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SABERES & FAZERES Vol. IV - IF Sudeste MG€¦ · SABERES & FAZERES Coletânea de artigos de Extensão, de Pesquisa e de Ensino do IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei Vol. IV

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  • SABERES & FAZERES

    Coletânea de artigos de Extensão, de Pesquisa e de Ensino do IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei

    Vol. IV

  • CONSELHO EDITORIAL

    Antônio Ferreira da Silva Júnior (CEFET-RJ)

    Ariel Novodvorski (UFU)

    Danielle Pereira Baliza (IF Sudeste MG - Campus Avançado Bom Sucesso)

    Elisabeth Gonçalves de Souza (CEFET-RJ - Unidade Petrópolis)

    Emerson José Sena da Silveira (UFJF)

    Gustavo Ximenes Cunha (UFMG)

    Marilda Angioni (Fundação Universidade de Blumenau)

    Micheline Mattedi Tomazi (UFES)

    Nádia Dolores Fernandes Biavati (UFSJ)

    Rodrigo Ednilson de Jesus (UFMG)

    Rogério Ferreira do Nascimento (Faculdades Integradas Vianna Júnior)

    EQUIPE DE REVISÃO

    Alexssandra Eduarda dos Reis Oliveira; Aline Auxiliadora Silva de Deus; Ana Paula Almada Pimentel; Dayane Mara de Oliveira; Edna Cristina Silveira; Eva Aparecida de Assunção Silva; Lívia Marília Souza Carvalho; Lucimara Grando Mesquita; Mariana Camila de Resende Cruz; Mariana Sampaio Ribeiro; Mônica Auxiliadora Santos Costa; Mônica Trindade Dias Magalhães; Polyanna Riná Santos Priscila Andrade.

    BANCA EXAMINADORA DO PROCESSODE SELEÇÃO DOS ARTIGOS

    Angélica Aparecida Amarante Terra; Amanda Carolina Costa Silveira; Amanda Conrado Silva Barbosa; André Luís Fonseca Furtado; Clarisse Ferrão Pereira; Déborah Neide de Magalhães Praxedes; Fernanda Maria do Nascimento Aihara; Helio Augusto Duarte Sanches; José Bernardo de Broutelles; Juliana Brito de Souza; Kamila Amorim; Luciano Alves Nascimento; Natalino da Silva de Oliveira; Priscila Fernandes Sant’Anna; Raissa Pedrosa Gomes Tette; Stela Cabral de Andrade; Suzana Vale Rodrigues; Telma Jannuzzi da Silva Lopes; Vaneska Ribeiro Perfeito Santos; Vilmara Lúcia Rodrigues Teixeira.

  • OrganizadoresAtaualpa Luiz de Oliveira

    Jackson de Souza Vale

    Colaboradores Ailton Magela de Assis Augusto

    Igor Cerri

    São João del-Rei2020

    SABERES & FAZERES

    Coletânea de artigos de Extensão, de Pesquisa e de Ensino do IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei

    Vol. IV

  • Saberes & FazeresCopyright © 2020 by IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei

    Capa, projeto gráfico e diagramaçãoJoão Guilherme Cunha e Vallo

    Apoio da Coordenação de Comunicação e Eventos do Campus São João del-Rei

    Todos os direitos desta edição são reservados. Conforme Chamada Pública divulgada em 10/07/2019, os autores con-cordam que os trabalhos publicados são considerados propriedade da Coletânea Saberes & Fazeres. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquer processo, sem a permissão expressa dos organizadores.

    S115 Saberes & fazeres: coletânea de artigos de extensão, de

    pesquisa e de ensino do IF Sudeste MG - Campus São João del- Rei, volume IV / Ataualpa Luiz de Oliveira; Jackson de Souza

    Vale (organizadores). - São João del-Rei: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus São João del-Rei, 2020. 265 p.: il. color. ; 29 cm. ISBN: 978-65-86922-00-4 (Livro Digital) 1. Pesquisa educacional. 2. Educação - Extensão. 3. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus São João del-Rei. I. Oliveira, Ataualpa Luiz de (org.). II. Vale, Jackson de Souza (org.). III. Título.

    CDD: 370.7

  • SumárioAPRESENTAÇÃO .....................................................................................................................................................7

    A PÓS-GRADUAÇÃO NOS INSTITUTOS FEDERAIS: INTERFACES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO TECNOLÓGICO DO IFAM .....................................................................................................................16

    A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DO CONCEITO DE ATIVIDADE CRIADORA EM VIGOTSKI ...................................................................................................................................38

    CINECLUBE: A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA E A FORMAÇÃO DE SUJEITOS MAIS CRÍTICOS .59

    AÇÕES DE LETRAMENTO RACIAL NO IF SUDESTE MG CAMPUS SÃO JOÃO DEL-REI: EXTENSÃO, GESTÃO, EDUCAÇÃO E CULTURA ....................................................................................................................78

    POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA DE MEDITAÇÃO (MINDFULNESS) PARA A EDUCAÇÃO: UMA LEITURA DAS CHAMADAS HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS .....................................................99

    O MUSEU DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA ENQUANTO LUGAR DE MEMÓRIA DA PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ...............................................................120

    ARRANJO PRODUTIVO LOCAL: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA UTILIZANDO O SOFTWARE VOSVIEWER ......................................................................................................139

    MODELOS LOGÍSTICOS DE ÚLTIMA MILHA: UMA REVISÃO DE LITERATURA APLICADA EM PORTUGAL ...........................................................................................................................................................158

    METODOLOGIAS E PRÁTICAS UTILIZADAS NO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NA CIDADE DA GUARDA, PORTUGAL .......................................................................................181

    PERFIL DE ACIDENTALIDADE OCUPACIONAL HOSPITALAR DOS PROFISSIONAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL-REI - MG ...................................................................................................................................199

    O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: A CONTRATUALIZAÇÃO DE UM HOSPITAL FILANTRÓPICO EM FOCO ..........................214

    OFICINA DE YOGATERAPIA COMO FERRAMENTA COMPLEMENTAR NO TRATAMENTO PARA ACOMETIDOS COM DIABETES MELLITUS: UMA PRÁTICA INTERVENTIVA NA CIDADE DE TIRADENTES - MG ..............................................................................................................................................235

    PROJETO DE REGULAMENTAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NA PREFEITURA DE RESENDE COSTA - MG ..........................................................................................................................................................251

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    Chegamos ao quarto volume da coletânea SABERES & FA-ZERES em um período de grande incerteza para a produção do conhe-cimento científico e sua divulgação, tanto no âmbito acadêmico, quan-to no que se refere à popularização destes novos saberes e fazeres.

    Com o início do novo governo, em janeiro de 2019, uma dinâ-mica de instabilidade e sucateamento tem se evidenciado no contexto educacional do nosso país. Desde então, as instituições públicas de ensino superior e de educação, ciência e tecnologia, assim como suas comunidades acadêmicas, vêm sofrendo ataques diários e levianos do órgão que deveria prezar por sua qualidade e reconhecimento. Estas instituições, responsáveis por quase toda a produção científica brasi-leira, foram acusadas de “balbúrdia”, de cultivar e produzir substân-cias ilícitas em seus laboratórios e seus professores foram qualificados como “zebras gordas” pelo próprio Ministro da Educação.

    Durante quatro meses, naquele ano, as universidades e institu-tos federais tiveram suas verbas de custeio contingenciadas, colocando em risco seu funcionamento e a manutenção das pesquisas desenvolvi-das. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundação responsável pela expansão e consolidação da pós--graduação stricto sensu em todos os estados brasileiros, teve, desde o começo de 2019, quase 12 mil bolsas retiradas de seu orçamento, que para o ano de 2020 foi reduzido à metade em relação ao ano anterior. Reflexos são percebidos cotidianamente nas rotinas destas instituições, nas atividades de ensino, de pesquisa e de extensão e nas práticas de gestão.

    APRESENTAÇÃO

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    Não bastasse, portaria do Ministério da Educação, assinada no final de 2019, restringiu a participação de servidores em feiras, fóruns, seminários, congressos, simpósios, grupos de trabalho e ou-tros eventos acima do limite de dois representantes por unidade, órgão ou entidade para eventos no país e um representante para eventos in-ternacionais. Tal medida terá como consequência a inviabilidade da divulgação da produção científica, da troca de conhecimentos e in-formações em todas as áreas, da formação de jovens pesquisadores, das reuniões anuais de sociedades científicas, das missões bilaterais e colaborações internacionais.

    Elencamos algumas das ações do Ministério da Educação que, em nossa opinião, visam desacreditar os pesquisadores brasileiros e o conhecimento científico produzido no país pelas instituições públi-cas. Ações essas que vão de encontro com os objetivos da coletânea de artigos de Extensão, de Pesquisa e de Ensino do IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei, SABERES & FAZERES, cujos ideais são justamente valorizar e divulgar os conhecimentos e práticas científicas produzidos em nossa instituição, assim como promover o desenvolvi-mento e o aprimoramento dos nossos servidores. Sempre com a pre-missa de compreensão de que os saberes e fazeres são diversos, resta às instituições de ensino a abertura à pluralidade e diversidade de co-nhecimento, com respeito a valores, crenças e preceitos dos diferentes sujeitos, grupos e comunidades. Desta forma, frente ao obscurantismo exposto, assumimos, com ainda mais afinco, a missão de produzir co-nhecimento científico de qualidade e divulgar seus resultados.

