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Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

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Page 1: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

Moreira

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I l__ ltO-DOacute~___ P E N PARAmiddot ONDE VAIO

S A M E N T O G E O G R Aacute F [ C O

c ___J -t por uma epistemologia criacutetica

2L~iOJo

CONiEXTO

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR A NOVA REALIDADE E O NOVO OLHAR

GEOGRAacuteFICO SOBRE O MUNDO

Neste iniacutecio de seacuteculo uma realidade nova apoiada natildeo mais nas forshymas antigas de relaccedilotildees do homem com o espaccedilo e a natureza mas nas que

exprimem os conteuacutedos novos do mundo globalizado traz consigo uma enorshy

me renovaccedilatildeo nas formas de organizaccedilatildeo geograacutefica da sociedade Diante dessa

nova realidade conceitos velhos aparecem sob forma nova e conceitos novos

aparecem renovando conceitos velhos

A rede global eacute a forma nova do espaccedilo E a fluidez - indicativa do

efeito das reestruturaccedilotildees sobre as fronteiras - a sua principal caracteriacutestica

Uma mudanccedila se pede assim na forma do olhar geograacutefico e do geoacutegrafo

Mas em que consiste este olhaT E como dar-lhe contemporaneidade

A realidade e as formas geograacuteficas da sociedade na histoacuteria

Ateacute o advento da primeira Revoluccedilatildeo Industrial no seacuteculo XVlll o

mundo era um conjunto de realidades espaciais as mais diversas e as socishy

edades se distribuiacuteam na infinita diversidade espacial dos gecircneros de vida

das civilizaccedilotildees Desde entatildeo a tecnologia industrial passa a intervir na

distribuiccedilatildeo unificando em sua expansatildeo aacuterea a aacuterea um apoacutes outro esses

antigos espaccedilos

Com o advento da segunda revoluccedilatildeo industrial que ocorre na virada

dos seacuteculos XIX-XX esta intervenccedilatildeo eacute levada agrave escala planetaacuteria na forma da

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGA(Iuniformizaccedilatildeo dos modos de vida e processamentos produtivos Os espaccedilos

satildeo globalizados em meno~ de um seacuteculo sob um soacute niodo de produccedilatildeq que

uitifica os mercados e os valoacuteres suprime aidentiacutedagraved~ cultural das antigas

civilizaccedilotildees e traz com a uniformidade teacutecnica uma desarrumaccedilatildeo soacutecioshy

ambiental em escala inlsitada Ao rearrumar os sob um soacute modo pashydratildeo a uniformidade de organizaccedilatildeo dest~6i~ prejudica o modo de vida com que a humanidade se conhecia

Um ponto de inflemo eacute a deacutecada de 1950 e um outro a deacutecada de 1970

A regiacuteatildeo o olhar sobre um espaccedilo lento

Quando os geoacutegrafos dos anos 1950 olhavam o mundo o que viam

era a paisagem de uma histoacuteria humana que mal mudara de paacutegina no tracircnsito dos seacuteculos XIX-XXViam a sombra das civilizaccedilotildees antigas com suas paisagens relativamente paradas compartimentadase distanciadas

Os meios de transporte e comunicaccedilatildeo e opoduacute de intervenccedilatildeo teacutecshynica da humanidade sob~e QS meios ambientes soacute neste momento passavam a

se alicerccedilar na tecnologia da segUnda revoluccedilatildeo industrial interditada em seu

desenvolvimento nO periacuteodo de entre-guerras dos anos 1930-1940

Nada mais natural pois que intuiacutessem tais geoacutegrafos a sensaccedilatildeo da imo~ bilidade dos espaccedilos eteorizassem sobre a paisagem como uma histoacuteria de durashy

ccedilatildeo longa tal qual viu Braudel (1989) - eterna em suas localizaccedilotildees imutaacuteveis Eacute isto o que explica ter a leitura geograacutefica pautado-se por muito temshy

po na categoria da regiatildeo Era o que os geoacutegrafos viam ainda em 1950

A regiatildeo eacute entatildeo a forma matricihl da organizaccedilatildeo do espaccedilo terrestre

e cuja Caracteriacutestica baacutesica eacute a demarcaccedilatildeo territorial de limiteacutes rigorosamente precisos O que os geoacutegrafos viam na paisaacutegem era essa forma e de longa

duraccedilatildeo e passaram a concebecirc-la como uma porccedilatildeo de espaccedilo cuja unidade eacute

dada por uma forma singular de siacutentes~ dos fenocircmenos fiacutesicos e humanos que

a diferencia e demarca dos demais espaccedilos regionais na superfiacutecie terrestre

por sua singularidade Pouco importava se o dito e o visto natildeo coincidissem exatamente

As coisas mudavam mas o ritmo da mudanccedila era lento De tal modo

que se os olhassem a paisagem de um lugar e voltassem a olhaacute-Ia

deacutecadas depois provavelmente veriam a mesma paisagem A distribuiccedilatildeo dos

cheios e vazios para usar uma expressatildeo de Jean Brunhes trocava-se com

lentidatildeo e os limites territoriais das extensotildees permaneciam praticamente os mesmos por longos tempos

11581

i

A rede o olhar sobre o espaccedilo moacutevel e integrado

Nada estranho que por todo esse tempo radishy

ccedilatildeo do olhar geograacutefico fazer e fazer a dizia-se A V-HLshy

ccedilatildeo espacial ~ sociedade eacute a sua orgaqizaccedilatildeo regional e lera sociedagravede eacute conhecer suas regioqalidades

Utrtamudanccedila forte etltretanto vinha haacute tempos ocorrendo em surdishy

na na arrumaccedilatildeo dos velhos espaccedilos Desde o Renascimento com a retomada

da expansatildeo mercantil e o advento das grandes navegaccedilotildees e descobertas uma

mudanccedila acontece na arrumaccedilatildeo dos espaccedilos das civilizaccedilotildees recortando-as

em e estes em Esta mudanccedila se acelera para ganhar forma defishy

nitiva com as revoluccedilotildees industriais dos seacuteculos XVII[ XIX ~ xx mediante a

reorganizaccedilatildeo dos antigos espaccedilos na divisatildeo internacional de trabalho da proshy

duccedilatildeo e as trocas da economia industrial A ordem fabril que assim se institui vai dando ao espaccedilo um modo novo de ser regionalizado e unificado apartir da integraccedilatildeo das escalas de mercado Deste modo a imagem do mundo gartha a forma desde entatildeo tornada tradicional das grandes Primeiro das

regiotildees homogecircneas das regiotildees polarizadas Eacute a adquirindo

uma importacircncia de capital significado na ordem real da orgagraveniza-ccedilatildeo espacial

das sociedades modernas Mas nes~e justo luomento esta ordem espacial

meccedila a se diluir diante da arrumaccedilatildeo do espaccedilo mundial em rede

A organizaccedilatildeo em rede vai mudando a forma e o conteuacutedo dos espaccedilos

Eacute evidente que a teoria precisa acompanhar a mudanccedila da realidade 0 preccedilo de

natildeo mais dela dar conta Uma vez que muda de conteuacutedo - jaacute que ele eacute da histoacuteria e a histoacuteria mudando muda cOl~ ela tudo que produz o espaccedilo

geograacutefico muda igualmente de forma A forma que nele tinha importacircncia principal no passado jaacute natildeo a tem do mesmo modo e grau na organizaccedilatildeo no

presente Contudo a tradiccedilatildeo regional era tatildeo forte que ainda por um tempo

1gt1lL-O- os espaccedilos das socied~des em termos regionais A teoria da

natildeo declina de importacircncia poreacutem o papel matricial da regiatildeo eacute cada vez menos

relevante de forma-chave da arrumaccedilatildeo dos espaccedilos retis

Com o desenvolvimento dos meios de transferecircncia (transporte coshy

municaccedilotildees e transmissatildeo de energia) caracteriacutestica essencial da organizaccedilatildeo

da sociedade moderna - uma sociedade umbilicalmente ligada agrave evoshy

da teacutecnica agrave aceleraccedilatildeo das interligaccedilotildees e movimentaccedilatildeo das pessoas

objetos e capitais sOlre os territoacuterios - tem lugar a mudanccedila associada agrave rapishy

dez do aumento da densidade e da escala da circulaccedilatildeo Esta eacute a origem da

sociedade em rede Nos anos 70jaacute natildeo se pode mais desconhecer a relaccedilatildeo em

rede que entatildeo surge articula os diferentes lugares e age como a forma nova

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DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGARPARA ONDE VAI O PENSAMENTO GEOGRAacuteFCO

de organizaccedilatildeo geograacutefica das sociedades montando a arquitetura das coneshy xocirces que d~o suporte agraves relaccedilotildees avanccediladas da middotproduccedil~o edo mercado Eacute quando junto agrave rede se descobre a globalizaccedilatildeo

A rede nacirco eacutepltirtanto um fenocircmeno novo Recente eacute o status teoacute~

rico que adquire (Dias 1995) Imaginemos o espaccedilo no passado quando cada civilizaccedilatildeo constituiacutea um territoacuterio organizado a partir de um limite especiacute-ticoe da centralidade de uma cidade principal De cada cidade parte uma rede de circulaccedilatildeo (transportes comunicaccedilotildees e energia) destinada a orientar as trocas entre as civilizaccedilotildees urnas com as outras a cidade exercen- do o papel de arrumadora organizadora e centralizadora dos territarios Teacutemos aiacute uma rede organizando o espaccedilo Mas natildeo um espaccedilo organizado em rede Podemos dizer que a rede eacute um dado da realidade empiacuterica todavia conceitualmente natildeo estamos diante de um espaccedilo organizado em rede Isto

-soacute vai acontecer recentement_e A trajetoacuteria da-rede modernaacute se ini~ia no Renasciinento como desen- shy

volvimento do tragravensporte mariacutetimo a grandes distacircncias e o dese-nvolvimento articulado dos transportes terrestres internamente e fluviais entre os continenshytes O desenvolvimento rede de tragravensportes estabelece uma conexatildeo que evolui e se acelera dei seacuteculo XVI ao XVIII quando entatildeo adveacutem a Revoluccedilatildeo Industrial e com ela a maacutequina a vapor o trem e o riavio moderno

A cidade eacute a grande beneficiaacuteria desse desenvolvimento dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo trazidos pela revoluccedilatildeo industrial A cidade torna-se o middotponto de referecircncia de uma gama de conexotildees que recobre e vai deitar-se sobreacute o espaccedilo terrestre como um todo numa uacutenica rede Pode-se ateacute periodizar a histoacuteria das cidades a partir da histoacuteria da rede O seacuteculo XIX eacute o tempo de hegemonia das cidades portuaacuterias como Londres Hamburgo Nova York Rio de Janeiro O seacuteculo xx eacute o tempo da cidade da reccedile multimodal eaacutel que o aeroporto substitui o papeacutel ~nterior do porto Ateacute qiIe chegamos agrave cidade da

-redeyirtual de hoje E assim agrave sociedade em rede A caracteriacutestica da sociedade em rede eacute a mobilidade territorial E o

desenvolvimento da rede de circulaccedilatildeo inicia-se num movimento de desterritorializaccedilatildeo de homens de produtos e de objetos que ocorre em parashylelo agrave evoluccedilatildeo das cidades e das redes periodiacutezando o processo da montagem shye do desmonte do recorte da superfiacutecie terrestre em regiotildees e cuia referecircncia agrave eacutepoca eacute a reterritorializaccedilatildeo dos cultivares

Transportados pelos navios cultivares de diferentes lugares de origem se shydifundem e se misturam nos diferentes continentes formando com o tempo uma paisagem de culturas entrecruzadas na qual as regiotildees antigas natildeo se distinshy

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guein mais umas das outta pelos cultivos do trigo do cafe do arroz do milho

b1tata for~anecircioacute-se r~giotildees novas com essas cuJturas agora mundializadagraves Cada cultiva eacute descoIacuteagravedo do seu ambierite natural pagravera i~ l~cafiz~r-se em

outros contextos ~bientaIacutesacompanhando o desenvolvimeacutento das comunicashyccedilotildeese daS trocas E~tatildeo sobreaantiga paisage~ dos cultivares fundadora e constitutiva dos complexos alimentares de cada povo cada paisagem sendo arrushymada ao redor de uma cultura chave e agrave qual se juntam as demais culturas do complexo - como a paisagem dos arrozais do oriente asiaacutetico do trigo-centeio do ocidente europeu e do rnilhobatata dos altiplanos americanos - tatildeoacute bem analisadas por Max Sorre vai-se montando uma paisagem nova regional

Essa mudanccedila da arrumaccedilatildeo que ocorre no espaccedilo em todo o mundo

saindo de uma espacialidade baseada num complexo agriacutecola para uma outra apoiada numa arrumaccedilatildeo regional de cultivares vindos da migraccedilatildeo de plantas

_ e uuacutemais oriundos de outros cantos muda a cultura humana em cadapcwo pois o resultado eacute uma radicagravel troca de haacutebitos e regimes aliacutementaresalt~rahdo as relaccedilotildees ambientais os gostos e os costumes desses povos

O eixo-reitor desse rear~anjo eacute o desenvolvimento da divisatildeo in~ernashydonal do trabalho e das trocas em funccedilatildeo de cujos propoacutesitos _os pedaccedilos do

espaccedilo terrestre vatildeo se regionalizando por produto De modo que sobre a malha regional assim criada pode-seacute vislumbrar

o iniacutecio da atual globalizaccedilatildeo marcado pela escalada dos cultivares umaescashylada c~ltural Estabelece-se a partir daiacute uma intencional confusatildeo de termos embaacuteralhando Q conceito de culturas e -cultivares que explora o proacutep)Iacuteo fato da antiga imbricaccedilatildeo das culturas humanas enquadradil na -tradiccedilatildeo da paisashygem dos cultivares Agora cultivar vira cultura regionalizada como veiacuteculo da colonizaccedilatildeo E o cultivar morre dentro da cultura de modo a se fazer prevlleshycer por cultura a referecircncia cultural do colonizador natildeo mais a cultura dos cultivares das civilizaccedilotildees Um jogo ideoloacutegico que soacute nos dias de hoje vem agrave tona com a emergecircncia do discurso da biodiversidade interessado no resgate do conhecimento proacuteprio da cultura dos antigos cultivares para o fim de

implementar a cultura teacutecnica da engenharia geneacutetica Com a propagaccedilatildeo das teacutecnicas de transportes e comunicaccedilotildees proacuteprias

da segunda Revoluccedilatildeo Industrial - encarnadas no caminhatildeo no automoacutevel no aviatildeo no teleacutegrafo no telefone na televisatildeo ao lado das teacutecnicas de transshymissatildeo de energia - o movimento de regionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocas dessas culturas introduz a relaccedilatildeo em rede dissolvendo as fronteiras das regiotildees formadas pelas migraccedilotildees dos cultivares fechando um ciclo e inaugurando

uma nova fase de organizaccedilatildeo mundial dos espaccedilos

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PAR ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGAR

Ateacute que o munqo eacute rec~iado na escala globalizada formada por uma mcorre num equiacutevoco igualmente Por isso contiguumlidade a condiccedilatildeo sem a

I a regiatildeo que seln ela natildeo se constitui perde o significa~io de antes O fatorede de conexotildees territoriais intensamente mais fortes O tecido espaciaJ se

t~r~a ~o mesmo te~po unoacute e diferenciado em ~ma soacute escala plaretirla eacute que intensidade e globa-lidade das iacutentdiacutegaccedil6es ainda mais aumentam a

O fato eacuteque o arraacutenjo espacial sofre uma profunda mutaccedilatildeo de

dade O sentido da rede mudou radicalmente Emuelou modo radical correspondentemente o conteuacutedo do conceito O conteuacutedo social da rede

torna-se mais expliacutecito E as relaccedilotildees entre os espaccediloS se adensam numa tal intensidade que densidade deixa de ser quantidade para adqlIacute~rir um sentido mais significativo de qualidade Cabe ao espaccedilo agora o sentiltlo da espessura a

densidade de populaccedilatildeo por exemplo pode ser baixa do pOlltO de vista da

quantidade mas alta do ponto de vista da rede de relaccedilotildees sociais que encarna Assim os campos se despovoam de populaccedilatildeo ficando poreacutem ao mesmo temshy

po ainda mais densos de relaccedilatildeo~ mercecirc do aumento das atividades da circulashy

middotccedilatildeoe trocas econocircmicas Com a organizaccedilatildeo em rede o ~sp~ccedilo fica simultaneamente mais fluiacute~

do uma vez que ao tornar livres a populaccedilatildeo e as coisas para o movimento territorial a relaccedilatildeo em rede elimina as barreiras abre para que as trocas sociais

e econocircmicas se desloquefTI de um para outro canto amplificando ao infiruto o que antes fizera com oscultiYares

Eacute entatildeo que as cidades seconvertem em noacutes de uma tra~~ Diante de

um espaccedilo transformacto numa grande rede de nodosidade a cidade vira um ponto fundamental da tarefa do espaccedilo de integrar lugares cada Vez mais arti shyculados em rede

Ao chegarmos aos dias de hoje em que a rede do computador eacute o dado teacutecnico constitutivo dos circuitos o espaccedilo em rede por fim se evidencia Entatildeo assim como sucede com a forma geral cada atributo claacutessico da geograshyfia ganha um outro sentido Em particular a distacircncia A distacircncia perde seu sentido fiacutesico diante do novo conteuacutedo social do espaccedilo Vira uma reagravelidade para o trem outra para o aviatildeo outra ainda para o automoacutevel sem falar do

telefone da moeda digital e da comunicaccedilatildeo pela internet uma rede para cada qual e o conjunto um complexo de redes

Deste modo quem como Paul Virilio diz que o tempo estaacute supriminshydo o espaccedilo externa uma ilusatildeo conceitual de vez que eacute o tempo que cada vez mais se converte em espaccedilo o espaccedilo do tecido social complexo - um comshy

plexo de complexos diria Sorre seguidamente mais espesso e denso E quem

como David Harvey afirma uma tese de compressatildeo do espaccedilo-tempo sem

considerar como Soja o ardil com que na moderruacutedade desde o Renascimento

a razatildeo subsumira o espaccedilo no tempo nsico daiacute o espaccedilo virar distacircncia -

1621

I mobilidade territorial maiacutesSe agiliza adiacutestacircncia entre os lugares e coisas mais

se encurta a espessura do tecido espacial mais seadensae o espaccedilo se

me no planeta Entatildeo espeacutecie de Satildeo Tomeacute das ciecircncias o geoacutegrafo declara

extiIacutelta a teoria do espaccedilo organizado em regiotildees singulares e de comparti shy

I mentos fechados e proclama realidade o espaccedilo em rede

I o lugar o novo olhar sobre oacute espaccedilo de siacutentese Ocupar um lugar no espaccedilo tornou-se assim o termo forte na nova

espacialidade Expressatildeo que indica a principalidade que na estrutura do espashyccedilo vai significar estar em Fruto da rede o lugar eacute o ponto de referecircncia da

iacutenclus~o-exclusatildeo dos entes na trama da nodosidade o que eacute o lugar Podemos compreendecirclo por dupla forma de

entendimento O como o ponto darede formada pela conjuminaccedilatildeo da horizontalidade e da verticalidade do cOllceito de Miacutelton Santos e o

como espaccedilo vivido e clarificado pela relaccedilatildeo de pertencimento do conceito de Yi-Fu Tuan

I

Para Milton Santos o lugar que a rede organiza em sua

arrumadora do territoacuterio eacute um agregado de relaccedilotildees ao mesmo tempo internas e externas Atuam aquacutei a contiguumlidade e a nodpsidaqe A contiguumlishydade eacute o plan-ci que integra as relaccedilotildees internas numa uacutenica unidade de espaccedilo Eacute a horizontalidad~ A nod~sdade eacute o plano que integra as relaccedilotildees externas com as relaccedilotildees internas da contiguumlidade Eacute a verticalidade Cada ponto local da superfiacutecie terrestre seraacute o resultado desse encontro entrecruzacto de horizontalidade e de verticalidade E eacute isso o lugar O

pressuposto eacute a rede globai Vecirc-se que a horizontalidade tem a ver C01~ a antiga noccedilatildeo de contiguumlidade Seu viacutenculo interno eacute a produccedilatildeo A as aacutereas de miacuteneraccedilatildeo e as aacutereas de agricultura que a ela se articula~ como fornecedoras de mateacuterias-primas e insumos alimentiacutecios todos elasI

I I pontos espaciais de interligaccedilatildeo local promovida pelo ato do interesse soshy

lidaacuterio da horizontalidade Cada atividade eacute parte de um todo orgatildenico local do ponto de vista da horizontalidade E nessa condiccedilatildeo entra como

especificidade no todo orgacircnico do lugar

Jaacute a verticalidade eacute a combinaccedilatildeo dos diferentes noacutes postos acima e aleacutem da horizontalidade Seu veiacuteculo eacute a circulaccedilatildeo circulaccedilatildeo de produtos

I mas sobretudo de informaccedilotildees E sua forma material eacute a trama da rede dos

I i

1163

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAtildeo Agrave REDE E AO LUGAR

transportes das co~unicaccedilotildees e meios de transmissatildeo de energia hoje a infovia conteuacutedo pela rede global da nodosidade e ao mesmo tempo pela necessidade qu~ leva aos diferentes plarios horizontais as coisasmiddot que lheyecircm de fora Daiacute do homem de (re)fazero sentido do espaccedilo ressi~ificahdoo como relaccedilatildeo que cagraveda lugar nasce diferente do outro dando ao todo da globalizaccedilatilde~ ~ I de ainbiecircncia ede pertencimento Dito de outro modo eacute o lugar qu~middotdaacute b tom cunhomiddot nitidamente fragmentaacuterio jaacute que o lugar sao todos os lugares Condishy

ccedilatildeo que leva Milton Santos a dizer que eacutemiddot o lugar que existe e natildeo o mundo de

vez que as coisas e as relaccedilotildees do mundo se organizam no lugar mundializando

o lugar e natildeo o mundo Eacute o lugar entatildeo o real agente sedimentador do processhy

so da inclusatildeo e da exclusatildeo Tudo dependendo de como se estabelecem as

correlaccedilotildees de forccedilas de seus componentes sociais dentro da conexatildeo em rede

Isto p~rque natureza e poder da forccedila vecircm dessa caracteriacutestica de ser a um soacute

tempo horizontalidade e verticalidade Por parte da ho~izontalidade porque

tudo depende da capacidade de aglutinaccedilatildeo dos elementos contiacuteguos Por parshy

te da verticaiidade da capacidade desses elementos aglutinantes se inserirem

~o fluxo vital das infQrmaccedilotildeesque satildeo o alime~to e a razatildeo mesma da rede (eacute rieste momento que a contiguumlidade pode servir ou desservir como base do

poder ao lugar) Para Yi-Fu Tuan lugar eacute o sentido do pertencimento a identidade

biograacutefica do homem com os elementos do seu espaccedilo vivido No lugar cada

objeto ou coisa tem uma histoacuteria que se confunde com a histoacuteria dos seus

habitantes assim compreendidos justamente por natildeo terem com a ambiecircncia

uma relaccedilatildeo de estrangeiros E reversivamente cada momento da histoacuteria de vida do homem estaacute contada e datada natrajetoacuteria ocorrida de cada coisa e

objeto homens eobjetos se identificando reciprocamente A globalizaccedilatildeo natildeo

extingue antes impotildee que se refaccedila o sentido do pertencimento em face da

nova forma que cria de espaccedilo vivido Cada vez mais os objetos e coisas da

ambiecircncia deixam de ter com o homem a relaccedilatildeo antiga do pertencimento os

objetos renovanc~o-se a cada momento e vindo de umil trajetoacuteria que eacute para o

homemcompletamente desconhecida a histoacuteria dos homens e das coisas que

formam o novo espaccedilo vivido natildeo contandomiddot uma mesma histoacuteria forccedilando o homem a reconstruir a cada instante umamiddot nova ambiecircncia que restabeleccedila o

sentido de pertencimento Podemos todavia entender que os conceitos de Santos e Tuan natildeo satildeo

dois conceitos distintos e excludentes de lugar Lugar como relaccedilatildeo nodal e

lugar como relaccedilatildeo de pertencimento podem ser vistos como dois acircngulos

distintos de olhar sobre o mesmo espaccedil~ do homem no tempo do mundo

globalizado Tanto O sentido nodal quantomiddot o sentido da vivecircncia estatildeo aiacute preshysentes mas distintos justamente pela diferenccedila do sentido Sentido de ver que

seja como for o lugar eacute hoje uma realidade determinada em sua forma e

11641

da diferenciaccedilatildeo do espaccedilo do homem - natildeo do capital - em nosso tempo

