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S U M Á R I OFicha Técnica

Ano 22 – N.º 74 – Dezembro 2006

PROPRIEDADE:

Centro Editor Livreiro da Ordemdos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda.

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 1511749-084 Lisboa • Tel.: 218 427 100

Redacção, Produçãoe Serviços de Publicidade:

Av. Almirante Reis, 242 - 2.º Esq.º1000-057 LISBOA

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Directora Executiva:Paula Fortunato

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Redactores Principais:Miguel Guimarães, José Ávila Costa,

João de Deus e Paula Fortunato

Secretariado:Miguel Reis

Dep. Comercial:Helena Pereira

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Dep. Gráfico:CELOM

Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S. A.Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide

Depósito Legal: 7421/85Preço Avulso: 1,6 EurosPeriodicidade: Mensal

Tiragem: 32.000 exemplares(11 números anuais)

Ficha Técnica

MédicosREV

IST

A

Ordem dos

Nota da redacção: Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dosautores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos.

TSF - Na Ordem do dia

Parecer da OM sobre orga-nização e funcionamentodas Unidades de SaúdeFamiliar

12 Comunicado à imprensa

13 Competência emEmergência Médica- Assembleia Geral

14 Seminário: Quando começaa vida humana?- O contributo dos Médicos

16 Indicadores de workloadtécnico-científico noâmbito das períciasmédico-legais

I Congresso daComunidade MédicaLíngua Portuguesa

26 Entrevista: Luís Aires deSousa

28 Entrevista: Luís NunoFerraz de Oliveira

30 Ética Médica

32 Avanços terapêuticos: Quebenefícios para os paísesmenos desenvolvidos?

34 Formação e cooperação

36 Entrevista: EmbaixadorJosé Tadeu Soares

38 50 Anos de inscrição naOrdem dos Médicos

Despacho Mortalpor José Manuel Silva

44 Como despachar o SNSpor Isabel Caixeiro

46 “Primeira parte de umatrilogia: De 4 para 5%, ou atriste história em comocom INSENSATEZ eINABILIDADE se conseguetransformar uma pequenanuma ENORMEDIFERENÇA”por José M.D. Poças

50 É Luís Lourenço, umescritor tardio?por João-Maria Nabais

Direitos dos menores àInformação e aoConsentimento Informado

AGENDAGENDAGENDAGENDAGENDAAAAA56

CULCULCULCULCULTURATURATURATURATURA57

EDITEDITEDITEDITEDITORIALORIALORIALORIALORIAL4

INFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃO10

AAAAACTUCTUCTUCTUCTUALIDALIDALIDALIDALIDADEADEADEADEADE24

OPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃO42

CONSULCONSULCONSULCONSULCONSULTÓRIO JURÍDICOTÓRIO JURÍDICOTÓRIO JURÍDICOTÓRIO JURÍDICOTÓRIO JURÍDICO54

EDITEDITEDITEDITEDITORIALORIALORIALORIALORIAL7

4 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

E D I T O R I A L

CULTURASO fim do ano é a época dos balan-ços. No mundo moderno e global,com o impacto sobre a vida diáriada electrónica, já não se dá tanto poreles. Os computadores descarregamdiariamente, quando não horaria-mente, a situação das empresas, odeve e haver, as existências, os com-ponentes expressos ou nem tantodo passivo e dos activos.Em tempos passados, fim de ano erasinónimo de lojas fechadas, do sr.Teixeira da tabacaria, sem gravata, decabelos em desalinho, pilotando todaa família de portas adentro contan-do afanosamente os clips, lápis viarcoou borrachas e frascos de tinta.Estando definitivamente fora demoda esses hábitos prosaicos de fe-char portas e reflectir, há que acom-panhar os tempos e partir para opróximo ano confiante na sorte e namão invisível.Dando de barato que as decisões quenos importam estão defenitivamentetomadas, lá longe, nas zonas telúricasda nossa inacessibilidade, para quêpreocupações românticas e desgas-tes de lutas fora de moda. Há, pelocontrário, que ser moderno, dar tes-temunho dos tempos, calar onde forde tal mister e falar se, e só se, fordo agrado do poder constituído. Emmatéria de modernidade o mais im-portante «aquis» é a compreensãodo circunstancial, da temporalidademínima do instante mediático (úni-co que existe), da necessidade dodesfrutar nadando onde ele se en-contra – à superfície.Contextualizado nesses termos oano findo foi um ano igual a tantosoutros:Para cumprir o seu destino e comoalguns «amigos» por certo já se en-

carregaram de postular: - «A Ordemcontinuou a nada fazer, cedente aoMinistério porque movida por inte-resses inconfessáveis». Por outrolado e fazendo jus à sua vocação peri-patética os «salvadores da pátria»continuaram a percorrer o País, ba-tendo, em busca de apoios, às por-tas mais insuspeitas, prometendo a«Mudança» para quando por fim sesentassem ao timão deste pobre edesgovernado barco......Enquanto tal...O Ministro, pelo menos durante otempo em que se entreteve com ou-tras guerras, foi fazendo juras de fi-delidade aos critérios técnicos, deouvir o imenso saber dos profissio-nais, de governar com os médicos enão contra estes.Em Fevereiro outorgou por porta-ria as funções na área da formaçãopos-graduada aos médicos, cometen-do-as à Ordem.Em Março prometeu alterar a recei-ta médica garantindo a sua inviola-bilidade.Pelo caminho e a contracorrentelembrou-se de derivar para uma eté-rea entidade reguladora as funçõesque cabem ao Governo, o que levoupor empréstimo algumas já consig-nadas às Ordens e outras que sãoda atribuição da Inspecção-Geral.Aproximando-se o final de ano e sen-do necessário encher atempada-mente o saco do Pai Natal para nãocansar demasiado as renas na épocafestiva, lá foi prometendo antiretro-virais nas farmácias de oficina, inter-rupções de gravidez a pedido e gra-tuitas no SNS ou em privados con-tratados para tal, taxas moderado-ras salvadoras da sustentabilidade fi-nanceira do SNS e a reforma reden-

tora das USF (resolução definitiva epara todo o sempre dos problemasdos Centros de Saúde) e, já agora,dos cuidados continuados.Encerradas que foram as maternida-des em «virtude de critérios técni-cos e sem qualquer razão economi-cista» partiu-se para outra, isto é,para o encerramento dos SAP en-volvidos na roupagem bem maisfolgada da restruturação das urgên-cias. Mais uma vez os critérios técni-cos e a adequada Comissão designa-da para o efeito seguindo-se as deci-sões dentro dos igualmente adequa-dos momentos.Não fora um ou outro precalço, dir-se-ia que na história recente de Or-dem e Ministério da Saúde nenhumano se encerraria com tão prazen-teiro saldo. Só que, mesmo manten-do-nos, como prometido, à superfí-cie ou como em título de filme re-cente com os «eyes wide shut», nãoé possível escamotear alguns peque-nos números da contabilidade final.Não é possível esconder, tanto maisque a contabilidade criativa mais tar-de ou mais cedo expôe-se em todaa sua crueza, que o digam os gestoresda Enron, e sendo o final de 2007ano de apresentar contas há que ga-rantir transparência fiscal.Pode, evidentemente, o Sr. Ministrolevar um bolo-rei e umas garrafas deespumante aos profissionais escala-dos num serviço de urgência da ca-pital umas horas antes da consoada,e fazer-se para tal acompanhar da te-levisão pública. Pode o Sr. Ministrogarantir que o facto de, na filmagem,à sua volta só se encontrarem doismédicos, um deles o director do ser-viço de urgência, se deveu à necessi-dade de não perturbar o serviço, mas

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Pedro NunesE D I T O R I A L

não consegue impedir que algumasmás-linguas vejam em tal quase clan-destinidade a palidez da sua estrelaentre os profissionais.Alguns precalços do ano findo esta-riam assim a ter consequências, o quepara muitos, menos crentes na be-nignidade dos ministros em geral ede Correia de Campos em particu-lar, mais não seria que o despertarpara a evidência dos mais distraídos.Para esses impenitentes desconfia-dos quando em Agosto o Ministroafirmou nunca ter ido a um SAP nemautorizar tal frequência a seus pais,não teria cometido qualquer gafe oudeslize mas tão simplesmente de-monstrado o seu tacticismo ou prag-matismo cínico que não hesita quan-do se trata de alcançar objectivospolíticos.Desconsiderar os médicos de famí-lia que ao longo dos anos têm asse-gurado em condições penosas,quantas vezes ilegalmente obrigadosa trabalhar abaixo dos mínimos tec-nicamente aconselhados, a urgênciade primeira linha fora dos grandescentros urbanos, não teria assimqualquer importância quando o ob-jectivo era poupar uns euros com oencerramento de serviços de aten-dimento. A perda de direitos, ou doquase nada que para muitos que vi-vem no interior alentejano, beirão outransmontano, é a presença abertado Centro de Saúde, não mereceriauma conversa franca em termos daprocura das melhores soluções mastão somente um «sound bite» paraimprensa consumir – estou-vos a li-vrar desses perigosíssimos SAP.Da mesma forma o que pareceria umpacífico debate em termos de políti-ca criminal, a despenalização do abor-to quando realizado à revelia do quea Lei prevê há vinte anos, tornou-sesubitamente um debate de Saúde Pú-blica quando Correia de Campos não

resistiu a lançar um apelo pungenteao «espírito democrático e progres-sista dos médicos» para que cum-prissem a Lei quando após o inevita-velmente vencedor «Sim» no refe-rendo ela fosse escrita. Perguntou-se o País da necessidade de trazerargumentos dos inflamados debatesdos anos sessenta para a resoluçãode problemas do século seguinte.Perguntámo-nos nós os médicos seseria deslize ou objectivo tentar tor-nar-nos no centro de responsabili-dade, nos culpados do que estava aser vendido como calamidade reac-cionária numa Sociedade enfim àbeira de ser salva pelo progressismodo nosso Ministério da Saúde.Outro pequeno deslize terá sidoaquele em que a criação de taxas mo-deradoras de internamentos e cirur-gias teria o elevado objectivo de le-var os doentes a pressionar os mé-dicos levando-os a dar-lhes alta ade-quadamente e só operando quan-do necessário.Com tantos deslizes e faltas de tac-to perante a comunicação social co-meça a estranhar-se a longevidadepolítica do nosso Ministro. Por umaanedota de mau gosto outro foi des-pedido e por muito menos outrosforam admoestados ou enfrentaramforte contestação social. Se os mé-dicos têm levado à letra tantasideossincrasias de há muito que asrelações com o Ministério se teriamdeteriorado.Perguntar-se-á mesmo se, teoria daconspiração, não será essa a vonta-de do próprio.Visto como estratégia e até comodesplante provocador o que bene-meritamente insistimos em conside-rar «falta de jeito», as coisas come-çam a fazer sentido:Em época de vacas magras há quefazer perder direitos, hábitos adqui-ridos, comodidades a que nos habi-

tuaramos. Fazê-lo é sempre doloro-so para quem de tal assume a res-ponsabilidade, pelo que não deve serde estranhar a vontade, mais oumenos assumida, de sacudir a águado capote. Tendo por adquirido queágua que se sacuda do nosso capote,no de alguém há de vir a cair, nadamais eficaz que seleccionar à partidaos responsáveis pela molha enquan-to vamos tranquilamente tentandopassar nos intervalos dos pingos dachuva.A política seria assim não a nobrearte de conduzir as sociedades masa esperteza saloia de fazer outrospagar as nossas facturas. Kissingerteorizou em tempos que os políti-cos antigamente se viam como esta-distas que conduziam os seus povospara amanhãs de glória e actualmen-te se consideravam estrelas credo-ras do aplauso geral dos cidadãosespectadores. Falta teorizar o tipopolítico deste Portugal de fim de sé-culo para quem o aplauso dependede varrer para baixo do tapete osinevitáveis efeitos colaterais das ac-ções empreendidas, como se todosos outros fossem imbecis que acre-

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ditassem haver soluções perfeitas e punissem os culpa-dos das imperfeições.Visto sob este ângulo, perigoso porque impeditivo deconvivências razoáveis que só podem ter alicerce na ver-dade e respeito mútuos, outra luz incide sobre factosrecentes cujos desenvolvimentos se farão sentir em 2007.Refiro-me, está bem de ver, à anunciada intenção de do-tar os hospitais de meios electrónicos de vigilância documprimento de horários e o inútil, perigoso e ilegaldespacho sobre incompatibilidades.No que concerne ao sistema modernaço da impressãodigital para controlar o horário de trabalho dos médi-cos, aliás na linha do que já era possível apurar pela uti-lização no serviço de urgência do programa «alert», aideia está em contabilizar a produção da unidade laboralmédico atento o tempo contratualizado com a institui-ção. Dir-se-ia que a necessidade de se dotar de tais sofis-ticados e caros meios de vigilância, sentida mesmo quan-do o sistema refreia gastos com medicamentos e outrassimilares inutilidades, identifica como um problema mai-or de gestão das unidades de saúde públicas o controloadministrativo dos médicos.Dando de barato o insulto que reveste para com os di-rectores de serviço, apontando-os a todos como incapa-zes de observar o trabalho dos médicos que dirigem, aassumpção em si mesma da utilidade da medida éreveladora de uma cultura. A cultura gestionária de quesó existe o que é mensurável e que a actividade dosmédicos se mede em consultas, cirurgias, exames ouquejandos actos executados. Nesta cultura gestionária oser humano óbviamente só existe enquanto algarismoque se transfere da coluna dos clientes para a colunados produtores consoante os casos.Nesta cultura a ética é incompreensível como incom-preensível o facto de um médico (agente de produção)dever lealdade para com o seu doente (cliente da unida-de de produção/hospital) e não para com a administra-ção (representante da empresa).É a mesma realidade, mais que qualquer outra malevo-lência, que subjaz ao famoso despacho das incompatibili-dades. De facto tal peça juridica carece aparentementede qualquer utilidade. Com efeito se o que se quer con-siderar incompatível é a direcção em simultâneo de ser-

viços que se possam imaginar competidores na sua ac-ção, nada faria prever a necessidade do despacho já queas administrações hospitalares são livres de nomear di-rector quem bem entendam.Se, pelo contrário e como decorre da letra do despacho,o que se visa é tornar genericamente incompatível oexercicio de quaisquer funções públicas ou em empre-sas públicas a quem tenha qualquer função de coordena-ção no sector privado como seja a do seu modesto con-sultório (há que perceber como foram os médicos obri-gados a registar-se na famosa e igualmente inútil ERS)então o despacho tem um objectivo profundo. Torna-se,por este facto, ilegal ao contrariar decretos pre-existen-tes, mas por se tornar não perde a sua significância emtermos do processo mental que levou à sua redacção.O que está em causa, mais uma vez e tal como no exem-plo anterior, é um conflito de culturas. Por um lado acultura médica que tem como base a responsabilidadeindividual, a liberdade e autonomia de decisão e o com-promisso perante o doente e por outro lado a culturaadministrativa/gestionária que tem por base a hierarquiae a subordinação individual aos interesses da empresa.Poderiamos divagar sobre como se derramam no tempohistórico de formas diversas este eterno conflito entre aliberdade e responsabilidade de base individual e as tesesmessiânicas de salvação pela irrevocável subordinaçãoabsoluta ao colectivo e aos intérpretes do seu interesse.Poderiamos abordar o conflito como a luta entre a liber-dade e a subordinação numa versão específica de umconfronto menos raro que se imagina entre Hipócratese Augusto. Poderiamos igualmente procurar encontrarsoluções enquadrando este debate naquele que é e serávital no amanhã imediato, isto é, como garantir a sobre-vivência do Homem num Mundo subordinado à eficiên-cia e à produção.Qualquer que seja a abordagem duas conclusões, infeliz-mente, são incontornáveis:A primeira é que o que parece separar-nos de Correiade Campos mais do que um arrufo, tacticismo oucircunstancialismo momentâneo é um real e profundochoque entre duas culturas.A segunda é que tais choques culturais levam habitual-mente a lutas sem quartel...

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E D I T O R I A LTSF – Na Ordem do Dia

II - 9 ·4 DezembroO Presidente da República de Cabo Verde aproveitou o IºCongresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa, quese realizou na cidade da Praia, para condecorar dois médicosportugueses, os Professores Aires de Sousa e Ferraz de Oli-veira, pelos serviços prestados à Saúde do País em muitosanos de desinteressada cooperação.Para além do simbolismo em termos de assunção des-complexada de um passado nem sempre grato de recordar,importa anotar a relação sem complexos de uma democracia,rara no contexto africano com os antigos colonizadores.É certo que a colonização e descolonização portugueses tive-ram caracteres sui generis, fruto, entre outros factores, dafalta de gente e poder económico e militar da “potência” co-lonizadora. Tais diferenças não obstam, no entanto, a que exis-tam feridas a sarar e a cura de tais maleitas passa por acçõessimbólicas mas também por muito trabalho desinteressado,respeitador das culturas e sem paternalismos.Dir-se-ia que a Saúde, com o universalismo das pessoas e dossofrimentos, é área privilegiada onde as diferenças se esbatem e apolítica dos interesses cede espaço para os interesses das gentes.Mas se tal é verdade também não deixa de ser certo queacções espontâneas, mal planeadas e assentes no voluntarismosaudosista dos sonhadores causam a longo prazo danosirreparáveis. Cabo Verde após a independência contava comtreze médicos. Angola conta hoje com mil e oitocentos parauma população maior e mais doente que aquela que os trintae quatro mil médicos portugueses assistem. Perceber estesnúmeros é perceber o muito que há para fazer mas tambéma facilidade com que se implantaram acções pouco consisten-tes e sem futuro articulado.Perceber é também não perder de vista que a riqueza, o enve-lhecimento e a carência relativa em profissionais característi-cos da Europa provoca uma irresistível atracção sobre osmédicos dos países em vias de desenvolvimento contribuindopara o agravamento da sua penúria.Perceber é ter como certo que para que a pressão migratóriase esbata é imprescindível o desenvolvimento e para tal que seimplantem democracias estáveis, tolerantes e não corruptasem todos os países. Em termos médicos é óbvio para quemesteve no Congresso que reuniu angolanos, cabo-verdianos,brasileiros, guinéus e portugueses, que o caminho do desen-volvimento passa por aproveitar a indiscutível facilidade que alíngua e o passado comum asseguram em termos de compre-ensão para a pôr ao serviço de acções efectivas e concertadas.Para tal ser possível é preciso perceber que o Brasil é uma daseconomias mais activas do Globo e tem interesses óbvios emÁfrica. É preciso perceber que Angola poderá ser a curto pra-zo uma potência regional incontornável. É preciso perceberque Portugal tem uma assimetria tecnológica, de conhecimen-to e organização que o torna imprescindível em qualquer ce-nário de desenvolvimento comum.Tal desenvolvimento passa por um trabalho sinérgico e deparceria entre todos os países aproveitando, sem complexosou quaisquer segundas intenções, o que cada um tem para

oferecer. Ajudar o desenvolvimento implica um espírito departilha e não um espírito de tutela ou de arrogância convencidada superioridade tecnológica.Os médicos presentes aceitaram, no seu âmbito, o desafio edelinearam estratégias de actuação imediata e a médio prazo.Resta saber quais as escolhas que enquanto País iremos fazer.Aos médicos não cabe produzir tais escolhas mas tão-somen-te mostrar disponibilidade crítica e de pés bem assente nochão para colaborar no que for desígnio nacional.Trabalhar a Sul não é fácil e o espírito poético arrisca-se asoçobrar perante realidades que trinta anos passados já sãoestranhos à maioria de nós. A alternativa para o País é, contu-do e aparentemente, aproveitar a benignidade do clima e ser-vir uns cafés aos reformados do Norte da Europa que enten-dam cá fixar residência…

