34
Janeiro 2016 | Edição nº2 | Distribuição Digital e Gratuita Gestão de stress em época de exames Prometo a mim mesmo que em 2016... ISSN 108/2015

RUPortagem Nº2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Sabe mais sobre: - Gestão de stress em exames - Direito à participação das crianças e jovens - Prometo a mim mesmo que em 2016... - Conferência europeia: Intervenção psicológica em situações de catástrofe - Terrorismo, a persuasão dos fracos? A alienação mental? Ou a esperança de uma vida melhor? - Erasmus em Salamanca: “O lar é onde o coração do homem cria raizes” -O mundo da psicologia: quem estuda psicologia tem de necessariamente ser psicólogo? - ANEP - Associação Nacional Estudantes Psicologia - uma nova etapa -Entrevista com Tiago Fonseca

Citation preview

Janeiro 2016 | Edição nº2 | Distribuição Digital e Gratuita

Gestão de stress emépoca de exames

Prometo a mim mesmo que em 2016...

ISSN 108/2015

PUBLICITE AQUI

Email: [email protected]

4

5

6

8

10

14

18

24

26

27

29

ÍNDICE

3

Ficha técnica

Agenda

Gestão de stress em época de exames

Direito à participação das crianças e jovens

Prometo a mim mesmo que em 2016...

Conferência europeia:

Intervenção psicológica em situações de catástrofe

Terrorismo, a persuasão dos fracos? A alienação

mental? Ou a esperança de uma vida melhor?

Erasmus em Salamanca: “O lar é onde o coração do

homem cria raízes”

O mundo da psicologia: quem estuda psicologia tem

de necessariamente ser psicólogo?

Associação Nacional de Estudantes de Psicologia -

uma nova etapa

Entrevista com Tiago A. G. Fonseca

FICHA TÉCNICA

Nota Editorial

Caros leitores,

A RUPortagem está de volta para vos dar as boas-vindas a 2016. Sei que por esta altura os estudantes andam muito atarefados com as épocas de exames, mas colocamos ao seu dispor uma nova revista para lerem nos intervalos do estudo.Para todos os que nos acompanham: obrigada! Espero que as linhas que escrevemos vos inspirem e vos ajudem a reflectir acerca deste mundo tão nosso: a Psicologia.

Qualquer sugestão pode ser enviada para : [email protected]

A Editora,Nádia Costa

Coordenador de Design,Ruben Alves

Designer,Nádia Carvalho

Revisora,Sofia Costa

/// ISSN: 108/2015///Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP//// Editora: Nádia Costa ///// Administrador: Marco Fernandes ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: João Mena ///// Periodicidade: Trimestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia – ANEP ////// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000 ///// Elementos gráficos adquiridos no freepick, feitos pelo freepick, posteriormente alterados pelos nossos designers /////

4

Adriana Bugalho Nádia CostaMaria João Fangaia Nadine AmaroJéssica RolhoCatarina Fernandes

AGENDA

5

Data

Tema

LocalPreço

14 de Janeiro de 2016

Seminário IVOR: políticas centradas nas vítimas de crime

Hotel Olissipo Marquês de Sá, Lisboa 10€inclui: um kit de participante (saco, caneta, bloco, brochura do seminário)- acesso a todas as sessões;- coffee-break;- acesso ao almoço buffet que será servido no local do seminário;- certificado de participação.

Data

Tema

LocalPreço

23 de Janeiro de 2016

I Encontro de Psicanálise de Coimbra

FPCE-UC Antes de 10 de Janeiro: Sócios SPP – 20 € Não Sócios – 25 € Estudantes – 15 €Depois de 10 de Janeiro: Sócios SPP – 25 € Não Sócios – 30 € Estudantes – 20 €

Data

Tema

LocalPreço

26 - 29 de Janeiro 2016

XI Congresso Nacional de Psicologia da Saúde

ISCTE-IUL, Lisboa Membros da Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde - 120 eurosNão membros da SPPS - 200 eurosParticipantes dos PALOP e Brasil - 120 eurosEstudantes (de qualquer nacionalidade) – 100 euros

Data

Tema

LocalPreço

13 e 14 de Abril de 2016

VII Congresso Internacional de Psicologia da Criança e do Adolescente

Universidade Lusíada de Lisboa por definir

O final das aulas está a chegar e com ele vêm os exames! Sim, aquele pesadelo que para alguns estudantes faz desejar ter aulas nas férias, em vez de ir, geralmente, uma vez por semana, no mês de janeiro, demonstrar o que aprenderam num semestre inteiro.Para muitos estudantes, este é um período muito sensível e que pode tornar-se num problema, devido ao stress e à ansiedade sentidos.Em entrevista a alguns alunos de psicologia, procurou-se saber como é gerido o tempo nesta altura. Isto, porque uma das principais causas do stress vivenciado nesta época é a péssima gestão de tempo.

As respostas foram variadas. Alguns alunos tentam gerir a época normal com a segunda época de exames, de modo a ter mais tempo para estudar as matérias que durante o semestre acharam mais difíceis, e utilizando os mais variados métodos como a resolução de exercícios; sublinhar o mais importante, de modo a distinguir o útil do acessório; gravar a matéria e ouvi-la como se fosse música.A Joana Macedo, aluna do 3º ano de Psicologia, diz que “Normalmente faço um plano/horário de estudo. Tenho o dia do exame e a matéria que tenho que estudar para esse exame, e tento distribuí-la pelos dias que tenho até à data. O

calendário de organização de estudo é algo que faço sempre.”Por outro lado, a Andreia Bastos, do mesmo ano, afirma que “Tento manter rotinas, planear o tempo de estudo que quero ter para cada cadeira, programar intervalos, e tento respeitar também os meus próprios ritmos. Por exemplo, se de manhã não estou mesmo a conseguir estudar, fecho os livros, e depois decido pegar mais tarde para ser mais rentável.”Existem ainda alguns alunos como a Andreia Alferes, que nos diz que “estudo todos os dias menos nos dias em que tenho exame, ou naqueles dias em que tenho atividades marcadas”.Depois, a RUPortagem quis saber se os alunos vivenciam muito stress nesta altura. Cerca de 90% dos inquiridos respondeu que sim, no entanto, alguns achavam que o stress faz parte da época de exames e que este anda de mãos dadas com a adrenalina, o empenho e a motivação. A Andreia Bastos confessou ainda que “fico mais stressada na época antes dos exames (em dezembro), pois é mais difícil de gerir o estudo, com os trabalhos de grupo que temos para fazer e entregar. Na época de exames, como depende mais de mim, é mais fácil de gerir.”

E agora, o que os alunos de psicologia fazem para tentar lidar com este stress? Andreia Alferes diz que para lidar com o stress se tenta abstrair, “por exemplo, nos dias de exame, em que normalmente tenho mais stress, tento não estudar mais antes do exame, tento fazer alguma atividade depois do exame, e se vir que alguma matéria não está a correr bem, saio de casa e vou ao cinema, por exemplo.”.Para Joana Macedo, as coisas são diferentes e focam-se mais na organização do estudo do que na abstração do mesmo. “Utilizo um horário de estudo que me relaxa um pouco, porque sei que tenho as coisas organizadas. O meu grande problema é não conseguir ter tudo pronto e organizado a horas. De resto não faço mais nada. Revela-se muito no empenho, porque o stress dá-me motivação para ir estudar, provoca uma certa pressão.”Para a Andreia Bastos, o importante é estar ativa e respeitar o seu próprio tempo, e por isso “(…) continuo a fazer exercício físico, sair de casa para apanhar ar, e respeito os intervalos e o meu espaço para conseguir ser mais produtiva a estudar.”

Questionamos, também alguns alunos em relação às suas superstições ou truques a fazer antes ou depois da realização do exame. Muitos admitem não ter quaisquer truques ou superstições, enquanto outros dizem que

alguns dos truques passam por utilizar camisas da sorte, ver exames de anos passados, ir aos horários de atendimento dos professores, e mais importante, “relaxar e tentar não ficar nervosa”, nas palavras da Joana. A Andreia Bastos revelou-nos ainda que tem “ (…) uma caneta que costumo levar para os exames, e faço sempre os exames a azul e nunca a preto, e apenas uso marcador amarelo.”

Por último, preocuparmo-nos em saber se a pessoa em questão se considerava estudiosa ou nem por isso. Em resposta a esta última questão não se verificam maiorias. Alguns consideram-se estudiosos, outros mais ou menos, e outros nem por isso.

Em conclusão, achamos que alguns destes métodos são importantes e devem ser utilizados e por isso aqui se encontra uma lista para quem sofre de “Stress Pré Exames”. Esperamos assim, que esta seja uma época menos stressante que a anterior!

6

“Período muito sensível e que pode tornar-se num problema, devido ao stress e à ansiedade sentidos”

Jéssica Rolho

GESTÃO DE STRESS EM EXAMES

O final das aulas está a chegar e com ele vêm os exames! Sim, aquele pesadelo que para alguns estudantes faz desejar ter aulas nas férias, em vez de ir, geralmente, uma vez por semana, no mês de janeiro, demonstrar o que aprenderam num semestre inteiro.Para muitos estudantes, este é um período muito sensível e que pode tornar-se num problema, devido ao stress e à ansiedade sentidos.Em entrevista a alguns alunos de psicologia, procurou-se saber como é gerido o tempo nesta altura. Isto, porque uma das principais causas do stress vivenciado nesta época é a péssima gestão de tempo.

