um exemplo de aplicação.
O Capítulo 5 aborda a tipologia em alvenaria confinada, atendendo a técnicas de
construção tradicionais em Portugal e aos preconceitos contra a alvenaria moderna não
armada, e também para possibilitar o uso de alvenaria estrutural em zonas de maior
sismicidade. Desta forma, apresenta-se um estudo aprofundado do sistema construtivo em
alvenaria confinada, incluindo a caraterização do comportamento desta tipologia face a ações
Capítulo 1. Introdução
8
laterais, o desenvolvimento de modelos de cálculo e a definição de procedimentos para
verificação da segurança sísmica.
No Capítulo 6 são apresentadas aplicações no cálculo sísmico de edifícios. Visando a
validação da aplicação das ferramentas estudadas a estruturas em alvenaria existentes, é
apresentado o caso de avaliação do comportamento sísmico de um edifício histórico. Em
seguida, apresenta-se uma avaliação comparada de soluções construtivas em alvenaria simples,
alvenaria confinada e betão armado, em termos de conceção, cálculo, segurança sísmica e
custo de uma moradia unifamiliar. Finalmente, são abordados diferentes casos de edifícios
pensados originalmente para serem construídos em alvenaria, nos quais o autor desta tese
esteve diretamente envolvido como membro da equipa de projeto.
Finalmente, no Capítulo 7, é feita uma síntese do trabalho, apresentando as principais
conclusões e sugestões para trabalho futuro.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
9
2. CÁLCULO SÍSMICO DE ESTRUTURAS EM ALVENARIA
As primeiras metodologias de dimensionamento de estruturas conhecidas basearam-se
em conceitos e regras construtivas que consideravam implicitamente os vários tipos de ações
nas estruturas. Estas regras procuravam garantir simultaneamente a segurança face a ações de
índole diversa, tais como forças gravíticas e abalos sísmicos. Naturalmente que este modo de
dimensionamento terá levado à adoção de soluções demasiado conservativas nem sempre
eficazes, pois as necessidades estruturais das construções são em alguns aspetos antagónicas.
Por exemplo, se por um lado a resistência a cargas verticais elevadas pode ser assegurada pela
adoção de paredes espessas, por outro lado, a grande massa que se confere à estrutura
mobiliza maiores forças de inércia face à ação sísmica, potenciando mecanismos de
derrubamento das paredes.
Ainda que, muito cedo, o homem tenha identificado a necessidade de adotar medidas
na construção para assegurar a estabilidade das estruturas face aos sismos, a primeira vez que
se decretaram regras específicas na construção antissísmica terá sido na sequência do
catastrófico terramoto de Lisboa em 1755. Como reação a este evento tão destrutivo, perante
o qual sucumbiram edifícios construídos em diferentes épocas, decretou o regente do reinado
de Portugal que fosse incorporado um esqueleto de madeira na estrutura das novas
construções, a denominada “gaiola pombalina”. Tal decreto teve aplicação imediata, tendo a
cidade de Lisboa sido reconstruída usando este sistema.
À imagem do “decreto pombalino”, as primeiras disposições antissísmicas que
surgiram nos Estados Unidos da América na sequência do sismo de Hayward em 1868, e no
Japão após o sismo de Nohbi em 1891, tinham bases puramente empíricas e prescritivas,
ainda que se identifique já a necessidade de conferir resistência lateral às construções (Coelho,
2010). As primeiras normas sísmicas italianas, tal como o decreto pombalino, incidem
essencialmente na adoção de sistemas construtivos antissísmicos para os edifícios, usando por
exemplo um esqueleto de madeira revestido com paredes de verga cobertas com argamassa ou
barro (Augenti, 2004).
Se a eficácia da gaiola pombalina não chegou a ser verdadeiramente testada, pois nas
décadas que se seguiram ao sismo de Lisboa nenhum terramoto importante afetou esta cidade,
nos outros países referidos, a ocorrência sucessiva de sismos destrutivos pôs em evidência a
necessidade de melhorar o desempenho sísmico dos edifícios. Nestes países, a consideração
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
10
da ação sísmica é assumida como determinante para a segurança das estruturas, tendo-se
identificado como essencial a necessidade de quantificar a ação dos sismos.
Em finais do século XIX aparecem em Itália as primeiras teorias para análise sísmica e
são incluídos critérios para quantificação da ação sísmica na normativa, considerando as ações
estáticas devidas ao peso próprio e sobrecargas e a ação dinâmica devida ao “modo sísmico
ondulatório” (Augenti, 2004). Na sequência do sismo de Messina em 1908, são introduzidas
em Itália recomendações formais para garantir às estruturas capacidade de resistência a forças
horizontais, numa proporção do peso da construção, a qual é a definição do “coeficiente
sísmico”. Este conceito é igualmente introduzido no Japão e nos EUA, na sequência da
análise dos efeitos dos sismos de Ansei-Edo em 1855 e de São Francisco em 1906,
respetivamente (Coelho, 2010).
Desde então, as teorias de análise e os critérios de resistência sísmica para as
construções têm registado um grande desenvolvimento, fruto de um esforço concertado de
investigação em diferentes disciplinas de conhecimento, nomeadamente na Geologia,
Sismologia, Engenharia Sísmica, Engenharia de Estruturas e Análise Estrutural e Dinâmica.
Nesta linha, têm-se procurado entender as causas, e particularmente, os efeitos dos sismos
sobre as construções.
2.1 Tipos de Análise Sísmica
No âmbito do presente trabalho, um aspeto importante a considerar relativamente aos
efeitos dos sismos, consiste na caraterização da sua forma de atuação (ação sísmica) sobre as
estruturas, quer qualitativamente, quer quantitativamente. Sob o aspeto qualitativo, parece
clara a necessidade de se assumir a ação sísmica como uma ação dinâmica e dissipativa. Por
outro lado, dadas as dificuldades associadas à caraterização e simulação de uma ação
dinâmica, e neste caso igualmente aleatória, foram desenvolvidos métodos de análise em que
se assume a ação sísmica como um conjunto de forças estáticas aplicadas à estrutura. Estes
métodos poderão depois tomar em consideração o comportamento dinâmico da estrutura.
O aspeto quantitativo da ação sísmica está relacionado sobretudo com a sua
intensidade, a qual pode ser considerada em termos de um espetro de resposta ou através de
um registo temporal de acelerações. Por outro lado, sob o ponto de vista da resposta das
estruturas à ação sísmica, sabida não linear, a mesma pode ser quantificada considerando
diferentes abordagens, dependendo do tipo de análise adotada.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
11
2.1.1 Análise Linear Elástica
Tradicionalmente, o primeiro passo no dimensionamento sísmico de uma estrutura
consiste na determinação das forças que representam a ação sísmica sobre o edifício e nos
esforços que estas forças produzem em cada membro estrutural do edifício. Para este fim, é
normalmente aceitável admitir que as estruturas demonstram um comportamento elástico
linear, ainda que se possa considerar uma reserva de capacidade não linear para a estrutura.
Efetivamente, a maioria dos regulamentos sísmicos continua a contemplar metodologias de
dimensionamento baseadas na resistência, à semelhança da forma tradicional de pensar dos
engenheiros, e as ferramentas de análise linear continuam a ser as mais usadas e mais
familiares entre profissionais.
No caso da norma europeia para dimensionamento sísmico, o Eurocódigo 8 (IPQ,
2010), no projeto de novas estruturas é especificado um método de análise linear elástica
multimodal, do qual o método “estático linear” por forças laterais representa uma
simplificação em que se considera um único modo de deformação para uma análise plana,
permitida apenas para estruturas regulares em altura. Para os casos em que não existe
regularidade em altura, é especificada uma análise que tem em conta diferentes modos de
vibração, e na qual podem ser considerados modelos planos simplificados ou então um
modelo espacial, conforme o edifício seja respetivamente regular ou irregular em planta. Os
diferentes cenários são apresentados na Tabela 2.1.
Tabela 2.1. Especificação do tipo de análise elástica em função da regularidade estrutural do
edifício, de acordo com o Eurocódigo 8 (IPQ, 2010)
Regularidade Simplificações admitidas Coeficiente de comportamento
Em planta Em altura Modelo Análise elástica linear (para a análise linear)
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Não
Sim
Não
Plano
Plano
Espacial b
Espacial
Força lateral a
Modal
Força lateral a
Modal
Valor de referência
Valor reduzido
Valor de referência
Valor reduzido
a Aplicável se os períodos de vibração fundamentais nas duas direções principais forem inferiores a 4TC e a 2.0 s,
sendo TC o período no limite superior da zona de aceleração espetral constante. b Sob condições específicas limitativas da irregularidade e para edifícios com altura não superior a 10 m, um
modelo plano separado pode ser usado em cada direção horizontal.
No dimensionamento para estado limite último, o Eurocódigo 8 (EC8) define o
carregamento sísmico através de um espetro de resposta de projeto, o qual é obtido a partir de
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
12
um espetro de resposta elástica de aceleração correspondendo a um período de retorno de 475
anos, escalado por um “coeficiente de redução da força sísmica” que tem em conta, de forma
aproximada, a resposta inelástica da estrutura no estado último, denominado de coeficiente de
comportamento q.
Segundo Magenes (2006), com tal aproximação, o procedimento de verificação da
segurança é feito para dois níveis de desempenho: não-colapso e controlo de dano, sendo que
para o primeiro caso, de estado limite último (ELU), a verificação da segurança é baseada na
resistência, enquanto que para o caso de estado limite de dano (ELD) a verificação é feita com
base nos requisitos de deformação (drift). Tal procedimento é ilustrado simplificadamente na
Figura 2.1.
Figura 2.1. Fluxograma simplificado para verificação da segurança/desempenho via métodos
de análise linear de acordo com o EC8 (Magenes, 2006)
Em correspondência com os objetivos de desempenho, cada estado limite é associado
a um nível específico de ação sísmica, o qual corresponde a determinada probabilidade de
excedência ou período de retorno. Depois, para cada um dos estados limites, a ação sísmica
(traduzida em termos de ordenadas espetrais) é aplicada a um modelo elástico da estrutura
para o qual se calculam as forças e deslocamentos internos. Segundo Magenes (2006), a
verificação para ELU é normalmente determinante, o que implica que, sendo a resistência ao
corte ou à flexão excedida num único elemento estrutural, a segurança da estrutura não é
verificada.
Desta forma, e pela experiência do autor deste trabalho, a acumulação de algumas
considerações conservativas, nomeadamente a não consideração em alguns casos da
possibilidade de redistribuição de forças entre elementos, bem como a especificação de um
coeficiente de comportamento q conservativo por alguns regulamentos, pode resultar numa
Ação sísmica
(ordenadas
espetrais)
Modelo elástico
linear da estrutura
Forças, tensões,
deslocamentos/
deformações
internos
Verificação de
segurança baseada
na resistência
Verificação
baseada no drift
ELU
ELD
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
13
verificação da segurança desadequada. Especificamente, segundo Magenes e Morandi (2008),
o uso de um coeficiente q igual a 1.5-2.0 torna praticamente impossível a verificação da
segurança para qualquer configuração de edifícios em alvenaria simples de 2 ou 3 pisos, para
acelerações máximas do terreno agS maiores do que 0.1g. Tal conclusão é, no entanto, em
contradição com a evidência experimental e com os resultados da análise elástica não linear
(Morandi, 2006; Lourenço et al., 2009), sendo desta forma necessário reconsiderar o critério
para a definição do coeficiente q.
Convencionalmente, o coeficiente de comportamento é uma aproximação da razão
entre as forças sísmicas que a estrutura pode experimentar se a sua resposta for
completamente elástica e as forças sísmicas mínimas que podem ser usadas no
dimensionamento com um modelo de análise elástica convencional, assegurando uma
resposta satisfatória da estrutura. Na Europa, diferentes estudos com base experimental têm
sido feitos com vista à avaliação dos coeficientes de comportamento para edifícios de
alvenaria simples, nomeadamente na Eslovénia (Tomaževič e Weiss, 1994; Tomaževič et al.,
2004) e em Itália (Benedetti et al., 1998; Benedetti, 2004).
Com referência à Figura 2.2, a resposta da estrutura é representada por uma curva de
capacidade F-d (força de corte basal vs. deslocamento de controlo), a qual pode ser entendida
como aquela obtida a partir da envolvente experimental da resposta de um edifício sujeito a
uma ação do tipo sísmica. Com base nesta resposta, o critério típico para avaliar o coeficiente
q, é a razão entre a força de corte basal elástica máxima Fel,máx e a resistência Fy de um sistema
bilinear equivalente.
Figura 2.2. Definição do coeficiente de comportamento (Magenes e Morandi, 2008)
Bilinear equivalente
(elasto-plástico)
Elástico ideal Curva de capacidade
não linear
F
d dy dFel,máx du
Fel,máx
Fmáx
Fy = Fu
Fel
q0
FSR
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
14
Todavia, segundo Magenes (2006), depois de atingida a capacidade de resistência (por
corte ou flexão) para um elemento de acordo com uma análise elástica linear, a capacidade de
deformação em regime não linear, mesmo que limitada em alguns casos, é suficiente para
permitir ao sistema continuar a suportar uma força sísmica crescente, devido ao incremento de
forças em outros elementos estruturais. Esta possibilidade de redistribuição de forças é
considerada na generalidade dos regulamentos sísmicos de países desenvolvidos com
atividade sísmica elevada (e.g., norma americana (ASCE, 2006) e norma neozelandesa (NZS,
2004)). Isto acontece já na antiga norma italiana OPCM 3431/2005, e igualmente no EC8,
ainda que apenas para estruturas porticadas, onde a definição do coeficiente de
comportamento considera um fator de sobreresistência (FSR). Desta forma, a definição do
coeficiente q deve ser:
0 0
y yel máx el máx
el y el el
F FF Fq q q FSR
F F F F
, , (2.1)
onde Fel representa a força de corte basal para o qual é atingida a capacidade de resistência
(por corte ou flexão) do primeiro elemento, de acordo com uma análise elástica linear.
A comparação dos valores especificados para o coeficiente de comportamento pelo
EC8 e pela norma italiana OPCM 3431/2005 é apresentada na Tabela 2.2. O EC8 admite um
intervalo de valores para o coeficiente q, ainda que a utilização do limite inferior seja
recomendada. Por outro lado, a norma italiana amplifica o valor básico do coeficiente de
comportamento q0 pelo fator FSR. Daqui resulta que, para o caso dos edifícios em alvenaria
simples, a norma italiana permite uma redução da força elástica 1.4 a 2.4 vezes maior do que
a recomendada pelo EC8.
Com vista a obter informação adicional sobre a gama de valores para o coeficiente de
comportamento, estudos diferentes foram realizados na Universidade de Pavia (Morandi,
2006; Frumento et al., 2009) e no ZAG em Liubliana (Tomaževič, 2007). Em Pavia foi
realizada uma campanha de análise, testando nove configurações em planta (e.g. na Fig. 2.3a)
de edifícios em alvenaria simples com um a três pisos, consideradas típicas da construção
europeia, através da análise estática não linear com o método SAM II (Magenes e Della
Fontana, 1998; Magenes et al., 2006) apresentado no Capítulo 3. Depois, os valores do
coeficiente básico q0 e do FSR foram calculados a partir das curvas de capacidade obtidas
para cada edifício, usando o método N2 (Fajfar e Fishinger, 1988) apresentado mais à frente
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
15
neste trabalho. Finalmente, foi feita uma análise estatística dos resultados, da qual se
apresenta na Figura 2.3b um histograma dos valores de FSR (Fy/Fel) obtidos para os edifícios
de dois e três pisos.
Tabela 2.2. Valores regulamentares para o coeficiente q de estruturas em alvenaria
Configuração do edifício EC8 OPCM 3431/2005
Tipo de construção No. de pisos Fator q a Valor base q0 FSR Coeficiente q
Edifício de alvenaria simples;
regular em altura
Um 1.5 – 2.5 2.0
1.4 2.80
Dois ou mais 1.8 3.60
Edifício de alvenaria simples;
não regular em altura
Um 1.5 – 2.0 1.5
1.4 2.10
Dois ou mais 1.8 2.70
Edifício de alvenaria armada;
regular em altura
Um 2.5 – 3.0 2.5
1.3 3.25
Dois ou mais 1.5 3.75
Edifício de alvenaria armada;
não regular em altura
Um 2.0 – 2.4 2.0
1.3 2.60
Dois ou mais 1.5 3.00
a O limite superior para os valores de q a usar em cada país é definido no Documento Nacional de Aplicação.
Todavia, os valores recomendados pelo EC8 correspondem ao limite inferior dos intervalos.
(a) (b)
Figura 2.3. Estudo analítico na Universidade de Pavia para avaliação do coeficiente de
comportamento: (a) exemplo de configuração em planta estudada (Frumento et al., 2009);
(b) valores de FSR calculados para os edifícios de 2 e 3 pisos (Magenes, 2006)
Tomaževič (2007) analisou os resultados de ensaios na mesa sísmica do ZAG sobre
uma série de modelos, representando edifícios com duas configurações estruturais diferentes,
típicas da Europa Central (um edifício de apartamentos com três pisos e uma moradia de dois
pisos em terraço), e nos quais foram empregues diferentes tipos de unidades de alvenaria. Na
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
16
Figura 2.4 apresenta-se um dos edifícios ensaiados em alvenaria simples, assim como as
curvas de capacidade para os edifícios em alvenaria simples empregando unidades artificiais.
Com base nas curvas de resistência obtidas, foram calculados os valores da ductilidade μ
(du/dy, com referência à Fig. 2.2), e do correspondente coeficiente de comportamento qμ
calculado com base em requisitos de limitação do dano.
(a) (b)
Figura 2.4. Estudo experimental no ZAG: (a) ensaio em plataforma sísmica de modelo 1:5
em alvenaria simples e (b) curvas de resistência de modelos ensaiados (Tomaževič, 2007)
Os resultados obtidos em ambos os estudos evidenciam a necessidade de se adotar
valores maiores para o coeficiente q que os especificados no EC8. Ainda que tenha sido
obtida bastante dispersão nos resultados, e que a informação a partir dos resultados
experimentais seja reduzida, segundo Magenes (2006) o nível de redução das forças elásticas
para edifícios em alvenaria simples, bem organizados e aptos a manter um comportamento
global de “caixa”, deve ser pelo menos de 2.5-3.0, obtido como o produto de um valor básico
q0 de 1.5-2.0 por um FSR próximo de 1.5. A manutenção, na atual norma italiana (NTC,
2008), dos valores de q0 e FSR especificados na OPCM 3431/2005, atesta de certa forma a
adequabilidade daqueles valores, próximos dos propostos por Magenes (2006).
Ainda que ferramentas avançadas para análise elástica de estruturas tenham sido
desenvolvidas, verifica-se que por um lado, estas não tem sido particularmente orientadas
para as estruturas em alvenaria, e que por outro lado, o uso de metodologias simplificadas no
dimensionamento de estruturas se tem revelado alvo preferencial de engenheiros,
nomeadamente através de sistematização numa folha de cálculo. Por esta razão apresenta-se
de seguida, pela sua simplicidade, o método por forças laterais especificado no EC8.
Rotação de piso (%)
M4
M3
M2
Modelo Unidades Pisos qexp qμ = (2 μu – 1)0.5
1 Sílico-calc. 3 1.97 3.32
2 Cerâmicas 3 1.95 3.37
3 Cerâmicas 2 2.18 2.32
4 Sílico-calc. 2 1.81 2.35
M1
Coefi
cie
nte
de
corte
basa
l
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
17
Apresentam-se igualmente alguns conceitos para análise plana elástica e para análise modal,
ainda que estes tipos de análise não sejam o foco principal deste trabalho.
Qualquer que seja o método de análise, os regulamentos especificam coeficientes ou
espetros para dimensionamento sísmico, os quais constituem a base de cálculo das forças
sísmicas. No caso da análise linear elástica usando o método por forças laterais definido no
EC8, define-se uma força de corte basal Fb aplicada em cada uma das direções principais do
edifício, que pode ser determinada como:
b d 1( ) λF S T m (2.2)
onde Sd(T1) é a ordenada do espetro de cálculo (Fig. 2.5) no período T1; T1 é o período
fundamental de vibração do edifício na direção considerada; m é a massa total do edifício,
acima da fundação ou acima do nível superior de uma cave rígida; λ é um fator de correção,
cujo valor é igual a: 0.85 se T1 ≤ 2 TC e o edifício tiver mais de dois pisos, ou 1.0 nos outros
casos; TC é o período no limite superior da zona de aceleração espetral constante.
2 2 5 20
3 3B d g
B
T .T T S T a S
T q
2 5B C d g
.T T T S T a S
q
2 5
β
Cg
C D d
g
T.a S
q TT T T S T
a
2
2 5
β
C Dg
D d
g
T T.a S
q TT T S T
a
T: período de vibração de um sistema linear com um único grau de liberdade
ag: valor de cálculo da aceleração à superfície para um terreno do tipo A
TB, TC, TD: períodos espetrais de referência
S: coeficiente de solo
q: coeficiente de comportamento
β: coeficiente correspondente ao limite inferior do espectro de cálculo, com valor recomendado de 0.2
Figura 2.5. Definição do espetro de cálculo Sd(T) para análise elástica no EC8 (IPQ, 2010)
Para a determinação do período fundamental de vibração do edifício T1 podem usar-se
expressões baseadas em métodos de dinâmica estrutural, tais como o método de Rayleigh.
Alternativamente, podem ser usadas expressões simplificadas, tais como:
Sd/ag
2.5S/q
2/3S
TB TC TD T
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
18
3 4
1 (s),
tT C H /
(2.3)
a qual é válida para edifícios com altura até 40 m, onde Ct pode ser assumido igual a 0.05 para
estruturas em alvenaria, e H é a altura do edifício, em metros, desde a fundação ou do nível
superior de uma cave rígida.
O método por forças laterais considera um espetro de resposta reduzido relativamente
ao espetro elástico, designado por espetro de cálculo, o qual permite considerar na análise a
capacidade inelástica da estrutura de dissipar energia através de deformação e dano induzidos.
Esta redução do espetro elástico é feita através da introdução do coeficiente de
comportamento q, o qual pretende considerar aproximadamente aquela capacidade inelástica
no cálculo.
A distribuição em altura das forças sísmicas horizontais deve ser baseada nos modos
de vibração fundamentais nas direções horizontais, os quais podem ser calculados usando
métodos de dinâmica estrutural, ou podem ser aproximados por um perfil de deslocamentos
horizontais linearmente crescentes ao longo da altura do edifício, de acordo com:
bi i
i
j j
z mF F
z m (2.4)
onde Fi é a força horizontal atuante no piso i; Fb é a força de corte basal calculada com a
Equação (2.2); zi, zj são as alturas das massas mi e mj acima do nível de aplicação da ação
sísmica (fundação ou nível superior de uma cave rígida); mi, mj são as massas quase-
permanentes afetas aos pisos.
Outro aspeto contemplado pelo método por forças laterais é a consideração do efeito
de torção do edifício. A torção de um edifício ocorre se o seu centro de rigidez não coincidir
com o seu centro de massa, que é o caso dos edifícios com distribuição assimétrica dos
elementos verticais resistentes. Os efeitos acidentais de torção, nos casos em que a rigidez
lateral e a massa estejam simetricamente distribuídas no plano, podem ser considerados
simplificadamente, multiplicando os esforços em cada elemento resistente por um coeficiente
(δ) obtido por:
δ 1 0 6.e
x
L (2.5)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
19
onde x é a distância do elemento considerado ao centro de gravidade do edifício em planta,
medida perpendicularmente à direção da ação sísmica considerada; Le é a distância entre os
dois elementos de contraventamento mais afastados. Nos casos em que exista assimetria
significativa de rigidez e de massa no plano, deve ser usado um método mais exato, por
exemplo através de um modelo de análise espacial.
Sob o ponto de vista do comportamento estrutural das paredes no seu plano, de acordo
com a sua configuração, o seu tipo de construção e a sua resposta sísmica, podem assumir-se
para estas três esquemas diferentes (Paulay e Priestley, 1992; Tomaževič, 1999; Augenti,
2004): paredes em consola ligadas por elementos horizontais flexíveis (Fig. 2.6a), paredes de
corte acopladas com nembos fracos (Fig. 2.6b), e paredes de corte acopladas com lintéis
fracos (Fig. 2.6c). Estes três esquemas podem ser traduzidos através dos modelos
apresentados na Figura 2.6d-f. A identificação do tipo de esquema estrutural de uma parede é
importante, na medida em que este determina o comportamento sísmico da parede. Da mesma
forma, face ao esquema identificado, é possível assumir determinadas simplificações na
análise sísmica.
(a) (b) (c)
(d) (e) (f)
Figura 2.6. Comportamento sísmico de paredes (a) em consola, (b) de corte com nembos
fracos e (c) de corte com lintéis fracos (Tomaževič, 1999), e (d, e, f) respetivos modelos de
cálculo (Augenti, 2004)
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
20
No caso de paredes ligadas por elementos horizontais flexíveis, é aceitável assumir
que as várias paredes se comportam como consolas altas isoladas, sem que haja qualquer
transferência de momentos fletores entre as mesmas e sendo desta forma espetável o colapso
das paredes por flexão composta. Neste caso, a repartição de forças horizontais em cada piso
deve ser feita proporcionalmente à carga vertical em cada parede (peso próprio da parede
mais carga transmitida pelo pavimento).
Por outro lado, no caso em que as paredes possuam elementos horizontais com rigidez
considerável, particularmente lintéis altos, um significativo efeito de acoplamento é espetável.
Neste caso, se os nembos forem mais débeis do que os lintéis, o dano ocorrerá primeiro nos
nembos, o qual dependendo da geometria e da qualidade da alvenaria poderá ser por corte ou
por flexão composta. Dada a considerável rigidez dos lintéis, pode ser admitida uma condição
de dupla curvatura para a deformação dos nembos, com rigidez elástica (kl) calculada como:
2
1
χ1
χ
l
G d tk
h G h
E d
(2.6)
onde E e G são respetivamente os módulos de elasticidade normal e tangencial da alvenaria; d,
h e t são respetivamente o comprimento, a altura e a espessura do painel; χ é o fator de corte,
que para secções retangulares assume valor de 1.2.
No caso em que os lintéis apresentam rigidez reduzida, o dano ocorrerá tanto nos
nembos como nestes elementos, sendo de esperar uma resposta predominantemente por flexão,
ainda que os lintéis possam evidenciar lesões diagonais. Neste caso, para a análise local de um
nembo, é comum admitir uma deformação em consola do painel, com rigidez elástica igual a:
2
1
χ 41
χ
l
G d tk
h G h
E d
. (2.7)
Quando se pretende obter uma distribuição das forças atuantes sobre os vários nembos
do piso de um edifício, e no caso de se considerar a laje rígida no seu plano, esta distribuição
pode ser feita, desprezando a contribuição dos lintéis para a rigidez global, em função da
rigidez elástica relativa dos nembos na direção em causa, calculando a força atuante em cada
nembo como:
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
21
ou i ii i
i i
Kx KyTx Hx Ty Hy
Kx Ky (2.8)
onde Hx (ou Hy) é a ação horizontal aplicada e Kxi (ou Kyi) é a rigidez do nembo i.
Dependendo do ponto de aplicação das ações horizontais, se este não coincidir com o
centro de rigidez do respetivo piso, as ações aplicadas, para além de provocarem translação
dos nembos, provocam a sua rotação em torno do centro de rigidez (Fig. 2.7). À componente
de rotação associa-se, dependendo da direção em análise, a seguinte força em cada nembo:
( ) ( )
ou
( ) ( )
ii G R i R
p
ii G R i R
p
KxRx Hx y y y y
I
KyRy Hy x x x x
I
(2.9)
onde yi (ou xi) é a coordenada segundo y (ou x) do centro de rigidez do nembo i, yG (ou xG) a
coordenada segundo y (ou x) do centro de massa do piso, yR (ou xR) a coordenada segundo y
(ou x) do centro de rigidez do piso, e Ip é o valor da inércia polar dado por:
2 2( ) ( )p i i R i i R
I Kx y y Ky x x . (2.10)
(a) (b)
Figura 2.7. Ilustração das variáveis envolvidas na rotação (a) de piso e (b) de nembo
Em Portugal, o método por forças laterais definido no EC8 tem vindo a ser usado
segundo um paradigma de verificação da segurança nembo-a-nembo de parede (e.g.,
Lourenço et al., 2008). No entanto, a tendência de novas metodologias de cálculo é no sentido
xi xR xG x
y
yi
yG
yR
x
ux
uy θ
θ
G
uxi uyi
R
e
ey ex
V
Vx
Vy
Ri
δi = di θ
θ
θ di
R
Parede de
rigidez Ki
Mt = Σ Ri di
= θ Σ Ki di2
Ri, Força de corte induzida por torção
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
22
de promover uma análise global das estruturas, a qual é usualmente necessária quando a
resistência do edifício a ações horizontais é fornecida pelo efeito combinado de diafragmas de
pavimento e resposta no plano de paredes estruturais. Apenas desta forma é possível obter
soluções estruturalmente equilibradas, na medida em que as estruturas reais não podem ser
vistas como uma discretização de painéis isolados, mas necessariamente como uma
assemblagem de painéis (Fig. 2.8).
(a) (b)
Figura 2.8. Esforços elásticos (a) de painel isolado, e (b) de parede com vários painéis
(Augenti, 2004)
No caso em que as condições do edifício não permitam a aplicação do método por
forças laterais, deve ser realizada uma análise modal com a simplificação permitida na Tabela
2.1. Neste caso, a resposta de todos os modos de vibração que contribuam significativamente
para a resposta global do edifício deve ser considerada. Então, com base na discretização da
estrutura, assumida elástica e com vários graus de liberdade (normalmente, um grau de
liberdade por piso), cujas massas sofrem deslocamentos resultantes do movimento da base do
edifício s(t) no tempo, e segundo diferentes modos de vibração, são determinadas as forças
elásticas nos elementos da estrutura correspondentes a cada um dos modos considerados.
Quando todas as respostas modais relevantes possam ser assumidas independentes
umas das outras, o valor máximo do efeito de uma ação sísmica (força, deslocamento, etc.)
pode ser calculado como a raiz quadrada da soma dos quadrados dos valores dos efeitos da
ação sísmica devidos aos vários modos de vibração. O EC8 aborda alguns aspetos adicionais a
considerar na análise modal, nomeadamente os efeitos torsionais. Os conceitos de análise
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
23
modal são aprofundados por vários autores, e.g. Bazán e Meli (1999), não sendo apresentados
com detalhe neste trabalho.
2.1.2 Análise Estática Não Linear
O comportamento global de uma estrutura depende do comportamento individual dos
elementos que a constituem, e fundamentalmente, da forma como estes elementos se
encontram integrados e ligados para formar a estrutura no seu conjunto (Bazán e Meli, 1999).
No caso das alvenarias, a parede pode ser vista como uma subestrutura, constituída por
unidades de alvenaria ligadas por juntas, e eventualmente armada, o que lhe confere um
comportamento complexo, na medida em que são muitos os parâmetros que determinam a sua
resposta ao carregamento.
Na análise sísmica de uma estrutura em alvenaria interessa sobretudo estudar o seu
comportamento face a ações laterais, aspeto que foi largamente estudado nas décadas de
1960-70, com base na observação de edifícios danificados por sismos (e.g., Skopje em 1963,
Oaxaca em 1965, Friuli em 1976) e, sobretudo, com base em campanhas experimentais sobre
paredes de alvenaria e sobre modelos de edifícios. Enquanto que, no passado, as metodologias
de análise sísmica se baseavam sobretudo no conceito de coeficiente sísmico (proporção do
peso da construção), estudos experimentais realizados mais recentemente contemplam
igualmente a resposta em deslocamento das paredes de alvenaria, tendo em conta a maior
sensibilidade do dano aos deslocamentos impostos.
Nesta linha, podem destacar-se os estudos de Turnšek e Čačovič (1970) e Meli (1974),
ainda que no segundo caso significativa ênfase seja já dada à alvenaria armada. Estes estudos
evidenciam a possibilidade de explorar a ductilidade das estruturas em alvenaria, a qual
permite às paredes suportar o carregamento vertical ainda que substancialmente danificadas
(e.g., fendas de corte diagonais), face a um carregamento cíclico até grande amplitude de
deslocamento (Tomaževič e Weiss, 1990), como exemplificado na Figura 2.9.
As estruturas de alvenaria podem exibir ductilidade significativa, sendo esta tanto
maior quanto mais dúctil for o comportamento das secções e quanto maior for o número de
paredes envolvidas. Tal conceito tem vindo a ser colocado em evidência pela observação de
estruturas em alvenaria danificadas por sismos, as quais denotam uma capacidade
significativa de deformação cíclica inelástica e de dissipação de energia, face à ativação e
progressão de mecanismos de dano.
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
24
Figura 2.9. Relação força-deslocamento laterais típica de uma parede de alvenaria, obtida por
ensaio de resistência lateral cíclica (Tomaževič, 2000)
Na sequência da extensiva campanha de investigação realizada na ex-Jugoslávia sobre
o comportamento de edifícios em alvenaria face a ações sísmicas, nomeadamente por
Tomaževič et al. (1978), é idealizado o primeiro método de análise estática não linear para
avaliação da segurança sísmica de edifícios em alvenaria, o POR (Tomaževič, 1978). Este
método é introduzido legalmente na região italiana de Friuli-Venezia Giulia, como reação ao
sismo ali ocorrido em 1976 (DT2, 1978). Em 1981, através da publicação da Circolare LL.PP.
n.º 21745, é introduzido no cenário legal italiano um método inspirado no POR, o qual foi
usado indiscriminadamente e tido erroneamente em Itália como uma ferramenta fiável no
cálculo de edifícios em alvenaria (Augenti, 2004). As hipóteses originais deste método, e que
podem por outro lado ser vistas também como limitações, resumem-se às seguintes:
- uma parede considera-se constituída, em cada piso, por nembos assimiláveis a
elementos unidimensionais vinculados aos lintéis assumidos rígidos e infinitamente
resistentes, admitindo-se o colapso dos nembos por corte diagonal;
- a repartição das ações horizontais aplicadas ao nível de cada pavimento admitido
como rígido no seu plano, através dos nembos, é feita proporcionalmente à sua rigidez
elástica integral para condição de dupla curvatura;
- os esforços normais aplicados sobre cada nembo são independentes das ações
horizontais, o que conduz a soluções não equilibradas;
- a verificação da segurança é realizada piso por piso, sendo o colapso identificado para
cada piso, pela rotura por corte diagonal do nembo mais débil;
- o material é caracterizado por uma lei constitutiva do tipo elástica-perfeitamente
plástica com ductilidade limitada entre 1.5-2.0.
Uma das limitações mais evidentes deste método é o facto de admitir colapso dos
nembos exclusivamente por corte diagonal, sendo assim aparentemente apenas aplicável a
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
25
paredes constituídas por nembos pouco esbeltos (com reduzida relação altura/comprimento e
com rigidez essencialmente de corte) solicitados por esforços normais não muito reduzidos, e
por lintéis significativamente rígidos. A força resistente dos nembos é calculado pela fórmula
proposta por Turnšek e Čačovič (1970) para o mecanismo de corte diagonal, como:
σ1t n
u
t
f dtV
b f (2.11)
onde ft é a resistência à tração da alvenaria, d e t são respetivamente o comprimento e a
espessura do painel, σn é a tensão média de compressão sobre a secção transversal do painel, e
b é um coeficiente que depende da distribuição de tensões tangenciais na secção transversal
do painel e que varia com as características geométricas e com o estado tensional. Se Turnšek
e Čačovič (1970) propuseram originalmente um valor constante para b de 1.5, Benedetti e
Tomaževič (1984) admitiram este valor variável com a relação altura/comprimento do painel:
b = 1 se h/d ≤ 1.0, b = h/d se 1 < h/d < 1.5, e b = 1.5 se h/d ≥ 1.5.
Esta hipótese de colapso terá sido baseada na observação de edifícios danificados por
sismos na ex-Jugoslávia nas décadas de 1960-70, cuja arquitetura no período 1920-1965
contemplava fachadas com nembos pouco esbeltos e lintéis significativamente rígidos
(Lutman e Tomaževič, 2002), como se observa na Figura 2.10, resultando numa rotura típica
dos nembos por corte diagonal (Fig. 2.11). A Figura 2.11, mostrando uma fachada de um
edifício em alvenaria danificada na sequência do sismo de Montenegro em 1979, denota outro
dos princípios básicos do método POR, a ativação de um “mecanismo de piso”, que
normalmente ocorre no piso térreo. O cálculo da capacidade resistente de um edifício com o
método POR baseia-se na soma das respostas bilineares definidas para cada parede, ou para
cada conjunto de nembos iguais, como ilustrado na Figura 2.12.
(a) (b)
Figura 2.10. Edifício típico jugoslavo no período 1920-1965: (a) vista e (b) planta (Lutman e
Tomaževič, 2002)
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
26
Figura 2.11. Rotura por corte diagonal típica de nembos de edifício em alvenaria simples de
tijolo (Lutman e Tomaževič, 2002)
Figura 2.12. Princípio de cálculo do método POR para o piso genérico de um edifício
(adaptado de Tomaževič, 1978)
Este método foi posteriormente utilizado para a análise de edifícios com nembos
esbeltos e pouco carregados axialmente, o que terá dado origem a cálculos incorretos, uma
vez que nestes casos a rotura por flexão composta é normalmente condicionante.
Efetivamente, uma observação mais abrangente de edifícios danificados por sismos evidencia
a necessidade de considerar outros mecanismos de colapso para além do corte diagonal, como
sejam a rotura por flexão composta ou rocking e o corte por deslizamento (Fig. 2.13).
Figura 2.13. Mecanismos de rotura típicos em nembos: (a) flexão composta ou rocking,
(b) deslizamento horizontal, (c) deslizamento diagonal e (d) corte diagonal
V
N
V
N
V
NV
N
2
2
2
2
3 3
1
1
Total
H
de1 de2 de3 du3 du1 du2 d
Hu3
Hu2
Hu1
Hu, tot
Parede 1
Parede 3 Parede 2
(a) (b) (c) (d)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
27
Tal aspeto foi igualmente posto em evidência através de investigação experimental
sobre modelos à escala 1:5 de edifícios em alvenaria ensaiados na mesa sísmica do ZRMK em
Liubliana (Tomaževič et al., 1990), como exemplificado na Figura 2.14 para o caso de
protótipo de edifício em alvenaria simples de blocos cerâmicos perfurados. Segundo
Tomaževič et al. (1990), o dano no edifício começa com fendas horizontais na base de uma
das paredes de canto, seguindo-se a formação de fendas horizontais na base do núcleo central.
Com o incremento da intensidade do abalo surgem fendas de flexão nas paredes perimetrais
centrais e inicia-se a fendilhação por corte no núcleo central, na direção do movimento. É
relatada ainda uma propagação não uniforme do dano nas paredes individuais, especialmente
por separação e rocking das paredes de canto no primeiro piso, o que induz efeitos de torção.
Ainda para este modelo, no estado último formam-se fendas horizontais nas juntas
entre a maioria das paredes e as lajes. Por outro lado, as partes do núcleo central na direção do
movimento colapsam por corte, enquanto que as paredes perimetrais centrais falham por
flexão com sinais de esmagamento de blocos comprimidos. O colapso do modelo é provocado
pela excessiva deformação e consequente colapso de uma das paredes de canto. Como se
observa, o dano no edifício envolve diferentes mecanismos de rotura, podendo também
identificar-se mecanismos de dano combinando flexão e corte para alguns dos painéis.
(a) (b)
Figura 2.14. Ensaio na mesa sísmica do ZRMK de modelo em escala 1:5 de protótipo de
edifício em alvenaria simples de blocos cerâmicos perfurados: (a) planta do modelo, (b) vista
do modelo no momento anterior ao colapso, (c) padrões de fendilhação típicos na parede
periférica e (d) no núcleo central (Tomaževič et al., 1990)
(c) (d)
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
28
A limitação do método POR em considerar apenas o colapso por corte diagonal viria a
ser colmatada numa versão posterior, na qual foi incluído o colapso por flexão composta
(Tomaževič e Turnšek, 1982), implementada no programa SREMB (Seismic REsistance of
Masonry Buildings). Em Itália, a sucessiva ocorrência de sismos destrutivos pondo em causa
um vasto património monumental, moveu investigadores a melhorar o POR, pelo que vários
métodos derivados viriam a ser propostos, e.g. PORFLX (Braga e Dolce, 1982), POR90
(Dolce, 1991) e VEM (Fusier e Vignoli, 1991), ainda que estes tenham tido impacto apenas
no meio científico. Efetivamente, em Itália o método POR foi utilizado no cálculo de edifícios
em alvenaria durante duas décadas, tendo a situação apenas sido alterada na sequência do
sismo de Molise em 2002. Este evento viria a provocar uma revolução no contexto normativo
italiano, a qual potenciou a implementação de métodos baseados em modelos de
macro-elementos como ferramentas avançadas para análise e dimensionamento sísmico de
edifícios em alvenaria, como se verá adiante.
O procedimento de cálculo original do método POR, ainda que extremamente
simplista, introduz o conceito de análise não linear para edifícios de alvenaria, a qual é feita
piso-a-piso. A verificação da segurança é baseada no confronto da resultante das forças de
inércia mobilizadas pelo sismo de cálculo com a capacidade resistente resultante das reações
de corte nos nembos do piso, e por respeito da congruência, assumindo que todos os nembos
exibem a mesma componente de deslocamento horizontal. No método POR original a
verificação da segurança é baseada apenas no confronto de forças, ainda que versões
posteriores tenham introduzido igualmente condições sobre a ductilidade.
Por outro lado, o estudo do comportamento não linear de estruturas em betão armado
vinha igualmente já sendo feito desde a década de 1960 (Otani e Sozen, 1972), no qual teve
um papel essencial a observação de edifícios danificados por sismos, ainda que apenas mais
tarde tenham sido desenvolvidos modelos para o seu dimensionamento através de análise
estática não linear (Saiidi e Sozen, 1981). Recorde-se que foi igualmente com base na
observação dos efeitos dos sismos, que o comportamento não linear foi verificado para o caso
dos edifícios em alvenaria. Assim, duas linhas de investigação paralelas foram criadas, uma
visando a análise não linear de estruturas de betão armado e outra alvejando a análise não
linear de edifícios em alvenaria. Naturalmente que o uso crescente de estruturas em betão
armado nas novas construções terá mobilizado um maior esforço no desenvolvimento de
métodos e ferramentas para dimensionamento destas estruturas, enquanto que os edifícios em
alvenaria eram vistos essencialmente como construções do passado.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
29
Desta forma, a análise estática não linear foi significativamente desenvolvida visando
a sua aplicação no dimensionamento sísmico de estruturas em betão armado, ainda que este
desenvolvimento tenha beneficiado igualmente a análise de estruturas em alvenaria. A análise
estática não linear, ou análise pushover como é vulgarmente designada, é focada na avaliação
do desempenho sísmico das estruturas, com base no controlo dos mecanismos de dano e da
deformação. Diversos procedimentos para análise pushover têm vindo a ser desenvolvidos,
permitindo explorar os recursos inelásticos no cálculo e na verificação de segurança de
estruturas como uma alternativa simplificada à análise não linear com integração no tempo,
nomeadamente o método N2 (Fajfar e Fishinger, 1988), o método do espetro de capacidade
(Freeman, 1998) e o método dos coeficientes (ASCE, 2000).
Tais procedimentos para análise pushover são baseados no controlo da deformação,
onde os requisitos de deslocamento face aos sismos de projeto são determinados através de
uma análise espetral da resposta de um sistema equivalente à estrutura com um único grau de
liberdade, os quais são depois confrontados com as capacidades de deformação para
determinados níveis de desempenho. Estes procedimentos têm vindo a ser implementados em
normativas de cálculo sísmico em diversos países, nomeadamente nos EUA (ATC, 2005), na
Europa (IPQ, 2010) e em Itália (Calvi et al., 2009). O método N2 é o procedimento
especificado no EC8 e na normativa italiana, e por isso é aquele considerado neste trabalho.
As capacidades de deformação são calculadas a partir da “curva de capacidade”
prevista para o edifício, a qual representa a relação entre a força de corte basal (força
horizontal representativa da ação sísmica) e o deslocamento de um ponto de controlo (ponto
significante da estrutura, usualmente correspondendo ao centróide de massa da laje de teto).
Esta curva é calculada simulando um carregamento lateral estático incremental sobre a
estrutura, o qual pode ser aplicado com controlo de força e/ou deslocamento, e para o qual
pode ser assumida uma distribuição de forças sísmicas proporcional às massas de inércia
multiplicadas pelos deslocamentos do primeiro modo de vibração da estrutura (distribuição
modal), ou proporcional às massas de inércia (distribuição uniforme).
Para efeitos de verificação da segurança, o método N2 especifica a representação de
uma “curva” de capacidade bilinear, correspondente a um sistema equivalente com um único
grau de liberdade. Tal representação consiste, numa primeira reta, que passando pela origem
intersecta a curva de capacidade do sistema real em correspondência com um valor de 70% da
força de corte basal máxima, e numa segunda reta, horizontal e estabelecida de modo a que a
área abaixo da envolvente do sistema real seja igual à área sob a envolvente idealizada
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
30
bilinear. A representação bilinear permite determinar o período de referência para o cálculo
do deslocamento-alvo, tal como apresentado à frente.
O espetro usado na caraterização da solicitação sísmica é o espetro de resposta elástica
do deslocamento, SDe(T), o qual pode ser obtido por transformação direta do espetro de
resposta elástica da aceleração Se(T) representado na Figura 2.15, utilizando a seguinte
expressão:
2*
* *( ) ( )2
De e
TS T S T (2.12)
sendo T* o período fundamental do sistema equivalente com um único grau de liberdade, o
qual pode ser determinado na sequência de cálculo da rigidez secante k* e da massa m* do
sistema bilinear equivalente:
*
*
*
*
1
**
*2
y
y
N
i ii
Fk
d
m m
mT
k
(2.13)
onde F*y e d*y são a força e o deslocamento correspondentes à condição de cedência do
sistema bilinear equivalente; e Фi é a componente no piso i, normalizada ao valor unitário da
componente relativa no ponto de controlo, do primeiro modo próprio de vibração do edifício.
(a) (b)
Figura 2.15. Ilustração (a) do espetro de resposta elástica de aceleração e (b) do cálculo do
deslocamento-alvo
Curva de capacidade
Espetro elástico
Espetro inelástico reduzido
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
31
Nos casos em que o período elástico T* do sistema bilinear equivalente resulta não
inferior ao período espetral TC, a resposta em deslocamento do sistema inelástico é assumida
como igual à de um sistema elástico de igual período, tal como exemplificado na Figura 2.15b:
* * *
max ,max ( )e Ded d S T . (2.14)
Quando, pelo contrário, o período elástico T* do sistema bilinear equivalente resulta
inferior a TC, a resposta em deslocamento do sistema inelástico assume-se maior do que a de
um sistema elástico de igual período, e obtém-se através de:
*
,max* * *
max ,max* *1 ( 1)
e Ce
d Td q d
q T (2.15)
onde
* **
*
( )e
y
S T mq
F (2.16)
representa a relação entre a força de resposta elástica e a força de cedência do sistema
equivalente. Por outro lado, a resposta do sistema equivalente com um grau de liberdade
F*-d* é calculada reduzindo a resposta do sistema real por um coeficiente de participação Γ, o
qual pode ser calculado como:
1
1
22
1
1
Ni
N iii i Ni
N
Ni i iiii
N
sm
m s
m sm
s
. (2.17)
Desta forma, o deslocamento-alvo para comparação com o deslocamento permitido
pelo sistema real é calculado como *
max maxd d .
O procedimento de verificação da segurança baseia-se na avaliação do desempenho
sísmico da estrutura, em termos de deformação, verificando que a exigência sísmica em
termos do deslocamento-alvo não ultrapassa os deslocamentos permitidos para o edifício nos
estados limites de limitação de dano e último, determinados sobre a curva de capacidade.
Desta forma, devem ser realizadas verificações para:
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
32
- Estado Limite Último (ELU)
Dmáx ≤ Du e q* < 3
sendo Dmáx o deslocamento-alvo para ELU, calculado em função do espetro de resposta
elástica; e Du o deslocamento máximo permitido pela estrutura, em correspondência com um
decaimento de 20% do valor máximo do corte basal sobre a curva de capacidade. Note-se que
a condição de q* representa uma limitação à ductilidade do sistema estrutural no seu conjunto.
- Estado Limite de Dano (ELD)
Dmáx, ELD ≤ Dd
sendo Dmáx, ELD o deslocamento-alvo para ELD, calculado tal como para Dmáx, mas assumindo
a aceleração de cálculo com um valor ag, ELD = ag/2.5; Dd é o deslocamento máximo da
estrutura para ELD, correspondente ao menor valor entre aquele associado ao corte basal
máximo e aquele que provoca a superação do drift máximo de piso (usualmente 0.3%).
A análise pushover traduz-se num processo incremental-iterativo que pode requerer
um esforço computacional elevado quando aplicada a estruturas com muitos graus de
liberdade, tais como no caso da discretização com elementos finitos contínuos planos ou
tridimensionais. Os modelos de macro-elementos, ao reduzir significativamente o número de
graus de liberdade e consequentemente o esforço computacional, revelam-se bastante
atrativos no uso de tal análise. O princípio básico da análise pushover para um edifício em
alvenaria, usando um modelo de macro-elementos, é ilustrado na Figura 2.16, onde a
progressão do dano sobre os painéis controla a evolução da curva de capacidade.
Figura 2.16. Ilustração de análise pushover sobre um edifício de alvenaria
Integro Plástico por corte Rotura por corte Plástico por flexão Rotura por corte
Deslocam.
Co
rte
bas
al
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
33
2.1.3 Análise Dinâmica Não Linear com Integração no Tempo
A análise dinâmica de estruturas baseia-se normalmente, ao contrário do que acontece
na análise estática que considera graus de liberdade estáticos situados nas extremidades dos
elementos estruturais, na definição dos graus de liberdade nos quais se geram forças
generalizadas de inércia significativas, resultantes da mobilização de massas por acelerações
ou de momentos de inércia por acelerações angulares. Na análise dinâmica, são igualmente
consideradas as propriedades de amortecimento da estrutura.
Desta forma, o equilíbrio dinâmico considera as forças de inércia (as quais são
dependentes da aceleração imposta à massa em cada um dos graus de liberdade), as forças nos
elementos elásticos (calculadas multiplicando a rigidez pelos deslocamentos), e as forças de
amortecimento viscoso (expressas como o produto do amortecimento pelas velocidades). A
equação de equilíbrio dinâmico é então a seguinte:
( )mu cu ku ms t (2.18)
onde m é a matriz de massa, c é a matriz de amortecimento, k é a matriz de rigidez, u é o vetor
dos deslocamentos, u é o vetor das velocidades, ü é o vetor das acelerações e ( )s t é o vetor
das acelerações na base do edifício no instante t.
A análise dinâmica de uma estrutura pode ser feita usando diferentes métodos, em
função dos níveis de precisão e simplificação pretendidos. Na Figura 2.17 apresenta-se uma
esquematização da aplicação dos métodos possíveis, tal como normalmente clausulado pelos
regulamentos. A diferença entre os vários métodos reside na forma de consideração do
comportamento inelástico, no modo de definição da excitação sísmica de dimensionamento, e
no procedimento de cálculo.
A análise dinâmica inelástica (não linear) com integração no tempo é o nível de
análise mais sofisticado para a previsão de forças e deslocamentos sob ação sísmica (Paulay e
Priestley, 1992). Esta envolve a resolução passo-a-passo, no domínio do tempo, das equações
de movimento considerando múltiplos graus de liberdade, que representam a resposta de um
edifício de vários pisos. O sismo de dimensionamento é representado através de
acelerogramas ( )s t , os quais podem ser obtidos a partir de sismos de referência ou gerados
artificialmente através de procedimentos analíticos. A análise dinâmica inelástica tem vindo a
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
34
ser desenvolvida essencialmente como uma ferramenta de investigação, ainda que esta seja já
clausulada em alguns regulamentos, e.g. no EC8 (IPQ, 2010).
Figura 2.17. Métodos de análise dinâmica (Bazán e Meli, 1999)
A consideração de uma resposta força-deformação não linear para os elementos que
constituem a estrutura implica a modificação das equações de equilíbrio dinâmico. A
simulação do comportamento não linear dos elementos estruturais é normalmente feita através
da adoção de uma regra histerética simulando os ciclos de carga, descarga e recarga dos
elementos. A regra histerética elasto-plástica apresentada na Figura 2.18a é um exemplo
destas regras, ainda que outras mais complexas possam ser consideradas. Desta forma, a
equação governante para um sistema inelástico é dada por:
( ) ( )S
mu cu f u ms t (2.19)
onde fS é um vetor de forças que é função não linear do vetor de deslocamentos u.
Teoricamente, podem ser usados métodos analíticos para avaliar estruturas não
lineares com vários graus de liberdade submetidas a acelerogramas reais, mas tal tarefa
implica um elevado número de alterações nas equações de movimento, com diferentes
DEFINIÇÃO DA EXCITAÇÃO
SÍSMICA
COMPORTAM.
ESTRUTURAL
Espetro de
cálculo elástico
Acelerogramas
reais ou simulados
Espetro
reduzido
Análise não linear
incremental
Modos e períodos
de vibração
Análise modal espetral
Análise modal por
passos
Coeficiente de
comportamento
sísmico, q
Análise linear
incremental
Curvas força
deformação não
lineares
Modelo
elástico
Inelástico Elástico linear Inelástico
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
35
soluções e requerendo o cálculo de novas condições iniciais em cada intervalo de
comportamento. Por tal razão, a análise de estruturas não lineares é feita usando métodos
incrementais passo-a-passo, tais como o método de Newmark, ainda que com o requisito
adicional de conhecer previamente as curvas força-deformação dos elementos resistentes.