Com o lugar a contiguumlidade e a coabitaccedilatildeo categorias caractetiacutesticas

do espaccedilo em regiatildeo assim se renovam Ao mesmo tempo o lugar se reforccedila

com a permanecircncia da contiguumlidade como nexo interno do hOqJem com o

seu espaccedilo Categoria da horizontalidade a contiguumlidade permanece costushy

rando agora a centralidade do lugar como matriz organizadora do espaccedilo

porque eacute coabitaccedilatildeo e ambiecircncia Recria-se Ontem a contiguumlidady integrava

numa mesma regionalidade pessoas diferentes mas coabitantes do mesmo esshy

paccedilo Hoje ela eacute a condiccedilatildeo da acessibilidade dos mesmos coabitantes a este dado integrador-excluiacutedor do mumiddotndo globaliacutezado que eacute amiddot informaccedilatildeo

informatizada mesmo que natildeo habitem a mesma unidade de espaccedilo Importa que co~bitem a rede

o novo caraacuteter da poliacutetica

Mudam assim a natumiddotreza emiddot o modo middotde fazer poliacutetica Estar em rede

tornou-se o primeiro m~ndame)to Porque fazer poliacutetica passou a significar

construir um grande arco de alianccedilas para se organizar em rede Djz--se ocupar

um lugar no espaccedilo A corrida para incluir um lugar na rede a um soacute tempo hoJe aproxima

e afasta os homens Acirra as disputas pelo domiacutenio dos lugares e entre os

lugares Daiacute a valorizaccedilatildeo contemporacircnea do territoacuterio Lugares ou segmentos

de classes inteiros podem ser i~cluiacutedos ou ao contraacuterio excluiacutedos dos arranshy

jos espaciais a depender de como os interesses se aliem e organizem o acesso

do lugar agraves informaccedilotildees da rede E deste modo um caraacuteter novo aparece na

luta poliacutetica dentro e em decorrecircncia do que eacute o novo caraacuteter do espaccedilo

exigindo que se reinvente as formas de accedilatildeo Ateacute porque a rede eacute o auge do caraacuteter desigual-combinado do espaccedilo

Estar em rede tornou-se para as grandes empresas o mesmo que dizer estar em

lugar proeminente na trama da rede Para ela natildeo basta estar inserida O manshy

damento eacute dominar o lugar dominaacute-lo para dominar a rede E vice-versa

Antes de mais eacute preciso se estar inserido num lugar para se estar inserido na

geopoliacutetica da rede Uma vez localizado na rede pode-se daiacute puxar a informashy

ccedilatildeo disputar-se primazias e entatildeo jogar-se o jogo do poder Entretanto para que os interesses de hegemonia se concretizem eacute preciso co~ugar o segundo

mandamento eacute o controle da verticalidade que daacute o controle da rede

11651

PIIRII ONDE VIII O PENSIIMENTO GEOGRAacuteFCO

A informaccedilatildeo se torna a mateacuteria prima essencial do espaccedilo-rede Induacutesshy trias que poss~ agraves vezes ter dificuldade de obter mateacuteria prima oQtecircm-na facilshym~nte uma vez se vejam inseridas no cirquumltomiddot exclusivo ch informaccedilatildeo M~is que

seacute inseriracessar eacute a regra E assim de poder encontrarse em vantagem na

dianteira dos competidores Aeessa inf~rmaccedilotildees quem estaacute verbcalizado O fato eacute que a instancmeidade do tempo virouacute espaccedilo neste mundo organizado em rede E o vital eacute ser contemporacircneo insuacutentacircneo e do insuacutente Quem soacute estaacute horizontalizado pode ficar excluiacutedo do circuito e entatildeo dos beneficios da inforshymaccedilatildeo Assim se define o novo poder da sobrevivecircncia

E assim se pode explicar a reuniatildeo de paiacuteses em blocos regionais no

momento mesmo que a histoacuteria se despede da regiatildeo como modo de arrushymaccedilatildeo Quanto mais olhamos para o mapa contemporacircneo mais o que veshy

mos numa aparente contradiccedilatildeo com um mundo global~zado em rede eacute a multiplicaccedilatildeo de blocos regionais como a UE (lJniatildeo Europeacuteia) o Mercosul (Uniatildeo dos paiacuteses do Cone Sul da Ameacuterica do Sul) o Nafta (Uniatildeo dos paiacuteses da Ameacuterica do Norte) A regiatildeo ccedilontinua a existir poreacutem natildeo mais na forma e com o papei de antes Aspecto da contiguumlidade da rede a regiatildeo eacute hocirc]e o pEmo da horizontalidade de cada lugar Para entrarem em rede de

n10do organizado os paiacuteses lugarizam-se mediante a organizaccedilatildeo regional S6 d~pois saem em vocirco livre pela ver~icalidade da rede De modo que a regiatildeo virou o lugar da articulaccedilatildeo entre os paiacuteses visando ao concerto de estrateacutegias globais num mercado globatizado Daiacute parecerem usar de formas

passadas para entrar no mundo unificado em rede seja para segurar o tranco da competiccedilatildeo dos grandes (UE) reduzir margens de exclusatildeo herlthdas do

passado recente (Mercosul) ou evitar ocircnus de qUem desde o comeccedilo jaacute nasshyceu globalizado (Nafta)

Modos de estrateacutegia e natildeo modos geograacuteficos de ser eis em suma o

que hoje eacute a regiatildeo como categoria de organizaccedilatildeo das r~accedilotildees de espaccedilo Veiacuteculo de accedilatildeo de contemporaneidade e natildeo modo estrutural definir-se como eram nas realidades espaciais passadas o passado recente da di~isatildeo intershynacional industrial do trabalho De qualquer modo a regiatildeo eacute um dado de

uma estrateacutegia de accedilatildeo conjunta por hegemonias a pa~tir do plano da

horizontalidade Logiacutestica de integraccedilatildeo da confraria dos incluiacutedos da

verticalidade agraves vezes visando agrave exclusatildeo do oponente por enxugamento (de

custos de preccedilos de postos de trabalho) ou mlrginalizaccedilatildeo (de poder de intershy

ferecircncia de comunicar-se em puacuteblico etc) a regiatildeo reciclou-se diante do novo modo de fazer poliacutetica do espaccedilo em rede

1166

I I l

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I

I

011 REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGIIR

O que satildeo o espaccedilo e seus elementos estruturantes

Tornou~se vital para a geografia diante nova Tealidade clagraverifishy

car o cOl=eitoe o papei teoacuterico do espaccedilo geograacutefico Vejamos uma forma

de entendimento

Espaccedilo a coabitaccedilatildeo Olhando o mundo vecirc-se que eacute formado pela diversidade Povoa-o a

pluralidade vemos as aacutervores os animais as nuvens as rochas os homens A

diversidade do mundo eacute o que chama nossa atenccedilatildeo de imediato Na medida entretanto que experimentamos esta pluralidade no seu

conviacutevio mais iacutentimo vem-nos a noccedilatildeo de que junto com a diversidade haacute a unidade Uma interligaccedilatildeo invisiacutevel entre as diferentes coisas faz que a diversishydade acabe contraditoriamente se middotfundindo na unidade uacutenica de um 50 todo

A gr~~de perguntagrave a se fazer eacute oque leva tudo a ser diferente e ao mesmo tempo uma soacute unidade na realidade que nos cerca A resposta em

geografia relaciona-se com o ponto de referecircncia do olhar segundo o qual o homem observa e se localiza dentro desse mundo e a partir daiacute o vecirce unifica

(Novaes 1988 Buck-Morss 2002) E O ponto de referecircncia do olhar identi shyfica o mundo como uma grande coabitaccedilatildeo Uma relaccedilatildeo de coabitaccedilatildeo com ~nimais vegetais nuvens chuvas e o proacuteprio homem para o qual tudo se rehciona num viver entre si e em relaccedilatildeo a ele Assim o homem rlatildeo se vecirc

como urna figura isolada e inerte dentro dessa diversidade porque eacute coshypartiacutecipe Acoabiacutetaccedilatildeo cria o mundo como O espaccedilo do homem

o olhar espacial a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo e a extensatildeo Por forccedila da diversidade o homem que a observa a vecirc em primeiro

illgar corrto u~a localizaccedilatildeo de coisas na pais~gem Cada localizaccedilatildeo fala de um tipo de solo de vegetaccedilatildeo de relevo de vida humana Destarte a locashylizaccedilatildeo leva agrave distribuiccedilatildeo A distribuiccedilatildeo eacute o sistema de pontos da localizashyccedilatildeo Assim a distribuiccedilatildeo leva por sua vez agrave extensatildeo A extensatildeo eacute a reushy

niatildeo da diversidade das localizaccedilotildees em sua distribuiccedilatildeo no horizonte do

recorte do olhar E pela extensatildeo a diversidade vira a unidade na forma do

espaccedilo O espaccedilo eacute entatildeo a resposta da geografia agrave pergunta da unidade da

diversidade De modo que a coaacutebitaccedilatildeo que une a diversidade diante de

nossos olhos eacute a origem e a qualificaccedilatildeo do espaccedilo A coabitaccedilatildeo faz o

espaccedilo e o espaccedilo faz a coabitaccedilatildeo em resumo

1167

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

1681

Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

1169

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

1170

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

11711

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

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bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

11761

DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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Page 2: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR A NOVA REALIDADE E O NOVO OLHAR

GEOGRAacuteFICO SOBRE O MUNDO

Neste iniacutecio de seacuteculo uma realidade nova apoiada natildeo mais nas forshymas antigas de relaccedilotildees do homem com o espaccedilo e a natureza mas nas que

exprimem os conteuacutedos novos do mundo globalizado traz consigo uma enorshy

me renovaccedilatildeo nas formas de organizaccedilatildeo geograacutefica da sociedade Diante dessa

nova realidade conceitos velhos aparecem sob forma nova e conceitos novos

aparecem renovando conceitos velhos

A rede global eacute a forma nova do espaccedilo E a fluidez - indicativa do

efeito das reestruturaccedilotildees sobre as fronteiras - a sua principal caracteriacutestica

Uma mudanccedila se pede assim na forma do olhar geograacutefico e do geoacutegrafo

Mas em que consiste este olhaT E como dar-lhe contemporaneidade

A realidade e as formas geograacuteficas da sociedade na histoacuteria

Ateacute o advento da primeira Revoluccedilatildeo Industrial no seacuteculo XVlll o

mundo era um conjunto de realidades espaciais as mais diversas e as socishy

edades se distribuiacuteam na infinita diversidade espacial dos gecircneros de vida

das civilizaccedilotildees Desde entatildeo a tecnologia industrial passa a intervir na

distribuiccedilatildeo unificando em sua expansatildeo aacuterea a aacuterea um apoacutes outro esses

antigos espaccedilos

Com o advento da segunda revoluccedilatildeo industrial que ocorre na virada

dos seacuteculos XIX-XX esta intervenccedilatildeo eacute levada agrave escala planetaacuteria na forma da

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGA(Iuniformizaccedilatildeo dos modos de vida e processamentos produtivos Os espaccedilos

satildeo globalizados em meno~ de um seacuteculo sob um soacute niodo de produccedilatildeq que

uitifica os mercados e os valoacuteres suprime aidentiacutedagraved~ cultural das antigas

civilizaccedilotildees e traz com a uniformidade teacutecnica uma desarrumaccedilatildeo soacutecioshy

ambiental em escala inlsitada Ao rearrumar os sob um soacute modo pashydratildeo a uniformidade de organizaccedilatildeo dest~6i~ prejudica o modo de vida com que a humanidade se conhecia

Um ponto de inflemo eacute a deacutecada de 1950 e um outro a deacutecada de 1970

A regiacuteatildeo o olhar sobre um espaccedilo lento

Quando os geoacutegrafos dos anos 1950 olhavam o mundo o que viam

era a paisagem de uma histoacuteria humana que mal mudara de paacutegina no tracircnsito dos seacuteculos XIX-XXViam a sombra das civilizaccedilotildees antigas com suas paisagens relativamente paradas compartimentadase distanciadas

Os meios de transporte e comunicaccedilatildeo e opoduacute de intervenccedilatildeo teacutecshynica da humanidade sob~e QS meios ambientes soacute neste momento passavam a

se alicerccedilar na tecnologia da segUnda revoluccedilatildeo industrial interditada em seu

desenvolvimento nO periacuteodo de entre-guerras dos anos 1930-1940

Nada mais natural pois que intuiacutessem tais geoacutegrafos a sensaccedilatildeo da imo~ bilidade dos espaccedilos eteorizassem sobre a paisagem como uma histoacuteria de durashy

ccedilatildeo longa tal qual viu Braudel (1989) - eterna em suas localizaccedilotildees imutaacuteveis Eacute isto o que explica ter a leitura geograacutefica pautado-se por muito temshy

po na categoria da regiatildeo Era o que os geoacutegrafos viam ainda em 1950

A regiatildeo eacute entatildeo a forma matricihl da organizaccedilatildeo do espaccedilo terrestre

e cuja Caracteriacutestica baacutesica eacute a demarcaccedilatildeo territorial de limiteacutes rigorosamente precisos O que os geoacutegrafos viam na paisaacutegem era essa forma e de longa

duraccedilatildeo e passaram a concebecirc-la como uma porccedilatildeo de espaccedilo cuja unidade eacute

dada por uma forma singular de siacutentes~ dos fenocircmenos fiacutesicos e humanos que

a diferencia e demarca dos demais espaccedilos regionais na superfiacutecie terrestre

por sua singularidade Pouco importava se o dito e o visto natildeo coincidissem exatamente

As coisas mudavam mas o ritmo da mudanccedila era lento De tal modo

que se os olhassem a paisagem de um lugar e voltassem a olhaacute-Ia

deacutecadas depois provavelmente veriam a mesma paisagem A distribuiccedilatildeo dos

cheios e vazios para usar uma expressatildeo de Jean Brunhes trocava-se com

lentidatildeo e os limites territoriais das extensotildees permaneciam praticamente os mesmos por longos tempos

11581

i

A rede o olhar sobre o espaccedilo moacutevel e integrado

Nada estranho que por todo esse tempo radishy

ccedilatildeo do olhar geograacutefico fazer e fazer a dizia-se A V-HLshy

ccedilatildeo espacial ~ sociedade eacute a sua orgaqizaccedilatildeo regional e lera sociedagravede eacute conhecer suas regioqalidades

Utrtamudanccedila forte etltretanto vinha haacute tempos ocorrendo em surdishy

na na arrumaccedilatildeo dos velhos espaccedilos Desde o Renascimento com a retomada

da expansatildeo mercantil e o advento das grandes navegaccedilotildees e descobertas uma

mudanccedila acontece na arrumaccedilatildeo dos espaccedilos das civilizaccedilotildees recortando-as

em e estes em Esta mudanccedila se acelera para ganhar forma defishy

nitiva com as revoluccedilotildees industriais dos seacuteculos XVII[ XIX ~ xx mediante a

reorganizaccedilatildeo dos antigos espaccedilos na divisatildeo internacional de trabalho da proshy

duccedilatildeo e as trocas da economia industrial A ordem fabril que assim se institui vai dando ao espaccedilo um modo novo de ser regionalizado e unificado apartir da integraccedilatildeo das escalas de mercado Deste modo a imagem do mundo gartha a forma desde entatildeo tornada tradicional das grandes Primeiro das

regiotildees homogecircneas das regiotildees polarizadas Eacute a adquirindo

uma importacircncia de capital significado na ordem real da orgagraveniza-ccedilatildeo espacial

das sociedades modernas Mas nes~e justo luomento esta ordem espacial

meccedila a se diluir diante da arrumaccedilatildeo do espaccedilo mundial em rede

A organizaccedilatildeo em rede vai mudando a forma e o conteuacutedo dos espaccedilos

Eacute evidente que a teoria precisa acompanhar a mudanccedila da realidade 0 preccedilo de

natildeo mais dela dar conta Uma vez que muda de conteuacutedo - jaacute que ele eacute da histoacuteria e a histoacuteria mudando muda cOl~ ela tudo que produz o espaccedilo

geograacutefico muda igualmente de forma A forma que nele tinha importacircncia principal no passado jaacute natildeo a tem do mesmo modo e grau na organizaccedilatildeo no

presente Contudo a tradiccedilatildeo regional era tatildeo forte que ainda por um tempo

1gt1lL-O- os espaccedilos das socied~des em termos regionais A teoria da

natildeo declina de importacircncia poreacutem o papel matricial da regiatildeo eacute cada vez menos

relevante de forma-chave da arrumaccedilatildeo dos espaccedilos retis

Com o desenvolvimento dos meios de transferecircncia (transporte coshy

municaccedilotildees e transmissatildeo de energia) caracteriacutestica essencial da organizaccedilatildeo

da sociedade moderna - uma sociedade umbilicalmente ligada agrave evoshy

da teacutecnica agrave aceleraccedilatildeo das interligaccedilotildees e movimentaccedilatildeo das pessoas

objetos e capitais sOlre os territoacuterios - tem lugar a mudanccedila associada agrave rapishy

dez do aumento da densidade e da escala da circulaccedilatildeo Esta eacute a origem da

sociedade em rede Nos anos 70jaacute natildeo se pode mais desconhecer a relaccedilatildeo em

rede que entatildeo surge articula os diferentes lugares e age como a forma nova

159 1

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGARPARA ONDE VAI O PENSAMENTO GEOGRAacuteFCO

de organizaccedilatildeo geograacutefica das sociedades montando a arquitetura das coneshy xocirces que d~o suporte agraves relaccedilotildees avanccediladas da middotproduccedil~o edo mercado Eacute quando junto agrave rede se descobre a globalizaccedilatildeo

A rede nacirco eacutepltirtanto um fenocircmeno novo Recente eacute o status teoacute~

rico que adquire (Dias 1995) Imaginemos o espaccedilo no passado quando cada civilizaccedilatildeo constituiacutea um territoacuterio organizado a partir de um limite especiacute-ticoe da centralidade de uma cidade principal De cada cidade parte uma rede de circulaccedilatildeo (transportes comunicaccedilotildees e energia) destinada a orientar as trocas entre as civilizaccedilotildees urnas com as outras a cidade exercen- do o papel de arrumadora organizadora e centralizadora dos territarios Teacutemos aiacute uma rede organizando o espaccedilo Mas natildeo um espaccedilo organizado em rede Podemos dizer que a rede eacute um dado da realidade empiacuterica todavia conceitualmente natildeo estamos diante de um espaccedilo organizado em rede Isto

-soacute vai acontecer recentement_e A trajetoacuteria da-rede modernaacute se ini~ia no Renasciinento como desen- shy

volvimento do tragravensporte mariacutetimo a grandes distacircncias e o dese-nvolvimento articulado dos transportes terrestres internamente e fluviais entre os continenshytes O desenvolvimento rede de tragravensportes estabelece uma conexatildeo que evolui e se acelera dei seacuteculo XVI ao XVIII quando entatildeo adveacutem a Revoluccedilatildeo Industrial e com ela a maacutequina a vapor o trem e o riavio moderno

A cidade eacute a grande beneficiaacuteria desse desenvolvimento dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo trazidos pela revoluccedilatildeo industrial A cidade torna-se o middotponto de referecircncia de uma gama de conexotildees que recobre e vai deitar-se sobreacute o espaccedilo terrestre como um todo numa uacutenica rede Pode-se ateacute periodizar a histoacuteria das cidades a partir da histoacuteria da rede O seacuteculo XIX eacute o tempo de hegemonia das cidades portuaacuterias como Londres Hamburgo Nova York Rio de Janeiro O seacuteculo xx eacute o tempo da cidade da reccedile multimodal eaacutel que o aeroporto substitui o papeacutel ~nterior do porto Ateacute qiIe chegamos agrave cidade da

-redeyirtual de hoje E assim agrave sociedade em rede A caracteriacutestica da sociedade em rede eacute a mobilidade territorial E o

desenvolvimento da rede de circulaccedilatildeo inicia-se num movimento de desterritorializaccedilatildeo de homens de produtos e de objetos que ocorre em parashylelo agrave evoluccedilatildeo das cidades e das redes periodiacutezando o processo da montagem shye do desmonte do recorte da superfiacutecie terrestre em regiotildees e cuia referecircncia agrave eacutepoca eacute a reterritorializaccedilatildeo dos cultivares

Transportados pelos navios cultivares de diferentes lugares de origem se shydifundem e se misturam nos diferentes continentes formando com o tempo uma paisagem de culturas entrecruzadas na qual as regiotildees antigas natildeo se distinshy

11601

guein mais umas das outta pelos cultivos do trigo do cafe do arroz do milho

b1tata for~anecircioacute-se r~giotildees novas com essas cuJturas agora mundializadagraves Cada cultiva eacute descoIacuteagravedo do seu ambierite natural pagravera i~ l~cafiz~r-se em

outros contextos ~bientaIacutesacompanhando o desenvolvimeacutento das comunicashyccedilotildeese daS trocas E~tatildeo sobreaantiga paisage~ dos cultivares fundadora e constitutiva dos complexos alimentares de cada povo cada paisagem sendo arrushymada ao redor de uma cultura chave e agrave qual se juntam as demais culturas do complexo - como a paisagem dos arrozais do oriente asiaacutetico do trigo-centeio do ocidente europeu e do rnilhobatata dos altiplanos americanos - tatildeoacute bem analisadas por Max Sorre vai-se montando uma paisagem nova regional

Essa mudanccedila da arrumaccedilatildeo que ocorre no espaccedilo em todo o mundo

saindo de uma espacialidade baseada num complexo agriacutecola para uma outra apoiada numa arrumaccedilatildeo regional de cultivares vindos da migraccedilatildeo de plantas

_ e uuacutemais oriundos de outros cantos muda a cultura humana em cadapcwo pois o resultado eacute uma radicagravel troca de haacutebitos e regimes aliacutementaresalt~rahdo as relaccedilotildees ambientais os gostos e os costumes desses povos

O eixo-reitor desse rear~anjo eacute o desenvolvimento da divisatildeo in~ernashydonal do trabalho e das trocas em funccedilatildeo de cujos propoacutesitos _os pedaccedilos do

espaccedilo terrestre vatildeo se regionalizando por produto De modo que sobre a malha regional assim criada pode-seacute vislumbrar

o iniacutecio da atual globalizaccedilatildeo marcado pela escalada dos cultivares umaescashylada c~ltural Estabelece-se a partir daiacute uma intencional confusatildeo de termos embaacuteralhando Q conceito de culturas e -cultivares que explora o proacutep)Iacuteo fato da antiga imbricaccedilatildeo das culturas humanas enquadradil na -tradiccedilatildeo da paisashygem dos cultivares Agora cultivar vira cultura regionalizada como veiacuteculo da colonizaccedilatildeo E o cultivar morre dentro da cultura de modo a se fazer prevlleshycer por cultura a referecircncia cultural do colonizador natildeo mais a cultura dos cultivares das civilizaccedilotildees Um jogo ideoloacutegico que soacute nos dias de hoje vem agrave tona com a emergecircncia do discurso da biodiversidade interessado no resgate do conhecimento proacuteprio da cultura dos antigos cultivares para o fim de

implementar a cultura teacutecnica da engenharia geneacutetica Com a propagaccedilatildeo das teacutecnicas de transportes e comunicaccedilotildees proacuteprias

da segunda Revoluccedilatildeo Industrial - encarnadas no caminhatildeo no automoacutevel no aviatildeo no teleacutegrafo no telefone na televisatildeo ao lado das teacutecnicas de transshymissatildeo de energia - o movimento de regionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocas dessas culturas introduz a relaccedilatildeo em rede dissolvendo as fronteiras das regiotildees formadas pelas migraccedilotildees dos cultivares fechando um ciclo e inaugurando

uma nova fase de organizaccedilatildeo mundial dos espaccedilos

161

PAR ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGAR

Ateacute que o munqo eacute rec~iado na escala globalizada formada por uma mcorre num equiacutevoco igualmente Por isso contiguumlidade a condiccedilatildeo sem a