II - 10 ·11 DezembroA notícia caiu como uma bomba. Segundo a Inspecção Geralde Saúde só quatro hospitais do país verificavam de acordocom a lei a assiduidade dos médicos. As ilações pareciam óbvi-as… Analisada com mais profundidade a constatação lá seconcluía afinal que a tal verificação de acordo com a lei era aque recorria a relógios de ponto ou idênticos apetrechos elec-trónicos, não valendo como método os tradicionais livros as-sinados.Também aparentemente não teria qualquer valor a verifica-ção presencial pelos directores de serviço nem o facto singu-lar de as cirurgias começarem todos os dias a horas predeter-minadas com as imprescindíveis equipas completas.Alguém, um dia, provavelmente recém-chegado de uma fábri-ca de parafusos ou maravilhado com um catálogo do BigBrother onde as impressões digitais ou o estudo da íris davamacesso aos documentos do Pentágono, despachou em confor-midade. Desde o tal despacho todos os hospitais ficaram ile-gais quando afastados dos prodígios das novas tecnologias.Um licenciado em gestão, habitual escriba num diário de eco-nomia, exultou com a descoberta e logo ali preconizou umfeliz mundo de produtividade acrescida quando todos em filaindiana fossem duas vezes ao dia passar o indicador ou o car-tão pelo terminal electrónico. A notícia, no entanto, não é nova.Já há alguns anos uma ministra resolveu pôr na ordem oscorrécios dos médicos, semeando relógios de ponto peloshospitais. O resultado foi inesperado – diminuiu drasticamen-te a produtividade, as relações hierárquicas e a autoridade dosdirectores de serviço ressentiu-se até hoje e as queixas dosdoentes aumentaram.Para perceber tão singulares resultados que aparentementevamos ter oportunidade de comprovar em tempos próximos,é preciso compreender a essência da profissão e o porquê dasua aversão a amanuenses.Com efeito aos médicos incutia-se tradicionalmente um ele-vado sentido ético de respeito pelas suas obrigações peranteos doentes. Transmitia-se de geração em geração a sua res-ponsabilidade individual e singular perante o doente concretoe singular sobre o qual agia. Subordinava-se assim qualquer

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relação hierárquica perante este dever singular, dificilmenteverificável ou mensurável.Se tal contexto assegurava ao médico um enorme poder eliberdade, que alguns chegavam a deixar desviar nos limites daarrogância, por outro lado tornava-o num controlador temí-vel. Controlando-se a si próprio de acordo com ditames mo-rais dificilmente escapava à análise crítica das próprias acções.É preciso que se compreenda que com a enorme assimetriade informação que o médico necessariamente possui perantequem a ele recorre e o isolamento em que os actos médicosdecorrem pouco é escrutinável do exterior.Tal situação deu origem obviamente a abusos. Tais abusos fo-ram desde sempre minimizados recorrendo-se ao escrutíniointer pares baseado na assunção comum da mesma ética plas-mada em códigos de deontologia. A imprescindibilidade dotrabalho médico como um trabalho de grupo garantia quequem infringisse as regras de comportamento do grupo tinhatudo a perder por ostracismo.Nas sociedades modernas, com a cultura dos números e dagestão, tais formas de controlo foram sendo consideradas ob-soletas e substituídas pela contabilização acrítica de actos comoconsultas, exames, cirurgias ou horas de trabalho. A verifica-ção de tal contabilidade passou a fazer-se por elementos ex-teriores à profissão, administradores ou simples mangas-de-alpaca. O médico foi assim progressivamente empurrado parauma cultura de funcionário, prestador de serviços avulso semresponsabilidade própria perante os doentes mas apenas res-ponsável por cumprir um trabalho técnico subordinado. Namedida em que o cumpra e aceite as regras do jogo, nada maisse lhe pede. As maravilhas electrónicas e do software tornam-se assim óptimas desculpas para um tremendo e perigosíssimojogo de faz de conta das quais as vítimas óbvias serão os doen-tes, isto é, mais tarde ou mais cedo – todos nós.

II -11 ·18 DezembroUm discreto despacho, de aparência pacífica agitou a comuni-cação social, pôs em confronto a Ordem dos Médicos e oMinistro da Saúde e arrisca-se a dificultar entendimentos ne-cessários sobre matérias relevantes.Exceptuando o carácter vagamente insultuoso de presumiralguma apropriação do interesse público por parte de médi-cos com funções de direcção, o despacho ao instruir as admi-nistrações hospitalares para que proíbam a acumulação defunções de direcção com o sector privado não parece mere-cer comentário. De facto no universo das empresas que hojeimaginamos ser o paradigma de tudo o que existe à face daTerra, o sagrado espírito da concorrência obriga mais que àprestação de trabalho a uma dedicação filial e a uma exclusivi-dade afectiva do tipo casamento monogâmico.Visto nestes termos o despacho integra-se no politicamentecorrecto, tanto mais que já ninguém hoje acredita que o bommédico é o que tem um grande consultório privado.Todos sabemos que o exercício privado depois de cumpridosos deveres públicos é para a maioria uma questão de especia-lidade, para muitos de necessidade e para alguns o preço a

TSF – Na Ordem do Dia

pagar pela liberdade. Acredito mesmo que, se pudessem, osmédicos trabalhariam como todas as outras pessoas, aprovei-tando as horas livres para descansar, ler ou passear.Uma análise mais cuidada do despacho levanta, no entanto,algumas perplexidades. Desde logo a sua inutilidade.Com efeito, a direcção de serviços não é, hoje, um lugar decarreira. Nos novos hospitais, SA ou EPE ou seja lá o que for, opoder discricionário do Conselho de Administração de no-mear ou demitir directores é absoluto.Não se percebe assim qual a necessidade de publicar um des-pacho a proibir aquilo que existe porque é autorizado caso acaso e só existe enquanto quem detêm o poder entenderdever existir. Não se percebe a menos que essa necessidaderesulte, como tem acontecido noutras ocasiões nem sem-pre felizes como a das célebres taxas de cirurgia e inter-namento, de uma estratégia de «lançar o barro à pare-de» para abrir caminho.O objectivo final seria colocar os médicos, por via dasincompatibilidades e do famigerado “interesse público”, numasituação de exclusividade obrigatória e não remunerada, tor-nando-os funcionários subservientes e obrigados de um úni-co patrão, público ou privado.As vantagens para quem manda seriam óbvias, as desvanta-gens para os médicos também, o que é menos óbvio é o queteriam a ganhar ou a perder aqueles para quem o sistema foicriado – os portugueses doentes.Não é difícil a futurologia.Em época de escassez, os privados competirão com vantagemcom o Estado atentas as condições miseráveis que este, desdesempre, ofereceu aos médicos. Com unidades bem apetre-chadas e carreiras estabilizadas no privado, todos os que pu-derem abandonarão os hospitais públicos, tanto mais quantohoje, com os contratos individuais, nem sequer a segurançalaboral lhes é oferecida.A breve trecho o que foi a grande conquista do Portugal de-mocrático – a possibilidade de todos, pobres ou ricos seremiguais na doença, sendo tratados pelos mesmos médicos nadependência unicamente de critérios técnicos – desaparecerá.Em pouco tempo, como já acontece em tantos países, existi-rão os médicos e a medicina dos tiverem dinheiro para a pa-gar e a medicina que será oferecida como esmola a quem nãotiver alternativa.Não quero, já que me considero inibido, tecer quaisquer co-mentários em termos de ideário político ou objectivos desolidariedade do Partido Socialista. Estritamente como médi-co não posso deixar de perceber que o que está em causa éuma profunda divergência ideológica e mesmo cultural.Se dúvida existisse bastaria recordar a expressão tão reveladorado Sr. Ministro – «não se pode servir a dois amos».O que aparentemente com tantos anos a trabalhar na área dasaúde Correia de Campos ainda não percebeu é que:– Quer seja contratado pelo Estado, pelo Privado ou pelosdois ao mesmo tempo, o médico só pode ter um “amo” paraquem trabalhe em exclusivo – o doente que em cada momen-to está na sua frente…

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I N F O R M A Ç Ã O

O Conselho Nacional Executivo analisou o ante-projectode Decreto-Lei que estabelece o regime jurídico da organi-zação e funcionamento das Unidades de Saúde Familiar, oregime remuneratório especial dos profissionais integradosna equipa multiprofissional da USF e o regime de incentivosa atribuir a todos os elementos que a constituem, ouviudetidamente vários colegas, nomeadamente os médicos dacarreira de Medicina Geral e Familiar que têm assento nosórgãos executivos da Ordem dos Médicos e tomou emconsideração o parecer do respectivo Colégio.

Ponderados os elementos de consulta, é parecer da Ordemdos Médicos:

1. O documento traduz a iniciativa de reforma dos cuida-dos de saúde primários, em si mesmo louvável.

2. O documento procura dar respostas particularmenterelevantes e positivas, como sejam o exercício da medici-na como um trabalho de grupo, a sua interdisciplina-riedade e multiprofissionalismo e, acima de tudo, a res-ponsabilidade assumida perante um conjunto de doen-tes, base da salvaguarda de direitos que a ética médicaconsubstancia.

3. O documento evidencia algumas insuficiências, falta deaudácia e compromisso excessivo com o facilitismo da suaimplantação no terreno.

Atento o exposto, a Ordem dos Médicos identificou comofactores de imprescindível correcção os seguintes:1. A não exigência da especialização em Medicina Geral eFamiliar para integrar e coordenar as USF. Trata-se de umapromoção totalmente inaceitável do exercício indiferenciadoda medicina, nomeadamente da sua especialidade charneira– a Medicina Geral e Familiar. Neste aspecto, o documentoora sujeito a análise, pouco difere do documento anterior,como o Decreto-Lei 60/2003 que mereceu o vivo e unâni-me repúdio de todas as organizações médicas. A não cor-recção deste aspecto levará inevitavelmente à oposição sis-temática da Ordem dos Médicos, chamando-se desde já aatenção para as suas implicações em termos de responsabi-lidades.

É imprescindível garantir a manutenção da mais valia que acarreira de Medicina Geral e Familiar e o exercício especi-alizado desta área do saber trouxeram aos portugueses. Apropugnação pela qualidade é uma tarefa que a todos nosenvolve não compreendendo a Ordem dos Médicos que

colegas e organizações responsáveis transijam em matériasdeste teor. Nesta conformidade, o n.º 2 do art. 12º deveráter a seguinte redacção: “O Coordenador da equipa é ummédico da carreira de clínica geral, especialista em MedicinaGeral e Familiar, com pelo menos, cinco anos de exercícioprofissional na categoria de assistente”.

2. Apesar de diluído no texto e não claro em termos deintenções, a Ordem dos Médicos reitera a sua oposição aqualquer forma de associação entre a remuneração dosmédicos e os gastos do sistema, nomeadamente a facturados medicamentos e exames complementares de diagnós-tico. Com efeito, a Ordem dos Médicos defende que emtermos éticos não pode o médico obter benefícios finan-ceiros daquilo que prescreve, o que impede, por exemplo, omédico de possuir farmácias ou dispensar medicamentos. AOrdem dos Médicos manter-se-á atenta à implementaçãodas USF, nomeadamente das contratualizações que vierema ser outorgadas e não hesitará em responsabilizar eventu-ais prevaricadores.

3. A Ordem dos Médicos demonstra, igualmente, a sua pre-ocupação pelas soluções encontradas para a organizaçãodas USF, com a identificação de um Coordenador e de umConselho Técnico. Cria-se, assim, numa pequena unidade,supostamente organizada em torno de um acto voluntáriode um grupo de profissionais que se conhecem e garantema sua boa articulação, uma hierarquia desnecessária, a mé-dio prazo geradora de tensões.

4. Não foram identificadas com clareza as necessidades deformação contínua, os tempos apropriados para essa for-mação e o apoio expectável para tais actividades imprescin-díveis. Ressalta do documento legal uma excessiva preocu-pação com a produção, um interesse evidente nas garantiasa conceder à entidade patronal e uma ligeireza na garantiade exercício de qualidade e personalizado.

5. A rigidez do documento legal é ainda evidenciada aocondicionar os horários, nomeadamente os dos fins de se-mana, parecendo em sede regulamentar negar a autonomiada organização, verdadeiro elemento diferenciador do novosistema que se pretende implementar.

A Ordem dos Médicos como é natural, não se pronunciarásobre matérias de estrito âmbito sindical e espera vercorrigidas as insuficiências apontadas no documento legalde forma a ser possível manter o apoio sempre demonstra-do a esta importante reforma.

Parecer da OM sobre organização e funciona-mento das Unidades de Saúde Familiar

12 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

I N F O R M A Ç Ã O

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRC-OM) tem pautado a sua postura por uma política de coo-peração, de acompanhamento atento, de intervenção pon-tual e de visita aos vários Distritos Médicos do Centro erespectivas instituições de saúde. Esta filosofia tem permiti-do contactar no terreno com o agravamento das dificulda-des sentidas pelos profissionais de saúde em prestar umserviço de qualidade aos doentes. As sucessivas, desgarra-das e desmotivadores medidas tomadas pelo Ministério daSaúde fazem sentir os seus efeitos negativos. Os grandesprejudicados são os doentes. O Hospital de Aveiro, visitadoeste mês já por duas vezes, não sendo caso único, é umexemplo da agudização das disfunções do Sistema de Saú-de.É um arreigado hábito dos portugueses esconder os pro-blemas para não afrontar consciências, trabalhar mais paraa imagem pública e para a manipulação de números e esta-tísticas do que por objectivos reais e transparentes de ges-tão. Nomeiam-se Conselhos Consultivos Externos para afotografia jornalística, mas são desprovidos de verdadeiroconteúdo e eficiência, inauguram-se novas instalações hos-pitalares, mas não se cuida supri-las de profissionais de saú-de, compram-se equipamentos caríssimos, mas não se pro-grama o seu funcionamento, constroem-se novas urgênciasnos Centros de Saúde, para as fechar em seguida, instalam-se equipamentos de telemedicina, mas não se criam meca-nismos para que funcionem, etc., etc., etc.A SRC-OM, conscientemente, decidiu dizer que o Rei vainu e, em defesa dos doentes e dos técnicos de saúde, ex-pressar publicamente as profundas preocupações que re-sultaram das visitas ao Hospital de Aveiro.A impressionante falta de recursos humanos, a enorme einaceitável instabilidade laboral, com vários responsáveis mé-dicos a apresentar pedidos de demissão, as deficiências téc-nicas, a antiguidade e desadequação das instalações, as me-didas de gestão contraditórias e sem propósito, o raciona-mento, a irracionalidade na referenciação de doentes, no-meadamente na área da cardiologia e oncologia, têm gravesconsequências e penalizam os doentes e os sacrificados pro-fissionais de saúde.Particularizando, neste momento o Hospital de Aveiro atra-vessa duas situações especialmente inquietantes.- No serviço de Medicina vários doentes estão infectadoscom uma bactéria hospitalar multi-resistente aos antibióti-cos.- O serviço de Ortopedia, que tinha um funcionamentomodelar e sem lista de espera, foi destroçado pelainqualificável medida do Ministro da Saúde de querer redu-zir para valores irrisórios e indignos o pagamento das ho-

ras extraordinárias na urgência.Em meados de 2006, o Ministro retirou o justo pagamentodas horas extraordinárias pela tabela máxima e afirmou queos Médicos em 35h iriam deixar de ser obrigados a fazerhoras extraordinárias; parecia considerar geniais estas duasdecisões, convencido que iria poupar milhões à custa dotrabalho dos Médicos.Como qualquer um perceberia, as consequências da conju-gação destas duas medidas com a actual falta de recursoshumanos seriam desastrosas, como foram, para as institui-ções hospitalares. Saturados de serem continuadamente tãovilipendiados pelo Ministro, os Médicos sentiram chegar aaltura de moderar o sacrifício pelo bem comum e começa-ram a recusar-se a fazer horas extraordinárias.Foi o que aconteceu com a Ortopedia do Hospital de Aveiro.Afinal, aqueles Médicos que o Ministro tentava fazer a opi-nião pública acreditar que só faziam horas extraordináriaspara ‘enriquecerem’, deixaram de as fazer! Foi o caos, quelevou a que a ARS do Centro chegasse a dar a incrível or-dem para que as escalas de Ortopedia se fizessem, se ne-cessário, com um único Médico!O Conselho de Administração contratou uma empresa defornecimento de mão-de-obra Médica para fazer face à ca-rência em Ortopedistas. Para além dos custos económicosmuito mais elevados, verificaram-se as naturais consequênciasda contratação de profissionais exteriores às instituiçõespara efectuar serviços pontuais.Os doentes traumatológicos, que até então era operadosde imediato no serviço de urgência, quando a empresa estáde ‘serviço’ passaram a ver essencialmente adiada a sua in-tervenção em muitas situações, sendo internados para ci-rurgia ortopédica posterior. Daí poderão decorrer prejuí-zos, havendo já um processo de inquérito a decorrer naSRC-OM.Para além do mais, o facto dos Ortopedistas do Hospital severem obrigados a operar na rotina os doentestraumatológicos desorganizou todo o funcionamento in-terno do Serviço, com o disparar de uma lista de esperaque, até então, não existia!Com a divulgação pública de alguns dos problemas que afli-gem o Hospital de Aveiro, mas que não lhe são exclusivos, aSRC-OM pretende chamar a atenção da opinião públicapara os graves problemas de gestão que continuam a afec-tar o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde.Os Médicos estão saturados de serem apontados como osculpados de tudo o que de mau se passa na saúde.É necessário dizer, de uma vez por todas, que o problemado SNS não é o financiamento mas sim a falta de compe-tência e qualidade na sua Gestão. Mas é evidente que os

COMUNICADO À IMPRENSASecção Regional do Centro da Ordem dos Médicos

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 13

responsáveis pela má gestão do SNS, do Ministério da Saú-de a muitos dos gestores e administradores por ele nome-ados, preferem atirar sempre as culpas para o financiamen-to e para os profissionais da saúde!Acreditamos que Portugal e os Doentes beneficiariam deum outro tipo de política de saúde.

A SRC-OM, 15/12/06

PS.: Este comunicado foi enviado para a comunicaçãosocial a 15/12/06. Na sua sequência gostaríamos de apelara todos os Colegas para que comuniquem à Ordem todas asdisfunções do sistema e instituições de saúde que sejam doseu conhecimento. É altura de serem os Médicos adenunciar pro-activamente o que está mal e dizer, alto ebom som, que a responsabilidade radica nos erros de gestãodos sucessivos Governos.