Desta forma, a equação de equilíbrio incremental é expressa como:
Sm u c u f m s . (2.20)
Uma forma simples de incorporar a não linearidade neste tipo de métodos consiste na
utilização de uma formulação para sistemas lineares considerando em cada passo a rigidez
tangente ktg, tal como definida na Figura 2.18b. Desta forma, admitindo ∆fS ≈ ktg ∆u, a
Equação (2.20) converte-se em:
tgm u c u k u m s . (2.21)
(a) (b)
Figura 2.18. Hipóteses para consideração da não linearidade: (a) regra histerética
elasto-plástica e (b) avaliação da rigidez para um incremento da força resistente fS
Um aspeto importante no procedimento da análise dinâmica não linear é a definição
do amortecimento viscoso, o qual permite considerar a dissipação de capacidade não
histerética. O amortecimento viscoso permite, por exemplo, considerar a não linearidade na
fase elástica, a qual não é normalmente incluída nas regras histeréticas. Tipicamente, o
amortecimento viscoso pode ser descrito mediante uma matriz de amortecimento tipo
Rayleigh (Chopra, 2007):
fS
(fS)i+1
(fS)i
(∆fS)i
∆ui
(ki)tg
(ki)sec
ui ui+1 u
u
k
i
f
S
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
36
α βc m k (2.22)
onde α e β são coeficientes que se podem relacionar com a frequência angular ω e com o fator
de amortecimento ξ associados ao modo de vibração n, da seguinte forma:
βωαξ
2ω 2
nn
n
. (2.23)
Os coeficientes α e β podem ser avaliados impondo que, no intervalo das frequências
angulares correspondentes aos modos i e j, [ωi, ωj], o amortecimento viscoso seja constante.
Na aplicação prática deste conceito, os modos i e j com fatores de amortecimento conhecidos
devem ser escolhidos de modo a assegurar valores razoáveis para os fatores de amortecimento
em todos os modos que contribuam significativamente para a resposta.
Para determinar os valores de ωi e ωj pode-se, de forma aproximada, esquematizar o
comportamento da estrutura através de um oscilador simples elasto-perfeitamente plástico
com ductilidade μ (Cattari et al., 2005). Às duas frequências consideradas fazem-se
corresponder dois valores da rigidez da estrutura, a ωi a rigidez inicial elástica e a ωj a rigidez
secante correspondente ao estado limite último admitido para o sistema. Neste esquema, ωi
assume-se igual à frequência angular própria da estrutura, e ωj estima-se de forma
simplificada a partir de ωi, assumindo uma ductilidade apropriada: ωj = ωi/μ0.5
. Finalmente, os
valores dos dois coeficientes são obtidos resolvendo o seguinte sistema de equações:
βωαξ
2ω 2
βωαξ
2ω 2
i
i
j
j
. (2.24)
Apesar do avançado estado de conhecimento atual relativamente ao procedimento de
análise dinâmica inelástica com integração no tempo, descrito com detalhe em alguns textos
(e.g., Chopra, 2007; Clough e Penzien, 2003), acredita-se que esta poderá não ser a
ferramenta mais adequada para a prática comum de dimensionamento, uma vez que envolve
conceitos complexos de difícil interpretação e aplicação por parte do projetista. Este
procedimento pode, no entanto, ser sintetizado nos passos de: modelação da estrutura,
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
37
definição do modelo histerético e de amortecimento, definição dos acelerogramas de cálculo,
e análise da resposta (Fig. 2.19).
(a) (b) (c) (d)
Figura 2.19. Procedimento de análise dinâmica inelástica com integração no tempo:
(a) modelo da estrutura, (b) modelo histerético, (c) acelerograma de cálculo e (d) resposta em
deformação (adaptado de Lestuzzi e Badoux, 2008)
Sob o ponto de vista regulamentar, parece faltar clareza quanto aos critérios a usar no
dimensionamento com análise dinâmica inelástica. O EC8 especifica que o valor de cálculo
do efeito da ação sísmica deve ser calculado como a média das quantidades de resposta de
pelo menos 7 análises, considerando diferentes registos sísmicos; caso contrário, o efeito da
ação sísmica deve ser tomado como o valor mais desfavorável da quantidade de resposta entre
as análises realizadas. Se no EC8 não é clarificado o critério a considerar no dimensionamento,
na norma italiana (NTC, 2008) sugere-se uma comparação entre a ductilidade necessária e a
ductilidade disponível.
Segundo Priestley et al. (2007), nos casos em que se pretenda verificar os limites de
resistência em termos da deformação horizontal, o procedimento passa pela avaliação da
resposta de pico para uma série de direções em torno dos 360º completos da estrutura,
espaçadas por exemplo de 15º. Os deslocamentos de resposta médios nas diferentes direções
são então procurados de modo a encontrar a direção crítica, e em correspondência desta, o
deslocamento crítico.
2.2 Modelos de Macro-elementos
Apresentou-se já na Secção 2.1.2 o método POR, que se trata de um método de análise
sísmica bastante simples, na medida em que simplifica drasticamente a discretização
geométrica e o comportamento dos materiais, mas ao mesmo tempo revolucionário ao
considerar uma resposta não linear e sobretudo uma resposta conjunta das paredes. Foi com
base nestas duas abordagens: a simplificação geométrica e de comportamento material e a
F
d
ag
t
d
t
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
38
procura de uma resposta conjunta/global, que diferentes métodos para análise de edifícios em
alvenaria foram desenvolvidos em Itália. Estes dois aspetos vêm ao encontro das necessidades
identificadas para estes métodos, por um lado uma fácil implementação computacional
envolvendo as propriedades mecânicas básicas da alvenaria, e por outro lado a possibilidade
de explorar a resposta global dos edifícios (Magenes e Della Fontana, 1998; Augenti, 2004).
Desta forma, os métodos desenvolvidos adotaram algumas das hipóteses do POR,
especialmente a discretização das paredes em painéis (macro-elementos) e a consideração
para estes de uma resposta elasto-plástica. Estes métodos introduziram melhorias
significativas relativamente ao método POR, particularmente a consideração da flexibilidade e
do possível colapso dos lintéis, a implementação de modelos estruturalmente mais
equilibrados, e outras que se descrevem na secção seguinte.
2.2.1 Modelos de Segunda Geração
A preocupação com a segurança sísmica do grande espólio monumental em Itália,
mobilizou investigadores a desenvolver distintos métodos para a análise sísmica de edifícios
em alvenaria, alguns dos quais se descrevem seguidamente, uma vez que estes foram de certa
forma eclipsados pela estagnação da normativa em Itália no período 1981-2003, sem que
pudessem ser aplicados na prática. Se para o método POR os macro-elementos se assumiam
como elementos unidimensionais, a preocupação com a simulação de mecanismos diagonais
levou a que fossem idealizados também macro-elementos bidimensionais. Neste contexto,
duas famílias de macro-modelos podem ser distinguidas, conforme se adote uma modelação
unidimensional ou bidimensional dos painéis de alvenaria.
Os modelos unidimensionais discretizam as paredes em elementos de alvenaria
(nembos e lintéis) idealizados como barras com comportamento não linear, ou então como
escoras. Os modelos baseados na idealização de escoras (Calderoni et al., 1987 e 1989) usam
uma estratégia em que a parte resistente de cada painel de alvenaria é modelada através de
uma escora com inclinação e rigidez que reproduz em média o comportamento do painel (Fig.
2.20). A redução da parte resistente do painel determina a variação das propriedades
geométricas da escora equivalente (inclinação e dimensões da secção), vindo o colapso de um
painel associado a uma configuração limite de equilíbrio, ou então à rotura da escora por
compressão.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
39
Figura 2.20. Modelação de uma parede através de escoras equivalentes (Calderoni et al.,
1987 e 1989)
A outra classe de modelos com elementos unidimensionais baseia-se no uso de
elementos de barra com deformação ao corte. Neste âmbito, foram propostos elementos de
rigidez variável baseada no cálculo com secção reduzida (Braga e Dolce, 1982) como
ilustrado na Figura 2.21, e também elementos de rigidez constante em fase elástica, à qual
segue uma fase de deformação plástica (Dolce, 1991; Tomaževič e Weiss, 1990). Neste
último caso, a não-linearidade é ativada por uma condição limite de resistência. Os métodos
deste último tipo podem ser considerados versões melhoradas do POR, apenas evoluindo
relativamente a algumas das hipóteses e formulações utilizadas. A formulação da resistência
dos lintéis no método proposto por Braga e Dolce (1982) e a introdução de uma condição para
a ductilidade global de piso no método proposto por Tomaževič e Weiss (1990) são exemplos
destas melhorias.
Apesar das melhorias que estes métodos introduziram relativamente ao POR, estes
apresentam ainda algumas limitações do ponto de vista da resposta estrutural global, uma vez
que permanece a hipótese do “mecanismo de piso” requerendo uma análise piso-a-piso. O uso
destes métodos não permite desta forma calcular com exatidão a interação de esforços entre
nembos e lintéis, ainda que formulações simplificadas tenham sido propostas por Braga e
Dolce (1982) e por Fusier e Vignoli (1991). Tal limitação relativamente à interação de
esforços entre nembos e lintéis impossibilita igualmente que estes métodos sejam capazes de
simular de forma exata a evolução das condições de ligação nas extremidades dos nembos,
face ao incremento das forças sísmicas horizontais. Esta limitação só poderia ser superada
através de uma análise global da parede multi-piso ou do edifício.
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
40
No caso dos modelos com macro-elementos bidimensionais, um dos aspetos
fundamentais da modelação é a consideração de um comportamento de “tração nula”, ou seja
de resistência à tração nula do material, que permite assim conferir uma rigidez variável ao
elemento, em função do estado de solicitação (Magenes et al., 2000). Esta condição de tração
nula foi implementada por D’Asdia e Viskovic (1994) recorrendo a técnicas que modificam a
geometria dos elementos, de modo a eliminar zonas tracionadas (Fig. 2.22), e por Braga e
Liberatore (1990) através de uma formulação variável do campo de esforços no interior do
painel (Fig. 2.23).
(a) (b)
Figura 2.21. Modelação com elementos de barra: (a) modelo de parede e (b) comportamento
de nembos em função da condição de ligação superior (Braga e Dolce, 1982)
Figura 2.22. Modelo com elementos de geometria variável proposto por D’Asdia e Viskovic
(1994)
Condição de padieira ativa Condição de padieira inativa
Zona ativa
Nembo ou lintel
Elemento de ligação
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
41
Figura 2.23. Modelo de macro-elementos com campo de esforços de tração nula (Braga e
Liberatore, 1990)
Para os dois últimos modelos apresentados, nas zonas comprimidas é assumida uma
relação constitutiva do tipo elástica linear, sendo necessário verificar os valores máximos das
tensões de compressão de modo a considerar eventuais mecanismos de rotura, tais como o
esmagamento da alvenaria. Relativamente a outros tipos de mecanismos, os dois métodos
definem critérios de verificação da rotura nas zonas ativas, sendo a análise interrompida
sempre que um destes critérios é violado.
No caso do modelo proposto por D’Asdia e Viskovic (1994), a alteração da forma dos
elementos é obtida através de uma translação das juntas, alterando-se em consequência do
estado de tensão dos elementos de forma a manter inalterada a força resultante em cada
extremidade de painel. O modelo proposto por Braga e Liberatore (1990) é mais complexo,
onde a solução de equilíbrio é baseado num critério de minimização de energia que determina
a porção ativa do elemento, o estado de tensão e as ações no elemento.
2.2.2 A Nova Base Experimental
O POR e métodos seus derivados foram idealizados sobretudo com base na
observação dos efeitos de sismos sobre edifícios. Para o desenvolvimento de métodos mais
evoluídos, foi identificada a necessidade de realizar extensas campanhas experimentais, as
quais pudessem clarificar as bases teóricas necessárias. Em Itália, foi feito um grande esforço
de investigação sobre a resposta da alvenaria a ações cíclicas, reagindo a terramotos
destrutivos que perigam todo o espólio monumental naquele país. Nesta linha, destacam-se as
Graus de liberdade
cinemáticos
Cunha reagente Sistema multi-leque
parte em tração
Resultante das ações
internas do elemento
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
42
campanhas realizadas no “Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia” em Ispra e
na Universidade de Pavia, consistindo respetivamente em ensaios de carregamento lateral
cíclico sobre nembos e sobre um edifício em escala real. Os resultados destes ensaios viriam a
ser tidos como referencial na elaboração da normativa italiana mais recente, assim como no
desenvolvimento de software para verificação da segurança sísmica de edifícios em alvenaria.
O edifício testado em Pavia é representativo das construções urbanas antigas em Itália,
com geometria apresentada na Figura 2.24a-b. Este edifício, com dois pisos elevados, consiste
numa estrutura com quatro paredes de 25 cm de espessura, duas paredes longitudinais com
aberturas e duas paredes transversais “cegas”. Note-se que uma das paredes longitudinais
(parede D ou “parede com portas”) não está ligada às paredes transversais adjacentes,
enquanto a outra (parede B ou “parede com janelas”) é ligada às paredes adjacentes adotando
um aparelho com tijolos interligados na zona do cunhal.
As paredes foram construídas com tijolos cerâmicos maciços apresentando uma
resistência média à compressão em cubos de 16 MPa, enquanto que a argamassa de juntas em
cal hidráulica e areia (traço 1:3 em volume) apresentou uma resistência à compressão entre 2
a 3 MPa. A resistência média à compressão de prismas da alvenaria foi de 6.2 MPa, enquanto
que a resistência ao corte da junta foi estimada por regressão dos resultados de ensaios sobre
“tripletes” como τ = 0.23 + 0.57σ (MPa). Os pavimentos do edifício consistiram numa série
de perfis metálicos com secção em “I” e 140 mm de altura, dimensionados para simular um
diafragma flexível e dotados de uma carga distribuída de aproximadamente 10 kN/m2.
O edifício de Pavia foi sujeito a carregamento quase-estático com controlo de
deslocamento, através da aplicação de forças horizontais concentradas sobre as duas paredes
longitudinais ao nível dos pavimentos, como ilustrado na Figura 2.24a. No decorrer do ensaio,
as forças horizontais foram mantidas com igual valor nos dois pisos, e com a sequência de
deslocamentos no pavimento de teto mostrada na Figura 2.24c. Considerando o reduzido
acoplamento fornecido pelos pavimentos, e tendo em conta que as paredes longitudinais são
submetidas ao mesmo deslocamento no pavimento de teto, admitiu-se que a parede D e o
conjunto de paredes A+B+C constituem, na prática, dois sistemas estruturais independentes.
Magenes et al. (1995) descrevem a progressão de dano nas paredes como muito
complexa, pois a natureza e a localização do dano mudam significativamente com o
incremento do drift (relação deslocamento/altura). A fendilhação ocorre inicialmente apenas
em lintéis adjacentes às aberturas para ambas as paredes carregadas no plano (Fig. 2.24d), em
parte devido à reduzida tensão vertical nestas zonas com consequente reduzida resistência das
juntas ao corte. Com a evolução das fendas nos lintéis, o acoplamento entre os nembos
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
43
reduz-se, levando a um mecanismo dominante de fissuração por corte nos nembos centrais,
como denotado da Figura 2.24e.
(a) (b) (c)
drift máximo de 0.075% (d) drift máximo de 0.43% (e)
(f)
Figura 2.24. Ensaio do edifício de Pavia: (a) esquema do ensaio, (b) planta do edifício,
(c) sequência de deslocamentos aplicados ao pavimento de teto; padrões de fendas nas
fachadas no final dos (d) Run 3 e (e) Run 7; (f) resposta lateral das fachadas
As duas paredes carregadas no plano respondem de forma significativamente diferente
aos deslocamentos impostos. Enquanto que a “parede com portas” se comporta como uma
parede de corte acoplada com significativa deformação por flexão, a “parede com janelas”
exibe uma resposta caraterizada por deformações de corte localizadas nos nembos. A resposta
Tempo
Des
loca
men
to (
mm
)
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
44
dos nembos exteriores nas duas paredes é também bastante diferente, pois enquanto que para
a “parede com janelas” estes exibem um modo de rocking, para a “parede com portas” falham
por corte, o que estará relacionado com a esbeltez dos nembos e com as condições de ligação
às paredes transversais. Salienta-se ainda o facto de os nembos na “parede com portas”
apresentarem fendilhação diagonal apenas num sentido, devido ao efeito de rotação
provocado pelas forças horizontais, o qual incrementa a carga axial no nembo no sentido do
carregamento.
A resposta geral do edifício, em termos da relação força de corte basal-deslocamento
de teto é apresentada na Figura 2.24f para as duas paredes carregadas. Em temos da força de
corte basal, a “parede com portas” apresenta uma capacidade ligeiramente superior (150 kN)
relativamente à obtida para a “parede com janelas” (140 kN). A fendilhação começou para um
drift do edifício (relação deslocamento do topo/altura do edifício) de aproximadamente 0.1%,
sendo a força máxima atingida para um drift aproximado de 0.2%. O ensaio foi interrompido
quando foi atingido um nível de dano significativo nos nembos e lintéis da “parede com
portas” para um drift máximo de aproximadamente 0.4%, ainda que não se tenha verificado
uma perda de resistência significativa.
Como se pôde observar, a análise da resposta de um edifício no seu todo revela-se
bastante complexa, sem que se possa identificar claramente o modo de dano e de deformação
individual dos painéis, particularmente dos nembos. Por esta razão, revela-se necessária a
avaliação experimental da resposta individual de nembos, sob condições de carregamento e de
fronteira bem definidas. Isto é particularmente relevante para a generalização a casos de
edifícios com pavimentos rígidos. Neste sentido, particularmente inspiradores foram os
ensaios realizados por Anthoine et al. (1995) no “Centro Comum de Investigação da
Comissão Europeia” em Ispra, Itália. Os testes consistiram basicamente no carregamento
lateral cíclico de nembos com menor e maior esbeltez, os quais são representativos do edifício
testado em Pavia (Fig. 2.25a), pois foram construídos usando os mesmos materiais (tijolos
cerâmicos maciços e argamassa de cal hidráulica em pano duplo de 25 cm com aparelho
inglês), e foram ensaiados com carregamento vertical constante e condição de dupla curvatura.
Para o painel mais baixo (esbeltez de 1.35) é identificado um mecanismo de corte
diagonal com ductilidade superior a 4.5, ainda que apresentando um comportamento
dissipativo devido à progressiva desagregação do painel (Fig. 2.25b). Por outro lado, o painel
mais alto (esbeltez de 2.0) denota colapso por flexão, com ductilidade superior a 7.5 e sem
degradação de resistência aparente (Fig. 2.25c). No entanto, quando se aumenta a tensão
normal sobre este último painel para 0.8 MPa, um mecanismo de corte trapezoidal é
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
45
observado, com comportamento ligeiramente dissipativo, ainda que com maior capacidade de
deformação (Fig. 2.25d).
(a) (b)
(c) (d)
Figura 2.25. Resposta experimental de nembos representativos do (a) edifício testado em
Pavia com: (b) esbeltez de 1.35 e tensão normal de 0.6 MPa, (c) esbeltez de 2.0 e tensão
normal de 0.6 MPa, (d) esbeltez de 2.0 e tensão normal de 0.8 MPa
Um dos aspetos que pode assumir relevância na resposta a ações cíclicas é o softening
(amolecimento), o qual se traduz na perda de resistência pós-pico. Este aspeto revela-se
particularmente importante quando se pretende capturar o comportamento cíclico,
nomeadamente para avaliar a dissipação de energia. A partir dos resultados experimentais na
Figura 2.25b-d pode observar-se que este aspeto parece apenas relevante no caso de dano por
corte diagonal, devido à progressiva desagregação dos painéis, enquanto que no caso de falha
por flexão a dissipação de energia é reduzida.
Note-se que estes últimos resultados experimentais serviram de referencial para
especificação na norma italiana de drifts últimos de 0.4% e 0.6%, respetivamente para os
mecanismos de dano por corte e por flexão composta em nembos, para edifícios existentes em
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
46
alvenaria. Estes resultados foram igualmente tidos em conta para o caso de edifícios novos,
situação em que se admitiu um drift último por flexão composta alargado a 0.8%, e que
viriam a ser também considerados no Eurocódigo 8 – Parte 3 (CEN, 2005b).
Recentemente, Frumento et al. (2009), com base na interpretação de setenta e cinco
ensaios cíclicos de corte sobre paredes de alvenaria em tijolo cerâmico realizados em vários
centros de investigação europeus (ZAG em Liubliana, Universidade de Dortmund,
Universidade de Pádua, Universidade de Bucareste e Universidade de Pavia-EUCENTRE),
reforçaram a adequabilidade do drift último de 0.8% para o mecanismo de flexão composta
mas, por outro lado, verificaram um drift limite para mecanismos por corte ou híbridos em
muitos casos inferior a 0.4%. No entanto, é opinião do autor deste trabalho que alguns dos
tijolos utilizados na construção dos painéis ensaiados possuíam baixa robustez,
nomeadamente por quebra e destacamento das faces exteriores.
2.2.3 Modelos de Terceira Geração
Em Itália, ainda que nas décadas de 1980-90 tenham sido idealizados e desenvolvidos
diferentes modelos no meio académico-científico para a análise sísmica de edifícios em
alvenaria, baseados quer em macro-elementos unidimensionais quer bidimensionais, estes não
chegaram a ser usados na prática de dimensionamento. Na verdade, os modelos desenvolvidos
mais complexos apenas tiveram aplicação no meio científico, e o método POR continuou a ser
a ferramenta de cálculo preferida devido à sua simplicidade. A estagnação da normativa em
Itália contribuiu, como já foi dito, para este cenário, pois não foi estimulada a introdução legal
de novos procedimentos de análise e verificação da segurança.
Apesar de terem sido introduzidas versões melhoradas do POR, apresentadas na
Secção 2.2.1, o método continuou a pecar pela consideração de um “mecanismo de piso”, sem
que pudesse ser avaliada a resposta global dos edifícios. Foi na procura desta resposta, e na
sequência dos resultados experimentais apresentados na secção anterior, que uma nova
campanha de desenvolvimento de modelos de macro-elementos foi iniciada. O objetivo
passava por idealizar modelos que, por um lado, fossem facilmente assimiláveis por parte do
projetista de estruturas comum e, por outro lado, pudessem evoluir para a implementação da
procurada análise global.
Desta forma, foi potenciado o desenvolvimento de métodos empregando macro-
elementos unidimensionais, os quais assumissem um comportamento estrutural similar ao das
estruturas reticuladas, e permitissem assim a sua implementação através da aplicação de
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
47
métodos convencionais da mecânica estrutural. Entre os novos métodos podem destacar-se
dois em particular, idealizados respetivamente nas Universidades de Génova e de Pavia.
O método proposto em Génova é baseado no uso de um macro-elemento idealizado
por Gambarotta e Lagomarsino (1996) para simular o comportamento cíclico de painéis de
alvenaria. Este macro-elemento permite ter em conta quer o comportamento de rocking quer o
de corte, através de uma integração macroscópica da lei constitutiva de corte proposta por
Gambarotta e Lagomarsino (1997). Ainda que o macro-elemento utilizado seja do tipo
unidimensional, na medida em que a sua formulação é baseada na utilização de grandezas
cinemáticas e estáticas que consistem de deslocamentos e rotações nodais e em ações
resultantes (M, T e N), a introdução de graus de liberdade internos ao elemento e de
considerações oportunas sobre a cinemática de rocking e de corte-deslizamento confere um
carácter de bidimensionalidade ao elemento (Magenes et al., 2000), tal como denota a Figura
2.26.
Tal método foi inicialmente desenvolvido por Brencich e Lagomarsino (1998),
implementando um modelo em pórtico para a resposta estática das paredes no seu plano,
através da ligação de macro-elementos discretizados como nós rígidos, nembos e lintéis (Fig.
2.27a), com vista a realizar análises estáticas não lineares de paredes individuais.
Posteriormente, uma primeira versão para modelação tridimensional de edifícios foi
implementada por Brencich et al. (1998), tal como ilustrado na Figura 2.27b.
O macro-elemento proposto pelos investigadores da Universidade de Génova é
constituído por três partes: as camadas inferior e superior (1) e (3) de espessura infinitesimal
∆, nas quais os efeitos extensionais e de flexão estão concentrados mas onde não é permitida
deformação por corte, e a parte central (2) que sofre deformações por corte, mas que por outro
lado não exibe deformação axial e por flexão (ver Fig. 2.26). Desta forma, a abertura de fenda
que provoca o rocking é potenciada nas extremidades do elemento, enquanto que na parte
central ocorrem deformações inelásticas e dano por corte.
Neste método, o mecanismo de rocking do painel, o qual é favorecido pela ausência de
resistência significativa à tração do material, é representado assumindo um contacto elástico
unilateral nas interfaces (1) e (3). Por outro lado, o mecanismo de rotura por corte é
esquematizado considerando um estado de tensão uniforme na parte central (2), através de
uma relação entre as componentes cinemáticas ui, uj e , o estado tensional e variáveis
descritivas do comportamento plástico.
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
48
Figura 2.26. Macro-elemento de Génova: (a) versão original de Gambarotta e Lagomarsino
(1996), e variáveis (b) cinemáticas e (c) estáticas segundo Brencich e Lagomarsino (1998)
(a) (b)
Figura 2.27. Modelação de (a) uma parede e de (b) um edifício segundo Brencich et al. (1998)
O método desenvolvido em Pavia é baseado na modelação com um conjunto de barras
equivalentes constituído por nembos, lintéis e offsets rígidos. Este método partiu da
consideração de que a distribuição de forças internas no colapso é basicamente governada
pela resistência de membros e por equilíbrio. Os nembos são formulados como barras elasto-
(b) (c)
(a)
nó do modelo nó do macro-elemento
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
49
plásticas com deformabilidade à flexão e ao corte (Fig. 2.28), assumindo uma altura efetiva
que define a matriz de rigidez no regime elástico e que identifica as secções de extremidade
do painel para verificações de resistência.
(a) (b)
Figura 2.28. Modelação de nembo: (a) macro-elemento e (b) comportamento ao corte
Os nembos exibem dois mecanismos possíveis de colapso: colapso por flexão
composta ou rocking, e colapso por corte, os quais são associados a fórmulas simplificadas de
resistência expressas em termos de forças internas globais (força axial, esforço transverso e
momento fletor). O comportamento do elemento é linear elástico até ao momento em que um
critério de colapso é atingido. A resistência à flexão de um nembo pode ser calculada
simplificadamente assumindo um bloco de tensões retangular para a alvenaria em compressão
(Fig. 2.29) e calculando o momento último como:
2
12
u
u
D t p pM
K f
. (2.25)
onde D é o comprimento do nembo, t é a espessura do painel, p = P/(Dt) é a tensão vertical
média sobre o painel devido à força axial P, fu é a resistência à compressão da alvenaria e K é
um coeficiente para ter em conta a distribuição de tensão vertical no canto comprimido (a
hipótese habitual é adotar K = 0.85). Sempre que o momento em qualquer das secções
extremas do painel atinge o valor limite dado pela Equação (2.25), uma rótula plástica é
ativada na secção, e a rotação plástica pode ocorrer sob momento constante até um limite
definido em termos de drift.
Parte
deformável
Offset
rígido
Offset
rígido
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
50
Figura 2.29. Hipótese para o cálculo da resistência à flexão composta (Magenes e Calvi, 1997)
O colapso por corte pode ocorrer de três modos distintos: deslizamento ao longo de
junta de assentamento em secção de extremidade fendilhada por flexão (não é assumida tração
normal às juntas de assentamento), para o qual se adota o critério de resistência simplificado
apresentado na Figura 2.30; fendilhação diagonal a partir do centro do painel devido à rotura
de juntas de argamassa, com resistência limite calculada de acordo com a Equação (2.26); e
fendilhação diagonal a partir do centro do painel devido à rotura de unidades de alvenaria,
para o qual se adota a Equação (2.27) baseada no critério de Mann e Müller (1982).
μτ
1 αws
V
c p; (2.26)
τ 12 3(1 α )
btb
V bt
f p
f. (2.27)
onde c e μ são a coesão reduzida e o coeficiente de atrito das juntas de argamassa, fbt é a
resistência à tração das unidades de alvenaria e αV = M/VD é o fator de corte calculado para a
secção do painel com o maior momento M.
A resistência ao corte Vmáx do nembo é definida como a menor entre as resistências
associadas a cada modo. A resistência última Vu é definida como 0.9Vmáx, de modo a obter
uma melhor correspondência com envolventes experimentais obtidas a partir de ensaios
cíclicos em que os painéis falham por corte, permitindo uma boa equivalência em termos de
energia (Magenes e Calvi, 1997). Depois de atingida a resistência limite, uma deformação
plástica pode ocorrer até um limite controlado em termos de drift.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
51
Figura 2.30. Hipótese para o cálculo da resistência ao corte na extremidade de painel
fendilhada por flexão (adaptado de Magenes et al., 2000)
No método proposto em Pavia, a resposta dos nembos tem vindo a ser idealizada como
elástica-perfeitamente plástica, sem consideração de softening pós-pico, na medida em que
esta hipótese facilita a implementação do método. O softening pode no entanto ser
considerado, tal como permitido pelo método desenvolvido em Génova, através da definição
do parâmetro de deformabilidade não linear G×c e do parâmetro de softening β (Fig. 2.31).
Figura 2.31. Parametrização do softening na resposta lateral de macro-elemento
(Lagomarsino et al., 2009)
Neste método, os lintéis são formulados similarmente aos nembos. No entanto, estes
são caracterizados por uma tensão normal às juntas de assentamento muito reduzida, sendo de
esperar um comportamento mais frágil do que o dos nembos, quando sofrem rotura por corte.
Por esta razão, a resistência ao corte do lintel é calculada como o produto da sua secção
transversal pela coesão reduzida das juntas. Para o comportamento pós-elástico por corte do
lintel duas alternativas são consideradas, elástico-perfeitamente plástico ou elasto-frágil. Os
nembos e lintéis são ligados por offsets rígidos representados como segmentos de viga
infinitamente resistentes. A hipótese de assumir estas zonas de conexão entre nembos e lintéis
F
d
β
G×c
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
52
como nós rígidos, deriva da observação do dano provocado por sismos, o qual mostra que
raramente (salvo para geometrias muito irregulares ou aberturas muito pequenas) aparecem
fendas nestas áreas da parede. Por esta razão, a deformabilidade destas zonas é assumida
negligenciável.
O presente método (acrónimo SAM para Simplified Analysis of Masonry buildings) foi
implementado por Magenes e Della Fontana (1998) para análise estática não linear (pushover)
de paredes no seu plano (Fig. 2.32a). Posteriormente, o método foi desenvolvido por Magenes
et al. (2006) de modo a permitir a análise pushover tridimensional de edifícios (Fig. 2.32b).
Note-se que o SAM serviu de inspiração a vários modelos implementados do mesmo tipo, em
que se empregaram elementos de barra, e.g. por Kappos et al. (2002), Salonikios et al. (2003),
Roca et al. (2005), Penelis (2006), Pasticier et al. (2008) e Sabatino e Rizzano (2010).
(a) (b)
Figura 2.32. Modelação de (a) uma parede e de (b) um edifício com o método SAM
Um aspeto particularmente relevante na modelação com macro-elementos
unidimensionais é a definição da altura efetiva dos nembos, a qual estabelece a sua parte
deformável. Esta definição tem sido baseada sobretudo na observação de edifícios danificados
por sismos, parecendo que a fendilhação começa a partir das extremidades dos nembos e se
estende até ao seu extremo livre segundo uma linha inclinada aproximadamente de 30º (Fig.
2.33a-b). Esta hipótese está na essência da proposta feita por Dolce (1991) para cálculo da
altura efetiva de um nembo. Este autor, com base na análise de subsistemas nembo-lintéis
típicos de paredes com o método dos elementos finitos, em estado plano de tensão (Fig.
2.33c-d), ajustou a seguinte fórmula empírica para a altura efetiva dos nembos, a qual fornece
a melhor aproximação para a rigidez dos subsistemas:
Nembo Viga
Lintel
Offset rígido
Offset
rígido
Painel
pilar
Padieira
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
53
1( )
3ef
h D H h
Hh
' '
'. (2.28)
A regra de Dolce é bastante aplicada na prática de cálculo, ainda que outras
aproximações possam ser usadas, nomeadamente a média da altura das extremidades livres do
nembo, ou outras. Mais consensual parece ser a definição da zona deformável dos lintéis, a
qual é normalmente assumida em correspondência com a largura das aberturas, sendo que este
aspeto parece ser pouco relevante para a resposta das paredes no seu plano.
Visando já a modelação espacial dos edifícios, um modelo de pavimento necessita
também ser definido, o qual pode ser baseado em elementos planos rigidificantes de
membrana como implementado no método de Génova, influenciando a distribuição de ações
horizontais entre as paredes, ou pode ser assumido como diafragma rígido, que é o caso do
método de Pavia.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 2.33. Bases para definição da altura efetiva de nembos segundo a proposta de Dolce
(1991): (a) parede danificada por sismo; (b) padrão de fendas idealizado; (c) subsistemas
nembo-lintéis para parede genérica; (d) simulação de subsistemas com o MEF
Recentemente, Caliò et al. (2004; 2012) e Vanin e Foraboschi (2009) apontaram
algumas limitações ao uso de macro-elementos do tipo barra, nomeadamente a deficiente
pavimento
pavimento
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
54
simulação da interação entre macro-elementos e a modelação simplista da condição
fendilhada de painéis. Estes autores propõem o uso de macro-elementos bidimensionais,
usando, respetivamente, um conjunto de molas não lineares e um modelo de escoras e tirantes.
O macro-elemento proposto por Caliò et al. (2004) na Universidade de Catânia visa
simular uma porção de parede em alvenaria, incorporando um conjunto de molas não lineares
que reproduzem os mecanismos de colapso típicos (Fig. 2.34). Este macro-elemento consiste
num quadrilátero articulado com lados rígidos, no qual duas molas diagonais são cruzadas aos
cantos para simular o comportamento ao corte. Distribuições discretas de molas normais aos
lados do macro-elemento permitem simular a sua interação com os macro-elementos
adjacentes, visando avaliar a resposta por flexão através da integração das forças de tração ou
compressão nas molas. Molas paralelas aos lados do macro-elemento são também incluídas,
de modo a simular o potencial deslizamento ao longo das faces do macro-elemento.
(a) (b) (c) (d)
Figura 2.34. Macro-elemento de Catânia: (a) discretização e modos de colapso por (b) flexão
composta, (c) corte diagonal e (d) deslizamento (Caliò et al., 2004)
No modelo de Catânia, a lei de material para resposta por flexão composta é
considerada tal como ilustrado na Figura 2.35a, com um comportamento do tipo
esmagamento se a rotura ocorre por compressão, incapacitando o material tanto à tração como
à compressão, ou com um comportamento do tipo fendilhado se a rotura ocorre por tração,
anulando a resistência à tração mas mantendo a resistência à compressão. Por outro lado, o
comportamento cíclico assume-se caracterizado por uma lei histerética com descarga
orientada à origem em tração e com descarga com rigidez inicial em compressão.
Se para as molas de interface que simulam o deslizamento dos painéis se assume uma
lei de resposta baseada no critério de Mohr-Coulomb, considerando uma parcela coesiva e
outra devida ao ângulo de atrito interno, a resposta das molas para corte diagonal pode ser
igualmente baseada neste critério ou então admitindo o critério de resistência de Turnšek e
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
55
Čačovič (1970), já apresentado na Secção 2.1.2. Para a resposta por corte diagonal pode ainda
ser considerado o softening, tal como ilustrado na Figura 2.35b, em que se define o ramo de
amolecimento com rigidez kt.
(a) (b)
Figura 2.35. Leis adotadas para o comportamento de (a) flexão composta e (b) corte diagonal
da alvenaria (Caliò et al., 2004)
O presente método tem vindo a ser desenvolvido junto da Universidade de Catânia, o
qual foi evoluindo desde a idealização do macro-elemento individual, passando pela
implementação do método com vista à análise pushover de paredes no seu plano, e tendo
finalmente evoluído para uma modelação tridimensional de edifícios (Fig. 2.36). Este método
e aqueles desenvolvidos em Génova e em Pavia continuarão a ser abordados no próximo
capítulo, como objetos do processo de benchmarking efetuado.
(a) (b)
Figura 2.36. Modelação de (a) uma parede e de (b) um edifício com o método de Catânia
Finalmente, Vanin e Foraboschi (2009) propõem um macro-elemento constituído por
um conjunto de escoras e tirantes, adotando uma disposição que possa simular os mecanismos
Material não fraturado
Material fraturado
Capítulo 2. Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria
56
de colapso por flexão e por corte diagonal (Fig. 2.37). A sua implementação é baseada na
aplicação do teorema de limite inferior usado na análise limite, através da consideração de
movimentos de corpo rígido e de equações de equilíbrio adaptados ao caso em questão.
(a) (b) (c)
Figura 2.37. Macro-elemento de escoras e tirantes: (a) discretização e modos de colapso por
(b) flexão e (c) corte diagonal (Vanin e Foraboschi, 2009)
A resposta do painel é obtida, determinando em cada passo, pelo Princípio do
Trabalho Virtual (PTV), a força associada ao deslocamento no topo em correspondência com
a deformação elástica das escoras/tirantes. A imposição da força lateral provoca, quer a
rotação do romboide em torno de ponto no seu extremo inferior, quer o seu deslocamento
horizontal. Enquanto que a rotação provoca um alongamento dos tirantes ligados à base, o
deslocamento horizontal provoca a abertura do romboide. Perante este cenário, o colapso é
iniciado quando um dos tirantes em tração atinge um limite de deformação imposto,
dependendo o mecanismo de colapso do tirante envolvido, como deduzido da Figura 2.37b-c.
Os tirantes vão sendo eliminados à medida que o seu limite de deformação é atingido,
até que um mecanismo de corpo rígido ocorra. Iniciado este mecanismo, a relação
força-deslocamento é obtida, procurando em cada passo o equilíbrio da parte do painel
envolvida na rotação, através da aplicação do PTV de modo a que o trabalho da força
horizontal iguale o trabalho das forças verticais (peso do painel e força de carregamento
vertical). A força horizontal assume um valor constante na medida em que se admite um
comportamento plástico, sendo o equilíbrio obtido com base na alteração das componentes de
deformação.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
57
3. BENCHMARKING DE PROGRAMAS DE CÁLCULO COMERCIAIS
O desenvolvimento de programas informáticos tem vindo a permitir a implementação
de métodos de análise estrutural sofisticados, os quais permitem a modelação detalhada de
estruturas e a simulação do seu comportamento quando as mesmas são submetidas a
solicitações distintas, tais como forças estáticas ou excitações dinâmicas. Todavia, o uso
destas ferramentas requer, em geral, um modelo sofisticado, nomeadamente uma
representação geométrica detalhada, envolvendo um grande número de graus de liberdade, e
uma definição do material com diversos parâmetros. Esta caraterização, ainda que possa ser
justificada em casos especiais, tais como construções históricas ou estruturas complexas,
parece ser impraticável no dimensionamento convencional, uma vez que o uso destes métodos
requer um grande nível de conhecimento e experiência por parte dos utilizadores, os quais não
estão normalmente ao alcance de projetistas correntes (Lourenço, 2002).
Tais dificuldades na modelação são ainda mais agravadas quando as estruturas
estudadas possuem comportamentos particulares, como é o caso dos edifícios em alvenaria.
Por esta razão, e com referência ao caso italiano, dois tipos de modelação têm sido usados na
análise de estruturas em alvenaria: uma análise baseada na modelação detalhada de elementos
estruturais, promovida essencialmente no meio académico-científico (e.g., Calderini e
Lagomarsino, 2008; Gambarotta e Lagomarsino, 1997) e usada por um lado na análise de
casos especiais e por outro lado como termo de comparação para o outro tipo de modelação; e
a macro-modelação ou modelação de componentes estruturais, orientada para o
dimensionamento e a verificação da segurança.
O segundo tipo de modelação segue a linha comum das primeiras gerações de modelos
de macro-elementos, ainda que atualmente se baseie num estado de conhecimento da arte
mais aprofundado, sobretudo derivado da evidência experimental, e incorpore métodos de
análise computacional para simulação estrutural global das estruturas, o qual permite a
determinação de soluções que verificam o equilíbrio estrutural. Em Itália, modelos deste tipo,
que vinham a ser desenvolvidos no meio académico-científico, ganharam a oportunidade de
ser legalmente introduzidos em resultado do sismo de Molise em 2002, com a introdução da
norma italiana OPCM 3274/2003 e sua revisão OPCM 3431/2005.
No que respeita às estruturas em alvenaria, a norma italiana OPCM 3431/2005
incorporou o conhecimento acumulado em Itália deste a introdução do método POR,
introduzindo conceitos modernos de análise e dimensionamento, particularmente através da
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
58
especificação de uma análise estática não linear para verificação de segurança com base no
desempenho. Os novos conceitos de análise são, no entanto, difíceis de implementar
diretamente pelo projetista, pelo que é reconhecida a necessidade de disponibilizar
ferramentas para a sua aplicação no cálculo estrutural. Desta forma, foram estabelecidos
protocolos entre o meio académico-científico e a indústria para o desenvolvimento destas
ferramentas. Os programas de cálculo que em seguida se apresentam e comparam, visando o
estabelecimento de um referencial para a sua aplicação e desenvolvimento, são exemplos
destas ferramentas.
3.1 ANDILWall/SAM II
O ANDILWall (versão 2.5.1) é um software comercial para a análise estrutural de
edifícios em alvenaria resistente simples, armada ou mista com alvenaria-betão armado, o
qual incorpora o código de cálculo para análise estática não linear SAM II (Magenes et al.,
2006), versão ampliada do SAM (Magenes e Della Fontana, 1998). Este programa foi
promovido e desenvolvido pela ANDIL Assolaterizi (Associação Italiana dos Industriais de
Cerâmica) em colaboração com a CR Soft srl, o EUCENTRE e a Universidade de Pavia.
Neste software, a estrutura em alvenaria é idealizada como um conjunto de barras
equivalentes aos painéis, o qual é apto para simular a resposta tridimensional do edifício.
O macro-elemento e a discretização usados, assim como as hipóteses de base para o
modelo foram já abordados na Secção 2.2.3, apresentando-se agora os principais aspetos da
modelação, análise e interpretação de resultados no campo tridimensional. O programa inclui
um pré-processador do input da geometria (definida através de desenhos bidimensionais em
formato DXF), que gera automaticamente um modelo tridimensional. Seguidamente, é gerado
o assemblado espacial de barras equivalente, o qual é utilizado na análise pushover para
verificação da segurança global do edifício com base em deslocamentos. É ainda possível
efetuar uma verificação de segurança local das paredes fora do plano.
Na fase de pré-processamento é ainda requerida a introdução dos parâmetros
necessários à definição dos materiais, das condições de carregamento e das ações sísmicas
consideradas na análise, assim como dos parâmetros sísmicos para verificação da segurança.
Na fase de pós-processamento, a segurança da estrutura é avaliada com respeito a cada uma
das ações sísmicas consideradas, sendo possível observar para cada uma destas ações a
evolução da estrutura em termos dos esforços, do dano e das deformação locais, e do corte
basal e dos deslocamento globais.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
59
3.1.1 Modelação de Elementos Resistentes
Na Secção 2.2.3 foram já apresentados os princípios de base do método SAM II,
nomeadamente a discretização em painéis idealizados como barras equivalentes, assim como
a formulação dos seus domínios de resistência. A discretização utilizada é exemplificada na
Figura 3.1, mostrando os elementos que descrevem uma parede: nembos, lintel, viga em betão
armado e offsets rígidos. Na Figura 3.1b ilustra-se a esquematização do nó estrutural, onde a
introdução de offsets rígidos permite simular a reduzida deformabilidade daquelas zonas de
concordância.
O comprimento dos troços rígidos que estabelecem a altura efetiva dos nembos (parte
deformável identificada na Figura 3.1a como a linha mais fina) é definido pelo utilizador, para
a determinação do qual, no manual do programa (Calliari et al., 2010) é sugerida a regra de
Dolce (ver Secção 2.2.3). Por outro lado, o comprimento da zona deformável do lintel é pré-
definido pelo programa em correspondência com a largura da abertura, ainda que este possa
ser alterado pelo utilizador.
(a) (b)
Figura 3.1. Discretização de uma parede em alvenaria: (a) identificação dos elementos
estruturais e (b) esquematização de nó estrutural (Calliari et al., 2010)
O modelo estrutural é baseado na definição de uma planta estrutural do edifício, a qual
identifica os elementos resistentes e obedece a uma convenção que procura obter a melhor
estimativa para a rigidez e a resistência do conjunto estrutural. Na Figura 3.2 é apresentado
um exemplo que ilustra esta convenção, nomeadamente a representação dos cruzamentos, a
qual se baseia na interseção das secções pelos seus eixos baricêntricos. Em correspondência
com a planta estrutural, são definidas na Figura 3.3a, sobre os eixos das paredes, as posições
nó
viga em b.a.
nembo
lintel
offsets rígidos
offset rígido
lintel
nembo
viga em b.a.
nó estrutural
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
60
dos diferentes tipos de nós estruturais: (1) arranque de nembos, (2) interseção de nembos e
(3) interseção de vigas e nembo. Na Figura 3.3b representam-se em planta os elementos
rígidos horizontais, cuja definição depende dos nós adjacentes, e as vigas.
(a) (b)
Figura 3.2. Plantas (a) arquitetónica e (b) estrutural de moradia (Calliari et al., 2010)
(a) (b)
Figura 3.3. Plantas com identificação de (a) nós estruturais e (b) elementos horizontais
(Calliari et al., 2010)
vig
a
vig
a
vig
a
vig
a
vig
a
viga viga viga
viga viga
viga
viga viga
Dp. WC
Quarto Quarto
Quarto
Cozinha
WC
Sala de estar
Dp.
(1)
(2)
(3)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
61
A modelação dos elementos resistentes requer a definição das propriedades mecânicas
dos seus materiais. Se as propriedades de elementos em betão armado são de conhecimento
comum, já as propriedades para a alvenaria revestem-se da especificidade apresentada na
Tabela 3.1. Note-se que o programa, em correspondência com alguns dos valores
característicos definidos, requer a definição dos respetivos valores médios, os quais são, de
acordo com a norma italiana NTC 2008, e para o caso de análise estática não linear, tidos
como os valores de cálculo. Por defeito, os valores médios são obtidos dividindo os valores
característicos por 0.7.
Tabela 3.1. Propriedades para definição de um material do tipo alvenaria no ANDILWall
Símbolo Descrição Valor recomendado
Peso Peso volúmico da alvenaria -
Stress block Coeficiente de redução da resistência à compressão pela assunção de um
bloco retangular de tensões na zona comprimida 0.85
fk Resistência característica à compressão da alvenaria na direção vertical -
fhk Resistência característica à compressão da alvenaria na direção horizont. -
fbk Resistência característica à compressão do bloco na direção vertical -
f’bk Resistência característica à compressão do bloco na direção horizontal -
ftk Resistência característica à tração da alvenaria por fissuração diagonal 1.5τ0k (1)
fvk0 Resistência característica ao corte da alvenaria sob compressão axial
nula para os nembos de alvenaria -
fvhk0 Resistência característica ao corte da alvenaria sob compressão axial
nula para os lintéis de alvenaria -
fvd,lim Valor limite da resistência ao corte da alvenaria 2.2 MPa (NTC 2008)
Coefficiente
attrito
Coeficiente de atrito a utilizar na avaliação da resistência ao corte da
alvenaria submetida a carga axial de compressão 0.4 (NTC 2008)
E Módulo de elasticidade longitudinal da alvenaria 1000 fk (2)
G Módulo de elasticidade transversal da alvenaria 0.4E (2)
Eh/E
Parâmetro adimensional correspondente ao fator de endurecimento do
ramo plástico da lei constitutiva do material, com respeito ao
comportamento em flexão (Fig. 3.4a)
-
Gh/G
Parâmetro adimensional correspondente ao fator de endurecimento do
ramo plástico da lei constitutiva do material, com respeito ao comportamento por corte
-
Rottura a
taglio
Código que identifica o mecanismo de rotura por corte previsto para o
nembo de alvenaria: 0 = infinitamente resistente, 1 = deslizamento, 2 =
fissuração diagonal, 3 = deslizamento e fissuração diagonal
1 (edifícios novos)
2 (edifícios existentes)
segundo a NTC 2008
Comportam.
elem. maschio
Código que identifica o comportamento por flexão composta e por corte
previsto para o nembo de alvenaria: 0 = elástico linear, 1 = não linear -
Comportam.
elem. fascia a
fless.
Código que identifica o comportamento por flexão composta para o lintel
de alvenaria: 0 = elástico linear, 1 = não linear -
Comportam.
elem. fascia a
taglio
Código que identifica o comportamento por corte para o lintel de
alvenaria: 0 = elástico linear, 1 = não linear -
kkr
Parâmetro adimensional (α na Fig. 3.4b, cujo valor pode variar entre 0 e
1) que identifica a resistência residual para comportamento elasto-plasto-
frágil do lintel de alvenaria
-
Eps ult Valor percentual da extensão axial última 0.35%
(1) τ0k é o valor característico da resistência ao corte de referência definido na norma italiana OPCM 3431/2005.
(2) Valor recomendado na falta de determinação experimental.
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
62
(a) (b)
Figura 3.4. Leis materiais (a) elasto-plástica com endurecimento para o comportamento à
flexão e (b) elasto-plasto-frágil para o comportamento ao corte
Para além das propriedades específicas de cada tipo de alvenaria, existem outras
propriedades que são comuns aos diferentes tipos, particularmente os drifts limites destacados
na Figura 3.5, com os valores regulamentares para edifícios de construção nova. É ainda
definido um fator de redução da rigidez por flexão e por corte dos elementos estruturais
(coefficiente di fessurazione), para o qual a NTC 2008 define um valor de 0.5 na ausência de
valores conhecidos. Os restantes parâmetros apresentados na Figura 3.5 serão abordados à
frente.
Figura 3.5. Janela de definição de parâmetros globais no ambiente do ANDILWall
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
63
3.1.2 Modelação de Pavimentos
A atual versão do programa permite a modelação dos pavimentos apenas como
diafragmas rígidos, facto que pode não ser uma limitação no caso do cálculo de edifícios
novos, uma vez que as soluções correntemente adotadas para as lajes apresentam elevada
rigidez no seu plano. Em particular, a norma italiana NTC 2008, estabelece como condição
para hipótese de pavimentos infinitamente rígidos no seu plano, a sua construção em betão
armado, em laje aligeirada de vigotas na qual seja incluída uma lajeta de compressão de pelo
menos 40 mm de espessura (Fig. 3.6), ou em solução mista de pavimento em aço ou em
madeira com lajeta de compressão com pelo menos 50 mm de espessura ligada por conetores
aos elementos estruturais. Por outro lado, especifica-se que as aberturas presentes não devem
reduzir significativamente a rigidez.
Figura 3.6. Regras construtivas para lajes aligeiradas de vigotas (Magenes e Morandi, 2006)
A distribuição das cargas verticais nas paredes é feita pelo utilizador, que necessita de
subdividir as áreas de influência dos pavimentos, tal como conceptualmente ilustrado na
Figura 3.7a e exemplificado na planta na Figura 3.8. Tal procedimento é baseado na
distribuição das lajes pelas paredes segundo linhas a 45º, sendo sempre considerada uma faixa
de carregamento nas paredes de contraventamento. No que respeita à afetação de massas em
altura, com referência à Figura 3.7b, esta é feita assumindo que a massa da meia-altura
inferior do rés-do-chão é absorvida pelo terreno, e que os pisos elevados concentram a massa
dos respetivos pavimentos acrescida da proveniente da meia-altura das paredes nos pisos
adjacentes.
laje rasa lajeta de
betão
abobadilhas
categoria “A”
abobadilhas
categoria “B”
lajeta reforçada
da abobadilha
i ≤ 15 s (lajeta em betão)
i ≤ 15 t (lajeta reforçada na abobadilha)
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
64
(a) (b)
Figura 3.7. Exemplos de subdivisão das áreas de influência (a) em planta e (b) em altura
(Calliari et al., 2010)
Figura 3.8. Input DXF de planta estrutural (Calliari et al., 2010)
3.1.3 Modelação Espacial
O macro-elemento bidimensional é dotado de propriedades equivalentes ao painel que
este visa simular e é posicionado em correspondência com as extremidades do painel ao longo
do seu eixo baricêntrico, tal como ilustrado na Figura 3.9a. O tipo de modelação espacial
laje de teto
área de
influência
do 2.º piso
área de
influência
do 1.º piso
parte da
estrutura
absorvida
pelo terreno
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
65
empregue é análogo ao usado na análise de estruturas porticadas tridimensionais, onde se
consideram seis graus de liberdade por extremidade do elemento em correspondência com os
seis graus de liberdade generalizados, sendo desta forma, o número de graus de liberdade de
cada elemento de doze (Fig. 3.9b).
Assim, o modelo espacial de cálculo usado no ANDILWall é gerado automaticamente
a partir do respetivo modelo geométrico (Fig. 3.10a), consistindo de um assemblado de barras
verticais (nembos de alvenaria) e horizontais (lintéis de alvenaria e vigas em b.a.) ligadas por
offsets rígidos, tal como exemplificado na Figura 3.10b. A solução do problema de análise
estrutural é depois obtida através de uma formulação matricial.