I a regiatildeo que seln ela natildeo se constitui perde o significa~io de antes O fatorede de conexotildees territoriais intensamente mais fortes O tecido espaciaJ se

t~r~a ~o mesmo te~po unoacute e diferenciado em ~ma soacute escala plaretirla eacute que intensidade e globa-lidade das iacutentdiacutegaccedil6es ainda mais aumentam a

O fato eacuteque o arraacutenjo espacial sofre uma profunda mutaccedilatildeo de

dade O sentido da rede mudou radicalmente Emuelou modo radical correspondentemente o conteuacutedo do conceito O conteuacutedo social da rede

torna-se mais expliacutecito E as relaccedilotildees entre os espaccediloS se adensam numa tal intensidade que densidade deixa de ser quantidade para adqlIacute~rir um sentido mais significativo de qualidade Cabe ao espaccedilo agora o sentiltlo da espessura a

densidade de populaccedilatildeo por exemplo pode ser baixa do pOlltO de vista da

quantidade mas alta do ponto de vista da rede de relaccedilotildees sociais que encarna Assim os campos se despovoam de populaccedilatildeo ficando poreacutem ao mesmo temshy

po ainda mais densos de relaccedilatildeo~ mercecirc do aumento das atividades da circulashy

middotccedilatildeoe trocas econocircmicas Com a organizaccedilatildeo em rede o ~sp~ccedilo fica simultaneamente mais fluiacute~

do uma vez que ao tornar livres a populaccedilatildeo e as coisas para o movimento territorial a relaccedilatildeo em rede elimina as barreiras abre para que as trocas sociais

e econocircmicas se desloquefTI de um para outro canto amplificando ao infiruto o que antes fizera com oscultiYares

Eacute entatildeo que as cidades seconvertem em noacutes de uma tra~~ Diante de

um espaccedilo transformacto numa grande rede de nodosidade a cidade vira um ponto fundamental da tarefa do espaccedilo de integrar lugares cada Vez mais arti shyculados em rede

Ao chegarmos aos dias de hoje em que a rede do computador eacute o dado teacutecnico constitutivo dos circuitos o espaccedilo em rede por fim se evidencia Entatildeo assim como sucede com a forma geral cada atributo claacutessico da geograshyfia ganha um outro sentido Em particular a distacircncia A distacircncia perde seu sentido fiacutesico diante do novo conteuacutedo social do espaccedilo Vira uma reagravelidade para o trem outra para o aviatildeo outra ainda para o automoacutevel sem falar do

telefone da moeda digital e da comunicaccedilatildeo pela internet uma rede para cada qual e o conjunto um complexo de redes

Deste modo quem como Paul Virilio diz que o tempo estaacute supriminshydo o espaccedilo externa uma ilusatildeo conceitual de vez que eacute o tempo que cada vez mais se converte em espaccedilo o espaccedilo do tecido social complexo - um comshy

plexo de complexos diria Sorre seguidamente mais espesso e denso E quem

como David Harvey afirma uma tese de compressatildeo do espaccedilo-tempo sem

considerar como Soja o ardil com que na moderruacutedade desde o Renascimento

a razatildeo subsumira o espaccedilo no tempo nsico daiacute o espaccedilo virar distacircncia -

1621

I mobilidade territorial maiacutesSe agiliza adiacutestacircncia entre os lugares e coisas mais

se encurta a espessura do tecido espacial mais seadensae o espaccedilo se

me no planeta Entatildeo espeacutecie de Satildeo Tomeacute das ciecircncias o geoacutegrafo declara

extiIacutelta a teoria do espaccedilo organizado em regiotildees singulares e de comparti shy

I mentos fechados e proclama realidade o espaccedilo em rede

I o lugar o novo olhar sobre oacute espaccedilo de siacutentese Ocupar um lugar no espaccedilo tornou-se assim o termo forte na nova

espacialidade Expressatildeo que indica a principalidade que na estrutura do espashyccedilo vai significar estar em Fruto da rede o lugar eacute o ponto de referecircncia da

iacutenclus~o-exclusatildeo dos entes na trama da nodosidade o que eacute o lugar Podemos compreendecirclo por dupla forma de

entendimento O como o ponto darede formada pela conjuminaccedilatildeo da horizontalidade e da verticalidade do cOllceito de Miacutelton Santos e o

como espaccedilo vivido e clarificado pela relaccedilatildeo de pertencimento do conceito de Yi-Fu Tuan

I

Para Milton Santos o lugar que a rede organiza em sua

arrumadora do territoacuterio eacute um agregado de relaccedilotildees ao mesmo tempo internas e externas Atuam aquacutei a contiguumlidade e a nodpsidaqe A contiguumlishydade eacute o plan-ci que integra as relaccedilotildees internas numa uacutenica unidade de espaccedilo Eacute a horizontalidad~ A nod~sdade eacute o plano que integra as relaccedilotildees externas com as relaccedilotildees internas da contiguumlidade Eacute a verticalidade Cada ponto local da superfiacutecie terrestre seraacute o resultado desse encontro entrecruzacto de horizontalidade e de verticalidade E eacute isso o lugar O

pressuposto eacute a rede globai Vecirc-se que a horizontalidade tem a ver C01~ a antiga noccedilatildeo de contiguumlidade Seu viacutenculo interno eacute a produccedilatildeo A as aacutereas de miacuteneraccedilatildeo e as aacutereas de agricultura que a ela se articula~ como fornecedoras de mateacuterias-primas e insumos alimentiacutecios todos elasI

I I pontos espaciais de interligaccedilatildeo local promovida pelo ato do interesse soshy

lidaacuterio da horizontalidade Cada atividade eacute parte de um todo orgatildenico local do ponto de vista da horizontalidade E nessa condiccedilatildeo entra como

especificidade no todo orgacircnico do lugar

Jaacute a verticalidade eacute a combinaccedilatildeo dos diferentes noacutes postos acima e aleacutem da horizontalidade Seu veiacuteculo eacute a circulaccedilatildeo circulaccedilatildeo de produtos

I mas sobretudo de informaccedilotildees E sua forma material eacute a trama da rede dos

I i

1163

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAtildeo Agrave REDE E AO LUGAR

transportes das co~unicaccedilotildees e meios de transmissatildeo de energia hoje a infovia conteuacutedo pela rede global da nodosidade e ao mesmo tempo pela necessidade qu~ leva aos diferentes plarios horizontais as coisasmiddot que lheyecircm de fora Daiacute do homem de (re)fazero sentido do espaccedilo ressi~ificahdoo como relaccedilatildeo que cagraveda lugar nasce diferente do outro dando ao todo da globalizaccedilatilde~ ~ I de ainbiecircncia ede pertencimento Dito de outro modo eacute o lugar qu~middotdaacute b tom cunhomiddot nitidamente fragmentaacuterio jaacute que o lugar sao todos os lugares Condishy

ccedilatildeo que leva Milton Santos a dizer que eacutemiddot o lugar que existe e natildeo o mundo de

vez que as coisas e as relaccedilotildees do mundo se organizam no lugar mundializando

o lugar e natildeo o mundo Eacute o lugar entatildeo o real agente sedimentador do processhy

so da inclusatildeo e da exclusatildeo Tudo dependendo de como se estabelecem as

correlaccedilotildees de forccedilas de seus componentes sociais dentro da conexatildeo em rede

Isto p~rque natureza e poder da forccedila vecircm dessa caracteriacutestica de ser a um soacute

tempo horizontalidade e verticalidade Por parte da ho~izontalidade porque

tudo depende da capacidade de aglutinaccedilatildeo dos elementos contiacuteguos Por parshy

te da verticaiidade da capacidade desses elementos aglutinantes se inserirem

~o fluxo vital das infQrmaccedilotildeesque satildeo o alime~to e a razatildeo mesma da rede (eacute rieste momento que a contiguumlidade pode servir ou desservir como base do

poder ao lugar) Para Yi-Fu Tuan lugar eacute o sentido do pertencimento a identidade

biograacutefica do homem com os elementos do seu espaccedilo vivido No lugar cada

objeto ou coisa tem uma histoacuteria que se confunde com a histoacuteria dos seus

habitantes assim compreendidos justamente por natildeo terem com a ambiecircncia

uma relaccedilatildeo de estrangeiros E reversivamente cada momento da histoacuteria de vida do homem estaacute contada e datada natrajetoacuteria ocorrida de cada coisa e

objeto homens eobjetos se identificando reciprocamente A globalizaccedilatildeo natildeo

extingue antes impotildee que se refaccedila o sentido do pertencimento em face da

nova forma que cria de espaccedilo vivido Cada vez mais os objetos e coisas da

ambiecircncia deixam de ter com o homem a relaccedilatildeo antiga do pertencimento os

objetos renovanc~o-se a cada momento e vindo de umil trajetoacuteria que eacute para o

homemcompletamente desconhecida a histoacuteria dos homens e das coisas que

formam o novo espaccedilo vivido natildeo contandomiddot uma mesma histoacuteria forccedilando o homem a reconstruir a cada instante umamiddot nova ambiecircncia que restabeleccedila o

sentido de pertencimento Podemos todavia entender que os conceitos de Santos e Tuan natildeo satildeo

dois conceitos distintos e excludentes de lugar Lugar como relaccedilatildeo nodal e

lugar como relaccedilatildeo de pertencimento podem ser vistos como dois acircngulos

distintos de olhar sobre o mesmo espaccedil~ do homem no tempo do mundo

globalizado Tanto O sentido nodal quantomiddot o sentido da vivecircncia estatildeo aiacute preshysentes mas distintos justamente pela diferenccedila do sentido Sentido de ver que

seja como for o lugar eacute hoje uma realidade determinada em sua forma e

11641

da diferenciaccedilatildeo do espaccedilo do homem - natildeo do capital - em nosso tempo

Com o lugar a contiguumlidade e a coabitaccedilatildeo categorias caractetiacutesticas

do espaccedilo em regiatildeo assim se renovam Ao mesmo tempo o lugar se reforccedila

com a permanecircncia da contiguumlidade como nexo interno do hOqJem com o

seu espaccedilo Categoria da horizontalidade a contiguumlidade permanece costushy

rando agora a centralidade do lugar como matriz organizadora do espaccedilo

porque eacute coabitaccedilatildeo e ambiecircncia Recria-se Ontem a contiguumlidady integrava

numa mesma regionalidade pessoas diferentes mas coabitantes do mesmo esshy

paccedilo Hoje ela eacute a condiccedilatildeo da acessibilidade dos mesmos coabitantes a este dado integrador-excluiacutedor do mumiddotndo globaliacutezado que eacute amiddot informaccedilatildeo

informatizada mesmo que natildeo habitem a mesma unidade de espaccedilo Importa que co~bitem a rede

o novo caraacuteter da poliacutetica

Mudam assim a natumiddotreza emiddot o modo middotde fazer poliacutetica Estar em rede

tornou-se o primeiro m~ndame)to Porque fazer poliacutetica passou a significar

construir um grande arco de alianccedilas para se organizar em rede Djz--se ocupar

um lugar no espaccedilo A corrida para incluir um lugar na rede a um soacute tempo hoJe aproxima

e afasta os homens Acirra as disputas pelo domiacutenio dos lugares e entre os

lugares Daiacute a valorizaccedilatildeo contemporacircnea do territoacuterio Lugares ou segmentos

de classes inteiros podem ser i~cluiacutedos ou ao contraacuterio excluiacutedos dos arranshy

jos espaciais a depender de como os interesses se aliem e organizem o acesso

do lugar agraves informaccedilotildees da rede E deste modo um caraacuteter novo aparece na

luta poliacutetica dentro e em decorrecircncia do que eacute o novo caraacuteter do espaccedilo

exigindo que se reinvente as formas de accedilatildeo Ateacute porque a rede eacute o auge do caraacuteter desigual-combinado do espaccedilo

Estar em rede tornou-se para as grandes empresas o mesmo que dizer estar em

lugar proeminente na trama da rede Para ela natildeo basta estar inserida O manshy

damento eacute dominar o lugar dominaacute-lo para dominar a rede E vice-versa

Antes de mais eacute preciso se estar inserido num lugar para se estar inserido na

geopoliacutetica da rede Uma vez localizado na rede pode-se daiacute puxar a informashy

ccedilatildeo disputar-se primazias e entatildeo jogar-se o jogo do poder Entretanto para que os interesses de hegemonia se concretizem eacute preciso co~ugar o segundo

mandamento eacute o controle da verticalidade que daacute o controle da rede

11651

PIIRII ONDE VIII O PENSIIMENTO GEOGRAacuteFCO

A informaccedilatildeo se torna a mateacuteria prima essencial do espaccedilo-rede Induacutesshy trias que poss~ agraves vezes ter dificuldade de obter mateacuteria prima oQtecircm-na facilshym~nte uma vez se vejam inseridas no cirquumltomiddot exclusivo ch informaccedilatildeo M~is que

seacute inseriracessar eacute a regra E assim de poder encontrarse em vantagem na

dianteira dos competidores Aeessa inf~rmaccedilotildees quem estaacute verbcalizado O fato eacute que a instancmeidade do tempo virouacute espaccedilo neste mundo organizado em rede E o vital eacute ser contemporacircneo insuacutentacircneo e do insuacutente Quem soacute estaacute horizontalizado pode ficar excluiacutedo do circuito e entatildeo dos beneficios da inforshymaccedilatildeo Assim se define o novo poder da sobrevivecircncia

E assim se pode explicar a reuniatildeo de paiacuteses em blocos regionais no

momento mesmo que a histoacuteria se despede da regiatildeo como modo de arrushymaccedilatildeo Quanto mais olhamos para o mapa contemporacircneo mais o que veshy

mos numa aparente contradiccedilatildeo com um mundo global~zado em rede eacute a multiplicaccedilatildeo de blocos regionais como a UE (lJniatildeo Europeacuteia) o Mercosul (Uniatildeo dos paiacuteses do Cone Sul da Ameacuterica do Sul) o Nafta (Uniatildeo dos paiacuteses da Ameacuterica do Norte) A regiatildeo ccedilontinua a existir poreacutem natildeo mais na forma e com o papei de antes Aspecto da contiguumlidade da rede a regiatildeo eacute hocirc]e o pEmo da horizontalidade de cada lugar Para entrarem em rede de

n10do organizado os paiacuteses lugarizam-se mediante a organizaccedilatildeo regional S6 d~pois saem em vocirco livre pela ver~icalidade da rede De modo que a regiatildeo virou o lugar da articulaccedilatildeo entre os paiacuteses visando ao concerto de estrateacutegias globais num mercado globatizado Daiacute parecerem usar de formas

passadas para entrar no mundo unificado em rede seja para segurar o tranco da competiccedilatildeo dos grandes (UE) reduzir margens de exclusatildeo herlthdas do

passado recente (Mercosul) ou evitar ocircnus de qUem desde o comeccedilo jaacute nasshyceu globalizado (Nafta)

Modos de estrateacutegia e natildeo modos geograacuteficos de ser eis em suma o

que hoje eacute a regiatildeo como categoria de organizaccedilatildeo das r~accedilotildees de espaccedilo Veiacuteculo de accedilatildeo de contemporaneidade e natildeo modo estrutural definir-se como eram nas realidades espaciais passadas o passado recente da di~isatildeo intershynacional industrial do trabalho De qualquer modo a regiatildeo eacute um dado de

uma estrateacutegia de accedilatildeo conjunta por hegemonias a pa~tir do plano da

horizontalidade Logiacutestica de integraccedilatildeo da confraria dos incluiacutedos da

verticalidade agraves vezes visando agrave exclusatildeo do oponente por enxugamento (de

custos de preccedilos de postos de trabalho) ou mlrginalizaccedilatildeo (de poder de intershy

ferecircncia de comunicar-se em puacuteblico etc) a regiatildeo reciclou-se diante do novo modo de fazer poliacutetica do espaccedilo em rede

1166

I I l

i I

I

I

011 REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGIIR

O que satildeo o espaccedilo e seus elementos estruturantes

Tornou~se vital para a geografia diante nova Tealidade clagraverifishy

car o cOl=eitoe o papei teoacuterico do espaccedilo geograacutefico Vejamos uma forma

de entendimento

Espaccedilo a coabitaccedilatildeo Olhando o mundo vecirc-se que eacute formado pela diversidade Povoa-o a

pluralidade vemos as aacutervores os animais as nuvens as rochas os homens A

diversidade do mundo eacute o que chama nossa atenccedilatildeo de imediato Na medida entretanto que experimentamos esta pluralidade no seu

conviacutevio mais iacutentimo vem-nos a noccedilatildeo de que junto com a diversidade haacute a unidade Uma interligaccedilatildeo invisiacutevel entre as diferentes coisas faz que a diversishydade acabe contraditoriamente se middotfundindo na unidade uacutenica de um 50 todo

A gr~~de perguntagrave a se fazer eacute oque leva tudo a ser diferente e ao mesmo tempo uma soacute unidade na realidade que nos cerca A resposta em

geografia relaciona-se com o ponto de referecircncia do olhar segundo o qual o homem observa e se localiza dentro desse mundo e a partir daiacute o vecirce unifica

(Novaes 1988 Buck-Morss 2002) E O ponto de referecircncia do olhar identi shyfica o mundo como uma grande coabitaccedilatildeo Uma relaccedilatildeo de coabitaccedilatildeo com ~nimais vegetais nuvens chuvas e o proacuteprio homem para o qual tudo se rehciona num viver entre si e em relaccedilatildeo a ele Assim o homem rlatildeo se vecirc

como urna figura isolada e inerte dentro dessa diversidade porque eacute coshypartiacutecipe Acoabiacutetaccedilatildeo cria o mundo como O espaccedilo do homem

o olhar espacial a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo e a extensatildeo Por forccedila da diversidade o homem que a observa a vecirc em primeiro

illgar corrto u~a localizaccedilatildeo de coisas na pais~gem Cada localizaccedilatildeo fala de um tipo de solo de vegetaccedilatildeo de relevo de vida humana Destarte a locashylizaccedilatildeo leva agrave distribuiccedilatildeo A distribuiccedilatildeo eacute o sistema de pontos da localizashyccedilatildeo Assim a distribuiccedilatildeo leva por sua vez agrave extensatildeo A extensatildeo eacute a reushy

niatildeo da diversidade das localizaccedilotildees em sua distribuiccedilatildeo no horizonte do

recorte do olhar E pela extensatildeo a diversidade vira a unidade na forma do

espaccedilo O espaccedilo eacute entatildeo a resposta da geografia agrave pergunta da unidade da

diversidade De modo que a coaacutebitaccedilatildeo que une a diversidade diante de

nossos olhos eacute a origem e a qualificaccedilatildeo do espaccedilo A coabitaccedilatildeo faz o

espaccedilo e o espaccedilo faz a coabitaccedilatildeo em resumo

1167

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

1681

Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

1169

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

1170

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

11711

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

11 72 1 11731

bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

1174

DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

11761

DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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Page 3: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGA(Iuniformizaccedilatildeo dos modos de vida e processamentos produtivos Os espaccedilos

satildeo globalizados em meno~ de um seacuteculo sob um soacute niodo de produccedilatildeq que

uitifica os mercados e os valoacuteres suprime aidentiacutedagraved~ cultural das antigas

civilizaccedilotildees e traz com a uniformidade teacutecnica uma desarrumaccedilatildeo soacutecioshy

ambiental em escala inlsitada Ao rearrumar os sob um soacute modo pashydratildeo a uniformidade de organizaccedilatildeo dest~6i~ prejudica o modo de vida com que a humanidade se conhecia

Um ponto de inflemo eacute a deacutecada de 1950 e um outro a deacutecada de 1970

A regiacuteatildeo o olhar sobre um espaccedilo lento

Quando os geoacutegrafos dos anos 1950 olhavam o mundo o que viam

era a paisagem de uma histoacuteria humana que mal mudara de paacutegina no tracircnsito dos seacuteculos XIX-XXViam a sombra das civilizaccedilotildees antigas com suas paisagens relativamente paradas compartimentadase distanciadas

Os meios de transporte e comunicaccedilatildeo e opoduacute de intervenccedilatildeo teacutecshynica da humanidade sob~e QS meios ambientes soacute neste momento passavam a

se alicerccedilar na tecnologia da segUnda revoluccedilatildeo industrial interditada em seu

desenvolvimento nO periacuteodo de entre-guerras dos anos 1930-1940

Nada mais natural pois que intuiacutessem tais geoacutegrafos a sensaccedilatildeo da imo~ bilidade dos espaccedilos eteorizassem sobre a paisagem como uma histoacuteria de durashy

ccedilatildeo longa tal qual viu Braudel (1989) - eterna em suas localizaccedilotildees imutaacuteveis Eacute isto o que explica ter a leitura geograacutefica pautado-se por muito temshy

po na categoria da regiatildeo Era o que os geoacutegrafos viam ainda em 1950

A regiatildeo eacute entatildeo a forma matricihl da organizaccedilatildeo do espaccedilo terrestre

e cuja Caracteriacutestica baacutesica eacute a demarcaccedilatildeo territorial de limiteacutes rigorosamente precisos O que os geoacutegrafos viam na paisaacutegem era essa forma e de longa

duraccedilatildeo e passaram a concebecirc-la como uma porccedilatildeo de espaccedilo cuja unidade eacute

dada por uma forma singular de siacutentes~ dos fenocircmenos fiacutesicos e humanos que

a diferencia e demarca dos demais espaccedilos regionais na superfiacutecie terrestre

por sua singularidade Pouco importava se o dito e o visto natildeo coincidissem exatamente

As coisas mudavam mas o ritmo da mudanccedila era lento De tal modo

que se os olhassem a paisagem de um lugar e voltassem a olhaacute-Ia

deacutecadas depois provavelmente veriam a mesma paisagem A distribuiccedilatildeo dos

cheios e vazios para usar uma expressatildeo de Jean Brunhes trocava-se com

lentidatildeo e os limites territoriais das extensotildees permaneciam praticamente os mesmos por longos tempos

11581

i

A rede o olhar sobre o espaccedilo moacutevel e integrado

Nada estranho que por todo esse tempo radishy

ccedilatildeo do olhar geograacutefico fazer e fazer a dizia-se A V-HLshy

ccedilatildeo espacial ~ sociedade eacute a sua orgaqizaccedilatildeo regional e lera sociedagravede eacute conhecer suas regioqalidades

Utrtamudanccedila forte etltretanto vinha haacute tempos ocorrendo em surdishy

na na arrumaccedilatildeo dos velhos espaccedilos Desde o Renascimento com a retomada

da expansatildeo mercantil e o advento das grandes navegaccedilotildees e descobertas uma

mudanccedila acontece na arrumaccedilatildeo dos espaccedilos das civilizaccedilotildees recortando-as

em e estes em Esta mudanccedila se acelera para ganhar forma defishy

nitiva com as revoluccedilotildees industriais dos seacuteculos XVII[ XIX ~ xx mediante a

reorganizaccedilatildeo dos antigos espaccedilos na divisatildeo internacional de trabalho da proshy

duccedilatildeo e as trocas da economia industrial A ordem fabril que assim se institui vai dando ao espaccedilo um modo novo de ser regionalizado e unificado apartir da integraccedilatildeo das escalas de mercado Deste modo a imagem do mundo gartha a forma desde entatildeo tornada tradicional das grandes Primeiro das

regiotildees homogecircneas das regiotildees polarizadas Eacute a adquirindo

uma importacircncia de capital significado na ordem real da orgagraveniza-ccedilatildeo espacial

das sociedades modernas Mas nes~e justo luomento esta ordem espacial

meccedila a se diluir diante da arrumaccedilatildeo do espaccedilo mundial em rede

