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ANO 38 – Nº 274 – Março/Abril de 2014 EDITORIAL 45 ANOS Edição especial Entrevistas: Antonio Delfim Netto e Guilherme Henrique Pereira ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS

Rumos 274

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EDITORIAL

45 ANOSEdição especial

Entrevistas: Antonio Delfim Netto e Guilherme Henrique Pereira

E C O N O M I A & D E S E N V O LV I M E N T O P A R A O S N O V O S T E M P O S

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sta é uma edição especial e histórica. No momento em que a ABDE completa 45 anos, e muda sua marca, passando a assinar como Associação Brasileira de Desenvolvimento, a Rumos refaz a trajetória da entidade, que ao longo das últimas décadas contribuiu decisivamente para o desen-

volvimento brasileiro – desde seu nascimento, com o auxílio na elabora-ção do II PND, ainda na década de 1970, até os tempos recentes, como com a forte presença de seus associados no combate aos efeitos da crise mundial iniciada em 2007, quando foi reafirmada a importância das instituições públicas para a boa saúde da economia nacional.

Nossa reportagem de capa traz, além da história da entidade, em um painel em que ouvimos figuras importantes desta trajetória, a visão de futuro da associação, com o que ela projeta para o país e para si mesma. Destaque também para o seminário que comemorou esta data especial, em Brasília, e para a nova identidade visual da ABDE. Imperdível!

E tem muito mais nesta edição especial: uma entrevista profunda com o economista Delfim Netto; um relato sobre a importância dos bancos públicos na principal potência econômica da Europa, a Alema-nha; e em uma reportagem especial sobre nosso sistema elétrico, ouvi-mos especialistas para entender o porquê de, com o cenário hidrelétrico muito próximo ao de 2001, ainda não corrermos o risco de um raciona-mento de energia. Será que estamos mais preparados?

Desejamos a todos uma boa leitura!

EAO LEITOR

SeçõesLIVROS52

RUMOS - 4 – Março/Abril 2014

EXPERTISE

S SUMÁRIO

10

FOMENTO46

30 CAPAEspecial

Aos 45 anos, de cara nova

5REFLEXÃOVitor César Ribeiro Lopes

O papel do SNF na promoção dodesenvolvimento: os investimentosde longo prazo

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17EM DIA Ramaís de Castro Silveira

O que pode e o que não pode nasinstituições de fomento

Energia Estamos mais preparados? 20REPORTAGEM

24CENÁRIO DO RIOMudanças

Foco nas pessoas

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ção

Infraestrutura O caminho da luz 18REPORTAGEM

Antonio Delfim Netto

14REPORTAGEMProjeçãoA passos largos

26EXTREMO SULRegional

Novo impulso ao fomento

42PELO MUNDOAlemanhaExiste alternativa ao mercado de capitais?

48MICRO E PEQUENAS

Por boas práticas de créditoCooperativismo

Lições de Desenvolvimento

44ARTIGOSaúde e ambienteBoas práticas: compartilhamento,intercâmbio e inovação

ENTREVISTA6Nova escalaGuilherme Henrique Pereira

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Vitor César Ribeiro Lopes

RUMOS - 5 – Março/Abril 2014

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financiamento das atividades produtivas é um dos principais mecanismos de promoção do crescimento; por meio dele é possível viabilizar novas combinações produtivas que geram desenvolvimento e dinamizam a economia.

Entretanto o grau de maturidade do desenvolvimento finan-ceiro interfere diretamente no nível da atividade econômica. Em economias em desenvolvimento, o investimento de longo prazo tem sido constrangido pela incapacidade dos mercados financeiros em suprir a demanda. Nesse contexto, os investimentos são prioritariamente viabilizados através do financiamento externo, que, por sua vez, tem sua atuação moldada pela estrutura do mercado financeiro e pelas políti-cas monetárias e fiscais.

No Brasil, a atuação de um Sistema Nacional de Fomento (SNF), composto por instituições cuja finalidade consiste no fomento do desenvolvimento, no financiamento de longo prazo, apoiando os setores estratégicos, constitui-se em um dos principais instrumentos da política de desenvolvimento. Cabe ressaltar que o aproveitamento das oportunidades de investimento só pode ser viabilizado pela disponibilidade de crédito com prazos, custos e quantidades convenientes. Além disso, falhas de mercado e externalidades reforçam a necessi-dade de atuação do SNF na promoção de segmentos e seto-res de interesse econômico e social. Esse é o caso, por exem-plo, dos investimentos em infraestrutura (sistemas de trans-portes, de telecomunicações, de energia elétrica, de sanea-mento básico, dentre outros), considerado um dos grandes gargalos do crescimento e desenvolvimento econômico no Brasil.

Em uma economia, com infraestrutura ineficiente, as taxas de crescimento tornam-se limitadas, surgem pontos de estrangulamento na sua estrutura, e, consequentemente, há elevação dos custos de produção e diminuição da produtivi-dade e da competitividade do país. Ademais, a articulação e integração entre as regiões produtoras e consumidoras de um país é estritamente dependente do sistema de transporte. Desse modo, uma estratégia que ataque a falta de infraestru-tura, impeditiva para a integração, pode impulsionar o cresci-mento da renda per capita em diferentes regiões, lembrando

também que as vantagens comparativas entre regiões e/ou estados só são aproveitadas se há logística para isso. Por outro lado, para o Brasil como um todo, maior integração regional diminui, pelo lado da demanda, a dependência de mercados externos e contribui, pelo lado da oferta, para maior inserção internacional.

Os investimentos requeridos para infraestrutura são vultosos e de longo prazo. Esse é um dos segmentos nos quais os agentes do SNF – os bancos públicos federais, os bancos de desenvolvimento regionais e estaduais, os bancos cooperativos e as agências de fomento – devem atuar para viabilizar projetos estruturantes, que geralmente possuem prazos maiores de maturação e riscos elevados, uma vez que o sistema bancário privado concentra suas preferências no mercado de curto prazo, incompatível com o investimento. Podemos citar os investimentos em estradas, construção e reforma de ferrovias, construção e adequação dos portos e aeroportos, centros de distribuição e hidrovias.

A participação do SNF em projetos como esses deve contemplar as diversas fases, desde a identificação, a estru-turação e o financiamento. Além disso, suas diretrizes devem estar alinhadas com uma estratégia de desenvolvi-mento nacional que incorpore as disparidades regionais, numa ação coordenada entre os níveis de governo (federal e estadual). Cabe rememorar que os agentes do SNF têm reconhecida capacidade de melhor avaliar as características locais em razão de sua atuação regional e/ou estadual. No caso das agências de fomento a sua capacidade de lidar com a assimetria de informação é maior e é mais forte a sua habi-lidade de flexibilização e de adaptação de produtos. Nos últimos anos tem sido notório o papel exercido pelos ban-cos de desenvolvimentos, bancos públicos e agências de fomento na promoção dos investimentos de longo prazo, garantindo a manutenção dos investimentos mesmo diante de instabilidade no cenário macroeconômico. Após a crise internacional de liquidez em 2008, essa função contracíclica do SNF, liderada pelo BNDES, foi fundamental na diminui-ção da volatilidade do produto e do volume de inversões fixas, que tem impacto negativo sobre o crescimento econô-mico de longo prazo.

ECONOMIA

O

RREFLEXÃO

O papel do SNF na promoção do desenvolvimento: os investimentos de longo prazo

Mestre em Economia. É presidente da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) e vice-presidente da ABDE.

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dades. No que diz respeito às novas metodologias, além da bus-ca de eficiência via automação, avançaremos na gestão de fun-dos públicos e parcerias com fundos de investimentos.

Rumos – Pode nos explicar como se dá a atuação do ban-co no desenvolvimento regional, por intermédio de pro-gramas como o da avicultura industrial?Pereira – Esta é uma forma de atuação em que realizamos um diagnóstico do segmento produtivo considerado prioritá-rio em razão de seu potencial de geração de empregos e de agregação de valor. Neste estudo focamos na possibilidade de expansão da produção e de melhoria de sua competitivida-de, tendo como referência as concentrações regionais de ati-vidade. O programa define metas, perspectiva de mercado e a tecnologia a ser utilizada compatível com os incrementos de produtividade desejados, bem como o modelo que será utili-zado em cada caso.

No caso da avicultura para corte, o programa já define quantas unidades serão implantadas e qual o processo a ser utilizado. Durante a elaboração do programa, o órgão de licenciamento ambiental e outros protagonistas participam das definições necessárias. De sorte que a análise do crédito, o licenciamento e contratação posterior são amplamente bene-ficiados em ganhos de tempo. Neste caso ainda, escolheu-se como modelo a ser adotado o que poderíamos chamar de “co-ordenação”, no qual um grande frigorífico em sua área de influência assume o fornecimento de insumos, assistência téc-nica e compromisso de compra dos frangos.

Para o Espírito Santo podemos dizer que esta será uma inovação organizacional que será introduzida no segmento. Também ilustra um papel relevante que os bancos de desen-volvimento podem cumprir, que é o de utilizar sua capacida-de institucional de articulação na construção de sinergias geradoras de eficiência e estimuladoras do investimento. Estamos trabalhando na mesma linha com o segmento de laticínios e móveis modulados, mas ainda não estão na fase operacional.

Rumos – O Bandes apoiou e até viabilizou muitos dos empreendimentos que permitiram o crescimento da

RUMOS - 6 – Março/Abril 2014 RUMOS - 7 – Março/Abril 2014

umos – O senhor chegou ao Bandes ainda como estagiário, no fim da década de 1960, foi economista da instituição e, depois uma carreira como professor universitário, assu-

miu a presidência do banco há pouco mais de seis meses. Como foi voltar à instituição, agora na condição de principal gestor?Guilherme Henrique Pereira – Voltar ao banco é algo espe-cial e representativo, porque minha vida profissional come-çou aqui. É também de fundamental relevância estar aqui no momento em que o governo estadual lança e executa o Pro-grama de Desenvolvimento Sustentável do Espírito Santo (Proedes), que coloca o Bandes como protagonista do desen-volvimento regional equilibrado e como uma das instituições responsáveis por articular junto às entidades representativas a busca pela maior competitividade.

Rumos – Quais os principais desafios que estão coloca-dos neste momento?Pereira – Destacamos três grandes desafios: manter eficiente o maior programa estadual de microcrédito; implantar novas escalas ou temas para atuação do Bandes, entre os quais financiamento ao setor público, financiamento para inovação e foco no desenvolvimento regional e em segmentos dinâmi-cos; e implantar novas metodologias de trabalho, com vistas a modernizar e agilizar a atuação do banco.

Esses desafios representam um começo do trabalho forte voltado para fomentar a competitividade tanto no plano das empresas quanto no plano do território capixaba, em relação aos mercados nacional e internacional. Nosso foco no desen-volvimento regional vai se realizar por meio de programas previamente definidos e articulados com os atores relevantes do segmento.

No campo da inovação, buscaremos atender a todos os empreendimentos que tenham alta incorporação de conheci-mento, alta perspectiva de geração de valor agregado para a rápida diversificação da economia. Novos negócios na metal-mecânica, eletrônica e comunicação, nos segmentos intensivos em biotecnologia e energias alternativas têm grande aderência ao potencial já instalado em nosso estado e serão nossas priori-

Por Jader Moraes

economia do Espírito Santo. Nos últimos 10 anos, con-solidou um modelo de crédito produtivo orientado vol-tado para os pequenos negócios. Qual é o foco do ban-co na atualidade, em que parece estar vivendo um novo momento?Pereira – Na implantação do Bandes, há 47 anos, o principal condutor da política do banco era o de promover a industria-lização do nosso estado. Nesta época, o parque local de empresas industriais era muito mais incipiente e a oferta de crédito de longo prazo para suportar investimento era muito mais escassa. Um período histórico em que o financiamento do Bandes era mais decisivo para implantação de novas plan-tas. O acerto da política de desenvolvimento local, a atuação do banco e o ambiente favorável em nosso estado para os investimentos já tornaram o Espírito Santo uma região com uma economia robusta e bem mais complexa. Aqui já operam muitas empresas de grande porte.

A presença do Bandes é importante para o incentivo à ino-vação e para segmentos específicos que possuem ainda mui-tos espaços para ganhos de competitividade e maior inserção de nossos produtos nos mercados nacional e internacional. Não podemos dizer mais, felizmente, que o desenvolvimento do estado está tão diretamente ligado ou dependente dos pro-gramas de desenvolvimento.

Assim, o foco do Bandes hoje é o setor produtivo local, buscando contribuir para competitividade e ampliar a partici-pação das empresas capixabas nos mercados nacional e mun-dial. Além deste esforço, o banco trabalha para manter o modelo já consolidado de concessão de crédito e criar novas escalas de atuação, com novas metodologias e mercados, para gerar mais competitividade em áreas estratégicas.

Rumos – No início deste ano, várias cidades do Espírito Santo sofreram com os efeitos das fortes chuvas que atingiram a região, e a linha emergencial criada pelo Bandes socorreu muitos empreendedores prejudicados no episódio. Já existe um balanço sobre os resultados da atuação neste caso?Pereira – Mais de 900 atendimentos já foram realizados e R$ 6,5 milhões liberados. Outros R$ 9,5 milhões estão em análise

Crescimento

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para liberação. Somados são R$ 16 milhões destinados à revi-talização das economias locais. A linha foi criada para ajudar na recuperação dos empreendimentos prejudicados, conta com juros baixos, subsidiados, e prazo de pagamento esten-dido. Esse crédito contribui para a circulação de bens e servi-ços nas cidades atingidas e faz com que, dentro do possível, a situação volte à normalidade e a tragédia seja menos dolorosa e rapidamente superada.

Rumos – Dados do próprio banco indicam que, nos últi-mos dez anos, o programa Nossocrédito injetou mais de R$ 370 milhões na economia capixaba, em mais de 92 mil projetos de financiamento aprovados. Mas, além dele, há também o programa Creditar, voltado para empreendedores informais nas comunidades do estado. Qual o principal papel do microcrédito orientado neste contexto?Pereira – O Creditar, criado em 2011, está presente em comu-nidades de elevada vulnerabilidade social e atua junto a bancos comunitários e em Centro de Referência de Assistência Social (Cras), das prefeituras. O programa disponibiliza o valor de até R$ 1 mil para empreendedores informais. Desde sua criação, foram beneficiados mais de 1,3 mil famílias em condições de vulnerabilidade social. Em 2013, na agricultura familiar foram investidos R$ 140 milhões, por meio do Pronaf, e mais R$ 70 milhões pelo Nossocrédito, programa de microcrédito do governo do estado destinado ao setor urbano.

E ENTREVISTA

Nova escala

Guilherme Henrique Pereira

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Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes) projeta uma injeção de R$ 600 milhões na economia capixaba este ano e assume papel de protagonismo no desenvolvimento regional

Guilherme Henrique Pereira é o atual presidente do Bandes. Economista graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi secretário de Estado de Economia e Planejamento e secretário nacional de Ciência Tecnologia e Inovação, do Ministério de Ciência e Tecnologia.

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dades. No que diz respeito às novas metodologias, além da bus-ca de eficiência via automação, avançaremos na gestão de fun-dos públicos e parcerias com fundos de investimentos.

Rumos – Pode nos explicar como se dá a atuação do ban-co no desenvolvimento regional, por intermédio de pro-gramas como o da avicultura industrial?Pereira – Esta é uma forma de atuação em que realizamos um diagnóstico do segmento produtivo considerado prioritá-rio em razão de seu potencial de geração de empregos e de agregação de valor. Neste estudo focamos na possibilidade de expansão da produção e de melhoria de sua competitivida-de, tendo como referência as concentrações regionais de ati-vidade. O programa define metas, perspectiva de mercado e a tecnologia a ser utilizada compatível com os incrementos de produtividade desejados, bem como o modelo que será utili-zado em cada caso.

No caso da avicultura para corte, o programa já define quantas unidades serão implantadas e qual o processo a ser utilizado. Durante a elaboração do programa, o órgão de licenciamento ambiental e outros protagonistas participam das definições necessárias. De sorte que a análise do crédito, o licenciamento e contratação posterior são amplamente bene-ficiados em ganhos de tempo. Neste caso ainda, escolheu-se como modelo a ser adotado o que poderíamos chamar de “co-ordenação”, no qual um grande frigorífico em sua área de influência assume o fornecimento de insumos, assistência téc-nica e compromisso de compra dos frangos.

Para o Espírito Santo podemos dizer que esta será uma inovação organizacional que será introduzida no segmento. Também ilustra um papel relevante que os bancos de desen-volvimento podem cumprir, que é o de utilizar sua capacida-de institucional de articulação na construção de sinergias geradoras de eficiência e estimuladoras do investimento. Estamos trabalhando na mesma linha com o segmento de laticínios e móveis modulados, mas ainda não estão na fase operacional.

Rumos – O Bandes apoiou e até viabilizou muitos dos empreendimentos que permitiram o crescimento da

RUMOS - 6 – Março/Abril 2014 RUMOS - 7 – Março/Abril 2014

umos – O senhor chegou ao Bandes ainda como estagiário, no fim da década de 1960, foi economista da instituição e, depois uma carreira como professor universitário, assu-

miu a presidência do banco há pouco mais de seis meses. Como foi voltar à instituição, agora na condição de principal gestor?Guilherme Henrique Pereira – Voltar ao banco é algo espe-cial e representativo, porque minha vida profissional come-çou aqui. É também de fundamental relevância estar aqui no momento em que o governo estadual lança e executa o Pro-grama de Desenvolvimento Sustentável do Espírito Santo (Proedes), que coloca o Bandes como protagonista do desen-volvimento regional equilibrado e como uma das instituições responsáveis por articular junto às entidades representativas a busca pela maior competitividade.

Rumos – Quais os principais desafios que estão coloca-dos neste momento?Pereira – Destacamos três grandes desafios: manter eficiente o maior programa estadual de microcrédito; implantar novas escalas ou temas para atuação do Bandes, entre os quais financiamento ao setor público, financiamento para inovação e foco no desenvolvimento regional e em segmentos dinâmi-cos; e implantar novas metodologias de trabalho, com vistas a modernizar e agilizar a atuação do banco.

Esses desafios representam um começo do trabalho forte voltado para fomentar a competitividade tanto no plano das empresas quanto no plano do território capixaba, em relação aos mercados nacional e internacional. Nosso foco no desen-volvimento regional vai se realizar por meio de programas previamente definidos e articulados com os atores relevantes do segmento.

No campo da inovação, buscaremos atender a todos os empreendimentos que tenham alta incorporação de conheci-mento, alta perspectiva de geração de valor agregado para a rápida diversificação da economia. Novos negócios na metal-mecânica, eletrônica e comunicação, nos segmentos intensivos em biotecnologia e energias alternativas têm grande aderência ao potencial já instalado em nosso estado e serão nossas priori-

Por Jader Moraes

economia do Espírito Santo. Nos últimos 10 anos, con-solidou um modelo de crédito produtivo orientado vol-tado para os pequenos negócios. Qual é o foco do ban-co na atualidade, em que parece estar vivendo um novo momento?Pereira – Na implantação do Bandes, há 47 anos, o principal condutor da política do banco era o de promover a industria-lização do nosso estado. Nesta época, o parque local de empresas industriais era muito mais incipiente e a oferta de crédito de longo prazo para suportar investimento era muito mais escassa. Um período histórico em que o financiamento do Bandes era mais decisivo para implantação de novas plan-tas. O acerto da política de desenvolvimento local, a atuação do banco e o ambiente favorável em nosso estado para os investimentos já tornaram o Espírito Santo uma região com uma economia robusta e bem mais complexa. Aqui já operam muitas empresas de grande porte.

A presença do Bandes é importante para o incentivo à ino-vação e para segmentos específicos que possuem ainda mui-tos espaços para ganhos de competitividade e maior inserção de nossos produtos nos mercados nacional e internacional. Não podemos dizer mais, felizmente, que o desenvolvimento do estado está tão diretamente ligado ou dependente dos pro-gramas de desenvolvimento.

Assim, o foco do Bandes hoje é o setor produtivo local, buscando contribuir para competitividade e ampliar a partici-pação das empresas capixabas nos mercados nacional e mun-dial. Além deste esforço, o banco trabalha para manter o modelo já consolidado de concessão de crédito e criar novas escalas de atuação, com novas metodologias e mercados, para gerar mais competitividade em áreas estratégicas.

Rumos – No início deste ano, várias cidades do Espírito Santo sofreram com os efeitos das fortes chuvas que atingiram a região, e a linha emergencial criada pelo Bandes socorreu muitos empreendedores prejudicados no episódio. Já existe um balanço sobre os resultados da atuação neste caso?Pereira – Mais de 900 atendimentos já foram realizados e R$ 6,5 milhões liberados. Outros R$ 9,5 milhões estão em análise

Crescimento

R

para liberação. Somados são R$ 16 milhões destinados à revi-talização das economias locais. A linha foi criada para ajudar na recuperação dos empreendimentos prejudicados, conta com juros baixos, subsidiados, e prazo de pagamento esten-dido. Esse crédito contribui para a circulação de bens e servi-ços nas cidades atingidas e faz com que, dentro do possível, a situação volte à normalidade e a tragédia seja menos dolorosa e rapidamente superada.

Rumos – Dados do próprio banco indicam que, nos últi-mos dez anos, o programa Nossocrédito injetou mais de R$ 370 milhões na economia capixaba, em mais de 92 mil projetos de financiamento aprovados. Mas, além dele, há também o programa Creditar, voltado para empreendedores informais nas comunidades do estado. Qual o principal papel do microcrédito orientado neste contexto?Pereira – O Creditar, criado em 2011, está presente em comu-nidades de elevada vulnerabilidade social e atua junto a bancos comunitários e em Centro de Referência de Assistência Social (Cras), das prefeituras. O programa disponibiliza o valor de até R$ 1 mil para empreendedores informais. Desde sua criação, foram beneficiados mais de 1,3 mil famílias em condições de vulnerabilidade social. Em 2013, na agricultura familiar foram investidos R$ 140 milhões, por meio do Pronaf, e mais R$ 70 milhões pelo Nossocrédito, programa de microcrédito do governo do estado destinado ao setor urbano.

E ENTREVISTA

Nova escala

Guilherme Henrique Pereira

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Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes) projeta uma injeção de R$ 600 milhões na economia capixaba este ano e assume papel de protagonismo no desenvolvimento regional

Guilherme Henrique Pereira é o atual presidente do Bandes. Economista graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi secretário de Estado de Economia e Planejamento e secretário nacional de Ciência Tecnologia e Inovação, do Ministério de Ciência e Tecnologia.

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E ENTREVISTA

Nossa atuação é, portanto, ampla e diversificada, compor-tando modalidades e parceiros diferentes e tendo como clien-tes desde agricultores familiares até comerciantes, artesãos e prestadores de serviços. Ou seja, estamos envolvidos com o microcrédito em todos os setores e segmentos da economia capixaba.

Esses resultados fazem do estado um referencial nacional para concessão de microcrédito produtivo orientado. Relati-vamente, somos o maior nesse tipo de financiamento, que tem papel imprescin-dível no desenvolvimento regional equili-brado. Tanto é assim que o Espírito Santo é o estado da federação que mais reduziu a pobreza nos últimos anos.

Rumos – Outra ação importante do banco foi o lançamento da linha Crédito Fácil, que ampliou a oferta de crédito para novos negócios no estado, inclusive os ainda em fase de imple-mentação. Quais as principais vanta-gens dessa linha?

Pereira – Essa linha nasceu da unifi-cação de várias linhas existentes no banco para simplificar a concessão do crédito. Desse modo, empreendimentos de micro, pequeno e médio portes, de diversas ativi-dades produtivas, do comércio, indústria e serviços podem financiar até 100% de seu empreendimento com valores de R$ 10 mil até R$ 15 milhões, com cadastro desburocratizado e flu-xo simplificado.

Rumos – A implantação do Programa de Desenvolvi-mento Sustentável do Espírito Santo (Proedes), com as diretrizes do governo estadual para a área, significa que desafios e que oportunidades para o banco? Pereira – O Proedes aponta as diretrizes gerais da trajetória que deveremos perseguir. Lá foram colocados os três grandes temas que a sociedade capixaba deverá se dedicar com afinco nos próximos anos: 1) Educação e Inovação; 2) Logística; e 3) Incentivos ao desenvolvimento. A expansão da exploração de petróleo em nosso território abre um grande leque de oportu-nidades de investimentos. É um segmento que demandará mui-to desenvolvimento tecnológico, novos componentes e muito trabalho altamente qualificado. Daí em especial a importância da educação e inovação, porque sem tal qualificação correre-mos o risco de não absorver as oportunidades. A logística, assunto sobre o qual o Espírito Santo tem sido esquecido pela União, somente agora com maior sinalização de que alguns gar-galos antigos serão resolvidos, é importante por razões óbvias. E finalmente, os incentivos ao desenvolvimento que devem sin-tetizar uma política de efetiva articulação de todos os protago-nistas do desenvolvimento capixaba.

Rumos – Como tem sido a atuação do banco junto ao setor público, em especial no apoio ao desenvolvimento dos municípios capixabas?

Pereira – As prefeituras municipais foram as principais prejudi-cadas com a mudança ocasionada pela resolução 13 do Senado Federal, que alterou as regras do ICMS interestadual. Pensando nisso, lançamos um programa de investimento exclusivo para as prefeituras, o Proinveste Capixaba. Essa linha nasceu com R$

100 milhões para ajudar as cidades a manter a respectiva capacidade de investimento. É, por-tanto, uma linha de crédito do Bandes para o financiamento de investimentos e desenvolvi-mento institucional das administrações muni-cipais. Insere-se como parte de um conjunto mais amplo do governo estadual de apoio aos municípios na capacitação em processos de captação de recursos, do qual constam fundos de recursos e apoio técnico.

Rumos – Quais os números da institui-ção hoje? Pereira – O governo autorizou o aumento de capital em R$ 150 milhões. R$ 70 milhões já realizados e R$ 80 milhões para 2014. Isso é um fato inédito na história do banco, que irá dobrar o seu tamanho. Isso multiplica nos-sa capacidade de investimento, uma vez que para cada real integralizado podemos captar mais cinco reais em outras fontes. Interna-mente, procuramos desenvolver processos mais eficientes e menos burocráticos, além

de atuarmos na recuperação de crédito, por meio da realização de leilões de bens para garantir mais receitas e menos custos. Essas ações já surtiram efeito, como fica comprovado em nos-sas demonstrações financeiras.

Em 2014 o planejamento da instituição traz em seu cerne a operacionalização da natureza multiescalar da instituição, com a qual será possível atuar em prol do desenvolvimento susten-tável, estando pronto para apoiar desde o financiamento dos micro e pequenos negócios, passando pelos projetos de inova-ção, até o financiamento de negócios de médio porte, com os devidos recortes regionais e de articulação de investimentos complementares de cadeias produtivas. Com todas essas inicia-tivas, esperamos injetar R$ 600 milhões na economia capixaba ainda este ano.

Rumos – Que importância o senhor confere à ABDE, a entidade que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, integrado pelos bancos de desenvolvimento e pelas agências de fomento do país?Pereira – A formulação das leis e políticas alcançará seus melhores objetivos quanto mais os formuladores e gestores tiverem conhecimento do setor. Assim, as associações desem-penham papel fundamental na produção e subsídio de infor-mações úteis ao processo. Elas são protagonistas e contribuem para o aperfeiçoamento do processo decisório nas democraci-as. A ABDE, sem dúvida, demonstrou sua funcionalidade para o sistema de financiamento do desenvolvimento neste quase meio século de existência. Além disso, é um espaço excelente de trocar experiências, o que contribui para o crescimento de todos os associados.

RUMOS - 8 – Março/Abril 2014

Guilherme Henrique Pereira

“O governo autorizou o aumento de capital em R$ 150 milhões. Isso é um fato inédito na história do banco, que irá dobrar o seu tamanho”.

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uando a ABDE foi criada, há 45 anos, o Brasil vivia um período que ficou conhecido na história como o “milagre econômico”, liderado à época pelo então ministro da Fazenda, Antonio Del-fim Netto. Quase meio século depois, mudaram o Brasil, o mun-do e as teorias econômicas. Mas o economista e professor eméri-to da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo

(USP) permanece sendo uma referência no tema. Às vésperas de completar 86 anos, ele permanece extremamente ativo e profundamente informado sobre as transformações nas economias brasileira e mundial. Além de palestras e confe-rências, o economista escreve artigos para os principais periódicos do país, como Carta Capital e Folha de S. Paulo.

Na sua opinião, nunca houve um “milagre” no país: “Milagre é um efeito sem causa. O desenvolvimento econômico do Brasil foi produto do trabalho duro, árduo, dos brasileiros”, defende. Delfim destaca que não é possível com-parar o mundo atual e o de 1969, já que a própria política econômica era total-mente diferente. “Em 1969 era comum o recurso de políticas de renda para com-bater a inflação, ou seja, o controle de preços e salários. Isso se mostrou, ao lon-go do tempo, muito ruim”, admite. O ex-ministro observa, no entanto, que o Brasil daquele período trabalhava mais e mais bem orientado do que atualmente. “É por isso que as taxas de crescimento são diferentes”, garante.

Ele avalia que o crescimento do Brasil está muito abaixo de suas possibilida-des, mesmo reconhecendo que o mundo todo está vivendo o mesmo problema. O professor lembra que o PIB brasileiro cresceu 2,3% em 2013, “o que não é das menores taxas dentre as demais economias, em um ano em que até o crescimen-to chinês encolheu.” Em sua avaliação, esta é uma taxa muito baixa, ruim mes-mo, para uma economia que atravessa um processo de inclusão social e que desenvolveu um mercado interno muito importante. Para o economista, estes dois fatores são os responsáveis pela manutenção do consumo em crescimento e por garantir um nível de emprego bastante satisfatório, principalmente se com-parado com a situação nas mais importantes economias do globo.

Agências de risco – No que tange ao mercado externo, Delfim Netto mostra que o Brasil não vive nenhuma complicação maior – o país tem reservas acumu-

O professor Delfim Netto acredita que, a despeito do baixo crescimento observado nos últimos anos, a situação econômica brasileira não é trágica e critica clima de pessimismo generalizado

Por Ana Redig

RUMOS - 10 – Março/Abril 2014 RUMOS - 11– Março/Abril 2014

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Antonio Delfim Netto

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Lições de Desenvolvimento

A situação do crescimento no Brasil não é tão dramática como se imagina; o que existe são algumas tensões que vamos ter que enfrentar.“

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uando a ABDE foi criada, há 45 anos, o Brasil vivia um período que ficou conhecido na história como o “milagre econômico”, liderado à época pelo então ministro da Fazenda, Antonio Del-fim Netto. Quase meio século depois, mudaram o Brasil, o mun-do e as teorias econômicas. Mas o economista e professor eméri-to da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo

(USP) permanece sendo uma referência no tema. Às vésperas de completar 86 anos, ele permanece extremamente ativo e profundamente informado sobre as transformações nas economias brasileira e mundial. Além de palestras e confe-rências, o economista escreve artigos para os principais periódicos do país, como Carta Capital e Folha de S. Paulo.

Na sua opinião, nunca houve um “milagre” no país: “Milagre é um efeito sem causa. O desenvolvimento econômico do Brasil foi produto do trabalho duro, árduo, dos brasileiros”, defende. Delfim destaca que não é possível com-parar o mundo atual e o de 1969, já que a própria política econômica era total-mente diferente. “Em 1969 era comum o recurso de políticas de renda para com-bater a inflação, ou seja, o controle de preços e salários. Isso se mostrou, ao lon-go do tempo, muito ruim”, admite. O ex-ministro observa, no entanto, que o Brasil daquele período trabalhava mais e mais bem orientado do que atualmente. “É por isso que as taxas de crescimento são diferentes”, garante.

Ele avalia que o crescimento do Brasil está muito abaixo de suas possibilida-des, mesmo reconhecendo que o mundo todo está vivendo o mesmo problema. O professor lembra que o PIB brasileiro cresceu 2,3% em 2013, “o que não é das menores taxas dentre as demais economias, em um ano em que até o crescimen-to chinês encolheu.” Em sua avaliação, esta é uma taxa muito baixa, ruim mes-mo, para uma economia que atravessa um processo de inclusão social e que desenvolveu um mercado interno muito importante. Para o economista, estes dois fatores são os responsáveis pela manutenção do consumo em crescimento e por garantir um nível de emprego bastante satisfatório, principalmente se com-parado com a situação nas mais importantes economias do globo.

Agências de risco – No que tange ao mercado externo, Delfim Netto mostra que o Brasil não vive nenhuma complicação maior – o país tem reservas acumu-

O professor Delfim Netto acredita que, a despeito do baixo crescimento observado nos últimos anos, a situação econômica brasileira não é trágica e critica clima de pessimismo generalizado

Por Ana Redig

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Antonio Delfim Netto

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Lições de Desenvolvimento

A situação do crescimento no Brasil não é tão dramática como se imagina; o que existe são algumas tensões que vamos ter que enfrentar.“

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conhecimento e inovação, ao mes-mo tempo que investe pesado na produção e exportação de commo-dities, como minério, petróleo e soja. Para o professor, isso sugere diversidade, o que eventualmente já faz parte da discussão sobre incen-tivos a processos inovadores, inclu-sive no campo da produção. Ele afir-ma que não há perdas para o país em bancar investimentos, quando esses vão dar sustentação à autono-mia alimentar. “O mesmo foi feito a duras penas e com perdas constan-tes de continuidade na infraestrutu-ra que acompanhou a expansão da fronteira agrícola e permitiu a con-solidação do uso da tecnologia moderna nos mais diversos setores da criação animal”, destaca. Delfim Netto afirma que, apesar da enor-me incompreensão que se produz a respeito do crescimento do agrone-gócio no Brasil, “a verdade é que as fronteiras da produção alcançaram

o extremo oeste e hoje se expandem rumo ao norte, graças às corajosas decisões estratégicas de aproveitamento do potenci-al energético da Amazônia no governo Lula e à realização dos leilões no atual governo para a construção dos acessos rodo-viários e às instalações portuárias nos rios amazônicos”.

Lenta recuperação – Observando a economia mundial, o professor Antônio Delfim Netto conclui que a recuperação da última crise está se dando de forma muito lenta. “Sete anos depois do seu início, o mundo desenvolvido está voltando ao nível de atividade que tinha em 2007, com uma situação fiscal muito mais difícil”, avalia. Nos Estados Unidos já se tem um desenvolvimento um pouco mais robusto, mas não suficiente. Na Europa, demonstra, a situação está ainda complicada. “A Comunidade Europeia está sob a ameaça de processo monetá-rio extremamente difícil, que pode terminar numa deflação – que seria uma tragédia muito maior do que a inflação”.

No chamado mundo “emergente”, é possível observar que a China está precisando “trocar os pneus do caminhão rodando”. Já no caso do Brasil, sua maior tarefa é se defender de forma eficiente nesse processo de baixo crescimento que acontece globalmente. “Estamos crescendo pouco, 2,2% ou 2,3%, o que não é um crescimento desastroso diante do que vem acontecendo no mundo, mas infelizmente estamos nos desenvolvendo hoje na proporção da metade do que crescem as demais economias emergentes”, observa. Para Antônio Del-fim Netto, a situação do crescimento no Brasil não é tão dra-mática como se imagina; o que existe são algumas tensões que vamos ter que enfrentar: a tensão inflacionária, de um lado, e um déficit em contas correntes muito grande, do outro.

ladas em torno de US$ 370 bilhões. Além disso, o déficit em contas correntes foi calculado pelo Ban-co Central para 2014 em US$ 80 bilhões. Para ele, mesmo o déficit sendo grande, ele não deve conti-nuar. “É preciso notar que o mercado ajudou a cor-rigir os erros do governo com uma desvalorização cambial que só deve apresentar resultados daqui a 10 ou 12 meses”, avisa. “Pode-se dizer que a situa-ção não é das mais confortáveis, mas nada que indi-que a iminência de alguma tragédia”, ironiza.

O professor observa que o recente anúncio da Standard & Poor’s rebaixando em um ponto a nota de crédito do Brasil – embora tenha mantido em um ponto acima no chamado grau de investimen-

to – vem permitindo que se explore a crença do brasileiro de que estamos em uma situação difícil, o que, em sua opinião, está longe de ser verdadeira. “Sabemos que essas agências de classificação de riscos têm critérios bastante duvidosos de aná-lise, o que nos leva a suspeitar de muitas de suas conclusões e ainda mais de suas previsões”. O ex-ministro diz que, no caso particular da Standard & Poor’s, este era um acidente anuncia-do. A agência já vinha dizendo que estava observando de per-to a economia brasileira, e que “havia uma probabilidade de rebaixamento da nota”, o que de fato aconteceu. Ocorre que seus eventuais efeitos – se é que eles são significativos – já tinham sido incorporados aos preços do mercado. No comu-nicado, a agência cita fatos, mas a interpretação que oferece pareceu bastante exagerada aos analistas. Para Delfim Netto, o Brasil não tem hoje “um grave problema fiscal”, como eles alegam. “Temos, sim, uma relação dívida bruta/PIB que con-tinua estável há 10 anos, em torno de 60%. Podemos aceitar que existe, infelizmente, uma perspectiva de que esse equilí-brio fiscal possa piorar no futuro, desde que o governo não tome as providências adequadas para enfrentá-lo. Mas não se aponta, entretanto, um fato que nos leve a isso. O déficit fiscal hoje gira em torno de 3,5% a 4% do PIB. Não é nada exagera-do para um país como o Brasil”, garante o especialista.