Figura 3.9. Ilustração (a) do referencial local para um elemento de alvenaria de eixo vertical
(Calliari et al., 2010) e (b) dos graus de liberdade de cada nó
(a) (b)
Figura 3.10. Modelos (a) 3D geométrico e (b) de assemblado equivalente de edifício
i
δx’
δy’
δz’
θx’
θy
’
θz’
j
(a) (b)
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
66
3.1.4 Procedimento Computacional de Análise
O código de cálculo SAM II, integrado no ANDILWall, efetua a análise estática não
linear usando como procedimento de solução o método de Newton-Raphson com arc-length.
Deste modo, a análise é feita automaticamente com controlo misto de força e deslocamento, o
qual resulta mais eficiente do que se fosse considerado apenas com controlo de força (Calliari
et al., 2010). Os parâmetros para o algoritmo de solução podem ser definidos pelo utilizador,
tal como ilustrado na parte inferior da faixa central da janela na Figura 3.5.
A análise é feita por incrementos de carga sucessivos. Para cada incremento de carga,
obtém-se a solução do problema em iterações sucessivas, em termos do multiplicador das
forças horizontais e dos valores dos deslocamentos generalizados associados aos graus de
liberdade nodais. Definindo, então, o escalar α como multiplicador do vetor das forças
horizontais fh (a força vertical fv é mantida constante durante toda a análise), o vetor fh,n
define-se, para cada n.mo
passo de carga genérico, como fh,n = αn · fh, sendo fh o vetor das
forças horizontais de referência correspondente a α = 1.
Com referência à Figura 3.11a, para um n.mo
passo de carga genérico, as componentes
fhi,n = αn · fh
i do vetor das forças horizontais fh,n, correspondente às forças horizontais aplicadas
aos pavimentos da estrutura, são definidas com base na distribuição de forças em altura na
quota-parte do corte basal. Sendo u o vetor dos deslocamentos incógnitas do problema e P(u)
o vetor das forças internas da estrutura, e identificando o passo de carga em índice e a iteração
em expoente, o procedimento de solução é ilustrado na Figura 3.11b para o caso
monodimensional correspondente ao problema com um único grau de liberdade.
Figura 3.11. Ilustração da (a) distribuição de forças sobre edifício e (b) procedimento de
solução de Newton-Raphson com estratégia arc-length numa dimensão (Calliari et al., 2010)
iteração 1
iteração 3
iteração 2
arco
solução equilibrada anterior
carga balanceada
nova solução
equilibrada
(a) (b)
h
h
h
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
67
3.1.5 Verificação da Segurança
O ALDILWall verifica a segurança global dos edifícios nas suas duas direções
ortogonais principais, considerando a atuação das forças sísmicas com uma excentricidade
acidental quer positiva quer negativa (Fig. 3.12a). A excentricidade acidental é assumida igual
a 5% da dimensão em planta perpendicular à direção estudada. Nesta análise são ainda
consideradas duas distribuições principais da força sísmica em altura: uma proporcional à
massa (distribuição uniforme) e outra proporcional ao primeiro modo de vibração na direção
considerada (distribuição modal), como é apresentado na terceira faixa da janela na Figura 3.5.
A verificação de segurança é realizada com base no procedimento N2 (ver Secção
2.1.2) para análise estática não linear (pushover). Este procedimento baseia-se na avaliação do
desempenho sísmico da estrutura com base em deslocamentos, verificando que a exigência
sísmica em termos de um deslocamento-alvo determinado a partir do espetro de resposta
elástica, não ultrapassa os deslocamentos permitidos para o edifício nos estados limites último
e de dano, determinados sobre a curva de capacidade, tal como ilustrado na Figura 3.12b.
(a) (b)
Figura 3.12. Análise pushover: (a) direções a considerar e (b) entidades da curva de
capacidade
Desta forma, em correspondência com cada uma das análises efetuadas, devem ser
realizadas duas verificações:
1.ª) para Estado Limite Último (ELU), garantindo que
Dmáx ≤ Du e q* < 3
necessidade de deslocamento para Estado Limite de Dano
deslocamento correspondente a q* = 3
DESLOCAMENTO
CO
RT
E B
AS
AL
curva corte basal-deslocamento
relação bilinear idealizada
passo de carga genérico
capacidade de deslocamento para Estado Limite de Dano
capacidade de deslocamento para Estado Limite Último
necessidade de deslocamento para Estado Limite Último
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
68
onde Dmáx é o deslocamento-alvo para ELU, calculado em função do espetro de resposta
elástica; Du é o deslocamento máximo oferecido pela estrutura, em correspondência com um
decaimento de 20% do valor máximo do corte basal sobre a curva de capacidade; q* é a
relação entre a força de resposta elástica e a força de cedência do sistema equivalente com um
grau de liberdade. Note-se que a condição de q* representa uma limitação à ductilidade do
sistema estrutural no seu conjunto.
2.ª) para Estado Limite de Dano (ELD), garantindo que
Dmáx, ELD ≤ Dd
onde Dmáx, ELD é o deslocamento-alvo para ELD, calculado tal como para Dmáx, mas assumindo
a aceleração de cálculo com um valor ag, ELD = ag/2.5; Dd é o deslocamento máximo da
estrutura para ELD, correspondente ao menor valor entre aquele associado ao corte basal
máximo e aquele que provoca a superação do drift máximo de piso (usualmente 0.3%).
Salienta-se que a norma italiana NTC 2008 especifica um conjunto mais alargado de
estados limites, considerando nomeadamente os estados limites de serviço com respeito à
operacionalidade (ELO) e ao dano da estrutura (ELD), e os estados limites últimos de
salvaguarda de vidas (ELV) e de prevenção do colapso da estrutura (ELC). Tais estados
limites são definidos em correspondência com uma determinada probabilidade de excedência
no período de retorno considerado, e aos quais são associados espetros de resposta em
consonância. No entanto, sob o ponto de vista prático, a verificação da segurança continua a
ser condicionada essencialmente pelo ELD e pelo ELV, sendo este último equivalente ao
ELU definido na normativa italiana precedente.
Para além da apresentação sintética dos parâmetros que controlam a verificação da
segurança, o output do ANDILWall permite observar a evolução dos esforços, da deformação
e do dano nos elementos estruturais, bem como da deformada e do corte basal do edifício.
Ainda que a verificação da segurança sísmica seja baseada essencialmente na resposta global
em termos de deformação, representada na curva de capacidade, o controlo da resposta dos
elementos estruturais pode revelar-se útil no sentido de melhorar a resposta sísmica do
edifício. Na Figura 3.13 é exemplificado o output de resultados no ambiente do ANDILWall,
nomeadamente o quadro de verificação da segurança, e a deformada do edifício e a
identificação de elementos danificados, em correspondência com determinado passo de carga.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
69
(b) (c)
Figura 3.13. Exemplos do output do ANDILWall: (a) quadro de verificação da segurança,
(b) deformada e (c) colorido de elementos danificados do edifício
As soluções adotadas para os pavimentos de edifícios modernos em alvenaria,
nomeadamente o uso de lajes rígidas e de elementos de ligação destas às paredes, conferem ao
edifício um comportamento de “caixa”, o qual inibe de certa forma a ativação de mecanismos
fora do plano. As paredes de alvenaria podem, no entanto, como consequência da sua
significativa esbeltez e da reduzida resistência à tração, ser sensíveis aos efeitos de segunda
ordem no confronto das ações fora do plano. Na normativa europeia e mesmo na italiana, não
são apresentados métodos que permitam considerar os efeitos de segunda ordem na avaliação
da resistência de uma parede de alvenaria, de forma explícita, na sua análise face a uma ação
sísmica. No ANDILWall, a verificação fora do plano é baseada num procedimento
simplificado para a avaliação de tais efeitos, desenvolvido por Morandi et al. (2008).
A avaliação dos efeitos de segunda ordem é baseada no modelo apresentado na Figura
3.14a, onde a parede é submetida a uma ação sísmica ortogonal, a qual pode ser assumida
com um valor igual ao produto do peso da parede por metro de altura pela aceleração máxima
(a)
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
70
sobre o painel, reduzido por um coeficiente de comportamento. Neste modelo é considerada
uma lei constitutiva não linear para a alvenaria e assume-se, conservadoramente, que o
deslocamento ∆ é proporcional à curvatura na forma ·∆fiss/ fiss, onde ∆fiss e fiss representam
respetivamente o deslocamento e a curvatura de fissuração.
O procedimento proposto por Morandi et al. (2008) adota um coeficiente redutivo dos
momentos resistentes de primeira ordem, que considera os efeitos de segunda ordem em
função da esbeltez da parede, da carga vertical adimensional e do módulo de elasticidade da
alvenaria. Este coeficiente é calculado como a relação entre o valor máximo do momento
sobre a curva que representa o momento resistente considerando os efeitos de segunda ordem
em função do deslocamento a meia-altura da parede (M∆-∆, exemplificada na Fig. 3.14b), e o
momento último resistente de primeira ordem calculado como:
12 0 85
,.
u fp
d
R t RM
f t d
(3.1)
onde R é a resultante das forças de compressão que atua na metade superior da parede
calculada como N + W/2 (N é a ação vertical no topo da parede e W é o peso da parede), t e d
são respetivamente a espessura e o comprimento da parede, e fd é a resistência à compressão
de cálculo da alvenaria.
(a) (b)
Figura 3.14. Avaliação da resposta fora do plano de parede em alvenaria: (a) modelo
considerado e (b) curva momento-deslocamento a meia-altura da parede (Morandi et al., 2008)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
71
3.2 3Muri
O 3Muri (versão 4.0.3) tem vindo a ser desenvolvido, pela STA Data em cooperação
com a Universidade de Génova, como um software para a análise estrutural e verificação da
segurança de edifícios em alvenaria simples, armada ou mista com alvenaria/b.a./aço/madeira
e reforçada com FRPs. Esta versão comercial aparece na sequência do desenvolvimento da
versão científica TreMuri (Galasco et al., 2009), que por sua vez resulta da generalização ao
campo tridimensional de modelos planos desenvolvidos anteriormente, descritos na Secção
2.2.3. A versão comercial promove a verificação da segurança sísmica com base numa análise
estática não linear (pushover), realizando igualmente análise modal. Por outro lado, a versão
científica permite também efetuar análise dinâmica com integração no tempo.
Este programa tem como referência regulamentar, para além da normativa italiana, o
Eurocódigo 8 (IPQ, 2010), existindo mesmo uma versão do programa com interface em inglês.
O 3Muri está desta forma apto a ser empregue no projeto sísmico de edifícios em alvenaria,
nos países aderentes às normas do Comité Europeu de Normalização. Este programa é visto
por muitos como uma “caixa negra”, pretendendo-se por esta razão contribuir para a
dissecação das suas assunções e procedimentos, e por outro lado avaliar a sua fiabilidade
comparativamente a resultados experimentais e previsões de outros programas.
3.2.1 Modelação de Elementos Resistentes
Para além da descrição efetuada na Secção 2.2.3, apresentam-se agora os aspetos
essenciais da modelação estrutural dos elementos unidimensionais considerados no 3Muri. O
macro-elemento utilizado é inspirado no elemento proposto originalmente por Gambarotta e
Lagomarsino (1996), o qual permite, com um número reduzido de graus de liberdade (8 g.l.),
representar os dois principais modos de colapso no plano dos painéis: flexão-rocking e corte-
deslizamento. Este modelo considera, através de variáveis internas, a evolução do dano por
corte-deslizamento, a qual controla a deterioração de resistência (amolecimento) e a
degradação de rigidez. A formulação do modelo e dos critérios de resistência considerados
tem evoluído na sequência de estudos sucessivos (Penna, 2002; Galasco et al., 2004; Galasco
et al., 2006; Cattari, 2007).
Neste modelo, o comportamento axial é baseado na cinemática da junta de
extremidade do macro-elemento, considerando as relações que associam a força normal de
compressão N e o momento M às componentes de deslocamento w e φ, e que derivam
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
72
diretamente das equações elásticas. Na Figura 3.15a é apresentada a cinemática do caso axial
elástico, para a qual o centro de pressão está situado dentro do núcleo central, não se
verificando assim a redução da secção de extremidade do painel, e apresentando os esforços e
deslocamentos uma relação linear desacoplada. A secção efetiva fica reduzida sempre que a
resultante das ações sai fora do núcleo central (Fig. 3.15b), o que, assumindo uma secção
retangular, ocorre se |M|/|N| ≤ 6, ou em termos cinemáticos (assumindo que o painel não reage
à tração): |φ| ≤ -2w/b em que a rotação φ aumenta linearmente com o deslocamento vertical w.
(a) (b)
Figura 3.15. Cinemática dos casos (a) axial elástico e (b) com secção efetiva reduzida
Na simulação do comportamento cíclico por corte admite-se que a deformabilidade
por corte e os fenómenos de deslizamento e degradação estão concentrados no módulo central
do macro-elemento. A resistência do painel é fornecida pela reação total por atrito f (no
máximo igual a μN) nos planos horizontais de deslizamento (juntas de argamassa), e por uma
componente de coesão entre os elementos (Tc) sujeita a uma degradação até à rotura. Desta
forma, atingida a força máxima de atrito μN, é iniciado um deslizamento γ, que se soma à
componente elástica ue. A componente de deformação γ está associada à força coesiva Tc, e é
controlada por um parâmetro de degradação α cujo valor é nulo enquanto não existir dano, e
que aumenta com a degradação até atingir o valor 1 em correspondência com a resistência
máxima. As componentes de resistência e de deformação referidas são ilustradas na Figura
3.16a para um ciclo completo de carga-descarga.
O deslizamento γ é então determinado através de uma relação de modelo material para
materiais frágeis e integrada a nível macroscópico γ = k(α) Tc, onde k(α) é uma função de
formulação complexa. Para esta função pode, no entanto, assumir-se a relação linear
k(α) = ct h α/A, onde ct é o módulo de deformabilidade ao corte do material, h é a altura do
painel e A é a área da sua secção transversal. Por outro lado, o parâmetro α está associado com
a energia dissipada relativamente ao sistema elástico, através de uma função de tenacidade
R(α) que possui o andamento ilustrado na Figura 3.16b.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
73
(a) (b)
Figura 3.16. Comportamento ao corte: (a) ciclo de carga-descarga e (b) andamento da função
de tenacidade R(α) (adaptado de Penna (2002))
Na evolução do modelo relativamente aquele originalmente proposto por Gambarotta
e Lagomarsino (1996), é de destacar o modelo fenomenológico desenvolvido por Penna (2002)
que considera a degradação por compressão do painel, nomeadamente o esmagamento dos
seus cantos comprimidos pois, antes disso, era assumida resistência infinita à compressão.
Penna (2002) assumiu, para o comportamento axial, o macro-elemento constituído por fibras
longitudinais, com uma lei não linear para cada fibra do tipo mostrado na Figura 3.17a. Esta
lei considera a degradação da rigidez devido à compressão, a qual, a partir do momento em
que é atingido o deslocamento axial limiar wR em correspondência com a resistência à
compressão σR, é assumida como a rigidez secante correspondente ao estado máximo de
deslocamento a que a fibra é sujeita.
(a) (b)
Figura 3.17. Comportamento à compressão de painel: (a) lei de fibra com degradação de
rigidez e (b) estado de tensão e deslocamento em condição de não linearidade
β
α α 1 (α)=
α α 1
sendo β o parâmetro de
amolecimento
máx
máx
RR
R
1
, sendo 2
a resistência ao corte pura
tmáx k k
R c h
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
74
Na Figura 3.17b é ilustrado o estado de tensão e deslocamento em condição de não
linearidade, onde ζb é a medida da porção de secção envolvida na não linearidade e wmax é o
deslocamento axial máximo na fibra externa em correspondência com a ductilidade μ
requerida. A tensão axial apresenta um andamento linear na zona não plastificada, e por
consequência da rigidez degradada das fibras interessadas na não linearidade, um andamento
mais complexo na zona plástica. A formulação, quer da rigidez de fibra degradada, quer da
tensão axial é apresentada em Penna (2002). No entanto, com base num processo de
linearização na zona plástica, é possível definir um procedimento de correção não linear dos
valores das características de solicitação obtidas com a lei elástica não reagente à tração:
μ 1ζ
μ
elástico elásticoN N N N k bswmax
*
(3.2)
ζ 1
3 2
elásticoM M bN *
(3.3)
onde k é a rigidez axial elástica. Segundo Penna (2002), tal formulação tem particular
influência na resposta por rocking de painéis esbeltos, manifestando-se numa progressiva
degradação de rigidez e numa menor capacidade resistente.
Voltando ao software, no 3Muri é estabelecida uma convenção para a definição dos
alinhamentos de paredes, os quais são a base para a discretização de painéis de alvenaria,
vigas em betão armado e outros elementos. Tal convenção é ilustrada na Figura 3.18, onde se
observa que os alinhamentos de paredes devem ser individualizados com a mesma tangente;
caso não exista continuidade vertical entre pisos de paredes sobre o mesmo alinhamento,
múltiplas paredes podem ser divididas sobre a mesma tangente. Por outro lado, em função do
tipo de interseção entre paredes, três tipos de nós são considerados: (1) interseção de paredes
em L, (2) interseção de paredes em T e (3) cruzamento de paredes, os quais influenciam a
discretização em macro-elementos.
Um dos aspetos principais da modelação no 3Muri é a definição da malha segundo a
qual os esforços são distribuídos entre painéis. Tal aspeto é exemplificado na Figura 3.19,
onde é apresentada uma parede genérica, com uma abertura que determina um mapa de
tensões particular, e o correspondente modelo simplificado considerado no 3Muri, no qual as
linhas descontínuas reproduzem o fluxo de esforços que atuam sobre os diferentes elementos
que formam a “malha equivalente”.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
75
(a)
(b) (c)
Figura 3.18. Convenção para a discretização de paredes: (a) planta de edifício, (b) definição
de alinhamentos de paredes e (c) tipos de nós (STA Data, 2009)
(a) (b)
Figura 3.19. Representação do (a) fluxo de tensões numa parede com abertura e (b) respetivo
modelo simplificado no 3Muri (STA Data, 2009)
(1)
(2)
(3)
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
76
Se no ANDILWall a definição paramétrica da alvenaria é extensa, no caso do 3Muri, o
número de parâmetros a definir pelo utilizador é mais reduzido, na medida em que alguns
parâmetros resultam de hipóteses assumidas pelo programa. Os parâmetros requeridos para a
definição do material de alvenaria são apresentados na Tabela 3.2. Note-se que a definição
paramétrica para caraterização da resistência ao corte da alvenaria, assim como a hipótese do
modo de colapso por corte, dependem do facto de se tratar de alvenaria nova ou existente, de
acordo com a normativa italiana. Enquanto que, no primeiro caso (corte por deslizamento),
são definidos os valores de fvm0 e fv,lim admitindo um critério de resistência do tipo Mohr-
Coulomb com secção reduzida, já no segundo caso (corte por fissuração diagonal) é apenas
definido o valor de τ, de acordo com o critério de resistência de Turnšek-Čačovič.
Por outro lado, a versão científica do programa (TreMuri) permite a definição
personalizada de parâmetros pré-estabelecidos na versão comercial. Muito em particular,
enquanto que a versão comercial do programa assume exclusivamente uma resposta bilinear a
cargas laterais para o painel de alvenaria, ao abrigo da norma italiana NTC 2008 e do
Eurocódigo 8, a versão científica permite também a definição do modelo de resposta proposto
por Gambarotta e Lagomarsino (1996).
Tabela 3.2. Propriedades para definição de um material do tipo alvenaria no 3Muri
Versão Símbolo Descrição Valor recomendado
Co
mer
cial
w Peso volúmico da alvenaria -
fm Resistência média à compressão da alvenaria -
fvm0 Resistência média ao corte da alvenaria sob compressão nula -
fv,lim Valor limite da resistência ao corte da alvenaria 2.2 MPa (NTC 2008)
τ Valor médio da resistência ao corte de referência da alvenaria ver OPCM 3431/2005
E Módulo de elasticidade longitudinal da alvenaria 1000 fk (1)
G Módulo de elasticidade transversal da alvenaria 0.4E (1)
Cie
ntí
fica
Shear
mode
Código que estabelece o critério de rotura por corte: 0 = Turnšek-
Čačovič, 1 = Mohr-Coulomb (considerando a área de corte
efetiva), 2 = Mohr-Coulomb (considerando a área integral)
1 (edifícios novos)
0 (edifícios existentes)
segundo a NTC 2008
Gc Parâmetro de deformabilidade não linear G×c, com c = ct h/A sendo ct o módulo de deformabilidade ao corte da alvenaria
4-9G (2)
δv Drift último por corte para o painel de alvenaria 0.4%
δr Drift último por rocking para o painel de alvenaria 0.8% (alvenaria nova)
μ Ângulo de atrito 0.4 (NTC 2008)
β Parâmetro de amolecimento 0-0.8 (2)
(1) Valor recomendado na falta de determinação experimental pela NTC 2008 e pelo Eurocódigo 6 (CEN, 2005).
(2) Os valores de c e de β são de difícil avaliação, os quais devem ser baseados em evidência experimental.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
77
3.2.2 Modelação de Pavimentos
Neste caso, os pavimentos são modelados com elementos finitos de membrana
ortotrópicos com 3-4 nós em estado plano de tensão, que influenciam a repartição das ações
horizontais entre as paredes. O elemento de 4 nós é obtido como média do contributo dos dois
elementos de três nós em que é possível subdividir o quadrilátero (Fig. 3.20). Este tipo de
estratégia permite modelar pavimentos com forma quadrangular irregular e com qualquer
direção de funcionamento, usando um único elemento. Na Figura 3.21 pode observar-se a
estratégia de modelação de um pavimento, através da triangulação com elementos de 3 nós.
Figura 3.20. Elemento finito de 4 nós para o modelo de pavimento (Penna, 2002)
Figura 3.21. Exemplo de modelo de pavimento com elementos triangulares
Em correspondência com o tipo de pavimento selecionado, e de entre as opções
ilustradas na Figura 3.22, o programa calcula as propriedades que influenciam a
deformabilidade da laje, nomeadamente os módulos de elasticidade longitudinais (E1 e E2) e
transversal (G2,1). Enquanto que E1 e E2 traduzem o grau de ligação do pavimento às paredes,
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
78
G1,2 representa por sua vez a rigidez ao corte do pavimento no seu plano, da qual depende a
repartição das ações horizontais entre as paredes, tal como exemplificado na Figura 3.23.
(a) (b) (c) (d)
Figura 3.22. Pavimentos constituídos por: (a) madeira-betão, (b) perfis metálicos-betão,
(c) perfis metálicos-abóbadas-betão e (d) vigotas-abobadilhas-betão (STA Data, 2009)
(a) (b)
Figura 3.23. Comportamentos de (a) pavimento rígido e de (b) pavimento flexível
Com respeito à definição do carregamento da laje, o programa requer a definição do
seu tipo de funcionamento (unidirecional ou bidirecional), através da indicação da
percentagem de carga a afetar a cada direção. Por exemplo, se no caso de uma laje
bidirecional em betão armado será de admitir uma repartição uniforme da carga pelas paredes
nas duas direções, no caso de uma laje aligeirada a maior parte da laje será descarregada nas
paredes ortogonais às vigotas, sendo no entanto aconselhável considerar uma faixa de
descarga nas paredes de contraventamento (10 a 20%), tal como destacado na Figura 3.24.
O efeito da massa distribuída dos elementos horizontais em termos das ações
transmitidas aos nós é calculado com base numa discretização em faixas, tal como ilustrado
na Figura 3.25, onde a porção de massa mk provoca ações diferentes sobre os nós i e j,
conforme a sua posição seja sobre um elemento deformável ou sobre um troço rígido. As
ações sobre os nós são calculadas assumindo um diagrama de viga bi-encastrada devido a
uma carga pontual (mk), as quais podem ser adicionadas pela regra de sobreposição.
1/4F 1/2F 1/4F 1/3F 1/3F 1/3F
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
79
Figura 3.24. Exemplificação do input do 3Muri para definição de um pavimento
Figura 3.25. Discretização da massa de pavimento para o cálculo das suas ações sobre os nós
3.2.3 Modelação Espacial
O 3Muri usa um sistema coordenado cartesiano global (X, Y, Z), sendo os planos
verticais de parede identificados pelas coordenadas de um ponto e pelo ângulo formado com o
eixo dos X (Fig. 3.26a). Desta forma, as paredes podem ser modeladas como estruturas planas
no sistema de coordenadas local, e os seus nós internos podem ser definidos como nós
bidimensionais com 3 graus de liberdade.
Por outro lado, a conexão de diferentes paredes nos cantos e em interseções é feita
através de nós tridimensionais que possuem 5 g.l. no sistema coordenado global (uX, uY, uZ,
rotX, rotY), sendo que o grau de liberdade rotacional em torno do eixo vertical dos Z pode ser
desprezado em função do comportamento de membrana adotado para paredes e pavimentos.
Estes nós são obtidos assemblando nós rígidos bidimensionais atuando em cada plano de
parede (Fig. 3.26b) e projetando os graus de liberdade locais ao longo dos eixos globais.
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
80
(a) (b) (c)
Figura 3.26. Esquema de: (a) nós 2D e 3D, (b) graus de liberdade de nó 3D e (c) repartição
de massa fora do plano
No esquema considerado, a massa afeta aos nós bidimensionais é partilhada pelos nós
tridimensionais adjacentes, de modo a projetar a massa pelas paredes ortogonais (Fig. 3.26c).
A matriz de inércia global é obtida através da assemblagem das matrizes das paredes
individuais, e tem em conta a massa (própria ou suportada) transferida pelos pavimentos, em
correspondência com a sua direção de funcionamento, aos nós bidimensionais ou
tridimensionais com uma eventual excentricidade horizontal no plano das paredes.
A malha tridimensional (Fig. 3.27a) usada na análise é gerada automaticamente pelo
programa, para a qual o 3Muri procura garantir as ligações dos nós estruturais pelos
elementos, de modo a simular a melhor aproximação à transferência de esforços, como
exemplificado na Figura 3.27b. No entanto, a malha gerada é editável pelo utilizador, o que
lhe permite, para além de alterar a dimensão e posição dos macro-elementos, mudar os nós de
ligação de cada macro-elemento no assemblado de cada parede.
(a) (b)
Figura 3.27. Malha (a) tridimensional de edifício e (b) bidimensional de sua fachada
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
81
3.2.4. Procedimento Computacional de Análise
O procedimento de análise é baseado no equilíbrio do assemblado tridimensional,
usando uma formulação matricial e o método incremental-iterativo de Newton-Raphson
modificado. Em tal procedimento, os deslocamentos elásticos esperados num dado passo de
carga são repetidamente atualizados através de incrementos não lineares devido a forças
nodais residuais. As variáveis internas (variável de dano αk e ação de atrito fk) de cada
elemento k são atualizadas por integração das equações constitutivas não lineares em cada
passo de carga.
As análises não lineares podem ser implementadas com controlo de força ou de
deslocamento. No entanto, a fase de decaimento após a resistência máxima apenas pode ser
simulada com controlo de deslocamento, pois atingida aquela resistência os elementos não
podem suportar incrementos de carga, podendo no entanto suportar posteriores deformações
sob a condição de reduzir as forças aplicadas (Fig. 3.28). A versão científica do programa
permite ainda realizar análise dinâmica com integração no tempo pelo método de Newmark
com amortecimento viscoso de Rayleigh.
Figura 3.28. Curva força-deslocamento com controlo de força e de deslocamento
O algoritmo de análise pushover transforma o problema de carregamento horizontal de
uma estrutura com uma distribuição constante de forças, numa análise estática incremental
equivalente com controlo da resposta em deslocamento de um grau de liberdade. No caso do
problema pushover, a formulação geral pode ser representada pelo sistema de equações na
seguinte forma matricial:
∆d1 ∆d2
∆F2
∆F1
F
d Controlo de
força/deslocamento
∆d2
Controlo de
deslocamento
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
82
LL Lm LF L L
T T
Lm Fm
FL Fm FF F F
K k K x λf
k k λ
K k K x r
mm m mk x f (3.4)
onde Kij é uma sub-matriz de rigidez em correspondência com os graus de liberdade indicados
em índice, conforme sejam graus livres (L) ou fixos (F), m é o grau de liberdade de controlo,
x é o vetor de deslocamentos nos graus de liberdade, λfL é o vetor com as componentes
distribuídas da força horizontal nos nós livres.
Tal sistema de equações pode ser transformado, subtraindo a m.ma
linha nas primeiras
m-1, vindo então a i.ma
equação:
1 1 10... ...i i i
i m im mm m in mn n
m m m
f f fk k x k k x k k x
f f f. (3.5)
O novo sistema de equações, com uma matriz de rigidez modificada:
LL Lm LF L
T T
Lm Fm
FL Fm FF F F
K k K x 0
k k λ
K k K x r
mm m mk x f (3.6)
é então equivalente a um sistema com controlo de deslocamento, no qual o m.mo
grau de
liberdade (xm) é imposto. De modo a ser implementado o procedimento não linear, esta
formulação necessita ser reescrita, introduzindo a contribuição não linear e colocada em
forma incremental, tal como apresentado em Penna (2002).
3.2.5 Verificação da Segurança
Analogamente ao que acontece com o ANDILWall, no 3Muri, a verificação de
segurança é baseada na avaliação do desempenho global em deformação do edifício, através
do uso do procedimento N2 (ver Secção 2.1.2) para análise estática não linear. Para esta
verificação são efetuadas análises nas duas direções principais do edifício, nos seus sentidos
negativo e positivo, e considerando cenários de excentricidade acidental nula, negativa e
positiva.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
83
Também neste caso, para além da apresentação dos parâmetros gerais envolvidos na
verificação, é possível apreciar a evolução da estrutura no que respeita à variação de esforços,
deformação e dano de cada um dos seus elementos, a partir dos quais é derivada a resposta
global da estrutura. No pós-processamento o programa mostra, para cada análise, a evolução
das solicitações e do dano dos elementos no assemblado de cada parede, e a curva de
capacidade do edifício, tal como exemplificado na Figura 3.29.
Figura 3.29. Exemplos de resultados do 3Muri: dano em parede e curva de capacidade de
edifício
Neste caso, a verificação de segurança local fora do plano das paredes não é feita, mas
é realizada a verificação das paredes às ações verticais através do procedimento simplificado
proposto na norma italiana NTC 2008, o qual permite entrar em consideração com os efeitos
da excentricidade devida aos momentos induzidos, quer pela ação vertical nos pavimentos,
quer pela ação horizontal do vento.
3.3 3DMacro
O 3DMacro (versão 3.0) é um software para análise estrutural e verificação da
segurança de edifícios em alvenaria simples, mista com alvenaria/b.a./aço/madeira, confinada
e reforçada usando o sistema CAM proposto por Dolce et al. (2001), cujo motor de cálculo foi
desenvolvido inicialmente na Universidade de Catânia (Caliò et al., 2004; 2006), e
posteriormente desenvolvido e dotado de interface gráfico junto da Gruppo Sismica, visando a
sua difusão comercial. Este método inclui um modelo de interface entre elementos, estando
desta forma apto a simular a interação entre painéis de alvenaria e elementos em betão armado,
característica típica da alvenaria confinada.
[daN]
[cm]
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
84
Para além do módulo base que permite realizar uma análise estática não linear, o
3DMacro inclui módulos adicionais para a avaliação da vulnerabilidade sísmica e para a
verificação da segurança fora do plano através de análise cinemática linear (em termos de
aceleração) e também através de análise cinemática não linear (em termos de deslocamento).
Existe ainda um outro módulo para análise de estruturas mistas, o qual permite a modelação
de elementos resistentes lineares (em betão armado, aço ou madeira) com comportamento
tridimensional, através da definição do diagrama de interação N-Mx-My (esforço axial-
momento na 1.ª direção transversal-momento na 2.ª direção transversal).
3.3.1 Modelação de Elementos Resistentes
Ao contrário dos programas anteriores, os painéis de alvenaria são modelados através
de elementos discretos consistindo num assemblado de molas, como descrito na Secção 2.2.3.
O comportamento por flexão composta é simulado através da disposição de um conjunto de
molas longitudinais na interface entre elementos, admitindo uma resposta força-deslocamento
adequada para cada mola (Fig. 3.30), de modo a simular o campo de tensões em toda a secção
de interface. Estes elementos de interface acabam por condicionar também a resposta por
corte dos painéis, uma vez que o campo de tensões nas interfaces condiciona o domínio de
resistência das molas diagonais que simulam o corte diagonal.
Figura 3.30. Discretização com molas de interface para simular a interação entre painéis de
alvenaria (Caliò et al., 2004)
painel 1
mola 1
mola 2
painel 2
painel 1
painel 2
área de influência
espessura
nula
mola equivalente às
duas dispostas em
série
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
85
Os elementos resistentes lineares são modelados através de elementos finitos de barra
não lineares, com plasticidade concentrada (Fig. 3.31a). Estes elementos distinguem-se pelos
graus de liberdade considerados e pelo tipo de interação com outros elementos. Do ponto de
vista do comportamento espacial, os elementos podem ter um comportamento unidimensional
axial (e.g., tirantes), bidimensional considerando flexão no plano vertical (vigas) e
tridimensional considerando flexão nas duas direções principais (pilares).
Relativamente ao comportamento de interação com os outros elementos, os elementos
resistentes lineares podem interagir quer axialmente quer em flexão (vigas e traves) com os
painéis de alvenaria ou diafragmas, interagir com o resto da estrutura apenas através dos seus
nós de extremidade (caso de elementos externos e tirantes), e interagir parcialmente com
respeito aos graus de liberdade partilhados com outros elementos. Em correspondência com
os tipos de interação considerados, são definidas rótulas axiais, de flexão e rótulas que
consideram a interação entre as solicitações axial e de flexão considerando um domínio N-Mx-
My (Fig. 3.31b).
(a) (b)
Figura 3.31. Elemento resistente linear: (a) modelação e (b) diagrama de interação (Gruppo
Sismica, 2011)
Neste caso, os parâmetros para definição do comportamento material da alvenaria são:
o peso específico; o tipo de comportamento material (linear ou não-linear), o módulo de
elasticidade normal, a resistência à compressão, a resistência à tração, a lei de comportamento
da interface (dúctil ou frágil) e a rotação (drift) última de flexão, para a definição do
mecanismo de colapso por flexão; o tipo de comportamento material (linear ou não-linear), o
módulo de elasticidade tangencial, a resistência ao corte, o coeficiente de atrito (no caso do
critério de Mohr-Coulomb) e a deformação última por corte, para a definição do mecanismo
de colapso por corte; o comportamento (ativado ou desativado), a coesão e o coeficiente de
atrito, para a definição do mecanismo de colapso por deslizamento.
rótula plástica
nó i nó j
Mmédio
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
86
3.3.2 Modelação de Pavimentos
O 3DMacro permite a modelação dos pavimentos quer como elementos rígidos planos,
quer através de diafragmas com forma poligonal qualquer e deformáveis elasticamente. Estes
últimos são constituídos por uma malha de n elementos finitos triangulares com seis nós, onde
n representa o número de lados do pavimento, possuindo então o diafragma 4n + 2 graus de
liberdade. Em ambos casos de pavimento rígido e deformável, e para a situação genérica em
que o elemento de pavimento está inserido entre dois painéis de alvenaria (Fig. 3.32) a ligação
com a alvenaria é garantida por duas interfaces, cada uma delas tendo uma face coincidente
com o lado do elemento de pavimento e outra face adjacente a um dos dois painéis.
No caso de pavimento rígido, os graus de liberdade da interface associados aos graus
de liberdade do diafragma estão ligados entre si por molas no plano do diafragma. Por outro
lado, no caso de pavimento deformável, os graus de liberdade da interface afetos ao lado do
diafragma não estão ligados por molas mas sim associados a graus de liberdade do elemento
triangular plano pertencente ao diafragma. O elemento utilizado para simular o pavimento
deformável é do tipo laje ortotrópica transversalmente isotrópica. Tal elemento garante a
possibilidade de simular pavimentos em que é necessário distinguir as duas direções
principais (Longitudinal e Transversal). Na presença de um estado tensional biaxial, o
comportamento mecânico de uma lâmina ortotrópica é definido pelas quatro constantes EL, ET,
GLT e νLT (Gruppo Sismica, 2011).
(a) (b)
Figura 3.32. Interação de painéis com (a) elemento rígido e com (b) diafragma deformável
(Gruppo Sismica, 2011)
diafragma deformável
cinemática de painéis cinemática de diafragma
desliz
elemento rígido
interface superior
interface inferior
cinemática de painéis cinem. de corpo rígido
desliz
udesliz=udesliz (u1,u2, 3)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
87
Em correspondência com o tipo de pavimento utilizado, é ainda necessário definir a
direção de funcionamento da laje, nomeadamente para definição do carregamento sobre as
paredes, tal como exemplificado na Figura 3.33. Alternativamente, o utilizador pode definir a
percentagem de carga na laje a atribuir a cada uma das suas paredes de apoio.
Figura 3.33. Definição no 3DMacro da direção de funcionamento das lajes no piso de
edifício
3.3.3 Modelação Espacial
Enquanto que os programas anteriores são baseados numa modelação com elementos
unidimensionais, cujos graus de liberdade são compatibilizados nas extremidades dos
elementos, no presente caso a modelação envolve uma interação discreta entre elementos,
nomeadamente entre paredes e pavimentos, entre paredes ortogonais, e entre elementos
lineares e macro-elementos. O caso da modelação da interação paredes-pavimentos foi já
abordado na Secção 3.3.2.
Na modelação da interação entre paredes ortogonais, no caso da assemblagem de
paredes planas com graus de liberdade apenas no seu próprio plano, a colaboração entre
painéis pertencentes a diferentes planos de parede é obtida inserindo interfaces rígidas de
canto que ligam os graus de liberdade longitudinais do painel, tentando aproximar o campo de
tensões normais e tangenciais orientadas em qualquer direção (parede com comportamento
tridimensional), tal como ilustrado na Figura 3.34. Os fenómenos possíveis de degradação em
correspondência com as zonas de interseção consistem na abertura de fendas, no
esmagamento da alvenaria ou em possíveis deslizamentos.
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
88
(a) (b)
Figura 3.34. Interseção de paredes: (a) campo tensional e (b) modelo (Gruppo Sismica, 2011)
Definida a geometria do edifício (planta e alçados), o programa gera uma
representação tridimensional do edifício, tal como a exemplificada na Figura 3.35a. Em
correspondência com este modelo é calculado automaticamente o modelo computacional (Fig.
3.35b). Como se constata, a discretização em macro-elementos é essencialmente baseada na
correspondência com os alinhamentos das aberturas, podendo no entanto o utilizador refinar a
malha, através da limitação das dimensões do macro-elemento.
(a) (b)
Figura 3.35. Modelação de edifício: (a) modelo geométrico e (b) modelo computacional
Note-se que o macro-elemento usado no 3DMacro, ainda que atrás descrito como um
elemento bidimensional, tem evoluído para uma forma de macro-elemento espacial (Caliò et.
al, 2008), através da disposição de molas de interface na direção transversal, de modo a
simular a resposta fora do plano. No entanto, o macro-elemento espacial não foi ainda
introduzido na versão comercial.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
89
3.3.4 Procedimento Computacional de Análise
O procedimento computacional de análise estática não linear é implementado de forma
incremental-iterativa, através da obtenção da solução para a resposta da estrutura em
sucessivos passos de carga (Gruppo Sismica, 2011). A primeira etapa do processo, em fase
elástica e com reduzida solicitação, é feita com controlo de força, verificando se, em cada
passo, não é atingida a plastificação de qualquer elemento. Quando se observa a cedência de
um elemento torna-se necessário atualizar a matriz de rigidez do sistema.
Desta forma, quando ocorre um evento plástico, é calculado o erro introduzido em
termos de força, deslocamento ou energia (desequilíbrio), relativo às molas que cederam e, se
tal equilíbrio for menor do que uma tolerância definida, o passo é fechado. Caso contrário, é
utilizado um procedimento para escalar criteriosamente o passo de carga, de modo a reduzir o
incremento de carga de maneira a que todos os eventos verificados provoquem um
desequilíbrio menor que o permitido.
O escalonamento do passo de carga ∆p é feito calculando o novo multiplicador de
carga como mult’ = mult - α, onde α é o coeficiente de redução do passo. Ao variar o valor de
α, é possível calcular o desequilíbrio de cada elemento da estrutura dSq(α), o qual deve estar
dentro da tolerância T fixada, conforme ilustrado na Figura 3.36a. A tolerância deve ser
verificada para cada um dos eventos ocorridos. Por esta razão, o coeficiente de redução do
passo é determinado pelo evento mais persistente em termos do desequilíbrio. A resolução
deste desequilíbrio é realizada com o sentido de reproduzir corretamente a lei constitutiva das
molas, conforme ilustrado na Figura 3.36b. O procedimento de resolução do desequilíbrio é
fundamental para a correta avaliação da rigidez pós-evento (kn) das molas, para assim permitir
a atualização da matriz de rigidez global K.
Em cada passo de carga, sempre que ocorra uma rotura frágil em um ou mais
elementos do modelo, torna-se necessário proceder à redistribuição das componentes no vetor
de forças pelos restantes elementos da estrutura, aplicando um incremento de forças dF. A
nova solução de equilíbrio é calculada, na fase com controlo de força, calculando o
incremento de deslocamento nos graus de liberdade como dU = K-1
dF. Por outro lado, depois
de atingida a resistência máxima, a análise apenas poderá ser realizada com controlo de
deslocamento, na medida em que não é possível incrementar as forças externas, mas apenas
os deslocamentos.
Na fase da análise com controlo de deslocamento, o carregamento externo é
representado por uma série de deslocamentos impostos em correspondência com os graus de
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
90
liberdade da estrutura. Durante a análise, o vetor de deslocamentos globais é então
subdividido nos sub-vetores Uliv e Uimp, que são respetivamente os deslocamentos dos graus
de liberdade livres e impostos. Em correspondência, a relação entre as variáveis estáticas e
cinemáticas pode ser escrita na seguinte forma matricial:
11 12
21 22
0liv
imp imp
UK K
F UK K (3.7)
onde Kij são as sub-matrizes de rigidez em correspondência com os graus de liberdade livres
(índice 1) e impostos (índice 2). Dado que os deslocamentos impostos Uimp são um dado da
análise, os deslocamentos dos graus de liberdade podem ser determinados invertendo a
expressão anterior para a forma:
1
11 12liv impU K K U . (3.8)
(a) (b)
Figura 3.36. Ilustração (a) do procedimento de redução do passo de carga e (b) da correção
da lei de uma mola
3.3.5 Verificação da Segurança
O procedimento de verificação da segurança no 3DMacro para avaliação da
vulnerabilidade sísmica de edifícios é semelhante ao implementado pelos outros programas
apresentados, através da aplicação do procedimento de análise estática não linear N2 (ver
Secção 2.1.2), ao abrigo da normativa italiana. Ainda que em fase de implementação, um dos
conceitos inovadores introduzidos pelo programa é o cálculo do domínio de capacidade,
através da execução de análises pushover em direções intermédias às principais (Fig. 3.37).
f
u
k0
kn
2
p
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
91
(a) (b) (c)
Figura 3.37. Exemplificação do domínio de capacidade para um edifício: (a) direções
consideradas, (b) vista em planta e (c) vista em alçado (Caliò et al., 2006)
Neste caso, para além da evolução do dano na estrutura e da esquematização da
verificação de segurança sobre a curva de capacidade (Fig. 3.38a-b), é possível identificar
detalhadamente os diagramas de tensões nos lados dos macro-elementos e a evolução da
resposta das molas diagonais, tal como ilustrado na Figura 3.38c-d.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 3.38. Exemplos do output do 3DMacro: (a) dano sobre um edifício, (b) esquema de
verificação da segurança, (c) digramas de tensões nos macro-elementos e (d) resposta de mola
y
x
90º
0º
45º 135º
180º
270º 225º 315º
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
92
No 3DMacro, o procedimento de verificação da segurança fora do plano das paredes
baseia-se no especificado na norma italiana NTC 2008 e no documento que detalha as
instruções para a sua aplicação “Circolare n. 617 del 2 feb. 2009” (INTC, 2009), segundo os
quais a verificação fora do plano pode ser feita, quer segundo uma análise cinemática linear,
quer segundo uma análise cinemática não linear. No âmbito desta verificação, é possível
considerar a ligação entre as paredes e o pavimento e a contribuição de vigas e tirantes.
A norma NTC 2008 impõe a determinação, através de análise limite, do multiplicador
horizontal α das cargas em função do deslocamento dk de um ponto de referência da porção de
alvenaria em estudo. Para a aplicação de tal procedimento no 3DMacro, cada parede é
subdividida em faixas horizontais de alvenaria, ou seja, em porções de parede contínua,
definidas desde a fundação até à cota de teto. Para cada faixa de alvenaria, são analisados
todos os possíveis cinematismos compatíveis com as condições de fronteira, tal como
exemplificado na Figura 3.39a. Para cada cinematismo é avaliado o multiplicador de colapso
α0 e o deslocamento crítico dk,0, assumindo como ponto de controlo o baricentro da massa
mobilizada.
Conhecida a evolução do multiplicador horizontal α em função do deslocamento dk, o
programa define automaticamente a curva de capacidade do oscilador equivalente, como uma
relação linear entre a aceleração espetral a* e o deslocamento espetral d*, definida em função
da aceleração espetral de capacidade a0* e do deslocamento espetral equivalente d0* (Fig.
3.39b). A verificação de segurança é feita através de análise limite, confrontando a capacidade
e o requisito em termos de aceleração (verificação cinemática linear) ou em termos de
deslocamento (verificação cinemática não linear).
(a) (b)
Figura 3.39. Verificação fora do plano: (a) cinematismos possíveis e (b) resposta do oscilador
equivalente
a*
a0*
d0* d*
a* = a0*(1 - d*/d0*)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
93
3.4 Comparação
Foram apresentados, nas Secções 3.1 a 3.3, os três programas comerciais que têm sido
usados no processo de benchmarking. Como resultado da utilização e da análise dos
procedimentos usados por cada um dos programas, apresenta-se de seguida uma síntese
comparativa dos programas relativamente aos seus aspetos gerais, nomeadamente a ideia de
base, o nível de amigabilidade, a representatividade de tipologias construtivas, o nível de
personalização do modelo analítico, a utilidade dos resultados e os tipos de verificação da
segurança, os quais se encontram sintetizados na Tabela 3.3. O capítulo é finalizado com a
comparação das previsões dos programas relativamente à resposta de uma estrutura submetida
a carregamento quase-estático do tipo sísmico.
3.4.1 Síntese Comparativa
Ideologicamente, enquanto que o ANDILWall e o 3Muri se baseiam na simulação da
resposta de macro-elementos unidimensionais, usando uma formulação simplificada dos
domínios de resistência para as secções críticas do macro-elemento, no caso do 3DMacro é
usado um macro-elemento discreto com uma formulação matemática que implica a integração
da resposta de um conjunto de molas. Todavia, os três métodos são simplificados na medida
em que consideram um número reduzido de graus de liberdade, e requerem apenas a definição
dos parâmetros básicos do material de alvenaria (módulo de elasticidade, módulo de distorção,
resistência à compressão e resistência tangencial ao corte sob compressão nula). A definição
da resistência à tração é igualmente requerida, implicita ou explicitamente, a qual influencia o
comportamento à flexão no caso do 3DMacro e o domínio de corte diagonal nos casos do
ANDILWall e do 3Muri.
Qualquer dos programas apresenta um interface gráfico amigável, na medida em que
são softwares comerciais. Do ponto de vista do utilizador, o 3Muri parece ser o mais simples
de utilizar, nomeadamente pelo facto da geometria ser definida, de forma muito intuitiva, no
próprio programa, sobre um único referencial em planta. O ANDILWall obriga ao desenho
prévio em CAD das plantas de referência do edifício, apenas possibilitando, posteriormente,
gerar uma representação tridimensional da estrutura. No 3DMacro, a disposição de paredes é
definida sobre um primeiro referencial em planta, e em seguida editada sobre referenciais em
alçado, facto que acaba por aumentar o esforço do utilizador. Se a definição de parâmetros
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
94
materiais no 3Muri e 3DMacro é relativamente sucinta, no ANDILWall esta definição parece
ser demasiado exaustiva.
Relativamente à representatividade de tipologias construtivas, os programas 3Muri e
3DMacro apresentam possibilidades semelhantes, sendo que o 3DMacro é o único programa
quer permite modelar tanto coberturas inclinadas como a tipologia de alvenaria confinada,
com a desvantagem de não incluir alvenaria armada. Se estes dois programas permitem
simular vários tipos de pavimentos, o ANDILWall permite apenas simular um diafragma
rígido. Relativamente à possibilidade de adotar soluções de reforço, o 3Muri é aquele que está
melhor habilitado, permitindo soluções com malha de FRPs e com tirantes. Por seu lado, o
3DMacro permite simular o sistema de reforço CAM (Cuciture Attive della Muratura
traduzido como “costura ativa da alvenaria”), proposto por Dolce et al. (2001).
No que respeita à modelação, qualquer dos programas gera automaticamente um
modelo computacional da estrutura. No caso do ANDILWall, o utilizador necessita introduzir
os lintéis e definir o comprimento das extremidades rígidas dos nembos a posteriori, podendo
igualmente editar a tipologia dos elementos. No caso do 3Muri é gerada uma malha, de
acordo com regras que procuram garantir a transferência de esforços tanto bi- como
tridimensionalmente, a qual pode ser editada pelo utilizador. No caso do 3DMacro é possível
controlar a dimensão e a esbeltez máximas dos macro-elementos, assim como a densidade das
molas de interface.
Em termos de resultados, qualquer dos programas fornece sobretudo informação para
a avaliação da resposta estrutural de um edifício sujeito a análise pushover. Para além da
resposta global, com base na qual os softwares fazem a verificação da segurança, os
programas mostram a evolução dos esforços e extensões nos elementos estruturais e, no caso
do 3DMacro, é igualmente monitorizada a resposta das molas. Qualquer dos programas gera
uma memória descritiva contendo informação relativa à descrição do modelo estrutural e à
verificação da segurança do edifício em estudo.
Finalmente, no que respeita à verificação da segurança, o 3Muri permite, para além da
verificação da segurança sísmica através de análise pushover, a verificação a cargas verticais
através da metodologia simplificada proposta na norma italiana NTC 2008. Nos outros dois
programas, a verificação a ações verticais está ainda em fase de implementação, sendo que
estes têm já implementado um procedimento para verificação da segurança das paredes fora
do plano. Por outro lado, o 3DMacro é o único programa que permite a simulação da carga
horizontal do vento e da pressão de terras na combinação de ações.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
95
Tabela 3.3. Comparação sintética dos programas avaliados
ANDILWall/SAM II v.2.5 3Muri v.4.0 3DMacro v.3.0
1. Idioma Italiano Italiano, inglês e alemão Italiano e inglês
2. Input
geométrico
Importação de ficheiro DXF Edição no próprio programa Edição no próprio
programa
3. Tipologias Simples, armada e mista Simples, armada, mista e
reforçada
Simples, mista/confinada e
reforçada
4. Modelação Geração de malha
automática
Geração de malha
automática
Geração de malha
automática
4.1 Elementos de
alvenaria
Elementos do tipo “barra” Elementos unidimensionais
com três camadas
Assemblado de molas
4.1.1 Altura efetiva
dos nembos
Regra de Dolce (1991) ou
personalizada
Média da altura livre nos
lados verticais dos painéis
ou personalizada
Altura dos painéis entre os
alinhamentos de aberturas
4.1.2 Comprimento
dos lintéis
Largura da abertura ou
personalizada
Largura da abertura ou
personalizada
Largura da abertura
4.1.3 Ligação entre
painéis
Offsets rígidos Nós rígidos Molas de interface
4.2 Elementos
lineares
Elementos finitos de barra
com plasticidade concentrada
nas extremidades
Elementos finitos de barra
com plasticidade
concentrada nas
extremidades
Elementos finitos de barra
subdivididos com
plasticidade concentrada
nos nós
4.2.1 Interação com
painéis de
alvenaria
Nas extremidades dos
elementos
Nas extremidades dos
elementos
Ao longo dos elementos
4.3 Pavimentos Diafragma rígido Diafragma rígido ou
elementos flexíveis
Diafragma rígido ou
elementos flexíveis
4.3.1 Subdivisão de
cargas
Definida geometricamente
no ficheiro DXF
Definida percentualmente Definida percentualmente
4.4 Elementos de
reforço
Não permite Tirantes e malha de FRPs Sistema CAM
5. Análises
permitidas
Estática não linear no plano e
modal
Estática não linear no plano
e modal (versão científica
permite também análise
pushover adaptativa e
análise dinâmica não linear
com integração no tempo)
Estática não linear no
plano, cinemática linear e
não linear fora do plano
6. Método de
solução
Newton-Raphson com
estratégia arc-length
Newton-Raphson
modificado
Incremental-iterativo com
redução do passo
6.1 Critérios de
convergência
Energético, força,
deslocamentos ou todos
Forças e momentos Forças
7. Principais
normas
consideradas
NTC 2008, OPCM
3431/2005 e Eurocódigo 8
NTC 2008, OPCM
3431/2005 e Eurocódigo 8
NTC 2008 e OPCM
3431/2005
8. Verificações de
segurança
Global em deslocamento e
local fora do plano
Global em deslocamento e
local a ações verticais
Global em deslocamento e
local fora do plano
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
96
3.4.2 Exemplo de Aplicação
Os métodos de cálculo utilizados pelos softwares apresentados foram validados no seu
desenvolvimento: desde a simulação da resposta de painéis de alvenaria, passando pela
modelação plana de paredes, até à simulação tridimensional de edifícios. Ainda que estes
métodos tenham sido computacionalmente validados através da simulação de alguns ensaios
experimentais, particularmente do edifício testado em Pavia (Magenes et al., 1995), pensa-se
que a sua generalização a diferentes tipologias de edifícios necessita ainda de ser avaliada. No
âmbito do presente estudo, é particularmente relevante a avaliação destes métodos na
simulação da resposta sísmica de edifícios de alvenaria moderna.