    Para o volume IV de nossa Coletânea, dadas as comemorações dos 10 anos dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecno-

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    logia, abrimos espaço para uma reflexão sobre o papel destas insti-tuições, trazendo à tona experiências que demonstram os avanços e desafios na construção e solidificação desta Rede. Assim sendo, no primeiro artigo do livro, A PÓS-GRADUAÇÃO NOS INSTITUTOS FEDERAIS: INTERFACES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO TECNOLÓGICO DO IFAM, as autoras convidadas Andréa Pereira Mendonça, Iandra M. Weirich S. Coelho e Rosa Oliveira Ma-rins Azevedo, do Instituto Federal do Amazonas, destacam um dos Programas de Pós-graduação desenvolvidos na instituição, o Mestra-do Profissional em Ensino Tecnológico. Criado em 2014, este curso é direcionado principalmente a pesquisadores e professores que tenham interesse em adquirir ou aperfeiçoar saberes e capacidades essenciais desde uma perspectiva contemporânea e global sobre temas relacio-nados aos processos de ensino e aprendizagem, com foco na criação e desenvolvimento de produtos educacionais, apoiados no uso de Tec-nologias da Informação e Comunicação, com potencial para promo-ver melhorias na aprendizagem. As ações evidenciadas nesse capítulo revelam as diferentes interfaces propostas pelo Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico do IFAM, cujo foco está no ensino, com ênfa-se na formação de professores e no desenvolvimento de estratégias e estabelecimento de uma cultura de pesquisa e comunicação científica, de modo a viabilizar a desejada interação da Pós-graduação com a Educação Básica/Profissional.

    O artigo A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA DISCUS-SÃO A PARTIR DO CONCEITO DE ATIVIDADE CRIADORA EM VIGOTSKI é resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso pro-duzido no âmbito do curso de Especialização em Didática e Trabalho Docente do Campus São João del-Rei. Teve como objetivo analisar os

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    resultados de pesquisas que tematizassem práticas educacionais no componente “Arte na Educação Infantil”. A obra que norteou as aná-lises foi “Imaginação e Criação na Infância”, de Lev Vigotski, sendo “atividade criadora” o conceito central da exploração. As autoras fize-ram um levantamento de resultados de pesquisas na área, analisando e categorizando produções que trabalham a Arte, suas práticas e o que ela proporciona para o desenvolvimento das crianças na fase da Edu-cação Infantil.

    No terceiro artigo, CINECLUBE: A LINGUAGEM CINEMA-TOGRÁFICA E A FORMAÇÃO DE SUJEITOS MAIS CRÍTICOS, as autoras apresentam o projeto de extensão “Cineclube: minorias sociais em cena”, desenvolvido no IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei, parte das ações propostas pelo Centro de Linguagens e de Letramentos (CELL). Esse projeto leva à comunidade filmes com temáticas sobre as minorias sociais, tentando despertar a empatia e a criticidade em quem os assiste. A proposta desta ação é trabalhar o letramento artís-tico (cinematográfico) a partir das concepções de linguagem, de letra-mento e de ludicidade. A partir das concepções citadas, elas buscaram apresentar esse projeto e discutir suas possibilidades como processo de intervenção nos sujeitos participantes e de que maneira, a partir do contato com os meios audiovisuais/filmes, podemos fazer agir e reagir diferentes opiniões acerca das temáticas discutidas durante as sessões. Da mesma forma, verificar a função política e pedagógica desta ação, pois possibilita aos envolvidos se posicionarem sobre seu papel dentro da sociedade.

    Já no artigo AÇÕES DE LETRAMENTO RACIAL NO IF SU-DESTE MG - CAMPUS SÃO JOÃO DEL-REI: EXTENSÃO, GESTÃO,

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    EDUCAÇÃO E CULTURA, os autores descreveram ações, experiências e resultados do projeto de extensão “Letramento Racial por meio da Educação, Cultura e Gestão: caminhos para a construção de uma so-ciedade antirracista” e do programa de extensão “Ações de Cultura, Gestão e Educação para o Letramento Racial”, o primeiro vinculado ao Edital de Apoio a Projetos Cooperativos de Extensão Tecnológica e o último, ao Programa Institucional de Apoio à Extensão, ambos de-senvolvidos no âmbito do Campus São João del-Rei durante o ano de 2018, no período de maio a dezembro. Todas as linhas de ação, apesar das diferenças de público e de atividades, tiveram como objetivos con-tribuir para o despertar de uma reflexão crítica sobre as estruturas so-ciais e educacionais que envolvem a população negra brasileira, bem como desenvolver ações de educação, cultura e gestão que contribuam no processo de construção de uma sociedade antirracista.

    O artigo POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA PRÁTICA DE MEDITAÇÃO (MINDFULNESS) PARA O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS NA EDUCAÇÃO tem como principal intuito fomentar a produção de conhecimento em uma di-mensão ainda pouco explorada nos estudos de mindfullness: as con-tribuições das práticas meditativas na promoção de saúde, qualidade de vida e bem-estar no ambiente escolar. Com alicerce em referenciais teóricos acerca de mindfullness e de Educação, os autores propuseram discussões e reflexões a respeito dos possíveis impactos positivos da aplicação de protocolos de práticas meditativas no âmbito da Educa-ção, especialmente no que toca ao desenvolvimento das chamadas ha-bilidades socioemocionais.

    O sexto artigo, O MUSEU DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA

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    BRASILEIRA (FEB) ENQUANTO LUGAR DE MEMÓRIA DA PARTI-CIPAÇÃO DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, é fruto de um projeto de Iniciação Científica Júnior intitulado “Novos olhares sobre a História: preparação e orientação de alunos para a participação na 11ª Olímpiada Nacional de História do Brasil (ONHB)” e contou com a participação de seis discentes do segundo ano do Ensino Médio da Escola Estadual Doutor Garcia de Lima, situada no município de São João del-Rei. Após a participação na ONHB, foi apresentada aos discentes a oportunidade de desenvolver uma pesquisa mais aprofun-dada sobre uma fonte histórica, à escolha dos próprios alunos. O obje-to de pesquisa por eles escolhido foi o Museu da Força Expedicionária Brasileira de São João del-Rei. Para a análise, foi utilizado o conceito de Lieux de Mémoire (Lugares de Memória), desenvolvido por Pierre Nora, no qual pode-se situar os museus.

    Apresentamos também o artigo ARRANJO PRODUTIVO LO-CAL: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DA PRODUÇÃO BRASILEI-RA UTILIZANDO O SOFTWARE VOSVIEWER. O arranjo produtivo local (APL) tem uma representatividade no desenvolvimento local e regional. Assim, se torna interesse de pesquisa em diferentes áreas do conhecimento, em nível nacional e internacional. Nesse contexto, o objetivo deste artigo foi realizar um estudo bibliométrico da produção brasileira sobre APL presente na base de dados SciELO Citation Index (Web of Science), no período de 2002 até maio de 2019. Para análise das redes, os autores utilizaram o software VOSviewer e ferramentas da estatística descritiva.

    Também compõe a coletânea o artigo MODELOS LOGÍSTI-COS DE ÚLTIMA MILHA: UMA REVISÃO DE LITERATURA APLI-

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    CADA EM PORTUGAL. De acordo com os autores deste trabalho, o grande crescimento do transporte de carga e as tendências atuais são responsáveis por um aumento crítico do congestionamento nas áreas urbanas, assim como da poluição do ar, do ruído e de outras externa-lidades em várias cidades do mundo. Novas técnicas e estratégias or-ganizacionais permitem lidar de maneira mais eficiente com a entrega de última milha em áreas urbanas. Este artigo trata-se de uma revisão literária sobre a logística de última milha, revelando que, apesar das inovações e experimentações significativas, o conhecimento existente sobre estruturas de Physical Internet e Logística Urbana é ilimitado, já que novas técnicas e estratégias surgem diariamente.

    No artigo METODOLOGIAS E PRÁTICAS UTILIZADAS NO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NA CI-DADE DA GUARDA, PORTUGAL, os autores apresentam questões relacionadas ao gerenciamento de resíduos sólidos urbanos e sua cres-cente importância. O trabalho teve como objetivo relatar a experiência vivida pelos autores na cidade da Guarda, em Portugal, durante o pe-ríodo de realização do programa de Mobilidade Internacional promo-vido pelo IF Sudeste MG. Foram observados e analisados os métodos e ferramentas utilizados pelo distrito no que diz respeito à Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos. A metodologia utilizada envolveu pesqui-sa bibliográfica e pesquisa de campo, ocasião em que foram acompa-nhadas todas as etapas do processo, desde o acondicionamento dos resíduos, a coleta e a destinação final, ocorridas durante o processo de gerenciamento.

    Para as autoras do artigo PERFIL DE ACIDENTALIDADE OCUPACIONAL HOSPITALAR DOS PROFISSIONAIS NO MUNI-

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    CÍPIO DE SÃO JOÃO DEL-REI - MG, o acidente de trabalho é um acontecimento multideterminado que se dá de maneira inesperada, sendo esta uma situação inerente a qualquer instituição hospitalar. Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar e quantificar o perfil de acidentes ocupacionais dos profissionais que exercem atividades laborais em estabelecimentos hospitalares, no período de 2016 a 2018, no munícipio de São João del-Rei. Trata-se de um estudo descritivo, transversal e retrospectivo de base populacional.

    Apresentamos, ainda, o artigo O PAPEL DOS PROFISSIO-NAIS DE ENFERMAGEM NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: A CONTRATUALIZAÇÃO DE UM HOS-PITAL FILANTRÓPICO EM FOCO. De acordo com os autores, as entidades sem fins lucrativos possuem importante papel estratégico na rede pública de saúde, representando 37% das unidades hospita-lares com atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS). Conside-rando a qualidade do atendimento e a fragilidade econômica e geren-cial observada em parte significativa deste segmento, ameaçando sua sobrevivência, são fundamentais mudanças que visem melhorias na assistência, gestão e financiamento. Para atender a esta necessidade e superar crises, o Ministério da Saúde criou, em 2005, o Programa de Reestruturação e Contratualização, propondo mudanças no modelo contratual adotado. O objetivo desta pesquisa foi avaliar o papel dos profissionais de Enfermagem na implementação do referido programa em um hospital filantrópico selecionado.

    OFICINA DE YOGATERAPIA COMO FERRAMENTA COM-PLEMENTAR NO TRATAMENTO PARA ACOMETIDOS COM DIA-BETES MELLITUS: UMA PRÁTICA INTERVENTIVA NA CIDADE

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    DE TIRADENTES - MG é o penúltimo texto da coletânea. Segundo as autoras, a Diabetes Mellitus é considerada uma síndrome metabólica e, como tal, reúne um conjunto de características que indica um risco cardiovascular e metabólico aumentado. Acomete uma proporção cada vez mais significativa da população mundial e essa realidade se reflete no município de Tiradentes, onde se desenvolveram ações por meio de um projeto de extensão do IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei. Objetivou-se vivenciar e analisar a prática da oficina de Yogaterapia como ferramenta complementar no cuidado aos sujeitos diabéticos.