Para o ex-ministro, as demais críticas que integram o docu-mento foram todas reconhecidas pelo governo e pelos analis-tas brasileiros: a inflação está batendo no teto da meta e há um déficit em transações correntes. “Todas essas críticas são velhas conhecidas e também a afirmação de que ‘o Brasil demo-rou a corrigir isso, mas está tentando corrigir’. Ora, o governo da presidenta Dilma se comprometeu com um superávit pri-mário de 1,9% do PIB, mas ficou faltando uma explicação razoável de como ele vai financiar esse problema que apareceu na conta de energia elétrica”, observa o professor. Para ele, a agência de classificação de risco não acreditou em nada e sim-plesmente se antecipou, sem querer esperar alguns meses para confirmar suas suposições. “É lamentável que uma opinião arbitrária, firmada no puro preconceito a priori de que o gover-no não aprendeu nada e estaria apenas ganhando tempo com suas promessas, tenha levado a Standard & Poor’s a negar um voto de confiança ao país. De qualquer forma, não adianta bri-gar com os fatos: tudo isso terá consequências, talvez já esti-

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vesse até marcado na curva, mas vai significar, no mínimo, a consolidação da elevação dos custos do financiamento do Bra-sil, não apenas do governo, mas também do setor privado”.

As agências de rating adquiriram grande importância devi-do a um oligopólio misteriosamente construído e conservado pela legislação administrativa dos Estados Unidos. O controle da apuração de fundos americanos decidiu que os fundos de pensão só podem aplicar seus recursos naquelas empresas ou fundos que tenham grau de investimento. Isso deu às agências um grande poder. Para que os fundos de investimento possam aplicar no país, é preciso ter o grau de investimento estabeleci-do por pelo menos duas agências, o que o Brasil ainda mantém. “Mas as agências sabem muito pouco. Seu fracasso ficou demonstrado durante a crise de 2008”, avalia.

Aula de desenvolvimento – Como todo bom professor, Del-fim Netto explica que, para entender a razão de precisarmos de uma política econômica e social que redirecione sua ênfase dis-tributiva para a ampliação do investimento e da produtividade total dos fatores de produção, é fundamental voltar ao básico. Isso quer dizer admitir que os problemas que vivemos são, em larga medida, consequência de uma bem-sucedida política soci-al que deve ter prosseguimento porque é parte do processo civi-lizatório que desejamos construir. “Cometemos alguns exage-ros, usando instrumentos pouco eficientes para superar a pobreza (principalmente a pobreza absoluta), como o salário mínimo, que tem efeitos colaterais dramáticos sobre as finan-ças públicas. É preciso reconhecer, no entanto, que tivemos um inegável sucesso na superação da ‘grande recessão’ de 2008/2009”, avalia.

Para o economista, ainda que o país, em seguida, tenha se exorbitado na ênfase ao consumo, isso não deve obscurecer o fato de que, entre 2007 e 2013, o PIB brasileiro cresceu à média anual de 3,5%. Além disso, a taxa de inflação anual man-teve-se em torno de 5,8% (30% acima do centro da meta) e o balanço em conta corrente foi, na média, de 2% do PIB, e a dívida bruta / PIB andou próxima dos 60%, com acúmulo de US$ 290 bilhões em reservas externas. “Neste período teste-munhamos o avanço extraordinário da inclusão social acom-panhada por significativa redução das desigualdades”, obser-va. Na avaliação do professor, depois de ter aprendido como ativar as concessões nos projetos de expansão de infraestru-tura, o governo acerta ao voltar a estimular os investimentos. “São eles que, afinal, lideram o processo de crescimento”, ensina.

No entanto, Antônio Delfim Netto diz que uma administra-ção estatal não será eficiente se não souber utilizar os mecanis-mos de mercado. Da mesma forma, não há mecanismo de mer-cado que possa funcionar sem as garantias de um Estado sufici-entemente forte para controlá-lo. O economista afirma que isso é válido tanto para os países desenvolvidos quanto para as socie-dades emergentes que se pretendem repúblicas e democracias. No Brasil, pela falta de compreensão adequada deste processo, segmentos da nossa sociedade deixaram de utilizar todo o potencial de crescimento da nossa economia nos últimos três

anos, alimentando um clima de pessi-mismo que só agora começa a dissi-par-se. “É evidente que isso foi conse-quência em parte do péssimo funcio-namento da economia mundial, mas também resultado do entendimento defeituoso dos mercados financeiros com relação à política econômica do governo”, analisa.

Esse sentimento de pessimismo só começou a ceder diante da recupe-ração do nível da atividade percebido ainda no final de 2013, fato que sur-preendeu a maioria dos críticos da Política Econômica do governo. Para o professor, a desconfiança, que só depois disso começou a se dissipar entre o governo e o setor privado, foi, na realidade, produto de um honesto superativismo governamental, deri-vado da crença de que poderia acele-rar o tempo da correção de nossos graves problemas estruturais. “Quan-do olhamos objetivamente para aque-le ativismo, vemos apenas resquícios de uma atitude comportamental que só foi sendo superada pelo período de aprendizado. O problema que demorou a ser intuído é que o nível de investimento privado não depende ape-nas da existência da demanda, mas do sentimento geral dos investidores, do seu ‘espírito animal’. Se eles acreditam – como tantos acreditaram até há pouco tempo – que o governo lhes é pouco amigável, não há incentivo que os mova”, garante o ex-ministro. Desta forma, o governo fica refém do capitalismo de “compradores”. Os mais ousados e oportunistas que, com dinheiro público, lutam por oligopólios protegidos, mas que não têm a menor condição de induzir os outros a segui-los. “A única saída para continuar com a política civilizatória é harmo-nizar as relações entre distributivismo (com porta de saída) e a volta ao crescimento, que é a condição necessária para susten-tá-lo, o que exige mais investimento. A fórmula é: maior liber-dade de iniciativa nos estímulos à competição”, acredita Del-fim Netto.

De fato, nesses últimos meses diminuiu visivelmente a des-confiança recíproca entre o governo e o setor privado empre-sarial, graças à iniciativa da presidenta Dilma Rousseff de ampliar o diálogo e ouvir importantes lideranças que podem influenciar na aceleração dos investimentos, especialmente na infraestrutura. Para o ex-ministro, isso tem revelado uma nova postura, resultando na superação da desconfiança mútua – que sempre fora negada explicitamente – entre governo e os seto-res privados mais dinâmicos; e devolve aos programas de governo a visão logística estratégica, que incorpora os sistemas de rodovias com as ferrovias, os portos e a geração e distribui-ção de energia, particularmente a hidrelétrica.

Além disso, o país tem feito fortes investimentos em

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sabem muito pouco e têm critérios bastante

duvidosos, o que nos leva a suspeitar de suas

conclusões e ainda mais de suas previsões. Seu

fracasso ficou demonstrado durante a

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conhecimento e inovação, ao mes-mo tempo que investe pesado na produção e exportação de commo-dities, como minério, petróleo e soja. Para o professor, isso sugere diversidade, o que eventualmente já faz parte da discussão sobre incen-tivos a processos inovadores, inclu-sive no campo da produção. Ele afir-ma que não há perdas para o país em bancar investimentos, quando esses vão dar sustentação à autono-mia alimentar. “O mesmo foi feito a duras penas e com perdas constan-tes de continuidade na infraestrutu-ra que acompanhou a expansão da fronteira agrícola e permitiu a con-solidação do uso da tecnologia moderna nos mais diversos setores da criação animal”, destaca. Delfim Netto afirma que, apesar da enor-me incompreensão que se produz a respeito do crescimento do agrone-gócio no Brasil, “a verdade é que as fronteiras da produção alcançaram

o extremo oeste e hoje se expandem rumo ao norte, graças às corajosas decisões estratégicas de aproveitamento do potenci-al energético da Amazônia no governo Lula e à realização dos leilões no atual governo para a construção dos acessos rodo-viários e às instalações portuárias nos rios amazônicos”.

Lenta recuperação – Observando a economia mundial, o professor Antônio Delfim Netto conclui que a recuperação da última crise está se dando de forma muito lenta. “Sete anos depois do seu início, o mundo desenvolvido está voltando ao nível de atividade que tinha em 2007, com uma situação fiscal muito mais difícil”, avalia. Nos Estados Unidos já se tem um desenvolvimento um pouco mais robusto, mas não suficiente. Na Europa, demonstra, a situação está ainda complicada. “A Comunidade Europeia está sob a ameaça de processo monetá-rio extremamente difícil, que pode terminar numa deflação – que seria uma tragédia muito maior do que a inflação”.

No chamado mundo “emergente”, é possível observar que a China está precisando “trocar os pneus do caminhão rodando”. Já no caso do Brasil, sua maior tarefa é se defender de forma eficiente nesse processo de baixo crescimento que acontece globalmente. “Estamos crescendo pouco, 2,2% ou 2,3%, o que não é um crescimento desastroso diante do que vem acontecendo no mundo, mas infelizmente estamos nos desenvolvendo hoje na proporção da metade do que crescem as demais economias emergentes”, observa. Para Antônio Del-fim Netto, a situação do crescimento no Brasil não é tão dra-mática como se imagina; o que existe são algumas tensões que vamos ter que enfrentar: a tensão inflacionária, de um lado, e um déficit em contas correntes muito grande, do outro.

ladas em torno de US$ 370 bilhões. Além disso, o déficit em contas correntes foi calculado pelo Ban-co Central para 2014 em US$ 80 bilhões. Para ele, mesmo o déficit sendo grande, ele não deve conti-nuar. “É preciso notar que o mercado ajudou a cor-rigir os erros do governo com uma desvalorização cambial que só deve apresentar resultados daqui a 10 ou 12 meses”, avisa. “Pode-se dizer que a situa-ção não é das mais confortáveis, mas nada que indi-que a iminência de alguma tragédia”, ironiza.

O professor observa que o recente anúncio da Standard & Poor’s rebaixando em um ponto a nota de crédito do Brasil – embora tenha mantido em um ponto acima no chamado grau de investimen-

to – vem permitindo que se explore a crença do brasileiro de que estamos em uma situação difícil, o que, em sua opinião, está longe de ser verdadeira. “Sabemos que essas agências de classificação de riscos têm critérios bastante duvidosos de aná-lise, o que nos leva a suspeitar de muitas de suas conclusões e ainda mais de suas previsões”. O ex-ministro diz que, no caso particular da Standard & Poor’s, este era um acidente anuncia-do. A agência já vinha dizendo que estava observando de per-to a economia brasileira, e que “havia uma probabilidade de rebaixamento da nota”, o que de fato aconteceu. Ocorre que seus eventuais efeitos – se é que eles são significativos – já tinham sido incorporados aos preços do mercado. No comu-nicado, a agência cita fatos, mas a interpretação que oferece pareceu bastante exagerada aos analistas. Para Delfim Netto, o Brasil não tem hoje “um grave problema fiscal”, como eles alegam. “Temos, sim, uma relação dívida bruta/PIB que con-tinua estável há 10 anos, em torno de 60%. Podemos aceitar que existe, infelizmente, uma perspectiva de que esse equilí-brio fiscal possa piorar no futuro, desde que o governo não tome as providências adequadas para enfrentá-lo. Mas não se aponta, entretanto, um fato que nos leve a isso. O déficit fiscal hoje gira em torno de 3,5% a 4% do PIB. Não é nada exagera-do para um país como o Brasil”, garante o especialista.

Para o ex-ministro, as demais críticas que integram o docu-mento foram todas reconhecidas pelo governo e pelos analis-tas brasileiros: a inflação está batendo no teto da meta e há um déficit em transações correntes. “Todas essas críticas são velhas conhecidas e também a afirmação de que ‘o Brasil demo-rou a corrigir isso, mas está tentando corrigir’. Ora, o governo da presidenta Dilma se comprometeu com um superávit pri-mário de 1,9% do PIB, mas ficou faltando uma explicação razoável de como ele vai financiar esse problema que apareceu na conta de energia elétrica”, observa o professor. Para ele, a agência de classificação de risco não acreditou em nada e sim-plesmente se antecipou, sem querer esperar alguns meses para confirmar suas suposições. “É lamentável que uma opinião arbitrária, firmada no puro preconceito a priori de que o gover-no não aprendeu nada e estaria apenas ganhando tempo com suas promessas, tenha levado a Standard & Poor’s a negar um voto de confiança ao país. De qualquer forma, não adianta bri-gar com os fatos: tudo isso terá consequências, talvez já esti-

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vesse até marcado na curva, mas vai significar, no mínimo, a consolidação da elevação dos custos do financiamento do Bra-sil, não apenas do governo, mas também do setor privado”.

As agências de rating adquiriram grande importância devi-do a um oligopólio misteriosamente construído e conservado pela legislação administrativa dos Estados Unidos. O controle da apuração de fundos americanos decidiu que os fundos de pensão só podem aplicar seus recursos naquelas empresas ou fundos que tenham grau de investimento. Isso deu às agências um grande poder. Para que os fundos de investimento possam aplicar no país, é preciso ter o grau de investimento estabeleci-do por pelo menos duas agências, o que o Brasil ainda mantém. “Mas as agências sabem muito pouco. Seu fracasso ficou demonstrado durante a crise de 2008”, avalia.

Aula de desenvolvimento – Como todo bom professor, Del-fim Netto explica que, para entender a razão de precisarmos de uma política econômica e social que redirecione sua ênfase dis-tributiva para a ampliação do investimento e da produtividade total dos fatores de produção, é fundamental voltar ao básico. Isso quer dizer admitir que os problemas que vivemos são, em larga medida, consequência de uma bem-sucedida política soci-al que deve ter prosseguimento porque é parte do processo civi-lizatório que desejamos construir. “Cometemos alguns exage-ros, usando instrumentos pouco eficientes para superar a pobreza (principalmente a pobreza absoluta), como o salário mínimo, que tem efeitos colaterais dramáticos sobre as finan-ças públicas. É preciso reconhecer, no entanto, que tivemos um inegável sucesso na superação da ‘grande recessão’ de 2008/2009”, avalia.

Para o economista, ainda que o país, em seguida, tenha se exorbitado na ênfase ao consumo, isso não deve obscurecer o fato de que, entre 2007 e 2013, o PIB brasileiro cresceu à média anual de 3,5%. Além disso, a taxa de inflação anual man-teve-se em torno de 5,8% (30% acima do centro da meta) e o balanço em conta corrente foi, na média, de 2% do PIB, e a dívida bruta / PIB andou próxima dos 60%, com acúmulo de US$ 290 bilhões em reservas externas. “Neste período teste-munhamos o avanço extraordinário da inclusão social acom-panhada por significativa redução das desigualdades”, obser-va. Na avaliação do professor, depois de ter aprendido como ativar as concessões nos projetos de expansão de infraestru-tura, o governo acerta ao voltar a estimular os investimentos. “São eles que, afinal, lideram o processo de crescimento”, ensina.

No entanto, Antônio Delfim Netto diz que uma administra-ção estatal não será eficiente se não souber utilizar os mecanis-mos de mercado. Da mesma forma, não há mecanismo de mer-cado que possa funcionar sem as garantias de um Estado sufici-entemente forte para controlá-lo. O economista afirma que isso é válido tanto para os países desenvolvidos quanto para as socie-dades emergentes que se pretendem repúblicas e democracias. No Brasil, pela falta de compreensão adequada deste processo, segmentos da nossa sociedade deixaram de utilizar todo o potencial de crescimento da nossa economia nos últimos três

anos, alimentando um clima de pessi-mismo que só agora começa a dissi-par-se. “É evidente que isso foi conse-quência em parte do péssimo funcio-namento da economia mundial, mas também resultado do entendimento defeituoso dos mercados financeiros com relação à política econômica do governo”, analisa.

Esse sentimento de pessimismo só começou a ceder diante da recupe-ração do nível da atividade percebido ainda no final de 2013, fato que sur-preendeu a maioria dos críticos da Política Econômica do governo. Para o professor, a desconfiança, que só depois disso começou a se dissipar entre o governo e o setor privado, foi, na realidade, produto de um honesto superativismo governamental, deri-vado da crença de que poderia acele-rar o tempo da correção de nossos graves problemas estruturais. “Quan-do olhamos objetivamente para aque-le ativismo, vemos apenas resquícios de uma atitude comportamental que só foi sendo superada pelo período de aprendizado. O problema que demorou a ser intuído é que o nível de investimento privado não depende ape-nas da existência da demanda, mas do sentimento geral dos investidores, do seu ‘espírito animal’. Se eles acreditam – como tantos acreditaram até há pouco tempo – que o governo lhes é pouco amigável, não há incentivo que os mova”, garante o ex-ministro. Desta forma, o governo fica refém do capitalismo de “compradores”. Os mais ousados e oportunistas que, com dinheiro público, lutam por oligopólios protegidos, mas que não têm a menor condição de induzir os outros a segui-los. “A única saída para continuar com a política civilizatória é harmo-nizar as relações entre distributivismo (com porta de saída) e a volta ao crescimento, que é a condição necessária para susten-tá-lo, o que exige mais investimento. A fórmula é: maior liber-dade de iniciativa nos estímulos à competição”, acredita Del-fim Netto.

De fato, nesses últimos meses diminuiu visivelmente a des-confiança recíproca entre o governo e o setor privado empre-sarial, graças à iniciativa da presidenta Dilma Rousseff de ampliar o diálogo e ouvir importantes lideranças que podem influenciar na aceleração dos investimentos, especialmente na infraestrutura. Para o ex-ministro, isso tem revelado uma nova postura, resultando na superação da desconfiança mútua – que sempre fora negada explicitamente – entre governo e os seto-res privados mais dinâmicos; e devolve aos programas de governo a visão logística estratégica, que incorpora os sistemas de rodovias com as ferrovias, os portos e a geração e distribui-ção de energia, particularmente a hidrelétrica.

Além disso, o país tem feito fortes investimentos em

Antonio Delfim Netto

Essas agências de classificação de risco

sabem muito pouco e têm critérios bastante

duvidosos, o que nos leva a suspeitar de suas

conclusões e ainda mais de suas previsões. Seu

fracasso ficou demonstrado durante a

crise de 2008.

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crise global, que teve início em 2008, reno-vou o debate sobre qual a dinâmica ideal

para o sistema financeiro. Enquanto o mundo se recupera, no entanto, a importância das instituições bancárias para o crescimento econômico se rea-firma. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do Ban-co Central (REF), divulgado em março deste ano, a atividade eco-nômica global se fortaleceu no segundo semestre de 2013. Nes-se período, o movimento coo-perativista financeiro assumiu grande importância e hoje detém parcela significativa de mercado em alguns países, com marketshare em torno de 35%, como são os casos de França, Alemanha e Canadá. No Brasil, onde os efeitos da crise foram menos drásticos, o cooperati-vismo também apresenta núme-ros significativos.

Existem 13 ramos do cooperativismo organizados no Brasil, entre eles o financeiro, que atua para democratizar e aprimorar o acesso aos serviços financeiros, enfrentar os abis-mos socioeconômicos e a diminuir as injustiças sociais. No cenário econômico atual, o Sistema Financeiro Cooperativo (SFC) tem comprovado sua importância para o Sistema Financeiro Nacional. Segundo a Organização das Cooperati-vas Brasileiras (OCB), o país possui atualmente (dados de dezembro de 2013) 1.154 cooperativas financeiras com cer-ca de 6,4 milhões de associados. O segmento obteve, no últi-mo ano, expansão de 20% em participação de mercado. Os ativos totais dessas instituições chegaram a R$ 118,4 bilhões. Já os depósitos somaram R$ 55,7 bilhões.

“O crescimento significativo observado nos últimos anos demonstra que o cooperativismo de crédito financei-ro caminha a passos largos para expansão de sua participa-ção no Sistema Financeiro Nacional”, salientou o diretor de controle do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob),

RUMOS - 14 – Março/Abril 2014

do sistema financeiro tradicional. Com portfólio completo de produtos e serviços e governança eficiente, as cooperati-vas veem a confiança da população se consolidando ano após ano”, comentou.

Com atuação estratégica voltada para as instituições inte-grantes do Sicoob, além de manter parcerias importantes com outros agrupamentos do setor cooperativo financeiro, o Bancoob também apresentou em seu balanço anual um cres-cimento percentual acima da média de mercado. Os ativos totais da instituição tiveram aumento de 22%, se comparados a 2012, chegando a R$ 18,1 bilhões. O resultado do exercício apontou um lucro líquido de R$ 47 milhões. Em dezembro, o patrimônio líquido havia alcançado R$ 580,8 milhões, ou seja, um crescimento de 25,3% em relação a 2012.

RREPORTAGEM PROJEÇÃO

Rubens Rodrigues Filho. Em sua opi-nião, o modelo de gestão das cooperati-vas contribui fortemente para a solidez do SFC.

Fatores – O resultado positivo alcançado pelas cooperativas financeiras se deve a diversos fatores, e um deles é o atendi-mento personalizado. A legislação brasi-leira exige que essas instituições operem apenas nas regiões em que estão inseridas, o que permite uma proximidade maior com o associado. Dessa forma, os produ-tos e serviços são desenvolvidos para atender, da melhor maneira possível, às necessidades do associado e da região.

Assim, o segmento contribui para o mercado financeiro brasileiro desenvol-vendo a economia das regiões onde está inserido. O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), aliado ao tra-balho do Bancoob, amplia e fortalece a cada ano a oferta de produtos e serviços financeiros, conquistando a confiança da população.

Outro fator que contribui para o cres-cimento do SFC é o ciclo virtuoso do

cooperativismo, que promove o desenvolvimento local. Os recursos captados pelas cooperativas circulam dentro do pró-prio município, ou seja, os depósitos feitos pelos associados são retidos e reinvestidos na própria comunidade, evitando a evasão de riquezas.

Nestas instituições, o cooperado não é apenas usuário, ele também é dono da cooperativa em que está ligado. A coope-rativa tem o poder de formar seu próprio quadro social e ele-ger seus dirigentes, ampliando a visão e participação dos asso-ciados, o que resulta em uma relação de maior responsabilida-de entre os cooperados e suas instituições. Ao fim de cada exercício, o sócio ainda participa da distribuição das sobras, designadas lucros na linguagem dos bancos convencionais. Este ano, as entidades devolverão aos seus cooperados cerca de R$ 2,5 bilhões.

Balanço – O Sicoob, com mais de 2,6 milhões de coopera-dos, também fechou o ano de 2013 com saldo positivo. As

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operações de crédito chegaram a R$ 25,1 bilhões, o que signi-fica um aumento de 24,4% em relação ao ano anterior. Já os ativos atingiram a marca de R$ 41,6 bilhões, crescimento de 21,9%. O patrimônio líquido das cooperativas teve um avan-ço de 17,8% e encerrou 2013 com R$ 9,6 bilhões. Os depósi-tos somaram R$ 25,6 bilhões, 22,6% a mais que o observado no ano anterior.

De acordo com o diretor de operações do Bancoob, Ênio Meinen, o denso portfólio oferecido pelas cooperativas do Sicoob contribuiu para o avanço dos números e para a inclu-são financeira. “O ano de 2013 foi mais um exercício em que as cooperativas financeiras mereceram a preferência da socie-dade, porquanto o seu crescimento, especialmente no quesito depósitos e carteira de crédito, ficou acima do desempenho

Após expansão de 20% em participação de mercado no último ano, o segmento cooperativo mira a ampliação de sua presença no Sistema Financeiro Nacional

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A passos largos

Entre as várias modalidades oferecidas pelo Bancoob, por meio das cooperativas Sicoob, estão as linhas de crédi-to e financiamento, que contribuem fortemente para o desenvolvimento do agronegócio, segmento que mais influenciou a economia em 2013. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. O setor atingiu 7% de aumento, em relação ao ano anterior, registrando a maior expansão desde o início da série histó-rica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1996. O relatório de inflação do Banco Central estima um crescimento de 3,5% da produção em 2014.

Com o Sicoob Crédito Rural, por exemplo, o produtor rural pode financiar as despesas com custeio, colheita, esto-cagem e fazer investimentos. O Bancoob também disponi-biliza as linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como o crédito ABC, que estimula a recuperação de áreas degradadas e o Programa de Desenvolvimento Cooperativo (Prodecoop), que tem como principal objetivo incrementar a competitividade do complexo agroindustrial das cooperativas brasileiras.

Atento às necessidades do mercado financeiro, o Sicoob passou a oferecer, em 2013, aos micro, pequenos e médios empresários, o Cartão BNDES Sicoob, com bandeira pró-pria (Cabal), um dos mais importantes instrumentos para o desenvolvimento do empresariado brasileiro.

Estima-se que 40 milhões de brasileiros, entre 18 e 64 anos, estejam envolvidos com a atividade empreendedora. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mos-tra que o Brasil atingiu em 2013 o nível mais elevado de empreendedores por oportunidade dos últimos 12 anos. De

acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os pequenos negócios são responsáveis por 25% do PIB brasileiro.

O diretor-presidente do Bancoob, Marco Aurélio Alma-da, vê a parceria com o BNDES como um estímulo ao empreendedorismo, promovendo o desenvolvimento eco-nômico e social. “O cooperativismo financeiro tem sido ágil e bastante objetivo na sua estratégia de atendimento às micro e pequenas empresas”, disse Almada.

Fundo – Ainda em 2013, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a resolução que deu origem ao Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que cobre os depósitos dos cooperados até R$ 250 mil. O objetivo do FGCoop é garantir os créditos dos associados nos casos de intervenção ou liquidação extrajudicial de ins-tituição associada. Na opinião do diretor-presidente do Bancoob, essa é uma ferramenta que confere ainda mais credibilidade ao SFC. “Estamos criando uma rede de pro-teção para as cooperativas financeiras que diminui ainda mais os riscos e permite que o associado utilize os serviços ofertados com maior credibilidade”, ressaltou.

Os resultados positivos, reforçou, sugerem que o Siste-ma Financeiro Cooperativo tem um papel muito importan-te no crescimento econômico e social do país. Além de pos-sibilitar o desenvolvimento descentralizado pelo Brasil, as cooperativas promovem a melhoria do acesso aos financia-mentos e exercem influência positiva para as ações empre-endedoras em seu quadro associativo, circunstância que amplia a percepção e estimula a responsabilidade do indiví-duo com a sua localidade.

Crédito Rural e parceria com o BNDES impulsionam o setor

Para Rubens Rodrigues Filho, diretor do Bancoob, o modelo de gestão contribui fortemente para a solidez das cooperativas

Por Ana Carolina Oliveira

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RUMOS - 15 – Março/Abril 2014

crise global, que teve início em 2008, reno-vou o debate sobre qual a dinâmica ideal

para o sistema financeiro. Enquanto o mundo se recupera, no entanto, a importância das instituições bancárias para o crescimento econômico se rea-firma. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do Ban-co Central (REF), divulgado em março deste ano, a atividade eco-nômica global se fortaleceu no segundo semestre de 2013. Nes-se período, o movimento coo-perativista financeiro assumiu grande importância e hoje detém parcela significativa de mercado em alguns países, com marketshare em torno de 35%, como são os casos de França, Alemanha e Canadá. No Brasil, onde os efeitos da crise foram menos drásticos, o cooperati-vismo também apresenta núme-ros significativos.

Existem 13 ramos do cooperativismo organizados no Brasil, entre eles o financeiro, que atua para democratizar e aprimorar o acesso aos serviços financeiros, enfrentar os abis-mos socioeconômicos e a diminuir as injustiças sociais. No cenário econômico atual, o Sistema Financeiro Cooperativo (SFC) tem comprovado sua importância para o Sistema Financeiro Nacional. Segundo a Organização das Cooperati-vas Brasileiras (OCB), o país possui atualmente (dados de dezembro de 2013) 1.154 cooperativas financeiras com cer-ca de 6,4 milhões de associados. O segmento obteve, no últi-mo ano, expansão de 20% em participação de mercado. Os ativos totais dessas instituições chegaram a R$ 118,4 bilhões. Já os depósitos somaram R$ 55,7 bilhões.

“O crescimento significativo observado nos últimos anos demonstra que o cooperativismo de crédito financei-ro caminha a passos largos para expansão de sua participa-ção no Sistema Financeiro Nacional”, salientou o diretor de controle do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob),

RUMOS - 14 – Março/Abril 2014

do sistema financeiro tradicional. Com portfólio completo de produtos e serviços e governança eficiente, as cooperati-vas veem a confiança da população se consolidando ano após ano”, comentou.

Com atuação estratégica voltada para as instituições inte-grantes do Sicoob, além de manter parcerias importantes com outros agrupamentos do setor cooperativo financeiro, o Bancoob também apresentou em seu balanço anual um cres-cimento percentual acima da média de mercado. Os ativos totais da instituição tiveram aumento de 22%, se comparados a 2012, chegando a R$ 18,1 bilhões. O resultado do exercício apontou um lucro líquido de R$ 47 milhões. Em dezembro, o patrimônio líquido havia alcançado R$ 580,8 milhões, ou seja, um crescimento de 25,3% em relação a 2012.

RREPORTAGEM PROJEÇÃO

Rubens Rodrigues Filho. Em sua opi-nião, o modelo de gestão das cooperati-vas contribui fortemente para a solidez do SFC.

Fatores – O resultado positivo alcançado pelas cooperativas financeiras se deve a diversos fatores, e um deles é o atendi-mento personalizado. A legislação brasi-leira exige que essas instituições operem apenas nas regiões em que estão inseridas, o que permite uma proximidade maior com o associado. Dessa forma, os produ-tos e serviços são desenvolvidos para atender, da melhor maneira possível, às necessidades do associado e da região.

Assim, o segmento contribui para o mercado financeiro brasileiro desenvol-vendo a economia das regiões onde está inserido. O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), aliado ao tra-balho do Bancoob, amplia e fortalece a cada ano a oferta de produtos e serviços financeiros, conquistando a confiança da população.

Outro fator que contribui para o cres-cimento do SFC é o ciclo virtuoso do

cooperativismo, que promove o desenvolvimento local. Os recursos captados pelas cooperativas circulam dentro do pró-prio município, ou seja, os depósitos feitos pelos associados são retidos e reinvestidos na própria comunidade, evitando a evasão de riquezas.

Nestas instituições, o cooperado não é apenas usuário, ele também é dono da cooperativa em que está ligado. A coope-rativa tem o poder de formar seu próprio quadro social e ele-ger seus dirigentes, ampliando a visão e participação dos asso-ciados, o que resulta em uma relação de maior responsabilida-de entre os cooperados e suas instituições. Ao fim de cada exercício, o sócio ainda participa da distribuição das sobras, designadas lucros na linguagem dos bancos convencionais. Este ano, as entidades devolverão aos seus cooperados cerca de R$ 2,5 bilhões.

Balanço – O Sicoob, com mais de 2,6 milhões de coopera-dos, também fechou o ano de 2013 com saldo positivo. As

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operações de crédito chegaram a R$ 25,1 bilhões, o que signi-fica um aumento de 24,4% em relação ao ano anterior. Já os ativos atingiram a marca de R$ 41,6 bilhões, crescimento de 21,9%. O patrimônio líquido das cooperativas teve um avan-ço de 17,8% e encerrou 2013 com R$ 9,6 bilhões. Os depósi-tos somaram R$ 25,6 bilhões, 22,6% a mais que o observado no ano anterior.

De acordo com o diretor de operações do Bancoob, Ênio Meinen, o denso portfólio oferecido pelas cooperativas do Sicoob contribuiu para o avanço dos números e para a inclu-são financeira. “O ano de 2013 foi mais um exercício em que as cooperativas financeiras mereceram a preferência da socie-dade, porquanto o seu crescimento, especialmente no quesito depósitos e carteira de crédito, ficou acima do desempenho

Após expansão de 20% em participação de mercado no último ano, o segmento cooperativo mira a ampliação de sua presença no Sistema Financeiro Nacional

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A passos largos

Entre as várias modalidades oferecidas pelo Bancoob, por meio das cooperativas Sicoob, estão as linhas de crédi-to e financiamento, que contribuem fortemente para o desenvolvimento do agronegócio, segmento que mais influenciou a economia em 2013. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo. O setor atingiu 7% de aumento, em relação ao ano anterior, registrando a maior expansão desde o início da série histó-rica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1996. O relatório de inflação do Banco Central estima um crescimento de 3,5% da produção em 2014.

Com o Sicoob Crédito Rural, por exemplo, o produtor rural pode financiar as despesas com custeio, colheita, esto-cagem e fazer investimentos. O Bancoob também disponi-biliza as linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como o crédito ABC, que estimula a recuperação de áreas degradadas e o Programa de Desenvolvimento Cooperativo (Prodecoop), que tem como principal objetivo incrementar a competitividade do complexo agroindustrial das cooperativas brasileiras.

Atento às necessidades do mercado financeiro, o Sicoob passou a oferecer, em 2013, aos micro, pequenos e médios empresários, o Cartão BNDES Sicoob, com bandeira pró-pria (Cabal), um dos mais importantes instrumentos para o desenvolvimento do empresariado brasileiro.

Estima-se que 40 milhões de brasileiros, entre 18 e 64 anos, estejam envolvidos com a atividade empreendedora. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mos-tra que o Brasil atingiu em 2013 o nível mais elevado de empreendedores por oportunidade dos últimos 12 anos. De

acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os pequenos negócios são responsáveis por 25% do PIB brasileiro.

O diretor-presidente do Bancoob, Marco Aurélio Alma-da, vê a parceria com o BNDES como um estímulo ao empreendedorismo, promovendo o desenvolvimento eco-nômico e social. “O cooperativismo financeiro tem sido ágil e bastante objetivo na sua estratégia de atendimento às micro e pequenas empresas”, disse Almada.

Fundo – Ainda em 2013, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a resolução que deu origem ao Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que cobre os depósitos dos cooperados até R$ 250 mil. O objetivo do FGCoop é garantir os créditos dos associados nos casos de intervenção ou liquidação extrajudicial de ins-tituição associada. Na opinião do diretor-presidente do Bancoob, essa é uma ferramenta que confere ainda mais credibilidade ao SFC. “Estamos criando uma rede de pro-teção para as cooperativas financeiras que diminui ainda mais os riscos e permite que o associado utilize os serviços ofertados com maior credibilidade”, ressaltou.

Os resultados positivos, reforçou, sugerem que o Siste-ma Financeiro Cooperativo tem um papel muito importan-te no crescimento econômico e social do país. Além de pos-sibilitar o desenvolvimento descentralizado pelo Brasil, as cooperativas promovem a melhoria do acesso aos financia-mentos e exercem influência positiva para as ações empre-endedoras em seu quadro associativo, circunstância que amplia a percepção e estimula a responsabilidade do indiví-duo com a sua localidade.

Crédito Rural e parceria com o BNDES impulsionam o setor

Para Rubens Rodrigues Filho, diretor do Bancoob, o modelo de gestão contribui fortemente para a solidez das cooperativas

Por Ana Carolina Oliveira

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chegada do ano eleitoral é sempre carregada de dúvidas e boatos nas mais diversas searas da administração pública. As angústias vão desde “aquilo que não se pode fazer”, passam por “quando se deve parar de fazer algo” e chegam

no “que acontecerá caso haja infringência da legislação eleito-ral”. O presente artigo busca auxiliar a dirimir estas incertezas, esclarecendo alguns dos mais importantes temas que se vincu-lam às proibições do período eleitoral, com foco nos tipos jurí-dicos mais comuns às instituições financeiras de fomento.

A mais relevante norma sobre as condutas vedadas em vir-tude das eleições é a Lei Federal nº 9.504/97, conhecida como Lei das Eleições. A partir do art. 73, há o tópico que ver-sa sobre as “Condutas Vedadas aos Agentes Públicos em Campanhas Eleitorais”, o que engloba todos e quaisquer empregados e funcionários das instituições financeiras de fomento.

Há um conjunto de atitudes que são aberrantes, pois evi-dente e diretamente destinadas a favorecer determinado parti-do ou candidato. Estas ações, naturalmente, são vedadas pela lei. É proibido, por exemplo, ceder servidor público para comi-tês de campanha ou fazer uso promocional, em favor de can-didato, de distribuição de bens custeados pelo poder público – claros exemplos de improbidade, punidos dentro e fora do chamado período eleitoral. A lei, contudo, não se resumiu a proibir as iniciativas que certamente influenciem nos resulta-dos eleitorais; vedou, de forma muito mais ampla, um conjun-to de condutas apenas “tendentes a afetar a igualdade de opor-tunidades entre candidatos” – elas são proibidas mesmo que não influenciem, de fato, a eleição.

Uma primeira proibição deste tipo é de contratações, nomeações e quaisquer outras formas de admissão e desliga-mento funcional ou alterações das condições de exercício pro-fissional (tal como remoções e transferências) de servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o ante-cedem e até a posse dos eleitos (entre de 05/jul./14 e 1º/fev./15). Caso não observada a restrição, o resultado será a anulação do ato administrativo que tiver levado a cabo a con-duta vedada. A Lei, contudo, faz expressa exceção quanto aos ocupantes de cargos em comissão e funções de confiança, que poderão, mesmo dentro daquele período referido, ser admiti-

dos e exonerados. Também se poderá nomear candidatos aprovados em concursos públicos, contanto que os certames tenham sido homologados até o início do prazo de três meses anteriores ao pleito.

Também, a partir de 05 de julho, será proibido veicular logomarcas de governos em anúncios comerciais e institucio-nais das entidades de fomento. As propagandas e publicidade em geral, por exceção, estão permitidas aos Bancos de Desenvolvimento e Agências de Fomento a qualquer tempo. Contudo, o teto de dispêndios com estas ações, válido para todos os entes públicos, igualmente a eles se aplica. Ele con-siste em estabelecer como limite de gastos, de 1º/jan. a 05/jul. de 2014, a média do que se tenha aplicado na mesma rubrica nos três últimos anos que antecedem o do pleito ou apenas no último ano (no caso, o de 2013), valendo o que for menor. A lei é omissa quanto ao regramento dos gastos no período posterior a 05 de julho, o que tem conduzido à caute-la de estipular o teto referido como limite máximo de empe-nhos em todo o ano eleitoral.