As respostas foram variadas. Alguns alunos tentam gerir a época normal com a segunda época de exames, de modo a ter mais tempo para estudar as matérias que durante o semestre acharam mais difíceis, e utilizando os mais variados métodos como a resolução de exercícios; sublinhar o mais importante, de modo a distinguir o útil do acessório; gravar a matéria e ouvi-la como se fosse música.A Joana Macedo, aluna do 3º ano de Psicologia, diz que “Normalmente faço um plano/horário de estudo. Tenho o dia do exame e a matéria que tenho que estudar para esse exame, e tento distribuí-la pelos dias que tenho até à data. O

calendário de organização de estudo é algo que faço sempre.”Por outro lado, a Andreia Bastos, do mesmo ano, afirma que “Tento manter rotinas, planear o tempo de estudo que quero ter para cada cadeira, programar intervalos, e tento respeitar também os meus próprios ritmos. Por exemplo, se de manhã não estou mesmo a conseguir estudar, fecho os livros, e depois decido pegar mais tarde para ser mais rentável.”Existem ainda alguns alunos como a Andreia Alferes, que nos diz que “estudo todos os dias menos nos dias em que tenho exame, ou naqueles dias em que tenho atividades marcadas”.Depois, a RUPortagem quis saber se os alunos vivenciam muito stress nesta altura. Cerca de 90% dos inquiridos respondeu que sim, no entanto, alguns achavam que o stress faz parte da época de exames e que este anda de mãos dadas com a adrenalina, o empenho e a motivação. A Andreia Bastos confessou ainda que “fico mais stressada na época antes dos exames (em dezembro), pois é mais difícil de gerir o estudo, com os trabalhos de grupo que temos para fazer e entregar. Na época de exames, como depende mais de mim, é mais fácil de gerir.”

E agora, o que os alunos de psicologia fazem para tentar lidar com este stress? Andreia Alferes diz que para lidar com o stress se tenta abstrair, “por exemplo, nos dias de exame, em que normalmente tenho mais stress, tento não estudar mais antes do exame, tento fazer alguma atividade depois do exame, e se vir que alguma matéria não está a correr bem, saio de casa e vou ao cinema, por exemplo.”.Para Joana Macedo, as coisas são diferentes e focam-se mais na organização do estudo do que na abstração do mesmo. “Utilizo um horário de estudo que me relaxa um pouco, porque sei que tenho as coisas organizadas. O meu grande problema é não conseguir ter tudo pronto e organizado a horas. De resto não faço mais nada. Revela-se muito no empenho, porque o stress dá-me motivação para ir estudar, provoca uma certa pressão.”Para a Andreia Bastos, o importante é estar ativa e respeitar o seu próprio tempo, e por isso “(…) continuo a fazer exercício físico, sair de casa para apanhar ar, e respeito os intervalos e o meu espaço para conseguir ser mais produtiva a estudar.”

Questionamos, também alguns alunos em relação às suas superstições ou truques a fazer antes ou depois da realização do exame. Muitos admitem não ter quaisquer truques ou superstições, enquanto outros dizem que

alguns dos truques passam por utilizar camisas da sorte, ver exames de anos passados, ir aos horários de atendimento dos professores, e mais importante, “relaxar e tentar não ficar nervosa”, nas palavras da Joana. A Andreia Bastos revelou-nos ainda que tem “ (…) uma caneta que costumo levar para os exames, e faço sempre os exames a azul e nunca a preto, e apenas uso marcador amarelo.”

Por último, preocuparmo-nos em saber se a pessoa em questão se considerava estudiosa ou nem por isso. Em resposta a esta última questão não se verificam maiorias. Alguns consideram-se estudiosos, outros mais ou menos, e outros nem por isso.

Em conclusão, achamos que alguns destes métodos são importantes e devem ser utilizados e por isso aqui se encontra uma lista para quem sofre de “Stress Pré Exames”. Esperamos assim, que esta seja uma época menos stressante que a anterior!

DEVES - Ter um horário e um plano de estudo (separar as matérias mais difíceis e que envolvem mais empenho da tua parte, por exemplo).

- Exercício Físico, pelo menos 2 vezes por semana. Ajuda à alma e ao corpo.

- Sair de casa, pelo menos 3 vezes por semana, para arejares a cabeça. Aproveita para ires ver aquele filme que querias ver.

- Intervalos durante o estudo. Seja para almoçar, lanchar ou jantar, ou apenas 10 minutos.

- Conhecer-te. Saberes quais os métodos de estudo que mais resultam contigo e com as matérias que tens de estudar.

NÃO DEVES - Estudar todos os dias. Deves estudar apenas quando achas que o estudo será produtivo.

- Ficar fechado/a em casa até ao exame.

- Estudar até tarde (embora devas estudar consoante o período do dia mais produtivo para ti: manhã, tarde ou noite).

- Estudar apenas na véspera.

- Comer mal e dormir poucas horas.

7

Quando falamos de participação, falamos inevitavelmente de liberdade. Liberdade na forma como pensamos, como nos envolvemos e tomamos decisões relativamente a assuntos que nos dizem respeito. Liberdade de procurar informação e exprimir ideias sobre as quais reflectimos. Para que possamos ser livres e conscientes da importância das nossas intervenções na sociedade, as decisões que tomamos devem ser fundamentadas, esclarecidas.

Quando falamos de crianças e jovens, as coisas não são necessariamente diferentes, uma vez que a criança ocupa hoje, na sociedade ocidental, um lugar diferenciado, apresentando-se como um sujeito essencialmente social, que se desenvolve na interacção com os agentes do contexto em que está integrada.

Os jovens, por sua vez, são cada vez mais chamados a participar cívica e politicamente em assuntos que se relacionam com o seu dia-a-dia, o que é de certa forma recente, dado que a percepção sobre a capacidade decisiva “consciente” é associada aos adultos, que têm uma maior experiência de vida e por conseguinte, uma visão mais diferenciada do que é certo e errado. No entanto, quando falamos da necessidade de uma participação efectiva por parte dos jovens, convém lembrar que existe um conjunto de factores que se apresentam como facilitadores ou condicionantes, nomeadamente os meios de educação formal e informal que têm ao seu dispor. Sabemos que esta – a educação – tem, essencialmente, um cariz social, um cariz de mudança, que acaba (ou começa) por ser o

8

Liberdade na forma como pensamos, como nos envolvemos e tomamos decisões relativamente a assuntos que nos dizem respeito.

Adriana Bugalho

DIREITO À PARTICIPAÇÃODAS CRIANÇAS E JOVENS

marginalizados, em “guetos”? De que forma é que a exclusão social é uma barreira para a cidadania activa e crítica? De que tipo de recursos dispomos para que estes jovens participem, em igualdade de circunstâncias, com aqueles que não são marginalizados, que têm mais recursos e uma maior possibilidade de dar resposta às exigências do meio? Que implicações têm a não-participação na sociedade e a marginalização na saúde mental dos próprios? É possível que se sintam de igual para igual com outros? Que estejam felizes? Que tenham a percepção da mudança do seu destino?Estas são algumas questões sobre as quais deveríamos todos reflectir, para que pudéssemos alterar as práticas do dia-a-dia, ficando com a certeza de que as crianças e os jovens podem tomar nas suas mãos o destino das suas vidas e que o nosso contributo, enquanto sujeitos activos, é muito importante para isso.

motor de qualquer sociedade que queiradesenvolver-se dignamente. A educação deve ser vista como um alicerce dos direitos humanos, bem como principal interveniente no desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais que serão imperativas para o atenuar das desigualdades entre pares, promovendo uma igualdade de oportunidades e constituindo-se como uma ponte para a participação. Convém que nos questionemos: A educação é igual para todos? O suporte social é igual para todos? É igual viver num meio urbano ou num meio rural? Viver no centro ou na periferia da cidade? Como é claro para todos, a cidade é o espaço da diferença. Os jovens conhecem a diversidade étnica, etária e social presente numa grande cidade e têm as suas próprias opiniões acerca das diferenças. Um dos desafios que imerge é saber lidar com a diversidade percebida entre os habitantes do mesmo espaço. A vida urbana é marcada pela diversidade e essa diversidade pode ser uma tarefa difícil, gerando angústia, indiferença e até mesmo a marginalização de determinados grupos. Há por isso uma necessidade de afirmação dos jovens, de demarcar-se em relação a outros, de criar uma identidade, construída através de símbolos por exemplo (roupas, acessórios) e rituais partilhados pelo seu grupo de pares. Mas se o acesso às estruturas de educação e aos recursos não é igual para todos, de que forma é que poderão aqueles que vivem à margem participar de forma efectiva? Que tipos de participação têm aqueles que vivem em bairros

9

marginalizados, em “guetos”? De que forma é que a exclusão social é uma barreira para a cidadania activa e crítica? De que tipo de recursos dispomos para que estes jovens participem, em igualdade de circunstâncias, com aqueles que não são marginalizados, que têm mais recursos e uma maior possibilidade de dar resposta às exigências do meio? Que implicações têm a não-participação na sociedade e a marginalização na saúde mental dos próprios? É possível que se sintam de igual para igual com outros? Que estejam felizes? Que tenham a percepção da mudança do seu destino?Estas são algumas questões sobre as quais deveríamos todos reflectir, para que pudéssemos alterar as práticas do dia-a-dia, ficando com a certeza de que as crianças e os jovens podem tomar nas suas mãos o destino das suas vidas e que o nosso contributo, enquanto sujeitos activos, é muito importante para isso.

