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CURSO DE INTRODUÇÃO À GEOLOGIA DA ILHA DE SÃO JORGE Por: Geóloga Zoraida Roselló Espuny

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  • CURSO DEINTRODUO GEOLOGIA

    DA ILHA DE SO JORGEPor:

    Geloga Zoraida Rosell Espuny

  • curso de introduo geologia da ilha de so jorge, aores. 12-18 de maro de 2007_________________________

    introduo

    A paisagem vulcnica apresenta um vasto conjunto de formas e caractersticas muito peculiares, que esto relacionadas, entre outros, com o tipo de erupo vulcnica, sua dinmica e a actuao dos agentes externos. O estudo do modelado vulcnico importante devido, no s natureza universalista destes fenmenos mas, tambm, s consequncias, por vezes destruidoras, mas sempre espectaculares, que os vulces representam para o Homem e a sua sociedade.

    Do ponto de vista geomorfolgico, os vulces actuam de dois modos distintos sobre a superfcie terrestre:

    1_ directamente, originando novas formas, em resultado das erupes vulcnicas. Estas formas so, na sua maioria, formas construtivas, isto resultantes de uma acumulao dos produtos vulcnicos (como o caso dos cones de escrias), mas so igualmente formas destrutivas, associadas a exploses e a colapsos mais ou menos importantes, como o caso das crateras.Em ambos os casos, a morfologia resultante posteriormente atacada pelos agentes externos da atmosfera, hidrosfera e biosfera, que vo modificar gradualmente. As erupes vulcnicas e as formas de relevo da resultantes apresentam uma caracterstica importante: na sua maioria, formam-se muito rapidamente, de um modo quase instantneo escala do tempo geolgico, desafiando, por isso, a eroso.

    2_ os vulces actuam, tambm, de um modo indirecto, em resultado da variedade de litologias que originam. Alm disso, as rochas vulcnicas nem sempre so facilmente erodidas e podem mesmo permanecer mais ou menos inalteradas por longos perodos geolgicos aps o termo da actividade vulcnica que as originou.A eroso das rochas vulcnicas vai, ento, ser fortemente condicionada pelos contrastes litolgicos existentes. O contraste de durezas entre as rochas vulcnicas e as rochas encaixantes e entre os prprios materiais vulcnicos, vai favorecer o desenvolvimento de uma eroso diferencial activa.

    conceitos geolgicos

    vulcanismo e ambientes geotectnicos

    O vulcanismo activo est circunscrito a certas regies do globo e a certos ambientes geotectnicos. A Fig_1 mostra a distribuio geogrfica dos vulces activos ou recentemente extintos da Terra, os quais se concentram em 4 reas principais:

    1_ no Arco de Fogo do Pacfico, onde se localizam cerca de dos vulces activos do globo (cerca de 15% dos quais, na regio da Indonsia), como o caso do Katmai (Alaska) ou do Mayon (Filipinas);

    2_ na regio do Mediterrneo, onde se situam os vulces clssicos de Itlia e da Grcia, como o caso do Vesvio e de Santorini, respectivamente;

    3_ na Bacia do Oceano Atlntico, onde existem inmeros vulces activos, como o caso de vulces das ilhas dos Aores e da Islndia;

    4_ finalmente, na regio de frica Oriental e Oceano ndico, que inclui os vulces associados aos riftes africanos, como o caso do Kilimanjaro.

    A maioria destes vulces est localizada em importantes zonas de fractura, as quais so igualmente sede de uma intensa actividade ssmica.

    As cinturas sismovulcnicas assim definidas correspondem aos limites das grandes placas litosfricas e verifica-se que 80% dos vulces activos se encontram em limites convergentes, 15% em limites divergentes e os restantes 5% em domnio intraplaca.

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    erupes vulcnicas

    A classificao das erupes vulcnicas revela-se uma tarefa difcil e complexa, uma vez que, frequentemente, estas so caracterizadas pela ocorrncia de diferentes tipos de fenmenos, que podem surgir ao mesmo tempo, ou intercalados num curto espao de tempo, em locais distintos de um dado aparelho vulcnico. Atendendo a esta complexidade, torna-se mais fcil e verosmil caracterizar os vrios tipos de actividade que ocorrem durante uma erupo, o que pode ser feito segundo diferentes perspectivas e tendo em conta diversos factores.

    a) a actividade vulcnica pode ser classificada como efusiva ou explosiva. Na actividade efusiva predomina a emisso de escoadas lvicas (Fig_2), enquanto que nas erupes explosivas so emitidos predominantemente materiais piroclsticos e gases a grande velocidade (Fig_3).

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    Fig_1. Vulces activos, principais placas

    tectnicas, cristas meso-ocenicas e zonas de

    subduco. In: Fisher & Schmicke, 1984.

    Fig_2. Actividade vulcnica efusiva associada a magmas bsicos vulco Kilauea (Hawaii).

    Fig_3. Actividade vulcnica explosiva associada a magmas cidos vulco Pinatubo (Filipinas).

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    b) a actividade vulcnica pode envolver, ou no, gua exterior ao magma. No envolvendo gua exterior ao magma, diz-se subarea, enquanto que, se h interaco com gua, a actividade vulcnica pode ser classificada em:

    - hidrovulcnica (tambm designada freatomagmtica ou hidromagmtica. Fig_4): trata-se de uma actividade explosiva, resultante de uma interaco directa magma/lava-gua, quer esta seja gua subterrnea ou gua superficial, incluindo gua do mar, meterica, hidrotermal ou de um lago.- fretica: quando se d a vaporizao de gua subterrnea existente em formaes rochosas (vulcnicas ou no), pelo facto destas terem sido aquecidas por uma fonte de calor (e.g. magma em ascenso/movimento). Assim, nestas erupes explosivas no h contacto directo entre o magma e a gua e, do mesmo modo, no h emisso de material magmtico: d-se, apenas, a fragmentao e a projeco das rochas de cobertura/ envolventes, em consequncia da brusca e violenta vaporizao da gua.

    - sub-glacial: quando ocorre sob importantes massas de gelo (e.g. vales ou calotes glaciares). Frequentes na Islndia, estas erupes so responsveis da formao de jokulhlaups, ou seja torrentes de gua glaciar, de caudal importante e de significativo poder destrutivo.

    c) a actividade vulcnica classifica-se, em funo do tipo de conduta emissora, em centrada ou fissural. A actividade centrada d-se a partir de condutas genericamente tubulares, gerando edifcios vulcnicos cnicos de maiores ou menores dimenses, enquanto que na actividade fissural a lava emitida a partir de fissuras eruptivas mais ou menos extensas (Fig_5).

    d) a actividade vulcnica diz-se monogentica se cessa aps um nico episdio eruptivo, em geral de curta durao (alguns meses a anos). Pelo contrrio, designa-se poligentica, quando uma sucesso de diferentes episdios vulcnicos centrados e/ou fissurais, durante um perodo de

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    Fig_4. Actividade hidrovulcnica (ou freatomagmtica) vulco dos Capelinhos, Ilha do Faial (Aores).

    Fig_5. No meio mostra-se a actividade vulcnica centrada (vulco Kilauea, Hawaii) com fissuras em actividade. esquerda e em baixo, uma vista area da serra da Ilha de S.Jorge onde observasse o relicto da actividade fissural. Em baixo direita, a fissura eruptiva na lagoa lvica j solidificada do topo da Montanha do Pico. Em baixo de tudo, o alinhamento de cones baslticos observvel desde o miradouro da praa de touros das Velas, S.Jorge, Aores.

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    tempo de alguns milhares a dezenas de milhar de anos, origina um edifcio vulcnico de grandes dimenses.

    e) a actividade vulcnica denomina-se secundria (tambm chamada adventcia, satlite ou parasita), quando o centro emissor (vent) se localiza nos flancos de um edifcio vulcnico principal. A actividade secundria, em funo do posicionamento dos centros emissores no vulco principal, pode ser:

    - terminal ou sub-terminal, consoante haja extruso a partir de centros emissores localizados no topo do cone, ou muito prximo deste, respectivamente (incluindo no interior duma cratera terminal).- lateral, se a extruso se d nos flancos do cone alimentada por intruses magmticas (e.g. sistema filoniano), frequentemente dispostas ao longo de um conjunto de fracturas radiais ao edifcio vulcnico.- excntrica, tal como no caso anterior, mas em que a ascenso magmtica se processa ao longo de fissuras no directamente interligadas conduta de alimentao central do vulco. Neste caso, a presena de fracturas controladas pela tectnica local/regional favorecem essa extruso excntrica da lava.- intra-caldeira, (Fig_6) quando o centro emissor est implantado no interior de uma depresso vulcnica de grandes dimenses (e.g. caldeira)

    f) de acordo com a classificao de GEORGE WALKER, a actividade vulcnica pode ser: havaiana, estromboliana, vulcaniana, sub-pliniana, pliniana, ultrapliniana, surtseiana e freatopliniana. Esta classificao, proposta inicialmente em 1973, identifica e caracteriza (qualitativa e quantitativamente) diferentes estilos eruptivos, retomando algumas das designaes clssicas propostas em 1908 por A. LACROIX para as erupes vulcnicas (cf. havaianas, estrombolianas, vulcanianas e peleanas).

    Na classificao de G. WALKER (Fig_7), a distino entre os diferentes estilos eruptivos feita em funo de vrios parmetros, tais como: 1) a magnitude da fase eruptiva, determinada em funo do volume total emitido; 2) o poder dispersivo, definido pela rea coberta por piroclastos de queda; 3) a intensidade, dependente da altura da coluna eruptiva; e 4) o potencial destrutivo da erupo, definido pela rea abrangida pela isopaca de 1 metro.

    Apresenta-se, de seguida, uma caracterizao sumria de cada um daqueles tipos de actividade vulcnica:

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    Fig_6. Actividade intra-caldera, interior da Caldera das Sete-Cidades, Ilha de So Miguel, Aores.

    Fig_7. Classificao da actividade vulcnica proposta por G. WALKER. In: Cas e Wright (1987).

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    - havaiana (do arquiplago de Hawaii, EUA): dominantemente efusiva, com a memisso de volumes significativos de escoadas lvicas baslticas, muitas vezes a partir de fissuras eruptivas (Fig_8); sobretudo na fase inicial das erupes, h extruso de pequenos volumes de depsitos piroclsticos, sob a forma de repuxos lvicos (lava ou fire fountains) e de acumulaes de spattern, formao de vulces em escudo (shield volcanoes), lagos de lava e extensos mantos lvicos.

    - estromboliana (de Stromboli, Itlia): moderadamente explosiva, caracterizada por vrias exploses discretas e intermitentes, sem uma coluna eruptiva permanente (e em geral inferior a 500 m de altura); caracterstica de magmas bsicos; projeco de bombas e de lapilli escoriceos (com trajectria balstica. Fig_9); formao de cones de escrias (scoria cones) e escoadas lvicas associadas.