Relevante é a proibição contida no § 10 do art. 73 da Lei das Eleições, assim lançado: “No ano em que se realizar elei-ção, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública (...)”. Aqui estamos falando, principalmente, de brindes, que usualmente são distribuídos em feiras e campanhas específicas. Em todo o ano eleitoral, não é lícita tal liberalidade. As consequências do descumprimento, aplicáveis às demais condutas vedadas, são de suspensão da atividade, multa, cassação do registro ou diploma do candidato eventualmente beneficiado e conde-nação por improbidade administrativa. Como se vê, efeitos bastante graves.

Vale, por fim, referir a proibição, também nos três meses pré-eleitorais, da contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos na realização de quaisquer espécies de inau-gurações.

Observadas tais restrições, os negócios podem ser tran-quilamente continuados e os Bancos de Desenvolvimento e Agências de Fomento permanecer, ainda que em período elei-toral, cumprindo seu relevante papel no fortalecimento da eco-nomia brasileira. Afinal, é também regra basilar da Adminis-tração Brasileira o princípio da continuidade!

Ramaís de Castro Silveira

ELEIÇÕES 2014

O que pode e o que nãopode nas instituiçõesde fomento

RUMOS – 17 – Março/Abril 2014

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Advogado. Assessor jurídico da Diretoria de Planejamento do Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), é mestre em Ciência Política e doutorando em Direito pela Universidade de Brasília (UnB).

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om a previsão de crescimento da ordem de 40% do Sistema Inter-ligado Nacional, responsável pelo escoamento da energia produzida no país, e a expansão

do mercado de fios de cobre no país, o Banco da Amazônia tem ampliado seu apoio ao segmento, na região onde atua. Recentemen-te, a instituição financiou um projeto da Alu-bar Metais e Cabos, companhia sediada no estado do Pará, que pretende modernizar seu parque industrial.

A Alubar é uma empresa que fornece vergalhões, fios, cabos e condutores elétri-cos de alumínio e cobre, para uso nas linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica pelas grandes concessioná-rias de energia. No Brasil, essas concessio-nárias atendem à população urbana e rural de 90% dos estados. A operação de fomen-to à empresa foi negociada com os recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO).

De acordo com a gerente-executiva de Grandes Clientes do banco, Marilene Ribeiro, os recursos serão destinados para a implantação de uma planta industrial utilizando a cadeia produ-tiva do cobre na fabricação de cabos de cobre nu e revestido, conhecido com Building Wire. A diversificação no parque fabril da empresa implicará também na necessidade de investi-mentos em obras civis, máquinas e equipamentos, instalações e montagens, ferramentas e utensílios para a produção, veículos, e capital de giro correspondente.

Além de contribuir para o desenvolvimento tecnológico das indústrias de alumínio do Pará, as contrapartidas ao investimento são diversas. Entre elas está a geração de mão de obra por meio da criação de empregos diretos – até o momento, foram gerados 58 empregos diretos para este projeto, sendo cerca de 90% da mão de obra proveniente da

cidade de Barcarena e região, criando emprego e renda para 600 pessoas, direta e indiretamente. Outro benefício será dado pela aquisição de 95% dos materiais e serviços necessários para a produção, de fornecedores paraenses, reforçando o mercado por meio de parcerias econômico-financeiras, bem como a criação de efeitos de arrasto (necessidade do serviço de outras empresas envolvidas na produção de alumínio) na economia do estado, e estimulando a produção de insumos utilizados.

Segundo o diretor da Alubar, Otávio Ribeiro, a diversificação da produção da empresa em fios de cobre proporcionará a verticalização do cobre como fonte de matéria-prima à produção de cabos elétri-cos, contribuindo para a conversão do estado de produtor para transformador de matéria-prima. “Dessa forma, haverá

geração de riqueza e renda em nossa região, superando as difi-culdades no que diz respeito à distância dos grandes centros”, afirma o executivo.

PAC – Marilene lembra que os projetos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica são prioridades para o Gover-no Federal e fazem parte do Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC). “Nesse sentido, os investimentos em infraestru-tura no setor de energia elétrica são imprescindíveis para o adequado desempenho da rede energética brasileira, garantindo assim o crescimento econômico do nosso país”.

O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), de res-ponsabilidade do Ministério de Minas e Energia, indica que a capacidade instalada do parque gerador de energia elétrica no país deverá crescer 53% até 2022, representando um aumento aproximado de mais de seis mil megawatts anuais. O Sistema

RUMOS – 19 – Março/Abril 2014 RUMOS – 18 – Março/Abril 2014

Por Solange Bagdadi

A AMAZÔNIA

Infraestrutura

Interligado Nacional, responsável pelo escoamento de toda essa energia, deverá crescer 43%, alcan-çando 142 mil quilômetros de linhas de transmissão.

As ações da segunda fase do PAC, no período de 2013, somam um montante de R$ 108,1 bilhões no eixo Energia, investimento dedicado à melhoria e expansão nas áreas de geração e transmissão de energia elétrica, exploração de petróleo e gás natural, refino e petroquímica, fertilizante e gás natural, revitalização da indústria naval e combustíveis renováveis. Já o programa Luz para Todos, consi-derando apenas as ações do PAC 2, realizou mais de 360 mil ligações de energia elétrica, que beneficiaram quase 1,5 milhão de pessoas que vivem no campo, em assentamen-tos da reforma agrária, aldeias indígenas, comunidades quilombo-las e ribeirinhas, em todas as regiões.

Regional – De acordo com o diretor comercial do Banco da Amazônia, Wilson Evaristo, projetos com a natureza do parque industrial da Alubar, que fica localizado no município de Barca-rena, no Pará, no complexo de Vila do Conde, ao lado das indústrias Alunorte e Albrás – empresas do grupo Vale do Rio Doce – são empreendimentos considerados de grande impor-tância para o desenvolvimento sustentável da localidade onde está sendo implantado. “Eles estão inseridos em um contexto mais global de fomento ao desenvolvimento regional, pois transformam as matérias-primas da região em produtos, agre-gando maior valor, resultando na geração de emprego e renda na Amazônia e na melhoria da qualidade de vida das popula-ções locais”, observou.

Segundo Evaristo, a empresa está sendo financiada com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, que é proveniente de 0,6% da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O fundo é administrado pelo Banco da Amazônia, que o aplica por intermédio de programas elaborados, anualmente, de acor-do com a realidade ambiental, social e econômica da região, em parceria com os representantes das instituições públicas e dos diversos segmentos da sociedade. Atua, também, em conso-nância com o Plano Plurianual para a Amazônia Legal (PPA) e com as prioridades espaciais e setoriais definidas pelas Unida-des Federadas da Região Norte. “O programa apoia a amplia-

ção, diversificação, implantação, modernização, reforma e relocali-zação de empreendimentos não rurais, localizados na Região Nor-te”, explica o diretor.

O financiamento adquirido pela Alubar deverá ser pago num prazo total previsto pela linha de crédito de 36 meses, com a amorti-zação de 108 meses.

Parceria – É grande a importân-cia da Alubar para a Região Norte. De acordo com Marilene, a empresa é a única do Norte e Nordeste que atua na produção e comercialização de vergalhões e cabos elétricos de alumínio e cobre, que são utilizados em linhas de transmissão e redes de distribui-ção de energia elétrica pelas con-cessionárias de energia. “A Alubar possui mais de 30 anos de atuação nesse ramo. É uma empresa tradi-cional no mercado e tem um exce-lente histórico creditício com o

banco. Possui um quadro de gestores eficientes, que sempre agiram com muita responsabilidade no cumprimento de suas obrigações. Além disso, tem como compromisso a preservação do meio ambiente, a prevenção de fontes poluidoras, a melho-ria contínua de seu desempenho ambiental, o atendimento à legislação e outros requisitos, disseminando esses valores a seus colaboradores e à sociedade, questão fundamental para o apoio do Banco da Amazônia”, enumerou.

Otávio Ribeiro, da Alubar, confirma a importância da par-ceria com a instituição financeira. “O Banco da Amazônia é nosso parceiro desde sempre, em investimentos nas ampliações da empresa desde 1998, quando obtivemos o primeiro recurso proveniente do FNO para ampliação da fábrica”, lembra o diretor da empresa.

Além de investimentos como os da Alubar, o diretor comercial do banco, Wilson Evaristo, informa que a instituição financeira atua em políticas e programas voltados à sustentabili-dade, tais como o Plano Brasil sem Miséria; a Operação Cidada-nia Xingu, realizada nos municípios da área de influência da Usina Hidrelétrica de Belo Monte; a Operação Arco Verde, realizada nos municípios da Amazônia Legal com os maiores índices de desmatamento; e o Programa Crescer, de microcré-dito produtivo orientado, dando tratamento preferencial às atividades produtivas de mini e pequenos produtores rurais e micro e pequenas empresas.

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Wilson Evaristo, diretor comercial do banco: investimento gera empregos e, assim, contribui para a melhoria da qualidade de vida local

Banco da Amazônia financia a modernização de parque industrial de empresa paraense, que utiliza a cadeia produtiva de cobre para as linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica no país

O caminho da luz

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Dentre as contrapartidas da empresa para o financiamento, está a aquisição de 95% dos materiais e serviços de fornecedores paraenses.

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om a previsão de crescimento da ordem de 40% do Sistema Inter-ligado Nacional, responsável pelo escoamento da energia produzida no país, e a expansão

do mercado de fios de cobre no país, o Banco da Amazônia tem ampliado seu apoio ao segmento, na região onde atua. Recentemen-te, a instituição financiou um projeto da Alu-bar Metais e Cabos, companhia sediada no estado do Pará, que pretende modernizar seu parque industrial.

A Alubar é uma empresa que fornece vergalhões, fios, cabos e condutores elétri-cos de alumínio e cobre, para uso nas linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica pelas grandes concessioná-rias de energia. No Brasil, essas concessio-nárias atendem à população urbana e rural de 90% dos estados. A operação de fomen-to à empresa foi negociada com os recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO).

De acordo com a gerente-executiva de Grandes Clientes do banco, Marilene Ribeiro, os recursos serão destinados para a implantação de uma planta industrial utilizando a cadeia produ-tiva do cobre na fabricação de cabos de cobre nu e revestido, conhecido com Building Wire. A diversificação no parque fabril da empresa implicará também na necessidade de investi-mentos em obras civis, máquinas e equipamentos, instalações e montagens, ferramentas e utensílios para a produção, veículos, e capital de giro correspondente.

Além de contribuir para o desenvolvimento tecnológico das indústrias de alumínio do Pará, as contrapartidas ao investimento são diversas. Entre elas está a geração de mão de obra por meio da criação de empregos diretos – até o momento, foram gerados 58 empregos diretos para este projeto, sendo cerca de 90% da mão de obra proveniente da

cidade de Barcarena e região, criando emprego e renda para 600 pessoas, direta e indiretamente. Outro benefício será dado pela aquisição de 95% dos materiais e serviços necessários para a produção, de fornecedores paraenses, reforçando o mercado por meio de parcerias econômico-financeiras, bem como a criação de efeitos de arrasto (necessidade do serviço de outras empresas envolvidas na produção de alumínio) na economia do estado, e estimulando a produção de insumos utilizados.

Segundo o diretor da Alubar, Otávio Ribeiro, a diversificação da produção da empresa em fios de cobre proporcionará a verticalização do cobre como fonte de matéria-prima à produção de cabos elétri-cos, contribuindo para a conversão do estado de produtor para transformador de matéria-prima. “Dessa forma, haverá

geração de riqueza e renda em nossa região, superando as difi-culdades no que diz respeito à distância dos grandes centros”, afirma o executivo.

PAC – Marilene lembra que os projetos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica são prioridades para o Gover-no Federal e fazem parte do Programa de Aceleração do Cresci-mento (PAC). “Nesse sentido, os investimentos em infraestru-tura no setor de energia elétrica são imprescindíveis para o adequado desempenho da rede energética brasileira, garantindo assim o crescimento econômico do nosso país”.

O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), de res-ponsabilidade do Ministério de Minas e Energia, indica que a capacidade instalada do parque gerador de energia elétrica no país deverá crescer 53% até 2022, representando um aumento aproximado de mais de seis mil megawatts anuais. O Sistema

RUMOS – 19 – Março/Abril 2014 RUMOS – 18 – Março/Abril 2014

Por Solange Bagdadi

A AMAZÔNIA

Infraestrutura

Interligado Nacional, responsável pelo escoamento de toda essa energia, deverá crescer 43%, alcan-çando 142 mil quilômetros de linhas de transmissão.

As ações da segunda fase do PAC, no período de 2013, somam um montante de R$ 108,1 bilhões no eixo Energia, investimento dedicado à melhoria e expansão nas áreas de geração e transmissão de energia elétrica, exploração de petróleo e gás natural, refino e petroquímica, fertilizante e gás natural, revitalização da indústria naval e combustíveis renováveis. Já o programa Luz para Todos, consi-derando apenas as ações do PAC 2, realizou mais de 360 mil ligações de energia elétrica, que beneficiaram quase 1,5 milhão de pessoas que vivem no campo, em assentamen-tos da reforma agrária, aldeias indígenas, comunidades quilombo-las e ribeirinhas, em todas as regiões.

Regional – De acordo com o diretor comercial do Banco da Amazônia, Wilson Evaristo, projetos com a natureza do parque industrial da Alubar, que fica localizado no município de Barca-rena, no Pará, no complexo de Vila do Conde, ao lado das indústrias Alunorte e Albrás – empresas do grupo Vale do Rio Doce – são empreendimentos considerados de grande impor-tância para o desenvolvimento sustentável da localidade onde está sendo implantado. “Eles estão inseridos em um contexto mais global de fomento ao desenvolvimento regional, pois transformam as matérias-primas da região em produtos, agre-gando maior valor, resultando na geração de emprego e renda na Amazônia e na melhoria da qualidade de vida das popula-ções locais”, observou.

Segundo Evaristo, a empresa está sendo financiada com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, que é proveniente de 0,6% da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O fundo é administrado pelo Banco da Amazônia, que o aplica por intermédio de programas elaborados, anualmente, de acor-do com a realidade ambiental, social e econômica da região, em parceria com os representantes das instituições públicas e dos diversos segmentos da sociedade. Atua, também, em conso-nância com o Plano Plurianual para a Amazônia Legal (PPA) e com as prioridades espaciais e setoriais definidas pelas Unida-des Federadas da Região Norte. “O programa apoia a amplia-

ção, diversificação, implantação, modernização, reforma e relocali-zação de empreendimentos não rurais, localizados na Região Nor-te”, explica o diretor.

O financiamento adquirido pela Alubar deverá ser pago num prazo total previsto pela linha de crédito de 36 meses, com a amorti-zação de 108 meses.

Parceria – É grande a importân-cia da Alubar para a Região Norte. De acordo com Marilene, a empresa é a única do Norte e Nordeste que atua na produção e comercialização de vergalhões e cabos elétricos de alumínio e cobre, que são utilizados em linhas de transmissão e redes de distribui-ção de energia elétrica pelas con-cessionárias de energia. “A Alubar possui mais de 30 anos de atuação nesse ramo. É uma empresa tradi-cional no mercado e tem um exce-lente histórico creditício com o

banco. Possui um quadro de gestores eficientes, que sempre agiram com muita responsabilidade no cumprimento de suas obrigações. Além disso, tem como compromisso a preservação do meio ambiente, a prevenção de fontes poluidoras, a melho-ria contínua de seu desempenho ambiental, o atendimento à legislação e outros requisitos, disseminando esses valores a seus colaboradores e à sociedade, questão fundamental para o apoio do Banco da Amazônia”, enumerou.

Otávio Ribeiro, da Alubar, confirma a importância da par-ceria com a instituição financeira. “O Banco da Amazônia é nosso parceiro desde sempre, em investimentos nas ampliações da empresa desde 1998, quando obtivemos o primeiro recurso proveniente do FNO para ampliação da fábrica”, lembra o diretor da empresa.

Além de investimentos como os da Alubar, o diretor comercial do banco, Wilson Evaristo, informa que a instituição financeira atua em políticas e programas voltados à sustentabili-dade, tais como o Plano Brasil sem Miséria; a Operação Cidada-nia Xingu, realizada nos municípios da área de influência da Usina Hidrelétrica de Belo Monte; a Operação Arco Verde, realizada nos municípios da Amazônia Legal com os maiores índices de desmatamento; e o Programa Crescer, de microcré-dito produtivo orientado, dando tratamento preferencial às atividades produtivas de mini e pequenos produtores rurais e micro e pequenas empresas.

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Wilson Evaristo, diretor comercial do banco: investimento gera empregos e, assim, contribui para a melhoria da qualidade de vida local

Banco da Amazônia financia a modernização de parque industrial de empresa paraense, que utiliza a cadeia produtiva de cobre para as linhas de transmissão e redes de distribuição de energia elétrica no país

O caminho da luz

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Dentre as contrapartidas da empresa para o financiamento, está a aquisição de 95% dos materiais e serviços de fornecedores paraenses.

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escassez de chuvas dos últimos meses fez renascer os temores sobre a possibilidade de racionamento de energia no país e reacendeu discussões sobre a confiabilidade do sistema elétrico. A redução do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas nas

regiões Sudeste e Centro-Oeste, que concentram 70% do armazenamento de água do Sistema Interligado Nacional (SIN), levou analistas, empresas de consultoria e empresários do setor a alertar para o risco de o país passar novamente pela situação vivida em 2001, quando, devido a um quadro hidro-lógico bastante adverso, residências, estabelecimentos comer-ciais e indústrias foram induzidos pelo governo a reduzir o consumo médio em 20%.

No primeiro trimestre de 2014, os índices de chuvas no Sudeste/Centro-Oeste foram os mais baixos das últimas décadas, sendo os de fevereiro os piores em 80 anos. O mês de março terminou com os reservatórios da região com ape-nas 36,27% de sua capacidade, nível bastante próximo dos registrados em há 13 anos nessa mesma época, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão res-ponsável pelo gerenciamento do SIN. Como aproximada-mente 64% da capacidade de geração de energia do país é baseada em hidrelétricas, empresários e grandes consumido-res de energia se colocaram em alerta. O governo, no entanto, sustenta que não há motivos para temer o pior.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados em 19 de março, o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, admitiu que a que-da na capacidade de geração das hidrelétricas acendeu um “sinal amarelo”, mas descartou o risco de racionamento de energia. Na avaliação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), colegiado formado por seis órgãos oficiais ligados ao setor, o sistema “apresenta-se estrutural-mente equilibrado, com sobras em termos de balanço ener-gético”. Somente em caso de agravamento ainda maior do

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R REPORTAGEM ENERGIA

Por André Tennitz

Apesar de os reservatórios hidrelétricos estarem operando a níveis muito próximos aos de 2001, são poucos os que acreditam que o país possa viver um cenário de racionamento de energia em 2014. A Rumos buscou as explicações de governo e especialistas para entender o que, afinal, diferencia esses dois momentos

doras, que acumulam vultosos déficits de caixa por causa do descasamento entre os custos de fornecimento de eletricida-de e as receitas tarifárias. O descompasso se tornou ainda mais acentuado porque muitas delas não têm todo o supri-mento garantido por contratos de médio e logo prazos com as geradoras e, por isso, vem precisando recorrer ao mercado livre, onde o preço disparou. Desde fevereiro, o custo por MW se mantém em R$ 822,83, valor máximo definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A estimativa é que o volume de energia a descoberto das distribuidoras che-gue a 3,2 GW, o que gerou um passivo da ordem de R$ 10 bilhões nos três primeiros meses do ano.

Reginaldo de Medeiros calcula que, se houvesse uma diminuição de apenas 5% no consumo total de energia, seria possível obter uma redução de 70% no custo das térmicas. Outro problema, aponta, é que essas usinas, em operação de forma praticamente continua desde outubro de 2012, preci-sam parar em algum momento para que seja feita a manuten-ção das máquinas.

Na avaliação do professor Nivalde de Castro, coordenador do grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universida-de Federal do Rio de Janeiro, o sistema elétrico assume cada vez mais as características de um modelo hidrotérmico. A médio prazo, diz ele, a elevação dos custos vai necessariamente acarretar a alta dos preços para oS consumidores cativos. Para impedir o repasse imediato às tarifas, a estratégia do governo tem sido a de diferir esse aumento pelos próximos anos, perío-do em que conta com a melhoria do regime de chuvas, a entra-da em operação de novas usinas e a geração de energia a custos menores para compensar as pressões atuais.

Em março, os Ministérios da Fazenda e de Minas e Ener-gia anunciaram um pacote de mais de R$ 15 bilhões para socorrer as distribuidoras, dos quais R$ 4 bilhões em repas-ses diretos do Tesouro e R$ 11,2 bilhões em empréstimo a ser contratado no sistema bancário pela Câmara de Comerci-

Consumo – O consumo de energia no país vem aumentan-do fortemente nos segmentos residencial e comercial, que mostram desempenho acima da média geral. Entre 2004 e 2013, segundo os dados da EPE, as altas foram de 59% e 68,5%, respectivamente. Considerando somente os dois pri-meiros meses deste ano, enquanto o consumo total aumen-tou 6,8% em relação ao mesmo período de 2013, a demanda das residências avançou 10,6%, e a do comércio, 12%. Esse perfil de evolução reflete o aumento da renda das classes C e D nos últimos anos, que turbinou as vendas do varejo e ampliou o uso de eletrodomésticos entre a população. No iní-cio deste ano, a tendência foi acentuada pela forte onda de calor que atingiu vastas regiões do país, provocando a utiliza-ção mais intensa de ventiladores e aparelhos de ar-condicionado em residências e instalações comerciais.

Chama a atenção, porém, o baixo índice de crescimento do consumo industrial, de 1,2% no bimestre, e de apenas 1% em 12 meses. Reflexo do ritmo fraco de atividade do setor, a baixa demanda da indústria, que absorve quase 40% da car-ga do sistema, vem contribuindo para evitar problemas mais agudos no fornecimento de energia. Para o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elé-trica (Abraceel), Reginaldo Almeida de Medeiros, caso o PIB do país estivesse se expandindo a taxas mais robustas, a situação seria outra. “Considerando a demanda atual, com uma economia rodando em baixa escala, o parque térmico atende. Mas é uma situação não muito fácil de ser adminis-trada, pois estamos utilizando toda a energia térmica dispo-nível”, afirma.

Custo maior – Se tem sido capaz de evitar o racionamento de energia de imediato, o uso intensivo das usinas térmicas está provocando um forte aumento dos custos de operação do sistema elétrico, cujos efeitos ainda não estão totalmente dimensionados. O problema atingiu fortemente as distribui-

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Estamos maispreparados?

cenário traçado para as chuvas nas bacias que abastecem os principais reservatórios do país, afirma o comitê, haveria difi-culdade de suprimento de energia em 2014.

A confiança do governo se baseia no fato de que, diferen-temente de 2001, o país conta hoje com um parque de gera-ção térmica capaz de atender quase um terço da demanda nacional, independentemente do regime de chuvas. Com isso, mesmo com os reservatórios das hidrelétricas em níveis muito baixos, o país teria condições de atravessar o período seco, entre maio e novembro, quando o armazenamento de água deve cair ainda mais, sem a necessidade de medidas inci-sivas de contenção do consumo.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME, responsável pelo planejamento do setor, desde a crise de abastecimento do início do século, a capacidade de geração nacional de energia aumentou acima da demanda. Conforme os dados da estatal, de 2001 a 2013 o consumo cresceu 50%, mas a capacidade instalada aumen-tou 72%. Somente depois de 2005, de acordo com os dados da empresa, os leilões para a contratação de energia permiti-ram um acréscimo de 67,4 MW de capacidade no sistema, ain-da que nem tudo tenha sido ainda entregue. Cerca de metade dessa capacidade nova é de usinas térmicas.

A expansão, na avaliação da EPE, decorreu em grande parte de mudanças no marco regulatório do setor, em 2004, que estimularam os investimentos em geração e distribuição. Com as novas regras, os projetos de geração passaram a con-tar com garantia de demanda das distribuidoras, o que deu mais segurança aos investimentos. As mudanças permitiram ainda que a rede de transmissão fosse ampliada. Hoje, exis-tem 116 mil quilômetros de linhas, o que permite a transfe-rência de carga de uma bacia para outra, em caso de necessi-dade. Em 2001, por exemplo, boa parte da energia produzida na Região Sul não pôde ser dirigida para o mercado do Sudes-te por falta de canais de transmissão.

RUMOS - 20 – Março/Abril 2014 RUMOS - 21 – Março/Abril 2014

Marco regulatório de 2004 permitiu a ampliação da rede de transmisão: três anos antes, a energia produzida na Região Sul não pôde ser dirigida para o mercado do Sudeste por falta de canais de transmissão.

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escassez de chuvas dos últimos meses fez renascer os temores sobre a possibilidade de racionamento de energia no país e reacendeu discussões sobre a confiabilidade do sistema elétrico. A redução do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas nas

regiões Sudeste e Centro-Oeste, que concentram 70% do armazenamento de água do Sistema Interligado Nacional (SIN), levou analistas, empresas de consultoria e empresários do setor a alertar para o risco de o país passar novamente pela situação vivida em 2001, quando, devido a um quadro hidro-lógico bastante adverso, residências, estabelecimentos comer-ciais e indústrias foram induzidos pelo governo a reduzir o consumo médio em 20%.

No primeiro trimestre de 2014, os índices de chuvas no Sudeste/Centro-Oeste foram os mais baixos das últimas décadas, sendo os de fevereiro os piores em 80 anos. O mês de março terminou com os reservatórios da região com ape-nas 36,27% de sua capacidade, nível bastante próximo dos registrados em há 13 anos nessa mesma época, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão res-ponsável pelo gerenciamento do SIN. Como aproximada-mente 64% da capacidade de geração de energia do país é baseada em hidrelétricas, empresários e grandes consumido-res de energia se colocaram em alerta. O governo, no entanto, sustenta que não há motivos para temer o pior.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados em 19 de março, o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, admitiu que a que-da na capacidade de geração das hidrelétricas acendeu um “sinal amarelo”, mas descartou o risco de racionamento de energia. Na avaliação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), colegiado formado por seis órgãos oficiais ligados ao setor, o sistema “apresenta-se estrutural-mente equilibrado, com sobras em termos de balanço ener-gético”. Somente em caso de agravamento ainda maior do

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R REPORTAGEM ENERGIA

Por André Tennitz

Apesar de os reservatórios hidrelétricos estarem operando a níveis muito próximos aos de 2001, são poucos os que acreditam que o país possa viver um cenário de racionamento de energia em 2014. A Rumos buscou as explicações de governo e especialistas para entender o que, afinal, diferencia esses dois momentos

doras, que acumulam vultosos déficits de caixa por causa do descasamento entre os custos de fornecimento de eletricida-de e as receitas tarifárias. O descompasso se tornou ainda mais acentuado porque muitas delas não têm todo o supri-mento garantido por contratos de médio e logo prazos com as geradoras e, por isso, vem precisando recorrer ao mercado livre, onde o preço disparou. Desde fevereiro, o custo por MW se mantém em R$ 822,83, valor máximo definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A estimativa é que o volume de energia a descoberto das distribuidoras che-gue a 3,2 GW, o que gerou um passivo da ordem de R$ 10 bilhões nos três primeiros meses do ano.

Reginaldo de Medeiros calcula que, se houvesse uma diminuição de apenas 5% no consumo total de energia, seria possível obter uma redução de 70% no custo das térmicas. Outro problema, aponta, é que essas usinas, em operação de forma praticamente continua desde outubro de 2012, preci-sam parar em algum momento para que seja feita a manuten-ção das máquinas.

Na avaliação do professor Nivalde de Castro, coordenador do grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universida-de Federal do Rio de Janeiro, o sistema elétrico assume cada vez mais as características de um modelo hidrotérmico. A médio prazo, diz ele, a elevação dos custos vai necessariamente acarretar a alta dos preços para oS consumidores cativos. Para impedir o repasse imediato às tarifas, a estratégia do governo tem sido a de diferir esse aumento pelos próximos anos, perío-do em que conta com a melhoria do regime de chuvas, a entra-da em operação de novas usinas e a geração de energia a custos menores para compensar as pressões atuais.

Em março, os Ministérios da Fazenda e de Minas e Ener-gia anunciaram um pacote de mais de R$ 15 bilhões para socorrer as distribuidoras, dos quais R$ 4 bilhões em repas-ses diretos do Tesouro e R$ 11,2 bilhões em empréstimo a ser contratado no sistema bancário pela Câmara de Comerci-

Consumo – O consumo de energia no país vem aumentan-do fortemente nos segmentos residencial e comercial, que mostram desempenho acima da média geral. Entre 2004 e 2013, segundo os dados da EPE, as altas foram de 59% e 68,5%, respectivamente. Considerando somente os dois pri-meiros meses deste ano, enquanto o consumo total aumen-tou 6,8% em relação ao mesmo período de 2013, a demanda das residências avançou 10,6%, e a do comércio, 12%. Esse perfil de evolução reflete o aumento da renda das classes C e D nos últimos anos, que turbinou as vendas do varejo e ampliou o uso de eletrodomésticos entre a população. No iní-cio deste ano, a tendência foi acentuada pela forte onda de calor que atingiu vastas regiões do país, provocando a utiliza-ção mais intensa de ventiladores e aparelhos de ar-condicionado em residências e instalações comerciais.

Chama a atenção, porém, o baixo índice de crescimento do consumo industrial, de 1,2% no bimestre, e de apenas 1% em 12 meses. Reflexo do ritmo fraco de atividade do setor, a baixa demanda da indústria, que absorve quase 40% da car-ga do sistema, vem contribuindo para evitar problemas mais agudos no fornecimento de energia. Para o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elé-trica (Abraceel), Reginaldo Almeida de Medeiros, caso o PIB do país estivesse se expandindo a taxas mais robustas, a situação seria outra. “Considerando a demanda atual, com uma economia rodando em baixa escala, o parque térmico atende. Mas é uma situação não muito fácil de ser adminis-trada, pois estamos utilizando toda a energia térmica dispo-nível”, afirma.

Custo maior – Se tem sido capaz de evitar o racionamento de energia de imediato, o uso intensivo das usinas térmicas está provocando um forte aumento dos custos de operação do sistema elétrico, cujos efeitos ainda não estão totalmente dimensionados. O problema atingiu fortemente as distribui-

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cenário traçado para as chuvas nas bacias que abastecem os principais reservatórios do país, afirma o comitê, haveria difi-culdade de suprimento de energia em 2014.

A confiança do governo se baseia no fato de que, diferen-temente de 2001, o país conta hoje com um parque de gera-ção térmica capaz de atender quase um terço da demanda nacional, independentemente do regime de chuvas. Com isso, mesmo com os reservatórios das hidrelétricas em níveis muito baixos, o país teria condições de atravessar o período seco, entre maio e novembro, quando o armazenamento de água deve cair ainda mais, sem a necessidade de medidas inci-sivas de contenção do consumo.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao MME, responsável pelo planejamento do setor, desde a crise de abastecimento do início do século, a capacidade de geração nacional de energia aumentou acima da demanda. Conforme os dados da estatal, de 2001 a 2013 o consumo cresceu 50%, mas a capacidade instalada aumen-tou 72%. Somente depois de 2005, de acordo com os dados da empresa, os leilões para a contratação de energia permiti-ram um acréscimo de 67,4 MW de capacidade no sistema, ain-da que nem tudo tenha sido ainda entregue. Cerca de metade dessa capacidade nova é de usinas térmicas.

A expansão, na avaliação da EPE, decorreu em grande parte de mudanças no marco regulatório do setor, em 2004, que estimularam os investimentos em geração e distribuição. Com as novas regras, os projetos de geração passaram a con-tar com garantia de demanda das distribuidoras, o que deu mais segurança aos investimentos. As mudanças permitiram ainda que a rede de transmissão fosse ampliada. Hoje, exis-tem 116 mil quilômetros de linhas, o que permite a transfe-rência de carga de uma bacia para outra, em caso de necessi-dade. Em 2001, por exemplo, boa parte da energia produzida na Região Sul não pôde ser dirigida para o mercado do Sudes-te por falta de canais de transmissão.

RUMOS - 20 – Março/Abril 2014 RUMOS - 21 – Março/Abril 2014

Marco regulatório de 2004 permitiu a ampliação da rede de transmisão: três anos antes, a energia produzida na Região Sul não pôde ser dirigida para o mercado do Sudeste por falta de canais de transmissão.

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RUMOS - 22 – Março/Abril 2014

R REPORTAGEM

alização de Energia Elétrica (CCEE), com a garantia das receitas futuras das empresas de dis-tribuição. Além disso, para diminuir a exposição das distribuidoras ao mercado de curto prazo, o MME decidiu promover em abril um leilão extraordinário para a contratação, em caráter

emergencial, de energia já existente no sistema.A médio prazo, o governo conta ainda com a relicitação

das hidrelétricas que tiveram as concessões renovadas para reduzir o impacto da alta de tarifas. Segundo o MME, em 2015 cerca de 5 mil MW passarão a ser fornecidos a custos bem mais baixos que os atuais, já que as novas concessionárias serão remuneradas nos termos da Lei 12.783, ou seja, apenas pela operação e não mais pelos investimentos, que já foram amortizados. Além disso, a expectativa é de que outras fontes comecem a abastecer o sistema a partir do próximo ano, como a ligação de novas turbinas nas usinas de Jirau e Santo Antô-nio, no rio Madeira (RO), e o início das operações de Belo Monte, no rio Xingu (PA), em 2016.

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Ano

61.06362.40964.47367.69869.08771.05973.67976.86977.54578.61080.70382.45984.29486.019

Hidro

10.62310.48113.81316.13019.55619.77020.37221.22922.99925.35028.76231.24332.77538.529

Termo

1.9661.9662.0072.0072.0072.0072.0072.0072.0072.0072.0072.0072.0072.007

Nuclear

    19 21 22 22 29 29 237 247 398 602 9281.4261.8942.202

Eólica

73.671 74.877 80.315 85.857 90.679 92.865 96.295100.352102.949106.509112.400117.135120.973126.755

Total

Capacidade instalada de geração (MW)

Térmicas têm a maior expansão

Fontes: Balanço Energético Nacional/Empresa de Pesquisa Energética(EPE). Dados de 2013 do Comitê de Monitoramento do Setorelétrico (CMSE).

ENERGIA

Mesmo com maior capacidade, analistas lembram que o sistema não tem condições de garantir o abastecimento em qualquer situação hidrológica. Segundo a EPE, estrutural-mente, o sistema ainda possui uma folga de aproximadamen-te 6 mil MW entre capacidade de geração e consumo, o que permite classificar como baixo risco de cortes no forneci-mento. Consultorias privadas, no entanto, calculam que as chances de o sistema não conseguir atender plenamente a demanda são bem maiores. No final de março, um relatório do Citibank afirmou que a possibilidade de o país ter que raci-onar energia é praticamente certa: 94%. Mesmo consideran-do cenários menos desfavoráveis, boa parte dos analistas acredita que seria melhor adotar logo medidas de racionali-zação do consumo antes que o quadro se agrave ainda mais.

“Se a média histórica de precipitação pluviométrica con-tinuar baixa, o governo terá que tomar a decisão de determi-nar políticas de redução de consumo. Na nossa avaliação, o Ministério de Minas e Energia já deveria ter adotado medidas voluntárias, simples e diretas, que diminuiriam o consumo e preservariam os reservatórios para o período seco de maio a novembro, quando a série histórica indica que as chuvas são poucas”, afirma o professor Nivalde de Castro, da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Castro reconhece que o sistema elétrico hoje é mais con-fiável do que em 2001, em função do planejamento que esti-mulou a construção das térmicas. “No entanto, como nossa matriz é predominantemente hidrelétrica, o risco hidrológi-co é inerente. E, como estamos enfrentando uma crise climá-tico-hidrológica de grandes proporções, falta ‘combustível’ – água – para nossas usinas”, salienta.

Calendário político – O presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, observa que a tomada de decisões pelo

governo está sendo fortemente influenciada pelo calendário político, num ano em que o país vai estar exposto à atenção mundial por sediar a Copa do Mundo de Futebol. Por isso, não acredita que sejam adotadas ações restritivas ao consu-mo, que teriam ampla repercussão negativa, antes das elei-ções de outubro.

Na avaliação dele, embora o clima adverso tenha tido papel fundamental na configuração do atual quadro de incer-tezas, a situação foi agravada pelo que classifica como um “so-matório de erros” cometidos em anos recentes. Entre eles, Mello destaca a Medida Provisória 579, de setembro de 2012, que pressionou geradoras e empresas de transmissão de ener-gia a antecipar a renovação, em bases tarifárias mais baixas, de contratos de concessão que venceriam entre 2015 e 2017. O objetivo era obter uma diminuição média de 20% nas tari-fas para os consumidores, atendendo um antigo pleito de setores da indústria.

Além de reduzir a receita das concessionárias, a MP, pos-teriormente convertida na Lei 12.783/2013, indenizou as empresas pelos ativos existentes em valores abaixo dos pre-tendidos. Para Mello, a medida, que atingiu pesadamente a federal Eletrobras e pequenas centrais (grandes geradoras estaduais como Cesp e Cemig não aceitaram os termos pro-postos), limitou a capacidade de investimento dos agentes que já participam do mercado e tirou a confiança de novos investidores. “O setor percebeu que ficou vulnerável à caneta do poder”, resume. Além de ter efeito patrimonial e financei-ro negativo sobre as empresas – somente a Eletrobras, con-troladora das gigantes Chesf Furnas e Eletronorte, fechou balanços com prejuízo acumulado de R$ 13,2 bilhões em 2012 e 2103 –, a decisão de cortar as tarifas emitiu um sinal econômico que induziu ao aumento do consumo, num cená-rio que já era de demanda crescente.