Os procedimentos de verificação da segurança de edifícios que têm vindo a ser
desenvolvidos e incluídos nos regulamentos (e.g., FEMA 440 (ATC, 2005), EC8 (IPQ, 2010)
e NTC 2008), baseados no desempenho dos edifícios com base em deslocamentos,
consideram procedimentos de análise estática não linear (pushover). Ainda que para a
fundamentação deste tipo de procedimentos sejam particularmente inspiradores os ensaios de
edifícios com carregamento cíclico quase-estático, o elevado custo e a dificuldade logística
associados a este tipo de ensaios têm limitado a sua aplicação. Os edifícios testados no
Georgia Tech (Yi et al., 2006) para alvenaria tradicional e por Abrams (1986) para alvenaria
armada de blocos de betão, são exemplos escassos deste tipo de ensaios.
Na falta de ensaios quase-estáticos sobre edifícios de alvenaria moderna, a tarefa
realizada neste trabalho de validação e comparação dos vários programas é feita com
referência a um caso experimental com carregamento estático sobre uma estrutura tradicional
em alvenaria de tijolo. Ainda que se trate de uma tipologia diferente das usadas atualmente, a
universalidade que se pretende para os programas, face à variabilidade dos parâmetros da
alvenaria, permite a sua utilização como caso de validação.
A estrutura em estudo, apresentada em Cappi et al. (1975), consiste num par de
paredes iguais constituídas por tijolo maciço com 37.5 cm de espessura (excecionalmente nos
parapeitos com 12.5 cm) e peso volúmico de 18.0 kN/m3, dispostas paralelamente e
fracamente ligadas por vigas de madeira. A estrutura testada é apresentada na Figura 3.40a;c,
onde se observa que as paredes são submetidas a uma carga vertical de 100 kN/m, aplicada
através de tirantes verticais que atuam sobre uma viga de topo em betão armado. As paredes
são depois, separadamente, sujeitas a ciclos de uma força horizontal P crescente, aplicada ao
nível da viga de topo.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
97
As propriedades resistentes da alvenaria foram obtidas a partir dos ensaios ilustrados
na Figura 3.40b, nomeadamente a resistência à tração ft de 0.08 MPa e o ângulo de atrito
interno de 36º. Com base nestes parâmetros pode estimar-se a resistência tangencial ao corte
sob compressão nula fv0 como ft/1.5 (0.053 MPa), ainda que neste caso se tenha admitido o
critério de resistência por corte diagonal de Turnšek e Čačovič (1970). Os módulos de
elasticidade foram estimados com base num processo de calibração, em que se procurou
aproximar a rigidez inicial da estrutura e se assumiu uma relação entre os módulos
longitudinal e transversal E/G de 6 (em correspondência com os valores tabelados na norma
italiana OPCM 3431/2005), chegando-se aos valores respetivos de 3200 e 533 MPa. Por outro
lado, assumiu-se uma resistência à compressão fm de 3.2 MPa, com base na relação E = 1000fm
recomendada pelo EC6 (CEN, 2005) para ações de curta duração.
(a) (b)
(c)
Figura 3.40. Estrutura em alvenaria de tijolo testada sob carregamento lateral estático:
(a) vista, (b) propriedades da alvenaria e (c) perfis (Cappi et al., 1975)
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
98
A parede ensaiada, com o aspeto na Figura 3.41a, foi então simulada nos vários
programas em análise, com os modelos computacionais apresentados na Figura 3.41b-d. O
carregamento da parede foi depois reproduzido nos diferentes programas através de análise
pushover. As curvas de capacidade obtidas são comparadas na Figura 3.42, nomeadamente no
que respeita às envolventes da resposta experimental das duas paredes.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 3.41. Modelos da parede: (a) físico, (b) ANDILWall/SAM II, (c) TreMuri e
(d) 3DMacro
Figura 3.42. Envolventes experimentais e curvas de capacidade obtidas dos programas
0.00
50.00
100.00
150.00
200.00
250.00
300.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00 2.25 2.50 2.75 3.00
Fo
rça
de c
orte
ba
sal (k
N)
Deslocamento no topo da parede (cm)
Envolvente da parede esquerda
Envolvente da parede direita
Modelo do SAM II
Modelo do 3Muri (elemento bilinear)
Modelo de Gambarotta-Lagomarsino
Modelo do 3DMacro
① ③
②
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
99
Em termos gerais, qualquer dos modelos analíticos fornece uma previsão satisfatória
da curva de capacidade experimental, nomeadamente em termos da rigidez inicial e da força
de corte basal resistente. Em especial, os modelos criados no TreMuri (3Muri com elemento
bilinear e Gambarotta-Lagomarsino) e no 3DMacro, conseguem aproximar a quebra de
rigidez no segundo terço da resposta experimental. Os diferentes modelos preveem uma
quebra no patamar de cedência para uma deformação de 1.75-2.0 cm e, com exceção do SAM
II, uma perda significativa de resistência (20%) para uma deformação de 2.65-3.0 cm. No
caso do SAM II esta quebra maior de resistência verifica-se para um nível de deformação de
4.0 cm.
No entanto, mais do que uma boa aproximação à resposta global da estrutura, interessa
investigar a evolução dos esforços nos elementos da parede, assim como a evolução do dano
em correspondência com tais esforços face à sua resistência. Por esta razão, foi feita uma
análise relativa à evolução dos esforços axial N e transverso T nos painéis assinalados na
Figura 3.41a, que são nomeadamente os nembos no nível inferior situados mais à esquerda
(Nembo 1) e interiormente à direita (Nembo 3), e a padieira central. Tal evolução, em função
do deslocamento no topo da parede, é apresentada nas Figuras 3.43 e 3.44a.
(a)
(b)
Figura 3.43. Evolução dos esforços (a) axial N e (b) transverso T nos nembos em função do
deslocamento no topo da parede
50.00
100.00
150.00
200.00
250.00
300.00
350.00
400.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00 2.25 2.50 2.75 3.00
Esf
orço
ax
ial N
(k
N)
Deslocamento no topo da parede (cm)
SAM II
3Muri
Gambarotta-
Lagomarsino
3DMacro
0.00
20.00
40.00
60.00
80.00
100.00
120.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00 2.25 2.50 2.75 3.00
Esf
orço
tra
nv
erso
T (
kN
)
Deslocamento no topo da parede (cm)
SAM II
3Muri
Gambarotta-
Lagomarsino
3DMacro
Nembo 3
Nembo 1
Nembo 3
Nembo 1
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
100
(a) (b)
Figura 3.44. Resposta da padieira central: (a) evolução dos esforços axial N e transverso T, e
(b) início de uma fenda típica no modelo experimental (Cappi et al., 1975)
No que respeita aos nembos, a tendência de evolução do esforço axial é semelhante
nos diferentes modelos. Note-se que, no caso do modelo de Gambarotta-Lagomarsino, os
esforços axiais de base ao cálculo da resistência são reduzidos relativamente aos elásticos, de
acordo com a Equação (3.2), pelo que se justifica o desfasamento na Figura 3.43a
comparativamente aos outros métodos. Relativamente ao esforço de corte, na Figura 3.43b é
posta em evidência a sensibilidade da resistência ao comportamento de degradação do
material considerado pelos modelos de Gambarotta-Lagomarsino e do 3DMacro.
Relativamente à padieira em estudo, a tendência de evolução dos esforços mostrada na
Figura 3.44a é mais dissonante, nomeadamente em termos dos valores extremos de esforço
axial identificados, sendo o do modelo de Gambarotta-Lagomarsino significativamente maior
que os restantes e tendo um valor nulo pelo SAM II. Tal facto será devido ao conhecimento e
dissonância na modelação do comportamento dos lintéis e da sua interação com os nembos.
Segundo Cappi et al. (1975), o dano na parede inicia-se na padieira central estudada, por
fendilhação diagonal, como ilustrado na Figura 3.44b.
A evolução da configuração deformada da parede e do dano nos seus elementos
aparece resumida na Figura 3.45, para cada um programas, em correspondência com os níveis
de deslocamento no topo da parede de 0.35 cm (início da cedência), 0.75 cm (cedência), 1.25
cm (fase intermédia do primeiro patamar), 1.85 cm (fim do primeiro patamar), 2.25 cm (fase
intermédia do segundo patamar), e de deslocamento último (quebra na resistência de 20%).
Note-se que as configurações deformadas da parede estão ampliadas 50 vezes, de modo a uma
comparação mais efetiva.
-80.0
-60.0
-40.0
-20.0
0.0
20.0
40.0
60.0
0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50 3.00
N (
kN
)T
(k
N)
Deslocamento no topo da parede (cm)
SAM II 3Muri Gambarotta-Lagomarsino 3DMacro
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
101
(a) Dano em extremidades de: base por flexão topo por flexão base e topo por corte
(b) elástico plástico por corte rotura por corte plástico por flexão rotura por flexão
(c) Dano por corte: leve moderado alto elevado
Figura 3.45. Resposta da parede em termos da deformada e do dano nos elementos segundo
os modelos: (a) SAM II, (b) 3Muri, (c) Gambarotta-Lagomarsino e (d) 3DMacro
0.35 cm
0.75cm
1.25cm
1.85
cm
2.25cm
d para 0.8Fb
Capítulo 3. Benchmarking de Programas de Cálculo Comerciais
102
(d) fendas diagonais fendas fechadas rotura diagonal esmagamento fendas por tração
Figura 3.45. Resposta da parede em termos da deformada e do dano nos elementos segundo
os modelos: (a) SAM II, (b) 3Muri, (c) Gambarotta-Lagomarsino e (d) 3DMacro (continuação)
Em termos da configuração deformada, os modelos do SAM II e do 3Muri denotam
uma tendência semelhante de deformação linear em altura. Por outro lado, os modelos de
Gambarotta-Lagomarsino e do 3DMacro apresentam um mecanismo do piso inferior, bastante
parecido entre os dois. Em termos dos mecanismos de dano, pode-se também fazer o mesmo
emparelhamento dos modelos, apresentando a primeira parelha (SAM II e 3Muri) dano inicial
predominantemente por flexão, ainda que alguns painéis venham a romper por corte, e a
segunda parelha (Gambarotta-Lagomarsino e 3DMacro) dano por corte em determinados
painéis (e.g., nembo inferior mais à direita) associado ao rocking de nembos na parte esquerda
do primeiro piso.
Tal emparelhamento de modelos em termos dos resultados observados, pode justificar-
se pelo facto da primeira parelha de métodos usar uma abordagem de macro-elementos
unidimensionais com resposta bilinear, enquanto que a outra considera um domínio de
bidimensionalidade com comportamento de degradação do material. Tendo em conta os
resultados experimentais e analíticos apresentados em Cappi et al. (1975), nomeadamente o
dano identificado por corte para a padieira central e uma deformada mais incidente ao nível
do primeiro piso, pode concluir-se que as previsões da segunda parelha de modelos denotam
uma melhor aproximação à resposta experimental.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
103
4. MÉTODO SIMPLIFICADO PARA ANÁLISE GLOBAL DE EDIFÍCIOS
No Capítulo 3 foram apresentadas ferramentas de cálculo desenvolvidas para a análise
e verificação da segurança de edifícios em alvenaria. Sabe-se, no entanto, que o uso de tais
ferramentas é muitas vezes feito sem suficiente conhecimento das hipóteses e procedimentos
de cálculo usados pelos softwares. Por outro lado, na prática de cálculo, é comum encontrar
duas possibilidades de suportes informáticos para a análise e dimensionamento de estruturas:
um baseado em folhas de cálculo implementando fórmulas e regras simples, normalmente
aplicadas a elementos estruturais individuais, e outro que usa algoritmos mais complexos
aplicados ao equilíbrio global. O método desenvolvido neste capítulo é um exemplo de como
é possível interagir entre estes dois conceitos, na medida em que se permite um cálculo
“aberto” e evolutivo de estruturas em alvenaria, numa perspetiva de análise global, que
recorre a métodos simplificados e passíveis de implementação numa folha de cálculo.
O procedimento proposto é baseado no método RAN (acrónimo de Raithel Aldo e
Augenti Nicola), o qual foi desenvolvido por Raithel, Augenti e outros investigadores desde
1981, e apresentado pela primeira vez em Augenti et al. (1984). Trata-se de um procedimento
de análise que considera os estados limites (elástico e plástico) por corte ou por flexão
composta de paredes em alvenaria. Este método é inspirado no POR (Secção 2.1.2), que
considera mecanismos de piso independentes, ainda que o RAN permita evoluir para a análise
da resposta global de edifícios, com base na hipótese de uma resposta cumulativa de pisos e
paredes. Apresentam-se em seguida as hipóteses de base do método, assim como os
procedimentos a adotar para a sua aplicação na análise e na verificação da segurança de
edifícios em alvenaria.
4.1 Formulação e Implementação
A apresentação destes procedimentos de análise com cálculo aberto entende-se
importante neste trabalho, na medida em que permite mais facilmente introduzir a
comunidade técnica aos conceitos inerentes ao cálculo de edifícios em alvenaria. A aplicação
de procedimentos de cálculo simplificados, tal como defendida por Marques e Lourenço
(2011; 2012), é recomendada para a aprendizagem de práticas de cálculo baseadas no
desempenho global dos edifícios. O método RAN, que está na base do procedimento proposto,
é detalhado em Augenti (2004), onde se referem as seguintes hipóteses para o método:
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
104
- uma parede é constituída, em cada piso, por nembos assimiláveis a elementos
unidimensionais de espessura constante e deformáveis, com condição de dupla
curvatura, ligados às extremidades dos lintéis de piso, os quais são assumidos como
rígidos (axialmente e à flexão) e infinitamente resistentes;
- as forças horizontais que representam a ação sísmica consideram-se aplicadas ao nível
dos pavimentos;
- a distribuição da força horizontal pelos nembos de cada piso é feita proporcionalmente
à sua rigidez (por flexão e por corte), tendo em conta a redução das secções devida ao
dano introduzido;
- os esforços normais em cada nembo consideram-se também dependentes das ações
horizontais, sendo distribuídos em função da rigidez axial dos painéis, considerando a
rigidez à flexão dos lintéis como infinita;
- a força máxima horizontal que cada piso pode suportar é aquela que se atinge quando
ocorre um estado limite no painel mais débil, por flexão composta ou por corte;
- a alvenaria supõe-se caraterizada por uma lei constitutiva do tipo elástica-
perfeitamente plástica;
- as tensões de tração nas secções de extremidade dos nembos são desprezadas, dada a
sua reduzida influência.
A hipótese de rigidez infinita para os lintéis é uma das mais discutíveis do método. O
facto é que, no caso de edifícios novos (alvo principal deste trabalho), existe uma viga-cinta
ou viga de bordadura em betão armado, e por outro lado é igualmente comum adotar lintéis
em betão no topo das aberturas a realizar a padieira (Fig. 4.1a). Por esta razão, os lintéis de
piso apresentam rigidez axial e de flexão muito maior do que a dos nembos, o que faz com
que a interligação dos nembos por faixas rígidas seja uma aproximação adequada, e que
resulta no macro-elemento apresentado na Figura 4.1b.
(a) (b)
Figura 4.1. Ilustração (a) de configuração típica de edifício e (b) do macro-elemento
idealizado
u
Lintel de piso
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
105
A implementação do método engloba diferentes etapas, levadas a cabo para cada
parede, em correspondência com cada passo de um carregamento horizontal incremental com
controlo de força. Este carregamento prossegue até que seja atingido o estado limite último do
nembo mais fraco da parede, como detalhado nas secções seguintes.
4.1.1 Discretização das Paredes
As paredes são discretizadas em painéis definidos entre os alinhamentos de aberturas,
com uma altura que depende do sentido da ação sísmica, como se ilustra na Figura 4.2. A
classificação dos painéis é similar à usada nos métodos de barra equivalente apresentados no
Capítulo 3, considerando nomeadamente os nembos, lintéis e painéis de ligação.
Figura 4.2. Discretização de painéis em função do sentido da ação do sismo (Augenti, 2004)
A altura efetiva do nembo que determina a sua parte deformável é assumida como a
altura total do nembo, tal como originalmente proposto por Augenti (2004), por oposição à
regra de Dolce (1991) apresentada na Secção 2.2.3. A proposta de Augenti (2004) é baseada
na observação de edifícios danificados por sismos, segundo a qual as fendas nos nembos se
estendem ao longo da altura definida pelo lado do painel oposto à ação do sismo.
De modo a validar a proposta de Augenti (2004), foram calculadas as curvas de
capacidade para a parede ilustrada na Figura 4.3a, assumindo uma condição de carregamento
horizontal com uma única força, aplicada no topo da parede, e usando diferentes métodos,
condições de fronteira e critérios de cálculo da altura efetiva. Esta parede, em pedra e com 60
cm de espessura, foi testada sob carregamento estático cíclico com controlo de força por
Vestroni et al. (1995), tendo suportado forças máximas de 60 kN e 100 kN, respetivamente
em correspondência com os estados limites elástico e último. Note-se, no entanto, que a
parede é contornada por paredes transversais que funcionam como flanges, pelo que estas
resistências não são comparáveis com as mesmas obtidas pelos métodos de análise usados
Quake
Pier panels
Spandrel panels
Cross panels
QuakeSismo Sismo
Nembos
Lintéis
Painéis de ligação
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
106
neste trabalho. Na análise foram adotadas as seguintes propriedades para a alvenaria de pedra:
peso volúmico de 18 kN/m3, resistência à compressão de 1.1 MPa, resistência à tração de
0.165 MPa, resistência ao corte pura por tração de 0.13 MPa, módulo de elasticidade normal
de 170 MPa e módulo de elasticidade transversal de 60 MPa.
Na Figura 4.3b, as curvas de capacidade calculadas com o 3Muri e ANDILWall/SAM
II são semelhantes, pelo que estas são assumidas como referência para outras aproximações.
Para o método RAN, no caso em que a sua hipótese original para definição da altura efetiva é
usada, a rigidez global da parede é sobrestimada, mas uma boa previsão da capacidade de
corte basal é obtida. Por outro lado, adotando a proposta de Dolce para a altura efetiva, a
rigidez global é mais bem aproximada, ainda que a capacidade de corte basal seja subestimada.
Neste trabalho, foi considerado um critério alternativo para a definição da altura
efetiva dos nembos, calculando a altura do nembo como aquela associada à escora definida
entre os cantos livres dos painéis, como ilustrado na Figura 4.3a. Este critério é baseado na
observação de padrões de fendilhação diagonal, obtidos usando análise pushover de paredes
com aberturas simuladas com elementos finitos contínuos (Silva, 2006). O uso deste critério
levou à previsão de um comportamento intermédio entre aqueles em que se assumiram as
propostas de Augenti e Dolce, tanto na previsão da rigidez como da capacidade de corte basal,
sendo desta forma recomendado. Salienta-se ainda que o novo critério para a geometria
conduz a resultados próximos dos obtidos pelo 3Muri e ANDILWall/SAM II.
(a) (b)
Figura 4.3. Influência da altura efetiva dos nembos na resposta global: (a) parede estudada e
(b) curvas de capacidade de acordo com diferentes hipóteses para a geometria
2.13
Augen
ti
Augen
ti
Augen
ti
Augen
ti
Dolc
e
Dolc
e
Nova
pro
po
sta
Nova
pro
po
sta
Dolc
e
Dolc
e
Nova
pro
po
sta
Nova
pro
po
sta
1.00 2.13
1.93 1.931.40
1.8
00.8
00.6
01.4
00.9
0
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
0 0.5 1 1.5 2 2.5
Co
rte
ba
sal
(kN
)
Deslocamento no topo (cm)
Curvas de capacidade
SAM II - Pórtico - Dolce
3Muri - Pórtico - Dolce
RAN - Biencastrado - Augenti
RAN - Biencastrado - Dolce
RAN - Biencastrado - Nova proposta
RAN - Consola - Augenti
RAN - Consola - Dolce
RAN - Consola - Nova proposta
Método - Mecanismo - Critério:
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
107
4.1.2 Esforço Axial nos Painéis
Em condições estáticas, os esforços axiais nos nembos resultam do peso próprio da
parede e das ações verticais nos pavimentos. Por outro lado, para efeito do cálculo da resposta
sísmica, é comum considerar que a meia-altura inferior do primeiro andar é absorvida pelo
terreno, e que cada piso recolhe as ações verticais do respetivo pavimento e da meia-altura das
paredes de piso abaixo e acima do pavimento. A força axial sobre determinado painel resulta
então da tensão vertical acumulada por transferência dos painéis superiores, ao nível da meia-
altura do seu respetivo piso, tal como ilustrado na Figura 4.4.
Figura 4.4. Áreas de influência admitidas no cálculo das ações verticais sobre os painéis
Um dos aspetos essenciais introduzidos por métodos posteriores ao POR (ver Secção
2.1.2), como é exemplo o método RAN, é a consideração da influência das ações horizontais
(incluindo a sua intensidade e o ponto de aplicação) na distribuição dos esforços axiais pelos
nembos que constituem uma parede. Efetivamente, quando uma parede é sujeita a uma ação
horizontal, os painéis que a constituem sofrem uma variação do seu esforço normal, sendo
esta dependente da intensidade da ação e da excentricidade com que é aplicada.
Esta variação pode ser calculada considerando uma rotação rígida de cada piso em
torno de um ponto O, que representa o baricentro da rigidez axial dos nembos de piso,
localizado sobre uma linha horizontal ao nível em que o momento fletor é aproximadamente
nulo (Fig. 4.5). Então, a variação do esforço axial no nembo j, Sj, depende da sua rigidez axial
j, de acordo com as fórmulas na Figura 4.5, onde (E.A)j é o produto do módulo elástico pela
área de secção transversal do nembo, Hj é a altura do nembo, dj é distância do eixo vertical do
nembo ao baricentro O, e M é o momento fletor global em torno de O que fornece o equilíbrio
rotacional. A variação de força sobre o nembo j é então calculada multiplicando M pelo
coeficiente de distribuição ψj.
1 2
3 4
1 2
3 4
Área de influência
da fundação
Área de influência
do 1.º nível
Área de influência
do 2.º nível
Área de influência
do painel j
j
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
108
O procedimento para cálculo do momento de piso M é apresentado com detalhe em
Augenti (2004). No entanto, com referência à Figura 4.6, este cálculo pode ser generalizado
com base numa representação matricial como a que se apresenta a seguir, onde o número de
pisos determina o número de linhas e o número de nembos em cada piso determina o número
de parcelas em cada linha:
1 2 3
1 2 3 1 2 3 1 2 33 1 3 2 3 34 5 6
2 4 2 5 2 6 34 5 6 4 5 6 4 5 6
1 7 1 8 1 9 1 107 8 9 10
7 8 9 10 7 8 9 10 7 8 9 10 7 8 9 10
0 0
2
k k k
k k k k k k k k kV , V , V ,k k k
V , V , V , Fk k k k k k k k k
V , V , V , V ,k k k k
k k k k k k k k k k k k k k k k
F
00 0 0
4 5 61 0 0 0
4 5 6 4 5 6 4 5 67 8 9 10
7 8 9 107 8 9 10 7 8 9 10 7 8 9 10 7 8 9 10
7 8 9 10 7 8 9 10 7 8 9 10 7 8 9 10
k k kF .
k k k k k k k k kk k k k
k k k kk k k k k k k k k k k k k k k k
k k k k k k k k k k k k k k k k
Nesta equação, Vi,j é a força de corte no painel j do piso i, e kj é a rigidez do painel j. É então
possível generalizar o cálculo daquele momento no piso i através da expressão:
último piso nos painéis do piso
1 1 1 1
2
( )2
ij
i k k k k i i i i i , j
k i j
HM F B B f F B F f V (4.2)
onde Fi e fi são respetivamente a força horizontal e a altura da padieira no piso i, e Bk é a
distância entre o topo dos nembos no piso k e o topo do piso imediatamente superior. Esta
expressão considera as parcelas de momento globais por parte das forças horizontais em cada
piso ao nível do topo dos nembos no piso em análise, calculadas como o produto destas forças
pelos respetivos braços, e adicionalmente, as parcelas do momento das forças de corte no topo
dos nembos no piso em análise em torno da respetiva meia-altura do nembo.
Figura 4.5. Esquema ilustrativo do cálculo das variações de esforço axial nos nembos de uma
parede de piso devido a ação lateral (adaptado de Augenti (2004))
f H 1 1
H 2
O
1, 1 1, 2 1, 3 1, 4 1, 5 1, 6 1, 7
2, 1 2, 3 2, 5 2, 7
S V M
1 1
M 1 M 3 M 5 M 7
1
S V M
3 3 3
S V M
5 5 5
S V M
7 7 7
S V
1 1
S V
3 3
S V
5 5
S V
7 7
F 1
H 1 O 2, 1 2, 3 2, 5 2, 7
S 7
H 3
H 7 H 5
d 1 d 7 d 3 d 5
x
x 1 x 3
x 5 7
S 5 S 3 S 1
S 7 S 5 S 3 S 1
M
( )ρ
j
j
j
E A
H
2
1
ρψ
ρ
j j
j m
j j
j
d
d
ψj jS M
(4.1)
x
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
109
Figura 4.6. Esquema de referência ao cálculo dos momentos de piso de uma parede genérica
4.1.3 Domínios de Resistência
No método RAN, dependendo da esbeltez e da tensão normal em cada nembo, são
considerados três possíveis mecanismos de colapso: flexão composta, corte diagonal por
tração e corte por deslizamento. O cálculo dos domínios de resistência sob estes mecanismos
é feito através das fórmulas apresentadas na Figura 4.7, de acordo com Augenti (2004). Aqui,
a resistência ao corte V é calculada em função das dimensões do painel: comprimento B,
altura H e espessura s; das propriedades da alvenaria: resistência à compressão fk, resistência
ao corte pura por tração ftk0 e resistência ao corte pura por deslizamento fvk0; e da força axial N
sobre o painel. A resistência mínima calculada entre os possíveis mecanismos determina o
colapso de um nembo.
A formulação do domínio de resistência sob flexão composta é estabelecida com base
no equilíbrio de momentos devidos à força de corte e à resultante do diagrama de tensões de
compressão nas extremidades do nembo, diagrama que, em estado plástico, é assumido como
retangular. No caso do corte diagonal por tração, a formulação é similar ao critério de Turnšek
e Čačovič (1970), sendo derivada com base no estado de tensão no centro do nembo para o
caso limite no qual a tensão principal atinge um valor crítico igual à resistência à tração de
referência da alvenaria, a qual é relacionada com a resistência ao corte pura por tração.
Finalmente, o corte por deslizamento é formulado usando o critério de Mohr-Coulomb, o qual
expressa a resistência ao corte como a soma de uma parte coesiva (a resistência ao corte pura
por deslizamento) e uma parcela de atrito, e tem em conta a distribuição de tensões
tangenciais na secção do painel através do denominador na respetiva expressão.
H9
H6
V2,4 V2,5 V2,6
H10
V1,10
H7
V1,7
H8
V1,8 V1,9
B3
B2
f3f2
f1
F3
F2
F1
H1
H2
H3
V3,1 V3,2 V3,3
H4
H5
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
110
1
3l
BV N
H
24
3e
k
B NV N
H f B s
1( )
3e l k
BV V f B s N
H
Limite elástico proporcional (secção totalmente ativa) por flexão composta, para 0 ( ) 0 5kN f B s .
Limite elástico não proporcional (secção parcialmente ativa) por flexão composta, para 0 ( ) 0 5kN f B s .
Limite elástico (sempre com secção totalmente ativa) por flexão composta, para 0 5 ( ) 1k. N f B s
2 00( )
0 75 0 25
tkt tk
f B s NV f B s
H. .
B
0 0 4
0 75 0 25
vka
B s f . NV
H. .
B
2
pk
B NV N
H f B s
Limite elástico de corte por tração Limite elástico por deslizamento Limite plástico por flexão composta
fk : resistência à compressão; ftk0 : resistência ao corte pura por tração; fvk0 : resistência ao corte pura por deslizamento
Figura 4.7. Formulação dos domínios de resistência V–N (adaptado de Augenti (2004))
4.1.4 Procedimento Computacional
O procedimento computacional agora descrito implica uma formulação em termos de
deslocamentos. Tendo em conta a necessidade de assegurar a compatibilidade (igualdade) de
deslocamentos no topo dos nembos em cada parede de piso, por base da hipótese de lintéis
rígidos, é necessário prever o deslocamento no topo dos nembos. As curvas características de
nembos apresentam tramos que refletem os seus diferentes estágios de comportamento:
elástico proporcional, elástico não proporcional e plástico, tal como ilustrado na Figura 4.8.
Em cada um destes estágios, o deslocamento pode ser calculado em função da força de corte
V no painel, assumindo a força axial induzida pelas cargas verticais constante, como a soma
das parcelas de deformação por corte e por flexão. A formulação do deslocamento é
apresentada seguidamente, para cada um dos regimes de comportamento, a partir de Augenti
(2004):
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
111
- Painel em estado elástico proporcional (0 ≤ V ≤ Vl)
3
χ12
l
V H V H
G A E I (4.3)
onde χ é o fator de correção de corte, o qual é geralmente assumido com um valor de 1.2.
- Painel em estado elástico não proporcional (Vl ≤ V ≤ (Ve ou V t))
3
χ ζ ζ12
e eV eM
V H V H
G A E I com (4.4)
1 3ζ 1 2 ln (1 η)
3η 2eV
e (4.5)
3
1 17η 5 3ζ 12 ln (1 η)
(3η) 1 η 2eM
(4.6)
sendo coeficientes corretivos das contribuições de deformação por corte e por flexão,
respetivamente, onde o parâmetro unidimensional é calculado como
ηH V
B N. (4.7)
- Painel em estado plástico por flexão composta (Ve ≤ V ≤ Vp)
3
χ ζ ζ12
p pV pM
V H V H
G A E I com
(4.8)
2 3ζ 1 ln(2 ) (1 η )
3η 4pV N N
N e (4.9)
3
1 9 22 1 η 3ζ 4 ln(2 ) 1 (1 η )
9η 2 3 2pM N N N
N N N (4.10)
sendo coeficientes corretivos das contribuições de deformação por corte e por flexão,
respetivamente, onde o parâmetro unidimensional N é calculado como
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
112
k
NN
f B s. (4.11)
Note-se que os coeficientes corretivos incluídos nas expressões (4.4) e (4.8) foram
obtidos analiticamente por integração das curvaturas de flexão e de corte na secção do
macro-elemento, tendo em conta a sua fendilhação e cedência respetivamente para os regimes
elástico não proporcional e plástico.
- Painel em estado plástico por corte (V = Vt < Ve)
Neste caso, o colapso por corte precede a cedência por flexão, sendo assumido um
patamar plástico. O deslocamento limite plástico δp pode ser calculado multiplicando o
deslocamento limite δt por um fator de ductilidade μ. Note-se que o índice “t” denota corte
diagonal por tração, uma vez que o mecanismo de deslizamento é normalmente descartado.
(a) (b)
Figura 4.8. Curvas características para (a) flexão composta e (b) corte (Augenti, 2004)
Com base no apresentado acima, o deslocamento de cada nembo, em cada regime,
pode ser calculado a partir da força de corte aplicada. Para assegurar a compatibilidade
(igualdade) de deslocamentos no topo dos nembos de um dado piso é necessário conhecer a
distribuição de forças de corte pelos painéis, a qual leva a um deslocamento igual em todos os
nembos. Por outro lado, a repartição de forças de corte pelos painéis em cada piso deve ser de
forma a assegurar o perfil de forças assumido à partida, ou seja, a soma das forças de corte
nos painéis de cada piso deve ser igual à força de corte global Ti aplicada ao piso em
correspondência com o perfil de forças assumido. A solução para este problema pode ser
encontrada através da resolução do sistema de equações (4.12), realizada simultaneamente em
cada piso i do edifício, considerando a força de corte Vi,j e o deslocamento δi,j dos n nembos.
δl δt δp δ
V
Vt
Vl
δl δe δp δ
V
Vp
Ve
Vl
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
113
1
1
1
1
0
( ) 0
n
i , j i
j
n
i , j i , j
j
V T
(4.12)
A resolução de (4.12) implica a consideração de um número significativo de
incógnitas num sistema indeterminado. Por esta razão, adota-se um procedimento de
resolução baseado em técnicas de otimização, nomeadamente através da minimização da
seguinte função objetivo, generalizada a um caso com m pisos, cada um deles com n nembos:
1
1
1 1 1 1
minm n m n
i , j i nor i , j i , j
i j i j
V T f (4.13)
onde Vi,j é a força horizontal induzida no painel j do piso i; Ti é a força de corte global
aplicada no piso i, a qual é cumulativa dos pisos superiores; fnor é um fator para normalizar as
diferenças de deslocamentos na mesma ordem de magnitude das diferenças de forças; e δi,j é o
deslocamento de topo do nembo j do piso i. Note-se que, tendo em conta a experiência
recolhida, o fator fnor parece ter reduzida influência na convergência, recomendando-se a
utilização de um valor inicial de 100, o qual pode depois ser calibrado em cada caso.
Através de um procedimento incremental de carregamento, as curvas características
piso-por-piso de cada parede são automaticamente obtidas. Em seguida, a curva de
capacidade de cada parede multi-piso é calculada através da integração das curvas
características piso-por-piso, nomeadamente através da obtenção de pontos sucessivos para a
relação corte basal-soma de deslocamentos laterais de todos os pisos, como ilustrado na
Figura 4.9.
Depois de calculadas as curvas de capacidade de cada parede multi-piso, o
procedimento proposto para o cálculo da resposta global do edifício baseia-se em duas
hipóteses adicionais: (1) as paredes paralelas deformam-se em conjunto, na medida em que se
assumem os pavimentos como diafragmas rígidos, e se despreza uma possível rotação do
edifício. A hipótese de assumir os pavimentos como diafragmas rígidos é realista, uma vez
que as soluções de laje para edifícios novos em alvenaria apresentam elevada rigidez no plano
e são bem ligadas às paredes. A negligência da rotação do edifício é suportada pelas
recomendações de projeto para edifícios em alvenaria, as quais aconselham regularidade em
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
114
planta, situações em que a rotação é reduzida; (2) a “curva de capacidade” corte
basal-deslocamento do edifício numa dada direção é calculada como a soma das curvas de
capacidade de todas as paredes paralelas a essa direção, dentro da capacidade de deformação
permitida para a parede mais débil, tal como exemplificado na Figura 4.9b.
(a) (b)
Figura 4.9. Cálculo da curva de capacidade de (a) parede e de (b) edifício inteiro
4.2 Consideração do Comportamento Inelástico
O procedimento original de análise com o método RAN não permite considerar o
comportamento inelástico global dos edifícios, na medida em que usa uma formulação para
definição dos estados limites com controlo de força. Tal impossibilidade deve-se ao facto de,
a partir de certo momento, a estrutura deixar de comportar incrementos de corte basal, na
medida em que se verifica uma quebra de resistência por rotura de elementos. Nesta fase, a
simulação computacional do comportamento inelástico requer normalmente um cálculo com
controlo de deslocamento.
Considera-se que a hipótese original é muito restritiva, particularmente no caso de
coexistirem, no mesmo edifício, nembos com geometria (e portanto capacidades de
deformação) muito diversas. Neste caso, o procedimento originalmente proposto conduz a
uma previsão de resposta excessivamente conservadora e muito longe da realidade observada.
Desta forma, nesta secção é proposto um procedimento para extensão do método RAN ao
comportamento inelástico global de edifícios, com base na identificação dos sucessivos
mecanismos de colapso em nembos, e na hipótese de os mesmos apresentarem um patamar de
resposta plástica. Após a ocorrência de cada mecanismo procede-se ao reequilíbrio da
Building
Wall 2
T2 d2
T1 d1
V = T1
T2
d2
T1
d1
V
D = d1 + d2
Wall 1
D = d1 + d2
Edifício
Parede 2
Parede 1
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
115
estrutura em termos de esforços verticais e horizontais, podendo desta forma proceder-se à
redistribuição de esforços de corte pelos nembos que remanescem.
4.2.1 Procedimento Proposto
Ao contrário do que acontece com o método RAN, o qual assume o colapso da parede
face ao esgotamento do primeiro nembo (em regra por descompressão do mesmo), o
procedimento aqui idealizado (“RANm”) considera uma redistribuição das ações verticais
sobre os nembos remanescentes. Desta forma, após a descompressão de um nembo, as ações
verticais são transferidas para os restantes nembos através de um esquema de equilíbrio
estático (Fig. 4.10). As variações do esforço axial nos nembos introduzidas pela ação
horizontal são igualmente consideradas na nova configuração de equilíbrio, recalculando os
valores segundo o procedimento descrito na Secção 4.1.2.
Figura 4.10. Equilíbrio estático de parede e esforços nos nembos (a) antes e (b) após a
eliminação de um nembo
Em oposição à formulação original do método RAN, que considera uma ductilidade
muito limitada para a resposta dos painéis, no procedimento proposto admite-se um patamar
horizontal de resposta plástica de acordo com a regulamentação mais recente. A extensão
deste patamar é estabelecida, ao encontro da atual norma italiana (NTC, 2008) e do
Eurocódigo 8 – Parte 3 (CEN, 2005b), através de drifts últimos de 0.4% no caso de colapso
por corte, e de 0.8% no caso de colapso por flexão.
Através deste procedimento, é então obtida uma resposta global para cada parede, a
qual captura a sua rigidez inicial, o valor máximo do corte basal e a evolução inelástica da
deformação, em correspondência com a evolução da resposta dos nembos em cada piso. O
(a) (b)
X X Y Y X +
X
X
2X
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
116
procedimento proposto é apresentado de forma mais detalhada na Secção 4.2.3, onde se
apresenta um exemplo de aplicação.
4.2.2 Verificação da Segurança
A verificação de segurança em correspondência com o presente método é, caso se
pretenda ignorar o novo procedimento para cálculo da resposta inelástica global, baseada num
critério de força, comparando a ação de corte basal correspondente ao sismo regulamentar
com a capacidade do edifício (Marques e Lourenço, 2011). Por outras palavras, a força de
corte basal sísmica de projeto, determinada pelo método de análise por forças laterais definido
no Eurocódigo 8 (IPQ, 2010) com base no espetro de projeto, considerando o zonamento
sísmico e o tipo de terreno, é confrontada com a resistência sobre a curva de capacidade.
Neste caso, a regra de segurança pode então ser expressa como:
( ) E d má xS T m V
(4.14)
onde γE é um possível fator de majoração para a ação sísmica, o qual na normativa atual
assume um valor unitário; Sd(T) é a ordenada do espetro de cálculo para o período de vibração
fundamental do edifício, T; m é a massa total do edifício; λ é um fator de correção, que
depende do número de pisos e do valor de T; Vmáx é o corte basal máximo sobre a curva de
capacidade do edifício.
A adequabilidade da abordagem baseada no corte basal resistente do edifício implica,
no entanto, a adoção de um fator de sobre-resistência (FSR), que multiplica o valor básico do
fator de comportamento q0, para ter em conta totalmente a possibilidade de redistribuição de
forças entre elementos, tal como proposto por Magenes (2006). Com efeito, se o Eurocódigo 8
não inclui o FSR para o caso de estruturas em alvenaria, apenas recomendando um fator de
comportamento q de 1.5, a norma italiana NTC 2008 propõe um FSR de 1.8 para edifícios de
alvenaria simples com dois ou mais pisos, resultando num valor de q igual a 2.7. Este aspeto é
avaliado em Lourenço et al. (2009), onde se apresenta uma boa correspondência entre as
análises linear e não linear de edifícios em alvenaria para um valor de q no intervalo 3-4.
A extensão do presente método ao comportamento inelástico dos edifícios permite
igualmente proceder à verificação da segurança com base no desempenho em deformação dos
edifícios. Esta verificação pode ser feita através do procedimento N2 apresentado na Secção
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
117
2.1.2, o qual é também o utilizado pelos softwares apresentados no capítulo anterior. Neste
caso, para além da capacidade de corte basal, assumem igualmente importância a rigidez
inicial das paredes e a sua capacidade de deformação.
A comparação entre métodos na avaliação destas caraterísticas, nomeadamente através
da definição do sistema bilinear equivalente, é feita na Secção 4.3.2, com referência a um
exemplo de aplicação do método proposto. Note-se que a verificação de segurança pelo
procedimento N2 requer também o cálculo do primeiro modo de vibração no plano das
paredes paralelas à direção em estudo, o qual influencia a solicitação sísmica em termos do
deslocamento-alvo. Desta forma, em correspondência com as hipóteses do método proposto,
será igualmente estimado o primeiro modo de vibração da estrutura estudada, a comparar com
os valores obtidos dos programas comerciais.
4.2.3 Exemplo de Aplicação
O procedimento de cálculo para o presente método foi descrito nas secções anteriores
de forma genérica. De modo a facilitar a sua implementação, apresenta-se nesta secção um
exemplo de aplicação com descrição detalhada do cálculo. Trata-se de uma parede
componente de um edifício de dois pisos, com as dimensões indicadas na Figura 4.11a e com
uma espessura de 20 cm. A alvenaria possui as seguintes propriedades mecânicas: resistência
à compressão fk de 5 MPa, resistência ao corte pura por deslizamento fvk0 de 0.15 MPa,
resistência ao corte pura por tração ftk0 de 0.15 MPa, módulo elástico E de 5000 MPa, e
módulo de corte G de 2000 MPa.
(a) (b)
Figura 4.11. Geometria da parede estudada: (a) alçado e (b) discretização em painéis
1.50 1.00 1.50 1.00 1.50
6.0
0
1.0
01
.00
2.0
0 2.8
02
.80
1.50 1.00 1.50 1.00 1.50
2.0
01.0
0
Sismo
Painéis pilar
Painéis lintel
Painéis de conexão
1.50 1.00 1.50 1.00 1.50
Sismo
2.0
01.0
0
1.0
0 2.0
01.0
02.0
01.0
0
1.0
0
Sismo
1 2 3
4 5 6
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
118
Relativamente ao peso dos materiais, admite-se um peso volúmico da alvenaria de 20
kN/m3 e um peso volúmico do material da laje (aligeirada) de 12.5 kN/m
3. Em termos de
sobrecargas de utilização, a laje do piso inferior admite-se submetida a 1 kN/m2 e a laje do
piso superior admite-se submetida a 0.5 kN/m2. Para efeitos do carregamento vertical, admite-
se que a parede em estudo suporta 50% do peso de uma laje armada numa direção, com
dimensões em planta de 6.5 × 6.5 m2. Esta parede suportará então, um peso proveniente de
cada laje de 8.125 kN/metro de desenvolvimento de parede, e uma sobrecarga de 3.25 kN/m
da laje inferior e 1.625 kN/m da laje superior.
Neste caso, admite-se a ação do sismo atuando da esquerda para a direita, resultando
na discretização de painéis apresentada na Figura 4.11b. No cálculo sísmico considera-se a
combinação de ações “Peso + ψ2 Sobrecarga”, admitindo-se um ψ2 com o valor de 0.2. Desta
forma, os nembos na Figura 4.11b estão sujeitos aos seguintes esforços axiais em condições
estáticas, R, de acordo com as zonas de influência delimitadas a meia altura dos pisos:
R1 = R3 = 27.90 kN; R2 = 34.13 kN; R4 = R6 = 67.45 kN; R5 = 82.06 kN.
A partir dos esforços calculados, podem determinar-se as massas afetas aos pisos, as
quais são necessárias para o cálculo da distribuição de força sísmica em altura:
mpiso superior = m2 = (R1 + R2 + R3)/g = 9.17 t;
mpiso inferior = m1 = (R4 + R5 + R6 – R1 – R2 – R3)/g = 12.95 t.
A ação sísmica é simulada através da aplicação de forças horizontais distribuídas pelos
pisos, ao nível das lajes. É comum considerar duas distribuições de forças, uma proporcional à
massa afeta a cada piso (distribuição uniforme), e outra proporcional ao produto dessa massa
pela cota vertical z do centro de massa da laje (distribuição triangular). A distribuição de
forças triangular é típica de estruturas em betão armado com vigas fortes e pilares fracos, as
quais apresentam um modo de deformação “tipo corte” que pode ser assumido neste caso por
analogia às hipóteses do método, pelo que aqui se admite uma distribuição triangular. O perfil
de forças pode então ser calculado em proporção da força de corte basal Fb como:
2
2 2
1
0 59laje superior
laje superior b b
pisoi lajei
i
m zF F F . F
m .z
;
1
1 2
1
0 41laje inferior
laje inferior b b
pisoi lajei
i
m zF F F . F
m .z
.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
119
Note-se que, nos casos em que as paredes paralelas de um edifício possuam uma
distribuição de massa semelhante, o perfil de repartição das forças sísmicas em altura pode
admitir-se igual para qualquer das paredes. Caso contrário, deve calcular-se a distribuição das
forças sísmicas individualmente para cada parede.
Em condições estáticas, cada um dos nembos da parede está sujeito à força axial Rj.
Face à introdução da componente sísmica (forças laterais), aquela distribuição de esforços
axiais nos nembos sofre variações consideráveis. A determinação da variação de esforço axial
Sj no nembo j, é feita garantindo as condições de congruência e equilíbrio dos nembos que
constituem a parede. O presente cálculo foi já apresentado na Secção 4.1.2.
Para a parede em estudo, o cálculo das variações de esforço axial nos nembos do piso
superior resulta trivial, na medida em que corresponde ao caso de piso regular ilustrado na
Figura 4.5, cujos resultados aparecem resumidos na Tabela 4.1. O momento de piso M2,
provocado pela força lateral F2 em torno do baricentro O do piso superior, é dado pelo
produto da força que atua ao nível da laje pelo respetivo braço, o qual consiste na soma da
altura da padieira do piso (f2) com meia altura dos painéis (H/2):
M2 = 2 2 2 2
1 001 00 1 50
2 2
H .F f F . . F .
Tabela 4.1. Resumo do cálculo da variação de esforço axial nos nembos do piso superior
Painel B (m) H (m) s (m) EA/H (MN/m) x (m) xO (m) d (m) ψ (m-1) S (kN)
1 1.50 1.00 0.20 1500.00 0.75
3.250
-2.50 -0.20 -0.30F2
2 1.50 1.00 0.20 1500.00 3.25 0.00 0.00 0.00
3 1.50 1.00 0.20 1500.00 5.75 2.50 0.20 0.30F2
Note-se que os valores de S são, neste caso, expressos em função de F2, de modo a que
possam ser atualizados para cada incremento da força lateral. Para o piso inferior, que possui
geometria irregular, torna-se necessário proceder à distribuição das forças de piso F1 e F2
pelos vários nembos de cada piso, em correspondência com o esquema mostrado na Figura
4.12. Tal distribuição é feita proporcionalmente à rigidez original kl dos painéis bi-encastrados,
calculada de acordo com a Equação (2.6).
Neste último caso, para o cálculo do momento de piso M1 correspondente ao piso
inferior, será necessário definir, para além das forças de corte Vj nos nembos, as componentes
dos seus braços Brj em cada piso. Esta informação está sintetizada na Tabela 4.2, onde Vi.º piso
quantifica a distribuição das forças sísmicas no piso i, Bri.º piso representa os braços das forças
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
120
Vi.º piso, e piM1 representa cada parcela de momento correspondente ao produto das forças
Vi.ºpiso pelos Bri.º piso. Este cálculo, apresentado aqui de forma detalhada, pode ser feito
diretamente através da Equação (4.2).
Figura 4.12. Distribuição das forças sísmicas pelos nembos e definição dos braços das forças
Tabela 4.2. Resumo do cálculo de componentes do momento de piso M1 para o piso inferior
Painel B (m) H (m) s (m) kl (MN/m) V2.º piso (kN)
a
Br2.º piso
(m) p2M1
(kN.m) V1.º piso
(kN) a
Br1.º piso
(m) p1M1
(kN.m)
1 1.50 1.00 0.20 435.48 F2/3 3.0 F2 0.58F2 0.5 0.29F2
2 1.50 1.00 0.20 435.48 F2/3 3.0 F2 0.21F2 1.0 0.21F2
3 1.50 1.00 0.20 435.48 F2/3 3.0 F2 0.21F2 1.0 0.21F2
4 1.50 1.00 0.20 435.48 - - - 0.58F1 0.5 0.29F1
5 1.50 2.00 0.20 156.98 - - - 0.21F1 1.0 0.21F1
6 1.50 2.00 0.20 156.98 - - - 0.21F1 1.0 0.21F1 a A força de corte V a afetar a cada painel é proporcional à sua rigidez elástica kl.
O momento M1 pode agora ser calculado, somando ao momento provocado pelas
forças globais de piso ao nível inferior das padieiras, todas as componentes p2M1 e p1M1:
M1 = (1.0F2 + 1.0F1) + F2 + F2 + F2 + 0.29F2 + 0.21F2 + 0.21F2 + 0.29F1 + 0.21F1 + 0.21F1
= 4.71F2 + 1.71F1 (kN.m).
A Tabela 4.3 resume o cálculo da variação de esforço axial nos nembos do piso
inferior, idêntico ao realizado para o piso superior, apenas variando na determinação do
momento de piso M1.
1.50 1.00 1.50 1.00 1.50
2.0
01.0
0
Sismo
Painéis pilar
Painéis lintel
Painéis de conexão
1.50 1.00 1.50 1.00 1.50
Sismo
2.0
01.0
0
1.0
0 2.0
01.0
02.0
01.0
0
1.0
0
0.50
F1
F2
1.00
3.00
V4 V5 V6
V1 V2 V3
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
121
Tabela 4.3. Resumo do cálculo da variação de esforço axial nos nembos do piso inferior
Painel B (m) H (m) s (m) EA/H (MN/m) x (m) xO (m) d (m) ψ (m-1) S (kN)
4 1.50 1.00 0.20 1500.00 0.75 2.625 -1.88 -0.22 -1.03F2 – 0.37F1
5 1.50 2.00 0.20 750.00 3.25 - 0.63 0.04 0.17F2 + 0.06F1
6 1.50 2.00 0.20 750.00 5.75 - 3.13 0.18 0.86F2 + 0.31F1
O esforço axial efetivo N é dado pela soma do esforço calculado em condições
estáticas Rj, com a variação de esforço axial Sj introduzida pelo carregamento lateral. Como já
se notou, os valores de S induzidos nos vários nembos dependem dos valores das forças
sísmicas (F1 e F2). Pretendendo implementar-se um cálculo incremental, que solicita a parede
a um corte basal (Fb) crescente, é necessário atualizar, para cada nível de força, os valores de
S e os correspondentes valores de N.
Face às hipóteses do método, os nembos que constituem uma parede de piso devem
deformar-se solidariamente. Desta feita, é necessário garantir a igualdade de deslocamentos
no topo dos nembos que constituem cada parede de piso. Esta garantia, bem como a condição
de que o somatório de forças horizontais induzidas nos vários painéis deve igualar o esforço
de corte no piso, obriga a que seja resolvido um sistema de equações indeterminado. A
solução ótima, expressa pela Equação (4.13), pode ser resolvida recorrendo a um processo
iterativo, por exemplo através de otimização. Neste trabalho, tal procedimento é realizado
utilizando o suplemento “Solver” da ferramenta Microsoft Excel®.
Até um determinado nível de corte basal na parede, todos os nembos que a constituem
funcionam em regime elástico linear (para qualquer painel verifica-se V < Vl), e desta forma
também a parede responde naquele regime. Este limite elástico linear é o primeiro ponto que
interessa determinar para a curva de capacidade da parede, e corresponde ao par Fb – δtopo
para o qual se ultrapassa a capacidade elástica linear do nembo mais débil.
Usando um procedimento incremental-iterativo, foi encontrado aquele limite elástico
linear para Fb ≈ 35.1 kN, ao qual corresponde a solução na Tabela 4.4, com o limite linear
alcançado para o painel 4. Nesta tabela, e com referência à Figura 4.7, é possível observar que,
para este nível de carregamento, o domínio de resistência é determinado pelo mecanismo de
flexão composta, uma vez que os valores de Ve são inferiores àqueles de Vt e Va.
Atingido o limite elástico linear da parede, o procedimento passa por obter as soluções
correspondentes a incrementos posteriores de Fb. Na Tabela 4.5 aparece resumido este cálculo,
com incrementos iniciais para Fb de 15 kN, a partir do seu valor de 50 kN. A partir de um
corte basal de cerca de 80 kN observa-se que, no painel 4, a força de corte (VSl.) se aproxima
do limite elástico Ve. A ativação de um mecanismo de colapso está iminente, e nesta fase, os
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
122
incrementos a adotar para Fb devem ser menores. Efetivamente, para Fb ≈ 83.9 kN, o painel 4
ultrapassa o limite elástico e passa a comportar-se em regime plástico por flexão.