“se o acesso às estruturas de educação e aos recursos não é igual para todos, de que forma é que poderão aqueles que vivem à margem participar de forma efectiva?”

“A educação deve ser vista como um alicerce dos direitos humanos, bem como principal interveniente no desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais”

Perder peso. Comprar um carro. Mudar de emprego. Usar mais a escada e menos o elevador. Fazer voluntariado. Deixar de fumar. Fazer exercício três vezes por semana. “Ano novo, vida nova”. Não é esse o lema que surge em todas as passagens de ano? Enquanto comemos as 12 passas e ouvimos as também 12 badaladas o nossopensamento voa. Todos nós já fizemos resoluções de ano novo, prometemos a nós próprios mudar a nossa vida, ou pelo menos parte dela. Se as cumprimos? Talvez não. É verdade, propomo-nos a melhorar enquanto pessoa, melhorar a nossa saúde, as nossas relações interpessoais, ser melhor pai/mãe mas muitas vezes ao chegar o mês de Dezembro percebemos que nada mudou. Seguem-se algumas sugestões que podem ajudar nesta aventura: - Faça uma lista dos seus objectivos (em papel) e coloque-a num local visível;

- Defina objectivos realistas, que sejam possíveis de alcançar (nada de: “perder 20 quilos até Fevereiro”);

- Crie alterações na rotina que possam ajudar ao alcance do objectivo. É importante definir os pequenos pontos que temos de ultrapassar para atingir o objectivo;

- Concentre-se no processo e não só no objectivo final;

- Recompense-se ao longo do processo.

- Convide amigos e/ou familiares a participar das suas actividades e discuta com eles o porquê destas suas decisões;

- Confie nas suas capacidades e não desista. É normal que a motivação vá diminuindo, mas está nas suas mãos contrariar.Seguem-se algumas opiniões acerca deste assunto:

10

Ano novo, vida nova

Nádia Costa

PROMETO A MIM MESMO

QUE EM 2016…

“Ano novo, vida nova. Pelo menos é o que costumam dizer, embora muitas vezes não seja nada assim. Quando era pequena, sempre que chegava o último dia do ano, escrevia uma lista de desejos, enumerados de acordo com o grau de preferência. Ao longo do tempo fui-me apercebendo que não bastava que fossem apenas desejos, mas sim objetivos e que era preciso fazer alguma coisa para os conseguir! Agora, já não escrevo uma lista de desejos. No primeiro dia de cada ano faço uma pequena introspeção à minha vida, refletindo sobre aquilo que gostei e quero manter, o que não me fez feliz e preciso de mudar, tudo o que ainda não fiz e o que tenho que fazer para conseguir. Posso afirmar que, desta forma, tenho conseguido coisas novas todos os anos. Mas lá em casa, quando a passagem de ano é em família, a prima mais nova segue a tradição da lista de desejos, porque só sonhar também é bom.” Diana Achando (23 anos)

“Costuma dizer-se que “ano novo, vida nova”, no entanto, vivemos um dia de cada vez, aprimorando para que a nossa vida pessoal e profissional seja melhor, confiando no nosso dia-a-dia e respondendo às partidas que o destino nos prega, sejam elas boas ou más! Podemos até fazer alguns planos ou pensar que “para o ano será diferente”, ou “para o ano vou fazer X”, mas é muito subjectivo. O melhor exemplo é o sítio onde trabalho. Sou recepcionista de um ginásio, e por vezes ouvimos muitas pessoas dizer que “para o ano, vou começar a treinar para ficar em forma”, mas acabam por cair na mesma rotina e não cumprir esse objectivo a que se propuseram. Em Dezembro e início de Janeiro existem sempre muitas inscrições e penso que são mesmo essas resoluções de ano novo, mas são poucas as que se mantêm com essa finalidade!A viragem para um ano novo poderá fazer a diferença, sendo apenas um “ponto” de motivação. Se realmente não tiverem força e vontade para lutar pelo que desejam e pelos seus objectivos, não é o “ano novo” que lhes irá trazer isso!”Diana Simões (26 Anos)

“Posso dizer que, até uma certa altura da minha vida (vinte e poucos anos) sim. Como muita gente, dizia para comigo que me ia esforçar mais nos estudos, tentar portar melhor (apesar de ser uma pessoa bem comportada), ser mais empenhado nas minhas obrigações, etc… Mas como eram reflexões que fazia (principalmente) nessa altura do ano, e depois não voltava a

pensar no assunto, a partir de uma certa altura deixei de o fazer e passei a ter mais foco no dia-a-dia do que a longo termo.”Toni Rosa (37 anos)

“Não tenho por hábito fazer resoluções de ano novo. Vejo a noite de ano novo como uma ocasião especial para estar com os amigos e, ultimamente, visitar novos sítios com eles por durante o ano ser difícil de estarmos juntos. Não ligo absolutamente nada às tradições de comer passas e fazer resoluções. Quando sinto que algo não está bem ou a correr da melhor forma, penso para mim mesmo que tenho de mudar alguma coisa, mas essas resoluções são feitas em qualquer altura do ano. Nem sempre consigo mudar, e muitas vezes quando consigo, demoro um bom tempo e tenho de propor a mim mesmo a resolução de mudança mais do que uma vez. Tenho amigos que ligam a essas tradições e costumam fazer resoluções de ano novo, mas passado pouco tempo abandonam essa ideia. Está na natureza do ser humano que mudar é deveras complicado e só a com muito esforço se consegue.”Telmo Gonçalves (25 anos)

“Julgo que todos os dias são bons dias para novas resoluções, mas claro que uma mudança de ano trás sempre um fervor diferente. Tudo muda, ou pelo menos, tudo pode mudar… O ginásio que eu frequento está cheio de clientes novos em Janeiro que em Fevereiro ou Março já desapareceram. Vários amigos e amigas são vítimas deste intenso desejo de mudar de vida momentaneamente e, como referem, “afinal aquilo não era bem como estava à espera”. Eu já fiz várias resoluções, como ser menos bruto, ser mais simpático, estudar mais, ir ao ginásio, não faltar às aulas… um rol de histórias. Mas há uma resolução que fiz quando tinha 15 anos que me marcou e definiu uma grande parte do meu futuro: Sorrir.”Fernando Ventura (27 anos)

Não somos todos iguais. Cada ser é único e inigualável e quer sejamos ou não adeptos das resoluções de ano novo, o que importa realmente é ser feliz, fazer as alterações que considerarmos necessárias, quando sentirmos que é a hora certa. Independentemente de ser fã das doze passas associadas aos 12 desejos, sonhe, sorria, viva e torne cada dia especial. Desejos de um bom ano de 2016!

11

12

dessenbilização e reprocessamento das experiências traumáticas através da estimulação bilateral do cérebro, antes ou imediatamente após o evento crítico, aposta também na prevenção em tempo de paz e psicoterapia a longo prazo. Preocupa-se também com os cuidadores, pois colocar a empatia ao cuidado do outro pode conduzir à traumatização vicariante, ou seja, ao trauma por ouvir relatos de experiências traumáticas de outros. Por sua vez, isto pode levar a sentimentos de exaustão, cinismo e ineficácia na relação e envolvimento emocional, ou seja, o burnout como um processo stressor (Maslach, 1975). Então, é crucial atentar também no trabalho de psicólogos clínicos, exemplares de cuidadores e fazer a gestão de incidentes críticos de stress.Marianne Straume, responsável pelo Centro de Psicologia da Crise em Bergen (Noruega), também alertou para a importância da intervenção psicológica com famílias de refugiados, dando a conhecer as reuniões desenvolvidas no seu país. Esta intervenção é breve, dura cerca de 3 dias, e ocorre em locais como campus universitários, escolas, hotéis, entre outros. Em cada sessão estão presentes 7 a 10 famílias (16 a 20 crianças), 2 psicólogos, um músico, vários intérpretes e formandos. As crianças passam algumas horas num grupo de trauma específico para elas enquanto os pais estão na formação de competências para lidar com os filhos, encontrando-se nas refeições.As actividades para as crianças têm como finalidade ajudá-las a regular as suas emoções, através da partilha das suas histórias traumáticas, nomeadamente da “pior memória” e da expressão de sentimentos utilizando o corpo, imagens e escalas. É também sugerido às crianças que criem um local seguro, que possam imaginar em momentos em que se sintam inseguras. Por fim, despedem-se dos entes queridos que perderam através de cartas. Quanto aos pais, aprendem formas de controlar o stress, são informados acerca do sistema educativo norueguês, partilham as suas preocupações e são motivados a falar com os filhos sobre as experiências traumáticas dos mesmos.A conferência terminou com a apresentação do projecto da OPP: “1000 Psicólogos para Intervenção em situações de Catástrofe”. Este projecto consiste num programa de treino de psicólogos, voluntários, prontos a intervir em situações de crise. O programa iniciou em 2014 e já conta com 600 psicólogos. Falta pouco para atingir o objectivo: 1000. Esperamos que continuem o bom trabalho e, a todos os que concluíram a formação ou estão prestes a fazê-lo, os nossos parabéns!