    - vulcaniana (de Vulcano, Itlia): maior explosividade na sua fase inicial, com a formao de uma brecha de exploso associada desobstruo da conduta, selada por um rolho (plug) formado durante uma fase eruptiva anterior, projeco de grandes blocos/bombas; coluna eruptiva de 10 a 20 Km de altura (Fig_10), resultante de repetidas e contnuas exploses de pequena a moderada magnitude; comum em vulces poligenticos, onde provoca a destruio de partes do edifcio vulcnico, incluindo a formao de crateras de exploso; associada a magmas de maior viscosidade (e.g. andesticos), pelo que eventuais escoadas lvicas so de reduzida extenso.

    - sub-pliniana ou vesuviana (de Vesvio, Itlia): muito explosiva, com colunas eruptivas at cerca de 30 km de altura e que se mantm por longos perodos de tempo (Fig_11); emisso de grandes volumes de tefra; associada a magmas dacticos e riolto; velocidades de ejeco de 100 a 400 m/s; as fases efusivas associadas do origem a domos (tambm designados por domas) e coules.

    - pliniana (de Plneo, O Jovem, historiador romano): grande explosividade, com grande disperso de tefra; as colunas eruptivas atingem cerca de 50 km de altura; tal como nas actividades sub-pliniana e pliniana, a actividade eruptiva pode durar de algumas horas a poucos dias, terminando muitas vezes com a formao de escoadas piroclsticas.

    - surtseiana (da Ilha de Surtsey, Islndia): actividade hidrovulcnica equivalente s estrombolianas, associada a magmas bsicos; provoca uma descolorao da gua e a formao de bancos/ilhas;

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    Fig_9. Actividade estromboliana em centros eruptivos adventcios do vulco Etna (Itlia)

    Fig_8. Actividade havaiana. Arquiplago Hawauu, EUA. In: pubs.usgs.gov

    Fig_10. Actividade vulcaniana. In: www.volcano.si.edu

    Fig_11. Actividade sub-pliniana a pliniana. Vulco Komaga-take, Japo.

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    vigorosas colunas eruptivas, de vapor e cinzas, estas ltimas sob a forma de jactos cipressides de cor escura (Fig_12); formao de base surge; vrias semanas a meses de durao; edificao de anis e de cones de tufos surtseianos.

    - freatopliniana: actividade hidrovulcnica equivalente s sub-plinianas e plinianas, associada a magmas siliciosos; origina depsitos de cinzas muito finas e de grande disperso; formao de depsitos tipo surges; grandes colunas eruptivas, que podem atingir cerca de 40 km de altura.

    Na classificao de G. WALKER, a actividade surtseiana (e.g. Capelinhos, 1975) e a freatopliniana (e.g. Askja, Islndia, 1875) correspondem a erupes hidrovulcnicas (com interaco magma-gua) em guas pouco profundas, estando associadas, respectivamente, a magmas bsicos (e.g. baslticos) e a magmas cidos (e.g. riolticos).Por outro lado, a designao de actividade peleana (de Monte Pele, Carabas), ainda utilizada por alguns autores, melhor caracterizada, no contexto da classificao de G. WALKER, como vulcaniana, ou pliniana. Genericamente, pode caracterizar-se a actividade peleana como estando associada a: magmas muito viscosos (e.g. dacticos e riolticos); gnese de domos, agulhas e coules, nuvens ardentes, geradas pelo colapso e/ou exploses nos flancos de domos e de coules (Fig_13).

    Refira-se, por fim, que a denominao de actividade serretiana (de Serreta, Ilha Terceira) foi recentemente proposta por V.H.FORJAZ para uma actividade hidrovulcnica associada a magmas bsicos de elevada fluidez, em guas profundas (da ordem de 500-700 m). Os elementos recolhidos durante a erupo do Vulco Ocenico da Serreta (1998/2000), indiciam tratar-se de uma actividade marcadamente fissural, condicionada por fundos marinhos de vertentes de alto pendor, o que favoreceu a formao de pillow lavas temporariamente flutuantes (Fig_14). Os vestgios superficiais da erupo, reduzidos, incluem (para alm das referidas pillow lavas, ou bales de lava flutuantes), a emisso de colunas de vapor branco (Fig_15) e a ascenso de piroclastos finos at superfcie da coluna de gua.

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    Fig_12. Actividade surtseiana, vulco dos Capelinhos, Ilha do Faial (Aores)

    Fig_13. Chamin vulcnica apresentada como relevo residual saliente. Pedreria, S. Jorge, Aores.

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    produtos vulcnicos

    A mais abrangente classificao dos produtos vulcnicos tem em conta o seu quimismo, designadamente os seus teores em slica e em alcalis. Assim, as rochas cidas (ou siliciosas- e.g. riolito) so as que apresentam maiores teores em slica, enquanto que as bsicas (e.g. basalto) se encontram no outro extremo do espectro, havendo todos os termos intermdios (e.g. andesitos e dacitos). As rochas siliciosas so compostas predominantemente por quartzo e feldspato e por pequenas quantidades de mica ou de anfibola. As rochas bsicas contm teores muito menores de SiO2 (razo pela qual no possuem quartzo livre), mas apresentam quantidades importantes de plagioclase e piroxena, bem como quantidades variveis de olivina e xidos.Uma classificao das rochas vulcnicas em funo dos respectivos teores em (Na2O+K2O) e em SiO2 apresentada na Figura_16, a qual inclui termos como os andesitos, dacitos, havaitos, mugearitos, benmoreitos, traquitos e os basaltos picriticos, entre outros. No domnio dos basaltos (rochas vulcnicas que cobrem cerca de 70% da superfcie do Planeta Terra) salienta-se a existncia de duas variedades importantes: os toleitos (relativamente enrriquecidos em slica e que contm minerais ricos em clcio, como plagioclase e piroxena) e os basaltos alcalinos (mais ricos em Na e K, e que usualmente contm olivina).

    Do ponto de vista vulcanolgico, e em funo do seu modo de emisso, os produtos vulcnicos podem agrupar-se genericamente em: 1) escoadas lvicas, material em fuso, associado a fases efusivas, que se movimenta ao longo das vertentes e 2) piroclastos ou tefra, fragmentos projectados como partculas discretas, na dependncia de exploses vulcnicas.

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    Fig_14. Representao esquemtica da actividade serretiana. In: FORJAZ et al. (2001)

    Fig_15. Pillow lavas flutuantes da erupo do Vulco Ocenico da Serreta (a Oeste da Ilha Terceira, Aores) em Fevereiro do 2000.

    Fig_16. Sistema classificativo para as rochas vulcnicas. In: FRANCIS (1993).

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    As escoadas lvicas possuem uma composio muito variada, desde carbonticas a baslticas, dacticas a riolticas, sendo que, para alm da respectiva composio qumica, outros parmetros influenciam as suas propiedades fsicas, como o caso do teor em volteis, do contedo em cristais e do modo de arrefecimento da escoada. A classificao mais usual dos materiais efusivos (escoadas lvicas) realtivamente simples e inclui as designaes tradicionais de lavas pahoehoe, lavas aa e lavas em blocos, as quais caracterizam a morfologia, ou seja, o aspecto externo/superficial da escoada caracterizando-se por:

    - escoadas pahoehoe (Fig_17): superfcie contnua, lisa ou ligeramente ondulada, neste caso sob a forma de diversos lbulos convexos de pequenas dimenses (designados por pahoehoe toes); esta morfologia popularmente designada de lajes ou lajidos na Ilha do Pico (Aores), termos que o autor prope como sinnimos de lavas pahoehoe; a superfcie da escoada apresenta-se frequentemente com elevada vesicularidade, que lhe confere um aspecto esponjoso (spongy); em zonas mais declivosas e junto a bocas eruptivas caracterizadas por baixas taxas de efuso, so comuns morfologias pahoehoe do tipo lava em tripa (dribet ou entrail pahoehoe lava. Fig_18); outras micro-estruturas comuns so a lava encordoada (ropy lava), rendilhada e entranada.

    - escoadas aa: apresentam uma superfcie muito irregular, espinhosa e spera, de fragmentos soltos e escoriceos, de dimenses variadas; estes nveis de fragmentao (designados por clnker) apresentam espessuras variveis e desenvolvem-se no topo e na base da escoada/unidade de fluxo (Fig_19).

    - lavas em blocos (blocky lava): composta por blocos de lava, usualmente regulares, macios e de superfcies lisas, que apresentam grandes dimenses, por vezes mtricas; frente da escoada muito declivosa, com vrias dezenas de metros de altura.Neste contexto, deve salientar-se que as escoadas lvicas, sobretudo os dois primeiros tipos acima referidos, podem apresentar-se como unidades de fluxo (flow units) nicas (usualmente associadas a taxas de emisso elevadas), denominando-se, ento, por escoadas simples (Fig_20).

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    Fig_17. Morfologia pahoehoe em escoadas lvicas baslticas do topo da Montanha do Pico (Aores), popularmente designada de lajes ou lajidos

    Fig_18. Lavas em tripa (entrail lavas) em escoadas pahoehoe do topo da Montanha do Pico, Aores.

    Fig_19. Morfologia aa em escoadas lvicas do portinho da faj de Sto. Anto, S.Jorge, Aores. Observe-se a textura escoricea no teto (rough clinker top) e a lava massiva com disjuno colunar na base.

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    Pelo contrrio, as escoadas compostas (compound flows) caracterizam-se por diversas unidades de fluxo, usualmente pequenas e pouco espessas, sobrepostas umas relativamente s outras, que arrefeceram simultaneamente (Fig_21).

    As observaes de terreno comprovam que, em muitas situaes, a superfcie das escoadas lvicas apresenta caractersticas que retratam uma menor fluidez das escoadas, ou das unidades de fluxo, s quais correspondem estdios de viscosidade intermdios entre as escoadas pahoehoe e as aa. Surgiram, assim, designaes complementares quelas tradicionais acima referidas, e que incluem as lavas pahoehoe imperfeitas (rough pahoehoe), as lavas pasta de dentes (toothpaste lava. Fig_22) e as lavas em placas (slab pahoehoe). Estes tipos de morfologia apresentam como caracterstica comum uma superfcie espinhosa, irregular e/ou ondulada, que contrasta com a suave morfologia das escoadas pahoehoe.

    As escoadas lvicas aa, por seu turno, evidenciam diferentes caractersticas consoante a distncia ao respectivo centro emissor, podendo distinguir-se sobretudo dois tipos: proximais e distais. As escoadas lvicas aa proximais, mais fluidas, que apresentam viscosidade semelhante das lavas toothpaste e apresentam usualmente espessuras pequenas, segundo canais lvicos pouco profundos (Fig_23).

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    Fig_20. Escoadas aa simples separadas pelos nveis clinker. Mistrios de Urzelina, S.Jorge, Aores.

    Fig_21. Escoadas pahoehoe composta. Ilha do Pico, Aores.

    Fig_22. Morfologia do tipo pasta de dentes, Baia Entre Morros, Velas, S. Jorge, Aores.

