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Só a força do povo pode mudar o Brasil Este trabalho - Projeto Brasil 94 - é um esforço de atualização dos documentos fundamentais do Partido Democrático Trabalhista representados pela Carta de Lisboa, pela Carta de Mendes e pelo Programa do Partido. Cerca de duzentas teses apresentadas na primeira etapa do III Congresso do PDT (Rio de Janeiro, 6 a 8 de dezembro de 1991) foram analisadas e organizadas em um texto preliminar pelo jornalista José Augusto Ribeiro. Foram realizados cinco encontros nacionais intermediários que contribuíram com novas recomendações, resultando em mais de 20 mil páginas de teses, relatórios e proposições. Em junho deste ano a Comissão Executiva do Diretório Nacional designou uma comissão especial para examinar os documentos mencionados e para os atualizar a partir de novas contribuições de numerosos companheiros e companheiras militantes do PDT de todo o país. A comissão especial foi presidida pelo companheiro Hésio Cordeiro, reitor da Universidade do Rio de Janeiro, e coordenada por Nelton Friedrich, presidente do Instituto Alberto Pasqualini. Participaram desta comissão os seguintes companheiros: Teodoro Buarque de Hollanda, Wilson Fadul, José Augusto Ribeiro, José do Vale Pinheiro Feitosa, Maria Alice Machado de Carvalho, Dulce Tupy Caldas e João Soares Brandão. As contribuições recebidas durante o funcionamento da comissão foram discutidas e incorporadas à análise das teses. Daí resultou a sistematização das propostas de âmbito nacional que foram debatidas na fase final do III Congresso, dando origem a emendas, alterações parciais, moções e recomendações. O documento que a direção partidária ora divulga é o produto desta fase final do Congresso e fruto da contribuição de cerca de 9.500 militantes que aí participaram. Incluímos o texto debatido com as alterações aprovadas e, quando foi o caso, incorporamos em anexo ao documento, novas contribuições levadas a apreciação das comissões que se reuniram nesta fase final. Este documento é, portanto, a expressão das propostas do PDT para a construção de um projeto nacional. Deve, agora, ser a base de novas discussões regionais e por temas para detalhar projetos mais específicos que sirvam de inspiração para as lutas partidárias que se aproximam, tanto em relação aos riscos de retrocessos com a inoportuna revisão constitucional quanto em relação às eleições do próximo ano. Nossas propostas serão debatidas, neste movimento, com os diversos segmentos da sociedade brasileira, ajudando a forjar as alianças políticas capazes de viabilizar a construção da Nação e a defesa de nossa soberania. O PDT e Leonel Brizola reafirmam: só a força do povo pode mudar o Brasil. Rio de Janeiro, agosto de 1994 Neiva Moreira Vice-Presidente do PDT Compromissos prioritários do PDT Síntese dos compromissos prioritários constantes no Programa do Partido. O primeiro compromisso é com as crianças e jovens de nosso país. Assistir desde o ventre materno, alimentar, escolarizar, acolher e educar todas as crianças do nosso país, com igualdade de oportunidade para todos. Fuente:http://www.pdt.org.br/partido/programa.htm (Consulta:09/15/2006 )

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Só a força do povo pode mudar o Brasil

Este trabalho - Projeto Brasil 94 - é um esforço de atualização dos documentos fundamentais do Partido Democrático Trabalhista representados pela Carta de Lisboa, pela Carta de Mendes

e pelo Programa do Partido.

Cerca de duzentas teses apresentadas na primeira etapa do III Congresso do PDT (Rio de Janeiro, 6 a 8 de dezembro de 1991) foram analisadas e organizadas em um texto preliminar

pelo jornalista José Augusto Ribeiro. Foram realizados cinco encontros nacionais intermediários que contribuíram com novas recomendações, resultando em mais de 20 mil páginas de teses, relatórios e proposições. Em junho deste ano a Comissão Executiva do

Diretório Nacional designou uma comissão especial para examinar os documentos mencionados e para os atualizar a partir de novas contribuições de numerosos companheiros e

companheiras militantes do PDT de todo o país.

A comissão especial foi presidida pelo companheiro Hésio Cordeiro, reitor da Universidade do Rio de Janeiro, e coordenada por Nelton Friedrich, presidente do Instituto Alberto Pasqualini.

Participaram desta comissão os seguintes companheiros: Teodoro Buarque de Hollanda, Wilson Fadul, José Augusto Ribeiro, José do Vale Pinheiro Feitosa, Maria Alice Machado de

Carvalho, Dulce Tupy Caldas e João Soares Brandão.

As contribuições recebidas durante o funcionamento da comissão foram discutidas e incorporadas à análise das teses. Daí resultou a sistematização das propostas de âmbito nacional que foram debatidas na fase final do III Congresso, dando origem a emendas,

alterações parciais, moções e recomendações.

O documento que a direção partidária ora divulga é o produto desta fase final do Congresso e fruto da contribuição de cerca de 9.500 militantes que aí participaram.

Incluímos o texto debatido com as alterações aprovadas e, quando foi o caso, incorporamos em anexo ao documento, novas contribuições levadas a apreciação das comissões que se

reuniram nesta fase final.

Este documento é, portanto, a expressão das propostas do PDT para a construção de um projeto nacional. Deve, agora, ser a base de novas discussões regionais e por temas para

detalhar projetos mais específicos que sirvam de inspiração para as lutas partidárias que se aproximam, tanto em relação aos riscos de retrocessos com a inoportuna revisão constitucional

quanto em relação às eleições do próximo ano.

Nossas propostas serão debatidas, neste movimento, com os diversos segmentos da sociedade brasileira, ajudando a forjar as alianças políticas capazes de viabilizar a construção

da Nação e a defesa de nossa soberania. O PDT e Leonel Brizola reafirmam: só a força do povo pode mudar o Brasil.

Rio de Janeiro, agosto de 1994

Neiva Moreira Vice-Presidente do PDT

Compromissos prioritários do PDT Síntese dos compromissos prioritários constantes no Programa do Partido.

O primeiro compromisso é com as crianças e jovens de nosso país. Assistir desde o ventre materno, alimentar, escolarizar, acolher e educar todas as crianças do nosso país, com

igualdade de oportunidade para todos.

Fuente:http://www.pdt.org.br/partido/programa.htm (Consulta:09/15/2006 )

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O segundo é com os interesses dos trabalhadores, muito especialmente das grandes maiorias populares que, em todas as regiões brasileiras, vivem em diversos níveis de pobreza, de

marginalidade, ocupando áreas improdutivas ou sendo cruelmente exploradas em benefício de setores privilegiados.

O terceiro compromisso é com a mulher, contra a sua discriminação, propugnando por sua efetiva participação em todas as áreas de decisão, pela definição de seus direitos sociais, no

emprego ou no lar, pela igualdade de remuneração e de oportunidades, de educação e formação profissional...

O quarto compromisso programático é com a causa das populações negras com parte fundamental na luta pela democracia, pela justiça social e a verdadeira unidade nacional.

O quinto compromisso é a defesa das populações indígenas contra o processo de extermínio físico, social e cultural a que têm sido submetidos ao longo da nossa história.

O sexto compromisso programático é com a defesa da natureza brasileira, contra a população e a deterioração do meio ambiente resultantes de uma exploração predatória que ameaça

destruir a base biológica de nossa existência, degradando cada vez mais a qualidade de vida do povo brasileiro.

O sétimo compromisso é a recuperação para o povo brasileiro de todas as concessões feitas a grupos e interesses estrangeiros, lesivas ao nosso patrimônio, à economia nacional e

atentatória à nossa própria soberania.

12 pontos

1. - A construção nacional - A reforma do Estado - A transformação da sociedade e a construção da Nação - O papel do Estado na economia

2. - Estratégias para a soberania do país

3. - Uma revolução na educação

4. - Política de ciência e tecnologia

5. - Políticas de seguridade social - Previdência Social - Saúde - Bem estar / Ação social

6. - Cultura e identidade nacional

7. - Movimentos Sociais

8. - A democratização da comunicação

9. - Justiça e segurança pública

10. - Reformas de base na cidade e no campo

11. - O Meio-Ambiente

12. - Energia e transporte - Energia - Transporte e estrutura viária

O Partido Democrático Trabalhista reafirma, na conclusão do III Congresso do Partido, o compromisso com as lutas e esperanças do povo brasileiro. O PDT propõe que a década de 90 seja marcada pelo fim da recessão, da inflação acelerada e da brutal concentração de renda. A

Nação não pode tolerar o aprofundamento das desigualdades sociais e econômicas

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decorrentes do processo de "desenvolvimento" que criou uma sociedade de privilégios para uns e de exclusão para muitos que não têm acesso aos mais elementares direitos da

cidadania.

O PDT apresenta esta proposta à toda sociedade brasileira, aos seus militantes, a outros partidos e outras forças políticas que somarão conosco na formulação de estratégias e medidas concretas para inaugurar um novo processo de desenvolvimento. As medidas

conjunturais, episódicas, tantas vezes importadas de realidades alheias já se demonstraram insuficientes para nos tirar desta prolongada crise. A originalidade da proposta do PDT reside no vigor da experiência acumulada pelo povo trabalhador em diferentes momentos da história

brasileira, ao mesmo tempo em que congrega políticas inovadoras capazes de preencher o vazio deixado pelas nossas elites.

Por sinal, um traço visível da crise é a inconsistência das propostas dos adversários à direita ou à esquerda que fazem da debilidade progressiva do Estado uma bandeira que, se vitoriosa,

agravaria ainda mais os obstáculos ao crescimento e à melhoria das condições de vida do nosso povo. Em contraposição a esses falsos defensores da iniciativa privada, o que se impõe é uma profunda reforma no Estado brasileiro, fortalecendo instituições e organizações públicas e privadas capazes de dar sustentação a um novo modelo de desenvolvimento construído sob

uma perspectiva nacional, soberana e popular.

Este projeto concebe o desenvolvimento de uma forma integrada nos campos econômico, social e político. É o momento de propor Reformas de Base que sejam efetivamente levadas

adiante com o apoio, a legitimação e a participação do povo brasileiro. As eleições do próximo ano indicarão simultaneamente a nosso Presidente da República, o Congresso Nacional, os

Governadores e as Assembléias Legislativas. será a primeira oportunidade, desde 1950, de se construir uma maioria capaz de garantir a realização de reformas de base que foram

interrompidas em 1964. Esta é a nova face do Presidencialismo no Brasil após o plebiscito: a do Presidencialismo com Reformas de Base.

A oportunidade que se abre, com as eleições do próximo ano, às forças interessadas em definir um projeto nacional com essa natureza terá de ser acompanhada de um combate sem tréguas

ao monopólio das comunicações, de informação e da tentativa de descaracterizar a cultura nacional. A ampla discussão que se avizinha só será vitoriosa caso se consiga incorporar mais e mais consciências esclarecidas à luta por nós empreendida de se democratizar os veículos de comunicação de massa colocando a mídia eletrônica a serviço da promoção cultural, da

educação e da informação isenta e não como fator de alimentação da violência social.

Os componentes da proposta do PDT são múltiplos e articulados. Por tal razão eles se somam e adquirem consistência na ampliação da experiência de anos e anos de luta das classes

trabalhadoras, do empresariado nacional e das forças políticas comprometidas com a viabilização de um novo destino para o seu povo. A quebra do ciclo perverso de estagnação, inflação e desemprego só pode acontecer pela identificação do modelo de desenvolvimento com a construção de uma alternativa centrada nas necessidades mais essenciais do nosso

povo. Como não poderia deixar de ser, a educação popular é a base de um modelo que interioriza o desenvolvimento, produzindo a auto-suficiência alimentar e energética, a adoção

de tecnologias adequadas criando uma infra-estrutura de sustentação de novas relações econômicas no campo e nas pequenas e médias cidades; corrigindo graves desequilíbrios

ambientais, fixando a população ao torná-la produtiva e plenamente ocupada e ao democratizar o acesso à terra e à moradia no campo e na cidade.

Não se trata de uma volta ao campo mas sim de promover um tipo de industrialização capaz de apoiar-se no aproveitamento correto dos recursos naturais e na vocação das nossas cidades. Queremos a sustentação de um modelo de desenvolvimento capaz de dar conta como país da nossa dimensão continental, e do potencial social, econômico e ambiental de vastas regiões marginalizadas, que nos colocará em posição privilegiada para nos firmarmos como nação democrática no cenário internacional. A conquista de metas sociais explícitas em torno da

alimentação, da moradia e da melhoria das condições de saneamento básico constituem um

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imperativo para a economia nacional, hoje debilitada por uma péssima distribuição de renda e por práticas econômicas especulativas perpetuadas pelas nossas elites.

O PDT aponta a necessidade de reformar o sistema financeiro nacional por meio da recuperação da capacidade de endividamento público e da adequação dos instrumentos de

captação e aplicação da poupança às necessidades de financiamento de longo prazo do setor produtivo. O sistema financeiro deve retomar seu papel de intermediação e não mais ser

utilizado para a especulação.

A criação generalizada de novos postos de trabalho e a melhoria gradual dos níveis de renda e salário devem resultar, daqui para a frente, de um processo de interiorização do

desenvolvimento, induzido pela mobilização da sociedade, pelos investimentos públicos e privados, por novas formas de articulação do Estado com as pequenas, médias empresas e

cooperativas e com novas formas de propriedade social. É prioritário levar avante reformas que corrijam as desigualdades sociais e regionais presentes entre o campo e as cidades, nas áreas

metropolitanas, no Nordeste, na Amazônia, no Centro-Oeste, nas regiões do Sul e Sudeste, regiões ao mesmo tempo, ricas e empobrecidas, com bolsões de fome e miséria. As reformas

de base que o PDT propõe combatem, também, o desperdício e o mau uso dos recursos públicos que são uma outra forma de expropriação dos pobres e dos despossuídos.

Ao contrário do que propõem os setores conservadores, ávidos por anular e represar conquistas sociais inscritas na Constituição de 1988, o PDT entende que a conquista do

Governo Federal pelas forças progressistas representa apenas um passo inicial de uma ampla reforma política e administrativa que o Estado brasileiro necessita. Trava-se hoje na sociedade brasileira uma luta que em princípio nada tem de ideológico por parte daqueles que pretendem

dignificar as instituições públicas. O PDT quer encaminhar reformas que deverão mudar as práticas corporativistas e clientelistas em todos os níveis da administração pública.

Como governo é muito o que pode ser feito para redirecionar as relações distorcidas com o Congresso Nacional e com o Poder Judiciário. No entanto cabe aos defensores do interesse

público à frente de todas as instâncias de poder vigentes, possibilitar novas estruturas administrativas e de participação social. A lição dada por outros países do mundo nesta década mostra a importância assumida pela reestruturação e dissolução rápida de práticas autoritárias

e excludentes. O PDT considera que, sem uma ampla modificação de todos os poderes constituídos em seu relacionamento com a população, não há saída possível para a

constituição de um Estado verdadeiramente democrático em nosso país. O fim da impunidade é um imperativo da ampla tarefa de recuperação das instituições públicas que como

governantes, teremos pela frente, sendo antes de tudo um clamor popular que sempre encontrou eco ou surgiram nas suas próprias fileiras.

O quadro social em que prevalece a discriminação de grande parte do povo brasileiro, deve, também, ser enfrentado por políticas sociais emergentes que supram as necessidades da população. São políticas que devem universalizar necessidades nas áreas dos benefícios

sociais: invalidez do trabalhador, aposentadoria e assistência médica. Também exigem políticas que garantam assistência integral à mulher, à criança e ao adolescente, bem como

ação social para famílias em condições de misérias nas cidades e no campo.

Na busca de uma sociedade democrática e justa o PDT propõe a livre organização da classe trabalhadora, com especial atenção ao jovem trabalhador que não freqüenta a escola. Todas

as formas de discriminação social devem ser eliminadas pelos poderes constituídos através de conselhos e representações específicas estimuladas pelo poder público. Particularmente, as

questões vinculadas à defesa da mulher, do negro e dos povos indígenas contarão com políticas específicas capazes de ampliar a natureza de suas respectivas contribuições à cultura

nacional.

O compromisso com a Soberania Nacional é ponto central da proposta do PDT, por que o Partido Democrático Trabalhista acredita que o Brasil deve ter um papel destacado de

liderança entre as nações excluídas do sistema de poder da nova ordem internacional. As relações internacionais se dão em um cenário onde o bloco dos países altamente

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industrializados pretendem se impor às demais nações ainda que para isto sejam necessários mecanismos de pressão econômica e militar. As pressões e ameaças que se exercem sobre a Amazônia se incluem nessas práticas intervencionistas já aplicadas sob diferentes pretextos, em outros países. O projeto nacional do PDT contempla, portanto, estratégias para o Brasil se

defender e consolidar sua soberania territorial, econômica e tecnológica.

Projeto Brasil

I - A Reforma do Estado

Presidencialismo com reforma de base

O resultado do último plebiscito sobre o regime e a forma de governo aponta claramente que o povo brasileiro deseja um governo capaz de realizar efetivamente a reforma de base das estruturas sociais, econômicas e políticas que mantêm a nação dividida, com uma grande parcela vivendo na linha da pobreza e da fome; um governo que rompa com o estilo de produção concentrador e rígido, que perpetua o nosso atraso tecnológico relativo e leva ao malogro as tentativas de extinguir, por medidas assistenciais ou compensatórias, a miséria avassaladora.

O povo brasileiro deseja que se rompa a cortina de força que as elites conservadoras impõem à sociedade, para que o Estado tenha a capacidade de realizar as transformações que impliquem em reorganização da economia de modo a permitir a democratização inicial dos recursos econômicos, o fortalecimento interno da nossa economia, associando o progresso material da sociedade com as condições de emancipação moral dos cidadãos. O povo brasileiro quer a superação radical do atraso econômico, social e cultural e para tanto aponta para um governo firme, democrático e popular com propostas programáticas de transformações claras e de natureza duradoura.

Um presidencialismo que possa realizar as transformações que a sociedade necessita. Democratizando a sociedade e o Estado, desconcentrando poderes e descentralizando atividades, sem perder os instrumentos, os objetivos e os passos que à União cabe dar na indução das transformações. Um governo que garanta a soberania sem relações subalternas com outras nações, que defenda os interesses do Brasil, respeite as nações amigas e ajuste os interesses estrangeiros ao império da nossa vontade nacional.

A legitimidade das mudanças

O projeto de revisão constitucional, às pressas, com um Congresso sem legitimidade para tal e contando com a desmobilização política da sociedade é um dos golpes que a elite nacional prepara para se antepor à manifestação popular transformadora que se anuncia para o ano que vem. Uma eleição nacional em que todos os partidos, mesmo que circunstancialmente aprisionados em eventuais interesses regionais, se lançam por suas plataformas programáticas na disputa eleitoral, tem um grande poder de mobilização em torno de reformas de base que passem a vida nacional a limpo. No calendário da história futura, seguramente essas eleições são um grande marco na vida política nacional: pela primeira vez desde 1950, elegeremos simultaneamente o Presidente da República, os Governadores de Estado, a Câmara dos Deputados, dois terços do Senado Federal e as Assembléias Legislativas.

A partir de 1994, uma espécie de acordo político vai assinalar um compromisso reformulador do Brasil. E será um compromisso com agentes políticos distintos, sem a hegemonia das elites

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conservadoras. Nestas eleições se farão alianças entre partidos com bases ideológicas e eleitorais aparentemente distintas, alianças em torno de alguns interesses regionais, de grupos dedicados à superação do atual impasse social e econômico, entre comunidades com interesses localizados, assim como intelectuais e artistas formadores de opinião, nesse momento, interessados num Projeto para o Brasil e posteriormente descobrindo afinidades que até então desconheciam na justificativa da ampla aliança em torno das reformas de base revolucionária.

Neste sentido, por tudo que representa, o PDT se encontra apto para ter um papel de destaque neste processo de reformas de base. Somos um partido que não exlclui, não representamos apenas uma parcela da classe trabalhadora e nem somente parcelas radicalizadas da classe média. Somos um partido que constrói, que junta, porque defendemos a solidariedade entre os homens, condenamos a usura social e representamos o brasileiro que constrói nossa riqueza, com fala portuguesa, os trabalhadores formados pelas raças de três continentes, e que têm um grande patrimônio cultural.

O Estado deverá combinar um governo firme e democrático com uma sociedade civil organizada, ativa e vigilante. Um governo para executar a transformação da sociedade. Um governo assentado sobre mecanismos institucionais que privilegiam a legislação programática de reformas de base sobre a legislação ordinária e episódica, que resolvam rapidamente os impasses do poder e engajem o eleitorado na resolução dos impasses, através de plebiscitos ou referendos populares. Um Estado com regras duradouras que governam a organização do poder público e o conflito eleitoral sobre a sua posse. Na organização da sociedade civil, adotar mecanismos que rompam com o corporativismo e o contratualismo. Assegurar à sociedade civil formas variadas de organização, resguardadas da tutela do Estado.

Resolver impasses entre o Presidente da República com compromisso transformador e a maioria conservadora eventualmente entrincheirada no Congresso e nas outras instituições de elite, é a marca de um governo forte. Neste sentido será dada preferência a fórmulas que não fragmentem o poder do Estado, facilitando a mobilização do poder público em favor de projetos de reformas redistributivas ou estruturais, constitucionalmente definidos. Neste sentido assentando as bases da representação no Congresso Nacional sobre o tamanho da população estadual e no Senado Federal, que representa os estados da federação, as bases atuais, de modo a garantir os interesses das unidades mais fracas e numerosas nos órgãos da União.

No plano eleitoral reforçar o papel dos partidos políticos, procurando a mobilização política da sociedade em torno do projeto nacional. Para isto necessitam-se mecanismos que acertem o financiamento público das campanhas eleitorais, combatendo a influência econômica que assegura um certo caráter indireto à representação popular; democratizando os meios de comunicação de massa, garantindo o acesso das lideranças populares ao debate público, evitando a condução do Estado por quadros notáveis saídos das classes proprietárias e educadas. Quebrar o condomínio oligárquico do poder.

O Poder Judiciário deverá inserir-se no projeto de transformação da sociedade por mecanismos que facilitem a sua agilização e evite o emperramento das conclusões das disputas judiciais. A ... da Justiça, privilegiando o processamento rápido dos conflitos eventuais associados às reformas de ... métodos e objetivos desta. A democratização da Justiça, ao lado de sua necessária independência, passam também pelo cuidado em fazer prevalecer os interesses da sociedade ou do Estado sobre interesses corporativos.

As Forças Armadas como sustentação do desenvolvimento em tempos de paz

Não há como tratar das reformas do Estado sem definir, também, o papel ativo das Forças Armadas na construção de uma nação soberana. Nesse particular, as nossas elites desprezaram a contribuição das Forças Armadas para cumprir missões complementares à sua natural capacitação. Ao longo da nossa história as Forças Armadas brasileiras deram sustentação a políticas de incorporação de amplas regiões ao resto do país e a atividades próprias dos tempos de paz. Questões como o serviço militar obrigatório, o atendimento social de áreas distantes, a abertura de novas estradas, a interiorização do desenvolvimento, as

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relações internacionais, o monitoramento da costa e de zonas fronteiriças estratégicas, os limites da política energética no campo nuclear, o aproveitamento dos recursos do mar e a educação popular, dentre outras questões relevantes, são alguns dos temas que possuem direta interrelação com a prática regular e o potencial tecnológico das Forças Armadas para que possamos constituir um projeto nacional independente.

O PDT entende que é fundamental superar qualquer tipo de segregação na forma de conduzir tais missões complementares, estabelecendo, doravante, um aproveitamento que se caracterize pela parceria com a sociedade civil nesses empreendimentos. O novo governo terá como obrigação decidir o reaparelhamento das Forças Armadas, identificando os meios capazes de reforçar o seu papel no desenvolvimento nacional e na consolidação das práticas democráticas em nosso país. Ignorar esse potencial significaria a sub-utilização injustificável das Forças Armadas e condená-las ao descrédito junto à sociedade.

Administrar para o povo

Sucessivos governos conservadores têm proposto e implantado "reformas administrativas" que, desvinculadas de uma proposta de transformação do papel do poder público, desorganizaram e sucatearam o aparelho do Estado. Qualquer programa de mudanças sociais efetivas precisa contar com instrumentos administrativos ágeis e eficientes. Isso impõe uma profunda reformulação nas atuais estruturas burocráticas que devem ser repensadas a partir do conceito fundamental de respeito à cidadania e das diretrizes de eliminação dos desperdícios, simplificação das rotinas e qualidade dos serviços.

O combate aos privilégios corporativistas é indissociável das defesas do interesse público e de uma autêntica valorização de todo o funcionalismo, com planos de carreira e políticas permanentes de capacitado treinamento.

Uma das características mais marcantes do nosso momento político é a identificação do funcionalismo público com as práticas de corrupção, clientelismo e de absenteísmo. Campanhas alimentadas pelos meios de comunicação de massa procuram divulgar de forma irresponsável acontecimentos que terminam por atribuir aos funcionários do Estado a responsabilidade pelo conjunto das deformações da nossa sociedade.

O PDT entende que a reforma do Estado brasileiro não poderá ser levado a cabo de forma exitosa sem dimensionar corretamente o tamanho do Estado que queremos e flexibilizar através de estímulos morais e materiais esse diversificado contingente de trabalhadores da causa pública que devem integrar seus quadros permanentes. O que se observa na prática é que há excesso de funcionários em determinadas atividades e falta de pessoal especializado em muitas outras, ocasionando desequilíbrios e desperdícios injustificáveis. Por trás desses problemas há uma grave questão gerencial dos recursos humanos disponíveis que necessita ser encarada pelos novos dirigentes. Realizar um balanço dessas necessidades de pessoal e definir uma configuração equilibrada do aparelho do Estado, setor por setor, é um pré-requisito essencial das atividades que se espera implantar.

Administrar com o povo

Uma administração popular não pode funcionar com a soma de iniciativas desarticuladas, ora repetindo o que já existe, desperdiçando tempo, ora ignorando o que se está fazendo, desmobilizando o potencial de multiplicação das experiências bem sucedidas. Assim, é indispensável a criação de sistemas de informações gerenciais confiáveis como instrumento de permanente avaliação dos desempenhos setoriais, bem como a instituição de mecanismos internos de coordenação e intercâmbio.

A reforma da administração pública deve combater o corporativismo, garantindo aos funcionários uma carreira digna, exercício de cidadania independente da tutela do Estado e o preparo técnico e científico para as tarefas que lhes cabe no aparelho administrativo. Por outro

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lado a independência do poder público das oligarquias, permitirá o fim do exercício social do clientelismo ao mesmo tempo que "desprivatizará" o Estado brasileiro.

Pela reforma administrativa deve ficar bem claro o nível e a definição das competências da União, dos Estados e dos Municípios. Nela se adotará princípios que garantam a desconcentração da decisão e a descentralização de atividades, adotando-se simultaneamente a prática de órgãos integradores e de intervenção sobre problemas gerais que afetem vários estados ou o país como um todo, buscando-se a mesma prática para os Estados diante dos municípios. Em todo o instrumental do aparelho de Estado deverá se desenvolver mecanismos que estimulem a qualidade dos serviços, adotem medidas de planejamento, fiscalização e avaliação de resultados e tenha como requisito a participação social.

A transformação da sociedade e a construção da nação

Reconstruir o Estado

Hoje, o maior obstáculo à superação da marginalização interna e externa do país é o enfraquecimento do Estado brasileiro, manifesto da desorganização das finanças públicas e na incapacidade de promover uma política de crescimento econômico e redistribuição igualizadora. Com o enfraquecimento progressivo do Estado, os privilegiados lucraram duas vezes. Deixaram de pagar a conta do investimento público nas pessoas - vale dizer, em educação, saúde e alimento - e em infra-estrutura econômica. Ao mesmo tempo, levaram o Estado recorrer à política de emprestar e imprimir dinheiro às soltas e locupletaram-se com os ganhos que a inflação resultante propicia. Enquanto isto compram e vendem numa moeda comum, cujo aviltamento contínuo reflete e confirma a miséria e a desesperança da nação.

O nosso povo precisa do Estado brasileiro. Soerguer o Estado brasileiro, restaurando-lhe a grandeza e a dignidade e garantindo-lhe a capacidade de tributar, poupar e investir, é hoje a primeira tarefa de salvação nacional que nos propomos a executar. O Estado reconstruído deve se reorganizar, combater a sonegação, cobrar de quem pode e deve pagar tributos e aliviar os que não podem mais ser onerados com novos impostos.

Promover um novo processo de desenvolvimento

O modelo de crescimento baseado no isolamento econômico do país e na substituição de importações, desempenhou um papel indispensável na industrialização inicial do Brasil. Mas não podia perpetuar-se, com o risco de impedir o avanço tecnológico do país ou de converter-se em instrumento de enriquecimento de castas privilegiadas, permitindo que a parte rica e favorecida do país - definida tanto social quanto geograficamente - açambarcasse os benefícios desse processo. Subsídios, proteções e cartórios foram os instrumentos com que uma elite empresarial dependendo do Estado procurou perverter o sentido do nacionalismo econômico. Mas não devemos permitir que esta estratégia esgotada de crescimento econômico seja substituída por um falso liberalismo determinado a desmontar o Estado de que o povo trabalhador necessita e a submeter o país às regras do jogo numa economia internacional dominada por grandes empresas e países poderosos. Propomos, neste programa, um caminho democratizador e nacional de crescimento que consolide e supere o que o Brasil já construiu, ao invés de consumar o país, sob o véu de um liberalismo anti-nacional, em um novo condomínio das oligarquias de natureza colonial.

Acabar com a política do dinheiro fácil para os privilegiados

À medida que o modelo de crescimento econômico foi sendo transformado em instrumento de dominação por uma parte da sociedade brasileira sobre a outra, as finanças públicas seguiram o rumo da política do dinheiro fácil, emprestado e impresso. Na fraqueza de um Estado, que generalizou para o povo trabalhador o custo do investimento público em infra-estrutura e nas pessoas, ao invés de impor este custo ao Brasil privilegiado e que foi impotente para conter o processo espoliativo que produz imensas perdas internacionais.

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Esta é a raíz da inflação brasileira. Para levantar o Estado, temos que destruir todo o sistema de especulação financeira improdutiva, organizada em torno da rolagem da dívida pública interna. Temos que fundar as finanças públicas sobre as bases transparentes e progressivas da tributação, em vez de fazê-las depender das formas obscuras e regressivas da inflação consentida e conspirada.

As novas opções para o Brasil

Parar de imitar os modismos das elites dos países ricos

As elites, sempre fascinadas pelas modas ideológicas advindas dos países ricos, determinadas a usarem palavras novas para enfeitarem interesses antigos, difundem no Brasil a idéia de que o grande acontecimento contemporâneo seria a vitória do privativismo sobre o estatismo, e do capitalismo sobre o socialismo.

A realidade atual e o processo histórico demonstram a falácia dessa visão. Na verdade, as lutas ideológicas e as experiências institucionais no mundo contemporâneo ganham nova forma, abrindo oportunidades e dando inspiração para uma adequação dos princípios socialistas aos novos desafios e realidades, cuja aplicação será base da democratização do Brasil.

O centro dos debates no mundo passa a ser, hoje, a discussão sobre as formas institucionais concretas do pluralismo político e econômico, da democracia representativa e da economia de mercado. Vai afirmando-se a convicção de que a democracia e o mercado podem e devem tomar, nos países pobres e marginalizados, formas institucionais próprias, diferentes daquelas predominantes na Europa Ocidental, na América do Norte e no Japão e inspirados na soberania, igualdade e justiça social, expressões de uma visão socialista do Estado.

No entanto, as elites dos países periféricos querem importar e imitar as instituições políticas e econômicas dos países ricos, pois quando malogram nesse esforço imitador, as nações marginalizadas e pobres são levadas a um experimentalismo institucional involuntário. Então, descobrem, mesmo a contragosto, que nunca alcançarão sequer os níveis de liberdade e igualdade existentes nos países centrais se apenas procurarem copiar-lhes as instituições.

Organizar a produção em bases democráticas

Para nós, as inovações institucionais são aquelas que visam coibir a exploração externa e a discriminação econômica e social interna, criando um amplo repertório de formas de colaboração entre o poder público e o produtor privado, entre os governos e onde as organizações populares, multiplicando os meios de acesso a capital e tecnologia, inclusive pelo desenvolvimento de formas temporárias e condicionais de propriedade.

Criar organizações, como bancos públicos ou fundos sociais, de caráter misto, público e privado, que lideram experiências produtivas pioneiras em associação com grupos de empresas privadas. Misturar, na organização industrial e agrária, os princípios da economia e da cooperação à medida que pequenas e médias empresas concorrentes associam-se, assistidas pelos governos, para compartilhar fundos financeiros, oportunidades comerciais e acervos tecnológicos. Uma grande explosão de inovações institucionais é o que o Brasil precisa para ser próspero, democrático, solidário e brasileiro. Para imaginá-las e desenvolvê-las temos que nos rebelar tanto contra a subjugação econômica e política quanto contra o servilismo cultural.

Reverter as perdas internacionais

O Brasil tem que liquidar a inflação, saneando as finanças públicas. Para isso, temos que diminui e reverter as perdas internacionais e reformar radicalmente a dívida interna que escraviza o Estado aos interesses financeiros. Para isto, o PDT propõe:

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- Estancar as perdas internacionais revertendo a transferência líquida de capital nacional ao estrangeiro. - Negociar a dívida externa fixando os juros, atribuindo à dívida remanescente um valor intermediário entre o valor nominal e o valor reconhecido no mercado secundário, e subordine claramente o pagamento, com expurgos de acréscimos especulativos, ao crescimento interno da economia. - Promover a auditoria da dívida interna, apurando responsabilidades da contratação e uso irregular da dívida, e assegurar a responsabilização penal quando cabível. - Dar primazia, no uso das reservas cambiais do país, à importação dos bens de capital necessários à renovação da nossa indústria, não permitindo que essas reservas se dissipem no serviço da dívida externa. - Coibir a evasão ilegal de capitais e promover as medidas investigativas e judiciais necessárias a punir os responsáveis.

A reforma da dívida interna e o saneamento das finanças públicas

Dando fim às perdas internacionais, temos, também, que libertar o país do jugo financeiro representado pelo sistema atual de rolagem da dívida interna e impedir as práticas especulativas organizadas em torno desta rolagem.

Embora, em termos absolutos, a dívida interna seja pequena, para uma economia normal da dimensão da nossa, ela transformou-se no foco de todo o sistema inflacionário e especulativo. O Estado teve que pagar juros cada vez mais altos, em prazos cada vez mais curtos, para assegurar a aceitação dos títulos públicos. E os aquinhoados, particularmente os bancos - beneficiados com a moeda indexada que este sistema criou, encontraram nos ganhos financeiros propiciados pelo Estado falido, uma fonte inesgotável de lucros desvinculados de atividades produtivas.

Até mesmo os economistas ortodoxos reconhecem a necessidade de medidas que cortem o nó górdio representado pela sujeição do Estado ao sistema atual de rolagem da dívida interna. Mas essas medidas não podem penalizar o povo trabalhador e as classes médias. Elas devem recair sobre os que enriqueceram com o empobrecimento do país, escolhendo-se as soluções de acordo com as necessidades e oportunidades do momento em que se execute a política saneadora.

Tais opções são bem conhecidas: alongamento dos prazos da dívida pública com a troca compulsória dos títulos atuais por outros com prazos maiores (por exemplo, a partir de quinze anos); monetização da dívida (pagamento imediato e simultâneo da dívida com dinheiro impresso) acompanhado da introdução de uma nova moeda por um Estado que já não deve mais nada, assegurada a conversão da poupança da classe média da antiga à nova moeda em termos favoráveis; imposição de rígido controle monetário, fundado em correspondência cambial ou em regra limitadora do crescimento do estoque monetário, mantida mesmo a custo de não pagamento parcial da dívida, assegurada a poupança da classe média; tributação maciça dos ganhos financeiros e dos patrimônios em ritmo que assegure o pagamento rápido da maior parte da dívida interna a conseqüente baixa dos juros pagos pela sua rolagem da dívida.

As políticas arrojadas de saneamento financeiro requerem a manutenção de controle político sobre o Banco Central. O Governo deve ter o poder de formular a política monetária e caberá ao Banco Central a execução desta política, livre das influências perversas que os bancos privados exercem sobre ele. Desprivatizaremos o Banco Central.

Finanças Públicas em base segura: aumento e redirecionamento da arrecadação

A libertação do ônus representado pela rolagem da dívida interna será desperdiçada se não estiver acompanhada de medidas que assegurem a recuperação da poupança pública e do investimento público. Para isso, o indispensável é elevar para os que podem e devem pagar e reconfigurar a carga tributária. O valor total da tributação declinou a um ponto insustentável, considerando-se quer os níveis de tributação alcançados por outros países, ricos ou pobres, quer a própria experiência histórica brasileira. Por outro lado, os impostos continuam a incidir desproporcionalmente sobre os salários e o consumo do povo trabalhador e da classe média assalariada.

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Combater a sonegação

O primeiro imperativo é assegurar a cobrança efetiva dos impostos existentes. Deve o governo investir em peso nos quadros e nos recursos da Secretaria da Receita Federal. Deve, também, preparar as medidas investigativas e judiciais necessárias para abrir a estrada entre a sonegação e a cadeia e transportar por ela os maiores sonegadores. Ao mesmo tempo, as técnicas de tributação hão de alcançar os que prosperam no setor informal e na economia cinzenta, obrigando-os a compartilhar do fardo carregado pelos seus concidadãos.