Tabela 4.4. Solução correspondente ao limite elástico linear da parede
Painel T (kN) R (kN) S (kN) N (kN) Vl (kN) Ve (kN) Vt (kN) Va (kN) VSol. (kN) e (mm)
1 Piso 2:
20.72
27.90 -6.22 21.69 10.84 31.90 55.58 58.55 6.91 0.0159 2 34.13 0.00 34.13 17.06 49.64 60.83 63.98 6.91 0.0159
3 27.90 6.22 34.12 17.06 49.62 60.83 63.98 6.91 0.0159
4 Piso 1:
35.10
67.45 -26.65 40.80 20.40 58.98 63.46 66.89 20.40 0.0468
5 82.06 4.44 86.51 21.63 59.89 74.96 73.48 7.35 0.0468
6 67.45 22.21 89.66 22.42 61.89 75.83 74.64 7.35 0.0468
Tabela 4.5. Resumo das soluções do cálculo incremental-iterativo
Painel T (kN) N (kN) Vl (kN) Ve (kN) Vt (kN) Va (kN) VSl. (kN) eV eM e (mm)
1 Piso 2:
29.51
19.05 9.52 28.09 54.41 57.40 9.84 0.3442 1.0003 1.0000 0.0226 2 34.13 17.06 49.64 60.83 63.98 9.84 0.1922 1.0000 1.0000 0.0226
3 36.75 18.38 53.33 61.88 65.13 9.84 0.1784 1.0000 1.0000 0.0226
4 Piso 1:
50.00
29.49 - 43.07 58.93 61.96 27.34 0.6181 1.1402 1.2134 0.0722
5 88.39 22.10 61.09 75.48 74.18 11.33 0.1709 1.0000 1.0000 0.0722
6 99.09 24.77 67.77 78.36 78.13 11.33 0.1525 1.0000 1.0000 0.0722
Painel T (kN) N (kN) Vl (kN) Ve (kN) Vt (kN) Va (kN) VSl. (kN) eV eM e (mm)
1 Piso 2:
38.36
16.39 - 24.23 53.20 56.24 12.36 0.5027 1.0518 1.0534 0.0299 2 34.13 17.06 49.64 60.83 63.98 13.00 0.2540 1.0000 1.0000 0.0299
3 39.41 19.70 57.04 62.93 66.29 13.00 0.2199 1.0000 1.0000 0.0299
4 Piso 1:
65.00
18.10 - 26.71 53.98 56.99 24.84 0.9149 1.8642 4.8023 0.1279
5 90.29 22.57 62.28 76.00 74.88 20.08 0.2966 1.0000 1.0000 0.1279
6 108.58 27.15 73.57 80.84 81.63 20.08 0.2466 1.0000 1.0000 0.1279
Painel T (kN) N (kN) Vl (kN) Ve (kN) Vt (kN) Va (kN) VSl. (kN) eV eM e (mm)
1 Piso 2:
47.22
13.74 - 20.35 51.96 55.09 13.77 0.6685 1.1953 1.3407 0.0384 2 34.13 17.06 49.64 60.83 63.98 16.72 0.3267 1.0000 1.0000 0.0384
3 42.07 21.03 60.74 63.95 67.45 16.72 0.2650 1.0000 1.0000 0.0384
4 Piso 1:
80.00
6.71 - 10.00 48.52 52.02 9.98 0.9921 3.3182 55.098 0.2292
5 92.19 - 63.48 76.51 75.58 34.32 0.4964 1.0482 1.0484 0.2292
6 118.07 - 79.26 83.24 85.13 35.70 0.4031 1.0097 1.0050 0.2292
Painel T (kN) N (kN) Vl (kN) Ve (kN) Vt (kN) Va (kN) VSl. (kN) eV eM e (mm)
1 Piso 2:
49.50
13.05 - 19.35 51.63 54.79 13.90 0.7098 1.2507 1.4881 0.0409
2 34.13 - 49.64 60.83 63.98 17.80 0.3477 1.0005 1.0001 0.0409
3 42.75 21.37 61.69 64.22 67.75 17.80 0.2777 1.0000 1.0000 0.0409
4 Piso 1:
83.86
3.77 - 5.64 47.01 50.74 5.64 0.9966 3.8741 130.78 0.2623
5 92.68 - 63.78 76.65 75.76 37.93 0.5456 1.0793 1.0966 0.2623
6 120.52 - 80.70 83.85 86.04 40.30 0.4458 1.0240 1.0182 0.2623
Painel T (kN) N (kN) Vl (kN) Vfl. (kN) Vt (kN) Va (kN) VSl. (kN) V M (mm)
1 Piso 2:
52.43
12.17 - 18.06 51.21 54.40 13.89 0.7606 1.3360 1.7540 0.0443 2 34.13 - 49.64 60.83 63.98 19.24 0.3758 1.0038 1.0013 0.0443
3 43.63 21.81 62.90 64.55 68.13 19.30 0.2950 1.0000 1.0000 0.0443
4 Piso 1:
88.83
0.00 - 0.01* 45.00 49.09 0.01 1.0359 22.396 213737 0.3109
5 93.31 - 64.18 76.82 75.99 42.40 0.6058 1.1285 1.1889 0.3109
6 123.66 - 82.55 84.63 87.20 46.43 0.5006 1.0506 1.0517 0.3109
* Corresponde ao valor limite de comportamento plástico por flexão do painel.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
123
Este estado observado no painel 4 perdura até ao momento em que se verifica a sua
descompressão (N = 0), ocorrendo a mesma para um corte basal de 88.8 kN, com a solução
apresentada no final da Tabela 4.5. Na versão original do método RAN, este estado precoce
do painel 4 por descompressão determina o colapso do respetivo piso e, consequentemente, da
parede. No procedimento agora proposto admite-se que, mesmo após a perda do nembo 4, o
corte basal pode ser redistribuído pelos dois nembos restantes, depois de restabelecido o
equilíbrio da parede. Tendo em conta o princípio de sobreposição de efeitos, é feita uma
redistribuição dos esforços verticais segundo o esquema apresentado na Figura 4.13.
Figura 4.13. Cálculo da redistribuição dos esforços verticais na parede
A redistribuição também necessária dos esforços horizontais implica a alteração, no
piso inferior, do esquema para cálculo das variações de esforço axial devidas ao carregamento
lateral, uma vez que desaparece um dos painéis neste piso. A variação de esforço axial nos
restantes dois nembos é obtida em função do novo momento de piso, calculado pela Equação
(4.1) como:
M1 = F2 × B2 + F1 × f1 + (V5 × H5/2 + V6 × H6/2) = 4.0F2 + 1.0F1 + 2 × 0.50 × (F2 + F1) × 1.0
= 5.0F2 + 2.0F1 (kN.m).
O coeficiente de afetação do momento M1 ao painel 5 é calculado, com referência à
Figura 4.5, como:
ψ5 = ρ5 × d5/(ρ5 × d52
+ ρ6 × d62) = -1.25/(2 × 1.25
2) = -0.40, tendo ψ6 um valor simétrico deste.
Desta forma, os valores de S para os painéis no piso inferior são dados por:
S5 = -2.0F2 – 0.8F1 e S6 = 2.0F2 + 0.8F1 (kN).
=
27.900 34.125 27.900
82.063 67.450
+
67.450
134.900 67.450
27.900 34.125 27.900
216.963 0.000
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
124
A continuação do cálculo incremental-iterativo após a rotura do painel 4 permite
identificar o colapso de corte por tração (V > Vt) do painel 6 para um corte basal de
aproximadamente 122.1 kN, em correspondência com a primeira solução na Tabela 4.6. A
partir deste momento admite-se um patamar de resposta plástica para este painel até um drift
limite de 0.4% (8 mm).
Após a identificação do colapso do painel 6, para Fb = 122.3 kN esgota-se a resistência
em regime plástico por flexão do painel 5, conforme observado na segunda solução na Tabela
4.6, passando a admitir-se um patamar de resposta plástica adicional para este painel, até um
drift limite de 0.8% (16 mm). Como se constata, o colapso da parede ocorre através de um
mecanismo do piso inferior, o qual determina a capacidade inelástica da parede, como
ilustrado sobre a curva de capacidade Fb – dtopo na Figura 4.14.
Tabela 4.6. Soluções do cálculo incremental-iterativo após o colapso do painel 4
Painel T (kN) N (kN) Ve (kN) Vp (kN) Vt (kN) Va (kN) VSl. (kN) eV eM e (mm)
1 Piso 2:
72.04
6.29 9.38 9.39 48.31 51.84 9.11 0.9661 2.4004 12.368 0.0771 2 34.13 49.64 50.02 60.83 63.98 30.06 0.5872 1.1119 1.1557 0.0771
3 49.51 71.00 71.82 66.75 70.70 32.87 0.4426 1.0227 1.0168 0.0771
4 Piso 1:
122.06
- - - - - - - - - -
5 32.86 23.93 24.11 58.22 53.67 23.72 0.9622 2.3346 11.055 0.8429
6 184.10 115.48 121.13 98.35 109.51 98.35 0.7123 1.2545 1.4988 0.8429
Painel T (kN) N (kN) Ve (kN) Vp (kN) Vt (kN) Va (kN) VSol. (kN) V M (mm)
1 Piso 2:
72.15
6.26 9.33 9.34 48.29 51.82 9.06 0.9665 2.4086 12.542 0.0774 2 34.13 49.64 50.02 60.83 63.98 30.12 0.5885 1.1129 1.1578 0.0774
3 49.55 71.05 71.86 66.76 70.71 32.96 0.4435 1.0231 1.0172 0.0774
4 Piso 1:
122.25
- - - - - - - - - -
5 32.58 - 23.90 58.12 53.57 23.90 0.9783 2.8188 21.738 1.5011
6 184.38 115.62 121.29 98.41 109.62 98.35 - - - 1.5011
Figura 4.14. Curvas de capacidade (D: descompressão, O: plástico por flexão, X: plástico por
corte diagonal; T2 – d2×10 é a curva de capacidade do piso superior com deslocamento
ampliado 10 vezes)
0.0
25.0
50.0
75.0
100.0
125.0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0
Força d
e c
orte
(k
N)
Deslocamento (mm)
T2 – d2 10
Fb – dtopo
D O X O X
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
125
O método simplificado RANm foi implementado em dois tipos de ambiente de cálculo,
nomeadamente numa folha de cálculo do Microsoft Excel® (Fig. 4.15a) e, em colaboração
com a Flagsoft Lda., em Visual Basic .NET (VB.NET). Neste último caso é usada uma
linguagem de programação orientada a objetos, dentro da estrutura do Microsoft® .NET
framework [msdn.microsoft.com/netframework], permitindo recursos gráficos poderosos, tal
como se pode observar na Figura 4.15b.
(a)
(b)
Figura 4.15. Interfaces de implementação do RANm em (a) Excel ao caso atual e
(b) VB.NET com aplicação a um outro edifício
Ftotal = 88.83 kN 1.5 1 1.5 1 1.5 0 0 0 0 m
F3 = 52.427 kN
H3 = 1.0 m d = -2.500 0.000 2.500 3.250 3.250
f3 = 0.9 m gc = -0.200 0.000 0.200 0.000 0.000
s3 = 0.2 m ró = 750000 750000 750000 0 0 kN/m
x = 0.75 3.25 5.75 6.5 6.5 m
H4 = 2 m x0 = 3.250 m
1.5 1 1.5 1 1.5 0 0 0 0 m
F5 = 36.40 kN
H5 = 1.0 m d = -2.500 0.000 2.500 3.250 3.250
f5 = 0.9 m gc = -0.200 0.000 0.200 0.000 0.000
s5 = 0.2 m ró = 750000 750000 750000 0 0 kN/m
x = 0.75 3.25 5.75 6.5 6.5 m
H6 = 2 m x0 = 3.250 m
Piso sup. S1 = - - - - - kN
Piso méd. S3 = -15.73 0.00 15.73 - - kN
Piso inf. S5 = -67.45 11.24 56.21 - - kN
Paredes s (m) B (m) H (m) kl (kN/mm) N (kN) Vl (kN) Ve (kN) Vp (kN) Vt (kN) Va (kN) Mecanismo
1 0.20 1.50 1.00 435.48 12.172 6.086 18.060 18.110 51.211 54.402 Flexão
2 0.20 1.50 1.00 435.48 34.125 17.063 49.635 50.023 60.829 63.982 Flexão
3 0.20 1.50 1.00 435.48 43.628 21.814 62.904 63.539 64.550 68.129 Flexão
4 0.20 1.50 1.00 435.48 0.003 0.002 0.005 0.005 45.002 49.092 Flexão
5 0.20 1.50 2.00 156.98 93.307 23.327 64.176 65.627 76.817 75.990 Flexão
6 0.20 1.50 2.00 156.98 123.657 30.914 82.549 85.097 84.626 87.196 Tracção
2055.89 306.89
Ve: Limite elástico absoluto por presso-flexão Vp: Limite plástico por presso-flexão Vt: Limite elástico de corte por tracção Va: Limite elástico por deslizamento
dl (mm) eV eM dt (mm) de (mm) pV pM dp (mm) d Efect. (mm)
0.0140 0.760653 1.336024 1.754104 - 0.0576 0.760653 1.000000 1.000000 0.032 13.888 0.044327
0.0392 0.375795 1.003759 1.001266 - 0.1144 0.375795 1.000000 1.000000 0.044 19.236 Soma: 0.044323
0.0501 0.294963 1.000000 1.000000 - 0.1444 0.294963 1.000000 1.000000 0.044 19.303 52.427000 0.044325
0.0000 1.034818 - - - - 1.034818 22.010150 214396.314413 0.311 0.005 0.311487
0.1486 0.605839 1.128497 1.188896 - 0.4705 0.605839 1.000000 1.000000 0.270 42.397 0.310860
0.1969 0.500621 1.050595 1.051705 0.567 - 0.500621 1.000000 1.000000 0.296 46.429 88.830900 0.310857
dtopo (mm) 0.355184
d2 (mm) d1 (mm) dtopo (mm) T2 (kN) Fb (kN)
0.0000 0.0000 0.0000 0.000 0.000 -83.7349999 83.7349999
0.0159 0.0468 0.0627 20.718 35.104
0.0226 0.0722 0.0948 29.510 50.000
0.0299 0.1279 0.1578 38.362 65.000
0.0384 0.2292 0.2676 47.215 80.000
0.0409 0.2623 0.3032 49.496 83.864
0.0443 0.3109 0.3552 52.427 88.830
0.0771 0.8429 0.9200 72.040 122.062
0.0774 1.5011 1.5785 72.151 122.250
0.0774 8.0000 8.0774 - 122.250
0.0774 8.0000 8.0774 - 23.903
0.0774 16.0000 16.0774 - 23.903
0.0774 16.0000 16.0774 - 0.000
Parcializada
V Efect. (kN)
0.0
25.0
50.0
75.0
100.0
125.0
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0
Fo
rça d
e c
ort
e (
kN
)
Deslocamento (mm)
T2 – d2x10
Fb – dtopo
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
126
4.3 Comparação com Softwares Comerciais
Os métodos apresentados no Capítulo 3, na medida em que estão disponíveis através
de ferramentas comerciais, implicam o desconhecimento de alguns dos seus aspetos de
cálculo por parte dos utilizadores, nomeadamente o cômputo da evolução dos esforços axiais
e a avaliação do drift. O procedimento de análise RANm, apresentado neste capítulo, como
utiliza um cálculo “aberto”, permite ao utilizador um entendimento perfeitamente claro sobre
tais aspetos.
Enquanto que os métodos apresentados no capítulo anterior implicam um
procedimento de análise estrutural com controlo de deslocamento na fase inelástica da
resposta, o método apresentado neste capítulo é exclusivamente implementado com controlo
de força. O uso de tal procedimento é baseado numa interpretação simplista, e de certa forma
empírica, da evolução da condição da estrutura e das redistribuições efetuadas. Note-se que
em Parisi (2010), é detalhada uma formulação que permite o uso do método RAN com
controlo de deslocamento, através da integração da resposta dos painéis com recurso a um
macro-elemento bidimensional.
Tendo em conta a prática comum de dimensionamento de estruturas, o uso das
ferramentas apresentadas no Capítulo 3 permite, não só proceder à análise e verificação da
segurança de estruturas em alvenaria, mas também fundamentar a avaliação de segurança com
os resultados fornecidos pelos programas. O método aqui proposto, no âmbito de um
procedimento simplificado, pode ser encarado como uma ferramenta para projeto e
verificação da segurança em fase de pré-dimensionamento ou como uma ferramenta de ensino.
4.3.1 Síntese Comparativa das Caraterísticas
Um aspeto relevante a considerar é o facto do método RANm considerar uma resposta
com degradação da rigidez dos painéis, através da consideração de coeficientes corretivos V e
M para a resposta em deformação, quer em fase elástica, quer em fase plástica. Pelo contrário,
os métodos SAM II e 3Muri permitem apenas considerar uma rigidez reduzida para os painéis,
por defeito igual a 50% da rigidez elástica, tal como proposto na norma italiana (NTC, 2008)
e no Eurocódigo 8 (IPQ, 2010). Adicionalmente, na versão científica TreMuri, é permitida
uma lei constitutiva com degradação da rigidez em compressão. Na Tabela 4.7 é feita uma
comparação entre o método agora proposto e os métodos apresentados no Capítulo 3, relativa
aos aspetos mais relevantes considerados na análise e verificação da segurança sísmicas.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
127
Tabela 4.7. Comparação sintética entre o método proposto e os programas comerciais
Método proposto
RANm
ANDILWall/SAM II
v2.5 3Muri v4.0 3DMacro v3.0
1. Tipologias de
alvenaria
Simples Simples, armada e
mista
Simples, armada, mista
e reforçada
Simples,
mista/confinada e
reforçada
2. Modelação Idealização de
malha
Geração de malha
automática
Geração de malha
automática
Geração de malha
automática
2.1 Elementos
de alvenaria
Elemento
unidimensional
Elementos do tipo
“barra”
Elementos
unidimensionais com
três camadas
Assemblado de molas
2.1.1 Altura
efetiva dos
nembos
Altura da
abertura ou
personalizada
Regra de Dolce (1991)
ou personalizada
Média da altura livre
nos lados verticais dos
painéis ou personalizada
Altura dos painéis
entre os alinhamentos
de aberturas
2.1.2
Comprimento
dos lintéis
Largura da
abertura
Largura da abertura ou
personalizada
Largura da abertura ou
personalizada
Largura da abertura
2.1.3 Ligação
entre painéis
Lintéis rígidos Offsets rígidos Nós rígidos Molas discretas
2.2 Elementos
lineares
Implícitos nos
elementos de
lintel
Elementos finitos de
barra com plasticidade
concentrada nas
extremidades
Elementos finitos de
barra com plasticidade
concentrada nas
extremidades
Elementos finitos de
barra subdivididos
com plasticidade
concentrada nos nós
2.2.1 Interação
com painéis de
alvenaria
Ligação de
encastramento
aos lintéis
Nas extremidades dos
elementos
Nas extremidades dos
elementos
Ao longo dos
elementos
2.3 Pavimentos Diafragma rígido Diafragma rígido Diafragma rígido ou elementos flexíveis
Diafragma rígido ou elementos flexíveis
2.3.1 Subdivisão
de cargas
Calculada por
zonas de
influência
Definida
geometricamente no
ficheiro DXF
Definida
percentualmente
Definida
percentualmente
2.4 Elementos
de reforço
Não permite
diretamente
Não permite Tirantes e malha de
FRPs
Sistema CAM
3. Análises
permitidas
Estática não
linear no plano
Estática não linear no
plano e modal
Estática não linear no
plano e modal (versão científica permite
também análise
pushover adaptativa e
análise dinâmica não
linear com integração
no tempo)
Estática não linear no
plano, cinemática linear e não linear
fora do plano
4. Método de
solução
Incremental-
incremental com
controlo de força
Newton-Raphson com
estratégia arc-length
Newton-Raphson
modificado
Incremental-iterativo
com redução do
passo
4.1 Critérios de
convergência
Forças e
deslocamentos
Energético, força,
deslocamentos ou todos
Forças e momentos Forças
5. Nível de
implementação
Folha de cálculo
e versão beta em
VB.net
Ambiente amigável Ambiente amigável Ambiente amigável
em VB.net
6. Verificações
de segurança
Global em força ou em
deslocamento
Global em deslocamento e local
fora do plano
Global em deslocamento e local a
ações verticais
Global em deslocamento e local
fora do plano
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
128
4.3.2 Capacidade e Avaliação de Segurança
Visando a validação do procedimento RANm na verificação da segurança de
estruturas em alvenaria, apresenta-se uma comparação relativamente aos programas
comerciais. Para esta validação é feita uma análise comparada de resultados relativamente ao
caso de estudo introduzido na Secção 4.2.3, que consiste numa parede de um edifício de dois
pisos. Para efeito da verificação de segurança, para além da capacidade de corte basal,
assumem igualmente importância a rigidez inicial das paredes e a sua capacidade de
deformação. A comparação entre métodos utilizando estas três características é feita através
do cálculo da resposta bilinear idealizada, definida teoricamente na Secção 2.1.2.
A parede em estudo foi então modelada, e depois analisada sob carregamento
pushover da esquerda para a direita, nos programas ANDILWall/SAM II, TreMuri e
3DMacro. Os resultados obtidos, em termos da curva de capacidade, resposta bilinear
idealizada e evolução da deformada e dano, são apresentados respetivamente nas Figuras 4.16
a 4.18, as quais podem ser confrontadas com a Figura 4.14 para uma comparação mais efetiva
com o RANm. Qualquer dos métodos nos programas comerciais identifica predominância de
dano por rocking, com um consequente mecanismo do piso inferior.
De modo a capturar a evolução de esforços nos nembos pelo procedimento proposto,
apresenta-se na Figura 4.19 a evolução dos esforços axial N e transverso T nos nembos
externos do piso inferior, comparativamente às previsões pelos métodos dos programas
comerciais. No caso do RANm é identificada uma maior variação do N nos nembos, que se
traduz em semelhante tendência na sua resposta ao corte. É curioso notar que, apesar da
aproximação em termos da evolução do N pelos métodos SAM II e 3DMacro, a maior
aproximação na previsão da evolução de T corresponde à dupla TreMuri-3DMacro.
Figura 4.16. Curvas de capacidade obtidas pelos diferentes métodos
0.0
25.0
50.0
75.0
100.0
125.0
150.0
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0 16.0 18.0 20.0
Força d
e c
orte
basa
l (k
N)
Deslocamento no topo da parede (mm)
RANm
SAM II
TreMuri
3DMacro
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
129
Figura 4.17. Resposta bilinear idealizada em correspondência com os vários modelos
(1 mm) (pico) (queda)
(a) Dano em extremos: por flexão (base) por flexão (base e topo) por corte (base e topo)
(pico) (1.25 cm) (2 cm)
(b) elástico plástico por corte plástico por flexão rotura por flexão
(pico) (1.25 cm) (2 cm)
(c) fendas diagonais esmagamento fendas por tração
Figura 4.18. Resposta da parede em termos da deformada e do dano nos elementos segundo
os modelos: (a) SAM II, (b) TreMuri e (c) 3DMacro
0.0
25.0
50.0
75.0
100.0
125.0
150.0
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 14.0
Força d
e c
orte
basa
l (k
N)
Deslocamento no topo da parede (mm)
RANm
SAM II
TreMuri
3DMacro
1
2 3
4 5
6 7 8
9 10 11
9 10
11 12
n13
n14
n15
N1
N2
N3
N4
N5
N6
1
2 3
4 5
6 7 8
9 10 11
9 10
11 12
n13
n14
n15
N1
N2
N3
N4
N5
N6
1
2 3
4 5
6 7 8
9 10 11
9 10
11 12
n13
n14
n15
N1
N2
N3
N4
N5
N6
x x
● ●
●
●
x x
●
●
●
●
●
●
●
x
x
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
130
(a)
(b)
Figura 4.19. Evolução dos esforços (a) axial e (b) transverso nos nembos externos do
rés-do-chão na fase inicial de deformação (linhas com marcador de círculo correspondem ao
nembo à direita)
Tendo em conta que a verificação pelo procedimento N2 (ver Secção 2.1.2) requer o
cálculo de uma aproximação ao primeiro modo de vibração da estrutura, é agora apresentado
um cálculo de análise modal, em correspondência com as hipóteses assumidas para o RANm.
Neste caso, a matriz de rigidez a considerar é obtida com base no esquema apresentado na
Figura 4.20, em que as componentes da matriz resultam da aplicação de dois deslocamentos
unitários, aplicados um de cada vez, ao nível de cada um dos pavimentos.
Figura 4.20. Esquema estrutural para definição da matriz de rigidez da parede
-100
-50
0
50
100
150
0 0.5 1 1.5 2 Vari
açã
o d
o e
sforç
o
axia
l (k
N) RANm
TreMuri
SAM II
3DMacro
0
20
40
60
80
100
120
0 0.5 1 1.5 2
Esf
orç
o t
ran
sver
so (
kN
)
Deslocamento no topo da parede (mm)
RANm
TreMuri
SAM II
3DMacro
1.0
0
2.0
0
1.0
0
1
1k21
k11
k22
k12
1 2 3
4
5 6
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
131
As componentes da matriz de rigidez K são calculadas somando as contribuições de
rigidez dos nembos envolvidos na deformação da parede:
k11 = 4 kn1 + 2 kn5 = 4 × 435483.87/2 + 2 × 156976.74/2 = 1027944.49 kN/m;
k21 = k12 = -3 kn1 = -3 × 435483.87/2 = -653225.81 kN/m;
k12 = -3 kn1 = -3 × 435483.87/2 = -653225.81 kN/m;
k22 = 3 kn1 = 3 × 435483.87/2 = 653225.81 kN/m.
onde a rigidez kni de cada nembo ni é assumida, para ter em conta as recomendações dos
regulamentos (NTC, 2008; IPQ, 2010), com valor reduzido de 50% relativamente à rigidez
elástica calculada com a Equação (2.6). Por outro lado, as componentes da matriz de massa
M são aquelas calculadas na Secção 4.2.3:
m1 = 12.95 t e m2 = 9.17 t.
As frequências próprias de vibração podem agora ser calculadas resolvendo o sistema:
2( ) 0det K w M
(4.15)
onde w representa a frequência angular própria da parede. Para o caso com dois graus de
liberdade, o sistema é expresso como:
11 12 12 2 2
11 1 22 2 21 12
21 22 2
00 ( ) ( ) 0
0n i i
k k mw k m w k m w k k
k k m. (4.16)
Resolvendo o sistema, obtêm-se as duas primeiras frequências próprias da parede:
w1 = 123.4 rad/s (f1 = 19.6 Hz) e w2 = 368.0 rad/s (f2 = 58.6 Hz).
Os modos principais de vibração n podem ser agora calculados com base no sistema:
2( ) 0n nK w M . (4.17)
Para o caso com dois graus de liberdade, o sistema é expresso como:
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
132
2 2111 1 12 11 1 1 12 2
2 2221 22 2 21 1 22 2 2
0 ( ) 0
0 ( ) 0
nn n n n
nn n n n
k m w k k m w k
k k m w k k m w. (4.18)
Assumindo um valor normalizado unitário para o deslocamento no topo da parede, em
qualquer dos dois modos de vibração ( 21 = 1.0 e 22 = 1.0), são obtidas as restantes
componentes dos modos de vibração:
- para w1 = 123.4 rad/s: 11 = 0.786;
- para w2 = 368.0 rad/s: 12 = -0.900.
Os modos de vibração principais no plano da parede, obtidos dos diferentes programas
e através do procedimento proposto são apresentados na Tabela 4.8, para os quais se
identificam diferenças de amplitude. Os modos obtidos pelo SAM II e pelo TreMuri são
adicionalmente ilustrados na Figura 4.21. Note-se que, no caso do 3DMacro, a análise modal
está ainda em fase de implementação, considerando-se neste caso uma aproximação para o
primeiro modo de vibração segundo um perfil proporcional à altura do edifício (triangular
invertido).
Tabela 4.8. Modos de vibração principais no plano da parede
Modo 1 Modo 2
Período (s) Frequência (Hz) d1.º piso d2.º piso Período (s) Frequência (Hz) d1.º piso d2.º piso
SAM II 0.0844 11.854 0.555 1.0 0.0292 34.247 -1.231 1.0
TreMuri 0.0845 11.834 0.663 1.0 0.0329 30.395 -1.444 1.0
3DMacro a - - 0.496 1.0 - - - -
RANm 0.0509 19.640 0.786 1.0 0.0171 58.566 -0.900 1.0 a Neste caso o primeiro modo de vibração é assumido como triangular invertido.
(a) (b)
Figura 4.21. Modos de vibração principais no plano da parede segundo os modelos (a) SAM
II e (b) TreMuri
1
2 3
4 5
6 7 8
9 10 11
9 10
11 12
n13
n14
n15
N1
N2
N3
N4
N5
N6
1
2 3
4 5
6 7 8
9 10 11
9 10
11 12
n13
n14
n15
N1
N2
N3
N4
N5
N6
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
133
Para além da captura da resposta da estrutura em termos globais, através da curva de
capacidade, é fundamental obter uma boa estimativa da exigência de deslocamento para a
estrutura quando sujeita a um determinado sismo de projeto. Para avaliar a previsão desta
característica por aplicação de cada um dos métodos, através da utilização do método N2 foi
determinado o perfil do deslocamento-alvo d*máx em função da aceleração do terreno ag, em
correspondência com cada um dos métodos. Neste cálculo assumiu-se um coeficiente de solo
S de 1.0, amortecimento de 5%, e períodos espetrais TB e TC representativos do “sismo
próximo” respetivamente de 0.1 e 0.25 s. O resumo deste cálculo é apresentado na Tabela 4.9.
Tabela 4.9. Parâmetros da resposta bilinear idealizada e do sistema bilinear equivalente
Resposta bilinear idealizada Sistema bilinear equivalente
dy (mm) k (kN/m) Fy (kN) du (mm) Г m* (t) T* (s) Se/ag q*/ag SDe/ag d*máx (mm) a
SAM II 1.730 78751.5 136.24 11.173 1.243 16.35 0.0905 2.358 0.352 490E-6 1.35(ag-1.81)
TreMuri 0.901 142009.2 127.94 12.328 1.195 17.75 0.0703 2.054 0.340 257E-6 0.91(ag-2.11)
3DMacro 1.142 99579.0 113.74 31.903 1.262 15.59 0.0786 2.179 0.377 341E-6 1.09(ag-1.82)
RANm 0.457 266610.0 121.80 8.077 1.127 19.35 0.0535 1.803 0.323 131E-6 0.61(ag-2.44)
RANm-r 0.914 133305.0 121.80 8.077 1.127 19.35 0.0757 2.135 0.382 310E-6 1.02(ag-1.82) a Note-se que em qualquer caso é imposto um valor mínimo para d*máx igual a SDe.
A comparação de perfis do deslocamento-alvo é apresentada na Figura 4.22. É
identificada uma diferença bastante significativa entre os requisitos de deslocamento previstos
pelos vários métodos, particularmente de 1:2 nos casos do TreMuri e SAM II. Relativamente
ao procedimento proposto (RANm), a exigência de deslocamento para a estrutura é muito
subestimada em relação aos restantes métodos. Obteve-se, no entanto, uma boa aproximação
com o método proposto quando reduzindo de 50% a rigidez inicial do correspondente sistema
bilinear equivalente (RANm-r), redução que é então recomendada quando da sua aplicação.
Figura 4.22. Perfis do deslocamento-alvo em função da aceleração do terreno
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0
d*
má
x (
mm
)
ag (m/s2)
SAM II
TreMuri
3DMacro
RANm
RANm-r
Capítulo 4. Método Simplificado para Análise Global de Edifícios
134
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
135
5. ESTRUTURAS DE ALVENARIA CONFINADA
Embora no Capítulo 6 se demonstre que a construção de edifícios de pequeno a médio
porte (1 a 3 pisos) com alvenaria simples é possível, tendo em conta os sismos de projeto
considerados em grande parte do território português, existem alguns casos em que as
estruturas de alvenaria confinada podem apresentar vantagens. Para além da construção nas
zonas de maior sismicidade e do efeito psicológico de segurança adicional desta solução face
a uma solução em alvenaria simples, a alvenaria confinada pode ser usada alternativamente ao
betão armado em estruturas que impliquem solicitações significativas em termos de trações e
por isso desaconselhadas em alvenaria simples.
A alvenaria confinada, ao empregar elementos de contorno em betão armado (Fig.
5.1a), poderá ter melhor recetividade face à tradição de construção com betão armado em
Portugal. A alvenaria confinada difere da tipologia em betão armado, pelo facto da montagem
dos painéis de alvenaria preceder a betonagem, o que confere ao sistema um funcionamento
conjunto (Fig. 5.1b). Note-se no entanto, que a construção com alvenaria confinada implica o
uso de unidades de alvenaria resistentes, as quais não são normalmente usadas em Portugal,
ainda que estejam disponíveis no mercado.
Zonas críticas
Estribos
Alvenaria
Pilar
Viga
Armadura longitudinal
Elementos de confinamento em
betão armado
(a) (b)
Figura 5.1. Paredes de alvenaria com contornos em betão armado: (a) parede confinada e
(b) diferença de comportamento entre alvenaria de enchimento e alvenaria confinada
Internacionalmente, a alvenaria confinada foi inicialmente introduzida por reação local
a terramotos destrutivos em Itália e no Chile (sismos de Messina em 1908 e de Talca em 1928,
respetivamente), tendo os mesmos danificado significativamente os edifícios existentes de
alvenaria simples (Fig. 5.2a). De acordo com Brzev (2007), os edifícios em alvenaria
confinada demostraram um bom desempenho quando sujeitos ao sismo de Chillan em 1939
Alvenaria de
enchimento
Alvenaria
confinada
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
136
no Chile (Fig. 5.2b), sendo esta provavelmente a principal razão para a grande disseminação
da técnica de construção neste país, e que foi estendida a toda a América Latina.
(a) (b)
Figura 5.2. Cenários pós-terramoto no Chile: (a) Talca, 1928 (alvenaria simples) e (b) Chillan,
1939 (alvenaria confinada)
No Chile, esta técnica foi inicialmente usada na construção de pequenas moradias (até
2 pisos), e mais tarde, como uma solução económica encontrada na expansão urbana e
adaptada à construção de edifícios com 3-4 pisos (Moroni et al., 2002). A construção com
alvenaria confinada tem sido aplicada em todos os Continentes, inclusive em países com
média a alta sismicidade, tais como a Eslovénia, a Índia, a Nova Zelândia, o Japão e o Canadá.
Efetivamente, a necessidade de responder de forma adequada à perigosidade sísmica exige
construção sismo-resistente (Fig. 5.3), sendo claras as vantagens construtivas e económicas da
alvenaria confinada. Esta tipologia foi, recentemente, usada na reconstrução do Haiti depois
do sismo de 2010. Neste contexto global, e com o intuito de definir linhas comuns para a
construção e projeto de edifícios em alvenaria confinada, foi criada a rede internacional
“Confined Masonry Network”, patente em http://www.confinedmasonry.org.
Figura 5.3. Mapa mundial de perigosidade sísmica (GSHAP, 1999)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
137
5.1 Comportamento de Paredes sob Ações Cíclicas
A avaliação experimental do comportamento de paredes em alvenaria confinada
submetidas a carregamento lateral cíclico no plano tem recebido grande atenção. Na
sequência desta atividade experimental, têm sido propostos diferentes modelos numéricos e
analíticos para previsão da resposta. Com efeito, a parede confinada é o membro estrutural
unitário dos edifícios em alvenaria confinada, cuja resposta individual influencia a resposta
global dos edifícios.
5.1.1 Resposta Experimental
A investigação experimental sobre o comportamento lateral cíclico de paredes em
alvenaria confinada começou no México (Meli et al., 1968), onde a tipologia de alvenaria
confinada foi particularmente difundida na construção de edifícios. Mais tarde, uma das
maiores campanhas experimentais de paredes de alvenaria confinada sujeitas a carregamento
lateral foi realizada na Pontifícia Universidade Católica do Perú (PUCP), avaliando diversas
características das paredes confinadas, nomeadamente a armadura transversal dos pilares, a
esbeltez das paredes, a ligação pilares-alvenaria, o número de painéis adjacentes, a colocação
de armadura na alvenaria e a carga vertical (San Bartolomé, 1994).
De acordo com San Bartolomé (1994), uma parede em alvenaria confinada
comporta-se monoliticamente e elasticamente até à primeira fenda visível na parede, a qual
acontece tipicamente por tração no betão. Depois, a primeira fenda diagonal ocorre devido à
tração diagonal no painel de alvenaria. Após a completa fendilhação diagonal, o painel de
alvenaria comporta-se como um par de peças triangulares confinadas pelos pilares, onde o
triângulo superior roda e desliza em torno da base da coluna comprimida.
Tal comportamento é corroborado experimentalmente por Aguilar (1997) com
referência ao ilustrado na Figura 5.4, onde uma rótula plástica é identificada na base do pilar
comprimido. Por outro lado, no caso em que uma parede confinada é sujeita a uma força
vertical N de valor elevado, o painel de alvenaria essencialmente desliza, pelo que a armadura
longitudinal do pilar tracionado não chega a entrar em cedência. Neste caso, a resistência
última da parede é sobretudo associada à ação de “cavilha” dos varões longitudinais do pilar
comprimido (San Bartolomé, 1994; Tomaževič e Klemenc, 1997; Tomaževič, 1999).
A Figura 5.5 ilustra os resultados de ensaios laterais cíclicos realizados sobre painéis
confinados de tijolo cerâmico maciço, na qual se identifica uma quebra na envolvente da
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
138
resposta força lateral-deslocamento, concorrentemente com a fendilhação diagonal, após a
qual os pilares de confinamento assumem a função principal na resistência das paredes. De
acordo com Zepeda et al. (2000), os pilares de confinamento têm um papel muito importante
na resistência, com funções de reserva, ductilidade e estabilidade das paredes após a
fendilhação diagonal.
Figura 5.4. Rótula plástica desenvolvida numa parede confinada (Aguilar, 1997)
Figura 5.5. Resposta de paredes confinadas sob carregamento lateral cíclico (San Bartolomé,
1994): envolventes de força lateral-deslocamento e padrões de dano em paredes
A quebra na envolvente força-deslocamento observada por San Bartolomé (1994) não
é tão clara em ensaios realizados por outros investigadores. Esta quebra pode estar
relacionada com a forma de propagação da fenda diagonal para as extremidades dos pilares de
confinamento. Por exemplo, na Figura 5.5 pode observar-se que, para a parede MV5, a fenda
diagonal cruza completamente o pilar comprimido (transição gradual), com uma quebra de
resistência inferior àquela observada para a parede MV1, na qual a fenda diagonal apenas
cruza parcialmente as extremidades dos pilares (transição brusca). Esta quebra pode também
MV1
MV5
Parede Dimensões (m) N (kN) Reforço horizontal
MV1 2.30 x 2.15 x 0.13 0 ---
MV2 2.30 x 2.15 x 0.13 50 ---
MV3 2.30 x 2.15 x 0.13 150 ---
MV4 2.30 x 2.15 x 0.13 150 1Ø6 @ 2 fiadas (20cm)
MV5 2.30 x 2.15 x 0.13 250 ---
0 5 10 15 20
250
200
150
100
50
0
Deslocamento horizontal (mm)
Forç
a la
tera
l (k
N)
MV1
MV2
MV3
MV4
MV5
Expansão
Rótula plástica
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
139
ser devida, em parte, à fragilidade das unidades de alvenaria. Efetivamente, quando sejam
usadas unidades robustas é de esperar um padrão misto com fendas “em escada” e horizontais,
sendo o pilar neste caso solicitado ao longo de toda a sua altura.
Outro mecanismo que pode ocorrer em paredes confinadas é aquele por flexão, o qual
é caracterizado por fendilhação horizontal ao longo das juntas de assentamento na parte
tracionada da parede, e em alguns casos, pela separação entre pilares e painel de alvenaria
devido à insuficiente armadura longitudinal dos pilares e/ou fraca ligação aos lados do painel
de alvenaria (Fig. 5.6a-b). Este mecanismo é semelhante ao corte por deslizamento, o qual é
típico em estruturas com paredes de enchimento, como ilustrado na Figura 5.6c.
(a) (b) (c)
Figura 5.6. Rotura por flexão de parede confinada apresentando (a) fendilhação horizontal e
(b) separação de pilar (Yoshimura et al., 2004) similarmente a (c) mecanismo num pórtico em
betão armado com deslizamento por faixas da parede de enchimento (Tomaževič, 1999)
De modo a evitar o mecanismo por flexão, e assim otimizar a contribuição do painel
de alvenaria para a resistência ao corte, os pilares de confinamento devem ser suficientemente
armados e é requerida uma boa ligação entre a alvenaria e os pilares. De acordo com San
Bartolomé e Quiun (2004), se o deslizamento for evitado, ainda que o painel fique fendilhado,
o efeito de confinamento permite manter a resistência à carga lateral.
A resistência à tração diagonal dos painéis de alvenaria tem um papel fundamental na
resposta ao corte de paredes confinadas. Nos regulamentos da América Latina e dos Estados
Unidos é especificado um ensaio de tração (corte) diagonal, e.g. a norma americana ASTM
E 519-07. Na Europa é menos habitual realizar este ensaio, pelo que os valores de referência
para a resistência ao corte diagonal são limitados. Com base na comparação de resultados de
fórmulas para a resistência ao corte apresentadas nos regulamentos da América Latina e no
Eurocódigo 6 (CEN, 2005), Magenes et al. (1996) propõem uma relação entre a resistência ao
corte inicial fv0 e a resistência ao corte diagonal τm0 de 0.6. A influência da resistência ao corte
diagonal da alvenaria na resposta de paredes confinadas será analisada à frente neste capítulo.
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
140
Na Universidade do Minho, Gouveia e Lourenço (2007) realizaram um estudo
experimental do comportamento sob carregamento lateral cíclico de painéis de alvenaria de
blocos de betão leve, especificamente desenvolvidos para uso estrutural, o qual é uma
importante referência nacional. O programa experimental contemplou ensaios de diferentes
tipologias de paredes, adotando diferentes opções de reforço dos painéis e de preenchimento
de juntas. Na Figura 5.7 apresentam-se resultados dos ensaios sobre paredes em alvenaria
simples e confinada, em termos do padrão de dano e da envolvente da resposta força
lateral-deslocamento. O confinamento dos painéis possibilitou um incremento da força lateral
de 12-18%, e sobretudo, um aumento considerável da ductilidade da parede, a qual é
evidenciada pelo padrão de dano com fendilhação mais difusa.
Figura 5.7. Resultados de ensaios com carregamento lateral cíclico sobre paredes de
alvenaria simples e confinada (Gouveia e Lourenço, 2007)
A principal diferença entre a alvenaria de enchimento de pórticos e a alvenaria
confinada reside na ligação de interface entre a alvenaria e os elementos de contorno.
Efetivamente, enquanto que no caso das paredes de enchimento a alvenaria e os elementos de
betão armado não apresentam ligação (Pires, 1990), já no caso da alvenaria confinada a
betonagem dos elementos de confinamento a posteriori induz, após o endurecimento do betão,
uma pré-compressão do painel de alvenaria devido à retração do betão. Este aspeto foi
confirmado experimentalmente e numericamente por Jäger e Schöps (2009). Adicionalmente,
no caso da alvenaria confinada, a tensão vertical associada às ações permanentes está em
muito grande percentagem na alvenaria, e não nos elementos de contorno.
De particular complexidade reveste-se o comportamento na interface pilar-alvenaria,
como exemplificado na Figura 5.8 a partir de Acuña e De la Cuba (2009). Nesta figura pode
observar-se a propagação de uma fenda diagonal através da interface e comprovar a variação
não linear do deslocamento horizontal dos sensores na interface (S7, S8 e S9) relativamente
-100
-50
0
50
100
-15 -10 -5 0 5 10 15
Forç
a late
ral(
kN
)
Deslocamento (mm)
Simples Confinada
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
141
ao deslocamento imposto no topo das paredes com ligação embricada (P1) e ligação reta (P2).
No entanto, não se identifica uma tendência clara na separação entre pilares e alvenaria.
Note-se que os deslocamentos na interface são em geral maiores para o caso da parede
com ligação embricada, o que, de acordo com os autores dos ensaios, se deve à segregação do
betão na zona dentada, que provoca uma concentração de esforços. Acuña e De la Cuba (2009)
concluem que ambas as paredes se comportam de forma similar, ainda que a ligação reta na
parede P2 permita uma melhor aderência nas zonas de interface pilar-alvenaria.
(a)
Figura 5.8. Comportamento da interface pilar-alvenaria (Acuña e De la Cuba, 2009):
(a) penetração de fenda diagonal em pilar e (b) gráfico de deslocamentos na interface
relativamente ao deslocamento global da parede (— ligação embricada, - - ligação reta)
5.1.2 Modelos Numéricos Existentes
A resposta experimental do comportamento de paredes de alvenaria confinada sob
carregamento lateral cíclico tem, como se viu acima, sido estudada por vários autores. Em
correspondência com estes estudos, diferentes teorias e correspondentes critérios de
resistência têm sido propostos, os quais são apresentados em seguida:
1. Regulamento argentino Inpres-Cirsoc 103 (1983):
0 0
0 0
0.6 0.3 , sendo
a resistência ao corte diagonal da alvenaria e a tensão normal na parede;
m
m
(5.1)
2. D’Amore e Decanini (1994):
0 0(0.6 0.3 ) com o coeficiente corretivo (1.2 0.2 , 1),
sendo / a relação entre a altura e o comprimento da parede;
m t tK K mín H L
H L (5.2)
S8-P2
S9-P2 0 5 10 15 20
Deslocamento horizontal no topo da parede (mm)
(b)
D
eslo
cam
ento
hori
zonta
l na
inte
rfac
e (m
m)
S7-P1
S7-P2
S9-P1
7
8
9
S8-P1
3.5
3.0
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
142
3. Moroni et al. (1996):
0 00.45 0.3 ;m (5.3)
4. Turnšek e Čačovič (1970):
0 0
0
0.73361,com o coeficiente de distribuição das tensões de corte
0.7336
( , 1.5) 1;
m
mb
b mín H L
(5.4)
5. Tomaževič e Klemenc (1997):
2
0 0
0
0.73361 ,
2 2 0.7336
com ( , 1.5) 1 e 5/4;
m
m
H L H L
b b b
b mín H L
(5.5)
6. Lafuente et al. (1998):
00
0
0.7336 4 4 , com obtido por0.7336
interpolação entre 0.56, 0.65 e 0.85 respetivamente para 1.21, 1.01 e 0.76;
m
m
aH L H L a L
L
H L
(5.6)
7. Riahi et al. (2009):
0 00.21 0.363 0.0141 , sendo o rácio de armadura longitudinal
nos pilares, a tensão de cedência do aço e a resistência à compressão do betão.
m y c
y c
r f f r
f f (5.7)
Os modelos propostos pelo regulamento argentino (Inpres-Cirsoc 103, 1983) e por
Moroni et al. (1996) foram obtidos assumindo uma aproximação do tipo Mohr-Coulomb, por
ajuste de mínimos quadrados a resultados experimentais obtidos pelos autores. O modelo
proposto por D’Amore e Decanini (1994) é baseado na proposta do regulamento argentino,
mas introduzindo um fator corretivo Kt que tem em conta a geometria da parede.
Por outro lado, o modelo de Turnšek e Čačovič (1970) é obtido com base no estado de
tensão no centro da parede para o caso em que a tensão principal atinge um valor crítico, o
qual é definido como uma resistência à tração de referência da alvenaria e é relacionado com
a resistência ao corte diagonal. Um critério semelhante é usado por Tomaževič e Klemenc
(1997), o qual considera a influência das forças de interação entre o painel de alvenaria e os
pilares de confinamento (Figura 5.9a) na alteração das tensões de compressão do painel; a
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
143
forma e distribuição das forças de interação é considerada através do parâmetro α. O modelo
de Lafuente et al. (1998) é inspirado em Tomaževič e Klemenc (1997), e adaptado para
aproximar os resultados experimentais obtidos pelos autores. Neste modelo é definido um
parâmetro a/L, calculado como a razão entre um coeficiente de aderência e o comprimento da
parede, representando a fração da secção de parede sujeita a compressão diagonal.
(a) (b)
Figura 5.9. Fenómenos em paredes confinadas: (a) forças de interação na interface do painel
de alvenaria (Tomaževič, 1999) e (b) efeito de cavilha (Bourzam et al., 2008)
O estudo feito por Riahi et al. (2009) foi baseado na recolha de uma ampla base de
dados, tendo o modelo sido derivado através de uma análise de regressão linear. Note-se, no
entanto, que a base de dados foi submetida a um processo de pré-validação, com eliminação
de outliers, pelo que resultados particulares do comportamento de paredes confinadas foram
descartados. O modelo proposto considera uma parcela de resistência proporcionada pelo
efeito de cavilha dos varões dos pilares, efeito que tem sido considerado também por
Tomaževič (1999), e por Bourzam et al. (2008) tal como ilustrado na Figura 5.9b.
A contribuição da armadura longitudinal nos pilares para a resistência de paredes
confinadas é um dos aspetos que atualmente ainda é pouco claro. Ao contrário do que
acontece no caso dos pórticos em betão armado, onde o aço trabalha à tração por flexão dos
pilares, no caso das paredes confinadas, as quais deformam fundamentalmente por corte, a
armadura longitudinal nos pilares confere sobretudo resistência ao corte. No entanto, esta
resistência só é mobilizada para elevados níveis de deformação e degradação dos pilares, a
qual deve ser então considerada sobretudo como uma reserva de capacidade (Flores et al.,
1996; San Bartolomé, 1994; Zepeda et al., 2000). Particularmente, o efeito de cavilha dos
varões compensa essencialmente a perda de resistência ao corte do painel de alvenaria,
permitindo manter a resistência lateral.
Fenda
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
144
Os modelos apresentados acima foram obtidos para o caso de um painel retangular de
alvenaria, confinado por dois pilares e uma viga de topo. No entanto, têm sido também
estudadas situações particulares de paredes confinadas, nomeadamente paredes com múltiplos
painéis de alvenaria adjacentes e paredes com aberturas. Estas tipologias de paredes são
comuns em edifícios, por razões construtivas ou por imposição regulamentar, devendo ser por
isso igualmente consideradas.
O caso de paredes com pilares intermédios confinando múltiplos painéis foi estudado
por Marinilli e Castilla (2007), usando alvenaria de blocos de betão (Fig. 5.10a). Através da
comparação de várias configurações é possível concluir que a resistência associada à
fendilhação diagonal é independente do número de pilares na parede, ainda que a presença de
pilares intermédios possibilite um incremento da resistência máxima e da capacidade de
deformação. Observe-se na Figura 5.10a que as fendas se propagam diagonalmente nos vários
painéis, cruzando os pilares intermédios, similarmente ao caso com apenas um painel de
alvenaria. Marinilli e Castilla (2007) propuseram uma expressão para cálculo da resistência
associada à fendilhação diagonal semelhante à Equação (5.3), enquanto que a resistência
máxima, com base nos resultados apresentados, pode ser ajustada como:
0 00.45 0.3 (1 ) 0.4 , sendo o número de pilares intermédios,
o rácio da secção transversal do pilar e a resistência à compressão do betão.
cm c
t
c t c
AN f N
A
A A f
(5.8)
Por sua vez, Yáñez et al. (2004) estudaram o comportamento de paredes confinadas
apresentando aberturas. Neste caso, observou-se que a presença de uma abertura induz um
padrão de fendilhação que se propaga essencialmente nas zonas exteriores ao alinhamento
vertical da abertura, como observado na Figura 5.10b. Neste caso, os autores sugerem, para
uma primeira aproximação, considerar uma resistência proporcional à área efetiva da secção
transversal, desde que exista um pilar de confinamento que atue como tensor. Tendo em conta
a esbeltez dos painéis adjacentes à abertura, é proposta uma expressão para estimar a força
horizontal máxima H relativamente àquela para a parede sem abertura H0:
0 0
0.810.9 para λ 0.9 e para λ 0.9,
λ
sendo λ a esbelteza (altura/comprimento) do painel tracionado.
H H
H H (5.9)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
145
No que respeita à capacidade de deformação, Yáñez et al. (2004) verificam que esta
não é substancialmente afetada pela presença da abertura, sendo que a fendilhação diagonal
primária ocorre em geral para um drift de 0.2%. Por outro lado, é conservado um nível de
resistência significativo até elevados níveis de deformação (drift de 1.2-1.35%). Modelos
mais complexos para paredes com aberturas são apresentados em Ranjbaran et al. (2012).
Figura 5.10. Padrões de dano devido a carregamento lateral cíclico sobre paredes (a) com
múltiplos pilares (Marinilli e Castilla, 2007) e (b) com abertura (Yáñez et al., 2004)
5.1.3 Modelos Obtidos por Data Mining
Tendo em conta o pouco consenso existente sobre modelos teóricos ou numéricos para
prever a resistência das paredes confinadas, emprega-se em seguida uma metodologia pouco
habitual na engenharia de estruturas. O Data Mining (DM) é um processo desenvolvido na
área da Inteligência Artificial, o qual visa a extração de conhecimento de alto-nível a partir de
dados em bruto (Witten e Frank, 2005). O DM tem sido aplicado em diferentes áreas, desde a
Medicina aos Negócios, e igualmente na Engenharia Estrutural (e.g., Marques et al., 2009).
Este processo consiste numa análise detalhada de bases de dados, através da aplicação de
métodos desenvolvidos por analogia com processos de aprendizagem naturais, e.g. redes
neuronais. Então, com base num algoritmo de aprendizagem, diferentes modelos podem ser
ajustados para prever o valor de uma variável, em função de parâmetros que a influenciam.
Neste trabalho, o DM é aplicado na previsão da resistência a forças laterais de paredes
de alvenaria confinada. Para isto, com base numa revisão bibliográfica, foi criada uma base de
dados com resultados de 105 ensaios de paredes de alvenaria confinada sob carregamento
lateral. As variáveis consideradas neste estudo foram: a tensão normal aplicada, σ0; a
resistência ao corte diagonal da alvenaria, τm0; a esbeltez da parede, H/L; o rácio da secção
transversal do painel de alvenaria, Am/At; a percentagem de armadura longitudinal dos pilares
de confinamento, r; e a resistência ao corte experimental máxima absoluta da parede, τexp.
(a) (b)
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
146
A Figura 5.11 mostra uma matriz que representa graficamente, através de pontos, as
associações de valores entre variáveis em toda a base de dados. Esta matriz denota pouca
clareza para as relações entre pares de variáveis, a qual parece apresentar apenas uma
tendência linear entre a resistência ao corte diagonal τm0 e a resistência ao corte experimental
τexp. Por esta razão, com base num processo de DM, foi feita uma procura de tendências nos
dados, através do ajuste de modelos utilizando diferentes técnicas.