    O artigo que encerra o quarto volume da coletânea, PROJETO DE REGULAMENTAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NA PREFEITURA DE RESENDE COSTA - MG, apresenta um relato de experiência de estágio supervisionado desenvolvido em 2018, vincu-lado ao curso superior de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos do Campus São João del-Rei. O objetivo principal foi apoiar a elabora-ção de um projeto de regulamentação da Avaliação de Desempenho no âmbito da Prefeitura Municipal de Resende Costa.

    Com esta reunião de trabalhos, convidamos nossas leitoras e leitores a testemunharem e se debruçarem sobre a produção de conhe-cimento que vem sendo desenvolvida no IF Sudeste MG - Campus São João del-Rei. Mesmo em meio a tantos desafios, vimos resistindo e nos reinventando, seguindo firmes e compromissados com nosso propósi-to de construir uma Educação pública, gratuita, plural e de qualidade. Boa leitura!

    Organizadores e Colaboradores

  • Saberes & Fazeres vol. IV

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    A PÓS-GRADUAÇÃO NOS INSTITUTOS FEDERAIS: INTERFACES DO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO

    TECNOLÓGICO DO IFAM

    Andréa Pereira Mendonça

    Iandra M. Weirich S. Coelho

    Rosa Oliveira Marins Azevedo

    Considerações iniciais

    A educação caracteriza-se como um instrumento indispensável para que a humanidade possa atuar no mundo globalizado, levando em conta a nova ordem político-econômica mundial e regional, os inúme-ros desafios da sociedade contemporânea, e as constantes e rápidas mudanças científicas e tecnológicas.

    Esse contexto, permeado por diferentes avanços da ciência e tecnologia, exige cada vez atualização, com base em distintos conhe-cimentos, habilidades e atitudes, tais como a aprendizagem ao longo da vida, o trabalho em equipe, o domínio das competências digitais, entre outras (UNESCO, 2009).

    Nessa perspectiva, a preparação acadêmica é indispensável e a capacitação constitui-se uma ferramenta que pode proporcionar o êxi-to profissional, potencializando recursos humanos críticos e dispostos a buscar novas práticas para atuar no âmbito educativo e na geração

  • Saberes & Fazeres vol. IV

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    de novos conhecimentos; aptos a lidar com o pluralismo da sociedade contemporânea; bem como potencializar o desenvolvimento de habi-lidades e saberes necessários para desenvolver a prática docente, fo-mentando o compromisso social, cultural e pedagógico.

    Nesse contexto, destacamos o papel dos Institutos Federais na educação brasileira, levando em conta, principalmente, a necessidade de fomentar a realização de pesquisas e capacitação docente, por meio da realização de programas de Pós-graduação. A realização de progra-mas dessa natureza busca possibilitar o desenvolvimento de um con-junto de conhecimentos, habilidades e comportamentos; ampliar os conhecimentos profissionais, objetivando não apenas benefícios rela-cionados aos saberes adquiridos e/ou aspectos financeiros que advém com esse processo, mas também os benefícios à sociedade.

    Com isso, destacamos um dos Programas desenvolvidos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM), o Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico (doravante MPET). Esse curso, criado em 2014, está direcionado principalmente a pesquisadores e professores que tenham interesse em adquirir ou aperfeiçoar saberes e capacidades essenciais desde uma perspectiva contemporânea e global sobre temas relacionados ao processo de en-sino e aprendizagem, com foco na criação e desenvolvimento de pro-dutos educacionais, apoiados no uso de Tecnologias de Informação e Comunicação, que podem promover melhorias na aprendizagem.

    Dessa forma, são desenvolvidas capacidades para integrar co-nhecimentos e habilidades voltadas ao planejamento, desenho, imple-mentação e avaliação de intervenções educativas, situadas sócio-his-toricamente e caracterizadas pela elaboração de processos e produtos

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    educacionais, com foco no fortalecimento da formação de profissio-nais já atuantes em diferentes áreas do conhecimento, com pesquisas voltadas para o processo de ensino.

    Nesse sentido, sob uma perspectiva de interação entre o conhe-cimento acadêmico e as necessidades da sociedade contemporânea, o MPET tem como objetivo a formação em nível de pós-graduação Stricto sensu de profissionais da educação para a pesquisa sobre co-nhecimentos sistematizados dos níveis de ensino técnico e tecnológico, centrando-se em processos formativos de professores e em processos e recursos de ensino-aprendizagem referentes à formação do cidadão e do profissional e sua respectiva inserção no mundo do trabalho. Isso implica no desenvolvimento do pensamento crítico; na aplicação de novas propostas voltadas para o processo de ensino-aprendizagem; e no aprimoramento das tecnologias digitais, com foco na inovação edu-cativa e na promoção de ações de inserção social, sobretudo aquelas que alcancem professores e alunos da Educação Básica/Profissional, visando à melhoria dos recursos e de processos ensino- aprendizagem.

    Entre os demais propósitos destacam-se a contribuição para a formação de pesquisadores para atuarem com investigações com focos temáticos no ensino técnico e tecnológico; o fortalecimento de grupos de estudo e pesquisa e a produção de conhecimentos técnico-científi-cos, a partir do desenvolvimento de pesquisas sobre ensino técnico e tecnológico.

    Os encaminhamentos dessas práticas permitem evidenciar um amplo panorama de distintas interfaces, a consecução de metas e exis-tência de formas de interação. A interação envolve diferentes atores: mestrandos, professores, egressos e comunidade, numa perspectiva de

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    integração, prerrogativa do curso. Esta integração é viabilizada a partir da socialização das atividades desenvolvidas nos grupos de pesquisa; na oferta de seminários; nas atividades de extensão; nas próprias disci-plinas ofertadas no curso; bem como na participação de professores e alunos em eventos fora do Instituto, a fim de manter uma interlocução com a comunidade científica e de professores.

    As interfaces ocorrem por meio dos múltiplos espaços de inte-ração, comunicação e de aproximação com a comunidade, e envolve pesquisadores, professores da Educação Básica/Profissional e Supe-rior, estudantes da graduação e demais profissionais da educação da rede pública e privada. Essas interfaces visam promover a interlocução e o trabalho conjunto de profissionais de diversas áreas do conheci-mento, assim como fortificar as relações locais e regionais com outros centros de ensino e pesquisa.

    Com o objetivo de evidenciar as experiências vivenciadas que visam potencializar as práticas científicas e acadêmicas do IFAM, no de-sempenho de suas atividades, destacamos, nesse capítulo, as principais ações desenvolvidas no MPET; a interação e as diferentes interfaces. Dessa forma, pretendemos ampliar a percepção sobre as possibilidades institucionais entre o curso e a comunidade, que visam potencializar a formação técnica e científica e a geração de produtos e processos.

    Breve histórico dos Institutos Federais

    Tendo em vista um novo modelo de instituição de educação profissional e tecnológica, o Ministério da Educação, criou os Institutos

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    Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, com base na estruturação e na potencialidade já existente nos Centros Federais de Educação e Tecnologia, Escolas Técnicas Federais, Agrotécnicas e Instituições de Ensino Profissional vinculadas às Universidades Federais.

    A expansão da rede federal de educação profissional e tecno-lógica em cooperação com estados e municípios, mais o conjunto de políticas para a educação profissional e tecnológica colaboraram para a implantação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnolo-gia em todo o território nacional.

    Em 2006, iniciou a primeira fase da expansão, com o objetivo de implantar escolas federais de formação profissional e tecnológica em estados ainda desprovidos dessas instituições ou em periferias de metrópoles e em municípios com as potencialidades locais de geração de postos de trabalho. Em 2007, com a meta de uma escola técnica em cada cidade do país, o Governo deu início à segunda fase da expansão com previsão de 150 novas unidades de ensino, totalizando a criação de 180 mil vagas ofertadas na educação profissional e tecnológica.

    Com o propósito de consolidar o comprometimento da educa-ção profissional e tecnológica com o desenvolvimento local e regional, a distribuição territorial equilibrada das novas unidades foi definida a partir de cidades-polo, com a finalidade de maior abrangência possí-vel de mesorregiões, em sintonia com os arranjos produtivos sociais e culturais locais.

    O novo modelo institucional pretendia, então, estabelecer um diálogo permanente com as políticas sociais e econômicas, na pers-pectiva de contribuir para o progresso socioeconômico, com enfoques locais e regionais.

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    Os Institutos Federais devem ter como foco de atuação a Edu-cação Profissional e Tecnológica, primando pela formação humana e cidadã como pressuposto básico à qualificação para o exercício do trabalho, bem como, sinalizar para a necessidade de formação e capa-citação permanente das demandas dos profissionais articulada ao mun-do do trabalho, com o compromisso voltado para o desenvolvimento integral do cidadão trabalhador.

    Nesse processo de institucionalização, os Institutos Federais precisam manifestar em suas políticas de ensino, pesquisa e extensão, a concepção de Educação Profissional e Tecnológica, fundamentada na integração e articulação entre Ciência, Tecnologia, Cultura e Conheci-mentos Específicos, promovendo a autonomia e os saberes necessários ao permanente exercício da capacidade laboral. Nesse sentido, nos ter-mos da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008), Art. 5°, inciso IV, foi criado o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, doravante IFAM, mediante integração do Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas e das Escolas Agrotécnicas de Manaus e de São Gabriel da Cachoeira, no âmbito do Sistema Federal de Ensino.

