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SALINAS: UM PARAÍSO NATURAL AMEAÇADO Praias, rios, furos, igarapés, mangues e dunas são os principais atrativos para quem quer relaxar e contemplar a natureza. Todas essas caracaterísticas naturais estão presentes no município de Salinópolis, um dos mais procurados pelos paraenses em época de férias escolares e festas de fim de ano. Poderia ser um cenário perfeito, não fosse a ocupação desordenada que já apresenta os efeitos nocivos, como a contaminação das águas subterrâneas provocada por construções irregulares. O alerta é do geólogo Milton Matta, doutor em hidrogeologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Ele afirma que a água retirada dos poços construídos em residências, hotéis e pontos comerciais é imprópria para o consumo e representa uma bomba relógio para os órgãos de saúde. Formado por rocha porosas e permeáveis, o aquífero serve como reservatório de água que abastece rios e poços artesianos e pode ser utilizado como fonte de água para consumo. Na região de Salinas, o aquífero superior está comprometido pelo processo de salinização das águas. Obras como calçamento da orla da praia do Maçarico e a construção de hotéis estão contribuindo para este processo. “Os aquíferos são abastecidos com a água da chuva e como a área ficou impermeabilizada por causa dessas construções, menos água vai entrar. Com menos infiltração de água doce, a cunha salina vai penetrando e tornando a água salgada, imprópria para consumo”, explica. Outro problema apresentado por Milton Matta está na abertura desenfreada de poços artesianos, a

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SALINAS: UM PARAÍSO NATURAL AMEAÇADO

Praias, rios, furos, igarapés, mangues e dunas são os principais atrativos para quem quer relaxar e contemplar a natureza. Todas essas caracaterísticas naturais estão presentes no município de Salinópolis, um dos mais procurados pelos paraenses em época de férias escolares e festas de fim de ano. Poderia ser um cenário perfeito, não fosse a ocupação desordenada que já apresenta os efeitos nocivos, como a contaminação das águas subterrâneas provocada por construções irregulares. O alerta é do geólogo Milton Matta, doutor em hidrogeologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Ele afirma que a água retirada dos poços construídos em residências, hotéis e pontos comerciais é imprópria para o consumo e representa uma bomba relógio para os órgãos de saúde.

Formado por rocha porosas e permeáveis, o aquífero serve como reservatório de água que abastece rios e poços artesianos e pode ser utilizado como fonte de água para consumo. Na região de Salinas, o aquífero superior está comprometido pelo processo de salinização das águas. Obras como calçamento da orla da praia do Maçarico e a construção de hotéis estão contribuindo para este processo. “Os aquíferos são abastecidos com a água da chuva e como a área ficou impermeabilizada por causa dessas construções, menos água vai entrar. Com menos infiltração de água doce, a cunha salina vai penetrando e tornando a água salgada, imprópria para consumo”, explica.

Outro problema apresentado por Milton Matta está na abertura desenfreada de poços artesianos, a maioria tem perfuração inferior a recomendada pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Pará (CREA-PA). São poços rasos que usam o aqüífero superior que está comprometido pela salinização. Além disso, a profundidade fica vulnerável às fossas, lixo hospitalar, posto de gasolina, entre outras fontes potenciais de contaminação. “Vou apresentar denúncia ao Ministério Público do Estado, com a proposta de se criar uma lei municipal que proíba a construção de poço com profundidade inferior a 20 metros”, disse.

Proposta - De acordo com Milton Matta, três alunos de doutorado vão desenvolver pesquisas na costa nordeste do Estado, com a elaboração de propostas de modificações quanto ao abastecimento de água e preservação das praias de Salinas. Para isso, os pesquisadores farão o levantamento da quantidade de água que está sendo retirada dos poços, o cadastro e a medição da vazão. A partir desse monitoramento será possível estabelecer a vazão máxima e evitar que novos poços sejam abertos aleatoriamente. “O poço de um hotel, por exemplo, daria pra abastecer todo um bairro. Mas aí

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todo mundo quer fazer se poço particular e fica uma aberração. A permissão tinha que ser dada pela prefeitura ou por um órgão competente”, critica.

Segundo o geólogo, para construir um poço é necessário que o mesmo tenha registro no CREA, por ser uma obra de engenharia hidrogeológica. “Essas obras não usam canos adequados que possuem filtros, e sim canos de PVC branco, furados a mão, deixando passar água e contaminação”, alerta.

Outro problema ambiental encontrado no município é a criação de esgoto a céu aberto dos banheiros das barracas. Construídas nas praias, as fossas irregulares contaminam o ambiente com o despejo de fezes e urinas.

Pedras – Não é só a contaminação das águas, o esgoto a céu aberto e o lixo que ameaçam as praias de Salinas. O aparecimento de pedras na areia é cada vez mais freqüente e, segundo Milton Matta, pode comprometer a beleza natural. “Há 15 anos essas pedras não existiam ali, era só areia. O aporte de areia que está vindo para praia é menor que a quantidade de areia que está sendo retirada da praia.

De acordo com o geólogo, a ação antrópica (homem) está modificando a dinâmica marinha nesta área e como conseqüência, a areia está dando lugar às rochas. O que os pesquisadores ainda não sabem é o quanto isso é causa geológica normal - porque às vezes ocorrem ciclos na dinâmica marinha – e o que realmente está relacionado à interferência humana no ambiente, como a ocupação de carros, barracas, hotéis, residências. A praia do Atalaia é o exemplo mais visível sobre as mudanças no cenário natural de Salinas. Por ser a mais procurada pelos banhistas, poderá em pouco tempo desaparecer, como afirma o pesquisador.

Aos poucos, outros lugares estão sendo ocupados pelo homem, como a praia da Corvina, onde já é possível observar a presença de barracas. “Mas não é só nessa região que temos esse problema. Outras praias como de Ajuruteua e Algodoal, que são importantes do ponto de visto turístico, apresentam o mesmo processo de ocupação e interferência do homem”, diz Matta.