Despertador a tocar. 7 horas da manhã. Uma rotina: ligar a televisão para ver como anda o mundo noticioso. Infelizmente, as notícias nem sempre são as mais agradáveis. Acidentes, desastres naturais, ataques suicidas, pessoas desalojadas, refugiados que vão para países onde possam encontrar alguma segurança…Vivemos assoberbados de catástrofes a cada minuto. E se parece mais facilitado lidar com essas quando ainda são uma realidade distante, brevemente podem tornar-se muito próximas! Acidentes podem ocorrer a quem mais gostamos, e está previsto um novo terramoto em Lisboa como o de 1755. Nos próximos tempos, Portugal vai receber vários refugiados e já tem previstos vários apoios para tal.

Mas aqueles que vivenciam estas situações (ou os que os rodeiam) será que vivem ou sobrevivem? É demasiada carga psicológica e esforço para ser aguentado sozinho, daí a necessidade da intervenção psicológica em situações de catástrofe e crise. Daí a necessidade de formação de profissionais que estejam preparados para intervir. Daí a necessidade que este tipo de intervenção existe e por isso a realização desta Conferência Europeia: Intervenção Psicológica em Situações de Catástrofe, em Outubro de 2015. Surgiu da associação entre a EFPSA (European Federation of Psychology Student´s Associations) e a OPP (Ordem dos Psicólogos Portugueses), em comemoração do Primeiro Semestre Europeu em Portugal, para a Psicologia

Se para compreender o muro, usando a metáfora acima descrita, temos de derrubar esse mesmo obstáculo, convém que tenhamos as armas polidas e os tijolos à nossa frente bem conhecidos.

Nadine Amaro e Catarina Fernandes

CONFERÊNCIA EUROPEIA:

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

EM SITUAÇÕES DE CATÁSTROFE

dessenbilização e reprocessamento das experiências traumáticas através da estimulação bilateral do cérebro, antes ou imediatamente após o evento crítico, aposta também na prevenção em tempo de paz e psicoterapia a longo prazo. Preocupa-se também com os cuidadores, pois colocar a empatia ao cuidado do outro pode conduzir à traumatização vicariante, ou seja, ao trauma por ouvir relatos de experiências traumáticas de outros. Por sua vez, isto pode levar a sentimentos de exaustão, cinismo e ineficácia na relação e envolvimento emocional, ou seja, o burnout como um processo stressor (Maslach, 1975). Então, é crucial atentar também no trabalho de psicólogos clínicos, exemplares de cuidadores e fazer a gestão de incidentes críticos de stress.Marianne Straume, responsável pelo Centro de Psicologia da Crise em Bergen (Noruega), também alertou para a importância da intervenção psicológica com famílias de refugiados, dando a conhecer as reuniões desenvolvidas no seu país. Esta intervenção é breve, dura cerca de 3 dias, e ocorre em locais como campus universitários, escolas, hotéis, entre outros. Em cada sessão estão presentes 7 a 10 famílias (16 a 20 crianças), 2 psicólogos, um músico, vários intérpretes e formandos. As crianças passam algumas horas num grupo de trauma específico para elas enquanto os pais estão na formação de competências para lidar com os filhos, encontrando-se nas refeições.As actividades para as crianças têm como finalidade ajudá-las a regular as suas emoções, através da partilha das suas histórias traumáticas, nomeadamente da “pior memória” e da expressão de sentimentos utilizando o corpo, imagens e escalas. É também sugerido às crianças que criem um local seguro, que possam imaginar em momentos em que se sintam inseguras. Por fim, despedem-se dos entes queridos que perderam através de cartas. Quanto aos pais, aprendem formas de controlar o stress, são informados acerca do sistema educativo norueguês, partilham as suas preocupações e são motivados a falar com os filhos sobre as experiências traumáticas dos mesmos.A conferência terminou com a apresentação do projecto da OPP: “1000 Psicólogos para Intervenção em situações de Catástrofe”. Este projecto consiste num programa de treino de psicólogos, voluntários, prontos a intervir em situações de crise. O programa iniciou em 2014 e já conta com 600 psicólogos. Falta pouco para atingir o objectivo: 1000. Esperamos que continuem o bom trabalho e, a todos os que concluíram a formação ou estão prestes a fazê-lo, os nossos parabéns!

13

Despertador a tocar. 7 horas da manhã. Uma rotina: ligar a televisão para ver como anda o mundo noticioso. Infelizmente, as notícias nem sempre são as mais agradáveis. Acidentes, desastres naturais, ataques suicidas, pessoas desalojadas, refugiados que vão para países onde possam encontrar alguma segurança…Vivemos assoberbados de catástrofes a cada minuto. E se parece mais facilitado lidar com essas quando ainda são uma realidade distante, brevemente podem tornar-se muito próximas! Acidentes podem ocorrer a quem mais gostamos, e está previsto um novo terramoto em Lisboa como o de 1755. Nos próximos tempos, Portugal vai receber vários refugiados e já tem previstos vários apoios para tal.

Mas aqueles que vivenciam estas situações (ou os que os rodeiam) será que vivem ou sobrevivem? É demasiada carga psicológica e esforço para ser aguentado sozinho, daí a necessidade da intervenção psicológica em situações de catástrofe e crise. Daí a necessidade de formação de profissionais que estejam preparados para intervir. Daí a necessidade que este tipo de intervenção existe e por isso a realização desta Conferência Europeia: Intervenção Psicológica em Situações de Catástrofe, em Outubro de 2015. Surgiu da associação entre a EFPSA (European Federation of Psychology Student´s Associations) e a OPP (Ordem dos Psicólogos Portugueses), em comemoração do Primeiro Semestre Europeu em Portugal, para a Psicologia

para Cidadãos Europeus.Nós, estivemos lá e vamos apresentar em traços gerais as várias apresentações que foram feitas e a nossa reflexão acerca desta experiência!

A vinda dos refugiados é um tema que realmente está na ordem do dia. Ao lidar com uma população culturalmente diferente e diversificada interpõe-se a dúvida. William Yule, representante da Associação Britânica de Psicologia e Kimberley Ehntholt, psicólogo clínico, discursaram acerca das crianças refugiadas requerentes de asilo, invocando para isso a convenção sobre os direitos das crianças da Unicef: 9 – “Não ser separado dos pais” ou 38 – “Respeitar as leis humanitárias internacionais aplicadas aos conflitos armados”. Assim, a experiência traumática do refugiado começa ainda no país de origem, onde vive em constante ameaça. Prolonga-se pela perigosa fuga e não termina no país de acolhimento. Sofre por isso de distress, stress pós-traumático, ansiedade e depressão por testemunhar ferimentos e/ou a morte de familiares, ver-se separado desses, viver

em constante ameaça durante a sua vinda no camião e face a decisões de pedidos de asilo ou deportação. São por isso primordiais intervenções eficazes, mesmo quando as crianças regressam ao país de origem. Técnicas eficazes remetem à narração das vidas dos refugiados através da escrita e à linha da vida, vendo a escola e a continuidade da educação como um foco de intervenção. Deve prestar-se especial atenção aos sintomas da criança e ao seu possível regresso forçado. Segundo Graça Machel, “a forma mais eficaz de promover o desenvolvimento das crianças é prevenir o conflito armado” e 39 – “É essencial permitir a recuperação física e psicológica da criança e a sua reintegração social”.Segundo Lucia Formenti (representante da Associação Italiana de Psicologia e psicoterapeuta no Centro de Pesquisa de PsicoTraumatologia em Milão), é igualmente importante pensar na “traumatização vicariante dos trabalhadores que apoiam os refugiados em Itália”. Para além de propor uma outra abordagem de intervenção – EMDR – Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento Ocular, ou seja, a

14

dessenbilização e reprocessamento das experiências traumáticas através da estimulação bilateral do cérebro, antes ou imediatamente após o evento crítico, aposta também na prevenção em tempo de paz e psicoterapia a longo prazo. Preocupa-se também com os cuidadores, pois colocar a empatia ao cuidado do outro pode conduzir à traumatização vicariante, ou seja, ao trauma por ouvir relatos de experiências traumáticas de outros. Por sua vez, isto pode levar a sentimentos de exaustão, cinismo e ineficácia na relação e envolvimento emocional, ou seja, o burnout como um processo stressor (Maslach, 1975). Então, é crucial atentar também no trabalho de psicólogos clínicos, exemplares de cuidadores e fazer a gestão de incidentes críticos de stress.Marianne Straume, responsável pelo Centro de Psicologia da Crise em Bergen (Noruega), também alertou para a importância da intervenção psicológica com famílias de refugiados, dando a conhecer as reuniões desenvolvidas no seu país. Esta intervenção é breve, dura cerca de 3 dias, e ocorre em locais como campus universitários, escolas, hotéis, entre outros. Em cada sessão estão presentes 7 a 10 famílias (16 a 20 crianças), 2 psicólogos, um músico, vários intérpretes e formandos. As crianças passam algumas horas num grupo de trauma específico para elas enquanto os pais estão na formação de competências para lidar com os filhos, encontrando-se nas refeições.As actividades para as crianças têm como finalidade ajudá-las a regular as suas emoções, através da partilha das suas histórias traumáticas, nomeadamente da “pior memória” e da expressão de sentimentos utilizando o corpo, imagens e escalas. É também sugerido às crianças que criem um local seguro, que possam imaginar em momentos em que se sintam inseguras. Por fim, despedem-se dos entes queridos que perderam através de cartas. Quanto aos pais, aprendem formas de controlar o stress, são informados acerca do sistema educativo norueguês, partilham as suas preocupações e são motivados a falar com os filhos sobre as experiências traumáticas dos mesmos.A conferência terminou com a apresentação do projecto da OPP: “1000 Psicólogos para Intervenção em situações de Catástrofe”. Este projecto consiste num programa de treino de psicólogos, voluntários, prontos a intervir em situações de crise. O programa iniciou em 2014 e já conta com 600 psicólogos. Falta pouco para atingir o objectivo: 1000. Esperamos que continuem o bom trabalho e, a todos os que concluíram a formação ou estão prestes a fazê-lo, os nossos parabéns!