    Em 2016, na condição de Instituto Federal de Educação, Ciên-cia e Tecnologia do Amazonas, o IFAM passou a integrar 15 (quinze) Campi: Campus Manaus Centro, Campus Manaus Zona Leste, Cam-pus Manaus Distrito Industrial, Campus São Gabriel da Cachoeira, Campus Coari, Campus Lábrea, Campus Maués, Campus Parintins, Campus Tabatinga, Campus Presidente Figueiredo, Campus Itacoatia-ra, Campus Humaitá, Campus Manacapuru, Campus Eirunepé e Cam-pus Tefé. Em 2017, o IFAM retomou as negociações com a prefeitura

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    do município de Iranduba para a implantação de um campus avançado no referido município.

    O IFAM oferece Educação Profissional, nos níveis Básico, na modalidade de ensino médio integrado e EJA (PROEJA), Técnico e Tecnológico, além das Licenciaturas, Bacharelados e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu.

    Em Mello (2009) há um relato histórico, fruto de levantamento documental, que apresenta um registro sistematizado de cem anos de história, tendo como marco inicial a criação da Escola de Aprendizes Artífices, em 1909, até a implantação do Instituto Federal de Educa-ção, Ciência e Tecnologia do Amazonas, no final de 2008.

    Um breve cenário da educação no estado do Amazonas

    Embora proprietário de um potencial econômico indiscutível, cobiçado internacionalmente e destacado por ser um dos centros in-dustriais brasileiros, o Amazonas continua sem os benefícios diretos desses avanços econômicos. As relações capitalistas no Estado resul-tam numa concentração maximizada de renda nas mãos de poucos, evidenciando ainda mais as desigualdades sociais neles existentes, seja no espaço urbano, seja no espaço rural.

    A fim de minimizar as desigualdades sociais, a educação ocu-pa um espaço estratégico no sentido de promover a emancipação so-cial e econômica dos cidadãos, tornando-os aptos ao mundo do tra-balho. Nesse contexto, o IFAM reforça o seu compromisso como

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    contribuinte desse desenvolvimento, em um contexto em que o âmbito produtivo do Brasil precisa estar em consonância com as regras de competitividade impostas pela economia globalizada, com o propósito de buscar melhores índices de produtividade e de acentuada qualidade de processo e de produtos, sem perder de vista a valorização humana e a ética nas relações interpessoais.

    Por todo esse contexto, o IFAM tem grande importância para o Estado do Amazonas e, em particular, para a cidade de Manaus, que é a cidade mais populosa do Amazonas e da Amazônia, com uma popu-lação de quase 2,1 milhões de habitantes, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017. Em nível nacional, coloca-se como a sétima mais populosa do Brasil, além da 131ª mais populosa do mundo. Apesar de registrar uma das maiores economias do país e ser um dos municípios mais populosos, Manaus possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) entre as capitais brasileiras, com 0,737 pontos, o que a coloca na 23ª colocação entre as capitais estaduais do país.

    Com respeito à Educação Básica no Amazonas, especialmen-te no contexto da Educação Profissional, cabe destacar que o estado apresenta grande demanda por formação de profissionais para atua-rem no PIM (Pólo Industrial de Manaus). Demanda esta que encontra no IFAM uma fonte de formação de profissionais em diversas áreas (a exemplo de mecânica, eletrotécnica, informática etc.), por meio da Educação Profissional Técnica de Nível Médio e Tecnológico.

    Este breve cenário da educação no Estado aponta para a neces-sidade de maior investimento na Educação Básica/Profissional. Dentre os investimentos, destacam-se aqueles referentes à formação inicial e

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    continuada de professores para atuarem naquele nível de ensino. E, nesse sentido, o IFAM tem contribuído na medida em que oferece cur-sos de Licenciatura em Matemática, Física, Ciências Biológicas e Quí-mica. Contribuição que ficou ainda mais sólida com o oferecimento da Pós-Graduação, em Nível de Mestrado, com área de concentração em Processos e Produtos para o Ensino Tecnológico.

    Cabe destacar que os pontos descritos são verdadeiros desafios quando se considera o contexto da Região Norte, ainda marcado por poucas oportunidades de formação em nível de pós-graduação na área de Ensino. Além disso, os candidatos a pós-graduação não possuem uma cultura de produção de conhecimento, o que demanda dos pro-fessores e da coordenação do curso ações diferenciadas no sentido de criar a base para o nível de produção esperado em alunos da pós-gra-duação. Especificamente, quando se trata do ensino tecnológico, que congrega um público multidisciplinar, alguns sem formação na área do ensino (por ex.: engenheiros, arquitetos, analista de sistemas, etc.) e que tem por desafio consolidar um repertório de conhecimentos na área do ensino, para que este seja capaz de ter produção acadêmica e técnica afinada com as demandas de pesquisa na área em questão.

    Histórico do curso de mestrado no IFAM

    O Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico (MPET), im-plementado no Instituto Federal do Amazonas, alinha-se à Proposta Institucional de ampliação e valorização de oportunidades formativas de professores, bem como na ampliação da política de incentivo à for-

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    mação de professores. Ganhou dimensão a partir de levantamentos, de necessidades e expectativas formativas, realizados por meio de estu-dos e pesquisas desenvolvidos por alunos dos cursos de licenciaturas e dos cursos de tecnologias do IFAM.

    O curso é oferecido gratuitamente desde 2014 e tem como principal público-alvo portadores de diplomas de graduação que te-nham interesse em conhecer, dominar e aplicar métodos e técnicas de pesquisa no âmbito educacional, objetivando tanto a proposição de alternativas de melhorias para o processo de ensino-aprendizagem quanto à execução de ações transformadoras, primando pela articula-ção entre teoria e prática.

    A proposta do curso foi pautada na necessidade de investimen-tos em estudos e pesquisas centradas em processos e produtos capazes de otimizar o ensino, conforme as especificidades formativas dos ní-veis técnico e tecnológico, em instituições de educação profissional, com vistas à construção da cidadania para a vida.

    O curso apresenta uma perspectiva interdisciplinar, por contar com um corpo docente de diversas áreas de formação, que têm como característica comum a necessidade de potencializar não apenas as práticas, mas também as reflexões e teorizações, embasadas em funda-mentos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, no sentido de consolidar ações que possam fortalecer uma formação ampla e com-prometida com questões sociais.

    O primeiro processo seletivo do MPET foi realizado no se-gundo semestre de 2013, para ingresso no ano de 2014, com a oferta de 12 vagas. Em 2015, foram oferecidas 25 vagas com o ingresso de 13 alunos no primeiro semestre e 12 no segundo. A turma do segundo

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    semestre foi de professores e técnicos em assuntos educacionais do próprio IFAM, dos campus da capital e do interior, dada a necessidade de formação de profissionais para atuarem na Educação Profissional. Em 2016 foram ofertadas 24 vagas, sendo doze para servidores do Instituto Federal do Acre - IFAC1. Nos anos seguintes (2017 e 2018), o número de inscrições aumentaram significativamente. Até 2018, vinte e sete servidores do IFAM de diferentes campi ingressaram no MPET, assim como dez servidores do Instituto Federal do Acre (IFAC), e a cada processo seletivo foi verificado crescente interesse de servidores da rede federal de ensino. Dos servidores do IFAM, vinte e dois deles já concluíram o curso, assim como os dez do IFAC.

    Esses dados revelam que a implantação do MPET foi estraté-gica na indução de um processo de qualificação e pesquisa focado na investigação de questões referentes ao ensino técnico e tecnológico, assim como revela uma demanda reprimida por programas de douto-rado na região norte, na área do Ensino.

    Ressalta-se também o compromisso do MPET na indução de Ações Afirmativas na Pós-Graduação, prevendo vagas suplementares para candidatos com deficiência, negros (pretos e pardos), quilombo-las e indígenas, conforme preconiza o MEC (BRASIL, 2016).

    A operacionalização das atividades realizadas no MPET leva em conta quatro princípios: flexibilização, autonomia intelectual, inte-gração e socialização das informações.

    a) Flexibilização: as disciplinas são organizadas e ofertadas em 1 A oferta de vagas destinadas à qualificação de servidores do IFAC, em 2016, ocorreu por meio de um acordo interinstitucional, pois dada a sua implantação recente, em 2010, a instituição enfrentava muitos desafios para a consolidação de seus cursos técnicos e de licenciaturas, sendo a formação um processo estratégico e imprescindível. Esse acordo caracte-rizou-se como uma ação de inserção social na medida em que o MPET contribui para formação de recursos humanos em um Estado cujas oportunidades para qualificação são ainda mais escassas, se comparadas ao Amazonas.

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    condição paralela à realização dos eventos acadêmicos previstos para a integralização curricular. Inclui-se atividades de seminários, simpó-sio, painéis, colóquios, conferências, fóruns presenciais e mediados pelas tecnologias. Assim, oportuniza-se aos mestrandos, professores e comunidade diferentes momentos de aprendizagem e troca de conhe-cimentos.

    b) Autonomia Intelectual: promovida nos encontros de orien-tação e nas demais atividades acadêmicas do curso, com o intuito de desenvolver produção técnico-científica de qualidade e ações que mo-difiquem a realidade do ensino e pesquisa em âmbito local e regional, com possibilidade de repercussão nacional e internacional.

    c) Integração: a integração dos mestrandos, professores, egres-sos e comunidade é uma prerrogativa do curso. Esta integração é viabilizada a partir da socialização das atividades desenvolvidas nos grupos de pesquisa, no seminário de projetos, no Simpósio em Ensino Tecnológico no Amazonas - SETA2, nas atividades de extensão3 e nas próprias disciplinas ofertadas no curso, como também na participação de professores e alunos em eventos fora do Instituto, a fim de manter uma interlocução com a comunidade científica e de professores.

    d) Socialização de informações: ocorre por meio de múltiplas possibilidades de comunicação, sejam elas presenciais ou virtuais. Com respeito às possibilidades de socialização virtual, destaca-se prio-2 O SETA é um evento de caráter técnico-científico para discussão dos desafios e possibilidades de investi-gação-ação na formação de professores e utilização de recursos tecnológicos inovadores no ensino. É um evento anual, organizado pelos mestrandos e professores do MPET. O evento integra um conjunto de atividades, tais como, palestras, oficinas, mesas-redondas, apresentações de trabalho na forma oral e em banner. No ano de 2019, o evento está em sua quinta edição.