Reformar o sistema tributário

O segundo imperativo é a reforma do sistema tributário para que se aproxime de um padrão que seja simultaneamente mais eficiente e mais democrático. Precisamos manter e fortalecer o Imposto de Circulação de Mercadorias, transformado em autêntico imposto sobre o valor adicionado. Este, o mais racional e neutro dos impostos indiretos, que pode assegurar um fluxo seguro de receita tanto à União quanto aos estados e municípios, redistribuindo recursos e funções. Mas deve ser complementado por três grandes tributos diretos que, ao elevarem o nível da receita, também promovam uma redistribuição da renda e da riqueza, corretiva das grandes desigualdades. Estes tributos federais de sentido social e democratizador devem ser o imposto sobre o consumo pessoal, o imposto sobre o patrimônio e o imposto sobre a transmissão hereditária ou gratuita (heranças e doações).

O imposto sobre o consumo pessoal, substituindo o imposto de renda, tributa a diferença entre a renda e a poupança e o investimento em sentido amplo. Alcança o que mais importa na tributação direta: a hierarquia dos padrões de vida e a apropriação individual do excedente social. Ao mesmo tempo, faz da tributação parceira e não inimiga da tributação direta. O imposto sobre a herança e doações deve ser valorizado para desempenhar sua função de interromper a reprodução dinástica do poder econômico ao mesmo tempo que se proteja a continuidade da pequena propriedade familiar. E o imposto sobre grandes fortunas, previsto na constituição atual, deve ser transformado num imposto, mais amplo, sobre o patrimônio para, junto com o imposto sobre heranças e doações, restringir o acúmulo do grande poder econômico.

O novo modelo do crescimento econômico e a redenção do povo trabalhador

O saneamento das finanças públicas, com a recuperação da capacidade de poupança pública e investimento público, há de possibilitar uma política de crescimento que corrija as desigualdades regionais pautada pelas seguintes diretrizes.

Investir nas pessoas

Um projeto nacional de crescimento exige investimento maciço em gente: em educação e saneamento, alimentação e habitação. Só um Estado livre da subjugação financeira e das perdas internacionais, e capaz de tributar com eficácia os que podem e possuem, recuperando a capacidade de poupança pública e investimento público, pode honrar este compromisso central com a nação.

Para nós, o investimento social em geral, e o investimento na educação em particular, não é apenas o dever básico do Estado brasileiro para com o povo brasileiro: é, também, a condição fundamental do crescimento, como ensina toda a experiência dos países mais prósperos e democráticos. E o investimento prioritário é sempre aquele que se faz na criança, desde a concepção até a adolescência. A salvação das crianças tem seu foco maior na educação integral, dando à criança o apoio físico que viabiliza a aprendizagem. Por outro lado, o conteúdo da educação brasileira em todos os níveis, desde a creche até a universidade, tem que abandonar o culto da memorização e voltar-se para a conquista de capacidades conceituais e práticas de análise e recombinação das coisas e conceitos, pesquisa de fatos e críticas de idéias.

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Desenvolver novas tecnologias

A política de crescimento deve consolidar uma vanguarda tecnológica, dentro e fora do setor público, capacitada para produzir os insumos e as máquinas que as pequenas e médias empresas da vasta periferia econômica do país sejam capazes de assimilar. A parceria entre a vanguarda tecnológica e a retaguarda tecnológica deve estar no centro da política industrial de crescimento. A contrapartida à superação da divisão interna do país em duas economias, uma atrasada e outra mais dinâmica é a rejeição do papel preparado para nós, e para outros países menos pobres do terceiro mundo, na nova economia mundial: o de servirmos de palco à indústria pesada, rígida e poluidora que as economias mais adiantadas vão abandonando, mas que entre nós sobrevive à custa da repressão dos salários.

Reorganizar o setor público

A política do crescimento deve realizar uma ampla reorganização do setor público. As empresas públicas e os bancos públicos precisam ganhar características que lhes reservem iniciativa empresarial e reponsabilidade financeira, sujeitando-se, inclusive, ao risco da falência. Ao mesmo tempo, devem os bancos e as empresas públicas ganhar vocação produtiva clara: em vez de produzir para as indústrias intermediárias, muitas delas multinacionais, que se orientam, na maior parte, para o consumo privilegiado, hão de tomar por tarefas primordias o equipamento das pequenas e médias empresas do segundo Brasil e a ampliação da nossa capacidade de concorrência dentro da economia mundial.

Privatização do setor privado

A política de crescimento deve privatizar o setor privado. É preciso cortar os subsídios explícitos e implícitos às grandes empresas privadas, adotar e executar uma severa legislação antitruste para impedir ou punir a formação de monopólios, oligopólios e cartéis. Deverá, também, criar desincentivos fiscais à manutenção de controle familiar sobre grandes empresas e fortalecer os direitos dos acionistas minoritários com a democratização dos capitais. As empresas modernas, em setores maduros de nossa economia, devem correr os riscos da concorrência estrangeira, sem se esconder atrás de barreiras tarifárias e reservas de mercado que não têm sustentação em nenhuma estratégia de progresso industrial. Ao contrário, as empresas dos setores não-maduros, especialmente as pequenas e médias, devem contar com apoios e incentivos que elevem seus padrões de qualidade e produtividade.

Integração na economia mundial com soberania

A estratégia nacional do crescimento deve lutar para conseguir para a economia brasileira um lugar dentro da economia mundial que reforce e expresse as mudanças estruturais internas que propugnamos. Reconhecemos a necessidade de acelerarmos a integração da economia brasileira à economia mundial. O modelo semi-autárquico e a política da substituição de importações ajudaram em sua época a formar o parque industrial nacional. Mas a persistência deste estilo de industrialização nos negaria as condições para implantar e desenvolver uma vanguarda tecnológica. E agravaria o processo social e regionalmente concentrador que beneficiou a grande indústria protegida e sua base geográfica em São Paulo.

A integração à economia mundial é necessária. Mas ela não pode ser uma mera submissão; ela tem que se fazer em termos que sirvam ao projeto nacional de crescimento e democratização. Para isso, temos que manter o desenvolvimento das nossas exportações, privilegiando, no uso das reservas cambiais subseqüentes, as importações de bens de capital e tecnologias de ponta que ajudem a consolidar a nova vanguarda tecnológica brasileira. E temos que dar preferência e incentivos àqueles investimentos do capital estrangeiro que se destinem ao desenvolvimento desta vanguarda e não àqueles que procuram os ganhos financeiros improdutivos ou a mera reprodução de bens de consumo com tecnologias atrasadas.

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Na escolha entre o livre comércio e as barreiras tarifárias ou reservas de mercado, evitaremos dogmatismos de um lado ou outro, praticando uma política comercial estratégica e circunstancial, que ajude a desenvolver dentro do Brasil os setores em que gozamos de maior potencial dentro da economia mundial. Rejeitando os dogmas do livre comércio absoluto, poderemos seguir com maior desenvoltura o exemplo de outros países que se desenvolveram com a ajuda de parcerias estratégicas entre empresas e governos.

Afastado dos grandes blocos regionais que estão se formando no mundo e com uma pauta de exportações distribuída por todas as regiões do globo, o Brasil tem que buscar as vantagens correspondentes às desvantagens da sua posição comercial. Persistindo no esforço de diminuir barreiras através das negociações multilaterais, o país deve investir na negociação de acordos bilaterais que nos permitam desenvolver, em termos mais favoráveis, o comércio com nossos parceiros mais importantes. Ao mesmo tempo, devemos nos aproximar dos grandes países marginalizados - entre estes a Rússia, a China e a Índia - que têm interesses semelhantes e produtos complementares aos nossos. Ao lado destes países, possuímos os rudimentos de um patrimônio tecnológico que foge ao controle das multinacionais e atende às nossas condições. Rebelar-se contra o papel de servir de palco ao fordismo de segunda mão e rever a circunstância de ser exportador de capitais e de gente - estas duas tarefas dão o novo conteúdo do nacionalismo econômico.

Sarando as feridas da federação: os desequilíbrios sociais e regionais corrigidos

Os ressentimentos regionais multiplicaram-se no vazio criado pela falta de um projeto nacional. E as formas tradicionais de atendimento às regiões mais pobres do país têm servido, em grande parte, a enriquecer as oligarquias regionais: incentivos, subsídios e órgãos de apoio regional acabam por fornecer os meios para um vasto clientelismo do atraso. Para corrigir os desequilíbrios regionais propomos tanto soluções estruturais de longo prazo quanto medidas de alívio social e efeito imediato.

Adotar soluções estruturais de natureza econômica, fiscal e constitucional

A solução estrutural de natureza econômica é a adoção de uma estratégia de crescimento que afirma a parceria da vanguarda e da retaguarda tecnológica e direciona os bancos públicos e as empresas públicas para as necessidades das pequenas e médias empresas do segundo Brasil. Se é certo que as fronteiras deste segundo Brasil não são apenas geográficas - pois até em São Paulo ele está maciçamente presente - é igualmente verdade que nas regiões pobres do nordeste e do norte o segundo Brasil é a realidade dominante. Na política de crescimento que defendemos, a desigualdade deixa de ser a conseqüência natural do crescimento e a igualdade não tem que esperar remédio do assistencialismo.

A solução estrutural de natureza fiscal é a generalização do princípio de que a parte da arrecadação federal distribuída aos estados e municípios deve ser repassada a eles na razão inversa da renda per capita média de cada estado.

Uma das soluções de natureza constitucional é o fortalecimento das competências privativas do Senado Federal nas decisões sobre incentivos de efeito regional e órgãos de apoio regional. Como os estados mais pobres são também mais numerosos, encontram no Senado Federal seu agente natural de resguardo. Em contrapartida a este reforço das prerrogativas do Senado, devem São Paulo e outros estado do centro sul receber a plena representação proporcional na Câmara dos Deputados a que, por todas as razões, têm direito, extinguido-se, assim, outra fonte de ressentimentos regionalistas. Ainda no âmbito constitucional é necessário avançar na reforma do Estado brasileiro, ampliando, não reduzindo como querem alguns, as funções, atribuições e recursos dos municípios e dos estados para a implementação de políticas locais e estaduais redirecionadoras do desenvolvimento social. O Governo Federal deve ter a seu cargo, no campo social, funções normativas, de formulação de macro-estratégias de redistribuição de renda e de execução de projetos regionais.

Adotar medidas imediatas e emergenciais

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O país não pode e não precisa esperar que tais soluções estruturais surtam efeito. As regiões mais pobres e marginalizadas têm, também, de serem socorridas já. Mas o socorro há de ser dado por meios que alcancem, com o mínimo de intermediários, as populações pobres, ajudem a provocar a sua organização local, e engajem as organizações populares locais na formulação, administração e avaliação dos projetos - sejam de creches pré-escolares ou educação de adultos, de alimentação ou saneamento, de habitação ou irrigação. Por isso mesmo, o Governo Federal não pode limitar-se a transferir recursos aos governos estaduais e municipais. Precisa formar estruturas fora da administração da União, protegidas contra a influência clientelista e aptas a trabalharem diretamente com as organizações populares e os governos locais.

O papel do Estado na economia

A implementação do modelo de desenvolvimento econômico e social preconizado pelo PDT, baseado na tríade desenvolvimento econômico, justiça social e soberania nacional, requer a adoção de um conjunto criativo e coordenador de política econômica, envolvendo não apenas a esfera macroeconômica, mas as áreas social, financeira, industrial, agrícola e de infra-estrutura.

A implementação dessas políticas refere-se à sua correta formulação e coordenação, no sentido de que os objetivos econômicos e sociais encontram-se interligados, induzindo à constituição de um círculo virtuoso de políticas, onde todas devem contribuir para a transformação produtiva com diminuição das desigualdades sociais (eqüidade). Reconhece-se assim que as políticas sociais, isoladamente, são insuficientes para reduzir as desigualdades, pois, se de um lado os benefícios são oferecidos, por outro lado eles são retirados, pelo desemprego e pelo achatamento salarial.

Reforma do sistema financeiro

A reformulação do Sistema Financeiro Nacional deverá iniciar-se pela regulamentação do Art. 192 da Constituição Federal, assegurando uma nova composição do Conselho Monetário Nacional, que terá obrigatoriamente a participação igualitária do Executivo, do Legislativo, das empresas e dos trabalhadores, passando a funcionar como instância superior no julgamento de recursos contra a decisão fiscalizadora do Banco Central.

O PDT entende que o Banco Central não poderá, em hipótese alguma, funcionar como caixa do Governo Federal, restringindo-se às suas funções clássicas de executor das políticas cambial e monetária e de agente fiscalizador das instituições pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional. Em outras palavras, deve-se priorizar o ajustamento estrutural do setor público, paralelamente a uma reforma monetária, cujo ponto essencial é a separação efetiva entre Tesouro Nacional e Banco Central. Neste caso o Banco Central vai cumprir fielmente a política monetária do Governo Federal sem a interferência dos bancos privados e não estará a seu serviço.

Propõe-se que no momento em que se discute a reformulação do Sistema Financeiro Nacional, que a dívida pública interna passe a ser administrada diretamente pela Secretaria do Tesouro Nacional, priorizando a sua redução através de recursos oriundos do esforço de arrecadação. Torna-se necessário desestimular as aplicações de curto prazo através de remuneração real negativa, substituindo-as por títulos de longo prazo, preferencialmente por mais de sete anos de resgate, contemplados por correção cambial mais juros vigentes no mercado internacional.

O PDT propõe que se defina o real papel dos bancos públicos, que devem ser fortalecidos para funcionarem como importante fonte de recursos para investimentos de longa maturação. Propõe-se que eles tenham autonomia para se estabelecer fora de seus limites territoriais, no caso dos bancos estaduais e que incorporem, prioritariamente, créditos orçamentários para o setor rural, de infra-estrutura urbana, de moradia popular e para as pequenas e médias empresas, a fim de atenderem os anseios da sociedade brasileira com o desenvolvimento econômico e social.

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Neste sentido, o PDT propõe uma política de fomento para o desenvolvimento econômico e social, formado por créditos com base em fontes de recursos públicos (fiscais da União, Estados e Municípios), privados (fundos de pensão), de empréstimos oriundos de agências internacionais de desenvolvimento e outros recursos compatíveis com a ação de fomento. Será dado um tratamento específico à atividade de fomento de maneira a compatibilizar origens e aplicações de recursos, principalmente no que se refere a estabelecimentos de limites operacionais, critérios tributários e contábeis e outros dispositivos que estimulem os créditos de longo prazo. Os agentes promotores de fomento são principalmente o BNDES, os Bancos Estaduais de Desenvolvimento, Bancos Regionais de Desenvolvimento e Mistos, Carteiras de Desenvolvimento de Bancos Estaduais, Regionais ou Federais e outras instituições que venham a operar com crédito de longo prazo. São objeto de preocupação para o fomento a geração e manutenção de empregos, geração de tributos, avanço tecnológico, melhoria na distribuição da renda, melhoria da competitividade empresarial, programas de operações para atendimentos setoriais e outros.

Política de privatizações

O PDT pretende aprofundar a discussão sobre a privatização das empresas estatais, colocando o assunto no seu devido lugar. A política de privatização no Brasil, bem como no restante da América Latina, tem sido encaminhada de forma desvinculada da política industrial. Dessa maneira, tem se reduzido tão somente a um componente das políticas de ajustamento estrutural imposta pelas agências financeiras multilaterais (Banco Mundial e FMI) aos países devedores do continente, sendo ainda apresentada como um retórico instrumento em prol da modernidade.

Tendo em vista a crise fiscal generalizada que se estabeleceu na América Latina a partir da crise do padrão de financiamento predominantemente baseado em recursos externos, particularmente após 1982, e considerando-se ainda a falências das políticas de recuperação e estabilização com renegociação soberana da dívida externa experimentadas, a privatização tornou-se parte de uma estratégia de troca patrimonial entre o setor privado e público, visando a diminuição dos déficits deste último.

O processo de privatização radical no Brasil teve início no governo Collor e prossegue com perspectivas de adaptação marginais do processo no governo Itamar. No final de 1993 está sendo completada a privatização das áreas siderúrgica, petroquímica e fertilizantes e, de imediato, pretende-se avançar para a área de energia elétrica e ferroviária (RFFSA). Em seguida, o governo tem acenado que deseja que a revisão constitucional libere a privatização dos setores petrolífero (PETROBRÁS) e de telecomunicações (TELEBRÁS).

As principais críticas a esta política neoliberal de privatização são as seguintes:

1) inexistência de programa de crescimento econômico incapaz de definir os setores estratégicos e novas formas de articulação e de financiamento do setor público e também do setor privado;

2) substituição de monopólios públicos por privados;

3) ausência de transparência do processo e utilização das chamadas moedas "podres" para viabilizar a alienação (a recente imposição de um limite mínimo em moeda corrente não eliminou as distorções do processo);

4) inoportunidade de venda, face ao ambiente recessivo e de alta incerteza, onde a "preferência pela liquidez" dos agentes econômicos tende ao máximo, e os investimentos em aumento da produção, ao mínimo;

5) falácia do argumento da falta de recursos para novos investimentos das estatais viáveis (como a Usiminas): já que estas empresas eram lucrativas e economicamente viáveis, uma firme mudança política e a definição de regras estáveis de relacionamento entre o ministério

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controlador e a empresa estatal (como por exemplo os contratos de gestão usados pelas estatais francesas) permitiria o levantamento de recursos no mercado, particularmente no mercado externo (bônus e debêntures);

6) impossibilidade de contribuição significativa para a resolução da crise fiscal do país.

Tendo em vista a insistência das autoridades governamentais com o argumento fiscal da privatização, é necessário analisá-lo mais detidamente. Além de ser uma medida excepcional, pois somente pode ser usada uma única vez ("once and for all"), na realidade, o impacto fiscal obtido com a venda das estatais tem sido extremamente reduzido, bem ao contrário do que é sustentado pelas autoridades governamentais.

Foi calculado o resultado líquido entre o valor que o governo economizou com o pagamento de juros sobre os títulos aceitos como moeda ("podre") e o valor que deixou de receber em dividendos das estatais rentáveis que foram vendidas. Como se verificou no estudo, os quase US$ 5 bilhões arrecadados representaram um impacto fiscal líquido de apenas 0,03% do PIB, significando uma redução de apenas 2% no montante de juros reais que o governo federal teve de pagar sobre os títulos de sua dívida mobiliária no ano de 1992. Este mesmo estudo estima que um avanço desse processo por meio da venda de mais US$ 10 bilhões em ativos estatais, caso fossem pagos exclusivamente com títulos da dívida externa, propiciariam um impacto fiscal da ordem de tão somente 0,08% do PIB, representando uma redução de 5,4% da despesa com juros da dívida mobiliária federal em poder do público, em 1992.

À medida em que se abandone a dimensão patrimonialista e fiscalista do programa de privatização, é possível direcioná-lo para uma rearticulação da esfera pública e da privada, podendo inclusive serem definidas as respectivas áreas produtivas em setores não estratégicos, onde o setor privado disponha de capacidade financeira e de gestão, incluindo-se as relações de parcerias tecnológicas e de mercado entre o setor público e o privado, tal como as experiências francesa e italiana.

Política industrial

Explícitas ou implícitas, as políticas industriais são constantemente utilizadas não pelos países industrialmente avançados mas também pelos países de industrialização recente, situados na bacia do Pacífico. Seu uso torna-se cada vez mais intenso uma vez que atualmente encontra-se em andamento a chamada Terceira Revolução Industrial de forma a compor um intenso processo de reestruturação industrial, formado por uma grande onda de inovações nas áreas tecnológicas, organizacionais e financeiras. Estão surgindo novas formas de produzir associadas, entre outras, à microeletrônica, à biotecnologia e aos novos materiais, e também novas formas de competir, vinculadas à difusão dessas tecnologias no aparelho produtivo. Internacionalmente estas mudanças estão impondo às diferentes economias nacionais um formidável desafio para sua inserção favorável na nova divisão internacional do trabalho que ora se esboça.

O emprego de políticas industriais ativas, coordenadas e acordadas entre a burocracia pública, os representantes relevantes do setor privado e a representação dos trabalhadores, representa uma ruptura com o paradigma neoliberal de ajuste das economias latino-americanas. No entanto, como se sabe, o receituário neoliberal genérico é altamente ideológico, e, ademais, não vem sendo aplicado como se recomenda aos países em desenvolvimento nem mesmo às nações industrializadas onde continua decisiva a presença do Estado.

A formulação da política industrial requer o conhecimento de três questões básicas. Em primeiro lugar uma clara identificação dos objetivos tecnológicos a serem alcançado; em segundo. uma correta avaliação das tendências internacionais do progresso técnico e do processo de restruturação industrial dos países avançados; finalmente, em terceiro lugar, um diagnóstico preciso do estágio atual da estrutura industrial e agrícola brasileiras e também do sistema de inovacão científico e tecnológico do país. Estas três análises definem respectivamente os objetivos, as restrições externas e as restrições internas da política industrial.

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Os setores alvos da política industrial seriam aqueles capazes de induzir aumentos de produtividade nos demais setores econômicos, tal como a indústria de bens de capital, em particular as do complexo eletrônico. No entanto, devem ser excluídos os setores oligolipolizados cuja escala implique na existência de poucas firmas no âmbito internacional. As indústrias produtoras de bens de consumo popular devem receber atenção especial, uma vez que a redução de seus custos beneficia a extensão do consumo de massas no Brasil.

Embora a indústria ainda deva apresentar um saldo líquido na geração de emprego, a ampliação do mercado de trabalho deverá ocorrer em grande escala em setores não manufatureiros, como a construção civil - de forma a contribuir para aliviar o déficit habitacional - e setores de serviços de interesse público. Dessa maneira, a política industrial não deve abandonar seu papel de incentivar atividades geradoras de novos empregos, minimizando eventual impacto negativo na produtividade da economia como um todo.

Por sua vez, a preocupação com o desenvolvimento regional e com as relações interreegionais dentro de um mesmo espaço nacional devem ser um dos aspectos essenciais na formulação da política industrial. Além disso, a participação dos entes descentralizados (governos regionais ou estaduais e municipais) e das pequenas e médias empresas tanto no comércio internacional como na geração da renda e do produto nacional é decisiva atualmente (veja-se o exemplo recente de países como a França, a Itália e em escala menor, o Brasil, no tocante ao papel das PMEs na exportação). Na Europa. o exemplo marcante dos pólos tecnológicos (principalmente na França), o novo papel das pequenas empresas (na Itália) estão a indicar novos caminhos de crescimento para o Brasil, de forma a neutralizar os desequilíbrios regionais.

Por fim, é necessário avaliar as restricões internas advindas da alta heterogeneidade da estrutura industrial brasileira. Tal perfil implica na proposição de estratégias de organização e defesa do setor industrial brasileiro, distinguindo-se claramente quais setores já são internacionalmente competitivos (como alguns segmentos de insumos básicos e papel e celulose, por exemplo), dispensando então a necessidade de sistemas de proteção, como outros que ainda não são competitivos necessitando não só proteção temporária mas uma inserção consistente nos esquemas de política industrial.

Política agrícola

Uma nova política agrícola deve ser proposta considerando os aspectos de políticas interna e externas. Interna, pela fixação de metas de produção de grãos, proteínas, fibras e energéticos que atendam a demanda que ademais de suprir as necessidades básicas da população, gerem excedentes de exportação. Externa, com abertura de novos mercados devendo apoiar-se na estrutura da diplomacia brasileira através dos adidos comerciais, que além de atuarem na colocação dos excedentes, acompanhariam as articulações dos organismos internacionais de comércio (GATT e blocos econômicos). Ao Mercosul, com a profissionalização no trato das questões referentes ao processo de integração do Mercosul, discutindo e consolidando as ponderações dos diversos subgrupos técnicos estaduais, formados em cada estado da Federação. A defesa dos interesses da agropecuária brasileira, especialmente de produtos e de regiões sensíveis é compromisso histórico do trabalhismo democrático brasileiro.

O crédito. O crédito para investimento é fundamental a criação de linhas para financiamento de investimentos de médio e longo prazo a taxas compatíveis (tipo equivalência / produto) especialmente para: recuperação, conservação e fertilidade do solo; drenagem e irrigação; renovação e / ou recuperação de máquinas e implementos agrícolas; formação de plantéis de reprodutores e matrizes animais de alta linhagem genérica, armazenagem, eletrificação, agro-indústria, informática e comunicação rural. O crédito de custeio como instrumento de sustentação e crescimento das áreas plantadas e adoção de tecnologias. O valor financiado deve ser fixado através de custos médios de produção, inclusive para cobrir a totalidade dos custos previstos para cada lavoura. Os valores para custeio e liquidação do financiamento devem ser fixados através do sistema de equivalência / produto, tendo por base o valor médio do produto nos últimos 24 meses. A regionalização do crédito com liberação de crédito de acordo com as peculiaridades de cada região do país desde o plantio até a comercialização.

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Além dos princípios acima, serão adotados o preço mínimo fixado através de custo médio da produção e cumprimento ao OGOM, o preço de liberação dos estoques (PLE) que só poderá ser acionado quando o valor de mercado do preço pago ao produtor estiver 50% acima do preço mínimo de garantia, corrido diariamente por instrumento adequado de correção monetária. Serão liberados recursos suficientes, no início da safra, de modo que o Preço Mínimo de Garantia possa ser cumprido e o Produtor remunerado na base do seu custo médio. Remissões estabelecidas dentro de um período de oito meses. Serão planejados recursos, via orçamento da União, para sustentação da política de estoques estratégicos.

O PDT propõe o estímulo oficial para a ampliação e criação de novas Cooperativas de Crédito Rural. Além do mais propõe a ampliação do atual sistema de "Caderneta Verde".

A organização dos produtores. Estimular a organização dos produtores rurais contemplando o cooperativismo, o sindicalismo, o associativismo (especialmente na forma de CONDOMÍNIOS RURAIS, a exemplo do Rio Grande do Sul). Estimular o sistema de parceria e troca de experiências entre produtores rurais.

O mercado de abastecimento. Regras claras sobre tributação, política fiscal e comercialização de produtos e insumos "in natura" para evitar práticas desleais de comércio tanto de países do Mercosul como de terceiros países. Política tributária equilibrada entre os estados da Federação e os Estados-Nações do Mercosul. Acompanhamento e fiscalização dos estoques e da oferta existentes, como forma de coibir as deformações do abastecimento e do sistema de formação de preços. Manter um sistema atualizado de informações dos mercados nacional e internacional dos produtos agrícolas. Acompanhar custos de produção de insumos e implementos agrícolas estabelecendo margens de lucros compatíveis com a atividade. Controle de qualidade de insumos, máquinas e equipamentos. Manter e qualificar o atual sistema de classificação de produtos de origem vegetal e animal.

Política de estoques estratégicos. Determinação de quais produtos e volumes devem compor um estoque mínimo anual no país e por regiões. A armazenagem deverá ser prioritária pelo estabelecimento de condições para que o crescimento da produção agrícola nacional seja acompanhada de uma correspondente evolução qualitativa da oferta brasileira de espaços de armazenamento. Assegurar a elevação da oferta nacional de espaços de armazenagem, através de um programa específico que contemple recursos para investimento, compatível com a rentabilidade do setor.

Política de apoio científico e tecnológico. Estimular a EMBRAPA e outros órgãos oficiais de pesquisa agrícola na busca de uma nova e dinâmica estrutura operacional, de acordo com as demandas regionais e municipais. Posicionar a pesquisa agrícola para uma forte ação regionalizada SUL, CENTRO-OESTE, NORTE, NORDESTE E SUDESTE. Traçar diretrizes de tecnologia e qualidade de serviços para um grande salto de produtividade nas áreas de grãos, frutas, produtos animais, florestas e pesca. Introdução do Sistema de Qualidade Total nos serviços de pesquisa agrícola e extensão rural. Institucionalizar o sistema de parceria e troca de experiências regionais. Ampliar a base de participação conjunta, ou parceria, entre Estados que possuam Institutos, Centros e estações de Pesquisa e desenvolvimento tecnológico e de organização rural. Restabelecer o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural. atendendo as demandas regionalizadas. Criar mecanismos de investimentos para o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia para o setor agrícola e agro-industrial. Desenvolvimento em genética biotecnológica. Recuperação e adaptação de centros de tecnologia regionais. Desenvolvimento da informática na agricultura. Novos investimentos na capacitação e formação de profissionais em pesquisa e gerenciamento dos recursos tecnológicos e de extensão e assistência técnica.

Seguro agrícola. Cobertura total tanto para os recursos financiados quanto para os recursos próprios. Estabelecer mecanismos adequados de fiscalização para liberação de recursos segurados.

Planejamento agrícola integrado. Reformular o sistema de planejamento agrícola nacional para dotá-lo de instrumentos e orçamento que possa amparar e promover os Estados e os

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Municípios. Municipalização da agricultura com a ampliação da base de parceria e integração com os projetos do Estado e Municípios, fortalecendo a base comunitária, como uma das formas de execução plena de propostas de desenvolvimento econômico e social. Criação do Fundo Nacional para Financiamento de Pequena Propriedade, a exemplo do FEAPER no Rio Grande do Sul. Organizar e operacionalizar a nível nacional um atualizado e integrado sistema de informações estatísticas agrícolas. Fixação de meta de safra agrícola nacional na ordem de 1 (uma) tonelada por habitante, ou seja alcançar uma produção na ordem de 150 milhões de toneladas anuais, no prazo de 5 (cinco) anos. A distribuição de produtos e quantidades seria articulada com as regiões. Estados e Municípios de forma programada, de modo a atender prioritariamente os produtos de primeira necessidade (arroz, feijão, milho, trigo, mandioca, hortifrutigranjeiros, pescado, leite e proteínas de origem animal).

Zoneamento agrícola com determinação das potencialidades produtivas regionais para melhor direcionamento dos recursos.

Ensino Agrícola com estímulo de implantação de CIEP's rurais com forma de capacitação dos recursos humanos regionais e desenvolvimento econômico e social interiorizado.

Transporte com a articulação entre entidades governamentais para a programação da recuperação da malha rodoviária, implantando estradas vicinais, hidro e ferroviária necessária ao escoamento das safras agrícolas. Será implantada uma política de infra-estrutura no campo, com eletrificação rural, comunicações, equipamentos comunitários e de abastecimento. Adoção do moderno conceito do AGROBUSINESS, valorizando todos os segmentos que compõem a cadeia produtiva desde a inatividade "antes da porteira" (insumos), a lavoura ou exploração animal, até as atividades "após a porteira" (agro-indústria de transformação, transportes, armazenamento, etc.)

Políticas Regionais

O PDT trata em toda a sua extensão os problemas bem como adotará as soluções adequadas para região do Brasil. Neste documento preliminar estão sendo enfocadas as regiões amazônicas e o nordeste, para na fase subseqüente acrescentar mais informações destas regiões e das demais que serão objeto da avaliação e eventos partidária.

Amazônia

A riqueza da Amazônia tem despertado ao longo da história, a cobiça das grandes potências. Nela estão as maiores reservas de minerais conhecidas, como o nióbio. Nela está o maior banco genético do mundo decorrente da biodiversidade dos seres vivos, de uma flora com enorme capacidade de diversificação e adaptação. O interesse pelo ecossistema amazônico reside no controle destes verdadeiros bancos genéticos para usá-los e manipulá-los pelas técnicas de engenharia genética para em seguida patenteá-los e daí obter grandes lucros.

As fronteiras da região amazônica são extremamente vulneráveis, mal protegidas e seus marcos demarcatórios vulneráveis e correndo o risco de se tornarem enclaves e objeto de invasões de fronteiras, de área de contrabando e narcotráfico. Muitas vezes ocorrem episódios de violência e de genocídio contra as populações indígenas que o PDT denuncia e repudia. Da mesma forma, o PDT não aceita que os países desenvolvidos assumam propostas de internacionalização da região a pretexto de combate à violação dos direitos humanos.

O PDT propõe que, através da ação coordenada pelo Estado brasileiro, o poder público federal e estadual, as Forças Armadas e a sociedade civil atuem de forma a consolidar a integridade da região amazônica. O desenvolvimento sustentado da região se dará com respeito a sua diversidade étnica, sua biodiversidade e uso racional de suas reservas minerais.

Como parte desta estratégia, o PDT defende o reaparelhamento tecnológico das Forças Armadas para o sistema de vigilância da Amazônia, incluindo rede de radares e de outros tipos de sensores, de sistema de transmissão e comunicação de dados por satélites. O PDT propõe,

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também, que o Estado intensifique a ação de fomento ao desenvolvimento da região, com elaboração de programas que atendam as populações ribeirinhas ou localizadas em outros pontos isolados da Amazônia, incentivando a Indústria Naval da região voltada para o desenvolvimento da navegação fluvial, apoiando o transporte fluvial, as cooperativas e outras formas associativas de produção, a melhoria dos sistemas de educação e saúde e de infra-estrutura de saneamento básico nas grandes concentrações populacionais. O combate intensivo às endemias da região e a integração dos projetos de ocupação de modo a garantir qualidade de vida aos seus habitantes com preservação ambiental. O PDT respeita as soluções locais de saneamento das regiões de pequena densidade populacional.

O PDT reforçará o papel dos institutos de estudos amazônicos para que aumentem sua capacidade de apontar soluções técnico-científicas para o desenvolvimento da região. A articulação das universidades e dos institutos de pesquisa e a ação de organismos com capacidade de fiscalização e de polícia, implementará e controlará os estudos estratégicos quanto a biodiversidade e a reserva de minerais da região. A ação dos órgãos de desenvolvimento regional deverá dar prioridade ao fomento de pequenas e médias empresas e a articulação destes com as grandes empresas industriais e de tecnologia mais avançada que se instalaram na Zona Franca de Manaus.

O Nordeste

Ao longo dos séculos, o Nordeste do Brasil tem sido objeto de interpretações e reinterpretações variadas, abrangendo o sertão semi-árido, as chapadas, o agreste e o brejo, indo até as terras úmidas do meio-norte e os campos do norte de Minas Gerais. Uma terra de complexa caracterização. O Nordeste, na sua heterogeneidade física e cultural, nem sempre tem o mesmo significado, em vista da múltipla diversidade da região e do próprio país.

O conceito unitário do Nordeste foi gerado e tem-se perpetuado a partir da perspectiva dos órgãos oficiais de desenvolvimento regional, criados para fomentar o seu progresso, embora a partir da visão e dos interesses políticos do Governo Federal. Este transformou, por diversas vezes, os órgãos regionais de fomento em representação intermediárias da sua ação, progressiva centralização do poder político e expansão burocrática dos Estados federados. O BNB e a SUDENE tiveram inegável ascendência sobre os Estados nordestinos, foram os responsáveis pelo fortalecimento da capacidade regional de planejamento, de pesquisa econômica, de ensino superior e de pesquisa científico-tecnológica. A debilitação da função do BNB, mediante a retirada dos recursos estáveis para o financiamento do progresso regional, e a total debilitação da SUDENE, hoje incapaz de desempenhar o seu papel é a resultante da instauração de modelos de desenvolvimento marginalizador.

Apesar do razoável ritmo de crescimento econômico e relativa modernização técnica, não se conseguiu alterar a pequena participação na formação do PIB brasileiro (cresceu de 13,4% em 1960 para 14,8% em 1989) nem aliviar as precárias condições sociais em que vive a esmagadora maioria da gente nordestina, titular dos recordes nacionais de miséria.

A maioria dos índices de qualidade de vida nos nordestinos está separada em mais de 50%, com relação às restantes do país. No Nordeste, está cerca da metade das habitações subnormais do Brasil, quase dois terços dos brasileiros com déficits calóricos de 200 calorias / dia, quase metade dos trabalhadores brasileiros com rendimento igual ou inferior a um salário mínimo. A expectativa de vida do nordestino é de 52 anos, inferior em 10 anos à média do habitante do Sudeste. Em números absolutos, há cerca de 4,6 milhões de trabalhadores rurais e 2,6 milhões de trabalhadores urbanos percebendo remuneração igual ou inferior ao salário mínimo. 1,8 milhões dos rurícolas e 1,87 milhões dos trabalhadores urbanos não possuem carteira profissional assinada. Apenas 26,4% da força de trabalho são beneficiários da Seguridade Social (metade do índice nacional). Existem 500 mil pessoas em desemprego aberto na região, principalmente nas áreas metropolitanas, o que, junto com o contingente de subempregados, totaliza 6 milhões de trabalhadores, dois terços dos quais na zona rural.

Por outro lado, o adensamento populacional, o avanço do grande capital monopolista na Região, vindo, na maioria das vezes, do Sudeste, na busca dos incentivos oficiais e o uso de

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tecnologias inadequadas, têm agravado as questões ambientais, sendo hoje o Nordeste, presa fácil da destruição do meio ambiente. As secas periódicas expõem essa realidade no semi-árido e a expansão da atividade agrícola na faixa litorânea colocar de lado todo o pressuposto de preservação ambiental.