Concluimos partilhando dois endereços que consideramos ser importante visitarem:

- Semestre Europeu: http://psyes.eu/en

- Plataforma de Apoio aos Refugiados: http://www.refugiados.pt/

Despertador a tocar. 7 horas da manhã. Uma rotina: ligar a televisão para ver como anda o mundo noticioso. Infelizmente, as notícias nem sempre são as mais agradáveis. Acidentes, desastres naturais, ataques suicidas, pessoas desalojadas, refugiados que vão para países onde possam encontrar alguma segurança…Vivemos assoberbados de catástrofes a cada minuto. E se parece mais facilitado lidar com essas quando ainda são uma realidade distante, brevemente podem tornar-se muito próximas! Acidentes podem ocorrer a quem mais gostamos, e está previsto um novo terramoto em Lisboa como o de 1755. Nos próximos tempos, Portugal vai receber vários refugiados e já tem previstos vários apoios para tal.

Mas aqueles que vivenciam estas situações (ou os que os rodeiam) será que vivem ou sobrevivem? É demasiada carga psicológica e esforço para ser aguentado sozinho, daí a necessidade da intervenção psicológica em situações de catástrofe e crise. Daí a necessidade de formação de profissionais que estejam preparados para intervir. Daí a necessidade que este tipo de intervenção existe e por isso a realização desta Conferência Europeia: Intervenção Psicológica em Situações de Catástrofe, em Outubro de 2015. Surgiu da associação entre a EFPSA (European Federation of Psychology Student´s Associations) e a OPP (Ordem dos Psicólogos Portugueses), em comemoração do Primeiro Semestre Europeu em Portugal, para a Psicologia

“colocar a empatia ao cuidado do outro pode conduzir à traumatização vicariante, ou seja, ao trauma por ouvir relatos de experiências traumáticas de outros”

PUBLICITE AQUI

Email: [email protected]

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

publicidade em stand by

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

DOUTORAMENTOS

Com curso/Sem curso

Doutoramentos em Psicologia Doutoramentos em Ciências da Educação Doutoramento em Serviço Social (NOVO) - Programa Interuniversitário em parceria com a Universidade Católica Portuguesa

MESTRADO ERASMUS MUNDUS

Mestrado em Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos (Erasmus+ Work, Organiz onal and Personnel Psychology - WOP-P) - Mestrado em parceria com as Universidades de Valência, Bolonha, Paris V e Barcelona

OUTROS MESTRADOS NAS ÁREAS DE: Psicologia, Ciências da Educação e Serviço Social

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (MIP)

LICENCIATURAS

Licenciatura em Ciências da Educação Licenciatura em Serviço Social

Para mais informações: h p://www.uc.pt/fpce [email protected]

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

18

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

- segundo o Centro de Estudos do Radicalismo, mais de 20 mil estrangeiros de 50 países se juntaram a grupos sunitas radicais em 2014 - entre eles, principalmente, o Estado Islâmico.O Islão constitui, um sistema, não apenas religioso, mas também ideológico. A palavra Islão deriva da palavra arábica “Salam”, cujo significado é paz, podendo também significar “saudar um ao outro com paz”. Postula-se a submissão a um só Deus e viver em paz com o criador, consigo mesmo, com outras pessoas e com o ambiente, no entanto as suas ações e ideais hoje em dia estão longe da paz. Seguem uma leitura radical das escrituras islâmicas regendo-se por um conjunto de crenças que consideram divinas e sagradas. Em versos do Alcorão, os muçulmanos são aconselhados a “... lutar contra aqueles que não acreditam em Alá e que não adotam a religião da verdade”. O terrorismo islâmico estaria associado assim à prática das ações

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto?

Maria João Fangaia

TERRORISMO, A PERSUASÃO DOS

FRACOS? A ALIENAÇÃO MENTAL? OU

A ESPERANÇA DE UMA VIDA MELHOR?

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

Twitter. Estas gravações são feitas com equipamento profissional e mudam de acordo com o público-alvo. Vídeos de decapitações de ocidentais mostram os reféns com roupas laranjas - que lembram os detidos da prisão norte-americana de Guantánamo - e face serena. A mensagem a passar é clara e muito pensada, a sua arma para além de qualquer metralhadora ou bomba, é o medo. Mas o que leva a que indivíduos aparentemente normais, jovens, se aliem a esta organização?Consideremos primeiro que quando um ser humano nasce não escolhe onde, em que condições, nem em que família, efectivamente nem todos os indivíduos têm à sua disposição iguais meios para alcançarem os seus objectivos de concretização pessoal. Quando se nasce num ambiente desfavorecido, em que desde cedo se aprende que não se pode confiar em ninguém, que nem os próprios cuidadores estarão ali para dar a segurança e protecção de que a espécie humana necessita até adquirir a maturidade mental, intelectual e física necessária à sobrevivência autónoma, criam-se outras expectativas sobre os outros, o mundo e como

militares sancionadas por Deus contra os infiéis, sejam oponentes políticos ou religiosos. Planeiam o restabelecer de um Califado,um tipo de EI liderado por um grupo de autoridades religiosas sob o comando de um líder supremo, o califa, que se acredita ser o sucessor de Maomé. No que diz respeito ao motivo de um movimento extremista desta natureza, a literatura sobre o tema e as opiniões de entendidos evidenciam que não há um motivo único. Por um um lado, acredita-se que o islamismo tem um objectivo estratégico claro: forçar as democracias modernas (como os Estados Unidos) a retirar suas forças militares do território que os terroristas vêem como suas pátrias.” Por outro lado, postula-se que um dos maiores provocadores dos atentados suicidas não seria a religião, e sim a dinâmica de grupo: “dinâmicas de pequenos grupos, envolvendo amigos e famílias, que formam o núcleo de irmandade e camaradagem na diáspora, na qual se baseia a onda crescente dos atos de martírio”.Para comunicarem com o resto do mundo, usam as ferramentas de media ocidentais. Como a divulgação de vídeos em canais do YouTube e

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

19

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

20

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

nestes grupos, a sentir um elo entre elas e a causa que julgam estar correta. São pessoas moldáveis, capazes de interiorizar uma ideia de que algo é um acto punível e eles têm o dever de exercer justiça pelas próprias mãos. Vejamos que os mártires são glorificados, Rasheed Saka, um terrorista palestino preso antes de conseguir concretizar uma missão suicida, acabou por declarar: “Eles disseram que os mártires vão para o paraíso e se casam com 72 virgens. Deus irá considerá-los mártires e perdoar seus pecados”.Mas para além deste perfil, outros indivíduos que aderiram estavam em meios urbanos , tinham origens cosmopolitas, educação, facilidade com idiomas, habilidades em computação e facilidades em deslocamento mas tinham pouca reputação nas sociedades onde viviam.Davis Long, ex-director assistente da seção de antiterrorismo do U.S. State Department salientou “...parece haver em comum a tendência de baixa autoestima antes de se juntarem à organização, são atraídos por grupos liderados por pessoas carismáticas e dominadoras.”Tudo isto é feito a longo prazo,de modo muito engendrado. Marc Sageman, fez um estudo intensivo dos dados biográficos de 172 participantes da jihad e no seu livro “Understanding Terror Networks”defende que parecem ser mais os “laços estreitos de família e amizade”, e não tanto a perturbação (tanto emocional como comportamental) gerada pela “pobreza, trauma, perturbação ou ignorância”

“muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção”

“São pessoas moldáveis, capazes de interiorizar uma ideia de que algo é um acto punível e eles têm o dever de exercer justiça pelas próprias mãos”