A organizaccedilatildeo em rede vai mudando a forma e o conteuacutedo dos espaccedilos

Eacute evidente que a teoria precisa acompanhar a mudanccedila da realidade 0 preccedilo de

natildeo mais dela dar conta Uma vez que muda de conteuacutedo - jaacute que ele eacute da histoacuteria e a histoacuteria mudando muda cOl~ ela tudo que produz o espaccedilo

geograacutefico muda igualmente de forma A forma que nele tinha importacircncia principal no passado jaacute natildeo a tem do mesmo modo e grau na organizaccedilatildeo no

presente Contudo a tradiccedilatildeo regional era tatildeo forte que ainda por um tempo

1gt1lL-O- os espaccedilos das socied~des em termos regionais A teoria da

natildeo declina de importacircncia poreacutem o papel matricial da regiatildeo eacute cada vez menos

relevante de forma-chave da arrumaccedilatildeo dos espaccedilos retis

Com o desenvolvimento dos meios de transferecircncia (transporte coshy

municaccedilotildees e transmissatildeo de energia) caracteriacutestica essencial da organizaccedilatildeo

da sociedade moderna - uma sociedade umbilicalmente ligada agrave evoshy

da teacutecnica agrave aceleraccedilatildeo das interligaccedilotildees e movimentaccedilatildeo das pessoas

objetos e capitais sOlre os territoacuterios - tem lugar a mudanccedila associada agrave rapishy

dez do aumento da densidade e da escala da circulaccedilatildeo Esta eacute a origem da

sociedade em rede Nos anos 70jaacute natildeo se pode mais desconhecer a relaccedilatildeo em

rede que entatildeo surge articula os diferentes lugares e age como a forma nova

159 1

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGARPARA ONDE VAI O PENSAMENTO GEOGRAacuteFCO

de organizaccedilatildeo geograacutefica das sociedades montando a arquitetura das coneshy xocirces que d~o suporte agraves relaccedilotildees avanccediladas da middotproduccedil~o edo mercado Eacute quando junto agrave rede se descobre a globalizaccedilatildeo

A rede nacirco eacutepltirtanto um fenocircmeno novo Recente eacute o status teoacute~

rico que adquire (Dias 1995) Imaginemos o espaccedilo no passado quando cada civilizaccedilatildeo constituiacutea um territoacuterio organizado a partir de um limite especiacute-ticoe da centralidade de uma cidade principal De cada cidade parte uma rede de circulaccedilatildeo (transportes comunicaccedilotildees e energia) destinada a orientar as trocas entre as civilizaccedilotildees urnas com as outras a cidade exercen- do o papel de arrumadora organizadora e centralizadora dos territarios Teacutemos aiacute uma rede organizando o espaccedilo Mas natildeo um espaccedilo organizado em rede Podemos dizer que a rede eacute um dado da realidade empiacuterica todavia conceitualmente natildeo estamos diante de um espaccedilo organizado em rede Isto

-soacute vai acontecer recentement_e A trajetoacuteria da-rede modernaacute se ini~ia no Renasciinento como desen- shy

volvimento do tragravensporte mariacutetimo a grandes distacircncias e o dese-nvolvimento articulado dos transportes terrestres internamente e fluviais entre os continenshytes O desenvolvimento rede de tragravensportes estabelece uma conexatildeo que evolui e se acelera dei seacuteculo XVI ao XVIII quando entatildeo adveacutem a Revoluccedilatildeo Industrial e com ela a maacutequina a vapor o trem e o riavio moderno

A cidade eacute a grande beneficiaacuteria desse desenvolvimento dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo trazidos pela revoluccedilatildeo industrial A cidade torna-se o middotponto de referecircncia de uma gama de conexotildees que recobre e vai deitar-se sobreacute o espaccedilo terrestre como um todo numa uacutenica rede Pode-se ateacute periodizar a histoacuteria das cidades a partir da histoacuteria da rede O seacuteculo XIX eacute o tempo de hegemonia das cidades portuaacuterias como Londres Hamburgo Nova York Rio de Janeiro O seacuteculo xx eacute o tempo da cidade da reccedile multimodal eaacutel que o aeroporto substitui o papeacutel ~nterior do porto Ateacute qiIe chegamos agrave cidade da

-redeyirtual de hoje E assim agrave sociedade em rede A caracteriacutestica da sociedade em rede eacute a mobilidade territorial E o

desenvolvimento da rede de circulaccedilatildeo inicia-se num movimento de desterritorializaccedilatildeo de homens de produtos e de objetos que ocorre em parashylelo agrave evoluccedilatildeo das cidades e das redes periodiacutezando o processo da montagem shye do desmonte do recorte da superfiacutecie terrestre em regiotildees e cuia referecircncia agrave eacutepoca eacute a reterritorializaccedilatildeo dos cultivares

Transportados pelos navios cultivares de diferentes lugares de origem se shydifundem e se misturam nos diferentes continentes formando com o tempo uma paisagem de culturas entrecruzadas na qual as regiotildees antigas natildeo se distinshy

11601

guein mais umas das outta pelos cultivos do trigo do cafe do arroz do milho

b1tata for~anecircioacute-se r~giotildees novas com essas cuJturas agora mundializadagraves Cada cultiva eacute descoIacuteagravedo do seu ambierite natural pagravera i~ l~cafiz~r-se em

outros contextos ~bientaIacutesacompanhando o desenvolvimeacutento das comunicashyccedilotildeese daS trocas E~tatildeo sobreaantiga paisage~ dos cultivares fundadora e constitutiva dos complexos alimentares de cada povo cada paisagem sendo arrushymada ao redor de uma cultura chave e agrave qual se juntam as demais culturas do complexo - como a paisagem dos arrozais do oriente asiaacutetico do trigo-centeio do ocidente europeu e do rnilhobatata dos altiplanos americanos - tatildeoacute bem analisadas por Max Sorre vai-se montando uma paisagem nova regional

Essa mudanccedila da arrumaccedilatildeo que ocorre no espaccedilo em todo o mundo

saindo de uma espacialidade baseada num complexo agriacutecola para uma outra apoiada numa arrumaccedilatildeo regional de cultivares vindos da migraccedilatildeo de plantas

_ e uuacutemais oriundos de outros cantos muda a cultura humana em cadapcwo pois o resultado eacute uma radicagravel troca de haacutebitos e regimes aliacutementaresalt~rahdo as relaccedilotildees ambientais os gostos e os costumes desses povos

O eixo-reitor desse rear~anjo eacute o desenvolvimento da divisatildeo in~ernashydonal do trabalho e das trocas em funccedilatildeo de cujos propoacutesitos _os pedaccedilos do

espaccedilo terrestre vatildeo se regionalizando por produto De modo que sobre a malha regional assim criada pode-seacute vislumbrar

o iniacutecio da atual globalizaccedilatildeo marcado pela escalada dos cultivares umaescashylada c~ltural Estabelece-se a partir daiacute uma intencional confusatildeo de termos embaacuteralhando Q conceito de culturas e -cultivares que explora o proacutep)Iacuteo fato da antiga imbricaccedilatildeo das culturas humanas enquadradil na -tradiccedilatildeo da paisashygem dos cultivares Agora cultivar vira cultura regionalizada como veiacuteculo da colonizaccedilatildeo E o cultivar morre dentro da cultura de modo a se fazer prevlleshycer por cultura a referecircncia cultural do colonizador natildeo mais a cultura dos cultivares das civilizaccedilotildees Um jogo ideoloacutegico que soacute nos dias de hoje vem agrave tona com a emergecircncia do discurso da biodiversidade interessado no resgate do conhecimento proacuteprio da cultura dos antigos cultivares para o fim de

implementar a cultura teacutecnica da engenharia geneacutetica Com a propagaccedilatildeo das teacutecnicas de transportes e comunicaccedilotildees proacuteprias

da segunda Revoluccedilatildeo Industrial - encarnadas no caminhatildeo no automoacutevel no aviatildeo no teleacutegrafo no telefone na televisatildeo ao lado das teacutecnicas de transshymissatildeo de energia - o movimento de regionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocas dessas culturas introduz a relaccedilatildeo em rede dissolvendo as fronteiras das regiotildees formadas pelas migraccedilotildees dos cultivares fechando um ciclo e inaugurando

uma nova fase de organizaccedilatildeo mundial dos espaccedilos

161

PAR ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGAR

Ateacute que o munqo eacute rec~iado na escala globalizada formada por uma mcorre num equiacutevoco igualmente Por isso contiguumlidade a condiccedilatildeo sem a

I a regiatildeo que seln ela natildeo se constitui perde o significa~io de antes O fatorede de conexotildees territoriais intensamente mais fortes O tecido espaciaJ se

t~r~a ~o mesmo te~po unoacute e diferenciado em ~ma soacute escala plaretirla eacute que intensidade e globa-lidade das iacutentdiacutegaccedil6es ainda mais aumentam a

O fato eacuteque o arraacutenjo espacial sofre uma profunda mutaccedilatildeo de

dade O sentido da rede mudou radicalmente Emuelou modo radical correspondentemente o conteuacutedo do conceito O conteuacutedo social da rede

torna-se mais expliacutecito E as relaccedilotildees entre os espaccediloS se adensam numa tal intensidade que densidade deixa de ser quantidade para adqlIacute~rir um sentido mais significativo de qualidade Cabe ao espaccedilo agora o sentiltlo da espessura a

densidade de populaccedilatildeo por exemplo pode ser baixa do pOlltO de vista da

quantidade mas alta do ponto de vista da rede de relaccedilotildees sociais que encarna Assim os campos se despovoam de populaccedilatildeo ficando poreacutem ao mesmo temshy

po ainda mais densos de relaccedilatildeo~ mercecirc do aumento das atividades da circulashy

middotccedilatildeoe trocas econocircmicas Com a organizaccedilatildeo em rede o ~sp~ccedilo fica simultaneamente mais fluiacute~

do uma vez que ao tornar livres a populaccedilatildeo e as coisas para o movimento territorial a relaccedilatildeo em rede elimina as barreiras abre para que as trocas sociais

e econocircmicas se desloquefTI de um para outro canto amplificando ao infiruto o que antes fizera com oscultiYares

Eacute entatildeo que as cidades seconvertem em noacutes de uma tra~~ Diante de

um espaccedilo transformacto numa grande rede de nodosidade a cidade vira um ponto fundamental da tarefa do espaccedilo de integrar lugares cada Vez mais arti shyculados em rede

Ao chegarmos aos dias de hoje em que a rede do computador eacute o dado teacutecnico constitutivo dos circuitos o espaccedilo em rede por fim se evidencia Entatildeo assim como sucede com a forma geral cada atributo claacutessico da geograshyfia ganha um outro sentido Em particular a distacircncia A distacircncia perde seu sentido fiacutesico diante do novo conteuacutedo social do espaccedilo Vira uma reagravelidade para o trem outra para o aviatildeo outra ainda para o automoacutevel sem falar do

telefone da moeda digital e da comunicaccedilatildeo pela internet uma rede para cada qual e o conjunto um complexo de redes

Deste modo quem como Paul Virilio diz que o tempo estaacute supriminshydo o espaccedilo externa uma ilusatildeo conceitual de vez que eacute o tempo que cada vez mais se converte em espaccedilo o espaccedilo do tecido social complexo - um comshy

plexo de complexos diria Sorre seguidamente mais espesso e denso E quem

como David Harvey afirma uma tese de compressatildeo do espaccedilo-tempo sem

considerar como Soja o ardil com que na moderruacutedade desde o Renascimento

a razatildeo subsumira o espaccedilo no tempo nsico daiacute o espaccedilo virar distacircncia -

1621

I mobilidade territorial maiacutesSe agiliza adiacutestacircncia entre os lugares e coisas mais

se encurta a espessura do tecido espacial mais seadensae o espaccedilo se

me no planeta Entatildeo espeacutecie de Satildeo Tomeacute das ciecircncias o geoacutegrafo declara

extiIacutelta a teoria do espaccedilo organizado em regiotildees singulares e de comparti shy

I mentos fechados e proclama realidade o espaccedilo em rede

I o lugar o novo olhar sobre oacute espaccedilo de siacutentese Ocupar um lugar no espaccedilo tornou-se assim o termo forte na nova

espacialidade Expressatildeo que indica a principalidade que na estrutura do espashyccedilo vai significar estar em Fruto da rede o lugar eacute o ponto de referecircncia da

iacutenclus~o-exclusatildeo dos entes na trama da nodosidade o que eacute o lugar Podemos compreendecirclo por dupla forma de

entendimento O como o ponto darede formada pela conjuminaccedilatildeo da horizontalidade e da verticalidade do cOllceito de Miacutelton Santos e o

como espaccedilo vivido e clarificado pela relaccedilatildeo de pertencimento do conceito de Yi-Fu Tuan

I

Para Milton Santos o lugar que a rede organiza em sua

arrumadora do territoacuterio eacute um agregado de relaccedilotildees ao mesmo tempo internas e externas Atuam aquacutei a contiguumlidade e a nodpsidaqe A contiguumlishydade eacute o plan-ci que integra as relaccedilotildees internas numa uacutenica unidade de espaccedilo Eacute a horizontalidad~ A nod~sdade eacute o plano que integra as relaccedilotildees externas com as relaccedilotildees internas da contiguumlidade Eacute a verticalidade Cada ponto local da superfiacutecie terrestre seraacute o resultado desse encontro entrecruzacto de horizontalidade e de verticalidade E eacute isso o lugar O

pressuposto eacute a rede globai Vecirc-se que a horizontalidade tem a ver C01~ a antiga noccedilatildeo de contiguumlidade Seu viacutenculo interno eacute a produccedilatildeo A as aacutereas de miacuteneraccedilatildeo e as aacutereas de agricultura que a ela se articula~ como fornecedoras de mateacuterias-primas e insumos alimentiacutecios todos elasI

I I pontos espaciais de interligaccedilatildeo local promovida pelo ato do interesse soshy

lidaacuterio da horizontalidade Cada atividade eacute parte de um todo orgatildenico local do ponto de vista da horizontalidade E nessa condiccedilatildeo entra como

especificidade no todo orgacircnico do lugar

Jaacute a verticalidade eacute a combinaccedilatildeo dos diferentes noacutes postos acima e aleacutem da horizontalidade Seu veiacuteculo eacute a circulaccedilatildeo circulaccedilatildeo de produtos

I mas sobretudo de informaccedilotildees E sua forma material eacute a trama da rede dos

I i

1163

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAtildeo Agrave REDE E AO LUGAR

transportes das co~unicaccedilotildees e meios de transmissatildeo de energia hoje a infovia conteuacutedo pela rede global da nodosidade e ao mesmo tempo pela necessidade qu~ leva aos diferentes plarios horizontais as coisasmiddot que lheyecircm de fora Daiacute do homem de (re)fazero sentido do espaccedilo ressi~ificahdoo como relaccedilatildeo que cagraveda lugar nasce diferente do outro dando ao todo da globalizaccedilatilde~ ~ I de ainbiecircncia ede pertencimento Dito de outro modo eacute o lugar qu~middotdaacute b tom cunhomiddot nitidamente fragmentaacuterio jaacute que o lugar sao todos os lugares Condishy

ccedilatildeo que leva Milton Santos a dizer que eacutemiddot o lugar que existe e natildeo o mundo de

vez que as coisas e as relaccedilotildees do mundo se organizam no lugar mundializando

o lugar e natildeo o mundo Eacute o lugar entatildeo o real agente sedimentador do processhy

so da inclusatildeo e da exclusatildeo Tudo dependendo de como se estabelecem as

correlaccedilotildees de forccedilas de seus componentes sociais dentro da conexatildeo em rede

Isto p~rque natureza e poder da forccedila vecircm dessa caracteriacutestica de ser a um soacute

tempo horizontalidade e verticalidade Por parte da ho~izontalidade porque

tudo depende da capacidade de aglutinaccedilatildeo dos elementos contiacuteguos Por parshy

te da verticaiidade da capacidade desses elementos aglutinantes se inserirem

~o fluxo vital das infQrmaccedilotildeesque satildeo o alime~to e a razatildeo mesma da rede (eacute rieste momento que a contiguumlidade pode servir ou desservir como base do

poder ao lugar) Para Yi-Fu Tuan lugar eacute o sentido do pertencimento a identidade

biograacutefica do homem com os elementos do seu espaccedilo vivido No lugar cada

objeto ou coisa tem uma histoacuteria que se confunde com a histoacuteria dos seus

habitantes assim compreendidos justamente por natildeo terem com a ambiecircncia

uma relaccedilatildeo de estrangeiros E reversivamente cada momento da histoacuteria de vida do homem estaacute contada e datada natrajetoacuteria ocorrida de cada coisa e

objeto homens eobjetos se identificando reciprocamente A globalizaccedilatildeo natildeo

extingue antes impotildee que se refaccedila o sentido do pertencimento em face da

nova forma que cria de espaccedilo vivido Cada vez mais os objetos e coisas da

ambiecircncia deixam de ter com o homem a relaccedilatildeo antiga do pertencimento os

objetos renovanc~o-se a cada momento e vindo de umil trajetoacuteria que eacute para o

homemcompletamente desconhecida a histoacuteria dos homens e das coisas que

formam o novo espaccedilo vivido natildeo contandomiddot uma mesma histoacuteria forccedilando o homem a reconstruir a cada instante umamiddot nova ambiecircncia que restabeleccedila o

sentido de pertencimento Podemos todavia entender que os conceitos de Santos e Tuan natildeo satildeo

dois conceitos distintos e excludentes de lugar Lugar como relaccedilatildeo nodal e

lugar como relaccedilatildeo de pertencimento podem ser vistos como dois acircngulos

distintos de olhar sobre o mesmo espaccedil~ do homem no tempo do mundo

globalizado Tanto O sentido nodal quantomiddot o sentido da vivecircncia estatildeo aiacute preshysentes mas distintos justamente pela diferenccedila do sentido Sentido de ver que

seja como for o lugar eacute hoje uma realidade determinada em sua forma e

11641

da diferenciaccedilatildeo do espaccedilo do homem - natildeo do capital - em nosso tempo

Com o lugar a contiguumlidade e a coabitaccedilatildeo categorias caractetiacutesticas

do espaccedilo em regiatildeo assim se renovam Ao mesmo tempo o lugar se reforccedila

com a permanecircncia da contiguumlidade como nexo interno do hOqJem com o

seu espaccedilo Categoria da horizontalidade a contiguumlidade permanece costushy

rando agora a centralidade do lugar como matriz organizadora do espaccedilo

porque eacute coabitaccedilatildeo e ambiecircncia Recria-se Ontem a contiguumlidady integrava

numa mesma regionalidade pessoas diferentes mas coabitantes do mesmo esshy

paccedilo Hoje ela eacute a condiccedilatildeo da acessibilidade dos mesmos coabitantes a este dado integrador-excluiacutedor do mumiddotndo globaliacutezado que eacute amiddot informaccedilatildeo

informatizada mesmo que natildeo habitem a mesma unidade de espaccedilo Importa que co~bitem a rede

o novo caraacuteter da poliacutetica

Mudam assim a natumiddotreza emiddot o modo middotde fazer poliacutetica Estar em rede

tornou-se o primeiro m~ndame)to Porque fazer poliacutetica passou a significar

construir um grande arco de alianccedilas para se organizar em rede Djz--se ocupar

um lugar no espaccedilo A corrida para incluir um lugar na rede a um soacute tempo hoJe aproxima

e afasta os homens Acirra as disputas pelo domiacutenio dos lugares e entre os

lugares Daiacute a valorizaccedilatildeo contemporacircnea do territoacuterio Lugares ou segmentos

de classes inteiros podem ser i~cluiacutedos ou ao contraacuterio excluiacutedos dos arranshy

jos espaciais a depender de como os interesses se aliem e organizem o acesso

do lugar agraves informaccedilotildees da rede E deste modo um caraacuteter novo aparece na

luta poliacutetica dentro e em decorrecircncia do que eacute o novo caraacuteter do espaccedilo

exigindo que se reinvente as formas de accedilatildeo Ateacute porque a rede eacute o auge do caraacuteter desigual-combinado do espaccedilo

Estar em rede tornou-se para as grandes empresas o mesmo que dizer estar em

lugar proeminente na trama da rede Para ela natildeo basta estar inserida O manshy

damento eacute dominar o lugar dominaacute-lo para dominar a rede E vice-versa

Antes de mais eacute preciso se estar inserido num lugar para se estar inserido na

geopoliacutetica da rede Uma vez localizado na rede pode-se daiacute puxar a informashy

ccedilatildeo disputar-se primazias e entatildeo jogar-se o jogo do poder Entretanto para que os interesses de hegemonia se concretizem eacute preciso co~ugar o segundo

mandamento eacute o controle da verticalidade que daacute o controle da rede

11651

PIIRII ONDE VIII O PENSIIMENTO GEOGRAacuteFCO

A informaccedilatildeo se torna a mateacuteria prima essencial do espaccedilo-rede Induacutesshy trias que poss~ agraves vezes ter dificuldade de obter mateacuteria prima oQtecircm-na facilshym~nte uma vez se vejam inseridas no cirquumltomiddot exclusivo ch informaccedilatildeo M~is que

seacute inseriracessar eacute a regra E assim de poder encontrarse em vantagem na

dianteira dos competidores Aeessa inf~rmaccedilotildees quem estaacute verbcalizado O fato eacute que a instancmeidade do tempo virouacute espaccedilo neste mundo organizado em rede E o vital eacute ser contemporacircneo insuacutentacircneo e do insuacutente Quem soacute estaacute horizontalizado pode ficar excluiacutedo do circuito e entatildeo dos beneficios da inforshymaccedilatildeo Assim se define o novo poder da sobrevivecircncia

E assim se pode explicar a reuniatildeo de paiacuteses em blocos regionais no

momento mesmo que a histoacuteria se despede da regiatildeo como modo de arrushymaccedilatildeo Quanto mais olhamos para o mapa contemporacircneo mais o que veshy

mos numa aparente contradiccedilatildeo com um mundo global~zado em rede eacute a multiplicaccedilatildeo de blocos regionais como a UE (lJniatildeo Europeacuteia) o Mercosul (Uniatildeo dos paiacuteses do Cone Sul da Ameacuterica do Sul) o Nafta (Uniatildeo dos paiacuteses da Ameacuterica do Norte) A regiatildeo ccedilontinua a existir poreacutem natildeo mais na forma e com o papei de antes Aspecto da contiguumlidade da rede a regiatildeo eacute hocirc]e o pEmo da horizontalidade de cada lugar Para entrarem em rede de

n10do organizado os paiacuteses lugarizam-se mediante a organizaccedilatildeo regional S6 d~pois saem em vocirco livre pela ver~icalidade da rede De modo que a regiatildeo virou o lugar da articulaccedilatildeo entre os paiacuteses visando ao concerto de estrateacutegias globais num mercado globatizado Daiacute parecerem usar de formas

passadas para entrar no mundo unificado em rede seja para segurar o tranco da competiccedilatildeo dos grandes (UE) reduzir margens de exclusatildeo herlthdas do

passado recente (Mercosul) ou evitar ocircnus de qUem desde o comeccedilo jaacute nasshyceu globalizado (Nafta)

Modos de estrateacutegia e natildeo modos geograacuteficos de ser eis em suma o

que hoje eacute a regiatildeo como categoria de organizaccedilatildeo das r~accedilotildees de espaccedilo Veiacuteculo de accedilatildeo de contemporaneidade e natildeo modo estrutural definir-se como eram nas realidades espaciais passadas o passado recente da di~isatildeo intershynacional industrial do trabalho De qualquer modo a regiatildeo eacute um dado de

uma estrateacutegia de accedilatildeo conjunta por hegemonias a pa~tir do plano da

horizontalidade Logiacutestica de integraccedilatildeo da confraria dos incluiacutedos da

verticalidade agraves vezes visando agrave exclusatildeo do oponente por enxugamento (de

custos de preccedilos de postos de trabalho) ou mlrginalizaccedilatildeo (de poder de intershy

ferecircncia de comunicar-se em puacuteblico etc) a regiatildeo reciclou-se diante do novo modo de fazer poliacutetica do espaccedilo em rede