Críticas ao governo

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Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) vem passando por uma série de refor-mulações na área de Recursos Humanos e ado-tando ações que potencializam a gestão de RH, como o Novo Plano de Cargos e Salários (PCS),

o Novo Plano de Funções Gratificadas, o Programa Crescer com a AgeRio (de capacitação), o Programa Qualidade de Vida e a Gestão por Competências. O concurso público em andamento já contempla todos os aspectos da nova orienta-ção definida no planejamento estratégico da agência. “Todo trabalho é fruto do Programa Modernizar para Competir, que colocamos em curso desde o início da nova gestão da agência”, afirmou Helia Azevedo, diretora de Administração e Finanças da instituição.

“Quando chegamos à AgeRio, em julho de 2012, encon-tramos uma equipe com níveis de conhecimento e formação elevados – a maior parte tinha nível superior e pós-graduação. Mas, por meio de um diagnóstico elaborado por consultoria especializada, foi identificado que, apesar dos altos níveis de competência e formação, havia elevado turn over, por faltar uma perspectiva de trajetória profissional”. Segundo Helia, o plano de cargos e salários existente naquela época não possibilitava a retenção de talentos.

Outra questão ressaltada pela diretora era a inexistência de um regime de alçadas, o que fazia com que as decisões do dia a dia fossem praticamente centralizadas na Diretoria. As funções eram integradas pelos cargos de “chefia de departa-mento” e de “assessor comissionado”, sem poder deliberati-vo, e com uma política de remuneração desalinhada das prá-ticas do mercado, situação incompatível com os novos desa-fios organizacionais da empresa.

Assim, o PCS foi pensado visando ao alinhamento com o futuro da agência, no âmbito do planejamento estratégico, pois, de acordo com a diretora, foi identificada a necessidade de se investir no principal ativo da empresa: as pessoas.

“Quando desenhamos o planejamento estratégico, vimos a oportunidade de se desenvolver um plano de cargos e salários sob a ótica da missão, da visão e dos valores, que foram revisa-

Por Carmen Nery

RUMOS - 24 – Março/Abril 2014 RUMOS - 25 – Março/Abril 2014

MUDANÇAS

Diretora da Agência Estadual de Fomento (AgeRio) fala sobre as mudanças que a instituição está promovendo para o aprimoramento dos processos da área de Recursos Humanos; iniciativas incluem um novo Plano de Cargos e Salários (PCS), renovação na estrutura de gestão e investimento em capacitação da equipe.

C CENÁRIOS DO RIO

Ados. Seguramente um dos pontos mais importantes para uma boa e adequada gestão de recursos humanos é a existência de um Plano de Cargos e Salários aderente à dinâmica, estratégia e eficiência dos negócios da organização. O valor do conheci-mento de cada pessoa contribui para o crescimento da organi-zação e pode ser maior ou menor de acordo com as políticas e práticas de gestão aplicadas”, complementou Helia.

Planejamento Estratégico – Sobre o Planejamento Estratégico foram definidos objetivos e projetos que propi-ciarão a concretização da missão da agência: “Fomentar, por meio de soluções financeiras, o desenvolvimento sustentá-vel do estado do Rio de Janeiro, com excelência na prestação de serviços”. Como ação decorrente, foi revisado o Estatu-to da Agência para adequá-lo à nova visão empresarial, per-mitindo a criação de Comitês deliberativos e a adoção de Regimes de Alçadas, dentre outras ordenações. Já no campo das pessoas, foram ressaltados dois objetivos: formação e capacitação dos empregados (Programa Crescer com a Age-Rio) e o projeto PCS.

Um dos pontos de atenção foi pensar num PCS que pudesse ter regras de movimentação salarial, possibilidade de carreira e mecanismos para atrair, manter e desenvolver pro-fissionais com as competências adequadas aos desafios da AgeRio. “Estruturamos um PCS apoiado em premissas que contemplem captação e retenção de talentos e, ainda, a melhoria do clima organizacional, levando a ganhos de pro-dutividade”, reforçou Helia.

Fizeram parte das etapas de elaboração do PCS entrevis-tas para diagnosticar os processos, as competências e as atri-buições, cujo objetivo era mapear os cargos que seriam neces-sários à empresa na visão do seu negócio. Para a diretora, este mapeamento foi fundamental para o melhor entendimento do negócio da empresa.

A partir desse levantamento, foram identificadas duas categorias de carreiras específicas e com competências pró-prias – a profissional e a de analista de desenvolvimento, cate-gorias consideradas estratégicas para a restauração da empre-

sa, revisão de seus processos e definição do setor jurídico e o de engenharia, além dos macro espaços de atuação: financei-ro, administrativo, operacional e de controladoria.

Além das duas categorias, foram criados quatro níveis (verticais) – júnior, pleno, sênior e especialista –, e uma régua de seis graus (horizontais) para cada nível. O candidato apro-vado é admitido no nível júnior, enquanto o enquadramento por níveis se dá por promoção, e a evolução nos seis graus horizontais, por progressão. Essa evolução de carreira ocorre por meio de uma avaliação de desempenho, pois o PCS traz uma nova sistemática de gestão por competências.

“A partir de três anos, o profissional tem oportunidade de crescer na visão da promoção de níveis. A média de mercado é de cinco anos. Já há um grupo que, em 2015, passará a ser ele-gível à promoção (nível). A gestão por competência avalia conhecimento, habilidade e atitude”, esclareceu Helia.

Helia explica ainda que foi contemplada a integração de profissionais que entraram na empresa por meio de concurso para nível médio – cargo que foi extinto no novo plano. Ape-sar de terem entrado para o cargo de nível médio, todos tinham nível superior. “A tabela salarial foi mantida, mas cria-mos o cargo de assistente administrativo, respeitando todas as atribuições do cargo original e permitindo que eles pudes-sem aderir ao novo plano”, disse Helia.

A análise de todos os postos de trabalho da empresa per-mitiu a definição de uma estrutura de cargos e salários mais compatível com os conceitos modernos de gestão de pessoas. Há possibilidade de crescimento e gestão de carreira tanto para profissionais que venham ingressar na empresa, como para aqueles que já fazem parte do seu quadro de pessoal.

Gestão – Em paralelo ao plano de cargos e salários foi cri-ado um Plano de Funções Gratificadas (PFG). Esse plano veio no bojo de uma nova estrutura organizacional, permitin-do a instalação dos Comitês Estatutários e a implementação do Regime de Alçadas. Com o PFG foram criados dois níveis gerenciais: superintendente e gerente executivo. No mesmo nível hierárquico do gerente executivo há, ainda, o gerente regional de negócios, que representa a empresa nas regiões onde ela está presente. “Hoje 54% das funções gratificadas gerenciais são ocupadas por concursados”.

Os planos tiveram aprovação do Conselho de Adminis-tração da empresa e foram divulgados para todo corpo fun-cional. O novo PCS ficou aberto à adesão por trinta dias. Nesse período foram feitas palestras para elucidar as mudanças, os trilhos de carreira e a nova tabela salarial, a fim de que as pessoas pudessem fazer suas escolhas.

Crescer – Outro objetivo estratégico foi a busca de capaci-tação por meio do Programa Crescer com a AgeRio. Para muni-ciar a iniciativa, foram realizadas entrevistas com os gestores. A

partir das entrevistas, foram definidas quatro dimensões com ações educacionais dirigidas à formação: de Líderes, Negocial, de Sustentação ao Negócio e Geral. O programa está sendo executado por meio de três formas básicas. A primeira é o trei-namento in company com conteúdo específico para a agência. A segunda inclui cursos de mercado que tenham aderência com o negócio da instituição. E, por fim, a terceira, que, por meio de parcerias e convênios com a Universidade Caixa, já permitiu criar o Portal Educacional AgeRio, com cursos de ensino a dis-tância e presencial para formação de líderes.

Como extensão das reformulações de RH, será criado o Programa Qualidade de Vida, com diversas ações direcionadas a bem-estar, saúde e cidadania. Segundo Cinthia Bastos, supe-rintendente de Gestão de Pessoas, o programa contará com ações voltadas, inicialmente, ao bem-estar, como sessões de shi-atsu e massagem laboral no ambiente de trabalho. Outra ideia é a ginástica com técnicas de alongamento para que os emprega-dos corrijam a postura inadequada. “Haverá também palestras sobre ergonomia, hábitos saudáveis e estímulos a cuidados bási-cos da saúde. E vamos discutir com outras áreas as ações volta-das a cidadania e questões ambientais. A ideia é que os progra-mas sejam sustentáveis”, concluiu Cinthia.

Foco nas pessoas

Helia Azevedo, diretora de Administração e Finanças

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Page 25: Rumos 274

Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) vem passando por uma série de refor-mulações na área de Recursos Humanos e ado-tando ações que potencializam a gestão de RH, como o Novo Plano de Cargos e Salários (PCS),

o Novo Plano de Funções Gratificadas, o Programa Crescer com a AgeRio (de capacitação), o Programa Qualidade de Vida e a Gestão por Competências. O concurso público em andamento já contempla todos os aspectos da nova orienta-ção definida no planejamento estratégico da agência. “Todo trabalho é fruto do Programa Modernizar para Competir, que colocamos em curso desde o início da nova gestão da agência”, afirmou Helia Azevedo, diretora de Administração e Finanças da instituição.

“Quando chegamos à AgeRio, em julho de 2012, encon-tramos uma equipe com níveis de conhecimento e formação elevados – a maior parte tinha nível superior e pós-graduação. Mas, por meio de um diagnóstico elaborado por consultoria especializada, foi identificado que, apesar dos altos níveis de competência e formação, havia elevado turn over, por faltar uma perspectiva de trajetória profissional”. Segundo Helia, o plano de cargos e salários existente naquela época não possibilitava a retenção de talentos.

Outra questão ressaltada pela diretora era a inexistência de um regime de alçadas, o que fazia com que as decisões do dia a dia fossem praticamente centralizadas na Diretoria. As funções eram integradas pelos cargos de “chefia de departa-mento” e de “assessor comissionado”, sem poder deliberati-vo, e com uma política de remuneração desalinhada das prá-ticas do mercado, situação incompatível com os novos desa-fios organizacionais da empresa.

Assim, o PCS foi pensado visando ao alinhamento com o futuro da agência, no âmbito do planejamento estratégico, pois, de acordo com a diretora, foi identificada a necessidade de se investir no principal ativo da empresa: as pessoas.

“Quando desenhamos o planejamento estratégico, vimos a oportunidade de se desenvolver um plano de cargos e salários sob a ótica da missão, da visão e dos valores, que foram revisa-

Por Carmen Nery

RUMOS - 24 – Março/Abril 2014 RUMOS - 25 – Março/Abril 2014

MUDANÇAS

Diretora da Agência Estadual de Fomento (AgeRio) fala sobre as mudanças que a instituição está promovendo para o aprimoramento dos processos da área de Recursos Humanos; iniciativas incluem um novo Plano de Cargos e Salários (PCS), renovação na estrutura de gestão e investimento em capacitação da equipe.

C CENÁRIOS DO RIO

Ados. Seguramente um dos pontos mais importantes para uma boa e adequada gestão de recursos humanos é a existência de um Plano de Cargos e Salários aderente à dinâmica, estratégia e eficiência dos negócios da organização. O valor do conheci-mento de cada pessoa contribui para o crescimento da organi-zação e pode ser maior ou menor de acordo com as políticas e práticas de gestão aplicadas”, complementou Helia.

Planejamento Estratégico – Sobre o Planejamento Estratégico foram definidos objetivos e projetos que propi-ciarão a concretização da missão da agência: “Fomentar, por meio de soluções financeiras, o desenvolvimento sustentá-vel do estado do Rio de Janeiro, com excelência na prestação de serviços”. Como ação decorrente, foi revisado o Estatu-to da Agência para adequá-lo à nova visão empresarial, per-mitindo a criação de Comitês deliberativos e a adoção de Regimes de Alçadas, dentre outras ordenações. Já no campo das pessoas, foram ressaltados dois objetivos: formação e capacitação dos empregados (Programa Crescer com a Age-Rio) e o projeto PCS.

Um dos pontos de atenção foi pensar num PCS que pudesse ter regras de movimentação salarial, possibilidade de carreira e mecanismos para atrair, manter e desenvolver pro-fissionais com as competências adequadas aos desafios da AgeRio. “Estruturamos um PCS apoiado em premissas que contemplem captação e retenção de talentos e, ainda, a melhoria do clima organizacional, levando a ganhos de pro-dutividade”, reforçou Helia.

Fizeram parte das etapas de elaboração do PCS entrevis-tas para diagnosticar os processos, as competências e as atri-buições, cujo objetivo era mapear os cargos que seriam neces-sários à empresa na visão do seu negócio. Para a diretora, este mapeamento foi fundamental para o melhor entendimento do negócio da empresa.

A partir desse levantamento, foram identificadas duas categorias de carreiras específicas e com competências pró-prias – a profissional e a de analista de desenvolvimento, cate-gorias consideradas estratégicas para a restauração da empre-

sa, revisão de seus processos e definição do setor jurídico e o de engenharia, além dos macro espaços de atuação: financei-ro, administrativo, operacional e de controladoria.

Além das duas categorias, foram criados quatro níveis (verticais) – júnior, pleno, sênior e especialista –, e uma régua de seis graus (horizontais) para cada nível. O candidato apro-vado é admitido no nível júnior, enquanto o enquadramento por níveis se dá por promoção, e a evolução nos seis graus horizontais, por progressão. Essa evolução de carreira ocorre por meio de uma avaliação de desempenho, pois o PCS traz uma nova sistemática de gestão por competências.

“A partir de três anos, o profissional tem oportunidade de crescer na visão da promoção de níveis. A média de mercado é de cinco anos. Já há um grupo que, em 2015, passará a ser ele-gível à promoção (nível). A gestão por competência avalia conhecimento, habilidade e atitude”, esclareceu Helia.

Helia explica ainda que foi contemplada a integração de profissionais que entraram na empresa por meio de concurso para nível médio – cargo que foi extinto no novo plano. Ape-sar de terem entrado para o cargo de nível médio, todos tinham nível superior. “A tabela salarial foi mantida, mas cria-mos o cargo de assistente administrativo, respeitando todas as atribuições do cargo original e permitindo que eles pudes-sem aderir ao novo plano”, disse Helia.

A análise de todos os postos de trabalho da empresa per-mitiu a definição de uma estrutura de cargos e salários mais compatível com os conceitos modernos de gestão de pessoas. Há possibilidade de crescimento e gestão de carreira tanto para profissionais que venham ingressar na empresa, como para aqueles que já fazem parte do seu quadro de pessoal.

Gestão – Em paralelo ao plano de cargos e salários foi cri-ado um Plano de Funções Gratificadas (PFG). Esse plano veio no bojo de uma nova estrutura organizacional, permitin-do a instalação dos Comitês Estatutários e a implementação do Regime de Alçadas. Com o PFG foram criados dois níveis gerenciais: superintendente e gerente executivo. No mesmo nível hierárquico do gerente executivo há, ainda, o gerente regional de negócios, que representa a empresa nas regiões onde ela está presente. “Hoje 54% das funções gratificadas gerenciais são ocupadas por concursados”.

Os planos tiveram aprovação do Conselho de Adminis-tração da empresa e foram divulgados para todo corpo fun-cional. O novo PCS ficou aberto à adesão por trinta dias. Nesse período foram feitas palestras para elucidar as mudanças, os trilhos de carreira e a nova tabela salarial, a fim de que as pessoas pudessem fazer suas escolhas.

Crescer – Outro objetivo estratégico foi a busca de capaci-tação por meio do Programa Crescer com a AgeRio. Para muni-ciar a iniciativa, foram realizadas entrevistas com os gestores. A

partir das entrevistas, foram definidas quatro dimensões com ações educacionais dirigidas à formação: de Líderes, Negocial, de Sustentação ao Negócio e Geral. O programa está sendo executado por meio de três formas básicas. A primeira é o trei-namento in company com conteúdo específico para a agência. A segunda inclui cursos de mercado que tenham aderência com o negócio da instituição. E, por fim, a terceira, que, por meio de parcerias e convênios com a Universidade Caixa, já permitiu criar o Portal Educacional AgeRio, com cursos de ensino a dis-tância e presencial para formação de líderes.

Como extensão das reformulações de RH, será criado o Programa Qualidade de Vida, com diversas ações direcionadas a bem-estar, saúde e cidadania. Segundo Cinthia Bastos, supe-rintendente de Gestão de Pessoas, o programa contará com ações voltadas, inicialmente, ao bem-estar, como sessões de shi-atsu e massagem laboral no ambiente de trabalho. Outra ideia é a ginástica com técnicas de alongamento para que os emprega-dos corrijam a postura inadequada. “Haverá também palestras sobre ergonomia, hábitos saudáveis e estímulos a cuidados bási-cos da saúde. E vamos discutir com outras áreas as ações volta-das a cidadania e questões ambientais. A ideia é que os progra-mas sejam sustentáveis”, concluiu Cinthia.

Foco nas pessoas

Helia Azevedo, diretora de Administração e Finanças

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RUMOS - 27 –Março/Abril 2014 RUMOS - 26 – Março/Abril 2014

Por Carmen Nery

REGIONAL

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Recriação de órgão nos moldes da extinta Sudesul, em fase de estudos, coroa fase de expressivo crescimento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE); história do banco se confunde com o desenvolvimento econômico da região

Novo impulso ao fomento

E EX

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riado em 1961, o Banco Regional de Desenvol-vimento do Extremo Sul (BRDE) consolidou-se como o banco de referência em crédito de longo prazo e teve papel fundamental para o desenvolvimento econômico dos estados do

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Desde 2009 passou a atender também ao Mato Grosso do Sul, que ingressou no Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul). Hoje, o BRDE possui contratos vigentes em 1.056 cidades, número equivalente a 88,7% dos municípios da região. E essa atuação de fomento ao desenvolvimento deverá ser fortalecida.

No final do ano passado, o Codesul determinou que o BRDE formatasse um estudo para a recriação de um órgão nos moldes da extinta Superintendência de Desenvolvimen-to da Região Sul (Sudesul), num modelo similar aos da Supe-rintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Su-dam). O foco é o desenvolvimento regional, com investi-mento em grandes projetos de infraestrutura – ferrovias, por-tos, estradas – e ampliação do apoio a empreendedores de todos os portes.

Segundo o diretor-presidente do BRDE, Jorge Gomes Rosa Filho, o estudo propõe duas fontes de recursos: a edi-ção de uma medida provisória para incluir a nova superinten-dência no Orçamento Geral da União e uma emenda para a criação de um fundo constitucional a ser alimentado por 1,2% dos recursos que a União arrecada com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto de Renda (IR).

“É importante frisar que o novo órgão de desenvolvi-mento não terá estrutura grande e própria. O estudo prepa-rado pelo corpo técnico do BRDE prevê uma superinten-dência formada por servidores das secretarias de Planeja-mento dos estados do Sul apoiados por colaboradores do banco e utilizando a estrutura física da instituição financeira

de fomento. A meta é que, com o pleno funcionamento da entidade, os produtores rurais, cooperativas, empreendedo-res, empresas e indústrias parem de se preocupar com os altos custos gerados pela falta de infraestrutura e com a deficiência logística. Nossa economia ganhará competitividade no mer-cado global. Hoje, da porta para dentro, os produtores e empresas da região são competitivos. Da porta para fora, o poder público não consegue criar as condições necessárias para que os produtos não ganhem um adicional de custo pela falta de infraestrutura”, diz Gomes Rosa.

A trajetória do BRDE se confunde com o próprio desen-volvimento econômico da Região Sul. O presidente do banco explica que a finalidade da instituição é atuar como o braço financeiro dos estados do Codesul em suas políticas públicas de desenvolvimento. Nos anos 1960, o Sul do Brasil estava ini-ciando seu processo de industrialização, o que permitiu à ins-tituição participar desse desenvolvimento tendo como slo-gan “Parceiro para crescer”.

Cooperativismo – Foi assim também que o banco viu nascer e apoiou, desde o início, o cooperativismo, marca forte da eco-nomia regional. Com suas linhas de financiamento, apoiou a fundação e o desenvolvimento das cooperativas agrícolas em várias etapas. No princípio, as cooperativas apenas armaze-navam a sua produção e o BRDE esteve presente financiando a construção de armazéns.

A partir dos anos 1970, as cooperativas passaram a agre-gar valor aos produtos agropecuários, industrializando o que antes só era armazenado. Gomes Rosa destaca que a evolu-ção do agronegócio na Região Sul é orgulho para o país. “Ho-je podemos ver em cooperativas de sucesso, a exemplo da Coamo, que tem um mapa que aponta os produtos saindo de Campo Mourão, no Paraná, para diversas partes do mundo, como Pequim, na China, e Ottawa, no Canadá. A empresa compete com as multinacionais de alimentos graças à sua

capacidade de agregar qualidade, preço e tec-nologia de uma forma extraordinária”, diz o diretor-presidente do BRDE.

O banco também apoiou a organização da economia dos estados da região. No Para-ná, o Sistema Ocepar é formado por três sociedades distintas, sem fins lucrativos, que, em estreita parceria, se dedicam à repre-sentação, ao fomento, à defesa sindical, ao desenvolvimento, à capacitação e à promo-ção social das cooperativas paranaenses: o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperati-vismo do Paraná (Sescoop-PR) e a Federa-ção e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Fecoopar).

Segundo João Paulo Koslovski, presidente do Sistema Ocepar, as cooperativas – participando dos diversos ciclos econômicos do estado do Paraná – foram sendo estruturadas em setores específicos da economia rural e urbana, principal-mente nas áreas da agropecuária, crédito, saúde, transporte, infraestrutura, trabalho, educação, consumo, turismo e habi-tação. O Sistema Ocepar coordena um trabalho de represen-tação junto aos governos dos estados e federal nas demandas de crédito e leis de apoio ao cooperativismo.

“É também de orientação técnica, consultiva dos assun-tos ligados ao cooperativismo e tem um papel significativo em capacitação por meio do Sescoop, que já capacitou 151 mil pessoas somente em 2013”, enumera Koslovski.

O cooperativismo paranaense é formado por 240 coope-rativas registradas na Ocepar, com mais de 735 mil coopera-dos e 62.300 colaboradores. As cooperativas faturaram cerca de R$ 43 bilhões no ano de 2013 e congregam em torno de 2 milhões e 500 mil paranaenses. Werner Tschoeke, gerente de Acompanhamento e Recuperação de Créditos da agência do BRDE no Paraná e um dos funcionários mais antigos da ins-tituição, lembra que o cooperativismo no estado é baseado em três modelos. O primeiro é a organização a partir da base de agricultores reunidos na Acarpa, que conta com expoen-tes como a Coamo, C. Vale, Copagril, Copacol, Lar e Coasul. O segundo modelo foi criado de cima para baixo por uma ini-ciativa do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que chegou a reunir mais de 20 cooperativas no norte do Paraná, das quais apenas duas prosperaram: Cocamar e Cocari.

“O terceiro modelo é o étnico, com raízes nas comunida-des de imigrantes europeus, que procuraram organizar estru-turas comuns para compra e venda de sua produção, além de suprirem suas necessidades de consumo e crédito por meio de sociedades cooperativistas”, diz Tschoeke.

“O BRDE sempre foi um banco que acreditou no coo-perativismo e foi o grande indutor da montagem da infraes-trutura das cooperativas. Inicialmente, com o apoio à cons-trução dos armazéns que passaram a dar sustentação ao rece-bimento da safra na década de 1970. E, nos últimos anos, o banco apoiou o desenvolvimento agroindustrial. Em 2013, só no Paraná, as cooperativas investiram R$ 2,1 bilhões, e o

banco foi responsável pelo financiamento de R$ 500 milhões em projetos agroin-dustriais. O BRDE está cumprindo muito bem o seu papel de promover o desenvol-vimento. Quando o banco financia uma cooperativa, atinge milhares de associa-dos”, ressalta o presidente do sistema Oce-par, João Paulo Koslovski.

Resultados – Em um quadro amplo, o desempenho da instituição nos últimos anos é expressivo. Em 2011, o banco cres-ceu 23,2% em relação ao ano de 2010, atin-gindo um montante de R$ 1,7 bilhão em créditos concedidos. Em 2012, o cresci-

mento foi de 68% em relação a 2011, somando R$ 2,9 bilhões em financiamento. E, em 2013, a expansão foi de 28%, num total de R$ 3,8 bilhões em operações de crédito. Os recursos para micro e pequenos produtores alcançaram, no ano passa-do, R$ 116 milhões; para micros e pequenas empresas, somou R$ 616 milhões. As médias empresas receberam R$ 450 milhões; as médias e grandes, outros R$ 194 milhões; e os grandes grupos foram financiados em R$ 1,6 bilhão.

“Em 2013, os R$ 3,8 bilhões de financiamentos resultan-tes de 1.056 contratos de 7,3 mil clientes viabilizaram investi-mentos totais de R$ 6 bilhões. O ICMS recolhido por esses projetos atingiu R$ 426 milhões, e foram gerados 69 mil empregos. Apesar do aumento substancial na concessão de crédito, o ano passado foi excepcional na redução dos índices de inadimplência que chegaram a 1,92% ante 2,97% do siste-ma financeiro nacional. Outro fato marcante de 2013 é que o BRDE é a primeira instituição credenciada pela Finep para operar o programa de inovação Inovacred”, comemora Gomes Rosa.

No ano passado, os três estados controladores do BRDE manifestaram uma posição favorável em capitalizar a institui-ção com aporte de R$ 200 milhões para cada um. Hoje, o capi-tal social da instituição é de R$ 85 milhões e com o aumento de capital passará a R$ 685 milhões. Com isso, o fator de ala-vancagem será aumentado em sete vezes, atingindo R$ 4,2 bilhões. “Nossa meta para 2014 é operar R$ 3 bilhões, um pouco menos que em 2013 em função da elevação da taxa de juros que faz com que haja uma redução na procura pelo cré-dito”, antecipa Gomes Rosa.

O diretor-presidente do BRDE faz questão de distinguir a atuação do banco de fomento em relação aos bancos comerciais. Embora essas instituições financeiras tenham acesso às mesmas linhas de financiamento do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o foco é a concessão de crédito a projetos que representem bai-xo nível de risco e operações em que é assegurado o lucro. Já o BRDE leva em conta as políticas de desenvolvimento dos estados controladores, os fatores sociais e, também, econô-micos. “O BRDE trabalha em conjunto com os governos estaduais para induzir investimentos, para promover e favo-recer a ação da iniciativa privada em áreas carentes de empre-go e com baixos níveis de renda familiar”.

“O BRDE foi o grande indutor da montagem da infraestrutura das

cooperativas”

João Paulo Koslovski, presidente do Sistema Ocepar

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RUMOS - 27 –Março/Abril 2014 RUMOS - 26 – Março/Abril 2014

Por Carmen Nery

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Recriação de órgão nos moldes da extinta Sudesul, em fase de estudos, coroa fase de expressivo crescimento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE); história do banco se confunde com o desenvolvimento econômico da região

Novo impulso ao fomento

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riado em 1961, o Banco Regional de Desenvol-vimento do Extremo Sul (BRDE) consolidou-se como o banco de referência em crédito de longo prazo e teve papel fundamental para o desenvolvimento econômico dos estados do

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Desde 2009 passou a atender também ao Mato Grosso do Sul, que ingressou no Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul). Hoje, o BRDE possui contratos vigentes em 1.056 cidades, número equivalente a 88,7% dos municípios da região. E essa atuação de fomento ao desenvolvimento deverá ser fortalecida.

No final do ano passado, o Codesul determinou que o BRDE formatasse um estudo para a recriação de um órgão nos moldes da extinta Superintendência de Desenvolvimen-to da Região Sul (Sudesul), num modelo similar aos da Supe-rintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Su-dam). O foco é o desenvolvimento regional, com investi-mento em grandes projetos de infraestrutura – ferrovias, por-tos, estradas – e ampliação do apoio a empreendedores de todos os portes.

Segundo o diretor-presidente do BRDE, Jorge Gomes Rosa Filho, o estudo propõe duas fontes de recursos: a edi-ção de uma medida provisória para incluir a nova superinten-dência no Orçamento Geral da União e uma emenda para a criação de um fundo constitucional a ser alimentado por 1,2% dos recursos que a União arrecada com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto de Renda (IR).

“É importante frisar que o novo órgão de desenvolvi-mento não terá estrutura grande e própria. O estudo prepa-rado pelo corpo técnico do BRDE prevê uma superinten-dência formada por servidores das secretarias de Planeja-mento dos estados do Sul apoiados por colaboradores do banco e utilizando a estrutura física da instituição financeira

de fomento. A meta é que, com o pleno funcionamento da entidade, os produtores rurais, cooperativas, empreendedo-res, empresas e indústrias parem de se preocupar com os altos custos gerados pela falta de infraestrutura e com a deficiência logística. Nossa economia ganhará competitividade no mer-cado global. Hoje, da porta para dentro, os produtores e empresas da região são competitivos. Da porta para fora, o poder público não consegue criar as condições necessárias para que os produtos não ganhem um adicional de custo pela falta de infraestrutura”, diz Gomes Rosa.

A trajetória do BRDE se confunde com o próprio desen-volvimento econômico da Região Sul. O presidente do banco explica que a finalidade da instituição é atuar como o braço financeiro dos estados do Codesul em suas políticas públicas de desenvolvimento. Nos anos 1960, o Sul do Brasil estava ini-ciando seu processo de industrialização, o que permitiu à ins-tituição participar desse desenvolvimento tendo como slo-gan “Parceiro para crescer”.

Cooperativismo – Foi assim também que o banco viu nascer e apoiou, desde o início, o cooperativismo, marca forte da eco-nomia regional. Com suas linhas de financiamento, apoiou a fundação e o desenvolvimento das cooperativas agrícolas em várias etapas. No princípio, as cooperativas apenas armaze-navam a sua produção e o BRDE esteve presente financiando a construção de armazéns.

A partir dos anos 1970, as cooperativas passaram a agre-gar valor aos produtos agropecuários, industrializando o que antes só era armazenado. Gomes Rosa destaca que a evolu-ção do agronegócio na Região Sul é orgulho para o país. “Ho-je podemos ver em cooperativas de sucesso, a exemplo da Coamo, que tem um mapa que aponta os produtos saindo de Campo Mourão, no Paraná, para diversas partes do mundo, como Pequim, na China, e Ottawa, no Canadá. A empresa compete com as multinacionais de alimentos graças à sua

capacidade de agregar qualidade, preço e tec-nologia de uma forma extraordinária”, diz o diretor-presidente do BRDE.

O banco também apoiou a organização da economia dos estados da região. No Para-ná, o Sistema Ocepar é formado por três sociedades distintas, sem fins lucrativos, que, em estreita parceria, se dedicam à repre-sentação, ao fomento, à defesa sindical, ao desenvolvimento, à capacitação e à promo-ção social das cooperativas paranaenses: o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperati-vismo do Paraná (Sescoop-PR) e a Federa-ção e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Fecoopar).

Segundo João Paulo Koslovski, presidente do Sistema Ocepar, as cooperativas – participando dos diversos ciclos econômicos do estado do Paraná – foram sendo estruturadas em setores específicos da economia rural e urbana, principal-mente nas áreas da agropecuária, crédito, saúde, transporte, infraestrutura, trabalho, educação, consumo, turismo e habi-tação. O Sistema Ocepar coordena um trabalho de represen-tação junto aos governos dos estados e federal nas demandas de crédito e leis de apoio ao cooperativismo.

“É também de orientação técnica, consultiva dos assun-tos ligados ao cooperativismo e tem um papel significativo em capacitação por meio do Sescoop, que já capacitou 151 mil pessoas somente em 2013”, enumera Koslovski.

O cooperativismo paranaense é formado por 240 coope-rativas registradas na Ocepar, com mais de 735 mil coopera-dos e 62.300 colaboradores. As cooperativas faturaram cerca de R$ 43 bilhões no ano de 2013 e congregam em torno de 2 milhões e 500 mil paranaenses. Werner Tschoeke, gerente de Acompanhamento e Recuperação de Créditos da agência do BRDE no Paraná e um dos funcionários mais antigos da ins-tituição, lembra que o cooperativismo no estado é baseado em três modelos. O primeiro é a organização a partir da base de agricultores reunidos na Acarpa, que conta com expoen-tes como a Coamo, C. Vale, Copagril, Copacol, Lar e Coasul. O segundo modelo foi criado de cima para baixo por uma ini-ciativa do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que chegou a reunir mais de 20 cooperativas no norte do Paraná, das quais apenas duas prosperaram: Cocamar e Cocari.

“O terceiro modelo é o étnico, com raízes nas comunida-des de imigrantes europeus, que procuraram organizar estru-turas comuns para compra e venda de sua produção, além de suprirem suas necessidades de consumo e crédito por meio de sociedades cooperativistas”, diz Tschoeke.

“O BRDE sempre foi um banco que acreditou no coo-perativismo e foi o grande indutor da montagem da infraes-trutura das cooperativas. Inicialmente, com o apoio à cons-trução dos armazéns que passaram a dar sustentação ao rece-bimento da safra na década de 1970. E, nos últimos anos, o banco apoiou o desenvolvimento agroindustrial. Em 2013, só no Paraná, as cooperativas investiram R$ 2,1 bilhões, e o

banco foi responsável pelo financiamento de R$ 500 milhões em projetos agroin-dustriais. O BRDE está cumprindo muito bem o seu papel de promover o desenvol-vimento. Quando o banco financia uma cooperativa, atinge milhares de associa-dos”, ressalta o presidente do sistema Oce-par, João Paulo Koslovski.

Resultados – Em um quadro amplo, o desempenho da instituição nos últimos anos é expressivo. Em 2011, o banco cres-ceu 23,2% em relação ao ano de 2010, atin-gindo um montante de R$ 1,7 bilhão em créditos concedidos. Em 2012, o cresci-

mento foi de 68% em relação a 2011, somando R$ 2,9 bilhões em financiamento. E, em 2013, a expansão foi de 28%, num total de R$ 3,8 bilhões em operações de crédito. Os recursos para micro e pequenos produtores alcançaram, no ano passa-do, R$ 116 milhões; para micros e pequenas empresas, somou R$ 616 milhões. As médias empresas receberam R$ 450 milhões; as médias e grandes, outros R$ 194 milhões; e os grandes grupos foram financiados em R$ 1,6 bilhão.

“Em 2013, os R$ 3,8 bilhões de financiamentos resultan-tes de 1.056 contratos de 7,3 mil clientes viabilizaram investi-mentos totais de R$ 6 bilhões. O ICMS recolhido por esses projetos atingiu R$ 426 milhões, e foram gerados 69 mil empregos. Apesar do aumento substancial na concessão de crédito, o ano passado foi excepcional na redução dos índices de inadimplência que chegaram a 1,92% ante 2,97% do siste-ma financeiro nacional. Outro fato marcante de 2013 é que o BRDE é a primeira instituição credenciada pela Finep para operar o programa de inovação Inovacred”, comemora Gomes Rosa.

No ano passado, os três estados controladores do BRDE manifestaram uma posição favorável em capitalizar a institui-ção com aporte de R$ 200 milhões para cada um. Hoje, o capi-tal social da instituição é de R$ 85 milhões e com o aumento de capital passará a R$ 685 milhões. Com isso, o fator de ala-vancagem será aumentado em sete vezes, atingindo R$ 4,2 bilhões. “Nossa meta para 2014 é operar R$ 3 bilhões, um pouco menos que em 2013 em função da elevação da taxa de juros que faz com que haja uma redução na procura pelo cré-dito”, antecipa Gomes Rosa.

O diretor-presidente do BRDE faz questão de distinguir a atuação do banco de fomento em relação aos bancos comerciais. Embora essas instituições financeiras tenham acesso às mesmas linhas de financiamento do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o foco é a concessão de crédito a projetos que representem bai-xo nível de risco e operações em que é assegurado o lucro. Já o BRDE leva em conta as políticas de desenvolvimento dos estados controladores, os fatores sociais e, também, econô-micos. “O BRDE trabalha em conjunto com os governos estaduais para induzir investimentos, para promover e favo-recer a ação da iniciativa privada em áreas carentes de empre-go e com baixos níveis de renda familiar”.

“O BRDE foi o grande indutor da montagem da infraestrutura das

cooperativas”

João Paulo Koslovski, presidente do Sistema Ocepar

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ABDE chega aos 45 anos com o vigor de uma instituição que atravessou quatro décadas e meia mantendo intacta, por todo esse tempo, sua mar-ca de origem – o desenvolvimento econômico do Brasil. A partir de agora denominado Associ-

ação Brasileira de Desenvolvimento, este grupo que reúne atualmente 29 agentes públicos e cooperativos, entre bancos, agências e entidades de fomento, tendo à frente o BNDES, viveu momentos difíceis, mas hoje se apresenta robustecido para enfrentar o desafio de ser porta-voz do Sistema Nacio-nal de Fomento e em sua missão de capacitar seus associados para atuarem como instrumentos do processo de desenvolvi-mento, respaldado no tripé planejamento de longo prazo, sus-tentabilidade e inclusão social.

Criada em 29 de março de 1969, na cidade de Araxá, em Minas Gerais, a ABDE nasceu como associação representan-te dos bancos públicos de desenvolvimento, em um período que o país era governado pelos militares. Hoje se apresenta revigorada por um processo interno de renovação, cujos pon-tos de destaque foram o lançamento, em 2012, da Carta ABDE, estabelecendo os postulados do Sistema Nacional de Fomento, e o branding que reposicionou a marca da entidade. Entre os dois marcos, que vão da década de 1970 do século passado ao governo da presidenta Dilma Rousseff, ocorre-ram profundas transformações: milagre econômico; década perdida dos anos 80 e hiperinflação; privatizações e submis-

RUMOS - 30 – Março/Abril 2014

ABDE lança nova marca e reafirma seu papel histórico de apoio ao desenvolvimento sustentável do país. Para revisitar essa trajetória, a Rumos ouviu ex-presidentes e colaboradores da entidade, que também ajudam a traçar os próximos passos da instituição – o que ela projeta para si própria e para o Brasil

Asão ao Consenso de Washington; estabilização e monetária, com o Plano Real; e retomada do crescimento com forte par-ticipação estatal, a partir de 2004, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em todos esses episódios, o nome da ABDE se manteve como referência entre os setores da sociedade incondicio-nalmente alinhados na defesa do desenvolvimento, mesmo quando a economia dava sinais de fraqueza. Esse aspecto foi ressaltado pelo presidente do BNDES, Luciano Couti-nho: “Desde a sua fundação, a ABDE é uma instituição que tem como compromisso o desenvolvimento, e faz com com-petência o trabalho de divulgação de conhecimentos atra-vés da revista Rumos”.