Competência em Emergência MédicaASSEMBLEIA GERAL

CONVOCATÓRIA

Nos termos da alínea e) do Artigo 10º do Regulamento das Secções de Subespecialidade e das Comissões deCompetência e do Artigo 7º do Regulamento Geral dos Colégios das Especialidades convoco os médicos detento-res do título de Competência em Emergência Médica para a Assembleia Geral a realizar na Casa do Médico daSecção Regional do Norte, no Porto, no dia 26 de Janeiro de 2007, pelas 15 horas, com a seguinte

ORDEM DE TRABALHOS1º - Informações2º - Relatórios de actividade ou progresso dos Grupos de Trabalho e Comissões de Acompanhamento a funcionarno âmbito da Competência:• Boas Práticas em trauma• DAE por não médicos• Organização dos Serviços de Urgência• Medicina de Catástrofe• Formação em Cirurgia de Emergência3º - O envolvimento de não-médicos no Socorro e o controlo médico da Emergência• Mesa Redonda• Debate

Pel’A Comissão Técnica da Competência em Emergência MédicaO Presidente

Carlos Mesquita

I N F O R M A Ç Ã O

14 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

I N F O R M A Ç Ã O

SEMINÁRIOQUANDO COMEÇA A VIDA HUMANA? – O CONTRIBUTO DOS MÉDICOS

AUDITÓRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS, LISBOA 2 E 3 DE FEVEREIRO DE 2007

DIA 2 DE FEVEREIRO

9.00horas Abertura

Sessão IModerador: WALTER OSSWALD

[Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto]

9.00-10.30horasPalestrantes: MARIA DO CÉU MACHADO

[Professora de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; Alta Comissária para a Saúde]LEONOR PARREIRA

[Professora Catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; Responsável pela Unidade deBiologia Hematopoiese do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa]

11.00-12.30horasPalestrantes: MICHELL DETILLEUX

[Professor de Medicina Interna da Universidade de Paris; Ex- Chairman do Sub Comité de Ética do CPME;Consultor da Comissão Europeia]

GONZALO HERRANZ

[Professor Catedrático Honorário; Presidente do Comité de Ética e Deontologia Médica da Universidade de Navarra]

12.30-14.00horas Almoço

Sessão IIModeradora: ISABEL CAIXEIRO

[Presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos; Presidente da União Europeia dos Médicos deClínica Geral – UEMO]

14.00-15.30horasPalestrantes: ANTÓNIO PEREIRA COELHO

[Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; Vice Presidente da Sociedade Portu-guesa de Ginecologia]

ANA AROSO

[Presidente do Conselho Disciplinar Regional do Norte da Ordem dos Médicos; Presidente da AssembleiaRegional do Norte da Associação do Planeamento Familiar]

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 15

I N F O R M A Ç Ã O

16.00-17.30horasPalestrantes: MICHAEL WILKS

[Chairman do Sub Comité de Ética do CPME; Ex Chairman do Comité de Ética da British Medical Association –Associação Médica Britânica]

EVA NILSSON BÄGENHOLM

[Chairman do Comité de Ética da Associação Médica Mundial – WMA, Presidente da Sveriges Läkarförbund –Associação Médica Sueca]

DIA 3 DE FEVEREIRO

Sessão IIIModerador: CIPRIANO JUSTO

[Especialista em Saúde Pública; Professor Universitário]

9.00-10.30 horasPalestrantes: DANIEL SERRÃO

[Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Membro do ComitéDirector de Bioética e Presidente do Grupo de Trabalho para o Protocolo de protecção do embrião e do feto huma-

nos do Conselho da Europa; Membro da Academia Pontifícia para a Vida (Santa Sé)]H. VILAÇA RAMOS

[Coordenador do Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médicas da Ordem dos Médicos; Co-Fundador doCentro de Estudos de Bioética; Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra]

11.00-12.30horasPalestrantes: MIGUEL OLIVEIRA DA SILVA

[Professor de Ética Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa]JOÃO PAULO MALTA

[Presidente da Comissão de Ética do Hospital CUF- Descobertas]

12.30-14.00horas Almoço

Sessão IVModerador: PEDRO NUNES

[Presidente da Ordem dos Médicos]

14.00-15.30horasPalestrantes: JOSÉ A. RUEFF TAVARES

[Professor Catedrático de Genética da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa; ViceReitor da Universidade Nova de Lisboa]

JORGE SEQUEIROS

[Presidente do Colégio de Genética Médica da Ordem dos Médicos; Professor Catedrático do Instituto deCiências e Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto – ICBAS]

16.00HorasEncerramento: PEDRO NUNES

[Presidente da Ordem dos Médicos]Comentadores: ANTÓNIO SARMENTO

[Professor Catedrático da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho; Director do Serviço deDoenças Infecciosas do Hospital de S. João; Presidente do Colégio de Especialidade de Doenças Infecciosas da Ordem

dos Médicos, Presidente da Associação dos Médicos Católicos]ROSALVO ALMEIDA

[Coordenador dos Gabinetes do Utente Regional da Administração Regional de Saúde da Zona Norte; Especia-lista em Neurologia e Neurofisiologia Clínica]

16 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

I N F O R M A Ç Ã O

I. INTRODUÇÃO

Como especialidade médica de grande exigência e respon-sabilidade que é, o exercício de Medicina Legal, à semelhan-ça das outras especialidades, tem que se fundamentar emprincípios que importa ter sempre presentes:

- A qualidade, que além de princípio é também umobjectivo. Pretende-se com ela obter níveis altos de exi-gência em todas as fases das perícias: recepção e identifica-ção dos cadáveres ou identificação do(a)s examinando(a)s;processamento/selecção da informação social ou clínica;cumprimento de protocolos de todas as técnicas e proce-dimentos adoptados; registo de todos os dados obtidos emsuporte informático de forma a ser possível a avaliaçãoobjectiva e periódica da qualidade de trabalho, tendo sem-pre em vista servir a Justiça.

- A segurança das pessoas, dos equipamentos, dosprocedimentos e do ambiente como garantia de trabalhoem local adequado com menores riscos para a saúde dosutentes e dos profissionais e que se repercuta de formapositiva nos elementos da comunidade a quem, no seu pa-pel auxiliar da Justiça, a Medicina Legal, como ciência emi-nentemente social, tem que dar resposta.

- A formação contínua de todos os técnicos, comogarantia de melhoria da qualidade de resposta e de esforçopara melhorar e adequar os comportamentos e procedi-mentos à evolução do conhecimento. - A prevenção do “burnout”, relacionada com a so-brecarga de trabalho, situação que gera fadiga e diminuiçãode concentração, desmotivação e, consequentemente, pre-juízo para o trabalho e para a qualidade do mesmo. Preten-de o presente Documento de Trabalho, estabelecer a quan-tidade aconselhável de trabalho anual, em termos demanutenção de níveis de segurança, eficiência e eficácia.Em áreas tão distintas de intervenção médico-legal, comosão as que este documento de trabalho refere – uma quelida com vivos, outra que lida com cadáveres – não é possí-vel excluir os contextos de execução daquelas perícias, quevão desde as condições de espaço físico em que elas decor-rem, aos meios técnicos operacionais à disposição dos pe-ritos médicos, passando ainda pela diferenciação dessesmesmos peritos, uma vez que nesta área interferem tantoespecialistas em Medicina Legal, como outros médicos pe-ritos. Não se pode perder de vista também a influência dos

diversos contextos demográficos e sócio-culturais em quese insere a perícia.

II OBJECTIVOS

O presente documento visa definir um padrão orientadorque indique tempos – máximo, médio e mínimo – necessá-rios para a realização das diferentes perícias no âmbito daClínica Médico-Legal e da Tanatologia Forense – nos várioscontextos de actuação. Pondera Procedimentos Geraisde execução daquelas perícias (salvaguardando naturalmentealgumas especificidades), bem como diversos Factores deComplexidade inerentes à sua realização.

O cálculo deste tempo – Unidade Trabalho (UT) – pre-tende fixar a quantidade aconselhável de trabalho anual, deacordo com os condicionalismos resultantes dos “procedi-mentos gerais” e “factores de complexidade” adianteexplicitados – Anexos 1 e 2 e tendo como base um regimede trabalho de 35 horas semanais.

III METODOLOGIA GERAL

À semelhança do que anteriormente foi efectuado em di-versos Grupos de Trabalho, no sentido da harmonizaçãodos relatórios periciais para os diversos tipos de perícia, énecessário também, no contexto actual, fixar os procedi-mentos a executar – desde a admissão do examinando(a)/cadáver até ao envio do relatório final às entidadesrequisitantes – de modo a que possam ser estabelecidosnúmeros aconselháveis de rendimento do trabalho pericialconforme o “grau de complexidade” das perícias, com baseem “procedimentos gerais”.Considera-se, desde já, que para qualquer tipo de períciasmédico-legais, todos os procedimentos da execução daperícia são registados em suporte informático.Esta proposta é apresentada com base em “procedimentosgerais e comuns” a cada tipo de perícia nas áreas de ClínicaMédico-Legal e de Tanatalogia Forense. Identificaram-se aindao que se designou de “factores de complexidade” para cadaárea de intervenção, como adiante se explicará.Para ser possível estabelecer a quantidade aconselhável de

INDICADORES DE WORKLOAD TÉCNICO-CIENTÍFICO NO ÂMBITO DAS PERÍCIAS

MÉDICO-LEGAIS

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 17

I N F O R M A Ç Ã O

trabalho anual, propõe-se que o cálculo seja efectuado combase no número de dias úteis de trabalho durante um anocivil. Ao ano civil de 365 dias há a deduzir: 104 dias (fim-de-semana) + 10 dias de feriados nacionais + 2 dias de feria-dos religiosos (festas móveis) + 1 dia de feriado regional +25 dias de férias + 15 dias de formação profissional (con-forme consta na Lei), perfazendo um total de 157 dias, nãopodendo ser consideradas as faltas não previsíveis (tais comotolerância de ponto, faltas por doença, presença em Tribu-nal, regimes específicos de Trabalho, etc.). Contam-se, as-sim, com 208 dias de trabalho úteis.Propõe-se a Unidade de Trabalho (UT) como unidade degraduação que relaciona a complexidade com a duração detrabalho. Uma Unidade de Trabalho (UT) corresponde asessenta minutos, propondo-se que seja atribuída, de for-ma ponderada e de acordo com a sua complexidade, a cadatipo de exame – nas áreas de Clínica Médico-Legal e deTanatologia Forense – o valor de tempo considerado comonecessário para a execução de cada perícia.Estes padrões de trabalho não se aplicam aos médicos in-ternos do Internato Médico de Medicina Legal.Partindo dos 208 dias de trabalho/ano, já atrás calculados efundamentados, e considerando como referência o horáriode trabalho semanal de 35 horas, obtém-se uma carga ho-rária anual máxima de 1456 horas.Este tempo é reduzido em 10% (equivalente a 145 horas),o qual é destinado à valorização profissional individual(actualização científica, consulta de textos e trabalhos cien-tíficos com vista à melhoria da qualidade pericial e prepara-ção de trabalhos científicos ou outros necessários).Consideraram-se, seguidamente, duas situações: UnidadesFuncionais (Delegações ou Gabinetes Médico-Legais) ondedecorra formação de internos de especialidade (InternatoMédico de Medicina Legal) e Unidades Funcionais onde nãodecorram actividades naquele contexto. Designaram-se asprimeiras como Unidades Funcionais (UF) tipo A e as se-gundas como tipo B.Atendendo a que a formação de Internos exige uma gran-de disponibilidade dos profissionais nela envolvidos, isto é,dos respectivos orientadores de formação (quer no tempodispendido na realização prática de perícias e elaboraçãodo respectivo relatório, quer na orientação do programade estudo e supervisão de trabalhos de índole científica),entendeu-se que as 1311 horas/ano (1456 –145) deviamcontemplar esta actividade.Ao perito médico-legal que exerça as suas funções perici-ais também como orientador de internato médico, ao tem-po de trabalho pericial de 1311 horas deve ser reduzidoem 25%, para as actividades relacionadas com a orientaçãode internos (328 horas) ficando o restante exclusivamentededicado à actividade pericial individual do perito médico-legal (983 horas). O workload técnico-científico no âmbitodas perícias médico-legais deve incidir então, neste caso,sobre a carga máxima de 983 horas. Caso a actividade doperito médico-legal não inclua a orientação em contexto

de internato médico, o workload incidirá sobre a carga má-xima de 1311 horas.

IV CONCLUSÕES

Face ao atrás exposto, o número aconselhável de exames/ano a realizar por perícia na área da Clínica Médico-Legal será:

E o número aconselhável de exames/ano a realizar porperícia na área da Tanatologia Forense será:

PENAL

Dano corporal

Av. Estado de Saúde

2ª Perícia/Colegial

Parecer

P em UFAouB

401

547

401

401

PO em UFA301

400

301

301

CIVIL

Ex. Singular

Ex. Revisão

Junta Médica

Parecer

TRABALHO

P em UFAouB1602

1068

1602

801

PO em UFA

1201

801

1201

601

Investigacão do local c/exame do cadáver

Exame do Hábito externoAutópsiaPareceres

P em UFAouB

801

1602

267

267

PO em UFA

601

1201

200

200

Dano corporal

Casos

particulares

Crimes

sexuais

Parecer

PENAL

Maus-tratos em

Menores

Violência Conjugal

Av. Estado de

Toxicodependência

Menores

Adultos

Outros

P em UFAouB

2493

801

1068

801

401

801

534

801

PO em UFA1817

601

801

601

301

601

400

601

18 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

I N F O R M A Ç Ã O

ANEXO 1

METODOLOGIA ESPECÍFICA – CLÍNICA-MÉDICO-LEGAL

1.1 TIPOS DE EXAMENa área da Clínica Médico-Legal há a considerar os seguin-tes tipos de exames, tendo em conta a presença ou não do/a(s) examinado/a(s) e ainda, a necessidade de emissão depareceres sobre situações diversas para as quais não é for-malmente necessária a presença daquele(a):

- Presenciais;- Documentais de exames presenciais

prévios;- Parecer.

1.2. PROCEDIMENTOS GERAISForam estabelecidos Procedimentos Gerais, os quais seconsideram genéricos e associados à execução de qualquertipo de perícia na área da Clínica Médico-Legal, ressalvan-do-se algumas situações mais específicas para alguns tiposde perícia, como adiante se descreve:Exames Presenciais

• Análise da informação clínica, processual ou outrarelevante;• Entrevista do examinando/a com introdução dedados em suporte informático;• Avaliação do Estado Actual do examinando/a:queixas funcionais e situacionais;• Avaliação do Estado Actual do examinado/a:exame objectivo;• Realização de registos fotodocumentais;

• Realização de exames complementares: imagiologia,colheitas de material biológico e não biológico, etc.;• Registo sequencial dos elementos acima referidosem suporte informático;• Introdução dos dados no capítulo das conclusõespreliminares (se forem necessários mais elementospara a conclusão definitiva, em suporte informático);• Introdução dos dados em suporte informático noscapítulos da discussão e conclusões definitivas;• Gravação dos dados no suporte informático;• Correcção do relatório pericial,• Registo do tipo de relatório pericial;• Impressão do relatório pericial;• Leitura e revisão do relatório pericial;• Assinatura do relatório pericial.

Documentais de exames presenciais prévios• Análise da informação clínica, processual ou outrarelevante;• Importação do relatório presencial correspon-dente;• Introdução dos elementos clínicos ou outrossolicitados em conclusões preliminares de relatóriopresencial em suporte informático;• Introdução dos dados nos capítulos da discussão econclusões médico-legais em suporte informático;• Gravação dos dados no suporte informático;• Registo do tipo de relatório pericial;• Correcção do relatório pericial,• Impressão do relatório pericial;• Leitura e revisão do relatório pericial;• Assinatura do relatório pericial.

Parecer• Análise da informação clínica, processual ou outrarelevante;• Introdução de informação clínica e exames com-plementares de diagnóstico em suporte informático;• Introdução dos dados em suporte informático noscapítulos da discussão e conclusões;• Gravação dos dados no suporte informático;• Correcção do relatório pericial,• Registo do tipo de relatório pericial;• Impressão do relatório pericial;• Leitura e revisão do relatório pericial;• Assinatura do relatório pericial.

1.3. FACTORES DE COMPLEXIDADEPara ser possível definir níveis de complexidade nos tiposde exames atrás considerados, houve necessidade de avali-ar quais os momentos que, perante um exame de clínicamédico-legal, o fariam alongar no tempo, quer durante operíodo em que se estabelece o contacto directo com o(a)examinando(a), quer durante o período que o perito médi-co está a seleccionar e organizar os elementos, no sentido

P em UFAouB

200

401

C/ Autópsia

S/ Autópsia

PO em UFA150

300

E M B A L S A -MENTO

P em UFAouB

267

200

801

C/ Autópsia

C/ Autópsia anterior

P/ colheita de

material biológico e/

ou não biológico

PO em UFA200

150

601

EXUMA-ÇÃO

P em UFAouB

401

57

23

Osso completo

Esqueleto Humano

Mistura de várias

peças ósseas

PO em UFA300

43

17

EXAMESDE AN-TROPO-LOGIA

20 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

I N F O R M A Ç Ã O

de proceder à elaboração do relatório pericial. Assim, pro-põem-se os seguintes Factores de Complexidade:

Nesta conformidade, propõe-se a graduação da com-plexidade das perícias em Grau Baixo (1), Médio (2) eElevado (3).

A cada um dos Factores – F1, F2, F3, F4 e F5 – foiatribuído um valor entre 0 e 3. Consoante o somatóriodestes factores foram estabelecidos os seguintes interva-los – 0 a 4; 5 a 9; 10 a 15 – aos quais se associou um Graude Complexidade e, respectivamente, um factor de ponde-ração (1,2,3):

Foi, seguidamente, estabelecida uma fórmula atravésda qual se pretende obter um cálculo efectivo da duraçãoreal – Tempo Total (mínimo, médio e máximo) – de cadatipo de perícia:

Tempo Total (TT) = Factor de Ponderação (1, 2 ou3) X Tempo Mínimo

1.4. ÂMBITO DAS PERÍCIASAs perícias de Clínica Médico-Legal são efectuadas, essen-cialmente, no contexto do Direito Penal, Civil e do Traba-lho.Para cada um destes contextos é absolutamente necessá-rio que o perito médico conheça os pressupostos de avali-ação do dano corporal e os seus procedimentos específi-cos, tendo em conta o que se pretende, em termos deconteúdo e conclusões.Aborda-se cada contexto de avaliação individualmente, as-sociando relativamente à UT, os tempos mínimo, médio emáximo, de acordo com a fórmula já apresentada:

1 Portadores de perturbação mental, idosos, etc

De seguida, apresenta-se para cada tipo de exame o núme-ro anual de perícias, valor este que resulta da média arit-mética simples da soma dos valores obtidos para os tem-pos mínimo, médio e máximo (relativamente à UT), paracada contexto de avaliação, de acordo com o seguinte raci-ocínio:N= (X/A + X/B + X/C) / 3 sendoN = nº anual de perícias aconselhávelX = nº total de horas/ano (1311 ou 983)A = TT mínimo (TT Min em UT)B = TT médio (TT Méd em UT)C = TT máximo (TT Max em UT)(de realçar, tal como já foi indicado em “Factores de Com-plexidade”, que B = 2A e C = 3A).