1166

I I l

i I

I

I

011 REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGIIR

O que satildeo o espaccedilo e seus elementos estruturantes

Tornou~se vital para a geografia diante nova Tealidade clagraverifishy

car o cOl=eitoe o papei teoacuterico do espaccedilo geograacutefico Vejamos uma forma

de entendimento

Espaccedilo a coabitaccedilatildeo Olhando o mundo vecirc-se que eacute formado pela diversidade Povoa-o a

pluralidade vemos as aacutervores os animais as nuvens as rochas os homens A

diversidade do mundo eacute o que chama nossa atenccedilatildeo de imediato Na medida entretanto que experimentamos esta pluralidade no seu

conviacutevio mais iacutentimo vem-nos a noccedilatildeo de que junto com a diversidade haacute a unidade Uma interligaccedilatildeo invisiacutevel entre as diferentes coisas faz que a diversishydade acabe contraditoriamente se middotfundindo na unidade uacutenica de um 50 todo

A gr~~de perguntagrave a se fazer eacute oque leva tudo a ser diferente e ao mesmo tempo uma soacute unidade na realidade que nos cerca A resposta em

geografia relaciona-se com o ponto de referecircncia do olhar segundo o qual o homem observa e se localiza dentro desse mundo e a partir daiacute o vecirce unifica

(Novaes 1988 Buck-Morss 2002) E O ponto de referecircncia do olhar identi shyfica o mundo como uma grande coabitaccedilatildeo Uma relaccedilatildeo de coabitaccedilatildeo com ~nimais vegetais nuvens chuvas e o proacuteprio homem para o qual tudo se rehciona num viver entre si e em relaccedilatildeo a ele Assim o homem rlatildeo se vecirc

como urna figura isolada e inerte dentro dessa diversidade porque eacute coshypartiacutecipe Acoabiacutetaccedilatildeo cria o mundo como O espaccedilo do homem

o olhar espacial a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo e a extensatildeo Por forccedila da diversidade o homem que a observa a vecirc em primeiro

illgar corrto u~a localizaccedilatildeo de coisas na pais~gem Cada localizaccedilatildeo fala de um tipo de solo de vegetaccedilatildeo de relevo de vida humana Destarte a locashylizaccedilatildeo leva agrave distribuiccedilatildeo A distribuiccedilatildeo eacute o sistema de pontos da localizashyccedilatildeo Assim a distribuiccedilatildeo leva por sua vez agrave extensatildeo A extensatildeo eacute a reushy

niatildeo da diversidade das localizaccedilotildees em sua distribuiccedilatildeo no horizonte do

recorte do olhar E pela extensatildeo a diversidade vira a unidade na forma do

espaccedilo O espaccedilo eacute entatildeo a resposta da geografia agrave pergunta da unidade da

diversidade De modo que a coaacutebitaccedilatildeo que une a diversidade diante de

nossos olhos eacute a origem e a qualificaccedilatildeo do espaccedilo A coabitaccedilatildeo faz o

espaccedilo e o espaccedilo faz a coabitaccedilatildeo em resumo

1167

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

1681

Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

1169

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

1170

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

11711

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

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bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

11761

DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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Page 4: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGARPARA ONDE VAI O PENSAMENTO GEOGRAacuteFCO

de organizaccedilatildeo geograacutefica das sociedades montando a arquitetura das coneshy xocirces que d~o suporte agraves relaccedilotildees avanccediladas da middotproduccedil~o edo mercado Eacute quando junto agrave rede se descobre a globalizaccedilatildeo

A rede nacirco eacutepltirtanto um fenocircmeno novo Recente eacute o status teoacute~

rico que adquire (Dias 1995) Imaginemos o espaccedilo no passado quando cada civilizaccedilatildeo constituiacutea um territoacuterio organizado a partir de um limite especiacute-ticoe da centralidade de uma cidade principal De cada cidade parte uma rede de circulaccedilatildeo (transportes comunicaccedilotildees e energia) destinada a orientar as trocas entre as civilizaccedilotildees urnas com as outras a cidade exercen- do o papel de arrumadora organizadora e centralizadora dos territarios Teacutemos aiacute uma rede organizando o espaccedilo Mas natildeo um espaccedilo organizado em rede Podemos dizer que a rede eacute um dado da realidade empiacuterica todavia conceitualmente natildeo estamos diante de um espaccedilo organizado em rede Isto

-soacute vai acontecer recentement_e A trajetoacuteria da-rede modernaacute se ini~ia no Renasciinento como desen- shy

volvimento do tragravensporte mariacutetimo a grandes distacircncias e o dese-nvolvimento articulado dos transportes terrestres internamente e fluviais entre os continenshytes O desenvolvimento rede de tragravensportes estabelece uma conexatildeo que evolui e se acelera dei seacuteculo XVI ao XVIII quando entatildeo adveacutem a Revoluccedilatildeo Industrial e com ela a maacutequina a vapor o trem e o riavio moderno

A cidade eacute a grande beneficiaacuteria desse desenvolvimento dos meios de transporte e comunicaccedilatildeo trazidos pela revoluccedilatildeo industrial A cidade torna-se o middotponto de referecircncia de uma gama de conexotildees que recobre e vai deitar-se sobreacute o espaccedilo terrestre como um todo numa uacutenica rede Pode-se ateacute periodizar a histoacuteria das cidades a partir da histoacuteria da rede O seacuteculo XIX eacute o tempo de hegemonia das cidades portuaacuterias como Londres Hamburgo Nova York Rio de Janeiro O seacuteculo xx eacute o tempo da cidade da reccedile multimodal eaacutel que o aeroporto substitui o papeacutel ~nterior do porto Ateacute qiIe chegamos agrave cidade da

-redeyirtual de hoje E assim agrave sociedade em rede A caracteriacutestica da sociedade em rede eacute a mobilidade territorial E o

desenvolvimento da rede de circulaccedilatildeo inicia-se num movimento de desterritorializaccedilatildeo de homens de produtos e de objetos que ocorre em parashylelo agrave evoluccedilatildeo das cidades e das redes periodiacutezando o processo da montagem shye do desmonte do recorte da superfiacutecie terrestre em regiotildees e cuia referecircncia agrave eacutepoca eacute a reterritorializaccedilatildeo dos cultivares

Transportados pelos navios cultivares de diferentes lugares de origem se shydifundem e se misturam nos diferentes continentes formando com o tempo uma paisagem de culturas entrecruzadas na qual as regiotildees antigas natildeo se distinshy

11601

guein mais umas das outta pelos cultivos do trigo do cafe do arroz do milho

b1tata for~anecircioacute-se r~giotildees novas com essas cuJturas agora mundializadagraves Cada cultiva eacute descoIacuteagravedo do seu ambierite natural pagravera i~ l~cafiz~r-se em

outros contextos ~bientaIacutesacompanhando o desenvolvimeacutento das comunicashyccedilotildeese daS trocas E~tatildeo sobreaantiga paisage~ dos cultivares fundadora e constitutiva dos complexos alimentares de cada povo cada paisagem sendo arrushymada ao redor de uma cultura chave e agrave qual se juntam as demais culturas do complexo - como a paisagem dos arrozais do oriente asiaacutetico do trigo-centeio do ocidente europeu e do rnilhobatata dos altiplanos americanos - tatildeoacute bem analisadas por Max Sorre vai-se montando uma paisagem nova regional

Essa mudanccedila da arrumaccedilatildeo que ocorre no espaccedilo em todo o mundo

saindo de uma espacialidade baseada num complexo agriacutecola para uma outra apoiada numa arrumaccedilatildeo regional de cultivares vindos da migraccedilatildeo de plantas

_ e uuacutemais oriundos de outros cantos muda a cultura humana em cadapcwo pois o resultado eacute uma radicagravel troca de haacutebitos e regimes aliacutementaresalt~rahdo as relaccedilotildees ambientais os gostos e os costumes desses povos

O eixo-reitor desse rear~anjo eacute o desenvolvimento da divisatildeo in~ernashydonal do trabalho e das trocas em funccedilatildeo de cujos propoacutesitos _os pedaccedilos do

espaccedilo terrestre vatildeo se regionalizando por produto De modo que sobre a malha regional assim criada pode-seacute vislumbrar

o iniacutecio da atual globalizaccedilatildeo marcado pela escalada dos cultivares umaescashylada c~ltural Estabelece-se a partir daiacute uma intencional confusatildeo de termos embaacuteralhando Q conceito de culturas e -cultivares que explora o proacutep)Iacuteo fato da antiga imbricaccedilatildeo das culturas humanas enquadradil na -tradiccedilatildeo da paisashygem dos cultivares Agora cultivar vira cultura regionalizada como veiacuteculo da colonizaccedilatildeo E o cultivar morre dentro da cultura de modo a se fazer prevlleshycer por cultura a referecircncia cultural do colonizador natildeo mais a cultura dos cultivares das civilizaccedilotildees Um jogo ideoloacutegico que soacute nos dias de hoje vem agrave tona com a emergecircncia do discurso da biodiversidade interessado no resgate do conhecimento proacuteprio da cultura dos antigos cultivares para o fim de

implementar a cultura teacutecnica da engenharia geneacutetica Com a propagaccedilatildeo das teacutecnicas de transportes e comunicaccedilotildees proacuteprias

da segunda Revoluccedilatildeo Industrial - encarnadas no caminhatildeo no automoacutevel no aviatildeo no teleacutegrafo no telefone na televisatildeo ao lado das teacutecnicas de transshymissatildeo de energia - o movimento de regionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das trocas dessas culturas introduz a relaccedilatildeo em rede dissolvendo as fronteiras das regiotildees formadas pelas migraccedilotildees dos cultivares fechando um ciclo e inaugurando

uma nova fase de organizaccedilatildeo mundial dos espaccedilos

161

PAR ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGAR

Ateacute que o munqo eacute rec~iado na escala globalizada formada por uma mcorre num equiacutevoco igualmente Por isso contiguumlidade a condiccedilatildeo sem a

I a regiatildeo que seln ela natildeo se constitui perde o significa~io de antes O fatorede de conexotildees territoriais intensamente mais fortes O tecido espaciaJ se

t~r~a ~o mesmo te~po unoacute e diferenciado em ~ma soacute escala plaretirla eacute que intensidade e globa-lidade das iacutentdiacutegaccedil6es ainda mais aumentam a

O fato eacuteque o arraacutenjo espacial sofre uma profunda mutaccedilatildeo de

dade O sentido da rede mudou radicalmente Emuelou modo radical correspondentemente o conteuacutedo do conceito O conteuacutedo social da rede

torna-se mais expliacutecito E as relaccedilotildees entre os espaccediloS se adensam numa tal intensidade que densidade deixa de ser quantidade para adqlIacute~rir um sentido mais significativo de qualidade Cabe ao espaccedilo agora o sentiltlo da espessura a

densidade de populaccedilatildeo por exemplo pode ser baixa do pOlltO de vista da

quantidade mas alta do ponto de vista da rede de relaccedilotildees sociais que encarna Assim os campos se despovoam de populaccedilatildeo ficando poreacutem ao mesmo temshy

po ainda mais densos de relaccedilatildeo~ mercecirc do aumento das atividades da circulashy

middotccedilatildeoe trocas econocircmicas Com a organizaccedilatildeo em rede o ~sp~ccedilo fica simultaneamente mais fluiacute~

do uma vez que ao tornar livres a populaccedilatildeo e as coisas para o movimento territorial a relaccedilatildeo em rede elimina as barreiras abre para que as trocas sociais

e econocircmicas se desloquefTI de um para outro canto amplificando ao infiruto o que antes fizera com oscultiYares

Eacute entatildeo que as cidades seconvertem em noacutes de uma tra~~ Diante de

um espaccedilo transformacto numa grande rede de nodosidade a cidade vira um ponto fundamental da tarefa do espaccedilo de integrar lugares cada Vez mais arti shyculados em rede

Ao chegarmos aos dias de hoje em que a rede do computador eacute o dado teacutecnico constitutivo dos circuitos o espaccedilo em rede por fim se evidencia Entatildeo assim como sucede com a forma geral cada atributo claacutessico da geograshyfia ganha um outro sentido Em particular a distacircncia A distacircncia perde seu sentido fiacutesico diante do novo conteuacutedo social do espaccedilo Vira uma reagravelidade para o trem outra para o aviatildeo outra ainda para o automoacutevel sem falar do

telefone da moeda digital e da comunicaccedilatildeo pela internet uma rede para cada qual e o conjunto um complexo de redes

Deste modo quem como Paul Virilio diz que o tempo estaacute supriminshydo o espaccedilo externa uma ilusatildeo conceitual de vez que eacute o tempo que cada vez mais se converte em espaccedilo o espaccedilo do tecido social complexo - um comshy

plexo de complexos diria Sorre seguidamente mais espesso e denso E quem

como David Harvey afirma uma tese de compressatildeo do espaccedilo-tempo sem

considerar como Soja o ardil com que na moderruacutedade desde o Renascimento

a razatildeo subsumira o espaccedilo no tempo nsico daiacute o espaccedilo virar distacircncia -

1621

I mobilidade territorial maiacutesSe agiliza adiacutestacircncia entre os lugares e coisas mais

se encurta a espessura do tecido espacial mais seadensae o espaccedilo se

me no planeta Entatildeo espeacutecie de Satildeo Tomeacute das ciecircncias o geoacutegrafo declara

extiIacutelta a teoria do espaccedilo organizado em regiotildees singulares e de comparti shy

I mentos fechados e proclama realidade o espaccedilo em rede

I o lugar o novo olhar sobre oacute espaccedilo de siacutentese Ocupar um lugar no espaccedilo tornou-se assim o termo forte na nova

espacialidade Expressatildeo que indica a principalidade que na estrutura do espashyccedilo vai significar estar em Fruto da rede o lugar eacute o ponto de referecircncia da

iacutenclus~o-exclusatildeo dos entes na trama da nodosidade o que eacute o lugar Podemos compreendecirclo por dupla forma de

entendimento O como o ponto darede formada pela conjuminaccedilatildeo da horizontalidade e da verticalidade do cOllceito de Miacutelton Santos e o

como espaccedilo vivido e clarificado pela relaccedilatildeo de pertencimento do conceito de Yi-Fu Tuan

I

Para Milton Santos o lugar que a rede organiza em sua

arrumadora do territoacuterio eacute um agregado de relaccedilotildees ao mesmo tempo internas e externas Atuam aquacutei a contiguumlidade e a nodpsidaqe A contiguumlishydade eacute o plan-ci que integra as relaccedilotildees internas numa uacutenica unidade de espaccedilo Eacute a horizontalidad~ A nod~sdade eacute o plano que integra as relaccedilotildees externas com as relaccedilotildees internas da contiguumlidade Eacute a verticalidade Cada ponto local da superfiacutecie terrestre seraacute o resultado desse encontro entrecruzacto de horizontalidade e de verticalidade E eacute isso o lugar O

pressuposto eacute a rede globai Vecirc-se que a horizontalidade tem a ver C01~ a antiga noccedilatildeo de contiguumlidade Seu viacutenculo interno eacute a produccedilatildeo A as aacutereas de miacuteneraccedilatildeo e as aacutereas de agricultura que a ela se articula~ como fornecedoras de mateacuterias-primas e insumos alimentiacutecios todos elasI

I I pontos espaciais de interligaccedilatildeo local promovida pelo ato do interesse soshy

lidaacuterio da horizontalidade Cada atividade eacute parte de um todo orgatildenico local do ponto de vista da horizontalidade E nessa condiccedilatildeo entra como

especificidade no todo orgacircnico do lugar

Jaacute a verticalidade eacute a combinaccedilatildeo dos diferentes noacutes postos acima e aleacutem da horizontalidade Seu veiacuteculo eacute a circulaccedilatildeo circulaccedilatildeo de produtos

I mas sobretudo de informaccedilotildees E sua forma material eacute a trama da rede dos

I i

1163

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAtildeo Agrave REDE E AO LUGAR

transportes das co~unicaccedilotildees e meios de transmissatildeo de energia hoje a infovia conteuacutedo pela rede global da nodosidade e ao mesmo tempo pela necessidade qu~ leva aos diferentes plarios horizontais as coisasmiddot que lheyecircm de fora Daiacute do homem de (re)fazero sentido do espaccedilo ressi~ificahdoo como relaccedilatildeo que cagraveda lugar nasce diferente do outro dando ao todo da globalizaccedilatilde~ ~ I de ainbiecircncia ede pertencimento Dito de outro modo eacute o lugar qu~middotdaacute b tom cunhomiddot nitidamente fragmentaacuterio jaacute que o lugar sao todos os lugares Condishy

ccedilatildeo que leva Milton Santos a dizer que eacutemiddot o lugar que existe e natildeo o mundo de

vez que as coisas e as relaccedilotildees do mundo se organizam no lugar mundializando

o lugar e natildeo o mundo Eacute o lugar entatildeo o real agente sedimentador do processhy

so da inclusatildeo e da exclusatildeo Tudo dependendo de como se estabelecem as

correlaccedilotildees de forccedilas de seus componentes sociais dentro da conexatildeo em rede

Isto p~rque natureza e poder da forccedila vecircm dessa caracteriacutestica de ser a um soacute

tempo horizontalidade e verticalidade Por parte da ho~izontalidade porque

tudo depende da capacidade de aglutinaccedilatildeo dos elementos contiacuteguos Por parshy

te da verticaiidade da capacidade desses elementos aglutinantes se inserirem

~o fluxo vital das infQrmaccedilotildeesque satildeo o alime~to e a razatildeo mesma da rede (eacute rieste momento que a contiguumlidade pode servir ou desservir como base do

poder ao lugar) Para Yi-Fu Tuan lugar eacute o sentido do pertencimento a identidade

biograacutefica do homem com os elementos do seu espaccedilo vivido No lugar cada

objeto ou coisa tem uma histoacuteria que se confunde com a histoacuteria dos seus

habitantes assim compreendidos justamente por natildeo terem com a ambiecircncia

uma relaccedilatildeo de estrangeiros E reversivamente cada momento da histoacuteria de vida do homem estaacute contada e datada natrajetoacuteria ocorrida de cada coisa e

objeto homens eobjetos se identificando reciprocamente A globalizaccedilatildeo natildeo

extingue antes impotildee que se refaccedila o sentido do pertencimento em face da

nova forma que cria de espaccedilo vivido Cada vez mais os objetos e coisas da

ambiecircncia deixam de ter com o homem a relaccedilatildeo antiga do pertencimento os

objetos renovanc~o-se a cada momento e vindo de umil trajetoacuteria que eacute para o

homemcompletamente desconhecida a histoacuteria dos homens e das coisas que

formam o novo espaccedilo vivido natildeo contandomiddot uma mesma histoacuteria forccedilando o homem a reconstruir a cada instante umamiddot nova ambiecircncia que restabeleccedila o

sentido de pertencimento Podemos todavia entender que os conceitos de Santos e Tuan natildeo satildeo

dois conceitos distintos e excludentes de lugar Lugar como relaccedilatildeo nodal e

lugar como relaccedilatildeo de pertencimento podem ser vistos como dois acircngulos

distintos de olhar sobre o mesmo espaccedil~ do homem no tempo do mundo

globalizado Tanto O sentido nodal quantomiddot o sentido da vivecircncia estatildeo aiacute preshysentes mas distintos justamente pela diferenccedila do sentido Sentido de ver que

seja como for o lugar eacute hoje uma realidade determinada em sua forma e

11641

da diferenciaccedilatildeo do espaccedilo do homem - natildeo do capital - em nosso tempo

Com o lugar a contiguumlidade e a coabitaccedilatildeo categorias caractetiacutesticas

do espaccedilo em regiatildeo assim se renovam Ao mesmo tempo o lugar se reforccedila

com a permanecircncia da contiguumlidade como nexo interno do hOqJem com o

seu espaccedilo Categoria da horizontalidade a contiguumlidade permanece costushy

rando agora a centralidade do lugar como matriz organizadora do espaccedilo

porque eacute coabitaccedilatildeo e ambiecircncia Recria-se Ontem a contiguumlidady integrava

numa mesma regionalidade pessoas diferentes mas coabitantes do mesmo esshy

paccedilo Hoje ela eacute a condiccedilatildeo da acessibilidade dos mesmos coabitantes a este dado integrador-excluiacutedor do mumiddotndo globaliacutezado que eacute amiddot informaccedilatildeo

informatizada mesmo que natildeo habitem a mesma unidade de espaccedilo Importa que co~bitem a rede

o novo caraacuteter da poliacutetica

Mudam assim a natumiddotreza emiddot o modo middotde fazer poliacutetica Estar em rede

tornou-se o primeiro m~ndame)to Porque fazer poliacutetica passou a significar

construir um grande arco de alianccedilas para se organizar em rede Djz--se ocupar

um lugar no espaccedilo A corrida para incluir um lugar na rede a um soacute tempo hoJe aproxima

e afasta os homens Acirra as disputas pelo domiacutenio dos lugares e entre os

lugares Daiacute a valorizaccedilatildeo contemporacircnea do territoacuterio Lugares ou segmentos

de classes inteiros podem ser i~cluiacutedos ou ao contraacuterio excluiacutedos dos arranshy

jos espaciais a depender de como os interesses se aliem e organizem o acesso

do lugar agraves informaccedilotildees da rede E deste modo um caraacuteter novo aparece na

luta poliacutetica dentro e em decorrecircncia do que eacute o novo caraacuteter do espaccedilo

exigindo que se reinvente as formas de accedilatildeo Ateacute porque a rede eacute o auge do caraacuteter desigual-combinado do espaccedilo

Estar em rede tornou-se para as grandes empresas o mesmo que dizer estar em

lugar proeminente na trama da rede Para ela natildeo basta estar inserida O manshy

damento eacute dominar o lugar dominaacute-lo para dominar a rede E vice-versa

Antes de mais eacute preciso se estar inserido num lugar para se estar inserido na

geopoliacutetica da rede Uma vez localizado na rede pode-se daiacute puxar a informashy

ccedilatildeo disputar-se primazias e entatildeo jogar-se o jogo do poder Entretanto para que os interesses de hegemonia se concretizem eacute preciso co~ugar o segundo

mandamento eacute o controle da verticalidade que daacute o controle da rede

11651

PIIRII ONDE VIII O PENSIIMENTO GEOGRAacuteFCO

A informaccedilatildeo se torna a mateacuteria prima essencial do espaccedilo-rede Induacutesshy trias que poss~ agraves vezes ter dificuldade de obter mateacuteria prima oQtecircm-na facilshym~nte uma vez se vejam inseridas no cirquumltomiddot exclusivo ch informaccedilatildeo M~is que

seacute inseriracessar eacute a regra E assim de poder encontrarse em vantagem na

dianteira dos competidores Aeessa inf~rmaccedilotildees quem estaacute verbcalizado O fato eacute que a instancmeidade do tempo virouacute espaccedilo neste mundo organizado em rede E o vital eacute ser contemporacircneo insuacutentacircneo e do insuacutente Quem soacute estaacute horizontalizado pode ficar excluiacutedo do circuito e entatildeo dos beneficios da inforshymaccedilatildeo Assim se define o novo poder da sobrevivecircncia