A ligação estreita com o BNDES é um aspecto importan-te na trajetória da ABDE, que tem como presidente do seu Conselho dos Associados o presidente do banco. Depois de declarar que exerce essa função na entidade “com muito pra-zer”, Coutinho elogiou o processo de sua modernização, des-tacando a realização do curso de Desenvolvimento Econô-mico, em parceria com o Instituto de Economia da UFRJ. “Esse foi um dos projetos mais estimulantes desta nova fase”, disse Coutinho.

Na comemoração dos 45 anos, Rumos ouviu integrantes e ex-integrantes dos quadros da ABDE. As entrevistas per-mitem a montagem de um painel que rememora passagens dessa travessia que já soma quase meio século. E também

R REPORTAGEM

Por Gilberto Negreiros

RUMOS - 31 – Março/Abril 2014

injustiça na estigmatização dos bancos públicos que constitu-íram o núcleo original da associação.

“Na década de 1970, os bancos de desenvolvimento libe-ravam mais recursos que os bancos de investimento, que eram privados”, argumentou. “Além disso, tinham equipes muito competentes, que conheciam as empresas melhor que o BNDES, que então começava a atuar nesse setor.” Mas os anos 80 trouxeram a crise que se prolongou por toda a déca-da. “A crise causa primeiro a queda dos investimentos. Cain-do o investimento, caiu o mercado dos bancos de desenvol-vimento. Com problemas financeiros, as empresas passa-ram a requerer recursos para saneamento.”

Sem projetos para financiar, alguns governos estaduais usaram os bancos de desenvolvimento para captar recursos. Foi quando muitos deles se tornaram financeiramente inviá-veis. Com o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) eles foram fechados, restando hoje apenas o BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais), Bandes (Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo) e BRDE (Banco Regio-nal de Desenvolvimento do Extremo Sul).

Presidente do BDMG (1979-83) e da ABDE (1980-81), Luiz Aníbal de Lima Fernandes participou, na linha de fren-te, de um período em que “o país estava em recessão, mas existia um sistema nacional de bancos estaduais de desenvol-vimento liderado pelo BNDES, que funcionava como irriga-

apontam os novos caminhos que devem balizar a trajetória dos próximos 45 anos: consolidar a posição de entidade dedicada ao aprimoramento de normas e processos, visan-do assegurar o protagonismo dos agentes públicos na pro-moção do crescimento econômico.

Estigma – A trajetória da ABDE tem início auspicioso coincidente com a arrancada do breve milagre econômico, que na primeira metade da década de 1970 fez do Brasil alvo de admiração por todo o mundo. Na euforia do crescimen-to, os bancos estaduais de desenvolvimento assumiam papel fundamental no financiamento de projetos. Mas o milagre foi sonho fugaz desfeito na crise da dívida externa, que levou o Estado brasileiro à falência e abriu caminho para o sombrio período 1979-1989, marcado por estagna-ção e hiperinflação. Nesse quadro de depressão, os bancos de desenvolvimento se enfraqueceram.

Já em meados dos anos 90 do século passado, o sanea-mento financeiro promovido pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso estigmatizou os bancos de desenvolvimento, então o cerne da ABDE, como exemplos de ineficiência e irresponsabilidade fiscal dos estados.

Oriundo do quadro técnico do BNDES, onde ingressou em 1974 ainda engenheiro recém-formado, e superintenden-te-executivo da ABDE desde 2009, Marco Antonio de Arau-jo Lima inclui-se entre os que consideram haver boa dose de

ESPECIAL - ABDE 45 ANOS

Seminário realizado em Brasília celebrou os 45 anos da instituição, com debates sobre o crédito ao desenvolvimento e o lançamento da nova marca da ABDE, agora denominada Associação Brasileira de Desenvolvimento.

Flo

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Aos 45 anos,de cara nova

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ABDE chega aos 45 anos com o vigor de uma instituição que atravessou quatro décadas e meia mantendo intacta, por todo esse tempo, sua mar-ca de origem – o desenvolvimento econômico do Brasil. A partir de agora denominado Associ-

ação Brasileira de Desenvolvimento, este grupo que reúne atualmente 29 agentes públicos e cooperativos, entre bancos, agências e entidades de fomento, tendo à frente o BNDES, viveu momentos difíceis, mas hoje se apresenta robustecido para enfrentar o desafio de ser porta-voz do Sistema Nacio-nal de Fomento e em sua missão de capacitar seus associados para atuarem como instrumentos do processo de desenvolvi-mento, respaldado no tripé planejamento de longo prazo, sus-tentabilidade e inclusão social.

Criada em 29 de março de 1969, na cidade de Araxá, em Minas Gerais, a ABDE nasceu como associação representan-te dos bancos públicos de desenvolvimento, em um período que o país era governado pelos militares. Hoje se apresenta revigorada por um processo interno de renovação, cujos pon-tos de destaque foram o lançamento, em 2012, da Carta ABDE, estabelecendo os postulados do Sistema Nacional de Fomento, e o branding que reposicionou a marca da entidade. Entre os dois marcos, que vão da década de 1970 do século passado ao governo da presidenta Dilma Rousseff, ocorre-ram profundas transformações: milagre econômico; década perdida dos anos 80 e hiperinflação; privatizações e submis-

RUMOS - 30 – Março/Abril 2014

ABDE lança nova marca e reafirma seu papel histórico de apoio ao desenvolvimento sustentável do país. Para revisitar essa trajetória, a Rumos ouviu ex-presidentes e colaboradores da entidade, que também ajudam a traçar os próximos passos da instituição – o que ela projeta para si própria e para o Brasil

Asão ao Consenso de Washington; estabilização e monetária, com o Plano Real; e retomada do crescimento com forte par-ticipação estatal, a partir de 2004, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em todos esses episódios, o nome da ABDE se manteve como referência entre os setores da sociedade incondicio-nalmente alinhados na defesa do desenvolvimento, mesmo quando a economia dava sinais de fraqueza. Esse aspecto foi ressaltado pelo presidente do BNDES, Luciano Couti-nho: “Desde a sua fundação, a ABDE é uma instituição que tem como compromisso o desenvolvimento, e faz com com-petência o trabalho de divulgação de conhecimentos atra-vés da revista Rumos”.

A ligação estreita com o BNDES é um aspecto importan-te na trajetória da ABDE, que tem como presidente do seu Conselho dos Associados o presidente do banco. Depois de declarar que exerce essa função na entidade “com muito pra-zer”, Coutinho elogiou o processo de sua modernização, des-tacando a realização do curso de Desenvolvimento Econô-mico, em parceria com o Instituto de Economia da UFRJ. “Esse foi um dos projetos mais estimulantes desta nova fase”, disse Coutinho.

Na comemoração dos 45 anos, Rumos ouviu integrantes e ex-integrantes dos quadros da ABDE. As entrevistas per-mitem a montagem de um painel que rememora passagens dessa travessia que já soma quase meio século. E também

R REPORTAGEM

Por Gilberto Negreiros

RUMOS - 31 – Março/Abril 2014

injustiça na estigmatização dos bancos públicos que constitu-íram o núcleo original da associação.

“Na década de 1970, os bancos de desenvolvimento libe-ravam mais recursos que os bancos de investimento, que eram privados”, argumentou. “Além disso, tinham equipes muito competentes, que conheciam as empresas melhor que o BNDES, que então começava a atuar nesse setor.” Mas os anos 80 trouxeram a crise que se prolongou por toda a déca-da. “A crise causa primeiro a queda dos investimentos. Cain-do o investimento, caiu o mercado dos bancos de desenvol-vimento. Com problemas financeiros, as empresas passa-ram a requerer recursos para saneamento.”

Sem projetos para financiar, alguns governos estaduais usaram os bancos de desenvolvimento para captar recursos. Foi quando muitos deles se tornaram financeiramente inviá-veis. Com o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) eles foram fechados, restando hoje apenas o BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais), Bandes (Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo) e BRDE (Banco Regio-nal de Desenvolvimento do Extremo Sul).

Presidente do BDMG (1979-83) e da ABDE (1980-81), Luiz Aníbal de Lima Fernandes participou, na linha de fren-te, de um período em que “o país estava em recessão, mas existia um sistema nacional de bancos estaduais de desenvol-vimento liderado pelo BNDES, que funcionava como irriga-

apontam os novos caminhos que devem balizar a trajetória dos próximos 45 anos: consolidar a posição de entidade dedicada ao aprimoramento de normas e processos, visan-do assegurar o protagonismo dos agentes públicos na pro-moção do crescimento econômico.

Estigma – A trajetória da ABDE tem início auspicioso coincidente com a arrancada do breve milagre econômico, que na primeira metade da década de 1970 fez do Brasil alvo de admiração por todo o mundo. Na euforia do crescimen-to, os bancos estaduais de desenvolvimento assumiam papel fundamental no financiamento de projetos. Mas o milagre foi sonho fugaz desfeito na crise da dívida externa, que levou o Estado brasileiro à falência e abriu caminho para o sombrio período 1979-1989, marcado por estagna-ção e hiperinflação. Nesse quadro de depressão, os bancos de desenvolvimento se enfraqueceram.

Já em meados dos anos 90 do século passado, o sanea-mento financeiro promovido pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso estigmatizou os bancos de desenvolvimento, então o cerne da ABDE, como exemplos de ineficiência e irresponsabilidade fiscal dos estados.

Oriundo do quadro técnico do BNDES, onde ingressou em 1974 ainda engenheiro recém-formado, e superintenden-te-executivo da ABDE desde 2009, Marco Antonio de Arau-jo Lima inclui-se entre os que consideram haver boa dose de

ESPECIAL - ABDE 45 ANOS

Seminário realizado em Brasília celebrou os 45 anos da instituição, com debates sobre o crédito ao desenvolvimento e o lançamento da nova marca da ABDE, agora denominada Associação Brasileira de Desenvolvimento.

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Aos 45 anos,de cara nova

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R REPORTAGEM

dor de recursos para os estados. E a ABDE tinha o papel de realçar esse sistema, que se baseava em um conceito de desenvolvimento”.

Itaipu – Como prova de que houveram avanços mesmo em um cenário de dificuldades para área de fomento, ele citou o papel da ABDE na cria-

ção do pool de bancos de desenvolvimento que financiou uma das linhas de transmissão da usina hidrelétrica de Itaipu. “Na qual nenhum banco privado tinha interesse”, lembrou.

Fernandes não tem dúvida de que o futuro da entidade que presidiu é recuperar o conceito de desenvolvimento que inte-grava BNDES e bancos de desenvolvimento em um sistema. “Mas o banco de fomento de hoje tem que se ver como agente financeiro, precisa ter gestão bancária e assegurar o retorno do capital investido nas operações. Não pode mais ficar no laissez-faire de só registrar prejuízos a cada mês”, enfatizou.

Fernando Perrone ocupou a superintendência da ABDE de 1985 a 1990. O último ano da sua gestão coincidiu com o início do governo do presidente Fernando Collor, “quando nuvens negras no horizonte prenunciavam o fim da era dos bancos de desenvolvimento”. Mas ele acrescentou que o período anterior tinha sido “extremamente profícuo” para os bancos de desenvolvimento.

“Foi um período áureo da ABDE”, afirmou. “Estávamos na transição da ditadura para a democracia e a ABDE assu-miu o papel de aglutinadora dos bancos de desenvolvimento, que passaram a ter mais autonomia diante do governo fede-ral. A nossa entidade passou a canalizar os interesses e a pro-mover a capacitação desses bancos.”

Perrone marcou sua passagem pela superintendência também pela incorporação da Caixa Econômica Federal e do Sebrae à ABDE. “No momento em que se previa o enfra-quecimento da associação, em virtude da crise dos bancos de desenvolvimento, nós ampliamos a base dos associados.”

A abertura para o mundo do empreendedorismo signifi-cou, efetivamente, um enriquecimento para uma instituição que já tinha como seu norte o desenvolvimento. O diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, enfatizou esse

aspecto: “Foi uma grande oportunidade para estreitar os laços entre a agência de desenvolvimento brasileira voltada para os pequenos negócios, o Sebrae, e as instituições finan-ceiras vocacionadas para o desenvolvimento. Por meio de inú-meras parcerias, ações e projetos conjuntos, conseguimos avançar na aproximação dos pequenos negócios com os asso-ciados da ABDE. Para nós do Sebrae, é um orgulho poder par-ticipar e contribuir com a ABDE”.

Nos tempos atuais, o primeiro sinal de alento para as ins-tituições públicas de desenvolvimento surgiria apenas no iní-cio dos anos 2000. “Começou a tomar corpo a compreensão de que os bancos de desenvolvimento tiveram participação muito grande no nosso processo de crescimento e que isso não deveria ser descartado”, ressaltou o superintendente Mar-co Antonio. “Então, por volta de 2002 foram criadas as agên-cias de fomento, embora com menos atribuições que os ban-cos de desenvolvimento.”

Crise – E a história viria abrir novas perspectivas promisso-ras aos agentes reunidos sob a marca da ABDE. Depois do período de estabilização com recuo da presença do Estado na economia, durante o governo Fernando Henrique, em 2004 veio a retomada do crescimento, já no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas no fim de 2007 sobreveio o ter-remoto da crise financeira mundial, em um catastrófico cená-rio que parecia repetir a Depressão de 1929, e que ameaçou condenar a economia brasileira a mais um voo breve.

Em ação rápida centrada no poderio de três agentes esta-tais – BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal –, o governo federal ajudou a manter a economia em atividade, assegurando crédito ao sistema bancário e financiamento de projetos às empresas. Graças a essas medidas anticíclicas, o Brasil emergiu como um dos países que mais rapidamente superaram os efeitos de uma crise que fazia estragos mundo afora.

A situação brasileira evidenciou uma das lições a serem extraídas da crise: países dotados de bancos públicos são mais capacitados para impedir que as crises econômicas se trans-formem em catástrofes. Assim, o fantasma da depressão aca-

Legenda da foto

Texto

RUMOS - 32 – Março/Abril 2014

bou acendendo a centelha para o retorno, com toda a força, do debate sobre a participação estatal no processo de desen-volvimento, que no caso brasileiro é uma referência histórica com raízes fincadas nos anos 30 do século passado.

No governo da presidenta Dilma Rousseff, o economista Luciano Coutinho, ao assumir a presidência do BNDES, reco-nheceu a importância que os bancos públicos tiveram na administração da crise. Isso contribuiu para que o Sistema Nacional de Fomento voltasse a ter papel acentuado na eco-nomia.

Renovação – Na ABDE, esta evidência do papel funda-mental reservado às instituições financiadoras do desenvol-vimento produziu efeitos imediatos. Esse momento foi o marco fundamental de um processo interno de renovação, que abre perspectivas revigoradoras no momento em que se comemoram os 45 anos da entidade. Na gestão do então pre-sidente Maurício Chacur, deu-se início à elaboração e implantação do plano estratégico que visa à consolidação do Sistema Nacional de Fomento.

Outro quadro originário do BNDES, Chacur, cuja gestão teve início em 2009 e se estendeu até o começo de 2012, foi o iniciador do processo de revitalização da ABDE. “Quando cheguei, percebi a importância que nossa entidade tinha para o desenvolvimento econômico. Por isso, ficava muito incomo-dado com a situação em que nos encontrávamos há décadas, desde a retração dos bancos de desenvolvimento.”

Assim nasceu um projeto que, conforme destacou, “ti-

nha como objetivo fazer com que a ABDE ganhasse efeti-vamente importância em nível nacional como representan-te dos bancos de desenvolvimento e agências de fomento, assim como é a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) em relação aos bancos privados”. Quanto às perspectivas para o futuro, Chacur acentuou que, “evidentemente, ainda temos um bom caminho a percorrer”.

Antecessor de Chacur no comando da ABDE (2007-2009) e hoje presidente da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), Pedro Falabella assumiu a entidade em um momento crítico, quando problemas de gestão agra-vavam os decorrentes da crise dos bancos de desenvolvi-mento. “Mas superamos a crise e preparamos o terreno para início do planejamento estratégico, que visava a aber-tura do diálogo dos associados com o Banco Central e o BNDES”, recordou.

Falabella destacou como conquista da sua gestão a mudança da Resolução 2.828 do Banco Central. “Foi a reso-lução que normatizou as agências de fomento, mas impôs seu engessamento. A ABDE propôs e obteve uma série de mudanças na Resolução 2.828. Depois houve a modificação da Resolução 3757. As alterações dessas resoluções foram um grande legado da ABDE”, avaliou.

Para o presidente da Afeam, “a ABDE hoje é uma asso-ciação mais presente e tem muito a crescer, mas deve man-ter uma postura mais independente no relacionamento com o Banco Central e o BNDES. Precisamos ser donos do nos-so nariz”.

A caminhada para os próximos anos já se delineia com o prosseguimento das iniciativas que ampliaram o espaço de atuação da associação. O atual presidente, Carlos Horn, tam-bém diretor de Planejamento do BRDE, conduziu o debate entre os associados que resultou na Carta ABDE. Lançado em 2012, o documento é dirigido aos governos federal e esta-duais. O texto estabelece uma agenda de medidas a serem tomadas para a consolidação do Sistema Nacional de Fomen-to, integrado por ncos públicos federais, bancos de desenvol-vimento controlados por estados da federação, bancos coo-perativos, bancos públicos comerciais estaduais com carteira

são quatro décadas e meia em que o país mudou, as instituições mudaram, a economia brasileira e mundial também mudou...

RUMOS - 33 – Março/Abril 2014

ESPECIAL - ABDE 45 ANOS

Da reunião de fundação ao lançamento da Carta ABDE, passando por Assembleias e reuniões do Conselho de Administração,Continua

“Desde a sua fundação, aABDE é uma instituição quetem como compromissoo desenvolvimento”.Luciano Coutinho, presidentedo BNDES e do Conselho dos Associados da ABDE

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R REPORTAGEM

dor de recursos para os estados. E a ABDE tinha o papel de realçar esse sistema, que se baseava em um conceito de desenvolvimento”.

Itaipu – Como prova de que houveram avanços mesmo em um cenário de dificuldades para área de fomento, ele citou o papel da ABDE na cria-

ção do pool de bancos de desenvolvimento que financiou uma das linhas de transmissão da usina hidrelétrica de Itaipu. “Na qual nenhum banco privado tinha interesse”, lembrou.

Fernandes não tem dúvida de que o futuro da entidade que presidiu é recuperar o conceito de desenvolvimento que inte-grava BNDES e bancos de desenvolvimento em um sistema. “Mas o banco de fomento de hoje tem que se ver como agente financeiro, precisa ter gestão bancária e assegurar o retorno do capital investido nas operações. Não pode mais ficar no laissez-faire de só registrar prejuízos a cada mês”, enfatizou.

Fernando Perrone ocupou a superintendência da ABDE de 1985 a 1990. O último ano da sua gestão coincidiu com o início do governo do presidente Fernando Collor, “quando nuvens negras no horizonte prenunciavam o fim da era dos bancos de desenvolvimento”. Mas ele acrescentou que o período anterior tinha sido “extremamente profícuo” para os bancos de desenvolvimento.

“Foi um período áureo da ABDE”, afirmou. “Estávamos na transição da ditadura para a democracia e a ABDE assu-miu o papel de aglutinadora dos bancos de desenvolvimento, que passaram a ter mais autonomia diante do governo fede-ral. A nossa entidade passou a canalizar os interesses e a pro-mover a capacitação desses bancos.”

Perrone marcou sua passagem pela superintendência também pela incorporação da Caixa Econômica Federal e do Sebrae à ABDE. “No momento em que se previa o enfra-quecimento da associação, em virtude da crise dos bancos de desenvolvimento, nós ampliamos a base dos associados.”

A abertura para o mundo do empreendedorismo signifi-cou, efetivamente, um enriquecimento para uma instituição que já tinha como seu norte o desenvolvimento. O diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, enfatizou esse

aspecto: “Foi uma grande oportunidade para estreitar os laços entre a agência de desenvolvimento brasileira voltada para os pequenos negócios, o Sebrae, e as instituições finan-ceiras vocacionadas para o desenvolvimento. Por meio de inú-meras parcerias, ações e projetos conjuntos, conseguimos avançar na aproximação dos pequenos negócios com os asso-ciados da ABDE. Para nós do Sebrae, é um orgulho poder par-ticipar e contribuir com a ABDE”.

Nos tempos atuais, o primeiro sinal de alento para as ins-tituições públicas de desenvolvimento surgiria apenas no iní-cio dos anos 2000. “Começou a tomar corpo a compreensão de que os bancos de desenvolvimento tiveram participação muito grande no nosso processo de crescimento e que isso não deveria ser descartado”, ressaltou o superintendente Mar-co Antonio. “Então, por volta de 2002 foram criadas as agên-cias de fomento, embora com menos atribuições que os ban-cos de desenvolvimento.”

Crise – E a história viria abrir novas perspectivas promisso-ras aos agentes reunidos sob a marca da ABDE. Depois do período de estabilização com recuo da presença do Estado na economia, durante o governo Fernando Henrique, em 2004 veio a retomada do crescimento, já no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas no fim de 2007 sobreveio o ter-remoto da crise financeira mundial, em um catastrófico cená-rio que parecia repetir a Depressão de 1929, e que ameaçou condenar a economia brasileira a mais um voo breve.

Em ação rápida centrada no poderio de três agentes esta-tais – BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal –, o governo federal ajudou a manter a economia em atividade, assegurando crédito ao sistema bancário e financiamento de projetos às empresas. Graças a essas medidas anticíclicas, o Brasil emergiu como um dos países que mais rapidamente superaram os efeitos de uma crise que fazia estragos mundo afora.

A situação brasileira evidenciou uma das lições a serem extraídas da crise: países dotados de bancos públicos são mais capacitados para impedir que as crises econômicas se trans-formem em catástrofes. Assim, o fantasma da depressão aca-

Legenda da foto

Texto

RUMOS - 32 – Março/Abril 2014

bou acendendo a centelha para o retorno, com toda a força, do debate sobre a participação estatal no processo de desen-volvimento, que no caso brasileiro é uma referência histórica com raízes fincadas nos anos 30 do século passado.

No governo da presidenta Dilma Rousseff, o economista Luciano Coutinho, ao assumir a presidência do BNDES, reco-nheceu a importância que os bancos públicos tiveram na administração da crise. Isso contribuiu para que o Sistema Nacional de Fomento voltasse a ter papel acentuado na eco-nomia.

Renovação – Na ABDE, esta evidência do papel funda-mental reservado às instituições financiadoras do desenvol-vimento produziu efeitos imediatos. Esse momento foi o marco fundamental de um processo interno de renovação, que abre perspectivas revigoradoras no momento em que se comemoram os 45 anos da entidade. Na gestão do então pre-sidente Maurício Chacur, deu-se início à elaboração e implantação do plano estratégico que visa à consolidação do Sistema Nacional de Fomento.

Outro quadro originário do BNDES, Chacur, cuja gestão teve início em 2009 e se estendeu até o começo de 2012, foi o iniciador do processo de revitalização da ABDE. “Quando cheguei, percebi a importância que nossa entidade tinha para o desenvolvimento econômico. Por isso, ficava muito incomo-dado com a situação em que nos encontrávamos há décadas, desde a retração dos bancos de desenvolvimento.”

Assim nasceu um projeto que, conforme destacou, “ti-

nha como objetivo fazer com que a ABDE ganhasse efeti-vamente importância em nível nacional como representan-te dos bancos de desenvolvimento e agências de fomento, assim como é a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) em relação aos bancos privados”. Quanto às perspectivas para o futuro, Chacur acentuou que, “evidentemente, ainda temos um bom caminho a percorrer”.

Antecessor de Chacur no comando da ABDE (2007-2009) e hoje presidente da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), Pedro Falabella assumiu a entidade em um momento crítico, quando problemas de gestão agra-vavam os decorrentes da crise dos bancos de desenvolvi-mento. “Mas superamos a crise e preparamos o terreno para início do planejamento estratégico, que visava a aber-tura do diálogo dos associados com o Banco Central e o BNDES”, recordou.

Falabella destacou como conquista da sua gestão a mudança da Resolução 2.828 do Banco Central. “Foi a reso-lução que normatizou as agências de fomento, mas impôs seu engessamento. A ABDE propôs e obteve uma série de mudanças na Resolução 2.828. Depois houve a modificação da Resolução 3757. As alterações dessas resoluções foram um grande legado da ABDE”, avaliou.

Para o presidente da Afeam, “a ABDE hoje é uma asso-ciação mais presente e tem muito a crescer, mas deve man-ter uma postura mais independente no relacionamento com o Banco Central e o BNDES. Precisamos ser donos do nos-so nariz”.

A caminhada para os próximos anos já se delineia com o prosseguimento das iniciativas que ampliaram o espaço de atuação da associação. O atual presidente, Carlos Horn, tam-bém diretor de Planejamento do BRDE, conduziu o debate entre os associados que resultou na Carta ABDE. Lançado em 2012, o documento é dirigido aos governos federal e esta-duais. O texto estabelece uma agenda de medidas a serem tomadas para a consolidação do Sistema Nacional de Fomen-to, integrado por ncos públicos federais, bancos de desenvol-vimento controlados por estados da federação, bancos coo-perativos, bancos públicos comerciais estaduais com carteira

são quatro décadas e meia em que o país mudou, as instituições mudaram, a economia brasileira e mundial também mudou...

RUMOS - 33 – Março/Abril 2014

ESPECIAL - ABDE 45 ANOS

Da reunião de fundação ao lançamento da Carta ABDE, passando por Assembleias e reuniões do Conselho de Administração,Continua

“Desde a sua fundação, aABDE é uma instituição quetem como compromissoo desenvolvimento”.Luciano Coutinho, presidentedo BNDES e do Conselho dos Associados da ABDE

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RUMOS - 34 – Março/Abril 2014

R REPORTAGEM

de desenvolvimento, agências de fomento, a Finep e o Sebrae, transformando a rede de asso-ciados em instrumento de desenvolvimento nas dimensões econômica, social e ambiental.

Semelhança – Para Horn, “há traços seme-lhantes entre o momento de criação da ABDE e

o atual”. A entidade, lembrou, “é um dos frutos do período de desenvolvimentismo brasileiro, marcado por forte industrialização, que acabou se esgotando com a crise da dívida externa”, no início da década de 1980. Durante o lon-go período de estagnação que se estendeu pelos dois decê-nios seguintes, notadamente nos anos 90 “houve o enfra-quecimento dos entes públicos financiadores do desenvol-vimento”.

Com a chegada dos anos 2000, continuou Horn, “ocor-re a reafirmação da importância das instituições públicas de desenvolvimento”. E sublinhou: “Essa é a semelhança entre os momentos de criação e o atual da ABDE: a impor-tância renovada das instituições públicas de financiamento do desenvolvimento”.

O secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento do Rio Grande do Sul, Mauro Knijnik, disse que a ABDE é “uma associação de grande espírito de união que está sendo vitoriosa”. Ex-presidente do BRDE, ele acre-dita que, “neste momento de revisão da política adotada no passado, a restrição aos bancos de desenvolvimento merece se reestudada”.

Após destacar que os bancos de desenvolvimento, núcleo original da ABDE, são instrumentos essenciais na promoção do crescimento “porque têm a percepção das rea-lidades regionais”, Knijnik acrescentou que eles devem atu-ar em conjunto com o BNDES para a consolidação do Sis-tema Nacional de Fomento.

Comunicação – Ao mesmo tempo que mobilizou os asso-ciados com o objetivo de levar as propostas dos agentes regi-onais às esferas de governo, a ABDE estendeu seu processo

de revigoramento à frente da comunicação, complementan-do a reinserção estratégica focada no Sistema Nacional de Fomento com o planejamento da sua nova imagem. A inici-ativa do branding que operou o reposicionamento da marca foi do então gerente de Comunicação, Luiz Cláudio Dias Reis, que em 2005 assumira a função, junto com a de editor de Rumos.

Após assinalar a fundamental importância da criação das Comissões Temáticas da Associação para o processo de revigoramento, ele lembrou que a Comissão de Comunica-ção foi o berço do plano de reinserção midiática da entida-de. “Foi no contexto do Planejamento de Comunicação, ini-ciado em 2011, que sugeri a reestruturação da marca, com o intuito de relançá-la no universo da sociedade brasileira. Isso era uma necessidade, porque pesquisas indicavam que a marca ABDE se apagara. Havia um hiato de memória, por-que quem conhecia a ABDE ainda vinculava seu nome à época dos bancos de desenvolvimento, na década de 1980”, relatou.

A flexibilização normativa do Banco Central em relação às agências de fomento representa, na avaliação de Luiz Cláudio, uma das vitórias do amplo processo de renovação pelo qual vem passando a Associação. Para atingir seus obje-tivos, ressaltou, a ABDE conta, além da importância das Comissões, que aglutinam forças em prol dos interesses do seu conjunto de associados, com outros “dois produtos riquíssimos”: o programa desenvolvido em sua área de Desenvolvimento Profissional, com a realização de treina-mentos para os funcionários das instituições associadas, e a revista Rumos. “São duas peças essenciais que fortalecem a ABDE e auxiliam a instituição, cuja capacidade de atuação pode, inclusive, subsidiar os governos na formulação de políticas públicas”, afirmou.

Capilaridade – Para a construção de um robusto sistema público de fomento, outro importante diferencial da ABDE é a capilaridade dos agentes aos quais confere sua marca de associação com 45 anos de existência, que é brasi-

Legenda da foto

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leira e tem como único propósito o desenvolvimento. Sobre isso o superintendente Marco Antonio pode falar com a autoridade da expertise acumulada em sua atividade profissi-onal. Ele participou, na década de 1980, do projeto de plan-tio de soja no Rio Grande do Sul, em parceria que uniu BNDES e Embrapa. Na presidência da Companhia de Desenvolvimento do Rio de Janeiro (Codin), esteve à frente dos projetos de implantação das montadoras Peugeot e Volkswagen no interior fluminense em 1995, num momen-to que o estado passava por grave período de decadência.

Essas duas iniciativas bem-sucedidas, segundo Marco Antonio, comprovam a relevância do aspecto regional na pro-moção do desenvolvimento. “O BNDES está centrado no Rio de Janeiro e precisa ter nos estados instituições com com-petência para fazer a capilaridade financeira e, eu diria, a capi-laridade técnica também, porque é necessário conhecer o esta-do, saber que tipo de projeto dá certo ali”, afirmou. Ele refor-çou a afirmação com o relato de outra experiência, que foi o projeto do BNDES para expansão da agroindústria com as empresas Sadia, Perdigão e Ceval, em 1989:

“Era o momento em que a inflação estava no pico e nin-guém queria investir. A gente dizia aos empresários que, mesmo com aquela situação, era preciso investir, acreditar no país. Fizemos contato com a Sadia, Perdigão e Ceval. Pro-pusemos um plano estratégico para cada uma delas, mas isso provocou uma reação enorme. Os bancos de fomento do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná reclamaram

que estávamos tirando os clientes deles. A solução foi repassar uma parte dos projetos a esses agentes, que tam-bém acompanharam a execução junto conosco. E eles deram uma contribuição valiosa, até porque conheciam as empresas melhor que o próprio BNDES. Foi aí que senti, pela primeira vez, a necessidade de haver políticas de cresci-mento nos estados. É impossível fazer política no país sem ter políticas para os estados.”

Agências – As agências de fomento são outro ponto que a entidade considera crucial para que se construa um Sistema Nacional de Fomento poderoso. Hoje existe nas normas regulatórias forte preocupação com essas agências, com o Banco Central melhor aparelhado para fazer o acompanha-mento das instituições, resultando em um cenário em que é mais difícil uma agência de fomento se desestruturar por conta de má política ou de gestão. A experiência desta últi-ma década mostra que há uma tendência de que os governos cada vez mais olhem as agências de fomento como institui-ções capazes de executarem políticas públicas importantes.

Esse otimismo decorre também de resultados que o pro-cesso de revigoramento da instituição começa a produzir. Um dos mais pródigos é a construção de um diálogo cons-tante e mais simples com o BC, que possibilitou alterações na regulamentação das agências de fomento, criando condi-ções para que as instituições utilizem o mercado de capitais e possam operar com novos produtos.

Quanto às propostas da Carta ABDE, o estágio é ainda de negociação. Após ver algumas de suas sugestões serem incorporadas ao recém-lançado programa Otimiza BC, a associação adicionou novas solicitações ao órgão. Assim, o processo de negociação torna-se permanente.

Outro obstáculo a ser superado na consolidação do amplo sistema estatal de fomento defendido pela ABDE é o que seu superintendente considera como falsa dicotomia entre público e privado. Para ele, o país possui uma vanta-gem competitiva que não pode deixar de utilizar: a coexis-tência de um sistema financeiro privado muito competente

ESPECIAL - ABDE 45 ANOS

RUMOS - 35 – Março/Abril 2014

desenvolvimento e do protagonismo dos agentes públicos na promoção do crescimento econômico do Brasil.Mas o nome da ABDE se manteve como referência entre os setores da sociedade incondicionalmente alinhados na defesa do

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Lançada em 2012 edirecionada aos diferentesníveis de governo, a CartaABDE estabelece uma sériede medidas para aconsolidação do sistemanacional de fomento.

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RUMOS - 34 – Março/Abril 2014

R REPORTAGEM

de desenvolvimento, agências de fomento, a Finep e o Sebrae, transformando a rede de asso-ciados em instrumento de desenvolvimento nas dimensões econômica, social e ambiental.

Semelhança – Para Horn, “há traços seme-lhantes entre o momento de criação da ABDE e

o atual”. A entidade, lembrou, “é um dos frutos do período de desenvolvimentismo brasileiro, marcado por forte industrialização, que acabou se esgotando com a crise da dívida externa”, no início da década de 1980. Durante o lon-go período de estagnação que se estendeu pelos dois decê-nios seguintes, notadamente nos anos 90 “houve o enfra-quecimento dos entes públicos financiadores do desenvol-vimento”.

Com a chegada dos anos 2000, continuou Horn, “ocor-re a reafirmação da importância das instituições públicas de desenvolvimento”. E sublinhou: “Essa é a semelhança entre os momentos de criação e o atual da ABDE: a impor-tância renovada das instituições públicas de financiamento do desenvolvimento”.

O secretário de Desenvolvimento e Promoção do Investimento do Rio Grande do Sul, Mauro Knijnik, disse que a ABDE é “uma associação de grande espírito de união que está sendo vitoriosa”. Ex-presidente do BRDE, ele acre-dita que, “neste momento de revisão da política adotada no passado, a restrição aos bancos de desenvolvimento merece se reestudada”.

Após destacar que os bancos de desenvolvimento, núcleo original da ABDE, são instrumentos essenciais na promoção do crescimento “porque têm a percepção das rea-lidades regionais”, Knijnik acrescentou que eles devem atu-ar em conjunto com o BNDES para a consolidação do Sis-tema Nacional de Fomento.

Comunicação – Ao mesmo tempo que mobilizou os asso-ciados com o objetivo de levar as propostas dos agentes regi-onais às esferas de governo, a ABDE estendeu seu processo

de revigoramento à frente da comunicação, complementan-do a reinserção estratégica focada no Sistema Nacional de Fomento com o planejamento da sua nova imagem. A inici-ativa do branding que operou o reposicionamento da marca foi do então gerente de Comunicação, Luiz Cláudio Dias Reis, que em 2005 assumira a função, junto com a de editor de Rumos.

Após assinalar a fundamental importância da criação das Comissões Temáticas da Associação para o processo de revigoramento, ele lembrou que a Comissão de Comunica-ção foi o berço do plano de reinserção midiática da entida-de. “Foi no contexto do Planejamento de Comunicação, ini-ciado em 2011, que sugeri a reestruturação da marca, com o intuito de relançá-la no universo da sociedade brasileira. Isso era uma necessidade, porque pesquisas indicavam que a marca ABDE se apagara. Havia um hiato de memória, por-que quem conhecia a ABDE ainda vinculava seu nome à época dos bancos de desenvolvimento, na década de 1980”, relatou.

A flexibilização normativa do Banco Central em relação às agências de fomento representa, na avaliação de Luiz Cláudio, uma das vitórias do amplo processo de renovação pelo qual vem passando a Associação. Para atingir seus obje-tivos, ressaltou, a ABDE conta, além da importância das Comissões, que aglutinam forças em prol dos interesses do seu conjunto de associados, com outros “dois produtos riquíssimos”: o programa desenvolvido em sua área de Desenvolvimento Profissional, com a realização de treina-mentos para os funcionários das instituições associadas, e a revista Rumos. “São duas peças essenciais que fortalecem a ABDE e auxiliam a instituição, cuja capacidade de atuação pode, inclusive, subsidiar os governos na formulação de políticas públicas”, afirmou.

Capilaridade – Para a construção de um robusto sistema público de fomento, outro importante diferencial da ABDE é a capilaridade dos agentes aos quais confere sua marca de associação com 45 anos de existência, que é brasi-

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leira e tem como único propósito o desenvolvimento. Sobre isso o superintendente Marco Antonio pode falar com a autoridade da expertise acumulada em sua atividade profissi-onal. Ele participou, na década de 1980, do projeto de plan-tio de soja no Rio Grande do Sul, em parceria que uniu BNDES e Embrapa. Na presidência da Companhia de Desenvolvimento do Rio de Janeiro (Codin), esteve à frente dos projetos de implantação das montadoras Peugeot e Volkswagen no interior fluminense em 1995, num momen-to que o estado passava por grave período de decadência.