Figura 5.11. Matriz de relacionamento entre as variáveis da base de dados
Neste trabalho, para além da típica regressão linear múltipla, foram testadas as
técnicas não paramétricas de árvores de regressão e de k-vizinhos próximos, e as técnicas
paramétricas não lineares de redes neuronais artificiais e de máquinas de vetores de suporte.
Estas técnicas foram testadas recorrendo à aplicação rminer criada por Cortez (2010) em
ambiente R (RDCT, 2012). Neste estudo, o esquema de avaliação de cada técnica é baseado
em 10 corridas de uma validação cruzada 5-desdobrável, onde os registos de dados são
divididos em cinco partições de igual tamanho. Depois, em cada uma das corridas,
sequencialmente, cada subconjunto é testado segundo o modelo ajustado com os dados nas
restantes 4 partições, de modo a obter, em cada corrida, uma previsão para todos os registos
de dados. A seguir faz-se uma breve apresentação das técnicas testadas.
Legenda:
σ0 – tensão normal aplicada
(MPa)
τm0 – resistência ao corte
diagonal da alvenaria (MPa)
H/L – esbeltez da parede
Am/At – rácio da secção
transversal do painel de
alvenaria
r – percentagem de armadura
longitudinal dos pilares (%)
τexp – resistência ao corte
experimental máxima
absoluta da parede (MPa)
s0
0.5 1.5 0.6 0.8 0.5 1.5
0.0
0.6
1.2
0.5
1.5
tm0
Hm.Lm
0.5
1.5
2.5
0.6
0.8
Am.At
r
0.5
2.0
3.5
0.0 0.6 1.2
0.5
1.5
0.5 1.5 2.5 0.5 2.0 3.5
texp
σ0
τm0
H/L
Am/At
r
τexp
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
147
O algoritmo de árvores de decisão funciona através da criação e treino de
subconjuntos de informação para os quais são inferidas uma ou mais regras. Segundo uma
estrutura arborescente, cada nó da árvore estabelece um teste baseado em atributos e cada
ramo descendente desse nó corresponde a um dos valores possíveis para esse atributo. Estas
árvores designam-se por Árvores de Regressão (AR) quando realizam a previsão do valor de
uma variável contínua, as quais foram introduzidas por Breiman et al. (1984). O método de
k-Vizinhos Próximos (k-VP) baseia as suas previsões na localização das k observações que são
mais similares ao item a prever. A determinação desta similaridade é normalmente baseada
em medidas da distância entre valores de variáveis. Neste estudo, é usada uma formulação
baseada na transformação das medidas de distância em pesos (Hechenbichler e Schliep, 2004).
As Redes Neuronais Artificiais (RNA) são inspiradas no modo de funcionamento do
cérebro humano, as quais são, por analogia, constituídas por unidades de processamento
(nodos, os neurónios artificiais) interligadas segundo uma dada configuração, tendo sido
usada neste trabalho a tipologia perceptrão multicamada (Haykin, 1999) ilustrada na Figura
5.12a. Os nodos constituem-se por um conjunto de conexões etiquetadas por pesos (w) com
efeito excitatório para valores positivos e inibitório para valores negativos, um integrador que
reduz os n argumentos de entrada (estímulos) a um único valor, e por uma função de ativação
f. No presente estudo os pesos da rede são inicialmente gerados aleatoriamente na gama [-0.7,
+0.7] e a função de ativação utilizada é a logística (1/(1+exp(-x))). O número de nodos na
camada intermédia foi otimizado usando uma procura de grelha no intervalo {6, 8, …, 14},
com os limites inferior e superior estabelecidos de modo a evitar sub-ajustamento e
sobre-ajustamento, respetivamente. Depois, o algoritmo de treino é aplicado ajustando
sucessivamente os pesos, até que o declive do erro seja quase nulo ou até que sejam atingidas
100 iterações. A previsão é depois feita somando a contribuição de todas as ligações ativadas:
1
1
,
1
0,,0,ˆ
o
Ij
io
I
i
jijio wwwxfwy (5.10)
onde wi,j denota o peso da conexão do nodo j à unidade i, o é a unidade de saída e I é o
número de neurónios de entrada.
As Máquinas de Vetores de Suporte (MVS) são sistemas de aprendizagem que utilizam
um domínio de hipóteses de funções lineares num espaço de caraterísticas, as quais são
treinadas com uma tendência de aprendizagem estatística. A ideia básica é transformar o input
x num espaço de caraterísticas m-dimensional, usando um mapeamento não linear
(Smola e Schölkopf, 2004). Estão, a MVS procura o melhor hiperplano de separação linear,
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
148
relativo a um conjunto de vetores de suporte no espaço de caraterísticas, tolerando um
pequeno erro numa zona ε-insensitiva quando ajusta os dados (Fig. 5.12b). A transformação
depende da função de kernel adotada, tendo neste trabalho sido usada a kernel com base
radial: k (x, x’) = exp(-γ||x–x’||2), com o parâmetro γ no intervalo {2
-9, 2
-8,…, 2
-5}. A previsão
é depois feita no espaço transformado com base no domínio de funções ajustadas.
(a) (b)
Figura 5.12. Exemplos de (a) perceptrão multicamada e de (b) transformação MVS
No processo de DM, face ao esquema de avaliação utilizado, as técnicas que se
revelaram mais promissoras na previsão da resistência ao corte de paredes confinadas sob
carregamento lateral, foram a regressão múltipla e as máquinas de vetores de suporte. De
acordo com um modelo da resistência ao corte em função de todas as restantes variáveis na
base de dados, o desempenho na previsão é comparado na Figura 5.13a-e. O desempenho
global é dado pela média do coeficiente de correlação de Pearson (Cor) nas 10 corridas, e
pelo seu intervalo de confiança sob um teste t-student com um nível de confiança de 95%.
Para perceber melhor o problema estudado, foi feita uma análise de sensibilidade para
medir a relevância das variáveis na previsão da resistência ao corte experimental com os
modelos de regressão múltipla e de máquinas de vetores de suporte. Isto foi feito, para cada
variável de entrada, calculando a variância produzida na saída quando a variável de entrada
varia em toda a sua amplitude. Esta análise forneceu as importâncias relativas apresentadas na
Figura 5.13f, onde a resistência ao corte diagonal da alvenaria (τm0) se mostra preponderante e
a tensão normal instalada (σ0) apresenta uma influência significativa.
Por outro lado, enquanto que no modelo de regressão múltipla, o peso da percentagem
de armadura longitudinal nos pilares (r) é insignificante, para o caso da máquina de vetores de
suporte, uma relevância pequena, mas não desprezável, é identificada para esta variável. Este
facto pode denotar uma dependência não linear da resistência ao corte de paredes confinadas
relativamente a esta variável, como igualmente observado em D’Amore e Decanini (1994).
X1
X2
… … … …
Xn
Input layer Hidden layer Output layer
wk,j
j
k
wj,0
wk,0
wj,1
support
vectors
-ε 0 +ε
+ε
0
-ε
vetores de
suporte
Camada de
entrada
Camada de
saída
Camada
intermédia
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
149
(a) (b) (c)
(d) (e) (f)
Figura 5.13. Resistência experimental contra a resistência prevista por (a) árvores de
regressão, (b) redes neuronais artificiais, (c) k-vizinhos próximos, (d) regressões múltiplas,
(e) máquinas de vetores de suporte; (f) importância das variáveis na previsão com RM e MVS
Diversos modelos têm sido propostos para prever a resistência ao corte de paredes
confinadas, os quais foram apresentados na secção anterior. Enquanto que uns são baseados
numa fórmula do tipo Mohr-Coulomb com uma parcela coesiva e outra devida ao atrito por
compressão, outros baseiam-se num estado limite de corte por tração da alvenaria. Na
sequência do processo de DM, neste trabalho são adicionalmente propostos dois modelos, um
baseado numa regressão linear múltipla e outro de máquina de vetores de suporte.
O modelo de regressão múltipla melhor ajustado aos dados recolhidos é apresentado
abaixo, o qual é independente do valor da percentagem de armadura longitudinal nos pilares,
dada a sua reduzida influência. Neste modelo salienta-se o valor significativo do coeficiente
independente (1.0 MPa), o qual pode denotar, por um lado, a necessidade de considerar
variáveis adicionais, tais como a percentagem de furação das unidades de alvenaria ou um
parâmetro da ligação pilares-alvenaria e, por outro lado, a natureza não linear do problema.
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
c(0, 2)
c(0
, 2
)
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
c(0, 2)
c(0
, 2
)
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
c(0, 2)
c(0
, 2
)0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
c(0, 2)
c(0
, 2
)
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
c(0, 2)
c(0
, 2
)
36.16
45.04
7.45
11.07
0.28
23.61
51.75
12.05
7.81 4.79
0
10
20
30
40
50
60
σ0 τm0 H/L Am/At r
(%)
Regressão Múltipla
Máquina de Vetores
de Suporte
RM MVS
Cor = 0.907 ± 0.004 Cor = 0.911 ± 0.002
τexperimental (MPa) τexperimental (MPa)
τ pre
vis
to (
MP
a)
Cor = 0.853 ± 0.027 Cor = 0.812 ± 0.016
τexperimental (MPa) τexperimental (MPa)
τ pre
vis
to (
MP
a)
τexperimental (MPa)
AR RNA k-VP
Cor = 0.869 ± 0.014
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
150
0 01.0072 0.4897 0.5341 0.137 0.9966m m tH L A A [MPa]. (5.11)
O modelo de máquina de vetores de suporte não é aqui formalmente apresentado, uma
vez que envolve uma complexa formulação que apenas pode ser resolvida
computacionalmente. Tal modelo é aquele que apresenta o melhor desempenho na previsão da
resistência ao corte das paredes na base de dados, tal como pode ser observado na Figura 5.14,
onde se comparam as previsões com os diferentes modelos numéricos relativamente aos
valores experimentais. Pode também observar-se o bom desempenho do modelo de regressão
múltipla proposto, o qual, pela sua simplicidade, é recomendado para fins de
dimensionamento.
Figura 5.14. Comparação entre a resistência experimental e a resistência prevista por
diferentes modelos
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
τ pre
dic
ted
(MP
a)
tCIRSOC (MPa)
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
τexperimental (MPa)
tDecanini (MPa)
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
tMoroni (MPa)
45line
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
τ pre
dic
ted
(MP
a)
tTurn-Cac (MPa)
45line
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
τexperimental (MPa)
tTomazevic (MPa)
45line
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
tLafuente (MPa)
45line
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
τ pre
dic
ted
(MP
a)
Riahi
45line
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
τexperimental (MPa)
RMRui
45line
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
1.25
1.50
1.75
2.00
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00
SVMi
45line
Máquina de Vetores de
Suporte
Tomaževič e Klemenc
Inpres-Cirsoc 103 D’Amore e Decanini Moroni et al.
Turnšek e Čačovič Lafuente et al.
R2 = 0.80 R2 = 0.81 R2 = 0.83
R2 = 0.73 R2 = 0.67 R2 = 0.66
Regressão Múltipla
R2 = 0.87
Riahi et al.
R2 = 0.93 R2 = 0.75
τexperimental (MPa)
τ pre
vis
to (
MP
a)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
151
5.2 Comportamento Sísmico de Edifícios
O comportamento experimental de paredes de alvenaria confinada sob carregamento
lateral cíclico foi abordado na Secção 5.1.1. No entanto, um edifício em alvenaria confinada
consiste num conjunto de múltiplas paredes, para o qual é de esperar um comportamento
global complexo. Nesta secção é desenvolvido um estudo sobre a resposta sísmica global de
edifícios em alvenaria confinada, na medida em que tal resposta necessita ser considerada nos
procedimentos modernos de verificação da segurança baseados em desempenho, ao invés da
resposta elástica usada nos procedimentos tradicionais e conservativos baseados em força.
Ainda que bastante cedo tenham sido introduzidas instruções técnicas para a
construção com alvenaria confinada, sobretudo num formato prescritivo (e.g., “Ordenanza
General de Urbanismo y Construcción” no Chile em 1940), regras de cálculo adequadas para
a resistência sísmica não foram especificadas ou aplicadas até finais do século XX. Este
aspeto tem sido denotado pelo fraco desempenho de edifícios em alvenaria confinada face a
sismos recentes (San Bartolomé, 2007; Brzev et al., 2010), tal como exemplificado na Figura
5.15 com edifícios muito danificados pelo sismo do Chile em 2010.
A alvenaria confinada apenas começou a ser matéria de estudo no campo da
engenharia estrutural no final dos anos 1960 por Meli et al. (1968). Por esta altura, o princípio
fundamental para a conceção de estruturas em alvenaria confinada é introduzido: “Paredes
com confinamentos de betão cuja secção e armadura transversal sejam suficientes para evitar
a propagação da fenda diagonal para o canto (ligação viga-pilar) e para dar lugar a um
mecanismo de rotura dúctil por corte diagonal, apresentam um melhor comportamento” (Meli,
1974). No entanto, apenas em finais do século XX se iniciou o estudo do comportamento de
estruturas tridimensionais em alvenaria confinada, como se apresenta seguidamente.
Figura 5.15. Edifícios danificados pelo sismo do Chile em 2010 (Brzev et al., 2010)
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
152
5.2.1 Resposta Experimental
Diversos estudos experimentais têm sido realizados sobre estruturas tridimensionais
em alvenaria confinada, e.g. na Figura 5.16. San Bartolomé (1994) testou modelos de 2 e 3
níveis com duas paredes paralelas na direção do carregamento, monotonicamente e em
plataforma sísmica (Fig. 5.16a-b). Em qualquer dos ensaios foi observado o colapso do
primeiro nível por corte diagonal, o qual era previsível, dado ser esta a rotura típica de uma
parede confinada. Tal facto é também devido ao efeito da esbeltez no plano das paredes, a
qual provoca maior flexão no piso inferior (San Bartolomé et al., 2011).
Ainda sobre este último estudo, é interessante notar que, para a estrutura em alvenaria
confinada de 2 níveis, a envolvente da resposta corte basal-deslocamento do primeiro nível é
semelhante para ambos os ensaios monotónico e dinâmico (Fig. 5.16a), até ao colapso da
estrutura no ensaio dinâmico para uma aceleração de 1.4g, correspondendo a um drift do
primeiro nível de 1%. O modelo sob carregamento estático atinge o dobro daquela ductilidade.
(a) (b)
(c) (d) (e)
Figure 5.16. Ensaios sob ações laterais de: (a) modelo de 2 níveis à escala 1:2 de forma
monotónica e em mesa sísmica (San Bartolomé, 1994); e (b) modelo 1:2 de 3 níveis (San
Bartolomé, 1994), (c) edifício 1:2 de 2 pisos (Barragán e Alcocer, 2006), (d) edifício 1:5 de 3
pisos (Tomaževič, 1999) e (e) edifício 1:5 de 3 pisos (Shahzada et al., 2011) em mesa sísmica
0
10
20
30
40
50
60
0 20 40
Co
rte
basa
l (k
N)
Deslocamento (mm)
Estático Dinâmico
Estático
Dinâmico
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
153
Alcocer et al. (2004) testaram em plataforma sísmica edifícios à escala 1:2, de 1 a 3
pisos com configurações em planta similares, sendo o edifício de 2 pisos apresentado na
Figura 5.16c. Neste estudo, o comportamento histerético relatado é devido sobretudo ao
mecanismo de corte diagonal, ainda que alguma histerese seja atribuída à fendilhação por
flexão das paredes na fase inicial do carregamento. Por esta razão, os modelos atingiram a sua
resistência para forças nas paredes maiores do que aquelas associadas à primeira fendilhação
diagonal. No caso do edifício de 3 pisos, as deformações e o dano concentram-se no primeiro
piso, causando um mecanismo governado por corte. Verifica-se ainda, que o drift máximo do
primeiro piso decresce com a elevação da estrutura.
Uma resposta similar à descrita acima, com concentração de dano no primeiro piso, foi
observada para os edifícios de 3 pisos testados em plataforma sísmica por Tomaževič (1999) e
Shahzada et al. (2011), embora as características da alvenaria e as secções dos elementos de
confinamento sejam diferentes nos vários casos. Mais à frente serão também apresentados
casos de edifícios com carregamento cíclico quase-estático, os quais representam uma
importante referência na resposta sísmica de edifícios, tendo em conta o uso corrente de
procedimentos de verificação da segurança baseados em análise estática não linear (pushover).
As configurações testadas de edifícios, essencialmente baseadas em tipologias locais,
não são completamente representativas do panorama internacional. Por esta razão, é
necessário desenvolver métodos e ferramentas para avaliar o desempenho de uma
configuração genérica de edifício quando submetida a sismos. Nas secções seguintes são
apresentados métodos para o cálculo sísmico de estruturas em alvenaria confinada.
5.2.2 Modelos Analíticos Existentes
O dimensionamento de edifícios em alvenaria confinada tem sido feito,
nomeadamente nos países da América Latina, sobretudo com base em critérios de força.
Efetivamente, nestes países, grande parte da investigação experimental realizada incidiu sobre
o comportamento individual de paredes confinadas. Com base nesta investigação, foram então
introduzidos critérios de resistência em termos de força para as paredes confinadas,
assumindo indiretamente uma capacidade inelástica em deformação através da aplicação de
um coeficiente de redução da força elástica (coeficiente de comportamento).
Apenas mais recentemente, através da especificação de drifts para o comportamento
das paredes confinadas, têm vindo a ser aplicadas metodologias que permitem considerar
diretamente a capacidade de deformação da estrutura na verificação da segurança. Por
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
154
exemplo, o novo regulamento mexicano (NTCM, 2004) permite considerar um modelo de
“coluna larga” para as paredes que constituem o edifício, o qual é apto para análise pushover.
Este modelo consiste em considerar cada parede confinada como uma coluna com uma
secção equivalente àquela da parede confinada, sendo as várias colunas ligadas por vigas com
extremos rígidos dentro do comprimento das paredes, tal como ilustrado na Figura 5.17a. Em
cada coluna podem então ser simuladas rótulas plásticas com uma lei de comportamento
traduzindo a resposta idealizada ao corte das paredes, tal como a lei trilinear proposta por
Flores e Alcocer (1996) apresentada na Figura 5.17b. Uma resposta trilinear semelhante é
proposta por Tomaževič e Klemenc (1997) com base em resultados experimentais.
O método da coluna larga foi usado por Terán-Gilmore et al. (2009) na avaliação
sísmica baseada em deslocamentos, de edifícios de baixa altura em alvenaria confinada. Na
Figura 5.18a é apresentada a coluna equivalente com rótula plástica rotacional idealizada por
estes autores, a qual foi usada na simulação analítica do edifício testado em plataforma
sísmica por Arias (2005). A modelação do edifício foi feita no SAP2000 (CAS, 2004), através
da assemblagem tridimensional de colunas equivalentes e vigas de ligação, apresentando-se
na Figura 5.18b-c os padrões de dano experimental e previsto. Aponta-se como limitação da
presente estratégia de modelação o facto do domínio de resistência das colunas equivalentes
não ser atualizado após a alteração do respetivo esforço axial.
(a) (b)
Figure 5.17. Método da coluna larga: (a) estrutura equivalente e (b) modelo ao corte proposto
por Flores e Alcocer (1996)
Em alternativa à definição da lei de comportamento ao corte na Figura 5.17b, com a
definição de drifts independente das propriedades da alvenaria, Rihai et al. (2009) propõem o
cálculo dos drifts que definem o modelo trilinear como:
δfend δmáx= 0.3 δúlt= 0.5 %
Vmáx 1.25Vfend
Vfend
Vúlt 0.8Vfend
viga de ligação com extremos rígidos
dentro do comprimento das paredes
coluna no centro da parede com as
suas propriedades equivalentes
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
155
νγ , com γ 1.13 e 0.72 respetivamente para alvenarias de tijolos cerâmicos
e de blocos de betão;
fend
fend
mf (5.12)
2
ν 0.5μγ , com o fator de ductililidade μ 1.3 6;
ν
máxúlt
máxmf (5.13)
0.65 .máx últ (5.14)
Nas Equações (5.12) e (5.13) νfend é a resistência ao corte por fendilhação, νmáx é a resistência
máxima ao corte e fm é a resistência à compressão da alvenaria, em MPa. Note-se que o menor
valor de γ associado à alvenaria de blocos de betão está relacionado com o facto das unidades
de betão apresentarem, em geral, maior fragilidade (Riahi et al., 2009).
(a) (b) (c)
Figure 5.18. Método da coluna larga: (a) macro-elemento, (b) exemplo de edifício ensaiado
em mesa sísmica por Arias (2005) e (c) respetiva previsão do dano por modelo no SAP2000
A parede confinada comporta-se inicialmente como um elemento monolítico, para o
qual uma secção equivalente pode ser definida. No entanto, assim que a parede começa a
fendilhar, a ligação entre o painel de alvenaria e os confinamentos é afetada. A partir deste
momento, a parede passa a comportar-se como um sistema discreto, com um mecanismo
complexo envolvendo interativamente o painel de alvenaria e os elementos de confinamento.
No caso de pórticos com enchimento em alvenaria, têm sido propostos diversos
modelos de modo a simular o comportamento de interface entre o painel de alvenaria e os
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
156
elementos de contorno. Žarnić (1994) propôs um macro-elemento discreto para simulação da
resposta sob carregamento dinâmico de pórticos em betão armado com enchimento em
alvenaria, no qual os pilares e vigas são modelados com molas de flexão e a contribuição da
alvenaria é simulada através de molas axiais dispostas diagonalmente (Fig. 5.19a).
Por sua vez, El-Dakhakhni et al. (2003) e Uva et al. (2012) usaram os modelos
ilustrados na Figura 5.19b-c, nos quais o comportamento não linear de vigas e pilares é
definido através de uma aproximação de plasticidade concentrada. O comportamento
pós-elástico é modelado introduzindo rótulas plásticas (de corte e de flexão) nas extremidades
dos elementos. Para considerar o efeito de rigidificação proporcionado pela alvenaria de
enchimento, são ligadas diagonalmente múltiplas escoras entre cantos da parede, as quais
potenciam o colapso local nos nós viga-pilar. No entanto, em qualquer destes modelos, a
interação entre o painel de alvenaria e os confinamentos é simulada apenas nos cantos da
parede, no comprimento de contato entre vigas/pilares e painel de alvenaria.
A modelação de paredes de alvenaria confinada, nas quais o contato entre vigas/pilares
e o painel de alvenaria se verifica ao longo de todo o contorno, obrigaria à consideração de
modelos com um número significativo de escoras (Fig. 5.20a). Por outro lado, a consideração
do painel de alvenaria como parte resistente principal justifica um modelo mais complexo na
simulação da resposta da alvenaria ao corte, tal como aquele apresentado na Figura 5.20b.
Estes modelos, idealizados com base em padrão de dano verificado sobre parede ensaiada sob
carregamento lateral cíclico, são no entanto difíceis de implementar computacionalmente.
(a) (b) (c)
Figura 5.19. Modelos discretos para pórticos com enchimento em alvenaria usando: (a) molas
(Žarnić, 1994), (b) escoras e rótulas plásticas por flexão (El-Dakhakhni et al., 2003) e
(c) escoras e rótulas plásticas por flexão e por corte (Uva et al., 2012)
l escoras rótula plástica de flexão
junta viga-pilar
rótula plástica de corte
pilar
molas axiais
molas de flexão
viga
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
157
(a) (b)
Figura 5.20. Modelos com (a) múltiplas escoras e com (b) escoras e tirantes, idealizados com
base em padrão de dano sobre parede testada por Pari (2008)
Por outro lado, com base no uso do macro-elemento idealizado por Caliò et al. (2005),
o programa 3DMacro apresentado no Capítulo 3 permite a modelação de estruturas em
alvenaria confinada, usando uma simulação discreta da interface confinamentos-alvenaria. O
comportamento à flexão do macro-elemento é simulado através de um conjunto de molas
transversais entre elementos, de modo a simular a distribuição de tensões na interface (Figura
5.21a). O mecanismo de corte diagonal é por sua vez simulado através de duas molas
diagonais que ligam os cantos do macro-elemento, como apresentado na Figura 5.21b.
(a) (b)
(c) (d) (e)
Figure 5.21. Macro-elemento discreto: (a) modelo de interface, (b) mecanismos de colapso,
(c) modelo de parede confinada, (d) elemento de viga e (e) domínio de interação N-Mx-My
painel 1
mola 1
mola 2
painel 2
painel 1
painel 2
área de influência
espessura
nula
mola equivalente às
duas dispostas em
série
rótula plástica
nó i nó j
Mmédio
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
158
Adicionalmente, tal método permite incluir elementos resistentes lineares no contorno
dos macro-elementos de alvenaria, os quais apresentam interação 2D (vigas) ou 3D (pilares)
com os painéis de alvenaria, tal como acontece na alvenaria confinada (Fig. 5.21c). Estes
elementos são modelados como elementos finitos de barra com plasticidade concentrada, tal
como apresentado na Figura 5.21d. Em correspondência com o tipo de interação, são
definidas rótulas de natureza axial, por flexão e por flexão composta de acordo com um
domínio N-Mx-My exemplificado na Figura 5.21e. A modelação de um edifício é feita através
da assemblagem de todas as suas paredes confinadas e eventuais vigas de ligação, usando
como referência para a geração da malha uma grelha definida pelos alinhamentos de aberturas.
5.2.3 Modelo Proposto
Neste capítulo têm sido apresentados aspetos da resposta experimental e da simulação
numérica e analítica de estruturas em alvenaria confinada. Estas estruturas apresentam um
comportamento complexo e diverso quando sujeitas a carregamento lateral cíclico, não
existindo um consenso claro sobre expressões ou metodologias de dimensionamento. Por esta
razão, mais do que um método que forneça a resposta exata de uma estrutura em alvenaria
confinada, pretende-se aqui propor um modelo simplificado, de simples implementação, e que
considere de uma forma geral as variáveis envolvidas no dimensionamento e verificação da
segurança sísmicos.
O método aqui proposto representa uma extensão do método desenvolvido no Capítulo
4 para alvenaria simples, o RANm, e usa um procedimento de solução incremental-iterativo
semelhante. Assume-se assim que, cada piso de um edifício é constituído por painéis
confinados, os quais podem ser assimilados como elementos unidimensionais de espessura
constante e deformáveis com condição de dupla curvatura. Estes elementos consideram-se
geometricamente situados nos eixos baricêntricos verticais das paredes consideradas com as
suas secções reais, tal como acontece no método da coluna larga (Fig. 5.17a). As várias
paredes confinadas em cada piso consideram-se ligadas por lintéis infinitamente rígidos e
resistentes, pelo que apresentam um deslocamento lateral solidário no topo.
O valor de referência no cálculo do domínio de resistência das paredes é a resistência
ao corte máxima, calculada pela Equação (5.11), sendo depois assumida uma resposta ao
corte de referência trilinear para as paredes (“resposta original” na Fig. 5.22). A definição dos
drifts é baseada nas Equações (5.12) a (5.14) propostas por Riahi et al. (2009). Note-se, no
entanto, que o domínio de resistência depende do esforço axial N sobre cada parede confinada,
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
159
tanto em termos de força de corte como de drift, e é atualizado para cada variação de esforço
axial devida ao carregamento lateral, calculada como apresentado na Secção 4.1.2.
Na Figura 5.22 ilustra-se a alteração do domínio de resistência de uma parede
confinada devido a descompressão (redução do esforço axial) e sobre-compressão (aumento
do esforço axial) da parede. Note-se, no entanto, que tal figura é sobretudo ilustrativa, uma
vez que devido ao procedimento incremental implementado, a resposta de cada parede
apresenta uma forma complexa definida através dos pontos de resistência (V,δ) calculados nos
sucessivos incrementos.
Figura 5.22. Ilustração da alteração do domínio de resistência por descompressão e
sobre-compressão da parede
Na sequência do procedimento incremental, após a total descompressão (N = 0) de
uma parede, a resistência ao corte da mesma assume um valor residual. Esta resistência
considera apenas a contribuição ao corte dos pilares de confinamento através do efeito de
“cavilha”, com a respetiva parcela na Equação (5.7) proposta por Riahi et al. (2009) adaptada
em função da esbeltez da parede, tal como na Equação (5.15). Desta forma, uma parede
depois de totalmente descomprimida suporta uma menor capacidade resistente, ainda que o
corte basal da estrutura possa ser incrementado pela redistribuição de força por outras paredes.
0.0141 ( ,1),
sendo o rácio de armadura longitudinal nos pilares, a tensão de cedência do aço
e a resistência à compressão do betão.
y c
y
c
r f f mín L H
r f
f
(5.15)
Nesta sequência, aquando do esgotamento da capacidade de deformação da parede
descomprimida é observada uma quebra de resistência da estrutura, ainda que em geral as
restantes paredes estejam ainda em fase de primeira fendilhação no piso inferior e em fase
Resposta original Alteração por descompressão Alteração por sobre-compressão
δfend,0 δmáx,0 δúlt,0
Vmáx,0 1.25Vfend
Vfend,0
Vúlt,0 0.8Vfend
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
160
elástica nos pisos superiores. Após a rotura da parede descomprimida é possível proceder a
um reequilíbrio da estrutura, tal como na Secção 4.2.1, e depois retomar o cálculo incremental.
Apresenta-se seguidamente, de forma detalhada, um exemplo de aplicação do
procedimento proposto na previsão da resposta de uma estrutura em alvenaria confinada.
Trata-se de uma parede integrante de uma estrutura (Fig. 5.23), testada no México por
Alcocer et al. (1993) sob carregamento lateral quase-estático, a qual é apresentada como
exemplo de validação na secção seguinte, e por isso aqui apenas será descrita resumidamente
de modo a possibilitar a simulação com o procedimento proposto.
A parede em estudo, com dois níveis, é apresentada na Figura 5.23, a qual consiste em
cada nível num par de painéis com 12.5 cm de espessura em alvenaria de tijolo, confinados
por pilares e ligados por uma viga. O modelo geométrico da parede consiste então em
elementos com uma altura deformável de 2.25 m sob um lintel rígido com 0.25 m de altura.
Para a alvenaria assume-se uma resistência à compressão de 5.3 MPa e uma resistência ao
corte diagonal de 0.59 MPa, obtidas experimentalmente. Note-se que, face à formulação
utilizada, não é necessário conhecer os módulos de elasticidade da alvenaria.
− +
Figura 5.23. Alçado e planta do edifício testado por Alcocer et al. (1993)
Tendo em conta as condições de carregamento da estrutura, os esforços axiais em
condições estáticas sobre as várias paredes confinadas são R1 = 117.2 kN, R2 = 76.4 kN, R3 =
147.2 kN e R4 = 98.1 kN. Face às condições do ensaio, admite-se um perfil de distribuição de
forças sobre a parede proporcional à sua altura. Esta hipótese é coerente com o modo de
deformação “tipo corte” observado para as estruturas em alvenaria confinada. Desta forma,
tendo em conta que os dois níveis da estrutura possuem a mesma altura, o primeiro e segundo
piso receberão respetivamente uma proporção de 1/3 e 2/3 da força de corte basal.
1 2
3 4
2.25 m
2.25 m
0.25 m
0.25 m
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
161
O resumo das soluções do cálculo incremental simulando o carregamento da estrutura
no sentido positivo é apresentado na Tabela 5.1. As paredes comportam-se em regime linear
até um corte basal na parede de quase 140 kN, fase em que a parede 3 entra em regime
fendilhado. Para um corte basal de 151.3 kN, esta parede fica completamente descomprimida,
com uma transição da sua resistência para os pilares de confinamento, conforme denotado nas
faixas sombreadas da Tabela 5.1. Para um corte basal de 151.5 kN, a parede 3 entra no ramo
descendente de resistência, até que a sua capacidade se esgota para um drift de 0.41%.
Tabela 5.1. Resumo das soluções do cálculo incremental-iterativo no sentido positivo
Parede T (kN) N (kN) νmáx (MPa) Vfend (kN) Vmáx (kN) Vúlt (kN) VSol. (kN) μ (%)
1 Piso 2:
40.00
100.48 0.4746 113.89 142.37 91.11 24.00 3.5202 0.0393
2 93.07 0.5423 86.76 108.45 69.41 16.00 3.0004 0.0393
3 Piso 1:
60.00
88.82 0.4538 108.91 136.14 87.13 36.00 3.7281 0.0589
4 156.43 0.7115 113.84 142.30 91.07 24.00 2.2877 0.0589
Parede T (kN) N (kN) νmáx (MPa) Vfend (kN) Vmáx (kN) Vúlt (kN) VSol. (kN) μ (%)
1 Piso 2: 80.00
83.82 0.4449 106.77 133.46 85.42 48.00 3.8263 0.0785
2 109.73 0.5868 93.88 117.35 75.11 32.00 2.7522 0.0785
3 Piso 1:
120.00
30.48 0.3499 83.98 104.98 67.19 72.00 5.3832 0.1178
4 214.77 0.8673 138.76 173.45 111.01 48.00 1.9648 0.1178
Parede T (kN) N (kN) νmáx (MPa) Vfend (kN) Vmáx (kN) Vúlt (kN) VSol. (kN) μ (%)
1 Piso 2: 93.33
78.26 0.4350 104.40 130.50 83.52 56.00 3.9425 0.0916
2 115.29 0.6016 96.26 120.32 77.01 37.33 2.6815 0.0916
3 Piso 1:
140.00
11.04 0.3153 75.68 94.59 60.54 76.90 6.0000 0.1549
4 234.21 0.9192 147.07 183.84 117.66 63.10 1.8918 0.1549
Parede T (kN) N (kN) νmáx (MPa) Vfend (kN) Vmáx (kN) Vúlt (kN) VSol. (kN) μ (%)
1 Piso 2:
100.87
75.12 0.4294 103.06 128.82 82.45 60.52 4.0117 0.0990
2 118.43 0.6100 97.60 122.00 78.08 40.35 2.6438 0.0990
3 Piso 1: 151.30
0.05 0.2958 70.98 88.73 56.78 73.89 6.0000 0.1900
4 245.20 0.9485 151.76 189.71 121.41 77.41 1.8557 0.1900
Parede T (kN) N (kN) νmáx (MPa) Vfend (kN) Vmáx (kN) Vúlt (kN) VSol. (kN) μ (%)
1 Piso 2:
101.00
75.07 0.4293 103.03 128.79 82.43 60.60 4.0129 0.0992
2 118.48 0.6101 97.62 122.03 78.10 40.40 2.6431 0.0992
3 Piso 1:
151.50
-0.14 0.1403 33.67 42.09 26.94 42.09 6.0000 0.2685
4 245.39 0.9490 151.85 189.81 121.48 109.41 1.8551 0.2685
Parede T (kN) N (kN) νmáx (MPa) Vfend (kN) Vmáx (kN) Vúlt (kN) VSol. (kN) μ (%)
1 Piso 2:
120.00
67.15 0.4152 99.65 124.56 79.72 48.07 4.2002 0.1178
2 126.40 0.6313 101.00 126.26 80.80 72.10 2.5547 0.1178
3 Piso 1:
180.00
-27.85 0.1403 33.67 42.09 26.94 27.05 6.0000 0.3627
4 273.10 1.0230 163.69 204.61 130.95 172.95 1.7777 0.3627
Parede T (kN) N (kN) νmáx (MPa) Vfend (kN) Vmáx (kN) Vúlt (kN) VSol. (kN) μ (%)
1 Piso 2:
130.19
62.91 0.4077 97.84 122.30 78.27 78.11 4.3088 0.1278
2 130.64 0.6426 102.82 128.52 82.25 52.07 2.5108 0.1278
3 Piso 1:
195.28
-42.71 0.1403 33.67 42.09 26.94 26.94 6.0000 0.4131
4 287.96 1.0627 170.03 212.54 136.03 168.34 1.7427 0.4131
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
162
Note-se que neste caso não se procede ao cálculo com reequilíbrio da estrutura após a
rotura da parede 3, pois apenas sobra uma parede no piso inferior. As curvas de capacidade da
parede são apresentadas na Figura 5.24, representando o corte basal em função do drift do
primeiro piso ou da distorção total da estrutura. Note-se a presença de um patamar horizontal
nas curvas de capacidade devido à transição da força na parede 3 para os confinamentos. Na
Figura 5.25 é apresentada a evolução dos esforços axial e transverso nas paredes confinadas
do primeiro nível da estrutura, calculada de acordo com o procedimento proposto. Resultados
adicionais relativamente à resposta da estrutura serão apresentados na secção seguinte,
comparativamente com os resultados obtidos experimentalmente e por simulação com o
programa 3DMacro.
Figura 5.24. Curvas de capacidade da parede no sentido de carregamento positivo
Figura 5.25. Evolução dos esforços axial e transverso nas paredes do primeiro nível
0
40
80
120
160
200
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Força
de c
orte
ba
sal
(kN
)
Drift (%)
Fb − drift 1.º piso
Fb − drift total
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Varia
ção d
o e
sforço a
xia
l (k
N)
Drift do 1.º piso (%)
Parede 3
Parede 4
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Esf
orço t
ran
sverso
(k
N)
Drift do 1.º piso
Parede 3
Parede 4
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
163
5.2.4 Exemplos de Validação
Visando a avaliação das previsões pelo programa 3DMacro e pelo método proposto, e
de modo a potenciar o seu uso em projeto sísmico baseado em desempenho, são aqui
apresentados dois casos de estudo. O primeiro caso trata-se de uma estrutura em alvenaria
confinada (Fig. 5.26a) com duas paredes longitudinais iguais e paredes transversais “cegas”,
ensaiada por Alcocer et al. (1993) no CENAPRED (Centro Mexicano de Prevenção de
Desastres), sob carregamento lateral cíclico com um perfil de forças proporcional à altura. O
sistema estrutural consiste em painéis de alvenaria de tijolo, confinados por elementos em
betão armado, tal como ilustrado na Figura 5.26b. O sistema de pavimento consiste numa laje
em betão armado amarrada às vigas. As propriedades da alvenaria obtidas experimentalmente
foram uma resistência à compressão fm de 5.3 MPa, uma resistência ao corte diagonal τm0 de
0.59 MPa, um módulo elástico E de 1495 MPa e um módulo de corte G de 911 MPa.
− +
(a) (b) (c)
Figura 5.26. Estrutura em alvenaria confinada ensaiada no CENAPRED: (a) vista 3D,
(b) detalhe de armaduras e (c) esquema de ensaio (Alcocer et al., 1993)
As forças laterais foram aplicadas através de quatro atuadores hidráulicos de ação
dupla, tal como apresentado na Figura 5.26c. As forças gravitacionais foram simuladas
através da aplicação de seis atuadores ancorados na laje de topo, mantendo uma tensão nas
paredes do primeiro piso de 0.49 MPa. Segundo Sánchez et al. (1996), as primeiras fendas
diagonais na alvenaria ocorreram nas paredes do primeiro piso para um corte basal de 337 kN
e um drift do primeiro piso de 0.12%. Depois, observa-se uma concentração de dano no
primeiro piso, onde a fendilhação diagonal é o padrão principal. A penetração de fendas
diagonais nos pilares ocorreu para distorções de aproximadamente 0.4% no primeiro piso. No
Pilar
Viga
Ancoragem 20 cm
Ø10
Ø12
Ø6
Ø6
Ø6
1 2
3 4
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
164
final do ensaio, os pilares apresentaram descascamento do betão e encurvadura dos varões de
aço, com rotura por corte e causando o colapso do modelo.
A estrutura em estudo foi modelada no programa 3DMacro, no qual foi gerada uma
discretização de painéis de alvenaria, pilares e vigas de confinamento, conforme ilustrado na
Figura 5.27a. Com base na análise pushover, na Figura 5.27b-c é confrontado o padrão de
dano previsto no 3DMacro com aquele observado no ensaio. Por sua vez, na Figura 5.27d é
apresentada uma comparação de envolventes da resposta lateral calculadas pelo procedimento
proposto e para o modelo no 3DMacro, relativamente à resposta experimental.
A previsão no 3DMacro permitiu identificar globalmente os painéis afetados por corte
diagonal, assim como as zonas críticas dos confinamentos. Em termos das envolventes de
resposta, a previsão no 3DMacro apresenta uma boa aproximação à rigidez inicial e à
capacidade de corte basal, ainda que a ductilidade seja sobrestimada relativamente à resposta
experimental. Por sua vez, usando o procedimento proposto, é obtida uma aproximação
apenas na fase de capacidade crescente, não sendo possível capturar a evolução pós-pico.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 5.27. Resposta da estrutura: (a) modelo no 3DMacro, (b) dano previsto e (c) dano
observado para um drift de 0.5%; (d) comparação de envolventes previstas com resposta real
-600
-400
-200
0
200
400
600
-1 -0.75 -0.5 -0.25 0 0.25 0.5 0.75 1
Corte
ba
sal
(kN
)
Drift do 1.º piso (%)
Proposto
3DMacro
X fendas diagonais = fendas por tração ● rótula plástica por flexão
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
165
Na Figura 5.28 estão representadas as tensões na interface entre a alvenaria e os
confinamentos, para carregamentos laterais nos sentidos positivo e negativo da estrutura, em
correspondência com um drift do primeiro nível de 0.1%. A evolução destas tensões
determina a variação de esforços nos elementos, nomeadamente do esforço axial sobre os
painéis de alvenaria. Com referência à Figura 5.29, correspondente ao carregamento negativo
é de notar que o esforço axial sobre os painéis não varia significativamente na fase inicial de
carregamento. Desta figura pode ainda concluir-se que a evolução dos estados de compressão
e descompressão calculada para o procedimento proposto respetivamente para as paredes 3 e
4, é comparável com a evolução da soma de esforço axial no painel e no pilar confinante com
esforço análogo (compressão ou tração) obtida para o modelo no 3DMacro.
Figura 5.28. Tensões na interface confinamentos-alvenaria para carregamentos positivo e
negativo no 3DMacro, em correspondência com um drift do primeiro nível de 0.1%
Figura 5.29. Evolução do esforço axial em elementos estruturais das paredes confinadas do
primeiro nível da estrutura, para carregamento negativo
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
-0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4
Va
ria
çã
o d
o e
sforço a
xia
l
(kN
)
Drift do 1.º piso
Modelo proposto
3DMacro:
Painel de alvenaria
Pilar comprimido
Pilar tracionado
Painel + Pilar comp.
Painel + Pilar trac. Parede 3 Parede 4
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
166
Finalmente, na Figura 5.30, é apresentada a evolução do esforço transverso em
paredes e painéis confinados no primeiro nível da estrutura, respetivamente para o método
proposto e para o modelo no 3DMacro, considerando ambos os sentidos de carregamento.
Enquanto que para o procedimento proposto, as paredes que determinam em maior proporção
a capacidade de corte basal da estrutura são aquelas mais externas no sentido do carregamento
(paredes em compressão), no caso do modelo no 3DMacro a parede 3 é aquela com maior
contribuição em qualquer dos sentidos de carregamento. Este último facto é justificado pelo
modo de deformação tipo “corte” da estrutura, o qual faz com que, em qualquer dos casos, a
parede 3 contribua com a maior proporção de resistência por ter um maior comprimento.
Figura 5.30. Evolução do esforço transverso em paredes e painéis confinados respetivamente
para o método proposto e para o modelo no 3DMacro
Nesta secção foi também estudado um edifício testado por Zavala et al. (2004) no
CISMID (Centro Peruano-Japonês de Investigação Sísmica e Mitigação de Desastres), no
Perú, o qual apresenta irregularidade em planta como se ilustra na Figura 5.31a-b. Este
edifício representa uma casa típica unifamiliar no Perú, com uma altura de piso de 2.5 m e
uma massa de 100 ton. O edifício foi construído essencialmente com paredes de tijolo
cerâmico artesanal confinadas com secções em betão armado, e com lajes de vigotas (Fig.
5.31c). A alvenaria apresenta uma resistência experimental à compressão fm de 4.65 MPa, a
partir da qual se estima a resistência ao corte diagonal τm0 como 0.3132fm1/2
= 0.68 MPa, e os
módulos elástico E e de corte G respetivamente como 400fm = 1860 MPa e 160fm = 744 MPa.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
-0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4
Esf
orço t
ra
nsv
erso
(k
N)
Drift do 1.º piso
Proposto - Parede 3
Proposto - Parede 4
3DMacro - Parede 3
3DMacro - Parede 4
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
167
A Figura 5.31d apresenta o cenário de ensaio deste edifício, onde foram colocados
dois atuadores ao nível da laje de cobertura e outro no primeiro piso, em posição de empurrar
e puxar o edifício, de modo a aplicar um carregamento cíclico. O ensaio foi conduzido com
controlo misto, funcionando um dos atuadores na cobertura com controlo de deslocamento e
os outros com controlo de força, e induzindo um padrão de forças proporcional à altura do
edifício. Sobre o ensaio, os autores relatam que a estrutura se comportou em regime elástico
até um drift do primeiro piso de 0.0625%, começando a fendilhação nas paredes para um drift
de 0.125%. Uma significativa degradação é identificada em correspondência com um drift de
0.5%, a qual atinge um estado máximo para um drift de 1.33%.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 5.31. Edifício ensaiado no CISMID: (a) arquitetura, (b) planta estrutural,
(c) construção e (d) cenário de ensaio (Zavala et al., 2004)
Norte ←
X ← ↓
Y
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
168
O edifício foi modelado no 3DMacro, onde foi criado o modelo geométrico e em
seguida gerada automaticamente uma malha para o edifício, conforme ilustrado na Figura
5.32. Neste caso não foi usado o procedimento proposto em 5.2.3, uma vez que o seu nível de
desenvolvimento atual não permite modelar um edifício tão complexo. O modelo foi depois
submetido a carregamento pushover nos dois sentidos da direção Y. O 3DMacro prevê
essencialmente dano por fendilhação diagonal dos painéis confinados, e também a formação
de rótulas plásticas por flexão nos elementos de confinamento. No confronto com o dano
experimental, os resultados da simulação apresentados na Figura 5.33 para a parede Sul
permitem identificar, globalmente, os painéis sujeitos a maior degradação. Na Figura 5.34 é
confrontado, para a fachada Norte, o dano observado no final do ensaio com aquele previsto
no 3DMacro, onde o corte diagonal é também determinante.
Na Figura 5.35 são comparadas as curvas de capacidade previstas no 3DMacro com a
resposta histerética obtida no ensaio. As curvas previstas apresentam uma boa aproximação à
envolvente experimental, ainda que a capacidade de deformação possa ser subestimada no
sentido positivo de carregamento. Note-se que, na Figura 5.35, são sobrepostas respostas
experimentais obtidas em correspondência com três pontos de controlo, situados
respetivamente nos alinhamentos Norte (série azul), Sul (série verde) e Central (série
vermelha). Assumindo a série de resultados obtida no alinhamento Central, a previsão parece
ainda melhor, com a exceção da envolvente no sentido negativo para o primeiro piso.
As diferenças nos deslocamentos medidos em cada série são devidas à torção do
edifício. Na Figura 5.36 é apresentada a evolução da rotação do edifício durante o ensaio, a
qual é notória no sentido positivo de carregamento. Semelhante tendência de rotação apenas
pode ser verificada qualitativamente a partir da previsão no 3DMacro, conforme ilustrado nas
imagens adjacentes ao gráfico na Figura 5.36, correspondentes ao estado último da estrutura.
Figura 5.32. Modelos geométrico e computacional no 3DMacro para o edifício
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
169
1/800 (3 mm) 1/200 (12.5 mm) drift último
X fendas diagonais = fendas por tração ● rótula plástica por flexão
Figura 5.33. Comparação do dano experimental na parede Sul (Zabala et al., 2004) com
aquele previsto no programa 3DMacro para três níveis de drift
Figura 5.34. Comparação do dano experimental último na parede Norte (Zabala et al., 2004)
com aquele previsto no programa 3DMacro
Em qualquer dos casos estudados, ainda que não tenha sido possível capturar
inteiramente a resposta das estruturas ensaiadas, os métodos de previsão utilizados revelam-se
capazes de fornecer os parâmetros de resistência necessários para proceder a verificações de
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
170
segurança baseadas em força e/ou deslocamentos. Estas verificações permitem considerar a
resposta global da estrutura, contrariamente às verificações locais tradicionalmente feitas.
Figura 5.35. Comparação da resposta experimental (Zabala et al., 2004) com as curvas de
capacidade obtidas no 3DMacro
Figura 5.36. Ilustração de rotações observadas e previstas nos dois sentidos de carregamento
5.3 Metodologias de Dimensionamento Sísmico
O projeto sísmico de edifícios em alvenaria confinada tem sido particularmente
disseminado nos países da América Latina, onde existe uma grande tradição de construção
com esta tipologia. Nesta região, grande parte do edificado existente é constituído por
edifícios em alvenaria confinada, os quais infelizmente foram concebidos sobretudo com base
prescritiva, e têm vindo por isso a demonstrar uma resposta insuficiente em sismos recentes
(e.g., sismos de Pisco em 2007 e do Chile em 2010). Como reação aos efeitos destes sismos,
nestes países tem-se verificado uma grande preocupação na elaboração e disseminação de
-1500
-1000
-500
0
500
1000
1500
-40 -20 0 20 40
Corte
basa
l (k
N)
Deslocamento do 1.º piso (mm) -1500
-1000
-500
0
500
1000
1500
-40 -20 0 20 40
Corte
basa
l (k
N)
Deslocamento do edifício (mm)
Rotação do edifício x 10-3
Co
rte
ba
sal
(tf.
)
-↑ +↓
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
171
normas de projeto sísmico, e.g. as novas normas no México (NTCM, 2004) e no Perú
(SENCICO, 2006).
As normas de projeto sísmico de estruturas elaboradas na América Latina têm, por
motivos tradicionais, privilegiado procedimentos de análise elástica baseados essencialmente
numa verificação da segurança em termos de força. Por outro lado, as normas europeias mais
recentes, e.g. o Eurocódigo 8 – Parte 3 (CEN, 2005) e a atual norma italiana (NTC, 2008),
têm especificado já procedimentos de análise não linear para a verificação de segurança.
Apresentam-se seguidamente algumas recomendações na utilização de cada uma destas
abordagens, com referência a procedimentos desenvolvidos tendo em conta a especificidade
das estruturas em alvenaria confinada.
5.3.1 Procedimentos de Análise Elástica
O dimensionamento de edifícios em alvenaria confinada tem sido tradicionalmente
efetuado usando procedimentos de análise elástica. Estes procedimentos, tal como já referido
no Capítulo 2, baseiam-se no cálculo da solicitação sísmica de projeto em termos de uma
força de corte global por piso, através da consideração de um coeficiente ou espetro sísmico,
reduzida por um coeficiente de comportamento da estrutura. A força de corte é então
distribuída pelas paredes proporcionalmente à sua rigidez, e a solicitação em cada parede é
depois confrontada com a respetiva previsão de resistência através de uma fórmula simples.
Apenas mais recentemente, têm vindo a ser introduzidas componentes de verificação
adicionais, nomeadamente para controlo do dano.
Exemplo desta última abordagem é o regulamento peruano (SENCICO, 2006), o qual
é baseado na avaliação dos desempenhos da estrutura em correspondência, respetivamente,
com um sismo moderado e outro severo (Fig. 5.37). No primeiro caso pretende-se assegurar
que a estrutura se comporte em regime elástico, e no segundo caso pretende-se que a estrutura
não ultrapasse o seu limite de reparação fixado num drift entre pisos de 0.5%. O procedimento
admite que a estrutura se mantém em regime elástico até que qualquer parede no primeiro
piso fendilhe diagonalmente, ou seja, até que o esforço de corte na parede alcance o seu limite
de resistência VR. Posteriormente, durante o “sismo severo”, a força de corte na parede
fendilhada mantém-se constante ao incorrer em regime plástico, pelo que qualquer incremento
de aceleração sísmica se traduz em energia de deformação para a parede fendilhada e numa
redistribuição de forças de corte pelas paredes ainda não fendilhadas, desenvolvendo-se assim
um estado de fendilhações progressivas até que cada parede alcance a sua resistência VR.
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
172
Face a este último cenário, a capacidade de corte basal V em cada direção é calculada
como a soma da resistência das várias paredes (ΣVR). Na fase de comportamento plástico, a
solicitação em termos da força de corte basal H é reduzida por um fator de comportamento q
com valor de 3. É também com base no valor de VR para cada parede que são dimensionados
os elementos de confinamento, através das fórmulas no Tabela 5.2, as quais foram deduzidas
com base em modelos de pórticos planos (San Bartolomé e Quiun, 2004).
(a) (b)
Figura 5.37. Norma peruana: (a) objetivos do dimensionamento e (b) esforços considerados
no dimensionamento dos confinamentos (San Bartolomé e Quiun, 2004)
Tabela 5.2. Expressões para cálculo de forças internas em pilares de confinamento
PILAR Vc (força de corte) T (tração) C (compressão)
Interior ( 1)
R m
c
V L
L N
R c
hV P
L
2
Rc
V hP
L
Extremo 1 5( 1)
R m
c
V L
L N.
cF P c
P F
onde: L é o comprimento total do pórtico; Lm é o maior comprimento de um painel confinado ou 0.5L, o
que seja maior; Nc é o número de pilares de confinamento no pórtico; h é a altura do piso; Pc é a carga
vertical na zona de influência do pilar; e F é a força axial nos pilares estremos devida ao momento no plano
do pórtico, calculada como (Mu – ½VR · h)/L, onde Mu é o momento interno na parede face ao sismo severo.