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

que teriam inspirado jovens muçulmanos. A teoria da aprendizagem social permite-nos analisar como através do condicionamento seja comportamental ou cognitivo estas crenças podem ser interiorizadas por estes soldados. Tal como defendeu também Dr. Bernard Saper que, no artigo “On Learning Terrorism”, argumenta que o compromisso com o terrorismo é massivamente produzido, intensificado e alimentado nos recrutas através de sofisticadas técnicas de condicionamento clássico como no caso do cão de Pavlov que salivava ao ouvir a campainha porque a associou a comida, ou a nível operante em que o ratinho de Skinner sabe que se tocasse na alavanca receberia a recompensa. Técnicas desta natureza parecem ser usadas para amestrar soldados e levá-los a executar actos de violência e terror, montando-se um elaborado sistema de incentivos. E crenças destas podem estender-se até a parentes e amigos de terroristas, vejamos : “Estou muito feliz e orgulhoso do que meu filho fez e, francamente, estou com um pouco de inveja,” disse Hassan Hotari 54, pai de um jovem que fez um ataque suicida em uma discoteca em Tel-Aviv. “Eu desejaria ter feito o bombardeio. O meu filho obedeceu aos desejos do Profeta. Ele se tornou um herói. Diga-me: o que mais um pai poderia querer ?”. William Sargant, autor do livro “The Battle for the Mind” aborda a existência da “lavagem cerebral “ (termo popular nos anos 50, para descrever as técnicas usadas pelos soviéticos e comunistas

chineses e coreanos para converter soldados americanos capturados ou opositores políticos para suas ideologia políticas. ) ou o chamado “controle do pensamento”. Esta teoria argumenta que a única forma de forçar uma mudança de atitudes em adultos é apagando as suas mentes pala extinção de crenças existentes. Por meio de processos de indução de stress mental e tensão, passa a haver mais receptividade à sugestão. Pode mesmo ser considerado um meio de tortura psicológica pela qual novas ideias podem ser incorporadas e consolidadas mesmo em mentes que não estejam dispostas a recebê-las de início. “Não é coincidência que as religiões fundamentalistas de todos os tipos usem essas técnicas, oferecendo uma mistura de salvação, redenção, promessas de recompensa eterna no céu, sentimentos de culpa, timidez e inadequação.” refere o autor.Por meios como os referidos, é possível que os mais respeitosos e generosos humanos possam ser levados a cometer atos que parecem aterrorizantes para todos as pessoas que tenham sido condicionadas de forma diferente, são produtos de um sistema alienado, motivado por um fanatismo intenso mas cuidadosamente desenvolvido.Somos transportados para o chamado Efeito

“Não é coincidência que as religiões fundamentalistas de todos os tipos usem essas técnicas, oferecendo uma mistura de salvação, redenção, promessas de recompensa eterna no céu, sentimentos de culpa, timidez e inadequação.”

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

“ratinho de Skinner sabe que se tocasse na alavanca receberia a recompensa”

21

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

“Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados”

22

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

“creem ter nascido para ser melhor, não se perturbando por passar em cima de outros para chegar onde querem”

23

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

Numa só frase: Dos melhores meses da minha vida.Fiz Erasmus durante o segundo semestre do meu terceiro ano, na Universidad Pontificia de Salamanca, de Fevereiro a Junho de 2014. Nesses meses passaram várias nacionalidades pela casa onde me instalei: espanhola, portuguesa, brasileira, italiana, irlandesa e mexicana. Extraordinariamente, nunca existiram problemas de comunicação e os serões eram muito divertidos.A razão da escolha da Universidad Pontificia de Salamanca? A verdade é que a minha primeira escolha foi a Universidad de Padua (Itália), no entanto as vagas existentes foram preenchidas por outros alunos. Acabei por escolher outra

cidade de estudantes - Salamanca. Embora não tenha sido a minha primeira opção, foi a melhor. Para além do currículo oferecido, Salamanca é uma cidade antiga, com um grande valor artístico e cultural, habitada maioritariamente por estudantes durante o ano lectivo, tal como Coimbra. Outro aspecto que também me interessava ao fazer Erasmus era aprender uma nova língua, por isso a minha escolha recaiu sobre cidades italianas ou espanholas; como ambos os idiomas têm a mesma raiz que o Português (o Latim), e uma vez que tinha pouco tempo (no máximo um semestre) achei que a sua aprendizagem seria mais facilitada.

24

Dos melhores meses da minha vida.

Catarina Fernandes

ERASMUS EM SALAMANCA:“O LAR É ONDE O CORAÇÃODO HOMEM CRIA RAÍZES”

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

25

Numa só frase: Dos melhores meses da minha vida.Fiz Erasmus durante o segundo semestre do meu terceiro ano, na Universidad Pontificia de Salamanca, de Fevereiro a Junho de 2014. Nesses meses passaram várias nacionalidades pela casa onde me instalei: espanhola, portuguesa, brasileira, italiana, irlandesa e mexicana. Extraordinariamente, nunca existiram problemas de comunicação e os serões eram muito divertidos.A razão da escolha da Universidad Pontificia de Salamanca? A verdade é que a minha primeira escolha foi a Universidad de Padua (Itália), no entanto as vagas existentes foram preenchidas por outros alunos. Acabei por escolher outra

cidade de estudantes - Salamanca. Embora não tenha sido a minha primeira opção, foi a melhor. Para além do currículo oferecido, Salamanca é uma cidade antiga, com um grande valor artístico e cultural, habitada maioritariamente por estudantes durante o ano lectivo, tal como Coimbra. Outro aspecto que também me interessava ao fazer Erasmus era aprender uma nova língua, por isso a minha escolha recaiu sobre cidades italianas ou espanholas; como ambos os idiomas têm a mesma raiz que o Português (o Latim), e uma vez que tinha pouco tempo (no máximo um semestre) achei que a sua aprendizagem seria mais facilitada.

Quando em pleno século XXI uma pessoa de carne e osso, artilhada de uma AK-47 munida, que gritando “allahu akhbar” mata qualquer outro ser da sua espécie que se lhe atravesse e não defenda Alá, o mundo vai muito mal. Como se chega a este ponto? Como depois de uma primeira e segunda guerras mundiais, depois de todas as grandes invenções, de todo o avanço cientifico, de tanta humanidade auto-conscienciosa, de uma aldeia global, se chega a uma carnificina em nome (supostamente) da religião? Tomemos o exemplo do autoproclamado Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda. Apresentam maior capacidade de recrutamento, estrutura mais sólida e com um território conquistado entre o Iraque e a Síria. O EI tem atraído milhares de jovens do mundo todo

Lúcifer, conceito da autoria do psicólogo social e investigador Philip Zimbardo, o homem que ficou conhecido devido a uma das mais controversas experiências sobre a natureza humana. Nesta, o objetivo era simular o ambiente prisional durante 14 dias, na cave do Instituto de Psicologia da Universidade de Stanford. Vinte e quatro indivíduos comuns do sexo masculino que responderam a um anúncio para colaborar em troca de dinheiro foram separados ao acaso. Uns ficaram com o papel de prisioneiro, outros de guarda prisional. Pretendia-se avaliar os efeitos dessa dinâmica de grupo, do interiorizar de um papel com poder ou sem poder, de fazer o papel de bom ou mau. Foram filmadas por câmaras de vigilância e ao fim de semanas desencadeou-se um elevado nível de violência física, tortura por parte dos policias que tinham sido encorajados por um superior hierárquico, o investigador, a desempenhar o seu papel com mais veracidade possível. Como acontece com muitos fenómenos sociais de dinâmica de grupo, age-se por um lado no sentido de evitar a reprovação do grupo ou do superior pela possibilidade de não mostrar coragem e determinação na realização de actos violentos esperados, ou no sentido de obter recompensas psicológicas ou sociais neste caso da entidade hierarquicamente superior, por terem realizado o que foi pedido. É assim reforçada e legitimada a crença de que o que ele irá fazer é “o certo” e de que a responsabilidade não é directamente sua, mas de quem manda. Deste modo o julgamento moral pode ser permeável e a linha que separa o bem do mal pode ser muito ténue. Afinal também no terrorismo são os bons contra os maus – o grupo terrorista pertence ao “lado do bem” e o resto do mundo é o mal, sendo que o inimigo pode ser o governo, uma nação, um grupo étnico, ou um sistema inteiro de ideais tais como a civilização ocidental. Apesar disto parece inevitável levantar a hipótese de doença mental. Efectivamente, considerando as já referidas trajetórias desadaptativas desde a infância, a consequente criação de crenças

disfuncionais sobre como é suposto o mundo e a sociedade funcionarem, estas parecem associadas a traços de personalidade perturbada, tal como estabelecidas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV. Casos de perturbação de personalidade antissociais podem constituir uma ampla amostra destes indivíduos. Falamos de indivíduos sem respeito pelos direitos dos outros, que consideram estar acima da lei, seja judicial ou moral. Têm um elevado conceito de si, Actos

como roubar, bater, causar dano material, invadir, são por si exequíveis. Este perfil pode encaixar-se na situação se considerarmos por exemplo o facto de que um dos objetivos ser a expansão territorial do grande califado por todo o mundo, causando dano a qualquer pessoa que não se submeta ao seu poder. Por outro lado, podemos falar de perturbação paranóide da personalidade considerando características como; elevada suspeita, desconfiança, frieza e hostilidade que este indivíduos aparentam. Esta perturbação pauta-se também pela constante interpretação dos motivos dos outros como malévolos, a percepção de ataques ao carácter e reputação por parte de outros, aos quais reagem com elevada hostilidade e raiva, contra-atacando, comportamentos e cognições que parecem verificar-se da parte destes indivíduos. Finalmente, se tomarmos atenção às evidencias de rigidez, perfeccionismo, insatisfação, podemos denotar um padrão de persistente preocupação com a ordem, controlo mental e interpessoal, em detrimento da abertura, flexibilidade e eficiência. Assim como a devoção excessiva ao trabalho, à produtividade, excluindo outro tipo de actividades. Evidencia-se também nesta perturbação uma elevada hiperconscienciosidade, escrupulosidade e inflexibilidade acerca da moral, ética e valores, sendo que podem ter necessidade de justificar as suas acções com valores religiosos, deus ou regras religiosas, desresponsabilizando-se. No entanto se alguns podem sofrer de uma perturbação que lhes legitima facilmente os actos, outros têm de estar continuamente a justificar a si próprios e a racionalizar o motivo pelo qual fazem o que fazem.Para concluir, refiro que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, proferiu:“Estes indivíduos fundamentalistas acreditam que nós não cremos em nada. Eles, na sua visão do mundo, têm certezas absolutas, enquanto estamos afundados em indulgências. Para provar o contrário devemos primeiro saber que ele está