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    Pelo contrrio, as escoadas aa distais atingem espessuras usualmente superiores a 10 metros, com uma frente de escoada elevada, composta por clinker com fragmentos de dimenses muito variadas (desde blocos a areia). igualmente nas zonas distais das escoadas lvicas aa que se observa uma maior profuso de bolas lvicas de acreo (accretionary lava balls), estruturas vulcnicas concntricas tpicas destas escoadas lvicas (Fig_24) e que se formam por um processo idntico ao das bolas-de-neve, a partir de um fragmento slido que incorporado na lava, viscosa, em movimento

    As lavas pohoehoe e aa so muitas vezes emitidas de um mesmo centro eruptivo, sendo factores como a taxa de efuso, a viscosidade do magma, a morfologia e a inclinao da superfcie de escoamento que determinam o aspecto superficial evidenciado perla escoada lvica. Refira-se, contudo, que enquanto que as lavas pahoehoe podem evoluir para lavas aa (cf. Arrefecimento da lava), o inverso nunca acontece.Por outro lado, as lavas pahoehoe tpicas desenvolvem-se quase exclusivamente em escoadas baslticas de baixa viscosidade, enquanto que as lavas aa podem encontrar-se numa maior variedade de escoadas lvicas, incluindo nomeadamente os andesitos baslticos. Ao invs, as lavas em blocos so tpicas das escoadas lvicas andesticas, nas quais nunca foram encontradas morfologias no tipo pahoehoe. Por fim, a extruso de escoadas lvicas de elevada viscosidade (e.g. dacticas e riolticas) origina morfologias tpicas, caracterizadas por nveis de obsidiana, laminao pronunciada e formas de relevo elevadas, espessas e de bordos declivosos, as quais incluem os domos e as coules, referidas mais adiante.Os piroclastos, por seu turno, incluem sobretudo fragmentos resultantes directamente do arrefecimento e da solidificao de magma, bem como da fragmentao de rochas encaixantes, pr-existentes e j consolidadas. Funo das suas caractersticas morfo-estructurais, os produtos piroclsticos so vulgarmente agrupados em:

    - pedra pomes (pumice): tefra de cor clara (Fig_25), associada a erupes explosivas de magmas diferenciados, siliciosos e intermdios (e.g. fonolticos e traquticos); constituem fragmentos muito vesiculados, de grande porosidade e baixa densidade (

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    - lticos: fragmentos rochosos, densos e macios, observados nos depsitos piroclsticos, quer resultem, ou no, da solidificao do magma emitido; os fragmentos de rochas mais antigas do mesmo vulco, e associados a erupes anteriores, denominam-se lticos acessrios; os fragmentos no relacionados com uma actividade vulcnica e que foram arrancados ao substrato (por exemplo de rochas calcrias) denominam-se lticos acidentais.

    - escria (scoria ou cinder): tefra de cor escura e aspecto frequentemente esmaltado/iridescente (Fig_26); com vesicularidade, densidade e formas muito variadas; associadas a magmas pouco viscosos (bsicos e intermdios), nomeadamente basltico-andesticos; emitidas ainda fluidas, solidificam no ar ou depois de atingirem o solo, o que lhes confere formas muito diversas.

    Neste mbito, refira-se que os spatter (salpicos de lava ou emplastros) so igualmente piroclastos (e.g. baslticos) que atingem o solo ainda bastante fluidos e plsticos, uma vez que se acumulam muito prximo do centro emissor. Por este motivo moldam-se uns aos outros (deformando-se plasticamente), dando um depsito aglutinado (Fig_27) que, por este motivo, susceptvel de apresentar declives acentuados. Distinguem-se, assim, dos depsitos de escrias, os quais constituem acumulaes de piroclastos soltos, logo, mais instveis e sujeitos a movimentos de massa do tipo grain flow (escorregamento de gros).

    Por outro lado, do ponto de vista gentico, os materiais piroclsticos podem agrupar-se em: 1) piroclastos de queda e 2) piroclastos de fluxo (Fig_28). No primeiro caso, os fragmentos, essencialmente gravticos, atingem o solo por queda livre, quer a partir de uma coluna eruptiva, quer projectados balisticamente a partir da boca emissora. No segundo caso, os piroclastos movimentam-se ao longo das encostas do edifcio vulcnico sob a forma de uma escoada.

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    Fig_25. Pedra pomes associada a o vulco da Caldeira na Ilha do Faial, Aores.

    Fig_26. A esquerda, depsito de queda constitudo de escrias baslticas. Pico dos Loiros, Velas, S. Jorge, Aores. Em baixo, diferencia entre depsitos de queda de pedra pomes (branco) e de escrias (preto-castanho). Vulco do Teide, Ilhas Canrias, Espanha.

    Fig_27. Salpicos de lava em lavas pahoehoe. Notar a deformao plstica sofrida pelos fragmentos de lava e o grau de aglutinao do depsito. Faj da Ribeira d'Areia, S. Jorge, Aores.

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    Os piroclastos de queda, em funo da granulometria dos clastos/fragmentos, classificam-se em:

    1_ cinzas: se apresentam dimenses inferiores a 2 mm.

    2_ lapilli: quando os clastos tm dimenses compreendidas entre 2 a 64 mm.

    3_ bombas e blocos: se tm dimenses superiores a 64 mm e apresentam, respectivamente, uma forma arredondada, ou angulosa.

    Os blocos e bombas apresentam uma trajectria balstica parablica (Fig_9) a partir do centro emissor e so usualmente projectados a distncias relativamente pequenas. Os lapilli baslticos (Fig_26), que nos Aores so designados por bagacina (ou por cascalho), podem apresentar formas idnticas s das bombas. Os depsitos de cinzas vulcnicas consolidadas denominam-se cineritos, enquanto que a designao de tufo se aplica, genericamente, a todos os depsitos piroclsticos de granulometria cinza ou lapilli que se apresentam litificados. Aos materiais piroclsticos de dimenses muito reduzidas (inferiores a 1/16 mm) aplica-se muitas vezes a designao de cinzas finas ou poeiras vulcnicas.

    Uma vez que a classificao granulomtrica acima apresentada traduz exclusivamente o tamanho dos tefra, sendo por isso independentemente da gnese e composio qumica do material piroclstico, quelas designaes frequente adicionarem-se termos como escoriceo ou basltico (quando esto associados a magmas bsicos) e pomtico (quando emitidos na dependncia de magmas cidos). Tm-se, assim, cinzas baslticas e cinzas pomticas, bombas escoriceas e blocos pomticos, consoante as dimenses dos clastos e a sua natureza/quimismo.Os piroclastos de fluxo, por seu turno incluem:

    - escoadas piroclsticas: fluxos piroclsticos em que os clastos (de dimenses variadas, mas em que as cinzas so dominantes) movimentam-se envolvidos em gs a temperatura elevada.- escoadas de lama e escoadas de detritos: fluxos piroclsticos em que os clastos, de natureza vulcnica, movimentam-se envolvidos em gua.

    As escoadas piroclsticas s.l. correspondem assim, e de um modo genrico, a fluxos piroclsticos de alta densidade, que se deslocam junto ao solo, num fluxo essencialmente laminar. Em funo do seu mecanismo gentico e da sua composio, estas escoadas incluem:

    - escoadas piroclsticas pomticas (escoadas piroclsticas propriamente ditas): compostas por pedra pomes, poeiras e gs; associadas ao colapso de colunas eruptivas convectivas.

    - nuvens ardentes (nues ardentes, glowing clouds ou glowing avalanches): constitudas por clastos densos, no vesiculados, resultantes do colapso gravtico dos flancos/frente de domos e de coules (i.e. escoadas lvicas muito viscosas); mais recentemente so designadas de escoadas de blocos e de cinzas (block and ash flows).

    - surges: escoadas piroclsticas em que a concentrao de fragmentos/clastos menor, conferindo escoada uma densidade inferior das escoadas pomticas e das nuvens ardentes.Os surges (ou ondulaes piroclsticas) so, assim, tipos particulares de escoadas piroclsticas, que: 1) tm baixa densidade e elevada velocidade; 2) apresentam fluxo turbulento e uma movimentao no condicionada pela topografia; 3) tm elevado poder destrutivo; 4) atingem menores distncias do que as escoadas piroclsticas propiamente ditas; 5) os respectivos depsitos

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    Fig_28. Representao esquemtica da actividade pliniana- subpliniana

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    apresentam-se frequentemente com estratificao e laminao importante (centrimtrica a decimtrica). Os principais tipos de surges so:

    a) base surges: formados a partir de uma nuvem piroclstica em forma de anel (Fig_12), gerada aquando de erupes hidrovulcnicas, quer de magmas bsicos, quer de magmas cidos; esse anel, que se forma ao nvel do solo/mar, progride radialmente relativamente ao centro emissor.

    b) ash cloud surges: formados a partir das nuvens que acompanham a implantao duma escoada piroclstica (Fig_28 e Fig_29).

    c) ground surges: formados, quer pelo colapso parcial da parte externa da coluna eruptiva, quer na parte frontal de uma escoada piroclstica (Fig_29) devido a fluidizao da mesma pelo ar aprisionado pela cabea da escoada, aquando da sua movimentao.

    Os depsitos resultantes das nuvens ardentes e das ondulaes piroclsticas designam-se por depsitos de cinzas e de blocos. Por seu turno, os depsitos resultantes das escoadas das escoadas piroclsticas em que os clastos/fragmentos so maioritariamente pomticos (e.p. propiamente ditas) so designados por ignimbritos, quer se apresentem soldados (welded), ou no. Estas rochas vulcnicas soldadas, implantadas a temperaturas elevadas, apresentam uma estrutura fluidal com fiammes, ou seja, com concentraes lenticulares vtreas, escuras e densas (compostas por fragmentos pomticos comprimidos e estirados segundo os planos de acamao do depsito) dispersas numa matriz mais clara. Os ignimbritos soldados, foram amplamente utilizados nos Aores como pedra ornamental (e.g. ignimbrito das Lajes, Ilha de Terceira e ignimbrito da Povoao, Ilha de So Miguel), enquanto que os ignimbritos no soldados (e.g. tufos da Ribeira Grande, Ilha de So Miguel) so explorados para a produo de inertes ou para a produo de blocos, dada a sua natureza detrtica e no litificada.

    Como se disse, os piroclastos de fluxo em que os clastos se movimentam envolvidos em gua constituem:

    - escoadas de lama (mud flows): fluxos de lama nos quais predominam os fragmentos piroclsticos da dimenso cinza.

    - escoadas de detritos (debris flows): em que dominam os clastos de maiores dimenses, incluindo blocos mtricos e como vrias toneladas de peso, arrastados na corrente, dada a natureza torrencial destes fluxos.

    Refira-se que as avalanchas de detritos (debris avalanches) se distinguem das escoadas de detritos (debris flows), uma vez que nas primeiras no h saturao em gua da formao vulcnica, dando-se o fluxo piroclstico com uma interaco clasto-clasto (ver escoadas de blocos e cinzas).