ANEXO 2

METODOLOGIA ESPECÍFICA – TANATOLOGIAFORENSE

1.1. TIPOS DE EXAMENa área da Tanatologia consideram-se os seguintes tiposde exames:

– Observação do local com exame do cadáver

FACTORES DE COMPLEXIDADE– Clínica Médico-Legal

F1 – Informação clínica(quantidade, apresentação e selecção da mesma)F2 – Forma e tipo de Entrevista(crianças, idosos, portadores de perturbação mentalou dificuldades de comunicação)F3 – Situações que exijam particular pesquisae reflexãoF4 – Necessidade de reestruturação do relatórioF5 – Numero, Tipo e Sede das lesões/sequelastraumáticas

Intervalos

0 - 45 - 9

10 - 15

Grau Complexidade

BaixoMédio

Elevado

Factor dePonderação

123

ÂMBITO

PENAL

CIVIL

TRABALHO

TIPO

Danocorporal

Casosparticula-

res

CrimesSexuais

ParecerDano

corporalAv. do

Estado deSaúde

SegundaPerícia/Perícia

ColegialParecerExamesingular

Exame deRevisão

JuntaMédicaParecer

DESCRI-ÇÃO

Maus-tratosem menores

Violênciaconjugal

Av. do Estadode Toxico-

dependênciaMenoresAdultosOutros1

TempoMínimo

20’

60’

45’

60’

120’60’90’60’

120’

90’

120’

120’

30’

45’

30’60’

TT (em UT) Max.

1

3

2.25

3

63

4.53

6

4.5

6

6

1.5

2.25

1.53

Méd.

0.66

2

1.5

2

4232

4

3

4

4

1

1.5

12

Min.

0.33

1

0.75

1

21

1.51

2

1.5

2

2

0.5

0.75

0.51

22 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

de exames atrás considerados, houve necessidade de avali-ar quais os momento que, perante a realização de uma au-tópsia ou outro acto relacionado com a Tanatologia Foren-se, fariam alongar no tempo aquele tipo de trabalho, querdurante a perícia em que se recolhem elementos e se ob-serva o cadáver, quer posteriormente, quando o perito mé-dico está a seleccionar e organizar os elementos recolhi-dos, no sentido de proceder à elaboração do relatório pe-ricial.

Assim, elaboraram-se os seguintes factores de complexida-de:

Nesta conformidade, propõe-se proceder à graduação dacomplexidade das perícias em Grau Baixo (1), Médio(2) e Elevado (3).A cada um dos Factores – F1, F2, F3, F4 e F5 – foi atribuídoum valor entre 0 e 3. Consoante o somatório destes facto-res, foram estabelecidos os seguintes intervalos: – 0 a 5; 6 a11; 12 a 18 - aos quais se associou um Grau de Complexi-dade e, respectivamente, um factor de ponderação (1,2,3):

Foi, seguidamente, estabelecida uma fórmula através da qualse pretende obter o cálculo efectivo da duração real – Tem-po Total (mínimo, médio e máximo) – de cada tipo de perí-cia

Tempo total (TT) = Factor de ponderação (1, 2 ou3) X Tempo Mínimo

2.4. ÂMBITO DAS PERÍCIASAborda-se cada contexto de avaliação individualmente, as-sociando relativamente à UT, os tempos mínimo, médio e

I N F O R M A Ç Ã O

– Exame do Hábito Externo– Autópsia– Exumação – C/ Autópsia

– C/ Autópsia anterior– Só para colheita de material bioló-gico e/ou não biológico

– Embalsamamento– C/ Autópsia– S/ Autópsia

– Exames de Antropologia– Osso humano completo– Esqueleto Humano– Mistura de várias peças

– Parecer

2.2. PROCEDIMENTOS GERAIS NA REALIZAÇÃODE EXAMES PERICIAIS DE TANATOLOGIA FO-RENSEForam estabelecidos Procedimentos Gerais os quais se con-sideram genérico e associados à execução de qualquer tipode perícia na área da Tanatologia Forense, ressalvando-sealgumas situações específicas para alguns tipos de perícia,conforme adiante se descreve:

• Observação do local com exame do cadáver everificação de óbito;• Análise da informação clínica, processual ou outrarelevante;• Medidas pessoais de protecção e higiene pessoal;• Identificação do cadáver e registo dos dados;• Execução da Autópsia e concomitante registo dedados:o Exame do vestuário e exame do hábito externodo cadáver;o Exame do hábito interno;o Procedimentos/Técnicas específicos de autópsia;o Colheita de material biológico e/ou não biológico;o Colheitas para exames complementares de diag-nóstico e respectiva etiquetagem e preenchimentode requisição;o Exames fotodocumentais quando necessários;• Introdução em suporte informático dos dadoscolhidos durante a autópsia e outros• Elaboração do relatório de autópsia;• Gravação dos dados;• Correcção do relatório pericial;• Registo do tipo de relatório pericial• Impressão do relatório pericial;• Leitura do relatório pericial;• Assinatura do relatório pericial;

2.3. FACTORES DE COMPLEXIDADEPara ser possível definir níveis de complexidade nos tipos

FACTORES DE COMPLEXIDADE– Tanatologia

F1- Número, Tipo e Sede de lesões traumáticas/peças ósseas e dentáriasF2 - Procedimentos/Técnicas EspecíficasF3 - Situações que exijam particular pesquisa e re-flexãoF4 - Exames Complementares de DiagnósticoF5 - Exames DocumentaisF6 - Necessidade de reestruturação do relatório

Intervalos

0 - 56 -11

12 - 18

Grau Complexidade

BaixoMédio

Elevado

Factor dePonderação

123

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 23

máximo, de acordo com a fórmula já apresentada:

2Contempla esqueleto animal

De seguida, apresenta-se para cada tipo de exame o núme-ro anual de perícias, valor este que resulta da média aritmé-tica simples da soma dos valores obtidos para os temposmínimo, médio e máximo (relativamente à UT), para cadacontexto de avaliação, de acordo com o seguinte raciocínio:N= (X/A + X/B + X/C) / 3 sendoN = nº anual de perícias aconselhávelX = nº total de horas/ano (1311 ou 983)A = TT mínimo (TT Min em UT)B = TT médio (TT Méd em UT)C = TT máximo (TT Max em UT)(de realçar, tal como já foi indicado em “Factores de Com-plexidade”, que B = 2A e C = 3A).

I N F O R M A Ç Ã O

Grupo de Trabalho:Dr. Frederico Manuel Capitão PedrosaDelegação de Lisboa do INML e Membro do Conselho Directivodo Colégio de Especialidade de Medicina LegalDr.ª Graça Maria Pessa Baptista dos Santos CostaDelegação de Coimbra do INML e Membro do Conselho Directivodo Colégio de Especialidade de Medicina LegalDr.ª Luísa Maria Osório Duarte EirasDelegação de Lisboa do INMLDr.ª Maria Fernanda Coutinho RodriguesDelegação do Porto do INMLDr.ª Maria Beatriz Proença Simões da SilvaDelegação de Coimbra do INMLMestre Pedro Manuel Oliveira e Sousa de AlbergariaRezendeDelegação do Porto do INML

Coordenadora do Grupo de Trabalho:Dr.ª Maria Cristina Alves da Silveira RibeiroDelegação do Porto do INML e Membro do Conselho Directivodo Colégio de Especialidade de Medicina LegalAbril de 2006

TIPO

C/ AutópsiaC/ Autópsia

AnteriorP/ Colheita deMat. Biológico

e/ou NãoBiológico

C/ AutópsiaS/ Autópsia

Osso completo2

Esqueletohumano

Mistura devárias peças

DESCRIÇÃO

Observação dolocal c/exame do

cadáverExame do Hábito

externoAutópsia

Exumação

Embalsamamento

Exames deAntropologia

Parecer

TempoMínimo

60’

30’180’180’

240’

60’

240’120’120’

840’

2100’180’

TT (em UT) Max.

3

1.599

12

3

1266

42

1059

Méd.

2

166

8

2

844

28

706

Min.

1

0.533

4

1

422

14

353

BOLSA - EndocrinologiaFoi instituída uma bolsa com vista a promover e facilitar arealização de estágios em centros europeus de referênciana área de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo:Exchange in Endocrinology Expertise - Novo Nordisk& Section/Board of Endocrinology of the UEMS. Osestágios terão uma componente clínica e outra de investi-gação e a duração prevista é de 6 meses. As candidaturastêm que ser enviadas até dia 5 de Fevereiro de 2007.Para uma informação completa das condições de candida-tura consultar: www.ordemdosmedicos.pt

24 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

A C T U A L I D A D E

Luís Nuno Ferraz de Oliveira e LuísAires de Sousa foram condecoradospelos serviços prestados nas últimastrês décadas nas áreas de oftalmolo-gia e radiologia e que contribuírampara a melhoria da saúde em Cabo

Verde. A cerimónia teve lugar no Pa-lácio da Presidência da República nodia 27 de Novembro.No final da cerimónia Ferraz de Oli-veira agradeceu em nome dos doishomenageados a condecoração de que

foram alvo. «O povo cabo-verdiano éum povo treinado não nos formalismosmas sim na dura arte de viver e so-breviver contra todas as dificuldades. Aqui cultiva-se a vida para erguer umacomunidade que já hoje é espelho do

I Congresso da Comunidade Médicade Língua Portuguesa

Por ocasião da realização na Cidade da Praia do

I Congresso da Comunidade Médica de Língua

Portuguesa, o Presidente da República de Cabo

Verde, Pedro Pires, condecorou os médicos

portugueses Luís Ferraz de Oliveira e Luís Aires

de Sousa como forma de reconhecimento do

trabalho desenvolvido por ambos em cooperação

com os médicos e instituições cabo-verdianas. A

Revista da Ordem dos Médicos entrevistou os

homenageados a propósito desta distinção.

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 25

A C T U A L I D A D E

que é possível fazer a partir do nada.»Agradecendo as oportunidades dedesenvolvimento de trabalho que lheshaviam sido dadas, o agraciado não quisdeixar de referir que o Código Deon-tológico da OM de Cabo Verde é umalição de maturidade para todos.

26 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

A C T U A L I D A D EI Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

Entrevista

ROM – Que significado reveste parasi esta condecoração?

L.A.S. – A condecoração do SenhorPresidente da República deu-me, na-turalmente, uma grande satisfação. Omotivo da condecoração foi a minhaparticipação na formação de quadrosmédicos em Cabo Verde. Contudo nes-te quarto de século realizei outrasacções bem mais difíceis de concreti-zar e que me deram igual satisfação.

ROM – Pode nos falar sobre essasacções?L.A.S. – Por exemplo, o desenvolvimen-to do projecto do Ministério da Saú-de de Cabo Verde para a coberturatotal do território com equipamentode diagnóstico radiológico, programaesse que foi parcialmente financiadopela Gulbenkian. Ou um segundo pro-jecto, ainda em curso, para a criaçãode centros de documentação/bibliote-cas de saúde. O núcleo principal deste

projecto é a biblioteca do HospitalBaptista de Sousa.

ROM – Em que consiste exactamenteesse projecto?L.A.S. – Neste momento estamos aproceder à abertura de uma bibliote-ca virtual que permitirá o acesso di-recto a cerca de 33.000 publicaçõesem todo o mundo. Este trabalho estácentralizado numa plataformainformática, criada com o subsidio daFundação Calouste Gulbenkian, na Es-cola Superior de Saúde da Cruz Ver-melha Portuguesa da qual sou actual-mente o director. Além da bibliotecado Mindelo está a ser feita a ligaçãoaos centros de documentação/biblio-tecas do Instituto Dr. Sá Machado emSão Tomé, ao Instituto Superior deCiências da Saúde de Maputo, à biblio-teca da Faculdade de Medicina Eduar-do Monblanc de Maputo e ao Institu-to de Ciências da Saúde de Dili emTimor Leste.

ROM – Como analisa a existência deuma Comunidade Médica de LínguaPortuguesa?L.A.S. – Considero muito importantehaver uma conjugação de esforçosdentro das estruturas de saúde dospaíses da CPLP e sobretudo uma par-tilha dos meios mais sofisticados embenefício das zonas menos desenvol-vidas. Neste aspecto privilegio a im-portância do desenvolvimento das es-truturas de comunicação e dos meiosinformáticos.

ROM – Que balanço faz deste Con-gresso?L.A.S. – Antes do Congresso esperavaque fosse um êxito mas confesso queultrapassou as minhas expectativaspela excelência dos trabalhos apresen-tados e pela activa discussão duranteas sessões. Como facto negativo ape-nas tenho a assinalar a ausência derepresentantes e observadores depaíses e zonas importantes do mundoonde se fala a língua portuguesa comoé o caso de Moçambique, São Tomé ePríncipe, Macau, Goa e Timor Leste.

Luís Aires de Sousa

«Partilha dos meios mais sofisticados em benefício daszonas menos desenvolvidas»

28 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

A C T U A L I D A D E

ROM – Como se sente em relação àatribuição desta condecoração?L.N.F.O. – Eu dei muito do meu entu-siasmo profissional e de homo portu-guês às gentes de Cabo Verde paraapoiar o desenvolvimento dos cuida-dos de saúde visual nesta terra. Du-rante 10 anos ininterruptos com umaequipa de internos de oftalmologia, deenfermeiros, em que não posso dei-xar de invocar o incomparável Enfer-meiro Coelho e o técnico de ópticaVictor Aragonez, nós levámos o nossoentusiasmo, com a colaboração de téc-nicos locais, a todas as ilhas deste paísem que eu vi sempre (de uma formaquase poética) uma plataforma huma-na originalíssima implantada em plenoAtlântico, a meio caminho entre Por-tugal e o Brasil. Encontrei nesta genteecos deliciosos de humanismo e forçade viver em condições adversas. Da-qui retirei identificações insondáveis defilosofia de viver. Registei tudo. A mi-nha equipa fez quanto pôde. Deixá-mos grandes estimas e amizades.Imagine o que é nesta perspectiva re-ceber a notícia inesperada, vinda as-sim da tal plataforma do meio do Atlân-tico, uma ordem de chamada para acei-tar a expressão que senti sincera deum reconhecimento das gentes queajudámos, dos médicos oftalmologis-tas que ajudámos a formar, dos res-ponsáveis pela condução actual ao maisalto nível deste país de sonho tão realcomo imaginário…

ROM – Que sentiu nesse momento?L.N.F.O. – Tinha de me sentir, não éorgulhoso que esse é sentimento quenão mora em mim, mas reconhecidopor não ter sido esquecido todo oesforço que desencadeei com o apoiofinanceiro da Fundação CalousteGulbenkian e o entusiasmo do servi-ço universitário de oftalmologia daFaculdade de Ciências Médicas, Uni-versidade Nova de Lisboa, que eu di-rigia. É um facto que não devo ocultar:foi comovedora tal ideia. A todos osque a tornaram exequível o meu gran-

de e inesquecível bem-haja. É tudo oque posso dizer-lhe minha amiga.ROM – Como analisa a organizaçãodeste Congresso?L.N.F.O. – Foi uma resposta de ousa-dia formada por um misto de capaci-dade e perseverança e, digamos, de fé,tão características do ser cabo-verdiano. Pegaram na ideia, não larga-ram e realizaram em grande estilo, semqualquer experiência prévia de talmagnitude, um encontro médico a quechamaram I Congresso da Comunida-

de Médica de Língua Portuguesa, dedimensão intercontinental. É difícil fa-zer melhor e eu sei muito bem, porexperiência própria, o que estas coi-sas custam. Parabéns a todos. E paraquem, a nível superior, tem de tomardecisões que digam respeito à actua-ção desta gente, um sentimento deestima e de carinho, por aqueles quetanto se valorizam e esforçam para nãovirarem costas ao seu país e o ajuda-rem, teimosamente, a aperfeiçoar-se eseguir em frente.

Entrevista

Luís Nuno Ferraz deOliveira

I Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

«Um misto de capacidade, perseverança e fé,características do ser cabo-verdiano»

30 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

A C T U A L I D A D EI Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

Numa introdução à temática que mo-derou, e demonstrando como as fron-teiras são muitas vezes difíceis de es-tabelecer, João de Deus referiu quemuitas vezes actos que podem sermoralmente lícitos são eticamente dis-cutíveis. No entanto, se por um ladohá sempre novos desafios que se co-locam – terapêuticas genéticas,telemedicina, discussões novas sobre

temas recorrentes como o aborto, aeutanásia, etc. – por outro há na éticamédica valores intemporais milenarescomo o respeito pela vida ou o deverde não causar dano.Manuel Boal fez uma intervenção emque analisou o que se pensa e o quese faz em termos de ética em CaboVerde, tendo referido o CódigoDeontológico, as regras quanto a car-reiras e responsabilidade médica e ins-trumentos de âmbito social (que sereferem às condições, usos e costu-mes da sociedade). Especificamentequanto ao Código Deontológico cabo-verdiano foi explicitado que o mesmose divide em dois conjuntos de nor-mas: um primeiro conjunto que dizrespeito à ética médica e um segundoque se prende com o respeito pelasquestões sociais. «Para agir correcta edeontologicamente o médico deveestar imbuído de princípios morais e,acima de tudo, identificar-se com osmesmos», referiu o orador. Os princí-pios são aqui vistos como o reflexoda consciência do médico na relaçãocom o seu doente. Fazendo o pontoda situação quanto à ética médica emCabo Verde, Manuel Boal referiu: «Épreciso dizer-se que, tanto o Estatutoda Ordem dos Médicos como o Có-digo Deontológico da Profissão Médi-ca, em Cabo Verde, são documentosbem elaborados e encerram o neces-sário para a garantia dos valores eprincípios essenciais» e citou três pon-tos de referência: o reconhecimentodo direito à saúde de todos os cabo-verdianos, a independência no exercí-cio da profissão e o contributo para aevolução dos direitos do utente. Fa-zendo o contraponto com as obriga-ções sociais do médico, Manuel Boalreferiu: «o médico tem o direito aolivre diagnóstico e tratamento mas nãopode prescrever tratamentos demasi-ado onerosos ou de realizar actosmédicos supérfluos, deve ter em aten-ção as suas responsabilidades sociais».Convicto que muitos dos médicos que

infringem o Código Deontológico ape-nas o fazem «porque simplesmentenão o leram ou não lhe dedicaram adevida atenção» e que as suas infrac-ções não são deliberadas, Manuel Boalalertou para a necessidade de todosos médicos dedicarem tempo e estu-do a estas questões pois, por exem-plo, «observação clínica ligeira não éaceitável». «Nesse contexto, vai sernecessário que o Ministério da Saúdee a Ordem dos Médicos procurem amelhor forma de prevenir as mais gra-ves falhas no cumprimento das nor-mas estabelecidas e aceites, por umlado, ou que se concertem no sentidode se aplicarem, com rigor, as disposi-ções disciplinares previstas contra asmesmas».Esta intervenção terminou com umapelo ao cumprimento do CódigoDeontológico, quanto mais não sejapor respeito ao juramento que todosos médicos fazem ao entrar na profis-são e uma referência a uma sentençaproferida há 2400 anos por Escolápio:«Pensando bem, ainda estás a tempo.Mas se fores indiferente à fortuna, aosprazeres, à ingratidão; se sabendo quete verás só entre as feras humanas; setens uma alma bastante estóica parase satisfazer com o dever cumprido, esem ilusões; Se te julgares pago com afelicidade de uma mãe, com os lábiosque sorriem porque já não sofrem,como a paz de um moribundo a quemconseguiste ocultar a chegada da mor-te; se anseias conhecer o homem, pe-netrar em todo o trágico do seu des-tino, então faz-te médico, hoje mes-mo».Luiz Salvador de Miranda Sá Júnior, ooutro orador deste tema, realçou aimportância da ética referindo que atécnica humana sem ética «é uma ac-tividade criminosa». «A Ética, inclusive

É t i c a M é d i c aNo dia 27 de Novembro

decorreu a mesa subor-

dinada ao tema «ética

médica». Esta mesa foi

moderada por João de

Deus e contou com as

intervenções de Manuel

Rodrigues Boal (Cabo

Verde) e Luiz Salvador

de Miranda Sá Júnior

(Brasil).