    3 Todas as ações de extensão podem ser visualizadas nos seguintes endereços: http://mpet.ifam.edu.br/cate-gory/extensao e http://mpet.ifam.edu.br/sobre-mpet-na-escola.

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    ritariamente, a página web do curso4, onde se encontra o acesso entre outros, a revista EDUCITEC e ao SETA, como também portais de contato entre coordenação, alunos, professores, egressos e sociedade em geral. A socialização presencial de informações se dá por meio das diferentes atividades desenvolvidas no curso, tais como no SETA, em seminários semestrais e colóquios, promovidos pelos Grupos de Pes-quisa e Coordenação do Curso de Mestrado em Ensino Tecnológico.

    Vale destacar que entre as ações de integração citam-se as ar-ticulações do MPET com a Graduação (licenciaturas, tecnologias e engenharias). As principais articulações ocorrem por meio de grupos de pesquisa, projetos de extensão e demais eventos desenvolvidos pelo MPET. Ressalta-se também que a interlocução dos professores do MPET com outras instituições de ensino superior, seja na forma de palestras, minicursos ministrados ou seminários, entre outros, es-treita a relação do curso com a graduação, o que é possível visualizar nos processos seletivos para ingresso no MPET, quando da presença de diferentes candidatos advindos de diferentes instituições de ensi-no superior. Outras ações envolvem a articulação entre o mestrado profissional e os projetos institucionais/PIBID/residência pedagógica e PIBIC, no contexto da pesquisa no ensino tecnológico.

    Além dessas ações, outras iniciativas são desenvolvidas no sentido de evidenciar as diferentes interfaces realizadas entre o pro-grama, dentre elas, destacam-se:

    a) Ações para o fortalecimento dos produtos educacionais: ob-jetivam fortalecer a integração e inserção social junto à Educação Bá-sica/Profissional e Superior. Considerando a relevância dos produtos 4 Para acessar a página: http://mpet.ifam.edu.br.

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    educacionais nos mestrados profissionais, o MPET busca potenciali-zar as orientações para auxiliar os mestrados na produção do design gráfico dos produtos educacionais resultantes de sua pesquisa; firmar parcerias com outros setores como o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do IFAM, com o objetivo de promover socialização de infor-mações e conhecimentos com alunos e professores do mestrado sobre depósito de patentes, registro de software e demais produtos educacio-nais e outros critérios para preservar a propriedade intelectual; estimu-lar a tradução de produtos dos alunos para outros idiomas, ampliando assim o acesso por leitores não lusófonos, por meio de parceria com o Centro de Idiomas do IFAM-CMC; gerar versões acessíveis dos pro-dutos educacionais às pessoas com deficiência, incluindo nos produtos recursos de audiodescrição, libras, entre outros; promover a visibi-lidade dos produtos educacionais construídos no MPET, a partir de pequenos vídeos de divulgação, os quais são associados a um projeto denominado “MPET Pocket”5.

    b) Realização de colóquios: com periodicidade bimestral, de-senvolvidos pelos grupos de pesquisa do MPET, contando, além do público interno, com a participação de alunos, professores e pesquisa-dores convidados de outras instituições.

    c) Promoção de eventos: entre as principais ações estão: reali-zação do SETA; eventos de culminância das disciplinas do MPET que promovem a interação dos mestrandos e professores com estudantes e professores da Educação Básica/Profissional e Superior, assim como professores e alunos de outros Cursos de Pós-Graduação; realização 5 MPET Pocket consiste na produção e divulgação de pequenos vídeos, acessíveis à comunidade em geral, para divulgar e dar melhor visibilidade ao que é produzido no MPET. Endereço de acesso: http://mpet.ifam.edu.br/mpe-t-pocket/.

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    sistemática de cursos e oficinas sobre aplicações de tecnologias no En-sino, tendo como público-alvo professores e alunos da Educação Bási-ca/Profissional e Superior; mostra de Recursos Naturais Aplicados ao Ensino, desenvolvidos por alunos e professores do Grupo de Pesquisa “Utilização de Recursos Naturais Amazônicos no processo de ensino e aprendizagem (URNAEA)”; apresentação dos produtos e trabalhos dos alunos do MPET na Semana de Ciência e Tecnologia do IFAM.

    d) Realização de estágios profissionais: com o propósito de solidificar a interface com diversos setores educacionais para o de-senvolvimento de pesquisa e formação de profissionais, por meio de acompanhamento da prática profissional dos mestrandos no momento de aplicação da pesquisa seja para o desenvolvimento de cursos de for-mação continuada com professores da Educação Básica/Profissional e cursos para alunos de licenciatura e da Educação Básica/Profissional. Tais cursos ocorrem em diferentes espaços, tais como as redes públi-cas municipal, estadual e federal e rede particular.

    e) Ações de fomento à internacionalização: vinculadas por meio de parcerias entre o Programa e o Centro de Idiomas do IFAM. Essas ações visam atender a demanda para realização de provas de proficiência em leitura e compreensão em língua estrangeira, de es-tudantes e servidores da Rede de Educação Profissional e Tecnoló-gica; fomentar a mobilidade internacional e os intercâmbios, para o desenvolvimento de projetos de pesquisa, estudos, treinamentos e capacitação; potencializar as parcerias para realização de pesquisas no âmbito internacional; estimular a divulgação das ações realizadas no Programa e das pesquisas publicadas na Revista EDUCITEC6, no 6 Revista mantida pelo Mestrado e que na última avaliação alcançou Qualis B1 em ensino. Endereço: www.ifam.edu.br/educitec/.

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    contexto internacional, por meio da tradução e divulgação on-line; propiciar o desenvolvimento da competência comunicativa em língua inglesa e espanhola, aperfeiçoando e criando novas redes de interação em pesquisa, com foco em países estratégicos; desenvolver atividades socioculturais e acolhimento a alunos estrangeiros; fomentar projetos desenvolvidos pelos alunos, com vistas ao desenvolvimento da divul-gação científica e tecnológica, propiciando dados para estudos e publi-cações em diversas áreas do conhecimento; fomentar parcerias de Co orientação com professores de instituições de ensino internacionais, baseadas em interesses comuns e áreas de atuação de diferentes pro-fissionais; potencializar a apresentação de trabalhos em conferências internacionais; entre outras iniciativas.

    f) Efetivação de intercâmbios nacionais: viabilização de recur-sos humanos, financeiros e logísticos para estreitar o relacionamento entre pesquisadores da área de ensino, por meio da realização de pa-lestras, para potencializar a divulgação de experiências entre os pro-fessores do mestrado e os palestrantes. Tem sido foco dessas discus-sões a Educação Básica/Profissional, a formação dos professores, os produtos educacionais produzidos pelo MPET e as estratégias para potencializar as ações dos grupos de pesquisa; parcerias para trabalhos em conjunto com pesquisadores de outros institutos federais; parce-ria com outros Institutos da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, para ampliar as discussões sobre o processo de internacionalização dos institutos federais; efetivação de acordos, tais como Acordo de Cooperação Técnico-Científica para Atividades de Pesquisa e Extensão nas áreas de Educação e Proteção Ambiental entre o IFAM e o Instituto SOKA – Centro de Pesquisas e Estudos Ambientais do Amazonas – CEPEAM.

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    g) Acompanhamento de egressos: ação que visa estabelecer uma interlocução contínua e sistemática com os egressos, a fim de diagnosticar e mapear a atuação dos egressos, acompanhamento da aplicação dos produtos educacionais gerados por esses alunos e impac-to do MPET na sua formação e atuação profissional. Entre as princi-pais contribuições apontadas pelos egressos, destacam-se o amadure-cimento acadêmico e profissional, distintas oportunidades de atuação, pautadas em novos redimensionamentos de suas práticas.

    h) Ações com foco na visibilidade: iniciativas pautadas na am-pla divulgação e visibilidade das atividades e produtos desenvolvidos por professores, alunos e egressos do mestrado. Para isso, conta com os seguintes recursos: página Web do curso (http://mpet.ifam.edu.br), com conteúdo atualizado e que no ano de 2017 implantou a versão da página web da página nos idiomas inglês (http://mpet.ifam.edu.br/en/) e espanhol (http://mpet.ifam.edu.br/es/); página do Facebook (https://www.facebook.com/mpetifam/) do curso, com o intuito de socializar as ações do mestrado e promover maior interação com a sociedade; criação de um portfólio impresso do curso como material de divul-gação em visitas a instituições e empresas; canal no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCOHBMBI2W-bfiiQBT90Jasw) para comunicação em vídeo das produções do MPET; publicação de livros resultantes do trabalho conjunto de professores e alunos do mestra-do; Instagram do curso (https://www.instagram.com/mpetifam/), cria-do em 2018, também para divulgação de ações.

    Mais recentemente, outra interface diz respeito à criação e im-plementação do Centro de Pesquisa e Inovação em Ensino Tecnoló-

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    gico - Innsaei7, inaugurado em março de 2019, como um espaço para promoção de intercâmbio de ideias e desenvolvimento de pesquisas e inovação no ensino. O Centro, que agrega professores, alunos e egres-sos do Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico (MPET), assim como alunos das Licenciaturas e Graduação do IFAM, tem por ob-jetivo promover pesquisas na área do Ensino que ampliem estudos e discussões teórico-práticos tanto relativos à formação de professores quanto à produção de recursos e metodologias de ensino e favorecer a interação entre pesquisadores de diferentes instituições.

    Tais interfaces revelam a importância estratégica do MPET para o Amazonas e para a Região Norte, no sentido de formar pro-fessores-pesquisadores preocupados com a investigação de questões referentes ao Ensino Tecnológico e Educação Profissional, principal-mente questões que possam minimizar os problemas vividos em suas salas de aula e/ou de demandas observadas no seu contexto profissio-nal. Essa pesquisa contextualizada, permite que o próprio processo de formação e os produtos decorrentes desse processo possam modificar a realidade escolar no qual esses mestrandos e egressos atuam e per-mitam elevar a qualidade de ensino.