Essas duas iniciativas bem-sucedidas, segundo Marco Antonio, comprovam a relevância do aspecto regional na pro-moção do desenvolvimento. “O BNDES está centrado no Rio de Janeiro e precisa ter nos estados instituições com com-petência para fazer a capilaridade financeira e, eu diria, a capi-laridade técnica também, porque é necessário conhecer o esta-do, saber que tipo de projeto dá certo ali”, afirmou. Ele refor-çou a afirmação com o relato de outra experiência, que foi o projeto do BNDES para expansão da agroindústria com as empresas Sadia, Perdigão e Ceval, em 1989:

“Era o momento em que a inflação estava no pico e nin-guém queria investir. A gente dizia aos empresários que, mesmo com aquela situação, era preciso investir, acreditar no país. Fizemos contato com a Sadia, Perdigão e Ceval. Pro-pusemos um plano estratégico para cada uma delas, mas isso provocou uma reação enorme. Os bancos de fomento do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná reclamaram

que estávamos tirando os clientes deles. A solução foi repassar uma parte dos projetos a esses agentes, que tam-bém acompanharam a execução junto conosco. E eles deram uma contribuição valiosa, até porque conheciam as empresas melhor que o próprio BNDES. Foi aí que senti, pela primeira vez, a necessidade de haver políticas de cresci-mento nos estados. É impossível fazer política no país sem ter políticas para os estados.”

Agências – As agências de fomento são outro ponto que a entidade considera crucial para que se construa um Sistema Nacional de Fomento poderoso. Hoje existe nas normas regulatórias forte preocupação com essas agências, com o Banco Central melhor aparelhado para fazer o acompanha-mento das instituições, resultando em um cenário em que é mais difícil uma agência de fomento se desestruturar por conta de má política ou de gestão. A experiência desta últi-ma década mostra que há uma tendência de que os governos cada vez mais olhem as agências de fomento como institui-ções capazes de executarem políticas públicas importantes.

Esse otimismo decorre também de resultados que o pro-cesso de revigoramento da instituição começa a produzir. Um dos mais pródigos é a construção de um diálogo cons-tante e mais simples com o BC, que possibilitou alterações na regulamentação das agências de fomento, criando condi-ções para que as instituições utilizem o mercado de capitais e possam operar com novos produtos.

Quanto às propostas da Carta ABDE, o estágio é ainda de negociação. Após ver algumas de suas sugestões serem incorporadas ao recém-lançado programa Otimiza BC, a associação adicionou novas solicitações ao órgão. Assim, o processo de negociação torna-se permanente.

Outro obstáculo a ser superado na consolidação do amplo sistema estatal de fomento defendido pela ABDE é o que seu superintendente considera como falsa dicotomia entre público e privado. Para ele, o país possui uma vanta-gem competitiva que não pode deixar de utilizar: a coexis-tência de um sistema financeiro privado muito competente

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desenvolvimento e do protagonismo dos agentes públicos na promoção do crescimento econômico do Brasil.Mas o nome da ABDE se manteve como referência entre os setores da sociedade incondicionalmente alinhados na defesa do

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Lançada em 2012 edirecionada aos diferentesníveis de governo, a CartaABDE estabelece uma sériede medidas para aconsolidação do sistemanacional de fomento.

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R REPORTAGEM

e do Sistema Nacional de Fomento robusto e forte, que tem a capacidade de assumir riscos e apostar no financiamento de longo prazo. “Tanto a Febraban quanto a ABDE têm que trabalhar no sentido de que seus associados atuem para que haja desenvolvimento, porque precisamos de investi-mentos superiores a 23% em relação ao PIB e esses dois sis-temas podem tranquilamente obter esse índice”, comen-tou.

Preconceito – Para Carlos Horn, “ainda vivemos o pre-conceito por parte de alguns contra os agentes públicos de fomento, o que não se justifica”. O presidente da ABDE lembrou que a entidade “promove o fortalecimento e melhora a governança dos seus associados e cria o cenário para que exerça sua missão de dar voz às instituições finan-ceiras públicas de desenvolvimento, proporcionando con-dições para que atinjam esse potencial. E isso se faz, sobre-tudo, através do aperfeiçoamento da regulação, de capacita-ção e de novas modelagens de financiamento”.

Presidente da ABDE de 1979 a 1983, quando deixou o posto para assumir a presidência do BNDES, Jorge Lins Frei-re disse que, já na época da sua gestão, uma das características da entidade era a integração das instituições associadas “nu-ma relação muito profissional, que enfatizava a formação de equipes de pessoal técnico capacitado”. Ele acrescentou que “a capacitação é tão importante quanto os recursos financei-ros para o desenvolvimento”.

Segundo Freire, “com ou sem bancos de desenvolvimen-

to, o importante é o financiamento de longo prazo. Hoje, a filosofia deve ser pensar em desenvolvimento, não importa onde estejam os recursos. A ABDE pode atuar como ponte entre os fundos de investimento e as instituições e, também, na capacitação desses agentes”. E acrescentou: “Vejo isso com muito bons olhos”.

Qualificação – A qualificação dos quadros técnicos dos asso-ciados é considerado requisito essencial à consolidação da rede de instituições públicas de fomento. Para atingir esse objetivo, a ABDE investe em programas de treinamento intensivo, inclu-sive com o intercâmbio entre técnicos de instituições, que são convidados a conhecerem as melhores práticas das instituições de outros pontos do país. A instituição também pretende pro-mover, nos próximos meses, seminários internacionais de microcrédito e de políticas públicas por meio de sistemas de financiamentos públicos e privados.

“Somos uma associação a favor do desenvolvimento e nós acreditamos, sinceramente, que o Brasil tem tudo para intensificar o financiamento de longo prazo, para fazer com que os índices de investimento em relação ao PIB cresçam e que este país gere capacidade de produção, atenda às necessi-dade de consumo, atenda às necessidades de investimento e exporte para ser competitivo em produtos internacionais, e competitivo também com os produtos de empresas estrange-iras que queiram entrar aqui. A ABDE vai usar toda a sua for-ça no sentido de contribuir para que o Brasil tenha desenvol-vimento econômico e social sustentável”, concluiu.

Para marcar os 45 anos da associação, e fruto de um processo que se iniciou ainda em 2011, com a elaboração do Plano de Comunicação, a ABDE lançou em abril sua nova identidade visual. Foi a primeira mudança radical de logomarca da história da entidade (ver quadro abaixo), como símbolo de uma instituição cada vez mais moderna, ágil e dinâmica em sua missão de apoiar o desenvolvimento sustentável do país.

O reposicionamento começou a ser construído em 2011, quando a instituição iniciou um trabalho de branding que pretendia facilitar o entendimento geral sobre quem ela é e como atua. Em uma primeira etapa, de construção do branding propriamente dito, a empresa de design Tátil realizou um diagnóstico da marca e fez um estudo sobre o reposicionamento da entidade.

Em um segundo momento, após reabertura de diálogo com o corpo de associados, chegou-se à conclusão que era necessário simplificar a descrição da sigla para Associação Brasileira de Desenvolvimento, no lugar de Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento. Posteriormente, foi desenvolvido o desenho da nova marca da associação, eleita pela Assembleia Geral da entidade.

Uma nova identidadeO trabalho de construção da nova marca foi conduzido

pela Dragon Rouge, maior empresa independente de design e branding do mundo, fundada na França e presente em dez países. Entre os clientes mais conhecidos da empresa estão a eletrônica Sony, a multinacional Unilever e, no Brasil, o conglomerado alimentício BRF e a companhia aérea Gol, além de também ter desenvolvido a marca da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), associada à ABDE.

A nova logomarca da ABDE traz um losango amarelo e azul, desenhado com laterais curvadas, numa alusão à bandeira brasileira. O desenho é composto por tons sutis: as variações de azul representam a transparência da entidade em sua trajetória e o amarelo remete à riqueza gerada pelos associados, enquanto a faixa branca que cruza o círculo demonstra a visão além do horizonte e a perspectiva de crescimento da associação.

Assista ao filme e conheça mais detalhes sobre a nova marca no site www.abde.org.br

VISÃOA faixa branca que

cruza o símbolodemonstra a visãoalém do horizonte.

CRESCIMENTOO alargamento dafaixa representa a

perspectiva de crescimento.

RIQUEZAO degradê amarelo

representandoa riqueza.

EXPANSÃOAs laterais curvadas

demonstram umpaís em expansão.

BRASILO símbolo, em sua

forma e cores,busca remeter à

bandeira do Brasil.

TRANSPARÊNCIAAs variações de

azul representama transparênciada associação.

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OPERAÇÕES DE CRÉDITO

Fonte: Banco Central

A participação do Sistema Nacional de Fomento no volume total de crédito do Sistema Financeiro Nacional

cresceu de forma significativa a partir da última crise mundial. No ano passado, atingiu 52,5%.

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R REPORTAGEM

e do Sistema Nacional de Fomento robusto e forte, que tem a capacidade de assumir riscos e apostar no financiamento de longo prazo. “Tanto a Febraban quanto a ABDE têm que trabalhar no sentido de que seus associados atuem para que haja desenvolvimento, porque precisamos de investi-mentos superiores a 23% em relação ao PIB e esses dois sis-temas podem tranquilamente obter esse índice”, comen-tou.

Preconceito – Para Carlos Horn, “ainda vivemos o pre-conceito por parte de alguns contra os agentes públicos de fomento, o que não se justifica”. O presidente da ABDE lembrou que a entidade “promove o fortalecimento e melhora a governança dos seus associados e cria o cenário para que exerça sua missão de dar voz às instituições finan-ceiras públicas de desenvolvimento, proporcionando con-dições para que atinjam esse potencial. E isso se faz, sobre-tudo, através do aperfeiçoamento da regulação, de capacita-ção e de novas modelagens de financiamento”.

Presidente da ABDE de 1979 a 1983, quando deixou o posto para assumir a presidência do BNDES, Jorge Lins Frei-re disse que, já na época da sua gestão, uma das características da entidade era a integração das instituições associadas “nu-ma relação muito profissional, que enfatizava a formação de equipes de pessoal técnico capacitado”. Ele acrescentou que “a capacitação é tão importante quanto os recursos financei-ros para o desenvolvimento”.

Segundo Freire, “com ou sem bancos de desenvolvimen-

to, o importante é o financiamento de longo prazo. Hoje, a filosofia deve ser pensar em desenvolvimento, não importa onde estejam os recursos. A ABDE pode atuar como ponte entre os fundos de investimento e as instituições e, também, na capacitação desses agentes”. E acrescentou: “Vejo isso com muito bons olhos”.

Qualificação – A qualificação dos quadros técnicos dos asso-ciados é considerado requisito essencial à consolidação da rede de instituições públicas de fomento. Para atingir esse objetivo, a ABDE investe em programas de treinamento intensivo, inclu-sive com o intercâmbio entre técnicos de instituições, que são convidados a conhecerem as melhores práticas das instituições de outros pontos do país. A instituição também pretende pro-mover, nos próximos meses, seminários internacionais de microcrédito e de políticas públicas por meio de sistemas de financiamentos públicos e privados.

“Somos uma associação a favor do desenvolvimento e nós acreditamos, sinceramente, que o Brasil tem tudo para intensificar o financiamento de longo prazo, para fazer com que os índices de investimento em relação ao PIB cresçam e que este país gere capacidade de produção, atenda às necessi-dade de consumo, atenda às necessidades de investimento e exporte para ser competitivo em produtos internacionais, e competitivo também com os produtos de empresas estrange-iras que queiram entrar aqui. A ABDE vai usar toda a sua for-ça no sentido de contribuir para que o Brasil tenha desenvol-vimento econômico e social sustentável”, concluiu.

Para marcar os 45 anos da associação, e fruto de um processo que se iniciou ainda em 2011, com a elaboração do Plano de Comunicação, a ABDE lançou em abril sua nova identidade visual. Foi a primeira mudança radical de logomarca da história da entidade (ver quadro abaixo), como símbolo de uma instituição cada vez mais moderna, ágil e dinâmica em sua missão de apoiar o desenvolvimento sustentável do país.

O reposicionamento começou a ser construído em 2011, quando a instituição iniciou um trabalho de branding que pretendia facilitar o entendimento geral sobre quem ela é e como atua. Em uma primeira etapa, de construção do branding propriamente dito, a empresa de design Tátil realizou um diagnóstico da marca e fez um estudo sobre o reposicionamento da entidade.

Em um segundo momento, após reabertura de diálogo com o corpo de associados, chegou-se à conclusão que era necessário simplificar a descrição da sigla para Associação Brasileira de Desenvolvimento, no lugar de Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento. Posteriormente, foi desenvolvido o desenho da nova marca da associação, eleita pela Assembleia Geral da entidade.

Uma nova identidadeO trabalho de construção da nova marca foi conduzido

pela Dragon Rouge, maior empresa independente de design e branding do mundo, fundada na França e presente em dez países. Entre os clientes mais conhecidos da empresa estão a eletrônica Sony, a multinacional Unilever e, no Brasil, o conglomerado alimentício BRF e a companhia aérea Gol, além de também ter desenvolvido a marca da Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP), associada à ABDE.

A nova logomarca da ABDE traz um losango amarelo e azul, desenhado com laterais curvadas, numa alusão à bandeira brasileira. O desenho é composto por tons sutis: as variações de azul representam a transparência da entidade em sua trajetória e o amarelo remete à riqueza gerada pelos associados, enquanto a faixa branca que cruza o círculo demonstra a visão além do horizonte e a perspectiva de crescimento da associação.

Assista ao filme e conheça mais detalhes sobre a nova marca no site www.abde.org.br

VISÃOA faixa branca que

cruza o símbolodemonstra a visãoalém do horizonte.

CRESCIMENTOO alargamento dafaixa representa a

perspectiva de crescimento.

RIQUEZAO degradê amarelo

representandoa riqueza.

EXPANSÃOAs laterais curvadas

demonstram umpaís em expansão.

BRASILO símbolo, em sua

forma e cores,busca remeter à

bandeira do Brasil.

TRANSPARÊNCIAAs variações de

azul representama transparênciada associação.

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OPERAÇÕES DE CRÉDITO

Fonte: Banco Central

A participação do Sistema Nacional de Fomento no volume total de crédito do Sistema Financeiro Nacional

cresceu de forma significativa a partir da última crise mundial. No ano passado, atingiu 52,5%.

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RUMOS - 39 – Março/Abril 2014

R REPORTAGEM ESPECIAL - ABDE 45 ANOS

Um seminário sobre o papel do Sistema Nacional de Fomento como fonte de crédito para o desenvolvimento e a apresentação da nova marca da ABDE, eventos realizados em Brasília no dia 16 de abril, na sede do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), marcaram a comemoração do 45º aniversá-rio da instituição, a partir de agora denominada Associação Brasileira de Desenvolvimento. Na abertura do encontro, o presidente da entidade, Carlos Horn, disse que sua reestrutu-ração, inserida em um planejamento estratégico, significa “a decisão do corpo de associados de reforçar o nosso compro-misso com o desenvolvimento, que é núcleo e o coração do nosso trabalho”.

A importância da ABDE foi ressaltada também por inte-grantes das agências de fomentos da mesa, que teve a participa-ção do diretor de Controle do Bancoob, Rubens Rodrigues Filho. A representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil, Daniela Carrera, destacou que as agências de fomento associadas “são planejadoras e exe-cutoras de projetos de desenvolvimento regional”.

“Essas instituições financeiras”, prosseguiu, “têm conhe-cimento da economia de cada estado e sabem como potencia-lizar as capacidades de cada região.” Daniela anunciou que, a partir deste ano, o BID destinará recursos para cooperação téc-nica com as agências de fomento.

Chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, Sérgio Odilon dos Anjos assina-lou que o novo nome e a marca da ABDE enfatizam o foco da instituição no desenvolvimento. Para o cumprimento desse propósito, continuou, o marco regulatório que rege os agentes de fomento vem sendo gradativamente aperfeiçoado. “Isso tem que ser feito de forma segura para que não tenhamos pro-blemas”, pontuou.

Outro integrante da mesa, Guilherme de Lacerda, diretor das áreas de Infraestrutura Social, Meio Ambiente, Agropecuária e Inclusão Social do BNDES, apontou como

“grande tarefa da ABDE” a integração das agências e bancos estatais de fomento. “Eu quero deixar ressaltado que o BNDES, dentro dessa disposição de fazer mais e gerar fun-ding para o microcrédito e grandes projetos de infraestrutura, precisa recolher da ABDE sugestões e críticas, para elevarmos o Sistema Nacional de Fomento ao nível que ele merece.”

A abertura do seminário contou também com a participa-ção dos representantes dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, Valter Bianchini, secretário de Agricultura Familiar; e do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, secretário-executivo. Eles destacaram as parcerias entre os ministérios e as institui-ções financeiras de fomento.

"O MDA tem compromisso com o desenvolvimento rural sustentável. Representamos um segmento onde nossas políti-cas públicas são voltadas para mais de quatro milhões de agri-cultores familiares em diferentes biomas do país, com diferen-ças de renda, acesso à terra e às políticas públicas. Esse seminá-rio é importante para pensar na unidade a essas políticas, no rumo da diretriz da ABDE, que se preocupa não só com o desenvolvimento econômico, mas, também, com a inclusão produtiva para reduzir desigualdades e promover o desenvol-vimento das futuras gerações”, disse Bianchini.

“É importante que vocês se organizem e a ABDE possa ampliar essa interlocução com o governo. A economia vai pas-sar por uma grande reformulação em todo o globo e a susten-tabilidade é o DNA dessas mudanças. O que nos distingue em relação aos países em desenvolvimento é a presença de um BNDES, somos vistos como vanguardistas na questão do desenvolvimento. Precisamos pensar em longo prazo sistêmi-co e os bancos e agências de fomento são muito importantes neste desafio. Vamos ampliar essa interlocução”, reforçou Gaetani.

Painéis – Desenvolvimento regional, inovação em garantias e financiamento de operações estruturadas constituíram a pauta

Seminário reafirma compromisso com o desenvolvimento

Painéis debateram Desenvolvimento Regional, Inovação em Garantias e Financiamento de Operações Estruturadas; na foto, Claudio Torres apresenta a experiência da Desenvolve SP em garantias

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RUMOS - 40 – Março/Abril 2014

R REPORTAGEM ESPECIAL - ABDE 45 ANOS

de temas debatidos nos painéis do encontro. O diretor Financeiro e de Controladoria da Finep, Cláudio Guimarães, informou que o programa Inovacred, lançado em 2013 na sede da ABDE, “já conta com 17 e caminha para 19 agentes que estão levando inovação para o Brasil inteiro”. Acrescentou que há 700 empresas com projetos

de valor inferior a R$ 10 milhões cada e desse total 390 serão encaminhadas a agentes associados à entidade.

O Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), criado há cerca de três anos pelo BNDES, atingiu em março passado a marca de R$ 4 bilhões, perfazendo aproximadamente 21 mil operações, segundo Ruy Gomes, chefe de departamento da Área de Crédito. Outro aspecto por ele destacado é a composi-ção das garantias: “A maioria das contratações é de agentes que não estavam obrigados a fazê-las. O agente financeiro contrata o FGI por entender que é interessante como apoio às suas ope-rações. Isso é uma inovação.”

Diretor do Fundo Garantidor de Cooperativismo de Crédito (FGCoop), Lúcio César de Faria disse que o coopera-tivismo financeiro, surgido em 1995 e hoje contando com 6 milhões de associados, passa por uma fase de consolidação no Brasil. Ele destacou que o FGCoop, uma associação civil sem fim lucrativo, oferece garantia para depósitos com valor até R$ 250 mil. “Nosso esforço é para que as cooperativas de crédito ampliem o leque de produtos e serviços e se tornem cooperati-vas financeiras”, afirmou. “E para isso contamos com a capila-ridade do cooperativismo, característica marcante que é uma forma de inclusão financeira.”

Sociedades – O diretor-técnico o Sebrae, Carlos Alberto Santos, assinalou que a expansão do mercado financeiro em direção ao segmento dos pequenos negócios exige formas de garantia de crédito diferentes das convencionais. Deu como exemplo a iniciativa surgida em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde se formou a primeira sociedade de garantia de cré-dito. “Esse é um instrumento eficaz para a pequena empresa, já que as garantias dadas por essa sociedade são um aval da comunidade à empresa.”

Outra forma inovadora é a utilização do crédito do ICMS a ser recebido pela empresa como garantia de financiamento,

adotada com grande sucesso em São Paulo, segundo o diretor de Fomento e Crédito da Desenvolve SP, Claudio Torres. “É uma coisa inédita no Brasil que tem atraído muitos investimen-tos para São Paulo”, ressaltou.

A decisão de superar os gargalos que travam o crescimento da economia com megaprojetos nas áreas de logística e trans-portes tornou cruciais as operações estruturadas. Nesse seg-mento é fundamental a presença de dois bancos estatais: BNDES e Caixa Econômica Federal, componentes do Sistema Nacional de Fomento.

Parceria – Superintendente da Área de Estruturação de Projetos do BNDES, Henrique Amarante da Costa Pinto defi-niu como objetivo das operações estruturadas a montagem de projetos focados no modelo de concessões, visando atrair a ini-ciativa privada para atuação em parceria com o setor público e, ao mesmo tempo, criar parâmetros de qualidade de serviços.

Depois de frisar que infraestrutura é serviço público e cabe ao governo atuar com exclusividade nesse setor, diretamente ou por meio de concessão à iniciativa privada, ele acrescentou que “esse é o modelo que vem sendo aplicado com sucesso na modernização de aeroportos, porque quando faz a concessão o governo muda os parâmetros de qualidade dos serviços”.

Também para Carlos André Lins Rodrigues, gerente de Clientes e Negócios de Infraestrutura e Saneamento da Caixa Econômica, a parceria com a iniciativa privada é imprescindível para superar o atraso da economia brasileira na área de infraes-trutura. “Será necessário investir 5% do PIB durante 20 anos. O modelo de parcerias público-privadas e concessões é o mais adequado para enfrentar um desafio desse tamanho”, afirmou.

Rodrigues lembrou que o PAC, lançado em 2007, “foi a pri-meira proposta estruturante depois de 30 anos de ausência do planejamento governamental”. Em consequência, “a Caixa, que antes era um banco de habitação e saneamento, começou a ocupar, junto com o BNDES, vários espaços: aeroportos, ener-gia elétrica, transportes, telecomunicações, construção naval”.

Segundo o gerente de projetos de infraestrutura da Caixa, o setor público arca, atualmente, com 59,4% dos investimentos nessa área. “Mas o governo não poderá enfrentar sozinho o desafio de investir anualmente 5% do PIB. A alternativa será a entrada do mercado de capitais”, disse.

No seminário, ABDE lançou a coletânea de trabalhos “Sistema Nacional de Fomento: Financiando o Desenvolvimento”. A obra reúne dez artigos, que buscam definir e caracterizar o Sistema, com olhar específico dos autores (técnicos das instituições associadas, na foto ao lado) sobre as realidades locais e como elas dialogam com o contexto geral do sistema. Os artigos foram escritos como trabalho final de conclusão do curso “Desenvolvimento Econômico e Sistema Nacional de Fomento”, promovido pela associação em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). F

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Coletânea de trabalhos

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Melhores práticas do

Sistema Nacional de

Fomento

Tema 2: Excelência em

Gestão

Prêmio de R$ 5 mil para o melhor trabalho em cada categoriaPremiação para as instituições dos autores vencedores

Informações: [email protected]

Regulamento no site www.abde.org.br

Envio dos trabalhos até 30 de agosto de 2014

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Prêmio ABDE

Realização:

Edição 2014

Tema1: Financiamento do Desenvolvimento

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RUMOS - 43 – Março/Abril 2014

recente crise financeiro-econômica iniciada em 2007/2008 nos lembrou que a história do capi-talismo é permeada por crises – algumas mais intensas que outras, mas todas assolaram a eco-nomia. É interessante notar que, durante esses

períodos de instabilidade, uma das alternativas encontradas para minimizar os efeitos dos ciclos econômicos em muitos países, desenvolvidos e em desenvolvimento, foi a criação ou consolidação de bancos públicos de financiamento com o objetivo de fortalecer as economias nacionais. Foi assim nos Estados Unidos, no New Deal, e em parte da Europa, Ásia e América Latina no pós-Segunda Guerra Mundial.

A Alemanha não foi exceção. Ainda que os bancos tenham desempenhado papel central na história econômica e financeira alemã desde a Idade Média, o país implantou e aperfeiçoou um complexo sistema bancário público para apoiar seu desenvolvimento e industrialização na reconstru-ção do pós-guerra (esse sistema foi decisivo também no processo de unificação na década de 1990). Com um Produ-to Interno Bruto de US$ 3,6 trilhões em 2013, a Alemanha é a quarta economia do mundo. Na Europa é a maior economia, o país mais industrializado e o segundo mais populoso. Apre-senta, ainda, baixas taxas de desemprego e de inflação, alto índice de escolaridade e um dos maiores PIBs per capita do mundo, que totaliza US$ 43,9 mil. O setor exportador tem

papel fundamental na economia, tendo sido um dos principais responsáveis pelo crescimento nos últimos anos. No geral, a Alemanha exporta produtos de alto valor agregado, com destaque para veículos, máquinas, equipamentos e produtos químicos. As exportações foram fundamentais para que o país iniciasse o processo de recuperação da crise financeira.

Diferentemente de outras nações onde o mercado de capitais tem grande relevância, na Alemanha o crédito bancá-rio é a principal fonte de recursos para empresas, especialmen-te para as de pequeno e médio porte. Atualmente, o país conta com um sistema financeiro misto, com a participação de insti-tuições privadas e públicas. O crédito é em grande parte forne-cido por bancos comerciais e de poupança, enquanto outras formas de crédito são secundárias.

Basicamente, o sistema financeiro alemão está estrutura-do em bancos comerciais privados, bancos públicos e bancos cooperativos. O sistema é complementado, ainda, pelos bancos especializados (privados ou públicos). A principal característica desse sistema é a universalidade na oferta de serviços, ou seja, a maioria das instituições oferece uma série de serviços bancários: comerciais, investimento, seguro, imobiliário etc.

Os bancos comerciais (grandes bancos, bancos regionais, estrangeiros e particulares) atuam como bancos múltiplos e representavam 36% dos ativos do sistema bancário em 2010.

Os bancos públicos, que representavam 31% dos ativos do sistema neste mesmo período, são divididos em caixas econômicas municipais (Sparkassen) e centrais regionais de depósitos (Landesbanken). As Sparkassen são as principais prestadoras de serviços bancários para pessoas físicas e empresas, na maioria pequenas e médias. Os Landesbanken agem como câmaras de compensação para as respectivas caixas econômicas locais, além de atuarem no mercado de capitais.

O setor de bancos cooperativos possui estrutura similar ao segmento de bancos públicos. As cooperativas de crédito depositam o excedente de recursos nas caixas centrais de cooperativas, que o canalizam para o Banco Cooperativo Federal. Essa estrutura representava 11% dos ativos do sistema. O foco dessas instituições são as pequenas e médias empresas, empréstimo imobiliário e investimentos estrutu-rados pelas cooperativas centrais. As caixas cooperativas centrais agem de forma similar aos Landesbanken, como câmaras de compensação e porta de entrada para os merca-dos de capitais.

A partir das últimas décadas, os bancos públicos e coope-rativos têm atuado cada vez mais como bancos múltiplos. Tais instituições possuem atuação restrita regionalmente, de forma que não há concorrência entre as instituições do pró-prio segmento.

Finalmente, o sistema bancário alemão é complementa-do pelas chamadas instituições especializadas, que são prote-gidas por barreiras legais contra concorrência com as demais instituições financeiras, que só podem atuar neste segmento por meio de subsidiárias. São exemplos de instituições espe-cializadas os bancos hipotecários, companhias imobiliárias e instituições com funções específicas. Os bancos hipotecári-os podem ser privados ou públicos e são os mais importan-tes dentro desse grupo, responsáveis pelo financiamento da construção civil, investimentos industriais e agrícolas. Além disso, concedem crédito ao setor público e instituições públicas.

As instituições de fomento puras ficaram restritas ao KfW Bankengruppe e bancos estaduais com propósitos específicos. Fundado em 1948 com o objetivo de auxiliar a reconstrução da economia após a Segunda Guerra Mundial, como parte do Plano Marshall, o KfW atualmente é um dos mais importantes bancos de desenvolvimento do mundo e um dos dez maiores bancos da Alemanha.

Com ativos da ordem de 512 bilhões de euros (algo em

torno de 18% do PIB) e financiamentos de mais de 400 bilhões de euros (15% do PIB), o controle de seu capital pertence ao governo federal (80%) e aos estados da federação (20%). A estrutura de captação está concentrada (cerca de 90%) no mercado monetário e de capitais, principalmente por meio de títulos que são garantidos pelo Governo Federal.

Atualmente, o KfW trabalha em duas frentes principais: mercado doméstico (financiamento e capital de giro para pequenas e médias empresas, financiamento para inovação, educação, habitação, infraestrutura, meio ambiente, setor público, entre outros) e negócios internacionais (financia-mento ao setor exportador e cooperação financeira interna-cional). O grupo atua por meio de subsidiárias que possuem perfis específicos em termos de foco e instrumentos.

O sistema bancário alemão cresceu de forma constante até 2008, quando os ativos totais representavam 366% do PIB nominal na Alemanha. Depois de uma contração de 13% entre 2008 e 2009, o sistema manteve-se, aproximada-mente, do mesmo tamanho.

Entretanto, o setor foi fortemente afetado pela crise financeira de 2008-2009. Com os balanços de bancos priva-dos deteriorados, os empréstimos foram reduzidos. Assim como outros países (o próprio Brasil e o Chile, por exemplo), a Alemanha utilizou bancos públicos para intensificar o financiamento ao setor privado. O KfW introduziu um “pro-grama anticíclico especial” que forneceu linhas de crédito e garantias de empréstimo para bancos, a fim de manter o crédito à economia fluindo. Além disso, aumentou a conces-são de crédito para grandes empresas com problemas de liquidez, intensificou os empréstimos para infraestrutura e ajudou na recapitalização de bancos estatais regionais.

Ao longo das últimas duas décadas, as instituições finan-ceiras públicas mantiveram participação relevante no total dos ativos bancários mundiais (em média 25%). Experiênci-as de países desenvolvidos demonstram que não há um modelo ideal de sistema financeiro para promover o desen-volvimento econômico. O formato institucional desse conjunto varia bastante entre os países em função de uma série de fatores. Tanto sistemas financeiros baseados no crédito bancário, quanto em mercados de capitais, tiveram êxito. A Alemanha é um exemplo de país que conseguiu combinar desenvolvimento financeiro e econômico, com base no crédito bancário, por meio da utilização de um sistema bancário misto, com a participação de instituições públicas e privadas.

RUMOS - 42 – Março/Abril 2014

Existe alternativa ao mercado de capitais?

segundo artigo da nossa coluna Pelo Mundo, que pretende caracterizar o sistema de fomento de diferentes países, foi escrito por Dayane Tavares e trata sobre o sistema de desenvolvimento alemão. Dayane chama atenção, no texto, para a importância das instituições financeiras públicas na recuperação econômica e para o desenvolvimento da maior economia europeia,

além de nos contar um pouco sobre a complexa divisão do sistema em bancos comerciais privados, bancos públicos e bancos cooperativos e sobre a atuação dos bancos especializados. Elaressalta também a peculiaridade da baixa participação do mercado de capitais no sistema de financiamento produtivo do país. Dayane Tavares é economista de formação, especialista em Economia do Petróleo e Gás pela UFRJ e atua como analista técnica na ABDE. Espero que vocês aproveitem a leitura.

Fernanda Feil, economista e gerente de Estudos Econômicos da ABDE

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recente crise financeiro-econômica iniciada em 2007/2008 nos lembrou que a história do capi-talismo é permeada por crises – algumas mais intensas que outras, mas todas assolaram a eco-nomia. É interessante notar que, durante esses

períodos de instabilidade, uma das alternativas encontradas para minimizar os efeitos dos ciclos econômicos em muitos países, desenvolvidos e em desenvolvimento, foi a criação ou consolidação de bancos públicos de financiamento com o objetivo de fortalecer as economias nacionais. Foi assim nos Estados Unidos, no New Deal, e em parte da Europa, Ásia e América Latina no pós-Segunda Guerra Mundial.

A Alemanha não foi exceção. Ainda que os bancos tenham desempenhado papel central na história econômica e financeira alemã desde a Idade Média, o país implantou e aperfeiçoou um complexo sistema bancário público para apoiar seu desenvolvimento e industrialização na reconstru-ção do pós-guerra (esse sistema foi decisivo também no processo de unificação na década de 1990). Com um Produ-to Interno Bruto de US$ 3,6 trilhões em 2013, a Alemanha é a quarta economia do mundo. Na Europa é a maior economia, o país mais industrializado e o segundo mais populoso. Apre-senta, ainda, baixas taxas de desemprego e de inflação, alto índice de escolaridade e um dos maiores PIBs per capita do mundo, que totaliza US$ 43,9 mil. O setor exportador tem

papel fundamental na economia, tendo sido um dos principais responsáveis pelo crescimento nos últimos anos. No geral, a Alemanha exporta produtos de alto valor agregado, com destaque para veículos, máquinas, equipamentos e produtos químicos. As exportações foram fundamentais para que o país iniciasse o processo de recuperação da crise financeira.

Diferentemente de outras nações onde o mercado de capitais tem grande relevância, na Alemanha o crédito bancá-rio é a principal fonte de recursos para empresas, especialmen-te para as de pequeno e médio porte. Atualmente, o país conta com um sistema financeiro misto, com a participação de insti-tuições privadas e públicas. O crédito é em grande parte forne-cido por bancos comerciais e de poupança, enquanto outras formas de crédito são secundárias.

Basicamente, o sistema financeiro alemão está estrutura-do em bancos comerciais privados, bancos públicos e bancos cooperativos. O sistema é complementado, ainda, pelos bancos especializados (privados ou públicos). A principal característica desse sistema é a universalidade na oferta de serviços, ou seja, a maioria das instituições oferece uma série de serviços bancários: comerciais, investimento, seguro, imobiliário etc.

Os bancos comerciais (grandes bancos, bancos regionais, estrangeiros e particulares) atuam como bancos múltiplos e representavam 36% dos ativos do sistema bancário em 2010.

Os bancos públicos, que representavam 31% dos ativos do sistema neste mesmo período, são divididos em caixas econômicas municipais (Sparkassen) e centrais regionais de depósitos (Landesbanken). As Sparkassen são as principais prestadoras de serviços bancários para pessoas físicas e empresas, na maioria pequenas e médias. Os Landesbanken agem como câmaras de compensação para as respectivas caixas econômicas locais, além de atuarem no mercado de capitais.

O setor de bancos cooperativos possui estrutura similar ao segmento de bancos públicos. As cooperativas de crédito depositam o excedente de recursos nas caixas centrais de cooperativas, que o canalizam para o Banco Cooperativo Federal. Essa estrutura representava 11% dos ativos do sistema. O foco dessas instituições são as pequenas e médias empresas, empréstimo imobiliário e investimentos estrutu-rados pelas cooperativas centrais. As caixas cooperativas centrais agem de forma similar aos Landesbanken, como câmaras de compensação e porta de entrada para os merca-dos de capitais.

A partir das últimas décadas, os bancos públicos e coope-rativos têm atuado cada vez mais como bancos múltiplos. Tais instituições possuem atuação restrita regionalmente, de forma que não há concorrência entre as instituições do pró-prio segmento.

Finalmente, o sistema bancário alemão é complementa-do pelas chamadas instituições especializadas, que são prote-gidas por barreiras legais contra concorrência com as demais instituições financeiras, que só podem atuar neste segmento por meio de subsidiárias. São exemplos de instituições espe-cializadas os bancos hipotecários, companhias imobiliárias e instituições com funções específicas. Os bancos hipotecári-os podem ser privados ou públicos e são os mais importan-tes dentro desse grupo, responsáveis pelo financiamento da construção civil, investimentos industriais e agrícolas. Além disso, concedem crédito ao setor público e instituições públicas.

As instituições de fomento puras ficaram restritas ao KfW Bankengruppe e bancos estaduais com propósitos específicos. Fundado em 1948 com o objetivo de auxiliar a reconstrução da economia após a Segunda Guerra Mundial, como parte do Plano Marshall, o KfW atualmente é um dos mais importantes bancos de desenvolvimento do mundo e um dos dez maiores bancos da Alemanha.

Com ativos da ordem de 512 bilhões de euros (algo em

torno de 18% do PIB) e financiamentos de mais de 400 bilhões de euros (15% do PIB), o controle de seu capital pertence ao governo federal (80%) e aos estados da federação (20%). A estrutura de captação está concentrada (cerca de 90%) no mercado monetário e de capitais, principalmente por meio de títulos que são garantidos pelo Governo Federal.

Atualmente, o KfW trabalha em duas frentes principais: mercado doméstico (financiamento e capital de giro para pequenas e médias empresas, financiamento para inovação, educação, habitação, infraestrutura, meio ambiente, setor público, entre outros) e negócios internacionais (financia-mento ao setor exportador e cooperação financeira interna-cional). O grupo atua por meio de subsidiárias que possuem perfis específicos em termos de foco e instrumentos.

O sistema bancário alemão cresceu de forma constante até 2008, quando os ativos totais representavam 366% do PIB nominal na Alemanha. Depois de uma contração de 13% entre 2008 e 2009, o sistema manteve-se, aproximada-mente, do mesmo tamanho.