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 31

A C T U A L I D A D EI Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

e Ética Médica, é uma necessidade davida social. Existe para substituir assoluções de força e proteger o maisfraco contra o mais forte». Luiz Salva-dor vai mais longe e refere que «a Éti-ca, a Moral, o Direito e a Medicina sãocriações humanas destinadas a satisfa-zer necessidades sociais, especialmen-te as dos mais vulneráveis».Sendo «a dimensão pedagógica éinseparável da atividade médica desdetempos imemoriais», e considerandoque a medicina se aprende por imita-ção, como foi defendido por esteinterveniente «os professores e osdemais médicos dos serviços de ensi-no são modelos». Sobre o caso espe-cífico do Brasil, foi explicado que seabriram facilidades de acesso a cursosde medicina tendo inclusivamente aca-bado por se ser algo negligente: «man-dámos estudantes pata a Bolívia parafaculdades privadas cujo curso nemsequer é reconhecido. Se se juntar aesta situação o facto de a tabela dehonorários não ser devidamente re-vista desde há doze anos e de o go-verno brasileiro estimular outras pro-fissões a exercer actividades que com-petem aos médicos, percebe-se a afir-mação de Luiz Salvador: «neste con-texto, discutir o tema da ética médicano Brasil é um espectáculo desurrealismo».No debate que se seguiu a estas apre-sentações trocaram-se experiências eopiniões quanto a negligência e erromédico, e respectivas diferenças, e de-bateu-se situações de conflito moralperante o dever de segredo. Isabelcaixeiro, Presidente do Conselho Re-gional do Sul da Ordem dos Médicosfoi uma das intervenientes no debatetendo referido que é natural que secoloquem dúvidas éticas na práticamédica mas que essa é precisamentea razão pela qual é essencial a leiturado Código Deontológico, e do estatu-to da Ordem onde o médico está ins-crito. «Temos que conhecer as nor-mas que nos regem. Não é imoral oupouco ético receber dinheiro pela prá-tica da medicina. Mas há regras paraas relações com colegas e doentes»,explicitou.

32 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

António Reis Marques enquadrou atemática em termos de formação eexplicou: «há uma grande pressão paraa procura de inovação mas essa pres-são é muitas vezes ditada por razões

de ordem económica e não por avan-ços da terapêutica. Nem sempre a in-trodução de novas moléculas ou no-vas tecnologias corresponde a reaisavanços na nossa clínica diária. O mé-

dico de hoje não deve estar permeá-vel a essas pressões. (…) Um dos as-pectos fundamentais a ter em conta éque se devem formar médicos comsentido crítico em relação aos ditos‘avanços’»Outro aspecto referido foi a chamada«compulsão da revista cientifica» sen-do que muitas das publicações esco-lhidas são de cientificidade discutível.«Também aqui devemos manter o sen-tido crítico em relação ao que lemos.(…) A criação de guidelines é um avan-ço mas é igualmente verdade que mui-tos desses consensos têm por trásdeles algumas moléculas e que pode-rão ditar um aumento do consumo defármacos que não seja necessário».Explicando que os argumentos apre-

A C T U A L I D A D EI Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

Avanços terapêuticos: Que benefíciospara os países menos desenvolvidos?

Numa mesa moderada por José António Sousa

Santos (Cabo Verde), Henrique Baptista e Silva

(Brasil) e António Reis Marques (Portugal)

debateram a importância dos avanços terapêuticos

para os países menos desenvolvidos e algumas

problemáticas associadas como a questão dos

ensaios clínicos.

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 33

sentados não deveriam ser tidos comoum ataque à indústria farmacêuticamas antes como um incentivo à for-mação de médicos com sentido críti-co apurado, Reis Marques especificoualguns méritos da IF: «é a indústria far-macêutica que tem proporcionado adescoberta de novas moléculas e umsem número de avanços muitíssimoimportantes. Os governos não fomen-tam a investigação e alienam o seudever de investir na saúde. Felicito aIF porque é quem nos tem feito avan-çar».Sendo o mercado dos medicamentosalgo que movimenta muitos milhõesde euros e representando uma reali-dade que pesa no orçamento dos go-vernos, Reis Marques salientou: «porquestões éticas, não pode o médicofazer restrições terapêuticas por ra-zões económicas; Mas igualmente poruma questão de ética deve o médicoponderar a relação custo/benefício daintrodução de novas terapêuticas deefeitos idênticos às já existentes».O cardiologista brasileiro HenriqueBaptista e Silva referiu a medicalizaçãoda sociedade e a criação de necessi-dades que transformam o pacientenum consumidor como ponto de par-tida da sua intervenção. Sobre a indús-tria farmacêutica, este interlocutorreferiu que a mesma não tem interes-se em produzir medicamentos paradoenças que não tragam recursos, ten-do referido que o monopólio da pes-quisa se concentra nas doenças queacontecem em países ricos: «a despei-to da necessidade de investimento empesquisa e desenvolvimento, segundodados divulgados pela OMS, desde adécada de 70, têm aumentado os índi-ces de ocorrência e de mortalidadedas doenças tropicais, como malária,leischmaniose e Doença de Chagas.Essas doenças não têm sido alvo privi-legiado pela indústria farmacêutica. Odesinteresse ocorre porque não re-presentam mercado lucrativo. A orga-nização Médicos sem Fronteira revelaque 1% dos 1.393 novos medicamen-tos, entre 1975 e 2000, destinavam-sea doenças tropicais e a tuberculose.São considerados mercados pequenos

ou inexistentes, o que não quer dizerque são poucas pessoas. Se houvessedisponibilidades de recursos financei-ros e, ou, sistema de saúde abrangente,o Governo pagaria pelos medicamen-tos, criando o mercado».Segundo explicou Henrique Baptistae Silva o termo inovação envolve trêsconceitos: um conceito comercial(qualquer produto recém-comercializado, novas substâncias, no-vas indicações, novas formulações enovos métodos de tratamento), con-ceito tecnológico (qualquer inovaçãoindustrial, tal como o uso debiotecnologia, ou a introdução de umnovo sistema de liberação da substân-cia) e conceito de avanço terapêutico(um novo tratamento que beneficia opaciente, quando comparado a opçõespreviamente existentes). «A identifica-ção de um avanço terapêutico nãodeve ser observada de uma forma iso-lada; é fundamental considerar trêspontos principais: eficácia, segurança econveniência».Quanto a estratégias para a incorpo-ração, o orador referiu, entre outrasquestões, ser essencial equacionar asnecessidades dos países menos desen-volvidos, nomeadamente através deuma lista de medicamentos essenciais(a ser distribuída gratuitamente ouquase), a introdução de medicamen-tos genéricos (porque é uma forma

I Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

A C T U A L I D A D E

de diminuir os custos), a criação dedirectrizes (referindo que no Brasilexistem cerca de 240 directrizes e queas considera muito úteis para os mé-dicos pois ajudam a encontrar a me-lhor opção e a definir a melhor inter-venção) e a questão das patentes (ci-tando o exemplo do Brasil onde gra-ças à quebra das patentes os medica-mentos antiretrovirais baixaram 60%os seus custos). Esta intervenção ter-minou com uma citação de Álvaro deCampos/Fernando Pessoa que elucidabem o que se deve desejar atingir nocampo da saúde: «à parte disso, nóstemos todos os sonhos do mundo»…

34 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

A C T U A L I D A D E

Ildo Carvalho começou por afirmarcomo a «cooperação técnica interna-cional é um importante instrumentopara o desenvolvimento». Da experi-ência de Cabo Verde referiu algumasdificuldades: o país tem uma comissãode formação desde 1988, com com-petências bem elaboradas, contudonunca fez um plano anual de forma-ção. «Não estão instituídas formas deseguimento da formação nem de con-tacto com as entidades formadoras. Emsituações de formação de longa dura-ção acaba por haver um corte na rela-ção com o técnico expatriado.» Háuma insuficiente coordenação e plani-ficação das acções de formação quetêm lugar fora de Cabo Verde.Referindo as dificuldades provocadaspelos insuficientes recursos financei-ros, Ildo Carvalho congratulou-se como facto de, com a cooperação portu-guesa, ter sido possível efectuar umcurso de pós-graduação em obstetrí-cia/ginecologia que se realizou total-mente em Cabo Verde. Como princí-pios para uma boa parceria em for-mação, Ildo Carvalho referiu que «asparcerias devem ser bem definidas eter um objecto claro e manejável; asboas parcerias necessitam de boa co-municação e colocam o desenvolvi-mento do parceiro receptor no cen-tro de actividades, e melhora o uso derecursos locais, perícias e orçamentospara assegurar a sustentabilidade; asinstituições receptoras deviam prepa-rar seu ambiente interno para conse-guir parcerias externas e utilizá-lasestrategicamente; as políticas de inves-

timento dos doadores devem ser me-lhor coordenadas, consistentes com asmetas da parceria e maximizar a lide-rança das instituições locais; as parce-rias devem ser seguidas de forma ro-tineira e devem ser avaliadas regular-mente usando indicadores apropria-dos; contudo devem ter flexibilidadesuficiente para reagir a um ambientedinâmico e variável; as parcerias de-vem apoiar estratégias de saúde naci-onais e devem fortalecer as organiza-ções regionais e associações de pro-fissionais existentes».Paulo Ferrinho, outro dos inter-locutores deste debate, falou especifi-camente sobre a experiência de Por-tugal no apoio ao desenvolvimento dosinternatos em Angola. Em relação aeste país, Portugal está a apoiar pro-gramas de saúde pública, clínica geral,ortopedia, psiquiatria, fisiatria, gineco-logia e obstetrícia, pediatria e car-

diologia, especialidades que foram de-finidas pelo Ministério da Saúde deAngola como sendo prioritárias. Nasua intervenção, Paulo Ferrinho apre-sentou um quadro de referência quedeve enquadrar a cooperação para aformação e que consiste dos seguin-tes pontos:

1. Enquadramento, organização efunções dos órgãos que a nível nacio-nal monitorizarão a formação médicapós-graduada em Angola;2. Enquadramento jurídico dosprogramas de formação das especiali-dades médicas;3. Enquadramento legal e nor-mativo da equivalência e certificaçãoda especialidade de médicos Angola-nos com situação formativa (grau deespecialista) e administrativa (situaçãona carreira) incerta ou insuficiente-mente esclarecida;

I Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

Formação e cooperaçãoO debate sobre formação e cooperação, onde os vários países falaram das

suas experiências nesta temática, foi moderado por Ricardo José Baptista

(Brasil) e teve como intervenientes Ildo Carvalho (Cabo Verde), Paulo Ferrinho

(da Direcção Geral de Saúde) e José Tadeu Soares (da Comunidade dos Países

de Língua Portuguesa).

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 35

A C T U A L I D A D EI Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

4. Propostas de cursos de forma-ção e de estágios a propor à OM atra-vés do Colégio Nacional de Especiali-zação Pós-Graduada em Ciência Mé-dicas e a ser aprovada pelo Ministroda Saúde;5. Identificação de locais de está-gios em Portugal a submeter aoCNEPGCM;6. Selecção e capacitação de ser-viços idóneos em Angola;7. Abertura de concursos;8. Mobilizar recursos nacionais einternacionais.Paulo Ferrinho referiu a necessidadede, no campo da cooperação para aformação, manter uma estreita articu-lação com a Ordem dos Médicos por-tuguesa.Tadeu Soares, em representação daCPLP, falou dos objectivos desta orga-nização (coordenação política, coope-ração para o desenvolvimento e defe-sa da língua portuguesa) e de como aComunidade dos Países de Língua Por-tuguesa está particularmente concen-trada na cooperação para o desenvol-vimento, área onde se enquadram pre-cisamente a formação e a saúde. Ta-deu Soares referiu alguns pontos ne-gativos como sejam a lentidão da má-quina administrativa do Estado, a dis-persão de projectos e como essa dis-persão é prejudicial aos objectivos.Considerando o papel das Ordens dosMédicos muito importante. Tadeu So-ares referiu que a colaboração é sem-pre benéfica e que apesar da CPLP nãoter forma de dar apoios financeirospode «internacionalizar as questões ecom isso obter apoios. Podemos faci-litar a obtenção de fundos». «Espera-mos que as Ordens dos Médicos te-nham em breve estatuto de observa-dores junto da CPLP».

36 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

A C T U A L I D A D E

O embaixador José Ta-deu Soares, secretárioexecutivo adjunto daComunidade dos Paísesde Língua Portuguesa,em entrevista à ROM,falou da sua visão relati-vamente à cooperação eà necessidade de ter aSaúde como uma prio-ridade.

Revista da Ordem dos Médicos – Aque níveis considera que deverá serestabelecida a cooperação entre aCPLP e a Comunidade Médica de Lín-gua Portuguesa?José Tadeu Soares – O céu é o limite.A minha resposta só pode ser entusi-ástica e imagino uma colaboração es-treita em que os médicos identificamprojectos e/ou problemas e a CPLPapoia as soluções propostas até aolimite das nossas possibilidades. Qual-

quer projecto que envolva mais queum país da CPLP pode contar com anossa colaboração. Dentro da coope-ração para o desenvolvimento, um dosobjectivos principais da CPLP, a Saúdeé o tema número um.

ROM – Que importância atribui a ini-ciativas como este congresso?J.T.S. – A realização deste I Congressoda Comunidade Médica de Língua Por-tuguesa é um facto extremamenteimportante. Partilhar aspectos comunsa vários países, problemas, soluçõesencontradas e procurar a sua aplica-bilidade à realidade de cada região éfundamental. Há uma cumplicidadenatural entre pessoas que falam amesma língua, sendo a mesma fomen-tada neste tipo de encontros. O pri-meiro factor de aproximação entrepessoas num país longínquo é ouvirfalar a nossa língua.

ROM – Porque razão a Saúde é vistacomo uma das questões primordiaisno âmbito da CPLP?J.T.S. – Mesmo sem falar numa ques-tão básica que é a vertente humanista,a saúde é fundamental nomeadamen-te por duas razões: uma população quenão é saudável consome recursos des-proporcionados, por outro lado, nãocontribui para gerar recursos.

ROM – Que dificuldades sente naprossecução dos objectivos da CPLP?J.T.S. – A nossa principal dificuldade émovimentar as máquinas burocráticasque são, por natureza, lentas. A pró-pria cooperação por canais oficiais tor-na-se morosa. Outro problema comque nos debatemos é o facto de haveralguma resistência a ideias inovadorassó porque a sua origem não é a habi-tual. Diria que existem institutos epessoas especializados que hesitamperante uma boa ideia só porque a suaorigem é alguém que habitualmentenão tem esse tipo de actividade e lhespode retirar protagonismo…

ROM – A CPLP organiza anualmentea Semana da Saúde. Que temas serãodebatidos no próximo ano?

J.T.S. – O encontro vai realizar-se nofinal do primeiro semestre de 2007e alguns dos temas incontornáveis,por ainda não estarmos satisfeitoscom os valores existentes, serão as-pectos relacionados com a pediatria:mortalidade infantil e pós-natal. Aformação contínua, quer a nível daenfermagem quer dos médicos, e asredes de saúde pública e coopera-ção a esse nível, serão alguns dosoutros temas a debater.

ROM – Em termos de redes de saúdepública, a que aspectos se refere es-pecificamente?J.T.S. – Perante o ‘nevoeiro’ que envol-ve o futuro, devemos tentar perceberos perigos que se avizinham para an-teciparmos soluções e procurarmosprevenir. A obesidade é um problemaque já é visível. Mas, por exemplo, agripe das aves pode voltar a ser umdesafio decisivo para o desempenhodas nossas redes de saúde pública. Es-taremos preparados para dar respos-ta a problemas desta magnitude? To-dos juntos poderemos melhorar asnossas redes de saúde pública. Se tra-balharmos em conjunto com certezaencontraremos soluções mais eficazes.A possibilidade de um atentado ter-rorista é outro bom exemplo: peran-te um atentado com contaminação bi-ológica ou radioactiva, por exemplo,estamos preparados para respondercélere e eficazmente? Como se podearticular a colaboração entre os paí-ses? Como nos podemos proteger?Que medidas devemos tomar?...

ROM – Como analisa o papel de Por-tugal no âmbito dos países da CPLP?J.T.S. – Podemos sempre fazer mais maspenso que, neste momento, nos faltamclaras definições de objectivos a nívelnacional; directrizes em termos do quepode e deve ser a nossa cooperaçãocom os países lusófonos. Portugal, debraço dado com o Brasil constitui omotor desta comunidade. Mas há queter simultaneamente presente que aCPLP é um conjunto de países inde-pendentes que se respeitam mutua-mente, nomeadamente nas diferenças.

I Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa

Entrevista

«Dentro da cooperaçãopara o desenvolvimento,

a Saúde é o temanúmero um»

38 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

A C T U A L I D A D E

«Há um ano realizámos pela primeiravez uma homenagem pública aos mé-dicos com mais de 50 anos de inscri-ção na Ordem dos Médicos. Preten-demos que esta cerimónia se torneuma tradição, que a sociedade possatestemunhar uma dedicação e entre-ga de que raramente se fala.

Convidámos os colegas já agraciadosno ano passado a estarem presentespara reeditar o sucesso do convívio,do matar saudades de quem há tantotempo não se vê. Muitos quiseram es-tar presentes, entre eles o Dr. ÁlvaroAssis Lopes que com os seus 99 anostem com certeza muito a ensinar-nos.

Homenageamos hoje os médicos ins-critos na Ordem de todos nós em1956. Em meu nome pessoal, em nomedo Conselho Regional do Sul e daOrdem dos Médicos, permitam-meque vos agradeça o vosso contributodiário, tantas vezes esquecido, para oque a Medicina é hoje em Portugal.

50 Anos de inscrição na Ordem dos MédicosTeve lugar no dia 16 de Dezembro a cerimónia de homenagem aos médicos

da Secção Regional do Sul que completaram este ano 50 Anos de inscrição na

Ordem dos Médicos. A cerimónia teve lugar na antiga F.I.L. e inclui um almoço-

convívio onde, entre médicos, familiares e amigos, estiveram presentes mais

de 200 pessoas. Transcrevemos em seguida o discurso que Isabel Caixeiro,

presidente do Conselho Regional do Sul da OM, proferiu antes de se proceder

à entrega das medalhas.

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 39

A C T U A L I D A D E

motorizados, mas em estradas maispróprias para desportos radicais ouem picadas africanas e mesmo nave-gando em mares alterosos entre asilhas dos Açores....Também não devemos deixar cair noesquecimento o importante contri-buto dos médicos portugueses namelhoria das condições da saúde dospovos dos países de expressão portu-guesa.Exemplos de que a prática médica sebaseia numa ética universal indepen-dente da raça ou cor da pele, que ul-trapassa ideologias e regimes políticos.E aqui cabe uma referência particular

Neste dia comemoramos a dedicaçãoe o trabalho em prol da Medicina edos doentes, dos médicos que pelo paísfora ajudam a construir a saúde dosportugueses de que hoje nos orgulha-mos.Homenageamos notáveis Mestres daMedicina Portuguesa com quem muitoaprendemos e esquecidos clínicos dealdeia, baluartes do conhecimento e daciência em épocas de obscurantismo.Homenageamos aqueles que já foramdistinguidos com prémios, medalhas eo reconhecimento mediático e aque-les a quem só os doentes agradecemna intimidade dos consultórios.