    Esse conjunto de ações, por um lado, constitui-se em um es-forço de melhoria do trabalho do professor, conforme postula Nóvoa (2009), para a promoção de sua profissionalização; investimento na prática social e política; visibilidade do conhecimento que produ-zem, valorizando as dimensões pessoais e coletiva; por outro lado, visa potencializar a reformulação das práticas docentes, especialmen-te no contexto da Educação Básica/Profissional, suscitando impactos 7 A palavra Innsaei carrega o significado de “mar de dentro”, o ver de dentro para fora, a conexão das pessoas por meio da empatia e, principalmente, da intuição. Endereço do Innsaei: http://mpet.ifam.edu.br/sobre-o-innsaei/.

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    relacionados ao reconhecimento docente, que envolve a valorização identitária e profissional dos professores; a transformação das práticas docentes e a capacidade de tomada de decisões relativas aos aspec-tos pedagógicos e científicos, ou as articulações teoria e prática, que emerjam dessas práticas e possam ir além delas.

    Tais ações estão pautadas na articulação entre o IFAM, em par-ticular por meio do Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico, e a sociedade, no sentido de superar o formalismo ainda presente na formação de professores e intermediar novas interfaces com diferentes segmentos e conteúdos, dentre eles a investigação em/da sala de aula.

    Considerações finais

    Com as interfaces expostas, o MPET demonstra que vem traba-lhando incessantemente na ampliação de estudos e discussões teórico--práticos tanto relativos à formação de professores quanto à produção de recursos e metodologias de ensino para a Educação Básica/Profis-sional, e tem favorecido a interação entre professores e pesquisadores de diferentes áreas e instituições, confirmando assim, seu compromis-so, por meio da Pós-Graduação para o desenvolvimento da Região Norte. Sem perder de vista, contudo, que esse desenvolvimento requer o compromisso de todos os segmentos da sociedade, cientes de que ig-norar tal questão é recair no pedagogismo ingênuo, como assinalam há mais de três década, Balzan e Paoli (1988), e admitir a possibilidade de melhores condições na educação escolar desvinculadas da situação de vida e condições de trabalho do professor.

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    Assim, as ações evidenciadas nesse capítulo revelam as dife-rentes interfaces realizadas pelo Mestrado Profissional em Ensino Tec-nológico do IFAM, cujo foco está no ensino, com ênfase na formação de professores e no desenvolvimento de estratégias e estabelecimento de uma cultura de pesquisa e comunicação científica, de modo a via-bilizar a desejada interação da pós-graduação com a Educação Básica/Profissional.

    Nessa perspectiva, as principais ações que se destacaram fo-ram: o engajamento e dedicação do corpo docente do MPET; interação entre ensino e pesquisa, considerando o corpo docente multidiscipli-nar; infraestrutura adequada oferecida pelo IFAM para o desenvolvi-mento das atividades de ensino e pesquisa; ampliação da produção acadêmica e científica no âmbito do ensino tecnológico; elaboração de produtos educacionais com boa qualidade de design; apoio institucio-nal por meio do corpo diretivo, a fim de viabilizar as condições para a manutenção e crescimento do Curso; apoio financeiro da FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas), por meio do ofere-cimento de bolsas para os mestrandos; realização de parcerias dentro da própria instituição para fortalecer as ações do mestrado (a exemplo das parcerias estabelecidas com o Centro de Idiomas e com o Núcleo de Inovação Tecnológica do IFAM); crescente ampliação das ações do mestrado e visibilidade social.

    Para a continuidade das ações, na busca crescente pela consolidação e ampliação das interfaces, os principais desafios dizem respeito à necessidade de aumento da produção científica em periódicos de alta qualidade na área de ensino; potencialização de ações de intercâmbio internacional de alunos e professores; promoção

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    de maior articulação do curso com os demais setores produtivos locais, nacionais e internacionais; ampliação de projetos de inserção social, sobretudo dos produtos educacionais gerados pelos alunos; intensificação de ações de integração local e inter-regional entre pesquisadores, centro de pesquisa, instituições de ensino e os setores produtivos; bem como aprovação de editais de financiamento para pesquisas na área de ensino.

    Para vencer tais desafios, tomando-se como referências as interfaces já estabelecidas, figura-se como necessário à promoção de um profundo diálogo entre todos os responsáveis pela condução das ações do MPET intra e interinstitucionalmente, considerando o seu valor como instância formativa para colaborar no desenvolvimento da Região Norte.

    Referências

    BALZAN, N. C.; PAOLI, N. J. Licenciaturas: o discurso e a realidade. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 2, n. 40, p. 147-151, 1988.

    BRASIL. Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11892.htm. Acesso em: 20 ago. 2019.

    BRASIL. Portaria Normativa n. 13, de 11 de maio de 2016. Diário Oficial da União, Seção 1, n. 90, de 12 de maio de 2016, p. 47.

    BRASIL. Portaria Normativa n. 17, de 28 de dezembro de 2009. Diá-rio Oficial da União, Seção 1, n. 248, de 29 de dezembro de 2009, p. 20-21.

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    MELLO, M. S. V. N. de. De Escolas de Aprendizes Artífices a Insti-tuto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas: cem anos de história. Brasília/DF: Esplanada Gráfica e Editora Ltda., 2009.

    NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.

    UNESCO. Conferência Mundial sobre Ensino Superior 2009: as novas dinâmicas do ensino superior e pesquisas para a mudança e o desenvolvimento social. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/in-dex.php?option=com_docman&view=download&alias=4512-confe-rencia-paris&Itemid=30192. Acesso em: 20 ago. 2019.

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    A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DO CONCEITO DE ATIVIDADE CRIADORA EM VIGOTSKI

    Walkamaya Cristina da Silva Castro Souza1

    Gisele Francisca da Silva Carvalho2

    Resumo

    O presente artigo tem como objetivo analisar os resultados de pesquisas que tematizam práticas educacionais no conteúdo de Arte na Educação Infantil. Para desenvolvermos este trabalho, o qual é o resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso de especialização em Didática e Trabalho Docente, nos baseamos na obra Imaginação e Criação na Infância, de Lev Semenovich Vigotski, sendo “atividade criadora” o conceito central. Como metodologia, fizemos um levanta-mento de resultados de pesquisas na área, analisando e categorizando autores que trabalham a Arte suas práticas e o que ela proporciona para o desenvolvimento das crianças na fase da Educação Infantil. Após definirmos os autores que seriam utilizados no trabalho, fizemos um estudo de cada um, primeiro para compreender o processo criativo na infância e depois observar o que entendiam por Arte na Educação 1 Pós-graduada em Didática e Trabalho Docente pelo Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais - Campus São João del-Rei; Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de São João del-Rei; Orientanda de TCC; E-mail: [email protected].

    2 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora; Mestre em Educação pela Universidade Federal de São João del-Rei; Professora do Núcleo de Educação do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais - Campus São João del-Rei; Orientadora; E-mail: [email protected].

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    Infantil, se haviam práticas descritas nas pesquisas e a importância delas. Em seguida fizemos um debate entre os autores, observando se haviam relações entre suas definições e análises sobre o tema. A fun-damentação teórica nos permitiu entender a importância da arte para o desenvolvimento integral das crianças na Educação Infantil, pois suas práticas agregam diversos benefícios a elas. Ademais, nos proporcio-nou observar que a Arte ainda encontra obstáculos para ser desenvol-vida na Educação Infantil, mas, ainda assim, está sendo oferecida por profissionais que se preocupam com as crianças e entendem o quanto a Arte é importante para a formação integral.

    Considerações iniciais

    A Educação Infantil é a fase em que a criança geralmente entra em contato com relações sociais, valores, princípios, crenças diferen-tes do que está acostumada em seu círculo familiar, sendo a escola umas das instituições sociais que permite, além do crescimento cog-nitivo, psicológico, motor, expandir essas relações. A maneira como tudo isso é experimentado, proposto e ensinado para elas será respaldo para a construção da sua identidade e autonomia.

    Há diversas formas de se desenvolver o aprendizado, a autono-mia e identidade das crianças, sendo a Arte um dos caminhos essen-ciais para que ela possa se desenvolver integralmente, através da Arte os alunos imaginam, criam, recriam, fantasiam suas vivências.

    Visando melhorar o desenvolvimento das crianças, a Arte pas-sa a ser obrigatória pela Lei nº 13.278, de 2 de maio de 2016, alterando

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    o §6º do art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que fixa as diretrizes e bases da educação nacional, com o prazo para implanta-ção de cinco anos, que até a presente data se encontra em vigor.

    Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs – Arte) (1997), um dos documentos que servem de base para o trabalho dos profissio-nais da área da educação, podemos observar a importância da Arte e suas múltiplas linguagens: Artes visuais (pintura, escultura, desenho, gravura, cinema, fotografia e outros), música, dança e teatro para o aprendizado da criança. De acordo com este documento,

    Ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específi-cos sobre sua relação com o mundo. Além disso, de-senvolvem potencialidades (como percepção, observa-ção, imaginação e sensibilidade) que podem alicerçar a consciência do seu lugar no mundo e também con-tribuem inegavelmente para sua apreensão significati-va dos conteúdos das outras disciplinas do currículo. (BRASIL, 1997, p. 11).

    Desse modo, vê-se a importância de estudar este tema, a prá-tica da Arte na Educação Infantil, pois é o momento em que a criança conversa consigo mesma, com seu corpo, seus sentimentos. Portan-to, a questão que orientou este trabalho foi: de que forma o conteúdo de Arte está sendo desenvolvido na Educação Infantil? Sendo assim, tivemos como objetivo geral investigar resultados de pesquisas que tematizassem práticas educacionais no conteúdo de Arte na Educação Infantil, buscando compreender quais pressupostos teórico-metodoló-gicos as subsidiam.

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    De forma específica, identificamos pesquisas realizadas sobre o tema, a Arte na Educação Infantil; categorizamos as pesquisas en-contradas conforme as abordagens dos autores (autores que mencio-navam a Arte abrangendo sua totalidade e autores que se atentavam a uma vertente especifica da Arte, como a dança, música, artes visuais, teatro, etc.). Além disso, estabelecemos o debate sobre o lugar da Arte na formação das crianças, conforme estudos de Vigotski e as descri-ções sobre as práticas escolares encontradas nas pesquisas, verificando se essas práticas buscavam o desenvolvimento cognitivo das crianças em uma perspectiva de formação integral.