Entretanto, o setor foi fortemente afetado pela crise financeira de 2008-2009. Com os balanços de bancos priva-dos deteriorados, os empréstimos foram reduzidos. Assim como outros países (o próprio Brasil e o Chile, por exemplo), a Alemanha utilizou bancos públicos para intensificar o financiamento ao setor privado. O KfW introduziu um “pro-grama anticíclico especial” que forneceu linhas de crédito e garantias de empréstimo para bancos, a fim de manter o crédito à economia fluindo. Além disso, aumentou a conces-são de crédito para grandes empresas com problemas de liquidez, intensificou os empréstimos para infraestrutura e ajudou na recapitalização de bancos estatais regionais.

Ao longo das últimas duas décadas, as instituições finan-ceiras públicas mantiveram participação relevante no total dos ativos bancários mundiais (em média 25%). Experiênci-as de países desenvolvidos demonstram que não há um modelo ideal de sistema financeiro para promover o desen-volvimento econômico. O formato institucional desse conjunto varia bastante entre os países em função de uma série de fatores. Tanto sistemas financeiros baseados no crédito bancário, quanto em mercados de capitais, tiveram êxito. A Alemanha é um exemplo de país que conseguiu combinar desenvolvimento financeiro e econômico, com base no crédito bancário, por meio da utilização de um sistema bancário misto, com a participação de instituições públicas e privadas.

RUMOS - 42 – Março/Abril 2014

Existe alternativa ao mercado de capitais?

segundo artigo da nossa coluna Pelo Mundo, que pretende caracterizar o sistema de fomento de diferentes países, foi escrito por Dayane Tavares e trata sobre o sistema de desenvolvimento alemão. Dayane chama atenção, no texto, para a importância das instituições financeiras públicas na recuperação econômica e para o desenvolvimento da maior economia europeia,

além de nos contar um pouco sobre a complexa divisão do sistema em bancos comerciais privados, bancos públicos e bancos cooperativos e sobre a atuação dos bancos especializados. Elaressalta também a peculiaridade da baixa participação do mercado de capitais no sistema de financiamento produtivo do país. Dayane Tavares é economista de formação, especialista em Economia do Petróleo e Gás pela UFRJ e atua como analista técnica na ABDE. Espero que vocês aproveitem a leitura.

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O

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mportantes instituições têm recorrido à criação de bancos de práticas, com o objetivo de difun-dir e compartilhar soluções para problemas inerentes a distintas áreas de atuação. Desta-cam-se, por exemplo, a Fundação Banco do

Brasil, com o seu Banco de Tecnologias Sociais; a Caixa Econômica Federal, com o Banco de Melhores Práticas; e o Conselho Nacional de Justiça, com o Banco de Boas Práticas de Gestão do Poder Judiciário. As boas práticas são a base de um sistema de inovação e, com a ajuda da tecnologia da infor-mação, é possível ampliar o compartilhamento dessas expe-riências e favorecer a integração e intercâmbio entre organiza-ções e esferas de gestão.

Na área da saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), por meio de um acordo de cooperação técnica, formaram uma Rede de Apoio à Gestão Estratégica do Sistema Único de Saúde (SUS), que gerou como um de seus produtos o Banco de Práticas e Soluções em Saúde e Ambi-ente (IdeiaSUS).

O objetivo do IdeiaSUS é permitir o compartilhamento de ações, iniciativas, projetos e programas que tenham por finalidade o enfrentamento de problemas no SUS, a fim de estimular interações e parcerias. O SUS é um sistema universal, descentralizado, participativo, com controle social e que atende a todos os cidadãos, por meio de ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde, individual e coletiva.

É composto por uma extensa rede de milhares de opera-dores, que inclui os gestores dos quase seis mil municípios brasileiros, as 27 unidades da federação e o governo federal, além da participação complementar da iniciativa privada filan-trópica. A complexidade de um sistema dessa magnitude, aliada à vasta extensão territorial do país e à grande diversidade cultural, exigem estratégias de ação que favoreçam a conjuga-ção de esforços e iniciativas.

O banco permite identificar, prospectar e dar acesso público a práticas e soluções, desenvolvidas Brasil afora, capa-zes de fazer frente a situações e realidades insatisfatórias no

campo da saúde. Estruturado como um software web, pode ser utilizado por gestores, técnicos, instâncias de controle social e pesquisadores, tanto do setor público quanto privado.

Seu uso facilita a difusão de iniciativas exitosas que podem ser reaplicadas em outras realidades e permite que se conhe-çam os fatores que inviabilizaram outras experiências que poderiam ter sido bem-sucedidas. Ao longo dos 25 anos de implantação do SUS, completados em 2013, o setor vem se consolidando como estratégico para a política de desenvolvi-mento nacional, sendo responsável por 8% do Produto Interno Bruto.

Em que pesem os diversos percalços políticos, econômi-cos, gerenciais e as alterações no perfil demográfico e epidemi-ológico da população brasileira, são inegáveis os avanços alcançados, como constata a extensa e detalhada avaliação realizada pelo Banco Mundial, no relatório “20 anos de cons-trução do sistema de saúde no Brasil: uma avaliação do Sistema Único de Saúde”, publicado em 2013.

Continuar o avanço rumo ao alcance dos objetivos de acesso universal e equitativo à assistência à saúde é um processo complexo e demorado. O compartilhamento de experiências que visam a resolução de problemas que afetam todo o sistema evita a duplicação de esforços e recursos e potencializa o aumento da eficiência e da qualidade.

Muitos estados e municípios estão experimentando novos modelos e formatos para o enfrentamento de antigos proble-mas. O banco de práticas é uma ferramenta que permite iden-tificar potenciais parcerias para a incorporação de técnicas e estratégias de distintas naturezas (gerenciais, de monitoramen-to, de avaliação etc).

A otimização dos recursos disponíveis e a melhoria do desempenho do SUS exigem o intercâmbio amplo de lições aprendidas e de boas práticas identificadas. O bom funciona-mento do sistema depende da eficácia da colaboração entre os entes gestores.

A ampliação do acesso, da qualidade e da equidade só virá como resultado da coordenação de esforços, recursos, ideias, estratégias e iniciativas que agregam valor ao que tem sido feito, a partir das inúmeras experiências que são criativamente desenvolvidas todos os dias neste imenso e complexo país.

Valcler Rangel e Alice Branco

SAÚDE E AMBIENTE

Boas práticas:compartilhamento,intercâmbio e inovação

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Vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Assessora técnica da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde/Fiocruz.

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Comércio, ser-viços, agricultura e pecuária são for-tes setores da eco-nomia alagoana beneficiados por diversas linhas de crédito da Desen-volve – Agência de Fomento de Alagoas. Mas, nos p r ime i ros t r ê s meses de 2014, o

maior destaque vai para o setor industrial, que foi responsável por 95% das liberações financeiras realizadas pela instituição neste ano.

A Desenvolve já liberou em 2014 pouco mais de R$ 5,1 milhões em crédito para o fortalecimento dos pequenos negó-cios de Alagoas. Deste total, R$ 5 milhões foram destinados às indústrias alagoanas, sobretudo as ligadas à cadeia produti-va do leite.

Segundo o diretor-presidente da Desenvolve, Antonio Carlos Quintiliano, com isto a instituição está reforçando o seu trabalho voltado para o fortalecimento e estruturação das cadeias produtivas do estado. “Este é um dos principais obje-tivos da Desenvolve, que vem atendendo os desejos de diver-sas cadeias produtivas, através de cooperativas e associações, o que motiva o aumento do leque de serviços”, destacou.

Com o objetivo de impulsionar o crédito e disseminar as soluções mais adequadas às necessidades financeiras das empresas de pequeno porte, o Sebrae e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vão reali-zar neste ano 115 seminários de crédito em 17 estados e no Distrito Federal. Durante os encontros, que já começaram, os donos de pequenos negócios têm a chance de negociar a tomada de crédito diretamente com representantes de insti-tuições financeiras convidadas.

Essa é a primeira vez que o BNDES promove seminários em escala nacional e em grande quantidade. O objetivo é che-gar mais perto das micro e pequenas empresas por meio da parceria com o Sebrae e fazer com que os bancos credencia-dos possam atender diretamente os pequenos negócios. Entre os agentes financeiros, estão confirmados: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste do Bra-sil, Banco da Amazônia, Santander, Bradesco, agências de fomento e bancos de desenvolvimento.

Primeiramente, os empresários assistem a palestras com representantes do banco e de agentes financeiros convidados pelas unidades do Sebrae nos estados, e organizadoras dos seminários. As palestras prosseguem com as rodadas de cré-dito. Neste momento, os participantes têm a chance de ficar frente a frente com diversos agentes financeiros e contam com um primeiro atendimento relacionado à demanda espe-cífica de seus negócios.

Só no ano passado o segmento de micro, pequenas e médias empresas recebeu recursos do BNDES no montante de R$ 63,5 bilhões. O número é recorde na história do banco e revela um aumento de 26,8% em relação ao ano anterior. Esses recursos foram aplicados graças ao desenvolvimento de novos produtos, a exemplo do Cartão BNDES. Este ano, os empresários vão contar ainda com mais um novo progra-ma, o MPME Inovadora, destinado a ajudar micro, pequenas e médias empresas de perfil inovador a introduzirem as suas inovações no mercado.

Os interessados em participar dos seminários de crédito devem procurar diretamente as unidades do Sebrae nos res-pectivos estados para se informar sobre o calendário e fazer inscrição gratuitamente.

RUMOS - 46 – Março/Abril 2014 RUMOS - 47 – Março/Abril 2014

O Fashion City Bra-sil, maior complexo de moda da América Latina, conta com investimento de R$ 141 milhões para sua implantação, R$ 50 milhões estão sendo financiados pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). O empreendimento recebeu a segunda parcela do financia-mento, de R$ 8,4 milhões, para dar andamento à construção do shopping no terreno de 205 mil m², localizado no Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A primeira parcela de investimentos permitiu ao Fashi-on City Brasil iniciar suas obras, que empregam atualmente cerca de 80 pessoas diretamente, além do contingente de tra-balhadores indiretos, das empresas de terraplenagem e de pré-moldados. Um dos sócios e o responsável pela estraté-gia do complexo de moda, Gilson Amaral Brito Jr., conside-ra que os recursos recebidos por intermédio do BDMG são fundamentais para garantir a credibilidade do projeto nessa fase de implantação. Para João Paulo Moreira, gerente de negócios do banco, o empreendimento está alinhado à polí-tica estadual de expansão do Aeroporto de Confins. “O empreendimento irá atrair investimentos de cerca de 350 empresas do segmento de moda para o estado, gerando emprego e renda para a região”.

F FOMENTO

O Programa Bade-sul Cidades viabilizará melhorias em infraes-trutura, aquisição de máquinas e equipa-mentos rodoviários em nove municípios gaú-chos. Os contratos

foram assinados hoje pelos representantes dos municípios e pelo presidente da Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul), Marcelo Lopes, durante cerimônia com a presença do governador Tarso Genro e do secretário de Desenvolvi-mento e Promoção do Investimento (SDPI), Mauro Knijnik.

Os contratos somam R$ 6,077 milhões e se destinam a investimentos em máquinas e equipamentos rodoviários, infraestrutura urbana e construção de centro administrativo. “É importante ressaltar que o valor é aparentemente pequeno, mas é grande para a realidade financeira das prefeituras. Os financiamentos atendem a necessidades mínimas, urgentes e importantes”, ressalta o governador.

Para o secretário Knijnik, “é fundamental que os municí-pios tenham infraestrutura para fomentar seu desenvolvi-mento, como é o caso das cidades com economia baseada na agricultura e que, para manterem suas estradas vicinais, precisam adquirir máquinas e equipamentos rodoviários”.

A Agência de Fomen-to do Estado do Amazo-nas (Afeam) lançou um novo aplicativo móvel, desenvolvido pela Gerên-cia de Tecnologia da Informação da agência, com o objetivo de aten-der as recomendações de melhoria dos processos

de contratação de crédito na capital do estado. O aplicativo, denominado Vistec, permite que os técnicos realizem, em média, 20 visitas no período de dois dias.

Com o novo sistema, todas as informações coletadas podem ser sincronizadas em 20 minutos, otimizando a rotina de visitas aos clientes. Anteriormente, as transcrições dos dados cadastrais, que eram realizadas manualmente, demoravam, em média, um dia para serem transmitidas ao Sistema de Controle de Processos (SCP).

O Banco Nacio-nal de Desenvolvi-mento Econômico e S o c i a l ( B N D E S ) entregou no dia 25 de abril, na sede regional da Caixa em Uberlân-dia, no Triângulo

Mineiro, três Cartões BNDES para celebrar a emissão do cartão em todos os municípios minei-ros. Com essa marca, o Cartão BNDES atinge

100% de cobertura nos municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O objetivo do BNDES passa a ser emissão do plástico nos 144 municípios das regiões Norte e Nordeste que ainda não contam com empreendimentos apoiados por essa linha de financiamento.

Afeam lança aplicativo para acelerar contratação de crédito

Badesul Cidades financiará R$ 6 milhões para infraestrutura de nove municípios gaúchos

Fashion City Brasil recebe financiamento do BDMG

Especiali-zada em tra-tamento tér-mico e servi-ços de solda-g e m , a empresa Fix-xar do Brasil obteve crédi-to na Agência

Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) de R$ 930 mil para investir em capital de giro e máquinas e equipamen-tos – recomposição de caixa, aquisição de duas unidades de tratamento térmico e componentes de maquinário.

Com cerca de 40 empregados, a Fixxar é estabelecida em Barra Mansa, no sul do estado, e possui unidade em Macaé. A empresa presta serviços de locação de unidades de trata-mento térmico, pré e pós-aquecimento (soldagem) para pla-taformas off-shore, refinarias e indústrias de óleo e gás, ener-gia e construção civil. Também realiza montagem e manu-tenção industrial e naval e fornece pessoal para operação de maquinário alugado.

AgeRio libera crédito para empresa de tratamento térmico

Cartão BNDES chega a todos os municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país

Desenvolve já liberou mais de R$ 5 milhões para setor industrial, em 2014

Seminário dissemina soluçõesde crédito para pequenosnegócios

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Comércio, ser-viços, agricultura e pecuária são for-tes setores da eco-nomia alagoana beneficiados por diversas linhas de crédito da Desen-volve – Agência de Fomento de Alagoas. Mas, nos p r ime i ros t r ê s meses de 2014, o

maior destaque vai para o setor industrial, que foi responsável por 95% das liberações financeiras realizadas pela instituição neste ano.

A Desenvolve já liberou em 2014 pouco mais de R$ 5,1 milhões em crédito para o fortalecimento dos pequenos negó-cios de Alagoas. Deste total, R$ 5 milhões foram destinados às indústrias alagoanas, sobretudo as ligadas à cadeia produti-va do leite.

Segundo o diretor-presidente da Desenvolve, Antonio Carlos Quintiliano, com isto a instituição está reforçando o seu trabalho voltado para o fortalecimento e estruturação das cadeias produtivas do estado. “Este é um dos principais obje-tivos da Desenvolve, que vem atendendo os desejos de diver-sas cadeias produtivas, através de cooperativas e associações, o que motiva o aumento do leque de serviços”, destacou.

Com o objetivo de impulsionar o crédito e disseminar as soluções mais adequadas às necessidades financeiras das empresas de pequeno porte, o Sebrae e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vão reali-zar neste ano 115 seminários de crédito em 17 estados e no Distrito Federal. Durante os encontros, que já começaram, os donos de pequenos negócios têm a chance de negociar a tomada de crédito diretamente com representantes de insti-tuições financeiras convidadas.

Essa é a primeira vez que o BNDES promove seminários em escala nacional e em grande quantidade. O objetivo é che-gar mais perto das micro e pequenas empresas por meio da parceria com o Sebrae e fazer com que os bancos credencia-dos possam atender diretamente os pequenos negócios. Entre os agentes financeiros, estão confirmados: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste do Bra-sil, Banco da Amazônia, Santander, Bradesco, agências de fomento e bancos de desenvolvimento.

Primeiramente, os empresários assistem a palestras com representantes do banco e de agentes financeiros convidados pelas unidades do Sebrae nos estados, e organizadoras dos seminários. As palestras prosseguem com as rodadas de cré-dito. Neste momento, os participantes têm a chance de ficar frente a frente com diversos agentes financeiros e contam com um primeiro atendimento relacionado à demanda espe-cífica de seus negócios.

Só no ano passado o segmento de micro, pequenas e médias empresas recebeu recursos do BNDES no montante de R$ 63,5 bilhões. O número é recorde na história do banco e revela um aumento de 26,8% em relação ao ano anterior. Esses recursos foram aplicados graças ao desenvolvimento de novos produtos, a exemplo do Cartão BNDES. Este ano, os empresários vão contar ainda com mais um novo progra-ma, o MPME Inovadora, destinado a ajudar micro, pequenas e médias empresas de perfil inovador a introduzirem as suas inovações no mercado.

Os interessados em participar dos seminários de crédito devem procurar diretamente as unidades do Sebrae nos res-pectivos estados para se informar sobre o calendário e fazer inscrição gratuitamente.

RUMOS - 46 – Março/Abril 2014 RUMOS - 47 – Março/Abril 2014

O Fashion City Bra-sil, maior complexo de moda da América Latina, conta com investimento de R$ 141 milhões para sua implantação, R$ 50 milhões estão sendo financiados pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). O empreendimento recebeu a segunda parcela do financia-mento, de R$ 8,4 milhões, para dar andamento à construção do shopping no terreno de 205 mil m², localizado no Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A primeira parcela de investimentos permitiu ao Fashi-on City Brasil iniciar suas obras, que empregam atualmente cerca de 80 pessoas diretamente, além do contingente de tra-balhadores indiretos, das empresas de terraplenagem e de pré-moldados. Um dos sócios e o responsável pela estraté-gia do complexo de moda, Gilson Amaral Brito Jr., conside-ra que os recursos recebidos por intermédio do BDMG são fundamentais para garantir a credibilidade do projeto nessa fase de implantação. Para João Paulo Moreira, gerente de negócios do banco, o empreendimento está alinhado à polí-tica estadual de expansão do Aeroporto de Confins. “O empreendimento irá atrair investimentos de cerca de 350 empresas do segmento de moda para o estado, gerando emprego e renda para a região”.

F FOMENTO

O Programa Bade-sul Cidades viabilizará melhorias em infraes-trutura, aquisição de máquinas e equipa-mentos rodoviários em nove municípios gaú-chos. Os contratos

foram assinados hoje pelos representantes dos municípios e pelo presidente da Agência de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul), Marcelo Lopes, durante cerimônia com a presença do governador Tarso Genro e do secretário de Desenvolvi-mento e Promoção do Investimento (SDPI), Mauro Knijnik.

Os contratos somam R$ 6,077 milhões e se destinam a investimentos em máquinas e equipamentos rodoviários, infraestrutura urbana e construção de centro administrativo. “É importante ressaltar que o valor é aparentemente pequeno, mas é grande para a realidade financeira das prefeituras. Os financiamentos atendem a necessidades mínimas, urgentes e importantes”, ressalta o governador.

Para o secretário Knijnik, “é fundamental que os municí-pios tenham infraestrutura para fomentar seu desenvolvi-mento, como é o caso das cidades com economia baseada na agricultura e que, para manterem suas estradas vicinais, precisam adquirir máquinas e equipamentos rodoviários”.

A Agência de Fomen-to do Estado do Amazo-nas (Afeam) lançou um novo aplicativo móvel, desenvolvido pela Gerên-cia de Tecnologia da Informação da agência, com o objetivo de aten-der as recomendações de melhoria dos processos

de contratação de crédito na capital do estado. O aplicativo, denominado Vistec, permite que os técnicos realizem, em média, 20 visitas no período de dois dias.

Com o novo sistema, todas as informações coletadas podem ser sincronizadas em 20 minutos, otimizando a rotina de visitas aos clientes. Anteriormente, as transcrições dos dados cadastrais, que eram realizadas manualmente, demoravam, em média, um dia para serem transmitidas ao Sistema de Controle de Processos (SCP).

O Banco Nacio-nal de Desenvolvi-mento Econômico e S o c i a l ( B N D E S ) entregou no dia 25 de abril, na sede regional da Caixa em Uberlân-dia, no Triângulo

Mineiro, três Cartões BNDES para celebrar a emissão do cartão em todos os municípios minei-ros. Com essa marca, o Cartão BNDES atinge

100% de cobertura nos municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O objetivo do BNDES passa a ser emissão do plástico nos 144 municípios das regiões Norte e Nordeste que ainda não contam com empreendimentos apoiados por essa linha de financiamento.

Afeam lança aplicativo para acelerar contratação de crédito

Badesul Cidades financiará R$ 6 milhões para infraestrutura de nove municípios gaúchos

Fashion City Brasil recebe financiamento do BDMG

Especiali-zada em tra-tamento tér-mico e servi-ços de solda-g e m , a empresa Fix-xar do Brasil obteve crédi-to na Agência

Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio) de R$ 930 mil para investir em capital de giro e máquinas e equipamen-tos – recomposição de caixa, aquisição de duas unidades de tratamento térmico e componentes de maquinário.

Com cerca de 40 empregados, a Fixxar é estabelecida em Barra Mansa, no sul do estado, e possui unidade em Macaé. A empresa presta serviços de locação de unidades de trata-mento térmico, pré e pós-aquecimento (soldagem) para pla-taformas off-shore, refinarias e indústrias de óleo e gás, ener-gia e construção civil. Também realiza montagem e manu-tenção industrial e naval e fornece pessoal para operação de maquinário alugado.

AgeRio libera crédito para empresa de tratamento térmico

Cartão BNDES chega a todos os municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país

Desenvolve já liberou mais de R$ 5 milhões para setor industrial, em 2014

Seminário dissemina soluçõesde crédito para pequenosnegócios

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Os pequenos negócios ganham cada vez mais relevância entre as cooperativas de crédito. Por esta razão, o setor busca desenvolver boas práticas no atendimento a este público, não apenas para atender as necessidades de crédito, mas também para promover o empreendedorismo

Por Sarah Barros

RUMOS - 48 – Março/Abril 2014

utilização de boas práticas no relacionamento com micro e pequenas empresas é a aposta das cooperativas de crédito para atrair o pequeno negócio para suas carteiras de clientes e expan-dir a atuação no setor de crédito brasileiro. Com a nova postura diante do empresariado, o núme-

ro de pessoas jurídicas que recorrem às cooperativas na hora de obter empréstimos e financiamentos tem crescido conti-nuamente, proporcionando, mais do que atendimento ade-quado, também a formalização e a consultoria para a expan-são do negócio.

Este foi o panorama apresentado no Seminário de Lide-ranças de Cooperativas de Crédito para Pessoa Jurídica, reali-

zado em Brasília pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob). Cerca de 200 representantes de instituições de todo o país participaram, no dia 3 de abril, das discussões sobre os desafios e perspectivas do setor. Na oportunidade, foram exibidos os resultados do projeto Fomento a Boas Práticas de Cooperativas de Crédito, desenvolvido pelo Sebrae desde 2011. De acordo com informações obtidas junto ao Banco Central, as cooperativas participantes do projeto apresentaram crescimento de 28,9% no volume de crédito concedido a pequenos negócios entre 2012 e 2013, alcançando o total de R$ 6,5 bilhões.

O montante representa quase 70% do crédito operado por cooperativas com este público no ano passado. Quan-do mensurados os resultados de todo o setor cooperativo, a expansão das operações com empresas foi de 23,8% em volume de recursos concedidos em 2013 na comparação com 2012, atingindo o total de R$ 9,5 bilhões ao final do período. Em todo o sistema financeiro naci-onal, o aumento foi bem menor, de 5,7%.

Com isso, a participação das cooperativas de crédito cresceu de 2,6% para 3% entre as fontes de crédito disponíveis no país, índice melhor que o obtido pelos bancos privados naciona-is e estrangeiros que, por sua vez, viram suas participações cair no mesmo intervalo. Os bancos privados nacionais fecharam o ano com fatia de 35,2% contra 38,8% no ano anterior. Já os bancos estrangei-

RUMOS - 49 – Março/Abril 2014

ros tiveram participação reduzida de 17,6% para 16,8% na mesma comparação.

Na avaliação do diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, o ritmo de crescimento das cooperativas de crédi-to observado nos últimos anos levará o setor a atingir breve-mente dois dígitos de participação entre as fontes de financia-mento no Brasil. “O cooperativismo de crédito vem se desen-volvendo rapidamente, mostrando maturidade e criatividade para se diferenciar e enfrentar a concorrência, com ganhos para os pequenos negócios”, apontou o diretor. Segundo ele, as empresas de pequeno porte representam as melhores oportunidades para operações de crédito no cenário nacional atual, podendo ser comparado ao crédito imobiliário.

Crescimento – As entidades cooperativas reconhecem a importância de oferecer produtos e serviços alinhados às necessidades do segmento de pequenos negócios. Por isso, a retomada das operações de empresas com cooperativas, aberta pela edição de resolução do Banco Central em 2002, é comemorada como promotora de novo fôlego para o setor. “O cooperativismo de crédito surgiu na Alemanha, voltado para pequenos negócios. Mas, no Brasil, a aplicação do coo-

perativismo para esse público, por questões históri-cas, fo i sendo cada vez ma is cerceada até prati-camente ter sido eliminada”, apon-tou o presidente d o B a c o o b , Marco Aurél io Almada.

A Resolução 3 . 0 5 8 / 2 0 0 2 i n t r o d u z i u a possibilidade de f o r m a ç ã o d e cooperativa de e m p r e s á r i o s , tanto do setor r u r a l q u a n t o industrial, comer-cial e de serviços. A norma acres-centou uma alter-nativa viável de

crédito voltado para atividades produtivas, além de alavan-car iniciativas de estímulo ao empreendedorismo, com apoio à exportação, desenvolvimento tecnológico e moder-nização operacional.

Desde então, as cooperativas de crédito desenvolvem produtos e serviços voltados para empresários e têm obtido significativa adesão às soluções financeiras oferecidas, espe-cialmente na tomada de crédito, por meio de empréstimos e financiamentos. Segundo o Bancoob, que conta atualmente com 2,6 milhões de associados, o número de empresas aten-didas por suas cooperativas de crédito aumentou 41% entre 2011 e 2013, correspondendo a 13% da carteira de clientes, ou quase 290 mil empresas. Mesmo com representatividade menor que um sexto de seus clientes, em volume de crédito, as pessoas jurídicas estão envolvidas em 49% das operações, com movimentação total de R$ 10,24 bilhões.

O cenário se repete entre os associados do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). Conforme dados de dezem-bro de 2013, dos mais de 2,5 milhões de associados, 10% são empresas, dos quais 95% são pequenos negócios. Enquanto a base total de associados aumentou 76% de 2012 para 2013, a elevação na base de pessoas jurídicas associadas foi de 116%.

Por boas práticas de crédito

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MICRO E PEQUENAS COOPERATIVISMO

Seminário em Brasília reuniu cooperativas; o evento foi organizado pelo Sebrae

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Crédito PequenosNegócios - Sistema

Financeiro Cooperativo Crédito Pequenos Negócios (Projeto

Fomento às boas práticas em Cooperativas de Crédito)

Crédito PequenosNegócios - SistemaFinanceiro Nacional

SALDO DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO – PESSOA JURÍDICA

Fonte: Banco Central do Brasil

Dez/2012 Dez/2013 Dez/2012 Dez/2013 Dez/2012 Dez/2013

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Os pequenos negócios ganham cada vez mais relevância entre as cooperativas de crédito. Por esta razão, o setor busca desenvolver boas práticas no atendimento a este público, não apenas para atender as necessidades de crédito, mas também para promover o empreendedorismo

Por Sarah Barros

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utilização de boas práticas no relacionamento com micro e pequenas empresas é a aposta das cooperativas de crédito para atrair o pequeno negócio para suas carteiras de clientes e expan-dir a atuação no setor de crédito brasileiro. Com a nova postura diante do empresariado, o núme-

ro de pessoas jurídicas que recorrem às cooperativas na hora de obter empréstimos e financiamentos tem crescido conti-nuamente, proporcionando, mais do que atendimento ade-quado, também a formalização e a consultoria para a expan-são do negócio.

Este foi o panorama apresentado no Seminário de Lide-ranças de Cooperativas de Crédito para Pessoa Jurídica, reali-

zado em Brasília pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob). Cerca de 200 representantes de instituições de todo o país participaram, no dia 3 de abril, das discussões sobre os desafios e perspectivas do setor. Na oportunidade, foram exibidos os resultados do projeto Fomento a Boas Práticas de Cooperativas de Crédito, desenvolvido pelo Sebrae desde 2011. De acordo com informações obtidas junto ao Banco Central, as cooperativas participantes do projeto apresentaram crescimento de 28,9% no volume de crédito concedido a pequenos negócios entre 2012 e 2013, alcançando o total de R$ 6,5 bilhões.

O montante representa quase 70% do crédito operado por cooperativas com este público no ano passado. Quan-do mensurados os resultados de todo o setor cooperativo, a expansão das operações com empresas foi de 23,8% em volume de recursos concedidos em 2013 na comparação com 2012, atingindo o total de R$ 9,5 bilhões ao final do período. Em todo o sistema financeiro naci-onal, o aumento foi bem menor, de 5,7%.

Com isso, a participação das cooperativas de crédito cresceu de 2,6% para 3% entre as fontes de crédito disponíveis no país, índice melhor que o obtido pelos bancos privados naciona-is e estrangeiros que, por sua vez, viram suas participações cair no mesmo intervalo. Os bancos privados nacionais fecharam o ano com fatia de 35,2% contra 38,8% no ano anterior. Já os bancos estrangei-

RUMOS - 49 – Março/Abril 2014

ros tiveram participação reduzida de 17,6% para 16,8% na mesma comparação.

Na avaliação do diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, o ritmo de crescimento das cooperativas de crédi-to observado nos últimos anos levará o setor a atingir breve-mente dois dígitos de participação entre as fontes de financia-mento no Brasil. “O cooperativismo de crédito vem se desen-volvendo rapidamente, mostrando maturidade e criatividade para se diferenciar e enfrentar a concorrência, com ganhos para os pequenos negócios”, apontou o diretor. Segundo ele, as empresas de pequeno porte representam as melhores oportunidades para operações de crédito no cenário nacional atual, podendo ser comparado ao crédito imobiliário.

Crescimento – As entidades cooperativas reconhecem a importância de oferecer produtos e serviços alinhados às necessidades do segmento de pequenos negócios. Por isso, a retomada das operações de empresas com cooperativas, aberta pela edição de resolução do Banco Central em 2002, é comemorada como promotora de novo fôlego para o setor. “O cooperativismo de crédito surgiu na Alemanha, voltado para pequenos negócios. Mas, no Brasil, a aplicação do coo-

perativismo para esse público, por questões históri-cas, fo i sendo cada vez ma is cerceada até prati-camente ter sido eliminada”, apon-tou o presidente d o B a c o o b , Marco Aurél io Almada.

A Resolução 3 . 0 5 8 / 2 0 0 2 i n t r o d u z i u a possibilidade de f o r m a ç ã o d e cooperativa de e m p r e s á r i o s , tanto do setor r u r a l q u a n t o industrial, comer-cial e de serviços. A norma acres-centou uma alter-nativa viável de

crédito voltado para atividades produtivas, além de alavan-car iniciativas de estímulo ao empreendedorismo, com apoio à exportação, desenvolvimento tecnológico e moder-nização operacional.

Desde então, as cooperativas de crédito desenvolvem produtos e serviços voltados para empresários e têm obtido significativa adesão às soluções financeiras oferecidas, espe-cialmente na tomada de crédito, por meio de empréstimos e financiamentos. Segundo o Bancoob, que conta atualmente com 2,6 milhões de associados, o número de empresas aten-didas por suas cooperativas de crédito aumentou 41% entre 2011 e 2013, correspondendo a 13% da carteira de clientes, ou quase 290 mil empresas. Mesmo com representatividade menor que um sexto de seus clientes, em volume de crédito, as pessoas jurídicas estão envolvidas em 49% das operações, com movimentação total de R$ 10,24 bilhões.

O cenário se repete entre os associados do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). Conforme dados de dezem-bro de 2013, dos mais de 2,5 milhões de associados, 10% são empresas, dos quais 95% são pequenos negócios. Enquanto a base total de associados aumentou 76% de 2012 para 2013, a elevação na base de pessoas jurídicas associadas foi de 116%.

Por boas práticas de crédito

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SALDO DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO – PESSOA JURÍDICA

Fonte: Banco Central do Brasil

Dez/2012 Dez/2013 Dez/2012 Dez/2013 Dez/2012 Dez/2013

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SEBRAE

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Parte do sucesso é atribuída ao número crescente de micro e pequenas empresas. “No Brasil, nos últimos anos, temos visto um forte aumento na criação de novas empresas, a partir do contexto econômico e de incentivos governamentais”, reconheceu o diretor executivo de Produtos e Negócios do Sicredi, Edson Nassar.

Boas práticas – O projeto Fomento a Boas Práticas entre Cooperativas de Crédito surgiu justamente para fortalecer o relacionamento das micro e pequenas empresas com as coo-perativas de crédito. Com esse alvo, estão sendo destinados R$ 2,5 milhões para que as unidades estaduais do Sebrae executem projetos voltados para micro e pequenas empresas. O volume deverá ser aplicado até o fim de 2014 no financia-mento de iniciativas como a capacitação de técnicos das

que há estados com grande tradição em cooperativismo de crédito enquanto há outros onde não há instituições deste tipo. Precisamos pensar o Brasil”, reforçou Carlos Alberto dos Santos. Das 185 cooperativas envolvidas nas iniciativas de boas práticas, apenas cinco estão no Norte brasileiro, sendo três apenas no Maranhão. O estado com maior núme-ro de cooperativas participantes é Santa Catarina, com 38 representantes.

A adequação à urgência nas operações de pequenas empresas é outro obstáculo a transpor pelas cooperativas. Mais acostumadas às demandas de pessoas físicas, ligadas às fases da vida, as cooperativas precisam, ao atender empresas, dar conta das diversas relações que envolvem o negócio, desde as tratativas com fornecedores, passando por obriga-ções junto ao governo e, finalmente, o atendimento ao clien-te. “Quando se trata de pessoa física, para cada necessidade há uma solução, mas, no caso de empresa, todas as soluções financeiras devem ser imediatas”, pontuou o presidente do Bancoob, Marco Aurélio Almada.

Diante disso, é necessário manter a evolução de produ-tos e serviços em relação aos oferecidos pelo sistema finan-ceiro convencional. “Entre 2002 e 2003, enquanto os dema-is bancos pensavam em internet banking e autosserviço para empresas, as cooperativas estavam começando a aten-dê-las. Em 10 anos, recuperamos 150 anos em desenvolvi-mento no atendimento pessoa jurídica”, pontuou Almada. Para ele, o setor hoje já possui portfólio equivalente ao oferecido pelos demais bancos e está preparado para usar as mesmas tecnologias.

Para aumentar o acesso ao crédito, com custos menores e prazos condizentes com o perfil das pequenas empresas, o cooperativismo também se confronta com dificuldades quanto a mecanismos de garantias, impedimento este apon-tado como um dos principais limitadores da obtenção de crédito no sistema financeiro. Neste sentido, o pleito é pela regulação das Sociedades de Garantia de Crédito (SGC). “Esse mecanismo vem preencher esta lacuna, dando mais conforto na classificação do risco do crédito especialmente para a empresa de pequeno porte”, explicou o diretor-técnico do Sebrae.

Ainda em relação à concessão de garantias, em novembro de 2013, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu a forma de contribuição das instituições associadas ao Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), for-mado pelas cooperativas singulares de crédito do Brasil e pelos bancos cooperativos integrantes do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).

De acordo com seu estatuto, o FGCoop presta garantia de créditos nos casos de decretação de intervenção ou de liquida-ção extrajudicial de instituição associada, até o limite de R$ 250 mil por pessoa, bem como contrata operações de assis-tência, de suporte financeiro e de liquidez com essas institui-ções. “Este fundo assegura igual tratamento entre todos os clientes do sistema financeiro nacional, dando mais valia ao setor cooperativo”, destacou o diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, Edson Feltrim.

cooperativas ligados ao atendimento aos empresários, a realização de eventos e palestras, a prestação de serviços de consultoria e a viabilização de intercâmbios entre cooperati-vas para disseminação de boas experiências na atuação com micro e pequenas empresas, entre outras.

A observação de experiências exitosas no Paraná e no Espírito Santo foi o ponto de partida da Sicredi Ouro Verde, em Mato Grosso, para a implementação de atividades que impulsionaram as operações junto a empresas da região de Cuiabá. Integrante do projeto desde 2012, a unidade de aten-dimento de Morada da Serra experimentou um crescimento de 113% na base de associados desde dezembro daquele ano.

Além das missões técnicas, a parceria viabilizou a capaci-tação profissional dos responsáveis pelo atendimento das empresas, com destaque para o curso de análise de crédito, um dos diferenciais da cooperativa quando comparada à rede bancária convencional. “Passamos a atuar nas brechas aber-tas no mercado tradicional, alavancando os resultados”, relata a gerente regional do Sicredi Ouro Verde, Eliane Jaque-line Metzner. Um dos problemas enfrentados pelos empresá-rios era a comprovação de renda, que, no âmbito da Sicredi Ouro Verde, passou a ser feita com avaliação caso a caso, com o intuito de contornar a burocracia imposta pelos grandes bancos e, ainda assim, manter a avaliação criteriosa dos candi-datos a crédito.

A experiência também indicou a pertinência do realinha-mento na análise das demandas dos pequenos negócios. A compreensão surgiu a partir de resultados inesperados em ciclo de palestras, inicialmente orientado para a redução de custo em produtos e serviços. Das 400 empresas convidadas, apenas cerca de 10% atenderam ao convite. “Vimos que eles não queriam redução de custo. Eles queriam acesso à infor-mação sobre o que fazer para melhorar o seu negócio, aquilo que possa ser bom para ele”, contou Eliane. A partir de então, a cooperativa passou a oferecer consultoria personalizada às empresas para atender não apenas a solicitações de crédito, mas a outras necessidades próprias das pequenas empresas, como formalização e mais opções de meios de pagamento.