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    Fig_29. Representao esquemtica da evoluo dos fluxos piroclsticos.

    direita, mostrasse a formao dum fluxo

    piroclstico a partir do colapso duma doma. Em

    baixo, aparece em detalhe a deposio dos materiais

    que constituem o fluxo.

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    Os depsitos resultantes das escoadas de lama e de detritos so designados lahars (ou depsitos de enxurradas) e esto associados a fenmenos de solifluxo/liquefaco de formaes vulcnicas detrticas (pela sua saturao em gua), fenmenos esses que esto entre os mais destruidores associados ao vulcanismo. Os lahars podem estar directamente associados a uma erupo vulcnica (designando-se lahars primrios ou sin-eruptivos), ou podem ocorrer independentemente de fenmenos eruptivos (lahars secundrios ou ps-eruptivos). Os lahars primrios formam-se por exemplo: 1) na dependncia de chuvadas mais ou menos intensas que vo saturar cinzas e lapilli depositados por um vulco em actividade; 2) pela expulso de um lago de cratera/caldeira; 3) pela fuso de gelo e neve acumulados num vulco que entra em actividade, como aconteceu na erupo do vulco Nevado del Ruiz, Colmbia, em Novembro de 1985, que causou a morte a cerca de 22000 pessoas na vila de Armero.

    Os lahars secundrios, por seu turno, correspondem a depsitos epiclsticos resultantes de movimentos de massa associados a uma liquefaco de formaes vulcnicas detrticas. Esses movimentos gravticos do-se, designadamente: 1) na sequncia de abalos ssmicos fortes que promovem a movimentao de vertentes instveis, como foi o caso em Vila Franca do Campo, Ilha de So Miguel, em Outubro de 1522, que casou cerca de 4000 a 5000 mortes, ou 2) na sequncia de precipitaes anormalmente intensas, como aconteceu no Fojo (Furnas), em 1996, ou em Outubro de 1997, na freguesia de Ribeira Quente (Ilha de So Miguel), onde causou 29 vtimas mortais.De entre os produtos associados a uma actividade hidrovulcnica bsica destacam-se: 1) as pillow lavas (lavas em almofada), lavas submarinas que podem apresentar uma forma tubular ou alongada (da tambm se designarem por lavas em rolo). 2) hialoclastitos: clastos vitrificados resultantes da fragmentao de lavas devido ao seu rpido arrefecimento em contacto com gua. Este ltimo termo, tem, igualmente, uma aplicao mais generalizada, englobando todos os materiais vtreos gerados em erupes hidrovulcnicas bsicas (ou tambm, em erupes sub-glaciais), incluindo aqueles derivados de escoadas submarinas, bem como os fragmentos de natureza explosiva (piroclastos submarinos).O rpido arrefecimento resultante do contacto magma-gua na actividade hidrovulcnica bsica d origem a um depsito piroclstico chamado tufo surtseiano (ou tufo hialoclasttico), no qual dominam as dimenses cinza e lapilli, com clara predominncia para a primeira (Fig_28). Essa interaco origina um vidro vulcnico denominado sideromelana, o qual evolui rapidamente para a palagonite um produto de alterao de cor amarelada resultante da hidratao do vidro basltico e composto maioritariamente por minerais da argila. Por essa razo os cones de tufos surtseianos so tambm designados por cones de tufos palagonticos por alguns autores.

    Refira-se, neste contexto, que a obsidiana corresponde a um vidro vulcnico (de cor negra ou cinzento escuro, brilho vtreo e fractura concoidal) associado a magmas muito siliciosos (riolticos), pelo que est frequentemente presente quer em nveis superficiais/externos de domos e coules, quer em escoadas piroclsticos (e.g. fiammes).

    formas vulcnicas: gnese e principais caractersticas

    O conjunto de formas que compes o modelado vulcnico muito rico e diversificado. Por uma questo de sistemtica, as principais formas vulcnicas so usualmente separadas em cinco grupos: as formas originadas pela emisso de escoadas lvicas, as resultantes da acumulao de materiais piroclsticos, as formas mistas, as depresses vulcnicas e as formas subvulcnicas.

    formas resultantes da emisso de escoadas lvicas

    No conjunto das formas originadas pela emisso e acumulao de uma ou de vrias escoadas lvicas (Fig_31) incluem-se os vulces em escudo (ou shield volcanoes) que se formam principalmente devido a erupes baslticas efusivas e que correspondem a formas cnicas achatadas, muito extensas e com declives suaves, que variam de 4 a 6. Apresentam um contorno circular ou elptico, em planta e, em perfil, assemelham-se aos antigos escudos de armas, da a sua designao.

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    Fig_30. Tufo hialoclasttico (cinzas/lapilli) de origem surtseiano. Notasse a colorao amarela-acastanhada, a compacidade e a estratificao. Zona balnear da Preguia, Velas, S. Jorge, Aores.

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    A sua forma resulta do empilhamento de vrias escoadas de lava basltica, pouco espessas, e que so emitidas, quer de um mesmo centro emissor no topo do vulco, quer a partir de fissuras. No primeiro caso (como acontece nos escudos islandeses) os edifcios vulcnicos so mais ou menos circulares, enquanto que no segundo caso (como acontece no Havai) os vulces em escudo apresentam contorno mais irregular e alongado.Os vulces em escudo correspondem aos maiores aparelhos vulcnicos da Terra. No topo dos shield volcanoes, especialmente no Hawaii, so comuns crateras ou caldeiras de colapso, conferindo ao vulco um aspecto achatado. A ocorrncia de emisses lvicas nos flancos do cone contribui, tambm, para a sua forma achatada.Os domas (ou domos), por seu turno, formam-se quando a lava muito viscosa e tem dificuldade em fluir. Tende, ento, a acumular-se directamente sobre a conduta ou a abertura emissora (vent), dando relevos de vertentes muito declivosas (Fig_32). Alguns domas esto associados assero de material slido ou parcialmente slido que obstrui a cratera ou as zonas terminais da conduta. Neste caso designam-se por plug domes ou domas-chamin.

    As principais caractersticas destas formas vulcnicas so: vertentes muito declivosas, ausncia de uma cratera e um contorno circular ou oval, em planta, tal como se pode observar no doma de Castelo Branco na Ilha do Faial (Fig_33)

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    Fig_32. Representao esquemtica dos principais tipos de domas. In: Ollier, 1998.

    Fig_31. Empilamento de escoadas lvicas no portinho da faj da Queimada, S. Jorge, Aores.

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    Os domas evidenciam frequentemente uma estrutura rochosa interna segundo camadas concntricas (relacionadas com o crescimento do doma) e nveis mais externos compostos por material muito fragmentado e solto, do tipo brechide (crumble breccia), o qual resulta da facturao da crosta solidificada do doma, medida que este cresce. (Fig_34)

    Para alm das formas atrs descritas, de dimenses mais ou menos importantes, as erupes de natureza basltica (menos explosivas) e as escoadas lvicas da resultantes (mais fluidas) so caracterizadas, morfologicamente, por um vasto conjunto de estruturas e micro-relevos, de entre os quais destaca:

    1_ os pahoehoe toes, lbulos convexos, com superfcies lisas, dimenses variadas e que esto associados ao mecanismo de aveno das escoadas pahoehoe (Fig_35). Resultam da injeco de lava fluida atravs de uma abertura que se abre na frente plstica da escoada, devido ao seu avano.

    2_ os tumuli (tumulus no singular), arqueamentos da crosta superficial das escoadas lvicas, com forma circular ou oval. Originam-se devido s presses hidrostticas exercidas no topo da escoada, j solidificada, pela movimentao inferior da lava, ainda lquida. Se a sua curvatura for muito acentuada, os tumuli podem fender-se e a lava pode mesmo ascender superfcie atravs destas aberturas.

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    Fig_34. Doma com disjuno colunar na base e aspecto brechide no teto. Ilha das Flores, Aores.

    Fig_33. Doma traqutica. Castelo Branco, Faial, Aores.

    Fig_35. Detalhe das escoadas pahoehoe que formam a faj da Ribeira de Areia, S. Jorge, Aores.

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    3_ A presena de elevaes alongadas, formando cristas, no topo das escoadas lvicas, as quais podem ter diferentes origens:

    3.1_ as cristas de presso (pressure ridges) ocorrem quando a crosta da escoada levantada, ou arqueada, segundo um mecanismo idntico ao descrito para os tumuli. Neste caso, a movimentao inferior da lava vai provocar uma presso hidrosttica suplementar no topo da escoada, arqueando-a segundo uma estrutura linear.

    3.2_ as cristas laterais (lateral ridges) formam-se quando a parte central de uma escoada lvica sofre um abatimento, devido drenagem da lava (Fig_36). Os bordos da escoada j solidificada e mais resistentes, no so afectados pelo abatimento e do origem a duas cristas salientes, com uma depresso no meio (as lava trench).

    3.3_ as spatter ramparts so tambm cristas alongadas, que resultaram da acumulao de spatterns, i.e salpicos de lava, com textura escoricea e que, dado o seu estado plstico ao atingirem o solo, se apresentam soldados (welded) ou aglutinados entre si. A edificao desta muralha de salpicos de lava est relacionada com erupes fissurais, com projeco e acumulao de spattern para ambos lados da fissura.Por acumulao deste material, a forma pode evoluir para uma elevao cnica mais ou menos bem definida.

    Estas elevaes, que se designam por spattern cones, apresentam vertentes tendencialmente mais declivosas (Fig_37), dado o grau de aglutinao (e, logo, maior estabilidade) do material vulcnico que as constitui. Na Ilha do Pico podem observar-se diversos spattern cones, bem como os micro-relevos atrs referidos, dada a natureza basltica do seu vulcanismo.4_ Os honitos, pequenos cones lvicos sem raiz, i.e., sem conduta profunda, com alguns metros de altura e formados por salpicos de lava, em resultado de exploses pequenas e pontuais que ocorrem superfcie de escoadas lvicas. Tm uma forma cnica bem definida e apresentam, em geral, uma abertura ou boca no topo (Fig_38). Refira-se, a propsito, que alguns autores usam os termos hornito e spatter cone como sinnimos.

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    Fig_36. Colapso a parte central duma escoada lvica. Portinho da faj de Sto. Amaro, S. Jorge, Aores.

    Fig_37. Formao dum spattern cone. Havai.

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    5_ os deltas lvicos (fajs lvicas), formam-se quando as escoadas avanam sobre um lago ou atingem o mar, provocando o recuo da linha de costa, como foi o caso do delta lvico da Faj do Ouvidor (Fig_39), das Velas, da ribeira dAreia, Sto. Amaro, Queimada, das Pontas, Penedia, Mero ou de Urzelina. superfcie destes deltas podem ocorrer pseudocrateras ou cones litorais (formas que sero descritas posteriormente) e a eroso da frente do delta ou uma drenagem posterior conferem-lhe, muitas vezes, um aspecto digitado.