Propõe-se então a adoção de várias medidas entre outras que poderão ser adotadas em relação à região:

- Programas de ocupação de terras e estímulo à agro-indústria, objetivando conter nas zonas rurais a maior parcela possível da população. - Propiciar uma efetiva irradiação dos benefícios gerados pelas indústrias básicas já instaladas no Nordeste. - Implantar uma política de utilização de recursos energéticos renováveis existentes na região. - Incentivos especiais às atividades intensivas de mão-de-obra. - Atentar para que o Programa de Desenvolvimento preserve o meio ambiente. - Apoiar as pequenas, médias e microempresas e dotá-las de condições para compor redes ligadas a complexos de maior porte. - Reforma Agrária inserida num programa de desenvolvimento mais amplo, para o atendimento das metas de produção e fortalecimento dos pequenos produtores rurais, incluem-se aquelas políticas de colonização. - Acelerar o crescimento agrícola objetivando criar uma economia de mercado e dar sustentação ao processo de crescimento industrial. - Implantar um amplo programa de irrigação com equipamentos eficazes e de baixo custo, incentivando e generalizando sua prática. - Incentivar o desenvolvimento de tecnologia de uso adequado do solo e da água de interesse maior para as regiões semi-áridas do Nordeste. - Reorganizar o espaço econômico, identificando e incentivando o uso de suas potencialidades. A dinamização da economia é uma conseqüência.

Emprego e salário

O Estado como agente potencializador da Economia, deve intervir no mercado interno e construir uma política específica de geração de emprego e renda e garantir o trabalho como instrumento de auto-realização, exercício pleno da cidadania, principal veículo de bem-estar e ascensão social. O Estado é o regulador do mercado, devendo construir mecanismos redistributivos.

Aumentar a participação do trabalho na renda nacional é uma prioridade fundamental do PDT

Observa-se que a participação de trabalho e capital na renda nacional sofreu de 1960 para cá uma mudança radical. Naquela década a remuneração do trabalho representava mais de 60% da renda nacional e a remuneração do capital, algo em torno de 30%. Agora a relação é inversa (capital - mais de 60%, trabalho - em torno de 30%).

Este modelo além de generalizar o estado de pobreza do trabalhador, inclui o Brasil no rol dos países de menor remuneração de mão-de-obra e de maior concentração de renda. Propomos que o Estado recupere os níveis anteriores aos anos 60 e desenvolva uma política de imediata redistribuição de renda através do aumento da massa salarial na participação do PIB.

Para reverter o modelo econômico de hoje no Brasil, gerar novos empregos e alterar a distribuição da renda nacional, deve-se construir mecanismos nos quais o potencial da economia brasileira passe a ser a alavanca do processo social. Economia próspera, como por exemplo a norte americana que dedica 2/3 da renda nacional à remuneração trabalhador.

Aumentar o valor real do Salário Mínimo

Para nós trabalhistas, o salário mínimo faz parte de nossa luta histórica. A criação por Getúlio Vargas, ainda que em uma economia debilmente industrializada previa suprir as necessidades básicas do trabalhador, situando-se em torno de US$ 100. Hoje, de uma economia altamente industrializada dispondo de tecnologias avançadas, mercado financeiro altamente sofisticado, o salário mínimo é de US$ 50. A produtividade da Economia foi canalizada para o setor financeiro. O fim da especulação financeira, tal como propomos na reforma do sistema

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financeiro, certamente estancará a situação perversa que vivemos, permitindo a geração de novos empregos e de renda compatível com a dignidade humana. O PDT, na presidência da comissão do trabalho da Câmara dos Deputados, sempre lutou contra os patamares do salário mínimo.

Retomar o poder aquisitivo do salário mínimo tendo como base estudos do DIEESE que indica o seu valor em torno de US$ 350 é condição essencial para o desenvolvimento social da classe trabalhadora.

Enquanto a aristocracia financeira ditar as leis e dirigir a gestão do Estado, o endividamento do Estado for uma política de interesse dos bancos, de capital interno e externo, o déficit público atrelado às ações especulativas desse setor, não temos dúvida de que a Nação continuará sob a égide de brutal modelo concentrador com elevado nível de inflação.

O quadro atual demonstra que a produtividade da economia foi apropriada pelo capital, marcadamente pelo setor financeiro. O fim da especulação financeira, tal qual como propomos anteriormente, certamente estancará a situação perversa que vivemos, permitindo a geração de novos empregos e de renda compatível com a dignidade humana. O PDT, na presidência da Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados, lutou para elevar o valor efetivo do salário mínimo, enfrentando a incompreensão de forças políticas que hoje, por mero oportunismo eleitoral, tentam se apropriar de nossas bandeiras de luta.

O PDT considera também fundamental maior eqüidade na distribuição interna da massa de salários. Uma maior aproximação entre os valores do salário é fator importante de equilíbrio e estímulo social.

Participação dos trabalhadores no resultado das empresas

O PDT vem propondo através de seus parlamentares a participação efetiva dos trabalhadores nos lucros das empresas. A Constituição prevê duas formas de participação: no lucro financeiro das empresas e na produtividade do trabalho deflagrada pela renovação tecnológica. O PDT elaborou projeto de regulamentação que considera entre outros, os seguintes critérios e condições: a) índice de qualidade, lucratividade ou produtividade da empresa; b) produtividade de indivíduos, grupos ou setores que atuem sob a mesma coordenação; c) programa de metas, resultados e prazos pactuados previamente, tanto a nível setorial quanto individual; d) tempo de serviço; e) percentual sobre o lucro da empresa ou resultados de setores ou áreas gerenciais específicas - o instrumento de acordo celebrado será arquivado na entidade sindical dos trabalhadores. A participação nos lucros não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado de empresa, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista ou previdenciário. As quantas pagas aos empregados e título de distribuição de ganhos econômicos resultantes de produtividade do trabalho, são dedutíveis como despesa da pessoa jurídica, dentro do próprio exercício.

Os fundos sociais públicos financiarão a geração de empregos

O trabalhismo legou para o Brasil condições para a construção da cidadania, a formação de mão-de-obra industrial e com ela, a urbanização das grandes cidades brasileiras. Neste período, o setor público se organizou. A CLT foi um marco na conquista da cidadania do trabalhador brasileiro.

No período ditatorial, com o Estado Empresário, recursos expressivos dos trabalhadores foram carreados para fundos sociais públicos - FGTS, PIS, PASEP, FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) etc., - e desviados para os interesses do capital. O FAT, por exemplo, com mais de US$ 7 bilhões anuais, provenientes de 0,69% do total do faturamento das empresas, tem 40% dos seus recursos aplicados pelo BNDES que costuma financiar projetos de investimento sem maior critério, a exemplo do investimento em setores que desempregam como o recente investimento na indústria de celulose. Recursos do FAT estão sendo desviados para cobrir

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déficit do tesouro nacional com programas sociais, a exemplo do pagamento de hospitais do sistema único de saúde, para o qual não se destinam.

O PDT propõe o rigoroso controle da administração dos Fundos Sociais Públicos (não estatais, mas públicos). Devem se constituir em instrumentos estratégicos à execução de uma política geradora de empregos, sob controle dos trabalhadores. Priorizaremos o investimento com recursos dos Fundos Sociais para os setores que empregam mão-de-obra, para pequenas e médias empresas, construção de habitações para o trabalhador e setores sociais como a educação, saneamento básico.

Melhoria do seguro desemprego com vinculação a sistemas que empregam

Será feito todo esforço para a construção de um Sistema Público de Emprego que monitorará a política de geração de empregos, inclusive com políticas compensatórias, não se descartando o estímulo às frentes de trabalho em todo o país.

Esse sistema vinculado ao Seguro Desemprego, deverá ampliar o período de cobertura do benefício social. Atualmente, ocorre que a primeira parcela do Seguro Desemprego é auferida pelo trabalhador somente após sessenta dias do seu requerimento. Neste período, o trabalhador não dispõe de condições para se locomover em busca de novo emprego, além de perder o benefício do vale transporte e vale alimentação.

Sugere-se, com a adoção de mecanismos rigorosamente controlados, acoplar a percepção do benefício a um programa de assistência alimentar, mediante distribuição de cestas básicas a nível nacional, após 15 dias. Uma vez por semana o trabalhador apresenta-se aos postos do Sistema de Empregos, onde além de receber a cesta alimentar, acompanha a disposição de vagas no mercado de trabalho. É através deste mecanismo: Seguro Desemprego - Assistência Alimentar - Intermediação de Emprego - que o governo Leonel Brizola vem apontando caminhos para atuar na luta contra a fome e a miséria, entre outros mecanismos.

Estímulo à organização do mercado informal

Em um país onde apenas 1/3 dos trabalhadores dispõem de carteira de trabalho assinada, é impossível desconhecer a existência de um mercado informal, marcadamente acentuado nestes últimos três anos, por conta de uma política recessiva que se abateu sobre o país. O poder público deve encontrar mecanismos para auxiliar e incentivar o surgimento de pequenas unidades de produção familiar e agregá-las, disciplinando o seu funcionamento, para evitar prejuízos pessoais como acidentes de trabalho por falta de reconhecimento do poder público da existência deste imenso mercado de trabalho.

Na Itália o êxito de incorporar no setor organizado da Economia o setor informal, se fez através da construção de parcerias entre o Poder Público, os sindicatos e as empresas médias. O esforço foi no sentido da organização de micro-empresas e núcleos produtivos com tratamento fiscal excepcionalmente favorável. Devemos apoiar as iniciativas de fortalecimento das micro e pequenas empresas.

O PDT propõe a revisão da legislação trabalhista

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943, que exprime conquistas, avanços e lutas dos trabalhadores urbanos desde o início do século, representa um marco político, com repercussões que se projetam até hoje na organização das classes trabalhadoras. Em virtude das circunstâncias de que, ao longo de meio século, a sociedade e a economia sofreram profundas transformações, impõe-se ampla revisão da CLT, mantidos, no entanto, preceitos e princípios que constituem reivindicações históricas das classes trabalhadoras na busca de formas de organização autônoma e independente.

Um novo Código de Relações de Trabalho, que ajustando a legislação trabalhista ao que dispõe a Constituição de 1988 (unicidade sindical), eis uma tarefa que o PDT deve situar na

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esfera de prioridades na elaboração de estratégia (linha política) para o movimento sindical. Esse compromisso exige do Partido refletir sobre a necessidade de que - mediante alteração do texto Constitucional - a diversidade econômica e social brasileira requer a quebra do monopólio da União na produção de Legislação Trabalhista e a transferência para os Estados de mecanismos da fiscalização das relações do trabalho.

Vamos reduzir os acidentes de trabalho.

O Brasil dispõe de inúmeras leis sobre segurança, prevenção de acidentes e saúde do trabalhador. Estabelece ainda a responsabilidade civil por acidente do trabalho dos diretores, gerentes, sócias e administradores de empresa. Autoriza a Previdência Social a promover ação regressiva contra empresa ou terceiros causadores do acidente de trabalho. Garante estabilidade no emprego ao acidentado por doze meses após a cessação do auxílio doença. Mesmo assim, o Brasil é campeão mundial de acidentes de trabalho. São oitocentos mil acidentados por ano e cinco mil mortos. Estes dados estatísticos incluem apenas os trabalhadores cobertos pela Previdência. Se considerarmos que dos sessenta e cinco milhões em atividades, apenas 1/3 tem carteira assinada, a estatística oficial cobre apenas parte do universo assustador de acidentes do trabalho. A falta de alimentação, a baixa remuneração do trabalho, desconhecimento por parte dos trabalhadores das tarefas que executam, desrespeito por parte dos empregadores no uso de equipamentos de proteção, tecnologias obsoletas de alto risco transferidas do exterior, péssimas condições de trabalho, são alguns dos fatores dessa tragédia nacional que penaliza o trabalhador, formando uma legião de mutilados alijados dos meios de produção e constitui um elevado ônus para a sociedade brasileira calculado em mais de US$ 3 bilhões por ano.

Para reverter esta situação, deverão ser desencadeados programas de investimento em segurança do trabalho, treinamento da mão de obra, coibir a transferência de tecnologias ultrapassadas e danosas ao trabalhador e aumento da fiscalização das condições de trabalho, adotando-se critérios de desincentivo financeiro e social das empresas com altos níveis de acidente de trabalho e da premiação financeira dos trabalhadores para as atividades insalubres.

É importante que as lideranças sindicais, nas negociações coletivas passem a fazer a defesa da vida através da melhoria das condições de trabalho no mesmo plano das reinvidicações salariais.

Promover a capacitação do trabalhador

Os trabalhadores no Brasil têm dificuldades nas negociações com o patronato em condições mais eqüitativas. É necessário estimular a formação de quadros dirigentes sindicais em parceria com as universidades. As universidades brasileiras devem estimular atividades de ensino, estudos tecnológicos e de pesquisa sobre o mundo do trabalho.

O PDT vai combater a exploração do menor trabalhador e a escravização da mão de obra

Vamos estimular programas que associem trabalho e educação. A atividade ocupacional deve ser instrumento estratégico para o jovem no processo educacional, além de minimizar a evasão escolar. Àqueles que estão fora do sistema educacional é necessário criar um tratamento especial para levá-lo, através do trabalho, de volta à escola. O trabalho infantil e de adolescentes no Brasil deve ser melhor avaliado para que se eliminem relações graves de exploração do menor. O PDT, no governo, vai aplicar as mais severas punições, inclusive adotando-se a defesa dos direitos humanos, para empresas ou empregadores de mão de obra escrava.

Projeto Brasil

II - Estratégias Para a Soberania do País

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O Brasil não possui uma estratégia definida, como o exercício da soberania nacional em toda a sua plenitude, o que, em outras palavras significa a não defesa eficaz dos seus interesses. O projeto nacional é definido pela política, com seus objetivos de longo e médio prazos e os meios usados para alcançá-los são essencialmente a diplomacia e as Forças Armadas.

Nossos direitos somente serão reconhecidos na medida em que dispusermos de força (política, tecnológica, econômica e de dissuasão militar) para fazê-los presentes na mesa de negociação. As fantasias de uma ordem mundial fundamentada no direito das nações é a retórica com que as nações dominantes disfarçam a imposição de seus interesses.

As mudanças ocorridas no mundo, com a eliminação do contexto de bipolaridade, colocaram o Brasil diante da tarefa para cuja solução as nossas Forças Armadas se encontram completamente despreparadas. Por exemplo, o desaparecimento da imunidade das fronteiras garantidas, até então, pela potência dominante, quer contra os países vizinhos, quer contra ameaças extra-continentais. Pelo contrário, pode ocorrer, como nos parece que de fato ocorre, que, em certas circunstâncias, tumultos em nossas fronteiras sejam, agora, convenientes à imposição deste poder dominante.

A importância das forças armadas nos assuntos internos do país decorre, em parte, da incapacidade das elites políticas de formularem um projeto nacional consistente, no qual elas tenham papel claramente definido. É certo que o papel fundamental das Forças Armadas, no campo das relações internacionais, é o do controle do patrimônio nacional. Para isto é necessário que disponham de recursos humanos e tecnológicos para o cumprimento destas tarefas de forma eficiente.

As relações internacionais

Sofremos as conseqüências de uma ordem econômica internacional criada a partir da Conferência de Bratton Woods, de 94, pelos países vencedores da II guerra mundial, que repartiram o mundo de forma a garantir-lhes os benefícios de um sistema de trocas desiguais - das quais decorrem as perdas, cuja existência e perversidade fomos o primeiro e hoje somos praticamente o único partido a denunciar.

No âmbito econômico, a globalização dos mercados se organiza através da formação dos megablocos de interesses transnacionais numa espécie de nacionalismo ampliado, configurando o ressurgimento da tentativa de formar grandes impérios de forma articulada em substituição às tentativas de hegemonia de uma nação sobre as demais em um espaço geográfico comunitário. Além de produzir um modelo de comércio exterior em que as importações são cada vez mais caras e as exportações cada vez mais barata, esse sistema torna inútil qualquer esforço que façamos, pois a riqueza gerada pelo trabalho de nossos povos migra para os países ricos sob a forma de encargos da dívida externa, royalties, patentes, super-faturameto das importações e sub-faturamento das exportações, a manipulação de contratos de fretes e seguros: as remessas ilegais de divisas para o exterior e os demais mecanismos que, a cada momento e cada caso, são inventados e aperfeiçoados para garantir melhorar o desempenho dessa conta corrente, formando o quadro insuportável das perdas internacionais.

É fundamental uma política externa independente, desenvolvida de dentro para fora, que nos permita estabelecer com clareza nossos interesses e possibilidades no quadro internacional. A defesa da Nação, de seus interesses econômicos e de seus valores éticos e culturais, é da maior relevância na luta contra a opressão pela liberdade dos povos, que estão sendo aniquilados moral e economicamente, com a cumplicidade dos meios de comunicação de massa dominados pelas grandes empresas.

Os verdadeiros protagonistas da política externa e das relações internacionais são as nações. As nações, nesse plano, sobrepõem-se à ideologia. Toda política externa é sempre reflexo dos interesses e princípios de um país na cena internacional. O poder verdadeiro, na ordem internacional, é a nação. A idéia nacional, a soberania nacional, a defesa dos interesses nacionais permanecem, portanto, como os valores mais importantes da ação diplomática de

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nosso país, apesar de tantos esforços, por parte de interesses antinacionais, para convencer-nos de que uma falsa modernidade liquidou o princípio da nacionalidade e da soberania e a própria noção de Pátria.

Integração latino-americana no contexto internacional

A integração latino-americana, que deve consolidara-se nos anos 90, tem como condição fundamental a plena vigência da democracia no continente e o pleno respeito à soberania e autodeterminação de cada país. Isso significa que não poderemos aceitar situações como a de Cuba, com as tropas norte-americanas na base de Guantánamo e com a persistência de um bloqueio econômico que já dura trinta anos e castiga cruelmente o povo cubano.

O fortalecimento das relações do Brasil com os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, da América Latina e da África em particular, e ainda a efetivação do Mercado Comum em toda a América do Sul é a meta. Na construção de um modelo próprio de mercado comum, nossa principal preocupação, nossa diretriz mais substantiva deve ser a defesa dos interesses dos povos latino-americanos nesse processo de integração, para que a integração não seja convertida em instrumento de dominação dos nossos países pelos países do Primeiro Mundo. Na busca dessa meta o PDT apóia decisivamente o Mercosul, como passo decisivo à unidade econômica latino-americana.

Nossos interesses nacionais recomendam que nos voltemos também para a África e para nações como a China, a Índia que tem padrões de industrialização semelhantes aos nossos. O Brasil foi dos primeiros países do mundo a reconhecer a independência de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe e outros países africanos. Os países africanos, de língua portuguesa, são riquíssimos em recursos econômicos e embora devastados pela guerra, nossa identidade cultural exige uma postura solidária na ação diplomática, nos esforços e investimentos para a reconstrução e preservação da sua soberania.

A soberania e o espaço brasileiro

Os interesses mais permanentes do Brasil são aqueles dependentes de seu próprio espaço geográfico: terrestre, marítimo, aéreo sobre o qual precisamos exercer plena soberania, sob pena de riscos inaceitáveis da sobrevivência da nação. Hoje, este é o nosso objetivo principal.

A revolução tecnológica, longe ainda de atingir o seu apogeu, acrescentou às preocupações estratégicas referentes ao território e ao espaço marítimo tradicional dificuldades no controle do espaço aéreo e do que se convencionou chamar de mar patrimonial, gigantesco patrimônio constituindo-se numa área de 50% do território nacional, incalculável depósito de proteínas, minerais, energia e biotecnologia. O exercício da soberania nesses espaços só se pode realizar através de instrumental tecnológico altamente desenvolvido.

O desenvolvimento da capacidade tecnológica

O caminho é o desenvolvimento dos meios próprios à sua execução, no que é grande o nosso atraso. Neste campo, a tecnologia não se vende, não se empresta, não se dá. Temos de consegui-la, nós mesmos, como e onde pudermos. Sendo a tecnologia a aplicação do conhecimento e estando este, ao contrário daquela, disponível em todo o mundo, entre tantas outras tarefas a serem levadas adiante, uma desde logo se impõe: reunir universidade, os institutos de pesquisa e empresa privada com a finalidade de alcançar um patamar mais elevado neste domínio.

É necessário resolver problemas de ordem estrutural para desenvolver a capacidade nacional de produção da ciência e tecnologia, pois a revolução industrial não alcançou, em todo o território nacional, a plenitude das transformações tecnológicas, nem produziu mudanças sociais generalizadas, permanecendo inacabada pela interrupção das reformas de base. Portanto, os investimentos, o aprimoramento das estruturas de pesquisa e de geração de

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novas tecnologias, a maior inserção do país no circuito de difusão de informações tecnológicas é imprescindível para a ampliação da capacidade tecnológica nacional.

O projeto estratégico nacional depende desta capacidade e a nação depende de um projeto sem o qual é impossível articular seus vários segmentos, harmonizando-os de modo a fazer prevalecer os interesses fundamentais do país num cenário mundial cada vez mais caótico.. Nunca é demais afirmar que os objetivos nacionais serão inatingíveis sem a participação do povo. Sua mobilização se dá quando ele participa, também, dos resultados do desenvolvimento nacional. As atividades tecnológicas exigem decisões políticas de poder, grandes inversões de longa maturação e complexas estruturas de produção. No caso brasileiro, as únicas estruturas que reúnem condições são as empresas estatais estratégicas. Não é por acaso que os mais efetivos centros tecnológicos existentes no país estão localizados em empresas como a Petrobrás, a Embratel, a Eletrobrás, a Embraer ou a universidade e institutos de pesquisas que realizam pesquisa em conjunção com estas empresas.

As opções tecnológicas, o desenvolvimento e as perdas internacionais

É imprescindível ter plena consciência das estratégias dos países industrializados que objetivam superar suas vulnerabilidade no campo energético e de recursos naturais. Seus caminhos não são evidentemente os de substituir fontes energéticas ou matérias primas escassas por outras, mesmo porque elas não são disponíveis, mas algo mais profundo. Para isto, esses países impõem a subvalorização desses recursos escassos, enquanto supervalorizam aqueles que lhe são abundantes internamente, como o capital, a estrutura industrial e de serviços, altamente competitivos, e, principalmente, a produção de tecnologia.

Os países subdesenvolvidos, potencialmente ricos, ficam sujeitos ao seguinte dilema: embora ricos em recursos naturais estratégicos, ao persistirem servis com seus "modelos" dependentes, ficarão sempre submetidos às diretrizes que lhe são impostas pelos pacotes tecnológicos externos. Assim, tendem, cada vez mais, a aumentar a dependência em relação a fatores de produção que não dispõem e a inviabilizar a exploração racional e a valorização relativa dos seus próprios recursos. Quando o país dependente consegue contornar essas dificuldades e, com competência e decisão, constrói uma estrutura de realizações tecnológicas próprias, como aconteceu com o Brasil que criou uma estrutura de poder no campo tecnológico industrial, os instrumentos do poder hegemônico a desmonta e destrói, utilizando naturalmente prepostos nativos, que fazem o serviço, sendo por isso, devidamente premiados. Não podemos aceitar pressões que os países industrializados exercem sistematicamente sobre o governo brasileiro, para arrancar-nos um tratado de patentes que beneficie os interesses de sua indústria. O setor farmacêutico, por exemplo, depende cada vez mais da riqueza da biodiversidade do nosso território, das nossas florestas e especialmente da Floresta Amazônica.

Também não podemos regredir a condição da economia neo-primária exportadora, como está acontecendo com alguns países latino-americanos que adotaram um receituário neo-liberal que, no caso, poderíamos sem malícia confundir com um receituário neolítico. O Brasil, ao contrário, para absorver criativamente e de forma sistêmica e integrada os avanços tecnológicos nas áreas de microeletrônica, das telecomunicações, da informática, da biotecnologia e novos materiais, depende da atuação direta ou indireta do setor público, ou seja, de um Estado que tenha permanecido inteiro e de pé.

O papel das universidades e centros de pesquisa na produção de ciência e tecnologia, a indução tecnológica propiciada pelo poder de compra das grandes estatais e a constituição de pólos avançados de alta tecnologia (inclusive em cooperação ou parceria com a iniciativa privada) são vocações e atividades públicas essenciais que o Estado deve levar adiante.

As forças armadas e a soberania nacional

As Forças Armadas sempre foram sensíveis aos acontecimentos de natureza econômica, política e social da história do país, manifestando-se através de formas de visão e de interpretação de nossa realidade que expressaram a própria sociedade.

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O que se pode constatar é que todas as vezes que as tendências progressistas predominaram foram momentos de reafirmação da soberania e de avanço do desenvolvimento do país, como o tenentismo, a revolução de 1930, as lutas nacionalistas e em favor do desenvolvimento da década de 50. Portanto, a consolidação da soberania e a construção da Nação devem contar com a atuação das Forças Armadas como instituições historicamente enraizadas em nossa sociedade. Os papéis fundamentais das Forças Armadas nas estratégias de desenvolvimento nacional estão relacionados com a defesa da integridade do território nacional, a respeita da organização federativa e à soberania do Brasil. Por tal razão, as Forças Armadas na nova sociedade brasileira, tem reservados os papéis estratégicos fundamentais no uso e no conhecimento das potencialidades de nossa plataforma submarina e das riquezas dos recursos do mar, no manejo das tecnologias espaciais, no uso do patrimônio de nosso solo e subsolo e no controle da defesa das fronteiras, inclusive como agentes do processo civilizatório das regiões mais remotas do país.

As Forças Armadas têm uma destacada função na pesquisa tecnológica e científica que interessam as estratégias de desenvolvimento, inclusive quanto à recursos energéticos, novos materiais, telecomunicações, informática, inclusive atuando em cooperação com universidades e institutos de pesquisa.

O Governo Federal deve promover a modernização tecnológica de nossas Forças Armadas destinando um percentual maior do PIB para os projetos de reequipamento, de aperfeiçoamento de recursos humanos e uso de novas tecnologias. Também deverá alcançar mais recursos para os programas diretamente relacionados com as ações em regiões de fronteira e na Amazônia, bem como para pesquisas, mapeamento e vigilância da costa e da plataforma submarina.

O PDT é contrário aos projetos internacionais, patrocinados pelos países ricos, que pretendem transformar as Forças Armadas dos países subdesenvolvidos em Guardas Nacionais ou forças policiais auxiliares condenadas ou supervisionadas por organismos internacionais e supranacionais.

Projeto Brasil

III - Uma Revolução na Educação

O projeto dos governos do PDT para o país tem conceituado a Educação como a reforma de base mais importante para a criação de sólidos alicerces do desenvolvimento desta nova sociedade. É preciso garantir o acesso de todas as crianças à educação básica, do pré-escolar ao segundo grau, em um curto prazo. De imediato, é necessário assegurar uma escolaridade mínima de cinco anos nas primeiras séries do primeiro grau a todas as crianças. Assim, nenhuma criança permanecerá menos de cinco anos na escola, eliminando-se a repetência que é o principal fator de estigmatização e de marginalização das crianças das classes populares.

A escola de Horário Integral - Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs)

Criar no Brasil a escola que o mundo desenvolvido oferece a todas as suas crianças e jovens deixou de ser um sonho para se tornar a obrigação dos governos e a esperança de todo o povo brasileiro. Os CIEPs oferecem, pela primeira vez, uma solução real ao problema da educação cuja meta é formar homens capazes de compreender a sua realidade e organizar-se com seus pares para nela intervir, tendo recursos próprios capazes de corresponder aos embates e questões que lhes sejam propostas, num lúcido exercício de cidadania.

A escola de horário integral é necessária a qualquer criança, mas é absolutamente indispensável para aquelas provenientes das camadas pobres das grandes áreas metropolitanas A proposta político-pedagógica da escola de horário integral pretende dar conta do processo de reconstrução contínua de conhecimento, possibilitando que todos os alunos

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tenham acesso ao saber historicamente produzido pelo homem, contribuindo para reverter o quadro dramático de repetência e de evasão que se verifica no país.

O regime escolar dos CIEPs se dá em progressão contínua, assegurando o acesso à série seguinte, com avaliação para diagnóstico da situação do aluno no processo de construção do conhecimento. Atividades de informática, de teledifusão e de estudo dirigido possibilitam o apoio necessário para o aprofundamento e consolidação dos conceitos científicos, básicos para a continuidade de seus estudos.

Há ainda um trabalho de articulação da vida comunitária com o processo educacional através da animação cultural, cujo objetivo é identificar e resgatar a cultura local, suas manifestação, o seu fazer cotidiano, que deve se incorporar ao dia-a-dia da escola.

Nas escolas de horário integral há práticas higiênicas formativas, como o banho diário e a escovação de dentes, o atendimento médico e odontológico preventivo e curativo e a integração de atividades de saúde nas atividades de ensino. Como os alunos permanecem o dia todo na escola, são garantidas a eles quatro refeições diárias.

Os CIEPs podem atender aos alunos nos primeiros cinco anos de escolaridade (ciclo básico), em horário integral, ou aos alunos das cinco séries seguintes, que constituem o ginásio público, também em horário integral ou, no mínimo, em 6 horas diárias.

À noite, os CIEPs que atendem ao ciclo básico, funcionam com o projeto de educação juvenil, estruturado para recuperar o jovem de 14 a 22 anos ainda analfabeto, marginalizado, num meio social em que o domínio do código letrado é indispensável.

Já nos ginásios públicos, à noite, pretende-se oferecer o curso Madureza - um ensino que vem ao encontro da necessidade de oferecer àqueles que desejam investir em si próprios, a oportunidade de concluir seus estudos de nível médio.

No complexo arquitetônico do CIEP há residências que podem receber crianças e jovens entre 6 4 14 anos, em situação de carência ou abandono. É um recurso que busca solução no sistema escolar para alunos que estejam em dificuldades sociais sanáveis. O atendimento tem um caráter emergencial e temporário, preservando os vínculos de solidariedade e afeto da criança com o seu universo familiar e cultural.

O combate à repetência como reforma de base

Os lamentáveis índices de repetência nas escolas públicas vêm contribuindo para o fortalecimento do mito da inferioridade que estigmatiza as crianças das camadas populares tanto quanto as resposabiliza pelo fracasso escolar.

A reformulação do sistema de avaliação dos alunos se faz urgente principalmente nas séries iniciais do primeiro grau. Esta reformulação, porém, só acontecerá efetivamente se for acompanhada pela mudança das concepções arraigadas que há décadas embasam a formação dos nossos professores. Para provocar estas mudanças profundas é preciso levar adiante uma nova proposta pedagógica que se inicia por um plano básico de estudos para as séries iniciais calcadas nos seguinte s princípios:

- colocar aluno no centro do processo educativo, partindo-se da premissa de que ele é sujeito do seu próprio conhecimento e, portanto, capaz de construir o seu saber;

- organizar em cinco anos de escolaridade as séries iniciais (ciclo básico) obrigatórias, sem interrupção do processo de aprendizagem e expandir a escolaridade gradativamente aos anos subseqüentes do primeiro e segundo graus, inclusive com a revisão legal que modifique os atuais primeiro e segundo graus para cinco anos (ciclo primário), mais cinco anos (ciclo ginasial) e mais dois anos voltados para o prosseguimento de estudos a nível de terceiro grau e/ou dois anos de Educação Tecnológica com cursos de qualificação em nível secundário;

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- implantar gradativamente os Ginásios Públicos para a educação secundária.

- organizar de forma coerente os conteúdos programáticos que se traduzem em atividades integradas, adaptando-se aos interesses e as vivências da criança;

- ampliar cada vez mais o tempo de permanência do aluno na escola de tempo parcial, estendendo-o, sempre que possível, ao tempo integral;

- estimular a participação ativa e decisiva da comunidade na escola, gerando ações de reciprocidade: a escola com a comunidade e comunidade com a escola.

Para implantar esta reforma de base é necessário também:

1 - implantar um sistema de avaliação permanente;

2 - garantir a qualificação do profissional do ensino.

A avaliação permanente desvincula a avaliação da reprovação, porque substitui verificações da aprendizagem que assumem um sentido punitivo para o aluno, por um acompanhamento do desempenho do aluno, do professor e de todos os outros elementos envolvidos no processo educacional. Substitui-se, portanto, a avaliação classificatória tradicional que atribui apenas ao aluno a responsabilidade pelo seu fracasso. Professores aluno realizam em conjunto a avaliação de sua própria atuação e do desempenho do grupo.

Este sistema tem que sem implantado em conjunto com o regime de progressão contínua., garantindo o acesso do aluno ao nível seguinte, com atendimento especial para suprir as deficiências constatadas. Acabam-se, assim, as reprovações indiscriminadas.

Deve-se garantir a qualificação dos professores e dos outros profissionais do ensino como condições para o sucesso da reforma da educação. É necessário se promover uma profunda reestruturação das escolas de formação do magistério, ao mesmo tempo em que se executam programas destinados a capacitar e atualizar os professores em conteúdo, conhecimento e práticas pedagógicas que respeitam as vivências e a cultura dos alunos e de sua comunidade.

As universidades devem promover uma revisão profunda na formação dos professores, revendo os conteúdos e métodos das atuas licenciaturas e instituindo cursos de nível superior para os professores de ciclo básico (Escola Normal Superior). Deve-se recorrer também ao ensino à distâncias, à teleducação e á informática como formas possíveis de extensão do ensino a todos.

A valorização do professor

Os investimentos em educação incluem necessariamente o elemento fundamental do processo educativo, que é o professor. Os planos de carreira devem incentivá-lo ao estudo constante e á atualização continuada considerando os cursos, seminários e encontros, que o professor freqüente, demonstrando aproveitamento, como pontos para sua ascensão profissional, desde que tais cursos sejam de reconhecida qualidade.

Sobretudo, é fundamental a remuneração salarial justa do professor, sem discriminação desse ou daquele grau de ensino, o que o auxiliará a retomar na sociedade o lugar de proeminência que lhe cabe.

E os proventos do professor mesmo aposentado têm que acompanhar os daqueles que ainda trabalham. Quanto ao ingresso na carreira, reafirmamos o concurso público de provas e títulos como a forma mais conveniente e justa.

Descentralização do sistema educacional

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A descentralização da educação deve ser parte da reforma do Estado e da implementação das políticas sociais. Para tanto, cabe ao Governo da União estabelecer as diretrizes e normas gerais, incentivar as ações educacionais inovadoras e corrigir distorções regionais. A educação básica é tarefa do município, cabendo ao Estado particularmente o ensino de segundo grau bem como as ações complementares ou suplementares quando o município não dispuser das condições para oferecer, na plenitude, o ensino básico

Deve-se garantir as transferências de recursos federais aos Estados e Municípios sem interrupção, com rígido cumprimento de cronogramas e com critérios transparentes de alocação de recursos, garantindo também que a verba pública será utilizada unicamente para escolas públicas. A descentralização também deve ser efetivada na merenda escolar, cujos programas devem ser executados por Estados e Municípios. Deve-se alterar a política do livro didático da FAE, estimulando-se a produção de livros didáticos pelo poder público a partir de critérios baseados nas concepções pedagógicas atuais. Deve-se ampliar a oferta de livros para as escolas de primeiro e segundo grau, incentivando-se o hábito da leitura na própria escola. Deve-se estabelecer uma política de reaproveitamento do livro de um aluno para outro, evitando-se o livro descartável.

Gestão democrática

Os princípios e diretrizes devem ser formulados dentro de uma política de governo e devem ser plenamente incorporados pela escola. Contudo, precisam ser estimuladas a criatividade e a busca de soluções locais com vistas a operacionalização do plano educacional do poder público.

Democratizar a escola não é apenas eleger seus dirigentes. O que se pretende é formar um corpo de professores com elevado grau de profissionalismo, capaz de comprometer-se com a boa qualidade do ensino e com o envolvimento da comunidade, capaz de trabalhar com todos outros elementos da escola em constante interação.

Recursos de televisão, da multimídia e de informática

Devem-se colocar os recursos da informática e da televisão a serviço da formação do aluno e do aprimoramento do professor.

A menos de uma década do ano 2000, quando praticamente todas as atividades humanas já sofreram modificações em virtude do avanço tecnológico, a educação não pode fechar os olhos a essa realidade. Nas mais elementares situações da vida atual a informática está presente. Uma escola pública que tem como princípio básico diminuir as diferenças de oportunidades entre as classes sociais só pode alcançar plenamente seu objetivo incorporando essa tecnologia ao seu cotidiano, como o faz a escola particular.

A revolução industrial levou cem anos para mudar as estruturas sociais, mas em muito menos tempo os meios de comunicação social têm mudado a realidade. A criança da sociedade contemporânea, sequestrada pelo atrativo da imagem e do som, pelo poder de persuasão e pelo imediatismo da televisão , é um consumidor voraz de seus programas. A educação hoje, além de proporcionar aos educandos condições para que possam interagir com os meios de comunicação de massa, substituindo uma postura passiva por uma relação crítica e seletiva, deve tirar proveito das característica intrínsecas da televisão, enquanto veículo transmissor de informação e conhecimento.

Não podemos negar que na América Latina, e particularmente no Brasil, as grandes redes têm se caracterizado como instrumento de opressão e alienação, perpetuando o autoritarismo. Mas, por outro lado, não podemos ignorar que a tecnologia televisiva possui recursos extraordinários, que lhe dão enorme eficácia na transmissão de conteúdos. Sem dúvida, a televisão pode, se usada corretamente, não apenas dar um tratamento adequado ao que transmite, como também ser de grande utilidade como instrumento de ensino.

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A revolução na educação é a reforma de base necessária para a construção da cidadania e para o desenvolvimento de estratégias de avanço de Ciência e Tecnologia no país.

Universidades

O ensino superior tem a grave responsabilidade de apoiar os esforços para melhorar a qualidade do ensino público de lº e 2º graus pela reformulação da formação dos professores e pela produção e difusão do conhecimento científico.