Reconhecemos aqui milhares de ho-ras retiradas à família e ao descanso...Milhões de consultas e intervençõescirúrgicas das mais rotineiras, às demaior inovação e tecnologia... A angús-tia de trabalhar sozinho em locais iso-lados e sem recursos. Dias passados àcabeceira dos doentes, dedicados ao estu-do de casos mais bizarros, ou para acom-panhar a evolução da ciência médica.Está na moda falar-se de acessibilida-de, mas que dizer das dificuldades quemuitos dos aqui presentes experimen-taram para chegar aos seus doentes!A pé, a cavalo, de rede (como me refe-riram na Madeira), ou já em veículos

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ao Dr. Ruy Ferreira Pinto Carmo, nas-cido em 14/12/1910 e inscrito na OMem 1947. Trabalhou em Moçambique,onde muito contribuiu para erra-dicação da doença do sono, na missãode luta contra a Tripano-somíase. Re-cebeu o testemunho público do reco-nhecimento pelas suas qualidades hu-manas e pelo seu trabalho quer dedoentes quer dos que com ele traba-lharam. A OM presta aqui hoje umaespecial homenagem ao Dr. RuyFerreira Pinto do Carmo que, com 96anos celebrados há dois dias, merecever celebrada a sua dedicação à causada Medicina.

Temos também entre os homenagea-dos de hoje colegas que trabalharamna nossa Ordem exercendo diversoscargos e funções, dedicando ao bemcomum horas e horas do seu tempolivre.O Dr. Barros Veloso, além das suasreconhecidas qualidades jazzisticas, foimembro da direcção do colégio deespecialidade de Medicina Interna oitoanos, tendo sido seu presidente em 94/95, e ainda membro do Conselho Dis-ciplinar Regional do Sul.O Dr. Fonseca Ferreira foi Presidentedo Conselho Distrital de Setúbal.O Dr. Castel-Branco Mota foi Presi-dente do Conselho Fiscal Regional doSul.O Dr. Boléo Tomé , foi membro da di-recção do colégio de especialidade deCirurgia Plástica e Reconstrutiva evogal do Conselho Nacional de Éticae Deontologia Médica .A Dr. Fernanda Sampayo, foi membroda direcção do colégio de especialida-de de Cardiologia Pediátrica.O Dr. José Manuel Mendes de Almeidafoi membro do Conselho DisciplinarRegional do Sul.A Dr.ª Maria Brites Patrício foi mem-bro da direcção do colégio de especi-alidade de Radioterapia.O Dr. Pedro Abranches foi membroda direcção do colégio de especialida-de de Patologia Clínica.

A estes colegas o nosso agradecimen-to especial pelo trabalho em prol dosmédicos.Lembro aqui também o Dr. JuvenalPereira de Oliveira que faleceu já de-pois de ter enviado a inscrição paraesta cerimónia. A sua medalha serárecebida pela sua viúva que quis mani-festar a vontade do marido em parti-lhar estes momentos connosco.È com emoção que aqui deixo umapalavra de saudade para todos os co-legas já falecidos, mas que nas nossasmemórias “se vão da lei da morte li-bertando”.Muito ficou por dizer.Todos vós poderiam contar muito maissobre o que ocorreu neste período

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de mais de cinquenta anos aos servi-ço desta nossa nobre e difícil profis-são e arte.Inscreveram-se neste almoço aproxi-madamente duzentas pessoas, trintamédicos homenageados, seus familia-res e amigos e colegas que se quise-ram associar a este convívio. Seis co-legas por motivo de doença ou outronão podem estar aqui connosco.Todos serão lembrados com uma me-dalha comemorativa que a Secção Re-gional do Sul mandou gravar para oefeito.

Casa do Médico de S. Rafael emSines

Mas como hoje é dia de festa não que-ria terminar sem vos falar da Casa doMédico de S. Rafael em Sines.O projecto de dar apoio a Colegas quea idade e as vicissitudes da vida colo-caram em situações que necessitam decontribuição do Fundo de Solidarie-dade da Ordem dos Médicos foi aolongo dos últimos mandatos um gran-de objectivo dos médicos que têm in-tegrado o Conselho Regional do Sul.Construir uma Casa do Médico no Sulque seja uma opção acolhedora, umlocal onde se possa conversar ao fimda tarde com amigos de longa data,onde se possam recordar episódiosque na nossa memória desfilam com anitidez da juventude.Um lugar para repousar uns dias, pôra leitura em dia, encontrar o Colegaque já não vemos há muito.Uma Casa que sentimos como nossae que pode fornecer o apoio diáriopara a vida quotidiana que as limita-ções da idade e evolução familiar nosvão dificultando.Onde se possa receber reuniões ci-entíficas ou culturais, mantendo o es-pírito vivo e permitindo o intercâm-bio de saberes médicos de mais jovense mais velhos.A Casa integrada no espaço urbano,próximo do café onde se vai beber a“bica” ou comprar o jornal, e não umdepósito onde se escondem os deser-dados da idade e da sorte, isolado detudo e de todos.

Há um ano o Conselho Regional doSul decidiu por unanimidade adquirirum local para tornar esse sonho reali-dade.É em Sines com uma soberba vista so-bre o mar, perto do Castelo, onde oolhar se perde no horizonte, numaregião central do Litoral Alentejano, a150 km de Lisboa e a 80 Km deSetúbal.Este projecto é inovador já que per-mite prestar apoio domiciliário aoscolegas que optem por adquirir nazona uma residência para passarem areforma.Para isso sobredimensionámos osequipamentos de serviços, cozinha e

lavandaria. Estão pensados apoios ali-mentação, tratamento de roupas, lim-peza e apoio de enfermagem.O sonho vai começar a tomar formano início de 2007 pois, após morosasdiligências, podemos finalmente inici-ar a construção.Contudo, entendemos que com estepasso não se encerra o leque de pos-sibilidades de investimento da Ordemneste âmbito. Outros modelos terãoque ser desenvolvidos para atender asnecessidades de todos os colegas quenecessitem do nosso apoio.Vamos continuar a trabalhar para con-cretizar o sonho de construir asCasas de Todos Nós!»

A C T U A L I D A D E

42 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

O P I N I Ã O

Algumas das sucessivas

iniciativas do Ministro da

Saúde demonstram ou o

mais impressionante

desconhecimento do

funcionamento das

instituições de saúde e a

mais confrangedora

falta de uma estratégia

para os problemas da

saúde, ou a vontade

deliberada de enterrar

definitivamente o

Serviço Nacional de

Saúde.

No Editorial do Boletim de Novem-bro/Dezembro da Secção Regional doCentro da Ordem dos Médicos des-crevemos uma enorme série de errose recuos da actual política de saúde.Não vamos aqui repeti-los, mas tãosomente analisar o Despacho nº 289/06, cujo prosa inicial refere que “Oexercício de funções dirigentes ementidades privadas prestadoras de cui-dados de saúde por profissionais deinstituições integradas no SNS, inde-pendentemente da sua natureza jurí-dica, é passível de comprometer a isen-ção e imparcialidade com o conse-quente risco de prejuízo efectivo parao interesse público”.O ponto nº 1 do presente despacho

Despacho Mortaldetermina que “O exercício efectivode funções de coordenação e direc-ção, independentemente da sua natu-reza e forma jurídica, em instituiçõesprivadas prestadoras de cuidados desaúde, por profissionais pertencentesa instituições integradas no ServiçoNacional de Saúde (SNS), sujeitos, ounão, ao regime da administração pú-blica, deve ser sempre consideradoincompatível.”Temos dúvidas quanto à legalidadedeste despacho, pelo que a Ordem irásolicitar pareceres jurídicos quanto aesta questão e actuar em conformida-de, pois o Estado não só pretende re-gular as actividade dos Médicos forado seu horário de trabalho, mas tam-bém fazê-lo com implicações retroac-tivas às situações já existentes.Pela forma como este ponto está re-digido, o seu âmbito de aplicação po-tencial é extraordinariamente vasto,não se limitando a impedir a acumula-ção de cargos dirigentes, mas poden-do obrigar a que a esmagadora maio-ria dos Médicos que exercem Medici-na privada se vejam, repentinamente,obrigados a optar pela exclusividadepública ou privada. Mesmo os Médi-cos que não tenham nenhumas res-ponsabilidades no sector público nãoserão autorizados a acumular comqualquer tipo de funções de coorde-nação no sector privado!Sempre defendi a separação entre osector público e o sector privado, masdentro de uma reforma global do sis-tema, com liberdade de escolha paraos doentes (com os mesmos deverese direitos), e não tomada como medi-da cega e casuística e sem qualqueravaliação das consequências. Por isso,e porque o despacho não se me apli-ca, estou plenamente à vontade parao criticar.Conforme demonstrou recentemen-te um estudo da consultora internaci-onal Capgemini, realizado por enco-menda do Ministério das Finanças, os

funcionários públicos auferem, emmédia, salários mais baixos do que re-ceberiam se estivessem a trabalhar emempresas do sector privado, com di-ferenças que chegam a ultrapassar os100%! Quer isto dizer que o Estadonão tem qualquer capacidade de com-petir com o sector privado, o que im-plica que, neste momento, a efectivaaplicação do despacho irá levar cente-nas ou milhares de Médicos a deixa-rem o sector público, agravando oêxodo que já se verifica, comprome-tendo a capacidade de resposta doSNS. Será esse o objectivo, prosseguirno esvaziamento e destruição progres-sivos do SNS?Vai haver especialidades em que oshospitais irão ficar quase desertos,como a Fisiatria e a Nefrologia, masmuitas outras vão ficar profundamen-te carenciadas! Será que o Estado pre-tende entregar alguns serviços a nãoMédicos?! E o que irá acontecer coma formação de futuros especialistasnessas especialidades, vai ser feita aon-de?Se ficar sem resposta suficiente nosector público, o Estado irá ficar com-pletamente nas mãos dos privadosaquando das negociações dos preços!Será que já está esquecida a realidadedas diálises e as devastadoras críticasdo Tribunal de Contas quanto à rela-ção frágil e perdedora entre o Estadoe o Hospital Amadora-Sintra?Será que, desta forma artificial, Cor-reia de Campos pretende repetir osobjectivos do passado, em que onumerus clausus foi absurdamente li-mitado, de reduzir o número de Mé-dicos do sector público e, assim, onúmero de actos Médicos e a despesado SNS, criando simultaneamente umaMedicina para ricos e outra para po-bres?Por outro lado, os Médicos que forematirados exclusivamente para a priva-da irão ser progressivamente absorvi-dos pelos grandes grupos económicos,tal como aconteceu com diálises e la-boratórios de análises, pelo que, nofuturo, serão meros assalariados degrupos unicamente interessados emmaximizar lucros à custa de doentes

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 43

O P I N I Ã O

José Manuel SilvaPresidente da Secção Regional do Centro da

Ordem dos Médicos

e trabalhadores da saúde. E o Estado,que será obrigado a recorrer aooutsourcing, ficará numa fragilíssimasituação negocial.O curioso é que o Ministro da Saúdevai atirar para fora dos hospitais osMédicos que mais baratos ficavam aoSNS! Mas a verdade é que já todospercebemos que a estratégia é mes-mo a de destruir o SNS.E o que irá acontecer às urgências, quejá estão desprovidas de recursos hu-manos? Mais empresas de mão de obraMédica paga a peso de ouro? Maisdisfunções graves de funcionamentopor causa desta situação, tal como jáacontece com a Ortopedia de Aveiro,com sérias consequências para os do-entes?Além do mais, este despacho repre-senta um inaceitável estigma para to-dos os Médicos que trabalham nos doissectores, público e privado, pois sãoimplícita/explícita e publicamente ape-lidados de corruptos! Segundo o Se-nhor Ministro, depois de mercenários,agora os Médicos são corruptos!Não me preocupa o que os Médicosfazem no seu tempo livre, desde quecontinuem a fazer formação contínuae cumpram integralmente as suas obri-gações contratuais com o Estado. Oque é desesperadamente essencial éque os responsáveis, seja dos serviços,seja das instituições de saúde estatais,sejam nomeados por critérios de quali-dade e competência e não pornepotismo ou antiguidade. Por favor,

alguém explique ao Senhor Ministro oque é a Clinical Governance!Ao JN Correia de Campos lembrouque “ninguém pode servir dois amosde forma igualmente fiel”. “Há muitagente que conhece os problemas dedupla militância e sabe que esta nãoconduz a lado nenhum”, defendeu.Então deixe-me perguntar-lhe o se-guinte: V. Exa está a servir Portugal ouo seu Partido e os seus amigos? De-veremos todos entender que a suaactuação tem sido corrompida pela suamilitância partidária? Foram esses osseus critérios para nomear as admi-nistrações regionais de saúde e as ad-ministrações hospitalares?Se nalgum hospital ou serviço do Es-tado havia conflitos de interesses ca-bia aos Conselhos de Administraçãoactuarem em conformidade. Se neces-sário substituindo os respectivos Di-rectores de Serviço. Como não tenhoconhecimento de nenhuma interven-ção a esse nível e por essa razão, sóposso concluir que ou não havia con-flitos de interesses ou os Conselhosde Administração são muito fraquinhos(alguns nem sabem o que é GestãoEstratégica de Recursos Humanos, nãotêm quaisquer perspectivas de Moti-vação e Liderança e nunca ouviramfalar de Sistemas Logísticos e de In-formação Hospitalar…). O que não meadmira, pois afinal, aquando das res-pectivas nomeações, com base nas suaspróprias palavras, temos agora a obri-gação de perguntar se Correia de

Campos andou a servir os interessesdo seu Partido e não os interesses doPaís.Chegou a altura dos Médicos e de to-das as suas organizações se unirem nadefesa do SNS, uma das principais con-quistas do Portugal democrático, queeste Ministro da Saúde, despudo-radamente e de mansinho, quer en-terrar debaixo de muitos metros deterra, ao mesmo tempo que, a médioe longo prazo, vai favorecendo o mer-cado dos grandes interesses privadose criando condições para acabar coma pequena Medicina privada indepen-dente. Seria tempo do Primeiro-Minis-tro olhar para estes problemas comoutra preocupação e acutilância. An-tes que seja tarde demais…

44 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

O P I N I Ã O

Isabel CaixeiroPresidente do Conselho Regional do Sul

da Ordem dos Médicos

Como “despachar”o Serviço Nacional de Saúde

Muito se disse já sobre

o despacho que o

Ministro da Saúde

enviou para publicação

no Diário da República

sobre acumulações de

cargos de direcção no

SNS e no privado.

Se à primeira vista

parece lógico separar

águas, para que todos

conheçam as regras e

as fronteiras, já o modo

e o tempo de actuação

merece o nosso

repúdio. Usar um

despacho para

contrariar um Decreto-

lei não parece de

grande acerto jurídico.

Mais ainda, introduzir no preâm-bulo do dito despacho conside-rações que põem em causa a ido-neidade moral e lançam suspeitasinjustas sobre profissionais quemantêm de pé o SNS à custa demuito esforço pessoal, familiar emesmo económico, além de ina-bilidade política é ofensivo e des-necessário.

Nunca é demais lembrar que osmédicos ganham mal no sectorpúblico e só à custa do suplemen-to devido à exclusividade ou dehoras extraordinárias compõemo vencimento que permite umaqualidade de vida mediana.

As horas extra “não contam paraa reforma” ao contrário do queo Ministro tem tentado passar esão necessárias porque não hámédicos suficientes para assegu-rar os serviços.

As condições em que trabalhammuitos médicos nos serviços pú-blicos deixam muito a desejar.Edifícios antigos multiremendadoscom instalações exíguas e degra-dadas, com obras de adaptação demuitos milhares de euros mas quenão obedeceram a um fio condu-tor único.

Ao obrigar os médicos a uma ex-

clusividade obrigatória mas nãoremunerada o Ministro da Saúdeestá a contornar o Decreto-lei73/90.

Ao empurrar para uma escolhaentre o público onde por vezesos colegas nem têm secretária oucomputador onde trabalhar ehospitais e clínicas com instala-ções modernas e adequadas, oMinistro da Saúde está a promo-ver o esvaziamento do ServiçoNacional de Saúde.

Esta decisão ministerial em vez declarificar situações vai aumentara desmotivação de muitos médi-cos que já estão cansados de sermal pagos e de não verem reco-nhecido o seu trabalho.

Enquanto os médicos continuama ouvir, tratar os seus doentes, oshospitais já foram S.A, agora sãoEPE. Os centros de saúde já fo-ram alfa, de várias gerações e ago-ra vão ser USF.

A estupidez deste despacho podeser a gota de água que falta para“despachar” o SNS.

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 45

DespachoO exercício de funções dirigentes em entidades privadas prestadoras de cuidados de saúde, por profissionais de

instituições integradas no Serviço Nacional de Saúde (SNS), independentemente da sua natureza jurídica, épassível de comprometer a isenção e imparcialidade com o consequente risco de prejuízo efectivo para o

interesse público, conforme genericamente admitido no n.º 2 do artigo 20.º Estatuto do SNS, aprovado peloDecreto-Lei n.º 11/93.

Assim, ao abrigo do artigo 6.º do regime jurídico da gestão hospitalar, aprovado pela Lei n.º 27/2002, de 8 deNovembro, e da alínea b) do n.º 1 do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 233/2005, de 29 de Dezembro, entendo de

transmitir as seguintes orientações e directrizes:

1 – O exercício efectivo de funções de coordenação e direcção, independentemente da sua natureza e formajurídica, em instituições privadas prestadoras de cuidados de saúde, por profissionais pertencentes a instituiçõesintegradas no Serviço Nacional de Saúde (SNS), sujeitos, ou não, ao regime da administração pública, deve ser

sempre considerado incompatível.

2 – Devem os conselhos de administração das Administrações Regionais de Saúde e instituições integradas noSNS proceder em conformidade e, em caso de dúvida, solicitar esclarecimentos à Secretaria-Geral do Ministério

da Saúde.

3 – Os órgãos referidos no número antecedente procedem à avaliação das situações actuais uniformizando-ascom o presente despacho.

Lisboa 5 de Dezembro de 2006

O Ministro da Saúde

O P I N I Ã O

A partir de 20 de Janeiro de 2007

Organização: Centro de DireitoBiomédico da Faculdade de Direito daUniversidade de CoimbraCoordenação: Prof. Doutor Guilher-me de Oliveira

Duração: 20 horasHorário: Sábados, das 10h30 às 13h00e das 14h30 às 17h00

Local: Faculdade de Direito da Uni-versidade de Coimbra

Vagas: 50 vagas (25 juristas, 25 nãojuristas)

Inscrição: Por ordem de chegada, até16 de Janeiro de 2007.

Condições de admissão: Licencia-tura

Documentação para inscrição:Curriculum vitae abreviado, certificadode habilitações ou cópia autenticada,uma foto tipo passe.