    6_ As grutas ou tneis lvicos (tpicos das escoadas pahoehoe), cujo mecanismo de formao pode ser explicado do seguinte modo: ao mesmo tempo que se movimentam ao longo de um declive, a superfcie e os bordos das escoadas lvicas solidificam-se mais ou menos rapidamente (em contacto com o ar e as formaes envolventes), enquanto que o seu interior continua lquido e a fluir. Uma vez terminado o fornecimento de lava a partir de montante e se a parte central da escoada for drenada forma-se um tnel total ou parcialmente aberto.Os tneis lvicos (tambm designados por tneis lvicos, grutas ou cavernas) so alongados na direco do escoamento, podendo atingir vrios quilmetros de comprimento por alguns metros de altura.O tecto geralmente arqueado e as suas paredes podem apresentar estruturas salientes designadas por bancadas ou balces (benches) e que testemunham antigos nveis de fluncia da lava no interior do tnel (Fig_40). Na Ilha do Pico, a Gruta das Torres totaliza mais de 3500 metros de comprimento e apresenta vrios nveis de bancadas. superfcie das escoadas surgem, por vezes, aberturas (skylights ou clarabias), que estabelecem a transio entre a superfcie e o interior dos tneis, e que correspondem a sectores abatidos do tecto do tnel.

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    Fig_38. Relicto de um hornito. Preguia das Velas, S. Jorge. Aores

    Fig_39. Faj lvica do ouvidor, S. Jorge, Aores

    Fig_40. Bancada do tnel lvico da Gruta das Torres, Ilha do Pico, Aores.

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    comum existirem estalactites lvicas nos tneis, devido solidificao de pingos de lava no interior do tnel ou, ainda, pela fuso do tecto da gruta: o calor dos gases que se libertam da superfcie da lava lquida, e que se concentram junto ao tecto do tnel, provoca esta fuso (Fig_41). Estes pingos de lava podem acumular-se no solo da gruta originando estalagmites lvicas.

    7_ Os algares vulcnicos correspondem, na sua maioria, a antigas condutas que foram completamente drenadas de lava, como o caso dos algares de Santo Amaro (Fig_42), conhecidos popularmente como as Bocas do Inferno.

    O estudo das cavidades subterrneas (grutas e algares) revela-se de grande importncia, na medida em que, para alm do seu potencial interesse cientfico, didctico e turstico, a presena de grutas e de algares condiciona a circulao profunda numa regio e, como tal, interfere com o decurso da eroso.

    formas resultantes da acumulao de piroclastos

    As formas de relevo resultantes da acumulao de piroclastos (tefra) apresentam como caracterstica mais importante a forma cnica ntida, como o caso dos cones de escrias (scoria ou cinder cones) (Fig_43). So formados essencialmente por piroclastos baslticos soltos, com dimenses variadas (bombas, lapilli e cinzas), embora possam apresentar nveis intercalados de pequenas escoadas lvicas ou de spattern. Quando estes cones so constitudos, na sua maioria, por salpicos de lava, soldados, designam-se, como se viu, por spattern cones.

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    Fig_41. Estalactites lvicas do tnel lvico da Gruta das Torres, Ilha do Pico, Aores.

    Fig_42. Boca dum dos algares de Sto. Amaro, S. Jorge, Aores.

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    As suas principais caractersticas morfolgicas (Fig_44) so uma forma cnica bem definida, os declives rectilneos ou ligeiramente cncavos (com inclinaes que raramente ultrapassam os 33) e a presena, no topo do cone, de uma cratera de exploso, de perfil em taa ou funil. A regio do Complexo Vulcnico dos Picos na Ilha de S. Miguel, corresponde a um vasto campo de cones de escrias e escoadas lvicas associadas.

    Com dimenses muito variadas, os cones de escrias so usualmente estruturas monogenticas, i.e. edificados durante uma nica erupo vulcnica, quase sempre do tipo estromboliano. Podem ocorrer no seio de crateras ou caldeiras de edifcios principais ou nas suas vertentes exteriores, constituindo, neste caso, os designados cones adventcios, secundrios ou parasitas.

    Os cones de escrias podem evidenciar uma cratera mltipla e distribuir-se no terreno segundo alinhamentos mais ou menos bem definidos (Fig_44), uma vez que a sua edificao controlada pela tectnica da regio, nomeadamente a existncia de fracturas ou fissuras. Deste modo, conhecida a sua distribuio espacial e os alinhamentos pelos cones de escrias, poder-se-o obter importantes indicaes acerca do sistema regional de fracturas.Estas formas vulcnicas tm, regra geral, uma forma circular, em planta, mas podem apresentar-se alongadas ou em ferradura. Esta ltima resulta, quer da destruio de um dos flancos do cone por uma escoada lvica, quer de uma acumulao dos piroclastos controlada por ventos fortes e com direco constante, quer, ainda, devido movimentao dos tefra ao longo da vertente, durante a eupo. Para alm de ser fortemente condicionada pelas caractersticas da erupo que lhe est na origem, a forma dos cones de escrias est tambm relacionada com a sua idade e com o modo como actuaram os processos erosivos.

    Os cones de pedra-pomes so estruturas cnicas muito semelhantes s descritas anteriormente, mas, nesse caso, resultam de erupes moderadamente explosivas de magmas cidos. So formados por

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    Fig_44. Representao esquemtica dos principais tipos cones de escrias. In: Ollier, 1998.

    Fig_43. Cones de escrias alinhados. Pico da Esperana, S. Jorge, Aores.

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    pedra-pomes e cinzas pomticas, tm normalmente um dimetro basal superior ao dos cones de escrias e as suas vertentes so menos declivosas, dada a maior explosividade das suas erupes.

    Os cones de tufos (tuff cones) so tambm designados por cones de hialoclastitos, e esto frequentemente associados a erupes baslticas surtseianas, do tipo freatomagmtico (Fig_45). A explosividade associada a estas erupes resulta do facto da conduta se situar em guas pouco profundas, na maioria dos casos no mar (caso do vulco Taal, nas Filipinas).Estas formas de relevo evidenciam frequentemente uma forma cnica bem definida, como o caso, entre muitos outros, do Ilhu de Vila Franca, na Ilha de S. Miguel, do Monte Guia (Faial), do Monte Brasil (Terceira) e do Morro Grande das Velas e do Morro de Lemos na Ilha de S. Jorge. Os cones de tufos evidenciam alguns aspectos particulares: uma grande compacidade, uma estratificao ntida e, quando alterados, os piroclastos submarinos que os constituem, adquirem uma colorao tpica, amarelada ou acastanhada, devida a uma palagonitizao do vidro vulcnico. Por este motivo estas formas foram tambm designadas por Cones de Tufos Palagonticos

    As pseudocrateras so pequenos cones que no possuem conduta e que se formam quando as escoadas lvicas atingem um lago ou, simplesmente, flem sobre superfcies muito encharcadas, o que frequentemente na Islndia. Nestas condies, o contacto da base da escoada com a gua d origem a pequenas exploses, devido ao vapor de gua aprisionado sob a lava. Estas exploses levam acumulao de piroclastos, fragmentos de hialoclastito e spatters, sob a forma de um pequeno cone. Quando a escoada atinge o mar, tais elevaes recebem a designao de cones litorais. As pseudocrateras e os cones litorais so comuns superfcie dos deltas lvicos, como o caso do pequeno cone existente sobre o delta lvico da Ferraria (S. Miguel) ou o Pico do Areeiro de onde saram os materiais que construram o delta lvico do Ouvidor. Dadas as suas caractersticas morfogenticas, estas formas vulcnicas podem constituir importantes indicadores paleoambientais.Em regies topograficamente irregulares, as escoadas piroclsticas (associadas a erupes vulcnicas muito explosivas, de magmas cidos) vo ocupar preferencialmente o fundo dos vales, aplanando-os e afectando a sua rede de drenagem. Distinguem-se, assim, dos depsitos piroclsticos de queda, os quais cobrem mais ou menos uniformemente a superfcie topogrfica existente, suavizando os declives.

    formas mistas

    A forma mista mais comum o estratovulco (stratovolcano), tambm designado por vulco compsito, na medida em que formado por nveis piroclsticos intercalados com nveis lvicos. Estes vulces constituem a maioria dos grandes vulces terrestres e, como mostra o esquema da pgina seguinte, a sua estrutura interna normalmente bastante mais complexa do que uma simples alternncia de tefras e escoadas lvicas.A inclinao das suas vertentes varia em funo do ngulo de equilbrio dos piroclastos (o qual depende, nomeadamente, da dimenso destes materiais), enquanto que os nveis lvicos so os responsveis pela resistncia e capacidade de suporte do edifcio vulcnico. So comuns inclinaes das vertentes de 20 a 30, em altitudes de alguns quilmetros. Como exemplos elucidativos pode-se citar o Fuji (no Japo), o Etna (na Itlia) ou o vulco do Pico, nos Aores.Muitos estratovulces, como o caso da Montanha do Pico, resultaram de frequentes erupes no topo do vulco, designadamente numa cratera ou caldeira. Deste modo, o cone adquire um perfil muito simtrico, um contorno circular e uma altitude importante.O declive das suas vertentes constante ou aumenta progressivamente para o topo, como o caso da Montanha do Pico. Na base passam gradualmente paisagem circundante. A eroso fluvial dos estratovulces origina vales com padro mais ou menos radial, os quais podem vir a ser ocupados por escoadas lvicas posteriores.

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    Fig_45. direita; Cone de tufos. Morro Grande das Velas, S. Jorge, Aores. esquerda: detalhe do depsito de queda surtseiano do Morro Grande das Velas.

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    depresses vulcnicas

    Estudaram-se, at agora, formas construtivas geradas pelo vulcanismo, mas, como se referiu, as erupes vulcnicas so tambm responsveis pelo aparecimento de formas de relevo negativas, ou depresses vulcnicas, que se formam devido a exploses vulcnicas, que se formam devido a exploses e a colapsos. As depresses de menor dimenso so as crateras e as de maiores dimenses so denominadas de caldeiras. O limite entre umas e outras arbitrrio e varia de autor para autor, sendo normalmente fixado para dimetros de uma milha terrestre, ou seja cerca de 1,5 quilmetros.

    As crateras apresentam formas e dimenses muito variadas e so sobretudo de dois tipos:

    1_ as crateras de exploso localizam-se no topo dos cones piroclsticos (cones de escrias, cones de pedra-pomes, etc) e dos estratovulces. Tornam-se devido incapacidade do cone em se edificar directamente sobre a abertura emissora, face s contnuas exploses que a ocorrem, durante a erupo, e que projectam os materiais piroclsticos que tendem a acumular-se directamente a boca.

    Apresentam um contorno circular, alongado ou em ferradura e, em corte, tm a forma de um cone invertido ou em taa. A forma em taa resulta da remoo dos detritos das suas vertentes pelas guas de escorrncia, os quais se vo acumular no fundo da depresso, aplanando-a. A formao de um nvel impermevel que retenha as guas de escorrncia permite o aparecimento de lagoas ou charcos.