5.3.2 Procedimentos de Análise Pushover
Como pôde ser constatado atrás, as estruturas em alvenaria confinada apresentam uma
grande capacidade de dissipação de energia e de deformação, como resultado do elevado dano
que estas conseguem suportar. Por esta razão, na verificação da segurança sísmica destas
estruturas devem ser privilegiados procedimentos baseados no controlo desta capacidade,
Distorção angular
Corte
basal Sismo severo
Solo duro: 0.4g
Sismo moderado
Solo duro: 0.2g
Irreparável
ΣVR = V
V = H/q
q = 3
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
173
nomeadamente através de metodologias de análise pushover que considerem direta ou
indiretamente tal característica, tal como o método N2 apresentado na Secção 2.1.2.
No entanto, os edifícios em alvenaria confinada apresentam particularidades que
deverão ser tidas em conta de modo a assegurar um bom desempenho sísmico. Uma destas
particularidades é a evidência de concentração do dano no piso inferior, muitas vezes com
ativação de um mecanismo deste piso. Por esta razão, mais do que o controlo da deformação
no topo do edifício, assume particular relevância o controlo do drift no primeiro piso, de
modo a controlar os estados limites da estrutura. Apresentam-se seguidamente alguns
procedimentos para análise pushover que têm em consta estas particularidades.
No domínio das estruturas, a capacidade de deformação é normalmente mais difícil de
prever do que a resistência. No entanto, Rodriguez e Rodriguez (2000), com base na análise
de resultados a partir de ensaios de carregamento lateral cíclico sobre paredes confinadas,
identificam uma variabilidade na previsão da resistência significativamente maior do que
aquela obtida na previsão da capacidade de deformação usando um procedimento simples.
Neste caso, a capacidade de deformação é definida em correspondência com o estado limite
de prevenção de colapso da estrutura (Fig. 5.38a). Assumindo um mecanismo de piso “fraco”
como ilustrado na Figura 5.38b, o drift máximo a que a estrutura é sujeita pode ser calculado
como:
2
1 3De
rm rm
H SHd D
h n h
.
(5.16)
onde SDe é a ordenada do espetro elástico de deslocamento e n é o número de pisos do edifício.
(b)
Figura 5.38. Desempenho de estruturas em alvenaria confinada: (a) níveis de desempenho e
(b) ilustração do mecanismo de “piso fraco” (Rodriguez e Rodriguez, 2000)
Cort
e B
asal
Colapso
Controlo
de dano
Segurança
limitada
Nível de desempenho de
prevenção de colapso
Nível de desempenho
de segurança de vida
Nível de desempenho de
ocupação imediata
Deformação Lateral (a)
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
174
Terán-Gilmore et al. (2010), com base na aplicação do procedimento para análise
pushover Coefficient Method (ASCE, 2000), e tendo em conta as particularidades da resposta
de edifícios em alvenaria confinada, propõem a estimativa do seu deslocamento-alvo como:
2
0 24
eT R a
TC C S g
(5.17)
onde Sa é a pseudo-aceleração avaliada para Te, o qual é o período fundamental efetivo do
modelo da estrutura com um único grau de liberdade; C0 é um parâmetro que tem em conta os
efeitos da multiplicidade de graus de liberdade, que pode ser estimado a partir da Tabela 5.3
(com referência à Figura 5.38a) nos casos em que o edifício exibe um mecanismo do primeiro
piso, como é típico nos edifícios de alvenaria confinada.
Tabela 5.3. Valores de C0 para edifícios em alvenaria confinada que exibem um “piso fraco”
Número de pisos Nível de desempenho
Ocupação imediata Segurança de vida Colapso
1 1.0 1.0 1.0
2 ou mais 1.2 1.0 1.0
A estimativa dos requisitos de drift inelástico máximo para edifícios em alvenaria
confinada, considerada através do parâmetro CR, pode ser estimada como:
11 ( 1) 1
R bC R
a T
(5.18)
onde T é o período fundamental do edifício, a e b são coeficientes que podem ser ajustados a
partir de análise de regressão, e R é a relação de resistência lateral:
e a
y
m SR
V
(5.19)
onde me é a massa do sistema com um grau de liberdade e Vy a sua força de cedência. O
numerador na Equação (5.19) representa a força lateral requerida para manter o sistema
elástico. Com base numa regressão não linear sobre um largo conjunto de registos sísmicos na
Costa do Pacífico Mexicano, os autores ajustaram a e b respetivamente com valores 260 e 3.
Tomaževič (2007), assumindo que a usabilidade de edifícios danificados por sismos é
avaliada com base no dano observado, definiu vários estados limites em correspondência com
a evolução da curva de resistência na Figura 5.39. Neste caso, é definido um estado limite de
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
175
dano aceitável, em correspondência com um drift igual a três vezes aquele associado à
ocorrência das primeiras fendas nas paredes. O drift para estado limite último é então definido
como o menor dos valores associados a uma resistência residual de 80%, e ao estado limite de
dano aceitável (normalmente condicionante):
du = mín{d0.8Rmáx; 3dcr}.
(5.20)
Desta forma, um fator de ductilidade última μu pode ser definido como a razão entre o
drift para estado limite último e o deslocamento de cedência do sistema idealizado, du/de.
Depois, um fator de comportamento baseado na ductilidade pode ser calculado tendo em
conta a equalização de energia, i.e. a igualdade das áreas sob as curvas ideal elástica e de
resistência atual:
qμ = (2 μu – 1)0.5
.
(5.21)
A verificação da segurança pode, neste caso, ser baseada no confronto do espetro de
aceleração elástico reduzido pelo fator de comportamento calculado (espetro de cálculo Sd),
com a resistência da curva idealizada Rmáx,i.
Figura 5.39. Curva de resistência e definição de estados limites (Tomaževič, 2007)
Finalmente, de modo a avaliar os procedimentos apresentados, é feito um cálculo
comparativo do fator de segurança (FS) para estado limite último, obtido em correspondência
com as metodologias propostas por Rodriguez e Rodriguez (2000), Terán-Gilmore et al.
dcr de,i dRmáx 3dcr d0.8Rmáx dcol Drift de piso
Atual
0.8 Rmáx
Idealizada
Res
istê
nci
a
Rmáx,i
Rmáx
Rcr
Cola
pso
Lim
ite
elás
tico
Res
istê
nci
a m
áxim
a
Lim
ite
de
dan
o a
ceit
ável
Req
uis
ito d
e li
mit
e d
e d
ano
Est
ado ú
ltim
o d
e pro
jeto
Req
uis
ito d
e não
-co
lap
so
Capítulo 5. Estruturas de Alvenaria Confinada
176
(2010) e Tomaževič (2007), para o caso do edifício na Figura 5.31 (sentido de carregamento
positivo). O cálculo é feito considerando um espetro de aceleração elástico Se = 1.0g. O
resumo do cálculo é apresentado na Tabela 5.4, onde se observa que o procedimento baseado
na verificação em termos de força é conservativo relativamente aos outros dois. Por outro lado,
a discrepância entre os procedimentos baseados na avaliação da deformação é devida
possivelmente ao facto do edifício em análise não apresentar um mecanismo de “piso fraco”
no rés-do-chão, hipótese que é assumida pelos procedimentos.
Tabela 5.4. Comparação do cálculo do FS correspondente a vários procedimentos
Procedimento T (s) me (t) a Te (s)
a R / qμ
a SDe(Te)
b Solicitação Capacidade
a FS
Rodriguez e
Rodriguez (2000)
n/20
= 0.1 - 0.115 - 335E-6×g
drm = 174E-6×g
= 0.17% 0.6%
c 3.5
Terán-Gilmore et al. (2010)
0.1 76.3 0.115 0.074g - δT = 335E-6×g
= 0.33 cm 2.73 cm 8.3
Tomaževič (2007) - - - 1.92 - Sd = 0.52g 1.24g 2.4 a Parâmetros obtidos com base na análise realizada no 3DMacro.
b Espetro de deslocamento calculado através da Equação (2.12).
c Capacidade de deformação limitada a um drift entre pisos de 0.6%.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
177
6. APLICAÇÕES NO CÁLCULO SÍSMICO DE EDIFÍCIOS
Nos capítulos anteriores foi apresentada a generalidade de conceitos, procedimentos e
ferramentas para o cálculo sísmico de edifícios em alvenaria estrutural. Pretende-se agora
apresentar uma série de aplicações no cálculo sísmico de edifícios resistentes em alvenaria, de
modo a ilustrar as potencialidades destas ferramentas. Numa primeira fase, será apresentado
um edifício existente, o qual foi sujeito a diversos eventos sísmicos e que serve assim para
validação de ferramentas e procedimentos disponíveis. É depois apresentado um edifício
unifamiliar construído e dimensionado originalmente em betão armado, e para o qual se
avaliam as possibilidades de projeto e construção com soluções em alvenaria estrutural.
Finalmente, são apresentados edifícios pensados à partida com uma solução em alvenaria
estrutural, e para os quais se discutem as especificidades de projeto.
O primeiro caso de estudo é um edifício tradicional em alvenaria existente na Nova
Zelândia. Apesar das diferenças do edifício estudado, em termos de detalhes construtivos e
propriedades dos materiais, relativamente a outras estruturas em zonas sísmicas,
particularmente na Europa, o princípio básico para resistência aos sismos é o mesmo: um
conjunto de paredes suportando pavimentos a determinados níveis, possibilitando uma
resposta conjunta e dissipativa global da estrutura. O número de edifícios construídos desta
forma na Europa é significativo, pelo que a validação de ferramentas e procedimentos para
avaliação da sua segurança sísmica é muito relevante.
A aplicação seguinte consiste num edifício unifamiliar com estrutura original em betão
armado, já construído. Neste caso, para além da comparação em termos de uma solução
estrutural recorrendo a diferentes técnicas construtivas (betão armado, alvenaria simples e
alvenaria confinada), é feita uma comparação dos custos associados à construção com as
diferentes tipologias. Enquanto a solução em betão armado corresponde ao projeto original, as
estruturas em alvenaria são validadas com base na verificação de segurança nos programas
comerciais analisados nos capítulos anteriores deste trabalho.
Finalmente, os últimos edifícios apresentados correspondem a casos reais, pensados à
partida para serem construídos em alvenaria estrutural, tendo sido estudados no âmbito de
diversos Projetos de I&D desenvolvidos na Universidade do Minho, em cooperação com a
indústria, em particular com fabricante de blocos, promotores imobiliários e empresas
construtoras. Para estes casos são apresentadas com maior detalhe as soluções estruturais em
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
178
alvenaria, tendo em vista o desenvolvimento de sistemas integrados e racionais de construção,
com particular compatibilização da estrutura com as instalações técnicas.
6.1 Avaliação da Segurança do “Old Municipal Chambers”
A construção da cidade é um processo lento no tempo, sendo que se verifica, em geral,
uma utilização continuada dos edifícios antigos, conservados através de operações de
reparação e manutenção, ou reabilitados e reforçados para cumprir exigências modernas.
Estes edifícios podem ser usados como edifícios de habitação ou de serviços, e têm uma
importância estratégica no quotidiano das cidades. A prevenção do risco sísmico e a avaliação
da segurança destes edifícios reveste-se então da maior importância, no sentido de que a
ocorrência de um evento sísmico que produza a destruição destes edifícios abalará toda uma
cidade, com perdas de vidas humanas, económicas e de valor cultural, tal como aconteceu,
por exemplo, em L’Aquila (região de Abruzzo, em Itália) em 2009 ou no norte do território
italiano em 2012, entre tantos outros casos verificados em todo o mundo.
Pelo dito, fica expressa a necessidade de utilização e aperfeiçoamento de ferramentas e
procedimentos de cálculo sísmico para avaliação da segurança de edifícios existentes. Estes
edifícios apresentam particularidades de carácter construtivo, nomeadamente o uso de formas
estruturais complexas e de pavimentos flexíveis, que necessitam ser tidas em conta na sua
avaliação da segurança. Neste contexto, apresenta-se o estudo do comportamento sísmico de
um edifício antigo em Christchurch, na Nova Zelândia.
6.1.1 Descrição do Edifício
O edifício estudado, apresentado na Figura 6.1, foi projetado em 1886 pelo arquiteto
Samuel Hurst Seager no estilo “Queen Anne”, e está classificado como um edifício histórico
de Categoria I na Nova Zelândia. O edifício foi inaugurado em 1887, albergando
originalmente as Câmaras do Conselho da Cidade de Christchurch. Depois de vários usos para
administração e comércio, passou a um centro cívico para a comunidade desde 2002.
O edifício possui dois pisos e é construído com tijolo cerâmico maciço e com
pavimentos em madeira. O edifício apresenta dimensões em planta de aproximadamente 19.5
× 19.5 m2 (Fig. 6.2) e paredes externas com espessuras de 47 cm e 36 cm no rés-do-chão e no
primeiro andar, respetivamente. Os pés-direitos dos pisos são 4.5 m e 3.2 m, respetivamente
para o rés-do-chão e primeiro andar, incluindo o edifício ainda um segundo piso, construído
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
179
no desvão do telhado à cota de 11.9 m, conforme ilustrado na Figura 6.3. Por outro lado, a
“Câmara do Conselho”, “Council Chamber” no original, e o torreão SE, apresentam uma
altura na cobertura de 14.6 m. O edifício foi sujeito a uma remodelação em 1989, verificando-
se que as fundações são profundas, construídas em betão e apoiadas sobre um enrocamento.
Figura 6.1. Fotografia inaugural do edifício “Old Municipal Chambers”
Figura 6.2. Plantas estruturais do rés-do-chão e primeiro piso (configuração original)
Figura 6.3. Alçado Este e vista em corte de Sul (desenhos originais de Samuel Seager, 1886)
18.94
19.27
Câmara do Conselho
→ Norte
→ X
Y↑
→
N
or
th
0.0
4.0 4.5
7.7
11.9
14.6
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
180
O edifício estudado foi sujeito aos sismos de Christchurch em 1888 e de Cheviot em
1901, aparentemente não tendo sido muito afetado. No entanto, o edifício ficou
significativamente danificado devido aos terramotos recentes de Christchurch em 2010 e 2011,
caraterizados pelos registos sísmicos na Figura 6.4. Consequentemente, o edifício, ilustrado
na Figura 6.5a com o enquadramento anterior ao sismo, foi fechado e as áreas contíguas
foram restringidas com escoramento e barreiras (Fig. 6.5b).
Figura 6.4. Espetros de resposta registados em local próximo do edifício, para os vários
eventos sísmicos, em temos de aceleração e deslocamento
(a) (b)
Figura 6.5. Vistas do edifício e os sismos de Christchurch em 2010-2011: (a) antes
[Fotografia por Phillip Capper sob licença Creative Commons, em
http://en.wikipedia.org/wiki/File:OxfordTerraceChristchurch13June2008.jpg] e (b) depois
Em Marques et al. (2012) foi elaborado um mapeamento do dano nas fachadas do
edifício, o qual é apresentado nas Figuras 6.6 e 6.7. A fachada Norte apresenta um padrão de
fendilhação com fendas diagonais “em escada” e fendas verticais nas extremidades superiores
nascente e poente da parede, respetivamente. Na fachada Este, a empena na extremidade
direita da parede colapsou devido a derrubamento fora-do-plano. A região de alvenaria à
1
2
3
4
(Code spectrum)
1
1
2
3
4
5
2
3
4
5
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
181
esquerda desta empena está severamente danificada, estando-lhe associados estragos na
cobertura.
Figura 6.6. Principal dano identificado nas fachadas Norte e Este
Figura 6.7. Principal dano identificado nas fachadas Sul e Oeste
A extremidade esquerda da fachada Sul apresenta várias fendas diagonais em torno
das aberturas e do nicho de estátua. A parede Oeste, adjacente à Câmara do Conselho,
apresenta dano severo nas extremidades superiores, bem como na ligação entre a chaminé e a
parede exterior. É de notar a rotura clara da padieira sobre a janela apresentada à direita,
devida a movimentos combinados no plano e fora-do-plano. O edifício foi fortemente
escorado nas paredes exteriores, tomando-se particular cuidado na proteção da fachada Sul.
Relativamente ao dano nas paredes interiores do edifício não existe informação, uma vez que
o acesso ao edifício foi impedido por razões de segurança.
6.1.2 Análise Sísmica
O modelo para simulação numérica foi baseado em desenhos, fotografias e observação
no local, e considera essencialmente a estrutura original do edifício. A estratégia definida para
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
182
a avaliação sísmica é baseada numa análise comparativa dos resultados obtidos com duas
abordagens diferentes de modelação, uma recorrendo a um software de aplicação geral
baseado no método de elementos finitos (MEF) e outra num software específico para
alvenaria baseado num método (simplificado) de barra equivalente (MBE).
O modelo MEF foi preparado no software DIANA (TNO, 2009) adotando um modelo
de fenda com extensão total baseado na implementação direta de observações experimentais
(Selby e Vecchio, 1993), aproximação que tem vindo a ser utilizada na modelação de
edifícios de alvenaria complexos, e.g. por Lourenço et al. (2007) e Lignola e Cosenza (2009).
O modelo MBE foi preparado no programa TreMuri, apresentado no Capítulo 3, o qual tem
vindo já a ser aplicado na análise estrutural de edifícios de alvenaria complexos, e.g. em
Galasco et al. (2004) e Fusco et al. (2008).
Na análise assumiu-se que as extremidades inferiores das paredes no rés-do-chão se
encontram encastradas no terreno, tendo em conta as fundações profundas do edifício e o
facto do comportamento não linear adotado permitir a formação de fendas na base. Para os
pavimentos em madeira admitiu-se um peso próprio de 2 kN/m2, e sobrecargas de 0.9 kN/m
2 e
0.6 kN/m2 respetivamente para o primeiro e segundo pisos, correspondendo a uma parcela
quase-permanente. O telhado não foi modelado, tendo-se assumido que a sua rigidez no plano
seria reduzida, apenas sendo considerado o seu carregamento vertical sobre as paredes. Os
pavimentos são construídos com traves e soalho de madeira, assumida com um peso volúmico
de 6.5 kN/m3 e um módulo de elasticidade de 12 GPa. As propriedades da alvenaria são
apresentadas na Tabela 6.1, as quais foram baseadas em dados experimentais (Lumantarna,
2012), na norma italiana (NTC, 2008) e em recomendações gerais (Lourenço, 2009).
Tabela 6.1. Propriedades da alvenaria
fm Resistência à compressão 5.0 MPa
τ0 Resistência pura ao corte 0.1 MPa
w Peso volúmico 18.0 kN/m3
E Módulo de elasticidade 2500 MPa
G Módulo de corte 417 MPa
δf Drift limite for flexão 0.006
δs Drift limite por corte 0.004
ft Resistência à tração 0.15 MPa
Gc Energia de fratura à compressão 8 N/mm
GfI Energia de fratura de Modo I 0.012 N/mm
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
183
A avaliação da resposta sísmica do edifício foi feita através de uma análise estática
não linear (“pushover”), para a qual se assumiu uma distribuição de forças proporcional à
massa, uma vez que o edifício não possui, à partida, comportamento de “caixa” e tendo em
conta que outo tipo de distribuições de força pode conduzir a resultados excessivamente
conservadores (Lourenço et al., 2011). A análise pushover é usada para previsão da
deformação global e do dano em elementos, de modo a identificar as debilidades da estrutura
e a decidir sobre a melhor solução de reforço para o edifício.
No caso do modelo MEF, a malha foi automaticamente gerada pelo DIANA e depois
manipulada de modo a obter uma discretização adequada (Fig. 6.8). A alvenaria foi simulada
com elementos de laje do tipo apresentado na Figura 6.9a. O modelo constitutivo para a
alvenaria assume diagramas de tensão-extensão com uma relação exponencial para o
comportamento inelástico à tração e uma relação parabólica para o comportamento inelástico
à compressão (Fig. 6.9b). Informação adicional pode ser encontrada em Marques et al. (2012).
Figura 6.8. Malha MEF do edifício e detalhe do modelo na empena Este
(a) (b)
Figura 6.9. Modelação da alvenaria: (a) elemento de laje quadrangular e (b) diagramas
tensão-extensão para o comportamento da alvenaria em tração e compressão (TNO, 2009)
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
184
No caso do MBE, a modelação do edifício foi feita usando o macro-elemento
idealizado por Gambarotta and Lagomarsino (1996), o qual foi já apresentado no Capítulo 2.
A rotura por corte ocorre por tração diagonal quando a tensão principal de tração no centróide
do painel atinge a resistência à tração da alvenaria, calculada de acordo com o critério de
Turnšek e Čačovič (1970). Esta estratégia de modelação foi já descrita nos Capítulos 2 e 3. A
malha final do edifício, depois de ajustada no TreMuri, é ilustrada na Figura 6.10, onde é
também apresentado o modelo de pavimento com numeração das paredes. A Figura 6.11
ilustra o modelo detalhado de dois alçados do edifício.
É de notar que o modelo MBE inclui apenas cerca de 500 elementos e 250 nós, em
contraste com os cerca de 18,000 elementos e 56,000 nós do modelo MEF. A consideração de
um número de graus de liberdade bastante reduzido no caso do modelo MBE permite a
análise em alguns minutos, em contraste com análises de muitas horas para o caso do MEF.
Por outro lado, a massa total dos modelos, aproximadamente de 915 toneladas, difere entre os
dois modelos de apenas 0.6%.
Figura 6.10. Modelação do edifício: modelo tridimensional e planta do modelo de pavimento
Este Sul (visto de dentro)
Figura 6.11. Exemplos de alçados do modelo MBE
P1 P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P15
P16
P17
P18
P19
P20
P21
P22
P23
P24
P25
P26 P27
P28P29
P30
N1
N2
N3
N4
N46
N47
N48
N49
E222
E223
E224
E225
E226 E227
E228 E229
E230 E231
t522
t523
n137
n138
n140
n141
N1
N2
N3
N4
N52
N53
N54
N55
N69
N70
N93
N94
N95
N100
N101
N139
E1
E2
E3
E4
E6
E7
E8
E10 E11 E12 E13
E14
E15 E16 E17E18 E19
E20
E21 E22 E23 E24 E25
E26E27
t501 t502 t503 t504
t505
n231
n232
n233
n234
n235
n236
N5
N6
N7
N8
N9
N10
N11
E28
E29
E31E32
E33
E34
E35E36
E37
E38
E39 E40
E41 E42
t506
N1
N2
N3
N4
N46
N47
N48
N49
E222
E223
E224
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E226 E227
E228 E229
E230 E231
t522
t523
N42
N43
N44
N45
N46
N47
N48
N49
E212
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E214
E215
E216 E217
E218 E219
E220 E221
t520
t521
N38
N39
N40
N41
N42
N43
N44
N45
E202
E203
E204
E205
E206 E207
E208 E209
E210E211
t518
t519
n217
n218
N35
N36
N37
N38
N39
N40
E194 E195
E196
E197 E198 E199
E200 E201
N32
N33
N34
N35
N36
N37
E188
E189
E190 E191
E192 E193t517
N32
N33
N34
N71
N72
N73
E182
E183
E184 E185
E186 E187
n193 n194
n195
n240 n241
n242
n243
n244
n245
N22
N23
N24
N27
N28
N29
N85
N86
E126 E127
E128
E130
E131
E133
E138
E139
E140
E142 E143 E144 E145 E146
E147 E149
t515 t516
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
185
No caso do modelo BEM, os arcos de janelas no rés-do-chão foram modelados como
vigas com comportamento elástico, e com rigidez axial e à flexão elevadas, de modo a simular
a sua reduzida deformabilidade. Por outro lado, as empenas arqueadas foram modeladas como
um conjunto de macro-elementos, apresentados como exemplo na Figura 6.12 para a empena
na fachada Este. Neste caso, as zonas laterais do arco principal foram modeladas como dois
corpos rígidos ligados pelo lintel E34. A empena foi modelada através de nembos com alturas
crescentes de modo a aproximar a forma inclinada. Depois, em cada um dos lados, os nembos
foram rigidamente ligados criando um corpo associado aos nós N7 e N11. Estes corpos
laterais são ligados no topo por um lintel de alvenaria (E38), o qual, por sua vez, é suportado
por uma viga rígida que simula o arco pequeno.
Figura 6.12. Empena na fachada Este (linhas a traço interrompido denotam o fluxo de forças)
6.1.3 Resultados da Análise
Nesta secção são apresentados os resultados obtidos para cada um dos modelos MEF e
MBE, em correspondência com as análises efetuadas nas duas direções principais do edifício,
nos sentidos positivo e negativo de carregamento. No caso do MBE foi ainda simulada a
intervenção estrutural a que o edifício foi sujeito em 1989, assim como o eventual efeito
diafragmático dos pavimentos, associado ao reforço a aplicar. Os resultados apresentados
incluem essencialmente a previsão de dano, a deformada e as curvas de capacidade do edifício.
As Figuras 6.13 e 6.14 ilustram, para o caso do modelo MEF, as deformadas e o nível
de dano para as quatro análises: +X (S-N), –X (N-S), +Y (E-O) e –Y (O-E), representando as
duas direções de sismo e as ações da esquerda-para-direita e da direita-para-esquerda. O dano
é medido com base na extensão principal máxima, a qual se pode relacionar com a largura de
fendas. No caso da análise +X, é destacado o colapso da empena Sul (Fig. 6.13a), aparecendo
neste caso também fendas no topo das esquinas NE e NO e no lado esquerdo da empena Norte
n231
n232
n233
n234
n235
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N5
N6
N7
N8
N9
N10
N11
E28
E29
E31E32
E33
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E35E36
E37
E38
E39 E40
E41 E42
t506
Zona rígida
Viga elástica
Lintel
Nembo
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
186
(Fig. 6.13b). Na direção –X, o canto SO do edifício colapsa (Fig. 6.13c) e aparecem fendas na
fachada Norte e paredes interiores da Câmara do Conselho (Fig. 6.13d).
Para a direção +Y, pode observar-se na Figura 6.14a a deformação da fachada Oeste
para o exterior e o dano significativo nas empenas das fachadas Norte e Sul, identificando-se
fendas nas paredes interiores próximas à Câmara do Conselho (Fig. 6.14b). Para a direção –Y,
na Figura 6.14c o arco superior na direita da fachada Sul colapsa e o torreão no canto SE está
danificado, e aparecem fendas nas paredes interiores próximas à fachada Este (Fig. 6.14d).
Por outro lado, na Figura 6.15, são apresentadas as curvas de capacidade para todas as
análises, apresentando valores de coeficientes de força máximos de 0.16, 0.13, 0.24 e 0.15,
respetivamente para as direções +X, –X, +Y e –Y, sendo –X a direção condicionante.
a) b) c) d)
Figura 6.13. Deformada e dano para +X: (a) colapso da empena Sul, (b) dano adicional sem
empena Sul, e –X: (c) colapso do canto Sudoeste e (d) dano adicional sem canto Sudoeste
a) b) c) d)
Figura 6.14. Deformada e dano para +Y: (a) estrago na Câmara do Conselho, (b) dano
adicional sem a Câmara do Conselho, e –Y: (c) colapso do arco superior na fachada Sul e
(d) dano adicional sem canto Sudeste
Para o caso do modelo MBE, as Figuras 6.16 a 6.19 apresentam as deformadas e os
estados de dano correspondentes às análises nas direções ±X (S-N) e ±Y (E-O). Note-se que
as deformadas se encontram significativamente ampliadas (ver fator de ampliação indicado na
legenda das figuras, dentro de parêntesis retos), com um deslocamento máximo no topo do
edifício (nível a 7.7 m) inferior a 2.5 cm. No caso do carregamento +X, é identificada uma
rotação do corpo Este do edifício (Fig. 6.16a-b) com maiores deslocamentos na elevação Este.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
187
Nesta fachada, em correspondência com a resistência máxima, verifica-se que a maioria dos
elementos plastificam por flexão, ativando-se posteriormente um mecanismo do rés-do-chão.
Para o carregamento –X, a Figura 6.17a denota um pronunciado deslocamento da parede P8
no seu plano, com subsequente agravamento dos deslocamentos e do nível de dano
(principalmente por flexão) das paredes no corpo Este do edifício. Os resultados das análises
na direção Y, mostrados nas Figuras 6.18 e 6.19, denotam a fragilidade da meia-fachada no
corpo Este (conjunto de paredes P10 a P15) do edifício, com uma rigidez muito menor do que
a identificada na meia-fachada no lado Oeste (parede P7).
Figura 6.15. Curvas de capacidade obtidas a partir da análise com o modelo MEF
a) b)
c) d) elástico fendilhação por corte falha por corte dano por flexão falha por flexão tração
Figura 6.16. Deformada em planta para +X relativa (a) ao corte basal de pico [x50] e (b) ao
estado último [x20], e estado de dano das fachadas (c) Este (desl. médio de 1.83cm) e
(d) Oeste (desl. médio de 0.52cm) correspondentemente ao corte basal de pico [x20]
0
0.1
0.2
0 2 4 6 8 10 12 14
Corte
basa
l (%
g)
Deslocamento (cm)
+X -X +Y -Y
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28
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31 32
33
34
35 36
37
38
39 40
41 42
69
70
71
72
73 n231
n232
n233
n234
n235
n236
N5
N6
N7
N9
N10
N11
1
2
3
4 6
7
8
10 11 12 13
15 16 17 18 19
20
21 22 23 24 25
1 81 82
83
84
n137
n138
n140
N1
N2
N3
N52
N53
N54
N69
N70
N93
N94
N95
N100
N101
N139
222
223
224
226 227
228 229
104
N1
N2
N3
N46
N47
N48
69
70
71 72
73 74 2761
4 5
6 7
69
75
76 77
90
n163
n164
n165
n237
n238
n239
N13
N14
N15
N56
N57
N58
N59
2762
106
107
109
110
112
113
115 116 117
118 119 120 121
122 123 124 125
20 91 92 93
n189
n190
n191 n192
N17
N18
N19
N22
N23
N24
N89
N90
N96
N97
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
188
a) b)
Figura 6.17. Deformada em planta para –X correspondentemente (a) ao corte basal de pico
[x50] e (b) ao estado último [x20]
a) b)
c) d)
elástico fendilhação por corte falha por corte dano por flexão falha por flexão tração
Figura 6.18. Deformada em planta para +Y relativa (a) ao corte basal de pico [x50] e (b) ao
estado último [x20], e estado de dano das fachadas (c) Sul (desl. médio de 2.31cm) [x20] e
(d) Norte (desl. médio de 0.21cm) [x50] correspondentemente ao corte basal de pico
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188
189
190 191
192 193
33
N32
N33
N34
N35
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N37
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224
226 227
228
105
N1 N46
N47
N48
126 127
128
130
131
133
138 139
140
142 143 144 145 146
147 149
21
67 68
78
79
80
81
n193 n194
n195
n240 n241
n242
n243
n244
n245
N22
N23
N24
N27
N28
N29
N85
N86
182
183
184 185
186 187
32 102
N32
N33
N34
N71
N72
N73
194 195
196
197 198 199
200 201
n217
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N35
N36
N37
N38
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203
204
206 207
208 209
211
103
N38
N39
N40
N41
N42
N43
N44
212
213
214
216 217
218 219
104
N42
N43
N44
N46
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45 46
47 49
51
52 54
56 57 58 59
60 61 62 63
64 65 66 67 68
3 86 87 88 89
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n159 n160
n161 n162
N9
N10
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N13
N14
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N79
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78
81 82
93 94
98 99 100
102 103
104
12 13
18
94
95
96 97
n172
n249 n250 n251
n252
N17
N18
N19
N56
N58
N83
N84
N87
N88
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
189
a) b)
Figura 6.19. Deformada em planta para –Y correspondentemente (a) ao corte basal de pico
[x50] e (b) ao estado último [x20]
O edifício estudado foi submetido a alterações estruturais numa remodelação efetuada
em 1989. Os desenhos do projeto de remodelação permitem identificar várias alterações
realizadas no interior do edifício, com bastante uso de betão armado. É possível observar que
várias paredes foram removidas e outras paredes foram alteradas, tal como exemplificado na
Figura 6.20 para o rés-do-chão do edifício. Desta forma, visando avaliar a influência das
alterações na resposta pushover do edifício, o modelo MBE foi atualizado de modo a
incorporar as principais alterações na estrutura. Com base na comparação feita na Figura 6.21,
das curvas de capacidade obtidas para o edifício alterado relativamente àquelas para a
estrutura original, a influência da alteração estrutural na segurança sísmica parece ser reduzida.
Figura 6.20. Plantas do rés-do-chão do edifício (a) original e (b) remodelado
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Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
190
Figura 6.21. Curvas de capacidade obtidas para as estruturas original e alterada do edifício
Com referência à estrutura original do edifício, e para efeitos de comparação com o
modelo MEF, o corte basal máximo é obtido na Figura 6.21 respetivamente para +X, –X, +Y
e –Y como 0.27, 0.22, 0.18 e 0.10 do peso do edifício. As curvas para a direção X exibem um
maior corte basal, mas também uma resposta mais frágil. Por outro lado, na direção Y é
observada uma reserva inelástica significativa. Note-se que estes resultados não são
diretamente comparáveis com os do modelo MEF, dado que o modelo MBE considera o
efeito de diafragma unidirecional dos pavimentos e despreza o comportamento fora-do-plano.
A capacidade obtida para o edifício é similar em ambos os métodos (cerca de 0.1g), ainda que
as formas de rotura sejam muito distintas.
Finalmente, foi feita uma análise com base no modelo MBE, em que se considerou um
diafragma bidirecional para os pavimentos, de modo a simular uma possível intervenção de
reforço com ligação adequada das paredes aos pavimentos e intervenções nos pavimentos.
Este modelo pode igualmente replicar o comportamento atual, caso as alterações efetuadas em
1989 tenham sido promovidas neste sentido, facto que não pôde ser confirmado devido à
proibição de entrada no edifício. O efeito de diafragma bidirecional pode, por exemplo, ser
conseguido usando um sistema de soalho cruzado.
Os resultados na Figura 6.22, ao comparar a resposta do edifício com pavimentos
unidirecionais e bidirecionais, ilustram uma melhoria significativa da resposta do edifício
quando dotado de pavimentos bidirecionais, quer em termos de corte basal, quer em termos de
ductilidade. A capacidade mínima do edifício (na direção +Y) é agora de cerca de 0.2g. O
aumento de capacidade na direção –Y é impressionante. O pavimento bidirecional
providencia um comportamento de “caixa” ao edifício, o qual gera um padrão uniforme de
-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
Corte
basa
l (%
g)
Deslocamente médio à altura de 7.7m (cm)
X original
Y original
X alterado
Y alterado
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
191
deslocamentos translacionais no plano, como apresentado na Figura 6.23 para os
carregamentos nas direções +X e –Y. Estes resultados evidenciam a influência do efeito de
diafragma dos pavimentos na resposta sísmica de edifícios antigos em alvenaria, o qual
deverá ser cuidadosamente explorado em trabalhos de reabilitação, mas que poderá ser
dificilmente exequível em alvenarias de muito fraca qualidade (o que não é o presente caso).
Figura 6.22. Curvas de capacidade para o edifício alterado, considerando pavimentos 1D e
2D
a) b)
Figura 6.23. Deformada em planta para as análises (a) +X e (b) –Y em correspondência com
o corte basal de pico [x50]
6.1.4 Avaliação da Segurança Sísmica
Relativamente ao edifício estudado, existe uma grande incerteza relativamente a
algumas das suas caraterísticas, nomeadamente no que respeita ao sistema de pavimento,
devido às alterações a que o edifício foi submetido na remodelação em 1989, e ao facto do
-0.35
-0.25
-0.15
-0.05
0.05
0.15
0.25
0.35
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
Corte
basa
l (%
g)
Deslocamento médio à altura de 7.7m (cm)
X alterado, com pavimentos 1D
Y alterado, com pavimentos 1D
X alterado, com pavimentos 2D
Y alterado, com pavimentos 2D
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Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
192
acesso ao interior do edifício não ter sido possível. Por esta razão, uma verificação sísmica
baseada em força será, em princípio, mais adequada do que um procedimento baseado em
deslocamentos, o qual pode ser bastante sensível às propriedades adotadas para os materiais e
ao próprio modelo. Ainda assim, neste trabalho será feita uma comparação entre os resultados
de cada um dos procedimentos de verificação baseados em força e em deslocamentos,
recomendando-se a adoção do primeiro, em casos semelhantes.
Para a verificação em termos de força, compara-se a resistência de corte basal do
edifício com a aceleração espetral máxima (AEM) registada nos sismos de Christchurch. A
capacidade inelástica do edifício é tida em conta através de um coeficiente de comportamento
q baseado na ductilidade. Tendo em conta que ambos os modelos MEF (sem pavimentos) e
MBE com pavimentos unidirecionais, e ignorando as discrepâncias entre os dois na Figura
6.24, são muito conservadores na previsão da capacidade do edifício, assume-se o modelo
MBE com pavimentos bidirecionais como aquele que melhor representa a condição atual do
edifício.
Figura 6.24. Comparação de curvas de capacidade obtidas para os modelos MEF e MBE com
pavimentos 1D
Os cálculos que se apresentam em seguida são baseados na definição de uma
representação bilinear idealizada das curvas de capacidade do edifício. Esta resposta é
calculada, definindo o segmento inicial com uma rigidez secante k para 70% do corte basal
máximo na curva de capacidade, sendo por sua vez o tramo horizontal subsequente definido
através da igualdade de energia da resposta atual e da resposta idealizada, até um
deslocamento (du) em correspondência com uma capacidade de corte basal pós-pico de 80%
do valor máximo. O ponto de cedência da resposta idealizada é definido pelo deslocamento dy
-0.25
-0.15
-0.05
0.05
0.15
0.25
-10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10
Corte
ba
sal
(%g
)
Deslocamento do edifício (cm)
X MBE
Y MBE
X MEF
Y MEF
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
193
e pelo coeficiente de força Fy/W, onde W é o peso do edifício. A resposta bilinear idealizada
do edifício em correspondência com as várias direções de carregamento é apresentada na
Figura 6.25, com os parâmetros associados na Tabela 6.2. Um coeficiente de comportamento
baseado na ductilidade qμ é também calculado, de acordo com (Tomaževič, 2007):
2 1q (6.1)
onde μ é a ductilidade global, calculada como a relação entre du e dy.
Figura 6.25. Resposta bilinear idealizada do edifício nas várias direções para o modelo MBE
com pavimentos 2D
Tabela 6.2. Parâmetros da resposta bilinear idealizada em cada direção
Direção dy (cm) k (kN/m) Fy/W du (cm) μ qμ
+X 0.267 930311 0.294 1.480 5.54 3.18
–X 0.301 789091 0.282 1.410 4.68 2.89
+Y 0.178 898841 0.190 1.240 6.97 3.60
–Y 0.309 837500 0.307 2.313 7.49 3.74
Por outro lado, as ordenadas do espetro de referência Sr podem ser calculadas
dividindo a AEM medida (1.0g) pelo coeficiente de comportamento qμ, levando aos
resultados na Tabela 6.3. Depois, um fator de segurança básico FS pode ser calculado como a
razão entre a resistência ao corte basal normalizada Fy/W e a ordenada do espetro de
referência Sr. Os valores calculados do fator de segurança denotam uma resistência
insuficiente do edifício para sobreviver ao sismo de Christchurch em 2011, sendo +Y a
direção mais fraca. Esta subestimação é sobretudo devida à hipótese assumida de
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
-3 -2 -1 0 1 2 3
Corte
basa
l (%
g)
Deslocamento médio à altura de 7.7m (cm)
+X
-X
+Y
-Y
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
194
comportamento frágil para os elementos de alvenaria, a qual fornece uma resposta
conservativa tanto em termos de corte basal como de ductilidade. Tomaževič (2007) sugere,
com base na análise de ensaios em plataforma sísmica de edifícios de alvenaria, a
consideração de uma sobre-resistência de pelo menos 30%, como resultado da subestimação
da resistência material. No caso de esta sobre-resistência ser considerada no cálculo de um
fator de segurança incrementado FSI, com os valores indicados na Tabela 6.3 mais próximos
da unidade, uma maior capacidade do edifício é assim obtida, justificando o facto de o
edifício não ter colapsado, ainda que apresentando dano severo.
Tabela 6.3. Cálculo de ordenadas espetrais de referência e de fatores de segurança
Direção Sr (g) Fy/W (g) FS FSI
+X 0.315 0.294 0.93 1.21
–X 0.346 0.282 0.82 1.07
+Y 0.278 0.190 0.68 0.88
–Y 0.268 0.307 1.15 1.50
Neste caso, a abordagem tradicional de verificação da segurança sísmica em termos de
força, sem consideração de um fator de sobre-resistência, resulta razoavelmente conservativa.
Para efeitos de comparação, será agora usada uma abordagem baseada na verificação em
termos de deslocamentos. Dada a complexidade do edifício e o desconhecimento do efeito de
diafragma dos pavimentos, aspetos que influenciam significativamente a análise modal do
edifício, admitem-se simplificadamente os modos próprios de vibração do edifício com um
perfil proporcional à altura do edifício. Assume-se um sistema com graus de liberdade globais
ao nível dos dois primeiros pavimentos, ou seja, às alturas de 4.5 m e 7.7 m, com massas
associadas respetivamente de 395.0 t e 289.3 t. Na Tabela 6.4 são apresentados os parâmetros
que definem o sistema bilinear equivalente, calculados como apresentado na Secção 2.1.2.
Tabela 6.4. Parâmetros definidores do sistema bilinear equivalente
Direção Г k* (kN/m) Fy* (kN) m* (t) T* (s)
+X 1.226 930311 2025.8 520.14 0.149
–X 1.226 789091 1937.1 520.14 0.161
+Y 1.226 898841 1304.8 520.14 0.151
–Y 1.226 837500 2110.6 520.14 0.157
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
195
A verificação da segurança é então feita através do procedimento de análise pushover
designado por método N2 (Fajfar e Fischinger, 1988). Tendo em conta a violência dos sismos
em Christchurch, é feita apenas a verificação para o estado limite último do edifício. Nesta
verificação foi considerado o espetro de resposta definido para Christchurch na norma
neozelandesa (NZS, 2004), uma vez que este é mais condicionante do que qualquer dos
eventos sísmicos registados. Os fatores de segurança em termos de deslocamentos FSd,
apresentados na Tabela 6.5, denotam margem de segurança sísmica para o edifício,
evidenciando o conservadorismo do procedimento baseado na verificação de força.
Tabela 6.5. Cálculo de fatores de segurança em termos de deslocamentos
Direção Se(T*) (g) q* SDe(T*) (cm) d*máx (cm) dmáx (cm) FSd
+X 0.66 1.66 0.362 0.703 0.862 1.72
–X 0.66 1.74 0.427 0.807 0.990 1.42
+Y 0.66 2.58 0.375 0.904 1.109 1.12
–Y 0.66 1.60 0.402 0.731 0.897 2.58 a
Parâmetros considerados segundo NZS (2004): Z = 0.22, Solo D, Ch(T) = 3.0g, TC = 0.5 s.
6.2 Análise Comparada de Edifício Unifamiliar
As estruturas de edifícios unifamiliares com 1-2 pisos, as quais representam a grande
parte do parque edificado português (Fig. 6.26) e também do sul da Europa, são quase
exclusivamente construídas em betão armado em Portugal. Nesta secção, e com base no
estudo de uma moradia situada na Póvoa de Varzim, são avaliadas as possibilidades de
construção destes edifícios com soluções em alvenaria estrutural, mesmo que os mesmos não
tenham sido inicialmente concebidos para estas soluções.
Figura 6.26. Evolução histórica da edificação em Portugal quanto ao número de pisos
1
1
1 1
1
1
1 1 1 1
2
2
2
2
2 2
2 2 2
2
3 3 3 3
3 3
3 3 3
3
4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 ≥7 ≥7 ≥7 ≥7 ≥7 ≥7 ≥7 ≥7 ≥7 ≥7
0
50
100
150
200
250
300
-1919 1919-1945 1946-1960 1961-1970 1971-1980 1981-1990 1991-1995 1996-2000 2001-2005 2006-2011
Mil
hares
de e
dif
ício
s
Fonte: Instituto Nacional de Estatística
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
196
6.2.1 Descrição do Edifício
O edifício alvo de estudo corresponde a uma moradia unifamiliar, integrada num bloco
habitacional em banda, localizada na freguesia de A-Ver-O-Mar, Póvoa de Varzim, sendo
constituída por 2 pisos (rés-do-chão e 1.º andar), e cuja arquitetura é apresentada nas Figuras
6.27 e 6.28. Trata-se de um edifício com compartimentação típica portuguesa, apresentando
salas e cozinha no rés-do-chão, e quartos e escritório no 1.º andar. Outras características
típicas são a garagem e a cobertura com várias águas e desníveis. O edifício foi originalmente
projetado em betão armado, com as plantas estruturais apresentadas na Figura 6.29.
R/C 1.º
Figura 6.27. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia: plantas e alçado lateral
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
197
Figura 6.28. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia: alçados principal e posterior
R/C 1.º
Figura 6.29. Plantas estruturais originais em betão armado
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
198
6.2.2 Projeto em Alvenaria Simples
A construção com alvenaria simples, pela simplicidade do processo construtivo e pelo
facto de se tratar de um sistema de construção fechado, é a primeira opção a considerar. Neste
caso, optou-se por um sistema com junta vertical de encaixe em extremidades macho-fêmea e
assente com junta horizontal em duas faixas laterais, tal como exemplificado na Figura 6.30.
O sistema emprega uma unidade base de 30 cm × 30 cm × 19 cm e peças complementares
(Fig. 6.31) que permitem uma ampla modularidade para o sistema. Neste caso optou-se por
uma modularidade de 15 cm, particularmente para compatibilização com paredes resistentes
interiores com 15 cm de espessura. Na Figura 6.32 são apresentadas as plantas estruturais da
solução construtiva em alvenaria simples. Estas plantas apresentam o arranjo de peças na
primeira fiada de paredes e ainda o arranque da segunda fiada a partir dos cruzamentos.
Figura 6.30. Exemplos de montagem do sistema de alvenaria usado
Base Meio-bloco Remate Esquina Ajuste Bloco-lintel
Figura 6.31. Peças do sistema de alvenaria utilizado
Para as lajes, são adotadas soluções semelhantes às do projeto de estrutura em betão
armado, nomeadamente com uso de lajes aligeiradas de vigotas pré-esforçadas. As lajes são
de vigota simples e apresentam espessuras respetivamente de 19 cm e 15 cm para os
pavimentos habitáveis e de teto/cobertura. Estas lajes consideram-se sujeitas respetivamente a
cargas permanentes de 4.5 e 3.0 kN/m2, e a sobrecargas de 2.0 kN/m
2 e 0.4 kN/m
2. O
coroamento das paredes é resolvido através da utilização do bloco-lintel, dentro do qual é
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
199
construída uma viga com uma secção de 0.20 × 0.35 m2, que realiza a bordadura da laje, e que
apresenta uma armadura longitudinal de 4 10 e estribos [email protected] (0.10 nas extremidades).
Figura 6.32. Plantas estruturais da solução construtiva em alvenaria simples
A alvenaria é construída sem preenchimento das juntas verticais, ainda que a mesma
seja impedida pelo EC8 (IPQ, 2010) e apenas admissível em zonas de baixa sismicidade. As
unidades são assentes com junta horizontal descontínua em duas faixas com 2/3 da espessura
da unidade. Tendo em conta que o bloco usado pertence ao Grupo 2 e apresenta uma
resistência normalizada à compressão fb de 10 MPa, e que é utilizada uma argamassa de
assentamento da classe M10 (fm = 10 MPa), a resistência à compressão da alvenaria pode ser
aproximada através da expressão proposta no EC6 (CEN, 2005) como:
0.7 0.3
k b m f K f f
(6.2)
1.50 0.90 1.35 1.95 1.35
3.45 0.90 2.55
3.60
1.35 2.55 1.50
1.80 1.05
1.5
05 x
0.7
52.4
01.3
50.7
50.9
01.3
53.4
5
4.5
03.9
75
15.9
0
3.0
0
2.9
25
0.9
02.4
0
0.3
0
0.1
5
0.30
2.101.501.20 1.50 1.20
7.80
2.7
00
.75
1.3
52
.40
0.7
5
8.7
0
1.05 0.75 3.00 0.90 1.35 0.75
8.55
3.9
75
3.0
0
3.7
5
3.90
0.30 0.15 0.150.30
0.15 0.30 0.30 0.15
1.a fiada
arranque da
2.a fiada
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
200
onde K é um parâmetro que tem em conta o tipo de argamassa e as condições de assentamento
dos blocos.
No presente caso, o valor para este parâmetro em correspondência com o uso de
unidades cerâmicas do Grupo 2 assentes com argamassa corrente é de 0.45. No entanto, no
caso de assentamento com junta descontínua, o valor a adotar corresponde à interpolação
entre K e K/2, conforme a relação entre a largura das faixas de assentamento e a espessura
total da alvenaria, g/t, seja 1 ou 0.4 respetivamente. Desta forma, o valor a adotar para o
parâmetro K será de 0.325, obtendo-se uma resistência à compressão com valor de 3.25 MPa.
Por outro lado, a resistência ao corte da alvenaria é obtida através de uma expressão do tipo
Mohr-Coulomb, tal como aquela proposta no EC6 (CEN, 2005):
vk vk0 d 0 4σ
gf C f
t.
(6.3)
onde C é uma constante que toma o valor de 1 para alvenaria com junta vertical preenchida e
0.5 para alvenaria com junta vertical não preenchida, fvk0 é a resistência ao corte da alvenaria
sob compressão nula e σd é a tensão de compressão perpendicular às juntas. Tendo em conta
os materiais usados, o valor especificado para fvk0 é de 0.30 MPa, vindo a resistência ao corte
dada por:
vk d b0 1 0 4σ (MPa), com máximo de 0.045f f. . .
(6.4)
O módulo de elasticidade da alvenaria E pode ser estimado como 1000fk, e o módulo
de distorção como 0.4E, resultando em valores para estes parâmetros de 3.25 GPa e de 1.30
GPa, respetivamente. Por outro lado, os drifts últimos para os painéis de alvenaria no seu
plano admitem-se, de acordo com a norma italiana (NTC, 2008) e o EC8 – Parte 3 (CEN,
2005b), com valores de 0.4% e 0.8%, respetivamente para os mecanismos por corte e por
flexão composta. O peso volúmico da alvenaria, incluindo rebocos, é de 12 kN/m3. O edifício
admite-se construído num terreno do tipo B, sendo os parâmetros que caraterizam os espetros
de resposta elásticos correspondentes às ações sísmicas na Póvoa de Varzim apresentados na
Tabela 6.6, a partir do Anexo Nacional ao EC8 (IPQ, 2010).
Tabela 6.6. Caraterização das ações sísmicas a considerar na Póvoa de Varzim
Ação sísmica tipo 1 (sismo afastado) Ação sísmica tipo 2 (sismo próximo)
Zona 1.6 agR = 0.35, agR, ELD = 0.14 (m/s2) Zona 2.5 agR = 0.8, agR, ELD = 0.32 (m/s
2)
S = 1.35 TB = 0.1, TC = 0.6, TD = 2 (s) S = 1.35 TB = 0.1, TC = 0.25, TD = 2 (s)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
201
O edifício foi modelado no programa 3Muri, tal como ilustrado na Figura 6.33. Nesta
figura é possível observar os modelos tridimensionais geométrico e computacional do edifício,
assim como os modelos planos da fachada lateral e do pavimento. É de notar que a cobertura
foi simulada de forma simplificada, através da sobreposição das respetivas lajes ao nível do
teto, de modo a simular o seu carregamento e efeito diafragmático. Por outro lado, a carga dos
beirais do telhado foi simulada através da introdução de varandas ao nível do teto, tal como
ilustrado na Figura 6.33a. O modelo computacional na Figura 6.33b mostra a discretização em
macro-elementos para o edifício, sendo a fachada lateral detalhada na Figura 6.33c. A
modelação do pavimento na Figura 6.33d é feita através de elementos de membrana.
(visto de dentro) (c)
(d)
Figura 6.33. Modelos tridimensionais do edifício (a) geométrico e (b) computacional e
modelos planos (c) da fachada lateral e (d) do pavimento
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
P11
P12
P13
P14
P15
P16
P17
P18
P19
N12 N18
N19
N28
N29
N30
E49
E50
E51 E52
T157 T158 T159
T160 T161
n90
n91
N13
N14
n87
n88
n89
N6
N9
N10
N11
N22
N23
N24
E33 E34
E35
E36
E37
E38
E39 E40
E41 E42
E43 E44 E45
E46 E47 E48
T151 T152 T153 T154
T155 T156
n85 N5
n86
(a) (b)
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
202
O modelo foi então submetido a análise pushover, estudando as duas direções
principais em planta do edifício, nos sentidos de carregamento positivo e negativo, e
considerando dois perfis de distribuição de força em altura (proporcional à massa e
proporcional ao primeiro modo de vibração) e três possibilidades para a excentricidade (nula
“e.0”, positiva “e.+” e negativa “e.-“), num total de 24 análises. Em correspondência com
cada análise é obtida a curva de capacidade do edifício e feita a verificação da segurança em
termos de deslocamentos, de acordo com o procedimento N2 (ver Secção 2.1.2).
A síntese de resultados da verificação de segurança sísmica do edifício no 3Muri é
apresentada na Figura 6.34, onde se pode observar que a verificação para Estado Limite
Último (ULS) é mais condicionante do que aquela para Estado Limite de Dano (DLS), ainda
que exista margem significativa de segurança. Isto pode ser constatado através da comparação
do deslocamento-alvo (Dmax) com a capacidade de deslocamento (Du), e sobretudo através
da avaliação do fator de segurança Alpha u, que representa a razão entre a aceleração limite de
colapso e aquela correspondente ao espetro definido na solicitação para estado limite último.