Preço:Inscrição: 100 euros.Propina: 200 euros

Certificado de Frequência de Pós--graduação: 80% de presenças

Centro de Direito BiomédicoFaculdade de Direito de Coimbra3004 – 545 CoimbraTel. / Fax 239 821 043Email: [email protected]: www.lexmedicinae.org

1º CURSO BREVE DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO E MEDICINADA REPRODUÇÃO

46 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

“Primeira parte de uma trilogia: De 4 para5%, ou a triste história em como com

INSENSATEZ e INABILIDADE se conseguetransformar uma pequena numa ENORME

DIFERENÇA”

O P I N I Ã O

I) – VERDADE e COERÊNCIA, ouTALVEZ NÃO…

«… é bom que se tenha sempre presen-te que ser doente não é exactamente omesmo que ser um mero consumidor, eque o âmbito da medicina não se podecingir ao de um simples mercado…» (sic)(Avorn,J. Post-Modern drug evaluation: Thedeconstruction of evidence-basedregulation. Pharmacoeconomics 2000; 18(sup. 1): 15-20)

Volta e meia dá-me para isto. Para de-sabafar! É uma espécie de catarse ne-cessária para preservar a minha saúdemental, qual expiação compulsiva depecados alheios, cujo peso se torna, acerta altura, verdadeiramente insupor-tável de conter, mesmo no seio dasmais distraídas e amorfas consciências.

Quando uns dias antes das últimas elei-

ções legislativas pude participar, con-juntamente com quase todos os Di-rectores de Serviço, numa reunião re-alizada no Hospital onde trabalho hámais de vinte anos, com uma delega-ção oficial do actual partido do Go-verno, integrada na campanha eleito-ral que então decorria, disse publica-mente que seria conveniente que aca-so este viesse a vencer as eleições(como de facto viria a acontecer), nãocometesse o tremendo erro passadode, através do mesmo primeiro minis-tro, termos assistido, perplexos, à no-meação sucessiva de três ministros dasaúde (o último dos quais, nem maisnem menos, do que o actual detentordesta pasta) com políticas completa-mente díspares nalguns aspectos fun-damentais. Parecia-me demasiadamen-te óbvio privilegiar estrategicamentea coerência em detrimento da instabi-lidade inerente à tomada de medidassem a lógica sequência temporal emesmo por vezes contraditórias.

Volvidos vários meses de governação,constato que tudo se encaminha paraque esse tipo de estratégia esteja defacto sendo seguida, pesando-me con-tudo na consciência não ter aconse-lhado ainda, aquilo que me pareceu naaltura perfeitamente supérfluo, ou seja,que para além de uma continuidadena política, seria também fundamentalhaver BOM SENSO nos processos dasua implementação …

Não pondo em causa a competência

técnica da generalidade dos actuaisgovernantes, nem tampouco a boa in-tenção «à priori» dos seus propósitos,e muito menos ainda o reconhecimen-to da necessidade imperiosa de se fa-zer face, com lucidez e determinação,à crise séria por que passamos, pare-ce-me por demais evidente que o exer-cício do poder que está sendo prati-cado está de acordo com aquilo queinfelizmente temíamos há algum tem-po que se viesse a concretizar. Ou seja,que vivemos em sociedades onde osmeios contam cada vez menos paraos fins, nas quais as políticas são muitoparecidas umas com as outras em todoo mundo, onde a ideologia dominanteé a da «desideologização» acrítica, pro-gressivamente subordinada à lei «semrosto» da economia de mercado, eesta, por sua vez, à «ditadura espar-tana» da mera aritmética financeira.

A alegada preocupação com a huma-nização e com a qualidade na prestaçãodos cuidados de saúde, é pois, por vezes,mais um chavão eleitoral incessantemen-te repetido, mas progressivamente es-vaziado de conteúdo na prática, propor-cional à gradual penúria que caracterizaa diversidade de recursos necessários àimplementação e controle das políticasque se pretenderiam adoptar, e onde arealidade subverte completamente osprincípios que se dizem defender e queestão consignados na legislação em vi-gor. É eloquente exemplo disso, o factoda nossa Constituição caracterizar oSNS como «tendencialmente gratuito»e os cidadãos verificarem diariamenteque ele é efectivamente, ao invés,«tendencialmente pago»!

José M.D. PoçasMédico Internista e Infecciologista

Director de Serviços da Rede HospitalarPública do SNS

Presidente do Concelho Distrital de Setúbalda OM

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 47

Apesar de, vivermos num país, onde oesforço que cada um de nós já faz, querem termos do que pagamos indirecta-mente através dos impostos, quer doque pagamos directamente através dasmais diversas formas (taxas modera-doras, seguros, etc.) é, percentual-mente, das mais elevadas ao nível co-munitário.

Tudo isto me faz lembrar a parábolada «macaca que tanto gostava da suacria que, tão obcecada estava com aideia de a defender a todo o custo dasagressões externas que pretensamentea rodeavam, cada vez a apertava maiscontra o seu peito, pensando dessemodo torná-la inatacável, até que su-bitamente reparou, atónita, que em vezde a ter salvo, como pretendia, tinha-aantes asfixiado com a super protec-ção do seu enorme amor maternal».

Assim parece o actual Sr. Ministro daSaúde. Cuida tão bem da contabilida-de do seu Ministério e tanto querviabilizar o SNS que, um dia destes,quando acordar do pesadelo em quecaímos, o mesmo SNS de que tantogostava, e que outrora até fora classi-ficado internacionalmente como odécimo segundo melhor de todo omundo por entidade externa credível,pura e simplesmente se esfumou, sen-do apenas uma vã (?) recordação namemória dos cidadãos, dos profissio-nais de saúde e de alguns (poucos ?)políticos, tendo então passado a vigo-rar apenas nos manuais de história.

Talvez que então ele venha a ser«reinventado», tal como o pretendemfazer os próprios EUA, que apesar deserem os verdadeiros paladinos do li-beralismo, não deixam de reconhecerque não é legítimo continuar a tercerca de 10% da população pratica-mente sem direito aos mínimos cui-dados de saúde adequados à dignida-de da condição humana que dizemdefender enquanto povo e nação, atéporque são o país mais rico do mun-do. Nada melhor, parafraseando o ve-lho aforismo popular, do que «perderalgo (ou nunca o ter tido antes, mas

saber que existe algures!), para se lhedar o devido valor».

Ou seja, por outras palavras, quasetoda a política internacional se enca-minha hoje, sub-repticiamente, paraglorificar, qual quimera redentora co-locada num altar, o novo tipo de Esta-do emergente, o dito «Estado Regula-dor» em detrimento do defunto «Es-tado Social» de boa memória, que osarautos do neoliberalismo, por sua vez,cognominaram pomposamente de «Es-tado Golden Share». Este último apre-senta-se de facto como tão exíguo, quemais parece um verdadeiro «tigre depapel», incapaz de impor respeito, dedar o exemplo, de apontar o caminho,e no seio do qual se admite que tudopoderá vir a ser eventualmente privati-zável, incluindo, quiçá um dia, para seugáudio hipócrita, o próprio (Estado)!

É que, se por um lado, todos sabemosque os cuidados de saúde serão cadavez mais dispendiosos, por outro, te-mos igualmente que continuar a acei-tar que os direitos constitucionais doscidadãos são os mesmos, sendo esteprecisamente um dos mais básicos,pelo que é hoje conceptualmente in-concebível não dar uma garantia efec-tiva de acesso generalizado, mesmopor parte daqueles que não têm capa-cidade económica para o poderemsuportar autonomamente. Chama-sea isso solidariedade geracional ecivilizacional, baseada no esforço pro-porcional à riqueza de cada cidadãoou família, e jamais se poderá enten-der como uma mera vã promessa, masantes como uma efectiva realidadenuma sociedade que se diz pautadapelos valores do humanismo própriode um genuíno «Estado de Direito».

É para isso que elegemos ciclicamentegovernantes em eleições democráti-cas e que pagamos os impostos quenos dizem ser necessários à manuten-ção do dito «Estado Social», que mes-mo que alguns o queiram colocar novelório, continua a constar explicita-mente nos estatutos da generalidadedos partidos com assento parlamen-

tar do nosso país. A não ser que al-gum deles queira ter a coragem de,um destes dias, se apresentar a sufrá-gio popular com um programa eleito-ral diferente, prometendo apenas paraalguns, aquilo que deveria constituir uminsigne valor universal!

É pois um verdadeiro imperativo éti-co os dirigentes políticos falarem averdade e não exigirem apenas o cum-primento das regras aos seus subor-dinados, esquecendo-se de optar pelomesmo padrão de comportamentopara com as elites da hierarquia que éresponsável pelas mais variadas instân-cias dos muitos organismos existen-tes, sejam eles públicos ou privados.

Só a título de exemplo, convém aquilembrar que no Hospital onde traba-lho e no qual, por via de uma gestãoincompetente e autista, que contoucom a obstinada cobertura política doentão Ministro da tutela e da ARSLVTcessante, a esmagadora maioria dosDirectores de Serviço viu-se na con-tingência de ter que apresentar a suademissão, tentando desse modo sal-vaguardar o interesse da instituição eas responsabilidades da má gestão rei-nante. Moveram inclusive um proces-so em Tribunal por se terem sentidoinsultados no seu Bom-nome, e por-que não reconheciam qualquer idonei-dade para o exercício do cargo porparte de quem dirigia os seus desti-nos. Ao entrar o novo CA, já na vigên-cia do actual governo, o seu ex presi-dente foi «premiado» pelos bons ofí-cios à causa institucional, tendo ficadoem casa, com ordenado por inteiro,durante cerca de seis meses. Comoresultado directo da sua acção, a futu-ra Unidade de Internamento deInfecciologia / Pneumologia, que tinhasido entretanto reconstruída na alaantiga do mesmo, com verbas cativasdesde há quase dez anos pela CNLCS(cerca de 250.000 euros), e por ver-bas entretanto recebidas através doPrograma Comunitário Saúde XXI(cerca de 1.000.000 euros), não podeainda ser inaugurada (já lá vai mais deum ano!), porque apresentava algumas

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e graves insuficiências técnicas, dadonão ter sido solicitado o imprescindí-vel acompanhamento especializado,nomeadamente por parte dos Direc-tores de Serviço respectivos (nos quaisme incluo). As consequências? Estáaberto concurso internacional paracolmatar esses «pequenos deslizes»,estando a correcção dessa «insignifi-cante distracção» orçada em mais cer-ca de 250.000 euros!

Existirá alguma moralidade nesta his-tória Sr. Ministro?

II) – NOTAS FINAIS à VOLTA deumas QUANTAS PERCENTA-GENS

«… estamos a ser educados para a obe-diência, a passividade e a ignorância. Meiocaminho andado para a domesticação…» (sic) (Vicente Romano, Professor deCiências da Comunicação, Visão, Novem-bro de 2006)

Constitui uma indesmentível verdade«lapaliciana» afirmar que o OGE detodos os países, dos mais ricos aos maispobres, ontem como hoje e sempre, éigual em percentagem: 100%. Talvez amaior arte da política actual esteja emdividi-lo racionalmente em partes pe-los vários Ministérios em função dasnecessidades existentes e futuras daspopulações, e arranjar, em todos eles,os processos mais eficazes de renta-bilizar as verbas assim repartidas. Nasdemocracias, estas opções têm con-tudo quer ser muito bem explicadaspreviamente ao eleitorado e deve sereste a julgar o que entende ser me-lhor para a sociedade, em função daspropostas apresentadas. Os Governose os Parlamentos serão apenas umaextensão dessa delegação cíclica depoderes, devendo pois prevalecer umaabsoluta transparência de processose objectivos, sendo contudo seguro deantemão que o direito à saúde é dosmais básicos e que os seus custos vãoinexoravelmente aumentar, tal comojá fiz referência e é consensual de en-tre todos os especialistas na matéria.

Quando o Sr. Ministro promoveu, noinício do corrente ano, uma reuniãocom todos os Directores de Serviçode Infecciologia e de Oncologia do país(as duas especialidades mais «gastado-ras»), pôde-se trocar algumas impres-sões sobre estes problemas, tendo-nosentão transmitido a sua intenção delimitar o crescimento da despesa commedicamentos hospitalares a 4%.

Na reunião que assisti, alguns colegase eu próprio argumentámos que nagrande maioria das situações eramseguidos os protocolos e as recomen-dações internacionalmente consigna-das. Mais ainda, que feitas bem as con-tas, a despesa anual por cada doenteno nosso país ficava, para a área daSIDA, abaixo do tratamento mais eco-nómico recomendado para doentes«naive», que havia muitas centenas dedoentes a não serem tratados e quenecessitavam de terapêutica e que ti-nha ainda que se considerar o trata-mento dos casos de multirresistência,das complicações oportunistas e dasco-infecções pelos vírus das hepatites,etc, bem como também, logicamente,a correspondente a todas as outrasdoenças infecciosas.

Para além disso, em termos de pro-filaxia das infecções oportunistas, pa-rece que vivemos em dois países dis-tintos: Aquele onde se pode dar estamedicação aos doentes em Hospitalde Dia e o que (como no Hospitalonde trabalho) onde ela foi «proibi-da» superiormente, mesmo apesar deser custo-efectiva! Isto para não falarda inovação terapêutica e da hipóteseque alguns autores levantam, da van-tagem clínica (e que poderá eventual-mente vir a constar das recomenda-ções num futuro a prazo…) da tera-pêutica dever ser iniciada mais cedodo que se faz actualmente no nossopaís. Como de resto se fazia há cercade dez anos! É que, como penso queVª Exª saberá, na Ciência, tal como naHistória, as coisas são, por vezes, denatureza cíclica.

Para os que contra argumentam que

existem muitas combinações igualmen-te eficazes, de acordo com os ensaiosclínicos já realizados, a preços muitodiferentes, deve esclarecer-se que esta,como de resto todas as outras, deveser uma medicação o mais individuali-zada possível e que o doente «ideal»do ensaio clínico, é uma abstracção quenão existe na prática. A humanizaçãodos cuidados na verdadeira acepçãodo conceito implica a adaptação dasterapêuticas à idiossincrasia de cadadoente, sobretudo no tratamento dasdoenças crónicas (como é o caso daSIDA!), que é para ser prescrito pormuito tempo seguido (meses, anos,quiçá toda a vida!) e onde o factoradesão é o mais determinante (talcomo futuramente enfatizarei).

Por isso os clínicos dão tanta impor-tância às possíveis implicações de umasérie de factores, que incluem o estilode vida do doente em concreto, asinteracções medicamentosas potenci-ais, a tolerabilidade, os efeitos a longoprazo ao nível metabólico e a potencialteratogenicidade, a comodidade poso-lógica, a potência e a barreira genéticade cada fármaco ou associação, as hi-póteses de sequenciação de novas com-binações em caso de falência, etc.

Não que sejamos genuinamente indife-rentes os seus custos (também pagamosimpostos e não queremos de todoinviabilizar o sistema), mas somoslogicamente muito sensíveis aqueles ar-gumentos referidos, em claro benefíciodos doentes, até porque também sabe-mos que eles podem ser quantificadosfarmacoeconomicamente nos denomi-nados custos intangíveis, ou seja, naque-les que se relacionam com a qualidadede vida, que nos é também exigido quesaibamos defender e valorizar.

Enquanto conjecturava esta CARTAABERTA e pensava naquele número«maldito» dos 4%, bem como em to-das as vicissitudes que vivenciamos nanossa prática clínica quotidiana e queabordarei com mais detalhe nos sub-sequentes artigos desta trilogia, lem-brei-me, por mera analogia, que se ti-

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Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006 49

nha celebrado muito recentemente oscinquenta anos de uma Fundação, aquem o nosso país tanto deve, e cujofundador, Calouste Gulbenkian, tam-bém esteve associado a um número«mágico»: 5%. Era essa a percentagemque cobrava nos negócios do petró-leo em que participava e que lhe per-mitiram comprar o espólio que hojetodo o mundo pode admirar em Lis-boa. Contudo, penso que muito maisimportante do que esse verdadeiro im-pério económico que edificou e legou,foi isso ter-lhe permitido, durantemuitos e cinzentos anos da nossa his-tória colectiva, ser um dos raros fo-cos a iluminar a Alma Lusa, não só nasartes, mas também na ciência.

Ao passo que, Sr. Ministro, receio que

Vª Exª vá ser conhecido no futuro, por«tão pouca diferença», ter retirado aAlma aos profissionais e, em particu-lar, aos médicos. É que nós, para alémde nos preocuparmos com muitasoutras coisas mensuráveis, fomos edu-cados a valorizar, acima de tudo, o Es-tado de Alma dos nossos doentes.

E olhe que sem ALMA a medicina tor-na-se ainda muito mais cara! É a cha-mada Medicina Defensiva de que, tan-to Políticos como Governos, têm for-tes razões para ter realmente verda-deiro pavor, mas que infelizmente, ain-da alguns doentes «menos esclareci-dos», tanto gostam. E alguns médicostambém …E por favor não se esqueça da lição doepisódio ocorrido em Inglaterra não

há muito tempo onde, com a intenção(«à priori» boa) de reduzir a prescri-ção de antibióticos (que é na realida-de exagerada), os políticos da saúdelocais decidiram oferecer uma recom-pensa aos médicos de família em fun-ção do grau de cumprimento desse(importante) objectivo … até que ti-veram de suspender a iniciativa, aoverificarem que, ao invés do pretendi-do, a mortalidade dos doentes estavaa ser (inaceitavelmente) maior do queanteriormente!

Até uma próxima.E pense bem antes de …

Com a máxima consideração,um médico «livre pensador»

Setúbal, 2006/12/10

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João-Maria Nabais

É Luís Lourenço, um escritor tardio?

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horas em que ficará de castigo na es-cola para adoçar a sua dose latente derebeldia. Claro que a sua pertinácia dáprovas de benigna evolução com a ida-de, com maiores ou menores desgos-tos de permeio.Com um ou outro percalço mais oumenos grave vai deambulando pela suaaldeia natal até aos 17 anos.

Faz o Curso de Oficiais Milicianos apóso qual é destacado no princípio dosanos 60 para Moçambique tendo re-cebido vários louvores sem nunca terentrado em confronto directo com oinimigo em todo o período militar decampanha. Por inteiro, cá e lá, foramcinco anos de Serviço Militar, uma eter-nidade para quem não pertencia nemevidenciava grande apego à sociedadecastrense.

Licenciado em Medicina pela Univer-sidade de Lisboa depois de frequentara sua congénere de Coimbra. ExerceClínica Geral em Rio Maior durantealguns anos, tendo-se especializado,mais tarde, em Radiodiagnóstico, pas-sando a exercer a profissão de médi-co com clínica no ramo da Imagiologiana cidade de Leiria há mais de trintaanos.

Hoje é um homem cometido, bem ca-sado, pai de quatro filhos e avô de oitonetos que são uma das muitas boasrazões do seu feliz viver.

Inicia-se na escrita em 1993, aos 59anos!!!

É uma pergunta duplamente mal ditaque possivelmente nunca se deve sus-citar. Talvez o sentido da questão este-ja deturpado e a pergunta pareça emsi mesma à partida envenenada. Paramim e para muitos outros que andam

nestas lides, deixar de escrever é trans-formar a existência numa via de senti-do único ou mesmo sem sentido al-gum, tal como deixar de ler é pararno tempo como se o músculo do cé-rebro ficasse embutido, cristalizado, aoperder a vitalidade única de recriar oespírito da vida com a força, o estímu-lo e o sentimento que as palavras e osbons livros gratuitamente nos conce-dem.