    Os maars constituem um tipo particular de crateras de exploso, que apresentam como principal caracterstica morfolgica o facto de constiturem, quase sempre, formas de relevo encaixadas no nvel geral da regio circundante. De vrios tipos, os maars so mais extensos do que profundos e normalmente no tm associado um cone vulcnico bem definido. As suas caractersticas diagnosticas incluem, ainda, uma forma circular, vertentes rochosas ngremes e um fundo plano, que est muitas vezes ocupado por lagos, como o caso do maar da Lagoa do Congro, na Ilha de S. Miguel.

    Estas crateras tm origem em exploses freatomagmticas, quando h contacto de magma em asceno com guas superficiais ou com nveis freticos existentes nas rochas sobrejacentes, quer estas sejam vulcnicas ou no. A regio circundante apresenta-se normalmente aplanada e certos maars so rodeados por um pequeno anel de fragmentos, incipiente e pouco elevado: so, neste caso, designados por tuff rings ou anis de tufos

    2_ as crateras de colapso (pit craters) so muito comuns nos vulces em escudo e caracterizam-se por contornos circulares ou elpticos, pelas suas vertentes muito declivosas ou verticais, e por no evidenciarem qualquer acumulao externa de materiais piroclsticos (Fig_46).

    As pit craters (ou crateras-poo) resultam do colapso de segmentos da superfcie do vulco, devido drenagem de magma basltico da conduta e de nveis superiores da cmara magmtica. Drenado o magma, o tecto da cmara abate (por blocos ou como um todo), incapaz de suster o peso das formaes superiores. Crateras deste tipo podem ser observadas na Ilha do Pico, associadas, nomeadamente a erupes secundrias na Montanha.

    No caso das crateras-poo o magma emitido de natureza basltica e o fundo da depresso muitas vezes ocupado por um lago de lava ou por escoadas lvicas mais recentes.

    Ao contrrio das depresses anteriores, a formao das grandes caldeiras de subsidncia, est associada a magmas cidos e a erupes do tipo pliniano, muito explosivas e violentas, nas quais so emitidas grandes quantidades de pedra-pomes, cinzas e escoadas piroclsticas, num curto intervalo de tempo.

    Apesar de estarem associadas a exploses mais ou menos violentas, estas caldeiras no resultam, directamente, da destruio do cone pela exploso. Resultam sim, da emisso repentina de grandes volumes de material durante a erupo e da subsidncia do topo do edifcio vulcnico, ao longo de fracturas, em consequncia do rpido esvaziamento da cmara magmtica: o topo da montanha perde capacidade de suporte e sofre um abatimento segundo uma srie de enormes blocos.

    A grande maioria das caldeiras dos Aores formou-se por este processo, como o caso da caldeira das Sete Cidades, na Ilha de S. Miguel, ou da caldeira de Santa Brbara, na Terceira. As vertentes abruptas e os contornos regulares constituem algumas das suas caractersticas principais. As suas formas e dimenses esto condicionadas pela configurao da cmara magmtica, pela morfologia do edifcio vulcnico e pelas falhas existentes.

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    Diversas caldeiras deste tipo no se formaram de uma nica vez. Neste caso, a depresso actual resulta de vrias erupes explosivas moderadamente violentas e o desnvel que actualmente se observa corresponde ao somatrio de vrias subsidncias parciais.

    As caldeiras de eroso recebem a designao de caldeira porqu so, igualmente, grandes depresses existentes nas regies vulcnicas, mas na verdade, no esto directamente associadas a uma erupo vulcnica. Resultam, pelo contrrio, de uma aco erosiva intensa, sobretudo fluvial, a qual vai aumentar as dimenses de outras depresses j existentes, como por exemplo vales fluviais, crateras e caldeiras vulcnicas, etc. A coalescncia de vrias destas reas profundamente erodidas d origem a estas grandes depresses, normalmente com forma triangular e no seio das quais correm cursos de gua mais ou menos importantes.

    Existem muitos outros tipos de caldeiras, como as caldeiras ressurgentes e as caldeiras do tipo Glen Coe (ou de subsidncia em caldeiro).

    As depresses vulcnicas podem igualmente apresentar-se bastante alongadas. Esto neste caso as fissuras abertas, ou riftes, tpicos de regimes tectnicos distensivos e que se localizam, nomeadamente, nos limites divergentes das grandes placas litosfricas, como o caso do Rifte de Afar, em frica.Os grabens vulcnicos so igualmente depresses alongadas e correspondem a sectores abatidos entre falhas normais, mais ou menos paralelas. Os grabens de Pedro Miguel (Ilha do Faial) e da Praia da Vitria (Ilha Terceira), constituem os exemplos mais espectaculares das ilhas dos Aores. Estas depresses esto associadas quer drenagem de magma da cmara magmtica quer s distenses que afectam os edifcios vulcnicos (controladas ou no pela tectnica regional).

    formas subvulcnicas

    As formas vulcnicas atrs descritas, quer as construtivas quer as destrutivas, resultam de uma actividade extrusiva. Contudo, a actividade vulcnica tambm caracterizada pela formao de estruturas subvulcnicas, implantadas em profundidade. Apesar disso, estas formas subvulcnicas podem constituir actualmente relevos residuais importantes, devido ao facto da eroso ter atingido nveis bastante profundos.

    o caso das chamins (necks) que correspondem ao preenchimento da conduta por materiais vulcnicos. Aps a aco dos agentes erosivos e consequente remoo dos materiais menos resistentes envolventes, as chamins apresentam-se como relevos residuais salientes (Fig_13), com forma circular e vertentes muito declivosas. Quando presentes, as juntas so verticais ou em leque.

    Os files correspondem a fendas ou fracturas preenchidas por magma. Dispem-se discordantemente em relao s rochas encaixantes (Fig_47 i Fig_48), frequentemente com inclinaes elevadas e podem no estar directamente associados a um edifcio vulcnico.

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    Fig_46. Diagrama ilustrativo da formao das grandes caldeiras de subsidncia, como do caso da Caldeira das Sete Cidades: a figura de em cima mostra a fase pr-eruptiva, em baixo desta mostra-se a fase inicial da erupo, com escoadas piroclsticas a movimentarem-se ao longo dos flancos do vulco. Logo vemos a situao posterior erupo e em baixo a fase actual, aps erupes intracaldera e a ocupao da depresso por um lago (In: MacDonald, 1972.)

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    Os files tm dimenses muito variadas, podendo apresentar uma disjuno colunar horizontal (perpendicular s superfcies de arrefecimento) (Fig_49).

    Por eroso diferencial dos materiais envolventes, erguem-se abruptamente em relao regio envolvente, formando autnticas muralhas (Fig_50).

    Nos estratovulces e nos vulces em escudo, os files podem implantar-se segundo um padro radial em relao ao centro do cone. Este padro evidenciado, nos vulces recentes, por alinhamentos de cones secundrios.

    As soleiras (sills) so corpos rochosos tabulares, concordantes com as formaes encaixantes e em geral horizontais (excepto se esto afectadas por basculamentos tectnicos).

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    Fig_50. Muralha formada por um filo concordante ao plano de eroso, faj de Joo Dias, S. Jorge, Aores.

    Fig_49. Disjuno horizontal perpendicular superfcie de arrefecimento num dos files localizados na faj da Caldeira de sto. Cristo, S. Jorge, Aores.

    Fig_47. Filo em direco quase vertical, ribeira da faj de So Joo, S. Jorge, Aores.

    Fig_48. Files dispostos em varias direces. Ponta dos Rosais, S. Jorge, Aores.

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    As soleiras formam-se por injeco de magma ao longo dos planos de acamao das rochas encaixantes (normalmente rochas sedimentares), mas ocorrem tambm entre os vrios nveis de acumulao nos estratovulces e nos vulces em escudo. Estas estruturas so comuns no arquiplago de Cabo Verde e quando erodidas do normalmente uma morfologia do tipo mesa.Estes corpos intrusivos podero ser confundidas com escoadas lvicas, mas distinguem-se destas por afectarem termicamente as formaes inferiores e as rochas superiores e por as escoadas, nomeadamente as do tipo aa, apresentarem um topo e uma base compostos por material escoriceo e fragmentado (Clinker).

    meteorizao e eroso das rochas vulcnicas

    Uma vez cessada a actividade vulcnica, as rochas da resultantes vo ficar sujeitas aco dos processos normais de meteorizao e eroso. A actuao destes processos normais de meteorizao e eroso. A actuao destes processos condicionada por diversos factores, em que os mais importantes so a natureza do material emitido, o clima e a topografia, a drenagem da regio e o tempo de actuao destes processos. Contudo, as rochas vulcnicas do tipos de alterao e formas erosivas que so caractersticas e que importa, por isso, estudar.

    alterao e solos

    As argilas constituem o principal produto final da alterao das rochas vulcnicas. Em termos gerais, verifica-se que quer o feldspato quer os minerais ferromagnesianos so facilmente alterados em minerais de argila, com a slica e as bases a serem lixiviadas em soluo. A alterao das rochas vulcnicas vai afectar sobretudo a hidrologia da regio, tornando-a menos permevel, e condiciona o decurso da eroso, na medida em que, na maioria dos casos, origina um nvel mvel, que facilmente erodido.

    As escoadas lvicas subareas apresentam uma sequncia de alterao tpica, que se inicia com a eroso das suas zonas externas mais fragmentadas (p.e. constitudas por clinker).

    Nas escoadas lvicas baslticas, sobretudo naquelas que evidenciam uma disjuno prismtica, os estados de alterao mais avanados so evidenciados por uma disjuno esferoidal, ou em bolas (Fig_51), cuja progresso igualmente facilitada pela existncia de juntas horizontais (lajes) no seio da escoada.

    Nas fases seguintes de alterao, j sem disjunes, a rocha transforma-se, primeiro, num saibro mais ou menos grosseiro, por arenizao e, finalmente, d-se a argilizao da rocha.

    Refira-se a propsito que, enquanto a disjuno prismtica, ou colunar (que perpendicular s superfcies de arrefecimento) est relacionado com contraces que se geram no seio das escoadas, aquando do arrefecimento e solidificao da lava, a disjuno em lajes paralela s superfcies de escoamento e traduz a fluncia da lava (Fig_52).

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    Fig_51. Disjuno esferoidal ou em bolas. Santo Anto, S. Jorge, Aores.

    Fig_52. Disjuno colunar ou prismtica. Salienta-se o facto que a direco das colunas perpendicular superfcie de arrefecimento. Faj do Ouvidor, S. Jorge, Aores.

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    Nesse contexto assume primordial importncia a actuao de uma alterao qumica, nomeadamente dos fenmenos de hidrlise dos silicatos. assim possvel que mantos lvicos, por vezes muito espessos, sejam totalmente transformados numa formao argilosa, como foi o caso das formaes lvicas do conhecido deserto da Faneca, na ilha de Santa Maria.

    Como se disse, o clima exerce um importante control no processo de alterao das rochas vulcnicas. Em climas temperados, com insuficincia de drenagem, as bases so retidas, forma-se uma argila montemorilontica e os carbonatos podem precipitar. O resultado final um solo castanho, denso e rico em bases.