No caso da Unicred Alto Sertão, a parceria com o Sebrae tem ajudado a vencer a desconfiança dos pequenos empre-sários em vinte municípios do Alto Sertão da Paraíba. Pri-meira cooperativa do Nordeste constituída em regime de livre admissão, a instituição aberta em 2008 congrega atual-mente mais de 2 mil cooperados e administra uma carteira de R$ 25 milhões em depósitos totais e R$ 12 milhões em empréstimos.

De acordo com o gerente de relacionamento da Unicred Central Norte e Nordeste, Marcos Barbosa, esse patamar de atuação foi fortemente influenciado pelas ações do projeto do Sebrae. Um dos mecanismos utilizados pela Unicred Alto Paraíso para aumentar sua credibilidade é a vinculação da marca da cooperativa ao Sebrae, em feiras e eventos. “Isso é muito importante para a cooperativa porque, na hora em que ela tem um parceiro que é forte na região, isso dá credibilida-de aos seus negócios. As pessoas acreditam porque é um parceiro do Sebrae”, destacou Barbosa. A presença também

RUMOS - 50 – Março/Abril 2014 RUMOS - 51 – Março/Abril 2014

em seminários e simpósios nacionais e internacionais tem ampliado o entendimento da cooperativa sobre o setor, forta-lecendo seu trabalho.

Os números confirmam o sucesso da parceria. Em 2013, o total de empresas entre os cooperados dobrou em compa-ração com o de 2011, reunindo 292 empresas. Já os emprésti-mos alcançaram R$ 5,6 milhões no ano passado, contra o saldo de R$ 1,9 milhão verificado em 2011, quando a atuação junto às empresas começou a ser intensificada por meio de boas práticas.

Desafios – A expansão do cooperativismo de crédito volta-do para as necessidades do micro e do pequeno empreende-dor nas regiões mais remotas do país é um dos desafios indi-cados pelas lideranças reunidas em Brasília. “Temos notado

M MICRO E PEQUENAS

Durante o seminário com lideranças cooperativistas, o Sebrae apresentou nova iniciativa para amplificar as melhorias no desempenho das cooperativas de crédito junto aos peque-nos negócios por meio da intercooperação entre as institui-ções do setor. O edital a ser lançado em maio prevê aplicação de R$ 15 milhões na realização de parcerias entre cooperati-vas. “O objetivo é ampliar produtos e serviços das cooperati-vas para pequenos negócios e assim aumentar a vantagem competitiva dentro do sistema financeiro”, pontuou o dire-tor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos.

O alvo é apoiar 50 projetos a serem elaborados com base nos termos e condições previstos no edital. “Com isso abrire-mos a possibilidade de uma cooperativa com bom desempe-nho em atendimento à pessoa jurídica ajudar outra institui-ção, localizada em outra unidade da federação”, detalhou o gerente da Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Finan-ceiros do Sebrae Nacional, Paulo Alvim.

Após a publicação do edital, as cooperativas apadrinha-doras e apadrinhadas terão 12 meses para manifestar formal-mente ao Sebrae de seu estado o interesse em receber o incentivo, para que se estabeleça um fluxo de oferta e deman-da. Cada instituição apadrinhadora poderá apoiar até três entidades apadrinhadas, que obrigatoriamente deverá estar localizada em unidade federativa diferente das apadrinhadas.

Para adotar uma cooperativa, a entidade apadrinhadora precisa estar em operação há, pelo menos, cinco anos e ter, no mínimo, 500 sócios pessoas jurídicas. A participação no Projeto Fomento às Boas Práticas de Cooperativas de Crédi-to também será levado em consideração, assim como expe-riência em cooperação institucional. Já entre os requisitos para ser apadrinhada está a comprovação de funcionamento há, pelo menos, dois anos e a presença de, ao menos, 50 empresários associados.

A importância das cooperativas de crédito e seu potencial como motor de desenvolvimento para pequenos negócios no Brasil foram destacados por representantes do Banco Mun-dial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que participaram da abertura do Seminário de Lideranças de Cooperativas de Crédito para Pessoa Jurídica.

A representante do Banco Mundial/International Finan-ce Corporation (IFC), Eriko Ishikawa, ressaltou o mérito do setor em fortalecer relações com os pequenos empreendedo-res, como forma de incluir pessoas das classes C e D na cadeia produtiva. “A gente tem que fazer mais negócios que real-mente mobilizam as pessoas de todas as bases, mas que tam-bém criam emprego e um futuro para as pessoas das camadas C e D”, afirmou.

Da parte do banco, Eriko informou que, desde 2005, o Banco Mundial/IFC tem investido mundialmente mais de US$ 9 bilhões em projetos que atingem essa base da pirâmide. No Brasil, são mais de US$ 900 milhões em operações com projetos voltados para este público. “Esses são projetos comerciais, mas que também têm o foco de serem social e meio ambientalmente bons”, disse.

Quanto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o especialista setorial da instituição e do Fundo Multi-lateral de Investimentos, Ismael Gíglio, defendeu avanços na atuação do banco junto às cooperativas. “O cooperativismo é o único instrumento em que o pequeno empreendimento pode alcançar desde o crédito em sua conta e em seu cartão até o processo de investimento e sua garantia futura através de fundos de pensão ou complementares de aposentadoria privada. Ele reúne todos os elementos que podemos entregar a um pequeno empreendimento”, afirmou.

Novo edital do Sebrae incentiva intercooperação

Instituições internacionais defendem cooperativismo para pequenos negócios

COOPERATIVISMO

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Parte do sucesso é atribuída ao número crescente de micro e pequenas empresas. “No Brasil, nos últimos anos, temos visto um forte aumento na criação de novas empresas, a partir do contexto econômico e de incentivos governamentais”, reconheceu o diretor executivo de Produtos e Negócios do Sicredi, Edson Nassar.

Boas práticas – O projeto Fomento a Boas Práticas entre Cooperativas de Crédito surgiu justamente para fortalecer o relacionamento das micro e pequenas empresas com as coo-perativas de crédito. Com esse alvo, estão sendo destinados R$ 2,5 milhões para que as unidades estaduais do Sebrae executem projetos voltados para micro e pequenas empresas. O volume deverá ser aplicado até o fim de 2014 no financia-mento de iniciativas como a capacitação de técnicos das

que há estados com grande tradição em cooperativismo de crédito enquanto há outros onde não há instituições deste tipo. Precisamos pensar o Brasil”, reforçou Carlos Alberto dos Santos. Das 185 cooperativas envolvidas nas iniciativas de boas práticas, apenas cinco estão no Norte brasileiro, sendo três apenas no Maranhão. O estado com maior núme-ro de cooperativas participantes é Santa Catarina, com 38 representantes.

A adequação à urgência nas operações de pequenas empresas é outro obstáculo a transpor pelas cooperativas. Mais acostumadas às demandas de pessoas físicas, ligadas às fases da vida, as cooperativas precisam, ao atender empresas, dar conta das diversas relações que envolvem o negócio, desde as tratativas com fornecedores, passando por obriga-ções junto ao governo e, finalmente, o atendimento ao clien-te. “Quando se trata de pessoa física, para cada necessidade há uma solução, mas, no caso de empresa, todas as soluções financeiras devem ser imediatas”, pontuou o presidente do Bancoob, Marco Aurélio Almada.

Diante disso, é necessário manter a evolução de produ-tos e serviços em relação aos oferecidos pelo sistema finan-ceiro convencional. “Entre 2002 e 2003, enquanto os dema-is bancos pensavam em internet banking e autosserviço para empresas, as cooperativas estavam começando a aten-dê-las. Em 10 anos, recuperamos 150 anos em desenvolvi-mento no atendimento pessoa jurídica”, pontuou Almada. Para ele, o setor hoje já possui portfólio equivalente ao oferecido pelos demais bancos e está preparado para usar as mesmas tecnologias.

Para aumentar o acesso ao crédito, com custos menores e prazos condizentes com o perfil das pequenas empresas, o cooperativismo também se confronta com dificuldades quanto a mecanismos de garantias, impedimento este apon-tado como um dos principais limitadores da obtenção de crédito no sistema financeiro. Neste sentido, o pleito é pela regulação das Sociedades de Garantia de Crédito (SGC). “Esse mecanismo vem preencher esta lacuna, dando mais conforto na classificação do risco do crédito especialmente para a empresa de pequeno porte”, explicou o diretor-técnico do Sebrae.

Ainda em relação à concessão de garantias, em novembro de 2013, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu a forma de contribuição das instituições associadas ao Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), for-mado pelas cooperativas singulares de crédito do Brasil e pelos bancos cooperativos integrantes do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).

De acordo com seu estatuto, o FGCoop presta garantia de créditos nos casos de decretação de intervenção ou de liquida-ção extrajudicial de instituição associada, até o limite de R$ 250 mil por pessoa, bem como contrata operações de assis-tência, de suporte financeiro e de liquidez com essas institui-ções. “Este fundo assegura igual tratamento entre todos os clientes do sistema financeiro nacional, dando mais valia ao setor cooperativo”, destacou o diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central, Edson Feltrim.

cooperativas ligados ao atendimento aos empresários, a realização de eventos e palestras, a prestação de serviços de consultoria e a viabilização de intercâmbios entre cooperati-vas para disseminação de boas experiências na atuação com micro e pequenas empresas, entre outras.

A observação de experiências exitosas no Paraná e no Espírito Santo foi o ponto de partida da Sicredi Ouro Verde, em Mato Grosso, para a implementação de atividades que impulsionaram as operações junto a empresas da região de Cuiabá. Integrante do projeto desde 2012, a unidade de aten-dimento de Morada da Serra experimentou um crescimento de 113% na base de associados desde dezembro daquele ano.

Além das missões técnicas, a parceria viabilizou a capaci-tação profissional dos responsáveis pelo atendimento das empresas, com destaque para o curso de análise de crédito, um dos diferenciais da cooperativa quando comparada à rede bancária convencional. “Passamos a atuar nas brechas aber-tas no mercado tradicional, alavancando os resultados”, relata a gerente regional do Sicredi Ouro Verde, Eliane Jaque-line Metzner. Um dos problemas enfrentados pelos empresá-rios era a comprovação de renda, que, no âmbito da Sicredi Ouro Verde, passou a ser feita com avaliação caso a caso, com o intuito de contornar a burocracia imposta pelos grandes bancos e, ainda assim, manter a avaliação criteriosa dos candi-datos a crédito.

A experiência também indicou a pertinência do realinha-mento na análise das demandas dos pequenos negócios. A compreensão surgiu a partir de resultados inesperados em ciclo de palestras, inicialmente orientado para a redução de custo em produtos e serviços. Das 400 empresas convidadas, apenas cerca de 10% atenderam ao convite. “Vimos que eles não queriam redução de custo. Eles queriam acesso à infor-mação sobre o que fazer para melhorar o seu negócio, aquilo que possa ser bom para ele”, contou Eliane. A partir de então, a cooperativa passou a oferecer consultoria personalizada às empresas para atender não apenas a solicitações de crédito, mas a outras necessidades próprias das pequenas empresas, como formalização e mais opções de meios de pagamento.

No caso da Unicred Alto Sertão, a parceria com o Sebrae tem ajudado a vencer a desconfiança dos pequenos empre-sários em vinte municípios do Alto Sertão da Paraíba. Pri-meira cooperativa do Nordeste constituída em regime de livre admissão, a instituição aberta em 2008 congrega atual-mente mais de 2 mil cooperados e administra uma carteira de R$ 25 milhões em depósitos totais e R$ 12 milhões em empréstimos.

De acordo com o gerente de relacionamento da Unicred Central Norte e Nordeste, Marcos Barbosa, esse patamar de atuação foi fortemente influenciado pelas ações do projeto do Sebrae. Um dos mecanismos utilizados pela Unicred Alto Paraíso para aumentar sua credibilidade é a vinculação da marca da cooperativa ao Sebrae, em feiras e eventos. “Isso é muito importante para a cooperativa porque, na hora em que ela tem um parceiro que é forte na região, isso dá credibilida-de aos seus negócios. As pessoas acreditam porque é um parceiro do Sebrae”, destacou Barbosa. A presença também

RUMOS - 50 – Março/Abril 2014 RUMOS - 51 – Março/Abril 2014

em seminários e simpósios nacionais e internacionais tem ampliado o entendimento da cooperativa sobre o setor, forta-lecendo seu trabalho.

Os números confirmam o sucesso da parceria. Em 2013, o total de empresas entre os cooperados dobrou em compa-ração com o de 2011, reunindo 292 empresas. Já os emprésti-mos alcançaram R$ 5,6 milhões no ano passado, contra o saldo de R$ 1,9 milhão verificado em 2011, quando a atuação junto às empresas começou a ser intensificada por meio de boas práticas.

Desafios – A expansão do cooperativismo de crédito volta-do para as necessidades do micro e do pequeno empreende-dor nas regiões mais remotas do país é um dos desafios indi-cados pelas lideranças reunidas em Brasília. “Temos notado

M MICRO E PEQUENAS

Durante o seminário com lideranças cooperativistas, o Sebrae apresentou nova iniciativa para amplificar as melhorias no desempenho das cooperativas de crédito junto aos peque-nos negócios por meio da intercooperação entre as institui-ções do setor. O edital a ser lançado em maio prevê aplicação de R$ 15 milhões na realização de parcerias entre cooperati-vas. “O objetivo é ampliar produtos e serviços das cooperati-vas para pequenos negócios e assim aumentar a vantagem competitiva dentro do sistema financeiro”, pontuou o dire-tor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos.

O alvo é apoiar 50 projetos a serem elaborados com base nos termos e condições previstos no edital. “Com isso abrire-mos a possibilidade de uma cooperativa com bom desempe-nho em atendimento à pessoa jurídica ajudar outra institui-ção, localizada em outra unidade da federação”, detalhou o gerente da Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Finan-ceiros do Sebrae Nacional, Paulo Alvim.

Após a publicação do edital, as cooperativas apadrinha-doras e apadrinhadas terão 12 meses para manifestar formal-mente ao Sebrae de seu estado o interesse em receber o incentivo, para que se estabeleça um fluxo de oferta e deman-da. Cada instituição apadrinhadora poderá apoiar até três entidades apadrinhadas, que obrigatoriamente deverá estar localizada em unidade federativa diferente das apadrinhadas.

Para adotar uma cooperativa, a entidade apadrinhadora precisa estar em operação há, pelo menos, cinco anos e ter, no mínimo, 500 sócios pessoas jurídicas. A participação no Projeto Fomento às Boas Práticas de Cooperativas de Crédi-to também será levado em consideração, assim como expe-riência em cooperação institucional. Já entre os requisitos para ser apadrinhada está a comprovação de funcionamento há, pelo menos, dois anos e a presença de, ao menos, 50 empresários associados.

A importância das cooperativas de crédito e seu potencial como motor de desenvolvimento para pequenos negócios no Brasil foram destacados por representantes do Banco Mun-dial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que participaram da abertura do Seminário de Lideranças de Cooperativas de Crédito para Pessoa Jurídica.

A representante do Banco Mundial/International Finan-ce Corporation (IFC), Eriko Ishikawa, ressaltou o mérito do setor em fortalecer relações com os pequenos empreendedo-res, como forma de incluir pessoas das classes C e D na cadeia produtiva. “A gente tem que fazer mais negócios que real-mente mobilizam as pessoas de todas as bases, mas que tam-bém criam emprego e um futuro para as pessoas das camadas C e D”, afirmou.

Da parte do banco, Eriko informou que, desde 2005, o Banco Mundial/IFC tem investido mundialmente mais de US$ 9 bilhões em projetos que atingem essa base da pirâmide. No Brasil, são mais de US$ 900 milhões em operações com projetos voltados para este público. “Esses são projetos comerciais, mas que também têm o foco de serem social e meio ambientalmente bons”, disse.

Quanto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o especialista setorial da instituição e do Fundo Multi-lateral de Investimentos, Ismael Gíglio, defendeu avanços na atuação do banco junto às cooperativas. “O cooperativismo é o único instrumento em que o pequeno empreendimento pode alcançar desde o crédito em sua conta e em seu cartão até o processo de investimento e sua garantia futura através de fundos de pensão ou complementares de aposentadoria privada. Ele reúne todos os elementos que podemos entregar a um pequeno empreendimento”, afirmou.

Novo edital do Sebrae incentiva intercooperação

Instituições internacionais defendem cooperativismo para pequenos negócios

COOPERATIVISMO

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RUMOS - 53 –Março/Abril 2014

rganizado pelos professores Luiz Bernardo Pericás e Lin-coln Secco, da Universidade de

São Paulo (USP), o livro Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados ajuda a traçar um amplo panorama do pensa-mento crítico político-social brasileiro dos séculos XX e XXI. Ao todo, são 27 estudos e ensaios escritos por reco-nhecidos especialistas acadêmicos que se debruçaram sobre a vida e a obra de alguns dos principais intérpretes da his-tória e da cultura no Brasil.

Tanto na seleção dos autores quan-to na dos comentaristas críticos, os lei-tores poderão observar que os organi-zadores buscaram alternativas aos tra-dicionais nomes que se repetem nas publicações que vêm se dedicando ao estudo dos “explicadores” deste país. Ainda que considerem relevantes a contribuição decisiva de escritores e pensadores já clássicos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buar-que de Hollanda, Florestan Fernandes, Celso Furtado e Anto-nio Candido, responsáveis por obras seminais, que são revisi-tadas em abordagens inovadoras.

O mérito maior da obra, no entanto, é que os organizado-res também trazem para o centro do debate figuras que esta-vam de certo modo à sombra, a despeito de seu importante papel histórico. Entre os renegados, normalmente esquecidos como pensadores do Brasil, ora por não se enquadrarem nos cânones, ora por serem contrários à abordagem majoritária, estão nomes como Octávio Brandão, Heitor Ferreira Lima, Astrojildo Pereira, Leôncio Basbaum, Rui Facó, Luís da Câma-ra Cascudo e Everardo Dias.

Para os organizadores, a importância do livro é justamente ser um aporte importante sobre vários intelectuais emblemá-ticos e suas teorias. “Para isso, pudemos contar com a generosa colaboração de diversos estudiosos que se dispuseram a escre-ver sobre esses pensadores do Brasil”, enfatizam.

Os autores escolhidos compõem um amplo e rico panora-ma dos pensamentos social e historiográfico nacional da déca-da de 1920 até o começo dos anos 1990, alguns dos quais mui-to pouco discutidos em outras obras do gênero. O historiador

Intérpretes e inventores de um Brasil plural

L LIVROS

Herbert S. Klein, professor emérito das universidades de Columbia e Stan-ford, classifica o volume como um manual básico para os estudos de his-tória intelectual e da história moderna do Brasil. “A coleção de ensaios repre-senta um guia fundamental para o entendimento dos mais influentes pen-sadores brasileiros do século XX”, afirma.

Também são contemplados auto-res mais “novos” e menos compendia-dos, como Maurício Tragtenberg, Jacob Gorender, Ruy Mauro Marini, Milton Santos, Edgard Carone, e ainda personalidades da importância histó-rica de Paulo Freire e Ignácio Rangel.

Como lembra o historiador Carlos Guilherme Mota, na orelha do livro, cada geração analisa e “redescobre” o Brasil, interpretando o processo de nossa formação dentro das condições

e debates de sua época. Porém ele acredita que poucos vão além, como fizeram os organizadores Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco. “Verifica-se nesta obra uma significativa aber-tura de foco dos estudos sobre o pensamento brasileiro, não apenas em termos geracionais como também na variedade de visões teóricas e abordagens pronunciadamente ideológicas”, afirma Mota. “Este livro, portanto, vem ampliar de modo críti-co e significativo os horizontes e o debate histórico-historiográfico nesta quadra difícil de nossa história, tão mar-cada por ambiguidades, desacertos e, já agora, também por pro-fundas revisões para uma retomada rumo a um futuro melhor.”

Plural – A lista dos vinte e cinco “inventores” analisados na obra é diversa: Antonio Candido, Astrojildo Pereira, Caio Pra-do Júnior, Câmara Cascudo, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Edgard Carone, Everardo Dias, Florestan Fernandes, Gilberto Freyre, Heitor Ferreira Lima, Ignácio Rangel, Jacob Gorender, José Honório Rodrigues, Leôncio Basbaum, Mário Pedrosa, Maurício Tragtenberg, Milton Santos, Nelson Werneck Sodré, Octávio Brandão, Paulo Freire, Rômulo Almeida, Rui Facó, Ruy Mauro Marini, Sérgio Buarque de Hollanda.

Livro desenha um mosaico com alguns dos atores fundamentais para se compreender a formação social, política, econômica e cultural do Brasil; a obra vai além dos clássicos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Celso Furtado, e recupera os “rebeldes” e os “renegados” que ajudaram a construir a identidade do país

O

RUMOS - 52 – Março/Abril 2014

Um guia prático para evitar as armadilhas na elaboração de orça-mentos e previsões. É isto que se pro-põe o livro, que tem a chancela do prestigiado jornal inglês Financial Times e vem recebendo elogios de exe-cutivos dos mais diferentes ramos ao redor do mundo. Escrito por Nigel Wyatt, consultor de treinamento financeiro com trabalhos reconheci-dos internacionalmente, o guia traz conhecimentos técnicos e específicos para a elaboração, gerenciamento e avaliação de orçamentos e previsões. A obra possui gráficos, tabelas e exer-cícios que podem ajudar no entendi-mento do tema – mesmo para profis-sionais que estejam assumindo a res-ponsabilidade por um orçamento pela primeira vez.

Dividido em doze capítulos, o guia aborda questões básicas como as dife-renças entre orçamento e previsão, até lições sobre riscos, balanced scorecards e KPIs. Como bem disse o consultor Manjit Biatn, “ame-os ou odeie-os, orçamentos fazem parte da paisagem

Orçamentos sem segredos

corportativa”. O melhor a fazer, então, é se aprimorar para lidar com eles.

Orçamentos e Previsões – Guia Financial TimesNigel WyattM.Books, 220p., 2014

Produzida pelo Centro Internaci-onal Celso Furtado para Políticas de Desenvolvimento, a obra reúne oito artigos, divididos em quatro grandes temas: novas interpretações desen-volvimentistas; reinserção internacio-nal da economia brasileira; investi-mento em infraestrutura, distribuição de renda e desenvolvimento – expe-riências recentes e os desafios do Nor-deste; e desenvolvimento como redu-tor da heterogeneidade estrutural e regional.

A primeira metade do livro é dedi-cada a artigos de enfoque regional, destacando-se o desempenho da região Nordeste. Já na segunda meta-de, o foco é sobre a economia nacio-nal como um todo, contemplando as novas visões desenvolvimentistas para o país.

No texto de apresentação, a orga-nizadora do livro, Inez Silvia Batista Castro, destaca que, apesar de a sele-ção dos artigos ter ocorrido de forma independente, a leitura do livro “leva a uma conversa entre os autores”,

Economia e desenvolvimento

Novas Interpretações Desenvol-vimentistasInez Silvia Batista Castro (org.)Centro Celso Furtado, 533p., 2013

que, se não tem por obje-tivo chegar à uma “con-clusão definitiva” sobre temática tão complexa, serve como uma valiosa contribuição ao debate sobre o desenvolvimento nacional.

Neste livro, o leitor é convidado a desvendar um mistério: quem é res-ponsável pela morte da criatividade no ambiente corporativo? Com este chamado curioso, os autores Andrew Grant e Gaia Gant, diretores executi-vos da consultoria Internacional Tiri-an, querem provocar os profissionais de diferentes áreas para um cenário que consideram alarmante – o desa-parecimento do pensamento criativo nas organizações.

Com um clima de mistério, fatos baseados em pesquisas meticulosas se misturam a histórias divertidas para revelar os “assassinos da criativida-de”. As ferramentas práticas e os estu-dos de caso apresentados ao longo do livro demonstram como qualquer pes-soa pode reconfigurar o seu cérebro usando as sete estratégias do pensa-mento criativo para impulsionar um empreendimento.

Para escrever a obra, os executi-vos passaram os últimos 25 anos via-jando pelo mundo em busca de melhores práticas para o pensamento

Um chamado à criatividade

criativo. O resultado é um livro leve, que se propõe a desvendar os caminhos que recoloquem o pensamento criativo em lugar de desta-que nas organizações.

Quem Matou a Criatividade?Andrew Grant e Gaia GantEditora Saraiva, 312p., 2013

Ao recordar os cinquenta anos do golpe que instaurou a ditadura mili-tar no Brasil, completado neste mês de abril, o cientista político Milton Pinheiro organizou uma coletânea que tem o desafio de reinterpretar uma história em que vários aspectos estão ainda por decifrar, desde o con-texto por trás do golpe até a campa-nha pelas Diretas Já. A obra, com ensaios inéditos de pensadores como João Quartim de Moraes, Anita Pres-tes, Lincoln Secco, Décio Saes, Marco Aurélio Santana, entre outros, traça o panorama das continuidades e ruptu-ras na história contemporânea brasi-leira, abrangendo temas como as mutações da ideologia, o lugar dos intelectuais, dos sindicatos, as políti-cas econômicas e a presença dos par-tidos políticos. A forma pela qual se pensou a gestão da política econômi-ca durante o regime militar é destrin-chada pelo cientista político Adriano Codato, ao investigar a questão da estrutura administrativa do Estado, e pelo economista Nilson Araújo de

As faces do regime militar

Souza, que divide o período em cinco momentos, aten-tando para o complexo de políticas econômicas desen-volvidas e suas relações.

Ditadura: o que Resta da Tran-siçãoMilton Pinheiro (org.)Boitempo, 376p., 2014

Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegadosLincoln Secco e Luiz Bernardo Pericás (orgs.)Boitempo, 416p., 2014

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RUMOS - 53 –Março/Abril 2014

rganizado pelos professores Luiz Bernardo Pericás e Lin-coln Secco, da Universidade de

São Paulo (USP), o livro Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados ajuda a traçar um amplo panorama do pensa-mento crítico político-social brasileiro dos séculos XX e XXI. Ao todo, são 27 estudos e ensaios escritos por reco-nhecidos especialistas acadêmicos que se debruçaram sobre a vida e a obra de alguns dos principais intérpretes da his-tória e da cultura no Brasil.

Tanto na seleção dos autores quan-to na dos comentaristas críticos, os lei-tores poderão observar que os organi-zadores buscaram alternativas aos tra-dicionais nomes que se repetem nas publicações que vêm se dedicando ao estudo dos “explicadores” deste país. Ainda que considerem relevantes a contribuição decisiva de escritores e pensadores já clássicos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buar-que de Hollanda, Florestan Fernandes, Celso Furtado e Anto-nio Candido, responsáveis por obras seminais, que são revisi-tadas em abordagens inovadoras.

O mérito maior da obra, no entanto, é que os organizado-res também trazem para o centro do debate figuras que esta-vam de certo modo à sombra, a despeito de seu importante papel histórico. Entre os renegados, normalmente esquecidos como pensadores do Brasil, ora por não se enquadrarem nos cânones, ora por serem contrários à abordagem majoritária, estão nomes como Octávio Brandão, Heitor Ferreira Lima, Astrojildo Pereira, Leôncio Basbaum, Rui Facó, Luís da Câma-ra Cascudo e Everardo Dias.

Para os organizadores, a importância do livro é justamente ser um aporte importante sobre vários intelectuais emblemá-ticos e suas teorias. “Para isso, pudemos contar com a generosa colaboração de diversos estudiosos que se dispuseram a escre-ver sobre esses pensadores do Brasil”, enfatizam.

Os autores escolhidos compõem um amplo e rico panora-ma dos pensamentos social e historiográfico nacional da déca-da de 1920 até o começo dos anos 1990, alguns dos quais mui-to pouco discutidos em outras obras do gênero. O historiador

Intérpretes e inventores de um Brasil plural

L LIVROS

Herbert S. Klein, professor emérito das universidades de Columbia e Stan-ford, classifica o volume como um manual básico para os estudos de his-tória intelectual e da história moderna do Brasil. “A coleção de ensaios repre-senta um guia fundamental para o entendimento dos mais influentes pen-sadores brasileiros do século XX”, afirma.

Também são contemplados auto-res mais “novos” e menos compendia-dos, como Maurício Tragtenberg, Jacob Gorender, Ruy Mauro Marini, Milton Santos, Edgard Carone, e ainda personalidades da importância histó-rica de Paulo Freire e Ignácio Rangel.

Como lembra o historiador Carlos Guilherme Mota, na orelha do livro, cada geração analisa e “redescobre” o Brasil, interpretando o processo de nossa formação dentro das condições

e debates de sua época. Porém ele acredita que poucos vão além, como fizeram os organizadores Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco. “Verifica-se nesta obra uma significativa aber-tura de foco dos estudos sobre o pensamento brasileiro, não apenas em termos geracionais como também na variedade de visões teóricas e abordagens pronunciadamente ideológicas”, afirma Mota. “Este livro, portanto, vem ampliar de modo críti-co e significativo os horizontes e o debate histórico-historiográfico nesta quadra difícil de nossa história, tão mar-cada por ambiguidades, desacertos e, já agora, também por pro-fundas revisões para uma retomada rumo a um futuro melhor.”

Plural – A lista dos vinte e cinco “inventores” analisados na obra é diversa: Antonio Candido, Astrojildo Pereira, Caio Pra-do Júnior, Câmara Cascudo, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Edgard Carone, Everardo Dias, Florestan Fernandes, Gilberto Freyre, Heitor Ferreira Lima, Ignácio Rangel, Jacob Gorender, José Honório Rodrigues, Leôncio Basbaum, Mário Pedrosa, Maurício Tragtenberg, Milton Santos, Nelson Werneck Sodré, Octávio Brandão, Paulo Freire, Rômulo Almeida, Rui Facó, Ruy Mauro Marini, Sérgio Buarque de Hollanda.

Livro desenha um mosaico com alguns dos atores fundamentais para se compreender a formação social, política, econômica e cultural do Brasil; a obra vai além dos clássicos, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Celso Furtado, e recupera os “rebeldes” e os “renegados” que ajudaram a construir a identidade do país

O

RUMOS - 52 – Março/Abril 2014

Um guia prático para evitar as armadilhas na elaboração de orça-mentos e previsões. É isto que se pro-põe o livro, que tem a chancela do prestigiado jornal inglês Financial Times e vem recebendo elogios de exe-cutivos dos mais diferentes ramos ao redor do mundo. Escrito por Nigel Wyatt, consultor de treinamento financeiro com trabalhos reconheci-dos internacionalmente, o guia traz conhecimentos técnicos e específicos para a elaboração, gerenciamento e avaliação de orçamentos e previsões. A obra possui gráficos, tabelas e exer-cícios que podem ajudar no entendi-mento do tema – mesmo para profis-sionais que estejam assumindo a res-ponsabilidade por um orçamento pela primeira vez.

Dividido em doze capítulos, o guia aborda questões básicas como as dife-renças entre orçamento e previsão, até lições sobre riscos, balanced scorecards e KPIs. Como bem disse o consultor Manjit Biatn, “ame-os ou odeie-os, orçamentos fazem parte da paisagem

Orçamentos sem segredos

corportativa”. O melhor a fazer, então, é se aprimorar para lidar com eles.

Orçamentos e Previsões – Guia Financial TimesNigel WyattM.Books, 220p., 2014

Produzida pelo Centro Internaci-onal Celso Furtado para Políticas de Desenvolvimento, a obra reúne oito artigos, divididos em quatro grandes temas: novas interpretações desen-volvimentistas; reinserção internacio-nal da economia brasileira; investi-mento em infraestrutura, distribuição de renda e desenvolvimento – expe-riências recentes e os desafios do Nor-deste; e desenvolvimento como redu-tor da heterogeneidade estrutural e regional.

A primeira metade do livro é dedi-cada a artigos de enfoque regional, destacando-se o desempenho da região Nordeste. Já na segunda meta-de, o foco é sobre a economia nacio-nal como um todo, contemplando as novas visões desenvolvimentistas para o país.

No texto de apresentação, a orga-nizadora do livro, Inez Silvia Batista Castro, destaca que, apesar de a sele-ção dos artigos ter ocorrido de forma independente, a leitura do livro “leva a uma conversa entre os autores”,

Economia e desenvolvimento

Novas Interpretações Desenvol-vimentistasInez Silvia Batista Castro (org.)Centro Celso Furtado, 533p., 2013

que, se não tem por obje-tivo chegar à uma “con-clusão definitiva” sobre temática tão complexa, serve como uma valiosa contribuição ao debate sobre o desenvolvimento nacional.

Neste livro, o leitor é convidado a desvendar um mistério: quem é res-ponsável pela morte da criatividade no ambiente corporativo? Com este chamado curioso, os autores Andrew Grant e Gaia Gant, diretores executi-vos da consultoria Internacional Tiri-an, querem provocar os profissionais de diferentes áreas para um cenário que consideram alarmante – o desa-parecimento do pensamento criativo nas organizações.

Com um clima de mistério, fatos baseados em pesquisas meticulosas se misturam a histórias divertidas para revelar os “assassinos da criativida-de”. As ferramentas práticas e os estu-dos de caso apresentados ao longo do livro demonstram como qualquer pes-soa pode reconfigurar o seu cérebro usando as sete estratégias do pensa-mento criativo para impulsionar um empreendimento.

Para escrever a obra, os executi-vos passaram os últimos 25 anos via-jando pelo mundo em busca de melhores práticas para o pensamento

Um chamado à criatividade

criativo. O resultado é um livro leve, que se propõe a desvendar os caminhos que recoloquem o pensamento criativo em lugar de desta-que nas organizações.

Quem Matou a Criatividade?Andrew Grant e Gaia GantEditora Saraiva, 312p., 2013

Ao recordar os cinquenta anos do golpe que instaurou a ditadura mili-tar no Brasil, completado neste mês de abril, o cientista político Milton Pinheiro organizou uma coletânea que tem o desafio de reinterpretar uma história em que vários aspectos estão ainda por decifrar, desde o con-texto por trás do golpe até a campa-nha pelas Diretas Já. A obra, com ensaios inéditos de pensadores como João Quartim de Moraes, Anita Pres-tes, Lincoln Secco, Décio Saes, Marco Aurélio Santana, entre outros, traça o panorama das continuidades e ruptu-ras na história contemporânea brasi-leira, abrangendo temas como as mutações da ideologia, o lugar dos intelectuais, dos sindicatos, as políti-cas econômicas e a presença dos par-tidos políticos. A forma pela qual se pensou a gestão da política econômi-ca durante o regime militar é destrin-chada pelo cientista político Adriano Codato, ao investigar a questão da estrutura administrativa do Estado, e pelo economista Nilson Araújo de

As faces do regime militar

Souza, que divide o período em cinco momentos, aten-tando para o complexo de políticas econômicas desen-volvidas e suas relações.

Ditadura: o que Resta da Tran-siçãoMilton Pinheiro (org.)Boitempo, 376p., 2014

Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegadosLincoln Secco e Luiz Bernardo Pericás (orgs.)Boitempo, 416p., 2014

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Publicação bimestralISSN 1415-4722

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Capa Reprodução com arte de Noel Joaquim Faiad

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta

Conselho EditorialCarlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino.

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

RUMOS - – Março/Abril 2014 54

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Ano 39 – Nº 274 Março/Abril 2014

BibliotecáriaO Setor de Periódicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual da Paraíba vem, através desta, agradecer as doações de periódicos fei-tas por Vossa Senhoria, tendo em vista o enriquecimento e o engrande-cimento que tais publicações proporcionam aos nossos usuários.Irenilda Medeiros, Bibliotecária, UEPB. Campina Grande (PB)

Diretor AdministrativoSenhor Editor, agradeço a remessa de exemplar da revista Rumos, edi-ção de número 273, e felicito-o pela qualidade da publicação.Orpheu Santos Salles, Diretor Administrativo, Associação Brasileira de Imprensa. Rio de Janeiro (RJ)

ContadorPrezada equipe, sou Contador do BNDES e, desde que assumi uma gerência, responsável pela gestão de seguros das garantias, em 2003, comecei a receber a revista Rumos, que me tem sido muito útil em todos esses anos, razão pela qual aproveito a oportunidade para agradecê-los e parabenizá-los por esse excelente trabalho. Atualmente, não sou mais o responsável por aquela gerência, mas continuo, como contador, atu-ando como consultor na gestão das garantias (e respectivos seguros) dos financiamentos do BNDES, área essa que eu ainda gostaria de ver, antes de me aposentar, como tema de um evento (seminário ou encon-tro) promovido pela ABDE, envolvendo executivos e especialistas das Instituições de Desenvolvimento, como já houve no passado e que eu tive a honra e o privilégio de ter participado.Saudações.Haroldo Cella, contador. Rio de Janeiro (RJ)

Rede de BibliotecasRecebemos periodicamente o título: Rumos: economia e desenvolvimento para os novos tempos, porém verificamos que não recebemos o seguinte número: fevereiro de 2014. Solicitamos que, por gentileza, e, se possí-vel, nos seja enviado o número faltante, pois este título é de suma importância para o enriquecimento de nosso acervo. Agradecemos antecipadamente.Natália Aparecida Barbosa. Associação Prudentina de Educação e Cultura, Rede de Bibliotecas Unoeste. Presidente Prudente (SP).

Acesse: www.abde.org.br

Leia a revista econsulte as edições passadas.

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E C O N O M I A & D E S E N V O LV I M E N T O PA R A O S N O V O S T E M P O S

EDITORIALABDE

ANO

38

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º 27

3 –

Jan

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14

Destino: Brasil

Entrevistas

Luiz Gonzaga Belluzzo

Matheus Cotta de Carvalho

Paulo Gadelha

O país deve bater o recorde de

turistas em 2014 e institu

ições

de fomento investem no setor

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