E assim se pode explicar a reuniatildeo de paiacuteses em blocos regionais no

momento mesmo que a histoacuteria se despede da regiatildeo como modo de arrushymaccedilatildeo Quanto mais olhamos para o mapa contemporacircneo mais o que veshy

mos numa aparente contradiccedilatildeo com um mundo global~zado em rede eacute a multiplicaccedilatildeo de blocos regionais como a UE (lJniatildeo Europeacuteia) o Mercosul (Uniatildeo dos paiacuteses do Cone Sul da Ameacuterica do Sul) o Nafta (Uniatildeo dos paiacuteses da Ameacuterica do Norte) A regiatildeo ccedilontinua a existir poreacutem natildeo mais na forma e com o papei de antes Aspecto da contiguumlidade da rede a regiatildeo eacute hocirc]e o pEmo da horizontalidade de cada lugar Para entrarem em rede de

n10do organizado os paiacuteses lugarizam-se mediante a organizaccedilatildeo regional S6 d~pois saem em vocirco livre pela ver~icalidade da rede De modo que a regiatildeo virou o lugar da articulaccedilatildeo entre os paiacuteses visando ao concerto de estrateacutegias globais num mercado globatizado Daiacute parecerem usar de formas

passadas para entrar no mundo unificado em rede seja para segurar o tranco da competiccedilatildeo dos grandes (UE) reduzir margens de exclusatildeo herlthdas do

passado recente (Mercosul) ou evitar ocircnus de qUem desde o comeccedilo jaacute nasshyceu globalizado (Nafta)

Modos de estrateacutegia e natildeo modos geograacuteficos de ser eis em suma o

que hoje eacute a regiatildeo como categoria de organizaccedilatildeo das r~accedilotildees de espaccedilo Veiacuteculo de accedilatildeo de contemporaneidade e natildeo modo estrutural definir-se como eram nas realidades espaciais passadas o passado recente da di~isatildeo intershynacional industrial do trabalho De qualquer modo a regiatildeo eacute um dado de

uma estrateacutegia de accedilatildeo conjunta por hegemonias a pa~tir do plano da

horizontalidade Logiacutestica de integraccedilatildeo da confraria dos incluiacutedos da

verticalidade agraves vezes visando agrave exclusatildeo do oponente por enxugamento (de

custos de preccedilos de postos de trabalho) ou mlrginalizaccedilatildeo (de poder de intershy

ferecircncia de comunicar-se em puacuteblico etc) a regiatildeo reciclou-se diante do novo modo de fazer poliacutetica do espaccedilo em rede

1166

I I l

i I

I

I

011 REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGIIR

O que satildeo o espaccedilo e seus elementos estruturantes

Tornou~se vital para a geografia diante nova Tealidade clagraverifishy

car o cOl=eitoe o papei teoacuterico do espaccedilo geograacutefico Vejamos uma forma

de entendimento

Espaccedilo a coabitaccedilatildeo Olhando o mundo vecirc-se que eacute formado pela diversidade Povoa-o a

pluralidade vemos as aacutervores os animais as nuvens as rochas os homens A

diversidade do mundo eacute o que chama nossa atenccedilatildeo de imediato Na medida entretanto que experimentamos esta pluralidade no seu

conviacutevio mais iacutentimo vem-nos a noccedilatildeo de que junto com a diversidade haacute a unidade Uma interligaccedilatildeo invisiacutevel entre as diferentes coisas faz que a diversishydade acabe contraditoriamente se middotfundindo na unidade uacutenica de um 50 todo

A gr~~de perguntagrave a se fazer eacute oque leva tudo a ser diferente e ao mesmo tempo uma soacute unidade na realidade que nos cerca A resposta em

geografia relaciona-se com o ponto de referecircncia do olhar segundo o qual o homem observa e se localiza dentro desse mundo e a partir daiacute o vecirce unifica

(Novaes 1988 Buck-Morss 2002) E O ponto de referecircncia do olhar identi shyfica o mundo como uma grande coabitaccedilatildeo Uma relaccedilatildeo de coabitaccedilatildeo com ~nimais vegetais nuvens chuvas e o proacuteprio homem para o qual tudo se rehciona num viver entre si e em relaccedilatildeo a ele Assim o homem rlatildeo se vecirc

como urna figura isolada e inerte dentro dessa diversidade porque eacute coshypartiacutecipe Acoabiacutetaccedilatildeo cria o mundo como O espaccedilo do homem

o olhar espacial a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo e a extensatildeo Por forccedila da diversidade o homem que a observa a vecirc em primeiro

illgar corrto u~a localizaccedilatildeo de coisas na pais~gem Cada localizaccedilatildeo fala de um tipo de solo de vegetaccedilatildeo de relevo de vida humana Destarte a locashylizaccedilatildeo leva agrave distribuiccedilatildeo A distribuiccedilatildeo eacute o sistema de pontos da localizashyccedilatildeo Assim a distribuiccedilatildeo leva por sua vez agrave extensatildeo A extensatildeo eacute a reushy

niatildeo da diversidade das localizaccedilotildees em sua distribuiccedilatildeo no horizonte do

recorte do olhar E pela extensatildeo a diversidade vira a unidade na forma do

espaccedilo O espaccedilo eacute entatildeo a resposta da geografia agrave pergunta da unidade da

diversidade De modo que a coaacutebitaccedilatildeo que une a diversidade diante de

nossos olhos eacute a origem e a qualificaccedilatildeo do espaccedilo A coabitaccedilatildeo faz o

espaccedilo e o espaccedilo faz a coabitaccedilatildeo em resumo

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

1681

Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

1170

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

11711

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

11 72 1 11731

bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

1174

DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

11761

DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

177

Page 5: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

PAR ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAo Agrave REDE E AO LUGAR

Ateacute que o munqo eacute rec~iado na escala globalizada formada por uma mcorre num equiacutevoco igualmente Por isso contiguumlidade a condiccedilatildeo sem a

I a regiatildeo que seln ela natildeo se constitui perde o significa~io de antes O fatorede de conexotildees territoriais intensamente mais fortes O tecido espaciaJ se

t~r~a ~o mesmo te~po unoacute e diferenciado em ~ma soacute escala plaretirla eacute que intensidade e globa-lidade das iacutentdiacutegaccedil6es ainda mais aumentam a

O fato eacuteque o arraacutenjo espacial sofre uma profunda mutaccedilatildeo de

dade O sentido da rede mudou radicalmente Emuelou modo radical correspondentemente o conteuacutedo do conceito O conteuacutedo social da rede

torna-se mais expliacutecito E as relaccedilotildees entre os espaccediloS se adensam numa tal intensidade que densidade deixa de ser quantidade para adqlIacute~rir um sentido mais significativo de qualidade Cabe ao espaccedilo agora o sentiltlo da espessura a

densidade de populaccedilatildeo por exemplo pode ser baixa do pOlltO de vista da

quantidade mas alta do ponto de vista da rede de relaccedilotildees sociais que encarna Assim os campos se despovoam de populaccedilatildeo ficando poreacutem ao mesmo temshy

po ainda mais densos de relaccedilatildeo~ mercecirc do aumento das atividades da circulashy

middotccedilatildeoe trocas econocircmicas Com a organizaccedilatildeo em rede o ~sp~ccedilo fica simultaneamente mais fluiacute~

do uma vez que ao tornar livres a populaccedilatildeo e as coisas para o movimento territorial a relaccedilatildeo em rede elimina as barreiras abre para que as trocas sociais

e econocircmicas se desloquefTI de um para outro canto amplificando ao infiruto o que antes fizera com oscultiYares

Eacute entatildeo que as cidades seconvertem em noacutes de uma tra~~ Diante de

um espaccedilo transformacto numa grande rede de nodosidade a cidade vira um ponto fundamental da tarefa do espaccedilo de integrar lugares cada Vez mais arti shyculados em rede

Ao chegarmos aos dias de hoje em que a rede do computador eacute o dado teacutecnico constitutivo dos circuitos o espaccedilo em rede por fim se evidencia Entatildeo assim como sucede com a forma geral cada atributo claacutessico da geograshyfia ganha um outro sentido Em particular a distacircncia A distacircncia perde seu sentido fiacutesico diante do novo conteuacutedo social do espaccedilo Vira uma reagravelidade para o trem outra para o aviatildeo outra ainda para o automoacutevel sem falar do

telefone da moeda digital e da comunicaccedilatildeo pela internet uma rede para cada qual e o conjunto um complexo de redes

Deste modo quem como Paul Virilio diz que o tempo estaacute supriminshydo o espaccedilo externa uma ilusatildeo conceitual de vez que eacute o tempo que cada vez mais se converte em espaccedilo o espaccedilo do tecido social complexo - um comshy

plexo de complexos diria Sorre seguidamente mais espesso e denso E quem

como David Harvey afirma uma tese de compressatildeo do espaccedilo-tempo sem

considerar como Soja o ardil com que na moderruacutedade desde o Renascimento

a razatildeo subsumira o espaccedilo no tempo nsico daiacute o espaccedilo virar distacircncia -

1621

I mobilidade territorial maiacutesSe agiliza adiacutestacircncia entre os lugares e coisas mais

se encurta a espessura do tecido espacial mais seadensae o espaccedilo se

me no planeta Entatildeo espeacutecie de Satildeo Tomeacute das ciecircncias o geoacutegrafo declara

extiIacutelta a teoria do espaccedilo organizado em regiotildees singulares e de comparti shy

I mentos fechados e proclama realidade o espaccedilo em rede

I o lugar o novo olhar sobre oacute espaccedilo de siacutentese Ocupar um lugar no espaccedilo tornou-se assim o termo forte na nova

espacialidade Expressatildeo que indica a principalidade que na estrutura do espashyccedilo vai significar estar em Fruto da rede o lugar eacute o ponto de referecircncia da

iacutenclus~o-exclusatildeo dos entes na trama da nodosidade o que eacute o lugar Podemos compreendecirclo por dupla forma de

entendimento O como o ponto darede formada pela conjuminaccedilatildeo da horizontalidade e da verticalidade do cOllceito de Miacutelton Santos e o

como espaccedilo vivido e clarificado pela relaccedilatildeo de pertencimento do conceito de Yi-Fu Tuan

I

Para Milton Santos o lugar que a rede organiza em sua

arrumadora do territoacuterio eacute um agregado de relaccedilotildees ao mesmo tempo internas e externas Atuam aquacutei a contiguumlidade e a nodpsidaqe A contiguumlishydade eacute o plan-ci que integra as relaccedilotildees internas numa uacutenica unidade de espaccedilo Eacute a horizontalidad~ A nod~sdade eacute o plano que integra as relaccedilotildees externas com as relaccedilotildees internas da contiguumlidade Eacute a verticalidade Cada ponto local da superfiacutecie terrestre seraacute o resultado desse encontro entrecruzacto de horizontalidade e de verticalidade E eacute isso o lugar O

pressuposto eacute a rede globai Vecirc-se que a horizontalidade tem a ver C01~ a antiga noccedilatildeo de contiguumlidade Seu viacutenculo interno eacute a produccedilatildeo A as aacutereas de miacuteneraccedilatildeo e as aacutereas de agricultura que a ela se articula~ como fornecedoras de mateacuterias-primas e insumos alimentiacutecios todos elasI

I I pontos espaciais de interligaccedilatildeo local promovida pelo ato do interesse soshy

lidaacuterio da horizontalidade Cada atividade eacute parte de um todo orgatildenico local do ponto de vista da horizontalidade E nessa condiccedilatildeo entra como

especificidade no todo orgacircnico do lugar

Jaacute a verticalidade eacute a combinaccedilatildeo dos diferentes noacutes postos acima e aleacutem da horizontalidade Seu veiacuteculo eacute a circulaccedilatildeo circulaccedilatildeo de produtos

I mas sobretudo de informaccedilotildees E sua forma material eacute a trama da rede dos

I i

1163

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAtildeo Agrave REDE E AO LUGAR

transportes das co~unicaccedilotildees e meios de transmissatildeo de energia hoje a infovia conteuacutedo pela rede global da nodosidade e ao mesmo tempo pela necessidade qu~ leva aos diferentes plarios horizontais as coisasmiddot que lheyecircm de fora Daiacute do homem de (re)fazero sentido do espaccedilo ressi~ificahdoo como relaccedilatildeo que cagraveda lugar nasce diferente do outro dando ao todo da globalizaccedilatilde~ ~ I de ainbiecircncia ede pertencimento Dito de outro modo eacute o lugar qu~middotdaacute b tom cunhomiddot nitidamente fragmentaacuterio jaacute que o lugar sao todos os lugares Condishy

ccedilatildeo que leva Milton Santos a dizer que eacutemiddot o lugar que existe e natildeo o mundo de

vez que as coisas e as relaccedilotildees do mundo se organizam no lugar mundializando

o lugar e natildeo o mundo Eacute o lugar entatildeo o real agente sedimentador do processhy

so da inclusatildeo e da exclusatildeo Tudo dependendo de como se estabelecem as

correlaccedilotildees de forccedilas de seus componentes sociais dentro da conexatildeo em rede

Isto p~rque natureza e poder da forccedila vecircm dessa caracteriacutestica de ser a um soacute

tempo horizontalidade e verticalidade Por parte da ho~izontalidade porque

tudo depende da capacidade de aglutinaccedilatildeo dos elementos contiacuteguos Por parshy

te da verticaiidade da capacidade desses elementos aglutinantes se inserirem

~o fluxo vital das infQrmaccedilotildeesque satildeo o alime~to e a razatildeo mesma da rede (eacute rieste momento que a contiguumlidade pode servir ou desservir como base do

poder ao lugar) Para Yi-Fu Tuan lugar eacute o sentido do pertencimento a identidade

biograacutefica do homem com os elementos do seu espaccedilo vivido No lugar cada

objeto ou coisa tem uma histoacuteria que se confunde com a histoacuteria dos seus

habitantes assim compreendidos justamente por natildeo terem com a ambiecircncia

uma relaccedilatildeo de estrangeiros E reversivamente cada momento da histoacuteria de vida do homem estaacute contada e datada natrajetoacuteria ocorrida de cada coisa e

objeto homens eobjetos se identificando reciprocamente A globalizaccedilatildeo natildeo

extingue antes impotildee que se refaccedila o sentido do pertencimento em face da

nova forma que cria de espaccedilo vivido Cada vez mais os objetos e coisas da

ambiecircncia deixam de ter com o homem a relaccedilatildeo antiga do pertencimento os

objetos renovanc~o-se a cada momento e vindo de umil trajetoacuteria que eacute para o

homemcompletamente desconhecida a histoacuteria dos homens e das coisas que

formam o novo espaccedilo vivido natildeo contandomiddot uma mesma histoacuteria forccedilando o homem a reconstruir a cada instante umamiddot nova ambiecircncia que restabeleccedila o

sentido de pertencimento Podemos todavia entender que os conceitos de Santos e Tuan natildeo satildeo

dois conceitos distintos e excludentes de lugar Lugar como relaccedilatildeo nodal e

lugar como relaccedilatildeo de pertencimento podem ser vistos como dois acircngulos

distintos de olhar sobre o mesmo espaccedil~ do homem no tempo do mundo

globalizado Tanto O sentido nodal quantomiddot o sentido da vivecircncia estatildeo aiacute preshysentes mas distintos justamente pela diferenccedila do sentido Sentido de ver que

seja como for o lugar eacute hoje uma realidade determinada em sua forma e

11641

da diferenciaccedilatildeo do espaccedilo do homem - natildeo do capital - em nosso tempo

Com o lugar a contiguumlidade e a coabitaccedilatildeo categorias caractetiacutesticas

do espaccedilo em regiatildeo assim se renovam Ao mesmo tempo o lugar se reforccedila

com a permanecircncia da contiguumlidade como nexo interno do hOqJem com o

seu espaccedilo Categoria da horizontalidade a contiguumlidade permanece costushy

rando agora a centralidade do lugar como matriz organizadora do espaccedilo

porque eacute coabitaccedilatildeo e ambiecircncia Recria-se Ontem a contiguumlidady integrava

numa mesma regionalidade pessoas diferentes mas coabitantes do mesmo esshy

paccedilo Hoje ela eacute a condiccedilatildeo da acessibilidade dos mesmos coabitantes a este dado integrador-excluiacutedor do mumiddotndo globaliacutezado que eacute amiddot informaccedilatildeo

informatizada mesmo que natildeo habitem a mesma unidade de espaccedilo Importa que co~bitem a rede

o novo caraacuteter da poliacutetica

Mudam assim a natumiddotreza emiddot o modo middotde fazer poliacutetica Estar em rede

tornou-se o primeiro m~ndame)to Porque fazer poliacutetica passou a significar

construir um grande arco de alianccedilas para se organizar em rede Djz--se ocupar

um lugar no espaccedilo A corrida para incluir um lugar na rede a um soacute tempo hoJe aproxima

e afasta os homens Acirra as disputas pelo domiacutenio dos lugares e entre os

lugares Daiacute a valorizaccedilatildeo contemporacircnea do territoacuterio Lugares ou segmentos

de classes inteiros podem ser i~cluiacutedos ou ao contraacuterio excluiacutedos dos arranshy

jos espaciais a depender de como os interesses se aliem e organizem o acesso

do lugar agraves informaccedilotildees da rede E deste modo um caraacuteter novo aparece na

luta poliacutetica dentro e em decorrecircncia do que eacute o novo caraacuteter do espaccedilo

exigindo que se reinvente as formas de accedilatildeo Ateacute porque a rede eacute o auge do caraacuteter desigual-combinado do espaccedilo

Estar em rede tornou-se para as grandes empresas o mesmo que dizer estar em

lugar proeminente na trama da rede Para ela natildeo basta estar inserida O manshy

damento eacute dominar o lugar dominaacute-lo para dominar a rede E vice-versa

Antes de mais eacute preciso se estar inserido num lugar para se estar inserido na

geopoliacutetica da rede Uma vez localizado na rede pode-se daiacute puxar a informashy

ccedilatildeo disputar-se primazias e entatildeo jogar-se o jogo do poder Entretanto para que os interesses de hegemonia se concretizem eacute preciso co~ugar o segundo

mandamento eacute o controle da verticalidade que daacute o controle da rede

11651

PIIRII ONDE VIII O PENSIIMENTO GEOGRAacuteFCO

A informaccedilatildeo se torna a mateacuteria prima essencial do espaccedilo-rede Induacutesshy trias que poss~ agraves vezes ter dificuldade de obter mateacuteria prima oQtecircm-na facilshym~nte uma vez se vejam inseridas no cirquumltomiddot exclusivo ch informaccedilatildeo M~is que

seacute inseriracessar eacute a regra E assim de poder encontrarse em vantagem na

dianteira dos competidores Aeessa inf~rmaccedilotildees quem estaacute verbcalizado O fato eacute que a instancmeidade do tempo virouacute espaccedilo neste mundo organizado em rede E o vital eacute ser contemporacircneo insuacutentacircneo e do insuacutente Quem soacute estaacute horizontalizado pode ficar excluiacutedo do circuito e entatildeo dos beneficios da inforshymaccedilatildeo Assim se define o novo poder da sobrevivecircncia

E assim se pode explicar a reuniatildeo de paiacuteses em blocos regionais no

momento mesmo que a histoacuteria se despede da regiatildeo como modo de arrushymaccedilatildeo Quanto mais olhamos para o mapa contemporacircneo mais o que veshy

mos numa aparente contradiccedilatildeo com um mundo global~zado em rede eacute a multiplicaccedilatildeo de blocos regionais como a UE (lJniatildeo Europeacuteia) o Mercosul (Uniatildeo dos paiacuteses do Cone Sul da Ameacuterica do Sul) o Nafta (Uniatildeo dos paiacuteses da Ameacuterica do Norte) A regiatildeo ccedilontinua a existir poreacutem natildeo mais na forma e com o papei de antes Aspecto da contiguumlidade da rede a regiatildeo eacute hocirc]e o pEmo da horizontalidade de cada lugar Para entrarem em rede de

n10do organizado os paiacuteses lugarizam-se mediante a organizaccedilatildeo regional S6 d~pois saem em vocirco livre pela ver~icalidade da rede De modo que a regiatildeo virou o lugar da articulaccedilatildeo entre os paiacuteses visando ao concerto de estrateacutegias globais num mercado globatizado Daiacute parecerem usar de formas

passadas para entrar no mundo unificado em rede seja para segurar o tranco da competiccedilatildeo dos grandes (UE) reduzir margens de exclusatildeo herlthdas do

passado recente (Mercosul) ou evitar ocircnus de qUem desde o comeccedilo jaacute nasshyceu globalizado (Nafta)

Modos de estrateacutegia e natildeo modos geograacuteficos de ser eis em suma o

que hoje eacute a regiatildeo como categoria de organizaccedilatildeo das r~accedilotildees de espaccedilo Veiacuteculo de accedilatildeo de contemporaneidade e natildeo modo estrutural definir-se como eram nas realidades espaciais passadas o passado recente da di~isatildeo intershynacional industrial do trabalho De qualquer modo a regiatildeo eacute um dado de

uma estrateacutegia de accedilatildeo conjunta por hegemonias a pa~tir do plano da

horizontalidade Logiacutestica de integraccedilatildeo da confraria dos incluiacutedos da

verticalidade agraves vezes visando agrave exclusatildeo do oponente por enxugamento (de

custos de preccedilos de postos de trabalho) ou mlrginalizaccedilatildeo (de poder de intershy

ferecircncia de comunicar-se em puacuteblico etc) a regiatildeo reciclou-se diante do novo modo de fazer poliacutetica do espaccedilo em rede

1166

I I l

i I

I

I

011 REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGIIR

O que satildeo o espaccedilo e seus elementos estruturantes

Tornou~se vital para a geografia diante nova Tealidade clagraverifishy

car o cOl=eitoe o papei teoacuterico do espaccedilo geograacutefico Vejamos uma forma

de entendimento

Espaccedilo a coabitaccedilatildeo Olhando o mundo vecirc-se que eacute formado pela diversidade Povoa-o a

pluralidade vemos as aacutervores os animais as nuvens as rochas os homens A

diversidade do mundo eacute o que chama nossa atenccedilatildeo de imediato Na medida entretanto que experimentamos esta pluralidade no seu

conviacutevio mais iacutentimo vem-nos a noccedilatildeo de que junto com a diversidade haacute a unidade Uma interligaccedilatildeo invisiacutevel entre as diferentes coisas faz que a diversishydade acabe contraditoriamente se middotfundindo na unidade uacutenica de um 50 todo

A gr~~de perguntagrave a se fazer eacute oque leva tudo a ser diferente e ao mesmo tempo uma soacute unidade na realidade que nos cerca A resposta em

geografia relaciona-se com o ponto de referecircncia do olhar segundo o qual o homem observa e se localiza dentro desse mundo e a partir daiacute o vecirce unifica

(Novaes 1988 Buck-Morss 2002) E O ponto de referecircncia do olhar identi shyfica o mundo como uma grande coabitaccedilatildeo Uma relaccedilatildeo de coabitaccedilatildeo com ~nimais vegetais nuvens chuvas e o proacuteprio homem para o qual tudo se rehciona num viver entre si e em relaccedilatildeo a ele Assim o homem rlatildeo se vecirc

como urna figura isolada e inerte dentro dessa diversidade porque eacute coshypartiacutecipe Acoabiacutetaccedilatildeo cria o mundo como O espaccedilo do homem

o olhar espacial a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo e a extensatildeo Por forccedila da diversidade o homem que a observa a vecirc em primeiro

illgar corrto u~a localizaccedilatildeo de coisas na pais~gem Cada localizaccedilatildeo fala de um tipo de solo de vegetaccedilatildeo de relevo de vida humana Destarte a locashylizaccedilatildeo leva agrave distribuiccedilatildeo A distribuiccedilatildeo eacute o sistema de pontos da localizashyccedilatildeo Assim a distribuiccedilatildeo leva por sua vez agrave extensatildeo A extensatildeo eacute a reushy

niatildeo da diversidade das localizaccedilotildees em sua distribuiccedilatildeo no horizonte do

recorte do olhar E pela extensatildeo a diversidade vira a unidade na forma do

espaccedilo O espaccedilo eacute entatildeo a resposta da geografia agrave pergunta da unidade da

diversidade De modo que a coaacutebitaccedilatildeo que une a diversidade diante de

nossos olhos eacute a origem e a qualificaccedilatildeo do espaccedilo A coabitaccedilatildeo faz o

espaccedilo e o espaccedilo faz a coabitaccedilatildeo em resumo

1167

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

1681

Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

1169

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

1170

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

11711

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

11 72 1 11731

bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

1174

DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

11761

DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

177

Page 6: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO DA REGIAtildeo Agrave REDE E AO LUGAR

transportes das co~unicaccedilotildees e meios de transmissatildeo de energia hoje a infovia conteuacutedo pela rede global da nodosidade e ao mesmo tempo pela necessidade qu~ leva aos diferentes plarios horizontais as coisasmiddot que lheyecircm de fora Daiacute do homem de (re)fazero sentido do espaccedilo ressi~ificahdoo como relaccedilatildeo que cagraveda lugar nasce diferente do outro dando ao todo da globalizaccedilatilde~ ~ I de ainbiecircncia ede pertencimento Dito de outro modo eacute o lugar qu~middotdaacute b tom cunhomiddot nitidamente fragmentaacuterio jaacute que o lugar sao todos os lugares Condishy

ccedilatildeo que leva Milton Santos a dizer que eacutemiddot o lugar que existe e natildeo o mundo de

vez que as coisas e as relaccedilotildees do mundo se organizam no lugar mundializando

o lugar e natildeo o mundo Eacute o lugar entatildeo o real agente sedimentador do processhy

so da inclusatildeo e da exclusatildeo Tudo dependendo de como se estabelecem as

correlaccedilotildees de forccedilas de seus componentes sociais dentro da conexatildeo em rede