Figura 6.34. Síntese de resultados da verificação de segurança sísmica do edifício no 3Muri
Para além da verificação dos critérios de segurança em termos dos deslocamentos para
ULS e DLS, o procedimento N2 estabelece igualmente o critério de limitação do parâmetro
q* (relação entre a força de resposta elástica e a força de cedência do sistema equivalente) ao
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
203
valor de 3, condição que representa uma limitação à ductilidade do sistema estrutural no seu
conjunto. O gráfico na Figura 6.35 apresenta uma síntese da verificação dos três critérios
considerados, quantificando nomeadamente os fatores de segurança em termos de aceleração
e o fator q*, onde se constata que a direção +X é a mais condicionante. É de esperar, no
entanto, que para +X o parâmetro q* assuma os maiores valores devido à maior exploração da
ductilidade estrutural face à solicitação, tal como denotado nas Figuras 6.36 e 6.37.
Figura 6.35. Fatores de segurança em termos de aceleração e fator q*
Figura 6.36. Curvas de capacidade do edifício na direção X
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
+X massa e.0
+X massa e.+
+X massa e.-
+X 1º modo e.0
+X 1º modo e.+
+X 1º modo e.-
-X massa e.0
-X massa e.+
-X massa e.-
-X 1º modo e.0
-X 1º modo e.+
-X 1º modo e.-
+Y massa e.0
+Y massa e.+
+Y massa e.-
+Y 1º modo e.0
+Y 1º modo e.+
+Y 1º modo e.-
-Y massa e.0
-Y massa e.+
-Y massa e.-
-Y 1º modo e.0
-Y 1º modo e.+
-Y 1º modo e.-
ELU
ELD
q*
-600
-400
-200
0
200
400
600
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25
Corte
basa
l (k
N)
Deslocamento do edifício (mm)
X massa e.0
X massa e.+
X massa e.-
X 1º modo e.0
X 1º modo e.+
X 1º modo e.-
Dmax
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
204
Figura 6.37. Curvas de capacidade do edifício na direção Y
Para além da verificação de segurança, interessa perceber a resposta sísmica do
edifício, tanto em termos de deformação como de dano. A Figura 6.38 ilustra, para a análise
“+X 1º modo e.0”, o dano na fachada principal do edifício para os níveis de deformação
correspondestes ao deslocamento-alvo (Dmax) e ao deslocamento último regulamentar do
edifício (Du), assim como o dano final no edifício. A resposta do edifício é caraterizada por
mecanismos de flexão nos painéis esbeltos, ainda que o colapso do mesmo seja induzido por
mecanismos de corte no rés-do-chão. A evolução do dano na fachada lateral do edifício para a
análise “+Y 1º modo e.0” e o dano último no edifício são apresentados na Figura 6.39, onde
se observam mecanismos de flexão nos painéis esbeltos e de corte nos painéis longos, sendo
estes últimos que determinam o colapso do edifício no segundo piso.
Face à resposta pushover do edifício prevista pelo 3Muri, fica verificada a sua
segurança sísmica à luz da norma italiana (NTC, 2008) e do EC8 (IPQ, 2010). Tendo em
conta o estudo paramétrico de software realizado no Capítulo 3, entende-se como relevante
confirmar os resultados obtidos com outro programa. Desta forma, com base na modelação no
programa 3DMacro, são apresentados seguidamente os resultados mais relevantes para esta
confirmação. Na Figura 6.40 são apresentados os modelos geométrico e computacional
gerados no 3DMacro. Ainda que qualquer dos programas (3Muri e 3DMacro) coloque
limitações à reprodução física do edifício, é de notar a possibilidade do 3DMacro simular
empenas e coberturas inclinadas. Por outro lado, a modelação do edifício no 3DMacro é mais
demorada, na medida em que implica a gestão do modelo quer em planta quer em alçado.
-1250
-750
-250
250
750
1250
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40
Corte
basa
l (k
N)
Deslocamento do edifício (mm)
Y massa e.0
Y massa e.+
Y massa e.-
Y 1º modo e.0
Y 1º modo e.+
Y 1º modo e.-
Dmax
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
205
Dmax = 3 mm Du = 12 mm
Integro Plástico por corte Rotura por corte Plástico por flexão composta Rotura por flexão composta
Figura 6.38. Dano na fachada principal e dano último no edifício para “+X 1º modo e.0”
Dmax = 1 mm Dintermédio = 6 mm
Du = 12 mm
Integro Plástico por corte Rotura por corte Plástico por flexão composta Rotura por flexão composta
Figura 6.39. Dano na fachada lateral e dano último no edifício para “+Y 1º modo e.0”
Figura 6.40. Modelos geométrico e computacional do edifício no 3DMacro
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
206
Na Figura 6.41 é apresentada a evolução de dano no edifício para as análises +X e +Y
com distribuição de forças “modal”, e para níveis de deformação comparáveis com os das
Figuras 6.38 e 6.39. Em qualquer das direções, existe concordância entre os dois modelos ao
prever mecanismos de rocking e de corte em determinados painéis do edifício. Esta
concordância permitiu uma boa aproximação das curvas de capacidade apresentadas na Figura
6.42. Para a generalidade das análises, ambos os programas apresentam resultados similares
em termos de rigidez inicial, deslocamento de cedência e capacidade de corte basal, e mesmo
na evolução pós-pico.
3 mm (a) 12 mm
1 mm (b) 6 mm
Figura 6.41. Dano no edifício para (a) “+X 1º modo” e (b) “+Y 1º modo” em
correspondência com as deformações indicadas (X: corte diagonal, =: fendas por tração,
●: rótula plástica)
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
207
Figura 6.42. Comparação de curvas de capacidade obtidas para os modelos 3Muri e 3DMacro
A concordância entre o 3DMacro e o 3Muri resulta num cenário de verificação de
segurança no 3DMacro semelhante ao apresentado com detalhe para o 3Muri, pelo que não se
apresentam aqui resultados da verificação de segurança no 3DMacro. Apresenta-se apenas, na
Figura 6.43, para a parede de fachada no rés-do-chão, a evolução de esforços na interface de
elementos e nas molas diagonais em correspondência com a análise “+X 1º modo” entre
deslocamentos do edifício de 3 e 12 mm. A obtenção deste tipo de resultados denota alguma
vantagem no uso de macro-elementos bidimensionais, uma vez que é possível prever
explicitamente o estado tensional na alvenaria.
Figura 6.43. Evolução de esforços na interface de elementos e nas molas diagonais
-800
-400
0
400
800
-15 -10 -5 0 5 10 15
Corte
basa
l (k
N)
Deslocamento do edifício (mm)
X massa
3Muri
X 1º modo
3Muri
X massa
3DMacro
X 1º modo
3DMacro
-1250
-750
-250
250
750
1250
-10 -7.5 -5 -2.5 0 2.5 5 7.5
Corte
basa
l (k
N)
Deslocamento do edifício (mm)
Y massa
3Muri
Y 1º modo
3Muri
Y massa
3DMacro
Y 1º modo
3DMacro
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
208
6.2.3 Projeto em Alvenaria Confinada
Alternativamente à solução em alvenaria simples, será agora considerada a construção
do mesmo edifício com alvenaria confinada. A conceção da estrutura é neste caso feita de
uma forma prescritiva, prevendo elementos verticais em betão armado (montantes, pilaretes
ou pilares) nos cantos e cruzamentos de paredes, assim como em alinhamentos verticais de
aberturas. Note-se que, na bibliografia, existe grande dispersão relativamente às prescrições
construtivas para alvenaria confinada, nomeadamente em relação à necessidade do
confinamento de aberturas. Para este aspeto, terá que existir uma sensibilidade por parte do
projetista procurando garantir uma densidade suficiente e uma disposição adequada de painéis
de alvenaria efetivamente confinados. Neste trabalho, o projeto em alvenaria confinada tem
essencialmente em consideração as especificações do EC6 (CEN, 2005), assim como a
experiência na América Latina expressa sobretudo nos regulamentos peruano (SENCICO,
2006) e mexicano (NTCM, 2004).
Para os pilares, de acordo com o EC6 é de prever uma área de armadura longitudinal
equivalente a 0.8% da área da sua secção transversal, com um mínimo de 4 8. Relativamente
à armadura transversal, assume-se a colocação nos pilares de estribos com diâmetro de 6 mm
afastados de 20 cm em geral e de 10 cm nas extremidades. A solução para as vigas é a mesma
adotada na solução em alvenaria simples, nomeadamente através da utilização do bloco-lintel,
dentro do qual é construída uma viga com uma secção de 0.20 × 0.35 m2, que realiza a
bordadura da laje, e que apresenta uma armadura longitudinal de 4 10 e estribos [email protected]
(0.10 nas extremidades).
Tendo em conta o uso do mesmo sistema de blocos (cerâmicos) empregue na solução
em alvenaria simples, são apresentadas na Figura 6.44 as plantas estruturais da solução
construtiva em alvenaria confinada. Neste caso, o confinamento é sobretudo conferido por
uma série de pilares criteriosamente posicionados e ligados às vigas de pavimento, de modo a
confinar áreas substanciais de alvenaria, prestando particular cuidado à direção X do edifício.
Na direção Y, o edifício possui um grande desenvolvimento, requerendo especial atenção o
alçado lateral com desenho estrutural apresentado na Figura 6.45.
Tendo em conta a modularidade do sistema de alvenaria usado e a necessidade de
evitar pontes térmicas, optou-se por uma dimensão do pilar de 20 cm transversalmente à
secção da parede (com 30 cm de espessura), o qual é depois fechado por forras com 10 cm de
espessura. Note-se que a especificação nos regulamentos da América Latina da necessidade
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
209
de confinar toda a espessura da parede parece impraticável na Europa face aos requisitos
energéticos, a menos que seja utilizado um sistema de isolamento pelo exterior do tipo ETICS.
Figura 6.44. Plantas estruturais da solução construtiva em alvenaria confinada
Figura 6.45. Exemplo de alçado estrutural do sistema construtivo em alvenaria confinada
0.3
00.1
5
0.30
2.101.501.20 1.50 1.20
7.80
2.7
00.7
51.3
52.4
00.7
5
8.7
0
1.05 0.75 3.00 0.90 1.35 0.75
8.55
3.9
75
3.0
0
3.7
5
3.90
0.30 0.15 0.150.30
0.15 0.30 0.30 0.15
1.50 0.90 1.35 1.95 1.35
3.45 0.90 2.55
3.60
1.35 2.55 1.50
1.80 1.05
1.5
05
x 0
.75
2.4
01.3
50.7
50.9
01.3
53.4
5
4.5
03.9
75
15.9
0
3.0
0
2.9
25
0.9
02.4
0
0.100.10
3.00 2.70 3.225 2.475 3.00 1.50
1.0
01
.20
1.a fiada
arranque da
2.a fiada P1
P1
P2
P2
P3
P1 P2
P2
P1 P1
P4
4 P5
4
P1
P6
P6
P6
P6
P6 P3
P7 P2 P2
P2
P1 P3 P3
P1
P3
P1 P2
P1 P5
4
P5
4
P1
P6 P6 P3
P1
P1 P1
P6
P2 P2
P1: 20×20 cm2; 4 10
P2: 20×30 cm2; 4 12
P3: 20×15 cm2; 4 10
P4: 22.5×30 cm2; 4 12
P5: 22.5×20 cm2; 4 10
P6: 15×15 cm2; 4 8
P7: 15×30 cm2; 4 12
P7 P7
P3 P3
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
210
A solução em alvenaria confinada foi modelada no programa 3DMacro, sendo os
modelos geométrico e computacional do edifício apresentados na Figura 6.46. É de notar que
a principal alteração relativamente à solução construtiva e ao modelo computacional em
alvenaria simples reside na inclusão dos pilares de confinamento, os quais são simulados
como elementos finitos de barra com plasticidade concentrada nas ligações e com
comportamento tridimensional N-Mx-My de interação com os painéis de alvenaria. O modelo
foi então submetido a carregamento pushover nas duas direções principais e assumindo
distribuições de força em altura proporcionais à massa e ao primeiro modo de vibração.
Figura 6.46. Modelos geométrico e computacional do edifício em alvenaria confinada
A evolução do dano no edifício é ilustrada nas Figura 6.47 e 6.48 para as análises +X e
+Y com distribuição de forças “modal”, em correspondência com vários níveis de deformação
do edifício. Para qualquer das análises, o dano no edifício começa a ser significativo para uma
deformação de 1 mm, fase em que alguns painéis de alvenaria apresentam fendilhação por
tração nas interfaces e por corte ao longo das diagonais dos painéis. Para o nível de
deformação correspondente ao deslocamento-alvo para ELU (Dmax), o dano aparece
significativamente alastrado nas várias paredes do edifício. Depois, o dano evolui em
correspondência com os deslocamentos Dd e Du, associados respetivamente às capacidades
do edifício para ELD e ELU, com uma progressiva formação de rótulas plásticas nas
extremidades dos elementos de confinamento.
As curvas de capacidade do edifício, em correspondência com as várias análises
efetuadas, são apresentadas na Figura 6.49. No caso da direção X, é de notar uma alteração
diferente da resposta do edifício em alvenaria confinada relativamente àquela do edifício em
alvenaria simples, em cada sentido de carregamento. Efetivamente, enquanto em +X se
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
211
verifica uma ampliação da capacidade de corte basal em quase toda a extensão da resposta,
em −X esta ampliação ocorre apenas até à deformação de 1 cm, após o que se verifica uma
degradação progressivamente rápida da resistência. Este último aspeto estará sobretudo
relacionado com a reduzida continuidade de paredes em X para a zona esquerda do edifício,
facto que, associado à elevada degradação dos painéis confinados, potencia um mecanismo de
colapso no rés-do-chão do edifício (Fig. 6.50). Esta debilidade da estrutura pode ser mitigada
usando uma das paredes divisórias naquela zona do edifício como resistente. Relativamente à
direção Y, observa-se uma melhoria surpreendente quer da capacidade de corte basal quer da
ductilidade, ainda que associada a um elevado grau de degradação dos painéis de alvenaria.
1 mm Dmax = 4 mm
Dd = 12 mm Du = 16 mm
Figura 6.47. Dano no edifício para a análise “+X 1º modo” em correspondência com as
deformações indicadas (X: corte diagonal, =: fendas por tração, ●: rótula plástica)
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
212
1 mm Dmax = 3 mm
Dd = 15 mm Du = 19 mm
Figura 6.48. Dano no edifício para a análise “+Y 1º modo” em correspondência com as
deformações indicadas (X: corte diagonal, =: fendas por tração, ●: rótula plástica)
Na Tabela 6.7 é apresentada a síntese de resultados da verificação de segurança
sísmica no 3DMacro, a qual é realizada através do procedimento de análise pushover N2
(Fajfar e Fischinger, 1988). Note-se que as capacidades de deslocamento para ELD e ELU
foram limitadas a drifts entre pisos respetivamente de 0.3% e 0.6%. Como se pode observar, a
segurança é largamente satisfeita, identificando-se a direção −X como a mais fraca e a direção
+Y como a mais forte. Os parâmetros fELU e fELD apresentados na tabela representam a razão
entre a aceleração limite de colapso e aquela correspondente ao espetro definido na solicitação
para o estado limite respetivo, a qual pode ser vista como um fator de segurança. A avaliação
destes parâmetros denota a verificação para ELU como mais condicionante, e permite
observar uma maior margem de segurança relativamente à solução em alvenaria simples. Face
aos resultados, o edifício seria capaz de suportar uma ação sísmica tipo 2 (sismo próximo)
definida no EC8 (IPQ, 2010) até uma aceleração máxima de referência de 2.5 m/s2.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
213
Figura 6.49. Curvas de capacidade obtidas para os modelos 3DMacro em alvenaria simples e
em alvenaria confinada
Dd = 10 mm 16 mm
Figura 6.50. Ilustração do progressivo mecanismo de colapso no rés-do-chão do edifício para
“−X 1º modo” (X: corte diagonal, =: fendas por tração, ●: rótula plástica)
0
0.1
0.2
0.3
0.4
-17.5 -12.5 -7.5 -2.5 2.5 7.5 12.5 17.5
Corte
basa
l (%
g)
Deslocamento do edifício (mm)
X massa
Simples
X 1º modo
Simples
X massa
Confinada
X 1º modo
Confinada
0
0.3
0.6
0.9
1.2
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25
Corte
ba
sal
(%g
)
Deslocamento do edifício (mm)
Y massa
Simples
Y 1º modo
Simples
Y massa
Confinada
Y 1º modo
Confinada
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
214
Tabela 6.7. Síntese de resultados na verificação de segurança
Análise T* (s) Estado limite último Estado limite de dano
fELU fELD Dmax (cm) Du (cm) q* Dmax (cm) Dd (cm)
+X massa 0.189 0.29 1.09 0.721 0.12 0.99 3.15 7.24
+X 1º modo 0.230 0.43 1.61 0.750 0.17 1.15 3.53 6.37
−X massa 0.187 0.29 1.04 0.735 0.11 0.74 3.07 5.70
−X 1º modo 0.217 0.39 1.33 0.776 0.15 0.97 3.17 5.89
+Y massa 0.146 0.18 2.32 0.272 0.07 1.54 9.29 16.69
+Y 1º modo 0.179 0.26 1.93 0.254 0.10 1.48 6.40 12.92
−Y massa 0.172 0.24 2.46 0.233 0.10 1.62 8.37 14.93
−Y 1º modo 0.204 0.34 2.46 0.251 0.14 1.48 6.66 10.75
6.2.4 Síntese Comparativa
A solução em betão armado assumida para a moradia em estudo é a originalmente
apresentada no respetivo projeto de estruturas, a qual foi aprovada para construção na Póvoa
de Varzim. A solução proposta em alvenaria simples verifica folgadamente a segurança às
ações sísmicas definidas para esta localidade no EC8 (IPQ, 2010), permitindo por outro lado a
verificação em zonas sujeitas a um “sismo próximo” com aceleração máxima de referência
(agR) de 1.7 m/s2 e a um “sismo afastado” com agR de 1.5 m/s
2, situação que permite a
construção do edifício em alvenaria simples no Portugal Continental em solo de boa qualidade
(terrenos tipo A ou B), com exceção das zonas sísmicas 1.1 e 1.2. Note-se a boa aproximação
entre programas de cálculo na previsão da resposta sísmica da estrutura em alvenaria simples.
Nas zonas de maior sismicidade, nomeadamente no Algarve e nos Açores, a solução em
alvenaria confinada, ao permitir uma maior capacidade sísmica, tanto em termos de
resistência como de deslocamentos, é uma alternativa viável à estrutura em betão armado.
Tendo em conta a necessidade de suportar a escolha de uma solução também do ponto
de vista económico, foi feita uma estimativa dos custos associados a cada uma das soluções
estruturais apresentadas nas secções anteriores. Foram consideradas nomeadamente, a solução
original em betão armado, a solução em alvenaria simples empregando blocos resistentes de
elevada eficiência térmica (alvenaria simples A) e a solução em alvenaria confinada.
Adicionalmente, foi considerada uma solução em alvenaria simples com blocos resistentes de
menor eficiência térmica (alvenaria simples B), a qual emprega blocos mais económicos mas
requer a aplicação de isolamento térmico pelo exterior. A estimativa de custos para os vários
tipos de estrutura, utilizando preços correntes de mercado, é detalhada na Tabela 6.8 e
resumida na Figura 6.51.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
215
Tabela 6.8. Estimativa de custos para os vários tipos de estrutura considerados
Orçamento
Quantidades Custo
unitário
(€)
Custo total (€)
Betão
armado
Alvenaria
simples A
Alvenaria
simples B
Alvenaria
confinada
Betão
armado
Alvenaria
simples A
Alvenaria
simples B
Alvenaria
confinada
1 Fundações
1.1 Regularização do terreno (m2) 200.00 200.00 200.00 200.00 3.25 650.00 650.00 650.00 650.00
1.2 Abertura de caboucos (m3) 44.23 24.05 24.05 24.05 4.85 214.53 116.62 116.62 116.62
1.3
Betão de limpeza em sapatas
(m3) 4.73 3.44 3.44 3.44 58.45 276.18 200.78 200.78 200.78
1.4 Cofragem em fundações (m2) 115.00 68.70 68.70 68.70 9.77 1123.17 670.97 670.97 670.97
1.5
Varões de aço em fundações
(Kg) 845.69 354.91 354.91 354.91 1.30 1099.40 461.38 461.38 461.38
1.6
Estribos de aço em fundações
(Kg) 87.11 111.25 111.25 111.25 1.40 121.96 155.76 155.76 155.76
1.7
Betão C20/25 em fundações
(m3) 23.04 13.74 13.74 13.74 67.95 1565.40 933.63 933.63 933.63
Custo parcial (€) 5050.63 3189.13 3189.13 3189.13
2
Parte estrutural em betão
armado
2.1 Cofragem em pilares (m2) 188.01 0.00 0.00 64.09 16.63 3127.23 0.00 0.00 1066.03
2.2 Varões de aço em pilares (Kg) 453.10 0.00 0.00 405.56 1.45 657.00 0.00 0.00 588.06
2.3
Estribos de aço em pilares
(Kg) 131.88 0.00 0.00 180.70 1.60 211.00 0.00 0.00 289.12
2.4 Betão C20/25 em pilares (m3) 11.66 0.00 0.00 5.75 79.90 931.63 0.00 0.00 459.43
2.5 Cofragem em vigas (m2) 151.46 36.60 36.60 36.60 20.77 3145.32 760.06 760.06 760.06
2.6 Varões de aço em vigas (Kg) 707.95 483.18 483.18 483.18 1.45 1026.53 700.61 700.61 700.61
2.7 Estribos de aço em vigas (Kg) 230.66 284.06 284.06 284.06 1.65 380.59 468.70 468.70 468.70
2.8 Betão C20/25 em vigas (m3) 18.24 11.91 11.91 11.91 69.70 1271.33 830.13 830.13 830.13
Custo parcial (€) 10750.64 2759.50 2759.50 5162.13
3
Parte estrutural/de
enchimento em alvenaria
3.1
Parede dupla de tijolo furado
de 15+11 cm (m2) 206.20 0.00 0.00 0.00 18.60 3835.32 0.00 0.00 0.00
3.2
Isolamento XPS de 3 cm em
parede dupla pelo interior
(m2) 206.20 0.00 0.00 0.00 3.25 670.15 0.00 0.00 0.00
3.3
Isolamento XPS de 3 cm em
parede simples pelo exterior
(m2) 0.00 0.00 243.10 0.00 5.25 0.00 0.00 1276.28 0.00
3.4
Parede simples de tijolo
furado de 11 cm (m2) 168.30 95.70 95.70 95.70 8.60 1447.38 823.02 823.02 823.02
3.5
Parede de tijolo resistente
térmico de 30 cm (m2) 0.00 261.40 0.00 261.40 23.20 0.00 6064.48 0.00 6064.48
3.6
Parede de tijolo resistente de
30 cm (m2) 0.00 0.00 261.40 0.00 17.30 0.00 0.00 4522.22 0.00
3.7
Parede de tijolo resistente de
15 cm (m2) 0.00 54.30 54.30 54.30 12.10 0.00 657.03 657.03 657.03
3.8
Forras térmicas em pilares
(m2) 0.00 0.00 0.00 27.43 16.90 0.00 0.00 0.00 463.57
Custo parcial (€) 5952.85 7544.53 7278.55 8008.10
4 Pavimentos
4.1
Laje aligeirada de vigotas
com altura de 19 cm (m2) 79.50 87.50 87.50 87.50 43.90 3490.05 3841.25 3841.25 3841.25
4.2
Laje aligeirada de vigotas
com altura de 15 cm (m2) 234.80 234.80 234.80 234.80 34.90 8194.52 8194.52 8194.52 8194.52
4.3
Escadas em betão armado
(m2) 9.00 9.00 9.00 9.00 69.90 629.10 629.10 629.10 629.10
4.4
Varanda em betão armado
(m2) 8.00 0.00 0.00 0.00 49.90 399.20 0.00 0.00 0.00
Custo parcial (€) 12712.87 12664.87 12664.87 12664.87
Custo total (€) 34466.99 26158.03 25892.04 29024.23
Economia global (%) 0.00 24.11 24.88 15.79
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
216
Figura 6.51. Resumo da estimativa de custos para os vários tipos de estrutura
Na estimativa de custos em termos parciais, é de notar a economia permitida pelas
soluções em alvenaria estrutural na execução das fundações e na parte estrutural em betão
armado. Isto deve-se ao facto de neste caso se usar uma solução de sapata corrida onde as
tensões estão distribuídas, o que permite a adoção de menores secções de betão e armaduras.
Situação semelhante ocorre relativamente à superestrutura em betão armado na alvenaria
confinada, a qual exige essencialmente o uso de secções mínimas, ainda que neste caso a
construção de pilares encareça a estrutura. Relativamente às paredes, as soluções em alvenaria
resistente são mais caras devido ao maior custo das unidades térmicas de alvenaria. No
entanto, em termos globais, as soluções em alvenaria simples e em alvenaria confinada são
25% e 16%, respetivamente, mais económicas do que a solução em betão armado. Note-se
que a solução em alvenaria simples B, ainda que empregando blocos mais baratos, conduz a
custos equivalentes aos apresentados pela solução em alvenaria simples A, uma vez que
implica a aplicação de isolamento térmico.
6.3 Projeto de Edifícios em Alvenaria Moderna
Nos últimos anos tem-se verificado um grande desenvolvimento de produtos e
soluções para alvenaria, nomeadamente através da introdução de sistemas de construção
integrados. Estes sistemas são constituídos por unidades de alvenaria com propriedades
otimizadas em termos geométricos, de isolamento térmico e acústico, e de resistência. A
introdução de peças complementares na alvenaria e de soluções compatíveis para os restantes
elementos da construção, permite a obtenção de sistemas altamente eficientes, quer a nível
funcional, quer a nível estrutural. No entanto, a resolução ótima das várias componentes da
5050.63
10750.64
5952.85
12712.87
2759.50
7544.53
3189.13
5162.13
8008.10
12664.87
0.00 €
2,000.00 €
4,000.00 €
6,000.00 €
8,000.00 €
10,000.00 €
12,000.00 €
14,000.00 €
Fundações Parte estrutural em
betão armado
Parte estrutural/de
enchimento em
alvenaria
Pavimentos
Betão armado
Alvenaria simples A
Alvenaria simples B
Alvenaria confinada
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
217
construção requer o seu estudo simultâneo nas fases de conceção e projeto, nomeadamente
para compatibilização da estrutura com a arquitetura e com as instalações técnicas.
Desta forma, os aspetos funcionais necessitam de ser estudados na fase de projeto
estrutural, nomeadamente relativamente às instalações elétricas ou de águas e esgotos, e.g. na
Figura 6.52, ou às soluções para estores e revestimento de paredes. A questão das instalações
é um aspeto que normalmente pode ser resolvido através da sua acomodação em tetos falsos
(em moradias) ou em pavimentos, ainda que as redes requeiram usualmente a elevação ou
baixada de tubagens pelas paredes, nomeadamente para colocação de interruptores e tomadas
da rede elétrica, ou para o abastecimento de água nas instalações sanitárias. Apresentam-se
seguidamente exemplos de projetos de edifícios em alvenaria moderna, com referência aos
aspetos construtivos e de dimensionamento.
Figura 6.52. Desenhos de projeto de moradia em alvenaria com planeamento das instalações
6.3.1 Moradia na Mealhada
O primeiro caso de estudo é a moradia tipo para os lotes interiores de uma urbanização
na Mealhada (zonas sísmicas 1.6 e 2.4 no EC8 (IPQ, 2010) às quais correspondem
acelerações máximas de referência (agR) de 0.35 m/s2 e de 1.1 m/s
2, respetivamente). Os
desenhos do projeto de arquitetura da moradia são apresentados na Figura 6.53, os quais
revelam uma traça moderna, mas também preocupação na disposição e continuidade de
paredes. A moradia, de dois pisos, apresenta uma planta com uma área habitável de
aproximadamente 75 m2 e com o alçado posterior quebrado. O pé-direito é de 2.6 m e a
cobertura é em terraço. O terreno da construção admite-se ser do tipo B definido no EC8.
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
218
Figura 6.53. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia na Mealhada
As plantas estruturais da moradia com a distribuição de paredes resistentes, lajes e
vigas são apresentadas na Figura 6.54. Nesta figura são também ilustradas as áreas de
influência dos pavimentos sobre cada parede, os quais são realizados com laje aligeirada de
vigotas pré-esforçadas. O sistema de alvenaria empregue é em blocos de betão, usando um
aparelho com colocação alternada de pares de blocos e de meios-blocos que permite o mínimo
desperdício e a possibilidade de incorporar armaduras em treliça, tanto horizontal como
verticalmente. Trata-se de um sistema inovador desenvolvido em Portugal (Vasconcelos et al.,
2007) e que permite responder às prescrições do Anexo Nacional ao EC6 (CEN, 2005).
Atualmente, este sistema usa um bloco denominado “Best”, com geometria e
dimensões otimizadas de modo a facilitar o processo de fabrico e, particularmente, a
montagem na obra em termos de manuseamento, colocação de armaduras e preenchimento de
juntas e células (Fig. 6.55). O bloco apresenta uma resistência à compressão normalizada de
12 MPa e uma percentagem de furação de 45% (Grupo 2 segundo o EC6), e é assente sobre
uma junta contínua de argamassa M10. A alvenaria apresenta um peso volúmico de 13.0
kN/m3 e as suas propriedades mecânicas obtidas segundo o EC6 são uma resistência à
compressão de 5.0 MPa, uma resistência ao corte inicial de 0.2 MPa, um módulo de
elasticidade de 5.0 GPa e um módulo de corte de 2.0 GPa. Adicionalmente, admitem-se drifts
últimos ao corte e por flexão composta no plano das paredes de 0.4% e 0.8%, respetivamente.
Neste caso assumiu-se, de forma muito conservadora, a utilização de alvenaria não armada,
uma vez que se pretende construir duas moradias (com e sem armadura). O projeto de
modulação do edifício é apresentado na Figura 6.56.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
219
Figura 6.54. Plantas do projeto da estrutura em alvenaria
(a)
(b) (c)
Figura 6.55. Sistema de alvenaria com unidades de betão: (a) bloco “Best” e aparelhos com
armadura (b) na junta de assentamento e (c) em junta vertical contínua
A montagem do presente sistema de alvenaria em obra é relativamente simples quando
devidamente planeado em desenhos, e será certamente mais fácil do que uma solução em
betão armado. Na fase de projeto é essencial considerar, por exemplo, a colocação de
tubagens sem necessidade da abertura de roços em paredes resistentes, a aplicação do
isolamento térmico e do revestimento, e a solução para as caixas de estore sem
comprometimento da função resistente de paredes e padieiras (Fig. 6.57).
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
220
Figura 6.56. Desenhos do projeto de modulação da estrutura em alvenaria
Figura 6.57. Pormenores de soluções para caixa de estore e revestimento de fachada
O aspeto das instalações técnicas tem recebido especial atenção nas soluções com
blocos de betão, as quais tem vindo a ser significativamente desenvolvidas no Brasil e na
América do Norte (Parsekian et al., 2012). Estes blocos possuem células que permitem a
passagem de instalações (assumindo funções de condutas ou courettes), devendo no entanto
prever-se a colocação das extremidades das redes (e.g., tomadas e interruptores), com abertura
cuidadosa dos blocos. O desenho das instalações deve ser feito sobre os próprios desenhos
estruturais, indicando o percurso e os blocos terminais das redes, e.g. na Figura 6.52.
Relativamente ao cálculo sísmico, o mesmo foi efetuado no programa
ANDILWall/SAM II apresentado no Capítulo 3. Na Figura 6.58 são apresentados o modelo
tridimensional geométrico do edifício, e o modelo de barras gerado automaticamente pelo
SAM II. Neste último modelo podemos identificar os nembos, os lintéis, as vigas-lintel e os
40 cm
20 cm
19 cm
40 cm
20 cm
19 cm
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
221
troços que simulam as zonas rígidas. Tendo em consideração o zonamento sísmico na
Mealhada, onde a ação sísmica tipo 2 (sismo próximo) resulta mais condicionante, a
verificação da segurança é largamente satisfeita conforme comprovado na Figura 6.59. Pode
ainda concluir-se que, tendo em conta a agR de 1.7 m/s2
suportada pelo edifício para sismo
próximo, a construção do edifício em alvenaria não armada seria possível em grande parte de
Portugal. Note-se que, para controlo da fendilhação face a efeitos diferidos, movimentos
térmicos ou assentamentos de apoio, é ainda recomendável incorporar na alvenaria uma
armadura mínima em juntas de assentamento.
(a) (b)
Figura 6.58. Modelos tridimensionais (a) geométrico e (b) de barras do edifício
Figura 6.59. Quadro de verificação da segurança para a ação sísmica tipo 2 (sismo próximo)
da Mealhada
Folga para estado limite
último (SLU)
Folga para
estado limite
de dano
(SLD)
Nembo
Lintel
Viga-lintel
Troço rígido
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
222
Ainda que a segurança tenha sido verificada, é necessário evitar respostas sísmicas
inadequadas. A deteção da forma de colapso pode ser feita via análise da deformada ou via
avaliação do dano. Isto é exemplificado na Figura 6.60a, onde o edifício apresenta uma
rotação considerável em planta que se reflete negativamente na verificação para estado limite
último (SLU), e também na Figura 6.60b, onde os nembos apresentam dano precoce por
deslizamento, resultando numa menor margem de segurança para estado limite de dano (SLD).
Este tipo de comportamentos é normalmente potenciado por irregularidades estruturais, tal
como a evidenciada na Figura 6.60c, onde é identificada uma zona mais vulnerável do
edifício, com paredes muito abertas no rés-do-chão e aberturas irregulares no piso elevado.
z
(a) (b) (c)
Figura 6.60. Aspetos do comportamento em deformação e dano do edifício: (a) deformação
torsional em planta, (b) dano na estrutura e (c) zona vulnerável
6.3.2 Moradia em Bragança
O último edifício estudado é a moradia tipo na obra de urbanização “Villa Living
Bragança”, na Avenida Cidade de Zamora em Bragança (zonas sísmicas 1.6 e 2.5 no EC8
(IPQ, 2010) às quais correspondem acelerações máximas de referência (agR) de 0.35 m/s2 e de
0.8 m/s2, respetivamente). O complexo habitacional consiste essencialmente em 3 blocos de
moradias em banda, conforme ilustrado na Figura 6.61. A moradia tipo apresenta dimensões
em planta de aproximadamente 9.2 11.4 m2, com altura aproximada de 3.0 m em piso
enterrado mais 6.0 m em dois pisos acima do solo. O edifício tipo possui um pé-direito de 2.8
m e cobertura de duas águas. O terreno da construção admite-se ser do tipo B definido no EC8.
A arquitetura da moradia tipo, a qual é apresentada na Figura 6.62, é caraterizada em
particular pela grande abertura de vãos nas fachadas, o que não é particularmente favorável
para uma solução em alvenaria estrutural. Para possibilitar esta solução, procurou-se uma
Sismo -Y,
exc.< 0,
distrib.
uniforme
x: corte por
deslizamento
Sismo -X, exc.< 0,
distrib. triangular
x
x x
x
x
x
x
x x
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
223
planta estrutural com continuidade em altura de paredes estruturais, como ilustrado na Figura
6.63, nomeadamente através da disposição de septos contínuos verticais nas fachadas e numa
parede intermédia, de modo a possibilitar resistência adequada. As lajes dos pavimentos e do
teto são em betão armado e armadas em duas direções, enquanto a laje de cobertura é
aligeirada de vigotas pré-esforçadas.
Figura 6.61. Planta e perfil dos blocos de moradias na urbanização em Bragança
Figura 6.62. Desenhos do projeto de arquitetura da moradia tipo
FRIGORÍFICO
FORNO
MICRO ONDAS
Alçado principal Alçado posterior
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
224
Figura 6.63. Desenhos da modulação estrutural do edifício
As paredes estruturais do edifício são construídas com o sistema de blocos de betão
“Best” apresentado para o caso anterior, usando aparelho normal e tendo-se assumido as
mesmas propriedades. No presente projeto, um aspeto importante é a solução utilizada para os
estores, uma vez que existem situações de aberturas nas paredes com e sem padieira (ver Fig.
6.63), sendo então de prever a possibilidade de colocação de caixas de estore compactas com
a altura da fiada e soluções de lintel resistente, tal como exemplificado na Figura 6.64.
(a) (b)
Figura 6.64. Situações de projeto relacionadas com caixa de estore: (a) padieira e (b) lintel
resistentes
parede em b.a.
3.00 4.60 1.20
parede em b.a.
pa
red
e e
m b
.a.
6.70
3.40 3.00 2.40
1.60
8.80
4.00
4.60
1.10
14.40
12.40
3.70 2.00
1.00 6.40
3.20 3.20
1.40
4.00 2.502.50
2.101.201.600.602.001.50
2.005.601.20
2.502.002.10 2.40
CAVE 1.ºR/C
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
225
Em correspondência com as plantas estruturais na Figura 6.63, é ilustrada na Figura
6.65 a modelação do edifício em estudo no programa 3Muri, nomeadamente os modelos de
malha e de barras equivalente da fachada, o modelo tridimensional e aquele do pavimento.
Relativamente à fachada, é de notar o esquema resistente com padieiras contínuas ao nível dos
pavimentos elevados, as quais são ligadas por nembos formando uma malha resistente. Os
esforços instalados nesta malha são distribuídos pelas paredes transversais, e sobretudo,
através do septo central, o qual tem um papel fundamental no equilíbrio da fachada.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 6.65. Modelo do edifício: (a) vista 2D da malha e (b) do pórtico equivalente da
fachada, (c) vista 3D e (d) pavimento
Os principais resultados da análise “+X 1º modo” são apresentados na Figura 6.66,
com base nos quais se conclui que o comportamento da fachada principal é determinante para
a resposta global do edifício. A evolução do dano nesta fachada é ilustrada na Figura 6.66a,
para os níveis de deformação correspondentes ao deslocamento-alvo (Dmax), a um
deslocamento intermédio (Dint) e ao deslocamento último do edifício (Du). O dano na
fachada carateriza-se essencialmente por fendilhação por corte, e culmina com um mecanismo
de colapso por corte no último piso do edifício. Na Figura 6.66b pode observar-se o dano
último nas paredes intermédia e posterior, o qual é atenuado pelo efeito das longas escoras
resistentes que se formam nas paredes.
P
1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P1
1 P
9 P
10
P8
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
226
Dmax = 6 mm Dint = 9 mm Du = 17 mm
Integro Plástico por corte Rotura por corte Plástico por flexão composta Rotura por flexão composta (a)
(b) (c)
Figura 6.66. Resultados da análise +X 1º modo: (a) evolução do dano na fachada principal,
(b) dano último nas paredes intermédia e posterior e (c) curva de capacidade do edifício
Dmax = 5 mm Dint = 7 mm Du = 9 mm
Integro Plástico por corte Rotura por corte Plástico por flexão composta Rotura por flexão composta (a)
(b) (c)
Figura 6.67. Resultados da análise –X 1º modo: (a) evolução do dano na fachada principal,
(b) dano último nas paredes intermédia e posterior e (c) curva de capacidade do edifício
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
227
No caso da análise “–X 1º modo”, cujos resultados são apresentados na Figura 6.67,
verifica-se que, para além da fachada, a parede posterior resulta também determinante na
resposta do edifício através de um mecanismo por corte no último piso do edifício. Neste caso,
o comprimento das escoras formadas nas paredes intermédia e posterior é limitado
(Fig. 6.67b), resultando relativamente a +X numa menor capacidade do edifício em termos de
corte basal (78%) e sobretudo de deslocamento (53%).
A verificação da segurança sísmica do edifício é largamente satisfeita, estando
disponível um relatório detalhado de resultados em Vasconcelos et al. (2012). Por outro lado,
com base em simulação observa-se que a segurança sísmica do edifício é possível até uma agR
de 1.5 m/s2 para “sismo próximo” e de 1.0 m/s
2 para “sismo afastado”. Tal situação permite a
construção do edifício em alvenaria não armada em grande parte de Portugal Continental,
com a exceção da região de Lisboa e do Algarve. Nestas zonas pensa-se que a solução seria
viável reforçando ligeiramente as paredes com armadura vertical em treliça, o que permit iria
um aumento significativo da ductilidade, tal como verificado por Marques et al. (2012b).
Capítulo 6. Aplicações no Cálculo Sísmico de Edifícios
228
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
229
7. CONCLUSÕES
A alvenaria é um material de construção muito antigo, o qual foi historicamente
empregue na construção de grande parte dos edifícios existentes, mas que ao mesmo tempo é
também um material moderno, na medida em que têm sido desenvolvidos sistemas
construtivos que permitem obedecer às exigências atuais para as construções, tanto em termos
funcionais como resistentes. A construção com alvenaria pressupõe, no entanto, uma alteração
no processo de conceção dos edifícios, desde a fase de projeto, que implica um critério de
regularidade e detalhe no desenho modular da alvenaria, até à fase de construção, que requer
rigor de implementação. O projeto e a construção com alvenaria estrutural são particularmente
condicionados pela ação sísmica, aspeto que representa o foco principal no presente trabalho.
Apresentam-se em seguida as conclusões específicas recolhidas ao longo dos diferentes
capítulos da tese, as quais sintetizam as possibilidades de cálculo e construção sismo-
resistente de edifícios em alvenaria estrutural.
No Capítulo 2 conclui-se da existência de métodos de cálculo sísmico desenvolvidos
especificamente para alvenaria, os quais foram implementados com base em modelos de
macro-elementos e que visam simular macroscopicamente o comportamento das estruturas
em alvenaria. As hipóteses de comportamento assumidas na generalidade dos métodos,
nomeadamente a resposta inelástica da alvenaria e a discretização da estrutura com elementos
de deformabilidade e dano concentrados, são baseadas na observação de dano sísmico e na
evidência experimental. Ainda que diferentes tipos de análise possam ser aplicados no cálculo
sísmico, o procedimento de análise estática não linear (pushover) é aquele implementado na
generalidade dos casos, uma vez quer permite avaliar a capacidade de deformação da
estrutura, usada como indicador na verificação da segurança.
No Capítulo 3 são apresentados e comparados três programas comerciais para cálculo
sísmico de estruturas em alvenaria. Dois dos programas, o ANDILWall/SAM II e o 3Muri,
simulam a estrutura como um conjunto de barras deformáveis (nembos e lintéis) ligados por
offsets rígidos, permitindo uma redução significativa da complexidade estrutural e do esforço
computacional. O outro programa, o 3DMacro, usa uma discretização de elementos discretos
bidimensionais constituídos por molas, o que implica uma maior complexidade, mas também
permite maiores possibilidades na obtenção de diferentes respostas estruturais. Na estratégia
de modelação adotada e em qualquer dos casos, os pavimentos assumem um efeito diafragma
no seu plano. A verificação da segurança global pelos programas é baseada em geral num
Capítulo 7. Conclusões
230
procedimento de análise pushover, através do cálculo da exigência e da capacidade de
deslocamentos do edifício para os estados limites de dano e último com base na curva de
capacidade. A verificação da segurança fora-do-plano é feita, em qualquer dos casos, através
de procedimentos simplificados.
Para efeitos de validação dos programas, e adotando um exemplo de aplicação, foi
obtida uma boa correspondência entre as curvas de capacidade obtidas pelos vários métodos e
a resposta experimental, sobretudo em termos da rigidez inicial e do ponto de cedência, e em
alguns casos também relativamente à capacidade de deformação. Neste exemplo é observada
uma aproximação na previsão do comportamento estrutural por parte dos modelos de barra
SAM II e 3Muri, e dos modelos com domínio bidimensional Gambarotta-Lagomarsino
(implementado na versão científica TreMuri) e 3DMacro, verificando-se ainda que este
último par de modelos aproxima melhor o comportamento experimental.
No Capítulo 4 é idealizado e descrito um método simplificado de macro-elemento
unidimensional para análise da resposta global de edifícios, o RANm, o qual é inspirado nos
métodos POR e RAN. O método implementado considera hipóteses que traduzem a
especificidade de estruturas em alvenaria moderna, nomeadamente a consideração de faixas
contínuas rígidas adjacentemente aos pavimentos, e é implementado através de um processo
incremental-iterativo que resolve as condições de equilíbrio assumindo as hipóteses de igual
deslocamento no piso e de soma das respostas dos nembos em cada piso. Com base num
esquema de equilíbrio simplificado, o método proposto permite ainda aproximar o
comportamento inelástico da estrutura e assim proceder a uma verificação da segurança em
termos de deslocamento. Ainda que o método proposto pareça sobrestimar a rigidez inicial na
curva de capacidade, no caso em que a rigidez do sistema bilinear equivalente é reduzida a
posteriori de 50%, os resultados na verificação da segurança de uma estrutura exemplo são
comparáveis àqueles obtidos dos programas comerciais.
No Capítulo 5 é apresentado um estudo detalhado sobre o comportamento sísmico de
estruturas em alvenaria confinada. Esta técnica construtiva tem apresentado grande
disseminação em zonas sísmicas, particularmente na América Latina, a qual é potenciado pela
sua rapidez de execução e economia. Nesta tipologia, o mecanismo de dano típico consiste
basicamente na propagação de fendas diagonais desde o centro do painel até às extremidades
dos pilares de confinamento. Os ensaios relatados na bibliografia denotam uma melhoria do
comportamento de painéis confinados, verificando-se um incremento da força lateral e
sobretudo um aumento considerável da ductilidade associado a uma fendilhação mais difusa.
No entanto, os modelos numéricos existentes para previsão da resistência ao corte de paredes
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
231
de alvenaria confinada sob carregamento lateral cíclico fornecem previsões bastante
discrepantes. Neste trabalho foi aplicado um processo de data mining sobre uma base de
dados experimental, no qual os modelos linear de regressão múltipla e não linear de máquina
de vetores de suporte apresentaram o melhor desempenho, fornecendo melhores previsões do
que os modelos existentes. Uma análise de sensibilidade evidenciou a preponderância da
resistência ao corte diagonal da alvenaria na previsão, e por outro lado, o efeito não linear na
resistência da percentagem de armadura longitudinal nos pilares. Os resultados obtidos
colocam ainda em evidência a necessidade de considerar variáveis adicionais na avaliação da
resistência ao corte das paredes.
Relativamente ao comportamento sísmico de edifícios em alvenaria confinada,
diversos estudos experimentais têm sido realizados, através de ensaios quase-estáticos e
sobretudo em plataforma sísmica. Estes ensaios revelam, em geral, uma concentração de dano
no rés-do-chão da estrutura por fissuração diagonal, inicialmente localizada nos painéis de
alvenaria e propagada depois para os pilares, a qual provoca tipicamente um mecanismo por
corte neste piso. Pode também observar-se que o drift máximo do primeiro piso decresce com
a elevação da estrutura. A modelação analítica de edifícios em alvenaria confinada tem sido
realizada por alguns autores através de modelos de pilares equivalentes às paredes confinadas,
e para o qual se assume geralmente um modelo de resposta ao corte simplificado e
independente da tensão aplicada à parede. Por outro lado, o método implementado no
programa 3DMacro permite a simulação da interação entre o painel de alvenaria e os
elementos de confinamento, os quais são modelados como elementos de barra com
plasticidade concentrada.
Neste trabalho é proposto um método para análise de edifícios em alvenaria confinada,
o qual usa um procedimento semelhante ao empregue pelo método RANm para alvenaria
simples, e considera que as várias paredes confinadas em cada piso estão ligadas por lintéis
infinitamente rígidos e resistentes. Neste caso, o modelo de resposta ao corte é baseado num
modelo originalmente trilinear, mas que, em correspondência com um incremento de corte
basal, e a correspondente variação do esforço axial, é atualizado em termos da força de corte e
do drift suportados pelas paredes. De modo a validar o método proposto, foi feita a simulação
analítica de um ensaio quase-estático sobre uma estrutura com dois pisos, a qual foi modelada
também no 3DMacro. A resposta prevista com o método proposto aproxima satisfatoriamente
a resposta experimental, a qual é também bem aproximada pelo modelo no 3DMacro em
termos da envolvente experimental e do padrão de dano, abrindo boas perspetivas à aplicação
dos métodos. O método do 3DMacro foi ainda validado com boas previsões na análise de um
Capítulo 7. Conclusões
232
edifício mais complexo. Finalmente, foram comparadas várias metodologias na avaliação da
segurança deste último edifício, baseadas respetivamente num procedimento simplificado
com controlo do drift, num procedimento com verificação do deslocamento, e num
procedimento em termos de força. O procedimento com verificação do deslocamento é aquele
que prevê maior margem de segurança, seguindo-se aquele baseado no controlo do drift e
apenas depois o procedimento baseado em força, com fatores de segurança na proporção
8.3:3.5:2.4, o que indica que os procedimentos não são diretamente comparáveis.
No Capítulo 6 são apresentadas diversas aplicações no cálculo sísmico de edifícios
em alvenaria. Num primeiro caso de análise de um edifício antigo em alvenaria de tijolo,
ficou comprovada a possibilidade de aplicação de métodos de macro-elemento na avaliação
sísmica de estruturas existentes em alvenaria, ainda que com limitações importantes na
previsão do mecanismo de colapso, caso não se garanta um funcionamento diafragma para os
pisos. Neste caso, ficou demonstrada a contribuição positiva do efeito diafragma dos
pavimentos na resposta do edifício, o qual, em conjugação com uma boa ligação dos
pavimentos às paredes, confere comportamento de “caixa” ao edifício. Tendo sido aplicados
dois procedimentos de verificação da segurança, um deles baseado numa avaliação em termos
de força e outro numa verificação de deslocamentos, a aproximação em termos de
deslocamentos revelou uma maior margem de segurança, a qual possivelmente reflete melhor
a capacidade inelástica do edifício.
Neste capítulo é depois apresentado o caso de uma moradia unifamiliar no litoral-norte
de Portugal, para a qual se faz uma análise comparada das soluções em betão armado (solução
original), em alvenaria simples e em alvenaria confinada. A solução em alvenaria simples foi
idealizada usando um sistema modular de alvenaria com unidades cerâmicas resistentes e de
elevado isolamento térmico (não requer isolamento adicional), o qual permite a minimização
de cortes e desperdícios de material. O mesmo sistema de alvenaria foi empregue na solução
em alvenaria confinada, sendo no entanto de notar que, neste caso, o desenho modular obriga
ao corte de unidades nas zonas de colocação dos pilares. O edifício foi modelado nos
programas 3Muri e 3DMacro, tendo os resultados da análise comprovado a boa aproximação
entre os dois métodos na previsão do comportamento sísmico, particularmente da curva de
capacidade, que permite a verificação da segurança com uma folga elevada. O modelo em
alvenaria confinada permite um incremento significativo de resistência e ductilidade, o qual
permite a sua construção em zonas de maior sismicidade.
Em termos económicos, a solução em alvenaria simples resulta 25% mais barata do
que a solução típica em betão armado. Acrescem aspetos como a redução dos períodos de
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
233
construção proporcionada pela elevada produtividade e a minimização do equipamento em
obra. Admite-se ainda que surjam ganhos em situação de serviço, com menores patologias a
médio prazo. A solução em alvenaria confinada fica numa situação intermédia em termos
económicos, permitindo uma poupança de 16% e confirmando-se como uma solução
vantajosa em zonas de maior perigosidade sísmica.
Finalmente, os casos apresentados de edifícios de construção moderna em alvenaria
demonstram uma folga significativa da sua segurança sísmica em zonas de baixa sismicidade.
A elevada capacidade inelástica observada para estes edifícios contraria a ideia que se criou
de que a alvenaria é um material não resistente aos sismos. Para além de preocupações de
regularidade estrutural, para estes edifícios, é desejável um estudo simultâneo da solução
estrutural e das instalações técnicas, nomeadamente para evitar que a abertura de roços ou a
descontinuidade da estrutura comprometam o seu desempenho sísmico.
Apesar dos aspetos demonstrados neste trabalho, acredita-se que a recuperação em
Portugal da alvenaria como material estrutural implicará uma estratégia capaz de sensibilizar
os diferentes intervenientes no processo de construção, nomeadamente através da realização
de protocolos de colaboração entre a academia, os promotores imobiliários e a indústria. Será
necessário ainda resolver lacunas no setor das alvenarias em Portugal, nomeadamente o facto
de no país não ser produzida nenhuma unidade de alvenaria cerâmica com função resistente e
também a perda de qualidade na construção das alvenarias.
O presente trabalho foi talvez demasiado abrangente tendo em conta o uso atual das
alvenarias em Portugal, ainda que a investigação desenvolvida possa ser de grande utilidade
no estudo de estruturas em alvenaria existentes e abra outras portas para o futuro da alvenaria.
Por outro lado, no futuro, será interessante avaliar os métodos apresentados de modelação
com macro-elementos em análise dinâmica com integração no tempo, pois apenas este tipo de
análise permite ter em conta aspetos particulares da ação sísmica, nomeadamente a evolução e
a duração das sequências sísmicas. Este tipo de análise poderá ser validado por extensivos
programas experimentais que têm vindo a ser realizados em plataforma sísmica,
nomeadamente no LNEC (e.g., Avila et al., 2012).
Aspetos adicionais que ainda necessitam ser considerados no comportamento sísmico
de estruturas em alvenaria são a influência das ligações entre paredes transversais e
paredes-pavimentos, e a influência da componente fora-do-plano na resposta global dos
edifícios. Para isto será necessário desenvolver macro-elementos e respetivos modelos
numéricos que permitam simular adequadamente e simultaneamente os mecanismos no plano
e fora-do-plano das paredes, o que implicará considerar macro-elementos tridimensionais e/ou
Capítulo 7. Conclusões
234
modelos de comportamento tridimensional. A flexibilidade dos pavimentos e a sua ligação
efetiva às paredes são outros dos aspetos que necessitam ser considerados, tendo em conta a
sua contribuição para o comportamento de “caixa” do edifício e a sua influência na resposta
dinâmica da estrutura.
Metodologias Inovadoras no Cálculo Sísmico de Estruturas em Alvenaria Simples e Confinada
235
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