    Aspecto Metodológico

    Com o livro de Vigotski, Imaginação e Criação na Infância (2018), já selecionado como norteador da pesquisa e conforme ob-jetivos, a metodologia de pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira foi a seleção de textos para análise no portal da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), no banco de catálogo de teses e dissertações, refinando a pesquisa com a utilização de palavras-chave (prática, Arte, Educação Infantil), tipo (dissertações de mestrado), ano de publicação (2015 a 2018), resul-tando em uma média de 50.983 pesquisas, logo nessa primeira busca, como segundo texto da primeira página, encontramos o texto de Gaio (2015). A partir do título e detalhamento (resumo), percebemos que esse trabalho poderia ser indispensável à nossa pesquisa, o seleciona-mos para ser analisado e, por conseguinte, utilizado no trabalho. De-vido ao grande número de trabalhos encontrados foi necessário fazer

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    mais refinamentos utilizando novos tópicos como por exemplo (gran-de área do conhecimento – ciências humanas; área do conhecimento – educação; área de avaliação – educação e área de concentração – educação).

    A partir desse refinamento, foram selecionadas (novamente por título e resumo) 14 dissertações de mestrado, as quais também passaram por um novo processo de análise e refinamento. Após este processo, verificamos que apenas duas dissertações atendiam ao que estava sendo proposto para pesquisa e para o debate com o livro de Vigotski, Imaginação e Criação na Infância (2018), selecionado para o estudo, cujos conceitos-chave são: atividade criadora e imaginação. As duas autoras utilizadas pesquisam o ensino e as práticas com a Arte na Educação Infantil, Rosilene Maria da Silva Gaio (2015) e Patrí-cia Nunes Kaiser (2017), que se fizeram relevantes no desenvolver de nosso trabalho.

    A segunda parte da pesquisa se ocupou do estudo do livro Imagi-nação e Criação na Infância (VIGOTSKI, 2018), buscando compreen-der o processo criativo na infância. Nele, o autor utiliza como principal conceito a “atividade criadora” e outros conceitos como: a “atividade criadora de combinação”, a “imaginação cristalizada ou em camada”, a “criação literária ou verbal” e a “criação teatral ou dramatização”. Na sequência, desenvolvemos um diálogo relacionando os principais con-ceitos de Vigotski com os resultados de pesquisas encontrados.

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    As pesquisas sobre a Arte na Educação Infantil

    A seguir será apresentado um breve apanhado sobre as disser-tações analisadas, expondo um resumo sobre os trabalhos das autoras que que trabalham com a Arte e suas práticas nas múltiplas linguagens.

    Em sua dissertação de mestrado intitulada “Um olhar sobre a Educação Infantil: e a Arte onde está? E o corpo como está?”, Gaio (2015) analisa como se processam as atividades artísticas e o trabalho com a corporeidade na segunda fase da Educação Infantil. A autora desenvolveu sua pesquisa em uma sala de aula de uma escola pública no município de São João del-Rei, verificando as interações do traba-lho feito pela professora e os alunos pesquisados com a corporeidade e a Arte.

    A finalidade maior era a de apontar a importância do ensino da Arte para o desenvolvimento integral da criança, possibilitando verifi-car a sua ligação com a corporeidade. Evidencia-se a preocupação da professora em trabalhar e estimular as crianças em suas potencialida-des criativas e interações com o meio e o outro.

    A outra autora, Kaiser (2017), em sua dissertação de mestra-do, “Arte na Educação Infantil: o desenvolvimento infantil e a criança produtora de cultura”, mostra a relevância do debate sobre as práticas pedagógicas e curriculares dos professores de Educação Infantil já que é nessa fase que a criança se percebe enquanto sujeito histórico-social.

    Em seu trabalho, ela busca respostas para as perguntas: “Mas o que é ser criança? O que significa cultura da infância? Qual o signi-ficado da Arte para a infância? E no contexto escolar? Como a subje-

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    tividade está implicada na Arte?”. Entendendo que as propostas cur-riculares se articulem com as ações pedagógicas, para que as crianças tenham possibilidade de desenvolver processos criadores e criativos no decorrer do seu desenvolvimento.

    Podemos perceber que as autoras entendem a importância do trabalho com a Arte e o desenvolvimento da criança, reconhecendo, de maneira geral, o valor de processos experienciais vividos pela criança. Buscam a articulação dos aspectos, a criança como sujeito, práticas pedagógicas com Arte e as singularidades culturais das crianças e in-vestigam os tempos e espaços para a manifestação da Arte como pro-dução simbólico-emocional.

    Análise e discussão sobre o lugar da Arte na Educação Infantil: conceitos de Vigotski versus concepções e práticas encontradas

    No livro Imaginação e Criação na Infância3³, Vigotski (2018) define os conceitos “atividade criadora”; “atividade criadora de com-binação”; “imaginação cristalizada ou encarnada”; “criação literária ou verbal” e “criação teatral ou dramatização” relacionados à imaginação e criação, que serão discutidos a seguir.

    Em um segundo momento, esses conceitos serão analisados na relação com as autoras pesquisadas e apresentadas no item anterior, a fim de se estabelecer um debate e uma reflexão entre os conceitos, prá-ticas e resultados avaliados na Educação Infantil.3 Zoia Prestes e Elizabeth Tunes (2018) republicam a tradução do livro Voobrajenie i tvortchestvo v detskom vozraste [Imaginação e Criação na Infância], de Lev Semionovitch Vigotski (originalmente publicado na União Soviética, no ano de 1930).

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    O processo de criação na infância segundo Vigotski (2018)

    Para Vigotski (2018), o sujeito se forma através do contato com a sociedade e com aqueles com quem convive, desde a primeira infância, a criança cria e recria a partir do que observa, em contato com seus pares.

    O conceito principal estabelecido por Vigotski (2018) na obra aqui analisada é o de “atividade criadora”. Além desse, ele determina outros quatro conceitos: atividade criadora de combinação; imagina-ção cristalizada ou encarnada; criação literária ou verbal; criação tea-tral ou dramatização. Sendo que as duas últimas, o autor utiliza mais em relação aos adolescentes, portanto não nos ateremos a elas neste trabalho.

    A atividade criadora, segundo Vigotski (2018), é a construção de algo novo, seja ele um objeto, um sentimento ou uma construção da mente, que é conhecido somente pela pessoa que cria, essa atividade, ela é chamada de reconstituidora ou reprodutiva e está ligada à me-mória. Por isso, repete, reproduz marcas de impressões já vividas pela pessoa em sua primeira infância (crianças até três anos) ou em algo que já viveu, por exemplo, lembranças de alguma viagem.

    Nesse sentindo, quando a criança faz um desenho de obser-vação, ela reproduz aquilo que vê ou o que já tinha assimilado ante-riormente, seria então, segundo Vigotski, a conservação da experiên-cia anterior. Ou seja, nosso cérebro, se estimulado frequentemente e repetidamente, além de conservar o que já se observou, ele recria

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    ou combina o que já viveu com experiências novas, surgindo assim, situações e comportamentos novos. De acordo com Vigotski (2018) é “[...] a atividade criadora que faz do homem um ser que se volta para o futuro, erigindo-o e modificando o seu presente.” (p.16).

    A imaginação é a base de toda atividade criadora, nesse sentido e diferente da designação que lhe é dada no dia a dia de algo que não é real, que não tem significado sério, tudo que foi criado pelas mãos humanas (artístico, científico e técnico) é fruto da imaginação, no qual a criação humana se baseia. Desse modo, Vigostski (2018) nos diz que

    [...] os processos de criação manifestam-se com toda a sua força já na mais tenra infância. Uma das questões mais importantes da psicologia e da pedagogia infantil é a da criação na infância, do desenvolvimento geral e o amadurecimento da criança. Já na primeira infância, identificamos nas crianças processos de criação que se expressam melhor em suas brincadeiras. (VIGOTSKI, 2018, p. 18).

    Diante disso, podemos dizer que a criança se imagina montada num cavalo quando brinca com um cabo de vassoura ou se imagina um policial, um motorista ou uma mãe ao cuidar de uma boneca. Essas brincadeiras não são apenas cópias do que as crianças vivenciaram, mas uma reelaboração criativa, uma combinação de suas impressões, surgindo algo novo, construindo novos elementos, ocorrendo a ativi-dade criadora de combinação.

    Logo, podemos dizer que a atividade criadora combinatória não surge do dia para noite, mas gradativamente, do simples para o

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    complexo, cada período da infância há uma característica da criação.

    Portanto, a imaginação é uma relação entre fantasia e realida-de, “[...] a imaginação não é um divertimento ocioso da mente, uma atividade suspensa no ar, mas uma função vital necessária” (VIGO-TSKI, 2018, p. 22), ela se constrói na experiência anterior da pessoa e em elementos de sua realidade, assim, a imaginação cria, cada vez mais, composições utilizando elementos primários da realidade “gato, corrente, carvalho” e imagens de cunho fantástico “sereia, silvano (fauno)”.

    Para Vigotski (2018), há quatro relações entre fantasia e rea-lidade em que a imaginação se baseia. A primeira é que “a ativida-de criadora da imaginação depende diretamente da riqueza e da di-versidade da experiência anterior da pessoa porque essa experiência constitui o material com que se criam as construções da fantasia” (p. 24). Quanto maior e mais rica a experiência vivida pela pessoa, mais imaginação ela terá, como as crianças possuem menor experiência, do que o adulto, consequentemente, elas terão menos imaginação, deste modo a experiência da criança deve ser ampliada e enriquecida, pois quanto mais ver, ouvir, vivenciar a realidade mais produtiva será sua imaginação.