O papel da Universidade não se esgota aí. como produtora do conhecimento deve trabalhar nas áreas de fronteira da pesquisa. desenvolvendo a ciência e suas aplicações tecnológicas. deve qualificar melhor os profissionais que forma com capacidade crítica e de incorporação dos novos conhecimentos que são produzidos e difundidos com extraordinária velocidade. a formação básica dos profissionais é imprescindível para que ao longo de sua vida profissional possa se atualizar e diversificar as atividades, usar nova técnicas decorrentes do avanço científico. Universidades e outras instituições que produzem conhecimento devem interagir e se integrarem para a construção de um novo paradigma tecnológico de nossa sociedade.

O PDT reafirma sua posição em defesa do ensino público gratuito, da consolidação da autonomia didática, administrativa e financeira das Universidades e da avaliação institucional (externa e interna) para o aprimoramento do ensino universitário.

Projeto Brasil

IV - Política de Ciência e Tecnologia

A nova divisão internacional do trabalho

Estamos ingressando num novo ciclo de dominação, que subtrai a soberania de nações pretensamente independentes, através da dominação tecnológica, em que um punhado de países é capaz de gerar os padrões de produção e de consumo a serem observados pelo resto do mundo. Graças à capacidade de sua mão-de-obra educada e de sua indústria de desenvolverem e lançarem novos produtos (mais eficientes e ao mesmo tempo mais baratos) e também novos processos (mais econômicos e sobretudo menos poluentes e mais seguros para seus trabalhadores), tais países estão impondo regras econômicas que promovem nova divisão do trabalho a nível internacional.

Manter transações cotidianas com firmas de outros países não é apenas uma exclusividade das grandes corporações, mas é um recursos crescentemente acessível a pequenas e médias empresas que compartem redes de bancos de dados, atuam em bolsas de mercadorias, fornecem bens ou produtos padronizados a grupos transacionais, são representantes de determinadas marcas etc.

Está em curso, portanto, um processo de reestruturação da economia internacional, em que a abundância de trabalho barato e a disponibilidade de matérias-primas, exploradas há décadas nos países em desenvolvimento têm sido deslocadas pela capacidade de gerar e difundir inovações. Isto proporcionou ganhos significativos de produtividade nos países desenvolvidos e o surgimento de novos mercados em rápida expansão. A biotecnologia moderna, com aplicação na agropecuária, está melhorando espécies de seres vivos e sua adaptação a solos e climas diversos de sua origem. Pouco a pouco matérias-primas exportadas por países em desenvolvimento estão sendo substituída por materiais sintéticos, entre eles os cerâmicos, os polímeros ou mesmo ligas metálicas com propriedades inovadoras, de melhor performance e custo menor.

Se para a biotecnologia estima-se um mercado mundial de US$ 100 bilhões na virada do século, para o de novos materiais prevê-se a cifra de US$ 260 bilhões. 10 vezes o de 1988, calculado em aproximadamente US$ 26 bilhões! A capacidade de inovar (que não é apenas a

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capacidade de produzir e vender) ganha importância decisiva como elemento de competição, obrigando os países a garantirem sistemas de pesquisa científica e tecnológica e de formação de recursos humanos adequados.

O país tem ainda 40 vezes menos cientistas do que necessitaria para suprir suas necessidades. Ao todo estima-se que o Brasil gasta 0,6% de seu PIB em atividades científicas e tecnológicas, enquanto os países avançados gastam entre 2 e 3%, de PIBs muito maiores! No setor produtivo, estimativas existentes indicam perdas na produção de até 40% do produto industrial, devido a níveis de qualidade abaixo dos padrões internacionais normais.

O monopólio das inovações tecnológicas pelos países do Norte, vem agravando este desequilíbrio, ameaçando até a sobrevivência dos países do Terceiro Mundo enquanto nações. Por isso, o acesso às tecnologias pelos países pobres, não pode ser meramente uma bandeira retórica. Nem tampouco será um ato de doação voluntária dos países tecnologicamente avançados. Por isso mesmo, a educação básica para todos, como define o PDT, associada aos investimentos do Estado em Ciência e Tecnologia, constitui o caminho mais eficaz de acesso, absorção e produção do conhecimento adequado às grandes necessidades do país. Escolher este caminho é um ato de soberania.

A bandeira nacionalista que precisamos elevar mais alto, além da defesa do patrimônio público contra as negociatas privatizantes é a da SOBERANIA ATRAVÉS DA CAPACITAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO PAÍS E DA FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO POVO BRASILEIRO.

Política de Investimento

Ao Estado não basta apenas dispender recursos em ciência e tecnologia, é sua responsabilidade estabelecer uma Política de Investimento em pesquisa científica e tecnológica que articule as necessidades nacionais e estratégicas, às nossas condições de competição internacional, promovendo o desenvolvimento sustentável.

Devem ser criadas as condições para que trabalhadores, tecnólogos e cientistas brasileiros possam incorporar e adaptar criativamente novas tecnologias.

O Estado deve diferenciar empresas e produtos do país e do exterior e, entre as empresas nacionais, privilegiar a capacitação tecnológicas das pequenas e das médias.

Esforço especial nas novas tecnologias, entre elas a biotecnologia, onde a manipulação genética dos seres vivos permitirá a um países em desenvolvimento, como o Brasil, aproveitar com vantagens superiores aos demais seu valioso patrimônio genético, livrando-se da dependência externa de fármacos e produzindo alimentos necessários à sua população.

O Estado deve articular o ensino superior, as universidades e instituições de pesquisa ao sistema de ensino fundamental para que seja possível a este último acompanhar o acelerado processo de novas descobertas científicas e evitar a progressiva defasagem do ensino da ciência aos jovens.

O Estado deve priorizar os investimentos em ciência e tecnologia que resultem na produção e desenvolvimento de tecnologias segundo os seguintes parâmetros fundamentais:

a) que não degradem o meio ambiente;

b) que utilizem os fatores e insumos locais;

c) que visem o desenvolvimento social;

d) que capacitem o setor produtivo nacional.

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O Estado, através de suas empresas, é o elemento decisivo na indução do desenvolvimento tecnológico de pequenas e médias empresas, quer por pesquisa própria, quer pelo estímulo à capacitação de seus fornecedores.

Indução em áreas temáticas ou setoriais prioritárias

A indução às demandas prioritárias dos setores sociais e de infra-estrutura econômica do Brasil aos quais o aporte de conhecimento científico e tecnológico objetiva solucionar os constrangimentos e os entraves de caráter técnico-científico à execução dos propósitos de governo. Nas áreas temáticas serão desencadeadas ações por parte de seus órgãos de execução direta (CNPq, FINEP, CAPES), fomentando programas e projetos de pesquisa, desenvolvimento e difusão tecnológica, além do aprimoramento dos recursos humanos envolvidos nos vários níveis. Evitar dispersão de recursos - direcionar para áreas prioritárias vinculadas ao desenvolvimento nacional - preservar os avanços do conhecimento.

Integração com setores produtivos industriais e agrícolas

O objeto da pesquisa brasileira é, via de regra gerado por uma articulação com pesquisa, formando-se a chamada linha de pesquisa, como em outros países. Porém nas economias avançadas o setor produtivo investe financiando linhas de pesquisa e demandando estudos ao setor C & T . No Brasil isto não acontece e as universidades e empresas, muitas vezes, chegam a ser refratárias a essa aproximação. a consequência é que a linha de pesquisa brasileira se torna subsidiária do desenvolvimento de outros países. Programas do tipo ciência vai à indústria e a indústria vai à ciência, pretende estimar a solução de problemas tecnológicos prioritários desde a ótica da política industrial do País, visando reverter o fluxo de transferência de conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento nacional.

Capacitação da Infra-estrutura científica e estímulo à iniciativa científica

O Governo promoverá o fortalecimento da infra-estrutura científica, em particular dos centros de Excelência através da recuperação e atualização da infra-estrutura científica e tecnológica já existente, renovando os equipamentos dos laboratórios universitários, dos institutos de pesquisa e centros de P & D, garantindo serviços e materiais indispensáveis ao seu funcionamento.

O apoio à criação de grupos de estudos de situações emergentes em áreas estratégicas ou de relevância social, visará criar as condições para esclarecer, controlar ou documentar determinantes de ocorrências inesperadas ou críticas.

O Governo apoiará, também, a fixação de pesquisadores, de forma a atrair os melhores candidatos potenciais e dar-lhes condições de dedicação integral nas suas respectivas atividades e ampliação da Cooperação Internacional em áreas estratégicas do desenvolvimento científico e tecnológico do país.

O "balcão", aberto às idéias e iniciativas de cientistas, possibilitará o espaço necessário à emergência de propostas criativas fora das prioridades estabelecidas.

Defesa da produção intelectual e propriedade industrial nacional

- Proposta de legislação que obrigue a que todo detentor da patente pague uma pequena fração de seu faturamento com a exploração do produto ou processo no Brasil para o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia.

- Estímulo à formação de consórcios universidade-empresas pela emissão de certificados para abatimento nos impostos devidos pelas empresas.

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- Carreira de pesquisadores e tecnólogos com estímulo diferenciado aos que desenvolvem, e registram patentes, inclusive cobrindo os custos da manutenção dos mesmo até eventual exploração.

- Correção na distribuição de bolsas de estudos e financiamentos a projetos de pesquisas, particularmente no que se refere a bolsas no exterior, de formar a cumprir os objetivos de política nacional de C&T.

Geração de empregos e insumos de base tecnológica

- Linha de financiamentos de longo prazo para desenvolvimento, construção e apuração de plantas industriais a partir de projetos desenvolvidos em departamentos universitários ou institutos de pesquisa (BNDES, FINEP).

- Apoio a parques e pólos tecnológicos e incubadoras de empresas

- Bases de dados sobre tecnologias e mercado nacional e internacional acessíveis a pequenas e microempresas.

Projeto Brasil

IV - Política de Ciência e Tecnologia

A nova divisão internacional do trabalho

Estamos ingressando num novo ciclo de dominação, que subtrai a soberania de nações pretensamente independentes, através da dominação tecnológica, em que um punhado de países é capaz de gerar os padrões de produção e de consumo a serem observados pelo resto do mundo. Graças à capacidade de sua mão-de-obra educada e de sua indústria de desenvolverem e lançarem novos produtos (mais eficientes e ao mesmo tempo mais baratos) e também novos processos (mais econômicos e sobretudo menos poluentes e mais seguros para seus trabalhadores), tais países estão impondo regras econômicas que promovem nova divisão do trabalho a nível internacional.

Manter transações cotidianas com firmas de outros países não é apenas uma exclusividade das grandes corporações, mas é um recursos crescentemente acessível a pequenas e médias empresas que compartem redes de bancos de dados, atuam em bolsas de mercadorias, fornecem bens ou produtos padronizados a grupos transacionais, são representantes de determinadas marcas etc.

Está em curso, portanto, um processo de reestruturação da economia internacional, em que a abundância de trabalho barato e a disponibilidade de matérias-primas, exploradas há décadas nos países em desenvolvimento têm sido deslocadas pela capacidade de gerar e difundir inovações. Isto proporcionou ganhos significativos de produtividade nos países desenvolvidos e o surgimento de novos mercados em rápida expansão. A biotecnologia moderna, com aplicação na agropecuária, está melhorando espécies de seres vivos e sua adaptação a solos e climas diversos de sua origem. Pouco a pouco matérias-primas exportadas por países em desenvolvimento estão sendo substituída por materiais sintéticos, entre eles os cerâmicos, os polímeros ou mesmo ligas metálicas com propriedades inovadoras, de melhor performance e custo menor.

Se para a biotecnologia estima-se um mercado mundial de US$ 100 bilhões na virada do século, para o de novos materiais prevê-se a cifra de US$ 260 bilhões. 10 vezes o de 1988, calculado em aproximadamente US$ 26 bilhões! A capacidade de inovar (que não é apenas a capacidade de produzir e vender) ganha importância decisiva como elemento de competição, obrigando os países a garantirem sistemas de pesquisa científica e tecnológica e de formação de recursos humanos adequados.

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O país tem ainda 40 vezes menos cientistas do que necessitaria para suprir suas necessidades. Ao todo estima-se que o Brasil gasta 0,6% de seu PIB em atividades científicas e tecnológicas, enquanto os países avançados gastam entre 2 e 3%, de PIBs muito maiores! No setor produtivo, estimativas existentes indicam perdas na produção de até 40% do produto industrial, devido a níveis de qualidade abaixo dos padrões internacionais normais.

O monopólio das inovações tecnológicas pelos países do Norte, vem agravando este desequilíbrio, ameaçando até a sobrevivência dos países do Terceiro Mundo enquanto nações. Por isso, o acesso às tecnologias pelos países pobres, não pode ser meramente uma bandeira retórica. Nem tampouco será um ato de doação voluntária dos países tecnologicamente avançados. Por isso mesmo, a educação básica para todos, como define o PDT, associada aos investimentos do Estado em Ciência e Tecnologia, constitui o caminho mais eficaz de acesso, absorção e produção do conhecimento adequado às grandes necessidades do país. Escolher este caminho é um ato de soberania.

A bandeira nacionalista que precisamos elevar mais alto, além da defesa do patrimônio público contra as negociatas privatizantes é a da SOBERANIA ATRAVÉS DA CAPACITAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO PAÍS E DA FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO POVO BRASILEIRO.

Política de Investimento

Ao Estado não basta apenas dispender recursos em ciência e tecnologia, é sua responsabilidade estabelecer uma Política de Investimento em pesquisa científica e tecnológica que articule as necessidades nacionais e estratégicas, às nossas condições de competição internacional, promovendo o desenvolvimento sustentável.

Devem ser criadas as condições para que trabalhadores, tecnólogos e cientistas brasileiros possam incorporar e adaptar criativamente novas tecnologias.

O Estado deve diferenciar empresas e produtos do país e do exterior e, entre as empresas nacionais, privilegiar a capacitação tecnológicas das pequenas e das médias.

Esforço especial nas novas tecnologias, entre elas a biotecnologia, onde a manipulação genética dos seres vivos permitirá a um países em desenvolvimento, como o Brasil, aproveitar com vantagens superiores aos demais seu valioso patrimônio genético, livrando-se da dependência externa de fármacos e produzindo alimentos necessários à sua população.

O Estado deve articular o ensino superior, as universidades e instituições de pesquisa ao sistema de ensino fundamental para que seja possível a este último acompanhar o acelerado processo de novas descobertas científicas e evitar a progressiva defasagem do ensino da ciência aos jovens.

O Estado deve priorizar os investimentos em ciência e tecnologia que resultem na produção e desenvolvimento de tecnologias segundo os seguintes parâmetros fundamentais:

a) que não degradem o meio ambiente;

b) que utilizem os fatores e insumos locais;

c) que visem o desenvolvimento social;

d) que capacitem o setor produtivo nacional.

O Estado, através de suas empresas, é o elemento decisivo na indução do desenvolvimento tecnológico de pequenas e médias empresas, quer por pesquisa própria, quer pelo estímulo à capacitação de seus fornecedores.

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Indução em áreas temáticas ou setoriais prioritárias

A indução às demandas prioritárias dos setores sociais e de infra-estrutura econômica do Brasil aos quais o aporte de conhecimento científico e tecnológico objetiva solucionar os constrangimentos e os entraves de caráter técnico-científico à execução dos propósitos de governo. Nas áreas temáticas serão desencadeadas ações por parte de seus órgãos de execução direta (CNPq, FINEP, CAPES), fomentando programas e projetos de pesquisa, desenvolvimento e difusão tecnológica, além do aprimoramento dos recursos humanos envolvidos nos vários níveis. Evitar dispersão de recursos - direcionar para áreas prioritárias vinculadas ao desenvolvimento nacional - preservar os avanços do conhecimento.

Integração com setores produtivos industriais e agrícolas

O objeto da pesquisa brasileira é, via de regra gerado por uma articulação com pesquisa, formando-se a chamada linha de pesquisa, como em outros países. Porém nas economias avançadas o setor produtivo investe financiando linhas de pesquisa e demandando estudos ao setor C & T . No Brasil isto não acontece e as universidades e empresas, muitas vezes, chegam a ser refratárias a essa aproximação. a consequência é que a linha de pesquisa brasileira se torna subsidiária do desenvolvimento de outros países. Programas do tipo ciência vai à indústria e a indústria vai à ciência, pretende estimar a solução de problemas tecnológicos prioritários desde a ótica da política industrial do País, visando reverter o fluxo de transferência de conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento nacional.

Capacitação da Infra-estrutura científica e estímulo à iniciativa científica

O Governo promoverá o fortalecimento da infra-estrutura científica, em particular dos centros de Excelência através da recuperação e atualização da infra-estrutura científica e tecnológica já existente, renovando os equipamentos dos laboratórios universitários, dos institutos de pesquisa e centros de P & D, garantindo serviços e materiais indispensáveis ao seu funcionamento.

O apoio à criação de grupos de estudos de situações emergentes em áreas estratégicas ou de relevância social, visará criar as condições para esclarecer, controlar ou documentar determinantes de ocorrências inesperadas ou críticas.

O Governo apoiará, também, a fixação de pesquisadores, de forma a atrair os melhores candidatos potenciais e dar-lhes condições de dedicação integral nas suas respectivas atividades e ampliação da Cooperação Internacional em áreas estratégicas do desenvolvimento científico e tecnológico do país.

O "balcão", aberto às idéias e iniciativas de cientistas, possibilitará o espaço necessário à emergência de propostas criativas fora das prioridades estabelecidas.

Defesa da produção intelectual e propriedade industrial nacional

- Proposta de legislação que obrigue a que todo detentor da patente pague uma pequena fração de seu faturamento com a exploração do produto ou processo no Brasil para o Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia.

- Estímulo à formação de consórcios universidade-empresas pela emissão de certificados para abatimento nos impostos devidos pelas empresas.

- Carreira de pesquisadores e tecnólogos com estímulo diferenciado aos que desenvolvem, e registram patentes, inclusive cobrindo os custos da manutenção dos mesmo até eventual exploração.

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- Correção na distribuição de bolsas de estudos e financiamentos a projetos de pesquisas, particularmente no que se refere a bolsas no exterior, de formar a cumprir os objetivos de política nacional de C&T.

Geração de empregos e insumos de base tecnológica

- Linha de financiamentos de longo prazo para desenvolvimento, construção e apuração de plantas industriais a partir de projetos desenvolvidos em departamentos universitários ou institutos de pesquisa (BNDES, FINEP).

- Apoio a parques e pólos tecnológicos e incubadoras de empresas

- Bases de dados sobre tecnologias e mercado nacional e internacional acessíveis a pequenas e microempresas.

Projeto Brasil

V - Políticas de Segiridade Social

Os direitos da Seguridade Social

A Seguridade Social que no Brasil teve suas origens nas conquistas sociais da revolução de 30 é consolidada nos avanços da Constituição de 1988 que vem sendo duramente golpeada pelo próprio Governo da União ao desvirtuar os princípios constitucionais que a regem. A Seguridade Social envolve o sentido integrado das Previdência Social, de Saúde e de ação de Assistência Social. Os recursos destinados à Seguridade Social originam-se de diversas fonte de contribuição e do Tesouro formando um orçamento único e integrado - o orçamento da seguridade social. Além da concepção integrada, também é estabelecido que as ações de saúde e de assistência social devem ser descentralizadas para os Estados e Municípios, cabendo ao Governo Federal as ações dirigidas a formulação das políticas e diretrizes, a fiscalização e as ações que envolvem as grandes regiões do país.

A seguridade é universalizada, sendo direito de todos, independente de ser contribuinte ou não, receber certos benefícios como o do acesso à saúde, assistência a velhice, o pagamento de pensão vitalícia aos idosos. As fontes de receita da Seguridade Social originam-se de forma principal da contribuição das folhas de salários pagos pelos empregados e empregadores.

O Financiamento da Seguridade Social

As contribuições baseadas no lucro e no faturamento nunca chegaram a ser plenamente implantados e tem sido questionadas judicialmente pelos empregadores, como no caso do FINSOCIAL. Isto tem agravado a crise financeira decorrente do comprometimento das fontes de receita resultado tanto da recessão econômica e do aumento das taxas de desemprego como da sonegação que se estima entre 30 e 50%, da extinção do FINSOCIAL sem uma alternativa compensatória, além do aumento do número de trabalhadores sem carteira assinada. A corrupção responsável pelo enriquecimento ilícito de numerosas "indústrias da saúde" e o mau uso dos recursos tanto destinados a aposentadorias e pensões quanto a consultas e internações inexistentes fazem esvair os recursos da Seguridade Social.

As pressões para a privatização da Seguridade Social estão ativas e propõem a implantação da contribuição voluntária para a seguridade para em seguida implantar-se a livre escolha de sistemas de previdência privada no estilo que se fez no Chile. A privatização da Seguridade Social interessa aos grandes grupos financeiros que atuam em nível internacional e que vem procurando ampliar e conquistar o mercado brasileiro da força de trabalho do setor formal de nossa economia. Esta ameaça compromete o sentido redistributivo e de equidade que a seguridade deve ter. A privatização da Seguridade ampliaria o fosso das desigualdades da sociedade brasileira.

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A crise financeira do sistema de seguridade também tem levado a redução real do valor dos benefícios e tem levado a completa degradação do sistema Único de Saúde. Hoje apenas 15% dos recursos da Seguridade Social se destinam à saúde, inferiores, portanto, à tendência história de 25% dos últimos 15 anos e muito menos do que se obteve temporariamente na época da Constituinte de 1988 (30-35%). Esta redução não foi compensada com ampliação de recursos do Tesouro da União, que são oscilantes e os primeiros a serem cortados pelas políticas de redução do gasto público.

O PDT propõe que implante efetivamente uma política de financiamento da Seguridade Social que diversifique sua base de contribuição, com redução da participação de contribuição dos empregados, aumento das formas de contribuição pelo faturamento líquido, acompanhados de mecanismos aperfeiçoados de combate a sonegação. Com isto pode-se reduzir a sobrecarga que leva 40% de trabalhadores que não contribuem porque o empregador não os registra tal a sobrecarga para-fiscal que penaliza a contratação regular, plenamente legalizada, da mão-de-obra.

O PDT também propõe que se garanta a transferência de recursos da União para o orçamento da Seguridade Social em valores compatíveis com a universalidade do sistema que pretende universalizar efetivamente o acesso aos serviços de saúde e atender através de ações sociais municipalizadas e compensatórias aqueles que vivem nos bolsões de pobreza absoluta. A contribuição da União tem sido menor que 9%, quando participa, ao contrário da tendência nos países tanto da América Latina quanto da Europa que varia entre 20 a 40% de participação nos recursos dos sistemas de seguridade social.

Previdência Social

Os recursos da Previdência Social constituem um patrimônio dos trabalhadores e sua administração deve estar subordinada a controles democráticos, com a participação do governo, trabalhadores e empresários. Os benefícios de aposentadoria e pensões devem manter o teto máximo de cobertura até 10 salários mínimos. Os mecanismos de financiamento devem prover recursos que não permitam a redução do valor real dos benefícios, que assegure efetivamente que o menor valor pago seja, no mínimo, igual ao salário mínimo e que não diminua a participação destes recursos no Produto Interno Bruto do país. O PDT propõe que sejam revistos na Constituição as aposentadorias especiais de categorias ocupacionais que não estão submetidas a intenso desgaste físico enquanto mão de obra em atividade, bem como benefícios especiais adquiridos com poucos anos de contribuição como, por exemplo, pagos a parlamentares tanto no Congresso Nacional como em Assembléia Legislativa e Câmaras de Vereadores.

Os Sistemas de previdência complementar estatais ou privados são considerados pelo Partido como formas para suplementar as opções de famílias de maior poder aquisitivo de desejam aumentar ou diversificar benefícios para o contribuinte ou seus dependentes. Os Fundos de Pensão vinculados às empresas estatais devem ser estimulados, desde que não captem os recursos de fontes do Tesouro, pois isto os transforma em mecanismos concentradores de renda. Estes Fundos também devem ser estimulados para capitalização como fonte de custeio de benefícios futuros de seus contribuintes ou de suas famílias. As previdências complementares devem suprir os benefícios acima de 10 salários mínimos.

A previdência social deve aprimorar seus postos de atendimento de benefícios, com a informatização que caminha a passos lentos, e com a humanização do atendimento aos aposentados e pensionistas.

Saúde

É indiscutível o fato de que os investimentos em saúde só produzem resultados satisfatórios quando, simultaneamente, a sociedade investe recursos na melhoria da qualidade de vida da população, vale dizer, em saneamento básico, educação, alimentação, habitação, condições gerais de trabalho e realiza uma política justa de distribuição da renda. em síntese, as políticas

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sociais são interdependentes e os recursos destinados à saúde devem corresponder aos níveis impostos pela estrutura de gastos referentes ao estágio de desenvolvimento do país.

O sistema de saúde deve ser universal e funcionar de maneira permanente. O Sistema Único de Saúde, idealizado com o objetivo correto de universalizar o acesso à saúde, transformou-se na prática, num obstáculo à sua realização com a transferência dos recursos públicos destinados ao atendimento das populações de baixa renda para a iniciativa privada. Dados do IBGE estimam que em 1991 cerca de 80% dos gastos do INAMPS com internações destinaram-se à rede privada. Ao lado das fraudes incontroláveis decorrentes desta nefasta simbiose entre o dinheiro público e a atividade particular na área da saúde, esses procedimentos reduziram drasticamente o financiamento da rede pública relegando à ociosidade o equipamento médico-hospitalar construído pelo Estado ao longo do tempo, com enormes prejuízos para a nação. O desperdício, no setor, levou à falência a própria Previdência Social, responsável, em grande parte, pelo seu custeio. O Sistema Único de Saúde, para viabilizar-se, precisa ser implantado de modo a corrigir essas intoleráveis distorções, deixando, Estados e Municípios de exercerem a função de simples repassadores de recursos públicos para terceiros, envolvendo-se na teia de cumplicidade em que se transformou o Sistema.

Descentralizar a estrutura sanitária significa municipalizar a rede básica e definir, ao mesmo tempo as atribuições dos governos federal e estaduais no campo da saúde. Essa foi a proposta aprovada já em 1963, na III Conferência Nacional de Saúde, no governo do Presidente João Goulart, e adotada em 1988 pela nova Constituição Federal.

A municipalização supõe o fortalecimento da rede pública, que na prática, hoje, esta sendo sucateada e desmoralizada, em benefício da transferência de recursos públicos para a rede privada, cujas prioridades são a eficiência empresarial e o lucro e não o interesse público.

A municipalização supõe também outros requisitos fundamentais. O município, no exercício pleno de sua autonomia e com a participação da comunida, implantando o controle social nas diversas instâncias do /sistema Único de Saúde, deve estabelecer e gerir a estrutura sanitária mais adequada às suas necessidades. Como os municípios apresentam graus diferentes de desenvolvimento, tais estruturas terão, necessariamente, graus diferenciados de complexidade.

Compete aos Estados articularem a rede básica dos municípios, organizando-os, se necessário, por regiões e suprindo os serviços mais complexos, indispensáveis ao funcionamento do sistema. A função do Governo Federal, por intermédio do Ministério da Saúde, órgão responsável pela formulação da política nacional de saúde, é essencialmente normativa e fiscalizadora.

Os recursos públicos devem ser aplicados exclusivamente na rede pública e suficiente para o seu correto funcionamento. a rede privada não poderá receber recursos públicos, mas não sofrerá qualquer restrição a seu funcionamento, obedecida a legislação específica.

O sistema público de saúde deve ser prioritariamente financiado com recursos orçamentários da Seguridade Social no nível da União, e dos orçamentos fiscais dos Estados e dos Municípios. À Previdência cabe cumprir sua finalidade precípua, que é o pagamento das aposentadorias e pensões de seus associados. Os recursos da Previdência, descontados do salário de seus associados, destinam-se a isso e não devem ser aplicados, a não ser em caráter emergencial e sem comprometer esse objetivo principal, no financiamento da rede pública de saúde - quanto mais no pagamento de serviços prestados pela rede privada.

O sistema único de saúde deve adotar algumas cacterísticas específicas como valorizar o trabalhador de saúde pelo seu papel estratégico no processo de transformação social, incorporando conforme as exigências da realidade local, trabalhadores tais como agentes comunitários de saúde. Outra característica flexibilizadora é a adoção de experiência inovadoras de sistemas locais e distritais de saúde que fundamenta-se na articulação da saúde às condições de vida próprias de cada grupo populacional. Uma das estratégias adotadas é a formulação de um novo modelo assistencial o "médico de família" e "vida nova no morro",

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tendo em conta a necessidade de viabilizar propostas concretas que articulem saúde e saneamento com melhoria da qualidade de vida da população. Serão desenvolvidos programas por grupos de risco e por faixa etária, sem perder a integralidade programática. O PDT também assumirá compromissos com o desenvolvimento de práticas de medicina oriental, bem como as que instrumentalizam a atenção primária com a tecnologia simplificada de ponta e a educação para a saúde. em todas as fases da atenção de saúde, seja preventiva ou assistencial, o PDT defende o respeito ético ao direito de cidadania do usuário.

Outra sangria que precisa ser urgentemente estancada na área da saúde é a que resulta da situação de nossa indústria farmacêutica, cada vez mais desnacionalizada. O Brasil já teve uma farmacopéia pioneira e volta a ter importância fundamental no mercado mundial dos fármacos em função da sua exuberante biodiversidade, mas neste momento importa quase todos os insumos e sua indústria farmacêutica é pouco mais que uma linha de montagem. Em 1963, o Presidente João Goulart baixou decreto para evitar o abuso do superfaturamento nas importações de insumos farmacêuticos realizadas por filiais de laboratórios estrangeiros junto às respectivas matrizes. Esse superfaturamento chegava, em muitos casos, não em poucos, a mais de 2.000%. Sim, mais de dois mil por cento. Como outras medidas de defesa do interesse nacional, essa também desapareceu, depois do golpe, na limpeza que se fez no Brasil para erradicar o que consideravam xenofobia que para eles nos tornava tão pouco atraentes aos capitais multinacionais que, já naquela época, há quase trinta anos, seriam o instrumento e alimento da nossa redenção.

Bem-estar/ação social

O PDT tem denunciado o uso do clientelismo e do favoritismo que tem sido a marca registrada das ações executadas pelos governos nas chamadas políticas de assistência social. As instituições federais de assistência social não levaram adiante os princípios constitucionais de descentralização e integração destas ações. Elas ainda são desconexas, dirigidas por critérios clientelistas e disperdiçam os recursos públicos em ações pouco eficazes e marcadas pelas denúncias de corrupção e mal uso do dinheiro público.

Os chamados programas emergências muitas vezes atendem a interesses econômicos que vicejam da indústria da pobreza, da seca, dos meninos de rua.

O PDT propõe que as políticas compensatórias e de ações sociais, que devem ser executadas ao mesmo tempo em que promovam as reformas estruturais, se baseiem nos seguinte princípios:

1 - descentralização com responsabilização e municipalização de ações sociais, com o controle social e comunitário através de associações de bairros e outras expressões da sociedade organizada, de moradores com capacidade de fiscalização e de determinação de prioridades;

2 - destinação de recursos federais por transferências automáticas baseados em critérios populacionais e relacionados a indicadores de pobreza e de problemas emergenciais a serem atendidos;

3 - as ações sociais devem ser realizadas através de órgãos do poder local - prefeituras municipais e instituições de caráter não lucrativo, sob fiscalização e controle da comunidade;

4 - as ações devem ocorrer de forma integrada, evitando superposição e desperdício de recursos, impedindo o emperramento burocrático e sendo realizadas em relação a um a população bem definida e numa base territorial estabelecida. Os mecanismos de gerência destas ações não podem ser verticais e referentes a diversos órgãos de administração federal, estadual e municipal. Devem se dar de forma única , ou pelo menos, coordenada entre os diversos órgãos;

5 - os recursos estaduais e municipais não devem ser retraídos ou reduzidos quando ocorre o aporte de recursos federais. Como princípio geral e dentro das condições regionais e locais,

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deve-se assegurar a co-participação destas instâncias de governo bem como a contribuição e mobilização de recursos comunitários.

Dentre as ações prioritários, o PDT destaca:

- nos grandes centros urbanos e regiões metropolitanas a atenção a famílias e pessoas que vivem nas ruas e em moradias improvisadas debaixo de pontes e viadutos, propiciando programas emergenciais de moradia popular;

- os meninos e meninas de rua garantindo-se o acesso a escola de tempo integral, o abrigo à noite em caráter emergencial e temporário, programas de trabalho remunerado por prestação de pequenos serviços urbanos como limpeza urbana, distribuição de jornais etc. coordenados e vinculados a programas de educação e abrigo noturno;

- nas regiões de pobreza e miséria, inclusive áreas de seca, com frentes de trabalho remunerado e programas de distribuição de alimentos básicos.

Projeto Brasil

VI - Cultura e Identidade Nacional

Muito além de um vasto território em recursos minerais, em fertilidade do solo e em vegetação portentosa, o Brasil é o que é, perante si mesmo e diante do resto da humanidade, pela expressão de um povo que se mostra coeso em seus sentimentos e em suas ações, porque se plasmou numa cultura mestiça, capaz de absorver as influências de outras culturas para se fazer a si mesma como uma nova entidade singular, paradoxalmente diversificada e una.

A cultura brasileira é o maior patrimônio do povo brasileiro. É ela que amalgama a diversidade constitutiva de um povo e que ameniza a crueza das desigualdades, criando um sentimento de identidade que junta passado e presente e transcende diferenças. é a cultura que dá ao povo brasileiro o sentimento de singularidade diante de outros povos que o torna capaz de ver o mundo como um vir a ser, que dá, acima das adversidades suportadas, a alegria e a esperança de viver dias melhores.

Muitos se perguntam, invejosos, de onde um povo sofrido arranca tamanha vontade de ser feliz. É do melhor que há de suas raízes portuguesa, bantos, jejês, hausás, índias, árabes, italianas, japonesas, alemães e tantas outras culturas europeias, africanas e asiáticas que aqui se misturaram numa sofreguidão de integrarem-se umas com as outras num processo que está longe de ser concluído. Calcado em tradições nascidas do processo colonial, onde a presença do português era hegemônica, a cultura brasileira se modernizou pela sua capacidade de absorver novos elementos e refazê-los em benefício próprio. Aqui o esporte mais popular é um jogo inventado por aristocratas ingleses, que o povo tomou para si, o festival mais aclamado é uma dança negra que ganhos as ruas à partir de um ritual pré-religioso que os portugueses cristãos implantaram no país, e o ritual de passagem do ano é comemorado por uma liturgia afro-brasileira onde a divindade venerada é uma deusa a quem se pede não o perdão, dinheiro ou sucesso, mas a graça do amor.

A força da cultura brasileira está na capacidade de agregar, não de discriminar. Porém ela se fez ao longo de 500 anos de opressão e de dependência, dentro de um sistema de classes. Com isso agregou inevitavelmente muitas mazelas e vícios que devem ser combatidos e extirpados, entre os quais estão a exclusão e o preconceito contra seus estratos sociais mais pobres, negros e índios, o machismo e o desrespeito à natureza, por um lado, e a pretensão de domínio ideológico do estrato elitista sobre os demais, o autoritarismo, a corrupção.

Como combater esses cancros, frutos da desigualdade social, essa mazela máxima da sociedade brasileira? Primeiro pelo reconhecimento objetivo dessa realidade, em seguida pela ação política. a grandeza de uma cultura não está especificamente nos elementos que a

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compõem num determinado momento histórico, mas fundamentalmente no seu potencial de autoconsciência e de autocrítica, e isto se faz pela atuação de seus membros.

A cultura brasileira vivida no dia-a-dia de seus membros, na sua forma de agir e interagir, é também cultura feita por atos, gestos, símbolos, instituições. O passado já foi um presente vivido que se sedimentou em sentimentos e em objetos. Nele o presente se espelha para melhor se conhecer e mais conscientemente se projetar no futuro. Assim, há que se tornar esse passado, respeitá-lo pelo que foi e pelo que deixou de ser. Cultuar os elos de integração entre o passado e o presente não é um gesto de saudosismo, mas de integridade de uma cultura, que se sabe maleável e voltada para o que está formando.

Cultura e nacionalismo

O mundo de hoje é frequentemente conceituado como uma grande aldeias global onde todos os povos estão interligados por uma vasta teia de comunicação instantânea e onde vivem em dependência mútua pela necessidade irredutível de comércio de bens e produtos complementares a cada economia. Tal é o emaranhado de relações que os epígonos dessa visão chegam a propor que nações são redundâncias modernas.

Esquecem esses ideólogos, de propósito ou por ignorância, que a nação, como a família, são instituições fundamentais da humanidade. A nação é a instância onde o ser biológico humano vira ser político, membro de uma comunidade, no sentido dado por Aristóteles. O homem precisa da nação, do sentimento de pertencer a uma comunidade para se constituir socialmente. Eis o que concebemos como nacionalismo. Só os arautos insensatos do fim da nacionalidade se tomam de cínica surpresa quando vêem o sentimento de nacionalismo ressurgir entre minorias étnicas oprimidas em contextos políticos mais amplos. Como negar a um ser humano o direito de pertencer a uma comunidade de valores e sentimentos partilhados!

O Brasil faz parte do vasto mundo moderno e interconectado, mesmo porque nasceu da expansão da civilização européia, por ela se fundamentou como nação, e a ela serviu e a ela continua a servir como aliada política, como fonte de recursos primários e como peça de engrenagem na divisão internacional do trabalho.

Mas o Brasil tem vantagens admiráveis no panorama mundial. É uma nação integrada em si mesma, onde os seus grupos constitutivos, passado o período convulsionado de sua formação, convivem com relativa tolerância mútua. Aqui as relações entre raças e entre grupos étnicos são mais franqueáveis do que as relações entre classes sociais, em comparação com outros países. se isto é sinal, por um lado, de nosso vergonhoso desequilíbrio econômico, por outro, representa nosso potencial de relacionamento harmônico, algo bem mais difícil de ser obtido por um povo, invejável por tantas nações.