Isto p~rque natureza e poder da forccedila vecircm dessa caracteriacutestica de ser a um soacute

tempo horizontalidade e verticalidade Por parte da ho~izontalidade porque

tudo depende da capacidade de aglutinaccedilatildeo dos elementos contiacuteguos Por parshy

te da verticaiidade da capacidade desses elementos aglutinantes se inserirem

~o fluxo vital das infQrmaccedilotildeesque satildeo o alime~to e a razatildeo mesma da rede (eacute rieste momento que a contiguumlidade pode servir ou desservir como base do

poder ao lugar) Para Yi-Fu Tuan lugar eacute o sentido do pertencimento a identidade

biograacutefica do homem com os elementos do seu espaccedilo vivido No lugar cada

objeto ou coisa tem uma histoacuteria que se confunde com a histoacuteria dos seus

habitantes assim compreendidos justamente por natildeo terem com a ambiecircncia

uma relaccedilatildeo de estrangeiros E reversivamente cada momento da histoacuteria de vida do homem estaacute contada e datada natrajetoacuteria ocorrida de cada coisa e

objeto homens eobjetos se identificando reciprocamente A globalizaccedilatildeo natildeo

extingue antes impotildee que se refaccedila o sentido do pertencimento em face da

nova forma que cria de espaccedilo vivido Cada vez mais os objetos e coisas da

ambiecircncia deixam de ter com o homem a relaccedilatildeo antiga do pertencimento os

objetos renovanc~o-se a cada momento e vindo de umil trajetoacuteria que eacute para o

homemcompletamente desconhecida a histoacuteria dos homens e das coisas que

formam o novo espaccedilo vivido natildeo contandomiddot uma mesma histoacuteria forccedilando o homem a reconstruir a cada instante umamiddot nova ambiecircncia que restabeleccedila o

sentido de pertencimento Podemos todavia entender que os conceitos de Santos e Tuan natildeo satildeo

dois conceitos distintos e excludentes de lugar Lugar como relaccedilatildeo nodal e

lugar como relaccedilatildeo de pertencimento podem ser vistos como dois acircngulos

distintos de olhar sobre o mesmo espaccedil~ do homem no tempo do mundo

globalizado Tanto O sentido nodal quantomiddot o sentido da vivecircncia estatildeo aiacute preshysentes mas distintos justamente pela diferenccedila do sentido Sentido de ver que

seja como for o lugar eacute hoje uma realidade determinada em sua forma e

11641

da diferenciaccedilatildeo do espaccedilo do homem - natildeo do capital - em nosso tempo

Com o lugar a contiguumlidade e a coabitaccedilatildeo categorias caractetiacutesticas

do espaccedilo em regiatildeo assim se renovam Ao mesmo tempo o lugar se reforccedila

com a permanecircncia da contiguumlidade como nexo interno do hOqJem com o

seu espaccedilo Categoria da horizontalidade a contiguumlidade permanece costushy

rando agora a centralidade do lugar como matriz organizadora do espaccedilo

porque eacute coabitaccedilatildeo e ambiecircncia Recria-se Ontem a contiguumlidady integrava

numa mesma regionalidade pessoas diferentes mas coabitantes do mesmo esshy

paccedilo Hoje ela eacute a condiccedilatildeo da acessibilidade dos mesmos coabitantes a este dado integrador-excluiacutedor do mumiddotndo globaliacutezado que eacute amiddot informaccedilatildeo

informatizada mesmo que natildeo habitem a mesma unidade de espaccedilo Importa que co~bitem a rede

o novo caraacuteter da poliacutetica

Mudam assim a natumiddotreza emiddot o modo middotde fazer poliacutetica Estar em rede

tornou-se o primeiro m~ndame)to Porque fazer poliacutetica passou a significar

construir um grande arco de alianccedilas para se organizar em rede Djz--se ocupar

um lugar no espaccedilo A corrida para incluir um lugar na rede a um soacute tempo hoJe aproxima

e afasta os homens Acirra as disputas pelo domiacutenio dos lugares e entre os

lugares Daiacute a valorizaccedilatildeo contemporacircnea do territoacuterio Lugares ou segmentos

de classes inteiros podem ser i~cluiacutedos ou ao contraacuterio excluiacutedos dos arranshy

jos espaciais a depender de como os interesses se aliem e organizem o acesso

do lugar agraves informaccedilotildees da rede E deste modo um caraacuteter novo aparece na

luta poliacutetica dentro e em decorrecircncia do que eacute o novo caraacuteter do espaccedilo

exigindo que se reinvente as formas de accedilatildeo Ateacute porque a rede eacute o auge do caraacuteter desigual-combinado do espaccedilo

Estar em rede tornou-se para as grandes empresas o mesmo que dizer estar em

lugar proeminente na trama da rede Para ela natildeo basta estar inserida O manshy

damento eacute dominar o lugar dominaacute-lo para dominar a rede E vice-versa

Antes de mais eacute preciso se estar inserido num lugar para se estar inserido na

geopoliacutetica da rede Uma vez localizado na rede pode-se daiacute puxar a informashy

ccedilatildeo disputar-se primazias e entatildeo jogar-se o jogo do poder Entretanto para que os interesses de hegemonia se concretizem eacute preciso co~ugar o segundo

mandamento eacute o controle da verticalidade que daacute o controle da rede

11651

PIIRII ONDE VIII O PENSIIMENTO GEOGRAacuteFCO

A informaccedilatildeo se torna a mateacuteria prima essencial do espaccedilo-rede Induacutesshy trias que poss~ agraves vezes ter dificuldade de obter mateacuteria prima oQtecircm-na facilshym~nte uma vez se vejam inseridas no cirquumltomiddot exclusivo ch informaccedilatildeo M~is que

seacute inseriracessar eacute a regra E assim de poder encontrarse em vantagem na

dianteira dos competidores Aeessa inf~rmaccedilotildees quem estaacute verbcalizado O fato eacute que a instancmeidade do tempo virouacute espaccedilo neste mundo organizado em rede E o vital eacute ser contemporacircneo insuacutentacircneo e do insuacutente Quem soacute estaacute horizontalizado pode ficar excluiacutedo do circuito e entatildeo dos beneficios da inforshymaccedilatildeo Assim se define o novo poder da sobrevivecircncia

E assim se pode explicar a reuniatildeo de paiacuteses em blocos regionais no

momento mesmo que a histoacuteria se despede da regiatildeo como modo de arrushymaccedilatildeo Quanto mais olhamos para o mapa contemporacircneo mais o que veshy

mos numa aparente contradiccedilatildeo com um mundo global~zado em rede eacute a multiplicaccedilatildeo de blocos regionais como a UE (lJniatildeo Europeacuteia) o Mercosul (Uniatildeo dos paiacuteses do Cone Sul da Ameacuterica do Sul) o Nafta (Uniatildeo dos paiacuteses da Ameacuterica do Norte) A regiatildeo ccedilontinua a existir poreacutem natildeo mais na forma e com o papei de antes Aspecto da contiguumlidade da rede a regiatildeo eacute hocirc]e o pEmo da horizontalidade de cada lugar Para entrarem em rede de

n10do organizado os paiacuteses lugarizam-se mediante a organizaccedilatildeo regional S6 d~pois saem em vocirco livre pela ver~icalidade da rede De modo que a regiatildeo virou o lugar da articulaccedilatildeo entre os paiacuteses visando ao concerto de estrateacutegias globais num mercado globatizado Daiacute parecerem usar de formas

passadas para entrar no mundo unificado em rede seja para segurar o tranco da competiccedilatildeo dos grandes (UE) reduzir margens de exclusatildeo herlthdas do

passado recente (Mercosul) ou evitar ocircnus de qUem desde o comeccedilo jaacute nasshyceu globalizado (Nafta)

Modos de estrateacutegia e natildeo modos geograacuteficos de ser eis em suma o

que hoje eacute a regiatildeo como categoria de organizaccedilatildeo das r~accedilotildees de espaccedilo Veiacuteculo de accedilatildeo de contemporaneidade e natildeo modo estrutural definir-se como eram nas realidades espaciais passadas o passado recente da di~isatildeo intershynacional industrial do trabalho De qualquer modo a regiatildeo eacute um dado de

uma estrateacutegia de accedilatildeo conjunta por hegemonias a pa~tir do plano da

horizontalidade Logiacutestica de integraccedilatildeo da confraria dos incluiacutedos da

verticalidade agraves vezes visando agrave exclusatildeo do oponente por enxugamento (de

custos de preccedilos de postos de trabalho) ou mlrginalizaccedilatildeo (de poder de intershy

ferecircncia de comunicar-se em puacuteblico etc) a regiatildeo reciclou-se diante do novo modo de fazer poliacutetica do espaccedilo em rede

1166

I I l

i I

I

I

011 REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGIIR

O que satildeo o espaccedilo e seus elementos estruturantes

Tornou~se vital para a geografia diante nova Tealidade clagraverifishy

car o cOl=eitoe o papei teoacuterico do espaccedilo geograacutefico Vejamos uma forma

de entendimento

Espaccedilo a coabitaccedilatildeo Olhando o mundo vecirc-se que eacute formado pela diversidade Povoa-o a

pluralidade vemos as aacutervores os animais as nuvens as rochas os homens A

diversidade do mundo eacute o que chama nossa atenccedilatildeo de imediato Na medida entretanto que experimentamos esta pluralidade no seu

conviacutevio mais iacutentimo vem-nos a noccedilatildeo de que junto com a diversidade haacute a unidade Uma interligaccedilatildeo invisiacutevel entre as diferentes coisas faz que a diversishydade acabe contraditoriamente se middotfundindo na unidade uacutenica de um 50 todo

A gr~~de perguntagrave a se fazer eacute oque leva tudo a ser diferente e ao mesmo tempo uma soacute unidade na realidade que nos cerca A resposta em

geografia relaciona-se com o ponto de referecircncia do olhar segundo o qual o homem observa e se localiza dentro desse mundo e a partir daiacute o vecirce unifica

(Novaes 1988 Buck-Morss 2002) E O ponto de referecircncia do olhar identi shyfica o mundo como uma grande coabitaccedilatildeo Uma relaccedilatildeo de coabitaccedilatildeo com ~nimais vegetais nuvens chuvas e o proacuteprio homem para o qual tudo se rehciona num viver entre si e em relaccedilatildeo a ele Assim o homem rlatildeo se vecirc

como urna figura isolada e inerte dentro dessa diversidade porque eacute coshypartiacutecipe Acoabiacutetaccedilatildeo cria o mundo como O espaccedilo do homem

o olhar espacial a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo e a extensatildeo Por forccedila da diversidade o homem que a observa a vecirc em primeiro

illgar corrto u~a localizaccedilatildeo de coisas na pais~gem Cada localizaccedilatildeo fala de um tipo de solo de vegetaccedilatildeo de relevo de vida humana Destarte a locashylizaccedilatildeo leva agrave distribuiccedilatildeo A distribuiccedilatildeo eacute o sistema de pontos da localizashyccedilatildeo Assim a distribuiccedilatildeo leva por sua vez agrave extensatildeo A extensatildeo eacute a reushy

niatildeo da diversidade das localizaccedilotildees em sua distribuiccedilatildeo no horizonte do

recorte do olhar E pela extensatildeo a diversidade vira a unidade na forma do

espaccedilo O espaccedilo eacute entatildeo a resposta da geografia agrave pergunta da unidade da

diversidade De modo que a coaacutebitaccedilatildeo que une a diversidade diante de

nossos olhos eacute a origem e a qualificaccedilatildeo do espaccedilo A coabitaccedilatildeo faz o

espaccedilo e o espaccedilo faz a coabitaccedilatildeo em resumo

1167

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

1681

Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

1169

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

1170

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

11711

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

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bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

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DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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Page 7: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

PIIRII ONDE VIII O PENSIIMENTO GEOGRAacuteFCO

A informaccedilatildeo se torna a mateacuteria prima essencial do espaccedilo-rede Induacutesshy trias que poss~ agraves vezes ter dificuldade de obter mateacuteria prima oQtecircm-na facilshym~nte uma vez se vejam inseridas no cirquumltomiddot exclusivo ch informaccedilatildeo M~is que

seacute inseriracessar eacute a regra E assim de poder encontrarse em vantagem na

dianteira dos competidores Aeessa inf~rmaccedilotildees quem estaacute verbcalizado O fato eacute que a instancmeidade do tempo virouacute espaccedilo neste mundo organizado em rede E o vital eacute ser contemporacircneo insuacutentacircneo e do insuacutente Quem soacute estaacute horizontalizado pode ficar excluiacutedo do circuito e entatildeo dos beneficios da inforshymaccedilatildeo Assim se define o novo poder da sobrevivecircncia

E assim se pode explicar a reuniatildeo de paiacuteses em blocos regionais no

momento mesmo que a histoacuteria se despede da regiatildeo como modo de arrushymaccedilatildeo Quanto mais olhamos para o mapa contemporacircneo mais o que veshy

mos numa aparente contradiccedilatildeo com um mundo global~zado em rede eacute a multiplicaccedilatildeo de blocos regionais como a UE (lJniatildeo Europeacuteia) o Mercosul (Uniatildeo dos paiacuteses do Cone Sul da Ameacuterica do Sul) o Nafta (Uniatildeo dos paiacuteses da Ameacuterica do Norte) A regiatildeo ccedilontinua a existir poreacutem natildeo mais na forma e com o papei de antes Aspecto da contiguumlidade da rede a regiatildeo eacute hocirc]e o pEmo da horizontalidade de cada lugar Para entrarem em rede de

n10do organizado os paiacuteses lugarizam-se mediante a organizaccedilatildeo regional S6 d~pois saem em vocirco livre pela ver~icalidade da rede De modo que a regiatildeo virou o lugar da articulaccedilatildeo entre os paiacuteses visando ao concerto de estrateacutegias globais num mercado globatizado Daiacute parecerem usar de formas

passadas para entrar no mundo unificado em rede seja para segurar o tranco da competiccedilatildeo dos grandes (UE) reduzir margens de exclusatildeo herlthdas do

passado recente (Mercosul) ou evitar ocircnus de qUem desde o comeccedilo jaacute nasshyceu globalizado (Nafta)

Modos de estrateacutegia e natildeo modos geograacuteficos de ser eis em suma o

que hoje eacute a regiatildeo como categoria de organizaccedilatildeo das r~accedilotildees de espaccedilo Veiacuteculo de accedilatildeo de contemporaneidade e natildeo modo estrutural definir-se como eram nas realidades espaciais passadas o passado recente da di~isatildeo intershynacional industrial do trabalho De qualquer modo a regiatildeo eacute um dado de

uma estrateacutegia de accedilatildeo conjunta por hegemonias a pa~tir do plano da

horizontalidade Logiacutestica de integraccedilatildeo da confraria dos incluiacutedos da

verticalidade agraves vezes visando agrave exclusatildeo do oponente por enxugamento (de

custos de preccedilos de postos de trabalho) ou mlrginalizaccedilatildeo (de poder de intershy

ferecircncia de comunicar-se em puacuteblico etc) a regiatildeo reciclou-se diante do novo modo de fazer poliacutetica do espaccedilo em rede

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I I l

i I

I

I

011 REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGIIR

O que satildeo o espaccedilo e seus elementos estruturantes

Tornou~se vital para a geografia diante nova Tealidade clagraverifishy

car o cOl=eitoe o papei teoacuterico do espaccedilo geograacutefico Vejamos uma forma

de entendimento

Espaccedilo a coabitaccedilatildeo Olhando o mundo vecirc-se que eacute formado pela diversidade Povoa-o a

pluralidade vemos as aacutervores os animais as nuvens as rochas os homens A

diversidade do mundo eacute o que chama nossa atenccedilatildeo de imediato Na medida entretanto que experimentamos esta pluralidade no seu

conviacutevio mais iacutentimo vem-nos a noccedilatildeo de que junto com a diversidade haacute a unidade Uma interligaccedilatildeo invisiacutevel entre as diferentes coisas faz que a diversishydade acabe contraditoriamente se middotfundindo na unidade uacutenica de um 50 todo

A gr~~de perguntagrave a se fazer eacute oque leva tudo a ser diferente e ao mesmo tempo uma soacute unidade na realidade que nos cerca A resposta em

geografia relaciona-se com o ponto de referecircncia do olhar segundo o qual o homem observa e se localiza dentro desse mundo e a partir daiacute o vecirce unifica

(Novaes 1988 Buck-Morss 2002) E O ponto de referecircncia do olhar identi shyfica o mundo como uma grande coabitaccedilatildeo Uma relaccedilatildeo de coabitaccedilatildeo com ~nimais vegetais nuvens chuvas e o proacuteprio homem para o qual tudo se rehciona num viver entre si e em relaccedilatildeo a ele Assim o homem rlatildeo se vecirc

como urna figura isolada e inerte dentro dessa diversidade porque eacute coshypartiacutecipe Acoabiacutetaccedilatildeo cria o mundo como O espaccedilo do homem

o olhar espacial a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo e a extensatildeo Por forccedila da diversidade o homem que a observa a vecirc em primeiro

illgar corrto u~a localizaccedilatildeo de coisas na pais~gem Cada localizaccedilatildeo fala de um tipo de solo de vegetaccedilatildeo de relevo de vida humana Destarte a locashylizaccedilatildeo leva agrave distribuiccedilatildeo A distribuiccedilatildeo eacute o sistema de pontos da localizashyccedilatildeo Assim a distribuiccedilatildeo leva por sua vez agrave extensatildeo A extensatildeo eacute a reushy

niatildeo da diversidade das localizaccedilotildees em sua distribuiccedilatildeo no horizonte do

recorte do olhar E pela extensatildeo a diversidade vira a unidade na forma do

espaccedilo O espaccedilo eacute entatildeo a resposta da geografia agrave pergunta da unidade da

diversidade De modo que a coaacutebitaccedilatildeo que une a diversidade diante de

nossos olhos eacute a origem e a qualificaccedilatildeo do espaccedilo A coabitaccedilatildeo faz o

espaccedilo e o espaccedilo faz a coabitaccedilatildeo em resumo

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

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Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

11711

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

11 72 1 11731

bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

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DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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Page 8: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAgraveFICO DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

A ont~logia do espaccedilo o fio tenso entre a diferenccedila e a

A noccedil~o da unidade espaciagravel eacute co~plexade vez qUe eacute uma uUacuteidade de coritraacuterios o espaacuteccedilo reuacutene a siacutentese contraditoacuteria da coabiuacuteccedilatildeo - primeiro da localizaccedilatildeo e da distribuiccedilatildeo a seguir da diversidadeacute eda unidade e por fim da identidade e da diferenccedila- ese define como a coabitaCcedill9dos contraacuterios o conflito eis o ser do espaccedilo

Esclareccedilamos este ponto

O espaccedilo surge da extensatildeo da distribuiccedilatildeo dos pontos da localizaccedilatildeo Assim como muacuteltiplo e uno E o que vai determinar ocirc primado - se o muacuteltiplo ou o uno - na dialeacutetica da extensatildeo eacute a direccedilatildeo do foco do olhar (Arnheim 1990)

Se o olhar fixa o foco na localizaccedilatildeo um ponto impotildee-se aos demais e a localizaccedilatildeo arruma o plano da distribuiccedilatildeo por referecircncia nesse ponto Se o olhar abrange a diversidade da distribuiccedilatildeo a distribuiccedilatildeo arruma por igualo plano das localizaccedilotildees O olhar focado na localizaccedilatildeo dimensio~a a centralidade

O olhar focado na distribuiccedilatildeo dimensiona a alteridade A tensatildeo se firma

sODre essa base opondo a identidade e a diferenccedila A centralidade estabelece a identidade como o olhar da referecircncia A alteridade estabelece a diferenccedila

Desta forma o espaccedilo se clarifica como o fio tenso de um naipe de oposiccedilotildees em que a centralidade e a alteridade se contraditam a centralidade se afirma como o primado da identidade sobre a diferenccedila e a alteridade como I

I uma dialeacutetica da diferenccedila e da identidade Na centraliacutedade a identidade se (

firma pela supressatildeo da (a localizaccedilatildeo se impotildee agrave distribuiccedilatildeo diante do olhar) Na alteridade a diferenccedill coabita com a diferenccedila (a alteridade

reafirma a igual coabitaccedilatildeo da diversidade) a identidade sendo a diferenccedila

auto-realizada Em ambos os casos a tensatilde9 aPE~ce como o estatuto ontoloacutegico 10 espaccedilo (Moreira 2001 e 2006b)

A tradiccedilatildeo trabalha com a noccedilatildeo da unidade como o ser do espaccedilo por excelecircncia a tal ponto que eacute a ideacuteia da idenIacuteidade dita identidade espacial que estaacute mentalizada em noacutes como a ideacuteia de espaccedilo Seja o nome com que apareccedila - aacuterea

regiatildeo paiacutes ou continente - espaccedilo eacute isto natildeo a coabitaccedilatildeo dos contraacuterios a tensatildeo seminal a diversidade suprimida na unidade a diferenccedila tensionada no padratildeo da repeticcedilatildeo mecacircnicaidentidade Em suma o espaccedilo pontuado a partir da dialeacutetica do de dentro (Moreira 1999a)

o ser do espaccedilo a geogrcifiacircdade O espaccedilo surge da relaccedilatildeo de ambientalidade Isto eacute da relaccedilatildeo de

coabitaccedilatildeo que o homem estabelece com a diversidade da natureza E que o homem materializa como ambiecircncia dado seu forte sentido de pertencimento

1681

Este ato de pertenccedila identifica-se no enraizamento cultural que surge da idenshy tidade com o meio via o enraIacutezamento territoacuterial que tudo isto implica Podeshy mos ~otar este enraizilmerito quando mudamos de ~idade Na tiacircade nova

sentimo-nos inicialmente desidentificados e por ~sso desambientalizad05 res~

sentindonos da falta de uma ambiecircncia Soacute quando nos familiarizarrios com as casas o arruamento 0 fluxo do tracircnsitd um detalhe da paisagem sua localizashyccedilatildeo e distribuiccedilatildeo comccedil referecircncias deespaccedilo eacute que nos sentimos enraizados no novo agravembientc

A ambientalizaccedilatildeo eacute antes de tUacutedo uma pcixiacutes Nenhum homem se enshyraiacuteza cultural e territofialmente no mundo pela pura contemplaccedilatildeo A experishy

lCcedilLJld~dU da diversidalte eacute que faz o homem sentir-se no mundo e sentir o mundo como mundo-do-homem O enraizamento eacute um processo que se conshyfunde com o espaCcedilo percebido vivido simboacutelico e concebido e vice-versa porque eacute uma relaccedilatildeo metaboacutelica um dar-se e trazer o diverso para a coabitaccedilatildeo espacial do homem sem a q~al n10 haacute pertencimento ambiecircncia circuncLlncia ambiental mundanidade Este dar-se e trazer eacute o processo do trabagravelho