    A segunda não é somente a articulação entre os elementos da fantasia e da realidade, é também a relação “entre o produto final da fantasia e um fenômeno complexo da realidade” (VIGOTSKI, 2018, p. 25), ou seja, a “fantasia não reproduz o que foi percebido em mim numa experiência anterior, mas cria novas combinações dessa expe-riência” (VIGOTSKI, 2018, p. 25), sendo totalmente dependente à pri-meira, por exemplo: “se eu não tiver inúmeras representações históri-

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    cas, também não posso criar na imaginação um quadro da revolução francesa” (VIGOTSKI, 2018, p. 26), assim sendo, nessa segunda re-lação a imaginação baseia-se no que foi descrito ou experienciado por outra pessoa, imaginando o que não foi vivido pessoalmente. “Essa forma de relação tornou-se possível somente graças à experiência alheia ou experiência social”. (VIGOTSKI, 2018, p. 26).

    A terceira relação é de caráter emocional, a emoção seleciona “impressões, ideias e imagens” correspondentes com o momento em que a pessoa se encontra. Um exemplo é quando se tem medo, não há somente a palidez, o suor, batimentos cardíacos e respiração alterados, mas há também impressões e ideias que vem à cabeça da pessoa que estão tomadas de sentimentos dominantes.

    A quarta relação entre fantasia e realidade constitui-se na cons-trução de algo novo e está ligada à imaginação cristalizada ou encar-nada, aqui a imaginação se faz objeto “começa a existir realmente no mundo e influir sobre outras coisas” (VIGOTSKI, 2018, p. 31). Má-quinas e instrumentos são exemplos de imaginação cristalizada.

    O processo de imaginar é muito complexo, a base para a cria-ção é tudo aquilo que a criança vê e ouve, assim, ela acumula esse “material” para fantasiar e imaginar.

    A criação literária e verbal é própria da idade escolar e acon-tece logo que o desenho é “deixado pra trás”, já na adolescência, no amadurecimento, quando o sujeito já sabe se expressar verbalmente. O desenho se destaca, na infância por ser uma criação típica desta etapa. Para Vigotski (2018), é de grande importância o incentivo e estímulo do adulto para que a criança permaneça desenhando, pois

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    No início da idade escolar, o gosto e o interesse pelo desenhar começam a enfraquecer. Em muitas crian-ças, talvez até mesmo na maioria, a atração espontânea pelo desenho desaparece por completo. Somente em algumas crianças talentosas conserva-se essa atração e também nos grupos em que as condições de educação em casa ou na escola impulsionam essas atividades de desenhar e estimulam o seu desenvolvimento (p. 61).

    Portanto, através do desenho as crianças se expressam, por ser uma maneira mais fácil dela mostrar aquilo que sente, pois, nessa ida-de, esse é o repertório possível para ela.

    Para Vigotski (2018), criação teatral ou dramatização é a cria-ção infantil mais frequente, o drama está no mais íntimo da criança e está relacionado com suas vivências pessoais. A criança interpreta, imita, improvisa uma dramatização (uma peça teatral), cria persona-gens e histórias, com essas brincadeiras se diverte e se satisfaz.

    Para que tudo isso tenha sentido é preciso que as peças de-senvolvidas nas escolas sejam feitas pelas próprias crianças, elas não devem ser inibidas nem tolhidas. Em razão disso, conforme Vigostski,

    Além da peça, deve-se também deixar que as crianças façam toda a parte de decoração material do espetáculo e, para que não haja quebra na sua estrutura psicológi-ca – o que acontece quando há imposição de um texto que lhes é estranho – o objetivo e caráter principal do espetáculo devem ser familiares e compreensíveis para elas (2018, p. 101).

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    Nesse sentindo, a criança e o adulto não possuem o mesmo processo de imaginação; e durante toda a infância, a atividade cria-dora se modifica, intensificando e crescendo gradativamente, isso vai depender do estímulo que cada criança recebe em seu meio.

    Contudo, “a imaginação da criança, como está claro, não é mais rica, e sim mais pobre que a do adulto; ao longo do processo de desenvolvimento da criança, desenvolve-se também a sua imaginação, atingindo a sua maturidade na idade adulta” (VIGOTSKI, 2018, p. 46). Apesar disso, a criança parece criar mais que o adulto, pois ela vive em um mundo fantasioso, o adulto é mais centrado e controla mais sua imaginação, a criança tem liberdade de criar e para que ela possa continuar seu processo imaginativo, não deve ser impedida nem inibida e sim, cada vez mais incentivada e estimulada.

    Desse modo, podemos dizer que a imaginação não é uma ne-cessidade que se tem de fugir da realidade, ela é a base para que a criação e a fantasia aconteça. Ou seja, ao criarmos e fantasiarmos algo, o que criamos ou fantasiamos passou pela memória e foi imaginado. Vale lembrar que a imaginação se baseia no que já foi vivido e no que se está vivendo combinando e recriando a fantasia ou a realidade.

    O debate a partir de Vigotski e os demais autores analisados

    Verificaremos, a partir do próximo parágrafo, se as autoras Ro-silene Maria da Silva Gaio (2015) e Patrícia Nunes de Kaiser (2017), analisadas nesse trabalho, referenciam Vigotski (2018) em relação aos conceitos (atividade criadora; atividade criadora de combinação; ima-

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    ginação cristalizada ou encarnada; criação literária ou verbal e criação teatral ou dramatização) que ele trabalha em seu livro “Imaginação e Criação na Infância” e as relações que elas fazem entre a Arte e o desenvolvimento integral da criança. Vale lembrar que, ao analisar e relacionar os textos, contemplaremos somente o que se refere a Arte e o desenvolvimento da criança.

    Kaiser (2017) observa que há em toda experiência humana os sons, as imagens, a fala, as cores e a cultura de uma determinada so-ciedade. Na Educação Infantil não é diferente, pois, de acordo com autora,

    [...] o cotidiano também é permeado por imagens, co-res, formas, texturas, músicas, enfim, é rodeado por elementos das diversas linguagens, entre elas as artís-ticas. Essas imagens, cores e textos são instrumentos simbólicos de comunicação, que por meio da arte como linguagem, possuem objetivos e intencionalidades pe-dagógicas construídas pelo professor (p. 10).

    De acordo com a autora, a Arte é representada em suas várias vertentes (artes visuais, música, dança e teatro) através de toda essa experiência vivenciada pela criança. Além disso, Kaiser (2017) evi-dencia a importância da Arte relacionada com as práticas pedagógicas para o desenvolvimento da criança, e no começo de seu trabalho, cita Vigotski, em sua concepção de que “a imaginação se apoia na expe-riência real e sensível do homem” (p. 11) no meio (social, cultural e histórico) em que está inserido, essas experiências são fundamentais para a imaginação e criação da criança corroborando para o seu desen-

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    volvimento. Assim sendo, a autora diz que,

    [...] toda criança desenha, imagina, cria e brinca, po-dendo libertar-se para a criação e seu valor está no pro-cesso de criação e imaginação e não no resultado de um produto final artístico. Isso difere a produção artística infantil da produção artística adulta, uma vez que a arte para o adulto está associada ao belo, às exposições, à es-tética e ao prazer da apreciação ou criação e na criança seu valor está na forma de se expressar [...] (KAISER, 2017, p. 24)

    Verificamos que em muitos momentos a Arte está associada àquilo que se deve fazer em tempos de lazer, quando não se está tra-balhando. Na escola, na maioria das vezes, a Arte é utilizada em ati-vidades direcionadas para outros fins, como por exemplo; ilustrar o alfabeto, cantar antes do lanche ou de lavar as mãos, para complemen-tar uma atividade, na qual a criança precisa ter um limite no colorido e não pode ultrapassar as linhas dos desenhos, precisam utilizar as cores “corretas” para árvores, sol, etc., em poucos momentos ela é livre e aproveitada para um fim próprio.

    Acreditamos que a Arte deveria estar presente em todos os mo-mentos na sala de aula, pois segundo Kaiser (2017) “os momentos vivenciados em sala de aula são interativos e participativos, nos quais a criança está em constante relação com os colegas e professores, bem como frente a desafios relacionais e culturais” (p. 43). Observamos então, nessa fala de Kaiser, a relação com Vigotski, quando ele men-ciona que a imaginação é baseada naquilo que vivemos em contato com o outro.

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    Kaiser (2017) ainda complementa que

    [...] arte é importante para a criança, pois ela cria, ima-gina, desenha, dança ou representa e suas expressões são carregadas de sentidos subjetivos. […]. Dessa for-ma, os momentos de reflexão, fazer e contextualização perpassam por áreas de conhecimento e relacionados às emoções, esses momentos podem contribuir para o co-nhecimento singular de cada criança e de seu contexto de vida, o qual a constitui (KAISER, 2017, p. 136).

    Desse modo, essas experiências e vivências vão sendo compar-tilhadas e assimiladas pelas crianças, contribuindo para o seu desen-volvimento, para sua criação e imaginação.

    Já a autora Gaio (2015) não faz referência direta a Vigotski (2018), mas seu trabalho, assim como o de Vigotski (2018), aponta o quanto a Arte é importante para o desenvolvimento total da criança. Sua pesquisa alia a Arte e corporeidade e nos mostra, teoricamente e em seu estudo de campo, o quanto as duas são essenciais na vida das crianças. Para Gaio (2015), “em suas várias formas expressivas, a Arte oportuniza ao homem desenvolver a imaginação, o poder de criação que lhe é próprio, bem como contribui para sua formação social, cul-tural, emocional, cognitiva” (p. 127).

    Com isso, observamos que é possível realizar atividades artís-ticas com as crianças e quando essas atividades são feitas, proporcio-nam “a oportunidade de internalizar, de experimentar, de vivenciar, de imaginar, de se sentir integrada ao mundo e, ainda despertar e de-senvolver o processo criativo existente em cada uma” (GAIO, 2015,

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    p. 26).

    Ela ainda diz que “ao simbolizar, a criança tem a oportunida-de de se apropriar de um mundo imaginário, o qual lhe permite vi-ver situações fantasiosas, num jogo de ‘faz de conta’ que oportuniza” (GAIO, 2015, p. 26) a interação e o convívio social com o outro. Este pensamento se