No Brasil, o sentimento de pertencer a uma nacionalidade, o sentimento nacionalista, é fonte de criatividade cultural e política, a exemplo da música de Villa-Lobos e tantos compositores populares, da pintura de Portinari, da literatura de Graciliano Ramos, da visão de Alberto Pasqualini e Guerreiro Ramos, e da ação administrativa de Getúlio Vargas e João Goulart. Nosso nacionalismo serve de base de consolidação do Brasil moderno desde a proclamação da República, e funciona como impulso permanente para o nosso desenvolvimento. É através dele que nosso povo se vê a si mesmo como um povo singular, uno, mas reconhecido em sua diversidade. Ele segura as forças centrífugas dessa diversidade e dá coesão interna não só nos aspectos culturais, de identidade social, mas políticos, de busca do equilíbrio entre suas forças regionais. Nesse sentido o brasileiro é um povo verdadeiramente moderno, aberto para novos sentidos e novas ideías, sem deixar de preservar seus sentimentos constituídos.

Como negar a força do nacionalismo para qualquer povo, e em especial para nós, como os valores humanos, éticos e políticos que nos caracteriza esse sentimento? Realçá-lo é não só um dever cívico imprescindível mas também uma necessidade política irrecusável.

Política cultural do PDT

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A política cultural não pode ser mais do que o estímulo generoso do Estado para que a criatividade popular e erudita floresçam, sem nela jamais interferir ou cercear.

A política cultural do PDT se baseia no entendimento de que o papel do Estado neste campo é nitidamente complementar ao da sociedade e se enriquece na discussão com os segmentos culturais específicos. Numa proposta democrática, o Estado deve visualizar a cultura pela ótica dos direitos humanos, pelas reivindicações específicas das minorias e pelos direitos vinculados as questões ambientais. Um dos pilares da política cultural é a preservação e ampliação do patrimônio histórico e arquitetônico como forma de consolidar a identidade cultural e a memória nacional. Para isto é necessário estimular e ampliar a participação da população nesta preservação, inclusive na definição dos tombamentos.

As atividades de fomento a produção cultural devem ser garantidas através da definição de recursos necessários para as ações em parceria com os agentes culturais, sem que com isto seja comprometida a pluralidade e diversidade que são a marca da democratização da vida cultural. O fomento implica, também, no apoio às práticas que se vinculam a cultura como atividade econômica produtiva. Também deve proporcionar a multiplicação dos espaços culturais específicos sem detrimento da compreensão de que cultura se faz em qualquer lugar.

a política cultural do PDT incentiva a descentralização da atuação estatal favorecendo a melhor circulação da informação e conseqüente ação nos contextos regionais, bem como a democratização do acesso as fontes de documentos, bibliotecas, museus, etc.

a experiência do PDT no campo da cultura nos permite assinalar o fortalecimento de algumas linhas programáticas que reputamos significativas para a construção de uma nação livre e soberana:

- Regionalização da política cultural - tendo em vista a significação para a construção da cidadania e da democracia da expressão artística local, freqüentemente desprezada em função de programações nacionais ditadas pelas conveniências da indústria cultural.

- Criação no âmbito dos órgãos federais vinculados ao Ministério da Cultura de meios físicos e financeiros capazes de permitir a identificação e difusão de formas culturais que hoje não tem acesso à mídia e aos espaços culturais institucionalizados para que os valores do povo trabalhador sejam incorporados à construção de um projeto nacional. Entre outras medidas, adotar-se a implantação de um sistema regionalizado de museus para exposição de artistas locais: folclores com maior dinamização da cultura museológica.

- Pólos Culturais - Afirmação progressiva junto à sociedade brasileira dos CIEPs como pólos culturais em implantação, através da extensão do Projeto de Animação Cultural, experiência exitosa no Rio de Janeiro, a ser levada ao conjunto do território nacional. Atuando como elo de ligação entre a escola e a comunidade. O animador cultural concretiza a integração entre o saber formal e informal, resgata a história e as tradições da região, dinamiza a vida cultural local e redimensionar a prática pedagógica, contribuindo para que a educação seja um instrumento de libertação e desenvolvimento da cidadania.

' - A Defesa do Patrimônio Histórico Cultural e natural - deve ser capaz de fomentar novas leis em todas as esferas de poder principalmente a municipal - e sobretudo desenvolver uma política específica de canalização de recursos públicos e privados visando a sua função.

- Turismo - Viabilização de incentivos especiais à articulação da produção cultural com o turismo como forma capaz de recuperar sua definição original de "encontro de culturas" através de programas voltados para dar sustentação ao turismo cultural e ecológico, que mobilizem a juventude e o trabalhador em especial.

- Apropriação das Universidades Públicas Federais como instrumento cultural de transformação da realidade brasileira mediante a valorização da ciência, do saber universal e da necessidade de afirmação do país como nação soberana. O maior perigo para a

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Universidade do mundo moderno, fundado no saber científico e tecnológico, é o da Universidade ancilar ou escrava, dependente de mudas que venham de fora, de um saber que venha de fora, e que ela é incapaz de dominar completamente, e de fazer florescer.

- Leis de incentivo à Cultura - O PDT entende que a legislação de incentivo à cultura, surgida nos últimos anos, não atende às potencialidades da nossa produção cultural independente. Ao mesmo tempo ela precisa deixar de contar com as sobras orçamentárias do Estado para colocar-se no centro de políticas modernas de afirmação do nosso decantado potencial cultural. A articulação de uma legislação de incentivo à cultura renovada com uma política cultural ambiciosa, inclusive no campo internacional é a única maneira de se evitar que as verbas assim destinadas deixem de ser casuísticas e patrocinadoras de uma falsa parceria com a iniciativa privada onde o estado rende e o público não se beneficia. O PDT entende também que medidas de peso terão que ser tomadas de imediato com vistas a defender a retomada da produção cultural pelo papel estratégico que desempenha.

O Livro ao Alcance de Todos

O panorama cultural se caracteriza pelo confronto latente da produção cultural nacional com a produção estrangeira. Mais de 70% dos livros publicados no país são de outros países, os autores nacionais não ocupam posição de destaque nas listas de best-sellers divulgadas pelos órgãos especializados e as traduções de autores estrangeiros predominam no nosso mercado editorial.

A cultura dominante tem associado a idéia de que ler autor nacional esta fora de moda e se vincula a obrigatoriedade de leitura escolar. Na verdade o livro não tem sido no Brasil um instrumento de consolidação da identidade nacional ou de conhecimento da realidade brasileira. O livro torna-se muito mais um produto comercial do que cultural. Toda a indústria do livro esta voltada para 30% da população de maior renda, além disto não dispomos de bibliotecas em quantidade suficientes para democratizar o hábito da leitura.

Mais de 1000 municípios brasileiros sequer têm uma biblioteca pública. O PDT está implantando a única política cultural para democratizar o acesso aos livros, através das bibliotecas dos CIEPs abertos as comunidades locais. Este é o maior programa para enfrentar a precária escolaridade de 42 milhões de brasileiros e de estimular o prazer de ler em todas as classes sociais.

A política cultural que o PDT propõe envolve organizar estímulo a criação literária, apoiar o autor nacional e baratear o preço do papel que é exportado em valor 50% menor do que o vendido no mercado interno, inclusive estimulando a produção de papéis novos, fora da área da celulose extraída da madeira. O país joga fora riquíssima matéria-prima que, industrializada, daria bom papel. Estamos nos referindo a palha do milho, bagaço de cana, folha da bananeira e palha de arroz.

Política de Esporte e Lazer

O Esporte alcançou extraordinária popularidade em todo o mundo. As maiores audiências nas redes de televisão referem-se as competições esportivas (Campeonato Mundial de Futebol, Jogos Olímpicos, Fórmula 1, etc) que são assistidas por 1(um) bilhão de telespectadores.. Em consequência, atletas tornam-se personalidades mundiais, e países são enaltecidos pelas vitórias e investimentos realizados no setor.

Os resultados esportivos, em sua maioria, contemplam com as medalhas de ouro, prata e bronze, os atletas do Primeiro Mundo. Também no Esporte, o reflexo da injusta divisão da Ordem Econômica Internacional está presente. Como honrosa exceção, temos Cuba (6º colocada nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 e Campeã dos XI Jogos Panamericanos de 1991 em Havana) que adotou o princípio de que - "O Esporte é um direito do povo", a chamada "Massificação esportiva", aliada à política de nutrição infantil, saúde pública, educação e cultura.

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Para se formular uma política de esportes no nosso país, temos que ter a consciência clara que a revolução esportiva tem que caminhar em conjunto com as políticas públicas que atendam aos direitos da maioria das crianças e adolescentes que vivem em locais que são verdadeiros bolsões de miséria (favelas, mocambos, alagados e etc.). Os recursos públicos devem se destinar, prioritariamente, à iniciação e formação das práticas esportivas para as populações infanto-juvenis, conforme o preceito constitucional contido no artigo 217 da Constituição Federal

. O Esporte, no seu desenvolvimento e massificação, funciona como um poderoso instrumento de socialização, promoção social, prevenção contra as drogas e doenças. Quanto mais jovens alimentados e praticando esportes tivermos, estaremos mais próximos de conseguirmos atletas-campeões. O Governo do Estado do Rio de Janeiro, tem adotado políticas esportivas que devem ser multiplicadas para todo o paí

s. A primeira delas é a construção de ginásios esportivos nos CIEPs que permitirá um avanço extraordinário na prática esportiva e no lazer das comunidades. A Política de Esporte-Educação ( jogos estudantis das escolas públicas municipais e estaduais) é a base inicial da massificação esportiva, permitindo que todas as crianças da rede pública passem a ter iniciação, até porque as crianças das escolas particulares em sua quase total maioria são sócias de clubes particulares.

A Política de Esporte Comunidade como o projeto da Mangueira no qual o Estado participa e o Projeto do Morro do Estado em Niterói da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer onde o esporte, a cultura, o ensino profissionalizante e a saúde pública com assistência médica e odontológica assumem um caráter de trabalho preventivo e socialização a população infanto-juvenil. Projeto Iniciação Esportiva - PID que representa a utilização dos espaços públicos para a prática dos esportes (Complexo do Maracanã, Estádio de Remo da Lagoa e Complexo do Caio Martins que atendem a 10.000 jovens). Projeto Esportivo para Portadores de Deficiência , pois representam 10% da população brasileira. Projeto de Capacitação Profissional que visa a atualização técnica dos professores de educação física. Além desses exemplos, é fundamental o aprimoramento no conhecimento científico sobre esporte de alto nível (Esporte Competição) e da medicina esportivaa.

É da maior importância que a União, Estados e Municípios desenvolvam o Esporte-Lazer, permitindo que todas as camadas da população das mais variadas faixas de idade possam nas praias, nos campos, nas ruas de lazer e nas praças praticar as mais variadas formas de esportes. No momento em que conseguirmos tornar o Esporte um direito de todos, teremos, sem dúvida, um país com maior igualdade de oportunidades.

Projeto Brasil

VII - Movimentos Sociais

O PDT e os Movimentos Populares A história e a razão de ser de um partido político é buscar sintetizar as ansiedades e aspirações de seu povo e com ele caminhar em suas lutas pela construção de uma sociedade que a ele se adeque. O PDT parte da premissa que não existem "donos da verdade" e busca consolidar esse seu papel através da estimulação de uma sociedade pluralista, onde a convivência democrática é o macro. Respeitando a independência e a autonomia do movimento social, dele participa e é parte integrante sem , entretanto, tutelá-lo. O PDT encontra sua identidade ao fundir-se e, ao mesmo tempo, transcender o movimento social em sua relação com a História, representando a experiência de nosso povo. Nossas propostas surgem da fusão da sabedoria contida nas lições do passado com a combatividade, o espírito de justiça e a lucidez do presente. Somos um partido popular e jamais renunciamos às nossas raízes sociais. Numa sociedade autoritária, desigual, discriminatória e autofágica, acostumada a longos períodos de ditadura, é de se esperar que o movimento social nascente pós-campanha das diretas, venha a produzir uma série de deformações ideológicas contidas e enraizadas nos 25 anos de ditadura. A transição democrática é um processo que nasce, se desenvolve e amadurece.

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Não é um despertar abrupto sem passado nem futuro. O PDT reconhece a natureza dos processos sociais e repudia como formas de autoritarismo anti-popular, quaisquer tentativas de tutelamento do movimento social através do atrelamento de associações de moradores, sindicatos, organizações feministas ou qualquer outra forma de organização da sociedade civil, a quem quer que seja. O PDT vê como fundamental a organização popular em nosso país como forma de participação no poder das camadas mais carentes da nossa população.

Para isto estimula a organização da sociedade civil. Entretanto, o PDT é consciente de que uma grande parcela da nossa população constitui uma massa de trabalhadores, desempregados, subempregados, etc que não possui qualquer tipo de organização social, podendo tornar-se a grande massa de manobra dos poderosos. O PDT dirige a estes filhos da nação brasileira, cidadãos discriminados, sua preocupação programática central, para que possam conquistar o lugar que lhes cabe em nossa sociedade.

O PDT, o Movimento Sindical e o Estado

No cenário político internacional, as cartas ideológicas se embaralham de tal maneira que têm desorientado tendências e correntes do movimento sindical mundial, bem como as de expressão nacional, dentro de nosso país. Temerosas de qualquer identificação com concepções doutrinárias do chamado "socialismo real", com todo seu caudal de desvios autoritários e antidemocráticos. Centrais Sindicais, assumem plenamente, com raríssimos momentos de exercício de capacidade crítica, o manifesto liberal de FIM DA HISTÓRIA.

De fato, tornou-se tão avassaladora a predominância da doutrina neoliberal, largamente difundida por meios de comunicação de massa, que líderes sindicais brasileiros, apesar de aparente retórica "moderna e progressista", repetem velhos argumentos tidos por ultrapassados até mesmo por corrente liberais da Europa. Pensadores liberais franceses atribuem ao Estado papel decisivo na intervenção da economia na formulação e execução de políticas que compensem e corrijam os desequilíbrios e as desigualdades produzidas pelas leis de mercado.

Nada mais perverso e cruel ao futuro do país que assistir ás Centrais Sindicais engajando-se de uma lado às iniciativas de liquidação do patrimônio nacional do povo trabalhador (Força Sindical): ou, simplesmente, mantendo-se a distância do combate político (CUT) que forças e setores democráticos devem empreender em defesa do patrimônio nacional. Outra grave consequência da crise a que está submetido o movimento sindical, em face de significativos avanços e conquistas consagrados no processo constituinte e inscritos no texto da nova Constituição.

A proposta de "modernidade" tem propagado a subestimação do rico acervo de experiências das lutas sociais e políticas (legislação social trabalhista, previdenciária, sindicalização rural, do período Vargas e João Goulart, formação do Comando Geral dos Trabalhadores, Pacto de Unidade e Ação, entre outros) desenvolvidos pelo movimento operário em particular. O movimento sindical incorre em grave erro ao deixar à margem da agenda de debates nacionais a questão básica. Ignorar que, em lugar de Estado Mínimo, com a classe trabalhadora atada à perversa predominância das leis de mercado, o combate político deve se concentrar na democratização do Estado, sua transformação e radical alteração na sua composição, de tal maneira que, incorporando forças sindicais hoje excluídas, se torne efetivamente, um Estado forte e democrático que se sustente na cidadania a ser amplamente exercida pelo povo trabalhador.

Acomodações, composições de interesse com o capital privado, principalmente nas grandes empresas nacionais e multinacionais, e investidas agressivas que limitam, na prática, as greves ao âmbito das instituições e empresas estatais constituem a versão mais recente das ações desenvolvidas por setores do movimento sindical, eivadas de indisfarçável componente corporativista. Neste caso, é difícil distinguir a correta e justa reinvindicação por reposição de perdas salariais da ofensiva conservadora visando à desmoralização de instituições e empresas estatais. Enfrentar esse estado de coisas impõem-se como um dever dos trabalhistas. Pela sua trajetória histórica, o PDT dispõe de tantos elementos que a experiência

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lhe assegura para não submergir à confusão política e ideológica que domina o movimento sindical. Nem se entrincheirar em quaisquer das Centrais Sindicais.

Conforme a Carta de Lisboa, o nosso processo é pluralista, pois não pretendemos absorver ou manipular os sindicatos e as organizações populares das mais diversas origens. O que implica recusar o processo divisionista tão acentuadamente explorado pelos tradicionais setores conservadores e reacionários que, com habilidade, cooptam correntes que pretendem se situar à "esquerda". Nesse sentido, as alianças dos trabalhistas no movimento sindical devem se basear no exame dos contextos e conjunturas, à luz de princípios de que o pluralismo político e ideológico no plano geral e específico se vincula à preservação da Unidade Sindical.

O PDT dispõe, igualmente, de autoridade para avançar e elevar o nível de influência nas classes trabalhadoras e em suas distintas formas de organização, sem se comprometer com as manobras divisionistas que se evidenciam nas tentativas de instrumentalização partidária. A visão de interesse nacional permite ao PDT recolher da experiência histórica passada e atual os meios de questionamento do arraigado corporativismo.

E elaborar estratégias políticas para o movimento sindical que mantenha, a partir de perspectivas nacionais de classes trabalhadoras, a permanente e justa defesa das reinvindicações econômicas das diferentes categorias de trabalhadores organicamente associados aos interesses gerais da sociedade brasileira. A proposta trabalhista permite, sem dúvida, repor, em termos justos, os interesses dos trabalhadores, papéis e posições que o Estado deve assumir na economia.

Ao invés de um Estado patrimônio de alguns grupos, a concepção histórica trabalhista aponta para a construção do Estado da Cidadania, intervindo na economia, respeitando a liberdade e autonomia das entidades sindicais, para preservar e assegurar seu pleno exercício pelo povo trabalhador.

Por todas essas razões o Congresso do PDT, concluiu por um conjunto de metas que atendem à organização sindical dentro do Partido ao mesmo tempo que aponta entre outras as seguintes diretrizes para o Projeto Brasil:

- buscar a união do sindicalismo brasileiro através da formação imediata de amplo movimento pluralista no campo político e na esfera ideológica, destinado a construir visão e concepção unitárias, objetivando-se a unificação do Movimento Sindical numa só central sindical;

- elaborar um plano nacional unificado de ação e luta dos trabalhadores;

- lutar pela autonomia financeira dos sindicatos;

- incentivar e apoiar a criação de cooperativas de trabalhadores; - lutar pelo atendimento das questões básicas dos trabalhadores;

- propor sindicatos por ramo principal de produção; -

criar canais institucionais para que os sindicalistas possam exercer negociações com o poder público no encaminhamento de problemas e questões de natureza administrativa relativas a estes poderes;

- lutar pela criação de uma Central Sindical Latino-Americana.

O PDT e a Juventude

O PDT tem uma profunda identificação com os jovens com propostas que apontam o caminho para a reafirmação da identidade da juventude trabalhadora e para a criação de novas esperanças. O jovem trabalhador enfrenta muito cedo as dificuldades de inserção no mercado

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de trabalho, correspondendo a uma trajetória pessoal que o fez interromper os estudos sem completar o 2º grau e, às vezes, nem tendo o 1º grau completo.

Este jovem, trabalhador ou trabalhadora não adquiriu , através da educação, a formação cultural, técnica e humanística capaz de lhe garantir a cidadania. É no trabalho que ele (ou ela) vem completar sua formação, expondo-se desde muito cedo a jornadas de trabalho mau remuneradas, às horas extras, ao desgaste nos longos deslocamentos de casa para o trabalho e vice-versa.

O acesso aos bens culturais, ao lazer, a prática dos desportos se dão em situações precárias e não raramente os expõem ao alcoolismo, ao uso de drogas, a práticas sexuais inseguras e às doenças sexualmente transmissíveis e AIDS. O PDT tendo como prioridade a educação, não abre mão da garantia do acesso a escola, a cultura, desportos e ao lazer como parte integrante da formação integral dos jovens. Para as classes populares, a escola de horário integral (CIEPs) é o instrumento de ação governamental capaz de cumprir com estas funções.

Ao lado disto, o técnica profissional deve ter possibilidade de ser levada adiante no 2º grau com cursos politécnicos bem como por oficinas de trabalho dirigidas àqueles que não dispuseram de condições para a frequência regular à escola. Aos jovens que lograram acesso ao ensino universitário o PDT propõe um engajamento na formação profissional, técnico-científica e cultural capaz de habilitá-los à formação de intelectuais comprometidos com a construção da nação, com a soberania do país e com a democracia. Neste campo, o PDT propõe que sejam refomuladas as possibilidades de acesso a universidade, tanto com a expansão da oferta de vagas nas universidades públicas como oferecendo maior número de cursos à noite, mais adequados às realidades destes jovens.

O sistema de concurso vestibular que é o o final do filtro da seleção cultural e econômica, exclui a maioria dos jovens das classes populares que chegaram ao 2º grau. Deve-se experimentar novos critérios de acesso a universidade, diversos do atual concurso vestibular, que sejam coerentes com nossas propostas de avaliação contínua, tais como, as avaliações ao longo do 2º grau e a implantação de cursos pré-universitários de 1 ou 2 anos de duração, com formas distintas de acesso a universidade.

O PDT e a Mulher

A Carta de Lisboa definiu entre os compromissos prioritários as reinvindicações da mulher brasileira, contra sua discriminação, por sua efetiva participação em todas as áreas de decisão, na defesa e ampliação de seus direitos sociais no emprego e no lar, por programas que atenuem suas duas jornadas de trabalho. O PDT é um intransigente defensor do direito à cidadania da mulher que se traduz na garantia do emprego, da justa remuneração do trabalho, sem diferenciação de sexo, no respeito a individualidade da mulher, do autoconhecimento e do controle pela mulher de seu próprio corpo.

O PDT defende, também, que os Governos desenvolvam programas específicos dirigidos a mulher, que estimule campanhas de esclarecimento sobre os direitos da mulher e exerça o poder de fiscalização do cumprimento da legislação específica. Neste sentido é importante transformar o processo educativo num instrumento de construção da Democracia e da Cidadania, com especial ênfase na igualdade social e de gênero, que possibilite às mulheres participar plenamente dos processos político, social e cultural. É preciso rever os currículos, as práticas pedagógicas e o conteúdo dos livros didáticos para que não continuem sendo canais de transmissão da educação diferenciada para meninos e meninas, que privilegia um sexo em detrimento do outro, reforçando relações sociais discriminatórias.

A ampliação de uma rede de creches e pré-escolas e a ampliação dos CIEPs no território nacional, permitirá que as mulheres exerçam, com tranquilidade, atividades profissionais fora do lar. Na década de 80, por reinvindicação das mulheres organizadas em todo o Brasil, foi definida uma política especificamente voltada para a saúde da mulher, consubstanciada no PAISMC (Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher). O PAISMC foi concebido para

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atender, à mulher em todas as fases de sua vida, na sua integralidade de ser humano e não somente no seu período reprodutor.

Assim em sua essência o PAISMC tem como objetivo: oferecer assistência clínico-ginecológica e educativa voltada para o aprimoramento do controle do Pré-Natal, do parto , do puerpério; abordar problemas presentes desde a adolescência até a terceira idade; controlar e previnir doenças sexualmente transmissíveis; o câncer cérvico-uterino e de mama; implantar programas de planejamento familiar que ofereçam à mulher ações educativas, informações e acesso aos métodos anticonceptivos, com o devido acompanhamento médico, possibilitando-lhes a regulação da fertilidade. Vale enfatizar que as ações de planejamento familiar não devem ser reduzidas a mecanismos de controle da natalidade, mas deve garantir à mulher ou ao casal o exercício do direito de optar pelo número de filhos que desejar.

Cabe também ao programa orientar os profissionais de saúde em todos os níveis de prestação de serviços, no sentido de informar às usuárias em potencial da ligadura de trompas ou esterilização, sobre o caráter permanente dessa cirurgia, apontando-lhes a alternativa do uso de métodos anticonceptivos tanto naturais, quanto artificiais. O PDT se opõe de forma categórica a programas de controle da natalidade compulsórios como a esterilização por ligadura de trompas que já atinge a 25 milhões de mulheres brasileiras.

A Constituição brasileira e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garantem direitos bastante amplos às trabalhadoras. Todavia são frequentemente desrespeitadas através de práticas diversas: exigência de teste de gravidez e atestado de ligadura de trompas no acesso a determinados empregos; salários inferiores ao dos homens; rejeição à trabalhadora negra, assédio sexual; trabalho sem carteira assinada; dificuldade de acesso a cargos de direção. Tais procedimentos expressam a persistência de uma mentalidade discriminatória e retrógrada que ainda considera o trabalho feminino uma concessão e não um direito.

Neste sentido, o PDT exige o irrestrito cumprimento da citada legislação criando, inclusive mecanismos participativos de fiscalização e ações e campanhas de conscientização das trabalhadoras urbanas e rurais sobre seus direitos constitucionais. O PDT propõe o acesso da mulher trabalhadora rural a propriedade rural, à tecnologia agrícola e à promoção da assistência à produção de alimentos, saneamento básico e cuidados elementares de saúde. A violência que vitima secularmente a mulher não é mais considerada "coisa natural". Tornou-se conceito universal que a violência contra a mulher é uma violação dos Direitos Humanos e um obstáculo ao desenvolvimento, conforme ficou patenteado na Conferência Mundial dos Direitos Humanos das Nações Unidas, realizada em Viena, em junho de 1993.

Esse princípio está presente no ordenamento jurídico do Brasil, explicitado em mandamentos constitucionais a nível Federal e Estadual. O PDT entende que qualquer discriminação sexista que afete a mulher no âmbito privado ou público, é compreendido no sentido amplo como violência contra a mulher. Neste sentido o Poder Público deve instalar os serviços previstos na Constituição que dêem suporte às mulheres vítimas de violência criminal e não menos importante é conscientizar as mulheres, estimulando-as a denunciar e registrar a violência sofrida. O PDT estimula que as escolas debatam os problemas da violência contra a mulher nos seus currículos e condena a veiculação de programas dos meios de comuniçação que incite à violência contra a mulher.

O PDT e o Negro

A luta dos afrobrasileiros contra a discriminação e as desigualdades raciais é parte integrante e fundamental da história da nacionalidade brasileira, pois se iniciou no século XVI, com a chegada ao Brasil dos primeiros africanos escravizados. Essa luta, que se travou primeiramente contra a instituição da escravidão e que tem como símbolo a epopéia do Quilombo dos Palmares, estende-se hoje a todos os campos, em especial a educação, a cultura, os meios de comunicação, o mercado de trabalho e a esfera jurídico-policial. Em paralelo e solidário às lutas de libertação dos povos africanos, especialmente os de língua oficial portuguesa, e aos movimentos nacionalista e de direitos civis dos afro-americanos, o

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movimento negro no Brasil tem crescido nas últimas décadas, contando hoje com cerca de 600 entidades de caráter político e cultural..

O principal inimigo dessas organizações é o mito da "democracia racial", reconfortante para os dominadores, porque lhes alivia a culpa, mas também para grande parte dos dominadores, porque lhes disfarça o "estigma" , e que obriga as organizações negras a dispender demasiado tempo e energia simplesmente para provar a existência de racismo no Brasil. Ao contrário da percepção de senso comum, o racismo não beneficia apenas os grupos dominantes, mas todos os brancos, que usufruem de benefícios materiais proporcionados por um mercado de trabalho em que ocorre todo tipo de discriminação - desde salários maiores ( o dobro, na média) para funções idênticas até o virtual monopólio dos postos de decisão em qualquer nível, assim como dos benefícios simbólicos resultantes de serem julgados e se julgarem "superiores" aos negros s.

O efeito mais perverso do racismo à brasileira, contudo, é a sua introjeção por uma parcela significativa dos próprios afrobrasileiros, que, aceitando sua suposta "inferioridade", se consideram incapazes de enfrentar a discriminação de que são vítimas, seja individualmente, na busca legítima da mobilidade ascendente, seja no plano coletivo, na luta contra o racismo institucional, marcadamente presente na escola, nos meios de comunicações, no mercado de trabalho e na esfera jurídico-policia

l. Nesse sentido, a visão tradicional dos partidos progressistas, que elege o fator classe como o responsável por todas as desigualdades (contrariando a volumosa pesquisa acadêmica quantitativa produzida nos últimos vinte anos), constitui um obstáculo adicional à mobilização dos afro-brasileiros pela igualdade. No caso do PDT , a Carta de Lisboa reafirma o compromisso do Partido com a causa dos afrobrasileiros como "parte fundamental na luta pela democracia, pela justiça social e pela verdadeira unidade naciona

l". Esse compromisso tem-se consubstanciado na criação de instâncias específicas , tanto no âmbito do Partido quanto nos dos governos que o Partido detém, para o enfrentamento concreto da discriminação e das desigualdades raciais e para a elaboração e implementação de políticas compensatórias, baseados no conceito de que tratar igualmente os desiguais significa perpetuar a injustiça. Nesse plano, cabe destacar a criação, no Estado do Rio de Janeiro, da Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Negras, exemplo pioneiro a ser seguido nos demais Estados e Municípios governados pelo PDT.

O PDT e os Povos Indígenas

A força político-cultural do PDT reside no enraizamento do partido na base da formação da Nação brasileira. Por isto, o PDT foi o primeiro a explicitar já em nossa Carta de Lisboa, a defesa dos índios tanto como minoria étnica quanto como base constitutiva do povo brasileiro. Hoje, são apenas 300 mil indígenas que sobreviveram, passados 500 anos de colonização portuguesa e da formação da nação sobre os escombros deste holocausto étnico.

Correspondem a 6% da população original e 0.20% da atual população do país. Entretanto, há sinais positivos da permanência dos povos indígenas no Brasil: é uma população crescente que nos últimos anos demonstra estar em vias de recuperação permanente. O PDT está solidário com o crescimento dos povos indígenas, reconhecendo nesse processo os seus direitos históricos e o sentimento da pluralidade étnica e cultural do Brasil. O PDT defende a demarcação completa de todas as áreas indígenas do país, sem prejuízo da proteção das fronteiras nacionais, pois o preceito constitucional que estabelece o prazo para 1993 não está sendo cumprido. A defesa territorial e cultural dos povos indígenas é condição para a manutenção da pluralidade da sociedade brasileira. A defesa da cultura indígena preservará as formas societárias originais que valorizam os modos igualitários de convivência e representatividade política das populações indígenas. O PDT repudia todas as formas de violação dos direitos humanos que ocorrem em relação às populações indígenas, inclusive o recente genocídio dos índios yanomamis cometido por grupos de extermínio.

O PDT e as Pessoas Portadoras de Deficiências

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O PDT reconhece e solidariza-se com a luta emergente das pessoas portadoras de deficiência por condições que lhes permitam exercer a plena cidadania e pelo exercício de seus direitos constitucionais. Na formulação das políticas de educação, saúde e transporte, suas reivindicações devem ser contempladas de forma a evitar-se a marginalização social desses milhões de brasileiros que desejam integrar-se a um projeto de sociedade igualitária.

O PDT Defende uma Política para os Idosos

Como um partido de base popular, de longa tradição na defesa do povo brasileiro, o PDT condena os diversos tipos de discriminação social, econômica e política que se implantaram na vida nacional pela intolerância das elites. Repudiamos a discriminação e a violência contra homossexuais e lésbicas, defendendo que seus direitos sejam preservados constitucionalmente, nos solidarizando com suas lutas, suas organizações e grupos ativistas.

Projeto Brasil

VIII - Democratização da Comunicação

Não há país democrático sem comuniçação democrática. A comunicação no Brasil avançou rapidamente nos últimos anos no campo da infraestrutura. O país que mal se comunicava consigo mesmo e com o mundo nos anos 50, desde a implementação do Código Brasileiro de Telecomunicações, em 1962, que criou a Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações) e, posteriormente, a Telebrás nos anos 70, viabilizou em tempo recorde um dos mais modernos sistemas de telecomunicações do planeta.

Porém, as novas conquistas tecnológicas e a política de integração nacional, via comunicações, promovidas pelo regime militar, não resultaram em benefícios diretos para o povo que, se por um lado atingiu a maturidade em alguns aspectos no setor da telefonia, processamento de dados e informática, por outro lado tornou-se prisioneiro do sistema de televisão mais violento de que se tem notícia no mundo - o da Rede Globo - que surgiu à sombra da ditadura. Hoje, o monopólio da Rede Globo e a concentração dos meios de comunicação em todos os ramos da mídia têm sido uma arma poderosa na mão das elites e um instrumento de dominação do povo brasileiro.

Menos de dez famílias detêm o controle de mais de 80% dos serviços de comunicação no Brasil; quase metade dos deputados e senadores é concessionária de canais da rádio e TV; e continua sendo poder exclusivo do Presidente da República a concessão, permissão e autorização para o serviço de rádio difusão em nosso país. A Constituição de 1988 lançou os fundamentos para a democratização do sistema de comunicação liberando a manifestação do pensamento, abolindo a censura, declarando a liberdade de imprensa e definindo a função da radiodifusão como promotora da cultura nacional e regional.

A Constituição manteve também a propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão exclusivamente para brasileiros e criou o Conselho de Comunicação Social, como órgão auxiliar do Congresso Nacional. A grande novidade neste capítulo, além do Conselho de Comunicação Social, foi o princípio de complementaridade dos sistemas "privado", "público", e "estatal" nas comunicações.

O sistema público - que não é privado e nem estatal - se refere à possibilidade de existência de emissoras de rádio e televisão a serviço da cultura, das artes, do jornalismo e da educação, administradas pela própria sociedade através de fundações. Essas emissoras que não são governamentais e nem particulares, são canais de expressão popular como já existem em diversos países da Europa e nos Estados Unidos.

A Constituição proíbe a formação de monopólio ou oligopólio nos meios de comunicação e estabelece, além do direito à informação, o novo direito de comunicar, abrindo o acesso das pessoas comuns e grupos organizados aos meios de comunicação. Além disso, fala da

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necessidade de estímulo à produção cultural independente e preconiza a regionalização da produção cultural, artística e jornalística, com percentuais a serem estabelecidos por lei.

No entanto, estas conquistas ainda não foram regulamentadas, sendo que a principal delas se refere ao Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar do Congresso Nacional, já aprovado pela Câmara e Senado Federal e sancionado pelo Presidente da República em dezembro de 1991. Apesar de já ter se esgotado o prazo regulamentar para a nomeação e posse dos conselheiros, o Conselho ainda não saiu do papel. Portanto, é preciso nomear e empossar o Conselho de Comunicação Social urgentemente para que todo o sistema de comunicação no Brasil possa ser reordenado e adequado a nova Constituição. O ex-presidente Sarney distribuiu mais de 1.000 concessões de canais de rádio e TV nos dois últimos anos de seu governo.

O governo Collor encaminhou 24 pedidos de novas concessões de radiodifusão e liberou, através de decretos, 93 canais de TV a cabo, distribuídos em 64 municípios, sem consultar o Congresso Nacional ou a sociedade brasileira. A maioria desses canais foi concedida a grupos que já possuíam outras concessões, privilegiando a concentração e o monopólio. No caso da TV a cabo, a questão é ainda mais grave pois a implantação do sistema a cabo no Brasil não passou sequer por uma discussão preliminar e tem sido implantado de forma autoritária.

O sistema a cabo ou cabodifusão será um futuro próximo a infraestrutura básica da chamada sociedade da informação que já se antecipa neste final de século. O Brasil está atrasado pelo menos 20 anos na implantação das redes de cabodifusão, apesar do domínio da tecnologia da fibra ótica. As redes de cabodifusão conduzirão uma série de serviços, não só sinais de televisão, mas terão acoplados os serviços de telefonia, processamento de dados e outros.

Serão as estradas eletrônicas do século XXI que antecipam o conceito das RDSI (Rede Digitais de Serviços Integrados). Manipulado por diversos governos nas últimas décadas - Geisel, Figueiredo, Sarney e Collor - o sistema de comunicação no Brasil vem reeditando no campo da cabodifusão o que já ocorreu com o rádio e a TV, ou seja, consolidando na prática, antes que a sociedade se aperceba, o sistema que lhes interessa, sem consulta ou perspectiva futura. Assim foi com a radiodifusão que concentrou o poder da comunicação e permitiu o monopólio para poucos privilegiados.

Assim vem ocorrendo com a cabodifusão que vem sendo implantada através de decretos. Isto coloca em risco o próprio monopólio estatal nas telecomunicações, porque de fato o sistema de cabodifusão já está nascendo privatizado. Portanto, é necessário estabelecer uma legislação específica para a cabodifusão que contemple as nossas necessidades, a conectividade das redes, tanto no interior do país como nas conexões com o exterior, a previsão para a TV de alta definição (HDTV/High Definition Television), a reserva de canais para aplicações específicas, para atender objetivos culturais, políticos e sociais (Tvs Universitárias, Tvs governamentais, Tvs independentes, etc.). Do jeito que está sendo implantado o sistema de TV a cabo só favorece Tvs a cabo privatizadas, sem a previsão do futuro e sem a adequação as nossas necessidades democráticas. Para democratizar a comunicação no Brasil, é preciso que se estabeleça o fim do monopólio privado e da multimídia

. Ninguém ou nenhum grupo poderá ter rádio, jornal ou revista e televisão ao mesmo tempo. Por outro lado, é necessário liberar as rádios e Tvs comunitárias, ou rádios e Tvs livres, sem fins lucrativos, que poderão ser instaladas apenas mediante registro no cartório local. Estas emissoras, baixa potência, já são liberadas em vários países, mas funcionam clandestinamente no Brasil. Em muitas regiões, as rádios e Tvs livres têm batido recordes de audiência, quebrando o monopólio de emissoras convencionais como a Rede Globo, até mesmo nos horários de pique, no horário das novelas. É preciso colocar em prática o chamado "direito de antena", já estabelecido pela Constituição do Estado do Rio de Janeiro. O "direito de antena" que consiste na ocupação de faixas de horário nas rádios e Tvs particulares ou estatais por entidades da sociedade civil organizada, deverá ser estendido a todos os Estados da Federação pois consubstancia um direito constitucional e o pleno exercício da cidadania.