O trabalho eacute o ato do homem de ir agrave natureza e trazecirc-la para si Assim inicia-se a ambientalizaccedilatildeo (Moreira 2001) La Blache mostrou como ~ste processo estaacute na origem da coristituiccedilatildeo do hOmem desde as aacutereas laboratoacuterios (La Blache 1954) quando pela domesticaccedilatildeo e a seguir pela aclimataccedilatildeo o homem vai modificando a natureza e modificando-se a si mesmo Nessas aacutereas laboratoacuterios o homem inicia seu processo de hominizaccedilatildeo definido mediatilderite seu enraizamentocultural que vai saindo da relaltjatildeo metaboacutelica fruto da reIacuteashyccedilatildeo de ambientalizaccedilatildeo e do enraizamento territOlial que daiacute deriva As aacutereas laboratoacuterios localizam-se nas partes semi-aacuteridas e de relevo movimentado das encostas meacutedias das montanhas do longo trecho de condiccedilotildees naturais semeshylhantes cortado pelo paralelo de 40 graus de latitude norte Somente depois desse aprendizado desce o homem em gi-upos para as aacutereas anfiacutebias dos Vales feacuterteis dos grandes rios dessa faixa de aacuterea disposta do mediterracircneo europeu agraves portas do oriente asiaacutetico E entatildeo daacute iniacutecio agraves grandes civilizaccedilotildees da histoshyria Eacute pelo metabolismo do trabalho portamo que a coabitaccedilatildeo se estabelece o mundo aparece como construccedilatildeo do homem e o espaccedilo se clarifica como um campo simboacutelico com toda a sua riqueza de significados (Lefebvre 1983) Um significado que soacute pode ser para o homem Enquanto isto natildeo acontece a relaccedilatildeo homem-espaccedilo-mundo eacute uma dupliacutecidade do de dentro e do de fora ateacute que a troca metaboacutelica funde o homem e o mundo num mundo-doshy

homem (Moreira 2004b e 2004c) E eacute isto a geograficidacle

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

1170

DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

11 72 1 11731

bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

1174

DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

11761

DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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Page 9: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Atepresentaccedilatildeo e o olhar ~a geografia num cont~xto de ~spaccedil9 fluido

As tr~nsforinaccedilotildees que levam do espaccedilo middotde urriarranjo arrumdo em

matrizes regionais a um espaccedilo de um arrarijo aacuterrumado em rede levantam o

problemaacute da linguagem Isto se traduz no problema da representaccedilatildeo cartograacutefica significando

uma dificuldade adicional Mas eacute um esforccedilo necessaacuterio de vez que se trata de requalipcar o discurso geograacutefico no formato da linguagem que preserve sua

personalidade histoacuterica e decirc o passo seguinte que a ponha em consonacircncia

com a nova realidade Eacute disso que trataremos agora

A dupla forma e o problema da personalidade linguumliacutestica da geografia

Vimos que emboramiddotleia accedilomplel)a realidade mutante do mundo pela janela do espaccedilo com a vantagem de encontrar middotnamiddot paisagem o in~trtimento

privilegiado da leitura o geoacutegragravefo nem sempre tem sabido ser contemporacircneo do seu tempo A causa em boa parte estaacute na dificuldade da atualizaccedilatildeo da linguagem em sua dupla forma da Ii~guagem cOhceitual e da linguagem

cartogaacutefica a cada novo momento de enfrent~mentoacute do real Eacute fato que a linguagem geogcifica deixou de atualizar-se jaacute de um

tempo As expressotildees vocabuacutelares antigas perderam a ~tualidade diante dos novos conteuacutedos e as expressotildees novas foiagravem tiradas mais de outros campos de

saber que da sua proacutepria cvoluccedilatildeo histoacuterica Como isto aconteceu Haacute uma riliz de origem epistecircmica e outra de natureza metodoloacutegica

ambas com forte vieacutes institucionaL Satildeo trecircs geografias na praacutetica a se atualizar cada qual correndo habitualmente em paralelo agrave outra a geografia real realidade que existe fora de noacutes) a geografia teoacuterica (da leitura desse re~) e a geografia institucional (a dos meandros institucionais) Haacute uma reacutealidade exshy

terna a noacutes que eacute o fato de a humanidade existir sob uma forma concreta de organizaccedilatildeo espacial E haacute a r~presentaccedilatildeo dessa realidade capturada por meio de sua formulaccedilatildeo teoacuterica Isto estabelece na geografia uma diferenccedila entre realidade e conhecimento com agrave traduccedilatildeo dupla do real e do lido que nem sempre se relacionam numa consonacircncia Ainda existe poreacutem a geografia materializada institucionalmente e prisioneira do seu cotidiano

Natildeo eacute isto uma propriedade da geografia mas dos saberes uma vez ser

a ciecircncia uma forma de leitura do mundo real que usa como recurso proacuteprio o expediente das representaccedilotildees conceituais fazendo-o em ambientes forteshy

mente formalizados como as instituiccedilotildees de pesquisa e a universidade Se este

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E AO LUGAR

mumplU natildeo eacute uma exclusividade do saber geograacutefico haacute nele e ntreta nto a situaccedilatildeo especiacutefic do faacuteto de que raramente em sua histoacuteria estas trecircs geograshyfias coincidem raramente se encontrimiddotm r~ramenteacutese confundem

Adeacuteeada de 1950 eacute um raro momento de encontro Quando os geoacutegrafos

daquela deacutecada falam do mundo real a geografia teoacuterica o representa com uma precisatildeo suficiente para que as pessoas que os ouvem se sintam como se estivesshysem vendo o que falam natildeo sentindo propriamente diferenccedila entre o que oushyvem falar e o que vecircm Tal eacute o que se percebe nos textos de Pierre para

ficarmos num exemplo conhecido acerca dos espaccedilos agraacuterios ou dos espaccedilos industriais da Franccedila ou de qualquer outro contexto regional do mundo A geografia eacute um saber descritivo um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem e o faz numa tal correspondecircncia que as pessoas saem das aulas andam

espaccedilos do mundo e olhando estes espaccedilos se lembram das liccedilotildees do proshyfessor de geografia Era a vantagem de trabalhar com a paisagem

~atildeo eacute o que se daacute em nosso tempo Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organizaccedilatildeo dos espaccedilos se lembrem do seu professor de geografia Falta a identidade entre o que ele falou e o que

se estaacute vendo Por que isto aconteceu

Ofixo e Uma grande transformaccedilatildeo aconteceu primeiramente com as paisashy

gens Aquela mutaccedilatildeo lenta que ainda nos anos 1950 permitia ao middot)iCU~U

explicar o mundo com ela rapidainente diante da evoluccedilatildeo da teacutecnica e das formas de organizaccedilatildeo do espaccedilo E a paisagem tornou-se fluida

Eacute consenso no plano mais geralque a geografia lecirc o mundo por ~neio da paisagem A histoacuteria usa recursos mais abstratos Pode usar a paisagem mas natildeo depende dela A socioacutelogiacutea tambeacutem () geoacutegrafo entretanto natildeo vai adishy

ante sem o recurso da paisagem agrave sua frente Como decorrecircncia isto faz da linguagem da geografia uma linguagem

por essecircncia colada justamente a este seu dado real que eacute a paisagem geograacutefishy

ca Ora a transfiguraccedilatildeo do espaccedilo da regiatildeo no espaccedilo em rede caracteriacutestica de nosso tempo soacute lentamente vem sendo traduzida numa linguagem mais

contemporacircnea de paisagem A foi capturada pela mobilidade contiacutenua da TDR

(territorializaccedilatildeo-desterritorializaccedilatildeo-reterritorializaccedilatildeo) no dizer de Raffestiacuten

(1993) e eacute precisamente isso que contrariamente ao periacuteodo dos anos 1950

caracteriza o espaccedilo de nosso tempo

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

11 72 1 11731

bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

11761

DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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Page 10: Ruy Moreira-Para Onde Vai Pensamento Geografico

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

Haacute uma segunda componente nessa defasagem das geoshy

grafia~ o foco do olhar na localizaccedilatildeo oumiddotseja no fixo e natildeo no fluxo Hrunhes erisina~a que o espaccedilo eacute u~a alterri~ncia de cheio~ e v~iosE que a distribuishy

ccedilatildeo eacute re-distribuiccedilatildeo Segundo ele cheios e vazioacutes trocam de posiccedilatildeo entre Si

no andar do temporl~plOdoqlie o que hoje eacute vazio amanhatilde eacute cheio e o que hoje eacute cheio amanhatilde eacute vazio Sob a forma dessa bela metaacutefora Brunhes estaacute

dizendo que o espaccedilo tem um caraacuteter dinacircmico como numa tela de um fihne

no cinema E que devemos vecirc-lo por isso em seu movimento Significa porshytanto priorizar o olhar da distribuiccedilatildeo quando temos priorizado o olhar da

localizaccedilatildeo A apreensatildeo da dinacircmica de re-distribuiccedilatildeo soacute eacute possiacutevel com foco

no aspecto dinacircmico que eacute a distribuiccedilatildeo Natildeo foi entretanto esse modo de entender que prevaleceu l1il~ sim a

noccedilatildeo de que fazer geografia eacute localizar Toda a ecircnfase foi dada agravelocalizaccedilatildeo nos fazendo perder a percepccedilatildeo do movimento da redistribuiccedilatildeo da proacutepria localizaccedilatildeo Privilegiamos o olhar fixo porque em beneficio daafirmaccedil~oda centralidadeAfinal La Blache dizia que a geografia eacute a repetiyatildeo e a permashy

necircncia Contrariamente a Brunhes que sugere o olhar da re-distribuiccedilatildeo O olhar do espaacuteccedilo como movimento em que se amiddot fluidez

Natildeo se atentou para o quanto ltle revolucionaacuterio havia no pensamento de Brunhes Raros viram a necessidade de fundar a leitura geograacutefica na categoshyria do movimento como ele E optaram pela alternativa conservadora de calcaacuteshyla na categoria do imoacutevel Somente hoje quando nos damos conta da diferenccedila

percebemos o quanto o olhar do fluxo conteacutem de dinamicidade Por isso ao

falar de fixos e fluxos como categorias de apreensatildeo do movimento do espaccedilo

Milton Santos recria de maneira magniacutefica a teoria dos cheios e vazios de Brunhes

Foi inclusive a incongruecircncia do primado da categoria da lOcalizaccedilatildeo soshybre a categoria da distribuiccedilatildeo que natildeo nos ver a tempo o escIerosarnento

do conceitoample regiatildeo diante do ~spaccedilo em rede que estava se formando

o problema cartograacutefico da geo graphia E foi ela que igualmente natildeo nos permitiu ver o envelhecimento e

desatualizaccedilatildeo da velha cartografia Preparada para captar realidades pouco

mutaacuteveis essa cartografia se tornou inapropriada para representar a realidade

do espaccedilo fluido A geografia lecirc o mundo por meio da paisagem A cartografia eacute a linshy

guagem que representa a Este elo comum perdeu-se no tempo e natildeo por acaso ficaram ambas desatualizadas Natildeo houve atualizaccedilatildeo para uma e

para outra Ateacute porque a iniciativa estaacute com a geografia

DA REGIAtildeO Atilde REDE E AO LUGAR

Vejamos por _ Paisagem eacute forma Forma eacute forma do conteuacutedo Mudando o conteuacutedo

muda tambeacute~ a forma EmbOTaacute a formt ~~mpre mllde mais lentanieacutente aacute mudanccedila de conteuacutedo soacute pode ser realizada se a formr o acompanh~ em seu movimento Haacute uma contradiccedilatildeo nos ritmos de mudanccedila entre a forma e o

conteuacutedo que deixada entregue agrave sua espontaneidade o conteuacutedo vai para

frente e a forma fica para traacutes A contradiccedilatildeo se resolve pela aceleraccedilatildeo da

mudanccedila da forma Eacute onde entra a funccedilatildeo da geografia PrimeilO eacute preciso saber ler essa

dialeacutetica E em segundo lugar eacute preciso poder representaacute-Ia com a maacutexima fidelidade possiacutevel A primeira exigecircncia eacute atendida com a linguagem do conshyceito A segunda com a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica A finalidade eacute mexer na forma de modo a compatibilizaacute-Ia com a contemporaneidade do conteuacutedo E isto em caraacuteterpermanenteA cartografia i~strumenta esse poder Mas antes a geografia deve atualizaacute-la riessaacutefunccedilatildeomiddotmiddotmiddot

A perda da correlaccedilatildeo exatamente foi isto o que aconteceuCentrada

no enfoque estaacutetico da localizaccedilatildeo dos fenocircmenosa geografia fixoua cartoshynesse campo Escapou-lhe poreacutem o moacutementodo desencontro deacute um

lado entre a forma e o conteuacutedo e de Qutro eiuacutere a paisagem e arealiacutedade mutante Assim natildeo renovou sua linguagem conceitual E ficou impossibilitashyda demiddot orientar a renovaccedilatildeo da linguagem representacional da cartografia A

correlaccedilatildeo geografia-cartografia natildeo se deuacuteA geografia teoacuterica perdeu o passo

da geografi~ real de uma forma abisrna1 Transportou entatildeo este mal para o

campo da cartoacutegragravefia Eacute quando se evidenciam as duas razotildees da defagravesagem a metodoloacutegica

isto eacute o fato de a geografia ler o mundo por meio de um recursO que se defasa I continuamente e a epistemoloacutegica ou seja a natureza atamente mutante da teacutecnica da representaccedilatildeo em nossa era industrial O prolgtlema metodoloacutegico

logo se sobrepotildee ao problema epistemoloacutegico (Moreira 1994)

Os lugares da recuperaccedilatildeo Num lugar todavia o uso da correlaccedilatildeo guardou um pouco do seu

frescor a escola Isto embora a linguagem do conceito tenha evoluiacutedo e a linguagem da representaccedilatildeo cartograacutefica tenha se estagnado a segunda aumenshy

tando ajaacute forte defasagem em relaccedilatildeo agraves formas reais do espaccedilo que representa

O fato eacute que na escola o mapa eacute ainda o siacutembolo e a forma de gem reconhecida da geografia E por isto mesmo os programas escolares coshymeccedilam com as noccedilotildees e expressotildees vocabulares da representaccedilatildeo cartograacutefica

11 72 1 11731

bullbull

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

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DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

A leitura do mundo ~e faz por intermeacutedio das categorias da loeacutealizaccedilatildeo e da

d1stribuacuteiccedilatildeo mesmo que com o problemaacute do primado da primeira sobre a segunda agraves caccedilegQrias d~ distribuiccedilatildeo eacute da extensatildeo enqand6 para o fim da

montagem do discurso do ge~graacute~cQ como a unidade espacial dos fenocircmeshynos Ai ainda aprendemos o ritual banal do trabalho geograacutefico localizando-se e distribuindo-se eacute quecirc se mapeia o mundo E q~e todo trabalho geograacutefico consiste na sequumlecircnciaacute claacutessica primeiro localiza-se o fenocircmeno depois monshyta-se a rede da sua distribuiccedilatildeo a seguir demarca-se a extensatildeo por fim transshyporta-se a leitura para a sua representaccedilatildeo cartograacutefiCl Mas tudo sendo verbalizado ainda na linguagem do mapa

O mapa eacute o repertoacuterio mais conspiacutecuo do vocabulaacuterio geograacutefico E trata-se da melhor representaccedilatildeo do olhar geograacutefico O mapa eacute a proacutepria expressatildeo da verdade de que todo fenocircmeno obedece ao princiacutepio de organishylar-se no espaccedil~Todo estudo ambiental por exemplo eacute o esccediludo de como a cadeia dosferlocircmenosirruma se~ eacuteneacuteadeamento na dimensatildeo do ordenamento territorial um fato que comeCcedila na localizaccedilatildeo segue--se na distribuiccedilatildeo e cuacutelshymina na extensatildeo por meio da qual se classifica como um ecossistema Do contraacuterio natildeo haveria como O mesmo acontece com oestudo de uma cidade da vida do campo da interaccedilatildeo de montante e jusante da induacutestria dos fluxos de redistribuiccedilatildeo das formas de elevo da do desenho das bacias fluviais e das articulaccedilotildees do mercado Eis Iorque o historiador trabalha com mapa sem que tenha de ser geoacutegrafo Tambeacutem o socioacutel()go E igualmente o bioacutelogo Todqs mas neeacuteessariamente o geoacutegrafo O mapa eacute o fiel da sua iden- tiacutedade Todo professor secundaacuterloacute sabe disso E o manteacutem e reforccedila

Eacute preciso poisreinventar a linguagem cartograacutefica como representashyccedilatildeo da realidade geograacutefica E reiterar o pressuposto de a linguagem cartograacutefica s~r a expressatildeo da linguagem conceitual da geografia olhand~ a legenda dos mapas signos e realidade do espaccedilo geograacutefico veshymos formas de tipos de clima densidade de populaccedilatildeo tipos de bacia hidrograacutefica formas de cidade nuacutecleos migratoacuterios coisas da paisagem que simplesmente transportamos mediante uma linguagem proacutepria para o papeL De modo que as nervuras do mapa satildeo as categorias mais elementares do espaccedilo a localizaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a extensatildeo a latitude a longitude a disshytacircncia e a escala palavras do fazer geograacutefico

O reencontro das linguagens eacute assim o pressupostO epistemoloacutegico da soluccedilatildeo do problema da geografia Pelo menos por duas razotildees Primeira a geografia afastou-se fortemente da linguagem cartograacutefica agravando o afastashymento entre a geografia teoacuterica e a geografia reaL Segunda a linguagem

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DA REGIAtildeO Agrave REDE E 110 LUGAR

cartograacutefica que usamos estaacute desatualizadajaacute nenhuma relaccedilatildeo mantendo com a realidade espacial contemporacircnea

A s~luccedilatildeo supotildee~ todavia tracirczer a cartografia para o seio da geografia A ~middotVCQ~Q fic~u c0l1 o conteuacutedo e perdeu a forma~ E 1 cartografia levou a fonna eficou sem conteuacutedo Nessa divisatildeo de trabalho reciprocamente alienante e estranha a cartogragravefia virou umaacute forma sem conteuacutedo e a geografia um conteuacutedo sem forma Diante de um espaccedilo de formas de paisagens cada vez mais fluidas a accedilatildeo teoacuterica da geografia natildeo poderia dar senatildeo numa pletora de desencontros desencontro da geografia e da cart~grafia frente ao desencontro da forma-paisagem com o conteuacutedo-espaccedilo Faltou aiacute uma teoria da imagem num tempo de espaccedilos fluidos

Dacartogr4fia cartograacutefica agrave cartografia geograacutefica Reinventagraver a cartografia hoje eacute portanto criar uma cartografia geoshy

graacutefica Afinal o que estaacute velho satildeo os e significados guardados no mapa A velhagrave cartografia fala ainda a linguage1n das medidas matemaacuteticas

que longe estatildeo de serem o enunciado de alguacutem significado As cores e os siacutembolos nada dizem Eacute uma cartografia cuja utiliacutedade estaacute preservad~ para alguns niacuteveis mas pouco serve para os niacuteveis de significaccedilatildeo Permanece funshydamental agrave leitura geograacutefica das localizaccedilotildees exatas mas natildeo para a leitura do espaccedilo dinacircmico das redistribuiccedilotildees de espaccedilos fluidos Serve para representar e descobrir significados dos espaccedilos dos anos 1950 Contudo natildeo tem serventia para ler os espaccedilos de um novo milecircnio Eacute uma cartografia ainda necessaacuteria todavia natildeo mais suficiente

No entanto os paracircmetros de uma cartografia jaacute estatildeo posshytos estatildeo presentes na linguagem semioloacutegica das novas paisagens Mapear o mundo eantes de tudo adequar o mapa agrave essecircncia ontoloacutegica do espaccedilo Reshypresentar sua tensatildeo interna Revelar os sentidos da coabitaccedilatildeo do diverso Falar espacialmente da sociedade a partir da sua terisatildeo dialeacutetica Mas tudo eacute impossiacutevel repita-se sem uma semiologia da imagem

Para uma cartografia ecprilflca A geograficidade eacute o que no fundo a geografia claacutessica de Ritter e

Humboldt busca apreender representar e assim por intermeacutedio da geografia clarificar como praacutetica consciente do homem A grande limitaccedilatildeo da cartograshyfia corrente mesmo a semiologia graacutefica eacute a linguagem que leve a isto Uma alternativa foi aberta por Lacoste com o conceito de espacialidade difeshy

um conceito muito proacuteximo da visatildeo coro loacutegica e da individualidade

1175 i

PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

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DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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PARA ONDE VAIO PENSAMENTO GEOGRAacuteFICO

regional de e Qa formulaccedilatildeo muito proacutexima tambeacutem do conceito de diferenciaccedilatildeo deaacuterea de Hettnercom a vantagem de yir como uma proposta

d~ escala destarte a ca~nho decirc ~ma linguagem da geograficid~d~ Conceishyta por sinal com que Lacoste aleacutem de Oardel trabalha

A espaacutecialidade diferencial articula porccedilotildees de espaccedilo semelhantemente aos recortes ritterianosque Lacoste designa por conjuntos espaci~middotisCada fenocircmeno forma um conjuntoacute espacial em seu recorte Haacute um conjuntoespashycial clima solo populaccedilatildeo agropecuaacuteria cidade etc O limite territorial de cada conjunto numa aacuterea de recorte COmum natildeo coincide normalniente uns sendo mais extensos e outros mais restritos formando-se um vU1IJ1CXV

entrecruzamento nessa superposiccedilatildeo que eacute a mateacuteria-prima da diferencial A paisagem depende assim do acircngulo do olhar de quem olha que toma um dos conjuntos como referecircncia do olhar e vecirc em cia a paisagem pelo olhar de Comoem um holograma Daiacute que cada conjuilto espacial resulta numa forma de paisagem cada qual servindo como niacutevel de e niacutevel

Cada complexo de faz interligaccedilatildeo com os complexos vizishynhos mediante a contiacutenuidade-descontinuidadede cada um e de todos os

a espacialidade diferencial para o todo da supershyfiacutecie terrestre numa de entrecruzamentos quelembra o conceito de

diferenciaccedilatildeo de aacutereas de Hettner visto poreacutem no formato do complexo de complexos de Sorre - a terrestre se organizando como um todo combinado de continuidade edescontiacutenuiacutedade faz dela mais que um simples mosaico de paisagens e algo muito distanciado conceitualmente de urna seshyquumlecircncia horizontal de regiotildees diferentes e singulares

Lacoste expressa certament~ a influecircncia do relativismo de Einstein nessa atribuiccedilatildeo do conceito de paisagem e de superfiacutecie terrestre ao movishy

mento do olhar E lembra oacute conceito de espaccedilo de Lefebvre (1981 e nessa combinaccedilatildeo de espaccedilo e representaccedilatildeo que acaba por ser o conceito de espacial idade diferenciaL

Aleacutem disso retira o conceito de escala do entendimento puramente matemaacutetico da cartografia cartesiana tradicional e o remete a uma concepccedilatildeo qualitativa (sem dispensar a abordagem quantitativa) guagem da cartografia a partir da da linguagelll nova semiologiaAssim o espaccedilo bem pode ser um todo de relaccedilotildees entrecruzadas cada porccedilatildeo espacial - o territoacuterio se identificando por uma espessura de densidade de relaccedilotildees diferente umas com um teciacutedo espacial mais espesso e outras mais modestas inovando o conceito de habitat ecuacutemeno siacutetio

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DA REGIAtildeO Aacute REDE E AO LUGAR

entre outros da geografia claacutessica por tabela sem contar com pJisagem e daimagem como conceitos aacute partir da teoria que decirc conta de cadamiddot uma delas na hora de virarem discurso de representaccedilatildeo

Abre entatildeo para a possibilidade de iIf~~uzir esSe novo vieacutes calctOgt2lhcCi a cartograJJa de um espaccedilo visto como Uma semiologia de reagravel - compreender o espaccedilo como modo de existecircncia do homem incluindoo como um elemeacutento essencial de sua ontologia e permitir ao homem mais do que estar

ver e pensar o espaccedilo como seu modo de ser

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