Certamente que mesmo os escrito-res tardios (exs. José Gomes Ferreira,Tomás de Figueiredo, Tomasi di Lampe-dusa, etc.) têm ainda outras causas evalores a nos transmitir, pelo caldearútil do seu saber e conhecimento atra-vés da escrita. Connosco partilhamsonhos e confidenciam experiências,muitas delas enriquecedoras, passadaspara o nosso presente e que podemservir de linhas orientadoras, as cha-madas guide-lines, para um futuro me-lhor.

Recordo um bom exemplo no livro OPrincipezinho, um romance do malogra-do Antoine de Saint-Exupéry publica-do em 1943, lido até hoje por milhõesde pessoas de várias gerações e ida-des em todo o mundo. É sem dúvidaum texto premonitório, ao antever aforça da solidão com que o homem ea mulher comum, hoje em dia, nestasociedade cada vez mais global se de-bate quando muito rapidamente seesquecem de modo absoluto, a crian-ça que foram poucos anos antes.

E não é verdade que muitos escrito-res também envelhecem, do mesmomodo que o vinho do Porto? Luís Lou-renço é um deles.

Este nosso médico-escritor conheceuo seu big bang literário quando mui-tos dos seus pares já tinham largado apena da escrita, por lhes ter faltadoprosaicamente a tinta ou simplesmen-

Luís Esperança Ferreira

Lourenço nasce a 30 de

Março de 1934, numa

sexta-feira Santa, em

Regueira de Pontes¹,

uma pequena aldeia,

sede de freguesia que

dista 9 quilómetros de

Leiria.

Luís Lourenço, umescritor tardio?

Ele celebra em verso este momentosingular: «Em Sexta-Feira Santa vim aoMundo/ Que triste aquela hora em queeu nascia/ Sobre a terra o silêncio eraprofundo/ Que à hora em que eu chega-va, Deus partia», retirado do poema Odia em que nasci, do seu terceiro eúnico livro até agora de poemas «Umdrama no paraíso».

Aqui inicia os estudos primários sen-do um aluno um tanto sagaz, algo pre-guiçoso e rebelde quanto baste como asi próprio se descreve. A sagaz perspi-cácia que cedo revela faz com quedemonstre facilidade em rabiscar asprimeiras letras que improvisa nas

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te ter-se esgotado a veia literária comque a natureza temporariamente osdotou.

Diversas pessoas, muitos deles médi-cos mais tarde ou mais cedo, sentem apremência de escrever relativamentea um determinado ramo do conheci-mento: literatura, medicina, história,etc., sem saberem muitas vezes o por-quê. Certamente os livros são sonhosque ciclicamente despertam a imagi-nação dos escritores. E penso que LuísLourenço pode muito bem ter ditopara consigo, algures em qualquer mo-mento da sua carreira: sem dar por issodei por mim a escrever. A partir daí nuncamais parou já que a publicação de umLivro é sempre a grande utopia paraqualquer Escritor.

Não hesito em rotular (mesmo queisso evidencie um certo atrevimentoou alguma audácia da minha parte) queele é seguramente um autêntico con-tador de histórias para uma nova co-municação e estímulo dos sentidos -assim também orgulhosamente se de-finia aquele grande escritor brasileiro,Erico Veríssimo que há bem poucotempo se comemorou o centenário doseu nascimento.

Penso que com os seus escritos tardi-os Luís Lourenço elege para si mesmoo ideal socrático de «conhece-te a tipróprio». Através do uso da liberdadeque lhe foi concedida por Deus ao en-tendimento e à vontade de escrever,ele tem contribuído para a dignifica-ção da natureza humana criada à ima-gem e semelhança de todo o seu pas-sado pessoal e familiar construído nabase de um profundo conhecimentodo povo da região com que desde cedose habituou a comorar, demonstran-do estar atento ao privilegiar a sua artelaboriosa, a sua filosofia própria de vida,o humor peculiar dessa gente humil-de de espírito subtil mas astuto, comas suas contidas aspirações envoltasnas muitas crenças e tradições reite-radas por uma religiosidade tão pro-fundamente comovente e popular. É eleque refere no final do prefácio do seu

primeiro livro «Quando o desperta-dor era o galo» - já com várias reedi-ções -, «… Foi neste mundo que eu nas-ci. É dele o testemunho que aqui deixo,oculto pela máscara da ficção, aos vin-douros e aos nostálgicos das velhas al-deias…».

Agora a sua vocação apresenta-secomo um imperativo literário. Hámesmo uma espécie de chamamentopara ao qual não tinha tempo nemdisposição para fugir. Porque dentrode um escritor coabita muita gentetal a visão simultaneamente múltiplae unitária da Vida, veja-se o exemplomarcante de Fernando Pessoa que tãosoberbamente criou e descreveu osseus principais heterónimos de Álva-ro de Campos a Ricardo Reis eAlberto Caeiro.

Toda a obra de Luís Lourenço é deum profundo e irresistível humanismo,escrita numa linguagem simples e di-recta que em muitos momentos estáimpregnada de um sabor intensocampesino por vezes de um bucolismoquase, quase saudosista – «… Desfei-tos os sonhos de uma vida de esperançae desilusão, só restava aos dois anciãos oamor que os unia e o casal de andori-nhas que todos os anos os visitava masque agora parecia não querer voltar …»ou esta outra passagem do mesmo li-vro de contos «Janela aberta sobre avelha aldeia»: «… Uma parreira encor-pada e vigorosa protegia o lar dos rigo-res da canícula no pino do Verão, e perfu-mava e embelezava o pátio em princípi-os de Outono com os seus pesados ca-chos de uva formosa e malvasia...»

A sua escrita, algo regionalista pela afei-ção à terra e às suas gentes, está aten-ta ao pulsar da natureza, a lembrar--nos a energia oculta por vezes indo-mável e poderosa da terra-mãe. Domesmo modo demonstra uma ironiacomplacente perante os vícios do ho-mem e da mulher comum mas de olharvígil a qualquer vibração sensual doscorpos em êxtase, o que evoca a pro-sa de grande sensibilidade do nossoAquilino Ribeiro.

Por vezes o seu estilo traz-nos à me-mória a evolução da ficção neo-realis-ta dum Fernando Namora, cujo para-digma é por ex. – «… A Beltrana era asanta milagreira da terra. Não haviatreçolho, cobrão, mau olhado, espinhelacaída ou bucho tombado que não curas-se com as suas preces, uma mistura depaganismo, catolicismo e crendices…» ouentão descreve com a preocupação deintervenção social, «A verdade é que pormais que a Pide vasculhasse, por aqui epor além, o corpo esguio do comunistaclandestino esgueirava-se entre as ma-lhas da Polícia com a viscosidade de umaenguia… Num dia em que alguma im-prensa asseverava que Albano Cunha seencontrava em Lisboa, nas barbas dosseus perseguidores, este entrava com todaa simplicidade em Penha Garcia…»,excerto do «O céu é dos pássaros».A ti Miquelina, o Nordestino, o pro-fessor Balazar, o padre Pimentão, onovo-rico do Lérias, são típicas figu-ras entre tantas outras que atraves-sam muitas das suas breves e delicio-sas narrativas escritas, tudo acompa-nhado de um profuso e intenso voca-bulário em que o léxico é constituídopor um invulgar número de palavrasantigas genuínas ou então pouco co-nhecidas, para cujo entendimento sócom a ajuda preciosa de um glossário,exs. abegão (criado de lavoura, feitor,rendeiro), peixe em alegria (peixe emcardume à superfície), balseiro (grandedorna ou vasilha em madeira onde seesmagam as uvas e onde estas fermen-tam), belga (pequeno campo de culti-vo), fezes (preocupações), catarral(pneumonia, bronquite), cobrelo oucobrão (herpes zoster / zona ou sim-ples erupção cutânea que a crendicepopular atribui à passagem de animaispeçonhentos pela roupa que se ves-tiu), temo-las boas (estamos arranja-dos), etc., etc..

Luís Lourenço filtra numa escrita lim-pa, sem preconceitos nem ambiguida-des mas de uma grande cumplicidade,todo um conjunto de dúvidas e recei-os postos no domínio do pensamentoe da acção do homem simples do cam-po confrontado com as dificuldades e

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os problemas da simples sobrevivên-cia avaliando sempre os mistérios in-sondáveis da alma humana inseridanum quotidiano hostil.

Dos diversos livros que até agora edi-tou (oito no total, muitos deles pre-miados tanto em Portugal como noúltimo livro «O céu é dos pássaros»que conta o drama da emigração clan-destina para França nos anos sessentado século XX e que hoje temos o gra-to prazer de participar activamente noseu lançamento.

É graças à nossa imaginação que en-tendemos melhor o mundo como eleé na realidade, para assim conseguir-mos ter a força suficiente para dar umnovo rumo e sentido à esperança. Sema faculdade de criar na fantasia, o mun-do real seria uma torre de babel mui-to pior do que consegue ser hoje.

É na raiz da memória que vamos bus-car os alicerces de que dependemospara sobreviver embora não tenhamospor vezes a capacidade, a argúcia, a sa-gacidade nem o engenho, para numverdadeiro exercício de oficina enqua-drarmos, sinergicamente: o imaginárioe o real, num rio afluente onde possaconfluir tudo aquilo que sentimos eexperimentamos em vida.

Aqui o importante é conseguir esco-lher o momento capaz, o mais azado,para justificar este nosso tempo inte-rior, único, onde tudo poderá estar aacontecer. Basta estar atento e dedi-car algum do esforço diário (por ve-zes de modo inconsciente) que podeapenas ser, um recolhimento solitáriomuito próximo do eremita pintadomuitas vezes de sangue, suor e lágri-mas porque os génios da Humanidadena história da literatura, da música, da

medicina ou de outras Artes, não fo-ram assim tantos como se pensa ouse desejaria e mesmo assim estão qua-se sempre imbuídos numa missão no-bre de verdadeiro sacerdócio.

Luís Lourenço sabe muito bem do queescreve e tão bem conhece – é umsaber de vida vivida! Claro que Luís Lou-renço é um verdadeiro escritor tar-dio mas que rapidamente atingiu a mai-oridade. Com ele sente-se a naturezaa respirar.

¹ Regueira de Pontes, freguesia com 10,8 km²de área e 2 263 habitantes (censo 2001), decuja simbologia da ordenação heráldica dobrasão há a salientar: a) um feixe de setas arepresentar o orago a São Sebastião, padro-eiro da freguesia; b) o sino que caracteriza ofacto pouco usual da fundição de sinos nopróprio local da igreja; c) a ponte, elementoexpressivo em alusão a «pontes»; d) o onde-ado de azul e prata simboliza o rio Liz queatravessa a povoação.

A Ordem está de luto«É na pessoa do Bastonário da Or-dem que canalizo hoje o meu profun-do pesar pelo desaparecimento doProf. Rolando Moisão. Há muitos anosdevotado colaborador da Ordem e

organizador do seu património cultu-ral, o nosso amigo Rolando Moisão,professor de Cirurgia e escritor mé-dico, deixará profunda saudade emtodos os que souberam apreciar o seu

aprumo, a lealdade e o fino trato. Compropriedade a Ordem está de luto. »

Artur Torres Pereira2 de Novembro de 2006

54 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2006

CONSULTÓRIO JURÍDICO

Direitos dos menores à Informaçãoe ao Consentimento InformadoRecomendação do Comité Permanente dos Médicos Europeus – Subcomité De Ética

Contudo, tais princípios podem variar,no que respeita à obtenção do con-sentimento para tratamentos e inter-venções em menores, dado que, de-pendendo das idades e das diferentesjurisdições, há terceiros a esta relaçãoque detêm poderes para tomar deci-sões em sua representação.

Esta circunstância não retira aos me-nores o direito ao respeito pela suaindividualidade e, bem assim, a seremenvolvidos, tanto quanto possível, nasdecisões sobre os cuidados que lhessão prestados.

Enquanto menores poderá faltar-lhescapacidade legal para tomar decisõessobre tratamentos, contudo, pela ex-periência/vivência que tenham desen-volvido relativamente à sua doença,devem ser ouvidos e a sua opinião deveser tida em conta.

O menor deve, nesta medida, ser con-siderado capaz no que diz respeito a

decisões relativas ao seu tratamento.Os médicos devem, pois, providenciara informação adequada ao discerni-mento e maturidade do menor no sen-tido deste poder perceber relevante-mente e de forma integral o tratamen-to, as suas consequências e riscos.

Deverão, ainda, os médicos reconhe-cer que a mesma informação tem deser fornecida aos representantes le-gais do menor.

O objectivo desta abordagem é o deprovidenciar ao menor uma orienta-ção sensível e cuidadosa e de apoiá-lona sua doença. O reconhecimentomútuo do menor e dos pais ou dostutores a serem envolvidos em deci-sões sobre os seus cuidados de saúdeé essencial.

(Decisão de 10 de Março de 2006)O Comité Permanente dos MédicosEuropeus estabelece, entre outras, re-comendações sobre ética e deontolo-gia médicas a nível europeu para quese estas sejam implementadas pelasorganizações médicas em cada um dosEstados Membros.

Assunto: Publicação naROM/MEDI.COM

Recomendação do Comité Permanen-te dos Médicos Europeus – Sub-comi-té de Ética e Deontologia Médica

Informação

Por entendermos que tem interessepara o conhecimento geral dos médi-cos algumas das recomendações oudecisões aprovadas no CPME sobre asdiferentes vertentes dos diversossubcomités propomos que, considera-do o interesse que uma ou outra pos-sam ter no sentido de informar osmédicos, sejam as mesmas publicadasna ROM e ou no MEDI.COM.

Em nossa opinião existem outros do-cumentos com relevante interessepara conhecimento dos médicos masque, pela sua extensão, poderiam oudeveriam ser colocados no site da O.M. ou no das Secções Regionais.

Este último trabalho deveria ser arti-culado com o CNE.

No entretanto e porque achamos in-teressante uma decisão sobre deon-tologia médica proferida na última reu-nião da direcção do CPME tomámosa liberdade de a traduzir e de propora sua publicação nos referidos órgãosde comunicação.

O documento a que se refere estadecisão é o CPME 2006/030 Final.

O Consultor JurídicoPaulo Sancho2006-03-13

Os princípios da comu-

nicação e da obtenção

de consentimento in-

formado são essenciais

na relação médico-

paciente.

AAAAA G E N DG E N DG E N DG E N DG E N D AAAAA

EVENTO: CURSO PÓS-GRADUADO DE GASTRENTEROLOGIA PARA

CLÍNICOS DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR

LOCAL: Novotel Vermar, Póvoa de VarzimDATA: 11 a 13 de JaneiroCONTACTO: Mario Blanco Peres; Tlm: 93 6448434;Email:[email protected]

EVENTO: WORKSHOP DE NOÇÕES BÁSICAS DE FARMACOECONOMIA

PARA APOIO À DECISÃO

LOCAL: Escola Nacional de Saúde Pública, LisboaDATA: 13 de Janeiro; 27 de Janeiro; 10 de Fevereiro;3 de Março e 17 de marçoCONTACTO: Schering-Ploug; Tel: 21 - 43 39 300;EVENTO: XVIII JORNADAS DE CARDIOLOGIA DO NORTE PARA

MEDICINA GERAL E FAMILIAR

LOCAL: Hotel Sheraton, PortoDATA: 17 a 20 de JaneiroCONTACTO: Departamento Médico de Congressos; Tel:21 – 3584380; Email: [email protected]

EVENTO: 2007 GASTROINTESTINAL CANCERS SYMPOSIUM

LOCAL: OrlandoDATA: 19 a 21 de Janeiro

EVENTO: 5ª REUNIÃO ANUAL MEDINTERNA DE DOENÇAS

AUTOIMUNES E SISTEMA NERVOSO

LOCAL: Fundação Cupertino de Miranda, PortoDATA: 25 a 27 de JaneiroCONTACTO:Associação Medinterna Hospital S. João;Email: [email protected]

EVENTO: XVII CURSO DE REABILITAÇÃO E TRAUMATOLOGIA DO

DESPORTO

LOCAL: Auditório dos Hospitais da Universidade deCoimbraDATA: 26 e 27 de JaneiroCONTACTO: XVII Curso de Reabilitação e Traumatologiado Desporto, Apartado 9009- 3001-301 COIMBRA; Tel/ Fax:239-703 853

EVENTO: CURSOS DE INVERNO DA SPP PARA INTERNOS –ONCOLOGIA: O ESSENCIAL PARA O FUTURO PEDIATRA

LOCAL: Hotel Vila Galé – EriceiraDATA: 26 a 28 de JaneiroCONTACTO: Sociedade Portuguesa de pediatria;Tel: 21 – 757 46 80; Email: [email protected]

EVENTO: 4ªS JORNADAS DE MEDICINA INTERNA DO HOSPITAL

EGAS MONIZ

LOCAL: Hotel Pestana Palace, LisboaDATA: 1 e 2 De FevereiroCONTACTO: Hospital Egas Moniz – Serv.iço de MedicinaInterna

EVENTO: I CONGRESSO PORTUGUÊS DO ACIDENTE VASCULAR

CEREBRAL

LOCAL: Porto Palácio Hotel, PortoDATA: 1 a 3 de FevereiroCONTACTO: SPAVCTel: 22 – 616 86 81;E-mail: [email protected]

PATROCÍNIOS CIENTÍFICOS - 2007

XUTOS&PONTAPÉSA mais amada banda rockportuguesa celebra o seu vi-gésimo oitavo aniversário nodia 13 de Janeiro de 2007com um concerto acústicoque terá lugar no Casino Lis-boa. Xutos & Pontapés pro-metem a revisão dos seus

maiores êxitos: Contentores, Chuva Dissolvente, Remar, Re-mar são apenas alguns dos temas a (re)ouvir neste concerto.

STOMPOs STOMP, já bem conhecidos pelo público português, ca-racterizam-se pelo ritmo e movimento de corpos, objectose sons aos quais não se consegue ficar indiferente! Conce-bido a partir de teatro de rua, cheio de humor, ritmo e comum sapateado exuberante, STOMP é o espectáculo ideal

para reunir pessoas de todas as idades e gostos. Para eles, abeleza e a música são uma constante quotidiana, presenteem tudo. Das botas aos baldes, das tampas dos caixotes delixo aos isqueiros e vassouras, dos lava-loiça aos garrafões,tudo é motivo e base para o movimento e o som. Com maisde 15 anos de vida, os STOMP deixaram de ser um fenómenoteatral britânico para serem um sucesso mundialmente acla-mado. Estreia dia 16 de Janeiro no Casino Lisboa.

PEDRO TOCHASDe 28 de Fevereiro a 3 de Março, no Casino Lisboa, estaráem cena o espectáculo de Pedro Tochas. Todos nós temosuma faceta pervertida, radical, de extremos, que esconde-mos das outras pessoas, onde dizemos, fazemos ou pensa-mos coisas que temos vergonha de mostrar à nossa mãe.Este é o mundo de Maiores de 18. Sexo, política, raiva numespectáculo que vai do ofensivo ao poético, com uma co-média agressiva para uma sociedade agressiva.

C U L T U R A