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O rádio, a televisão e a publicidade feitos no Brasil não refletem a nossa realidade e as emissões em cadeia nacional escondem a pluralidade regional de um país com as dimensões continentais como o nosso. Assim, vivemos a ditadura dos costumes, da linguaguem e da cultura imposta pelo monopólio da mídia que subverte e anula os valores locais. A Constituição prevê a regionalização da comunicação social como mecanismo de preservação e consolidação da nossa identidade cultural. É preciso, portanto, garantir uma percentagem de 40% na programação das emissoras para a produção cultural, artística e jornalística, produzida localmente, assim como estabelecer incentivos para a produção independente que deverá ocupar 30% da programação total das emissoras que só poderão exibir em cadeia nacional os restantes 30% estabelecidos em lei.

O Brasil possui hoje mais de 3.000 emissoras de rádio e mais de 250 canais de TV. Apenas 10% destas emissoras são mantidas com verbas do governo ou de fundações; a maioria é mantida pela propaganda comercial das empresas e dos governos em campanhas publicitárias. O governo e as empresas multinacionais contribuem com 40%, cada um, para as verbas publicitárias, enquanto as empresas nacionais concorrem com apenas 20%. A TV como veículo absorve 54% dos gastos totais das campanhas. A publicidade é, portanto, o motor do sistema de comunicação no Brasil.

As agências de publicidade orientam os seus clientes em suas campanhas e definem não só a forma e o conteúdo das mensagens, mas os próprios veículos que serão usados na promoção de seus anúncios. Assim, os meios de comunicação estão profundamente atrelados às empresas e às pesquisas da opinião que guiam o comportamento das agências de publicidade. E, neste caso, a comunicação fica naturalmente limitada em sua liberdade de expressão.

É preciso, pois, redimensionar a distribuição das verbas oficiais de propaganda, num sistema compensatório que ultrapasse a barreira comercial, onde os únicos valores são o lucro a qualquer preço. Para isto, as verbas oficiais de propaganda deverão ser distribuídas segundo critérios democráticos e transparentes. É necessário combater o "lobby" da indústria do papel que limita a atuação da imprensa escrita e condena aos desaparecimento grandes e pequenos jornais, além de dificultar a manutenção e expansão do setor editorial num país que exporta matéria prima e importa o papel que poderia ser produzido localmente.

Neste sentido, é urgente estimular a pesquisa e implantação de novas tecnologias de fabricação e reciclagem de papel, para revitalizar o mercado hoje passível de estrangulamento pelas flutuações dos custos externos. A moderna rede de comunicação global mantém a sociedade ligada permanentemente como uma espécie de prisioneira da informação e cada vez mais dependente de uma tecnologia dominadora. Porém a mesma tecnologia que serve aos usuários comuns numa ligação telefônica interurbana ou internacional, por exemplo, tem preços subsidiados e mais baratos para a transmissão de Tvs em cadeia nacional.

Portanto, é preciso rever a política tarifária no setor das telecomunicações que neste caso deve ser articulada com a política para os setores de comunicação social e cultural. Hoje custa menos para a Rede Globo transmitir via satélite uma partida de futebol do que um usuário dar um rápido telefonema entre Rio e São Paulo. E, finalmente, é necessário abrir créditos para a formação do novo sistema de comunicação que se quer implantar no país, um sistema democrático que contemple as três esferas: pública, privada e estatal.

Hoje, no campo da comunicação impressa, o BNDES não faz empréstimos às empresas de informação o que compromete a própria pluralidade democrática. Quando não haviam os recursos tecnológicos hoje disponíveis, os meios de comunicação eram muito mais pluralistas. Haviam mais jornais e todos eles desapareceram dos anos 60 para cá, nos chamados anos de chumbo, sem que surgissem outras opções do mesmo porte. A comunicação é fundamentalmente política. A comunicação não é nem pode ser neutra. Não existe verdade única ou objetiva. Não cabe pensar num modelo único de comunicação devido à diversidade cultural entre as regiões.

Estes postulados devem nortear a política de comunicação no Brasil que necessita ser implantada definitivamente. No capítulo sobre justiça e segurança pública, podemos ver como

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a indução à violência através do programas de televisão é constante, sobrepujando em muito os programas educativos. O monopólio nas comunicações no Brasil tem sido um crime permitido e praticado por aqueles que, se beneficiando das leis impostas pela ditadura, geraram um sistema pervertido onde poucos, pouquíssimos, manipulam os corações e mentes de todo o Brasil. É preciso resgatar o controle da nossa comunicação social; trazê-la de volta para o seu rumo natural que é basicamente a sua função educativa. Este será o compromisso do PDT com o povo brasileiro e com as gerações futuras: libertar-nos das amarras da mídia.

IX - Justiça e Segurança Pública

Não existem de que o quadro de violência que atinge o campo e as cidades no Brasil, especialmente as regiões metropolitanas, resulta de uma sociedade em que 52,9% dos seus trabalhadores ganham menos de dois salários mínimos, onde a taxa de analfabetismo é de 19,6%, existem 7,5 milhões de crianças e adolescentes trabalhando e onde apenas 3% ganha mais de 20 salários mínimos. Existe referência de que mais de 35 milhões de pessoas não possui renda suficiente para adquirir a quantidade de comida para alimentar-se corretamente.

O quadro de violência se compõe no mínimo do estrato da miséria de grande parte da população, incluindo a grave crise agrária ou então é fruto do aparelho de Estado a serviço do autoritarismo, que busca comprimir as demandas sociais numa espécie de cerca formada por armas de fogo e por imagens subjetivas montadas pela mídia jornalística e televisa. Cria-se, então, todo um leque de preconceitos, para justificar o isolamento, a repressão e a exibição de poder não apenas dos segmentos segregados, mas para intimidar o conjunto da população. Procuram medidas com o objetivo de amedrontar os militantes sociais e políticos e reprimir as camadas mais empobrecidas e exploradas do povo, garantindo assim os privilégios das minorias.

Mídia e Violência

Os jornais criaram uma imagem de violência que ultrapassa a realidade e deste modo procuram associar os governos com o banditismo, ao mesmo tempo que clamam por maior intervenção armada sobre o povo sofrido, justamente quando o governo do PDT prepara a sua redenção pela revolução da educação. E são muitos os mecanismos que os donos de jornais usam para melhor servir a elite que nos domina.

Observando-se que a imprensa gera a expectativa de um grave confronto social, uma sensação generalizada de insegurança, através da criação de uma distância entre uma violência real que existe e a instalação de angústia, gerando agressividade hostil e coletiva. Cria-se, assim, o pânico da violência que não corresponde ao tamanho da violência real. - a notícia impressa no jornal passa a prevalecer sobre o fato e o noticiário posterior à criação de um fato, busca sempre escamotear a realidade, adaptando-a à primeira notícia de cunho tendencioso; - a violência tratada de modo continuado, identificada com organizações criminosas e de modo progressivo ao mesmo tempo que se aponta a incapacidade do Estado em detê-las

. Nesta modalidade costuma-se identificar manifestações isoladas de patologias psicológicas como se fossem tendências a comportamento de crimes em série; - a violência social é atribuída à ineficiência do Estado e não se transforma em objeto de discussão da perversidade da nossa organização sócio-econômica; - padrões ilegais, porém costumeiros, das respostas policiais nunca são essencialmente criticados; - cria-se a sensação de insegurança progressiva e impune para sugerir mecanismos mais fortes de controle social.

O PDT, chama atenção para um dos mais graves problemas do país e que na verdade sustenta o privilégio das minorias através do monopólio que exercem sobre as nossas famílias, que é a Rede Globo de Televisão. Representa um poder paralelo, deletério e avassalador que está destruindo os valores mais caros a esta Nação. Procuram nos impingir comportamentos violentos e criminosos, com objetivos inconfessáveis, mas todos eles visando ao controle da

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sociedade, apavorada e presa à voracidade de padrões de comportamento culturalmente alienígenas.

Pesquisas do Governo do Rio de Janeiro, realizadas no ano de 1992 e 1993, revelou um verdadeiro massacre transmitindo diariamente para 110 milhões de telespectadores: oito cenas de violência por hora, uma cena a cada quatro minutos e 13 segundos. São cenas de crimes e ilícitos penais considerados atentatórios à vida, integridade e direitos da população. Estas cenas se repetem 196,7 vezes por dia, transmitidas por 84 emissoras de TV em todo o país, atingindo 4.386 municípios, com uma cobertura geográfica de 99% do território nacional, representando um universo de 27 milhões de domicílios. É um estímulo enorme à violência quando se sabe que existem mais domicílios com televisão do que geladeira e que o brasileiro assiste em média 4 horas de TV por dia.

Uma Cadeia de Violências

Uma cadeia de violência está instalada em nossas ruas e em nossas cidades. Os elos dessa cadeia de violência vinculam matadores, assaltantes e sequestradores a supostos agentes da lei. Superpõem na mesma pessoa vários personagens: por exemplo, torturador é agente da autoridade policial. Transformam meninos de rua em pivetes e trombadinhas, pais alcoólatras em estupradores. Intercambiam, constantemente, os papéis de vítima e algoz.

A essa cadeia de violência é possível opor diferentes estratégias. Por exemplo, ignorar a relação de causa e efeito entre seus elos e tentar manter ocultos, atrás deles, os estímulos da miséria, da fome, do desespero, da ignorância, da impunidade, da corrupção, e do arbítrio das autoridades e das elites. Ou sobre-valorizar as vítimas ricas e instruídas e estereotipar os algozes, negros e despossuídos. Ou caracterizar esses cenários de conflito como verdadeiro estado de guerra, exigir o exército nas ruas, e pena de morte, mais violência policial, mais armas, mais grades, mais segurança privada.

O que se procura não é o escapismo, o subterfúgio, a única estratégia eficaz será identificar e denunciar os fios condutores dessa cadeia de violência, suas reais proporções e sua capacidade de desfigurar a sociedade. E tornar público, no Brasil e fora dele, que nossas chacinas são cotidianas; que elas atingem, seletivamente, as populações negras, pobres, periféricas, suas crianças e adolescentes. Que há uma usina de argumentos conservadores, de exaltação do medo e do terror, que trivializa e justifica os assassinatos registrados a cada mês.

Que os grupos de extermínio são estruturados por bolsões da própria polícia, comprometidos com o crime, moldados por uma história secular e prepotência contra as classes populares e fortalecidos em seu arbítrio por vinte anos de ditadura. É preciso denunciar também que essa violência privada e ilegal tenta substituir as atribuições legítimas do Poder Judiciário: processar, julgar e punir infratores. E que o Estado brasileiro como um todo, ao não apresentar resposta às reinvindicações básicas da sociedade, permitiu a ocupação de amplos espaços por grupos criminosos organizados. Esses grupos de liderança do crime organizado, agindo em interesse próprio e visando proteger suas atividades ilegais, utilizam práticas clientelistas e paternalistas e distribuem favores em troca de apoio, principalmente em áreas pobres.

O Estado, além disso, deteriorou-se na prática da corrupção. A impunidade aos chamados crimes de colarinho branco difundiu e incentivou a idéia de que o Estado nem está interessado em punir as transgressões praticadas pelas elites dominantes, nem está capacitado para isso. Foi nesse contexto que se sedimentaram os grupos armados, sustentados pelos apologistas do extermínio, recrutados sobretudo no aparelho policial, justificados pelas concepções conservadoras e toleradas pelas parcelas da sociedade que se sentem mais ameaçadas. Nesse quadro, a violência se alastra e cria a situação de enfrentamento, na qual todos acabamos por nos ver envolvidos - porque o crime organizado cresce para além dos grupos de extermínio e evidencia-se em práticas com o tráfico de influência nos presídios, a comercialização de armas e drogas em escala cada vez maior e a indústria dos sequestros. Políticas de Segurança Pública

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O PDT considera uma estratégia de combate a violência e a impunidade recuperar para o Estado o monopólio legítimo das funções coercitivas e punitivas. Somos contrários à privatização e à elitização da polícia dos serviços de segurança, à privatização do sistema penal, transformar a polícia e as prisões em entidades lucrativas será condenar a sociedade a uma insegurança cada vez maior.

Deve-se combater todas as formas de criminalidade e violência nos limites das mais estrita legalidade, considerando que o respeito à lei é a melhor inspiração ética e prática para as políticas de justiça e segurança. É primeiro garantir a efetiva proteção às vítimas e testemunhas de delitos, e respectiva família, não só pela responsabilização criminal e punição dos agressores, mas também pela ação da autoridade pública em busca da reparação e das indenizações cabíveis.

Também é necessário estender a toda a população o alcance dos direitos humanos, exigindo que sejam respeitados e tratados como sujeitos de direitos os historicamente excluídos da proteção legal - como as mulheres, os negros, os favelados e já agora os idosos. Exigir tratamento respeitoso aos cidadãos, nos vários e simultâneos papéis que a vida hoje os obriga a desempenhar: o de maltratados e destratados consumidores, usuários de serviços públicos, pedestres e vítimas do trânsito, vítimas da degradação ambiental e assim por diante.

A ação direta do Governo deve:

a) revalorizar o papel e as responsabilidades do Estado na gestão de políticas vinculadas à justiça e à segurança visando dotá-lo de credibilidade que permita a superação de uma cultura nacional de desconfiança, medo e desrespeito aos serviços policiais e judiciários, bem como o apelo à justiça privada e a recursos autoritários e de exceção;

b) instaurar no âmbito dos setores interessados e especializados uma ampla discussão sobre as atribuições específicas e ou conjuntas da Polícia Civil - Federal e Estaduais, Polícia Militar, Ministério Público e Forças Armadas - objetivando definir competências e, simultaneamente, formas de ação integrada que viabilizem mais segurança para a população e o maior desenvolvimento da cidadania como a integração das Forças Armadas na política de segurança das fronteiras visando impedir a entrada de drogas e de armas no território nacional; criação de um sistema integrado de telecomunicações; repressão aos crimes e contravenções praticadas contra o meio ambiente;

c) considerar, por outro lado, a possibilidade da ineficácia policial na execução de programas de segurança pública está associada com a dicotomia entre Polícia Civil e Polícia Militar, uma vez que o crime é uno e indivisível e levará vantagem sobre a polícia dividida, com duas doutrinas, duas políticas diferentes, dois comandos, filosofias antagônicas e currículos diferenciados; estudando-se a possibilidade de uma Polícia Única - Polícia Estadual - desmilitarizada, com um segmento fardado para as tarefas ostensivas e internamente subordinados aos governos estaduais;

d) apresentar um Plano Nacional para a Segurança no Trânsito que referencie as políticas a serem desenvolvidas nesta área, assim como divulgue experiências bem sucedidas nos estados e no exterior;

e) implantar um Programa Nacional de Educação Legal que através da mídia televisiva - especialmente das televisões educativas - programas de rádio e cartilhas que divulgue e ensine à população os seus direitos e deveres;

f) construir penitenciária federal que seja parâmetro para as instituições do gênero; g) realizar a reforma geral da Legislação Penal para se alcançar a melhoria da Justiça e da política penitenciária.

Investir na Qualificação Profissional

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Todas as recomendações dos organismos nacionais e internacionais voltados para as questões de violência, dos direitos humanos e da segurança pública, contemplam a formação dos policiais como um tópico que não pode ser deixado de lado quando se busca o objetivo de uma polícia investigativa, técnica, humana e mais eficiente, capaz de zelar pelas garantias individuais e coletivas do povo.

Uma polícia que respeite a população e mereça o respeito do povo a que deve servir. Neste sentido, por exemplo, foi criado o Centro Unificado de Ensino e Pesquisa (CEUEP), dentro do campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que permite o convívio das corporações entre si, fortalecendo o relacionamento com a Universidade, a Comunidade Acadêmica e com a sociedade como um todo. O CEUEP sedia cursos de formação e reciclagem dos policiais civis e militares, dos bombeiros e dos agentes penitenciários.

Com uma proposta abrangente, que alia os conhecimentos técnicos específicos de cada área a uma visão histórica e social da nossa realidade, será sedimentada uma nova mentalidade compatível com o papel a ser desempenhado pelas forças de segurança pública no Estado Democrático. O Centro funciona unificando informações de diferentes áreas para o trabalho de interpretação de dados estatísticos, capaz de orientar as políticas de segurança pública na direção de uma polícia mas técnica. Além do mais o CEUEP funciona também desenvolvendo projetos de investigação científica no que se refere às temáticas de segurança pública, defesa civil, violência e cidadania.

O restabelecimento da capacidade de investir do Estado, permitirá o desenvolvimento de centros para tecnologias avançadas como as técnicas de DNA, programas de computação gráfica e de outra natureza, painéis de controle etc., enfim a inserção de nossa polícia nos novos conhecimentos de investigação dos delitos. Por exemplo o simples desenvolvimento de um moderno sistema de comunicação unificado, envolvendo as polícias civis, militares e judiciárias, instrumentaliza o poder público no controle da violência. O Governo deve reaparelhar a Polícia Federal e reestruturar mediante plano de cargos e salários a carreira policial visando qualificá-la e, correspondentemente, reconhecer-lhe maior dignidade profissional.

Programas Especiais

Programas especiais deverão ser implantados, procurando adaptar as forças de segurança a cada realidade. Uma delegacia para proteção do turista, por exemplo, protege o cidadão no seu direito de gozar o lazer e usufruir a beleza do nosso país, ao mesmo tempo que oferece garantias a esta importante atividade econômica. Delegacias extraordinárias, móveis, para situações de conflito localizado, permite a reciclagem das forças locais e uma intervenção isenta de pressões regionais. Outras delegacias especiais poderão ser implantadas como para investigar acidentes de trabalho, crimes contra o meio ambiente, crimes contra etnias ou novas situações que possam se insurgir contra os direitos humanos. O Governo deve, também estimular a criação no Plano dos Estados de Casas do Consumidor onde se reúnam os serviços existentes para atendê-lo de modo a tornar tal proteção rápida e efetiva: estimular a implantação pelos estados de programas de penas alternativas à privação de liberdade bem como de penitenciárias que adotem formas de gestão democrática, participativa e integrada à comunidade e estimular a criação de juizados especiais de Trânsito no Distrito Federal e nos Estados.

Centros Comunitários de Defesa da Cidadania

O princípio da integração de serviços públicos abre um leque de opções como, por exemplo, um centro para defesa do consumidor que reúna no mesmo prédio o defensor público, o juiz e todas as funções necessárias à solução de processos de queixas do consumidor. Este mesmo princípio poderá ser utilizado em programas comunitários que venham de encontro a demandas das massas urbanas faveladas na resolução de aspectos da sua cidadania. Os Centros Comunitários de Defesa da Cidadania, instalados dentro de grandes favelas, de área pobre e comunidades periféricas, unificando polícia civil para investigação e sindicância localizadas e expedição da carteira de identidade; polícia militar para desenvolver padrões de

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policiamento inserido na realidade da comunidade e oferecer núcleos de defesa de criança e do adolescente; defesa civil para efetuar levantamento de pontos críticos, organizar mutirões comunitários e capacitação para eventos de risco; defensoria pública para oferecer assistência advocatícia gratuita entre outras de interesses trabalhistas e previdenciário e da regularização jurídica da posse da terra e titulação.

Nestes Centros Comunitários, outros serviços poderão ser oferecidos como para organização de grupos de ajuda mútua (Alcoólicos e Narcóticos Anônimos), serviço social, defesa e promoção das populações negras, secretaria de trabalho para expedição de carteiras, juizado de pequenas causas e serviços de registros civis e até mesmo convênios com o INSS, para orientar processos de benefícios e direitos previdenciários. Em síntese, o PDT enfrentará o problema da Violência, da Segurança Pública e da Justiça, com reformas de base que modifiquem as estruturas que sustentam o autoritarismo e com programas especiais que na outra ponta reforçam o sentido da cidadania, criando uma sociedade solidária e democrática, onde prevalecem os Direitos Humanos.

X - Reformas de Base na Cidade e no Campo

As Novas Relações Campo-Cidade

É impossível no Brasil, dissociar a questão urbana da questão do campo. O modelo de desenvolvimento adotado a partir da década de 60 resultou numa efetiva penetração do capitalismo na área rural, na modernização do latifúndio e na migração de milhares de pessoas para as grandes cidades. Aproximadamente ¼ da população brasileira está em permanente movimento migratório, provocando uma concentração cada vez maior nos centros urbanos. Esta modernização agrícola baseada no latifúndio representou um processo de crescimento econômico, visto que a produtividade das matérias primas agrícolas para a indústria e para a exportação cresceu aceleradamente a partir da década de 60.

No entanto esse modelo foi e continua sendo obstáculo ao processo de desenvolvimento social. A maioria da população não pode adquirir os produtos essenciais porque não detém renda suficiente para poder adquirir produtos essenciais à sua sobrevivência. Por outro lado, o setor urbano industrial não está capacitado para absorver o crescente contingente da força de trabalho provocado pelo fluxo descontrolado de trabalhadores rurais expulsos do campo.

Somos hoje no Brasil 105 milhões morando nas áreas urbanas - cerca de 72% dos 145 milhões de brasileiros e brasileiras. Nossas cidades viraram verdadeiros barris de pólvora pelo crescimento desordenado da população, pela estagnação dos investimentos produtivos, pelo desemprego crônico, pela incompetência governamental. Porém, o que se verifica é que o governo Federal transferiu para o arsenal criado para melhorar a qualidade de vida da população: menos de 1/5 dos recursos arrecadados pelo sistema financeiro de habitação foi aplicado na construção de habitações populares, provocando um fluxo crescente de ocupações de terras urbanas; as redes de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto são altamente deficientes colocando em estado calamitoso à saúde pública; o transporte coletivo que atende 80% da população das grandes cidades está sendo sucateado.

Todos os fundos vinculados a programas como FGTS, o FINSOCIAL, a Caderneta de Poupança foram desvirtuados. Os Municípios vêm arcando cada vez mais com encargos que são cobertos por fontes próprias, incidentes, em última análise sobre o trabalhador, enfim, o assalariado está subsidiando o miserável. É impossível pensar em erradicar a questão da violência urbana quanto rural, sem nos remetermos à transformação da estrutura da posse e uso da terra no país. Queremos propor a acelerada multiplicação da propriedade privada de natureza familiar.

Para tanto, devemos ser audaciosos em propostas institucionais que introduzam o conceito função social da propriedade urbana e rural, reconhecido na Constituição de 1988. A base de um novo modelo de desenvolvimento passa pelo encaminhamento de um conjunto de reformas capazes de reorientar o relacionamento das cidades com o seu entorno imediato e com o

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desenvolvimento rural do país. Sustar o crescimento dos grandes centros urbanos e conformar uma rede de pequenas e médias cidades, fixando bases físicas de assentamento humanos com vistas à promoção do desenvolvimento rural/urbano e organizando uma estratégia complementar à interiorização do desenvolvimento com base numa industrialização de novo tipo são os desafios que se impõem.

Para tanto, propomos a revalorização do campo como objetivo a ser trabalhado pela população excedente de vez que o modelo vigente sequer foi capaz de constituir resultados com formas sustentáveis de geração de emprego e renda voltadas para satisfazer a essas demandas essenciais. Os investimentos públicos e privados, patrocinados por um conjunto de novas políticas inovadoras, deverão objetivar por essa via a construção de soluções para os graves impasses nacionais: superação das formas atuais de ocupação predatória da terra urbana e rural; neutralização dos crescentes níveis de desemprego estrutural; ruptura com modelos superados de monocultura e de destruição sistemática dos recursos naturais tanto no campo como na cidade; desbloqueio dos sistemas tecnológicos , comerciais e financeiros dominantes que dificultam a formação de uma moderna agricultura familiar no país; eliminação progressiva dos estoques especulativos de terra.

No centro de políticas capazes de reconstruir as relações campo-cidade emerge a criação de condições físicas e sociais de dissolução de uma estrutura agrária arcaica, viabilizando um tipo de reforma agrária que democratize o acesso à terra e que articule em paralelo uma ampla reforma urbana baseada em novos assentamentos humanos garantidos pelo poder público e dotados de infra-estrutura capaz de garantir o desenvolvimento rural com princípios ambientais bem definidos de aproveitamento dos recursos naturais em todas suas dimensões e potencialidades, requisito indispensável para iniciar um novo ciclo de desenvolvimento nacional.

As Grandes Cidades e as Áreas Metropolitanas

O Brasil se urbanizou rapidamente sem que as cidades conseguissem absorver adequadamente seus novos moradores. A abertura de novos estados e a criação do salário mínimo urbano foi um grande atrativo para esta leva de migrantes. O sistema urbano das cidades brasileiras, por sua vez, é um sistema macrocefálico , isto é, temos poucas grandes cidades e pouquíssimas cidades de porte médio, fazendo com que a população migrante procure exatamente estas cidades grandes tornando-as ainda maiores.

É aí que surge o fenômeno metropolitano, isto é, cidades grandes que começam a incorporar cidades menores no seu contorno. Estas grandes metrópoles passam a refletir no seu espaço todos os problemas resultantes de uma política que favorece a concentração de renda e portanto a desigualdade. Se num primeiro momento, o salário mínimo era a atração, agora este não é suficiente nem para se alimentar, quanto mais para morar. Assim, as grandes cidades vão sofrer a consequência deste empobrecimento geral, não só pela própria população que perde seu poder aquisitivo e tem que procurar alternativas mais barata de moradia, mas também para aqueles que continuam procurando a cidade grande como solução de seus problemas e nela não encontram onde morar.

A cidade grande é, pois uma depositária de grandes problemas que afetam a todos os seus moradores. Hoje, todas as grandes metrópoles sofrem problemas de violência urbana, de degradação ambiental, de falta de transporte e sistema viário congestionado. Todos, seja de que classe de renda forem, sofrem estes problemas.

A cidade vai se expandindo e os equipamentos não conseguem acompanhar seu ritmo. O poder público, muitas vezes é o agente da desigualdade quando investe em obras vultuosas de infra-estrutura para os mais privilegiados, valorizando terras e deixando a população menos favorecida sem as mínimas condições de assistência. A tendência, é pois da população se concentrar onde existem melhores condições, valorizando estes locais e deixando a periferia para aqueles que não conseguem recursos para aí morar.

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A metrópole brasileira tem um modelo concentrador, onde o núcleo central é ocupado pelos mais privilegiados e a população mais pobre vai ocupar a periferia distante, criando as chamadas “cidades-dormitório” onde seus moradores tem que viajar horas para ir e voltar do trabalho ou vai procurar se localizar em terrenos mais próximos, porém, em áreas de risco, como é o caso das margens de rios e canais, reservas florestais e morros, causando graves problemas ambientais.

A política do PDT para estas grandes metrópoles não pode ser pensada sem ligar problemas ao sistema estrutural do país e a própria questão urbana espacial no sentido nacional. A cidade grande exige grandes investimentos e não pode esquecer o período de se atrair novos moradores com a melhoria de suas condições de vida. No entanto, é preciso se criar condições mínimas de cidadania nestes grandes núcleos. Ao mesmo tempo que se descentraliza os investimentos a nível nacional, tentando equipar cidades de pequeno e médio porte, deve-se também descentralizar os investimentos intrametropolitanos.

A questão do planejamento urbano, as prefeituras do PDT não podem tratar os planos diretores como instrumentos tecnocráticos ou de simples indutores de organização espacial. Eles devem ser instrumento de gestão social urbana, incorporando as figuras que possibilitem a democratização do acesso à terra e garantam a participação comunitária na gestão da cidade.

É preciso criar condições de trabalho na periferia das grandes cidades, evitando que as pessoas passe grande parte de seu dia apenas no trajeto “trabalho-casa”.

É preciso humanizar a cidade, salvando seus núcleos históricos da especulação imobiliária. A memória da cidade tem que ser preservada, o patrimônio cultural faz parte da vida do cidadão. É preciso um controle rigoroso de ocupação de nossas reservas florestais, margens de rios e canais, morros íngremes sujeitos a deslizamento, oferecendo alternativas de localização para a população de baixa renda e preservando a qualidade ambiental.

É preciso investir em infra-estrutura na periferia, dando condições sanitárias mínimas a sua população e evitando doenças endêmicas.

É preciso melhorar o sistema viário de massas investindo no transporte sobre trilhos, mais barato e mais rápido.

Finalmente, é preciso dar vida própria a estas comunidades da periferia, dando incentivos a sua autonomia de vida, não só em relação ao trabalho, incentivando a localização de indústrias não poluentes e comerciais, mas também, favorecendo a implantação de equipamentos para educação, saúde, cultura e lazer.

As prioridades para uma Política de Habitação Popular

Criar uma nova política habitacional, capaz de responder às camadas populares, continua a ser o grande desafio para o país. Mas, de nada serve pensar numa nova política habitacional se não se coloca no centro do problema a questão fundiária, com a promoção de uma eficaz reforma urbana. Só a revisão total desta questão poderá evitar que o custo da terra leve os assentamentos habitacionais promovidos pelo poder público ou pela população, às periferias, enquanto permanecem intocados os grandes vazios urbanos, objetivo de uma desenfreada especulação imobiliária.

A nova Carta coloca como imperativo constitucional a função social da propriedade urbana e isto abre possibilidade à rediscussão do direito de propriedade no sentido de melhor adequá-lo às necessidades sociais do Brasil moderno, abrindo caminho para a implementação de medidas de maior alcance, abrangência e profundidade no enfrentamento da questão habitacional.

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Os novos instrumentos do direito urbano, como imposto progressivo, solo criado, usucapião urbano, fundamentados no preceito constitucional sobre a função social da propriedade, devem ser utilizados para atingir um desenvolvimento com maior equilíbrio social.

Entendemos também que o Poder Público deve intervir na organização do espaço urbano. Aqui cabe registrar que, sem bem a ocupação da cidade está determinada em grande medida pelas obras de infra-estrutura, a população mais pobre mora, na sua grande maioria, em áreas muito afastadas dos bairros dotados de serviços. O motivo é simples: quando recebem melhorias, os terrenos ficam valorizados e são comprados pela parcela da população que tem mais recursos. Ainda que pagando impostos, a maioria da população não desfruta dos benefícios decorrentes dos investimentos públicos.

Por outro lado, existem nas cidades áreas cuja infra-estrutura não é totalmente utilizada, ou ficam vazias a espera de valorização.

Convém não separar o problema da habitação popular de problemática geral de urbanização. As grandes massas populacionais precisam encontrar no contexto urbano condições mínimas de vida, das quais a habitação é apenas uma não sendo sequer a primordial.

Entendemos que hoje a questão central é garantir ao trabalhador acesso à terra urbanizada (dotada de água, luz e esgoto). Por isso, acreditamos ser fundamental, em um programa adequado às condições atuais, garantir esse direito à terra urbana, abrangendo a regularização jurídica e urbanística das áreas ocupadas, a oferta de lotes e programas de habitação com projetos e execução descentralizados a fim de que os interessados possam efetivamente participar do processo.

Os municípios deverão definir e delimitar como áreas de especial interesse social os terrenos não utilizados ou sub-utilizados, necessários a implantação de programas habitacionais de baixa renda assim como as áreas ocupadas por favelas e loteamentos irregulares para implantar projetos de urbanização e regularização fundiária.

Para essas áreas, caracterizadas como de especial interesse social, serão estabelecidos padrões especiais de parcelamento, urbanização, uso e ocupação, proporcionando melhores condições econômicas para a produção de lotes urbanizados e possibitando a regularização das áreas já ocupadas.

Nesta área de especial interesse social deverá ser aplicado prioritariamente o imposto progressivo (Art. 156 da Constituição Federal), utilizado não apenas como uma fonte de arrecadação financeira, mas também, como um importante instrumento de ordenamento do uso do solo urbano, esperando-se como um dos efeitos desta função acessória, a maior oferta de terrenos no mercado e com isto a diminuição do preço dos mesmos.

Por outro lado, o proprietário de terra urbana, ao se beneficiar dos investimentos públicos em obras de infra-estrutura, sem efetuar nenhuma inversão, se apropria individualmente dos valores que o esforço coletivo incorporou a seu bem. Por isso devem aplicar-se novos instrumentos, como a figura do solo criado, que determina o direito de construir acima da superfície do terreno será concedido mediante o pagamento de uma taxa. Os recursos arrecadados mediante a aplicação deste instrumento serão aplicados em projetos de Habitação Popular.

Nos programas destinados à população de baixa renda deverá priorizar-se a comercialização e o financiamento de materiais de construção a baixo preço e a organização da mão de obra dos próprios beneficiários em regime de mutirão. A política habitacional deve priorizar as cidades de pequeno e médio porte, tendo em conta o preço menor da terra e visando aumentar a oferta de empregos no interior.

Outras diretrizes para a solução do problema da habitação popular como parte da reforma urbana são os seguintes: apoio técnico por parte do poder público para desenvolver ações de

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usucapião em terras ocupadas por favelas e loteamentos clandestinos; estímulos aos agentes privados para a produção de habitações populares mediante isenções tributárias à constituição de consórcios urbanísticos onde o poder público realize obras de urbanização com terras particulares, o proprietário receba lotes urbanizados correspondente ao valor da terra nua e os lotes restantes sejam destinados a projetos de habitação popular; cadastramento de terras públicas para sua utilização em programas sociais e criação de alternativas de abrigo para a chamada “população de rua”, bem como de alguma atividade remunerada.

Habitação Popular nas Grandes Cidades

Os números do drama urbano e habitacional são impressionantes: 59 milhões de pessoas moram em condições precárias, 107 milhões não tem ligação de esgoto, 41 milhões de pessoas não tem água encanada e 28 milhões não dispõem de energia elétrica.

As moradia das classes de baixa renda vão criando uma “cidade informal” que escapa do controle do poder municipal. As favelas e loteamentos irregulares das grandes cidades foram os que mais cresceram no espaço urbano na última década. Portanto é crescente a população que está passando a morar nas calçadas, praças, embaixo de viadutos, estabelecendo uma nova e desordenada forma de ocupação do espaço urbano. Ao mesmo tempo se constata que 40% das áreas urbanas de grandes cidades estão sem utilização, servindo para a especulação imobiliária.

Estes problemas são o reflexo atual das políticas habitacionais dos últimos 20 anos que orientaram os investimentos para as moradias de classe média. Menos de 1/5 dos recursos arrecadados pelo BNH foram aplicados em habitações populares.

É necessário reconstruir um sistema destinado a desenvolver programas habitacionais sobretudo para as classes populares, tendo em vista que praticamente tudo que foi criado a partir de 1964 foi destroçado. Para corrigir vícios e defeitos reconhecidos, mas também para “queimar arquivos”, fizeram desaparecer o BNH; o FGTS não será ressarcido das muitas loucuras em que foi empenhado e está comprometido pelo próximos anos; a caderneta de poupança foi desviada de sua finalidade e hoje financia a ciranda financeira, não a construção de habitação; e restou um rombo, no chamada FCVS estimado em mais de US$ 20 bilhões.

A reforma da política habitacional está, portanto, intimamente relacionada à reforma urbana, cujas bases constitucional e legal estão estabelecidas. É necessário garantir o direito à terra urbana, abrangendo a regularização jurídica e urbanística das áreas ocupadas, a oferta de lotes e programas habitacionais com projetos e execução descentralizados.

As Prioridades para os Assentamentos Humanos

Deve ser dada prioridade ao acesso a terra nas grandes cidades em lotes urbanizados dotados de uma infra-estrutura básica. Os lotes seriam entregues por concessão real de uso e as famílias a que se destinam, sendo impedida a venda por um prazo de 20 anos. O poder público - preferencialmente municipal - estimulará a produção, comercialização e financiamento de materiais de construção a baixo preço, que serão utilizados pela família e pela comunidade. A mão-de-obra poderá ser organizada em regime de mutirão ou como remuneração por prestação de serviços no valor de um salário-mínimo, de acordo com as disponibilidades locais. Nas cidades de porte pequeno e médio, a política habitacional deve dar prioridade à construção de habitação popular tendo em conta o preço menor da terra e visando aumentar a oferta de empregos no interior.

Outras diretrizes para a solução do problema da habitação popular como parte da reforma urbana são: a) o estabelecimento da obrigatoriedade de construir imposta ao proprietário urbano através da regulamentação do imposto progressivo (art. 156 da Constituição Federal); b) a aquisição de terras ocupadas por compra ou desapropriação só será realizada depois de levantamento da situação fundiária que indique a impossibilidade de se aplicar o instituto do usucapião; c) utilização do usucapião para a regularização de propriedade de terras ocupadas

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por favelas ou loteamentos clandestinos seja em nome da associação comunitária quanto em nome individual; d) estímulo aos agentes privados para a produção de habitações populares mediantes isenções tributárias ou constituição de consórcios urbanísticos onde o poder público realize obras de urbanização em terras particulares, o proprietário recebe lotes urbanizados correspondentes ao valor total da terra e os lotes restantes são destinados a projetos de habitação popular; e) o PDT deverá lutar desde já pela regulamentação constitucional do usucapião urbano permitindo assim , o usucapião coletivo que elimina as pesadas cargas processuais exigidas atualmente. Além disso, cabe lutar pela eliminação da enfiteuse (taxa inadmissível) que perpetua benefícios para grupos privilegiados.