    H toda uma variedade, funo dos factores que condicionam a sua formao, e que j foram referidos, aos quais podemos adicionar o importante papel desempenhado pelos factores biolgicos.Contudo, o solo vulcnico vulgarmente mais citado o andossolo ou, numa traduo literal, solo escuro. formado pela alterao dos materiais piroclsticos (sobretudo cinzas) e constitudo essencialmente por uma argila amorfa silico-aluminosa hidratada: a alofana. O andossolo caracteriza-se por um horizonte A espesso, pouco denso, de cor negra e rico em hmus, por um horizonte B pouco desenvolvido e um horizonte C composto pela formao (cinzas) no alterada.

    Em termos muito gerais, pode dizer-se que os produtos baslticos do solos muito frteis e muito produtivos e que os piroclastos, dada a sua maior porosidade, so mais facilmente alterada.

    Em termos muito gerais, pode dizer-se que os produtos baslticos do solos muito frteis e muito produtivos e que os piroclstos, dada a sua maior porosidade, so mais facilmente alterados.

    No caso particular dos depsitos de piroclsticos baslticos, nomeadamente nos cones de escrias, comum os tefras apresentarem uma colorao avermelhada ou amarelada, a qual resulta de uma alterao qumica, mais precisamente de uma oxidao e hidratao dos minerais ferromagnesianos, como o caso da magnetite.

    dinmica das vertentes vulcnicas

    A morfognese das vertentes est intimamente associada meteorizao, aos processos pedogenticos e aos movimentos de massa.

    Tendo j sido abordados os dois primeiros aspectos, passa-se agora em revista o importante papel desempenhado pelos movimentos de massa nas regies vulcnicas, nomeadamente como agentes responsveis pela formao de depsitos epiclsticos.

    Os desmoronamentos ou desabamentos (rockfall) e a queda de blocos afectam sobretudo os bordos escarpados das escoadas lvicas e das escoadas piroclsticas (ignimbritos) soldadas e so facilitados pela existncia de uma disjuno colunar. O alargamento das fissuras dos prismas leva ao recuo de uma cornija, com a formao de um depsito catico, de blocos com dimenses e formas muito variadas.As avalanches so tambm comuns nas vertentes vulcnicas (iniciando-se por vezes na queda livre de uma poro da vertente) e podem estar associadas directamente a erupes vulcnicas, devido ao colapso de uma parte da superfcie do vulco.Os cones de escrias e, de um modo geral, todas as vertentes formadas por piroclastos soltos, vo ser afectadas por escorregamentos ou fluxos de gros (grain flow), os quais so mais eficazes nas vertentes inclinadas e sem vegetao.Sempre que se ultrapassa o ngulo de repouso dos gros ou detritos, os materiais vo movimentar-se espontaneamente ao longo da vertente, rolando e escorregando ao longo desta, acumulando-se sobretudo na sua base.Formam-se, assim, os cones e os taludes de detritos (scree slopes), os quais so comuns na base dos cones de escrias, dos estratovulces, no interior das crateras de exploso e das caldeiras, bem como ao longo de arribas e escarpas de falha.Os deslizamentos ou escorregamentos (landslides) so particularmente importantes ao longo da linha de costa e ao longo de vales fluviais (Fig_53). Afectam sobretudo vertentes rochosas e resultam de uma aco erosiva na base da vertente.

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    Perdendo suporte, as formaes superiores movimentam-se ao longo do declive sob aco do seu prprio peso, constituindo um depsito de gravidade com topo aplanado e em forma de degrau ou rech, que nos Aores so designados por Fajs.

    Este fenmeno muito comum nas ilhas Flores e S. Jorge, onde existem arribas imponentes, constituindo o principal mecanismo responsvel pelo recuo da linha de costa. A estas fajs (de talude ou detrticas (Fig_54)) contrapem-se as fajs lvicas (Fig_39), quando uma escoada lvica avana mar a dentro, como o caso da faj lvica dos Mosteiros, na Ilha de S. Miguel, ou fajs como a do Ouvidor, Velas, Urzelina, Queimada, etc na ilha de S. Jorge.

    Os deslizamentos do-se preferencialmente ao longo dos nveis de separao entre escoadas lvicas, e a sequncia estratigrfica original muitas vezes preservada no depsito de gravidade final.

    Quando os movimentos deste tipo so de pequena magnitude, quando afectam formaes detrticas mveis e quando se envolvem alguma gua, so designados por quebradas (slumps). As quebradas esto quase sempre associadas a chuvadas intensas.Os movimentos de massa mais importantes nas vertentes vulcnicas so sem dvida, as movimentaes das vertentes devido a fenmenos de solifluxo.

    Estes fenmenos so os responsveis pela formao dos Lahars, i.e. mud flows (onde os detritos grosseiros esto ausentes ou poo representados) e debris flows (com elementos finos e grosseiros) de natureza vulcnica.

    Os fenmenos de solifluxo (liquefao) ocorrem quando as formaes detrticas, sobretudo cinzas, so saturadas em gua e tornam as vertentes instveis. Ultrapassando o limite de liquidez da formao, esta vai movimentar-se ao longo da superfcie do vulco, sob a forma de escoadas (ou fluxos) de lama ou de escoadas detrticas. Os depsitos da resultantes, ou seja os lahars, podem, ento, ser formados por materiais finos e grosseiros (em percentagens variveis), com mau sorting e podem incluir blocos de grandes dimenses, troncos de rvores, etc., arrancados ao substrato e elevados na enxurrada.

    Os lahars podem estar directamente associados a uma erupo vulcnica ou, pelo contrrio, podem ocorrer independentemente de um episdio eruptivo. No primeiro caso os lahars primrios - formam-se, por exemplo, devido s grandes chuvadas que acompanham muitas erupes vulcnicas explosivas, devido ao transbordo de um lago por uma abertura que se forma na depresso em consequncia da erupo ou, ainda, devido ao transbordo de um lago por uma abertura que se forma na depresso em

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    Fig_53. Escorregamento acivado por causa de fortes chuvadas, faj da Caldeira de Sto. Cristo, S. Jorge, Aores.

    Fig_54. Faj detrtica. Faj de Joo Dias, S. Jorge, Aores.

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    consequncia da erupo ou, ainda, devido rpida fuso de gelos e neve (glaciares) acumulados nas encostas de um vulco em actividade, como sucedeu em 1985, no vulco Armero, na Colmbia.

    No segundo caso os lahars secundrios a movimentao de materiais vulcnicos previamente saturados em gua (logo instveis), pode dar-se na sequncia de um abalo ssmico, como ter acontecido na destruio de Vila Franca do Campo (S. Miguel), devido ao sismo de Outubro de 1522.Movimentos de massa deste tipo podem ocorrer, tambm, na sequncia de precipitao excepcionalmente elevada, como aconteceu na regio das Furnas (Fojo) em Abril de 1996.

    As slumping marks so estruturas semelhantes a dobras que devem a sua origem a fenmenos de solifluxo (com deformao plstica) a menor escala. Podem ser observadas, por exemplo, nos cones de tufos (como o caso dos bonitos exemplares no Monte Guia, na Ilha do Faial) e em depsitos pomticos saturados em gua, que se depositaram em vertentes com uma certa declividade.Na morfognese das vertentes vulcnicas de referir, ainda, o importante papel desempenhado pelos processos morfogenticos pluviais, nomeadamente da escorrncia superficial, a qual responsvel por um ravinamento mais ou menos intenso das vertentes. Neste tipo de processos, assume primordial importncia a existncia, ou no, de uma cobertura vegetal protectora, que impea a concentrao das guas e, consequentemente, estabilize a vertente.Neste domnio, ser de destacar o papel que poder ser desempenhado pelo Homem, quer positivamente (promovendo a florestao ou reflorestao das vertentes), quer negativamente, destruindo o coberto vegetal e expondo as formaes geolgicas detrticas e mveis aco dos agentes erosivos.

    enquadramento geodinmico e geolgico dos Aores

    O arquiplago dos Aores, de origem vulcnica, encontra-se no Atlntico Norte, entre 3655' e 3943' de latitude norte e 2446' a 3116' de longitude oeste e formado por 9 ilhas e alguns ilhus. Emerge de uma rea com forma grosseiramente triangular, denominada Plataforma dos Aores, definida pela batimtrica dos 2000 metros (Needham & Francheteau, 1974). Dada a distribuio geogrfica das ilhas, estas agrupam-se da seguinte forma: Flores e Corvo - grupo Ocidental; Faial, Pico, Graciosa, So Jorge e Terceira - grupo Central; So Miguel e Santa Maria grupo Oriental (Fig_55).

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    Fig_55. Localizao geogrfica do arquiplago

    dos Aores e representao esquemtica

    da Plataforma dos Aores (modificado de Luis et al.

    1994, Nunes, 1999).

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    As principais estruturas tectnicas que afectam a Plataforma dos Aores so: a Crista Mdia Atlntica (CMA) (Fig_56); a Zona de Fractura Norte dos Aores (ZFNA); a Zona de Fractura Este dos Aores (ZFEA); a Zona de Fractura Oeste dos Aores (ZFWA) e o Rifte da Terceira (RT) (Fig_57).

    A CMA separa a placa americana das placas eurasitica e africana, apresentando uma direco N10E a norte do ponto de latitude 3850'N, a partir do qual inflecte para sul com a direco N10E - N20E (Searle, 1980). Ao atravessar o extremo W da Plataforma dos Aores, entre as ilhas das Flores e Faial, a CMA perde definio batimtrica (Ridley et al., 1974; Feraud et al., 1980), sendo a sua localizao apenas inferida pela distribuio de sedimentos marinhos e das anomalias magnticas (Krause & Watkins, 1970; Searle, 1980).

    A ZFNA situa-se a 39 30 de latitude norte, na regio em que a CMA est desviada para leste. A referida estrutura, de direco aproximada E-W, parece corresponder, segundo Searle (1980), a uma fractura sem caractersticas de falha transformante. A ZFEA desenvolve-se com uma direco sensivelmente E-W e estende-se desde Gibraltar at CMA, que intercepta aos 38N (Krause & Watkins, 1970; Abdel-Monem et al., 1975). Laughton et al. (1972) propuseram a designao de Falha da Glria para o segmento da ZFEA que se estende desde Gibraltar at s proximidades de Santa Maria, a 3648'N e 2430'W. Este segmento activo em quase toda a sua extenso (Udas, 1980). O estudo dos mecanismos focais permitiu concluir que a Falha da Glria apresenta movimentos do tipo desligamento direito ao longo de toda a extenso, excepto na zona do Golfo de Cdiz, onde possui uma componente compressiva N-S (Mckenzie, 1970). Segundo alguns autores, o segmento da ZFEA que se estende para W de Santa Maria at CMA, com direco E-W, sismicamente activo (Krause & Watkins, 1970; Forjaz, 1983 in Forjaz, 1997a; Nunes, 1991; Forjaz, 1994). No entanto, outros autores argumentam que este segmento inactivo (Laughton & Whitmarsh, 1974; Searle, 1980; Madeira & Ribeiro, 1990), ou quase inactivo (Udas, 1980; Buforn et al., 1988). A ZFWA desenvolve-se partir da latitude 38N e da longitude 32W e, embora com um ligeiro deslocamento para N, parece corresponder ao prolongamento da ZFEA para W da CMA (Krause, 1965).