errado. Temos de concordar no que importa, em manter as nossas armas: beijemo-nos em locais públicos, comamos as nossas sanduíches de bacon, continuemos com a moda de vanguarda, a literatura, a generosidade, uma distribuição mais equitativa dos recursos do mundo, filmes, música, liberdade de pensamento, beleza, amor... Estas serão as nossas armas. Não por fazer a guerra, mas pela maneira sem medo com que escolhemos viver, devemos derrotá-los. Como derrotar o terrorismo? Não se aterrorizando. Não deixando o medo governar as nossas vidas. Mesmo que estejamos com muito medo. “Afinal o terrorismo, parece ser como o teatro, não é apenas sobre o que eles fazem, é muito sobre a nossa resposta ao que eles fazem. “Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” “Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”. José Saramago

nos devemos defender neste lugar imprevisível e inseguro. Assim, muitas crianças começam a aprender que têm de se munir de outras ferramentas, como a coerção, que pode desde cedo ser interiorizada através da aprendizagem social que uma criança faz numa família em que a lei do mais forte, do que tem mais razão é imposta pelo tom de voz alto, pelas ameaças, pelo abuso físico ou psicológico. Aprende-se que é assim que se pode ter reconhecimento nos outros contextos. Começará na escola primária, com os colegas, pode escalar para a falta de respeito com professores e até para os comportamentos antissociais com a sociedade em geral. Vivendo sobre estes factores contextuais de risco a probabilidade de entrada numa trajectória desenvolvimental desadaptativa é muito maior, somos mais vulneráveis, temos crenças disfuncionais sobre o que é normal ou não. Se houver acção de factores protectores face a esta vulnerabilidade há menos probabilidade de disfunção, o efeito do risco é atenuado, como uma chave que entra na fechadura certa e permite a entrada na porta de uma trajectória adaptativa, o que nestes casos não esteve presente.Sob outro ponto de vista, muitos dos indivíduos que mais facilmente são persuadidos a entrar neste tipo de organização não têm sentimento de pertença a nenhum grupo, sentem-se à parte, são indivíduos psicologicamente fragilizados, por isso mais vulneráveis. São pessoas que se sentiam humilhadas, que não tinham voz, que foram “pisadas” pela sociedade, ou ainda sofreram na pele as injustiças sociais , como ter um familiar morto de uma forma injusta (caso de incursões militares feitas por países inimigos destas organizações). Passam por isto, com a entradas

ocorrem na idade adulta, nomeadamente na terceira idade.Contrariamente ao que ocorre com os alunos estrangeiros que decidem fazer Erasmus em Lisboa, em Salamanca não existe um regime especial de avaliação. Todos os alunos, em qualquer situação, têm o mesmo regime de avaliação: geralmente trabalhos práticos e um exame final. As aulas também eram diferentes, no sentido em que alguns dos professores não usavam qualquer suporte (por exemplo, apresentações de powerpoint) e ditavam notas para os alunos escreverem. Mas Erasmus não é apenas estudar. É conhecer novas pessoas, diferentes, que nos enriquecem com novas formas de ver o mundo; é autonomia, especialmente para mim, porque foi a primeira oportunidade de sair de casa dos meus pais; é ultrapassar dificuldades e rir no final; é uma vida vivida em meses; é encontrar um novo lar, quando achamos que temos apenas um. Porque, como diz a frase do título,

“O lar é onde o coração do homem cria raízes.”Herik Ibsen

Um aspecto curioso de Salamanca são as diferenças geracionais. Embora seja, como disse anteriormente, uma cidade essencialmente de estudantes, também é habitada por famílias. Enquanto durante a semana, (especialmente à noite) os jovens “tomavam conta das ruas”, aos domingos Salamanca enchia-se de idosos, crianças e os seus pais, que passeavam pela cidade.Quanto às diferenças que senti no ensino de Psicologia, em relação à minha universidade de origem – a Universidade de Lisboa – senti que em Salamanca havia uma maior liberdade na manifestação de opiniões, menor exigência e cuidado com a utilização de instrumentos psicológicos mas também um aprofundamento de temas não tão explorados em Lisboa. Por exemplo, em Psicología de la Educación, tive contacto com instrumentos de avaliação de dislexia e em Psicología del Indivíduo participei em simulações de consultas (role-plays), algo que apenas aconteceu na minha faculdade durante o mestrado. Em relação à Psicologia de Desenvolvimento, o foco não é apenas a criança; também são exploradas as alterações que

O que significa afinal estudar psicologia? Oiço muitas vezes que quem estuda psicologia acaba no desemprego, porque psicólogos há muitos. No entanto, não concordo com isto. Existem muitos psicólogos, mas nem todos são bons profissionais. Existem muitos alunos a estudar psicologia que não querem ser psicólogos.Quem ingressa nesta área, ingressa por diversas razões. Uns querem conhecer-se melhor, outros querem investigar e serem professores universitários, outros querem simplesmente estudar mais sobre o ser humano e os seus comportamentos. Outra pergunta então: Será a psicologia uma área designada à leitura de mentes? Que levante a mão o estudante de psicologia que nunca ouviu “Vais ler-me a mente?” de um amigo, conhecido ou familiar… Pois, provavelmente, muitos ouviram. No entanto, ser psicólogo não é ser vidente. E nós, estudantes de psicologia, sabemos isso, mas há quem não o saiba.É difícil explicar aos outros, então o que é isto de estudar psicologia e qual a sua utilidade no dia-a-dia. Para além das coisas básicas: o estudo do ser humano, funcionalidades e patologias, comportamento, pensamento, motivação, percepção, etc, o que muitos não sabem é que a psicologia, por exemplo, é uma área responsável pela construção de estradas e colocação de sinais.

Porquê? Porque estes obedecem a princípios de percepção e processamento de informação investigados por psicólogos. Sabias (e mais importante, saberão as pessoas que dizem que andas a estudar leitura de mentes) que são os estudos em psicologia que são responsáveis pelos dispositivos de tempo que estão no metro? Outra curiosidade é que estudos de psicologia são aplicados todos os dias a nível comercial: são princípios de formação de identidade social, aplicados à elaboração de rótulos ou slogans comerciais, os maiores preditores de sucesso ou adesão a estes.A psicologia debruça-se assim por diversas áreas, pois o ser humano (que digamos, é o nosso instrumento de trabalho) é influenciado por diversas áreas. Por isso, uma pessoa que estuda psicologia pode trabalhar numa empresa (em recrutamento de pessoas, em avaliação de profissionais ou até mesmo para ajudar em projetos). Pode também trabalhar em marketing, em sectores ambientais, e até mesmo em algo financeiro ou político. Podemos então concluir que estudar psicologia é útil e não tens de acabar por ser psicólogo, só porque tens um curso de psicologia. Tens um mundo de possibilidade à tua disposição, como podes ver!

26

“Existem muitos psicólogos, mas nem todos são bons profissionais”

Jéssica Rolho

O MUNDO DA PSICOLOGIA:

QUEM ESTUDA PSICOLOGIA TEM DE

NECESSARIAMENTE SER PSICÓLOGO?

27

Decorreram nos dias 5 e 6 de Dezembro, no Porto, dois conselhos gerais da Associação Nacional e Estudantes de Psicologia (ANEP).No primeiro dia deu-se uma sessão da revisão estatutária onde, após muitas participações e discussões, se chegou ao objectivo final: estatutos modernos, actualizados, que potenciam a participação, e que acima de tudo, permitem à ANEP uma abertura clara aos estudantes promovendo a sua integração e particiapação. Durante a tarde foram apresentadas actas e informações relativas ao trabalho da Revista Universitária de Psicologia e dos Membros Representantes da ANEP na European Federa-tion of Psychology Students (EFPSA).Já no segundo dia houve apresentação, discussão e aprovação do relatório de actividades e do relatório de contas da direcção geral da ANEP do mandato 2014/2015, que após discussão, foram aprovados por unanimidade. Foram ainda apresentadas as listas candidatas à Direcção Geral da ANEP, tal como o seu programa e a votação. Foi eleita por unanimidade a lista presidida por Tiago Fonseca.A presidente cessante Renata Henriques fez um discurso emotivo, no qual admitiu que apesar de todo o trabalho que fez juntamente com a sua equipa, há ainda muito por fazer e confia plenamente na nova direcção para este fim. Segue-se uma entrevista com o actual presidente da direcção da ANEP.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE

ESTUDANTES DE PSICOLOGIA

- UMA NOVA ETAPA -

Nádia Costa

28

Qual o balanço que fazes do teu trabalho enquanto presidente de mesa da ANEP?