Novas Propostas de Financiamento Habitacional

Os recursos para estes programas de moradia popular serão oriundos de várias fontes. O PDT propõe a criação de um Fundo de Desenvolvimento Estadual e Municipal destinado a subsidiar a construção de moradias. A receita do Fundo será gerada pela aplicação de normas que regulam a utilização social da propriedade urbana, como o imposto progressivo definido na Constituição Federal, o Solo Criado e a Contribuição de Melhoria.

O PDT manifesta sua preocupação com o fato de que o FGTS - fundo pertencente ao trabalhador - esteja sendo dilapidado para cobrir rombos do extinto BNH e da União em prejuízo daqueles setores da sociedade que dele deveriam beneficiar-se diretamente. Em lugar da centralização de recursos, propõe-se a simples municipalização do FGTS. Ou seja: os bancos autorizados a receber o fundo efetuariam a retenção de 50% e a repassariam diretamente para o Município. Esses recursos - que constituiriam, na realidade, um empréstimo a longo prazo do Governo Federal seriam aplicados em obras visando à consolidação da estrutura de crescimento das cidades: moradias, transportes, saneamento e sistema viário, desde que componentes de um programa integrado de investimentos. Os restantes 50% seriam aplicados pelo Governo Federal, para corrigir distorções regionais, bem como para cumprir os compromissos com os trabalhadores, função precípua da criação do FGTS. Estimular a participação da Iniciativa Privada na implantação e na manutenção de equipamentos comunitários, beneficiando a população de menor renda, mediante Incentivos Fiscais (dedução das parcelas aplicadas nesses programas, do imposto sobre a renda). Um esquema eficiente de gerenciamento dos serviços públicos poderá, também, contribuir para otimizar os custos de implantação e de operação. É o caso dos transportes públicos, onde a parceria da iniciativa privada (que adquire e opera a frota de veículos) com o poder público planeja, implanta e gerencia o sistema.

Um novo sistema para fomentar a construção de novas moradias deve basear-se em alguns postulados que a experiência dos últimos anos torna recomendáveis:

- separação em subsistemas independentes do financiamento da moradia popular daquele destinado à classe média e aos grupos de alta renda. A classe média foi a grande beneficiária do calote aplicado no BNH, representado pelo subsídio às prestações da casa própria do período Figueiredo, quando começou o desmonte do Sistema Financeiro de Habitação;

- o financiamento da habitação das classes médias e alta seria promovido através de vários mecanismos flexíveis (consórcios, fundos imobiliários, condomínios, cooperativas habitacionais, empresas etc.), fiscalizados pelo poder público, que captariam recursos junto a fontes específicas e vinculadas (FGTS, caderneta de poupança, parcela das reservas técnicas de fundos de pensão e de seguradoras) e ao mercado de crédito (hipotecas), sem subsídio;

- recuperação maciça dos créditos e haveres do FGTS, recursos do trabalhador que foram desviados para projetos divorciados de seu interesse, ou malversados em aplicações sem retorno;

- destinação de recursos orçamentários da União, Estados e Municípios para financiar casas populares a preços explicitamente subsidiados. Os projetos de casas populares devem ser conduzidos sob gestão das municipalidades, cabendo às demais esferas de governo apenas a fiscalização. Deverão ser oferecidos pelas prefeituras os terrenos e por estas e pelas

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administrações estaduais a infra-estrutura urbana. Preferencialmente, deverão ser ofertados lotes urbanizados e financiamento do material de construção. O povo sabe fazer suas casa, no ritmo e de acordo com suas possibilidades, obedecendo a postura municipal;

- paralelamente, um amplo programa de legalização da posse da terra por parte dos milhões de famílias que ocupam lotes para moradia nas áreas urbanizadas e nas periferias das cidades;

- nova legislação federal sobre loteamentos urbanos de modo a coibir a especulação imobiliária e aumentar a disponibilidade de terrenos públicos, valendo-se dos institutos criados pela Constituição de 88, mas ainda não regulamentados (há projetos “engavetados” no Congresso, há anos).

Cidades de Pequeno e Médio Porte na Interiorização do Desenvolvimento

O modelo de desenvolvimento autoritário concentrou a renda e apoiou-se também na expansão da fronteira agrícola. Ocorre que este movimento foi realizado de forma impositiva, prejudicando a base produtiva da agricultura familiar, acelerando o êxodo rural e introduzindo culturas destruidoras do meio ambiente em nome de uma política ilusória de ampliação das exportações agropecuárias. Com isto desorganizou-se o papel das pequenas e médias cidades, tradicionalmente baseado em trocas e vocações produtivas locais promovendo o êxodo em massa de produtores rurais, trabalhadores do campo e a ampliação do processo de concentração da terra e da riqueza no interior. Essa tendência observou-se pari passu à chegada de sintomas aparentes de progresso e de investimentos públicos e privados que aceleraram a concentração da riqueza nas mãos de grupos econômicos do Centro Sul. Estes se beneficiaram com a prática de grandes concessões de terras e de incentivos fiscais via de regra para fins especulativos no Centro-Oeste e na Amazônia enquanto as piores terras eram destinadas a projetos de reforma agrária e colonização totalmente questionados pelos próprios produtores.

O PDT considera essencial a quebra do modelo de exploração colonial do nosso país, a revisão de todas as concessões ilegais de terras públicas feitas de forma fraudulenta sobretudo no Centro-Oeste e na Amazônia, nas zonas fronteiriças com países vizinhos e nas regiões litorâneas que vieram sufocar o potencial desenvolvimentista dessas regiões sob o amparo do crédito e dos recursos públicos em infra-estrutura, processo que se estendeu com tanto ou mais vigor as terras urbanas coma cumplicidade do poder público. O novo modelo que o PDT defende, terá que ser construído sob a visão de uma nova ótica de desenvolvimento equilibrado do interior, respeitando as vocações locais e utilizando estruturas renovadas de sustentação das cidades de pequeno e médio porte, descaracterizadas por um abandono de décadas e décadas ou bem por intervenções desastrosas para o equilíbrio da vida local.

Naturalmente, há que se tirar proveito dos custosos investimentos feitos em infra-estrutura física para recuperá-las do estado de abandono em que se encontram onde couber e financiar o reaparelhamento das cidades situadas em pontos estratégicos para dar início a um processo de reversão de expectativas acumuladas de abandono, desvio e marginalização do campo brasileiro.

Caberá ao futuro governo constituir através de planos regionais consistentes o concurso das forças vivas locais, das Prefeituras, dos Governos Estaduais e da União para constituir metas que incorporem objetivos de autosuficiência energética e alimentar, aproveitamento máximo dos recursos naturais segundo princípios ambientalmente corretos, constituição de uma industrialização do tipo adequado às vocações produtivas locais e à infra-estrutura disponível nesses pequenos e médios centros urbanos. Por outro lado, não há como ignorar que esse movimento envolvente contempla a parcelação na exploração de grandes glebas de terra improdutiva ou subutilizadas a serem integradas a um fundo estatal de arrecadação de terras voltadas para a Reforma Agrária. O PDT considera que sem mexer na estrutura agrária e promover a interiorização do desenvolvimento mudando o estilo de industrialização dependente terminaríamos por reproduzir num outro patamar, as mesmas tendências de concentração da riqueza que tanto criticamos. Daí a importância das reformas estruturais de âmbito nacional.

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Comunidades urbanas e cidades rurais

Uma das intervenções propostas pelo PDT no plano imediato baseia-se em experiências desenvolvidas no Paraná de formação das chamadas Comunidades Urbanas e das Cidades Rurais. Estas proposições guardam semelhança com iniciativas similares feitas ainda na vigência do Governo trabalhista do João Goulart através de decretos de desapropriação de lotes situados à margem das rodovias federais chegaram a ser oficializada e depois abortadas pelo golpe de 64 além de terem sido inteiramente esquecidas nos Governos militares e civis que se sucederam.

O PDT pretende redirecionar o processo de expansão dos centros urbanos, apoiando o ressurgimento de pequenas vilas e comunidades urbanas em áreas próximas às cidades de pequeno e médio porte. A solução que propomos é a criação de Comunidades Urbanas, implantadas ao longo de rodovias vicinais. Escolhido o local, seria aberta uma rua paralela à margem da estrada. De frente para a rua, lotes de um alqueire, destinados aos trabalhadores rurais e suas famílias. As casas ficariam junto à rua. Nesta faixa, os equipamentos básicos: escola, centro social, comércio, áreas de lazer e recreação. Nada de infra-estruturas caras. Cada núcleo totalizaria 100 lotes, abrigando cerca de 700 pessoas. Os moradores poderiam trabalhar nas fazendas vizinhas, mas desenvolveriam culturas de subsistência em seus lotes, comercializando os excedentes. A renda auferida lhes daria condições de, em curto prazo, ressarcir os investimentos feitos. O empreendimento torna-se, assim, auto-financiável. O Governo compraria as áreas pagando os preços reais, podendo haver inclusive o interesse da iniciativa privada ou de cooperativa ou associações.

O Brasil possui mais de 1 milhão de quilômetros de rodovias vicinais. Se escolhermos 300 quilômetros bem localizados nos municípios, para instalar um núcleo a cada 20 quilômetros, teríamos 15 mil comunidades urbanas no País. Estaríamos dando terra e trabalho a 10 milhões de brasileiros. Ou seja: 25 por cento da população rural e, por certo, a faixa mais carente, a que está mais próxima de optar pela migração. As comunidades urbanas têm a vantagem de permitir uma ocupação mais racional do nosso território, assegurariam aos moradores um atendimento quase a nível urbano, valorizariam as áreas adjacentes. A comercialização dos excedentes melhoraria nosso abastecimento interno de gêneros alimentícios.

Propõe-se além do mais a criação de Cidades Rurais , com o aproveitamento dos núcleos de distritos junto às áreas agrícolas. Atualmente existem 8.500 distritos espalhados em todo o território nacional e a Cidade Rural consolidaria o distrito existente, com instalação de escola, posto de saúde, creche, centro comunitário e um pequeno comércio. Seria um núcleo intermediário entre as Comunidades Urbanas e a Sede do Município, capaz de abrigar um pequeno núcleo populacional (ordem de 2.000 pessoas). Seriam 5.000 Cidades Rurais, com 2.000 pessoas (400 famílias), totalizando 10 milhões de pessoas. Estaríamos resolvendo o problema de outros 25% da população rural que, sem perspectivas de sobrevivência, após perder suas terras, certamente, iria desaguar nos centros urbanos.

Outro passo muito importante, seria atender os vilarejos, as cidades pequenas e médias. Investir na melhoria das condições locais, através de obras em setores como os de saneamento, saúde, educação, recreação e habitação. Essas obras, melhorando a qualidade de vida e gerando novos empregos, contribuíram para a fixação dos moradores. Isto implica redirecionamento de uma rede de pequenas e médias cidades e o reconhecimento do processo de saturação das grandes cidades. As grandes cidades terão de ajustar-se a um processo absolutamente rígido de controle, que estanque seu crescimento, isto é, que as faça parar, e que abra espaço para a mudança das respectivas vocações.

Não basta que o Governo Federal apenas inverta as prioridades, é preciso, também, que ele altere sua sistemática de concessão de recursos aos municípios, abolindo as barreiras da burocracia. Ao invés de a priori desconfiar da capacidade dos municípios de bem usar os recursos, a nossa sugestão é que o Governo confie. E fiscalize a aplicação a posteriori, zelando para que sejam feitas dentro das prioridades estabelecidas.

As Novas Bases de uma Reforma Agrária

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Não existe nenhum partido que tenha experiência do PDT na prática agrária. Já há mais de 30 anos, no Rio Grande do Sul, o então Governador Brizola instalou na área do “Banhado do Colégio” um exitoso projeto de reforma agrária que mesmo sofrendo toda a forma de boicote pelos governos reacionários que esse seguiram até hoje é reconhecido como o melhor projeto até hoje desenvolvido no País.

O Presidente João Goulart também há 30 anos procurou implantar a Reforma Agrária no país, no elenco de Reformas de Base que procurava tirar do Brasil da condição de única nação sem reforma no sistema de posse de terra do mundo.

O encaminhamento da Reforma Agrária sempre foi objeto na América Latina de questionamentos por parte das elites que tradicionalmente procuraram colocar, também em nosso país, todo tipo de empecilhos à sua implementação por mais modestas que fossem as experiências. Por outro lado, há que se reconhecer que a forma equivocada com que certos partidos e forças de esquerda levantaram até aqui essa bandeira terminou por alimentar resistências artificiais junto a determinados setores da população tornando a questão da luta social pela terra produtiva um profundo divisor de águas ideológico. Nós do PDT o que pretendemos de fato com um processo de Reforma Agrária é mobilizar o setor produtivo no campo e encontrar meios e modos adequados a cada caso leva a justiça social ao campo.

Para o PDT, a necessidade de implantar uma Reforma Agrária viável e seguir no país é parte integrante do seu projeto de arquivar o modelo econômico vigente. Por isto, a Reforma Agrária se subordina em sua implantação à viabilização de um necessário e inadiável aumento da produção de alimentos e produtos essenciais que há anos se encontra artificialmente estagnada. Trata-se de inseri-la na tentativa de construir vocações produtivas racionais abandonadas pela dominação da monocultura de exportação em diversas áreas e pelas imposições da intermediação especulativa. Com essa visão estaríamos promovendo a perspectiva de atender a novas demandas relacionadas com a exploração de recursos hídricos, florestais e de solo amparadas numa rede interiorizada de pequenos produtores associados em torno de estruturas capazes de absorver tecnologias adequadas e dotadas de meios eficazes de valorização dos produtos levados ao mercado. O reconhecimento desse fato obriga o Partido a definir objetivos estratégicos com vistas ao cumprimento de metas de curta, média e longa durações.

No início dos anos 60, quando o governo do Presidente João Goulart propôs a mais séria e avançada tentativa de reforma agrária de todas quantas foram anunciadas neste meio século, a população rural do país estava em torno de 80% do total. Hoje, os 80% dos brasileiros vivem nas cidades e apenas 20% permanecem no campo. Somos forçados a reconhecer que a crise agrária não se resolverá com a reforma agrária nos termos em que naquela época e mesmo antes lutávamos por ela. Com 80% da população vivem nas cidades, a crise urbana, que hoje se condensa nas grandes cidades - com seus processos perversos de uso do solo, insuficiência dos meios de transporte de massa, falta de moradia e formas crescentes de violência social e institucional - essa crise urbana tem como fato gerador a ausência de uma abordagem correta no tratamento da questão agrária.

O país dispõe de enormes espaços territoriais improdutivos e de propriedade concentrada, embora apto para a produção agrícola. As 18 maiores propriedades ocupam uma área equivalente a quatro vezes o Estado do Rio de Janeiro. Cerca de 14% da área própria para a agricultura é de propriedades com menos de 100 ha e pertencem a 84% das famílias rurais. As propriedades com mais de 100 ha correspondem a 86% da área para a agricultura e pertencem a 16% das famílias rurais. Os dados oficiais mostram que 4% dos proprietários detêm 67% das terras, há 11 milhões de trabalhadores rurais sem terra e 4 milhões de bóias-frias. Aí está a raiz das violências cometidas no campo contra as famílias de trabalhadores do campo na luta pela propriedade da terra.

Não podemos adiar, portanto, uma decisão política maior, que revalorize o espaço rural e situe o modelo de desenvolvimento na busca de uma relação campo/cidade que seja capaz de reverter processos indesejáveis de aviltamento da qualidade de vida. Nosso compromisso com a reforma agrária abrange também o compromisso com a interiorização do desenvolvimento e

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a Reforma Agrária, sem prejuízo de seu propósito fundamental de criar milhões de novos proprietários, deve ser também instrumento da reforma agrícola, para associar a mudança no regime de posse da terra à mudança no regime de uso da terra. Um novo ordenamento do uso da terra deve buscar uma relação mais saudável entre agricultura e natureza, uma relação que incorpore os avanços da tecnologia rural mas não agrida o meio ambiente nem degrade o solo que nos alimenta.

A monocultura deve ser combatida e superada, com instrumentos adequados e políticas compensatórias capazes de transformar regiões prisioneiras de ciclos econômicos rígidos, de prosperidade e decadência, e de reorganizar a matriz produtiva e de serviços do país. A propriedade improdutiva também deve ser eliminada do quadro dessa nova estrutura agrária e o conceito de propriedade produtiva levará em conta a preservação do solo e a recuperação dos recursos naturais renováveis.

A pequena propriedade familiar será o modelo preferencial de organização do uso da terra no campo e para ela devem fluir prioritariamente os incentivos materiais - sem prejuízo, porém, de formas alternativas de uso da terra, de produção em maior escala e voltadas para a agroindustrialização e para o processamento nas próprias unidades produtivas (indústria rural).

O financiamento de empresas vinculadas à agricultura, à pecuária, à silvicultura e à pesca deve voltar-se para a melhoria da produção, sendo terminantemente proibido, com penalidades fixadas em lei, o crédito público para qualquer finalidade ou aproveitamento especulativo. A reorganização do uso da terra, a comercialização interna, as políticas de exportação/importação de alimentos e bens necessários às unidades produtivas no campo e a operação do mercado de crédito rural devem atingir rapidamente os níveis adequados à plena satisfação das necessidades do mercado popular em expansão. Com a mesma rapidez, o combate ao desperdício deve difundir-se por todos os níveis da sociedade, de modo a modificar a cultura predatória do atual sistema.

Democratização do Acesso a Terra

A implantação de uma autêntica Reforma Agrária no Brasil passa por duas etapas principais. Uma primeira fase, onde o principal desafio consiste em promover o alívio de tensões acumuladas derivadas da formação de uma camada expressiva de famílias expulsas de suas terras de Norte a Sul do país e que reclamam do Poder Público uma solução para seus angustiantes problemas de sobrevivência. Frequentemente, as famílias que integram o movimento dos “Sem Terra” e misturam com que há muito tempo perderam o vínculo com a produção fazendo parte dos problemas estruturais de falta generalizada de oportunidades de emprego, seja no campo seja na cidade.

O PDT considera que o atendimento dessas camadas faz parte de um programa prioritário que deverá levar os governos a buscar formas cooperativas de organização de assentamentos humanos propiciando sua subsistência imediata voltada para a produção de alimentos de ciclo curto. O poder público terá que arrecadar, mobilizar e prover terras para esse contingente expressivo de potenciais produtores rurais, tirando partido de combinações diversas de terras públicas e privadas que viabilizem formas produtivas e imediatas de ocupação. Ainda nessa fase é fundamental que os assentamentos já existentes tenham seus problemas equacionados e que as demandas por soerguê-los passe por medidas assistenciais de curto prazo capazes de orientar a produção, cuja comercialização deverá ser garantida numa primeira fase pelo próprio Governo Federal.

A essa primeira fase que reputamos complexa devido à sua extensão, e amplitude nacional segue-se uma segunda etapa estritamente dependente do desenvolvimento rural que terá que caracterizar-se por uma perspectiva de transformação da estrutura agrária propriamente dita. Trata-se aqui de promover medidas articuladas de desapropriação de terras e redistribuição no quadro de uma ampla promoção da pequena produção tecnificada e de estruturas associativas de sustentação do desenvolvimento rural. Nesse caso, há que se levar em conta as demandas diversificadas das inúmeras microrregiões para visualizar uma estratégia de intervenção capaz de associar a reforma agrária com a mobilização do aumento dos níveis de produção em bases

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tecnificadas. O combate sem tréguas à ociosidade das terras e a especulação deverá estar fortemente amparada na destinação de meios físicos, financeiros e gerenciais de elevação da produção segundo vocações e planos regionais acordados previamente com os próprios produtores.

O PDT considera essencial a promoção de uma reforma agrária que incorpore ao segmento de produção familiar termificada os demais modos de apropriação e gestão da terra no campo, avaliando caso a caso as conveniências e a melhor forma de contribuir para retirar o interior das mãos de especuladores e grupos poderosos que não têm compromisso com a produção e o abastecimento alimentar da nossa população. Daí a importância de conduzi-la com determinação e de modo participativo, propiciando um clima envolvente capaz de neutralizar as naturais oposições e preconceitos a um processo dessa natureza que basicamente pretende aumentar substancialmente o número de proprietários no campo.

O princípio fundamental da reforma agrária que o PDT defende é a democratização do acesso a terra. A política fundiária do PDT contempla a utilização simultânea e articulada de diversos instrumentos como a desapropriação de terras para Reforma Agrária, a tributação penalisadora das terras improdutivas, o apoio à consolidação dos assentamentos fundiários já existentes, os projetos de colonização e o uso do crédito rural, da assistência técnica e da pesquisa.

- Distribuição de Terras: a distribuição de terras deve contemplar, preferencialmente, os produtores agrícolas cuja dotação de terras seja claramente insuficiente para garantir o sustento da unidade familiar e deve estar associada a projetos de caráter coletivo em que os agricultores estejam reunidos em associações ou cooperativas. A recente regulamentação legal do Rito Sumário de Desapropriação e a definição do conceito de Propriedade Improdutiva (embora insatisfatória) pelo Congresso Nacional, criam condições para acelerar o processo de desapropriação de terra para Reforma Agrária.

- Colonização: a experiência das duas últimas décadas, nas regiões Norte e Centro-Oeste, mostra o sucesso de projetos de colonização para pequenos produtores agrícolas amparados no apoio técnico e financeiro de cooperativas do Sul do país. Este processo pode ser substancialmente acelerado com a implantação de um sistema de financiamento para a aquisição de terras em áreas de fronteira agrícola, sem prejuízo do recurso à desapropriação quando houver justificativa social e econômica e base legal para a adoção desse procedimento.

- Tributação das Terras Improdutivas: o sistema tributário brasileiro, ao contrário do que acontece em outros países, tributa mais pesadamente as operações de comercialização do produto agrícola, penalizando o consumidor final, do que a terra improdutiva e a renda do produtor. Este sistema é fortemente regressivo do ponto de vista da distribuição de renda tanto no meio rural quanto no meio urbano e necessita de urgente revisão. No entanto, pelas suas implicações para a arrecadação dos principais estados agrícolas do país, é um tema que deve ser tratado no bojo de uma ampla reforma tributária.

- Política de Crédito, Assistência Técnica e Pesquisa: a excessiva concentração da propriedade fundiária no Brasil gera igual concentração de poder político, social e econômico no meio rural. Em consequência, as políticas de crédito, assistência técnica e pesquisa acabam beneficiando os produtores de maior prestígio político e social.

Um dos elementos fundamentais de uma política fundiária adequada consistiria em quebrar este círculo vicioso, procurando reorientar os instrumentos tradicionais de política agrícola para os produtores mais necessitados e com maior potencial produtivo. Para isto, será necessário implantar programas e projetos específicos e criar mecanismos institucionais de caráter participativo que permitam a sua monitoração. Além disso, há que se incorporar nesse trabalho uma política de racionalização e apoio às atividades extrativistas. Face às diversidades regionais, propõe-se que os Estados realizem estudos para uma correta aplicação das intervenções de uma política de reforma agrária adequada às práticas culturais existentes.

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- Apoio ao Assentamento Fundiários já Existentes: a política fundiária do PDT propõe, também, uma reavaliação dos assentamentos fundiários já existentes, com a finalidade de procurar viabilizá-los do ponto de vista agrícola e econômico ou, caso necessário, buscar o reassentamento é fundamental para demonstrar a viabilidade da reforma agrária como instrumento de promoção econômica e social dos pequenos produtores. Nos atuais assentamentos do INCRA deverá realizar-se um redimensionamento da política fundiária e do apoio técnico que hoje se realiza de forma equivocada e insuficiente. Para tanto, deve-se priorizar onde seja possível, a aquisição por parte do INCRA de áreas próximas às cidades, efetuando estudos de natureza regional que viabilizem migrações de contingentes populacionais motivados para a promoção de novos centros de desenvolvimento agrícola.

- Participação Social: a execução da reforma agrária deve estar inserida num processo de democratização, que viabiliza a atuação das organizações populares junto aos Governos, de modo a superar os tradicionais obstáculos à sua concretização. Para tanto, o Partido deve engajar-se com força militante nos movimentos populares de luta pela terra. Estimular formas associativas para viabilizar a produção nos minifúndios deve ser um caminho complementar desejável para evitar o processo de pulverização da terra.

O PDT no Governo deverá realizar a demarcação das terras indígenas, compatibilizando a reforma agrária com a preservação destas áreas.

Política de Inovação Tecnológica para Produtores de Baixa Renda

A década de oitenta foi também uma década perdida do ponto de vista da contribuição do interior para a produção no campo baseada na pequena produção. A queda no ritmo de crescimento demográfico, a forte migração rural-urbana, o fracionamento de pequenas e médias propriedades e o esgotamento do aumento extensivo da produção pela via da incorporação das áreas de fronteira agrícola contribuiram para reforçar a convicção de que a agricultura brasileira terá que ser completamente revista. Esta só terá futuro se estiver contemplada no aumento da produtividade da terra e da própria mão-de-obra. Num quadro de reformas articuladas que favoreçam o uso do solo indicadas anteriormente, necessita-se de uma política de geração e difusão de inovações tecnológicas e de formação técnica de mão-de-obra rural capaz de modificar as relações do produtor de baixa renda com o mercado. Com o fim da legislação autoritária que submetia o corporativismo à tutela do estado há um conjunto de experiências de norte a sul no campo associativo como é o caso dos condomínios e dos assentamentos, capazes de assistir financeiramente, transformar e integrar verticalmente o processo produtivo, oferecer nos centros de abastecimento produtos de melhor qualidade a custos reduzidos e com preços acessíveis ao consumidor final. No ciclo do crédito fácil e subsidiado que se desenvolveu no passado como uma política de desperdícios e favorecimento de grupos estranhos ao meio rural. Temos que contrapor medidas efetivas que fortaleçam o caráter da produção reformada no campo, como as que se seguem:

- Zoneamento Agroecológico : Deve-se aproveitar o zoneamento agrário e ecológico do Brasil, como ponto de partida para formulação de uma política agrícola para o país, e , mais ainda, promover, gradativamente, o levantamento microagroecológico, em âmbito estadual e municipal, para efeito de subsidiar o planejamento regional do desenvolvimento. Com esta base de conhecimento, será possível promover um zoneamento agropecuário que leve em conta as características regionais, a aptidão do solo e as condições climáticas e que considere, igualmente, a integração agricultura-indústria.

- Mais Recursos para a Pesquisa Agropecuária : os recursos para pesquisa e a pesquisa agropecuária em particular sofreram reduções sistemáticas nas últimas décadas, essas decisões foram resultantes do processo de enfraquecimento geral do papel do Estado num campo onde ele é essencial na visão do PDT. A EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) contribuiu durante muito tempo para o crescimento da produção agrícola brasileira, introduzindo inovações tecnológicas que possibilitariam, segundo o caso, aumentos expressivos de produtividade, a incorporação de extensas áreas do “cerrado” à produção agrícola e a redução de custos de produção, graças a pesquisas que resultaram em redução do uso de produtos químicos nas lavouras. Doravante é necessário promover a integração e a

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articulação dos centro nacionais de pesquisa da EMBRAPA com as empresas estaduais de pesquisa agropecuária - e destas entre si - e com as universidades de modo a somar forças e ampliar os recursos destinados à pesquisa de temas relevantes para o horizonte aberto pela reavalorização do desenvolvimento rural que adquirem um sentido estratégico para o pensamento do PDT.

- Programas de Transferência de Tecnologia: estima-se que existam tecnologias capazes de aumentar a produção de arroz, feijão, soja, trigo e milho, em cerca de 50%, sem expansão da área plantada. Tecnologias em fase de geração permitiriam que a produção dessas lavouras, alcançasse num prazo de 5 anos, o total de 118 milhões de toneladas, dobrando o que é colhido hoje.

- Investimentos em Educação Básica e Formação Técnica : ampliar os investimentos de pouco ou nada adianta sem educação básica e formação técnica e profissional das novas gerações rurais. Um dos principais fatores de êxodo rural é a ausência de oportunidades de ensino secundário no campo, ao mesmo tempo em que a falta de mão-de-obra qualificada constitui sério obstáculo ao desenvolvimento da produção agrícola, notadamente a adoção de novas tecnologias. Exige-se a reformulação radical dos sistemas de ensino e de formação técnica das novas gerações agrícolas, a partir de um ensino básico vinculado a realidade rural.

Condomínios Rurais - Uma Receita de Inovação

No Rio Grande do Sul encontra-se hoje em pleno curso uma revolução silenciosa que, mediante soluções inovadoras e ousadas, vem resgatando a importância econômica da pequena propriedade, abrindo aos agricultores de menores posses perspectivas concretas de melhoria de qualidade de vida, acesso a serviços essenciais como ensino e saúde e fortalecendo-lhes a consciência dos direitos e deveres de cidadania. Trata-se do Programa de Condomínios Rurais, iniciativa inédita no Brasil, que busca, através do sistema associativo, a reversão do processo de estagnação, pobreza e marginalização das pequenas propriedades rurais.

Foi esse um objetivo prioritário que estabeleci para o meu governo, conferindo-lhe grau de alta primazia já a partir da elaboração de minha plataforma de campanha. Inspirou minha ação em tal sentido a constatação de que o progresso tecnológico vem beneficiando as propriedades de médio e grande porte, dotadas de estrutura empresarial e ligadas a produtos orientados para o mercado e não organizado de forma empresarial, permanecia relativamente estagnado, constituindo o principal ponto de estrangulamento do setor primário rio-grandense. Embora participando com 70% da produção de alimentos básicos, a pequena propriedade não vinha conseguindo apropriar-se, satisfatoriamente, da renda gerada na produção comercializada.

O esgotamento e a degradação do solo, a redução da produtividade e a falta de capacitação profissional, gerencial e empresarial acabaram alentando o êxodo de milhares de agricultores para os centros urbanos, para outros Estados da Federação e até mesmo para países limitrófes.

A gradativa reversão desse quadro vem sendo obtida, já com resultados extremamente animadores, mediante o Programa de Condomínios Rurais. Basicamente, é essa uma forma de organização associativa, pela qual proprietários vizinhos - assim como meeiros e parceiros - somam força de trabalho, áreas de terra e outros recursos naturais. Com isso, racionaliza-se o uso dos fatores de produção, aí incluídos maquinaria, instalações e armazéns, e se abre margem à incorporação de tecnologias que aumentem a produtividade, diminuindo os custos de produção.

Lançado em julho de 1991, o Programa tem hoje já implantados atividades condominiais de armazenagem, avicultura, irrigação, construções, mecanização, suinocultura, correção e conservação do solo, telefonia e eletrificação rural, gado de leite e agroindústria. O fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais - Feaper - o órgão do poder público destinado a prover os recursos indispensáveis ao Programa, já

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financiou algumas centenas de Condomínios Rurais, tendo como agente o Banco do Estado do Rio Grande do Sul.

Cabe aqui enfatizar duas características básicas do Programa. A imprescindível parceria entre os agentes oficiais e os agentes econômicos da iniciativa privada, para a organização de toda a cadeia produtiva, tem uma peculiaridade essencial: não perdem os pequenos produtores a titularidade de suas glebas, mas, pela soma de trabalho e esforços, o emprego compartilhado de técnicas e equipamentos e a fixação de metas em comum multiplicam suas possibilidades de ganhos, isso se torna possível pela integração das pequenas propriedades à economia de escala, com todas as vantagens daí decorrentes em termos de eficiência e competitividade. De outra parte, os créditos propiciados pelo Feaper, destinados a proprietários de áreas até 60 hectares, residentes no imóvel e que tenham na sua exploração a única atividade, contam com prazo de carência de até dois anos e prazo de amortização de até cinco anos, a juros de 3,5% ao ano. O mais relevante é que não lançam mão os beneficiários, para saldar seus compromissos, de dinheiro vivo. A sistemática de ressarcimento se dá pela equivalência de produto, mais especificamente em sacas de milho, a moeda eleita para as transações.

Importa ainda assinalar que são os próprios condôminos que discutem seus problemas e reinvindicações e encaminham ao Feaper seus projetos compartilhados. Prevalecem, assim, as ações voltadas aos interesse coletivo, evitando-se o paralelismo e a superposição de iniciativas, bem como sua ineficácia e consequente ineficácia de resultados. Esse trabalho harmônico, e de alto conteúdo democrático, vem assegurando notáveis ganhos em produtividade, área em que os condôminos já registram índices que representam o dobro da média estadual.

As conquistas até aqui obtidas pelo Programa de Condomínios Rurais em termos de organização global das unidades de produção, difusão e adoção de novas tecnologias, aumento da renda familiar, ampliação da capacidade individual de investimento e capacitação profissional e gerencial espelham o acerto de uma política governamental inovadora.

Mais do que isso, recomendam sua progressiva disseminação, para que um número crescente de pequenos agricultores possam usufruir das alentadoras perspectivas da iniciativa pioneira no resto do país.

Numa época marcada por avassaladora crise econômica e social, em que tão poucos descrêem das possibilidades da pequena propriedade rural, o Rio Grande, em esforço vanguardeiro, dá uma resposta pioneira a tais desafios, combinando trabalho e ousadia, único modo de superar conjunturas adversas. Mais do que isso, dá ao Brasil um testemunho de inquebrantável crença no futuro e nos destinos de grandeza e de desenvolvimento de nossa Pátria.

XI - O Meio Ambiente

A Justificativa da Preocupação com a Ecologia

O PDT, que aspira a governar o Brasil com uma proposta nacional e democrática, deve trabalhar na definição de um política ambiental não só preservacionista, no sentido estrito, mas também e prioritariamente, comprometida com um modelo de desenvolvimento. Um modelo que integrará nossas definições de políticas públicas de infraestrutura (saneamento, energia, transportes), nossas propostas para a questão agrária e urbana, as políticas de ciência e tecnologia e a nossa política internacional - pois é no terreno planetário que deverão se encontrar muitas das soluções para a crise ambiental atual.

Pela primeira vez na história, o ser humano se defronta neste final de século XX com uma questão ética que não constava das preocupações dos nossos antepassados: a noção do compromisso com as gerações futuras. Até o século passado, os recursos naturais pareciam ilimitados. O seu valor intrínseco nunca foi levado em consideração nas equações econômicas; os custos eram relativos à sua extração, aos passos prévios ao consumo. Mas este século o

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ser humano tomou consciência das limitações do nosso planeta e do fato que, se existe um outro mundo no qual a vida poderia reproduzir-se como na Terra, ainda não foi descoberto, nem saberíamos como chegar a ele.

Essa nova perspectiva deve estar presente na definição do modelo de desenvolvimento sustentável: a de um compromisso da espécie humana com a sua própria sobrevivência. Por isso, a questão ecológica exige uma abordagem que não se esgota no plano econômico. Produzir o quê e para quê? Essa pergunta é uma das chaves para começar a definir o desenvolvimento sustentável.

O Desafio da Erradicação da Fome e da Miséria

Hoje, há uma consciência a nível nacional sobre o desafio que representa a fome de mais de 30 milhões de brasileiros. Mas a discussão fica na superfície do problema, ao se proporem quase exclusivamente soluções emergenciais. A fome de milhões de seres humanos é um exemplo típico de um desenvolvimento não-sustentável., da miragem representada pelo crescimento econômico que não é acompanhado de uma elevação da qualidade de vida dos seres humanos; nesse sentido, a fome é um problema ecológico, também. As melhores terras no Brasil ( e o mesmo acontece em outros países subdesenvolvidos) estão ocupadas por uma agricultura - o exemplo típico é a soja - que atende à balança comercial e não às necessidades do povo. Com a energia e as terras utilizadas para a produção dessa soja seria possível alimentar milhões de brasileiros.

Esse problema está intimamente vinculado ao uso do solo e, definitivamente, à questão da reforma agrária. Mais ainda: o incorreto uso do solo é a causa de outro desafio ambiental do Brasil, a crescente desertificação no Nordeste. Especialistas já falam na degradação do semi-árido nordestino como um dos mais graves problemas ambientais do país. Nesse sentido, a Convenção sobre Desertificação que está em discussão nas Nações Unidas (como consequência das resoluções da Conferência do ano passado) é do mais alto interesse para o Brasil. A promoção de uma agricultura orgânica, livre do uso de agrotóxicos e a eliminação dos subsídios à indústria de agrotóxicos também são exigências de uma política ambiental coerente). Muitos dos problemas ambientais da sociedade moderna se concentram nas grandes cidades. A solução do problema agrário contribuiria para redimensionar o desafio urbano, desinchando as cidades.

Ainda em relação à questão do que produzir, é preciso redefinir os caminhos e as metas da industrialização. Não somente devemos priorizar a substituição de processos industriais poluentes, como também questionar a indústria de produtos supérfluos que usa energia e matérias-primas em favor de um consumo no mínimo discutível.

A pesquisa e o incentivo ao desenvolvimento de alternativas energéticas (com ênfase nas energias renováveis) é chave na agenda ambientalista. No futuro, a matriz energética da sociedade humana vai mudar, com a substituição dos combustíveis fôsseis por energias renováveis. O Brasil tem um grande potencial nesse terreno, particularmente com a energia solar e na biomassa, pela sua localização geográfica. Daí a necessidade de investir na pesquisa e na formação de recursos humanos.