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    Fig_57. Principais estruturas geodinmicas da regio Aores. CMA - Crista Mdia Atlntica; ZFNA - Zona de Fractura Norte dos Aores; ZFEA - Zona de Fractura Este dos Aores; ZFWA - Zona de Fractura Oeste dos Aores; RT - Rifte da Terceira; FG - Falha da Glria; MA - Microplaca dos Aores; EU - Placa Eurasitica; AF - Placa Africana; AM Placa Americana (in Frana, 2000).

    Fig 56_ Vista area (esquerda) e tomogrfica (direita) da Crista Meso-

    Atlntica. Centro de Vulcanologa e Avaliao

    de Riscos Geolgicos doa Aores.

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    Esta estrutura por vezes tambm designada, embora incorrectamente, por Zona de Fractura do Pico (Laughton & Whitmarsh, 1974; Udas et al., 1986; Buforn et al., 1988). Segundo Krause & Watkins (1970) trata-se de uma estrutura sismicamente inactiva, desconhecendo-se contudo a razo da actual inactividade (Ridley et al., 1974). O RT estende-se desde o extremo oeste da Falha da Glria, com uma direco WNW-ESSE, at ZFNA, que intercepta aos 39 20N e 28 50W (Searle, 1980). Sismicamente activo, coincide com o sistema de fracturas evidenciado pelo alinhamento das ilhas de So Miguel, Terceira, Graciosa e pelas bacias escalonadas (em echelon) que as intercalam (Searle, 1980). A dinmica geoestrutural da regio onde se insere o arquiplago dos Aores , pois, fortemente condicionada pelo facto de se tratar da zona de confluncia das placas litosfricas africana, americana e eurasitica (ponto triplo dos Aores), o que constitui um quadro geotectnico complexo e, em certos aspectos, controverso (Agostinho, 1932, 1935 e 1936; Machado, 1959a; Krause, 1965; Krause & Watkins, 1970; Mckenzie, 1970; Laugthon et al., 1972; Machado et al., 1972; Mckenzie, 1972; Udas & Arroyo, 1972; Laugthon & Whitmarsh, 1974; Ridley et al., 1974; Abdel-Monem et al., 1975; Udas et al., 1976; Feraud et al., 1980; Searle, 1980; Udas, 1980; Ribeiro, 1982; Forjaz, 1983, (in Forjaz, 1997a), Udas et al., 1986; Buforn et al., 1988; Madeira & Ribeiro, 1990; Miranda et al., 1991; Forjaz, 1994; Luis et al., 1994; Miranda & Luis, 1995; Loureno et al., 1998; Forjaz, 1999a) o que tem conduzido idealizao de vrios modelos geodinmicos para a regio. Estes modelos so concordantes relativamente ao limite estabelecido pela CMA entre a placa americana e as placas eurasitica e africana, bem como ao limite entre as placas eurasitica e africana definido pela Falha da Glria. As divergncias surgem na definio do limite entre estas duas placas na regio compreendida entre o sector a W da Falha da Glria e a CMA. Deste modo, para alguns autores (Krause & Watkins, 1970; Udas & Arroyo, 1972; Udas et al., 1976; Udas, 1980; Udas et al., 1986; Buforn et al., 1988), este limite materializa-se pelo RT (uma estrutura distensiva pura) o que implicaria uma juno tripla do tipo RRR. Outros investigadores (McKenzie, 1972; Laughton & Whitmarsh, 1974, Searle, 1980; Ribeiro, 1982) propem que a ligao entre a CMA e a Falha da Glria ocorre atravs de uma estrutura do tipo leaky transform, com eixo centrado na ilha de So Jorge ou no canal entre as ilhas de So Jorge e do Pico. O modelo da microplaca dos Aores idealizado por Forjaz (1983, in Forjaz, 1997a), considera uma microplaca triangular limitada a W pela CMA, a S pela ZFEA e a NE pelo RT; de acordo com este autor o jogo de tenses criados nos ltimos dois limites, conduziria a um regime de compresso oblquo na Falha da Glria. Trabalhos recentes (Miranda et al., 1991; Luis et al., 1994; Miranda & Luis, 1995; Loureno et al., 1998), sugerem que a regio tem sido controlada pelas variaes de movimento entre as placas americana, eurasitica, africana e a microplaca dos Aores, tendo ocorrido migrao progressiva para norte da juno tripla. Assim, e de acordo com os ltimos autores, este ponto teria migrado, num perodo anterior aos ltimos 10 Ma, desde a ZFEA at Zona de Fractura Princesa Alice, desta para a Zona de Fractura Aor, e actualmente para a Zona de Fractura do Faial, tendo esta migrao mais recente sido responsvel pela edificao (num ambiente de leaky transform) de duas das mais jovens ilhas do arquiplago: Faial e Pico (Fig_58).

    Como consequncia da sua localizao, os Aores tm sido fortemente afectados por sismos. Essa actividade est bem documentada atravs de numerosos relatos histricos e, mais recentemente, atravs dos registos instrumentais (Fig_59).

    Os sistemas Faial-Pico e Graciosa-Terceira-So Miguel so os principais elementos tectnicos geradores da sismicidade no arquiplago (Nunes, 1999). Machado (1948) refere a existncia de uma periodicidade ssmica em ciclos maiores (de 32 anos) e menores (de 10.7 anos) que alternariam entre os sistemas Faial-Pico e Terceira-So Miguel, com um intervalo de 5 a 7 anos (Machado, 1973). Forjaz (1985 in Nunes et al., 1992) sugere um intervalo de recorrncia tpico de 7 a 9 anos para as crises ssmicas no arquiplago.

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    Fig_58. Esquema simplificado da regio dos Aores com as diferentes zonas de fractura. ZFF Zona Fractura do Faial; ZFA Zona de Fractura Aor; ZFPA - Zona Fractura Princesa Alice; ZFP - Zona Fractura do Pico (modificado de Luis et al., 1994).

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    geologia e geomorfologia da ilha de so jorge

    A ilha de So Jorge desenvolve-se segundo a direco WNW-ESE ao longo de 55 km, tem largura mxima de 6.75 km e 246 km2 de rea. Nesta ilha distinguem-se duas regies: uma oriental, com formas de relevo bem definidas e outra, ocidental, notoriamente mais antiga e formas esbatidas pela eroso (Fig_61). Ao longo da costa de So Jorge, contrastando com as arribas altas e escarpadas, observam-se com frequncia formas aplanadas com cotas baixas, as fajs, umas de natureza lvica e outras detrticas. Contrariamente s restantes ilhas do arquiplago, So Jorge no apresenta um aparelho vulcnico central, sendo o seu vulcanismo predominantemente do tipo fissural e efusivo, tendo originado essencialmente escoadas lvicas baslticas s.l. predominantemente do tipo aa e depsitos piroclsticos

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    Fig_59. Cartas epicentrais dos Aores, referentes aos perodos 1980-1988 (a) e 1989-1998(b) (in Nunes, 1999).

    Fig_60. Mapas de isossistas de sismos sentidos nos Aores desde o seu povoamento (modificado de Agostinho, 1927; Machado, 1949, 1959b; Machado & Forjaz, 1964, Machado, 1966; Machado & Silveira, 1982; Machado et

    al., 1991; Nunes et al., 1999a; Senos et al., 1998).

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    que, de um modo geral, esto confinados aos cones de escrias (Forjaz & Fernandes, 1975; Madeira, 1998). Segundo estes autores, encontram-se tambm produtos vulcnicos associados a erupes freato-magmticas e, de acordo com Madeira (1998), alguns depsitos de escoadas piroclsticas, anteriores ao povoamento. De interesse particular so as referncias ocorrncia de nuvens ardentes durante as erupes de 1580 e 1808, em documentos da poca (Weston, 1964; Krafft, 1993; Fig_62).

    Materiais geolgicos

    No quadro geolgico da ilha temos a considerar algumas rochas; ele compe-se de rochas vulcnicas lvicas, materiais piroclsticos, tufos vulcnicos e de depsitos sedimentares de origem vulcnica que constituem os materiais dos escombros da base das encosas e vertentes, e os depsitos de desabamento das Fajs de talude (Soares de Albergaria Moreira Lopez, M. E., 1970.);

    1_ As rochas lvicas, em mantos de origem efusiva (Fig_52) ou em files de tipo intrusivo que geralmente preenchem as chamins e as fractura (Fig_47 at Fig_50), ou so basaltos ricos em feldspato, olivina e augite, por vezes at apresentando fenocristais desses minerais, ou so andesitos peridticos e todos os termos intermdios andesito-basalto; so de uma maneira geral rochas muito ricas em plagiclase. Formaes lvicas constituem o substrato de toda a ilha e a maior parte dos edifcios vulcnicos que ela comporta, regra geral alternando com camadas de escria e tufo. Mantos de lava recente das erupes histricas de 1580 e 1808 (Fig_61) podem-se tambm observar, formando os Mistrios das Velas, Manadas, Queimada e Urzelina.

    2_ Nos materiais piroclsticos temos a considerar os materiais de projeco das fases explosivas (Fig_26), que constituem cones de escrias, ora mais finas ora mais grosseiras, com blocos e bombas vulcnicas, depsitos de cinzas e grandes quantidades de bagacina (escria de medida lapilli) que se podem observar, por exemplo, nos funis da erupo de 1808 (Fig_61) e em cortes de cones como o Pico dos Loiros e o da Calheta.

    3_ Os tufos vulcnicos, resultantes da aglutinao dos produtos piroclsticos entram tambm na constituio de muitos edifcios vulcnicos. So notveis os cones de tufos palagonticos ou hialoclastitos das erupes submarinas perifricas s ilhas, que foram emergindo como o caso do Morro de Lemos e do Morro Grande das Velas (Fig_45), onde o mar talhou o escarpado em que se pode observar o corte do cone, mostrando a estrutura interna do vulco que teria emergindo depois de uma forte actividade explosiva. Hoje a chamin deste vulco ocupada por um filo lvico, assim como algumas fracturas radiais do cone. Sobre a cratera primitiva instalou-se um cone de piroclastos recente. Todos os materiais referidos at aqui so de natureza

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    Fig_61. Cartografia dos centros eruptivos de 1580 e 1808 da ilha de S. Jorge, indicando-se (sempre que possvel) a data dos eventos. Encontram-se representadas as estructuras tectnicas envolvidas naqueles episdios vulcnicos. As falhas que unem os centros eruptivos dos mistrios da Queimada e da Ribeira do Nabo so hipotticas. A igreja e capelas representadas so as referidas no relato da erupo de 1808. (Madeira, J., 1998)

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    andestico-basltica; piroclastos traquticos do tipo pedra pomes foram o