A mesa em si não tinha que ter programa e nós candidatámo-nos com dois pontos programáticos na mesma. A ideia aqui era fazer uma revisão estatutária porque a ANEP tem tido alguns problemas nomeadamente nas instituições que representam tanto os estudantes como os movi-mentos juvenis, como o Registo Nacional do Associativismo Jovem (RNAJ), Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e as próprias finanças, isto tem tudo a ver com questões de desactualização dos nossos estatutos que não eram claros face à lei geral que precisavam de ser actualizados e que se vinham a arrastar. Então foi nossa intenção fazer essa revisão estatutária bem como tornar claros os nosso procedimentos de

eleição de representação em conselho geral, o que é que faz parte da ANEP ou não, como é que pode fazer parte…e essa revisão estatutária foi conseguida e será publicada nos próximos meses em diário da república. O segundo ponto era fazer os conselhos gerais não da forma que tinham sido feitos (centrados em dois ou três sítios específicos), mas fazer por todo o país, e nós fomos efectivamente desde Évora a Guimarães, percorrendo todos os distritos dos membros de pleno direito (MPD). Começámos em Lisboa, fomos a Guimarães, Porto, Coimbra e Évora e também conseguimos cumprir esse ponto. Acho que os conselhos gerais tiveram alguma adesão, tiveram uma boa participação. Acho que os MPD conseguiram desenvolver aqui um bom trabalho junto da direcção e acho que a mesa contribuiu dessa forma.

TIAGO A. G. FONSECApsicólogo clínico, aluno de doutoramento da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, fundador da empresa Psicologia Para Psicólogos, ex-Presidente de Mesa do Conselho Geral da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) e actual presidente da Direcção Geral desta mesma associação, fala à RUPortagem para nos esclarecer acerca deste novo mandato.

Nádia Costa

ENTREVISTA COM

TIAGO A. G. FONSECA

29

Enquanto presidente da direcção da ANEP, que mudanças tens previstas a curto-prazo?

Mudanças…Bem, de início de alguma forma criar as plataformas necessárias para a comunicação da ANEP. Esta entrevista é um dos exemplos da potenciação da Revista Universitária de Psicologia. O site, por exemplo, está offline. Não pode uma instituição nacional ter o site offline, portanto a ideia é reestruturar o site, aumentar o que é a comunicação com os membros de pleno direito, a criação de newsletters tanto para estudantes como para os membros da ANEP, mas também as informações para toda a comunicação social e para as instituições que representam os estudantes, os órgãos juvenis e a psicologia em Portugal. Portanto, aqui a ideia é conseguir espalhar e difundir a nossa informação. Isto é aquilo que vejo como sendo mais premente imediato. E depois o intuito passa muito por conseguir potenciar o nome e a visibilidade (que é esta primeira parte da comunicação), mas depois também algum trabalho de conseguir aqui aumentar o número de actividades nacionais, o número de participações nas faculdades, nos locais, nas cidades dos MPD. Eu acho que isto tem de ser o fundamental e ser o basilar, porque se isto funcionar a adesão começa a ser maior e as pessoas começam a perceber a ANEP como uma instituição interessada, que efectivamente os pode representar e pode ter uma palavra a dizer. E se conseguirmos fazer este papel, a partir daí as actividades não faltarão certamente.

Em relação a isso, como é que gostarias que os estudantes de psicologia dos nosso país vissem a ANEP? O que é que gostarias que dissessem quando lhes perguntassem “o que é a ANEP?”.

Essa á a pergunta central, sinceramente, daquilo que foi esta candidatura. Tem a ver com…a frase que eu usava era: “a ANEP ou faz falta ou não faz”, e nós temos que estar aqui todos, prontos para dizer que se não faz falta temos de tirar conclusões muito claras sobre isto. E aqui a ideia é que esta lista, agora eleita, quer muito que a ANEP faça falta, ou seja, nós temos de perceber que os estudantes têm que precisar das suas associações porque as associações têm um potencial enorme para os representar. E a ANEP tem que fazer falta a estas associações porque tem um potencial enorme para as representar, porque terá representação noutros órgãos que elas não têm e poderá ter uma palavra que elas também não têm, mas isto só faz sentido nesta linha, portanto, se os estudantes perceberem que as suas associações lhes fazem falta, se as associações perceberem que a ANEP lhes falta. Como é que lhes faz falta? Se tiver posições marcadas do que é a psicologia hoje, do que é que quer que seja amanhã, se tiver um programa social, cultural para oferecer, se tiver um programa formativo e científico para oferecer…é nesta linha que as nossas actividade ocorrerão. Além do Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia (ENEP), haverão depois também outros momentos como o encontro de dirigentes associativos de psicologia, haverão momentos de formação nas faculdades, em todas as faculdades, haverão momentos maiores, há aqui algumas actividades de âmbito nacional que terão aqui maior relevo e que, esperemos nós, e certamente o serão, serão um marco do que a ANEP então pode fazer por estes estudantes, mais do que aquilo que já pode.

“conseguir espalhar e difundir a nossa informação”

Como é que a ANEP pode projectar o seu trabalho na sociedade?

A base disto é acharmos que todas as associações e instituições que representam um conjunto de pessoas devem ter um lugar, nem que seja a representação simples dessas pessoas. Mas a ANEP tem uma história muito grande em Portugal, junto dos estudantes que tem sido mantida, e como já foi hoje referido, tem sido aumentada, mas se calhar não tem sido suficiente, nem tem sido potenciada nesse ponto. Aquilo que deve acontecer e nós também temos alguns departamentos já focados nesse sentido, é que todos devemos ter um contributo e todos devemos ter a noção que existe um contributo a dar, seja em termos sociais, em termos científicos, formativos, de comunicação, de passagem de informação… Eu acho que a simples representatividade, o alguém saber que há um conjunto de pessoas interessado em mudar aquela lei, porque aquela lei não nos representa e não nos faz bem de alguma maneira, isto já é mudar ali qualquer coisa. A ideia que nós temos de passar (e que cada vez mais temos dificuldade) é os estudantes aproximarem-se do que são as organizações que os representam. E a ANEP até hoje não teve falta de membros, portanto se as pessoas se interessam nós temos de aproveitar o melhor interesse destas pessoas, porque se se interessam é porque já viram que isto lhes faz bem. Agora, a lista da ANEP, por muitas pessoas que tenha a nível interno, a nível dos estudantes de psicologia não é um número muito representativo. Portanto, estamos a falar de um conjunto de estudantes interessados que representam outros, mas isto não faz sentido se os outros não perceberem que queremos representá-los e que o conseguimos fazer.

A ANEP tem alguma relação com a Ordem dos Psicólogos Portugueses? Em termos estratégicos, profissionais ou de apoio?

Sim, sim. Acho que não poderia ser de outra forma. Essa relação existe, tem sido mantida,mas tem sido mantida numa linha de distância, no sentido da afirmação do que são os estudantes (por um lado), e o que é que são os psicólogos. É certo (e até é o meu caso) que alguns estudantes de psicologia já são psicólogos, mas estamos a falar de estudantes de psicologia numa forma geral. Mesmo os que já são psicólogos têm que ser defendidos no que é o seu papel estudantil. No entanto, a maior parte dos estudantes de psicologia são estudantes que ainda não acederam ao mercado de trabalho de maneira nenhuma, e a relação com a Ordem tem de perceber qual é a melhor forma da transição entre ser estudante e ser um profissional de psicologia. Quais são as plataformas que a Ordem tem para a ajudar a que estes estudantes sejam melhores psicólogos? Isto tudo pode ser feito em ponte com a ANEP e esta tem sabido fazer isso nos últimos anos de muitas formas diferentes, com muitas acções diferentes, mas tem sabido estar com a Ordem a defender os estudantes e a mostrar que nem sempre estamos de acordo com aquilo que tem sido feito e que temos opções. Nós aqui para este mandato temos uma oferta de política educativa muito grande no sentido em que vamos apostar muito em medidas muito específicas, muito cruciais e que queremos levá-las até ao fim, ou seja, para este mandato a ANEP quer marcar o que é a agenda política na área da psicologia.

“existe um contributo a dar, seja em termos sociais, em termos científicos, formativos, de comunicação, de passagem de informação”

30

A RUP pode esperar novidades desta nova direcção da ANEP?

A RUP, se tudo correr bem, terá novidades muito boas para a sua estrutura interna. E ao longo dos meses, tendo em conta as actividades da ANEP acho que a RUP terá, claro, acesso a todas elas e está desde já convidada a estar presente nessas mesmas actividades.

Obrigada!

Obrigado.

“As associações de es-tudantes têm que ser mantidas e incentivadas e têm que ser potenciadas a crescer porque elas é que representam os estudantes”

31

Não nos podemos esquecer que os estudantes de hoje são os profissionais de amanhã e que participando neste processo vão poder também ajudar e promover essas iniciativas e acções que no futuro vão ajudar os estudantes.

Isso é o que nós queremos poder dizer daqui a um ano que foi feito. Nós fizemos uma actividade na universidade X e até pode ter estado pouca gente na sala, mas se dali virem ter connosco a pedir os nosso contactos, nós queremos saber mais sobre isto, está a funcionar. Isto começa assim. Não queremos começar com um auditório cheio, queremos é que as pessoas nos vão ouvindo, nos vão dando crédito e estando connosco, e que vão percebendo quais são as nossas intenções, porque nesse sentido o trabalho vai sendo feito e acho mesmo, e acreditando nesta equipa que agora foi eleita, que daqui a um ano temos razões suficientes para estarmos a sorrir e dizer que fizemos uma boa representação dos estudantes de psicologia deste país.

PUBLICITE AQUI

Email: [email protected]

Juntos somos a peça que falta

www.issuu.com/rupanep https://www.facebook.com/RUPANEP/