Uma Proposta de Desenvolvimento de Cada Ecossistema

É necessário definir uma estratégia de conservação e manejo sustentável de ecossistemas como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Caatinga, o Cerrado, O Pantanal, a zona costeira - com os seus manguezais, restingas, etc. E, também, tal como já estão fazendo muitas das administrações do PDT, considerar prioridade estratégica o saneamento básico (que falta na esmagadora maioria dos municípios brasileiros); a racional utilização dos recursos hídricos, e a reciclagem do lixo urbano e industrial.

A variedade de ecossistemas que existe no Brasil o transforma num dos países mais ricos em biodiversidade. O PDT tem uma longa história de lutas nacionalistas, como a que nos anos 50

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marcou a criação da Petrobrás, com a palavra de ordem “O petróleo é nosso”. Nos anos 90, a Amazônia e a Mata Atlântica, os nossos “celeiros” de germoplasma, de biodiversidade, constituem uma riqueza a preservar com a mesma ênfase nacionalista que empregamos no passado na luta pelo monopólio da exploração do petróleo.

O interesse internacional pela Amazônia já não se deve tanto aos seus minérios, ou às árvores que as transformariam no “pulmão do mundo”. Sabe-se hoje perfeitamente que os oceanos exercem essa função chave de reoxigenação da atmosfera, e não as matas amazônicas. A cobiça pela Amazônia deve-se às suas riquezas em germoplasma. Ou seja, ela é um imenso e ainda pouco conhecido banco de sementes, de formas de vida animal e vegetal, nas quais os seres humanos poderão encontrar os segredos para a cura de muitas doenças e para melhorar a qualidade da nossa vida. Daí o interesse das grandes multinacionais da indústria farmacêutica na assinatura pelo Brasil da lei que tramita pelo Congresso Nacional sobre propriedade industrial e intelectual. Antes que nós, brasileiros, possamos desenvolver pelos nossos próprios meios as potencialidades do nosso país no terreno da biotecnologia e da engenharia genética, grandes interesses do Norte industrializado procuram nos alijar do processo, exigindo o pagamento de “royalties” pelo uso do que é nosso.

Educação Ambiental, Mídia e Biodiversidade

Uma das nossas bandeiras deve ser o incentivo à pesquisa da diversidade biológica, projeto no qual podem confluir interesses estatais, privados e de organizações não-governamentais (ONGs). A criação de instituições de ensino científico-técnicas, que assegurem a formação dos recursos humanos que o país necessita nessa área, também deve constar da plataforma ambientalista do PDT.

A participação da sociedade na definição dos rumos do desenvolvimento é fundamental para se mudar o modelo atual. A informação e a educação de todas as camadas sociais é um pré-requisito, pois cada vez mais a consciência ecológica associa-se ao conceito de cidadania plena. Uma nova perspectiva da vida, com o surgimento de novos valores, exige uma revolução na educação, com uma forte presença da ética ambiental. A reformulação do ensino público tem sido uma das prioridades do PDT, junto com o combate ao monopólio das comunicações. Esses dois instrumentos - ensino público de qualidade e meios de comunicação democráticos - serão imprescindíveis para a mudança de comportamento e de valores que exige a causa da preservação ambiental.

Uma Plataforma Ambiental para o Brasil

Em função de tudo o que acabamos de analisar, poderíamos resumir a plataforma ambiental mínima do PDT nos seguintes termos:

1) Incorporar os conteúdos de educação ambiental ao ensino público e privado, em todos os níveis dos meios de informação de massa e de todas as práticas sociais. Colocar a questão ambiental como uma das chaves para a definição do novo modelo de desenvolvimento pelo qual lutamos.

2) Elevar a política ambiental ao nível do planejamento estratégico da gestão do Estado, de modo a levá-la em consideração no momento de definir as nossas políticas públicas (e investimentos) em infra-estrutura, em áreas como a energia, o saneamento e os transportes, e em relação à questão agrária, à política industrial e ao incentivo à pesquisa.

3) Formular propostas de manejo adequado para os nossos mais importantes ecossistemas - Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, áreas costeiras -, assegurando a sua exploração econômica nos padrões de sustentabilidade que defendemos.

4) Estabelecer uma política industrial com zoneamento geográfico adequado às prioridades ambientais, e definir controles estritos nos processos industriais, para reduzir a um mínimo a agressão ao meio ambiente.

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5) Promover uma reforma agrária que leve em consideração as características de cada região (excluindo terras de áreas destinadas à preservação, implantando projetos agrícolas que tenham por principal objetivo atender à segurança alimentar da nossa população, utilizando-se práticas agrícolas que não comprometam o solo e não usem, salvo em casos específicos, agrotóxicos. Incorporar as populações locais na discussão sobre o tipo de empresa a ser criada e as formas de exploração dos recursos naturais, aproveitando a sabedoria milenar dos caboclos e dos povos indígenas no manejo sustentável de ecossistemas.

6) Estender o saneamento básico a todos os municípios do país, universalizando o atendimento e utilizando, se necessário e possível energias alternativas. Os investimentos em serviços de abastecimento de água potável e saneamento oferecem uma rentabilidade econômica, social e ambiental das mais altas que se pode obter. Por exemplo, o Peru, as perdas das exportações agrícolas e no turismo nas dez primeiras semanas da epidemia de cólera forma mais de três vezes o montante que o país havia investido em saneamento e água em todo o decênio de 1980.

Necessitam-se efetivar mudanças em quatro campos: melhora da administração dos recursos hídricos- o uso doméstico de água terá que aumentar seis vezes no curso dos próximos 40 anos; aumento dos investimentos em saneamento- as inversões públicas em abastecimento de água e saneamento foram insuficientes ( a inversão pública no setor representou ao redor de 0,5% do PIB) e só se depura 2% das águas distribuídas; atenção das demandas dos usuários - somente pagam 35% dos custos do abastecimento, as populações pobres são as que mais sofrem em razão destas mesmas políticas que se supõe que deveriam ajudá-los. Posto que estão excluídas do sistema formal de fornecimento, em geral pagam por cada litro que compram dos vendedores um preço dez vezes superior ao custo que supõem a mesma quantidade de água corrente, deve-se desenvolver meios de proporcionar o serviço aos que não podem pagá-lo, permitindo períodos maiores para pagar os custos totais das inversões, fixando “tarifas sociais”; reformulação das estruturas institucionais- o número de empregos por 1000 ligações no fornecimento de água é de 2 ou 3 na Europa Ocidental, mas de 10 a 20 na América Latina; assim como 30% das ligações não são registradas como em Caracas e México, as empresas de abastecimento do água tem que ter mais autonomia e ser mais responsáveis pelo seu desempenho, com uma posição financeira mais sólida por meio de políticas apropriadas de tarifas, a serem controladas pelo poder concedente, que é o município, como estabelece a Constituição.

7) Promover a defesa da biodiversidade do nosso País, considerando-a como patrimônio da nação, essencial para garantir a soberania e o desenvolvimento do Brasil.

8) Incentivar a pesquisa em todos os terrenos da ciência e da tecnologia que trabalham a questão ambiental (biodiversidade, agricultura orgânica, energias alternativas).

9) Abrir à sociedade - particularmente aos meios acadêmicos e científicos - o debate sobre o destino do programa nuclear brasileiro.

10) Definir uma política emergencial para a região semi-árida do Nordeste, para acabar o mais rápido possível com a “indústria da seca” e com a gravíssima ameaça de desertificação.

11) Fazer um levantamento da situação de todos os povos indígenas a fim de traçar políticas adequadas para cada caso em particular, no marco dos direitos e deveres aprovados na Constituição de 1988.

12) Definir um calendário para a indústria automobilística diminuir o nível de poluentes. Incentivar os transportes ferroviários, mais baratos e menos contaminantes. Incentivar a gradual substituição do petróleo nos transportes de massas, com o uso de gás natural, biogás e álcool (e, a longo prazo, outras formas de energia). No caso do Pró-álcool, deveria se reavaliar o caráter estratégico do programa, à luz das metas de progressivo abandono dos combustíveis fôsseis na nossa matriz energética.

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13) Incentivar o controle dos recursos hídricos através do gerenciamento por bacias hidrográficas, criando comitês de bacias, nos quais estejam representados os usuários.

14) Defender uma política de controle da utilização de fontes radioativos por hospitais, clínicas, etc.

XII - Energia, Mineração e Transporte

Energia

A política de energia para o país manterá o setor energético sob controle estatal e a matriz energética deverá se modificar ao longo dos próximos 20 ou 30 anos, buscando associar o uso mais racional dos recursos como o carvão mineral, o petróleo, gás natural, recursos da energia hidráulica, da ampliação da biomassa e de fontes alternativas. As empresas estatais, por serem estratégicas para o setor, terão o seu equilíbrio financeiro e administrativos restituídos por consequência da política de contenção das perdas internacionais e da dívida pública interna, assim como por medidas que aumentam a eficiência das empresas como a melhoria dos procedimentos comerciais, redução dos custos de operação e expansão e maior autonomia de gestão, com fixação de metas, delegação de responsabilidade e definição de um novo modelo de estrutura tarifária equilibrado e justo.

A União coordenará a política energética global, planejando e integrando os energéticos visando seu uso eficiente e para atender aos interesses do País nos planos social, econômico, estratégico e de agressão mínima ao meio ambiente. A descentralização do modelo energético será estimulada com a produção local de energia gerenciada por Estados e Municípios e por rígido programa de racionalização e de qualidade na produção, distribuição e uso da energia. Vamos participar intensivamente na definição e consolidação de uma matriz energética que viabilize o desenvolvimento e o intercâmbio energético entre os países do Mercosul.

Setor Elétrico

Implantaremos um novo modelo institucional para o setor elétrico fundamentado na descentralização regional, ficando o papel da União como coordenadora e fiscalizadora da política energética nacional, mediante um sistema de monitoramento permanente. O setor elétrico é formado basicamente por empresas federais e por concessionárias estaduais, além de algumas empresas privadas. Emprega cerca de 200.000 pessoas e atende praticamente a todos os municípios brasileiros, levando energia elétrica a mais de 25 milhões de lares. Em 30 anos o setor cresceu mais de 8 vezes, consolidando a indústria nacional de materiais e equipamentos elétricos, das grandes construtoras e das consultoras e projetistas nacionais, dominando tecnologias que nivela o Brasil com os mais avançados países do mundo no setor. O atual estado de dificuldade deve-se principalmente a uma política de aviltamento tarifário que visou um falso combate à inflação e forçou as empresas a se endividarem no exterior para fechar o balanço de pagamentos do país. Como consequência, o setor tem hoje uma dívida de cerca de 150 milhões de dólares, um quarto da dívida externa brasileira.

O setor elétrico deve integrar-se ao esforço de alteração do modelo econômico e social do país visando a expansão e melhoria dos serviços prestados à população e a desconcentração dos grandes centros urbanos. Nesse sentido, devem ser desenvolvidos programas que aumentem a taxa de atendimento à população das periferias urbanas e áreas rurais. Tais programas deverão contar com recursos da união, estados, empresas e quando possível, dos próprios consumidores. É fundamental que o setor se integre a uma política industrial que vise a descentralização das cargas e o privilegiamento do atendimento de indústrias de melhor relação consumo-produção e intensivas em mão-de-obra. O setor elétrico deverá buscar atender o maior número possível de pessoas, contribuir para solução de questões como a urbanização e a oferta de empregos e se empenhar para que o uso de nossa energia elétrica atenda prioritariamente aos interesses da sociedade.

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Em relação à expansão física do sistema elétrico, propomos o desenvolvimento primeiramente dos potenciais hidroelétricos ainda disponíveis nas regiões sul, sudeste e nordeste, prevendo-se seu esgotamento até o ano 2.000. A partir daí, em termos de hidroelétricidade não podemos abrir mão de seu desenvolvimento, fazendo-o porém de forma racional, minimizando seu impacto sobre o meio ambiente e maximizando a inserção regional dos empreendimentos (redução de áreas inundadas, reassentamentos de atingidos, irrigação, estradas, utilização múltipla dos reservatórios, etc.). Quanto aos empreendimentos de construção de usinas deve-se evitar sobrecustos financeiros e formação de cartéis, segmentando licitações e estimulando a participação de um maior número de empresas.

Desenvolver tecnologia de geração de energia elétrica de origem térmica, a partir do carvão, não agressora ao meio ambiente, de forma a obter qualificação que nos garanta autonomia e soberania na utilização desta fonte energética. Para a consecução deste objetivo é importante incentivar a pesquisa, bem como integrar a indústria brasileira neste esforço. Um aspecto a considerar é o aproveitamento da competência já acumulada no setor nuclear para obtenção de qualificação tecnológica na área de geração térmica convencional. Deve-se fomentar a conservação de energia elétrica sem que se permita que a demanda social e produtiva de eletricidade seja reprimida, devendo-se buscar no esclarecimento da população sobre o uso adequado, na eficiência dos processos industriais e nos avanços tecnológicos dos equipamentos e das construções, através do privilegiamento da pesquisa nacional, um maior benefício da utilização desta energia. Propomos consolidar a ação reguladora de coordenação e fomento bem como definir a participação da iniciativa privada.

Considera-se como medidas de princípio ou de reforço do setor, a manutenção da ELETROBRÁS com capital acionário majoritário da União, o aparelhamento e fortalecimento da estrutura do DNAEE, a fim de que possa exercer com eficácia seu poder de fiscalização e regulamentação do setor elétrico. A retomada e conclusão das obras paralisadas do setor elétrico, otimizando os projetos, visando à redução dos investimentos e a observância da legislação ambiental.

Energia Nuclear

A abertura de 49% do capital da URÂNIO DO BRASIL à iniciativa privada e a privatização da NUCLEMON ameaçam o monopólio estatal da exploração do urânio e das areias pesadas. É importante registrar que as reservas conhecidas de urânio do país são atualmente superiores a 300.000 toneladas. Esta quantidade de urânio permite a operação de 21 reatores de 1.300 MW, semelhantes a Angra II, durante 25 anos.

Gravíssimo também é o fato da exportação de urânio ter-se tornado, na prática, um meio importante de financiar a indústria nuclear. Este fato pode constituir-se em mais um dos conhecidos casos de carreamento de nossas riquezas para o exterior, a preço vil, como já foi feito no passado com areias pesadas (monazíticas).

Angra I não faz parte do Acordo Brasil/Alemanha, tendo custado 1,8 bilhões de dólares e entrado em operação em janeiro/75. Os desligamentos frequentes e as paralisações prolongadas caracterizaram a usina em 1988. A partir de 1989, entretanto, a usina vem operando satisfatoriamente. Todavia é fundamental a urgente implantação de um plano de emergência nuclear seguro e confiável para população de Angra dos Reis e cercanias, por mais remotas que sejam as chances de acidente.

Angra II, a primeira das usinas do Acordo Brasil/Alemanha demandará um investimento incremental para sua conclusão menor do que o necessário para construção de uma usina hidrelétrica equivalente. Além disso, a usina evitará que o Sudeste fique privado de uma disponibilidade de 1.300, num momento de risco de déficit de energia nesta região. Por estas razões, deve ser dada continuidade à construção da usina, reduzindo-se, inclusive, futuros problemas por tempo excessivo de estocagem de componentes.

Se houver a decisão de continuar a construção de usinas nucleares (caso contrário o Acordo deve ser cancelado), é imprescindível que se promova a revisão do Acordo Brasil/Alemanha.

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Esta revisão deve ser feita em condições soberanas para o país, reduzindo o porte do acordo, assegurando a efetiva transferência de tecnologia e eliminando a influência alemã na condução de nossa política nuclear.

Deve-se reconhecer os sucessos do programa nuclear paralelo, notadamente no desenvolvimento de tecnologia própria para o enriquecimento de urânio por ultracentrifugação, que coroaram as pesquisas iniciadas na USP, devendo-se, no entanto, dar-lhe mais transparência e controle pela sociedade civil, o programa nuclear não deve ser implantado somente nas forças armadas.

O país deve investir em pesquisa nuclear dando ênfase àquelas pesquisas desenvolvidas pelo programa autônomo, ressalvando-se, todavia, que as metas a serem atingidas devem ser traçadas pela sociedade civil. Prioridade também deve ser dada às pesquisas em segurança e produção de radioisótopos para aplicações na medicina, indústria e agricultura.

Assiste-se hoje um esforço internacional de desenvolvimento de novas concepções de reatores, onde o projeto ofereça maiores condições de segurança que as linhas de reatores atualmente existentes. Torna-se importante que especialistas brasileiros acompanhem tal desenvolvimento e venham a participar da elaboração de novas idéias, visando à concepção, projeto e construção de um protótipo que incorpore esses avanços tecnológicos.

O problema do lixo atômico no Brasil não é exclusivo das usinas nucleares, embora a estocagem definitiva do combustível irradiado dessas usinas seja o caso mais urgente a ser resolvido. Universidades, centros de pesquisa nucleares, hospitais e indústrias também geram rejeitos radioativos, em geral de baixa e média atividade. É necessária a implementação de um programa nacional de armazenamento e controle de rejeitos radioativos. Para geológicos, hidrólogos e sócio-políticos, já que a tese de que o estado que produz o lixo atômico é que deve armazená-lo é discutível, pois caso este estado não apresente em seu território locais com as condições necessárias para esse armazenamento, correria-se o risco de contaminação ambiental.

O PDT é contrário à assinatura do Tratado de Não Proliferação e Quadripartide, envolvendo o Brasil, Argentina, Agência Brasileiro-Argentina de contabilidade e controle de materiais nucleares e a Agência Internacional de Energia Atômica para aplicação de salvaguardas.

Petróleo, Álcool e Gás Natural

As atividades da Petrobrás têm forte impacto na economia. Ela é a maior empresa brasileira com um faturamento anual médio de US$ 15 bilhões. O Sistema PETROBRÁS , com suas empresas subsidiárias, controladas e coligadas, é um dos maiores empregadores do País, responsável por mais de 60 mil empregos diretos e por mais de 3 milhões de empregos indiretos.

A PETROBRÁS passa por séria crise financeira com um déficit de caixa provocado pela defasagem nos preços dos derivados, pelos subsídios à nafta petroquímica, pelos prazos de pagamentos dados às distribuidoras e pela conta álcool. Esta situação compromete seriamente a produção nacional de petróleo, além de trazer o risco de que se use o falso argumento da ineficácia das estatais, como justificativa para privatizações e uma escalada nos contratos de risco, violando o monopólio estatal do petróleo, que além de ser uma questão de nacionalidade e soberania, tem atendido de forma eficaz as necessidades do país.

A produção de Petróleo, A PETROBRÁS deve ter como meta, antes do final da década de 90, tornar o Brasil auto-suficiente na produção de Petróleo, o que resultará em uma enorme economia de divisas para o país e diminuirá a nossa dependência externa nesta importante área. Além destas vantagens, este objetivo dará um novo impulso à indústria, às empresas de engenharia, às universidades e aos centros de pesquisa do país, contribuindo para o desenvolvimento econômico e o crescimento da oferta de trabalho.

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Produzimos cerca de 720 mil barris de petróleo por dia e importamos 630 mil, principalmente do Oriente Médio, acarretando o dispêndio anual de aproximadamente US$ 4 bilhões com a importação do petróleo. Isto não se deve à escassez do produto no subsolo do país. Temos petróleo e muito. As recentes descobertas em águas profundas, com destaque para os reservatórios de Marlim e Albacora, na Bacia de Campos, elevaram as reservas provadas nacionais de cerca de 2,5 bilhões para 7,5 bilhões de barris. As perspectivas são de que o preço do petróleo no mercado mundial ultrapasse o patamar dos US$ 20/barris, o que reforça a tese de que este é o momento ideal para investimentos na pesquisa e produção de petróleo.

O Refino

Na área de refino, é fundamental melhorar o padrão de manutenção das refinarias já que as restrições financeiras podem comprometer a segurança das mesmas. Num segundo momento, deve-se desenvolver um programa de modernização das refinarias, visando aumentar sua confiabilidade e capacidade de produção, além de aumentar a qualidade de seus produtos. Também é urgente a continuação da adequação das refinarias para maior produção de diesel, visando à redução da demanda global de petróleo dimensionada por este derivado. Em articulação com estas providências na área de refino, é necessário a atuação governamental no perfil de demanda dos derivados visando corrigir usos inadequados de GLP pela indústria, a qual deve usar combustíveis pesados e gás natural: impedir o consumo de diesel em veículos leves e ampliar o mercado de gasolina, adequando-o à alta capacidade de nossas unidades de refino. Por fim, a localização de novas refinarias deve obedecer parâmetros técnicos, tais como: mercado a ser atendido, infraestrutura, vias de acesso, portos, água, energia, etc.

Petroquímica

Desde o surgimento da indústria petroquímica no Brasil, a PETROQUISA tornou-se propulsora deste setor industrial. Esta filosofia deve ser preservada, ressaltando-se cada vez mais os interesses do país. Sendo assim, deve ser mantida a participação majoritária da PETROQUISA nas indústrias petroquímicas de primeira geração (centrais de matéria-prima).

Nas indústrias de segunda geração, a PETROQUISA deve preservar ou ampliar a sua participação em setores de alta rentabilidade, de modo a gerar recursos para novos investimentos no setor de primeira geração e em outras áreas de interesse.

Além desses segmentos a PETROQUISA deve inserir-se em setores estratégicos de alta tecnologia, nos quais o Brasil é quase que inteiramente dependente do exterior. Assim a PETROQUISA, através de sua experiência técnica e empresarial deve participar e contribuir para o desenvolvimento, inclusive com a implantação de um centro de forma compatível com os interesses nacionais.

No que concerne à comercialização da produção petroquímica em geral, a meta principal deve ser o atendimento ao mercado interno, reservando os excedentes de produção para o mercado externo. Nesta mesma linha, visando uma maior competitividade e consequente barateamento de preços para o mercado interno, deve ser estimulada a participação de novos grupos investidores, principalmente em indústrias de segunda geração e setores de alta tecnologia.

Outro aspecto fundamental no setor petroquímico é o subsídio, decorrente do preço e prazo de pagamento praticados na comercialização da nafta. Esta situação faz com que a rentabilidade das indústrias de primeira geração, com forte participação acionária da PETROQUISA, seja comprometida em favor das de segunda geração, de forte controle privado.

Proálcool

Ao longo do desenvolvimento do proálcool surgiram uma série de distorções, tais como o governo estimulando o crescimento descontrolado do programa., chegando-se ao ponto de que para cada 100 carros fabricados, 95 fossem a álcool em 1987; os produtores não têm nenhum compromisso com o abastecimento do mercado, invertendo a plantação de cana para a de soja

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e outras culturas ou então produzindo açúcar para exportação no lugar do álcool, comprometendo seriamente o abastecimento em determinados períodos; o perfil de produção de derivados de petróleo ficou desequilibrado, obrigando a PETROBRÁS a exportar excedentes de gasolina para o mercado externo, onde prepondera sem alternativas os EUA, o que aumentou nossos riscos de eventuais retaliações comerciais. Além disso, os excedentes não colocados de gasolina poderão forçar uma redução de carga nas refinarias, criando a necessidade da importação direta de derivados.

A despeito destes problemas não se pode subestimar o valor estratégico do álcool como fonte energética nacional. Além disso o álcool hidratado, usado como combustível, e o álcool anidro, adicionado à gasolina, são importantes fatores para diminuição da poluição ambiental. Visando solucionar as dificuldades propõe-se as seguintes medidas:

- recuperação gradual do déficit da conta álcool (devido à diferença entre o preço que a PETROBRÁS paga aos produtores e o preço pago pelas distribuidoras a elas);

- ajuste imediato da relação de produção de carros a álcool para carros à gasolina, contribuindo para o ajuste da demanda ao perfil de refino;

- definição de compromissos dos produtores sobre a quantidade mínima a ser produzida, para não comprometer o programa. Com isso evitar-se-á as inversões de cultura e redução de produção que atualmente ocorrem.

Gás Natural

A participação do gás natural na oferta de energia no Brasil é de apenas 2% enquanto que em alguns países desenvolvidos gira em torno de 20 a 30%. Deve-se reconhecer no gás natural sua importância decisiva para a qualidade e a economicidade de vários produtos industriais além do fato de ser um combustível barato e pouco poluente. Consequentemente é importante atingir e mesmo superar a produção de 70 milhões de metros cúbicos por dia ainda nesta década.

De forma consistente com este objetivo, é necessário uma política nacional que estimule os investimentos na produção e na implantação de uma infraestrutura de distribuição, que permitam o atendimento de demandas na área industrial (reduzindo o consumo de eletricidade para fins térmicos), na área residencial (reduzindo o consumo de GLP), nos transportes de massa (reduzindo a demanda crítica de diesel) e na petroquímica (reduzindo o consumo de nafta).

Propõe-se um plano de ação na área de tecnologia para o setor, procurando aumentar o uso futuro do gás canalizado e incentivar a qualidade total do setor energético, para evitar a privatização com argumento de que não haja eficiência. Para aumentar a oferta, procuraremos importar gás natural não só da Bolívia como da Argentina também.

Carvão Mineral

Embora a geração de energia elétrica a carvão mineral não seja atualmente economicamente competitiva com a geração hídrica, deve-se capacitar a indústria mineral e a indústria de equipamentos nacionais para que possam produzir grande quantidade de energia e de equipamentos visando uma participação progressiva na matriz energética do país.

Além de sua utilização para geração de energia elétrica, nos últimos anos houve consumo de carvão em indústrias, destacando-se a indústria de cimento, que além da utilização energética aproveita a cinza do carvão no seu processo produtivo. O consumo de carvão pela indústria, cresceu de praticamente zero para cerca de 60%, enquanto a utilização em termoelétricas é de 40% do consumo total de carvão.

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Deve-se criar um programa tecnológico visando maior aproveitamento, em consonância com a legislação ambiental. A política de uso do carvão mineral deverá contemplar, também, a integração dos países do Mercosul, como suporte ao sistema térmico da região por estarem nossas fronteiras e reservas localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Biomassa

A biomassa é toda matéria orgânica de origem vegetal ou animal que é possível converter em energia. As fontes da biomassa podem ser classificadas em primárias (vegetais lenhosos ou não lenhosos e outros) e secundárias (resíduos e detritos orgânicos). A biomassa contribuiu com cerca de 35% da produção de energia primária do país.As mais empregadas são a lenha e a cana, utilizadas diretamente através da queima ou na produção de combustíveis como o carvão vegetal ou a álcool.

Para atender as necessidades das indústrias torna-se necessário urgentemente uma política de reflorestamento, e mesmo o questionamento sobre a oportunidade de implantação de algumas delas, principalmente daquelas voltadas para exportação. No caso da utilização para cocção de alimentos domésticos, tornam-se necessários programas destinados às populações de baixa renda, permitindo a troca da lenha ou carvão por gás engarrafado naquelas localidades onde esta é possível, ou programas de implantação de pequenos plantios de espécies florestais para utilização energética. Teoricamente, há no país disponibilidade de áreas não agricultáveis para o reflorestamento que atendem a todas as necessidades de biomassa. É necessário, no entanto, um programa de zoneamento florestal, estudos e experiências, que possam definir as áreas prioritárias e as espécies florestais mais aptas para que se obtenha a produtividade que viabilize a utilização deste energético.

A biomassa deverá ter ampliada sua participação na matriz energética de maneira descentralizada, produzindo álcool e óleos vegetais e suprindo a demanda de lenha e carvão vegetal através do reflorestamento em solos pobres sem concorrer, portanto, com a produção de alimentos. Neste contexto, a implantação efetiva de programa de biomassa energética, a iniciar-se gradativamente pelos imensos espaços vazios do continente brasileiro, representa uma condição necessária para um programa de assentamentos em áreas rurais. Não se pode pensar em ocupação de território sem autonomia energética regional, o que só é possível com uma fonte de energia descentralizada. Por outro lado, à medida que a terra passa a assumir um novo papel estratégico , pela produção de energia, a efetiva ocupação do território torna-se um importante instrumento de preservação da soberania nacional.

Quanto aos resíduos orgânicos devem ser destacados o lixo urbano, estimado em 30.000 t/dia nas três maiores regiões urbanas do país, que seria suficiente para instalar 747 MW de potência elétrica; e o esgoto doméstico, cuja utilização pode produzir gás metano para atender parte do gás necessário ao abastecimento da cidade da qual fosse coletado. A utilização destes dois resíduos é anti-econômica, porém os ganhos ambientais são muito grandes, tornando-se conveniente programas que analisem a sua implementação.

Fontes Alternativas

No futuro, espera-se conseguir custos de geração elétrica competitivos a partir da energia solar, razão pela qual, principalmente devido ao nível de insolação do país, recomenda-se o desenvolvimento desta tecnologia.

Quanto à energia dos ventos (eólica), não se prevê nenhuma utilização em larga escala desta fonte de território nacional, sendo que a Bahia existe uma concentração mais expressiva. O conhecimento das principais ocorrências de turfeiras permite estimar em 108 milhões de toneladas as reservas recuperáveis de propiciariam, a grosso modo, a instalação de 640 MW, merecendo, todavia, uma análise econômica mais detalhada sobre a conveniência de sua implantação.

Mineração

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Em relação aos recursos referentes a minerais preciosos, minerais para uso industrial e minerais para construção civil propõe-se:

- promover os meios para conhecimento do subsolo nacional, através do mapeamento geológico a partir do fortalecimento e criação de entidades em nível nacional, estadual e municipal de pesquisa geológica;

- definir através de suporte científico e tecnológico as províncias mineralógicas em caráter nacional, estadual e municipal como subsídio a um planejamento e gerenciamento da exploração dos recursos minerais compatizados com a questão ambiental;

- descentralizar o registro, controle e fiscalização da atividade mineral, em especial os minerais utilizados na construção civil (classe II - código de mineração) em consonância com a Constituição Federal;

- garantir a destinação de recursos pelos empreendimentos mineradores para recuperação ambiental de áreas exploradas em cumprimento da legislação em vigor.

Transporte

Transporte Urbano

Os custos de transportes e comunicação entre as diversas zonas de uma cidade ou região metropolitana limitam o grau de interdependência entre elas, tendo, portanto, grande influência em sua estruturação ecológica. A discussão sobre transporte urbano no Brasil está intimamente ligada aos temas relações campo-cidade, desenvolvimento urbano e energia. Quaisquer soluções que visem os problemas de transporte urbano têm, obrigatoriamente de passar por políticas e ações na área de desenvolvimento urbano.

O modelo adotado na década de 70 baseou-se no transporte rodoviário e consequentemente no petróleo barato, causando as distorções conhecidas: poluição, desconforto, perdas de tempo nos deslocamentos, ineficiência dos transportes, etc. Este mesmo modelo relegou para último plano modalidades de transportes mais baratos e eficientes como o ferroviário, metroviário e hidroviário. Chegamos a inverter as posições colocando o transporte rodoviário urbano, tradicionalmente auxiliar, como modo principal, com a redução da extensão do transporte por trilhos.

A distorção histórica (rodoviário ao invés de trens) se deu como resultado da fragilidade econômica do poder público, característica de países do terceiro mundo, incapacitado de investimentos altos, com retorno a longo prazo. O setor privado, por outro lado, com anseios de retorno financeiro a curto prazo, investiu onde poderia consegui-lo, ou seja, no transporte coletivo por ônibus. Sem capacidade de investimento o poder público viu-se obrigado a utilizar, de forma bastante desvantajosa, empresas privadas como permissionárias de transportes de passageiros por ônibus, sem que nenhuma política de transportes fosse traçada, acarretando, com isso, prejuízo para a população usuária.

As cidades no Brasil hoje, tem uma situação distorcida em relação ao sistema de transporte com a população utilizando-se basicamente dos ônibus quando deveria utilizar-se de transporte de grande capacidade, sobre trilhos. Desta forma, a política deve voltar-se para a implantação e melhoria dos sistemas de transporte de massa (como trens, metrô, VLT - veículos sobre trilhos -), propiciando a integração de sistemas, cabendo aos ônibus o papel de alimentador destes sistemas.

A implantação dessa nova matriz de transportes irá propiciar também um melhor ordenamento do uso do solo urbano, permitindo uma melhor distribuição dos locais de emprego e moradia. Apoiar iniciativas que propiciem a quebra da espinha dorsal da cartelização hoje existente no sistema de ônibus e partir, então, para uma visão integrada.

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As soluções para o setor passam por algumas linhas mestras:

- estimular a criação de mecanismos legais que propiciem ágeis revisões nas concessões de transportes coletivos de passageiros;

- reduzir os dispêndios com transporte coletivo das famílias de baixa renda, assegurando os níveis de mobilidade necessária ao desempenho das funções urbanas;

- reordenar o transporte urbano, visando a desconcentração populacional das grandes metrópoles, também sem prejuízo das atividades econômicas;

- utilizar meios de transportes que façam uso de fontes de energia mais baratas e alternativas como álcool e gás natural para motores a combustão, energia elétrica e outras;

- priorizar o transporte sobre trilhos e, no caso de ônibus, os elétricos e à gás natural.

A mudança nos modos de transporte urbano, requisito indispensável para solucionar os problemas existentes, deve ser feita de modo cauteloso e gradual. As propostas além de passarem previamente pelo estabelecimento de políticas e diretrizes na área de desenvolvimento urbano, devem contemplar a ação estatal como prioritária. Nos países desenvolvidos os sistemas de transportes urbanos são majoritariamente operados por empresas estatais ou mistas e somente agora ocorrem as primeiras experiências com empresas privadas.

Transporte de Cargas

No Brasil, após a Segunda Guerra, por força de “lobbies” de poderosos cartéis rodoviários internacionais, foi implantada uma matriz de transporte perversa que privilegia o sistema rodoviário em detrimento dos sistemas mais eficientes, encarecendo, inflacionado e até inviabilizando o desenvolvimento econômico do País. Essa pressão dos cartéis acarretou a erradicação de 10.000 quilômetros de vias férreas, fazendo desaparecer ramais de imperioso interesse para as regiões servidas e, pior, destruindo até linhas-tronco o que impossibilita a integração econômica inter-regional.

Cumprida a missão “erradicante”, inteiramente míope a ferrovia, então “enxuta” recebeu investimentos direcionados para o escoamento de minérios e produtos agrícolas, destinados à exportação para o mercado internacional. O PDT propõe que a estruturação dos sistemas de transportes deve guardar um adequado balanceamento entre dispêndios e disponibilidades energéticas, com projeções para longo prazo. Por esta razão as ferrovias, as hidrovias e a navegação costeira de um país ainda predominantemente litorâneo, - dotados de maior eficiência energética - devem constituir-se em grandes artérias troncais, ficando ao sistema rodoviário reservado o papel de vasos alimentadores e distribuidores.

Neste sentido do PDT não admite que nenhum novo trecho ferroviário seja erradicado. Propõe meios de financiamento, como o adicional de Imposto sobre Importação de Petróleo destinado exclusivamente às rodovias, que deverão ser estabelecidos para conservar e recuperar a malha ferroviária. Sem desvitalizar os corredores de exportação já eficientemente instalados, deve predominar na estratégia desenvolvimentista, voltada para o mercado interno, o fomento à circulação do interior do país, restaurando-se e consolidando-se os corredores no sentido Norte-Sul e Centro Oeste-Leste. A empresa operadora Rede Ferroviária Federal deve ser alvo de saneamento financeiro, melhoria administrativa, recuperação e reaparelhamento. Além do mais as RFFSA será submetida a regime de autonomia com contrato de gestão que a responsabilize por seus resultados. Mecanismos de estímulo fiscal deverão ser adotados para importação de equipamentos, bem como se promoverá a produção interna pela recuperação da indústria de fabricação de componentes ferroviários.

Deverá compor a matriz de transportes a navegação costeira do país, com incentivos na área estaleiros de navios do porte adequado a esta navegação e a recuperação do Loyd Brasileiro

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para servir o mercado interno. A navegação fluvial das grandes bacias deverá ser incentivada, principalmente a da Amazônia, inclusive estimulando a recuperação da navegação do São Francisco e outras bacias, com a construção de eclusas que recuperem suas capacidades de transporte.

Deverá ser estimulado o trabalho conjunto da RFFSA com suas companheiras estatais, que devem ser revitalizadas ( AGEF-Armazéns Gerais Ferroviários, Loyd Brasileiro e CIBRAZEM). Com este conjunto de forças empresariais a RFFSA e o Loyd deixariam de apenas “fazer” o transporte para constituírem-se em empresas de comercialização de transporte.

Rede Viária

A prioridade de aplicação dos recursos para o setor de transporte deverá ser a conservação dos sistemas viários- rodoviários, ferroviários, hidroviários e aeroviários - existentes, devendo ser precedida, preferencialmente, por administração direta.

O PDT não aceita por princípio moral a privatização dos grandes corredores rodoviários, ferroviários, hidroviários e portos por onde circulam cargas e passageiros.

Entendemos que aos empresários interessam o lucro imediato e que programas como este de privatizações terminam por restabelecer relações escusas com o Estado que acaba assumindo os encargos que para os empresários não são atrativos, numa clara e proposital privatização dos lucros e, socialização dos prejuízos.

Garantir a manutenção da infra-estrutura viária existente, bem como a ampliação da rede viária de modo a atingir novas fronteiras de produção e mercados de consumo no interior do país ao mesmo tempo que será planejada para atender ao modelo de desenvolvimento que estabelecerá novas relações cidade-campo com estímulo a cidades de porte médio e pequeno. A malha viária se integrará com ampliação de rodovias vicinais para atingir o escoamento da produção agropecuária.

Priorizar os modais de transporte em função da carga transportada, volume, distância, valor unitário específico.